Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
de Economia II
Universidade do Minho
Escola de Economia e Gestão
Curso: Preparação e Avaliação de
Capacidade para Frequência do Ensino
Superior para Maiores de 23 anos
Abril de 2022
A Organização Económica das Sociedades
10. Relações Económicas com o Resto do Mundo
Relações Internacionais
Economias abertas – Nestas economias os
agentes económicos residentes no país Políticas
estabelecem operações económicas com
Económicas
agentes económicos não residentes.
Culturais
Sociais
Para satisfazermos as nossas necessidades, temos que adquirir bens, serviços e capitais capazes
de realizar essa satisfação.
Quando o consumidor dispõe desses bens no mercado do seu país, diremos que a sua aquisição
correspondente a um ato de comércio interno; quando tal não for possível, sendo necessário
comprar a empresas pertencentes a outros países, diremos que se trata de comércio externo.
→ Os países desenvolvidos produzem, duma maneira geral, bens que incorporam tecnologia
mais avançada;
→ Um outro grupo de países, os chamados Novos Países Industrializados (NPI), produzem
muitos bens industrializados mas, geralmente de baixo valor acrescentado;
→ Finalmente, um outro grupo, que engloba os países mais pobres limita-se a produzir bens
primários, bens de pouca ou nenhuma transformação.
Desta especialização da produção surge, então, a necessidade de efetuar trocas entre os
diversos países incrementando o comércio internacional. Permitindo aos países
envolvidos aumentar a sua produção, o seu rendimento e o seu bem-estar (estratégia
de crescimento económico).
Associada ao conceito de especialização (e, portanto, da DIT) está uma teoria desenvolvida por
David Ricardo, em 1817, segundo a qual a especialização beneficia cada país.
Diz-se que um país é possuidor de uma vantagem absoluta quando a sua produtividade
é maior e o custo de produção é menor.
Exemplo 1: se o agricultor necessita de 10 horas para produzir 1Kg de arroz, enquanto o pescador
necessita de 15 horas, então o agricultor tem uma vantagem absoluta sobre o pescador.
Diz-se que um país apresenta vantagem comparativa se produz o bem com um custo
relativo mais baixo do que outro país.
Exemplo 1:
País A País B
O País A deve especializar-se na produção de tecido, exportando para o País B, e importará batata deste
país.
A decisão é tomada com base, não nas vantagens absolutas, mas nas vantagens comparativas.
A especialização é, simultaneamente, uma causa e uma consequência do comércio internacional.
As vantagens comparativas e a especialização que daí decorre não são rígidas: evoluem com o
tempo;
§ A evolução tecnológica, a I&D, a formação de recursos humanos, a evolução dos salários, …,
explicam que os países não tenham de se confinar em determinadas especializações.
Nas últimas décadas, o comércio internacional tem vindo a desenvolver-se de forma muito
acelerada. A mundialização das trocas, juntamente com a globalização, tem provocado
profundas alterações nas formas como os países se relacionam uns com os outros. Como
resultado do incremento das trocas internacionais, registou-se um aumento dos fluxos
migratórios, fazendo com que cada vez circulem mais pessoas de uns países para os outros.
10.2. O registo das relações económicas com o
Resto do Mundo – A Balança de Pagamentos
O aumento das trocas de bens, serviços e capitais entre um país e o Resto do Mundo,
fez surgir a necessidade da existências de registos.
É indispensável conhecer o tipo de bens e serviços que se trocam, o seu valor, a sua
origem e destino, o montante dos capitais recebidos e aplicados para investimentos ou
a situação global do país em relação ao exterior.
Em Portugal estes registos são feitos pelo Banco de Portugal e encontram-se
Transações
Económicas
Residentes: Todos aqueles cujo centro principal de interesse económico se fixa em
Portugal (ou seja, efetuam operações económicas em Portugal durante pelo menos um
ano), estando portanto sujeitos ao controlo das autoridades económicas nacionais.
Exemplos:
v Cidadãos nacionais com residência fiscal no país;
v Diplomatas, estudantes e militares portugueses no estrangeiro;
v Imigrantes estrangeiros com residência permanente no país;
v Empresas constituídas no país, ainda que propriedade de não residentes; sucursais e
agências de empresas estrangeiras.
