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Parecer n.

º 133/2021
Processos n.ºs 82/2021 e 83/2021
Queixoso: A.
Entidade requerida: Agrupamento de Escolas Maximinos

I – Factos e pedido
1. A., professor, solicitou ao Agrupamento de Escolas Maximinos o acesso
ao:
«- Manual de procedimentos, da avaliação de desempenho docente
2018/2019, elaborado pela SADD, nesse mesmo ano letivo.
- Documento com descritores, indicadores e critérios de evidência, dos
diversos domínios, da ADD, elaborado pela SADD, no ano letivo
2018/2019. Este documento, entregue aos avaliadores internos permitiu,
aos mesmos, a atribuição dos diversos valores, nos domínios avaliados na
ADD e que constam na ficha de avaliação global do desempenho do
pessoal docente.
- Documento ou ata, com os critérios utilizados pela SADD, para
graduação dos professores do universo B, na ADD, no ano letivo
2018/2019. Dentro desse universo B estavam professores que tinham
avaliação externa e outros apenas com avaliação interna.
- Atas das reuniões da SADD, com os avaliadores internos nos dias 17, 25,
29 e 30 de julho e respetivas folhas de presença.
- Documento de notificação de resposta ao recurso apresentado ao
Conselho Geral, no dia 24 de setembro de 2019, assinada e datada pelo
recorrente, com a fundamentação que possa sustentar a apreciação ao
recurso e decisão final».
2. Fez o pedido ao Diretor (cf. ponto I.1) e ao Presidente do Conselho Geral
(pedido restrito ao manual de procedimentos da avaliação e ao
documento com os descritores, indicadores e critérios de evidência da
avaliação do desempenho docente).
3. O Diretor respondeu:
«Considerando que desde 2019, relativo ao processo de ADD 2018/19:
1. Efetuou requerimento em 29 de julho 2019 a pedir documentação;
2. O docente reclamou para a SADD no dia 19 de agosto 2019;
3. A SADD manteve a avaliação do docente (BOM com a aplicação dos
percentis);
4. Efetuou requerimento em 11 de setembro 2019 a pedir mais
documentação;
5. O docente apresenta recurso para o Conselho Geral em 24 de setembro
de 2019;
6. Efetuou requerimento em 5 de novembro 2019 a pedir documentação;
7. Notificação do Conselho Geral ao Diretor 11/11/2019, com a decisão do
Recurso Hierárquico (mantém a classif de MB mas manda aplicar os
percentis) (o que resulta na manutenção da menção final de BOM);
8. Efetuou requerimento em 9 de dezembro 2019 ao CG a pedir
documentação;
9. O docente enviou uma exposição à IGEC; 15 de dezembro 2019;
1O. A IGEC solicita à escola, se assim o entender, para se pronunciar
sobre a exposição;
11. A escola enviou, em 27 de julho 2020, uma apreciação à exposição
apresentada.
É meu entendimento que o seu requerimento de 19/01/2021, se enquadra
na aplicação do disposto no n°3, do Artigo 15.º da Lei n.º 26/2016, de 22
de agosto».
4. O Presidente do Conselho Geral nada respondeu.
5. Inconformado, o requerente apresentou queixa à Comissão de Acesso aos
Documentos Administrativos (CADA).
6. Convidados a pronunciar-se, Presidente do Conselho Geral e Diretor, o
primeiro nada disse, o segundo considerou:
«iniciei o meu mandato em 15 de maio de 2020 (…) Para facilitar a vossa
compreensão do historial e fundamentação da minha decisão, anexo os
seguintes documentos:
-Anexo 2 (levantamento de dados);
-Anexo 3 (queixa à IGEC e encaminhamento para a DGEstE Norte, na
qual o queixoso anexa vários documentos já solicitados e
disponibilizados);
-Anexo 4 (pedido da DGEstE Norte em 16/03/2020);
-Anexo 5 (a minha resposta, já como Diretor, à DGEstE Norte);

