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HISTÓRIA DA CIDADE

EQUIPE DE REALIZAÇÃO
TRADUÇÃO
Silvia Ma:tza
REVISÃO DE TEXTO
Geraldo Gerson de Souza
REVISÃO DE PROVAS
Plinio Martins Filho
PROGRAMAÇÃO VISUAL
Walter Grleco e Pllnlo Martins Filho
CAPA
Walter Grleco
PRODUÇÃO
Ricardo W. Neves
Adriana Garcia
SUPERVISÃO
J. Gulnsburg
HISTÓRIA
DA
CIDADE
LEONARDO BENEVOLO

~\IJ,~
~ ~ EDITORA PERSPECTIVA
11!1\\~
TriUio do original iroliano
Storia de/la C/ttá

Cop)'light O Cius. Lotel"l!jl &. Fi&li Sp;a. Rom.:l·Owi

3' ediçlo - 2' reimprusto

Direitos reservados em Ungua ponugucsa A


EDITORA PERSPECTIVA S.A.
Av. Brig. Luis Antônio, 302S
01401-000- Slo Paulo - SP- Brasil
Telefu: (0--11) 388S-8388
www.ediloraperspeetiva.com.br
2001
SUMÁRIO

Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
I. O Ambiente Pré-Histórico e a Origem da Cidade .. ...... . .... . .............. .. : . . . . • . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
2. A Origem da Cidade no Oriente Próximo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
3. A Cidade no Oriente Próximo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
4. A Cidade Livre na Grécia . . . .......... . . .... ........... . .............. .. .. .'. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
5. Roma: A Cidade e o Império Mundial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . • . . . . . . . . . . . . 133
6 ..>As Cidades Muçulmanas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 223
dt) As Cidades Européias da Idade M~ia ............................... . ................ . . .............. 251
{ ~ A Cultura Artística da Renascença . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40 I
'11. As Cidades Italianas na Re nascença .... . . .. . . ........... .... ............ ... . .. ....................... 425
~· A Colonização Européia no Mundo . . .. . . .. . . ........... .... . . ....... . . , . . .... ....................... 469
«Çf-: As Capitais da Europa Barroca . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 503
12. O Ambiente da Revolução Industrial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 551
13. A Cidade Pós-Industrial. . .. ............ ...... ...................................................... 573
14. A Cidade Modema ....... .... ...... .. . .... . . ......... . .... . . . ................ .................... 615
15. A Situação de Hoje . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 657

Bibliografia .............. .. . . ............ .... . .. . . .... .. . . .. .............. . ......... . ............... 728


INTRODUÇÃO

~ este livro um balanço elementar da história do Mesmo com esta complementação, este livro
ambiente construido, feito através de um texto resu· mantém um fio condutor único, isto é, o nascimento e
mido e de uma farta coletânea de ilustrações. as transformações do ambiente urbano na Europa e
Grande parte do material aqui reunido deriva do no Oriente Próximo, e leva em conta os acontecimen-
curso de desenho ministrado no Cientifico - publica- tos nas outras áreas - no Extremo Oriente, na África,
do recentemente pela mesma Editora - uma tentati-
0 nas Américas -somente com relação ao acontecimen·
va de formular uma educação de base sobre o ambien· to europeu: descreve as cidades nativas encontradas
te fisico, endereçado a estudantes que ainda não pelos europeus e as construidas em conseqüência da
escolheram sua profissão futura. Os programas vigen· colonização e da hegemonia mundial européia.
tes nas escolas italianas só permitem esta tentativa no Com relação à área euroasiática, justifica-se a
Cientifico, utilizando-se de uma matéria tradicional- escolha da cidade como paradigma e forma dominante
o desenho - eqUidistante dos diversos interesses espe- do ambiente construido. Foi precisamente ai que
cializados-o art1stico e o técnico- que, ao contrário, nasceu a idéia da cidade como estabelecimento mais
se tomam exclusivos nas escolas com outro tipo de completo e integrado, que contém e justifica todos os
orientação. Contudo, a exigência desta educação de estabelecimentos menores - bairros, ediflcios etc.,-
base vale para todos os cidadãos, que deveriam apren· como partes ou esboços parciais. Todavia, a cidade
der a compreender-sistemática e historicamente-o permanece uma criação histórica particular; ela não
ambiente fisico em que vivem: a ler e escrever o mundo existiu sempre, mas teve inicio num dado momento da
dos objetos materiais, além do mundo dos discursos, evolução social, e pode acabar, ou ser radicalmente
de modo a poder discuti-lo, modificá-lo, e não apenas transformada, num outro momento. Não existe por
suportá-lo passivamente. uma necessidade natural, mas uma necessidade hit!t6-
Pensamos, portanto, em reunir os volumes histó- rica, que tem um inicio e pode ter um fim.
ricos do curso de desenho - dedicados à Antiguidade Toma-se importante, pois, explicar a origem da
Clássica, à Idade Médla, à Era Modema e à Contempo- c!!!_ade no mundo antigo, e também - na mêd1da do
rânea - num volume único destinado a um público possivei o seu destino no momento atual. Para fazê.
mais amplo de leitores não-profissionais. Não subsis- lo, devemos"lemb\'li'i em poucas palaviãs as grandes
tem aqui as limitações próprias de um curso escolar, já mudanças da organização produtiva, que transforma·
que foi possivel enriquecer o material original com uma ram a vida cotidiana dos homens e provocaram, a
série de documentos sobre outras cidades mais longin· cada vez, um salto no desenvolvimento demográfico.
quas no tempo e no espaço, de modo a oferecer um 1) O homem apareceu na face da terra há, talvez,
quadro mais completo e sistemático do desenvolvi· 500.000 anos, e durante um tempo muito longo (que,
mento 'Ul'bano nos vários paises. em geologia, corresponde ao perlodo pleistocênico). vi-

9
veu coletando seu alimento e procurando um abrigo no o excedente disponível, mas que, com seu consumo
ambiente natural, sem modificá-lo de maneira profun· limitado, também limita o crescimento dos habitantes
da e permanente. A esta época os arqueólogos dão o e da produção; a Idade do Ferro, que se inicia por volta
nome de Paleolítico (pedra antiga) e compreende mais de 1.200 a .C. com a difusão de um instrumental metáli·
de 95% da aventura total do homem; nela ainda hoje co mais económico, da escrita alfabética e da moeda
vivem a lgumas sociedades isoladas nas selvas e nos cunhada, ampliando assim a classe dirigente e permi·
desertos. tindo um novo aumento da popula~. A civilização
2) Cerca de 10.000 anos atrás- após a fusão das g r eco-romana desenvolve esta organização numa
geleiras: a última transformação profunda do ambien· grande área económica unitária - a Bacia Mediter·
te natural, que assinala a passagem do Pleistoceno rânica - mas escraviza e empobrece os produtores
para o Holoceno - os habitantes da faixa temperada diretos e caminha para o colapso económico, do Rf>ruln
aprenderam a produzu· seu alimento, cultivando plan· IV d.C. em diante.
tas c criando animais, e organizaram estabelecimen-
tos estáveis- as primeiras aldeias- nas proximida· 4) Outras transformações históricas -a civiliza-
des dos locais de trabalho. É a époCa Neolitica (pedra ção feudal e a civilização burguesa - preparam a
nova) que para muitos povÕSSe prolonga·até o· encon- transição histórica seguinte: o desenvolvimento da
tro com a colonização européia (para os Maoris da procl ução com os métodos cien ti ficos, que caracteriza
Nova Zelândia até o início do século passado). nossa ciuilização industrial. O excedente assim produ-
3) Há cerca de 5.000 anos, nas planícies aluviais zido, crescente e ilimitado, não é reservado necessãríã-'
do Oriente Próximo, algumas aldeias se transforma- mente a uma minoria dirigente, mas édistribu1doPãii
ram em cidades; os produtores de alimento são persua· a maioria, e teoricamente para toda a população, que
didos ou obrigados a produzir um excedente a fim de pode crescer sem obstáculos económico.:;, até atingir ou
manter uma população de especialistas: artesãos, mer- ultrapassar os limites de equHibrio do ambiente natu-
cadores, guerreiros e sacerdotes, que residem num es· ral. Nesta situação nova, como iremos ver, a cidade
tabelecimento mais complexo, a cidade, e dai contro- (sede das classes dominantes) ainda se contrapõe ao
lam o campo. Esta organização social requer o invento campo (sede das classes subalternas), mas este dualis-
da escrita; daí começa, de fato, a civilização e a histó- mo não mais é inevitável e pode ser superado. Desta
ri.a escrita, em contraposição à pré-história. Doravan· possibilidade nasce a idéia de um novo estabelecimen-
te, todos os acontecimentos históricos sucessivos de- to, completo em si mesmo, como a cidade antiga (cha·
pendem da quantidade e da distribuição deste exce- mado, portanto, com o mesmo nome), mas estendido a
dente. todo o território habitado: a cidade modema.
Os estudiosos distinguiram a Idade do Bronze, Neste arco histórico completo examinaremos as
na qual os metais usados para os instrumentos e as transformações do ambiente físico, que é influenciado
armas são raros c dispendiosos, sendo reservados, por- por todos os outros fatos da vida civil e, por sua vez, os
tanto, a uma classe dirigente restrita que absorve todo influencia de várias maneiras.

10
Fig. 1. A vida dos homens primitivos, 11uma ilustraç4c dn Tratado
de Vitrúvio editado na França em 1547.

11
Fig. 2. O cranio ik um antepassa® do homem (o Ausü-alopithecus),
que viveu Jui cerca de tr~s milhiJes ik ancs na A{rica MeridionaL
Attús dos 08808 da parte anterror, o molde do drebro.

Fig. 3. Os lugares onik {oram encontradcs os restos do homem


primitivo, e o proudvel caminho de sua di{usiJo, reconstruido por
Leakey e Lewin.

12
1. O AMBIENTE PRÉ-1-DSTÓRICO E A ORIGEM DA
CIDADE

o mundo Malempodemos imaginar


que viveram, porde maneira
dezenas deaproximada '-=~~~=!=:=j~:J===jr-"TI-.......- -
milhares de f-
gerações, g§_homens paleoliticos. O ambiente construi·
do não passava de uma 1!!9dificação su~do I--++J~clor...:..&-~ifl\,;:+---lrir--t-r"1
a.!!ll2iente natural, imenso e hostil, no qual o homem
começou a mover-se: o ~~ma cavidade natu·
W.OlUllll..Iefúgi~de.,peíes.sob~tx:utura simples 1-+-1-Bif'~~
de madeira; entrementes, as últimas grandes transfor· ~-1-~L!fj~~Hl~~ttfifé~~to:::;:+-::l-rl
mações geológicas estavam ainda formando o am-
biente natural que hoje, na '!>reve perspectiva de nossa
história, nos parece estabilizado e imóveL Os antigos
ilWitradores procur!U'am inventar, sem documentos, a
cena da vida dos homens primitivos (Fig. 1).
Os arqueólogos modernos, escavando e estudan·
do os vestigios materiais dos pnmeiros homens, nos
oferecem umã imagem..-!!lªis xealista, embõra-mâiS
confusa. ()Que seâesenterra e que documenta os esta·
belecimentos mais antigos são sobretudo os residuos
da atividade humana: ~as..de alimento, os frag-
mentos provenientes do trabalho das pedras e da ma-
deira, e entre eles os produtos acabados, usados e de-
pois abandonados ou enterrados. A distribuição ~~~~-~~~J<j~~~~~W ~~...,.::'::ii~~'~:
desses objetos em torno do núcleo -sinal -=
~peel.fico-da-presença_AO-homem, que
usar o fogo - indica um conjunto unitário, que pode- f:.lJi~~~:f~~~~~
mos chamar de habitação primitiva (Figs. 4, 5, 8 e 9).
Fig. 4. Uma habitaÇ(fo do perlodo paleoUtico recente na Ucrdnia.

13
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. Figs. 5-6. Uma habit4çilo paleolltica descobert4 em Terra Ama· Fig. 7. Quatro uteMIIíos de 0880, do período pa/eoUtíco, encontrados
!4, nos arredores de Nice, e uma pedra lascada encontrada po• na Europa SetentrioiUil.
seus moradores, recompost4 pelos arqueólogos. É a primeira
obra de edificaçilo até agora conhecida, que remont4 hó cerca
de trezenros m ii anos.

14
Figs. 8-9. R.utos de acampamentos do período paleolltico em Fig. 10. O mundo na época gl4ci41, com 48 zon48 ocupad48 pe/4s
Ahren.sburB·Holstein na Alemanha Setentrional: um acampa· gekir48 e le,.. iletritos.
mento de inverno, e um de verllo.

r*' ZONAS D<\ MÁXIMA ZONAS UVRES


"-' GLACIAÇAO DE GELEIRAS

Figs. 11·12. Modewemtemu:otadeumacaballaneoliticaem Popú<l


llia na Ucr411ia; percebem-se o pórtico, o {orno,OtJ IXJSOspara o trigu.
um estrado em forma de cruz e a m6; cerca de 20()() a.C.

15
O ambiente das sociedades neollticas não é aQe- que OS.l!mueól~varam.estabelecimentos mais
nas._ um abrigo na natureza, màS ui!iJi~!2 de numerosos, maiores e já arquitetados de forma regu-
~ r ransfõrma]2 segundo· um projeto humano: lar: podemos completar as partes que faltam e recons-
compreende os têrrenos cultivados para produzir, e truir o projeto segundo o qual foram construidos (Figs.
não apenas para apropriar do alimento; os abrigos dos 12-20). Os etnólogos estudam, então, as sociedades que
homens e dos animais domé§_ticos; os depóSitoS de vivem ainda hoje com uma economia e um mstrumen-
alimento prod~o para uma estação inteira ou para tal neolitico. Podemos confrontar suas aldeias com as
um perlodo mais longo; os utensllios ~a o cul~o, a do passado: pertencem a uma história diferente que
prossegue paralelamente à dos povos civilizados, e se
criação._a defesa, a ornamenta~ o culto. Podemos encontra com. esta, necessariamente, no mundo unifi-
reconstruir ~ambiente com uma certa precisão por- cada atual (Figs. 21-22).

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f i/l. /."1. Planta da aldeia n«Xitica tk Hallstatt na Akmanha.

16
Praça coberta de madeira

- Terreno aplainado
lfllli P~vi.mentos de madeir

,.... Entradas de fogueiru

LeitO\ C.N 1
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oi,_ _ _L__JL__l___i-~L--l---l---L---L--~·

Fígs. 14·15. Púuw e rec:oMtruçdoda aJdeianeollticcdeAu-hblih. jq,


Federseemcr, 114 Akmcnha (cerca de 2()()0 a.C.)

17
J.Yg. 16. Plano de uma tumba neolftica no Alentejo, na Espanha, Figs. 17-18. Dois gi'(J.fitos di! Val Camonica- di! idadl! pré-romana
com seus ornamentos fúnebres; uasos e instrumentos de corte, em - com figuras de habitaç(Jes di! madeira..
escala a 115 do natural; objetos di! sllex, em escala a215 do natural
(cerca di! 1500 a.CJ.

18
nas proxi-'"--'~
Fig. 19. Alicerce
"'""""'" de .numa.
de caba1Ul8
o- .
neoUtu;as OUIUS
. em San G.touenale,

Fig. 20. PiaM da • uma das Ilha:;


E61ias (cerca de JS()()
aükia a.C.).
de Mont<Jgnola em Filicudi

Fig.2I. Umaa . ..
cerca de 1590 :fêa lndia na FMrida,. gravura de TeOCÜ>rodeBry, de

19
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Fígs. 22. Uma aJde•a


· contemporãnea em Camaroes (África;

20
Figs. 23·24. Ur. Secç4c de um4 tumba, e jóias de ouro encontradas
em um en:;roval{únebre.

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Figs. 2<5-26. A cidade de Ha{aga e seu templo principal.

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21
2. A ORIGEM DA CIDADE NO ORIENTE PRÓXIMO

A cidade -local de estabelecimento aparelhado,


diferenciado e ao mesmo tempo privilegiado, sede da
autoridade - nasce da aldeia, mas não é apenas uma
aldeia que cr~Ela se forma, como pudemos ver,
quando ~ e os serviços jã não são executa-
dos pelas pessoas que cültivai'ínr'têiTa, mas po~s
Queiiãõf.êm est:ãõõngação, e que são manliaas pelas
pnmerras com o excêâ'ênte do prõduto total.
asce, assim, o contraste entre dois grupos so-
ciais, dominantes e subalternos: mas, entrementes, as
indústrias e os serviços jã podem se desenvolver atra-
vés da 'especialização, e a produção agrlcola pode cres-
cer utilizando estes serviços e estes instrumentos. A
sociedade se toma capaz de evoluir e de projetar a sua
evolução.

Figs. 27-U. C41Cl8 no aldeia neolltica de Hacilar, na Turquia;


cerca de 5000 a.C. Toda casa compreende um amplo vc2o, sustell-
tado por colunas de madeira e dividido por tabiques leves. A es·
cada d direita leva a um andar superior, destinado, talvez, a ser-
vir de ógua-furtada ou terraço.

23
3500·3000 a. c.

3000·2500 a. c.

~·o~~· O desenvoluimento do. civiüzo.ç4o urbano ~. 35()() o

24
2500-2000 a. c.

2000.1500 a. c.
A cidade, centro motor desta evolução, não só é
maior do que a aldeia, mas se transforma com uma
velocidade muito superior. Ela assinala o tempo da
nova história civil: a~en!(js tranâform_5Ões.do..caro-
po (onde é produzido o exc ente) ocumentam as mu-
danças mais raras da estrutura econômica;JIS rápidas
tmnsíorma~ua_~e (onde é distribuido o exre
dente) mostram, ao contrário, as mudanças muito
mais profundas da composição e das atividades da
classe dominante, que influem sobre toda a sGCiedade.
Tem inicio a aventura da "civilização", que corrige
continuamente as suas formas provisórias.
Este salto decisivo (a "revolução urbana", como .
se chamou) começa -segundo a documentação atual
-no vasto território quase plano, em forma de meia-
lua, entre os desertos da África e da Arábia e os montes
que os encerram ao norte, do Mediterrâneo ao Golfo
Pérsico.
Após a mudança de clima no fim da era glacial,
~oria se cobre d&-u:IDa_vegetaçAQ desigual, mais
/ rala d~que-as florestas setentrionaiiiliíãSContras-
tante com o deserto meridional '(Fig. 33). A planície é
~ .....
cultivável ~te onde passa ou pode serconduzida !Z! c.nu....
a água de um no ou de uma nascente; nela crescem, em • l'lo-....-
estado selvagem, diversas plantas frutiferas (oliveira, 0 S...p,..vordoo, booqo•
videira, tamareira, figueira); os ri~ os mares e o terre-
no aberto às comunicações favorecem as trocasde Fig. 33. A uegetaçdo natural do OrienU Próximo, após o fim do era
mercadorias e de noticias; os céus, quase sem~ sere- glacüJl e antea do oolonizaçdo agrloo/4. Os·od8il ao longo do curso
~er;-ãnoite, os movimentõS"regulares do Nilo, do Tigre e do Eufrates tornar-se-do as primeiras sedes da
dos astros eiacilitam a medição do tempo. civilização urbana, no IV mi/enio a. C,
Aqui algumas sociedades neo!iticas - que jã Fig. 34. Outra tabuinha encontrado em Nipur, com aplanimetriade
conhecem os_cereai§. ~váve.s;-v-tr-ah@lo dos me- uma parte do território.
tais, a roda, o carro puxaao Wos bois,:::Gõurrõde
carga, as embarcações a remo ou a vela -encontram
um ambiente mais di.flêirde aproveitar, mas capaz de
produzir, com um trabãlho orgãnizado em comum, Biktar
recursos muito mais abundantes. Nusku
O cultivo dos cereais e das árvores frutiferas nos
ricos terrenos úmidos proporciona colheitas excepcio-
nais, e pode ser ampliado melhorando e irrigando ter-'
renos cada vez maiores. Parte dos viveres pode ser
acumulada Y-ara as trocas com~ciais e os grandes
traôalhos coleovos. Começa, assim, a espiral da nova
economia: o aumento da produção agrlcola, a concen-
tração do excedente nas cidades e ainda o \umento de
população ~utos garantido pelo domíriio t.él'Jli-

-----
co e militar da cidade sobre o campo.
Na Mesopotâmia - a planície aluvial banhada
pelo Ti e e o rates - o excedente se concentra
nas milos v~rnantes das cidaaes, representan-
- --..-"o eus local; nêSta qualidade recebem os rendi-
menrosae pãrtedas terras comuns, a maior parte dos
despojos de guerra, e administram estas riquezas acu-
mulando as provisões-alimentares para toda a popula-
ção, fabricando ou importanto os utensUios de pedra e Bl Centros Urbanos
de metal para o trabalho e para a guerra, registrando
as informações e os números que dirigem a vida da ~Campos
comunidade. Esta organização deixa seus sinais no ~ Colina dos 50 Homens
m Canais
26
Figa. 35-36. Uma tabuinlw. tumiria, com o plano da cidade de Nipur
(cerca de JS()() a.C.).

terreno: os canais que distribuem a água nas terras e um fosso, que as defendem e que, pela primeira vez,
melhoradas e wmitem transportar para tOOa parte, excluem o ambiente aberto natural do ambiente fecha-
mesmo de longe,'os produtos e as matérias-primas; os do da cidade. Também o campÓ em torno é transforma-
muros circundantes que individualizam a área da ci- do pelo homem: em lugar do pântano e do deserto,
dade e a defendem dos inimigos; os armazéns, com sua en<'ontramm< uma pni~ai-(C'Ill arlifkial d(• campo,;. pns-
provisão de tabuinhas escritas em caracteres cuneifor- tagens e pomares, percorrida pelos canais de irrigação.
mes; os 'templos 'dos deuses, que se erguem sobre o Na cidade os templos se disLin~ucm das~:asa>< ('omuns
nlvel uniforme da planlcie com seus terraços e as pi- por sua massa maior e mais elevada: compreendem de
râmides em degraus. Estas obras e as casas das pes- fato, além do santuário e da torre-observatório (zig-
soas comuns são construídas de tijolos e de argila, gura.t), laboratórios, armazéns, lojas onde vivem e tra-
como ainda hoje se faz no Oriente Próximo; o tempo balham diversas categorias de especialistas.
fá-las desmoronar e as incorpora novamente ao terre-
no, mas dessa forma o terreno conserva, camada por o terieno da cidade já é dividido em...p~*
camada, os vestigios dos artefatos construidos em ca-des indivtduatS entre os cidadãos, ao passo que o carn-
~é adffitrustrado em comum ~onta das divlqda-
da perlodo histórico, e entre estes as preciosas tabui-
des. ~m Lagash, o campo é repartido nas posses de
nhas com as crõnicas escritas, que a partir de 3000 a.C.
temos condições de ler com segurança; assim, as esca-umas vinte divindades; uma destas, Bau, possui cerca
vações arqueológicas permitem reconstruir, passo a de 3250 hectares, dos quais três quartos atribuldos, um
passo, a formação e as vicissitudes das cidades mais em lotes, a famllias singulares, um quarto cultivado
antigas construldas pelo homem, do IV milênio a.C. por assalariados, por arrendatários (que pagam um
em· diante. sétimo ou um oitavo do 'produto), ou pelo trabalho
gratuito dos outros camponeses. Em seu templo traba-
As cidades sumerianas, no inicio do II milênio lham 21 padeiros auxiHados por 27 escravas, 25 cerve-
a.C., já são muito grandes - Ur (Figs. 37-44) mede jeiros com 6 escravos, 40 mulheres encarregadas do
cerca de 100 hectares - e abrigam várias dezenas de preparo da lã, fiandeiras, tecelãs, um ferreiro, além dos
milhares de habitantes. São circundadas por um muro funcionários, dos escribas e dos sacerdotes.

27
2500-2000 a. c.

2000.1500 a. c.
Figa. 40·41. Plant/U - na trn18m4 escala - do quarteirl!c 2 e do '
TTUJusoléu recú 3 (que reproduz, em (orm4to maior, a forma da casa).

Figs. 42-44. Planm do quartelrilo 4; planta • secçilo da CGIO '"'"


baixo, à esquerda.

29
Fig. 45. Uma cidade su1Mria (detalhe da estdtua de Gudéia. de Fig. 47. A fabricaç4() dos tijoro. de argila, amassados com palha e
Te//(): cerca de :2000 a.CJ cozid<>s M IWI, que se usa M Orieme desde os tempos mais o.ntigo1
até haje. Os tiiolo.s s<W depoi8 ki)(J(/()s à parede recobertos com Mua
argi/4, e formam um produto que se adapta a todtJ8 as formas, mas
que é degradduel pelas intempéries; portanto dura somente se for
submetido 4 uma manutenç4o continua.

Fig. 46. &llltua de um perso1UJflem sumeriatw, de TeU Asmar.

Fig. 48. Aspecto de uma aldeia construtda com os tÍjolo.s da figura


anterior, que exi8te e funcion4 n4 Pérsi4 modem4, nos arred<>res de
Xiraz, mas é an6./og4 4 Ur e às outras cidades antigas ilustrada&
neste capltu/().

30
Figs. 49-52. Imagens de cidade, m>s baixos·rekuos assfrws.

Fig. 53. VISta aérea da cidade de Arbela, na Mesopotâmi4, que tem


sido habitada continuamente hd 5()()0' anos.

:n
........._

durante muito tempo permaneceram com simbolos e


protótipos de toda grande concentração humana, com
seus méritos e seus defeitos.
Babilõnia, a capital de Hamurabi, planificada
por volta de 2000 a.C., é um grande retângulo de 2500
por 1500 metros, dividido em duas metades pelo Eufra-
tes (Figs. &H59). A superficie contida pelos muros é de
cerca 400 hectares, e outro muro mais extenso com-
preende quase o dobro da área; mas toda a cidade, e
não somente os templos e os palácios, parece traçada
com regularidade geométrica: as ruas são retas e de
largura constante, os muros se recortam em ângulos
retos. Desaparece, assim, a distinção entre os monu-
mentos e as zonas habitadas pelas pessoas comuns; a
cidade é formada por uma série de recintos, os mais
externos abertos a todos, os mais internos reservados
aos reis e aos sacerdotes. Estes personagens freqUen-
tam as divindades- como se pode ver nas esculturas
-e têm portanto um domínio absoluto sobre as coisas
deste mundo. As casas particulares -como a ilustra-
da à pág. 35- reproduzem em pequena escala a for-
ma dos tempos e dos palácios, com pátios internos e as
muralhas estriadas.

; •
Fig. 54. Cabeca de bronu de um rei 4Sslrio, wluez Sarg4c I, d"
.......... ··t..············-~...........
Nlniue (cerca de 2500 a.C.),

lt,:Q;.&ttn.:i •••• *I •
Até meados do III milênio, as cidades da Mesopo-
tâmiaionnam...outros tantos Estados indepenpentes,
que lutam entre si para repartir a planície · ·gada
pelos dois ri~en o comp e en co onizada. Es-
tes conflitos limitam o desenvolvimento econõmico, e
só terminam quando o chefe de uma cidade adquire tal
poder que impõe seu domínio sobre toda a região._Q
,Rrim.....t.iro fundador de um império es vel (durante cer-
ca de um SéêUlo:l>or volta de 2500) rg ~ •
mais tarde, sua tentativa é repetida pe · mé-
rios de Ur, por Hamurabi da Babilõnia, pelos reis
assírios e persas. As gjDSeqi!ências fi..sicas de seus
empreendimimtos são:
1) a fundação de novas cidades residenciais, onde
a estrutura..<i.Qminante..não é o templo mas.o.palácio.dq
rei;_a cidade.palácio de Sargão II nos arredores de
Nínive (Figs. 55-61) e, mais tarde, os palácios-cidade
dos reis persas, Pasárgada e Persépolis;
2) a aml!_lia..Ção de algumas cida<l~ tor-
nam_çapitais de um im.P!rlo, e onde se concentram não
só o poder político, mas também os tráficos comerciais
e o instrumental de um mundo muito maior: Nlnive, Figs. 55-56. Khorsaba.d, a noua c<dud·· Jwuluda por Sarg4c /J nos
Babilõnia. São as primeiras supercidades, as metró- arredores de Nlniue (721-705 a.C.); planimetria geral e p14nta d4
poles de dimensões comparáveis às modernas, que cidadela, com as C4Sas aenhoriais ao red4r dtJ poldcio do rei.

32
Fig. 67. A ziggurat anexa ao pa16.cio de Sarg4o IL

30m
o 10 20
I I I I

Fig. 68. Vuta do qlto da cü:úule/4 de Khcrsabad.

33
Figs. 59-61. O paülcio de &rgdo II em Khorsabad. Vista do alto,
num desenho do final do sicu/o XIX; planta geral; uista do alto da
úgguraL

t___ __~r------~1"m

34
Fig. 62. U= cidade conquüttula por Sarg(l() O, num baixo-rekuo
de Pa/4cw tk KhorsalxuJ.
N
$
10
I
15
I 2fm

Fig. 63. O apartamento particular no pol4ci() a.utrw de Arslan


Ta.sh, na Siri<>:
.1. 2 e 3: primeiro quarw de dormir, eom qua.rto de vttdr e knh'!-ro;
2. 5 e 6; MIJU.ndo quarto dt dormir, QOm quarto dt vMtir e benheuo:
7; aala de ~PCIO t de eel&r.
8: lugar delfUOrdilo.

Figs. 64-ô7. Babil6nia. Planta do núcleo interno; vista do castelc (os


chamados "jardins SUJlpensos'~; planta e vista de uma casa nos
arredores do templo de lstar.
Fig. 68. Ba.biMnia. A es~a ck MarducaP<J]idina (714 a.C.), que
lembra a dôaçiUJ ck um U!rreno 4 um IJ48Sak> babillinia pek>s rei1
48Sfri<Js.

Fig. 69. Ba.bi/linia. Plant4 das escauaç&s na zona orientc.l da cida·


de; as posiç&s do castelo e da c48ajunto M templo ck Istar(Astarté)
slfo indicad48 pelas ktr48 A e B.

Figs.70-71. Plant4dacid<Jdede Halusa, CtJpii4ldo reino dos Hit~48,


e do U!mpk> principal.
I. o .. ~"""' aNJr> (~ ü /IIOOo.CJ
J. o unoplo do d<u Hali < ú - Ari- (-.. d4 /JOO o.CJ
~o ddod.tl. prin<;pol (I:KIO<IIt/0 o.CJ

IS..-,..,
4. o <idiodclo - . . . J , oiNio -~• (UIJIJo.CJ
5. .......UI<> (12()() o.CJ

"'""'"(-.o"
1·10.
(14/J() o.CJ
12()1) o.CJ
11. o poru. d4 &fi,... (14(1() o.CJ
/2. o po•"' do L<llo (14(1() o.CJ
.13. o oo.ttftD nouo (12f)l) o.CJ
14, o cuido omordo (lf()() ..CJ

AI dln-OrN IUIIMrod4f: th 1 O 84 .4,o N t/Jt~ltt» fiu !Mmid<Jfia 'do


~ torna do HAl.Wlo ctt~lrol. Ao 1ufdiJ t~plofoiüt»VGilf4.,.. ,_.. •
lnOf/tO.
~«ido urbano, qw complftítíú eoUH-ii"J~ tU .,.bit..u.- ~ ~ .,.._
~ ~ - oo r-Hor fk um p4lJo ~ttltol; ,,..,...,...., IGiuu, 41 Mbitaot~a • •
141>oJotdrioodo~doump/4,-c:oml"w..,P. IIIJOd,...»..-.lf--
dotobl<inhooüu,U.,33..,ribNü~ü--.,:J6~.11J-Io
' kN:O H ,fMOIItna IUimO l.Ob.w.Aa: fltCOIIII'IIIÚ ,.. PIIPO XI\?.

36
\

37
Figs. 72-74. P/aniiJ CU. cidadela de Mohellio-Doro, no Vale do Indo
(III milb•ro a.C.). Umo rua, e uma estdtua de umapersonagem real.

38
Fig. 75. Planta de um bairro residencial de Mohenjo-Doro. Aqui
Fig. 76.g i Pirdmjdes de Giz!}na paisagem do deserto. tombém as casos s4o organizados oo redor de um pdtio centro/.

39
Fig. 78. O hieróglifo eglpcio que ind•ca u c•«<Uie.

No Egito a origem da civilização urbana não


pode ~da oomo na Mesopotâmia: os estabele-
cimentos mais a~~ foram eliminados ~l~en­
c1íeílres anuãiS dLN: e as grandes cida ..S ais
~como Mênfis e Tebas, se~
~QD.lllllentos de pedrã;-tumbas e remplo;. não pelas
casas e pelos palácios nivelaãõs sob os campos e as
habitações modernas.
A documentação arqueológica revela a civiliza-
ção egipcia jâ plenamenre formada depois da unifica-
ção do pais, no final do IV milênio a.C. Os documentos
encontrados nas primeiras tumbas reais explicam que
o ~r conquistou as aldeias precedentes
e absorveu os poderes mágioos das divindades locais.
Não é ele o ~nte d.a:wn_ deus, oomo os gover-
nantes sumério mas ele um deus~qu.e.ga.raat&
a· fec a rerra e es ·a!me ande inun-
ação do NY,o <t~!!!U'Olll~ridadeollum perlo-
aõêfererminado do ano. Ass~ó-tem a dam!njo
~minenre sobre o Qa!s inteiro, e recebe um ex~­
te e prõdutos bem maior que o dos sacerdores asiá .
cos.~recursos, elaconstrói as-e9ras..publicas,
as ctaaa.es;:o~tem111Qs_gos deuses locais e nacionais,
mas sobretudo sua tumba monumental, que simboliza
asua sobrevivência além da morre ê1-aranre, com a
coo~ação do seu corpo, a oontinuação.~
em proveito da oomunidade.
S($IA ÇAifRAJ u _

No III milênio,..A_m.~ toma


mais oopuloso e..mais riQi>, estas tumbas aumentam de
)mpanênci!J.. embora sua forma exrerna perml:l.neça
bastanre simples, uma pirâmide quadrangular. A
maior, a de~Qué_gps lia IV Dinastia, mede 225 metros
de lado e quase 150 metros de altura; é um dos simbo-
los mais im_pl'essio.n.antes que o homem deiioUnã su·
perficie rerrestre, e segundo uma tradição lembrada
Fig. 77. Mapo do Egilf! antigo. por Heródoto, a que os estudiosos modernos costu-
mam dai- crédito, exigiu o trabalho de 100.000 pessoas
duranre vinre anos. Como se ooloca semelhanre obra
na paisagem habitada no vale inferior do Nilo?

40
Figs. 79-80. As pir(Jmides de Gizé; vista aért!a e um desenho que as
rt"'<·unstilui há. uns cem a nos atrás.
FiJl. HI. Mapa da zona de Mên{is.

.
Tempio lfOiarc
d• ~nl'<rf~

..
.~
Sabemos que ~_prim~, funda a
cidade de Mênfis nasproxirrlldããéSdo vértice do delta,
e cerca-a com um "branco muro". O templo da divinda-
de local, Ftá, não fica na cidade, mas "ao sul do muro";
ao redor, nas flmbrias do deserto, surgem as pirâmides
dos reis das primeiras quatro dinastias (Figs. 79-84) e

....•'
Memfi os templos solares da quinta (Figs. 87-88). A forma de
conjunto do estabelecimento permanece desconheci-
Saqq• rah da, e não é fácil imaginar a relação entre estes monu-
mentos colossais e os locais de habitação dos vivos,
/ra·

com certeza bastante diferente da relação entre templo
e cidade na Mesopotâmia.

41
Figs. 82-83. PU.nta do comjunto das pirdmides de Giú (em pontilha·
do as tr~s pirdmides de Q~ops, Qu#ren e Miquerinos, em preto as
construç6es me11ores); secç4o da grallde pirdmide de Qldops.

Fig. 84. v..w. de uma aresta da grallde pirdmide de Quéops.

Fig. 85. Cabeça colossal de um faraó da III dinastia (cerca de 275()


a.C./.

42
Fig. 86. Planta de uma casa da IV dinastia em Gizé (cerca de 2600'
a.C.)

l.en&nda 3. ditpent.a 5. veeUbulo

2.'-trio •••••• 6.quuto cM dormir

1
l
Barcoaolar
.___...7_ _,..,.

43
Fig. 89. Modelo de um barco<ktraMpqrle,encontradonumo tumba Fig. 90. A aldeia <k EJ La.lwn, realiztul4 por Su61tm 11(cerco de
da XII dinot~tia (cerco de 1800 a.C.). 1800 a.C.), poro 08 operd..W. agregado• à con.truç4o <k uma pir4-
mide. Planta do conjunta e de uma C0$0 ttpica..

~· sobretudo nos primeiros tempos, não ..Lcrnplo:-.. cup1 :;.uas fipuilias tinham de morar nos
encoi'ltnrrrios uma ligação, mas um contraste entre acampamentQ.a...que os arqueólogos ~contraramjun­
estas duas realidades, realçado de todas as maneiras to aos grandes monumentos, e que eram abandonados
possíveis. 9s- monumentos não forrnam o centro da tão logo terminassem o trabalno ~90 e 92095).
~ m~~de per si como uma cidade
mdependente, divina e eterna, que domina e torna
insignificante a cidade transitória dos homens. Acida-
de divina é construlda de pedra, ~a perma~eri;u­
t.fwelno curso do fêi!!I!?; é povoa a de forinas geo é-
ttiç.as Simples: pnsmas, pirâmícles, Õbeliscôs,-ou
estátuas gigantescas como a grande esfinge, que não
observam proporção com as medidas do homem e se
aproximam, pela grandeza, dos elementos da paisa·
gem natural; é habitada pe)os mow. que repousam
cercados de todo o necessârio para a vida eterna,Jllas é
{eita o.ara ser vista de l01~ge, como o fundo sempre
presente da cjdade dos vivos. Esta, ao contrârio é"cons- o &Om
t.rulda.d~ tiWos,-inel~s palâcios..dos. fara'õSlro
poder; será logo destruída e continua uma morada
temp_orâria,"a ser abandonada mais cedo ou mais tar-
de. Uma parte consistente da população - os operá-
rios ei!!Pregados na constxuçà<hdaa.,W@mi~ e dos
Por outros aspectos, a cidade divina - a única
que podemos ver e estudar hoje - é uma cópia fiel da
cidade humana, onde todos os personagens e os obje-
toe da vida cotidiana são reproduzidos e mantidos
imutáveis. As maravilhosas esculturas reproduzem
com realismo as fisionomias dos modelos, e os imobili·
zam numa tentativa de encerrar para sempre também
08 aspectos fugazes da vida (Figs. 85 91). e
Este intento de construir uma cópia perfeita e
estável da vida humana -de acumula r os recursos no
além, em vez de acumulâ-los no mundo presente- não
prosseguiu sempre com a mesma intensidade. A eco-
nomia assim orientada entrou em crise em meados do
III milênio; quando ela se reorganizou - sob o médio
império, no II milênio a.C. -,o contraste entre os dois
mundos aparece atenuado, e as duas cidades separa·
las tendem a se fundir numa cidade única.
1f6. 91. EIIIUuode m4dei.rade um de{unto do. XIldi1148tio. (cerca de
I800a.C.).

Figs. 92-95. i aldeia de Deir-el-Medina, construlda por Tutnú>sis I


(cerca de 1400 a. CJ pora 01 oper6.r-Ws do. Vale dos Reis nas pro:rimi·
d4d~• do• T.·ha.,. ~ampliado. emseguid4. Planimetriaudesenhosde
de uma casa Hpica.
A capital do médio império, Tebas," ainda está
dividida em dois setores: o povoado na margem direita
do Nilo, e a necrópole nos vales da margem esquerda
(Fig. 97); mas agora os edificios dominantes são os
grandes templos construidos na cidade dos vivos -
Carnac, Lúxor (Figs. 98-102); as tumbas estão escondi·
das nas rochas (Figs. 103-104) e permanecem visiveis
somente os templos de acesso, semelhantes aos ante-
riores (Figs. 112-113). Entre estes marcos monumen·
tais devemos imaginar as habitações e os arrabaldes,
que hospedam uma sociedade mais variada, onde a
riqueza ê mais difundida. O faraó ocupa o cume desta
h~era~. e .§.eu pod.er se ...manifeS.t.e:í2Qrque
pooeescolher, para seus palácios OJU!.U~S
produtos ma!§.ricos e.aeaba~;-as.roupas, as jóiase os
móveisencontrados nas tumbas reais, fabricados com
um trabalho de altissima qualidade,'fazem pensar nu-
fig. 96. Um baixo-releuo do Império MMio que representa o trans· ma produção ampla e abundante, da qual foram sele-
1
porte de uma estátu<l colossal sobre um carro sem rodas.
-r cionados estes objetos.

Fig. 97. Plllnimetria geral da zona de Tebas. Os temp/Qs na margem1


diteit<l do Ni/Q, as tumbas na margem esquerda.

46
Fig. 98·99. Os tempws de Carnac em Tebas; p/animetria geral,
p/4nta e secçdo do Tempw de KhoMu. Os algarismos romanos
indicam os dez pares de pilares.

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47
Fig. 100-JOJ. Detalhesdagrandesalacolunadado TemplodeAnwn
em Carnac, entre o segunda e o wrceiro pilar.

48
::.arcojago

Para o exterior

lf6. 102-103. Pf4nta da tumba de Amenotep II (cerca de 13/Jt) a.C.)


ito Vü da. Rt~. e um detalM das pinturas nas paredes: o faraó
comolk1110H6UJr.
Fig. IQ4. Uma estátua de Amenctep IV, onde o personogem real é
r~·tratado C()m.
realism.o incomwn. .._

-..;g, JQ5. P«....metriade Tel-el·Amama, a novacapitalfundadapor


Amenotep IV (cerca de J37Q.J35Q a.C.) e abandcnada depois de
breve perlodc. Esta cidade foi escavado e estudcdo melhor que as
outros cidades eg/pcias; os palócios, os templos e os casas silo
estreitamente ligados entre si e formam paro nós um quadro mais
familiar.

49
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I_Jco..
-~l-to .. ~
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CAAN()( TEMPlO . ::r=
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c ...
dello ftltt

50
STRADA REALE

Fig. 106·109. Tel-<!l-Amarna, detalMs do bairro cen tral: planta ge-


ral; planta tU! palácio ao longo da estrada real; vista da pante entre
o palácio e a casa tU! rei; planta da casa tU! funcionário Nakht.

• •

®
®
®
®

....
51
{.,

Do VI ao IV século a.C., todo o Oriente Médio é


unificado no Império Persa (Fig. 110). O território exa·
minado até aqui- desde o Egito até o Vale do Indo-
goza assim de wn longo periodo de paz e de administra·
ção uniforme, que permite a circulação dos homens,
das mercadorias e das idéias de uma extremidade à
outra. Na resid~ncia monumental dos reis persss ....:..
conhecida pelo nome grego de Persépolis-os modelos
arquitetônicos dos vários paises do império são com·
binados entre si dentro de um rigido esquema cerimo-
nial (Figs. 111-114).
Fig. 110. Mapa do império JMTaO.

Fig. III. V;,la dos ruiruu tk Pentpal;,.

52
N

$
........._._
·-
a---
c.-
J. Nla d o · - do Dario I
K. v..atNlo ~ Xerue
L~Mpe.reot.en'WIÇO

a.---
N. Mla do trooo de Xwue
1.- - w N . outrot tdill!!ldot ~rdalmornte MC~vitdol
, ...... x... O. (ort~ Mt.tntriona.l.e
P. tu.mbaf'tlal

.......--bJkod·
LJOIIdo•Donol
Q. d.ttema
X. naa tntn o ha.rim e o w.o\lro

Ir. IIZ. llopo do conjunto monumental de Persépolis.

"-· 113. Uma <kcoraçlla no pol4cia ck Dario I.

53
Fig. 114. AI tumbo• d08 rti8 per~u, esculpidas na parede roclw8a
de Nalls"'i·Rustam, MI arredores de Perstpolis.

54
3. A CIDADE NO EXTREMO ORIENTE

No Extremo Oriente - a lndia, a lndochfua, a Esta organização econôiJÚca, rigida e sem mar-
ChiDa e as ilhas próximas - a civilização urbana gens de manobra, tende a perpetuar-se no local, favore-
ClaiiÇa um pouco mais tarde do que na zona compreen· cendo a formação de grandes Estados unitários, como
dlda eob'e o Mediterrâneo e o Golfo Pérsico, isto é, por no Egito, pois concentra nas mãos doe soberanos e da
ftlta do D milênio a.C. A ocorrência âa diferenciação classe dirigente um enorme excedente, que serve em
.aa1 e da formação doe grandes Estados repate-se em primeiro lugar para garantir as condições de eobrevi-
~~·--linhas, mas com caracteristicae especiais, que v~ncia geral. A relação entre poder, prosperidade e
do ambiente geográfico, das opções econômi· virtude domina assim a cultura oriental desde o inicio.
. . da agricultura primitiva e das diretivas culturais. O poder justifica-se ca8o assegure a paz e a harmonia
social, isto é, a mediação·entre os prindpios opostos do
Trata-se de territórios tropicais, mais quentes do yin e do yang (o frio e o calor, a sombra e a luz, o
que 01 precedentes, isolados do resto da Ásia por meio descan so e a atividade). No campo doe conjuntos habi·
4lo poande sistema montanhoso do Himalaia, e rega- tacionaie humanos, o poder deve garantir o justo equi·
dai pelos rioe que descem daqueles montes. Os rios, librio entre o norte e o sul, manter à distância os peri-
lmpetaoeoe e inconstantes devido ao clima das mon- gos que v~m do norte, refreár as águas que descem dos
oa-, foram canalizados, e permitiram irrigar as plani- altiplanos, e transformá-las em elemento da vida no
alel, adequadas para o estabelecimento de uma popula- sul.
clo numerosa. A pesquisa das culturas mais rendosas, Neste sistema, a cidade ocupa um posto domina·
lnou- nolmilênioaC.-àseleçãoquasequeexcluei- te e carregando-se de grande quantidade de significa-
ft do arroz, que cresce na água e não requer rotação ~os utilitários e simbólicos. ~ a sede do poder, sendo
'eDIIl outras culturas, mas somente um minucioso con· pois, o órgão onde se dá a mediação entre os opostos,
trole doe reabastecimentos hldricos. Os montes circun- que regula e representa todo o território. A ordem laten-
dantes pennanecem incultos e habitados por nômades te no universo toma-se aqui uma ordem visl.vel, geomé-
'DicH:ivilizados; assim o ambiente humano continua trica e arquitetônica. Os eixos de simetria ligam a
c.r.cterizado por uma oposição fundamental: ao n or- cidade aos pontos cardeais, isto é, ao universo celeste;
te, u montanhas hostis e desconhecidas, de onde v~m os muros imprimem-lhe uma forma regular e a defen·
01 ventos frioe, os inimigos, os animais selvagens; ao dem dos inimigos; a multiplicidade dos espaços e dos
aul, a planlcie cultivada e o mar, onde o sol dã seu edificioe revela a complexidade das funções civis e
Cllor e onde se desenvolvem as atividades civis. religiosas, com seu minucioso cerimonial

55
,~~omso

I
I'~
/
4
,'1m
2 ,... '
-~
I

3 o soo 1000 1500 l<tn

Fig. 115. A1 ZOTI48 de agricultura irrigad4 114 Ásia de hoje. Sua


di1tribuiçifo corre&ponde ds civilizações urbanas primitivas. As
duas linhas tracejadas assinalam os limites das precipitações
anuais de 0,5 a um metro.

Fig. 116. Uma aldeia àgrlcola japonesa atual, com seus arrozais.
Em preto, as casas; em tracejad4 diagoMl, a1 hortas; em tracejad4
horizontal, os uiueiros ao kmgo do rio; em pontilhado denso, as
culturas secas; em pontilhado esparso, os arrozais; em pontos esféri·
cos, os arvoredos.

•',I
Esta tradição cultural, que se forma no I milllnio,
é codificada na China após a unificação do império no
século lll a.C. e permanece substancialmente a mes-
ma em toda a história posterior, não obstante as crises
e as revoluções politicas e religiosas. As invasões exter·
nas - e em particular a dos mongóis no século Xlll -
não interrompem sua continuidade, mas retardam o
progresso técnico e econômico das sociedades orien·
tais, exatamente quando as sociedades européias -
que ficaram à margem do império de Gengis Khan -
iniciam seu desenvolvimento que conduzirá à revolu·
ção cientifica e industrial. Por isso, as cidades orien·
tais poderão ser apresentadas sumariamente num
capitulo unitário, desde a pré-história até o encontro
com a coloni.zaç.ã o européia.

56
118. ll11po d4 China, com 08 principais cidades e 08 grandes
_.._ ,,..._,_ imperiais: a muralha que defende a fronteira seten· Fig. 1/9. Uma vista da Grande Muralha, iniciada pelos Tsin no
e o coll4l que liJJa 08 planfcies costeiras. Tanto a muralha
o coll4l m<!dem milhares de quiMmetros de comprimento, e século I II a. C.
m4il giJJantescas obr08 construfdas pelo homem antes da
indlutrial.

Blllbalxo, o 1rupo das primeiras capitais Imperiais ao longo do Fig. 120. Desenho simbdlico da cidade chinesa. Ao norte, o dragb.o.
Rio Wel: Haíen-yan1. capital da dinastia Tsln (221·207 a.C.); que representa as montanhas, ao sul a água, manancial da uida.
Chfni-Chao, primeira capital da dinastia Han de, 202 a.C. em
diante; Chang-<~n, capital da dinastia Sul de 589 d.C. e depois da
dfllallia Tang. O mapa evidencio as Brandes dimensoes das ci·
...., (quaucem quilómetros quadrados para Chang-<~n).
As regras urbarústicas e de construção - como tomar o núcleo de uma cidade tscheng maior, com o
muitos outros elementos da civilização chinesa - cinturão interno de 3 li e o externo de 7 li; esta pode
formam-se na era Chu (1050-250 a.C.), são codificadas formar o núcleo de uma cidadeji (com o cinturão inter-
no final deste periodo, quando nasce o império unitá- no de 7 li e o externo de 11 lt), e esta última pode
rio, e são transmitidas com continuidade por todo o constituir o núcleo de uma cidade tu (com o cinturão
periodo sucessivo, até a época modema. interno de 11 li e o externo de 14 ú). Uma outra série
As cidades chinesas, estritamente ligadas ao ter- paralela ê conseguida partindo de uma cidade tscheng
ritório agricola, começam como cidade-refúgio, desti- pequena com o cinturão interno de 1 li e o externo de 5
nada à residência estável da classe dirigente (sacerd<r li; obtém-se deste modo, a tabela da Fig. 121, que diz
tes, guerreiros e técnicos) sendo capaz acolher temp<r respeito às cidades de medida normal: as capitais po-
rariamente a população camponesa do distrito circun- dem ser muito maiores, de até 100 li de perimetroexter-
dante. Deve ter portanto dois cinturões de muros: um no (Figs. 122-124).
interno, que encerra a cidade habitada verdadeira e A cidade tscheng com perimetro externo de 7.li
própria, e um externo, que cinge um espaço vazio de pode conter 3.200 habitantes, e serve a um território
hortas e de pomares. Estas cidades se distinguem, se- agricola com 32 aldeias, que mede mais ou menos 12 x
gundo sua grandeza, em três categorias, denominadas 12 quilõmetros; deste modo, de cada ponto do território
com três nomes diferentes: tscheng, ji e tu. ê possivel chegar a pé à cidade, com percurso mãximo
As regras para sua projeção são descritas pelo de uma hora e meia. As capitais imperiais maiores -
literato Meng-Tsi (372-289 a.C.). A unidade de medida Chang-an, Hang-Chu e Pequim - alcançaram e tal-
urbarústica ê o li, que corresponde a mais ou menos 530 vez superaram o total de um milhão de habitantes. A
metros. Na cidade tscheng menor, o cinturão interno orientaÇão permanece sempre rigorosamente ligada
tem um perimetro de 1 li e o externo de 3li; ela pode se aos pontos cardeais.
Primeira strie (coluna da esquerda)
tscbeng pequena 1/ 311 (530 a 1590 m)
ts.:heng grande 3/7 U (I 590 a 371 O m) Fig. 121. As duas séries de cidades de dimens~s normalizados. O
ji 7/11 11 (37 10 a 5830 m) ml!duro a equivale a um li, isto é, a 530 metros. Cada cidade é
tu 11/ 15 11 (5830 a 7950 m) caracurizada pelas duas medidas do perlmetro interno e externo; o
lado é indicado em melros.
Segunda strie (coluna da direita)
Fig. 122. Planta da cidade de Chang·an, capital dos Tang. Ao
tscbeng pequena 1/5 U (530 a 2650 m) centro, o recinto imperial.
tscbeng grande 5/9 li (2650 a 4770 m)
jl 9/ 13 ti (4770a 6890m)
tu 13/ 17 ti (6890 a 9010 m)
PRIMA SERE

,. . . ,., _
I
I

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I

.........
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Oo/7• I..,,.
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7a/11o•
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r-----1815- 2125---1

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n./1541 1•3•117•
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I
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58
2Sll >A ·--J- --...1\................. ---- fl-- --- .... ..,
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+ t;_. --

lfl. 123. Pl4nta da cidade de Hang-chu, capital dos S ung, recons· Fig. 124. Pl4nta da cidade de Pequim, capital dos Yuan. Em traceja·
lruld4 H~~unclo a descr~lio
de Marco Pólo (128UJ7). O perlmetro oo, o perfil da cidade precedente ( Yen·tsching, B), e a da rwua
afmlo mede 100 li, e o interrw 40 li. capital edificada por Kublai Khan (A). A cidade atualcompreendea
cidade Uírtara (1), a cidade chinesa (2) e a cidade proibida, com a
M.merado resi<Mncia imperial (3).
T . ....plot
O.foooo
P.rio
Fig. 125. Planta da cidade de Cantlio, oo üuro de J. Nieu/wff,
•o ~tro. o recinto com PalJ.cio Jmperi•l
Descriptio legationis batavicae, 1668.

59
Fig. 126. Uma lápide de pedra de uma tumba do perfodc Han (202
a.C.·220 d.C.), com a represenl<!çdo de um edi/lcio.

~ Fig. 128. Uma rua securnUiria, que desenvolve uma sérU! de casas
com pátio (Pequim).

Fig. 127. Três exemplos de CMas chinesas com pátio. Fig. 129. O pátio interno de uma casa chinesa (Pequim).

Também as regras de construção para a projecàc,


das casas permanece fixas desde o periodo Han até os
tempos recentes. A casa é um recinto análogo à cidade,
vinculada à mesma orientação·e acessivel, habitual-
mente, pelo sul. Todos os ambientes se abrem sobre um
ou mais pátios internos, quadrados ou retangulares, de
modo a realizar a desejada alternância de sombra e de
sol (yin e yang). Os elementos construtivos principais e
fixos são os perimetrais (a plataforma de base, os muros
externos e a cobertura de madeira); as divisórias inter-
nas de tijolos não têm função sustentatória e são, por-
tanto, móveis, para acompanhar as mudanças das fun-
ções domésticas. Todos os edificios têm, habitualmente,
um só pavimento, sendo a densidade de população nas
cidades chinesas bastante baixas: não mais de 100 habi-
tantes por hectare.
As casas se desenvolvem a partir de ruas de lar-
gura moderada (Fig. 128), sobre as quais se abrem
somente as portas de entrada e as altas janelas de
alguns ambientes secundários.

60
(
18(). Pl4nto e secç6es de umo coso chinesa com pátw (o terceira
JYpJYsentad<U no página precedente; escalo 1:500). Trata-
COlO burguesa de séculc XVII, em Pequim, hcje tran4{0,..
_..,. · - QUII4Je 1em modi{icac6es- em<Uilo. A8 ktra8 se referem ao
dei ambientei.

A. enlrada PtlO tul


E B. entrada pelo nortt
C. pétio
D. veattbulo com t~rTaço
E.p6tio
F. roehu o.rtificltdt com uvemtt
C. P""'"·g em oobem
li. pátio da bibiiOUICI
I. porta p&ra a aaltria tobre o leg-o
J. ~vilhlo do Vüio Acumulado
D K. (l:aleria .ob,. o Laao
L. palll.lf-M cobe.U.
M, N. O. Mlu de doU pavimentot de altura
P. ent.rada ,_,..o jardim da c...
Q. Nla da S&m.ite d• Nuven.a
R. Nla eom P'lio ft<hado
S. Area cu.l~vNa
T. peq.ena tal.a .ob,.. a t.au
U. a.a leriu cobenu com o n~rio "'*te f'tC.Tt;Vfl' i.loiNo
V. pavilhJo d.t.t Nuvtn.t • da Lua
w. a.ala com wnaco
X.ettO:dio
V. ci.auma
Z. tala de onde Molha m 01 Pinheiro. e &I Pintura•

c
Figs. 131-133. O Jardim do Mestre das Redes de Pesca em Su-chow,
iniciado em 1140 d. C.

A.-·. .-·
a...,.. awmoe
c._..,.
D.•..,._
... ,.... 01

.nlemot pera 01
I.•W..MilattriiUI
Mepedee
h6epedee.

P.cwpo.•tnatllt11Princ:iPt~1
0..-.tçoa

61
Fig. 134. O jardim do Üt<!rato S<!l<!«ntista YU<Jn Mei, representado
em umo grauura do século XIX.

Fig./36. Vistadeumconuentobudistaem Hang-chow, usadocomo Fig. 136. Um u_mplo budista em Nanquim, reprelentado em uma
residlncia imperial duranl<! as uiagens para o sul. O edi{rcio com· pauura europiro do século XVli/.
preende uma pari<! formal e simttrica (a shie de pdtios d direita) e
uma parte informal (o jardim à esquerda).

Fora da cidade, a casa chinesa pode interpene-


trar-se com a natureza. Os ambientes individuais ou
grupos de ambientes conservam uma forma regular e
simétrica, mas o conjunto se toma irregular, para ade-
rir às caracteristicas do local, e recria com os meios da
arquitetura a complicação do cenário natural. A jardi-
nagem converte-se no quadro vinculador das obras
arquitetônicas.
Nos grandes conjuntos monumentais, e especisl-
mente nos palAcios do imperador - suprema autorida·
de religiosa e civil- as duas regras tradicionais da
projeção aparecem muitas vezes combinadas entre si.
Os edificios destinados às cerimônias públicas são rigi-
damente agrupados ao redor do eixo de simetria, que
vai do sul para o norte, e o eixo se toma um percurso
impressionante, através de uma sucessão de pátios
fechados. Os edificios e os espaços para a vida privada
apresentam-se inco~rados ao jardim paisagtstico, 9ue
foge de toda regra geométrica e desequilibra, à direita ou
à esquerda, a composição geral. Esta se faz, assim, uma
recapitulação de todo o ambiente cósmico, com sua alter-
nância de regularidade e irregularidade.

62
· Figs. 137-138; Pintura do sécuw X V III, que representa uma audil,..
cia no Palácio Imperial de Pequim, e uista a tua/ de um túJs recintos,
com visitantes modernos.

Figs. 139·140. O tecido urbano de Pequim, em um mapa europeu de


1829, e uma porçdo deste tecido,formado porcasascompdtic,deum
pavimento encostadas uma nas outras. No centro, a Cidade lmpe·
rial, que compreende o recinto formo! do palácio(a Cidade Proibida)
e os jardins informo.i$.

.,....,._
I. a adltde Proibida ou

2 a Cidade lmptrit.J
3_ a Cdade nn.~ oa
ln....,.
4 aQdadeChíneaoa
Exc.ema

63
_JL

Figs. 141·142. A espetacular seqUetteia da Cidade Proibida de Pe·


quim, realizada pelas últimas dinastias (Ming e Manchu) seguindo
as regras constantes da projeçiJo e do cerimonial antigo. O eixo da
composiçiJo geral (Fig. 141) mede cerca de 1.800 metros, e o do
rrwliuo central (o percurso que leua do norte e do sul para os dois A <·omposiçiJo geral é enriQuecida por um pequeno canal. q1w
ambientes centrais, a sala da Perfeita Harmonia e a sala da Harmo- serpenteia de modo irregular nos es/>(lcos regulares entre os ed1/i·
nia Protelara; Fig. 142) mede mais de 400 metros. cios.

64
/

A. Yun Mina: Yu.an


8. Ch.an.a Chun Yuan
C. I Ho Yuan
O. P.:qu.e da Ponw de Jade
E. Parque Ht iane Shan
F. P•ta<hu.
do Ciu em Pequim. Os edi{lcios monument4is
perpetuamente reconstruidos, respeitando-se o mo-
Figs. 146-147. Quadro de uni4o do. parque• próximo. c1t .P.
quim, e planta do Parque I Ho Yuan ("Palclclo de Ver4o"' ·
construido na segunda metade do século XVIII.

A. entrada
8. tou.ro de bronu
C. ponte doe det.t4Mte arco•
144. U1114 pintura do perlodo Sung (96Q.IJ27 d.C.), com os D. ilha do m draglo
incorporados d paisagem natural infinita. O titulo: Rios e E. pontes aobrt o diQ"
F. pon&e: do drculo de jade
a Perder de Vista. G. Le.e;o Kun Mine:
H. nave de m6nnoN
t. anco.-.douro doe navio. rtaia
J . lqoe ~terioret
K. Colina da Lona:evid.ade
LW.do Buda
M. Pavilh.l.o do J6bUo e da A,vicultur•
N. H~eh Chu Yu.n (jardim do Uannoni010 lnttreMt)

146. Um parapeito de rochas cimentadas, 110 Parqu<' Clw11J(


- arredoreo de Pequim.
Fig. 148. Uma vista dos jardim< cro Pal6cio de Ver4o. Qs edi[Icios,
incendiados em 1860 pe/Qs europeu&, foram reconstruidos na segun·
da metade cro s~cuk> XIX.

Fig. 1S1. Mapa de Fujiwara, a capitolfundada em 694 d.C. pelo


I mperatriz Jlto.

I. Naniwa <O..h)
2.0...
3. Fuji w1ra
.e . ~ara
5.Sbi.gu a ki
6. Nagaoka
7. Kyo&o

Figs. 149·150. Mapa do Jap4o central. com os locais das antigas


capitai&:

O quadro geográfico do Japão- com a falta dOI


grandes espaços planos e dos rios navegáveis-exclui
nos primeiros tempos a presença de grandes cidades.
Mas depois da unificação do pais , no final do século ID
a.C., nasce a exigência de uma cidade capital, que é
projetada conforme as regras chinesas, codificadas
nos periodos Han e Tang. Do século VI ao VIII d.C.,
uma série destas cidades são fundadas a curta cfist4n.
cia na região Yamato (Figs. 149-158). AB arquiteturu
utilizam os modelos chineses, com caracteristicas ori·
ginais de simplificação geométrica e de desenvoltura.

66
Os números de 1 a 12 indicam os
~mp/cs em seru~o dos bairros.

o "o
o • o
o• o
o: :o
Figs. 152-154. Mapa de Nara, a capital fundada em 710 d.C. pele
Imperador Genmei. P/c.nta ® recintQ imperial e de um de seus
edi(lcios (a sua uolta, um recinto formada por uárws recintQs organi·
zados ao redl!r de um eixo de simetria).

Fig. 156. O recintQ imperial de KyotQ (n. 1 no Fig. 155).

1. Pal!cio Imperial
2. Vila Imperial Sehinaen·in
8. Viallmperial Suuku·in
DDDDDDDD
4, 6.. Pal6ciot de recepçlo
DJD DCs:JD DO
oooooELJBD
6. mercado
a
7, t.emplot

oól
DD ·
[i]llrna D
L tntrada principal
2. oalade auditncia principal .,
3. , .a la de l!ludi~neia aeeundé.ri•
~
DagDDDrnrno
~flij 0[]
EJEJ
4. Palé..cio Imperial
& 7. ~<od
6,.... ....,.,.
templot
8. ed.iftdOt MCundérios 0IIJ CD 00 BD

67
Fig. 157. Planl4 do Pal4cio Imperial de Kyoto (n. 4 na Fis· 156).

l.recintouttmo
2-6. portal exttrn• •
7, recinto intemo
8-11. portat inttrn.t
IZ.l4. Mlude~,to
16-22. a nexoe du • lN
23--28. apa_rt.emento privado
29-35. anexot do aparta~nto
36-37. •aJa de tepera
88-39. ndntol da atrviço

Figa. 159·161. Um trecho do tecido residencial de Kyoto, que obstrui


os grandes edi{lcios isolados originais. Cada caaa t flanquetula per
uma faixa de jardim, que res141Hlece também nesttJB condiç{ln •
relaçdo interno-externa.

Fig, 158. Ma{XJ tk Kyota no séculc XIX. A cidtufe OCUfXJ apenas uma
{Xlrte do reticulado, e pertku o regularidtufe original. O nouo rtciiilõ
do Pa/ácio Imperial, fund4® em 1331 e reconstruido Q<!riaa uezes,
encontra-H na zona nordeste, sendo tkfrontado pele recinto do
{Xllácio do séculc XVI do shogun residente em Edo.
NN plant.u:
E.enu.da
W.labora\6rio
R. ncepçlo
O.J•ntar
L.M\.111'
s.• wdlo
,.~;::S;J~;::::;:;,.,E=~=====:;~J o.
1 cauarto do. ancilot
K.conw
U.lavanderia

T.O==~ ~~::::o dot t.dot~nllt


10

V. varanda eateadedotu'O
T. aleova
C. clopH;IO
S.. bt.nheiro
G.jardim

..
Figs. 162. e 163·164. O Palácio Imperial de Kyoto, da maneira em
que se apresenta hcje depois da última reconstruç4o de 1655, que
reproduz as estruturas mais antigas. O modelo simétrico derivada
da China foi modificada e tornado mais livre, segundo a abordagem
original da arte japonesa.

69
Fig. 165. Planta da Vila Imperial de Katsura, nos arredores áe
Kyotc, construlda no sicula XVII.

70
Nu residências e nos templos suburbanos, imer-
natureza, a arquitetura japonesa alcança os
maia novos e requintados. Estas composi·
165-169) são reguladas por duas normas
~IM!Dtar4~ a liberdade informal da instalação
(que precede e influencia os jardins ingle-
XVIII) e a constância da esquadria nos
baaeadoe no módulo planimétrico e altimétri·
tatomi (cerca de 0,90 x 1,80 m).

1. .118. Trh vilt08 da Vila Imperial de Katsurc: uma interna


attm<u.

71
Fígs. 169·111. Na lndia cld~Sica e medieval, todo artefaw importiJlt.
te - tkstk o templo até a cidade- deue corre1ponder ao mandala,
que exprime a estrutura do uniuerso e que 488UltU! uma uarkd.cukdt
formas, desde o quadrado até o ctrculo. Um modelo do uniuerao
indiono (em uma gravura do século XIX); dois modelos de ci.dolk;o
templo semi-esférico (stupa)tk Sanei, do século 1 a.C. e o templo em
forma de wrre de Khajuraho, do século IX d.C. A wrre a cornpo~to
por pináculos intercalados (eikkara) prop(Je·se representar em um
único objew pldstico: a compü~4o infinita do uniuerBo.

Vivasvan ···;-·-r-·
; .. J,i .., t
••••~-, ~ T...i.....
...
I

72
Figs. 172.173. Vista <U!TI?a e planta de Bayon, o ll!mpfo.Tnl)ntanha
con$truldo pelo Imperador Jayavarman VII (1181·1220) em An.
gkor no Camboja.

Fig. 174. PW.nta do conjunto cerimonio! de Angkor. Em tracejado


que delimitavam C$ antiga$ /xlciu de dgu4. Ao centro do ncinta
principal (Angkor Thom) 1iiWHI! o Templo de &yon.

'.·'

73
Fig.175. Um mandata indiarwquecombinaemumllnicodesenhoo
quadrado (o "paldcio'? e o c1rcuro (o ambiente c6smico). O paldcio
tem quatro pOrtas que olham para os quatro pOntos cardeais.
CIDADE LIVRE NA GRÉCIA

Na Idade do Bron~, a Grécia se encontrva


perife~ndo ciyjJi. a região montanhosa e desi-
guãrilão se presta à formação de um grande Estado, e
é dividida num grande número de pequenos principa-
dos independentes. Em cada um deles, uma famUia
guerreira, a partir de uma fortaleza empoleirada num
ponto elevado, domina um pequeno território aberto

75
cultura, que ainda hoje permanece base da nossa tradi· cidades democráticas o pritaneu e o bukutérion se
ção intelectual. encontram nas próximas da ágora.
É necessário recordar sucintamente a organiza· Cada cidade domina um território mais ou me-
ção da polis, a cidade-Estado, que tomou possiveis os nos grande, do qual retira seus meios de vida. Aqui
extradrdinários resultados da literatura, da ciência e podem existir centros habitados menores, que man-
da arte. têm uma certa autonomia e suas próprias assem·
A origem é uma colina, onde se refugiam os habi· bléias, mas um único pritaneu e um único bukutérion
tan~ert'ãêF-'se dos inimigO$; mais · na cidade capital. O território é limitado pelas monta·
tarde, o povoado se estende pela planicie vizinba,.. e nhas, e compreende quase sempre um porto (a certa
gerabn'ênte é foffificado~um cin~uros. , distância da cidade, porque esta ge.r almente se encon-
Distingue-se ent:ãõ a cidaãeãlta (a acrópok, onde fi. tra longe da costa, para não se expor ao ataque doa
~~pios dos deuses, eóndêos habitantês da piratas); as comunicações com o mundo exterior se
cidade ainaa põdem refu~ar-se pal'a~fe: realizam principalmente por via marítima.
_sa~de-õruXa (ã astu, onde se ~vo vem os Este território pode ser aumentado pelas conquis-
comércios e asrêlãções civi&); mas ambas são p~ tas, ou pelos acordos entre cidades limitrofes. Esparta
de um único organismo, póis a comunidade citadina chega a dominar quase a metade do PeloPOneso, isto é,
funciona como um todo único, qualquer que seja seu 8.400 km2; Atenas possui a Ática e a Ilha de Salamina,
regime politico. ao todo 2.650 km2• Entre as colónias sicilianas, Siracu-
Os órgãos necessários a este funcionamento são: sa chega a ter 4.700 km2 e Agrigento, 4.300. Mas as
1) O lar comum, consagrado ao deus protetor da outras cidades têm um território muito menor, e por
cidade, onde se ofe~m os sacrificios, se realizam os vezes bastante ~ueno: Tebas tem cerca de 1.000 km2
banquetes rituais e se recebem os hóspedes estrangei· e Corinto, 880 km . Entre as ilhas, algumas menores
ros. Na origem era o lar do palácio do rei, depo\s toma· têm uma única cidade (Egina, 85 km2; Nasso e Samoa,
se \1m lugar simbólico, anexo ao edificio onde residem cerca de 450 km~. Mas entre as maiores somente Ro-
os primeiros dignitários da cidade (os pritanes) e se des (1.460 km~ chega a unificar s uas três cidades no
chama pritaneu. Compreende um altar com um fosso fim do século V; Lesbos (1.740 km~ está dividida em
cheio de brasas, uma cozinha e uma ou mais salas de cinco cidades; Creta (8.600 km~ compreende mais de
refeição. O fogo deve ser mantido sempre aceso, e cinqüenta.
quando os emigrantes partem para fundar uma nova A po~ção (excluidos os escravos e os estran·
colônia, tomam do lar da pátria o fogo que deve arder geiros) ésempre-teduzida, não só pela pobreza dos
no pritaneu da nova cidade. recursos rríaã~pção política: quando cresce
2} O conselho (b1út2_dos nobres ou dos funcioná· além de certo limite, organiza-se uma expedição para
rios que representam a assembléia dos cidadãos, e !oriTiãf.:iiÍna colôrua..lo'í@iíqua:-1\temrãriÕ tempo de
mandam seus representantes ao pritaneu. Reúne-se Péricles tem cerca de 40.000 habitantes, e somente três
numa sala coberta que se chama buleutérion. outras cidades, Siracusa, Agrigento e Argos, superam
3) A assembléia d · dãos (< ra ue se re- os 20.000. Siracusa, no século IV, concentra forçada·
úne p · as ec1sões dos e es ou para delibe- mente as populações das cidades conquistadas, e che-
rar. O local de reunião é usualmente a praça do merca· ga então a cerca de 50.000 habitantes (Fig. 278). As
do (que também se chama ágora), ou então, nas cida· cidades com cerca de 10.000 habitantes (este número é
des maiores, um local ao ar livre expressamente apres- considerado normal para uma grande cidade, e os
tado para tal (em Atenas, a colina de Pnice). Nas teóricos aconselham não superA-lo) não passam de

Fig. 177. O mundo egeu.


Fig. 178. Uma moeda da cidade de Nass, com as figuras de Dio~t
de Sikno.
Fig. 179. Uma esculwra do úculo V a.C.. no Museu Nocional tk
Atenas.

