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CAMPINAS
2019
LESLYE BOMBONATTO URSINI
Campinas
2019
Powered by T CPDF (www.t cpdf.org )
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
Aline.
Agradecimentos
The landscape is Paraty, in the state of Rio de Janeiro, with multiple notions
about space as territories that provide an observational “laboratory” for political, state and
public administration actions. The experience of working in the public service with the
theme of land regularization of indigenous lands and quilombola territories, and in the
environmental licensing of infrastructure enterprises and public policies for traditional
peoples and communities, has arisen an interest in the way the state and public
administration view and treat communities and the obligations that the state itself has
assumed for itself in relation to them; in particular the situations of overlapping that have
implications for the state itself, triggering some of its contradictions in the chain of
discourses it utters, in a polyphonic way through its distinct institutions. The materials
used are those available where the state speaks: laws, reports, midway law making
processes and decisions. The aim is to analyze and show how communities are viewed
and treated by the state with the purpose of contributing to the speculation on how things
of the state can constitute a legitimate object of analysis, limited as much as any other,
especially when they address, decide, interfere and adjust destinies for traditional
communities, the “other”, historically the privileged object of anthropology.
Introdução
1
Lei nº 9.985/2000, que criou o Sistema Nacional de Unidade de Conservação ⸻ SNUC.
2
Unidades de conservação são as categorias indicadas no Sistema Nacional de Unidade de Conservação ⸻
SNUC, criado em 2000; Áreas Protegidas, que incluem as unidades de conservação, são áreas de proteção
ambiental e incluem diversas categorias de modelos internacionais e de outras áreas no Brasil que não foram
indicadas como categorias no SNUC, mas que podem integrar os mosaicos e os corredores ecológicos, estes
com previsão no SNUC.
16
3
Previsto no Artigo nº 42 do SNUC e no Decreto nº 4.340/2002, que regulamenta o SNUC.
4
Conforme previsão de regularização fundiária de seus territórios expressa no Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias nº 68 (o ADCT 68), na Constituição Federal de 1988 vigente.
5
Aqui, me reporto às sobreposições com unidades de conservação, porém, acompanhei casos de
sobreposição de áreas de empreendimentos minerários e de áreas militares.
6
O Artigo 231 é dedicado à regularização fundiária de terras indígenas e o ADCT 68 aos territórios
quilombolas, ambos constantes na Constituição Federal de 1988.
17
pública que dão relevo ao incremento e à inovação, por parte das comunidades e povos
tradicionais, à biodiversidade brasileira. No Ministério do Meio Ambiente ⸻ MMA,
trabalhei, entre 2003 e 2005, na triagem de projetos de pesquisas que buscavam
autorização para acessar os conhecimentos tradicionais associados ao patrimônio
genético, no Departamento de Patrimônio Genético ― DPG, da Secretaria de
Biodiversidade e Florestas ― SBF/MMA7.
7
Trabalhando como Consultora em Meio Ambiente, contratada pelo Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento ⸻ PNUD, uma agência da Organização das Nações Unidas ⸻ ONU.
8
Que incluiu, também, a Fundação Nacional do Índio ⸻ FUNAI, com a regularização fundiária de terras
indígenas; o Instituto Nacional de Reforma e Agrária ⸻ Incra com a regularização fundiária de territórios
quilombolas; o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome ⸻ MDS, atualmente integrado
ao Ministério da Cidadania, com políticas de Inclusão Produtiva e de geração de renda para povos e
comunidades tradicionais; o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis ⸻ Ibama,
com o licenciamento ambiental, como a primeira antropóloga a emitir pareceres em processos de
licenciamento ambiental; entre outros órgãos governamentais com outras experiências que tinham nos
povos e nas comunidades tradicionais o seu público para a implementação de políticas públicas.
Atualmente, trabalho com estudos de impactos ambientais de empreendimentos de grande porte em terras
indígenas e em territórios quilombolas e como consultora do Banco Mundial junto ao Instituto de Terras
do Estado do Piauí.
9
Porque era uma curiosidade não satisfeita nas minhas atividades no serviço público federal e algo que eu
havia observado existindo para ser irresoluto no âmbito governamental.
18
tese: uma itinerância por diversos lugares e temas, reuniões e discussões em que podemos
ver um mesmo tema debatido. Sempre acompanhado de descrições porque entendo assim
oferecer imagens ao leitor para que ele possa me acompanhar ou de mim discordar.
observação àquela linha entre sociedade e Estado em termos dos mecanismos do Estado
de que fala Mitchell (2015): ela é uma linha pontuada de questões, são as questões os
pontos que constituem a linha e, por isso, tal linha não existiria por si mesma ou por obra
unilateral do Estado; é uma linha que se vai formando, que depende da sociedade, que é
descontínua e dependente das questões, do interesse e do engajamento da sociedade nas
questões ao longo do tempo, a linha é dependente das relações entre Estado e sociedade
e, dessarte, não é, portanto, uma linha dada.
Timothy Mitchell diz que a linha não está entre os atores e seus setores, no
que concordo com ele, a linha está nos mecanismos institucionais, é interna a esses
mesmos mecanismos, que são mecanismos legais e administrativos10, segundo Mitchell,
por meio dos quais alguma ordem social é mantida, não havendo uma exterioridade
(MITCHELL, 2015, p. 160). Tomada essa disposição de Mitchell junto aos exemplos de
mecanismos que incluí em nota, essa é a expressão mais acertada do que podemos
entender por governança nesta tese.
Destaco quatro documentos principais nesta tese, que foram analisados, sendo
que os demais foram aqueles em que busquei a recorrência de alguma questão relacionada
aos territórios e às sobreposições ou um contraponto para ela. São os quatro documentos:
(1) a Ação Civil Pública de 4 de dezembro de 2018 (MPF ― Ministério Público Federal,
04/12/2018), a respeito das comunidades de Laranjeiras, Praia do Sono, Ponta Negra e
Patrimônio, é o documento abordado no capítulo 3; (2) o Projeto de Lei n° 2.892/1992
(CÂMARA DOS DEPUTADOS, 1992), do qual resultou a Lei do SNUC, nele analiso
como a elaboração da lei abordou as comunidades tradicionais e povos indígenas e
quilombolas, o Projeto de Lei é analisado no capítulo 4, bem como o Plano de Manejo da
APA de Cairuçu; (3) o Plano de Manejo da Área de Proteção Ambiental ⸻ APA de
Cairuçu de 2018, que traz disposições para a territorialidade das comunidades caiçaras,
10
No caso, tais “mecanismos” são as reuniões ordinárias da câmara de comunidades tradicionais do
Conselho Consultivo do Mosaico da Bocaina ⸻ CCMB; as consultas do Ministério Público Federal ⸻
MPF na questão do acesso por parte das comunidades caiçaras às suas casas, tendo de atravessarem um
condomínio que lhes cerceia o direito de ir e de vir; as oficinas com os caiçaras no Plano de Manejo da
APA de Cairuçu, de 2018; a tramitação do Projeto de Lei discutindo as disposições relativas às populações
tradicionais e povos indígenas; o “termo de compromisso”, previsto no Decreto nº 4.640/2002, que
regulamenta o SNUC e prevê a remoção das comunidades do interior da unidade de conservação de
proteção integral; o CCDRU; a previsão da regularização fundiária dos territórios tradicionais; a previsão
da criação das unidades de conservação e seus instrumentos de gestão; o ordenamento territorial que a
Portaria/Iphan nº 402/2012 de tombamento do Sítio de Paraty e a localização e delimitação das
comunidades tradicionais, cuja atribuição do Iphan é questionável. Note-se que, no caso das leis e normas
correlatas em geral, elas não constituem os tais “mecanismos” por si, é necessário apontar quais e os seus
pontos de intervenção.
21
Faz parte do material a minha própria experiência nos órgãos público federais
em que trabalhei sempre entre o campo e o escritório, o que traz um aspecto
multilocalizado a esta tese; de cuja experiência trago exemplos de situações a fim de
ampliar as informações e as análises.
Nos casos que trago nesta tese, o Estado se aproxima das comunidades por
meio dos seus agentes e as alcança por meio das normas. Importa, nesta tese, a
aproximação das comunidades por parte do Estado e quais os canais e vias que as
comunidades possuem ou de que se servem para se relacionar com o Estado quando elas
decidem fazê-lo e não apenas quando são envolvidas ou demandadas por algum assunto
de interesse do Estado. Nesse movimento de falas, que nem sempre significa uma
interlocução, é imprescindível que vejamos onde o Estado “fala”, onde decide e onde é
ele reticente por conveniência ou inércia. Não se está buscando, em contrário dos esforços
de Abrams e Mitchell, uma materialidade do Estado, senão os seus efeitos de presença,
pois o material privilegiado nesta pesquisa é a atuação do Estado e o comportamento do
Estado com o objetivo de ver como as comunidades são vistas e tratadas por ele. As falas
do Estado estão nas leis, nos documentos técnicos, nos seus agentes e em expressões e
nomes. O Estado, ao falar, profere discursos que se conectam a outros discursos
(FOUCAULT, 2012, pp. 7-9). Os sentidos se vão dando nas conexões entre discursos
acerca de temas sem que, no entanto, se formem “frases”, de acordo com Foucault.
Podemos entender que uma consequência prática disso é a dificuldade em se cobrar
coerência entre os discursos do Estado.
em que a rodovia é conhecida como Rio-Santos. O fio condutor para atravessar o tempo
e os assuntos são as imagens de territórios pontual e vetorial. Recupero a imagem de
território vetorial que os territórios institucionais, os quais são quase que invariavelmente
pontuais, fazem esmaecer como formas de territorizalização. Os objetivos nesse capítulo
são o de nos aproximarmos de Paraty e o de introduzir a ideia de oportunidade. Trata-se
de uma ação empreendida pela administração pública em nome do Estado, ou do Estado
por meio da administração pública, e que, uma vez praticada resolve tantas outras ações
ou pautas irresolutas; ou que, por causa dessas outras ações e pautas, algo de interesse do
Estado possui mais chances de acontecer. A relação “entre” ações, a sinergia entre elas,
é o que marca a sua diferença com o que pudesse ser interpretado como uma versão da
“fortuna” em Maquiavel.
Este capítulo traz uma ideia simples: território implica limites. O que exige
indicar de quais limites se está falando e quais as noções de território são mobilizadas na
geografia e na antropologia.
A leitura dos dois autores para outros trabalhos que empreendi 11 não se
mostraram atrativas. Ou porque Raffestin trazia um território já dado, uma base para a
sua análise e minha experiência com identificação e delimitação12 está em entender a
territorialidade e a partir dela sugerir a delimitação, e não o contrário (partindo-se de um
espaço dado), do que discordo; ou porque a afetividade, o apego e a memória relacionados
aos lugares eram extremamente individuais, e não coletivos, em Yi-Fu Tuan. Comumente
os trechos citados de ambos os autores em diversos trabalhos sobre territorialidade são
11
Dentre os trabalhos mais recentes: antropóloga coordenadora do Componente Indígena da rodovia BR-
080/MT, principalmente no Município de Ribeirão Cascalheira, no Estado do Mato Grosso, para estudos e
impactos ambientais envolvendo os povos Xavante, Iny-Karajá, Tapirapé, Avá-Canoeiro e Javaé (2016-
2019); antropóloga coordenadora do Estudo Antropológico ― sobre a comunidades tradicional extrativista
da Reserva Extrativista Pirajubaé, para o delineamento de comunidade tradicional urbana, no processo de
licenciamento ambiental no empreendimento do Novo Acesso ao Aeroporto de Florianópolis (em
andamento, desde 2018); e antropóloga coordenadora do Novo Levantamento Socioeconômico, na Terra
Indígena Wassu-Cocal no Estado de Alagoas (em andamento desde 2018), para a elaboração de critérios,
em conjunto com a comunidade e com base em normas operacionais do Banco Mundial e na OIT-169, de
realocação de famílias, dentro da própria terra indígena, por conta da duplicação planejada da BR-101/NE-
AL, que atravessa aquela terra indígena; todos os estudos são interdisciplinares.
12
Os territórios identificados como coordenadora dos Grupos Técnicos foram: Terra Indígena Cajuhiri-
Atravessado (2000), no Médio Solimões, no Município de Coari, no Estado do Amazonas, com os povos
Miranha, Mura e Kambeba; Terra Indígena Bacurizinho (2002), no Estado do Maranhão, com o povo
Tenetehara-Guajajara; nesses trabalhos para a Funai como consultora de agências da Organização das
Nações Unidas. Como Analista em Reforma e Desenvolvimento Agrário, no Incra-Sede: Território
Quilombola de Alto Alegre (2008), no Estado do Ceará, e Território Quilombola Machadinho (2008), em
Paracatu, no Estado de Minas Gerais. Todos os territórios, à época, eram afetados por empreendimentos de
agências governamentais ou privado, ou outras ações do governo: Terra Indígena Cajuhuiri-Atravessado,
Poliduto Urucu-Tesol/Transpetro; Terra Indígena Bacurizinho, Projeto de Assentamento do Incra em
sobreposição; Território Quilombola Alto Alegre, Canal do Trabalhador/Estado do Ceará; e Território
Quilombola Machadinho, com interferência de mina de ouro e de barragem de rejeitos da Kinross-Canadá.
27
13
Tais autores são lembrados, aqui, nas seguintes obras: Henri Lefebrve, La production de l’espace; Paris:
Éditions Anthropos, (1974) 2000; Tim Ingold, Lines: a brief history; London & New York: Routledge,
2007; Italo Calvino, As cidades invisíveis; São Paulo: Companhia das Letras, (1972) 2009.
28
da cor da água ampliando o método para o ponto de vista do observador. Preocupado com
a dinâmica cultural, Boas tomou a cultura como um conjunto de costumes sociais de um
grupo ou de uma comunidade, cujos produtos das suas atividades seriam determinados
por esses mesmos costumes. Boas viajou pelo Nordeste do Canadá em 1883 e, em 1885,
demonstrou proposições deterministas na publicação resultante da pesquisa em suas
considerações acerca das relações entre terra e povo. Embora tenha sido uma viagem que
o tenha desanimado desse seu posicionamento, na leitura que faz o geógrafo Jörn
Seemann (SEEMANN, 2005, pp. 12-14), pois Boas havia observado que nos solos mais
férteis não se dava a agricultura e em águas navegáveis não se tinha a navegação; para
concluir que as condições ambientais poderiam estimular as atividades culturais, mas não
são a sua força criativa. Uma “fórmula”, portanto, não poderia se aplicar de maneira geral
a todos os casos e as formas antecedentes das comunidades, sua história, deveriam ser
conhecidas. Boas elaborou o conceito de “área cultural” como meio para descrever as
características típicas de tribos culturalmente relacionadas, por vezes em áreas contíguas,
indicadas em particularismos históricos como forma de não se generalizarem as culturas.
14
Geertz se refere a Michel Foucault em “What is an author?, In J. V. Harris (org.), Textual strategies,
Ithaca, New York.
30
Trazer Boas não significa qualquer espécie de ponte, nesta tese, entre a
antropologia e a geografia, senão a finalidade de apontar desdobramentos das áreas
culturais no Brasil e, junto a isso, apresentei uma entrevista da leitura cuidadosa do
antropólogo Boas feita pelo geógrafo Seemann quem, aliás, se indaga como seria a
geografia cultural se Boas, e não os seus discípulos, a tivesse influenciado com mais força
e de forma mais aprofundada (SEEMANN, 2005, p. 17). A partir da análise da obra de
Boas feita por Roger Trindell (1969)15, Seemann aponta três tópicos na contribuição de
Boas à geografia, especialmente à geografia cultural: a relação do homem com o meio
ambiente na perspectiva antideterminista e contra o “ambientalismo grosseiro”; as áreas
culturais; e a difusão cultural (SEEMANN, 2005, p. 14).
15
A obra que Seemann cita é: Roger T. Trindell, “Franz Boas and American Geography”. The Professional
Geographer, v.21, n.5, 1969, pp. 328-332. Trindell se graduou em história e geografia, mestre em geografia
e ecologia e Ph.D. em geografia e antropologia.
16
Seemann se refere a Eduardo Galvão, “Áreas Culturais Indígenas do Brasil – 1900-1959”, Boletim Museu
Paraense Emílio Goeldi, Antropologia n. 8, Belém, 1960.
17
Obra citada por Seemann: Manuel Diégues Júnior, Etnias e Culturas no Brasil, Rio de Janeiro, Biblioteca
do Exército Editora, 1980.
31
Com base nas áreas etnográficas de Melatti, em dado momento por volta de
2002, o Departamento de Identificação e Delimitação de Terras Indígenas da Fundação
Nacional do Índio ― Funai19, esteve às voltas com a organização da demanda por
regularização fundiária de terras indígenas, tanto as novas quanto os passivos irresolutos,
e tinha nas Áreas Etnográficas sua estratégia de atuação. A proposta, segundo Marco
Paulo Fróes Schettino ― quem esteve à frente daquele departamento à época ―, era a de
sistematização dos dados preliminares à constituição de grupos de trabalhos para os
levantamentos em campo, nas terras indígenas, segundo Schettino (SCHETTINO, 2005,
p. 150). Foram identificadas dezessete áreas etnográficas e observo que tomaram dentre
os critérios, a logística do deslocamento dos grupos de trabalhos, tanto que os rios dão
nome à maior parte das áreas.
