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DIREITO

JUR0317_v2.0
TRIBUTÁRIO
PÓS-GRADUAÇÃO

SISTEMA CONSTITUCIONAL
TRIBUTÁRIO: PRINCÍPIOS
E IMUNIDADES
Autoria: Profa. Adriana Mayumi Kanomata

Leitor Crítico: Profa. Juliana Caramigo Gennarini

Como citar este documento: KANOMATA, Adriana Mayumi. Sistema Constitucional


Tributário: Princípios e Imunidades. Valinhos: 2020.

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2
SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO: PRINCÍPIOS E
IMUNIDADES

ÍNDICE

TEMA 01: Sistema Constitucional: Princípios e Imunidades__________ 05

TEMA 02: Igualdade, Capacidade Contributiva e Efeito Confiscatório __ 38

TEMA 03: Imunidade Recíproca, Religiosa e no Terceiro Setor_______ 56

TEMA 04: Imunidade Cultural e Teoria Geral das Imunidades _______ 73

3
SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO: PRINCÍPIOS E
IMUNIDADES

LEGENDA DE ÍCONES

INÍCIO

VAMOS PENSAR

GLOSSÁRIO

PONTUANDO

VERIFICAÇÃO
de leitura

REFERÊNCIAS

GABARITO

4
Aula 01

Sistema Constitucional: Princípios


e Imunidades
Autoria: Adriana Mayumi Kanomata
Leitura Crítica: Juliana Caramigo Gennarini

Objetivo
• O tema a ser abordado tem por objeto o estudo das
limitações ao poder de tributar da União, Estados e
Municípios, regras essas previstas na Constituição
Federal.

• A observância dos princípios e imunidades


constitucionais garante a legalidade e legitimidade
na relação entre o ente tributando e o contribuinte,
sendo, assim, matéria essencial ao Direito Tributário.

5
Resumo da Aula

Prezado aluno, neste estudo você aprenderá quais são os princípios


constitucionais de forma detalhada, bem como as imunidades
constitucionais existentes e sua extensão dentro do ordenamento
jurídico. Conhecerá, ainda, as exceções, as referências jurisprudenciais e
doutrinárias sobre o tema, como forma de aprofundamento na matéria.
Boa leitura e bem-vindo ao estudo.

1. Introdução: Poder de Tributar, Competência


e Limites

A intervenção do Poder Público no patrimônio e renda dos contribuintes,


visando à arrecadação aos cofres públicos, é considerada necessária
para a manutenção e funcionamento da máquina estatal, mas não é um
poder absoluto. PQ? PRECISA ATINGIR OS OBJETIVOS
FUNDAMENTAIS
A Constituição da República Federativa do Brasil elenca, no art. 3º, os
objetivos fundamentais dos entes que compõem a Federação (União,
Estados, Distrito Federal e Municípios), quais sejam:

• construir uma sociedade livre, justa e solidária;

• garantir o desenvolvimento nacional;

• erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades


sociais e regionais;

• promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, cor,


idade e quaisquer outras formas de discriminação.

Para o atingimento daqueles objetivos, é fato que os entes federados


precisam buscar recursos financeiros necessários e investir em ações

6
governamentais. Esses recursos podem ser captados através do
pagamento de tributos impostos à população que, teoricamente, seria
destinatária dos benefícios promovidos por aqueles objetivos, podendo
e devendo exigir o correto investimento dos valores arrecadados.
ESSE CONCEITO NÃO O MESMO DO ART 3 DO CTN. ESSE É DE HUGO DE BRITO MACHADO
Tributo é a prestação pecuniária compulsória exigida por um ente
público de pessoas físicas e jurídicas pertencentes a um determinado,
exigência essa decorrente de lei. O poder de tributar é uma face da
soberania nacional, sendo certo que soberania representa a prevalência
da vontade do Estado em detrimento das vontades individuais.1

O poder de tributar é constitucionalmente discriminado, outorgando a


cada ente político a extensão e os limites de seus respectivos poderes.
“A conclusão a tirar, portanto, é que a República reconhece a todas as
pessoas o direito de só serem tributadas em função do superior interesse
do Estado. Os tributos só podem ser criados e exigidos por razões públicas.
Em consequência, o dinheiro obtido com a tributação deve ter destinação
pública, isto é, deve ser preordenado à mantença da res publica”.2 EU VOU FALAR
ISSO AQUI
É na Carta Magna que são fixados os meios dos quais os entes federados
podem se valer para auferir receita através da tributação. O poder de
tributar é, repise-se, uma manifestação da soberania do Estado. Por
outro lado, à capacidade dos entes federados, constitucionalmente
outorgada, de instituir tributos, denominamos competência tributária.

Assim, competência tributária e poder de tributar são institutos


diferentes: o poder de tributar representa a manifestação e busca do
interesse público em detrimento do privado; a competência tributária
corresponde apenas ao exercício desse poder através da instituição de
tributos, com base em lei.

1
MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. São Paulo: Malheiros, 2008, p. 28 e 29.
2
CARRAZZA, Roque Antonio. Curso de Direito Constitucional Tributário. 9. ed. São Paulo: Malheiros, 1997,
p. 73.

7
Destarte, a competência tributária é outorgada pela Constituição
Federal a cada um dos entes federados, que poderão instituir apenas
os tributos presentes dentro da previsão constitucional. Vale lembrar,
ainda, que a Constituição Federal não institui tributos. Ela apenas
outorga competências delimitadas para cada ente político, ficando sob a
responsabilidade desses a instituição dos tributos.

1.1 Modalidades de competência

A competência tributária pode ser classificada em cinco modalidades,


conforme entendimento que podemos encontrar na doutrina em geral.3

Assim sendo, a competência tributária pode ser dividida em cinco


modalidades: privativa, comum, especial, residual e extraordinária.

a. Privativa: refere-se à instituição dos impostos. Denomina-se


privativa, pois a Constituição Federal determinou quais impostos
cada ente político poderá instituir, não havendo liberdade nos
exercícios da competência tributária. Não podem, assim, instituir
os impostos que bem entenderem. Neste passo, cada um tem seu
grupo particular de impostos:

União (art. 153 da Constituição Federal): imposto de importação (II);


imposto de exportação (IE); imposto sobre a renda (IR); imposto
sobre produtos industrializados (IPI); imposto sobre operações
financeiras (IOF); imposto territorial rural (ITR) e imposto sobre
grandes fortunas (IGF).

Estados e Distrito Federal (art. 155 da Constituição Federal): imposto


sobre transmissão causa mortis e doações (ITCMD); imposto sobre
circulação de mercadorias e serviços (ICMS); e o imposto sobre a
propriedade de veículo automotor (IPVA).

3
AMARO, Luciano. Direito Tributário Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 95-96.

8
Municípios (art. 156 da Constituição Federal): imposto predial e
territorial urbano (IPTU); imposto sobre a transmissão de bens imóveis
(ITBI); e o imposto sobre serviços (ISS). OBS. QUANTO AO DISTRITO
FEDERAL
Lembramos que o Distrito Federal, por consequência do seu perfil
diferenciado, possui competência cumulativa, cabendo-lhe instituir
impostos estaduais e municipais (art. 147, CF). Assim sendo, o Distrito
Federal ficará responsável pela instituição e arrecadação dos seguintes
impostos: ITCMD, ICMS, IPVA, IPTU, ITBI e ISS.

b. Comum: engloba taxas e contribuições de melhoria, que são de


competência de quaisquer dos entes federados. Frise-se que a
instituição das taxas e contribuições é comum a todos os entes
políticos, sendo específico apenas o serviço público ou a obra
pública a eles vinculados (art. 145, II e III, CF).
c. Especial: essa competência refere-se aos empréstimos
compulsórios e as contribuições aqui denominadas especiais (art.
148 e 149 da CF). Via de regra, essas contribuições especiais são
de competência federal, exceto a contribuição para o custeio do
serviço de iluminação pública que se encontra sob a competência
dos Municípios e do Distrito Federal (art. 149-A, CF).
d. Residual: a competência exclusiva da União. Essa competência
permite à União ampliar o rol de tributos inicialmente conferidos
pela Constituição. Porém, para que a União possa criar novos
impostos (impostos residuais), necessariamente deverá atender
aos seguintes requisitos (art. 154, I, CF):

I. a instituição deverá ocorrer por lei complementar;


II. o imposto deverá observar o princípio da não cumulatividade; e
III. não poderá ter fato gerador nem mesmo base de cálculo idênticos
aos dos impostos já discriminados pela Constituição Federal.

Ainda, outro dispositivo constitucional que trata da competência residual


é do art. 195, § 4º, que permite à União instituir novas contribuições

9
sociais. Para tanto, a Constituição Federal também previu condições
a observância do art. 154, I para que as novas contribuições ocorram,
adaptando apenas o último requisito, conforme a seguir exposto:

I. ser veiculadas por lei complementar;


II. ser não cumulativas; e
III. não poderão ter fato gerador, nem base de cálculo das contribuições
sociais já existentes.

Podemos concluir, assim, que a norma constitucional segue a seguinte


premissa: novos impostos não podem ter fato gerador e base de cálculo
dos impostos já existentes; as novas contribuições, igualmente, não
podem ter fato gerador e base de cálculo iguais às contribuições já
existentes.

Nesse sentido, segue abaixo trecho do voto do Ministro Carlos Velloso


acerca do assunto, demonstrando o entendimento que se perpetua no
Supremo Tribunal Federal:

[...] quando o § 4º, do art. 195, da C.F., manda obedecer a regra da


competência residual da União – art. 154, I – não estabelece que as
contribuições não devam ter fato gerador ou base de cálculo de impostos.
As contribuições, criadas na forma do § 4º, do art. 195, da C.F., não devem
ter, isto sim, fato gerador e base de cálculo próprios das contribuições já
existentes.

É que deve ser observado o sistema. E o sistema é este: tratando-se de


contribuição, a Constituição não proíbe a coincidência da sua base de
cálculo com a base de cálculo do imposto, o que é vedado, expressamente,
relativamente às taxas. (BRASIL, 1988, art. 145, § 2º) (RE 228321/RS.
Julgamento em 01/10/1998. DJ 30/05/2003).

Entende-se, assim, que a instituição de uma contribuição social nova


com fato gerador ou base de cálculo idêntica à de algum imposto já
discriminado não afronta o texto constitucional. Violação ocorreria caso

10
essa nova contribuição social tivesse fato gerador ou base de cálculo de
alguma já existente contribuição social (para a seguridade social).

e. Extraordinária: é também uma competência exclusivamente


direcionada à União Federal. Sob essa competência, a União
poderá instituir o imposto extraordinário de guerra nos casos
de guerra externa ou iminência de guerra externa (art. 154, II,
CF). Esse tributo não deve ser confundido com o empréstimo
compulsório, pois, não obstante seja instituído sob a mesma
justificativa, ele é classificado como competência especial.

1.2 Limitações ao poder de tributar

As limitações ao poder de tributar, constitucionalmente previstas,


podem ser representadas pelos princípios e imunidades.

O que fazem, pois, estas limitações é demarcar, delimitar, fixar fronteiras


ou limites ao exercício do poder de tributar. São, por conseguinte,
instrumentos definidores (ou demarcadores) da competência tributária
dos entes políticos no sentido de que concorrem para fixar o que pode
ser tributado e como pode sê-lo, não devendo, portanto, ser encaradas
como ‘obstáculos’ ou “vedações” ao exercício da competência tributária,
ou “supressão” dessa competência, consoante propósito das imunidades
tributárias, já observou Paulo de Barros Carvalho.4

Presentes na seção II do capítulo correspondente ao Sistema Tributário


Nacional (artigos 150 a 152 da Carta Magna), as limitação buscam,
acima de tudo, assegurar a observância das garantias fundamentais dos
contribuintes que não podem ser suprimidas.

Prevê o art. 60, § 4º da Constituição Federal:

Art. 60

4
AMARO, Luciano. Direito Tributário Brasileiro. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 1998, p. 105.

11
§ 4º–Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a
abolir:

I. a forma federativa de Estado;


II. o voto direto, secreto, universal e periódico;
III. a separação dos Poderes;
IV. os direitos e garantias individuais.

Do texto constitucional acima transcrito, verificamos que a redução das


garantias individuais não é possível, impossibilidade essa prevista em
cláusula pétrea. Por outro lado, não há impedimento para reforço do rol
daquelas mesmas garantias, sob o manto constitucional.

Um exemplo de incremento na garantia constitucional ocorreu com


o advento da EC nº 42/03, que tratou do princípio da anterioridade.
Até aquela emenda, o princípio da anterioridade tinha por parâmetro
apenas o exercício financeiro, ou seja, quando houvesse a instituição
ou aumento de um tributo, ele poderia ser aplicado apenas no exercício
financeiro seguinte à publicação da norma. Nesse formato, era possível
aplicar o aumento da alíquota de um tributo no dia 1º de janeiro através
de uma lei publicada em 31 de dezembro do ano anterior, ou seja, no
dia anterior.

A emenda constitucional nº 42/03 trouxe uma nova face ao princípio da


anterioridade ao exigir que, além da observância do exercício financeiro,
um prazo de 90 dias entre a publicação da lei e a cobrança do tributo
deveria ser respeitado. Assim, após a reforma constitucional, além da
necessidade de se aguardar pelo próximo exercício financeiro, o tributo
não podia ser exigido antes de 90 dias a contar da publicação da lei,
aumentando, assim, a garantia dos contribuintes. De fato, houve um
aperfeiçoamento do princípio da anterioridade original, não havendo
óbice constitucional para tanto. O que não poderia ser feito, ainda que
por emenda constitucional, é a redução do conceito e amplitude daquele
princípio, por representar diminuição das garantias dos contribuintes.

12
Observação se faz quanto às hipóteses que são exceções ao princípio da
anterioridade, que será estudado oportunamente, nas próximas aulas.

1.3 Princípios

A Constituição Federal, nos artigos 150 a 152, fixou valores a serem


observados pelos entes tributantes, para a instituição e cobrança das
exações, sob pena de incorrerem na exigência ilegal.

Os princípios constitucionais são diretrizes que devem ser obedecidas


quando do exercício do poder de tributar, sendo forma, inclusive, de dar
segurança jurídica na relação Fisco- contribuinte.

A finalidade mais ampla dos princípios pode ser considerada o respeito


aos direitos fundamentais dos indivíduos previstos na Constituição
Federal, que são imutáveis, nos termos do art. 60, §4º.
OS PRINCÍPIOS
Eles buscam, de forma geral, que as regras e normas confeccionadas
pelos legisladores não violem garantias individuais como direito de ir
e vir, direito à liberdade de culto religioso, dentre outros previstos na
Carta Maior.

Considera-se, assim, que o poder de tributar não é absoluto. União,


Estados, Distrito Federal e Municípios não podem instituir e cobrar
tributos de forma arbitrária, sem freios, garantindo, assim, que os
contribuintes serão afetados de forma mais justa.

O valor e importância dos princípios não podem ser subestimados pelo


legislador e pelo aplicador da lei.

É válido dizer que a criação da norma poderá ser questionada caso seja
confrontante com qualquer princípio constitucionalmente previsto,
cabendo ao Poder Judiciário a declaração de constitucionalidade da
norma questionada.

13
Em muitos casos, o conteúdo da lei, ainda que em apenas uma cláusula,
poderá gerar dúvidas quanto à sua validade, por conta de possível
violação de um ou mais princípios.

Nesses casos, a interpretação das normas deve ser realizada com base
nos próprios conceitos, buscando atingir a finalidade de que o legislador
constituinte buscou ao incorporar ao texto magno determinado
princípio.

