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UNIJUÍ - UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO

GRANDE DO SUL

SHEILA DIAS AMORIM

O AGRAVO DE INSTRUMENTO NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015

Santa Rosa (RS)


2019
SHEILA DIAS AMORIM

O AGRAVO DE INSTRUMENTO NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015

Trabalho de Conclusão do Curso de


Graduação em Direito objetivando a
aprovação no componente curricular Trabalho
de Conclusão de Curso – TCC.
UNIJUÍ – Universidade Regional do Noroeste
do Estado do Rio Grande do Sul.
DCJS – Departamento de Ciências Jurídicas e
Sociais.

Orientadora: MSc. Francieli Formentini

Santa Rosa (RS)


2019
Dedico este trabalho aos meus pais Dilene
Dias Amorim e Gilberto Amorim; e aos meus
irmãos Bruna Amorim e Dieison Amorim pelo
incentivo, apoio e confiança em mim
depositados durante toda a minha jornada.
AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus que permitiu que tudo isso acontecesse, que me guiou por todo
esse percurso e nunca me faltou, ao longo da minha vida, e não somente nestes anos como
universitária, mas que em todos os momentos é o maior mestre que alguém pode conhecer.

A minha mãe Dilene Dias e meu pai Gilberto Amorim, pessoas de caráter impecável,
que me ensinaram a encarar com a cabeça erguida todas as adversidades que surgiram ao
longo do caminho, que sempre estiveram presentes e me incentivaram com apoio e confiança
nas batalhas da vida. Minha eterna gratidão por terem me amado e educado.

Aos meus irmãos Bruna Amorim e Dieison Amorim, por acreditarem em mim e me
apoiarem nessa escolha, que nos momentos da minha ausência dedicada ao estudo superior,
sempre entenderam que o futuro é feito a partir da constante dedicação no presente! Ainda,
agradecimento especial à minha irmã por me dar o maior presente da vida, minha sobrinha
Valentina Amorim Bottega, que me transformou em um ser humano melhor.

As minhas grandes amigas de longa data, Tainara Ely, Ita Gabriela Brum, Maiara
Moura e Andressa Dias, por se fazerem presente nesta trajetória; eternas companheiras,
confidentes, mulheres dedicadas e fortes, por quem tenho amor e respeito máximo.

Por fim, à minha orientadora Francieli Formentini, com quem eu tive o privilégio de
conviver e contar com sua dedicação, paciência e disponibilidade, bem como pela
colaboração para o melhor desenvolvimento do estudo me guiando pelos caminhos do
conhecimento.
“Onde Não houver respeito pela vida e pela
integridade física e moral do ser humano, onde as
condições mínimas para uma existência digna não
forem asseguradas, onde não houver limitação de
poder, enfim, onde a liberdade e a autonomia, a
igualdade e os direitos fundamentais não forem
reconhecidos e minimamente assegurados, não
haverá espaço para dignidade humana e a pessoa
não passará de mero objeto de arbítrio e
injustiças.” (Ingo Sarlet – Juiz e Jurista brasileiro)
RESUMO

O presente trabalho tem como principal objetivo discorrer acerca das mudanças trazidas
pelo Código de Processo Civil de 2015 ao recurso de Agravo de Instrumento. O interesse da
acadêmica na escolha do tema justifica-se, em razão da polêmica que o rol do artigo 1.015 do
CPC trouxe ao tornar taxativas as hipóteses de cabimento do recurso. O método adotado para
consolidar o estudo foram as pesquisas bibliográficas, doutrinárias, jurisprudenciais e de
legislação, reunindo dois capítulos. O primeiro capítulo, trata-se dos aspectos históricos do
Agravo de Instrumento, da legislação vigente a respeito do recurso, bem como das hipóteses de
cabimento, do procedimento do recurso e dos impactos da decisão nele proferida para o
processo. Já no segundo, contextualiza-se o agravo de instrumento, examinando o rol do artigo
1.015. Ademais, o segundo capítulo demonstra o posicionamento doutrinário e jurisprudencial
no que tange a recorribilidade da decisão que declina da competência, através de análises
jurisprudenciais e doutrinárias, concluindo com o julgamento do Superior Tribunal de Justiça,
a respeito do Recurso Especial de n. 1.704.520/MT.

Palavras-Chave: Agravo de Instrumento. Artigo 1.015. Código de Processo Civil


2015. Recorribilidade. Taxatividade.
ABSTRACT

The objective of this study is to discuss the changes brought by the Code of Civil
proceding course of conduct of 2015 to the appeal of document. The interest of the academic
in the choice of the theme is justified, by the controversy that the list of article 1.015 of the
CPC brought by making the hypotheses of capacity of the appeal. The method adopted to
consolidate the study was search by bibliographical, doctrinal, case law and legislation
research, exemplified together in two chapters. The first chapter deals with the historical
aspects of the Appeal, the current legislation regarding the appeal, as well as the hypotheses
of propriety, the appeal course of conduct and the impacts of the decision handed down in the
case. In the second chapter, the appeal document was contextualized, examining the role of
Article 1.015. Apart from, the second chapter evidence the doctrinal and jurisprudential
positioning to resort the appeal of the decision declining jurisdiction, through cases law and
doctrinal analysis, concluding with the judgment of the Superior Court of Justice, regarding
the Special Appeal of n. 1,704,520 / MT.

Keyword: The Appeal of Document. Article 1.015. Code of Civil proceding course of
conduct of 2015. To Resort the Appeal. Making the Hypotheses.
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 9

1 A RECORRIBILIDADE DAS DECISÕES INTERLOCUTÓRIAS POR MEIO DE


AGRAVO DE INSTRUMENTO........................................................................................... 11
1.1 Aspectos históricos do recurso de Agravo ...................................................................... 11
1.2 Legislação vigente sobre o recurso de Agravo de Instrumento e hipóteses de
cabimento ................................................................................................................................ 17
1.3 Procedimento do recurso e impactos da decisão nele proferida para o processo ....... 22

2 HIPÓTESES DE CABIMENTO DO AGRAVO DE INSTRUMENTO:


INTERPRETAÇÕES COM RELAÇÃO A TAXATIVIDADE DO ROL DO ARTIGO
1.015 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL ....................................................................... 25
2.1 Contextualização do Código de Processo Civil de 2015 quanto aos recursos, em
especial ao recurso de Agravo de Instrumento .................................................................... 25
2.2 Ampliação do rol do artigo 1.015: taxatividade e interpretação extensiva ................. 30
2.3 Posicionamento dos Tribunais......................................................................................... 34

CONCLUSÃO......................................................................................................................... 43

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 45
9

INTRODUÇÃO

O presente trabalho de conclusão de curso apresenta um estudo acerca do agravo de


instrumento e da problemática da natureza do rol do artigo 1.015, trazida pela Lei
13.105/2015, a qual regula o Código de Processo Civil.

O tema escolhido decorre da relevância do recurso de agravo de instrumento como


meio de impugnação das decisões interlocutórias e das alterações inseridas no Código de
Processo Civil de 2015. Além disso, a temática destaca-se em razão da divergência quanto a
taxatividade ou não do rol do artigo 1.015 do Código de Processo Civil, especialmente entre
os Ministros do Superior Tribunal de Justiça, em Recurso nº 1.704.520, afetado pelo rito dos
Recursos Especiais repetitivos contra decisões interlocutórias não previstas expressamente no
rol do artigo acima mencionado.

Para a realização deste trabalho foram efetuadas pesquisas bibliográficas, doutrinárias,


jurisprudenciais e de legislação, a fim de enriquecer a coleta de informações e permitir um
aprofundamento no estudo, de maneira a consolidar as conclusões por meio da presente
monografia, a qual reúne dois capítulos.

Inicialmente, no primeiro capítulo, aborda-se os aspectos históricos do recurso de


agravo de instrumento. Em outras palavras, discorre-se sobre a origem da palavra agravo, por
quem foi criado o recurso de agravo, bem como o decorrer do seu desenvolvimento até os dias
atuais.

No segundo e último capítulo se analisa mais profundamente a natureza do rol do


artigo 1.015 do Código de Processo Civil, aludindo o Recurso Especial 1.704.520/MT, ante
relatoria da ministra Nancy Andrighi, o qual foi usado como uma das fundamentações para
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iniciar a discussão. Por fim, o debate consistirá em tratar da taxatividade ou não taxatividade,
haja vista que se for reconhecido o cabimento de recurso de agravo de instrumento em
circunstâncias não adotadas de maneira expressa no artigo 1.015, este será considerado
passível de interpretação extensiva.

A partir desse estudo, a pesquisa defenderá principalmente a taxatividade extensiva do


rol do artigo 1.015 do Código de Processo Civil, baseando-se nos posicionamentos dos
tribunais.
11

1 A RECORRIBILIDADE DAS DECISÕES INTERLOCUTÓRIAS POR MEIO DE


AGRAVO DE INSTRUMENTO

O presente estudo, de modo geral, objetiva analisar os reflexos causados ao recurso de


agravo de instrumento com a entrada em vigor do Código de Processo Civil de 2015,
principalmente, no que tange a taxatividade prevista no rol do artigo 1.015.

Feitas as primeiras colocações, insta esclarecer que, no presente capítulo, será


abordado os aspectos históricos do recurso de agravo, a legislação vigente sobre o recurso,
bem como o procedimento e os impactos da decisão nele proferida para o processo, a fim de
possibilitar entendimento amplo sobre a matéria.

1.1 Aspectos históricos do recurso de Agravo

Inicialmente, importa conceituar a palavra recurso, a qual, na linguagem jurídica, é


muito utilizada para denominar “[...] “todo meio empregado pela parte litigante a fim de
defender o seu direito”. Nessa perspectiva, no direito processual, o recurso compreende um
meio ou remédio impugnativo capaz de provocar em uma relação processual ainda em curso,
o reexame de decisão judicial, “[...] pela mesma autoridade judiciária, ou por outra
hierarquicamente superior, visando a obter-lhe a reforma, invalidação, esclarecimento ou
integração”, segundo Humberto Theodoro Júnior (2016, p. 941).

Para definir a palavra recurso, Daniel Amorim Assumpção Neves (2016) aduz que se
faz necessário observar cinco características essenciais a esse meio de impugnação, sendo
elas: voluntariedade, expressa previsão em lei federal, desenvolvimento no próprio processo
no qual a decisão impugnada foi proferida, manejável pelas partes, terceiros prejudicados e
Ministério Público e, com o objetivo de reformar, anular ou esclarecer decisão judicial.

Ainda, como conceituam Luiz Guilherme Marinoni, Sérgio Cruz Arenhart e Daniel
Mitidiero (2017, p. 1.066), “[...] Recurso. É um meio voluntário de impugnação de decisões
judiciais, interno ao processo, que visa à reforma, à anulação ou ao aprimoramento da decisão
atacada.”

Conforme explica Theodoro Júnior (2016, p. 941), no direito processual, o recurso


12

dispõe de uma compreensão tanto técnica quanto restrita, suportando ser definido como o
meio ou remédio impugnativo, capaz de causar o reexame de uma decisão judicial dentro do
processo em que foi proferida, antes de haver coisa julgada, ora pela mesma autoridade
judiciária, ora por outra hierarquicamente superior, desejando que seja reformada, integrada,
esclarecida ou invalidada.

De acordo com Araken de Assis (2016, p. 47), o inconformismo do homem faz com
que o Estado tenha que intervir na vida em sociedade para a resolução dos conflitos. O maior
descontentamento, cumulado ao assombro de desperdício de tempo valioso, estende-se nos
pronunciamentos contrários ao interesse das partes e de terceiros desprendido neste plano. A
sociedade pós-moderna acostumou-se com a rapidez dos modernos meios de comunicação,
assim, reagem muito mal, seja qual for, na demora e na solução que não atendam plena e
integral aos seus interesses. “[...] A própria origem já revela que os meios de impugnação às
resoluções judiciais tutelam relevante interesse público [...]”.