Outro mapeamento ― que, embora não traga regiões, agrupa povos indígenas
por famílias linguísticas e localiza a sua presença histórica ― é o Mapa etno-histórico do
Brasil e regiões adjacentes (1944/5), de Curt Nimuendajú (1883-1945), publicado de
forma acessível ao público em 198120, fruto de trabalhos em campo do autor entre 1905
e 1944 e de informações em fontes secundárias diversas (NIMUENDAJÚ, 2017, p. 29;
passim). Tais mapeamentos, por sua vez, constituem material para tantas outras pesquisas
e para os trabalhos técnico-científicos de regularização fundiária por localizarem grupos
étnico-sociais e por indicarem a presença histórica de determinado grupo em uma região;
uma vez em campo, por vezes é possível cotejar informações para dados de migração e
de expulsões, por exemplo. Uma dificuldade são os heterônimos. Com informações
obtidas de fontes secundárias do registro, notícia ou indício da presença de indígenas
desde o século XVI, por vezes um grupo que tenha sido indicado no passado, por
exemplo, em determinado local receba um nome e um outro registro, em outro local ou
em outro tempo ou por outro informante no passado, receba outro nome, quando na
18
Mantida em site chamado “Página do Melatti”, em: http://www.juliomelatti.pro.br/index.html.
19
O nome mudou para Coordenação-Geral de Identificação e Delimitação ― CGID, com a mesma função.
20
Antes disso, fizera três cópias para o Smithsonian Institution, para o Museu Paraense Emílio Goeldi e
para a Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro entre 1943 e 1944.
32
Abordar tais autores não significa um diálogo entre disciplinas. Mas no caso
da antropologia, a profusão com que tais autores são indicados, lidos e citados é
sintomática, a meu ver, de uma lacuna quanto ao tema “território” na antropologia, que
21
Há quem indique ser 1944, quando Nimuendajú encerrou as etapas em campo.
33
não deve ser imperativamente cobrada da antropologia, pois trabalhou e trabalha com
elementos territoriais ou que se convertam em territorializações; o fez e faz de forma
sistemática e recorrentemente sem, no entanto, partir necessariamente do território ou ter
o território como seu objeto. Outro aspecto sintomático, e que poderia ajudar a elucidar a
ampla utilização de Yi-Fu Tuan e Raffestin nos estudos, no Brasil, acerca de territórios,
é o diálogo teórico. Embora haja uma grande quantidade de estudos, sejam acadêmicos
ou sejam os próprios estudos que se ocupam dos territórios22, até o momento não lograram
formar um corpo teórico. O diálogo, portanto, tem contado com ambos os autores para
pensar territórios no Brasil e meu interesse em Raffestin e em Yi-Fu Tuan é quanto ao
território e ao espaço, lendo neles como podem, também, serem essas categorias ou
conceitos apreendidos, em que as minhas discordâncias me serviram de motor e balizas
para este trabalho.
22
Tais estudos reúnem uma imensa quantidade de exemplos de territorialidades, de dados etnográficos e
de outras informações de ordem primária, além de uma coleção de questões que afligem e interpelam os
povos indígenas e remanescentes das comunidades dos quilombos; e isso nunca foi sistematizado. Outro
aspecto é o trabalho do antropólogo para discussões acerca do que ele faz, do que pode fazer e onde pode
atuar, interferindo e informando em políticas públicas e na sua relação com as questões do Estado e,
também, como é estar em campo praticamente a maior parte do tempo, em vários campos e, não raro, em
companhia de outros antropólogos. É um campo-laboratório imenso que se tem no Brasil para colaborar
com a antropologia.
34
O espaço é onde se vive, conforme define Yi-Fu Tuan, com maior ou menor
largueza e liberdade; o lugar é a segurança, como o lar; e o território aponta para a ideia
de aprisionamento (TUAN, [1977] 1983, pp. 3-5;73). É o espaço “um recurso que produz
riqueza e poder quando adequadamente explorado” e “é mundialmente um símbolo de
prestígio do ‘homem importante’”; ocupar, ter acesso ao espaço ou possuir mais espaço
distingue o homem mais importante do homem menos importante, segundo Tuan (TUAN,
[1977] 1983, p. 66). Os homens compartilham espaços com animais, estes também têm
um sentido de território e de lugar como demonstrados, àquela época, nos estudos em
etologia, indica Yi-Fu Tuan, em que os espaços são demarcados na defesa contra
invasores. Aos espaços, segundo Yi-Fu Tuan, os humanos atribuem valores e é onde as
necessidades biológicas como água, comida, descanso e procriação são satisfeitas. De
acordo com Yi-Fu Tuan, as pessoas respondem ao “espaço” e ao “lugar” de maneiras
mais complicadas que o fazem os animais; e no que diz respeito ao “lugar”, que envolve
sentimentos, as respostas não eram bem conhecidas entre os animais, de acordo com o
autor.
[1977] 1983, pp. 5-6). Observo que, àquela altura da década de 1970, a antropologia já
entendia que tanto os valores quanto o comportamento são talhados pela cultura. Percebe-
se que Tuan entendeu uma estrutura mental e viu na cultura variantes e para que
conseguisse delinear “lugar” foi-lhe imprescindível a inserção do tempo. O autor leu os
trabalhos dos antropólogos Claude Lévi-Strauss, Evans-Pritchard e Raymond Firth e do
linguista Theodor George Strehlow, neste caso, Aranda Traditions (1947), em uma
abordagem afetiva dos povos descritos por eles ou da sua relação com o tempo ou, ainda,
no que indicou ser o tempo ausente.
Yi-Fu Tuan delineia a sua forma de lidar com lugares, para o que é necessário
tratar do tempo para entrar e sair da imobilidade das paisagens e nelas inserir o humano
por meio da experiência. Em Espaço e Lugar, de 1977, Yi-Fu Tuan explica que tomou os
conceitos de espaço e de lugar para trabalhar o seu material heterogêneo sob a perspectiva
da experiência humana (TUAN, [1977] 1983, p. v). O espaço é uma noção na experiência
humana mais abstrata que lugar, segundo o autor. A experiência humana, um
aprendizado, carrega instintos e o aprendizado se reporta às percepções de espaço pelos
seres humanos desde criança, onde o primeiro espaço experienciado são os pais, conforme
entende Tuan. Os objetos, naturais ou feitos pelo Homem, que persistem no tempo como
“lugares através do tempo”, cuja percepção humana destes é afetada pela cultura
conferindo-lhes importância geral ou específica; a importância específica mudaria com o
tempo e a geral permaneceria (TUAN, [1977] 1983, p. 181).
Tuan cita Raymond Firth acerca dos Maori da Nova Zelândia, estes com um
profundo respeito pela terra em si mesma e com uma afeição pelo solo ancestral. Tal
afeição e respeito não poderiam, segundo Tuan, estar relacionados apenas com a
fertilidade ― como valor imediato ou como fonte de alimento ―, pois era a terra onde
os antepassados viveram, lutaram e foram enterrados e, por isso, objeto de sentimento.
Ali, um condenado à morte poderia pedir para ir até a fronteira do território para que
pudesse vê-lo uma vez mais antes que morresse; ou, ainda, pedir para ir até o rio que
estivesse nos limites da sua casa para beber água em vez derradeira. (TUAN, [1977] 1983,
p. 171).
23
Situações com colocações análogas se deram em dois territórios em que tive a oportunidade de estar.
Com os Miranha, em 2000, no Médio Rio Solimões, no Município de Coari, no Estado do Amazonas, a
trabalho de uma agência da Organização das Nações Unidas ― ONU para a Fundação Nacional do Índio
― Funai, se tratava da regularização fundiária da Terra Indígena Cajuhiri-Atravessado. Dona Eunice
Marins, a memória do grupo indígena na reativação da regularização fundiária do território após sucessivos
esbulhos, remoções e prisões ao longo do século XX, me disse certa noite em sua casa no Cajuhiri, onde
me hospedei: “Essa terra só vai prosperar quando os verdadeiros donos estiverem em cima dela”. Estive
com os Xavante das Terras Indígenas Pimentel Barbosa, Wedeze e Tsorepré, no Estado do Mato Grosso,
em abril de 2017, por conta de um estudo para avaliação dos impactos da rodovia BR-080/MT; e o Bioma
Cerrado é o ambiente em que vivem ocupando porções a partir das aldeias, circundadas por áreas de coleta,
circundadas por áreas de caça e de expedições, uma forma excêntrica, a partir de cada aldeia, de
territorializarem o Cerrado, que chamam de Ró, e dizem que o Cerrado é o Xavante e os Xavante são o
Cerrado, uma relação que não deve ser lida somente na simples noção de “interdependência”.
39
Yi-Fu Tuan recorta as sociedades que repousam o tempo nos objetos e nos
lugares tidos como sagrados e veneram os objetos porque estariam associados a figuras
de poder e não pela sua antiguidade. Podemos ler, se quisermos, as joias da realeza
40
24
O Ensaio sobre a Dádiva, de Marcel Mauss, é publicado em 1924.
41
propósito de indicar que, para o autor, “território” guarda o referente estado-nação e com
isso a noção de “limites”:
25
Werther Holzer (HOLZER, 2008) cita James Parsons em: Toward a more humane geography. Economic
Geography; nº 45 (3): Guest Editorial, 1969.
44
“os jovens, naquele momento, não estavam interessados em uma geografia operacional e
não acreditavam em leis mecanicistas ou em modelos de mundo”, os interessavam os
“valores humanos, a estética e um novo estilo de vida” muito em função do contexto do
movimento hippie no questionamento estudantil aos padrões culturais e políticos
vigentes. Era preciso que a geografia fosse ao encontro de “valores morais” e da
“subjetividade humana” eliminados da geografia pelo seu cientificismo e pelo seu
economicismo (HOLZER, 2008, p. 146). O estudo das paisagens, segundo Holzer,
conceito síntese da geografia e que deveria, na sugestão de Carl Sauer26, desde 1925,
“iniciar-se com o estabelecimento de um sistema crítico delimitado pela fenomenologia
da paisagem como método de estudo da relação entre o homem e o ambiente por ele
formatado e transformado em habitat, em paisagem cultural” (HOLZER, 2008, p. 137).
Tais ideias se difundiram tanto pelos Estados Unidos, onde Sauer foi docente, quanto pelo
exterior resultando na criação de diversos cursos de geografia cultural que, por meio do
“trabalho de campo e de relatos de não-geógrafos”, procuravam “fazer uma geografia que
captasse ‘os significados e cores do variado cenário terrestre’” (HOLZER, 2008, p. 137).
26
Citado por Werther Holzer (HOLZER, 2008): Carl Ortwin Sauer, The Morphology of landscape; In:
LEIGHLY, J. (ed.). Land and Life – a selection from the writtings of Carl Ortwin Sauer. Berkeley,
University of California Press, 1983, pp. 315-350.
27
“Propriedades” inerentes ao espaço; para não confundir com propriedade como posses.
45
reorganizadas, que têm seu significado dado pelos atores sociais” (RAFFESTIN, [1980]
1993, p. 48)28. Desses dois planos, segundo Raffestin, “em estreita relação com o espaço
real” e no entremeio dos dois planos emergem (a) “um ‘espaço abstrato’ simbólico, ligado
à ação das organizações” e (b) “o espaço relacional ‘inventado’ pelos homens e cuja
permanência se inscreve em escalas de tempo diferentes do espaço real ‘dado’”
(RAFFESTIN, [1980] 1993, p. 48).
A partir daí, o autor seguirá com o mesmo método para outra propriedade da
física além do espaço, o tempo: tempo real, dos astrônomos que conseguiram o tempo
absoluto, que é um tempo “dado” do movimento da Terra em torno do Sol; e o tempo
“inventado”, é o tempo “dos atores sociais que, embora contido no primeiro, não deixa
de ser distinto”. Tempo e espaço, segundo Raffestin, devem ser considerados juntos nas
estratégias de ação dos atores sociais (RAFFESTIN, [1980] 1993, p. 49).
28
Grifo meu.
46
Podemos ver que Raffestin não traz os meios de produção como a assimetria
do poder e podemos, ainda, farejar o Leviatã de Thomas Hobbes na distribuição desigual
de poderes tanto para satisfazer a sede humana de poder quanto para que permaneçam
onde estão. Em Raffestin, a promotora da assimetria, na manipulação de códigos
conflitantes, é a empresa e não o Estado, cujo resultado, curiosamente, é a confrontação
dos trabalhadores mais fortemente feita em direção ao Estado que direcionada à empresa
(RAFFESTIN, [1980] 1993, p. 95).
No que toca às áreas protegidas, Haesbaert diz que algumas áreas do planeta
foram relegadas à reclusão justamente por sua condição de áreas protegidas, cuja reclusão
47
provoca, segundo ele, “a reprodução de territórios que são uma espécie de clausura ao
contrário”, pois muitas vezes são vedadas “a intervenção e a mobilidade humana no seu
interior” (HAESBAERT, 2006, p. 55). A imagem da área protegida, ou da unidade de
conservação, que Haesbaert indica nessa passagem, é a de território proibitivo para a
sociedade geral, um espaço extirpado do alcance e da mobilidade de quem está na região
abrangente, do lado de fora da unidade de conservação. A imagem de áreas protegidas e
de unidades de conservação com que lido nesta tese tem o ponto de observação, ou ponto
de situação, no seu interior e a partir dele, e não fora. São as características e propriedades
ecológicas intrínsecas ao lugar que faz dele elegível para ser preservado ou conservado,
cujo acesso externo será regulado ou impedido (o contrário da “clausura” de Haesbaert)
e, principalmente, a expulsão de quem ocupa o lugar ou a regulação intervindo em como
ocupar e viver no lugar; situação essa que destaco nas sobreposições entre territórios
tradicionais e unidades de conservação.
29
Me refiro, por exemplo, à Marcha para o Oeste, no Brasil central no período do Estado Novo (1937-
1945) que deslocou e dizimou povos indígenas que já vinham se movendo de um lado ao outro em um
ambiente mais amplo por conta de ciclos econômicos anteriores, como o do ouro e das pedras preciosas.
49
por poligonais, considerando que todos são territórios pontuais e não vetoriais. Outro
aspecto para sempre se percorrer as projeções territoriais em pesquisas que abordem a
territorialidade são os aspectos políticos locais, que pressionam, muitas vezes, os povos
a lidarem com parcelas de seus territórios em reivindicações. Por tais razões não há
necessariamente fixidez nos limites de um território tradicional, ela é fixada
institucionalmente para efeitos de ação em políticas públicas tanto do reconhecimento do
direito ao território quanto para ser possível a implementação de outras políticas públicas
(luz, água, habitação, projetos de etnodesenvolvimento, construção de escolas, postos de
saúde, etc.). Mais adiante, no item 1.5, na página 64, indico a diferença entre território
tradicional e território institucional. Raffestin não fala em fixidez dos territórios,
inclusive, se os territórios são as empresas, estas mudam de lugar, se são as sociedades
que dominam de forma fraca ou forte um território, a medida será o menor ou o maior
fluxo de informação, respectivamente, que as permeiam, atravessam (RAFFESTIN,
[1980] 1993, p. 213), se quisermos ver nisso uma ampliação de dado território. O autor
está se referindo às redes de comunicação tecidas na sociedade abrangente; já o caso
brasileiro da diversidade étnica é bastante específico.
30
“Autonomia” e “autodeterminação” estão indicadas na Convenção Organização Internacional do
Trabalho ― OIT nº 169; comumente utilizada apenas para os aspectos da obrigação da Consulta e nas
disposições acerca da remoção.
52
das proposições de Yi-Fu Tuan está no cerne dessa experiência, que no autor é individual
e não coletiva. Por outro lado, os elementos que Yi-Fu Tuan traz para a experiência
humana com o meio ambiente são os utilizados na identificação e delimitação
principalmente como método, ao se andar em campo junto com pessoas da comunidade
em uma etapa dos levantamentos dos trabalhos de identificação e delimitação e que
poderão indicar limites do território.
O território pode estar inscrito nas atividades e nos caminhos diários daqueles
que ali vivem ou mesmo na evitação de um lugar sagrado, ou de períodos religiosos
reservado a alguns. Pensando em lugares urbanos, as ruas no centro do Rio de Janeiro
eram proibidas às pessoas pobres, por lei suntuária, na intenção da municipalidade em
segregar o trânsito de uma população em determinados espaços, em cujo critério de cor
não era eficaz; ou para proibir os “capoeiras” de estarem nas praias32, lugares escusos no
século XIX e começo do XX (NEEDELL, 1993).
31
Habitações temporárias para caçadas, por exemplo, como o fazem alguns grupos étnicos sociais
indígenas.
32
As praias não eram um espaço de sociabilidade até o começo do século XX no Rio de Janeiro, tanto que
a frente das casas, que pudessem estar no espaço urbano e perto do mar, estava voltada para o lado oposto
ao mar, para as ruas da cidade, portanto.
33
Como Coordenadora-Geral de Apoio à Estruturação da Produção Familiar – CGEPF, coordenação ligada
ao Departamento de Fomento à Produção e à Estruturação Produtiva – DEFEP, na Secretaria de Segurança
Alimentar e Nutricional ― SESAN, no Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome,
recentemente com o nome mudado para Ministério da Cidadania.
54
Os territórios são para o Estado espaços que indicam onde se deve dar a sua
intervenção e como esta será diferenciada nas políticas públicas em proveito da isonomia,
do desenvolvimento nacional, da redução das desigualdades regionais, da equidade
social, do reconhecimento da diversidade étnica e da manutenção do ambiente saudável,
que são objetivos e obrigações do Estado e que qualificam diferentemente os territórios
para distribuir os tipos de intervenções.
