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15.7.2022
CASAGRANDE
TÁ NA ÁREA
15
“ANTES DE SER
JOGADOR, ANTES DE
ESCREVER LIVRO, ANTES
DE SER COMENTARISTA,
EU SOU CIDADÃO
BRASILEIRO E TENHO
A OBRIGAÇÃO DE ME
POSICIONAR SOBRE AS
COISAS QUE ACHO QUE
ESTÃO ERRADAS”
/ Editorial
4 | A festa era do Mickey, delegada?, por
Renato Rovai
/ Capa
CASAGRANDE
6 | Nunca foi só futebol, por Plinio Teodoro
edição #15
/ Eleições 2022
20 | FA e Bolsonaro têm roteiro para
tumultuar eleições, por Mauro Lopes
conteúdo |
28 | Bolsonaro enfurecido
33 | Michelle: oi, sumida!
Política
38 | O assassinato de Marcelo Arruda e a
violência bolsonarista
49 | O bolsonarismo mata, por Cynara
Menezes
/ Educação
53 | Assentada do MST, estudante de 9
anos ganha medalha em olimpíada de
Astronomia
/ HQ
63 | Pô, amar é importante, por Piu Gomes
/ Global
70 | A arma que matou Shinzo Abe
74 / Expediente
EDITORIAL
Renato Rovai
A festa era do
Mickey, delegada?
Casagrande
Nunca foi
só futebol
por Plinio Teodoro
Q
uando, em 12 de dezembro de 1982,
aos 19 anos, entrou no gramado do
estádio Cícero Pompeu de Toledo, o
Morumbi, para disputar a final do Campeonato
Paulista contra o São Paulo, Walter Casagrande
Júnior já sabia que não era só futebol. “Nós
éramos a Democracia Corinthiana”, disse em
entrevista ao Fórum Sindical.
À época, menos de um ano após o retorno
ao Corinthians - depois da breve passagem pela
Caldense, de Poços de Caldas (MG), onde foi
parar por se rebelar contra o autoritarismo do
técnico Oswaldo Brandão -, Casão começou a
compreender com Sócrates, Vladimir, Biro-Biro,
Zenon, Ataliba e Adilson Monteiro Alves, então
presidente do clube, que aquilo que sentia ainda
garoto tinha nome. E era motivo de luta.
“Eu sempre tive um comportamento
democrático desde criança, sem saber que
aquilo era democracia. Eu sempre gostei
de dividir as coisas, sempre gostei de fazer
coisas em grupo e gosto que todos se sintam
importantes”, disse Casão ao lembrar que ao
iniciar no futebol, aos 16 anos, já era “hiper
rebelde”. “Rebeldia de não aceitar a coisa
autoritária. As pessoas pediam as coisas pra
mim, eu fazia tranquilamente. Quando recebia
uma ordem, eu travava literalmente”.
Das conversas com o pai, Walter
Casagrande, herdou a paixão pela música,
pelo Corinthians e histórias do futebol, como
a tragédia de Superga, que no dia 4 de maio
de 1949 matou em um acidente aéreo todo
o elenco do Torino, clube da classe operária
de Turim, onde Casão jogou e fez a partida
mais emblemática de sua vida, na vitória por 2
a 0 contra a Juventus, time do empresariado
burguês da cidade.
“Nesse jogo eu fiz os dois gols. E quando
acabou o jogo a cidade parou. Metade da
cidade estava em festa e eu pensei: caramba,
eu fiz feliz a classe operária da cidade. Eu senti
isso aquele dia. Os donos da Juventus são os
donos da Fiat, da Ferrari. E os torcedores do
Torino são aqueles que trabalham nas fábricas.
É uma representatividade muito importante.
Eu coloco esse jogo como o mais importante,
porque não era só futebol, com o adversário
envolvido. Era a classe alta contra a classe
operária de Turim”.
Leia os principais trechos da entrevista de
Walter Casagrande Júnior ao Fórum Sindical
Democracia Corinthiana
“A Democracia Corintiana, o rótulo, veio
bem depois. Veio depois da Copa de 82 que
nós começamos a jogar com Democracia
na camisa. Mas tudo já estava acontecendo
democraticamente. Só não tinha o rótulo.”
