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Entrevista Richard Follet (Professor de inglês e de teatro no ensino médio por

23 anos)
1- Como funciona o governo americano:
Mais alto temos o presidente, que é auxiliado pelo vice-presidente,
existem vários conselheiros e chefes de estado, e de departamentos dentro
nas operações dentro da casa branca. Depois temos a câmara e o senado, que
funcionam como um sistema de verificações e balanceamento, em que coisas
são propostas pela câmara, mas só são transformadas em lei após aprovação
do senado e do presidente, da mesma forma que o senado pode propor um
projeto de lei, que é debatido na câmara e deve ser aprovada por ela e pelo
presidente.
2- Existe uma maneira legal das pessoas retirarem algum político de seu cargo
no governo?
Não, a não ser através do voto durante as eleições ou de
protestos/manifestações. Entretanto, se algum senador ou membro da câmara
não está cumprindo com seu papel e não está fazendo o desejo do povo, existe
grandes chances de que ele não seja reeleito. Algo interessante sobre o estado
em que ele vive, Virginia, é que a maior parte do estado votou azul
(democratas) por um longo tempo, mas porque a maior parte da população da
área vive próxima a Washington DC, que é mais progressista. Entretanto, na
maior parte do estado, as pessoas ficam descontentes com isso. Nas eleições
de 2016 Virginia votou azul, mas as pessoas da maior parte do estado ficaram
felizes com a vitória de Trump.
3- Como o voto funciona, em nível estatal e nacional?
Você deve possuir um registro de voto para poder votar. Nos dias de
votação, as pessoas devem ir até os locais apropriados, que ficam abertos de
7AM até 10PM, ou mais, dependendo do número de pessoas (nas eleições
presidenciais, pode chegar até 2 ou 3 AM do dia seguinte. É também possível
votar por carta, mas existe debate quanto a isso.
4- Como funciona o voto para presidente, especificamente?
Existe uma quantidade de votos que podem ser atribuídas a um
candidato, de acordo com o número de delegados do colégio eleitoral. As
pessoas votam nos delegados dos estados, e estes escolhem os presidentes.
Nas eleições de 2016, nos votos gerais, Hilary Clinton superou Donald Trump
em 3 milhões de votos, mas Trump ainda venceu, porque a maior parte dos
delegados escolhidos para a votação votaram em Trump. Cada estado tem um
número de representantes no colégio eleitoral de acordo com sua população.
Por exemplo, o estado da Califórnia possui 7 milhões de votantes, enquanto
Minnesota possui somente 430 mil, mas sua presença na votação presidencial
é quase a mesma. Isso gera polêmicas, e principalmente em 2016, muitas
pessoas querem o fim desse sistema de votação. Só funcionava quando a
nação era jovem, mas agora pode já estar ultrapassada. É um sistema
fascinante e único, criado pelos “founding fathers”
3- Quem são as pessoas que governam o país agora?
O presidente, a câmara e o senado, mas a palavra final em termos de
política é do presidente, em termos de lei é da suprema corte.
4- Como funciona a campanha política nos EUA? Como a mídia interfere
nisso?
(Falando dos dois grupos políticos primeiro): Por muitos anos nós
tivemos o partido dos democratas e o dos republicanos. Atualmente, os
democratas são vistos nos EUA como o grupo mais progressivo, e os
republicanos são vistos como os mais conservadores, mas nem sempre foi o
caso. Durante a grande depressão, era o contrário, e isso se altera ao longo
dos anos. Os partidos levantam seus próprios fundos, advindos de doações
privada e corporativas, dinheiro federal não é gasto em campanhas. O governo
oscila entre democratas e republicanos. Por exemplo, no governo Obama, a
maior parte do senado e da câmara era também composta por democratas,
com ideias mais progressivas, então o lado conservador se voltou para os
republicanos, o que fez com que o governo mudasse novamente de lado em
2016. Os debates entre progressistas e conservadores atualmente se foca na
legalização do aborto, em que muitos republicanos condenam e muitos
democratas defendem, com o argumento da liberdade de escolha da mulher.
Outro assunto debatido é o casamento, o casamento homossexual, etc., e essa
era uma das coisas que Obama tentava mudar, através de políticas
específicas. Outra área debatida é os gastos do governo, em que os
democratas, atualmente, tendem a gastar mais com programas de assistência
à população, enquanto os republicanos tendem a gastar mais na área militar. E
é claro, a maior questão entre democratas e republicanos na atualidade é a
questão da imigração, em que democratas são mais abertos quanto à isso, e
os republicanos são BUILD THE WALL (palavras do próprio Follet). Follet em
seguida fala que, trabalhando na área da educação pública, ele não gosta de
falar muito sobre políticas entre os partidos, nem fala muito das suas próprias
opiniões políticas, pois ele acredita que sua função como professor é fazer com
que os jovens pensem de forma independente, sem serem influenciados pela
agenda dele. Por isso, ele não tem um partido definido, e possui alguns ideais
conservadores e outros liberais. Quando vai votar, ele vota em quem ele pensa
estar fazendo o melhor para as pessoas jovens, para o futuro, pois é daí que
nasce a mudança. Entretanto, muitas pessoas votantes estão presas no aqui e
no agora, e não olham para o futuro.
5- Quais são as políticas públicas, as políticas de bem-estar presentes nos
EUA atualmente?