As Contabilidade Nacional e a Balança de Pagamentos são ferramentas essenciais para
estudar a macroeconomia de economias abertas e interdependentes.
• Uma vez como débito (–) → Saída de moeda (divisa) para o exterior
Saldos (milhões de
Estrutura
euros) Como se pode verificar na Balança de
Balança Corrente – 2 557 Pagamentos 2012, a soma dos
Balança de Capital + 3 870 diferentes saldos intermédios (saldos
Balança Financeira – 1 787 das quatro rubricas principais) é zero.
Erros e Omissões + 474
2. Balança de Serviços
Balança de
Corrente 3. Balança de Rendimentos Primários
(Balança de Rendimentos)
SALDO DA BALANÇA
= Valor das Exportações - Valor das Importações
COMERCIAL (Crédito) (Débito)
A título de exemplo, as importações feitas por Portugal constituem débitos e as suas
exportações, créditos, registando-se como se pode ver no quadro abaixo. O saldo da
Balança de Comercial obtém-se subtraindo os débitos com os créditos.
Milhões de euros
Balança
Crédito Débito Saldo
Comercial
Mercadorias/
53 737 68 146 -14 409
Bens
Fonte: INE (2020)
No caso Português, o saldo da Balança Comercial revela-se negativo e tem um forte impacto no saldo da
Balança Corrente, constituindo assim o principal motivo do défice desta balança.
Este saldo pode ser:
v Negativo → défice ou saldo deficitário
• Valor das exportações < valor das importações;
• O país tem de utilizar as divisas ou de contrair empréstimos;
v Positivo → Superavit ou saldo superavitária
• Valor das exportações > valor das importações;
• Obtenção de divisas;
v Nulo → Equilibrada
• Valor das exportações = valor das importações;
• O país não obtém nem utiliza as suas divisas;
A partir dos elementos que constam da Balança Comercial (mercadorias ou bens),
podemos determinar alguns indicadores importantes do comércio externo:
Taxa de cobertura
Estrutura geográfica
Taxa de cobertura
Quanto maior for a taxa de cobertura, menos deficitário será o saldo da Balança
comercial do país.
Relação entre a taxa de cobertura e o saldo da Balança Comercial:
A taxa de cobertura das importações pelas exportações atingiu o valor de 78,9% em 2020, um aumento em
relação ao valor registado no ano anterior (74,9%). Em 2021 o valor diminuiu para 76,85%.
Grau de abertura ao exterior
Indica o peso (em percentagem) que as trocas com o Resto do Mundo têm face à
dimensão da economia interna, considerando-se que uma economia é tanto mais
aberta quanto maior for esse índice.
𝐼𝑚𝑝𝑜𝑟𝑡𝑎çõ𝑒𝑠 + 𝐸𝑥𝑝𝑜𝑟𝑡𝑎çõ𝑒𝑠
𝐺𝑟𝑎𝑢 𝑑𝑒 𝑎𝑏𝑒𝑟𝑡𝑢𝑟𝑎 𝑎𝑜 𝑒𝑥𝑡𝑒𝑟𝑖𝑜𝑟 = × 100
𝑃𝐼𝐵@A
Este índice é influenciado, não só pela dimensão das trocas externas, mas também pela
dimensão absoluta da economia interna. Representa, de algum modo, um sinal da
sensibilidade da economia de um país ao que acontece na economia mundial.
Estrutura das importações e das exportações
𝐸𝑥𝑝𝑜𝑟𝑡𝑎çõ𝑒𝑠 𝑑𝑜 𝑠𝑒𝑡𝑜𝑟
𝐸𝑠𝑡𝑟𝑢𝑡𝑢𝑟𝑎 𝑠𝑒𝑡𝑜𝑟𝑖𝑎𝑙 𝑑𝑎𝑠 𝑒𝑥𝑝𝑜𝑟𝑡𝑎çõ𝑒𝑠 = × 100
𝐸𝑥𝑝𝑜𝑟𝑡𝑎çõ𝑒𝑠 𝑇𝑜𝑡𝑎𝑖𝑠
𝐼𝑚𝑝𝑜𝑟𝑡𝑎çõ𝑒𝑠 𝑑𝑜 𝑠𝑒𝑡𝑜𝑟
𝐸𝑠𝑡𝑟𝑢𝑡𝑢𝑟𝑎 𝑠𝑒𝑡𝑜𝑟𝑖𝑎𝑙 𝑑𝑎𝑠 𝑖𝑚𝑝𝑜𝑟𝑡𝑎çõ𝑒𝑠 = × 100
𝐼𝑚𝑝𝑜𝑟𝑡𝑎çõ𝑒𝑠 𝑇𝑜𝑡𝑎𝑖𝑠
Estrutura geográfica
Em 2020, a balança comercial de bens apresentou uma diminuição do défice de 5 686 milhões de
euros, face ao ano anterior, registando um saldo negativo de 14 388 milhões de euros.
