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PERSPECTIVA PÓS-MODERNA E

INTERDISCIPLINARIDADE: UMA NECESSÁRIA


RESIGNIFICAÇÃO DAS PRÁTICAS DE ENSINO.1

Prof. Dr. Ricardo Lemos Sainz2


Profa Dra Cinara Ourique do Nascimento 3

Ante as dificuldades propostas e colocadas pela sociedade pós-moderna e a


constante mutabilidade dos atores e espaços envolvidos no processo ensino-
aprendizagem, cabe-nos enquanto docentes ou gestores de instituições públicas de ensino
buscar novos caminhos e práticas que permitam resignifcar o ensino e o espaço relacional
docente versus discente.
A Sociedade pós-moderna caracteriza-se pela constante mutabilidade de seus
conceitos, paradigmas e relações. Constituindo-se como um organismo vivo, complexo e
imersa em um intrincado, veloz e inexorável processo de mutação e transmutação. Neste
universo em transição ou multiversos, como deve configurar-se a Escola e a Educação?
Está é a questão central que permeia nossa reflexão e, por óbvio, junto com ela
toda a problemática que lhe é atinente e/ou complementas.
Como podemos atuar em uma Escola que não se configura mais como o único
espaço da informação e do saber? Como portarmo-nos ante uma realidade em que a
educação, per si, não configura-se mais como único caminho seguro do sucesso e da
ascensão social?
Como devemos agir diante de uma realidade que rompe e desloca o espaço de
aprendizagem da escola e proporciona ao educando uma diversidade de loci de
aprendizado, muitas vezes mais dinâmicos e interessantes que este espaço clássico? As
respostas a estas e outras perguntas devem vir atreladas a uma reflexão profunda sobre a
condição pós-moderna e suas consequências sobre o processo de ensino-aprendizagem.
Devemos estar prontos a refletir em nossas salas de aula e em nossas práticas de ensino a
complexidade da pós-modernidade e toda sua incosntância, de forma a proporcionar um
ambiente atrativo aos alunos desta era de transformações.
Devemos estar prontos a refletir em nossas salas de aula e, em nossas práticas de
ensino, a complexidade da pós-modernidade com toda sua inconstância, de forma a
proporcionar um ambiente atrativo aos alunos desta era de transformações.
Ensinar ‘verdades’ científicas, tão rapidamente mutáveis, no mundo da pós-
verdade, é colocar sempre em dúvida o que estamos a ensinar. A ciência e o progresso
tecnológico transmutam tão rapidamente a realidade que é impossível acompanhá-las no
ambiente de sala de aula. O câmbio rápido dos paradigmas e realidades nos leva ao
encontro do pensamento de Ortega y Gasset, “se ensinares, ensina ao mesmo tempo a
duvidar daquilo que estás a ensinar”.
Ante a complexidade e velocidade de transformação no multiverso da sociedade
pós-moderna o professor precisa compreender e aprofundar suas percepções de forma a
conseguir atender a todas as facetas destas múltiplas personalidades dicotômicas.

1
Texto adaptado do Documento Preâmbulo ao Planos de Ensino 2016/2017.
2
Professor Titular da CINAT – Química, Campus Pelotas – IFSul.
3
Professora Adjunta da COCIHTEC, Campus Pelotas - IFSul
INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA
SUL-RIO-GRANDENSE
Câmpus Pelotas
Coordenadoria UAB/CPEaD –IFSUL
Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Educação: Espaços e
Possibilidades para a Educação Continuada –Modalidade a Distância –
CPEaD