Geraldo Ataliba bem expressou a importância dos princípios na


interpretação das normas:

[...] o grande valor prático dos princípios da Constituição, dos princípios


fundamentais, é que eles nos dão orientação para interpretar os outros
princípios e para interpretar as regras da própria Constituição. Então o
princípio é diretriz para o intérprete. Diretriz aponta um rumo. [...] Pois
bem, todos os intérpretes, desde o primeiro até os intermediários que
somos nós ou a administração pública, até o juiz que é o último, tem que
interpretar seguinte o caminho, o rumo apontado pelos princípios.5

Os princípios, assim, podem ser considerados hierarquicamente


superiores às regras gerais, pois essas somente podem ser
confeccionadas se obedecerem às diretrizes previstas naqueles.

Aliás, princípios e regras guardam entre si algumas diferenças quanto à


sua aplicação.

As regras caracterizam-se como sendo razões definitivas, prescrições que


impõem determinada conduta, enquanto os princípios são razões prima
facie, prescrições de otimização. Em eventual conflito de regras, assim, ter-
se-ia de definir qual delas aplicar, eis que não há meio termo na aplicação
ou não ao caso concreto; já em eventual colisão de princípios, trabalhar-
se-ia de modo a construir uma regra para o caso concreto mediante a
atribuição de pesos aos diversos interesses colidentes, de modo a dar

5
ATALIBA, Geraldo, Periodicidade do Imposto de Renda I, Mesa de Debates, RDT, n. 63, Malheiros, 1997, p.
35.

14
aplicação, na maior medida possível, ao princípio mais relevante em face
das circunstâncias específicas sob apreciação.6

Evidente, assim, que, para cada caso concreto, haverá a apreciação


dos princípios mais relevantes e aplicáveis, criando-se as regras
disciplinadoras sem possíveis máculas de ilegalidades.

Seguimos, assim, no estudo destes princípios, previstos na Carta Maior:

• Princípio da legalidade

• Princípio da isonomia

• Princípio da irretroatividade

• Princípio da anterioridade

• Princípio da proibição ao confisco

PARA SABER MAIS


Para estudo da diferença entre regras e princípio, leia Teoria dos
Direitos Fundamentais, de Robert Alexy.

A seguir, você estudará os princípios detalhadamente.

1.4 Princípio da legalidade e o fator tempo nos


princípios

“Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é


vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:

I. exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça”. (BRASIL, 1988, art. 150)

6
PAULSEN, Leandro. Direito Tributário, Constituição e Código Tributário à Luz da Doutrina e da Jurispru-
dência. 9. ed. Porto Alegre, Livraria do Advogado, 2007, p. 835.

15
A intervenção da Administração Pública no patrimônio dos
administrados não pode ser um ato arbitrário, subjetivo. Deve, ao
contrário, ser ato fundamentado em lei, conforme prevê o art. 5º, II da
Constituição Federal:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:

[...]

II. ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em
virtude de lei.

O princípio da legalidade é um princípio geral do Direito, sob o qual


devem se debruçar todos os atos da vida civil, sendo a base de direitos,
obrigações e segurança jurídica das relações entre administração pública
e administrados.

Em matéria tributária, o princípio da legalidade ganha uma considerável


dimensão, pois o ato de instituir, aumentar e cobrar um tributo está
intrinsecamente ligado à lei.

A sua importância em âmbito fiscal verifica-se na própria Constituição:


o princípio da legalidade foi reforçado no art. 150, I da Carta Magna,
quando veda à União, Estados, Distrito Federal e Municípios “exigir ou
aumentar tributo sem lei que o estabeleça”.

De fato, como conceituou Roque Antônio Carrazza, o princípio da


legalidade é a “fonte de produção primária por excelência de normas
tributárias, abaixo apenas da Constiução Federal”.7

7
CARRAZZA, Roque Antônio. Curso de Direito Constitucional Tributário. 30. ed. São Paulo: Malheiros Edito-
res, 2015, p. 290.

16
Sacha Calmon Navarro, ainda, considerou o princípio em tela como
“princípio fundante dos demais”8 tamanha a importância da legalidade no
Sistema Tributário.

A necessidade de a lei ser instrumento essencial à criação das


exações está também prevista em nosso Código Tributário Nacional,
ao conceituar tributo: “Art. 3º Tributo é toda prestação pecuniária
compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não
constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante
atividade administrativa plenamente vinculada”. (BRASIL, 1966, art. 3º)

No art. 97, reforça a necessidade da lei como instrumento de criação,


cobrança e extinção dos tributos:

Art. 97. Somente a lei pode estabelecer:

I. a instituição de tributos, ou a sua extinção;


II. a majoração de tributos, ou sua redução, ressalvado o disposto nos
artigos 21, 26, 39, 57 e 65;
III. a definição do fato gerador da obrigação tributária principal, ressalvado
o disposto no inciso I do § 3º do artigo 52, e do seu sujeito passivo;
IV. a fixação de alíquota do tributo e da sua base de cálculo, ressalvado o
disposto nos artigos 21, 26, 39, 57 e 65;
V. a cominação de penalidades para as ações ou omissões contrárias a
seus dispositivos, ou para outras infrações nela definidas;
VI. as hipóteses de exclusão, suspensão e extinção de créditos tributários,
ou de dispensa ou redução de penalidades”.

Assim sendo, trata-se de verdadeira garantia fundamental do


contribuinte, garantindo-lhe a reserva absoluta da lei para a criação das
exações.

8
COELHO, Sacha Calmon Navarro. Curso de Direito Tributário Brasileiro. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense,
1999, p. 196.

17
Em rigor, é a lei ordinária que será utilizada para esse fim, e apenas
em casos expressamente elencados na Constituição Federal é que o
legislador deverá se valer de lei complementar. São eles:

1. Empréstimos Compulsórios (art. 148, CF);


2. Imposto sobre Grandes Fortunas (art. 153, VII, CF);
3. Impostos residuais (art. 154, I, CF); e
4. Contribuições sociais residuais (art. 195, § 4º c/c art. 154, I, CF).

Além da lei ordinária e lei complementar, admite-se a Medida Provisória


como meio instituidor de tributos, observados os limites estabelecidos
no art. 62 da Constituição Federal.

Nos termos daquele dispositivo constitucional, a medida provisória


deverá atender aos requisitos de urgência e relevância e não poderá
versar sobre matéria reservada à lei complementar (art. 62, § 1º, III, CF).

Isso porque a Medida Provisória tem força de lei ordinária, não podendo,
portanto, adentrar em matéria reservada à lei complementar. Confira-se:

CONSTITUCIONAL – TRIBUTÁRIO – BLOQUEIO DE CRUZADOS NOVOS –


EMPRÉSTIMO COMPULSÓRIO – INCONSTITUCIONALIDADE DOS ARTS. 5.º,
6.º, 7.º, 8.ºE 9.º DA LEI N.º 8.024/90, ORIUNDA DA MEDIDA PROVISÓRIA N.º
168/90.

• O bloqueio dos cruzados novos efetuado pela Medida Provisória


n.º 168/90 configura empréstimo compulsório, ficando afastadas as
hipóteses de requisição, confisco, confisco temporário e servidão de
uso, as quais, se aceitas, não afastariam a inconstitucionalidade.

• No caso, o empréstimo compulsório está fundamentado no inciso II, do


art. 148, da Lei Maior, estando sujeito ao princípio da anterioridade, o
que descaracteriza a urgência. Além do mais só poderia ter sido criado
por lei complementar.

18
• Medida provisória não é instrumento idôneo para iniciar
procedimento legislativo que vise dispor sobre matéria reservada à
lei complementar.

• O bloqueio de cruzados novos feriu ainda o princípio da isonomia e,


consequentemente, o da capacidade contributiva.

• Feriu ainda o ato jurídico perfeito.

• Arguição de inconstitucionalidade acolhida. (TRF3, Pleno, AMS –


APELAÇÃO CÍVEL Nº 0010150-06.1990.4.03.6100, Rel. Des. Fed. AMERICO
LACOMBE, DOE DATA:15/04/1991, grifo nosso).

Seja qual for o meio a ser utilizado para a instituição do tributo, o


princípio da legalidade tributária, previsto no art. 150, I da Constituição
Federal, determina que o ato de tributar deve ter por base uma lei que
traga elementos essenciais da exação de forma clara, permitindo que a
cobrança seja legítima para o contribuinte.

Hugo de Brito Machado lembra, ainda, que a lei é a manifestação


legítima da vontade do povo:

Sendo a lei a manifestação legítima da vontade do povo, por seus


representantes nos parlamentos, entende-se que o ser instituído em lei
significa ser o tributo consentido. O povo consente que o Estado invada
seu patrimônio para dele retirar meios indispensáveis à satisfação das
necessidades coletivas. Mas não é só isso. Mesmo não sendo a lei, em
certos casos, uma expressão desse consentimento popular, presta-se o
princípio da legalidade para garantir a segurança nas relações do particular
(contribuinte) com o Estado (fisco), as quais devem ser inteiramente
disciplinadas, em lei, que obriga tanto o sujeito passivo como o sujeito
ativo da relação obrigacional tributária.9

Nesse sentido, devemos entender que a lei é, além de instituidora do


tributo, garantidora de que ele será cobrado dentro dos requisitos

9
MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. 23. ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2003, p. 46.

19
previamente fixados, que o ente tributante não irá agir de forma
arbitrária no exercício da arrecadação.

Ou seja, ela irá disciplinar direitos e obrigações tanto do sujeito passivo


quanto do sujeito ativo da relação tributária, sendo assegurado a
qualquer dos lados o socorro perante o Poder Judiciário nos casos de
violação à lei instituidora.

A lei trará a definição e descrição minuciosa do tributo e indicará todos


os seus elementos: descrição da hipótese de incidência; base de cálculo;
alíquota ou qualquer outro critério para definir o valor do tributo;
características do sujeito passivo; sujeito ativo.

Em relação ao prazo para pagamento, caso a lei não faça essa previsão,
a autoridade administrativa poderá fixá-lo, sendo elemento essencial
para o cumprimento da obrigação tributária.

Vale frisar que somente o Poder Legislativo pode, dentro de suas


funções, exigir ou aumentar tributos, sendo essa atividade de
competência exclusiva.

Sobre a reserva absoluta da lei:

A legalidade tributária implica reserva absoluta da lei, impondo que os


tributos sejam instituídos não apenas com base em lei ou por autorização
legal, mas pela própria lei, dela devendo ser possível verificar os aspectos
da norma tributária impositiva de modo a permitir ao contribuinte o
conhecimento dos efeitos tributários dos atos que praticar ou posições
jurídicas que assumir. Não há a possibilidade de delegação de competência
legislativa ao Executivo para que institua o tributo, qualquer que seja,
tampouco para que integre a norma tributária impositiva, ressalvadas
apenas as atenuações através das quais a própria Constituição, de modo
excepcional, autoriza a graduação de alíquotas pelo Executivo.10

PAULSEN, Leandro. Direito Tributário, Constituição e Código Tributário à Luz da Doutrina e da Jurispru-
10

dência. 9. ed. Porto Alegre, Livraria do Advogado, 2007, p.170.

20
Destarte, aos outros poderes é vetada a instituição e aumento de
tributos através de portarias, regulamentos, instruções normativas etc.,
mesmo que tenha ocorrido, por lei, a delegação de poderes para tal
atribuição.

A descrição material e formal da exação, de maneira precisa e rígida,


garante à relação entre Fisco e contribuinte a necessária segurança
jurídica para que a cobrança não seja eivada de dúvidas quanto à sua
legalidade.

Assim sendo, com a completa descrição de todos os elementos da


tributação, com a ocorrência do fato gerador, a subsunção do fato à
norma acontece, nascendo a exigência do tributo.

Sobre normas que não trazem em seu conteúdo todos os elementos


necessárips, vale trazer à baila o entendimento de Leandro Paulsen:

A norma impositiva incompleta, por insuficiência de dados, não assegura ao


contribuinte a certeza quanto ao surgimento ou ao conteúdo da sua suposta
obrigação tributária, sendo, pois, incapaz de implicar o surgimento da
obrigação tributária, já que não pode ser suplementada por regulamento em
face da reserva absoluta da lei. Isso não significa, contudo, que todos os cinco
aspectos da norma tributária impositiva (material, espacial, temporal, pessoal
e quantitativo) devam, necessariamente, constar da lei de modo expresso e
didático. [...] A conclusão sobre ser ou não ser completa a norma tributária
impositiva estabelecida por lei depende da possibilidade de se determinar os
seus diversos aspectos independentemente de complementação normativa
infralegal, ainda que mediante análise mais cuidadosa do texto da lei e da
consideração do tipo de fato gerador, da competência do ente tributante e dos
demais elementos de que se disponha.11

PAULSEN, Leandro. Direito Tributário, Constituição e Código Tributário à Luz da Doutrina e da Jurispru-
11

dência. 9. ed. Porto Alegre, Livraria do Advogado, 2007, p. 171.

21
Importante ressaltar aqui que as obrigações acessórias não se
equivalem aos tributos. Isto quer dizer que elas não se submetem ao
princípio da legalidade, por serem deveres “instrumentais ou formais”.12

No entanto, a própria legislação prevê exceções.

1.5 Exceções ao princípio da legalidade

As exceções ao princípio da legalidade estão dispersas na legislação


fiscal:

• Art. 153, §1º da Constituição Federal autoriza a alteração de


alíquota por outro veículo que não a lei para o Imposto de
Importação (II), Imposto sobre a Exportação (IE), Impos- to
sobre o Produto Industrializado (IPI) e Imposto sobre Operações
Financeiras (IOF).

• Art. 177, §4º, I, “b”, da Constituição Federal prevê que a


Contribuição de Intervenção sobre Domínio Econômico (CIDE)
poderá ter sua alíquota reduzida e restabelecida por ato do Poder
Executivo.

• Art. 155, §4º, IV, da Constituição Federal: o ICMS Combustível


poderá ter suas alíquo- tas definidas “mediante deliberação dos
Estados e Distrito Federal”, em Convênios firma- dos perante o
Conselho Nacional de Política Fazendária (CONFAZ).

Frisamos aqui que os tributos acima indicados são instituídos por lei.
A exceção verifica- se na possibilidade de haver alteração das alíquotas
por decreto, dentro dos limites legais, conforme determina o art. 153,
§1º da Carta Magna:

Art.153.

12
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 1996, p.199-200.

22
§ 1º–É facultado ao Poder Executivo, atendidas as condições e os limites
estabelecidos em lei, alterar as alíquotas dos impostos enumerados nos
incisos I, II, IV e V.

Assim sendo, ainda que a própria Constituição preveja a possibilidade


de o Poder Executivo interferir em alguns aspectos do ato de tributar,
esses, ainda, estão submetidos ao princípio da legalidade, uma vez que
os limites e requisitos insculpidos em lei devem ser obrigatoriamente
respeitados.

1.6 A lei complementar como ferramenta do Sistema


Tributário Nacional

Além de ser possível, dentro das previsões constitucionais, instituir


tributos em âmbito da lei complementar, a Carta Maior atribuiu a ela
outras funções essenciais ao Sistema Tributário Nacional, nos seus
artigos 146 e 146-A, quais sejam:

• Dispor sobre conflitos de competência, em matéria tributária,


entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios.

• Regular as limitações constitucionais ao poder de tributar.

• Estabelecer normas gerais em matéria de legislação tributária.

• Trazer a definição de tributos e de suas espécies, bem como,


em relação aos impostos, estabelecer seus respectivos fatos
geradores, bases de cálculo e contribuintes.

• Dispor sobre obrigação, lançamento, crédito, prescrição e


decadência.

• Oferecer adequado tratamento tributário ao ato cooperativo


praticado pelas sociedades cooperativas.

23
• Definir um tratamento diferenciado e favorecido para as
microempresas e para as em- presas de pequeno porte.

• Instituir um regime único de arrecadação dos impostos e


contribuições da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios.

