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"Tenho 18 anos. Vivo sozinha há três.

Já morei em nove casas e em


diferentes cidades. Só cozinhei vinte e três vezes em toda a minha vida.
Dessas vinte e três, só oito vezes comi o que cozinhei. Era loura e pintei o
cabelo de preto. Não sei apertar cadarços. Detesto lençóis. Sou
desarrumada. Ligo pros meus pais uma vez por mês. Não gosto de
biscoitos. Não entro em táxis pretos e verdes. Adormeço muitas vezes na
banheira. Não gosto de usar maquiagem. Só gosto da praia à noite.
Guardo sempre os documentos importantes numa pasta, e depois perco a
pasta. Tenho quarenta e dois pares de botas. Namoro há nove meses.
Ontem, o meu namorado descobriu que eu sou Acompanhante!"
O DIÁRIO DE MARIA

NOVEMBRO


Quinta-feira, 17 de Novembro



OLÁ

Dia muito estúpido. Hoje à noite, tenho encontro marcado com o Cota. O
Cota é um Apaixonado. Estive com ele uma vez: cerca de quinze minutos,
juntos. Depois de eu ter saído de casa dele, passados mais ou menos dez
minutos, recebi uma mensagem sua que dizia algo do género: «Amo-a para
sempre!».
Devo ter passado mais de meia hora a rir-me.
Ah! A propósito, o meu nome é Maria, tenho 18 anos, e sou
Acompanhante, ou seja: faço sexo em troca de dinheiro, de muito dinheiro
(sou das caras!).
Gosto do que faço, embora nem sempre tenha pachorra para aturar os
Chatos e os Apaixonados. Mas é o que há mais...

Como é que cheguei aqui? Ui!
Foi mais ou menos assim: tinha 15 anos quando fui convidada a sair de
casa (pouco gentilmente, na verdade). É provável que o facto de eu ser um
bocado, digamos, delinquente, contribuiu para isso.
Com quinze anos e pouco dinheiro, vi-me fodida, até receber uma
proposta indecente. “X” de dinheiro em troca de um broche. Era virgem,
mas não devia ser difícil. E, de facto, não o foi. Depois do primeiro, houve o
segundo, o terceiro, o décimo, e por aí fora. Tinha já uma série de
“amiguinhos do broche” quando me enrolei com um Barman e me deixei
disso, passando a trabalhar como as pessoas normais. Pouco depois,
engravidei do já referido Barman e nunca mais pensei no assunto até aos
16 anos, altura em que me vi fodida, outra vez, por não ter cheta.
Que se foda, disse para com os meus botões.
Comecei a trabalhar a sério e, pouco depois, eu era já uma verdadeira
profissional. Pensei: Isto no Porto é que era!
Foi assim que vim aqui parar, no dia seguinte ao meu décimo oitavo
aniversário. Aluguei um apartamento, fiz o meu anúncio e depois foi
sempre a bombar.


RESUMO: vivo sozinha desde os 15 anos. Sim, é verdade, há contas, contas
monstruosas na caixa de correio todos os meses para pagar renda, água, luz
e coisas do género.
Façam as contas a uma renda média numa cidade como esta, e juntem-
lhes o resto das despesas adicionais.
Isto é só para quem pode (é que escrevo mal os “efes”)!
O resto, meus queridos, está tudo aqui...



Sexta-feira, 18 de Novembro


CLIENTES MESMO ANORMAIS

Costumo classificar os meus clientes em categorias. Uma parte, a maior, é
Anormal, mas há outra que é Mesmo Anormal. O último caso foi um gajo de
trinta anos que, antes do encontro, me telefonou umas quatro vezes. Fez-
me prometer que eu não me atrasava porque estava ansioso por estar
comigo. Reservou a melhor suíte no motel, com piscina e colchão de água.
Cheguei... e devo lá ter estado cerca de dez minutos...
Entrei, dei-lhe dois beijos, recebi e, quando eu levantei a camisola para a
tirar, ele veio-se... com as calças vestidas. Os próximos minutos? Passei-os a
tentar secar-lhe as calças no secador da casa de banho, com ele a arfar e a
dizer:
— Meu Deus! E agora, o que vou dizer à minha mulher?!
Entreguei-lhe as calças sujas (não havia nada a fazer) e dei-lhe dois
beijos.
Desatei a rir-me assim que pus o pé fora do quarto.



O PROFESSOR

Dia calmo. Ainda não fod... ups, trabalhei hoje; por isso aproveitei para
atender uma chamada do Professor, cliente ao qual dei o meu número
pessoal para ele pensar que me é “especial” e, consequentemente, me
marcar mais encontros. Combinámos para o próximo fim-de-semana. O
Professor enquadra-se na categoria dos clientes Normais, mas a atirar um
pouco para o Bom Cliente.
No nosso último encontro, os dois fomos almoçar a um restaurante
italiano e, de seguida, partimos para o motel. Meia hora de conversa
habitual («Acabei com a minha namorada há pouco, não costumo fazer isto,
etc., etc.»), mais meia hora de sexo que, na melhor das hipóteses, posso
qualificar de razoável.
No fim, ele só não chorou porque parecia mal. Disse-me que eu era igual
à ex-namorada e que o fazia lembrar-se dela.
Deu-me mais 50 euros e prometeu marcar novo encontro: o que acabou
por fazer!



O GESTOR

Quando acabei de falar com o Professor, lembrei-me de ligar ao Gestor.
O Gestor é um cliente que eu classifico de Anormal. Na primeira vez que
eu estive com ele, e enquanto nós conversávamos, o Gestor contou-me um
pouco da sua história. Parou e olhou bem para mim, dizendo-me,
estupefacto:
— És parecidíssima com a Gilda!
Explicou-me, depois, que a Gilda era a sua empregada e, nos anos 70, sua
fervorosa amante. Na altura, tinha ele uns 20 anos e ela, uns 16. Enquanto
nós fodíamos, ele arfava e dizia:
— Isso, isso, minha sopeirinha! Força!
Freakazóide...



O COTA

Saí de casa do Cota às 01h40 e tinha entrado às 24h40: ele cronometrou
a hora... Praticamente não houve “acção”, tendo em conta a sua avançada
idade em relação aos meus 18 anos.
Quando entrei, pensei que ele me ia partir alguma coisa, com o seu
abraço apertado de dez minutos (sim, DEZ minutos, mesmo!) que eu recebi
juntamente com um «Viva, amor da minha vida!».
Previ que ia ser uma hora difícil. Quando olhei para o ecrã, descobri que
ele usava a minha imagem como screensaver. Tentei satisfazê-lo na
esperança de me vir embora mais cedo, mas, tendo em conta que o Cota já
não tem esperma (e, por consequência, já não se vem), a tentativa foi uma
pura perda de tempo.



Sábado, 19 de Novembro

O DJ

Acordei às cinco da manhã com o DJ a pedir-me um encontro para as
seis.
Aceitei, mas levei mais caro (não se tira uma miúda da cama a esta hora).
Quando cheguei à moradia, vejo-o, com umas calças skinny e t-shirt, à
minha espera (Pá, tens trinta e três anos, por amor de deus!).
Na sala, estava a tocar o seu habitual CD de rap (o rapaz faz parte de uma
banda conhecida). Deixei-o acabar de fumar o charro e, enquanto eu tirava
a roupa, apareceu um cão e um gato que ele apresentou como sendo o
Vodka e o Limão. Perguntei-lhe se tinha algum peixe chamado Smirnoff,
mas ele não me percebeu. Fodemos no chão da sala e falámos das suas
próximas actuações, e da vez em que fodemos nos “bastidores” da
Zambujeira do Mar! Quando a hora acabou, estava a chover, de maneira
que ele me abrigou até à rua. Sem roupa.



PÁ, DESCULPA, MAS ISSO É A VIRILHA...

Ontem à noite, eu tinha um encontro marcado.
Quando cheguei, estava à minha espera um rapaz novo (eia...);de 29
anos, meio careca e com os óculos mais grossos do que eu alguma vez vi.
Quando saí do duche, perguntei-lhe porque não tirava ele a roupa, ao que
me respondeu:
— É que eu tive um acidente...
E teve. Aquilo não era um pénis: era uma desgraça total!
Já deitados e a olhar para o espelho do tecto, ele pergunta-me se lhe
posso ensinar onde fica o clítoris (HELLO! Acho que não é difícil!). Tentando
não me rir, pus-lhe a mão em cima dele, e ele começou a esfregar e a dizer-
me:
— É bom?
Não era, porque apesar de eu lhe ter indicado o local, ele estava quase no
meu umbigo. Adiante...
Camisinha posta, e o caixa de óculos vem para cima de mim. Passa meia
hora a suar, aos saltos, completamente excitado.
— Chama-me fodilhão!
Eu estava morta que aquilo acabasse, portanto:
— Sim, és um fodilhão! Oh! Sim, vem-te, vem-te!
Ele veio-se de imediato, e eu fui-me embora.
Será que ele sabe que esteve esse tempo todo a foder-me a virilha?


NUNCA ME ACONTECEU...

Nunca me aconteceu alguém não querer pagar o serviço, até porque a
primeira coisa que eu faço, quando chego ao pé do cliente, é receber. Sim, é
tipo:
— Olá, tudo bem? Onde está o dinheiro?
Há, é verdade, clientes que me pedem uma atenção “extra”. Entre as mais
populares, está o acto de enfiar o dedito no rabo. E quem diz dedo também
diz vibrador, salto das botas, e por aí fora. Não costumo recusar, mas tudo o
que sai fora do chamado “normal” é bem pago.
Já houve quem me pedisse para ser “espancado à bruta e sem piedade”, o
que fiz na boa (e também não era um cliente de quem eu gostasse muito!),
mas a graça ficou-lhe por mais de trezentos e cinquenta euros.
Ser tarado sai caro!



Quinta-feira, 24 de Novembro


MAIS UMA VEZ, O COTA

Novo encontro com o Cota...
Deixei o telemóvel desligado durante uns dias. Ontem à noite, quando o
liguei, tinha uma série de chamadas e de mensagens intermináveis do Cota.
Perguntava-me se eu podia ir ter com ele de imediato, e eu lá fui. Além do já
habitual “abraço quebra-ossos”, aquando da minha chegada, ainda houve a
cena tipo novela mexicana:
— Então, meu amor, o que lhe aconteceu? Pensei que nunca mais a veria
ver, que angústia...
O resto foi o costume: ele tentava, tentava, e dizia:
— É da idade!
Perguntei-lhe quantos anos tinha ele, e fiquei a saber que nasceu em
1935...
Afinal, ele tinha razão: É DA IDADE!



Sexta-feira, 25 de Novembro


CARALHADA NO HOTEL

Recebi um telefonema do Engenheiro a marcar um encontro. Cheguei lá
em dez minutos. Estava bem-disposta!
Tomámos um banho, pus-lhe a camisa e fodemos em cima do lavatório.
No fim, o Engenheiro enfia-se no duche. Ao sair, dá uma grande
escorregadela no chão e bate com a cabeça. Pedi à recepção um saco de
gelo e disse-lhe:
— Eu avisei-o de que era melhor pôr uma toalha no chão.
A dor passou. Desejei-lhe as melhoras e bazei.


CARALHADA NO HOTEL
PARTE II

Saí do hotel.
Era hora de almoço e telefonei a uns amigos para virem almoçar comigo
no restaurante em frente ao hotel. Ao almoço, depois de um ou de outro
traçado, lá estava eu a contar-lhes, na maior, o incidente do Engenheiro
quando olho para o lado e vejo um trintão, com a cara inchada, a entrar no
restaurante, mesmo atrás de mim. Era o Engenheiro, e mais três tipos de
fatinho. Ele bem que me tinha dito que estava a meio de uma reunião no
hotel!
A Outra já dizia: «Oh God, make me good but not yet.»


ISTO NUNCA ACONTECEU ANTES...
Pois, sim...

Mensagem do Cota: «Eu queria que me ensinasse a amá-la». Sem
comentários!
Ontem, marcaram um encontro comigo às duas da manhã. Cheguei às
duas e meia (É a vida!) e saí às duas e quarenta. O homem estava tão
excitado que nem deu para nada. Depois de lhe pôr a camisinha para fazer
oral, o homem veio-se à primeira bombada.
Disse que o problema era o “cansaço”.
Pois: tu e mais quinhentos!



Sábado, 26 de Novembro


COTA VOLTA A ATACAR

Ups... Nova mensagem do Cota. Deve estar chateado por eu me recusar a
ter “uma relação séria” com ele.
«Apetece-me ficar a escrever sem parar sobre este sentimento que tenho
por si. É bom, mas ao mesmo tempo dói. E nem sequer há a esperança do
que sinto poder continuar a existir e nem sequer de ter um final feliz.»
Será que ele está a gozar comigo? Não pode estar a falar a sério!


OH, SENHOR PROFESSOR, NÃO PARE!

Telefonema do Professor a reservar duas horas para depois do jantar.
Ele ia passar a noite no hotel e disse-me para eu ir logo que acabasse de
jantar. Foi o que fiz.
Quando cheguei, ele estava na mesa do quarto a corrigir testes. É
professor universitário, daqueles mesmo top! Fodemos em cima dos testes
de Matemática; parámos, e eu vesti a minha farda de “colegial”. Peguei num
teste e disse-lhe:
— Oh, senhor professor, eu estou tão confusa com a matéria. Poder-me-
ia dar umas explicações?
— Hum... Vamos lá ver... Quer ter positiva, é?
— Sim, senhor professor! Eu faço tudo o que for preciso!
— Então, deixe-me comê-la, e a menina já não precisa de estudar.
— Oh, senhor professor! Quanta bondade a sua!


EU PODIA SER TUA NETA

Mais uma mensagem do Cota:
«Querida, o futuro parece-me incerto para todos e, por isso, porque não
há-de ele ser incerto para nós também? Pode hoje estar muito bem-
disposta e amorosa, e amanhã nem querer saber de mim. É por isso que eu
lhe digo: lembre-se sempre de que está aqui um homem carente que
precisa de tudo e que tudo lhe pode dar; que lhe dedica um amor sincero de
que não pode duvidar e, usando a bondade que possui, achando que isso
lhe proporcionará momentos agradáveis, se lhe decidir dar alguma coisa de
si, ligue-me. Devia estar tudo muito bem entre nós, e agora ainda não está.
Beijos deste homem que a ama.»
Tou com-ple-ta-men-te fodida com este cromo.
E bebés, não queres?
Telefonaram-me, hoje à tarde, a marcar um encontro. Demorei meia hora
no caminho. Quando cheguei, deparei-me com um sessentão, e estou a ser
optimista! Ele não tinha força, por isso só lhe fiz um broche (aí uns vinte
minutos). Eu fiquei com os maxilares a doer; ele veio-se, virou-se e disse-
me:
— Tens 18 anos, não é?
— Tenho.
— Já tiveste algum filho? — Que lata!
— Não. — O velho pisca-me o olho.
— E não queres ter um?
Só não fugi porque faltavam cinco minutos para acabar a hora.


CAMISINHA

A camisinha não é uma questão discutível: é obrigatória. Pode não ter
muita piada, mas é a vida.
Quem quer foder sem camisa ̶ algo que nunca me pediram ̶ é porque SABE
que não tem nada a perder. Eu tenho muito dinheiro para gastar, por isso
não quero apanhar doenças e quinar.



Domingo, 27 de Novembro


COTA, MAIS UMA VEZ

Novo encontro com o Cota.
É domingo, e eu não costumo trabalhar, mas o Cota ligou e lá fui eu.
Já lhe tinha recusado um encontro ontem, por isso, hoje, não tinha mais
desculpas (foda-se!).



Terça-feira, 29 de Novembro


DÚVIDAS EXISTENCIAIS, CAFÉ SEM AÇÚCAR E CAMAS REDONDAS

Tinha um encontro marcado na Foz à meia-noite. Depois do «meu» FCP
ganhar, lá fui.
Era um condomínio privado, com um rapaz (talvez, de vinte e muitos ou
trinta e poucos anos), estilo nerd, de óculos, lá dentro.
Quando cheguei, ele começou a tremer, e não me lembro de ele ter
parado!
— Podia dar-me uma ajuda? É que estou imensamente nervoso...
— Tudo bem — disse eu.
E comecei, e acabei: em cinco minutos.
— Deixe-me oferecer-lhe pelo menos um café, por favor!
Tendo em conta o estado de nervosismo do rapaz, aceitei.
Ele foi fazer o café e voltou para a sala (de onde nós nunca saímos).
Entretanto, lá fomos conversando.
O rapaz era um arquitecto, chegado recentemente de Londres.
Finalmente, foi buscar o café e, passados alguns instantes, voltou à sala.
Foi então que ele me disse, a gaguejar:
— Peço imensa desculpa, mas... só agora é que eu reparei que o açúcar
acabou!
Para não o deixar mais nervoso do que ele já estava, sorri e disse-lhe,
num tom natural:
— Ah! Não faz mal. Eu costumo tomar o café sem açúcar!
E, assim foi.
Antes de me vir embora, os dois conversámos e tomámos um belo café:
sem açúcar.
DEZEMBRO


Domingo, 4 de Dezembro

O GAY

Estou de férias há quase uma semana e ainda não liguei os telemóveis.
Estou bué constipada e sem vontade de trabalhar. O meu último cliente foi
antes de ir para casa dos pais.
Passavam das quatro da manhã quando fui a um condomínio. Cheguei e
curti o rapaz à brava. Parecia o tipo da Coca-Cola. Tinha um cachecol dos
SUPER Dragões pendurado no quarto.
Recebi o dinheiro e, enquanto ele se despia, fui tomar o meu duche
habitual. Ao voltar ao quarto, ele já estava sem calças (e sem boxers), de
gatas na cama e com o rabo virado para cima. Tinha, ao pé dele, um
vibrador de cinta. Fiquei um pouco estúpida porque não sabia que era para
aquilo.
— Faz de mim o que quiseres! — disse o roto.
Coloquei o instrumento em posição e perguntei-lhe onde estava o
lubrificante.
— Não é preciso. Enfia-o mesmo à bruta. — E assim fiz!
— Isso! Bate-me! Ferra-me! Chama-me nomes!
E eu tinha saído da minha cama para isto! Lá fiz o que ele me pediu:
— Então, Cabrão?! Estás a pagar para isto, ah? Tomaaa!
Ele pedia para eu lhe bater com mais força; por isso, magoei-o a valer. E
gostei!
Foi uma hora a sodomizar o cromo. Quando eu me vim embora, achei
que o cachecol dos SUPER não merecia estar ali.



Terça-feira, 6 de Dezembro


PARA QUE CONSTE

Relativamente ao meu vencimento médio mensal, digamos que depende.
Nem sempre trabalho todos os dias. Descanso uma semana, pelo menos
todos os meses. O dinheiro varia. Tanto posso ganhar uns 5 mil euros num
mês como 10 mil, ou mais, noutro. Depende das marcações que eu tiver e
da minha vontade de trabalhar.



Sábado, 10 de Dezembro


GENTE COM O RECTO EM BRASA

Ultimamente só tenho trabalhado com Habituais. Anteontem recebi uma
chamada do Executivo. Fui logo, porque estava perto daquele motel (tinha
acabado de fazer outro!).
O Executivo é dos clientes mais machos que eu tenho; quer dizer, era!
Ontem, SURPRESA! Pediu-me para lhe fazer um botão-de-rosa (quem não
sabe... procure!). Tendo em conta o bom cliente que ele é, acedi.
Talvez fosse curiosidade!
Fui para casa, e ontem à tarde, recebo uma chamada do Swinger que
também estava a passar pelo motel. Queria saber se eu estava disponível.
Disse-lhe que demorava meia hora, mas acho que até fui mais rápida. O
Swinger também é um Bom Cliente: eu costumava acompanhá-lo a altas
festas. Eis que tive uma nova surpresa!
Também ele me disse que gostava de experimentar o botão-de-rosa, e
pediu-me para lho fazer.
Estará tudo a ficar roto?



Segunda-feira, 12 de Dezembro


CINCO PERGUNTAS ESTÚPIDAS, MAS MESMO ASSIM MUITO COMUNS

O acto de atender o telefone, às vezes, é um verdadeiro ACONTECIMENTO.
Apesar de todas as informações, há quem insista em perguntar coisas
óbvias. Das mais estúpidas, destaco cinco:
«Mas com preservativo! Porquê?»
«O anúncio é para fazer sexo, não é?»
«Mas és mulher já de nascença ou não?»
«É obrigatório foder em cima da cama?»
«O sexo oral é o quê? É com a boca, não é?»


AS CUECAS? ONDE ESTÃO AS CUECAS?