Ensinamos Ciências da natureza, ciências exatas e da terra, portanto o primeiro


pilar é o cartesianismo científico. As ideias e conceitos apregoados por Renatus Cartesius
foram fundamentais à ciência e, especialmente à este ramo das ciências. Mas no plano
das ideias cartesianas, o empirismo puro e o positivismo acabam por ocupar um amplo
território de nossas práticas pedagógicas. Ocorre que o homem mudou, a ciência mudou
e os nossos alunos mudaram e estão mudando instantaneamente na sociedade pós-
moderna, o que leva aos profissionais da educação à uma necessidade instantânea da
revisão de práticas e atitudes em sala de aula..
À nossa base cartesiano–positiva agregaram-se as ideias de Weber e Marx,
fundamentais para compreensão dos aspectos relacionados ao capital e trabalho e, óbvio,
essenciais quando tratamos de ensino profissionalizante. A esta base sólida (e que deveria
se esfacelar no ar) agregam-se outros teóricos como Piaget, Deleuze, Bachelard, Foucault,
Maturana, Varela, Tardiff entre outros e todos os seus releitores e intérpretes.,
constituindo mais algumas pedras e tijolos em nosso alicerce teórico.
Ocorre que na sociedade pós-moderna o homem mudou, a ciência mudou e os
nossos alunos mudaram e estão mudando instantaneamente, o que leva os profissionais
da educação a uma necessidade instantânea da revisão de práticas e atitudes em sala de
aula.
Um dos aspectos mais interessantes nesse novo período é a aceitação de que
teorias, conceitos, modelos e soluções, anteriormente considerados suficientes na
resolução de problemas científicos e sociais, passam hoje por um crivo crítico que os
transforma em alvo de questionamentos e contestações.
O conhecimento só é construído a partir das bases solidificadas em nosso
passado, mas para que se torne realidade, na forma de progresso, é preciso que se rompam
estas bases, pulverizando as certezas e verdades. Ninguém é tão especial e
suficientemente primaveril para autogenerar o conhecimento.
Há que se estar aberto a polinização através de novas ideias, de novas leituras,
da revisitação ou da reinvenção das práticas. Seres humanos que não se permitem esta
polinização e o florescimento destas ideias apenas reproduzem as ideias que lhes foram
reproduzidas, tal qual clones que se repetem pela eternidade. Geram o novo idêntico ao
velho e, cabe perguntar se este velho, que se auto-genera, adequar-se-á ao tecido social
cibercultural que nasce, morre e renasce diferente a cada instante.
Este é o foco, objetivo e justificativa desta discussão hora proposta. Tentar
observar como se dão as relações entre pós-modernidade e interdisciplinaridade no ensino
de química e de ciências é tarefa árdua. Ademais porque se estará refletindo, a luz da
liquidez da pós-modernidade, sobre as práticas pedagógicas inovadoras e sua influência
e pertinência na disruptura e ressignificação do processo de ensino-aprendizagem a partir
de vivências do cotidiano.
Utilizar as dinâmicas tecnológicas, os recursos midiáticos e as tecnologias
emergentes associadas ao perfil destes alunos alunos ‘nativos digitais’ é uma forma de
trazer a realidade vivida por estes jovens para dentro de sala de aula criando os vínculos
necessários com seu cotidiano pessoal e profissional. A partir deste ponto é possível
explorar as potencialidades do conteúdo associado com o cotidiano e vivências destes
alunos.
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As hiperestruturas que consitutuem os alicerces desta pós-modernidade são


constantemente balançados, rompidos e pulverizados pelo tecido social vivo e pulsante
que as configuram. Trata-se de uma resignificação instantânea e auto catalisada pelo
próprio tecido socia,l criado e recriado pela cibercultura e sua interações nesta rede de
individuos que compõem a coletividade pós moderna.
Passamos pelas transformações que a saturação impõe à sociedade pós-moderna,
numa alusão a figura de linguagem emprestada por Maffesoli à Química, para explicar
algumas das transformações que ocorrem em nossa contemporaneidade.
Pensamos que mais que saturação, a pós-modernidade pode buscar na ciência
química o conceito de super-saturação para evidenciar sua transitoriedade e constante
estado de mutação.
A super saturação pressupõe uma condição de equilíbrio meta-estável, algo que
existe e se consitui sem causa aparente mas que pode romper-se ante a mínima
perturbação ambiental, mostrando pois, sua real natureza e, imediatamente após se
reconfigurar em terceira substância, diferente das duas anteriores. Consituindo algo novo
e dinâmico que ciclicamente romper-se-á, configurando infinitas substâncias diferentes.
Vivemos em uma sociedade que sofre intensos e constantes períodos de
reestruturação, trazendo alterações nos seus padrões sociais, econômicos, culturais e na
configuração dos sujeitos que dela participam4. Uma destas transformações está nas
relações que estabelecemos ao “desenvolver uma teia de relações formais por meio de
uma coleção de histórias” (CAPRA, 1995, p.64), que traduzem uma dinâmica de um
possível entendimento da essência do mundo em que vivemos. Esse viver está na
compreensão das relações que estabelecemos com o outro. Esse espaço de convivência é
o que permite nos conhecermos, pois “toda história individual humana é sempre uma
epigênese na convivência” (MATURANA, 2009, p.28).
Reiteramos que o mundo contemporâneo está passando por processos de
transformação muito rápidos e profundos. Um dos aspectos mais interessantes nesse novo
período é a aceitação de que teorias, conceitos, modelos e soluções anteriormente
considerados suficientes na resolução de problemas científicos e sociais passam por um
crivo crítico e se dão como alvo de questionamentos, o que nos leva a pensar que o que
está realmente em crise é o modelo de civilização no seu todo, ou seja, o paradigma da
Modernidade.
A aceitação de tais argumentos nos remete à interdisciplinaridade no ensino
como uma prática possível de ser implementada e um caminho metodológico que dará
origem a um diálogo entre saberes, ressaltando o caráter de integrar conhecimentos que
se dão em separado. Acreditamos que tal concepção proporcionará um processo de
reconciliação integrativa capaz de preparar o aluno para a interpretação e ação de/em sua
realidade.
Somos parte dessas relações na condição relacional operacional do nosso
cotidiano, ou seja, através das diferentes dimensões de nosso viver fazemos parte de um
ambiente familiar, profissional, clube ou nação, pois somos membros imbricados em