7(i
Elparta, na época das Guerras Persas, tem enormes multidões. Têm consciência de sua comum
8.000 habitantes; Egina, rica e famosa, tem civilização, porém não aspiram à unificação politica,
porque sua superioridade depende justamente do con·
não é considerada um obstáculo, ceito da polis, onde se realiza a liberdade coletiva do
a condição necessâria para um organiza- corpo social (pode existir a liberdade individual, mas
• mwMme:nto da vida civil. A população deve não é indispensável).
ldciel~telmente numerosa para formar um exérci- A pátria-como diz a palavra, que herdamos dos
mas não tanto que impeça·o funciona- gregos - é a habitação comum dos decendentes de um
UIIemlbl~~a,isto é, que permita aos cidadãos ún ico chefe de famUia, de um mesmo pai. O patriotis-
•na~-ee entre si e escolherem seus magistrados. mo é um sentimento tão intenso porque seu objeto é
reduzida, é de temer a carência de limitado e concreto:
demais, não é mais uma comunida- Um pequeno território, nll8 encostas de uma montanha, atra·
uma massa inerte, que não pode vessado por um riacho, escauado por alguma bala. De lodos os
lados, a poucos quiMmetros de dist4ncia, uma eleuaçõo do terreno
si mesma. Os gregos se distinguem serve de ümite. &a.to subir 4 ocrópole pora abaro<Wo por inuiro
do Oriente porque vivem como homens com um o/JuJr. ta urm sagrada do pdlri4: o recinto do {amtlia, as
proporcionadas, não como escravos em tumbll8 dos·antepassados, os campos cujo$ propriettlrios a todos 8"

77
ronhecem, a montanha 011de se uai cortar /e~ha. se /euar os rebrr,. 2) O espaço da cidade se divide em três zonas:
nho8 a sxutar ou 1e apanha o mel, os templo$ onde se assiste cios
sacrlficW., c acr6pok oonde se uci em prociss(jq, Mesmc a menor áreas privadas ocupadas pelas casas de moradia,
cidack I aq~/4 pela qucl Heili>r corre IJO encontro da m orte, 011 áreas sagradas- os recintos com os templos dos
espartGllos con.sideram honroso "ca.ir nc primeircfi/a", os com />e. - e as áreas públicas, destinadas às reuniões
tente& ck Sal4minc se l4nçam d abordagem ccntcndo o pe4 e ao comércio, ao teatro, aos jogos desportivos etc.
S6crotes bebeacicutcparo n®cksobeckcer d lei. (G. Glotz, Introdu.
ç4o c A Cidade Grega {1928), trcd~ iltJliana, Turim, 19S5, par. Estado, que personifica os interesses gerais dacom•
lll). nidade, administra diretamente as áreas públicas, iDo
Analisemos agora o organismo da cidade. O no- tervém nas áreas sagradas e nas particulares. As dife.
vo caráter da convivência civil se revela por quatro renças de função entre estes três tip os de
fatos: predominam nitidamente sobre qualquer
1) A cidade é um todo único, onde não existem rença tradicional ou de fato. No panorama da
zonas fechadas e independentes. Pode ser circundada os templos se sobressaem sobre tudo o mais, porém
por muros, mas não subdividida em recintos secundá· mais pela qualidade do que por seu tamanho. Surgem
rios, como as cidades orientais já examinadas. As ca· em posição dominante, afastados dos outros edificioe,
sas de moradia são todas do mesmo tipo, e são diferen· e seguem alguns modelos simplese rigorosos- a
tes pelo tamanho, não pela estrutura arquitetônica; dórica, a ordem jõnica - aperfeiçoados em muitas
são distribuidas livremente na cidade, e não formam tições sucessivas; são realizados com um sistema
bairros reservados a classes ou a estirpes diversas. trutivo propositadamente simples - muros e cohmaa•
Em algumas áreas adrede aparelhadas - a 6gora, de pedra, que sustentam as arquitmves e as
o teatro - toda a população ou grande parte dela pode cobertura (Fig. 182) -de modo que as exigências
reunir-se e reconhecer-se como uma comunidade or- cas impeçam o menos possivel o controle da forma
gânica. (outros sistemas construtivos mais complicados, como

Fig. IBIJ. Um templo do1k ulo VtJ.C. (otemplockNetunoem Pe81o)

78
181. A e.trutura em arco da passagem inferior para entrar no
01/mpia.

lfla. 182·183. A estrutura em arquitra•·es de um templo dórico


, . do slcuw V a.C. Cada parte. embora secund6ria, tem um
- e uma configuraçdo est6ue/:

A. PLANTA: I. ramp1; 2. ptrllttilt; 3. vttttbulo (pronao): 4. cela: 6. epiatódomo. B.


ILIVADO: 6. eeti16bf.ta; 7. colehetet: 8. f'u1te de oolurH&: 9. coh1.rinho: 10. capitel~ 11.
lllliiM:I1tquln.o: IS.,biCO; l.t. Ortotl3tot; 16. nrquitrnv~; l$. friló; 17. r~uft. e ~otol;
tllllel: 19. trllllto; 20. mttope; 21. iOttirt~~: 22. mCnul01 com tcotee: 23. telhe.do: 24.
•••141obtir&l; 25. ftontlo; 26. nit:ho do l'rontAo: 27. comijA horitOnLAI: 28. ttmpe.no: 29.
Cllllijaobbquo 00. t.nt.efixN; 31. '-O"OI~Tio ena-ulttr. 32. ecrottrio ttrminttl.

30

79
os arros- Fíg. 181 -são reservados aos edi1icios menos gem natural (Fíg. 184191). A medida deste eq
importantes). entre natureza e arte dâ a cada cidade um
3) A cidade, no seu conjunto, forma um organis· individual e reconhecivel.
mo artificial inserido no ambiente natural, e ligado a
este ambiente por uma relação delicada; respeita as 4) O organismo da cidade se desenvolve no
linhas gerais da paisagem natural, que em muitos po, mas alcança, de certo momento em diante,
pontos significativos é deixada intacta, interpreta·a e disposição estável, que é preferivel não perturbar
integra·a com os manufaturados arquitetônicos. Are- modificações parciais. O crescimento da popula
gularidade dos templos (que têm uma planta perfeita· não produ:~: uma ampliação gradativa, mas a adi
mente simétrica, e têm um acabamento igual de todos de um outro organismo equivalente ou mesmo
os lados devido à sucessão das colunas) é quase sem· que o primitivo (chama·se paleópok, a cidade v
pre compensada pela irregularidade dos arranjos cir- neápak, a cidade nova; Fig. 250), ou então a partida
cunstantes, que se reduz depois na desordem da paisa· uma oolônia para uma região longinqua.

fi~:. l/J.I. /'/anta du recmtu •agrado de 01/mpia, no f•m da idade


r/ássica.

1. muroe ~ 4o AlUe: 2. mu.roe romano. do Altl« 3. povoado heltdico; 4. '-Pio•


H,..o:Z. .o;6. nlnloudeH..odooAcicol6....._doolll•....,.,;, o)0.1o;b)..._4
Justamente por estes quatro caracteres- a uni· •>
Me<ooonto; d) S.Unonlo; &ltu de Gt: I) CU.no: r) 81buio: h) lli""do: I) l!.......,.t
Samoo(?): lo)Siracuu; l)SiciAo; 7. Motroon;8.Mildlo;9. anlica oiOG: IO.oiOG deEdloc
dade, a articulação, o equilibrio com a natureza, o 11. rodap6 com u buee du colW'al de eu•tent.clo du e.tétuae de Artlnoe e •
Ptolomt~u 11: 12. ttmplo de Zeu.e: 13. altar de Z.ue (?); 14. Pelopilo; 16. muro do~
limite de crescimento - a cidade grega vale doravante 18. PhiUpp4ion; 17. prilanou; 18.,-lnulo: 19. pal..tra: 20. Theokolann; 21. bolnho-
oomo modelo universal; dá à idéia da convivência hu· 22.. tmuq; 23. Hoeph..i~ 24. cua romana; 25.. ~· bbantin,.. 2l Eraa.t.tnc. •
F1diu; 'n. Leonidaion; 28. •U>o mtrid~ 29. bwkfl.tlrlora.; 30. entnda ntfOft.i&D«n
mana uma fisionomia precisa e duradoura no tempo. Htllanod:ikcion; 82. ceM cSe Nero: 33. cua 4o odbctno.

RO
Fig. 185. Recons!ruçdo do recmto
. sagrado de OlimpW..

81
Figs. 186·187. Pla11ta e vista do Teatro de Epidauro. o ma..,
co11servado dos teatros gregos.

82
I. murot d~ circund~: 2.. Via &era; 3.. Toro doe OOfci~; 4. b.M dot •rcadflt: S
...Utua de Phílopoimen; 8. hfdra cto. nGM~UCiwJ.I; 7. es-voc.o da batalhe. eH Ma.tal.4nt
ex-voto doe &rf\VOII; &. oe Seu dt T.bü; 9. cavalo; 10.01 tplronoe; 11. oereilldtArao.
12. b.,. doe tarentinoe; tlauawol~ 13. de Sldlo; 14. de Silno.; 16. de Tebu~ 16. Ck
Poddfie.; 17. de A«tnat: 18. de SlracUN.: 19. o chamado e6lic:o; 20. de Cnldoe; 21
bultuttri.on: 22. bue doe beócioe: 23. roeha da SibUa; 24. Un-urno. de Gt; 25. Alklepleion
ou tbnt~ du my...; 26. e.rtnlt doe N.....,.; 21. roe.ha de IAtof\fo: 28.. pórtico d01
awnitnMI-; 29. rhuau,.,.,. de Corinto; 30. tltdtuu(» de ~nt; 31. prita.n~ 32.. mu.ro
poUaonal e tree •m tt:rraçoe;; 33. ex-vo\0 doe m...tni~ 34. monume.1uo ele Emilio
Paulo; Mo trlpode de Pio~ 36. c.no doe r6dioe; :n. olto.r do Quloo; 38. T-plo do
Apolo: 39. monumento de EumCW'It; 40. don6rio dtCorci.ra; 41. tht~OUIW (t}; 42. eaça de
Aloendre; ta tl\W"'t de tutlflnttltlo; 44. monumento de Prüiu; 46. monument.o de
Aritteinet.a: 46. don•rio dOI fooenMe; 47. donirio dt fi.r acuaa; 48. t.h~1ouro.de A~ntot;
49 . •t.ttu• de Ál&lo; 60.C~ttltu.ade EUJDoene; 51. fiOo de Atalo; 62. ttnwnot de Neoptol•
mo; 63. monumt:nto de 0.()CI06; $4. tucira; 66. li~no. de ~n; 66. tlrMitl)f de
Oionito: 57. teetw, 6& pórtico do ~altO'; 59. Lt•h de Cnidof.

Dtl{o.. Pf4nl4 do recinto (J(I.gradotk Apolo (A e B na


.,aa).
Figs. /90-/91. Vista e planta do Estddio de Delfos.

-------------·-----------·-·-------------------------... ----
o
o A pista mede, da linha de partida à linha de chegada,
192 m, isto é, na medida grega do estádio.

84
U..t&t:otk bronu conuruodo no MW!eutk 0/lmpia
- - tn«lidM e o mnmo pe.a do owal: 22 cm tk
/w); um orre~MU4dor de diaco repruentado
..a do inJcio do "culo V a.C.

8.)
d

-
Fig. 194. O local de Atenas; desenlw deLe Corbusier. Fig. 195. Uma moeda ateniense, o didrtu:ma de prata, oom a cabeço
de Atenas e a ooruja.

86
manda construir uma nova cinta de muros mais am-
pla (cerca de 250 hectares), eleva os edificios da Agora
e organiza o Pireu como novo porto comercial e mili-
tar. No tempo de Péricles, a Acrópole é praticamente
refeita: constroem-se o Pártenon (447-438 a.C.); os Pro-
pileus (437-432 a.C.); o templo de Atena Niké (cerca de
430-420 a .C.) e, mais tarde, o Erecteu (421-405 a.C.). A
cidade se expande para fora dos muros de Temistocles,
e tende a transformar-se num organismo territorial
mais complexo; é traçada a alameda retilinea - dro-
mus -que o Dípilo leva à Academia, e são construidos
recortada por dois pequenos rios, o os "longos muros" que ligam a cidade ao porto do
entre os quais se encontram uma Pireu, ordenado por Hipódamo com um plano geomé-
Licabeto, a Acrópole, o Areópago, a trico racional. Cleon retifica o perimetro dos muros de
a Pnice, o Museu. A Acrópole, 156 Temístocles, para aumentar as defesas da cidade a
do mar, é a única que oferece segurança oeste. Dá-se Ull)a forma arquitetônica mais co_mpleta a
Oancoslngremes e espaço suficiente em teatro de Dioniso, onde se pode reunir toda a popula-
terminal; foi a sede dos primeiros habi· ção de Atenas a fim de ouvir as tragédias de ~squilo,
e permaneceu o centro visivo e orga· . Sófocles e Euripides e as comédias de Aristófanes
metrópole subseqUente, que Heródo- (Figs. 21~218).
em forma de roda".
Atenas se formou quando os habitan·
menores da Atica foram persuadidos Esta sistematização, que Atenas dá a si mesma
enquanto permanece livre e poderosa, não correspon-
por Teseu, segundo reza a lenda -a se
tomo da Acrópole. O centro da nova de a um projeto regular e definitivo: é composta por
a depressão quase plana ao norte dauma série de obras que corrigem, gradualmente, o qua-
dro geral, e se inserem com discrição na paisagem
aiM' nJ:1101Jilgo, onde se forma a Agora. Sobre
Areópago se instala o tribunal; alguns originária: mas tem, igualmente, uma extraordinária
unidade, que deriva da coerência e do senso de respon-
santuários, como os de Dionisio e de Zeus
sabilidade de todos aqueles que contribulram para
na vertente sul, onde talvez se ha-
08 primeiros bairros de expansão, narealizá-la: os governantes, os projetistas e os trabalha-
exposta. Nasce assim um organismo dores manuais. Estamos habituados a distinguir ar-
onde cada elemento da natureza e da quiteturas, esculturas, pinturas, objetos de decoração,
U1llaza11o para uma função especifica. A mas aqui não podemos manter separadas as várias
coisas.
lado, existe justamente para unificar
diferenciados; é o centro politico, co- Mesmo em plena cidade as ruas, os muros, os
edificios monumentais não escondem os saltos e as
e o local de refúgio de uma população
pelo território. dobras do terreno; as rochas e os patamares ásperos
afloram em muitos lugares ao estado natural, ou então
uma das funções da cidade se constrói
pouco a pouco, o aparelhamento desão cortados e nivelados com respeitosa medida (Figs.
197-198). Os ediftcios antigos e arruinados são muitas
No centro da Acr6pole, que agora se tor-
vezes conservados e incorporados aos novos. Deste
eagrada, executa-se entre o século VII e o
modo, a natureza e a história são mantidas presentes,
grande templo. Em 556 a.C. são institui-
e formam a base do novo cenário da cidade. Sobre esta
•IP&JtatAen~sas e se organiza a via sacra que,
base nascem os novos manufaturados: estátuas gran-
atravessa a Ágora em diagonal e
i&rópolepela entrada ocidental. Pisistrato edes como edificios (por exemplo, a Atena Prómakos de
bronze sobre a Acrópole, que os navegantes viam bri-
corultz'oeln o primeiro cinturão de mlll'08
lhar do mar) e edificios, pequenos ou grandes, construi-
área de 60 hectares), os primeiros
IIOilum.entais ao redor da Agora, o aquedutodos de mármore pentêlico, acabados como esculturas e
coloridos como pinturas.
llissos para a cidade e a sistematiza-
Nos monumentos da Acrópole (Figs. 199-215),
de Dioniso, no declive sul da Acrópo-
não se pode dizer onde termina a arquitetura e onde
\JUJStelles regulariza-se a colina de Pnice
começam os ornamentos; colunas, capitéis, bases, cor-
assembléia, constitui-se o bukuté-
nijas são esculturas complicadas, repetidas todas
sobre a Acrópole um segundo
iguais (Fig. 214); os frisos e as estátuas dos frontões
!IJDIIIDllental, paralelo ao precedente, que será
no PártAenon de Péricles. formam cenas figuradas todas diferentAes, mas são
feitas com os mesmos materiais e trabalhadas com a
cidade já rica e equipada é destruida em 479 mesma finura. Num caso -no pórtico das Cariátides
invasão persa. Logo depois, Temistocles do Erecteu - seis colun as são substituldas por S('Í~

87
fiJ.!. /96. O d(·~(·ru,oleinwnto da cidad~ <h· AtPnas. em seis épocas
o~oucessivas:

A) ldtt.dt diYIIUtf', com indu~BCM do aupo8to trttcedo do• murot do tkulo VI: 8) ~ft t i"' de Oionl11o: 16. odMn de Pfritl~: 16. templo de OemHer e Core: 17. Pi~ l&
ldttde dAMílica. çom indiC'nçAo do~;t murôll de Temistocltt.: C) Idade heltnlltica. com ltmplode Arte-mi•: 19. Heféetion. depola SAo Jorllt(notdtulot V e VI): 20. • h•rdt:Z.
md1cacào doe "'diateic:hitrnn" (muro de tnctrTtt.mtnto, ap66 e demoliç~ doi ..longoa e de Atenta f-'rtttril8; 21. Oipilon; 22. DiattiehiemadoprimfiroM:leni•mo: 23. ~. .
muro." e-ntre AtenAM , o Pireu). I)) tdade- Tomana. com indic:aeto da amplilllt~ d011 ma~ed6nioe: 24. •roa de- Eumentt, ~ monumtnco çorftcito de U.k'rau-e; 26. . _ .
mvroe: de Ad.ritlno l'dot m~,~roe intft"not do fim deld•<h-Ant•a:a: E) ldademtd:level.eom A'--lo: 27. et.oo do mrio; 28. Pompeion; 29. od«m de- Herocle. Ático: ». portatm.arco•
tndM"-tAo dO& r~NI.Oe do. murot t~~nh.ll'O.. e do. muroe do pt'riodo franco (ot t:harn.dol: Adnano: 31. tt.rmN: 32. ginUio; 33. eet6dio; 34. cata com jardim: 3$. WbtiM«< •
muro. de- Vall'n&no).que f«ham o btuno medie-ve) (~); f") ldade modtrn8, oom indica· Adriano; 36. Aeora romana: 37. AKo,.n6mion e tom dOt venc.oe: 38. SooU; 39.l'DCICI•
c:.to dOf. m1,1r08 wroo., pot~riortt tto lf<'ulo V (56) t d• -wna de dttenvolvimtnto da mento de Anlioeo "llopapo; 40. d11ttml'l hidré.uli~a de AdriMo: 41. muroe dt ~
C'ldf'de até o ekulo XI X. em pontilhttdo .obre o traçado de tpoe& recente. - Monumen. 42. murotJdo final dA Antiguidade: -13, baeUic.a dobitpo l,.e0nida.e:44. 9.\of'ilipe;4$.Sit
toJI pnrtic:ulnre• que tiPtlr~m tm divet~~;ot mftpnlil: 1. Pilntnon, depoi1 l'anagia Teo- Oionl1io (A.reopa{C'ila); 46. Santo. Ap6ti.Oiot; 41. Sotiral.ikodimu: 48. Santot Teodoro~;
tOkN Ateniotien (no. •kuloe V e VI): 2.. templo de Atena Poliu; 3. •••'Hu6.rio de 49. SAo Jor,e: 60. AJ'ift Tnada. anl.ft Erecuu; ~1. S.ntoe Anjoe, antu Ptop\Jeu;SI
lhonito; 4. •antu&tlo du Ninfa.:$. F.nneapilon; 6. Ar~ ao; 7. Stmnai: 8. Eleueinion; Kapnlkarea: 63. muroe fr~ 64 Panasi• Gora:oc-píkoo.. (Pequen• Mtt~ '-"
9 rn"'e-akruno., 10 AI(Ora; I t. aqueduto de Pi.tüttet.o: 12. Otimpie.on. 13. Picion~ ... Sto Eleuttrio), M. S.nc.oe Anjoe; 66. murw tu~.
Fig. 198. Atenas, vista dn Acrópole a partir da PnicP.

lli814 d4 Acr6pok do lado oeste.

~- 215). Todas estas peças foram cidade-estado - permanece uma construção na medi-
laboratório e em seguida montadas no da do homem, circundada e dominada pelos elementos
a precisão técnica e as diferenças de da natureza não mensurável. Mas o homem, com o seu
lmiltelv•e!B (a tolerância, se diz hoje) são trabalho, pode melhorar esta construção até imitar a
os casos: os troncos de coluna, os perfeição da natureza, e pode estabelecer, como na
·· as pedras dos muros e as lajes natureza, uma continuidade rigorosa entre as partes e
de mármore, vigas e coberturas de o todo. O conjunto dos monumentos no topo da Acrópo-
entre si milimetricamente (Fig. ·le pode ser visto de todos os lados da cidade, e os
Párte.n01~. então, a estátua mais vene- templos revelam de longe sua estrutura simples e ra-
Pârtenos de Fldias, é uma grande estru- cional; depois, ao aproximar-se, descobrem-se as arti-
revestida de ouro e de marfim, com a culações secundárias, os elementos arquitetônicos re-
ama obra de ourivesaria. petidos (colunas, bases, capitéis) e os detalhes escul-
a presença do homem na natureza toma- turais mais minuciosos, avivados pelas cores: um
qualidade, não pela quantidade; o mundo de formas coerentes e ligadas entre si, da gran-
- como o organismo politico da de à pequena escala.

l-i!J
. ..........)...
.a__ MW'oe pr6-persae ~- ....~
····--·-·- · ···· ··· ··· ·--- ..... ~-~~
~ MIUO de Ctmon

\furoe bb.antinot 1 modemoe


;.tradN antJcM

Fig. 2()(). Planta do Acrópul.• t/,· . \ to·IIO$.

l.portoS..16 IS.Oepeid.ra
2. monu.ll)f:nto de Acrip.a 19. aantulrio de Apolo
3. ._pio do A,.n• N;U
:10. '"''" de Pl
4. propileut 21. Aat.u:r ion
5. pin~ 22. untuirio de Afrodi~
6. Mt,tua de Alt:na Pr6m•koe 23. murot de eutunt.açlo 110bre o ockort d e P&ic:IM
7, Nntd.rio de At.tna Hlaflli• 24. monumento de Tt...Uo
& Brauronion 2$. mono.mtntoe COTflcico.
9. mu.ro are&ioo 26. tutro de Oioni.o
10. eelootec:e 27. templo novo de Oionieo
11. Pbttnon 28. monu mento de Nlclu
12. ternplo arc.tco de Ate.na 29. AKJes>ion
13. oUveire Mgrada 30. gruto.t oom rMtoe pr6-hi1tórioo1
u. Er«teu 31. fonte
15. altar de Z.U. Polieu 32. 1100 de E\lmene
16. templo de Roma e de A1.1iJu.tto 33. odtOn de Herode. AHco
17. ttplanada da C1epeidrll 34. aqueduto

90
~m !Mitll d8 rulnll8 do PdrUMn.

Fig. 203. A s rulnas do Erectl!u.

91
I. p6rtioo poot4rlor
2. PUWnon
3. ettfltu d• Ac.na P'"-tnol
4. pórtico •nt.tricw

92
Figs. 204-206. Plante. e fachada orienUJl do Pdrtenon; desenho de
um trecho do flanco setentrwnal, que evidencia, exageraclamente,
as de{ormaçiJes da colunata para melhorar o efeito óptico.

93
Figs. 207·20/J. A ordem dórica du Pllrtenon. Desenhosdocapiteledo
travamento; vista de uma coluna J)('rto do dngulo norte-oriental.

94
Fig. 210. A base de uma das colunas do Pártenon.

95
'l'ft

Figs. 211·212. Prospecto ocidentol do Erecteu e uista reconstrutiua


da Acrópole (o Erecteu está d esquerda, o Pártenon à direito).

/
- ......
--;· ·.-

·:·,•.. ·..: .. .. ..-...·,.,


; ~·: ···--"'" ........ -......
~·.

,;.•

--····-··

96
Figs. 213·214. Desenlws de um capitAJl do pórtico HUntrioMl do
ErectAJu.

Fig. 215. Urna dos cari4tides que sustentam o pórtico meridicnaldo


Erecteu.

97
Figs. 216·218. O Teatro de Dioniso em Atenas. Duas vistas do
estado atual, a planta e duas fichas de ingresso ao Ulatro, conserva·
das no museu numismático de Atenas.

98
30m
t
· ··.PL ...

··········· .......
\
____···· ··· ···_···.;.;;···::;:···· --------·-

1. o -..se.~ 2.1boloo; 3. .....10 doo h«<!lo ~ .. ............, 3.


b~ ;& Hotlolioe; 7. -plooloApolo Po"- 10. H-cloc..tmlco;IL-
doZOM-..no.(Boolloo)(7);1~o!wclood_...._l3.rodD""I&.poriolllio;l6'.
tribo,..); 18. cua do .-da; 11. ~on..-.-.; 20.- nl; 23. o eh'""""" Hollolo; :U.
footee......_ Fíg. 219. P14nta d4 Ágora tk A~nu,""

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l . o ch&modo Sba...eioo; 2. 1boloo; 3. n<ÜIIo doo ~ ~ .. p 6 - do


-....,,6.~ 6.Htf6olloo;1. -plodoApoloPa-ll.odilldoh....,_
9. ...,.pio do Afn><fite U...U.: 10. Hon10 do Cortmlco; 11. ,,.. do Zou gaoo.-; 12.
aJwdoodoz.d-; 16. •~oodoAWo; 11. s-.;111.-domooda: 18.Dlnr...: 21.• roo
ltoto: 22. .... n1; 23. • chamada Hollaic u r..... .-w. 211. .... do - .

101
Fig. 221. Vista da Ágora de Atenas na época roma/14

AA- I t
S ftôo (pórticoe)
Ood«~n
Tttmplo.
C bul~lltir.on

fíg. 222. Duas 6stracas, .isto é, fragmentos de barro usados nas Fip. 223. Axonometria do odeon de Aflrípa (cerca<Ú
~'Otaçõespara o exllio (ostracismo) de Temlstocles e de Aristides.

102
"
...
t
.....ÇJL_
••

1. o etwnado Sua~bon;. 2. ~ 3.. rf!Cin\0 cSoe hlftlt tp6nhnoe; 4. p6rtico do


MdrOOn; 5. balt:MUrio.ot; 6.. Ht!Ntion; 7.umpl:ode Apo\o Pauoot; 8. tdlftcio htltt~ittko;
9.. templo de: A!todi~ Urtnia; 10. HoTOt do Cerlmic« 11. •toa de Zeu El"ttrior. 12.
•ltar doi doz.edeu.M« l-4. .too non1Mtr.16.ttoo 6e A...to: 17. &ma; I&.CQ4ldamotda.
18". ninfn; 19. fonteaudeete: 2l.ltoo le.te; 22. •toa • ui; 23. •e:hamada Htll•ia: 2A. fontt-
•udoeat« 2$-•toa: do meio; 26. n-pa~dvkaa;: 21. \tmp\otOMano: 2&. als.r (dehu•
Aaonia.?t 29. ~ de Apipa; 30. tftDplo de Ane.
da Ãi/ora de AlMaS na ~poca roma11a.

IO:J
.
·..
~

~· ..
.......... ,
,..

..

..\,
;-,.. .:.
·~

Fig. 2'2.;. Planta apro.umoclcz dr Alf'lla., no,, t4•nqx.J~ d(• Pt»rtcle~.com


os batrro~ rt':-rclt•ncuu~ ft•m pcmttllwclfiJ dt....lrtbuídos ao r('(/or dos
edt{icios públi<·u~ ft·m prt•ltJ).

FrJt. 226. A J!randt• Akna~ do ~à·ulo \'a .C. rom os lcmJlOS muros
que ltxam a ctdadt• au JXJrltJ do l)trt·u

F'iJ,t. 22i. A ("~trutura dt• um muro tlc• ltltlfiJUtfP ., ohr,• n


Ah•tws.

PiJl. 228. Plantel de duas casas atc•m('ll:)f':) do :;~c·ulo V a.C.


(

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_:/
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í\
:0
;.
I
I
I

\
\

Em torno da Acrópole e das outras áreas públi-


cas devemos imaginar a coroa dos bairros com as
casas de habitação (Fig. 225 e 228). As ruas reconheci-
das pelos arqueólogos são traçadas de maneira irregu-
lar, com exceção do Dromos retilineo que vai da Ágora
ao Dípilon. As casas, certamente modestas, desapare-
ceram sem deixar muitos vestigios. Podemos ter uma
idéia de sua disposição, considerando as casas da mes-
ma época escavadas em Delos, no bairro do teatro
(Figs. 229-231). A simplicidade das casas deriva das
limitações da vida privada; durante a maior parte do
dia vive-se ao ar livre, no espaço público ordenado e
O bairro do porUJ em D<!los; as casas escavadas são dos articulado segundo as decisões tomadas em comum
IIa.C., e correspondem a um tipo difundido em todas as pela assembléia. Os monumentos espalhados por to-
_,._.1<18 ciO século IV em diante. D<lm6stenes escreue que as
dos os bairros recordam·, em qualquer lugar, os usos e
-•e-IIU'Iteglnero,cômopátio emp6rtico,eram construi-
AttiiCIS por volta da metade do século IV, na periferia. as cerimônias da cidade como casa de todos.

10->
fiJ.Is. 2JU-2.11. A ms11/ae I. 11 IV e VI rm Dr/os, r d11as casas da
msula 11.

f 'li> 232 23S. Quatro objetos de cozinha em terracota: uma pa·


nela comfornilho, uma grelha, um forno, uma terrina.

J()(i
Os utensllios para a vida cotidiana conserva-
dos no museu da Á!{ora de Atenas dão uma idéia da
simplicidade• d.1 nda pri,·:ula na .. idade· de· l'í·ride•" f'
de Fídias (Figs. 232-240): A riqueza de atcnas alimen-
ta llli.llS o:-. nJil::-.llltlo::-. puhllt·o,:-. qlh' o :-- t·o~lllltll'h indl\'Ía
duais; dest.c modo, o~; adornos da;; ca~;a~; são escassos e
n ão muito caros.

FiRS. 236·238. Três objetos para escrever: o estilete, as tabuinhas


enceradas e os rolos de papiro conservados em uma custódia de
madeira (em uso dl'sde o século 1V a. CJ.

..

107
Mais tarde Atenas se expande para leste na pia· expandir desordenadamente, deixando livres somenle
nicie para além do Olimpieion, e a Acrópole se encon· as alturas - a Acrópole, as colinas do sudoeste, o
tra no centro exato da figura urbana, que não muda.r á licabeto - mas atingindo o Pireu e preenchendo toda
apesar das numerosas adições helenisticas e roma· a planicie desde o sopé das montanhas até o mar.
nas: os dois novos pórticos da Ágora, o pórtico de A Acrópole, a Agora e os grupos dos monumeo-
Eumene ao sul da Acrópole, a nova Ágora romana, os tos principais são hoje zonas arqueológicas fechadat,
odeon de Agripa e de Herodes Ático, a biblioteca e, por onde prosseguem as escavações. Recentemente, fci
fim, a "Cidade de Adriano", isto é, o arranjo definitivo também proposto liberar grande parte da área da cida-
da expansão oriental, com o novo Olimpieion, a pales- de antiga, demolindo os bairros mais antigos ao norte
tra e as termas (Fig. 241). da Acrópole. A imagem da Atenas antiga pode •
No fim da idade clássica, a grande Atenas cai em reconstruida visitando as ruinas e os museus; os tem-
rumas e a parte povoada se restringe a uma pequena plos da Acrópole, ainda bem visi veis a partir de tocb
zona central em tomo da Acrópole e da Ágora romana. os locais da cidade, recordam com sugestiva evidência
Esta pequena Atenas permanece, desde então, uma um dos lugares capitais da história humana, mas fht
cidadezinha secundária até 1827, quando termina o tuam como que perdidos numa triste e caótica cidade
domlnio turco (Figa. 242 e 243). Em 1834, Atenas é do Terceiro Mundo, que com a antiga tem em comum
escolhida capital da Grécia modema, e começa a se somente o nome (Figs. 245-248).

Figs. 239·240. Os aüossos (ossos dos pés das cabras) e os dad<>s.


usados para os jogos; o amis (um uaso de terracota que substitui a
latrina).

..
108
1. monumento de Filopapo; 2. Pn.ice; 3. colina du ninru: 4. po.u do Pireu: 6. poru
Sapada: e. Pompeion; 1. 0\pllon: 8. He(éltion: 9. Aaora: 10. biblioU!oe4t de Adriano: 11.
Á.a'on. romana; 12. o chamado AcoranOm~n e Torndot Vent.ot: 13. p&lNtra ao norte
do OlimpiSon; 14.. te.rma do Z.pion: 15.&e:nna do OliMpleion; 16. Oli.mpieion; 17. areodt
Adriano: 1&. oüon de P6ric.l•: 19. tant1.1t.rio de Oionilo Elt\lttrio: 20. a cha.nada floo
dt Eumenr. 21. Acr6pol~ 22. Eln.lm.ion; 23. An6pqo: 24. Dtmí.e.i Pilai; 2b. poJ'Lii nu
pro.daúd.ad.ee ele A.aiot Oill\ltrioe: 26. porta do Fal~ 2'7, ed.itkio mm O«.,..<'OI"'"Ilt'""~
28. .o~.... At.ido do M<W4111 LC.: 29. ,..... DiOMtlo: 30..,.... Jdrio: 31. Pld.... n
OlnoNJ'It: 33. 1klli6âon: 34. •Udio: ~ ta.mba de H~ Âtio); 36. NnUaNio de
Pancrata • Palaã.nc»; l?. poru Dioc.ni.a (?'): 38. c... com mONÍCJM:; 39. datema do
aqueduto de Ad:ri~o: .&O. ediftcio em 6btide: 41. porta da Acame: 42. via dot TrtpodM e
F11. 241. Plante. de Atenas no fim da idade ci/J.ssica. monumenlO de U.ic:ratt.: 43. pórtico romano.

109
F1gs. 2./2.243. Planta de Atenas no (lm da dominaçdo turca (na
m ..sma escala da {1gura arll.-rror), e uista por ocasu!o da fundaçdo
do nooo Estado (1835).

\I ()
PLAN

') ATHENE S

-.

f"ig. 244. Planta da nova Atenas em I842,d~{>Oisdop/anorrgulador


de Lro von Klenze. A ddadc amda se encontra - toda ~la - ao
110rl<• da Acrópole.

111. 245. O &tddro de Herodes Âtrro Pm AtMa>. ~mr>!rurdt> <>m


1895 para a• prrmeiras Olimpíadas modnnas.
III
Fig.' 246. A text~~ra arquilet6nica da Atenas modema; ao fundo.
distinguem-se as colinCIS da Acrópole e do UcClbeto.

Figs. 247-248. Os monumentos da Acrópole na moldura da cons-


truçllo atual: à esquerda, os Propileus. o Pártenon, o Odeon de
Herodes Ático e, ao fundo, o Licabeto: à direita, o Pórtenon, o
Erecteu e ao fundo a Colina de Pnice.

..
112
Fil(. 249. Planta da 110ua All!nas em 1950 (dt!sde ('11/do. a cidad•·
•/obrou sua população). Confrontar com a FiK. 226.

Hipódamo de Mileto é lembrado por Aristóteles Estas cidades - e outras fundadas na mesma
como o autor de uma teoria políticá ("Imaginou uma época, no Oriente e no Ocidente: Olinto, Agrigento,
cidade de- dez mil habitantes, dividida em três classos, Pesto, Nápoles, Pompéia- são traçadas segundo-um
uma composta de artesã(>s, outra de ~'icultores, a desenho geométrico. Este desenho geométrico é uma
tet!lcira de guerreiros; o território deve1'ia sertgualmen- regra racional, aplicada da escala do cdificio à escala
te dividido em três partes, uma consagrada aos dEill; da cidade, como nas grandes capitais asiáticas da
ses, uma pública e uma reservada às propriedades Idade do Bronze (já vimos a Babilônia às págs. 32, 35
~ais") e como mventõ'r da-"divisão rê"'gular da e 36. Todavia, é uma regra nova, que não comprome-
cidade' (Politica, II, 1267b). Projetou, como já foi dito, te, mas antes confirma e torna sistemáticos os caracte-
a nova disposição do Pireu, e talvez as plantas de res da c1dade grega, relacionados à pág. 78.
outras cidades: Mileto, Rodes.
As ruas são traçadas em ângulo reto, com
vias principais no sentido do comprimento,
dem a cidade em faixas paralelas, e um
de vias secundárias transversais; as seções
são sempre modestas, sem pretensões mcmurílelq
(<1e 5ã 10 metros as principais, de 3 a
secundárias). Dai resulta uma grade de ,.,;;;o;;r.,;..w
retangulares e uniformes, que pode
conc:Tetos para adaptar-se ao terreno e às
gências menor desses
teirões - isto é, a
.tU!§ - é a a para. uma ou
individuais (muitas vezes 30-35) metros; a
maior - isto é, a distância entre duas_',';,~~;;;~~
=êã apropriada para uma fileira ;,
casas (de 50 metros a ce(ca de 300 metros). AJ;; áreas
especializadas, civis e religiosas, não comandam o
resto da composição, mas se adaptam à grade comum
e muitas vezes são dispostas em um ou mais quartei-
rões normais; deste modo, as ruas principais não en-
tram em tais áreas, e correm tangentes. O perimello
d~não se~uma figura regula~
termTnam~ir~
naturais como os montes e-as-costas. Os muros não
correm rentes aos lotes, mas unem as alturas mais
defensáveis, mesmo a uma certa distância do povoado,
razão por que têm costumeiramente um traçado todo
irregular.
A constância da grade - fixada pelas exigências
das casas, não pelas exigências excepcionais dos tem-
plos e dos palácios - confirma a unidade do orga.Jlis.
mo urbano e a unüormidade de todas as áreas e das
propriedades particulares perante a regra comum, im-
posta pelo poder público. A elasticidade da relação
entre os lados dos lotes retangulares permite que cada
cidade seja diferente das outras, não vinculada a um
moó.e\o ún\co. I\. comp\\cação ào peiimetro e a distân-
cia que os muros estão dos quarteirões respeitam o
equilíbrio entre a natureza e a obra do homem, e dimi-
nuem, em grande escala, o contraste entre a cidadee a
paisagem (Fig. 251-276).
Deste modo, a "regularidade" não é levada até
comprometer a hierarquia entre o homem e o mundo;
permite conceber e padronizar a cidade, mesmo quan-
do esta é grande, e permite aumentar em certa medida
fig . 2.;11. Planta de Olinto depo1s da ampliaçào de Hipódamo (432 uma cidade já formada. Estas possibilidades serão
a.C.). A árpa pontilhada. em b01xo.tdo núc/ro maisantigofpo/(>()po exploradas mais tarde na idade helenistica.
/e).

111
Figs. 251·252. Pwnta geral das escaooções d e 0/into: 110 alto. as
pÚirHas de duas casas típicas da ampliaçdo de Hip6damo.

...
I[.)
lt._..,.,.W4114i•••l-

~~~~~~~~~··~·~·~r·~'"~~·~~mm~~

r'ig. 253. Tr~s conjuntos da ampliaçdo de Olinto, que mtdtm


300 pés (cerca de 35 x 90 metros).

Fig. 254. A "casa da boa sorte": uma residência maior, situo&.


periferia da cidade noua.

Figs. 255-256. Planta de Mileto, organizada no sl<ukl V


Hipódamo depois das Guerras Pcr$as; os qutJrteiroes
175 pés (cerca de 30 x 52 metros). A figura à diTeita indica
da cidade em zonas.

11()
Fig. 257. Planta do centro cluico de Mileto.

1. taltro 16. l.ffmat de C6pito (rovtm•dor romano do tkulo I d .C.)


2. Hwooa (~tumba monvmenc..l) 17. e\nl•o
S-4.--udaloaoo 18. umplo dt A.telfpioe
$. wnu.e roman.u 19. ta.nt.drio do C'Ulto impmal (?)
S. ptcl'HftO mona.meni.O do porto 20. but.ld~tl()n.
1.-....
8. frJ.ndt monumento do porto
21. n1nfe\l
22.. pO!U. Mtentrional
9. plwli<o do po110 23. iKTeja eriet-1\ do tkulo V d.C.
10. Daltlnlon (aantot.rio da Apolo) 24. d/loro meridional
ll.porladopo<W aumaafn•
U. PIIQMOO m.aado '26. Htroon romano
13.--trional 27. umplo de St:r6pit
14. plwli<o j6nieo 28. termal de Fe.u!Jtina
16. ru dt Pf0d,N6o

117
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l-l....J-.L.......L...J'

Figs. 258-261. Prirnc (fundada por uolta de350 a.C.). Planta esque-
mática -os quarteirões residenciais em preto, os ediflcios públioos
em sombreado - e planta geia/ das escauaç_64's; os quarteir~s
medem 120x ISO MS (cerca de35 x 45 metros). A esquerda,p/anta e
reconstruçdo do ecclesiastirion: uma grande sala de reunido com
cerca de 600-700 lu11ares pora senUlr, onde se reunia talwz a assem-
bliia (Priene tinha cerca de 4.000 habitantes, e o teatro tinha 6.()()fl
lugares).

118
1'14ntu do• dll4s principais ár"'s públicas de PrieM
<h Aleno e o ligora - e de duas casas tlpicas, na
A rei4çll.o entre medidas de todos os edi{icios, públi·
reencontra base do desenho !letal da cidade.

119
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f'II/S. 266-269. Planta 11nal de Pc~;lo- os quarteorÕI's 111!-dPITI 120 x
1000 ~s (cerca de 35 x 300 metros)- e Templo de .\'etu!IO 11a área
sa11rada central.

121
A, PIJr\ta aer&l de düde an11aa com o cirC\I.i to dot murot e com indieaçlo. ~m fronteiro.: 9. pequeno templo: 10. toro; li, to ~usAt; 12. moNll~m; 13.1:1:edra; U.
tri<'~)AdO, dO r~tiC\IIfldO dAI rUAI t dt VNllgia. de edift('iO., dtdu.&.idot d• fOt0ftT8fíb de Veneiano: IS. '1• rlrio": 16. neelo romano; 17. templo il..tlko: 18. .,_tro,."';
Jtru. - 8 . Planta de um 1ttor da ddade c:om o .,ntdrio IJTfiO (oorreepondent.e eu "aerarium"; 20.1)'mnui.on creao; 21. .-lee.tra romana com pieànaln!lrior,22.
fr•arnt-n~ fta piJnta rtrJ I). - Prinapaia monumftlt.OII con)\lr'lto.: 1, tonada n to'ópo- tro; 23. •ac~~P:Iocom t.lm~NH; 24.. p6rt:ic:o romano; 2$, Athtnaion("templocll
Wneol1tau., 2._ muTOt~ 3. porU. Me.nnh... 4. parti! A+rta. 6. poi"'.A Strtia; 6. por\a J-.• dc•. ahar fronteiro 1 colun.u volivu, 216. pequeno t.emplo a~aico: 'n. 'bainode
1 •·Bulhca·· com altar fronteirO: 8 ""\.emplodt POMt~.. oorn altai'M lftiO e romano 28 termN ; 29. olariao 30. muH\1 (modnno).

Fil(s. 270-27I. Planta ~ vista da área central de Peslo, e•cot'Odt


a~tora.

122
,,''~

/
, ,. ,,~o

....············.... ....
:
.... c;:, T~lo[

... • • · \
..........., ....
AcropoU

...
·..

Fi~t•· 272·273. Planta geral de Al/fllletllu ,. planta da zona escauada


no cl'ntro da cidade (em pontilhado na PtJl. 272). Os quarteiroes
medem 120 x 1000 pés, cerca de .1.'i x .'100 llwtros. como em Pcsto.

123
124
Alri6tnto. V18ta airea do templo A; uista do templo 8
cidluk t do Acrópole, onde se encontra a cidade
••111001tnt P••mern> p•rono, uma dos cori6ttdes do templo.

Se/inunte. Planta das cscauaçclcs e uista aérea dos


oriental (o primeiro remontado pelo• arqueólo·
•-•"''""••têm a largura constante de 100 pés (cerca de .10

12.)
12G
fig. 279. O mundo hele nístico em fins do século III a.C.
llté.lia IX Panagónüt
tk Siracusa, a maior cidiuie do mundo grego clássi· tJGrkie. X Ponto
III MacedGnia XJ Capadócia
IV IW.no de Pérga.mo XII Reino doe Selêucidat
VCârit'L p XIII Armênie
VIUcia XIV Média Atropatene
VII Galéc:ia XV Pérti&
VJJ18itt.nill XVI Egito

cidade como organismo fisico é a imagem do ~ (Figs. 281 e 282) éobre uma superfície
devemos reconhecer que a independência de 900 hectares, mas é circundada por extensos arra·
dadle&4!SUitdo e a medida limitada de seu desen· baldes: trata-se, antes, de uma recião urbani~a -
condições indispensáveis dos outros uma "megalópole", como diríamos hoje - e pode ter
toda a Grécia é unificada por Filipe atingido meio milhão ou um milhão de habitantes.
..,....u.ua, acaba também o equilíbrio autónomo Antioquia (Fig.283) tem 200 ou 300.000 habitantes
IOCíedadE!B urbanas e de seu cenário construído. Os (mesmo na idade romana estas duas cidades são, de-
elaborados pelos gregos -a cultura científica I!.Qis dejWm~o, e Alexandria"
o sistema económico, os modelos de proje- contiriúa sendo a ca_pital económica do mundo mediter-
e cidades- estão prontos para serem râneo). Pérgamo (Fig. 284) é uma cidali!u_ec1Uldária,
todo o mundo civilizado, e para serem mas seuSiil'õriümentos distribuídos sobre um morro,
lllionta•doscom as tradições diversas do Oriente e do com mais de 250 metros de desnível, formam um con-
junto cenográfico sem comparação.
Alexandre e seus sucessores estão em condições A área habitada é tão grande que nenhum edifi·
fandar não só colónias de medida correspondente cio ressalta como elemento arquitetónico dominante;
eidades gregas originárias, mas grandes metrópo· ao contrário, as ruas se tomam mais grandiosas, mui-
illcom!Nilá1reis às antigas capitais do Oriente. A regu· tas vezes circundadas de pórticos (as principais ruas
geométrica sugerida por Hipódamo serve pa· de Alexandria e de Antioquia têm cerca de 30 metros
distribuir racionalmente tantos elementos hetero· de largura, e de 4 a 5 quilómetros de extensão); algu-
o quadro que dai deriva é ordenado e tumul- mas obras excepcionais (como o Farol de Alexandria,
aemelhante por muitos aspectos ao quadro da com talvez, 180 metros de altura) oferecem uma ima·
modema, como já notamos. gem que sintetiza a grandeza da cidade.

127
Fig. 280. Uma <'>cultura lwl<'nlstira: o cob~co dP Loocoonll' nos
Museus do Vaticano.

128
Vf'fS.OIIt.nrc»
md1c•r•r~no
• N1topo..,
lpgodromo

Figs. 281·282. Planta de Alexandria antiga e ela culoclr atual.

l29
~ 10 1000
I I

Fig. 283. Planta df At!li!x;~i~ (r1a mrsma rsrala da de Alexa11dria).

Figs. 284·285. Pérgama. pla11ta r srr("do da r1dadf

6.Nt.6dio
7.Gum~Pilia
S.oa<>pole
9.ai'*-f
10. terraço de- DtrMttT
ll.gin._o
12. 46orc i.nftrior
13. porta de Eumene
14. K.uJI Avlu
l. recinto de Hera Ba.eUtia Fig. 288. Planta da cidade superior de Pérgamo.
2. plitaneu. (?)
3. recinto de Dtmét.er 1. Heroon (ediftoo para o culto dot huói1)
4. f'ntrada mon"ment.al 2.1ojN
S. fonte 3. aOf!Qo principal t att6pole
6."""' 4. alic:t"roN do Prooptlon (p6I"UQQ) de entrada)
S. Na~daria que leva aoe PtlktM
6.. recinto de A~n•
7. templo de Atma
8. bibhot.eu
9.umatua
10. palk1o de EurMne 1t
11. palk•o de Ateio I
12.ett.••• helentllltaa
13. quartfit e tom de ('Ornando
14. a.nenal
15. t-emplo de Trajano
16. te-litro
17. templo de Dionl10
18. terrato do ltatro
19. pórtico de duat navet
20. altar de ~~
21. di/oro euperior
22. templo de. 6Roro

- ••I• de reunilo

1
" totmplo de A.Kifp•oe
9. gin6llio '"Pfrior
10. l[in61io do melo
1L templo do (tin6tio, dedJcado a Htrmet
12. tKadaria de a«MM
13. fonte
14. entrado mon1.1meru•l J)lllriL o flnlpo doe ginA.aioa
15. ginhio inferior
16. ru i\ prindptll
17.1ojaa
18. eau de Átalo
19. dgora infe-rior
20. eau. de periltito

lfonta do aii/JI d~ Zeus na cidade supertor (ue}a·se fi11

-~

........ j !
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.. ..
~----------------------------~--~~~
.. ,,.

Fig. 289. Planta e reconstrucilo da llgora helenlstica de Assos.

J.32
· A CIDADE E O IMPÉRIO MUNDIAL

Estado romano, que realiza a unificação poli-


todo o mundo mediterrânico, devemos distin-

ambiente originário no qual nasce o poderiv


é, ~yj1izaçi!o e~ que entre os sécu-
a.C. se estende na Itália desde a Planície do
Campânia;
aexepcional sorte de Roma, qu~como
il!!~~~~l-841m-~~.tUIJlG~, na fronteira

c) a fundação de novas cidades;


4)a e o das funções politicas no fi-
·o; da\ as novas capttrus regionais, e a
do Oriente, Constantinopla, onde o governo
continua por mais dez séculos.
Constantinopla torna-se posteriormente Istam-
o).__ ______
a capital do império turco, e continua uma das
cidades do mundo ocidental até a época FIJ:. :!!lU. Tumba em forma de poço da Idade do Bronze, da Via Sacra
de Homa.

133
~,~/)., ~- r~Planta
gJu/aresd~z ~~d~:
• d sdo ' 'PIO, com a muralha
de da época romar10.
I •
.. -?9?.
hg.
traçado• 1nten

fig. 291. A Itália


. •.
l1111'" da (YIIl<IUi~l<l fOIII{III(I

I . d(• C(•fn•/t'fl e da tumba da


Figs. 293·29-1. Planta~ tia rtt·t:rt)pu'
~asinha 19).

>OOm

13.;.
f.'IJJ. :!9.). l 'ma ('~<·tdtura etrw;ca. dt· uma tumba da tu•cr6po/(! do:J
\'lll:o>llill.

135
1-ig. 296. Urna etrusca em forma de casa. no Museu
l-7orem;o.

Fill·'· 297-298. P/a11ta do templo etrusco de Oruieto, e


primriro templo de Júpiter sobre o Capitólio de Roma.

A civilização etrusça surge na Itália durantll ~


Idade do Ferro - do século IX a.C. em diante - na
costa tirrêma entre o Amo e o Tibre; depois se expande
- nos séculos Vll e VI - desde a Planície do Pó até a
Campânia, e entra em contato co~ as colônias gregas a limitatio (a de•nar~lçãtQ..J;!Q.];>er:lm(tkJ)•
da Itâlia Meridional; mas através do comércio maríti- no e dos limites internos na
mo comunica-se com as outras civilizações do Mediter- sacrifício celebrado na cidade recém-fundada).
râneo, e absorve sua influência. \lia, liSlormas traÇãaãSno -terrenõnão seguem
Na Etrúria, como na Grécia, existe grande núme- regra geométrica comparãvel à romana.
rode cidades-Estado, governadas usualmente por regi- Ao redor das cidades as escavações
mes aristocráticos e unidas numa liga religiosa com o grande número de tumbas subterrâneas.
centro em Bolsena. As cidades principais- Volterra, ram encontradas intatas com seu conj
Arezzo, Cortona, Chiusi, Perugia, Vetulonia, Tarqui- ras, esculturas e objetos fúnebres, e nos dão a
nia, Vulci, Cerveteri, .Veio -ocupam uma elevação com surpreendente precisão, a vida cotidiana
facilmente defenslvel, e foram profundamente trans- povo (Figa. 293-296).
formadas pelos romanos. Permanecem os cinturões de Ás margens do território etr:us.l::o.l!:m:ti.&:!!W
muros de contorno irregular (Fig. 292) e poucos monu- de dê Rõma: uma pequena potência 'ill.$;...1;11-
mentos isolados; mas conhecemos as caracterlsticas dorn.mar i&:To o inundo mediterrânico.
do templo etrusco por uma descrição de Vitrúvio (que capitàl escolhida, mas uma capital oo•e~g~taa,
escreve no tempo de Augusto): uma estrutura bastante império nasce da ampliação de wna cid[ad,&Ellllil
simples de madeira e de pedra, à qual se sobrepõe uma enorme alargamento do território, pois, faz
rica decoração de terracota. Provavelmente os primei- cidade cresça, mas não lhe tira o caráter
ros templos sobre o Capitólio de Roma eram deste tipo casual e particular: é uma aldeia que se
(Figs. 297 e :l98). pouco, uma cidade mundial. Quando a uru1ue<~ÇIIIJII
\
'

é fato consumado, a cidadania romana Examinando a evolução da cidade, desde suas


Caracala (em 212 d.C.) a todos os origens até ao fmal do império, nos demoraremos na
império. A urbe corresponde ao orbe: de descrição de sua forma no momento de seu desenvolvi·
acolhe homens e coisas provenientes do m<:nto máximo, nos séculos II e III d.C. Faremos então
e o mundo é unificado, fortificado, cir· um rápido confronto entre &ma antiga e &ma mo·
muros e percorrido por estradas como dema e contemporânea; mas deveremos falar ainda
cidade. das outras fases de sua história, nos capitulos subse-
(in Fasti, II, 683-84) exprime este qUentes.
"A06 outros povos foi conferida uma parte A origem da cidade está ligada, como sempre, à
terra. Para os romanos o espaço da cidade natureza dos lugares; mas o local escolhido, no curso
o espaço do mundo". inferior do Tibre, mal se distingue de muitos outros
locais vizinhos, e suas caracteristicas originais não
parecem proporcionais à importância dos desenvolvi-
de Roma cidade mundial - estabele· mentos seguintes.
Augusto, e celebrado pelos poetas, Virgi· O curso do rio, depois de uma curva bastante
Ovtdio - durará por toda a história futu· pronunciada, diminui e se divide em dois ramos, dei·
ao prestigio religioso da sede do xando ao meio uma ilha (a Ilha Tiberinà); aqui o rio
1\UIU_!!.JII;IWliW!t:!iiO!U\...lL~J.LI:ll..I.I..IL.lllJLUJ.IIJU ("tO• pode ser vadeado ou atravessado com mais facilidade,
conduzem a Roma"), mesmo depois e na margem esquerda uma série de colinas chegam
•ilnmArln na Idade Média, uma pobre aldeia e, perto das bordas com suas paredes ingremes. Os etrus·
Modema, uma cidade secundária. Os restos da cos que ocupam a margem direita têm interesse em
antiga continuarão a dominar a paisagem e a manter livre a passagem, para alcançar suas f'' s •! S-
da cidade; somente no tempo do império, de sões na Campânia. Assim, neste ponto, se formam
e o mito cultural coincidem entre si. uma feira e um mercado (que permanecerão na cidade

137
OR.TI·s

S [ PT!N'
Til lO
7.n... r~rJ ....
Ta.. ~·

~DIUTA~A

.A. ~VLO (?N DITA

FiJ!. :Juo. Homa ttnmlrmla. <'Wnu lm íma}!i,(l(/a nunw j.!r(u•ura de FiJ.t. .'JOI. Roma 110 /('lllpo de .l..)ért'W Ttí/io. mww Nravuro.
/.i 'l7.
Fi}.!. :J02. Homll rw llímpo dC' Au).!usto. em u.mtl J,trlu'ura. de J.j:li.

de Foro Boario e Foro OlitOl-io - dos • Colina, compreendendo o Viminal c o Quirin.al;


azeite), enquanto nas colinas mais próxi- • Palatina, que inclui o Palatino.
as primeiras aldeias fortificadas domi- O vale central entre as quatro regiões é secado
"'"'""a·pm do rio. escavando-se a Cloaca Máxima, e aqui se forma a
nova área comercial, o Foro Homano. J<'icam fora da
antigo centro habitado surge no
cidade o Capitólio.~omo Acrópole, e o
que tem encostas íngremes c facil-
Aven(ino, que mais tarde, cm 456 a.c:-;e--rtmrrinado aos
'delem;áveis(ao contrário do Célio, elo C-iuirinal
plebeus durante as lutas com os patrícios. A partir de
tempo oferece, diferentemente doCa-
um Lcxto ele Van·o, conhecemos o perímetro aproxima-
plataforma bastante espaçosa, para cons-
. Mais tarde - por obra de Sérviodo desta Homa das quatro regiões. provavelmente cir·
a lenda - se forma uma cidade que cunclada por um muro; a superficic interna mede cerca
de 285 hectares, ejáéa maior cidade da Itália continen·
colinas tradicionais, e é dividida em qua-
tal.
Suburbana, que compreende o Célio; Durante a incursão dos gauleses em 378 a.C..
Esquilina, incluindo o Esquilino, o Opio c o toda a cidade foi ocupada c incendiada, com exceção
do Capitólio. Logo depois Homa é reconstruída- sem

139
Fig. 303. Reco11stru~do da i>omus Aurea de Nero e dt

corrigir seu traçado Irregular- e defendida_por novos aquedutos, as margens do rio, e estabelece
.Jl)uros de pedras esquadradas, que leva por tradição o diVisão da cidade em 14 regiões. rwr1ueumltllllll
nome de S'érvio Túfiõ. Compreende o Avcntino, o Capi· tervenções públicas, desenvolve-se a
tólio e uma parte do planalto ao norte do Quirinal, e da, que aprovei ta o pouco espaço conoedido
ocupa uma área de 426 hectares, bem maior que a de de muitos andares, as insulae destinadas à
Atenas. Deste modo, do século IV a .C. em diante, Ro· mais pobre. Roma, por volta de 5 a.C., chega
ma atinge a organização de uma grande cidade: a meio milhão de habitantes.
partir de 329, o vale entre o Palatino e o Aventino se Os sucessores de Augusto ampliam o
transforma no Circo Máximo; cm 312 constrói-se o bre o Palatino, realizam o novo
primeiro aqueduto (Cláudio), para reabastecer as zo· dos pretorianos, o Castro Pretório, e
nas mais elevadas; na grande planície entre as colin as maneira desordenada, seu programa
e a l'ns<'ada do Tibre, que é o Campo de Marte reserva· geral. Após o incêndio de 64 d.C., Nero
do ao exército, constroem-se os primeiros edificios: o transformar mais radicalmente a
Circo Flamínio (221 a.C.), o Pórtico de Metelo (1 49 ra si uma nova residência l'xt.r>'l.on1mana.
a.C.), o Teatro de Pompeu (cerca de 50 a.C.). O Foro é Aurea, que ocupa um vasto terreno
embelezado c circundado por basílicas para a vida ao Célio e o Esquilino com um parque
abrigo - a primeira é a Pórcia de 184 a .C.; todas elas edifícios (Fig. 303); organiza a rec1ms1~ç~o
foram destruídas, com exccção da EmJlia, de 179 a.C.; ros destuídos com métodos racionais,
sobre o Capitólio e em quase todas as zonas da cidade possa mudar as grandes linhas do orl~arusrnO)II
são construidos numerosos templos; a margem do Ti· do.
bre, ao pé do Aventino, se lransfonna em e mpório Tácito, que descreve (XV, 43) esta
comercial (Fig. 299). dá uma idéia das condições da cidade neste
Passando da república ao império, as interven·
ções da construção se tomam cada vez mais grandio·
A cidade nào foi construlda de modo de8oontlnuo
sas, e entram em conflito com a anterior organização ma ordem, mas foi
da cidade: ora, para dar espaço aos novos arranjos, é ruas, limitou·se
preciso destruir aquilo que existia antes. adrclõfiiU"'m·se i;iirtfo5fiffii1iifrii~~j~~hãd~ll!]
Júlio César amplia o Foro Romano com a baslli· Nero prometeu estes a suas
ãreas limpas aos donos. Acrescentou prêmioo
ca Júlia e com a construção do novo Foro de César rias d08 cidadàoe e doe patrimónios
mais ao norte, demolindo um velho bairro aos pés do dentro dos quais, conatruldas as domu.s e..,,.,..,..,.~.
Capitólio (a área foi adquirida ao preço de 100 milhões ao premio. Para descam!gar os entulhoe
de sestércios). Um programa não realizado deveria ostienses; os navios que traziam o trigo pelo
partir carregados de entulhos; os edi.flcios em determillll~
desviar o Tibre na base das colinas da margem direita, deviam ser construidos sem madeirame, com
deslocar o Campo de Marte sobre o Vaticano e csten· albana, que é rcfratll.rin ao fogo; estabeleceu
der a cidade a toda a planície do fundo do vale. que a água, interceptada abusivamente pelos paruCUJI.,.\1
com maior abundância e em mais locais
Augusto ocupa, de fato, o Campo de Marte com deviam ter paredes comuns, mas cada um
uma série de edificios, o Teatro de Marcelo, as Tennas de Estas providêncill8, tomadll8 por motivos
Agripa, o Panteão, o Mausoléu do Imperador, a Ara ram também beleza para a nova cidade.
Pacis; constrói, ao lado do Foro de César, o Foro de acreditasse que a antiga estrutura fosse mail
estreiteza das ruas e a altura das casas davam
Augusto; começa a dispor sobre o Palatino o Paço lmpc. sol: agora, ao contrArio, a amplidão aberta e nlo
ria!; edifica um grande número de templos, organiza os sombra fervia por um insuportável calor.

140
Fig. 304. Retrato de Cipião. o Africano.

141
Os imperadores F1ãvios continuaram a renova- conjunto do Foro Trajano com o mercado
ção iniciada por Nero. Vespasiano manda demolir a do Quirinal. Sobre o Opio manda erigir as
Domus Aurea e na zona quase plana do parque, onde Trajano, nos arredores do Foro manda
existia o lago artificial, começa a construir o grande casa das V estais. Adriano reconstrói o
anfiteatro da cidade, o Coliseu (Figs. 326-329); entre Augusto (Figs. 333-334), constrói o Templo
esta e os Foros constrói o novo Foro da Paz. Domiciano Roma em frente ao Coliseu e seu mausoléu
amplia ainda mais o palãcio sobre o Palatino, que margem do Tibre, com a nova Ponte Hélio.
agora ocupa quase toda a colina, e planeja o Campo de Neste momento, enquanto o império
Marte danificado por um incêndio em 80, construindo geu de sua prosperidade, Roma alcança o
um novo grupo de edifícios monumentais ao redor de mento mãximo, e uma organização
um novo estâdio (que se tomarâ mais tarde a Praça coerente e definitiva (Fig. 307). Nos
Navona). públicos, feitos com a contribuição dos
Trajano manda aplainar a depressão entre o Qui· tas do império, é respeitado o equillbrio
rinal e o Capitólio que separava as duas zonas monu- ras arquitetônicas e os acabamentos esc:ulpidoe
mentais dos Foros· e do Campo de Marte, e constrói tados, como nos modelos gregos. Em
nesta posição-chave um novo centro clvico, o grande mentos de celebração - a Ara Pacis de

figs. JOõ-306. O centro monumental de Roma, como é hoje e como


foi reconstruido""'" modelo plástico de 1939. J;m primeiro plano. o
Circo Máximo, o Palatino (onde chega o Aqueduto de Cláudio) e o
Coliseu; atrás, os Foros, o Capitólio e a uma do Campo de Marte.

142
as colunas honorárias de Traja no e de ordens arquitetônicas e as esculturas são executadas
(Figs. 318-324 e 331) - os frisos esculpi- de maneira sumária, ou então abeberadas de outros
têm uma importância determinante, e monll.(llentos mais antigos (por exemplo, no Arco de
história rica de significados. Mas todo Constantino, Fig.337); esculturas e pinturas se contra-
uma cena fechada e independente, com um põem à arquitetura, como peças de decoração indepen·
finito em si próprio:..a cidade é o conjunto dentes: a continuidade das formas plásticas fixada
destacados, e para seu própno benefi· pelos gregos se perdeu definitivamente.
· cobre Úm Depois de Constantino - que transfere a capital
18~=~~~~~~~.~~a forma ii:ãtural do para Bizãncio - não se fazem em Roma outras gran-
~ longe. des obras públicas; os últimos imperadores publicam
i1D!peraetor•eS"'se~:urn:u;s enriquecem este qua- uma série de editos para conseguir a conservação dos
intervenções. Os Severos dão forma monumentos existentes. Honório manda dobrar a altu-
Imperial no Palatino, completan- ra dos muros de Aureliano, que têm condições de defen-
ilnnlectiva em direção do Circo Máximo e em der Roma nos assédios até nos tempos modernos. En-
· as Termas de Caracala na embo· trementes, estão surgindo na periferia da capital as
e a Ponte Aurélio sobre o Tibre grandes igrejas da religião cristã, reconhecida em 313
'OIIti!ISiJcto).No século III, a atividade de edifica- d.C.
se costroem outras importantes Até o século II d.C., Roma é uma "cidade aberta",
os muros de Aureliano (270-275 d.C.), que cresce~ ocupa uma supéfflCle caaa vez maior, sem
Diocleciano (283-305 d.C.), as Termas e a ~sidade de se defender cÕm um cinturão de
Constantino. lJ1 ut:os. As 14 regiões augustas permanecem a base de
dltimas obras é rompido o equilibrio clãs- seu ordenamento administrativo, mas seus limites ex-
forma geral da construção e os detalhes; os ternos variam continuamente: o limite alfandegário é
ambientes em arco são construídos com uma fixado mil passos para além dos últimos edifícios, e
cada vez mais segura e avançada, mas as compreende, no momento do desenvolvimento máxi-

143
. -~

Fig. 307. Planta de Roma imperial.

ROMA. Planta dá cidade antiga: PORTAS: l) Porta Sanquali•; 2) Porta QuirinaHe-; 3) Porta Portuen.e: 50) Porte. Aurelia: 51) Porta Septimiana. MOINUMBiill'OII
Porta Collina: 4) PorU Vimin&lit; 5) Port.e. FAquilint~.; 6) Po·rta Culimont.en•~ 7) Porte PREENDJDOS ENTRE AS DUAS MURA~HAS:
Qucrquttule.ne.; 8) PorU. Capena; 9) Porta Naevia; 10) Porta Raudueculan&; 11) Porta Gal bana.; 54) Horrea Lolliana; 66) Sepulcro dOíl
L8vunalit; 12) Porta Trigemina. MONUMENTOS DOS MUROS INTERNOS: 13)
Templum lovie; 14) Arx; 15) Fortunae et M.nrit Matutae; 16) Ara Ma.xima;; 17) Circo Domu1
ni; Ulterllli'IONm;
61) Nin!eu; 62) Campu.t-Cohortium? ..
58) Anfiteatro Cu~:"~;·:·;~:;~~~;~ê::~~~~;~~=;;;
~1llximo; 18) Ttmplum Cererit; 19) Templum Lunae; 20) Templum Mlnervae; 21) Tem· Veneria Eridinae; &5) Ma utolf:u de Augutto; 66) Ara Paât;
plum Iunonit Reginu; 22)Tennu de Otcio; 23) Templum Oint~~~ 24) Oomue et thennae Solit Aureliani (?); 69) Ttmplum Divi Hadriani; 70) l.eum;
Surae: 2S)Tem]:llum Bonu l>t-8e; 26) Septizonium Stveri; 27)Templum Divi Claudii; 28) Agrippae; 73) Pantheon: 74) Thenntt.e Ntroniant~e; 75) Ett6dio.;
Areut Conetantini; 29) Amphiteatrum: 30) I..udut Magnut: 31) Termu d e Tito; 32) 77) Porticu• Pompeio.ne.; 78) Circu• Flaminiut; 79) Teatro de
Tennae de 1're.,iano; 33) Jardint de Mecenu com eudilOrium; 34) Arco de Galieno; 35) OtAvia; 81) Teatro de Marcelo: 82) Mautoléu de AdriMo: 83) Circo
Templo de Juno Lucina; 36) Termat de Diocleciano: 31) Ttmplum Fortunu; 38)TermM PONTE-S. 84) Pona Aeliut: 85) Pont Neronianue.; 86) Pone A.rriHM:
de Cortjt8ntino. PORTAS DOS MUROS EXTERNOS: 39) Port• f1e.miniea; 40) Porta identificada; 88) Pont Fabriciu.e; 89) Pona Ca.Htiue (Grat.iani); 00) P0111
Pinc:ia.ne.; 41) Pon. Nomentana; 42) Port.e~ Tibu.rtine; 43) Porta Atinaria; 44) Port.ft. Pone Sublic:iue; 92) Pon• Probi (nleod.o.ü).
Metronia; 4 ~) Porta L&tina; 46) Porta Apia; 4 7) Porta Ardeati na: 48) Porta O.tienu: 49)

mo, uma área de cerca de 2.000 hectares. Os muros de midades de Tívoli, construida por Adriano, e
Aureliano - como os construídos no mesmo período outras; Figs. 338-341); as fitas dàs vias cor111w111W
em tomo das cidades da Gália ameaçadas pelos ger- circundadas por s•.rnll<cros
manos-encerram somente o núcleo principal da cida- - res__e des..Qortivas, como se
de: 1.386 hectares. Os campos vizinhos são ocupados correr a VlãApia.
pelas grandes vilas suburbanas (a imperial nas proxi-

144
monumental da cidcule; con(ront<Ar com 0 8 fi~t:;·.
146
A 010110 orqut016gico do cmtro de Roma com11 é hoje,
grondts ruas abertas 110 tempo do Fascrsmo.

147
BOARIUM

CIRCVS MAXIM VS

ri~:. :1/:1. l'l<wtc• dos edifício.< ('.<NI!'ados sobre o Monte !'a/atino.

ROMA. l'lenta dot fditlcio3 imperiftilldo PWM•no; t) Atde-sCMtorie: 2)Aedu Vtt~tht. 3) 1-;dinc:ios de idade domt<:Hmu, 30) PuldciOo dc:NJ l-1tlviol: a} ba.Ui(l; b)
Atrium Vtl!lttte: •I) Ve.tibulum l>omuM Au~ue. 6) Arcu., Tili: 6) Aedtll lovi1 SuuoriM, 7) hm\rio: d) peri8t!lio; C') rul\ftut t b3nho8; f) Ulblino; ít'·il (ont.et; '
Arcutt Cont~tantini; 81C•idR Bubulft: 9) J)or11.' Mugonia; 10) Aedts Vitloritlt; I t) Mun111 B•bliot«all; 32) Domull 1\u~uetnna. Andar 'inferior:~•·b)tablino:
"Rornuh"; 12) /nluic( de 1dad~ 1mpenal, 13) Ara do deu• dH(X)nhH"ido; 14) StpuiC"ro ~ August3na. Andnr f!Ut)t'riOr t) ptri8t1liOo e
Nffiot dt 1dRdP árNliea:; lá) Ciat~rna e muro• dt 1dAdt Artaiea: 16) Ciettrna 1Mio1, 17)
T«-mplo dll M•tt-r Mt~~~n~ 18) ed Auaurator.um. 19)Cllu de Augus-1o (dita de IJ\'Ia);
ptnltlho, b)t'a.tuna e p6rt1<.'0; 20) -JA('u•fd•h•• atque •mgulari&''; 2l)Atdftl Apolhm•;
•> St11mo
1m~rial no Ctrro ~tllx1mo; ~) 1-;etâdio ou
36) Termas de Stvtr« 37)AhcerCH
Oreo ~~~imo; 39) ln•~o~1at e 4(t

11;.:~:~~~.:i!:'~i~~~;H~~~~~~~=
221 BaM dt opu• u)()trtum. 23)C"NU dt td•dt rtpubbC'&na; 24) Palkio de'T\bfno;a) ttno
«ntralattrT-.do, Klacadu d1ngadu para Ot'flptop6ruco;d)nvanum,f')apowntotck 1mptri.al:
tmperial; -4~46) PartdOftl
42") :O.:inftu
I'U..rda. n .ada du"ig~da para o di"UI Vtrtona~. 2:.;) elic.-f.K'H ao lonJCO do c-linu 49) $c-hola doe arauc.o.
V1nonat. 26J Hvt.nN do P$16rio dt CaliJ(Uitt.. '2'7) Hu1ne• d• Oomu• Comrnoch•na. 2-tl) e•um; S2) l..uptn::al,
C.,ptop6rbeo d~ Nfi'O: a) brato tran•\tr..at. b) braço a.d1cionado pt101 l-1tW••.-.. 29)

148·
.'J/4. A lOna elo Campo d(~ j\far/(\ rl'con..lruula •·m pltl ...lu:" •.,
1-'t).(•
HJ:f9: cê-se ao centro o Pcznlrào. â t•sqm•rda um o pari'' dtJ t•,..uulw d1·
/)ormcuuw (qut• ,.,,.('·"fmnd,. á Prtl('n .\'m ·,nwl t', fw fundO. ti Cf•ntro
mo,wmetal.

149
Fig. 315. A zo,o do:) F'oro:,;t•m ptlfW'Ifop/n,o(' Caplfólio. á direita o
Palatirro, ao fundo o Col1st•u ('a:-~ "/l•rmc~~ df• Trtr)lltJO.

150
-------------~-~00------------~
1000'"

······p~"
iKJIT
..... J t[·. .·w

LJ~

fi~. ~16. Quadro de ,,;· • . .


sellwntes. em ordem cron:~ógd,o>
ca. -~ .
... "".gu1a•
ed•flcws ilustrados n•s

151
KA - Kk
IIJ'

~..J
-~.

··---~-=·-

Figs_ 317·3/9_ O arco de Tito. Vrsta. prospecto e dtse••ho•


a.rQuitet.6nica.

FiKs- 320-321. Os dois relevos internos do arco dr


Iam o triunfo do imperador deJXJIS da conqwsta de
d.C.: os tro{~us tomados nu fl!mplo e o carro do imJ)frodor

152
f'l[(.•125. Pla11ta do Co/1seu 172-80 d.C.).
A. a nh~) da pri~J~ttira ordtm. itt.o t. no chiO.
a• nh'tl da Mg-..ndo ordem.
C. • nh•tl da ttrctna ordtm
1>. a n\vtl da qu.art.a Otdtm

155
f'i).!s. :l;!(;.,'J:l/'l. O ('olí,.wu. Um<rnux-da di! Oordiatw 11/ qui' rt?presen,.
tu u."l JOJ..!O., 110 an{tfeatro; o t'.\'f('flOr do ColiSl'll como~ Ju,je c como
i'm nct AntlJ.Widtl<ff•, _..,·cwunclo um pllí.•ilico cil' /9,19.

f'iJ.!. :129. A.s tllirl(t:. do ColiM'll tW mlcio ch•ste século. vistas do


campanárú1 de Santa FrcuH'f'Stl Homantl.

156
tktolhes do Foro Trajano: o arranjo do dtsnlvel
.,,_,,...1110, com os Mercados de Trajano. e a coluna
100-112 d.C.J.

157
Fig. 332. Axonometria da sala em ab6bada que se encontra noniuel
superior dos Mercados de Tra;ano (a parte externa se vê na Fig.
33()); funcionaua- e funciona tiinda- como mercado coberto, com
dois andares de lojas.

Fig. 333. Axonometr~a e secçdo do Pantedo (o p6rtico é da época de


Augusto, a sala redond4 é do tempo de Adriano, cerca de 118·128
d.C.); a cúpulo. tem 43,50 metros de di6metro.
____....
.___ _,

158
F1g. 335. Um fragmento da forma urbis: uma gra11di' planta di'
mâ rmon• de Roma grat·ada entn• 20:1 r 211 d.C.. tJâ épo~a do...
•5f•t-f'f'OS.
F•g. 336. Uma inscriçdo de Sétimo Seuera. no Mwseu de Latrdo.

..
. IMP ACAES·DIVI·
MANTO N I NHU~GERMANIC
~· SARMATICI·FILIVS·DIV 1:
I COMMODI~FRAT~
. DIV.tANTON1N}PllNEPOSDIVHlADRIA
PRONEPOIDlVlTRAIANHARTHICI ,
ABNE.POSDIVJ:NIRVAE•ADNEPOS·
SEPTIMIYS5. ·
>-

~~~~~r ·.1
' TR ..:POJ:·Illl•lMP·VITJ• CoS·l H ·P· ·
· COLVMNAMVIl·TEMPESTATE
1: CONFRACTAMRESTITYIT· I
-.:-- / ,------.-
159
f"ig. ."I.J7. O"''"" lmm{al tlc Ccm.<lanlmo /,"1/.; ti.C.J.

