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Mulher
Negra
Neide Cristina da Silva
Francisca Mônica Rodrigues de Lima
Maria Lucia da Silva
(org.)
F
Editora Casa Flutuante
L i v r o - r e p o r t ag e m & a c a d ê m i c o s
Organização
Neide Cristina da Silva
Francisca Mônica Rodrigues de Lima
Maria Lucia da Silva
Editor
Editora Casa Flutuante
Rua Manuel Ramos Paiva, 429
São Paulo - SP - Brasil
Fone: (11) 2936-1706 / 95497-4044
www.editoraflutuante.com.br
Conselho Editorial
Marcia Furtado Avanza, doutora em Ciências da Comunicação / USP
Márcia Neme Buzalaf, doutora em História / UNESP
Maurício Pedro da Silva, pós-doutorado em Literatura Brasileira / USP
Vinicius Guedes Pereira de Souza, doutor em Comunicação / UNIP
Capa | Diagramação
Israel Dias de Oliveira
Ilustrações
Carolina Cristina dos Santos Nobrega
ISBN 978-85-5869-038-6
CDU 37.06
CDD 342.087
PREFÁCIO.............................................................................................................. 9
Jason Ferreira Mafra
Nada de novo, tudo outra vez: reflexões sobre a solidão da mulher negra.... 35
Maria Aparecida Oliveira Lopes e Francisca Mônica Rodrigues de Lima
YLÊ-EDUCARE
9
hegemônica na constituição dos grupos de pesquisa. Em geral, eles nascem,
legitimamente é bom que se diga, pela iniciativa de um ou mais docentes
dos programas, seja em razão das demandas das linhas de pesquisas, seja
pela consolidação de temáticas e objetos de investigação dos próprios do-
centes. Esse é um percurso natural, considerando que, para se estruturar
um grupo de investigação científica, devidamente registrado na platafor-
ma do Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq), só se pode fazê-lo a partir
de um docente-pesquisador de algum programa de pesquisa, devidamente
reconhecido pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (Capes). Além do mais, os grupos tendem a surgir como resul-
tado do acúmulo de experiências de investigação sobre um dado tema
de um ou mais docentes de um programa. É aí que reside a diferença do
percurso do Ylê-Educare.
O Ylê emergiu de uma demanda não propriamente de docentes, mas
dos próprios alunos. Para entender isso, vale aqui um breve contexto. Os
programas de pós-graduação stricto sensu da Universidade Nove de Julho
(Uninove) têm sido, até então, um modelo distinto no contexto dos pro-
gramas das instituições particulares de ensino superior. Com o propósito
de cumprir uma função pública também na pesquisa, desde a segunda
metade da primeira década deste século, a instituição decidiu oferecer
bolsa integral para todas as alunas e alunos de todos os cursos de mestra-
do e doutorado. Além disso, a exemplo de algumas universidades fede-
rais no Brasil, a Uninove instituiu o chamado “fator público”, um bônus,
em termos de pontuação (equivalente a 20%), para os candidatos que,
aprovados no processo seletivo, tenham vínculo com a escola pública; ou
seja, pessoas que atuem em cargos pedagógicos ou de gestão (professo-
res, coordenadores, diretores, supervisores etc.) em instituições federais,
estaduais ou municipais. Resultado desse incentivo é que grande parte
dos discentes, mestrandos e doutorandos dos programas, é composta por
pesquisadores provenientes das redes públicas de ensino. Nos casos dos
dois programas de educação (acadêmico e profissional), esse número é
superior a 85% dos pesquisadores.
Esse procedimento, sem nenhuma dúvida, ao abrigar candidatos des-
sas instituições, contribuiu, progressivamente, para a organização de um
grupo de pesquisadores voltados para temáticas prementes das escolas
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públicas. Dentre esses diferentes temas que emergem no contexto escolar,
as questões étnico-raciais têm sido um objeto de grande interesse dos
pesquisadores. Especialmente, a partir de 2012, esse interesse se avolu-
mou. Tanto no programa acadêmico, quanto no mestrado profissional,
um grande número de alunas e de alunos passaram a ingressar nos cursos
com projetos de pesquisas voltados especificamente para as discussões
étnico-raciais. Não por coincidência, a maior parte desses pesquisadores
é formada por educadoras e educadores cujas identidades e trajetórias
pessoais estão diretamente relacionadas a essas questões, em especial, às
questões relativas às/aos afrodescendentes. Em geral, são professores ou
gestores, da educação básica, vinculados a organizações sociais, dentre as
quais, movimento negro, hip-hop, mulheres negras, grupo de tradições
artísticas, culturais e religiosas de matrizes africanas, dentre outros co-
letivos. A partir de então, esse grupo de pesquisadores e pesquisadoras
passou a se encontrar mais regularmente em seminário de pesquisas até
que, por fim, criaram o Grupo Ylê Educare, no ano de 2013.
Desde então, com apoio de professores, mas por iniciativa e protago-
nismo dos estudantes, o grupo se reuniu periodicamente para discutir suas
pesquisas e promover encontros científicos, de celebração e de reflexão,
destacando, além dos estudos regulares, os trabalhos desenvolvidos nos
encontros da semana da consciência negra. Em 2015, já consolidado em
pesquisas e publicações, o Ylê foi registrado na Plataforma dos Grupos de
Pesquisa do CNPq, contando, atualmente, com mais de 40 participantes,
entre pesquisadores, estudantes e militantes de movimentos sociais.
É nesse contexto que destaco a importância do livro “Educação e em-
poderamento da mulher negra”, organizado por Neide Cristina da Silva,
Francisca Mônica Rodrigues de Lima e Maria Lúcia da Silva, três mulhe-
res que, ao lado da militância, têm buscado respostas aos problemas e às
inquietações étnico-raciais a partir de suas pesquisas na pós-graduação.
Como o próprio título explicita, os capítulos deste livro estão integra-
dos organicamente pela temática das mulheres negras. Todos os trabalhos
aqui publicados são resultados de pesquisas já concluídas ou em fase de
conclusão. Embora a grande maioria dos pesquisadores/autores desta co-
letânea seja formada por professores mestres, mestrandos, doutores e dou-
torandos dos programas de educação da Uninove, pesquisadores de outras
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universidades também se incorporaram a essa obra. Dentre essas, encon-
tram-se investigadores das seguintes instituições: Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo (PUC/SP), Universidade Federal do Sul da Bahia
(UFSBA), Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Faculdades Metro-
politanas Unidas (FMU) e Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Recomendo este livro não apenas pela atualidade das abordagens, mas
pelo fato de que, no imenso universo das questões étnico-raciais, os estudos
sobre a mulher negra, mesmo que crescentes nas últimas décadas, carecem
ainda de muita pesquisa e, sobretudo, de divulgação e debate. Embora haja
no Brasil um relevante número de pesquisadoras e pesquisadores sobre as
temáticas negras, as discussões particularmente relacionadas à história e ao
cotidiano da mulher negra, fora dos coletivos, ainda têm pouco eco na so-
ciedade brasileira. Evidentemente, não se trata de um problema particular
do movimento negro, mas de uma questão bem mais ampla na sociedade
em geral: a “secundarização do feminino”. Entenda-se “secundarização do
feminino” enquanto campo de dominação do machismo, mas, igualmente,
como a forma mais longeva e cruel de opressão humana. De fato, quando
fazemos uma incursão na História, não encontramos nenhum outro sis-
tema equivalente ao processo de dominação do gênero masculino sobre
o feminino. Salvos contextos muito singulares, em especial em sociedades
matriarcais, até o momento, a igualdade política de gênero tem um longo
caminho a percorrer para se consolidar.
Mas, se esta dominação se revelou historicamente tão eficaz e perver-
sa sobre as mulheres em geral, ela é ainda mais aviltante sobre as mulheres
negras, o segmento mais dominado entre os dominados, particularmente
nas sociedades de tradição escravocrata ou colonial. Observemos que,
apenas a partir da década de 1990, com o movimento conhecido como
“terceira onda do feminismo” é que, do ponto de vista do debate social,
as questões de luta pela emancipação da mulher negra ganharam maior
evidência, especialmente pela atuação das mulheres negras feministas.