Portugal continua a importar mais
Evolução mensal das exportações e importações de bens do que exporta: défice da balança
bens – Jan 2020 – Jan 2022
de bens aumentou 617 milhões de
euros em relação a janeiro de 2021.
2. Balança de Serviços
Seguros
Transportes e fretes
Balança de
Serviços Direitos de utilização
Serviços financeiros
(...)
Exemplos de registos:
Evolução mensal da
Balança de Serviços e
viagens e turismo – M€
Jan 2021 – 2022
Antes da pandemia, as receitas de turismo
correspondiam a cerca de a 50% do total de serviços
prestados por Portugal ao exterior. Contudo em
2020, com a crise pandémica desceram para cerca
de 35%.
https://bpstat.bportugal.pt/conteudos/sabia-que/1439
Dada a sua similaridade, muitas vezes é feita a junção entre a Balança Comercial
(mercadorias ou bens) e a Balança de Serviços.
BALANÇA BALANÇA DE
BALANÇA
DE BENS E
COMERCIAL SERVIÇOS
SERVIÇOS
Balança de bens (comercial), serviços e bens e serviços
-Saldo-Anual-Milhões de €
https://bpstat.bportugal.pt/serie/12512486
Comércio internacional → 2 conceitos importantes:
Divisas
Taxa de
câmbio
Divisas:
Sabemos que, quando pretendemos efetuar um pagamento num país fora da Área do
Euro necessitamos de trocar euros pela moeda em causa. O processo de troca de uma
moeda por outra designa-se de câmbio.
Esta questão prende-se com o facto de nem todas as moedas nacionais serem aceites
nas trocas internacionais, por estarem sujeitas a flutuações frequentes ou à
instabilidade das respetivas economias.
É indispensável que haja uma forma de proceder à troca (câmbio) das diferentes moedas.
A taxa de câmbio dá-nos o preço da moeda estrangeira, isto é, o valor a que é possível
trocar moeda de um país pela moeda de outro país.
Sistema de taxas de
câmbio fixas Sistema de taxas
de câmbio flexíveis
Sistema de taxas de câmbio fixas: as autoridades monetárias fixam taxa de câmbio e
intervêm sempre que necessário para garantir que a paridade estabelecida se mantém.
Atualmente, nos estados da Zona Euro, compete ao Banco Central Europeu definir a
política monetária e cambial, pelo que os Estados membros não podem utilizar a
politica de desvalorização da moeda para incentivar o comércio externo.
Valorização / desvalorização da moeda:
As variações cambiais influenciam as trocas comerciais porque têm repercussões nos
preços dos bens transacionados.
Balança de
Rendimentos
Primários Rendimentos de investimento
(Balança de Rendimentos)
• Rendimentos de investimento direto
• Rendimentos de investimento de carteira
• Rendimentos de outro investimento
Enquanto a parcela relativa aos rendimentos de trabalho apresenta um valor baixo, já
a dos rendimentos de investimento tem um valor significativo na BP Portuguesa.
A Balança de Rendimento
A saída regular de divisas
correspondentes ao rendimento
de capitais (juros e lucros) é um
dos fatores que torna a
economia portuguesa mais
vulnerável e dependente do
exterior.
Regista as entradas e saídas de fluxos monetários entre residentes e não residentes que
não têm qualquer contrapartida de mercadorias, de serviços, ou mesmo de aplicações
financeiras e de investimentos, ou seja, que não resultam de qualquer pagamento ou
recebimento.
