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CURSO DE GERENCIAMENTO DE

RECURSOS HÍDRICOS

DRENAGEM URBANA

Campos do Jordão, 08 a 10 de maio de 2007

Engº Paulo Takashi Nakayama


CTH/DAEE
nakayama@cth.usp.br

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DRENAGEM URBANA

1. Introdução

Drenagem é o termo empregado na designação das instalações destinadas a retirar o


excesso de água, seja em rodovias, na zona rural ou na malha urbana.
No caso de regiões urbanas, as torrentes originadas pelas águas de chuva que caem
sobre as vias públicas escoam pelas sarjetas e desembocam nas bocas-de-lobo nelas
localizadas. Estas tormentas são descarregadas em tubulações subterrâneas e transportadas
até atingir fundo de vale ou cursos de água naturais.
O escoamento em vales ou cursos de água é denominado Sistema de Macrodrenagem
e a captação de água nas ruas e sua condução até este sistema é denominada Sistema de
Microdrenagem (Figura 1.1).

Figura 1.1 – Sistema de micro e macrodrenagem.

2. Enchentes urbanas

As enchentes urbanas são conseqüências de dois processos, que ocorrem de forma


isolada ou integrada: enchentes localizadas e enchentes em áreas ribeirinhas.

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Enchentes em áreas ribeirinhas
O desenvolvimento urbano provoca o aumento de áreas impermeáveis, reduzindo a
parcela de água que infiltrava no solo e aumentando o escoamento superficial. Como
conseqüência, há aumento na vazão dos córregos que passam a ocupar o leito maior do rio
(leito de estiagem) com maior freqüência (Figura 2.1).

Figura 2.1 - Inundação de áreas ribeirinhas.

Os impactos sobre os moradores são causados pela ocupação inadequada do espaço,


que ocorre, em geral, devido às seguintes ações:
• invasão de áreas ribeirinhas, que pertencem ao poder público, pela população de baixa
renda;
• ocupação de áreas de médio risco, que podem ser atingidas com menor freqüência (por
exemplo, avenidas marginais).

Enchentes localizadas
Enchentes localizadas ocorrem, em geral, em pontos baixos da cidade, porém podem
estar distantes dos córregos. Este tipo de enchente ocorre quase sempre pela ineficiência do
Sistema de Microdrenagem, que está associada à obstrução das bocas-de-lobo (falta de
manutenção) ou à insuficiência da capacidade de escoamento das tubulações ou galerias
(subdimensionado).

3. Microdrenagem

Um Sistema de Microdrenagem tem como objetivo a captação de água nas ruas e sua
condução até o Sistema de Macrodrenagem, constituído de fundo de vale ou córregos
naturais.

Componentes de microdrenagem

Os principais componentes de um sistema de microdrenagem são:


• Meio-fio (ou guia) - São constituídos de blocos de concreto ou de pedra, situados entre a
via pública e o passeio, com sua face superior nivelada com o passeio, formando uma
faixa paralela ao eixo da via pública.

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• Sarjetas - São as faixas formadas pelo limite da via pública com os meios-fios, formando
uma calha que coleta as águas pluviais provenientes das áreas edificadas e da rua. As
sarjetas e os demais componentes de uma rua estão mostrados na Figura 3.1 abaixo.

Figura 3.1 - Seção transversal de uma rua com os diversos componentes.

• Bocas-de-lobo - São dispositivos de captação das águas pluviais que escoam através das
sarjetas. A Figura 3.2 abaixo mostra os principais tipos de bocas de lobo existentes e a
Figura 3.3 mostra a boca de lobo usada pela Prefeitura de São Paulo.

Figura 3.2 - Tipo de bocas-de-lobo.

0m
1.0
0,15m

Figura 3.3 - Modelo de boca-de-lobo usado pela Prefeitura de São Paulo.


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• Poços de visita – São dispositivos colocados em pontos convenientes do sistema, para
permitir o acesso às canalizações para limpeza e inspeção.

• Galerias – São as canalizações públicas destinadas a escoar as águas pluviais provenientes


das ligações privadas e das bocas-de-lobo. A Figura 3.4 mostra um esquema de poço de
visita com galeria e chegada do tubo de ligação.

Figura 3.4 – Esquema de poço de visita.

• Tubos de ligações – são canalizações destinadas a conduzir as águas pluviais captadas nas
bocas-de-lobo para as galerias ou para os poços de vista. Os detalhes de um tubo de
ligação podem ser vistos na Figura 3.5.

Figura 3.5 – Detalhes de tubo de ligação.

• Trechos – porção de galeria situada entre dois poços de visita.

• Condutos forçados e estações de bombeamento – São utilizados quando não há condições


de escoamento por gravidade para a retirada de um canal para um outro.

• Sarjetões – são calhas localizadas nos cruzamentos de vias públicas, formada pela sua
própria pavimentação e destinadas a orientar o fluxo das águas que escoam pelas sarjetas.
De preferência, são construídas transversalmente à rua de menor fluxo de veículo. As
figuras 3.6 e 3.7 mostram, respectivamente, um sarjetão visto na transversal e em planta.

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Figura 3.6 – Vista transversal de um sarjetão.

Figura 3.7 – Sarjetão e sarjetas vistas em planta.

Elementos Físicos de Projeto

Para elaborar um projeto de microdrenagem, são necessários os seguintes elementos:

• Plantas:
- Plantas da bacia hidrográfica em escala 1:5000 ou 1:10000;
- Para projetos de microdrenagem, será necessária uma planta na escala menor, 1:1.000 ou
1:2000;
- Levantamentos plani-altimétricos – nas esquinas, mudanças de direção e mudança de
greides das vias;

• Cadastro: redes públicas de água, eletricidade, gás, esgotos e águas pluviais existentes.

• Dados sobre a urbanização (situação atual e planejada):

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- Mapeamento das áreas residenciais, comerciais, praças, indústrias, etc.
- Densidade populacional e de ocupação;
- Uso e ocupação do solo nas áreas não urbanizadas.

• Macrodrenagem:
- Relação cota x descarga do local de descarga;
- Levantamento topográfico do local de descarga.

Esquema de Projeto

• Traçado da rede pluvial


- Escala 1:2.000 ou 1:1.000;
- Indicar os divisores de bacia e as áreas contribuintes;
- Setas para indicar o escoamento nas sarjetas;
- Galerias pluviais, se possível, devem ficar sob passeios;
- Sistema coletor pode ser de uma rede única, recebendo contribuições das bocas-de-lobo de
ambos os passeios;
- A solução mais econômica é função da largura e das condições de pavimento.