Passadas quase 3 décadas, apesar dos muitos avanços, há muito o
que conquistar. Para se ter um breve panorama da inserção das mulheres
negras nesse cenário mundial feminista, basta observarmos que quando
fazemos uma busca na internet sobre as mais expressivas mulheres de
referência do feminismo, desde o século XVIII, apenas Bell Hooks, Patrí-
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cia Collins, Audrey Lorde, Alice Walker são negras. Num universo de 34
escritoras feministas de expressões mundiais, 30 são brancas. Vale lem-
brar que todas as escritoras negras nesse panteão são estadunidenses, ou
seja, não existem, nesse âmbito mais global, representantes dos lugares de
maior população negra como os países africanos e o Brasil. Obviamente
que, para especialistas do tema, há muitas mulheres negras de grande ex-
pressão que não constam nessa lista. Mas, para não ir muito longe, falan-
do de nosso campo brasileiro da educação, somente em outubro de 2017,
uma pesquisadora negra, Nilma Gomes, proferiu a conferência de abertu-
ra da 38ª Reunião Nacional da Associação Nacional de Pós-Graduação e
Pesquisa em Educação (Anped). Esse fato se torna mais relevante quando
verificamos que a referida associação, a mais importante sobre pesquisa
em educação no Brasil, completou 40 anos de existência em 2016.
Nesse quadro geral, todo avanço que diz respeito à afirmação da mulher
negra deve ser interpretado como uma conquista social. O livro “Educação
e empoderamento da mulher negra” é, portanto, mais um dentre tantos tra-
balhos que já surgiram e surgirão nesse imenso cenário de questões relativas
às mulheres negras. Mas ele ganha destaque pelo amplo panorama de abor-
dagens que traz, revelando, especialmente para as leitoras e leitores inicias
do tema, a complexidade de questões que envolvem essa temática: a mulher
negra transexual; a solidão da mulher negra; as identidades das meninas ne-
gras; mulher negra na educação básica e no ensino superior; eugenia; ações
afirmativas; a mulher negra em situação de rua, dentre outras. Para além do
grande valor das abordagens aqui desenvolvidas, este livro é um ato político,
porque, não resulta apenas de reflexões realizadas a partir de categorias ana-
líticas da sociologia, da filosofia, da antropologia, da história etc., mas das ex-
periências existenciais e intelectuais de negras e não negras, de negros e não
negros que tomam como ponto de vista o olhar das oprimidas e dos oprimi-
dos em processo e em luta de emancipação. Nesse sentido, o empoderamento
da mulher negra é, antes de tudo, o empoderamento de toda sociedade.
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Mulher
negra e
Mulher negra
educação
e educação
MULHER, TRANSEXUAL E NEGRA:
INTERSECÇÕES DA EXCLUSÃO ESCOLAR
Anselmo Clemente1
Antonio Germano 2
Introdução
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MULHER, TRANSEXUAL E NEGRA: INTERSECÇÕES DA EXCLUSÃO ESCOLAR
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ANSELMO CLEMENTE E ANTONIO GERMANO
fobia, transfobia por parte das instituições e da vida social, e são produ-
toras de marginalização.
[...] a raça não é uma realidade biológica, mas sim apenas um con-
ceito, aliás, cientificamente inoperante para explicar a diversidade
humana e para dividi-la em raças estanques. Ou seja, biológica e
cientificamente, as raças não existem.
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ANSELMO CLEMENTE E ANTONIO GERMANO
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MULHER, TRANSEXUAL E NEGRA: INTERSECÇÕES DA EXCLUSÃO ESCOLAR
e oportunidades aos negros em nosso país. É essa mesma leitura sobre raça,
de uma maneira positiva e política, que os defensores das políticas de ações
afirmativas no Brasil têm trabalhado (GOMES, 2005).
Enfim, discutir o conceito de raça leva-nos a uma reflexão sobre a
sociedade ter um papel de construtora na formação dos cidadãos e pro-
motora de ações e políticas que visem criar oportunidades iguais para
negros e brancos, entre outros grupos raciais, nos mais diversos setores.
É preciso ensinar para as novas gerações que algumas diferenças cons-
truídas na cultura e nas relações de poder receberam uma interpretação
social e política.
Gênero e transgênero
Gênero pode significar a diferença entre homens e mulheres, e refe-
re-se à identidade adotada por uma pessoa de acordo com seus genitais,
psicologia ou seu papel na sociedade. Para Izquierdo (1999), poderíamos
nos referir aos gêneros como obras culturais, modelos de comportamento
mutuamente excludentes cuja aplicação supõe o hiperdesenvolvimento
de um número de potencialidades comuns aos humanos em detrimento
de outras. Modelos que se impõem ditatorialmente às pessoas em função
do seu sexo. Mas esta só seria uma aproximação superestrutural do fenô-
meno dos gêneros.
De acordo com Bento (2011), o gênero, portanto, é o resultado de
tecnologias sofisticadas que produzem corpos-sexuais. Quando se diz
“é um menino!”, não se está descrevendo um menino, mas criando um
conjunto de expectativas para aquele corpo que será construído como
“menino”. Ainda de acordo com a autora, nascemos e somos apresenta-
dos a uma única possibilidade de construirmos sentidos identitários para
nossas sexualidades e gêneros. Há um controle minucioso na produção
da heterossexualidade.
A sexualidade dita “normal” e “natural” é a heterossexualidade. É
através dela que se constroem papeis sociais que sempre beneficiam prin-
cipalmente o homem heteronormativo e branco, desta forma, é possível
apreendermos que também essas questões passam pela aquisição de po-
der que é conferido ao homem. As formas idealizadas dos gêneros ge-
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MULHER, TRANSEXUAL E NEGRA: INTERSECÇÕES DA EXCLUSÃO ESCOLAR
isso podemos concluir também que a discussão que gera conflitos pode se
resumir especificamente no fato exatamente da não identificação com o
sexo biológico. De acordo com Berenice Bento (2008, p, 20) “transexuali-
dade, travestilidade, transgênero são expressões, identitárias que revelam
divergências com as normas de gênero uma vez que estas são fundadas no
diformismo, na heterossexualidade e nas idealizações”.
No Brasil, as posições não heterossexuais ao longo da história nunca fo-
ram criminalizadas por legislação específica. Apesar disso, em diversos mo-
mentos podemos observar como o sistema regulatório da hetenormativida-
de efetivou o controle desta população alegando crime de vadiagem, dentre
outros. Durante o regime ditatorial no país, por exemplo, as travestis foram
perseguidas pela polícia numa tentativa higienista de retirá-las das ruas.
Abordagem Metodológica
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Foi. Mais difícil para mim. Juntou as duas coisas. Fora essas duas coi-
sas, juntou outras coisas a mais. Que nem, a família não aceitava mui-
to bem a minha condição, não queria saber, queria que eu mudasse o
jeito, queria mudar tudo. Eu tinha que mudar as coisas todinhas.
6 Explicação fornecida por Angela Lopes acerca das identidades “Trans” durante a
mesa de debate LGBTQIA + Mínimo Denominador Comum, 2ª CONFERÊNCIA
INTERNATIONAL [SSEX BBOX] & MIXBRASIL, no Centro Cultural São Paulo, São
Paulo, em 19 de novembro de 2016.
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ANSELMO CLEMENTE E ANTONIO GERMANO
Ela relata que terminou o ensino médio com dificuldades, “os meni-
nos queriam me bater, eu não poderia entrar dentro do banheiro, senão
eles me pegavam para me bater dentro do banheiro.” Então perguntamos
se só os meninos tinham este comportamento agressivo “Só os meninos”?
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MULHER, TRANSEXUAL E NEGRA: INTERSECÇÕES DA EXCLUSÃO ESCOLAR
Nem como menino gay. Quando eu assumi com meus pais, foi de
18 para 19. Aí minha mãe... eu já falei para minha mãe. Minha mãe
pegou a... pegou faca, pegou um monte de coisas e tacou em mim,
que até me machucou. Se não fosse o meu irmão para tirar ela de
cima de mim, eu não estaria nem aqui.
