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Disciplina: História do Brasil Império

Alunos: Eduardo Alves Ferreira de Carvalho, Yuri Gabriel


Odeseira Calabria

CONTO

ZIMBA

Já pensando no castigo que o esperava no dia seguinte Zimba decidiu


que ao calar da noite sua fuga seria feita. A rota tomada não tinha importância,
contanto que o levasse para longe daquela fazenda. Mas o que faria após sua
fulga? Como se alimentaria? Do quê viveria? Todas essas perguntas enchiam
sua cabeça enquanto esperava todos adormecer, perguntas essas que ele
resolveu se preocupar depois, o mais importante agora era evitar os 150
açoites prometidos pelo senhor. Zimba mal tinha se recuperado do último
castigo, suas costas não aguentariam mais uma série de açoites sobre o
tronco, certamente se ele não saísse dali essa noite aquilo que o esperava no
dia seguinte era a morte.

E assim foi feito, ao perceber um silêncio absoluto sobre a fazenda


Zimba se danou a atravessar o canavial, ao sair do meio de toda aquela cana
sua fuga se deu em maior velocidade, atravessando arbustos e batendo em
alguns galhos, se a noite estava fria Zimba não sentia, seu coração batia tão
forte que seu sangue percorria rapidamente seus vasos sanguíneos. Ele tentou
evitar o máximo que pode os caminhos de terra, temia que se por algum acaso
descobrissem sua ausência ali seria o primeiro trecho a procurarem, além de
que preferia não deixar rastros como pegadas ou fiapos de sua roupa como
meios para encontrar o escravo fujão.

Parando para descansar resolveu subir em uma árvore grande o


suficiente para Zimba interpretar que seus galhos eram resistentes para
suportar o seu peso. Ao subir encontrou um emaranhado de galhos no qual
conseguiu apoio para se encostar e esticar suas pernas de maneira que Zimba
ficou confortável. Enquanto estava lá cima um flash de pensamentos passa
pela cabeça de Zimba, todos os acontecimentos que o levaram a situação em
que se encontrava, desde o afastamento forçado da sua mãe quando ele tinha
10 anos até a sabotagem feita por ele das ferramentas de trabalho na fazenda.
Agora com 26 anos, Zimba passou dezesseis anos de sua vida alimentando
uma consciência de revolta no qual o levou a realizar atos de resistência contra
a situação que se encontrava desde o seu nascimento. Ao sabotar o moedor
de café três dias antes de sua fuga Zimba foi descoberto pelo seu senhor, que
consequentemente o condenou a cem açoites sobre o tronco. Não satisfeito e
alimentado de revoltado pelo castigo Zimba danifica mais do maquinário de
trabalho da fazenda, seu senhor tomou como prerrogativa o último
acontecimento e não pensou duas vezes ao responsabilizar o escravo atuante
da última sabotagem, dessa vez o senhor prolonga o castigo de Zimba o
condenando a um dia sem alimento e 150 açoites ao amanhecer, prolongando
o sofrimento do infeliz, porém antes da segunda parte do castigo ser realizada
Zimba decide fugir e agora se encontra em cima de uma árvore pensando para
onde ir.

Ao descer da árvore, Zimba decide continuar sua fuga até a cidade, ao


decidir isso pensou imediatamente em se oferecer para trabalhar para ganhar
um valor no qual o ajudaria ir mais longe do território da fazenda de onde tinha
fugido. Para Zimba a comunicação oral nunca foi um problema, ao chegar na
cidade conseguiu facilmente um trabalho após conversar alguns instantes com
um dono de mercearia falando para este que tinha acabado de ser livre e
procurava o que fazer para sobreviver, ofereceu sua mão de obra em troca de
uma remuneração semanal. Após um mês de trabalho Zimba procurou sair da
cidade em que se encontrava para amenizar o risco de ser encontrado, ao
juntar boa parte de suas remunerações semanais decidiu viajar para uma outra
província no qual usou da mesma estratégia na cidade anterior, oferecendo sua
mão de obra em troca de remunerações semanais. E assim ele levou sua fuga
até se manter longe o suficiente da fazenda em que era escravo.

Um dia, ao caminhar para o trabalho Zimba escuta dois senhores


conversarem na praça ao lado, um deles com um jornal em mãos. Com tempo
restante para chegar ao trabalho Zimba decide parar na dita praça à uma
distância audível das duas figuras que por acaso estavam falando de um
anúncio publicado no jornal Boca do Império. Do muito que conseguiu escutar
Zimba consegue captar a leitura em voz alta vinda de um dos senhores sobre o
dito anúncio, que assim dizia:

“Há quatro meses, mais ou menos, fugiu o escravo Zimba, pertencente a


abaixo assignada, cujo sinais são o seguinte: Côr parda, estatura alta, boa
figura, é um pouco prosa e valente quando embriaga-se, idade de 26 anos,
mais ou menos, tem falta de dentes na frente, sem barba, pés e mãos grandes,
andar moleirão, gosta de viajar, é bem conhecido nesta província, na de Goiás
e S. Paulo. Tem um irmão em Jacuhy, por nome João Bueno nesta província
onde desconfia-se estar o aludido escravo. É criminoso nesta cidade e
sentenciado a 150 açoites. Quem o apreender e entregar ao senhor abaixo
assinado será gratificado.”

Ao escutar aquilo Zimba imediatamente sai andando para o trabalho.


Naquele instante milhares de coisas passavam na sua cabeça, logo passou a
andar mais devagar e processou melhor as palavras que tinha acabado de
escutar. Sabia claramente que o anúncio dizia respeito a sua fuga, porém as
características que Zimba escutou poderia facilmente ser associado a qualquer
outro possível escravo fugido, e considerando que ele veio mudando seu nome
para cada província que chegava dificilmente poderia ser capturado e levado
para aquela fazenda novamente. Levou em consideração que deveria continuar
se locomovendo para outras regiões e continuar com sua fuga para melhor
dificultar sua captura. Pensando melhor sobre o que escutou antes de chegar
ao trabalho, Zimba considerou-se orgulhoso de si mesmo, para fazer um
anúncio em jornal era deveras muito caro, para chegar aquele ponto seu
senhor estava desesperadamente atrás de Zimba, já que sua fuga completava
4 meses. Assim, ao entender a sociedade em que se encontrava Zimba foi
aprendendo a lidar com as ferramentas ao seu alcance, traçando uma
estratégia de fuga que consistia em vender sua mão de obra e juntar o
suficiente para ir o mais longe possível do território que o faziam escravo,
sempre usando as palavras ao seu favor. Talvez a sua vontade e todo aquele
sentimento de revolta se converteram na forma com qual Zimba passou a
sobreviver, burlando o sistema no qual era totalmente desfavorável a ele e a
seus semelhantes.

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