[...] O recurso mostra a todos “que os juízes e tribunais são destinados a regrar com
justiça as demandas e aplicar com exatidão o direito objetivo”. Em alguns meios de
impugnação, o objetivo fundamental é o único que importa: o remédio promove,
concretamente, a supremacia da Constituição ou controla a exata aplicação das leis.
A maioria das impugnações sobreleva o interesse em reavaliar a justiça do
provimento, sem prejuízo, no entanto, da finalidade pública há pouco reconhecida ao
instituto (ASSIS, 2016, p. 48).

Diante do exposto, por influência dos direitos germânico e canônico surgiu a


oportunidade de uma decisão interlocutória ser questionada por recurso próprio. Entretanto,
mesmo já havendo conhecimento acerca da decisão interlocutória no processo civil romano,
esses foram influenciados apenas depois quando do surgimento do recurso como meio de
impugnação de interlocutória, conforme leciona José Carlos Teixeira Giorgis (1996).

O agravo de instrumento nasceu, sem dúvida, em Portugal, no momento em que o rei


D. Afonso III, no ano de 1261, indica a supliciação ou sopriciação, as quais permitiam ao
vencido protestar contra atos da hierarquia judiciária. No Brasil, com a independência, vieram
as Ordenações Filipinas e a legislação extravagante, sem contrariar a revolução emergente,
sendo aplicados os agravos existentes em Portugal, nas palavras de José Carlos Teixeira
Giorgis (1996, p. 1).
13

Como lembra Valentina Jungmann Cintra Alla (1996, p. 3/4), as Ordenações e as leis
extravagantes vigoraram no direito brasileiro pela lei de 20 de outubro de 1823. Através desse
regime havia os consecutivos tipos de agravo: de petição, de instrumento, no auto do
processo, de ordenação não guardada e o ordinário. O artigo 14 da lei de 29 de novembro de
1832 reduziu os agravos de petição e o de instrumento a agravo no auto do processo. Com o
advento do Código de Processo Civil de 1973 o recurso de agravo de instrumento passou a ser
admitido contra todas as decisões proferidas no procedimento de primeiro grau, que não lhe
pusessem termo.

O Código de Processo Civil de 2015, aprovado pela Câmara dos Deputados, trouxe
consigo mudanças no tocante ao recurso cabível contra decisões interlocutórias proferidas
pelos juízos de primeira instância. Primordialmente a maior das novidades fomentada pelo
novo código, é que nem todas as decisões interlocutórias serão agraváveis neste novo sistema
processual, uma vez que o CPC prevê um rol exaustivo de decisões interlocutórias que poderá
caber agravo, sendo que no caso da decisão proferida não ser encontrada no rol, esta será
irrecorrível em separado, sustenta o autor Câmara (2015, p. 9).

Aos ensinamentos de Assis (2016), o agravo teve sua origem no direito português.
Com o reinado de D. Afonso IV, a apelação em separado contra decisões interlocutórias foi
proibida, ressalvado se dotadas de caráter terminativo do feito ou quando produzisse dano
irreparável. Para o autor, o recurso de agravo nasceu na segunda edição das Ordenações
Manuelinas, pois classificava as sentenças em definitivas, interlocutórias mistas e
interlocutórias simples. Dessa forma, eram previstos os seguintes agravos: o agravo ordinário
(supplicatio) contra as sentenças definitivas emanadas dos “Sobre-Juízes”, o agravo de
instrumento e o agravo de petição, sendo os últimos interpostos contra as sentenças
interlocutórias e consoante o critério geográfico, isto é, quando o ato proferido fosse de
processo que tramitasse no lugar de situação do órgão ad quem, caberia agravo de petição.

Teresa Celina Arruda Alvim Pinto (1990), compreende que a verdadeira raiz do agravo
no direito Português surgiu nas “querimas”. Segundo a autora, as “querimas” tiveram início
ante a habitualidade dos monarcas em percorrer o reino e, aqueles que exerciam a função de
julgar eram considerados delegados do rei. Essa prática consistia na queixa apresentada pela
parte ao soberano, por conta de uma determinação de algum magistrado, a qual o rei dava aos
queixosos uma carta de justiça que deveria ser apresentada ao juiz para uma possível
14

modificação da decisão.

Em continuidade, sobreveio o agravo ordinário, o qual insurgia pela reparação da


injustiça ou para reduzir os rigores da condenação, dirigindo-se a “súplica”, ou seja, ao
responsável pela Casa da Suplicação. Entendendo do que se tratavam as súplicas, o rei
autorizou os escrivães a fornecer cópias dos autos, as quais eram chamadas de “cartas de
justiça”, sendo essas analisadas pelas autoridades. Com o passar do tempo, as “cartas de
justiça” foram proibidas no reino de D. Duarte, conforme Carlos Silveira Noronha (1995).

As Ordenações Afonsinas criaram o agravo de ordenação não guardada, consistindo


em um remédio colocado ao alcance da parte, em virtude de forçar os juízes a indenizá-la
pelos prejuízos sofridos, em decorrência de desrespeito ou inobservância das normas
processuais na decisão. Por sua vez, as Ordenações Manuelinas, compreendidas como outro
tipo de impugnação denominada “agravo nos autos”, mostrou-se como uma espécie de
agravo de instrumento tornando-se aplicada em casos em que o juiz indefere o recebimento da
apelação. Posteriormente, foi instituída, no reinado de D. João III a criação do agravo no auto
do processo como recurso autônomo, na Carta Régia de 05 de julho de 1526, nas palavras de
Noronha (1995, p. 21):

[...] Esta disposição reinícola, além de confirmar a apelabilidade ou a


impugnabilidade das sentenças definitivas por agravo ordinário, procurou
particularizar os casos de cabimento de agravos de instrumento e de petição,
terminando por identificar o agravo no auto do processo como espécie recursal
autônoma, cujo sopro de vida se manifestara embrionariamente nas ordenações
manuelinas (NORONHA, 1995, p. 21).

Em setembro de 1822, vigia, ainda, em Portugal as Ordenações Filipinas, tendo como


previsão cinco espécies de agravos, quais sejam: no auto do processo, de instrumento,
ordinário, de petição e de ordenação não guardada. Com a proclamação da Independência do
Brasil em 07 de setembro de 1822, estabeleceu-se a imprescindibilidade de um corpo de leis
próprias no país. No entanto, passou-se a viger no Brasil, por um tempo, as leis portuguesas,
adentrando as cinco espécies de recursos de agravo previstos nas Ordenações Filipinas
(NORONHA, 1995).

Ainda, explica Noronha (1995), que somente no ano de 1832, mais precisamente no
dia 29 de novembro, foi promulgado o Código de Processo Criminal do Império, de modo que
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levou consigo a “Disposição Provisória Acerca da Administração da Justiça Civil”, revogando


a legislação portuguesa, ao passo que se iniciou o primeiro período do direito processual civil
brasileiro. Essa Disposição Provisória eliminou o agravo ordinário, de instrumento e de
petição, achando-se os dois últimos reduzidos a agravo no auto do processo.

Com o passar dos anos, foi reestabelecido o agravo de instrumento e o de petição,


mantendo-se o agravo no auto do processo, bem como excluindo o agravo de ordenação não
guardada. Em 25 de Novembro de 1850 foi promulgado o Regulamento n° 737, o qual
historicamente apresenta uma descrição acerca da intensa instabilidade do agravo. Com a
promulgação desse regulamento, o agravo de instrumento passou a ter presença no sistema
processual brasileiro, tanto no juízo cível quanto no juízo do comércio. (NORONHA, 1995).

No Código de Processo Civil de 1939 era previsto três diferentes tipos de agravos,
sendo o agravo de petição, o agravo de instrumento e o agravo no auto do processo. O recurso
de agravo de petição cabia contra as sentenças, as quais extinguiam o processo sem resolução
do mérito e, no caso de o processo ser extinto com resolução do mérito, cabia, contra a
sentença, apelação. Agora, o recurso de agravo de instrumento cabia contra decisões
interlocutórias, porém apenas contra decisões indicadas expressamente pelo art. 8421 do
Código de Processo Civil de 1939 ou em lei extravagante. Já o recurso de agravo no auto do
processo dispunha a evitar a preclusão de algumas decisões, como por exemplo, as que

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Art. 842. Além dos casos em que a lei expressamente o permite, dar-se-á agravo de instrumento das
decisões:
I, que não admitirem a intervenção de terceiro na causa;
II, que julgarem a exceção de incompetência;
III, que denegarem ou concederem medidas requeridas como preparatórias da ação;
IV - que receberem ou rejeitarem “in limine” os embargos de terceiro.
V, que denegarem ou revogarem o benefício de gratuidade,
VI, que ordenarem a prisão;
VII, que nomearem ou destituírem inventariante, tutor, curador, testamenteiro ou liquidante;
VIII, que arbitrarem, ou deixarem de arbitrar a remuneração dos liquidantes ou a vintena dos
testamenteiros;
IX, que denegarem a apelação, inclusive de terceiro prejudicado, a julgarem deserta, ou a relevarem da
deserção;
X, que decidirem a respeito de erro de conta ou de cálculo;
XI, que concederem, ou não, a adjudicação, ou a remissão de bens;
XII, que anularem a arrematação, adjudicação, ou remissão cujos efeitos legais já se tenham produzido;
XIII, que admitirem, ou não, o concurso de credores, ou ordenarem a inclusão ou exclusão de créditos
XIV, que julgarem, ou não, prestadas as contas;
XV, que julgarem os processos de que tratam os Títulos XV a XXII do Livro V, ou os respectivos
incidentes, ressalvadas as exceções expressas;
XVI, que negarem alimentos provisionais;
XVII, que, sem caução idônea, ou independentemente de sentença anterior, autorizarem a entrega de
dinheiro ou quaisquer outros bens, ou a alienação, hipoteca, permuta, subrogação ou arrendamento de bens.
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rejeitassem as “exceções” de litispendência ou de coisa julgada, ensinam Fredie Didier Jr. e


Leonardo Carneiro da Cunha (2018).

Já com o advento do Código de Processo Civil de 1973, o recurso de agravo de


instrumento passou a ser cabível contra qualquer decisão interlocutória, porém, também
abrangia o agravo retido, nessa linha entende Henrique de Moraes Fleury da Rocha (2018).

O CPC-1973, em sua sistemática originária, passou a prever o agravo de


instrumento, como recurso cabível contra qualquer decisão interlocutória. Na
verdade, o recurso era o de agravo de instrumento, que teria uma modalidade: o
agravo retido. Ao agravante era conferida a opção de escolha entre interpor o agravo
de instrumento e o agravo retido. (DIDIER Jr.; CUNHA, 2018, p. 241).

Ainda, segundo Didier Jr. e Cunha (2018), no ano de 1995, por intermédio da Lei n°
9.139, foi alterado dispositivos relacionados ao recurso de agravo. Nesta senda, o recurso que
antes era chamado de agravo de instrumento recebeu a denominação genérica de agravo,
sendo assim, subentendeu-se que o recurso era o de agravo, podendo ser interposto sob as
modalidades de agravo retido ou agravo de instrumento. Ademais, essa reforma processual
trouxe uma novidade que foi estabelecer a interposição de recurso de agravo de instrumento
diretamente ao tribunal competente para julgá-lo.

Em 2001, com o objetivo de baixar o número de julgamentos de agravos de


instrumento, foi editada a Lei n° 10.352, a qual determinou as hipóteses obrigatórias do
recurso de agravo retido. Desse modo, caberia agravo retido “[...] quando interposta das
decisões proferidas em audiência de instrução e julgamento e das posteriores à sentença, salvo
nos casos de dano de difícil e de incerta reparação, nos de inadmissão da apelação e nos
relativos aos efeitos em que a apelação fosse recebida”, consoante Didier Jr. e Cunha (2018, p.
243).

