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PM-MG

Polícia Militar de Minas Gerais

Curso de Formação de Soldados (QPPM)

EDITAL DRH/CRS Nº 06/2018, DE 29 DE JUNHO DE 2018

JL006-2018
DADOS DA OBRA

Título da obra: Polícia Militar de Minas Gerais - PM-MG

Cargo: Curso de Formação de Soldados (QPPM)

(Baseado no EDITAL DRH/CRS Nº 06/2018, DE 29 DE JUNHO DE 2018)

• Língua Portuguesa
• Direito Penal
• Direito Constitucional
• Direito Penal Militar
• Direitos Humanos
• Legislação Extravagante
• Estatística

Gestão de Conteúdos
Emanuela Amaral de Souza

Diagramação/ Editoração Eletrônica


Elaine Cristina
Igor de Oliveira
Thais Regis
Ana Luiza Cesário

Produção Editoral
Suelen Domenica Pereira
Julia Antoneli

Capa
Joel Ferreira dos Santos
APRESENTAÇÃO

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SUMÁRIO

Língua Portuguesa

1. Adequação conceitual........................................................................................................................................................................................ 83
2. Pertinência, relevância e articulação dos argumentos.......................................................................................................................... 83
3. Seleção vocabular................................................................................................................................................................................................ 83
4. Estudo e interpretação de textos de conteúdo literário ou informativo....................................................................................... 83
5. Linguagem: como instrumento de ação e interação presente em todas as atividades humanas, considerações acerca
do léxico em uso, com observância aos critérios de emprego das variedades de língua padrão e não padrão............... 83
6. Funções da linguagem na comunicação..................................................................................................................................................103
7. Ortografia e acentuação gráfica, conforme o novo acordo ortográfico........................................................................................ 44
8. Notações léxicas: divisão silábica, emprego do til e do hífen............................................................................................................ 44
9. Pontuação............................................................................................................................................................................................................... 50
10. Concordância verbal e nominal................................................................................................................................................................... 52
11. Emprego dos pronomes................................................................................................................................................................................. 07
12. Uso das locuções prepositivas..................................................................................................................................................................... 07
13. Crase....................................................................................................................................................................................................................... 71
14. Uso das conjunções.......................................................................................................................................................................................... 07
15. Emprego dos advérbios.................................................................................................................................................................................. 07
16. Figuras de linguagem...................................................................................................................................................................................... 76

Direito Penal

1. Princípios Constitucionais do Direito Penal. ............................................................................................................................................ 01


2. Da aplicação da lei penal. ................................................................................................................................................................................ 04
3. Do crime. ................................................................................................................................................................................................................ 09
3.1 Tentativa e consumação. .......................................................................................................................................................................... 09
3.2 Dolo e culpa. ................................................................................................................................................................................................. 09
3.3 Excludentes de ilicitude e culpabilidade. ........................................................................................................................................... 09
4. Da imputabilidade penal. ................................................................................................................................................................................ 20
5. Das espécies de pena. ....................................................................................................................................................................................... 20
6. Infração penal: espécies. .................................................................................................................................................................................. 30
7. Sujeito ativo e sujeito passivo da infração penal. .................................................................................................................................. 30
8. Tipicidade, ilicitude, culpabilidade, punibilidade. .................................................................................................................................. 32
9. Imputabilidade penal. ....................................................................................................................................................................................... 33
10. Concurso de pessoas. ..................................................................................................................................................................................... 33
11. Das Penas. ........................................................................................................................................................................................................... 35
12. Crimes contra a pessoa. ................................................................................................................................................................................. 35
13. Crimes contra o patrimônio. ........................................................................................................................................................................ 42
14. Crimes contra a administração pública.................................................................................................................................................... 53

Direito Constitucional

1. Dos princípios fundamentais........................................................................................................................................................................... 01


2. Dos direitos e garantias fundamentais (direitos e deveres individuais e coletivos). ................................................................ 05
3. Da organização do Estado (organização político-administrativa, União, Estados Federados, Municípios, Distrito Fede-
ral e Territórios, militares dos Estados, Distrito Federal e Territórios).................................................................................................. 38
4. Da organização dos poderes (poder legislativo, poder executivo, poder judiciário)............................................................... 47
5. Da defesa do Estado e das Instituições Democráticas (estado de defesa e estado de sítio, Forças Armadas, segurança
pública)......................................................................................................................................................................................................................... 76
6. Da administração pública................................................................................................................................................................................. 80
SUMÁRIO

Direito Penal Militar

1. Aplicação da lei penal militar.......................................................................................................................................................................... 01


2. Do Crime................................................................................................................................................................................................................. 01
3. Concurso de agentes.......................................................................................................................................................................................... 01
4. Das penas principais........................................................................................................................................................................................... 01
5. Das Penas acessórias.......................................................................................................................................................................................... 01
6. Ação penal.............................................................................................................................................................................................................. 01
7. Extinção da punibilidade................................................................................................................................................................................... 01
8. Dos crimes militares em tempo de paz....................................................................................................................................................... 13
9. Dos crimes contra a autoridade ou disciplina militar............................................................................................................................ 13
10. Dos crimes contra o serviço e o dever militar........................................................................................................................................ 13
11. Dos crimes contra a Administração Militar............................................................................................................................................. 15

Direitos Humanos

1. Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada pela ONU, em 10 de dezembro de 1948..................................... 01
2. Convenção Americana Sobre Direitos Humanos. (Assinada na Conferência Especializada Interamericana sobre Direitos
Humanos, San José, Costa Rica, em 22 de novembro de 1969)............................................................................................................ 10
3. Constituição da República Federativa do Brasil: Art. 1º, 3º ao 17, 197 ao 232............................................................................ 23
4. Lei nº 9.459, de 10 de março de 1997, define os crimes de preconceito de raça e de cor.................................................... 61
5. Lei nº 9.455, de 07 de abril de 1997, define os crimes de tortura e dá outras providências................................................. 61
6. Lei nº 9.807, de 13 de julho de 1999, estabelece normas para a organização e a manutenção de programas especiais
de proteção a vítimas e a testemunhas ameaçadas: Art. 1º ao 15....................................................................................................... 64
7. Lei nº 10.741, de 01 de outubro de 2003, Estatuto do Idoso, Art. 1º ao 10, 15 ao 25, 33 ao 42 e 95 ao 118................ 66
8. Lei Estadual nº 14.170, de 15 de janeiro de 2002, determina a imposição de sanções a pessoa jurídica 49 por ato dis-
criminatório praticado contra pessoa em virtude de sua orientação sexual.................................................................................... 76
9. Decreto nº 43.683, de 10 de dezembro de 2003, regulamenta a Lei Estadual nº 14.170 de 15/01/2002........................ 77
10. Lei nº 13.104, de 09 de março de 2015, altera o art. 121 do Decreto-Lei no 2.848, de 07 de dezembro de 1940 - Códi-
go Penal, para prever o feminicídio como circunstância qualificadora do crime de homicídio, e o art. 1º da Lei no 8.072,
de 25 de julho de 1990, para incluir o feminicídio no rol dos crimes hediondos........................................................................... 79
11. Lei nº 12.288, de 20 de julho de 2010, que institui o Estatuto da Igualdade Racial, Art. 1º ao 26................................... 79

Legislação Extravagante

1. Estatuto do Desarmamento (Lei nº 10.826/03)........................................................................................................................................ 01


2. Crimes resultantes de preconceitos de raça ou de cor (Lei nº 7.716/89)...................................................................................... 08
3. Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/90)...................................................................................................................... 13
4. Juizados Especiais Criminais (Lei nº 9.099/95........................................................................................................................................... 71
4.2. 10.259/2001)................................................................................................................................................................................................... 82
5. Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (Lei nº 11.343/06)...................................................................................... 84
6. Código de Ética e Disciplina dos Militares do Estado de Minas Gerais – Lei Estadual 14.310/2002................................100
7. Lei nº 4.898, de 09 de dezembro de 1965, Regula o Direito de Representação e o processo de Responsabilidade Ad-
ministrativa Civil e Penal, nos casos de abuso de autoridade...............................................................................................................115
8. Lei nº 8.072, de 25 de julho de 1990, dispõe sobre os crimes hediondos..................................................................................120
9. Lei nº 11.340, de 07 de agosto de 2006, cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher:
Art. 1º ao 7º, 10 ao 12, 22 ao 24 e 34 ao 45................................................................................................................................................124
SUMÁRIO

Estatística

1. Visão Conceitual Básica (1.01. População ou Universo; 1.02. Amostragem x Amostra; 1.03. Experimento Aleatório;
1.04. Amostragem Aleatória; 1.05. Método Estatístico)............................................................................................................................. 01
2. Variáveis Aleatórias (2.01. A Variável Aleatória Discreta, 2.02. A Variável Aleatória Contínua, 2.03. A Variável Qualitati-
va)................................................................................................................................................................................................................................... 01
3. Normas de Apresentação Tabular (3.01. Modelo de uma Tabela; 3.02. Séries/Tabelas Estatísticas; 3.03. Tipos de Séries
Estatísticas; 3.04. Estudo elementar de uma série temporal; 3.05. As variações percentuais).................................................... 01
4. Medidas de Tendência Central (4.01. Média Aritmética, simples e ponderada; 4.02. Propriedades da Média Aritmética;
4.03. Vantagens da Média Aritmética; 4.04. Desvantagens da Média Aritmética; 4.05. Média Típica; 4.06. Média Atípica;
4.07. Mediana; 4.08. Moda)................................................................................................................................................................................... 01
5. Análise e Interpretação Matemática de Gráficos Estatísticos (5.01. Gráfico de Colunas; 5.02. Gráfico Pictórico; 5.03.
Gráfico de Setores; 5.04. Gráfico de Linhas)................................................................................................................................................... 01
LÍNGUA PORTUGUESA

Letra e Fonema.......................................................................................................................................................................................................... 01
Estrutura das Palavras............................................................................................................................................................................................. 04
Classes de Palavras e suas Flexões..................................................................................................................................................................... 07
Ortografia.................................................................................................................................................................................................................... 44
Acentuação................................................................................................................................................................................................................. 47
Pontuação.................................................................................................................................................................................................................... 50
Concordância Verbal e Nominal......................................................................................................................................................................... 52
Regência Verbal e Nominal................................................................................................................................................................................... 58
Frase, oração e período.......................................................................................................................................................................................... 63
Sintaxe da Oração e do Período......................................................................................................................................................................... 63
Termos da Oração.................................................................................................................................................................................................... 63
Coordenação e Subordinação............................................................................................................................................................................. 63
Crase.............................................................................................................................................................................................................................. 71
Colocação Pronominal............................................................................................................................................................................................ 74
Significado das Palavras......................................................................................................................................................................................... 76
Interpretação Textual............................................................................................................................................................................................... 83
Tipologia Textual....................................................................................................................................................................................................... 85
Gêneros Textuais....................................................................................................................................................................................................... 86
Coesão e Coerência................................................................................................................................................................................................. 86
Reescrita de textos/Equivalência de Estruturas............................................................................................................................................ 88
Estrutura Textual........................................................................................................................................................................................................ 90
Redação Oficial.......................................................................................................................................................................................................... 91
Funções do “que” e do “se”................................................................................................................................................................................100
Variação Linguística...............................................................................................................................................................................................101
O processo de comunicação e as funções da linguagem......................................................................................................................103
LÍNGUA PORTUGUESA

PROF. ZENAIDE AUXILIADORA PACHEGAS BRANCO

Graduada pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Adamantina. Especialista pela Universidade Estadual Paulista
– Unesp

LETRA E FONEMA

A palavra fonologia é formada pelos elementos gregos fono (“som, voz”) e log, logia (“estudo”, “conhecimento”). Significa
literalmente “estudo dos sons” ou “estudo dos sons da voz”. Fonologia é a parte da gramática que estuda os sons da lín-
gua quanto à sua função no sistema de comunicação linguística, quanto à sua organização e classificação. Cuida, também,
de aspectos relacionados à divisão silábica, à ortografia, à acentuação, bem como da forma correta de pronunciar certas
palavras. Lembrando que, cada indivíduo tem uma maneira própria de realizar estes sons no ato da fala. Particularidades na
pronúncia de cada falante são estudadas pela Fonética.
Na língua falada, as palavras se constituem de fonemas; na língua escrita, as palavras são reproduzidas por meio de
símbolos gráficos, chamados de letras ou grafemas. Dá-se o nome de fonema ao menor elemento sonoro capaz de esta-
belecer uma distinção de significado entre as palavras. Observe, nos exemplos a seguir, os fonemas que marcam a distinção
entre os pares de palavras:
amor – ator / morro – corro / vento - cento

Cada segmento sonoro se refere a um dado da língua portuguesa que está em sua memória: a imagem acústica que
você - como falante de português - guarda de cada um deles. É essa imagem acústica que constitui o fonema. Este forma
os significantes dos signos linguísticos. Geralmente, aparece representado entre barras: /m/, /b/, /a/, /v/, etc.

Fonema e Letra
- O fonema não deve ser confundido com a letra. Esta é a representação gráfica do fonema. Na palavra sapo, por
exemplo, a letra “s” representa o fonema /s/ (lê-se sê); já na palavra brasa, a letra “s” representa o fonema /z/ (lê-se zê).
- Às vezes, o mesmo fonema pode ser representado por mais de uma letra do alfabeto. É o caso do fonema /z/, que
pode ser representado pelas letras z, s, x: zebra, casamento, exílio.

