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EXCELENTÍSSIMO SENHOR MINISTRO LUIZ FUX, PRESIDENTE DO EGRÉGIO

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

OMAR JOSÉ ABDEL AZIZ, Senador da República, Presidente da CPI da Pandemia, com
endereço profissional na Praça dos Três Poderes, Palácio do Congresso Nacional, Senado Federal,
Anexo 2, Ala Filinto Müller, Gabinete 01;
RANDOLPH FREDERICH RODRIGUES ALVES, Senador da República, Vice-Presidente da
CPI da Pandemia, com endereço profissional na Praça dos Três Poderes, Palácio do Congresso
Nacional, Senado Federal, Anexo I, 9º andar;
JOSÉ RENAN VASCONCELOS CALHEIROS, Senador da República licenciado, Relator da
CPI da Pandemia;
HUMBERTO SÉRGIO COSTA LIMA, Senador da República, membro titular da CPI da
Pandemia, com endereço profissional na Praça dos Três Poderes, Palácio do Congresso Nacional,
Senado Federal, Anexo 2, Ala Ruy Carneiro, Gabinete 01;
TASSO RIBEIRO JEREISSATI, Senador da República, membro titular da CPI da Pandemia, com
endereço profissional na Praça dos Três Poderes, Palácio do Congresso Nacional, Senado Federal,
Anexo 1, 14º andar;
FABIANO CONTARATO, Senador da República, com endereço profissional na Praça dos Três
Poderes, Palácio do Congresso Nacional, Senado Federal, Anexo 2, Ala Affonso Arinos, Gabinete
06;
OTTO ROBERTO MENDONÇA DE ALENCAR, Senador da República, com endereço
profissional na Praça dos Três Poderes, Palácio do Congresso Nacional, Senado Federal, Anexo 2,
Ala Teotônio Vilela, Gabinete 09;
vêm, por intermédio de sua advogada, na qualidade de terceiro interessado, e com fundamento no
art. 5º, XXXIV, “a”, da Constituição Federal, apresentar PEDIDO em face de atos praticados por.
ANTÔNIO AUGUSTO BRANDÃO DE ARAS, Procurador-Geral da República, e por
LINDORA MARIA ARAÚJO, Vice-Procuradora-Geral da República e Coordenadora do Grupo
de Trabalho para Operações Criminais no STF, em razão do possível cometimento do crime de
prevaricação, como se passa a sucintamente expor.
1. DO FATO A SER NOTICIADO

Foi tornado público pela imprensa no dia de ontem (25) o pedido de arquivamento de 7 das
10 apurações preliminares sobre o presidente Jair Bolsonaro, ministros e ex-ministros do governo
abertas a partir das conclusões da CPI da Covid1:

PGR pede ao STF arquivamento de apurações sobre Bolsonaro e ministros


abertas com base na CPI da Covid

Procuradoria defendeu arquivar apurações das acusações da CPI de charlatanismo,


prevaricação, infração de medida sanitária, uso irregular de verba e epidemia com
resultado de morte.

Por Fernanda Vivas e Márcio Falcão, TV Globo — Brasília

25/07/2022 15h23 Atualizado há 10 horas

A Procuradoria-Geral da República pediu nesta segunda-feira (25) ao Supremo


Tribunal Federal (STF) o arquivamento de sete das dez apurações preliminares
sobre o presidente Jair Bolsonaro, ministros e ex-ministros do governo abertas a
partir das conclusões da CPI da Covid.

Como cabe à Procuradoria-Geral o pedido de abertura de inquéritos e ações penais,


a praxe no Supremo — em caso de solicitações de arquivamento — é atender à
PGR.

Dessas apurações cujo arquivamento foi solicitado, em cinco a comissão


parlamentar de inquérito pedia o indiciamento de Bolsonaro, acusado dos crimes de
charlatanismo, prevaricação, infração de medida sanitária preventiva, emprego
irregular de verba pública e epidemia com resultado de morte.

A PGR também pediu o arquivamento de apurações que envolviam os ministros


Marcelo Queiroga (Saúde) e Wagner Rosário (Controladoria-Geral da União); o
líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR); os ex-ministros
Eduardo Pazuello (Saúde) e Braga Netto (Casa Civil); Élcio Franco e Hélio Angotti
Netto (ex-secretários do Ministério da Saúde), Heitor Abreu (ex-assessor da Casa
Civil) e o deputado Osmar Terra (MDB-RS).

No relatório final, a CPI acusou Bolsonaro de ter cometido nove crimes. Ao pedir
os arquivamentos, a PGR concluiu não haver indícios das práticas desses crimes.

Ricardo Barros também teve o indiciamento pedido pela CPI, acusado de


irregularidades na compra de vacinas. Mas essa apuração já havia sido arquivada
em junho.

Com isso, das dez apurações abertas com base nas conclusões da CPI, oito já foram
arquivadas.

1
Disponível em:
<https://g1.globo.com/politica/noticia/2022/07/25/pgr-pede-ao-supremo-para-arquivar-apuracao-da-cpi-da-covid-sobre-
bolsonaro.ghtml?utm_source=whatsapp&utm_medium=share-bar-mobile&utm_campaign=materias>. Acesso em
26/07/2022.
Em sua manifestação, a vice-procuradora-geral da República, Lindôra Araújo,
afirmou que as convicções da CPI foram "políticas" e não podem ser transportadas
para a área jurídica "de forma automática".

A PGR lista uma série de pontos em relação aos quais não vê como responsabilizar
Bolsonaro, conforme apontou a CPI.

Entre os episódios estão a contaminação do governador do Acre Gladson Cameli


após visita de Bolsonaro, o não uso de máscara pelo presidente e o aumento da
ocupação de leitos hospitalares do Estado do Acre de 88,7% para 96,2%.

“Inúmeras pessoas contaminadas nem sequer tiveram contato direto ou indireto


(por meio de terceiras pessoas) com o Presidente da República, afastando a
possibilidade de responsabilização por esse fato. A correlação tecida no Relatório
Final entre a presença do Presidente da República e o aumento de casos de
Covid-19 nos locais visitados é frágil, sem constatação em dados elementares,
como a identificação dos pacientes internados e o contato direto ou indireto deles
com pessoas que se aglomeraram em razão da presença de Jair Messias
Bolsonaro”, diz o texto assinado pela vice-procuradora.

Para a PGR, a responsabilização penal dependeria da comprovação de que foi a


conduta do presidente da República, por ocasião dos fatos, que ofendeu a saúde
coletiva.

“No caso em análise, frise-se, a norma que impõe o uso de máscara protetiva e que
teria sido descumprida pelo Presidente da República somente prevê sanção de
multa como mecanismo de coerção ao cumprimento da obrigação, não ressalvando
a aplicação cumulativa da sanção penal”, diz o texto.

Lindôra Araújo defendeu a pena administrativa para quem não usa máscara,
embora uma lei federal de 2020 obrigasse o uso de máscara para circulação em
espaços públicos e privados e em vias e transportes públicos.

“No campo socialmente agudo de uma pandemia, a norma editada pelo Poder
Legislativo previu unicamente a sanção administrativa de multa como instrumento
para compelir os cidadãos ao uso de máscara". Segundo ela, "é suficiente a
penalidade administrativa contra aquele que desobedece a norma que impõe o uso
de máscara”.

De acordo com a vice-procuradora, "quanto às aglomerações, o acúmulo de pessoas


não pode ser atribuído exclusiva e pessoalmente ao Presidente da República. Todos
que compareceram aos eventos noticiados, muito embora tivessem conhecimento
suficiente acerca da epidemia de Covid-19, responsabilizaram-se,
espontaneamente, pelas eventuais consequências da decisão tomada".

Os argumentos da PGR

Leia abaixo uma síntese da argumentação da PGR ao fazer os pedidos de


arquivamento:

Pedido de investigação de Bolsonaro por infração de medida sanitária


preventiva - A PGR afirmou que não é possível considerar criminosa a conduta de
quem, no contexto da epidemia da Covid-19, deixa de usar máscara de proteção
facial.

Pedido de investigação de Bolsonaro e Pazuello por emprego irregular de


verba pública - "Quando da imputação apresentada pela Comissão Parlamentar de
Inquérito, o crime é atribuído não por terem verbas sido aplicadas em destinação
diversa da estabelecida em lei, mas sim por terem sido aplicadas em suposto
desacordo com as orientações científicas vigentes à época, o que não preenche o
tipo penal para fins de imputação criminal do delito de emprego irregular de verbas
públicas".

Pedido de investigação de Bolsonaro por charlatanismo - "Os fatos apontados


pela CPI ocorreram em um contexto emergencial, de pandemia, em que, assim
como apresentado no próprio Relatório da Comissão, havia urgência no combate à
doença, cujo tratamento ainda não existia (seja por medicamentos ou vacina). Tal
cenário levou à necessidade da adoção de medidas excepcionais, voltadas ao
enfrentamento da epidemia nacional [...]. A partir dos elementos de informação
colacionados aos autos, depreende-se que todos os fatos foram exaustivamente
analisados e deles não se pode concluir pela prática de ato ilícito pelo Presidente da
República Jair Messias Bolsonaro no âmbito criminal".

Pedido de investigação de Bolsonaro, Queiroga, Braga Netto, Pazuello, Elcio


Franco, Helio Angotti, Heitor Abreu e Osmar Terra por epidemia com
resultado morte - "As narrativas apresentadas e os elementos de prova angariados
no inquérito parlamentar não foram capazes de confirmar a presença das
elementares típicas do crime de epidemia majorado pelo resultado morte" [...]
Segundo a PGR, "ainda que se possa eventualmente discordar de medidas políticas
e/ou sanitárias que tenham sido adotadas, nenhum deles propagou germes
patogênicos".

Pedido de investigação de Bolsonaro, Pazuello, Elcio Franco e Queiroga por


prevaricação - "Não há elementos de informação mínimos de materialidade do
crime de prevaricação em relação aos aludidos indiciados. Ao que tudo indica, a
CPI da Pandemia concluiu por indiciar os requeridos com base em suposta inércia
genérica dos indiciados no que diz respeito à tomada de providências acerca das
mencionadas irregularidades. Todavia, não descreveu e comprovou quaisquer
deveres funcionais que pudessem ter sido violados pelos agentes públicos."

Pedido de investigação de Wagner Rosário por prevaricação - "No caso sob


análise, verifica-se que não se especifica, no documento produzido pela Comissão
Parlamentar de Inquérito, qual ato de ofício teria deixado de ser cumprido,
tampouco qual interesse ou sentimento pessoal seria satisfeito".

Pedido de investigação de Ricardo Barros por formação de organização


criminosa - "O que se tem, nos autos, são meras hipóteses criminais, levantadas
em razão de uma suposta fala – ressalte-se, não confirmada – do Presidente da
República, e de uma emenda à Medida Provisória 1.026/21 apresentada pelo
representado, tudo aliado a uma suposta proximidade deste com a empresa Global
Gestão em Saúde S/A."

Infelizmente, tal conclusão não é uma surpresa tendo em consideração os presentes


ocupantes dos cargos de Procurador-Geral da República e de Vice-Procuradora-Geral e
Coordenadora do Grupo de Trabalho para Operações Criminais no STF.

Com efeito, interessante observar a argumentação de Lindora Maria Araújo acerca das
conclusões “políticas” do relatório final da CPI da Pandemia, que foi baseado em fatos devidamente
comprovados em provas robustas e em análise jurídica subsidiada por técnicos da Casa Alta do
Congresso Nacional.
Observe-se que a CPI da Pandemia foi formada respeitando a proporcionalidade partidária,
tendo representantes das mais diversas opções políticas, resultando em trabalho técnico da mais alta
qualidade, apesar da evidente tentativa de a PGR desqualificar, desde o início - vide as dificuldades
da entrega do relatório final e de seus anexos pela CPI -, o relevante serviço prestado pela Comissão
ao país.

Por outro lado, é a atuação do atual PGR e de seus testas de ferro que são claramente
políticas. Desde o início de sua atuação evidencia-se uma blindagem ao Governo Federal. Parece
que os atuais mandatários da PGR esperam algum retorno pela sua indevida omissão, como a
imprensa já denunciou por ocasião da escolha dos ministros do Eg. STF pelo atual Presidente da
República.

A atuação da gestão Aras após quase 3 anos deixa evidente o modus operandi da blindagem:
abertura de procedimentos preliminares para não envolver a Polícia Federal, que participaria, se
houvesse inquérito aberto, e, após o caso esfriar, pedir para arquivar. A conduta sorrateira, sempre
ganhando tempo para, após, arquivar, sem JAMAIS ter sequer aberto um inquérito, deve ser
combatida.

É dentro desse contexto fático que se insere a presente petição. Passa-se, agora, à brevíssima
exposição dos aspectos jurídicos que tangenciam o tema.

Parece-nos claro, Excelência, a ocorrência do crime de prevaricação:

Prevaricação

Art. 319 - Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo


contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.

Diz-se isso porque, ao que consta, o ilustre Procurador-Geral da República e seus


asseclas parecem renunciar às suas verdadeiras atribuições constitucionais quanto à adoção
de providências cabíveis em face de eventuais crimes comuns descobertos pela CPI da
Pandemia e praticados pelo Presidente da República e por seus subordinados, sempre sob sua
responsabilidade. Ou seja, não parece desempenhar com zelo as suas funções, havendo, ao que
consta, negligência no exercício de seu múnus constitucional, tão somente pela satisfação de
interesse pessoal. Afinal, como justificar a conduta de inércia ministerial diante de fatos tão
graves e de provas contundentes do cometimento de crimes? Essa mensagem de impunidade
dos agentes públicos não é a que a sociedade brasileira, à luz do postulado republicano,
espera.

Quando a Procuradoria-Geral da República deixa de cumprir suas atribuições, ignorando


seus compromissos constitucionais e se omitindo no dever de dar andamento à devida instrução
penal, agindo para responsabilizar as autoridades públicas que praticaram graves ilícitos,
independentemente da estatura constitucional da autoridade envolvida – afinal, desde a era do
“L'État, c'est moi”, espera-se que nenhuma autoridade seja realmente a própria Lei ou acima dela
esteja –, a vítima, mais uma vez, acaba sendo a própria sociedade.

A certeza da impunidade ainda permite que as autoridades malfeitoras continuem a


perpetrar crimes de toda a ordem, inclusive contra a saúde e a vida de todos os brasileiros. É a
inação da PGR, titular da ação penal, que permite a continuidade dessas condutas delitivas e
altamente reprováveis, que chocam e revoltam a sociedade a cada dia.

Outrossim, sem prejuízo das medidas cabíveis a este Eg. Supremo Tribunal Federal, cabe a
remessa dos presentes autos ao Conselho Superior do Ministério Público Federal, com o fito de
aferir a responsabilidade administrativa do Procurador-Geral da República e da
Vice-Procuradora-Geral da República (art. 259, III, c/c art. 243 c/c art. 27, todos da Lei
Complementar nº 75/1993), bem como criminal (art. 57, X, da mesma Lei), para que lhes sejam
aplicadas as penalidades cabíveis em face de seus atos.

Quanto a este ponto, segue em anexo a importante atuação da Associação Brasileira de


Imprensa em notícia-crime “contra o Procurador-Geral da República Antônio Augusto Brandão de
Aras, o Vice-Procurador-Geral da República, Humberto Jacques de Medeiros, e a Subprocuradora
Geral, Lindora Araújo”, que trazem subsídios complementares para a análise do caso.

2. DOS PEDIDOS

Nesse sentido, solicitamos a Vossa Excelência que tome as medidas cabíveis a fim de apurar
o comportamento de LINDORA MARIA ARAÚJO, Vice-Procuradora-Geral da República e
Coordenadora do Grupo de Trabalho para Operações Criminais no STF, em relação aos fatos
narrados no presente pedido, seja na esfera administrativa - remessa ao Conselho Superior do
Ministério Público para a devida punição -, seja na esfera criminal - abertura de inquérito por
prevaricação.

Solicita-se, desde logo, como forma de assegurar a não interrupção indevida das apurações
preliminares, a não determinação de arquivamento dos procedimentos investigativos pelo Eg. STF e
a determinação de sua continuidade, até que se conclua a apuração quanto aos fatos narrados neste
pedido.

Requer-se que seja determinada a manifestação direta e pessoal do atual PGR, ANTÔNIO
AUGUSTO BRANDÃO DE ARAS, quanto aos fatos descobertos pela CPI da Pandemia, a fim de
impedir a atuação de sua testa de ferro nas referidas apurações.

Caso este, direta e pessoalmente, mantenha a conduta omissiva da PGR, requer-se a remessa
dos autos ao Conselho Superior do Ministério Público Federal, a fim de que se designe
Subprocurador-Geral da República para:

● atuar na apuração dos fatos indicados pela CPI da Pandemia; e


● conhecer dos fatos apontados e promover a ação penal, em desfavor do
Procurador-Geral da República, bem como que se instaure o devido processo
administrativo, para apuração dos ilícitos funcionais e administrativos por ele
cometidos (art. 57, X e XV, da Lei Complementar nº 75/1993).

Termos em que pede deferimento.

Brasília, 26 de julho de 2022.

Flávia Calado Pereira


OAB/AP 3.864

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