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ECOSSISTEMAS BRASILEIROS

O Brasil, ocupando um território de 8,5 milhões de km 2 e situado em região tropical, é


constituído por ambientes diversos, produtos da história geológica e da influência humana
recente. Esses ambientes correspondem em princípio às províncias fitogeográficas descritas
no início do século XIX por Carl F. P. von Martius, botânico que iniciou também a
monumental Flora Brasiliensis. Os padrões sofreram alterações pela ação humana, mas são
aceitos até hoje, quando modernas técnicas de sensoriamento remoto monitoram o meio
físico brasileiro.

As várias regiões botânicas do Brasil foram chamadas pelo nome atribuído a elas
pelos indígenas, pelos portugueses e pelos primeiros naturalistas.

A Floresta Amazônica - a Hiléia do naturalista alemão von Humboldt, abrange os


estados do Pará, Amazonas, Amapá, Acre, Rondônia e Roraima e está presente também em
países vizinhos: Guianas, Suriname, Venezuela, Equador, Peru e Bolívia. No Brasil, ocupa
aproximadamente 3,5 milhões de km2.

A bacia amazônica é formada por inúmeros rios de grande tamanho, carregando águas
barrentas, águas pretas ou águas claras. Conhecida como abrigo da maior biodiversidade do
mundo, a Floresta Amazônica é formada basicamente por matas de terra firme, que se
encontram fora da influência direta dos rios, sem sofrer inundações; matas de várzea,
alagadas pelos rios de água barrenta na estação das cheias; e matas de igapós, inundadas
quase permanentemente por rios de água preta. Manchas de cerrado existem entre as
florestas, assim como clareiras de vegetação pobre e campinas ou campinaras sobre as

manchas de areias.

Milhares de espécies de peixes endêmicos são ligados à rede fluvial amazônica e


atuam na reprodução das plantas que margeiam os rios. O endemismo amazônico é
mundialmente conhecido e é especialmente rico em primatas, aves, abelhas, borboletas,
peixes e outros animais. Destacam-se, entre outros, o sagüi-leãozinho, o menor primata do
mundo, a preguiça real, a cotia preta, a pacarana, o peixe-boi, o boto cor de rosa, o uirapuru
verdadeiro e o galo da serra.

Cerca de 40% do território brasileiro é formado pela Amazônia. O processo de


colonização desta vasta região necessita de uma política apropriada de manejo sustentável,
inclusive para evitar um dos seus grandes e atuais problemas, que é o das queimadas.
Atualmente monitoradas todos os dias e sob constante vigilância, estas constituem-se em um
dos problemas decorrentes do processo de colonização da parte sul da Amazônia e da
necessidade do estabelecimento de uma política do uso do solo.

A seguir temos os cerrados, vegetação de savana, que já ocupou 25% do território


brasileiro, no Centro-oeste do País e nos estados de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Mato
Grosso do Sul e parte dos estados de São Paulo, Paraná, Maranhão e Piauí. O cerrado
aparece em locais com solos profundos, pouco estratificados, lixiviados e pobres em
resíduos orgânicos, geralmente do tipo latossolo. Uma estação seca de três a sete meses traz
marcas à região, provocando o desaparecimento da vegetação herbácea, a queda de folhas
dos arbustos de troncos tortuosos e cascas grossas. Uma das árvores do cerrado, o ipê
(Tabebuia ochracea), foi declarada a árvore símbolo do Brasil.

Os rios de cerrado geralmente não secam, mantendo ao seu redor uma mata ciliar. O
lençol subterrâneo passa a 15-20 metros de profundidade ou até mais. Atualmente, o cerrado
tem sido utilizado para a agricultura de soja, com bastante sucesso, após melhorias em suas
condições químicas. Sendo uma região aberta, tem uma fauna típica de mamíferos
herbívoros, aves de chão e muitos répteis. O manejo do cerrado inclui o uso do fogo, e a
vegetação é adaptada à sua passagem. Em um cerrado bem preservado as árvores atingem
altura de 8 a 10 metros. Cerca de 2 milhões de km 2 do território brasileiro são ocupados por
cerrados. Devido ao sistema subterrâneo de suas plantas, ele se recompõe rapidamente após
as freqüentes queimadas.

Encravado entre o cerrado e o chaco boliviano está o Pantanal, formado por enchentes
dos rios da bacia do rio Paraguai. Trata-se de uma das áreas de maior potencial turístico do
Brasil e da maior área alagável do mundo. Ocupa uma grande extensão, com cerca de 150
mil km2, na maior parte no Estado do Mato Grosso do Sul. São as riquíssimas populações de
peixes, de aves e de mamíferos que caracterizam o Pantanal: os tuiuiús, as emas, as
capivaras, as ariranhas, as onças etc. Entre os répteis destacam-se os jacarés e as sucuris.

A caatinga ou o sertão brasileiro é uma região semi-árida, muito seca, compreendendo


parte dos estados da Bahia, Alagoas, Sergipe, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte,
Ceará, Piauí e Maranhão. Ocupa cerca de 700 mil km 2. O regime anual de chuvas na
caatinga é imprevisível. Portanto é uma região muito adaptada à vida em condições de baixa
umidade, com uma vegetação xerofítica típica. A caatinga sofreu grande devastação no
passado, devido inclusive ao uso de lenha como combustível e à ausência de replantio. Os
solos são freqüentemente rasos e muito pedregosos.
O ambiente de maior biodiversidade no Brasil e que se encontra sob a maior ameaça é
a Mata Atlântica. Ocupando hoje cerca de 5% da área original, estimada em 1,5 milhões de
km2, acompanha de perto o litoral brasileiro, do Rio Grande do Norte até o início de Rio
Grande do Sul. Foi o primeiro ambiente a ser usado pelos colonizadores portugueses. O
nome do país, Brasil, vem de uma árvore, o pau brasil (Cesalpinia echinata), explorada
pelos indígenas e pelos colonizadores para extração de um pigmento vermelho.

Esta mata ainda pode ser larga em certos trechos, nos estados do Paraná e de Santa
Catarina. Em outros locais ocupa principalmente a estreita faixa da escarpa atlântica,
formada de rochas cristalinas. A Mata Atlântica é uma floresta pluvial montana, ocupando
principalmente montanhas com altitudes de 800 a 1700 metros. Sofre a influência dos ventos
marinhos, os alísios, que ao subirem a encosta da serra se resfriam, condensando-se e
provocando a neblina da Serra do Mar. Chove então cerca de 2000mm por ano nesta serra;
em algumas regiões, como em Boracéia (Estado de São Paulo), até 4000mm por ano. A
umidade destas áreas vai depender da distância entre elas e o mar. Em algumas o frio
noturno é considerável. Na Mata Atlântica, as temperaturas médias variam de 14° C a 21° C;
a mínima absoluta, no Sul do País, pode chegar a -6° C. Temperaturas mais altas chegam a
35° C.

A grande umidade possibilita uma rica flora de musgos e samambaias, além de


inúmeras epífitas, tais como orquídeas e bromélias. Algumas árvores, como o jequitibá rosa,
chegam a 40 metros de altura. Palmeiras são comuns, destacando-se entre elas o palmito. As
áreas mais altas apresentam os campos de altitude. Entre 300 e 800 metros de altitude há
outro tipo de floresta, com árvores mais baixas, até 25 metros.

A rica fauna endêmica é caracterizada principalmente por borboletas multicolores, por


sapos e pererecas, muitas espécies de aves e mamíferos silvestres. O muriqui (Brachyteles
arachnoides), um gênero endêmico de primatas, é o maior macaco do continente. Há
espécies de abelhas nativas importantes para a polinização do dossel, como a gurupu
(Melipona bicolor).

Enquanto os vários tipos de lavouras e a indústria carvoeira causam a destruição da


Mata Atlântica, as culturas do cacau aproveitam-se da cobertura vegetal. Atualmente em
grave crise econômica e fitossanitária, esta lavoura está sendo alvo de programas
conservacionistas que visam diminuir a destruição das matas para a venda de madeiras,
promovida pelos fazendeiros em dificuldades financeiras. Uma Reserva da Biosfera da
Unesco, recém-estabelecida, abrange áreas de alto grau de preservação da Mata Atlântica.