- Em alguns casos, a mesma letra pode representar mais de um fonema. A letra “x”, por exemplo, pode representar:
- o fonema /sê/: texto
- o fonema /zê/: exibir
- o fonema /che/: enxame
- o grupo de sons /ks/: táxi

- O número de letras nem sempre coincide com o número de fonemas.


Tóxico = fonemas: /t/ó/k/s/i/c/o/ letras: t ó x i c o
1 2 3 4 5 6 7 12 3 45 6

Galho = fonemas: /g/a/lh/o/ letras: ga lho


1 2 3 4 12345

- As letras “m” e “n”, em determinadas palavras, não representam fonemas. Observe os exemplos: compra, conta. Nestas
palavras, “m” e “n” indicam a nasalização das vogais que as antecedem: /õ/. Veja ainda: nave: o /n/ é um fonema; dança: o
“n” não é um fonema; o fonema é /ã/, representado na escrita pelas letras “a” e “n”.

- A letra h, ao iniciar uma palavra, não representa fonema.


Hoje = fonemas: ho / j / e / letras: h o j e
1 2 3 1234

Classificação dos Fonemas


Os fonemas da língua portuguesa são classificados em:

1) Vogais
As vogais são os fonemas sonoros produzidos por uma corrente de ar que passa livremente pela boca. Em nossa língua,
desempenham o papel de núcleo das sílabas. Isso significa que em toda sílaba há, necessariamente, uma única vogal.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Na produção de vogais, a boca fica aberta ou entrea- 1) Ditongo


berta. As vogais podem ser:
É o encontro de uma vogal e uma semivogal (ou vice-
- Orais: quando o ar sai apenas pela boca: /a/, /e/, /i/, versa) numa mesma sílaba. Pode ser:
/o/, /u/. - Crescente: quando a semivogal vem antes da vogal:
sé-rie (i = semivogal, e = vogal)
- Nasais: quando o ar sai pela boca e pelas fossas na- - Decrescente: quando a vogal vem antes da semivo-
sais. gal: pai (a = vogal, i = semivogal)
/ã/: fã, canto, tampa - Oral: quando o ar sai apenas pela boca: pai
/ ẽ /: dente, tempero - Nasal: quando o ar sai pela boca e pelas fossas na-
/ ĩ/: lindo, mim sais: mãe
/õ/: bonde, tombo
/ ũ /: nunca, algum 2) Tritongo

- Átonas: pronunciadas com menor intensidade: até, É a sequência formada por uma semivogal, uma vo-
bola. gal e uma semivogal, sempre nesta ordem, numa só sílaba.
Pode ser oral ou nasal: Paraguai - Tritongo oral, quão - Tri-
- Tônicas: pronunciadas com maior intensidade: até, tongo nasal.
bola.
3) Hiato
Quanto ao timbre, as vogais podem ser:
- Abertas: pé, lata, pó É a sequência de duas vogais numa mesma palavra que
- Fechadas: mês, luta, amor pertencem a sílabas diferentes, uma vez que nunca há mais
- Reduzidas - Aparecem quase sempre no final das pa- de uma vogal numa mesma sílaba: saída (sa-í-da), poesia
lavras: dedo (“dedu”), ave (“avi”), gente (“genti”). (po-e-si-a).

2) Semivogais Encontros Consonantais

Os fonemas /i/ e /u/, algumas vezes, não são vogais. O agrupamento de duas ou mais consoantes, sem vo-
Aparecem apoiados em uma vogal, formando com ela uma gal intermediária, recebe o nome de encontro consonantal.
só emissão de voz (uma sílaba). Neste caso, estes fonemas Existem basicamente dois tipos:
são chamados de semivogais. A diferença fundamental en- 1-) os que resultam do contato consoante + “l” ou “r”
tre vogais e semivogais está no fato de que estas não de- e ocorrem numa mesma sílaba, como em: pe-dra, pla-no,
sempenham o papel de núcleo silábico. a-tle-ta, cri-se.
Observe a palavra papai. Ela é formada de duas sílabas: 2-) os que resultam do contato de duas consoantes
pa - pai. Na última sílaba, o fonema vocálico que se destaca pertencentes a sílabas diferentes: por-ta, rit-mo, lis-ta.
é o “a”. Ele é a vogal. O outro fonema vocálico “i” não é tão Há ainda grupos consonantais que surgem no início
forte quanto ele. É a semivogal. Outros exemplos: saudade, dos vocábulos; são, por isso, inseparáveis: pneu, gno-mo,
história, série. psi-có-lo-go.

3) Consoantes Dígrafos

Para a produção das consoantes, a corrente de ar expi- De maneira geral, cada fonema é representado, na es-
rada pelos pulmões encontra obstáculos ao passar pela ca- crita, por apenas uma letra: lixo - Possui quatro fonemas e
vidade bucal, fazendo com que as consoantes sejam verda- quatro letras.
deiros “ruídos”, incapazes de atuar como núcleos silábicos.
Seu nome provém justamente desse fato, pois, em portu- Há, no entanto, fonemas que são representados, na es-
guês, sempre consoam (“soam com”) as vogais. Exemplos: crita, por duas letras: bicho - Possui quatro fonemas e cinco
/b/, /t/, /d/, /v/, /l/, /m/, etc. letras.

Encontros Vocálicos Na palavra acima, para representar o fonema /xe/ fo-


ram utilizadas duas letras: o “c” e o “h”.
Os encontros vocálicos são agrupamentos de vogais e Assim, o dígrafo ocorre quando duas letras são usadas
semivogais, sem consoantes intermediárias. É importante para representar um único fonema (di = dois + grafo = le-
reconhecê-los para dividir corretamente os vocábulos em tra). Em nossa língua, há um número razoável de dígrafos
sílabas. Existem três tipos de encontros: o ditongo, o triton- que convém conhecer. Podemos agrupá-los em dois tipos:
go e o hiato. consonantais e vocálicos.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Dígrafos Consonantais

Letras Fonemas Exemplos


lh /lhe/ telhado
nh /nhe/ marinheiro
ch /xe/ chave
rr /re/ (no interior da palavra) carro
ss /se/ (no interior da palavra) passo
qu /k/ (qu seguido de e e i) queijo, quiabo
gu /g/ ( gu seguido de e e i) guerra, guia
sc /se/ crescer
sç /se/ desço
xc /se/ exceção

Dígrafos Vocálicos

Registram-se na representação das vogais nasais:

Fonemas Letras Exemplos


/ã/ am tampa
an canto
/ẽ/ em templo
en lenda
/ĩ/ im limpo
in lindo
õ/ om tombo
on tonto
/ũ/ um chumbo
un corcunda

* Observação: “gu” e “qu” são dígrafos somente quando seguidos de “e” ou “i”, representam os fonemas /g/ e /k/:
guitarra, aquilo. Nestes casos, a letra “u” não corresponde a nenhum fonema. Em algumas palavras, no entanto, o “u” repre-
senta um fonema - semivogal ou vogal - (aguentar, linguiça, aquífero...). Aqui, “gu” e “qu” não são dígrafos. Também não há
dígrafos quando são seguidos de “a” ou “o” (quase, averiguo) .
** Dica: Conseguimos ouvir o som da letra “u” também, por isso não há dígrafo! Veja outros exemplos: Água = /agua/ nós
pronunciamos a letra “u”, ou então teríamos /aga/. Temos, em “água”, 4 letras e 4 fonemas. Já em guitarra = /gitara/ - não
pronunciamos o “u”, então temos dígrafo [aliás, dois dígrafos: “gu” e “rr”]. Portanto: 8 letras e 6 fonemas).

Dífonos

Assim como existem duas letras que representam um só fonema (os dígrafos), existem letras que representam dois
fonemas. Sim! É o caso de “fixo”, por exemplo, em que o “x” representa o fonema /ks/; táxi e crucifixo também são exemplos
de dífonos. Quando uma letra representa dois fonemas temos um caso de dífono.

Fontes de pesquisa:
http://www.soportugues.com.br/secoes/fono/fono1.php
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sacconi. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Português: novas palavras: literatura, gramática, redação / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.
Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
Saraiva, 2010.

3
LÍNGUA PORTUGUESA

Questões
ESTRUTURA DAS PALAVRAS
1-) (PREFEITURA DE PINHAIS/PR – INTÉRPRETE DE LI-
BRAS – FAFIPA/2014) Em todas as palavras a seguir há um
dígrafo, EXCETO em
(A) prazo. As palavras podem ser analisadas sob o ponto de vista
(B) cantor. de sua estrutura significativa. Para isso, nós as dividimos
(C) trabalho. em seus menores elementos (partes) possuidores de sen-
(D) professor. tido. A palavra inexplicável, por exemplo, é constituída por
três elementos significativos:
1-)
(A) prazo – “pr” é encontro consonantal In = elemento indicador de negação
(B) cantor – “an” é dígrafo Explic – elemento que contém o significado básico da
(C) trabalho – “tr” encontro consonantal / “lh” é dígrafo palavra
(D) professor – “pr” encontro consonantal q “ss” é dí- Ável = elemento indicador de possibilidade
grafo
RESPOSTA: “A”. Estes elementos formadores da palavra recebem o
nome de morfemas. Através da união das informações
2-) (PREFEITURA DE PINHAIS/PR – INTÉRPRETE DE LI- contidas nos três morfemas de inexplicável, pode-se en-
BRAS – FAFIPA/2014) Assinale a alternativa em que os itens tender o significado pleno dessa palavra: “aquilo que não
destacados possuem o mesmo fonema consonantal em to- tem possibilidade de ser explicado, que não é possível tornar
das as palavras da sequência. claro”.
(A) Externo – precisa – som – usuário.
MORFEMAS = são as menores unidades significativas
(B) Gente – segurança – adjunto – Japão.
que, reunidas, formam as palavras, dando-lhes sentido.
(C) Chefe – caixas – deixo – exatamente.
(D) Cozinha – pesada – lesão – exemplo.
Classificação dos morfemas:
2-) Coloquei entre barras ( / / ) o fonema representado
Radical, lexema ou semantema – é o elemento por-
pela letra destacada:
tador de significado. É através do radical que podemos for-
(A) Externo /s/ – precisa /s/ – som /s/ – usuário /z/
mar outras palavras comuns a um grupo de palavras da
(B) Gente /j/ – segurança /g/ – adjunto /j/ – Japão /j/ mesma família. Exemplo: pequeno, pequenininho, pequenez.
(C) Chefe /x/ – caixas /x/ – deixo /x/ – exatamente O conjunto de palavras que se agrupam em torno de um
/z/ mesmo radical denomina-se família de palavras.
(D) cozinha /z/ – pesada /z/ – lesão /z/– exemplo /z/
RESPOSTA: “D”. Afixos – elementos que se juntam ao radical antes (os
prefixos) ou depois (sufixos) dele. Exemplo: beleza (sufi-
3-) (CORPO DE BOMBEIROS MILITAR/PI – CURSO DE xo), prever (prefixo), infiel.
FORMAÇÃO DE SOLDADOS – UESPI/2014) “Seja Sangue
Bom!” Na sílaba final da palavra “sangue”, encontramos Desinências - Quando se conjuga o verbo amar, ob-
duas letras representando um único fonema. Esse fenôme- têm-se formas como amava, amavas, amava, amávamos,
no também está presente em: amáveis, amavam. Estas modificações ocorrem à medida
A) cartola. que o verbo vai sendo flexionado em número (singular e
B) problema. plural) e pessoa (primeira, segunda ou terceira). Também
C) guaraná. ocorrem se modificarmos o tempo e o modo do verbo
D) água. (amava, amara, amasse, por exemplo). Assim, podemos
E) nascimento. concluir que existem morfemas que indicam as flexões das
palavras. Estes morfemas sempre surgem no fim das pala-
3-) Duas letras representando um único fonema = dí- vras variáveis e recebem o nome de desinências. Há desi-
grafo nências nominais e desinências verbais.
A) cartola = não há dígrafo
B) problema = não há dígrafo • Desinências nominais: indicam o gênero e o número
C) guaraná = não há dígrafo (você ouve o som do “u”) dos nomes. Para a indicação de gênero, o português cos-
D) água = não há dígrafo (você ouve o som do “u”) tuma opor as desinências -o/-a: garoto/garota; menino/
E) nascimento = dígrafo: sc menina. Para a indicação de número, costuma-se utilizar
RESPOSTA: “E”. o morfema –s, que indica o plural em oposição à ausência
de morfema, que indica o singular: garoto/garotos; garota/
garotas; menino/meninos; menina/meninas. No caso dos
nomes terminados em –r e –z, a desinência de plural assu-
me a forma -es: mar/mares; revólver/revólveres; cruz/cruzes.