• Poderá estabelecer critérios especiais de tributação, com o


objetivo de prevenir desequilíbrios da concorrência, sem prejuízo
da competência de a União, por lei, estabelecer normas de igual
objetivo.

Verificamos, assim, que caberá à lei complementar tratar de alguns


elementos auxiliares e complementares ao ato de tributar, tarefas
outorgadas pela Carta Maior.

1.7 O fator tempo nos princípios: princípio da


anterioridade e princípio da irretroatividade

Um fator importante que deve estar presente na previsão legal das


exações é justamente o tempo, ou seja, a partir de que período aquela
obrigação tributária será exigida.

O tempo nas obrigações tributárias traz um caráter de segurança


jurídica na relação Estado- contribuinte, uma vez que deixa claro para
ambas as partes a partir de que momento determinado fato será
considerado hipótese de incidência e o prazo para pagamento.

A Constituição Federal incluiu em seu texto princípios referentes ao


aspecto temporal dos tributos, que deverão ser observados pela lei
instituidora e que estão associados à previsibilidade ou não surpresa.

24
1.8 Princípio da anterioridade

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é


vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:

[...]

III–cobrar tributos:

[...]

b. no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os


instituiu ou aumentou;
c. antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a
lei que os instituiu ou aumentou, observado o disposto na alínea b;

Buscando evitar a insegurança jurídica entre ente tributante e


contribuintes, o legislador constitucional garantiu a inclusão do princípio
da anterioridade.

Como já mencionado, é um princípio que busca a previsibilidade e a


não surpresa, a fim de garantir que o contribuinte não será tributado de
forma inesperada. PRINCÍPIO DA NÃO SURPRESA

Mas a anterioridade é mais ainda, não se limitando a afastar aquilo


que seja brusco e inesperado, o que pegue de improviso, mas, sim,
assegurando conhecimento antecipado, por tempo suficiente, do que
advirá já com certeza, pois decorrente de lei publicada. [...] Note-se que,
em havendo, por exemplo, projeto de lei com tramitação em regime
de urgência com larga discussão nos meios de comunicação, não há
que se falar em surpresa do contribuinte relativamente ao aumento de
carga tributária que o agrave, mas nem por isso restará autorizada a sua
incidência.13
MESMO VEICULADO EM TODOS OS MEIOS
PARA NBÃO ALEFAR SURPRESA, A INCIDÊNCIA

PAULSEN, Leandro. Direito Tributário, Constituição e Código Tributário à Luz da Doutrina e da Jurispru-
13

dência. 9. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2007, p. 207-208.

25
Por esse princípio, o ente tributante deve observar a anterioridade anual
(art. 150, III, b, CF), e anterioridade nonagesimal (art. 150, III, c, CF).

Na anterioridade anual, fica vedada a cobrança do imposto no mesmo


exercício financeiro da publicação da lei que o instituiu ou aumentou. Ou
seja, a lei deverá ser anterior ao exercício em que o tributo será cobrado,
possibilitando ao contribuinte o planejamento financeiro para quitação
da obrigação fiscal.

Lembramos que o exercício financeiro tem início no dia 1º de janeiro de


cada ano.

A anterioridade nonagesimal determina que o tributo poderá ser


exigido somente 90 dias após a sua publicação. Essa nova garantia foi
introduzida no texto constitucional através da EC 42/03, a fim de evitar
que uma lei publicada em 31 de dezembro instituindo ou majorando um
imposto fosse exigida a partir do primeiro dia do exercício seguinte (1º
de janeiro).

Com a anterioridade nonagesimal, um imposto criado ou cuja alíquota


tenha sido aumentada por lei publicada em 31 de dezembro poderá ser
cobrado apenas ao final de março do exercício seguinte.

Vale trazer à baila julgamento proferido pelo STF:

EMENTA Agravo regimental no recurso extraordinário. Tributário. PIS.


EC nº 10/1996. Majoração de alíquota. Anterioridade. Irretroatividade.
Necessidade de observância. 1. A Emenda Constitucional nº 10/96 não foi
mera prorrogação da Emenda Constitucional nº 01/94. Em consequência,
a majoração da alíquota da Contribuição ao Programa de Integração Social
(PIS) somente será devida após o decurso de noventa dias, contados a
partir da publicação da referida emenda, em observância aos princípios
da anterioridade nonagesimal e da irretroatividade das normas. 2. Agravo
regimental a que se nega provimento. (STF, 2ªT., RE 953074 AgR / SP, Rel.
Min. DIAS TOFFOLI, DJe PUBLIC 19-10-2016).

26
Atentamos, ainda, não haver confusão entre o princípio da anterioridade
e o princípio da anualidade,

[...] segundo o qual a cobrança de tributos depende de autorização anual


do Poder Legislativo mediante previsão no orçamento. Essa aprovação
anual, concedida com a aprovação do orçamento, tem um sentido
nitidamente democrático. [...] É preciso que, anualmente, tenham os
representantes do povo conhecimento do emprego que o governo
pretende fazer dos recursos arrecadados mediante os tributos.14

São exceções a esse princípio as seguintes exações: imposto de


importação (II), imposto de exportação (IE), imposto sobre operações
financeiras (IOF), imposto extraordinário de guerra (art. 150, §1º, CF),
empréstimos compulsórios destinados a despesas com calamidades
públicas, guerra externa ou sua iminência (art. 148, I, CF). Esses podem
ser cobradas imediatamente.

As contribuições de seguridade social, CIDE combustível e imposto


sobre produtos industrializados (IPI) estão submetidas somente à
anterioridade nonagesimal (art. 195, § 6º), podendo ser cobradas no
mesmo exercício financeiro.

O IR, IPVA e IPTU seguem a anterioridade anual apenas, ou seja, não


precisam observar a anterioridade nonagesimal, mas só podem ser
exigidos no exercício financeiro seguinte. Exceção se faz quando há
alteração na base de cálculo desses impostos, quando necessariamente
a anterioridade nonagesimal deverá ser igualmente atendida.

1.9 Princípio da irretroatividade

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é


vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:

[...]
14
MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. 23. ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2003, p. 49.

27
III. cobrar tributos:

a. em relação a fatos geradores ocorridos antes do início da vigência da lei


que os houver instituído ou aumentado. (BRASIL, 1988, art. 150)

Pelo princípio da irretroatividade, entende-se a proibição de cobrança do


tributo em relação a fatos geradores anteriores à própria lei que instituiu
ou aumentou o imposto.

Como bem coloca Geraldo Ataliba, “há um limite constitucional


intransponível à discrição do legislador, na fixação do aspecto temporal:
não pode ser anterior à consumação (completo acontecimento) do fato. Isto
violaria o princípio da irretroatividade da lei (art. 150, III, ‘a’)”.15

Essa proibição está prevista no art. 150, III, “a” do texto constitucional,
reforçando a preocupação do legislador com a segurança jurídica nas
relações tributárias.

Sob o manto desse princípio, o contribuinte terá direito a ter


conhecimento prévio da carga tributária que irá sofrer, proibindo
qualquer ação arbitrária do Fisco.

De fato, antes de sua publicação a lei não poderá entrar em vigor e não
poderá atingir fatos pretéritos à sua vigência, sendo a publicação da
lei “condição mesma da sua existência especificamente jurídica. Não
existe como tal no ordenamento jurídico brasileiro uma lei que não foi
publicada”.16

Conclui-se, assim, que a lei tributária deve ser aplicada a fatos futuros,
nunca a fatos pretéritos.

15
ATALIBA, Geraldo. Hipótese de Incidência Tributária. 6. ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2005, p. 95.
16
MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. 23. ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2003, p. 256.

28
O Código Tributário Nacional, no entanto, previu algumas hipóteses em
que se autoriza a aplicação da legislação atual a eventos anteriores à sua
vigência.

Prevê o art. 106 do CTN:

Art. 106. A lei aplica-se a ato ou fato pretérito:

I. em qualquer caso, quando seja expressamente interpretativa, excluída


a aplicação de penalidade à infração dos dispositivos interpretados;
II. tratando-se de ato não definitivamente julgado:

a. quando deixe de defini-lo como infração;


b. quando deixe de tratá-lo como contrário a qualquer exigência de
ação ou omissão, desde que não tenha sido fraudulento e não tenha
implicado em falta de pagamento de tributo;
c. quando lhe comine penalidade menos severa que a prevista na lei
vigente ao tempo da sua prática.

Verificamos do comando acima transcrito que a lei somente retroagirá


para fins de interpretação de conceitos ou quando se tratar de
tratamento pró-contribuinte, liberando-o ou amenizado eventual
penalidade.

Para melhor ilustrar o princípio, suponhamos que determinada pessoa é


contribuinte de um imposto cuja alíquota em janeiro de 2015 era de 15%
e multa de 20% em caso de não pagamento. Diante do inadimplemento
daquele tributo, o Fisco realizou autuação em setembro de 2016. Porém,
em fevereiro de 2016 foi publicada uma lei que reduziu a alíquota daquele
mesmo tributo para 10% e a multa para 5%. Qual legislação utilizar?

Nesse caso, a alíquota a ser aplicada será a da legislação da época do


fato gerador, ou seja, 15%, pois a lei de 2016 não poderá retroagir a fatos
geradores anteriores à sua vigência. No entanto, em relação à multa, deverá

29
Conclui-se,
assim, que a lei
tributária deve
ser aplicada a
fatos futuros,
ser aplicado o art. 106, II, c do Código Tributário Nacional, aplicando-se
nunca a fatosa
penalidade menos severa, impondo, destarte, a multa de 5%.pretéritos.

Assim sendo, quando se tratar de penalidade, a lei atual poderá retroagir


em favor do contribuinte, desde que o ato não esteja definitivamente
julgado. Consequentemente, contribuintes que já tenham pago a multa
decorrente de atraso no recolhimento não poderão pedir a restituição
de parte daquela penalidade com base em lei nova mais benéfica.

Como ilustração do princípio, segue entendimento do STF:

RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO GERAL. REAFIRMAÇÃO DE


JURISPRUDÊNCIA. DIREITO TRIBUTÁRIO. OPERAÇÕES DE EXPORTAÇÃO
INCENTIVADAS. IMPOSTO DE RENDA PESSOA JURÍDICA. FUNÇÃO
EXTRAFISCAL. SÚMULA 584 DO STF. OCORRÊNCIA DO FATO GERADOR EM
CADA OPERAÇÃO. APLICAÇÃO RETROATIVA. RE 183.130, DE RELATORIA
PARA ACÓRDÃO DO MINISTRO TEORI ZAVASCKI.

PRECEDENTE VINCULANTE. 1. No RE 183.130, de relatoria para o acórdão


do Ministro Teori Zavascki, o Plenário desta Corte assentou que a utilização
do Imposto de Renda com conotação extrafiscal afasta a incidência da
Súmula 584 do STF. 2. O fato gerador se consolida no momento em que
ocorre cada operação de exportação incentivada pela redução da alíquota
do imposto de renda, à luz da extrafiscalidade da tributação na espécie.
3. É inconstitucional a aplicação retroativa do art. 1º, I, da Lei 7.988/89,
que majorou a alíquota incidente sobre o lucro proveniente de
operações incentivadas ocorridas no passado, ainda que no mesmo
ano-base. Precedente: RE 183.130, de relatoria para o acórdão do Ministro
Teori Zavascki, Tribunal Pleno, DJe 14.11.2014. 4. Recurso extraordinário
a que se dá provimento, reafirmando a jurisprudência desta Corte, em
sede de repercussão geral, para reformar o acórdão recorrido e declarar
a inconstitucionalidade, incidental e com os efeitos da repercussão geral,
do art. 1º, I, da Lei 7.988/89, uma vez que a majoração de alíquota de 6%
para 18% a qual se reflete na base de cálculo do Imposto de Renda pessoa
jurídica incidente sobre o lucro das operações incentivadas no ano-base de
1989 ofende os princípios da irretroatividade e da segurança jurídica. (STF,
Pleno, RE 592396 / SP, Rel. Min. EDSON FACHIN, DJe PUBLIC 28-03-2016).

30
VAMOS PENSAR

Para entender melhor todos os aspectos que devem ser


abrangidos pela lei, elabore um breve texto com todos
os aspectos da lei tributária, especialmente em relação à
descrição da hipótese de incidência, a fim de ter o pleno
entendimento do que deve ser a norma tributária completa.
Indicamos como referência o livro Hipótese de Incidência
Tributária, de Geraldo Ataliba.

PONTUANDO

• Diferença entre poder de tributar e competência tributária.

• Limitações ao poder de tributar.

• Conceito e funções dos princípios.

• Extensão e importância do princípio da legalidade e suas exceções.

• Noções sobre o princípio da irretroatividade.

• Noções sobre o princípio da anterioridade.

GLOSSÁRIO

Exercício financeiro: “Período anual em que deve vigorar ou ser


executada a Lei Orçamentária Anual (ver verbete). No Brasil,

31
coincide com o ano civil, iniciando-se em 1º de janeiro e
terminando em 31 de dezembro”

VERIFICAÇÃO
de leitura

Questão 1 INDIQUE A ALTERNATIVA CORRETA

Publicada lei modificando a contribuição social sobre a receita ou


faturamento:

a. não poderá ser exigida tal contribuição no mesmo exercício


financeiro em que haja sido publicada a referida lei,
independentemente da data de sua publicação;
b. poderá ser exigida tal contribuição imediatamente após a data da
publicação da referida lei;
c. só poderá ser exigida tal contribuição após decorridos cento e
vinte dias da data da publi- cação da referida lei;
d. só poderá ser exigida tal contribuição após decorridos noventa
dias da data da publicação da referida lei;
e. só poderá ser exigida tal contribuição após decorridos cento e
oitenta dias da data da publicação da referida lei.

Questão 2 INDIQUE A ALTERNATIVA CORRETA

Nos termos da Constituição Federal, cuidando-se de matéria relativa à


limitação do poder de tributar, NÃO é vedado:

a. à União, dentre outras hipóteses, instituir isenções de tributos de


competência dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios;

32
b. aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios estabelecer
diferença tributária entre bens e serviços de qualquer natureza,
em razão de sua procedência ou destino;
c. à União, aos Estados e aos Municípios cobrar tributos em relação
a fatos geradores ocorridos depois do início da vigência da lei que
os houver instituído ou aumentado;
d. aos Municípios utilizar tributo com efeito de confisco e instituir
impostos sobre templos de qualquer culto;
e. ao Distrito Federal instituir impostos sobre livros, jornais,
periódicos e o papel destinado a sua impressão.

Questão 3 INDIQUE A ALTERNATIVA CORRETA

A competência tributária, assim entendido o poder que os entes políticos


têm para instituir tributos, encontra limites na Constituição Federal e no
Código Tributário Nacional. Entre as limitações constitucionais ao poder
de tributar, é incorreto afirmar que:

a. é vedado à União cobrar tributos em relação a fatos geradores


ocorridos antes da vigência da lei que os houver instituído ou
aumentado;
b. é vedado aos entes políticos – União, Estados, Distrito Federal
e Municípios – instituir impostos sobre patrimônio, renda ou
serviços, uns dos outros;
c. é vedado à União conceder isenções de tri- butos da competência
dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios, exceto para os
produtos definidos em lei como integrantes da denominada “cesta
básica”;
d. é vedado aos entes políticos, em geral, utilizar tributo com efeito
de confisco;
e. por meio de medida provisória, pode a União majorar imposto de
sua competência.

