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Climatologia

Material Teórico
Paleoclimatologia e mudanças climáticas antrópicas

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Esp. Mauricio Vlamir Ferreira

Revisão Textual:
Profa. Ms. Rosemary Toffoli
Paleoclimatologia e mudanças
climáticas antrópicas

• Introdução
• Mudanças climáticas passadas
• Mudanças climáticas futuras

Esta unidade tem por objetivo debater os alcances dos estudos paleoclimatológicos
e relacionar este saber às teses sobre mudanças climáticas futuras devidas às
atividades humanas ou antrópicas, conhecidas como teses “aquecimentistas”.

Nesta unidade, em que trataremos sobre a paleoclimatologia e as mudanças climáticas


antrópicas, você terá acesso a diversos recursos.
• Veja o mapa mental que sintetiza a estrutura do assunto tratado neste módulo.
• Fique atento aos prazos das atividades que serão colocadas no ar.
• Recorra, sempre que possível, às videoaulas e ao PowerPoint narrado para tirar eventuais
dúvidas sobre o conteúdo textual.
• Participe do fórum de discussão proposto para o tema.
• No seu tempo livre, procure pesquisar as fontes do material complementar.

Além disso, procure pesquisar, o máximo que puder, sobre o tema “Paleoclimatologia e
mudanças climáticas antrópicas”. Há inúmeros conteúdos na internet que são bastante úteis
para o seu estudo e sua formação profissional.

Bom estudo!

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Unidade: Paleoclimatologia e mudanças climáticas antrópicas

Contextualização
IPCC alerta que pobres serão os mais castigados por mudanças climáticas
Painel de cientistas divulgou segunda parte do quinto relatório climático. Documento vai nortear
negociação de países para cortar emissão de gases.
Eduardo Carvalho e Mariana Lenharo 30/03/2014
Cientistas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, IPCC na sigla em inglês,
divulgaram na noite deste domingo (30) o segundo capítulo de um relatório sobre o clima e concluíram
que são “altamente confiáveis” as previsões de que danos residuais ligados a eventos naturais extremos
ocorram em diferentes partes do planeta na segunda metade deste século.
E isso deve acontecer mesmo se houver corte substancial de emissões de gases de efeito estufa nos
próximos anos.
Chamado de “Sumário para os Formuladores de Políticas, o texto, que analisou o impacto,
adaptação e vulnerabilidade do planeta mediante às mudanças climáticas, aponta ainda que a população
pobre, principalmente de países tropicais, como o Brasil, será a mais afetada por situações de seca
e inundação, com risco de insegurança alimentar, caso não haja planejamento para adaptar culturas
agrícolas às possíveis realidades.
O documento é o segundo volume do quinto Relatório de Avaliação elaborado pelo painel da
Organização das Nações Unidas (ONU) e as informações são complementares ao primeiro capítulo do
relatório, divulgado em setembro passado, que abordava A Base das Ciências Físicas.
Nele há afirmações sobre o estado climático atual e previsões de como será a mudança global até
2100 (leia mais sobre o primeiro capítulo no fim deste texto).
Elaborado após uma semana de calorosas negociações em Yokohama, o capítulo vai ajudar a trilhar
negociações entre governos para criar uma política internacional que reduza as emissões de gases e, com
isso, frear o aquecimento global. Uma terceira parte do relatório deve ser divulgada ainda este ano.

Vulneráveis ao clima
O segundo capítulo do relatório aponta que populações pobres que vivem em regiões costeiras
podem sofrer com mortes e interrupções dos meios de subsistência devido ao aumento do nível do mar
e que altas temperaturas em localidades semiáridas poderão causar grandes perdas para agricultores
com poucos recursos, o que aumentaria o risco de insegurança alimentar.
Áreas tropicais da África, América do Sul e da Ásia devem sofrer com mais inundações, devido
ao aumento de tempestades. Aquelas já vulneráveis, que registram constantemente enchentes e
deslizamentos de terra, como o Sudeste do Brasil, podem sofrer graves consequências com o acréscimo
do volume de chuvas.
Sobre os recursos hídricos, o texto afirma que há fortes evidências de uma redução da oferta de água
potável em territórios subtropicais secos, o que aumentaria disputas pelo uso de bacias hidrográficas –
algo semelhante ao que acontece atualmente entre os estados de São Paulo e Rio de Janeiro, com a
disputa pelo uso da água do Rio Paraíba do Sul para abastecer o Sistema Cantareira.
O texto estima também uma elevada perda de espécies de plantas e animais pela pressão humana,
como a poluição e o desmatamento de florestas, além de redução dos recifes de corais no Caribe e
costa de países tropicais, como o Brasil, por conta da acidificação, fenômeno causado pelo excesso de
CO2 na atmosfera.
Fonte: http://goo.gl/bxGo2j Acessado em 20/04/2015.