Portanto, “território”, sozinho, nos dá uma ideia dos limites de algo, o seu
conteúdo vem por descrições ou em binômios. As terras indígenas, os territórios
quilombolas, outros territórios de outras comunidades tradicionais, as áreas protegidas e,
dentre elas, as unidades de conservação são os territórios nesta tese. Escolhi o enfoque
dos territórios principalmente na vertente do Estado, no reconhecimento dos territórios
tradicionais pré-existentes à ação do Estado e na criação de áreas protegidas, para
evidenciar algumas das implicações das sobreposições entre territórios.
decorrência das lutas históricas dos próprios grupos étnicos sociais; Estado não
presenteia. As lutas continuam pelo reconhecimento de comunidades e povos e de seus
territórios que ainda não acessaram o direito disponibilizado. Nos últimos dez anos, pelo
menos, as lutas e mobilizações se têm concentrado, ainda, na manutenção desses direitos,
tanto em face dos grupos econômicos privados interessados na disponibilidade de terras
quanto em face da demora do Estado em reconhecer tais territórios tradicionais.
Temos que os territórios tradicionais são assunto que o Estado cuida e o faz a
partir de políticas conflitantes entre si.
34
Trabalhando no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária ― Incra/Sede em
acompanhamento técnico da Procuradoria Federal Especializada ― PFE/Incra nos casos discutidos na
Câmara de Conciliação e Arbitragem Federal ― CCAF entre 2008 e 2010.
58
coloca. São ocasiões quando o Estado acaba por instituir uma linguagem para se
relacionar com as comunidades e procura institucionalizá-las tendo como meios as
infinidades de reuniões; ao mesmo tempo, nisso, as comunidades vêm o Estado em seu
funcionamento, na sua casa de máquinas, e podem caminhar também por aquela linha
divisória, que separa Estado e sociedade, indicada por Mitchell e que, segundo ele, o
Estado, internaliza (MITCHELL, 2015, p. 160). Dessa forma, a sugestão é a de que a
linha divisória de Mitchell seja vista tanto como uma forma de controle de parte do Estado
quanto uma via de mão dupla pela qual a sociedade possa penetrar no Estado: a linha
internalizada representa tanto um Estado que toma tudo em seu corpo e nada lhe escapa
quase na forma de um Leviatã em Thomas Hobbes, quanto indica a senda para se chegar
ao seu centro e que pode ser usada pela sociedade, no caso, pelas comunidades.
Essas são duas imagens das relações das comunidades com o Estado que
podem nos acompanhar nesta tese. Para ler Abrams e Mitchell, é necessário ter em conta
que as forças sociais a que eles se referem na sociedade e o Estado apartado desta, na
mais da vez, é a classe trabalhadora. Esta seria uma limitação na aplicação direta desses
dois autores, pois as comunidades tradicionais e os povos indígenas ― também
trabalhadores, agricultores e as terras indígenas em diversas localidades são o celeiro
local, mas os termos não são os meios de produção, sua resistência é outra ― reivindicam
o direito ao território como condição de existência.
quilombolas, enquanto tais, no modo de produção capitalista pode ser uma chave para
entender a constante e crônica reticência do Estado em providenciar-lhes o direito ao
território. Tendo o Estado retendo a regularização fundiária de territórios tradicionais a
meio caminho antes de deixarem de ser uma mercadoria em seu valor de troca com o
Estado se demorando para transpor os territórios de vez para o seu valor de uso, em
proveito das comunidades e dos povos tradicionais.
paralelo pelo Estado e a morosidade quanto à pauta da regularização fundiária abre espaço
para a consolidação de outros usos e da ocupação, que são diferentes dos usos dos povos
e comunidades em questão e que se dão, por causa dos empreendimentos, em porções dos
seus territórios ou próximos a estes. Para as comunidades, portanto, a discursividade da
diversidade social, cultural e étnica proferida pelo Estado não logra ações efetivas em
prazos hábeis e, em alguns casos, em prazo algum.
As sobreposições se dão entre certos tipos de territórios, e por isso, tenho que
ter “território” em alguma conta para prosseguir. Até aqui, tenho que território é
necessariamente delimitado. E isso é feito de diversas formas tanto pelas comunidades
quanto pelo Estado.
administrativamente será, sempre, menos extenso que um território tradicional que fosse
delimitado na justa cognição da comunidade que nele viveu ou vive e que o produz.
Territórios vetorial
e pontual
Os vetores podem ser os caminhos que dão acesso ao território ou que dele se
parte para localidades específicas de interesse da comunidade, marcando a sua mobilidade
interna, externa e cíclica em períodos longos. Também, a memória espacializada pode ser
entendida como um vetor. A direção de onde se vinha das casas e aldeias de parentes; as
69
quais não existem mais; uma antiga trilha de caça de um antepassado mais ou menos
conhecida a sua localização; a visão de um campo aberto onde se iam coletar e andar; o
alto de uma serra que sempre lembra lugar onde não se pode ir porque guardado por outros
seres; ou a direção de lugares bons para serem procurados e encontrados, pela primeira
vez, materiais para rituais antigos ou para remédios a serem testados.
2. Paraty
1630: contanto que se construísse uma capela dedicada à Nossa Senhora dos
Remédios, dona Maria Jácome de Mello recebe uma sesmaria que requisitara à Condessa
de Vimieiro, donatária. A sesmaria alcançava em uma légua de fundo a Aldeia de Cima35,
a frente da sesmaria acompanhava o litoral, de um lado e de outro estava encaixada entre
os rios Paratii Guaçu e Paratiitiba. O povoado do Morro do Forte segue para o entorno da
capela então construída, onde hoje é o Bairro Histórico de Paraty e o morro fica com o
35
Segundo Marco Caetano Ribas esta é uma nítida referência aos indígenas “Goianás” ou “Goiamins”
(RIBAS, 2003, p. 23).
71
nome de Vila Velha. Uma sesmaria dentre seis na região dispostas entre o que seria mais
tarde a Vila de Paraty e o rio Mambucaba ao norte de Paraty. É controverso de qual
capitania hereditária foi destacada a sesmaria que esteve na origem da Vila de Paraty, se
a Capitania de São Vicente ou a Capitania de Itanhaém.
do Rio São Francisco; e Santana, ao sul, esta se estendendo de Cananeia (SP) a Laguna
(SC), as quais não virão ao caso aqui. As controvérsias acerca dos limites ao sul da
Capitania de Santo Amaro se dão a partir da contestação da herança deixada à Mariana
Guerra apresentada pelo Conde de Monsanto36, outro neto de Martim Afonso de Souza,
pelo fato da hereditariedade da Capitania dever seguir a linha masculina, conforme se
enfatizam nas cartas de doações (UNB - UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA, s.d.;
CINTRA, 2017; ELLIS, 1972).
36
Na genealogia levantada por esta pesquisa, o Conde de Monsanto seria parente pela via Isabel Lopes de
Souza, meia irmã de Pero Lopes de Souza, este pai de Mariana da Souza Guerra, a Condessa de Vimieiro.
37
E possivelmente mais outras vilas que não foram especificadas no Atlas para a sequência das vilas da
Capitania de Itanhaém: “todas as vilas ao norte da Cidade de São Paulo, com exceção de Vila de Santa Ana
de Mogi das Cruzes” (UNB - UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA, s.d.).
73
Mogi das Cruzes Nossa Senhora da Conceição de Itanhaém Mogi das Cruzes
Ubatuba Pindamonhangaba
Caraguatatuba Santo Antônio dos Anjos da Laguna
São Sebastião Paranaguá São Sebastião
Taubaté São Vicente
Itu Itu
Curitiba
Santos
Parnaíba
38 Biblioteca Nacional, Documento 141 ― I-30, 21, 97, nº 1 (I-16-30); documento original
digitalizado.
74
39
Tomei conhecimento da bibliografia que trata dessa controvérsia por ocasião da elaboração dos estudos
de impactos ambientais para a construção e instalação do Contorno Rodoviário de Florianópolis, por conta
do envolvimento de dez Terras Indígenas Mbya e Nhandeva e a falácia local, não apenas no Estado de
Santa Catarina, mas também, no Rio Grande do Sul, de que as terras indígenas Guarani serviriam de apoio
a indígenas vindos do Paraguai. O argumento, utilizado em campanhas contra povos indígenas, veiculada
na mídia e na fala de dirigentes tomando tom de conhecimento público e popular, era o de que haveria
indígenas no Brasil e outros fora; nessa linha de raciocínio, as terras no Brasil não se serviriam a
acomodarem situações “estrangeiras”, em absoluta desconsideração à mobilidade Guarani. O propósito,
naquela ocasião, era o de buscar informações sobre as fronteiras políticas que foram traçadas sobre outras
fronteiras e espacialidades, no caso as terras guarani e os seus caminhos e rotas entre idas e vindas e a
permanência na visitação de parentes; e encontrei no estudo de Cintra (2012) as várias possibilidades para
uma divisão política ― circunstancializada economicamente ― do mundo em dois hemisférios.
76
38 léguas; com vento, quando a nau governa pela bolina, 8 léguas. Como
a nau andava em ziguezague, era necessário efetuar as reduções através
de fórmulas dadas por esse Regimento. (CINTRA, 2012, p. 424):
40
Observamos que as variações do traçado são obtidas de Cintra (2012); no entanto, ao longo dos
levantamentos encontramos outras variações mais ao Oriente ou ao Ocidente, de forma que as posições
trazidas são as variações resultantes das medidas em vários experimentos de cálculos e não os resultados
das diversas negociações diplomáticas e proposições para a definição do traçado.
77
Ribeiro (1529), português a serviço da Espanha, não favoreciam este país. Reuniu-se uma
junta de especialistas em Badajós e em Elvas (1524), em Portugal, a fim de dirimir
dúvidas e a longitude de 46˚ 30’ foi apontada, “mas não estavam muito seguros desse
resultado”. Depois de pouco tempo, os mapas portugueses colocaram a posição do traçado
na foz do rio Amazonas41 ao norte e, ao sul, no estuário do rio Prata, não havendo
contestação espanhola nesse sentido (CINTRA, 2012, p. 423). Os mapas portugueses, por
ordem expressa de D. Manuel, deveriam ser todos deformados a partir de 1519 para “dar
a entender” que a bacia do rio Prata estaria englobada na porção portuguesa e não na
porção espanhola do globo (CINTRA, 2012, p. 426).
41 Essa posição não está contemplada na figura que traz os traçados à época e os cálculos de Cintra.
42 Ilhas na Ásia, objeto do Tratado de Saragoça (1529).
78
43 Tapes: nome dado à região ocupada pelos indígenas Tape, região em que se instalou a primeira missão
de jesuítas, invadida por bandeirantes na primeira metade do século XVII, para apanhar indígenas como
mão-de-obra para a cana-de-açúcar, evadiram-se os indígenas para a região mesopotâmica formada pelos
rios Paraná e Uruguai Fonte bibliográfica inválida especificada..
44
Atualmente chamado de Colônia, pertencente ao Uruguai.
45
Que significa posse a quem possua de fato, ou seja, se já estivesse ocupando determinada área, dela seria
possuidor; princípio válido para a Espanha e para Portugal.
46
Ou “Mapa dos Confins do Brasil” com as terras da coroa de Espanha na América Meridional, 1749.
79
47
Lembrando que Cintra (2012) inseriu alguns topônimos, além daqueles existentes à época, para o leitor
melhor se localizar.
80
48
Grande desconcerto diplomático se deu quando foram desvendadas tais variações propositais e relatadas
na Dissertação Guillaume Delisle, ou De L’Isle, (1720), quem refez os cálculos e expôs a extralimitação
portuguesa em domínios espanhóis e, também anotadas no mapa publicado por Charles Marie de La
Condamine, quem viajou à região amazônica (do Peru à foz do Amazonas, 1735 a 1744) e constatou a
invasão portuguesa em domínios amazônicos de Castela e da França (CINTRA, 2012, pp. 428-429;
RODRIGUES, 2013).
49
É a época das Guerras Guaraníticas (1753-1756), o conhecimento dos indígenas da topografia colocou
os exércitos europeus em enchentes sazonais; os cavalos europeus em determinada região morreram por
comerem grama tóxica (mio-mio); e indígenas, por vezes apoiadores de um exército, mudavam de lado.
Nesse processo, foi calculada a expulsão de trinta mil indígenas de seus territórios (GOLIN, 2011).
81
2.2. Caminhos
Os territórios do turismo de que fala Cruz (CRUZ, 2000) me parecem ser sem
caminhos, eles existem no deslocamento de quem chega ao lugar planejado. O caminho,
como vejo aqui, é a ideia de deslocamento e ele existirá uma vez que se esteja no lugar
de destino ou dele se retorne, ou seja, na confrontação desses dois espaços: um de origem
e outro de destino. A ideia de caminhos traz a de acesso, de ligação, de conexão e é uma
forma de territorialização, de ocupação. O desenvolvimento econômico ― seja nas
estradas reais para a interiorização às margens das quais se concediam sesmarias, seja nas
rodovias escoando grãos da região central do País até os portos ―anda junto com essas
ideias.
50
No século XVIII existiam, pelo menos, vinte Casas de Fundição, ou Casas de Quintar, sendo transferidas
de um lugar para outro e incorporadas por outras; há distinção com as Casas da Moeda — ver Sítio do
Ministério da Fazenda e André João Antonil (ANTONIL, [1711] 1968, p. 168).
84
empreendida por um morador de Taubaté, por um padre e por um frei (RIBAS, 2003), o
que pode ter animado o fechamento da Casa de Fundição de Taubaté em 170451. Nesse
mesmo momento, foi fechada a Casa de Guaratinguetá, que fora aberta em 1697 (idem).
Todas as três Casas de Fundição — Taubaté, Guaratinguetá e Paraty — pontuavam o
Caminho do Ouro de Paraty.
51
Carta Régia de 7 de fevereiro de 1704.
52
De São Paulo (Piratininga) a Paraty por terra, usando o Caminho do Ouro atravessando a serra do Facão,
em Cunha (SP) — levando dez dias de ida e onze de volta (RIBAS, 2003, p. 39) — e do Porto de Paraty ao
Rio de Janeiro por mar.
53
De acordo com o Plano de Manejo da Serra dos Órgãos (IBDF - INSTITUTO BRASILEIRO DE
DESENVOLVIMENTO FLORESTAL, 1980); Ribas indica que teriam começado em 1710 (RIBAS, 2003,
p. 39).
54
Além do quinto e do quinto régio, havia a capitação (por minerador), o direito de passagem, o direito de
entrada, a derrama (cobrada sobre quintos atrasados) a bateia (por bateia) e outros que consistiam em
contabilizar a escravatura ocupada na mineração (ANTONIL [1711], 1968 e PRADO JÚNIOR, 2003).
85
Para ligar São Paulo ao Rio de Janeiro, foi aberto o Caminho da Piedade (atual
cidade de Lorena), concluído em 1778. O trajeto seguia, partindo do Rio de Janeiro; por
Santa Cruz; passando por São João Marcos (do Príncipe), atual Rio Claro, na região de
Resende; seguindo por Bananal São José do Barreiro Areias Guapacaré, nome
antigo de onde é a cidade de Lorena atualmente, encontrando, aí, o Caminho dos Paulistas
que vinha de São Paulo Taubaté Guaratinguetá, passava por Lorena e seguia para
Ouro Preto. O Caminho da Piedade era um atalho, inteiramente por terra, alternativo ao
Caminho Velho de Paraty Cunha Guaratinguetá.
55
Há quem fale que o caminho que seguia por Paraty para se chegar a Ouro Preto rendia uma viagem de
73 dias, outros chegam a 95 dias; mas concordam com a redução desses dias a um terço quando se referem
a algum lugar, que não especificam, na denominada região das minas, se fosse feito o trajeto pelo Caminho
Novo, partindo do Porto da Estrela.
56
O porto da Estrela, ao fundo da Baía da Guanabara, existiu a partir de 1767, ao seu redor surgiu uma
próspera vila e a subida em direção à Serra dos Órgãos se chamava Estrada da Estrela.
57
Em outro contexto de relações e no XIX, Alcir Lenharo (LENHARO, 1993) ve na figura do tropeiro um
intercomunicante entre o Rio de Janeiro e os interiores, e entre essas mesmas localidades, mais que um
dependente do fazendeiro ou um agenciador ou fretador de transportes de carga.
86
escravos é negócio escuso e muito lucrativo. É construída a Igreja Nossa Senhora das
Dores, em 1800 em Paraty.
58
Carta Régia de 24 de maio de 1715.
59
Alvará de 27 de outubro de 1733.
87
Limão, em Campos dos Goytacazes; e o Engenho Central Bracuí, em 1885, inicia suas
atividades na cidade de Angra dos Reis, que é vizinha a Paraty.
Outro engenho estava previsto para ser instalado na região e o jornal veiculou
que um engenho para Paraty estava sendo reclamado. Ao lado de Paraty, em Angra dos
Reis, desde março de ano anterior a 1882, estava autorizada, pelo Ministro Manoel
Buarque de Macedo, a construção de um Engenho Central; mais tarde conhecido com
60
Honorio Lima presidiu a Câmara de Angra dos Reis, vizinha a Paraty, nos anos de 1881 e 1882.
61
Os dez números do semanário “Paratyense” sobreviventes ao tempo, no acervo da Biblioteca Nacional
do Rio de Janeiro, não ultrapassam o ano de 1884. Jornal impresso em tipografia própria, à rua do Rozário,
nº 16, em Paraty, já em 1883 aparece como “O Paratyense – Orgão Politico”, de propriedade de Joaquim
Mauricio de Velasco Molina”.
89
Engenho Central do Bracuí. Havia uma determinação, em 1681, de que, no Brasil, não se
alocariam engenhos a menos de 3,3 léguas de distância um do outro, cuja finalidade era
a de garantir recursos combustíveis, lenha no caso, no entorno dos engenhos (CASTRO,
2013, pp. 139-140). A distância entre os dois engenhos, de qualquer maneira, daria mais
de 20 léguas62. O novo modelo de empreendimento, trazido pelo negócio dos engenhos,
tratava os fazendeiros como meros fornecedores de matéria prima contrastando com a
autonomia, com o mando e com a capacidade de influenciar as políticas e o mercado que
possuíam anteriormente. São novas relações que estão indicadas, ombreando
“fazendeiros e plantadores”, como grifei no trecho transcrito, acima, no pedido de
assinaturas e da indicação da quantidade de cana que pudessem oferecer.