4
Refirimo-nos a ideia de Maturana (1999) em que é possível a transformação na
convivência, em que as relações humanas são sustentadas no amor.
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distintos sistemas sociais, levando-nos a realizar diferentes condutas próprias a cada


espaço de convivência5.
Num período de transição, em que estruturações e desestruturações,
normatizações e transgressões imbricam-se dialeticamente e, colocam-se como desafios
consideráveis à educação. É preciso que se compreenda a tessitura das relações no ensinar
e no aprender, bem como a heterogeneidade contextual em que tais relações ocorrem.
Neste enfoque devemos pensar criticamente sobre conceitos arraigados em nosso ser, pois
são eles que nos constituem como atores desta imbricada e complexa rede social que
conhecemos como Escola.
O ambiente acadêmico constitui-se, por óbvio, ou pelo menos deveria constituir-
se, no locus ideal para este embate, para esta discussão. Entende-se que ideias contrárias
ou não totalmente alinhadas são o fermento, o adubo necessário a transição, a mudança e
o progresso. Em um ambiente fértil de ideias e posicionamentos desalinhados é fácil que
o confronto ocorra e, dele e nele devemos buscar o avanço rumo ao futuro que, se dará
pelo rompimento dos paradigmas propostos, de um lado e de outro, pois não é a
superveniência de uma ideia sobre a outra que vai constituir o avanço e, sim seu
somatório, o seu entremenhamento na criação de um novo tecido mais complexo e mais
dinâmico.
Desafiar o status quo é mais do que função de um professor, deve ser uma de
suas profissões primordiais e essenciais, pois somente ao desafiar e romper com o comum,
com o cotidiano, deixando as zonas de conforto para trás, rompendo a solidez das
‘verdades’, é que um docente ajudará a construir algo ao mesmo tempo duradouro e
instantâneo, sólido e diáfano, etéreo na acepção total da palavra, que é o saber humano.
Lembro aqui do dito de Marx no Manifesto do Partido Comunista,
“Tudo o que era sólido se desmancha no ar, tudo
o que era sagrado é profanado, e as pessoas são
finalmente forçadas a encarar com serenidade
sua posição social e suas relações recíprocas.”
(MARX & ENGELS, 1998).
O professor é o artífice que professa o progresso e tem como ferramenta principal
o conhecimento, sendo sua oficina ou taller a academia. Portanto é aqui no ambiente
acadêmico que devemos mergulhar de corpo e alma neste embate de ideias e ‘verdades’.
A educação e os processos educativos não podem ser exclusivamente dogmáticos, pois
eles (a educação e os processos educativos intrínsecos a esta) nascem da exegese das
críticas destes mesmos dogmas.
Tese e antítese se chocam a partir do pensamento crítico em educação, buscando
a síntese destas teorias e práticas. Criando, então, novos ‘dogmas’ que, também, se
volatizarão a partir da crítica e da reinterpretação deles mesmos, no rol da continuidade
do processo educacional em si. É neste ponto, nesta inflexão doutrinária, na total