Nesse sentido dispõe o art. 523, § 4°, o qual estabeleceu que:

Art. 523, § 4°. Será retido o agravo das decisões proferidas na audiência de instrução
e julgamento e das posteriores à sentença, salvo nos casos de dano de difícil e de
incerta reparação, nos de inadmissão da apelação e nos relativos aos efeitos em que a
apelação é recebida. (NR). (BRASIL, 2001, p. 2).

Nessas premissas, considerando o insucesso da alteração, entrou em vigor a Lei n°


11.187/2005, que conferiu nova disciplina ao cabimento do agravo retido e de instrumento,
17

estabelecendo como regra o agravo retido. O recurso de agravo de instrumento somente


caberia nas seguintes hipóteses:

[...] Somente caberia agravo de instrumento em hipóteses expressamente indicadas:


(a) quando se tratasse de decisão suscetível de causar à parte lesão grave e de difícil
reparação; (b) nos casos de inadmissão da apelação; e, (c) nos relativos aos efeitos
em que a apelação fosse recebida [...] (DIDIER Jr.; CUNHA, 2018, p. 243).

Diante disso, ao relator era permitido converter o agravo de instrumento em agravo


retido, no caso de ter sido este interposto fora daquelas hipóteses. A interposição do agravo de
instrumento cabia quando a decisão fosse causar a parte, lesão grave e de difícil reparação.
Destarte, o agravo de instrumento era cabível da decisão que indeferisse interposição de
terceiros, da que concedesse provimento de urgência, da que indeferisse parcialmente a
petição inicial, da que versasse sobre competência do juízo, da que resolvesse parcialmente o
mérito, entre outras consideradas pela jurisprudência. (DIDIER Jr.; CUNHA, 2018, p. 243).

Portanto, nas condições acima mencionadas, não cabia a figura do agravo retido, por
inadequação, sendo cabível o agravo de instrumento. O agravo retido foi eliminado do Código
de Processo Civil de 2015 e, estabeleceu um rol taxativo de decisões possíveis ao recurso de
agravo de instrumento, consoante Didier Jr. e Cunha (2018, p. 243).

1.2 Legislação vigente sobre o recurso de Agravo de Instrumento e hipóteses de


cabimento

O agravo, provavelmente, tenha sido o recurso que mais sofreu alterações no decorrer
da história processual brasileira, sobretudo após 1985, porquanto foram feitas consideráveis
alterações quanto sua competência para interposição, regime, hipóteses de cabimento de
pressupostos de admissibilidade e poderes ao relator. Um dos motivos de ocorrer diversas
alterações é pelo fato de o recurso de agravo ser o mais frequente na realidade dos operadores
do processo, pois ataca decisões interlocutórias prolatadas ao longo do processo, enquanto
tramita em 1° grau, de acordo com Renato Montans de Sá (2016, p. 1.085).

Insta frisar que o agravo (contra decisões de primeiro grau) cabia contra toda e
qualquer decisão interlocutória no processo, em razão disso foi o recurso que sofreu maiores
modificações com a reforma do Código de Processo Civil de 2015. No Código de Processo
Civil de 1973 havia quatro modalidades de agravo, passíveis de interposição contra decisões
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de primeiro grau, sendo eles: (a) o agravo de instrumento; (b) o agravo retido; interpostos
contra decisões de segundo grau: (c) o agravo que tinha por finalidade destrancar os recursos
de estrito direito; (d) e o agravo interno (SÁ, 2016, p. 1.085-1.086).

Ademais, a reforma também alterou outros aspectos recursais: ficou expressas as


modalidades de agravo em recurso especial ou extraordinário e não exclusivamente mantendo
sob a rubrica genérica do “agravo”, bem como eliminou-se o agravo retido do ordenamento,
estabelecendo-se um rol de decisões interlocutórias passíveis de serem impugnadas por
agravo de instrumento. (SÁ, 2016, p. 1.086).

Nesse sentido, importante esclarecer que:

No CPC-2015, a definição de decisão interlocutória passou a ser residual: o que não


for sentença é decisão interlocutória. Se o pronunciamento judicial tem conteúdo
decisório e não se encaixa na definição do § 1° do art. 203, é, então, uma decisão
interlocutória.
Ainda que tenha por fundamento uma das hipóteses do art. 485 ou do art. 487, o
pronunciamento do juiz não será sentença se não puser termo a uma fase
procedimental; será, então, decisão interlocutória. É decisão interlocutória o ato do
juiz que exclui um litisconsorte, ou que reconhece a prescrição ou decadência de
apenas um dos pedidos, prosseguindo o procedimento quanto ao mais. A decisão
parcial de mérito (CPC, art. 356) é também uma decisão interlocutória. Tal
pronunciamento, por não extinguir o processo, é uma decisão interlocutória, que
pode já acarretar uma execução imediata, independentemente de caução (CPC, art.
356, § 2°). (DIDIER Jr.; CUNHA, 2018, p. 244-245).

Nesse sentido, Sá (2016, p. 1.086) explica que, com a eliminação da figura do agravo
retido o Código de Processo Civil de 2015 trouxe uma importante classificação dos
pronunciamentos do juiz para a definição do recurso cabível, sendo essas, decisões
interlocutórias recorríveis e decisões interlocutórias irrecorríveis. Segundo o autor, o conceito
de interlocutória faz-se por exclusão, pois sempre que não for sentença e compreender carga
decisória estará se falando em interlocutória. As decisões irrecorríveis não ofendem o duplo
grau de jurisdição por duas razões:

i) duplo grau, sendo princípio ligado à segurança jurídica, pode ser relativizado por
normas que prestigiem outros valores igualmente importantes como a efetividade;
ii) não se trata propriamente de irrecorribilidade, mas de diferimento da impugnação
para outro recurso em outra oportunidade (efeito devolutivo diferido).
Contudo, é possível, para evitar maiores prejuízos, que o inciso I (tutelas
provisórias) seja interpretado de maneira ampla para abarcar, igualmente, as
decisões que possam resultar lesão grave e de difícil reparação (já que as tutelas
provisórias abrangem apenas os pedidos requeridos em tutela cautelar, antecipada e
de evidência). Dessa forma reduziria o impacto que a “taxatividade” do art. 1.015
possa causa. Nessas situações (como acontecia no regime anterior) competirá ao
19

tribunal verificar se a situação levada ao tribunal por agravo se enquadra de fato em


caso de lesão grave e de difícil reparação. (SÁ, 2016, p. 1.086).

As decisões interlocutórias recorríveis de primeiro grau, permitem a interposição do


recurso de agravo de instrumento, os quais serão processados diretamente no Tribunal,
hipóteses previstas no art. 1.015 (caput e §§°) e outras ao decorrer do CPC de 2015, sendo
que a não interposição do recurso acarreta preclusão. Entretanto, as decisões interlocutórias
irrecorríveis são aquelas em que nas demais hipóteses não cabe agravo de instrumento,
competindo à doutrina e jurisprudência analisar se o rol do agravo é exaustivo ou possível de
ser ampliado. Todavia, as decisões irrecorríveis não serão preclusas e a matéria poderá ser
devolvida ao Tribunal através da apelação ou de contrarrazões ao recurso de apelação. (SÁ,
2016, p. 1.086).

Já, no que compete às interlocutórias recorríveis o CPC/2015 estabeleceu um rol de


mais de dez hipóteses de cabimento do recurso de agravo de instrumento, sendo aquelas ali
mencionadas e outras previstas na legislação extravagante, bem como todas as decisões
interlocutórias proferidas na fase de liquidação de sentença ou de cumprimento de sentença,
no processo de execução e de inventário, conforme parágrafo único do artigo 1.015. (SÁ,
2016, p. 1.087).

Theodoro Jr. (2016, p. 1.042-1.043) observa que o Código de Processo Civil de 2015
orientou de maneira diversa a forma em que se admitirá o recurso de agravo de instrumento,
enumerando um rol taxativo de decisões que poderão ser impugnadas. Segundo o autor, as
decisões que não constam neste rol ou de outros dispositivos do Código, deverão ser
questionadas em preliminar de apelação ou contrarrazões de apelação. Ainda, o autor
esclarece que o agravo de instrumento é admitido, em qualquer hipótese, contra decisões que
são proferidas na fase de liquidação de sentença ou de cumprimento de sentença, no processo
de execução e no processo de inventário. “[...] Isso porque esses procedimentos terminam por
decisões que não comportam apelação. Assim, as interlocutórias ali proferidas não poderão
ser impugnadas por meio de preliminar do apelo ou de suas contrarrazões.”

Nesse viés, o agravo de instrumento será cabível apenas contra decisões que versem
sobre:

Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que


20

versarem sobre:
I - tutelas provisórias;
II - mérito do processo;
III - rejeição da alegação de convenção de arbitragem;
IV - incidente de desconsideração da personalidade jurídica;
V - rejeição do pedido de gratuidade da justiça ou acolhimento do pedido de sua
revogação;
VI - exibição ou posse de documento ou coisa;
VII - exclusão de litisconsorte;
VIII - rejeição do pedido de limitação do litisconsórcio;
IX - admissão ou inadmissão de intervenção de terceiros;
X - concessão, modificação ou revogação do efeito suspensivo aos embargos à
execução;
XI - redistribuição do ônus da prova nos termos do art. 373, § 1º ;
XII - (VETADO);
XIII - outros casos expressamente referidos em lei.
Parágrafo único. Também caberá agravo de instrumento contra decisões
interlocutórias proferidas na fase de liquidação de sentença ou de cumprimento de
sentença, no processo de execução e no processo de inventário. (BRASIL, 2015).

A respeito da decisão que decreta falência e acerca da decisão que julga a fase de
liquidação de sentença, lecionam os doutrinadores Fredie Didier Jr. e Leonardo Carneiro da
Cunha (2018, p. 246 e 247):

[…] O agravo de instrumento é, via de regra, o recurso interposto contra decisões


interlocutórias. Nada impede, porém, que o legislador eleja hipóteses de sentenças
agraváveis e decisões interlocutórias apeláveis. No caso específico da falência, há
uma sentença agravável.
[…] Ao acolher ou rejeitar o pedido, o juiz profere sentença, encerrando a fase de
conhecimento. Ainda que seja ilíquida a decisão, esta será uma sentença. Não é sem
razão, aliás, que o art. 354 do CPC dispõe que, “ocorrendo qualquer das hipóteses
previstas nos arts. 485 e 487, incisos II e III, o juiz proferirá sentença”. E seu art.
509 afirma que haverá liquidação quando a sentença condenar ao pagamento de
quantia ilíquida. A iliquidez não transforma a sentença em decisão interlocutória.
Será, de um jeito ou de outro, uma sentença.

Importa frisar que, o que não consta no rol do art. 1.015 do Código de Processo Civil
de 2015 (eventuais decisões interlocutórias proferidas no processo), somente serão suscetíveis
de impugnação após a prolação da sentença, nos termos do art. 1.009, § 1°, do CPC de 2015,
conforme Henrique de Moraes Fleury da Rocha (2018, p. 2):

[...] em algumas situações, a ausência de recorribilidade imediata da decisão


interlocutória acaba por tornar inútil a sua impugnação em preliminar de apelação ou
nas contrarrazões. Para tentar solucionar o problema, a doutrina propõe duas
principais alternativas: (i) a possibilidade de impetração de mandado de segurança; e
(ii) a interpretação extensiva das hipóteses de cabimento do agravo de instrumento
previstas no art. 1.015 do CPC/2015.
21

No dizer de Ferreira (2017, p. 03) “[...] O agravo de instrumento não é mais um


recurso cabível contra todas as interlocutórias, salvo hipóteses previstas em lei.” Ainda, está
ocorrendo um equívoco quanto a criação de, pelo menos, duas correntes:

[...] uma defendendo que a enumeração legal indica taxatividade e não cabendo
agravo somente há que se falar em apelação e se houver urgência deve ser admitida
a impetração de mandado de segurança, enquanto outra corrente vem apresentando o
que parte da doutrina denomina de “analogia”, procurando diante de situações de
inutilidade da apelação “similitudes” indutoras ampliativa das hipóteses legais de
cabimento, como, exemplo, rejeição de preliminar de incompetência ser
analogicamente identificada à hipótese de rejeição da alegação de convenção de
arbitragem (art. 1.015, III).