Ontem à tarde, chamaram-me para um encontro na Boavista.
O homem pareceu-me imensamente nervoso ao telefone, mas quando lá
cheguei apercebi-me de que não era nervosismo: ele era mesmo gago!
A acção foi algo do género: «Ss-ss-sim o-oh s-sim q-que i-i-isto é tt-tão
bom!»
No fim (não demorou muito!), fui tomar um novo duche e, quando voltei
para o quarto, para me vestir, lá estava a minha roupa toda! Toda menos a
minha tanguinha. Virei-me para o Gago e perguntei-lhe:
— Viste a minha tanga?
— E-eu n-n-não, p-po-porquê?
Procurei-a pelo quarto, mas não a encontrei.
Sabem porquê? Porque ele a tinha vestido! Ia devolvê-la, mas eu não
quis.
Despedi-me e vim embora: sem cuecas.


MARIA, A TREINADORA CANINA

Antes de chegar a casa, recebo uma chamada do Gestor a marcar
imediatamente um encontro para casa dele. E agora? Não tenho cuecas! O
Gestor paga o triplo dos clientes normais; assim sendo, com ou sem cuecas,
eu tinha de ir. Estava longe, por isso demorei cerca de uma hora a chegar.
— Olá minha sopeirinha, há que tempos! Tudo bem?
Enquanto ele falava, ia-me despindo, a mim e a ele, em simultâneo. Por
isso, aproveitei, quando lhe tirei as calças, para dizer:
— Hoje, quis fazer-te uma surpresa!
— Oh, querida, hum, não tens cuecas... Hum!
Tudo OK, o Gestor não suspeitou de nada, e eu ainda brilhei por ser
original!

Estava a pegar num preservativo quando ele começou a divagar:
— Sabes, eu e a minha Gilda (a sua antiga criada, a que eu substituía)
brincávamos muito. Às vezes, fingíamos aos cãezinhos: eu era o cão e ela, a
minha dona.
Por amor de Deus...
— Podíamos fazer isso hoje?
E eu pensei: o que dizer ao homem que está nu à minha frente e que já tem
um osso de borracha na mão?
— Claro que sim! Põe-te de gatas! — respondi, sorridente. Peguei no
osso e atirei-o, dando a ordem de comando: — Busca!
Ei-lo, então, de gatas, a arfar como os cães e a pegar no osso. Apetecia-me
filmar a cena, a sério.
O Gestor (agora promovido a Bóbi) trouxe-me o osso de volta.
— Lindo menino, lindo cãozinho. Agora deita! — Deitou-se. — Ladra! E
dá um beijinho à dona! E faz de morto!
O Bóbi obedecia a todas as ordens que eu lhe dava. E o Gestor gostava de
ser um cãozinho.
Quando me vim embora, ele continuou a fazer de cão, apesar de eu lhe
dizer que a brincadeira já acabara. Por precaução ordenei-lhe, antes de
fechar a porta:
— Fica!


E AGORA UM TIPO COMPLETAMENTE NORMAL

Quando saí de casa do Bóbi, tinha várias chamadas do Lourinho. Dei-lhe
um toque e ele ligou-me de novo.
— Onde estás?
— A sair de casa.
— Podes vir directamente para cá?
— Sim Até já.
Foda-se! Já são quase onze da noite e eu ainda não jantei. Que fome! O
Lourinho ocupa-me pelo menos três quartos de hora, é um Apaixonado.
Virei-me para o taxista e disse-lhe:
— Não fale em comida e vamos para o Porto.
E fui. Demorei quarenta e cinco minutos.
O Lourinho voltou a pedir-me para passar lá a noite; e eu voltei a
recusar. Tinha mesmo de comer!



Terça-feira, 13 de Dezembro


PODOLOGIA À HORA DO ALMOÇO

Depois de chegar do encontro com o VIP, já tinha perdido o sono.
Adormeci por volta das dez da manhã. Mas, a porra do telemóvel é
temperamental: às vezes, penso que tem vida própria!
Acordei ao meio-dia com o toque do telemóvel.
Atendi, e merda! Era um cliente que já estava instalado. Tive de ir
imediatamente.
Felizmente era um Normal. Veio-se duas vezes em meia hora e, eu estava
de novo livre para almoçar e dormir, ou não. O telemóvel tocou de novo e
(Bolas!) era um espanhol que também estava instalado no mesmo hotel. Vai
tudo para lá, caralho? Os porteiros já me tratavam todos por tu! Na
esperança que ele me pedisse tempo para pensar (e assim eu teria tempo
para almoçar), pedi-lhe o dobro do que é habitual. E não é que ele aceitou
de imediato! Sem almoçar, fui à pressa. Ele preparara um banho de espuma
e duas flûtes de champanhe. Saltei para a banheira.
— Qué bonita éres!
— Gracias.
Acendeu um charro.
Perguntou-me qual era o meu número de botas.
— 35. Porquê?
— Ui, qué bueno.
Enquanto proferia a frase, começou a beijar-me os pés, e a lamber... e a
esfregar... e a ficar erecto...
Hum... o que é que está errado aqui?
Apagou o charro e levantou-se de repente.
— Vamonos para la habitacion.
— OK...
Peguei numa camisinha, mas ele disse de imediato:
— No necessitas esto.
Então, só queres que eu fique a olhar?
Deitou-me na cama, de barriga para baixo, e pegou num elástico,
daqueles que se usam para se juntar os molhos de notas. Enrolou-o, depois,
à volta do meu pé esquerdo. Ia esticando o elástico e largava-o de seguida;
depois lambia-me o pé e dava-lhe um beijo. E, assim, repetidamente,
primeiro no pé esquerdo e depois no direito. Entretanto, enrolou os dois
pés nos elásticos e repetiu tudo de novo. Colocou-me os pés em volta do
pénis, fazendo movimentos de vaivém com eles. Finalmente, agarrou-mos
com uma mão. Veio-se (de propósito!) na planta dos meus pés.
Deitou-se na cama.
Quebrei o silêncio:
— Estás bien?
— Oh, si. Me gusta pies, mucho. Gracias.
— Nada! Siempre que quieras. (foda-se, não escrevo mais em espanhol.)
O Lambe-Pés anunciou que, por então, chegava. Estava cansadito!
— OK, então eu vou só ali... lavar os pés.
Às vezes, acho estes cromos muito porreiros, mas depois tomo os
comprimidos e fico bem outra vez.


ATÉ DE GRAÇA EU TE “COMIA” (FOSTE BEM BURRO!)

Eram quase duas da manhã quando eu acabei de jantar. O sono era
mínimo, já que eu tinha dormido até às cinco da tarde, e quando acordei já
era quase noite. Fui para Internet à procura de algo que me desse sono.
Acabei por aterrar no sofá.
Eis, então, que o telemóvel toca às quatro da manhã. Agora que eu tinha
adormecido, raios caralho, foda-se, puta que pariu esta merda. Como estava
num transe de sono, pensei que era o meu telemóvel pessoal que estava a
tocar e atendi:
— Que é que foi?!
— Estavas a dormir?
Bolas, era mesmo o telemóvel do trabalho!
Pedi desculpa, e claro, aceitei imediatamente o encontro, até porque
aquela voz me era familiar de algum lado, só que não me lembrava de onde.
Quando desliguei o telemóvel, aterrei logo outra vez; nem tive tempo de
me levantar. Claro que ele voltou a telefonar passados uns vinte minutos.
Desta vez, acordei e fui.
Liguei para o quarto e perguntei-lhe o nome. Era uma pessoa conhecida,
portanto disse-lhe bem-disposta:
— Que giro, tens o nome daquele da televisão.
— É. Coincidência...
Eram para aí umas cinco horas da manhã quando cheguei ao hotel.
Estavam umas miúdas na rua, ao pé da porta. Eram tão novas! Seriam
putas? Achei aquilo muito estranho. Pareciam estar de guarda.
Toquei à campainha e o porteiro do hotel veio abrir-me a porta com um
ar desconfiado. Quando eu lhe disse para que quarto queria subir, o tipo,
que já estava a abrir o elevador, pediu-me o Cartão de Cidadão, tirou
fotocópia e perguntou-me se eu conhecia o “Senhor X” (o cliente que estava
no quarto).
Achei-o intrometido, mas respondi-lhe que eu era uma amiga. Afinal de
contas, eu sou “Amiga” de toda a gente!
Finalmente, subi, bati à porta e, quando esta se abriu «Aaaah!», e
assustei-me. Era um que eu curto bué ver na televisão.
Pareceu-me nervoso. Porquê? Ele é que é a celebridade e eu é que sou a
puta! Por amor de Deus!
— Trouxeste preservativos? — perguntou.
— Não, pedi ali ao senhor da recepção. Ele não mos queria dar mas eu
disse-lhe que eram para ti, por isso ele não se importou.
— Hã?!
— Estou a brincar. Claro que os trouxe.
Fizemos o que tínhamos a fazer, e eu vim-me embora.
É engraçado, um gajo como ele nervoso com uma miúda como eu;
engraçado é, também, ele chamar uma acompanhante! Pensei que o homem
se fartava de comer gajas.
Mas o mais engraçado ainda vai ser amanhã...


ESTA É NOVA

Durante o dia inteiro, recebi chamadas de um cliente que, ao que parece,
era de Lisboa, mas que tinha comprado cá uma casa que estava em obras.
Ele queria que o encontro fosse lá (talvez para inaugurar aquilo à
maneira?).
O problema é que, segundo ele, as chaves estavam com o “Anormal do
Pedreiro”. Disse-lhe que, nesse caso, a solução era ele se instalar num hotel
(ou motel) para que eu pudesse ir ter com ele.
Mas, surpreendentemente, liga-me quase à meia-noite para me dizer que
tinha ligado ao “Anormal do Pedreiro” e... que já tinha as chaves.
Assim sendo, aqui a Maria, que mais uma vez ainda não tinha tido tempo
para jantar, pôs-se a caminho.
A casa era um duplex espectacular, com vista para o mar, e que,
realmente, estava em obras. Pode dizer-se que só tinha mesmo quatro
paredes; nem uma peça de mobília nem uma cadeira nem sequer uma
mantinha (shuif...).
O cliente já estava nu quando me abriu a porta (o frio não o afectou!), por
isso a solução foi mesmo foder ali, um pouco desconfortavelmente mas por
acaso até era bom, no vão de escadas que dava para o quarto.
Bastou uma meia hora para ele se vir duas vezes, e ainda bem, porque já
eu tinha os joelhos todos lixados. Só quando eu me estava a preparar para
sair é que reparei que ele estava a vestir uma roupa cheia de tinta e...
— Sim, sou eu o “Anormal do Pedreiro”.
Fiquei admirada. Ele nem era ucraniano nem nada.



Quinta-feira, 15 de Dezembro


PATRÍCIA, A PSEUDOLÉSBICA

Uma das gajas mais comestíveis que eu conheci até hoje foi a Patrícia
(nome fictício).
Também ela me telefonou e também com ela fui tomar café. A Pati
chegou ao café num carro cheio de pinta, muito bem vestidota e bem-
disposta. Tinha vinte e seis anos (mesmo!), era loira nas pontas e morena
nas raízes. O resto do cabelo, quer dizer... dependia de que ângulo é que se
olhava.
Era do meu tamanho, mas pesava mais quinze quilos do que eu, embora,
para ser sincera, ela não me parecesse assim tão gorda, talvez porque a
maior parte do peso estivesse acumulada naquele espectacular peito
número 44.
Disse-me que nunca tinha sido puta, embora já tivesse fodido a torto e a
direito. Perguntei-lhe se ela fodia só com homens, e ela respondeu-me que
sim.
— Oh! Que pena!
Infelizmente, a frase saiu-me em voz alta e acabei por lhe explicar que eu
era bissexual. Depois de vários trabalhos em conjunto e de mais uns sonhos
extremamente molhados com ela, tornámo-nos quase que as melhores
amigas e ficámos conhecidas pelos clientes Habituais como as DDGQFOS-
LQSNSEPALANSSEDQG (dupla de gajas que fazem óptimos shows lésbicos
que só não são excelentes porque a loira ainda não sabe se é disto que
gosta). A Pati limpava e arrumava a minha casa, lavava e estendia a minha
roupa, fazia o almoço e o jantar, tomava banho comigo e, às vezes, dormia
em minha casa. Durante o dia, era (e é) uma secretária discreta e
respeitada, isto porque ninguém sabia que, durante o seu expediente, a
loira me enviava umas vinte mensagens que tinham um efeito altamente
humedecedor nas minhas cuecas. A Pati ainda hoje afirma que não é
lésbica. O certo é que ela deixou de comer gajos fora do trabalho de puta
para passar a ser comida por mim.
A minha casa continua optimamente arrumada e a nossa relação é de só-
amizade-porque-a-loira-ainda-não-é-lésbica está cada vez melhor.


E AGORA UMA BRASA QUASE NORMAL

Marquei um café com uma gaja que andava há bué tempo a ligar-me com
a ideia de fazer o mesmo do que eu. Quando a vi chegar, fiquei satisfeita.
Tinha vinte e dois anos. Era loura, alta e bonita.
Apeteceu-me comê-la, mas o mais provável era eu ter de pagar.
Sentou-se e começámos a falar. Perguntei-lhe por que razão não
conseguia virar-se sozinha, pois, afinal de contas, ela era uma brasa! Ela
respondeu com uma piada, e riu-se. Foi então que eu reparei que a miúda
tinha uns dentes lindíssimos. Os dois!


O HOMEM QUE TRATA O PÉNIS POR SENHOR COMILÃO

Dia quase normal.
Tive um encontro com um gajo que, quando eu cheguei, me disse:
— Olá, eu sou o Jorge! E este — apontou para o pénis — é o Senhor
Comilão.
Ele nem estava a brincar nem nada. Que episódio estúpido!
Virei-me para a pila e disse-lhe:
— Olá, Senhor Comilão, como vai isso?
Infelizmente, para levar ao máximo o ridículo da situação, o Jorge
simulou a voz do pénis e respondeu-me:
— Mais ou menos. Estou cheio de fome!
— Então vamos ter de arranjar qualquer coisita, não é?
— Acho que já sei o que quero.
O Senhor Comilão demorou cerca de cinco minutos a terminar a sua
refeição. Quando saí, fiquei a pensar não se devia chamar Senhor Comilão,
mas Senhor Ejaculador Precoce.

Finalmente, consegui pôr o sono mais ou menos em dia (upa!). Acordei
quase às seis da tarde, apesar de me ter deitado às três da manhã. Era o
sono acumulado! Como tal, não tive tempo de ir às compras e jantei um bife
de aspecto altamente duvidoso.
Quando eu for “grande” quero saber cozinhar, ou ter alguém que o faça
por mim: uma ucraniana, ao algo do género, obrigatoriamente chamada
Katrina, que é um nome giro para eu estar constantemente a chamar.
Já me estou a imaginar e tudo:
— Katrina! Limpa o pó! Katrina, varre a cozinha! Katrina, leva o cão à
rua! (e este teria de se chamar imperativamente Piruças). Katrina, atende o
telefone! Katrina, anda cá fazer-me um...
Não, é melhor não. Bem, tenho de ir. Vou à farmácia buscar mais
comprimidos.



Sexta-feira, 16 de Dezembro


COTA, AGAIN!

Novo encontro com o Cota. Eu andava há montes de tempo a inventar
desculpas, umas mais esfarrapadas do que outras, para não aceitar
encontros com ele; mas depois de ele me ligar a implorar-lhe para ir lá, eu
não tive como recusar.
As saudades (da parte dele) eram muitas, por isso os dois passámos o
tempo todo a falar, o que é o que normalmente fazemos, diga-se de
passagem.
O Cota é um cliente Não-Sexual – é-lhe humanamente impossível.
Abri uma excepção e fiquei em casa dele quase uma hora e meia. Gosto
muito do Cota, e é por isso mesmo que tento recusar os encontros, para o
seu bem. Não quero que o homem gaste a fortuna toda comigo e alimente
uma paixão que nunca há-de ser correspondida.
Digamos que sou uma puta com coração! Se o Cota tivesse menos
cinquenta anos, talvez eu aceitasse namorar com ele. Assim é chato! Não
posso namorar com alguém que guarda os dentes numa gaveta antes de
dormir.



Sábado, 17 de Dezembro


MORANGUINHO

Encontro-me com o Moranguinho. Há mais de dois meses que eu não o
via, mas surpreendentemente hoje recebi uma chamada sua a marcar um
encontro para o início da tarde.
O Moranguinho pode ser classificado como um cliente Normal: é um
homem com cinquenta anos, educado e bem-parecido, apesar da
barriguinha proeminente. O encontro foi num motel, por isso levei mais
caro.
Ele continuava o mesmo brincalhão de sempre. Realizámos a fantasia do
nosso primeiro encontro. Eu era a cliente e ele, o prostituto. Comecei por
lhe tirar a roupa e por lhe dizer:
— Ah, foda-se, hoje tens de valer bem o dinheiro.
— E não valho sempre? Pede-me o que quiseres que eu faço.
Dada a confiança que ganhei com o Moranguinho, ordenei-lhe:
— Então, faz-me um minete bem feito! Nada de frescuras!
Sentei-me em cima dele e ele obedeceu-me, fazendo “valer” o seu
dinheiro.
— Agora eu — disse-lhe, enquanto pegava num preservativo, pois uso
sempre camisinhas de sabores.
— Desta vez é de quê? — perguntou. — Hum! É o meu preferido:
Morango!
Pus-lho e comecei a chupá-lo.
— Isso, filha, chupa no morango! Ui! Que maravilha de boca tu tens!
Eu queria rir-me mas não podia, porque tinha a boca cheia.
— Pára. Salta cá para cima.
Montei-o, e ele passou-se completamente:
— Então? Gostas do morango, gostas? Come o moranguinho, come, filha!
Achei que a coisa mais inteligente que eu podia dizer naquele momento
era:
— Oh, sim!
O Moranguinho veio-se num instante. Ficámos um bocado na conversa e
ele, antes de eu me vir embora, deu-me 100 euros extra!
Acabei por lhe confessar que o meu sabor preferido era mentol.


É GOOOOOOOOOOLOOOOO!

Tinha outro encontro marcado para logo depois do Moranguinho, por
isso fui à pressa para o hotel combinado no Porto.
Era um tipo ovo, com uns 25 anos. Quando cheguei, encamisei-o e
comecei a chupá-lo antes que ele tivesse tempo de me dizer um «Olá».
Achei estranho quando ele começou a “relatar” o que estávamos a fazer:
«E as duas equipas preparam-se agora para entrar em jogo! O adversário
ataca! E acelera! E não pára!»
Pegou em mim e atirou-me para a cama. Ficou em pé, enquanto
continuava:
«E a equipa favorita agora está no contra-ataque! O adversário é
poderoso, mas está a perder vantagem... ups! Fora da área!»
Voltou a metê-la na “área” e continuou:
«E agora volta ao ataque! E está mais rápido! Mais rápido ainda! Parece
que vai marcar!»
Foi quando ele se veio:
«E é goooooooooooooloo!»
No fim, perguntei-lhe de que equipa era. Era do FCP.
Bom ou mau? Hum...



Segunda-feira, 19 de Dezembro


PUTAS TÃO DIFERENTES, TÃO IGUAIS

Início do dia. Vou lá fora comprar o jornal e tomar o pequeno-almoço.
Abro, por instinto, na página dos anúncios de relax!
Fico chocada com as “promoções” de Natal. Há de tudo:
«Casada, marido ausente... Tudo completo. Uma hora e trinta de prazer.
Trinta beijocas.»
«Super sexy, três pratos, só trinta beijos.»
«Peito XXXXL. Só vinte sonhos.»
«Morena atrevida; vinte e cinco beijinhos.»
Isto são só alguns exemplos dos cento e noventa e oito anúncios do
jornal de hoje. Notei que, em grande parte, eles diziam «vinte beijinhos;
vinte e quatro horas.» Ora, sendo assim, elas tinham de ter um cliente por
hora e sem grandes intervalos para ganharem o que eu ganho numa hora! E
isto, é claro, subtraindo, obviamente, as horas de sono recomendadas e o
tempo para almoçar e jantar.
Não queria, mas senti-me maliciosamente orgulhosa. Achei que tinha
mesmo um anjo (betinho, estilo nerd, garrafa de água mineral e sem gás na
mão) num ombro, e no outro, um diabo (estilo heavy, iPod no bolso,
pulseira de picos, com uma t-shirt a dizer «I’M GREAT IN BED».
O anjo dizia-me: «Não devias sentir prazer com a desgraça dos outros.
Elas são tuas colegas.»
E o diabo a alucinar: «Colegas? Na “putice” não há colegas! Só
adversárias! Goza com elas à vontade, Maria!»
Mentalmente, dei um aperto de mão aos dois, e só não aceitei o conselho
do diabinho porque o desgraçado (mentalmente, é claro) me apalpou o
rabo.