Assistência médica e muitas das políticas de bem-estar são geralmente
voltadas para pessoas que se aposentaram, pessoas jovens com deficiências,
crianças que precisam de suporte por não possuírem outra forma de suporte,
mulheres grávidas, etc. Existem programas de assistência na casa e na
alimentação. Algumas pessoas não concordam com esses sistemas, dizendo
que eles favorecem muito pessoas sem comprovação de suas necessidades, e
que muito dinheiro é gasto nesses projetos. Follet diz que já viu o sistema
funcionar muito bem, mas também já viu ele ser quebrado em benefícios
específicos, e já viu ele falhar em atender necessidades, mas ele acha que
esse sistema, mesmo funcionando dessa forma, é um ponto positivo, e prefere
viver com ele do que viver sem nenhuma política de bem-estar.
6- E sobre o sistema de educação pública?
É um sistema de educação pública básica para todos, em que todos têm
as mesmas oportunidades de serem bem-sucedidos, e que o sucesso e a falha
dependem da pessoa. Folltet nunca viu o sistema de educação falhar com
aqueles que querem mesmo aprender. O No Child Left Behinde Act, durante o
governo Bush, acabou com uma disparidade que acontecia no sistema de
educação, em que as crianças e jovens eram colocadas para estudar em áreas
específicas em que elas se davam melhor, para focarem naquilo e poderem
exercer um trabalho na área futuramente. Após a criação desse ato, todas as
crianças e jovens recebiam a mesma educação, aprendendo as disciplinas que
eram classificadas como “gerais”, em que todos deveriam ser bem-sucedidos.
Entretanto, essa nova política que visa aceitar o máximo de estudantes, acaba
gerando outras consequências. O governo, que gera os fundos para manter as
escolas, pede que o maior número de pessoas seja aprovado, e os professores
que aprovam mais alunos recebem benefícios. Isso faz com que uma parcela
de alunos que não querem aprender e se recusam a estudar acabe passando
também, sem a qualificação exigida. Mesmo assim, Follet acha que é um dos
melhores sistemas de educação no mundo. Já falando das faculdades, Follet
crê que algo deve ser feito imediatamente quanto a isso, pois são poucos
alunos que conseguem bancar uma faculdade, e que nessa área do ensino, os
EUA estão bem abaixo de vários lugares do mundo, não alcançando a
igualdade de oportunidades proposta. Ele também fala do salário dos
professores, que não é tão bom quanto deveria.
7- Existem políticas específicas para beneficiar os jovens?
Existem muitas organizações que encorajam os jovens a estudarem, a
serem mais ativos politicamente, a criarem a fazerem diversas atividades, mas
nada disso é provido pelo governo, e sim por ONGs. Existe um programa que
visa ensinar os jovens a votarem, em que eles passam por todo processo, mas
seus votos não contam para a eleição.
8- Quanto poder cada estado tem individualmente, sobre o governo federal?
O maior poder estar em eleger um senador que representará o estado.
Como uma unidade, um estado tem muito poder para promover mudanças,
mas tem pouco poder para influenciar decisões presidenciais. Os estados não
têm muito poder absoluto, mas tem muito poder em termos de momentum e
opinião popular. Além disso, algumas normas são consideradas jurisdição
federal, que devem ser cumpridas em todos os estados, e outras são direitos
dos estados, que podem variar conforme o estado. Por exemplo, linchamentos
são proibidos em todos os estados, mas isso não é uma lei federal, e muitas
pessoas querem que se torne um crime federal para que a pena para esse
crime se torne igual em todos os estados. Se algum crime for considerado
como federal, a polícia de um estado pode perseguir um criminoso até outros
estados, e isso é outra vantagem de considerar um crime como federal. É uma
questão difícil, mas os estados podem se governar com certa liberdade,
seguindo certas diretrizes. Um exemplo disso é sobre o uso de maconha: não
existe uma lei federal sobre seu uso, mas existe uma diretriz federal que deve
ser seguida. Em Virginia, o porte e uso de maconha é proibido, mas a pena é
somente o pagamento de uma multa, devido às diretrizes. A legislação sobre o
aborto é outra que pode mudar conforme o estado. O casamento entre pessoas
do mesmo sexo, agora permitido em uma lei federal, antes era permitido em
alguns estados, e não em outros. Algo que não é federalmente normatizado é a
pena para discriminação. Ou seja, se alguém que faz parte da jurisdição para
oficializar um casamento se recusar a casar um casal gay, ele estará violando
a lei, mas a pena por isso varia de estado para estado. Já um crime de ódio,
como matar uma pessoa transexual, gay, etc., é um crime federal, mas é
extremamente complexo de caso em caso.
As pessoas passam todos os anos das suas vidas nesse sistema de
serviço público do governo, mas ainda não sabem com certeza qual será a o
ponto final, a decisão para cada um dos casos específicos. Porque é uma
democracia, e todos tem uma voz.
9- Considerações finais
Muitas pessoas acham que esses são tempos sombrios para os EUA,
que a democracia é deixada de lado, mas Follet não concorda com isso.
América é uma das nações mais jovens do mundo, e mesmo assim uma das
mais poderosas. Ele nunca viu um crescimento tão rápido. É como dar as
chaves de uma Ferrari para uma criança. Os EUA ainda estão se encontrando,
ainda estão formando sua identidade nacional, ainda está crescendo e
amadurecendo. Nos seus 60 anos, Follet nunca viu um presidente que ele
concordasse completamente, e acha que com os erros cometidos até então, os
EUA estão aprendendo. Um desses erros foi a maneira de se lidar com o
Covid, os EUA lidaram com o Covid da pior maneira entre os países. Para
Follet, a balança entre democratas e republicanos nos EUA é como um
pendulo, que oscila entre duas posições, mas que a cada balanço, oscila
menos e se aproxima mais do centro

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