Jogadores de futebol
e a distância da realidade
“Cada um faz o que quer. Mas os jogadores
postam Ferrari, iates, mansões, festas e a
realidade do povo brasileiro nesse momento
não é essa. A maioria não tem o que comer.
Esse tipo de postagem é para quem tem café,
almoço e janta. Aí vai achar engraçado a Ferrari,
a mansão do cara. Mas quem não tem uma
refeição por dia, quem tem 4 ou 5 filhos e está
desempregado, com a inflação lá em cima,
o preço dos alimentos lá em cima, não acha
engraçado quando alguém fica ostentando.”
Foto Reprodução
Exclusivo
Forças Armadas
e Bolsonaro têm
roteiro para tumultuar
eleição em 2
de outubro
Questionamentos das Forças Armadas ao TSE,
em conluio com Bolsonaro, indicam como será
a tentativa de anular as eleições; deputados
dos EUA querem investigação sobre ação dos
militares contra o tribunal
por Mauro Lopes
A
s 88 perguntas que as Forças Armadas
endereçaram ao Tribunal Superior
Eleitoral em cinco ofícios desde
dezembro de 2022 desenham o roteiro do
que pode ser a ação desestabilizadora do
bolsonarismo no pleito de 2 de outubro. As
evidências são tamanhas que um grupo de
deputados democratas dos EUA solicitou nesta
semana uma investigação sobre o assunto,
segundo reportagem do jornalista Brian Mier no
site Brazil Wire.
Há pelo menos três perguntas das Forças
Armadas ao TSE que indicam claramente o
ânimo militar contra as eleições e como eles
sinalizam o percurso para a conturbação no
dia 2 de outubro. Segundo a advogada Maíra
Recchia, presidenta do Observatório Eleitoral
da OAB-SP, “não há precedente para a atual
ingerência das Forças Armadas no processo
eleitoral”. Ela falou ao Fórum Café na última
sexta-feira (8) e afirmou taxativamente: “Há uma
tempestade anunciada para as eleições”.
Também nesta semana, na quinta-feira,
o ex-deputado José Genoino, uma das mais
expressivas lideranças do PT, havia advertido,
em entrevista ao Fórum Café: “Temos que
acabar com a lógica de confiar nos militares”.
O clima de tensão no TSE e no STF é
evidente. A ponto de o atual presidente da
Corte Eleitoral, Edson Fachin, ter afirmado
na última quarta-feira nos EUA que “nós
poderemos ter um episódio ainda mais
agravado do que 6 de janeiro daqui do
Capitólio”, referindo-se à invasão do Congresso
dos EUA pelos trumpistas. Fachin fez afirmação
“Há uma
tempestade
anunciada para as
eleições”
Maíra Recchia
Pergunta 57
“Quando do recebimento de urna com lacre
violado, quais são os procedimentos adotados no
caso dela conter votos e no caso dela não conter?”
A resposta do TSE sobre a hipótese de
violação de lacre de urna depois de realizada
a votação indica o caminho da possível ação
dos bolsonaristas em 2 de outubro e qual o seu
resultado: “recomenda-se a abertura de uma
investigação, cabendo ao juiz eleitoral decidir
se os votos serão válidos ou não”. Ou seja:
os votos da urna de lacre rompido poderão
ser invalidados - na verdade, nessa hipótese,
certamente o serão, segundo advogados
especializados em Direito Eleitoral.
A pergunta 64 é chave, porque indica
claramente o “caminho das pedras” e o
objetivo comum dos militares e de Bolsonaro: a
anulação das eleições.
Pergunta 64
“Caso uma eleição seja decidida por um
número de votos menor do que o total que foi
desconsiderado por falha na mídia eletrônica, como
será resolvida uma possível incoerência que pode
advir da desconsideração, total ou parcial, de votos?”
A resposta do TSE indica que os ministros
entenderam a armadilha contida na pergunta:
“Na remota hipótese de impossibilidade de
recuperação dos votos de uma urna eletrônica,
cabe ao juiz eleitoral da respectiva zona
eleitoral determinar a anulação integral da
seção eleitoral. Num cenário em que os votos
perdidos (anulados) façam diferença para a
determinação do resultado serão realizados os
procedimentos previstos nos artigos 147 e 201
do Código Eleitoral”.