Uma estrada, lingando Paraty à parte alta da Serra do Mar, foi aberta em 1925
para que possibilitasse a passagem de veículos automotores (vide Figura 8, na página 90.
O traçado coincidiu em parte com o Caminho Velho, aquele mesmo de Paraty, que
aproveitava trechos das trilhas dos indígenas. Ribas (RIBAS, 2003, p. 49) informa que o
62
Eram aproximados 75,5 km, pelas medidas variadas da légua, entre a maior e a menor medidas, seriam
de 10 a 37 léguas.
63
Por conta de não ter contratos de fornecimento de cana suficiente para a moagem diária de 150 mil quilos
por pelo menos 100 dias ao ano ou 15 mil toneladas por safra, conforme o Decreto nº 10.290, de 3 de agosto
de 1889.
90
primeiro carro chegou a Paraty, em 1929, permaneceu na cidade por não conseguir
retornar pela serra utilizando a estrada que fora aberta.
64
Observação feita por Nelson Cembranelli, engenheiro agrônomo da base do Instituto Agronômico de
campinas—IAC no Vale do Paraíba, e que alertou o risco de rompimento dos diques com danos à
população; o mesmo problema seria identificado, mais tarde, em 1980, no trecho Bertioga-São Sebastião
da rodovia no Estado de São Paulo (SIQUEIRA, 1989, p. 63).
65
Em relatório de cunho de denúncia das agressões ao meio ambiente, encaminhado ao então Conselho
Federal de Cultura em 1973 (SIQUEIRA, 1989, p. 63).
92
66
A BR-101, também, fazia parte da viabilização do programa nuclear brasileiro. Era necessário cumprir
acordos com a Alemanha no sentido de facilitar acesso ao polo tecnológico em Angra dos Reis e a saída da
população no caso de acidente nuclear. Angra I começou a ser construída em 1972 e entregue em 1985
(NOGUEIRA, 2011, p. 33 e 37).
67
Atual Instituto Brasileiro do Turismo, ligado ao Ministério do Turismo.
68
O IBDF é uma entidade autárquica, criada pelo decreto nº 289, de 28/02/1967, sob a administração do
Ministério da Agricultura. O órgão foi destinado a formular a política florestal e a orientar, coordenar e
executar medidas relacionadas à utilização, proteção e conservação dos recursos naturais renováveis e do
desenvolvimento florestal do país. Depois, em 1989, se tornará o Ibama e parte da sua estrutura, em 2007,
será o ICMBio.
93
2.3. “Oportunidade”
Alguns dos caminhos que não chegaram a Paraty podem ter contribuído como
suporte para o discurso do seu isolamento, como o ramal da estrada de ferro Dom Pedro
II (Central do Brasil), a conexão entre as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo, antes
pelo caminho da Piedade (Lorena), acima da Serra do Mar e que cedeu lugar à rodovia
BR-116, sem passar pela parte baixa onde está Paraty. Por outro lado, se desconsiderava
94
[Paraty] Já teve vida, já foi rico e já foi grande; um dia, porém, uma
estrada de ferro, a de Pedro 2°, cortou-lhe a artéria de sua existência, e
attirou-o na desgraça como a todos os portos marítimos do sul. ...Uma
estrada de ferro mattou-o, outra trazer-lhe-ha a vida! (“Estrada de ferro
de Paraty”, jornal Paratyense, ano 1, n. 1, de 29/10/1882, folha de rosto
e folha 2)
69
O caminho para transpor a Serra do Mar era feito por Paraty em melhores condições que o caminho a
partir do Porto de Santos (RIBAS, 2003).
95
3. Sobreposições em Paraty
70
Números tomados das comunidades com representação no Fórum de Comunidades Tradicionais de
Paraty, Angra dos Reis e Ubatuba ― FCT, em 2018 e há os 39 núcleos habitacionais indicados na
Portaria/Iphan nº 402/2012, de tombamento do Sítio de Paraty, que inclui as comunidades representadas no
FCT, um indicativo de que o número de 18 comunidades pode ser maior.
98
Brasil 1.747
NORDESTE 1.005
SUDESTE 331
SUL 151
NORTE 142
CENTO-OESTE 118
Estado do Rio de Janeiro 27
Paraty 2
71
Encontrei, também, o topônimo Güiti em local mais afastado, na região do sertão do Taquari ao norte da
cidade de Paraty, apenas indicado em mapas antigos e sem outras referências. Fica a indicação para
pesquisas ocupadas na identificação de novos territórios; com a possibilidade de formação de topônimos
quando alguém ou um grupo de dado lugar é designado pelo nome do lugar; também, em casos de mudança
de uma pessoa, de uma família ou de um grupo de um lugar para o outro por vezes carregam o nome do
lugar antigo passando a referenciar o lugar.
99
Ambos os dois quilombos são próximos e quase são conectados os seus limites
institucionais.
72
Cedido pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária—Incra, da Superintendência Regional
do Rio de Janeiro, em 10/01/2018; elaborado por José Maurício Arruti, 2007.
73
Entrevista em 26 de julho de 2017, na casa do senhor Domingos, no Quilombo Cabral, Paraty-Mirim,
distrito de Paraty, Rio de Janeiro.
100
Cabe observar que a exterioridade não é a mesma de que fala Raffestin e que,
nisso mesmo nos ajuda a pensá-la. Claude Raffestin indica uma interioridade que tende à
exterioridade por meio da linguagem marcada por relações de poder; interioridade se
refere a um grupo que pode ou não ter relações com a exterioridade (RAFFESTIN, [1980]
1993, pp. 100-102), esta seria o que podemos chamar, de forma ampla, por sociedade
envolvente. Nos fenômenos dos territórios tradicionais no Brasil, nas experiências
particulares e, sob outros aspectos próximas/similares das suas formas de
territorializações — o que nos permitem adjetivá-los como “tradicionais” — não há
tendência à exterioridade no sentido de Raffestin. Há, antes, uma exterioridade que a
antropologia tem tratado na linha limítrofe como fronteira étnica, no sentido de fricção
de Roberto Cardoso de Oliveira, em que a tendência é um processo de recrudescimento,
reavivamento étnico em face da exterioridade (CUNHA, 1986).
74
Em entrevista e, também, consta no Relatório Antropológico da Comunidade Cabral (ARRUTI, 2007,
pp. 43, 50)
101
75
A referência feita por Mariana Mendonça é: Carlos Diegues, A Mudança como modelo cultural o caso
da cultura caiçara e a urbanização; Enciclopédia Caiçara – 1; Hucitec/NUPAUB/USP, 2004.
103
76
Com servidora efetiva do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária—Incra, no Departamento
de Regularização Fundiária de Territórios Quilombolas — Diretoria de Ordenamento Fundiário, a mesma
que se ocupa dos Assentamentos da Reforma Agrária. A pesquisa se alongou porque o Incra enviava as
equipes a campo por períodos de 15 dias, era possível ampliá-los com alguma justificativa mais
contundente, aos olhos da instituição, prolongando a permanência em campo e a interação pesquisador e
pesquisado continuada e não “picada”, para que nesse contato etnográfico o trabalhado pudesse deslanchar.
O que mais se passava, no entanto, era voltar a campo e reestabelecer uma interação a cada vez.
104
Total 567
Regularizadas 440
Homologadas 9
Declaradas 75
Delimitadas 43
77
Nas informações publicadas da Funai constam cinco Terras Indígenas, sendo uma em Angra dos Reis;
Sítio da Fundação Nacional do Índio – Funai, em fevereiro de 2018:
http://www.funai.gov.br/index.php/indios-no-brasil/terras-indigenas.
78
Sítio da Comissão Pró-Índio—CPISP, em fevereiro de 2018:
http://www.cpisp.org.br/indios/html/uf.aspx?ID=RJ.
106
A Terra Indígena Kaña Pataxi Witanara, uma dentre as treze terras indígenas
contabilizadas para o Estado do Rio de Janeiro, não consta estar em estudo pela Funai ou
anotada no Sítio da CPISP. Tomei conhecimento dessa Terra Indígena conversando com
indígenas guarani no Centro Histórico de Paraty, em meio à retirada de vendedores de
artesanato daquelas ruas por parte do poder público municipal, durante a Feira Literária
Internacional de Paraty—FLIP/2017, e fui visitá-los em sua aldeia. A presença Pataxó
Hã-hã-Hãe, em Paraty, é explanada pelo próprio Apuhinã, quem entrevistei, em 7 agosto
de 2017, na aldeia do território Kaña Pataxi Witanara, ao norte da cidade de Paraty. Ele
e seus familiares deixaram a Terra Indígena Caramuru-Paraguassu em Pau Brasil, no
Estado da Bahia em 2004, foram para uma área em Angras dos Reis e depois para Paraty.
A razão da saída da Bahia foi a tristeza, segundo Apuhinã, por conta das mortes nos
embates pela regularização da Terra Indígena no Município de Pau Brasil que se
arrastaram anos e contam, ainda hoje, com investidas de proprietários ou posseiros não
indígenas na região.
79
Órgão governamental criado em 1910 e que precedeu a Fundação Nacional do Índio – Funai.
107
da Fundação Nacional do Índio ― Funai em tomar o pleito por considerar que Pataxó é
territorializado na Bahia, segundo reportado por Apuhinã. Na aldeia Kaña Pataxi
Witanara, onde estive, em Paraty, há as relações de convivência, de trocas e de percurso
com os Guarani que vivem na aldeia, e o órgão indigenista, nessa ocasião, parece ter
preferido tomar por critério o mapa da distribuição dos grupos étnicos, em lugar de tomar
a reivindicação onde ela é feita. Para justificar o mapa, se fosse o caso, há a presença
Guarani.
Acerca dos deslocamentos dos Guarani (os maiores deslocamentos, por vasto
território e, também, a micromobilidade), a despeito dos seus segmentos étnicos inerentes
(Chiripa, Mbya, Nhandeva e Kaiowa)80, historica e espacialmente são deslocamentos que
se dão em fluxos, também movidos pela busca da Terra sem Males, pela visita a parentes
onde se podem demorar anos, indo e voltando, indo e ficando, percorrendo as redes de
parentesco. A “macro” e a “micromobilidade” obedecem a rotas que não são aleatórias,
como elucida Mendes Júnior, o qual pesquisou entre os Mbya do litoral sul fluminense:
80
Pertencem à família linguística Guarani e, além de diferenças sutis dentro do grupo Guarani, são, também,
dialetos (MARTINS, 2003, p. 25).
81
Trata-se do Sr. Miguel Karai Tataxĩ Benite, que viveu na Aldeia Pinhal, na Terra Indígena Rio das Cobras,
no Estado do Paraná, e seguiu para Paraty-Mirim, segundo Rafael Mendes Júnior. Maria Inês Ladeira, em
sua Dissertação (LADEIRA, 1992, p. 42; citada por MENDES JÚNIOR, 2009), sublinhou a reocupação de
Paraty-Mirim, nos anos 1980-1990, no mesmo lugar que, na década de 1940, havia sido uma aldeia
importante por causa da força espiritual do líder naquela aldeia (MENDES JÚNIOR, 2009, pp. 25-26).
108
Tabela 4 ― Unidades de Conservação e Áreas Protegidas em Paraty, sobreposições entre si e com Territórios Tradicionais (em 2019)
Em Instância
data de Sobreposição entre Ucs e
relação adminis- Nome Instrumento legal Sobreposição entre Ucs
criação Territórios Tradicionais
ao SNUC trativa
sem
REEJ
categori- estadual Descreto Estadual nº Decreto
Reserva Ecológica da Juatinga (em 1992 1.APA de Cairuçu-federal territórios caiçaras
zação no (RJ) Estadual n. 17.981e nº 1992
recategorização)
SNUC
1. APA de Tamoios-estadual/RJ
ESEC Tamoios
(sobreposição contida nas territórios pesqueiros de
UC federal Estação Ecológica de Tamoios 1990 Decreto Federal 98.864/90
partes insulares) caiçaras
2. APA de Cairuçu-federal
1. PNSB-federal
APA de Cairuçu 1.TI Parati-Mirim
UC federal 1983 Decreto Federal 89.42/1983 2. REEJ-estadual/RJ
Área de Proteção Ambiental de Cairuçu 2.TI Guarani de Araponga
3. AELPM-municipal/Paraty
82
Endereço da página do Sistema Informatizado de Monitoria de RPPN ― SIMRPPN, do ICMBio, com o
memorial descritivo da RPPN Laranjeiras, indicando área de 618,89 hectares totais para a soma de três
áreas distintas: http://sistemas.icmbio.gov.br/simrppn/requerimento/impressao/1261/memorppn/.
83
Endereço da página do Sistema Informatizado de Monitoria de RPPN ― SIMRPPN, do ICMBio:
Laranjeiras:http://sistemas.icmbio.gov.br/simrppn/requerimento/impressao/1261/mapa/.
84
Cinco anos depois de ter o polígono da RPPN Laranjeiras constado no mapa de consulta do Inea, em
2013, de recategorização da Reserva Ecológica Estadual da Juatinga ⸻ REEJ.
85
DOU, 01/11/2018, Seção 3, p 130.
117
86
Dependente da Ação Civil Pública nº 000841-78.2009.4.02.5111; referente ao Inquérito Civil nº
1.30.014.000229/2016-76; 1.30.014.000141/2012-21; 1.30.000052/2018-70; 1.30.000168/2017-28 e
1.30.014.000203/2003-11.
118
Representatividade:
Em 2009 houve um acordo para o acesso à Praia do Sono com regramentos
distintos para o turista e para o morador, este poderia transpor o condomínio e o turista
usaria a trilha. Conforme lembrado pela advogada do Fórum de Comunidades
Tradicionais ― FCT, na reunião em 27 de setembro de 2016, que aquele acordo de 2009
foi selado entre o Ministério Público Federal ― MPF e o condomínio; e que a comunidade
119
da Praia do Sono não assinou o acordo. Das falas da procuradora do MPF e da advogada
do Fórum de Comunidades Tradicionais ― FCT se depreendem que há uma questão
quanto à validação do acordo de 2009 relacionada à representatividade. Comentou a
procuradora do Ministério Público Federal ― MPF que, na ocasião, “o juiz perguntou
quem era o representante da comunidade na primeira vez que esteve no local. Assim,
havia representatividade para que o que fosse acordado a comunidade iria aceitar”; reitera
a advogada do Fórum de Comunidade Tradicionais que é “importante deixar claro para
os comunitários presentes que os representantes fizeram o melhor que puderam. Nós
íamos submeter o acordo final para a comunidade, mas não tivemos como fazer. Nós
ainda não tivemos acesso a esse acordo final”. Acerca do tema da representatividade,
Ronaldo, quilombola do Campinho da Independência e representante do FCT, “disse
também que a representatividade é uma forma de representação, mas a Convenção 169
da OIT diz que medidas que interfiram na vida das comunidades necessitam de consulta
pública”, diz ele que “possivelmente o que as lideranças propuseram foi isso, antes que o
acordo tivesse sido assinado. Assim, eles poderiam concordar e discordar das cláusulas
propostas”.
Acordo:
Dentre as indicações para o do condomínio, no acordo de 2009, e o
acompanhamento do MPF no seu cumprimento, foram lembrados, na reunião do dia 27
de setembro de 2016, os seguintes compromissos: “(i) o Condomínio irá se empenhar em
ampliar o deck87; (ii) tornar o local de embarque/desembarque mais seguro em relação à
chuva e ao vento [o deck]; (iii) [garantir] a passagem do barco com material de construção
uma vez por semana”.
Fonte: Sítio na Rede Mundial de Computadores chamado “Um lugar para viajar” 88
87
Onde as pessoas ficam esperando a vez de utilizar o transporte do condomínio, reclamam que ficam
apertadas ali.
88
Endereço na Rede: https://umlugarparaviajar.com/tag/paraty/.
121
“enfatizou que o Sono é uma comunidade caiçara, seus modos de vida tradicionais e a
importância do turismo para sua sobrevivência local. Em outro momento da reunião,
Ronaldo, representando o FCT, a respeito da comunidade da Praia do Sono, “comentou
que essa é uma das poucas comunidades que discutem o turismo de base comunitária na
região e que não se deve dissociar os turistas e os moradores”.
indicativo de não poder tomar nenhuma atitude” e, passadas duas semanas, ela mesma
tomando o transporte, “sentiu-se muito humilhada quando refez o trajeto e o segurança
falou de forma irônica que estava com dor”; outra moradora da Praia do Sono relatou já
ter lido as cláusulas do acordo e pergunta, na reunião, por quem pode procurar no
condomínio às 7 horas da manhã para o filho chegar à escola às 8 horas; a procuradora
do MPF “explicou que não acontecerá da criança não conseguir ir à escola por não poder
passar. Não é questão de boa vontade, o condomínio vai se organizar para atender essa
demanda”. O síndico do condomínio, o senhor Cirilo, pediu à procuradora do MPF que
lesse as cláusulas do acordo para os presentes em proveito daquela “chance de ordenar as
ações”. Com essa atitude do síndico, observo, se teria uma espécie de chancela das
cláusulas proibitivas às comunidades, porque é disso que aquele acordo de 2009 tratou,
na voz do Ministério Público para as comunidades naquela reunião, reiterando o acordo
e não os questionamentos das comunidades.