L60
• I I I III
'~~r ~H,J!1

Frl(s. JJ8.;J:J9. Uma das /(randl's t•i/as nos arrt•dores de Roma. a Vila
dos 51'11' Baixos. nos vizinha11ças da Vta /.alma (Ct'rca di' /<10·161)
d.C.J. com o grande jardim em patamares.

161
1. ttatro "'.crt~eo''; 2. run(('u, ~tu~w ttmplodto Vtnuí1;3. "pHirMtrrt"; 'l. "valtdoeTe-mpe"; Fik. .'J./0. Vila Adriww p(•rtocl<• Tieo/i.a m•inrd•u "'.!••'•
~~>:~::~~-~=~~:~~~~~~;- !·~b'1;~~~4~ ;~('tll'!'~;n,~·;:~i~"J,',i::r;: ~~:o~:~!; ~~·~:~r~::d~
9
(cerca de t2:j. J:J:j d. C.J.
i,lh(lo t''ttlllttO ml;lr1tuno"); 13. •t1h1 d1U1 d011 fil6.toofo.; 14 termfi.IJ com ht'iiMo,nrnul; 15.
criptop6rhco: 16. t~;t lll de trh ntwe., 17 b•bl,ot«n pnvado:, IS..Ptrttlllio ''de pa !&cio"; 19.
tricllnio tttlval, 20 n,n(t\1 "dt paiAc-~"; 21 tl!lll' dOtt p1larHd6nC'OI; 22. ptt~("a de ouro: 23.
"quartel doa "uard"t~": 24 q\llldrlp6rti('O com VIYtU'O; ~ mn(w, jA como est ádio~ 26.
"Pkdo"; 27. td•fk10 «1m trN htdt~t~t; 'l.H "nom quttrtmho."; '29 vtt~tibulo; 30. (ff'ttndH
ttrm~ 31. pequtna• term&~t, 3~ "ptl.ltCOn\lim"; 33 Cat~opo; 34 vHtSbulo d:.lt ''Acl'-dt-
m•e."; 3.>. p1w11hio do "Andtm•a"o 36 odron. 37. torrt- de Ro«abruna. 3S.. mutt\11. f'IJ.: . .';.tI. \''l~Uz aéf('O da Vila Adria11a. 'lOS pn.>xirnid•!d41
Fig. 342. Um fragmento d4 fonna urbis, oTUk se uhm (d esq!U!rda)
"domusu uma ao lado da outra.
trt-;S

viveram, até o século III d.C., de cie de 300400 metros quadrados e compreendem um
de habitantes; a maior"'-!:!!~~-:· grande número de cómodos iguais, que olham para o
exterior com janelas e balcões; o~
destinados às lojas (tabernae) o~bitações mrus
nobres (que são 1gualmente chamadas de domus); os
ãfldares superiores são divididos em aiLai"4Unentos (~·
nacula) de vãhos làmatilios par~classes m(l@_as e
inferiores. Os exemplos escavaaos em Óstia (Figs. 374-
376) dão wna idéia bastante precisa dessas casas.
As insulae nasceram por volta do século IV a.C.,
para hospedar dentro dos muros sérvios uma p"opula·
ção crescente, e se tornaram cada vez mais altas, até
que Augusto estabelece o limite máximo de 21 metros,
isto é, de 6 a 7 andares, e mais tarde, Trajano fixa o
limite em 18 metros, isto é, de 5 a 6 andares. Os muros
são de madeira: portanto, desaÕ'lfill com1'ãcilidade. Os

--
cenacula nã 'm água corren (que S}lega..soment.e
aos locais do ardar rrco ; não têm privadas (os habi-

163
tantes esvaziam seus urinóis num
- dolium- no patamar das escadas,
muitos escritores, diretamente P"!~..JalllõO-..
não têm aquecimento nem cnam1m4~
nliârõu para se defender dÕ frio são
portáteis, que aumentam os perigos de
janelas não têm vidra~, mas
persianas de madeira, que excluem
ar e a luz. Apes;aa•rr.~d~e~s~ta~s0~~~~~!!?1~
capital são tullll:~•ul)'.;
César por uma domus
ano, e para o pior cenaculum, pelo
cios: a importância necessária para
priedade agrlcola no interior. As casas
por empresários privados, que fazem
todas as maneiras, com os terrenos e
todos se lamentam por isso, desde os
no. O Estado impõe proibições e reg:ula.me~lla
não consegue corrigir as dificuldades da
ria dos cidadãos.

Figa. 343·346. Fragmento• dt1 forma urbia com


lae, e dois elemento• do equipamento m6utl
/anter/Ul e um fogareiro part4tü.

164
.•. ...
,.. \

Figs. 347·351. Plantas de Pompéia. com a mcNC'Cl('<iO dos principais


edi{lcios escavados até 1958. A cidadr - <·omposta J><Jr um núcleo
mais antigo (lracejaclo no clet,·enJw {)mbaixo). e por uma amplia\àO
hipochimica do século V a.C.- foi de.<trulda í'm 79 d.C. por uma
erupçiio do Vesúvio. que a sepultou soh uma ("amadatlt• cinzas: as
escat'tl("<ies. iniciadas em 1748. trouxert1m à luz ,·diflêiosr mobllias,
que ciclo uma idéia exala da vida d<1 dtiadf' no momcwto da destrui·
('àu. A direita. uma vista das escaea('ôrs tia Porta V(•Súl'iO e as
fi~-turas J>elri{icadas de dois rorJKJS encontrados na c·a..tz tio CriptO·
pórtico.

165
I entrada.. 'l fC~ro lnllnKular. 3. pl.lltlltrtl," con11trucáo l>fltt
quartel dos J.tl&dtadorea.; S. templo dt 7A"u• ~1 t'lhC'h iO.. 9
cidade.

Figs. 352-353. Pompéia. Piem ta d(j 1-'úro Trwt~flulor.


odoon, e uisla aén,>a; em prmu•tm plo.tiU, u Poro
édi/ícios modernos d" .;;;('ft'f('tJ para t1 zona arqurol6gJce.

166
Fig. 356. Pompéia, um tru/10 da Vta da Abundância.

Fig. 3S7. Um bairro de Pom~ia, logo ao norte


(com a planta da Fig. 349).

168
t
1 Jtt~rdun
2. wbkulo
3. tt1c1tn1o
4, otic1na
5..~(' ....

. . d esquerda,
• 58-361. P I0 nlas deta e a Casa
quatr<> as de
casdos Pompé~a'
Verii. d d~rc•'ta a casa de
a Casa3 das Bodas
F•gs. . I e a de Pra C'rurgido.
Casado '
Pinório Cena

169
Fig. 362. Um a{l"f!SCO prOL'('fJh•n/(• {/,• Pomp(~ta. COIIM"r«'allo no .\lu
seu Nacional de Nápoles.

170
THERMAE
M. CRASSI FRUGIJ
AQUA . MARINA . ET.
AQUA . DULCJ . JANUARJUS

IN . PRAEDIS .
C . LEGIANNI . VERJ
BALNEUM . MORE . URBICO.
OM IA. COMMODA. PRA

lN PRA EDIS. JUUAE. S. P . F.


LOCANTUR
BALNEUM . VENEREUM. fT
NONGENTUM . PERGULAE
CENACULA . EX . IDIBUS.
PRIOR IS . IN . IDUS .
SEXTAS. ANNOS.
QUINQUE.
S.Q.D.l.E.N.C.

Fig. 365. O prelum (pretl$0) 11a ""la umdna da Vila dcs ilfisthws. fiJ:. :166. Três inscrições. com a pubftctdad~ dos
PumMia.

172
\

u.P

J- 1;.: iii i 1'/un/(1 df'lh·rt·ulanu.... ,pultmlu Juntum, ·nl• '""' I'""' I,. •
,,..,, rrupc:ti11 de í!l t/_( •

:O..tot·lu.~H( .t'>.ttl•tTt·.;tr,:!ll(".t..,.t!".!Olt.l<"õt,r.l~4 ,,.,,,J,,(,rlll"l'•rt.al \'ltruulll.t t C ••


HUCI.lLASO Planca kfrJI dJ-!i f-.,t\,l\,6-i-.. lltn•ul.t I tC -••·• rl••« ;.-n~oo.l• ('.••·•
clu s,,l.Lt~ ru·J(~• ~11 (',~,.,.,, tJ.,.; l)..u....\tn"Jo. .:.•• Tt·rm. .,. VIl"'""'·' .;,11 ·••·• do f H 1
•NJoc3)Cul M Anlhdft. lllln~tul.t -'1 (',u••• ti" T.thi•IUI' tlt• \1tdt·•r.. " ( ··•••• d·•
~ fiCaM di Htrmade-btOnu. 7J ('.t.,t 11•• AUwracut·. ~. ~-u-••1 ..• I\ m•ulu 'I• ln., ui.• •ont·nt.th" ;t':'1 Tt•rm.l .. lOUhurh.tn ..... l"l t ·,,... , d.1 C••·m.t ,l'.11 C ·••u jj • l(o h•\" do
:.u.uco., lOICNidOTtt'H~. tll('tl~.\ d11 Att111th·n1..... un1, l:tlt ".t•·~«ltiM \'t·;ul••"' Td··fu tn ..ul.ttlrlt'nlolli~ ~t"'.·und•• :SI I) v •.,.,uhu!ud•• P.t!•.,.lr••.H l'.uo ..tr.t i:.lll'~·n I
131 k.IIICrl.U)Atadt ~t :-õontoO.tlbo. Vm..uln l;tl('.t~-ttlulhn·ntt·nú.rw,lbl("ttfl;_t ~;lt;ltl<>. . U 1 Auk• Ab..,d.lt~t :i.) I Aul,t Sul)4·no~r
•s.cuudt An(&lntt, 171 Cüll c1,, AtrL•) l'Hr1r\tto, 1~1 {';,.,.,,,j,,
Moh1h1t P11 C'a11.t tln

'-··...
Ao contrário, o Estado intervém mais
mente, com autoridade e com meios
construir c manter eficientes os
A rede de estradas é o serviço
compreende 85 quilómetros, e é co1mJ!~~~
tuosas, quase sempre
iifi,(117l, acessiveissom!'nte ao!)l:redCS1t'l'él~8ae
de pode passar um carro de cade vez; as
carros podem cruzar-se ou ultrapassar-se.
apenas duas na parte central da cidade-
e a Via Nova que flanqueiam o Foro-e
periferia (a Ápia, a Flamínia, a Osticnse,
Latina etc.); segundo as leis das Doze
devem ter uma largura máxima de
alguns casos chegam a 6,50 metros.
da cidade, a lei prescreve que as ruas
menos 2,90 metros de largura, para que as
sam ter balcões nos andares superiores.
dimensionada quando Roma era menor,
ficiente para a metrópole de um muna••ue
também porque não existe um
za e de iluminação notuma.
disciplilla severamente o uso
sejam limpas pelos proprietários da:sCllsaSaJra
tes, e prolbe a circulação dos carros desde
até o pôr-do-sol, salvo os dos empresários
ção. Assim os carros devem mover-se à
do a cidade de ruídos.
Os esgotos, iniciados no século VI
continuamente amJ>Iiados e ·
galerias podem passar ~té doi~H:arros.de
lado, e Agripa pôde inspecionar de barco
-Destinam-se a recolher as da
excesso dos-aquOOütos, as aesClullras
blicos e de algumas das domrrs
muitos outros edifícios, por demais atatStaiUOIIIC!
tos, descarregam seus refugos nos poços
lixeiras abertas, que nunca foram de todo
Os 13 aquedutos trazem a Roma,
vizinhos, mais de um bilhão de metro$
por dia. Sob a República, a água é
usos públicos, e somente o excedente
aqua caduca - pode set· cedido aos nartic~ul.!ll'l
tarde, sob o Império, alguns pr<lprieUíriciS
como concessão - gratuitamente
detenninado fluxo de água para as
I Aqua App)a o restante serve para alimentar
2. Anao Vetu• cas: as fontes c as latrinas
3. ÂQ\Il' ~!IH~I(II
• Aqua Tepula bairros, e as grandes tennas
$.. ACl\1• Juha
6. Aqua V1rf(O
das cidades. A abundância c a j:,'r<ln<lio:sid:ade,dcl
7. Aqult Al1ae1ma
8 Aqua Clautht.
ços higiênicos públicos compensa a
9 Anao Sovu• vados na maior parte das casas (Figs.
10. Arn~t Ntromam
11. Aqul' Tr~uDnl.'
1'2 Aquae M•mn
13 ACl•• An\otunana O Estado fornece entào, em ampla
res e distrações, que deste modo se
serviços públicos para os cidadãos
150.000 pessoas são alimentadas às
fil(s. 368-369. Os jardi11s tlr Ronw: os aq111•duto• de Roma cas. c nos nu: 1erosos dias festivos-

)74
~-'•11'· :170-.171 As Tttrra~ d" Dwd~~1a1w !FII/. ;j('7, 11. 6.'11; pla11ta"
t·t~ta da~ ruínas aluais.

dias dt• festa ao ano -toda a pupula(·itu (• tar. t• o nnlitt•atro Cnsu·pns1•); as IWlllll[tquias parn os
paltuitam,~nllc a todo o tipo de espctiwulm<. t·ombales navais (as clt• Au~ t• dt• -Trajan-;; ora
llll181l~·um•nltls cheg-am por mar ati• a foz dt•sapnn.>Cidas. na marg-t•m dirt•Jta do Tibre).
construir uma cidade portuária,
dai são transportados em navios Estes f...>'l·andes edilicios dt•monstram a enormida-
onde existe, na Ilha Tiberina, um de dos meios à disposiçúo da autoridade 1>llblica: di-
de descmbarcadouros e de dt•púsi nlwiro. materiais e milo-dt'·ohrn st•rvil tr;~zida de todos
somente o acúmulo das ânforas jo~.radas os pontos do im pério. A ht•j.(<'monia políticn da cidade
uso produziu um morro, o Testaccio (Fi~.rs. traz a Homa uma cpnct•ntra(·úo eada vez maior de
homens, c fornece os instrumt•ntos para fazê-la funcio-
os espctáculos constroem-se os cin·ill:IJo nar. Esta conccntn•<·úo produ r. uma s(•rie de problemas
o Circo Máximo. ocupa 'todo o valt• (para alojar as pessoas, para fazt•r eirl'ular os homens
c o Aventino e pode conter ('erca ele t' os \'t'ÍCulos pelas ruas, par;t s<• d(•sfazer dos refugos,
os teatros (os de Balbo. d<' I\larct•lo t' t(ml('('t•r úg-ua. vh·cl·cs <' tamh(•m divertimentos coleti-
com um numero de assentos que varia ,·os) e todos os recursos tix·nkos s<io solicitados ao
21.000); os anfiteatros pm·a ~:iiog-os dos múximo para resol\'i'-los. :\l;~s <1 t<•t'nolo~.ria antiga nàf
(o ColiselT,"tôm ;\0.000 lugares para scn- prn~.rride continuament<• como a moderna. Deste mo-

175
Fi~:. 373. O sistema portuário de Romoantiga,d{w®
~'imnicino é o eona/ qur li!:ouo os dois portos

Fig. 37~. Os portos d<• Cláudio e de Trajano, com


armazétts em torno.

do, chcl(a·sc a um limite: a cidade se detém a um certo em cidade moderna. Rot:.,a moderna romeçaa
tamanho c a um certo grau de organização. uma cidade de fortuna nas zonas livres
O esforço tecnológico para fazer funcionar esta antiga, entre as ruínas dos grandes
grande cidade depende, naturalmente, da estabilidade -o Teatro de Marcelo, o Panteão, o
política do im1>ério, e falta quando o império entra cm Estádio de Domiciano, o Mausoléu de
crise. A interrupção dos abastecimentos navais em ainda emergem por entre as casas. O
Óstia obriga grande parte da população a sair de Ro· mental antigo - zona dÕs foros, do
ma para voltar aos campos; o desmoronamento elos Palatino e do Coliseu - fica à margem
aquedutos - por falta ele ma nutenção ou por sabota· por se encontrar no coração da zona
gens elos exércitos sitiantes- torna inabitável toda a no início. As grandes termas que
zona montanhosa da cidade, isto é, o núcleo primitivo · mais populosos - as de Caracala e de
de Roma, e os habitantes elevem concentrar-se nas também as grandes basílicas cristãs
planícies situadas nos dois lados do Tibre,- no Cam- século IV d.C. na perifetia - São Paulo,
po de Marte e em 'l'l·asteverc - onde podem retirar São João. Santa Maria Maior -
água do rio ou dos poços. da cidade. numa paisagem desabitada.
Começa assim a transformação da cidade an liga lianos dão a volta nas colinas, por entre os

1.76
__j
I. muroa: 2. Porta Ronuma; 3. Porta Laurent in a: 4. Porta Marina; 5. decu.manus
ma.ximCt$; 6. cardo mox•"mu.f; 7. foro tendo ao norte o Capitolium. M 8ul o templo dt
Roma e de Augusto: 8. baBilica; 9. cQria: 10. terma• do Coro: 11. teatro e anterior~plana­
dndtu Corporà('Õt"&com o "te:mplodeCere&'" ao centro; 12.. termatde Nf!'t uno; ll.qunrtel
doa ~ardas: 14. horteo (celeirot): 1~. horreo de HorUn8ium: 16. fede do&AURU8Ut.it: 17.
campo da Magna Mater; 18. templo r edondo. talvez um Augueteum: 19. mac~llum; 20.
ba&U iea criatà; 21. Mcho/a do Traja no: 22. b&irro daa calMem jardim; 23. horrta Ep.og:at·
hiano et Epaphroditiana: 24. "polécio i mperial": 25. termoe: 26. tepulcrfuio: 27. via dos
sepulcros: ZS. aqueduto: 29. muHu.

177
Fiu..176. Vista aérea lll'fal dt• Ostia.

178
FiJ!. ;]77. Ostia. Vista al'rl'a da parlt• n•ntra/ da ctdadt•. (tlflHII'S$ada
J)t!lo dccumanus mnxinnas; (lJn prinwiro plano, o teatro.

179
Aentradtl M mitreu (nntuõrio do deu• MitrA)
B lojaa p 1)0(0
C pAlio Ktricllnio
1-'"goto. Squllrtf;Nt
!.latrina T lcablmum

Figs. 378·381. Plantas e reconstruçoes de


óstia.

180
Figs. 382·383. O cais {luuial de Roma, abaixo da Ilha Tiberin•
com o conjunto dos armazéns públicos. O acúmulo das dn{orG
descartada~ produ:tiu o MnnfP 'fpçfnrrin, (]llf' rmdP /ler ui.5k> r.
plástico abruxo, de meados do século XIX.
Fig. 385. MonumMtos e uida cotidiana: c•s loJuS do carvoeiro e do
8eleiro nos [órnices do Teatro de Marcelo, antes das demolições do
~rlodo fascista.

183
Desde a Alta Idade Média até 1870, Roma...se Termas de Diocleciano, o Augusteu, o Teatro de Marce
tQ&DSÍOuna...§§ enriquece de ~vos e esplêndÍ<l~fi­ lo. Os muros aurelianos são cercados, por dentro e~
cios, mas permanece ~uma cidãae meoo~lhida fora, pelos edificios modernos, e ao longo de seu
n'üm canto do território onde antes surgia a capital do tro correm as ruas de tráfego veloz.
mundo antigo. O diálogo entre esta cidade viva e a O funcionamento do império romano~"''""'"',.
lembrança esmagadora da cidade morta anterior de- série de intervenções sobre o território,
termina seu caráter e seu fascinio. Roma moderna, de pela novidade das técnicas, mas por
fato, não pode tomar-se a continuação de Roma clássi- regular e uniforme em larguíssima escala. uv•ou••o,.,.
ca -como acreditaram por um instante os Papas e os sua Viagem à Itália, encontra estes
artistas da Renascença, deSisto IV a Clemente VII. A as estradas, as pontes, os aquedutos-e os "nrnru:•r~~•
realidade não confirma o mito da Cidade Eterna cria- "urna segunda natureza, que opera para fins
do pelos letrados antigos, e ressucitado de tempos em são de fato semelhantes aos objetos naturais
tempos, por retórica ou por cálculo, daquela época em rnanho, pela simplicidade e pela repetição dos
diante. A imagem de Roma fica, ao contrário, como a motivos elementares. Os métodos rmn,t.rnlr.•v•"'
demonstração da morte inevitável de todas as glórias vam do mundo helenístico, com os quais os
deste mundo, da Inveja do Tempo, da Diversidade da entram em contato na Itália Meridional: a
Fortuna, assim como a julgaram Goethe, Leopardi, estrada imPortante e o primeiro aqueduto
Stendhal e tantos outros visitantes dos séculos XVIII e Ápia e a Água Ápia- são cornec~adloscor1ternporaJilll
XIX (Figs. 384-385) mente em 302 a.C. Os romanos selecion
Esta imagem, que se evidenciava até cem anos métodos, e criaram a organização a fim de Ull>w•u._
atrás, deve ser reconstruída hoje com a reflexão, por- por toda a área do império.
que todos os elementos do quadro tradicional - acida- Consideremos os principa_! destes man
de papal, as ruínas da cidade antiga, e território desér- dos.
tico em volta- foram invadidos e desfigurados pelo
enorme desenvolvimento da cidade contemporânea
(Fig. 386). Falaremos ainda das causas e dos caractA?
res de Roma contemporânea. Agora observamos so-
mente que os bairros construídos nos últimos cem anos
-os do século XI.'X dentro dos muros aurelianos, sobre
o Esquilino, o Aventi.no, e os do nosso século, por 10
quilômetros em redor dos muros- não têm qualquer
relação com a continuidade da história urbana, deS<le -....,_
as origens até 1870. As ruínas da cidade antiga e o que
resta da cidade papal- o centro histórico e as vilas-
ainda estão num deserto, habitado porém por três mi-
lhões de pessoas, cheio de automóveis e de edifícios de
dez andares.
A sucessão do cenário tradicional -do campo às
ruínas, e depois aos bairros habitados- pode-se ainda
experimentar ao entrar em Roma pela Via Ápia Anti-
ga, que foi milagrosamente poupada. Percorre-l:le a fita
estreita da via romana, circundada pelas tumbas, e
chega-se à Porta São Sebastião, onde se vê a fr~nte
compacta dos muros aurelianos (mas é preciso esque-
cer as muralhas de casas dos bairros vizinhos, a leste e
a oeste). Entra-se nà cidade, deixando à esquerda as
Termas de Caracala, e chega-se à Porta Capena, onde
se apresenta o Palatino com o Palácio Imperial; à eS-
querda, de flanco, se vê o Circo Máximo, à direita a Via
Triumphalis com o Arco de Constantino, que leva ao
Coliseu.~e RQma antiga o Palatino, -os
..Eorasr o ~ parte~o e do Célio - é hoj;
uma zona arqueológica escavada e cercada, que abre
no centro da cidade uma pausa repóusante, embora
interrompida e perturbada por algumas inúteis alame-
das de tráfego. Os outros principais monumentos an ti-
gos são incorporados à cidade - o Panteão, o Castelo Fig. 386. Roma modema. No centro, a cidade histórica
de Santo Angelo-, ou formam outros pequenos recin- Aurelianos, ao redcros bairros modemos, aol'omlod<lS~InU.
tos arql'eológícos; os templos c!-o Largo Argentina, as consulares (escala I :200.000).

184
AS ESTRADAS E AS PONTES gos (como o da Via Ápia ao longo dos
nos, com 60 quilômetros); onde existe
A construção das estradas segue pari passu à demais acidentado cortam-se as rochas, de
conquista das provincias; serve para o movimento dos estrada possa correr o mais reta e plana
exércitos, depois para o tráfego comercial_.e as ugpla- Monte Rachado entre Pozzuoli e Cápua;
resromunicações administrativas. F\u-lo onde a Via Flamlnia atravessa o
A estrada repousa sobre um calçamento artificial Pisco Montano de Terracina, cortado por
de pedras batidas (rudus) coberto com saibro cada vez altura a fim deixar passar a Via Ápia
mais fino e revestido por um manto de pedras chatas e o mar); escavam-se galerias (a Gruta
poligonais (gremium) (Fig. 388). A largura é limitada a lago do Avemo e Cuma, com 900 metros
4-6 metros, o bastante para permitir a passagem ~os · por poços de luz).
pedestres (iter) c dos carros (actus); mas o perfill~nwtu- A passagem dos cursos de água exige
dinal isto é, a sucessão das curvas e dos dechves, é ção de numerosas pontes de pedra ou de
tratado de modo a tornar o trânsito mais fácil e mais tas destas pontes ainda estão
rápido. Onde não existem obstáculos naturais são pre- cinco em Roma (Ponte Milvio, Fig.
feridos os traçados retillneos mesmo que bastante lon· Ponte Sisto, e as duas da Ilha Tiberina), as

Pígs. 390-391. A Via Áoia nas proximidades de Roma,f/anqueada


pelos fepulcros, " a Ponú Miluio sobre o Tibre, no inicio da Via
Flamlnia.

186
•obre o Tejo em Akàutoro,

Fig. 393. Um oquHiuto no campo romano.

O aqueduto romano dP. &g6uio, denominado ')>onte do


Flamlnia em Narni e Rimini, a de Ascoli sobre o Tron- cus), com estações secundárias 1m,ur.a.uo1111
to, a ponte de Pedra em Verona. A largura é sempre troca de cavalos) e estações nrincinaii"
limitada- no mâximo 7-8 metros-enquanto existem ra o pernoite, distantes um
exemplos de comprimento considerável (a ponte de sete mutationes intermediárias). O
Mérida na Espanha, com 60 arcadas, chega a quase aos funcionários públicos ê utiliza
800 metros); o vão das arcadas chega a 35 metros na (speculatores), carros leves ou
ponte sobre o Tejo em Alcântara (Fig. 392). dorias. Os particulares podem ""'"""?'••
Na rede de estradas romana funciona, a partir de um serviço postal próprio, com
Augusto, um serviço regular de correio (cursus publi- ou a cavalo.

Fig. 395. O Castellum tkdi$tribu~4o do aq•oe®tiOdtM


co tk 1939.

ç~ 0§...-ac(uedutos, como as estradas, também são Ao longo do percurso e na chegada dos


consideraãos um serviço público; são construidos em tos se encontram os reservatói:íos de decan
t:tJdas 'ln; cidades pelo Estâdo ou pélas administrações nae limariae), onde a agua deposita as
locais para satisfazer os usos coletivos, e apenas secun<' seguida passa pelos tanques de distríbtliciio
dariamente os usos individuais. · Fig. 395) onde é medida passando através
Os romanos utilizam, de preferência, ~ de bronze, e dai às tubulações da cidade,
nasce~ãlluViã1 filtrada; canalizam-na num pedaços de tubos de chumbo (fistulae) com
cond~tãOg;iiãr' (specus) revestido com reboco de média, ou seja, cerca de 3 metros. Para
tijolos em pó (opus signinum) coberto mas passivei de especiais existem reservatórios maiores (a
ser insp~ionado e arejado, com declive o mais cõ'ns- mirável de Miseno, para as necessidades do
tante poss!vel (de 10 a 0,2 por mil, segundo as caraCf.e.. tar, pode conter 12.600 m3).
risticas do percurso) de maneira que a âgua flua livre-
mente (Fig. 39 manos, como os gre~os, conne-
e
cem o uso do sifão o a hca s asos com As obras de arte construidas na provincia
VJr uos1smo mco (no antigo aqueduto e a ri, de mo as pontes de várias orden:; de <~rcadas
134 a.C., se alcança a pressão de 10 atmosferas e foram tos de Terragona e de Segóvia, na l!.Spann:a,
usados eneanamentos de alta resistência; no aqueduto mes na França (Figs. 394 e 398-399) -
de Lião existe um triplice sifão com tubulações de devidas, em certos casos, não a ne•~essidlades
chumbo). Mas preferem que a âgua chegue na cidade a mas à vontade de deixar obras mc•n~1m1~mms:e
pressão reduzida, para não superar o limite de resistên- sionantes; de fato, na Idade Média, ou:anc10!;er~IJDII
cia das tubulações de distribuição; por isso o aqueduto, sível construir manufaturados deste gênero,
quando atravessa um vale, é elevado sobre uma ou ções continuarão a chamâ-las de "pontes do
mais séries da arcadas. considerá-las obras de um poder sobrenatural.

188
Axonometria dD conduto do aqueduto Anio Vetus em

189
Figs. 3911·399. A Pont du Gard ttas proximidades de Nimes, na GdJia
meridional; vista cm perspectivo, prospecto e ·~•·

HlO
Os limites mais importantes dizem respeito às
fronteiras setentrionais do império: o limes germânico
construído além do Reno e do Danúbio por Tibério,
Germânico é Domiéiano, que é antes um caminhá de
defesa ao longo de uma fron~ra aberta (Fig. 402); o
Limes de Adriano, entre a Inglaterra e a Escócia, que é
ao contrário uma fortificação guarnecida (Fig. 400). O
primeiro tem· mais de 500 quilômetros, o segundo cerca
de 110. Vistos dentro do quadro geral, devem ser consi-
derados como complementos artificiais para realizar a
conti.rluidade da fronteira marcada pelos mares, pelo
Reno e pel9 Danúbio; fica assim confirmada a analo-
gia do império com a cidade, do orbe com a urJ.>e. O
império também tem suas estradas, seus muros, seus
serviços em escala geográfica, com·o os da cidade em
escala topográfica. -

Píg. 400. As obras pliblica.s romanas na Britá ma: estradas, canais,


cidades, e o vale de Adriano na fronteira com a &cócia.

Fig. 401. O palácio dos tribunos, noa.ca111pamentocle Xanten (Cas·


Ira Vetera), na Alemanha .

• • • _ Estrada•
..... t:anall

-
• CidadN secundArias
010 liO
o $0
r
100
Lpa"o
• CicladN . i la

200 300 km.

191
~'=o~~no U-96 FiJt. 10:.!. O limes romano na Alemanha. entrt o
CAsi..Ua
eetradas mUltares

Figs. 403404. Os sinais da colonimç4o romana 11a


/wje: o limee romano nas proximidade• de IVelzhe•m. 110
berg, e a centuriatio romana na campanha tmillana.

J92
mado groma (Fig. 405). Os textos ~ ~elacionam com a
ciência augurai etrusca, e com a ~JVlsão do cé~ segun-
do as direções dos pontos card~1s. Mas a onentaçãc;>
dos decumani e dos cardines não segue, normalmente,
os pontos cardeais, e é inclinad~ p~ra aproveitar ~a
melhor maneira à forma dó terntóno. Da zona asstm
dividida, preparava-se uma planta de b;on_ze, da qual
uma cópia permanecia na capital do dJstrJt.o da colô-
está baseada numa grade de estra- nia e outra era enviada para Roma.
(também chamadas/imites): os decu- Os limites, como dissemos, são ao mesmo tempo
à dimensão maior do território ou à fronteiras cadastrais e estradas públicas: realizam as-
os cardines, perpendiculares a estes sim um imponente sistema de vias secundárias, que
e outros têm entre si 20 actus de não tem precedentes no mundo antigo e que garantem
é a unidade de medida agrária, igual a penetração capilar do sistema agrârio, cconõmico e
metros), isto é, uns 700 metros, e determi- administrativo romano.
tantos lotes quadrados chamados centu· O quadriculado de centuriatio romana ainda é
têm a superflcie de 200 jugeri, cerca de 50 perfeitamente legivel em muitas zonas planas do impé-
Cada uma pode ser atribuída a um único rio e sobretudo na Itália Setentrional (Emllia e V&
a 2, a 4 ou a um número maior; num caso neto), nos arredores de F1orença, na Planicie de Cãpua,
de Terracina de 329 a.C.), a 100 proprietá· na Tunisia, na França Meridional (Figs. 404 e 407-408)
De fato, os limites de propriedades, as estradas e os
operação é executada por técnicos especiais, canais continuaram imitando esta trama mesmo de-
ou gromatlci, com um instrumento cha- pois do desaparecimento do sistema agrlcola antigo.

q~ aerv•a para tracar01 almhamentus perpe11d1·


e dos plan08 das c1dades. Ero formada pOr
com cerco de 45 cm de comprimento, OB
quatro (m de prum01: a haste q_u e os suotent~ua
maneira que o centro e"•uuse 11a uert1cal
na pedra.

A centuriatio de Minturno, como tl represenúula no lwro


vele--

19:.1
I Fig. 407. A tabuinhc. n.• 88 li SO do mafXl do ltdlio ®
Geogrdfico Miliku. Vke ~ a cenlllrialio ®
I'IOI'Ú de Imolo.

Fig. 408. O conjunto dos troçaiios da oenturi~4o romano, aind~


,.xistellte na Emliia.

194
l/llllt h<!rii•<UI< romana antiga: a ui/a rústica de Bosco·
A planta. duas uislas do p/4stico e um carro
con.scroodo num Museu de Roma.

/
I. J)Mio
2.~10cW).....
a. &orndariiUfll (quarto dafeit~:~,. do vinho)
4,&_. 6. Lft'mU

195

I

l (,.,.~ "l '"mfll•... :t Ndnt.o MPado: • Ltnn..._ 5 quarwt e.. loiu: 7. uftt..tro; &.
h •m1·•·

fi~.•- I i 1- //.;. A cidade romana em tabuleiro de xadrez. na trat<ulo


tio• \litroido (d~ uma ilu•lral'dode 1536), e 11um exemplo real: S.lches·
ter na Bretanha.
campos Sl' wrnun.tm ciuadcs pcrman~:nLCs, c por outro
lado os co~onos enviados nas centuraticnes são, mui-...
tas vezes, veteranos militares. Outras colônias e cida-
des são, ao contrário, de origem civil, e algumas foram
fundadas antes que os romanos estabelecessem as re-
o caso em que os dois gras para a disposição dos acampamentos. Portanto,
territorial coincidem com os dois eixos as cidades romanas traçadas com um desenho regÚ)ar,
modo, de fato, as estradas rurais que de origem militar ou civil, devem considerar-se unia
da cidade são a continuação das urba· aplicação em escala urbana do método geral da centu-
riatic, isto é, um prosseguimento, simplificado é padro-
o campo militar romano (Fig. 416) é nizado, da prática hipodâmiéa difundida no mundo
da mesma maneira; sabe-se que muitos helenlstico!

197
A diferença de escala toma a grade da cidade xandria, a capital econõmica, com 900
conceptualmente distinta da grade territorial (na cultu- população de 500.000 a 1.000.000 de
ra clássica as diversidades quantitativas importantes longe do milhão da Roma imperial;
se tomam sempre diversidades qualitativas). De fato, hectares e 200.()()0.300.000 habitantes; AntLOQIDII,I
em certos casos, a cidade e o loteamento dos campos menos com o mesmo tamanho.
são feitos ao mesmo tempo, e os eixos das estradas
coincidem entre si; em outros casos, são feitos em tem- As cidades fundadas ex nouo pelos
pos diversOs, e as duas grades podem também ser Itália e na parte ocidental do império são
orientadas de maneira diversa. Num terreno inclinado mas, e continuaram a funcionar, como
os decumani estão dispostos horizontalmente, e oscar- das ou centros de ajuntamento da poJpulaç~ío,
di segundo as linhas de inclinação máxima; ao longo depois da queda do império. Assim, quase
de um rio ou de um mar os decumani são paralelos à cidades importantes italianas e algumas das
costa; os cardi são perpendiculares. portantes da Europa - Paris, Londres,
Naturalmente, a grade da cidade é mais elástica etc. -surgem no lugar de uma cidade
e mais variável do que a territorial; os ediflcios - vam, no núcleo mais interno, a marca da
quadrados ou retangulares quase quadrados - têm decumani e dos cardi (Figs. 418-419).
dimensões variáveis de 70 x 70 a 150 x 150 metros; a
regularidade da grade é muitas vezes interrompida por
ruas curvas, sobretudo para ligar-se às pontes construi-
das em pontos obrigados; um ou mais quarteirões cen-
...
trais podem ser modificados ou suprimidos a fim de
dar lugar ao foro e aos outros edificios públicos. O
perlmetro, defendido pelos muros, é usualmente um
retângulo que envolve um bloco compacto de quartei-
rões. Em posição periférica, imediatamente dentro ou
imediatamente fora dos muros, encontra-se o anfitea-
tro.
As cidades fundadas pelos romanos têm medi-
das variAveis, de 15 a 200 hectares e mais. Na Itália, a
cidade maior depois de Roma é Cãpua, com 180 hecta-
res; entre as cidades novas, seguem, na ordem:
MjJão 133 hectares
Bolonha 83 hectares
Thrim 47 hectares
Verona 45 hectares
Aosta 41 hectares
Rimini 34 hectares
Florença 22 hectares
PoJa 16 hectares
Fig. 416. O campo militar roma11o segu11do a descriçdo til
Fora da Itâlia, encontram-se cidades novas até
maiores:
Leptis Magna 400 hectares
Treviri 285 hectares
Nimes 220 hectares
Viena 200 hectares
Londres e Uão 140 hectares
Colônia 100 hectares
Cádiz 80 hectares
Paris 55 hectares

A densidade da população varia de 250 a 500


habitantes por hectare; então, uma cidade média italia-
na como Turim, Verona, Aosta podia ter cerca de
20.000 habitantes; Milão, Londres e Lião, 50.000 habi-
i
tantes; Leptis Magna, 100.000 habitantes. Cifras sem-
pre distantes dos números das grandes cidades do
império oriental anteriore." à conquista romana: Ale-

198
do Danúbio, Q~ s~
etvn/}011 ro.mcuws ao loii/IO
rtantes: Rall8. bona e V<eno.
-'- cld4tk• •mpo . (século III
""' Austna d
,_encontra tk interior,
CllllllpO romano no ÚJuriacum na urso da estrada e
no perc

1Q9
Fígs. 421-422. Pla11ta cadastral de /858 e vista
Como; distingue-se claramente o campo romallo,
giu o centro da cidade.
I. (OrO
2.tealro
3. aroo de triunfo
< C.plt46o
~ mercado
6. lf-tmJI
1. blbUoo.ca
llo9. hobh•<*
IO. c.'-fdral
11. e.pela

1 "
1/2000

Figs. 423-429. 1ímgtul na Argélia, uma cidade rom0110 o./xmdo11a·


da IW século VIl e escavada quase p<Jr inteiro.; plnlltos, P vista
aérea.
202
l. Porta. Nii'J'a: 2. N:urtA: 3. catedral de Conttantinopla ; 4. baaUica: 6.. circo M6x.1mo, 6.
a nGteatro: 7. t.tmplo de He-n-enbnanchen; 8. recinto do templo do Ahbach; 9. t.tnne.t
~periai1; 10. foro: 11. pa l6do de Vitorino; 12. pa.l,cio; 13. termu de S. Btu-btHe, l-4
ponte rom•na; 15. NntuArio d t1 Lenu•Mara.

Figs. 43Q·4:J2. 1f!•t•~::;, uma das capitais regionais do fim do lm~ric.


A cidade e as ll'rrnas imperiais do século IV (n .0 9 na legenda).
~---......,..

203
Desde O fim do século III d.C., Roma perde o 1-'iJ{s. 4:1:J.43.J. O palácio do Imperador Diocleciano em
caráter de capital única. Os tetrarcas que repartem com (l'~rca de .100 d.C.J.
Diocleciano a administração do império residem em
Nicomédia na Bitínia, em Milão, em Slrmio no Da-
núbio e em 1'reves no Reno.
No século IV, Constantino transfere a capital do
império de Roma para Bizâncio, que toma o nome de
Constantinopla. No fim do século, Teodósio divide de-
finitivamente o império nas duas metades ocidental e _
oriental, tendo como capitais Ravena e Constantino-
pla.
Vamos considerar estas duas últimas cidades,
que recolhem de maneira duradoura a sucessão de
Roma capital, e são as últimas grandes criações urba-
nas da Antiguidade.
Ravena é uma cidade romana secundAria, entre
os pântanos costeiros da Romagna. Augusto manda
construir, a cerca de três quilómetros da cidade, no
ponto mais profundo da laguna, o porto militar de
Classe; assim a cidade, defendida por terra, fica ligada
por mar a todo o mundo mediterrânico, e por isso
Honório a escolhe, em 402 dC., para nova capital do
Império do Ocidente; toma-se depois a capital do reino
ostrogodo e das províncias bizantinas na Itália, e nes-
te periodo - dos séculos IV ao VI d.C. - alcança seu
desenvolvimento máximo (o cinturão de muros se con-
serva até o século passado; :Figs. 435-436). Os palácios
imperiais c reais desapareceram, mas permanecem as
igrejas- Santo Apolinário em Classe, Santo Apoliná-
rio Novo, São Vital, os dois batistêrios- que formam
o grupo mais importante de monumentos do final d~
Antiguidade na Itália: os exteriores são simples, mas
os interiores são revestidos com esplêndidas decora-
ções de mármore e com mosaicos: os acabamentos
A situaçdo alua/ de H<wr•llll l(ullw 116 du 11111/XI ' '" /talw planos e coloridos se desenvolvem até cobrir C'transliJr·
Geogrd(ico Militar. AntiRamente, a cidade se encon tra·
mar · que agora di$ta de oito quilómetros . e uxla a zona
rnar as estrut uras de edificação (Fig. 440). Havt•rw
tra ocupada por uma laguna. pt•rrnan ece ligada à sorte do domínio bizantino na
ltúlia, fica então apartada do desenvolvimento h istúri·
c.:o subseqüente e se torna, sob o governo papal, uma
tranqüila cidade de província, notável somente pelas
memót;as de sua história g)Ot;osa (hoje, é um centro
industri al em p leno desenvolvimento: os estabclt•d·
mentos modernos invadem os antigos pântanos c dr·
cundam os frágeis monumentos do passado.

20:)
Fig. 436. Pla11ta de Rauer~a. com os numume11tos da

t---
D

---
-- .• - - ... - - -..- ~ __ . . . . . -- - --
""'"" - - ..- - -..- - - - - ,.- - )f" - - . - - ...- - ...- -
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--- ---- -- _.,___________ ~-~- I ------
- -- . -- . - - . - - ..- - .. - -.- - - -_--- ....- - J -

CJ CJ

Fig. 437. Planta da Igreja de Sar~to Apolinário em CIMse em &ue·


na, consagrado em 549 d.C. (cm branco, o campanário redondo,
adicionado 110 século X;

20G
A Igreja de Soo Vital em Ravena. consagrada em
plan14 exterior e interior.
Fi/.!. 411. Um C'OfJIIt•l da Igreja de Stznto 1\po/inárw rm Classe.
Figs. 442-443. O Palácio Imperial e o Porto de Classe, represen-
tados nos mosaicos de Santo Apolinário Novo em Ravena.

209
Biziinciu jú é uma das cidades coloniais h"l'cgas
mais importantes c mais ricas. favon•cida pela sua
posição gcog-rúfica excepcional, sobre um promontório
que domina o Estreito do Bósforo, entre o Mar Nc!,'TO e
o Mediterrâneo. Constantino a transforma entre ;t26 e
330 d.C.: dividi-a em 14 regiões, como Homa, c constrói
novos muros circundantes. quadruplicando a superfi·
cie anterior. Em 414 d.C., Teodósio aumenta-a ai n da
mais, construindo outros muros mais acima; assim,
Constantinopla alcança uma extensão de cerca de
1.400 hectares(rnais ou menos igual à de Roma dentro
dos mUI·os Aurclianos) e uma população de cerca de
meio milhão de habitantes (Pig. 445).
Os muros de Teodósio assina lam o limite definiti-
vo da cidade até os tempos modernos. Ao contr{u;o, cm
seu interior, continuam as transformações: Constanti-
no dispõe no núcleo antigo a acrópole, o palácio impe-
rial e o hipódromo (como o Capitólio, o Palatino e o
Circo Múximo cm Roma) e abre um Foro entre a c ida
de velha c a nova. Teodósio constrói uma novo Foro
maior no centro do povoado, e aumenta o porto. Justi·
niano, depois do incêndio de 532 d.C., reconstrói o
palácio c realiza, nas proximidades, a h"l'andc iJ.,'l'eja
impca·ial de San1.<1 Sofia, sintetizando novamente as fi!!·'· 111-f./.i. Collsllllllillop/a: Pl'rsoni{icaçào da cidllllt
experiências artísticas de todo o mundo mediterrânico munia ti(• Constânt·w 11, (• p/an/(1 <'om a diuisdo em 14
(Figs. 446452 e 454·455). O sistema das coberturas em
arco c dos acabamentos com materiais preciosos -
mármores, mosaicos de vidro, alfaias de metal - ai·
cança um novo cquilíbYio, diferente do antigo c que vai
durar, daí por diante, em todo o Oriente: daí começa o
novo cido da arquitetura bizantina, úrabc, persar Na
parle mais externa da cidade, Justiniano constrói
outra ij:rcjaialllQS.a. a dos Santos Apóstolos, sobt·c o
local da tumba de Constantino: foi destruída, mas
serviu de modelo para a Igreja de São Marcos em
Veneza.
Ao redor destes monumentos a cidade cresceu, ao
que se sabe, com a mesma densidade e a mesma dc:sor·
dcm de Horn a . Uma lei de476 c!.C. estabelece que todas
as novas ruas tenham pelo menos :3,50 metros de lar-
gura; poucas estradas- duas ao longo das margens c
uma sobre o dorso do promontó1;0, ramificada cm Y-
são mais importantes e mais largas. A água chega
através de vários aquedutos - na maioria subter·
râneos, prcvcndo·se um assalto do inimigo-e é arma-
zenada em vastas cisternas, descobertas ou subter·
râneas.
Constantinopla permanece a capital do Império
do Oriente atl' o século XV. Os cruzados que saqueiam
a cidade cm 1204 quedam maravilhados diante de
uma metrópole maior e mais rica do q ue qualquer
outra na l•:uropn. Os turcos conqu istaram-na cm 1435;
Constantinopla se torna sua capital, Istambul, c ain·
da hoje é uma das cidades mais importantes do mundo
oriental.

210
,I

A Igreja tk Santa Sofia em Constantinopla (cerca de


- oxonometria, uista externa e prospectos. Em bran·
OCttl«ntadas poateriorment~.

211
Figs. 451-452. A cúpula de Santa Sofia. desabada em 558 e recons·
/ruída em 562 d.C.

213
dt 8izd11cio, do CosmoJ.(raphin <ll' :wm1stui~

Rigs. 454-455. Um detalhe do interior de Santa Sofia em Constan·


tinopla. e uma vista do grande v<'!O. transformado em mesquita
(litografia de 1852).

~15
Fif.IS. 456-458. O conjunto relif.(wso d11 Pantocr6/or,
século XII. Planl<l. prospecto pusteri()r «' ..wrçdo

Fi~:. 4.59. O conjunto do Pant~x·rtilor como P hoje. no centro de um


bairro t'm rui1111' d.• / ... Iam hui.

:? I!i
Figs. 460-461. Duas vistas de Constantinopla 110 {1111 do/mpdrio, de
Crônica mundial, de Schedel (/493).

217
Vuto• de 0>11sta11tinopla no s~culo XV. ti•· O Uvro dus
C. BUI!ndelmonti.

Vuta de D>nstanlillopla 110 .~fruto XVIII: Sat1Jrz So[la -


dt modo fantasioso. - St" ocha no mínwro J .
6 . de emSalomdo: o .mai:,a
Fzgs. 4644
menta "·
conslrw A mesqulta
• ·do fl(![os turcos sua capztal,
XVI.
- < \"~-::
·!'
I
/ I

.I/
,J II I(
./

df Constantmopla /rebatuada como nome de 1>1<1111·


t•rco.l no slculo XIX

Vuta do IJO:../oro do sê('u/o XIX. e< •. d pronwntórtu _,ohrt•t,


1t tncontrcun a~ mrsqmtas P o palâc1t do ::,ultào.

:?:?1
f'l;!. ·16ô Con~lllllluwpla na pa•SOJ.tl'm dos Dardan elos e do .\lart/4•
.\fOrmara. ;:rat'ura <if• 171}.;,

22:2
CIDADES MUÇULMANAS

aqueda do Império Romano a unidade do mun-


.
ico é interrompida por causa da expan- JE~································l·························lf1

li EJ
civilização islâmica.
Os árabes invadem as costas do 1\h'<litcJT<ineo
L : :}:--:
do século VII; encontram primt'iro as zonas
urbanizadas do Orit•nw ht•lt•nistko. st.• apo· ;-- -- ----- - l:
- r- -
i:: ::
~=
:
cidades existentes - Alexandria, Anti·
J: : :

~
: -~ :~
,_,,,.,.,""'"• Jerusall>m - t• adaJ>tam·nas ;., su;~s
se torna <1 prinwira capital dos ~ Il .,_..,_
(de 660 a 7;->() d.( '.)c no n•t•into saj..'l'a·
surge a primeira m<'Slluita {Fif..'S. 1()9-·171).

......1..·_
·----_-_
.._._
.._--_-_
.._.._._
I 1
.._.._-_--.-·.··~ ; ~······---~·········· .
:
tarde, nos no\'OS l<'ITilúrius conquistados a
a oeste, os áraht•s prcft•n•m fundar uma shit• de
novas: Kairouan nu Tunísia t•m ()70. Xiraz na
674, Ba~-rdú - <1 nova t·apital dos califas
-na Mcsopotflmia t•m 7():l, Ft•t. no l\larro-
808, o Cairo no E1.!Íto ('111 !1()!1: quando passam
Espanha (cm 7 11 ) c p;u·a a Sic·ília (cm H27).
como capitais as ddad(•s- at(• cnt;'w sccun-
Córdova c de J'nlcrmu. e transfimnam-nas
metrópoles, com c<•ntt'IHIS de milhares de

469470. A grande mesquito dr /)a masco: o rccmto <m~tll<irío.


tinham lugar ao mesmo tempo a IJ.:tf.'ja <• o nu.t.'ilJuiur. e o
construido depois de 70!i d.C.

22:-l
\ ~

'
I
~---~--;~~--~~~----·--''~-·;~---~-

Fig. 47 /.O centro da cidad<• eh• /)ame. .:o. com a
tecido da cidade árabe"'' implanta •obr<' o
cidade helenística. destruindo sua rel(ulari<l<•de.
mentos da cidade árabe: em tracejado, os dcsaparecid..
helenística.

Figs. 472-473. O império Romano- qut• cerca o


território conquistado pelos árab<w. que corta em dw•
Mediterrâneo.
O (Àiro. Vista do século XVII e planta leuanwda As cidades fundadas ou transformadas pelos
durante a expedicão napoleónica em fins elo " 'cu/o árabes, entre o Atlântico e a Índia, são muito seme-
lhantes entre si e conservaram sua estrutura ot;giná·
ria até a época moderna. Mantém um dos caracteres
fundamentais das cidades do mundo antigo, dos quais
já se falou: todos os elementos de construção - as
casas, os palácios, os edifícios públicos - formam
uma série de recintos, e os ambientes internos se debru·
çam sobre eles, não sobre o espaço externo. As praças
são recintos maiores - ágoras, foros, mercados - e
não se confundem com as ruas, que são corredores
apenas suficientes para a passagem dos pedestres e
dos carros (as grandes ruas porticadas das cidades
helenísticas são arranjos excepcionais, comparáveis a
praças alongadas). Mas além desta continuidade é
preciso considerar algumas diferenças importantes.
1) A simplicidade do novo sistema cultural, que
está todo contido no Alcorão, produz uma redução das
relações sociais. Por isso, as cidades árabes perdem a
complexidade das cidades helenísticas e romanas:
não têm foros, basílicas, teatros, anfiteatros, estádios,
ginásios, mas somente habitações particulares - ca-
sas ou palácios - e dois tipos de edifícios públicos:
a) os banhos para as necessidades do corpo, que
correspondem às termas antigas;

22;)
Fig. 476. A Casbah de Argel. Plástico executado pl'los franceses no
momento da conquista (18JO).

b) as m<!squitas para o culto religioso, que não 1·uas, coh(•l'tas ou dcscohcl'tas, formando o
têm 4::orrcspondcntes n o mundo clússico: nào se asst• ta tcssitura irregular se abrem - e
melham aos templos pagãos (edificios fechados no valor - Qs J...'l'andes pátios regulares> das
público, que se olham do lado de fora) ou às igrejas ;J) A cidade se torna um organismo
cristãs (espaços fechados unitát;os, onde todos os fiéis fechado por uma ou mais voltas de muros
participam de uma cerimônia coletiva), mas são pú- renciam em vários recintos (o mais
tios porticados, com um pórtico mais profundo dividi- medina). Cada J...'l·upo étnico religioso tem
do por muitas fileiras de colunas, onde os fiéis indivi- d istinto, c o príncipe reside numa zona
dualmente ou cm grupos encontram um local isolado (maghzen), protegida dos tumultos. A
para rezar. (bab) é muitas vezes um edificio mcmulmE:nbl!t
2) A regularidade cm f..'l'ande escala das cidades cado (com uma porta externa, um ou mais
helenísticas c romanas é abandonada c não existe ao mediá rios e uma porta interna), e
menos uma administração municipa l para impô-la. O bulo para a cidade inteira. De fato,
Islã acentua o carátcr reservado e secreto da vida interna começa a rede das ruas, onde
familiar. As casas são quase sempre de um andar só vel o encontro e a parada.
(como prescreve a reli~-,rião) c a cidade se torna um o.l) A religião proíbe representar a
agregado de casas que n~to revelam, do cxtet;or, sua na, portanto impede o dcscnvol ·me:nu>d~lSli
forma c s ua importãnciu. As ruas são cst1·eitas (sete rativas -escultura c pintura - tal
pés, diz uma regra de Muomé) e formam um labirinto elidas na An tigu idade; usa-se, ao
de passagens totiuosas- muitas vezes também cober- decoração abstrata. composta de
tas - que levam às portas das casas mas não permi- c de sinais da escrita, estritamente
tem uma orientação e uma visão de conjunto do baino. arquiteturn. Seus motivos são difundidos
Ta mbém as lojas dos comerciantes não são agrupadas mundo islâmico, com notável uniformidade
cm uma praça, mas são a linhadas em uma ou mais 514).

226
_,..

f i!:. ·Iii. A Casbah de Argel como é hoje. en~loboda "" rede <i<·
<'~fradas da cidade européia.

fi!:·' · .f7X /MI. Planta di' uma casa dt' Casbah (rue Khul"!'dlll.ll .•5};

I. ingresso; 2. patio: 3. C!O'Wlha; 4.latrlna; S. quartos de dormir: 6. ltrn~

,. ___... __..____

I
I
I
I
I
'

I
I

I
I
,
I

___ j
RUA
PI..AI\"OTf:RREO

227
fi/i. -IX I. l'ts((l aérea do tecido urbano de Tripoli; todo
pátio parlwulczr. grande ou pequeno, e .se debruca

FtJ!.s. li<:!-/11.1. Este pátio se l.()ma estrt'ito e profundo


<·l'w... ,,,u/rulas. romu os Ksar marroquinos.

o ~ 10 .
L-L-.1
Figs. 484488. Em tomo do pátto os quartos tlldo
modo a permitir um uso multo eldstiCO. varuiuel
dos do dia e ron{orme as estaro..s (os deser~hos
casa de &gdá).

manhã tarde
INVERNO

noite

primeiro andar

sala de estar

VERÃO

489-492. A distribuu::âo du$ pfl/111$, d<J$ 1/IWrtvli ,. dos pórticos


em nfueis diuerso.~ J>f>rmtf(• uma uentilaçdo para
clima demasiado que11te (os exemplos sdo tomados em
a{aiUJpróximo aos desertos. desde o Marrocosat~o A{rJ:aiiÍS·

229
Pigs. 493495. A cidad~ d~ GtiT(/aia na Arl(~lia. {u11dada
pla11ta, uista aér~a e desenhos de dois tipos de"''-'"'·""''""
res e de um andar. .Vo centro - 11a POsi('do mtJrc~raaptl<lal
-=::&..~:""-"-' encontra-se a mesquita com um alto muwrtle.
'Í ·~
(, ' ' ..' .
·i'·
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I .

,...,, n•nraaacidode árlzbe de 'l'útus, cetrc<ula Jll'i<Js /mirro:. d11 ..


{ranceses:·escala I: IU.OOO.

J9i. Planta du bateu <h• Ah·,Ju~ di."illltJ.!Uem·.•W as ruas rom as


(Suks) e os pátios dos edt{icw.• <i<' S<'tt'Íço (armazélrs. a/ber·
Em branco, os ambirntt•s cobNtos:em pontil/rado. os espaços
...nro.•nos; em tracejado, as zona.• urbana.., rm volta. C"(fm a,., mf'."·
, os banhos. os coi<'I!IOS.
r
.......... , ..
I 1
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sahn dflla MOS.Cht'a agg1unta
I
I tec•nto I" ~
v--
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S&hn deUa moset~ea c••o•na1e
I

Planta da cidad~(lr(lllarde 1Jal(d6. proJ<'todo <'IIII<'W· Fig>. ,;u;t..;u.1. Planta do nuc/t•u<·••lltral"plall/111<'/rWI(fta/ dt• Cord11
l'O, a capital do reino 6rabf na r:SJ>Onloa. Fora da cidadf, owam/.·
AI Mansur cm 762 d.C.: planto da wamlt• ""'·'<iwto
palril'i11 dt• .11nrfinat-al-Zolora. rrsid<'ncw do (a/ifa Al>d-ai·Rahman

lllliOTECA CENTRAL PROF~ EURICO BACK- UUE!O


Com estes caracteres, a cidade árabe se parece
mais com as cidades orientais antes do helenismo
(poderemos fazer uma comparação com Ur, a primeira
cidade ilustrada neste livro); o Islã intetTompc a coloni·
zação do Oriente Médio e do Mediterrâneo pelos gre-
gos e romanos, e faz aflorar a tradição mais antiga das
regiões onde se tinha iniciado, quatro mil anos antes, a
aventura da civilização. Do século Vlll ao século XH,
esta área se toma novamente o coração civilizado do
antijjo cont!ncntc. o ponto de distribuição entre Euro-
pa, Asia e Africa.
Neste período, as cidades úrabcssào as maiores e
mais ricas do mundo. Bagdá - fundada cm 762, se-
gundo um ambicioso plano urbanístico circular, com
mais de dois quilómetros e meio de diâmetro, destruída
pelos mongóis cm 12.'58 c reconstruída no mesmo lugar
sem reproduzir a ori~rinária regularidade- teve mais
de um milhão de habitantes c foi, por longo tempo, o
primeiro centro do comércio c da cultura mundiaL As
capitais dos Estados periféricos, fundados no Ocidcn·
te c no Oriente. são pouco menos ~Tfandiosas c apare-
lhadas. Córdova na Espanha (Figs. 502-506) e Paler·
mo na Sicília (Figs. 515·516) contam com várias
centenas de milhares de habitantes, espalhados cm Ftg 51).1 v,,,0 aorm "'' Corclm·a. r:m prommo plono, •
áreas vastíssimas entre jardins c pomares. ..,,.,,qmw rum a r:apc/a t•cl•f•caci<z p<'io$ n•ts r:at61icosno
Figs. 5(}7-MJS. Platt/a ,. t't>la do ~•dodt• de Toledo,
ára~s na Espanha: no luJ,!ar da uu·~qmta, Ntt'Ontrol#
catedral.

Fig. 509. As casas do bairro árabe c·m &>t'liha, vist41 d;)


torre da catedral.
Scah• I: '000

Figs. 510·511. Visto do cidade de Granada.na &;panha.e p/antczd11


cidadela com o palácio dos reis árab<•s (a Alhambra ).
•:

10 20 30 40m
j_____ I _L _ _ _JI

Fig. 5 12. Pla11to. do palácio da Alhambra.

I. pt"qU('I1ft Pr111('3 dt lnt(f'f'.SSO


l. J)nmtuo pit1o
J_ ruinalil dl.l mf':&QUIU\
I, run
;,_~ti o d{' MachutA
6 torft' df' Machuca
7 . •\tt')C.Qt
H.. pâho do tll)(ttt.."t:mtnto Oourado
9. npnttnmtnto Dourado

~~:·~~;:~~~
10. pâllo dt' los Arrayane.
11. Ml3 du &rco
12. ~la do lrono
;; Jv-~a ~~; t;l banho n.•t•l
1 1. 1H'1:11o dn Hninha
!: : )!', apartamtnto <'On•lruldo por C"11rlo8 V
'I I•

\~~r.
16 tortf' dq quarto d~t \rQhr <la R11nha
17 p.áho dt l>araxn
:. ·:: IK. MirCtdor de llarMcn
:: 11 19 8ala dA~t DuM lrmAt~
" lO. pótJO dO!!. J~
:: !~-.: :::' li •ai~ do. ~1ocãrabf.t

\1-..;~:::::li
t'.l. ~~:nln doll H~·~
/;J_ sala do~ Alx-ncerrHKtA
.'1 o~tf'rna
~:=:· C'~f: :•. c~
~=-----)~:··.,
~;. Rawda
0 '1.7. caJ)<'lft do palttcio de Cttrlo~t V
~. pal áclo dt• C'arlo11 V

23fl
"'.
rllf~·
palaczo
"'- 3 -14. Decorações em pe r a
·.)
. d a Alhambra.
d .
I'SI:IIIpzda e em mosaico,
239
nl
240
Figs. 515-5 16. Palermo. Vista a vôo df! pássaro d<' fins do século
XVI, e planta da cidade atual (mapa do lMtituto Geogrófioo Mili·
tar). Pode-se reconMcer o traçado sinuoso da cidade drabe, oortado
pelas duas ruas retillneas espanholas e circundado pelos bairros
modernos em forma de tabuleiro.

241
Depois das Cruzadas e da destruição de Bagdá,
o Islã continua se expandindo somente para leste. Os
impérios mulçumanos dos séculos XVI e XVII- o dos
Safâwidas no Irã, e o dos Moghul na Índia - reali-
zam os últimos grandes arranjos em Isfahan, Agra,
Dehli. Eles são caracterizados por uma regularidade
geométrica em grande escala, que entra por vezes em
conflito com as cidades já formadas, e que incorpora-
além dos modelos persas e indianos- as influências
dos arranjos barrocos europeus.

Isfahan (Figs. 517-524) é escolhida para nova ca-


P•tal do reino persa do Xá Abas I (1599-1627). O orga.
!
I
I
J---
'\...

l'..ra aér.a parríal ~ planta de ls/alwn. com v.,


II'IOnumtnlOI$ rtaltzados prlo Xli Abbas no IIIÍ(ÚI do :O.f;('U/o

•,___J,..___..__':f'-
da cidade medieval, concentrado em torno da
da Sexta-feira, é ampliado par a oeste e para
uma série de episódios simétricos: a grande
a mesquita real, uma alameda reli·
de jardins, duas pontes cobertas. Os
•ambientes se sobressaem no tecido urbano não
consistência volumétrica, mas por seu traçado 1. m~1ui1•• dt· QurHhm
2. UW'>(IUII;I d,t ~t·\:lol ftirl!l
que exprime o carúlcr eminente do poder, 3 ll,ti;'IC'IO
Varsailles. 4 mt'MIUIIOI
'•· b.t/.11'
dt• 1\Ji

Na lndia, os Imperadores Moghul, Akbar e Ja- 61"''1:·• rt·.tiiMt·ulnn i XCt)


7. 11U':-.I!UIIol ~·.t\
realizam imponentes conjuntos de edificação: em ~- fMI:"u·m n•ul
acidadela com o palácio, c os jardins ao longo do ~~ ll'lll'lol do h111ur
Hl nw~ tult.t dn Xt~tut• l .ul't1uluh
o célebre Taj Mahal; cm Dehli, o Forte Verme- 11. J.u·dm~ dn \'1111'
a grande mesquita (Figs. 525-531). 12 aH'Illd.t )lrlllt"IIMI
n_ 1,.mh·<·"lj,(·rtu
\I ttHnid,t l't'(·undl'\rm
Os viajantes europeus admiraram cm todos os \.1 I)IIHI(o <·ulw·t1H
estas esplêndidas cidades, que ficaram como \h nu z.-.\.md,lh

de toque fabulosas e estimulantes no deba·


F•i! .i/9. .\tapa gual de Js[ahan. Em preto, as zon••
{:J.!'UJ>tJd as no lltru!rtido do bazar.

Fig. 520. P/an/4 da Meidan·i·Xá de ls[ah<m e doi


cantes.
5ZJ.522. Duas vistas européias da Meidan-i-Xó de lsfahan.
esplanada servia para muitos usos: as recepções. a
das caravanas, as cerimOnias militares, as partidas de

24.)
ri![. 523 Detalhe de um mapa empersp<'<'tu a
parte cEntral de 11/o.han

Fi![. 524. V,. ta ifNal de /s{trhan (grauura européia


A paisagem circunstante com as árvore.~ t as IX!I'SOi1GRru
fantasia.

:?~li
I :onadactdad4."\.'tl~a(s«ufoXIIJ pr1nc1p:us monum('nl~
! C1d0d~ d~ Siri (stculo XIII) a· nu"ortlt do ctdodt ~·tlho
J c-•dadf' dos Tuglaq (stl-culo X IV) bc, ~. g, k, l · lumbot '"onutntnroa
4 c'dod~ dos .\1oghul (s.k:oulo XVII) d ·fortt d• SHt
h • I'Ortdf mtlq'Ut!O
1 • Fortf Vrrm.,llto
J • ci<lodtlo Puronofdo

f"t}l> .;25-526. .\topo do ~tdod<' de Dehlt no fndto. e do f"utl<' Vrrm•·


1to çon~truido pelos domwadores .\1oxhul rm /6.1b

f .: .i2i. Uma t·tsto do Forte \'Nm~lho dr /)rhll

247
Figs. 528-530. Mapa de Agra, planta e vista do Taj Mahal, a tumba
da esposa do Xó Johan (embaixo â direita no mapa da cidade).
Fig. 531. Uma uista axial do Ta} Mahal.

249
CIDADES EUROPÉIAS DA IDADE MÉDIA

Nos territórios norte-ocidentais do Império Roma· dente, o organismo muito maior da cidade contemPQ-
Itália, Gália, Germânia e Bretanha, que depois rãnea. Basta considerar a divisão de Paris em três
V são ocupados pelos reinos bárbaros e d~ partes: a cité na ilha, a uille na margem direita do
do século VII resistem às conquistas dos árabes, Sena, a uniuersité na margem esquerda; e a divisão de
se acham isolados à margem do antigo -mundo Londres em duas partes: ~ city, )ede do poder econômi-
- a vida das cidades diminui e, em muitos co, e 'Westminster, sede do'poder politico.
interrompe. Mais tarde, depois do ano 1000, Da -relação com o presente nasce o interesse, e
-que se toma a Europa modema- forma- também a dificuldade do estudo da cidade medieval. O
nova vida econômica e civil, e as cidades vol- que se deve estudar não é uma cidade morta, mas uma
se desenvolver; mas aqui, diferentemente do que cidade ainda viva em parte, no interior da cidade
nas outras zonas do Mediterrâneo, a crise inter- atual. Por outro lado. uma cidade morta como Priene,
criou uma fratura entre os dois periodos de Ostia antiga, Pompéia, Timgad, pode ser escavada e
reconstruída com grande exatidào: uma ciência esp~
muitos casos, a nova cidade cresce sobre o cial, a arqueologia, trabalha hã dois séculos para isso;
tiga, mas com um caráter social e uma ao contrário, uma cidade viva como Siena ou San
de construção diversos, que pelo contrA- Gimignano não pode ser desobstruída para deixar o
sem interrupção, ao caráter e ao cenário campo livre aos estudiosos: as casas foram modifica-
contemporânea. O que fica da cidade anti- das umas cem vezes, para adaptá-las ãs necessidades
série de ruínas, que se estudam e se visitam dos habitantes, nas várias épocas, e nunca se pensou
mais como parteaa ciaaae atual. - ou somente se começa a fazê-lo - em estud~
nmLmnn as cidades medievais - mesmo as que traçar com precisão suas estradas e seus ediftcios. Em
:mane<:er1:1m substancialmente intactas como Viter· muitos casos se conhecem e se estudam somente os
Gubbio, ou Chartres, Bruges - ainda sãc "monumentos": as· cate<h:_ais,..os...palácios. Bairros m~
e conservam muitas das tradições origi· dievais inteiros foram demolidos nos últimos cem
.ru~:ur1ru:; crescêrãm e se tornaram grandes m~ anos, sem ao menos conservar seus desenhos ou foto-
- Paris e Londres - e o conjunto grafias.
,...,..,v,,"" da Idade Média é, apenas, um pequeno Devemos utilizar, pois, uma documentação mais
· mas alguns caracteres estabelecidos incerta e mais limitada, mas estas insuficiências i»
Média influenciam ainda, de modo surpreen· dem ser corrigidas com a experiência direta: pod~se
Fig. 532. Um trecho dos campos medievais, com uma fazenda I'
uma base fortificada; pintura da escola de Ambrogio Lorenzetti.
na Academia de Belas-Artes de Siena.

passear pela Praça do Campo em Siena, ao redor da


Catedral de Chartres, pelas ruas de Perugia, de Assis,
de Orvicto, c encontrar os dccendentes dos cidadãos de
ent.ào, que moram por vezes nas mesmas casas e traba·
lham nas mesmas oficinas.
O efeito mais evidente da Cl;se econõmica e poli ti·
~ nos primeiros cinco séculos depois da queda d()
império romano, é a ruína das cidades e a dispersão
dos habitantes pelos campos, onde podem extrair era- do
terra seu sustento. (communiã, ·Isto é, ~~.......~~.
O camjJo_é__di:,ddido cm grandes propriedades (de de todos podem.cat.ar "" ''...,iy-<:t·~~~~~·~
5.000 hectares cm média, ou maiores), que comprccn· as frutas selvage.ns.
dem vál;as centenas de quintas. AQçl)ntroseepmptra
a residência habitual do proprietãrio - a..ca1~ral. a_ Nesta sociedade rural, que forma a base
abadia, o castelo- mas as possessões são muitas nizaçào política fcudãl, aSCiaades têm um
Figs. 533-536. Uma moeda de Carlos Magno, reproduzida em do-
bro do tamanho real. Um capitel proveniente da Abadia de Fulda
na Alemanha (século IX). A planta da Capela Palatina de Carlos
Magno em Aquisgrana (as alvenarias originais selo as marcadas
em preto, as acrescentadas posteriormente estão marcadas em
branco); confronte-se com a planta da Igreja de Selo Vital em Ra-
vena, reproduzida- na mesma escala- na Fig. 440.

ginal: nào funcionam mais como centros adm~ti­


_yosJ em mínima parte como centros de prõdUÇão e-de
troca. Mas as estruturas físicas das cidades romanas
ainda estão de pé, e se tornam locais de refúgio; os
grandes edifícios públicos da Antiguidade - termas,
teatros, anfiteatros - se transformam em fortalezas;
os IDU!9S são man_tidos CO.IIL~ão reduzi-
dos paraaefendêruma ~imitada da cidade, ligan-
da..entre sias bases f{>rufica(fãs mais importantes. As
igrejas cristãs surgem muitas vezes no exterior, -
perto das tumbas dos ·s antos, que pelas leis romanas
não podiam ser sepultados na cidade- e também as
sedes dos bispos, nos primeiros tempos, ficam fora do
recinto da cidade (Figs. 537-541).
III e IV d.C.,
Figs. 537-~Sd~sda Gália: Pér;~~fda.cidade - co:nfíteatro (3).
muros de cir~un:ç Senlis e Tours~~~tedral (1)
em três c o a d m o nokleo cen
ç<les defen e . porando, em
110 dos séculos
alguns casO$, o
tas fortifí·

: castelo ( 2) - oncor

.. .e medieval constru(da
' no'"nterior do anfíteatro de

~scido
Fig. 540. A codad "d de fundada no
. d de Límoges: a co

séc~lo :~sfor~~; co~1)~~ ~uros sécul·~ade


Arles. em torno

~~o Xl~i~r~i~~ne
llo da coda e rrabalde n X (em pon-
Fig 541. A da catedral ( do oarra-
I_V ao Marcial (2), ·ados; a leste da c o ' •
da IgdreJ)a do século (3).
tdha os
balde coma ponte sobre o
Fig. 542. Vista aé rea de centro histérico <k Spa/ato (Split), construi
do no recinto do paM.cio <k Diocleciano.