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é muito ruim. Você corre risco de vida na rua. [...] Estudando elas
conseguem mais. A família devia dar apoio também, para as trans,
travestis, todo mundo. Já que a família não dá apoio a gente pro-
cura... [...] Eu aprendi muito na escola. E eu quero que as meninas
voltem a estudar para aprender o que é bom para elas.
Considerações Finais
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7 O caso repercutiu amplamente nas redes sociais e em diversos veículos de comunicação, como
na edição virtual da Revista Forum, de 7 de março de 2017.
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mulher negra transexual, ainda mais com uma história de violência es-
trutural de Samantha, está no fio da navalha para se manter viva e muito
mais exposta a um sistema que, quando não consegue assimilar, MATA!
Referências
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ANSELMO CLEMENTE E ANTONIO GERMANO
SCHARCZ, Lilia Moritz. Nem preto nem branco, muito pelo contrário.
Cor e raça na sociedade brasileira. São Paulo, Enigma,2012.
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NADA DE NOVO, TUDO OUTRA VEZ:
REFLEXÕES SOBRE A SOLIDÃO DA MULHER
NEGRA
Introdução
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MARIA APARECIDA OLIVEIRA LOPES E FRANCISCA MÔNICA RODRIGUES DE LIMA
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desses estudos extraíram-se pistas acerca das escolhas afetivas entre ne-
gros e brancos e sobre a “solidão” das mulheres negras.
Nas palavras de Ana Claudia Pacheco, as transformações ocorridas
na família, na sexualidade e nas relações de gênero, nas sociedades mo-
dernas, foram causadas pelas mudanças de valores do ideal do amor ro-
mântico, os quais que se disseminaram na sociedade burguesa e se choca-
ram com a o “amor confluente”. O amor confluente depende de critérios
sociais externos para se efetivar, como raça, classe, sexo, idade etc. Gid-
dens (1993), citado por Pacheco, tinha uma explicação para as relações
amorosas na modernidade. Segundo o autor, o ideal de amor romântico
tende a fragmentar-se, em função da autonomia sexual emancipatória das
mulheres, provocando um choque entre o “amor romântico” e o “amor
confluente”. O amor romântico pode ser definido como infinito, “para
sempre” e o “amor confluente” seria uma espécie de amor real.
Giddens observou a diferença, principalmente, para as mulheres, en-
tre amor carnal e amor ideal. O amor ideal seria uma espécie de amor
romântico propagado pelo pensamento ocidental que, a partir do século
XVIII, considerou que o amor vence tudo, vence todas as barreiras sociais
e culturais entre os indivíduos. A idealização do amor foi frustrada pela
realidade concreta ou pelos interesses dos indivíduos nas sociedades con-
temporâneas (PACHECO, 2013, p. 284).
Bell Hooks (2000), analisando o contexto norte americano, acentuou
que os sistemas de dominação e exploração geraram uma dificuldade de
amar entre os negros e as negras no período escravista e pós-escravista.
Para a autora, as mulheres negras aprenderam a reprimir as emoções em
detrimento da luta pela sobrevivência. Para Hooks, as mulheres negras
precisam criar condições para viver plenamente sem negar sua necessida-
de de conhecer o amor.
Vale a pena também observar como a questão do corpo e suas relações
afetivas foi pensada pelas feministas negras, sobretudo o enfrentamento
da solidão nas relações afetivas e no trabalho intelectual. As teorias for-
muladas por feministas negras norte-americanas e latino-americanas con-
tribuíram para as pesquisas nos contextos contemporâneos. Essas teorias
enfatizaram a necessidade de pensar a produção do conhecimento a partir
da experiência da mulher negra. Notam-se, nestes estudos feministas, uma
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Referências
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MARIA APARECIDA OLIVEIRA LOPES E FRANCISCA MÔNICA RODRIGUES DE LIMA
PACHECO, Ana. Claudia. “Branca para casar, mulata para “F” e negra
para trabalhar”: escolhas afetivas e significados de solidão entre
mulheres negras em salvador, Bahia. 2008. (doutorado em Ciências
sociais) - instituto de Filosofia e Ciências humanas, Universidade
estadual de Campinas, são Paulo, 2008.
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MULHERES NEGRAS E EDUCAÇÃO: (RE)
CONSTRUÇÃO DE UMA HISTÓRIA DE
VITIMIZAÇÃO E A POSSIBILIDADE DE
EMPODERAMENTO
Introdução
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POSSIBILIDADE DE EMPODERAMENTO
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VANDA APARECIDA DE ARAÚJO, THIAGO BATISTA COSTA E SARA SANTOS XAVIER
4 Lei Áurea: oficialmente, Lei Imperial n.º 3.353, sancionada em 13 de maio de 1888,
foi o diploma legal que extinguiu a escravidão no Brasil.
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POSSIBILIDADE DE EMPODERAMENTO
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POSSIBILIDADE DE EMPODERAMENTO
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VANDA APARECIDA DE ARAÚJO, THIAGO BATISTA COSTA E SARA SANTOS XAVIER
5 Dossiê Mulheres Negra: retrato das condições de vida das mulheres negras no Brasil
(MARCONDES,2013)
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VANDA APARECIDA DE ARAÚJO, THIAGO BATISTA COSTA E SARA SANTOS XAVIER
fazem parte de um sistema que gera efeitos negativos na vida dos sujeitos
que vivenciam essas práticas (BISPO, 2013).
Seguindo nessa esteira, quando analisamos a situação da mulher ne-
gra, falando agora especificamente do Município de São Paulo, encontra-
mos, no censo demográfico do IBGE6 (2010) e nos dados apresentados
pela Secretaria Municipal de Promoção da Igualdade Racial de São Paulo
(SMPIR) no Fórum de Desenvolvimento Econômico Inclusivo, alguns in-
dicativos que reforçam ainda mais a importância da luta do movimento
feminismo negro.
Domicílios chefiados por homens negros apresentam rendimento do-
miciliar 2.6 vezes menor que os chefiados por homens brancos. Nos do-
micílios chefiados por mulheres brancas, o rendimento domiciliar era 2.3
vezes maior do que os chefiados por mulheres negras. Um homem negro
com nível médio de escolaridade, em ocupações do comércio ou serviço,
ganha em média 13.1% menos que um branco nas mesmas condições.
Para as mulheres, essa diferença é ligeiramente maior. Uma mulher negra
de nível médio e em ocupações do comércio ou serviço ganha em média
14.5% menos que uma branca na mesma condição. Para as mulheres ne-
gras com nível superior completo, ocupando cargos de gerência ou chefia,
essa diferença é ainda maior: elas ganham 37.5% a menos que mulheres
brancas com as mesmas características educacionais e profissionais.
Desde suas primeiras atuações no Brasil, em 1889, o movimento ne-
gro brasileiro tem dialogado, por meio de diversas estratégias, não so-
mente com o Estado brasileiro, mas, principalmente, com a população
negra, no intuito da quebra do estigma de inferioridade carregado por
esses e também na busca do fim do racismo e das injustiças sociais. Bus-
cando esse resgate, é possível encontrar ações políticas desenvolvidas por
negras e negros, com a finalidade em garantir direitos e igualdade para a
população negra ainda no período escravocrata (DOMINGUES, 2007).
A falsa ideia resulta na busca de valorização social e na constante
pressão de se enquadrar nos padrões esperados. A conquista de espaços
considerados importantes e ocupados por brancos se torna uma constan-
te na destruição da identidade negra. O mito da democracia racial atinge
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POSSIBILIDADE DE EMPODERAMENTO
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VANDA APARECIDA DE ARAÚJO, THIAGO BATISTA COSTA E SARA SANTOS XAVIER
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POSSIBILIDADE DE EMPODERAMENTO
movimento social negro, mas por uma pressão das fortes discussões que
se ampliavam sobre as políticas de ações afirmativas, logo após a Con-
ferência Mundial em Durban, em 2001. É importante destacarmos que
a promulgação de leis, como a referida acima, que tratam desta questão
acaba por reconhecer a falsidade ideológica de que a sociedade brasileira
é caracterizada por uma democracia étnica.