Segundo Assis (2016, p. 614-615), é importante estabelecer três observações


complementares. A primeira é que não cabe agravo de despachos, de acordo com o disposto
no artigo 203, § 3°. Para o autor, o art 1.001 é supérfluo em relação ao agravo de instrumento,
isto porque somente são agraváveis as hipóteses enumeradas no art. 1.015. Explica Assis que,
se algum despacho designado de forma errada traz conteúdo decisório, então deixou de ser
despacho e passou a ser decisão interlocutória. Ademais, a irrelevância do nomen juris2
apresentado pelo órgão judiciário aos seus pronunciamentos. Como exemplo, tem-se a
autoridade judiciária quando ignora o título da seção IV – Do Saneamento e da Organização
do Processo – do Capítulo X do Título I da Parte Especial do CPC de 2015, e posterga a
prescrição na etapa de saneamento, tornando o despacho saneador, podendo assim ser decisão
agravável. Outrossim, finalizando as três nomenclaturas, o autor fala acerca da dificuldade em
enumerar as hipóteses que não cabe agravo de instrumentos. Nas palavras do autor:

[...] Em linhas gerais, no processo de conhecimento não desafiam agravo as


decisões: (a) na atividade de instrução, exceto quanto à exibição de documento ou de
coisa (art. 1.015, VI) e ao ônus da prova (art. 1.015, XI), abrangendo essa restrição a
essência da atividade instrutória – a definição do tema da prova e o deferimento, ou
não, dos meios de prova propostos pelas partes, ou ordenados ex ofício, e os
incidentes da produção da prova (v.g., a designação do perito, a limitação do número
de testemunhas, a contradita das testemunhas, e assim por diante); (b) na condução
do processo, incluindo a maior parte das preliminares do art. 337, exceto nos casos
do art. 1.015, III, IV, V, VII, VIII, e IX), rejeitadas na decisão de saneamento e de
organização do processo (art. 357, I), e , principalmente, a aplicação de multas
processuais no curso do processo (art. 77, § 2°). Ao invés, as decisões interlocutórias
proferidas na liquidação da sentença, no cumprimento da sentença, no processo de
execução e no processo de inventário são plenamente agraváveis (art. 1.015,
parágrafo único). O quadro se complica no âmbito das leis extravagantes. Por
exemplo, há de se entender abrangidos no art. 1.015, parágrafo único, as decisões
interlocutórias na falência e na recuperação judicial. (ASSIS, 2016, p. 615).

2
Nomen Juris: o nome da lei; Nome de direito. Título do crime.; denominação legal definindo um ato,
um fato ou um instituto jurídico.
22

Portanto, conclui-se que, desde a entrada em vigor do Código de Processo Civil de


2015, não há falar em necessidade de comprovação de risco de lesão grave e de difícil
reparação para interposição do agravo de instrumento, porquanto será cabível o recurso, se
configurar alguma das hipóteses elencadas no rol do art. 1.015, do § 1° do mesmo dispositivo
legal ou previsto em outros lugares.

1.3 Procedimento do recurso e impactos da decisão nele proferida para o processo

O Código de Processo Civil de 2015, traz em seu art. 1.019 um “roteiro” que deve ser
seguido para o processamento do recurso de agravo de instrumento, o qual é interposto
diretamente no tribunal, conforme é predito no § 2° do art. 1.017, do CPC e terá de ser
distribuído imediatamente, direcionando-se os autos conclusos ao relator (DIDIER; CUNHA,
2018, p. 283/284).

Outrossim, Sá (2016, p. 1.089) enuncia sobre o procedimento do agravo de


instrumento, que este recurso retém característica que o torna diferente de todos os demais
recursos do ordenamento: “[...] é o único recurso em que o órgão do Poder Judiciário que
procederá a sua apreciação não terá à sua disposição todo o processo para análise em
confronto com as razões recursais.” Nesse sentido, quer dizer que as razões recursais do
agravo de instrumento serão levadas ao Tribunal, porém o processo continuará em primeira
instância.

Evidente que para que o Tribunal tenha conhecimento da causa a fim de proceder ao
julgamento, a lei determina o translado de cópia de determinadas peças do processo
para que se forme, juntamente com as razões recursais, um instrumento, que será
remetido diretamente ao Tribunal. Algumas peças são obrigatórias; outras
facultativas, [...]. (SÁ, 2016, p. 1.089).

De acordo com Fredie Didier Jr. e Leonardo Carneiro da Cunha (2018, p. 284) segue:

Recebidos os autos pelo relator, este deverá verificar se é caso de aplicar ou não o
inciso III do art. 932. Se houver alguma inadmissibilidade ou faltar alguma cópia
obrigatória, deverá intimar o agravante para que este regularize o defeito (art. 932,
par. ún., CPC). Não regularizado, irá inadmitir o recurso, dele não conhecendo.
Regularizado que seja o vício, deve dar-lhe processamento regular. É possível,
ainda, que o relator aplique o inciso IV do art. 932, já lhe negando provimento se o
recurso for contrário a súmula vinculante ou a precedente obrigatório.
23

Além disso, na petição do recurso de agravo de instrumento é imprescindível conter o


nome e o endereço dos advogados do agravante e do agravo, porém, no caso de o agravo ser
interposto contra decisões de cunho liminar, dispensa-se o nome do advogado do agravado, se
o réu ainda não tiver sido citado. “O preparo dependerá da organização judiciária de cada
Estado. [...] É controverso na doutrina o início do prazo para a interposição do agravo de
instrumento da decisão que concede liminar no processo [...]”. (SÁ, 2016, p. 1.089).

Ainda, Sá (2016, p. 1.089) refere que:

Nesses casos, o réu ainda não está integrando o polo passivo da demanda. O STJ
vem decidindo (corretamente) que o prazo não começa da intimação da liminar, mas
sim do mandado de intimação cumprido juntado aos autos, consoante dispõe o art.
231, I e II, do CPC. O § 2° do art. 1.003 expressamente determina que se aplique a
regra do art. 231, pondo fim à controvérsia.

Segundo Didier Jr. e Cunha (2018, p. 284) se não for condição de inadmissão ou de
negativa imediata de provimento, o pedido de efeito suspensivo ou de tutela antecipada
recursal, será examinado pelo relator, oportunizando, assim, o contraditório ao agravado,
através da determinação de intimação para responder ao recurso. “[...] O relator pode
conceder a tutela antecipada recursal, fundando-se na urgência ou só na evidência. [...]”. Nas
palavras de Didier Jr. e Cunha (2018, p. 284), insta frisar que:

[...] o agravo de instrumento não tem efeito suspensivo automático. Cabe ao


recorrente pedir que o relator atribua esse efeito. O efeito suspensivo que se atribua
ao agravo de instrumento impede a produção de efeitos pela decisão agravada, mas
não impede o prosseguimento do processo em primeira instância. Não se trata de
suspensão do processo: é suspensão dos efeitos da decisão.

A interposição o recurso de agravo de instrumento tem dois efeitos, quais sejam,


devolutivo e suspensivo. De acordo com Theodoro Jr. (2016, p. 1.047), o agravo de
instrumento é um recurso que, geralmente, se limita ao efeito devolutivo, contudo o efeito
suspensivo poderá ser concedido pelo relator em alguns casos. “[...] O regime atual parece
confiar ao relator a prudente averiguação de maior ou menor risco no caso concreto, sem
limitá-lo ao casuísmo de um rol taxativo.”

[...] Dois são os requisitos da lei, a serem cumpridos cumulativamente, para a


obtenção desse benefício: (i) a imediata produção de efeitos da decisão recorrida
deverá gerar risco de dano grave, de difícil ou impossível reparação; e (ii) a
demonstração da probabilidade de provimento do recurso (arts. 995, parágrafo
único, e 1.019, I).
24

Os impactos da decisão proferida no julgamento do agravo de instrumento para o


processo, variam consoante o teor da decisão. “[...] Uma vez provido o recurso, desaparece a
decisão agravada por força do efeito substitutivo (retro, 26), e, por conseguinte, o efeito
suspensivo porventura outorgado ao agravo de instrumento, [...]”. A sustentação do efeito
suspensivo do agravo de instrumento vai até o julgamento. O nome efeito expansivo, origina-
se das repercussões do provimento do agravo nos provimentos emitidos no processo
subsequente a decisão impugnada.
25

2 HIPÓTESES DE CABIMENTO DO AGRAVO DE INSTRUMENTO:


INTERPRETAÇÕES COM RELAÇÃO A TAXATIVIDADE DO ROL DO ARTIGO
1.015 DO CPC

Nesse ponto penso que é possível abordar a grande discussão existente na doutrina e
na jurisprudência, anterior a entrada em vigor do Código de Processo Civil de 2015, acerca da
taxatividade, as hipóteses de cabimento do recurso de agravo de instrumento contra decisões
interlocutórias de primeiro grau, a qual foi contemplado no rol do art. 1.015 do CPC, que
optou pela delimitação das matérias.

Essa limitação contemplada pelo atual Código, assemelha-se ao Código de Processo


Civil de 1939, posto que delimitou o cabimento deste recurso, fundando-se nos princípios
processuais da economia e celeridade, uma vez que as decisões não compreendidas pelo
artigo 1.015 possam permanecer desprendidas da preclusão, “[...] sendo possível que as
próprias partes a suscitem posteriormente ao oferecimento da apelação ou de contrarrazões
[...]”, no dizer de Alexandre Freitas Câmara (2015, p. 10).

Em razão dessa controvérsia, o segundo capítulo do presente estudo abordará a


contextualização do CPC de 2015 no que compete aos recursos, em especial ao agravo de
instrumento, a ampliação do rol do art. 1.015, bem como o posicionamento dos tribunais.

2.1 Contextualização do Código de Processo Civil de 2015 quanto aos recursos, em


especial ao recurso de Agravo de Instrumento

Nelson Nery Junior e Rosa Maria de Andrade Nery (2016, p. 2234/2235) pensam que
ao indicar hipóteses de interposição do agravo de instrumento, o legislador considerou ser
essas as únicas capazes de trazer prejuízo as partes, caso não fossem apreciadas
imediatamente em segundo grau de jurisdição. Dessa forma, outras questões suportariam
aguardar a análise de recurso de apelação, visto que aparentemente são de menor importância.

Nelson Nery Junior e Rosa Maria de Andrade Nery (2016, p. 2235), frisam:

[...] Vale ressaltar, em favor do nosso argumento, a dificuldade havida na fixação


das hipóteses de cabimento do agravo durante o trâmite do projeto do novo CPC no
Congresso Nacional. O substitutivo da Câmara elencava vinte (!) possibilidades, o
26

que contrasta com as treze que a redação final do CPC contempla, em favor da
“clareza e da duração razoável do processo” (RFS-Senado, p. 81), sem argumentar
com a lógica processual ou outras situações de ordem prática que podem sofrer
algum tipo de prejuízo em razão do critério legalista do CPC 1.015. [...].

Para os autores Didier, Lucas Buril de Macêdo, Ravi Peixoto e Alexandre Freire
(2015, p. 1332/1333) o legislador procurou antever os casos que explicariam a recorribilidade
imediata da decisão interlocutória, porém “A riqueza das situações que podem surgir no dia a
dia do foro, [...], escapam da inventividade do legislador. Nesses casos, à falta de recurso que
possa ser usado imediatamente contra a decisão, poderá ser o caso de se fazer uso do mandado
de segurança [...]”.

Penso que o novo sistema gera um grande risco de divergência acerca daquelas
decisões interlocutórias que, não sendo impugnáveis por agravo de instrumento,
versam sobre matérias a cujo respeito não se opera a preclusão (como são, por
exemplo, a legitimidade das partes e o interesse de agir). Proferida a decisão de
saneamento do processo, e expressamente afirmada a existência de legitimidade e
interesse, não se admitirá agravo de instrumento. Será, então, de se questionar se,
nesse caso, não sendo aquela matéria coberta pela preclusão. E se a resposta for
positiva, alcançaria essa preclusão só as partes? Ou também o órgão jurisdicional?
(CÂMARA, 2015, p. 9-10).

