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NO BRASIL, À LUZ DO MODELO CHINÊS DE
INDÚSTRIAS CRIATIVAS – REFLEXÕES INICIAIS
Agradecimentos
RESUMÉ DA AUTORA
RESUMO
ABSTRACT
This paper presents a reflection about the Chinese model, from examples that could
be adapted and used by Brazil in order to contribute to strengthening the economy
and creative industries, as a strategic route to socioeconomic development. Despite
the model of government, there is much to be followed: Brazil, as a country, has a lot
of creativity and freedom of expression; however, lack the country alignment and
direction of their investments, strengthening of productive chains and incentives for
more effective and representative results.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.......................................................................................................6
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................32
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................33
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1 INTRODUÇÃO
O presente ensaio tem por proposta apresentar uma reflexão a respeito das
possibilidades de contribuição identificadas no modelo chinês ao crescimento da
economia criativa no Brasil, em resultado à imersão feita no Módulo Internacional de
Hong Kong – realizado pela Fundação Getulio Vargas – FGV, em parceria com a
The Chinese University of Hong Kong – CUHK, em novembro de 2011.
É importante ressaltar que o mesmo não tem por pretensão apresentar dados ou
estudos conclusivos sobre o tema, mas sim, reflexões que possam contribuir ao
fortalecimento da economia e das indústrias criativas brasileiras, como vias
estratégicas possíveis ao desenvolvimento socioeconômico do país.
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Grande parte das referencias à origem da economia criativa são feitas a partir do
Projeto Creative Nation, desenvolvido em 1994 pela Austrália, apesar de autores
como Charles Landry relatarem a ocorrência de conferências internacionais
importantes – como a de Melbourne, que recebeu o nome de “cidade criativa” em
1988, conforme o registrado pelo mesmo no prefácio de Cidades Criativas –
Perspectivas (2011).
criativos aumentou de US$ 205 para US$ 407 bilhões no mesmo período (2002-
2008).
1
Fonte: http://www.sebrae.com.br/setor/cultura-e-entretenimento/o-setor/economia-criativa
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Figura 1. Classification Systems for The Creative Industries Derived from Different Models
2
Indústrias Culturais, segundo a UNCTAD (2010, p.5 ): “O termo ‘indústria cultural’ surgiu no período pós-
guerra como uma crítica radical do entretenimento de massa por membros da escola de Frankfurt, liderada
por Theodor Adorno e Max Horkheimer, seguido posteriormente por escritores como Herbert Marcuse. Nos
dias atuais, ainda há diferentes interpretações da cultura como uma indústria: para alguns, a noção de
‘indústrias culturais’ evoca dicotomias como a cultura de elite e de massa, cultura de alta contra o popular, e
artes plásticas em relação entretenimento comercial. No geral, indústrias culturais são simplesmente aquelas
indústrias que produzem bens e serviços culturais, tipicamente definido ao longo dessa nota. Para a
UNESCO, por exemplo, as indústrias culturais são consideradas como as indústrias que ‘combinam a
criação, produção e comercialização de conteúdos que são intangíveis e culturais na natureza’. Estes
conteúdos são normalmente protegidos por direitos autorais e podem assumir a forma de bens ou serviços ".
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2.1.3Alinhando Conceitos
Matéria publicada pelo portal das Rádios das Nações Unidades, em 30 de março de
2011, informa que a “Economia Criativa do Brasil Pode Crescer Ainda Mais”,
apresentando depoimento da Chefe da Área de Economia Criativa na Agência da
ONU, Edna dos Santos4:
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http://www.fgv.br/mailing/ibre/economia_criativa/Programa.pdf
4
Fonte: http://www.unmultimedia.org/radio/portuguese/detail/194016.html
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Ana Carla Fonseca Reis, uma das maiores especialistas no tema, em nível mundial,
apresenta um interessante retrato a respeito das perspectivas mundiais e para o
Brasil, no relatório "Micro e Pequenas Empresas no Cenário Brasileiro – Desafios e
Oportunidades em Economia Criativa”, parte da publicação Cidades Criativas –
Perspectivas (REIS, 2011).