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Introdução

Podemos dizer que o clima é um aspecto físico da superfície terrestre dos mais dinâmicos, dadas
as variações latitudinais, altitudinais e aquelas devidas à maior proximidade ou distância em relação
ao mar, bem como aquelas devidas aos grandes domínios vegetais. Disso não temos dúvida!
A pergunta que podemos fazer a esta altura é se a dinâmica vista no presente variou no
tempo profundo, isto é, se há paleoclimas existentes ao longo da história natural da Terra e
se, em tempos atuais, o homem pode ser considerado como agente das mudanças climáticas
sugeridas mais recentemente? Nesta unidade, além de considerar as várias mudanças climáticas
ocorridas na história da Terra, também vamos analisar as proposições de mudanças climáticas
devidas às atividades humanas.
Antes de qualquer análise mais profunda, é importante ressaltar desde já que consideramos
a diferença entre as variações do tempo atmosférico, que podem ocorrer a curtíssimo prazo,
e as variações ou flutuações climáticas que podem apresentar magnitudes de milhares ou
milhões de anos. Percebemos as variações no tempo atmosférico imediatamente por meio
das sensações. Já as flutuações climáticas não podem ser percebidas pelo homem e somente
temos noção delas por estudos paleoclimáticos, palinológicos, paleontológicos, glaciológicos,
paleogeográficos entre outras especialidades.

Mudanças climáticas passadas

Existem variações climáticas em diversas escalas de tempo possíveis. Temos, inclusive, uma
variedade de terminologias para identificar cada uma delas. É o caso dos conceitos de: “variabilidade
climática”, da “flutuação climática”, da “tendência climática” e da “mudança climática”.
As variações climáticas podem ser muito rápidas, como as que ocorrem dentro das normais
climatológicas (30 anos). Podem ser seculares como aquelas registradas entre 100 e 200
anos e aquelas que podem remeter ao tempo geológico na casa dos milhares a milhões de
anos. Para cada caso, aplicam-se procedimentos técnicos específicos, a saber: a observação
instrumental, para as mudanças de curto prazo e as análises históricas sobre indicadores
biológicos (adaptações anatômicas e fisiológicas, fósseis, polens e dendrocronologia ),
litológicos (estratos sedimentares) e morfológicos (sistemas erosivos e de sedimentação) para
conjecturar mudanças a longo ou longuíssimo prazos.
No geral, o que chamamos de mudanças climáticas dizem respeito às alterações na circulação
atmosférica que implicam em alterações nas médias térmicas e nos totais de precipitação
(chuva), nas áreas cobertas pelas superfícies aquáticas, de gelo e dos biomas.

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Unidade: Paleoclimatologia e mudanças climáticas antrópicas

Segundo Ayoade (1983), as mudanças climáticas podem estar ligadas a:


• Causas terrestres: migração polar e tectônica de placas, dinâmica morfogenética,
alterações na composição química da atmosfera, transgressões e regressões marinhas e
das calotas polares.
• Causas astronômicas: alterações na excentricidade da órbita terrestre, na precessão
dos equinócios e na obliquidade do plano da eclíptica (atualmente 23°27’).
• Causas extraterrestres: variações nas taxas de emissão de radiação solar provenientes
do Sol e na absorção na Terra.