UM BOCADINHO (MAS SÓ UM BOCADINHO) DE ESPÍRITO NATALÍCIO

Hoje, faltam seis dias para o Natal. Resolvi finalmente interiorizar o
espírito natalício!
Entusiasmada, fui ao NorteShopping e comprei um boneco Pai Natal,
daqueles que parecem estar a subir pelas janelas. Mas que bela invenção foi
esta! Já não bastava que os miúdos duvidassem da existência do Pai Natal,
por haver um em cada centro comercial, agora eles ainda duvidam mais
porque ele ‘tá pendurado em tudo o que é sítio!
Pais, não lhes destruam a ilusão. Digam-lhes que eles são ladrões.


AGORA A SÉRIO

Dia relativamente normal.
Depois da parvoíce em torno do Natal e das putas, não me apetece
escrever muito mais.
Hoje, tive encontro com um cliente novo. Até agora foi a pila mais
pequena que eu já comi. Quando a vi ainda estava com esperança que
aquilo ainda não estivesse erecto; mas estava!



Terça-feira, 20 de Dezembro


COTA SURPREENDE

Mais um encontro com o Cota.
Por incrível que pareça, depois de numerosos encontros, o Cota
conseguiu ter uma erecção (e atenção que não era uma “erecçãozinha”) e
penetrou-me durante pelo menos quinze minutos. Hum... Será graças ao
Viagra?
É estranho, porque ele sempre me disse que, apesar do seu enorme
desejo em fo... me penetrar, não se atrevia a tomar Viagra para o conseguir
fazer.
Ele tinha medo de morrer do coração!



Terça-feira, 27 de Dezembro


COMO FAZER FIGURA DE PARVA DURANTE UMA HORA

Telefonema de dois ingleses. Queriam uma festinha a quatro e
perguntaram-me se eu podia levar uma amiga.
Lembrei-me da universitária que, tal como eu, trabalha sozinha, mas que,
sempre que precisa de mim para festinhas, me chama. É uma tipa muito
porreira e comestível, morena de 25 anos, para todos os efeitos. Disse-lhes
que sim, mas que a rapariga em questão não falava nem entendia um boi de
inglês. Os ingleses responderam-me que isso não tinha importância, uma
vez que eu poderia servir de intérprete, se tal fosse necessário. Ficou
combinado que cada um dos dois amigos escolheria a que queria, quando
as duas chegássemos ao hotel.
Telefonei à universitária, e nós encontrámo-nos lá perto para chegarmos
juntas. Chegámos, recebemos, e quando ficámos em lingerie, os cámones
começaram a “perseguir-me”, os dois ao mesmo tempo, e a dizer-me (em
estrangeiro):
— Eu quero esta! Eu quero esta!
Reparei que a universitária estava a ficar compreensivelmente fodida e
aproveitei o facto de ela não perceber patavina de inglês para lhes dizer
isso mesmo. Acabou por me calhar o mais novo numa cama, e na outra, o
mais velho com a universitária.
Peguei na camisinha, chupei-o, fiquei por cima e ele veio-se em cinco
minutos. Fui tomar duche e, quando voltei, a universitária ainda estava a
tentar levantar a dick do mais velho.
Depois de meia hora naquilo (e o gajo sempre a olhar para mim), ele diz
(em inglês, é claro):
— Eu não me consigo vir com esta gaja.
A universitária olhou desconfiada e perguntou-me o que tinha ele dito.
— Ah! Aaah... Que és boa como o milho.
Curiosos? Não; ele não se veio. Mas também o que isso interessa?! Haja
dignidade, foda-se!



A TRISTE MAS VERDADEIRA HISTÓRIA DA PUTA DE RUA
PARTE I

Hoje vou falar-vos da Ressaca. A Ressaca é uma gaja de 20 anos,
portuguesa, linda, mas burra como uma porta.
Tudo começou assim: no fim de uma noite de copos com um amigo (eu
estava completamente bêbada, o que estranhamente não é mau, porque
senão não tinha esta história para vos contar), os dois resolvemos dar uma
volta de carro para ver como andavam as putas de rua. Depois de ver umas
coisas esquisitas no Marquês, fomos meter gasolina numa rua muito
estúpida e eis que, no meio daquelas mulheres “estragadas”, reparo numa
rapariga que era tão gira que nem parecia pertencer àquele filme. Depois
de passar por lá seis vezes, tive a certeza de que ela estava realmente a
trabalhar na rua, e pensei: Foda-se, esta gaja não devia estar aqui. Nem
parece ser maior de idade. Fiquei alcoolicamente curiosa, mas quando ia
parar para falar ela entrou para um carro. Não a vi mais nessa noite.
No dia seguinte (já sóbria), voltei a procurá-la e, voilà, ali estava ela. Sem
ter pensado sequer no que havia de dizer (e já agora, porque havia de falar
com ela), parei e chamei-a. Fui com um amigo, para ela não achar muito
estranho, mas, por incrível que pareça, ela aproximou-se logo do carro e
disse:
— Para os dois, são 30 euros, e ela só vê.
Por razões óbvias, eu fiquei aparvalhada (30 EUROS? OS DOIS?), mas tentei
disfarçar e respondi:
— OK, pago-te o que pedires mas é só para irmos a um café e
conversarmos.
Ela achou estranho, mas eu dei-lhe o dinheiro e ela entrou
imediatamente no carro.
Parámos num café um pouco mais à frente. Perguntei-lhe se ela já tinha
jantado. Respondeu-me que não, por isso pedi um prego para ela e muito
álcool para mim. Tinha de ser! Perguntei-lhe pela idade; ela disse-me que
tinha 20 anos e mostrou-me o Cartão de Cidadão. Tinha realmente 20 anos,
embora aparentasse ter aí uns 16. Acabou por contar quase toda a sua vida
até ali. É claro que nunca se sabe o que é não verdade, mas...

EM SUMA: a Ressaca tem dois filhos, um com 2 anos, outro com 8 meses.
Não conhece nenhum deles, porque lhos tiraram no hospital, assim que as
crianças nasceram. É viciada em branca e em castanha: cocaína e heroína.
Há uns anos, tal como o namorado e o suposto pai das crianças, acabou por
ir trabalhar para a rua para sustentar o vício, o que mesmo assim nem
sempre acontece, visto que o tipo dela não trabalha. A meu ver, ele é um
chulo do pior. A Ressaca não tem casa, mas está à espera de uma habitação
social. Diz-me que antes cobrava 20 euros por cliente, mas que agora, para
se safar, cobra 15.

Estivemos bué de tempo a falar, mas reparei que ela estava a começar a
ressacar, por isso agradeci a conversa e deixei-a de volta no “local de
trabalho”, tal como me pediu. Dei-lhe mais algum dinheiro, escrevi o meu
número de telemóvel num papel; meti o papel num maço de tabaco e dei-
lho. Disse-lhe para me ligar se ela precisasse de falar, e fui-me embora.
Ainda voltei para trás para lhe dar um isqueiro, porque a Ressaca se
queixara que não tinha lume.
Passados dez minutos, vi-a dirigir-se para o Bairro S. João de Deus;
provavelmente para ir buscar droga com o dinheiro que eu lhe dei.



Quarta-feira, 28 de Dezembro


CARRO NOVO, DESASTROSA AULA DE CONDUÇÃO E EJACULAÇÕES PRECOCES

Dia da parvoíce.
Tinha duas marcações para lugares muito distintos: uma para as cinco e
outra para as cinco e meia. Era humanamente impossível e, por isso, aceitei.
Cheguei às cinco em ponto ao primeiro hotel. Estava um gajo com
cinquenta anos à minha espera, um típico borguista, com cabelos meio
brancos, e iPhone (segundo ele, melhor do que isto não há!), e pareceu-me
mesmo ser excessivamente educado. Duche tomado, pénis encamisado, e lá
começo o broche.
O Cinquentão abriu um sorriso enorme de satisfação:
— Ai, Jesus! Há tanto tempo que não me faziam um broche! Uau...

RESUMO: veio-se comigo a fazer-lhe o broche e acabou ali. Foi pena,
apetecia-me mesmo.

Saí do hotel às cinco e quinze, e recebi uma chamada do segundo cliente
a dizer que se ia atrasar uns dez minutos, por causa do trânsito. Porreiro.
Cheguei exactamente um minuto depois dele. Mesmo filme: duche
tomado = camisinha colocada = broche = demasiada excitação = «ai Jesus, ai
Jesus, ah, foda-se, que bom!» = ejaculação = dez minutos = chegar à escola
de condução a tempo = desespero total do instrutor.

Finalmente comprei um carro! Já o queria ter há muito, mas ainda não
tinha encontrado o que queria: um cinzento metalizado. Digamos que é um
fetiche. Mas finalmente comprei-o. O pior está a ser tirar a carta. Sempre
achei que ia tirá-la rapidamente, mas, depois do meu instrutor se ter
benzido no início da última aula, eu fiquei com dúvidas.



Sexta-feira, 30 de Dezembro


O MEU PRIMEIRO FILME PORNO OU ERÓTICO OU CÓMICO — BEM, ISTO JÁ DEPENDE DO
PONTO DE VISTA, VISTO QUE...

Recebi um convite invulgar. Um brasileiro na casa dos seus 40 anos
ofereceu-me imenso dinheiro para que eu o deixasse filmar o nosso
encontro no motel.
Aceitei, com a condição de estar com uma máscara. Cheguei, recebi o
dinheiro, ele ligou a câmara, eu pus-lhe a mão na gaita e ele veio-se. Disse-
me que, a partir daí, já não se levantava mais.
— Eu conheço a minha gaita! ‘Tá morta!
Dei-lhe dois beijos e bazei. Grande filme!
Ele ganhou um filme embaraçoso; eu ganhei para o seguro do carro:
contra todos os riscos que EU CONHEÇO-ME!
Fiquei, no entanto, preocupada. Será que vão reconhecer a minha mão no
vídeo?
JANEIRO


Sexta-feira, 6 de Janeiro

FISTING (UGH...)

Voltei!
Ultimamente digamos que tenho estado muito ocupada. E, agora que
comprei o Maria-Móvel (o meu carro) estou obcecada pelo Código da
Estrada. Quero tirar a carta o mais rapidamente possível. Há dias que passo
horas a estudar. É terrível.
O penúltimo cliente de hoje foi, até agora, a minha pior experiência como
acompanhante. O tipo fez uma marcação de duas horas mas, quando eu
cheguei ao motel, ele deu-me o dinheiro que dava para pagar pelo menos
quatro. Infelizmente, depressa vim a saber porquê. Ao que parece, além de
gostar de ser sodomizado, já não lhe chegavam os pénis, os vibradores, etc.,
o freak (um quarentão) queria que eu lhe espetasse literalmente a mão no
rabo. Confesso que fiquei apreensiva. (Sim! Eu, Maria, não nego nada a
ninguém, desde que paguem!)
O freak virou-se e eu fiquei a olhar para aquele buraquinho. Pensei: cumé
keu bou meter a mão toda ali? Puta que pariu a puta da figura triste que eu
‘tou a fazer! Que ridículo! O freak disse-me para eu não ter medo, «que ela
entra». Pelos vistos, já o tinha feito mais vezes; portanto, a conselho dele,
meti-a sem mais conversas.
— Aaaaaaaaaaaaaaaahhhhh!!
— Então? — perguntei, quando ele gritou.
Ele tinha dito que não doía, caralho! É bem feito!
— Foda-se, tu não deduzes nada? Tira os anéis, caralho!
Ups... Realmente, podia tê-los tirado.


O GAJO QUE SE REFERIA A ELE PRÓPRIO NA TERCEIRA PESSOA

Esta semana só trabalhei praticamente com clientes Mesmo Anormais.
Parece que anda tudo com uma parvalheira qualquer.
Ontem, tive um cliente que me agradou bastante. Trintão, como eu gosto,
muito giro e bem constituído. Chamava-se Tiago (e adivinharam, é um
nome fictício!). Tomámos um copo, conversámos um bocado e, depois, toca
a foder. Tenho de admitir que estava a gostar. Até ele abrir a boca.
— Então, a Maria está a gostar, ah? O que é que o Tiago está a fazer à
Maria, ah? O quê? Se tu não sabes estás mesmo mal!
Como fui apanhada de surpresa, disse a primeira estupidez que me veio
à cabeça:
— Eh... está a fodê-la?
— Pois, está a fodê-la, está. E a Maria gosta?
— Hum... muito!
Otário...
— O Tiago também está a adorar!
Mas que raio de nerd é este que se refere a si próprio na terceira pessoa?
Foda-se!
O Tiago esteve em acção durante uns cinco minutos; depois parou de
repente.
— O que foi? — Suspirou, desapontado, olhou para mim e disse:
— O Tiago veio-se.



Sábado, 7 de Janeiro


NOVO RECORDE

Ontem bati novamente o meu recorde de marcações em simultâneo.
Recebi montes de chamadas, mas nunca pensei que tal me fosse acontecer.
Eram cinco e vinte da tarde quando recebi a primeira confirmação de um
tipo que estava instalado no motel. Pus-me imediatamente a caminho.
Assim que entrei para o carro, o telemóvel volta a tocar. Desta vez era outro
cliente:
— Maria, já estou no motel, quarto X. Quanto tempo demora?
— Eh! Vou já para aí...
Enquanto falava com ele, apareceu uma chamada em espera. Despedi-me
e atendi:
— ‘Tou sim?
— Maria, acabei de chegar ao hotel.
— OK, eu... eu vou já para aí. (“#$%$#%%#”)
Decidi atendê-los por ordem de chegada. Felizmente, os primeiros dois
estavam no mesmo motel.
Subia as escadas para o primeiro quarto, quando o telemóvel tocou outra
vez. Era mais um que estava no mesmo motel. Menos mal!
Subi a correr. Felizmente, era um miúdo da minha idade, 18 anos, que
estava à minha espera. Também ele estava com pressa porque tinha de
devolver o carro à garagem antes que o pai chegasse a casa. Putos! O moço
veio-se em cinco minutos. Atendi outra chamada:
— Maria, já estou instalado, não demores.
— OK... — Vai sonhando!
Quarto seguinte: um trintão com problemas de personalidade. Ele queria
certificar-se de que ainda conseguia provocar orgasmos às mulheres. Dez
minutos de gritinhos pornográficos, e o cliente ficou convencido. Fui a
correr para o hotel onde estava o terceiro.
Cinquentão. Foda-se! Tal como eu estava à espera, ele teve problemas em
levantar, o que acontece muito aos cinquentões. Demorei vinte minutos!
Saí para o quarto cliente que se encontrava noutro hotel e que já tinha
ligado a questionar a demora.
— É que está trânsito. Foi um acidente.
Duvido que ele tenha acreditado na desculpa, mas paciência. É sempre
preferível dizer isto do que: «Atrasada? Eu? Fodi três gajos em menos de
uma hora! Não posso fazer mais do que isso!»
Senti-me aliviada por estar a chegar ao fim da saga, quando me liga mais
um que, como a sorte era tanta, estava no motel onde eu tinha estado com
os dois primeiros. Entrei no quarto do penúltimo cliente. Mais um gajo com
cerca de 30 anos, desta vez oportunamente sobreexcitado. Veio-se em dez
minutos!
Motel, quinto cliente. Terceiro trintão do dia. Estava tão contente por eu
ter conseguido atendê-los, a todos, que o fodi até ele implorar para parar.
Fui para casa. O telemóvel tocou de novo. Rejeitei a chamada. Voltou a
tocar várias vezes. Desliguei-o e fui dormir. Ufa!



Domingo, 8 de Janeiro


MARIA, A PENETRADORA

Acabei de sodomizar um gajo!
Quantos se podem dar ao luxo de dizer isto? Muitos, certamente.
O tipo marcou, levou vibrador de cinta, e eu fiz-lhe o favor.
Comecei bastante devagar para não o magoar, mas confesso que estava a
gostar e fui sempre aumentando o ritmo, até ao limite.
Agora estou preocupada. Cada vez gosto mais destas cenas, e nunca
pensei vir a gostar.
O que acontecerá a seguir?!
Masoquismo heavy? Piromania? Who knows?!



Quarta-feira, 11 de Janeiro


I DON’T LIKE THE DRINKS BUT THE DRINKS LIKE ME

Grande bezana ontem à noite. Acordei com uma grande dor de cabeça e
com lembranças distorcidas de um chihuahua pintado com spray azul, além
da minha pessoa em topless a dançar «Like a Virgin» em cima da mesa da
sala.
O cão ainda está aqui; não sei de quem ele é. Se calhar vou dar-lhe banho;
coitado, está mesmo ridículo.



Quinta-feira, 12 de Janeiro


FCP, DESILUSÃO (OH, CÉUS! NÃO PODE SER!)

Dia bastante sóbrio. Comigo é sempre assim: só quando estou sóbria é
que os meus dias são marados.
Tinha uma marcação de duas horas para hoje à tarde, com um tipo que
eu pensei ser neurótico, porque escolheu um hotel em Santa C...a de
Assobio aka Cu de Judas.
O gajo pediu-me mesmo muito para eu não dar minimamente nas vistas.
Por isso, vesti umas calças de ganga rasgadas e uma t-shirt a dizer: «I’M SO
FUCKING HORNY». Confesso que não encontrei nada mais decente, pois
esqueci-me de pôr a roupa a lavar!
Chegada à Santa..., deparo-me com um motel catita. Entro e vejo um
carrão na garagem da suíte (Espera aí, acho que só há dois destes em
Portugal!)
Aquilo era um carro de 250 000 euros. Isto é depressivo para quem
acabou de comprar carro!
À minha espera estava um ex-jogador do “meu” FCP. Fiz de conta que
não o reconheci, já que sei que os VIP detestam isso.
Tirei a minha roupa e, a seguir, a dele. Deixei-lhe a camisa vestida,
desabotoada (é uma fantasia que eu tenho, e depois? Há casos piores.),
camisinha posta (sabor a maçã), broche muuuuuuuito bem feito e...
Em relação aos vinte minutos seguintes, só tenho isto a dizer: «Grande,
grande foda!»
Afinal sempre é verdade que fazer exercício faz bem. Fodinha dada,
duche tomado e ainda faltava mais de uma hora para acabar o tempo.
Pensei que ainda íamos voltar à carga, mas não. Ele acabou por me explicar
quem era, e eu fiz de conta que não tinha reparado. Passámos o resto do
tempo a conversar sobre futebol.
Era fixe estar com um gajo do FCP, até ele me confessar, exactamente
com estas palavras:
— O meu maior desgosto foi não ter jogado no Benfica.
— Aaaaaaaaaaaaahhhh!
Vira-casacas! Pseudotripeiro! Enganador!
— Estás a brincar?
— Não, a sério, sempre fui benfiquista.
O resto do tempo, o Pseudotripeiro-Vira-Casacas-de-Merda passou-o a
enumerar as virtudes e os títulos do Benfica. Apeteceu-me bater-lhe.
Principalmente, quando, antes me de vir embora, ouvi:
— Viste o meu carro? Acho que só há dois em...
— Sim, EU SEI! Tenho de ir.
Escolho sempre o dia errado para me embebedar.



Quinta-feira, 19 de Janeiro


FODI O MEU MÉDICO DE FAMÍLIA

Aqui há uns dias, recebi um telefonema de um tipo para uma marcação
de duas horas. A voz pareceu-me familiar, mas, ainda assim, eu pensei que
não seria conhecido. Reservou a melhor suíte do motel (com cascata... e
tudo!).
Quando cheguei, vi que era o meu médico de família, mas não havia
problema, até porque ele sabe melhor do que ninguém que sou muito
saudável. Eh! Eh! E eu estava bêbada, o que era pior.
Primeiro fomos para o banho turco, onde eu comecei a fazer um broche,
enquanto ele me perguntava se já tinha feito as análises à urina, o que tem
tudo a ver. Depois, passámos para a piscina, onde recebi uma espécie de
minete subaquático muito bem feito. Saí da piscina, liguei a aparelhagem e
agarrei-me ao varão para um strip. Fomos para a cama redonda, fodemos,
tomámos banho, vesti-me, dei-lhe dois beijos e ele disse-me:
— Reparei que arfavas muito quando estávamos na cama. Tens de
começar a fumar menos.
— ???


MEIAS FODINHAS (ELES ANDAM AÍ!)

Acabei de chegar do motel, onde passei dois minutos maravilhosos.
Felizmente, o trabalho foi ultra-rápido pois eu estava a precisar de dormir.
Já não sei qual foi a última vez que eu dormi mais de três horas seguidas.
As minhas estatísticas provam que 90% dos meus clientes só se lembra de
fazer a merda de uma marcação a partir das quatro da manhã.
Antes do Two-Minute-Boy, tive um cliente no mesmo motel (os
empregados já me cumprimentam com um «olá, Maria!»)
Quando entrei, o cliente quase que se babava.
— Eia, és mêmo boua!
— Eh, pois... obrigada. (Parolo, labrego, saloio, etc.)
Pus-lhe a camisinha, mas comecei com os trabalhos manuais.
— Isso, gaja boua!
Não foi preciso mais nada. O Saloio veio-se mesmo antes de eu lhe pôr a
boca... À saída, a conversa do costume:
— Sabes, isto nunca me aconteceu ant...
— Sim, eu sei. Acontece.
ACONTECE O CARALHO! Ah! Ah! Ah! Ah! Pila mole!