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LÍNGUA PORTUGUESA

• Desinências verbais: em nossa língua, as desinências Palavras primitivas: aquelas que, na língua portugue-
verbais pertencem a dois tipos distintos. Há desinências sa, não provêm de outra palavra: pedra, flor.
que indicam o modo e o tempo (desinências modo-tem-
porais) e outras que indicam o número e a pessoa dos ver- Palavras derivadas: aquelas que, na língua portugue-
bos (desinência número-pessoais): sa, provêm de outra palavra: pedreiro, floricultura.

cant-á-va-mos: Palavras simples: aquelas que possuem um só radical:


cant: radical / -á-: vogal temática / -va-: desinência mo- azeite, cavalo.
do-temporal (caracteriza o pretérito imperfeito do indicati-
vo) / -mos: desinência número-pessoal (caracteriza a primei- Palavras compostas: aquelas que possuem mais de
ra pessoa do plural) um radical: couve-flor, planalto.
* As palavras compostas podem ou não ter seus ele-
cant-á-sse-is: mentos ligados por hífen.
cant: radical / -á-: vogal temática / -sse-:desinência mo-
do-temporal (caracteriza o pretérito imperfeito do subjunti- Processos de Formação de Palavras
vo) / -is: desinência número-pessoal (caracteriza a segunda
pessoa do plural) Na Língua Portuguesa há muitos processos de forma-
ção de palavras. Entre eles, os mais comuns são a derivação,
Vogal temática a composição, a onomatopeia, a abreviação e o hibridismo.
Entre o radical cant- e as desinências verbais, surge Derivação por Acréscimo de Afixos
sempre o morfema –a. Este morfema, que liga o radical
às desinências, é chamado de vogal temática. Sua função É o processo pelo qual se obtêm palavras novas (deri-
é ligar-se ao radical, constituindo o chamado tema. É ao vadas) pela anexação de afixos à palavra primitiva. A deri-
tema (radical + vogal temática) que se acrescentam as de- vação pode ser: prefixal, sufixal e parassintética.
sinências. Tanto os verbos como os nomes apresentam vo-
gais temáticas. No caso dos verbos, a vogal temática indica
Prefixal (ou prefixação): a palavra nova é obtida por
as conjugações: -a (da 1.ª conjugação = cantar), -e (da 2.ª
acréscimo de prefixo.
conjugação = escrever) e –i (3.ªconjugação = partir).
In feliz des leal
• Vogais temáticas nominais: São -a, -e, e -o, quando
Prefixo radical prefixo radical
átonas finais, como em mesa, artista, perda, escola, base,
combate. Nestes casos, não poderíamos pensar que essas
terminações são desinências indicadoras de gênero, pois Sufixal (ou sufixação): a palavra nova é obtida por
mesa e escola, por exemplo, não sofrem esse tipo de flexão. acréscimo de sufixo.
A estas vogais temáticas se liga a desinência indicadora
de plural: mesa-s, escola-s, perda-s. Os nomes terminados Feliz mente leal dade
em vogais tônicas (sofá, café, cipó, caqui, por exemplo) não Radical sufixo radical sufixo
apresentam vogal temática.
Parassintética: a palavra nova é obtida pelo acréscimo
• Vogais temáticas verbais: São -a, -e e -i, que ca- simultâneo de prefixo e sufixo. Por parassíntese formam-
racterizam três grupos de verbos a que se dá o nome de se principalmente verbos.
conjugações. Assim, os verbos cuja vogal temática é -a per-
tencem à primeira conjugação; aqueles cuja vogal temática En trist ecer
é -e pertencem à segunda conjugação e os que têm vogal Prefixo radical sufixo
temática -i pertencem à terceira conjugação.
Em tard ecer
Interfixos prefixo radical sufixo

São os elementos (vogais ou consoantes) que se in- Outros Tipos de Derivação


tercalam entre o radical e o sufixo, para facilitar ou mes-
mo possibilitar a leitura de uma determinada palavra. Por Há dois casos em que a palavra derivada é formada
exemplo: sem que haja a presença de afixos. São eles: a derivação
Vogais: frutífero, gasômetro, carnívoro. regressiva e a derivação imprópria.
Consoantes: cafezal, sonolento, friorento.
Derivação regressiva: a palavra nova é obtida por re-
Formação das Palavras dução da palavra primitiva. Ocorre, sobretudo, na formação
de substantivos derivados de verbos.
Há em Português palavras primitivas, palavras deriva- janta (substantivo) - deriva de jantar (verbo) / pesca
das, palavras simples, palavras compostas. (substantivo) – deriva de pescar (verbo)

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LÍNGUA PORTUGUESA

Derivação imprópria: a palavra nova (derivada) é ob- Fontes de pesquisa:


tida pela mudança de categoria gramatical da palavra pri-
mitiva. Não ocorre, pois, alteração na forma, mas somente http://www.brasilescola.com/gramatica/estrutura-e-
na classe gramatical. formacao-de-palavras-i.htm
Não entendi o porquê da briga. (o substantivo “porquê” SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
deriva da conjunção porque) coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Seu olhar me fascina! (olhar aqui é substantivo, deriva Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Cere-
do verbo olhar). ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
Saraiva, 2010.
** Dica: A derivação regressiva “mexe” na estrutura da Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-
palavra e geralmente transforma verbos em substantivos: ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.
caça = deriva de caçar, saque = deriva de sacar.
A derivação imprópria não “mexe” com a palavra,
apenas faz com que ela pertença a uma classe gramatical Questões sobre Estrutura das Palavras
“imprópria” da qual ela realmente, ou melhor, costumeira-
mente faz parte. A alteração acontece devido à presença de 1-) (RIOPREVIDÊNCIA – ESPECIALISTA EM PREVIDÊN-
outros termos, como artigos, por exemplo: CIA SOCIAL – CEPERJ/2014) A palavra “infraestrutura” é for-
O verde das matas! (o adjetivo “verde” passou a fun- mada pelo seguinte processo:
cionar como substantivo devido à presença do artigo “o”) A) sufixação
Composição B) prefixação
C) parassíntese
Haverá composição quando se juntarem dois ou mais D) justaposição
radicais para formar uma nova palavra. Há dois tipos de E) aglutinação
composição: justaposição e aglutinação.
1-) Infra = prefixo + estrutura – temos a junção de um
Justaposição: ocorre quando os elementos que for- prefixo com um radical, portanto: derivação prefixal (ou
mam o composto são postos lado a lado, ou seja, justapos-
prefixação).
tos: para-raios, corre-corre, guarda-roupa, segunda-feira,
girassol.
RESPOSTA: “B”.
Composição por aglutinação: ocorre quando os ele-
mentos que formam o composto aglutinam-se e pelo me-
2-) (SECRETARIA DE ESTADO DE DEFESA SOCIAL/MG –
nos um deles perde sua integridade sonora: aguardente
AGENTE DE SEGURANÇA SOCIOEDUCATIVO – IBFC/2014)
(água + ardente), planalto (plano + alto), pernalta (perna +
alta), vinagre (vinho + acre). O vocábulo “entristecido”, presente na terceira estrofe, é
um exemplo de:
Outros processos de formação de palavras: a) palavra composta
b) palavra primitiva
Onomatopeia – é a palavra que procura reproduzir c) palavra derivada
certos sons ou ruídos: reco-reco, tique-taque, fom-fom. d) neologismo

Abreviação – é a redução de palavras até o limite per- 2-) en + triste + ido (com consoante de ligação “c”) =
mitido pela compreensão: moto (motocicleta), pneu (pneu- ao radical “triste” foram acrescidos o prefixo “en” e o sufixo
mático), metrô (metropolitano), foto (fotografia). “ido”, ou seja, “entristecido” é palavra derivada do processo
de formação de palavras chamado de: prefixação e sufixa-
* Observação: ção. Para o exercício, basta “derivada”!
- Abreviatura: é a redução na grafia de certas palavras,
limitando-as quase sempre à letra inicial ou às letras ini- RESPOSTA: “C”.
ciais: p. ou pág. (para página), sr. (para senhor).
- Sigla: é um caso especial de abreviatura, na qual se
reduzem locuções substantivas próprias às suas letras ini-
ciais (são as siglas puras) ou sílabas iniciais (siglas impuras),
que se grafam de duas formas: IBGE, MEC (siglas puras);
DETRAN ou Detran, PETROBRAS ou Petrobras (siglas impu-
ras).
- Hibridismo: é a palavra formada com elementos
oriundos de línguas diferentes.
automóvel (auto: grego; móvel: latim)
sociologia (socio: latim; logia: grego)
sambódromo (samba: dialeto africano; dromo: grego)

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LÍNGUA PORTUGUESA

de lago lacustre
CLASSES DE PALAVRAS E SUAS FLEXÕES
de leão leonino
de lebre leporino
de lua lunar ou selênico
Adjetivo é a palavra que expressa uma qualidade ou
característica do ser e se relaciona com o substantivo, con- de madeira lígneo
cordando com este em gênero e número. de mestre magistral
de ouro áureo
As praias brasileiras estão poluídas.
de paixão passional
Praias = substantivo; brasileiras/poluídas = adjetivos de pâncreas pancreático
(plural e feminino, pois concordam com “praias”).
de porco suíno ou porcino
Locução adjetiva dos quadris ciático
de rio fluvial
Locução = reunião de palavras. Sempre que são ne-
cessárias duas ou mais palavras para falar sobre a mesma de sonho onírico
coisa, tem-se uma locução. Às vezes, uma preposição + de velho senil
substantivo tem o mesmo valor de um adjetivo: é a Locu- de vento eólico
ção Adjetiva (expressão que equivale a um adjetivo). Por
exemplo: aves da noite (aves noturnas), paixão sem freio de vidro vítreo ou hialino
(paixão desenfreada). de virilha inguinal
de visão óptico ou ótico
Observe outros exemplos:
* Observação: nem toda locução adjetiva possui um
de águia aquilino adjetivo correspondente, com o mesmo significado. Por
de aluno discente exemplo: Vi as alunas da 5ª série. / O muro de tijolos caiu.
de anjo angelical Morfossintaxe do Adjetivo (Função Sintática):
de ano anual
de aranha aracnídeo O adjetivo exerce sempre funções sintáticas (função
dentro de uma oração) relativas aos substantivos, atuando
de boi bovino como adjunto adnominal ou como predicativo (do sujeito
de cabelo capilar ou do objeto).
de cabra caprino
Adjetivo Pátrio (ou gentílico)
de campo campestre ou rural
de chuva pluvial Indica a nacionalidade ou o lugar de origem do ser.
Observe alguns deles:
de criança pueril
de dedo digital Estados e cidades brasileiras:
de estômago estomacal ou gástrico
de falcão falconídeo Alagoas alagoano
de farinha farináceo Amapá amapaense
de fera ferino Aracaju aracajuano ou aracajuense
de ferro férreo Amazonas amazonense ou baré
de fogo ígneo Belo Horizonte belo-horizontino
de garganta gutural Brasília brasiliense
de gelo glacial Cabo Frio cabo-friense
de guerra bélico Campinas campineiro ou campinense
de homem viril ou humano
de ilha insular
de inverno hibernal ou invernal

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LÍNGUA PORTUGUESA

Adjetivo Pátrio Composto

Na formação do adjetivo pátrio composto, o primeiro elemento aparece na forma reduzida e, normalmente, erudita.
Observe alguns exemplos:

África afro- / Cultura afro-americana


Alemanha germano- ou teuto-/Competições teuto-inglesas
América américo- / Companhia américo-africana
Bélgica belgo- / Acampamentos belgo-franceses
China sino- / Acordos sino-japoneses
Espanha hispano- / Mercado hispano-português
Europa euro- / Negociações euro-americanas
França franco- ou galo- / Reuniões franco-italianas
Grécia greco- / Filmes greco-romanos
Inglaterra anglo- / Letras anglo-portuguesas
Itália ítalo- / Sociedade ítalo-portuguesa
Japão nipo- / Associações nipo-brasileiras
Portugal luso- / Acordos luso-brasileiros

Flexão dos adjetivos

O adjetivo varia em gênero, número e grau.

Gênero dos Adjetivos

Os adjetivos concordam com o substantivo a que se referem (masculino e feminino). De forma semelhante aos subs-
tantivos, classificam-se em:

Biformes - têm duas formas, sendo uma para o masculino e outra para o feminino: ativo e ativa, mau e má.
Se o adjetivo é composto e biforme, ele flexiona no feminino somente o último elemento: o moço norte-americano, a
moça norte-americana.

* Exceção: surdo-mudo e surda-muda.

Uniformes - têm uma só forma tanto para o masculino como para o feminino: homem feliz e mulher feliz.
Se o adjetivo é composto e uniforme, fica invariável no feminino: conflito político-social e desavença político-social.

Número dos Adjetivos

Plural dos adjetivos simples

Os adjetivos simples se flexionam no plural de acordo com as regras estabelecidas para a flexão numérica dos substan-
tivos simples: mau e maus, feliz e felizes, ruim e ruins, boa e boas.
Caso o adjetivo seja uma palavra que também exerça função de substantivo, ficará invariável, ou seja, se a palavra que
estiver qualificando um elemento for, originalmente, um substantivo, ela manterá sua forma primitiva. Exemplo: a palavra
cinza é, originalmente, um substantivo; porém, se estiver qualificando um elemento, funcionará como adjetivo. Ficará, en-
tão, invariável. Logo: camisas cinza, ternos cinza.

Veja outros exemplos:


Motos vinho (mas: motos verdes)
Paredes musgo (mas: paredes brancas).
Comícios monstro (mas: comícios grandiosos).