Paleoclimas
Denominamos de paleoclimatologia a área que estuda os climas passados por meio das
evidências ou indicadores supracitados. Embora aceitemos que a Terra tenha uma idade
próxima de 4,5 bilhões de anos, os estudos paleoclimatológicos têm sido limitados a cerca de
650 milhões, correspondentes ao início do período Cambriano. Há muito pouco do ambiente
pré-Cambriano para ser estudado em termos de bio ou geoindicadores.
Boa parte dos bio ou geoindicadores mostra que por volta de 300 a 350 milhões de anos o
que corresponde a atualmente às áreas da América do Sul, África, índia, Austrália e Antártica
formavam um único supercontinente chamado de Pangeia. No contexto mencionado, tal
massa continental apresentava um clima glacial e estava coberta por uma extensa capa de
gelo. Hipóteses sugerem que há cerca de 650 milhões de anos, o gelo glacial cobriu as atuais
superfícies das terras do hemisfério Norte. São as chamadas “glaciações” ou “idades do gelo”,
isto é, épocas, períodos ou eras geológicas em que uma dada região do mundo permanece
sob a influência de um clima glacial. Daí para trás, sugere-se que o clima da superfície terrestre
tenha sido bem mais quente.
Do Cambriano (642 milhões de anos) até a atualidade, diversas idades do gelo foram
verificadas a partir dos estudos paleoclimáticos. A Figura 1 apresenta, de forma esquemática,
a evolução das mudanças climáticas na superfície terrestre com a oscilação entre períodos de
glaciação (idades do gelo) e de interglaciação.

Figura 1. Evolução das mudanças climáticas na Terra

Fonte: Adaptado de essayweb.net

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Ao analisar a imagem da Figura 1, podemos observar que durante o pré-Cambriano as
temperaturas na superfície eram, no geral, bem mais elevadas do que a atual. Ao final do 3º
bilhão de anos e entre um bilhão e 542 milhões de anos, suspeita-se que tenham ocorrido
duas idades do gelo. A partir do Cambriano, diversas eras do gelo sucederam-se até quase
estabilizar-se ao longo do Plioceno, período que antecede o atual Holoceno a ser analisado
mais detalhadamente a seguir.

Se ao contrário do que foi demonstrado na Figura 1, observarmos os últimos 850.000


anos, veremos uma série de idades do gelo sucessivas e entremeadas por fases interglaciais ou
as fases em que os climas são mais quentes entre uma glaciação e outra. A Figura 2 representa
as oscilações climáticas que ocorreram mais recente na história do Planeta Terra.

Figura 2. Glaciações e interglaciações dos 850.000 anos

Fonte: Adaptado de Ayoade (1983, p. 217)

A Figura 2 é um indicativo de que mudanças climáticas na Terra são mais comuns do que
imaginamos, nas quais as médias térmicas da superfície terrestre oscilaram entre pouco mais
que 15 °C a pouco mais de 12 °C. Como é possível observar, o tempo atual consiste de uma
fase interglacial similar às três outras (“a”, “b” e “c”) ocorridas nos últimos 850.000 anos.

Glaciações e flutuações nos níveis do mar


Considerando que, nos últimos 850.000 anos, as médias térmicas têm oscilado,
acompanhando episódios de glaciação e interglaciação alternados, podemos deduzir disso que
tanto as geleiras avançaram, quanto recuaram suas extensões, repercutindo em regressões e
transgressões no nível do mar, respectivamente.
A última grande fase de glaciação ocorreu no Pleistoceno entre 22.000 e 14.000 anos.
Nesse intervalo de tempo, as geleiras estenderam-se pelas terras emersas do hemisfério
Norte. O descongelamento e o recuo do gelo à posição atual no continente europeu e
norte da Ásia ocorreram a cerca de 8.500 anos. Na América do Norte, esse processo se
deu por volta de 7.000 anos, variando entre médias térmicas pouco mais baixas e mais
altas que a atual.