• Bocas-de-lobo
- Devem ser localizadas de maneira a conduzirem as vazões superficiais para as galerias;
- Devem ser colocadas, necessariamente, nos pontos mais baixos do sistema viário de forma
a evitar zonas mortas com alagamentos e águas paradas.

• Poços de visita
- Devem atender às mudanças de direção, de diâmetro e de declividade à ligação das bocas
de lobo e ao entroncamento de diversos trechos.

• Galerias circulares
- Diâmetro mínimo deve ser de 0,30 m;
- Funcionamento à seção plena com a vazão de projeto;
- A velocidade máxima é admitida em função do material; para concreto 0,6 ≤ V ≤ 5,0 m/s;
- Recobrimento mínimo de 1,0 m;
- Alinhamento pela geratriz superior no caso de mudança de diâmetro.

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Distribuição Espacial dos Componentes

• Traçado preliminar das galerias


Deve ser desenvolvido simultaneamente com o projeto das vias públicas e parques; caso
contrário, ficam impostas ao sistema de drenagem, restrições que levam ao maior custo.

• Coletores
- A rede coletora pode se situar sob o meio fio ou sob o eixo da via pública (mais utilizada);
- O recobrimento mínimo deve ser de 1,0 m sobre a geratriz superior da tubulação;
- Os coletores devem possibilitar a ligação das canalizações de escoamento das bocas-de-
lobo (recobrimento mínimo de 0,60 m).

• Bocas-de-lobo
A instalação das bocas-de-lobo deve obedecer as seguintes recomendações:
- As bocas-de-lobo devem ser colocadas em ambos os lados da rua, quando houver
saturação da sarjeta ou quando for ultrapassada a sua capacidade de engolimento;
- Devem ser locadas nos pontos baixos de cada quadra;
- Adotar um espaçamento máximo de 60 m entre as bocas-de-lobo, caso não seja analisada a
capacidade de escoamento da sarjeta;
- Não é conveniente locar as bocas-de-lobo nas esquinas (ponto de convergência das
torrentes); a melhor solução é a sua locação em pontos um pouco montante das esquinas
(Figura 3.8).

Figura 3.8 – Posição recomendada para bocas-de-lobo.

• Poços de visita
Devem ser colocados nos pontos de mudança de direção, cruzamentos de ruas (união
de vários coletores), mudanças de declividade e de diâmetro. A Tabela 3.1 apresenta o
espaçamento máximo recomendado em função do diâmetro do conduto.

Tabela 3.1 - Espaçamento dos poços de visita em função do diâmetro do conduto


(DAEE/CETESB, 1980).
Diâmetro do conduto (m) Espaçamento (m)
0,30 120
0,50 – 0,90 150
1,00 ou mais 180
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• Caixas de ligação
Têm função similar à dos poços de vista; a diferença entre as duas é que as caixas de
ligação não são visitáveis. São colocadas quando há necessidade de poço de visita
intermediária ou para evitar a chegada de mais de quatro tubulações em um determinado
poço de visita (Figura 3.9).

Figura 3.9 – Locação das caixas de ligação.

Dimensionamento Hidráulico

• Ruas e Sarjetas
Para o dimensionamento hidráulico, admitiu-se, para facilitar o cálculo, que o
escoamento na sarjeta em questão ocorre em regime uniforme. De acordo com a fórmula de
Chézy-Manning, a capacidade de escoamento de uma sarjeta pode ser determinada pela
seguinte equação:
I
Q= A ⋅ R H2 / 3 (3.1)
n
onde:
Q – vazão, em m3/s;
A – área molhada, em m2;
RH – raio hidráulico, em m, definido como arelação entre a área molhada e o perímetro
molhado;
I – declividade da rua, em m/m.
n – coeficiente de rugosidade de Manning (para pavimento de vias públicas, n =
0,017).

A Figura 3.10 mostra as duas hipóteses adotadas para calcular a capacidade de


condução de água através de rua:
- a água escoando por toda a calha da rua; ou
- a água escoando somente pelas sarjetas.

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Figura 3.10 – Duas formas de transportar águas pluviais através das ruas.

Para a primeira hipótese, admitem-se a declividade da rua (sentido transversal) de 3%


e a altura da água na sarjeta h1 = 0,15 m (Figura 3.11). Para esta hipótese, a equação de
Manning pode ser escrita da seguinte forma:
Q = 3,846 ⋅ I (3.2)
Para a segunda hipótese, admite-se a mesma declividade (3%) e altura h2 = 0,10 m.
Nesta situação, a capacidade de escoamento pode ser obtida pela seguinte equação:
Q = 1,310 ⋅ I (3.3)

Figura 3.11 – Seção da sarjeta e as duas hipótses da altura de água.

Fator de reduação
Quando a declividade da sarjeta estiver entre 1% e 3%, há possibilidade de sua
obstrução devido aos sedimentos. Neste caso, aplica-se um fator de redução de 0,8 à vazão
obtida pela Equação 3.1.

Exemplo 3.1
Calcular a vazão máxima que escoa em cada sarjeta para uma declividade longitudinal de
0,005 m/m, considerando:
a) a água escoando por toda a calha da rua;
b) a água escoando somente pelas sarjetas.

Solução:
a) Utiliza-se a Equação 3.2:
Q = 3,846 ⋅ I = 3,846 × 0,005 = 0, 272 m 3 / s = 272 l/s
Aplicando o fator de redução de 0,8, tem-se: Q’ = 0,8 x 272 = 218 l/s

b) Para esta situação, utiliza-se a Equação 3.3:


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Q = 1,310 ⋅ I = 1,310 × 0,005 = 0,093 m 3 / s = 93 l/s
Aplicando o fator de redução de 0,8, tem-se: Q’ = 0,8 x 93 = 74,4 l/s

• Bocas de lobo

Capacidade de engolimento da boca-de-lobo

a) Quando a altura da lâmina da água é menor que a abertura da guia


Quando a lâmina da água é menor que a abertura da guia, a boca-de-lobo pode ser
considerada como um vertedor e a capacidade de engolimento é dada por:
Q = 1,7.L.y3/2 (3.4)
onde:
Q – vazão de engolimento, em m3/s;
L – comprimento da soleira, em m;
y – altura da água próximo á abertura da guia, em m.

b) Quando a boca de lobo é uma grelha


As grelhas funcionam como um vertedor de soleira livre, para a altura de água menor
que 12 cm. Neste caso, a capacidade de engolimento pode ser calculada pela equação:
Q = 2,91.A.y1/2 (3.5)
onde:
Q – vazão de engolimento, em m3/s;
A – área útil da grade (área total – área ocupada pelas barras), em m2;
y – altura da água sobre a grelha em m.