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LÍNGUA PORTUGUESA

Adjetivo Composto Observe que:


a) As formas menor e pior são comparativos de supe-
É aquele formado por dois ou mais elementos. Nor- rioridade, pois equivalem a mais pequeno e mais mau, res-
malmente, esses elementos são ligados por hífen. Apenas pectivamente.
o último elemento concorda com o substantivo a que se b) Bom, mau, grande e pequeno têm formas sintéticas
refere; os demais ficam na forma masculina, singular. Caso (melhor, pior, maior e menor), porém, em comparações fei-
um dos elementos que formam o adjetivo composto seja tas entre duas qualidades de um mesmo elemento, deve-se
um substantivo adjetivado, todo o adjetivo composto ficará usar as formas analíticas mais bom, mais mau,mais grande
invariável. Por exemplo: a palavra “rosa” é, originalmente, e mais pequeno. Por exemplo:
um substantivo, porém, se estiver qualificando um elemen- Pedro é maior do que Paulo - Comparação de dois ele-
to, funcionará como adjetivo. Caso se ligue a outra pala- mentos.
vra por hífen, formará um adjetivo composto; como é um Pedro é mais grande que pequeno - comparação de
substantivo adjetivado, o adjetivo composto inteiro ficará duas qualidades de um mesmo elemento.
invariável. Veja:
Camisas rosa-claro. Sou menos alto (do) que você. = Comparativo de Infe-
Ternos rosa-claro.
rioridade
Olhos verde-claros.
Sou menos passivo (do) que tolerante.
Calças azul-escuras e camisas verde-mar.
Telhados marrom-café e paredes verde-claras.
Superlativo
* Observação:
- Azul-marinho, azul-celeste, ultravioleta e qualquer O superlativo expressa qualidades num grau muito ele-
adjetivo composto iniciado por “cor-de-...” são sempre in- vado ou em grau máximo. Pode ser absoluto ou relativo e
variáveis: roupas azul-marinho, tecidos azul-celeste, vestidos apresenta as seguintes modalidades:
cor-de-rosa. Superlativo Absoluto: ocorre quando a qualidade de
- O adjetivo composto surdo-mudo tem os dois ele- um ser é intensificada, sem relação com outros seres. Apre-
mentos flexionados: crianças surdas-mudas. senta-se nas formas:
1-) Analítica: a intensificação é feita com o auxílio
Grau do Adjetivo de palavras que dão ideia de intensidade (advérbios). Por
exemplo: O concurseiro é muito esforçado.
Os adjetivos se flexionam em grau para indicar a inten- 2-) Sintética: nesta, há o acréscimo de sufixos. Por
sidade da qualidade do ser. São dois os graus do adjetivo: exemplo: O concurseiro é esforçadíssimo.
o comparativo e o superlativo.
Observe alguns superlativos sintéticos:
Comparativo
benéfico - beneficentíssimo
Nesse grau, comparam-se a mesma característica atri-
buída a dois ou mais seres ou duas ou mais características bom - boníssimo ou ótimo
atribuídas ao mesmo ser. O comparativo pode ser de igual- comum - comuníssimo
dade, de superioridade ou de inferioridade.
cruel - crudelíssimo
Sou tão alto como você. = Comparativo de Igualdade difícil - dificílimo
No comparativo de igualdade, o segundo termo da doce - dulcíssimo
comparação é introduzido pelas palavras como, quanto ou
quão. fácil - facílimo
fiel - fidelíssimo
Sou mais alto (do) que você. = Comparativo de Supe-
rioridade Analítico Superlativo Relativo: ocorre quando a qualidade de
No comparativo de superioridade analítico, entre os um ser é intensificada em relação a um conjunto de seres.
dois substantivos comparados, um tem qualidade supe- Essa relação pode ser:
rior. A forma é analítica porque pedimos auxílio a “mais...do 1-) De Superioridade: Essa matéria é a mais fácil de
que” ou “mais...que”.
todas.
2-) De Inferioridade: Essa matéria é a menos fácil de
O Sol é maior (do) que a Terra. = Comparativo de Supe-
todas.
rioridade Sintético

Alguns adjetivos possuem, para o comparativo de * Note bem:


superioridade, formas sintéticas, herdadas do latim. São 1) O superlativo absoluto analítico é expresso por meio
eles: bom /melhor, pequeno/menor, mau/pior, alto/superior, dos advérbios muito, extremamente, excepcionalmente, an-
grande/maior, baixo/inferior. tepostos ao adjetivo.

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LÍNGUA PORTUGUESA

2) O superlativo absoluto sintético se apresenta sob - de inferioridade: menos + advérbio + que (do que):
duas formas: uma erudita - de origem latina - outra po- Renato fala menos alto do que João.
pular - de origem vernácula. A forma erudita é constituída - de superioridade:
pelo radical do adjetivo latino + um dos sufixos -íssimo, 1-) Analítico: mais + advérbio + que (do que): Renato
-imo ou érrimo: fidelíssimo, facílimo, paupérrimo. A forma fala mais alto do que João.
popular é constituída do radical do adjetivo português + o 2-) Sintético: melhor ou pior que (do que): Renato fala
sufixo -íssimo: pobríssimo, agilíssimo. melhor que João.
3-) Os adjetivos terminados em –io fazem o superlativo
com dois “ii”: frio – friíssimo, sério – seriíssimo; os termi- Grau Superlativo
nados em –eio, com apenas um “i”: feio - feíssimo, cheio
– cheíssimo. O superlativo pode ser analítico ou sintético:
- Analítico: acompanhado de outro advérbio: Renato
Fontes de pesquisa: fala muito alto.
http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf32. muito = advérbio de intensidade / alto = advérbio de
php modo
Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Cere-
ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo: - Sintético: formado com sufixos: Renato fala altíssimo.
Saraiva, 2010.
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac- * Observação: as formas diminutivas (cedinho, perti-
coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. nho, etc.) são comuns na língua popular.
Português: novas palavras: literatura, gramática, reda- Maria mora pertinho daqui. (muito perto)
ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000. A criança levantou cedinho. (muito cedo)

Advérbio Classificação dos Advérbios

Compare estes exemplos: De acordo com a circunstância que exprime, o advér-


bio pode ser de:
Lugar: aqui, antes, dentro, ali, adiante, fora, acolá, atrás,
O ônibus chegou.
além, lá, detrás, aquém, cá, acima, onde, perto, aí, abaixo,
O ônibus chegou ontem.
aonde, longe, debaixo, algures, defronte, nenhures, adentro,
afora, alhures, aquém, embaixo, externamente, a distância,
Advérbio é uma palavra invariável que modifica o sen-
à distância de, de longe, de perto, em cima, à direita, à es-
tido do verbo (acrescentando-lhe circunstâncias de tempo,
querda, ao lado, em volta.
de modo, de lugar, de intensidade), do adjetivo e do próprio Tempo: hoje, logo, primeiro, ontem, tarde, outrora,
advérbio. amanhã, cedo, dantes, depois, ainda, antigamente, antes,
Estudei bastante. = modificando o verbo estudei doravante, nunca, então, ora, jamais, agora, sempre, já, en-
Ele canta muito bem! = intensificando outro advérbio fim, afinal, amiúde, breve, constantemente, entrementes,
(bem) imediatamente, primeiramente, provisoriamente, sucessiva-
Ela tem os olhos muito claros. = relação com um adje- mente, às vezes, à tarde, à noite, de manhã, de repente, de
tivo (claros) vez em quando, de quando em quando, a qualquer momen-
to, de tempos em tempos, em breve, hoje em dia.
Quando modifica um verbo, o advérbio pode acrescen- Modo: bem, mal, assim, adrede, melhor, pior, depressa,
tar ideia de: acinte, debalde, devagar, às pressas, às claras, às cegas, à
Tempo: Ela chegou tarde. toa, à vontade, às escondidas, aos poucos, desse jeito, desse
Lugar: Ele mora aqui. modo, dessa maneira, em geral, frente a frente, lado a lado,
Modo: Eles agiram mal. a pé, de cor, em vão e a maior parte dos que terminam em
Negação: Ela não saiu de casa. “-mente”: calmamente, tristemente, propositadamente, pa-
Dúvida: Talvez ele volte. cientemente, amorosamente, docemente, escandalosamen-
te, bondosamente, generosamente.
Flexão do Advérbio Afirmação: sim, certamente, realmente, decerto, efeti-
vamente, certo, decididamente, deveras, indubitavelmente.
Os advérbios são palavras invariáveis, isto é, não apre- Negação: não, nem, nunca, jamais, de modo algum, de
sentam variação em gênero e número. Alguns advérbios, forma nenhuma, tampouco, de jeito nenhum.
porém, admitem a variação em grau. Observe: Dúvida: acaso, porventura, possivelmente, provavel-
mente, quiçá, talvez, casualmente, por certo, quem sabe.
Grau Comparativo Intensidade: muito, demais, pouco, tão, em excesso,
bastante, mais, menos, demasiado, quanto, quão, tanto, as-
Forma-se o comparativo do advérbio do mesmo modo saz, que (equivale a quão), tudo, nada, todo, quase, de todo,
que o comparativo do adjetivo: de muito, por completo, extremamente, intensamente, gran-
- de igualdade: tão + advérbio + quanto (como): Re- demente, bem (quando aplicado a propriedades graduá-
nato fala tão alto quanto João. veis).

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LÍNGUA PORTUGUESA

Exclusão: apenas, exclusivamente, salvo, senão, somen- Locução Adverbial


te, simplesmente, só, unicamente. Por exemplo: Brando, o
vento apenas move a copa das árvores. Quando há duas ou mais palavras que exercem função
Inclusão: ainda, até, mesmo, inclusivamente, também. de advérbio, temos a locução adverbial, que pode expres-
Por exemplo: O indivíduo também amadurece durante a sar as mesmas noções dos advérbios. Iniciam ordinaria-
adolescência. mente por uma preposição. Veja:
Ordem: depois, primeiramente, ultimamente. Por lugar: à esquerda, à direita, de longe, de perto, para
exemplo: Primeiramente, eu gostaria de agradecer aos meus dentro, por aqui, etc.
amigos por comparecerem à festa. afirmação: por certo, sem dúvida, etc.
modo: às pressas, passo a passo, de cor, em vão, em
* Saiba que: geral, frente a frente, etc.
- Para se exprimir o limite de possibilidade, antepõe-se tempo: de noite, de dia, de vez em quando, à tarde, hoje
ao advérbio “o mais” ou “o menos”. Por exemplo: Ficarei em dia, nunca mais, etc.
o mais longe que puder daquele garoto. Voltarei o menos
tarde possível. * Observações:
- Quando ocorrem dois ou mais advérbios em -mente, - tanto a locução adverbial como o advérbio modifi-
em geral sufixamos apenas o último: Por exemplo: O aluno cam o verbo, o adjetivo e outro advérbio:
respondeu calma e respeitosamente. Chegou muito cedo. (advérbio)
Joana é muito bela. (adjetivo)
Distinção entre Advérbio e Pronome Indefinido De repente correram para a rua. (verbo)

Há palavras como muito, bastante, que podem apare- - Usam-se, de preferência, as formas mais bem e mais
cer como advérbio e como pronome indefinido. mal antes de adjetivos ou de verbos no particípio:
Advérbio: refere-se a um verbo, adjetivo, ou a outro Essa matéria é mais bem interessante que aquela.
advérbio e não sofre flexões. Por exemplo: Eu corri muito. Nosso aluno foi o mais bem colocado no concurso!
Pronome Indefinido: relaciona-se a um substantivo e - O numeral “primeiro”, ao modificar o verbo, é advér-
sofre flexões. Por exemplo: Eu corri muitos quilômetros. bio: Cheguei primeiro.

* Dica: Como saber se a palavra bastante é advérbio - Quanto a sua função sintática: o advérbio e a locução
(não varia, não se flexiona) ou pronome indefinido (varia, adverbial desempenham na oração a função de adjunto
sofre flexão)? Se der, na frase, para substituir o “bastante” adverbial, classificando-se de acordo com as circunstân-
por “muito”, estamos diante de um advérbio; se der para cias que acrescentam ao verbo, ao adjetivo ou ao advérbio.
substituir por “muitos” (ou muitas), é um pronome. Veja: Exemplo:
Meio cansada, a candidata saiu da sala. = adjunto ad-
1-) Estudei bastante para o concurso. (estudei muito, verbial de intensidade (ligado ao adjetivo “cansada”)
pois “muitos” não dá!). = advérbio Trovejou muito ontem. = adjunto adverbial de intensi-
dade e de tempo, respectivamente.
2-) Estudei bastantes capítulos para o concurso. (estudei
muitos capítulos) = pronome indefinido Fontes de pesquisa:
http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf75.
Advérbios Interrogativos php
Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Cere-
São as palavras: onde? aonde? donde? quando? como? ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
por quê? nas interrogações diretas ou indiretas, referentes Saraiva, 2010.
às circunstâncias de lugar, tempo, modo e causa. Veja: Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-
ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.
Interrogação Direta Interrogação Indireta SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Como aprendeu? Perguntei como aprendeu.
Onde mora? Indaguei onde morava. Artigo
Por que choras? Não sei por que choras.
O artigo integra as dez classes gramaticais, definindo-
Aonde vai? Perguntei aonde ia. se como o termo variável que serve para individualizar ou
Donde vens? Pergunto donde vens. generalizar o substantivo, indicando, também, o gênero
Quando voltas? Pergunto quando voltas. (masculino/feminino) e o número (singular/plural).
Os artigos se subdividem em definidos (“o” e as va-
riações “a”[as] e [os]) e indefinidos (“um” e as variações
“uma”[s] e “uns”).

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LÍNGUA PORTUGUESA

Artigos definidos – São aqueles usados para indicar Mas, se o nome apresentar um caracterizador, a pre-
seres determinados, expressos de forma individual: sença do artigo será obrigatória: O professor visitará a bela
O concurseiro estuda muito. Os concurseiros estudam Roma.
muito.
- antes de pronomes de tratamento:
Artigos indefinidos – São aqueles usados para indicar Vossa Senhoria sairá agora?
seres de modo vago, impreciso: Exceção: O senhor vai à festa?
Uma candidata foi aprovada! Umas candidatas foram
aprovadas! - após o pronome relativo “cujo” e suas variações:
Esse é o concurso cujas provas foram anuladas?
Circunstâncias em que os artigos se manifestam: Este é o candidato cuja nota foi a mais alta.

