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Por:Ricardo Barboza e Conrado Leiras Matos

16:08 29/11/2018

5 PROPOSTAS PARA A EDUCAÇÃO NO BRASIL

A educação é um dos principais determinantes do desenvolvimento econômico. Essa


afirmação deriva de análises empíricas bastante robustas. Não importa o período amostral;
não importa o conjunto considerado de países (desenvolvidos e/ou em desenvolvimento);
não importa se há ou não outras variáveis de controle nas regressões. Uma educação de
qualidade parece ser sempre crucial para explicar o crescimento de longo prazo, como
sinaliza estudo de Hanushek e Woessmann (2010).
A educação também é importante para o desenvolvimento social. Além de beneficiar as
pessoas diretamente atendidas, a educação pode gerar externalidades positivas para a
sociedade, como: reduzir a criminalidade, aumentar a consciência política (melhorando a
democracia), reduzir a ocorrência de gravidez indesejada, conscientizar a população em
relação a vícios, melhorar a comunicação interpessoal, dentre outros benefícios que,
segundo Barbosa-Filho e Pessoa (2010 - PDF - 0,3 MB), podem fazer com que a taxa de
retorno social da educação supere a taxa de retorno privado.

QUALIDADE DA EDUCAÇÃO NO BRASIL


Existe ampla evidência de que a qualidade da educação no Brasil é deficient e. Na
última avaliação internacional do Pisa, em 2015, ficamos em 63º lugar em um ranking de 70
países. Além da média das notas brasileiras ser muito baixa, sua distribuição é ainda pior:
há um percentual enorme (70%) de jovens com desempenho insatisfatório (níveis < 2) e um
percentual bastante reduzido (1%) de jovens com desempenho de excelência (níveis > 4) –
ver Gráfico 1.
Gráfico 1 - Distribuição das Notas do PISA de Matemática (2015) em países
selecionados

Nos últimos 40 anos, o país conseguiu colocar quase todas as crianças na escola, sobretudo
no ensino fundamental (taxa líquida de matrícula é de 96,5%), aumentando a escolaridade
da população. No entanto, esse aumento não se traduziu em ganhos de produtividade para
o país, ao contrário do observado em outras nações. A baixa qualidade da educação é o
principal fator explicativo para este mau desempenho, como apontam Woessmann e
Hanushek (2012 - PDF - O,6 MB).

Gráfico 2 - Anos de estudo vs. produtividade do trabalho no Brasil e em países


selecionados

COMO LIDAR COM O PROBLEMA DA BAIXA QUALIDADE DA EDUCAÇÃO?


Após ampla reflexão interna, amparada por contribuições de diversas instituições ligadas à
temática da educação e de especialistas das esferas pública, privada e do terceiro setor, o
BNDES chegou a um diagnóstico sobre questões fundamentais que precisam ser
enfrentadas para melhorar a educação no país e que podem orientar a atuação do BNDES
- a exemplo do que foi apresentado no Seminário Educação e Produtividade, com o
pesquisador Ricardo Paes de Barros.
São elas:
1) gestão deficiente das redes de educação básica (que compreende a educação infantil e
os ensinos fundamental e médio);
2) baixo uso de tecnologias digitais na educação, como ferramenta pedagógica e de gestão,
sobretudo nos segmentos de ensino fundamental e médio;
3) lacunas na formação do corpo docente; e
4) baixa atratividade do ensino médio e desafios da reforma e da implementação da Base
Nacional Comum Curricular (BNCC), incluindo formação técnica e profissionalizante.
Um estudo recém-lançado pelo Banco Mundial, intitulado Realinhando Políticas
Educacionais (PDF - 3,6 MB), que investiga as causas do baixo aprendizado no Brasil,
apresentou conclusões similares.
Dado o diagnóstico, é fundamental formular ações bem-desenhadas e ter capacidade para
implementá-las de forma efetiva, não bastando apenas boas intenções.
Um primeiro passo é aprender com as experiências de sucesso. Diversas intervenções que
se mostraram efetivas em países em desenvolvimento podem servir de exemplo. O
estudo Melhorando os Resultados Educacionais em Países em Desenvolvimento: lições de
avaliações rigorosas (PDF - 0,3 MB) resume as lições aprendidas em 223 avaliações de
impacto em 56 países emergentes.
Além disso, há experiências bem-sucedidas no próprio país, de municípios que fizeram
avanços na área educacional. As cidades de Sobral e Brejo Santo, no Ceará, possuem
escolas públicas com desempenho superior à média das escolas privadas de São Paulo
nas avaliações do IDEB, que podem ser analisadas e replicadas em outras localidades.

O QUE O BNDES PODE FAZER PARA MELHORAR A QUALIDADE DA


EDUCAÇÃO NO BRASIL?
Em vários países, bancos de desenvolvimento atuam no estímulo ao mercado de educação,
tanto pelo lado da oferta – ampliando a disponibilidade e a qualidade da educação, quanto
pelo lado da demanda – concedendo financiamento estudantil.
O BNDES dispõe de uma rica base de aprendizado para nortear uma atuação mais
expressiva na área. Os desafios passam por reforçar o papel do Banco como indutor de
investimentos qualificados, articulador de parcerias entre atores estratégicos e promotor do
adensamento de conhecimento.
As cinco propostas apresentadas a seguir, baseadas nessas premissas, poderiam triplicar a
participação do setor de educação nos desembolsos do Banco nos próximos anos. Trata-
se de uma boa oportunidade para avançar em um assunto crucial para o desenvolvimento
econômico e social do país.

1ª PROPOSTA: FUNDO BNDES EDUCAÇÃO


Criar um fundo para captar recursos (públicos e privados) para aplicação em iniciativas com
alto potencial de efetividade (evidence-based policymaking). Esse fundo poderia ser criado
sob uma estrutura de organização da sociedade civil de interesse público (Oscip) ou como
um fundo contábil com CNPJ próprio.
A estruturação de um fundo permite uma atuação mais célere do que as formas de apoio
mais tradicionais, o que o torna mais compatível com a urgência do tema da educação. O
BNDES já tem experiências de sucesso como gestor técnico e financeiro de fundos de
terceiros, além de interlocução e diálogo com diversas empresas (possíveis investidores).
Uma possibilidade de aplicação dos recursos é a promoção de prêmios que recompensem
os professores que conseguirem aumentar o desempenho dos alunos em avaliações
externas à escola. Diversos estudos mostram que estimular o desempenho dos professores
por meio de premiações condicionadas à melhora do aprendizado aumenta o aprendizado
dos alunos em contextos onde as condições de ensino são deficientes.

2ª PROPOSTA: APOIO CONDICIONADO À GESTÃO POR RESULTADOS


Condicionar o financiamento do BNDES a estados e municípios à implementação de gestão
por resultados nas escolas e nas redes de ensino. Estados e municípios têm sido clientes
cada vez mais frequentes no BNDES, com participação média de 6% nos desembolsos entre
2009 e 2017.
Há evidências de que a prática de gestão por resultados pode ter boa relação efetividade-
custo. Redes escolares que se saem melhor nos indicadores de aprendizagem são as que
usam dados para acompanhar o aprendizado dos alunos ao longo do ano e planejar as
aulas, bem como os horários mais adequados para o ensino; usam métodos de
monitoramento das atividades feitas por professores; estabelecem metas de aprendizagem;
e usam algum tipo de premiação para bons professores. São ações simples de serem
tomadas e com alto potencial de retorno.

3ª PROPOSTA: RECURSOS NÃO REEMBOLSÁVEIS ESCALÁVEIS


Utilizar recursos não reembolsáveis para um pequeno conjunto de iniciativas que superem
pontos fracos do sistema de ensino, buscando incentivar saltos de qualidade, induzir e
disseminar comportamentos, melhores práticas e ações inovadoras.
A proposta contemplaria ações de monitoramento e avaliação garantindo transparência,
aprendizado institucional e geração de novas operações dando continuidade ou ampliando
a escala dos projetos testados, de forma ainda mais efetiva. O apoio não necessariamente
será restrito a operações não reembolsáveis, podendo ser efetivado em um segundo
momento por meio de operações de financiamento.
A Chamada Pública BNDES Educação Conectada é um exemplo desse tipo de ação, a que
podem se somar iniciativas estruturantes como projetos de aprimoramento da gestão das
redes de ensino, de formação de professores e de inserção da tecnologia como ferramenta
pedagógica.
O apoio não necessariamente será restrito a operações não reembolsáveis, podendo ser
efetivado, em um segundo momento, por meio de operações de financiamento (o que
explica o uso do termo “recursos escaláveis”).

4ª PROPOSTA: PROJETOS DE EDUCAÇÃO PARA ESTADOS E MUNICÍPIOS


Estruturar, ofertar e financiar projetos educacionais a estados e municípios com avaliação
de impacto posterior, a partir da expertise em elaboração de projetos e em monitoramento
e avaliação já adquirida pelo BNDES e de diagnósticos baseados em
experiências benchmark e nas evidências disponíveis. Para o sucesso da proposta, julga-se
fundamental o trabalho conjunto com os gestores locais de educação (secretarias estaduais
e municipais).
Exemplo: Financiar investimentos integrados nas redes de ensino com objetivo de: (i)
aperfeiçoar os instrumentos de gestão; (ii) aprimorar os planos e práticas pedagógicas; (iii)
melhorar a infraestrutura física; e (iv) reforçar a formação dos profissionais de educação.
Parcerias entre estados e municípios de menor porte devem ser estudadas.

5ª PROPOSTA: APOIO À REFORMA DO ENSINO MÉDIO


Financiar os investimentos necessários para adequação das redes estaduais de ensino às
mudanças previstas pela reforma do ensino médio, que envolvem a remodelagem para
oferta de cinco diferentes itinerários formativos aos alunos, com destaque para o ensino
técnico e profissionalizante.
Exemplos de atuação possíveis nesse sentido seriam o apoio à gestão do novo modelo,
além de financiamento para o investimento e ação nos cinco eixos estruturantes: construção
da base curricular, desenvolvimento dos itinerários formativos, infraestrutura, formação dos
professores e dos demais profissionais e preparação de material didático.
O Banco poderá contribuir como articulador de parcerias estratégicas, envolvendo
especialistas e instituições com reconhecida atuação no tema para apoio ao desenho e
execução dos projetos.

* Ricardo Barboza é economista formado pela UFRJ, mestre em Macroeconomia e


Finanças pela PUC-Rio e mestre em Economia da Indústria e da Tecnologia pela UFRJ. É
gerente do Departamento de Pesquisa Econômica da Área de Planejamento do BNDES,
além de professor colaborador de macroeconomia da COPPEAD e membro do Grupo de
Conjuntura Econômica da UFRJ. Twitter: @menezes_barboza

* Conrado Leiras Matos é engenheiro formado pela UFRJ, com graduação sanduíche pela
Supélec - França. Atua como gerente do Departamento de Educação e Cultura da Área de
Gestão Pública e Socioambiental do BNDES.

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