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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

ESCOLA DE TEATRO
CURSO DE LICENCIATURA EM TEATRO (EAD)
Disciplina: História do Teatro
Período: Bimestre 2 – REPERCURSO
Docente: Rodrigo Morais Leite

O DECLÍNIO E RESSURGIMENTO DO TEATRO


NA ERA MEDIEVAL

Tendo por base o capítulo segundo do e-book do professor Rodrigo Leite, que tem por
título “O teatro medieval”, podemos afirmar que o teatro tendo como base elementos literários
para existir, a exemplo da dramaturgia, pereceu. E isso se deu em decorrência de fatores
diversos, sendo os maiores deles a queda de Roma e a morte do imperador Carlos Magno em
814 d.C., fatos que acarretaram enorme instabilidade política e social e facilitaram as
sucessivas “Invasões Bárbaras”, período que durou cerca de seis séculos e fora nomeado de
Alta Idade Média. Além desses fatores, podemos ainda elencar:
• Fatores linguísticos – A passagem da Alta para a Baixa Idade Média marca justamente
a época de declínio do latim e da ascensão de novos idiomas, como o português, o
castelhano, o francês e outros.
• O sistema feudal de produção – Por possuir caráter disperso, ruralizado, também não
se mostrava favorável ao desenvolvimento de uma arte comunitária como o teatro.
Certa feita, os antigos edifícios teatrais romanos foram abandonados.
• O poder exercido pela Igreja Católica e à difusão do cristianismo – O teatro passou a
ser visto como herança pagã greco-romana e tornou-se alvo de um sistema de
maldiçoes e excomunhões, sendo banido pelos primeiros cristãos.
Contudo, afirma Leite, se levarmos em conta o teatro que não se apoiava em nenhum
elemento literário para existir, como os jograis, os menestréis, os rapsodos e toda ordem de
artistas ligados à cultura popular medieval, pode-se afirmar que a decretação de morte não
existiu, visto que tal modalidade perseverou mesmo no decorrer dessa fase aguda da história
europeia, embora sejam escassos os documentos que comprove essa afirmativa.
Embora banido pela Igreja Católica, que controlava a vida dos cidadãos, o teatro, outrora
considerado uma arte profana e satírica, começa a ressurgir na Europa dentro da própria Igreja
por meios de “tímidos” diálogos salmodiados denominados “tropos” que passaram a ser
inseridos nas sequencias mudas de algumas liturgias durante a celebração da Páscoa,
momento simbolicamente ligado à paixão, morte e ressureição de Jesus Cristo. E logo, mesmo
que lentamente, com a universalização da igreja e sua liturgia, evoluíram a dramas autônomos
tendo agora, toda a bíblia como possibilidade temática a serem encenados pelos membros
clericais após as missas ou procissões; e, passaram a ter como temas, além das passagens
bíblicas, os milagres, os mistérios, os sermões, os autos sacramentais e as biografias de
santos.
Podemos, então, classificar o teatro medieval em duas vertentes: o teatro sacro,
relacionado aos temas religiosos; e o teatro profano, tal qual as farsas e os jograis, com temas
de caráter popular e cômico.
Esse segundo, mais próximo da população; e primeiro, para continuar a se desenvolver, a
não poderia mais se utilizar de um diálogo em língua vernácula, pois urgia sua necessidade de
divulgar uma série de dogmas religiosos a essa população formada em sua maioria de pessoas
iletradas.
O teatro medieval consolidado tem início a partir do século XIII e permaneceu até o
século XV, com a chegada do período renascentista e se fez presente em vários países, como
se pode observar:
• Teatro Medieval Italiano – particularmente em Florença, apareceu uma forma nova, a
das “sacre rappresentazioni”, com cenários múltiplos, mais voltada para o lado
espetacular, embora religiosa em espírito.
• Teatro Medieval Espanhol – embora se tenha apenas três documentos desse período
(os 147 versos contidos em Auto de los Reys, data do século XII, e dois curtos poemas
dramáticos, da segunda metade do século XV, escritos por Gomez Manrique), há
inúmeras referências a espetáculos, sacros ou profanos, apresentados em território
espanhol. (Nelson apud Leite 2021).
• Teatro Medieval Português – Acredita-se que devida às constantes investidas da Igreja
Católica portuguesa no intuito de coibir o teatro por lá, ao menos em sua versão
profana, era rara a materialidade teatral portuguesa. Salvo os “momos”, no final da
Idade Média, responsáveis por animar os temas de cavalaria nas festividades da corte,
e algumas experiências dramatúrgicas, como, por exemplo, as de Anrique da Mota.
Segundo Leite, dessa junção, Gil Vicente, talvez o maior dramaturgo da história de
Portugal, construiria sua obra com 43 peças, a maioria reunida e publicada pelos seus
filhos em 1562.
• Teatro Medieval Francês - Inicialmente encenados dentro das igrejas, influenciados