A mata de araucárias, floresta subtropical do Sul do País, já ocupou cerca de 15% do


território brasileiro. Hoje está muito devastada, por se encontrar em área de grande
desenvolvimento agrícola e industrial. O pinheiro Araucaria, a espécie caraterística, sofreu
muito com os cortes pela indústria madeireira. Ainda ocorrem amostras da floresta com
Araucaria nos estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Muitas
espécies desta floresta, tais como a samambaia xaxim, a gralha azul ou a jacutinga,
chegaram hoje à beira da extinção. Os pinheiros ocorrem também em mosaico com a
vegetação atlântica semi-decídua, nas áreas de transição.
No interior brasileiro, e tipicamente em rochas, existem muitas cavernas, ricas em
formações geológicas e que abrigam uma interessante fauna de peixes e crustáceos cegos.

Outro importante ambiente é o manguezal, floresta de entremarés formada por poucas


espécies de árvores, mas que tem um papel fundamental como fonte de alimentos para a
fauna marinha. O Brasil é especialmente rico em manguezais, já monitorados por satélites.
Ao lado destes, nos solos de aluviões arenosos, há freqüentemente uma vegetação de
restinga, mata de baixo porte e arbustiva que ocupa terrenos arenosos.

Ocupando áreas territoriais menos expressivas mas ecologicamente relevantes, temos


os campos rupestres, os cocais do Norte, os campos do Rio Grande do Sul, as praias
arenosas e rochosas, entre outros ambientes que caracterizam e enriquecem o Brasil. Os
arrecifes de Abrolhos, pequena área de arrecifes de corais, tem a maior taxa de espécies
endêmicas de corais e de fauna marinha associada.

O Pantanal do Mato Grosso, com uma extensão de 250 mil km 2, é a maior


área alagável do mundo. O Pantanal é uma imensa bacia intercontinental,
delimitada pelo Planalto Brasileiro, ao leste, pelas Chapadas Matogrossenses, ao
norte, e também por uma cadeia de morros e terras altas do sopé Andino, a oeste.
Portanto, ele pode ser considerado um grande delta interno, onde se acumulam as
águas do alto Paraguai e as de grande número de rios que descem do Planalto.
Através do rio Paraguai, o Pantanal está intimamente ligado à grande bacia do rio
Paraná - rio da Prata. Conexões aquáticas difusas com afluentes amazônicos
existem ao norte, especialmente com o rio Guaporé.

A drenagem deste delta interno pelo médio Paraguai, por meio da barra
estreita e rasa do Fecho dos Morros do Sul, faz-se com muita dificuldade. Porém,
enormes quantidades de água estagnada atrás desta barragem tornam o Pantanal
um labirinto imprevisível de águas paradas e correntes, temporárias ou
permanentes, designadas através de grande quantidade de termos específicos
pelo homem pantaneiro. Nas lendas indígenas e nos primeiros mapas, o Pantanal
é lembrado como um grande lago cheio de ilhas, o "mar dos Xaraiés".

Em anos chuvosos, como em 1984 ou em 1995, o rio Paraguai expande-se


em uma faixa de até 20 km de largura, invadindo os grandes lagos da fronteira
boliviana e a Ilha do Caracará, regenerando temporariamente o "mar dos
Xaraiés" dos antigos climas chuvosos. O rio Paraguai e os outros rios pantaneiros
apresentam pouca declividade, da ordem de 20-30 cm por quilômetro, o que faz
com que as águas que se acumulam nos períodos de chuvas intensas escoem com
muita lentidão. Em conseqüência, as enchentes, que são máximas ao norte nos
meses de março e abril, chegam ao sul do Pantanal somente em julho e agosto.
Enquanto isso, imensas quantidades de água, provavelmente centenas de
quilômetros cúbicos por ano, perdem-se por evaporação direta para a atmosfera.
O Pantanal pode ser, com justiça, considerado a maior "janela" de evaporação de
água doce do mundo.

Toda a vida e a economia do Pantanal estão ligadas a este sistema de


inundações. A região é um interessante paradoxo aquático em uma área de clima
continental semi-árido ou mesmo árido. Sem o abundante e raso lençol freático e
os aluviões deixados pelas enchentes, a vegetação terrestre seria parecida com a
do cerrado ou com a do Chaco boliviano. Igualmente, a rica fauna de aves e
mamíferos depende, na sua grande maioria, da alimentação aquática. O Pantanal
pode ser visto, então, como uma grande e dinâmica interface entre o mundo
aquático e o terrestre.

A vegetação aquática é fundamental para a vida pantaneira. As plantas


flutuantes são os principais produtores primários nas águas do Pantanal. Imensas
áreas são cobertas por "batume", que são plantas flutuantes, tais como o aguapé
(Eichhornia) e a Salvinia, entre outras. Levadas pelos rios, estas plantas
constituem verdadeiras ilhas flutuantes, os camalotes.

Após as inundações, a camada de lodo nutritivo permite o desenvolvimento


de uma rica vegetação de ervas. A palmeira carandá (Copernicia australis)
ocorre em extensas formações nas áreas em que as inundações dominam mas que
ficam secas durante o inverno, permeando com os cupinzeiros, onde se inicia o
paratudal. Os paratudais, formados pelos ipês roxos (Tabebuia, localmente
chamado piúva), são típicos.

Numa região um pouco mais elevada, já com áreas não inundáveis, há uma
vegetação característica de cerrado. Há ainda no Pantanal áreas com mata densa
e sombria (com Piptadenia, Bombax, Magonia, Guazuma). Em torno das
margens mais elevadas dos rios aparece a palmeira acuri (Attalea principes),
formando uma floresta de galerias juntamente com outras árvores, como o pau-
de-novato (Triplaris formicosa), a embaúba (Cecropia), o genipapo (Genipa) e
as figueiras (Ficus). Em pontos altos dos morros aparece uma vegetação
semelhante à da caatinga, com a bromeliácea Dyckia e os cactos cansanção e
mandacaru (Cereus).
O passado geológico permitiu ao Pantanal constituir-se no maior
entroncamento dos intercâmbios da flora e da fauna aquática da América do Sul.
Atualmente é povoado por uma variedade de organismos amazônicos e sulistas.
Sendo principalmente um corredor de intercâmbios, não abriga fauna endêmica
rica, como a Amazônia, e são as quantidades e não as raridades que o

caracterizam.

O Pantanal oferece ao visitante uma variedade de paisagens abertas


povoadas por grandes populações de animais, cuja alimentação depende da fase
aquática. Assim, nas lagoas, a microflora e a microfauna permitem o
desenvolvimento de ricas populações de caramujos aruas (Pomacea, Marisa e
outros) e de conchas (Anodontides, Castalia e outras), que sustentam uma
variedade de predadores destes moluscos, como aves e répteis.

Os inúmeros cardumes de pitu (Macrobrachium) e as várias espécies do


caranguejo (Trichodactylus, Dilocarcinus e outros) possuem importância
econômica indireta: servem de iscas para os pescadores. Entre os peixes
abundantes, há o corumbatá, o pacú, o cascudo, o pintado, o dourado, o jaú e as
piranhas. Entre os comedores da vegetação aquática destacam-se as grandes
populações de capivaras (Hydrochaeris hydrochaeris) e de búfalos. O cágado
(Platemys) é também vegetariano. A ariranha (Pteronura brasiliensis),
importante predador piscívoro, outrora abundante, foi quase exterminada pelos
caçadores. Destino semelhante pode ter o jacaré (Caiman crocodilus yacare),
dizimado pela caça ilegal dos últimos anos.

Os jacarés têm papel importante nas águas pantaneiras, onde funcionam


como predadores "reguladores" da fauna piscícola e, às vezes, como agentes
relevantes da ciclagem de nutrientes. Onde há muitos jacarés são encontradas
poucas piranhas. Quando os jacarés são dizimados pela caça indiscriminada dos
"coureiros", a população de piranhas agressivas aumenta em detrimento de outras
espécies de peixes, podendo chegar a ser perigosa até para os seres humanos.

Outro importante predador aquático e semi-terrestre é a sucuri (Eunectes


notaeus), cobra injustamente perseguida pelos pantaneiros. As cobras são
escassas no Pantanal, principalmente nas áreas inundáveis. Mas há cobras d'água
(Liophis Helicops), jararacas (Bothrops neuwiedii) e boipevaçu (Hydrodynaste
gigas).

As aves do Pantanal são um de seus maiores atrativos. Reunidas em


enormes concentrações, exploram os recursos alimentares aquáticos. O tuiuiú
(Jabiru mycteria), a cabeça-seca (Mycteria americana) e o colhereiro (Ajaia
ajaja), além das garças biguás e patos são os mais vistosos. Muitas espécies
nidificam em áreas comuns, sobre determinadas árvores, conhecidas como
ninhais, que se destacam na paisagem pantaneira. Um espetáculo admirável é
acompanhar as aves, ao anoitecer ou ao amanhecer, aos dormitórios à beira dos
rios, onde passam as noites.