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-Anexo 6 (pedido de esclarecimento ao anterior diretor e sua resposta);
Perante a resposta do anterior diretor (Anexo 6) a quem estava
incumbida a responsabilidade de notificar o docente da decisão do
recurso, (…) solicitei à minha equipa diretiva que vasculhasse todos os
armários e dossiers, na busca de documentação pertinente para o
requerente. Estes esforços tornaram-se infrutíferos, aliados ao facto da
Escola Secundária de Maximinos se encontrar em obras de remodelação
que implicaram a mudança de arquivos, anteriormente à minha tomada
de posse. A minha disponibilidade tem sido plena, todavia, face aos factos
por mim apresentados, não posso criar documentos não produzidos, que
não encontro e/ou não existem» (sublinhado nosso).
7. Dos anexos, com relevo para o caso, extrai-se:
Do Anexo 2, o iter do processo de avaliação do desempenho docente
relativo a 2018/2019, referenciado na pronúncia da requerida. É referido
que o requerente peticionou no decurso do processo avaliativo diversos
documentos, fê-lo em 29.7.2019, 11.9.2019, 5.11.2019, 9.11.2019 e em
19.1.2021, todavia, sem enunciar se foram facultados (ou quais).
Neste anexo é dito que o requerente anexou à exposição enviada à IGEC
«ata n.º 4/SADD 25/7/2019; ata n.º5/SADD de 29/7/2019; ata n.º 6/SADD
29/7/2019 – harmonização; ata 7/SAAD/ 30/7/2019 - atribuição da classif
final».
Do anexo 6 consta um pedido de esclarecimentos da requerida ao Diretor
cessante sobre a localização da notificação do recurso da avaliação ao
requerente.
8. O requerente enfatizou, junto da CADA, que «os documentos solicitados,
no requerimento de 19.01.2019 e em todos os anteriores nunca foram
entregues (…) seria totalmente despropositado (…) estar a solicitar
documentos que já estariam na sua posse (…)».

II – Apreciação jurídica
1. Trata-se do acesso a documentos administrativos referentes a gestão de
recursos humanos/procedimento de avaliação [artigo 3.º, n.º 1, alínea a),
subalínea iv) da Lei n.º 26/2016, de 22 de agosto, diploma que regula o

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acesso aos documentos administrativos e à informação administrativa –
LADA].
2. Na circunstância é pedido o acesso ao manual de procedimentos da
avaliação de desempenho docente de 2018/2019, elaborado pela SADD;
ao documento com os descritores, indicadores e critérios de evidência,
elaborado pela SADD; ao documento ou ata da SADD com os critérios
utilizados na graduação dos professores do universo B; às atas das
reuniões da SADD, com os avaliadores internos, em dias identificados
com as folhas de presença e por último à notificação da decisão do
recurso hierárquico.
3. A entidade requerida, pelo seu diretor, alegou que à circunstância fáctica
é aplicável o quadro normativo estabelecido no artigo 15.º, n.º 3, da
LADA.
Vejamos.
4. Dispõe o artigo 15.º, n.º 3, da LADA: «As entidades não estão obrigadas a
satisfazer pedidos que, face ao seu carácter repetitivo e sistemático ou ao
número de documentos requeridos, sejam manifestamente abusivos, sem
prejuízo do direito de queixa do requerente».
5. Em relação ao conceito de abuso de direito a doutrina seguida pela CADA
consta, designadamente, no Parecer n-º 285/2019 (disponível, como todos
os pareceres, em www.cada.pt ): «Diga-se que esta Comissão tem
entendido que a existência de múltiplos pedidos não é, por si, elemento
que consuma a figura do abuso, designadamente nos Pareceres n.ºs
33/2018, 55/2018 e 56/2018 (…). Mas também é verdade que importa ter
em atenção que o regime de acesso obedece, entre o mais, ao princípio
da proporcionalidade. Pedidos de acesso reiterados, manifestamente
obstrutivos, não se enquadram nas razões do regime de arquivo aberto;
obrigando à canalização de recursos que, de outro modo, podem ser
destinados à efetiva melhoria da atividade administrativa, poderão ser
recusados. Porém, uma prévia situação genérica de abuso não exonera da
análise de cada sucessivo pedido concreto (…)».
6. E, no caso versado, não pode ser afirmada, de modo conclusivo, a
desrazoabilidade e desproporcionalidade do pedido de acesso do
requerente a documentos, por, em momento anterior, já ter solicitado o