5
MATURANA, Humberto. Transformación em laconvivencia. DolmenEdiciones S.A.
Santiago, Chile, p. 29-31, 1999.
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imprevisibilidade e mutabilidade6, que reside o titânico poder transformador da


educação (grifo nosso).
Destarte, não existem verdades absolutas, certezas meridianas ou dogmas
incontestáveis em educação. Existem, apenas, a inquietação d’alma, as noites insones e a
incerteza de nossas verdades ou a inveracidade de nossas certezas.
Desta feita, a Educação é o complexo ato de estimular, transmitir, capacitar o
individuo para a vida em sociedade, viabilizando sua sobrevivência no intrincado meio
social que permeará toda sua vida. Esta é uma tarefa hercúlea e, por óbvio não cabe apenas
a um ator ou a um pequeno grupo de atores, é função da sociedade como um todo e
seu loci não é apenas a escola e sim todo os lugares por onde este discente 7 ou
aluno8 9perambula.
E em qual base este professor vai buscar este conhecimento a ser
disponibilizado/facilitado? É no arcabouço de suas experiências, convicções, certezas e
incertezas. É no que viveu, no que vive e no que permeia seu pensamento que o professor
busca e fundamenta sua arte, sua atividade. Através da observação participativa e da
interpretação dinâmica de suas vivências e experiências é que o professor alicerça o
arcabouço de pensamento fundamental a sua prática profissional.
É porque, como destaca Maturana,
“O ser humano não é um observador neutro,
descomprometido com o que observa. Ele toma

6
Podemos aqui, como professores de química que somos, traçar um paralelo comparativo
desta mutabilidade do processo educacional com o conhecido Princípio da Incerteza de
Heisenberg. Neste se postula, resumidamente, que quanto mais precisamente se medir
uma grandeza, forçosamente mais será imprecisa a medida desta grandeza
correspondente, o que é chamado de grandeza canonicamente conjugada. Em forçado
paralelo, pode-se dizer que em educação quanto mais minuciosa a discussão, o
questionamento e a resposta a estes, mais dúvidas e incertezas serão geradas, o que em
nossa opinião, é o moto-perpétuo da evolução humana. Como nos afirma brilhantemente
Albert Eisnten ‘não são as respostas que movem o mundo, são as perguntas’, por óbvio
um repaginamento da máxima socrática do ‘Conhece-te a ti mesmo?’.
7
Originário do latim discens, discentis. Teria vindo do particípio presente de dísco, is,
didìci/discìtum, èr, cuja acepção era ‘aprender, saber, estudar, tomar conhecimento’.
Aquele que recebe/toma o ensinamento de um mestre ou professor.
8
do lat. alumnus, alumni, proveniente de alere, que significa “alimentar, sustentar, nutrir,
fazer crescer. Significa literalmente “criança de peito”, “lactante” ou “filho adotivo”, Em
sentido figurado ou metafórico, porém, aluno significa simplesmente “discípulo” ou
“pupilo”, alguém que aprende de forma coletiva em estabelecimento de ensino pela
mediação de um ou vários professores.
9
É interessante que a etimologia e a linguagem nos demonstram que há diferença entre
os termos discente/ aluno e o termo estudante (uma pessoa que se ocupa do estudo,
relativa a um aprendizado de qualquer nível). Pois o estudo pode ser uma atividade
individual, sem recurso a professores, enquanto os primeiros necessitam da mediação de
mestres ou professores.
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posição, é influenciado pelo que observa de uma ou