Segundo a autora, no Brasil, o pavio dos debates acerca das Indústrias Criativas –
ICs teria sido aceso em 2004, em decorrência da UNCTAD XI, quando o então
Ministro da Cultura lançou pilares para a realização de um Fórum Internacional das
ICs em Salvador (ocorrido em 2005). Em 2006,é iniciado o Programa BNDES para o
Desenvolvimento da Economia da Cultura (hoje Decult). Dentre as iniciativas
estaduais, destaca a do Estado do RJ, que realizou, via FIRJAN, “O Mapa do
Desenvolvimento da Indústria – 2006-2015” e, em 2008, o estudo intitulado “A
Cadeia da Indústria Criativa no Brasil”, além da instituição da Secretaria do Estado
da Cultura, com Coordenadoria de Economia Criativa – EC à frente do Programa Rio
Criativo. Em paralelo, o SEBRAE, no mesmo estado, estabeleceu uma Gerência de
Desenvolvimento da EC. Ana Carla Fonseca Reis destaca, ainda, os dados
levantados pela UNCTAD (2010), que demonstram a predominância da economia
criativa em pequenas e médias empresas, tanto em países desenvolvidos como em
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Relata que levantamento feito pelo IBGE, por meio de um convênio com o Ministério
da Cultura, de dados referentes à economia criativa no âmbito do Sistema de
Informações de Indicadores Culturais – SIIC que abrange, além da “cultura
propriamente dita”, atividades aderentes às indústrias criativas para o período 2003-
2005: o estudo revela que o número de empresas desse conjunto de setores passou
de 5,3% para 5,7%, com crescimento 19,4% maior do que o número de empresas no
total da economia; o mesmo setor teria sido responsável, segundo o estudo, pelo
emprego direto de 1,6 milhão de pessoas em 2005.
Além disso, fala sobre a dificuldade de acesso ao financiamento – ainda restrito para
investimentos culturais e criativos, em geral vinculados ao talento e aos riscos
inerentes de estruturas relacionadas a empreendimentos de micro e de pequeno
porte –, com grande limitação de produtos financeiros direcionados ao setor. Fica
clara a leitura de que ações de capacitação e de disponibilização de crédito devam
ser integradas e indissociáveis ao desenvolvimento e ao crescimento dos setores
criativos no país.
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http://capitalcomunicacao.com.br/Capacitacao_de_mercados_criativos_para_a_Copa_de_2014.html
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indústrias. Da mesma forma, seu potencial inclusivo, uma vez que contempla setores
relacionados à possibilidade de resgate e de valorização do simbólico, quer seja
vinculado ao indivíduo, como “artista ou criador/desenvolvedor”, ou às
cidades/regiões – em referência ao conceito de “cidades criativas” citado ao longo
do presente ensaio.
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6
http://exame.abril.com.br/topicos/china
7
http://www.harvardchina.org/hcr/
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Em princípio, tomando como base os dados apresentados por meio das projeções
feitas pela BCG e o Credit Suisse, é possível dizer que ainda assim a China se
manteria em posição extremamente competitiva no que se refere ao “custo de mão
8
Até o fechamento do presente ensaio os dados oficiais do ano de 2011 ainda não haviam sido publicados.
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observado no Século XIX e das projeções do Século XXI para Estados Unidos,
Japão, Europa, Canadá, Brasil, Rússia, Índia e China.