Entretanto, a palavra da Lei obrigando a inclusão da cultura africana
e afro-brasileira, por si só, não conscientiza. É fundamental que as prá-
ticas, os valores e as informações que são veiculadas no âmbito escolar
sejam ressignificados e que se desvendem as práticas de discriminação
e de intolerância presentes neste contexto, que podem gerar violências
entre alunos e entre alunos e educadores (MUNANGA, 2005).
Segundo Cavalleiro (2005), a escola e seus agentes têm demonstrado
omissão quanto ao dever de respeitar a diversidade racial e reconhecer
com dignidade as crianças e a juventude negra, e essa omissão não con-
tribui em nada para a conscientização do jovem negro em idade escolar,
gerando nesses estudantes inclusive a negação de sua identidade.
Para Candau (2003), a escola sempre teve dificuldade em lidar com
a pluralidade e a diferença. Tende a silenciá-las e neutralizá-las. Sente-se
mais confortável com a homogeneização e a padronização. Abrir espaços
para a diversidade e para o cruzamento de culturas constitui o grande
desafio a ser vencido pela educação contemporânea.
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VANDA APARECIDA DE ARAÚJO, THIAGO BATISTA COSTA E SARA SANTOS XAVIER
Educação é o caminho
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Considerações finais
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Referências
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VANDA APARECIDA DE ARAÚJO, THIAGO BATISTA COSTA E SARA SANTOS XAVIER
DAVIS, Angela. Women, race and class. Nova York: Vintage Books,
1981.
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POSSIBILIDADE DE EMPODERAMENTO
VALENTE, Ana Lúcia E. F. Ser Negro No Brasil Hoje. 11. ed. São Paulo:
Moderna, 1994.
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“DOSSIÊ MULHERES NEGRAS”: UM OLHAR
SOBRE AS DESIGUALDADES ENFRENTADAS
PELAS MULHERES NA EDUCAÇÃO SUPERIOR
Introdução
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“DOSSIÊ MULHERES NEGRAS”: UM OLHAR SOBRE AS DESIGUALDADES ENFRENTADAS PELAS
MULHERES NA EDUCAÇÃO SUPERIOR
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CLÁUDIO APARECIDO DE SOUSA E GILCA RIBEIRO DOS SANTOS
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“DOSSIÊ MULHERES NEGRAS”: UM OLHAR SOBRE AS DESIGUALDADES ENFRENTADAS PELAS
MULHERES NA EDUCAÇÃO SUPERIOR
A origem
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MULHERES NA EDUCAÇÃO SUPERIOR
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MULHERES NA EDUCAÇÃO SUPERIOR
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CLÁUDIO APARECIDO DE SOUSA E GILCA RIBEIRO DOS SANTOS
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“DOSSIÊ MULHERES NEGRAS”: UM OLHAR SOBRE AS DESIGUALDADES ENFRENTADAS PELAS
MULHERES NA EDUCAÇÃO SUPERIOR
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CLÁUDIO APARECIDO DE SOUSA E GILCA RIBEIRO DOS SANTOS
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MULHERES NA EDUCAÇÃO SUPERIOR
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CLÁUDIO APARECIDO DE SOUSA E GILCA RIBEIRO DOS SANTOS
Considerações finais
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“DOSSIÊ MULHERES NEGRAS”: UM OLHAR SOBRE AS DESIGUALDADES ENFRENTADAS PELAS
MULHERES NA EDUCAÇÃO SUPERIOR
Referências
FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 17. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2003.
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VIRGÍNIA LEONE BICUDO E NEUSA SANTOS
SOUZA: PROFESSORAS NEGRAS E SUAS
VALIOSAS TRAJETÓRIAS NA EDUCAÇÃO
Introdução
O presente texto manifesta a importância da trajetória das mulheres
negras, que deve ser interpretada de maneira crítica, ou seja, como a ex-
pressão do caminho e não o desejo tão somente de caminhar do ponto
de vista do dom, da vocação, do nato, pois a desnaturalização das pos-
sibilidades de escolhas, decisões e mudanças permanentes no contexto
sociocultural, sociopolítico, socioeconômico dos séculos XIX e XX se faz
necessária. Em razão disso, a narrativa propõe analisar e debater as ações,
as socializações e os deslocamentos dessas protagonistas no processo de
superação, diante da impossibilidade de acesso aos contextos elitizados.
A condição de negras e negros em liberdade (não efetiva) mostra o
equívoco de associar a população negra a lugares sociais específicos que
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TRAJETÓRIAS NA EDUCAÇÃO
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TRAJETÓRIAS NA EDUCAÇÃO
Brasília. [...] Onde achava que precisava levar a psicanálise, eu levei”. As-
sim, afirmamos aqui nossas suspeitas de que houve momentos de interse-
ção nas trajetórias profissionais dessas autoras.
Na introdução do seu livro, Tornar-se Negro, Souza (1990, p. 17) ex-
plica que o seu objetivo é:
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MARIA LUCIA DA SILVA E CAROLINA CRISTINA DOS SANTOS NOBREGA
[...] vou contar uma coisa tristíssima da história dele. Ele queria fa-
zer universidade. Na época era Curso Superior. E ele queria ir para
Medicina. Então estava no sexto ano do ginásio. Veja que homem
esforçado, hein? Veio de empregado doméstico que ele era, depois
foi subindo e fez o Ginásio do Estado. E quando terminou o Giná-
sio do Estado naquele ano, ele passava direto para Faculdade de
Medicina. Naquele tempo não havia vestibular para Medicina. Ter-
minava o ginásio e entrava na Medicina ou em qualquer curso su-
perior. Então, o professor que chamava Barros ou Barrinhos, do
ginásio do último ano, quando viu que meu pai ia para Faculdade
de Medicina, reprovou. Porque ele disse que negro não podia ser
médico. Então, meu pai durante 10 anos ficou fazendo o sexto ano
para passar e entrar na Medicina. E esse professor que eu não es-
queço o nome... Parece que é castigo, Barros, da Física, reprovava.
[...] Depois desses 10 anos, aí não pôde entrar, porque não tinha
mais essa entrada direta do ginásio para Medicina. Aí tinha que
fazer vestibular. Aí meu pai desistiu, já tinha a filharada toda. En-
tão ele foi barrado por preconceito. Puro preconceito. Eu quando
criança via tudo isso. Eu já existia quando meu pai ficou nessa luta.
Eu já ouvia as brigas todas, as decepções que não podia entrar, mas
ele tinha que ir. Tudo isso eu vi, acompanhei como criança.
Considerações finais
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TRAJETÓRIAS NA EDUCAÇÃO
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Referências
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TRAJETÓRIAS NA EDUCAÇÃO
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MARIA LUCIA DA SILVA E CAROLINA CRISTINA DOS SANTOS NOBREGA
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Mulher
negra:
arte,
literatura
e culturas
MULHER, TRANSEXUAL E NEGRA: INTERSECÇÕES DA EXCLUSÃO ESCOLAR
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CAROLINA MARIA DE JESUS: MEMÓRIAS DE
UM TEMPO DE EUGENIA E LOUCURA
Introdução
Um refúgio?
Uma barriga?
Um abrigo onde se esconder quando estiver se afogando na chuva,
ou sendo quebrado pelo frio, ou sendo revirado pelo vento?
Temos um esplêndido passado pela frente?
Para os navegantes com desejo de vento, a memória é um ponto de
partida.
(GALEANO, 2007, p. 96).