Sexta-feira, 20 de Janeiro

No outro dia, fui comer a um restaurante senegalês.
Achei que seria algo extremamente interessante porque eu nem sequer
sabia que no Senegal havia comida.



Segunda-feira, 23 de Janeiro


VIVENDO E APRENDENDO

Ontem, tive dois clientes que me puseram a pensar.
O primeiro pediu-me para ir à casa dele. Deu-me a morada e, como era
um apartamento num local difícil de encontrar, disse-me que esperaria por
mim à porta. Quando cheguei à morada indicada, estavam duas pessoas à
porta: um senhor, provavelmente quarentão, e um puto. Fui ter com o
quarentão mas, ao me aproximar dele, sou chamada pelo puto:
— Maria?
— Ah! És tu.
Tinha à minha frente um cromo com problemas de identidade. Vinte e tal
anos, com cabelo aos caracóis comprido, camisa de flanela aos quadrados
verdes e vermelhos, por cima de uma t-shirt do «Save the qualquer coisa»,
com brinco comprido na orelha e uns óculos partidos mas colados com fita-
cola. O apartamento do hippie era bastante... hippie, uma espécie de divisão
tudo em um. Além da kitchenette, só se viam dois pufs, um piano, uma cama,
um baú e um computador portátil.
Pus-lhe a camisinha, fiz-lhe um broche. Veio-se em cinco minutos. Depois
disse-me a sorrir:
— Rápido e eficaz. LOL.
No fim, perguntei-lhe se ele tinha namorada, mulher ou algo parecido.
Acabámos por ficar à conversa bué tempo. Eu e a minha mania de meter
conversa! Disse-me que sim, que tinha, mas, de momento, ela estava um
pouco longe. Perguntei-lhe se ele não sentia remorsos por a estar a trair, ao
que ele me respondeu:
— Bem, acho que se fosse a uma casa de putas era mau, mas como é com
uma acompanhante...
— Ah, OK! Então, se tu fosses gastar 80 euros numa queca era lixado,
mas como chamas a tua casa uma acompanhante está tudo bem. Afinal de
contas, são 300 euros a menos para a gaja comprar roupa, não?
Depois do Hippie, tinha mais um apartamento para visitar (e cansaço,
cansaço, cansaço!). Desta vez, era um Novo-Rico. Mostrou-me a casa nova,
antes de começar:
— Ah! E tal! Eu sei que as mulheres gostam de ver casas...
Por amor de Deus!
Como vi um quarto de casal com a luz acesa, fui tirando a roupa e
andando para lá.
— Aí é melhor não, por respeito à minha mulher. Vamos para o quarto
do meu filho.
— Está bem... E o teu filho? Não o respeitas?


MAIS UM ESPANHOL ARMADO EM ESPERTO

Como se eu não tivesse já trabalho que chegasse, liga-me um espanhol a
pedir um encontro em casa dele. Estava com um amigo e comentei:
— Foda-se! Em Braga não há putas boas? Então, as universitárias e tal?
Ao que parece, o espanhol tinha o meu número através do Espanhol
Lambe-Pés e queria a Maria, só a Maria e mais ninguém que não a Maria.
Por isso, aqui a Maria cobra-lhe o triplo e vai para Braga de madrugada,
cheia de sono.
Era um apartamento enorme, muito giro que, ao que parece, serve para
férias. Assim que cheguei, o Boneco fez logo quinhentas perguntas: de onde
sou, onde moro, com quem moro, onde estão os meus pais, porque sou
acompanhante e etc. e tal.
A minha resposta às perguntas foi:
— Temos uma hora. Queres que eu te conte isso tudo ou preferes foder?
Detesto perguntas. A minha vida é isso mesmo, MINHA; portanto, o que eu
faço ou deixo de fazer, e porquê que o faço é comigo e com mais ninguém.
Mais nada!
Ah! O gajo escolheu foder.


MISTER COCAIN

Ontem, tinha um encontro marcado, com um rapaz que me pareceu
muito puto. Porém, eu, ao contrário de algumas instituições de caridade,
acolho de tudo.
Ao entrar na garagem do motel, reparei que o puto tinha um carro
igualzinho ao meu. Era um gajo bué gordo e, como tal, perguntei-me como
conseguia ele ver a própria pila. O Gordo só não se babou porque não
calhou. Assim que me viu, e depois de pagar, começou logo com as
parvoíces típicas dos miúdos. Apalpanço, apalpanço. Tive de ser eu a tirar-
lhe a roupa e a ver se o despachava, porque tinha mais dois pobres coitados
instalados à minha espera. Não foi preciso muito. Assim que comecei a
chupá-lo, ouvi logo o habitual: «Ai que eu assim venho-me!» E realmente
veio-se.
Perguntou-me se podia continuar, disse-lhe que sim, apesar de pensar:
Foda-se, já estou tão atrasada! Então, o moço foi à casa de banho tirar a
camisinha e tal, e voltou para agarrar nas calças.
— Já venho. É que está aqui uma coisa de que eu preciso...
— OK...
O tempo passou, passou, passou, e do puto nem sinal. Comecei a ficar
preocupada. Bati à porta. Ele respondeu que estava tudo fixe. Passado um
bocado, saiu-me de lá completamente a tripar e disse-me que naquele
estado, infelizmente para ele, já não conseguia dar a segunda. Eu estava
livre para me ir embora.
Fui buscar a minha tanga e aí reparei que o rapaz demorou tanto tempo
porque se esteve a chutar lá dentro.
Oh, pá! Eu não tenho nada contra os consumidores de coca, a sério;
cheirem até caírem, se assim o quiserem, e piquem-se também, façam o que
quiserem, MAS NÃO ao pé de uma Escort Girl!
Se era para isso, o miúdo podia ter-me dito que eu ia-me embora mais
cedo e já tinha feito os outros dois clientes! Grrr...



Quarta-feira, 25 de Janeiro


MARIA, LA ESPYA DE SERVICIO (PARECE NOME DE UM FILME PORNO, MAS NÃO É.)

No dia a seguir ao Espanhol Esperto, coincidentemente, ou não, recebo
um telefonema do Espanhol Lambe-Pés. Ele estava em Portugal e queria
novo encontro, desta vez por duas horas.
Tendo em conta o monte de massa que recebo do Lambe-Pés, não tive
como recusar, e isto apesar de ter prometido a mim mesma que seria dia de
folga.
Chegada ao local, o Lambe-Pés paga e começamos o ritual do costume:
banheira cheia, duas flûtes de champanhe, banho prolongado com o
Espanhol de charro em punho. Eu a tentar levar aquilo por um caminho
normal e ele a agarrar, a chupar, a beijar, a lamber, enfim: a fazer tudo o
que era humanamente possível aos meus pés. Charro fumado, champanhe
bebido e banho tomado, vamos para o quarto e eis que o Espanha começa:
— Te recuerdas de última vez, seguro?
— Eh... sí, porquê? — Pronto, ‘tou com-ple-ta-men-te fo-di-da, pensei. —
Desta vez, quería un poco más de... teatro.
— Hum... si?
O Espanhol levanta-se de rompante e abre a mala de viagem. Tira de lá
um bruto fato preto de látex e diz-me:
— Desta vez eres una espía, sí? E teres escondido un microfilme que
necessito. Entonces hasta que me digas donde está, te torturaré. Vale?
Estendeu-me o suposto microfilme: era uma caixa de pastilhas elásticas.
Por mais estranho que vos possa parecer, e eu nem estava bêbada nem
nada, senti-me muito tentada a realizar o fetiche. Por isso, disse-lhe que sim
e fui vestir o fato de espia em látex. Escondi o microfilme. Olhei-me ao
espelho e pensei: Estou igualzinha à Britney Spears no vídeo «Toxic», só que
menos puta.
Entretanto, já o Espanhol tinha encarnado fortemente a personagem e
eis que me entra de rompante na casa de banho. Agarra-me, leva-me aos
ombros e atira-me para a cama:
— Donde está el micro?!
— No te diré. Jamás!
— Confiessa, o te voy a torturar!
— Nunca!
Deixem-me confessar-vos: eu estava a curtir à brava, até que... o
Espanhol abre de novo a mala de onde tinha tirado o meu fato.
— Todo esto es para tu tortura. Ah! Ah! Ah! Ah!
(Tentativa infrutífera da onomatopeia de riso maquiavélico.)
Nos breves instantes em que me mostrou a mala aberta, eu vislumbrei
umas cordas, uma espécie de molas, elásticos, uma chibata e uma
embalagem que, na altura, não sabia o que era. Fiquei preocupada. De
seguida, tirou-me as botas (pretas, igualmente de látex — adoro!), sentou-
me numa cadeira, pegou nas cordas e prendeu-me os braços e as pernas.
Pensei para os meus botões: Merda, agora como é que eu vou ver as horas? O
Espanhol foi, então, buscar os tão famosos elásticos de borracha à mala.
— Eh! Eh! Eh! Te recuerdas, las gomas?
— He... sí... — E lá começou a verdadeira tortura.
— El micro?!
— No!
Zás! Sempre que eu respondia, ele puxava os elásticos que estavam
enrolados nos meus pés com toda a força e largava-os rapidamente logo de
seguida. Todo o meu corpo estremecia com a dor do momento, porém,
estranhamente, era uma dor que não era má.
— Confessarás?
— No!
Zás! E isto durante tempos infindáveis, ou pelo menos foi o que me
pareceu. Deixei de sentir os pés de tanta dor. Sabia que a brincadeira teria
de durar duas horas; como tal não podia “confessar” já. A cada vez que ele
largava os elásticos, a dor ia aumentando, tendo em conta que os meus pés
iam ficando cada vez em pior estado. Mas, como terrivelmente me apercebi,
nós só estávamos no início.
O gajo volta à porra da mala, desta vez para tirar as tais molas. Uma em
cada dedo do pé, terrivelmente apertadas. E, lá continuou a tortura dos
elásticos. Sinceramente, não sei como aguentei aquele tempo todo, mas
felizmente tive direito a pequenos mimos: de vez em quando, embora
raramente, parava a tortura para pegar numa embalagem de creme e
massajava-me os pés durante trinta segundos exactos: apenas o tempo
necessário para poder recomeçar logo de seguida.
Raios me partam. Vim para cá de botas com um salto de quinze
centímetros. Como é que vou sair daqui?
Mais torturas intermináveis com as molas e os elásticos.
— No me dices donde está?
— No, jamás!
— Estás loca?!
— No te diré!
No fundo, era doloroso mas engraçado, e até excitante ao mesmo tempo.
Novo instrumento: chibata.
A cada resposta minha, tortura com os elásticos, seguida de duas
chibatadas, sem piedade, em cada planta do pé.
Foi mais ou menos nesta altura que eu deixei de ranger os dentes e que
comecei mesmo a gritar:
— No...
— Me dirás? — Já arfava, transpirava...
Zás!
— Aaaahh!
Cada vez mais excitado, o Espanhol tira o cinto do roupão de banho e
castiga-me com ele.
Felizmente deram as horas na televisão: faltavam quinze minutos. Havia
chegado o momento de respirar fundo.
O Espanhol tirou-me as molas e os elásticos, agarrou-me nos pés com
uma mão, agarrou no seu pequeno pénis e, como da última vez, veio-se na
planta dos meus pés... E eu juro-vos que eles me arderam.
Ponho-me de pé com dificuldade; passo os pés por muuuita água; tiro o
fato, visto a minha roupa e tento fingir que não sinto dores excruciantes ao
calçar-me.
Dou-lhe dois beijos. Saio com um andar esquisito. Recebo olhares
maliciosos no corredor do hotel. É que, depois dos gritos, sair a andar
daquela maneira... até parecia que eu tinha FODIDO como as pessoas
normais!
Chego a casa, tomo um banho muuito prolongado, com gemidos de mim
para mim e com pensamentos de Ai, ui, ai, Maria burra. O telemóvel toca.
Atendo contrariada:
— Maria?
— Sim.
— É desinibida, não é?
— Muito.
— É que eu tenho um fetiche...
— POR AMOR DE DEUS, GANHE JUÍZO!
Por culpa de uns...



Segunda-feira, 30 de Janeiro


MAIS UM FUTEBOLISTA NOVA DESILUSÃO

O tempo é sempre pouco, e agora que eu fui expulsa do meu prédio,
tenho estado a merda das poucas horas que não passo a trabalhar à
procura de ninho. Hoje, vi um duplex super bacano; acho que vou ficar com
ele. Sempre posso ir para o andar de cima quando estiver bêbada e assim
não acordo os vizinhos às seis da manhã a cantar «Rock You Like a
Hurricane». Bem, adiante.
Aqui há dias, liga um gajo a marcar para a noite toda. Era dia de estar
com o meu Namorado, por isso disse-lhe que não. Como tal, ele pediu-me só
duas horas. Ainda por cima, o gajo tinha ido a Santa... do Assobio para ver
um musical (gay!) e tinha decidido ficar por lá num hotel. Cobrei-lhe o
triplo, mas desta vez não tinha sido muito injusta: era mesmo longe! Ao
telefone, disse-me para ser muitíssimo discreta, que não podia dar
minimamente nas vistas. É sempre assim: quando estou longe de casa e
sem tempo para mudar de roupa é que eles se lembram. Tenho a mania de
vestir sweats com letras, e esta dizia: «IF YOU’RE RICH, I’M SINGLE» Pedi, por isso,
um casaco a uma amiga, e pus-me a caminho.
Hotel de quatro estrelas. Mau! Entro (eram quatro e meia da manhã) e
pedem-me os documentos. Isto só acontece quando o cliente é importante;
desconfiei. Subi e dei de caras com um actual jogador de um grande clube.
Nervoso (porque é que ficam muito mais nervosos do que os comuns
mortais?), fez-me um monte de perguntas: de onde sou, porque comecei
como acompanhante, se o piercing não magoava (Eh! Eh!), etc. e tal.
Comecei a ficar farta da conversa, detesto perguntas, olhei bem para ele e
disse-lhe:
— Eu conheço a tua cara de algum lado!
— Hum! Eh! Bem, deve ser confusão...
— Não, eu sei que te conheço...
— Eh...
— Ah, pois! Tu és o... Que joga no... LOL.
Que nervoseira a do cromo. Acabou por confessar que me tinha chamado
porque julgou que eu, com 18 anos e sendo rapariga, não ia saber quem ele
era. Parolo, a discriminar as mulheres. Otário!
O Otário confessou que, a partir do momento em que viu as minhas
fotografias, tinha o desejo de ser ele a lavar-me. Fui para o duche e o Otário
molhou-me, esfregou-me, ensaboou-me, enxaguou-me e despiu o roupão
dele para mo vestir, revelando assim uma pila tristemente pequena. Oh,
céus, eras o meu ídolo!
Fomos de novo para o quarto, e o Otário perguntou-me se a música me
incomodava.
— É que esta música inspira-me — disse ele.
Respondi-lhe que não, apesar de não entender como é que um gajo como
ele só levanta ao som de Vivaldi. Freak. Fodemos até ele se vir: três minutos
maravilhosos.
No fim, cravo-lhe um cigarro (‘num’ sabia que os jogadores podiam
fumar!); fumámos e conversámos mais um bocado; visto-me, mas deixo-lhe
a minha tanga: ele pediu-ma bué de vezes que acabou por me vencer pelo
cansaço. Depois, dá-me o número de telefone dele, dizendo-me para lhe
ligar sempre que quisesse.
— ???
Mais tarde, esse mesmo papel com o número viria a ser fumado por um
amigo meu, quando se lhe acabaram as mortalhas. Foi fora, mas acho que
vou conseguir lembrar-me do número. Tenho quase a certeza que começa
por 9.

Quando chego a casa, tenho mensagem do meu Namorado a dizer-me
que estava a chegar. Só tenho tempo de desligar os telemóveis e de os
meter numa gaveta, antes de lhe abrir a porta.
O meu namorado entra, beijinho, abracinho, etc. e tal. As coisas aquecem,
vamos para a cama, começa-me a tirar a roupa, quente, quente, quente...
— Miúda?
— Hum! Diz?
— Não tens cuecas, porquê?
— Foda-se.
FEVEREIRO


Domingo, 5 de Fevereiro


FALHA TÉCNICA

Dia de merda o de ontem. Soube que o meu anúncio não estava online,
devido a problemas ou a avarias técnicas. Saber isto a uma sexta-feira é
fodido. Sexta e sábado são os melhores dias para eu ganhar dinheiro.
Estava no carro com um amigo quando soube disto. Ironicamente, estava a
ouvir rádio e ouço a locutora:
«E agora, uma música para relaxar, enquanto pensa nos próximos dois
dias que tem para descansar...»
Foi a primeira vez que eu gritei para um aparelho de rádio:
— Vaca! Cabra, irónica, besta de merda!
Obviamente que não obtive resposta.



Sábado, 18 de Fevereiro


ERA UMA LOLITA PARA CUSTÓIAS, “FAXAVOR”

Esta é nova. Há já uns dias que eu vinha recebendo chamadas de um tipo
que queria marcar um encontro... na prisão de Custóias.
Como é óbvio, julguei que era gozo. São várias as razões, como por
exemplo: para obter o meu contacto, ele tinha de ter acesso à Internet, onde
tenho o meu site, depois, o facto de ele me ligar de um número móvel, além
do pormenor de o meu preçário não ser muito simpático. Portanto, sempre
rejeitei, isto apesar de me parecer um gajo muitíssimo culto e educado. A
última chamada que fez já era bastante desesperada: «Mas Maria, já lhe
disse que pode confirmar. Basta ligar para o guarda X.» Em condições
normais, eu teria recusado novamente, mas já estava disposta a tudo para
me livrar daqueles telefonemas chatos.
Telefonei para lá.
— Eh!... Posso falar com o guarda X, por favor?
— Sou eu. Menina Maria?
Foda-se! Não era tanga.
— Sim, sou eu.
— Pode vir. Eu acompanho-a até ao senhor Y, o cliente.
Foooooooooda-se. Fui. O guarda acompanhou-me à cela. O cliente era
melhor do que a maioria dos presos. Excitou-me bastante o facto de estar a
fazer aquilo ali. Proporcionei-lhe o que, segundo ele, foi a “foda da vida
dele”.
Disse que voltaria a telefonar-me em breve; chamou o guarda para me
levar à saída e deu-me o dobro do combinado.
Esqueci-me de lhe perguntar porque estava preso. Se calhar é melhor
não saber.


ÉS A COISA MAIS LINDA QUE EU JÁ VI

Estava eu a sair de Custóias quando recebo a confirmação de outro novo
cliente. Ainda não tinha jantado, mas não se pode dizer que não à guita,
portanto... siga.
Chego, subo, bato à porta, puto novo, 26 anos: uma criança! Fecha a
porta, envolve-me a cara com as duas mãos, fica especado a olhar para mim
e diz-me estupefacto:
— Meu Deus, Maria, tu és lindíssima!
Achei que ele podia estar a ser sincero. Não me considero feia e, para
mais, no meu site, as fotografias não mostram a minha cara. Mas o tipo não
se calava:
— A sério, Maria, nunca vi mulher mais bonita na minha vida! És linda de
morrer! Uau! Deixa-me olhar bem para ti! Céus, eu nem acredito que exista
alguém assim!
OK. Tinha chegado a hora de lhe responder:
— Não vale a pena. O broche também é com camisa, já te tinha dito.
— Pronto, está bem, OK...
E, assim foi.


VAMOS FALAR DE PIM-PIM-PIM

Chegou a hora de falar do He-Bitch.
Conheci este espécime quando ele fez uma marcação para as quatro da
manhã! Pediu serviço especial, vibrador, máscara e chicote de ripas, o que
me fez lembrar um episódio de há uns dias, quando fiz a mudança de casa.
Nessa altura, pus os “brinquedos” todos numa caixa grande e, quando eu
estava a subir as escadas, a porra da caixa rasgou-se. Nada de mais, se não
fossem os senhorios estarem a ajudar-me na mudança.
— Empresária, ah?
— Pois sim.
Voltando à marcação. O vibrador e a máscara ajustaram-se bem dentro
da mala, já o chicote não havia maneira. Tive de o prender na presilha das
calças e de vestir um casaco comprido para não dar nas vistas à entrada do
hotel. Apesar da hora, lá apareço alegre e contente... até ele abrir a porta.
Primeiro, pelo susto. O cromo estava com um top dourado de lantejoulas,
com um cinto fininho de brilhantes, uns stilletos pretos de salto altíssimo e
umas calças justas boca-de-sino.
Depois, pela inveja: a roupa dele era muito mais gira do que a minha.
Cabrão!



