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MANGUEZAIS E ESTUÁRIOS

Prof. Walter Cortez.

Formação
Estima-se que os manguezais tiveram origem há cerca de 60 milhões de anos, no período
terciário, quando aconteceu a deriva dos atuais continentes, em decorrência da ruptura da
Pangéia, que era uma única massa continental no início da existência do nosso planeta.

A formação de um manguezal sofre influência de vários fatores, dentre os quais: temperatura,


precipitação, evaporação, salinidade, topografia, amplitude de marés, freqüência de
inundações, ventos, insolação e aporte de sedimentos.
Estima-se que em cem anos o nível do mar estará entre 0,3 e 0,8m acima do atual, o que irá
gerar profundas modificações nas regiões que se encontram os manguezais. Tal condição
provocará uma migração dos bosques de mangues em direção as partes mais altas, quando
isso for possível, ou o seu desaparecimento.

Localização
Os manguezais estão restritos às zonas “entremarés” dos litorais e ilhas das regiões tropicais,
estando associados aos estuários, baias e lagunas e em locais protegidos dos impactos das
ondas, onde a salinidade se situa entre 5 e 30%0, podendo chegar até 90%0, a temperatura
média se situa entre 18 e 240C e a precipitação pluvial fica acima de 1.500 mm/ano.
Estima-se que no mundo existam cerca de 160.000 km2 de manguezais, dos quais 25.000km2
estão no Brasil ( em Pernambuco são 270km2 ). No Brasil a área está compreendida desde o
Cabo Orange, no Amapá, até Laguna, em Santa Catarina.

Características
Considerado como berçário da vida marinha, o estuário serve de sustento para inúmeras
famílias de pescadores e deleite para turistas, pelo ambiente natural e exótico.
Os manguezais são ambientes costeiros dominados por uma vegetação de mangue, com
árvores que podem atingir cerca de 20 metros de altura e 100 anos.
Os bosques de mangues podem ser classificados de acordo com a localização em ribeirinho
( margeando os rios e riachos ), ilhota ( distribuídos em ilhotas fluviais ) e bacia ( encontrado
em áreas mais afastadas dos mangues ). No nordeste existe um tipo de manguezal conhecido
como mangue seco, onde predominam árvores de pequeno porte e solo com alta salinidade.
Já no sudeste predominam bosques de arbustos.
O solo é formado por uma lama de coloração cinza-escura a preta, rica em sulfeto de
hidrogênio ( H2S ), o que causa um odor característico de enxofre ( ovo podre ), principalmente
nos manguezais degradados e poluídos.
Na lama predominam raízes e materiais decompostos, formados por areias de origem marinha
carreadas pelo vento e correntes marinhas e restos de galhos, folhas e animais, sendo sua
superfície rica em matérias orgânicas, que servem de alimento aos peixes e crustáceos.
A escassez de oxigênio nas camadas mais baixas faz com que as raízes se projetem do solo
( raízes-escora e raízes aéreas ), ficando expostas, reduzindo o impacto das ondas das marés
e servindo de substrato para ostras e outros organismos. Para dar maior capacidade de
oxigenação, brotam das raízes enterradas os pneumatóforos e das raízes aéreas minúsculas
estruturas porosas chamadas lenticelas.
O manguezal funciona como filtro e provedor de nutrientes para as espécies e por isso é
considerado um dos ambientes mais produtivos. Ostras, mexilhões, moluscos e outros
organismos marinhos se alimentam filtrando da água fragmentos de detritos vegetais e de
microrganismos que decompõem a lignina dos troncos.
Comunidades de algas vermelhas, azuis e verdes crescem sobre as raízes que estão na faixa
das marés. Observa-se ainda que a decomposição de folhas do manguezal por bactérias e
fungos é a base da cadeia alimentar
Registra-se ainda que o tanino, extraído da casca do mangue, teve grande serventia até bem
pouco tempo, para proporcionar maior resistência ao barro utilizado na fabricação de
utensílios e servir como aditivo para a curtição de couros, dando-lhe uma aparência
avermelhada.
Ressalta-se que, durante anos, o manguezal foi associado à febre amarela e malária, por
causa dos borrachudos, mutucas e mosquitos que habitam a região, além do que desprezado
por falta de atrativos turísticos.
Merece ressalva do autor que os manguezais não somente se constituem em uma bela
paisagem, como transmitem uma sensação de contato íntimo com a natureza, como se as
raízes envolvessem e protegessem seus visitantes, em meio a um silencio quase absoluto.

