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EDUCAÇÃO EMPREENDEDORA EMPRESÁRIAL E EDUCAÇÃO EMPREENDEDORA

INTEGRAL: UMA BREVE REFLEXÃO


Normelena Diniz de Oliveira¹; Edson Antunes Quaresma Junior²
¹Docente do IFNMG Campus Pirapora. Discente do Mestrado Profissional em Educação Profissional
e Tecnológica INFMG Campus Montes Claros; ² Docente do IFNMG Campus Salinas.

Introdução
A discussão sobre formação no ensino médio, tem sido levada de forma a ultrapassar a
dualidade entre formação geral e técnica. Visa-se assim, tratar de uma educação integral, capaz de
levar o indivíduo a uma condição de maior autonomia.
No caso específico da educação empreendedora, seu enfoque principal esteve voltado para a
área empresarial. Com olhar tecnicista, seus pontos nodais estiveram, há algum tempo, relacionados
à instrução para a abertura de uma empresa e para elaboração de um plano de negócio, ou seja, para
o alcance do bem-estar financeiro através do conhecimento sobre as técnicas de negócios. No entanto,
essa ideia vem sendo superada gradativamente e tem se aproximando de uma formação mais integral
do sujeito e hoje, pode-se observar evidências de que a educação empreendedora tem potencial para
apoiar a formação de indivíduos de forma a ultrapassar a dualidade entre ensino geral e técnico. Esse
potencial fica ainda mais manifesto, quando observada a proliferação do ensino de empreendedorismo
que, não raramente, compõe as estruturas curriculares dos cursos técnicos.
Com base no exposto, este estudo objetivou verificar congruências e contradições entre a
educação empreendedora e a educação integral, utilizando para isso uma pesquisa bibliográfica, à luz
de vários autores que discorrem sobre o tema. Espera-se que este trabalho contribua para que a
educação empreendedora não seja negligenciada como ferramenta para alcançar a formação integral
do sujeito. Considera-se que existem condições para que a educação empreendedora, com enfoque
empresarial venha a ser substituída por uma “educação empreendedora integral”.

Material e métodos/Metodologia
Para o desenvolvimento desse estudo foi realizada uma pesquisa bibliográfica qualitativa,
através de artigos, livros, dissertações, revistas, periódicos, dentre outros. A análise foi feita com foco
na educação profissional integrada ao ensino médio; para análise das características dessa modalidade
de ensino, considerou-se elementos que os autores Andrioni (2017), e Oliveira (2016) defendem como
estruturantes, devido a sua capacidade sintética e também às limitações de um resumo.
Inicialmente, foi feita uma leitura exploratória do material selecionado, na qual foram
definidos os textos a serem pesquisados, em seguida fez-se a leitura seletiva, o fichamento
bibliográfico e de apontamentos e logo após, a leitura analítica. Por fim, procedeu-se à leitura
interpretativa, o que possibilitou estabelecer relação entre o conteúdo das fontes pesquisadas e outros
conhecimentos.