Sexta-feira, 24 de Fevereiro


O MEU PRIMEIRO ROT... CLIENTE, DEPOIS DAS FÉRIAS

Levei um portátil comigo mas, como não “estava puta” durante esses
dias, decidi não escrever nada.
Voltei hoje e logo tratei de tudo para pôr o meu anúncio a funcionar
novamente. No entanto, não sei porquê, ainda há pouco fui ver e ele ainda
não está online. No entanto, quando liguei os telemóveis, recebi logo duas
marcações: uma de um Habitual e outra que foi pura sorte, visto que o
cliente tinha enviado uma mensagem para saber, através do relatório,
quando eu ligaria o telemóvel. Espertinho, o senhor!
Felizmente, eram marcações bastante espaçadas, e eu não tive de andar a
correr. Assim que o Executivo (o Habitual) se instalou no motel, eu fui lá
ter. O pior é que ele só se “acha macho” se me fizer vir, e isso é uma chatice!
O Executivo até dá boas fodas, mas, antes disso, tenta sempre fazer-me vir
com preliminares, coisa que ele também faz bem, mas com um senão: está
obcecado!
— Vem-te. Vais-te vir?
E, eu assim não consigo.
De resto, tudo correu bem: demos duas quecas fixes (oito em dez valores,
à vontade!). Fora foi que, a meio, ele me pediu para lhe enfiar um dedito no
recto. E eu que não me concentro a fazer tudo ao mesmo tempo... A sério!
MARÇO


Quarta-feira, 1 de Março

EU...

— Tenho 18 anos
— Vivo sozinha há três
— Já morei em nove casas e em diferentes cidades;
— Só cozinhei vinte e três vezes em toda a minha vida
— Dessas vinte e três, só oito vezes comi o que cozinhei
— Era loura e pintei o cabelo de preto
— Não sei apertar atacadores
— Detesto lençóis
— Sou desarrumada
— Ligo aos meus pais uma vez por mês
— Não gosto de bolachas
— Não entro em táxis pretos e verdes
— Adormeço muitas vezes na banheira
— Não gosto de usar maquilhagem
— Só gosto da praia à noite
— Guardo sempre os documentos importantes numa pasta, e depois
perco a pasta
— Tenho quarenta e dois pares de botas
— Namoro há nove meses
— O meu Namorado ontem descobriu que eu sou Acompanhante!



Sexta-feira, 3 de Março


COTA — A SAGA

Acabei de chegar da casa do Cota. Temo-nos encontrado todas as
semanas, algo que cada vez requer mais sacrifício meu, tendo em conta que
a paixão do Cota por mim é também cada vez maior.
Já tentei explicar-lhe que, e apesar de eu ser liberal e etc., ele tem 53 anos
a mais, o que é uma diferença de idades MUITO GRANDE.
Resposta dele: «Porque diz isso?»
Não há quem aguente!
Cheguei, despimo-nos e, como de costume, fui tentando excitá-lo. Mas,
porra, o cota tem 71 anos, e eu não faço milagres. Depois ainda ouço:
— MARIAZINHA, ISTO DEVE SER DA IDADE, SABE...
Ao que eu respondo:
— Sim, fofinho, deve ser...
Confesso que me apetece dizer:
«CLARO QUE SEI, CARAÇAS! QUERIAS O QUÊ, FODER-ME À BRUTA? MILAGRE JÁ É ESTARES
VIVO, PORRA!»

RESUMO: para não se sentir mal, o Cota fez-me, como sempre, um minete.
Tem sido sempre assim. A boa notícia é que os minetes do Cota passaram
de maus a muito bons, tamanha é a prática e ainda que ele nunca tire os
óculos. Deve ver mesmo mal.

Posso até dizer (envergonhadamente): Céus, tenho orgasmos com um
velho de 71 anos. A minha vida é mesmo triste!
Não posso é olhar logo para ele, senão tenho a sensação de que fui
lambida pelo Avô Cantigas. E essa sensação é MUITO má.



Segunda-feira, 6 de Março


E LOGO HOJE QUE ERA O MEU DIA DE FOLGA, CARAÇAS!

RESUMO DO DIA
— Encontros: 4
— Álcool ingerido: 0 (Oh! God!)
— Cigarros fumados: 21 (and counting!)

Hoje é domingo. Eu não costumo trabalhar ao domingo. Depois do último
trabalho de sábado (que normalmente acaba na manhã de domingo),
desligo os telemóveis e só volto a ligá-los na segunda-feira. Porém, esqueci-
me de os desligar. Again.
Acordei às quatro da tarde com o toque do telemóvel, depois de várias
chamadas perdidas. Antes de atender, pensei em dizer ao cliente que hoje
não estava disponível, mas porra, o gajo já estava instalado. Como é que o
gajo vai para o motel antes de falar com a puta? É inconcebível.
Levantei-me, acendi um cigarro, vesti-me e saí para o trabalho.
Felizmente, era um cliente Normal (o único de hoje), cinquentão, fixe, e em
três quartos de hora eu estava de novo livre para aproveitar o meu dia de
folga...
Isso pensava eu!
Quando saí do motel, mesmo quando ia a desligar o telemóvel, ele toca.
Atendi e, what the hell…, era um tipo a pedir um encontro na Foz para dali a
quinze minutos. Bem, era a minha folga mas, já que não tinha desligado os
telemóveis, toca a aproveitar a massa. Anotei a morada e vou de seguida.
Chegada ao local, sou recebida por um gajo com uma t-shirt e com uns
boxers brancos. Como costume, dei-lhe dois beijos e fui entrando. Era um
T0. Assim que cheguei à sala/quarto/cozinha, ao tudo em um, reparei num
rapaz que também lá estava.
O cliente que me tinha chamado, Jorge (o nome é fictício porque ninguém
precisa de saber que ele se chama Nuno), apresentou-mo:
— Olha, Maria, este é o Paulo.
Dei dois beijos ao Paulo (este nome também é fictício, porque o
verdadeiro, Mário, é irrelevante). Estavam os dois, obviamente, bêbados,
pedrados e estúpidos.
Por toda a divisão, havia latas de cerveja e packs de mortalhas
espalhados, além das duas caixas de pizza em cima da mesa, as quais o
Paulo estava a tentar abrir sem cair do sofá. Estavam a ver um
Ridiculousness e partiam-se a rir. O Jorge agarra-me por trás:
— Eh, pá, chegaste cinco minutos depois das pizzas.
Tentei perceber a relevância do facto. Não consegui.
Parti-me a rir juntamente com os dois cromos. Depois, reparei que, ao só
existir uma divisão na casa, o sexo ia ser ali, ao pé do Paulo. OK...
O Jorge paga e começa a despir-me, no sofá, em frente ao outro onde
estava o Paulo. De repente, ouço-o:
— Ena pá! Oh! Que cena marada pá, também quero, pá.
O Jorge coloca a mão dentro da tanga, agarra-se a mim como quem diz «é
minha e de mais ninguém» e diz-lhe:
— Não! Tens 300 euros?
— Eh, pá, não... — Esboçou uma carinha triste, de fazer pena.
— Então, foda-se! Ela é só minha. Vê mas é o filme e não comas a minha
pizza!
Falou tarde. Já só havia meia pizza.
Dispo-o, ajoelho-me no chão e começo o broche. O Paulo não se cala:
— Ena, pá, que cena maaaaaaaaaaaarada, men!
Continuo o broche, e o Paulo presta finalmente atenção ao filme. De vez
em quando, partia-se a rir com aquilo. Apetece-me rir também, mas tenho a
boca ocupada. Começo a cavalgar o Jorge. Cavalgo-o durante cinco minutos,
e mudamos de posição para trás. Ele vem-se, e vamos tomar um duche.
O Paulo, já nem se ouve. Quando voltámos à sala, descobrimos porquê:
adormeceu no sofá, com a pizza na mão. Visto-me, dou dois beijos ao Jorge
e, ao fechar a porta, ouço-o às gargalhadas com o Jackass.


QUATRO FODAS — QUATRO ANORMAIS (CONTINUAÇÃO)

Depois de sair do apartamento dos Cromos, e já em direcção a minha
casa, recebo uma chamada de um cliente dizendo que estava a dois minutos
do hotel. Adeus dia de folga...
Ao telemóvel pareceu-me reconhecer a voz. Muito bem! Quando cheguei
é que eu me lembrei dele: era o He-Bitch. Portanto, este encontro, nem
comento...
O quarto e último de hoje “fechou” o meu ciclo naquele motel: o cliente
instalou-se na única suíte que eu ainda não conhecia.
Assim que cheguei, o cliente disse-me que tinha uma fantasia que
gostava de realizar. Perguntei-lhe qual era. Respondeu-me que adorava
dirty talking, ou seja: o dizer obscenidades durante o sexo.
Também gosto e aceitei sem hesitações. Estava excitada à espera do
primeiro insulto, enquanto fodíamos à poney ride, mas depressa percebi
qual era a definição dele de dirty talking.
— Então, Maria, gostas de dar a vagina, gostas? Toooooooooma!
Por amor de Deus... Vagina? Isto é que é dirty talking? Porra!
Mas há mais... Olho para o espelho, o tipo aponta para a pila e diz:
— Sabes o que é isto, sabes?
Ah, OK, pensei, agora é que vai começar. Eh! Eh!
Mas não. Ouvi:
— É uma pilinha, ah pois é! Gostas! Toooooma lá pilinha, toooooma!
Oh, pá...
E o homem lá continua:
— Tu gostas... Sim senhor... Posso-te chamar nomes feios?
— Sim, sim, chama!
Ao menos dava-me alguma pica. Porém, quando ele começa a chamar-me
“nomes feios”:
— Tooooooma... Sua marota... Sua tola... Maluca...
Pronto. Estava visto, dali não viria grande coisa. Até que ele perguntou:
— Posso vir-me na tua cara?
— Sim.
Pensei que ele ainda ia continuar, mas não. Saca fora a camisinha e põe-
se de joelhos na cama. Numa fracção de segundos, levanto-me um pouco.
Mas, antes que eu me consiga afastar para uma distância conveniente e
fechar os olhos, ele vem-se num jacto enorme que me acerta em cheio no
olho esquerdo e que ainda faz ricochete para o meu cabelo. Que situação
estúpida!
Já lavei o olho umas vinte vezes e ainda não o consigo abrir bem.



Quarta-feira, 8 de Março


DESILUDIDA

O meu Namorado não tem sido compreensivo com a minha profissão.
Depois de vários meses, reparei que ele é muito mal-agradecido. Ontem,
nem me agradeceu quando eu lhe disse o meu verdadeiro nome.



Domingo, 12 de Março


EXTREMAMENTE NERVOSA

Oh, Céus, o meu Namorado ficou de passar cá hoje para termos uma
“conversa”. Será que é para acabar ou para recomeçar? Que nervos!
Passei o dia nas arrumações como se fosse uma doida; tudo para ele ver
que eu já sou grande. É espantoso o número de pacotes de batatas fritas,
vazios, que estavam em cima do roupeiro. Também tirei as “Cuecas da
Sorte” do candeeiro. Ele podia achar ordinário.



Domingo, 13 de Março


ONTEM NÃO CORREU MUITO BEM

Não tinha dormido nada a pensar na “conversa” que o meu Namorado
queria ter comigo. Por isso, quando ele começou a falar, eu adormeci.


O FIM

Já não tenho namorado. Não estou triste; no entanto, o que contam são
as boas recordações.
Lembro-me do nosso encontro como se fosse hoje: estava eu encostada
ao balcão da discoteca, tentando não cair de bêbada, quando senti uma mão
no ombro:
— Olá! Não achas que és muito novinha para beber álcool?
— Não achas que és um bocado velho para estar aqui?
Fomos sentar-nos numa mesa a conversar, enquanto eu esperava pela
água com gás que ele pediu contra a minha vontade.
— Eu chamo-me P., e tu?
— Eu não.
— OK...


O M

Depois do fim com o meu Namorado e da zanga com o Barman, comecei
a ficar passada.
Passava os dias a foder à doida mas depois não havia ninguém normal
para me aturar. E, zunga, acontece o impensável.
— Isto de ser Acompanhante está a deixar de ter piada — digo ao Melhor
Amigo.
— ‘Tá-se bem. Vamos ficar bêbados em minha casa. Vai lá o pessoal
todo... e está cá o M.
— Fixe. Siga.
O M era um amigo do Melhor Amigo que eu via de vez em quando. Sentia
um fraquinho por ele mas nunca lho tinha dito, porque ele era um tipo à
maneira que não gostava de confusão. Tipo: Eu-só-quero-é-paz-e-sossego.
Seis cervejas depois, estava eu a sair da piscina quando o vi. Tão giro,
sentadinho, a fingir que não me via.
— Então, está tudo bem? — Tento meter conversa.
— Sim, e contigo?
— Também. Está-se bem aqui, hã? Queres uma cerveja? E a seguir
podíamos ir nadar.
— Eu não bebo.
—...
Depois de muita conversa, acabei por passar mais tempo com o M.
O M era um espectáculo! Tanto que acabei por andar com ele.
Passou algum tempo até voltarmos à casa do meu Melhor Amigo. Após
duas cervejas e três copos de vinho, enchi o copo do M e... nem acredito, ele
bebeu. Depois de meia hora na palheta, ouço-o a proferir:
— Tu podias casar comigo.
— Desculpa??
— Era, não era?
— Casar? Ah! Ah! Ah! Ah! Ah...
— Não queres?
— Quero.
No dia seguinte, e bendito KGB, fomos à conservatória.
Faltava um mês para casar.



Quarta-feira, 15 de Março


Sexo NA COPA

O último cliente de hoje foi um máximo. Estava mesmo a desligar o
telemóvel quando recebo uma chamada.
Que se foda, pensei, e atendi. Era brasileiro. Gosto muito de brasileiros.
O Brasileiro diz-me que é dono de um restaurante rodízio, que mora em
cima do restaurante e que já estava há muito para me ligar, mas que,
segundo ele, «a cabra da minha mulher parece que adivinha!», não lhe
dando tempo para estar sozinho em casa. No entanto, a «cabra da mulher»,
e estas são palavras dele, saía hoje com as amigas, avisando-o de que
chegaria muito tarde, e ele aproveitou para me chamar.
As instruções eram as seguintes: ser muito, muito discreta, chegar na
hora de fecho do restaurante, previamente combinada, entrar como uma
cliente normal e subir com ele para casa, onde, obviamente, íamos
“brincar”.
Fiz tudo o que ele me pediu. Cheguei, parei um pouco afastada do
restaurante e, enquanto seguia a pé, liguei-lhe para saber se ele já podia.
Entrei (já conhecia o restaurante, porque janto e embebedo-me lá de vez
em quando), e o brasileiro oferece-me uma bebida:
— Cê num ké um drink?
Bebemos um copo e ele diz-me:
— Olha, Maria, há uma coisa...
— O quê?
— É qui a minha mulhé chegou mais cedo.
Ouvi-o a suspirar para ele próprio, como se rogasse Aquela cabra!
Continuou:
— Por isso, ela tá lá em cima, tá sabendo? Mais a gente podjia fazê o
negócio aqui mesmo, podji sê?
Reparei no pormenor de todo o restaurante ser visível da parte de fora e
referi-lhe isso mesmo.
— Tem problema não, gostosa, a gentji vai para a copa meismo.
— OK, então.
E, lá fomos. Havia uma mesa grande lá dentro, cheia de sal grosso, e um
naco enorme de picanha. Dois minutos depois, a mesa tinha sal, picanha e
uma miúda, eu, nua em cima. O que acham que ele comeu?

P.S.: Não, não me parece que volte a jantar lá, pois se eu cheguei a casa,
sacudi a roupa e caiu um monte de sal, imaginem como ficou a mesa!


ÁLCOOL VS MIÚDAS

Grande foda esta. Tinha acabado de acordar. Atendo o telemóvel e fazem
de imediato uma marcação. Vou ter ao hotel e encontro um trintão muito
atraente.
Sobre o sexo, o mínimo que posso dizer é que foi FA-BU-LO-SO. Óptimo sexo
oral, espectaculares posições, enfim...
No fim, acendemos um cigarro e sentámo-nos na cama a conversar.
Perguntei-lhe por que raio chamou ele uma acompanhante, sendo tão
bom na cama.
— É que estou a recuperar... Por incrível que pareça, tive uma desilusão e
troquei as mulheres pelo álcool.
— Hum, estou a ver... E como é que voltaste a ganhar juízo?
— Foi mais ou menos quando fiquei ‘entalado’ no gargalo.
— Ah, OK...
E, depois dizem-me que eu é que sou Anormal!


NINGUÉM ME ENTENDE

Dia de Merda. Tive de voltar a arrumar a minha casa SOZINHA.
Estou sem empregada há uns dias, desde que se despediu alegando que,
e eu passo a citar: «Se fico aqui mais um minuto, dou em doida!»
Desculpas...
Está bem que eu sou exageradamente desarrumada. E é certo que não é
correcto dançar nua pela casa, enquanto ela arruma a roupa que eu vou
atirando para o ar. Também está certo que eu não lhe devia exigir que ela
arrumasse as minhas tangas por cor, tamanho e data de compra; e também
teria sido uma boa ideia impedir que os meus amigos chegassem a minha
casa, já bêbados, e lhe dessem palmadas no rabo, quando ela lhes abria a
porta, acrescentando, por vezes, um simpático «Não resistas, eu sei que
queres.»
Talvez eu não devesse obrigá-la a ouvir música durante o dia inteiro no
volume máximo. Foder na varanda da cozinha, enquanto ela varria... a
cozinha, também não foi uma ideia brilhante.
E, quem sabe, terá sido uma má ideia espalhar mercúrio pelo lençol dez
minutos antes de ela chegar, posicionar uma faca “estrategicamente” caída
no chão e fingir-me de morta. Mas eu também não sabia que ela era
cardíaca. Fiquei a saber quando ela estava a pegar no telefone para chamar
o 112 e eu apareci a fumar um cigarro. Pensei que quem ia morrer era ela!

RESUMO: tenho de procurar outra empregada. Esta não tinha sentido de
humor.


O ANÃO

Depois do episódio com o Trintão, dirigi-me para o motel, a fim de
atender o próximo cliente.
Entrei, subi, toco à campainha, na esperança de que fosse um cliente
Normal.
A porta abriu-se sozinha? pensei, antes de reparar no anão que estava do
outro lado. O homem tinha no máximo um metro. Tenho réguas maiores do
que ele.
Não mostrei ar de surpreendida (cumé que ele chegou ao telefone?). Fui
entrando para a suíte, enquanto o Anão se babava atrás de mim. Acho eu
que estava atrás de mim. Era difícil dar por ele!
Recebi e comecei a tirar a roupa enquanto ele me observava. Conseguia
sentir a sua respiração nas minhas coxas. Enquanto eu me despia, recebi
uma mordidela no rabo. Pensei no fácil que seria mandá-lo pela janela com
um pontapézinho. Já nua, começo a despi-lo, e, eh!, digamos que para um
anão, ele tinha uma pila enorme. Coloco-lhe a camisinha com dificuldade,
por causa do tamanho. Também não ajudava ele estar aos saltos, a tentar
chegar às minhas boobies. Pensei em pegar nele ao colo, mas achei que me
podia levar a mal. Inserida a camisa, o Anão deixa-se estar de pé. Pensei
como haveria de fazer, já que se me ajoelhasse continuava mais alta do que
ele. Que ridículo!

SOLUÇÃO: deitei-me, apoiada com as mãos no chão, como se fosse fazer
flexões, e lá lhe consegui...

O Anão era resistente. Para um tipo que não devia pesar mais de vinte
quilos, aguentava-se bem. Chupei-o por uns quinze minutos até ele se
deitar na cama. Fiquei por cima, o que foi mau, porque estava sempre
preocupadinha com a possibilidade de o esmagar.
Estivemos mais uns quinze minutos “por ali” até ele me dizer que queria
foder no chão à canzana. E assim foi: acabámos comigo de gatas e ele por
trás... de pé. No fim, saltou-me para o pescoço (Larga! Larga! Lindo
menino!), deu-me um monte de beijos nos ombros, já que a cara era
inatingível para ele, e, mais importante do que isso, 100 aêrios extras. Dei-
lhe dois beijos, pu-lo no chão (patético!), vim-me embora e passei o resto da
tarde a trocar anedotas sobre Anões com os meus amigos.



Quarta-feira, 22 de Março


ASSALTO

Acabada de chegar a casa, descobri que fui assaltada. Não estou nervosa.
FILHOS DA PUTA! CABRÕES!
Tenho um autocontrolo fantástico.
ERA MATÁ-LOS!
E não guardo rancor a ninguém...
SE OS APANHO! DESFAÇO-OS!
Por incrível que pareça, só me levaram duas coisas, e eu estou a falar a
sério: um pack de cervejas e as minhas cuecas.
Desconfio: ou foi um gay ou um gajo muito bêbado. Infelizmente isto
enquadra-se em 90% dos meus conhecimentos.