• Galerias de águas pluviais


As galerias de águas pluviais são projetadas para funcionar a plena seção para a vazão
de projeto.
A vazão para galeria circular a seção plena pode ser obtida pela fórmula de Chèzy-
Manning, dada por:
I
Q = 0,312 ⋅ ⋅ D8/ 3 (3.6)
n
onde:
Q – vazão, em m3/s;
D – diâmetro da tubulação, em m;
RH – raio hidráulico, em m, definido como arelação entre a área molhada e o perímetro
molhado;
I – declividade da rua, em m/m.

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n – coeficiente de rugosidade de Manning (para concreto, n = 0,013).

Isolando D da Equação 3.6, tem-se:


3/8
 Q⋅n 
D =   (3.7)
 0, 312 ⋅ I 
A velocidade de escoamento permitida no seu interior depende do material usado.
Para tubos e concreto, a velocidade deve ficar entre 0,65 m/s e 5,0 m/s. O recobrimento
mínimo é de 1,0 m para este material.
Os diâmetros comerciais existentes para a tubulação de concreto são: 0,30 m, 0,40 m,
0,50 m, 0,60 m, 0,80 m, 1,00 m 1,20 m, 1,50 m.

4. Macrodrenagem

A macrodrenagem de uma zona urbana corresponde à rede de drenagem natural,


constituída pelos córregos, riachos e rios que se localizam nos talvegues e vales.
As estruturas de macrodrenagem destinam-se à condução final das águas captadas nas
ruas através das sarjetas, bocas-de-lobo e galerias, que constituem o sistema de
microdrenagem.
A necessidade de interferência na macrodrenagem surge com o aumento das vazões
nos córregos ou rios, que é decorrente do aumento do escoamento superficial, causado pela
urbanização das bacias de contribuição.

Projeto das Estruturas de Macrodrenagem

1. Projeto de canais
As obras de macrodrenagem consistem em aumentar a capacidade de escoamento em
córregos ou rios, cuja seção tornou-se insuficiente para transportar as vazões de enchentes.
O aumento da capacidade pode ser obtido através de escavação do seu leito e/ou melhora da
condição de escoamento através de revestimento do leito com material de menor
rugosidade, conforme mostram as Figuras 4.1 e 4.2.

Figura 4.1 – Obras de macrodrenagem.

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Figura 4.2 – Revestimento do córrego com material de menor rugosidade.

A seleção da seção do canal depende da viabilidade técnico-econômica, ou seja, da


disponibilidade de espaço para alargamento do córrego e do custo de implantação e
manutenção. As seções mais utilizadas na prática são retangular, trapezoidal e mista, que
pode ser composta de várias formas (Figura 4.3).

Figura 4.3 - Seção do canal mais utilizada na obra de macrodrenagem.

Quanto ao dimensionamento hidráulico, admite-se, para facilitar o cálculo, que o


escoamento dos córregos no trecho considerado ocorre em regime uniforme. Nesta situação,
pode ser empregada a expressão de Chézy-Manning, já apresentada no dimensionamento
das sarjetas (Equação 3.1).

5. Vazão de projeto

5.1 Elementos de Hidrologia


Para facilitar a compreensão do cálculo da vazão de projeto, faz-se uma breve revisão
de Hidrologia.
• Tempo de concentração (tc)

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É o tempo necessário para que toda a água precipitada na bacia hidrográfica passe a
contribuir na seção considerada.
Existem inúmeras fórmulas para o cálculo de tc, maioria delas empíricas. Apresentam-
se aqui duas fórmulas bastante empregadas no projeto de drenagem urbana:
1. Fórmula de Kirpich
A expressa pela seguinte equação:
0, 385
 L2 
t c = 57  (5.1)
I 
 eq 
onde: tc – tempo de concentração, em min.
Ieq – declividade equivalente, em m/km;
L – comprimento do curso d´água, em km.

2. Método cinemático
O tempo de concentração é dado pela equação da cinemática:
L
tc = (5.2)
v

onde: tc é o tempo de concentração, em segundos;


L é comprimento do curso principal, em metros;
v é a velocidade média de escoamento, em segundos.

• Período de retorno
É definido como tempo médio, em anos, que um evento hidrológico (chuva, vazão)
pode ser igualado ou superado.

5.2 Chuvas intensas

Chuvas intensas são definidas como chuvas de curta duração e alta intensidade, porém
não há limite no valor destas duas grandezas.
O conhecimento das chuvas intensas é de grande interesse o dimensionamento de obras
hidráulicas em rios de pequeno porte, em geral desprovidos de medidores de vazão (postos
fluviométricos).
Para estes casos, a estimativa de vazões é feita indiretamente a partir das chuvas
intensas.
Relação entre Intensidade e Duração: Quanto maior a duração, menor será a intensidade.
Relação entre Intensidade e Freqüência: Quanto maior a freqüência, menor será a
intensidade.
Relação Intensidade-Duração-Freqüência (I-D-F): Ábaco ou equação que relaciona as três
grandezas simultaneamente. A relação I-D-F é definida para grandes cidades, onde há

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disponibilidade de dados pluviográficos (pluviogramas), com o objetivo de sistematizar o
cálculo da intensidade da chuva em função da duração e da freqüência.

Figura 5.1 – Exemplo de ábaco da relação I-D-F.