Aves típicas do Pantanal são também o aracuã-do-pantanal (Ortalis


canicollis), a arara-azul (Anodorhyncus hyacinthinus), que corre o risco de
extinção, o periquito de cabeça preta (Nandayus nenday). O pequeno cardeal
(Paroaria capitata) é ave característica deste ecossistema. A enorme abundância
de aves de rapina, especialmente o caracará (Polyborus), refletem a riqueza da
presa animal. O gavião caramujeiro (Rosthramus sociabilis) alimenta-se de
moluscos.

Animais típicos do cerrado também se concentram em grande número no


Pantanal, atraídos pela fartura de alimentos das áreas alagadas. São estas espécies
que aparecem esparsas em outras áreas do continente. O cervo-do-pantanal
(Blastocerus dichotomus), comum nas ricas pastagens úmidas, pode ser visto
acompanhado por mais duas espécies de cervos do cerrado e por outros
mamíferos, como o cachorro-vinagre (Speothus vinaticus), a anta (Tapirus
terrestris), o caitetu (Tayassu tajacu) e a paca (Agouti paca). Encontram-se lá,
ainda, o lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) e o tamanduá-bandeira
(Myrmecophaga tridactyla), caçados intensamente.

Entre os primatas, o macaco-prego (Cebus apella) vive ali, ao lado do


bugio (Alouatta caraya). Porcos monteiros, descendentes de suínos
domesticados, também proliferam em meio à vegetação pantaneira densa. Assim
como a onça (Panthera onca), vários outros felinos são atraídos pela abundância
de presas. O predador de topo na beira das águas é a onça-pintada, junto a outros
felídeos e canídeos. Entre as aves, a ema (Rhea americana) e a seriema (Cariama
cristata) são típicos habitantes do cerrado. Naturalmente, a rica fauna oferece
muitas oportunidades para as aves de rapina e para os comedores de carcaças.
As paisagens abertas do Pantanal facilitam o recenseamento aéreo das
populações de grandes vertebrados. Estima-se, por exemplo, que existam hoje 10
milhões de jacarés, 600 mil capivaras, mas somente 35 mil cervos-do-pantanal.

A Floresta Atlântica é o segundo conjunto de matas especialmente


expressivas na América do Sul, perdendo apenas para a Floresta Amazônica, a
maior do planeta. Denominada de Floresta Pluvial Atlântica, está localizada na
Serra do Mar, que faz parte do Domínio Florestal Tropical Atlântico. Este
Domínio Florestal estende-se por uma faixa relativamente paralela à costa
brasileira, desde o Rio Grande do Norte até o Rio Grande do Sul, e constitui-se
por "mares de morros" e "chapadões florestados", com solos profundos de

drenagem perene.

O clima, na região compreendida pelas florestas pluviais atlânticas, tem


duas estações, definidas principalmente pelo regime de chuvas, embora seja
latitudinalmente bastante variável. Enquanto no Nordeste brasileiro as
temperaturas médias anuais variam em torno de 24ºC, nas regiões Sudeste e Sul
as médias anuais são mais baixas e a temperatura pode ocasionalmente chegar a -
6ºC.

A Serra do Mar, representada por uma cadeia de montanhas costeiras,


apresenta uma série de interrupções, onde o cinturão das matas pluviais também
se interrompe. A altitude média nesta cadeia de montanhas é de 800 a 900
metros, com picos emergentes com cerca de 1.400 metros e escarpas de até 2 mil
metros. Nos topos das montanhas ocorrem campos de afloramentos rochosos e,
excepcionalmente, acima de 1.700 metros, a floresta dá lugar a campos de
altitude.

A Floresta Atlântica estende-se ao longo das montanhas e das encostas


voltadas para o mar, bem como na planície costeira. Ela deve sua existência à
elevada umidade atmosférica trazida pelos ventos marítimos. O vento úmido se
condensa na costa, sob a forma de chuvas, ao subir para as camadas frias de
maior altitude.
Além da alta pluviosidade, nos topos dos morros há condensação de água
em forma de neblina. Isto ocorre até mesmo durante os meses de primavera e
verão, nas horas quentes do dia.

Nem toda a costa oriental do Brasil, porém, apresenta condições climáticas


idênticas e índices pluviométricos compatíveis com a existência de matas
pluviais. Por esta razão, também ocorrem interrupções naturais das florestas, ao
longo da Serra do Mar.

Atualmente, as florestas atlânticas brasileiras encontram-se quase


completamente devastadas, restando apenas cerca de 5% de matas preservadas de
sua extensão original, da época do descobrimento do Brasil. A parcela mais
representativa do que restou encontra-se nas regiões Sul e Sudeste, onde o relevo
de escarpas íngremes dificulta o acesso e a devastação.

A pujante Floresta Atlântica, com vegetação arbórea em torno de 30 metros


e árvores que ultrapassam o dossel, atingindo 40 metros de altura, apresenta
intensa vegetação arbustiva no estrato inferior. É uma floresta de grande
diversidade vegetal, com muitas samambaias, inclusive as arborescentes, além de
orquídeas terrestres e palmeiras, entre as quais se encontra a Euterpes edulis,
com cerca de 10 metros de altura e de cujo tronco se extrai o palmito. Além dos
tapetes de musgos e inúmeros fungos, a Floresta Atlântica é muito rica em lianas
e epífitas, entre as quais as samambaias, orquídeas e bromélias. Estas últimas,
com suas folhas dispostas em roseta, retêm sempre uma certa quantidade de
água, condicionando um habitat propício ao desenvolvimento de uma fauna
particular, como por exemplo a de larvas e adultos de várias espécies de
artrópodes e de sapos.

De um modo geral, a fauna nesta floresta é predominantemente ombrófila,


isto é, adaptada à sombra e pouco tolerante às variações de umidade, temperatura
e insolação. Como conseqüência direta ou indireta da derrubada das matas,
muitas espécies têm sido atingidas.
Além da fauna terrestre, a Mata Atlântica tem também uma rica fauna de
peixes que habitam os pequenos riachos que permeiam as áreas florestadas.
Muitos destes peixes orientam-se pela visão para localizar alimento ou parceiros
reprodutivos, bem como para seus comportamentos sociais, e são incapazes de
sobreviver em águas turvas ou claras, sujeitas à luminosidade intensa, quando
ocorre a remoção da floresta. Além disso, a manutenção de temperaturas amenas
nos riachos e no solo só é possível graças à intensa cobertura vegetal.

Além da riqueza em invertebrados, principalmente artrópodes, a Floresta


Atlântica possui uma importante fauna de vertebrados. No entanto, muitas
espécies ainda são desconhecidas pela ciência e correm o risco de nem serem
descobertas se o processo de destruição das matas tiver prosseguimento.

Uma das principais características da fauna que vive na Floresta Atlântica,


assim como em outras florestas tropicais do mundo, é o fato de ser diversificada
e marcada pela presença de muitas espécies endêmicas. Várias destas espécies
possuem baixas densidades populacionais, o que caracteriza um grande número
de espécies raras.

A preservação das espécies endêmicas da Floresta Atlântica é


extremamente preocupante, face à situação atual de devastação. Mesmo as
espécies endêmicas que ainda não possuem suas populações reduzidas a um
número crítico merecem atenção especial para sobreviverem. Como exemplo
pode-se mencionar que há um grande número de espécies endêmicas na
avifauna, que têm como centro evolutivo a Serra do Mar e que, com distribuição
geográfica extremamente restrita, encontram-se em situação de vulnerabilidade.
Este é o caso do pintor-verdadeiro (Tangara fastuosa), nas florestas dos Estados
de Pernambuco e Alagoas.

Entre os primatas brasileiros estão relacionadas cerca de 25 espécies


ameaçadas de extinção e alguns deles são endêmicos da Floresta Atlântica. Esta
é, por exemplo, a situação de quatro espécies de mico-leões (Leontopithecus spp)
e do muriqui (Brachyteles aracnoides), o maior dos macacos neotropicais.

As áreas mais prejudicadas da Floresta Atlântica são justamente as mais


importantes do ponto de vista conservacionista. São as remanescentes das matas
do sul da Bahia e do Espírito Santo, que abrigam os últimos exemplares de
gêneros e espécies de plantas e animais ameaçados de extinção. Na região
Sudeste, onde se desenvolveram grandes metrópoles como São Paulo e Rio de
Janeiro em áreas outrora de Floresta Atlântica, ainda existem trechos
relativamente grandes onde recentemente foram criadas áreas de proteção
ambiental e transformados, inclusive, na Reserva da Biosfera da Mata Atlântica.
Nelas estão os últimos refúgios de um dos ecossistemas mais ricos do mundo.