Figura3. Multipolar Disorder I: Global Leadership in Turmoil: Good to Great: 19th Century
Figura4. Multipolar Disorder I: Global Leadership in Turmoil: Good to Great: 21st Century
Ao observar o retrato proposto, o status para cada um dos sete fatores (ou das sete
variáveis) relacionados aos “Hábitos dos Países Bem-sucedidos” passaria de
negativo para positivo ao país. Em outras palavras, a China apresentaria um cenário
favorável sustentado por políticas pró-mercado – com incentivos a investimentos de
fora; por movimentos de globalização, apoiados na exportação de bens e de
tecnologias; por seu perfil demográfico – espelhado pelos investimentos internos
relacionados à infraestrutura e pelo aumento do potencial de consumo; pela
oportunidade de exploração de novos recursos e mercados – apoiada em políticas
de pesquisa e desenvolvimento, em nível de instituições de ensino e de produção
corporativa/empresarial (com destaque à transição do “feito na China” para o “criado
na China”, em reforço às oportunidades de desenvolvimento em economia criativa);
pelo pluralismo econômico, extremamente singular, com ênfase à abertura a
investimentos estrangeiros (capitalismo, em meio ao comunismo - em equilíbrio
difícil de ser alcançado); pelo pluralismo político (questionável, dado o regime da
RPC), com destaque à defesa dos interesses de desenvolvimento socioeconômico;
e pela sociedade em transição e da crescente elite – ratificando o imenso potencial
de consumo do país.
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Produtos commodities referenciados em alusão à produção industrial não-diferenciada, com baixo valor
agregado.
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A República Popular da China – RPC teve, até 1978, como base de seu governo a
economia planificada, também chamada de "economia centralizada" ou de
"economia centralmente planejada", cujo sistema econômico prevê planejamento
racional, realizado por especialistas, da produção nacional. Os meios de produção
seriam, em teoria, propriedade do Estado, com as atividades econômicas
controladas pelo mesmo – que seria o responsável pelo estabelecimento de metas e
pelo provimento de meios para que as mesmas pudessem ser atingidas. O objetivo
final desse modelo econômico não é geração de lucro, tampouco, de geração de
abundância ou escassez em relação à oferta de produtos. Em teoria, os preços
pouco flutuariam nesse tipo de mercado. A partir de 1978, com a reforma iniciada
por Deng Xiaoping, a RPC passa a seguir os rumos da chamada “economia de
mercado” que, por teoria, representaria um “sistema de livre iniciativa”, onde agentes
econômicos atuam de forma livre, sem a intervenção do Estado – fortalecendo o
setor privado e o desempenho do país perante o mercado global.
10
http://www.oecd.org/document/15/0,2340,en_2649_201185_35363023_1_1_1_1,00.html
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Quanto ao consumo, é possível dizer que o país viva seu momento de “ápice do
capitalismo”, sendo determinado diretamente pelas forças básicas de mercado –
como renda e oferta. Com o melhor delineamento entre as classes sociais e o
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A China atualmente possui três cidades certificadas pela United Nations Educational,
Scientific and Cultural Organization – UNESCO, no Creative Cities Network – CCN:
Shenzhen, Shanghai (classificadas na categoria “design”) e Chengdu (na categoria
“gastronomia”). Lançada pela UNESCO em 2004, nascida da Aliança Global para
Iniciativas de Diversidade Cultural em 2002, a CCN é destinada à promoção do
desenvolvimento social, econômico e cultural de cidades em todo o mundo. As
cidades que participam procuram promover seus cenários locais criativos,
compartilhando o interesse pelo desenvolvimento da diversidade cultural. Uma vez
pertencente à Rede, a cidade passa a compartilhar experiências, podendo criar e
articular novas oportunidades a partir de plataforma global – com ênfase na
concepção do “turismo criativo”. O ingrediente-chave, segundo a UNESCO, trata do
estabelecimento de PPPs que possam ajudar a desenvolver o potencial criativo de
empreendedores que representam importante papel na nova economia.
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Prof. Dewitt Chik é diretor-fundador da Witt Design Network, Presidente da LowCarbon Design Societyof
Hong Kong e Diretor Executivo da China Branch, International Design Federation.