Remessas de emigrantes e imigrantes
Balança de Donativos
Rendimentos
Secundários
(Balança de Indemnizações
transferências correntes)
(...)
Balança de Rendimentos Secundários
(Balança de Transferências Correntes)
Remessas de
Crédito → remessas de emigrantes;
emigrantes e Débito → remessas de imigrantes;
imigrantes
Em Portugal:
v A Balança Comercial apresenta tradicionalmente um saldo deficitário.
v A Balança de Serviços tem saldo positivo, devido à rubrica Viagens e Turismo;
Se o saldo for negativo, significa que a economia está a viver acima das suas
possibilidades: consome e investe mais do que aquilo que produz ⇒ recorrer ao
exterior para financiar esse excesso.
Se o saldo for positivo, significa que a economia produz mais do que aquilo que
consome e investe ⇒ pode financiar outras economias com essa poupança.
Ver vídeo
https://www.youtube.com/watch?v=ZiF4WR4GjAI
https://bpstat.bportugal.pt/serie/12517408 Dados - até 2021
Quando um país começa a registar défices sucessivos na sua balança corrente e de capital, isto
pode ser um reflexo de que o país é pouco competitivo face ao exterior, na medida em que os
pagamentos ao exterior são superiores aos recebimentos.
Veja-se o caso de Portugal que, entre 1994 e 2011, registou défices sucessivos nas suas balanças
corrente e de capital. Neste caso, o país viu-se forçado a pedir um resgate financeiro em 2011.
A partir de 2012 as balanças correntes e de capital têm apresentado um saldo positivo que, até
2019, foi fortemente influenciado pelo excedente das viagens e turismo (Portugal exportou mais
serviços turísticos do que importou) e parcialmente compensado pelo saldo negativo da balança
de bens (Portugal importou mais bens do que aqueles que exportou).
Decomposição do saldo acumulado das Balanças Corrente e de Capital
– JAN 2021 – 2022
• Economia portuguesa com necessidade de financiamento de 552 milhões de euros em janeiro de 2022;
https://bpstat.bportugal.pt/conteudos/noticias/1635/
10.2.3. A Balança Financeira
Se o saldo for negativo, podemos dizer que a economia tem capacidade líquida de
financiamento externo.
Se o saldo for positivo, podemos dizer que a economia tem necessidade líquida de
financiamento externo.
A relação atrás definida, como já se entendeu, é de sinal contrário à que foi definida ao
saldo conjunto das Balanças Correntes e de Capital.
O protecionismo
O livre-cambismo
O protecionismo:
Protecionismo
Adota medidas que levam a que esse comércio
se processe de forma distorcida como objetivo
de favorecer a economia nacional.
O protecionismo: Razões para a intervenção do Estado
O livre-cambismo nasceu em França, no século XVIII como os fisiocratas, que consideravam que toda a
riqueza provém da terra, opondo-se assim, ao intervencionismo mercantilista. Apareceu na Grã-
Bretanha, com Adam Smith, e já no século XIX surge outro seguidor, David Ricardo, o autor da teoria das
vantagens comparativas.
Por outro lado, o livre-cambismo baseia-se na ideia de que quanto menores forem as barreiras à
livre troca de fatores de produção:
§ menores serão as tensões entre Estados, reduzindo-se drasticamente as guerras;
§ maior será a capacidade para a invenção e para a especialização, visto haver uma
dinâmica competitiva.
A Organização Mundial do Comércio (OMC):
Funções da OMC:
§ Dirigir acordos comerciais;
§ Dinamizar negociações comerciais;
§ Moderar disputas comerciais;
§ Contribuir para a revisão de políticas comerciais nacionais;
§ Apoiar políticas de exportação com assistência técnica e formação;
§ Cooperar com outras organizações.
Para proporcionar a liberalização do comércio externo, a OMC aplica os seguintes
princípios:
§ Reciprocidade: se um país concede facilidades no acesso ao seu mercado por parte de bens
provenientes de outro, então este deverá proporcionar o inverso;
§ Não discriminação: sempre que um país concede mais facilidades no acesso ao seu mercado
aos bens provenientes de outros, então esta situação deverá também estender-se a todos os
outros países a quem adquire bens.