A maioria dos 7 milhões de km 2 da Floresta Amazônica é constituída por


uma floresta de terra firme. Esta é uma floresta que nunca é alagada e se espalha
sobre uma grande planície de até 130-200 metros de altitude, até os sopés das
montanhas. A grande planície corresponde aos sedimentos deixados pelo lago
"Belterra", que ocupou a maior parte da bacia Amazônica durante o Mioceno e o
Plioceno, entre 25 mil e 1,8 milhão de anos atrás. O silte e as argilas depositados
neste antigo lago foram submetidos a um suave movimento de elevação
epirogenético, enquanto os Andes se ergueram e os modernos rios começaram a
cavar os seus leitos. Assim surgiram os três tipos de florestas amazônicas: as
florestas montanhosas Andinas, as florestas de terra firme e as florestas fluviais

alagadas, as duas últimas na Amazônia brasileira.

As flutuações climáticas do Pleistoceno se manifestaram numa sucessão


repetida de climas frio-seco - quente-úmido - quente-seco. A última fase fria-
seca data de 18 mil a 12 mil anos atrás, quando o clima da Amazônia era semi-
árido, com temperatura média rebaixada por até 5ºC. Em seguida, houve o
retorno do clima quente-úmido, que chega ao máximo em torno de 7 mil anos
atrás. Desde então, e com várias oscilações de menor porte, vivemos um clima
relativamente quente-seco.

Muito importante foi o fato de que durante as fases semi-áridas, a grande


floresta de terra firme se encontrava dividida e fragmentada por formações
vegetais abertas, do tipo cerrados, caatingas e campinaranas, todas melhor
adaptadas ao clima seco. A floresta sobrevivia em "refúgios", situados nas áreas
de solos mais altos e com melhor abastecimento hídrico. Ao voltar o clima mais
úmido, a floresta expandiu-se novamente, em detrimento da vegetação dos
cerrados. Hoje em dia, o cerrado sobrevive em seus próprios "refúgios", dentro
da imensidade das matas de terra firme. Este processo flutuante vai se repetir
sem dúvida, a não ser que o homem interfira na situação.
A floresta de terra firme tem inúmeras adaptações à pobreza em nutrientes
dos seus solos argilosos e podzólicos. As árvores que a compõem são capazes de
se abastecer com nitratos através de bactérias fixadoras de nitrogênio, que estão
ligadas às suas raízes. Além disso, uma grande variedade de fungos também
simbiontes das raízes, chamados micorrizas, reciclam rapidamente o material
orgânico antes deste ser lixiviado. A serrapilheira (formada por folhas e outros
detritos vegetais que caem ao solo) é reciclada rapidamente pela fauna rica de
insetos, especialmente besouros, formigas e cupins. Os insetos constituem a
maioria da biomassa animal na floresta de terra firme.

Esta floresta, especialmente rica em aráceas epífitas, é, comparada à Mata


Atlântica, relativamente pobre em bromélias e orquídeas. Entre estas plantas
epífitas estão as mirmecófitas, plantas que vivem em estreita simbiose com as
formigas. No sub-bosque da floresta destacam-se especialmente as palmeiras e os
cipós. As grandes samambaias são raras.

A macrofauna do chão da floresta é relativamente pobre. Os vários sapos e


pererecas ali encontrados apresentam diversas adaptações para garantir a água
necessária para o desenvolvimento dos girinos. Alguns grandes mamíferos, tais
como as antas, o cateto e a queixada, assim como os mutuns e os inhambus, entre
as aves do chão, merecem destaque. Perto do chão da floresta encontram-se
também muitas aves "papa-formigas", que tiram proveito das enormes migrações
de formigas de correição.

A grande diversidade animal encontra-se nas copas das árvores entre 30 e


50 metros de altura, um ambiente de difícil acesso para o pesquisador. Ali é rica
a fauna de aves, como papagaios, tucanos e pica-paus. Especialmente vistosos
são o pavãozinho do Pará e a cigana. Entre os mamíferos das copas predominam
os marsupiais, os morcegos, os roedores e os macacos. Os primatas possuem
nichos bem diferenciados. O bugio é diurno e se alimenta de preferência com
folhas. O macaco da noite Aotus é o único macaco ativo durante a noite. Os
sauins, insetívoros vorazes, possuem várias espécies e subespécies que se
diferenciam pelo colorido e forma das faces. Ao lado dos polinizadores clássicos
- abelhas, borboletas e aves - os macacos da Floresta Amazônica têm também um
papel de destaque como polinizadores. As aves, os morcegos e os macacos
frugívoros da mata de terra firme têm um importante papel de disseminar os
frutos e sementes das árvores.

As espécies e subespécies de macacos, preguiças, esquilos e outras são


freqüentemente separadas pelos grandes rios tributários do rio Amazonas. As
unidades biogeográficas formadas pelas bacias destes rios explicam em parte a
grande bioversidade da biota amazônica. Além disso, podemos sobressaltar áreas
de floresta que serviram de refúgio às várias populações diferenciadas durante os
períodos de clima árido do passado, acima mencionados, quando grandes áreas
de cerrado fragmentavam a Floresta Amazônica. Hoje em dia, o desmatamento
descontrolado está fragmentando a floresta de terra firme. Sem os cuidados
necessários, províncias faunísticas inteiras e antigos centros de especiação
correm o risco de serem obliterados para sempre.

As florestas alagadas estão ao alcance das enchentes anuais do rio


Amazonas e de seus tributários mais próximos. As flutuações do nível da água
podem chegar a 10 metros ou mais. De março a setembro, grandes trechos de
floresta ribeirinha são alagados. As plantas e os animais da floresta alagada
amazônica vivem em função das suas diversas adaptações especiais para
sobreviver durante as enchentes.

As águas amazônicas possuem características diferentes, resultantes da


geologia das suas bacias fluviais. Os rios chamados de rios de água branca ou
turva, como o Solimões ou o Madeira, percorrem terras ricas em minerais e
suspensões orgânicas. Os rios chamados de água preta, como o Negro, oriundos
de terras arenosas pobres em minerais, são transparentes e coloridos em marrom
pelas substâncias húmicas. Existem também rios de águas claras, como o
Tapajós, que nascem nas áreas dos antigos escudos continentais, também pobres
em minerais e nutrientes.

As matas banhadas pelas águas brancas costumam ser chamadas de


florestas de várzea e as banhadas pelas águas pretas e claras, de florestas de
igapós. A vegetação da várzea é muito mais rica do que a vegetação dos igapós,
por causa da fertilidade das águas brancas e dos solos aluvionais por elas
trazidos. O mesmo se constata com a fauna dos dois tipos de florestas,
especialmente com a biota aquática. Os rios de água branca são ricos em peixes,
enquanto os rios de água preta são "rios da fome". As áreas onde os dois tipos de
águas se misturam, como a área perto de Manaus, são consideradas
especialmente ricas.
As árvores das matas alagadas têm várias adaptações morfológicas e
fisiológicas para viverem parcialmente submersas, como raízes respiratórias e
sapopembas. As árvores são pobres em plantas epífitas e o sub-bosque
praticamente inexiste. Em seu lugar existe uma rica flora herbácea, como o
capim-mori, a canarana e o arroz selvagem. Na estação das enchentes, o capim se
destaca e forma verdadeiras ilhas flutuantes. Outras plantas flutuantes, tais como
a vitória-régia e o aguapé, também acompanham o nível das águas.

Os mamíferos das matas alagadas - antas, capivaras e outros - são todos


bons nadadores. Até as preguiças são capazes de nadar. A fauna de macacos e de
outros mamíferos arborícolas em geral é pobre, comparada com a fauna da terra
firme. Nos rios de várzea encontram-se, porém, várias espécies de mamíferos
aquáticos, como os botos, o peixe boi, a ariranha e as lontras. A fauna de
primatas é muito reduzida. O vegetariano peixe boi e os botos predadores são,
entretanto, muito raros nas águas pretas e claras dos igapós, pobres em vegetação
aquática e pouco piscosas.

Na avifauna relativamente pobre das florestas de igapós predominam as


aves aquáticas, tais como as garças, biguás, jaçanãs, mucurungos e patos.

As águas das florestas alagadas são ricas em répteis aquáticos. As


tartarugas são importantes herbívoros da vegetação aquática e são muito caçadas.
A tartaruga verdadeira (Podocnemis expansa) está em perigo de extinção; a
cabeçuda (P. dumeriliana) e a tracajá (P.unifilis) são também muito apreciadas
pelos caçadores. Os cágados Phrynops são encontrados com mais freqüência nas
corredeiras. Entre os jacarés, o jacaretinga (Palaeosuchus trigonatus), gênero
com uma única espécie endêmica na Amazônia, está ameaçado de extinção. O
jacaré-açu (Melanosuchus niger) é o jacaré comum na área. Vários autores
atribuem aos jacarés predadores um importante papel de "reguladores" na várzea.
A grande jibóia amazônica merece também ser mencionada.