Enquanto desaparece a diferença jurídica entre urgência das necessidades de defesa e de sobrevivên-
e campo, também a diferença física entre os cia, mas também de um novo espírito de liberdade c de
ambientes se torna cada vez menor. A disposição confiança. As novas instalações se adaptam com segu·
das comunidades urbanas, menores e mais pobres, rança ao ambiente natural e entre as ruínas do am-
aas estruturas demasiado amplas das cidades roma- biente construído antigo, não respeitaiT\ nenhuma re-
DaS ea formação das aldeias rurais nos lugares pro pi- {,"l'a preconcebida, seguem com indiferença as formas
do ambiente natural -no topo de uma colina, na in·egulares do teneno e as formas regulares dos manu-
t QJnllttencta de dois rios- se desenvolve de modo mui- fSJ.turados romanos; enfim, apagam toda diferença en-
~ semelhante. tre natureza e geometria, isto é, deformam com peque-
Em ambos os casos é preciso notar o caráter nas irregularidades as linhas precisas dos monumen-
ll)lOntâneo, despreocupado e infinitamente variável tos e das estradas antigas e simplificam as formas
da construção e do urbanismo; este caráter depende da imprecisas da paisagem, marcando as linhas gerais
eacassez dos meios, da raridade dos técnicos especialis- dos dorsos montanhosos, das enseadas, dos cursos de
tas, da falta de uma cultura artística organizada, da água.
N final do século X, começa o renascimento
económico da Europa. pop o a e cerca
de '2-:! m•lMês em 950 para cerea ae oo milhões cm
135Õ), ãj»:oouçao ~a aumerua,aihctústria e o
comércio a(lqtitfêri1 nova-imJ)Ol't.ância.. -
(Os lltsfõfiãOores evidenciam várias ordens de cau-
sas, \:lependentes entre si:
- a estabilização dos últimos povos invasores,
os á•·abes, os vikings e os húngaros; ·
- as inovações técnicas na agricultura: a rota-
ção trienal das culturas, os novos sistemas de encan·
gar o cavalo e o boi, a difusão dos moinhos de água;
- a influência das cidades marinhas (Venezà,
Gênova, Pisa, Amalfi) que mantiveram os contatos
com o comércio internacional do Mediterrâneo, e in-
centivam o renascimento das outras cidades como cen-
tros comerciais.
Esta transformação muda radicalmente o siste-
ma das possessões, seja na cidade seja no campo.
Iremos descrevê-los separadamente nos dois próximos
parágrafos.)
q
f'r/-1. .5-t:J. Pl<mta do Castelo d~ Hudin/-1('11 na Alemanha. A {orm'o em
l ,,,/
,• --.....;4
um'l. imposta pelas lléce:,·~idadt•s da (/(!{esa, se torna o modeh; oripi·
nal, da..,· l'iclacles medievais.

lO o lO 20
I '
Figs. 544-547. PU.nta, secç6c1 e vista interna de S. Vittorino nos
arredores de Roma: um centro muito pequeno, fundado na. Alta
Idade Média e que permaneceu quase intacto em sua estrutura
urbanlstica, mesmo que as casas jd tenham sido refeitas ud rias
vezes. Também hoje entra·sesomcnte pelapontedea/uenaria, que é
lançado sobre o {osso ao leste (embaixo à esquerda no mapa), c que
na origem era uma pOnte levadiça. Existe também uma salda de
segurança (no alto à esquerda, perto da fachada da igreja), queleua
para uma lodeira no despenha.deiro meridional.

2.)()
CD
• ~ ~ buq """~ cf• "'-* U \n-t411<a
o Priaâ_ ......c~oo
(!) c.n.........".,_

( Fig. 548. tWapo. da Europo.11a 8a1xa Idade Média;tmpo


zona.s montanhosas.

Fig. 549. Selo dos mercadores da Liga fla11scdtico em •

2:38
1\. --- -.
...'S:-t~.....
i: • I
-

Fíg. 550. Plantas de 1,1 cidades da r;uropa &tentrio11al. com os


suc~ssioos ci11turões de muros até o século XIV.

Uma parte da nova população, que não encontra nova cidade assim formada continua a crescer da mes·
nos campos, refugia-se nas cidades: cresce ma forma, e constrói outros cinturões de muros cada
a massa dos artesãos e dos mercadores, que vez mais amplos.
à margem da organização feudal. N~ta cidade, a população artesã e mercantil- a
A cidade fortificada da Alta Idade Média - à burguesia, como será chamada - está em maioria
se adapta bem o nome de burgo- é por demais desde o início; pretende, pois, se subtrair ao sistema
para acolhê-los; formam-se, assim, diante politico feudal, e garantir-se as condições para sua
outros estabelecimentos, que se chamam ativi<lade econômica: a li~rdade pessoal, a autorur
em breve se tornam maiores que o núcleo mia judiciária, a autonomia admimstrativa;-um siste-
m•c.,;-sa.nu construir um novo cinturão de ma de taxas proporcionais às rendas e.dcstinadas.a-·
os subúrbios e as outras instalações obras de utilidade pública (entre os quais, cm primeiro
abadias, castelos) fora do velho recinto. A lugar, as da defesa: as forfificaçõcs c os armamentos).
1-tgs. Sfll-552. Labeck, a capital da Liga Ha11St6tica.
reconstruçiio do batrro central com a praça do1mtrrc41>.

A nova organização surge, num p1imeiro tempo, das classes é chamado. em certos casos, um
como _associação privada, depois se embate com os bis- do forasteiro, o podestade.
pos e os príncipes feudais, e se torna um pod~uWhlico: A cidade-Estado medie,·al d~pende
nasce a comuna, isto é, um Estado comuma lei pró- ra o abastecimen~ âe víve1·es-,, c
pria, supc1ior às prerrogativas das pessõãSe dos I.'I"U· ten·itól"io mais ou menos grande; mas,
pos, embora respeitando os pl"ivilégios económicos. da cidade grega, não concede paridade de
Os órgãos do governo da cidade são: habitantes dos campos. Pe1manece uma
1) um conselho maior, fo1mado pelos representantes chada" (como foi definida): suas
das famUias mais importantes; politicas podem ser estendidas à
<!) um conselho menor, que funciona como junta executi· mundial, mas sua política pennanece
va; interesses rcstlitos da J>Opulação urbana.
3) um certo número de magistrados eleitos ou sortea- ta população, por sua vez, não é um corpo
dos: os consoli na Itália, os jurés na França, os éche- possa pronunciar-se cm comum, como a
uíns cm Flandres. nas cidades democráticas !,"regas; a classe
A eles se contrapõem as associações que repre- representada nos conselhos se amplia
sentam uma parte dos cidadãos: as corporações (ar/i mente, mas não chega a comprccdcros
na Itália, gi/ds na Inglaterra, Zün(te na Alemanha) c assalariados; quando estes entram cm luta
as companhias do povo armado, que nomeiam um seu - durante a crise económica da segunda
magistrado, o capitão do povo. Subsiste então, ao lado século XIV- sào derl"'tadosem toda parte
do poder civil, o poderrcligioso dos bispos e das 01·dens cai em mãos de um J.,'l'upo de famílias mi:s(Oj:râtic!
monásticas, que têm igualmente sua sede na cidade. de uma única família: da comuna se evolui
Como árbitro entre os conflitos dos corpos políticos e ria.

260
• Pt~ipali ciUi e
' ~»e lntomo a1 1200

50 ll.g••
1----..___.JL...,
O IOOXm

Frgs. 554-555. A roloniz~do europiia a orie11te do f:lba. quadro de


união dos nouos centros; e plant<J de uma aldeia planr{rroda, com
seu território agrícola.

--·· ~

:Ui I
1-i~-ts.
557-5.;8. A formaçdo da aldeia i11glesa dt
X. as casa~ circundam a estrada. ('Qnt as
c•m volta. 08ll'rrenos oomuns ct~ltivados ou
século XII. as casas sdo aumentadas,~ ao
do foi C:OII>Iruída uma palu:ada; a 6rra para
parte Mia 1/lfl'ia e JX'IO castt'lo, eaRora w'""'"" fi'""'~­
lugar da passal(em a uau foi con:Jlrufda uma pontt.

Fig. 556. /)uas m•talacó<'s mcdwt•ais 110 Essex: o burRO (burh)


anglo·8a):ào de Wttham. com a Jgrcja que protege um pf!(/UCIIO
merc"do. r de burRo de IVulues{ord, do fúwl da Idade MMia, COIIS·
truido cw lonl(o de uma estrada romana.

2. A COLONIZAÇÃO DO TERRITÓRIO
AGRíCOLA
O desenvolvimento das cidades promove c acele·
ra as mudanças nos campos. A cidade mercantil im-
porta vívet·es e matétias-primas e exporta os produtos
da indústria e do comércio. Os campos- pelas exigên-
cias destas trocas e pelo crescimento geral da popula-
ção- devem aumentar a produção agrícola: colonizar
novas terras, c aproveitar, de modo mais racional, as
já cultivadas.
A antiga organização das cortes não se adapta a
estas tarefas, ao contrário, entra em crise porque se
baseia sobre uma economia auto-suficiente: cada em-
presa cultiva todos os produtos agrícolas e produz os
instrumentos necessários a seu consumo. As cortes
hospedam agora um número crescente de trabalhado-
res livres, vindos de fora, c os proprietários fundam
para eles as cidades novas, nos terrenos livres a ser-em
melhorados e cultivados.
Embora constituídas pelos proprietários das cor-
tes, as cidades novas não reproduzem a mesma organi-
zação: garantem a liberdade pessoal dos trabalhado-
res, têm um governo autônomo e são administrad as
por um magistrado eleito, quase sempre, pelos pró-
prios habitantes. Imitam a organização municipal
das cidades-Estado, mesmo que fiquem sujeitas à lei
feudal no campo político e judiciário.
Fig. 559. Vista geral de Bema, na Suíça. Gravura de M. Merian.
1654.

Outras cidades novas são fundadas na periferia


do .murul.o..e~u. por motivos econôm~o~
res: ----
l~ança Meridional, por iniciativa dos
reis e dos feudatários franceses e ingleses que se
combatem na Guerra dos Cem Anos;
2) as poblaciones na Espãnha, nos territórios que os
prinClpeS cnstãôS tomam pOUCO a pouco dos muçul-
manos;
3) as cidades de colonização na Alemanha Oriental,
conquistadas aos Eslavos pelos cavaleiros da ordem
Teutónica (Fig. 554).
O desenvolvimento das cidades-~stado e a tun-
dação das cidades novas nos campos se interrompe
por volta da metade do século XIV, devido a uma
brusca diminuição da população -por causa de uma
série de epidemias,.e sobretudo devido à grl!_njkpeste
de 1348-49 - e ao declínio da atividade econômica.
Veremos os sinais desta interrupção no organismo
tisico das cidades.

263
FiK. 560. Plástico do porte cefll rol do cil!ad<· de YprrB. em
<UIduas pra~as sàu domi11adas P<'ia cat<•<iral r !)fio fXl/6tttl
corporação dus {abricalllCS de t!"Cidu.•.

Fif!. 561. Vista da wa~a <~'11/ra/ dt" /irt'lll<'/1 (u Markl};â


palácio dos mercadort·s. ó d~rerta a 11111/IICip<rlrdade. ap
casos dos corporações; wa<•ura <ie M. Merran. 1653.

26-l
.,..

':~~S.. .
j62-.j6."1
1oscana . . m~r~·a dtI ('11. I(lt/l'lf<' ,<;llO
f'tanta() nsU.I ' ('•lllliJ.!/IGJJO,
• IJ(I
Fig. 564. Planta da cidade de Siena (do mapa do lnstitutc GeÓgrá{ico Fi~s. 565-566. A praça do Campo <'III Si<'na. com o paiócio
Militar).
2()7
• •
• •
l·iJ.:s. .567-.569.Swmr. Va•ll• tlért'tl cf(l part(• C'('lllrtll <la c·1dtuh·. ('Om (1,...
duas pra('tiS da <"lll('c/rol t' cltJ ('ampo: planta t• tti.o:ttz aérf!a (/a c·alt·
dral. t·om o nhtll'<Jmm·clbatluJJt'ltr mntJiwrtioproJNIIdâ na,>rm11'lrn
melaclt• do st'c:ulo XIV.
1) As cidades medievais têm uma rede de ruas
não\ menos irregular que a das cidades mulçumanas.
Porém, as ruas são o~nizadas ~o a formar um
espaço unitário, no qual sempre é oossl'i.cl QI:Ícnt.-u:-se-e
ter uma 1dé1a geral do bairro ~e. As ruas não
são todas iguaiS;mas existe uma b''l'adaçào contínua
de artérias principais c sccundát;as; as praças não são
recintos independentes das ruas, mas largos ligados
estreitamente às •·uas que para elas converg-em. So-
mente as ruas secund[u;as são simples passagens:
todas as outras se prestam a vários usos: ao tráf~@,_à
parada, ao comércio, às reuniões. As casas, quase sem·
pre de muitm> andares, se abrem para o espaço público
c têm uma fachada que contribui. para formar o am-
biente da rua ou da praça (l"ig. 572).
Os espaços públicos c privados nüo formam,
pois, zonas contíguas c separadas, como na cidade
antiga: existe um espaço público comum, complexo e
unitário.. ~ se espalha por toda a cidade c no <1.ual se
apresentam todos os cdifici~os c privados. com
seus eventuats espaços internos, pátios ou jar.dins.
Este novo equilib1;o entre os. dois espaços depen·
de do compromisso entre a lei pública c os interesses
privados. De fato, os estatutos comunais reg-ulam mi-
nuciosamente os pontos de contato entre o espaço pú·
blico e os edificios p1·ivado~;, c as zonas cm que os dois
interesses se sobrepõem: as saliências das casas que
cobrem uma parte da rua, os pórticos, as escadas ex ter·
nas etc.
2) O espaço público da cidade tem uma estrutura
complexa, porque deve dar lugar a diversos poderes: o
episcopado, o governo municipal, as ordens religiosas,
as corporações. Assim, uma cidade bastante grande
nunca tem .wn..único centro: tem um centro religioso
(com a catedral c o palúcio episcopal), um centro civil
(com o palácio municipal), um ou mais centros comer-
ciais com as lojas c os palácios das assoeiaçôcs mer-
cantis. Estas zonas podem ser sobrepostas cm parte,
mas a conlraposiçào entre o poder civil c r<•ligioso-
que não existe na Antiguidade - é sempre mais ou
menos acentuada.
· Cada cidade é dividida em baiJTos~quc têm sua
fisionomia individual, seus símbolos c muitas vezes
também sua organização política. No século Xlll,
quando as cidades se tornam maiores, fonnam-se nos
bairros periféricos algums centros secundários: são os

. conventos das novas ordens religiosas- os francisca·


nos, os dominicanos, os servi tas- com suas igrejas e
A orientação da cultura medieval, que não tende suas praças.
estabelecer modelos formais como a cultura antiga, 3) A cidade medieval é um corpo politico pt;vile-
impossível uma descrição geral da forma da giado, e a burguesia da cidade é uma minoria da popu-
uua.uc._n.s cidades medievais têm Lodas as fÔrmas lac:ào total, que cresce rápida c continuamente desde o
•.u"'-''v"'"· c se adaptam livremente a todas'as circuns· inicio do século XI até a metade do século XIV. Portan·
históricas e geográficas, como já havíamos to, a concentração é sua lei fundamental: o centro da
IJ2lado- cidade é o local mais procurado; as classes mais abas-
Podem-se porém catalogar alguns caracteres ge- tadas moram no centro, as mais pobres na periferia;
rais, a relacionar com os caraetercs políticos e econô- no centro se constroem al{.,rumas estruturas muito ai·
mico;u!cscritos an terionnen te. tas- a torre do palácio municipal, o campanário ou os

269
Fig. 572. Uma casa mcd~t•t·a/ ••m Cluny. no

Ft/l. 571. O N'lllro dr uma cidad<• mrdtr t•a/ (Lübeck). rompasta par
(/UOtro elemento.~ raracterisllro~: o /arJ.!O da 1grej o prmeipa/ {1): a
praça elo merraclo C"Om a municipalidade (2); a rua principal. que
-A
ptu~sa tanj!enlt' tt '"'~les dois espOfO$ (,'1); o largo do iJlr('ja secundáritr
1/).

( zimbórios da catedral- que assinalam o ponto culmi·


nante do perfil da cidade e unificam o seu cenário
também na terceira dimensão. (\ .:andttr t~nro ,r~)
Toda cidade deve ter um cinturão de muros..pru:a
se defender do mundo exterior, e enquanto cresce deve
IJpnm(•lro an
C ontrada
IJ ·•J·'
r~
construir muitos cinfurõcs concêntricos; estes muros, t-· Jio.thu
que são a obra pública mais cara, têm quase sempre ( 0 font~
11 ('unnh.t
um traçado irrc~ular e arredondado, o mais breve pos· l t.•rt·ar;t
slvel para circundaruma dada supérficie (Fig. 550}. K p;llmn;ar
I. t'l'iHir• .:- <11.1arh• da• durm.r do,. p.a1.s
A construção de um novo cinturão é adiada até ·' IM""•'Ilil'm e- ~-....lltlloW \ ,n p..ra '' 1011bh·tn
que no velho não haja espaço disponível; portanto, os ()qii.Ut.,Mdo>l'marO.••IÍih•>a

bairros medievais são compactos, e as casas se desenvol·


vem em altura. Somente os grandes muros construídos
cm fins do século XIII e no inicio do século XIV- em
Florença, cm Siena, em Bolonha, em Pádua, cm Gand
- se revelaram demasiado grandes quando a popula·
ção, no século XIV, deixou de crescer ou diminuiu. Em
seu interior ficaram grandes espaços verdes, que fo-
ram ocupados somente no século XIX (F'iR. 574).
4) As cidades medievais que conhecemos recebe·
Quando ns catedrais eram broncas, a
ram uma forma definitiva nos séculos seguintes, do do as atividades produtivas segundo as
século XV ao s('Culo XVIII. quando seu tamanho e sua uma técnica nova, prodigiosa, toueamente <Pn••..,•n•• ""'"'~•
aparelhagem jú estavam estabilizados. conduzia a s istemas de fonnas inesperadas -
esplrito que desdenhava as regras de mil anos de
Nos séculos precendcntes, quando estavam em hesitava em projetar a civi.lizaçào numa aventu.ra
pleno crescimento, seu aspecto devia ser muito mais Uma llngua internacional favo~ia a troca de idl'ia&,
desordenado. As ig-rejas e os palácios mais importan- internacional era difundido do Ocidente para o Oriente,
tes eram canteiros cobertos de tapumes, cada nova para o Sul.
As catedrais eram brancas porque eram nova& At
obra era uma adição surprecndeRte. A unidade era eram novas: eram construldas de todas as medidas,
garantida pela coerência do estilo, isto é, pela confian- regulares, geométricas, segundo um plano (...). Sobre
ça no futuro, não pela memória de uma ima~em passa- des e todos 011 burgos oercados de novos muros, o
Deus dominava u paisagem. Tinha sido feiro
da. O gótico é justamente o estilo internacional que podia, extraordinariamente alto. Era uma de!mn,oor<Aom>lllli
unifica os métodos de construção e de acabamento dos to; mas não. era um ato deotimismo, um
cdificios em toda a Europa, da metade do século XII de mestria.
em diante.(Figs. 575-595). O novo mundo começava. Bra nco, limpido, javial,
do e sem retornos, o novo mundo se abria como uma
É o quadro descrito de maneira feliz por Le Cor- tinham sido deixados para tr{os todos os uS<>s~ooo:nhedd'oe,
busier em seu livro de 1937, Quando as Catedrais eram dado as costas ao passado. Ern cem anos o prodlgio foi
/lrancas: ) t;)rmo, e a Europo foi mudado.

:no
Fig. 573. A Catedral de Oruieto, que s~ eleva por sobre os telhados
das casas.

rtJ.!. .57-1. Pla11ta da cidade d<' Pádua. com o últ1mo ci11turào di'
muros medieeal que inclui campos r jardms.

:m
u...J ~·~tu.!! ..
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Hf"f't• ·
.if. • • ~N -~ /'-
- ~·~
-~ '
- f'i#S- 57.5-.577. A (àtcdra/ de Chartrc.ç, mirt~da em 1/94.
J{ • :
duas t•istas aéreas. que et•tdenctam a d11•erstdade de
t;:reja <'<Is casas en1 eolta.

272
273
1. plontn Ktral
2 planto de duas ateadas tipicas. a nt... el do roda'* (A·U no !M"tâO)t n nhtl dtl pri
mNrA orde-m de Janelas (CD na S«âO).
3. prOGll)e(>tO 1nt..tmo
<I. «<>lo
6. pf"'O.!,pec10 exU'mo

.1
·ri __ _..;:::.-
..... / '
Scala 1:1000 ~.·.~::.,. . . . , . , . . . . . aooo

l!lg. 578-582. A Catedral de Ueimli. ÍIIÍCÜida rm 1210.

274
27!)
f"r/>1.<. 583-586. Quatro desenhos da Catedral de Heims. tmrdosde um L pTOif.ptdO e.xt.tmo e i.nMrDo do oorpo de t~• ne'u
mclemo ele aporrtamerrtos do arqurteto medíeoa/ Vrllord ele Horrnf'· 2. &e(;\o dos arcoe ram,..,.... di• COf'O
3 e 4. prospeao externo e iDWrno do ooro
mrrrt (cerca de I 235):

276
587-588. A O>tedral de Amirn.,. iniciada em 1220. Plalll4 c
ioltma.

1. iptfa
2.criptl
3.obadla
4.p&lldodooal>adto

11,089. Planta da Cat,odral d<· Calúma , iniriada rm 1248 Fig. 590. Planl4 da igreja e dos edificios colocados nocimodo Monr
.'mnt .\fichei na Fraru;a; nest~ raso, o organismo da t~rftja J.!Ótu-n ,.
uu·orporado num ronjunto lw,wJ[hu!o J)("la f'Scolo r {)('la st:ot,·nw
•·unstrutrvo.
Abod•o.·
.· 4.. •nt..ueo~.inhu
5. NiadoAquUo
&N.,.U
.·.· '7. a ntt,JCO rtft1C6nt
II.<Omdo<
9 enttiO domu&llno
10. t-n!t~•na
li. ............
1<1.
13. hooP<d,••• !""-do••.
::.. :~·. . I< uJI<(a dt s.noo -
15. -~· doo pollno
16 ..1. doo h6o~. . ......
17. ("a~l• dt S.nta ~
18. rtitllóno
19 corinha
20. edttt:•
21. a~ala doa C.vaWc.
Zl twladulfil
2a. clou1tro

Paldt•o d'J' obodt1:


:.e-1. ttolo. dt ttuardt
2:;, torrt f>trrint
216, pr~uradori•
27. oi)OIIfntot do abHI
2,8.2!). 0\III'QfApottntot
~- foua dat 1M9'1Ituta~
31.1.0rrtCorbln
32 ptltiO
3.1. Chattltt
~.-7.(0rtlrita~
•18. coPtla de S.n&o H11bertt
49 ch1fan~ dt Suco H•berlt
.50. chetaru dt S. Sa-...
~1 . d.tttna

1/2000

Figs. 591·593. Mont Saint Michel. Planta, secçllo e vista de um


plástico do século XV111.

278
' -
I I

27!1
~80
da Catedral de Ulm, na Alemanha.

tk~enho do mestre Stomaloco, que indica as propor-


not·~s da Catedral de Milão (fins do século .\:111).

tk.enho do século XII, que representa a Catedral e o


C4nterbury, com os condutos dedis tribuiçlíoda dgua e

"' :!Hl
Os primeiros três caracteres- a continuidade, a
complexidade, a concentração, - ficam estâveis no
tempo e definem a naturez.a essencial das cidades euro-
péias; o quarto, ao contrArio-que podemos chamar a
capacidade de renovar-se - não sobrevive depois da
crise da segunda metade do século XIV. O momento
criativa mais importante passou; dai por diante olha-
se para trãs, para este p888ado, para tomar qualquer
nova decisão.
Para compreender a cidade antiga, é suficiente
uma descrição completa de poucas cidades dominan-
tes: Atenas, Roma, Constantinopla. Ao contrArio, na
Idade Média não existe nenhuma supercidade, mas
um grande número de cidades médias, entre as quais
uma dClzia nos séculos Xlll e XIV alcançam mais ou
menos o mesmo tamanho: dos SOO aos 600 hectares de
superftcie e dos 50.000 aos 150.000 habitantes.
Damos a relação das principais cidades da Bai-
xa Idade Média, oom as superftcies alcançadas no
último ç:inturão de muros:

Veneu (a cidade eu Uhu oonlljruu) cerca de 600 h~


Millo (DOI muroe do• Vleconti do'lkulo XV) 580 hectaree
Gand (noe muroa do lkulo XIV) 670 h~
Colônia (noe muroa de 1180) 580 b~
Florença (noe muroa de 1284) .ao b~
Pidua (noe muroe vtnetoe do 16culo XV) 450 h~
P~(noe muroa de Carl01 V de 1870) 440 hectaree
Bnu;elu (noe muroa de 1367) .f16 hectare&
Bolonha (not miiJ'OI do 16éulo XIII) .4()() hectarea
Louvaln (Doe muroa de 1367) 395 b~
Verona (noe muroe doe Scala do 16culo XIV) 880 hectaree
Brugee (noe muroa de 1297) 880 hectare&
Plac6ncia (noe muroe do 16culo XIV) 290 hectaree
Thlemonl (noa mun» do lkulo XIV) 250 bectarea
Nipolee (noa muroa aragon- do a6culo XV) 200 bec:taree
PiH (noa mun» do 16culo XII) 200 hectaree
Barcelona (DOI mun» de 1360) 200 hectaree
Siena (noa muroa do 16culo XIV) 180 hectaree
Ulbeck (noa muroa de Hc:ulo XDJ) 180 hectarea
Londree (noa muroa romanoa r-eelauradoa
na Idade M6dia) 180h~
Nuremberg (noe muroe de 1820) 180 hectares
Malinee (noe muroa do a6culo XIV) 180 hectaree
Fnml<furWobre-o-Meno (noe muroa de 1338) 160 hec:taree
Avignon (noe muroe de 1366) 140 hectaree

282
Figs. 597-598. Paris na Idade Média: a ilha com a Catedral de Notre
Dame, e o conjunto ãa cidade. Reconhece-se o cintur4o de muros de
Filipe Augusto (1180·1210), concêntrico à ilha, e a ampliaç4o de
Carlos V na margem direita (1370). As gravuras são do século XVI.

Os dados sobre a população são mcertos, e não é Não é possivel, num livro generalizado como es-
deduzi-los pelas superficies, visto que a densi- te, descrever uma a uma as cidades da lista anterior:
construções nos últimos cinturões varia bas- iremos nos restringir a cinco cidades - Veneza, Bru-
As cidades mais populosas - Milão e Paris - ges, Bolonha, Nuremberg, F1orença - que não são as
talvez 200.000 habitantes, Veneza, mais importantes, porém as mais adequadas a mos-
r •u•e<:u~... 100.000; Gand e Bruges, 80.000; Sie. trar a variedade e a riqueza da casuistica dos organis-
Nenhuma superou as capitais dos reinos mos urbanos medievais: um grande empório marltimo
na Europa (Palermo com 300.000 habitantes, colocado entre o Oriente e o Ocidente, uma cidade
com mais de meio milhão) e ficam, natural- mercante da costa flamenga, uma cidade do Vale do Pó
das grandes metrópoles orientais, Cons- que se desenvolveu ao redor de um núcleo romano,
e Bagdá, com um milhão e mais de habitan- uma cidade mercante e manufatureira da Alemanha
central, uma cidade industrial e banqueira da l tá1ia
central.

2R3
Flgs. 599-600. Planta de Mllllo em meados do skulo
muros do século XII, reconstruidos após a Batalha de
( 1176) . Planta da cidade atual (extralda do mapa do
Geogr(ifico Militar) ; ao centro, distinguem-se
primeiro cinturllo de muros dos Visconti, co,uolldcldopGII
mente pelos espanhóis na metade do 1fc~lo XVI.

284
Ffl. 601. Mapa da laguna IH!neziana 110 deu/o XV,t ao centro do
u~lho ck água pack·se uer a cidack de Venua, circundada pelas
ühas me110res.

fozes do Brenta e do Piave) e se comunica facilmente


com o mar através de um canal natural.
é uma cidade excepcional, seja na Idade Veneza pôde evitar as dominações dos reinos de
em nossos dias, pelas características siniDJ- terra firme, e permaneceu formalmente sujeita a Cons-
ambiente geogrâfico e de seu desenvolvi- tantinopla;' pôde pois tomar-se o centro comercial in-
termediário entre o Oriente e o Ocidente e se organizou
livremente desde o principio, sem enfrentar, como as
habitantes da planicie veneziana, para fugir outras cidades, as lutas com os principes e os nobres
dos bárbaros que entravam na Itália feudais.
Júlios, se refugiaram nas lagunas entre a fi. forma da cidade já__cstfuiefinida no fim do
a do Tagliamento> que ofereciam um aro- século XI e permanece ~ticamente ina lterada em
tanto por terra, quanto por mar. Nas- t.õdos os mapas sucesSfv~ Clesae o mais antigo êfe
nas ilnas intermediárias, alguns cen- 1346 (uma plammet1ia precisa, não uma das vistas
auJI>uuuH; entre estes, adquiriu importância siilibóllcãSils'üais na Idade Mêdia;"Figs. 6@6õ4). até
que se acha no meio da laguna maior (entre as aos mapas mõdemos (F'ígs. 651-652).

28!í
fi/l. 602. Planta de uma galé f!!llleziana de t~s ordena de remos.

f"i/ls. 603·604. O mapa. mais antigo da cidade de Veneza, desenhado


11um código de /348, e uma cópia gravada em 1780. O 11UJpa indivi-
dualiza, na laguna, o percurso dos canais nauegdueis: o canal da
Giudecca e a Bacia de Stlo Marcas, onde desemboca o Cana/
Grande, que atravessa a cidade.
I


Pig. 605. Mapa da cidade de Veneza 110 •lculo XVIII.

grande recinto do Arsenal, o estaleiro estadual ondese


constroem os navios. A cidade emerge do espelho de
égua da laguna com seu contorno inconfund1vel, em
forma de golfinho, mas sua estrutura permanece liga-
da antes à conformação invisivel dos fundões, como se
vê no mapa do século XIV. · ·
f
Também os edif\cios mais importantes da cidade
já estÃo trap.dos entre o fim do século XI e o inicio do
século XII.)
A Basllica de São Marcos (em cruz grega, imita-
da pela Igreja dos Santos Apóstolos de Constantino-
pla) é construida entre 1060 e 1094; os dois mercados de
Rialto, às margens do Canal Grande, são arranjados
em fins do século XI e unidos por uma ponte de barcos;
o Palácio Ducal é reconstruido em pedra depois do
incêndio de 1105; a divisão administrativa em frontei-
ras e contrade (bairros) é fixada em 1083.
* Sutfliro en cada ama cla.l ~Me pett.t11 em Qot eetavam dividMIM elpmu dcl.dea
IW.OAU. (N. da T.~

287
Fig. 606. A construção da Torre de Babel; mosaico
Igreja de Sdo Marcos.

No século Xll, cresce a prosperidade


no iní.cio do século XIII, o organismo
biente fisico da cidade estão
ciclos. O Doge Sebastiano Ziani (1172-
recinto fortificado em redor do Palácio
praça em L entre o palácio e a basílica, em
se abrem as lojas dos novos edificios (aqui
o solene encontro entre o Barba-Roxa e o
dre III, em 1177); por sua ordem, o
Barattieri levanta, no'limite entre a praça
as duas colunas de São Marcos e de
projeta a segunda Ponte de Rialto, de
parte central móvel para poder deixar
vios (Figs. 607-608).
O Doge Enrico Dandolo (1192-1205)
Cruzada para a conquista de Conc:tnntinnn
para Veneza um grande número
quais os quatro cavalos de bronze coJ.ocaaos
da de São Marcos. As ordens cm1s~1~u·~oi~BII
blica são fixadas de 1207 a 1220, e
estabilizadas em 1297, com as leis con
$errata del Maggior Consiglio (a Barreira
lho Maior). Toda a cidade se enriquece e se
volta de meados do século as ordens
cantes se instalam nas zonas ,.,,,.;r.s,.;,,.a
tarde, por volta de 1330, dominicanos e
irão construir as grandes Igrejas de São
Paulo e dos Frades; Figs. 647-650). A
cunha-se o ducado de ouro, que mantém
legal até 1797 (Figs. 61'7-618).
Neste ponto está completa a
na funcionante" de que fala Le Corbusier,
rigoroso equilíbrio entre a água e a terra.
"chegaram os 'artistas'; mas tudo já
inserido no ambiente, feito pela colaboração

288
.4 ugundo Pont~ de Ria/to, em madeira, com o parte
dmcorpauoros nouia.. Um detalhe da u;.tode
Borbari, e uma pintura de Corpaccio.

289
(A Basllica de São Marcos, inaugurada
conc~ida nos três séculos seguintes com
cular decoração de mosaicos, de esculturas,
sarias (Fi_ss. 610-621). O palácio Ducal é
formás góticas de 1340 até o fim do século
de São Marcos é ordenada na primeira
século XVI ~r Mauro Codussi, pelo
SanmicheliJ A terceira Ponte de Rialto,
construida por Antonio da Ponte em
(que de 1570 a 1580 é nomeado "proto da
é, diretor das obras públicas venezianas)
duas grandes igrejas periféricas de São
Redentor, que olham para a cidade da outra
da Bacia de São Marcos. Longhena coll8tr6i
da Saúde na embocadura do Canal Grande,
brar o fim de uma epidemia de peste em is:n

f'ig. 609. O centro monumento/ de Veneza, entre Ria/to (com a Figs. 610.612. lgr(!ja de S4o Marcos. A planta; d
terceira ponte de pedra de 1592) e Sdo Marcos . .()e uma uista do pintura de Gentile BeUini e numa fotografia coraten1POJ>diN
século XV/11. pordnea.

290
Fig8. 6/5-616. A "pa/4 de Ouro"na Igreja de S<lo Marco•.e:«>cutada
rw deu/o XIV uti/izalldo ele~tU?ntos mais antiROS (tfus século• XII e
XITI), prouenientes, em parte, de Constantirwpla.

Figs. 617-6/8. O ducado de ouro ueneziano, cunhado de 1294 em


diante (reproduzido em dobro do tamanho real).

293
Fig. 619. Uma lousa de m6rmore com decorações do Mculo Xll, na
Igreja de Sdo Marcos.

294
Fig. 620. A Igreja de Sdo Marcos, inserida entre os edi{icW. circuns·
tantes, numa uista aérea.

295
Fig. 621. Vista aérea do conjunto de Sdo Marcos. com a igreja e o
Palácio DllCal.

296
\' I ' I I \

Fig. 622. Veneza e sua laguna, numa v ista do século XVI. A laguna
tem uma forma simplificada, para p6r em evkMncla a cidade e seU!

( edi{lcios. Mas o g ravador representou a diferença entre as dguos do


ma.r, mais agitadas, e as do espelho de águo interno, mais colm08,
povoada.s por muitos tipos de navios. V&.m.se também os centro1
menores, Mura.no (em cima) e Chioggia (embaixo).

Fíg. 623. A grande visto tk Veneza de Jocopo dei Barba ri, gravada
em J5()().
tempo os engenheiros daRepública
a integridade do ambiente da
depende a vida da cidade: desviam as
desembocam na laguna, para evitar
novos canais, para facilitar a passa-
e para manter em movimento as
insalubres; reforçam as nesgas are-
entre a laguna e o mar com os murazzi
le8istir às marés e aos vagalhões.
1118ni8rno especialissimo, frãgil e duradou-
compacto desenho de origem orien·
maia às cidades antigas, bizantinas,
ew:op.naiiJ mas modificado pelas obra.e-
~Piuitstwra gótica e da Renasoença, é repr&
~IDJriQueôcio pelas imagens dos pintores.
metade do século XV, é este o ponto
rorren.~.eS maisvivas da pintura mun-
Al'l•m•~PIIn da Messina encontra-se com
em 1495 chega da Alemanha AI-
Veneza se toma o laboratório das exp&
técnicas mais avançadas: a pintura a
de grandes dimensões, a tipografia, a
cobre. Os Bellini e Carpaccio pintam os
da cidade (Figa. 608,611), Jacopo dei Barba·
1500, a grande plan~ em perspectiva em
qur rrpresentn Vene?.a pelo sul. nn nmpli-
cidade (Figs. 608, 611}, Jacopo dei Bárba-
pcrfcito:> du Rcnusccn<;a. I )cpoi:>, no
a pintura de Giorgione, de Ticiano, de
uma tradição que influencia a arte européia
três séculos. ·

O Amnal de Veneza, i$to I, a oficina pública para a


doi naviln: da vi1to de Jacopo dei &rbari.

A foz do Canal Grande pP/o &tia de Silo Marroa. <Y>tn a


Saúde.

299
Figs. 626-636. Dois tipos de casas vene:fanas: ca.ta~em,ll
lotes estreitos e profund03, com o jardim
canal; na p6.gina d d~reita, cascu; sem Jard•m
tk esquino M interior cUJ teci@ construido. A
CGBaB tkpentk rigoroBai7U?nte do rel~/lo com 4B I'IUJI
viGB tk 6.gua.

:mo
:101
Scala 1: 1000

lEl liml
mm
a ao o

Figs. 637·639. O bairro ao redor do Campo de Santa MariM; nos


dois esboços, prospecto e planta das casas conRtruldas aa redor da
CaUe Lo.rga.

302
Figs. 640·641. Duas vistas do Canal Grande, com a Ponte de Ria/to.

303
5 & zr ;;:::: .....! J $
:
: &4 6 i c c t L Zí i ii

~s4J!~
~I{
ili -- ' ! ID LIJ lffi tiill

Figs. 642-644. C<Jsas em fileira do século XIX, ent~


Parafso e a Salizzada S. Lio (salizzada é o 1101114! dado
calçadas).

304
Fig. 645. Vista a~rea de uma parte habitada de Veneza, com a parte
vazia do Campo S. PauJc; (JJ) fundo, a Igreja de S. Maria Gloriosa dei
Frari.

305
Sala 1: 1000

Fig. 646. Um bairro de Veneza, entre Rio S. Caterina. Rio S. André,


Rio Priuli e Rio S. Felice.

306
Fig. 647. Plantas da igreja dominicana de S. Jo4o e S. Paulo, e da
igreja franciscartf! de S, Maria Gloriosa dei Frari.

307
Figs. 648·649. Vistas aéreas de S. Jo4o e S. Paulo e de S. Maria dei
Frari, com os bairros circunstantes.

308·
Fig. 65(). Uma /6pide do skulo XVI conun.xuJa no
Veneza.

Troduç;IO< "A ddade doo y..,,_ fundada por dio~<to da 0.-


.,... dN , _ . . a ....ndod.o pelu ...... t d<fmdid.o . .~ao .,_
Portanto. qaa:n q~ Cl'" trqa danoU 6pa1 p6.bUcu., dt
tnim;.o da pj_tria. E n1o T~ ~ mtnor quem tiver
plt&ri.a. A lei eet.beledd a por • te edito de~ prok>nallNe ee.em.......-

A "máquina" é posta em crise somente pelas por, que fazem as vezes dos bondes e dos
transfonnaç9es tecnológicas do século XIX e do século cidades de terra firme; para encurtar seus
XX, q uando(veneza deixa de ser uma cidàde soberana abre-se.um novo canal- o Rio Novo -que
(em 1797) e cai sob o dominio dos franceses, dos aus- superior do Canal. Entrementes, surgem o
trlacos e dos italianos. J balneário no Lido e a zona industrial
Sob os franceses é completada a Praça de São em cujo redor se desenvolvem os eu
Marcos, construindo-se os novos edi.ftcios no lado meri- firme, que têm agora o dobro da população
dional e no ocidental; em San Michele é construido o insular.
cemitério, em S. Elena o jardim público.
Sob os austrlacos introduvse a iluminação a gás, Todas estas iniciativas alteraram o
o aqueduto, e o trem é trazido para Veneza; para este ambiente lagunar: as marés mais
fim se constrói uma ponte de três quilômetros e meio altas alagam a cidade, a fumaça
entre a terra firme e a cidade, e edifica-se a Estação de grega os mármores e enegrece as umoLm·.....
S. Lucia, no inicio do Canal Grande (Fig. 640). canais para os grandes navios
Depois da ocupação italiana (em 1866), constrói- circulação das águas na laguna. A poJlUIIlçiiiHia:
se um porto moderno - com as bacias para os navios de antiga, que alcançara 180.000 habitanW&
de grande tonelagem, e os trilhos ferroviários sobre os da de 50, diminui rapidamente se reduz e
diques- na zona entre S. Lucia e S. Niccolo, finalmen- metade. Hoje tenta-se restaurar a cidade e
te é trazido para Veneza também o automóvel, economia, para salvar um patrimônio
construindo-se uma segunda ponte paralela à primei- interessa ao mundo inteiro: mas se trata
ra, e umá esplanada de chegada com duas grandes uma cidade viva, com os monumentos,
garagens de vários andares (1932). O Canal Grande- habitantes, isto é, fazer funcionar a "mtáauirta"u
que tem duas novas pontes na Academia e na estação de conformidade com as técnicas e as ""''11"'"""""
ferroviária - é percorrido por pequenos barcos a va- demas.

310
v- na época do cerco austrfaco de 18-49.
da •éculo XVIll dCJ Ffg. 524; podem-se -~-
q ::..
•'íleriJr•rfcCJ~ do. jCJrdins públicos (embaixo
(embaixo â esquerda), dCJ esúJ·
OOIIItru~o (no alto) e do cemitério na IlhCJ

-~· '\
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. ~.
I

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·•

311
Fig. 653. Vuta túrea dt Veneza, com a laguna e o mar abvto.

Fig. 654. Brugu; maJI(U do núcleo original e do segundo cintu·


rllode muros.

... ......... ....


'

'I' I'

312
a maior cidade mercante na Europa
se desenvolve em volta de um castelo
chamado posteriormente Oudeburg, o
- fundado pelos condes de Flandres ao
curso do Rio Reye, no final do século IX. Sua
êfavorável ao comércio, porque o rio desembo·
braço de mar que penetra profundamente na
de fato, ao lado do Palácio dos Condes e da
Bonatiano forma-se um pequeno conjun·
que é circundado por um muro em 915, e
a feira em 957. Algumas centenas de
a oeste, outros pequenos burgos se for·
redor das igrejas de São Salvador e de Nossa
que em fins do século XI se tomam paró-
amnnc•m••Q Estes primeiros núcleos surgem nos
elevados de uma plan\cie arenosa, e são
por uma paisagem paludosa (Fig. 653).
XI, a população cresce rapidamentt•, t•
toma uma cidade livre, arrebatando do sé-
o direito de se governar com as próprias
neste perlodo, ·constrói-se um segundo
de muros, que compreende uma área de 86
a proximadamente e uma população de
babitanltes (Fig. 654).
1134 uma tempestade muda a conformação
e cava um golfo a mplo e profundo- o Zwin
·-·-·"""'r"' do velho braço de mar. Os mercado· Fig. 655. A caraca, nauio mflrcante de três mastros, tUado no Mar
exploram prontamente este porto natu· do Norte em fins do século XV.
se encontra a apenas uma milha da cidadt·:
sobre o Zwin um novo anteporto-Damme -
um canal para ligá-lo ao Reye e à cidade.
os grandes navios param em Damme e
navios menores levam as mercadorias atk o
ordem do rei da França, Filipe;.o Belo - abrange uma.
da cidade. área de quase 400 hectares. Neste perlodo Bruges está
cidade - formalmente sujeita aos condes de
envolvida nas lutas entre os soberanos franceses e
mas já agora rica bastantl.' para fazer frente
flamengos; um tratado de 1305obriga a cidade a demo-
potências da época - co•·tinua crescendo
lir ~s fortifi~ções, e de fato a cidade permanece tempo-
século XlTI e se toma o portiJ principal entre
ranamente mdefesa, de 1328 a 1338; mas posteriormen·
e o Mar do Norte. As relaçõe:; comerciais com
te os muros são reconstruídos, e permanecerão em pé
da Liga Hanseática - Hamburgo, Bremen
até 1782; quando serão destruídos por ordem do Impe-
-são definidas em 1252. As relações com a
rador José II. ,
- que fornece a lã para ftS indústrias têx·
A administração reside na Velha Ha lle no inte-
if l••m"''a<•Q - ficam por longo tempo controverti·
rior do Oudeburg; o centro da vida da cidade porém,
fixadas em 1274 com o trata do de Montreuil·
é,
a Grande Praça que se encontra logo além do recinto
o rei da Inglaterra fixa em Bruges a etapa da~
do Oudeburg, para além do Reye. Entre estes dois
é, a passagem obrigatúria das exportações de
centros, a montante do rio, constrói-se no fim do século
direção ao Continente. Em 1277, aparecem em
XIII a Nov~ Halle, também chamada Waterhalle, por·
as primeiras galés genovesas, seguidas mais
que os naVIos podem entrar no ediftcio e ser carrega-
pelas venezianas. As troc'ilS comerciais entre a
dos ou descarregados ao abrigo (este extraordinário
e os palses nórdicos se desenvolvem agora de
monumento foi demolido em fins do século XVIII e em
por via marltima, mesmo porque as cida·
seu lugar existe agora o palácio do século XIX do
governo ~rovincial). De 1377 a 1420 um novo e gra~dio­
-onde se realizam as feiras tradi·
- perdem sua independência e entram a fazer
so palácto municipal é edificado ao sul da Grande
em 1284 dos dominios reais franceses. Praça; seu beffroi, com uma centena de metros de
O o~anismo urbano está em plena expansão, e o altura, se toma o centro visivo do organismo urbano
crnturão de muros - iniciado em 1297 por (Fig. 657).

313
F•11· 656. Vi.ra, doa/to, doconjuntoconotruldode BrUlle•;tm primei·
ro plano, d t~uerda, o recinto de C<U~Io primitivo.

FiiJ. 651. A praça do mercado com a torre do fim do 1éculo XIV.

Sempre na segunda metade do século X.Ill são


reconstruldas em formas góticas as duas igrejas prin·
cipais, São Salvador e Notre Dame; as ordens religio-
sas mendicantes se instalam, como de costume, nos
baitTOs de periferia: os Dominicanos em 1234, os Fran-
ciscanos em 1240, os Carmelitas em 1266, os Agosti·
nianos em 1276. O hospital óvioo de São João, fundado
em 1188, é consideravelmente aumentado.
Nn margem ocidental da cidade- onde h oje se
encontra a estação ferroviária- permanece um am·
pio espaço descoberto onde se desenrola a feira tradi·
cional da sexta-feira: é uma das praças mais amplas
da Idade Média, parcialmente arborizada e flanquea·
da por um canal navegável.

314
Grande mapa em perspectiva de Bruges, publicado em ··

Detalhe do mapo pre~nte, com o siltema do• dois


de Bruge•. SJui• e Domme.

315
11. ~««~• celodrol do ~.,. llomo
12. iat-eja de Slo S.lvador
IS. et.Ptl• de Sto Crie\b\'.0
n caJ)fb <t. S6o JoAo
21. eapela de S.nt. Amand•
22. c•pel• de Silo Pedro
26.. capela dot pintor'C't
58. l'l'l~do do ptlxt
60. mereado do Lri~:o
62. mm•do da• ptltt
63. boi'"'
10. cutelo, co.'l'l • munldp•lldad.
71. lfAIIf'
72. Wt~tel'hoUt-
75. prioAo
Fig. 660. Detalhe do mapa em pN$JX•t·tu•a de 1562, com a parte 76. I UI-3 do l:trinclpe
central da cidade: o castelo, a praça do mercado e as duas igrejas n . .... do..-to
principais. 88. cutt:lo ch1mt.do ''u ttte wn.
Ftg 6fil. O interior da Catedral de Notre Dame, em 8rtJI/t'H,

Figs. 662-665. Bruges. As casas no wdo meridional da praça do


mercado; a Porta do Marechal; uistas do alto d~ duas ruas da zona
central.
Nos últimos decênios do século XIII, cerca de um -para evitar incêndios - mas o municlpio
terço da renda municipal é destinado às obras públi- com um terço das despesas; os proprietários
cas: a construção dos muros, a pavimentação das a serem demolidas para ala rgar as ruas
ruas, o abastecimento de água. A construção dos edifi· indenização, mas não podem destruir
cios privados é ctisciplinada por uma série de regula- por iniciativa própria: neste caso, são o
mentos: são admitidos somente os telhados de telhas reconstruí·los dentro de quatro meses.

318
BY.RS.A

320
de jUftiça, no recinto® cartclo de Bruges.

:::.! 1
tarde serão fundadas nas outras cidades
~o ambiente da rica burguesia de Bruges
t•stavelmente os maiores pintores flamengos
X. V: Jan van Eyck -que morre em 1441
:vtemling, que reside na cidade desde
morte em 1494; no hospital de São João
><crvam as obras pintadas exJore,gsllmem:e
ling, e ofertadas pelos mais abastados
tdptico com as bodas de Santa Catarina
c!J·ia (1479}, o tríptico com a adoração
t l479), o tríptico com o lamento sobre
(1480) e o relicârio de Santa Úrsula (1489;
(i79).
O Porto de Bruges é sempre o ponto de
mais importante do comércio oceânico
alemães, aos ingleses e aos italianos
segunda metade do século XIV, os eso•anl16is
tugueses, que iniciaram a exploração
especiarias no Atlântico meridional. Mas o
sendo açoreado lentamente, e o anteporto
transferido para mais longe, de Damme
Em 1378 começa-se a escavar um novo
direto, de Damme para o mar; logo em
halhos são interrompidos pela guerra
,;os navegáveis de Bruges para o mar
,·ez mais inseguros. Do século XV em uumte,~llll
dorias tem de ser transportadas de Sluis
por via terrestre, com grande aumento
1460 também o porto de Sluis se torna
t.!randes navios; mas neste ponto a
mercado de Bruges - baseada sobre
('Oncedidos pelas grandes potências
Fig. 672. O grande guindaste de madeira de Bruges; miniawra c/u ameaçada pela concorrência das outras
século XV:
uo contrário, garantem aos mercadores a
comércio.
Em 1488, o Imperador Maximiliano
mercadores estrangeiros a se transferirem
para Antuérpia; a partir deste momento,
torna o novo empório marítimo europeu, e
transforma gradualmente numa tranqUila
província. O grande mapa em perspectiva
Gerards, gravado em 1562, ilustra m•nwe~n!uon
organismo da cidade- com os"'''""'" '''"
os bairros de casas em fileiras dos séculos
que não chega a preencher o circuito dos
século XIV (Figs. 658-660). Um rectmS€l8.1Jlento
contà 8.129 lotes construidos; a população
século XVI ao século XVIII, entre 30.000 e
habitantes.
Este organismo permaneceu intato em
parte até hoje; de fato, Bruges ainda é um
A prosperidade de Bruges continua nos séculos qüilo e isolado das grandes correntes de
XIV e XV. Muitas casas privadas importantes são guns bairros periféricos cresceram fora
construídas neste periodo; entre elas, a casa dos Porti- um novo porto foi ·construldo em 1914
nari (1451}, a casa dos mercadores hanseáticos (1478), linha de costa, em Zeebrugge. Mas a
e a casa da famUia van der Beurs, onde os mercadores em que está empenhada atualmente a
têm o hábito de se reunir para discutir os negócios é a restauração do patrimônio dos
comuns (Fig. 669): é a primeira das "bolsas" que mais para adaptá-los à vida moderna, sem

322
O rrhctlrw lh Santa Ort~ula, pintado por Hans Mem·
ú $do Jollo; o rol1iunto e o. seu poiMiB com as
dil•nta.

323
Fig. 680. PI<Jnta de Bruges na pri~ira metO<k
construida a estrad4 de ferro, que corta o oval

Fig. 681. VISta aina de Bruge• moderna, com 11 co,.


periféricos. NoaJto; d direit11, o 11ntigo canal paro
dG, o novo canal para o anteparto moderna de

324
BOLONHA

O local da cidade atual tem sido habitado desde a


mais remota Antiguidade, e foi escolhido pelos roma-
nos para a fundação de uma colônia, em 189 a.C. A
primeira expedição compreende 3.000 famUias, das
quais cerca de 4/5 se estabelecem no campo e um
quinto no núcleo habitado. Mais tarde a cidade cresce
e se torna uma das maiores da Itália Setentrional;
50-80 hectares de superficie e algumas dezenas de mi·
lhares de habitantes; é alimentada por um aqueduto
que vem do Vale do Setta, com um percurso subter·
râneo de 17 quilômetros.
Após a queda do Império, a cidade cai em ruinas:
assim a viu Santo Ambrósio no sé<:ulo V. Apenas, a
parte oriental da cidade - a mais recente, melhor
construlda - é defendida por um primeiro cinturão de
muros restrito, elevado talvez sob Teodorico, no inicio
do sé<:ulo VI (Fig. 684); este cinturão tem quatro portas
(Bolonha é chamada de "cidade das quatro cruzes") e
permanecerá o coração da futura cidade medieval;
aqui serão, de fato, construidos os principais monu·
mentos: a catedral, o palácio público, São Petrônio, o
palácio do Rei Enzo, ao redor do retângulo da Praça
Maior que corresponde a uma malha do tabuleiro ro-
mano. Imediatamente fora da porta oriental (Porta
Ravegnana, onde hoje se encontram as duas torres) se
instalam os longobardos num subúrbio independen-
te. m m um cinturão de muros semicircular.

U= miniatura® sécUÜJ XV. no tftxligo ®s estatutos da Fig. 683. A mais-antiga vista da cid/Uk de Bclonha, do inicio ®
~ rrw!rca®n• de pano. Bolonha, Museu Cluico. sécullJ XVI.

32!5
A população começa a aumentar,
outras cidades, entre o fim do século X e o
século XI. Em 1019 a catedral, que se
muros, é transportada para o interior,
Em 1088 é fundada a célebre unJtveJr.;rttllllll
antiga da Europa, que recebe em
Pandectas de Justiniano (proveniente de
pois de 1115, quando morre a Condessa
Canossa, forma-se a Comuna va•v"'""""•
cidades - a latina e a longobarda - se
única cidade. No século XII constrói-se
cinturão de muros, concêntrico aos dois
que inclui novamente toda a área da
os novos subúrbios jã formados ao sul e a
de 120 hectares, Fig. 685).
O desenvolvimento continua no século
1201, a Comuna fixa sua sede definitiva no
cidade, no lado ocidental da Praça Maior.
começa-se a construir, no lado meridional,
palãcio público, onde, depois de 1249, é
Rei Enzo, filho de Frederico II. A cidade se
todos os lados além do segundo cinturão
Fig. 684. Mapa do centro histórico de Bownha antes da.s trans{or- nos novos subúrbios se estabelecem as
rnaç&s modernas (as linhas mais grossas representam os pórticos, ::;as mendicantes: os dominicanos ao sul, no
que formam uma rede contfnua em toda a cida.de); é indicado o
traçado do primeiro cinturclo de muros, com as quatro portas e a onde o próprio São Domingos, em 1221,
ampliaçclo wngobarda. :<epultado; os franciscanos a oeste, onde
1236 a 1250 uma igreja modernissima,
delo gótico internacional Nestas igrejas
há obras de arte de grande prestigio: em
gos, a arca com o corpo do santo, para
lham os melhores escultores italianos:
Arnolfo di Cambio, Niccolo dell'Arca e o
!angelo (Figs. ~7); em São Francisco,
m :"tn non • do~ irm;los J)piJp !'VII'SPJ..(tH' 11
688). Para defender a cidade assirO '"'~"""''"ti"
se a construir um terceiro cinturão de
preende uma área de 400 hectares an,·oxím:ldaJIIIII
A crise econômica da segunda metade
XIV compromete as instituições comunais;
conquistada pelos Visconti de Milão e
pela Santa Sé. Em 1377 a Comuna e o
em acordo para garantir a Bolonha uma
ção autónoma (o governo dos Seiscentos):
menta ativa-se um vasto programa de obras
partir de 1370 reconstrói-se o palácio
1380 é completado o cinturão dos terceiros
1390 inicia-se uma nova e imensa igreja de
Fig. 685. Mapa do centro histórico de Bownha; a drea tracejada é do de comunal, São Petrônio, que permanecerá
segundo cinturclo (sécuro XI]}, o.ind4 legluel no traçado d4s ruas. da (Figs. 69~95).

326
Bownha, a arca de S4o Domingos e uma das estatue·
bo/4ustrado diante da orca (S4o Petr6nio com o modelo
executada por Michelongelo, em 1495.

327
Fig. 688. O relábuw de mdrmore sobre o altar·mor da
Francisco, de Antanelw e Pier Paolo dei/e Maltll"'

Figs. 689·690. Bownha, uista interna e planta da


Francisco (iniciadc, em 1236).

328
Figs. 691-692. Vistas aéreas das Igrejas de S4o Domingos e de S4o
Francisco em Bolonha, com os bairros circunstantes.

329
Fig. 693. Bolonha, vista airea d4 Igreja de 5&> htr6nÜ>, iniciada
em 1390.

331
S..lo 1: 1000

Pial.694·695. Vist4 interna e planta de Slfc Pet~nio, em


igreja atooll o braço anterior de um imenso edi{lcio
ceu inacabado; p0dem-$e uer. atr68 da ábside. a&
octogonal central.

332
Fig. 696. Plant4 em perspectiua de &lonha, da segunda metade du
skula XVI. Distinguem-se ao centro as ducu t4rres da Porta Rau.-11·
11ana (Fe G), aPr~ Maior(MJcom Sdo Petr6nio(B)ea Universida·
de (E).

No inicio do século XV, Jacopo della Quercia é palácio dos Banchi, e ao lado dele, São Carlos Borro-
para decorar a porta principal de São Petrô- m eu manda erigir o palácio do Arquiginásio, nova
os famosos relevos de mãrmore, uma das sede da universidade.
1H1rin~as do inicio da Renascença. A cidade, que em fins do século XV tinha 50.000
XV, entre os membros do governo cole- habitantes, tem agora sua forma definitiva, que não
a familia dos Bentivoglio, que assume o podere mudará até a unificação da Itâlia. Vamos analisar sua
a cidade sem modificar seu cenário tisico, já distribuição, assim como aparece num mapa de 1582
completo. O grande palácio da famllia, cÓnstrui· ·(Fig. 696).
arquitetos florentinos, é destruido porcomple- O desenho da cidade medieval copia o da cidade
1505, quando Júlio II reconquista a cidade, e em romana e das estradas que para ela convergiam. No
resta ainda hoje um monte de ruinas, o "estrago centro, reconhece-se o tabuleiro da cidade colonial; o
. O governo papal - que dura sem decumanus maximus era a Via Emilia (o trecho inter-
la'l'lupções até o século XIX - dedica cuidados espe- no parece estar levemente virado com relação aos tre-
Bolonha, que é uma espécie de capital secundá- chos externos, porque a Via Emllia foi traçada um
Estado; Michelangelo- que já havia trabalha- pouco depois da fundação da colõnia). Das duas portas
moço na arca de São Domingos- executa de salda nascem dois leques de ruas, que determina-
estátua de bronze de Júlio II, que é destruida por ram a estrutura dos subúrbios medievais. Os raios dos
revolta popular em 1511; mais tarde Vignola re- dois leques são cortados pelo terceiro cinturão de mu-
. a Praça Maior, construindo no lado oriental o ros, e são mais ou menos longos segundo a importân-

333
cia dos estabelecimentos circunstantes;
de pôde crescer sem encontrar obstáculoe
sua forma registra, como um diagrama,
desenvolvimento interno, baseadas nas
cidade e o trerritório. Olhando um
desde a época romana até hoje, pode-se
nha é o nó principal de distribuição entre
a Planicie do Pó; a forma da cidade
mente a esta função.
Quase todas as ruas de Bolonha
mente circundadas por pórticos; uma
comunal estabelecia que sua altura não
a 7 pés bolonheses (2,66 m), a fim de que
percorridas também a cavalo. Os
eram muitas vezes de madeira; ""'>~~>•-ímm•
substituidos, nos séculos ulteriores, por
pedra. As vistas mais antigas da cidade
grande número de torres, que corTesporldeli
dências das famUias no
primeiro cinturão medieval
elas foram truncadas, com exceção das
Ravegnana, que formam uma das ·
nhecidas da cidade atual. Na m
vêem-se muitos canais, que entram na
seja para o transporte das mercadorias,
zer mover os moinhos; também estes hoje
tos quase todos (Fig. 701).
Nos setores compreendidos entTe oe
ruas ficam amplos espaços verdes,,.ulltiv·Adn~u•
dos como jardins. A expansão da cidade noe
cem anos ocupou alguns destes espaços,
outros liVTes. Os conjuntos habitacionais
entre o segundo e o terceiro cinturão, são
des; ao redor deles existe uma linha de
das, muitas vezes de largura constante (de 10
nheses - 3,80 metros - a 16 pés, isto é, 6
construidas em série por iniciativa dos
prietârios - mosteiros, confrarias,
que as davam em aluguel aos operários
Cada casa tem uma horta, e o conj
Uma das casas em fileira da periferia de Bolonha, repre· forma um espaço verde ao centro do
Fig. 697.
sentada em um desenho cadastral do século XVIII. 697-698).

334
.
;

Um quarteirdo da periferia de Bolonha, com CJ8 cMas em Fig. 699. Plantas dos principais tipo11 de casas em {i/AJira bolonM·
ton8tru/(/as sobre o perlmetro e as hcrtas ao centro. sas.

335
Fig. 700. As casas porticad4• ao redor dat dua• lorNI
Ravegnana, numa vista® século XVIII.

Fig. 701. Uma porta da cerca externa de Bolottha


X VIII); uii·U um canal que entra na cidade, um:dOdO<:Gl!lllll
um porto imediatamente dentro dos muros.
L;
. '

Figs. 702-704.
&kuos Outras
do século tris portas do cmtur4o
XVJll. . externo de Bolonha.

337
--....__.__ifl
. . .,.,._,..
..._.,.~

~··~ <'1({
~~
Ci't,.,/tfltl(~
l
/
('

Fig. 705. Vista aérea do centro hisMrico de Bolonha. Distingue-se o


eixo da Via Emitia e o duplo leque dai ruas medievais. Ao centro. as
duas torres da Porta Rauegnana e Praca Maior, com o Palácio
Comunal tk S4o Petr6nio.

338
Depois de 1859 Bolonha começou a crescer fora
dos muros; quando no século passado foi construida a
rede ferroviária, e em nosso século a rede das auto·
estradas, Bolonha foi novamente escolhida como nó
principal de distribuição. A periferia da cidade- que
se desenvolveu no arco setentrional, tendo encontrado
ao sul o obstáculo das colinas- é seccionada por estas
grandes vias, que ainda não formam um desenho uni·
706. O centro hialérico ck &lenha, no perlmetro doa muros do
XIV, como se apresentaua no in1cio do século passado. tário, em escala maior do que a antiga.

339
Fig. 708. Ordem das cátedras, no conselho da cidodede Nuremberg; Fig. 709. Vista de Nuremberg em •eu ambientepai•raxú•"""
gravura de 1677. ra sobre pergaminho de 1516.

NUREMBERG montante do rio, e forma-se o organismo


Alts~dt, a cidade velha.
Esta cidade foi fundada peio Imperador Henri-
que III em 1040, no ponto de confluência das vias de Mas, entrementes outros subúrbios se
comunicação entre a Baviera, a Francônia, a Suábia e ao sul e a leste, onde o terreno é mais
a 'Boêmia. segunda metade do século xry, ~muros
O local escolhido é um vale percorrido pelo Rio dos para incluir aqueles den}l'O da cidade:
Pegnitz, e dominado por um morro onde foi construido cinturão é uma das obras Il)ilitares mais
um castelo. O primeiro conjunto habitado surge entre Baixa Idade Média: comp{eende dois
o morro e o rio, concentrado ao redor do mercado, que reforçados por uma sérié de torres, e
permanece a partir de então o centro principal da vida externo. A cidade alcança deste modo
da cidade. máxima - 160 hectares - e tem uma
No século XII, Frederico I funda um outro con- 20.000 habitantes. O centro civico é reoonstrulido 1
junto habitacional na margem oposta do rio, que toma tir de 1348; derrubam-se os
o nome de Lorenzerstadt, da Igreja de São Lourenço. O antigo do Altstadt, e consegue-se o
curso pantanoso do Pegnitz separa os dois organis- nova praça do mercado. Neste
mos, cada um dos quais é circundado por seu cinturão os principais edifi.cios públicos, queest;ãoenltre•lllll
de muros. Somente em 1320 estes muros são ligados a mentos mais importantes do gótico alemão

340
Ff8. 711. V1814 ck Nuremberg; aquarela ck Albrecht Darer.

, r-

~l4 1
Figs. 712-714. A Igreja tk Sanl<l Maria na
Nuremberg; J>Úlnl<l, secçdo da cobertura de -tt11111111

Fig. 715. Del<l/heda ctl8aparoquia1 deS4o&baldo,811

Igreja de Santa Maria na Praça do Mercado (1355), um acrescentados o século XV: o novo coro da
simples vão quadrado coberto por nove abóbadas em ·são Lourenoo;(1439) e a custódia do
cruzeiro de igual altura e por um alto teto de madeira mento no inteli.or da mesma
(Figs. 712-714); o novo coro da Igreja de São Sebaldo inicado no século XIV, foi re~N!ti<Wllne~ar.e 11111111
(1361); a célebre fonte na Praça do Mercado (1385; Figs. século XVI e no século XVII, CO[n sínglllarcaa
722-723). Outros notâveis arranjos decorativos são estillstica (Figs. 716-721).

342
343
I
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·-·- ·--·-·-j
primeiro andar andar térreo

No andar Lfn'eo:

A dlman doe • u.pUdot


Bc.tu de puni('Ao
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D ltrvlçoo
E dtMm'*'hoe .. PI'...KW"na .-abc.toninNii

Figs. 716-719. A municipalidade de N•orelnboorgnoal.culo.tn


t<U, secçdo e prospecto.

344
Figs. 720-721. Demlhes cW. escada em carácol da municipalidade de
Nuremberg; ·

345
Fitr•. 722-723. A fonte da praça do mercado: r•kvo e detenho cole ri-
do de Oeorg Pener, dúcipu/c tü DUrer (cerca de 1640).
R
l·l
I

ti-=·=-~
!

.-l.--.1'
primtlro llndar '-CeÚo andar ll.Ddartmto

1J4.121. Planta de uma casa mercante, BersstraBBe n.• 1.

m1ZB. Pl4nttu de uma casa mercante na DUrerplaú..

131J. Secçlfo transueT~al d4 co.a mei'CGflte na BersstraBBe, ilus·


na pdsina precedente.

347
Fig. 731. A casa de Darer em Nuremberg.

Fig. 732. O pátio da casa HeiUbronnt r; grovuro do

348
Fig. 735. Vi8ta ® «ntro !h N uremberg, a partir d11 Igreja de $d.o
Lourenço olhan® em direc(lo do coite/o.
de NuMmlx!rl/; J/t'{Juura de Albrccht
FiJl. 739. Plonl11 dl• Nuremb<'rJ.J. na ~··J:Imda mrtt:tf,•t!u:ot.!cllluXIX:o
C"tntro h1slfirt<'tJ f(·~hado JX/u duplo unturdo de mllr•J4, I" C"-'i prtmtí-
ro.s iJOITICJS J>Cfl/c.'fl('()$.
J.lg. 7-10. Uma rC"uwdu nnú~ta un rumpu dt• mmu NU SurrmMtJ!.

Fig. 74 I. Uma sc.(,'iJidO du p"'N'ssudt• .\'uremh<-rif nmlrn u:. Ja;,.,orros


nalistas.
i'"ig. 713. O plano de reconstruçdo do centro histórirotl~ Nuremi>Ng,

da Idade Média<' na l{enasccnça, N u rem· m ilitar. Ao <·o n trtnio, no século XI X c no s{•ndo XX a


ponto de passa![em oluigató1;<1 do comércio · boa posi('fto da cidad~ dentro (ht l"t•dc d<ts comunica·
mtre a Europa Selt•n ll·ion<•l. a Baviera e os \~icsfavon•<.:t' um dest•nvol vinwnto mais evidente: H
e s~ torna d<· fato um dos ccn~ros mais pequem< t·idadc medieval se torna o centro de uma
"'"m"'"'·"· O g"ovcrno da ddadc é tontrolado a~lomera\·~to muito c•xtcnsa (420.000 habitantes, ;\s
famílias mcrcanh•s, c mais tard<' pelos vésperas da Segun da Guerra Mun dial). O regime n a ú s·
!km um J!Íro •h• lll'gúcio,; <lUC >'!' cstend<• ta orJranit.a cm Nurpmbcrg- uma ~randt• rcuni[lo
todo. como os \\'••b('r. cstt• ambient<', anu<tl. e monda construir um tampoade<tu:l<lo. tircun-
prosp<••·:•m as nrtl.'s ,. a vida culturaL dado por putamares l' cscadalins (lo'ig. 7'10)
laborali1rio ond t• tra bal h am os prin ri-
- V<•it Sto,;s, :1 f;omília elos Visdwr - Durante a gtH"rrn. o cidade i! desfigurada pelos
piniAlrt'S all.'m:ic,;.<•ntr<'osquaiso!-IJ'ande bom bardt•ios: das I:,!;,_()()() casos, .i7.000 são arrasadas,
, mms tard<· st• torna um dos <.:entro~ .i!i.OOO danilicadm< I' sornenl<• r:l.OOO pannan<'Cem in-
ouriv<•saria, d;o artl' ..ditori;o) l' da <.:a rio· tact.;.~s. Tambi!m o t'l'n~ro histôri('o é <tuase l'ompleta-
bém a púllia dt• l lans Saehs t• dos "nH's· mcn tc destt·uido Wig. 742). Neste n•nári o S<' dc.\;()nmla,
qu~rontrihu<'lll paw formar :1 tr;~di~·;\u entn: I!) l!i c• 19-16, o pmcessodos altos dili~l.'nt(•s nazis·
As j.'l'andt•s •·asas patríci:ts - com um t as perante um tribunal formado pelos Aliados
~"·"'"'"~''" principal p;mt a ru;o, <' outros (Fig. 741).
,...,..,mth\r,.,~ :to rl'dor dP um p'ttio i ntt•rno >(Figs. A t't'l'< msll·u~·úo n•sp<'itn ao m:'tximo possível o
testemunham n pruspt•ridadl.' da burguesia orga n ismo tradicional (i<'ig. 7tl:l). mas grande parte
nos doi~ si~·ulos qll<' v:'tu do si~·ulo XI\' :i das c·asas;tnti~ass:io substituída;: IHH"Cdifkios moder·
nos. Os monumrnlos. ;to contrúrio. sào re(·onslruídos
da~ gut"rras religiosas Nun•mlwrg conti· l"Oill mi nudosa tidc•lid:ult·. partindo dos n·l<•vos origi-
de um [lt'( IUL'II<> principado ind<•pt·ndl.'n-
tarde i.• :<gn'!!a<b :w r<•ino da 1\:tvit••·a. O Ent:io. a l<'m lwan~a da cidatlt• mcdil.'val t; conlin-
forrn:ulo no lirw l da ldad<• 1\l('<lia n:io (• da às fot.ografias do nntes-gucrr;J (l'igs. 7:ll-7:36); o
novas modifint~·i>!'S tonsistcnll•s: sonwn- panorama da cidadt• aluai mostra uma mistura de
!OrllihC<'ll1it•s s:io prot<:gidas por novos haluarl<'s t'd ificios antigos e modt·rnos. qu<• cocx islc'm cm prcc{,
para lt•,·ar <'lll conta os pro~r<'ssos da técnica rio <'< tuiliblio (Fig. 7'1!'>).
Fig. 744. O p/4no regulo.dcr da cidade de

Fig. 745. Uma vista aérea do centro histlirico de


com os ediftcios antigos restaurados e os novos; ao
do mercado.

354
central da cidade, onde os habitantes são reduzidos a
um milhar. Sob os longobardos, F1orença permanece
romana de F1orentia, muito menor e uma cidade secundária (a capital do ducado está em
que Bolonha, foi fundada em 59 Lucca, na Via Franclgena que liga Roma ao Norte
do Arno com a torrente Mugnone. passando pela Cisa); talvez neste perlodo (no inicio do
na planlcie em volta corre, como de século VII) tenha sido construido o Batistério de São
ao rio, com as malhas quadradas de João, que mais tarde será considerado um templo ro-
de 700 metros). A cidade, ao contrário, mano, prova das origens antigas da cidade.
QUftanaao orientado segundo os pontos No periodo carollngio, a cidade chega a 5.000
porta ocidental coincide com o umbili- habitantes e tem um segundo cinturão de muros, que
omr:omcra.•n o cardo maximus e o decuma- compreende a parte meridional do retângulo romano e
Mais tarde a cidade toma-se maior e o triângulo para o lado do Arno. Fora deste cinturão
forma retangular, com uma área de cerca ficam, ao norte, a Igreja de Santa Reparata, o batist.é-
e uma população de 10.000 habitantes. rio e o palácio do Margrave, onde tem sede o governo
retifica o traçado da Via Cássia, manda do condado que compreende F1orença e Fiesole. Sobre
ponte sobre o Arno, pouco mais abaixo o Arno é construida uma ponte nova, no lugar daquela
-Ponte Vecchio (Fig. 749). romana que havia desmoronado. No século XI, F1oren·
da queda do Império, a cidade é danifica· ça se toma a capital do marquesado de Toscana e a
pelos exércitos dos invasores; os bizan· Condessa Matilde amplia em 1078os muros da cidade,
nn,Afnrm,Am num campo entrincheirado, fe- para incluir neles também a zona do batistério. Mas já
um primeiro cinturão de muros o núcleo começou o rápido desenvolvimento da população e do

Fig. 748. O Marwcco, sfmbow de Florença, BObre a torre do Palácw


do CapiUJo do Pouo. No fundo, a Catedral de Sa.n14 MarÜJ delFWre.

de ouro cunh/UÚ) em Fwrença. (lU) dobro do

355
Fi11. 749. A co/6nia romana ck Flcrentia. Em tracejado, a centurio-
ç4o do território circunstante.

organismo da cidade. Na metade do século, Florença


tem cerca de 20.000 habitantes, que residem na cidade
murada (o "cinturão antigo" de que fala Dante) e nos
subúrbios, de um lado e outro do Arno. As casas altas e
cerradas, munidas de torres, deixam poucos espaços
livres e nenhuma praça, exceto os adros das igrejas e o
forum vetus - o mercado velho - que ocupa desde
sempre a encruzilhada central do tabuleiro romano. O
cenário da cidade j á é caracterizado por uma série de
esplêndidos ediftcioe rom4nicoe: o bati.stério (decora·
do entre o século XI e a metade do século XII), a Igreja
de S. Miniato al Monte (construida enb"e 1018e 1063),
a Igreja doe Santos Apóstolos, da metade do século XI;
eles odebedecem a uma rigorosa disciplina estillstica,
baseada sobre os modelos antigos - romanos e cris-
tãos - e sobre a simplificação das formas geométri·
cas: preparam o classicismo moderno, que, mais tarde,
de Florença irá se difundir pelo mundo inteiro.
A Comuna florentina se forma depois da morte
da Condessa Matilde (em 1115), e é reconhecida pelo
imperador em 1183. Um quarto cinturão, que inclui os
subú.r bios aos dois lados do rio, é construido às custas
do público, de 1173 a 1175; a superftcie da cidade é
agora de 97 hectares (Fig. 753). A ponte sobre o Arno é
reconstruida na posição definitiva depois da enchente
de 1178 (atual Ponte Vecchio). Os estatutos comunaiS
estabelecem relações exatas enb"e os espaços públicos
e os privados, regularizam as ruas, limitam a altura e
as saliências das casas.
Mas no sécuio Xlll o desenvolvimento da cidade
é cada vez mais rápido; a cidade passa de 50.000 para
100.000 habitantes e se torna um dos centros econômi·
coa mais importantes da Europa, sobretudo para o
crédito e para a produção dos tecidos de lã.