Resultados e discussão
Segundo Andrioni (2017), as categorias estruturantes da Educação Profissional Integrada
ao Ensino Médio são: Trabalho e Educação; Trabalho, Conhecimento e Cultura; e Trabalho como
princípio educativo. O autor destaca que a relação entre Trabalho e Educação deve ser vista como
indissociável, visto que o trabalho é dotado de conhecimentos e a educação proporciona o
desenvolvimento da capacidade de produzir ciência e tecnologia e a formação de uma consciência
cidadã.
Pacheco (2012) afirma que a categoria Trabalho, Conhecimento e Cultura busca compreender
o trabalho como princípio educativo, possibilitando uma formação que contemple múltiplas
necessidades socioculturais e econômicas dos sujeitos. Complementarmente, Frigotto e Ciavatta
(2012) destacam que o Trabalho como princípio educativo busca a formação integral e politécnica
dos sujeitos que se desenvolvem sob as bases cientificas, técnicas e tecnológicas necessárias à
produção da existência e a consciência dos direitos políticos, sociais e culturais, bem como da
capacidade para atingi-lo.
Já Oliveira (2016) define os como pilares fundamentais do ensino médio integrado: a educação
politécnica e a escola unitária, o trabalho como princípio educativo, a formação omnilateral ou
formação humana integral, e o trabalho, a ciência e a cultura como categorias de integração curricular.
Assim, Oliveira (2016) recorre a autores como Nosella (2010), Saviane (2003), Frigotto
(2014) e Ramos (2007) para fundamentar os conceitos, vendo o trabalho como como um princípio
educativo essencial para socializar os conhecimentos. Já a educação politécnica e a escola unitária
propõe a superação da dicotomia entre teoria e pratica; trabalho manual e intelectual e assim busca a
formação integral dos sujeitos, possibilitando que o processo formativo integre e desenvolva todas as
dimensões da vida, contemplando a formação omnilateral. Assim, nesse processo de formação
unitária e integral, as categorias trabalho, ciência e cultura devem ser indissociáveis, visto que estas
promovem a integração curricular. Nessa perspectiva, Ramos (2010) afirma que a formação integral
parte da concepção do homem na sua totalidade, ou seja, uma formação que englobe todas as
dimensões do homem e integre trabalho, ciência e cultura no processo formativo.
Já na discussão sobre a educação empreendedora, são perceptíveis autores como Dornelas
(2001), que afirma que esta deve focar na identificação e no entendimento das habilidades do
empreendedor; em como ocorre a inovação e o processo empreendedor; na importância do
empreendedorismo para o desenvolvimento profissional; em como preparar e utilizar um plano de
negócio; e em como gerenciar e fazer a carreira profissional desenvolver. O referido autor não leva
em consideração a importância do desenvolvimento pessoal, ou seja, não considera a formação
integral do sujeito.
Essa crítica também está presente na discussão de Hengemuhle (2014), que relata que
historicamente o empreendedorismo foi relacionado aos meios de produção econômica e que ainda
existe resistência entre os educadores ao abordar o tema, visto que muitos acreditam que essa
discussão tem o único fim de explorar a mão de obra para obter o bem-estar financeiro de pequenos
grupos. Sabe-se que esses desequilíbrios sociais são reais, no entanto é preciso defender que formar
pessoas competentes e empreendedoras também contribui para diminuir sequelas sociais que
distanciam ricos e pobres.
Vasconcelos et al (2012) afirma que é primordial reconhecer a importância do
desenvolvimento da educação empreendedora, destacando o significado que possui para a formação
autônoma dos indivíduos, de maneira que a preparação destes não seja apenas para “abrir um
negócio”, mas para utilizar os conhecimentos científicos em práticas que contribuam tanto para sua
independência financeira, quanto para a melhoria da sociedade em que vivem. Os autores destacam
que “o processo da educação empreendedora baseia-se no autodirecionamento da aprendizagem, no
desenvolvimento do pensamento crítico, porém prático e funcional, no desenvolvimento da pessoa e
do cidadão”. (VASCONCELOS et al, 2012, p.6-7). Assim, a educação empreendedora apresenta-se
como uma perspectiva de formação crítica para o exercício da cidadania, com bases voltada para a
autonomia e desenvolvimento pessoal e social.
Nesse contexto, Lavieri (2010) afirma que a educação empreendedora busca desenvolver as
habilidades e os atributos de um indivíduo empreendedor, e não apenas a motivação para negócios
que visem lucros. Através dela é possível desenvolver habilidades diversas nos indivíduos, desde que
seja implementada com a finalidade de desmistificar o sentido de empreendedorismo e seja abordada
na sua forma mais ampla, a que abrange a formação integral do indivíduo. Assim, percebe-se a
necessidade de desenvolver uma educação empreendedora integral, que vá além do senso comum e
busca uma relação mais profunda entre o conhecimento e a formação integral dos indivíduos.
Diante do exposto, podemos definir como categorias para uma educação empreendedora
integral: a Formação Empreendedora Pessoal e Social; o Empreendedorismo, Cooperação, Cidadania
e Ética. Promovendo assim, a formação para além das atividades empresariais, contribuindo
sistematicamente na formação de sujeitos social, ecológica e economicamente responsáveis.

Considerações finais
A partir do levantamento bibliográfico foi possível observar diversas contradições entre a
educação empreendedora e a educação integral, visto que ainda há autores que direcionam a educação
empreendedora para o meio empresarial, relacionando-a aos meios de produção econômicos e à busca
limitada ao desenvolvimento profissional, enquanto que a educação integral busca a formação
omnilateral e politécnica dos sujeitos, promovendo um processo formativo que integra e desenvolve
todas as dimensões, pessoal, profissional e social.
Desse modo é de suma importância que a educação empreendedora, com enfoque empresarial
venha a ser substituída por uma “educação empreendedora integral”. Sugere-se assim, que as
categorias Formação Empreendedora Pessoal e Social e o Empreendedorismo, Cooperação,
Cidadania e Ética, sejam melhor exploradas e desenvolvidas em novas publicações; efetivando o
desenvolvimento da educação empreendedora integral que tenha como base a politecnia e a
omnilateralidade; e assim promova a formação de sujeitos autônomos para exercer a cidadania; a
formação técnico-profissional articulada à educação básica e à dimensão ético-política no
desenvolvimento da autonomia dos sujeitos para a construção de uma sociedade mais igualitária.
Referências
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VASCONCELOS, Alexandre Meira et al. Educação profissional e educação empreendedora: uma reflexão crítica dos
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em: 20 jan. 2019

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