Na Amazônia vivem em torno de 10 mil espécies de peixes. Aqui,


mencionamos apenas algumas espécies ligadas à floresta de inundação. São estas
os peixes frugívoros que evoluíram em estreita co-evolução com as árvores e
arbustos amazônicos: as frutas caem na água, são engolidas pelos peixes e as
sementes resistentes às enzimas gástricas são transportadas para longe. Vários
peixes, especialmente os da grande ordem dos Characinoidea, apresentam
dentições especializadas para certos tipos de frutas. O tambaqui (Collosoma
macropomum) é um comedor especialista das frutas da Hevea spruceana. Pacus,
dos gêneros Mylossoma, Myleus e Broco, são também comedores importantes de
frutas de palmeiras, embaúbas e outras árvores. A piranheira é uma planta
preferida por algumas espécies de piranhas. A dispersão das plantas pelos peixes
da várzea e dos igapós tem uma importância comparável à da dispersão clássica
de sementes pelas aves e mamíferos nas florestas de terra firme. O tambaqui e os
pacus, bem como o pirarucu (Arapaima gigas), são os peixes de maior
importância comercial na Amazônia. Nada ilustra melhor o papel ecológico
importante da frugivoria dos peixes. O tambaqui é muito procurado por
pescadores turísticos.

Os peixes frugívoros constituem somente um dos tipos de peixes na várzea,


mas o papel deles é particularmente importante nas águas pretas e claras. Devido
à pobreza excessiva dessas águas em fito e zooplâncton, são as árvores que
fornecem a maioria dos alimentos. Mesmo assim, os peixes do rio Negro são de
tamanhos menores do que os seus coespecíficos no rio Solimões. Os cardumes
também são menores.

A fauna de insetos é principalmente ligada à vegetação flutuante. As


poucas espécies de cupins e de formigas acompanham a subida e a descida das
águas ao longo dos troncos das árvores. Vários tipos de insetos vivem sobre a
vegetação flutuante, enquanto nas águas criam-se enormes populações de
mosquitos e outros dipterros irritantes. Os rios de água preta são isentos deste
flagelo.

As matas alagadas contêm várias espécies de árvores de utilidade


econômica, além de madeiras de lei. A seringueira, a sorva, a andiouba, a
macaranduba, o buriti e o tiucum produzem borracha, alimentos, óleos, resinas e
fibras de importância econômica. As várzeas são especialmente ricas e
produtivas. Ali se encontravam as grandes concentrações indígenas e atualmente
são desenvolvidos grandes projetos agro-pecuários e industriais.

Específicas dos igapós de solos arenosos e de água preta são a piranheira


(Piranhea trifoliata), a oeirana (Alchornea castaniifolia), várias espécies de Inga
e de Eugenia, as palmeiras Copaifera martii (copaíba) e a Leopoldinia. Algumas
árvores têm grande resistência às enchentes prolongadas, tais como a Myrciaria
dubia, a Eugenia inundata (araçá de igapó) e, finalmente, a Salix humboldtiana,
que sobrevivem a vários anos de submersão permanente.

Muitas espécies da várzea estão ameaçadas de extinção devido ao rápido


desenvolvimento das áreas urbanas, da construção de represas, da poluição com
o mercúrio dos garimpos etc. A caça e a pesca desregulada na várzea já
colocaram em risco a existência de vários vertebrados aquáticos de grande porte.
A lista das espécies em extinção é encabeçada pelos botos, peixe boi, ariranha,
tartaruga verdadeira, jacaretinga e outros. Entre os peixes ameaçados destacamos
o pirarucu, o maior peixe de água doce do mundo.

A alta produtividade da várzea possibilitou uma povoação indígena densa à


época da descoberta. As margens do grande rio abrigaram muitas aldeias com
milhares de habitantes. A densidade populacional alcançava 14,6 pessoas por
quilômetro quadrado. Os ribeirinhos cultivavam milho e mandioca no rico solo
aluvional, coletavam arroz selvagem e usufruíam de pesca rica. Estes índios
tinham uma organização de classes sociais e utilizavam trabalho de escravos.

Os rios de água preta, pelo contrário, considerados "rios de fome", foram


historicamente pouco habitados. Porém, pela falta de dípteros molestadores,
como mosquitos, borrachudos e mutucas, os novos colonizadores preferiam
morar nas margens dos rios de água preta. Por um curto período, a capital da
região foi para Barcelos, no médio rio Negro, mas mudou rapidamente para
Manaus, perto da várzea rica em peixes. Ainda é preciso considerar que os solos
férteis na Amazônia são os solos de várzea, justamente onde os grandes centros
urbanos tendem a se localizar, junto com as suas bases de abastecimento.

Uma estação ecológica está situada por inteiro no ambiente dos igapós: é a
Estação Ecológica Federal do arquipélago de Anavilhanas, no baixo rio Negro.
Nas enchentes, o arquipélago de centenas de ilhas é praticamente submerso. O
laboratório de pesquisa da Estação fica em casas flutuantes que acompanham
também o nível das águas. Uma outra estação, Mamirauá, está situada na várzea,
perto de Tefé. O grande centro de pesquisas da Amazônia (INPA), em Manaus, e
o Museu Goeldi, em Belém, mantêm várias reservas e áreas de pesquisa nas
matas de terra firme. Em Santarém encontra-se um grande centro de pesquisas
piscívoras.

Cerrado é o nome regional dado às savanas brasileiras. Cerca de 85% do


grande platô que ocupa o Brasil Central era originalmente dominado pela
paisagem do cerrado, representando cerca de 1,5 a 2 milhões de km 2, ou
aproximadamente 20% da superfície do País. O clima típico da região dos
cerrados é quente, semi-úmido e notadamente sazonal, com verão chuvoso e
inverno seco. A pluviosidade anual fica em torno de 800 a 1600 mm. Os solos
são geralmente muito antigos, quimicamente pobres e profundos.

A paisagem do cerrado é caracterizada por extensas formações savânicas,


interceptadas por matas ciliares ao longo dos rios, nos fundos de vale. Entretanto,
outros tipos de vegetação podem aparecer na região dos cerrados, tais como os
campos úmidos ou as veredas de buritis, onde o lençol freático é superficial; os
campos rupestres podem ocorrer nas maiores altitudes e as florestas mesófilas
situam-se sobre os solos mais férteis. Mesmo as formas savânicas exclusivas não
são homogêneas, havendo uma grande variação no balanço entre a quantidade de
árvores e de herbáceas, formando um gradiente estrutural que vai do cerrado
completamente aberto - o campo limpo, vegetação dominada por gramíneas, sem
a presença dos elementos lenhosos (árvores e arbustos) - ao cerrado fechado,
fisionomicamente florestal - o cerradão, com grande quantidade de árvores e
aspecto florestal. As formas intermediárias são o campo sujo, o campo cerrado e
o cerrado stricto sensu, de acordo com uma densidade crescente de árvores.

As árvores do cerrado são muito peculiares, com troncos tortos, cobertos


por uma cortiça grossa, cujas folhas são geralmente grandes e rígidas. Muitas
plantas herbáceas têm órgãos subterrâneos para armazenar água e nutrientes.
Cortiça grossa e estruturas subterrâneas podem ser interpretadas como algumas
das muitas adaptações desta vegetação às queimadas periódicas a que é
submetida, protegendo as plantas da destruição e capacitando-as para rebrotar
após o fogo. Acredita-se que, como em muitas savanas do mundo, os
ecossistemas de cerrado vêm co-existindo com o fogo desde tempos remotos,
inicialmente como incêndios naturais causados por relâmpagos ou atividade
vulcânica e, posteriormente, causados pelo homem. Tirando proveito da rebrota
do estrato herbáceo que se segue após uma queimada em cerrado, os habitantes
primitivos destas regiões aprenderam a se servir do fogo como uma ferramenta
para aumentar a oferta de forragem aos seus animais (herbívoros) domesticados,
o que ocorre até hoje.