A Relação I-D-F pode ser transformada em equações, utilizando-se o conceito do


ajuste de curva e da distribuição de probabilidades.
Estas equações podem ser ajustadas de duas formas:

1. Tipo de equação: geral


A intensidade, duração e freqüência relacionam-se da seguinte forma:
K .T m
i= (5.3)
(t + t 0 ) n

onde i é a intensidade da chuva em mm/h, T é o período de retorno em anos e t é a duração


da chuva em minutos;
K, m, t0 e n são parâmetros que dependem do regime pluviométrico da região.
Alguns exemplos da equação do tipo geral:
a) Cidade de São Paulo (eng. Paulo Sampaio Wilken):
3462,7.T 0 ,172
i=
(t + 22)1,025
b) Cidade do Rio de Janeiro (eng. Ulysses Alcântara):
1239.T 0,15
i=
(t + 20) 0 , 74

c) Cidade de Curitiba (eng. Parigot de Souza):


5950.T 0 , 217
i=
(t + 26)1,15

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2. Tipo de equação: “lnln”
Para cidades paulistas, a maioria das equações de chuvas intensas é representada da
seguinte forma, conhecida como curva tipo “ln ln”:
  T 
it ,T = a ⋅ (t + b) c + (t + d ) e ⋅  f + g ⋅ ln ln   (5.4)
  T − 1 
onde:
it,T – intensidade da chuva em mm/min.;
t – duração da chuva em mm;
T – período de retorno em anos.
Apresenta-se, a seguir, a equação de chuvas intensas de algumas cidades paulistas:

a) Cidade de São Paulo


  T 
it ,T = (t + 20) − 0, 914 ⋅ 31,08 + 10,88 ⋅ ln ln   para 10 < t ≤ 60 min.
  T − 1 

  T 
it ,T = t −0,821 ⋅ 16,14 − 5,65 ⋅ ln ln   para 60 < t ≤ 1440 min.
  T − 1 

b) Cidade de Piracicaba
it ,T = (t + 20) −0, 988 ⋅ [43,20 + 11,47 ⋅ ln (T − 0,5)] para 10 < t ≤ 60 min.

it ,T = (t + 10) −0 ,841 ⋅ [20,44 + 5,52 ⋅ ln (T − 0,5)] para 60 < t ≤ 1440 min.

c) Cidade de Bauru
  T 
it ,T = (t + 15) −0 ,719 ⋅ 13,57 − 4,17 ⋅ ln ln   para 10 < t ≤ 60 min.
  T − 1 

  T 
it ,T = (t + 15) −0 ,821 ⋅ 24,40 − 7,49 ⋅ ln ln   para 60 < t ≤ 1440 min.
  T − 1 

Para o Estado de São Paulo, as equações de chuvas intensas podem ser obtidas no
trabalho de Martinez e Magni (1999), que está disponível no site www.sigrh.sp.gov.br.

5.2 Vazão de projeto para microdrenagem

a) Nas sarjetas
• Período de retorno
Para este tipo de obra, adota-se período de retorno de 2 a 10 anos.

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• Tempo de concentração
Como a área de contribuição é relativamente pequena, adota-se como tempo de
concentração o valor de 5 a 10 minutos.

• Vazão de projeto
Como a área de contribuição em microdrenagem não ultrapassa 2 km2, a vazão pode
ser calculada utilizando-se o Método Racional, expresso pela seguinte equação:
Q = 166,7.C.i.A (5.5)
onde: C - coeficiente de "run off", que varia entre 0 e 1 (tabelado);
i - intensidade da chuva de projeto em mm/min;
A - área de contribuição em ha.

b) Nas galerias
• Período de retorno
Em geral, adota-se o período de retorno que varia entre 5 e 50 anos.

• Tempo de concentração
O tempo de concentração (tc) para o cálculo das galerias é determinado pela soma dos
tc's dos diferentes trechos. O tc de um determinado trecho da galeria é calculado da seguinte
forma:
tc (i) = tc (i-1) + tp (i) (5.6)
• Vazão de projeto
Mesmo para galerias, a área de contribuição é ainda pequena. Desta forma, a vazão de
projeto pode ser obtida pelo Método Racional expresso pela Equação 5.5.
Tabela 5.1 – Valores de C adotado pela Prefeitura de São Paulo (Wilken, 1978).
Zonas C
Edificação muito densa:
Partes centrais, densamente construídas, de uma cidade com ruas e calçadas
pavimentadas. 0,70 – 0,95
Edificação não muito densa:
Partes adjacentes ao centro, de menor densidade e habitações, mas com ruas
e calçadas pavimentadas. 0,60 – 0,70
Edificações com poucas superfícies livres:
Partes residenciais com ruas macadamizadas ou pavimentadas. 0,50 – 0,60
Edificações com muitas superfícies livres:
Partes residenciais com ruas macadamizadas ou pavimentadas. 0,25 – 0,50
Subúrbios com alguma edificação:
Partes de arrabaldes e subúrbios com pequena densidade de construção. 0,10 – 0,25
Matas, parques e campos de esporte:
Partes rurais, áreas verdes, superfícies arborizadas, parques ajardinados,
campos de esporte sem pavimentação. 0,05 – 0,20

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Exemplo 5.1: Dimensionamento de galerias.
Dado o sistema de microdrenagem da figura abaixo, dimensione as tubulações nos 4
trechos, adotando período de retorno de 5 anos.

Figura 5.2 – Esquema de um sistema de galerias pluviais.


Dados:
Tabela 5.2 - Coeficientes e tempo de escoamento superficial.
Sub-bacia Área (ha) Coeficiente C Tempo escoa-
mento (min)
I 0,8 0,7 5
II 1,2 0,7 7
III 1,6 0,6 10
IV 1,6 0,6 10
V 2,0 0,5 15
VI 1,8 0,5 15
VII 1,8 0,5 15

Tabela 5.3 - Comprimento e declividade das tubulações.


Trecho Comprimento Declividade
(m) (m/m)
EB 135 0,0064
AB 165 0,0081
BC 120 0,0064
CD 135 0,0064

- Coeficiente (n) de Manning do concreto = 0,015;


29,13 ⋅ T 0,181
- Equação da chuva intensa: i = (i - mm/min, t - min, T - anos)
(t + 15) 0,89