A Corte Eleitoral sequer redigiu “in totum” a
resposta ao questionamento militar, remetendo
a dois artigos do Código Eleitoral, para,
certamente, evitar enunciar a consequência da
pergunta maliciosa. O artigo 147 é de menor
relevância, mas o 201 põe a nu o objetivo militar.
Artigo 201 do Código Eleitoral: “De posse do
relatório referido no artigo anterior, reunir-se-á o
Tribunal, no dia seguinte, para o conhecimento
do total dos votos apurados, e, em seguida,
Foto Reprodução
As forças de segurança mobilizadas pela Justiça Eleitoral nas eleições são
tradicionalmente as Forças Armadas e as Polícias Militares, que estão largamente
contaminadas pelo bolsonarismo
Pergunta 81
“Considerando o voto como um direito e um
dever inarredáveis de cada cidadão, sugere-se
a adoção de medidas que permitam a validação
e a contagem de cada voto sufragado, mesmo
que, por qualquer motivo, as respectivas mídias
ou urnas eletrônicas sejam descartadas. Destaca-
se que, a despeito do esforço em se prever
ações em face da observância de falhas durante
o pleito eleitoral, até o presente momento, salvo
melhor juízo, não foi possível visualizar medidas
a serem tomadas em caso da constatação de
irregularidades nas eleições. Nesse diapasão,
propõe-se a previsão e divulgação antecipada de
consequências para o processo eleitoral, caso
seja identificada alguma irregularidade”.
O clima de tensão em relação a 2 de
outubro não é exclusividade da Justiça Eleitoral
e do STF. Há enorme preocupação nos
partidos políticos. Mais que preocupação, há
um grande medo sobre o que pode acontecer
nos integrantes “chão da fábrica” do dia das
eleições, compostos por mesárias e mesários
e demais membros das seções eleitorais.
Mesários e mesárias serão mais de um milhão
em 2 de outubro, 400 mil apenas no Estado de
São Paulo. Segundo a advogada Recchia, “os
mesários das seções eleitorais estão com medo
do que pode acontecer em 2 de outubro”.
O dia das eleições no Brasil já foi de
festa. Em 2 de outubro de 2022, a julgar pelo
movimento militar-bolsonarista, será um dia
de guerra.w
Eleições 2022
O
assassinato do guarda municipal
petista Marcelo Arruda pelo policial
bolsonarista Jorge José Guaranho que
teve como consequência a adesão da cantora
Anitta à campanha de Lula (PT) pode provocar
um estrago bem maior na campanha de Jair
Bolsonaro (PL) que os recentes escândalos do
governo com os pastores no MEC e a cultura
de assédio sexual na Caixa.
A violência do apoiador, que apenas
respondeu ao chamado “dog whistle” - o
apito de cachorro na linguagem política - de
Jair Bolsonaro, enfureceu o presidente, que
se vê aprisionado em seu próprio discurso
de tensionar ainda mais o ambiente eleitoral
incitando o discurso de ódio na horda mais
radical que o apoia.
O plano de Bolsonaro, até então, era
incendiar apoiadores, enquanto angaria apoio
de outra horda, da cúpula militar, para poder
propagar ódio - inclusive e principalmente no 7
de Setembro - ameaçando o Tribunal Superior
Eleitoral (TSE). Assim, levaria a eleição ao
segundo turno, quando poderia construir a tese
golpista sobre fraude nas urnas eletrônicas.
No entanto, o extremismo de Guaranho, que
invadiu uma festa temática do PT e assassinou
um guarda municipal por ódio político, fez
com que Bolsonaro voltasse atrás e fosse às
redes condenar a “violência contra opositores”,
discurso que está mais do que colado nele.
A mídia liberal - dada a “equilibrar” a
cobertura - teve que descer do muro e, aos
poucos, mostrar quem realmente “polariza” a
disputa presidencial.
Nas redes, Bolsonaro e seu clã tiraram Celso
Daniel e Adélio da cartola para tentar equipararo
Foto Divulgação
Oi, sumida!
Fontes palacianas já não escondem que
Michelle Bolsonaro não quer se envolver na
corrida eleitoral do marido. Entenda quais
seriam as razões para isso
por Henrique Rodrigues
J
air Bolsonaro foi a um encontro com cinco
mil mulheres evangélicas em Imperatriz,
no Pará, e foi ovacionado pela fatia da
população que mais dá sustentação em sua
campanha eleitoral. Falou empolgado ao lado
de pastores, recebeu aplausos e gritos de
“mito”, mas uma ausência era notada por todos:
a da primeira-dama Michelle.