33
Questão 4 INDIQUE A ALTERNATIVA CORRETA

Em relação ao tema competência tributária, é correto afirmar que:

a. a Constituição atribui à União competência residual para instituir


impostos, contribuições para a seguridade social e taxas;
b. a instituição de empréstimos compulsórios requer lei
complementar da União, dos Estados ou do Distrito Federal,
conforme compe- tência que a Constituição confere a cada um
desses entes da Federação;
c. para instituir impostos com fundamento na competência residual,
é imprescindível, além da competência tributária, veiculação
da matéria por lei complementar e observância dos princípios
constitucionais da não cumulativida- de e da identidade plena com
outros impostos discriminados na Constituição, no que se refere a
fato gerador e base de cálculo;
d. somente a União tem competência residual para instituir impostos;
e. os Estados, o Distrito Federal e os Municípios têm competência
para instituir impostos, taxas, contribuição de melhoria e
contribuição de intervenção no domínio econômico, que a
Constituição lhes reserva.

Questão 5 INDIQUE A ALTERNATIVA CORRETA

Considere que, após a ocorrência de um fato gerador, nova lei


aumentando as alíquotas do tributo tenha sido publicada. Nessa
situação, o lançamento será regido pela lei:

a. em vigor na data da ocorrência do fato gerador;


b. em vigor na data da feitura do lançamento;
c. em vigor na data do pagamento do tributo;
d. mais favorável ao incremento da arrecadação;
e. discricionariamente indicada pela autoridade fazendária
competente.

34
REFERÊNCIAS

AMARO, Luciano. Direito Tributário Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2008.


ATALIBA, Geraldo, Periodicidade do Imposto de Renda I, Mesa de Debates, RDT, nº
63, Malheiros, 1997.
CARRAZZA, Roque Antonio. Curso de Direito Constitucional Tributário. 9. ed. São
Paulo: Malheiros Editores, 1997.
CARRAZZA, Roque Antônio. Curso de Direito Constitucional Tributário. 30. ed.
São Paulo, Malheiros Editores, 2015.
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 8. ed. São Paulo: Saraiva,
1996.
COELHO, Sacha Calmon Navarro. Curso de Direito Tributário Brasileiro. 3. ed. Rio
de Janeiro: Forense, 1999.
MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. São Paulo: Malheiros
Editores, 2008.
MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário, 23ª ed. São Paulo,
Malheiros Editores, 2003.
PAULSEN, Leandro. Direito Tributário, Constituição e Código Tributário à Luz da
Doutrina e da Jurisprudência. 9. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2007.

GABARITO

Questão 1

Resposta: Alternativa D.

Resolução: Existem duas qualidades de contribuições sociais:


genéricas e específicas. As contribuições sociais específicas são
aquelas destinadas a custear a seguridade social, portanto,
contribuições cuja arrecadação deve ser encaminhada à saúde,
assistência social ou previdência social. Contribuições cuja

35
arrecadação seja destinada a qualquer outro segmento que não os
três indicados são denominadas como genéricas.

As contribuições sociais específicas, por sua vez, têm como


contribuintes, entre outros, o empregador, cabendo a esse recolher
contribuições sociais calculadas sobre a folha de salários, receita ou
faturamento, ou ainda sobre o lucro (art. 195, I, CF).

Em relação ao princípio da anterioridade, que impõe as regras para


a exigência dos tributos, conforme dispõe o art. 195, § 6º, CF, as
contribuições sociais para a seguridade social observam apenas a
anterioridade nonagesimal, aguardando-se apenas 90 dias contados
da data da publicação da lei.

Questão 2

Resposta: Alternativa C.

Resolução: A alternativa C tenta demonstrar o princípio da


irretroatividade (art. 150, III, a, CF), contudo União, Estados, Distrito
Federal e Municípios estão proibidos em cobrar tributos em relação
a fatos geradores ocorridos ANTES do início da vigência da lei que os
houver instituído ou aumentado. Não há proibição constitucional em
cobrar tributos em razão de fatos geradores acontecidos após o início
da vigência da lei.

Questão 3

Resposta: Alternativa C.

Resolução: O princípio da isenção heterônoma veda à União conceder


isenção para tributos estaduais e municipais (art. 151, III, CF), sendo a
ela permitido somente oferecer o benefício para os tributos sob sua
competência. Não há disposição sobre exceções à regra conforme

36
indicado na afirmativa. Alternativa inverídica, portanto, a que
responde CORRETAMENTE a questão.

Questão 4

Resposta: Alternativa D.

Resolução: A competência residual tanto para instituir novos impostos


(art. 154, I, CF) como para instituir novas contribuições sociais (art. 195,
§ 4º, CF) é outorgada exclusivamente à União.

Questão 5

Resposta: Alternativa A.

Resolução: A questão exige conhecimento quanto à legislação aplicável


ao lançamento. Nesse ponto, é preciso observar o art. 144 do CTN e
seus parágrafos. Nesse sentido, quanto à matéria-alvo do lançamento
(o tributo exigido), esse deverá observar a legislação em vigor no
momento da ocorrência do fato gerador, de modo que o tributo
deverá ser recolhido conforme alíquota vigente naquele instante.

Já quando há alteração de critérios informadores do lançamento,


condizentes às atividades de fiscalização e arrecadação, ampliando
os poderes de investigação das autoridades administrativas ou
outorgando ao crédito maiores garantias ou privilégios, então a
legislação que deve ser observada é a que se encontrar em vigor (art.
144, § 1º, CTN).

A questão é sobre qual alíquota aplicar após lei aumentando sua


porcentagem. Lei nova não deve retroagir para alcançar fato gerador
anteriormente ocorrido (art. 150, III, a, CF); logo, o lançamento deverá
se reportar à legislação em vigor na data da ocorrência do fato
gerador, ainda que na época a alíquota fosse mais elevada.

37
Aula 02

Igualdade, Capacidade
Contributiva e Efeito
Confiscatório
Autoria: Adriana Mayumi Kanomata
Leitura Crítica: Juliana Caramigo Gennarini

38
2. Igualdade, Capacidade Contributiva e Efeito
Confiscatório

2.1 Princípio da igualdade e capacidade contributiva

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é


vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:

[...]

II. instituir tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem


em situação equivalente, proibida qualquer distinção em razão de
ocupação profissional ou função por eles exercida, independentemente
da denominação jurídica dos rendimentos, títulos ou direitos. (BRASIL,
1988, art. 150)

No dispositivo acima transcrito, verificamos que o legislador constituinte


proibiu ao ente tributante de instituir tratamento desigual “entre
contribuintes que se encontrem em situação equivalente, proibida qualquer
distinção em razão de ocupação profissional ou função por eles exercida,
independentemente da denominação jurídica dos rendimentos, títulos ou
direitos”.

Assim sendo, aos contribuintes é assegurado que ninguém receberá


privilégios ou tratamentos diferenciados, devendo ser a lei aplicada com
isonomia a todos que se encontrem dentro de uma mesma situação ou
que componham o perfil de sujeição passiva previsto em lei.

Sacha Calmon Navarro Coelho alerta que o legislador deve ficar atento a
dois pontos, em relação ao princípio da legalidade:

A. “discriminar adequadamente os desiguais, na medida de suas


desigualdades;

39
B. não discriminar entre os iguais, que devem ser tratados igualmente”.1

Ainda, Leandro Paulsen esclarece os critérios utilizados para a


diferenciação entre contribuintes para buscar tratamento igualitário:

A isonomia imposta pelo art. 150, II, da CF impede que haja a diferenciação
tributária entre contribuintes que estejam em situação equivalente, ou seja,
discriminação arbitrária. Justifica-se a diferenciação tributária quando
haja situações efetivamente distintas, se tenha em vista uma finalidade
constitucionalmente amparada e o tratamento diferenciado seja apto a
alcançar o fim colimado.2

O princípio da igualdade, ou princípio da isonomia, está ligado, também,


à capacidade contributiva do indivíduo.

Isso porque o tratamento igualitário deve buscar equivalência entre


o ônus fiscal e a capacidade financeira do contribuinte. Assim, quem
recebe mais poderá pagar mais e quem recebe menos pagará menos.

Em outras palavras, para que exista uma tributação mais justa,


alcançando a tão almejada justiça fiscal, aqueles que podem devem
contribuir com uma parcela maior e vice-versa.

Dessa forma, sempre que for possível a criação de impostos pessoais,


eles deverão ser implementados, de forma que o montante que será
arrecadado com a nova exação deve ficar em segundo plano.

Roque Carrazza ensina que:

Na verdade, quando o legislador ordinário tiver opções, deverá,


obrigatoriamente, ao criar in abstracto o imposto, atender aos reclamos
do princípio da capacidade contributiva, isto é, deverá imprimir à

1
COELHO, Sacha Calmon Navarro. Curso de Direito Tributário Brasileiro. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense,
1999, p. 245. P
2
AULSEN, Leandro. Direito Tributário, Constituição e Código Tributário à Luz da Doutrina e da Jurispru-
dência. 9. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2007, p. 194.

40
exação caráter pessoal, graduando-a segundo a aptidão econômica do
contribuinte.

Estamos percebendo que, no Brasil, capacidade contributiva é o mesmo


que capacidade econômica. Conquista do Estado Moderno, ajuda a
realizar a justiça fiscal, porque tem por escopo fazer com que cada pessoa
colabore com as despesas públicas na medida de suas possibilidade3.

Nesse sentido, o art. 145, §1º da Constituição Federal prevê que,


sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e observarão a
capacidade econômica do contribuinte.

De fato, o tratamento igualitário deve ter como parâmetro a capacidade


de cada contribuinte, ou seja, a fixação das alíquotas deve variar
de acordo com a situação econômica do sujeito passivo da relação
tributária.

Assim sendo, não há violação ao princípio em tela a cobrança de


imposto progressivo, onde quem tem maior capacidade contributiva
se submete a uma alíquota maior. Nesse caso, a norma discrimina o
tratamento (alíquotas diferentes) para trazer a justiça fiscal.

A título de exemplo, vamos considerar dois grupos de contribuintes:


grupo A, que recebe até 2 salários mínimos, e o grupo B, que recebe
acima de 10 salários mínimos. Se tributarmos a renda de ambos os
grupos em 10%, não estaremos considerando o caráter pessoal e
a capacidade contributiva de cada grupo, inexistindo, nesse caso,
tratamento igualitário.

No entanto, ao aplicarmos alíquotas diferenciadas (10% para o grupo A e


15% para o grupo B), estaremos garantindo equivalência no tratamento
entre quem recebe menos e quem recebe mais.

Para ilustrar o princípio, segue jurisprudência do STF:

3
CARRAZZA, Roque Antonio. Curso de Direito Constitucional Tributário. Malheiros. 2006. São Paulo. p. 102

41
EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO.
LEI ESTADUAL: PROGRESSIVIDADE DE ALÍQUOTA DE IMPOSTO SOBRE
TRANSMISSÃO CAUSA MORTIS E DOAÇÃO DE BENS E DIREITOS.

CONSTITUCIONALIDADE. ART. 145, § 1º, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA.


PRINCÍPIO DA IGUALDADE MATERIAL TRIBUTÁRIA. OBSERVÂNCIA DA
CAPACIDADE CONTRIBUTIVA. RECURSO EXTRAORDINÁRIO PROVIDO.

[...]

Tenho afirmado que essa norma constitucional é a introdução expressa


pelo constituinte originário do princípio da igualdade material tributária
a ser observado pelos Estados em todos os casos em que, por meio de
tributação, venha a intervir no domínio do contribuinte. Por essa razão,
não se há cogitar de inconstitucionalidade na situação aqui posta, qual
seja, de um Estado dando sequência, dando aplicação plena, dando
concretude a esse princípio, nos termos do § 1º do artigo 145, para se
fazer a gradação, mediante a adoção da técnica de progressividade para
assegurar a aferição da capacidade econômica do contribuinte. (STF, Pleno,
RE 562045 / RS, Rel. Min. RICARDO LEWANDOWSKI, DJe PUBLIC 27-11-
2013).

Frisamos, ainda, que existe entendimento no sentido de haver exceções


ao princípio da isonomia, quando se tratar de tributação com base na
extrafiscalidade ou no poder de polícia.

O Fisco, por exemplo, poderá aplicar alíquotas mais altas para


produtos que entender nocivos à saúde da população em geral, como
bebidas alcóolicas. Certamente outros produtos assemelhados (sucos,
refrigerantes, achocolatados etc.) poderão ter alíquotas menores. No
entanto, a desigualdade será fundamentada justamente na função
extrafiscal do tributo, ou seja, aumentar a carga tributária para que, de
forma indireta, reduza o incentivo ao consumo da bebida alcóolica.

Outro exemplo, ainda, é o tratamento diferenciado às microempresas


e empresas de pequeno porte, previsto no art. 146, IV da CF, que

42
determina que a legislação (complementar) institua regimes mais
favoráveis e simplificados no recolhimento de contribuições do
empregador. Não se trata de violação ao princípio da igualdade, mas de
adaptar a tributação com a capacidade contributiva daquele perfil de
empresa.

Por outro lado, alguns poderiam exigir a extensão para si de


determinadas leis concedendo benefícios para determinado grupo de
contribuintes, sob a alegação de violação do princípio da isonomia.

No entanto, é fato que o legislador e o Poder Judiciário deverão


analisar as especificidades de cada caso, sendo que o STF já manifestou
posicionamento no sentido de não ter autorização para exercer funções
legislativas, sendo-lhe vedado estender a aplicação de leis.

E M E N T A: RECURSO EXTRAORDINÁRIO – TRIBUTÁRIO – PARCELAMENTO


DE DÉBITOS – LEI Nº 10.522/2002 – IMPOSSIBILIDADE DE EXTENSÃO DE TAL
BENEFÍCIO A EMPRESA OPTANTE PELO SIMPLES NACIONAL – ALEGADA OFENSA
AO PRINCÍPIO DA ISONOMIA – INOCORRÊNCIA – ATUAÇÃO DO JUDICIÁRIO
COMO LEGISLADOR POSITIVO – INADMISSIBILIDADE – RECURSO IMPROVIDO.

Tenho por inacolhível a pretensão recursal deduzida pela parte agravante,


eis que, tal como ressaltado na decisão ora agravada, não se revela lícito, ao
Poder Judiciário, atuar na anômala condição de legislador positivo ( RTJ 126/48
– RTJ 143/57 – RTJ 146/461-462 – RTJ 153/765 – RTJ 161/739-740 – RTJ 175/1137,
v.g.), para, em assim agindo, e nos limites do pleito deduzido, ela, empresa
contribuinte, proceder à imposição de seus próprios critérios, afastando, desse
modo, os fatores que, no âmbito de nosso sistema constitucional, só podem ser
legitimamente definidos pelo Parlamento.

É que, se tal fosse possível, o Poder Judiciário – que não dispõe de


função legislativa – passaria a desempenhar atribuição que lhe é
institucionalmente estranha (a de legislador positivo), usurpando, desse
modo, no contexto de um sistema de poderes essencialmente limitados,
competência que não lhe pertence, com evidente transgressão ao princípio

43
constitucional da separação de poderes. (STF, 2ªT, RE 709315 AgR / RS, Rel.
Min. CELSO DE MELLO, DJe PUBLIC 14-12-2012)

Em relação ao poder de polícia, podemos citar a progressividade do IPTU


decorrente da ausência de uso do imóvel, ou seja, por conta da falta de
função social da propriedade.

Outro ponto que deve ser destacado com relação ao princípio da


capacidade contributiva, diz respeito a sua aplicação às taxas.

Nesse sentido, o art. 145, § 1º, da Constituição Federal (BRASIL, 1988),


afirma que “sempre que possível os impostos terão caráter pessoal”.
Tendo em vista tal redação, a questão que surge é: será que referido
princípio pode ser aplicado às taxas?

Como é sabido, as taxas são tributos vinculados a uma atividade estatal


e podem ser cobradas em decorrência do exercício do poder de polícia
ou da prestação de serviços públicos.

Dessa forma, os valores relativos às taxas devem refletir o preço da


atividade estatal que está sendo colocada à disposição ou efetivamente
prestada ao contribuinte.