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Solução:
Trecho EB
Drena a sub-bacia III (A = 1,6 ha, ts = 10 min)
Tempo de concentração: tc = ts = 10 min
29,13 × 50,181
Intensidade da chuva: i = = 2,22mm / min
(10 + 15) 0 ,89
Vazão de projeto: QEB = 166,7.C.i.A = 166,7 x 0,6 x 2,22 x 1,6 = 355 l/s
3/ 8
 0,355 × 0,015 
3/ 8
 Q⋅n 
Diâmetro: D =   =  
 = 0,56m ⇒ Dcom = 0,60 m
 0,312 ⋅ I   0,312 × 0,0064 
Q 4⋅Q 4 × 0,355
Velocidade: V = = = = 1,26m / s
A π ⋅D 2
π × ( 0,60) 2
L 135
Tempo de percurso: t p = = = 107,14 s = 1,79 min
V 1,26
Trecho AB
Drena as sub-bacias I (A = 0,8 ha, ts = 5 min) e II (A = 1,2 ha, ts = 7 min)
Tempo de concentração das sub-bacias I e II: tc = 7 min. (adota o maior deles)
29,13 × 50 ,181
Intensidade da chuva: i = = 2,49mm / min
(7 + 15) 0 ,89
Vazão de projeto: Q = QI + QII = 166,7.CI.i.AI + 166,7.CII.i.AII = 166,7.i.(CI.AI + CII.AII)
=166,7 x 2,49 x (0,7 x 0,8 + 0,7 x 1,2) = 415,08 x (0,56 + 0,84) = 415,08 x 1,4 = 581 l/s
3/ 8
 0,581 × 0,015 
3/ 8
 Q⋅n 
Diâmetro: D =   =  
 = 0,64m ⇒ Dcom = 0,70 m
 0,312 ⋅ I   0,312 × 0,0081 
Q 4 ⋅Q 4 × 0,581
Velocidade: V = = = = 1,51m / s
A π ⋅D 2
π × ( 0,70) 2
L 165
Tempo de percurso: t p = = = 109,27 s = 1,82 min
V 1,51
Trecho BC
Drena as sub-bacias I (A = 0,8 ha, ts = 5 min) e II (A = 1,2 ha, ts = 7 min) + IV (A = 1,6 ha,
ts = 10 min) e V (A = 2,0 ha, ts = 15 min)
Há três maneiras de a água chegar ao ponto B. O tempo de concentração será o maior tempo
de percurso entre os três.
1ª opção: (tc)1 = (ts)II + (tp)AB = 7 + 1,82 = 8,82 min
2ª opção: (tc)2 = (ts)III + (tp)EB = 10 + 1,79 = 11,79 min
3ª opção: (tc)3 = max{(ts)IV, (ts)V} = max{10, 15} = 15 min
tc = max{(tc)1, (tc)2, (tc)1} = max{8,82; 11,79; 15} = 15 min
19

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29,13 × 50 ,181
Intensidade da chuva: i = = 1,89mm / min
(15 + 15) 0 ,89
Vazão de projeto: Q = QI + QII + QIII + QIV + QV = 166,7.i.(CI.AI + CII.AII + CIII.AIII +
CIV.AIV + CV.AV) = 166,7 x 1,89 x (0,7 x 0,8 + 0,7 x 1,2 + 0,6 x 1,6 + 0,6 x 1,6 + 0,5 x 2,0)
= 315,06 x (0,56 + 0,84 + 0,96 + 0,96 + 1,0) = 315,06 x 4,32 = 1361 l/s
3/ 8
 1,361 × 0,015 
3/ 8
 Q⋅n 
Diâmetro: D =   =  
 = 0,93m ⇒ Dcom = 1,00 m
 0,312 ⋅ I   0,312 × 0 ,0064 
Q 4 ⋅Q 4 × 1,361
Velocidade: V = = = = 1,73m / s
A π ⋅D 2
π × (1,00) 2
L 120
Tempo de percurso: t p = = = 69,36 s = 1,16 min
V 1,73
Trecho CD
Drena as sub-bacias I a VII.
O tempo de concentração é o tc do ponto B mais o tempo de percurso do trecho BC.
tc = (tc)B + (tp)BC = 15 + 1,16 = 16,16 min
29,13 × 50,181
Intensidade da chuva: i = = 1,83mm / min
(16,16 + 15) 0,89
Vazão de projeto:
5
Até o ponto B: ∑C
i =1
i ⋅ Ai = 4,32

Q = 166,7.i.(4,32 + CVI.AVI + CVII.AVII) = 166,7 x 1,83 x (4,32 + 0,5 x 1,8 + 0,5 x 1,8) =
305,06 x (4,32 + 0,90 + 0,90) = 305,06 x 6,12 = 1867 l/s
3/ 8
 1,867 × 0,015 
3/ 8
 Q⋅n 
Diâmetro: D =   =  
 = 1,04m ⇒ Dcom = 1,10 m
 0,312 ⋅ I   0,312 × 0,0064 
Q 4 ⋅Q 4 × 1,867
Velocidade: V = = = = 1,96m / s
A π ⋅D 2
π × (1,10) 2
L 135
Tempo de percurso: t p = = = 68,88 s = 1,15 min
V 1,96

Tabela 5.4 - Resumo dos resultados.


Trecho Comp. Decl. A.D. tc Vazão Dcalc Dcom Veloc. tpercurso
(m) (m/m) (ha) (min) (l/s) (m) (m) (m/s) (min)
EB 135 0,0064 1,6 10 356 0,56 0,60 1,26 1,79
AB 165 0,0081 2,0 7 581 0,68 0,70 1,51 1,82
BC 120 0,0064 7,2 15 1360 0,97 1,00 1,73 1,16
CD 135 0,0064 10,8 16,16 1866 1,04 1,10 1,96 1,15

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5.3 Vazão de projeto para macrodrenagem

Em geral, as bacias de contribuição para macrodrenagem são maiores que 2 km2.


Portanto, não se utiliza o Método Racional.
Neste caso, a vazão de projeto pode ser determinada por dois métodos: direto ou
estatístico e indireto.

I. Método direto ou estatístico

Duas distribuições teóricas de probabilidade são mais empregado para o cálculo da


vazão de projeto: distribuição log-normal e distribuição de Gumbel.
A aplicação das duas distribuições pode ser feita através da fórmula geral proposta por
Ven Te Chow. Nesta fórmula a variável de interesse (vazão, chuva, etc.) é expressa em
função da média, do desvio padrão e do fator de freqüência KT, conforme mostrado abaixo:
X T = X + KT ⋅ S X (5.7)
onde:
XT - variável de interesse (vazão, chuva, etc.) para o período de retorno T;
X - média amostral;
S - desvio padrão amostral;
K T - fator de freqüência, tabelado conforme a Distribuição de Probabilidades em função do
período de retorno T.