A grande variabilidade de habitats nos diversos tipos de cerrado suporta


uma enorme diversidade de espécies de plantas e animais. Estudos recentes,
como o apresentado por J.A.Ratter e outros autores em "Avanços no Estudo da
Biodiversidade da Flora Lenhosa do Bioma Cerrado", em 1995, estimam o
número de plantas vasculares em torno de 5 mil; e que mais de 1.600 espécies de
mamíferos, aves e répteis já foram identificados nos ecossistemas de cerrado
(Fauna do Cerrado, Costa et al., 1981). Entre a diversidade de invertebrados, os
mais notáveis são os térmitas (cupins) e as formigas cortadeiras (saúvas). São
eles os principais herbívoros do cerrado, tendo uma grande importância no
consumo e na decomposição da matéria orgânica, assim como constituem uma
importante fonte alimentar para muitas outras espécies animais.

Por outro lado, a pressão urbana e o rápido estabelecimento de atividades


agrícolas na região vêm reduzindo rapidamente a biodiversidade destes
ecossistemas. Até meados de 1960, as atividades agrícolas nos cerrados eram
bastante limitadas, direcionadas principalmente à produção extensiva de gado de
corte para subsistência ou para o mercado local, uma vez que os solos de cerrado
são naturalmente inférteis para a produção agrícola. Após esse período, porém, o
crescimento urbano e industrial da região Sudeste forçou a agricultura para o
Centro-oeste. A mudança da capital do País para Brasília foi outro foco de
atração de população para a região central. De 1975 até o início dos anos 80,
muitos programas governamentais foram lançados com o propósito de estimular
o desenvolvimento da região do cerrado, através de subsídios para o
estabelecimento de fazendas e melhorias tecnológicas para a agricultura, tendo,
como resultado, um aumento significativo na produção agropecuária.

Atualmente, a região do cerrado contribui com mais de 70% da produção


de carne bovina do País (Pecuária de corte no Brasil Central, Corrêa, 1989) e,
graças à irrigação e técnicas de correção do solo, é também um importante centro
de produção de grãos, principalmente soja, feijão, milho e arroz. Grandes
extensões de cerrado são ainda utilizadas na produção de polpa de celulose para a
indústria de papel, através do cultivo de várias espécies de Eucalyptus e Pinus,
mas ainda como uma atividade secundária.

A conservação dos recursos naturais dos cerrados é representada por


diversas categorias de unidades de conservação, de acordo com objetivos
específicos: oito parques nacionais, diversos parques estaduais e estações
ecológicas, compreendendo cerca de 6,5% da área total de cerrado (Cerrado:
caracterização, ocupação e perspectivas, Dias, 1990). Entretanto, esta extensão é
ainda insuficiente e mais unidades de conservação precisam ser criadas para
proteger a biodiversidade que ainda preserva.
Em plena faixa sub-equatorial, entre a Floresta Amazônica e a Floresta
Atlântica, encontram-se as caatingas do Nordeste brasileiro. Elas cobrem cerca
de 700 mil km2, aproximadamente 10% do território nacional. O clima é semi-
árido, com temperaturas médias anuais compreendidas entre 27ºC e 29ºC e com
médias pluviométricas inferiores aos 800 mm. A rigidez climática das caatingas
é conferida principalmente pela irregularidade na distribuição destas chuvas no
tempo e no espaço. O escoamento superficial é intenso, pois os solos são rasos e
situados acima de lajedos cristalinos. Os rios são intermitentes, isto é, correm
apenas durante o período de chuvas, tendo seus cursos interrompidos durante a
estação seca. A paisagem típica das caatingas consiste de extensas planícies
interplanálticas e intermontanhas, que envolvem e interpenetram maciços
residuais mais elevados. A vegetação é xerofítica, caducifoliar e aberta, bem
adaptada para suportar a falta de água.

A paisagem mais comum da Caatinga é a que ela apresenta durante a seca.


Apesar do aspecto seco das plantas, todas estão vivas; apenas perderam as folhas
para suportar a falta de água. Mesmo durante a seca, a vida animal também é rica
e diversificada. Contudo, é após as chuvas que a diversidade animal e vegetal das
caatingas se torna evidente. As plantas florescem e os animais se reproduzem,
deixando descendentes que já possuem adaptações para suportar o longo período
de seca seguinte.

Restinga é um termo empregado para designar as planícies litorâneas


cobertas por deposição marinha, resultante do recuo dos níveis de oceanos há
cerca de 5 mil anos, durante o Quaternário. Depois do recuo, houve deposições
fluvial e lacustre, contendo, em parte, material proveniente das escarpas do
Complexo Cristalino, características no litoral Sul e Sudeste brasileiro, ou do
arenito da Formação Barreiras. Essas planícies situam-se sob clima tropical
úmido, sem estação seca, com precipitações médias anuais ao redor de 1700-
2000 mm. A maior quantidade de nutrientes na planície costeira provém de
precipitações atmosféricas, estando principalmente fixada na biomassa vegetal.
As planícies litorâneas podem apresentar-se com extensões bastante
variadas, dependendo do recuo das escarpas do Cristalino. Os níveis marinhos
passados oscilaram de forma a promover a sedimentação em diversos patamares,
que são testemunhos desta deposição alternada. Pela ação das marés, a deposição
de sedimentos marinhos se deu sob a forma de cordões arenosos, havendo alguns
terraços mais antigos. Por trás desses depósitos e entre os cordões é possível
ocorrerem depressões que formam várzeas ou pântanos de água doce.

Na linha de praia das planícies litorâneas se estabelece uma vegetação


adaptada às condições salinas e arenosas sob influências de marés, denominada
halófila-psamófila, com espécies herbáceas representantes, com sistemas
radiculares amplos. Após esta faixa, sobre cordões mais estáveis, encontra-se
uma vegetação arbustiva e arbórea densa, denominada jundu, com muitas
bromélias terrícolas. É característica a sua forma de cunha, devido à ação
abrasiva de partículas de areia sobre as gemas voltadas para a praia. Apresenta
uma camada orgânica pouco desenvolvida, com as bromélias de solo
desempenhando um papel estabilizador do substrato e de retenção de água e de
nutrientes no sistema. No litoral do Rio de Janeiro e do Espírito Santo
desenvolvem-se moitas compostas por espécies arbustivas e arbóreas,
intercaladas por solo descoberto, cuja denominação é dada pela presença de taxas
dominantes, como Restinga de Clusia, de Myrtaceae e de Ericaceae.

Sobre os cordões arenosos, dependendo de sua idade, estabelece-se uma


floresta que é menos exuberante que a Mata Atlântica, com flora similar,
penetração de elementos do Cerrado, poucas espécies características e grande
quantidade de epífitas. Há florestas que se assemelham às dos topos de morros
nas serras costeiras, em geral sobre cordões mais recentes, com muitas
Myrtaceae e bromélias terrícolas.

Nos terraços marinhos é comum a ocorrência de áreas temporariamente


inundadas, que suportam florestas de várzea. Entre os cordões há depressão que
pode ser permanentemente úmida, sustentando florestas paludosas, com poucas
espécies arbóreas adaptadas e muitas bromélias sobre o solo encharcado. Nas
bacias de solo orgânico tanto se desenvolve a floresta paludosa quanto os campos
monoespecíficos de taboa ou de lírio do brejo. Este conjunto de formações sobre
a planície litorânea estabelece um mosaico de granulação variável, ampliando
sua diversidade biológica. A fauna de mamíferos e de aves que ocorre nas
florestas sobre a restinga é similar à da Mata Atlântica, indicando interações
associadas às alternativas temporais e espaciais de recursos alimentícios, de
abrigo e de nidificação. Estas florestas pluviais associadas ao domínio atlântico
têm poucos remanescentes preservados em Unidades de Conservação,
principalmente pela ocupação urbana das planícies litorâneas.

A diferença de nível das águas entre as estações de seca e de cheias é em


média de apenas quatro metros, mas, devido à pouca declividade, a maior parte
do Pantanal pode ficar alagada. Nos anos de grandes cheias, as águas
ultrapassam o nível dos seis metros. Nestas ocasiões, as águas de rios como
Paraguai, Cuiabá, São Lourenço, Taquari e Miranda, assim como seus inúmeros
afluentes, saem de seus leitos e inundam enormes áreas. Estas formam uma
densa rede de lagoas, baías e baixadas alagadas, interligadas por cursos de águas
perenes - os corixos - ou efêmeras. Somente os terrenos altos, chamados
cordilheiras, além de poucas ilhas e locais mais elevados, escapam à inundação.
Alguns morros isolados de rocha pré-cambriana, os "inselbergs", sobressaem-se
entre os pântanos. Um destes é o Morro do Azeite, às margens do Rio Miranda.

