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2º ENCONTRO FORMAÇÃO COM AS LIDERANÇAS DO GRUPO DE

JOVENS

EXORTAÇÃO APOSTÓLICA PÓS-SINODAL CHRISTUS VIVIT DO SANTO PADRE FRANCISCO AOS


JOVENS E A TODO O POVO DE DEUS

Capítulo VII
A PASTORAL DOS JOVENS
A pastoral juvenil, tal como estávamos habituados a realizá-la, foi abalroada pelas mudanças
sociais e culturais. Nas estruturas habituais, muitas vezes os jovens não encontram resposta
para as suas inquietudes, necessidades, problemas e feridas. A proliferação e o crescimento de
associações e movimentos com caraterísticas predominantemente juvenis podem ser
interpretados como uma ação do Espírito que abre novos caminhos. Mas é necessário um
aprofundamento da sua participação na pastoral de conjunto da Igreja, bem como uma maior
comunhão entre eles e uma melhor coordenação da atividade. Embora nem sempre seja fácil
abordar os jovens, estamos a crescer em dois aspetos: a consciência de que é toda a
comunidade que os evangeliza e a urgência de que os jovens sejam mais protagonistas nas
propostas pastorais.

Uma pastoral sinodal


Os próprios jovens são agentes da pastoral juvenil, acompanhados e orientados mas livres para
encontrar caminhos sempre novos, com criatividade e ousadia.

A pastoral juvenil precisa de adquirir outra flexibilidade, convidando os jovens para


acontecimentos que, de vez em quando, lhes proporcionem um espaço onde não só recebam
uma formação, mas lhes permitam também compartilhar a vida, festejar, cantar, escutar
testemunhos concretos e experimentar o encontro comunitário com o Deus vivo.

Ninguém deve ser colocado nem deixado colocar-se de lado.

Grandes linhas de ação


Queria apenas assinalar, brevemente, que a pastoral juvenil supõe duas grandes linhas de
ação. Uma é a busca, a convocação, a chamada que atraia novos jovens para a experiência do
Senhor. A outra é o crescimento, o desenvolvimento dum percurso de maturação para quantos
já fizeram essa experiência.

Relativamente à primeira, a busca, confio na capacidade dos próprios jovens, que sabem
encontrar os caminhos atraentes para convidar. Sabem organizar festivais, competições
desportivas, e sabem também evangelizar nas redes sociais com mensagens, canções, vídeos e
outras intervenções.

Devemos apenas estimular os jovens e dar-lhes liberdade de ação, para que se entusiasmem
com a missão nos ambientes juvenis.
O primeiro anúncio pode despertar uma profunda experiência de fé no meio dum retiro de
conversão, numa conversa no bar, num recreio da Faculdade, ou qualquer outro dos
insondáveis caminhos de Deus. O mais importante, porém, é que cada jovem ouse semear o
primeiro anúncio na terra fértil que é o coração doutro jovem.

Nesta busca, deve-se privilegiar a linguagem da proximidade, a linguagem do amor


desinteressado, relacional e existencial que toca o coração, atinge a vida, desperta esperança e
anseios. É necessário aproximar-se dos jovens com a gramática do amor, não com o
proselitismo. A linguagem que os jovens entendem é a de quantos dão a vida, a daqueles que
estão ali por eles e para eles, e a de quem, apesar das suas limitações e fraquezas, se esforça
por viver coerentemente a sua fé. Ao mesmo tempo, devemos procurar, ainda com maior
sensibilidade, como encarnar o querigma na linguagem dos jovens de hoje.

Quanto ao crescimento, quero fazer uma advertência importante. Acontece em alguns lugares
que, depois de ter provocado nos jovens uma experiência intensa de Deus, um encontro com
Jesus que tocou o seu coração, propõe-lhes encontros de «formação» onde se abordam
apenas questões doutrinais e morais: sobre os males do mundo atual, sobre a Igreja, a
doutrina social, sobre a castidade, o matrimónio, o controle da natalidade e sobre outros
temas. Resultado: muitos jovens aborrecem-se, perdem o fogo do encontro com Cristo e a
alegria de O seguir, muitos abandonam o caminho e outros ficam tristes e negativos.

Acalmemos a ânsia de transmitir uma grande quantidade de conteúdos doutrinais e


procuremos, antes de mais nada, suscitar e enraizar as grandes experiências que sustentam a
vida cristã. Como dizia Romano Guardini, «na experiência dum grande amor (…), tudo o que
acontece se transforma num episódio interno àquela»

Qualquer projeto formativo, qualquer percurso de crescimento para os jovens deve,


certamente, incluir uma formação doutrinal e moral. De igual modo é importante que aqueles
estejam centrados em dois eixos principais: um é o aprofundamento do querigma, a
experiência fundante do encontro com Deus através de Cristo morto e ressuscitado; o outro é
o crescimento no amor fraterno, na vida comunitária, no serviço.

Por um lado, seria um erro grave pensar que, na pastoral juvenil, «o querigma é deixado de
lado em favor duma formação supostamente mais “sólida”. Nada há de mais sólido, mais
profundo, mais seguro, mais consistente e mais sábio que esse anúncio.

Por isso, a pastoral juvenil deveria incluir sempre momentos que ajudem a renovar e
aprofundar a experiência pessoal do amor de Deus e de Jesus Cristo vivo. Fá-lo-á valendo-se de
vários recursos: testemunhos, cânticos, momentos de adoração, espaços de reflexão
espiritual com a Sagrada Escritura e, inclusivamente, com vários estímulos através das redes
sociais.

Mas nunca se deve substituir esta experiência feliz de encontro com o Senhor por uma espécie
de «doutrinação».

ALÉM DISSO, QUALQUER PLANO DE PASTORAL JUVENIL DEVE CONTER CLARAMENTE MEIOS E
RECURSOS VARIADOS PARA AJUDAREM OS JOVENS A CRESCER NA FRATERNIDADE, VIVER
COMO IRMÃOS, AUXILIAR-SE MUTUAMENTE, CRIAR COMUNIDADE, SERVIR OS OUTROS,
APROXIMAR-SE DOS POBRES. SE O AMOR FRATERNO É O «NOVO MANDAMENTO» (JO  13,
34), «O PLENO CUMPRIMENTO DA LEI» (RM  13, 10) E O QUE MELHOR DEMONSTRA O NOSSO
AMOR A DEUS, ENTÃO DEVE OCUPAR UM LUGAR RELEVANTE EM TODO O PLANO DE
FORMAÇÃO E CRESCIMENTO DOS JOVENS.

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