NOTA PARA RECORDAR: em caso de repetição do episódio, não pedir ao meu
ex-namorado para me acompanhar à esquadra. Lembrar-me sempre da
humilhação ̶ «Senhor Guarda, fui assaltada!»; «Hum, ora bámos lá a ber. O
que é que lhe lebaram?»; «Foram... Eh... seis latas de Super Bock e, bem...
trinta pares de cuecas» ̶ e da cara do meu ex-namorado.



Domingo, 26 de Março


HOMEM DO GÁS

O resto do dia, passei-o a arrumar a casa (não, ainda não tenho
empregada!). Resolvi mudar um pouco, mas só um bocadinho, a minha
atitude de nunca-pôr-os-pés-na-cozinha-a-não-ser-que-me-caia-alguma-
coisa-ao-chão-e-rebole-para-lá, e pensei em aprender a cozinhar.
Entrei na cozinha e olhei para aquele objecto estranho e misterioso à
minha frente: o fogão! Abri, de seguida, as portas dos armários para
admirar uns objectos esquisitos com asas, as ditas panelas, e umas coisas
redondas e achatadas, os estranhos pratos.
Hum... isto deve ser fácil. Mas espera, como é que este quadrado grande
(fogão) funciona? Deve ser com uma coisa daquelas chamada «botija».
Decifrado o mistério, procurei na lista telefónica um fornecedor de gás
aqui da zona e liguei para o primeiro que encontrei, para me entregar um...
uma botija.
Vinte minutos, e o fornecedor já estava a tocar à minha campainha. Dado
que o botão está avariado, desci para lhe abrir a porta e vi um gajo de boné
(nem sei porquê, estava a chover!) e de macacão, a transpirar, com a bilha
(ui...) aos ombros. Sorri, abri-lhe a porta e, ai, foi a viagem mais longa que
eu fiz naquele elevador. Parecia que nunca mais chegávamos. Abri a porta
de casa, e o homem do gás vai directo ao lugar desabitado e desconhecido, a
cozinha, onde pousa a bilha e (ui!) não é que ele limpa o suor da testa com a
mão e eu suspiro: «Ai meu Deus, e eu aqui tão carente.»
— Ora, entom bamos lá fazer a instalaçom.
O Homem do Gás baixa-se para abrir a porta ao lado do fogão e diz-me:
— Olhe, menina, a gente vai ter de tirar a prateleira do meio. Mas
também como não tem aqui nada não faz mal.
— Tirar a prateleira para quê?! — pergunto eu, enquanto lhe observava
a parte central, tentando adivinhar-lhe o tamanho.
— Então, para meter a bilha, ‘num’ é? Atão cumé que bou meter, ‘num’ é?
Tenho de ter espaço para meter, ‘num’ sabe?
Ai Jesus, o homem respira sexo por todos os lados...
— Claro, claro... Então meta lá, ai... — Suspirei e fiquei a observar o
Homem do Gás, enquanto ele fazia a instalação.
O gajo era bom de todos os lados: ele era de pé a medir o tubo do gás, ele
era de joelhos a pôr o redutor, ele era deitado a tirar a prateleira; e, eu a
olhar, a olhar e a pensar: Ai, meu Deus, que este macacão está a deixar-me
doida, ai é melhor não olhar que ele repara, ai Jesus. Ui, olha-me para aquelas
mãos grossas cheias de dedos! Ai a minha vida que eu não posso agora pensar
nisso! Pronto, e agora baixou-se: olha para aquela posição tão boa. Maria,
pára com isso que o homem vai pensar que és tarada. Ui, mas sou mesmo,
olha para aquele fecho do macacão que abre mesmo até à pila. Olha, agora
de pé: era eu ali de joelhos! Ui, pronto, acho que já reparou, ‘tá tudo lixado,
vai-me chamar taradona, mas espera que está a falar. O que é que ele está a
dizer?
— Pronto, olhe a instalação está feita; agora, o fogão, se nunca o usou, é
melhor experimentá-lo.
— Ah, pois...
Tentei ligá-lo mas não lhe disse, propositadamente, que estava a
carregar no botão errado.
— Oh, não dá... — digo eu, com a cara de teaser.
— Hum... — afirma ele, com a cara do “não-seja-por-isso”.
— Olhe, sabe, acho que sei do que o fogão precisa...
— Ah! Ssssssssssaaaabe? — digo eu, já com a cara do “come-me-à-bruta-
e-puxa-me-os-cabelos”.
— Ssssseeei... de peso — diz ele, enquanto me levanta a camisola com
uma mão e abre o fecho do macacão com outra.
— Aaaaaah... bem me parecia — respondo. Começo a chupar aquela tão
desejada e erecta gaita.
— Poissss... mas a gente resolve isso, sabe — afirma o Homem do Gás,
enquanto me tira a restante roupa, deixando-me ficar com as botas pretas.
— Claaaro... a gente resolve... — repito, enquanto lhe agarro naquele
lindo e latejante pénis, ao mesmo tempo que ele me suga os mamilos.
— Sssim, é para isso que aqui estou menina... para resolver o problema...
— diz, enquanto o chupo com sofreguidão.
— Eu sssei... — suspiro, ao mesmo tempo que ele pega em mim para me
sentar em cima do fogão.
— Ainda bem que sssabe... — esclarece ele, a gaguejar, enquanto repousa
as minhas pernas nos ombros dele para me agarrar nas mamas, ao mesmo
tempo que eu me venho.
— Pois... — respondo, à medida que ele acelera o ritmo do embate até se
vir.
Desço do fogão, vou à casa de banho, visto-me. Enquanto espero que ele
volte, acendo um cigarro e ouço-o dizer, ao fechar o macacão.
— Bem, menina, acho que resolvi o problema.
— Sim. Olhe, fico aqui com o seu número para quando se acabar o gás...
— Fique, mas olhe, só para o caso de o perder, e como a menina não
pode ficar sem gás, não é, deixo-lhe aqui o meu número pessoal.
— Ah, claro, é melhor, já viu se me acaba assim o gás de repente? É
melhor é.
— Pois, claro! E, até pode ficar sem gás assim a meio da noite e depois já
viu? Era chato. Quando for assim, fale comigo...
— Claro, claro, fique descansado. Boa noite e obrigada.
— Boa noite, menina; obrigado, eu.
E lá foi, sem nunca tirar o boné, o raio do homem.



Quinta-feira, 30 de Março


MARIA E AS TOURADAS

Pois é, estou de novo bem-disposta and back to business, apesar de uma
constipação que me atacou e me deixou durante dias a pingar do nariz.
E há melhor maneira de voltar ao trabalho do que o fazer com um
Anormal?
Até já lhes sentia a falta...
Este encontro foi particularmente giro. Foi num apartamento. Um
trintão, com um metro e noventa de altura. Costumo dar dois beijos assim
que chego; desta vez esperei que ele se sentasse, caso contrário, só lhe
podia dar beijos no umbigo.
O tipo (vamos chamar-lhe Zé) era assim um bocado para o feio. Quer
dizer, não me apeteceu saltar da varanda quando o vi, mas, sei lá, cortar os
pulsos pareceu-me uma boa ideia quando percebi que tinha de comer
aquilo.
Em vez disso (porque entretanto me lembrei de que amanhã tenho
manicure), recebi a massa, despi-me e comecei a despi-lo. Primeiro, a
parka, depois a camisola, depois... isto é um pijama do Noddy?
Este Zé só podia ser estúpido. Telefona para uma acompanhante, sabe de
antemão que vai foder e, pouco depois, ali estão eles! Ela de lingerie preta
de cetim e ele com um lindo pijama do Noddy por baixo da roupa, das
calças e de tudo. Que gay!
Fiz o ar mais natural do mundo, enquanto lhe despia o pijama. Olha, que
giro, a sineta do chapéu está estampada mesmo no sítio da...
Tentei não me rir com a visão das meias puxadas por cima das calças.
— É para o pijama não fugir para cima.
— Claro, claro.
Seu gay!
Depois de concluída a primeira tarefa, acabo de me despir e pego numa
camisinha.
— Ena, são de sabores? Não tens daquelas vermelhinhas? Eu gosto das
vermelhinhas.
— Sim, claro que tenho.
Seu gay!
E, pronto; praticamente não houve broche, porque o gajo transformou-se
assim que lhe abocanhei a pila.
— Ai, filha! Ah, caralho! Olé!

NOTA MENTAL: rir durante o broche provoca engasgadela.

Posição de quatro, com a cama a ranger por todos os lados, e o Zé aos
gritos:
— Olé! Olé! Iiiihaaaaah!
Sem esquecer, obviamente, a ritmada palmadita nas nádegas. Parecia um
“rodeo”.
As coisas melhoraram quando ele me puxou os cabelos. Ah! Poney ride! A
“minha” posição! É até doer.
O Zé veio-se em grande. Eu levantei-me e fui tomar um duche. Atirei-lhe
um beijo e disse adeus.
Enquanto batia a porta, atrás de mim, ainda ouvi:
— Aaaaaaaaaaaah! És melhor do qu’ó chocolate, filha!
ABRIL


Terça-feira, 4 de Abril


E O PRÉMIO DE CROMO DO MÊS VAI PARA...

Hoje vou contar a história do Cromo.
O Cromo é espanhol. Tem 34 anos; é gordo e usa óculos grossos, como
fundos de garrafa, e aros vermelhos. Olhando com atenção, consegue ler-se
escrito na sua testa: «Sou otário e quero que me fiquem com o dinheirinho
todo.»
A primeira vez que o Cromo me ligou, disse-me para ir ter ao hotel onde
estava, às horas que me apetecesse. Esperei um bocadinho, umas seis
horas, e lá fui.
Gosto de pila espanhola.
A portuguesa é boa, mas há qualquer coisa na espanhola! A espanhola é
solidária. Dá tudo por tudo para satisfazer a Maria. É trabalhadora e não
gosta de intervalos. É como deve ser.
Mas, este cromo é a vergonha da sua raça!
Quando cheguei, o Cromo ofereceu-me uma bebida e, pronto, começou a
pseudoterapia barata, ou espera: bastante cara, até!
Casado há catorze anos, ganha bué dinheiro, mas não é feliz porque já
não há amor, carinho, depilação semanal e etc. Para passar à acção, eu
disse-lhe:
— Bem, posso fazer-te feliz durante pelo menos uma hora...
Frase acompanhada da expressão facial de “sou-muito-maluca”!
— Ui, chica... — dizia o Cromo, a tentar não entornar a bebida que tinha
na mão (chá gelado, paneleirote!), enquanto eu lhe abria o fecho das calças
absurdamente justas!
Já depois de ele pousar o copo na mesinha, digo-lhe:
— Mmmpf mpppf mmmmfffffp mmmfpf.
— Ah? — Parei e repeti:
— Te gusta?
— Ah, si, me gusta mucho!
Confesso que não foi mau. Mal precisei de me mexer.
Veio-se assim. Durante o intervalo, começam as paneleirices. O Cromo a
dizer que se apaixonou no momento em que abriu a porta, que vai ligar
para a mulher a pedir o divórcio, etc. e tal. Disse-lhe que isso era impressão
dele, que era a intensidade dos primeiros tempos de paixão. Garanti-lhe
que os primeiros dez minutos eram sempre intensos e que, durante os
próximos cinquenta, ele ia deixar de me amar outra vez, ficando eu com o
coração destroçado durante pelo menos trinta segundos, tempo esse em
que eu me meteria na droga para tentar esquecer aquele amor louco não-
correspondido, apercebendo-me, depois de largar o vício nos trinta
segundos seguintes, de que a minha vida continuava.
Ele fez-me ver, enquanto eu lhe explicava isto, que já tinham passado
mais de dez minutos e que ele continuava a amar-me perdidamente; eu
mandei-o calar e comecei novo broche, desta vez mais light que durou uns
respeitáveis cinco minutos, durante os quais, o Cromo me garantiu que o
seu amor tinha amadurecido e ficado mais forte.
Foi uma luta conseguir vir-me embora, com o Cromo a abraçar-me e a
dizer-me «no, no!», mas eu respondi-lhe que tinha de ir para casa porque o
meu marido saía hoje da prisão e ele gostava pouco de apanhar seca.
Óptimo, porque o Cromo deixou-me partir de imediato.


Quinta-feira, 6 de Abril

A QUARENTONA

A excitação de cozinhar para mim tem diminuído depois da visita do
Homem do Gás. A puta da bilha nunca mais acaba! A verdade é que eu
tenho visitado o McDonalds com regularidade. Não tenho nada contra os
cheeseburguers, mas... hoje, para variar, comi um casal.
Foi simples. Quem me ligou foi a mulher:
— Boa tarde... Atende casais?
— Certo.
— Boa.
— Pois.
— Quanto cobra?
— XXX euros.
— ‘Tá bem.
— Pois está.
— E pode agora?
— Estamos no hotel X, quarto X. Quanto tempo demora?
— Vinte minutos.
— Siga.
Quando atendi o telemóvel, eu estava no sofá, de pijama, a comer batatas
fritas e a ver «Uma família muito moderna». Vesti uma lingerie preta de
vinil, fato preto, camisa branca muito justa, com botas da mesma cor para
combinar com a mala, uma gravata cinzenta (o meu mais recente fetiche!).
Risco nos olhos, um batom discreto, rímel, e está feito. Tudo em cinco
minutos, o que prova que não sou uma gaja muito “à gaja”.
Excitei-me com a visão do meu corpo no espelho. Passei de um palerma
trinta e quatro para um libidinoso trinta e seis. Depois de sair, lembrei-me
de que era melhor levar o Lucas (vibrador de estimação) e um gel amigo
para o caso de fazermos coisas loucas. Voltei a casa, peguei no Lucas e
Companhia e fui ter ao hotel.
Fui recebida com um beijo de língua da parte de uma quarentona:
— Olá, Maria, eu sou a Dona Flor. Gosto que me tratem assim. E este... —
explicava-me, enquanto subíamos as escadas do quarto com dificuldade,
pelo facto de ela estar com a mão dentro das minhas calças. —... é o meu
cornudo.
— Olá, tudo bem? — perguntou o cornudo da Dona Flor. — A minha
mulher gosta de me chamar cornudo — disse ele, enquanto lhe tirava o top
de alças. — Mas tu podes tratar-me por tio Amílcar. Acho mais excitante.
— Hum... OK — respondi ao mesmo tempo que pensava no estranho que
ia ser aquele momento com a família Addams.
Recebi, e fomos os três para o jacuzzi. Não demorou muito até ser
lambida pela Dona Flor, na borda da banheira, com o tio Amílcar a
observar-nos.
— Estás a gostar?
— Oh, sim, Dona Flor, continue.
— Onde tens as camisinhas? — perguntou o cornudo ao levantar-se.
Indiquei-lhas, e ele voltou já “plastificado”.
Ajoelhou-se e comecei a chupá-lo, enquanto ele afagava os peitos da
quarentona com uma mão.
— Vamos trocar? — disse ela.
— Sim.
Agora era eu dentro da banheira. Seguimos para a cama, onde ofereci (ou
melhor, vendi) um orgasmo à Dona Flor. Com ela deitada na cama,
posicionei-me de quatro e continuei a lambê-la, ao mesmo tempo que ele se
aproximava.
— Queres senti-lo?
— Quero, sim, tio Amílcar.
E foi o que ele fez.
— És boa, pá! Gostas?
— Ui, gosto tanto, com mais força, tio Amílcar.
E o tio Amílcar, que não é homem para recusar pedidos femininos, fodeu-
me com mais força e acabou por se vir. Enquanto ele recuperava, a
quarentona deitou-me na cama e voltou à carga. Ui, a mulher nasceu para
isto!
Aproveitando a posição de quatro da Dona Flor, o tio Amílcar
aproximou-se e toma lá que já almoçaste. Eram palmadas no rabo da
quarentona, eram palavrões por todo o lado, e a Dona Flor para trás e para
a frente, a tentar manter contacto com o meu corpo, era eu a vir-me, era ele
a encher-lhe as costas de... Ui!
Foi bonito de ser...
Antes de me vir embora, ainda recebi um extra e mais um beijo molhado
daquela quarentona doida que não me saiu da cabeça.
Pobre Lucas! Nem viu a luz do dia.



Sábado, 8 de Abril


GIRO, GIRO É...

Sair de casa, apanhar o metro, ouvir galanteios de velhos tarados e
responder com a verdade:
«Gajos como tu como eu ao pequeno-almoço.»


DIA MUITO PARVO

2h00
SMS do ex-Namorado:
«Tás bem?»
Respondo:
«Tou.»
«Tá. Tchau.»

3h30
«Tás em casa?»
Resposta:
«Tou.»
SMS do Namorado:
«Ah! Tá. Tchau.»

4h00
«Não me pedes para ir aí porquê?»
«Não disseste que querias vir.»
«Oh. Foda-se. Tchau.»

4h30
«Insensível pá!»
«Qu’é que foi, caralho?! Não ‘tavas zangado comigo?»
«Zangado não, chateado! Também isso é coisa que se faça?!»
«Isso o quê?»
«Oh, foda-se! Isso de me mentires sobre o que fazes. Um gajo sofre,
sabes? És uma mentirosa.»
«Tá bem. Queres que deixe isto?»
«Tás a falar a sério? Deixavas isso por mim?»
«Dás-me tu os dez mil por mês?»
«Aceitavas?»
Resposta:
«Bem sabes que não, estúpido.»
«Então, foda-se. Ainda goza. Que nervos! Que nervos!»
«Olha, merda. Estou farta de escrever mensagens. És um parvo e não me
entendes.»
«Ainda pensas que tens razão?»
«Ai, foda-se! Deixa-me. Fica bem e tchau.»
«Tchau, foda-se!»

5h30
O meu ex-namorado telefona.
Eu só atendo à terceira chamada:
— ‘Tou?
— Não atendes porquê? Não atendes? Não atendes? O que é que eu te fiz,
que é que eu te fiz?
— Ah? Quem fala?
— Oh, pá, foda-se! O que é que foi, ah, o que é que foi? Que nervos!
— Olha, merda. Queres falar, falas pessoalmente que eu gosto das coisas
à moda antiga, foda-se. — Atiro o telemóvel contra a parede. Não
sobreviveu (o telemóvel).

6h00
Fui fazer café.
Quando estava a lavar a loiça, toca a campainha.
— Quem é?
— Sou eu.
— Ai, agora vens! Sobe!

Abri a porta e voltei para a cozinha.
— Estás assim porquê? Eu não fiz nada, tu é que fizeste!
— És um insensível! Eu sou uma miúda, pá! As miúdas precisam de um
namorado que as entenda! Tu não aceitas nada do que eu faço! És um
parvo!
— Ai, eu é que sou parvo! Tu é que me mentiste durante estes meses
todos, e eu é que sou parvo! Eu assim estou-me a passar! Eu assim passo-
me!
— Olha, merda, não me interessa, faz o que quiseres! — respondo-lhe,
enquanto atiro um prato Vista Alegre para o chão.
— Tu tem calma, tem calma, também não é preciso estares assim, não é?
— diz o ex-namorado, enquanto apanha os restos mortais do prato.
— Tenho calma? Tenho calma? Olha, vai mandar ter calma para o
caralho! — respondo e parto uma saladeira de cristal oferecida pela minha
avó em dois mil e três, supostamente para juntar ao enxoval que seria útil
no suposto casamento feliz, que, segundo ela, eu podia vir a ter.
— Pronto, olha, pronto, já vi que hoje não dá para falar contigo, pronto.
Sentei me no chão e amuei. Fiz “beicinho” com a boca para acentuar o
amuo. O meu namorado calou-se e deu-me um beijo. Pegou em mim ao
colo, levou-me para a cama e disse-me que me amava e que eu era a mulher
da vida dele e que os vinte anos de diferença não faziam diferença
nenhuma e que ele ia fazer das tripas coração para me entender e que,
pronto, não falava mais nisso e que não queria que eu ficasse triste. Eu não
respondi e continuei a fazer beicinho; ele tirou-me a roupa e fez amor
comigo.
De manhã, acordou e foi trabalhar, e eu fingi que dormia até ele sair e
assim não se falou mais no assunto. De tarde, mandou-me uma mensagem a
dizer que não podia viver sem mim e que eu era tudo para ele.
Eu sabia. O beicinho resulta sempre.



Sexta-feira, 14 de Abril


DEIXAR O ÁLCOOL — PARTE I

Ontem percebi que, por mais do que pensar, ler, chorar, reflectir e
conversar sejam ferramentas necessárias para se resolver um problema,
beber até cair continua a ser uma estratégia muito válida.


DEIXAR O ÁLCOOL — PARTE II

Tu sabes que há algo de errado na tua vida quando dás por ti a lembrar-
te de uma música do Toy. Pior: tu sabes que há algo de muito errado na tua
vida quando dás por ti a lembrar-te de uma música do Toy e te identificas
com a letra.