Percebe-se, portanto, que numa primeira análise, não se leva em


consideração a capacidade contributiva do contribuinte para o
pagamento das taxas. O que se leva em consideração é o valor da
atividade prestada pelo Estado.

Para ficar mais claro, como as taxas judiciais, todas as vezes em que
um cidadão ingressa na justiça com uma ação judicial, ele deve efetuar
o pagamento de taxas para o Estado, em razão da prestação de um
serviço público, que é a prestação do serviço jurisdicional.

Nesse caso, o valor da taxa é calculado de acordo com o valor dado à


causa. Se a demanda tiver o valor de 1 milhão de reais, o valor da taxa

44
que deverá ser pago será o mesmo se o autor da ação for uma grande
empresa com alta capacidade contributiva ou for uma pessoa física
aposentada.

Portanto, fica evidente que para a definição do valor da taxa, não é


levada em consideração a capacidade contributiva do contribuinte.

No entanto, o ordenamento jurídico trouxe mecanismos para que as


disparidades pudessem ser corrigidas, como é o caso das isenções ou
benefícios fiscais.

Assim, para que o contribuinte não seja prejudicado, em determinadas


situações poderá fazer jus à isenção e deixar de efetuar o pagamento da
taxa para o fisco. Voltando ao exemplo da ação judicial, é o que ocorre
aos beneficiários de justiça gratuita.

Dessa forma, a legislação permite que o princípio constitucional da


capacidade contributiva seja, de certa forma, respeitado por essa
espécie tributária.

2.2 Princípio do não confisco

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é


vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:

[...]

IV. utilizar tributo com efeito de confisco.

O art. 150, IV, da Carta Maior prevê que é vedado à União, Estados,
Distrito Federal e Municípios utilizar os tributos para fins de confisco.

No texto constitucional há várias garantias para o cidadão que


salvaguardam seu patrimônio. O maior exemplo disso é a garantia
constitucional ao direito de propriedade.

45
No entanto, o direito de propriedade não é absoluto. Tanto que o
ordenamento jurídico prevê a possibilidade de se tributar a propriedade
de cada indivíduo.

Justamente neste ponto é que deve ser analisado o princípio do não-


confisco na seara tributária, eis que, apesar de ser possível a tributação
do patrimônio do contribuinte, isto deve ser realizado de maneira a não
onerar de forma insuportável o indivíduo.

Entende-se que o tributo deve ser um encargo que seja suportável pelo
contribuinte, sem que lhe traga sacrifícios além do normal, ou seja,
sentido como verdadeira penalidade.

O ônus fiscal não pode ser tamanho a ponto de impedir a atividade


e desenvolvimento econômico, não pode obstaculizar a produção
de riquezas nem suprimir patrimônio ou meios de produção dos
contribuintes. Nesse sentido, é o ensinamento de Sacha Calmon
Navarro:

Os tributos visam obter meios, mas sempre preservando as fontes onde


se cevam e, até, induzem o crescimento das mesmas. Quanto maior a
economia de uma nação, melhor para as finanças públicas. Esta a índole
do regime. Falar-se em confisco neste panorama é nonsense. [...] Neste
sentido, o princípio do não confisco nos parece mais com um princípio da
razoabilidade na tributação [...].4

Destarte, o confisco tem a ver com tributação abusiva, que não anda em
compasso com o princípio da razoabilidade.

O caráter confiscatório do tributo, caso seja questionado, deverá


ser analisado e declarado pelo Poder Judiciário, que tem poder para
controlar a constitucionalidade dos atos administrativos voltados à
arrecadação de tributos.

4
COELHO, Sacha Calmon Navarro. Curso de Direito Tributário Brasileiro. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense,
1999, p. 253.

46
Nesse sentido, é fato que, por exemplo, o imposto de renda que
possuir alíquota que comprometa a subsistência do contribuinte, que
deixe faltar recursos para despesas essenciais, deve ser considerado
confiscatório.

Assim sendo, se identificado que a finalidade e destinação da cobrança


vai muito além do necessário para a manutenção da máquina estatal
e que avança de forma abusiva sobre o patrimônio e renda do
contribuinte, a natureza confiscatória do tributo deverá ser reconhecida.

Vale lembrar que a Constituição Federal não previu exceções a esse


princípio. Porém, existem alguns impostos que são mais “maleáveis” e
que comportam alíquotas maiores, como, por exemplo, o imposto sobre
a importação ou IPI, que são tidos como tributos extrafiscais.

Em outras situações, existe um aparente conflito entre princípios


constitucionais, que acaba por permitir uma tributação mais elevada. É o
caso, por exemplo, do ITR.

A legislação ao ITR estabelece que suas alíquotas podem variar de


0,03% a 20% do valor do imóvel, dependendo do grau de utilização e
produtividade da terra. Num primeiro momento, a alíquota de 20%
poderia parecer confiscatória, mas, neste caso, é privilegiado outro
princípio constitucional, o da função social da propriedade.

De acordo com o princípio da função social da propriedade, a terra deve


ser produtiva para que as desigualdades sociais sejam amenizadas,
evitando-se, com isso, a existência de grandes latifúndios improdutivos.

Levando em conta esse princípio, o legislador decidiu tributar com


alíquotas maiores de ITR as propriedades improdutivas e com alíquotas
menores as glebas que efetivamente são utilizadas para agropecuária na
maioria de sua extensão.

47
Portanto, entre dois princípios constitucionais, o do não-confisco e o
da função social da propriedade, prevaleceu esse último, em prol da
garantia dos cidadãos.

Ainda, frisamos que o conceito de tributo não se mistura com a multa


aplicada ao contribuinte.

A vedação constitucional trata apenas do tributo. Porém, o STF, em


julgamento proferido no AgRg no RExt 833.106/GO, diante da omissão
de limitação constitucional, limitou a 100% sobre o valor do tributo a
multa imposta, sob pena de ser considerada confiscatória.

TRIBUTÁRIO – MULTA – VALOR SUPERIOR AO DO TRIBUTO – CONFISCO –


ARTIGO 150, INCISO IV, DA CARTA DA REPÚBLICA. Surge inconstitucional
multa cujo valor é superior ao do tributo devido. Precedentes: Ação Direta
de Inconstitucionalidade nº 551/RJ – Pleno, relator ministro Ilmar Galvão
– e Recurso Extraordinário nº 582.461/SP – Pleno, relator ministro Gilmar
Mendes, Repercussão Geral. (AgReg. no RE 833.106/GO, 1ª T., Rel. Min.
MARCO AURÉLIO, DJe- 11-12-2014)

As chamadas sanções políticas são também consideradas afrontas


ao princípio do não confisco, sendo consideradas medidas coercitivas
utilizadas pela Administração Pública para forçar o contribuinte a pagar
o tributo. Nesse sentido, o Supremo Tribunal Federal já consolidou seu
entendimento:

Súmula nº 70:

É inadmissível a interdição de estabelecimento como meio coercitivo para


a cobrança de tributo.

Súmula nº 323:

É inadmissível a apreensão de mercadorias como meio coercitivo para


pagamento de tributos.

48
Súmula nº 547:

Não é lícito à autoridade proibir que o contribuinte em débito adquira


estampilhas, despache mercadorias nas alfândegas e exerça suas
atividades profissionais.

VAMOS PENSAR

Elabore um breve texto sobre o princípio do não confisco e


sua aplicação na atualidade, frente à jurisprudência atual.
Recomenda-se como leitura inicial a obra O Princípio do não
confisco no Direito Tributário, escrita por Estevao Horvath.

PONTUANDO

• Princípio da igualdade e parâmetros de fixação da isonomia entre


contribuintes.

• Capacidade contributiva como referência do tratamento igualitário.

• Conceito de não confisco.

• Tributos e multas frente ao princípio do não confisco.

GLOSSÁRIO

Confisco: “apropriação dos bens de uma pessoa, especialmente


se for por parte do Estado” (Dicionário Didático, Vários
colaboradores. 3. ed. São Paulo: Edições SM, 2009).

49
VERIFICAÇÃO
de leitura

Questão 1 INDIQUE A ALTERNATIVA CORRETA

Considerando aspectos relacionados à incidência de imposto, às


contribuições sociais, ao princípio da igualdade tributária e às normas
gerais do direito tributário, assinale a opção correta:

a. Segundo o STF, não haverá ofensa ao princípio da isonomia tributária


se a lei complementar, por motivos extrafiscais, imprimir trata-
mento desigual a microempresas e empresas de pequeno porte de
capacidade contributiva distinta, afastando do regime diferenciado
aquelas cujos sócios tenham condição de disputar o mercado de
trabalho sem assistência do Estado.
b. A contribuição previdenciária não incide sobre o 13.º salário.
c. O CTN admite expressamente a compensação mediante o
aproveitamento de tributo, objeto de contestação judicial pelo sujeito
passivo, antes do trânsito em julgado da respectiva decisão judicial.
d. Não incide ICMS sobre o valor da tarifa de energia elétrica
correspondente à demanda de potência efetivamente utilizada.
e. O princípio da isonomia proíbe a cobrança do tributo sem lei que o
estabeleça.

Questão 2 INDIQUE A ALTERNATIVA CORRETA

Quanto às limitações do poder de tributar, é correto afirmar:

50
a. Os Estados podem instituir tributo com efeito de confisco desde
que se trate de desapropriação de bens de concessionário público
que não cumpriu suas obrigações contratuais.
b. Aos Estados e aos Municípios é vedado exigir ou aumentar tributo
sem lei que o estabeleça.
c. Os Estados ou os Municípios podem instituir impostos sobre
templos de qualquer culto, desde que durante as suas realizações
ocorram doações por parte dos fiéis, pois se trata de formação de
renda e/ou prestação de serviço.
d. Aos Estados e aos Municípios é vedado exigir ou aumentar
tributos nas hipóteses de calamidade pública, salvo quando
absolutamente necessário para evitar danos irreversíveis ao
patrimônio público, ao orçamento público ou à saúde pública.

Questão 3 INDIQUE A ALTERNATIVA CORRETA

À luz da Constituição, avalie as formulações seguintes e, ao final, assinale


a opção que corresponde à resposta correta.

I. É vedado à União elevar a alíquota do imposto sobre a renda e


proventos de qual- quer natureza, de 27,5% para 41%, incidente
sobre renda líquida igual ou superior a R$ 120.000,00, auferida no
ano civil por pessoa física, por força da disposição constitucional
vedatória da utilização de tributo com efeito de confisco, bem
como assim da que prevê a graduação de impostos segundo a
capacidade econômica do contribuinte.
II. A cobrança de pedágio pela utilização de vias conservadas pelo
poder público não constitui violação do dispositivo constitucional
que veda o estabelecimento de limitações ao tráfego de pessoas
ou bens por meio de tributos interestaduais ou intermunicipais.
III. Somente à União compete instituir impostos extraordinários, na
iminência ou no caso de guerra externa, compreendidos ou não
em sua competência tributária, podendo a respectiva cobrança ser

51
iniciada no mesmo exercício financeiro em que seja publicada a lei
ordinária que os instituir.

a. Somente I é falsa.
b. I e II são falsas.
c. I e III são falsas.
d. II e III são falsas.
e. Todas são falsas.

Questão 4 INDIQUE A ALTERNATIVA CORRETA

Considerando a matéria tributária definida na CF, assinale a opção


correta:

a. É facultado ao Poder Executivo, respeitados as condições e os


limites legais, alterar as alíquotas do imposto sobre produtos
industrializados.
b. Dado o princípio da isonomia, os impostos não podem ter caráter
pessoal.
c. As limitações constitucionais ao poder de tributar podem ser
reguladas por lei ordinária.
d. As contribuições de intervenção no domínio econômico não
incidem sobre as receitas de- correntes de importação.
e. O imposto sobre a propriedade territorial rural será progressivo
e não incidirá sobre pequenas glebas rurais exploradas pelo
proprietário, mesmo que ele possua outro imóvel.

Questão 5 INDIQUE A ALTERNATIVA CORRETA

Em termos de sistema tributário nacional:

a. o Código Tributário Nacional nada mais é do que simples lei


ordinária federal, na forma e na substância;

52
b. é vedado a União transferir o exercício supletivo de sua
competência tributária;
c. a Lei Complementar nº 5.172/66 (CTN) as- segura a harmonia do
Sistema Tributário, colaborando também para sua autonomia;
d. não existe concentração fiscal e tributária na União; há repartição
igualitária dos tributos entre União, Estados, DF e Municípios;
e. o CTN é uma lei ordinária.

REFERÊNCIAS

COELHO, Sacha Calmon Navarro. Curso de Direito Tributário Brasileiro. 3. ed. Rio
de Janeiro: Forense, 1999.
PAULSEN, Leandro. Direito Tributário, Constituição e Código Tributário à Luz da
Doutrina e da Jurisprudência. 9. ed. Porto Alegre, Livraria do Advogado, 2007.
SABBAG, Eduardo de Moraes. Direito Tributário. 3. ed. São Paulo: Siciliano Jurídico,
2003.
SILVA, José Afonso da. Curso de direito Constitucional Positivo. 17. ed. São Paulo:
Malheiros Editores, 2000.
VÁRIOS COLABORADORES. Dicionário Didático, 3. ed. São Paulo: Edições SM, 2009.

GABARITO

Questão 1

Resposta: Alternativa A.

Resolução: O princípio da isonomia busca o tratamento igualitário


para aqueles que se encontram em condição equivalente. Já é pacífico
o entendimento de que as micros e pequenas empresas merecem
tratamento diferenciado – sem violar o princípio da isonomia –, pois
não são consideradas equivalentes a empresas de grande porte.
Tanto é que existe previsão na própria Constituição de incentivo

53
através de tratamento jurídico diferenciado e simplificação de suas
obrigações (art. 179). É o caso do Simples Nacional, instituído pela Lei
complementar 123/06.

Questão 2

Resposta: Alternativa B.

Resolução: Aos Estados e Municípios, bem como à União, é vedado


instituir ou cobrar impostos sem lei que o estabeleça, com base no
princípio da legalidade. Ressaltamos, no entanto, que na alternativa
A existe uma afirmação falsa, ao tratar da suposta possibilidade
de efeito confiscatório de tributo em hipótese não prevista
constitucionalmente.

Questão 3

Resposta: Alternativa A.

Resolução: O princípio da vedação ao confisco deve ser observado


por todos os entes federados, contudo, segundo a Constituição
Federal (art. 150, IV), NÃO HÁ CASOS DE TRIBUTOS EXCEPCIONAIS à
regra estabelecida. Já a graduação dos impostos segundo a capacidade
econômica do contribuinte é permitida para impostos pessoais (art.
145, §1º, CF), tal qual OCORRE com o imposto de renda. Afirmativa
FALSA.

Questão 4

Resposta: Alternativa A.

Resolução: Conforme o previsto no art. 153, § 1º, da CF/88, o Poder


Executivo poderá, “atendidas às condições e os limites estabelecidos
em lei”, alterar as alíquotas do IPI.

54
Questão 5

Resposta: Alternativa C.

Resolução: A lei 5.172/1966, o Código Tributário Nacional, tem


status e cumpre as funções de lei complementar, atendendo à
exigência do art. 146, III da Constituição Federal. Nela estão fixadas as
normas gerais do Sistema Tributário Nacional, incluindo as regras de
competência entre União, Estados, Municípios e Distrito Federal, bem
como as regras de repartição de receitas que não são igualitárias entre
os entes federados.

55
Aula 03

Imunidade Recíproca, Religiosa e


no Terceiro Setor
Autoria: Adriana Mayumi Kanomata
Leitura Crítica: Juliana Caramigo Gennarini

56
3. Imunidade Recíproca, Religiosa e no Terceiro
Setor

3.1 Imunidade recíproca

O artigo 150, VI, a da Constituição Federal é claro ao instituir a


imunidade recíproca:

Art. 150.

Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à


União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:

[...]

VI. instituir impostos sobre:

a. patrimônio, renda ou serviços, uns dos outros.

Entende-se por esse princípio a proibição dos entes da Federação de


instituir e cobrar uns dos outros impostos sobre o patrimônio, renda e
serviços, estendendo-se a vedação às autarquias.

Essa imunidade busca prestigiar o princípio federativo, vinculado ao


princípio da isonomia que prevê o tratamento igualitário entre os entes
da Federação (União, Estados, Distrito Federal e Municípios).

Sobre o princípio federativo,

[...] no âmbito tributário, a sustentar a autonomia política e administrativa


do Estado- Membro e do Município [...] impõe-se a preservação da
autonomia financeira dos entes locais, sem a qual aqueloutras não
existirão. Esta autonomia resguarda- se mediante a preservação da
competência tributária das pessoas políticas que convivem na federação
e, também, pela equidosa discriminação constitucional das fontes de

57
receita tributária, daí advindo a importância do tema referente à repartição
das competências no Estado Federal [...] Sendo a federação um pacto de
igualdade entre as pessoas políticas e, sendo a autonomia financeira o
penhor da autonomia dos entes federados, têm-se que qualquer agressão,
ainda que velada, a estes dogmas, constitui inconstitucionalidade.1

Essa proteção está sob o manto de cláusula pétrea prevista no art. 60,
§4º, I da CF, sendo, portanto, imutável.

A imunidade recíproca proíbe, por exemplo, que o Município cobre


IPTU de um imóvel pertencente à União, que o Estado cobre IPVA de
veículo utilizado por um Município, entendendo-se que a utilização do
patrimônio, renda e os serviços são destinados à população, ou seja,
possuem função pública.

Havendo exploração de atividade econômica regida pelo direito privado,


a imunidade não se aplicará.

Lembramos de que o texto constitucional não inclui na imunidade as


taxas e contribuições. Assim sendo, a priori, não haveria impedimento
constitucional nenhum para que um Município venha a exigir taxa do
lixo de um imóvel pertencente ao governo do Estado, por exemplo.

Divergindo dessa linha, trazemos aqui, novamente, o entendimento de


Hugo de Brito Machado:
SLIDES 19

Não obstante esteja expressa, no art.150, inciso VI, da vigente Constituição


Federal, apenas em relação aos impostos, em razão do princípio federativo
a imunidade recíproca abrange, seguramente, também os demais tributos.
É que o tributo, como expressão que é da soberania estatal, não pode
ser exigido de quem a tal soberania não se submete, porque é parte
integrante do Estado, que da mesma é titular.

1
COELHO, Sacha Calmon Navarro. Curso de Direito Tributário Brasileiro. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense,
1999, p. 63.

58
Qualquer emenda que porventura autorizar a União a cobrar qualquer
tributo dos Estados, ou dos Municípios, ou autorizar qualquer destes
a cobrar qualquer tributo da União, ou de qualquer outro Estado, ou
Município, é inconstitucional.2

Em relação aos impostos, por outro lado, a imunidade deve ser aplicada
de forma ampla, a todos os previstos na legislação tributária sem
qualquer exceção, como já decidiu o Supremo Tribunal Federal:

IMPOSTO – IMUNIDADE RECÍPROCA – Imposto sobre Operações


Financeiras. A norma da alínea “a” do inciso VI do artigo 150 da
Constituição Federal obstaculiza a incidência recíproca de impostos,
considerada a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios.
Descabe introduzir no preceito, à mercê de interpretação, exceção
não contemplada, distinguindo dos ganhos resultantes de operações
financeiras. (AI 175133 AgR/PR. Ministro Marco Aurélio. DJ 26/04/1996).

Ainda, como já mencionado, a imunidade recíproca estende-se para as


autarquias e fundações.

Conforme o art. 150, § 2º da CF, a imunidade “é extensiva às autarquias e


às fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público, no que se refere
ao patrimônio, à renda e aos serviços, vinculados a suas finalidades
essenciais ou às delas decorrentes”.

Nota-se que, para que as fundações e autarquias possam se valer da


imunidade, devem atender à condicionante, qual seja, comprovar o
vínculo do patrimônio, das rendas e dos serviços com suas finalidades
essenciais.

Ainda, questiona-se se, além das fundações e autarquias, as empresas


públicas ou sociedades de economia mista também poderiam se
beneficiar da imunidade recíproca.

2
MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. 23. ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2003, p.
263.

59
É fato que o texto constitucional não as incluiu ao tratar da imunidade
recíproca. No entanto, o Supremo Tribunal Federal, ao julgar o RE
399307, entendeu que referida imunidade poderia ser estendida às
empresas públicas e sociedades de economia mista, desde que se
tratasse de serviço público essencial à população e cuja prestação seja
obrigatória pelo Estado.

EMENTA: CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. IMUNIDADE RECÍPROCA.


AUTARQUIA. SERVIÇO PÚBLICO DE ÁGUA E ESGOTAMENTO. ATIVIDADE
REMUNERADA POR CONTRAPRESTAÇÃO. APLICABILIDADE. ART, 150, §3º DA
CONSTITUIÇÃO. PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL. 1.

Definem o alcance da imunidade tributária recíproca sua vocação para


servir como salvaguarda do pacto federativo, para evitar pressões políticas
entre entes federados ou para desonerar atividades desprovidas de
presunção de riqueza. 2. É aplicável a imunidade tributária recíproca às
autarquias e empresas públicas que prestem inequívoco serviço público,
desde que, entre outros requisitos constitucionais e legais, não distribuam
lucros ou resultados direta ou indiretamente a particulares, ou tenham
por objetivo principal conceder acréscimo patrimonial ao poder público
(ausência de capacidade contributiva) e não desempenhem atividade
econômica, de modo a conferir vantagem não extensível às empresas
privadas (livre iniciativa e concorrência). 3. O Serviço Autônomo de Água
e Esgoto é imune à tributação por impostos (art. 150, VI, a e §§ 2º e 3º
da Constituição). A cobrança de tarifas, isoladamente considerada, não
altera a conclusão. Agravo regimental conhecido, mas ao qual se nega
provimento. (RE 399307 AgR / MG. Min. Joaquim Barbosa. DJe 29/04/2010).

Fixou-se, assim, a possibilidade das empresas públicas e de economia


mista serem atingidas pela imunidade recíproca desde que atendessem
aos seguintes requisitos: não distribuição de lucros a particulares e não
exercerem atividades econômicas executadas por empresas privadas.

Por fim, a imunidade recíproca possui limitações previstas no § 3º


do art. 150 da CF, ao vedar sua aplicação “ao patrimônio, à renda e
aos serviços, relacionados com exploração de atividades econômicas

60
regidas pelas normas aplicáveis a empreendimentos privados, ou em que
haja contraprestação ou pagamento de preços ou tarifas pelo usuário,
nem exonera o promitente comprador da obrigação de pagar imposto
relativamente ao bem imóvel.”

3.2 Imunidade religiosa

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é


vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:

[...]

VI–instituir impostos sobre:

[…]

b. templos de qualquer culto.

Na imunidade religiosa, não incide impostos sobre os templos de


qualquer culto.

De fato, a Constituição Federal não faz distinção de qualquer


crença, preservando, assim, a posição de Estado laico do país e
consagrando a diversidade de crenças e cultos praticados no Brasil e
constitucionalmente garantidos:

Art. 5º, VI – é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo


assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a
proteção aos locais e culto e as suas liturgias;

Art. 5º, VII – é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência


religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva; e

Art. 5º, VIII – ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa
ou convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de

61
obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa,
fixada em lei.

Nesse contexto, o conceito de templo é muito mais abrangente do que


seu aspecto físico, tratando-se do local em que a atividade religiosa é
exercida.

Essa limitação ao poder de tributar encontra-se no art. 150, IV, c da CF, e


está vinculada ao direito fundamental de todo cidadão de liberdade de
crença, liberdade de culto e liberdade de liturgia, consagrado do art. 5º,
VI da CF.

A imunidade, assim, busca evitar qualquer interferência do Estado sobre


as entidades religiosas através da tributação. Nem o local (templo), nem
qualquer ato relioso (missas, batizados etc.) podem sofrer a incidência
de impostos pela norma imunizante.

De fato, a imunidade é mais abrangente, atingindo todo o patrimônio,


renda e serviços dos templos de qualquer culto, desde que comprovado
que todos estão relacionados às finalidades religiosas.

Por exemplo, não incide ICMS sobre a venda de artigos religiosos cujo
produto da venda seja revertido à manutenção da igreja; não incide
imposto de renda sobre os valores recebidos a título de dízimo ou
doação; não incide ISS sobre eventuais serviços religiosos prestados aos
fiéis.

Em relação ao IPTU, segue o entendimento do Supremo Tribunal


Federal:

EMENTA: Recurso extraordinário. 2. Imunidade tributária de templos de


qualquer culto. Vedação de instituição de impostos sobre o patrimônio,
renda e serviços relacionados com as finalidades essenciais das entidades.
Artigo 150, VI, “b” e § 4º, da Constituição. 3. Instituição religiosa. IPTU
sobre imóveis de sua propriedade que se encontram alugados. 4. A

62
imunidade prevista no art. 150, VI, “b”, CF, deve abranger não somente
os prédios destinados ao culto, mas, também, o patrimônio, a renda e
os serviços “relacionados com as finalidades essenciais das entidades
nelas mencionadas”. 5. O § 4º do dispositivo constitucional serve de vetor
interpretativo das alíneas “b” e “c” do inciso VI do art. 150 da Constituição
Federal. Equiparação entre as hipóteses das alíneas referidas. 6. Recurso
extraordinário provido. (STF, Tribunal Pleno, RE 325822 / SP, Rel. Min.
ILMAR GALVÃO, DJ 14-05-2004)

A matéria, inclusive, virou tema da Súmula nº 724 do STF:

Ainda quando alugado a terceiros, permanece imune ao IPTU o imóvel


pertencente a qualquer das entidades referidas pelo art. 150, VI, c, da
Constituição, desde que o valor dos aluguéis seja aplicado nas atividades
essenciais de tais entidades.

Conclui-se, assim, que a imunidade religiosa busca o incentivo às


práticas religiosas, sem que a tributação represente um obstáculo aos
cultos.

3.3 Imunidade no terceiro setor

Art. 150.

Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à


União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:

[...]

VI–instituir impostos sobre:

c. patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos, inclusive suas


fundações, das entidades sindicais dos trabalhadores, das instituições
de educação e de assistência social, sem fins lucrativos, atendidos os
requisitos da lei.

63
Como terceiro setor, entende-se o grupo formado por associações e
entidades sem fins lucrativos, que fornecem bens e serviços públicos e
que, em geral, suprem falhas deixadas pelo Estado.

Dentro do rol de organizações do terceiro setor, podemos incluir


os partidos políticos, entidades sindicais, instituições de ensino e
assistência social, que foram abrangidos no art. 150, VI, c da Constituição
Federal, atingidos pela imunidade.

Nesse tipo de imunidade, podemos observar que existe uma


condicionante: todos devem atender aos requisitos previstos em lei.

Frise-se que essa condição deve ser atendida por todos os entes
incluídos no texto constitucional: partidos políticos, sindicatos,
instituições de assistência social e educacionais.

Os citados requisitos da lei, necessários para o reconhecimento da


imunidade, devem ser prescritos por lei complementar, por ordem do
art. 146, II, CF, o qual determina que as regras limitadoras ao poder de
tributar devem ser reguladas por lei complementar.

O Código Tributário Nacional, que possui status de lei complementar,


discriminou em seu art. 14 os requisitos necessários para a aplicação da
norma imunizante:

Art. 14. O disposto na alínea IV do art. 9º é subordinado à observância dos


seguintes requisitos pelas entidades nele referidas:

I. não distribuírem qualquer parcela de seu patrimônio ou de suas


rendas, a qualquer título;
II. aplicarem integralmente, no País, os seus recursos na manutenção dos
seus objetivos institucionais;
III. manterem escrituração de suas receitas e despesas em livros revestidos
de formalidades capazes de assegurar sua exatidão.

64
Primeiramente, cumpre ressaltar que a vedação à distribuição de
parcela do patrimônio ou rendas não representa proibição na obtenção
de lucro, bem como não impede a remuneração de funcionários.

O segundo inciso exige a aplicação integral dos recursos em território


nacional. Essa determinação funda-se no sentido de que, se o Fisco está
abrindo mão do seu poder de arrecadar tributos em prol das entidades
do terceiro setor, nada mais justo que os recursos por eles captados
sejam aplicados no território nacional, em proveito dos destinatários das
associações, entidades e fundações sem fins lucrativos. Caso haja algum
investimento no exterior, a imunidade deixará de existir.

Nesse sentido, o Supremo Tribunal Federal já decidiu em Súmula


Vinculante:

Súmula Vinculante nº 52

Ainda quando alugado a terceiros, permanece imune ao IPTU o imóvel


pertencente a qualquer das entidades referidas pelo art. 150, VI, “c”, da
Constituição Federal, desde que o valor dos aluguéis seja aplicado nas
atividades para as quais tais entidades foram constituídas.

Por fim, a última condição estipulada no art. 14 do CTN é a necessidade


de se escriturar de maneira regular as receitas e despesas da entidade
de forma suficiente e eficaz, a fim de trazer segurança e transparência
nas atividades exercidas pelas organizações do terceiro setor,
garantindo, assim, a veracidade das duas condições anteriores.

A observância dos requisitos previstos no art. 14 do Código Tributário


deverá ser fielmente atendida, sob pena de ser aplicada a suspensão do
benefício pela autoridade administrativa, como previsto no art. 14, § 1º,
CTN.

Uma importante informação sobre as instituições filantrópicas é que


essas, além da imunidade de impostos, também não se submetem à

65
incidência de contribuições sociais para a seguridade social, tendo em
vista os serviços prestados à população sem a cobrança de valores.

Pode-se estranhar que no art. 195, § 7º, CF, ou seja, no texto


constitucional, a presença do termo “isentas” referindo-se às
contribuições sociais direcionadas às entidades beneficentes de
assistência social:

“Art. 195.

§ 7º–São isentas de contribuição para a seguridade social as entidades


beneficentes de assistência social que atendam às exigências
estabelecidas em lei”.

Justamente por se tratar de um dispositivo do texto constitucional, a


expressão “isentas” é, na realidade, uma imunidade.

Segue julgamento do STF, em processo onde houve o reconhecimento


de repercussão geral sobre o tema:

Ementa: TRIBUTÁRIO. RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO GERAL.