* Considera-se obrigatório o uso do artigo depois do Fontes de pesquisa:


numeral “ambos”: http://www.brasilescola.com/gramatica/artigo.htm
Ambos os concursos cobrarão tal conteúdo. Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Cere-
ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
* Nomes próprios indicativos de lugar admitem o uso Saraiva, 2010.
do artigo, outros não: Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-
São Paulo, O Rio de Janeiro, Veneza, A Bahia... ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.SACCO-
NI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sacconi. 30ª ed.
* Quando indicado no singular, o artigo definido pode Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
indicar toda uma espécie: Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Cere-
O trabalho dignifica o homem. ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
Saraiva, 2010.
* No caso de nomes próprios personativos, denotando
a ideia de familiaridade ou afetividade, é facultativo o uso Conjunção
do artigo:
Marcela é a mais extrovertida das irmãs. Além da preposição, há outra palavra também invariá-
O Pedro é o xodó da família. vel que, na frase, é usada como elemento de ligação: a con-
junção. Ela serve para ligar duas orações ou duas palavras
* No caso de os nomes próprios personativos estarem de mesma função em uma oração:
no plural, são determinados pelo uso do artigo: O concurso será realizado nas cidades de Campinas e
Os Maias, os Incas, Os Astecas... São Paulo.
A prova não será fácil, por isso estou estudando muito.
* Usa-se o artigo depois do pronome indefinido to-
do(a) para conferir uma ideia de totalidade. Sem o uso dele Morfossintaxe da Conjunção
(o artigo), o pronome assume a noção de qualquer.
Toda a classe parabenizou o professor. (a sala toda) As conjunções, a exemplo das preposições, não exer-
Toda classe possui alunos interessados e desinteressa- cem propriamente uma função sintática: são conectivos.
dos. (qualquer classe)
Classificação da Conjunção
* Antes de pronomes possessivos, o uso do artigo é
facultativo: De acordo com o tipo de relação que estabelecem, as
Preparei o meu curso. Preparei meu curso. conjunções podem ser classificadas em coordenativas e
subordinativas. No primeiro caso, os elementos ligados
* A utilização do artigo indefinido pode indicar uma pela conjunção podem ser isolados um do outro. Esse iso-
ideia de aproximação numérica: lamento, no entanto, não acarreta perda da unidade de
O máximo que ele deve ter é uns vinte anos. sentido que cada um dos elementos possui. Já no segundo
caso, cada um dos elementos ligados pela conjunção de-
* O artigo também é usado para substantivar palavras pende da existência do outro. Veja:
pertencentes a outras classes gramaticais:
Não sei o porquê de tudo isso. Estudei muito, mas ainda não compreendi o conteúdo.
Podemos separá-las por ponto:
* Há casos em que o artigo definido não pode ser Estudei muito. Ainda não compreendi o conteúdo.
usado:
- antes de nomes de cidade e de pessoas conhecidas: Temos acima um exemplo de conjunção (e, conse-
O professor visitará Roma. quentemente, orações coordenadas) coordenativa – “mas”.
Já em:

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LÍNGUA PORTUGUESA

Espero que eu seja aprovada no concurso! As conjunções subordinativas subdividem-se em inte-


Não conseguimos separar uma oração da outra, pois a grantes e adverbiais:
segunda “completa” o sentido da primeira (da oração prin-
cipal): 1. Integrantes - Indicam que a oração subordinada por
Espero o quê? Ser aprovada. Nesse período temos uma elas introduzida completa ou integra o sentido da principal.
oração subordinada substantiva objetiva direta (ela exerce Introduzem orações que equivalem a substantivos, ou seja,
a função de objeto direto do verbo da oração principal). as orações subordinadas substantivas. São elas: que, se.
Quero que você volte. (Quero sua volta)
Conjunções Coordenativas
2. Adverbiais - Indicam que a oração subordinada
São aquelas que ligam orações de sentido completo exerce a função de adjunto adverbial da principal. De acor-
e independente ou termos da oração que têm a mesma do com a circunstância que expressam, classificam-se em:
a) Causais: introduzem uma oração que é causa da
função gramatical. Subdividem-se em:
ocorrência da oração principal. São elas: porque, que, como
1) Aditivas: ligam orações ou palavras, expressando
(= porque, no início da frase), pois que, visto que, uma vez
ideia de acréscimo ou adição. São elas: e, nem (= e não),
que, porquanto, já que, desde que, etc.
não só... mas também, não só... como também, bem como, Ele não fez a pesquisa porque não dispunha de meios.
não só... mas ainda.
A sua pesquisa é clara e objetiva. b) Concessivas: introduzem uma oração que expressa
Não só dança, mas também canta. ideia contrária à da principal, sem, no entanto, impedir sua
realização. São elas: embora, ainda que, apesar de que, se
2) Adversativas: ligam duas orações ou palavras, ex- bem que, mesmo que, por mais que, posto que, conquanto,
pressando ideia de contraste ou compensação. São elas: etc.
mas, porém, contudo, todavia, entretanto, no entanto, não Embora fosse tarde, fomos visitá-lo.
obstante.
Tentei chegar mais cedo, porém não consegui. c) Condicionais: introduzem uma oração que indica a
hipótese ou a condição para ocorrência da principal. São
3) Alternativas: ligam orações ou palavras, expressan- elas: se, caso, contanto que, salvo se, a não ser que, desde
do ideia de alternância ou escolha, indicando fatos que se que, a menos que, sem que, etc.
realizam separadamente. São elas: ou, ou... ou, ora... ora, já... Se precisar de minha ajuda, telefone-me.
já, quer... quer, seja... seja, talvez... talvez.
** Dica: você deve ter percebido que a conjunção con-
Ou escolho agora, ou fico sem presente de aniversário.
dicional “se” também é conjunção integrante. A diferença é
clara ao ler as orações que são introduzidas por ela. Acima,
4) Conclusivas: ligam a oração anterior a uma oração
ela nos dá a ideia da condição para que recebamos um
que expressa ideia de conclusão ou consequência. São elas: telefonema (se for preciso ajuda). Já na oração:
logo, pois (depois do verbo), portanto, por conseguinte, por Não sei se farei o concurso...
isso, assim. Não há ideia de condição alguma, há? Outra coisa: o
Marta estava bem preparada para o teste, portanto não verbo da oração principal (sei) pede complemento (objeto
ficou nervosa. direto, já que “quem não sabe, não sabe algo”). Portanto,
Você nos ajudou muito; terá, pois, nossa gratidão. a oração em destaque exerce a função de objeto direto da
oração principal, sendo classificada como oração subordi-
5) Explicativas: ligam a oração anterior a uma oração nada substantiva objetiva direta.
que a explica, que justifica a ideia nela contida. São elas: d) Conformativas: introduzem uma oração que expri-
que, porque, pois (antes do verbo), porquanto. me a conformidade de um fato com outro. São elas: confor-
Não demore, que o filme já vai começar. me, como (= conforme), segundo, consoante, etc.
Falei muito, pois não gosto do silêncio! O passeio ocorreu como havíamos planejado.

Conjunções Subordinativas e) Finais: introduzem uma oração que expressa a fina-


lidade ou o objetivo com que se realiza a oração principal.
São elas: para que, a fim de que, que, porque (= para que),
São aquelas que ligam duas orações, sendo uma delas
que, etc.
dependente da outra. A oração dependente, introduzida
Toque o sinal para que todos entrem no salão.
pelas conjunções subordinativas, recebe o nome de ora-
ção subordinada. Veja o exemplo: O baile já tinha começado f) Proporcionais: introduzem uma oração que expres-
quando ela chegou. sa um fato relacionado proporcionalmente à ocorrência do
O baile já tinha começado: oração principal expresso na principal. São elas: à medida que, à proporção
quando: conjunção subordinativa (adverbial temporal) que, ao passo que e as combinações quanto mais... (mais),
ela chegou: oração subordinada quanto menos... (menos), quanto menos... (mais), quanto
menos... (menos), etc.

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LÍNGUA PORTUGUESA

O preço fica mais caro à medida que os produtos escas- Fontes de pesquisa:
seiam. http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf84.
php
* Observação: são incorretas as locuções proporcio- SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
nais à medida em que, na medida que e na medida em que. coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Cere-
g) Temporais: introduzem uma oração que acrescenta ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
uma circunstância de tempo ao fato expresso na oração Saraiva, 2010.
principal. São elas: quando, enquanto, antes que, depois que, Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-
logo que, todas as vezes que, desde que, sempre que, assim ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.
que, agora que, mal (= assim que), etc. Interjeição
A briga começou assim que saímos da festa.
Interjeição é a palavra invariável que exprime emo-
h) Comparativas: introduzem uma oração que expres- ções, sensações, estados de espírito. É um recurso da lin-
sa ideia de comparação com referência à oração principal. guagem afetiva, em que não há uma ideia organizada de
São elas: como, assim como, tal como, como se, (tão)... como, maneira lógica, como são as sentenças da língua, mas sim
a manifestação de um suspiro, um estado da alma decor-
tanto como, tanto quanto, do que, quanto, tal, qual, tal qual,
rente de uma situação particular, um momento ou um con-
que nem, que (combinado com menos ou mais), etc.
texto específico. Exemplos:
O jogo de hoje será mais difícil que o de ontem.
Ah, como eu queria voltar a ser criança!
ah: expressão de um estado emotivo = interjeição
i) Consecutivas: introduzem uma oração que expressa Hum! Esse pudim estava maravilhoso!
a consequência da principal. São elas: de sorte que, de modo hum: expressão de um pensamento súbito = interjei-
que, sem que (= que não), de forma que, de jeito que, que ção
(tendo como antecedente na oração principal uma palavra
como tal, tão, cada, tanto, tamanho), etc. O significado das interjeições está vinculado à maneira
Estudou tanto durante a noite que dormiu na hora do como elas são proferidas. O tom da fala é que dita o senti-
exame. do que a expressão vai adquirir em cada contexto em que
for utilizada. Exemplos:
Atenção: Muitas conjunções não têm classificação úni- Psiu!
ca, imutável, devendo, portanto, ser classificadas de acor- contexto: alguém pronunciando esta expressão na rua
do com o sentido que apresentam no contexto (grifo ; significado da interjeição (sugestão): “Estou te chamando!
da Zê!). Ei, espere!”

O bom relacionamento entre as conjunções de um Psiu!


texto garante a perfeita estruturação de suas frases e pa- contexto: alguém pronunciando em um hospital; sig-
rágrafos, bem como a compreensão eficaz de seu conteú- nificado da interjeição (sugestão): “Por favor, faça silêncio!”
do. Interagindo com palavras de outras classes gramaticais
essenciais ao inter-relacionamento das partes de frases e Puxa! Ganhei o maior prêmio do sorteio!
textos - como os pronomes, preposições, alguns advérbios puxa: interjeição; tom da fala: euforia
e numerais -, as conjunções fazem parte daquilo a que se
pode chamar de “a arquitetura textual”, isto é, o con- Puxa! Hoje não foi meu dia de sorte!
junto das relações que garantem a coesão do enunciado. puxa: interjeição; tom da fala: decepção
O sucesso desse conjunto de relações depende do conhe-
cimento do valor relacional das conjunções, uma vez que As interjeições cumprem, normalmente, duas funções:
a) Sintetizar uma frase exclamativa, exprimindo alegria,
estas interferem semanticamente no enunciado.
tristeza, dor, etc.
Dessa forma, deve-se dedicar atenção especial às con-
Ah, deve ser muito interessante!
junções tanto na leitura como na produção de textos. Nos
textos narrativos, elas estão muitas vezes ligadas à expres-
b) Sintetizar uma frase apelativa.
são de circunstâncias fundamentais à condução da história, Cuidado! Saia da minha frente.
como as noções de tempo, finalidade, causa e consequên-
cia. Nos textos dissertativos, evidenciam muitas vezes a li- As interjeições podem ser formadas por:
nha expositiva ou argumentativa adotada - é o caso das a) simples sons vocálicos: Oh!, Ah!, Ó, Ô
exposições e argumentações construídas por meio de con- b) palavras: Oba! Olá! Claro!
trastes e oposições, que implicam o uso das adversativas e c) grupos de palavras (locuções interjetivas): Meu Deus!
concessivas. Ora bolas!