Não é de agora que a imprensa que cobre
o mundo político vem notando que a esposa
do presidente parece evitar os compromissos
eleitorais do chefe do Executivo federal, que
tenta mais um mandato de quatro anos à
frente do Palácio do Planalto. Em outras
oportunidades, sobretudo em eventos que
envolvem mulheres, e que sua presença seria
indispensável, Michelle também não apareceu,
assim como se negou peremptoriamente a
gravar para as inserções de TV do partido do
marido, o PL, que foram ao ar em junho.
Bolsonaro tem uma rejeição imensa entre
as mulheres. O último Datafolha, no fim do mês
passado, mostrou que 61% das brasileiras
não votariam de forma alguma nele, e elas
formam 53% do total de eleitores no país. Sem
alguma adesão a mais do voto feminino, sua
já combalida campanha será sepultada de vez
e é por isso que Michelle é fundamental. Mas
afinal, mesmo sendo mais do que indispensável
neste momento, por que a primeira-dama
resolveu “abandonar” o barco eleitoral do líder
de extrema direita?
Fontes palacianas que sempre falam sob
anonimato absoluto têm listado três fatores para
que a esposa do presidente tenha se retirado de
cena num momento tão crucial. A primeira delas
tem algum peso, mas não é a mais importante.
Michelle passou a ser muito questionada, e
até bastante ridicularizada, pelas intervenções
religiosas públicas que protagonizou num
Foto Divulgação/Frente Parlamentar Evangélica
De joelhos e em lágrimas, Michelle Bolsonaro participa de culto da
Frente Parlamentar Evangélica na Câmara dos Deputados
Foto Reprodução
Mortes, agressões, ameaças
Violência
bolsonarista
Assassinato de Marcelo Arruda por bolsonarista
em Foz do Iguaçu não é isolado. Desde 2018,
lista de mortes, agressões e ameaças de
apoiadores de Bolsonaro contra militantes de
esquerda só cresce. Confira
por Ivan Longo
O
assassinato do guarda-civil petista
Marcelo Arruda, que foi morto a tiros
em Foz do Iguaçu (PR) pelo bolsonarista
Jorge José da Rocha Guaranho, num atentado
terrorista com motivações políticas, não é um
caso isolado. Ainda em 2018 e até mesmo
antes da eleição que alçou Jair Bolsonaro (PL)
à presidência, mortes, agressões e ameaças
feitas por bolsonaristas contra petistas e
militantes de esquerda já eram registradas e,
desde então, não pararam de crescer.
O assassinato de Marielle Franco e Anderson
Gomes em 14 de março de 2018 já anunciava
o clima de ódio que serviria como base para a
atuação de bolsonaristas na campanha eleitoral
e durante o governo Bolsonaro. Além do fato
de que os milicianos envolvidos na morte da
vereadora do PSOL tinham relações com o atual
presidente, bolsonaristas debocharam e seguem
debochando do assassinato brutal, que se
tornou um símbolo da violência política no país.
“Vamos
fuzilar a
petralhada!”
15 de novembro de 2017
Mulher é agredida por bolsonarista ao
dizer que votaria em Lula
Uma mulher foi agredida em uma padaria
de São Paulo (SP) por um apoiador de Jair
Bolsonaro simplesmente por ter dito que, entre
o então deputado e o ex-presidente Lula,
votaria em Lula nas eleições do ano seguinte. R*
contou, no relato que postou no Facebook, que
parou com uma amiga para comer na padaria
Bologna, na rua Augusta, em São Paulo, antes
de ir para casa. No local, dois homens que
comiam no mesmo balcão que ela começaram
a incomodá-la e, em dado momento, um
deles perguntou se em um segundo turno
nas eleições de 2018 ela votaria em Lula
ou Bolsonaro. Bastou ela dizer que votaria
no petista para que o homem começasse a
destilar uma série de ofensas de cunho racista
e classista. A princípio, R* conta que ignorou
as ofensas e se dirigiu ao caixa para pagar a
conta e ir embora mas, diante da ofensiva dos
dois homens, resolveu rebater. Um funcionário
da padaria, então, teria entrado entre eles para
intervir e, em um momento de distração, um
dos apoiadores de Bolsonaro desferiu um soco
em seu olho.