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acesso a alguns documentos do processo avaliativo (para efeitos de
reclamação e recurso), sendo que o requerente alega que não lhe foram
facultados.
7. Não se configurando, no particular caso concreto, o exercício abusivo do
direito de acesso.
8. Vista que foi a questão do abuso do direito, cabe analisar o acesso aos
documentos peticionados.
9. O «processo de avaliação» dos docentes está sujeito a confidencialidade.
10. Dispõe o artigo 49.º do Estatuto da Carreira dos Educadores de Infância e
dos Professores dos Ensinos Básico e Secundário, aprovado pelo Decreto-
Lei n.º 139-A/90, de 28 de Abril, com a redação actual: «1- Sem prejuízo
das regras de publicidade previstas no presente Estatuto, o processo de
avaliação tem carácter confidencial, devendo os instrumentos de
avaliação de cada docente ser arquivados no respectivo processo
individual./2 - Todos os intervenientes no processo, à excepção do
avaliado, ficam obrigados ao dever de sigilo sobre a matéria./3 -
Anualmente, e após conclusão do processo de avaliação, são divulgados
na escola os resultados globais da avaliação do desempenho mediante
informação não nominativa contendo o número de menções globalmente
atribuídas ao pessoal docente, bem como o número de docentes não
sujeitos à avaliação do desempenho».
11. Esse regime de confidencialidade é, essencialmente, equivalente ao
regime de confidencialidade do processo de avaliação de desempenho de
trabalhadores no exercício de funções públicas, previsto na Lei nº
66-B/2007, de 28/12; por isso, são transponíveis para a presente consulta
as considerações expendidas por esta Comissão no Parecer n.º 181/2019
que aqui se transcrevem:
“ (...)
1. A CADA tem vindo a pronunciar-se sobre o acesso a documentação
produzida no âmbito do procedimento de avaliação de desempenho
de trabalhadores no exercício de funções públicas, previsto na Lei nº
66-B/2007, de 28/12, que estabelece o sistema integrado de gestão e
avaliação do desempenho na Administração Pública (SIADAP) –
podem ver-se, considerando apenas o presente ano e o de 2018, e a

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título de exemplo, os pareceres 188, 262, 342, 346, 404, de 2018 e
48/2019, (todos os pareceres da CADA acessíveis em www.cada.pt).
2. Tem estado, em geral, em equação a conjugação da regra da
confidencialidade exarada no artigo 44.º da Lei n.º 66-B/2007 com as
disposições sobre acesso contempladas nas leis de acesso a
documentação administrativa, presentemente a Lei n.º 26/ 2016, de
22 de agosto (LADA) (…)
A consulta que vem apresentada respeita a esta mesma matéria.
Vejamos.
4. Dispõe o artigo 44º da Lei nº 66-B/2007, de 28/12, sob a epígrafe
«Publicidade»:
«1 - As menções qualitativas e respetiva quantificação quando
fundamentam, no ano em que são atribuídas, a mudança de posição
remuneratória na carreira ou a atribuição de prémio de desempenho
são objeto de publicitação, bem como as menções qualitativas
anteriores que tenham sido atribuídas e que contribuam para tal
fundamentação.
2 - Sem prejuízo do disposto no número anterior e de outros casos de
publicitação previstos na presente lei, os procedimentos relativos ao
SIADAP 3 têm carácter confidencial, devendo os instrumentos de
avaliação de cada trabalhador ser arquivados no respetivo processo
individual.
3 - Com exceção do avaliado, todos os intervenientes no processo de
avaliação bem como os que, em virtude do exercício das suas
funções, tenham conhecimento do mesmo ficam sujeitos ao dever de
sigilo.
4 - O acesso à documentação relativa ao SIADAP 3 subordina-se ao
disposto no Código do Procedimento Administrativo e à legislação
relativa ao acesso a documentos administrativos.»
5. Prevê-se, pois, casos de publicitação obrigatória, situações de
confidencialidade e uma subordinação genérica ao CPA e LADA.
6. Deve, desde logo, perceber-se que a confidencialidade sinalizada no
número 2 do referido art.º 44º reporta-se ao que a cada trabalhador
diga respeito. É a confidencialidade do instrumento de avaliação de

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cada trabalhador, que fica arquivado no respetivo processo
individual.
(...)
9. O mesmo se diga quanto às reclamações e pedidos de parecer à
comissão paritária, sendo que a esta cabe, precisamente, apreciar
proposta de avaliação a pedido de trabalhador avaliado (artigos 58.º
e 70.º do SIADAP).
10. Aqui torna-se necessário, mais uma vez, conjugar o acesso a esses
documentos com o regime do CPA ou da LADA, consoante as
circunstâncias.
11. Ora, na vertente de apreciação concreta de trabalhadores, essas atas
contêm dados pessoais, constituindo, por isso, documentos
nominativos (cf. art.º 3º, nº 1 alínea b) da LADA e art.º 4º, nº 1 do
Regulamento (UE) 2016/679 do Parlamento Europeu e do Conselho,
de 27 de abril de 2016 relativo à proteção das pessoas singulares no
que diz respeito ao tratamento de dados pessoais e à livre circulação
desses dados e que revoga a Diretiva 95/46/CE (Regulamento Geral
sobre a Proteção de Dados).
12. O acesso por terceiro aos documentos nominativos sem o
consentimento do titular dos dados só é admissível (cf. n.º 5 do art.
6.º da LADA): «b) Se demonstrar fundamentadamente ser titular de
um interesse direto, pessoal, legítimo e constitucionalmente
protegido e suficientemente relevante, após ponderação, no quadro
do princípio da proporcionalidade, de todos os direitos fundamentais
em presença e do princípio da administração aberta, que justifique o
acesso à informação.»
13. Como decorre dos pareceres supra enunciados, a CADA, mais
recentemente, tem entendido que as atas do Conselho Coordenador
de Avaliação, nesses segmentos, podem «pelo menos, ser do
conhecimento dos trabalhadores que integram o mesmo
procedimento avaliativo e que delas tenham necessidade para
impugnar as sua próprias avaliações» – parecer nº 48/2019; que «é
cognoscível pelo requerente a informação nominativa exarada
naquelas atas, desde que se reporte a pessoas do mesmo grupo