3.'56
.,
• c

AsC<IS4S·torres de Florença. O desenho ao lado mas· do n.• J ao n.• 28 -&OrrN dtadl.• notd~mentoltntft,amttedt~dotk\1-'o XII•• mtUdt
doof<Wo XUL
tk torres pertenC<?ntu a uma {aml/ia, reuniclu de
um conjunto habitacwnal com um pátio interno; do n.• 29 ao n.• t.SJ -c~dWd• notdoc-.men&o~da m«adeclotfn~Xlllat6ol5mdo
-que seruiam para rechaçar os assaltos dos akuloX.IV.
construidos com elementos m6ueis. A planto d elo n..• t$2 ao n..• 171 - ~ compretnd.ida.a na aooa do~ wlho- ~lft., .,..
a pooiç&> das torres designadas MI documentos, M CtorrtUni. Tomo.buonl, Porta RoMa • c..luhaoU. - ciladu no ct.d&IU'O de 1417.
.....,w cinturclo de muros.
357
Fig. 753. Flonnçc no i

358
Fig. 755. Os brasões das artes {Wrentina•.
F'Ü>rM~ em 1352;a{rcsco na &lo do C4nsellwdo
da pr~ da catedral c da Ruo.C4úaim>ü.

Arln m.r~ 13. Unhei'" e ttt•c.ârol 20. .-..;t&oot


& fAPIIdt~~I"'Ot CO\I~rot 14. Fent'ii"'t 21.1104<1.....
t. Chnruw I:J. Mtetl'ft cb ped.-. e da mackira
10. S.~M~l.fti"C* 16. LmbadoM Colnpo"" ....
2'2. Companhia do Bip.Uo
11. Fabrbnt.N de cononN 17. f'onwiroe.
2l. Companhia cb M~•
12. C.O.mro. ~ ~Jtidorft 1~ Camiotir01
19.. VinhAtri:I'M 2A.-"" Oloo-a"" c.u.~...

359
Fig. 766. Vutade Fwrern;a, numailustr~da Divina Comédia , do
8écu/4 XV.

No inicio do século formam.se as associações


corpOrativas dos vários ramos do comércio e da indús·
tria; da antiga Arte dos Mercadores nascem em 1206 a
Arte do Câmbio, em 1212 a Arte da Lã, em 1218e Arte Fig. 757. Vuta da Rua do Prodm8ul, com a k>m
de Por S. Maria ou da Seda, e depois as outras que Capitiio do Pouo.
serão chamadas Artes Maiores; os oflcios economica·
mente mais pobres formam as Artes Menores, sem Outras três pontes são construídas
conseguir os mesmos privilégios. A Comuna entrape- a Ponte da Carraia em 1218, a Ponte
riodicamente em crise devido às lutas entre os guelfos 1237 e Ponte de Santa Trinità em
e os gibelinos (vitória dos guelfos e governo do "pri· da cidade ou nos novos subúrbios se
meiro povo" em 1250; regresso dos gibelinos depois ordens mendicantes: os dominicanos em S.
de Montaperti em 1260; novo governo guelfo, domina· vella em 1221, os franciscanos em Santa
do pelos grandes mercadores, em 1267). Após cada 1226, os servitas na Annunziata em 1248, os 1
mudança derrubam-se as casas das familias derrota· nos em S. Spirito em 1250, os carmelitas no (
das, abrindo grandes ruínas no centro da cidade; mas, 1268. Seus conventos se desenvolvem como 1
entrementes as magistraturas da cidade controlam o bairro, com as praças para pregação projetaé
desenvolvimento da cidade com uma cerrada série de zadas aos cuidados da autoridade municis
medidas, coordenadas entre si. ordens e outras instituições públicas ou pa

360
constroem numerosos hospitais, tanto é que Florença,
no século XIV, tem uma dotação total de mil leitos. A
Comuna decide a abertura de novas ruas (por exem·
pio, a Rua Maggiore - Rua Maggio - realizada em
prolongação da Ponte de S. Trinità), manda pavimen·
tar os espaços públicos, organiza as margens do Arno.
De 1255 em diante constrói-se o Palácio do Capitão do
Povo, que domina com sua torre o perfil do centro da
cidade, enquanto as torres dos particulares são limita·
.......olndi..d.. out,.•ob,.utribuld•. . A,.oJfo,S.M•riA das depois de 1250 à altura de 50 braças (cerca de 29
S. Trinitl, 11 1oJt~~ do Bl.rcallo e • loja 00. Lanzi. metros).
Fig. 759. O Pal4cwdos Pricru, denominodo Pal6cio Vecchw. Fíg. 760. O nooo centro de Florença, depoi4 dtu inU
Amol{o.

Nas duas últimas décadas do século XIII - en-


quanto se preparam os Ordenamentos de Justiça de
1293- o governo da cidade se empenha num grande
ciclo de obras públicas, que transformam ainda radi-
calmente a forma da cidade. O consulente de todos
estes trabalhos é Arnolfo da Cambio; podemos consi- I. pal&cio epitiCOI)al
derá-lo como o projetista de um verdadeiro plano regu- 2. OOtintrio
3. cat«fral
lador, mesmo que não conheçamos exatamente o me- .f.. C'8MJ)llnl\rio de Giotto
canismo das várias decisões, das quais participam as S. pórtico do Oirallo
6. Ort.tt nmi~~:hele
magistraturas da cidade e as dos bairros, as ordens 7. ca~a de parddo Cuelfo
8. ffiUf'OII; d(lt Jl'itlli'IOI
religiosas, as corporações, as companhias, que repre- 9. p6rdoo dot l.an~i
sentam todos os grupos e as classes sociais da cidade 10. palkio dot Príorttt
11. Uffi~:i (a~lado. na Maunda mtt.adt do lft'ul
(Figs. 758-765). 12. ~lkio do C.plt.to do Po'-o

362
1~1. i• l'l'"olvicla a ('on,.truc:<io cll' um <1uinto posteriormente se tornará a atual Orsanmichele. Em
muros, que tem um circuito de 8 quilôme- 1287, é con struido o Lungamo na margem direita do
c uma ~upcrficic de cerca tll· lóO lwctarcs; rio. Em 1294 arranja-se como passeio público o campo
uma rua interna de 16 braças, um muro de Ognissanti. Em 1292 é fixada a divisão em bairros e
meia, um fosso de 35 e uma rua externa de paróquias da cidade assim reorganizada.
meia, para um total de 70 braças (cerca de
73 torres têm 40 braças de altura (cerca Enquanto as intervenções do governo da cidade
A obra será completata, com enorme estabelecem a sua nova forma, no centro e na perife-
em 1333. ria, também o complexo de construção é renovado com
demolida a Igreja de S. Reparata para o m esmo esplrito corajoso e atrevido. Os centros de
ao batistério, uma nova grande cate- bairro aumentam em proporção com o aumento da
Mana del Fiore. Em 1298 dá-se superfície urbanizada. Em 1278, constrói-se a nova
·mnllf:rutrAn do novo Palácio dos Priores (PalA- Igreja de Santa Maria Novella, virada em ângulo reto
Formam-se assim, às margens do primei- com respeito à antiga; em 1288 é nomeada uma comis-
dois novos centros monumentais, um reli- são especial para projetar a nova praça, da qual são
politico, e se abrem duas novas praças: a da estabelecidos o comprimento e a largura. Em 1295,
demolindo um antigo palácio em frente ao Amolfo projeta a nova Igreja de Santa Croce, que será
e a da Signoria na área das casas dos Uber- construlda no século seguinte e decorada pelos maio-
depois da derrota dos gibelinos. Os dois res artistas florentinos, entre os quais Giotto (Fig. 764).
ligados pela Rua dos Calzaiuoli- que será Neste momento, Florença é o centro mais importante
no século XIV - e a meio caminho Amolfo da cultura italiana: Giotto pinta em Assis, em Pádua,
em 1290, a loja do mercado do trigo, que em Roma; Dante escreve no exíliQ_a Diuirw. CorMdia.

363
364
ACoUdrGI de S. Maria dei Fíore. realizada de 1296 a
(umfadn ,,, Arnol/u. fm nmJÚlmlflnn~ {m:-1/, ...,;,·ulo
14oalizado por GloriO; a abóbada foi cONindda
mJ prim•:Ír11 tt·r~v tlu ~'-'t'Uio X\·.

llrtia de S. Maria del Fíore, representada em uma


fim olculo XIV em S. Maria Nove/la.
365
Fig. 766. Vista aérea da Praça Santa Croce, com a igreja e o conuen·
to.

366
Fig. 767. Pllmt4 da. Igreja. e de Convento de Son14 Croce.
Fig. 768. O conjunto de Son14 Croce, num o(resco de 1718 conseruo·
do no convento.

367
Fig. 769. O interior tk Santa Croce, uúto da entrada. jFig. 770. O interio(tk &nta Croce, uúto do

Fig. 772. Relevo do bairro de Santa Croce. Notem-se. d esquerda, as


casas sobre o trtu;ado do anfiteatro romano; embaixo. o edi[lcio
moderno da Biblioteca Nacional; d direita, a prepontkrância dos
edi{lcios modernos, em direçllc das avenidas tk circunvalação.

368
de Cimabue conservado no re{eitério, edanifi·
de 1966.

:369
370
Figs. 773-774. Duas irrwgens do bairro de Sonta Croce: vista aérea
pela Praça Signcria em direção da igreja, e vista pela tarre do
paldcio Vecchio, até ao furu:W das colinas (no alto d direita, a igreja
de S. Miniata).

371
Scala 1:800

I. Atrio
2. cla~a~troda1)01111
3. -'miru.t~ O'loJ« \"..'INI\IIN f'
-4. dti.ae..tro ""'t'fde (<'Om 01 afrwco.
~ puacft'n prt.r11 o l'&.\lftro do. Mono.
dt,..
6. eeptla de S.nt.ll Maria Alln111n.~'*
7. da-.1.10 do. Mort.oJ
8. at.,.la dt SM-.o Ant4nio A'btdt
9.eePt'lador$.Ana
IO.~ack-S.Pu.lo
11. c..pfta cltS. louren('O
12. e.pda de S. M•rcinho
13.. rapdto dot sdpat dt S6o ~
Pigs. 775-777. Planto do Conwnto th S. Maria NowUa (em 1902, 14-lâ. ed.ir'ldoo d• aontr..na de S.~
antes da abertura do Praça da Estoç4o); planto do igreja e ui$ta 1&-17. ,.rd:tm
rúrea do conjunro. I& capN; de S6o Be-nto
19. muro QtJe rema. PA*Nkfm $
20. jardim eom p6rtko
21. dormitbrio (hoje dttotrvklo)
22. jardim Choíe praca da f't~o)
23. capela d041 SS. Pilipe e nuo
24. caPfla de S. TomA• de I\Q1uno
25. ...,.,. de S. J<>H
26. aaJa capitulllr (onde M encontre. o
'n. ~em p.ara o daWJtro p1u'Cte
28. NCadf
29-30. dormitório
31. l'P&U\$.mtnto do. hOII)tdH
32. clautttO gro.nde
33. capitulo do Notl'nthw
34~ rtfth6rio
35. dau.stro Dati
36. ~nfem'lnrh•
~. dau1tro da enftml&rilll
38. farmAcia
39. Cllpe'la de S. Niccol6
-40.. iM:rda
.. l. tae:Ntia
ções, até o inicio da Sigrwria dos Mediei, e assume a
deste periodo de excepcional operosidade tarefa de concluir -isto é, de imobilizar - o organis-
o organismo da cidade é estabelecido mo idealizado no século XIII. Os artistas empenhados
Resta para levar adiante os gran- neste programa - Orcagna, Talenti, Ghiberti, mais
de oonstrução abertos por Arnolfo e para tarde BruneUeschi, Donatello, Masaccio, Paolo Uccel-
os seus particulares, o novo cenário lo - fixam a imagem definitiva da cidade: a abóbada
epidemias - entre as quais a grav1ssi- de Brunelleschi é agora o centro ideal, o botão da flor
descrita por Boccaccio no Decamerott - da qual toma o nome a cidade, assim oomo este é
população, e a crise econômica européia extraido das primeiras vistas do século XV (Figs. 779 e
1w•~cu11atme a economia florentina; desta situa- 782); mas sua contribuição já tem agora um valor
as lutas sociais da segunda metade do universal: é a proposta de urn novo sistema culturai,
, que culminam oom a revolta dos Ciompi que irá transformar, no mundo inteiro, a teoria e a
dirigente aristocrático, que sai vence- prática do trabalho art1stioo nos quatro séculos seguin-
pacificamente a cidade por duas gera: tes.

373
Figs. 780·181. Os brasões tk deis sexteiros de F/crença: Porta S.
Pedro (com a figura das chaues) e Porta da CaU?dral (com a figura
de bati.stério).

Fig. 782. A ui.sta tk F/crença, chamada "de correnU?" (graiJ!W.Il


entre 1411 e 1482). O Perímetro do quinto muro I rq~Gdo
com um cfn:u/c, e a caudtol- com a cW6bGdo <K BrurwllaciiJ -
ocupa o centro da figura.

37!i
Fig. 783. Um detalhe da uista da corrente, com as casas ao re(Ú)r da
Porta S. Frf'dia110.
F.-;47
J: : f r
t:ti'

:\íí
rrrJw .
LII, ll'u L

Figs. 787-788. Imagens de casas florentinO$: no código &ldouirn?tti


do século XIV, e no funde de um afresco de Masaccio e Mosolino no
Carmo (inicio do século XV).

Fig. 789.1U!Icuode um quarteir4o entre o quarto eoquintocinturiio,


com os casas em fileira ds margens e os pomares ao centro;confron·
lar com o edi/lcio bolonMs da Fig. 696.

Fig. 790. O bras4o da arte da LA; terracota dos De/la Robbia.


Fig. 791. A arte de construir.

378
sistema - a Renascença - será exa- tor, e é chamado para projetar o campanário de S.
capitulo. Consideremos agora a Maria dei Fiare. É sabido de fato, que um escultor ou
artistico na cidade medieval, um pintor, hábil em modelar ou desenhar as formas
o caráter e o alcance da transforma- visiveis, pode idealizar todo gênero de formas, mesmo
em escala arquitetõnica ou urbanistica. Da mesma
memeVJII nãO distingue entre arte e forma, os grandes humanistas, hábeis no escrever-
nwwn1aaon~s são classificados segundo os Coluccio Salutati, Leonardo Bruni etc. - são convoca-·
Os trabalhadores de construção - dos como chanceleres da Comuna, para formular os
da pedra e da madeira - formam atos oficiais e manter as relações com as outras potên-
meo:nar1as, agregadas às Artes Maiores cias.
Jrd~mament<>S de 1293; os fornecedores das Os "artistas" da Renascença são os herdeiros
chaveiros e co{reiros -pertencem destes consulentes, não dos especialistas medievais
Os pintores são agregados em 1316 enquadrados nas corporações e ligados ao conheci-
e dos boticários (uma das Artes mento de uma técnica particular.
é deles que compram as cores; os A contribuição destes peritos cidadãos - desde
tralbalha1rn a pedra, pertencem aos traba- Amolfo até Brunelleschi - explica a excel~ncia e o
mrl&tJrucão. se trabalham os metais ficam impulso inventivo das intervenções florentinas, do fi.
em Por Santa Maria, outra das Artes nal do século XIII em diante; a forma da cidade, que
todos nós admiramos, depende igualmente de seu gê-
nio individual e da organização coletiva den tro da
qual aceitaram trabalhar. Mas o fruto de seu trabalho
acabará por colocar em crise a organização coletiva, é
os artistas da Renascença, de Albe.rti em diante, irão
tomar-se peritos internacionais, à disposição de quem
quer que seja; executarão outras obras notáveis, mas
nenhum deles terá a capacidade de imaginar e de
formar uma cidade, como na Idade Média.

Fig. 793. A pintura (trts pequenas formas colocadas na base do


campandrio de Giotto).

379
Fig. 794. Planta de Florença alua/, cro mapa cro ITUitituto Geogrd{ico
Militar.

380
Fig. 797. Vista de Um4 cidade fortificada. Pintura de Ambrogio
Lorenutti.

AS NOVAS CIDADES NA IDADE M~DIA


Veneza, Bruges, Bolonha e F1orença são exem- Quem funda uma cidade - o rei, o
plos de grandes cidades, fundadas na Antiguidade ou abade, ou o governo de uma <:~utl1u.e-t~usw,
na Alta Idade Média e repetidamente transformadas bém o proprietário de todo o
na Baixa Idade Média. Não é possivel descrevê-las o desenho da cidade em todos os
sem levar em conta este dinamismo, e sua forma com- ruas, as praças, as fortificações, mas
plicada registra todas as vicissitudes de seu desenvol- sões dos lotes que serão destinados
vimento. tantes. O equilibrio entre espaços
Muitas outras cidades menores, ao contrArio, fo- privados - que nas cidades jâ "AJ"""''"•"" • ""
ram fundadas na Baixa Idade Média, e muitas vezes dificuldade, com repetidos ajustes - aqui
sua forma definitiva foi fixada, de uma vez por todas, planejado e calculado antecipadamente.
no momento da fundação. Em muitas pequenas cidades medie•~ail
Estas cidades têm todas as formas possiveis. Os lares como algumas bastídes francesas ou
estudiosos tentaram classificá-las em vários tipos: ü- como os burgos agricolas da Alemanha do
near.es, circulares, radiocêntricos, em tabuleiro etc.; divisões cadastrais formam um impecâvel
mas não se conseguiu encontrar uma causa constante conjunto, como nas cidades hipodâmicas da
pela qual se escolhe um tipo de cidade e não outro. dade (Figs. 806, 809, 817, 820, 8?:7, 836).
Cada cidade é imaginada como um caso especial, seja
quando é desenvolvida com uma cadeia de decisões Nas figuras seguintes apresentamos
sucessivas, seja quando é inventada com uma única destas cidades. A maioria delas foi
decisão inicial. Não se aceita nenhuma regra geral, do século XII e meados do século XIV, e
mas se leva em conta um sem-número de circunstân· ma no periodo seguinte. A arte
cias: a natureza do terreno, a tradição local, as suges- uma cidade -diferentemente da arte de
tões exóticas, o simbolismo sagrado e profano. Cada ed.iflcio - foi esquecida antes de poder ser
um de~tes motivos pode ser determinado. nos desenhos e nos livros.

382
Figs. IJQO.SOI. Vilkneuve-sur-Lot na Gasconha, fundada em 12/;t
por Alphonse tk Poitiers para o rei da França. Brasdo da ci4atk e
map<>.

383
Figs. 8()3-8()7. Montptuier 110 Ptrigord
em 1284 por Jean de Grai/ly para o
p/4ma geral, tkta/hes da igreja e da praça

Fig. 802. Saint-Foy-la-Grande sobre a Garonne, também funda·


da por Alphonse de Poitiers em 1255. Vista aérea da cidade
alua/, que evidencia o reticulo medieval.
Figs. 808-810. Aigues·MorU!s no. foz do ,..,.~...,,,,w...- •
Fra~a Luis IX, o Sanw, em 1246. Vista
d46 {orü{icaç{Ju.

386
PLANTAB-B

Figs. 811-815. Aigues Mortes. A Torre Constdncia, que defende o


dnguk> noroeste da cidade {aQ~tele uoltado para o interior). Secção,
prospecto, as duas plantas aos nlueis A·A e B-B, e um interior da
sala no andar térreo, com a grande lareira e as janelas, que se
restringem até se tomar fendas na alvenaria externa.

.{88
Fig. 816. Vista de Aigues Mortes pela Torre Const4ncia. A cidade,
que na Idade Mddia tinha 16.{)()() habitantes, hoje tem numos de
5.{)()0 e conserva /)l!r/eitamcnte a forma original.
Figs. 817-820. Plantas de quatro bastides francesM fundadas po•
EUlltc.cM tk Be<UUn4JrCMU em fiM do •kulo' xm.

391
..

Fig. 821. As novas cidades fundadas na Idade Média, na Inglaterra


meridumal. Em pontilhado, as zonas que permanecem camo boa·
que.

Figs. 822-823. New Sc./i&bury ~m Wiltfhi~.


vin~ ~{feios da noua cidade, as qWJtro
c.,<kbre caúdral fundada em 1220, ~a
l squerda o recinto da caúdral (cl""")
atuaL

O redn&.o. c:i.reundado pelo. mt.~.rot 4e 1327, • atftd.a hott-


da tdmio.~ mllfticiJ)a.L
Eia ~ DOmM doe vio\a' editk:io«
1. c=-valo branco
:t ...ochaod<-
3. elo pln>oo
._,de Va.nner
5. javali ual
6.trie:cii:Mt
?.........
8.. grifo
9. praça do mm:-ado
10. chav~ en~u,du
11. cava.lo neero
12. d~ SwD)'ne
13. novae.el:r.da
u. e.nuk.pe
16. Trindadi
H\ de Rolfe-
17. mu d. Btm•rdo
18.. vudo twaneo
19. ~ntano
S<.lo I: 10.000 20. chrco

392
L elt~Ul'lll'\1
:L p.1tio de gervico
;ilJI\Ift ct•pitultt.r
4. bibltoteca
(). p.'lrque ocreen)
6. CO.II'{\8 dos cônf'1C<Nl
7 , Cll8ú dO df'<'lH'lO
ll·l:.l.f.'IJOOIM
14. C{ll.{\ do bi.spo
, ;,. portM do rot'into

393
Figs. 824-826. Pú:mta e uistas externas da
lrn'Smo espirita ordenado e sistem4tico produziu
co da. cidade e o organUimo da grande Íl/rej<l.

394
4

Figs. 827·836· Dez cidade8 novas tch


ecc-eslouacas:
· I ó-o_,'"~
,.,,_•.6 '
Trebova •· Domazlice;
Novy Jicin; • 8ttaUnui;cov;
7 Iglatr.
3 Kla
\ / •7
9 Kolin,.'.JO5 P1lsen.
4 Wodnian M. orawska

397
Fig. 1137. Planta de Monterlggloni, uma
erigida pelos sieneses no limite
para defendê-lo contra os jlorentinoa,
culoX/11.

L-------~·~----~·· Fig. 838. V1$ta aérea de Monuriuioni.


isol<uta, conseruou a forma originária.

398
F'ig. 839. Gattin4ra, uma Í10V4 cidad~ fundada em 1242 na solda da
Vcúsesia. Pl4nw (nu= grauura do século XV /1).

F'igs. 840-841. Gattinara. Duas uistas da praca central com os p6rti·


cos.

399
Fig. 842. O universo medieval, com os sete céus conc~ntricos, susten·
todo pelo Pai Eterno. Pintura de Piero di Puccio no Camposanto
de Pisa (século XIV).

400
TURA ARTíSTICA DA RENASCENÇA

IJll1meJII'OS decênios do séçulo XV, alguns ar- proposta válida para todos, e que de fato será adotada,
- arquitetos, escultores e pintores- nos próximos cem anos, em todo o mundo civil, como
uma nova maneira de projetar os editicios, alternativa para a tradição medieval.
de esculpir, que muda a natureza do traba- · Ao mesmó tempo se modifica sua posição profis·
e suas relações com as outras atividades sional; eles já são especialistas de alto nível, indepen-
dentes das corporações medievais e ligados aos comi-
no capítulo anterior, as condições tentes por uma relação de confiança pessoaL Tor-
se desenvolve esta mudança. O de- nam-se agora especialistas auti)AQm9&, desligados da
económico de Florença foi interrompi- comunidade da cidade, e aptos a trabalhar em qual·
metade do século XIV. As classes quer local aonde sejam chamados (Brunelleschi é en·
participado da formação da Comu- - viado em 1434 para Ferrara e Mântua; Paolo Uccello
si; um grupo de famUias aristo- trabalha em Veneza de 1425 a 1430). De fato, a nova
o poder por volta de 1380, e dirige a cultura artlstica não é mais florentina, porém italiana
nos cinqtlenta anos seguintes. A insta· e universal, como a poesia e a prosa dos grandes escri-
definida no final do século Xlll, com a tores do século XIV, Dante, Petrarca e Boccaccio.
Amolfo da Cambio, é mais que suficien-
Florença, despovoada e estabili'zada: Consideremos rapidamente as inovações intro-
de completá-la definitivamente. Dos ar- duzidas nos vários campos: •
exige que inventem novos organismos Na arquitetura um novo método de trabalho é
de construção, mas o acabamento e o estabelecido por Filippo Brunelleschi (1377-1446); po-
lll08llllento qualitativo dos já existentes. demos resumi-lo da maneira seguinte:
artistas da nova geração que trabalham no
século XV- Ghiberti, Brunelleschi; Donatel- 1) A tarefa primeira do arquiteto é definir de
Uccello, Masaccio -levam a termo as obras antemão -com desenhos, modelos etC. -a forma exata
pelas gerações anteriores (a Catedral, o Ba- da obra a construir. Todas as decisões necessárias
88 grandes igrejas conventuais da periferia, o !levem ser tomadas em conjunto, antes de iniciar a~
dos Priores etc.); porém sua contribuição ad· operações de construção; assim toma-se possível dis-
um valor novo, autónomo e universal: é uma tinguir duas fases de trabalho: o projeto e a execução.

401
Fig. 843. Aa obroalk BruneUeachi em Floreru;a.

6. •~• da C.todral (1418-1446)


1. CII.IJ3 de ApoUonlo Lepl j 141~1 7. hotl)it.al do. Inocente~ (1419-1444)
2 rnl*lft Kl<t.•ln t•m S..' .lnt~tpn ~•prMI'In 11111(1 a S.Lorenzo (a partir de 1419)
3. poladoclo PartlcloGuelfo 041&-IGS) 9. capela Paui •m S. Crooo (a partir d6 1429)
I •··•t.~e•Tu ll.1rh,,dun '''" S. to\-1""111\ ~ I 11~<~1 10. rotunda de S. Marie dfflli AnKtU (a partir dt 143~
;í, C'a•l'l !1.1rbadon '11. S. Spirit4 (a partir de 1428)
JS. IS. outtu obi'Q 4t atribul(Ao incort.a

402
o projeto, e não inais se confunde com ção. As outras -S. Lourenw, S. Spirito, a Capela Pazzi
e IU88 organizações, que se ocupam da em S. Croce, a rotunda dos Angeli - foram prossegui-
das lenta e irregularmente, durante uma longa crise
económica provocada pelas guerras continuas, e mais
fazer o projeto, é preciso considerar os ca- rapidamente só no periodo seguinte, de 1440 em dian-
contribuem para a forma da obra, nesta te; assim, ficaram inacabadas quando de sua morte
(em 1446) e foram alteradas em seguida pelos conti-
nuadores.
Apesar disso tudo, sua proposta firmou-se gra-
dualmente, na Itália e na Europa, porque os aconteci-
mentos seguintes demonstraram sua justeza e sua ne:
cessidade. Fundou uma arquitetura baseada na razão·
caracteres ftsicos, isto é, os materiais com humana e no prestigio dos modelos antigos, capaz de
de granulosidade, cor, dureza, resis- organizar e controlar todos os espaços necessários à
vida do homem, mas baseada em formas simples e
lugar atribuido aos caracteres propor- repetidas, facilmente reconheciveis. A sociedade eul'(r
a correspondência entre o projeto e a péia - que no século XV e no século XVI alarga seu
de projeto representam, em tama- campo de ação no mundo inteiro - adota esta arquite-
obra a executar, mas já contêm as tura como instrumento de cálculo racional e de decoro
imnm-ta1ntl>•s. isto é, estabelecem a con- civil, e acaba por considerá-la a única arquitetura pos-
a construir. Depois, devem ser slvel.
t m''"'"~tu> (isto é, a relação de aumento para
projeto ao edifício real) e os materiais a
Examinemos, à luz destas considerações, as
obras principais realizadas por Brunelleschi em Flo-
rença:
diferentes elementos de um edificio-colu-
lbla.mentos, arcos, pilares, portas, janelas etc. A abóbada de S. Maria dei Fiore é a obra excep-
ter uma forma tlpica, correspondente à esta- cional e celebrada que conclui o ciclo das grandes
Antiguidade clássica e extraida dos mode- obras públicas medievais, e inaugura a estação da
(isto é, dos modelos romanos, os únicos nova arquitetura. Esta grande estrutura completa o
- ...- ....·~·~tempo). Esta forma tipica pode sei' edifício fundado por Amolfo em fins do século XIII, e
mvwu:~.;~:~•~ ... mas é preciso poder reconhecê- se toma o centro visivo de toda a cidade. Nas vistas do
com um juizo rápido, que se baseie século XV (Figs. 779 e 782 do capitulo anterior), Ro-
llhecim•enll.o anterior -; portanto, a atenção rença parece semelhante à flor da qual toma o nome; o
concentrada sobre as relações de conjunto, e último cinturão de muros, simplificado em forma circu-
mais fácil julgar a forma geral do edificio ou lar, é a corola; a abóbada é o botão central. Brunelles-
chi inventa o sistema construtivo para realizá-la e
modo, a arquitetura muda de·significado: · determina a forma externa simples e grandiosa, apta
rigor intelectual e uma dignidade cultural à sua função paisaglstica.
liatinuou>m do trabalho mecânico, e a tomam . A cúpula, na verdade, é uma abóbada em pavi-
liberais: a ciência e a literatura. lhão octogonal, que revela a orientação da igreja abai-
ranelh!sclhi sustenta esta nova concepção da xo (duas faces são paralelas e duas são perpendicula-
como uma proposta pessoal, em pleno con- · res ao comprimento do edificio; as outras quatro têm
a tradição à qual permanecem ligados os uma inclinação de 45°); os oito gomos da abóbada são
os executores e também os artistas que revestidos de telhas de terracota vermelha, e os oito
ele no acabamento de seus edificios. espigões são marcados por oito grandes arestas de
as dificuldades quase insuperáveis, e mârmor~ branco. A gaiola formada por estes elemen-
quase nunca realizar integralmente tos se vê claramente a muitos quilõmetros de distân-
AJém do mais, somente duas obras - a cia, quando a igreja e o resto da cidade se tornam
'-'""""'"' e a sacristia de S. Lorenzo- manchas confusas; assim, esta figura geométrica ele-
"..'"'"""<"'" regularmente (pela Arte da Lã e mentar se sobressai no céu e orienta todo o espaco da
Médici), e foram terminadas sob sua dire- cidade e do território em tomo (Figs. 844-851).

403

Figs. 841-845. A abóbada de Bru11elleschi cm S.


~ista a partir dos telhados das casas ao sul da
tria, ~ explica a rel~4o com o organ~mo d4
Capitulo 7.

Fig. 846. O panorama de F/ore11ça, ui81o de S.


pela abóbada ck Brwtelleschi.

404
Figs. 849-850. O modelo, de madeira, da lanrerna da cúpula, conser-
vado no museu da obra da Caredral, e a lanterna realizada.

406
Fig. 851. O interior da c6pulo de S. Maria del Fiore, decorado com os
a{rescos do final do século XVI.

407
Figa. 852-853. O. tWi8 fio~• tk Ghi/H!rti etk Brunelkschi, apreun.· Fig. 854. Planl4 do claUBtro monumental tk .o.L.or<,..,_
tadcs ao concuno de 1401 para a úrceira porta cro &tisUril> de ça.
"forMça.

1• i~ PfOttt.ad.a por 8nlndkee"hi por volta dt 141l<


':l. • lt'cril"lio Vf'lha. pro~t.ada por Oi-undlt"'C'hi C!"';,~::==~
:l a Nm..tia nova. COM -.. 1umbu doe M~rci ~ dt
• a caJ)tla cSo. pt'ind,pee. ~\lida em firudo.b~
:~.o primriro ehH111tO
tt. o ttte-.ndo clauaro
7. o \'lftftlbulo da bibho&eea. doe Michtlf'n.gf'lo
lC. a~~~~ da bibliot«ft M«<id. <lt Micht!Gl'ltctlo
O. a rot.unda. ~laela no *'-\o XIX

As outras obras, inseridas no tecido da cidade


medie_yat~o ~fi~ios mais modestos, mãS importan-
t ssi!l)l)lUlQ!lli) !lli>delos~a a arquiteturlr})Osterior. S.
~nzo._e-S.-Spirito-s~
aaj~~e-trê!rfiaves,
semelhantes às-igrejas..dalLQrdens ~ijiiêílêfl­
cantes, como S. Maria NoveUa e S. Croce; todos os
caracoores dos dois orgamsmos - as proporções da
planta, os níveis das escadarias etc. -são arranjados
racionalmente, usando os elementos tipioos extraidos
da Antiguidade - coluna, cornijamentos, aroos -em
vez dos pilares e das aOóbadas góticas. A sacristia de
S. Lorenzo e a capela Pazzi em S. Croce são dois peque-
nos organismos com planta central, eles também deri·
vados dos exemplos medievais, mas reconstruidos
através da montagem dos elementos ttpicos, colunas e
arcos. Na moldura tipica formada por estes elementos
são colocados os outros acabamentos (pinturas, escul·
turas etc.) que se tomam obras autônomas, desvincu-
hullllj da arquitetura (Figs. 854-868).
y I

Figa. 855-856. Secç~ da nave l<Jteral de S. Lorenzo, e detalhe de um


dos cc.pitéi.a. As ordens arquite~nicas u tabekcem a colocaç~ de
todos os outros ekmentoa.

409
Figs. 857-858. ViBIIl$ (ronlllis do interior tk S. Lorenzo e tk S. ·
Spirilll.

Fig. 859. Pronta. de S.SpiriUJ, segundo o


kschi;

410
Fig. 860. Axonometria· de uma arcada da Igreja de S. "Spirit?,
mostrando a organizaç<lo das alvenarias dos arcos e das colu·
nas.

411
Fig. 861. Axonometria da Igreja de S. LorenJ!{) e da sacristia vellw.. Fig. 862. A xonometria dos elementos normalizado~
cornijas e arcos - que formam a arquitetura intema
velha.

412
Fig. 863. Vi8ta inurna da sacri1tia velha.

.413
Fig. 864. A ab<lbdd4 diJ u4o 1114ior da •ac"-tlo u~lh4, com "' tondi
(redondos) em tiiUQU<!, th DI>Mttllo.

414
F111. 868. V,.ta inúrn4 da O.pda Pazzi. O b4nco 80bte o qiUÚ 1e
apóiam os pilares resolue o tksnluel entre 01 doi• ambiente., eserue
de oosento qUGndc a capela é u•ada como 111/a de capitulo.

Fig. 869. Á P4rú e<~ntral da /ochada de Pa/4cio Pittí em .F/()renÇG,


corre•P4ndenu ""projeto tk Brunelle8Chi
Fig. 870. (à esquerda.) Reconstruç4o da segunda tabuinha (com
o panorama da Praça Signoria) desenhada por Brunelleschi pa-
ra demonstrar a perspectiva; (à direita) o mazzocchio: uma
complicada jJgUra geométrica em perspectiva por Paoio Uccei-
lo.

A escultura ê a pintura reproduzem os objetos do Neste periodo se definem as regras


mundo natural. Esta reprOdução pode tomar-se uma v a, que é o método geométrico mais
operação exata e cientifica, classificando os caraCteres mais familiar para o observador, VV''""""'• '
dos objetos como os das obras arquitetônicas: gem semelhante à que se forma no olho
I) os caracteres proporcionais • · zem os escritores antigos que as regras da
II) os caracteres métricos foram estabelecidas por Brunellesclú; ele
III) os caracteres fisicos (neste caso, sobretudo a painéis pequenos que representam o
cor). ça Signoria, e construiu um aparelho
Uma escultura, por exemplo, reproduz os aspec- olhá-los de<um ponto fixo, para corúro•ntalf a:
tos essenciais de um objeto embora respeite somente com a vista real e controlar sua COITeEJpoJn dl•
os caracteres proporcionais, mas descuida dos caracte- 870).
res métricos (pode ser umá estátua maior que o normal
ou uma estàtueta menor) e os caracteres fláicos (pode U significado histórico e cultural deata
ser feita de mármore ou de bronze, que têm uma estru- ção geométrica1 deriva· da' supracitada
tura granulosa e uma-cor completamente diferentes do dos caracteres aos objetos. De fato, oer"Soedh
modelo). J
senta diretamente apenas os cru:ac tel1lS
Ao contrário, para reproduzir um objeto em três dos objetos (sua forma e posição rec~proat};
dimensões numa superficie em duas dimensões é p~ indiretamente as medidas efetivas, se na
ciso ter uma construção geométrica que pennita pas- zida existir um objeto cllio tamanho se
sar de um à outra. · exemplo, uma pessoa); pode representar
Nas escolas, ainda se estudam os diversos méto- outros caracteres ftsicos, dando uma Jev'e niiOCI
dos para efetuar esta passagem: as ~ojeções ortogo- de várias maneiras. ·nas superficies
n ais, a axonometria, a perspectiva e as projeções cota- n·o s·oontomos dos objetos.
dai.

416
de tratado de per•pectiva de De Vries, de

,- ·~--~

/ i/ i

~
··-I

<117
Fig. 873. Dois reÜ!IJOB ck bronze em perspectiva, rwalt.Grde DontJtet
/t) na Igreja de Sto. An~nio de Pddua.

418
........ ,,
Fig. 874. A estátU4 eqtü1tre do GottorM/414, tk DoTUJtellc, em
frente à Igreja. tk Sto. Ant6nio tk P6dU4.

419
Mas a presença das cores complica a representa- Donatello (1386-1466) emprega
ção. As cores próprias de cada objeto não se apresen- tura para explorar o mundo v•~·•v~:o. o01
tam de maneira uniforme; são modificadas pelas lu- rência com a pintura; <>v,,,,,.;m,, ,,.,
zes, pelas sombras, pelos reflexos e pela espessura do gênero de materiais (metais,
ar que é diferente para os objetos próximos e distantes. ta) e diversas técnicas (estâtuasem
Os artistas do século XV e do século XVI descobtem conservam as mesmas relações do
ÍradaÍivamente as leis para reproduzir estes efeitos, e de o relevo é diminuldo ou
enriquecem o repertório da pintura, que se apresenta, chamado stiacciato (achatado)
de um determinado momento em diante, como técnica permite representar igualmente a
universal para representar e inventar todos os objetos 872-873).
do mundo vislvel. Masaccio (1401-1428) é um dos
um fundo arquitetõnico rn•n<:l:r11í"ln
De fato, no decorrer do século XV aparecem as as regras da perspectiva (na
inovações que aumentam as possibilidades e o raio de Novella, Figs. 875-876), mas usa
ação da pintura: os teleri de grande formato, que per- representação sobretudo para dar
mitem preparar em laboratório os gran des ciclos pictó- personagens humanas. O homem
ricos; as cores a óleo, a gravura sobre chapas metáli- o objeto mais importante do
cas, para reproduzir os desenhos a traço num grande imagem do homem revela o universo
número de cópias. samentos, que deste modo encontram
ra.
Consideremos, sucintamente, alguns resultados
da pintura e da escultura da Renascença.
O método da perspectiva estabelecido por Brunel-
leschi é utilizado, no terceiro decênio do século XV, por
•tm grupo de 1!-rtistas que trabalham ao seu lado:
Fi/lf. 876-816. A Trínidd.pimadc.por MOMJCCio -~" de S. Mari4
NoiN!IJ<r. em Florenç4. A .U.opia (lfW t, o ck•enho prepar4!6rio f eiro
.abre o muro) e o <~fruoo urmiruulc.

420
Fig. 877. O encontro da. cruz. A[resco de Piero de/la. Francesca na
6bsük da Igreja de S&l Fra.nci&co em Aruzo.

morte precoce de Masaccio, trabalham muitos artistas escrevem liwos para expiicar os moti-
mais famosos pintores italianos: Paolo vos de seu trabalho: Piero della Francesca, Filarete,
Lippi, Andrea dei Castagno, Domeni- Francesco di Giorgio, Leonardo da Vinci e muitos
sua escola formam-se os pintores da outros no século seguinte.
que encontram um novo equilíbrio E ntre o final do século XV e o início do XVI, em
, eles trabalham num território Florença e em Roma, cria-se a exigêngia de sintetizar
"lf<>mtn,.,m a vida artística e cultural nas estas múltiplas experiências, para chegar a um estilo
italianas. Lembramos Piero delia Fran- definitivo e universal. Os protagonistas desta empre-
1415-1492)em Urbino,Andrea Manteg- sa - Leonardo da Vinci (1452-15.L9), Michelangelo
em Mântua, Giovanni Bellini (1430- (1475-1564), Rafael (1483-1520)- gozam de um prestá-
. gio cultural sem precedente: são considerados indiví-
período se determinam as relações duos excepcionais, gênios, isto é, tipos humanos supe.
artística e a literatura. Brunelleschi, riores que caracterizam toda a civilização de seu
vv•mvouv não deixaram explicações escri- período; sua competência não se limita à arquitetura, à
ao contrário, depois de 1430 um pintura ou à escultura, mas se estende a todo o campo
"""'' na""'· Leon Battista Albçrti (1404-1472), das artes visuais. De fato, a arte ocupa um lugar cen-
com os artistas florentinos, ele pró- tral na cultura do tempo: é uma disciplina geral, capaz
como pintor e como arquiteto, e escre~e de conhecer e dominar todo o ambiente flsico, eviden-
tratados (sobre a pintura e sobre a escultu- ciando ao mesmo tempo a beleza e a verdade das
de 1435; sobre a arquitetura por volta de coisas: define por antecipação o mundo ilimitado e
tratados oferecem a primeira sistematiza- mensurável que será percorrido pelos exploradores do
da nova experiência artística; doravante século XVI e estudado pelos cientistas do século XVII

421
• JC-•
Fig. 878. O troça@ de um ediflcw a partir dos tü>U eiJ<01 de sim.etri4; Fi#p. 87~. A Sqreda Famllla, 1M
ilu.traç64 do trota@ de arquitet~m> de úon &ttilta Alberti («rca Uf(izi de Fio~ a Madona da ~;ac-... •r•
de USO). Pltti de Florm.ça.

422
Fig. 881. V1St4 de Ul7l4 cidade fortificada; detalhe do ambknte de
fundo de uma pintura do Beato Angelico.

423
ES ITALIANAS NA RENASCENÇA

método de projeção estabelecido no inicio


se aplica teoricamente a todo gênero de
os artefatos menores à cidade e ao terri-

na prática o novo método não consegue


grandes transformações nos organismos ur-
territoriais. A expansão demográfica e a colo-
do continente europeu estão exauridas depois
do século XIV; não hã necessidade de fun-
ou de aumentar em larga escala as
(excetuando poucos casos exepcionais).
renascentistas - as senhorias, que to-
dos governos comuns, e as monarquias
não têm a estabilidade politica e os meios
suficientes para reali1Áir programas lon-
mnmrclmo~lí~lo,:;. Os artistas trabalham indivi-
contato com as organizações cole-
m a continuidade das empresas de
e urbanisticas medievais.
modo, a arquitetura da Renascença realiza
proporção e de regularidade em alguns
e não estã em condição de fundar ou
cidade inteira. Os literatos e os pinto-
ou pintam a nova cidade que não se
, e que permanece, justamente, um obje-
cidade ideai{Fig. 882).
os prlncipes da Renascença c seus
intervêm no organismo de uma cidade me- Fi.g. 882. Planta da cid4de i<kaJ de SforWu:/4., do Trat<J® de Fila·
jã formada, e a modificam parcialmente, com- reu (cerco de 1465).

42!>
pletando os programas que ficaram inacabados no igreja e do palácio papal. Os edificios
século XIV, ou introduzindo novos programas mais ou distinguem pela maior regularidade
menos ambiciosos, que quase sempre se mostram des· não pelo maior tamanho (a autoridade
proporcionados e irrealizáveis. com a superioridade dos meios "'~'"""'""'
1 1Já descrevemos o caso de Florença, onde as prestigio da cultura); esta ,...,...,J.,..;tl...~
obras do século XV se inserem coerentemente no orga· ediflcios secundários e perde-se
nismo projetado no final do século XIII. Vamos consi· soas comuns, que se inserem sem
derar agora outras cidades italianas, n as quais as compacto do burgo medieval. Desta
intervenções renascentistas são mais importantes e nação entre o antigo e o novo resulta
mais unitária~\ ria: a nova cultura respeita o arn1bie:nte
corrige- mas só qualitativamente-
tos, disciplinados por uma regra
O projetista destes novos
nos documentos; mas se trata
PIENZA Bernardo Rossellino, um dos mais
florentinos da época (em 1461 é ~~·-M·"A'
Em 1459, o Papa Pio II visita o burgo nativo de obras de S. Maria dei Fiore). Pio
Corsignano, no território de Siena, e resolve recons· trabalhos, e toma as decisões mais
tru!-lo como residência temporária para si e para sua ele mesmo explica nos co.mentttru>s.
corte. mentos principais são construidos
No séquito do Papa está presente também Alber· curto, de 1459 a 1462; em março de
ti, e sem dúvida Pio II ouve seu conselho ao definir o o nome de Pienza, e hospeda· por
programa de construção e escolher os projetistas. O corte pap~, até a morte repentina de Pio
pequeno burgo medieval (de mais ou menos 6 hecta·
res) encontra-se no cume de uma colina, e a rua princi· A seguir, não são feitas outras
pai segue o divisor de á~as, que forma um pequeno cidade de Pio II volta a ser um
ângulo quase na metade.~qui Pio II resolve construir interior. O equil\brio, alcançado por um
um grupo de ediftcios monumentais: o Palácio Piccolo- primeiro arranjo urbano da RenaSCE!nca.
mini (no lugar de sua casa natal), a catedral, o palácio bado por adições posteriores, e ainda
público e o palácio do Cardepl Bórgia (que mais tarde do nos espaços das ruas e dos edificios,
se toma o palácio episcopa6. A catedral fica na bisse- vida para a qual estava destinado tenha
triz do ângulo, enquanto os outros edificíos estão ali- há muitos séculos.
nhados com os dois ramos da rua: assim, o largo dian-
te da catedral se toma um trapézio, que enquadra a
fachada da igreja entre os blocos divergentes dos dois
pai ácios, e revela, aos dois lados da igreja, o panorama
do vale (Figs. 88&887).
A catedral tem três naves da mesma altura (de
fato, segue o modelo das igrejas góticas alemãs visita-
das por Pio II em suas viagens) e, em seu interior, não
tem qualquer decoração, exceto as pinturas encomen·
dadas aos mais famosos pintores de Siena: Sano di
Pietro, o Sassetta, Giovanni di Paolo e Matteo di Gio-
vanni. O Palácio Piccolomini é um bloco quadrado com
um pátio no centro, mas toda a fachada meridional é
ocupada por um pórtico, que dá para o jardim e perrni·
te gozar o panorama do vale, tendo o Monte Amiata ao
fund9.
/!Ao redor deste centro monumental inserem-se
outros ediflcios secundários: os cardeais erigem seus
palacetes ao longo dos dois ramos da rua; o papa
manda construir, na extremidade norte-leste do con-
junto habitacional, um bloco de casas enfileiradas pa·
ra os habitantes mais pobres (doze acomodações de
dois andares, todos iguais); atrás do palácio público
abre-.:;e uma praça menor para o mercado, de modo
que a praça principal não seja estorvada pelos bancos
e pelas tendas dos vendedores. Assim, toda a pequena
cidade é organizada, de ~odo hierárquico, em torno d~ Fig. 883. O bNUilo ck Pi4 n Piccolomini, no Pcl4do •

426
Figa. 884-885. Pienza. Vi•ta da cidade pew Vale do Orci4, e planta;
em preto, os edi{ú:Uz. que forlh4m o centro monumental (o Paldcio
Piccowmini, o pal6.cio pabUco, o paldcio B6rgia., a cat«lral) e o
bwco das oMM enfileiradas para os pobru.

427
Figs. 888-889. Pienza. O motivo arquitetdnico da {achad4 do Palá·
cio PiccoWmini, e um detalhe do intei'Í{)r da catedral, com a pinwra
enoomendada por PiQ ll ao pintl)r 1ienll Matteo di GioiXU1ni.

429
Fiti•- 890-891. Frenu e ueno d4 pintura tk Piero tkUa Fra.n«MX:,
oom o rdraw do Duq~ Fethl'ico 4 Monte{eltro e a «114 aleg6rica
de 1eu triunfo (Florença, galeira doi U{fizi).

URSINO centro, com a Igreja de São Francisco;


principal desce em direção à Porta .......a,.,~~,~...
Pio II reina: de 1458 a 1464, e só tem cinco a nos parte o caminho para Rimini e a t'Ulllll.<:le ela
para construir e habitar Pienza. Ao contrário, Federi- No cume da colina meridional fica o
co de Montefeltro - o afortuna do condottiero da Liga feltro; ao lado deste, Federico começa a
Itálica, instituída em 1454 - perma nece senhor de corpo de construção retillnea, utilizando um
Urbino de 1444 a 1482; é o único principeda Renascen- artistas locais e toscanos de segundo plano.
ça que dispôe de tempo e dos meios necessários para Por volta de 1465, este editicio é inc:orrK>r~lll
transformar verdadeira mente sua cidade, com urna n ovo organismo, que se desenvolve ao
longa série de intervenções sucessivas. pá tio porticado mas se articula livremente em
Urbino é uma cidadezinha de 40 hecta res, cons- da cida de e do campo, trasformando assim
truída sobre duas colinas. Na depressão central estâ o a mbiente circunstante.

430
100 200 m

Fig1. 892-893. UrbiM. Mapa 001 arredorea d4 cidc.de (d<J 14miM


oo Imtituú> Geogr6fico Militar); mapa, com a irulicaç/IQ 001 e•pc·
ÇOI externo. arranjado• per Fed.erico (em preú>) e 001 edi(kü>l q~U<
formam o colliun/t) do Palácio D~M:ol (tracejado).

431
Fig. 894. V'uta alrN lk Urbino, pekJ l4do eui; em primeiro púuw, a
Praçq. do Mercat<Jk e o conjunúJ do Paúicio Ducal.
Na direção da montanha, isto é, em direção do Esta praça - onde se inicia a estrada
centro tradicional da cidade, a fachada do novo palá· - forma a nova entrada principal da
cio é dobrada em Z, e deixa espaço para uma praça, abre uma porta monumental e
onde mais tarde será construída a nova catedral. Na retilínea que sobe até o vale entre as
direção do vale, ao contrário, o organismo se rompe daqui à entrada superior do palácio.
numa série de ambientes abertos para a paisagem, orientação da cidade resulta invertida: a
que formam uma segunda fachada extraordinária, em principal não é mais no sentido da Porta
contato com o espaço infinito dos campos adornados (isto é, em direção do Rimini e do Vale do
pelas colinas que descem em direção do Vale do Metau- sentido de Valbona, isto é, em direção de
ro. onde convergem os novos interesses de
No centro, estão colocados os apartamentos par- palácio olha do alto este percurso (Fig.
ticulares do príncipe e de seus familiares, com uma s~ja ao centro da cidade, seja ao território
série de alpendres sobrepostos, flanqueados por duas
torres em degraus (os chamados torricini,_ torrinhas); Estas intervenções, mais complicadas
à 'direita é criado um jardim suspenso, féchado por um penhadas que as de Pienza, produzem
muro com janelas que enquadram a vista da colina à um tanto quanto coerente. Opalácioeu1;1ww~e•
frente; à esquerda, abrem-se dois outros terraços e, nõ dos com um sábio equilíbrio: o palácio
mais amplo (o chamado Pátio do Pasquino) devia mo tempo, o centro e a fachada m<>mlmlmtiiiiCI
erguer-se um templo redondo com as tumbas dos Mon- de, mas não tem uma medida ae1ma•s•~•ao
tefeltro. Das ton;nhas que flanqueiam o corpo central · ·outros ediflcios; de fato, aorestenta·se UllVJ<uu~••
pode-se descer até a base do palácio; dai, por uma tos corpos de construção, e a l'e@;liliuiclade gi!OIII•
rampa circular que se pode percorrer a cavalo, sedes- gida pela nova cultura visual se aplica a
cer ainda até as estrebarias - construídas na meia destes corpos, e não ao conjunto: assim, a
encosta - e até a uma grande praça artificial, criada tura enobrece os pontos salientes do novo
com o aterramento do fundo do vale (o Mercatale). urbano sem destruir sua continuidade (Fig&

432
FiR. 896. U/114 cidade ideal; pintura conseruada M Pal4cio Ducal de
UrbiJUJ. · ·

Figa. 896-897. ViBt·a <U!rea e planta do paldcio ducal tk lfrbiM.

433
Fig. 898. O pufil d4 cid<uh <k UrbÍno, pelo 1od4 sul.

Fig. 899. Vista <k Urbino, pintada nagakria d4s 1714P4BIIeogr6.fi·


coa no Valioono.

434
· Fig. 900. A f/<lge/açik); lamina pintada por Piero deUa France•co.,
' no poldcic ducal de Urbino.

435
436
Pig. 906. O muro que ümiW. o jtJrdim IU&J><!MO, com tJ C:OÜM tJO
funda. A relaçi!b entre tJrquiteturtJ e poi8tJgem cortJCttrW. por toda
porte o p4ÇO d<>S Monte{ellro em Urbino.

Pig. 907. Um inatrumenW. tJitroMmic:o; detc.IM dtJI tauxia• no


J><!queno estúdio do duque no ptJldcio tk Urbino.

uiiW. do tJipendre do 1egurulo tJndar do


- p<JTO o qiUJI 1e tJbre o pequeno eattldio;
-com o junçi!b do eatrtJdtJ ptJrtJ Remo.

437
FW- 908. O tdo d«:orado ~m eatuq~ tk uma du soltu do Pal6.cio
Ducal tk Urbinp.
Não se conhecem ainda com certeza os autores Berruguete alguns delalhes do retãbulo
deste arranjo; como arqtútetos são lembrados Luciano cutado por Piero. O apresto de um
Laurana e Francesco di Giorgio; juntamente com eles como o estúdio de Federico (Figs.
trabalham, como escultores, pintores e decoradores, os plicado como a construção de
artistas italianos mais importantes da época: Baccio A corte dos Montefeltro ê
Pontelli, Giuliano da Maiano, Melozzo da Forl.i, Pao- tro de cultura literãria e cientifica; o
lo Uccello, Sandro Botticelli, Giovanni Santi - o pai Vespasiano da Bisticci organiza a
de Rafael - e, talvez, o jovem Bramante, junto com o onde são conservados códigos nn.''"'"""'
flamengo Justo de Gand e com o espanhol Pedro Berru· nos, e transcrições (feitas propositaclama
guete. Piero della Francesca estA presente durante um antigas e modernas. Piero della ""'g'"""......,
longo tempo (desde quando pinta, talvez por volta de di Giorgio dedicam a Federico
1450, a pequena lâmina da Flagelaçilo que lembraoas- máticos Luca Pacioli e Paul van Mi,ddE~buqt
sassinio do predesoessor de Federico); ele poderia ser o
dos na qualidade de preceptores
· inspirador das invenções arqtútetônicas e decorativas de Federico; dai partem, no final do.,.,.._,..., ...•
mais excepcionais. Federico segue de perto o trabalho te e Rafael, e no palácio ducal, no inicio
dos arq\Ôtetos e dos artistas, e intltú em suas _ sarre Castiglione escreve n Cortegiarw
escolhas.
Assim, no laboratório de Urbino
Em muitos casos, o enllelaçamento das CÔmpetên· po de especialistas, único na Itália
cias ê estreito como na Idade Média. Para uma mesma morte de Federico eles serão chamados
obra o comitente pede a colaboração de muitos artistas, des- Veneza, Milão, Roma- e irão
e os assume oo os despede com uma liberdade quase fonnação da nova cultura internacional,
caprichosa; por exemplo, manda pintar novamente por guinte.

438
Fig. 9C9. Plant<J. da cidade de Ferrara em fins <k sécuk XVL Em
negro, as ruas acre•ceni4<Üis por BorMJ (embaixo d direil4) as •
acructntadlu por Hti'T:ulea (oo olúJJ; o pollliJJI4do ~pruenl4 Of
parqu.es da. "deiJcias" ducais: &1/wr-e (dentlo <ÜJ8 muroo no alto) e
Belvedere (na ilha, embaixo d e~quoda). '

- a adição de Hércules, projetada pelo Duque


Hércules I em 1492 e constnúda gradualmente por seus
é a capital da signoria d'Este, situada a sucessores no decorrer do século XVI (Fig. 909).
·Rio Pó, no ponto de passagem entre a A primeira adição cobre uma ilha lónga e estreita,
território de Veneza. Na Itália pacificada saneada na margem de um brac;o do Pó, compreende
l..odi (1454), Ferrara se transforma numa uma rua retillnea e inúmeras travessas, que se iuntam
mais ricas e avançadas; a corte hospeda às vias existentes nos bairros vizinhos.
e especialmente os poetas mais impor· A segunda adição é um verdadeiro plano de am-
Rer1ascertça italiana: Boiardo (que compõe, pliação da cidade, que duplica sua superficie (de 200
século XV, o Orlando Innai7U)rato - o para 430 hectares). O conjunto habitacional da Idade
Apaixonado), Ariosto (que publica em 1516 o Média era limitado, ao norte, por um muro e um canal
Furioso), e mais tarde Tasso (que escreve pa- retilineo, interrompido ao centro pelo castelo dos d'Este.
a A minta e a Jerusalém Libertada), organi- Para além deste limite se traça uma nova volta de
de 1486 em diante, uma série de famosos muros "modernos", capazes de resistir à artilharia; a
teatrais, e prepara, em 1531, o primeiro tea- ampla área intennediãria é repartida por uma série dê
da Europa; hospeda por volta de meados do ruas retillneas, que não fonnam uma grade regular,
alguns célebres pintores - Pisanello, Man- mas são traçadas de maneira a se ligar às ruas da
della Francesa, Roger van der Weyden - cidade medieval. As duas ruas principais- a alameda
para a formação da escola ferrarense jã existente que vai do castelo dos d'Este ao castelo de
Fran.,<>RlYl dei Cossa, Ercole Roberti). Belfiore (Avenida Ercole 0 e a nova rua que liga a Porta
toma-se necessârio acrescentar à Po e a Porta. Mare (Avenida Porta Po e Avenida Porta
.,...,,...c,.... dois novos bairros, planificados confor- Mare) - se encontram mais ou menos em ângulo reto,
regras da nova arquitetura: como o cardo e odecumanus das cidades antigas descri-
a adição de Borso, realizada pelo Duque Borso tas por Vitrúvio. Ao longo desta segunda rua abre-se
uma nova praça bastante espac;osa (Praca Ariostea: um

439
retângulo de 120x200 metros), que deveria ter sido o Em Ferrara, a transformação do
centro do novo bairro (Fig. 913). O arquit.eto da corte bano se desenvolve em duas fases:
d'Este, Biagio Rossetti, dirige os trabalhos dos muros e muros e as ruas, mas não se
constrói alguns edüicios monumentais ao longo das ediflcios. Deste modo, a mt.~rv•~ncão <te
novas ruas; entre estes, os palácios no cruzamento das produz uma nova cidade completa,
duas ruas principais: o Palácio dos Diamantes, o Palã· em duas dimensões, que pode ser
cio Prosperi.Sacrati e o Palácio Turchi-di·Bagno. de algum tempo, de muitas ma,nmras
Pienza e em Urbino, a nova cultura
Esses trabalhos dão a Ferrara um aspecto mo- numa pequena cidade e acredita
derno sem comparação na Europa. Mas a população e a numa cidade moderna com uma série
riqueza da cidade não crescem mais como antes; a arquitetônicas de alto nlvel. Agora,
atividade da construção diminui e não consegue preen- cultura -que se tornou mais """""'"m"'
cher o enorme espaç9 acrescentado por Hércules. No te -tenta pela primeira vez rP"'""'r o
final do século XVI, Ferrara é anexada ao Estado da to de uma grande cidade, e mede p•enacmeJlle!
Igreja e se torna uma cidade secundária; dentro dos te entre os dois tipos de amnu•nu>
muros de Hércules I ainda restam amplas zonas de propõe-se construir uma cidade
campos. Somente em nosso século recomeça o desen- ga, mas não consegue conservar
volvimento, e as ruas traçadas na Renascença são plano urbanístico e a realização arq
utilizadas como frentes edificáveis; deste modo a cida· experimenta pela primeira vez um
de nova imaginada no século XV se transforma aos distingue o plano urbanístico dos
poucos numa periferia ordinária e tranqüila (Figs. ção - sem ainda conhecer suas OPC>rtlmic:lad
914-915). perigos.

Fig. 911. O triunfo de Wnw; afre•co de Fra-


poMJ:io de Schifanoia em Ferrara.

440
Fig. 915. Fem1.ra corrwih.oje:pl4ntatl4•'1141"'dolllll
co Militar.

Fig. 916. Castiglkme d'Okma. A[re1co tk


com uista de &ma, oo inicio® ttculc XV.
alto 4 esquerda o Vaticano e S4o Pedro.

Fig. 917. Vi8ta de &ma em {in1 d4 •kuk> XV.


pelos monumento• ant4foa.

442
. Mas o poder poUtico e econômico dos papas t
largamente desproporcionado para este objetivo. Du·
rante todo o século XV, Roma permanece um centro
meados do século XV, enquanto F1orença, secundário, dependente das outras cid.ades maiores e
são grandes cidades totalmente for- mais aparelhadas (Florença e as cortes da Itália Seten·
é um pequeno centro, abandona· trional). Sisto IV (1471-1484) manda reconstruir S. Pie-
longa ausência do poder papal. tro in Montorio, S. Pietro in Vincoli, os Santi Apostoli;
citadina é dominada pelas ruinas põe novamente em funcionamento a Ponte Sisto; restau·
e pelas igrejas do primeiro cristia· ra o Capitólio e manda colocar em sua fachada a loba de
"'""'~'n"""- menos de 40.000 -estão
bronze, à qual um escultor da época acrescenta os dois
duas planicies ao ládo do rio, Campo gêmeos; ergue as novas igrejas de S. Maria del Popolo,
u ~r>oa ••t"''"~a e ocupam apenas uma pequena S. Agostinho, S. Maria della Pace e o Palãcio da Chance-
compreendido pelos muros Aure- laria; começa cautelosamente a intervir no labirinto do
1.300 hectares). conjunto habitacional medieval, retificando as três
voltam para Roma em 1420, e adqui· ruas que levam à Ponte S. Angelo. Para os trabalhos
controle da cidade somente em 1453 (quan· arquitetónicós utiliza artistas de segundo plano como
a conspiração de Stefano Porcari). Nicolau Baccio Pontelli; ao contrário, para cobrir de afrescos a
estabelece d programa do governo pa· C~pela Sistina no Vaticano manda vir de F1orença os
a cidade imperial e transfonnâ·la nu· mais famosos pintores do momento (BotticeUi, Perugi·
modema sob a autoridade do ponti· no, Gh.irlandaio, Pinturicchio, Signorelli e outros) mas
rA••t"'"'''''" as benfeitorias antigas não consegue que eles se estabeleçam em Roma.
...........,''"'o (os muros, as ruas, as pontes, os aque- No fim do século, a atividade da construção
"""u""rar os monumentos antigos destinando- aumenta, para a preparação do Ano Santo de 1500. Nes-
novas (o Mausoléu de Adriano se toma te perl.odo chega a Roma, pela primeira vez, um arquite-
o Panteão se transfonna numa igrej~;~., o to célebre, Donato Bramante (1444·1514), que abando-
sede da administração municipal), restau· na Milão depois da queda da Sign.ori4 dos Sforza em
cristãs e construir nas proximidades 1499: ele não recebe encomendas importantes, embora
a colina do Vaticano, a cidadela da em seus primeiros trabalhos limitados - o pátio de S.
nova Roma, duplamente excepcional Maria della Pace, o pequeno templo voti.vo de S. Pietzo
do passado e pela preseJtca da Sé in Montorio - manifeste o programa de um novo cla&-
é destinada a tomar-se ainda principal sicismo rigoroso, que busca abertamente o padrão nos
do mundo moderno. modelos antit{os (Figs. 9ro.922).
443
Figs. 918-919. A Capela, Sútinano Vaticano,comoeranoatcu.lo XV
e como é hoje.

Figa. 921)·921. O pequeno tempkJ de Bramante em S. Pietro in


Montorio. Pl4nt1J (do Tr~tado de Serlio) e uiata da entrada do pfúio

444
Fig. 922. VISta de pdtio de S. Pietro in Monwrio a partir de campa·
ndrio, com o pequeno templo de Bramante.

445
Em 150:1 Júlio II, sobrinho de Sisto IV, é eleito
papa. O novo pontifice -animado por grandes ambi-
ções políticas, e ligado aos banqueiros italianos e ale-
mães que financiam as empresas da Santa Sé - está
pronto a realizar com decisão o programa de Nicolau
V, e tem condições de chamar a Roma os artistas mais
importantes do momento. De fato, manda vir de Flo-
rença Giuliano da Sangallo, e depois Michelangelo e
Rafael, os dois mestres mais famosos da nova gera-
ção.
Michelangelo é encarregado, num primeiro mo-
mento, de esculpir a tumba de Júlio ll, a ser erigida
em S. Pedro. Mas logo depois o papa resolve recons-
truir a igreja toda, e escolhe o projeto de Bramante,
concentrando para esse fim todos os meios disponi·
veis. Michelangelo e Rafael são incumbidos de pintar
dois ciclos de pinturas na abóbada da Capela Sistina e
nas Sta~e Vaticanas, para ilustrar o patrimônio cul-
tural - humanistico e religioso - que se deseja reco-
lher numa s\ntese definitiva (Figs. 927-929).
Bramante e seus colaboradores- Peruzzi, Anto-
nio da Sangallo, Rafael - projetam os novos monu-
mentos da Roma cristã segundo a mesma medida
gigantesca dos monumentos antigos: o novo São Pe-
dro, que é um enorme templo de planta central, coroa-
do por uma cúpula grandiosa como o Panteão (Figs. 924-
926); o novo Palácio Vaticano, que deveria ter apre-
sentado na direção da cidade uma fachada colossal
em alpendres, como o Septizônio (um fragmento desta
fachada é o pórtico do Pátio de S. Damaso); o pátio em
patamares para ligar o Palâcio Vaticano com a Vila do
Belvedere, de mais de 300 metros de comprimento e
organizado como um único ambiente em perspectiva.
O tecido humilde e emaranhado da cidade medie-
val é cortado sem hesitações para dar lugar a novas
ruas retillneas e a novos ediflcios regulares (também
aqui, como em Ferrara, avalia-se o contraste entre a
cidade medieval e a cidade moderna; mas destrói-se o
Fig. 923. V"14 Giulio. em Romo, vu14
tecido medieval, sobrepondo os novos traçados regula-· Florentini.
res aos antigos irregulares). Nas proximidades das
margens do Tibre abrem-se duas ruas retas: Rua da
Lungara e a Via Giulia (onde Bramante começa a
construir o imenso Palácio dos Tribunais); nos limites
do conjunto habitacional é restabelecida a estrada reti-
línea romana do Corso, e se projeta um novo sistema
de três ruas retilineas (o Corso, Rua Ripetta e a Rua do
Babuino), que convergem para a Porta del Popolo (Porta
do Povo) de onde se entra na cidade pelo norte.

446
447
Fig. 927. A ab6/xui4(Úl Ca~k& $Utina,pintadapor Michek&ngelo.

Fig. 928. A E.co/4 de Ah!n<u; afre•co de Rafael, na atanza della


Segnatura (C41114ra da A11inatura), no Vaticano.

448
programa é modificado e inter·
accmtecíme:nt<os decisivos - poltticos,
-dos primeiros decênios do sécu-
morre Júlio II e em 1514 morre Bra-
Papa Leão X, da famllia Mediei, divide
entre Roma e Florença; a vida cultural
por Rafael, que dirige uma vasta
exclCIJ:to!'les e desenvolve contenip(ira"-
diversas: acompanha ostra-
edeconstrução, vigia o redescobri-
de arte e das inscrições antigas,
e decorações, prepara espetãculos
modelos de caligrafia para a chan-
método de trabalho coletivo-con·
inclividwaluimo dos mais import:an!Aes
da época - parece estar apto a
111811mEm~~. um estilo moderno coerente e
em 1520 Rafael morre aos trinta e
mesmo perlodo muda bruscamente o
e cultural: em 1519 Carlos V é eleiro
1520 a excomunhão de Lutero rorna
cisma pro!Aestante; em 1521 morre Leão X,
devem agora defender a independên·
,...,...""''"'" potência imperial. Em 1527
são ocupados por um exérciro pro-
as ordens de Carlos V, que saqueia a
nos tempos dos bárbaros.
do "Saque de Roma", nada resta senão
e concluir da melhor maneira possl-
iniciadas nos primeiros decênios do sécu·
Michelangelo é encarregado por Paulo lll
de fixar a forma definitiva da cidade pa·
o arranjo arquitetônico do Capitólio (Figs.
as portas da cidade, simplifica o
Pedra e desenha a cúpula como ele-
dominante na paisagem urbana (Figs.
isso, conclui a decoração em afres.
pintando, na última parede, o
Enquanro nas pinturas e
rep•resenl:a a ruptura e a destruição do
loc:Jássíco. nas arquiteturas obedece à exigên·
os contrastes, de fechar decorosamente
interrompidas.

449
Fig•. 931·933. O amJIIjo dó Capit6lio, naJiza4o por Miche/ai1Jlt!2J; d
esquerda, o entrocal'IU'nto entre o CapiU!Iio e a cidc.ck, assim oomo
•e apre~entava anUs de• sam:al'IU'nto8 fascistas.

450
452
tll:
....

alua
mais ou menos a{achadalk Michelan ·
conforme o projeto lk Miche/onge/Q (d. com
924 e~4).
Fig. 938. A cúpul4 tk S4o Pedro no VClÜalno.

453
Fig. 939. O qfresco do Juizo Universal, pintado por Michelange/o
na Capela SI$tina.

454
tk &1714 no ,ku.J() XVlll, com " indic<OÇ4o etc.
q~ cinde funcionem e d4q~~• c~rro. ~
XV e XVI.

&1114. &q~m" diJI novcu rU<U trcçcdiJI entre 01


m~~rgem uq~rd4. num de•enlw tú 1688; p/4nt4
1602, túpoi1 de• obriJI de Silto V.
U>renzo Bemini (1598-1680) tem mérito de com·
preender que a escala gigantesca das rellquias e do~
monumentos de Bramante deve coexistir com a escala
diminuta das casas e dos bairros para a gente comum.
De fato, o empreendimento de construir uma nova Ro-
ma, em proporção com a antiga, é definitivamente
interrompido; o contraste entre o tom áulico e o tom
cotidiano não pode ser eliminado, mas forma ocaráter
especifico da cidade modema. Com este espírito Bemi·
ni resolve o problema da ligação da Igreja de São
Pedro com a cidade, e projeta o esplêndido arranjo da
praça: um espaço vazio modelado com os desnlveis do
terreno, parcialmente isolado por uma colunata aber·
ta que deixa ver o bairro em volta e o panorama da
cidade. Este cenário leva gradualmente das pobres
casas dos Burgos à fachada da igreja (por trás da qual
aparece o vol Ul)'le da cúpula) e depois ao interior, até ao
baldaquimo suspenso no espaço enorme sob a cúpula e
à glória de bronze no fundo da ábside (Figs. 944-950).
Deste modo, fixa-se a fisionomia de Roma moder·
na: uma cidade que não tenta fazer reviver Roma
antiga, mas custodia suas rulnas e aprendeu a
freqUentá-las naturalmente, como testemunhos do
passado. O desequillbrio entre a vida presente e as
memórias da vida passada ensina a meditar sobre o
tempo que destrói todas as coisas; revela a vaidade do
mito da Cidade Eterna, e forma a moldura apropriada
do poder espiritual da Igreja.
Esta fisionomia permaneceu intata até um sécu·
lo atrás. Depois o desenvolvimento desordenado de
Roma capital da Itália e a nostalgia retórica pela gran·
deza da cidade antiga contribuiram para arruinar o
equillbrio deste excepcional organismo. As ruinas fo-
ram isoladas, e até o conjunto monumental de São
Pedro se tornou o pano de fundo de uma avenida
qualquer; a fisionomia original- monumental e popu·
lar - permanece evidente em muitos dos bairros pou·
pados pelo saneamento, e resiste tenazmente ao "de-
senvolvimento" contemporâneo.

456
Fig. 945. V ..ta da Proç4 tk S4o Ptdro a partir do /xll4o, no inicio do
8kukJ, anta do 84M417Unl0 tU 1935.

457
Fig. 946. Vista aérea d4 Praça de Silo Pedro, durante uma cerimé·
nia papal.

458
A. ENTRADA
B. LOJAS
C. I'ATIOS
L. U.VATORIO
l'. l'ORTAS
R. COCHEIRAS
S. ESTABULO

FiiJ. 962. Planta do and4r Urno de um®. qucrteiriJu entre a Rue


do &buino e a Rue Mar11utta (reoonhet:Cw/nc foto tlbe4, no cito); ~~~- 953. A Ucad4ria do lécu/4 XVW enrr. a
o. andou• •u~ríore• conUm apertamento• alugadoa. Prtu;a di Spagnc (viAivel também na foto
6entada ,..._. IÚ!8en/w d4 ipoca.