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CAROLINA MARIA DE JESUS: MEMÓRIAS DE UM TEMPO DE EUGENIA E LOUCURA
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RÉGIA VIDAL DOS SANTOS E NEIDE CRISTINA DA SILVA
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Bitita não tinha atração por bonecas, queria entender a vida, o que
a levou a apreender, muito cedo, o significado da palavra injustiça. Suas
observações e sensações lhe mostravam que não poderia viver tranquila
em um mundo tão assimétrico, no qual ter uma pele branca era o mesmo
que ter um salvo conduto. Percebia que, quando os brancos cambalea-
vam na rua, tinham uma justificativa bem diferente dos negros: para os
primeiros, tratava-se de indisposição; para os que carregavam o estigma
do racismo, era resultado de pinga e, assim, quem ia preso era sempre o
negro. Esse aprendizado não poupou sua vida de criança; ouvia o tempo
todo: “Negrinha vagabunda. Negro não presta” (JESUS, 2014, p. 58).
Nada lhe parecia minimamente justo. Enquanto para os brancos o
meio de vida estava garantido, para os negros a sobrevivência era exaus-
tiva e estudar era praticamente impossível. Nas palavras de seu avô, as
escolas não abriam suas portas para os negros. De acordo com Bitita,
havia a incompreensão e a revolta, pois o sonho de muitos era aprender a
ler e escrever, mas “A escravidão era como uma cicatriz na alma do negro”
(JESUS, 2014, p. 61).
Filha de poeta boêmio que, logo após seu nascimento, abandonou sua
mãe com outros dois filhos, nos primeiros anos de vida, Bitita chorava dia
e noite. A mãe, na tentativa de compreender o que se passava, procurou
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RÉGIA VIDAL DOS SANTOS E NEIDE CRISTINA DA SILVA
um médico, que lhe assegurou: “Ela vai adorar tudo o que é belo! A sua
filha é poetisa; pobre Sacramento, do teu seio sai uma poetisa. E sorriu”
(JESUS, 2014, p. 74).
Em virtude do desejo de compreender o mundo, a vida e a morte,
Bitita não parava de questionar e, como resposta, ouvia:
Eu sabia que era negra por causa dos meninos brancos. Quando
brigavam comigo diziam:
− Negrinha! Negrinha fedida!
[...] Não compreendi, mas achei tudo isso tão confuso! Por causa
dos meninos brancos criticavam o nosso cabelo:
− Cabelo pixaim! Cabelo duro!
Eu lutava para fazer os meus cabelos crescerem. Era uma luta inú-
til. O negro é filho do macaco [...]. Fui ficando triste. O mundo há
de ser sempre assim: negro para aqui, negro para ali. E Deus gosta
mais dos brancos do que dos negros. Os brancos têm casas cober-
tas com telhas. Se Deus não gosta de nós, por que nos fez nascer?
(JESUS, 2014, p. 95).
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CAROLINA MARIA DE JESUS: MEMÓRIAS DE UM TEMPO DE EUGENIA E LOUCURA
quando eu entrei:
− Que negrinha feia!
Ninguém quer ser feio.
− Que olhos grandes, parece sapo.
Minha mãe era pobre. Dona Maria Leite insistiu com mamãe para
enviar-me à escola. Eu fui apenas para averiguar o que era a escola
(JESUS, 2014, p. 125-126).
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RÉGIA VIDAL DOS SANTOS E NEIDE CRISTINA DA SILVA
Quando estou com pouco dinheiro procuro não pensar nos filhos
que vão pedir pão, pão, café. Desvio meu pensamento para o céu.
Penso: será que lá em cima tem habitantes? Será que eles são me-
lhores do que nós? Será que as nações de lá é variada igual aqui
na terra? Ou é uma nação única? Será que lá existe favela? E se lá
existe favela será que quando eu morrer eu vou morar na favela
(JESUS, 1960, p. 45).
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RÉGIA VIDAL DOS SANTOS E NEIDE CRISTINA DA SILVA
Fato similar ao que acontecia nos países africanos. De acordo com Pe-
reira (1984), no continente africano verificou-se também a colonização da
loucura, e o negro que não se adaptava ao processo de “civilização europeia”,
apresentando comportamento agressivo, era conduzido aos hospícios. No
Brasil, a situação não foi diferente e, a partir do século XIX, a população
negra começou a transformar-se em inimiga da sociedade, situação que se
acentuou com a aproximação da abolição da escravidão e do desejo de bran-
queamento da população.
Perpetuou-se o racismo institucional e até mesmo artistas negros fo-
ram encarcerados em hospícios, como o escritor Lima Barreto, o artista
plástico Bispo do Rosário (HIDALGO, 2017), a escultora Adelina Gomes,
o pintor Fernando Diniz, entre outros. Contudo, estes artistas que eram
tidos como loucos pela sociedade “sã e civilizada” demonstraram, a partir
de suas obras, que os conceitos de razão e desrazão, loucura e lucidez
precisavam ser revistos (MELLO, 2014).
Esses artistas são alguns exemplos de como o racismo institucional
atuou e atua na sociedade brasileira, tentando eliminar o povo negro, seja
por meio do genocídio dos meninos negros nas periferias, por meio do en-
carceramento da população negra ou pelas internações compulsórias, como
a proposta do governo municipal de São Paulo em 2017, que, retomando
uma política higienista, não pretende buscar alternativas para resolver o
problema da violência e tráfico de drogas e, sim, visa tirar da cidade, do
raio de visão dos “bons cidadãos”, os corpos negros indesejados. E, mais
uma vez, “[...] a prática de internação não tem sentido médico, nem preo-
cupação de cura, mas é um problema de polícia” (PEREIRA, 1984, p. 65).
Sendo assim, o programa Redenção, da cidade de São Paulo, fere a
Lei n.º 10.261/01,
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CAROLINA MARIA DE JESUS: MEMÓRIAS DE UM TEMPO DE EUGENIA E LOUCURA
que tem como desejo uma cidade limpa que atenda aos anseios da elite.
São programas que perpetuam o racismo institucional, que se caracteriza
por ser um limitador do acesso aos direitos e serviços das populações não
brancas e se manifesta em práticas discriminatórias que colocam pessoas
de grupos étnicos discriminados em situação de desvantagem no acesso a
benefícios gerados pelo Estado (GELEDÉS, 2013).
Mais uma vez, sentada em confortáveis sofás, a sociedade brasileira
observa o retorno de políticas higienistas e de limpeza social associadas à
pobreza. E em silêncio assiste à perpetuação de práticas discriminatórias,
corroborando com a dor e a morte de tantas outras Carolinas Marias.
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RÉGIA VIDAL DOS SANTOS E NEIDE CRISTINA DA SILVA
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RÉGIA VIDAL DOS SANTOS E NEIDE CRISTINA DA SILVA
Cabe lembrar que sua narrativa se inicia nos anos de 1930, período
em que as mulheres ainda vivenciavam as agruras de uma sociedade ex-
tremamente sexista. O anseio por atuar no mundo sem fraqueza e estag-
nação aparece em seus relatos e torna visível a internalização dos valores
dessa sociedade que reconhece a força como atributo masculino.
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Considerações finais
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RÉGIA VIDAL DOS SANTOS E NEIDE CRISTINA DA SILVA
Referências
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CAROLINA MARIA DE JESUS: MEMÓRIAS DE UM TEMPO DE EUGENIA E LOUCURA
JESUS, Carolina Maria de. Diário de Bitita. São Paulo: SESI-SP, 2014.
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RÉGIA VIDAL DOS SANTOS E NEIDE CRISTINA DA SILVA
PEREIRA, João Frayse. O que é loucura. 3. ed. São Paulo: Brasiliense, 1984.