27 de março de 2018
Caravana de Lula é atacada com tiros no PR
Um dos ônibus que acompanhava uma
caravana de Lula no Paraná, no trajeto entre
Quedas do Iguaçu e Laranjeiras do Sul, foi
atingido por pelo menos três disparos de arma
de fogo. Ninguém ficou ferido. Além dos tiros,
opositores armaram emboscadas na rodovia
com pregos para furar os pneus dos veículos.
6 de outubro de 2018
Carreata de apoio a Haddad é atacada por
bolsonarista
Uma carreata de apoio ao então candidato
à presidência Fernando Haddad (PT) em
Maringá (PR) foi atacada por um bolsonarista.
O agressor, que dirigia uma motocicleta com
um adesivo de campanha de Jair Bolsonaro,
avançou contra o ato de rua, arrancou
bandeiras dos militantes e as usou para
quebrar os vidros das janelas do carro onde
estava a presidente do Sindaen (Sindicato dos
Trabalhadores nas Empresas de Água, Esgoto e
Saneamento de Maringá e Região Noroeste do
Paraná), Vera Pedroso, que teve a mão cortada
por conta dos estilhaços. Ela foi atendida em
uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) local
e levou cinco pontos. Os militantes presentes na
passeata tentaram conter o motociclista até a
chegada da polícia, mas instantes depois outros
quatro homens apareceram para ajudá-lo e, em
meio a mais agressões, conseguiram fugir.
7 de outubro de 2018
Bolsonaristas atropelam cineasta
O cineasta Guilherme Daldin vestia uma
camiseta com a imagem do ex-presidente
Lula e estava acompanhado de amigos nas
proximidades da Rua Trajano Reis, no centro de
Curitiba, quando foi atropelado por um carro.
Daldin estava parado ao lado de um bicicletário.
“Eu conversava com os amigos e o carro foi
jogado contra mim, o pneu passou por cima
dos meus pés. O carro saiu em disparada e,
quando amigos conseguiram chegar perto do
motorista, ele ameaçou dizendo que portava
uma arma”. A placa do carro foi identificada e
através dela foi possível encontrar o perfil do
Facebook do motorista que revela em suas
postagens ódio e pedido de morte a quem
apoia o PT.
8 de outubro de 2018
Mestre Moa do
Katendê é assassinado
a facadas
O mestre de capoeira
Moa do Katendê, de 63
anos, foi assassinado
a facadas por dizer que apoiava Fernando
Haddad, então candidato do PT à presidência,
em Salvador (BA). O crime ocorreu após o
primeiro turno das eleições. O assassino é
eleitor de Jair Bolsonaro e matou o capoeirista
por discordar das suas posições políticas.
Quando foi atacada, a vítima estava em um bar
com o primo Germino, de 52 anos, que também
foi ferido com os golpes de faca.
10 de outubro de 2018
Bolsonaristas armados atacam Casa do
Estudante em Curitiba
Um estudante da Universidade Federal do
Paraná (UFPR) foi agredido por bolsonaristas
pelo fato de estar usando, na ocasião, um boné
do MST. Ele estava com alguns amigos na praça
do campus universitário quando foi espancado
pelo grupo, que gritava “Aqui é Bolsonaro”.
Armados, os bolsonaristas ainda depredaram a
Casa do Estudante da universidade.
28 de novembro de 2019
Bolsonarista mata idoso a socos por
divergência política em SC
Apoiador de Jair Bolsonaro, Fábio Leandro
Schwindlein, de 44 anos, matou o idoso
Antônio Carlos Rodrigues Furtado, de 61
anos, após agressão com socos e pontapés
por discussão sobre política. Rodrigues teria
um posicionamento mais à esquerda e Fábio
Leandro já demonstrou em diversas publicações
nas redes sociais ser bolsonarista. O crime
ocorreu na Avenida Alvin Bauer na região
central de Balneário Camboriú. Segundo
boletim de ocorrência feita pela polícia, Fábio
Leandro estava “muito alterado e proferindo
palavras impróprias de cunho ofensivo”, quando
começou a agredir o idoso “A vítima foi para
a calçada e em seguida, F.L.S iniciou com as
agressões. Após o ato, a vítima caiu no chão, e
o autor continuou a agredi-lo. Em ato contínuo,
a vítima levantou-se e pediu para cessar com a
agressão, pedido este ignorado pelo autor do
fato. Neste momento, a vítima caiu novamente
no chão, desta vez, desacordado”, diz o
boletim. Rodrigues teve uma parada cardíaca
no local e morreu.