Câmara (2015, p. 10), acredita que, nessa hipótese, não há preclusão, visto que forte
no dispositivo art. 482, § 3°, do CPC, essas matérias podem ser conhecidas ex officio “em
qualquer tempo e grau de jurisdição, enquanto não ocorrer o trânsito em julgado” e, nesse
sentido não estão sujeitas à preclusão. Ocorre que essa inovação trazida pelo CPC não é a
única, já que houve muitas mudanças para o recurso de agravo de instrumento.

Neste caso, entende Nery Junior e Nery (2015, p. 2233), que o sistema incorpora o
princípio da irrecorribilidade em separado das interlocutórias como regra, não se tratando de
irrecorribilidade da interlocutória que não está no rol do CPC 2015, mas de recorribilidade
diferida, trabalhada em futura e eventual apelação (razões ou contrarrazões). Conquanto, no
caso de a decisão interlocutória causar gravame de difícil ou impossível reparação, poderá ser
submetida a análise do tribunal competente para conhecer da apelação, pelo emprego do
mandado de segurança e da correição parcial. Ademais, o Código de Processo Civil de 2015
poderia ser interpretado de forma mais flexível, sendo o rol de situações do artigo
exemplificativo e não exauriente.

Ademais, referente as decisões interlocutórias irrecorríveis por agravo de instrumento


não há preclusão, ou seja, as que não se enquadram no artigo 1.015 do CPC podem ser
27

impugnadas nas razões ou contrarrazões de apelação, conforme disposto no art. 1.009, § 1°,
do CPC. Já as decisões interlocutórias recorríveis por recurso de agravo de instrumento,
destarte, nas hipóteses enquadradas no rol do artigo 1.015, estão sujeitas a preclusão, sendo
que se não forem impugnadas pelo agravo de instrumento “[...] a parte ou interessado perde o
direito de as impugnar posteriormente, o que significa dizer que, por exemplo, não poderão
ser impugnadas nas razões ou contrarrazões de apelação.” (NERY JUNIOR; NERY, 2016, p.
2233).

Como já mencionado no decorrer do trabalho, o Código de Processo Civil de 2015


prevê em seu art. 1.015, um rol de decisões interlocutórias contra as quais se admitirá agravo
de instrumento. Sendo elas:

Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que


versarem sobre:
I - tutelas provisórias;
II - mérito do processo;
III - rejeição da alegação de convenção de arbitragem;
IV - incidente de desconsideração da personalidade jurídica;
V - rejeição do pedido de gratuidade da justiça ou acolhimento do pedido de sua
revogação;
VI - exibição ou posse de documento ou coisa;
VII - exclusão de litisconsorte;
VIII - rejeição do pedido de limitação do litisconsórcio;
IX - admissão ou inadmissão de intervenção de terceiros;
X - concessão, modificação ou revogação do efeito suspensivo aos embargos à
execução;
XI - redistribuição do ônus da prova nos termos do art. 373, § 1°;
XII - (VETADO);
XIII - outros casos expressamente referidos em lei. (BRASIL, 2015).

O recurso de agravo de instrumento será interposto por petição, devendo esta ser
instruída com peças que permitirão a formação do instrumento, tendo que constar da petição
os nomes das partes, a exposição do fato e do direito, as razões do pedido de reforma ou
invalidação da decisão e o próprio pedido e, enfim os nomes e endereços completos dos
advogados que constam no processo. Além disso, “são peças obrigatórias (art. 1.014, I) cópias
da petição inicial, da contestação, da petição que ensejou a decisão agravada, da própria
decisão recorrida, da certidão da respectiva intimação ou de outro documento oficial que
comprove a tempestividade do recurso e, por fim, das procurações outorgadas aos advogados
do agravante e do agravado [...]”. Faltando qualquer destas peças, competirá ao advogado
declarar o fato, em virtude da sua responsabilização pessoal. Importa frisar que no caso dos
28

autos serem eletrônicos, dispensa-se as peças obrigatórias, sendo permitida a juntada de peças
facultativas, art. 1.014, § 5°. (CÂMARA, 2015, p. 11).

Assis (2016, p. 630) leciona que o prazo para interpor o recurso de agravo de
instrumento é de quinze dias, art. 1.003, § 5°, do CPC, “[...] Vale observar que, não tendo
decorrido quinze dias entre a data da emissão do ato e a data do protocolo do agravo,
dispensa-se a juntada da certidão de intimação, porque a tempestividade é evidente.” Ainda,
cabe ao agravante juntar no juízo de primeiro grau, comprovante da interposição do agravo de
instrumento, qual seja o protocolo ou o recibo expedido pelo correio, bem como a relação dos
documentos que instruíram o recurso.

Diante de tal cenário, cumpre adentrar na discussão ocorrida na doutrina e na


jurisprudência, as quais vêm se perguntado se o rol do art. 1.015 é taxativo ou não e qual a
possibilidade e a maneira de interpretar este dispositivo pressupondo outras hipóteses não
previstas de forma expressa pelo CPC de 2015. Nesse sentido ainda continua Cassio
Scarpinella Bueno (2018, p. 811) assevera:

[...] entendo que o rol – longe dos rótulos a ele atribuíveis e em geral atribuídos -,
não é impeditivo para que se dê máximo rendimento às hipóteses nele previstas,
como forma adequada de atingir o duplo objetivo que já anunciava: verificar de que
maneira as escolhas feitas atendem, ou não, as necessidades do dia a dia do foro e
evitar a generalização do mandado de segurança contra ato judicial, medida que, na
década de 1980 até meados da década de 1990, consagrou-se como sucedâneo
recursal para fazer as vezes do que, naquela época, o regime do agravo de
instrumento permitia. [...].

Theodoro Junior, Dierle Nunes, Alexandre Melo Franco Bahia e Flávio Quinaud
Pedron (2015, p. 283/284) tratam a respeito das demandas repetitivas, esclarecendo que a
estruturação de técnicas de julgamentos em larga escala, não pode negligenciar a
aplicabilidade conexa dos direitos fundamentais dos cidadãos sob argumentos econômicos e
funcionais. Para isso, elucidam que na atualidade a ciência processual precisa lidar com três
tipos de litigiosidade: individual ou “de varejo”; a litigiosidade coletiva; e em massa ou de
alta intensidade. Os autores entendem que o Código de Processo Civil de 2015, criou um
modelo incoerente quando restringiu a recorribilidade das interlocutórias através do agravo de
instrumento.
29

A taxatividade, ou não, do rol de cabimento do agravo de instrumento, previsto no


artigo 1.015 do CPC, gerou discussão no Superior Tribunal de Justiça, afetado pelo rito dos
recursos especiais repetitivos, dito isso, a corte Especial do STJ pronunciará se o recurso
poderá ou não ser interposto em face de decisões interlocutórias que não fazem parte das
hipóteses previstas no artigo. O Recurso Especial 1.704.520/MT, de relatoria da Ministra
Nancy Andrighi, deu início a discussão por conta de um caso em que houve decisão de
acolhimento de exceção de incompetência relativa territorial, sendo impugnada por agravo de
instrumento não conhecido monocrática e colegiadamente pelo Tribunal de Justiça do Mato
Grosso, conforme descreve Carlos Augusto Cezar Filho (2018, p. 01).

Nessa contenda, Lenio Luiz Streck e Diego Crevelin de Sousa (2018, p. 01)
esclarecem que a Ministra Nancy Andrighi, do Superior Tribunal de Justiça defende a ideia de
taxatividade mitigada, vejamos:

[...] Vamos ao voto da ministra Nancy Andrighi, valendo-nos do escorreito e


fidedigno relato feito por Natalia Peppi Cavalcanti e Luiza Mendonça[2]. A
relatora: ressaltou que o direito processual deve ser interpretado de acordo com a
Constituição e que as normas fundamentais prescritas no CPC deve orientar a sua
interpretação; registrou uma espécie de fracasso histórico das tentativas de
estabelecer róis taxativos na legislação processual brasileira; sistematizou as
principais correntes doutrinárias acerca da espécie do rol do art. 1.015, CPC, e do
tipo de interpretação admissível acerca dele; observou ser comum a ocorrência de
situações urgentes, capazes de causar prejuízo às partes, não serem contempladas
nos róis legais; avaliou que essa última circunstância gera a impetração de
mandados de segurança contra decisões judiciais, o que reputa uma
anomalia; sustentou que nos casos de urgência não previstos no rol do art. 1.015,
CPC, deve ser repelido o manejo do mandado de segurança e admitido o recurso de
agravo de instrumento com base nas normas fundamentais do CPC, excluída
a interpretação extensiva e a analogia por não haver parâmetro minimamente
seguro quanto aos limites que deverão ser observados em cada conceito, texto ou
palavra, além de não serem suficientes para abarcar todas as questões que devem ser
reanalisadas de imediato; sugeriu que, acolhida a tese por ela proposta, não haverá
preclusão temporal (a parte poderá interpor agravo de instrumento, imediatamente,
ou apelação, mediatamente) nem preclusão consumativa caso o juízo ad quem não
reconheça a presença da urgência, quando poderá impugnar novamente a decisão
interlocutória, via apelação; propôs que, acolhida a sua tese, a decisão produza
efeitos apenas após a publicação do acórdão; concluiu que o art. 1.015, CPC, encerra
um rol de taxatividade mitigada, deve ser admitido agravo de instrumento nos casos
de urgência com base nas normas fundamentais do CPC, não de interpretação
extensiva ou analogia.

Para os autores, o voto da Ministra Nancy diverge da doutrina majoritária, isto porque
a doutrina sustenta que o rol é taxativo, dado que o Código de Processo Civil contempla
hipóteses de decisões interlocutórias impugnáveis pelo recurso de agravo de instrumento,
sendo exceção a recorribilidade imediata das decisões (STRECK; SOUSA, 2018, p. 02).
30

Além disso, o tema já possui divergência doutrinária, a qual na primeira corrente há


quem defenda que o rol não é taxativo, mas exemplificativo. No caso da taxatividade do rol
do art. 1.015 trazer inúmeros tormentos, é provável que nos anos seguintes parte da doutrina
entenda que a relação é exemplificativa. Esse posicionamento parte do pressuposto de que
“[...] acolhe-se a interposição do agravo de instrumento em situações distintas daquelas
positivadas, o que, certamente, ofende flagrantemente a regra legislativa, bem como o
objetivo do legislador, [...] dificilmente a mens legis é um mero arrolamento de exemplos”,
conforme Pablo Freire Romão (2016, p. 03).

Já a segunda corrente defende que é taxativo permitindo interpretação extensiva,


devido a perspectiva que amplia o sentido da norma para além do contido em sua letra. “[...]
Assim, “se a mensagem normativa contém denotações e conotações limitadas, o trabalho do
intérprete será o de torná-las vagas e ambíguas (ou mais vagas e ambíguas do que são em
geral, em face da imprecisão da língua natural de que se vale o legislador).” (DIDIER;
CUNHA, 2018, p. 248/249).

Por fim, como referido no decorrer do estudo, a terceira corrente (STRECK; SOUSA,
2018, p. 3) defende que o rol é taxativo, não compreendendo interpretações fora das hipóteses
previstas em lei. Essa corrente acredita que o rol é taxativo em razão das hipóteses
enumeradas pelo Código de Processo Civil de 2015 ao recurso de agravo de instrumento
disposto no art. 1.015.

2.2 Ampliação do rol do artigo 1.015: taxatividade e interpretação extensiva

A datar da vigência do Código de Processo Civil de 1973, observou-se a


imprescindibilidade em reformar as lacunas presentes naquele livro, do mesmo modo buscar
possibilidades para tudo o que foi feito no decorrer dos anos. Além disso, como forma de dar
enfoque a transformação do processo em um meio efetivo e célere, fez-se necessária a criação
de um novo Código de Processo Civil sob o nº. 13.105/2015.