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IDENTIDADE DE MENINAS NEGRAS: A FORÇA
DA HISTÓRIA E DO DISCURSO
1 Doutor (2007) e mestre (2001) em Educação pela Universidade de São Paulo (USP).
Graduado e licenciado em história pela Unisal. Docente do Programa de Pós-Graduação
(mestrado e doutorado) em Educação da Universidade Nove de Julho (PPGE-UNINOVE)
e diretor do Programa de Mestrado Profissional em Gestão e Práticas Educacionais
(PROGEPE) na mesma universidade. E-mail: jasonmafra@gmail.com
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IDENTIDADE DE MENINAS NEGRAS: A FORÇA DA HISTÓRIA E DO DISCURSO
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JASON FERREIRA MAFRA, RÉGIA VIDAL DOS SANTOS E ANNE CAROLINE NARDI DOS SANTOS
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IDENTIDADE DE MENINAS NEGRAS: A FORÇA DA HISTÓRIA E DO DISCURSO
Temas Quantidade
Zumbi dos Palmares 15
Assentamento e territórios 39
Produções sobre mortos vivos 11
Chico Science e nação zumbi 7
Teatro 17
Faculdade Zumbi 6
Feriado 2
Música 10
Literatura 5
Religião 7
Outros 28
TOTAL 147
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JASON FERREIRA MAFRA, RÉGIA VIDAL DOS SANTOS E ANNE CAROLINE NARDI DOS SANTOS
Temas Quantidade
Dandara 0
Comunidade quilombola 1
Nome do autor 27
Ocupação urbana Dandara 10
Outros 6
TOTAL 44
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IDENTIDADE DE MENINAS NEGRAS: A FORÇA DA HISTÓRIA E DO DISCURSO
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JASON FERREIRA MAFRA, RÉGIA VIDAL DOS SANTOS E ANNE CAROLINE NARDI DOS SANTOS
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IDENTIDADE DE MENINAS NEGRAS: A FORÇA DA HISTÓRIA E DO DISCURSO
− Estou aqui para dizer que guio teus passos a todo instante.
Criei você para uma missão, a mesma que arde em seu peito e arre-
bata seus pensamentos desde tão cedo – Iansã continuou.
− A missão de ser guerreira? − Dandara perguntou contraindo to-
dos os músculos de seu corpo.
− Isso mesmo, Dandara. Você será a maior guerreira que já se teve
notícia. Libertará muitas pessoas. Seu nome será uma lenda para
as gerações futuras.
Naquele instante, Dandara sentiu um calor reconfortante enchen-
do seu peito. Sonhar com as batalhas e as conquistas era algo que
lhe trazia felicidade, mas ouvir aquelas palavras era muito mais do
que podia fantasiar. A presença de Iansã estava além de todos os
seus desejos mais altos.
− Minha filha, jamais deixe que o medo, a dúvida ou a falta de es-
perança dominem seu espírito (ARRAES, 2016, p. 53).
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JASON FERREIRA MAFRA, RÉGIA VIDAL DOS SANTOS E ANNE CAROLINE NARDI DOS SANTOS
Mas, por mais cruel que tenha sido essa era de quase quatro séculos,
ao lado das formas mais repugnantes de violência, desenvolveu-se a luta
constante de negras e negros pela vida e pela liberdade. É aí que se situa,
hoje, um campo importante da história e da literatura na perspectiva de
recuperar e, até certo ponto, construir a memória das lutas dos segmentos
oprimidos e oprimidas, como o caso de Dandara.
No romance de Jarid Arraes, Dandara é descrita como uma heroína
que dominava técnicas de capoeira e participava ativamente das bata-
lhas. Quando realizamos uma busca em sites da internet por meio da
palavra-chave “Dandara dos Palmares”, lemos, em muitos deles, que foi
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IDENTIDADE DE MENINAS NEGRAS: A FORÇA DA HISTÓRIA E DO DISCURSO
Arraes afirma que, embora se trate de uma ficção, sua obra é inspi-
rada em fatos reais da história do Brasil, particularmente num período
violento que estabeleceu uma economia exploratória, por meio da com-
pra e venda de escravizados africanos, do sacrifício desses na manufatura
do açúcar, no cultivo do cacau, do café, na criação de gado e em guerras
coloniais. Mas a violência física foi apenas uma dimensão dessa história
cruel. Além de transformar em mercadoria corpos de negras e negros,
para o historiador da cultura africana no Brasil, Abdias do Nascimento
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JASON FERREIRA MAFRA, RÉGIA VIDAL DOS SANTOS E ANNE CAROLINE NARDI DOS SANTOS
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IDENTIDADE DE MENINAS NEGRAS: A FORÇA DA HISTÓRIA E DO DISCURSO
Esse olhar e esse fazer que subjugam uma pessoa em razão da cor
da sua pele se consolidou nas relações de poder, nas classes sociais e nos
bancos escolares. Os resultados dessa desigualdade podem ser constata-
dos nos índices de mortalidade e violência e, dentre tantos outros marca-
dores, no discrepante número de pessoas da população negra que conse-
gue ingressar e concluir o ensino superior e ascender socialmente. Basta
comparar esses números com o da população de pele branca, ou olhar
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JASON FERREIRA MAFRA, RÉGIA VIDAL DOS SANTOS E ANNE CAROLINE NARDI DOS SANTOS
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JASON FERREIRA MAFRA, RÉGIA VIDAL DOS SANTOS E ANNE CAROLINE NARDI DOS SANTOS
Referências
COSTA, Emília V. da. A abolição. 9 ed. São Paulo: Editora Unesp, 2010.
PRIORE, Mary Del. História das crianças no Brasil. 7 ed. São Paulo:
Contexto, 2016.
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IDENTIDADE DE MENINAS NEGRAS: A FORÇA DA HISTÓRIA E DO DISCURSO
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A IMAGEM FALSEADA E AS AÇÕES
AFIRMATIVAS: AGILIDADE E FORÇA
REGENERADORAS DA MULHER NEGRA
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A IMAGEM FALSEADA E AS AÇÕES AFIRMATIVAS: AGILIDADE E FORÇA REGENERADORAS DA
MULHER NEGRA
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A IMAGEM FALSEADA E AS AÇÕES AFIRMATIVAS: AGILIDADE E FORÇA REGENERADORAS DA
MULHER NEGRA
dinâmica entre pares de contrários que tudo é gerado. Assim, a Terra (aiyé)
e o Céu (órun) expressam, respectivamente, os princípios arquetípicos fe-
minino e masculino. Sua união, que é a garantia da continuidade de tudo,
nem sempre se dá de forma harmoniosa. Os conflitos, que são relatados nos
mitos, expressam muitas vezes a luta entre os poderes feminino e masculi-
no, em disputa pelo controle do universo. Fica evidente que na atualidade
a predominância e dominação do mundo não são exercidas pela mulher e,
menos ainda pela mulher negra, e nem por isso elas deixam de participar dos
processos sociais, qualificando-os positivamente.
Na representação da princesa Negrina, existe uma qualificação deri-
vada da cultura ocidental cristalizada em falsos mitos. Pode-se observar
que há uma intencionalidade explícita em reproduzir o modelo da his-
torieta da Branca de Neve, neste caso, invertido para socializar meninas
negras. O que justifica, mas não legitima, essa aproximação metafórica foi
e ainda é a onda eugenista que marcou o evolucionismo racista do século
XIX e que teima em persistir até os dias de hoje, mesmo que antropólo-
gos, sociólogos e cientistas de modo geral já tenham comprovado que as
diferenças observadas entre as populações, têm origem em fatores sociais
e ambientais e não biológicos.
Abdias Nascimento (2017, p. 86) assinala que “no período de 1921
a 1923 a Câmara dos Deputados considerou e discutiu leis nas quais se
proibia qualquer entrada no Brasil de ‘indivíduos humanos das raças de
cor preta’ ”. A reflexão de Abdias ressalta o processo de racismo masca-
rado perpetrado até os dias atuais. Entretanto esse mascaramento não
escondia a intencionalidade implicada nas políticas que visavam o em-
branquecimento da população como fica evidente no ano de 1945 com o
Decreto Lei nº 7967, implementado para regular a entrada de imigrantes
de acordo com a “necessidade de preservar e desenvolver na composição
étnica da população, as características mais convenientes da sua ascen-
dência europeia” (NASCIMENTO, 2017, p. 86).
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A IMAGEM FALSEADA E AS AÇÕES AFIRMATIVAS: AGILIDADE E FORÇA REGENERADORAS DA
MULHER NEGRA
Desse ponto de vista social que tem como paradigma a Europa, “ A cor
branca, poucas vezes explicitada, é sempre uma alusão, quase uma bênção;
um símbolo dos mais operantes e significativos, até os dias de hoje”. (SCH-
WARZ, 2012, p.12). Neste caso específico, tratado no conto da princesa
Negrina, o preconceito de gênero mescla-se com o preconceito de cor.