outra forma e coloca em prática sua capacidade de fazer
juízos sobre o que experimenta. Os seres humanos são
seres linguísticos e os juízos que emitem os constituem
em observadores diferentes.”(MATURANA, 1998).
Portanto, se, no cadinho multiversal de uma sala de aula imergem diferentes
alunos, ali se encontram, também, os mais diversos professores, fruto das mais variadas
experiências. Nenhum destes, nem suas práticas ou crenças, podem ser classificados
como certas ou erradas, apenas diferentes.
A cada geração a humanidade modifica-se em ondas, em fluxo e refluxo. As
novas gerações constituem-se de um tecido dinâmico e em rápida transformação
acelerado pela tecnologia e pela cibercultura tão bem definidos por Pierre Levy. Neste
multiverso, neste tecido composto pela cibercultura, pelo intrincado tecido formado,
deformado e reformado pelo fluxo de informação disponível no ciberespaço e facilmente
acessível pelas redes sociais.
Nesta nova dinâmica, as sociedades pós-modernas não são mais compostas pela
espécie originalmente conhecida como Homo sapiens – o Homem – somos, enquanto
espécie, hoje, algo muito mais complexo. Edgar Morin nos diz que,
“[...]é preciso ensinar a unidade dos três
destinos, porque somos indivíduos, mas como
indivíduos somos cada um, um fragmento da
sociedade e da espécie Homo sapiens a qual
pertencemos, e o importante é que somos uma
parte da sociedade, uma parte da espécie, seres
desenvolvidos sem os quais a sociedade não
existe, a sociedade só vive dessas interações[...]
È importante, também mostrar que, ao mesmo
tempo que o ser humano é múltiplo, existe a sua
estrutura mental que faz parte da complexidade
humana, isto é, ou vemos a unidade do gênero
e esquecemos a diversidade das culturas, dos
indivíduos, ou vemos a diversidade das culturas
e não vemos a unidade do ser humano”
(MORIN, 2014).
Para Morin (2014), o homem é um ser plenamente biológico e plenamente
cultural, isto ao mesmo tempo e, no mesmo locus, constituindo-se como
uma unidualidade originária, sendo super e hipervivente. Somos, a grosso modo, um
intrincado complexo de diferentes pessoas em uma mesma pessoa. Enquanto espécie
somos ao mesmo o Homo sapiens e Homo demens (sábio e louco), o Homo faber e Homo
ludens (trabalhador e lúdico), o Homo empiricus e Homo imaginarius(empírico e
imaginário), o Homo economicus e Homo consumans (econômico e consumista), o Homo
prosaicus e Homo poeticus (prosaico e poético). Em suma, nossa espécie evoluiu e segue
evoluindo como um novo ser, o Homo complexus.
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É este homem complexo, um ser que expressa todos os conflitos da alma humana
ao mesmo tempo que reflete a velocidade da ‘trans’formação do tecido cultural pós-
moderno, que encontramos, multiplicados por cada um dos indivíduos múltiplos
(multíviduos), ao ingressar em qualquer sala de aula. Portanto se não considerarmos a
complexidade deste sujeito que se interpõe como nosso objeto de trabalho, nosso
‘cliente’, não teremos como proporcionar-lhe nem instrução nem formação, muito menos
educação.
Ante a complexidade e velocidade de transformação no multiverso da sociedade
pós-moderna o professor precisa compreender e aprofundar suas percepções de forma a
conseguir atender a todas as facetas destas múltiplas personalidades dicotômicas. Senão
corremos o risco de, como nos alerta Morin (2014), acabar com a unitas multiplex10, com
a unidade e diversidade simultâneas da espécie humana.
O docente deve refletir sobre sua metodologia, sua didática, seus
conhecimentos, sua relação com o aluno, corrigindo permanentemente seus eventuais
erros. A liberdade em ensinar não comporta desestímulo, e nem que o docente seja
condescendente com o desinteresse do aluno e desista de incentivá-lo. O docente é o
ponto referencial no aprendizado do aluno.
Podemos perceber nestas breves reflexões iniciais que o assunto é amplo,
complexo e controverso, como o é toda a temática que envolve o pensamento humano.
Como seres humanos somos suscetíveis as influências e vivências que constituem nossa
experienciação e nossa visão de mundo. Também são elas que moldam os profissionais
que somos ou seremos, pois são elas que regem nosso emocionar.
E é este emocionar que nos constitui e como pessoas e como profissionais.
Portanto discutir a sociedade e sua fugacidade, na visão pós-modernista é fundamental
para que possamos compreender quem somos, o que nos constitui e quais destas vivências
traduzirão nossa prática, nosso fazer.
Neste contexto desenvolveremos a Temática proposta nesta disciplina,
procurando aclarar um pouco estes conceitos as vezes nebulosos. Trabalharemos e
discutiremos quatro teóricos importantes para as concepções do conceito de pós-
modernidade e hipermodernidade. Estudaremos e discutiremos o pensamento de
Baumann, Morin, Lipovetsky e Maffesoli.
Esperamos que nossa convivência seja profícua. Que possamos ao final da
disciplina compreender um pouco do imbricado comportamento do tecido social pós-
moderno. E, é claro que esta discussão e compreensão possa ajudar-nos a resignificar
nossas práticas cotidianas quer na vida quer na profissão da docência.

10
Conceito sobre o qual Morin discorre no livro ‘Os sete saberes necessários a Educação
do Futuro’ de 2014, e que destaca como um dos riscos da educação moderna o fato de
que esta poderá acabar com a unitas multiplex, com a unida de e diversidade simultâneas
da espécie humana.
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