Diferenças e distinções
Um morador da Praia do Sono questionou o fato de os moradores da Vila
Oratório poderem andar livremente pelo condomínio e não os da Praia do Sono; Lidiane,
moradora do Sono, disse que “a Kombi estava parada e ela ia perder o ônibus para Paraty”,
quando foi tentar passar a pé pelo Condomínio e foi agredida pelo segurança, Lidiane
questionou não ter podido percorrer a pé um percurso de cinco minutos perto do rancho
quando este “é percorrido pelo pessoal da Vila Oratório”; também da comunidade da
Praia do Sono, Adriana “questionou o Sr. Cirilo sobre qual a diferença entre o caiçara da
Praia do Sono, da Vila Oratório e da Ponta Negra”, contou que “existia um acordo
antigamente de passar a pé pelo rancho e agora o Condomínio quer fazer outro acordo só
com os moradores da Praia do Sono”, falou que pelo fato de os seguranças do condomínio
reconhecerem os moradores da Praia do Sono “sempre solicitam que se identifiquem”;
outra moradora da comunidade da Praia do Sono disse que “a situação ficou mais
complicada após a entrada do Sr. Cirilo como síndico o Condomínio Laranjeiras”.
Ronaldo, quilombola e representante do Fórum de Comunidades Tradicionais, alertou
que “é preciso tomar cuidado para não colocar os companheiros nesse balaio de gato e
serem nivelados por baixo, assim todos perderem”; Leila, da comunidade da Praia do
Sono, retomou a história comentando “que as pessoas da Vila Oratório moravam dentro
do Condomínio Laranjeiras e não podem ser proibidos de passar. Esses moradores são os
donos da terra onde os condôminos moram atualmente”.
condomínio, o jornal El País – Brasil perguntou ao seu síndico, Cirilo Pierre Ribeiro:
“Toda aquela mata com placas ao longo do trajeto pertence ao condomínio?”, ao que
respondeu o senhor Cirilo para o jornal “Se tem placa com o nome do condomínio, sim”.
A reportagem diz que “os limites do terreno não são claros”, conforme a reportagem
interpretou as informações fornecidas pela chefe da APA de Cairuçu, Lilian Hangae,
quem, também, explicou àquele jornal a perspectiva do penúltimo Plano de Manejo da
APA de Cairuçu, vigente entre 2004 e maio de 2018:
Retomemos a cronologia até aqui para seguir um pouco mais adiante: a Área
de Proteção Ambiental ― APA de Cairuçu foi criada pelo governo federal em 1983; a
Reserva Ecológica Estadual da Juatinga ― REEJ, pelo governo do Estado do Rio de
Janeiro em 1992, com sua área sobreposta à APA de Cairuçu; a consulta da
recategorização promovida pelo Instituto Estadual do Ambiente ― Inea ocorreu em 2013;
O Inea insere na sua proposta de recategorização um mapa da RPPN Laranjeiras que não
havia sido ainda criada, cuja consulta de RPPN se dará cinco anos mais tarde, com um
mapa ampliado e, conforme remarcou o Ministério Público Federal na Ação Civil Pública
em dezembro de 2018, o aviso de consulta e acolhimento para estudo da RPPN proposta
por parte do ICMBio/Sede se dá em contradição interna ao órgão. Meses antes, o novo
125
Plano Manejo da APA de Cairuçu havia sido aprovado pelo ICMBio, por meio da
Portaria/ICMBio nº 533, de 24 de maio de 2018, publicada no Diário Oficial da União no
dia seguinte, à Seção 1, página 50.
89
Dependente da Ação Civil Pública nº 000841-78.2009.4.02.5111; referente ao Inquérito Civil nº
1.30.014.000229/2016-76; 1.30.014.000141/2012-21; 1.30.000052/2018-70; 1.30.000168/2017-28 e
1.30.014.000203/2003-11.
126
(CPDA, 2015), ao longo dos governos de Roberto Silveira (1959-1961, eleito pela
coligação PTB-UDN), de Celso Peçanha (1961-1962), de Luiz Miguel Pinaud (1963,
PSD, mandato tampão) e de Badger da Silveira (1963-1964, PTB). As desapropriações,
a partir de fins da década de 1950, passaram a constituir a frente das demandas dos
movimentos dos trabalhadores rurais, pois eram tais demandas eram encaminhadas ao
Poder Executivo; ao passo que as ações de usucapião eram submetidas à avaliação do
Poder Legislativo, o que era mais moroso. E o histórico com as experiências nas ações de
usucapião não era bom: advogados aceitavam dinheiro da empresa para convencer a
comunidade de Trindade a aceitar negociações e deixarem a vila, cujo valor era superior
ao pago aos advogados pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais; há caso de que um
advogado que obteve a procuração de um trindadeiro para entrar com a ação de usucapião
e entregou o documento à empresa Adela-Brascan (CPDA, 2015, pp. 321, 338)
Figura 16 ― Mapa da Área Estadual de Lazer de Paraty-Mirim ― AELPM, Terra Indígena Araponga, Território Quilombola Campinho da
Independência e Terra Indígena Parati Mirim
129
Em meados dos anos 1960, não se sabe bem, talvez pela política de
Paraty, o responsável da área foi retirado, possibilitando a ocupação das
terras da fazenda por pessoas de fora, inclusive de outras regiões, com a
esperança de serem beneficiados pelo trabalho do governo. (IGARA,
2011, p. 46)
90
APA da Baía de Paraty, ou Área de Proteção Ambiental Municipal da Baía de Paraty, Parati-Mirim e
Saco do Mamanguá.
131
Parte da Fazenda Santa Maria do Mamanguá foi adquirida por Gibrail Nubile
Tannus comprada da família de Teófilo Remek, e na sequência se dizia dono da área toda
da fazenda em porções que não lhe pertenciam, que eram: Ponta Negra, Antigo Grande e
Antigo Pequeno. Nas décadas de 1960 e 1970 seguintes, prosseguiu se apossando de
terras com interferência intermediada nos cartórios na adulteração e na subtração de
documentos dos imóveis, como no episódio da grileira Maria Dutra, em caso judicial,
flagrada ao arrancar folhas de escritura daquelas terras em 1976. Os documentos
adulterados faziam a cadeia dominial de Gibrail remontar ao século XVI (CPDA, 2015,
91
Se algum membro da comunidade possuir algum título, será tratada como proprietário.
133
p. 324), conforme relatado pelo padre Pedro Geurts, em relato à CPT Nacional92. Com
respaldo de instituições governamentais, por meio da autorização de lavra do DNPM e de
projeto de empreendimento turístico junto ao Incra e à Embratur, Gibrail se servia dessa
chancela governamental para tramitar documentos com a comunidade da Praia do Sono,
com indenizações pífias que significavam, em fato, o seu despejo no reconhecimento de
posse ao Gibrail. Os comunitários eram enganados ao assinarem um termo de comodato93
com impressões datiloscópicas, aconselhados pelo pastor Agostinho Ignácio a fazerem-
no como se fosse uma boa garantia da terra (CPDA, 2015, p. 325).
92
Referente ao documento SNI-Relatório, 06/10/1977. Atuação da esquerda clerical. Acervo Memórias
Reveladas/Arquivo Nacional – Documento ARJ_ACE_12131_85, conforme informado no Relatório
intitulado “Conflitos por terra e repressão no campo no estado do Rio de Janeiro (1946-1988)” (CPDA,
2015, p. 324).
93
Uma prática recorrente utilizada nos esbulhos dos territórios caiçaras (IGARA, 2011, p. 55; CPDA, 2015,
pp. 321-335).
134
94
Processo nº 2002.041.000216-5.
135
95
Para consultar a referida lei na íntegra, acesse o portal da Câmara dos Vereadores de Paraty, ou o linque:
http://www.paraty.rj.leg.br/camaraparaty/painel/Leis/2002/Lei_1339_2002.pdf.
137
.........................
.........................
As comunidades estão onde estão por mérito próprio e aquela lei não lhes
rende nada exceto disposições confusas acerca de quem sai e quem volta; as licenças de
prospecção são parte de todo um processo de licenciamento que já existe mesmo sem as
138
96
Disposição que, de certo, levou em conta o episódio da abertura da estrada entre o Condomínio
Laranjeiras e o cais planejado no Saco do Mamanguá.
139
incidindo nas Áreas de Proteção Permanentes – APPs, cujos efluentes não devem alcançar
os corpos de água.
A ZUCO e a ZURE podem ser vistas como uma zona de transição entre as
áreas de concentração de moradias rentes ao mar (as ZPCA’s) e a área de preservação e
conservação (a ZCON), nesta áreas são proibidas as roças, subentendidas na de “qualquer
tipo de supressão da vegetação nativa ou extração de espécies vegetais como madeira,
plantas ornamentais, cipós, taquaras e palmeiras”. É permitida a coleta de sementes para
fins de recuperação ambiental. Tanto na ZUCO como na ZURE a quantidade de
residências não pode ser aumentada:
hoje estabelecida; as permissões, também, impedem inovações por parte das comunidades
e são acompanhadas de autorizações do ICMBio em um universo de discricionaridades,
tais como: “forma eventual”, “em escala reduzida”, “rústico”. Com base em quais
parâmetros tais características podem se aferidas?
O conjunto das duas zonas, Zona de Uso Restrito ― ZURE e Zona de Uso
Comunitário ― ZUCO, como uma transição de áreas de ocupação para a não ocupação
(na ZCON, exceto pelos caminhos e visitação) parecem ser até onde as comunidades
poderiam chegar a ocupar, ou a partir de onde vão ser desestimuladas a estarem,
encolhendo-se rente ao mar. É uma área de vetores opostos de ocupação em expectativa
e que, em lugar de uma linha dura cindindo espações, temos no conjunto das duas zonas
uma espécie de linha alargada que acomoda e não deflagra ou incrementa os conflitos
entre órgão ambiental e comunidades.
sempre repetido que é uma unidade de conservação “em que tudo pode”) para graus mais
restritivos, E fez isso sem mobilizar indenizações da terra nua, pois para uma APA não
há essa previsão.
144
Figura 19 – Zoneamento da Área de Proteção Ambiental de Cairuçu, Plano de Manejo de 2018 (APA de Cairuçu/ICMBio)
Fonte: ICMBio, arquivo no formato “KMZ” disponível na página da APA de Cairuçu, com as seguintes inserções feitas por L. B. Ursini, em 2019 na figura acima: legenda junto à
figura, conforme layers da imagem, e alterada a cor da ZURB para cor preta para não se confundir com a cor da ZPRT e não está indicada a Zinf por ser pequena e não visualizável na figura acima.
145
97
Há informações sobre a localização da Baía de Paraty e a informação de que tanto a APA da Baía de
Paraty quanto a Reserva Ecológica Estadual da Juatinga foram consultadas ao longo do processo (ICMBio,
2018, pp. 13, 69).
146
.........................
98
Ver, nesta tese, o item 4.2.6― Reserva Ecológica Integrada ― proposta para o grupo de uso sustentável.
149
territórios de forma integrada. Essa, uma imagem mais interessante que a Reserva
Ecológica Integrada, porque parte da territorialidade das comunidades, para se pensar os
territórios naturais de comunidades que a APA de Cairuçu abrangeu.
99
Para acesso à seção na página oficial do ICMBio: http://www.icmbio.gov.br/cairucu/quem-
somos/perguntas-frequentes/com-phocagallery-imagerating/110-o-que-sao-a-apa-de-cairucu-o-parque-
nacional-da-serra-da-bocaina-a-estacao-ecologica-de-tamoios-a-reserva-ecologica-estadual-da-juatinga-e-
a-area-de-protecao-ambiental-baia-de-paraty.html.
152
100
São ilhas, lajes, ilhotes e rochedos.
153
dificuldades para fiscalização por conta da localização geográfica das ilhas; fiscalização
fraca por parte do Ibama ou norteada pela repressão e não pela educação; precariedade da
educação ambiental; ser uma unidade de conservação de fácil acesso, situada em área de
fluxo de embarcação de lazer e turismo intenso; perímetro muito grande, fragmentação
ou dispersão da área; necessidade de documentos legais quanto ao entorno marinho das
ilhas; e dificuldade de visualização da delimitação física, que é abstrata por não ter
referências. O relatório informa que “existem usos tradicionais de difícil supressão”, o
que pode ser interprestado como arraigados e não restritos às comunidades. Dentre os
“pontos fortes” da ESEC de Tamoios foi apontada a quase inexistência de populações
tradicionais (ICMBio, 2001-b).
101
No “Relatório de Conflitos de Terras”, Fetag/RJ, 1979.
156
Figura 22 -- Reserva da
Biosfera e respectivas
zonas da Mata Atlântica
Reserva da Biosfera
sistema. É um modelo internacional criado em 1972 pela Organização das Nações Unidas
para a Educação, a Ciência e a Cultura ― Unesco adotado por pouco mais de cem países
com 440 Reservas da Biosfera instituídas.
102
Conforme Memória de Reunião, ocorrida durante o Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação
– CBUC, em Florianópolis em 31/07/2018, arquivada no sítio oficial do Ministério do Meio Ambiente—
MMA.
159
Parati, 1666, ao redor de Angra dos Reis, vai avançando de tal ritmo que,
ao passar na centúria imediata,
o nome da Vila é sinônimo nacional da aguardente.
Um cálice de parati, diz-se ainda hoje,
como que diz Madeira, Porto Colares, Cognac, Champagne, Bordeaux, Tokay,
terras que são nomes de vinhos.
(Prelúdio da cachaça, Luís da Câmara Cascudo, 1968)
103
Em 1660, noutro momento econômico e político, a fim de se evitar a superprodução, se proibiu a
construção de novos engenhos no Brasil.
104
A Instrução Normativa nº 25/INPI/2013 dispões sobre a Indicação Geográfica.
160
oceano; e a parte alta do Município, acima das encostas da Serra do Mar, na porção
noroeste de Paraty, não pertence ao território da cachaça, como segue:
164
165
165
166
Ponta da Juatinga, Martim de Sá, Saco das Enxovas, Cairuçu das Pedras, Ponta Negra,
Sono, Vila Oratório, Trindade, Ilha do Araújo, Ilha do Algodão.
105
Requerimento da Câmara Municipal de Paraty nº 23, de 24 de março de 2014, disponível no sítio da
Assembleia Legislativa e Câmara dos Vereadores de Paraty.
166
167
167
168
A figura de “Sítio Tombado” não possui uma norma específica para esse
efeito. Há tombamentos de conjunto de bens, de áreas para a preservação do conjunto
paisagístico a fim de resguardar a visibilidade — como é o caso das edificações jesuíticas
das Missões — regulando-se, inclusive, áreas de entorno. A cidade de Ouro Preto foi
tombada em grande proporção de seu território, em 2010, sendo que Paraty é o único caso
de tombamento integral até o presente momento (em 2018).
106
O que é outra crítica em reação da Câmara em Paraty, do Vereador Luciano de Oliveira Vidal, que
questiona, além do que já indiquei acima, qual a metodologia utilizada pelo Iphan, pois a Portaria/Iphan nº
402/2012 surge, sem um relatório ou outro documento que a apresente ou em que ela se apoie.
168
169
107
Observo que as divisões e os limites políticos territoriais de municípios, de unidades da federação e do
país ou as propriedades particulares não são objeto de análise aqui, mas que, eventualmente, estarão
envolvidas nessas três classes de diversas formas em uma profusão de situações e exemplos que serão
apontados circunstancialmente.
169
170
108
Nas normas diversas que asseguram a permanência por conta da pesca e de outras atividades de um
grupo específico.
170
171
171
172
172
173
173
174
Com o antigo nome de “Real Horto” e de uso privativo da família real com
as finalidades de aclimatação de espécies exóticas e como espaço restrito para passeio, o
Jardim Botânico do Rio de Janeiro foi inaugurado em 13 de junho de 1808 e, em 1811,
sua área foi ampliada para a plantação de chá. Depois, passou a ser público
(CARVALHO, 2015, pp. 11-12). O Jardim Botânico abrigava plantas para os estudos de
109
Não encontrei disposição em contrário após a data de 1698; no entanto, não é seguro afirmar que à época
do desejo de se construir um engenho central em Paraty — o que não aconteceu — a norma seria vigente;
de qualquer maneira
174
175
110
Em sua dissertação na Engenharia Civil sobre o Parque Estadual Serra do Mar, defendida em 2007.
111
José Bonifácio de Andrada e Silva, homem público na Coroa e com formação acadêmica diversa pela
físico-química e filosofia, ele volta ao Brasil depois de aproximados 30 anos vividos na Europa; pretendeu
ocupar cargos públicos e reformular a capacidade dos funcionários do governos na sua atuação (VARELA,
et al., 2005).
175
176
os meios de transporte que, também, poderiam ser desenvolvidos; e Alberto Torres (1865-
1917), na defesa da proteção da natureza como responsabilidade da sociedade, a fim de
manter reservas futuras. Foram previstas a implantação de um parque em Sete Quedas,
no Paraná, e outro na Ilha do Bananal, ao norte de Goiás, hoje Estado do Tocantins. O
primeiro, a Hidrelétrica de Itaipu cobriu, e o Parque Nacional do Araguaia tem outras
histórias contadas mais adiante neste capítulo.
112
São veredas, margens de lagos artificiais ou naturais, bordas de chapada, nascentes, matas ciliares,
angulação de inclinação de morros e outras pequenas porções, se comparadas às unidades de conservação,
em que os usos e a recomposição são regulados em normas, dentre elas estão diversas resoluções do
Conselho Nacional do Meio Ambiente ― CONAMA.
113
No rastro da teoria dos miasmas.
114
O Parque Nacional do Itatiaia, apontado como o primeiro parque nacional do Brasil, e a Reserva Florestal
do Acre, que pode ter sido a primeira Área Protegida criada no Brasil, em 1911.