18 de março de 2021
Rodrigo Pilha é
preso por faixa contra
Bolsonaro e sofre
tortura na prisão
O ativista Rodrigo Pilha,
preso no dia 18 de março
de 2021 por estender uma faixa chamando
o presidente Jair Bolsonaro de genocida, foi
espancado e torturado na prisão. Enquanto
esteve na Polícia Federal prestando depoimento,
Pilha foi tratado de forma respeitosa, mas ao
chegar no Centro de Detenção Provisória II,
área conhecida como Covidão, em Brasília,
alguns agentes já o esperavam perguntando
quem era o petista. A recepção de Pilha foi
realizada com crueldade. Ele recebeu chutes,
pontapés e murros enquanto ficava no chão
sentado com as mãos na cabeça. Enquanto
Pilha estava praticamente desmaiado, o agente
que o agredia, e do qual a família e advogados
têm a identificação, perguntava se ele com 43
anos não tinha vergonha de ser um vagabundo
petista. E dizia que Bolsonaro tinha vindo para
que gente como ele tomasse vergonha na cara.
15 de outubro de 2021
Bolsonarista armado ameaça radialista
Jerry Oliveira
Em 15 de outubro de 2021, a 8ª Delegacia
de Polícia de Campinas (SP) informou que
estava investigando o caso do radialista Jerry de
Oliveira, da Rádio Noroeste, que estava sendo
ameaçado por um bolsonarista que mora no
seu bairro, chamado Lourival Bento. Ele relata
que, além de intimidações verbais, o filho de
Lourival chegou a se dirigir a ele com uma arma
na mão dizendo que “ninguém mais falaria mal
do Bolsonaro”.
12 de dezembro de 2021
Equipe da TV Bahia é agredida por
seguranças e apoiadores de Bolsonaro ]
em Salvador
Uma equipe de jornalistas da TV Bahia,
uma afiliada da Rede Globo, foi agredida
em Itamaraju, sul da Bahia, por seguranças
e militantes bolsonaristas. Os jornalistas
agredidos são Camila Marinho e o cinegrafista
Cleriston Santana, que aguardavam a
chegada do presidente Jair Bolsonaro. Após
deixar o helicóptero, o presidente seguiu em
direção ao estádio municipal Juarez Barbosa
acompanhado de um séquito de bolsonaristas e
cercado por seguranças. Quando os repórteres
da TV Bahia e da TV Aratu, afiliada do SBT,
tentaram se aproximar do carro em que o
presidente estava, foram impedidos pelos
seguranças. Um dos seguranças deu o golpe
“mata-leão” na jornalista Camila Marinho. Os
jornalistas da TV Aratu Xico Lopes e Dário
Cerqueira também foram agredidos.
15 de junho de 2022
Usando drone,
bolsonarista
despeja fezes e
urina em apoiadores
de Lula durante ato em
Uberlândia
Apoiadores do ex-presidente Lula que
aguardavam o início de um ato político do
petista em Uberlândia (MG) com Alexandre
Kalil (PSD), ex-prefeito de Belo Horizonte e pré-
candidato do governo de Minas Gerais, foram
surpreendidos por um drone que sobrevoou
o local jogando um líquido fétido no público
presente. A presença do drone de pulverização
- usado normalmente para agricultura -
provocou uma correria no local. O responsável
pelo ataque foi preso.
7 de julho de 2022
Bolsonarista lança explosivos contra ato
de Lula na Cinelândia
Explosões foram registradas durante o ato
político que o ex-presidente Lula (PT) realizou
recentemente na Cinelândia, Rio de Janeiro
(RJ). Segundo testemunhas, o artefato foi
lançado da parte de fora da área onde estava
o público, cercada por grades, e explodiu no
chão, próximo às pessoas que prestigiavam o
evento. O autor do ataque foi preso.