Apicuns
Os apicuns, também conhecidos como planícies hipersalinas, salgados e salinas, são
considerados como parte do ecossistema manguezal, pois se localizam em áreas no interior
ou contíguas aos bosques de mangues, razão pela qual devem ser consideradas como áreas
protegidas.
Estas zonas de transição, de solo arenoso e vegetação herbácea ou desprovidas de
vegetação, têm origem no assoreamento dos manguezais e quase nenhuma fauna,
observando-se que em muitos casos são encontradas matérias orgânicas reminiscentes nas
camadas inferiores.
Por tais características e também pela discussão relacionada às leis de proteção de
manguezais, os apicuns tem sido utilizados como áreas favoráveis à carcinocultura,
desconsiderando muitas vezes o impacto que tal atividade causa ao meio ambiente.

Flora
No mundo conhecidas 44 espécies de mangues, entretanto no Brasil somente encontram-se
7. As espécies mais comuns são mangue vermelho, preto e o branco. Em algumas regiões
também são encontradas o mangue-de-botão (Conocarpus erectus), avencão (Acrostichum
aureum) e algodoeiro-da-praia (Hibiscus pernambucenis), além de bugi e canoé. Outras
espécies crescem sobre o mangue, denominadas de epífitas, compostas por liquens, musgos,
bromélias, samambaias e cactos. Nota-se que a maior densidade das espécies de mangue
vermelho e preto se deve à alta fecundidade.
Os mangues são espécies halófilas ( se adaptam bem à água salgada ), heliófilas ( necessitam
de luz do sol ) e vivíparas, quando as sementes somente caem após o desenvolvimento,
conhecidas como propágulos, que podem flutuar pelo estuário por longos períodos, até se
fixar em um local adequado, quando são denominados de plântula.

TIPOS DE MANGUES em ralação a sua flora

Mangue vermelho

( Rhizophora mangle, Rhizophora racemosa e Rhizophora harrisonii ), conhecido como


verdadeiro, bravo, sapateiro ou gaiteiro, tem raízes-escora ou rizóforos, que dão estabilidade
e raízes adventícias, que brotam de troncos e galhos em forma de arco para o substrato.
Quando raspado, mostram uma tonalidade avermelhada. Se adaptam bem às águas com
salinidade de 50%0 e tem área média de dispersão de 35%. É muito utilizado para a confecção
de lastros de camas, cercas e cobertura de palhoças e casas, assim como na curtição de
couro e adição em barro para fabricação de utensílios. Somente a espécie Rizhophora mangle
é encontrada do Oiapoque à Santa Catarina, sendo as demais restritas à região norte (
Schaeffer-Novelli,1999 )

Mangue preto

( Avicennia germinans e Avicennia shaueriana ), conhecido como sereíba ou siriúba, tem


raízes horizontais e radiais, de onde surgem os pneumatóforos, que crescem verticalmente
para propiciar melhor condição de respiração às plantas. O tronco tem uma tonalidade
castanho-clara e quando raspado tem uma tonalidade amarelada, as folhas são
esbranquiçadas na parte inferior e dão frutos com geometria assimétrica. Se adaptam bem às
águas de salinidade até 90%0 e tem área de dispersão média de 10%

Mangue branco

( Laguncularia racemosa ), conhecido como tinteira ou manso, possui glândulas chamadas de


nectárias junto à base de cada folha e tem raízes horizontais e radias com pneumatóforos. Se
adaptam bem a águas de salinidade intermediária e tem área de dispersão de 5%. Frutifica
com abundância e os frutos realçam mais que a folhagem