No caso da Distribuição Normal, o fator de freqüência KT é a própria variável


reduzida z. Os valores de KT , que variam em função do período de retorno, estão
apresentados na Tabela 5.4 abaixo.
O fator de freqüência para a distribuição de Gumbel é calculado da seguinte forma:
6   T 
KT = − 0,577 + ln ln T − 1  (5.8)
π   

Tabela 5.4 - Valores de KT para Distribuição Normal

T (anos) KT T (anos) KT
10000 3,719 40 1,960
2000 3,291 20 1,645
1000 3,090 10 1,282
500 2,878 5 0,842
200 2,576 4 0,674
100 2,326 2,5 0,253
50 2,054 2 0,000

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Exemplo 5.2: Aplicação da Distribuição Log-Normal e de Gumbel

Visando a canalização de um curso d’água, Ano X Y = logX Y^2


determine a vazão de projeto, para o período de 1967 348,2 2,5418 6,4609
retorno de 50 anos, a partir da série de dados de 1968 295,4 2,4704 6,1029
1969 315,6 2,4991 6,2457
vazões máximas anuais apresentada no quadro ao
1970 278,8 2,4453 5,9795
lado (o ideal seria que a série histórica fosse superior 1971 304,3 2,4833 6,1668
a 25 anos de dados). 1972 290,5 2,4631 6,0671
1973 277,9 2,4439 5,9726
Solução: 1974 362,1 2,5588 6,5476
1975 314,7 2,4979 6,2395
Y =
∑Y i
=
37 ,2851
= 2 ,4857
1976 288,0 2,4594 6,0486
n 15 1977 260,5 2,4158 5,8361
1978 335,4 2,5256 6,3785

∑ (Y ) − n ⋅ (Y ) 1979 310,0 2,4914 6,2069


2 2
92 ,7004 − 15 × ( 2 ,4857 )2
SY = =
i
1980 294,3 2,4688 6,0949
n −1 14 1981 331,5 2,5205 6,3528
Soma 37,2851 92,7004
SY = 0,0376

a) Distribuição log-normal
A partir da Tabela 5.4, podem-se extrair os valores de KT:
Para Tr = 50 à KT = 2,054
Utilizando a fórmula geral de Ven Te Chow, tem-se:
Y50 = 2,4857 + 2,054 x 0,0376 = 2,5629
Calculando o antilogaritmo de Y50, tem-se:
Qmáx = 102,5629 ≅ 365,5 m3/s

b) Distribuição de Gumbel
Q = 307,1 m 3 / s e SQ = 28,6 m3/s
Para T = 50 anos:
6   50 
K 50 = − 0 ,577 + ln ln 50 − 1  = 2 ,5924
π   
Aplicando a fórmula de Ven Te Chow:
Q50 = 307,1 + 2,5924 x 28,6 = 381,2 m3/s

II. Método indireto

O método indireto mais utilizado atualmente é o chamado Método do Hidrograma


Triangular do Soil Sonservation Service (SCS), descrito a seguir.
O método do SCS determinada a vazão de projeto indiretamente, transformando as
chuvas de projeto em vazões de projeto.

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5.3.1 Cálculo da chuva de projeto
A chuva de projeto é determinada pela equação das chuvas intensas, que relaciona a
intensidade, duração e freqüência da uma chuva (relação I-D-F).
A duração da chuva de projeto é adotada igual ao tempo de concentração da bacia,
que, conforme o SCS, é a situação da chuva mais crítica em termos de intensidade.
A geração do hietograma, ou seja, a distribuição temporal da chuva é efetuada pelo
método dos blocos alternados, que torna a situação mais crítica em termos de intensidade.
Para a aplicação deste método, a chuva de projeto é discretizada em intervalos de tempo
adequados.
Para o cálculo da chuva excedente (aquela que escoa superficialmente), é utilizada a
seguinte equação:
(Pac − 0,2 ⋅ S )2
Pex = (5.9)
Pac + 0,8 ⋅ S
para Pac ≥ 0,2.S
onde: Pex é o escoamento superficial direto em mm;
Pac é a precipitação em mm;
S é a retenção potencial do solo em mm, que depende do tipo de solo;
0,2.S é uma estimativa das perdas iniciais (interceptação e retenção).
A relação entre S e CN (número de curva) é dada por:
25400
S= − 254 (5.10)
CN
onde CN é um parâmetro que depende de 3 fatores: umidade antecedente, tipo e ocupação
do solo. O seu valor varia entre 0 e 100 (tabelado). Quanto maior o valor do CN, menor é a
capacidade de infiltração, ou seja, a chuva que escoa superficialmente (excedente) será
maior.

5.3.2 Cálculo da vazão de projeto

O método da SCS admite que o hidrograma de projeto apresenta forma triangular,


valendo a seguinte relação:
tb = 2,67.ta (5.11)
onde: tb é o tempo de base do hidrograma;
ta é o tempo de ascensão do hidrograma, dado por
ta = tp + D/2 (5.12)
onde: D é a duração da chuva excedente;

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tp é o tempo de retardamento da bacia, que é o intervalo de tempo entre instante
correspondente a metade da duração da chuva e o instante do pico do hidrograma; o tp
pode ser obtido da seguinte forma (em horas):
tp = 0,6.tc (5.13)
onde tc é o tempo de concentração da bacia.
O aspecto do hidrograma triangular do SCS é mostrado na Figura 5.3 abaixo.

Figura 5.3 - Hidrograma triangular do SCS.

Conhecida a área do triângulo, que corresponde ao volume d’água precipitado sobre a


bacia (Pex x A.D), e o tempo da base, pode-se determinar a vazão de pico. O método admite
que cada chuva excedente de duração ∆t gera um hidrograma triangular, com sua
correspondente vazão de pico. O hidrograma final de projeto é a composição de n
hidrogramas parciais (n é o número de intervalos em que a chuva de projeto foi
subdividida).

Exemplo 5.2 - Cálculo da vazão de projeto utilizando método do Soil Conservation


Service.
Determine a vazão de projeto para uma bacia hidrográfica localizada na cidade de
Tapiraí/SP, adotando o período de retorno de 25 anos.
Dados da bacia:
Área de drenagem: 3,14 km2
Comprimento do talvegue: 2.800 m
Declividade média: 1,675 %
Tempo de concentração (tc): 36 minutos
Número de curva (CN): 60
Equação das chuvas intensas definida para Tapiraí:
i = 70,01 ⋅ (t + 30) −1,06 + 28 ⋅ (t + 30) −1, 06 ⋅ ln( T − 0,5)