7 de julho de 2022
Bolsonaristas atacam
juiz que prendeu Milton
Ribeiro
O juiz federal Renato
Borelli, da 15ª Vara Federal
de Brasília, que deu a
ordem de prisão do ex-ministro da Educação
Milton Ribeiro no caso que apura corrupção e
propinas no MEC, foi atacado por bolsonaristas
com uma quantidade grande de fezes e ovos
enquanto dirigia, indo de casa para o trabalho.
Ele trafegava pela capital federal quando seu
carro foi atingido pelos excrementos e ovos, que
cobriram quase todo o para-brisa do veículo,
tirando toda sua visibilidade. O magistrado
precisou dirigir alguns quilômetros, quase sem
enxergar, para conseguir fugir e chegar a um
local seguro.w
Opinião
O bolsonarismo
mata
Quantas vidas serão ceifadas
até pararmos a ideologia do ódio?
por Cynara Menezes
Foto Divulgação/MST
MST
Do campo às
estrelas
Ana Gabriela Kochem dos Anjos, assentada
do MST, ganha medalha de bronze na Olimpíada
de Astronomia e Astronáutica
por Ivan Longo
O
Assentamento 9 de Novembro, do
Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem Terra (MST), em Água Doce (SC),
está em festa. A jovem Ana Gabriela Kochem
dos Anjos, que mora no local, conquistou a
medalha de bronze na Olimpíada Brasileira
de Astronomia e Astronáutica (OBA), evento
realizado pela Sociedade Astronômica Brasileira
(SAB), anualmente, desde 1998, com alunos
de escolas previamente cadastradas de todo o
país. A premiação será em outubro.
Filha e neta de assentados, Ana Gabriela
tem 9 anos e cursa o 4º ano do Ensino
Fundamental I no Centro Educacional Municipal
Cultivando o Saber. Trata-se de uma escola de
campo dentro do assentamento inaugurada em
2019 após décadas de luta dos sem-terra. A
unidade de ensino, inclusive, tem como diretor
Adílio da Silva Paz, militante do MST e que
coordena o setor de educação do movimento
em Santa Catarina.
A mãe de Ana Gabriela, Marisete Kochem,
é professora na escola e já chegou a dar aulas
para a própria filha. “O orgulho é dobrado.
Orgulho como mãe e como educadora
da escola”, disse Marisete, que vive no
assentamento 9 de Novembro há 29 anos, em
entrevista à Fórum. No local, os assentados
produzem milho e feijão, além de outros
alimentos para consumo próprio, como batatas
e mandiocas.
Para a mãe orgulhosa, a conquista de Ana
Gabriela traz visibilidade para a escola rural
e ajuda a quebrar preconceitos que algumas
pessoas ainda têm contra assentados e o MST.
“Ainda existem muitos preconceitos, e isso [a
medalha conquistada por sua filha] vem para
provar que escola boa é aquela em que a criança
é incentivada a correr atrás dos seus sonhos,
seus objetivos. É uma quebra de preconceito,
mostra que independente de lugar, de classe
social, todo mundo, tendo oportunidade, tem
chance de ser bom”, atesta Marisete.
Futura astrônoma?
Ana Gabriela, apesar da timidez, também
conversou com a reportagem da Fórum.
Extremamente estudiosa, ela diz que está muito
feliz por ter ganhado a medalha de bronze na
Olimpíada de Astronomia e Astronáutica e já
pensa em ser astrônoma quando crescer.
Educação transformadora
Atualmente, há mais de 2 mil escolas em
Foto Reprodução
Adílio da Silva Paz: liderança do setor de educação do MST
e diretor da escola onde Ana Gabriela estuda
HQ
Pô, amar é
importante
por Piu Gomes
T
á puxado, como se ouve nas ruas.
Inflação, desgoverno, guerra, pandemia,
incitação ao ódio e à violência... Mas a
editora Nemo dá um descanso merecido com
quatro lançamentos de histórias em quadrinhos
que falam de amor em situações distintas:
Gioconda, Suzette – ou o grande amor, A
Adoção e Um Oceano de Amor são gibis para
quem quer adoçar o cotidiano com histórias
belas e singelas.