Fauna dos manguezais


A fauna dos manguezais é variada e não exclusiva do ecossistema, tendo capacidade de filtrar
e expelir o sal, estando adaptadas às flutuações de marés e sendo classificados em:
• Sésseis ( necessitam de substrato para fixação ): ostras, sururus, taiobas, cracas, unhas-
de-velho
• Arborículas ( vivem sobre troncos e galhos ): aratús-de-mangue, caranguejos-marinheiro.
• Rastejadores ( vivem sobre troncos e galhos ): caramujo-do-mangue,
• Escavadores ( vivem enterrados ou em galerias ): caranguejo-chama-maré, caranguejo-
uçá, guaiamuns
• Voadores: insetos, aves, garças, 3 cocos.
• Natantes: bagres, saunas, carapebas, baiacus, tainhas, cascudos, manjubas, carapebas,
agulhas
• Oportunistas ( buscam alimento ): cobras, jacarés, golfinhos, tubarões, peixe-boi-marinho,
guaxinins, sagüis

Caranguejo-uçá (Ucides cordatus)


O caranguejo é uma das espécies características de manguezais, sendo citada como exemplo
para demonstrar a vida neste ambiente.
As andadas ocorrem cinco dias por mês durante os meses de janeiro a abril, quando machos
e fêmeas saem das tocas para se reproduzirem. Antes da primeira andada, que se dá na
primeira lua do ano, seja nova ou cheia e as andadas subseqüentes sempre na mesma lua,
os animais espumam demonstrando a fase de cio. Até maio todas as fêmeas terão desovado.
A fase larval demora dois meses e depois vão para a lama. No inverno os adultos se entocam
para engordar. Uma vez por ano, na primavera trocam o exoesqueleto ( carapaça ), quando
secretam um líquido branco e em outubro e novembro os caranguejos engordam. As fêmeas
carregam os ovos aderidos às cerdas do abdomem até a eclosão
Não é permitida a captura das fêmeas nem machos com carapaça menor que 5 cm, tamanho
que identifica a fase adulta nem os caranguejos no período de reprodução.
O caranguejo-uçá, que constrói galerias que podem atingir até 1,5 metros, contribuindo para
a oxigenação dos manguezais, tendo nas folhas o alimento preferido.

Aspectos Econômico e sociais dos manguezais


Os manguezais servem de subsistência para a população das regiões do entorno, de onde
tiram o sustento catando espécies como caranguejos, guaiamuns, siris, aratus, ostras e
sururus, para alimentação ou venda em geralmente em comunidades vizinhas.
A utilização dos manguezais deve ser feita de forma sustentável, através de uma forma
adequada de manejo, pois trata-se de um ecossistema de fundamental importância para a
vida marinha. Aliás, estima-se que cerca de 60% dos organismos pescados provém de
estuários de manguezais
Mas a poluição por diversas formas de contaminantes, a devastação por desmatamentos e
aterros e a prática da pesca predatória tem causado sérios danos aos manguezais, tornado
cada vez menor a produtividade e mais difícil a captura das espécies.

Impactos Ambientais
Consideram-se impactos ambientais as alterações no meio ambiente causadas por atividades
naturais ou antrópicas ( causadas pelo homem ).
Os manguezais são muito vulneráveis às alterações, por se encontrarem em áreas litorâneas,
onde existe a maior concentração populacional e atividades econômicas.
Os fatores que mais interferem no meio ambiente estão o desmatamento de mangues, para a
construção de casas, cercas, camas e lenha, ou objetivando a construção estradas, portos,
marinas e tanques para viveiros de camarões.
Os despejos de lixo urbano e industrial, o carreamento de resíduos de pesticidas e fertilizantes
utilizados em lavouras e as descargas de águas servidas oriundas da carcinocultura, tem
contribuído significativamente para a destruição e contaminação dos manguezais

Pesca Predatória
É nociva para todos os ecossistemas e em especial aos estuários e manguezais, sendo
praticada em variados graus de intensidade. Os apetrechos e produtos mais utilizados na
pesca predatória são:
• Bombas: que causam a morte por compressão de inúmeras espécies de variados
tamanhos
• Redes de malha fina: que capturam espécies minúsculas e outras em processo de extinção
• Redinhas e laços: que aprisionam caranguejos fêmeas ou em idade ainda não reprodutiva
• Carrapaticida: que contamina a área, as espécies e a cadeia alimentar, inclusive o homem.