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Unidade: Paleoclimatologia e mudanças climáticas antrópicas

Período quente medieval


Entre os anos 1000 e 1350, as temperaturas no hemisfério Norte estiveram significativamente
mais elevadas. Nesse período, houve na Europa uma fase de superprodução agrícola devido
ao aumento da faixa de terras cultiváveis que se estenderam até o atual Norte periglacial. Ao
ponto de os dinamarqueses (“vikings”) terem ocupado e explorado as terras livres do gelo da
Groenlândia (Greenland ou “terra verde”). Esse período foi denominado pela Climatologia
de “quente medieval” e nele houve um significativo aumento da população europeia de cerca
de 35 milhões para cerca de 80 milhões de habitantes, diferentemente de tempos anteriores
quando havia muitas doenças e escassez de alimentos.

Pequena idade do gelo


Já o período entre 1550 e 1850 é conhecido como “Little Ice Age” (Pequena Idade
do Gelo). Neste contexto, as temperaturas baixaram significativamente e as geleiras do
hemisfério Norte expandiram-se consideravelmente ao ponto de gerar uma crise econômica
no campo devido à diminuição das áreas de cultivo e pastagem, especialmente na Europa
que empreende e/ou acentua a exploração das colônias na América para suprir a falta de
produção interna de gêneros alimentícios. A Figura 3 apresenta o contraste entre os dois
períodos analisados.

Figura 3. Período Quente Medieval e Pequena Idade do Gelo no comparativo sobre a referência zero grau Celsius (0 °C)

Fonte: Adaptado de ppegeo.igc.usp.br

Observando as variações térmicas, demonstradas na Figura 3, podemos notar que uma


oscilação de dois graus Celsius para baixo ou para cima do “zero” atual foi responsável por
grandes transformações de ordem socioeconômicas, culturais e políticas. Também podemos
observar oscilações climáticas em tempos mais recentes. A Figura 4 representa as variáveis
registradas para o hemisfério norte.

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Figura 4. Temperatura global média (verm.) e oscilações térmicas no hemisfério Norte

Fonte: Adaptado de Ayoade (1983, p. 223)

Em comparação à média global aproximada de 15 °C, as temperaturas do hemisfério Norte


apresentam subidas e descidas alternadamente, sendo que a partir de 1940, segundo Ayoade
(1983), após uma ascensão considerável, houve tendência de queda para uma equiparação à
média global.
A dedução que se deve fazer quanto à comparação dos resultados dos dados apresentados
anteriormente indica que o entendimento, a concepção e a representação do clima é um tema
bastante delicado que deve ser tratado com o maior cuidado possível a fim de que não se
produzam informações não verificáveis e ideologizantes.

Mudanças climáticas futuras

A partir de meados do século XX, os estudos sobre a atmosfera começaram a se tornar


tema não apenas de interesse científico, mas também político. Isso se deve ao fato de
que as autoridades nacionais passaram a reproduzir o discurso de que tanto os recursos
naturais como o meio ambiente de forma geral estavam sendo afetados pela intensidade das
atividades humanas.
A partir das décadas de 1970 e 1980, organismos internacionais como a ONU, por meio de
seus órgãos internos como o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente – PNUMA
e a Organização Mundial Meteorológica – OMM, passaram a dedicar maior atenção ao clima,
pois reproduziam a crença de que as atividades humanas estavam afetando o clima na Terra.
Tendo em vista as preocupações institucionais com o clima, o PNUMA e a OMM criaram, em
1988, o “Intergovernmental Panel on Climate Change - IPCC” (Painel Intergovernamental
sobre Mudanças Climáticas) a fim de que este organismo passasse a fornecer os dados e as
informações científicas e técnicas que fossem comprobatórias das mudanças climáticas de
causas antrópicas, as quais estariam contribuindo para as alterações nas taxas térmicas médias
da atmosfera chamadas de “efeito estufa”.