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LÍNGUA PORTUGUESA

Classificação das Interjeições 3) A interjeição pode ser considerada uma “palavra-


frase” porque sozinha pode constituir uma mensagem. Por
Comumente, as interjeições expressam sentido de: exemplo:
Advertência: Cuidado! Devagar! Calma! Sentido! Aten- Socorro! Ajudem-me! Silêncio! Fique quieto!
ção! Olha! Alerta!
Afugentamento: Fora! Passa! Rua! 4) Há, também, as interjeições onomatopaicas ou imi-
Alegria ou Satisfação: Oh! Ah! Eh! Oba! Viva! tativas, que exprimem ruídos e vozes. Por exemplo: Miau!
Alívio: Arre! Uf! Ufa! Ah! Bumba! Zás! Plaft! Pof! Catapimba! Tique-taque! Quá-quá-
Animação ou Estímulo: Vamos! Força! Coragem! Âni- quá!, etc.
mo! Adiante!
Aplauso ou Aprovação: Bravo! Bis! Apoiado! Viva! 5) Não se deve confundir a interjeição de apelo “ó” com
Concordância: Claro! Sim! Pois não! Tá! a sua homônima “oh!”, que exprime admiração, alegria,
Repulsa ou Desaprovação: Credo! Ih! Francamente! tristeza, etc. Faz-se uma pausa depois do “oh!” exclamativo
Essa não! Chega! Basta! e não a fazemos depois do “ó” vocativo. Por exemplo:
Desejo ou Intenção: Pudera! Tomara! Oxalá! Queira “Ó natureza! ó mãe piedosa e pura!” (Olavo Bilac)
Deus! Oh! a jornada negra!” (Olavo Bilac)
Desculpa: Perdão!
Dor ou Tristeza: Ai! Ui! Ai de mim! Que pena! Fontes de pesquisa:
Dúvida ou Incredulidade: Que nada! Qual o quê! http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf89.
Espanto ou Admiração: Oh! Ah! Uai! Puxa! Céus! Quê! php
Caramba! Opa! Nossa! Hein? Cruz! Putz! SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
Impaciência ou Contrariedade: Hum! Raios! Puxa! Pô! coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Ora! Português – Literatura, Produção de Textos & Gramática
Pedido de Auxílio: Socorro! Aqui! Piedade! – volume único / Samira Yousseff Campedelli, Jésus Barbosa
Saudação, Chamamento ou Invocação: Salve! Viva! Souza. – 3. Ed. – São Paulo: Saraiva, 2002.
Adeus! Olá! Alô! Ei! Tchau! Psiu! Socorro! Valha-me, Deus! Numeral
Silêncio: Psiu! Silêncio!
Numeral é a palavra variável que indica quantidade
Terror ou Medo: Credo! Cruzes! Minha nossa!
numérica ou ordem; expressa a quantidade exata de pes-
soas ou coisas ou o lugar que elas ocupam numa determi-
* Saiba que: As interjeições são palavras invariáveis,
nada sequência.
isto é, não sofrem variação em gênero, número e grau
como os nomes, nem de número, pessoa, tempo, modo,
* Note bem: os numerais traduzem, em palavras, o que
aspecto e voz como os verbos. No entanto, em uso espe-
os números indicam em relação aos seres. Assim, quando
cífico, algumas interjeições sofrem variação em grau. Não
se trata de um processo natural desta classe de palavra, a expressão é colocada em números (1, 1.º, 1/3, etc.) não se
mas tão só uma variação que a linguagem afetiva permite. trata de numerais, mas sim de algarismos.
Exemplos: oizinho, bravíssimo, até loguinho. Além dos numerais mais conhecidos, já que refletem a
ideia expressa pelos números, existem mais algumas pala-
Locução Interjetiva vras consideradas numerais porque denotam quantidade,
proporção ou ordenação. São alguns exemplos: década,
Ocorre quando duas ou mais palavras formam uma dúzia, par, ambos(as), novena.
expressão com sentido de interjeição: Ora bolas!, Virgem
Maria!, Meu Deus!, Ó de casa!, Ai de mim!, Graças a Deus! Classificação dos Numerais
Toda frase mais ou menos breve dita em tom exclama-
tivo torna-se uma locução interjetiva, dispensando análise - Cardinais: indicam quantidade exata ou determina-
dos termos que a compõem: Macacos me mordam!, Valha- da de seres: um, dois, cem mil, etc. Alguns cardinais têm
me Deus!, Quem me dera! sentido coletivo, como por exemplo: século, par, dúzia, dé-
cada, bimestre.
* Observações:
1) As interjeições são como frases resumidas, sintéticas. - Ordinais: indicam a ordem, a posição que alguém ou
Por exemplo: alguma coisa ocupa numa determinada sequência: primei-
Ué! (= Eu não esperava por essa!) ro, segundo, centésimo, etc.
Perdão! (= Peço-lhe que me desculpe.)
* Observação importante:
2) Além do contexto, o que caracteriza a interjeição é As palavras anterior, posterior, último, antepenúltimo,
o seu tom exclamativo; por isso, palavras de outras classes final e penúltimo também indicam posição dos seres, mas
gramaticais podem aparecer como interjeições. Por exem- são classificadas como adjetivos, não ordinais.
plo:
Viva! Basta! (Verbos) - Fracionários: indicam parte de uma quantidade, ou
Fora! Francamente! (Advérbios) seja, uma divisão dos seres: meio, terço, dois quintos, etc.

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LÍNGUA PORTUGUESA

- Multiplicativos: expressam ideia de multiplicação - Para designar papas, reis, imperadores, séculos e par-
dos seres, indicando quantas vezes a quantidade foi au- tes em que se divide uma obra, utilizam-se os ordinais até
mentada: dobro, triplo, quíntuplo, etc. décimo e, a partir daí, os cardinais, desde que o numeral
venha depois do substantivo;
Flexão dos numerais
Ordinais Cardinais
Os numerais cardinais que variam em gênero são um/
uma, dois/duas e os que indicam centenas de duzentos/du- João Paulo II (segundo) Tomo XV (quinze)
zentas em diante: trezentos/trezentas; quatrocentos/quatro- D. Pedro II (segundo) Luís XVI (dezesseis)
centas, etc. Cardinais como milhão, bilhão, trilhão, variam
em número: milhões, bilhões, trilhões. Os demais cardinais Ato II (segundo) Capítulo XX (vinte)
são invariáveis. Século VIII (oitavo) Século XX (vinte)
Canto IX (nono) João XXIII ( vinte e três)
Os numerais ordinais variam em gênero e número:
- Se o numeral aparece antes do substantivo, será lido
primeiro segundo milésimo como ordinal: XXX Feira do Bordado. (trigésima)
primeira segunda milésima
** Dica: Ordinal lembra ordem. Memorize assim, por
primeiros segundos milésimos associação. Ficará mais fácil!
primeiras segundas milésimas - Para designar leis, decretos e portarias, utiliza-se o
ordinal até nono e o cardinal de dez em diante:
Os numerais multiplicativos são invariáveis quando
atuam em funções substantivas: Fizeram o dobro do esforço Artigo 1.° (primeiro) Artigo 10 (dez)
e conseguiram o triplo de produção. Artigo 9.° (nono) Artigo 21 (vinte e um)
Quando atuam em funções adjetivas, esses numerais
flexionam-se em gênero e número: Teve de tomar doses tri- - Ambos/ambas = numeral dual, porque sempre se
plas do medicamento. refere a dois seres. Significam “um e outro”, “os dois” (ou
Os numerais fracionários flexionam-se em gênero e “uma e outra”, “as duas”) e são largamente empregados
número. Observe: um terço/dois terços, uma terça parte/ para retomar pares de seres aos quais já se fez referência.
duas terças partes. Sua utilização exige a presença do artigo posposto: Ambos
Os numerais coletivos flexionam-se em número: uma os concursos realizarão suas provas no mesmo dia. O arti-
dúzia, um milheiro, duas dúzias, dois milheiros. go só é dispensado caso haja um pronome demonstrativo:
É comum na linguagem coloquial a indicação de grau Ambos esses ministros falarão à imprensa.
nos numerais, traduzindo afetividade ou especialização de
sentido. É o que ocorre em frases como: Função sintática do Numeral
“Me empresta duzentinho...”
É artigo de primeiríssima qualidade! O numeral tem mais de uma função sintática:
O time está arriscado por ter caído na segundona. (= - se na oração analisada seu papel é de adjetivo, o
segunda divisão de futebol) numeral assumirá a função de adjunto adnominal; se fizer
papel de substantivo, pode ter a função de sujeito, objeto
Emprego e Leitura dos Numerais direto ou indireto.
- Os numerais são escritos em conjunto de três alga- Visitamos cinco casas, mas só gostamos de duas.
rismos, contados da direita para a esquerda, em forma de Objeto direto = cinco casas
centenas, dezenas e unidades, tendo cada conjunto uma Núcleo do objeto direto = casas
separação através de ponto ou espaço correspondente a Adjunto adnominal = cinco
um ponto: 8.234.456 ou 8 234 456. Objeto indireto = de duas
- Em sentido figurado, usa-se o numeral para indicar
Núcleo do objeto indireto = duas
exagero intencional, constituindo a figura de linguagem
conhecida como hipérbole: Já li esse texto mil vezes.
- No português contemporâneo, não se usa a conjun-
ção “e” após “mil”, seguido de centena:
Nasci em mil novecentos e noventa e dois.
Seu salário será de mil quinhentos e cinquenta reais.

* Mas, se a centena começa por “zero” ou termina por


dois zeros, usa-se o “e”:
Seu salário será de mil e quinhentos reais. (R$1.500,00)
Gastamos mil e quarenta reais. (R$1.040,00)

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LÍNGUA PORTUGUESA

Quadro de alguns numerais

Cardinais Ordinais Multiplicativos Fracionários


um primeiro - -
dois segundo dobro, duplo meio
três terceiro triplo, tríplice terço
quatro quarto quádruplo quarto
cinco quinto quíntuplo quinto
seis sexto sêxtuplo sexto
sete sétimo sétuplo sétimo
oito oitavo óctuplo oitavo
nove nono nônuplo nono
dez décimo décuplo décimo
onze décimo primeiro - onze avos
doze décimo segundo - doze avos
treze décimo terceiro - treze avos
catorze décimo quarto - catorze avos
quinze décimo quinto - quinze avos
dezesseis décimo sexto - dezesseis avos
dezessete décimo sétimo - dezessete avos
dezoito décimo oitavo - dezoito avos
dezenove décimo nono - dezenove avos
vinte vigésimo - vinte avos
trinta trigésimo - trinta avos
quarenta quadragésimo - quarenta avos
cinqüenta quinquagésimo - cinquenta avos
sessenta sexagésimo - sessenta avos
setenta septuagésimo - setenta avos
oitenta octogésimo - oitenta avos
noventa nonagésimo - noventa avos
cem centésimo cêntuplo centésimo
duzentos ducentésimo - ducentésimo
trezentos trecentésimo - trecentésimo
quatrocentos quadringentésimo - quadringentésimo
quinhentos quingentésimo - quingentésimo
seiscentos sexcentésimo - sexcentésimo
setecentos septingentésimo - septingentésimo
oitocentos octingentésimo - octingentésimo
novecentos nongentésimo
ou noningentésimo - nongentésimo
mil milésimo - milésimo
milhão milionésimo - milionésimo
bilhão bilionésimo - bilionésimo

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LÍNGUA PORTUGUESA

fontes de pesquisa: Dicas sobre preposição


http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf40.
php - O “a” pode funcionar como preposição, pronome
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac- pessoal oblíquo e artigo. Como distingui-los? Caso o “a”
coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. seja um artigo, virá precedendo um substantivo, servindo
Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Cere- para determiná-lo como um substantivo singular e femi-
ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo: nino.
Saraiva, 2010. A matéria que estudei é fácil!
Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-
ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000. - Quando é preposição, além de ser invariável, liga dois
Preposição termos e estabelece relação de subordinação entre eles.
Preposição é uma palavra invariável que serve para Irei à festa sozinha.
ligar termos ou orações. Quando esta ligação acontece, Entregamos a flor à professora!
normalmente há uma subordinação do segundo termo em *o primeiro “a” é artigo; o segundo, preposição.
relação ao primeiro. As preposições são muito importantes
na estrutura da língua, pois estabelecem a coesão textual - Se for pronome pessoal oblíquo estará ocupando o
e possuem valores semânticos indispensáveis para a com- lugar e/ou a função de um substantivo.
preensão do texto. Nós trouxemos a apostila. = Nós a trouxemos.

Tipos de Preposição Relações semânticas (= de sentido) estabelecidas


por meio das preposições:
1. Preposições essenciais: palavras que atuam exclusi-
vamente como preposições: a, ante, perante, após, até, com, Destino = Irei a Salvador.
contra, de, desde, em, entre, para, por, sem, sob, sobre, trás, Modo = Saiu aos prantos.
Lugar = Sempre a seu lado.
atrás de, dentro de, para com.
Assunto = Falemos sobre futebol.
Tempo = Chegarei em instantes.
2. Preposições acidentais: palavras de outras classes
Causa = Chorei de saudade.
gramaticais que podem atuar como preposições, ou seja,
Fim ou finalidade = Vim para ficar.
formadas por uma derivação imprópria: como, durante, ex-
Instrumento = Escreveu a lápis.
ceto, fora, mediante, salvo, segundo, senão, visto.
Posse = Vi as roupas da mamãe.
Autoria = livro de Machado de Assis
3. Locuções prepositivas: duas ou mais palavras va-
Companhia = Estarei com ele amanhã.
lendo como uma preposição, sendo que a última palavra é Matéria = copo de cristal.
uma (preposição): abaixo de, acerca de, acima de, ao lado Meio = passeio de barco.
de, a respeito de, de acordo com, em cima de, embaixo de, Origem = Nós somos do Nordeste.
em frente a, ao redor de, graças a, junto a, com, perto de, por Conteúdo = frascos de perfume.
causa de, por cima de, por trás de. Oposição = Esse movimento é contra o que eu penso.
Preço = Essa roupa sai por cinquenta reais.
A preposição é invariável, no entanto pode unir-se a
outras palavras e, assim, estabelecer concordância em gê- * Quanto à preposição “trás”: não se usa senão nas lo-
nero ou em número. Ex: por + o = pelo por + a = pela. cuções adverbiais (para trás ou por trás) e na locução pre-
positiva por trás de.
* Essa concordância não é característica da preposição,
mas das palavras às quais ela se une. Fontes de pesquisa:
Esse processo de junção de uma preposição com outra http://www.infoescola.com/portugues/preposicao/
palavra pode se dar a partir dos processos de: SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
1. Combinação: união da preposição “a” com o artigo Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Cere-
“o”(s), ou com o advérbio “onde”: ao, aonde, aos. Os vocá- ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
bulos não sofrem alteração. Saraiva, 2010.
2. Contração: união de uma preposição com outra pa- Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-
lavra, ocorrendo perda ou transformação de fonema: de + ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.
o = do, em + a = na, per + os = pelos, de + aquele = da- Pronome
quele, em + isso = nisso. Pronome é a palavra variável que substitui ou acom-
3. Crase: é a fusão de vogais idênticas: à (“a” prepo- panha um substantivo (nome), qualificando-o de alguma
sição + “a” artigo), àquilo (“a” preposição + 1.ª vogal do forma.
pronome “aquilo”). O homem julga que é superior à natureza, por isso o
homem destrói a natureza...