Carcinocultura
A criação de camarões em áreas próximas de manguezais se constitui em elevado risco ao
ecossistema. Transformam a paisagem, avançam sobre os manguezais, captam água limpa
dos estuários e devolvem água servida contendo matéria orgânica e elementos químicos
nocivos às espécies nativas, em especial com relação à transmissão de doenças, modificando
a base da cadeia alimentar e o equilíbrio do ecossistema.

Despejos
Os manguezais sofrem a ação predadora decorrente dos despejos domésticos e industriais,
compostos por detergente, vinhoto, herbicidas e metais pesados, por exemplo, causando a
morte das espécies. O problema se torna mais grave em épocas de seca, quando o volume
dos despejos é maior que a capacidade de diluição e absorção do rio ou estuário.
Há de se considerar a grande contribuição à poluição dos despejos de resíduos sólidos
contidos em lixos urbano, industrial e até dos serviços de saúde.

Proteção
As indústrias localizadas próximas de manguezais devem possuir barreiras de contenção
secundárias em reservatórios de produtos químicos e estações de tratamento de efluentes,
visando bloquear vazamentos e derramamentos.
Outras medidas de proteção devem ser observadas quanto ao despejo de efluente industrial
e sanitário, em estado bruto, que causa impacto em variados graus de intensidade.

Remediação
A recuperação das áreas de manguezais representa alto custo, grande dificuldade e elevado
tempo, ressaltando-se que, em muitas vezes, os danos são irremediáveis.
As principais variáveis que devem ser consideradas para o estudo e projeto de remediação
são:
Sensibilidade, vulnerabilidade, susceptibilidade ambiental, hidrodinâmica estuarina ( ventos,
ondas, marés ), geoqímica do meio físico ( água superficial, água subterânea, solo, sedimento,
vegetação, geologia, biologia aquática, fluxo de descontaminação.
Como exemplo, a remediação das áreas atingidas por derramamentos de derivados de
petróleo é uma tarefa complexa, em virtude do tipo dos contaminantes, das condições
anaeróbicas do substrato do solo, das dificuldades no acesso e capacidade de diluição dos
nutrientes, em decorrência das oscilações de marés.

Principais processos utilizados para remediação ambiental:


• Mecânicos: Barreira de contenção, absorvedores, recolhedor mecânico
• Químicos: Aglutinadores, gelatinantes, oxidantes
• Biológicos : Bioremediação
• Remediação: Jateamento, remoção física, controle de fontes,
• Disposição: Aterros sanitários, refinarias, fornos, incineradores, depósito temporário

PRÁTICA DE ESPORTES COM A NATUREZA EM ÁREAS DE MANGUES

As áreas compreendidas pelos manguezais, por vezes oferecem uma grande possibilidade de
pratica de esportes, principalmente àqueles que necessitam da água (seja das lagoas ou dos
rios, sendo este o mais comum).
Dentre os esportes mais praticados nesse tipo de área encontram-se esportes à remo, como
a canoagem, o caiaquismo e o stand up paddle.

Stand Up Paddle

Canoa
Caiaque

Tais esportes se caracterizam por uma navegação com ausência de motorização, ou seja, a
propulsão é à remo, o que possibilita a preservação do silêncio no ambiente e ainda não
provocam grandes alterações na dinâmica do findo do rio ou lago, comumente provocada
pelas hélices das embarcações à motos ou pelos “jatos” dos Jet-skis.

Os esportes à remo se caracterizam esportes ecológicos, sendo possível até sua prática
dentro de ambientes preservados e controlados, com as devidas autorizações.

Praticar esse tipo de atividade em um ambiente natural riquíssimo como os manguezais, tras
grande prazer e integra nós, seres humanos, ao ambiente, bem como aos animais e plantas
tão diversos nesse tipo de ecossistema.

O praticante de Esportes com a Natureza nos manguezais, é antes de um esportista, um “fiscal


da natureza”, uma vez que sua presença tão perto (na verdade inserido) no ambiente trás a
possibilidade de enxergar algum tipo de poluição por “resíduos sólidos” e também permite a
observação de outras pessoas não muito “ecológicas” agredindo a natureza nesse tão rico e
frágil ambiente.

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