SÓ SAIS DAQUI QUANDO FORES HOMEM, SEU ROTO

Estava eu no banho quando o telemóvel tocou. Pinguei a casa toda para
ir atender a chamada.
— Estou?
— É a Maria?
— Sou.
Ouvi, por trás dele, alguém a queixar-se.
— O cabrão do meu filho é paneleiro!
— Foda-se...
— É um roto, o filho da puta! Apanhei-o a comer outro cabrão!
— Sim, e depois?
— E depois? Tirei-lhe o carro e a mesada, já que não a gasta em putas, o
paneleiro!
— Está bem. E liga-me porque...
— Porque o vou levar aí! E ele só sai quando for um homem a sério!
— Pá... OK.
Meia hora depois, toca a campainha. Entrou o pai a puxar, pela orelha,
um rapaz choroso. Seguimos para a sala. O pai muito macho manda sentar
o filho gay e aponta para mim enquanto lhe diz:
— Estás a ver, maricas de merda?! O que andas a perder?
— Mas, papá — responde o filho gay, envergonhado, tentando não olhar
para mim —, eu não tenho culpa, sou homossexual! E, se me amas, como
pai, tens de me aceitar como sou.
— O quê, filho da puta?! O quê, filha da puta?! Estás a ver, Maria, estás a
ver? Ai, que nervos! Ai, que eu o mato já! Seu brochista de merda! — diz o
pai muito macho prestes a bater no filho gay.
— Eu AMO o Lipinho! Nós estamos apaixonados, e não há nada que tu
possas fazer para nos separar! — responde o corajoso filho, a impor a sua
gigantesca paneleirice em estado extremamente avançado.
O gajo nasceu para isto, há que o admitir.
— Puta que o pariu! Cabrão do gay, pá! — exclama o pai, enquanto lhe
seguro os braços, para bem da saúde do filho.
— Sabes o que é esta merda, Maria? Isto é da merda dos filmes que estes
gajos põem agora no cinema! Este cabrão queria ser cowboy! E olha para
ele agora, cheio de merdas — diz, apontando para o lenço branco de seda
que o gay trazia ao pescoço.
Realmente, digam lá se não era razão para lhe bater?
— Bem... — respondo, atrapalhada —, eu vou ver o que posso fazer.
Paga-me?
Recebi e pedi ao pai muito macho para ficar na sala. Ia pedir ao gay para
vir para o quarto, mas não foi preciso. O pai empurrou-o para lá, com um
pontapé à moda antiga: no cu, ironicamente!
Chegados ao quarto, acendo um cigarro enquanto penso no que vou
fazer com o paneleirito que está o mais afastado de mim possível, com uma
cara de «Oh! Meu Deus! Que nojo! Uma Mulheeeeeeeeer! Tirem-me daqui!
Tragam-me uma pila!». Aproximo-me, e ele vai-se afastando de mim até
ficar encostado à parede. Ah! Ah! Apanhei-te!, pensei. Tentei explicar-lhe de
todas as maneiras que o pai muito macho queria provas da sua
heterossexualidade, camisinha usada, e que, portanto, ele ia ter de fechar os
olhos e de me comer, mesmo que isso lhe seja um sacrifício! Não houve
colaboração:
— Jamais trairei o meu Lipinho!
O gajo era um caso sério. Tentei outra aproximação:
— Pá, se calhar o teu Lipinho está agora demasiado ocupado com alguma
gaita sul-africana para se lembrar de ti. O gajo não precisa de saber, foda-
se! Siga!
— Não, não e não. És má!
E, fez beicinho.
Fiquei com pena do pai muito macho. Este puto era um caso perdido, e o
Lipinho, pelos vistos, também. Optei pela única solução possível: guerra.
— Ai, é?! Então, vais ver!
Tentei arrancar-lhe as calças a todo o custo, enquanto ele fugia de mim,
às voltas pelo quarto
— Anda cá, imediatamente! Vais-me foder, e é já!
O puto dava gritinhos paneleiros a toda a hora.
— Ai, estúpida, doida, larga-me! Socoooorro!
Consegui abrir-lhe as calças e descê-las. O maricas parecia prestes a
morrer de tanto choque. Peguei numa camisinha com uma mão, segurando
com a outra a “Bicha Histérica” pelas calças, para ele não me começar a
correr outra vez. Saco-lhe a pila para fora. Ouço-o a rezar baixinho:
— Meu Deus, livrai-me desta heterossexual doida que me quer violar!
Olho para ele com cara de má:
— O que é esta merda?! Põe-me já esse caralho em pé!
— Não ponho, não ponho, não ponho.
Pronto. Agora era um assunto pessoal.
— Caramba, é só uma foda! Podes fingir que eu sou um Lipinho de saias,
pronto.
— Isso querias tu. Isto é só do Lipinho, e de mais ninguém!
— Ai, tu és o activo? Que giro, nunca és tu a levar? Hum, e como é que
vocês... Foda-se, não interessa; quero-te já de pau feito! É um aviso! Tens
dois minutos! — ordeno, enquanto acendo um cigarro e fico à porta a bater
o pé.
Passa um minuto.
— Já está?
— Não vale a pena, nhanhanhanhanhanh...
Passam dois minutos.
— Está de pé ou não, caraças?
— Não está e nem vai ficar! Ah! Ah! Ah!
— Foda-se, porquê?
O gay olha para mim horrorizado:
— Por amor de Deus! Tu és GAJA! Que nojo!
Tentei não lhe bater. Era agora.
— Olha, foda-se — digo, enquanto lhe espeto a camisinha naquela triste
pila. — Com tesão ou sem tesão, tu vais vir-te ou eu não me chamo Maria!
E zás! Começo a chupá-lo com enorme dificuldade, visto a sua insistência
em me tirar a pila da boca.
Começou de novo a correr, com uma mão no ar, à bicha, e com a outra a
proteger a dita.
— Ai, doida, larga-me, deixa-me, larga a minha pila!
— Isso querias tu, ah! Ah! Ah! Eu só te deixo quando tu te vieres.
— Não venho, não venho, não venho — responde-me o agora odiado
paneleiro, deitando a língua de fora.
Aproveitando o facto de eu ter a janela aberta, fui cabra. Peguei no seu
amado lencinho de seda e segurei-o do lado de fora da janela. Olhei para
ele, com ar ameaçador, e falei-lhe de-va-gar:
— Ou tu te vens... ou adeus lencinho.
— Nããããããããããããããããããããããããão! Foi o Lipinho que mo deu! Larga!
— A escolha é tua.
— Mazona!
Acabou por ceder, com a condição de pensar no Lipinho enquanto eu o
chupava. Batia uma punhetinha e sussurrava: «Ai, Lipinho, perdoa-me
fofinho... e assim o gay veio-se, presenteando a camisinha com algumas
gotinhas paneleiras que eu, sim, a sério, mostrei ao esperançoso pai muito
macho, dizendo-lhe, com um ar pouco convincente:
— Acho que o puto ainda se safa.
— Fodeu-te bem? — perguntou o pai, notoriamente angustiado.
— Ui, nunca suei tanto! — respondi com sinceridade, pensando no muito
que tive de correr atrás do gay para o apanhar.
— Porque é que o palerma está agarrado ao lenço de seda?
— Bem, parece-me que ele se deu conta das figuras tristes que fazia.
— E, está a chorar porquê?
— Oh, sabes como é. Ele viu a luz...
— Ah, foda-se! Que susto!



Sábado, 15 de Abril


EU QUERIA ERA ANDAR NA TROPA

Estava eu descansadinha a ler um livro indecente, quando ouço a
campainha tocar. Achei estranho, era a de cima. Fui abrir a porta e... e... ui!
Era o Tropa, vestido com a farda dos Comandos.
— Surpresa!
— Tropa?
— Acabei de chegar! Ainda nem mudei de roupa nem nada.
— Uau. Fizeste tão bem.
— ????
Puxei-o para o quarto, peguei numa camisinha e comecei a chupar.
— Ui, espera, deixa-me tirar a roupa.
— Nem penses nisso. Vais-me comer à bruta e à militar, como se eu fosse
uma desertora.
— Ganda maluca.
Ia tirar as botas da tropa. Ai Jesus! Botas da tropa!
— Não!... Deixa ficar as botas... e a boina!
— Na boa.
O Tropa tirou a roupa e, tal como eu lhe pedi, ficou todo nu, só com as
botas da tropa e a boina dos Comandos. Eu tirei a minha roupa e disse-lhe
que não podia esperar mais para sentir aquela pilinha militar dentro de
mim.
— Oh! Castigue-me agora, meu comandante! Ponha-me em sentido
contra a parede e faça marchar a sua patente na minha parada.
— Ainda não, não seja rebelde!
— Oh, porquê? Quer tomar um duche antes da marcha, não é?
— Não. Em tempo de guerra não se limpam armas!
— Então, castigue-me! Castigue-me sem piedade, meu comandante!
— Alguém a mandou falar, recruta Maria?! — perguntou o Tropa,
enquanto me dava uma palmada no rabo.
— Ui, desculpe, meu comandante, tem razão. Castigue-me, castigue-me,
mas poupe-me a guarita por favor.
— Isso aí é que nós ainda vamos ver! Toca a chupar, um, dois, um, dois,
um, dois! Tenha calma que isto não é de ferro! Um, dois, um, dois...
— Ai, senhor comandante, eu não aguento mais! Deixe-me montar a sua
G3 que eu porto-me bem, meu comandante.
— Isso queria você, ainda não a mandei parar: um, dois, um, dois, um,
dois...
Foi até me doerem os maxilares. A tropa é fodida.
— Muito bem, recruta Maria. Portou-se bem. Pode montar a minha
espingarda agora.
— Oh, obrigada, meu comandante!
Deitou-se na cama e lá comecei eu.
— Ui, meu comandante! Ai, Jesus! Que espingarda, meu comandante!
— Não a mandei falar! Continue! Um, dois, um, dois, um, dois!
— Ai, desculpe, meu comandante, não falo, não falo.
— Está bom! Ponha-se em pé! Sentido!
Encostou-me contra a parede, depois de fixar a boina que teimava em
escorregar.
— Está quase, está quase!
Tirou a camisinha, virou-me de frente e espalhou-me o louvor pela cara.
— Obrigada pela misericórdia, meu comandante.
— Não agradeça. Para a próxima não vou ser tão meigo.



Sexta-feira, 21 de Abril


FODA-SE

Raramente me engano. Já sabia que eu ia fazer merda.
Discuti com ele. Sonhar com o Justin Timberlake e falar durante o sonho
(Sim! Oh sim!) não é «uma coisa norma e completamente desprovida de
qualquer conotação sexual»! Está tudo estragado!
Para ajudar, recebo um telefonema do Barman:
— Estás por cá. Podíamos, sei lá... ir jantar?
— Muito bem...pode ser — respondi hesitante, lembrando-me do nosso
último jantar em que proferimos palavras ofensivas.
Fui às compras e, depois, fui ter com ele ao restaurante.
— Então... — digo, enquanto me sento, com ar de quem só está ali
porque ele está com sorte.
— Tudo bem?
— Tudo óptimo — diz ele, com cara de quem também só me convidou
porque era simpático.
O jantar correu normalmente. Depois saímos e fomos andando até ao
parque da cidade.
Estava eu muito sossegadinha quando, de repente, o Barman me prega
um abraço, e, antes que eu pudesse prever, já tinha a língua dele
enroladinha na minha. Aquele envolvimento pareceu-me um pouco
paneleiro, mas, tendo em conta que nós tínhamos começado, eu deixei-me
estar, até que, na melhor parte, ouço: «Trrrrrriiiim!». Era o sinal de uma
mensagem no meu telemóvel. Era do meu namorado.
«Nem uma única mensagem! Vê-se logo que não me ligas nenhuma!»
Usei da minha agilidade para lhe responder nas costas do Barman,
enquanto nos beijávamos à doida:
«O que foi? Não posso fazer nada? Não confias em mim? Que ciumento! E
sem razão!»
— Pronto, estou a ver tudo! Ainda namoras com o raio do velho? —
pergunta o Barman, chateado ao reparar no envio da mensagem.
— Ele não é velho! São só vinte anos de diferença e, além disso, nós já
nos separámos há muito, portanto não tens nada a ver com isso, estúpido!
— Pois, está bem. Pobre homem.
— Sabes lá! Eu gosto dele!
— Pois, exacto. Até ao dia... — responde ele com ironia, tentando fazer-
me sentir culpada por eu o ter abandonado, deixando apenas um bilhete a
explicar que estava terrivelmente apaixonada por um italiano que tinha
conhecido há uma semana e que não podia esperar mais para assumir essa
paixão. O que fazer? Na altura, eu pensei mesmo que era amor. Depois,
acabaram-se-me os comprimidos!
Estava a explicar-lhe que isso só aconteceu porque ele criticava tudo o
que eu fazia em casa: pizza todos os dias não são refeições saudáveis;
varrer para debaixo do tapete não é fazer limpeza geral e, não, cuecas
comestíveis não estão incluídas na conta do supermercado. Além disso, ele
não tirava as meias para o acto sexual que, já que estamos a falar nisso, era
por vezes muito fraquinho.
Recebi outra mensagem:
«Juras que posso confiar em ti?»
— Tu não gostas dele — diz o Barman, com a sua expressão facial n.º 19
(TRADUZINDO: «eu sei que ainda gostas de mim, minha estúpida!»). — Tu
gostas de mim.
— Achas mesmo? — Convencido!
— Acho. — Sua besta...puseste-me a pensar! E, antes que eu conseguisse
falar, agarrámo-nos outra vez, língua com língua, enquanto eu aproveitava
para responder à mensagem:
«Juro.»
Acendemos um cigarro e continuámos a andar, curiosamente na direcção
da casa dele.
— Não queres ir até minha casa... ver um filme? — TRADUZINDO: «quero
mesmo comer-te!»
— Não, é melhor não... — Ou seja: Quero! Quero! Quero!
— Pronto, tu é que sabes... — Que é como quem diz: «Tu estás a fazer-te
de difícil!
— Pois... — Confesso que pensei: Encosta-me a este poste de electricidade
e fode-me até eu desmaiar!
— Se quiseres, diz... é só ver um filme.
— Então, está bem, podemos ir — concordei antes de desmaiar.
E lá fomos nós.
— Suponho que não é preciso mostrar-te a casa — diz ele, novamente
com ironia, referindo-se à época em que namorámos desastrosamente.
— Pois não. Fode-me — digo sem cerimónia, enquanto me dispo, já
desesperadinha.
— Bebé... — responde ele, desiludindo-me com a forma paneleira com
que me tratava durante o namoro —, sabes que eu não gosto assim. Não
quero “foder”, quero fazer amor contigo.
Não há homens perfeitos, portanto não disse nada e deixei-o tirar a
roupa, antecipando aquele que foi, sem dúvida, o melhor minete da minha
vida, interrompido apenas pelo inconveniente namorado que insistia nas
mensagens:
«Não tens mesmo outro, pois não?»
Aproveitei para responder durante o longo 69 que eu e o Barman
fizemos: «Sabes bem que não.»
O Barman veio para cima de mim e começa o embate. Mas aquilo não me
satisfez. Era um acto muito gay. Estando eu por baixo, não podia controlar
o ritmo que se mantinha irritantemente lento. Sendo assim, passei eu para
cima, não sem antes apagar mais uma mensagem do meu inconveniente
namorado:
«Eu amo-te. Posso ligar-te?»
Uma vez por cima, foi a loucura. Tinha acabado de me vir quando,
infelizmente, tocou o telemóvel. Quem seria? Apesar da cara de mau do
Barman, atendi, sem, no entanto, sair de cima dele.
— Estou?
— Era só para dizer que te amo!
— Eh... Eu também — digo eu, com sérias dúvidas, fitando a cara do
Barman a mandar-me desligar essa bosta.
— Quando vens?
— Ainda nãoooo sei.
Como parecia que o namorado nunca mais se ia calar, tive de usar um
truque sujo:
— Ah! Diz... Olha, estou a ficar sem bateri... — E desliguei o telemóvel.
Recomecei, com a mesma vontade, a queca que acabou minutos depois
com o orgasmo do Barman.
— Dorme aqui — pediu-me ele, enquanto me abraçava e eu me afastava
ligeiramente, para não ter de lhe dizer que sempre achei os abraços uma
coisa bastante paneleira.
— Não posso — menti, enquanto acendia um cigarro para cada um,
lembrando-me das bocas que o meu Namorado manda sempre que fumo no
quarto.
— Bebé... Por favor.
— Está bem, está bem, mas amanhã acorda-me cedo — Rendo-me,
prevendo já o segundo e terceiro embates, o que acabou obviamente por
acontecer, ou não fosse eu uma miúda toda enérgica.
De manhã, o Barman acordou-me com o pequeno-almoço na cama!



Domingo, 23 de Abril


NEGAREI ISTO ATÉ ÀS ÚLTIMAS CONSEQUÊNCIAS

É perigoso ser puta!
Eu explico. Há uns dias, tocaram à campainha de minha casa:
— Quem é?
— Dona Maria? Tenho uma encomenda para si.
Tendo em conta que eu faço imensas encomendas pela Internet, achei
normal.
— Pode subir. — E abri a porta do prédio.
Ouvi o elevador a chegar, abri a porta de casa e não tive tempo para
mais. O suposto “carteiro” entrou, bateu a porta e, zás, em três segundos
estava uma estúpida com uma arma apontada à cabeça! Filho de uma
grandessíssima meretriz!
— Passa a massa, minha cabra!
— Hum, que massa? — respondo, cheia de dores de barriga.
— A massa, a massa, pá! Não me enerves, pá!
— ‘Tá bem, ‘tá bem, foda-se — concordo, evitando excitar-me com o
perigo da situação.
— Siga! Onde tens a massa?
— Calma... está... está no quarto, deixa-me ir buscá-la.
— Tu não brinques comigo, pá! Tu não brinques! — diz o filho de uma
enormíssima cabra, e prega-me um estalo na cara.
Aaaaaaah, cabrão, estás fodido, pensei cá para mim.
— Ei, o que foi pá, o que foi? Já disse que ia buscar a massa — digo,
exaltada, esfregando a cara com uma mão.
— Tens um minuto! — responde o cabrão.
— Estou a ir, estou a ir, não vês? — Vou entrando para o quarto,
enquanto ele me segue até à porta. Ajoelho-me em frente à gaveta da
mesinha, onde já sabia que estaria (Oh! Graças aos céus!) a minha 9 mm,
propositadamente, descarregada; mas ele não sabia disso...
— Anda com essa merda, caralho! — ordena-me, ao passo que eu saco da
arma e dirijo-me para ele, contendo, confesso, a vontade de ir à casa de
banho, num acto de incrível coragem, e também de possível estupidez.
— Pensavas — digo, apanhando-o de surpresa e reparando que, afinal, a
arma dele não era mais do que uma imitação muito bem-feita. Estes putos,
pá! E tu, Maria, burra, estúpida, ridícula!
Foi o Made in China que o traiu.
— Oh! Merda! — exclama o puto, fazendo agora, por sua vez, força para
não se mijar, enquanto eu fecho a porta do quarto e guardo a chave no
decote.
— Só por causa disso... — respondo com cinismo — vão-te comer o cu.
— Ah? Como? O quê? Comer-me o cu? — diz-me, confuso.
— É a vida — respondo, marcando com uma mão o número do
Castigador, um amigo meu muito gay. — Tu ficas aí quietinho que eu não te
faço nada.
Deixo-o fechado no quarto e vou para a sala.
— Estou, Castigador? Estás livre? Olha, é o seguinte: Dou-te XXX euros.
Está bem?
— Foda-se! Que estúpido! Ah! Ah! Ah, vou já para aí.
Do meu quarto não se ouve um pio. Aproximo-me da porta:
— Ele já aí vem.
— ‘Tás a brincar? — ouço.
— Oh, meu amigo, quem dera a ti que eu estivesse.
Não obtive resposta. Suponho que se tenha agarrado à pila a rezar; mas
isso é a minha mente perversa a trabalhar.
Minutos depois, toca a campainha.
— Quem é?
— Sou eu — responde o Castigador.
— Senha? — Nós tínhamos, por precaução, combinado uma password.
Depois do que aconteceu, nunca se sabe...
— Iron Man.
— OK, podes subir — respondo, pensando que “Assassino” ou “Vingador”
teria sido uma senha com muito mais pinta, mas pronto.
Volto a pegar na arma que estava na mesa da sala, deixo entrar o
Castigador, abro a porta do quarto e digo ao miúdo:
— Está aqui o teu amigo! Eh! Eh!
— Foda-se...
— Agora ficas quietinho — aviso-o, enquanto observo o Castigador a
despir-se.
— Oh, pá, foda-se, pá, mas eu nem te cheguei a assaltar nem nada pá,
deixa-me ir embora.
— Ninguém te perguntou nada — respondo aos risos, com a visão do
Castigador a puxar-lhe as calças para baixo, humedecendo-lhe o inquieto
rabo com um ar guloso. O resto? É hilariante demais para o descrever.
Confesso que até tirei umas fotografias com o telemóvel e que tenho
mostrado aos amigos mais próximos.
Passei a combinar senhas com os amigos para eles entrarem cá, e nunca
mais apanhei o miúdo que saiu daqui a correr, com um andar esquisito.
— Olha — chama-me do quarto o Castigador, puxando as calças para
cima, sorridente. — O puto tinha 10 euros no bolso.
— E?
— E, então, gamei-lhos.
— Ah! Ah! Ah! Ah, a sério? Coitado do puto.
— Coitado não, porra! Deixei-lhe um euro para o Metro — responde-me
com um ar solidário, enquanto os dois abrimos uma garrafa de vinho.