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Unidade: Paleoclimatologia e mudanças climáticas antrópicas

As tais preocupações que levaram a ONU a tomar para si a responsabilidade de investigar


o clima culminaram na deflagração das Conferências da ONU para Mudanças Climáticas
ou Conferências das Partes – COP, desde 1994 (incluindo a COP de 1997 que resultou no
Protocolo de Kioto ou Quioto , no Japão) e no relatório produzido e divulgado pelo IPCC em
2007, no qual o grupo de pesquisadores afirma categoricamente que os dados comprovavam
que as médias térmicas da atmosfera estão sendo elevadas devido às atividades humanas
emissoras de CO2 e ressaltou a necessidade de combater ou eliminar as emissões de tal gás
como saídas para controlar o efeito estufa antrópico .
O relatório do IPCC baseou-se em um levantamento sustentado por modelos de simulação
do clima global aplicados para os últimos 150 anos. Os resultados indicaram que houve
um aumento nas temperaturas médias da atmosfera entre 0,4 e 0,7 °C. Esse aumento
corresponderia ao aumento verificado na participação de CO2 na atmosfera que é da ordem
de 379 ppmv (parte por milhão por volume). Esse índice seria bem maior do que a dos últimos
650 mil anos, limitado entre 180 e 300 ppmv.
O IPCC considerou que esse aumento de CO2 atmosférico se deveu às emissões provenientes
das atividades humanas. Para assegurar-se da validação dos dados, o IPCC fez uso de dados
fornecidos pela análise da composição química de bolhas de ar aprisionadas no gelo a
profundidades de até 3.600 m o que corresponderia aos volumes de neve precipitada a cerca
de 420 mil anos. As amostras de cilindros de gelo foram fornecidas pela estação de pesquisa
glacial russa Vostok, situada na porção central da Antártica.

Extremos climatológicos e desastres naturais


Situações extremadas envolvendo fenômenos atmosféricos são bastante comuns embora,
Max Sorre, em sua proposta de Climatologia dinâmica, entendeu que fenômenos extremos
não deveriam ser considerados problemas científicos para aquela ciência.
O problema é que os fenômenos extremos, em vista do espalhamento e aumento do
contingente populacional desde o início do século XX, têm sido cada vez mais catastróficos
quando ocorrem em regiões densamente povoadas. Assim, tem sido cada vez mais frequente
e necessário o estudo para a previsão de fenômenos extremos com vistas a diminuir os riscos
- em muitos casos nem considerados - aos quais as pessoas estão expostas.
A título de exemplo, vejamos um caso em que uma chuva forte causou um encadeamento
de problemas de ordem ambiental qualitativa e quantitativamente complexo.
O rio Palmital nasce no distrito Banhado Grande, a uma altitude de 950 m acima do nível
do mar, no Município de Apiaí, Sul do Estado de São Paulo. O curso d’água em questão
atravessa os núcleos de adensamento urbano do Município de Itaoca que conta com um total
de 3.228 residentes. Desse total, 1.760 são residentes urbanos enquanto que 1.468 residem
no campo. Após 33,6 km, o rio Palmital deságua no rio Ribeira de Iguape a uma altitude de
128 m, portanto, apresentando um desnível total de 822 m.
O rio Palmital foi manchete dos principais jornais do país em 13/01/2014, quando uma
chuva forte provocou uma inundação repentina (Figura 5) no vale íngreme, nos terraços e nas
estreitas planícies aluviais do rio, causando a morte de 23 pessoas, deixando outras quatro
desaparecidas e dezenas de desabrigados .

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Figura 5. Inundação repentina do rio Palmital no Município de Itaoca em 13/01/2014