115
Empresário, Engenheiro Civil, abolicionista e reformador social, André Pinto Rebouças defendia
programas de agricultura para a integração de escravos libertos (CARVALHO, 1998, p. 211 e ss); sugeriu,
também, a criação do Parque de Sete Quedas e do Parque da Ilha do Bananal.
176
177
116
O decreto, embora traga o memorial descritivo da delimitação, não traz a área da reserva, que encontrei
calculada e plotada na pesquisa de André Vital (VITAL, 2018, p. 43) sobre saúde pública no Território
Federal do Acre.
117
Uma “linha seca”, em delimitação e demarcação, é a reta que liga pontos de referência, diferente
daquelas que usam os cursos dos rios e outros marcadores naturais.
177
178
localizada em porção elevada e da qual partem tributários de oito rios à sua volta118. No
decreto de criação da reserva, de 1911, há a vedação de acesso à área da reserva florestal,
exceto o trânsito necessário, no caso de caminhos de intercomunicação de povoados; há
vedação à extração de madeiras e de quaisquer outros produtos florestais; são proibidas a
caça e a pesca. Há a previsão de desapropriação de moradores que apresentem
documentos comprobatórios, ou um acordo amigável para a aquisição de outras terras.
118
Conforme indicação em croqui de André Vital (VITAL, 2016, p. 199) sobre o mapa de Placido de Castro
de 1907 (CASTRO, 1907).
178
179
(VITAL, 2016, pp. 155-157; CZERESNIA, 1997, p. 86)119. O que parece se esboçar no
que seria um campo de aplicações científicas de diversas ordens e correntes apontadas
para o Território Federal do Acre, de racionalidade nos recursos naturais, nos meios para
a organização com a construção de uma ferrovia ― que não foi construída ― e um cenário
que a criação da reserva florestal corrobora.
119
O Decreto 17.042/1925, que regulamentou o Serviço Florestal em 1921, traz em seu artigo 18, alínea
“d”, acerca das funções ― podemos considerar serviços ambientais ― da categoria Floresta Protetora:
“concorrer para a salubridade publica, pelo saneamento e purificação da atmosfera”.
179
180
não conhece e com um mapa tão mal feito, se referindo ao mapa da criação da reserva
florestal (VITAL, 2016, p. 200; VITAL, 2018). Quanto a este ponto, não apenas pela
novidade e pela antipatia que o decreto causou aos seringalistas, mas de certo porque as
delimitações do conjunto de áreas da reserva se dão por longas retas “em linhas secas”,
que são típicas de mapas desenhados “em gabinete” ligando pontos identificáveis (por
qualquer um à distância do local real) como a confluência de rios, os núcleos habitacionais
estabelecidos, que denotam a produção de tal delimitação com um profundo
desconhecimento de quem o faz; às pressas e de longe.
120
A mesma comissão elaborou os dois documentos e era composta por deputados; representante do MAIC;
pelo representante do Serviço Mineralógico e Geológico do Brasil, o geólogo Felipe de Campos e pelo
naturalista do Jardim Botânico geólogo, Manuel Pio Corrêa (VITAL, 2018, p. 60).
180
181
181
182
A Sociedade dos Amigos das Árvores foi criada em 1931 no Rio de Janeiro,
era presidida por Leôncio Corrêa, havia sido idealizada por Alberto José de Sampaio,
botânico do Museu Nacional e era organizada pelo naturalista Frederico Carlos Hoehne.
Alberto Sampaio vê no governo possibilidades e meios de se terem aplicadas medidas de
proteção da natureza, tendo ele escrito, desde meados de 1912, em favor do
reflorestamento, das reservas naturais e da preservação da floresta primária remanescente
por meio de uma reforma na agricultura em favor de uma lei florestal (HAMMERL, 2013,
p. 4; DEAN, 1996, p. 275), no que era ele prosélito junto às elites, de acordo com Dean
(DEAN, idem).
121
A poetisa, defensora do que seria a “educação nova” e da liberdade de imprensa tem, nessa contradição,
a análise de Mariana Batista da Silva (SILVA, 2019) que ressalta duas faces que não se juntam, como as
vejo e comento: Cecília Meireles já havia colaborado como jornalista no Diário de Notícias e no Observador
Econômico e Financeiro e, segundo a autora, sempre havia conseguido trazer para as páginas alguma crítica
ao governo; ao que parece, pode não ter tido muitas possibilidades como editora é à frente da revista do
DIP.
122
O autor se reporta a cartas escritas a Manuel Bandeira em que Cecília Meireles ora se entusiasma e ora
demonstra decepção quanto estar à frente da revista.
182
183
tomou posturas conservacionistas, segundo Warren Dean; foram criados o Clube dos
Amigos da Natureza; a Sociedade Geográfica do Rio de Janeiro; a Sociedade dos Amigos
da Flora Brasílica, com 113 sócios fundadores; uma reserva biológica foi adquirida pela
Sociedade de Amigos do Museu, formada por servidores do Museu Nacional do Rio de
Janeiro em uma organização fechada de atuação política em favor do Museu, informa
Dean; e a Sociedade de Amigos de Alberto Torres, na forma de células, com mais de mil
delas ao final da década de 1930 atuando com palestras em escolas e no fornecimento de
ferramentas e de sementes, com posturas ativas na conservação relacionadas às questões
locais (DEAN, 1996, p. 275).
183
184
184
185
interior da propriedade, que hoje podemos vê-las com o nome de Áreas de Proteção
Permanente ― APP’s.
123
Em Washington, em 12 de outubro de 1940, aconteceu outra conferência com os mesmos objetivos
daquela de Londres em 1933, porém, voltada para a América.
124
O Plano de Manejo do Parque Nacional do Araguaia (ICMBIo, 200, p. 6) aponta a data de 1876.
185
186
Araguaia. A Ilha do Bananal (o nome anterior era Ilha de Sant’Ana) se localiza entre a
margem direita do rio Araguaia e a esquerda do rio Javaés, antes Goiás e hoje Tocantins;
sendo que o registro da presença de indígenas Karajá e inclusive a indicação da presença
Xavante na ilha125 e outros povos já era conhecido à época da proposição do parque:
125
Os registros de etnólogos e etnógrafos os mapeiam, por vezes, citados em documentos antigos em meio
aos Xerente, de quem se diferenciam. Depois que estiveram juntos no Aldeamento Carretão, em Goiás, na
margem direita do Rio Araguaia e afastado dela.
126
Com recursos financeiros da Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia
SPVEA, criada em 1953, sucedida pela Superintendência da Amazônia ― SUDAM, em 1966, vide
Portifólio de Instituições Governamentais, Presidência da República.
127
Rede Record TV-Confresa; arquivo de vídeos “Memórias do Araguaia 2º episódio – Hotel JK”,
disponível em www.rnatv.com.br.
186
187
A IUPN, uma rede de proteção à natureza das mais antigas e das maiores,
segundo Franco (FRANCO, et al., 2015, p. 246), depois de criada em 1948, mudou o
nome, em 1965, para União Internacional para a Conservação da Natureza ― IUCN. Mais
tarde, A IUCN e outras organizações não governamentais internacionais vão estar
envolvidas nas discussões de áreas naturais protegidas como instrumentos de conservação
128
A Fundação Nacional do Índio ― Funai, em cooperação com o PNUD, no marco do Projeto Integrado
de Proteção às Populações e Terras Indígenas da Amazônia Legal ― PPTAL, efetuou diversas
identificações e delimitações de terras indígenas na Região Amazônica, eu mesma coordenei dois grupos
técnicos contratada pelo PNUD, que resultaram em dois Relatórios Circunstanciados de Identificação e
Delimitação (RCID), um para a Terra Indígena Cajuhiri-AStravessado, no Estado do Amazonas, no Médio
Solimões (2001); e outro para a Terra Indígena Bacurizinho, no Estado do Maranhão (2004).
187
188
dos recursos naturais, como aponta Barreto Filho; anteriormente estiveram às voltas com
ações pautadas na ideologia do progresso, ao longo de duas décadas no cenário de
reconstrução pós-guerra (BARRETTO FILHO, 2001, pp. 4, 34; FRANCO, et al., 2015,
p. 245) por meio das organizações do sistema ONU.
188
189
129
Há outras denominações: Cúpula da Terra, Eco 92 e Cimeira do Verão.
130
Princípio nº 5 da Declaração de Estocolmo sobre o ambiente humano – 1972.
189
190
131
Depois, integrou o conjunto de instituições na criação do Ibama, são as outras instituições: o próprio
Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal―IBDF, a Superintendência da Borracha ―SUDHEVEA
e a Superintendência da Pesca ― SUDEPE.
132
Criada por meio do Decreto nº 7.3030, de 30/10/1973.
190
191
como destaca Barreto Filho (BARRETTO FILHO, 2001, p. 150). A dispersão das
discussões sobre o meio ambiente e a não centralização do tema em alguma instituição
no Brasil transparecem nas recomendações aos ministérios para suas manifestações para
se construir a posição brasileira, que seria levada a Estocolmo, ao indicar que se devia
“evitar iniciativas isoladas e fracionárias por parte de órgãos da administração pública do
país” nas suas contribuições, na forma que consta na Exposição de Motivos nº
001/1971133, de 22 de dezembro de 1971, do Conselho de Segurança Nacional e assinada
por pelo do Secretário-Geral daquele conselho João Batista Figueiredo (BRASIL, 1972).
133
A Exposição de Motivos nº 001/1971 é dirigida à Presidência da República em resposta ao Ministério
das Relações Exteriores - Exposição de Motivos AEsp/AOI/DNU/266/602.60(04)-MRE, de 23 de agosto
de 1971, que trata da posição a ser adotada pelo governo brasileiro “no que diz respeito aos problemas
ligados ao meio ambiente” na Conferência de Estocolmo em 1972.
191
192
― ESEC, esta criada em 1981134, com objetivos parecidos aos da Reserva Biológica ―
REBIO criada pelo Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal―IBDF em 1967135
(MEDEIROS, 2006, p. 54). ESEC e REBIO são as duas categorias de unidades de
conservação mais restritivas à presença humana, sendo permitidas a pesquisa científica
em ambas e foram recepcionadas pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação da
Natureza―SNUC, criado em 2000.
134
Lei nº 6.902, de 27 de abril de 1981, criou, também, as Áreas de Proteção Ambiental - APPs.
135
A categoria “Reserva Biológica” foi criada por meio da Lei nº 5.197, de 3 de janeiro de 1967, que
dispunha sobre a proteção da fauna e que criou, também, o “Parque de Caça”.
192
193
136
O evento foi Rio+5 se referiu à Special Session of the General Assembly to Review and Appraise the
Implementation of Agenda 21, ocorrido entre os dias 23 e 27 de junho de 1997.
137
Responsável pela elaboração de nove documentos (CORDANI, et al., 1997)
138
Na atualidade, a Fundação tem parceria e apoio do MCTI/CNPq, do Projeto Biota/Fapesp; foi fundada
por empresas.
193
194
139
Decreto de 26 de fevereiro de 1997.
140
Criada pelo Decreto nº 1.160, de 21 de junho de 1994.
141
Tanto as pesquisas quanto as suas publicações continuaram em edições posteriores.
194
195
142
Mensagem nº 132/1993, de 19 de março de 1993, do Poder Executivo, acompanhada: da Exposição de
Motivos Exposição de Motivos, assinada pelo Ministro de Estado das Relações Exteriores, Fernando
Henrique Cardoso, publicada no Diário do Congresso Nacional, seção 1, em 27 de março de 1993 - sábado,
pp. 6.224-6.225.
195
196
mesmo as disputas, serem travadas em outro campo, sob um outro marco legal; a
participação dos parlamentares na elaboração dos dispositivos que decorreriam da
regulamentação da CDB; a “ambientação” do novo marco legal, aliado ao enfoque
econômico e estratégico da biodiversidade nos interesses nacionais; e, finalmente, o
aposto “de forma sustentável”, abrangendo partidários do “desenvolvimento sustentável”.
Uma multiplicidade de endereçamentos que pudesse fazer com que diversos setores ali
se enxergassem em maior ou menor amplitude. O texto da Convenção é aprovado em
fevereiro de 1994 e, como lei, passa a vigorar a partir de maio daquele ano143. Depois
disso, era necessário implementar a Convenção sobre a Diversidade Biológica―CDB.
143
O Decreto nº 2.519, de 16 de março de 1998, promulga a Convenção sobre Diversidade Biológica, cujo
texto foi aprovado por meio do Decreto Legislativo n° 02, de 3 de fevereiro de 1994. No cenário
internacional, a CDB começou a vigorar em 29 de dezembro de 1993 e, no Brasil, passa a vigorar a partir
de 29 de maio de 1994, 90 dias após o governo brasileiro ter depositado o instrumento de ratificação da
Convenção em 28 de fevereiro de 1994, conforme prevê o Artigo 36º da CDB.
196
197
144
Entre 2003 e 2005, contratada pelo PNUD.
197
198
198
199
Lei (PL) nº 2.892/1992 na Câmara dos Deputados145 em 5 de maio de 1992 e, ao final das
discussões e tramitação, a lei é promulgada em 18 de julho de 2000. Ajustes na redação,
próprios do processo de tramitação de uma lei, foram feitos ao texto e neste item quero
destacar a alterações que que relacionam populações humanas e unidades de conservação
em que o longo período de tramitação nos permite. A ênfase no olhar para esse período
será dada ao tratamento das comunidades tradicionais e dos povos indígenas.
A lei do SNUC carreia uma tradição para dentro do texto e deverá acomodá-
la no seu propósito de ser uma lei geral para as formas de conservação e proteção da
natureza. Em minha pesquisa do processo de formulação da lei olho para como as
145
Na sua tramitação no Senado Federal recebe o nome de Projeto de Lei da Câmara dos Deputados (PLc)
nº 27/1999.
199
200
200
201
1. Parque Nacional
2. Monumento Natural
3. Refúgio da Vida Silvestre
(incluindo os objetivos da Área de Relevante Interesse
Ecológico com a proposta de exclusão desta)
Proteção Integral (uso indireto)
4. Reserva Ecológica
(proposta de fusão entre Reserva Biológica e Estação Ecológica)
ou:
4. Reserva Biológica
5. Estação Ecológica
Manejo Provisório 1. Reserva de Recursos Naturais
1. Reserva de Fauna (extinguindo-se o Parque de Caça)
Manejo Sustentável 2. Área de proteção Ambiental
3. Reserva Extrativista
201
202
Deputados ficou responsável pelas discussões e tramitação do que agora era o Projeto de
Lei nº 2.892/1992.
146
Processo físico, encontrável digitalizado no sítio da Câmara dos Deputados.
202
203
203
204
Ecológica Integrada, que não seguiram para a edição final da Lei nº 9.985, de 18 de julho
de 2000.
204
205
147
Deputados presentes na reunião ordinária da Comissão de Direitos do Consumidor, Meio Ambiente e
Minorias ― CDCMAM de 9 de junho de 1999: Flávio Derzi (Presidente), Luciano Pizzatto, Celso
Russomanno e Paulo Baltazar (Vice-Presidentes), Fátima Pelaes, Expedito Júnior, Reginaldo Germano,
Eunício Oliveira, Fernando Gabeira, Ben-Hur Ferreira, Jorge Tadeu Mudalen, Luiz Bittencourt, José Borba,
Badu Picanço, Murilo Domingos, Sebastião Madeira, Vittório Medioli, João Magno, Marcos Afonso,
205
206
Ricardo Izar, Régis Cavalcante, Valdeci Paiva, Aroldo Cedraz, Pedro Pedrossian, Moacir Micheletto,
Márcio Bittar, Philemon Rodrigues, Ronaldo Vasconcellos, Arlindo Chinaglia, Alcione Athayde, Duílio
Pisaneschi, Fernando Coruja, Sérgio Novais e Aloízio Santos (Projeto de Lei n° 2.892/1992, fl. 97).
206
207
.............................
207
208
.............................
Observo que nas últimas linhas do Artigo 6º, imediatamente acima, está
expresso que as comunidades não conservam, tampouco fazem uso sustentável e só o
empreenderiam se guiadas, cuidadas e tuteladas nos usos.
A Reserva de Recursos Naturais (art. 22, fl. 543) dentre todas as demais
categorias dos outros grupos, estava dispensada de ter um plano de manejo, por conta de
seu caráter provisório. Ela não poderia ser confundida como “área em estudo prévio para
a criação de unidade de conservação”, para o que havia uma disposição específica nesse
mesmo Substitutivo (art. 24, fl. 544) com meios de interdição das áreas. O prazo para a
destinação de uma categorização definitiva, posteriormente à Reserva de Recursos
Naturais, era de dois anos, prorrogáveis por igual período, para a sua destinação final. Na
Reserva de Recursos Naturais eram proibidas “a concessão de licenças para pesquisa e
lavra de minérios, a construção de barragens e estradas, e qualquer forma de exploração
comercial dos seus recursos naturais” (art. 22, § 5º, fl. 543).
208
209
209
210
148
Decreto de 2 de janeiro de 2006.
210
211
1993. A mesma proposta foi reencaminhada, em 8 de dezembro de 1993, para João Paulo
Capobianco, então presidente da fundação SOS mata Atlântica149 e, desta vez, a proposta
também seguiu para o Instituto Florestal no Estado de São Paulo e para a Direção do
Consema. Depois das tentativas, a proposta surgiu no Projeto de Lei n° 2.892/1992.
149
Mais tarde, seria Secretário de Biodiversidade de Florestas ― SBF, no Ministério do Meio Ambiente,
onde trabalhei no Departamento de Recursos Genéticos ― DPG, ligado à SBF, entre 2003 e 2005, com o
tema dos acessos aos conhecimentos tradicionais associados ao patrimônio genético, na análise e na
tramitação das solicitações de acesso.