462
do Proçc Nauona, no centro hi8t6rico tk
Glrea. O eapaço ua:w de. Praça Nauoria
tk Donúciano; ao redor se rami{Ícam
medieval, com 01 edi{tcW. aJws e estrei-
maÜ>ru dc.a paldcW., oom 01 p6.oos tk
ruGI retiUneas, 4 direita (oo,..o Rinascimen-
ViUorio Ema~le), {oram abertas .Wrante os

463
M Villa d'&u oom Tt1101i, IIOf arMiom th

. ..
465
Fig. 963. Vuto do ~•úuirio do ScMkk com o porto tk Antuérpia;
gravura do lkulo XVL

468
EUROPÉIA NO MUNDO

tem inicio a expansão mun·


eu"'""'"· As realizações urbanisti-
llt:lo n,osterriU>riclS de além-mar são, em
importantes do que as exis-
na Europa jâexistem as
...lfeitorias territoriais criadas na Ida-
para as necessidades da socie-
são modificadas só em parte; no
contrário, os cosquistadores e os
encontram um enorme espaço
novos grandes programas
urbanização.
maior, as energias são distri-
contrastante com as ocasiões; na
CIOI:aam•-se os especialistas de alto nivel,
trabalhos importantes; nas colônias
mas faltam os especialistas e estão
os subprodutos da pesquisa euro-
quadro de conjunto da civilização da
qwaliciaclese as quantidades não mais
si; os valores qualitativos dos novos
perdem-se nos conflitos europeus
difundidos adequadamen~. no am-

alta qualidade dos modelos (examina·


anteriores) e a baixa qualidade
quais irâ se falar neste capitulo)
estreitamente ligados de um único
Para começar a explicar a passagem Fitl. 964. Um tkunlw utron6mico, do De Met.eoria tk De•corfa.

469
de um para o outro, consideremos antes de mais nada trai; Lisboa e Sevilha, os
as cidades portuárias européias que são os pontos de e da Espanha; e Gênova,
partida da aventura oceânica: Antuérpia, que substi- Carlos V, se toma a base
"tui Bruges como empório marltimo da Europa Cen- tante do império espanhol.

.-.~··..:,
( - Ir

Fig. 965. O porU! de Anlulrpia; detenlw de Albrecht DUrer.

470
à Anllllrpi4 na 1egunda rMtc.de do século Fig. 968. O centro da ci.d4de de Antuirpio com o pal4cio pablico
llt4zimo ck.envolvirMnto; o perlmetro doi rell48Centistc. (15ôJ.J566), incendiado pelol e1panhóú em 1676. IJe.
.anwnte na 1egunda metc.de do século pois da conquiltc. upanhol4 (1599), OB hoklruk•e• bloqueiam a foz
novo bairro de expanç(!.o em tc.buleiro, do Sclu!kk, e tornam inutiliz4veiB o porto.

471
Fii•. 969-970. P~ tk &uiJh4 e tk U.boa, <» porto• principq.U tk
Porluilal e do &ponh4 nq Atl4ntico. Na coli114 11UIÚ baixa tk
U.boa tmtit~~W..e o nouo lxúno cha1714do tk Bairro Alto, em
tobukiro; t~ em 1513. · ·

472
Fi11s. 973-974. A "rua 110110" ck Gfnova: wn
traçado para dar /UJlar a uma série""""'"'"'"",.,
ra d4 rua (7,6() m) é ex411erada na uüta da

474
cidades ricas e freqUentadas, as contri- Os portugueses, em seu herrusfério, encontram
chegam em primeira mão, mas territórios pobres e inóspitos (sobretudo a África Meri-
1111Xlbl'1eci<~as por uma tendência ao esque- dional) ou então, no Oriente, Estados populosos e
ll!m.olómc:oe mercantil, que iremos reencon- aguerridos que não podem ser conquistados; assim,
basta considerar os novos lotea- fundam somente uma série de bases navais, para con-
' 970 e 974) e os ediflcios utilitários trolar o comércio oceânico, e não têm condições de"
realizar uma verdadeira colonização em grande esca-
XVI, a exploração de além-mar estã la. Ao contrãrio, os espanhóis encontram em sua zona
duas nações ibéricas, Espanha e Portu- os territórios mais adequados à colonização: os planal-
no século seguinte, intervém as outras tos da América Central e Meridional, com os impérios
banha<las pelo Atlântico, França, Inglater- indlgenas mais ricos e desenvolvidos, mas incapazes
de resistir aos conquistadores europeus.
o Papa Alexandre VI estabelece a linha Cortez no México e Pizarro no Peru ocupam algu-
enll'C as zonas reservadas à colonização mas grandes cidades indlgenas - Tenochtitlan (que
à espanhola: o meridiano que se encontra se torna Cidade do México, Figs. 980-985) e Cuzco
além das llhas dos Açores. Os portu- (Figs. 990-991)- e as transformam segundo as neces-
hã muitos anos, uma via navegãvel sidades dos colonos espanhóis; mas no continente to-
Oriente, e de fato, em 1498, Vasco da dos destroem os conjuntos habitacionais originais
lndia, navegando ao redor da África. esparsos no território, c obrigam a população a se
financiam a viagem de Colombo, que estabelecer em novas cidades mais compactas, como
desembarca no continente americano. as do planalto espanhol.

475
Ffll•. 97UJ78. Doú ptntM a~ Ja colo~ po~
Ma14ga no ExtnmD O.Wnú, e /tiQ tk JGMito no Br...a(I/TtJI)Ufa.
d4 1éculo XVII).

476
Fig1. 98().981. A cidade de Tenoclúitúin, co.pital do /~rio A1teco,
conetruld4 nunuz ilh4 do 14llo de Texcooo; lf"GVUI'C IJ1Ia4<i4 ao
I relaf(Jrio do C<>nquútodor AMnimo.

477
..~
Í9·.·· .J.t.

478 1'-\..QQ,y
/i'igs. 984-985. Os traçados da cidtuk indfgena e d4 cid4<k e•panho-
~. sobre a re<k 00. nuzs d4 Cida<k dlJ México atual.

479
....

. ..
,...,. • e

.
., , .,

.
'P
,
= = t'

.......
, .. .,.,

YVCAfAN MEXtCO

de um ~mp/o Moyo ~m Chichez ltzo.

481
I. Kitwarbncha 6. Aqtlawui
2. Kuyusmanco 7. Pucstrw~.
). eor- 8. Qo<ibncha
4. c..-. 9. Hatunbhcha
10. Yec:htwasi
' · ArDarukancN

Fil/. 990. Cuzco, 4 cop414l t/4 /mpi.W bu:ll; 4/il/uro mootrll "ob,....
tk aJr.>ell4ri4ai"" ui.tenla ® cid4lk ~714 (em troço ,...;.
grouo), M>brc 01 t~ ® eid<J;k .mual.

482
Fis. 994. Reconstruçlúi da8 figura. repreunl4du •obre c pcreth
interne do Templo do Sol em Cuzco.. ·

Estrada de Chinchasuyu
1. Anta
2. Limatambo
3. Andahuayàs
4. Vucashuaman
'· Huamanga (Ayacucho)
6. Huanta
7. Sapallanga
8. Acos
9. ]auja

-.. Estrada de Antisu;tl!, }6. Calloma 76. Poc:asmayo


3,. Calca 57. Arequipa 77. Lachay
36. OUantayumbo ,8. Tacna 78. Huaral Viejo
}7. Machupicc:bu ,9. A.w>pro 79. Tamboinp
}8. Vitc:os 60. Pon:o 80. Lima
81. Pocbac:amac
82. Imperial
Estrada de CoU8suyu
39. Urc:os
-·~
61. Accha
8}. Chincha
84. Nuca
62. Alcà 8,. Acari
40. Sicuani
63. Chaü
41. Ayaviri 86. Chaia
42. Huancane 87 . Taraptd
4}. Huaycho Estrada da costa 88. San Pedro de Atoc:ama
44. Pucarani 64. Tumbes 89. Copisj>o
4,, Tiahuanaco 6,. Poechos 90. Coquimbo
46. HatuncoUa 66. Pabur 91 . San Felipe
47. .Z.,pita 67. Morupe 92. Nand>o
48. Desaguadero 68. CoUque 9}. Lumbra
'49,Paria 69. Sana 94. Acos
,0, Chuquisaca (Sucre) 70. Guadalupe 9,. Choeu
'1. Angostaco 71. Chicama 96. Tamboinga
,2, Tingasta 72. Moche 97. Hu•rochirl
,3, Rioja 73. Santa 98. Tambo Colorado
'4: Uspallata 74.' Casma 99. Huaitul
''· San Felipe
n. 'l{ambacho 100. Soras

483
Fig. 995. As cultivaç6es incaicas 11 terraço, rn>s arredores de Pisac.

484
Figa. 996·998. Mapa e diUJB uisttuJ da cidade ck Machu Picchu,
abandonada pelos indigentuJ e que ficou deconhecida ati ser cksco-
berta pelo arqU«5logo americano Hiram Bingham em 1911. A cida·
ck e IJ.eus ter~s cultiuacros est4o incorpOrados i!. paisagem monttJ.
nMmi.

485
Fi6•. 999-1001. Ihu~ de um<~ crdnico upon}Jol4 do fim d4
út:ulo XVI, quê docUI'M:nt4m oo m41U tro141 ao. iJod41eNU.

cidades seguem um modelo uniforme: dd4de• d411ndi41, terufo no!J41, tlt4o 1Wei1414 cn•oer;un~nde­
ruas retillneas, que definem uma série •e jUittJmenU q~ ir/Jc crucer. Por iuo 4 prtu;4 deve ter projetod4 ·
re/4çllo 40 potllvel creecimenU> d4 cidadt. N/Jc dew ttr IMMI
quase sempre quadrados; no com de 200 pú de lorguro, e300de oomprimento, nem mtJil de600 pi1de
suprimindo ou reduzindo alguns WI/UT4 e mtJi1 de 800 de comprimento. Um4 praça bemproporcio-
consegue-se uma praça, sobre a qual se ll4d4 de 14m4nho rMdio kr4 600 pú de comprimento ~ 4()() de
ediftcios mais importantes: a igreja, o paço lo.rguro.
AI qiUltro r'"" principt>U kll4m poro fortJ d4 pr~. codo
as dlSas dos mercadores e dos colonos mais umtJ tJ portir do ponto mldio de codo 14do, e duu de codo um dot
4nguloe. Os q~U~tro 4ngulol deuem utor ooltodos por4 01 q~ro
México, onde é necessário converter ao Cris- pon141 ctJrdetJil, porq~ y.ssim 41 r'"" q~ saem d4 pr~ n/Jc
utorllo expoo141 tÜretomente 401 qiUltro vent41 principt>U. Tod4 4
uma numerosa populaçãp, a igreja é antece- pr~ e 41 qUtJtro r'"" principoil q~ divergem deBI4 tenfo prolli-
grande pátio (atrio), e ao lado da fachada ®1 de p6rticol, porq~ uue 1/Jc muito con.-ienu• poro 41 pu-
espécie de capela aberta (capiUa de indios), ..,.., q~ 4f •e ntlMm por4 comerei4r...
oito ,...,.. q~ convergem por4 4 pr~ not q~ro 4ngulot
a missa áo ar livre nos dias de festa (Fig. deuemAIdeumboc4r um 1er olntruidlu pe/ol p6rticoo d4l p~.
EIU1 p6rticoe devem k rmiMT not 41111ulol, de m!)do q~ 41 ~
modelo foi imposto pelas autoridades já nos d4l d4l ,...,.. potl4m eotor 4/in.Md41 com 41 d4 praça. AI ,...,..
da conquista, e foi oodi.ficado por Flli- ter/Jc /o.rl/41 NU regi6u früu, utrft141NU quente~; m41, poro /illl
de de{atJ, oruk u ~UtJm coiJ<Ilo., convird q~ tejtJm lo'lf4l...
de 1573, que é a primeira lei urbanistica da N41 ciddde1 do interior 4 igrej4 n/Jc deve /ic4r no pmmetro d4
. Eis as prescrições mais significativas: pr~, m41 4 um<~ dilt4nci414lq~ te4preunkliun,uporod4dot
outroe ed;{kioe de modo 4 •er uilto de tod4 pork; deeto {ormtJ
raultorá mtJil belo e imponenk. Dever6 utor um tonto toerguid4
114 localid4de oruk o nooo ea~kcimento deve do eolo, de mtJneiro q~ 41 pu..,.., knh4m q~ 1ubir um<1 úrie de
!1110 (~flUido nou4 oontode d~ve ur um<~localidtuk üure, degra"' poro ~r IUtJ UJtra.d4... O hotpil41 dot pobru onde
t»orrecirMnlO ao. fnt/i(», ou com ~u con- eot4o oo doenk• n/Jc co~ ter6 COMtrulà.> no lodo nom, de
oom ''""'Pr~. ,...,..~ loú• deve1er t~ modo 4 re~ulttJr 111pooto 40 euL O. lokl edificciveil 40 redor d4
de cordiu ~ piq~k•, oonuçondo d4 praça pr~ princip(J( n/Jc devem ter cotu:edüto. 4 porticulora, m4l reter·
41 rU41 devem correr poro 41 por141 e 41 princi- ~ poru 4 igrej4, oo etÜ{kioe reoie e municipoil, 41/oju e 41
e deiJ«Jrulo su{icitnk tlpo<04berto, de 1'114Mir4 morotÜtJ• dot merCtJdorea, q~ devem •er coMtruldot em primaro
craoer, poU4 ukl'llkr-.e tempr;edo mamo lug4r...
oenlr<IJ deve ator no centro d4 ciddde, de /orm11 O. rul4flUe/oke etÜ{icáueil ur/Jc diltribuldo. 40...,...,poro
tJQutlte colonot q~ atejcm CtJptU:itodoo 4 COMtruir 40 redor d4
"::'.:~)~~;:~~
~I
:igU4l40 I'M:fl014 unt4 IJQ t TMi4 IIUl
melhor poro 41/Ut41 o1llk te Ul4m pr~ principol. O. lota fl4o.otrilnúdo• devem ter conuTIJ4dof
OulT41 celebroç6e1... O to1TI4nho d4 pr~ urd poro 01 colono• que poder/Jc cheg4r {utur4menk, ou 11nt/Jc poro
ao ntlmero dot hobitonke, úrulo pruenu q~ ~ dilpormoe dek• 40 no11o be~prozer.

487
Estas regras derivam seja da tradição medieval
(as novas cidades fundadas no século XIII e na primei-
ra metade.do século XIV - as bastides francesas, as
poblaciones espanholas, ilustradas nos capítulos a nte-
riores - difundidas em todos os campos europeus),
seja da cultura renascentista: dos textos dos tratados
(Vitríwio, Alberti etc.) e do esplrito de regUlarida de
geométrica, que agora se tomou um hábito comum e
uma exigência primária na técnica produtiva.
Na prática, a combinação destes fatores produz
um novo tipo de cidade, com alguns caracteres origi-
nais que se podem relacionar assim:
1) Aquilo que se éstabelece no momento de fun-
dar uma cidade não é um organismo em três dimen-
sões, mas uma traza (um plano regulador de d uas
dimensões, como em Ferrara). De fato, não se prevê a
construção de edificios a curto prazo, e mais ou menos
contemporaneamente, como na Idade Média; atri-
buem-se os lotes construiveis, sobre os quais os proprie-
tários irão construir como e quando o desejarem . Nas
cidades americana s, o desenho das ruas e das praças é
por vezes inutilmente grandioso, ao passo que os edifi-
cios são baixos e modestos (as casas são, quase sem-
pre, de um andar; Figs. 1008-1010).

Fig. 1003. Pl4nta de 1681, com a parte ~ntral d4 cúlade de ~lula


no Mlxico;o quorteir4o maior, ao c.ntro, conUma.igNja1 oatrioe a
de indloe.
"•

m
-"'

~
~
Fig. 1005. Plant4 d4 cidade <h Guadalcjc.ra, no México.
Fig. 1006. v.,l4 alre4 d4 cida.d.! ck GIUJdaltVcra, oom c prtJÇ4
principc] (n.• 2, 3 e 4 114 pÚlnl4 pre«cknte). ·

490
ambienu doi cidll<ÚI colonioil no Anu!rico
tlpico, com 01 c0101 IÜrtOI, e o fochodo de
••rlt•~''f<>j' do orquiteturo clú•ico a40 inurpre·
con.trut<>rel loco;..
Fig. 1009. Uma rU<l tk Mérida, "" V~nuu&a,
' pelc8 CG8G8 térreGS co/onicúJ.

Fig. 1010. Outra rua tk Mérida. Á1 CGSIU coi<>IIUIUJ~


t/4$ por CGSGS 17KXkr~~G~, com G8 rMimtU ,..,,,_...._

492
Fig. 1014. Planta de outr4 cid4de ju uftic4, S6:o Joot de ChiquitM,
n4 Bolfvi4.
L IO<TO
e. co~ j. (alptt. mortdria
b. ..tio k. cr&<ntl
c . ipja. l p....
d. ~cia dof ;.utcu m. euu do. 'ndioe
•~ rtfei~

·-
l\. (:'ni.I'IH
th...... o.eepelu
t.. labon~·

~ . . . . . . . .. ~ 6 ............. .

., .:r

493
2) A cidade deve poder crescer, e não se sabe o ~ As çidades coloniais
quanto crescerá; portanto, o desenho em tabuleiro po- ções urbanisticas mais
de ser estentido em todos os sentidos, tão logo seja Sua pobreza, cmnnarataa
necessário acrescentar outros quarteirões. O limite ex- ções da cultura
temo da cidade é sempre provisório, mesmo porque gias não mais são u•~·LruJuun"'
não são necessários muros e fossos (somente no século fas: na Europa, os grandes
XVII as cidades mais próximas da costa serão fortifi· realizar seus projetos, ao passo
cadas para defend&las dos piratas). O contraste entre ceira ordem emigrados para a
cidade e campo, tão evidente na Europa eespecialmen· constroem cidades inteiras.
te na Espanha, fica atenuado, seja pela inc·erteza mesmo: reorganizar o arr1bumteca
das fronteiras, seja pela abundância dos espaços aber- ~ vos princlpios da simetria e da
tos existentes no conjunto habitacional (as casas colo- ca. Impondo estes princlpios, oe
niais têm, muitas vezes, um pátio privado; ao centro, dolTÚnio em todas as partes do
existe o grande vazio formado pela praça central e pelo O modelo em tabuleiro,
atrio). nhóis no século XVI para
3) A uniformidade do tabuleiro - muitas vezes Américà Central e Metridion,al
decidida na mesa pela burocracia espanhola - im'pe- ses e pelos ingleses no século
de de encontrar uma adaptaçãoaocaráterdos lugares. para a colonização da
Por isso, as cidades da América espanhola têm um cultura cientifica considera
aspecto mais simples do que as medievais européias trumento geral, aplicável
(que utilizam traçados muito mais variados e defini· desenhar uma cidade, para
dos no local). Também a incerteza do desenvolvimento la, para marcar os limites de
futuro toma precária e genérica a paisagem urbana: dos fundadores dos Estados
algumas cidades que no inicio tinham poucas dezenas belece em 1785 um retlculo
de quarteirões crescem, com o mesmo desenho, até se dianos e os paralelos, que de·~e ElenÜ'
tornarem grandes metrópoles. O desenho inicial esta- novos territórios do Oeste
belecido no século XVI pode servir ao desenvolvimen- lhas quadradas, e pode seral\nOitii.B•
to da cidade no século XIX e em nossos dias; de fato se 64 partes menores). Fica
assemelha, por vários aspectos, a um plano regulador geométrico baseado no qual
~ntemporâneo. gem urbana e rural do novo

80 roda.
10 ch3lns. 330 ft.l
6 acrea. 6 acrea.

20 acrea.
6cb. 120 rode

..
~
o 10 acre..
..
:!
Q,
~ §
660 teet. IOobalno.
80 acrea.

co acrea.

Ff6a. 1016-17. A colcnizaç4o 00. Eetll/tiM


OF 20 chalna. 1,320 teet. primeii'O utabekcinwnlo 00. />Wnftto.""
dd4<k th Fiüu11Jfi4. IToçadc por WillioM I'IIM

494
Fig•. 1018-19. À c:o~truç4o de. cid<uk tÜ
qU4renta e oiro &tadc.• da Uni4c atual.

Fig•. 1020-23. O pl4no regulador tÜ New


s4o municipal em 1811. 'll-ai<He de um 14~•ulfilo•Ã"
nllU m4U ampla. (avenuee, numeradc..
venllU m4U e•treita• (~. numeNUto. tÜ I •
c:om abaoJuta regularidluk o aolo "idcnl4dc. dtl
tan.

496
•.:'1 '":«_1 '

a bl5]b lsEilsiSisEíf Gt.S.JG'\.9 El'L r , ,

......,
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J,.
'Y-

a , ,..

497
Fip. IO:U·U. Ducu viet4t de New Yor.ll nc 1éculo XIX: um trecho
da Broodwa.y, e o perfil da cidade vieta. do porto.

498
Fig. 1026. Uma porçd,o do tecido ck New Yorle rw fim® liculo XIX;
distinguem-se, da esquerda para a direita, a biblioteca ptlblica, a
Igreja ck S. Patrlcio e a estac4o central.

499
<:Fig. 1031. New &bylon. Um4 nova cidade projetado. ao longo do
Rio M;.•oun na •egunda metade do •kulo XIX.

502
AS CAPITAIS DA EUROPA BARROCA

Nos ptimeiros decênios do século XVII, a crise


ec{)nõmica, a crise da classe dirigente renascentista e
a formação da pesquisa cientifica moderna fawm mu-
dar os métodos da.projeção e da gestão urbana.
A nova classe dirigente- os reis com suas cortes
e seus funcionários, os novos ricos, nobres ou burgue-
ses, o novo clero especializado da Reforma e da
Contra-Reforma- não tem mais a mesma competên-
cia e a mesma ambição no campo artistico. Ao mesmo
tempo, a arte perde seu caráter de método unit.Ario
para conhecer e control.ar o ambiente fisico; a verdade
das coisas não coincide mais com a beleza das coisas,
mas pode ser afirmada com os métodos objetivos da
pesquisa cientifica. A arte toma·se, aasim, o estudo das
qualidades nã()o()bjetivas, mas subjetivas e sentimen·
tais; serve para controlar os sentimentos coletivos, ou
para exprimir os sentimentos individuais, e oscila en-
tre o conformismo e a evasão ou o protesto.
Iremos estudar a nova organização do trabalho
artistico a partir dos grandes centros de produção e de
consumo, isto é, das capitais européias. Examinare-
mos em primeiro lugar a capital francesa, que se trans-
forma no novo modelo da cultura artistica mundial.

FiiJ. 1032. Uma iU..troçcfo tk Oe Prindpioe de Fõloeofta tk Dt•C4~"'


tet: o• vtrtica dtu p4rtktilu mouri4il.

503
Fig. 1033. Ptonto ~m ~'IJ1«UUO de Pa.N em 1609; o cid4dc ainda
e~l<ffechado no. murw medievo;., e di•tirwuem-ae o.t 1uo.t trll
porte•: a cité, o vílle, o univeraité. C{. a Fig. 598.

504
Uma parte notável destas obras públicas está
concentrada em Paris, para acentuar a importância
Cap. 7 consideramos o organismo de Paris me- da capital. Eis as principais iniciativas decididas no
que já é uma das cidades européias mais impor- inicio do século XVII:
- a ampliação dos muros de Carlos V na mar-
organismo é composto de três partes: gem direita, para incluir os novos subúrbios ociden-
a cité, na ilha onde foi fundada a primeira tais, até aos jardins das Tuileries;
gaulesa; - a reorganização das ruas e das instalações
a uniuersité na margem esquerda, onde os (aqueduto e esgotos);
haviam construido a colõnia de Lutetia, e - a abertura de algumas novas praças de fonna
1210 Abelardo e seus colegas fundam a oéle- regular, circundadas por casas de arquitetura unifor-
me: a Praça Real, quadrada, na margem direita (Fig.
uille na margem direita, onde residem as 1034); a Place Dauphine, triangular, na ponta da ilha
comerciais e o governo municipal. As três da cité (Figs. 1035-1037); a Place de France, semicircular,
cercadas pelos muros de Carlos V, construi- projetada e não realizada sobre as alturas do Templo;
1370. A superflcie é de 440 hectares, e a popula- - a ampliação do Paço do Louvre, isto é, a liga-
cerca de 100.000 habitantes (Fig. 1033). ção do castelo medieval e do palácio quinhentista das
reis de França -que na Renascença residem Tuileries num conjunto unitário, demolindo o bairro
lualmente nas cidades do Loire- se estabelecem intermediârio. Este projeto, realizado em parte por
lith,arr1enle em Paris em 1528, quando Francisco Luis XIII e por Luis XIV, será completado somente por
a reconstruir o velho Castelo do Louvre na Napoleão III no século XIX;
direita. No século XVI, Paris se desenvolve -a construção de uma nova residência suburba-
ultrapassa os muros e chega talvez a na em Saint-Gennain: um castelo ambientado num
ou 300.000 habitantes; mas as guerras de reli- jardim em patamares, que imita os modelos italianos
o sitio de Henrique IV - de 1589 a 1594 - do século XVI (Fig. 1039).
gravemente a cidade. O novo rei conquista Depois de 1610 e até a tomada do poder por parte
cidade arruinada e despovoada. de Luis XIV (1661), a organização criada por Henrique
Nos quinze anos seguintes, até a sua morte em IV continua funcionando, mas falta uma vontade polí-
Henrique IV inicia um programa de obras públi- tica igualmente decidida. A cidade de Paris cresce rapi-
não é mais composto por iniciativas pessoais e damente, e na primeira metade do século chega a
mas está inserido dentro de um ba- ·1()(1000 hahitanii>S; l.uis XIII. Hichl'lit•u t' ;\lan:u;no
""n'"'"m"•n regular, e depende de uma organizn- estão empenhados numa série de guerras, e não dispõem
de funcionários e de repartições especiali· dos meios p<1ra desc.•nvuh·t·r um (.)I'Ub'fllma t•onti.nuu de
"''"'"t~n das Finanças, Sully, também é o obras públicas; a iniciativa passa para os especuladores
_,,,t....n.. nt<> das construções e diretor das obras particulares, que constroem bairros inteiros (na Ilha de
São Luis (Fig. 1038), e na margem esquerda).

505
FiiJ•· 1035·36. Pam, a Place Dauphirw; vilta in~nia e plant4.

506
103'1-38. P4.U, o amuvo d4po11l4da 1l.lhl4 CiU, com a Pio«
~ a P4nt Nou~au, • o louomtroto d4 Dh4 rk S4o Luú,
na primtira mttad~ d4 lkulo xvn.

lf6. 1039. Vuto do C<>lt~lo de Saint-Germain.


- .._-..._
.
........ ~

T.,.:. . ~..

507
Fig. 1040. Nicoku Pou..in, A
aeu do Louvre.

Fig1. 1041-42. Ptalll4 e v~ta ahN dD

508
forma-se a nova cultura artistica e todo, da alameda de entrada até o leque das alamedas
do século": Mansart na arquitetura, abertas no bosque, tem três quilômetros e meio de com·
pintura, Com eille na literatura e Descartes primento. Os edificios vistos de longe se tomam cená·
estabelecem as bases do novo classicismo ri08 em claro-escuro, como as massas das árvores e os
e europeu. Esta cultura prepara os espelhos de água; mas quando nos movemos ao longo
para um controlé'mais rigoroso do am· dos percurS08 estabelecidos adquirem gradativamente
natural e artificial, e de fato toma poss1veis, seu relevo volumétrico, e vistos de perto revelam a rique-
da metade do século, grandes arranjos unitários za dos acabamentos e das decorações. Todos estes ele-
até entAo desconhecida. O primeiro destes mentos- dos fundos paisag1sticos aos núnimos deta·
de Vaux nos arredores de Paris, construi· llies decorativos - formam uma gradação continua e
1666 a 1660 para o riquissimo s uperintendente ordenada; e para executá-la, é preciso ter uma ampla
de Mazzarino, Fouquet. O jardim é proj&- organização coletiva, com numeros~s especialistas
Nôtre (161~1700), a arquitetura por Le Vau guiados por um pequeno número de coordenadores.
a decoração por Le Brun (161~1690); (Flgs.

arranjo de Vaux não ocupa um lugar pano- Na metade do século XVIl, semelhante organiza·
oomo as uillas italianas ou o Castelo de Saint- ção pode traballiar em beneficio de um particular co-
situa-se numa pequena depressão, entre oa mo Fouquet; mas, a seguir, somente o governo real
V ale do Sena, mas compreende todo o ambi· pode continuá-la e desenvolvê-la. Em 1661, Fouquet
do edificio principal, e transforma-o num convida o rei e sua corte para a inauguração de Vaux,
arquitetônico unitário. Os "jardins à italia· que compreende uma ceia cozinhada por Vatel, um
anteriormente são espaços ligados à medi· balé escrito por Moli~re e musicado por Lulli, um
C888, e as vistas arquitetônicas não são de compri· espetáculo de fogos de artificio; três semanas depois, o
maior que 200 ou 300 metros, mesmo quando imprudente proprietário é preso por ordem do rei, e sua
para uma paisagem natural ilimitada Ao con· equipe de artistas passa para o serviço de Luis XIV,
este primeiro "jardim à francesa" é uma paisa· inserindo-se na organização pública coordenada pelo
OOEnpl,eta, simétrica e regular até a linha do hori· novo superintendente, Colbert. O rei promove e segue
prímE!ÍrO eixo de simetria sai do castelo e corre com prazer os trabalhos de arquitetura, destinando
-·~wrrum~.e ao vale, através de uma série de terra· para este fim somas sem precedentes. Em seu longo
uma fonte no declive oposto; o segundo é mate- reinado (de 1661 a 1715), leva a cabo uma série de
por um canal retillneo, que ocupa o fundo do intervenções importantes cm Paris e nos arredores,
e é a transformação de um pequeno rio. Estes dois que se tomam o modelo obrigatório para todas as
medem mais de um quilômetro, e o parque outras cortes européias.

509
Fig. 1043. V"'14 alrea oo ParqiU! e do C<utek> de Vawr.

Ff6. 1044. Um 00. q114Ttot de tk>rmir tk> Ctuuk> de Vaw:. Fig. 1045. Pk>rúa tk> Ctuuk> de Vaw:.

510
1041-48. h duu pr~ ctmltruldu por WS. XIV: Ploceda
• Placc Vtnd6mt.

Em Paris, todavia, os meios do Rei Sol não são - a formação de uma nova periferia, desconti·
para transformar em<larga escala o antigo nua e misturada com o campo. De fato, as antigas
e obtêm apenas: fortificações são derrubadas, e em seu lugar é traçada
uma coroa de avenidas arborizadas (os boulevards).
-a inserção de alguns episódios arquitetônicos Este contorno provisório encerra uma área de quase
no tecido já construido: o novo arranjo do 1.200 hectares; mas o organismo urbano já está cres-
(para o qual é consultado também o velho cendo no ten;tório circunstante. Paris se toma uma
Fig. 1050); a Place des Victoires (Fig. 1047); a cidade aberta; um sistema de 1..onas constru1das e de
Vendôme (Fig. ,1048); o Palácio dos Invalides zonas verdes, livremente articulado no campo. A popu·
IOõl-52). laçào atinge cerca de 500.000 habitantes.

!)11
Fig. 1049. Pl<>nto <h Par~ em 1691, com o pro_kto dar ao.,nid<u
arbori.uJd4, - 01 boulevardo - "" redor <h todo o cuiadt.
Figs. 1051-1052. Planl4 e vis14fron14l da Igreja dos Invalides,
construido por Hardouin-Mansart.

513
)

Fig. 1063. i'lanUl do Urril4rio GO redor ck PBM, IIG TMI4<h do l. Mai~ 2. S..nt Germ.ain: J. Marlr. 4.. VtfNJ1itr. :\. Cla,py,
tlot~d(lf(ne-;8. ~oNdon; 9.
&81.uc, 10. VmQtnM« 11 . (,;vry; 12.S.Wnt
úcUÚ> XVIII. O tTGço fiM npnunt.a a nck dM ,...... /MdkiXI.is; o
traço lfTOfiO, 48 avenida• ntillrua.• traçada• M eécUÚ> XVII e no
sécUÚ> XVIII; o pontilhado, o•gra.ntk8 porq~e:

O território ao redor da cidade, vazio e sem obstá-


árvores, os cursos de água, mas não as
culos, pode ser efetivamente transformado segundo os homens.
novos princípios de simetria e regularidade. De fato, o Le Nôtre ordena o jardim numa planicie
rei e os outros grandes personagens fixam sua morada nosa, circundada por baixas colinas. Ao
no campo; Luis XIV abandona o Louvre e transporta a da escavar um canal em forma de cruz; o
corte para sua nova resid~ncia de Versailles, que é com um qwlõmetro e meio de comprimento,
progressivamente aumentada até tomar-se uma pe- eixo do castelo e pode ser visto de flanco a
quena capital artificial. terraço central. Esta fita de água, na qual se
sol ao se pôr, guia o olho até ao ponto de
Na l'lg. 1053 pode-se ver que o organismo de Ver- colinas ao fundo, a cerca de três quilômetros de
sailles é quase tão grande quanto o organismo de Pa- cia; dai parte um leque de dez ruas que entram
ris. Mas não é uma cidade: é um parque, no qual estão uma coroa de raios no bosque compacto em
situados - como elementos acessórios - os edificios Diante do castelo, as antigas ruas de acesso
necessários para o funcionamento da corte. Aqui o Rei das por um sistema de três avenidas, ao
Sol tem condições de criar um ambiente perfeitamente quais se desenvolve a nova cidade com as
regular mas desabitado: pôr em ordem as colinas, as dos funcionários da corte (Fig. 1054).

514
Fíg.l056. Vilt441retJcloC<ut~tlod" Ver&4illn. EmpriiMiroplGnoo Le Vau e Hardouin·Mansart or~ranizl:l!l
pGrqUJt, 40 fundo4 cid4de. lo. O pequeno pavilhão de caça de
do em várias oportunidades, e se
edifício de mais de 500 metros de ~.:mnun.o:•'"
separa o parque do espaço da cidade
Brun coordena o arranjo interno. O
espetacular é a galeria dos espelhos
Fíg. 1057. A g4leri4 d01 e•pellwl, rea.lizadápor HGrclouin-M41l8art, dar, exatamente no centro da fachada
no centro elo fach4da. do Clllltew de VersaiUe1t. parque; o cenário calculado por Le
janelões e é refletido pelos espelhos que
frente; a arquitetura e a pu"""'K"rn,
primeiro plano e a cena de
fundem num espetáculo unitário e de,~lumh,nullll
1057).
Versailles e Paris são dois organismos
mentares, que revelam as possibilidades e
do poder absoluto entre o século XVII e o
Foram elaborados os instrumentos estJmiUOil8t"
nizativos para transformar o território, sem
ções de escala da tradição italiana; mas esta
mação é conseguida somente em partes, e
cidades habitadas mas nos espaços vazios
em tomo. O ambiente quedai resulta é um
parques e de edificios monumentais, que ainda
ligam num único organismo coerente.

!)16
Fig. 1059. Versail!es: a fonte de Latona e a avenida em declive
que leva ao grande canal, que assinala o eixo do porque.

517
Ffgs. 1060·61. Dois detalhes da decor~tlo de VersaiUes: um dos Fig. 1062. A "mdquina" de Mar/y, que soergue as cWUa8
vasos do parque, e o batente de U!124 porta comostmbolodo Rei Sol. para alimentar as fontes de VersaÜ/eB.

Fig. 1063. O território ao redor de Paria, numa I'GIIIIIW


XVlll.

518
Fig. 1064. Mapo da lOna entre Paris e Ver1aillu, na metade da
1ku/o XVIII.

520
1065. Pl4nt4 th Pcrü no{in4l®lku/() XVOI:~mpreto,ut&J
a !lN ao\ STI L .,
01 pti~pci• arro.VO. arquitet41Ú(:Of d4 monarquia:

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!:E!_ . . .,. .: !..,.:
- I
~•r- -lfly
- ~·
!l~t,. I'WJ.IIwJ~.

·-·
1066. Pl4n14a th umaetuaburg~U:aadedoia andare• na cid<uk, c
trato<Ú> {roncfl do 1ku/Q XV/I.

521
Ff6. 1067. Vul<l tk V~ll4 em mea®. do ~ XVII. no cinturdo
do. nuu'OI ~Mdürxúo.

Entre as outras capitais européias, vamos consi- onde reside Eugenio de Sabóia, o general
derar Viena, a capital do império austrlaco; Turin e (Fig. 1074); o palácio Schwarzenberg; o
Nápoles, as capitais dos dois Estados italianos mais tenstein). No inicio do século xvm, COriSti'OHI
importantes neste período; Amsterdã, a cidade dom i· segundo cinturão de muros externos, v.'u•~.:w.......,, •
nante dos Pa1ses Baixos; Londres, a metrópole inglesa redor uma outra faixa de respeito
que no século XVIII se toma a primeira grande cidade área total da cidade é de cerca de 1.800 nec.:ran..-
burguesa européia. o Parque do Prater, entre os braços do
pnpul a~;;io no final elo sí•rulo XVIII chega a
habitantes (Figs. 1068 e 1071).
O ""lwrano l'<·"idt· no pa~'O da cidade
VIENA llofbm')! cFi~. 107:lJ: mas em 16!JO inicia a con,stn.ICII
uma ).!'randc• n·,..idi·nria ~uhurhana. "l'm<>lhanl.l•
A dinastia imperial dos Habsburgos se estabele· sailles: é o Castelo de Schõnbrunn, com o
ce em Viena em 1683, depois da derrota definitiva dos ocupa uma culi na panorâmica, inl(.'diutamclllt•
turcos na batalha de Kahlenberg. A cidade velha - dos muros (Figs. 1(>69·1070).
ainda ence.rrada dentro dos muros medievais - se O arquiteto na corte imperial, de 1690 a
toma uma cidadela interna, circundada por uma faixa Fischer von Erlach (1656-1723), que projeta
livre de cerca de 500 metros. Para além desta faixa, edificios monumentais num estilo pr'DJX>siltadam~a
forma-se a cidade nova, que compreende os subúrbios complexo e severo: o novo paço do
e as residências dos grandes dignitários (o Belvedere ca e a igreja de S. Carlos Borromeu (Figs.

522
_____...~·----~,-
L---~r

523
'·'~'rr. rtLJ:..,.~.~w.~J,·

1016-76. V~ta u~rM e planta d4 Igreja <h S. Corro. Bono-


V'UlM, de Fi•clur oon Erlach.

525
" 1:40.0()() 1\JRIM

Turim, a capital dos duques de Sabóia,


conserva no início do século XVII o organismo
no em tabuleiro, ao qual foi acrescentada
la pentagonal (1).
Enquanto o Estado dos Sabóia se torna
importante, a cidade é ampliada três vezes, mas
manece uma fortaleza exposta aos movimentos
exércitos franc~ses, espanhóis e austríacos, e
sempre defendida por um sólido anel de muros.
A primeira ampliação é projetada em 16~
arquiteto Cario di Castellamonte, pára o Duque
Emanuel I; a cidade 'Chega a 100 hectares, e
25.000 habitantes (2).
A segunda ampliação é desenhada em 1673
Amedeo di Castellamonte, filho do precedente,
do reinado de Carlos Emanuel II; a superficie
de é de 160 hectares, a população é de 40.000
tes, e o castelo medieval é isolado ao centro de
grande praça, onde se forma a "zona de comando"
2 A terceira ampliação é traçada, em 1714,
Filippo Juvara para Vitor Amadeu II, e
superfície da cidade até 180 hectares; a POJJUll~ca,()cn
ce para 60.000 habitantes (4).
Os novos bairros sempre seguem a orí1ent;açãl~à
cidade romana, com as ruas em tabuleiro
de modo diverso ou movimentadas por
praças; faz exceção a Via Pó, que retifica o
uma velha rua entre a cidade e o rio, e corta em
na! os quarteirões da segunda ampliação. Nas
nas praças mais importantes as fachadas das
3 são todas iguais, como nas praças reais francesas.
No desenho regular do organismo urbano,
no Guarini insere suas movimentadas in
quitetônicas: a capela do Sudário, a igreja de S.
renço (Figs. 1083-84) e o palácio Carignano. N01
arredores, Juvara constrói a Basllica de Superga (Fig.
1085) e a residência de caça de Stupinigi,ligada àcicJa.
de por uma longa avenida retilínea (Figs. 1086-90).

Figs. 1077-80. Turim; a cidade no final do século XVI, e 01


4 amplio.çlJes seguin~s (162(), 1673 e 1714).

526
1081-82. Thrim; mapa da cid4<h no Ncu/o XVIIIe v~ta axial
tk 1ruu rruu.

I
I

...
Fig1. 1083-84. Turim; vilt• IÚrec. d4 Piaaa
cutelo rMdüval com a no1J4{achad4 tkJuvara. Em1boi.Wdl. .
•c
da, a planta d4 Igreja tk S. Loure~ de Guarini, que
nD dTil/ulo d4 {ok>griJ{itJ.

528
FiM•. 1087-90. ~w.;. v..to airea ~nú; p/4nt4, •tcÇ<to e uilto
ÍI!Wmll do l4l4o centro/.

530
Fig. 1091.. Pumto do centro tk Turim, mopo do lmtituto Geogr6.fíco
Militor.

!)31
Fig.I093. Umlk141Mikummapaoo
o bairro upanhoLaUm eh Rua Toledo, 4
Cuülo S. ElTM.

Fig. 1092. Uma du rUM oo centro lk Ndpola,


•kulo ~•400. N C4141 oo tabukiro gn.r:o-rom<IIIO, Nlll
u IICT'Ucidtu lk an® ,..,, rdüriort~l, holp«lam umo
ç4o e ,...,. ativüUuie• econ6mic41.

NÁPOLES
8.000 pessoas num imenso bloco uniforme, de
Nápoles, capital do vice-rei espanhol, se toma no 600 metros de comprimento).
decorrer do século XVIJ a cidade italiana mais popu· Nos arredores da cidade o Rei Carlos
losa. O centro medieval conserva o traçado em tabulei· 1743,a VílladeCapodimonte e,em 1752,a
ro greco-romano, e os novos bairros são dominados de Caserta, segundo desenho do célebre
pelas ruas retilineas do século XVI, como Via Toledo. alameda de entrada, e praça oval, o
No século XVIII, o reino meridional se torna um do paço, e o parque que se insere na colina
Estado independente, e novo Rei Carlos de Bourbon gigantesco percurso monumental, que
(1734-1759) tenta rea).izar um arranjo ordenado desta na Itália de então (Figs. 1091).96). Mas
grande cidade, que jã tem, agora, 300.000 habitantes: sas intervenções não bastam para
moderniza o porto, arranja as ruas suburbanas, cons· formação duradoura: o organismo da CHIME! eGIOI
tr6i alguns novos edificios públicos como o Tribunal tório permanece desordenado e inun•"•ornA·.,••·
da Saúde e o Albergue dos Pobres (q ue devia hospedar quanto a população continua aumentando.

532
Fig. 1094. Mapa do centro de N4pO/el, m4Po do Inotiwto Geogr4fi·
co Mililar; o ll"onde edi/lcio no alto i o alberg~ doi Pobru.

533
Fig•. 1095·96. Ccuerto. Vida aérea do pa/4cw real e mapa do
cidade, mapa do In.tit.uJo Geogrd{ico Militar.

535
AMSTERDÃ

As cidades até agora examinadas são


do absolutismo que domina os Estados
des ou pequenos. Mas as cidades holand...,.,
são governadas como as"".""'"'"''"'·""''"v
poder político é administrado coii Pu:vHmo•nr.o
guesia mercantil; toda grande
independente, com leis e instituições
que adira a uma federação para defender 01
interesses econômicos e militares.
Conservando este sistema politico
as cidades holandesas se defendem vu•uutomtu
hostilidades das grandes potências, tmnam-tll! l
simas e desenvolvem uma cultura
antimonumental. Bastará lembrar a
noza, o trabalho cientifico de Huygens, a
Rembrandt.

Fig. 1097. v..ta atrea th um trteht> de com~ N>kzn<ku•, com<»


Ctln4Í8 th •IUU!amento• e um moinho th wnto poro o .aerguimeiiÜ)
da dgua.
Amsterdã, a cidade mais importante, se toma o ....
do comércio e da atividade bancária européia, e
utilizando uma combinação de instrumentos
os métodos administrativos medievais, as
da ciência e da tecnologia modema, o
de regularidade da cultura visual renascenti.s-

Na primeira metade do século XVI, Amsterdã já


cidade portuária de tamanho médio, com cerca
habitantes. Em 1578 é conquistada pelas ~
o Taciturno, e logo depois projeta-se
ampliação: os muros de 1481 são demoli-
o fosso peri.metral se toma um canal interno da
mais para o exterior, constrói-se em 1593 um
de muros, segundo as regras da técnica
(Figs. 1099-1102).
a cidade continua crescendo e, no início do
projeta-se uma nova e grandiosa amplia·
escavar outros três canais concêntricos,
pela extremidade ocidental e continuando
de cortes sucessivos até a zona oriental, onde
um parque público e a ampliação do can·
. Este plano é aprovado pelo governo da
607 e é pontualmente executado no decor-
XVII. O governo desapropria o terreno,
os canais e vende os lotes de terreno aos parti·
que desejem construir as casas, recuperando
as quantias gastas; os particulares devem obser-
minuciosos regulamentos de construção, que
llabelecern os caracteres dos edificios e os ônus a
dos proprietários (Figs. 1103-1310).
Cada canal tem 25 metros de largura (isto é,
Dmllmmdle quatro corredores de cerca de 6 metros
os navios de tamanho médio: um para cada senti·
marcha e dois para as paradas); dos lados ficam
•u•.,;o:m~•=c•u•u••~u:s para carga e descarga das mer·
11 metros de largura e ornamentados com
de olmos; entre um canal e outro há duas
lotes edificáveis, com cerca de 50 metros de
idade; entre as fachadas posteriores das ca-
d.eve ficar um espaço livre de, pelo menos, 48
isto é, duas fileiras de jardins de 24 metros. O
mais interno (denominado dos Senhores) tem
quilõmetros e meio de comprimento, o mediano
dos Reis) tem quatroquilõmetros,omais
(denominado dos Principes) tem quatro quilô-
e meio; os desembarcadouros têm um desenvol·
total de 25 quilõmetros, e na cidade podem
atracar ao mesmo tempo 4.000 navios

llle. 1099·1102. A nutetd4; mapo• da cida<k 114 ld~Mk Mitiia e em


(iNdo •kulo XVI; uiata em per•pectiua tk 1644.

537
Figs. 1103-1105. Arruterd4; mop01 do cid4de no
X VII, enq.umto se está execul4ndo o DIGI'IO , _ _
os trh lfNJndeB carum condntrioos.

1663

Werentemente dos canais mais antigos, os do volumes circunstantes são habitações e locais de
século XVII são traçados com uma série de troncos balho, que pertencem a todos os cidadãos e não a
retillneos, para tomar mais regulares os lotes edificá· soberano absoluto. No fmal do século XVII, o
veis; as casas têm, quase sempre, uma largura unifor· organismo, rigorosamente planificado, tem
me, mas as fachadas são desiguais, e formam um perticie de 650 hectares - como as cidades mewev•
extraordinário passeio arquitetônico, bastante dife- maiores examinadas no Cap. 7 - e uma po]Ju!.a~IO
rente dos arranjos monumentais do classicismo fran· 200.000 habitantes. Ela demonstra a vtr.Rm""'"
cês, embora um pouco grandioso. Cada tronco de ca· gras urbanísticas medievais, que esta
nal não pode ser contemplado como um telescópio em lação frutifera entre o poder público e as mi•C1anv111
perspectiva unitária, e por outro lado, visto de flanco, é dos particulares, também na época do absolutismo
obstado pelas copas dos olmos e pelas velas dos navios; do progresso cientifico. De fato, Amsterdã permanece
ao contrário, deve ser apreciado como uma sucessão de por longo tempo a cidade mais modema da Europa, e
panoramas limitados, segundo a dimensão transversal se torna um modelo sugestivo para a cultura urbanlsti-
que não alcança os 50 metros (como nas praças medie- ca moderna do século XIX e do século XX.
vais). Somente movendo-se, descobre-se a enormidade No Cap. 15 falaremos do desenvolvimento recen-
do arranjo de conjunto (Figs. 1111·13). te da cidade; hoje Amsterdã tem um milhão de habi·
De fato, Amsterdã é uma cidade, não um cená· tantes, mas o organismo do século XVII ainda é o
rio desabitado; os canais são ambientes de vida, os coração- antigo e moderno- da vida da cidade.

538
Figa. 1106-1108. Vuta airea de centro de Anuterd4; (rulusdlu de
uma1t.W de C<l81li<W lonl/0 de• c<UJilÜ dcakulo XVII; UCÇ<Joentre
doia canai6, com aa medidll3 dlliJ via. aqu6tica1, dlliJ de1embarca·
douroa e dos /ctea edi(icdveia.

539
Figs. 1109·1110. Amsterd<2; detalhe de uma vista axonom•trlc:ll
de 1663; e planta dos lotes ed(ficóveis entre 08 dois canais.

5-!0
Figs. 1112-118. DU48 fotografias das CIJ81U ao longo dos canais ck
A1718terd4, tomadas do cksembarcadouro oposto.

;)41
Fig. 1114. Detalhe de uma vüta quinhentüta da
Pon~ ck Londru circundada pela$ cuu.

LONDRES cessádos para semelhante empresa. Quando


ramos entulhos, os proprietários anteriores
Na Idade Média e na Renascença, Londres se seus terrenos; o governo consegue somente
compõe de duas partes: a city, que cobre pouco mais ou ruas principais e fixar com um
menos a área da cidade romana e é o centro comercial das novas casas (Fig. 1119). A '-'H...,...crw
mais importante da Inglaterra, na foz do Tâmisa; numerosas igrejas paroquiais são rec:onstruidJu,diJ
Westminster, onde têm sede o governo e o parlamento, ma m<>Perna por Wren e por um grupo de
nas proximidades da famosa abadia. Uma única pon- res (Figs. 1120-21).
te - a Ponte de Londres, coberta por duas fileiras de
casas como a Ponte Vecchio em Florença - transpõe o Depois da revolução de 1689, a mnnAirnniA .,,.
rio e leva aos subúrbios meridionais. tucional inglesa se toma em breve tempo a
Do século XVII em diante, Londres cresce como potência econõmica da Europa; Londres
uma cidade aberta, não estando s ujeita a qualquer Amsterdã como centro do comércio e da
ameaça militar. Ao redor da city forma-se uma coroa dial, e cresce até tornar-se a maior cidade
de subúrbios, que seguem o traçado das ruas dos cam- na metade do século XVIII é maior do que
pos. Em 1666, toda a zona central- grande parte da fins do século XVIII é a primeira cidade
city e metade da periferia ocidental - ·é destrulda por chega a um milhão de habitantes.
um incêndio. É a ocasião para reconstruir a capital Este prodigioso desenvolvimento não é
inglesa segundo um plano unitário: de fato, os princi- por um plano municipal, como em ""''"'u••ua.
pais arquitetos da época, entre os quais Wren (1632- pelos arranjos monumentais da
1723), apresentam ao Rei Carlos II uma série de proje- Londres é um mosaico de pequenas
tos (Figs. 1115-18). Mas a monarquia inglesa - téamentos promovidos pelos nrcmrJet..ii.ntls
apenas reconslituida depois das lutas dos decênios nobres ou burgueses - alternados com freclilel*'
anteriores - não tem autoridade nem meios ne- paços verdes, públicos ou particulares.
Plonta tk Londre• com a indicaçtfo da clrea tkstruJda
tk 1686 e o piaM tk reoonstruçtfo propolto por Robert

!)43
8 6 o eo(I)J)ri.mm&o de um lijok
i«w.l a 9 poloepdu (2-t an): A
• o~ lnclft Caf\'8. de 30 n.),

1\8

1\8

1\B

2\B

ntfth\IMI~Aot,... ,
"Pf'..llrtldOIM.....,.ta
2\B a lwradoeq11anc.

~l:racat.t~Qria"
t.. lotln • • ,.... P'indJ*i.)

Fig.II20. A Igreja <h S. Pcw.loem Lon.dru,""'""nnmma,s.a•

Fig. ll21. Pümw d4 Igreja tk S. Poulc, projet4d4 por


Wren ckpoü dD indndio de 1666.

L • 'I '{

544
•·.. :>-·
' '
..:;,

1122. Mapa e1q'"mdtico da ~ri{eria de Londre1 em fi,.. <lo


XVl/1; em preto, a. zornu verde1.
1123. Um trecho do loteamento do 1kulo XVIIJ ao redor tk
Street, em Londre•.

545
FíB•· 1125-1128. Londre•:pl4nl4 eprw/)fCIOÜ
do (íll41 do •kulo XVD; p/4nt4 d4 cou tk Lord
n<>r Sq~; (o.clt4d4 tk"""'....., do fim do....,
StrM, con.truld4 ••llwtdo o rtii!Ú41Mnl4 tk 1714.

!'">46
destas iniciativas são composições ar- De fato. Londres é a primeira grande cidade bur-
tes e equilibradas (ruas ou praças guesa, na qual a forma urbana não mais depende das
casas todas iguais, com jardins comuns grandes intervenções do governo ou de uma restrita
1129); mas a repetição destes episódios classe dominante, mas da soma de um grande número
DI"'I'Onls~nonovo e desconcertante: uma perife- de pequenas intervenções particulares. A rica nobreza
e inapreensivcl, que continua em toda inglesa realiz.a no campo palácios e uillas grandiosas
mistura-se gradativamente ao campo, sem (Figs. 1130-34); ao contrário, na cidade constrói casas
um limjte definido (Fíg. 1122). normais, que se entretecem com todas as outras num
Defoe, em 1726, considera-a uma "cidade tecido contútuo (Figs. 1125-28). As ruas estreitas e irregu-
e pergunta: "onde se deve colocar uma lares já se apresentam atulhadas por um tráfego enor-
ou de circunvalação?". Um século me de pedestres e de carros (e ainda não temos os
Heine chega em Londres vindo automóveis!).
e escreve: "Esperava grandes palácios Na Londres do século XVII1, já estão presentes
aenão casebres. Mas é justamente sua unifor- os problemas caracterlsticos das cidades contempo-
e scu número incalculável que deixam uma râneas, que se acentuarão em seguida com a Revolução
tão grandiosa". Industrial.

547
.__....
.,__.•r_•.._r___..
•f_,'f'".

Fíg•. 113Q.31. Pl4nt4 e wt4 clreo tÜI O..~lo •


""e<Üiru <k Lond~•. projetcdo pcrc o Duque •
1704. o parque foi onhncdo no (in.cl tÜI úculo xvm

· Fig. 1132. v.,t4 tÜI Parque <k &dminton (Iro,_. •


úculo XVIlJ).
y-,.141 do Parque de Stourhead no cartrpq in11/b,
IMGdo. ® •lculo XVlll: run d01 tnodelo• principaÜ
in6k•a': liure da rrs~uloridadelltomitrica e iMeriCÜI
114 JXJÜ-m Mtur.U.

!)4f
Fill. 1135. A opariç4odo inda.tri4114PQi.O(I~miflllkiO: O.IO(icimu
IMtolwgicoe tk Coolbrooltd4Je, numa pinturo tk 1716.

550
AMBIENTE DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

da metade do século XVIII, a revolução ciárias, por efeito do progresso tecnológico e do desen·
o curso dos acontecimentos, na lngla- volvimento econõmico. O aumento da população e o
em todo o resto do mundo. aumento da produção se ligam para formar um circulo
lntroducl~O. a revolução industrial foi enqua· ascendente: os habitantes mais numerosos exigem
as passagens fundamentais da história bens e serviços mais abundantes, que permitem um
revolução agrlcola neolitica e a revolução aumento ulterior da população; os bens e os serviços
Idade do Bronze. Agora precisamos descre- disponiveis em quantidad~: e em qualidade superior
corrseo~ül~ncías sobre o ambiente construido. fazem aumentar a qualidade de vida das classes ~
ntlllcílma•r rapidamente os fatos principais, ciais, e produzem a busca de outros bens mais abun·
hmciam a ordem das cidades e do território: dantes e mais diversos.
aumento da população, devido à diminuição 3) A redistribuição dos habitantes no território,
de mortalidade, que pela primeira vez se em conseqUência do aumento demográfico e das trans-
aec~Ol•llarnerlte do de natalidade (na lngla- formações da produção. Os camponeses cultivadores
DIDdiCE~ aenatalidade permanece quase constan- diretos se tomam assalariados, ou operários da indús·
de 37 por mil; o lndice de mortalidade tria, e se transferem para onde existe disponibilidade
por mil- por volta de meados do século de força motriz para os estabelecimentos industriais,
para 20 por mil na metade do século XIX). isto é, nas proximidades dos cursos de água e depois-
ilsocresce o número dehabitantes(na lngla- após a invenção da máquina a vapor- nas vizinhan·
7 milhõea em 1760 para 14 milhões em 1830); ças das jazidas de carvão. Os estabelecimentos ten·
duração média da vida (de cerca de 35 anos dem a concentrar-se em redor das cidades; deste modo,
mais); modifica-se a estrutura da população, as cidades crescem mais rapidamen·te do que o restan·
•a.um.ent:a o número de jovensdevido à queda da te do pais, porque acolhem seja o aumento natural da
Mas sobretudo rompe-se o secu· população, seja o fluxo migratório dos campos.
entre gerações, porque cada uma ocupa- Manchester, que em 1760 tem 12.000 habitantes,
anteriores e repetia o mesmo destino. na metade do século XIX alcança 400.000. Londres,
se encontra numa situação nova, que já no final do século XVIII tem um milhão de
novos problemas. habitantes, em 1851 chega a dois milhões e meio, isto
aumento dos bens e dos serviços produzidos é, supera qualquer outra cidade do mundo antigo e
pela indústria e pelas atividades ter- moderno.

55!

I
4) O desenvolvimento dos meios de comunica- de aceitar as dificuldades do
ção: as estradas de pedágio, construldas com os méto- vitáveis, e a crença de corrigir os
dos desenvolvidos põr Telford e Macadam; os canais uma ação calculada.
navegáveis, construidos na Inglaterra de 1760 em Os economistas ensinam a
diante; as estradas de ferro, introduzidas em 1825 e pública em todos os setores da
difundidas rapidamente na Inglaterra e em todos os no urbanlstico. Adam Smith aco,neeOia:
outros países; os navios a vapor, que no mesmo perlo- vender os terrenos de propriedade
do têm condições de substituir os navios a vela. suas dívidas. Estes conselhos
Estes meios permitem uma mobilidade incompa- grado pelas classes dominantes,
ravelmente maior: todas as mercadorias, mesmo as fazer valer, também no campo im<>bí~ilrii
pesadas e pobres, podem ser transportadas para os da iniciativa privada, isto é,
locais onde são solicitadas; as pessoas de todas as tar a desordem urbana sem
classes sociais podem fazer longas viagens, ou morar cias. Mas algumas aeisvfmtall,ens
num lugar e trabalhar ell) outro, deslocando-se a cada congestionamento do tráfego, a
dia ou a cada semana. ·. ra) tornam intolerável a vida
5) A rapidez e o caráter aberto destas transforma- e ameaçam, a partir de certo mo·mento
ções, que se desenvolvem em poucos decênios (dentro ambiente em .que vivem todas as
do arco de experiência de uma vida humana) e não isso, os representantes iluminados
levam a um novo equilíbrio estável, mas deixam pre- nantes, como os representantes
ver outras transformações cada vez mais profundas e nas (os radicais e os socialistas)
mais rápidas. mas de intervenção pública, ou
Nenhum problema jamais é resolvido definitiva- e gradualmente os ·
mente, e arranjo nenhum pode valer por tempo indeter- ra recomeçar desde o inicio, cot\tr1aocmd.o l'
minado, mas somente por um perlodo que se deve tente novos tipos de conjuntos ha
aprender a ca.lcular. Um ediflcio não mais é considera- pela pura teoria. ·
do uma modificação estável, incorporada no terreno, Na primeira metade do século
mas um manufaturado provisório, que pode ser substi· cidade industrial parecem por
tuldo mais tarde por outro manufaturado. Torna-se incomuns para que possam ser ~>mmiT>san...
posslvel, assim, considerar um terreno edificável um mente. Entr e a realidade e o ·
bem independente, com seus requisitos econômicos imposslvel de ser preenchida. un"u'"'".....
devidos à pOSição, à procura, aos vlnculos regulamen- exposição em duas partes, e ae!~!veren~M
tares etc. tulo:
6) As tendências do pensamento político, isto ó, a I. a realidade: o ambiente da cidade
desvalorização das formas tradicionais de controle pú- ras tentativas para melhorá-lo com
blico do ambiente construido (os planos urbanísticos, II. as alternativas para esta
os regulamentos etc.), que são considerados sobrevi- das nos livros e postas em prática como
vências do antigo regime; ao mesmo tempo, a recusa excepcionais, longe das cidades existent-.

Flg.I/36. ApoiiUerupeM<J.ob~o&lrfttouChuiU.I
por Tlwmae Te/ford em !826; grouuro d4 lpoctJ.

552
Fig. 1141. O ex~r!Qr e o inwwr da e•taç4o <k Kin,g'• Crou em
Londre•, COMtruJda em 1850.

Fig. 1142. Uma IJÚII/Otia da ci<úule indUIItria1: Lond- oaindo da


cidade, ou a mardla do. tijolo. e da cal;gflluura de George CruiJu.
hanlr, IÚ 1829.
Fig. 1143. Outro okgori4 da cidade indu.~trial: O céu e a tena: ~
muito bom viver com a arrecadação daa taxa&, maa é o cfulbo ler de
J>Bill·laa!; grauura de Robert Seyrrwur, de 1830.
Figs. 1144-46. Um bci"o ekganu de Par;.: a rue de
por Napole4o I e completada na primeira metade
Tod<u as caaas IIm uma /achada uniforme, ~·•en;Mtlalt PfliN
quitetoa Perckr e Fontaine, e impo1ta por Tq~u/amfnto do
Ç{Jes .eguintes.
Um lxUrro elegante de Londrt:•: o arranjo de Regent
~nt'1 Por/o, projetado por John Nuh em 1813 e
1820 e 1830. AI dUM gNvuru IIU>IIrom dei• tre-
Strt:el, a curva perto de PiccadiUy Circuo e o retiU·
Plact. Embaixo, o INbalho doo garota. ,.,., mi1141
,..mo perlado.

557
FigB. 1151·54. Vista do centro de LondreB, publicada em 1851 pela
firma Banka & Co.; OB monumentos, a8 CaBaB e a8 oficinM Bill:/
miBturadaB num11 deBOrdem inextri.cduel.

559
Figa. 1169-60. "Umo cid4dc crilt4 tm 1«0 • tm 1840~; du~U /ITGVU·
,... tU PutJin.

Fig. 1161. Um grupo lk u14bfltcimtn101 indultri4U iflll/uu,ubo-


çodoa ~li> 111'QUittl4 4/tm4o SchinJW num CIJIÜrnD IÜ VÍOI/tTn, IÜ
cerco lk 1830.

562
Um rrupo de couou oper4rla3 (h) com latrinas e.der· FiJJ. 1166. O.nwrto• de cd/era no dülriw tk Soho ~m Londres, em
No«inrhom, tirado de uma comiu4o de inquérito •etembro tk 1864; mapo de•enho.do peÚI Dr. John Snow.

563
Fig. 1166. Os IU(IIlr iotl tk Paradin Row, •m

Fig. 1167. A paúagemducritapor En{Jtlum


114 peri{erúJ <lu 8T<JitlÚI ci.datk1 conttmpo~

564
A periferia não é um trecho de cidaderjá formado
como as ampliações medievais ou barrocas, mas um
[JCI'esci,mento rapidissimo das cidades na época território livre onde se somam um grande número de
a transformação do núcleo anterior iniciativas independentes: bairros de luxo, bairros po-
o centro do novo organismo), e a forma- bres, indústrias, depósitos, instalações técnicas. Num
Dn!do·r des1t.e núcleo, de uma nova faixa construi· determinado momento estas iniciativas se fundem
num tecido compacto, que não foi, porém, previsto e
uma estrutura já formada, na Ida· calculado por ninguém.
Idade Modema; contém os principais Na periferia industrial perde-se a homogeneida-
- igrejas, palácios - que muitas vezes de social e arquitetõnica da cidade antiga. Os indivi-
ainda o panorama da cidade. Mas não pode dues e as classes não desejam integrar-se na cidade
tomar-se o centro de um aglomerado h uma- como num ambiente comum, mas as várias classes
. . as ruas são demasiado estreitas para sociais tendem a se estabelecer em bairros diversos-
em aumento, as casas são demasia· ricos, médios, pobres - e as famUias tendem a viver o
compactas para hospedar sem incon· mais poss1vel isoladas. A residência individual com
população mais densa. Assim, as elas- jardim - reservada antigamente para os reis e os
abandonam gradualmente o centro e se nobres - é -agora acess1vel (numa versão reduzida)
periferia: as velhas casas se tomam aos ricos e aos médios burgueses, e o grau de indepen-
se amontoam os pobres e os recém· dência reciproca se toma a marca mais importante do
Entrementes, muitos edificios monumen· , nlvel social: os ricos têm casas mais isoladas - vilas
cidade histórica - palácios nobiliárrios, con· ou vilazinhas -, os pobres têm habitações menos iso-
- são abandonados por causa das revo- ladas: casas em fileira ou moradas sobrepostas em
e são divididos em pequenas moradias edificios de muitos andares.
IVYI~~taua,rt. As zonas. verdes compreendidas no As ilustrações (Figs. 1144-68) mostram exem·
- os jardins por tráa das casas em plos de bairros ricos e pobres. Pois faltam os regula-
"",,............. maiores dos palácios, os hortos -são mentos ou estã.o em desuso, a qualidade das moradias
novas construções, casas e barracões mais pobres pOde piorar até ao limite suportável pelos
trabalhadores mal pagos.
efeitos destas transformações se somam e se
mais graves por volta de meados do século
a clássica descrição do centro de Manchester,
por Engels em 1845:

(No cidD<h uelh4lu rua~, munw cu ~Mihoret, t4o utreitcu e


01 co.u •~a.. ve/Juu, em rutnc.., e o a.pecto dai ruat
l4t..olut<Jment4) horrlvel (..J; 14o 01 rutot d4 ve/M. M411-
prl'-i'"lu.tri<ol, C'IÍOf 4ntilf01 hobitonte1 H lr4nt{eriram,
lk1cendente1, pora b4irrot melhor conttruldot, deiunt/4
te tinluom torTUJda poro ekl demcuiad4mente miler4-
~de o~driMfortemente miltluodo com 14fl61<e
e1tom01 num bairro qua~e qU4) uclUiiuomente ope-
a. loja. e utaberntU n4o •• d4o ao trabalho
um pouco Ultadal. Mu ilto aiMa n4o ~ TUJd4 em
,.. uielo• e 01 p4tW. qUI 1e dudobram por trdl
H CM/la tomentepor meiodeutrfttu poiiG(Itnl
daa quail n4o fXJIIOm nem duaa pettou uma ao
di{kü inl4llinar a detorcknada miltura da cuu,
toda urblliiÜtico rad<Jnai, o a motúoamento, poil ett4o
encottodu uma. di outra.. E a culra n4o ~ •oment&
Quetobreuiveram aoa uellwl tempo~lk Manclu1ter:
mail recente~ a con{UIIfo chegou ao m6Jcinw, poi1 onde
um pedo<;inho de upoço entre u con~tru«Je• d4
IIIC8/JnO<leCloeroor, contin~JQ.ue 4 conttruir e 4 reme~r, ati tirar
a .Utima pok/lad4 de terra liure ainda •u.ceUuel
Para confirmar ilto, anuo uma pequena porte d4
Manc/utt6; ai~ n4o I a parte mai•feia e n4orepruen-
um dkinw de toda a cidade uelh4.
&te etboco é tufk~ntepora caracterizara ab•urda urbanllü-
• de lodo o bairro, upeciaimente ~to da ri4. A margem meridio-
MIIIIWito mail e.carpa.da e tem a aitura de quin.te 4 trinta ph;
_... ttte ~rttme declive t4o conttruld4• pelo menot trf• fileiru
• C4141, dcú quai1 a mai• baiu •• ergue quaH imediat4mente
eobre o rio. [F. Engell, A Situaç&o da Claaae Operária na Inglater·
ra - (1845}, trad. it., Roma 195$l Fig. 1168. Uma porte da centro de Man.che•ter.

565
Grupos de especuladores se encarregam de cons·
truir estas casas, umas poucas por vez oúem grandes
conjuntos, tendo em vista a~nas obtér o lucro mâxi·
mo: o operário, que recebe um salário apenas compati·
vel com a sobrevivência, deve usar parte' dele para
pagar o aluguel, e o proprietário, que construi~ ~a
casa o mais apertada possível e com os matenats de
qualidade inferior deve conseguir um lucro superior a e
custo de construção. O encontro destas duas exigên-
cias determina o caráter da casa e do bairro.
A casa, por sua vez, pode também ser me.l hor do
que a cabana onde a mesma famUia morava no cam-
po: os muros são de tijolos em vez de madeira, a cober-
tura é de ardósia e não de palha, a mobUia e os serviços
são igualmente primitivos ou não existem. Mas acaba-
na tinha muito espaço ao redor, onde os refugos po-
diam ser eliminados com facilidade e muitas funQÕes
- a criação de animais, o trânsito dos pedestres e dos
carros, os jogos das crianças-podiam desenvolver-se
ao ar livre sem demasiados estorvos entre si. Agora, o
agrupamento de muitas casas-num ambiente restrito
impede a eliminação dos refugos e o desenvolvimento
das atividades ao ar livre: ao longo das ruas correm os
esgotos desco~rtos, se acumulam as imundícies, e nos
mesmos esp!lÇOS circulam as pessoas e os veículos,
vagueiam ôs
animais, brincam as crianças. Além do
mais, os bairros piores surgem nos lugares mais desfa-
voráveis: perto das indústrias e das estradas de ferro,
longe das zonas verdes. As fábricas perturbam as ca-
sas com as fumaças e o ruído, poluem os cursos de
água, e atraem um trânsito que deve misturar-se com o
das casas. Com este IÍitema tk comtruç4o, "
Engels assim descreve os bairros periféricos de primeira fileira i bailante boa, e" diJI
Manchester: menoo n4oipwremcom~corru••rcoftlt,.S.I
UI do w/Jw oiltemo; tn01 a
me1101úmto quanto a1 CIJial ao.r P<HK>I, ••a ,, ..,, . .
A cid<Jde noua H ..tende poro. ..Um d4 cidOIÚ ue/Ju., em citn4 uqu4Jid4 n4o menoo que oe p1"6prio1
tk"""' COÜM argilooa enú'e o l rll e St. O..rge'1 1/cod. Aqt.li te1'711i- rem eote ,;.uma de comt~tl'o porque
MWCÚ1 aporfncÚI tk cida/Ú; fikíro.o indiuidu4JI de CIJIIJI ou fi"'IIX» explorar ainda mail 01 O[WI"6rU>. mail
tk,....., ..14o ..po,_ aqui e acol6 como ~..CMI oltkwoobre o a/u6utio mail al101 CÚ1I CIJIIJI d4 pf'Í~Mir04
tklpido terreno argiloM>, ontk n4o cre11« nem um fio tk relua;.., &te• empreentkdorel, em porte pora
CIJIIJI ell4o em pluimo eoUJ(/(), nunca conurtiUI<u, •u.i<u. dol4d4l que lha tkriuam CÚ1I cUUlf!Úil, em parU
tk moradüu em l6t6ol llnoid<» e waJMbru; .., """ n4o ..14o momento d4 reotitt.liçtl'o do terreno ontk
calçodu nem IIm CIJTI4ÍI tú eiCOGmento, tn01 lwl/>fd4m um Hm· gut<Jm pouco ou nada em reporoo; por_.,.,,.,.
nllnaero tk oo/6nÜII tk porcoe, en~~ em ~ue1101 p6Uo. ou e pelo conuq~nte deHmprego, mt.li141
liuruporo.poaeor pelod«:liw. &141,....., ..SO l4o loln0Cltn141que necem tkoerúu, e em comeql/lncia dilt<J..,
IOmenU quando o tempo t mt.lito 1eoo 1e Um af6wn4 pouibílid4de depra10 e H tornam inabit6wil.
tk atl'aueu6-lol oem a{und4r aU aoo tomi)ZJt/ol a CGd4 po110.
Vimoo como na cidatk uelh4 foi o puro acaoo que preoidiu o
IJilrupamento CÚ1I CIJIIJI. Cad4 ca~a t comtrulda .em kuar aboolu- Eis, de fato, a descrição de um
14tnenU em conto IJI outro.~ C1J141, e 01 pequeno• CIJiliOIIiurel entre
cad4 h4bitaç4o, por falt4 de outro nome, ..SO ch4mlldol p6âol. Noe degradadas:
bail'riU periftricoa, encontramo• um maÚir eo{orço de IÍIIematici·
d4tk. o.. ~ entre dutU,....., t d;uidü/o emp6IÚII mail rqul~Jru, Numa tkpresstl'o ba.stonte profunda,
na maior parte d4o uezn de forma quadro.da, aproximadamente fdbricas, por altas m11rgens cobertas de corut•""'lll'e41
dtttemodo: juntam em doil grupo• cerca tk 200 CIJIIJI
pa retk posterior comum duas a duas, onde
r/e 4.()()() pessoa&, quase WCÚ18 irwndeou. AI
sujas e do tipo menor, a• rua• stl'o dttiguail, clwiGI
parte n/Jo calcadas e destituldas de canalizactl'o,
lodo nauoeante 8/Jo e8porsos por Wd4 parte em
dt'$, no meio th poça& permanentel , a
1mr suas exalaç(Jes e turuada e polulda ~;;.;~:=:a~:
uma miJIIG de mulhere• e de e
'"redores, sujas co= os porcos que se •Ü!h.,tam
d nzas e nas pOÇâ8.