Fonte: jcnet.com.br

A torrente continha grande quantidade de detritos que varreu os bairros Guarda Mão e Lajeado
e parte da área urbana de Itaoca. Os detritos foram carreados pelo rio Palmital até o rio Ribeira.
Na manhã da terça-feira, 21/01/2014, esses mesmos detritos ainda eram vistos sendo lançados
ao mar na foz do Ribeira, em Iguape município do litoral Sul do Estado de São Paulo.
A chuva forte também provocou outro problema ambiental: milhares de peixes morreram
ao longo de 80 quilômetros do rio Ribeira, entre as cidades paulistas de Iporanga, Eldorado e
Sete Barras. Além disso, a correnteza arrastou também diversos animais domésticos, além de
muitos animais silvestres.
Consequências socioeconômicas também foram contabilizadas nesse evento: além das perdas
materiais nos locais imediatamente atingidos pelo fenômeno, tendo em vista que a qualidade
da água do rio Ribeira piorou, as autoridades suspenderam a captação para abastecimento
nas cidades banhadas pelo Ribeira e recomendaram a suspensão da atividade pesqueira, além
de sugerir à população que não ingerisse os peixes encontrados mortos nas margens do rio.
Apesar das suspeitas de que a mortandade elevada de peixes poderia ter sido causada pelo
rompimento de barragens ou bacias de decantação de rejeitos minerais existentes na região,
a este respeito, a CETESB informou que as análises não indicaram a presença de chumbo
e outros produtos químicos na água, mas que a mortandade dos peixes ocorreu devido à alta
concentração de matéria orgânica em decomposição e material inorgânico (silte e argila) em
suspensão, transportados desde o solo para o rio Palmital durante o evento extremo e depois
para o rio Ribeira de Iguape.
Os peixes podem ter morrido por duas causas: além de provocar a obstrução das brânquias,
levando à morte por asfixia, a turbidez acabou por limitar a quantidade de alimento disponível
no meio, ao reduzir a penetração da luz, afetando também a cadeia alimentar dos peixes.
O problema todo foi causado por uma chuva forte, fenômeno que, embora não seja típico de
uma estação específica, é mais frequente no verão, ainda que possa ocorrer esporadicamente nos
períodos de estiagem. Por outro lado, como boa parte da bacia, a jusante do distrito Banhado Grande
até próximo da foz no rio Ribeira do Iguape apresenta solo desnudo e bastante compactado pelo
uso agropecuário, a alta velocidade com que as vertentes transferiram o escoamento superficial ao
talvegue do rio Palmital também contribuiu para a dimensão que o fenômeno alcançou.

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Unidade: Paleoclimatologia e mudanças climáticas antrópicas

A Figura 6 apresenta uma análise dos registros de precipitação forte e fortíssima ocorrida
ao longo dos anos entre 1963-2003. Foi relacionado apenas um único valor de precipitação
igual ou superior a 50 mm em 24 horas para cada ano. Os anos nos quais os valores não
chegaram a esse índice foram descartados.
Figura 6. Valores de precipitação extrema em 24 horas em mm.

Fonte: daee.sp.gov.br

A análise dos resultados mostrou que o mês de janeiro, com média de precipitação mensal
da ordem de 190,3 mm , além de ser o mês que apresenta os fenômenos extremos mais
significativos, tem alguns valores de chuva em 24 horas relativamente próximos dos valores
esperados para o mês inteiro, como foi o caso do dia 08/01/1995, entre outros, quando a
precipitação totalizou 137,5 mm.
Os dados indicam que o comportamento observado em 13/01/2014 é recorrente, embora
não tenha uma regularidade que possa torná-lo previsível.
O fato de as consequências terem atingido um patamar de desastre natural em uma área
na qual o uso e a ocupação do solo para práticas agropecuárias associadas à supressão da
cobertura vegetal original e compactação do solo, este passa à condição de causa do desastre.
Atividades econômicas como a supracitada, são consideradas desencadeadoras de velocidade
no escoamento superficial, de processos erosivos e morfogenéticos, quando estabelecidas em
área de elevada declividade, principalmente, em ocasiões de chuvas fortes.
A grande problemática sobre os extremos climáticos como o caso analisado anteriormente
é que, embora em Climatologia dinâmica os fenômenos extremos não devam ser
considerados como componentes do clima, isto é, como problemas científicos, eles têm
sido associados como decorrentes das mudanças climáticas defendidas pelo grupo dos
“aquecimentistas” do IPCC e como respostas da natureza às transformações produzidas
pelo homem no ambiente.