Quando as águas voltam ao normal, várias baías e lagoas permanecem,


enquanto outras secam. Uma rica vegetação de ervas espalha-se pelas baixadas,
aproveitando a camada de lodo nutritivo deixada pela inundação. Existem
também pequenas baías de água salgada. Em cada ciclo de precipitação-
evaporação, os sais minerais acumulam-se, resultando em certa salinização dos
solos e de algumas baías. A gradativa evaporação das águas nas lagoas é
marcada por anéis brancos de depósitos de sal de soda (carbonato de sódio). A
concentração de sais nestas baías, em locais como a região de Nhecolândia,
chega a ser próxima àquela das concentrações marinhas.

O difícil acesso protegeu até recentemente o Pantanal do impacto humano,


e somente nas últimas décadas este começou a ser explorado por caçadores de
peles de ariranha e de jacaré. Hoje em dia, a caça ilegal e o contrabando de peles
de jacaré estão, de maneira geral, sob controle, e as fazendas de criação de
jacarés estão se multiplicando. A caça desordenada dos veados, das capivaras e
dos baguás, animais considerados transmissores de doenças, das aves piscívoras
e granívoras, das cobras e das onças, constitui perigo direto para a diversidade
biológica regional.

A pesca comercial do Pantanal tornou-se um problema ambiental sério,


com a chegada dos barcos e dos caminhões frigoríficos. Até a pesca esportiva,
cada vez mais intensa, precisa de fiscalização severa. Este é o caso
principalmente nos meses da piracema, quando as fêmeas sobem os rios até as
cabeceiras, tornando-se presas fáceis. Existem cotas individuais por pescador
amador, porém o número de pescadores turistas aumenta com a crescente
facilidade de acesso ao Pantanal.

Desde meados dos anos 70, intensificou-se no Pantanal a economia


agropecuária. Hoje, com cerca de 4 milhões de cabeças de gado, a região tornou-
se importante produtora de carne. De maneira geral, a cultura do gado não é
considerada prejudicial ao ambiente. A imprevisibilidade das grandes enchentes,
no entanto, limita o tamanho dos rebanhos e os mantém dentro dos limites de
uma economia ecologicamente sustentável. Na ausência de outros mamíferos
pastadores, além dos poucos cervídeos, os bois Nelore não são competidores da
fauna original. Eles se tornaram parte integral da paisagem pantaneira.

As culturas de arroz, cana-de-açúcar e soja prejudicaram o ambiente


pantaneiro. Barragens, canais e aterros que drenam terrenos para a agricultura,
além do desmatamento do cerrado, levam ao assoreamento de rios, como o
Taquari, e interferiram na piracema. Ultimamente, várias ervas exóticas são
espalhadas por semeadura aérea, tais como a Brachiaria africana, para aumentar
o rendimento do pasto.

O Pantanal é uma grande bacia de captação e evaporação de águas e vários


cuidados devem ser tomados para preservá-lo da poluição. Um exemplo é o que
ocorre com o mercúrio utilizado na lavagem de ouro pelos garimpeiros do rio
Poconé: seus sais tóxicos acumulam-se nas baías em quantidades cada vez
maiores; os peixes espalham o mercúrio e a taxa deste metal prejudicial à saúde,
nos tecidos dos peixes do Pantanal, aumenta a cada ano. O vinhaço das usinas de
álcool do Mato Grosso e a poluição na metrópole de Cuiabá acumulam-se
também nesta grande bacia de sedimentação.

Um dos grandes perigos ambientais para o Pantanal inteiro é o projeto da


hidrovia, planejada conjuntamente pelo Brasil, Bolívia, Paraguai e Argentina.
Para facilitar o acesso da navegação marinha e fluvial até Cáceres, no Alto Rio
Paraguai, a calha do rio deverá ser aprofundada, os meandros, cortados, e o
contato entre o rio e os pântanos, restringido por diques.

Para garantir a saúde desse ecossistema é fundamental manter e ampliar


suas áreas preservadas. Existem, atualmente, uma pequena Estação Ecológica, a
da ilha de Taiamã, e o Parque Nacional do Pantanal. A fiscalização destas
imensas áreas é difícil, principalmente pela falta de recursos financeiros e de
pessoal adequado.

Uma atividade promissora e compatível com a sobrevivência desse


ambiente único é o chamado turismo ecológico. A rodovia Transpantaneira,
parcialmente completa, assim como a estrada Miranda-Corumbá, facilitam o
acesso de milhares de turistas e possibilitam o desfrute da riqueza faunística e
paisagística do Pantanal. A indústria turística é um meio de despertar o interesse
dos pantaneiros pela sobrevivência da fauna e flora da sua região. O crescente
número de fazendas turísticas e de pousadas constitui bom exemplo de
integração entre o turismo e a preservação ambiental do ecossistema.

As terras alagadas, no mundo inteiro, são sempre ricas em fauna. No caso


especial do Pantanal, a vizinhança com a Amazônia e as características do meio
físico o tornam uma das áreas de maior valor turístico e ecológico do Brasil.
Atividades como criação de gado, capivaras ou jacarés são compatíveis com a
preservação da área. Por outro lado, a ação de garimpeiros e iniciativas
individuais que alteram a ecologia da paisagem, por meio da drenagem de
pântanos e aterros extensos, entre outros, impossibilitam a manutenção da fauna
e da flora abundantes e do potencial turístico. Considerado um dos paraísos
terrestres, é de fundamental importância a manutenção e ampliação de suas áreas
preservadas.

A fauna das aves aquáticas e paludículas (que vivem em lagoas) do


Pantanal está entre as mais ricas do mundo, com muitas espécies de patos e
marrecos filtradores de pequenos animais e de algas, entre os quais o irerê é o
mais comum e abundante na região.
Alguns dos patos pertencem à fauna típica do sistema Paraná-Prata. O
tachã, ou a "sentinela do Pantanal", animal peculiar da América do Sul e parente
distante dos anatídeos, pode facilmente ser visto nos campos de gramíneas ou
empoleirados nas copas das árvores, onde permanece durante horas.

Várias espécies de garças e socós formam grandes colônias nas árvores da


mata ciliar. A maior espécie de nossas garças é a maguari. Embora tenha hábito
solitário, é comum encontrar grupos de garça-branca-grande junto com a garça-
branca-pequena. Cada uma é especializada na caça de várias presas, como
peixes, anfíbios e pequenos répteis, em diferentes zonas das lagoas, durante o dia
ou no crepúsculo. Ajaia ajaja, o lindo colhereiro cor-de-rosa, é um filtrador
especializado.

A cegonha, o cabeça-seca e o tuiuiú alimentam-se de insetos, caranguejos,


caramujos, rãs e peixes, que recolhem nas águas rasas e em lodos. O tuiuiú é um
dos símbolos do Pantanal. Os seus ninhos isolados em árvores se destacam na
paisagem pantaneira.

Esse variado conjunto de aves aquáticas tem estratégias de caça e dietas


diversas. O biguá, por exemplo, caça peixes nadando e mergulhando; a
biguatinga, com seu pescoço serpentiforme, usa o bico pontiagudo para "espetar"
os peixes. Já o gavião-caramujeiro é um "especialista" na caça de caramujos,
sendo dependente da existência dos gastrópodes, principalmente do aruá.

Floresta com Araucária (Mata de Pinhais)

Localização e Caracterização

Clima Geologia e Relevo


Flora
Fauna
Os Números Atuais da Cobertura Florestal
do Paraná

Localização e Caracterização
Localiza-se no sul do Brasil, estendendo-se pelos Estados do
Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. A região das araucárias
principia no primeiro planalto, imediatamente a oeste da Serra do Mar, e
estende-se pelos segundo e terceiro planaltos do Estado do Paraná e
Laranjeiras do Sul, com associações florísticas da araucária. A região da
araucária insere-se às partes mais altas das montanhas do Sul, nos
planaltos, onde ocorrem até altitudes médias de 600 a 800 m, e em alguns
poucos lugares em que ultrapassam 1.000 m. O limite inferior destas matas
situa-se entre 500 e 600 m nos estados do Sul, sendo que ao norte este
limite situa-se algumas centenas de metros acima. Nestas florestas,
coexistem representantes da flora tropical e temperada do Brasil, sendo
dominadas, no entanto, pelo pinheiro-do-paraná (Araucaria angustifolia).