!)66
Este ambiente desordenado e inabitável - que Estas duas leis -e as aprovadas em seguida na
de cidade liberal - é o resultado da su· Itália (1865) e nos outros Estados europeus - serão
muitas iniciativas públicas e particula- utilizadas na segunda metade do século XIX para ad-
e não-<:oordenadas. A liberdade in· ministrar a cidade pós-liberal, da qual iremos falar no
I, exigida como condição para o desenvolvi- próximo capitulo.
da economia industrial, revela-se insuficiente
as transformações de construção e urba·
II
""'u"'""""" justamente pelo desenvolvimento
As classes pobres sofrem mais diretamen-
••n,,.,...r•v..n,·,..n,,,.,da cid&de industrial, mas as elas-
No duro após-guerra de 1815 em diante, nascem
algumas propostas revolu~árias, politicas e urba·
não podem pensar em fugir deles por com pie-
de 1830 o cólera se espalha pela Europa,
nlsticas, para mudar ao mesmo tempo a organização
social e a organização dos conjWltos habitacionais. A
Ásia, e nas grandes cidades se desenvolvem
.....n..•m"" que obrigam os governantes a corrigirsociedade tradicional produz o dualismo entre cidade e
os defeitos higiênicos, isto é, a se chocar
campo; a nova sociedade deve produzir um conjunto
habitacional novo, de medida calculada, intermediá·
da liberdade de iniciativa, proclamado
ria entre uma cidade e uma herdade: bastante pequeno
e defendido obstinadamente na prática na
metade do século. para ser organizado de modo unitário, mas bastante
Inglaterra, um grupo de funcionários e de
grande para ter uma vida econômica e cultural comple-
pollticos radicais promove uma série de inqui-
ta, suficiente a si mesma.
sobre as condições de vida nas cidades (publica- Robert Owen (1771-1858), um rico industrial in·
1842, 1844, 1845, e utilizadas por E ngels
glês, propõe dispor um grupo de cerca de 1.200 pessoas
livro já citado). Os piores detalhes sobre as
num terreno agrlcola de mais ou menos 500 hectares.
As habitações formarão um quadrado; três lados são
sobre os bairros operários são apresentados à
pública, que reage e reclama uma intervenção:
destinados ãs casas individuais para os casais e os
são necessários anos de discussões acirradas pa-filhos com menos de três anos; o quarto lado, para os
dormitórios dos moços, a enfermaria e o albergue para
ae votar a primeira lei sanitária, no verão de 1848.
os visitantes. No espaço central são previstos os edifi.
Na França, durante a Monarquia de Julho, os cios públicos: a cozinha com o restaurante comum, as
sobre a vida dos operários são feitos pelos escolas, a biblioteca, o centro de encontro para os adul·
de oposição, socialistas e católicos; somente tos, as zonas verdes para a recreação e os campos
da revolução de 1848, a Segunda República esportivos. Ao longo do perlmetro externo, os jardins
a lei sanitária de 1850. das casas e um anel de ruas: mais além, os· estabeleci·

567
..... :,,
·'

Fig. 1172. A allhia a ••r con.trtúda em H~y. em lnd/4n4, por


il*i4âiJ4 <h Owen; grauura publü:ada em 1825.

mentos industriais, os a rmazéns, a lavanderia, a cer- tivas de pô-lo em prática são cerca de
vejaria, o moinho, o matadouro, os estábulos e os edifí- !•'rança, na Rússia, na Argélia e na
cios rurais. Faltam os tribunais e as prisões, porque a 18:30 e 1850. Mais tarde, durante o
nova sociedade não terá necessidade deles (Fig. 1171). um industrial de Guise, ~~~~!!&!.~!IIII
Este P.lano é apresentado entre 1817 e 1820 ao para seus operários um
governo central inglês e às autoridades locais, mas do no Fa lanstério de Fourier, que
sem sucesso. Owen tenta põ-lo em prática por conta tério (aqui cada familia tem suas a~lm•odll~
própria na América: compra, em 1825, um terreno em culares). Q...odi-t'ício principal cornPJreerJde
Indiana, onde deveria ter surgido a primeira a ldeia- fechados de quatro andares, e os pátios
modelo (Fig. 1172), mas teve de adaptar-se·a uma aldeia modesto, cobertos por vidraças, fazem
jâ existente, e a experiência fracassa alguns anos de- ruas internas. Os serviços -as escolas.
pois. lavanderia, os banhos públicos e os labon1atóri0
Charles J?ourier (1772-1837) é um escritor, que encontram em alguns edificios aceSsórios,
publica na França durante a Restauração a descrição está isolado num parque, circundado
de um novo sistema filosófico e político. Ele classifica um rio (Figs. 117&82). Após 1880, a
as "paixões" que produzem as relações entre os ho- listério são administrados por uma COClneJrali..
mens, e projeta um grupo suficiente pa ra a tivar todas operários.
estas relações, formado por 1.620 pessoas de diferente Estes modelos - irreali7.áveis na primeira
posição social; este grupo -chamado Falange-deve- de do século XIX, e superados pelo debate
rã possuir um terreno de uma légua quadrada (250 segunda metade do século -são o contrário
hectares) e morar num g ra nde edifício unitário, o cidade liberal; de fato, deslocam o acenw da
Falanstério. Fourier descreve-o minuciosamente: é um individua l para a organização coletiva, c têm
palácio monumental em forma de O, como Versailles, resolver de forma pública todos ou quase
com um pâtio central e vários pátios menores. O andar aspectos da vida familiar e social. NascenÍ
térreo é interrompido pelas passagens para deixar en- pelas condições inaceitáveis da cidade ,x,,.....,n..._
trar as carroças, ao passo que no primeiro andar cor· curam pela p1imeira vez romper seus
rem as galerias cobertas que põe em comunicação to- rendo à anãlise e à programação racional: são
dos os outros locais, substituindo as ruas. Os adultos nas calculadas pa ra ali viar o homem do
são alojados nos apartamentos do segundo e do tercei- organização flsica tradicional, que retarda as
ro andar; os moços são concentrados no mezaninoe os mações politicas e defende o sistema dos
hóspedes logo abaixo do telhado (Figa. 1173-74). existentes. Antecipam, portanto, - oomo
Este modelo, mesmo que engajado, exerceu uma isoladas - a pesquisa coletiva da arquitetura
fascinação' extraordinária em muitos paises; as tenta- n a q ue terá inicio no século seguinte.

568
aq~mdtíca ® Fol4ntUrio <h Fourier, extralda
l/UI; em preto, 41 ruGI inúm41 tobr«kva®e.

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/115. 0 Fa.lot..Urio, no intupret~&>®jomcúitto omericon~>


Briabone.

569
B

A corpoe dt ecbfldo do foàmiJI.Itmo


Bcnc~>o
C q,njon&o tfcolat com \tatro
Deoctiftcioot~(ru&adou~rMtalolral'lt4'.blr,oo,.. . ._ , _ _
tratinhftro. u tOdio. •l•bonl6rioe)
E banho. póbtiooe. • piaa.na cobtna
F oficina do 1'-

Fig. l177. Plluú1Mtria do Famüi,Uric de GuiH ' " ' -


GtU<Jl.
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L r_ _,.,.. I •ol"14""1na::!. · ·amili.llriu: :I e 4. «1i.ndot rttidenct...: Otfiltrotfk'01a.8.
b.nh("" p(lbltco. e piK"ina eobtrt..: 8.. nC41tu de Oochn, 9 p~~rqw

570
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Fip. 1178-79. l't4nt4 e aecç4o de corpo «ntral de Fontm.thio.

Nalf'('lo
A, l ubc.tnlnto; 8. pjeio~ C. darab&t,, D. morRfi11n f.: A.«u..ru ~a
.111 t~~l M ~ n-.·.. h a: t.. ..·.d,.t-ubtt·rrolnt'OI4, h i. t.•un(tl$ de v•ntihl\'!\o, k, I'-• õtdtt;,'Hll, 1.1• ,rll••41na
tnur-.t• ... 111. n~rl-.lla tk ~,..._I· IOtn"hQ.de walilac:Ao; ~ decpta(tu tnW«ta d••
•••••r.ult..... 1. •·••rrtodo~ do.-, fll(ua•f\lrtada•

:-.:J i)ll,nla
fi, mcodo•: (:, pnt~~I('W; I), rnoritduta: J:.lt,loc-ela de Mrviço.
• entr..d3. b f' e. d~J)(Ia.Jt.c:.; ~. ioc-•1.1 de habí\&CAo; p-u, klcaia de M'I"Yi<'o.

:)71
I

Figo. IJBl-1182. V11ta CJ udo de púoCJro do FCJmilút~rio •


inU1"114 do jCJrdim <k in/4nci4; lfTGUUJ"(UI publicod<u por
1870.

572
CIDADE PÓS-LIBERAL

A revolução de 1848 põe em crise tanto os movi- ções produzidas pela presença das classes subalternas
de esquerda -que tentaram assumir o poder são parcialmente corretas. A liberdade completa, con-
derrotados- quanto os regimes liberais da cedida às iniciativas privadas, é limitada pela inter-
metade do século, que se demonstraram inde- venção da administração - que estabelece os regula-
esta ameaça. mentos e executa as obras públicas - mas é garantida
esquerdas perdem a confiança nas reformas claramente dentro destes limites mais restritos. Da cida-
- entre as quais aquelas que dizem respeito de liberal se passa assim para a cidade pós-liberal.
construido - e os socialistas cientificos Este modelo tem um sucesso imediato e duradou-
que publicam o Manifeste do PartúkJ ro: permite reorganizar as grandes cidades européias
em 1848) criticam os socialistas da primei- (antes de todas as outras, Paris), fundar as cidades
do século- entre os quais Owen e Fourier coloniais em todas as partes do mundo, e ainda in-
•}lemi8ld.erBmdlo-<JIS utopistas. Os operários devem con- fluencia de maneira determinante a organização das
e realizar, antes de mais nada, a mu- cidades em que vivemos hoje.
relações de produção, que posteriormente Vamos relacionar, rapidamente, os car acteres
posslveis todas as mudanças nos vários seto- deste J!)Odelo, que já podem ser comparados com o
(é a tese posta em prática por Lenin em 1917). ambiente da cidade contemporânea.
Ao contrário, as direitas que salram vitoriosas 1) A administração pública e a propriedade imo-
lutas de 1848 - o regime de Napoleão III na biliária encontram um acordo: é reconhecido o espaço
o regime de Bismarck na Alemanha, os novos de pertinência de uma e da outra, e é fixado com exati-
-ervlldores ingleses dirigidos por Disraeli - abando- dão o limitEI entre estes dois espaços.
da não-intervenção do Estado nos . A administração gere um espaço que é o mlnimo
_,Anii>~rrlnR setoriais, e usam os métodos elaborados necessário para fazer funcionar o conjunto da cidade:
primeira metade do século (pelos reformadores e o necessário para a rede de percursos (ruas, praças,
socialistas utopistas) como instrumel}toS para estradas de ferro etc.) e para a rede das instalações
as transformações em curso. (aqueduto, esgotos, depois gás, eletricidade, telefone
A burguesia vitoriosa estabelece, assim, um no- etc.). A propriedade administra o restan te, isto é, os
to modelo de cidade, no qual os interesses dos vários terrenos servidos por esta rede de percursos e de insta-
dominantes - empresários e proprietários - lações (tomados construiveis, isto é, urbanizados). A
eeiAo parcialmente coordenados entre si, e as contradi- mesma administração, se tiver de utilizar edüicios ou

573
espaços liVl'es de interesse público, mas colocados em
alternativa com os usos particulares (escolas, hospi·
tais, jardins), deve comportar-se como um proprietâriÓ
em concorrência com os outros. Dai deriva a distinção
entre serviços primários e secundãrios.
2) A utilização dos terrenos urbanizados depen-
de dos proprietãrios individuais (privados ou públi·
cos). Sobre estes a administração influi apenas indire-
tamente, com os regulamentos que limitam as medi·
das dos edificios em relação às medidas dos espaços
p6blicos, e fixam as relações entre ediftcios contiguos.
Os proprietários retêm todo aumento de valor produzi-
do pelo desenvolvimento da cidade (a renda imobiliã·
ria urbana), portanto a administração não pode recu-
perar o dinheiro gasto para construir os serviços
públicos, mas deve considerã-los como pagamentos a
·fundo perdido, e se acha sempre em déficit. ·
3) As linhas de limite entre o espaço público e o
espaço privado - as frentes para as ruas - bastam
para formar o desenho da cidade.
Os edificios podem ser construidos:
-sobre frentes de rua. De fato, no núcleo cen-
tral, onde predominam as funções comerciais, a disp()..
sição mais conveniente é a rua-corredor, canal de tráfe-
go e de desempenho das lojas situadas nos andares
baixos. Todas as outras funções (residências, escritó-
rios etc., situadas nos andares altos) estão restringi-
das neste esquema realizado de propósito para o C()..
Fig. 1183-84. ~ Mltnho. lk ú CorbUiier:a
mércio e para o trâfego, e sofrem seus inconvenientes: tipo• lk cid<t.de orgartiZ<Jd<u H/11Uidc o principio do
a promiscuidade, a falta de ar e de luz, os ruídos; Pam, New York e ~no. Airtl.

574
Fig. 1185. OprilfU:iro glMrolk{..brkoç&> tuJcidtukdotkulo XIJC:
linlul do , .....
... .,...... 1UJ

, .. 1186. OKaundolliMro de f..bricoç&J,... cidade dotkuloXIX:


• pequeno villa iM>/4do.
De* tUHIIIIM didd~ tU Godin, 1870:
FIIP. 1187-89. Um "cottaae poro 01 trolxúluulorer", projel4do JXN
tlohn Wood Junior e publicodo em 1781.

1!1 11
III

Fig. 1190. Aperi{erio, fo11114d4 por in4mei'OI peq- vlllu;ll-.


nM tU Ú CorbUI~T.

575
- afastados das frentea de rua. Esta disposição FiB•· 1191-99. Nove tipo. tk peq~n01 Yillu, tk um
permite fugir aos inconvenientes citados, mas faz di- th 1846.
minuir a intensidade e se torna conveniente somente
na faixa perif~rica, onde predominam a residência.
Para oe fins residenciais, de fato, os terrenos podem
ser explorados de duas maneiras economicamente
quase que equivalentes: êom baixa densidade para as
C8l88 dispendioeas (as pequenas vi~Ja. destinadas às
classes abastadas) e com alta densidade para as casas
mais econômicas (os edificios de muitos andares na
linha da rua, destinados às classes mais modestas).

:)í6
O. b<Jírroo periflri~ i1111Lu.1, con~ITuJdol con{o,..
<k 1876; 4tJOntGde <k dtl{rul4r 40 m6xiiM 01
.,W.mtnt4ru prodoa 4 Ulli/ormid4de obltlliiHl <ÜIIa

l!íiiU!IUI
Fig1. 1203·09. Plonuu de CGIGI em fileira de New 'Yorle, modifico·
d4l ]»lol '"""il/01 regulomenU>I do le(/unda meuuu do lkulo
XIX. (BR, quorto de dormir; K·D, cozinha.-oopo; P, •o/4 de uí•ítas).
Plonl4t de CGIGI em fileira ingk101, conforme 01 regu/4mentas de
1816.

578
Figs. 1210-12. As instalaçae• do. cidade na metade do 1kulo XIX: a
eecçcfo de um4 rua de Par~ (1863); a banheira alUI/ada a domicilio,
em Paris (gravura de Gauarni, reproduzida em La Grande Ville de
Balzac, em 1844); a. obrai de corutruçcfo do e1goto em Fket StrHt '
em Londres (1845).

579
Fig. 1213. A e&tra® tk ferro tubtemJnea de Lond~•
tk O Univerao Duatrado tk 1/lli1).

Fig. 1214. Secç4o dtu margeru do Tdmila COMtruidtu em


de 1848a 1865.

I
Figs. 1216·17. A eVQiuçllc do water-closet moderno.

A-apare-lho d~ &-omach. de 1778; I, torneira d111 ~·. 2. chrio dtm•'-. ,.. ,.._
1-'álvula.: <1, comando com maçaneta.
li-apa,.lho em liL80 ~m 1790; I. rHenotóno, 2. C'Omilndo (()m mAç-tlntiA
C--ap.orelho com aifi\o incorporado. du ak:vlo XIX.

580
porifori•
moradias, re<O'l<•oi~d• aom~la<
W
• e obriga a conservar o
um certo
habitações precárias para as classes mais
a tornar-se compacta, e não deixa lugar
llfaltur:~dc•s por demais embaraçadores ou que
demais (estabelecimentos indus-
1
'$ AI u \l
Todos estes elementos - neces·
ruriCI(m~•m•em,o da cidade, mas incompatí·
até agora descrito -são rechaçados
faixa concêntrica, o subúrbio, que é
cidade e de campo e que é impelida sempre
longe, à medida que a cidade cresce.

defeitos mais evidentes da cidade pós·


a densidade excessiva no centro, a falta de
baratas- são atenuados por alguns cotTeti-
públicos (que oferecem uma amostra
campo, agora inalcançável) e as "casas
N>,,,.t.•rnio~<>• com o dinheiro público (com-
na linha da rua ou de pequenas villas
1219-23). Mas estes remédios per-
m•'u"'""u""'"· o congestionamento e a crise
continuam ou pioram.

cidade pós-liberal se sobrePõe à cidade mais


a destruí-la: interpreta as ruas antigas
11181~-eo~jor, elimina os casos intermediários
pública e privada do solo, e sobretudo
edifícios como manufaturados intercam·
é, permite demoli-los e reconstruí-los (con·
frentes fabricáveis ou então retificando-
lesl•x:and•:>-a:s, para alargar as ruas). Mas esta
incompleta: respeitam-se os monu·
18 p·rin·cipais, as ruas e as praças mais caracterls·
destas coisas depende em grande parte a
formal da nova cidade. Os edificios antigos
palácios etc. -são os modelos dos quais são
estilos a usar para as novas construções, e
na cidade modema como num museu ao
do mesmo modo que os quadros e as estátuas
m~•Rerva•m nos verdadeiros museus.
presença dos monumentos antigos e a estiliza-
manufaturados modernos não bastam para
completamente os desequilíbrios da cida-
do ambiente normal aparece irremediável;
"Y'"''"i"""'" da beleza se toma uma expe·
as obras de arte são considera-
espécie sepat·ada de manufaturados: são fa-
ejulgadas por pessoas especiais (os artistas,
de arte), são distribuídas num circuito sepa
marchands de arte aos colecionadores},
;an·reJO<mtad:H<em locais adequados (as exposições,
De fato, nos quadros e nas estátuas se
as qualidades que faltam no ambiente
pode-se experimentar, intermitentemente, a
que se perdeu dentro do cenário da vida Fig. 1218. "Uma aldeia oper6.ri4, auim como a tkujari4o ~
ta", tk um manual Hoepü tk 1905.

581
A $ H c. 11 A y () A

-~ l:J
8i6f#:,.ra.
.
.
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i;.;.
K/lot CSLEr !TA 'EE T
Nt~ ar m
··::~::: ..~::::···
(t Ira ,

Ffl. 1219. A aldeia operdria COMiruldtl. pe/4 Mi4aM, Laoounn


and lkn~riÚ Dwtlliflll• Co., ~m Sh4{tabury Parlt, Londrn
f'i6. 1220.
Uma ~uoÚJ prim4ri4 coMiru.ld4 n4 linlul d4 ,..., com
p4tio inúrno; th um mt~nu<Jl H~p/i th 1905.

Fig. 1221. l'l411la d4 t~lthia oper6ria th &.lltJin, {unda.dt~ ~m 1851.

582
Figs. 1222-23. A8 CCJSCJS oper6riCJS apreHntod4• na Expo•iç4o Uni·
ver8al de Paris de 1878; CJS CCJSCJS oper6rias-mo<Uio nalizadCJS em
Pancras &ad, Londres, em 184{1.

583
z••
Zl. ('llntro comerdlll e admJnla;tratJvo (conttNC6M ai••• • d.M••> C. Nt.açAo «niNI
Z2. baii'TOI de hablua('6H roltdvN
Z3. t ._lrr(lt de t\ablta('6H i~lv'duaJt A. centro eotnt1"âtll (.mH\ .uln, h•l...• ,.,, •
7A .onat lndutrlui ('.., ct'nll'O dvi(o (1'1\t.lnldPIO, pNft-lllll'll ll'h P

7A ..,..., d., lftdOotriAo - ·.. J, jardino J>Oblicoa do bolno


Z30. be.ll"''o. ~'"'01 M. qu.artlít
7•.:11.. IHI1m» .,.,. N ma_n .ot. de huro H. ho.pltat.
u. 111\l\·tni.d.adot
Fig. 1224. ÜQIWM üúol de cüúuU, utroldo d4 um trot4do de Fig. 1225. A reck de ruoe de Milll<>, Hlfundo o pl4no
urbGnúlico{ronceoo d4 1938. Ot«ido d4ddildcldi{erwnciodoem 1934. ~o árvore d4o eop~ ptlMico. qued•empenhoe
-20/lo«. rar o JfCi{erio helerolflneo que cruc.u oo ~ d4 cídMf.

584
7) Os especialistas necessários para fazer funcio·
na.r a cidade devem aceitar wn papel secundário, subor·
dinado à combinação entre burocracia e proprieda·
de. Não devem discutir asdecisõesjâ tomadas, mas ter
a competência para executâ·las e a habilidade para
tornâ·las aceitãveis.
Por isso, conserva-se e acentua-se a distinção
entre técnicos e artistas, iniciada no século XVII. Os
técnicos devem estudar, com o método cientifico, ai·
guns problemas particulares e bem circunscritos, mas
não os problemas de conjunto (por exemplo, o cálculo
das estruturas e das instalações, mas não a distribui·
ção das funções na cidade e no território). Os artistas
devem adaptar o aspecto exterior da cidade sem
discutir-lhe a estrutura, porque o campo de seu traba·
lho é considerado "independente" e não ligado às ne-

FitJ. 1226. Andr6nudo.. Esculture em ferro-gu.a executada pela


companhia Coc.lbrookdak, e apresentada na Exposlc4o Unive,.al
de Londres, rk 1851.
FitJ. 1227. O Atelier de Batignollee. De pé: Schol<krtr, Renoir. Zo/4,
Ma1trt, &:ilt, Monet; sentodot: MaMt e A1truc. Pinturc rk Théo-
dore Fantin-Lotour.
Fig8. 1228·30. Trls "objet08 de arte" apresenl4dot na Expos~(lo
Uniuertlallh Londret de 1851: umá poltrona, uma conaoUe e uma Esta separação entre os aspectos
renda. "artisticos" do trabalho faz decair a inte~rtidatll
cessidades cotidianas. As escolhas dos técnicos se tor- pois, também a qualidade formal da
nam assi n~ ,vinculadas e previsiveis, as escolhas dos dos objetos de uso: as "obras de
artistas livres num campo marginal e não-determi- como exceções numa massa de objetos ins:igt~lifii:&Dt
nante; os estilos extraidos dos monumentos e das e vulgares, que as indústrias produzem em
obras antigas são apresentados como outras tantas cada vez maior. De fato, a exE~U~bilidi~de
alternativas, a tomar e abandonar por motivos mais conveniência econômica e a forma exterior
ou menos convincentes, que nunca são definitivos e troladas separadamente, e ninguém controlou o
que, de fato, são continuamente rediscutidos. to como um todo único.

!i86
de Cristol", corutruldo por Jo1eph Pa.xton em
ExposiçlkJ Univeraal de Londre1 de 1851; grauu-

!>87
Fig. 1233. Outro interior do "Pa14cio tk CriBI4l", com o grontk
ob6bodo comtruldo paro con&ervar umo grontk druore de porque.

588
M41UI.
\

Nesta combinação, os interesses da propriedade a transformação de Paris durante o Segundo Império,


-parasitários e contrastantes com os inte- de 1851 a 1870.
do capital produtivo - são claramente privil&- Uma série de circunstâncias favoráveis - os
A forma da cidade é a que torna mâx:ima a poderes muito extensos do Imperador Napoleão lli, a
•mcmll•an•a urbana, isto é, a mais rica dediferen· capacidade do Prefeito Haussmann, o alto nivel dos
oentro mais denso e uma periferia mais rala, técnicos, a existência de duas leis muito avançadas: a lei
em setores de carâter diverso), mesmo que sobre a expropriação de 1840 e a lei sanitária de 1850
ineficiente e dispendiosa. O mecanismo ur· - permitem realizar um programa urb)l.nistico çoeren·
sempre congestionado, porque os apar&- te num tempo bastante curto: assim, a nova Paris
públicos - ruas, instalações, serviços - são demonstra o sucesso da gestão pós-liberal, e se toma o
msuuaeJm.e:s, ao pa880 que a exploração dos modelo reconhecido por todas as cidades do mundo, da
'"'"'"'"'"'...'""' alcança ou supera os mâximos metade do século XIX em diante.
regull~mentos. Mas estes inconvenientes
e econômicos são compensados por uma van· A transformação de Paris compreende:
poUtica decisiva: de fato, as dificuldades da a) as novas ruas traçadas no conjunto habitacio-
urbana oneram de modo mais pesado as classes nal existente e na faixa periférica. A velha Paris -no
fracas, e a cidade se tom a um grande aparato cinturão alfandegário de 1785- compreendia 384 qui·
ll!ri:millArltP.~ que confirma o dom!.nio das classes lômetros de ruas; Haussmann abre 95 quilômetros de
. A burguesia toda tem interesse em novas ruas, que cortam em todos os sentidos o organis·
setor afastado, para tornar automâ· mo medieval e fazem desaparecer 50 quilômetros de
aparato: cuidando de seus interesses, a ruas antigas. Esta rede viária -que compreende as
...,"""''11" imobiliária defende os interesses gerais avenidas barrocas e as insere num conjunto coerente
classe dominante. - prolonga-se na periferia, onde Haussmann abre
Examinemos agora o exemplo mais importante: outros 70 quilõmetros de ruas;

589
Fig1. 1235.36. Um conflito"" Rue Saint·Anl<>ine, duroiiU" reoolu-
~ <k 1848; "' ruu contro/Qd(JI ~I<>. o~rdrio. in.urgido., em
junho <k 1848.

Fig. 1237-39. AI demoliç6e1 de HauumCJnn em Paril: umCJ vinhetCJ


<k DCJurnkr pzdJ/icCJda em 1864; uma CCJricoturo di! Hauum..nn
oomo "ortiltCJ demolidcr"; o plontCJ dCJ Auenue de I'OpirCJ, oom CJ
indica~ d011 nov01 {renUI di! ruCJ, • dclrerrenCJI dtiCJpropriCJd04
ugundo " ki di! 1860.

O donoda t:IMI: "ÓIImol E'lt4o dtrrwMndo ou«ra ecuo. A umtntortf o o lu•u•f de to-
dotot: m«ltf fnqufllnott"' 100/,.0itCO.".

590
Fis. 1242. &quema do.srorllkt traba.llun de HoU41mann em Ptv
n.: em preto 01 noV<U rcuu, em lrocej(J(Ú) quodricu/(J(Ú) o. MIJOB
bairro., em tracej(J(Ú) horizontal o. de;. gralllk• parque• peri[~ri­
coo: o Boú de &ulosne (d e1querdc) e o &;. tk Vincenne. (d
nquerda).

:)92
os novos serviços primários: o aqueduto, o es-
mstal:a~toda iluminação a gás, a rede de trans-
com os ônibus puxados a cavalo;
serviços secundários: as escolas, os
colégios, os quartéis, as prisões, e sobretu-
públicos: o Bois de Boulogne a oeste da
de Vincennes a leste;
nova estrutura administrativa da cidade: o
alfandegário do século XVIII é abolido, e
de comunas periféricas são anexadas à Co-
A cidade se estende, assim, às fortifica-
(para um total de 8.750 hectares) e é
20 distritos- arrondissements- parcial-

programa vem a custar uma soma exorbi-


bilhões e meio de francos, que são tomados
aos bancos. Mas neste perlodo a popula-
Paris se duplica - de 1.200.000 para dois mi-
e a renda da Comuna de Paris se toma dez
· , assim a Comuna pode ter um balanço em
e adiar para o futuro o pagamento de suas Fig. 1243. A novo di!Ji.&> tk Pom em 20 IUTOncU.Mmente; •m
preto, o antigo cinlurc1o ol{antkgdrio do muJo XVI/L

Fig. IJU. PW.U. <k Parü em 1873 (do Guia Hachette).

593
Fig. 1245·46. Fol()gra{ia airea do centro rh Pom
p/4nta dtJ áre<J urb<Jrmad<J <10 redor tú P<Jrif (o linlta
indú:tJ o• ümites do dep<Jrt<Jmenl() do SeM).
Fig. 1248. Vi&to tárea tk Pa.m,graua.d4 por oca.illo do&~
Uniuena.J tk 1889; ao cenb'o, tk {14nco, o. Ch4'"1U·Elyúu e o
Louvre.

Haussmann procura enobrecer o novo ambiente sem-número de experiências individuais. Os ambien-


com os instrumentos urbanlsticos tradicio- tes privados e os públicos-até agora sempre ligados e
da regularidade, a escolha de um edificio misturados - na cidade burguesa se tornam con-
llwnerltaJ antigo ou moderno como pano de fundo trapostos entre si: de um lado, as casas, os laborató-
rua, a obrigação de manter uniforme a rios, os estúdios, os escritórios, o mais posslvel isola-
das fachadas nas praças e nas ruas mais dos entre si, onde pode-se imaginar penetrar somente
(por exemplo, a Place de l'Etoile). Mas a por meio de magia, com a ajuda de um demônio que
llmne •!xten:são dos novos espaços e o trânsito que os descubra os telhados (como conta um escritor da épo·
de percebê-los como ambientes em ca); também os espetáculos e as cerimônias coletivas
vários espaços perdem sua individuali- adquirem caráter e distinção em pequenos ambientes
uns nos outros; as fachadas das casas se fechados - os teatros, os "salões" - que não têm
fundo genérico, ao passo que os aprestos qualquer proporção com o tamanho da cidade (o novo
que são vistos em primeiro plano- os faróis, Teatro da Opéra de Paris tem pouco mais de 2.000
de jardim, as ediculas, as árvores - se lugares, ao passo que a cidade tem dois milhões de
mais importantes; o fluxo dos pedestres e dos habitantes; comparam com a antiga Atenas, onde
que muda continuamente, transforma acida- quase toda a população podia entrar no Teatro de Dio-
espetáculo sempre mutável.~ o ambiente des· niso). Do outro lado, hã a "calçada", a "via pública",
escritores realistàs - Flaubert, Zola - e onde cada um se mistura necessariamente com todos
111nlduzid!o pelos pintores impressionistas, Monet e os outros e não é mais reconhecido. Todas as diversida-
(Figs. 1259, 1273, 1274); o vulto da metrópole des e as excentricidades dos indivíduos e dos grupos
onde entre milhões de outros homens Baude- podem ser cultivadas no labirinto dos ambientes inter-
se sente sozinho; de fato, é um mecanismo índiCe- nos, ao passo que se perdem ao sair para a rua, onde
que desempenha centenas de milhares de am- uma multidão de pessoas se encontram e se ignoram
particulares, onde podem desenrolar-se um entre si.

595
Fig.1249. Outro uúl4 abm tk Pam em 181.19;,ao,oen.W,tll,.
aind4 a Auenue eh• Cham{n·Elythl, tU.tk a~ tk la
..U o Arco do TriiUI{o.

Fig•. 125().51. Um tJpicopaldcíopam~me. coMtnúdona


HtJuumann (tk uma reuúla i1111k1a eh 1868); " duM
mo.tram o andar túrero, <k•tl"nado .U loj<u, e um 00.
euperiora, com lrll opor14menl4• burflueu•.

596
A~ rk umptlÚkiopcNieMetm 1853,-.trandocu
inquilinc., 1101 diwr- AndiJI'U: 4 (4mtli4 do portO-
o co.ol rk ria» bur~~ut•.. q.u H Abo,_m 110
buril- midi4 q.u uive um pouco,...;.
4n.d4r; 1» ptq~IIOI buril-• 110 tercàro
llr~lllll·dd<,. recebe 4 u~it4 doHnhorio);o.pobre•, t»~tcut
n~» .6t.SO.; e o /lAto, 110 ulho.do.

1263·65. No• ·~nuriore•" dA cid4rk burguea4 te rünnrol4rn


014Contecimen to• e 1» drArncu p4rticul4rtl, queoa romAnc~­
••:r"''"'''l<l.m corno "' úniccu rtAiid4du diflncu de aertrn re/4to-
trll{igur41, CÚ/lUrnAI iluttr4ç&l de Fourierpora Mada·
de Gutt41Hl Flaubert: 4 M4darne BoU4ry ot~~ura 4 filha
ca1a d4 4m4-de-~ite; ChArlu BoiXlry encontra a carta
que anunciA o 1uicldio; M4d4me Bouary 110 lato rk
o marido que che/la, o pc.dre, e MoMier C<miutt que

597
Dois e>templos de decoração de fins do século
XIX:
f'i6. 1256. A d«or~ de um<~ .ola .U nl4r, .U.enhad4 por Bruce
Tolbert tm 1869.

f'i6. 1!lS8. Pl4nJ4 d4 ()piro .U Pam, projetad4 por Charle• Gamier


t COMiruldo em 1861 a 1875.

A sociedade européia está fascinada e perturba- tivas: os intelectuais recordam saudosamente a


da por este ambiente novo, contraditório. A técnica do passado longinquo e os pollticos
moderna produziu, finalmente, uma nova cidade, não têm interesse em descrever a cidade
mas, em vez de resolver os antigos problemas, abriu distante. Neste cenário, os elementos da
outros, inesperados. industrial finalmente tomam vulto e podem ser
A nova cidade, por feia e incômoda que seja, é frontados entre si. Os novos problemas abertos
aceita como modelo universal porque não tem a lterna- nam as tarefas a enfrentar no futuro próximo.

598
Fig. 1262. v...l<l alrea d4 Ek>ik e d4 bairro circUMta..u.
600
Dois edificios públicos de Paria,
linha da rua:

Fig. 1267. o coUgio &OU. ' 1871).

Fí6. 1210. O ombknu promúcuo d4 "vU. pab/ico"em Pon. (14r110


Soint-L<wJre). A• vitrina d01 /()j..,, 01 tobukto1, 01 qwo.que• e 01
14mpiik, formam o oend..O ontk te movem 01 Ptdt~tre• t 08 velcu-
W..

602
FiB•· 1271·72. DoiB JXlrque• ptlbliro• JXlriB~MI!I noliztldol pelo
Sei/Undo Império: o Buttu Ch4umont e o Pare Monúouril.

603
Fi11. 1273. O Boulevard dee Capucint; pintura de Clautk Morrei
(1873). Fig. 1274. A EataçAo Saint-Lazare;pintura tk Claude

Três ambientes públicos cobertos, de Paris:

Fi11. 1275. O interiqr da. HaJ/u Centrakt, proj~14d41 p


Baltard em 1853.

604
aspectos das ruas de Paris:

Fíg. 128(). O Pare Mon«au.

605
Fig. 1284. O centro tk v~,... n4 1~und4 tMI4tU ® HaJo
tU~® a.rranjo ® Ri111/.
606
OVI'OIIiodoRi116em Va.n<a;empretocunoucurucu,em
..,...wrr/u.

Vamos considerar agora as outras cidades da mente heterogêneos); elas resultam portanto mais po·
metade do século XIX. bres e monótonas, mas revelam mais claramente o
Nenhuma cidade européia se transforma de ma· caráter dos mecanismos importados da Europa.
tão completa e coerente como Paris, e o organis· O modelo europeu pode ser imposto, por volta do
determina em ampla medida a fisionomia fim do século, também para as cidades americanas
modema: vejamos Viena (Figs. 1283-86), (Figs. 1303-1310), onde o modelo tradicional em tabu·
o terreno livre entre a cidade medieval e a perife-
leiro (descrito no Cap. 10) funciona durante todo o sécu·
barroca é urbanizado a partir de 1857; F1orença lo XIX, mas as periferias de casas unifamiliares
~- 1287), que se toma a nova capital da Itália em aumentam e os centros comerciais são construidos
1864; Barcelona (Fig. 1288), que é ampliada com base novamente com velocidade crescente. Projeta-se cor·
num projeto de 1859. tar o tabuleiro por meio de uma rede de grandes ruas,
inserir os parques públicos e arranjar os ambientes
Ao contrário, as cidades coloniais (Figs. 1289- centrais como grandes composições arquitetõnicas
1302) podem ser realizadas seguindo rigidamente a unitárias. Mas obtêm-se somente modificações par·
nova praxe urbanistica (os centros indlgenas são dei· ciais: a rlgida estrutura tradicional se revela muito
xados à margem, ou destruidos, porque são absoluta· dificil de mudar.

607
Fig. 1287. O arranjo tú Florenco capital da ltdlia (de /864 a 1871); F'ig. 1288. O arranjo de &rcelona, projetado por
em preto as no~ao rua1, em tracejado CrUlGdo Q6 WIIC18 UtrdtS. C{. em 1859.
com 01 plant01 de Florença, reproduzid01 no Cap. 7.

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1289. Plorna de Fu, no Marrocoa; a cidade européia foi com·


ao lado da cidade dra~ (u. aa Fil/1. 498-499) e ae d;.tingl.le
delta.

fi6. 1290. Planta de Da/tar, a capital do Senegal, ploni/ico.da ~W.


{ranctlel no &gundo Império.

609
Fig. 1291·92. Saigon, a capital do império francb na Indochina;
tambim esta cidade foi realiud4 duranU o Segundo Império, no
lugar de uma akúia indlgena, da qual n4o ficou nenhum uestfgio.
No alto, a plankl eúJ cidade em 1878, 4 tiQuerda um detallw rúJ
centro urbano em 1891. De•de ent4o ati o fim da dominac4o colo-
nial (1976), Saigon cre•ceu ati •e tornar uma metr6pale de udrios
milh&a de habitank•.

Fig. 1294. A cidade de Dalny,construldana Mancharia por uoltade


1890.

6 10
Cant&l, o porte priru:ipal d4 China Meridional para onik
doi europeUI (q!U! ocupam h6 8éculos, a curta
a bale naual de Macau). Podem·se reconhecer a cidade
a• rU<U em tabukiro e o cinturllt! de muroa, e os dois
tk .ampUaçllo, ao aui e a ou te, con.truldo1 cU preaso.s~esun-

Fitf. 1297. Pequim; a.m 1ubúrbio con.truldo da COitai Go cintur4o


forti{'ICDdo, numa /(rauura de fan• do skulo XIX.

1296. Pequim, a capital do império chinla; planta d4 núcleo


com 08 priru:ipais monumentaa.

1298. Pequim; uma auenida d4 cidc.Mcontemport!nea, traçada


08 mode/QI europeua (m41 percorrida pe/oa pedeatrea, em
doa autam6ueil).

61 I
Flg1. 1299-300. Xangai, uill4 ai~a e p/an14 com a indicacllo d<U
"conctu/Ju" europiilu. Na foto al~a. ao «ntro a conce1Bilo ingk-
IIJ e cl direil4 uma pam d4 cidade chiMaa.

Fig. 1301. Xangai, IJU141humpartedobairroeuropeu,ao/ongodo


Rio lang T.l.
Fig. 1302. Fotografia <h umo TU4 de Xangai no tempo da ocupaçdo
europli4; 01 aul4m6uei. oe mi.turom ao trilnaito tradicional no
tlpaço indiferente da rue-oorridor.

Fi{Jf. 131)3.304. A1 tronaformoÇ(kt de umo cidade americana no..,...


lo XX (Chicago, j6 Uuatrada na FiiJ. 1030): a reconotruçllo do centro
comucial- com 01 arranho-clua que 1ubltituem 01 COIIUI norm<JÚI
-e a upanalo daperiferiadepequenaocaau unifamiliaree, torna-
da poeolvel pelo deeenvolvíment.o dao eetradu de ferro e em ""'JUi·
da pela dihaio elo autom6vel individual.

612
A primeira tentativa de reordenar o organismo-de Figs. 1307.J08. Os arranha-céu.s realizados na extremidade meri·
Vltu de trans{ormaçd{): o plano regulador de Burnham dional de Manhattan, do fim do século XIX em diante: o estilo da
1912, com a rwh dtu noutu rutu principaÜ, .abre~­ comtruçd{) - trad~ionaJ ou m.ockmo - n4o nwdili.c4 leu carll~r
tradicional. arquite~nico e urbanútico.

613
Fig. 13()9. UTI'Ul porç4Q th puif~ri4. oruü cad4 {amllio
ca.o indiuidu<U (Hou.kJn, T~x41).
IIION-

Fig. l310. UmoMuoauto-atradaemoon.truçrSo,noratki«Jtü-


cidotk a-ricaraa (Bo.kJra).

6 14
' . -..........)

A CIDADE MODERNA

A arquitetura moderna ê a busca de um novo interpretar o mundo exterior. Assim, em meio século,
de cidade, alternativo ao tradicional, e começa os artistas de vanguarda põem em dúvida todas as
os "artistas" e os "técnicos" - chamados a regras afirmadas de organizaç.ã o do cenârio llsico (os
com a gestão da cidade pós-liberal - se estilos extral.dos dos perlodos históricos passados, e o
capazes de propor um novo método de traba- principio da correspondência entre imagem e realida·
libertado das anteriores divisões institucionais. Jle) com suas conseqUências culturais e organizativas.
Os artistas, encarregados de apresentar e de cor· Os téc.nicos, que trabalham fechados em suas
a imagem da cidade pós-liberal, são os primeiros especializações, não estão em condição de controlar as
contra a feiúra: criticam o cenário que vêem à conseqüências de seu trabalho, mas modificam o am·
e começam a atacar os mecanismos que o biente da vida cotidiana de maneira cada vez mais
rápida e mais profunda, portanto tomam mais difíceis
Os arquitetos inovadores - Horta, Van de Vel- as formas de controle tradicionais, descritas no capl·
Wagner - estão insatisfeitos por ter que escolher tulo anterior.
os estilos passados, e usam a liberdade que lhes é A invenção do processo Bessemer (!856) facilita
para procurar um estilo novoJ original e a difusão do aço, que permite construir novas mâqui·
!deJ:M!ndeJ1te dos modelos tradicionais. nas mais eficientes e novas estruturas nunca vistas no
Os pintores independentes retiram de igual mo- passado: grandes coberturas sem suportes intermediá·
sua aceitação da realidade externa, e começam a rios (a rotunda da Exposição Universal de Viena, de
tar pacientemente o espetâculo do mundo coti· 1873, com o diâmetro de 102 metros, a sala das máqui·
os impressionistas - Manet, Monet, Pissarro nas da Exposição Universal de Paris de 1889, de 115 por
da realidade as combinações das formas e 420 metros; Fig. 1311), pontes suspensas cada vez
AAr>aranno.·AR dos significados tradicionais; mais longas (desde a Ponte de Brooklyn de 1873, de 488
PQtJ·mJpr-esl>~olrus.Ufs - Cézanne, Van Gogh, Gau· metros, à Ponte Washington sobre o Hudson, de 1928,
exploram a estrutura oculta (os contornos de 1.050 metros), arranha-céus cada um mais altos
os volumes, as cores) das aparências vislveis; (dos primeiros de Chicago, no fim do século XIX, de
!IIDI .."'""" e os cubistas- Matisse, Pieasso, Braque - 20-30 andares, aos de New York nos primeiros de·
.d"""""'ll"m de.finitivamente a imagem de uma reali· <'i>nioR do sl>c'ulo XX. de 100 ;tndnreR e m;tis: Fi~R.
e põem um fim à tarefa secular da pintura, 1313-1314). A invenção do dlnamo ( 1869) pennite usar
estabelecer uma regra constante para conhecer e a eletricidadc como força motriz. e torna pus:;ivcis infi·

615
nitas aplicações: o telefone (1876), a lâmpada
(1879), o elevador {I8g7J:-A-invenção do motor a
são (1885) pernüie usar o petróleo para. mover oe
vios, os automóveis e, mais tarde, os aviões.
Os novos sistemas de construção tomam
vez mais dificil ajustar separadamente a apilrêi:IGil
dos novos ediflcios (çom os estilos históricos ou
novos inventados peÍÕs arquitetos de vanguarda).
trânsito mais intenso e as novas instalações urbanas
~ o gãs-;ãéfet.ricidã<le, o telefone, oe transportes p6bJi.
cos sobre trilhos, na superficie ou subterrâneos - de-
vem ser comprimidos nos espaços públicoe insuficieD.
• tes da cidãde pós-liberal. /!uJ cidadescrescem Cada vez
puús velozmente (L>ndre's chega a quatro milhõee de
habitantes antes do fim do século XIX, e as cidadee do
mundo inteiro se desenvolvem agora com o ritmo du
européias).
Estas mudanças enfraquecem as formas de gee-
tão tradicionais, e fazem nascer também dascamadu
inferiores a procura de uma renoyação do ambiente
constnúdo.

616
1313-14. Dois edi{rcios de aço, americanos: o Leiter Building
(de 1886) e o Woolworth Building de New York (de

617
Fig. 1316. Um4 PGi.agem <k Piet Mondri4n (1912).

No segundo decênio do século XX, a éavaleiro da Ent&J, nilo mais teremo• neces1idade de pinturas e
Primeira Guerra Mundial, estas experiências separa- porqlU! iremos uiuer na arte realizada. A arte i
d4nec, ao PG880 que a beleza da uida é insuficiente; rrd
das se encontram num movimento unitário. Q fim da d medida que a uida ganhar em oquillbrio (Mondrian).
pintura como representação de um mundo estabeieci-
do deixa aberta a possibilidade de um novo trabalho: a Esta definição do objetivo a alcançar -o
projeção de um mundo diferente, independente dos brio do ambiente construido-fazdesapareoer
modelos tradicionais mais conforme às pesquisas obje- sidade entre o método objetivo do trabalho
ti vas dos técnicos e dos cientistas. ó método subjetivo dõtiãbalho artlstico. "A
Os artistas que nos anos vinte participam do técnica são indivislveis, e a invenção ·
movimento neoplástico- Van Doesburg e Mondrian anda sempre de acordo com as exigências
- explicaram exatamente os caracteres desta proje- porque ambas são questões de equillbrio. Nn....,..t.n•n
ção, que deve superar a divisão tradicional entre arte e. (o Porvir!) exige este equillbrio e não pode encl0DIIr6l
técnica. senão por um só caminho" (Mondrian). ~
contrário, abandonar a divisão setorial da
O ambumte e o uida cotidiana silo {allws, em seu estado dispersão arbitrária das escolhas artlsticas; a
im!H'rftito e em sua drida neceuidade. Assim, o arte se torna um arquitetura aceita o método objetivo, exJperimtenld
refúgio. No arte, procuro.se a beleza, a luumonilJ, qlU!{iiltom ou qlU! coletivo da pesquisa cientifica modema,
,. P"rBtl/uem em u4o no uida e no ambiente. Assim, beleza e permanecer independente das instituições d01nin~
harmonia se tornararn um ideal irrealizduel: colocadas na arte,
foram exc/u/d()s da uida e do ambiente. tes, e já está em guarda contra o uso instrumental
Amanhcl ao contrdrio, a realizaç&J do equillbrio p/útico na ciê~cia e da técnica para as finalidades do poder,
realidade concreta de nosso ambiente substituird a obro de arte. será imposto tragicamente no período seguinte.

618
Algumas obras do grupo neoplâstico:

Fig. 1316. Uma carriola para praia, construfd4 por Gerrit Rktue/d
em 1919.

Fig. 1217. Uma pintura abstrata de Piet Mondrian (1928).

Figs. 1318-19. A oa$0 Schroeder construCda por Rfetvefd em 1924,


e o plóstico da casa Rosenberg, projetada por van Doesburg •
van Eesteren em 1923.

6 19
Fi11. 1320. GiM &wrini. Compo~iç® com objew• mec4nict>8.

620
Fig•. 1321-22. Planta e uúto o~,_ de tdi/kw d4 &ull4u. tm
Du.au, con~~truldo por Wolur Gropiu. tm 1926.

Os mestres da 1.8! uitetura iliõC!erna - Wa lter Fig. 1323. O oorimbo d4 &uhou., no ptrlodo tü 1919-1921.
· (1883-1969), Mies van er Rohe 1 1969).'Le
(1887-1965}- f'óram os primeiros a tentar
este método na prática da construção e do
Gropius dirige, de 1919 a 1928, uma escola
a Bauhaus; os professores são alg~tns dos
artistas modernos(Klee, Kandinski, Schlem-
estudantes aprendem a projetar toda a gama
que formam o ambiente moderno,~
até o bairro (Figs. 1321-23 e 1355-77). Mies
Rohe projeta poucos edificios simpllssimos e
e dirige algumas importantes iniciativas
entre as quais um bairro experimental em
n. onde os arquitelos modernos do mundo
·o t·hamadn.~ :1 proit•l:tr "" l'llilit·io:- CFig~.
Le Corbusier trabalha em Paris como profis-
mas realiza somente uma pequena parte
projt•h.•:-i: HhUIIllit:-. c;,~;t.~ indi\'ld u:ti ..... t Figs.
c al!{uns cdiflcios públicos de modesta
IIN>rl!\nr•in·· os projetos para as ocasiões mais com-
IOnteU~oras (o palácio da Liga das Nações em Gene-
dos Sovietes em Moscou e, mais tarde, o
ONU em New York) são recusados ou são
por outros, fora de seu controle (Figs. 1338 e

621
Fill•· 1324·26. DU48 {owmont4[/enl e c planta di> arrcnhtwh •
aço e uidro, projetado por Ludwi[/ M~• uan der RoM, em 1921.

622
Figs. 1327-29. Du48 ui•w intei7UUI eap/G11tad4caMJe:xJHrirMnt4J
de Mies oon der Rohe, realiza® na ExpOaiç&J <k Arquitetura <k
&rüm, <k 1931.

o ••
L-~--~~--~~'

623
\

Fi111. 1330-31. A Crown Hall M campwo do 1/lirwis ln.tiluu a{


Techrwlogy de ChiCIJIIO, realizada por Mie• 11<1n der Rohe em 1955.

624
Fígt. 1332-33. Ocol\iunkJ do campue lk C/UciJIIO; vitta oi no, como
centro do. cidade ao fundo, e p/<mto 11erol.

625
1. Miee v•n da- Rot..
2.J. J. P. Ood
3.. v. BoG.rrecu
4. e 6. A. Schnoed
6. e 7. Le Corbu.l«
8.e9.W.G...,;...
10.. L. HiJbtnhei=«
11. 8. , . .,

Fig•. 1334·37. O bairro Weü.enho/, rea.li2ado em &l«cclde


1927, para. a. expa.siçilo do Werhbund alemilo, dirigido por M.
1:200 der Rohe. Foto aérea. da época, planlmetr/Q gllral, vi&ta
Cl184 de Miu uon der Rohe (n. 1).

626
Fig. 1338. Axonomdri4 do pro~ tk IA Cobu.~r. apm«nl4do no
ooncuno pttrc o po14do do Liga du NaçiJu em Genebro, em 1n1.

Fi6e. 1339-40. A VU!a Súin, COIVInÚdiJ por IA Corb!Uiu em Gor-


ch.u noe arndora tk hrú, em 1926. F~U. e tkwnlto da
facltoda, com 01 traçadoe geonútrico. que ello~l«!m 41 propor-
ç<ludos cheios (em branco) e do. vculo. (em preto).

627
r·-.. ···--9 .................... .... - ... --·· y ···-······------- ~-------·· ··

1
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FiB•· 1841-46. A Vllla Sauo~. comtruld4 por Le C<>rb!J4ier em


Poiuy 1101 orredora de Pom, em 1980. Pl4ntu, &ecç40 e duu
fotoi/I"O{U.. tmraodu em 1957 (G/IOro, o villa {o< ratourodo por
conto do &todo).

628
Fig1. 1347-48. O "po/4cw tk uidro» ~ N~• Unidlu em New
Yor.lr, ooMtruldo por Horrilon e Ab,_ituntre1948e 1960, com
boM num uboço tk ú Corbu.wr, tk 1946•

..-. . ·~ , :r.

629
/

Movendo--se entre estas dificuldades, os arquite- Fig. J360. O. W. utah.kciTMnl.ot hunusno.:~•


bu.~r. 1947.
tos modernos aceitam apresentar-se como artistas de
vanguarda, porque assim a sociedade lhes reconhece o
espaço para agir, mas põem em movimento uma nova
pesquisa coletiva e unitária, isto é, trabalham nosmes·
mos problemas e oferecem soluções comparáveis, que 1. a u.nidadt do cultivo ajJrlcolA
se adicionam e se aperfeiçoam no tempo. Descrevere- 2. a c:idJdtlln•ar indu1t.rial
mos justamenté as passagens principais desta pesqui· 3. a cldad. radioctntrica du lf'OCU
Elc.t:t btt ..U.btlecimenr.oe cltv.m .ukticuir • ddtK!e ttnt«vlN de bot-..-e
sa comum, que prossegue nos cinqUenta anos seguin· u 1"'- f&n~ • impede • • cS..nvol\I'ÚDt.DtO.
tes, e ainda está em curso.

1) A análise das funções ~e se desenvolvem na


cidade moderna.
A idéia da cidade como um todo único não impe-
de uma análise rigorosa, que distingue suas partes
componentes, isto é, as vârias funções sobrepostas na
vida da cidade; Le Corbusiex classifica quatro delas:
-habitâr
-trabalhar
- cultivar o corpo e o esplrito
-circular.
Na cidade pós-liberal, as funções privilegiadas
são as produtivas, e entre elas as t.erciârias (o comér-
cio, a circulação); todas as outras resultam mais ou
menos sacrificadas. Critica-se esta graduação, e
estabelece-se uma outra em que:
- a residência, onde as pessoas passam a
maior parte do dia, se toma o elemento mais im)20rtan·
te da cidade; mas a residência é considerada insepará·
vel dos serviços que formam seus complementos ime-
diatos (as "prolongações das moradas", diz I.:.e
Corbusier); ·
- as atividades ~tivas (agricultura, indús·
tria, comércio) são colocadas no mesmo nlvel, e deter-
minam os três tipos fundamentais de estabelecimento
humano:

630
d4 cid4ck mock1114, q.u cktH. .ubnituir o do
pro~to ck ú Ccrbru~r portl Wll4 mno iMalu-
emP4M.

Fig. 1352. A no110 ptmogem d4 cid4ck mockmo, com o verck e o. )


druo~• em pri..W,O plono; ckHnho ck ú Ccrbw ier. j

- a empresa agrícola espalhada peÚ> território


- a cidade linear industrial
- a cidade radiocêntrica das troeas (Fig. 1350);
-as atividades recreativas são reavaliadas, e
requerem espaços liYTes apropriados, esparsos por to-
da a parte da cidade (as :.>.onas verdes para o jogo e
para o esporte perto das casas, os parques dos bairros,
os parques da cidade, as grandes zonas ve.r des protegi-
das no território, isto é, parques regionais e nacionais);
estes espaços verdes - que na cidade burguesa são
ilhas separadas num tecido constnúdo compaç_to-
devem formar um espaço único, onde todoS-.OlUl~S
elementos resultem livremente distribuldos: a cidaâe
se toma um parque aparelhado para as várias unções
da vida urbanap<'igs. 1351=!356);
-circulação tradicional é selecionada segundo
os caracteres dos vários meios de transporte e as neces·
sidades das outras funções, em sua ordem de impor-
tância. A rua-corredor, com as calçadas para os pedes-
tres e o asfalto onde se misturam -fõdos os tipos ae
veiculas, deve ser substitulda por um sistema de per-
cursos separados para os pedestres, as bicicletas, os
veiculas lentos e os veiculas velozes, t raçados livre·
mente no espaço continuo da cidade-parque.
Esta nova estrutura pretende supertu:-Q a ntigo
dualismo entre cidade e campo, e seu corolário roais
recente, isto é, a apropriação privada do território ur-
bano, para dai tirar uma fonte de renda. Desde o inicio,
os arquitetos modernos criticam a combinação entre
interesse pOblico e propriedade particular que Já se
encontra na base da cidade burguesa, e iooicam â
alternativa a alcançar: a reconquista do controle públi·
co sobre todo o espaço da cidade.

631
I..A VIU.E 4:1.A
US VIUES PetE·M

Fig. 1353. O tecido da "cidade radiosa" de Le Corb~a~r. COito


frontndo com o de Pari.t, New Yorlt e Buenos Airu (cf. como
Fig. JJU).

632
echtkiol: ft'llidendaia conllnuot • l'l'el*
tchftna. red:idtnda•• o. .,..,. HtrhóriOI tom (orm.a d• ~t. de gt~linha
01 tcht\cioelinteru, oritn..,do. de IM&e para OHt@' ou d• non.e pe-,. aul
~m patamarH
P.oo amonha-dut pe,. eecritóriot, mai• compac&o.t nn parte ct.ntn1 para dar lugar ao
dot ek-vadoru

fi6•. 1356-56. Ou~ ®ii de1enlu!lde IA CorbU8kr:o1 uári<>s tipo6


de edi{lcios, espaçadc• no verde, que {orm4m a cidade moderna; a.
poiltJ11em da noua cido4U. oominad4 pew cur10 IUJ 10L

633
Fig. 1357. Um grupo <h objetxn <h ...o ditlrio. De•enho <h AmMh
Oun{ant, 1926.

2) A definição dos..mlnimos elementos para cada porta, juntamente com a janela, as paredes, o
uma das funções_urbanas. teto e os móveis forma um quarto, que
O procedimento que vai do detalhe ao geral faz dormir, ou para jantar, ou para estudar etc.;
parte da tradição científica, c é aceito desde o inicio na quartos formam uma moradia, várias moradias fca-
pesquisa arquitetõnica, como garantia de correção e mam um bairro, vários bairros formam uma cidade, e
de controle gradual dos resultados. Cada objeto co.n.s· assim por diante.
truido deve ser decomposto em seus elementos sim·
pies, e depois recomposto associando estes elementos Se o problema for simples (abrir e fechar),oob;.
de maneira nova, racionalmente motivada. to pode ter uma forma constante, com poucas varian-
A pesquisa dos pintores demonstrou a possibili· tes; se o problema for complexo (dormir, estudar etc.), o
dade de liquidar, deste modo, toda a bagagem das objeto pode assumir várias formas, com numerosaa
formas tradicionais: de partir do zero e imaginar um variantes. Mas, ao projetar um quarto de dormir, não6
mundo novo. Os arquitetos, de fato, aprendem a p~je­ necessário redesenhar também a porta para abrir e
tar partindo dos elementos construtivos fundamen· fechar; a porta pode permaneÇ!!r invariada para um
tais (os materiais, os métodos de trabalho), combinan· grande número de quw:tos e..ser mudada somente
do-os livremente segundo as necessidades (técnicas, quando se apresenta um problema novo (fechar com
económicas, psicológicas etc.) a satisfazer num deter· maior segurança uma moradia ou um edificio para o
minado momento. Mas este trabalho não pode ser exterior; isolar dos ruldos um quarto especial etc.).
refeito toda vez desde o principio: é preciso individuali· O método cientifico permite justamente enfren·
zar algumas combinações que resolvam um dado pro- tar de maneira ordenada esta série de problemas, e
blema recorrente, e que se prestem, em seguida, a se- leva a individulizar para cada um os mlnimos elemen·
rem associadas em outras combinações mais compie- tos funcionais, isto é, as combinações mais simples,
xas. adequadas à solução daquele problema e a permane-
Na vida cotidiana, encontram-se continuamenu; cer constantes nas combinações mais complexas.
estas combinações: a união de um tubo cheio de tinta, Esta busca tem sucesso imediato para os objetoe
de uma ponta que escreve, de um invólucro e de uma de uso mais simples, que resolvem alguns problemas
tampa forma uma caneta esferográfica, que resolve perfeitamente circunscritos; de fato, desde oini.cio, os
um problema circunscrito: escrever a mão numa folha arquitetos modernos redésenham a gama dos objetos
de papel. A união de um mecanismo interno, de uma móveis que formam o entorno imediato das operações
chapa externa e de uma empunhadura forma uma da vida diária - as cadeiras, as mesas, as camas, os
maçaneta, que resolve o problema de abrir e fechar armários, as lâmpadas, as louças etc. -e individuli·
uma porta; mas a maçaneta, junto com a armação, o zam alguns modelos tlpicos, que serão amplamente
batente e as dobradiças forma uma porta completa; a aceitos dai por diante (Figs. 1357·1367).

634
Fig. 1361. Uma. poltrona de madeiradobrada,deaenhadaporMar·
oo .Bnuer em 1936 paro a firma. ingle1a l.olton.

Fig. 1362. A carro«ri4 do <Wtarruluel Adier, delenltado por Gropius


em 1930.

Fig. 1363. O ÍOI/0 de xadrez dnenltado por Joaeph Harlwig na


&uhau. em 1924.

1368-1360. 'Irla objeto. ele' 1rn11al projelc.OOs na &uhaus de


clws /4mpadaa de Marianne Brandt e uma cadeira dobr6-
lllarcel Breuer (1924-1926).

635
Figs. 1364·67. Pl4nra- e duc.• uilr~ intern~ da c<Uoa <>rt-.rcoi'IQI•
de GropiUI no bairro Weissenlw( em Estocarda (u. /334,
a dt··rorac4u rompr«nde os m6L·trs metdllro.), as ldmpadu
louçc.s de1enhada6 n01 an01 que precederam a BauhoUI.

l.tntrada
2. aat.dt•Yr
3. talacl.~&ntar
• coonh•«~Ma
b.dtll)tftU.
s dtp6tiU)
1 d~1~ dt earvi •
& donft\-.611'\ot
9,b.nhftro
esta busca não aceita as limitações tradicio- ver. Ao contrârio, a moradia é o elemento que interessa
é, não se detém nos objetos de uso indivi- aos habitantes, e aceitando a moradia como ponto de
. .encle-5;e às suas combinações, e converge so- partida, a arq uitetura modema se propõe reconstruir a
os mlnim""õSelemcntos Tuncionais !1.ue cidade segundo as exigências dos habitantes, em vez
às quatro funções urbanas relaciona- de seguir as dos proprietários e dos funcionários.
derionnCJ'lte: ha]2iúu:, trabalhar, cultivar o corpo Então, a busca da_arq.uit.ct.ura moderna:
....w~""'rcu•nr. Já quéhabitàr é cons1derá<Iãã - analisa pela primeira vez rigõr(;samente a es·
nmlL"IIJaL o mlnimo elemento-habitáveL--a- trutura interna da moradia, as relações entre as partes

...,,Jm.mu1u a
-
- se torna o elemento fundamental da nova

moradia- e não o edifício- como


componentes-os quartos- e individualiza as princi-
\pais variantes dist~s;
partida para reorganizar a cidade, toma--se - estabelece as regras para agrupar livremente
criticar e rejeitar os modelos de ediflcios p as moradias, sempre com relação às necessidades dos
cidade burguesa: o palácio""CõnStruido na li- . habitantes, isto é, considerando as relações das mora-
e a pequena uilla afastada desta linha. De dias entre si e com os serviços coletivos. As moradias e
modelos de construção dependem da rela- s serviços de todos os tipos -escolas, hospitais, lojas,
propriedade particular e espaço público, e se uadras de esporte, salas de espetáculos, ruas para
importantes porque a cidade pós-liberal é fun- estres e para carros - Jounam o bairro, isto é, a
jutomonl< wbro '""' "'"'"'· oomo pndomO"~~~ cid•d• mod:::.

Fig. 1368. O esqueleto portante de cimento armado das casas


Dom-Ino, projetadas por Le Corbusler enrl918.

637
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A Mlt\alura modema de pll•rtt. dt madeira d.ivma da ttl"Nlun anti.Ja de pertde• A fachada moftm• 6 um diaha,ma independente doe pilam: portan.to, u .....
ponan&M, prt'tftlite veriar Uvrtme-nte a planta.eoersvtr a caN do Letrtno e •ubtthulr o podem toma,.... uma nu continua q~ ocupa~. uma .,..,.._e Uwnl..n.e m.v1to . . . .
~,eah.ldo pc:ll' u.m.a ~-.Jarchn.No. O..temodo,rteuptre,..duuYeuta&ftaoc.pada o am'*'n\t. A4 Q)ntrirlo, numa lac:hNI. anU,a, u jantlu t6o nan1&clu • -
pela COUt:niC'M. ClOiftO . .PI('O vtrdt OU p&te O ~il!.. O. porc.-a\;e. e d~.,... peq~~tnu • m....
ndaclu

Fíll•· 1369.72. Uma •in'e de eoboçw <Ü Le Ccrb.uier, 9"" il.utram


01 cinco pont.oeda notH> arquiteàu'o: a planta liure, a{achad4liure,
• coeo datacodo da terreno medio...U 01 pilare. (pilotia), o teJ/uulo-
jtudun, • jonela <kotnvoluid4 em comprimento.

638
Figs. 1373·78. Um bairro ck caaas em {i/eira realiza® por J. J. P.
Oud nos arredl!res ck Rotterdl!m, em 1924. Pianimetria geral, phm·
tas 008 dl!U. tipos ck moradia e /otcsrafias.

639
Figs. 1379-83. Outro bairro tkco.84#1em{ileiro.rea/i'a.doporJ.J. P.
Oud em Rotterd4m, em 1925. Pl4nimetria geral, planta do tipo tk
moradia maia comum. e {owgra{W.a.

641
Fige. 1384-87. At primeircu casas a1148 com IJ(Jran.da, realizadcu
em Rotterd4m par BrinJrmann, van der Vlugt e Maaelrant: o Berg·
paúhr (1934) e o Ptculaan (1938). v..t<U e phJnt<U

642
1$

6...11 dt Mler-jant.tr 1.\·:•r~•mla t . ruorda....pa


I Y'&l'anda
l~nh1 I . 6onnit.6ri01 2.cozinh• 6. Nla de ttc.ar-jant&r
S. b.nhelro CIOf'O c-:huvelro 1, alpendl'tl 3. banheiro S.donnllbrioo
t.rurU-roupa 8, dtpOtito dM V&NOU. . 7. alpendre

IU3-89. Os oport<lmenws Uplcos do BerBJ)Oider e do Pios·

1.93. Uma moradia tradicional e uma moradia modema,


muno publ~~ de Alexonder Kkin, poro um üutitu·
pnq.U.U olemilo, em 1928.

trtdirionalat tl.lnç6N doe q~111011N di•trU:ruWu ao KMO: • pe;reor- Na rt~~idfnda mod•ma •• (\ln~ dot qoartot Mo d••tnbvld&a doe mantu• a tonn.a.r
(trect.iadoe) • clll vida t*üfM (tm tnCO tondnt.lO) " av.dm duu10n•• Mp&ndu. para a v\dadunnaeaft.otum.a:ot~ri!Otn.totnale•c:nuam.

\
\ . ...... .[,:;
\ : ,i t
....1·-·-·~·.::r.::'.b-_

643
3) A busca dos modelos de agrupamento entre os Deste modo, todos os elementos da
elementos funcionais, isto é, em perspectiva, a defini· serviços ~e diversos graus, as áreas de
ção da estrutura de conjunto da cidade modema. · ruas, os estacionamentos, e também os
A busca das variantes distributivas das mora- de produção) podem ser colocados
dias não pode ser feita sem considerar a maneira de com as casas, ULestrut1anHJrb~ma;.~JOdlUIIII
agrupá-las entre si: Por isso, a pesquisa sobre a resi- segundo a hipótese de partida - Vel'llaQ181DIIII
dência não termina na escala da moradia, mas bordinada à residência. ,
prolonga-se na escala do bairro, e leva a individulizar A hipótese das unidades de naiJUaçao
outros elementos funcionais, que compreendem um formam uma gradação continua da unidade
certo número de moradias e um certo número de servi· às maiores e em perspectiva até a cidade -
ços: as unidades de habitação. estender o controle arquitetônico a uma
maior. De fa to, a forma da cidade resulta
A unidade menor - de cerca de 300-400 mora: te diversa, mas deriva de um número lin:útsido·dl
dias, com o jardim de infância, as lojas de primeira binações e de ligações, c,'t}as conseqUências
necessidade e as áreas de recreação para os jovens e os visuais já se conhecem.Jr' cidade tradicional
adultos - pode-se tomar o minimo elemento projetá· da por muitos lotes pequenos, ocupados por
vel da cidade (isto é, o análogo do edifi.cio na cidade independentes entre si; suas combinações
tradicional); um certo número destas unidades, combi- siado numerosas para serem previstas eo)nt:rolillll
nadas entre si, pode constituir uma unidade maior, sua sucessão muito aproximada produz,
compreendendo um maior número de moradias e uma impressão de monotonia. Ao contrário,
dotação mais ampla de serviços: por exemplo, três dema pode ser formada por elementos
unidades primárias da medida anterior podem formar cada um projetado como uma colm~K>slcao corunnu
uma unidade secundária, com cerca de 1.000.1.200 mo- unitária; as combinações entre estes elemenUI18 pod
radias, três jardins de infância, uma escola primária, ser coordenadas por antecipação, portanto o
um grupo de lojas mais completo e uma área mais conjunto pode tornar-se ao mesmo tempo
extensa para o esporte e a recreação. ordenado. l

I . NUinkmu
2. pat.t.rt.
3. bar • .olarium
4. ru taurante
6.pe.rq-..e inf81r.tll
6. etntro ..ni"rio
7. cr«h...,.inho
8. crtt:...
9. d ube
IO. I1borttorio e ..ala• de reuni6et lN' ta 01 jo'o'ent
11. lavandt rit
12. tnt.,.da e euarha do porUiro
13. 1 • ' •1tft.f
14. apaJtarMnto dpleo 6t doit: ~,... Cv. Fla:.. J310.1lllt

Fig. 1394. A unidade tú habitaçlfo tú Le CorbUiier, realizada'"'


Mar1eille em 1951.

644
rot4R- :

®""®~ s ~.c.~ !~1


c_- c_

Num bairro tndkion.al (8), 1400 habhan!M n.otNI'*mde280e. ..t (6habh.antH:para


cada um). Pan. W•u a e-tas eNN. do nf!t!NIIIiol 3 qull6mtttolt meio de Na.. de
condutos de1 ... dt htbu.I&QOII pt~ra qaa., de "fotO.: eis o drtrM!
Numa unidade de habic..(60 No ntetMArioe: uma rua para oe autom6vtit, com 6
metrotde laraura e IGO mdrol de compriment.o; uma pa11arela para pedettrttcom l.83
mttroa de l~ul(ura t &O melf'OI de comprimento, que paaaa por cima de uma laaoa.

Fig. 1395. 0 raciodnio de Ú CorbUBier, parajUBii{icar a conveniln·


ci4 da unidade tk habiúte<fo.

645
Figa. 13J6.ff. ' vuea teral e plaitlal do. 11por de CONtruQC2o do
urÜdO<k de habllaçt!o dt Mar•e•lle, paro 1.~00 habitante•.

Fig. 1400. Um srupo de unidade• de llobllaçllo, dulancladtu no


meio do verde, formam um bairro ou uma cidade; desenho de
Le Corbualer poro o cldodedeNemour~ (1934).

646
Figs. 1401·1402. Vista aérea eplanimetria de uma unidade de habi·
taç4o horizontal, composta por 74 moradia• enfileiradat: a Sie·
dlung Halen, nos arredores th Berna, projetada ~lo Atelier 6 em
1963.

647
A

SUIONE

SE(;AO E
Pl.AI\"I'A DA MORADIA
TIPO A

l..ttltnda (para 01 dolt t.ii)Otl de ~..k


L•nc:rlda
2. dop6olito
3. •ala de Ht.ar
.c. •Jswndl'il
6..dormit.ório.
6 jard1m
7 . .,dfl'a

Fig1. 1403-412. Pl4nt<u utc~•do.tipo•duorutruç&Jprincipois SEÇAO g


da SiN1un11 Hakn; o l~runo ~m dtcliue poro o rio foi di1po.to em l'LAI\"I'A DA WORADIA
TIPO O
tobukiro•, e ~rmi~ con11ruir ca.01 de trf1 ondon•, onde a enlre-
d4 ~ o. /4cau de e1tor u ~ru:ontram no primeiro andor; exu~m
o11im dou grupo• uporado• de dormit6riol, um no andor ti"eo
(comuniCJJndo-~e com o jardim) e um no ugundo andor.
No fotogrQjlo oboixo,.o ol,.ndre do 1014 de e1tor com a socado
em formo de grade, retomado por Le Corbwler.

Fi11. 1413. O projeto de ampli4ç(J{) de LeeiJWOrden, e1tudado por


Bakema e van der Broek em 1958. Oe ediftcioe de tipo diveno
formam uma série de combinaç&o npetido1: o unidade d~ hobdo·
ç4o misto.

648
649
Tipo D

A.~trandH mONdi•• ~nf'iJeí~d111


B. mor•diflt tm llnh•. dt Qt.at.lro •ndl.'rH
C. moradia. em linha, de trh andAtH
O. peq..-ena• mon.diM t'nnlelr•d..
E. moradiflt trn nltir•. tm "nd•m ciHtncontnd•

Fis •. 1414-19. O bairro Klein Drúme tm Ht ngtlo,


&kema e uan der Broelt entre I 956 o 1968.

l. mcn~b
2.·7. •mbit-nwe di11rno1
8. lavatlrio
9. d()m'lítOriot,
IO.b.t.n.hot'iro

650
• d .. A • II
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I~
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- - :r;;;
I ·-

1. ctnlro dvico
2.1pja.. ..colq. peqiHlnu ind6atriu
3. otnlro . .portl\10
4. ettrada ntdon•l
6. c:ana)

Fi6•· 1420-23. O piGnO de deunvolvimento dG rt6i4o Noord-


Kennemerl4nd, nG HOÚUid4, propoMo por Bolwm4 e vonden Brwlt
em 1959. Alaldeúu I~ (A e B)e«o~porperi/e­
rüu compt~Ct<Y, que ,.ndem G ocupGr todo o e•fJG':O entre runo e
outrca. Ao invh de•co upoM4Q indi{errnciodo, a. projeU.tu •Ulle-
rem Um4 eiTW de unidade• de hobitoç40, que Um umo formo e runo
dimeM40 e.cobel«id4, e rr•pejl4m porl4nlo o equillbrio entre :co-
na. COMirultúu e campo. Um certo nliiMro de unidade• cú hobil4-
ç40 •e 4lfJ'upGm porca formar run bGirro maior, com umo prov;.40 cú
urviça. pfsblúm mo;. 00~14.

651
l
l.eua de I~ .-ndttl'f'l
2. ca•a• de 3 a 6 andaree, com apartllment.oe de 1 andar e de 2 andam
3. c:a•a• unifamUiaree enfileirttdu
4.c:o8as uni(amiliare• isoladu
S. lojas
6.esoola
Fig1. 1424·25. Plano tk tksenuolvimento do Noorct.KennerMrland. 7.jnrdim de infdncio
Planto tk uma unidatk tk habittU;4c para 1.900 habitantes, e azo. 8. eara.gene
nometria de uma parte do unidatk.

·,.
- ..- ...
Fig. 1426. v...ta panordmica ela unidatk tÜ! habitaç4o mista.

Fig. 1427. Vista ela zona central; em primeiroplano, as casas iJwiNII.


duais.