Gioconda conta a história de Francisco,
imigrante brasileiro que trabalha na equipe de
limpeza do Louvre e é apaixonado por ninguém
menos que... a Mona Lisa! Quando encontra
uma jovem no metrô extremamente parecida
com a pintura, sua vida sofre uma reviravolta
que envolve coincidências e desapego a uma
leitura cartesiana da vida, e ele vai viver o amor
de verdade. Além do romance que se inicia, a
história da própria Mona Lisa é abordada, sendo
que a musa do sorriso enigmático tece belos
comentários na trama.
O roteiro de Felipe Pan surgiu de uma visita
de seus alunos à exposição sobre Leonardo
da Vinci e foi concebido originalmente para o
cinema. Depois de publicar sua primeira HQ,
ele se uniu a Olavo Costa, que entre outros
trabalhos ilustrou O Astronauta, único quadrinho
Gioconda
Autores: Felipe Pan,
Olavo Costa e
Mariane Gusmão
Editora NEMO,
112 págs., R$ 64,90
Foto Reuters
A arma que
matou Shinzo
Abe
Japão tem controle rigoroso, mas “onda” de
crimes com o uso de armas caseiras, como a
utilizada por um extremista para matar o ex-
premiê Shinzo Abe, preocupa autoridades
por Henrique Rodrigues
O
assassinato do ex-primeiro-ministro
japonês Shinzo Abe a tiros, no meio
da rua, durante um comício eleitoral
na cidade de Nure, cometido por um ex-militar
extremista que usou uma escopeta caseira,
fez surgir dúvidas sobre como funciona a lei de
armas no Japão, famoso por sua segurança e
por índices de criminalidade baixíssimos.
Desde 1958 o Japão adota uma lei de armas
que é baseada na proibição, e que foi revisada
em 2014. Em vias gerais, ninguém pode ter
uma arma e a partir daí surgem as exceções.
Se de alguma forma um cidadão japonês quiser
adquirir um desses objetos perigosos, ele deve
saber de antemão que os únicos possíveis são
espingardas de calibre leve e as de pressão,
que sequer são consideradas “armas de fogo”.
Só que a coisa não para por aí.
O interessado deve passar por algumas
aulas que duram o dia inteiro, depois precisa
realizar uma prova na qual deverá ter uma nota
elevada, para então realizar testes de tiro e ter
que acertar no alvo mais de 95% dos disparos.
Se alcançar essa façanha, terá que realizar
testes psiquiátricos em hospitais públicos,
para posteriormente sofrer um processo de
investigação social no qual familiares, vizinhos
e colegas de trabalho são entrevistados, além
de apresentar um certificado de que não
tem antecedentes criminais. Nem policiais
podem portar arma fora do horário de serviço,
deixando esses objetos na base quando vão
embora para casa.
Por fim, as autoridades podem indeferir ou
ficar protelando a autorização para a compra de
uma espingarda de baixa potência que não pode
ser automática, lembrando que a cada três anos
Tetsuya Yamagami foi preso logo após realizar os
disparos em Shinzo Abe. Ao lado, a arma caseira
fabricada pelo assassino
Armas caseiras
A arma usada pelo ex-militar do braço
naval das Forças de Defesa do Japão,
Tetsuya Yamagami, de 41 anos, que matou
Abe, foi fabricada por ele mesmo, utilizando
canos, uma empunhadura, fita isolante, fios
e outras bugigangas. O que parece exótico e
totalmente incomum, na verdade, tornou-se
um problema no país asiático, já que a cada
ano vem aumentando o número de pessoas
que se dedicam a produzir artesanalmente
essas armas, sobretudo após o surgimento das
impressoras 3D.
Há 10 anos o Japão condenava pela
primeira vez alguém com base na Lei de
Controle de Armas de Fogo por ter produzido
um artefato caseiro usando uma dessas
impressoras. Yoshitomo Imura, um jovem
que trabalhava no Instituto de Tecnologia
em Kanagawa, vinha se exibindo na internet
com seus “brinquedos”, que funcionavam de
verdade poderiam matar alguém.
Em 2002 o país já vinha sendo afetado
por armas de fabricação artesanal. Um caso
notório, naquele ano, foi o de um idoso
que disparou num vizinho com quem tinha
desavenças enquanto o homem passeava com
seu cão, na cidade de Osaka. De lá para cá,
alguns episódios de morte, ameaças, lesões
corporais e posse ilegal desses mecanismos de
fundo de quintal vêm sendo registrados na Terra
do Sol Nascente.w
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