Clima
O clima da região é temperado, com chuvas regulares e estações
relativamente bem definidas: o inverno é normalmente frio, com geadas
freqüentes e até neve em alguns municípios do Rio Grande do Sul, e o
verão razoavelmente quente. As temperaturas variam de 30ºC, no verão,
até alguns graus negativos, no inverno rigoroso.
A umidade relativa do ar está relacionada à temperatura, com
influência da altitude. Assim, nas zonas mais elevadas, a temperatura não é
suficientemente elevada, diminuindo a umidade produzida pelas chuvas.
As médias mais elevadas são resultados da influência oceânica sobre o
clima e da transpiração dos componentes das matas pluviais existentes. Os
maiores índices pluviométricos são registrados nos planaltos, com chuvas
bem distribuídas.
Geologia e Relevo
O Estado do Paraná, de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul são
formados, em sua maior extensão, por escarpas de estratos e planaltos que
declinam suavemente em direção a oeste e noroeste. Apresentam grandes
regiões geográficas naturais ou grandes paisagens naturais (Zona litorânea
- orla marinha e orla da serra, Serra do Mar, Planaltos, Planícies costeiras,
Serras Litorâneas e Planalto Ocidental).

Flora

No Planalto Meridional Brasileiro, com altitudes superiores a 500


m, destaca-se a área de dispersão do pinheiro-do-paraná (Araucaria
angustifolia), que já ocupou cerca de 2,6% do território nacional. Nestas
florestas, coexistem representantes da flora tropical e temperada do
Brasil, sendo dominadas, no entanto, pelo pinheiro-do-paraná. As
florestas variam em densidade arbórea e altura da vegetação e podem ser
classificadas, de acordo com aspectos de solo, como aluviais, (ao longo
dos rios), submontanas (que já inexistem) e montanas (que dominavam a
paisagem).

A vegetação aberta dos campos gramíneo-lenhosos ocorre sobre


solos rasos. Devido ao seu alto valor econômico, a Floresta com
Araucária sofre, há bastante tempo, forte pressão de desmatamento.

A Floresta com Araucária ou Floresta Ombrófila Mista apresenta


em sua composição florística espécies de lauráceas como a imbuia
(Ocotea porosa), o sassafrás (Ocotea odorifera), a canela-lageana
(Ocotea pulchella), além de diversas espécies conhecidas por canelas.
Merecem destaque também a erva-mate (Ilex paraguariensis) e a caúna
(Ilex theezans), entre outras aqüifoliáceas. Diversas espécies de
leguminosas (jacarandá, caviúna e monjoleiro) e mirtáceas (sete-
capotes, guabiroba, pitanga) também são abundantes na floresta com
araucária, associadas também à coníferas como o pinheiro-bravo
(Podocarpus lambertii). Encontram-se também freqüentemente rutáceas
(pau-marfim – Balfourodendron riedelianum), euforbiáceas (tapexingüí
– Croton sp.), solanáceas (fumo bravo – Solanum verbascifolium),
urticáceas (Boehmeriasp. e Urera sp.), além de muitas outras espécies
vegetais arbustos, lianas e ervas.
Este bioma possui uma grande riqueza de epífitas vasculares, a
saber, bromélias, orquídeas, cactáceas, pteridófitas, piperáceas e muitas
outras espalhadas pela Serra do Mar, na região de mata pluvial-tropical e
nos capões de campos dos planaltos do interior.

Fauna

É um dos ecossistemas mais ricos em relação à biodiversidade de


espécies animais, contando com indivíduos endêmicos, raros, ameaçados
de extinção, espécies migratórias, cinegéticas e de interesse econômico da
Floresta Atlântica e Campos Sulinos.
Várias espécies estão ameaçadas de extinção: a onça-pintada, a
jaguatirica, o mono-carvoeiro, o macaco-prego, o guariba, o mico-leão-
dourado, vários sagüis, a preguiça-de-coleira, o caxinguelê, e o tamanduá.
Entre as aves destacam-se o jacu, o macuco, a jacutinga, o tiê-
sangue, a araponga, o sanhaço, numerosos beija-flores, tucanos, saíras e
gaturamos.
Entre os principais répteis desse ecossistema estão o teiú (um lagarto
de mais de 1,5m de comprimento), jibóias, jararacas e corais verdadeiras.
Numerosas espécies da flora e da fauna são únicas e características: a
maioria das aves, répteis, anfíbios e borboletas são endêmicas, ou seja, são
encontradas apenas nesse ecossistema. Nela sobrevivem mais de 20
espécies de primatas, a maior parte delas endêmicas.

Campos do Sul

Localização
Caracterização
Ocupação
Clima
Flora
Fauna

Localização
Os campos da região sul do Brasil são denominados de pampas, termo
indígena que significa região plana, abrangendo o Estado do Rio Grande
do Sul, o Uruguai e a Argentina.

Caracterização
As florestas dos Campos Sulinos abrangem em sua maioria as
florestas tropicais mesófilas, florestas subtropicais e os campos
meridionais. As florestas subtropicais compreendem basicamente a
Floresta com Araucária, distribuindo-se sobre os planaltos oriundos de
derrames basálticos, e caracterizando-se principalmente pela presença
marcante do pinheiro-do-paraná (Araucaria angustifolia). E em direção ao
arroio Chuí, na divisa com o Uruguai, estabelece-se um campo com formas
arbustivas sobre afloramentos rochosos.

Ocupação
Devido à ocupação do território, a exploração indiscriminada de
madeira, iniciada pela colonização no planalto das Araucárias, favoreceu a
expansão gradativa da agricultura. Os gigantescos pinheiros foram
derrubados e queimados para dar lugar ao cultivo de milho, trigo, arroz,
soja e uva. O cultivo de frutíferas está tendo um grande avanço, criando
uma pressão nas áreas florestais; aliado ao extrativismo seletivo de
espécies madeireiras que está comprometendo os remanescentes florestais.
Além dos grandes desmatamentos para o cultivo, existe ainda uma
forte pressão de pastejo e a prática do fogo que não permitem o
estabelecimento da vegetação arbustiva.
A agricultura, a pecuária de corte e a industrialização trouxeram
vários problemas ambientais, como a degradação, a compactação dos
solos, a contaminação e o assoreamento dos aqüíferos, devido ao manejo
inadequado das culturas. O manejo inadequado em áreas inapropriadas dos
campos sulinos tem levado a um processo de desertificação,
principalmente em áreas cujo substrato é o arenito, na abrangência das
bacias dos rios Ibicuí e Ibarapuitã.
Estas regiões ainda guardam áreas protegidas restritas a ecossistemas
naturais, que são alvo de preocupação em relação à sua conservação e
preservação. Atualmente estão implantadas Unidades de Conservação
voltadas para a conservação da Floresta com Araucária e dos campos
sulinos.

Clima
O clima nos campos sulinos é caracterizado com altas temperaturas
no verão, chegando a 35ºC, e o inverno é marcado com geadas e neve em
algumas regiões, marcando temperaturas negativas. A precipitação anual
situa-se em torno de 1.200 mm, com chuvas concentradas nos meses de
inverno. O clima é frio e úmido.

Flora
A vegetação predominante é de gramíneas, representadas pelos
gêneros Andropogon, Aristida, Paspalum, Panicum e Eragrotis,
leguminosas e compostas. As árvores de maior porte são fornecedoras de
madeira, tais como o louro-pardo, o cedro, a cabreúva, a grápia, a
guajuvira, a caroba, a canafístula, a bracatinga, a unha-de-gato, o pau-de-
leite, a canjerana, o guatambu, a timbaúva, o angico-vermelho, entre outras
espécies características como, a palmeira-anã (Diplothemium campestre).
Os campos sulinos possuem uma diversidade de mais de 515 espécies.
Já os terrenos planos das planícies e planaltos gaúchos e as coxilhas,
de relevo suave-ondulado, são colonizados por espécies pioneiras
campestres que formam uma vegetação tipo savana aberta. Há ainda áreas
de florestas estacionais e de campos de cobertura gramíneo-lenhosa.
Fauna
É um dos ecossistemas mais ricos em relação à biodiversidade de
espécies animais, contando com espécies endêmicas, raras, ameaçadas de
extinção, espécies migratórias, cinegéticas e de interesse econômico dos
campos sulinos.
As principais espécies ameaçadas de extinção são exemplificadas por
inúmeros animais, como: a onça-pintada, a jaguatirica, o mono-carvoeiro,
o macaco-prego, o guariba, o mico-leão-dourado, vários sagüis, a
preguiça-de-coleira, o caxinguelê, o tamanduá.
Entre as aves destacam-se o jacu, o macuco, a jacutinga, o tiê-sangue,
a araponga, o sanhaço, numerosos beija-flores, tucanos, saíras e
gaturamos.
Entre os mamíferos, 39% também são endêmicos, o mesmo ocorrendo
com a maioria das borboletas, dos répteis, dos anfíbios e das aves nativas.
Nela sobrevivem mais de 20 espécies de primatas, a maior parte delas
endêmicas.

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