O rol do art. 1.015 do Código de Processo Civil é taxativo e, em consequência disso,


vem criando uma série de controvérsias na doutrina e na jurisprudência, uma vez que excluiu
31

quantidade significativa de decisões possíveis de serem recorridas através do agravo de


instrumento que, no Código de 1973, eram permitidas.

Somente são impugnadas por agravo de instrumento as decisões interlocutórias


relacionadas no referido dispositivo. Para que determinada decisão seja enquadrada
como agravável, é preciso que integre o catálogo de decisões passíveis de agravo de
instrumento. Somente a lei pode criar hipóteses de decisões agraváveis na fase de
conhecimento – não cabe, por exemplo, convenção processual, lastreada no art. 190
do CPC/2015, que crie modalidade de decisão interlocutória agravável. (CUNHA;
DIDIER Jr., 2015, p. 2).

Sobrevém algumas situações que, a falta de recorribilidade imediata das


interlocutórias, torna inútil a impugnação em preliminar de apelação ou nas contrarrazões e,
diante disso, objetivando achar saídas para o problema, é sugerido pela doutrina duas opções:
a possibilidade de impetração de mandado de segurança e a interpretação extensiva das
hipóteses de cabimento do agravo de instrumento dispostos no artigo 1.015 do CPC.
(ROCHA, 2018, p. 2).

Nesse viés, explicam Didier e Cunha (2018, p. 248) que, “Tradicionalmente, a


interpretação pode ser literal, mas há, de igual modo, as interpretações corretivas e outras
formas de reinterpretação substitutiva. [...]”. Para os autores, a interpretação literal equivale a
uma fase da interpretação sistemática, a qual será interpretada em seu sentido literal para
posteriormente ser avaliada de forma crítica e sistemática, de modo que haverá análise sobre a
adequação com o sistema inserido.

No caso de haver divergência entre o sentido literal e o genérico, teleológico ou


sistemático, adotar-se-á uma das interpretações corretivas, destacando-se a extensiva, “[...]
que é um modo de interpretação que amplia o sentido da norma para além do contido em sua
letra [...]”. (DIDIER Jr.; CUNHA, 2018, p. 249).

Assim, “se a mensagem normativa contém denotações e conotações limitativas, o


trabalho do intérprete será o de torná-las vagas e ambíguas (ou mais vagas e
ambíguas do que são em geral, em face da imprecisão da língua natural de que se
vale o legislador)”. (DIDDIER Jr.; CUNHA, 2018, p. 249).

Já Rocha (2018, p. 2), aponta que parte da doutrina afirma ser possível conceder
mandado de segurança, com base no artigo 5º, II, da Lei 12.016/2009, nos casos de decisões
interlocutórias que não permitirem agravo de instrumento, porém violarem direito líquido e
certo. Entende o autor, que admitir impetração de mandado de segurança contra todas as
32

decisões não elencadas no rol do artigo 1.015 do CPC está em desacordo com a opção
legislativa de limitar a possibilidade de imediata impugnação das interlocutórias, tornando-se
desnecessário o novo regramento. O artigo 5º, II, da Lei 12.016/2009, que dispõe sobre o
mandado de segurança, disciplina in verbis “Art. 5º Não se concederá mandado de segurança
quando se tratar: (...) II - de decisão judicial da qual caiba recurso com efeito suspensivo;”.
(BRASIL, 2009).

De outro lado, parte da doutrina defende a necessidade de interpretação extensiva do


art. 1.015 do CPC, visando possibilitar a interposição do recurso de agravo de instrumento em
hipóteses não enquadradas no rol do dispositivo. Entretanto, a própria doutrina tem dúvidas
acerca da interpretação extensiva dos incisos do dispositivo acima mencionado, motivo pelo
qual “[...] além de se tratar de rol taxativo – o que para alguns, inviabilizaria a interpretação
extensiva –, não há, a rigor, qualquer lacuna a ser preenchida – a tornar desnecessário, na
visão de certos estudiosos, o uso de um método de integração do Direito [...]”, visto que o
artigo 1.009, § 1º, do CPC de 2015, apresenta solução a todas decisões interlocutórias não
elencadas no artigo 1.015. (ROCHA, 2018, p. 2). Vejamos:

Art. 1.009. Da sentença cabe apelação.


§ 1º As questões resolvidas na fase de conhecimento, se a decisão a seu respeito não
comportar agravo de instrumento, não são cobertas pela preclusão e devem ser
suscitadas em preliminar de apelação, eventualmente interposta contra a decisão
final, ou nas contrarrazões. (BRASIL, 2015).

Didier Jr. e Cunha (2018, p. 250), compreendem que a interpretação extensiva


funciona por comparações e isonomizações e, não por encaixes e subsunções, em virtude da
taxatividade das hipóteses do art. 1.015 do CPC. Diante dessas circunstâncias, é necessário
adotar a interpretação extensiva porquanto “[...] corre-se o risco de se ressuscitar o uso
anômalo e excessivo do mandado de segurança contra ato judicial, o que é muito pior,
inclusive em termos de política judiciária.”

Rocha (2018, p. 2) compreende a interpretação extensiva como instrumento de


hermenêutica, ou seja, permitir a aplicação aos incisos do artigo 1.015 do Código de Processo
Civil com relação a previsão contida no art. 1.009, § 1º. Outrossim, concorda com a tese
referente a taxatividade do rol do 1.015 admitir intepretação extensiva sempre de acordo com
as demais técnicas de interpretação. Ao ver do autor, somente alguns casos seriam possível a
33

interpretação extensiva do artigo, desde que não desconsidere outros processos de


hermenêutica, bem como dê brecha à insegurança jurídica.

Os Ministros da 4ª Turma do Superior Tribunal de Justiça, prolataram decisão acerca


do Recurso Especial 1.679.909/RS, permitindo a interpretação extensiva ou analógica do
inciso III do artigo 1.015 do Código de Processo Civil de 2015. A discussão originou-se por
ocasião da admissibilidade do recurso de agravo de instrumento contra decisão que rejeitou a
exceção de incompetência contrária ao CPC de 1973 e julgada na vigência do atual diploma
legal. “[...] Os tribunais de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Distrito Federal, além do TRF
da 2ª Região, já tinham admitido a interpretação extensiva do artigo 1.015 do CPC/2015 em
julgados isolados.”, discorrem Dierle Nunes, Erica Alves Aragão e Lígia de Freitas Barbosa
(2018, p. 1).

Nestes termos, colaciona-se jurisprudência do Egrégio Superior Tribunal de Justiça:

RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. APLICAÇÃO IMEDIATA DAS


NORMAS PROCESSUAIS. TEMPUS REGIT ACTUM. RECURSO CABÍVEL.
ENUNCIADO ADMINISTRATIVO N. 1 DO STJ. EXCEÇÃO DE
INCOMPETÊNCIA COM FUNDAMENTO NO CPC/1973. DECISÃO SOB A
ÉGIDE DO CPC/2015. AGRAVO DE INSTRUMENTO NÃO CONHECIDO
PELA CORTE DE ORIGEM. DIREITO PROCESSUAL ADQUIRIDO.
RECURSO CABÍVEL. NORMA PROCESSUAL DE REGÊNCIA. MARCO DE
DEFINIÇÃO. PUBLICAÇÃO DA DECISÃO INTERLOCUTÓRIA. RECURSO
CABÍVEL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. INTERPRETAÇÃO ANALÓGICA
OU EXTENSIVA DO INCISO III DO ART. 1.015 DO CPC/2015. 1. É pacífico
nesta Corte Superior o entendimento de que as normas de caráter processual têm
aplicação imediata aos processos em curso, não podendo ser aplicadas
retroativamente (tempus regit actum), tendo o princípio sido positivado no art. 14
do novo CPC, devendo-se respeitar, não obstante, o direito adquirido, o ato
jurídico perfeito e a coisa julgada. 2. No que toca ao recurso cabível e à forma de
sua interposição, o STJ consolidou o entendimento de que, em regra, a lei regente
é aquela vigente à data da publicação da decisão impugnada, ocasião em que o
sucumbente tem a ciência da exata compreensão dos fundamentos do provimento
jurisdicional que pretende combater. Enunciado Administrativo n. 1 do STJ. 3. No
presente caso, os recorrentes opuseram exceção de incompetência com
fundamento no Código revogado, tendo o incidente sido resolvido, de forma
contrária à pretensão dos autores, já sob a égide do novo Código de Processo
Civil, em seguida interposto agravo de instrumento não conhecido pelo Tribunal a
quo. 4. A publicação da decisão interlocutória que dirimir a exceptio será o marco
de definição da norma processual de regência do recurso a ser interposto,
evitando-se, assim, qualquer tipo de tumulto processual. 5. Apesar de não previsto
expressamente no rol do art. 1.015 do CPC/2015, a decisão interlocutória
relacionada à definição de competência continua desafiando recurso de agravo de
instrumento, por uma interpretação analógica ou extensiva da norma contida no
inciso III do art. 1.015 do CPC/2015, já que ambas possuem a mesma ratio -, qual
seja, afastar o juízo incompetente para a causa, permitindo que o juízo natural e
adequado julgue a demanda. 6. Recurso Especial provido. (STJ - REsp: 1679909
RS 2017/0109222-3, Relator: Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, Data de
34

Julgamento: 14/11/2017, T4 – QUARTA TURMA, Data de Publicação: DJe


01/02/2018). (STJ, 2018, on-line).

Analisando o Recurso Especial, é notável que a corte superior assentou


entendimento de ser aplicável o Código de Processo Civil de 2015, em virtude da data da
publicação da decisão recorrida (Enunciado Administrativo 1), entendendo-se que as
decisões interlocutórias que tratam acerca da competência há possibilidade da interposição
do recurso de agravo de instrumento com interpretação extensiva disposta no inciso III do
art. 1015. “[...] “já que ambas possuem a mesma ratio, qual seja, afastar o juízo incompetente
para a causa, permitindo que o juízo natural e adequado julgue a demanda”, nas palavras do
Ministro Relator, Luis Felipe Salomão. Esse entendimento, pretende possibilitar a
recorribilidade imediata e célere de decisões que estabelece competência por não constar no
rol do art. 1.015, tendo em vista os inúmeros casos de tramitação e julgamento de processos
por juízo incompetente. (NUNES; ARAGÃO; BARBOSA, 2018, p. 1).

Ocorre que, da decisão exarada pelo STJ, sobreveio controvérsias na doutrina e na


jurisprudência no que se refere as hipóteses de cabimento do recurso de agravo de
instrumento. A maior discussão associa-se as discordâncias de interpretação do artigo 1.015
do CPC, uma vez que o legislador optou por compilar o recurso de agravo de instrumento
sustentando a taxatividade do seu cabimento. (NUNES; ARAGÃO; BARBOSA, 2018, p. 2).

2.3 Posicionamento dos Tribunais

Após o Superior Tribunal de Justiça iniciar o julgamento dos Recursos Especiais


1.704.520 e 1.696.396, afetados pelo rito dos repetitivos (tema 988 3), com objetivo de
estabelecer a natureza do rol do artigo 1.015 do CPC e apurar a probabilidade de sua
interpretação extensiva, admitindo-se, assim, a interposição de agravo de instrumento contra
decisão que não faz parte das hipóteses previstas no referido artigo.

Assim, por exemplo, discute-se, nos casos concretos a possibilidade de interpretar o


inciso III de forma extensiva para admitir agravo de instrumento contra interlocutórias de

3
"Definir a natureza do rol do artigo 1.015 do CPC/2015 e verificar possibilidade de sua interpretação
extensiva, para se admitir a interposição de agravo de instrumento contra decisão interlocutória que verse sobre
hipóteses não expressamente versadas nos incisos do referido dispositivo do novo CPC."
35

competência, tratam Lenio Luiz Streck, Diego Crevelin de Sousa e Roberto Campos Gouveia
Filho (2018, p. 1).