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Valores de CN (número de curvas) para diferentes tipos de solo (condição II de umidade
antecedente).
Tipo de uso do solo/ Tratamento/ Grupo Hidrológico
Condições hidrológicas A B C D
Uso Residencial
Tamanho médio do lote % Impermeável
Até 500 m2 65 77 85 90 92
1000 m2 38 61 75 83 87
2
1500 m 30 57 72 81 86
2000 m2 25 54 70 80 85
4000 m2 20 51 68 79 84
Estacionamentos pavimentados, telhados 98 98 98 98
Ruas e estradas:
pavimentadas, com guias e drenagem 98 98 98 98
com cascalho 76 85 89 91
de terra 72 82 87 89
Áreas comerciais (85% de impermeabilização) 89 92 94 95
Distritos industriais (72% de impermeabilização) 81 88 91 93
Espaços abertos, parques, jardins:
boas condições, cobertura de grama > 75% 39 61 74 80
condições médias, cobertura de grama > 50% 49 69 79 84
Terreno preparado para plantio, descoberto
Plantio em linha reta 77 86 91 94
Cultura em fileira
linha reta condições ruins 72 81 88 91
boas 67 78 85 89
curva de nível condições ruins 70 79 84 88
boas 65 75 82 86
curva de nível + terraço condições ruins 66 74 80 82
boas 62 71 78 81
Cultura de grãos
linha reta condições ruins 65 76 84 88
boas 63 75 83 87
curva de nível condições ruins 63 74 82 85
boas 61 73 81 84
curva de nível + terraço condições ruins 61 72 79 82
boas 59 70 78 81
Plantação de legumes
linha reta condições ruins 66 77 85 89
boas 58 72 81 85
curva de nível condições ruins 64 75 83 85
boas 55 69 78 83
curva de nível + terraço condições ruins 63 73 80 83
boas 51 67 76 80
Pasto
condições ruins 68 79 86 89
médias 49 69 79 84
boas 39 61 74 80
curva de nível condições ruins 47 67 81 88
médias 25 59 75 83
boas 6 35 70 79
Campos condições boas 30 58 71 78
Florestas condições ruins 45 66 77 83
boas 36 60 73 79
médias 25 55 70 77
Núcleo de moradia em fazenda 59 74 82 86
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Solução:

1. Cálculo da chuva de projeto


Substituindo t = 36 min e T = 25 anos na equação das chuvas intensas:
i = 70,01 × (36 + 30) −1, 06 + 28 × (36 + 30) −1, 06 × ln( 25 − 0,5) = 1,88mm / min

P = i x t = 1,88 x 36 = 67,7 mm
A geração do hietograma foi efetuada pelo método dos blocos alternados. Para a
aplicação deste método, a chuva de projeto, com 36 minutos de duração, foi discretizada em
6 intervalos de 6 minutos. As alturas pluviométricas para durações de 6, 12, 18, 24 e 30
minutos foram calculadas, baseando-se também na curva I-D-F acima.
Tabela 5.5 - Altura pluviométrica para diferentes durações.

Duração t (min.) i (mm/h) P (mm)


6 214,5 21,5
12 182,2 36,4
18 158,1 47,4
24 139,6 55,8
30 124,8 62,4
36 112,8 67,7

Essas mesmas chuvas, correspondentes a cada duração, estão apresentadas na coluna 2


da Tabela 5.6 abaixo, na qual é mostrada a seqüência de cálculos para obtenção do
hietograma de projeto.
A partir dos dados da coluna 2, foram calculados os incrementos de chuva
correspondentes a cada incremento de duração (coluna 3). Os incrementos (ou blocos)
foram arranjados, colocando o de maior valor no centro e os blocos restantes em seqüência
decrescente, um à direita e outro à esquerda, até incorporar todos os blocos (coluna 4).
Tabela 5.6 – Determinação do hietograma de projeto.
(1) (2) (3) (4)
Duração Chuva acum. Incremento Rearranjo
(minutos) Pac (mm) ∆P (mm) ∆P (mm)
6 21,5 21,5 6,6
12 36,4 14,9 11,0
18 47,4 11,0 21,5
24 55,8 8,4 14,9
30 62,4 6,6 8,4
36 67,7 5,3 5,3

Finalmente, foi calculada a chuva excedente, ou seja, a chuva que causa efetivamente
o escoamento superficial.
Para o cálculo da chuva excedente, foram utilizadas as seguintes fórmulas:

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25400
S= − 254
CN
( P − 0,2 ⋅ S ) 2
Pe ac = ac para Pac > 0,2.S e Peac = 0 para Pac ≤ 0,2.S
Pac + 0,8 ⋅ S

25400 25400
S= − 254 = − 254 = 169,3 mm
CN 60
0,2.S = 0,2 x 169,3 = 33,9 mm
Tabela 5.7 – Chuva efetiva.
Tempo (min) P (mm) Pac (mm) Peac (mm) Pe (mm)
6 6,6 6,6 0 0
12 11,0 17,6 0 0
18 21,5 39,1 0,16 0,16
24 14,9 54,0 2,13 1,97
30 8,4 62,4 4,11 1,98
36 5,3 67,7 5,62 1,51

(39,1 − 0,2 × 169,3) 2


Pe ac = = 0,16 mm
39,1 + 0,8 × 169,3
(54,0 − 0,2 × 169,3) 2
Peac = = 2,13 mm
54,0 + 0,8 × 169,3
(62,4 − 0,2 × 169,3) 2
Peac = = 4,11 mm
62,4 + 0,8 × 169,3
(67,7 − 0,2 × 169,3) 2
Peac = = 5,62 mm
67,7 + 0,8 × 169,3

Chuva efetiva: t = 6 min ⇒ Pe = 0 mm


t = 12 min ⇒ Pe = 0 mm
t = 18 min ⇒ Pe = 0,16 mm
t = 24 min ⇒ Pe = 2,13 mm
t = 30 min ⇒ Pe = 4,11 mm
t = 36 min ⇒ Pe = 5,62 mm
25

Chuva infiltrada
Altura pluviométrica (mm)

20 Chuva execdente

15

10

0
1 2 3 4 5 6
Intervalo de 6 minutos
Figura 5.4

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2. Cálculo da vazão de projeto

Determinação do hidrograma triangular unitário do SCS:


Conhecida a área do triângulo, que corresponde ao volume d’água precipitado sobre a
bacia (Pex x A.D.), e o tempo da base, pode-se determinar a vazão de pico.
Cálculo do tempo de retardamento (tp):
tp = 0,6.tc = 0,6 x 36 = 21,6 min
Cálculo do tempo de ascensão (ta):
Duração da chuva unitária = 6 min.
D 6
ta = t p + = 21,6 + = 24,6 min
2 2
Cálculo do tempo de base (tb):
tb = 2,67.ta = 2,67 x 24,6 = 65,7 min ≅ 66 min ou tb = 66 x 60 = 3.960 s
Cálculo do volume unitário escoado:
Adotando a chuva unitária de 1 mm
V = Ab x P = 3,14 x 106 x 1 x 10-3 = 3,14 x 103 = 3.140 m3
Cálculo do pico do hidrograma:
q p × tb 2 × V 2 × 3.140
V = ⇒ qp = = = 1,59 m3/s
2 tb 3.960
Ordenadas do hidrograma triangular unitário:

O método admite que cada chuva excedente de 6 minutos gera um hidrograma


triangular, com sua correspondente vazão de pico. No presente exemplo, são gerados 4
hidrogramas (intervalos 2 a 6), pois nos 2 primeiros intervalos, a chuva excedente é nula, ou
seja, toda chuva precipitada infiltra no solo. O hidrograma de projeto é a composição de 4
hidrogramas parciais.

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Tabela 5.6 – Hidrograma de projeto.
Tempo qU q1= q2= q3= q4= q5= q6= Qtot(m3/s)
(min) (m3/s) qU x 0 qU x 0 qU x 0,16 qU x 1,97 qU x 1,98 qU x 1,51
0 0,0 0,0 - - - - - 0,0
6 0,40 0,0 0,0 - - - - 0,0
12 0,80 0,0 0,0 0,0 - - - 0,0
18 1,19 0,0 0,0 0,06 0,0 - - 0,06
24 1,59 0,0 0,0 0,13 0,79 0,0 - 0,92
30 1,36 0,0 0,0 0,19 1,58 0,79 0,0 2,56
36 1,14 0,0 0,0 0,25 2,34 1,58 0,60 4,77
42 0,91 0,0 0,0 0,22 3,13 2,36 1,21 6,92
48 0,68 0,0 0,0 0,18 2,68 3,15 1,80 7,81
54 0,45 0,0 0,0 0,15 2,25 2,69 2,40 7,49
60 0,23 0,0 0,0 0,11 1,79 2,26 2,05 6,21
66 0,0 0,0 0,0 0,07 1,34 1,80 1,72 4,93
72 0,0 0,04 0,89 1,35 1,37 3,65
78 0,0 0,45 0,89 1,03 2,37
84 0,0 0,46 0,68 1,14
90 0,0 0,35 0,35
96 0,0 0,0
Qmax = 7,81 m3/s

6. Reservatórios de retenção (piscinões)

O armazenamento das águas, através de reservatórios de retenção, permite atenuação


do pico de enchente e, conseqüentemente, reduz os danos causados pelas inundações.
Existem dois tipos de reservatório de retenção (piscinão): o primeiro é do tipo “in
line”, que é um reservatório executado no próprio leito do rio. Neste caso, toda a água do rio
escoa dentro do reservatório e a liberação da água para jusante é feita através de
descarregador de fundo e vertedor. A Figura 6.1 abaixo mostra esquematicamente o
funcionamento de um piscinão, tipo “in line”.

Figura 6.1 – Piscinão tipo “in line”.

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O outro é conhecido como “off line” e é executado na lateral do leito do rio. Neste
tipo de piscinões, a partir de um determinado nível, uma parte da água do rio é desviada
para o reservatório através de vertedor lateral. O excesso da água é armazenado
temporariamente no piscinão e o retorno da água ao rio é feito posteriormente, de forma
controlada, por gravidade ou por bombeamento. A Figura 6.2 mostra uma vista frontal de
um piscinão, tipo “off line”.

Figura 6.2 - Funcionamento de um piscinão, tipo “off line”.

O amortecimento de enchentes em reservatórios ou pisinões é conhecido também


como laminação da onda de cheia em reservatórios.
Durante a ocorrência de uma enchente, o piscinão retém uma parte do volume e
amortece a onda de cheia, abatendo o pico de cheia a jusante do mesmo.
O estudo de amortecimento de enchente permite o dimensionamento do descarregador
de fundo de um piscinão, que deverá liberar uma vazão não superior à capacidade do canal a
jusante.
A equação básica para a resolução do problema de onda de enchente através de
reservatório é a equação da continuidade:
∆V
Qe − Qs = (6.1)
∆t
onde: Qe - vazão afluente ao piscinão;
Qs - vazão efluente do piscinão;
∆V - variação de volume;
∆t - intervalo de tempo de cálculo.

Há vários softwares gratuitos para calcular o amortecimento de cheias em


reservatórios (por exemplo ABC6).

7. Bueiros

Bueiros são canalização de pouca extensão que tem como objetivo a transposição de
obstáculos colocados nos talvegues, tais como aterros de estradas e ferrovias, construções de
fundo de vale, etc.

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Para pré-dimensionamento de bueiros, pode ser utilizada a Tabela 7.1 preparada pelo
engenheiro Sérgio Thenn de Barros do DER-SP. As descargas máximas constantes nesta
tabela foram calculadas com base na fórmula de Manning, admitindo-se a declividade de
1% e coeficientes n adequados aos materiais em consideração. Foi admitido, ainda, que a
lâmina na seção retangular atinge 90% da sua altura H e 95% do diâmetro D na seção
circular.
Tabela 7.1- Descargas máximas em função das dimensões do bueiro.
Bueiros de alvenaria Tubos de concreto
Seção Descarga Diâmetro Descarga
(m x m) máxima (m3/s) (m) máxima (m3/s)
1,00 x 1,00 1,69 0,30 0,087
1,00 x 1,20 2,24 0,40 0,181
1,20 x 1,20 2,27 0,50 0,327
1,00 x 1,50 3,13 0,60 0,550
1,20 x 1,50 3,72 0,70 0,802
1,50 x 1,50 4,65 0,80 1,15
1,50 x 1,70 5,66 0,90 1,62
1,70 x 1,70 6,40 1,00 2,08
1,50 x 2,00 7,22 1,20 3,49
1,70 x 2,00 8,18 1,50 6,33
2,00 x 2,00 9,63
2,00 x 2,20 11,1
2,20 x 2,20 12,2
2,00 x 2,50 13,5
2,50 x 2,50 16,8

As Figuras 7.1 e 7.2 mostram exemplos de obras de macrodrenagem executadas com


bueiros.

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Figura 7.1 – Bueiros sob travessia de uma estrada (1).

Figura 7.2 – Bueiros sob travessia de uma estrada (2).

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