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LÍNGUA PORTUGUESA

Utilizando pronomes, teremos: Pronome Reto


O homem julga que é superior à natureza, por isso ele
a destrói... Pronome pessoal do caso reto é aquele que, na senten-
Ficou melhor, sem a repetição desnecessária de termos ça, exerce a função de sujeito: Nós lhe ofertamos flores.
(homem e natureza).
Os pronomes retos apresentam flexão de número, gê-
Grande parte dos pronomes não possuem significados nero (apenas na 3.ª pessoa) e pessoa, sendo essa última a
fixos, isto é, essas palavras só adquirem significação dentro principal flexão, uma vez que marca a pessoa do discurso.
de um contexto, o qual nos permite recuperar a referên- Dessa forma, o quadro dos pronomes retos é assim confi-
cia exata daquilo que está sendo colocado por meio dos gurado:
pronomes no ato da comunicação. Com exceção dos pro-
nomes interrogativos e indefinidos, os demais pronomes - 1.ª pessoa do singular: eu
têm por função principal apontar para as pessoas do dis- - 2.ª pessoa do singular: tu
curso ou a elas se relacionar, indicando-lhes sua situação - 3.ª pessoa do singular: ele, ela
no tempo ou no espaço. Em virtude dessa característica, - 1.ª pessoa do plural: nós
- 2.ª pessoa do plural: vós
os pronomes apresentam uma forma específica para cada
- 3.ª pessoa do plural: eles, elas
pessoa do discurso.
* Atenção: esses pronomes não costumam ser usa-
Minha carteira estava vazia quando eu fui assaltada. dos como complementos verbais na língua-padrão. Frases
[minha/eu: pronomes de 1.ª pessoa = aquele que fala] como “Vi ele na rua”, “Encontrei ela na praça”, “Trouxeram
Tua carteira estava vazia quando tu foste assaltada? eu até aqui”, comuns na língua oral cotidiana, devem ser
[tua/tu: pronomes de 2.ª pessoa = aquele a quem se evitadas na língua formal escrita ou falada. Na língua for-
fala] mal, devem ser usados os pronomes oblíquos correspon-
A carteira dela estava vazia quando ela foi assaltada. dentes: “Vi-o na rua”, “Encontrei-a na praça”, “Trouxeram-
[dela/ela: pronomes de 3.ª pessoa = aquele de quem me até aqui”.
se fala]
* Observação: frequentemente observamos a omissão
Em termos morfológicos, os pronomes são palavras do pronome reto em Língua Portuguesa. Isso se dá porque
variáveis em gênero (masculino ou feminino) e em núme- as próprias formas verbais marcam, através de suas desi-
ro (singular ou plural). Assim, espera-se que a referência nências, as pessoas do verbo indicadas pelo pronome reto:
através do pronome seja coerente em termos de gênero Fizemos boa viagem. (Nós)
e número (fenômeno da concordância) com o seu objeto,
mesmo quando este se apresenta ausente no enunciado. Pronome Oblíquo

Fala-se de Roberta. Ele quer participar do desfile da nos- Pronome pessoal do caso oblíquo é aquele que, na sen-
sa escola neste ano. tença, exerce a função de complemento verbal (objeto
[nossa: pronome que qualifica “escola” = concordância direto ou indireto): Ofertaram-nos flores. (objeto indireto)
adequada]
[neste: pronome que determina “ano” = concordância * Observação: o pronome oblíquo é uma forma va-
adequada] riante do pronome pessoal do caso reto. Essa variação in-
[ele: pronome que faz referência à “Roberta” = concor- dica a função diversa que eles desempenham na oração:
dância inadequada] pronome reto marca o sujeito da oração; pronome oblíquo
marca o complemento da oração.
Os pronomes oblíquos sofrem variação de acordo com
Existem seis tipos de pronomes: pessoais, possessivos,
a acentuação tônica que possuem, podendo ser átonos ou
demonstrativos, indefinidos, relativos e interrogativos.
tônicos.
Pronomes Pessoais Pronome Oblíquo Átono
São aqueles que substituem os substantivos, indicando São chamados átonos os pronomes oblíquos que não
diretamente as pessoas do discurso. Quem fala ou escreve são precedidos de preposição. Possuem acentuação tônica
assume os pronomes “eu” ou “nós”; usa-se os pronomes fraca: Ele me deu um presente.
“tu”, “vós”, “você” ou “vocês” para designar a quem se di- Tabela dos pronomes oblíquos átonos
rige, e “ele”, “ela”, “eles” ou “elas” para fazer referência à - 1.ª pessoa do singular (eu): me
pessoa ou às pessoas de quem se fala. - 2.ª pessoa do singular (tu): te
Os pronomes pessoais variam de acordo com as fun- - 3.ª pessoa do singular (ele, ela): o, a, lhe
ções que exercem nas orações, podendo ser do caso reto - 1.ª pessoa do plural (nós): nos
ou do caso oblíquo. - 2.ª pessoa do plural (vós): vos
- 3.ª pessoa do plural (eles, elas): os, as, lhes

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LÍNGUA PORTUGUESA

* Observações: - As preposições essenciais introduzem sempre prono-


- O “lhe” é o único pronome oblíquo átono que já se mes pessoais do caso oblíquo e nunca pronome do caso
apresenta na forma contraída, ou seja, houve a união en- reto. Nos contextos interlocutivos que exigem o uso da
tre o pronome “o” ou “a” e preposição “a” ou “para”. Por língua formal, os pronomes costumam ser usados desta
acompanhar diretamente uma preposição, o pronome forma:
“lhe” exerce sempre a função de objeto indireto na oração. Não há mais nada entre mim e ti.
Os pronomes me, te, nos e vos podem tanto ser objetos Não se comprovou qualquer ligação entre ti e ela.
diretos como objetos indiretos. Não há nenhuma acusação contra mim.
Os pronomes o, a, os e as atuam exclusivamente como Não vá sem mim.
objetos diretos.
* Atenção: Há construções em que a preposição, ape-
- Os pronomes me, te, lhe, nos, vos e lhes podem com- sar de surgir anteposta a um pronome, serve para introdu-
binar-se com os pronomes o, os, a, as, dando origem a for- zir uma oração cujo verbo está no infinitivo. Nesses casos,
mas como mo, mos, ma, mas; to, tos, ta, tas; lho, lhos, lha, o verbo pode ter sujeito expresso; se esse sujeito for um
lhas; no-lo, no-los, no-la, no-las, vo-lo, vo-los, vo-la, vo-las. pronome, deverá ser do caso reto.
Observe o uso dessas formas nos exemplos que seguem: Trouxeram vários vestidos para eu experimentar.
Trouxeste o pacote? Não vá sem eu mandar.
Sim, entreguei-to ainda há pouco.
Não contaram a novidade a vocês? * A frase: “Foi fácil para mim resolver aquela questão!”
Não, no-la contaram. está correta, já que “para mim” é complemento de “fácil”.
A ordem direta seria: Resolver aquela questão foi fácil para
No Brasil, essas combinações não são usadas; até mes- mim!
mo na língua literária atual, seu emprego é muito raro.
- A combinação da preposição “com” e alguns prono-
* Atenção: Os pronomes o, os, a, as assumem formas mes originou as formas especiais comigo, contigo, consigo,
especiais depois de certas terminações verbais.
conosco e convosco. Tais pronomes oblíquos tônicos fre-
- Quando o verbo termina em -z, -s ou -r, o pronome
quentemente exercem a função de adjunto adverbial de
assume a forma lo, los, la ou las, ao mesmo tempo que a
companhia.
terminação verbal é suprimida. Por exemplo:
Ele carregava o documento consigo.
fiz + o = fi-lo
fazeis + o = fazei-lo
- A preposição “até” exige as formas oblíquas tônicas:
dizer + a = dizê-la
Ela veio até mim, mas nada falou.
Mas, se “até” for palavra denotativa (com o sentido de)
- Quando o verbo termina em som nasal, o pronome
assume as formas no, nos, na, nas. Por exemplo: inclusão, usaremos as formas retas:
viram + o: viram-no Todos foram bem na prova, até eu! (=inclusive eu)
repõe + os = repõe-nos
retém + a: retém-na - As formas “conosco” e “convosco” são substituídas
tem + as = tem-nas por “com nós” e “com vós” quando os pronomes pessoais
são reforçados por palavras como outros, mesmos, próprios,
Pronome Oblíquo Tônico todos, ambos ou algum numeral.
Você terá de viajar com nós todos.
Os pronomes oblíquos tônicos são sempre precedidos Estávamos com vós outros quando chegaram as más
por preposições, em geral as preposições a, para, de e com. notícias.
Por esse motivo, os pronomes tônicos exercem a função Ele disse que iria com nós três.
de objeto indireto da oração. Possuem acentuação tônica
forte. Pronome Reflexivo
Quadro dos pronomes oblíquos tônicos:
- 1.ª pessoa do singular (eu): mim, comigo São pronomes pessoais oblíquos que, embora funcio-
- 2.ª pessoa do singular (tu): ti, contigo nem como objetos direto ou indireto, referem-se ao sujeito
- 3.ª pessoa do singular (ele, ela): si, consigo, ele, ela da oração. Indicam que o sujeito pratica e recebe a ação
- 1.ª pessoa do plural (nós): nós, conosco expressa pelo verbo.
- 2.ª pessoa do plural (vós): vós, convosco Quadro dos pronomes reflexivos:
- 3.ª pessoa do plural (eles, elas): si, consigo, eles, elas - 1.ª pessoa do singular (eu): me, mim.
Eu não me lembro disso.
Observe que as únicas formas próprias do pronome tô-
nico são a primeira pessoa (mim) e segunda pessoa (ti). As - 2.ª pessoa do singular (tu): te, ti.
demais repetem a forma do pronome pessoal do caso reto. Conhece a ti mesmo.

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LÍNGUA PORTUGUESA

- 3.ª pessoa do singular (ele, ela): se, si, consigo. * Observações:


Guilherme já se preparou. * Vossa Excelência X Sua Excelência: os pronomes de
Ela deu a si um presente. tratamento que possuem “Vossa(s)” são empregados em
Antônio conversou consigo mesmo. relação à pessoa com quem falamos: Espero que V. Ex.ª, Se-
nhor Ministro, compareça a este encontro.
- 1.ª pessoa do plural (nós): nos.
Lavamo-nos no rio. ** Emprega-se “Sua (s)” quando se fala a respeito
da pessoa: Todos os membros da C.P.I. afirmaram que Sua
- 2.ª pessoa do plural (vós): vos. Excelência, o Senhor Presidente da República, agiu com pro-
Vós vos beneficiastes com esta conquista. priedade.

- 3.ª pessoa do plural (eles, elas): se, si, consigo. - Os pronomes de tratamento representam uma for-
Eles se conheceram. ma indireta de nos dirigirmos aos nossos interlocutores. Ao
Elas deram a si um dia de folga. tratarmos um deputado por Vossa Excelência, por exemplo,
estamos nos endereçando à excelência que esse deputado
* O pronome é reflexivo quando se refere à mesma supostamente tem para poder ocupar o cargo que ocupa.
pessoa do pronome subjetivo (sujeito): Eu me arrumei e saí.
** É pronome recíproco quando indica reciprocidade - 3.ª pessoa: embora os pronomes de tratamento diri-
de ação: jam-se à 2.ª pessoa, toda a concordância deve ser feita
Nós nos amamos. com a 3.ª pessoa. Assim, os verbos, os pronomes possessi-
Olhamo-nos calados. vos e os pronomes oblíquos empregados em relação a eles
devem ficar na 3.ª pessoa.
Pronomes de Tratamento Basta que V. Ex.ª cumpra a terça parte das suas pro-
messas, para que seus eleitores lhe fiquem reconhecidos.
São pronomes utilizados no tratamento formal, ceri-
- Uniformidade de Tratamento: quando escrevemos ou
monioso. Apesar de indicarem nosso interlocutor (portan-
nos dirigimos a alguém, não é permitido mudar, ao longo
to, a segunda pessoa), utilizam o verbo na terceira pes-
do texto, a pessoa do tratamento escolhida inicialmente.
soa. Alguns exemplos:
Assim, por exemplo, se começamos a chamar alguém de
Vossa Alteza (V. A.) = príncipes, duques
“você”, não poderemos usar “te” ou “teu”. O uso correto
Vossa Eminência (V. E.ma) = cardeais
exigirá, ainda, verbo na terceira pessoa.
Vossa Reverendíssima (V. Ver.ma) = sacerdotes e religio-
sos em geral
Quando você vier, eu te abraçarei e enrolar-me-ei nos
Vossa Excelência (V. Ex.ª) = oficiais de patente superior
teus cabelos. (errado)
à de coronel, senadores, deputados, embaixadores, profes-
sores de curso superior, ministros de Estado e de Tribunais, Quando você vier, eu a abraçarei e enrolar-me-ei nos
governadores, secretários de Estado, presidente da Repú- seus cabelos. (correto) = terceira pessoa do singular
blica (sempre por extenso) ou
Vossa Magnificência (V. Mag.ª) = reitores de universi-
dades Quando tu vieres, eu te abraçarei e enrolar-me-ei nos
Vossa Majestade (V. M.) = reis, rainhas e imperadores teus cabelos. (correto) = segunda pessoa do singular
Vossa Senhoria (V. S.a) = comerciantes em geral, oficiais
até a patente de coronel, chefes de seção e funcionários de Pronomes Possessivos
igual categoria São palavras que, ao indicarem a pessoa gramatical
Vossa Meritíssima (sempre por extenso) = para juízes (possuidor), acrescentam a ela a ideia de posse de algo
de direito (coisa possuída).
Vossa Santidade (sempre por extenso) = tratamento Este caderno é meu. (meu = possuidor: 1ª pessoa do
cerimonioso singular)
Vossa Onipotência (sempre por extenso) = Deus
NÚMERO PESSOA PRONOME
Também são pronomes de tratamento o senhor, a se-
nhora e você, vocês. “O senhor” e “a senhora” são empre- singular primeira meu(s), minha(s)
gados no tratamento cerimonioso; “você” e “vocês”, no tra- singular segunda teu(s), tua(s)
tamento familiar. Você e vocês são largamente empregados
singular terceira seu(s), sua(s)
no português do Brasil; em algumas regiões, a forma tu é
de uso frequente; em outras, pouco empregada. Já a forma plural primeira nosso(s), nossa(s)
vós tem uso restrito à linguagem litúrgica, ultraformal ou plural segunda vosso(s), vossa(s)
literária.
plural terceira seu(s), sua(s)