Para este esclarecimento retomemos o conto:
[...] a fada não teve outro remédio senão alterar sua primeira dá-
diva (...) Contudo, se desobedecessem à ordem, a profecia não se
realizaria e o futuro dela “não seria negro só na cor”. Dessa manei-
ra, Rosa Negra cresceu sendo descrita pelos poucos serviçais que
com ela conviviam como “terrivelmente preta”, mas, “a despeito
dessa falta, imensamente bela”. Um dia, porém, a pequena princesa
negra, isolada em seu palácio, foi tentada por uma serpente, que a
convidou a sair pelo mundo (SCHWARZ, 2012).
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FRANCISCA ELEODORA SANTOS SEVERINO E FERNANDO LEONEL HENRIQUE SIMÕES DE PAULA
marcada pela cor de Cam e aqui é clara a associação com o pecado ori-
ginal de Eva, posteriormente relembrado por Noé quando censura Cam.
Como na história da Branca de Neve e em outras historietas destinadas a
fornecer modelos comportamentais para meninas, pode-se deduzir que a
reprodução feminina se dará apenas no âmbito da reprodução biológica;
afinal ela após redimir-se será premiada e se casará com um belo homem
jamais visto e será feliz para sempre... Será?
A primeira dissonância observada deriva da condição subordinada
em que a princesa adolescente é colocada. Ela deve submeter-se à reclu-
são e purificação para redimir-se de uma culpa que não tem; entretanto,
as marcações dessa reclusão estão muito distantes das marcações tempo-
rais da tradição étnica dos povos procedentes da África. A segunda disso-
nância diz respeito às mulheres em geral e é caracterizada pela violência
moral que atinge a todas independentemente de sua cor de pele. Há di-
ferentes narrativas que marcam o momento de suspensão e margem que
precede a entrada da mulher na vida adulta, e nessa situação os meninos
são guardados, mesmo que a uma desejável distância, por valorosos ho-
mens fortes e exemplares guerreiros. Porque a diferença? Qual a relação
possível a ser estabelecida?
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MULHER NEGRA
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caráter racista então em voga nos Estados Unidos, até mesmo no meio aca-
dêmico. Suas reflexões e denúncias contra teorias racistas dão a dimensão
política, no melhor sentido, de sua atividade intelectual, em um período no
qual o mundo vivia balizado por forças e ideias obscurantistas.
Em Raça e Progresso, conferência proferida em 1931, Boas apresenta
as diferenças observadas entre as populações, ele demonstra cientifica-
mente que elas têm origem de fatores sociais, ambientais e não biológicos.
Intencionalmente derruba as assertivas biologistas de Cesare Lombroso
(1835-1909), e de Gobineau (1826-1882). Ele afirma que os testes de inte-
ligência, muito em voga naquele momento, eram instrumentos totalmen-
te inadequados para a ciência provar a superioridade ou inferioridade de
algum grupo social.
Em 1888, este antropólogo apresenta Os objetivos da Etnologia,
(BOAS, 2005) palestra na qual ele defende a importância da etnolo-
gia para o desenvolvimento de seu objetivo principal, qual seja, o estudo
das características de cada povo. Ele justifica a pesquisa sobre este tema
considerando-a necessária porque ela ilustra seus primeiros pontos de
vista em relação aos problemas etnológicos. Certamente um marco para a
antropologia brasileira preocupada com as questões relacionadas com os
fenômenos étnicos e sócio culturais, que fazem parte da nossa realidade.
No estudo em questão, sua inclusão é interessante por permitir contex-
tualizar mudanças e refinamentos na trajetória intelectual das mulheres
brasileiras, sejam negras, mulatas ou brancas.
Considerações finais
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MULHER NEGRA
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FRANCISCA ELEODORA SANTOS SEVERINO E FERNANDO LEONEL HENRIQUE SIMÕES DE PAULA
carga. Esse racismo como estigma aberto faz com que as mulheres não
alcancem grandes patamares no mercado de trabalho, sendo prejudicadas
pela desigualdade de gênero e de raça.
Denunciando os ardis que atribuem força do dominador, Simone
Weil afirma que não alcançaremos essa realidade “enquanto não tivermos
concebido claramente a noção de força social” (2001, p.176). De fato,
ela reconhece que em termos de vida coletiva a chave do enigma está na
produção da vida material. Mas, ela também reconhece que a sociedade
considerada em sua relação com o indivíduo não pode se definir simples-
mente pelas modalidades da produção. (...) a obediência e o comando são
também fenômenos dos quais as condições de produção não bastam para
dar conta. (ibidem) A conclusão a que se chega “é que a noção de força
e não a noção de necessidade que constitui a chave que permite ler os
fenômenos sociais” (WEIL, 2001, p.177). Essa pode ser uma contradição
aparente, contudo, sem dúvida muito poderosa.
É aqui que encontramos o nosso gancho ou mediação para a refle-
xão sobre a força social que emana das mulheres negras em construção
histórica da realidade social brasileira. A participação das mulheres ne-
gras na história do Brasil é intensa desde o Império até os dias de hoje;
entretanto é preciso questionar a história oficial para esclarecer que a
configuração histórica e cultural afro-brasileira não se dá apenas através
dos embates entre senhores brancos e negros dominados, como esclare-
ce a antropóloga Beatriz Dantas (1988). Entre outras autoras e autores,
ela afirma que a configuração sociocultural no Brasil se faz não apenas
através de conflitos, mas também mediados por alianças que ultrapassam
as fronteiras das relações entre brancos e negros, ou ainda das teorias de
outros atores sociais, entre os quais se destacam padres, psiquiatras, po-
líticos, antropólogos, policiais, pais e mães de santos. Imbuídos de uma
compaixão identitária e fundamentados em recortes teóricos ideológicos
eurocêntricos, não escapam da concepção retrograda e conservadora da
construção nacional.
Guerreiras, elas são muitas e não cabem aqui os nomes de todas
elas. Mas algumas referências históricas ligadas à sua herança de luta
e determinação é possível resgatar. Vejamos alguns fatos da presença
marcante das mulheres negras na história do Brasil: Tereza de Benguela
167
A IMAGEM FALSEADA E AS AÇÕES AFIRMATIVAS: AGILIDADE E FORÇA REGENERADORAS DA
MULHER NEGRA
168
FRANCISCA ELEODORA SANTOS SEVERINO E FERNANDO LEONEL HENRIQUE SIMÕES DE PAULA
Referências
SCHWARCZ, Lilia Moritz. Nem Preto Nem Branco, muito pelo Contrário:
cor e raça na sociedade brasileira. São Paulo: Claro Enigma, 2012.
169
ENTRE O GÊNERO E A RAÇA: UMA LEITURA
DE A COR DA TERNURA, DE GENI GUIMARÃES
Maurício Silva1
Introdução
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ENTRE O GÊNERO E A RAÇA: UMA LEITURA DE A COR DA TERNURA, DE GENI GUIMARÃES
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MAURÍCIO SILVA
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MAURÍCIO SILVA
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ENTRE O GÊNERO E A RAÇA: UMA LEITURA DE A COR DA TERNURA, DE GENI GUIMARÃES
relata sua vida da infância à idade adulta, traz como tema recorrente não
apenas a questão da cor da pele, mas principalmente a superação do pre-
conceito sofrido em razão dela, apesar do tom dramático que, às vezes, a
narrativa alcança: “assim que terminou a arrumação, ela voltou para casa,
e eu juntei o pó restante e com ele esfreguei a barriga da perna. Esfreguei,
esfreguei e vi que diante de tanta dor era impossível tirar todo o negro da
pele” (GUIMARÃES, 1991, p. 69).