27
12
http://www.dscreative.cn/index_en.php?alias=OurRole
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Ao que tudo indica, a China conhece bem os caminhos a serem seguidos: ao longo
da experiência internacional, apesar de os professores da The Chinese University of
Hong Kong – CHK não demonstrarem grande familiaridade aos termos “economia
criativa” ou “indústrias criativas”, ficou clara a diretriz central estabelecida pelo
Governo Chinês em resposta à oportunidade de tal aumento de valor agregado e
transição do modelo de massa “feito na China” pelo “criado na China” – com
referências verbais explícitas a estas duas fases do país. No Brasil, inclusive, vários
periódicos, como a revista Época Negócios, que em janeiro de 2012 publicou capa
com chamada “A Nova Invasão Chinesa” e a revista Exame - que tem coluna digital
específica para acompanhar notícias políticas, econômicas e sociais da China, têm
registrado o momento de transição do país de “produtos de baixo valor agregado”
para “produtos associados à alta tecnologia”. As expressões “inovação” e
“empreendedorismo” foram amplamente utilizadas, em diversas variações, em
referência à necessidade premente de agregação de valor aos produtos chineses e
de exploração de oportunidades e de mercados Apesar de as iniciativas
relacionadas à economia criativa ainda serem embrionárias – à exceção dos casos
observados em Hong Kong, Shanghai, Shenzhen e Chengdu, que apresentam
iniciativas consistentes, mas que merecem ser ampliadas –, segundo a UNCTAD
(2010) a China é o país com maior produção em economia criativa, seguida pelos
Estados Unidos e pela Alemanha.
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As análises foram, não por menos, iniciadas com o fator “modelo político”: falta ao
Brasil um maior direcionamento às ações em economia criativa, como forma de
alavancar seu desenvolvimento econômico: apesar de todas as limitações do
governo chinês, o alinhamento das iniciativas estratégicas, por meio de “diretrizes
planificadas/centralizadas” talvez seja um dos maiores legados prévios à reforma
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ocorrida em 1978, que levou à migração para o modelo “de economia de mercado
socialista” (também conhecido popularmente como “modelo chinês de economia de
mercado”).
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Vantagem específica ao potencial para turismo – e não territorial: apesar dessa categoria não ser contemplada
formalmente no Plano da SEC, muitas são as discussões a respeito e sua contribuição é significativa. Para a
UNESCO, enquadrar-se-ia no setor criativo nuclear “Patrimônio natural e cultural”, em sítios históricos e
arqueológicos e em paisagens culturais; no Plano da SEC, há espaço para interpretação de classificação
dentro da categoria “Patrimônio” (patrimônio material e imaterial), bem como das categorias “das Criações
Funcionais” (arquitetura) e da “no Campo das Expressões Culturais” (popular, indígena e afro-brasileira).
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http://www2.conselhonacionaldosesi.org.br/SistemaS - formado pelo conjunto de 11 contribuições de interesse
de categorias profissionais, estabelecidas pela Constituição brasileira
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A despeito do modelo de governo, há muito a ser seguido: falta ao Brasil maior alinhamento e
direcionamento para seus investimentos, fortalecimento das cadeias produtivas e incentivos
que possibilitem maior proximidade (e efetividade) nas relações público-privadas. A sensação
que fica, após esse mergulho intensivo no modelo chinês, é de que ainda seja preciso ao
Brasil desatar o emaranhado de interesses dispersos, a fim de estabelecê-los em uma
plataforma única voltada ao crescimento. Sobra ao Brasil criatividade, fruto direto da liberdade
de expressão; falta, em muito, coordenação da articulação política em prol de
direcionamentos e de resultados mais significativos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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EXAME, Revista. O Mundo em Transformação – Edição Especial 1000. São Paulo, 2011.
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YOUNG, Leslie. Apostila Elaborada para o Módulo Internacional FGV e CUHK intitulada
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of Business at The Chinese University of Hong Kong, 2011.