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profissional que o seu e desde que tenha pesado na menção
atribuída» - parecer n.º 404/2018. Doutrina que vale, pelas mesmas
razões para o que releva da comissão paritária.
14. Este entendimento parece ser aquele que melhor articula o regime
do SIADAP com o da LADA.
15. Sendo assim, o acesso a essas atas e a essoutros documentos
indicados na consulta não é de acesso livre e irrestrito, supondo um
interesse específico do requerente capaz de suplantar a inicial
confidencialidade de que se revestem.
16. A ponderação a efetuar depende de diversos elementos, mas
naturalmente que quanto maior a relação entre o procedimento
avaliativo do trabalhador que requer o acesso e o do terceiro a cujo
processo aquele pretende aceder, quanto mais diretamente possa
retirar efeito útil dos documentos solicitados, menor será o obstáculo
ao acesso.
17. Note-se que o supra exposto não afasta, naturalmente, a hipótese de
o acesso ser solicitado com uma outra justificação específica, que
sempre haverá de ser analisada no mesmo quadro de ponderação
determinado pelo artigo 6.º, 5 da LADA.
18. Recorde-se ainda que as avaliações em si mesmo são em
determinadas circunstâncias de divulgação obrigatória, por
imposição legal – é, por exemplo, como decorre logo do art.º 44º., nº
1, do SIADAP o caso das que são fundamento de mudança de posição
remuneratória; e também, com divulgação interna, o reconhecimento
de desempenho «Excelente», conforme artigo 51.º, nº 3 da Lei nº 66-
B/2007, de 28/12».
12. No caso dos presentes autos, no que se refere ao manual de
procedimentos, ao documento com os critérios de avaliação e ao
documento com os critérios na graduação dos professores - documentos
não nominativos, que servem designadamente para mensurar a avaliação-
e a documentação que respeite unicamente ao requerente é facultável ao
requerente, sem limitações.
13. Já quanto à documentação que contenha elementos de ordem pessoal -
identificação dos outros docentes- que pode constar das atas das reuniões

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da SADD de julho de 2019, conforme a doutrina supra expendida, o
acesso é facultável ao requerente na parte que integre o mesmo
procedimento avaliativo e o mesmo universo de docentes a avaliar, e que
deles tenha necessidade para impugnar a sua própria avaliação.
14. Naturalmente que deverão ser expurgados eventuais dados pessoais ou
de contacto pessoal irrelevantes para o próprio procedimento avaliativo.
15. Note-se, ainda, que a entidade requerida só tem o dever de facultar o
acesso a documentos previamente existentes e que estejam na sua
disponibilidade, não servindo este meio para produzir novos atos ou
documentos ou obrigar a Administração a praticar novos atos (artigo 13.º,
n.º 6, da LADA).
16. Termos em que deve ser facultado o acesso aos documentos existentes e
detidos pela entidade requerida, no quadro exposto.
17. Se algum documento não existir, deverá ser informado o requerente.
Lembre-se que o direito de acesso aos documentos administrativos
compreende informação sobre a sua existência.

III – Conclusão
A entidade requerida deverá facultar o acesso à documentação, se
existente, ou informar o requerente da sua inexistência.

Comunique-se.

Lisboa, 4 de maio de 2021.

João Miranda (Relator) - Tiago Fidalgo de Freitas - Sónia Ramos -


Fernanda Maçãs - Alexandre Sousa Pinheiro - Francisco Lima - Renato
Gonçalves - Paulo Braga - João Perry da Câmara - Pedro Gonsalves
Mourão - Alberto Oliveira (Presidente)

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