150
Parte litorânea exposta na maré baixa e parte afetada pelas ondas na maré alta, essa faixa é chamada de
Zona Intertidal.
211
212
exploração de recursos minerais seriam vedadas; que a exploração dos recursos naturais
seria dada sob manejo sustentável dos recursos; e que “a substituição da cobertura vegetal
por espécies cultiváveis em pequenas áreas” estaria sujeita às limitações legais ― no que
imagino se referir aos roçados das populações, sempre apontados como nocivos aos
ambientes nas refutações à permanência de comunidades tradicionais em áreas que se
tornam unidades de conservação151.
151
O pousio e a coivara.
212
213
213
214
não são apenas extrativistas vegetais, conforme explicado na proposta elaborada pelo
Nupaub (DIEGUES, s/d, p. 5). Acrescendo que a Lei do SNUC vigente indica a
população das Reservas Extrativistas como “população tradicional extrastivista”.
214
215
Embora previsto na Lei do SNUC que a posse por parte das populações
tradicionais ⸻ nas categorias de unidades de conservação Reserva de Desenvolvimento
Sustentável e na Reserva Extrativista ⸻ seria disciplinada em regulamentação específica,
tal regulamentação foi editada dois anos depois, sem, no entanto, dispor sobre a posse.
Trata-se do Decreto nº 4.340, que, de acordo com o estudo de iniciativa da World Wide
Fund for Nature ―WWF Brasil (2006) informa que:
215
216
216
217
217
218
Art. 27. Quando existir um mosaico de Art. 26. Quando existir um conjunto de
unidades de conservação de categorias unidades de conservação de categorias
218
219
219
220
152
Os mosaicos se referem à gestão integrada entre unidades de conservação, já as zonas de amortecimento
e os corredores ecológicos dispõem sobre os usos externos às unidades de conservação e, portanto, em áreas
não sujeitas à desapropriação, daí as queixas das interferências de proprietários.
220
221
de o Estado interferir no direito de propriedade e não sendo elas áreas de domínio público,
não implicando desapropriações.
221
222
222
223
se resolverem as sobreposições, sem que se tenha de maneira explicitada sob qual forma
se daria tal sobreposição. Temos aí outro fenômeno do comportamento do Poder Público
nas discussões: em questões polêmicas deixa espaços, vagas, lacunas ― no caso, por meio
da palavra “regularizar” ― para que alas distintas se vejam contempladas, de alguma
forma, e não ofereçam resistência à norma e à sua aprovação.
223
224
224
225
153
Assinado por Maurício Mercadante, à época Diretor de Áreas Protegidas, e quem havia acompanhado
como assessor a tramitação do Projeto de Lei n° 2.892/1992 na elaboração do SNUC.
225
226
226
227
A fala de um Relator, que deverá dar o seu voto, é dirigida a diversos setores
e ideologias envolvidos na tramitação e com reflexo no mundo fora a Câmara, não apenas
por conta da esquematização de organização política na forma de representação, senão
como repercussão das decisões tomadas, além do fato de nem todos estarem
representados, de certo. O trecho que transcrevo abaixo, daquele mesmo relatório, tem
esse tom polifônico:
227
228
escopo da Lei. Vale mencionar que territórios quilombolas não são abordados nas versões
parciais do Projeto de Lei, e os quilombolas estariam inseridos em “populações
tradicionais”. A manutenção da definição de “populações tradicionais” pode se ter devido
a uma estratégia política, a meu ver, que levou as comunidades e as organizações
comunitárias até o final das discussões e, então, cedeu às pressões preservacionistas
combinadas com o descontentamento na definição de “populações tradicionais”
imprecisa por ter como critério o número de gerações o que, até mesmo a Senadora
Marina Silva, representando os extrativistas do Acre, se mostraram contra a definição de
“populações tradicionais”, como informado por Mercadante, o que teria sido decisivo
para o veto presidencial ao artigo da definição, segundo o Mercadante (MERCADANTE,
2001).
228
229
e privados na forma de “cocriação” que vão abranger serviços e políticas públicas com o
envolvimento social (ibidem).
seus incisos:
229
230
Por sua vez, o inciso I do art. 56, ao obrigar o Poder Público a promover
o reassentamento de populações tradicionais, estabelecendo, inclusive,
o prazo de cinco anos para tanto, aborda matéria alheia ao Sistema
Nacional de Unidades de Conservação da Natureza. O reassentamento
de populações é matéria relativa à política fundiária do Governo Federal,
não se admitindo que esta lei venha a abordar tema tão díspar à
problemática relativa às unidades de conservação. Ademais, tornar
obrigatório o reassentamento de populações presentes no interior de
unidades de conservação já existentes pode suscitar a ocupação
irregular dessas áreas. (Mensagem nº 967, 09/07/2000)
230
231
231
232
232
233
154
“Participação” não se confunde com “envolvimento”. Explico a diferença: em um processo de
licenciamento ambiental para a construção de uma rodovia, por exemplo, as comunidades que estejam em
áreas afetadas pelo empreendimento já estão envolvidas por ele e pelo seu processo de licenciamento. A
participação depende, e prescinde, da consideração dos termos das próprias comunidades e do diálogo com
elas, na consideração das vozes que venham delas; já o envolvimento, não necessariamente, pois se trata
do conhecimento da existência de uma comunidade em tema ou área de atuação dos projetos de governo
(no caso, projetos de infraestrutura), em que a participação da comunidade é necessária na indicação e na
avaliação dos impactos na sua perspectiva, bem como no desenho dos programas ambientais de mitigação
e compensação desses impactos. Lembrando que no modelo que temos vigente, a participação das
comunidades se inicia a meio caminho, pois as comunidades não participaram, ainda que regionalmente,
da política de construção de rodovias.
155
No caso, serão os respectivos ministérios.
156
Os órgãos afetos e em choque nas suas atribuições são análogos, no que couber, nas instâncias estadual
e municipal.
233
234
da União ― AGU. Na AGU, para cada caso de sobreposição é instaurada uma câmara
para conciliar tais conflitos chamada Câmara de Conciliação e Arbitragem Federal ―
CCAF.
234
235
235
236
236
237
237
238
157
Depois passou a ser chamada Secretaria de Articulação e Inclusão Produtiva ― SAIP e, em 2011, foi
reorganizada, tendo algumas das suas funções distribuídas para outras Secretarias no MDS para poder
abrigar o Programa Brasil Sem Miséria.
238
239
Local Data
2006
Rio Branco/AC 14 a16 de setembro
Belém/PA 14 a 16 de setembro
Curitiba/SC 18 a 20 de setembro
Cuiabá/MT 21 a 23 de setembro
Paulo Afonso/BA 21 a 23 de setembro
OBS: as datas foram as previsões, e podem ter pequenas divergências com as datas de fato ocorridas.
239
240
decreto foi publicado, trouxe apenas os headlines, sem as suas descrições na forma de
“Objetivo Específico” e “Diretrizes Gerais de Ação”, que cada um deles continha. São,
portanto, os itens que constam no Artigo nº 3, no Anexo do Decreto nº 6.040/2007, em
quatorze incisos, que foram os desdobramentos daquelas doze demandas iniciais do
encontro em Luziânia em 2005,
240
241
para estabelecer diretrizes para políticas públicas para povos e comunidades tradicionais.
É um bom resultado que aquele decreto tenha surtido reproduções até às municipalidades;
no entanto, no mesmo texto da Lei, o Município de Paraty restringe quais são os povos e
comunidades tradicionais que o município reconhece, conforme o Artigo nº 4 daquela
241
242
242
243
243
244
A postura da CCAF foi a de que a consulta já teria o seu lugar nas idas a
campo de técnicos do Incra e do ICMBio e a participação nas reuniões de conciliação são
restritas a entes da federação nos termos da Portaria/AGU nº 1.281, de 27 de setembro de
2007. Essa Portaria em conjunto com a Portaria/AGU nº 1.099, de 28 de julho de 2008,
tratam da instauração da conciliação e de quem pode solicitar a sua instauração (Ministros
de Estado; Governadores; dirigentes de entidades da Administração Federal Indireta;
Prefeitos, em casos específicos158; Procuradores159 o Advogado-Geral da União), a
finalidade da conciliação é o “deslinde, em sede administrativa, de controvérsia de
natureza jurídica” (art. 1º da Portaria nº 1.281/2007), ou seja, se busca a conciliação na
esfera administrativa para que não seja tratada na esfera judicial, onde o “advogado” dos
órgãos federais em conflitos de interesse seria o mesmo para as partes, no caso a AGU,
como mencionado atrás. Outras comunidades que apontaram a pertinência de
158
“Municípios que sejam Capital de Estado ou que possuam mais de duzentos mil habitantes” (art. 1º da
Portaria nº 1.099/2008).
159
“Consultor-Geral da União, Procurador-Geral da União, Procurador-Geral da Fazenda Nacional,
Procurador-Geral Federal e Secretários-Gerais de Contencioso e de Consultoria” (inciso III, art. 2º da
Portaria nº 1.099/2008).
244
245
Lei nº 9.784/1999:
245
246
Lei nº 9.784/1999:
246
247
................................
247
248
248
249
PARNA Aparados da
Território Quilombola de São
sim Serra 54210.000262/05-41
Roque, em Praia Grande/SC
PARNA Serra Geral
Território Quilombola do Alto
não 54100.002186/2004-16
Trombetas; em Orximiná/PA
Território Quilombola do
Jamari, Juquirizinho, Juquiri e
Palhal (há outras comunidades REBIO do Rio
não que são nucleações de Trombetas e FLONA 54100.002185/04-20
habitação permanente das Saracá-Taquera
mesmas comunidades),
Oriximiná/PA
Território Quilombola do Moura,
não 54100.002186/04-24
Oriximiná/PA
Território Quilombola do
sim Guaporé; em São Francisco do REBIO Guaporé 54300.000746/2005-81
Guaporé/RO
Território Quilombola
sim Mumbuca; em Jequitinhonha e REBIO Mata Escura 54179.003745/2005-11
Almenara/MG
Elaboração: Leslye Ursini, 2019
RTID
Território Quilombola Projeto de Nº do Processo no
publicado
Município/UF Mineração Incra
(fev/2010)
Território Quilombola de
sim 54170.003688/05-70
Machadinho, Paracatu/MG
RPM – Rio Paracatu
Território Quilombola de São Mineração (empresa
sim
privada do grupo 54170.000059/04-15
Domingos, Paracatu/MG
canadense Kinross)
Território Quilombola dos
sim 54170.008897/03-48
Amaros, Paracatu/MG
Elaboração: Leslye Ursini, 2019
RTID
Território Quilombola Nº do Processo no
publicado Área Militar
Município/UF Incra
(fev/2010)
Território Quilombola de
sim a partir de 1971 54180.000945/2006-83
Marambaia
Território Quilombola de desde a década de
sim 54230.002401/2006-13
Alcântara 1980
Elaboração: Leslye Ursini, 2019
249
250
Vê-se que, com a participação da Casa Civil, o tema das sobreposições vai
caminhado dos aspectos técnicos e legais para o aspecto de decisão política.
250
251
conservação estabelecidas em Lei. Talvez, seja esta a via de entender por que o
ambientalismo preservacionista das unidades de conservação de proteção integral
repetem que não há compatibilidade nos usos das comunidades tradicionais quanto à
conservação, pois a conservação da natureza possui previsão constitucional, no Artigo nº
225. E ali se vão buscar alguma incompatibilidade. Por outro lado, os conhecimentos
tradicionais associados ao patrimônio genético, a inovação na biodiversidade e a
implementação da Convenção sobre a Diversidade Biológica―CDB, que levam em conta
as comunidades tradicionais e os seus saberes, tem como foco na Constituição Federal
aquele mesmo Artigo nº 225 para a sua implementação.
251
252
252
253
O material foi obtido no sítio próprio do Mosaico da Bocaina, que buscou dar
visibilidade às atividades daquele mosaico que se pretendeu tornar um modelo de gestão
integrada. O Mosaico da Bocaina foi um dos primeiros mosaicos reconhecidos no Brasil.
No sítio em que as atas estão, ou estavam, disponibilizadas se encontram as manifestações
feitas por gestores, por pesquisadores e por comunidades quanto a diversos assuntos,
como por exemplo, as manifestações subscritas pelo Conselho do Mosaico ao processo
de licenciamento ambiental de Angra 3, os estudos sobre agrofloresta, os relatórios e as
atas das reuniões. O material privilegiado são as atas, me reporto a outros documentos
conforme o tema abordado, pois eles ampliam o entendimento dos temas discutidos entre
as comunidades e as instituições gestoras das unidades de conservação. Nas atas, que
anotam as discussões no Conselho do Mosaico, mesmo que de forma resumida ou
parcializada, pois não reportam todas as nuances das discussões, podemos ver o tema da
recategorização em outro lugar sob outra perspectiva e, também, a questão da certificação
da cachaça, que foram assuntos abordados no capítulo 3 desta tese. Nas atas estão as
dúvidas das comunidades quanto aos aspectos das sobreposições, da constituição de
“populações tradicionais” e, com isso, a sua definição. As atas nos permitem uma
253
254
160
Endereço para acesso: https://web.archive.org/web/sitemap/www.bocaina.org.br.
254
255
161
Em grande medida o Conselho Consultivo do Mosaico da Bocaina ⸻ CCMB firmou parcerias com
apoiadores e algumas das funções organizacionais foram desempenhadas por colaboradores de instituições
como a Fiocruz e outras.
255
256
Confusões (Piauí) foi o primeiro Mosaico a ser criado. O objetivo indicado na portaria de
criação desse mosaico é o de...
162
São eles: Caracol, Jurema, Guaribas, Anísio de Abreu, Bonfim do Piauí, São Raimundo Nonato, São
Braz do Piauí, Tamboril do Piauí, Canto do Buriti e Brejo do Piauí (Parágrafo Único, do Art. 2º, da
Portaria/MMA nº 76/2005).
256
257
03/01/2013
25/08/2011
11/07/2011
17/12/2010
14/12/2010
14/12/2010
17/12/2010
26/11/2010
24/04/2009
11/12/2006
11/12/2006
11/12/2006
08/05/2006
11/03/2005
2010
2006
2006
2006
2006
2009
2010
2010
2010
2010
2011
2011
2013
2005
MOSAICO MICO-LEÃO-DOURADO
MOSAICO CAPIVARA-
MOSAICO CARIOCA
MOSAICO MATA ATLÂNTINCA
MOSAICO BOCAINA
MOSAICO DA AMAZÔNIA
MOSAICO DO LAGAMAR
CENTRAL FLUMINENSE
VEREDAS-PERUAÇU
CONFUNSÕES
MERIDIONAL
NORTE DO PARÁ
BAHIA
ORGANIZAÇÃO LESLYE URSINI, 2019 - DADOS ICMBIO E MINISTÉRIO DO MEIO
AMBIENTE/2018
257
258
era apenas um, e este foi ampliado, como se verá mais adiante, para estarem representados
os quatorze territórios tradicionais , conforme o mapa e a lista de unidades de conservação
constantes na “Figura 27 ― Territórios tradicionais, Áreas Protegidas e Unidades de
Conservação abrangidas pelo Mosaico da Bocaina”, na página 259.
258
259
Figura 27 ― Territórios tradicionais, Áreas Protegidas e Unidades de Conservação abrangidas pelo Mosaico da Bocaina
259
260
163
Conselho Consultivo do Mosaico da Bocaina - Ata de 17/10/2007.
260
261
164
Gestor da APA de Cairuçu e Coordenador do Conselho Consultivo do Mosaico da Bocaina até 2008, depois
foi transferido para outra unidade de conservação.
165
O que significa que demais disposições poderiam constar no Regimento Interno .
261
262
Virgínia) haviam sido unificados na representação do Conselho, porém, são os núcleos que
possuem realidades distintas, sendo necessária uma revisão para uma representação por
núcleo. Quanto à Reserva Ecológica Estadual da Juatinga – REEJ, que não é categoria de
unidade de conservação no Sistema Nacional de Unidades de Conservação da
Natureza―SNUC, mas é uma Área Protegida, foi solicitada, pelo seu gestor, René Duquet,
a sua inclusão. Também, o Parque Estadual da Ilha Grande foi incluído. Em dado momento
da reunião, René Duquet, do IEF/RJ e administrador da REEJ, “expôs sua preocupação
quanto ao crescimento do número de vagas dentro do grupo do Mosaico” e Marcelo
Pessanha explicou que “como as alterações haviam sido feitas na presença dos presentes,
não haveria condições de rever os assuntos já acordados”, também, porque “as alterações
realizadas no regimento interno são cabíveis, bem como o pequeno aumento de vagas”.
Nessa reunião do Mosaico da Bocaina de 20 de março de 2007, a primeira após a reunião
inicial de posse, ocorrida em 12 de fevereiro de 2007, se abordou a criação de câmaras
temáticas para se discutirem os assuntos de cada segmento.
262
263
Graziela, da APA de Cairuçu, citou que não se trata de uma nova UC que foi
criada [com o Mosaico da Bocaina], mas sim da junção de várias UC’s para
facilitar a gestão das mesmas. Vagner, do Campinho, ressaltou que várias
263
264
comunidades não sabem para que é que existe cada UC, nem o que é APA
ou mesmo Mosaico. Marcelo Pessanha, citou que acaba de receber o apoio
de um grupo de técnicos do Ibama, especializados em educação ambiental,
justamente para realizar estes esclarecimentos junto às comunidades.