Veja-se o disposto no julgado do Recurso Especial nº. 1.704.520:

RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. DIREITO


PROCESSUAL CIVIL. NATUREZA JURÍDICA DO ROL DO ART. 1.015 DO
CPC/2015. IMPUGNAÇÃO IMEDIATA DE DECISÕES INTERLOCUTÓRIAS
NÃO PREVISTAS NOS INCISOS DO REFERIDO DISPOSITIVO LEGAL.
POSSIBILIDADE. TAXATIVIDADE MITIGADA. EXCEPCIONALIDADE DA
IMPUGNAÇÃO FORA DAS HIPÓTESES PREVISTAS EM LEI. REQUISITOS.
1- O propósito do presente recurso especial, processado e julgado sob o rito dos
recursos repetitivos, é definir a natureza jurídica do rol do art. 1.015 do CPC/15 e
verificar a possibilidade de sua interpretação extensiva, analógica ou
exemplificativa, a fim de admitir a interposição de agravo de instrumento contra
decisão interlocutória que verse sobre hipóteses não expressamente previstas nos
incisos do referido dispositivo legal. 2- Ao restringir a recorribilidade das decisões
interlocutórias proferidas na fase de conhecimento do procedimento comum e dos
procedimentos especiais, exceção feita ao inventário, pretendeu o legislador
salvaguardar apenas as “situações que, realmente, não podem aguardar rediscussão
futura em eventual recurso de apelação”. 3- A enunciação, em rol pretensamente
exaustivo, das hipóteses em que o agravo de instrumento seria cabível revela-se, na
esteira da majoritária doutrina e jurisprudência, insuficiente e em desconformidade
com as normas fundamentais do processo civil, na medida em que sobrevivem
questões urgentes fora da lista do art. 1.015 do CPC e que tornam inviável a
interpretação de que o referido rol seria absolutamente taxativo e que deveria ser
lido de modo restritivo. 4- A tese de que o rol do art. 1.015 do CPC seria taxativo,
mas admitiria interpretações extensivas ou analógicas, mostra-se igualmente ineficaz
para a conferir ao referido dispositivo uma interpretação em sintonia com as normas
fundamentais do processo civil, seja porque ainda remanescerão hipóteses em que
não será possível extrair o cabimento do agravo das situações enunciadas no rol, seja
porque o uso da interpretação extensiva ou da analogia pode desnaturar a essência de
institutos jurídicos ontologicamente distintos. 5- A tese de que o rol do art. 1.015 do
CPC seria meramente exemplificativo, por sua vez, resultaria na repristinação do
regime recursal das interlocutórias que vigorava no CPC/73 e que fora
conscientemente modificado pelo legislador do novo CPC, de modo que estaria o
Poder Judiciário, nessa hipótese, substituindo a atividade e a vontade expressamente
externada pelo Poder Legislativo. 6- Assim, nos termos do art. 1.036 e seguintes do
CPC/2015, fixa-se a seguinte tese jurídica: O rol do art. 1.015 do CPC é de
taxatividade mitigada, por isso admite a interposição de agravo de instrumento
quando verificada a urgência decorrente da inutilidade do julgamento da
questão no recurso de apelação. 7- Embora não haja risco de as partes que
confiaram na absoluta taxatividade com interpretação restritiva serem surpreendidas
pela tese jurídica firmada neste recurso especial repetitivo, eis que somente se
cogitará de preclusão nas hipóteses em que o recurso eventualmente interposto pela
parte tenha sido admitido pelo Tribunal, estabelece-se neste ato um regime de
transição que modula os efeitos da presente decisão, a fim de que a tese jurídica
somente seja aplicável às decisões interlocutórias proferidas após a publicação do
presente acórdão. 8- Na hipótese, dá-se provimento em parte ao recurso especial
para determinar ao TJ/MT que, observados os demais pressupostos de
admissibilidade, conheça e dê regular prosseguimento ao agravo de instrumento no
que tange à competência. 9- Recurso especial conhecido e provido. (STJ, 2018).

Ademais, o debate não se limita ao inciso III, do art. 1.015, do CPC, tendo em vista
que há um rol com doze hipóteses para interposição do agravo de instrumento, que poderiam
36

ser ampliadas por decisão dos Ministros. A proposta apresentada pela Ministra Relatora
Nancy Andrighi venceu, pois o rol do art. 1.015 é de taxatividade mitigada, cabendo a
interposição do recurso de agravo de instrumento quando há urgência e o julgamento da
questão não pode ser discutido em apelação, por Gabriela Coelho (2018).

A Ministra Nancy Andrighi defende a seguinte tese:

A tese que se propõe consiste em, a partir de um requisito objetivo, a urgência que
decorre da inutilidade futura do julgamento do recurso diferido da apelação,
possibilitar a recorribilidade imediata de decisões interlocutórias fora da lista do
artigo 1.015 do CPC, sempre em caráter excepcional e desde que preenchido o
requisito urgência, independentemente do uso da interpretação extensiva ou
analógica dos incisos do artigo", votou a ministra.

A tese da relatora foi que “o rol do artigo 1.015 do CPC é de taxatividade mitigada,
por isso admite a interposição de agravo de instrumento quando verificada a
urgência decorrente da inutilidade do julgamento da questão no recurso de apelação.
(COELHO, 2018).

No que concerne a taxatividade do artigo 1.015 do CPC, é possível afirmar que já


havia julgados do Superior Tribunal de Justiça, haja vista que em 2017 foi julgado o Recurso
Especial 1.679.909, no que se refere a competência. Diante disso, a tese jurídica que se fixou
no recurso nº 1.704.520 foi de encontro com a decisão do recurso referido, pois entendeu pela
taxatividade mitigada do rol do art. 1.015 do CPC, permitindo a figura do agravo de
instrumento quando for verificada a urgência decorrente da inutilidade do julgamento da
questão no recurso de apelação.

Conforme art. 1.015, III, do Código de Processo Civil de 2015, cabe agravo de
instrumento contra decisões interlocutórias que discorrer a respeito da alegação de convenção
de arbitragem. Dito isso, Cunha e Didier (2015, p. 03), defendem que a decisão que verse
quanto a convenção de arbitragem contém características da decisão sobre competência.
Narram os autores, que as partes gozam das soluções de seus litígios ao juízo arbitral, por
intermédio da convenção de arbitragem.

Em virtude da convenção de arbitragem, transfere-se o litígio para a competência do


árbitro. É este quem deve examinar a disputa entre as partes. Se o juiz rejeita a
alegação de convenção de arbitragem, está decidindo sobre sua competência para
julgar o caso. Se a acolhe, entende que o árbitro é o competente. Trata-se,
inegavelmente, de uma decisão sobre competência. (CUNHA; DIDIER, 2015, p. 4).
37

Pablo Freire Romão (2016, p. 4), diverge do entendimento de Didier e Cunha, pois
para ele o legislador rejeitou a convenção de arbitragem como interlocutória agravável pelo
fato do acolhimento causar extinção do processo sem resolução do mérito. O dispositivo tem
duas proposições alternativas: primeiro a existência de negócio processual, da qual a decisão
relativa a eficácia ou homologação pode acarretar a extinção da demanda sem julgamento do
mérito e, segundo deliberação sobre a competência do juízo, que pode acarretar a extinção do
processo sem resolução do mérito.

Nessa hipótese, seriam agraváveis, por interpretação extensiva: 1) decisão que não
homologa desistência da ação, pois se trata de ato processual voluntário que objetiva
pôr fim à demanda; 2) decisão interlocutória sobre competência quando o processo
tramita em Juizado Especial ou envolver incompetência internacional, porquanto,
nessas hipóteses, o seu acolhimento, pelo tribunal, pode levar à extinção do processo
sem resolução do mérito. (ROMÃO, 2016, p. 4).

Ainda, entende Romão (2016, p. 4) que nem todas as decisões sobre incompetência
absoluta ou relativa ou negócio processual, mesmo envolvendo eleição de foro ou suspensão
do processo que estariam sujeitos ao agravo de instrumento com base no dispositivo 1.015 do
CPC. “[...] Acolher tal entendimento não significa interpretação extensiva. Respeitados os
limites semânticos de texto, bem como a finalidade do dispositivo, a aplicação irrestrita
proposta pelos processualistas é contra legem.”

Outros autores que divergem do entendimento de Didier e Cunha, são Streck, Sousa e
Gouveia Filho (2018, p. 4), em razão da convenção não transferir o litígio para a competência
do árbitro, ela outorga poder jurisdicional ao árbitro. “[...] O poder precede a competência.
Para ter competência é necessário, antes, ter poder. [...]”. Para os autores, competência e
jurisdição são díspares, não tem relação possíveis de interpretação extensiva. Conforme art. 3º
da Lei nº. 9.307, de 23 de setembro de 1996: in verbis Art. 3º As partes interessadas podem
submeter a solução de seus litígios ao juízo arbitral mediante convenção de arbitragem, assim
entendida a cláusula compromissória e o compromisso arbitral.

Assim como na doutrina, houve também posicionamento jurisprudencial firmado


quanto ao cabimento do recurso de Agravo de Instrumento quando da taxatividade do rol do
artigo 1.015 do CPC.
38

O Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios – TJDFT vem tendo dois


entendimentos. O primeiro é pelo não conhecimento do agravo de instrumento quando não
contemplado nas hipóteses previstas no rol do art. 1.015 do Código de Processo Civil. Tal
entendimento é fundamentado pela maneira que o legislador editou a nova lei de
procedimentos cíveis, pois precisou objetivar a celeridade da prestação jurisdicional ao
contemplar um rol taxativo para o cabimento do agravo de instrumento. Nesse sentido, é o
entendimento da Sétima Turma Cível do TJDFT:

AGRAVO INTERNO. AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO CONTRA


ATO JUDICIAL QUE DETERMINOU A EMENDA À INICIAL.
PRONUNCIAMENTO JUDICIAL SEM CONTEÚDO DECISÓRIO. HIPÓTESE
NÃO PREVISTA NO ART. 1.015 DO NOVO CPC. ROL TAXATIVO. AGRAVO
IMPROVIDO. 1. É assente na jurisprudência deste TJDFT de que o rol de hipóteses
previstas no art. 1.015 do CPC para o cabimento de Agravo de Instrumento é
taxativo, não comportando qualquer intepretação extensiva para abarcar outras
situações. 2. No ato judicial por meio do qual se determina a emenda à petição
inicial, tão somente para esclarecer o pedido e quanto ao valor da causa, existe o
prenúncio de uma decisão, mas tal expectativa ainda não se materializou, não tem
conteúdo decisório, não sendo possível enfrentar tal questão em Agravo de
Instrumento. 3. O legislador, ao editar a nova lei de procedimentos cíveis, objetivou,
ao reformular a sistemática do recurso de Agravo, empregar celeridade aos
processos para que a prestação jurisdicional seja entregue de maneira mais célere,
não incidindo preclusão sobre a matéria, a qual poderá ser regularmente abordada
em preliminar de apelação, nos termos do art. 1.009, §1º, do NCPC. 4. Agravo
interno conhecido, mas improvido. (TJDFT, 2017).

Contudo, mister salientar que o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios


também entende por reconhecer o recurso de agravo de instrumento quando interposto fora
das hipóteses estabelecidas no artigo 1.015. Esse entendimento é defendido, em razão do
caráter exaustivo do catálogo do artigo 1.015 não vedar a interpretação extensiva ou analógica
do recurso. Ainda defendem que, sendo agravável a decisão que rejeita a alegação de
convenção de arbitragem e, por consequência estabelece a competência do órgão
jurisdicional, não há falar em exclusão da abrangência recursal do agravo de instrumento
quando da decisão que estabelece a competência interna, de acordo com Acórdão n. 978761,
em 19 de outubro de 2016.