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A refutação da teoria “aquecimentista”
No entanto, a visão “aquecimentista” tem sido refutada por diversos meteorologistas e
climatologistas que veem falhas no discurso “aquecimentista”. Para Luiz Carlos Baldicero
Molion do Instituto de Ciências Atmosféricas, Universidade Federal de Alagoas, o clima tem
mudado sim, mas em diferentes escalas e por força de causas particulares. Sua tese é a de que
o aquecimento global é um mito.
Molion contradiz os argumentos utilizados pelos “aquecimentistas”, baseados no aumento
nas médias de temperatura registradas nos últimos 150 anos, no aumento observado na
concentração de gás carbônico a partir de 1958 e nos resultados obtidos com modelos
numéricos de simulação de clima para o futuro.
O primeiro argumento refutado por Molion é o que trata da importância dada ao CO2
que, para ele, é superestimada. Para ele, o vapor d’água é 100 vezes mais absorvedor de
radiação solar que o CO2. Assim, este gás seria ou deveria ser considerado o segundo mais
importante enquanto Gás do Efeito Estufa – GEE, e não o mais importante. O problema é que
a quantidade de vapor d’água é variável na superfície terrestre enquanto a de CO2 é constante.
Chegou-se a supor que o metano também seria um grande contribuinte para as mudanças
climáticas sendo devido às atividades pecuárias. Porém como as medições de metano têm
apresentado reduções nas taxas deste gás na atmosfera, o assunto vem sendo deixado de lado.
O IPCC argumenta que a quantidade atual de CO2 subiu de 315 ppmv em 1958 para 379
ppmv em 2005, um aumento de 35%, crescendo à taxa média de 0,4% ao ano. Para o IPCC,
esse aumento se deve às atividades econômicas.
Como a temperatura média da superfície terrestre (15 °C) é resultante do equilíbrio entre a
radiação solar e a absorção, o efeito estufa que garante a vida na Terra é, portanto, dependente
deste equilíbrio, logo, um aumento induzido na quantidade relativa de CO2, implicaria no
desequilíbrio térmico e aumento da temperatura média planetária.
O principal questionamento feito por Molion aos “aquecimentistas” reside no fato de que
97% das emissões de gás carbônico são de origem natural a partir dos oceanos, da vegetação
e do solo. O homem é responsável por cerca de 3% do volume total de CO2 o que para efeito
da contabilidade final para o efeito estufa seria algo como 0,12% de participação antrópica.
Considerando o tal aumento de 35% nas taxas de CO2 nos últimos 150 anos, valor este
defendido pelos “aquecimentistas”, deveriam ter gerado, segundo Molion, um incremento
entre 0,5 e 2,0 °C na temperatura global. Entretanto, o aumento constatado ficou entre
0,4 e 0,7 °C.
Molion considera esta contradição entre os resultados propagandeados e os verificados
como uma falha nos modelos utilizados pelos “aquecimentistas” na defesa da tese das mudanças
climáticas antrópicas, principalmente no que diz respeito às “previsões” de aumento entre 2°
e 4,5 °C nas médias térmicas para o fim do século XXI.
Com base nos resultados sugeridos pelo IPCC, como efeito do aumento da temperatura
ocorreria uma expansão do volume da água dos oceanos que, somada ao degelo parcial das
geleiras e calotas polares, principalmente do Oceano Glacial Ártico, elevaria o nível dos mares
entre 20 e 60 cm. Isso acabaria provocando a fuga de 60% da população mundial para longe
das faixas costeiras. Considerando os erros entre os dados esperados e constatados, Molion
também coloca em dúvida a iminência desses desastres.

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Unidade: Paleoclimatologia e mudanças climáticas antrópicas