Esse tom dramático, contudo - que não dispensa, aliás, uma aborda-
gem do problema pela ótica “religiosa” (“Mãe, se chover água de Deus,
será que sai a minha tinta?”) (GUIMARÃES, 1991, p. 10); (“me vi des-
compromissada de chamá-lo de menino Jesus [...] Era negro”) (GUIMA-
RÃES, 1991, p. 22) -, é atenuado pela adoção do olhar da criança que, sen-
sível, desvela o mundo ao redor. E para além desse olhar sensível, tem-se
o conflito instaurado entre o mundo infantil e o adulto, em geral - mas
não necessariamente - mediado pela questão étnico-racial:
178
MAURÍCIO SILVA
Meu útero... minhas raízes... meus dias... meus jeitos... meu povo...
sou... tudo parece ser uma questão de identidade, em especial, a
identidade negra e feminina! Como lembra Gabriela Araújo e Rosil-
da Bezerra (2014), essa perspectiva da construção identitária negra
mostra-se de modo recorrente em A cor da ternura, tema igualmen-
te destacado por Luciani Capelin e Rosângela Marquezi (2015), para
quem “a forma positiva com que as personagens são apresentadas na
obra A cor da ternura faz com que a identidade afrodescendente seja
observada positivamente, valorizando-se a cultura negra e o respeito
às raízes ancestrais” (p. 576).
Considerações finais
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ENTRE O GÊNERO E A RAÇA: UMA LEITURA DE A COR DA TERNURA, DE GENI GUIMARÃES
Referências
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MAURÍCIO SILVA
KNOP, Rita Maria. Antes, era uma vez, hoje, essa é a sua vez: uma
abordagem comparativa da representação social do negro na literatura
para crianças. Belo Horizonte, Pontifícia Universidade Católica de
Minas Gerais, 2010 (dissertação de mestrado).
181
Mulheres
negras e
políticas
públicas
MULHER, TRANSEXUAL E NEGRA: INTERSECÇÕES DA EXCLUSÃO ESCOLAR
184
A MULHER NEGRA EM SITUAÇÃO DE RUA E A
SAÚDE
Introdução
4 Conforme o Primeiro Encontro Nacional sobre População de Rua (2005), esse grupo
ficou definido como um grupo heterogêneo, populacional e que tem em comum o estado de
absoluta pobreza.
185
A MULHER NEGRA EM SITUAÇÃO DE RUA E A SAÚDE
5 A rigor, não podemos falar de “exclusão absoluta”, pois, por mais que a sociedade o exclua,
ele encontrar-se-á “incluído”, mesmo que tal inclusão esteja fora dos parâmetros da dignidade
humana. Assim, ao usarmos a expressão “exclusão absoluta”, estamos nos referindo àquelas
pessoas que, entre os excluídos, vivem nas ruas, já que não possuem os recursos mínimos
necessários à sobrevivência, como abrigo e alimentação.
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FERNANDO LEONEL HENRIQUE SIMÕES DE PAULA, FLÁVIA ABUD LUZ E
MONICA ABUD PEREZ DE CERQUEIRA LUZ
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A MULHER NEGRA EM SITUAÇÃO DE RUA E A SAÚDE
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FERNANDO LEONEL HENRIQUE SIMÕES DE PAULA, FLÁVIA ABUD LUZ E
MONICA ABUD PEREZ DE CERQUEIRA LUZ
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A MULHER NEGRA EM SITUAÇÃO DE RUA E A SAÚDE
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FERNANDO LEONEL HENRIQUE SIMÕES DE PAULA, FLÁVIA ABUD LUZ E
MONICA ABUD PEREZ DE CERQUEIRA LUZ
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FERNANDO LEONEL HENRIQUE SIMÕES DE PAULA, FLÁVIA ABUD LUZ E
MONICA ABUD PEREZ DE CERQUEIRA LUZ
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A MULHER NEGRA EM SITUAÇÃO DE RUA E A SAÚDE
Considerações finais
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FERNANDO LEONEL HENRIQUE SIMÕES DE PAULA, FLÁVIA ABUD LUZ E
MONICA ABUD PEREZ DE CERQUEIRA LUZ
Referências
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A MULHER NEGRA EM SITUAÇÃO DE RUA E A SAÚDE
IPEA. Atlas da Violência 2016. Brasília, DF, 2016. (Nota Técnica, 17).
Disponível em: <http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/
nota_tecnica/160322_nt_17_atlas_da_violencia_2016_finalizado.
pdf>. Acesso em: 15 ago. 2017.
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YLÊ-EDUCARE
YLÊ-EDUCARE: CAMINHOS E MEMÓRIAS
Introdução
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YLÊ-EDUCARE: CAMINHOS E MEMÓRIAS
Parte I
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NEIDE CRISTINA DA SILVA E TELMA CEZAR DA SILVA MARTINS
Organização de eventos
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YLÊ-EDUCARE: CAMINHOS E MEMÓRIAS
3 Do campus Barra Funda para o Campus Vergueiro, com o andar destinado ao PPGE em
reforma.
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NEIDE CRISTINA DA SILVA E TELMA CEZAR DA SILVA MARTINS
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YLÊ-EDUCARE: CAMINHOS E MEMÓRIAS
Parte II
4 Primeira artista negra a ganhar o prêmio Emmy de melhor atriz em série dramática
(2016). Premiação promovida pela Academia de Artes e Ciências Televisivas dos EUA. No
ano de 2016, em sua 89ª edição, o premio Emmy contempla uma atriz negra na listagem de
um seleto grupo de atores e atrizes.
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NEIDE CRISTINA DA SILVA E TELMA CEZAR DA SILVA MARTINS
5 O branqueamento é uma teoria produzida no final do século XIX, quando a elite brasileira
tem a explícita intenção de embranquecer a raça brasileira e resolver os problemas sociais pós-
abolição.
6 Sobre o movimento feminista entre os anos de 1985 e 1995, ver artigo de Monique Lopes
(2012).
205
YLÊ-EDUCARE: CAMINHOS E MEMÓRIAS
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NEIDE CRISTINA DA SILVA E TELMA CEZAR DA SILVA MARTINS
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YLÊ-EDUCARE: CAMINHOS E MEMÓRIAS
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NEIDE CRISTINA DA SILVA E TELMA CEZAR DA SILVA MARTINS
Referências
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TEXTO PUBLICADO NA ORELHA DA
VERSÃO IMPRESSA
O
percurso singular vivido pelos discentes e docentes integrantes
do Grupo de Pesquisas Ylê Educare - educação e questões étnico
raciais, dos Programas de Pós Graduação em Educação (PPGE)
e Gestão e práticas Educacionais (PROGEPE) da Uninove, levou-nos a
publicar este segundo livro, resultado das pesquisas e intensos debates
que colocaram em cena diferentes aspectos relativos à educação e ao em-
poderamento da mulher negra no Brasil. Esse livro é uma coletânea con-
tendo vários ensaios que buscam nas intersecções da exclusão das etnias
negras que habitam nosso país a presença e o empoderamento das mu-
lheres negras que fizeram e fazem história nas mais precárias condições
de vitimização. Mesmo em condições desfavoráveis, elas, como valorosas
guerreiras, deixaram suas marcas indelevelmente inscritas na história so-
cial e política deste país, impõem-se então, desentranha-las das malhas
ideológicas que cobrem uma história concreta, mas que ainda não foi de-
vidamente escrita fazendo jus a quem de direito é. Os fortes e contunden-
tes argumentos das autoras e autores acham-se aqui expostos, de maneira
a revelar os elementos fundamentais de seu pensamento crítico a ponto
de constituírem o que de mais penetrante se busca como justiça social e
políticas públicas. Um dos pontos mais decisivos e penetrantes, qual seja
o preconceito e a injustiça, é aqui apresentado em sua dimensão de ele-
mentos a serem extirpados da sociedade brasileira, sob a perspectiva da
singularidade da participação dos negros na construção social brasileira.
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Título Educação e o empoderamento
da mulher negra
Formato 16x23cm
Tipografia textos Minion Pro
Tipografia títulos Minion Pro Bold
F
Editora Casa Flutuante
Rua Manuel Ramos Paiva, 429 - São Paulo - SP - Brasil
Fone: (11) 2936-1706 / 95497-4044
www.editoraflutuante.com.br
ISBN 978-85-5869-038-6