Já o Tribunal Regional Federal da 1ª Região, firmou entendimento através do Acórdão


n. 0027794-69.2016.4.01.0000 no sentido da taxatividade do rol do art. 1.015 do CPC. Isto
porque, a taxatividade prevista no artigo 1.015 deixou certo que a decisão que versa sobre
declínio de competência não consta no referido rol. Transcrevo o Acórdão, de relatoria
convocada da Juíza Federal Rosimayre Gonçalves de Carvalho:
39

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO EM AGRAVO DE


INSTRUMENTO. DECLÍNIO DE COMPETÊNCIA. MATÉRIA NÃO
CONSTANTE DO ART. 1.015 DO CPC. ROL TAXATIVO. INSUFICIÊNCIA
DE ARGUMENTOS APTOS PARA INFIRMAR A CONCLUSÃO DA
DECISÃO RECORRIDA. AGRAVO INTERNO NÃO PROVIDO.
1. Na atual sistemática processual civil, as hipóteses de cabimento do agravo de
instrumento foram taxativamente previstas no rol do art. 1.015 do CPC, sendo certo
que, nesse novo contexto, a decisão judicial que versa sobre declínio de competência
não está incluída no aludido rol.
2. Agravo interno não provido.

A Décima Primeira Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do


Sul, vem entendendo que é inadmissível a interposição do recurso de agravo de instrumento
quando não forem nas hipóteses elencadas no art. 1.015 do Código de Processo Civil. O
agravo de instrumento foi interposto com o objetivo de reconhecer a ilegitimidade passiva da
agravante, porém a referida Câmara entende que o agravo de instrumento somente pode ser
manejado nas condições do dispositivo legal. Nesse sentido, entende o TJ/RS:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO PRIVADO NÃO ESPECIFICADO.


ILEGITIMIDADE PASSIVA. ART. 1015 DO CPC/2015. ROL TAXATIVO.
PRECEDENTES. O questionamento a respeito do reconhecimento da ilegitimidade
passiva de uma das agravadas não está dentre as alternativas passíveis de recurso
previstas no rol taxativo do art. 1.015 do CPC. Ademais, em se tratando de matéria
que pode ser suscitada em preliminar de apelação, consoante o art. 1.009, § 1º do
CPC, aliado à ausência de prejuízo imediato à agravante, não se subsume às
hipóteses de aplicação da taxatividade mitigada, fixada no julgamento dos REsp nº
1.704.520/MT e nº 1.696.396/MT, do STJ. AGRAVO DE INSTRUMENTO NÃO
CONHECIDO, POR DECISÃO MONOCRÁTICA.

Da mesma forma, vem entendo a Vigésima Terceira Câmara Cível do Tribunal de


Justiça do Rio Grande do Sul, pois nega provimento ao agravo de instrumento quando
interposto fora do rol do art. 1.015. Nesse caso, o agravante se insurge contra decisão que
determinou a suspensão da tramitação do processo de ação de cobrança, contudo não há essa
possibilidade nas hipóteses do artigo acima mencionado, por isso a Câmara não reconhece o
agravo de instrumento.

Nessas premissas, entende a Vigésima Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado


do Rio Grande do Sul:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. NEGÓCIOS JURIDICOS BANCÁRIOS. AÇÃO


DE COBRANÇA. EXPURGOS INFLACIONÁRIOS. SOBRESTAMENTO. NÃO
CABIMENTO DO RECURSO. HIPÓTESE NÃO PREVISTA NO ROL DO
ART. 1015 DO CPC. EXCEPCIONALIDADE NÃO CONFIGURADA. 1. Agravo
de instrumento interposto contra decisão que determinou a suspensão do trâmite
40

processual da ação cobrança, em sua fase de conhecimento, hipótese não abarcada


pelo restrito rol do artigo 1.015 do Código de Processo Civil. 2. O Superior Tribunal
de Justiça, em recente julgamento, mitigou a taxatividade do rol do artigo 1.015 do
Código de Processo Civil, reconhecendo a possibilidade de se conhecer de agravo de
instrumento que versar sobre outras hipóteses não elencadas no dispositivo (REsp
1.696.396/MT e 1.704.520/MT), contudo, tal hipótese fica restrita a situações
excepcionais em que preenchido o requisito de urgência, qual seja, que a análise do
pedido se torne inútil em futuro julgamento de apelação. A Corte Superior modulou
os efeitos da referida tese, definindo que sua aplicação fica restrita às decisões
interlocutórias proferidas após a publicação do acórdão exarado no julgamento do
REsp 1.704.520/MT (Tema nº 988). 3. Caso concreto que não se enquadra na
situação de excepcionalidade, porquanto ausente o requisito de urgência decorrente
da inutilidade do julgamento da questão em preliminar de recurso de apelação, o
qual não se extrai ipso facto da circunstância de o processo permanecer com a
tramitação suspensa por poucos meses. RECURSO NÃO CONHECIDO (RIO
GRANDE DO SUL, 2019).

A Décima Nona Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul ao julgar
recurso que impugna decisão prolatada em processo que tramita na Comarca de Cerro Largo,
conhece parcialmente o agravo de instrumento pelo princípio da taxatividade das decisões
interlocutórias constantes do art. 1.015 do Código de Processo Civil de 2015. O agravo em
questão, foi interposto requerendo o benefício da gratuidade da justiça, bem como que seja
possibilitado o trâmite da demanda na justiça comum. Todavia, não foi provido quanto à
tramitação na justiça comum, sob pena de supressão de instância, mas foi conhecido
parcialmente dando provimento para conceder a gratuidade da justiça ao agravante. Vejamos:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. GRATUIDADE JUDICIÁRIA.


INDEFERIMENTO NA DECISÃO RECORRIDA. 1. Gratuidade judiciária. É de
ser concedido o benefício quando os documentos acostados aos autos levam à
conclusão de que a parte postulante não tem condições de satisfazer as custas
processuais e os honorários advocatícios, a não ser em prejuízo próprio ou de sua
família. Precedentes da Câmara. 2. Competência dos Juizados Especiais. Ausente
pronunciamento do juízo a quo acerca da temática referente ao encaminhamento do
processo aos Juizados Especiais Cíveis, inviável analisá-la nesta instância recursal,
sob pena de supressão de um grau de jurisdição, o que é incabível, especialmente
considerando que, em se tratando de agravo de instrumento, somente a decisão
agravada é devolvida ao conhecimento da Corte. Situação em que, ademais, não
caberia a interposição de agravo de instrumento, em face do princípio da
taxatividade das decisões interlocutórias constante do art.1.015 do Novo CPC.
Agravo de instrumento parcialmente conhecido e, na parte conhecida, provido.

Encaminhando-se para o fim da análise dos julgados, tem-se o entendimento da


Sétima Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, a qual deu provimento ao
agravo de instrumento por compreender que contemplou as hipóteses previstas na
taxatividade mitigada adotada pelo Superior Tribunal de Justiça. No presente caso a decisão
declinou da competência da Vara da Justiça Comum ao Juizado Especial Cível, contudo para
a Câmara as causas que seriam de competência do Juizado Especial Cível também são de
41

competência da Justiça Comum, pois cabe ao titular da ação escolher onde pretende
demandar. Com isso, colaciona-se o julgado do Egrégio Tribunal de Justiça do Rio Grande do
Sul:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. DECISÃO MONOCRÁTICA. AÇÃO


DECLARATÓRIA DE INEXIGIBILIDADE DE COBRANÇA. DECLINAÇÃO
DE COMPETÊNCIA DA VARA DA JUSTIÇA COMUM AO JUIZADO
ESPECIAL CÍVEL. - A decisão que declinou, de ofício, da competência da Vara da
Justiça Comum ao Juizado Especial Cível está contemplada nas hipóteses previstas
na taxatividade mitigada adotada pelo STJ quando do julgamento do REsp
1.704.520/MT (Tema 988), submetido ao regime de julgamento dos recursos
repetitivos. - É da competência do Juizado Comum, as causas que, em tese, seriam
de competência concorrente com o Juizado Especial Cível, mas que teve a escolha
pelo titular da ação de litigar na justiça comum, razão da reforma da decisão
recorrida para o prosseguimento do feito perante o Juízo Comum, escolhido pelo
jurisdicionado. AGRAVO DE INSTRUMENTO PROVIDO.

Como se pode analisar, cada Tribunal decide conforme o caso em questão, alguns
seguem mais a linha de pensamento da taxatividade do rol do artigo 1.015 do Código de
Processo Civil, outros procuram decidir pela taxatividade mitigada, dependendo de cada caso
em específico. Ainda, se verifica que em alguns Tribunais há divergência entre as Câmaras.

Entretanto, na data de 05 de dezembro de 2018, o Superior Tribunal de Justiça julgou


o Recurso Especial n° 1.704.520 – MT, por relatoria da Ministra Nancy Andrighi nos
seguintes termos: “[...] O rol do art. 1.015 do CPC é de taxatividade mitigada, por isso admite
a interposição de agravo de instrumento quando verificada a urgência decorrente de
inutilidade do julgamento da questão no recurso de apelação.” Dessa forma, deu-se
provimento em parte ao recurso especial para determinar ao TJ-MT que, observando os
demais pressupostos de admissibilidade, conheça e dê regular prosseguimento ao agravo de
instrumento no que se refere à competência.

Portanto, com a decisão do STJ pela taxatividade mitigada do rol de hipóteses do


artigo 1.015 do CPC, evita-se prejuízos irreparáveis às partes. Aqueles que interpuserem
agravo de instrumento em face de decisões interlocutórias contra as quais o recurso de
apelação tornar-se-ia medida inútil, devem se beneficiar dos efeitos positivos da decisão
paradigmática do STJ ora comentada, declarando-se cabível o seu recurso.
42
43

CONCLUSÃO

Conforme indicado no início do trabalho, o presente estudo buscou compreender a


recorribilidade das decisões interlocutórias por meio do recurso de agravo de instrumento,
pois com a entrada em vigor do Código de Processo Civil de 2015 estabeleceu-se um rol
taxativo de hipóteses de cabimento do agravo.

A partir do presente trabalho, pode-se aferir que o recurso de agravo de instrumento é


de extrema importância para o processo civil brasileiro, uma vez que dá às partes um meio de
impugnar uma decisão interlocutória proferida em primeiro grau, que causou danos ou lesões
de difícil reparação.

Ademais, com a inovação trazida pelo CPC de 2015, a doutrina e a jurisprudência vêm
enfreando grandes debates no que se refere a taxatividade do rol do artigo 1.015. Contudo, o
mais recente julgamento do Recurso Especial 1.704.520 entendeu pela taxatividade mitigada
do referido artigo, porquanto não pode a parte sair prejudicada por haver um rol de hipóteses
que pode não prever uma lesão de difícil reparação.

Como visto na parte histórica, o agravo de instrumento foi o recurso que mais teve
alterações ao longo dos anos e, por isso se fez necessário decidir sobre a taxatividade
mitigada, haja vista que a sociedade contemporânea demanda por uma justiça mais célere.
Esse julgamento, trouxe mais tranquilidade à população vez que adota institutos que
privilegiam a segurança jurídica e a efetividade processual.

Com isso, o processo não aguardará eventual recurso de apelação e, as partes poderão
interpor agravo de instrumento contra decisões interlocutórias que causarem prejuízos
irreparáveis.
44

Ainda, importa salientar que a matéria da presente monografia possui relação direta
com os princípios garantidos na Carta Magna, bem como com os princípios estabelecidos no
direito processual civil brasileiro, quais sejam, do acesso à justiça, do devido processo legal,
do juiz natural, da inafastabilidade do controle jurisdicional, do duplo grau de jurisdição, da
inércia, da duração razoável do processo, do contraditório e da ampla defesa e da
imparcialidade do juiz, embasando, inclusive, o fundamento utilizado para decisão do STJ n°
1.704.520/MT.

Conclui-se, portanto, que com a decisão do Superior Tribunal de Justiça foi possível
trazer tranquilidade jurídica aos jurisdicionados, pois as possibilidades de interposição do
agravo de instrumento não se limitam ao rol de hipóteses do artigo 1.015 do CPC.
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