REPERCUSSÃO GERAL CONEXA. RE 566.622. IMUNIDADE AOS IMPOSTOS.
ART. 150, VI, C, CF/88. IMUNIDADE ÀS CONTRIBUIÇÕES. ART. 195, § 7º,
CF/88. O PIS É CONTRIBUIÇÃO PARA A SEGURIDADE SOCIAL (ART. 239
C/C ART. 195, I, CF/88). A CONCEITUAÇÃO E O REGIME JURÍDICO DA
EXPRESSÃO “INSTITUIÇÕES DE ASSISTÊNCIA SOCIAL E EDUCAÇÃO”
(ART. 150, VI, C, CF/88) APLICA-SE POR ANALOGIA À EXPRESSÃO
“ENTIDADES BENEFICENTES DE ASSITÊNCIA SOCIAL” (ART. 195, § 7º,
CF/88). AS LIMITAÇÕES CONSTITUCIONAIS AO PODER DE TRIBUTAR SÃO
O CONJUNTO DE PRINCÍPIOS E IMUNIDADES TRIBUTÁRIAS (ART. 146, II,
CF/88). A EXPRESSÃO “ISENÇÃO” UTILIZADA NO ART. 195, § 7º, CF/88,
TEM O CONTEÚDO DE VERDADEIRA IMUNIDADE. O ART. 195, § 7º,
CF/88, REPORTA-SE À LEI Nº 8.212/91, EM SUA REDAÇÃO ORIGINAL (MI
616/SP, Rel. Min. Nélson Jobim, Pleno, DJ 25/10/2002). O ART. 1º, DA
LEI Nº 9.738/98, FOI SUSPENSO PELA CORTE SUPREMA (ADI 2.028
MC/DF, Rel. Moreira Alves, Pleno, DJ 16-06-2000). A SUPREMA

66
CORTE INDICIA QUE SOMENTE SE EXIGE LEI COMPLEMENTAR
PARA A DEFINIÇÃO DOS SEUS LIMITES OBJETIVOS (MATERIAIS),
E NÃO PARA A FIXAÇÃO DAS NORMAS DE CONSTITUIÇÃO E DE
FUNCIONAMENTO DAS ENTIDADES IMUNES (ASPECTOS FORMAIS
OU SUBJETIVOS), OS QUAIS PODEM SER VEICULADOS POR LEI
ORDINÁRIA (ART. 55, DA LEI Nº 8.212/91). AS ENTIDADES QUE
PROMOVEM A ASSISTÊNCIA SOCIAL BENEFICENTE (ART. 195, §
7º, CF/88) SOMENTE FAZEM JUS À IMUNIDADE SE PREENCHEREM
CUMULATIVAMENTE OS REQUISITOS DE QUE TRATA O ART. 55,
DA LEI Nº 8.212/91, NA SUA REDAÇÃO ORIGINAL, E AQUELES
PREVISTOS NOS ARTIGOS 9º E 14, DO CTN. AUSÊNCIA DE
CAPACIDADE CONTRIBUTIVA OU APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA
SOLIDARIEDADE SOCIAL DE FORMA INVERSA (ADI 2.028 MC/DF,
Rel. Moreira Alves, Pleno, DJ 16-06-2000). INAPLICABILIDADE DO
ART. 2º, II, DA LEI Nº 9.715/98, E DO ART. 13, IV, DA MP Nº 2.158-
35/2001, ÀS ENTIDADES QUE PREENCHEM OS REQUISITOS DO
ART. 55 DA LEI Nº 8.212/91, E LEGISLAÇÃO SUPERVENIENTE, A
QUAL NÃO DECORRE DO VÍCIO DE INCONSTITUCIONALIDADE
DESTES DISPOSITIVOS LEGAIS, MAS DA IMUNIDADE EM RELAÇÃO
À CONTRIBUIÇÃO AO PIS COMO TÉCNICA DE INTERPRETAÇÃO
CONFORME À CONSTITUIÇÃO. EX POSITIS, CONHEÇO DO
RECURSO EXTRAORDINÁRIO, MAS NEGO-LHE PROVIMENTO
CONFERINDO EFICÁCIA ERGA OMNES E EX TUNC. [...]São
isentas de contribuição para a seguridade social as entidades
beneficentes de assistência social que atendam às exigências
estabelecidas em lei. 4. O art. 195, § 7º, CF/88, ainda que não
inserido no capítulo do Sistema Tributário Nacional, mas
explicitamente incluído topograficamente na temática da
seguridade social, trata, inequivocamente, de matéria tributária.
(STF, Pleno, RE 636941/RS, Rel. Min. Luiz Fux, Dje 04-04-2014)

67
VAMOS PENSAR

Elabore um breve texto sobre a imunidade recíproca das


autarquias, fundações e os posicionamentos quanto às
empresas públicas e de direito privado.

PONTUANDO

• Imunidade recíproca e princípio federativo.

• Imunidade recíproca em relação às autarquias e fundações.

• Finalidade e extensão da imunidade para templos de qualquer


culto.

• Conceito de terceiro setor.

• Requisitos que devem ser atendidos para a aplicação da imunidade


para o terceiro setor.

VERIFICAÇÃO
de leitura

Questão 1 INDIQUE A ALTERNATIVA CORRETA

A imunidade estabelecida pelo art. 150, VI, a, da Constituição Federal,


que veda a tributação recíproca entre União, Estados e Municípios,
abrange:

68
a. apenas os respectivos órgãos da Administração Direta;
b. apenas os respectivos órgãos da Administração Direta e as
autarquias;
c. apenas os respectivos órgãos da Administração Direta, as
autarquias e as fundações públicas;
d. toda a Administração Direta e Indireta de cada ente federativo.
e. apenas as autarquias e empresas públicas.

Questão 2 INDIQUE A ALTERNATIVA CORRETA

A imunidade constitucional das instituições educacionais sem fins


lucrativos refere-se a:

a. impostos e taxas;
b. apenas impostos;
c. impostos, taxas e contribuições;
d. impostos e contribuições.

Questão 3 INDIQUE A ALTERNATIVA CORRETA

Quanto aos templos de qualquer culto, é correto afirmar que:

a. estão isentos de qualquer tributação;


b. poderão ser tributados em relação às taxas e contribuição de
melhoria;
c. poderão ser tributados em relação ao IPTU;
d. poderão ser tributados apenas em relação aos impostos federais.

69
Questão 4 INDIQUE A ALTERNATIVA CORRETA

No que se refere à imunidade tributária, é correto afirmar que:

a. a imunidade recíproca protege à União da incidência de impostos,


taxas e contribuições;
b. a imunidade recíproca abarca, além das autarquias e fundações,
também empresas públicas e sociedades de economia mista, em
qualquer caso;
c. a imunidade subjetiva dos templos não deverá ser afastada
mesmo diante da locação de seus imóveis a particulares, desde
que os aluguéis estejam vinculados a suas finalidades essenciais:
d. todas as alternativas estão incorretas.

Questão 5 INDIQUE A ALTERNATIVA CORRETA

O princípio da imunidade recíproca:

a. existe para preservar o princípio federativo, prevenindo atritos


entre as entidades políticas, decorrentes de relações jurídicas
de natureza tributária;
b. aplica-se apenas a impostos, dispensando a entidade imune das
obrigações acessórias;
c. aplica-se aos tributos das entidades políticas componentes
da Federação Brasileira, bem como em relação à renda,
ao patrimônio ou serviços das autarquias e das fundações
mantidas pelo Poder Público;
d. impede a tributação, através de impostos, de rendas,
patrimônios ou serviços das entidades políticas, bem como de
suas autarquias e fundações, sendo que, em relação a essas
últimas, desde que direta e exclusivamente vinculados às suas
finalidades essenciais.

70
REFERÊNCIAS

COELHO, Sacha Calmon Navarro. Curso de Direito Tributário Brasileiro. 3. ed. Rio
de Janeiro: Forense, 1999.
GRECO, Marco Aurélio. Planejamento Tributário. São Paulo: Dialética, 2004.
MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. 23. ed. São Paulo:
Malheiros Editores, 2003.

GABARITO

Questão 1

Resposta: Alternativa C.

Resolução: Pela leitura do texto constitucional (art. 150, § 2º), a


imundade é extensiva às autarquias e fundações instituídas e
mantidas pelo Poder Público. Assim sendo, a Carta Magna não incluiu
no rol de beneficiados as empresas públicas e as de economia mista,
ou seja, não se aplica o princípio automaticamente. No entanto, é fato
que já foi proferido em nossos tribunais entendimento diferente, no
sentido de estender às empresas públicas e de economia a imunidade
recíproca, desde que exerçam atividade pública (RE 399307).

Questão 2

Resposta: Alternativa B.

Resolução: O art. 150, VI, c da Constituição Federal, em seu texto, veda


a instituição de impostos apenas, para instituições de educação sem
fins lucrativos. Faz-se exceção apenas na hipótese do art. 195, § 7º, que
trata de uma imunidade revestida de “isenção” de contribuição para a

71
seguridade social as entidades beneficentes de assistência social que
atendam às exigências estabelecidas em lei.

Questão 3

Resposta: Alternativa B

Resolução: O art. 150, VI, b da Constituição Federal apenas faz


menção à imunidade de impostos, havendo, assim, permissão para a
cobrança de taxas e contribuições de melhoria.

Questão 4

Resposta: Alternativa C.

Resolução: Não só os prédios dos cultos pertencentes às organizações


religiosas são atingidos pela imunidade. Imóveis alugados por elas
são igualmente beneficiados, desde que o produto da locação seja
revertido para as atividades essenciais do templo.

Questão 5

Resposta: Alternativa D.

Resolução: A imunidade recíproca para autarquias e fundações foi


constitucionalmente prevista desde que patrimônio renda e serviços
estejam vinculados às suas finalidades essenciais ou dela decorrentes.

72
Aula 04

Imunidade Cultural e Teoria


Geral das Imunidades
Autoria: Adriana Mayumi Kanomata
Leitura Crítica: Juliana Caramigo Gennarini

73
4. Imunidade Cultural e Teoria Geral das
Imunidades

4.1 Imunidade cultural

Art. 150.

Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à


União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:

[...]

VI. instituir impostos sobre:

[...]

d. livros, jornais, periódicos e o papel destinado a sua impressão. (BRASIL,


1988, art. 150)

Trata-se de imunidade cultural aquela destinada aos livros, jornais e


periódicos.

A imunidade prevista no art. 150, VI, d da Constituição Federal, deve


ser considerada como uma imunidade objetiva, que se destina aos
veículos de conhecimento e não aos responsáveis por eles, conforme
bem explica Hugo de Brito Machado: “A imunidade, aqui, é tipicamente
objetiva. Não importa a pessoa a quem pertença o livro, o jornal ou
periódico, ou o papel. Este último tem a imunidade condicionada à
destinação”.1

Por exemplo, se um templo religioso publicar um livro destinado


aos seus fiéis, será aplicado o benefício da imunidade, não incidindo
impostos como o ICMS e IPI. Nesse caso, a imunidade seria a imunidade
religiosa ou imunidade cultural? Neste exemplo, podemos dizer que a
1
MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. 23. ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2003, p. 266.

74
imunidade seria a cultural, considerando o caráter objetivo do privilégio
em tela. Assim, o benefício da imunidade está diretamente vinculado ao
bem, ao objeto, ou seja, ao livro e não à pessoa que produziu o livro (a
igreja, nesse caso).

A imunidade instituída pelo texto constitucional não limita ou nega o


benefício considerando o conteúdo divulgado nos livros, jornais ou
periódicos, sendo irrelevante a qualidade e valor cultural da informação
transmitida, como já se posicionou o Supremo Tribunal Federal:

CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. IMUNIDADE. ART. 150, VI, “D” DA CF/88.

“ÁLBUM DE FIGURINHAS”. ADMISSIBILIDADE. 1. A imunidade tributária


sobre livros, jornais, periódicos e o papel destinado à sua impressão tem
por escopo evitar embaraços ao exercício da liberdade de expressão
intelectual, artística, científica e de comunicação, bem como facilitar
o acesso da população à cultura, à informação e à educação. 2. O
Constituinte, ao instituir esta benesse, não fez ressalvas quanto ao
valor artístico ou didático, à relevância das informações divulgadas ou à
qualidade cultural de uma publicação. 3. Não cabe ao aplicador da norma
constitucional em tela afastar este benefício fiscal instituído para proteger
direito tão importante ao exercício da democracia, por força de um juízo
subjetivo acerca da qualidade cultural ou do valor pedagógico de uma
publicação destinada ao público infantojuvenil. 4. Recurso extraordinário
conhecido e provido. (RE 221239 / SP. Min. Rel. Ellen Gracie. DJ 06/08/2004)

Igualmente, não há limitação para a aplicação da imunidade para


esse ou aquele insumo, sendo o benefício direcionado para todos os
materiais necessários para a produção de livros, jornais e periódicos,
sendo beneficiado todo o processo de produção.

No que se refere aos livros, eles são destinatários da norma imunizante,


independentemente de seu conteúdo, ou seja, são afetados desde livros
didáticos até álbuns de figurinhas e seus respectivos adesivos.

75
Há, no entanto, discussão quanto à aplicação da imunidade aos
chamados livros eletrônicos, cuja matéria ganhou status de repercussão
geral perante o Superior Tribunal Federal.

Sobre o tema, existem duas correntes: uma que pretende a aplicação


restritiva e literal do art. 150, VI, d, da Constituição Federal, e outra que,
buscando equilibrar a legislação com o avanço tecnológico, entende
pela extensão da imunidade para uma gama maior de insumos. Existe
jurisprudência para ambas as correntes:

AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO. TRIBUTÁRIO.


IMUNIDADE TRIBUTÁRIA DO ART. 150, VI, D, DA CF. ABRANGÊNCIA. IPMF.
IMPOSSIBILIDADE. INTERPRETAÇÃO RESTRITIVA. AGRAVO IMPROVIDO. I
O Supremo Tribunal Federal possui entendimento no sentido
de que a imunidade tributária prevista no art. 150, VI, d, da
Constituição Federal deve ser interpretada restritivamente e que
seu alcance, tratando-se de insumos destinados à impressão
de livros, jornais e periódicos, estende-se, exclusivamente, a
materiais que se mostrem assimiláveis ao papel, abrangendo,
por consequência, os filmes e papéis fotográficos. Precedentes. II
A imunidade prevista no art. 150, VI, d, da Lei Maior não abrange
as operações financeiras realizadas pela agravante. III Agravo
regimental improvido. (RE nº 504.615-AgR/SP, Relator o Ministro
Ricardo Lewandowski, Primeira Turma, DJe de 19/5/11).

CONSTITUIÇÃO FEDERAL. Extraia-se da Constituição Federal, em


interpretação teleológica e integrativa, a maior concretude possível.
IMUNIDADE LIVROS, JORNAIS, PERIÓDICOS E O PAPEL ESTINADO A SUA
IMPRESSÃO ARTIGO 150, INCISO VI, ALÍNEA D, DA CARTA DA REPÚBLICA
INTELIGÊNCIA.

A imunidade tributária relativa a livros, jornais e periódicos é


ampla, total, apanhando produto, maquinário e insumos. A
referência, no preceito, a papel é exemplificativa e não exaustiva.

76
(RE nº 202.149/RS, redator do acórdão o Ministro Marco Aurélio,
DJe de 11/10/11).

No entanto, é fato que existe a necessidade da legislação acompanhar


o avanço tecnológico, reconhecendo que os livros eletrônicos e digitais
se tratam do mesmo bem (livro), com a mesma finalidade (disseminação
da cultura), mas que se apresenta em formato diferente daqueles
impressos em papel.

No entanto, é inegável que a função de veicular o conhecimento, ideias,


pensamentos e os mais variados tipos de informação à população em
geral encontra-se presente.

Em relação aos jornais, a imunidade não faz distinção entre jornais


regionais, nacionais, de grande circulação ou de circulação restrita.
Entende-se que a função cultural é a mesma, sendo tratados de forma
isonômica.

Os periódicos não fogem às regras acima indicadas, seja em relação ao


conteúdo, seja em relação à abrangência de sua circulação, atingindo,
inclusive, periódicos destinados a públicos específicos, como classes
profissionais, público religioso, infantil etc.

PARA SABER MAIS


Ponto que merece destaque foi é o tratamento que o Supremo
Tribunal Fede- ral dá à lista telefônica (RE 199.183). Decerto que
funciona como veículo que não traz exatamente conteúdo noticioso
ou poético, contudo para o Tribunal a lista telefônica é equiparada a
periódico e sua utilidade pública já bastou para merecer o benefício
constitucional.

O papel, como insumo para impressão, é protegido pela imunidade,


abrangendo, inclusive seus assemelhados (como papéis fotográficos,

77
papel para jornal, papel couchê, papel offset etc.), lembrando que todos
devem se destinar sempre à impressão.