por elementos seculares, os espetáculos saem das igrejas e vão para o adro e, com a
secularização ainda maior assim como o apelo catequético, ganham a praça. Como na
Itália, mas em maior proporção, o espaço cênico do medievo francês era o cenário
múltiplo, simultâneo, construído em local aberto e composto de várias unidades, cada
uma consistindo numa área independente (chamada mansão ou estação – algumas
duravam semanas). Outra característica interessante dessas encenações era o fantástico
conjunto de recursos técnicos por elas mobilizado, como alçapões, guindastes e fogo,
além do uso de animais vivos em cena. Em relação à dramaturgia, o mais antigo texto
do teatro francês data de 1100, levando o título de Sponsus (Esposo).
• Teatro Medieval Inglês – não se utilizava de palcos múltiplos, adotava os “pageants”
(palcos sobre rodas levados de um ponto a outro da cidade para a representação dos
mistérios, no formato de pequenas peças independentes, que cobriam os principais
episódios da bíblia). Leite indica que à medida que o teatro vai se distanciando da
igreja e caindo em mãos que não eram as do clero, e sim de corporações de ofício e
das guildas (indivíduos com interesses comuns) o teatro ganha maior visibilidade e
acaba gerando grande rivalidade entre as corporações para saber qual iria se destacar
mais. No teatro inglês, além dos “mistérios” e “milagres”, ganham destaque as
“moralidades”, peças de cunho alegórico e forte teor moralizador. Suas tramas eram
criadas e transcendiam os materiais bíblicos ou hagiográficos. A moralidade da
dramaturgia inglesa mais conhecida é Everyman (Todo-mundo), escrita em fins do
século XV, versão de um original holandês chamado Elckerlijk. elas eram produzidas
em plataformas comuns e eram bem menos espetaculares que os mistérios.
• Teatro Medieval Alemão – tem-se aqui, em virtude do rompimento de Lutero com a
Igreja Católica e da forte atuação do protestantismo na Alemanha, um tipo de resgate
dos primitivos “tropos” por meio de oratórios (um cantar dramático dos evangelhos).
Segundo Leite, os oratórios do compositor alemão Johann Sebastian Bach ilustram
bem essa nova conformação dramática, segundo ele, desprovida aparentemente de
idolatria. O autor destaca a monja Rosvita de Gandersheim monja Rosvita (935-1000
d.C), abadessa do convento beneditino de Gandersheim (localizado na Saxônia, hoje
território da Alemanha) e autora de seis peças escritas em latim. E mesmo não se
sabendo se suas peças foram encenadas, reforça a licitude de se visibilizar essa
religiosa como sendo a primeira dramaturga da história do teatro ocidental.
Por fim, o autor conclui discorrendo sobre o teatro profano; destaca que o mesmo só viera
a despontar em sua vertente literária no crepúsculo da Idade Média, entre os séculos XV e
XVI. Segundo Leite, é nesse período que surge uma leva de gêneros dramáticos, todos de
caráter cômico, que deveriam servir como um contrapeso diante do que era produzido pelo
teatro de gênero sacro (milagres, mistérios e moralidades). Suas principais características
eram: uma comicidade vivaz e burlesca; uso de recursos como os quiproquós, as pancadarias,
os esconderijos e as situações caricaturais. O teatro profano, a depender de onde se
desenvolvia adquiria nomes (farsa, pantomima, interlúdio, entremez) e personagens diversos
e bem característicos (bufões, menestréis, arlequim, Pierrot). Leite relata que entre 1440 e
1560, um pouco mais de cem anos, foram produzidas na França mais de 150 farsas sendo a
mais antiga “O menino e o Cego”. Destaca ainda, nesse cenário, “A Farsa do Mestre
Pathelin” (composta entre 1460 e 1470 - de autoria desconhecida), e, em língua portuguesa, o
dramaturgo Gil Vicente, que, das muitas peças que escreveu, doze são farsas.
Destarte, pode-se afirmar que, embora boa parte do teatro medieval tenha sido, até onde
se tem registrado, por meio da tradição oral, muitos textos medievais se perderam com o
passar dos tempos, contudo, algumas peças desse período sobreviveram; afirma-se também
que embora a Igreja Católica tenha sido corresponsável por agravar esse quadro, foi ela
também responsável, por fazer pulsar o fazer teatral nesse mesmo período; pode-se afirmar
ainda que o teatro medieval adquiriu uma versão mais popular à medida que fora se
desenvolvendo; que possuía como espaços cênicos as igrejas e as praças em maior proporção;
e que seus temas eram em sua maioria sagrados de cunhos misteriosos, milagrosos e
moralizantes, mas também existiam os de cunho profanos voltados para a comédia.

REFERÊNCIAS

LEITE, Rodrigo Morais. História do Teatro Ocidental: da Grécia Antiga ao


Neoclassicismo Francês / Rodrigo Moais Leite. – Salvador: UFBA, Escola de Teatro;
Superintendência de Educação a Distância, 2021.

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