Terça-feira, 25 de Abril


MOMENTO ABICHANADO DA SEMANA

Pronto, confesso, ando estúpida. Os últimos dias afectaram-me. Não
queria admitir, mas esta é a verdade.
Tenho dado por mim a ter pensamentos aparvalhados a meio da noite, e
pior: do dia também. Dei por mim até, há uns dias, a escorrer baba lamecha
para cima de uma fotografia do Barman, tirada no último Carnaval em
conjunto. Tão querido que estava ele vestido de M&M e a lamentar-se por
eu ter fugido com o italiano. Pensei que isto era amor! Credo!
O meu namorado tem dormido cá todos os dias, o que é mau. Parece que
adivinha.
— Querida, o que tens?
— Hum, nada — respondo, olhando de lado para o telemóvel que vibra
constantemente com mensagens do Barman.
«Passo o dia a pensar em ti. Ando estúpido.»
— Nada, não? Tens qualquer coisa! — exclama o meu namorado,
enquanto respondo às mensagens.
«Mentiroso. Não pensas nada.»
— Estás-me a ouvir? O que tens?
— Nada, que chato!
— A esta hora, sempre a tocar o telemóvel? Não o queres desligar? —
diz-me de um modo abichanado, abraçando-me por trás. Que horror!
— Já vou, já vou, é, é... é a minha prima que está sem sono.
Recebo nova mensagem.
«Sabes bem que penso em ti, bebé!»
Por falar em abichanado...
— Diz-lhe para contar carneirinhos. Vamos para a cama...
— Está bem, já vamos! Deixa-me só responder, então.
Enquanto o namorado se despia, eu enviei a última mensagem.
«Pronto, eu também.»
— Queridaaaaaa! Cucuuuuu! Aaaaanda cáááá... — chama o meu
namorado, atirando provocadoramente os boxers na minha direcção.
— Huuuuumm, temos festaaaaaaa... — respondo, entrando no quarto e
tentando não pensar no rapazito apaixonado que eu não sei quando
voltarei a ver. Duplo suspiro!



Quinta-feira, 27 de Abril

18 YEAR-OLD PUSSY

— Hello, do you speak English? — ouço eu, ao atender o telemóvel.
— Yes, I do.
— Can you come to hotel now?
— Yes.
— I have a special fetish, babe. Can you do it?
— What is it?
— I’d love to shave your pussy. Can I?
— Of course, I need it anyway.
— OK, gorgeous! Come on then.
E, lá vou eu. Só quando o vi é que descobri que ele era sueco, mas,
inteligentemente, tinha deduzido que eu não falaria essa língua.
— Damn, girl! What a fuckable body!
— Thanks, dude. Always nice to hear it
Reparei que o Sueco já tinha posto espuma de barbear e uma Gillette na
mesinha do quarto. Estendeu uma toalha em cima da cama.
— Let’s shave that gorgeous pussy, babe. Lay down.
Deitei-me na cama, em cima da toalha, e o Sueco encheu-me de espuma.
Pegou na Gillette e começou o serviço.
— Oh God, I love to shave women! Damn I’m horny! — disse ele.
Acabou o serviço, e eu confesso que o tipo tem jeito: limpou-me e tirou a
toalha.
— Bend over please.
Pus-me de gatas, enquanto o Sueco me passava uma mão pelo corpo.
— God, an 18 year-old pussy, all mine! — exclamou, espetando-me um
dedo na caixa registadora. — And what a lovely ass! Can I spank it?
— Oh yeah, no need to ask — respondi, enquanto apanhava já umas
valentes palmadas na confeitaria.
— Enough spanking ass. Let me feel your boobs.
— Sure. They’re all yours, dude.
Parecia que o tipo tinha trinta dedos em cada mão, de tanto apalpanço.
Continuou a aguçar o lápis, até que o ouvi de novo:
— Holly shit! I’m coming!
— Damn it!
Tentei dar-lhe outra oportunidade para a queca, mas nada fez efeito.
— I know my dick. It’s dead, babe, it’s fucking dead, damn it!



Sexta-feira, 28 de Abril


EIS QUE, DE REPENTE...


Não sei porquê, mas eu tenho um palpite.
MAIO


Sexta-feira, 19 de Maio

I’VE BEEN A BAD, BAD GIRL

Comprei um hamster siciliano. Sim, ele existe mesmo. Ainda não tenho
nome para ele, por isso chamo-lhe Rato.
«Oh Maria, e se largasses os ácidos? Isso interessa para alguma coisa?»
Vai já interessar, Ok! Deixem-me escrever...
Adiante.
Eram 5h00. Tirei o Rato da caixa donde veio, comecei a montar
devidamente a respectiva gaiola (não sei se esta é a expressão correcta), e
eis que o telemóvel toca. Era o Motard.
O Motard é um Habitual e, como tal, permito que ele me coma em minha
casa.
— Estou aqui à tua porta! Abres?
— Ai, ai... Eu já disse que primeiro tens de avisar.
— Esqueci-me, desculpa, abres?
— Assim não, porra, se eu digo que primeiro tens de avisar, é porque
primeiro tens de avisar.
— Pronto... desculpa. Beijos.
— Fica bem.
Continuei a montagem, até o telemóvel tocar de novo. Era o Motard.
— Olha, estou aí perto! Era para saber se posso passar aí?
—... Podes.
Olha-me que car...
Tocou à campainha, e eu abri enquanto fazia a cama à pressa. Como de
costume, começou com o apalpanço assim que entrou.
— Foda-se, Maria, só tu para me fazeres perder a cabeça... e o dinheiro.
— Mas, meu querrrrrrrrido... — digo, enquanto lhe prego com uma mão
marota dentro das calças — ... tudo o que é bom... paga-se beeeem!
Arrastei-o para o quarto e ele tirou-me, como sempre faz, as calças e a
tanga. Deixa-me sempre ficar com a roupa de cima, porque “é mais
engraçado”. O Motard já me anda a comer há três meses e nunca me viu as
mamas. Que estúpido!
Fez-me um minete de nível dois, ou seja: fraquinho, fraquinho. Depois de
pôr a camisa, deixou-se chupar por breves momentos até começarmos a
abrir em frente ao espelho como se não houvesse amanhã.
— Toma! Toma! Sua malandra!
Tenho a mania de olhar durante o zás-traz-pás. Desta vez, fui apanhada.
— Malandreca... Gostas de ver, não gostas? Ó para ele, todo
enterradiiiiinho, ooooolha...
Com ele sempre a apalpar tudo o que fosse apalpável, eu perguntei-me se
ele por acaso estaria à procura de algum buraco que tivesse passado
despercebido, mas não. Nem o umbigo tinha escapado naquela tarde, tendo
já sido castigado com umas quantas vergastadas em momentos mais
parvos.
Foi cada vez mais rápido, mais rápido, mais rápido, até que ouvi aquilo
por que esperava.
— Aaaaaahhhh!
Pronto, já se veio pensei para mim. Mas não! O que aconteceu é que o
Rato estava a tentar escalar pelas pernas dele e, ao não o conseguir,
deixava-se escorregar com as pequenas patas cravadas nele e voltava
depois a tentar subir.
— Está aqui um rato! — diz o larilas, todo assustado, enquanto se vestia
à pressa.
— Ei, estás assustado porquê?! Ele não te vai comer o cu.
— Detesto ratos! — responde-me, enquanto corre para a porta, quase
pisando no pequeno mamífero.
Ainda tentei amenizar a situação.
— Mas não é um rato... é um hamster siciliano!
— Ah… Mafioso! Estás pedrada!
— Não, eu não disse mafioso, é só... a raça do hams...
— Nem quero ouvir, tenho de ir, tenho de ir.
E, assim se foi. Acho que perdi um cliente.
Cabrão do rato!



Segunda-feira, 22 de Maio


FUI ÀS PUTAS

Eram quatro da tarde quando recebi uma marcação. Era um madeirense
cinquentão.
Tudo foi muito, muito rápido. Era a sua primeira foda, e que foda, que ele
dava em dois anos, confessou-me o pobre coitado. Mas isso agora não
interessa nada.
Quando cheguei ao Porto (ainda) estava bêbada à brava.
Não pensem que eu sofro de qualquer tipo de dependência alcoólica, até
porque só bebo duas vezes ao dia: às refeições e fora delas.
Adiante. Ao passar na Constituição, dou pela minha pessoa a observar
uma transeunte mamalhuda que me fez recordar os velhos tempos
passados ao lado da boa, boa, boa Patrícia.
Foda-se. Há tanto tempo que não como uma gaja, dei por mim a pensar. E,
foi aí que se fez luz! E se eu fosse às putas?
Depois de três anos como acompanhante, quis descobrir como era estar
“do outro lado”: na situação de cliente.
Não é tarde nem é cedo, penso para mim, enquanto peço mais um copo e
abro o iPad nos classificados.
Ora deixa cá ber... hum... «Viúva safada». Não, esta não. Se é viúva já deve
ser entradote, ou ter instintos homicidas.
Continuei a pesquisa.
«Amanda Peluda.» Hum, não me parece. Não quero ter de desbravar
mato... se é que me faço entender...
«Gordinha Viciada». Bem, viciada é giro, mas não gosto das gordinhas.
Pode-me apetecer um 69 e depois morro esmagada.
«Lisboeta Doida». Doida é fixe, mas é lisboeta. O sotaque ia foder tudo.
Estou mesmo a imaginar: «Posso morder, quiduchaaaaa?»
«Cátia Vanessa, 21 anos. Nada a declarar. Anda e vê.» Olha-me esta cabra...
Guardei o número; saí do café e telefonei-lhe.
Por sorte, o apartamento da catraia era ali perto. No entanto, e passo a
citar, disse-me:
— Estás a gozar ou o caralho? As putas não vão às putas!
— Eu vou — respondo eu já fodida, acrescentando assim um infantil —,
não tenho culpa de estar bem na vida.
— Oh, pá, eu é naquela, eu ando nisto há uma semana! Claro que a massa
fazia jeito, mas eu com mulheres não vou.
— Isso é porque és estúpida — respondo, provocadora. — Mas, então,
atendes-me ou não?
— Ya. Que se lixe. Podes vir.
E lá fui.
Chegada à morada indicada, toquei duas vezes, tal como ela me indicou, e
subi. Confesso que fiquei um bocado impressionada. Pensei que as casas de
putas eram mais, sei lá, giras? Aquilo estava tudo a cair aos bocados, mas,
mesmo assim, a rapariga que me abriu a porta conduziu-me a uma sala
decrépita onde estavam outras três raparigas. Perguntei qual delas era a
Cátia Vanessa, na esperança de que fosse a loira boa, boa, boa, que estava
no meio das outras duas. E era!
Entrámos num quarto em tons vermelhos, onde só existia uma cama e
duas cadeiras. Que se lixe, o que interessa é que a miúda é uma brasa e eu
sou a primeira miúda dela.
Acendemos um cigarro e estivemos a conversar mais de meia hora,
muito embora me apetecesse saltar-lhe para cima de imediato. No entanto,
reparei que, por ela ser novata e por estar com outra mulher, a rapariga
estava compreensivelmente retraída. Tive de ser eu a deixar-lhe o dinheiro
em cima da cadeira, porque ela não mo pediu, o que é erro muito comum
das putas que começaram há pouco. Não resisti e disse-lhe que, mesmo que
ficasse embaraçada, ela deveria pedir sempre o pagamento adiantado, e
expliquei-lhe as várias razões para tal. Agradeceu-me e, mais uma vez, tive
de ser eu a tomar a iniciativa e a perguntar-lhe onde era a casa de banho
para tomarmos um duche.
Chegadas lá, e como o raio da miúda não fazia nada, comecei a despi-la.
Era magra como eu e era boa, boa...
— Não estejas nervosa... Fecha os olhos se quiseres e deixa-te levar —
digo-lhe, antes de começar, lentamente, a passar a minha língua marota à
volta dos mamilos dela.
Felizmente, ela aí arrebitou e começou a despir-me também. Tomei,
então, a liberdade de lhe morder, ao de leve, os mamilos um por um,
enquanto sentia as mãozinhas dela.
— Ui, afinal é bom — diz a nova fufa toda contente (ou não, que as putas
fingem como ninguém. Mas, pronto!), enquanto entramos no duche e
pomos a água a correr.
— Deixa-te estar assim — ordeno-lhe, e ela fica de pé. Eu ajoelho-me e
proporciono-lhe, assim, o primeiro minete lésbico da sua vida.
Fiquei por ali um bocado. Acabámos o duche, enrolámo-nos numa toalha
e fomos para o quarto, onde a mandei deitar-se na cama e continuei com o
que tinha começado, levantando-lhe as pernas e segurando-as acima dos
meus ombros. Sendo eu uma licenciada no minete, passaram apenas uns
minutos até ela me implorar para eu não parar. O que fiz com todo o gosto
até ela se vir, altura em que, sem que eu pedisse, me deitou, sim a mim, na
cama e, qual Lassie esfomeada, começou a lamber-me como se eu fosse um
Epá. Para não ser desmancha-prazeres, deixei-a consolar-se durante uns
minutos, até lhe propor um 69 à maneira. Fiquei por cima e fiz-me à vida.
Não foi preciso muito para me vir, tendo em conta que já não estava com
uma pita há muito e que a Cátia Vanessa era muito, muito, muito boa.
— Então, é bom ou não?
— É mais fixe do que eu pensava.
Acendemos um cigarro, trocámos os nossos números de telemóveis
pessoais, falámos mais um bocado e combinámos encontrar-nos na sexta-
feira, o que foi, sem dúvida, uma boa, boa, boa ideia para uma tarde de
sexta-feira bem passada.
Acho que, nessa próxima vez, vou levar um brinquedo comigo. Espero
que a pita não se assuste.



Segunda-feira, 29 de Maio

ESTOU APAIXONADA, MESMO A SÉRIO. MAS É MESMO MUITO A SÉRIO, NÃO É BRINCADEIRA! É
QUE ESTOU MESMO MUITO...

Nem consigo escrever nem nada.

DAMN IT.
JUNHO


Domingo, 4 de Junho

SIM, EU SEI

Estou a mudar de casa: é que o meu ex-namorado, mais conhecido por
Fakir, conseguiu fugir outra vez do hospício.
A sério.
É uma longa, longa, longa história.



Terça-feira, 6 de ]unho


lT’S BEEN A BAD DAY

3h00
Não tenho sono, por isso entro no Facebook e recebo mensagens de
trinta caramelos em simultâneo, o que até é giro porque me distrai e, no
chat, até se tem conversas construtivas e coisa e tal.
Mas, como é sabido, com o passar das horas, o assunto perde-se. Decido
desligar quando alguém me pergunta:
«Já provaste o novo Compal de banana?»

6h30
Tenho muito sono, mas não consigo dormir porque os comprimidos
acabaram. Vem-se-me à cabeça a feliz ideia de ir para a cama contar
gambozinos até adormecer, o que acaba por resultar.

9h15
Sou abruptamente acordada com a campainha por duas criaturas com a
intenção de me convencerem de que «Jeová é o Maior e tal, isto a vida é só
uma passagem, temos de ver o que andamos a fazer e tal e coisa, deixe-me
só ler uma pequena passagem de 45 872 linhas da Bíblia que já vai
entender melhor a cena, e já agora fique-me com estes 589 panfletos que eu
já estou farta de andar a impingir isto aos transeuntes que, ainda por cima,
nem esperam que eu me afaste para os espetar no lixo.»
Disse-lhes que não tinha tempo para falar, porque tinha dois ET na sala a
tentarem abduzir o meu rato siciliano e, por isso, eu tinha de ir buscar o
Raid num instante, porque, como toda a gente sabe, para se afugentar ET
basta pulverizar a casa com Raid, enquanto se canta «As Pombinhas da
Catrina» em chinês, pois eles assustam-se à brava.
E, os Jeovás deixaram-me sossegada outra vez.

10h30
Depois de dar inúmeras voltas na cama, não consigo voltar a dormir; por
isso, decido armar-me em pessoa normal e tomo um duche para sair de
casa.

11h15
Compro o jornal, no quiosque mais próximo, e tomo o pequeno-almoço
numa esplanada.
Passo na farmácia para comprar os comprimidos, mas o mamífero que
me atende diz que não mos pode vender sem receita médica. Explico-lhe
que a minha vida não faz sentido sem aquelas coisas e que o mais provável
é, se não os tomar nos próximos trinta minutos, eu desatar a correr pela
cidade com duas tesouras na mão.
Não resultou.

11h45
Entro na clínica e peço para falar com o meu médico. Neste momento, eu
já estava desesperada!
A pseudo-assistente diz-me que a agenda está cheia e que eu tenho de
aguardar por uma vaga. Aproveito para ir ao multibanco do lado para
levantar dinheiro e, quando chego, encontro no corredor o médico que
prontamente me passa a receita.
Faço caretas parvas à assistente e vou de novo directamente à farmácia,
onde está uma fila de dez pessoas à minha frente.

13h00
Ponto máximo do stress. Chega a minha vez de me atenderem e de eu
fazer mais caretas parvas ao já referido mamífero, ao lhe entregar a receita.
Quando recebo e guardo o troco, apercebo-me de que me esqueci de tirar o
cartão de multibanco da caixa.

13h30
Espero noutra fila para ser atendida no meu banco e, quando explico que
preciso do meu cartão para viver, informam-me que tenho de esperar por
outro e que este, por acaso, demora duas semanas.
Faço levantamento no balcão e espero bué de tempo por causa de uma
falha no sistema.

15h00
Chego a casa sã e salva, e tomo imediatamente dois Valiuns para, de
seguida, me deitar alegremente.

15h15
Ouço a campainha a tocar e, com dificuldades, pois era uma criatura
sedada, tento encontrar a porta. Abro-a e dou de caras com o Fakir que
começa instantaneamente a perseguir-me com a sua naifa de estimação em
punho. Digo «de estimação» porque das cinco vezes que ele me tentou
esfaquear foi exactamente com aquela!
Saio pelas escadas a toda a velocidade e consigo chegar à garagem, que
fecho o mais rapidamente que consigo.
Este dia está a ser muito mauzinho, pensei. Mas que se lixe, agora é só ir ao
bolso, pegar no telemóvel, ligar à polícia e esperar que o agarrem.

15h20
Meto a mão no bolso e reparo que deixei o telemóvel no quarto.

15h25
Ouço o Fakir do outro lado da porta a tentar abri-la com a navalha.

15h30
Começo a ficar fodida.

15h40
Tenho vontade de ir à casa de banho...

19h15
Acordo na garagem e reparo que já passaram mais de três horas. Os
Valiuns fizeram efeito numa altura mesmo estúpida. Nunca se deve
adormecer quando nos estão a tentar matar.

19h30
Ouço os vizinhos na garagem e, por isso, deduzo que já posso sair.

20h00
Informam-me que a vizinhança chamou a polícia e que eu já podia ficar
descansadinha.

22h00
Acabo de fazer as coisas formais que se fazem quando alguém nos tenta
matar e quando se chama a polícia.

22h30
Chego a casa, fecho a porta à chave, desligo os telemóveis, a campainha, o
Mac, tomo mais dois Valiuns, dou de comer ao rato e adormeço no sofá.
A cama estava muito longe, e eu não quis correr o risco de adormecer
pelo caminho.
Como eu consigo transformar coisas mesmo dramáticas em quase
normaizinhas?



Terça-feira, 13 de Junho


VOLTEI!

Acontecimentos recentes:
— Mudança de morada;
— Desenvolvimento de novos projectos;
— Filmagens (depois desenvolvo);
— Cerveja Decideri: aquilo vicia;
— Mudança de estado civil: segredo!
— Cátia Vanessa: aquilo vicia;
— Striptease: aquil...
— E outras coisas parvas.
Ah! Sim. O Fakir já foi preso!!



Sexta-feira, 23 de Junho


ASSIM NÃO BRINCO...PRONTO!

Acontece que fui na segunda-feira para Lisboa e só voltei hoje.
Precisei de uns dias para pensar.
Já não sou acompanhante, embora continue a foder a torto e a direito.
Casei.
Sou uma miúda nova, renovada, e essas mariquices todas que se
costumam dizer quando se quer parecer inteligente.
Já escrevi o meu diário durante oito meses. Agora, só quero paz.

Paz.
Paz.
Pás-pás-pás-pás-pás (Pronto, já chega, chega! Valiuns rápido, por favor.)

FIM

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