Marco Antonio, secretário de Pesca e Meio Ambiente de Paraty, esclareceu
que a postura dos órgãos ambientais que compõem o Mosaico, tem sido
positiva no sentido de estabelecer parcerias com as comunidades e não
somente fiscalização. Eliane Simões ressaltou que o Conselho do Mosaico
pode ser um espaço para integrar ideias – e também ajudar a organizar
setores que não estão tão organizados quanto os quilombolas. (...) Rafael,
da SAPE, explanou sobre a questão de concepção do Mosaico, onde não
adianta falar em gestão participativa quando a prática é excludente.
Questionou sobre a incorporação de algumas associações sem terem
passado pela votação nos referidos conselhos de suas UC’s. Ressaltou
também a importância de uma participação maior das prefeituras no
conselho. Marcelo Pessanha, respondeu que houve indicações
temporárias, uma vez que algumas UC’s não têm seu conselho
gestor/consultivo funcionando. Estas indicações serão revistas durante as
reuniões e passarão por votação interna. (Conselho Consultivo do Mosaico
da Bocaina - Ata da reunião de 20/03/2007; 2ª reunião)
166
A reunião aconteceu em outubro e relata um fato passado; o ICMBio, que assumiu a gestão do Sistema
Nacional de Unidades de Conservação da Natureza―SNUC, foi criado depois, em 28 de outubro de 2007.
265
266
Observo, como dito antes, que a relação entre mosaico e corredor ecológico se
permutam e por vezes é uma questão de escala, pois, conforme foi informado nessa mesma
reunião, no relato da criação da nova unidade de conservação (a de Cunhambebe), aparece
a figura do corredor ecológico, dessa vez, “protegido” por unidades de conservação: “O
Corredor de Biodiversidade Tinguá–Bocaina já havia trabalhado na criação de UC’s entre
as duas áreas [os dois mosaicos], afim de proteger o corredor”. Transparecendo a função
maleável do corredor ecológico, cujas funções expressas no SNUC e no Decreto nº
4.340/2002 são a de conectar unidades de conservação e de fazer as vezes de zona de
amortecimento na ausência destas.
ao invés de novas inserções de populações moradoras”. Livino lembra que para alterar os
limites de uma unidade de conservação, uma lei deveria tramitar no Congresso Nacional o
que “é algo muito complexo, com pouca governabilidade e, portanto, muitos riscos”
(Conselho Consultivo do Mosaico da Bocaina - Ata da reunião de 2 de julho de 2008,
realizada na ESEC Tamoios).
267
268
Nacional da Serra da Bocaina, Francisco Livino, ter saído da reunião, “com o qual
esperavam poder debater a recente ação de fiscalização que o Parque Nacional realizou no
Sertão de Ubatumirim, o que acarretou em autos de infração e multas para alguns
agricultores”. Foram apresentadas manifestações de diversos agricultores acerca dos
“conflitos que vêm ocorrendo com o Parque Nacional da Serra da Bocaina, destacando a
falta de diálogo e de abertura por parte do gestor [do PNSB] em relação à situação dos
comunitários e segue um intenso debate sobre esse assunto”, conforme anotado na ata da
reunião. Felipe Spina, consultor do Projeto da Baía da Ilha Grande-FAO, explica que
Francisco havia dito que tinha compromisso. Diz Felipe, conforme anotado na memória da
reunião, que “a questão colocada [pela comunidade] é legitima e deve ser debatida mas que
não é no âmbito do Conselho do Mosaico que ela será resolvida”, que o mosaico tem o seu
papel na busca do diálogo entre comunidades tradicionais e unidades de conservação “mas
que questões pontuais e jurídicas como essa deveriam por exemplo serem debatidas no
grupo de negociação”, a ser criado pelo Ministério Público, como um efeito do Encontro de
Justiça Socioambiental da Bocaina. E, na sequência da memória daquela reunião, é também
anotado que...
Porém, sem que os conflitos resgatados por Vagner fossem, também, anotados
na memória da reunião. É informado que Vagner prosseguiu sua fala dizendo que os
conflitos já foram assunto de diversas reuniões, que o mosaico “vem tentando contribuir
para um diálogo entre as Unidades de Conservação e as Comunidades Tradicionais”,
lembrou que foi feita “uma carta de apoio às comunidades pedindo diálogo em relação a
uma série de conflitos que ocorrem no território”. Com essa postura diplomática de Vagner,
a redação da memória da reunião anotou que Vagner “finalizou destacando o papel das
Comunidades Tradicionais na preservação da natureza” e que estava “ansioso pelo início
dos trabalhos do grupo de negociação proposto pelo Ministério Público”. Acerca dos
conflitos, Danilo Santos, da Fundação Florestal/Parque Estadual da Serra do Mar, gestor do
268
269
Mesmo após o SNUC não ter reconhecido “Reserva Ecológica” como categoria
de unidade de conservação, em 2000, a Reserva Ecológica Estadual da Juatinga, aquela área
protegida não deixou de existir, informa o gestor René Duque, apesar da polêmica, segundo
ele, com a criação da Reserva Ecológica Estadual da Juatinga ― REEJ classificada como
proteção integral, ou seja, com restrição à presença e à permanência humana, “em uma área
onde já habitavam 1.100” pessoas. O gestor da REEJ, René Duquet, fala, aqui, em um
período anterior à consulta para a recategorização da Reserva Ecológica Estadual da
Juatinga, que abordei no capítulo 3. Diz o gestor da REEJ que “existe também a questão da
elaboração de um Termo de Referência pelo próprio IEF (que depois se tornou o Inea,
instituição do governo do Estado do Rio de Janeiro), sem o conhecimento da gestão daquela
REEJ, prevendo a recategorização para incluir Paraty-Mirim na área da RESEC [o mesmo
que Reserva Ecológica Estadual da Juatinga ⸻ REEJ]”; e que “devido à ameaça de
recategorização”, o Conselho da REEJ está desarticulado. O gestor da REEJ, dessa forma
isolado do diálogo com o Estado do Rio de Janeiro ao qual está vinculada a REEJ, pede “o
apoio das UC’s mais próximas para um posicionamento unificado sobre esta questão” e
informa, que, além, disso, possui vários conflitos fundiários na REEJ. E (continua relatado
na ata:) “na sua opinião a UC é também um instrumento legal sobreposto, já que
geograficamente 95 % da área total da UC ser em Área de Preservação Permanente”, se
reverendo à APA de Cairuçu (Conselho Consultivo do Mosaico da Bocaina - Ata da reunião
de 16 e 17 de outubro de 2007).
169
Lembrando que o núcleo se encontra em sobreposição com o Parque Nacional da Serra da Bocaina.
269
270
170
Em dado momento mudaram o nome substituindo “UC’s” por “Áreas Protegidas”.
270
271
técnico de subsídio”. Rodrigo fala que “este estudo não é o único subsídio, existem ainda as
análises técnicas e jurídicas do Inea” e que as reivindicações e sugestões feitas no dia da
reunião na Câmara Técnica de UC’s e Populações Tradicionais “foram inseridas no estudo,
como por exemplo, a questão de inserir Martim de Sá e etc.” e informa que “o estudo entrou
em fase de análise técnica e jurídica”. Diz Rodrigo Rocha Barros, gestor da REEJ, que após
tais análises serem concluídas, os próximos passos serão as devolutivas do estudo, as
consultas públicas e que a reunião da Câmara Técnica “não substitui as consultas públicas
que serão feitas pelo Inea e nem os processos de negociações com a Prefeitura de Paraty.
Ele diz que o processo está no início” (Conselho Consultivo do Mosaico da Bocaina - Ata
da reunião de 29 de setembro de 2011).
171
Observação nesta tese e não no original transcrito: por conta de experiências ruins pregressas com a gestão
da REEJ, que era feita pelo Instituto Florestal do Rio de Janeiro ― IEF, antes de mudar o nome para Instituto
Estadual do Ambiente - Inea.
271
272
272
273
172
Dentre os documentos disponibilizados pelo Mosaico da Bocaina, há documentos produzidos pela Câmara
Temática de unidade de conservação e Populações Tradicionais.
273
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173
Mecanismo de financiamento de pautas mundiais como clima e biodiversidade, financia a Convenção sobre
a Diversidade Biológica―CDB, por exemplo.
274
275
275
276
276
277
174
O Ibama é o órgão fiscalizador e, no caso de povos indígenas e de comunidades quilombolas, a Funai e a
Fundação Cultural Palmares são as respectivas instituições intervenientes nos processos de licenciamento
ambiental.
277
278
175
Câmara Temática dentro do Conselho Consultivo do Mosaico da Bocaina ⸻ CCMB.
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279
280
280
281
Mamanguá e Itatinga havia sido anunciada em um jornal sem que fosse indicado o local
preciso, mas como sendo uma área de fácil acesso e indicadas duas praias onde está o único
fiorde brasileiro; não é possível saber ao certo a localização do empreendimento a partir da
notícia do jornal, informa o conselheiro Paulo Nogara.
281
282
176
Coordenação: Roberto Mourão, Vagner Nascimento (Vaguinho) – AQUILERJ; Sérgio Pinchiaro – Cunha-
Paratii; Juliana Pires - Mosaico Bocaina ― secretária executiva; Eduardo Godoy - chefe APA
Cairuçu/Colegiado M. Bocaina; Jian Niotti ― PESM Picinguaba; João Fernandes – PEC Lucila Pinsard - APA
Marinha Litoral Norte e Rodrigo Silva - Secretaria de Turismo de Ubatuba, Estado de São Paulo em 2011.
282
283
177
Coordenação: Vagner Nascimento (Vaguinho) - AQUILERJ, Juliana Bussolotti - Associação Cunhambebe
ONG – SP; Juliana - Secretária Executiva Mosaico Bocaina; Mônica Nemer - MOVE – Movimento Verde,
ONG – RJ; Maristela Resende - PNSB/ICMBio UC – RJ; Lúcia - Quilombo da Fazenda/Fórum Populações
Quilombola; Guadalupe - Associação Caxadaço-Mar, ONG- RJ; Jadson - Praia do Sono, Caiçara; Seu João
Paraty-Mirim, Caiçara; Ivanildes - Aldeia Paraty-Mirim, Indígena; convidados: Funai, Ministério Público
Federal, Ibama, SAPÊ e Verde Cidadania, em 2011.
178
Monica Nemer - APA Tamoios; Grazielle Zacaro - APA da Baía de Paraty; Sylvia Chada - Coordenação
Regional ICMBio-CR8; Vaguinho (Vagner Nascimento) - Associação Quilombola e Manuela - DIBAP/Inea;
Roberto, PESM - Núcleo Cunha.
179
“Relatório Final”, intitulado “Carta do I Encontro de Comunidades Tradicionais e Áreas Protegidas - 24-
26 outubro 2008”, estava disponível no material do Mosaico da Bocaina, em www.mosaicobocaina.org.br.
283
284
Objetivos do Encontro:
180
Ibidem.
181
Em 2017, o Mosaico da Bocaina abrangia 17 unidades de conservação e áreas protegidas e 13 comunidades
e povos tradicionais, além da representação do Fórum de Comunidades Tradicionais de Paraty.
284
285
8. Como manter a riqueza dos recursos naturais existentes no território das comunidades?
9. Como proteger as águas?
10. Como manter os laços da cultura tradicional em comunidades como Ilha Grande?
11. Com o crescimento das populações tradicionais, como vamos tirar madeira para nossas
casas e canoas?
12. Como conciliar as leis conflitantes – UC de proteção integral e Decreto 6040
13. [Que] As leis e regulamentações considerem as comunidades tradicionais na sua
elaboração
14. Fazer com que os gestores reconheçam o papel das comunidades na gestão das UC
15. Abertura de oportunidade de diálogo entre comunidades tradicionais e UC
16. Espaço para conversar sobre nossos problemas
17. Reconhecimento do valor das comunidades tradicionais
18. Decreto 6040 de 07/02/2007 – Política de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e
Comunidades Tradicionais.
19. O Fórum Regional das Comunidades Tradicionais
20. Só temos nossos direitos reconhecidos se nos posicionarmos – como movimento social
21. Unificou a realidade das diferentes culturas
22. Garantia na lei de existir controle social – conselhos
23. Temos consciência das leis sobre UC e a relação com as comunidades tradicionais
24. Reconhecimento da necessidade de território
25. Os trabalhos com as comunidades dependem das normas das UC
26. Plano de Manejo e Mosaico podem ajudar a resolver os problemas das comunidades
tradicionais
27. Não entendemos por que as UC exigem autorização para todas as atividades das
comunidades tradicionais acordadas no plano de manejo
28. Os índios ajudando a controlar caça, coleta de palmito, madeira na Terra Indígena As
pessoas não abandonam suas casas à toa. Os sobreviventes não podem plantar e caçar
29. As comunidades devem dialogar diretamente com os gestores
30. Limite de fluxo turístico na Praia do Aventureiro foi importante
31. A organização do turismo pelas comunidades e com apoio de parceiros está trazendo
qualidade ao turismo
285
286
286
287
182
Os documentos produzidos e disponibilizados Câmara Temática de Populações Tradicionais e UC’s do
Mosaico da Bocaina são as atas de 03/05/2010, de 11/06/2011 e de 22/07/2011; também, a memória do
Encontro de Práticas Sustentáveis do Mosaico da Bocaina, datada de 08/06/2010. Do I Encontro de
Comunidades Tradicionais e Áreas Protegidas - 24-26 outubro 2008, foi retirado das reuniões um documento
que explana a organização das reuniões prévias e apresenta diretrizes para a Câmara Técnica de UC’s e
Populações Tradicionais, intitulado “Carta do I Encontro de Comunidades Tradicionais e Áreas Protegidas -
24-26 outubro 2008”. Todos os documentos citados estão disponíveis no sítio www.mosaicobocaina.org.br,
na seção “documentos”, sítio perdido em encontrável em:
https://web.archive.org/web/sitemap/www.bocaina.org.br.
287
288
principal bandeira do FCT é a questão fundiária” e nas suas reuniões são feitas chamadas
para as reuniões do Mosaico da Bocaina (Conselho Consultivo do Mosaico da Bocaina;
Reunião da Câmara Temática de Populações Tradicionais - Ata da reunião de 03 de maio
de 2010, no Quilombo Campinho da Independência).
Notamos que a cada novo stakeholder que toma contato com as comunidades
por meio de ações junto ou com elas, se dá um aprendizado na forma de approach, na
medição dos passos com implicações e consequências políticas ou práticas, o que habilitará
esse mesmo stakeholder em outros trabalhos futuros, ou seja, as comunidades colaboram e
enriquecem a profissionalização de diversos consultores e agentes da administração pública.
288
289
justiça socioambiental,
fortalecimento e qualificação do FCT;
defesa do território,
cartografia social;
saneamento ecológico;
educação diferenciada;
289
290
183
O documento está disponível apenas em meio digital; no caso de haver interesse pelo tema da educação
diferenciada e o inteiro teor daquele documento:
https://issuu.com/forumdecomunidadestradicionais/docs/dossie.
290
291
com filhos em idade escolar da comunidade caiçara de Cairuçu das Pedras têm-se mudado
para Ponta Negra; crianças não avançam, na mais da vez, além do 5º ano escolar por conta
da falta de escolas e da consecução das etapas de ensino não disponibilizadas dentro das
comunidades; comunidades próximas ao centro de Paraty são atendidas por transporte de
barco com o deslocamento dos alunos em três horas na ida e em igual tempo para a volta
(FCT - Fórum de Comunidades Tradicionais, 2018, p. 17).
291
292
184
http://docs.wixstatic.com/ugd/4fab7e_7cf03a918c8740ea886db47e93755627.pdf
292
293
185
Vide Ata nº 3, de 8 de fevereiro de 2018.
293
294
294
295
295
296
186
Ao analisar e criticar o Decreto nº 3.912/2001, revogado pelo Decreto nº 4.887/2003, sendo que aquele
impunha um período de ocupação para as comunidades quilombolas que, lido ao pé da letra, franqueava os
esbulhos que pudessem se ter dado anteriormente.
296
297
297
298
298
299
299
300
300
301
ser um mero efeito ou circunstância; pois dada a recorrência de tal protelação, me parece
um projeto. Lembrando que não há previsão de não serem criadas unidades de conservação
sobre territórios tradicionais. O que se vê, não é um ocultamento de uma intenção por trás
das ações do governo, senão a evidente recusa em reconhecer autonomia de outro sobre
porção territorial do Estado, exceto pelo direito de propriedade. Tudo se passa como se uma
vez reconhecidos os territórios quilombolas e as terras indígenas, o Estado buscasse alcançá-
los de volta por meio das sobreposições com interferência nos “usos dos recursos naturais”,
uma chave que o Estado disponibilizou para o reconhecimento dos territórios e que a
maneja, depois, por meio das unidades de conservação.
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DOCUMENTOS ANALISADOS
MOSAICO DA BOCAINA
Atas das Reuniões do Conselho Consultivo do Mosaico da Bocaina ⸻
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ANEXO 2 — Quantitativo de Unidades de Conservação no Brasil nas instâncias federal, estadual e municipal
- julho/2019
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Área de pequena
extensão, pública ou Respeitados os limites constitucionais,
Área de Relevante privada, com pouca ou Manter os ecossistemas podem ser estabelecidas normas e
Interesse Ecológico nenhuma ocupação naturais e regular o uso restrições para utilização de uma
(ARIE) humana, com admissível dessas áreas. propriedade privada localizada em uma
características naturais ARIE.
extraordinárias.
Reserva Particular
Área privada, gravada com Conservar a diversidade Pesquisa científica, atividades de
do Patrimônio
perpetuidade. biológica. educação ambiental e turismo.
Natural (RPPN)
Resumo a partir do SNUC (Lei nº 9.985/2000) e World Wildlife Fund for Nature - WWF "Unidades de Conservação", sítio.
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