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Bruce Albert
As técnicas da caça com chamariz acústico têm por objetivo “fazer acorrer”
(rërëmãi) um animal em direção a um caçador que escamoteia sua
aparência humana sob uma máscara sonora para se converter, ao menos por
meio da voz, num de seus congêneres (semelhante, parceiro ou
progenitura). Portanto, elas são concebidas como estratégias de sedução ou
ternura destinadas a tornar a caça dócil e disponível, waroro, termo que
qualifica igualmente as disposições abertas e generosas das relações
amigáveis, amorosas ou de parentesco (o verbo wararoãi significa “deixar-
se escorregar”). Porém, usa-se para qualificar o efeito dessa isca sonora o
mesmo termo que designa a artimanha que às vezes se reserva a aliados
desleais atraindo-os para uma festa intercomunitária reahu por falsas
demonstrações de amizade a fim de flechá-los (nomihirimãi). Escutemos o
relato, feito por Davi Kopenawa, de uma caçada de anta com chamariz: