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Oficina de Sigilos pelo Viés da Magia Cerimonial

por Victor Vieira

15, 21 e 29 de setembro de 2021


O que é magia?

Magia por Aleister Crowley: “Magia é a Ciência e a Arte


de Provocar Mudanças em Conformidade com a
Vontade”.

Magia por Israel Regardie: “Magia é a ciência e a arte de


usar estados de consciência alterada para provocar
mudanças em conformidade com a vontade”.

Apesar de Crowley e Regardie dizerem praticamente a


mesma coisa, é muito importante pensarmos que para
Aleister o estado alterado de consciência está implícito
em todo o trabalho, pois leva em consideração que não
há treinamento mágicko sem um trabalho bem executado
com a ashtanga-yoga, da qual faz uso em seu Liber ABA
na Parte I. Porém, para Israel, é necessário levar em
consideração o estado alterado de consciência como um
argumento a mais, pois ele vem de uma sucessão de
escolas esotéricas ocidentais que necessitam por
completo da menção de todo o aparato.

Magia dentro de minhas experiências é a utilização da


consciência e presença na observação da manifestação da
natureza para se beneficiar de seus padrões a fim de usar
a sorte de maneira intencional.

O que é Vontade?

No De Lege Libellum (Liber CL), Crowley define a


Verdadeira Vontade como a vontade que não se
conforma com as coisas parciais e transitórias, mas…
procedem firmemente para ao Fim”, e na mesma
passagem ele identifica esse “Fim” como a destruição de
si mesmo em Amor. O Amor é chamado também de
Ágape, que em Thelema é geralmente usado para
denotar o amor que permeia e impele a criação, a única
substância capaz de unir dois separados.

Por que unir Magia e Vontade nos tópicos iniciais?

Magia é algo que acontece como expressão da Vontade,


pois todo ato mágicko é um ato consciente e livre da
ânsia de resultado, demonstrando que livrar-se da
ansiedade pelo acontecimento que se manifesta é ter a
plena certeza de que sua manifestação é a única
possibilidade, pois ela é a manifestação única que brota
de nossa essência utilizando o ego como ferramenta.

Quando falo de ego, falo do “eu”, e aqui não falaremos


sobre dissolução, mas sim de reconhecimento,
apropriação e validação do ego.

Para falarmos de ego, precisaremos abordar a Verdadeira


Vontade novamente, para dizer que ela não é uma
missão, não é uma ocupação, um emprego ou uma
atividade, mas a expressão única que usa o eu como
meio. Isso significa que cada ato validado pela fuga do
utilitarismo não racionalizado é um ato de vontade, o que
não se trata de um estado de dormência, mas de um
estado de atenção plena ao momento da ação, o agora,
em que se age por si e em si, e que perde sua validade
quando se torna um ato em relação ao outro. Kant
chamaria a Verdadeira Vontade de Imperativo
Categórico, seu termo cunhado dentro da teoria de que
tomar atitudes como um ato moral é agir sem afetar ou
agredir os demais, se manifestando através de três
diferentes fórmulas:

1. Lei universal: “Age como se a máxima de tua


ação devesse tornar-se, através da tua vontade,
uma lei universal.” Variante: “Age como se a
máxima da tua ação fosse para ser transformada,
através da tua vontade, em uma lei universal da
natureza.”
2. Fim em si mesmo: “Age de tal forma que uses a
humanidade, tanto na tua pessoa, como na pessoa
de qualquer outro, sempre e ao mesmo tempo
como fim, e nunca simplesmente como meio.”
3. Legislador da autonomia: “Age de tal maneira
que tua vontade possa encarar a si mesma, ao
mesmo tempo, como um legislador universal
através de suas máximas.” Variante: “Age como
se fosses, através de suas máximas, sempre um
membro legislador no reino universal dos fins.”

Saindo do século XVIII, quando o Imperativo


Categórico foi proposto, para o início do século XX,
mais precisamente 1904, até os dias de hoje, afirmo que
este Imperativo se traduz na Lei de Thelema, “Faze o
que tu queres há de ser tudo da Lei”, onde todo ato de
Vontade um ato consciente e livre de ansiedade,
nomeando-o como mágicko, um ato causador de todas as
consequências, mas nunca causado.
Nos propomos, ao fazer magia, a alcançar atos perfeitos
por si, e para que os atos sejam perfeitos, devemos
primeiramente nos apropriar de nosso eu e, em seguida,
nos apropriar de seu conteúdo, incluindo virtudes e
vícios, pois somente assim, reconhecendo nossos limites,
compreenderemos como válida a mágicka que temos
para servir a Vontade e, ainda, “melhorar suas peças”
para um melhor aproveitamento.

Gnose

“Gnose” ou “gnosis” vem do latim, traduzida como


“sabedoria”, e vemos muitas escolas de mistérios
trabalhando com o conceito através de figuras de
linguagem, que nos estimulam a acreditar que é algo
divino, intangível e externo.

Gosto dessa visão que coloca a gnose como algo fora,


porque de fato é parte do processo de alcance da gnose a
busca, e é natural de nós buscar fora aquilo que parece
impossível de existir dentro, não é mesmo? Por muito
tempo busquei a gnose fora de mim, pedi ao deus, pedi
ao diabo, pedi ao Santo Expedito e a Shiva. Não obtive
retorno de nenhum destes, inclusive de mim.

Éliphas Lévi diz em Dogma e Ritual da Alta Magia, em


seu capítulo 2, “As colunas do templo”, que gnosis é
conhecimento por intuição, vide que não é sobre
sabedoria, mas sim sobre conhecimento através da
permissão de um impulso legítimo, podendo-se dizer até
mesmo que é um conhecimento advindo do entusiasmo.
Isso me faz pensar em inúmeras coisas quando o leio,
inclusive considerando a estrutura da qual ele se vale
para abordar esse conhecimento, justo em seu capítulo
que fala de comparativo. O comparativo é essencial para
a gnose: gnose é o processo de individuação do eu sem o
filtro da razão, é aquilo que de forma íntegra observa o
que está fora, comparando-o com o que está dentro e
analisando o que é ou não parte um do outro.

Como gnose significa sabedoria, então, se há diferença


entre sabedoria e conhecimento? E Lévi retrata gnose
como conhecimento expresso através da intuição. O
ponto é que a sabedoria é a prática do conhecimento
conquistado através da intuição, principalmente quando
entendemos que praticar o que se obtém através da
intuição é uma questão de validação incrível do Eu, um
emprego da autoestima fundamental para a construção
de uma realidade pessoal assumindo a responsabilidade
de tudo aquilo que é e que há.

Lévi, quando menciona as colunas do templo como tema


de seu capítulo, se debruça sobre a dualidade presente
nos princípios herméticos, que, apesar de em muitos
aspectos já terem sido vencidos principalmente quanto a
nomenclaturas obsoletas, vencem sua ignorância através
da observação do conjunto da expansão e da
introspecção, sendo que o que está fora é trazido para
dentro através do processo do V.I.T.R.I.O.L. – “Visita
Interiora Terrae, Rectificando, Invenies Occultum
Lapidem”, que quer dizer: “Visita o Centro da Terra,
Retificando-te, Encontrarás a Pedra Oculta”, ou seja,
transforma o conteúdo em sabedoria, que é o
conhecimento vivo.

Dave Lee em Caostopia afirma que gnose é estado


alterado de consciência, algo que foi chamado por Spare
de êxtase, termo que complementa o título do livro de
Lee – Magia e Êxtase no PandaemonAeon –, onde ele
afirma que, conhecendo o aparelho tecnológico que
administra esse processo de conversão detalhado por
Éliphas Lévi, e entendendo que esse aparelho é a
máquina humana que se distribui em sistemas
aglomerados por conjuntos de órgãos que desenvolvem
trabalhos objetivos e codependentes no corpo humano,
podemos chegar a alterações nesse status quo, causando
inúmeras “vírgulas” na narrativa da análise do mundo ao
nosso redor e levando-nos a leves percepções e
compreensões completamente diferentes de qualquer
visão comum do objeto observado. Esse entendimento é
análogo ao Dhyana da ashtanga-yoga, em que não
apenas vemos o objeto, como também o sentido por trás
de sua forma e a sabedoria que seu conhecimento
guarda, é observar sua função em movimento para além
da forma que o compreende.

Gosto de pensar a gnose como o espaço entre as coisas:


se há a possibilidade de observar o espaço entre as
coisas, há a possibilidade de observar o mundo em sua
estrutura, compreendendo onde tudo começa, termina e
continua, fazendo com que, ao conhecer a estrutura, sua
forma seja moldável ou compreensível no modo de lidar.
Aqui aproveito para finalizar este trecho chamando sua
atenção ao fato de que um futuro bem previsto é aquele
criado pelas mãos de quem conhece a estrutura da
realidade em que esse futuro se manifesta.

Para que serve a gnose?

Lembrando que gnose é a sabedoria cuja matéria


orgânica é composta de conhecimento prático, qual seria
a função de um conhecimento prático senão movimento?
Pensando que gnose é um estado alterado de
consciência, qual será a função de uma mudança de
perspectiva objetiva sobre a realidade senão a de um
comportamento que corrompa um ciclo a fim de tornar o
movimento anterior diferente para conquistar novos
resultados?
No dia a dia a gnose tem me servido de diversas formas.
Enquanto estado alterado de consciência, me ajuda em
questões emocionais cuja raiz abalaria meu consciente
superficial e apegado a pontos ilusórios de sua
construção. Também me ajuda a reduzir a velocidade dos
acontecimentos sem alterar seus ritmos, colaborando
com a análise de situações para que eu note se devo ou
não me envolver ou me retirar.
De forma mágicka e cotidiana, me ajuda a manter a
concentração em intenções cuja execução depende mais
de movimentos físicos que místicos ou intelectuais,
como objetivamente em perceber qual o lugar mais
apropriado para eu ficar em um trem lotado quando há
fatores como “qual porta se abrirá para que eu saia na
estação correta levando em consideração o amontoado
de pessoas que entrarão se atropelando no percurso das
estações que seguem”. Digo mágicka quando falo sobre
esses acontecimentos porque é uma forma de domínio da
realidade perceber os fatores que te acometem e que
podem ser dominados no nível de compreensão de seus
ciclos. Compreender as condições de um trem lotado em
seu cotidiano é tão mágicko quanto compreender que as
possibilidades de conseguir o dinheiro necessário para
viajar para um lugar específico no fim do ano são
menores que as possibilidades de intencionar uma
viagem sem determinar os meios, possibilitando que
amigos te convidem, que você ganhe sorteios e que
outros meios se manifestem. Perceber o conhecimento
prático se transformando em sabedoria, através de um
estado alterado de consciência, para manipular de forma
mais apta a realidade é dominar a gnose, como estado e
como prática esotérica e exotérica.

Alteração dos estados de consciência para prática


mágicka

A alteração dos estados de consciência é o primeiro


passo para a utilização da gnose, pois, assim como a
Vontade usa o eu para sua manifestação, a gnose usa o
corpo para a alteração de sua perspectiva da realidade,
que inclusive, através dessa percepção, se torna maleável
mediante a Vontade.
Sendo o corpo a porta para esse estado, devemos
compreender que a máquina humana tem sua forma
comum de agir não de acordo com o coletivo, mas com
sua rotina, como acordar, tomar café, fazer compras,
odiar algo ou saltar de paraquedas – tudo que faça um
processo de adaptação e automatismo para que tenhamos
a possibilidade de cuidar de nós mesmos durante os
momentos de socialização, e no fim das contas levamos
esses hábitos para o solitário de nossos quartos e ali
agimos automáticos como em sociedade. O intuito de
modificar as percepções físicas do momento para levar
nossa consciência a um evento sempre inovador em
relação ao cotidiano é nos mostrar a realidade de forma
diferente e maleável.

A máquina humana depende de uma programação para


guiá-la, e essa é a consciência, que, dependendo desta
máquina para existir, é afetada por suas condições,
fiações e estruturas num geral, se alimentando do
oxigênio absorvido pelos alvéolos pulmonares e levado
ao cérebro. O oxigênio que alimenta nosso cérebro chega
até ele através da corrente sanguínea, o que nos leva a
perceber que toda alteração mínima no fluxo corporal do
sangue altera também a oxigenação do cérebro, o que
naturalmente faz com que sua forma de perceber tudo ao
redor mude para um estado de economia ou exagero.

O corpo deve ser percebido como uma ferramenta de


trabalho quando utilizado para a gnose. Pensemos no
corpo como um mecanismo que a priori observamos por
suas funções estereotipadas e formatos mais óbvios, nos
levando a vê-lo como braços, pernas, cabeça e tronco.
Assim vamos ao domínio das funções básicas daquilo
que é observado e, domando esses impulsos, como
através de exercícios contínuos de imobilidade, podemos
perceber como o corpo tem sido instrumento de distração
da mente em relação a suas ansiedades, que a desviam de
todo estado de presença. Tendo percebido que o corpo
tende a desviar a atenção da mente, passamos a observar
a mente pela mente, não os pensamentos, mas a mente,
esse espaço imaginário que pensa, tal qual o corpo com
sua função mais rasa, observável e menos complexa. Ao
notarmos a mente como ela é, notamos a infinitude de
possibilidades abafadas pela repetição de tudo aquilo que
gostaria de ser evacuado através do corpo, nos
conduzindo à descoberta de que os pensamentos, quando
retidos, se comportam como uma garrafa de refrigerante
sacudida ou uma panela de pressão.

A mente tem seu fluxo, e compreender esse fluxo é o


elemento central para a concentração para a gnose.

Comece guiando seu corpo ao ato de respirar, notando a


sensação somente de permitir que o ar entre por suas
narinas e que saia pela boca, sinta o relaxamento, note
seus membros menos tensos e respire, cada vez mais. Vá
modificando o ritmo de sua respiração até que seu corpo
não tenha a oportunidade de agir ou pensar para além da
manutenção desse ritmo. Você em breve estará no vazio
do agora, que estará te esperando para criar de acordo
com a pureza de seu impulso mais genuíno.

O que é o sigilo: a história da onipresença dos


símbolos mágickos até os tempos de hoje
Um sigilo (pl. sigilia ou sigilos) é um signo criado para
um propósito mágicko específico. Um sigilo é
geralmente composto por uma combinação complexa de
traços ou figuras geométricas, cada uma com um
significado ou intenção próprios.

O termo “sigilo” deriva do latim sigillum, que significa


“selo”, apesar de também estar relacionado a ‫סגולה‬, do
hebraico (segulah, significando “palavra, ação ou item
de efeito espiritual”). Um sigilo pode ter uma forma
abstrata, pictorial ou semiabstrata.

Na Antiguidade

De forma geral, os alfabetos utilizados atualmente


derivam de símbolos, modificados através do tempo.
Uma cabeça de búfalo, por exemplo, foi estilizada e
modificada ao longo dos anos até se tornar a letra “A”.
Os egípcios usavam os hieróglifos, e no Japão a escrita
kanji ainda tem em seus traços grande similaridade com
os elementos que busca representar.

Quanto à construção de desenhos a partir de mensagens


e frases, a escrita árabe sempre permitiu essa prática. As
palavras árabes são conectadas por uma linha contínua,
um fio condutor que permite sua torção e disposição em
arranjos elaborados. Sendo assim, nos adornos de
templos e na heráldica, era comum encontrar desenhos
que codificavam frases ou nomes. As suras do Alcorão,
por exemplo (com exceção da 9ª), iniciam por Bismillah,
que forma um “fecho” e permite que a frase seja
amarrada em torno de si mesma com fácil localização de
seu início e fim. Além disso, nas práticas judaicas da
Merkabah, a entrada nos níveis celestes era auxiliada
pelos selos correspondentes, que deveriam ser
desenhados pelo magista.

Na África subsaariana, os sigilos também eram


extensamente utilizados, como por exemplo para
codificar histórias e para evocar energias ancestrais. A
ideia de desenhar histórias e mensagens na areia, em
tramas elaboradas, era muito utilizada pelo povo
tchokwe, da Angola (e chamada de desenho Sona). Já no
campo mágicko e espiritual, uma das práticas mais
conhecidas de sigilização africana é o Traçado de
Pemba, utilizado tanto para ancorar entidades no plano
físico quanto para atrair suas qualidades ou codificar
intenções e desejos (ver Pontos Riscados).

A sigilização é presente também na cultura nórdica, com


o uso de Bandrunar (união de runas) e Insigils (sigilos
rúnicos). Essas práticas da magia rúnica consistiam na
elaboração de desenhos que eram usados como talismãs
ou entalhados na madeira das casas, buscando proteção
ou sorte em batalhas. O desenho mais conhecido desse
tipo é o Ægishjálmr, ou Elmo do Terror, um símbolo
rúnico representando o elmo de mesmo nome que é
citado nas Eddas, usado para a proteção de casas e
pessoas.

No Lemegeton
Nos livros Ars Theurgia e Ars Goetia, que fazem parte
do Lemegeton (também chamado A Chave Menor de
Salomão), são descritos os selos dos líderes espirituais,
dos Daemons e dos Shemhamphorash. Já no Ars Paulina
são descritos os selos planetários, muitas vezes
direcionados para uma intenção específica, e no Ars
Almadel são apresentados os selos dos principais coros
de anjos, bem como suas conjurações.

No Ars Notoria, são apresentados sigilos (chamados de


Notas) que podem ser utilizados para as mais variadas
finalidades, como acelerar o aprendizado ou obter
conhecimento sobre uma área da ciência ou uma língua
estrangeira. Os sigilos usados na Arte Notória eram
construídos pelos magistas usando símbolos e elementos
pertinentes àquela área do conhecimento. Por exemplo, o
sigilo referente à gramática incluía os nomes de
diferentes aspectos do discurso (morfologia, sintaxe,
vocabulário, etc.). Já o sigilo utilizado para aprender
geometria contava com desenhos de linhas, triângulos,
quadrados, pentagramas, estrelas de seis pontas e
círculos.

As práticas salomônicas, assim como as chinesas,


consideravam que os portais de comunicação entre o
mundo físico e o espiritual se abriam em lugares e
horários específicos, por isso as direções cardeais e as
horas planetárias sempre foram de vital importância na
realização de qualquer intento mágicko por esses
sistemas.
Na Esteganografia

Reconhecido como um livro de magia angelical e


criptografia, o livro de Esteganografia foi escrito por
volta de 1499 pelo monge beneditino Johannes
Trithemius e utilizado por Agrippa, John Dee e Austin
Spare em seus trabalhos. A ideia geral do livro era
codificar mensagens por meio de sigilos, e então
enviá-las para pessoas distantes, por meio espiritual. As
mensagens poderiam também ser enviadas a espíritos
angelicais, que então iriam realizar os desejos ali
descritos, funcionando por si só como um método de
magia simpática (sistema mágicko baseado na atração do
que é desejado).

Na Steganographia são descritos métodos de sigilização


que permitem a representação pictórica de desejos e
intenções. As mensagens, antes escritas em inglês, latim,
hebraico ou enoquiano, poderiam ser descritas de forma
mais exata e desambígua nesse formato sigilizado, o que
facilitaria sua transmissão e realização. O trabalho
mental envolvido na elaboração do sigilo faria parte,
segundo Trithemius, da prática mágicka e potencializaria
seu efeito. Após o desenvolvimento do sigilo, este era
enviado à entidade desejada, o que deveria ser feito na
hora correta e voltando-se para a direção cardeal
adequada.

Por Austin Osman Spare


Austin Osman Spare criou, por volta de 1910, técnicas
de desenho e escrita automáticos, além de métodos de
sigilização e um culto voltado à libertação do
“verdadeiro eu” dos magistas, chamado Zos Kia. Em seu
Livro do Prazer (Livro do Êxtase ou do Autoamor),
Spare descreve como os sentimentos inconscientes
podem estar ligados ao funcionamento da realidade
externa e como podem interferir nela, apresentando
glifos para sua representação e práticas mágickas que
incluem seu uso.

Nas descrições de sua prática com sigilos, Spare deixa


claro que o envio de mensagens para serem atendidas
por instâncias espirituais deve ocorrer de forma
criptografada, uma vez que a linguagem humana não é
suficiente para esta atividade. Além disso, Spare não
utilizava horários, direções cardeais ou nomes de
entidades, pois considerava que a realização dos intentos
codificados nos sigilos ocorria por uma ou mais forças
espirituais em consonância com o inconsciente do
próprio magista.

Portanto, no momento da conjuração seriam


selecionadas as energias corretas para levar a cabo cada
objetivo, que então direcionariam o fluxo energético
através do Éter. Esse pensamento foi um dos que levou
ao surgimento de novas vertentes de magia, baseadas em
aspectos psicológicos e operadas pelo inconsciente do
próprio magista. Isso aproximou ainda mais a magia da
psicologia e permitiu o uso mágicko de ferramentas da
psicanálise em conjunto com reinterpretações das
evocações e invocações tradicionais.

Por Peter J. Carroll

Carroll apresenta três exemplos de métodos para a


construção de sigilos. O primeiro método é baseado nas
letras do alfabeto: escreve-se uma frase, eliminam-se as
letras repetidas (e/ou as vogais) e combinam-se as letras
restantes na forma de um desenho. O segundo método é
pictórico: desenha-se a intenção desejada e simplifica-se
o desenho em etapas, até a obtenção de um símbolo que
não represente, à primeira vista, o que foi desenhado
inicialmente. O terceiro método é mântrico: a partir da
frase que codifica a intenção, eliminam-se algumas letras
e cria-se um mantra que não descreva, em linguagem
falada atual, o objetivo inicial.

Sigilos pré-definidos
Pantáculo do Sol presente no Lemegetom

Bismillah, expressão árabe islâmica, escrita de forma


circular e retilínea
YHVH, nome que dentro do ocultismo expressa o “nome
de deus” em hebraico, escrito de forma que construa o
corpo de um humano

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