Segundo Molion, um aspecto que o IPCC não dá a devida importância é o fato de o


aquecimento esperado para as próximas décadas não seria o primeiro e nem o último.
A Figura 4 localizada no início deste texto mostra o aumento nas médias térmicas desde
1850. Já entre 1920 e 1960, não houve aumento expressivo ocorrendo apenas oscilações
para mais ou para menos em relação à média atual. Em 1896, houve uma onda de calor
que causou três mil mortes em Nova York. Mais recentemente, entre 1960 e 1976, verifica-
se uma queda geral nas médias térmicas, embora alternando pequenas subidas anuais. Esse
último período corresponde à internacionalização do fordismo como modo de produção
hegemônico, intensificação no processo de urbanização e do campo. Quer dizer, para Molion,
que os números não condizem com os fatos.
A partir de 1977, os dados coletados mostraram grande diversidade de resultados nas
várias partes do mundo. Nos EUA, por exemplo, considerado o país que produz as maiores
quantidades de CO2 devido à queima de combustíveis fósseis, verificou-se na década de 1930
que as médias térmicas foram mais quentes que na década de 1990.
Molion não questiona apenas os resultados, mas os procedimentos. Meteorologista
experiente, ele chama a atenção para o fato de que sugerir medidas de mudanças climáticas
globais por meio de dados coletados em estações meteorológicas não é muito apropriado.
Além do fato de que, nos últimos 150 anos, os equipamentos terem passado por diversas
inovações tecnológicas, diminuindo erros cometidos no passado, atualmente as medidas de
temperatura global por satélite são muito mais adequadas, pois estes “varrem” grandes áreas
da superfície terrestre e dos oceanos, o que as estações meteorológicas não fazem.
Ao contrário do que é observado com as medidas obtidas com o emprego dos satélites, as
estações meteorológicas sofrem influência do seu entorno mais imediato e representariam as
condições atmosféricas de um raio de algumas centenas de metros. Levando em conta que há
grandes distâncias entre uma estação e outra, os espaços entre elas representam lacunas para
as generalizações que são feitas nas análises climáticas de escalas mais abrangentes.
Além do que foi mencionado anteriormente, em boa parte das estações meteorológicas
que antes ocupavam um local de destaque na paisagem e registravam as variações naturais
da atmosfera, atualmente elas podem ter sido envolvidas pela ocupação urbana e, agora,
registram a influência das edificações que as cercam. Isso obriga os técnicos das estações
a utilizarem algoritmos para correção dos dados, o que acaba por produzir elevado grau de
subjetividade aos produtos finais.
Outro aspecto que Molion ressalta em relação à sua análise crítica sobre a visão
“aquecimentista” do clima está no fato de que a técnica utilizada nas análises de cilindros de
gelo da Antártica não é totalmente confiável já que o processo de aprisionamento de bolhas de
ar no gelo é um fenômeno extremamente dinâmico devido às pressões que sofre. Isso segue
na contramão do que defendem os “aquecimentistas” de que o ar confinado no gelo estaria
em repouso desde seu aprisionamento.
Por fim, Molion também destaca que há indícios de que a relação existente entre o aumento
do CO2 com o aumento da temperatura seja diametralmente oposta ao que consideram
atualmente os “aquecimentistas”. Para Molion, é o aumento da temperatura atmosférica,
provocado por alterações na intensidade da radiação solar, que provoca o aumento das taxas
de CO2 na atmosfera. Assim, a causa das mudanças climáticas seria a atividade solar e não as
atividades humanas.

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Material Complementar

Para o aprofundamento dos temas discutidos na unidade, acesse e leia os seguintes textos:

Sites:
Manifesto do grupo de pesquisadores críticos da proposta “aquecimentista”:
http://www.alerta.inf.br/carta-aberta-a-presidenta-dilma-rousseff/

Resposta do Ministério do Meio Ambiente ao documento dos pesquisadores críticos da


proposta “aquecimentista”:
http://www.alerta.inf.br/mma-responde-a-carta-aberta-a-dilma-sobre-mudancas-climaticas/

Sobre as glaciações:
http://super.abril.com.br/ecologia/glaciacoes-sao-fenomenos-ciclicos-488470.shtml

Sobre interglaciação:
http://www.oeco.org.br/blog-trajetoriafumaca/24222-cientistas-encontram-gelo-de-periodo-interglacial

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Unidade: Paleoclimatologia e mudanças climáticas antrópicas

Referências

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Rio de Janeiro, 1983.

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LOMBARDO, M.A. Mudanças climáticas recentes e ação antrópica. Revista do


Departamento de Geografia, São Paulo, n.8, p.29-34, 1994.

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MILLER, A. A. Climatologia. Omega. Barcelona, 1975.

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disponível em http://www.icat.ufal.br/laboratorio/clima/data/uploads/pdf/AGA-SITE_
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MOLION, L. C. B. Desmistificando o aquecimento global. Versão digital disponível em


HTTP:// www.lgmh.ufpe.br/biomol/AGA/molion_desmist.pdf. Acessado em 20/04/2015.

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VAREJÃO-SILVA, M.A. Meteorologia e Climatologia. INMET, Gráfica e Editora Stilo, 2000.

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Anotações

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