Nesse sentido, segue abaixo o posicionamento consagrado pelo


Supremo Tribunal:

EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO.


IMUNIDADE. IMPOSTOS. LIVROS, JORNAIS E PERIÓDICOS. ART. 150,
VI, “D”, DA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL. INSUMOS. O Supremo Tribunal
Federal fixou entendimento no sentido de que a garantia constitucional
da imunidade tributária inserta no art. 150, VI, “d”, da Constituição do
Brasil, estende-se, exclusivamente – tratando-se de insumos destinados
à impressão de livros, jornais e periódicos – a materiais que se mostrem
assimiláveis ao papel, abrangendo, em consequência, para esse efeito, os
filmes e papéis fotográficos. Precedentes. Agravo regimental a que se nega
provimento. (RE 495385 AgR / SP. Min. Rel. Eros Grau. DJe 200. Publicado
em 23/10/2009)

O processo de produção de livros, jornais e periódicos, é bem complexo


e envolve a utilização de inúmeros equipamentos e insumos cuja
aplicação da imunidade foi levada à discussão perante nossos tribunais.
Por exemplo, filmes utilizados para produção da capa do livro estão
protegidos pelo benefício. Já as tintas para impressão e os encartes de
propaganda incluídos nos jornais não recebem o benefício.

Vale aqui informar que a imunidade cultural atinge apenas a


comercialização dos livros, jornais e periódicos, mas a renda obtida com
referida comercialização deverá ser tributada.

Por exemplo: sobre a venda de um livro não incidirá o ICMS, o IPI e o


Imposto de Importação em caso de livros trazidos do exterior, ou seja,
tributos que são vinculados à comercialização. No entanto, a renda
auferida com a venda do livro estará submetida ao imposto de renda.

78
Assim, a análise da imunidade deve ser feita de forma objetiva, atingindo
apenas os tributos relacionados diretamente ao bem, excluindo-se os
impostos que recaem sobre os responsáveis por produzi-los.

4.2 Teoria geral das imunidades

O termo imunidade tem origem na palavra latina imunitas, que


significa livre no munus, da obrigação.

Assim, quem está submetido à imunidade está liberado de algum tipo


de ônus, tratando-se, assim, de um privilégio.

A imunidade é, como os princípios, uma limitação ao poder de


tributar, cuja previsão é exclusiva da Constituição Federal, ou seja,
nenhuma regra infraconstitucional pode se revestir de norma
imunizante.

A imunidade pode ter caráter subjetivo ou objetivo. O primeiro


refere-se à imunidade que leva em consideração a pessoa
beneficiada, como é o caso das igrejas e partidos políticos.

O segundo refere-se diretamente à finalidade que se pretende atingir,


vinculando o benefício ao bem ou direito que se pretende proteger,
como, por exemplo, o direito à liberdade de expressão e os jornais e
periódicos.

As imunidades previstas na Constituição Federal não foram lá


colocadas sem qualquer motivo aparente. Elas buscam ressaltar
a necessidade de observância dos direitos e garantias individuais,
sendo possível assegurar, por exemplo, o direito à educação, cultura,
à liberdade religiosa etc.

79
Por exemplo, o legislador concedeu a imunidade às igrejas e templos
para garantir o incentivo aos cultos de todos os tipos. Buscando
apoiar e incentivar a cultura a educação, ele inseriu no texto
constitucional a imunidade aos livros, jornais e periódicos, evitando,
assim, que a tributação pudesse representar alguma dificuldade no
exercício daqueles direitos fundamentais.

Conforme conceito de Hugo de Brito Machado, “é possível dizer que a


imunidade é uma forma qualificada de não incidência. Realmente, se
há imunidade, a lei tributária não incide, porque é impedida de fazê-lo
por norma superior, vale dizer, pela norma da Constituição”.2

Os princípios funcionam como diretrizes ao poder de tributar, e


norteiam o legislador quanto à instituição e cobrança dos tributos. A
imunidade, por sua vez, impede a tributação, sendo hipótese de não
incidência, de impossibilidade de qualquer ente político, por maior
que seja a sua competência, de atingir através da tributação uma
situação classificada como imune.

Sob o manto da imunidade há impedimento que a lei defina


como hipóteses de incidência tributária aquilo que a Constituição
determinou ser imune.

A Constituição Federal, em seu art. 150, VI, elencou as imunidades:

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte,


é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:

[...]

V. instituir impostos sobre:

2
MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. 23. ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2003, p. 214.

80
a. patrimônio, renda ou serviços, uns dos outros;
b. templos de qualquer culto;
c. patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos, inclusive
suas fundações, das entidades sindicais dos trabalhadores, das
instituições de educação e de assistência social, sem fins lucrativos,
atendidos os requisitos da lei;
d. livros, jornais, periódicos e o papel destinado a sua impressão.
e. fonogramas e videofonogramas musicais produzidos no Brasil
contendo obras musicais ou literomusicais de autores brasileiros e/
ou obras em geral interpretadas por artistas brasileiros, bem como
os suportes materiais ou arquivos digitais que os contenham, salvo
na etapa de replicação industrial de mídias ópticas de leitura a
laser.

Verificamos que não há sequer nascimento da obrigação fiscal em


relação às hipóteses acima transcritas, pois houve vedação à criação
do imposto.

Conforme se estudará adiante, as imunidades previstas na


Constituição devem ser interpretadas buscando-se a finalidade do
legislador constituinte ao estabelecer aquele benefício.

Bem colocou Leandro Paulsen:

É comum colocarem-se divergências sobre o critério para interpretação


das imunidades, se ampliativo ou restritivo. Em verdade, porém, não é
dado ao aplicador nem estender nem restringir a norma imunizante, e sim
perscrutar seu efetivo alcance tendo em conta todo o ordenamento e as
circunstâncias do caso concreto.3

3
PAULSEN, Leandro, Direito Tributário, Constituição e Código Tributário à Luz da Doutrina e da Jurispru-
dência. 9. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2007, p. 237.

81
4.3 Diferença entre imunidades, isenções, não
incidência e alíquota zero

Os institutos da imunidade, isenção e alíquota zero se assemelham


no resultado (não recolhimento do tributo), mas possuem conceitos
diferentes.

Como já mencionado, a imunidade é um impedimento


constitucionalmente previsto, ou seja, as hipóteses de imunidade estão
descritas exclusivamente no texto da Carta Maior, não podendo ser
abolidas sequer por emendas constitucionais.

As isenções, por sua vez, são exceções à lei tributária, previstas através
de normas infraconstitucionais. Diferentemente da imunidade, é
possível sua revogação através de lei.

Em ambos os casos – imunidade e isenção –, não há a ocorrência do fato


gerador e, consequentemente, não há a obrigação tributária em si.

A não incidência é “a ausência de subsunção do fato imponível ao conceito


descrito na hipótese de incidência, ou seja, o acontecimento fático não
corresponde à descrição legal com perfeição; faltam elementos para a
tipicidade”.4

Ocorre, portanto, nos casos em que o fato ocorrido não possui as


qualidades necessárias para sofrer a incidência do tributo, ou seja, não
é tributado por insuficiência de requisitos autorizadores da incidência, e
não por se tratar de hipótese de imunidade ou isenção.

Não há, igualmente, a ocorrência do fato gerador.

No caso da alíquota zero, instituída em lei, há a ocorrência do fato


gerador do tributo, surge a obrigação tributária e o não pagamento
ocorre justamente da aplicação da alíquota zero sobre a base de cálculo.
4
SABBAG, Eduardo de Moraes. Direito Tributário. 3. ed. São Paulo: Siciliano Jurídico, 2003, p. 40.

82
Podemos ilustrar as diferenças da seguinte forma:

A utilização da alíquota zero pode ser interessante ao ente tributante, ao


regulamentar tributos que são exceção ao princípio da legalidade.

Por exemplo, a União, para estimular determinado setor da economia,


reduz as alíquotas do imposto de exportação (que é uma exceção ao
princípio da legalidade), instituindo a alíquota zero através de decreto
(art. 153, § 1º, CF). Caso esse benefício fosse operado através de isenção,
essa deveria ser instituída exclusivamente através de lei (art. 176 do
CTN).

4.4 Tributos abrangidos pela imunidade

A Constituição Federal não vincula a imunidade a todos os tributos do


Sistema Tributário Nacional.

Como se sabe, temos cinco espécies tributárias: impostos, taxas,


contribuições de melhoria, empréstimos compulsórios e contribuições
especiais.

83
O artigo 150, VI da Carta Magna veda expressamente a instituição de
impostos. No entanto, é fato que existem imunidades que versam sobre
impostos, outras que vedam a incidência de taxas, e outras que se
referem às contribuições.

A imunidade de taxas está prevista no art. 5º, XXXIV, a, CF: “a todos da


população é assegurado o direito de petição aos Poderes Públicos em
defesa de direitos, independentemente do pagamento de taxas”.

A imunidade quanto a contribuições sociais e contribuições de


intervenção no domínio econômico encontra-se no art. 149, § 2º, I, CF:
“não incidem contribuições sociais e contribuições de intervenção no
domínio econômico sobre as receitas decorrentes de exportação”.

A maior parte das imunidades, porém, refere-se a impostos. Exemplos:


não se incide IPI sobre produtos manufaturados destinados ao exterior;
não se incidem impostos sobre o patrimônio da União.

Por outro lado, a Constituição Federal não prevê imunidades para


contribuições de melhoria ou empréstimos compulsórios. Para essas,
caso haja alguma hipótese de não incidência, será decorrente de lei
(isenções) e não por vontade do legislador constitucional.

Destarte, as imunidades, como hipóteses de não incidência


constitucionalmente qualificadas, não abrangem todas as espécies de
tributos, havendo no corpo do texto constitucional a indicação específica
do que pretende imunizar.

VAMOS PENSAR

A imunidade concedida aos livros tomou inúmeras vertentes


perante os nossos tribunais. Como a sua produção demanda

84
diversos insumos e maquinários, questionou-se perante
os tribunais o que (papel, tinta, máquinas etc) deveria
ser atingido pela norma imunizante. Assim, faça uma
comparação com os fundamentos utilizados no Supremo
Tribunal Federal sobre partes específicas utilizadas na
confecção dos livros. Como parâmetros, podemos indicar
os seguintes julgamentos no STF: RE 202.149 (produto,
maquinário e insumos); RE 392.221 (filmes destinados
à produção de capas de livros); e RE 221.239 (álbuns
de figurinhas e os respectivos cromos adesivos). Não
reconhecendo a imunidade, temos: RE 213.094 (encartes de
propaganda distribuídos com jornais e periódicos) e AgR-
RE 530.121 (serviços prestados por empresas que fazem o
transporte ou a entrega de livros, jornais, periódicos e do
papel destinado a sua impressão).

PONTUANDO

• Finalidade e extensão na imunidade cultural.

• Caráter objetivo da imunidade para livros, jornais e periódicos.

• Conceito e função das imunidades.

• Diferença entre imunidade, isenção, não incidência e alíquota zero.

GLOSSÁRIO

Munus: palavra latina que significa encargo, ônus, dever ou função.

85
VERIFICAÇÃO
de leitura

Questão 1 INDIQUE A ALTERNATIVA CORRETA

Tratando-se de imunidade tributária, é correto afirmar que:

a. não se aplica às taxas e contribuições sociais;


b. pode ser instituída por intermédio de lei complementar;
c. é norma constitucional que colabora no desenho das
competências impositivas;
d. é extensiva aos partidos políticos, no que se refere ao patrimônio,
à renda e aos serviços vinculados ou não a suas finalidades
essenciais.
e. pode ser instituída por lei ordinária.

Questão 2 INDIQUE A ALTERNATIVA CORRETA

Empresa sujeita à imunidade tributária está desobrigada de adimplir ou


cumprir:

a. as obrigações acessórias, nos termos do inciso III, art. 14, do CTN:


b. as obrigações principais, nos termos da Constituição Federal;
c. tanto as obrigações principais quanto as acessórias, nos termos da
Constituição Federal;
d. a imunidade não desobriga o contribuinte nem das obrigações
principais e nem das obrigações acessórias.
e. apenas as obrigações principais federais.

86
Questão 3 INDIQUE A ALTERNATIVA CORRETA

A imunidade tributária:

a. pode vir definida em lei ou na Constituição Federal, mas nunca em


decreto;
b. para ser concedida depende de requerimento do interessado à
autoridade administrativa competente;
c. pode ser criada por lei do ente competente para instituir o tributo,
podendo ser em caráter geral ou em caráter específico;
d. é prevista na Constituição Federal, que fixa as hipóteses de
incompetência para o ente instituir o tributo nas situações por ela
definidas;
e. é prevista na Constituição Federal, mas sua aplicação depende
sempre de despacho de autoridade administrativa fiscal
competente que reconheça a não incidência.

Questão 4 INDIQUE A ALTERNATIVA CORRETA

Sobre imunidade e isenção, analise os itens a seguir:

I. A Constituição Federal assegura isenção no pagamento de


taxa para obtenção de certidões em repartições públicas e
privadas que prestam serviço público, para defesa de direitos e
esclarecimento de situações de interesse pessoal.
II. A imunidade sobre o templo de qualquer culto apenas alcança os
impostos, sendo de- vidas, portanto, as taxas e contribuição de
melhoria incidentes sobre o imóvel destinado ao templo.
III. Há isenção de imposto sobre comercialização de livro, jornal,
periódico e sobre a comercialização de papel destinado à
impressão desses produtos.
IV. Possui imunidade de contribuição social para seguridade
social a entidade beneficente de assistência social que atenda

87
às exigências estabelecidas em lei sobre a folha de salários e
demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer
título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo
empregatício.

Está correto o que se afirma APENAS em:

a. I, II e III;
b. II, III e IV;
c. I e II;
d. II e IV;
e. I e III.

Questão 5 INDIQUE A ALTERNATIVA CORRETA

A imunidade em relação a livros, jornais e periódicos se refere a:

a. impostos, apenas;
b. tributos;
c. contribuições sociais;
d. impostos e contribuições especiais;
e. impostos e taxas.

REFERÊNCIAS

MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. 23. ed. São Paulo: Malheiros
Editores, 2003.
PAULSEN, Leandro. Direito Tributário, Constituição e Código Tributário à Luz da
Doutrina e da Jurisprudência. 9. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2007.
SABBAG, Eduardo de Moraes. Direito Tributário. 3. ed. São Paulo: Siciliano Jurídico,
2003. SCHOUERI, Luís Eduardo. Direito Tributário. São Paulo: Saraiva, 2011.

88
GABARITO

Questão 1

Resposta: Alternativa C.

Resolução: A imunidade somente pode ser instituída pela


Constituição Federal, limitando a competência e poder de tributar dos
entes federados, elencando as hipóteses que estarão fora do campo
da incidência.

Questão 2

Resposta: Alternativa B.

Resolução: Os destinatários da imunidade estão liberados


exclusivamente do pagamento, em regra, de impostos. A Carta Magna
não afastou a obrigação de apresentar declarações, por exemplo.

Questão 3

Resposta: Alternativa D.

Resolução: A imunidade pode ser prevista exclusivamente na Carta


Magna, que prevê as hipóteses em que será vedada a instituição de
impostos pelos entes federados.

Questão 4

Resposta: Alternativa D.

Resolução: Nessa questão, é importante atentar para a diferença


entre imunidade (matéria constitucional) e isenção (instituída em

89
lei), que são institutos diferentes. Assim sendo, apenas os itens II
e IV utilizaram de forma correta os termos, descrevendo hipóteses
pertinentes à imunidade e constitucionalmente previstas.

Questão 5

Resposta: Alternativa A.

Resolução: O texto constitucional apenas prevê a imunidade de


impostos para livros, jornais e periódicos.

90
BONS ESTUDOS!

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