Fig. 1428. Vi•ta do zona central;emprirMiro plano, as casas en{ilei· Fig. 1429. O e•paço interno para petkstres do centro clvico.
radas tÜ! dois andare•.

652
r- n n n n n n

- DDDDO ~ ODOOOO ~ DDDDOO DC OOO

la DDDDO DO OOODDO OO OOOOOO ~ OOD

DDOOO DO DOOOOO DO OOOOOO OO DOD


"""'

I a I I ~ I I I I I
PROSPfTIO S<ala I: 500

Fil/8. 1430-34. Plano tktk•enoolvimento do Noord-Kennemerlan.d.


Planúu, pro8pecto e ucç4o do edi(rcio tk quinze andare•-

PlANTA A-C

653
®

Scala 1: 200
Ffgs. 1435-36. Plantas dos tipos de construç4o do ed(flclo de quin-
ze andares.

FíiJ•. 1437-41. Piamo.., prosp«tc e ucc4o tkJ edi{fcio de •eilt ~>nd4·


ru com llPQrtamentol dup~x.

~ III LU li [1111111 ~-
654
L]•
O.tt't'Wt~comunM
l.C'tl1tma
:l.loiu
3.brrtJ•
<I.MC01a ao ar b...-re
&. pt~rq~
6Nrolft
7, parqu. infantil

1«2-43. As unidades de ltabftaçoo (superquadras) em Bra-


(;ada superquadra compr!*!nd~ 2.5(J().J.OOU hab1tar~tes. e qua·
auperquadras {ormom uma unidade mail completa de JQ.()()().
12.000 babitanúl.

655
A SITUAÇÃO DE HOJE

Os resultados da pesquisa arquitetônica moder· zonas de recreação até formar um espaço verde unitá·
em parte aceitos e em parte rejeitados pela rio, a separação da r~ de ruas__para pedes.tJ.l!S ~a rede
contemporânea. para tráfego de carros.""De fãto, tenta-se dar à cidade
A abordagem cientifica dos problemas do am· uma organizacããliiãis racional, sem mudar a prima·
construido se enquadra na cultura cientifica, zia das funções terciárias (comércio e escritórios), que
liloens,áv,el ao desenvolvimento da sociedade mo- produz as conseqüências já examinadas: o aumento
problemas do ambiente construido fo- da ~ade da periferia para o centro, o sacriflcio da
propmlítadaJrneJnte subtraidos à análise cientifica, re~ncia ~amento do tráfego etc.
assim é possivel conservar o equili· Os minimos elementosfunc10nais que dizem res·
interesses imobiliários estabelecido no último peito aos manufaturados menores - dos objetos de
que não é apenas uma fonte de privilégios para uso às moradias individuais - são aceitos porque
categorias econõmicas, mas um instrumento funcionam melhor e custam menos que os modelos
para o conjunto das classes dominantes. De tradicionais, e ao mesmo tempo podem ser adaptados
nenhum regime politico soube até agorarenun- à organização vigente dos espaços públicos e particu·
por completo a este instrumento. lares. Ao contrário, os elementos funcionais maiores -
Por isso, a sociedade contemporânea é levada a e sobretudo a unidade de habitação, que define de
entre os resultados da pesquisa. Vejamos o maneira nova as.(elações entre moradias e ~ços­
acontece para os três pontos até agora examina· são praticamente recusados, porque entram em confli·
to com o equillbriÕOos interesses dominantes. As uni·
Pela análise das funções urbanas aceita-se o dades repetiveis, propostas por Le Corbusier, Bakema
· de manter seQ.aradas as~. destinando e van der Broek, Candilis etc., são admitidas até
uma destas uma zona separada na cidade. De agora somente como episódios exepcionais: são reco-
da década de trinta em diante, os planos regula· nhecidas como obras aprecié.veis de arquitetura, não
distinguem as zonas reside ciais, as zonas in· como exemplos para mudar a estrutura geral da cida·
as zonas parãõSset'Vlços etc.; assim,aet'ãtó, de.
re<JL<U:LuLJ•:s os inconvenient:es que derivam da rnis- Na cidade burguesa, como jé. observamos, as ad·
das funções na cidade tradicional. Mas não se ministrações públicas constroem as "casas popula-
da mesma maneira a nova hierarquia das fun· res" para corrigir o mercado privado que não oferece
a primazia da moradia, o desenvolvimento das casas baratas para as classes mais pobres. Depois da

657
Primeira Guerra Mundial, os programas de edifica~·~'
das administraçõeUJúblicas se tomam cada vez mni~
importantes, e são o campo mais adequado para apli·
caros resultados da pesquisa arquitetônica modema,
porque a administração no inicio da intervenção tem a
disi>onibilidade do terreno inteiro, que será depois di vi·
dido entre as casas, os serviços, as ruas etc. De fato, os
bairros públicos das administrações alemãs, holande·
sas, escandinavas são também as primeiras demons·
trações do novo ambiente urbano projetado pelos ar·
quitetos modernos. Estes bairros podem permanecer
exceções isoladas, ou desenvolver-se até transformar
todo o ambiente construido. Desta alternativa depen·
de o sucesso ou o insucesso da arquitetura modema:
em alguns palses - a Inglaterra, a Holanda, a Dina-
marca, a Suécia, a França - a intervenção pública
aceitou os critérios da nova pesquisa arquitetõnica e se
ampliou até se tomar um outro sistema de construir e Fig. 1444. O centro hí•t6rico de A>mterdc1, como~ ho}t,
administrar a cidade, em alternativa ao sistema tradi· pela periferia. Cf. com u Fige. 1099-1106.
clonai: não eliminou os mecanismos da cidade burgue-
sa, que continuam e ainda são quantitativamente pre-
dominante, mas realizou de maneira concreta outro tipo
de cidade, experimentando as propostas da pesquisa de tabuleiro; a estrada de ferro' é construlda
teórica e melhorando-as gradativamente. em frenteao porto, e a estação é colocada no
11: inútil, pois, descrever as propostas mais novas leque seiscentista, separando definitivamente a
e mais audazes dos arquitetos contemporâneos, como do mar aberto.
se fossem imagens de uma cidade modema já iminen· Em J,.._901 é aprov~da a primeira lei
te. Ao invés, grande parte destas proposta, intencio- holandesa que obriga as cidades com
nalmente futuristas, serve apenas para esquecer ou habitantes a preparar um plano regulador
para esconder as dificuldades de desmontar_os meca· lizado a cada dez anos. OEstado financia as
nismos da cidaélêí)6s.libêral, queãlri'aãsãodominantes trações municipais para a a__guisição dos
no mundo contemporâneo. realização das obras públicas, e a~.R!l.nlli
Devemos antes colocar esta questão: em que me- _!ldi.ficação para a cons§{!o das casas poJ)Ulilll8L'
dida a pesquisa da a~uitetura modema transformou administração municipal de Amsterdã
nosso ambiente de vida? 1896, não mais revender os terrenos Acl<milnclr"'
Descreveremos em primeiro lugar os exemplos somente alugá-los; assim, doravante ott"'""n,vniiV1•nol
melhores, isto é, ~idades - Amsterdã e Londrea to urbano pode ser regulado de maneira unitária
- onde esta transformação teve êxito parcial. Em programas públicos.
seguida, tentaremos confrontar estes exemplos com a Em 1902, Berlage-o mais importante
situação geral, e veremos os dramáticos problemas holandês do iniclOaO século XX - é encamel!'w:lo
produzidos em toda parte do mundo pelo aumento da projetar
que o .i!I>.~~d~e
é !JV'"•~u,,,. ..,.,.,.. ~~~~~~~:;:·~:~:,·:.
QQPulaçãO-U~:b~o desenvoh?mento_econômico.
tes (F:igs. 1445-1446).
Em 1928, é instituldo junto ao departamP.ntn n•
obras públicas de Amsterdã um organismo
AMmRDÃ co independente, capaz de fazer com que a
dos modernos arquitetos holandeses dê seus
A cidade holandesa, da qual se falou longamente Nesta repartição, entra um dos connJXl'neiltea
no Cap. 11, alcança sua máxima prosperidade em fins grupo neoplástico, Cornelius van Eesteren, que
do século XVII, enquanto se está completando o plano a preparação do plano regulador geral e aplica
de ampliação de 1607. A partir de então, o magnifico primeira vez a uma grande cidade os resultados
organismo ~o cresce.m.ais, e~ primelfõs dez anos das pesquisas arquitetônicas mo-
de aos poucos sua importância pelo aterro do mar dernas. .
interno - o Zuiderzee - sobre o qual se debruça. De fato, o plano de Amsterdã tem três caracterie-
Em 1875. é escavado um canal que liga direta· ticas novas:
mente a cidade ao Mar do Norte. Deste modo, o desen· 1) São feitas em primeiro lugar, com a ajuda dOI
volvimento de Amsterdã retoma seu vigor; os muros especialistas, numerosas indagações cientificas, que
são transformados numa cerca de jardin e ao redor permitem estabelecer uma hipótese de desenvolvimen-
forma-se uma periferia de bairros medianos em forma to da população e de suas exigências até o ano 2000

658
flgs. 1445-46. O plano de cunp/i~de Am~urd4 Sul, projeta® po~
H. P. Berlage em 1917. A. C48"' •lfo ogrupadtJIJ em grande• /)/()(:(»
alonga®& de cerco de 5IJ x 2()() metro..

Fig. 1447. &quemo tkJ plano regula®r de Am1terd/J em 1936. O


tra«ja® cruz.od<> representa o• novo. bairro., em preto, tJIJ tontJIJ
verdu.

"""' ~I' (I( ,


>'
'"'"'""""."" que, na data da aprovação do plano, a
cidade chegue aos 650.000 habitantes e depois cresça
até 960.000. Prevê-se construir neste perlodo:
84.300 novas moradias para os 310.000 habitan·
les a mais, levando em conta que o número médio de
pessoas por famllia diminuirá de 3,74 para 3,37;
13.460 novas moradias para substituir as inade-
quadas a demolir;
12.000 novas moradias para substituir as elimi·
nadas na zona central para dar lugar a escritórios e
lojas; isto é, cerca de 110.000 moradias ao todo, a serem
acrescentadas às 200.000 existentes.

659
Fig. 1448. O pi4M regu/4dor de Anuterd4 em 1935. Em qu<Uiricula.
do, 01 noVOt bairro.; em pOntiJJuuio, 48 zonas uerde1; em tracejado
cruzado, tu Z0/148 indUitri4u; em trac(ljado diagoTUJI, a1 zonas d48
hortas.

2) Divide-se a ~a da cidade em bfAiro>s..Jle 3) Estabelece-se um controle continuo sobre a e-


cerca de 10.000 moi=ãdiâs (isto é, 35.000 habitantes) xecução do plano, de modo que a liberdade concedida
providos de todos os ~p~entos necessários e sepa· aos ~stas..dos ediflcios não f~&r o caráter
rados por ~aixas de v e. aamimstraÇão resolve a unitário do arra!})o geral. Cada bairro é dividido em
cada vez iniciar a construção de um bairro, e somente urudades menores, caãa uma delas confiada a um
então prepara o plano detalhado, de maneira que as arquiteto supervisor que tem a tarefa de aprovar os
suas caracteristicas sejam atualizadas o mais possl- projetas de construção individuais. Os supervisores
vel. trabalham junto com a comissão permanente do
plano, presidida por van Eesteren.

660
O conjunte do. bairro• de Oe1U, preuõ.tcl pele piaM
th AnuUrd4, de /936.

a. tünu mwlenc:....-
c:::) tl•na. wtrdn
I[!])' ?'Htl<IJi Jt1purtiVN
CD ).lfdm& u i)L"f'6no.
-=:J h·•rtloiS
"'·'!;
-=· C"t\NI'-
f'IMft.dQ eh ( tr'I'V

l'i6. 1450. 0• boir/'06 th Oe1U em ui01 th realizoç4o; coda zona th


IImno i contolidada • equipadapela adii1U!Ufr4ç4op/U)/U;a, anUI
• te ootutruld4.

661
Fig. U54. Pl6.8tico do btlirro rk O.dorp, ~m Anuw.t.!.
Fig. 1455. O conjwtlo do. boirro. a Oet~. rúpo;. rk ultimado a·
COMiruç4o.

...
663
L l-..o pa,. fti'M.r
2. anClOI"'douro dat ~mbarca('6tt
3.. centro d01 et~port~ •qutr.ti()Of
4. c:oti~
"-jardim dofcorath·o
6.labr.nn~
7. quadra de«*~ ,_,.. nian(aa
8. quadro de ttPort('t P4'CA adult01
9. lnJto cki rtCY'ftt.Qêo
10. teatro .o ar liVft
11. p&-..Mob6Ucub
12. pi . . dt tq1utaçto
13. .o/oruutt
14. tttervo para as avtt mhcml.6rilt•
·~ fattnda
16. aJbttMYe .,.,. &1U\Mtude com ntmJM"~t~
17. vi\"ttt'O
18. parq.at infantil

FiJJ•. 1456-1467. PU.rna dJJ &nqu.e cú Am~urd4.

O plano regulador geral de Amsterdã foi aprova-


do em 1935, e executado nos trinta anos seguintes;
então hoje podemos julgá-lo como uma realização con·
creta.
A maior parte dos novos bairros está situada a
oeste da cidade, de maneira a se ligarem seja ao centro
antigo e ao porto, seja às iil.dústrias colocadas ao nor·
te, ao longo do canal que chega ao mar aberto. Estes
novos bairros estão agrupados ao redor de um ~o
artificial, o Sloterplas, isto é, têm ao centro uma gran·
de zona...d~ com panoramas livres de um ou
dois quilômetros. Os bairros mais antigos (Bosch em
Lommer, iniciado em 1936) são compostos de casas de
quatro andares de tipo tradicional, que formam blocos
fechados, semi-abertos. ou abertos; os bairros mais re-
centes iniciados no após-guerra têm um aspecto mais
variado, com prédios individuais de um ou dois andares,
prédios médios de quatro ou cinco andares e prédios altos
de doze andares.

664
665
Cada bairro tem uma grande abundância de es-
paços verdes para a recreação das crianças, dos jove-ns
e dos adultos. Mas o plano prevê também um parque
da cidade de cerca de 900 hectares (como o Bois de
Boulogne de Paris), recuperado artificialmente de uma
zona arenosa a sudoeste da cidade ~7}.
Este parque contém todo gênero de equipamen·
tos para o esporte e o lazer- entre os quais um canal
de dois quilômetros para as competições de remos, um
teatro ao ar livre, duas zonas de reserva para as~
mtgratórias e_m1ra os cervos - e foi realizado com a
colaboração de muitos especialistas: botânicos, zoólo-
gos, higienistas, educadores etc.
A cidade_ histórica - isto é, o núcleo medieyal
com a coroa dos trêsCãnais seiscentistas - permane-
ceu o único centro do novo organismo urbano, que
agora tem uma população quatro vezes superior à anti·
ga; as ruas são percorridads por um trânsito demasia- Fig. 1460. As cid<uks dieposl48 em eemidrculo.forman® o &ltO
do intenso, e muitos e4itlcioslm:run altet:Elílos: todffVia; tad, na Holanda central.
a administração procurou conservar o caráter tradicio-
nal: subvencionou as restauraÇões das éãSãS"antigãs, pliaçàu de Amsterdã a le,;tc, subre u espelho de úgua
e reservou aos pedestres as ruas comerciais mais im- que ficou entre a cidade e os terrenos de saneamento do
Zuiderzee (Figs. 1461-73).
portantes, que formam um longoJ!l!.S~ <re cerca de
um quilOmetro e meio. Este projeto prevê a construção, numa série de
ilhas artificiais, de uma cidade linear de 350.000 habi-
tantes, percorrida por um ramal do metropolitano e
Mas o desenvolvimento da cidade t'oi mais rápi- por uma,auto-estrada veloz. A cidade ll_nê.ID:é formada
do que o previsto pelo plano de 1935. Amsterdã, em por 35 unidades de habitação, de 10.000 pessoas cada
1958, chegou aos 870.000 habitantes e resolveu-se não uma; distantes meio quilômetro uma da outra, e di&
consentir num ulterior desenvolvimento dentro dos postas perpendicularmente às vias de velocidade. Cada
limites municipais: o aumento futuro ocorrerá nos mu- unidade é dividida em t~ zonas: a central, onde pas-
nicípios circunvizinhos, não mais a oeste- para dei- sam a estracla.-de_ f~o e a a~ada, e onde se
xar uma zona verde entre Amsterdã e Haarlem -mas encontram os edillcios mais denw para b..abitaC!}ese
ao sul e ao norte; por isso, foi traçado um novo plano escritórios; as duas laterais, com edific~média
regulador, que abrange um território mais amplo ao altiirãQ'ue circunaamliili"a grande lâmina de vários
redor da cidade. Em 1968, resolveu-se construir uma nlveis (embaixo se encontram os estacionamentos, em
rede ferroviária metropolitana, subterrãneana cidade cima as escolas, as igrejas, as salas de reunião e os
hi_stórica e elevada nos airros~riféricos. outros serviços). Mas as três zonas ~o v.oltadru~ para
o esp_-ª.Ç_o de recrea_ç_ão que separa uma unidade da
Mas o crescimento da cidade evidenciou os defet- outra: um braço de mar com os jardins, as quadras de
tos de planejamento nos bairros já realizados. Apesar esportes etc., que mede pelo menos 300 metros de uma
de serem planejados com cuidado, ricos de zonas ver- frente construída à outra.
des e de serviços, formam uma zona construida com- Uma unidade de 10.000 habitantes deveria ser
Racta, que ~t.o-com-0. camoo e sobretudo projetada e realizada como uma grande composição
com a água ~também o porto é separado da cidade por unitária: portanto, o equilibrio entre os planos da auto-
causa da linha ferroviária). Assim, não obstante as ridade pública e as iniciativas dos particulares- expe-
intenções dos projetistas, nascem nos novos bairros rimentado nos trinta anos precedentes -deveria ser
muitas diferenças de posição: existem casas que na modificado e transportado em escala maior. As autori-
primeira fila dão paiiõSj)arques, e outras que perma- dades de Amsterdã - que na década de trinta foram
necem na segunda fila; a rede de ruas resulta inutil- . as primeiras a aceitar os res ultados iniciais da pesqui-
mente complicada, e corta em demasiados pontos os sa moderna: a anâlise das funções urbanas e a defini·
percursos dos pedestres entre as casas, os serviços e as ção dos mlnimos elementos fun.cionais - hoje não
zonas verdes; a distribuição das casas, por simples que estão preparadas para aceitar os resultados mais re-
seja, não é justificada por uma necessidade exata e se centes, isto é, os novos modelos de agrupamento dos
torna por vezes um d~nho abstrato, que cria por sua elementos funcionais. Pó?issoesse estudo teve de ser
vez outras diferenças inúteis. - apresentado como uma proposta privada: indica uma
Para demonstrara possibilidade de uma nova possibilidade tecnicamente realistica, mas ainda não
mudança decidida, os arquitetos Bakema e van der realizável na atual situação administrativa holande-
Broek apresentaram, em 1965. um projeto para a am- sa.
/
Jvv C <-eU
666
Fl6. 1461. Planta de
A~mterd4 e de •U4 periferi4, na QU4l e•l4
iMuido o projew de Almterd4 Le•te, de autoria de &lu17U1 e de
uon der BroeA.

667
668
1. edil\do em form1 de wm
2. OUid d• 1hura mfdia
3. I!M.ao(io do monotrilho
4. ru <S. l"-nta\0 local
6 monotnlho
6. •&H~tt:rllda

Fig•. 1462·1464. Ptútico do projero de A""krd4 Le1k; cktalhu do


articulaçao entre 01 unidock1 e a a linha~ ck comunicaç4a, baleoda
na 1eparaQ4a do• nfueis.

669
Fige. 1465-1468. Confronto entn um boirro tk Ameterd4 Oute
(GeU#nw/d), com cerca tk 30.000 h4bitontee, e um grupo tk trf1
linidatke tk h4bitoç4Q tk Ameterd4 Lcete, com 10.000 h4bitontee
cada lima • No alto, 4 dietribuiç4o do. «li{kioe, embaizc 4 retk tk
ruae.

670
Os três ambientes que formam a paisagem de
Leste (v. :F'ig. 1466):
1169. O ambi~nt~ dtu N!lo~• do cidtuk (A), CIO /oiiJio do
• • ctnlrc>l. O. ~11re1 circulom 110 nlue/1, 01 uelculol kntr»
2, t 01 vclculo& vcloze• no nlvcl 3.

1410. Oambiente dot relo~• de bairro (B), no tiPC.COtncerra·


COitu do unidtuk, ocimo ~aboiJ«>doeopig/locentrol. 08
.e mouem 10b"' """' 14mina IOb,.kuada, q~ leiJ4 aoo
" N!uni.So (/), .,. /ojtu (2) • cU ti()O/o8 (3).

1411. O ambiente do lozer (C), 110 e1paçO livre tntre dutu


tuct.,ÍIJOI. A mtlln4 peraonagem, de '"" mor4tÜA, u Fig. I47!l. Visto de p/64tico, olhando da laguna para o centro do
10bre o ambiente B ou 10bre o ambiente C. cidtuü.
LONDRES E AS NOVAS CIDADES INGLESAS

No século XIX, Londres é a maiorcidade.do.ntun·


cto. No inicio do século, já conta um milhão de habitan·
tes; em 1851 - quando se abre a primeira Exposição
Universal no Palácio de Cristal -tem dois milhões de
meio de habita.ntes; em 1901 chegou a quatro milhões e
meio, e cobre quase que totalmente a é.rea do Condado
de Londres institu1do em 1888 (30.000 hectares). Mas
outros dois milhões de habitantes vivem fora dos limi·
tes do Condado, e Contribuem para fo~ar uma enorme
aglomeração, que tem seis milhões e meio de habitan·
tes em 1901, se~ e meio em 1921, quase nove milhões
em 1939 às vésperas da Segunda Guerra Mundial.
Uma tal concentração de casas, de ruas e de
serviços parece de um lado desatrosa e ingovernável, e
de outro capaz de gerar as mais extraordinárias mara·
vilhas. ~ali M~ll é a P.rimeiraJua no mundo inteiro
ilumina a a gás, em 1805; o Palácio de Cristal, onde se
desenrola a Exposição Universal de 1851, é o maior
ediflcio jamais construido: tem juetamente 1851 pés
de comprimento (550 metros), e cobre sete hectares e
meio; em 1863,'dá-se inicio à construção da rede ferro-
viária metropolitana; de 1848 a 1865 são construidas
aa duaa margens do TAmisa entre a city e Westmins·
ter; em 1894 inaugura-se a nova ponte suspensa perto
da Torre de Londres, com a parte central móvel para
deixar passar os navios. A city, que em 1861 ainda tem
110.000 habitantes, tem apenas 20.000 em 1911, e se
toma um núcleo especializado, feito quase que unica·
mente de escritórios, lojas, laboratórios e serviços cole-
tivos: é o centro econOmico e financeiro mais importan·
te do mundo. Fig. 1473. PMatko <k """' cta. Ullidadea de kabi~41>.

Figa. 1474-1476. A zona urb<uUzada. de Londrea, em I830um 1910.

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672
Jli6. 1476. O tr6/BI/O de Lo1ldru; grauura de Gu.l4ue Dort, de 1872.

673
Fi6. 1417. P14nta lk L<lndre1, em m.e<Ukl1 do 1kulo XIX.

Fig•. 1478-1481. O duenvoluimenl4 lk um utor dG peri{eri4 lk


L<lndree (a noroe1te, 114 di~(lo de Hampetead).

f!m 1RU, antoo 61 <hopda t-:.n ltl&l. dt1Wi• de rompletado


dh ....dll• • ffom): u H.t:tctnt"• Pork: cr. Wtn a
fio< 10b'2.

674
.. e.tmdu de r~rro
exittentell- na tona. em 1914.

675
(p.676)
Flgs. 1482-1483. Planta e vista aérea do centro de Londres com •
hoje. Cf. com as Flgs. l1 15·22

676
O controle desta enorme cidad~ 6 confiado a mais particulares: a Sociedade para melhorar a s habitações
trezentas repartições locais, que em 1855 são reuni- dos trabalhadores, fundada em 1854; a atividade de
num ~co o~niwo. Mas s.uas providências são construção iniciada por Octavia Hill, com a ajuda de
e parCJ8.lS: procura·se mterromper a massa Ruskin em 1865; a Associação para as cidadea·jardim,
da nova periferia com outros ~li- promovida por Howard em 1898, que realiza nos arre-
Regent's Park em 1830, Victoria Park em 1845, dores de Londres duas cidades novas: Lechtworth em
Park em 1869 - e providencia-se o melho- 1902 e Welwyn em 1919 (Figs. 1484-1486). Estas inicia-
dos bairros mais degradados, com poderes tivas têm um importante significado cultural, mas
:eon:cedl:dos pelas leis de 1868, de 1875 e de 1890. seus efeitos são por demais escassos para modificar a
Ao lado dos organismos públicos intervêm os imensa periferia que se eat.á formando.

Fig. 1485. Planta da primeira cidalk-jardim, Letchworth.funda.da


em 1902.

lf6. 1484. O esquema Uórico d4 cidade-jardim, publU:ado no liuro


• Howord, lk 1899. Ao oentro, um porque circundtldo por uma
.,qa, com 01 tdi/ICÜII p~ d4 cidade: a municipolidade, o
- "'· a blb/íouca, o m uuu. Ao rtdor, 01 bairro• de h4bit4ç/Jo com
u acolu. No lado'exUmo, "'{dbric<u, 01 U"tn.OI OlfricolM, a
~ {errovitiria e IJI litJIJ9lk• com "' rua~ principail.

'lf~llO••o<tliTtl(

Gllal>eR- \fr~y

K. a.
A DIUIU.II D"lY.

' "' 11\lmG.

-.......
- ~-
~ ____
....,_,

677
Uma intervenção pública de conjunton>ara ~gu· centração das atividades económicas e das residên·
lax.de algum modo~ CJ:e.Sj;imento da cidade, só se toma cias em torno das grandes cidades. Londres é absoluta·
Í>ossivel ôãdéCada de trinta, quando se procura en- mente o caso mais importante; de fato, uma lei votada
frentar as co_nseqilências-da crise.4e 1929 e se descobre em 1938 bloqueia a expanção da cidade, isto é, fixa o
a necessidade de corrigir a di~o~tividades perímetro alcarlcãdo pela área consfruida e vincula,
económicas- agricultura, índústria, comércio e servi· ao redor, ~ agricola em forma de coroa circu-
ços - sobre o território da Inglaterra. lar: ~nturdo vet:_~
A comissão real nomeada, em 1937, para estudar lireste rfíêi()tempo, no verão de 1940 os bombar·
a distribuição da população e das indústrias publica deios aéreos alemães destroem boa parte da cidade, e
seu relatório em 1940, e critica energicamente a con· começa a discussão sobre a maneira de reconstrui-la.
arquitetos modernos ingleses, reunidos no grupo 55.000 hectares; a densida de é considerada excessiva,
propõem em 1942 um plano que rompe 1\.f.Q!!llil e prevê-se uma diminuição de 400.000 habitantes;
de Londres em duas fileiras de quarteirões 2) a zona suburbana. onde moram outros :3 mi-
.._._ ...c:;:-;._ _ zonas verdes (Fig. i4B'7J;mas <rCOnse- lhões de habitantes numa superficie de .)8.000 hecta-
Cõndado adota, em~ J944, um plano mais tradi- res; a densidade é considerada satisfatória e a popula-
projetado por dois pm;los de fama reconhecida, ção deveria permanecer estacionária;
'"'-~-·'-'- e Forshaw (Figs. 1488-1491). 3) a uma externa, que compreende o cinturão
verde e o1errit6riõem-volta até cerca de6().8()quilôme-
ii1ls do centro da cidãae. Aqui deveria ocorrer todo o
aumento futuro, de duas formas: cx~nsões das_çida-

-
des menores existentes, e cidades novas.

Fig. 1488. &quema do pi4M rt:~~u.l4dor tk Lorubw, tk 1944. A. B e


C·~ 01 lrf1 arúil rodoui4riot con.clntnco.; 01 ZOII4I po~
...,_ ~; 2. ot"tro COIMI"c.i.•l • adminlttntivo (dty):. 3. cml,ro polUk-o ·~ o• parque1.
t.ttt'lttOC!OrnfttlaJ, com lapcolo fmvViln.a aubternn•;6.CIPftti'Oca.ltu.-.
U, t.ot\31 lnd~o~ttt"-1•: A, NtaçàN (errovu'r rlat s-r• 011 pttl)iNIIg~iNII, 8 • C.
fítnovtinu .,.,. u 'rnereadoria-.: O, rnrn:adot.

A• zona• conctntrica. <kJ p/aM rt:gulador de úmdre1, tk


Do interior para o exU.Wr: o O>nda® tk Londrt:. (em preto),
zona 1uburbana, o cin.UirlkJ wtfÜ 1
e 101111 inUrna, a Cl 010114 exttr-
.., ontk •~ preuilt<u a. Mt>M cid.ada. Fig. 1490. A dimibuiç~ do cintun1o _.,.,. 11164.

679
Fig. 1491. O pl4no ~gul4dor tk Londre1, tk 1944, expo~lo ao públi· Fig1. 1492·93. Duas uinhetot pubUcodot num Uuro tU> prinwlto
co no prim~iro op(J1-11~rro. optJ.gue"o: o ooldodo, tkpoi8 tk ter tiro® o uniforme mililat,
em~nht~...e no rta>ntlruç&> tk Londre•, utiUzondo 01 nl416r* f
01 plano. el4bor4tkll no tempo tU> guerra.

680
Depois da guerra o governo trabalhista, que as·
o poder em 1945, põe em votação duas leis de
)j Estas novas cidades sãosemelhantes, em muitos
aspectos, às cidades·iardim do inlciõâoséCulo XX: têm
geral: a de 1946 para a,;:ealiza~s um tamanho não rilülto superior ao previsto por
e_a de 7.., CiUe estabelece os ~os~a Howard (35.000), têm uma densidade um tanto baixa,
ID&Çli(JUKIS_~lW.liWS urbanlsticos. as moradias são em grande parte casas unifamiliares
a
quadro decide-se construção de 14 novas com o jardim. Não têm uma forma compacta, mas
oito na zona externa de Londres: compreendem uma série de elementos separados por
amplas zonas verdes: os bairros de habitação de cerca
iniciada em 1946 para 60.000 habitanta de 10.000 habitantes cada um, com duas escolas pri·
1947 65.000 márias e outros serviços comuns (parques infantis,
1947 62.000
1!117 60.000 lojas etc.); as áreas industriais colocadas nas proximi·
1''1>1 21).000 dades das estliãas drlérro; o ce.nti2..11!i~. onde se
194il 12.000 encontram ~s e a maior parte dos serviços
1949 66.000 comerciais. As estradas velozes e alguns serviços mais
1949 2:>.000 importantes - como as escolas superiores - estão
compreendidas nas zonas verdes. A organização por
partes separadas favorece a realização gradual e a
ampliação s ucessiva: mas produz um ambiente dema·
iniciada em 1947 para 15.000 habitante• siado dispersado, que foi criticado nos anos da década
1947 50.000 de 50.
19•18 32.000
1948 25.000
1949 45.000
1950 5&.000

UIU. Quadro de uni~ deu noua8 cidade• if18~1<U, atuoli:ado


O G/10 de 1976.

• oll'e 200 000


• 100001 2100000
• $0 001 100 GOO
• soooo o menO

0~~::···

lmillll 'LOnU rni.dendal• ...............

-
~
telredu prin<:ipet.

~ tOna• ind-u..a:nalt ........._ '"""""' • t.....

ctntroe dviCC~t
[L] t«::IIi primAria•

ITJ - . ........uno.

c=J r.onat ~e• e a~la• ITJ htNJpltl!la

Fig. 1495. Pl4nt4 do novo cldtuk de Horlow, projtlluÜJ por f'rttk.


riclr. Gibberd em 1947·48.

681
I, ~ntrodvwlo: 2,.ftl(ri\6riCM; 3. tojN, •· edlf\riM para •Ptti~NI<M~:5. ~; 6,. bombftrot: Fig. 1498. Plant4 de """' zona ruidenci41 tú
7, retidtnd....
en(ileirad<u. Em branco, 011 j ardina pa.rticuW.rta, ""' P.,mtW.odo•
<lreaa vertús púbücaa. A s uiat doa petúa!rta formam IUII4
Fig. 1496. PW.nt4 do ~ntro corMrci41 tú Harlow. contfnll4 no verde.

E:m Harlow ead• bairro de lO,()()() habilan~ 6 formado P<W trtt ou Quatro ttnkladu
mmone. cada uma com • tKOia prtm•ri• e -.m ptquer\0 ctl\tto DHce modo c:ada tona
d.a cidade-"' emconta&oimediatommo v•rde. que entre por~ .-ne formando uma
.trie de COI"'"fdotM contln-.o. N"'" ..,_('01 •
t'nCOI'Itl"8m u HC'Ola• ~MA.ndJ.riaa.
E.xúiW:m dUU pe(IIIIIOU .ODU lndWIU'I.aJ.t I'IN l)fOJimidadoM Ü HtradA de feno.

Fig. 1497. v..


ta a~nc. tú umiJ porç«o tú Hark>w, com um Mi(~i4
alto e um conjunUJ tú CG.taa bllixaa tn(ilnra.d<u.

L'J tOnu rM~dmciala ~ Qll"8d . . prlntipel.

W'.".: induAAait
F.ona.t 111trada• 6t- ffn'O
(:D ~lf.t ptimlllriu
o:J ,_... _..nc~.ril ..
CE:] ho.plu. ..

Fig. 1499. Plant4 da nooo cidade de Crawk y , projeiGdll par Tho-


maa ShGTp entre 1946 e 1960.

682
GOSSOP O~EEN

Figa. JS00-1502. Plonw de tr.. bafrro.t resfdenclol8 de Crawlq.

C:rawt.y &em Uo~U ot~•ni.uQio malt eomPM-tL C:.da bt.af'\'0 de Cltl"m de 5.000 habhantAIIl
t . . . 110M c:on~tndd• u.n11Me;; • tleda • • uulfHtl."' llltuda no ~ e fanciona
...,._CI)mootnwoc:tvico UmaaJdt.,.JJn:W-.nt.e6tra.,lltormacl.emctnuooomwâal
,.....t.no N lnd~• do ~1*1•• n\li'MI tnicle 101\L

fli. 1603. O prindpio d4 Munidade de uitinhonço", o«ito como


u d4 plomjomenro doa promrtro8 not'<ll cidodu ingk1a..

·souTHGATE

683
Fig. /604. A. ptW<Jilem<k su~11411~. umtJdtUcidade.noiJIU{UIIdt>- Fig. /6()$. A poÍ4<JileM <k Cumbernauld, fundada na dkad4 dd/1:
~ 110 dlcodo de 40; ~ Cl' mo pore boixo, um baiTTO ruidellci4/, o di.tribukk>s em coroa ao rede<
ot boirro• re•i.denciai4 •llo do.,.,,,.,
"ntro comerei41 e uma zona induotri4J. com~rciaJ (que na {owgro{U. ell4 aMIIIU ilm:Uzdo); tU %01101 illd,..
trioi4 e•l4o mai4 ao longe, na Mrifu(a do ci<JJJ<k.
Nas novas cidades seguintes procurou-se corri-
esta impostação: o tamanho dos bairros foi reduzi-
10.000 habitantes para 5.000 ou menos ainda); o
das cidades foi aWJlentado até 100.000 habi-
~""·"n''"'"'•'"' até 250.000. A:"estrutura urba-
mais c~acta e mais l~ca. mesmo re-
,.,,.~,.a~,,.,, em parte à integração das zonas construi-
no verde.
Examinemos na o1·dem as mais significativas
l!ntre as novas cidades idealizadas nos últimos vinte

('umlJ<>rnuuld projetada em l!L",f, t•aro 70.000 habitante.


lluHk Cluio foi n·uht.til,• J~(l() 100.000
kurk""' l!!HI 100.000
M1ltun Kt•yrws HJiU 250.000 Fig. 1606. A r«k ro®ui6.rla e a r«k pedatre de Cumbemauld.

Ainda não é possível julgar estas cidades como Olmb«MWd. ~""• dta &tK~e d.tpeil dN novu t'iclNH do ~ t.va em
realizações completas; são tentativas para inventar a oon\.lodeMnvoiVImtntOdot.rtAsi\Omotoriudo.e&ei'Dd~.t&~rtct..~compltta·
mente ..,.-radu. urne. para oa pedttl"" e Olltl'lll. J)A111 oa vf'leulot. A r«te du Nt.racla1
fonna do ambiente da cidade no futuro próximo, sal- dct.cle.
pare catr011 te:m &oclot oe Ct\l&&m. .\01 eqtápadloe. • tntn diN&amtn~ tob o etl\l.rO da
A ddade Mk)rn.f. malacompacta:e:JÔA.ew:D •nkloctnt..,.qae poclefltft.lcaneedo
tando os obstáculos que se encontram nas cidades p6 dei.Odot: ~ btlin'OI. M ~na.lnduttrial.l a.Ao coiOtada.a no periferia.
111

tradicionais.
Hugh Wilson, o projetista de Cumbernauld, de-
clarou: "As novas cidades devem ser consideradas
.Ja tórios de urbatúetica, nas quais as idéias para a Figs. 16Q7-/S08. O centro comercial de Cumbemauld, diretammu
reestrutura o as cidades existentes poderão ser ela- Uga.<W d r«k ro®uidrio principal..
boradas". Por enquanto as novas cidades são ocasiões
excepcionais - mesmo na Inglaterra -e justamente
por isso se tornaram muito diferentes das cidades exis-
tentes, mantendo em evidência as mudanças que se-
riam necessárias também nestas: veremos no futuro os t au~trada; 2. ho&d; 3 cenll'O •drni.nittretivo; 4. ..critôrioe; 6. -~- &.
efeitos desta demonstração. I"Mkltndu:: 7. p1rq11e inlt.nti~ 8. •Meot: 9. centro tt.nttério: 10. &oJu.

685
o '"'"''"!'Jiftltltr"'. l ..

<O -.o~r~
o•... ... lUIIolltrl-1"

(I) ,..,.,,L,~,.., ut)l l ""'~ ,,,,,,J,,,,.,

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,.ot•. l .. " ' ' ' ' .., . _..~

-
RPf.
GC
-
...........
Fig. 1509. Plant4 da noua cidatk th Cumbernauld, projetada por
C.

Figs. 1510.11. A reded<U ruas para carrotea rede dae f'Ual,.,.


Hugh Wiúon entre 1958 e 1960. pedestres, na nova cidade de Hook; em c inza, <U zon<U verdft.

686
Fig. 1512. Secç4o tk um bairro de habitaçcto tk Hook. A rede tk
estr<>da.s para pedestres está a nluel eúJ terreM na periferia, em
seguida se torna sobreeleuada ao se aproximar CÚJ centro.

Hook fuma 00\'8 cidade para 100.000 habitantes, pro)eut.da pelo London CounLy Coun·
cil em 1900 por con~ do Hampjhire County Council, mas nlllo re&.li.~da. Como tm
G"umbern~u ld, a rede dftt ettrodttS parft QII"W é ~111oda da rtde de ntradaa para
ptdHtru, e i\ cid6de tem uma forma oor\Otnt.re.da tt.o ~r do centro comen:ial AJ
indO.atriat e as ~<>nu verdtt Mo di.-ribu.ldN e.o redOT~ cidt~de..

687
EJ
••

Fig. 1615. Pkzi'IUJ da nova cidade tk Runcorn, projet4dapor ArtJuw


Ling, entre 1964 e 1966.

A nova ddade de Runcom derivA da ampU,clo de um conjunto habitadonaltxÍIW'Mf.


de 30.000 pua 100.000 he.bit.e.nu.. Aqui •Ao previst.as trh rodes rodovilui..u d.lttu'l.'-
p~t• ot l)tdtttret, P3""ot 11 Ut.om6~t • para o. tranaporin p(iWic:o.. O ctntrooomf'm&l
t OtiUiU~do dentro d.. uma 4nlc• tttNtr.n·a oompeeta. N zonu ind"'sc.ri•i.t t&od*"W.
clN .ao redor ela ddade. e .rrv;ctM por \lm c.n.. navt;cbel (Seri'o'•do do rio Merw,.

JiTg1. 1616-18. Um do. tipor th - 1m fikiro do bairro Hall.


Broolr em Runcom.

.....,_

Fil. 1619. Ploi'IUJ dtJ boiTro Halton Broolt em Rwtcom.

688
16J0.21. Eltudo prdinúnor poro 4 nova cid<uk de Milton
Plonimetrill geral e plc.nto UQIU!m4tica de uma túu 47
raidencio;. de 5.000 hobitonteo.

- . Jt.,.... • wn.a nov• rid.fdt de ~000 habltant.ee. a nOJ'OC!Me de Londrft.. t ...


.._.... ~ novo. problem. . de projt(lo e de uec:v(to. O ttql.ltma preliminar
. . . . . . . por Prtd l>ootey em 1967) pre"'a uma rede de trantpoNt pCblicoa 110b.,.
...W.O. independentt'll da rede p~~re carro. e d• rede para J*[ettttrt. Ao contrArio. o
---~tuli w(de li'70)ellA bueftdoeobte um ttbuleitockl NU dtdu.upi.•c.a•.oom
- d e ftlW!Ia cada q11.í 16metro malt 0\1 menoe... Cada cp~dtldinho- de otrea
• . , .....,_ - con~ uma ..árM a.zlliwlt.al•. onde aa I"HHdlnnu • oe llti"V''N
.,.._ ... d.c:nbuid.oe oom muita~ tibn-dack.

111. 1622. A políç4o de Milton Keyneo com re1~to .U principaú


..,Ndu t utrado1 de ferro i11ll~'"'·

689
' >10000

o
o
.""
Ff6•. 1623-U. A ~ dtu ~llradiu prW:i,.S. M pl4M lk{initiiJO lk
Milton KeyMI. A zona o 1er urbol'lizad4 n01 du primeiro. IUIOB
(em pomilhodo) e o ,;.ümo lk{initivo dtu ZOMI verlk• (em cilt%4). - aanu vmle. (4tlinitiva..)

Ff6. 1626. &baço, o IIClo <U pduoro, cU uma porü do cid4de lk


Milton KeyMI, anuodo ao p/4M ck 1970.

-......._ --- ...- ' ~-J -


"'=·:...~'~:
' .
.... ~ .....~ .

690
FiiJ•. 1526-28. Trh per•pectirxu do Gmbienk urbCJno • llibaA
Keyn.ea, noa btJjnoa ruitkrn:üúa Cl(jjocenkt ao ccnltO.

69 1
t. ..ladt•tar
2. NJa de jantar
3.~ nha
4. privada
6.Mnh.UO
6.donnil6rio
7. dep4o!to
&IUIC•m

c:ua iaol.da com quatro dormitório.

~·· IU0-44. Milton Keyne1; ca.•a.• oo cofliunto lk Tinlten BritltJe 3.

692
1. .... de•tar
t.Nladej&nl&r
l.<®l'lha
4. privada
6. bt.nhoit<>
S. <lonnililrio

..e.•,........
7. 4oopoaoe

IOcllo

Fia•· 1545-49. Milton Keyrw1; ccucu do C<?rVWlto de Eagk1tone.

693
(~ aqwrd•J cau i.tol•cla uwn qutro dormh6rioe

''"' fVI'tQ) mM em ftlftre com trte clormitóriol:

Fig1. 166Q..64. Milum KeyMI; ca101 do cofliunw ck Stanwnbury 3.

694
~----.,,lo-

......
IU'~doill6IIIIU\•p.lhll..-4. .~·
mi[........,....,•

Oc'"""'"•"'''Mhflllli'WI
111!11•··-·
Ph~ . . .,.,.._

-o.....-·""""'
"'_,_,.,.
""""

1666. A andlile da• comunidadu na :ona central dt Londru,


ao púmo regul4dor dt 1944.

ComunidadH e.nttail ao ftdor dt Wtott l.~nd


Comurudladta com multat propried~N oblo-.w.

(',.munH1~otl+,. IM•nft·nt...,•

lftd6t~rlat pnnd~l1, dkau.., depkitol t ..Uttd.u cM ftno Figs. 1557-58. DUM pro]JOBiaS alternatiiXU - uma m6Jtima (a) t
umamfnima (b)- para a ruatruturaç4odtumapartedo WutEnd
de Londres, contidas no relatiJrio Traffic in Town1, do grupo Bucha·
nan (1963).

~-----:~.
,lo.
__ ....,.....fi"VW'...
== .....ftlt._._
,....,. •..__...,_...
. ..
.,...,..
......... ..._
.. __ ,_,_.,......,...,..
~

..
......-
----·...-.......o.J
~.,..,. """"'"'~'

695
Fig. 1559. P1o.nimetria geral do novo bairro de Roehamton, para
13.000 h4bítante•, nalizado pelo London County Council em (in.s
da dlc4® de 50.

Fig. 1660. Uma u~ta do bairro de Roehampt.on em Londn1.

Ff6. 1661. Outra u~ta da bairro de Roeh4mpt.on.

696
Jlfp. I66U1. AIBwu tip<» de coM truç4o do bairro de R«Jtamp-
loll.

5 5

6 8

697
Fia· 1668. A jon~la tk um dooapartam~nlOIIIOI tdi{lcm em torre Fig. 1569. h crianç;u em uma dM tocola• tk Roehamptora.
de !l«hampton.

Fia•. 1670.71. ÂHa.a• pare ooiJIICillOie uma ~•col4primdria do


bairro d• R«hampton.

698
"'·

~ - -·-- ----·...-- .....

$OUOlA I
HCONOARIA :

Fftl. 1772. Plllnta da priTMiro (lllle do bairro th Thamet~mead, COIUI·


truldo pelo Greater London Council na Coz do T4miea. •a.

699
f LÍ Fig. 1574. Pl4nim~triado bairro <h Goltkn l.4M para /.400 .W.
l /antes, naUzculo JH/4 London CoiUity Council, em /954.

I J corpo de 16 and&rM pua monad.ía1


llterviQOe d•l\IIC1"aaçço
lU corpo de 4 andaret Pf.rt. mor-.dlae
IV, V, Vl• vn eorpoe. <M 6 andaNI par. moradiu
/I VJU eorpo de 4 andar• p&ra moradlu

;_
IX ccrpo de 6 andal"C!t parti moracUu
X corpo com lojN e 4 and•ne de mo,..d.lu
1J edl.ftc:io c:omQnitirio
Xlllaborotllrioo

Fig. 1676. Pl4•tico do bairro lk Golden ÚJM, em lAndree.

Enquanto se desenvolve a experiência das novas Muitas cidades inglesas começaram a aplicar
cidades, as administrações inglesas intervêm nas ci- este assentamento, e têm em curso planos de transfor-
dades existentes e tentam adaptá-las às novas exigên· mação das zonas centrais, onde o trâfego automobilis-
cias, aceitando tOdavia limitações muito mais rlgidas. tico e o dos pedestres são coordenados de maneira
O Conselho do Condado de Londres constrói alguns unitária.
bairros exemplares na zona suburbana (Figs. 1559-
1571), no centro da cidade (Figs. 1574-1578) e agora
está realizando um grande bairro na foz do Rio Tâmi- Na Inglaterra, os resultados da pesquisa arquiW:.
sia de tamanho equivalente a uma nova cidade (Figs. tónica mod.e ma foram aceitos exatamente pelas admi·
1572-1573). nistrações públicas, e aplicados mais amplamente do
O Ministério dos Transportes confiou a um gru- que em qualquer outra parte do mundo; não só produzi·
po de urbanistas, dirigido por Colin Buchanan, um ram uma melh.oria.do ambiente tradicional, mas esta-
relatório sobre o Trdnsito nas Cidades, que foi publica- beleceram uma verdadeira confrontaÇão entre o am·
do em 1963 e que encara pela primêira vez de maneira biente como ele é e como poderia ser, que agora faz
moderna este !trave problema: demonstra, defato~ue sentir seus efeitos também no debate politico geral (os
Q..il:MegQ.nàfr pode.GI'escer.cpntinuamente sem destruir trabalhistas propõem a nacionalização gradual das
o ambiente urbano~ então a finalidaoe aos planos ur- áreas construiveis). Os interesses fundados sobre a
banlsticos não pode ser o máximo aumento posslvel cidade pós-liberal foram diretamente ameaçados, e
do tráfego, mas a conservação e a melhoria das qu~li­ as pessoas sal;>em como a cidade poderia ser mudada:
dadcs_de vida nas_várias zonas.Lia..Gidade, adap!!!ndo pode pois surgir uma verdadeira discussão popular
o trânsito aos investimentos di![>onlveis (Figs. 1557- sobre a cidade, mesmo que seu êxito não possa ser
1558). previsto.

700
Figs. 1576-78. Pl4n14 e dU4s ui8148 do pi<Útico do bairro de Bcrbi·
ccn em Lcndres, na city, recliudo em 1974 pelo Grecur Lcndon
Councü. O conjunto compreende 2.100 morcdics, paro 6.500 lw.bi-
14nUs, e um grande número de ctiuid4des comercieis e recrectiucs.

1.-3. cen.tro dt a.nt


4. edlftd<><l poro -t6rloo
&. eepelho de ..-ua
6. u oola ftmlnln•
7.1a..J•
8. TU1nU dt um m~~oto romano
s._..-...
10.-aemclopodfo._,,g.,..,..
11. poMa&tm elo poc~ott,.. • 21,6,.....
11.sonu wnlM

70 1
Skelmersdale
NewTown 00-~--
ten years and halfway there
· ~ .. ~~~

As the figures reproduced


elsewhere in this re · ponsible
Journal show, Skelmersdale New
Town has forged ahead since

~~~i~~§~~~~~~~~:n
3
We have now
planning reached
started in 196the
. halfway
mark and ou r Graphic Designer's
light-hearted view ofthe Town
is our quiet celebration
ofthe event.

Fis. 1579. C..rt(l..l: pub~itdrio da noua c/IJiuk i~t~~l~•a de Sltelmen-


dak. a~ du ano• de'""' {~;da n!ur:.ta Town and Country
Planning, janeiro de 1974.

1>adu('fo: Como dtm.Onlb'am 01 dldol n!aiclot n~ lucku,_)o, Sktii:Dtf'tdele Se-w


Town ln~ d.S. o lnk~ de .ua pl.anl6caç&o, em 11163. fÃCatDOe tCO.._ ne
IIM!tadt do eemlnho, • a arcr-d.avtl viMa da o4adrt. preparade por noeeo ck!Mnhi.Ma, •
nota haaúW:• celebnolo do 1100n l.«imen&o.

702
10·30
- 2- 10
lfl. 1680. h..,,.... urbanizada• d4 Te,.,..,, no fim d4 Ht:u/Q XXI,
-...ndo cu pnuÍ$&• de CoM14ntino Doxiodi8.

O TERCEIRO MUNDO E OS Nos outros países do mundo, as cidades se desen-


ESTABELECIMENTOS MARGINAIS volvem com a mesma velocidade, e mesmo mais de-
pressa; a população urbana, que em 1950 era um quin-
to da população mundial, é hoje praticamente a
metade, e irá tornar-se logo mais a maioria. Alguns
Nos chamados palscs desenvolvidos -a Europa estudiosos procuraram prever a forma da única cidade
e os Estados Unidos- está em curso a confrontação mundial do futuro (Fig. 1580). Mas este desenvolvimen-
entre a administração tradicional da cidade e as pro- to leva em quase toda a parte a resultados muito dife-
postas da pesquisa modema. O resultado desta con- rentes: os edificios projetados pelos arquitetos e em
frontação pode ser uma confirmação da cidade tradi- conformidade com os regulamentos, as cidades disci-
cional, uma melhoria mais ou menos acentuada ou a plinadas pelos planos urbanísticos e providas com os
relização das alternativas idealizadas pela arquitetu- serviços públicos, as ruas, os parques etc., dizem res-
ra moderna. Em alguns países, o equilíbrio do territó- peito somente a uma parte da população; outra parte
rio é salvaguardado pelos planos da autoridade públi- não está cm condição de se servir deles, e se organiza
ca, o desenvolvimento das cidades é controlado de por sua própria conta em outros estabelecimentos irre-
maneira razoável e algumas exigências estabelecidas gulares, muitas vezes em contato direto com os regula-
pela pesquisa teórica- uma casa por preço razoável, res mas nitidamente distintos: o terreno é ocupado
uma circulação de pedestres protegida do tráfego mo- sem um titulo jurídico, as casas são construídas com
torizado, um conjunto de serviços facilmente acessí- recursos próprios, os serviços faltam ou são introduzi-
veis - são garantidas praticamente à maioria dos dos a seguir, com critérios totalmente diversos daque-
cidadãos. las que valem para o resto da cidade.

703
Fig. 1581. Teer4. As ZOIUUI urbanizadtu (em tnu:ejado contin.a),a.
zonas parcialmente urbanizadas (em tracejado interrompido), e a.
zonas n4o urbanizadas mas j41oteadas pelo especulaç4o (em ponti·
lhado). Dados de 1960·61.

Fig. 1582. Diagrama dos preços das áreas construJvei8 em Teer4.


Os preços uariam, nas zonas conc~mricas, de 5.000 a 40.000 liras
por metro quadrado, mas ao longo das ruas principais CMgam a
,100.000 liras par metro quadrado. Dados de 196().61.

704
lip. ISBJ.85. Chandigarh. Planinutri4 geral, com a ellu.ifi~64
tia ,....,., u viu lk grande comuni~ (VI e ln), 116 ruu lk
bairro (V3), u rua• comerciaú (V4), 116 ruu que k1X1m <b entra.dl16
[ t3"
dM tdi{lciM (V6 e V6), u uieku no uerlk que IÍIJam 08 seru~ v:L
ncolares e recreatiuos (V7). Vitta e púmtado Capit6lic (na extremi-
dDih norte da cidade) onlk s64 reunidOB 08 ediflcio1 de governo: ·.
~ .[ ~ ~I
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1. • ,.lAdo do ~r..rnento
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e por. . cnr.pocA.cola~ •UI'OpMla•lt.di&ftOII,. pcwM~do Pandit Nehna.•
...,.w • 1961 O vtlho .....,.. cn.oo- o plM.o ~. ~ • .....w.. • crand•
~ ciM editldoe l oYtm.aliYOI (o CaSI!Ic61io) qve PHfM.MW eomo a obra maia
;©0o: :
~~~t~portanie d. 6Uf. elln'ftta. Pt.ta o empenho • • oepdonal dot coml'-tnWt e dOii PfOieU•
""'•'-' no..... ddad4 • 1 ma'-t ai.lnlftcativt~ ~t~tn aq~»:lu •" acort~ c:onttr\lkt" no
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705
fiss. 1586-87. Ducu vuttU da 3ala das fXJIIOI perdida#, no pol4do
da Parl4menw: um doo espaço8 maio extraordindrún reolillllkM
por Le Corbuskr.

706
1f6. 1588. P/4nto do cidode de Chondigorh, do TTUU!eiro como foi
NOIUodo.
A IUUM711çdo indico o. •~tore• do t:idoü (de I a 38).

Estes estabelecimentos irregulares foram cha· Assim, na parte regular dà cidade, se aplicam
mados de " marginais", porque eram considerados com maiot· ou menor sucesso os métodos da arquitctu·
uma franja secundária da cidade pós-liberal: toda ci· ra e da urbanlstica modernas, mas estes métodos criam
clade do m·undo tem um pequeno grupo de habitantes de partida um privilébrio: tornam-se técnicas ·de luxo
pobres, que vivem nos barracos da extrema perife· para melhorar as condições de vida da minoria que já
ria ou dormem debaixo das pontes. Mas, no mundo eslá melhor, e que se diferencia cada vez mais do resto
atual, esta definição não mais é válida, porque os esta· da população.
belecimentos irregulares crescem com muito maior ve· Vejamos os dados principais.
locidade que os estabelecimentos regulares, e abrigam Segundo um relatório das Nações Unidas, em
agora, em muitos palses, a maioria da população. 1962 metade da papulação da Asia, da África e da

llf. 1689. O utuior de um grupo de hobito«Ja morgin4U (Coro· Fig. 1590. O in~rior de uma hobitoç.So morfJÍIUU (Limo).
-~

707
Amhica Latina não tipha uma casa, ou tinha uma população vivem nas cidades com mais de 10.000habi-
casa insalubre, superpovoada e indigna. tantes, e destes 50% moram nos chamados bairros
Uma parte cada vez maior desta população se marginais; os programas mais ambiciosos de inter-
transferiu dos campos para as cidades; calcula-se que, venção p(lblica se propõem manter inalterada esta pro-
enquanto a população da Ásia, da África e da América porção, que tende a crescer. Cada nação chama de
Latina cresceu 40% nos últimos quinze anos, a popula- modo diferente estes bairros irregulares: ranchos na
ção urbana dobrou (de 750 para 1.500 milhões). Mas Venezuela, barriadas no Peru, fauelas no Brasil, bi-
apenas uma pequena parte foi aceita nas cidades regu- donuilles nos paises de lingua francesa, ishish no
lares: a grande maioria foi engrossar os estabeleci- Oriente Médio. Onde o clima o permite, nem as cuaa
mentos irregulares, que crescem de fato com uma velo- · nem os bairros são necessários: 600.000 pessoas dor-
cidade maior. Por exemplo, na Venezuela, 60% da mem nas ruas de Calcutá (Figs. 1591-93).

Fig. 1691. Vi11<1 tk uma rua de Calcutá.

Fig. 1692. nantatk CÃJ/cutiJ, comaindicaç4odote•l41>el«i~Mntc.


lflllrgirum (b-·~

Fig. 1593. AI pt0/10411 q.u dormem n41 """ tk (ÃJ/eut4.

708
... 2:::U
LISBONA ti

Figt. 1694·95. O• bairros abusi1101 (em preto) que surgiram nos


li/timo. I>IWB em Barcelona e em Lisboa.

709
A.p-
8. cozinha
C. e O. quan.oe
l .c.m~~ doe paia
2. cama do. rape.u~
3.cama t.m c:NUto
4.m-

.._
6. eetu(a
6. p..~lolta
7. ~dti.ra
8. armlrio
~
~
.
IO.c:or\lna
11. aparador
12.1avadeira
13. pilha do dmeniO ..b aa 1<>nlfiru da 4ua
l4. dtpóoho do eombuallwl

Figa. 1696·97. Um bairro de lulbitaç6e1 abu.iua• em Nan~rre, nos


tarredore• de Paria: tomada• de 1966. Em retfcula eBcuro. 01 eBpaços
púh/ico8, Pm rPIIcula intermedidrio os e1paço1 1emipl'lblico8, em
rettcula clara os e1paços privados.

710
F\p. 1598-99. Plant.a e fotoll!'afia aérea de uma pa.rW da periferia
tk &ma (Centocelh); tm primeiro pl4nc, um /xlirro "regul4r"; em
~plane, alim da rua, um /xlirro tk caau abuaivu em alve-
naria t um peq.anc núcleo de borrtUlOI.

... .............
' .\ ····--
I

·.,
-.

7 11
Fff/8. 160().1601. A& C4606 individuoi1 abiUiiJIU, COM~ru/du pdM
pequeno. empresdrio1 IObreoterreM /.ouadodeumgra.ruúproprie-
ttl.rio, no1 arredores de Roma. Todo o dinheiro di1ponluel foi aplica·
do na con•truç4o dos calas, um andar por vez, e as t1paço1 pllblicoa
continuam um deserro de nin(/uim, 1em arrarV<>• e ••m uruiço.. A
Coi7UU14 deverti. depoil iM1414r a tnergi4 eUtrica, a6gua e a para·
da de 6nibiU.

Fifi. 1602. Um bairro romCIIIO de barracas (&tteria Nomentana)


coMtruldo ao /orlflo de um talude da e1troda de ferro.

Fig. 1603. Outro bairro romano de barracas (Compo Parwli) COM·'


tru/dQ 10bre um terreno pllblico abandanoda.

712
lf6. IIJU. Umo ruo cú umo cid<uk do Am<!rico lAtino.
Ffll. 1605. 1'14taitMirio 1/tnU do cid<uk d~ lim4, copittú .W hru.
S4o indil:odoe 01 bcainw u.omiruulol 1144 p4gi1144 HtJUÍnta: I ,
Apllino; 2, Mtruüx:ito.

- - dt bruxa ~nda
- dtn'ndo~oo
dt- rtnda aha

713
__.....__
Fitl. I 606. A r«Ü dtu uitu IÜ C<>rroa ~ IÜ p«ÜII~I.
.
Fi6. 1607. AI COIOI d4 pgrte coJi~a (~m traçado maU f/10110). @
Fitl. 1608. AI COIOI d4 pgrte p/4n4 ( - troçado moia f/10110).

714
,.. 1«19. O ruo do eolo, no bairro de El Agoutino, em Lima.

n"Jiidencu:ua
c."C)merciu•b
mduslno•~
-
(lrens

om ponulhado n• lueas de serviço:


H - para o l'f!Creaçt\o
S - poro o escola
H - poro o hospitnl

,. '!' ,. 1' T"'

,.. 1610. FoU>gro{ia alrco do bairro.

715
Fig. 1613. Fowgrofio cúN da mum4 ~no; o grupo ck rMninof
embaixo, cl dirdiG, utd oboeri!Clndo o aui4o ck on<k foi tirada o
{owgra/ia.

Flgs. 161 J.IZ. Planta e secçllo de um grupo de casos do porte co-


linoso de EI Agu&lino.

PI~ \'TA t i rAdi

DR jantar

DR dormitório
Fi6•. 1614·16. P14nto, pro.P«ftt e oecc&> ck trh moradi<u,. parte
co/ino~o ck El Aj'uotino. Um4 moradia ck trh QU4rtol e dUOI
mo~ ck um q&MJrw, com um p<itio em """"""-

716
1flle. 1617-19. PÚJnta e •ecçcto de um grupo de ca•a. da porte pltu14
de E1 Álfuti.ÜID; uüta de uma rua (ao {uTUÚI, a porte coünon do
JD
_ cnrrr=n1 1 a • r
b&irro).
SEZIONE

J riCl r[)ü PROS.PETTO


1flle. 1620-22. PÚJntc., p101pecto e •ecçcto de quat10 moradia. na
porte plana de El Asuttino. Uma moradia de doi• quar141 e pdti.a,
IIIIG morodi4 de rloi1 q114rto1 e dua• moradia~ de um quark).
]
-
rT
-
- ~~
~ ~-
• --

u:

· I

l.Rtt&ar 6Rdurmltbrio

SEZIONE A·B

)
íl S l r&d&

PIA\IA
I •
• ~
• I .. I .I

Fi111. 1623-31. O lxJirro "marginal" tk Mtnd«ita em Lim4, co,..


truldo no ccmpo t tkpc>U incorportUÜ> na pvi{trill "ffgul4r" d4
cidluk. Pl4nt<u do. tdi/ldo1, d4t tktti~ dt UIO ® tolo e ®
rtde tk """(para carros e porapedetlret), em 1942, em 1962 e em
1961.

718
- ..... , . , . Cln'OI

••• •••• ••••• nt.M , . , . ,......._

Fls•. 1632-33. Planta e ucç4o ck umsrupo dcco.cu de M.ndocita.

r' I' 'l'"' STRAOA

rnrr &n lr un 1 r
SEZIONE
oI

719
FiiJI. 1634·37. v,.u. a~rea dt Mend«ito em 1952; planta, prospecto
e secç4o de drMU moradia•cú trll QU4rto•.

........~··.....-e:~.rAI

PROSPEnO

.....
LRMYt

s trada
PlANTA
K ......o SEZIONE A·B
lf6. 1638. Vi1t<1 <>Ire<> th _,.ndocil4 em 1961; o ücúlo do dd4de Fig. 1639. Vista panortlmlca de CaraCG8 em 1974. Uma cidade de
"rt1u11Jr"e o d<> cúloth ''m4rgina1"IUnconlr4mdirei4TMnUMtn dois milhOes de h<>bltante1, d08 quais cerca de metade mora ""'
li. bairros "marginais ...

721
Figs. 1640-41. Planto geral e ui.to ck C4rocas; em preto,s&J indi<la.-
dos 0$ bairro1 "marginai.", com 0$ dadc. oobrt 0$ luJbitan!e1,
leuantcuros em 1971; o total geral i <k 866.919, em cerca ck 2 mi·
lh&l.

Fig,. /642.43. Do;. aspecto• das rua• paraptdellrtlem <kcüue, do


bairro <k San All!Uiin de C4rocas; cada rUD i formado par uma
eoccuro ck cimento e par doi. canai6 onde corre o tii/OIO de1coberto.
Fi(J. 1644. Um e1paco pare os jogo1 da. crianç<Ul no bairro de San
A6r41in <k C'<lra;:a..

' "· 1645. Vi.tta de uma gourbivUie abutlva na peri,feriiJ ct. ro-
1111, Junto ds mar1ens do la,o Interno. TamWm a mesquita çom
NU mlnarete/ol construido e.tpontaneamente pelo.habltante•.

723
Fig. 1~6. Algumas casas da aglomeraçilo p recedente, que re· Fig. 1~7. Uma rua da aglomeraçllo desprovida de esgotot e cM
produzem o modelo da casa de corte indlgena em u m plano. fossas. A apropriaçllo espontllnea do terreno é lnsLiflclente, se N
observa a apro.ximaçllo de cada casa, sem uma lrifra-estrutura
de serviços púbflC06 adequada.

Fig. 1648. Um bairro de M.bitaç(Jes abusiuas em {ormaçflo, na


periferia de Uma.
O desenvolvimento económico não dá remédio a Mas, entrementes, a cidade regularizada - pós-
estas situações, antes acelera a separação entre con- liberal ou moderna - não mais está disponível para
juntos habitacionais regulares e irregulares: os bair· todos, e a maioria da população mundial se aglomera
ros de barracos são mais numerosos nos palses produ- ao contrário na cidade irregular, que reproduz- em
tores ele petróleo, e existem também no Kuwait, que escala muito maior- os estabelecimentos "liberais"
tem a renda individual mais alta do mundo inteiro. do primeiro período industrial.
Assim, num futuro próximo, a maioria da população Então, a arquitetura moderna se encontra numa
mundial estará alojada nos conjuntos habitacionais encruzilhada: pode aceitar melhorar o ambiente para
irregulares. lloje no mundo inteiro, de fato, a popula- a minoria dominante- isto é, tornar-se o instrumento
ção total dobra a cada trinta anos, a população urba- de uma nova discriminação em escala mundial -ou
na dobra a cada quinze anos, a população urbana analisar exatamente a divisão das duas cidades, por-
''marginal" dobra a cada sete anos e meio. tanto achar-se projetada no centro de um conflito poli·
Os palses "desenvolvidos" - Europa e Estados tico mais geral, que diz respeito a cada nação indivi-
Unidos - estão somente em parte ao abrigo destas dual e às relações internacionais.
mudanças. De fato, nos últimos anos, as construções A divisão das duas cidades é produzida por uma
abusivas se multiplicam também em alguns países politica de construção que declara abusivos a-s mora·
europeus: em Roma, cerca de 800.000 pessoas vivem dias e os bairros construidos espontaneamente pelos
em casas construldas sem licença para construção, habitantes, e realiza, ao contrário, grandes conjuntos
que são menos pitorescas que as asiáticas e sul- de moradias industrializadas, de tipo "moderno" con·
americanas mas formam igualmente uma cidade se- vcncional. Deste modo renuncia-se a utilizar o traba-
parada do resto, e sào demasiado numerosas para lho espontâneo dos interessados, e oferecem-se,
serem consideradas um fato provisório. ao contrário, moradias por demais caras para a maio-
A formação de uma cidade irregular ao lado da ria da população, em quantidade absolutamente insu·
regular -que no mundo inteiro é o problema dominan· fi ciente à necessidade, mas ::tssimiláveis às dos ricos e
te- obriga a considerar de outra maneira o desenvol- integráveis na cidade feita para elas: estas moradias
vimento da arquitetura moderna nos últimos cinqUen- serão ocupadas pelos empregados, pelos operários sin·
ta anos e suas perspectivas futuras. dicaJizados e por aqueles que dispõem de uma reco-
A arquitetura moderna nasceu como um progra- mendação. Ao mesmo tempo, aceita-se que as mora·
ma para superar as discriminações ·sociais da -cidade dias e os bairros espontâneos se tornem incómodos e
pós-libera~ e para dar a todos os cidadãos os benefícios insalubres além de todo limite, porque sua existência
de um ambiente cientificamente estudado. As propos· não é reconhecida oficialmente; depois se corrigem as
tas da arquitetura moderna foram aceitas em parte e falhas mais evidentes, neles introduzindo os serviços
com atraso, pelas resistências dos interesses e das públicos mais urgentes: os encanamentos da água, as
instituições fundadas sobre o engenho da cidade pôs· instalações elétricas, as escolas, os postos de policia, e
liberal. alguns trechos de ruas para carros, para passar as

725
ambulâncias e viaturas policiais. Estes equipa· precedentemente deveria ser revista mais do
mentos são a cópia reduzida dos bairros modernos, e vista dos habitantes "irregulares", que dos
servem para tomar definitiva a coexistência dos dois res". A cidade deve.r ia ser reorganizada, reAIAMIAIIillft'
estabelecimentos: protegem o resto da cidade dos peri· aos bairros espontâneos antes as posições me~
gos do contato com os bairros espontâneos, e confir· que as piores; a rede das comunicações deveria •
mam o caráter dependente destes últimos. Os elemen· modificada, dan"do prioridade mais aos perc~ pa-
tos da cidade regular - as casas modernas, as ruas ra pedestres e aos transportes públicos, lentos e difun.
para automóveis, os serviços públicos - são ao mes· didos por toda parte, que aos transportes privados
mo tempo reservados a uma minoria e impostos como velozes e concentrados nas auto-estradas.
modelo inalcançável a todos os outros. Portanto, a A arquitetura modema pode tomar-se o instru-
divisão das duas cidades se toma um instrumento de mento da primeira politica ou da segunda; aceitando a
discriminação e de domínio, indispensável à estabili· segunda politica, seria necessário rever também aqui-
dade do sistema social. lo que se está fazendo nos pol.,es "desenvolvidos", e
Os utopistas contemporâneos como Ivan Dlich controlar até que ponto os novos projetos urbanlsticoe
propõem uma política diversa, que "deveria começar e de construção correspondem às necessidades reais
por definir o que é imposslvel adquirir por própria das pessoas, ou definem uma escala de exigênciaa
conta quando se for construir uma casa, e portanto crescentes, impostas às pessoas para alimentar a ex·
deveria garantir a cada um o terreno, a ãgua, alguns pansão continua da mãquina industrial. Esta escaúJ.
elementos pré-fabricados, alguns instrumentos de uso tion da arquitetura pode permanecer acesslvel a mui-
comum, desde a broca até o guindaste, e um minimo tos ou a poucos, mas faz com que uns e outros estejam
de crédito; as pessoas poderiam construir, para si pró- mal acomodados, e ao mesmo tempo torna intranspo-
prias, moradias mais duradouras, mais oõmodas, mais niveis as diferenças entre os países mais ou menos
sadias, e aprender ao mesmo tempo o uso de materiais desenvolvidos. A pesquisa da arquitetura, como toda a
novos e de novos sistemas" (1. lllich, Os Equipamentos pesquisa cientifica atual, pode tornar-se um verdadei·
para uma Sociedat:k Conuiuial (1973), tradução italia· ro serviço para todos, ou cultivar a miragem de um
na, Milão, 1974). Algumas experiências neste sentido, ambiente cada vez "melhor", reservando a uma fração
ainda limitadas e parciais, estão sendo feitas no Peru e em cada vez menor da população mundial.
outros paises. Mas deste modo toda a polltica descrita

Fig. 1649. A olúrncti1X1 indicod4 pelo orquitduro rnc<lerM: ~o


desa:stre conlempordru)O, ou a überdode da orgonuaçiJo espacial?"';
d ..enho de ú Corbru~r. utcutodo nD segundo apóf-guerro.

726
BIBUOGRAFIA

Ahistória da cidade como organismo politico, eco- Existe, também, a série de E.A. GUTKIND, Inter-
Dilmico e social foi tratada, de Aristóteles em diante, national History of City Development, da qual já sal-
em uma infinidade de livro>. A história do cenário fl- ram oito volwnes:
lioo da cidade - que é o objeto deste volwne - foi
estudada de maneira exclusiva somente nos última. Urban Development in Central Europe. Londres,_
~ta ana., quando o movimento da arquitetura 1964.
modema fez nascer o interesse e o preparo mental Urban Development in the Alpine and Scandina-
para~ pesquisa semelhante, distinta da descrição vian Countries. Londres, 1965.
topogrãfica ou do modelismo para a projeção ex- Urban Development in Spain and Portugal. Lon-
novo. dres, 1967.
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Os manuais sistemática. até agora publicada. 1969.
slo: Urban Development in France and Belgium. Lon-
dres, 1!170.
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vol. 1: Antiquité; vol. II: Moyen Age; vol. III: Re- Britain. Londres, 1!171.
naissance et Temps Modernes; vol. IV: Epoque Urban Development in Poland, Czechoslovakia
contemporaine; o vol. II foi refeito por: and H ungary. Londres, 1!172.
LAVEDAN, P. & J . HUGUENAY. L 'Urbanisme au Urban Development in Bulgaria, Romania and the
MoyenAge. Genebra, 1!174. U.R.S.S. Londres, 1!172.
EGLI, E. Geschichte des SUidtebaues, Erlenbach-
Zürich, 1959. G. Collins cuidou para a Braziller de New York de
wna série de pequenos volwnes de divulgação:
Uma grande História da Urbanística está em vias
de ser publicada pelo editor Laterza. Até agora, sal- FRASER, D. Village Planning in the Primitive
raro a; seguintes volwnes: World. 1968.
GUIDONI, E. & MARINO, A. II Seicento, 1!179. LAMPL, P. Cities and Planning in the Ancient Near
SICA, P. II Settecento, 1!176; L'Ottocento (2 vols.), East.1968.
1971; II Novecento (2 vols.), 1!178; Antologia di Ur- HARDOY, J. Urban Planning in Pre-Columbian
banistlca, 1980. America. 1968. •

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Environmenral Traditio11. 1972. Os livros acerca de cada país ou período são
CHOAY, F. Tire Modem City. Planning in te 19tlr. muito mais numerosos. Entre estes, convém lem-
Cemury. 1969. brar:
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728

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