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LÍNGUA PORTUGUESA

* Note que: A forma do possessivo depende da pessoa *Em relação ao tempo:


gramatical a que se refere; o gênero e o número concordam - Este(s), esta(s) e isto = indicam o tempo presente em
com o objeto possuído: Ele trouxe seu apoio e sua contribui- relação à pessoa que fala:
ção naquele momento difícil. Esta manhã farei a prova do concurso!

* Observações: - Esse(s), essa(s) e isso = indicam o tempo passado, po-


- A forma “seu” não é um possessivo quando resultar rém relativamente próximo à época em que se situa a pes-
da alteração fonética da palavra senhor: Muito obrigado, soa que fala:
seu José. Essa noite dormi mal; só pensava no concurso!

- Aquele(s), aquela(s) e aquilo = indicam um afasta-


- Os pronomes possessivos nem sempre indicam pos-
mento no tempo, referido de modo vago ou como tempo
se. Podem ter outros empregos, como:
remoto:
a) indicar afetividade: Não faça isso, minha filha. Naquele tempo, os professores eram valorizados.
b) indicar cálculo aproximado: Ele já deve ter seus 40 *Em relação ao falado ou escrito (ou ao que se fala-
anos. rá ou escreverá):
- Este(s), esta(s) e isto = empregados quando se quer
c) atribuir valor indefinido ao substantivo: Marisa tem fazer referência a alguma coisa sobre a qual ainda se falará:
lá seus defeitos, mas eu gosto muito dela. Serão estes os conteúdos da prova: análise sintática, or-
tografia, concordância.
- Em frases onde se usam pronomes de tratamento,
o pronome possessivo fica na 3.ª pessoa: Vossa Excelência - Esse(s), essa(s) e isso = utilizados quando se pretende
trouxe sua mensagem? fazer referência a alguma coisa sobre a qual já se falou:
Sua aprovação no concurso, isso é o que mais deseja-
- Referindo-se a mais de um substantivo, o possessi- mos!
vo concorda com o mais próximo: Trouxe-me seus livros e
anotações. - Este e aquele são empregados quando se quer fa-
zer referência a termos já mencionados; aquele se refere
ao termo referido em primeiro lugar e este para o referido
- Em algumas construções, os pronomes pessoais oblí-
por último:
quos átonos assumem valor de possessivo: Vou seguir-lhe
os passos. (= Vou seguir seus passos) Domingo, no Pacaembu, jogarão Palmeiras e São Paulo;
este está mais bem colocado que aquele. (= este [São Paulo],
- O adjetivo “respectivo” equivale a “devido, seu, pró- aquele [Palmeiras])
prio”, por isso não se deve usar “seus” ao utilizá-lo, para ou
que não ocorra redundância: Coloque tudo nos respectivos
lugares. Domingo, no Pacaembu, jogarão Palmeiras e São Paulo;
aquele está mais bem colocado que este. (= este [São Paulo],
Pronomes Demonstrativos aquele [Palmeiras])

São utilizados para explicitar a posição de certa palavra - Os pronomes demonstrativos podem ser variáveis ou
em relação a outras ou ao contexto. Essa relação pode ser invariáveis, observe:
de espaço, de tempo ou em relação ao discurso. Variáveis: este(s), esta(s), esse(s), essa(s), aquele(s), aque-
la(s).
*Em relação ao espaço: Invariáveis: isto, isso, aquilo.
- Este(s), esta(s) e isto = indicam o que está perto da
* Também aparecem como pronomes demonstrativos:
pessoa que fala:
- o(s), a(s): quando estiverem antecedendo o “que” e
Este material é meu.
puderem ser substituídos por aquele(s), aquela(s), aquilo.
Não ouvi o que disseste. (Não ouvi aquilo que disseste.)
- Esse(s), essa(s) e isso = indicam o que está perto da Essa rua não é a que te indiquei. (não é aquela que te
pessoa com quem se fala: indiquei.)
Esse material em sua carteira é seu?
- mesmo(s), mesma(s), próprio(s), própria(s): variam em
- Aquele(s), aquela(s) e aquilo = indicam o que está dis- gênero quando têm caráter reforçativo:
tante tanto da pessoa que fala como da pessoa com quem Estas são as mesmas pessoas que o procuraram ontem.
se fala: Eu mesma refiz os exercícios.
Aquele material não é nosso. Elas mesmas fizeram isso.
Vejam aquele prédio! Eles próprios cozinharam.
Os próprios alunos resolveram o problema.

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LÍNGUA PORTUGUESA

- semelhante(s): Não tenha semelhante atitude. Os pronomes indefinidos podem ser divididos em va-
riáveis e invariáveis. Observe:
- tal, tais: Tal absurdo eu não comenteria.
Variáveis = algum, nenhum, todo, muito, pouco, vário,
* Note que: tanto, outro, quanto, alguma, nenhuma, toda, muita, pouca,
- Em frases como: O referido deputado e o Dr. Alcides vária, tanta, outra, quanta, qualquer, quaisquer*, alguns, ne-
eram amigos íntimos; aquele casado, solteiro este. (ou en- nhuns, todos, muitos, poucos, vários, tantos, outros, quantos,
tão: este solteiro, aquele casado) - este se refere à pessoa algumas, nenhumas, todas, muitas, poucas, várias, tantas,
mencionada em último lugar; aquele, à mencionada em outras, quantas.
primeiro lugar.
Invariáveis = alguém, ninguém, outrem, tudo, nada,
- O pronome demonstrativo tal pode ter conotação algo, cada.
irônica: A menina foi a tal que ameaçou o professor?
*
Qualquer é composto de qual + quer (do verbo que-
- Pode ocorrer a contração das preposições a, de, em rer), por isso seu plural é quaisquer (única palavra cujo plu-
com pronome demonstrativo: àquele, àquela, deste, desta, ral é feito em seu interior).
disso, nisso, no, etc: Não acreditei no que estava vendo. (no
= naquilo) - Todo e toda no singular e junto de artigo significa
inteiro; sem artigo, equivale a qualquer ou a todas as:
Pronomes Indefinidos Toda a cidade está enfeitada. (= a cidade inteira)
Toda cidade está enfeitada. (= todas as cidades)
São palavras que se referem à 3.ª pessoa do discurso, Trabalho todo o dia. (= o dia inteiro)
dando-lhe sentido vago (impreciso) ou expressando quan- Trabalho todo dia. (= todos os dias)
tidade indeterminada.
Alguém entrou no jardim e destruiu as mudas recém- São locuções pronominais indefinidas: cada qual,
-plantadas. cada um, qualquer um, quantos quer (que), quem quer (que),
seja quem for, seja qual for, todo aquele (que), tal qual (=
Não é difícil perceber que “alguém” indica uma pessoa
certo), tal e qual, tal ou qual, um ou outro, uma ou outra, etc.
de quem se fala (uma terceira pessoa, portanto) de forma
Cada um escolheu o vinho desejado.
imprecisa, vaga. É uma palavra capaz de indicar um ser hu-
mano que seguramente existe, mas cuja identidade é des-
Indefinidos Sistemáticos
conhecida ou não se quer revelar. Classificam-se em:
Ao observar atentamente os pronomes indefinidos,
- Pronomes Indefinidos Substantivos: assumem o lu-
percebemos que existem alguns grupos que criam oposi-
gar do ser ou da quantidade aproximada de seres na frase.
São eles: algo, alguém, fulano, sicrano, beltrano, nada, nin- ção de sentido. É o caso de: algum/alguém/algo, que têm
guém, outrem, quem, tudo. sentido afirmativo, e nenhum/ninguém/nada, que têm
sentido negativo; todo/tudo, que indicam uma totalidade
Algo o incomoda? afirmativa, e nenhum/nada, que indicam uma totalidade
Quem avisa amigo é. negativa; alguém/ninguém, que se referem à pessoa, e
algo/nada, que se referem à coisa; certo, que particulariza,
- Pronomes Indefinidos Adjetivos: qualificam um ser e qualquer, que generaliza.
expresso na frase, conferindo-lhe a noção de quantidade Essas oposições de sentido são muito importantes na
aproximada. São eles: cada, certo(s), certa(s). construção de frases e textos coerentes, pois delas muitas
vezes dependem a solidez e a consistência dos argumen-
Cada povo tem seus costumes. tos expostos. Observe nas frases seguintes a força que os
Certas pessoas exercem várias profissões. pronomes indefinidos destacados imprimem às afirmações
de que fazem parte:
* Note que: Ora são pronomes indefinidos substanti- Nada do que tem sido feito produziu qualquer resultado
vos, ora pronomes indefinidos adjetivos: prático.
algum, alguns, alguma(s), bastante(s) (= muito, muitos), Certas pessoas conseguem perceber sutilezas: não são
demais, mais, menos, muito(s), muita(s), nenhum, nenhuns, pessoas quaisquer.
nenhuma(s), outro(s), outra(s), pouco(s), pouca(s), qualquer,
quaisquer, qual, que, quanto(s), quanta(s), tal, tais, tanto(s), *Nenhum é contração de nem um, forma mais enfática,
tanta(s), todo(s), toda(s), um, uns, uma(s), vários, várias. que se refere à unidade. Repare:
Nenhum candidato foi aprovado.
Menos palavras e mais ações. Nem um candidato foi aprovado. (um, nesse caso, é nu-
Alguns se contentam pouco. meral)

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LÍNGUA PORTUGUESA

Pronomes Relativos - O pronome “cujo”: exprime posse; não concorda com


o seu antecedente (o ser possuidor), mas com o conse-
São aqueles que representam nomes já mencionados quente (o ser possuído, com o qual concorda em gênero
anteriormente e com os quais se relacionam. Introduzem e número); não se usa artigo depois deste pronome; “cujo”
as orações subordinadas adjetivas. equivale a do qual, da qual, dos quais, das quais.
O racismo é um sistema que afirma a superioridade de Existem pessoas cujas ações são nobres.
um grupo racial sobre outros. (antecedente) (consequente)
(afirma a superioridade de um grupo racial sobre outros
= oração subordinada adjetiva). *interpretação do pronome “cujo” na frase acima: ações
das pessoas. É como se lêssemos “de trás para frente”. Ou-
O pronome relativo “que” refere-se à palavra “sistema” tro exemplo:
e introduz uma oração subordinada. Diz-se que a palavra Comprei o livro cujo autor é famoso. (= autor do livro)
“sistema” é antecedente do pronome relativo que.
O antecedente do pronome relativo pode ser o prono- ** se o verbo exigir preposição, esta virá antes do pro-
me demonstrativo o, a, os, as. nome:
Não sei o que você está querendo dizer. O autor, a cujo livro você se referiu, está aqui! (referiu-
Às vezes, o antecedente do pronome relativo não vem se a)
expresso.
Quem casa, quer casa. - “Quanto” é pronome relativo quando tem por an-
tecedente um pronome indefinido: tanto (ou variações) e
Observe: tudo:
Pronomes relativos variáveis = o qual, cujo, quanto, os Emprestei tantos quantos foram necessários.
quais, cujos, quantos, a qual, cuja, quanta, as quais, cujas, (antecedente)
quantas. Ele fez tudo quanto havia falado.
Pronomes relativos invariáveis = quem, que, onde. (antecedente)

Note que: - O pronome “quem” se refere a pessoas e vem sem-


- O pronome “que” é o relativo de mais largo emprego, pre precedido de preposição.
sendo por isso chamado relativo universal. Pode ser subs- É um professor a quem muito devemos.
tituído por o qual, a qual, os quais, as quais, quando seu (preposição)
antecedente for um substantivo.
O trabalho que eu fiz refere-se à corrupção. (= o qual) - “Onde”, como pronome relativo, sempre possui an-
A cantora que acabou de se apresentar é péssima. (= a tecedente e só pode ser utilizado na indicação de lugar: A
qual) casa onde morava foi assaltada.
Os trabalhos que eu fiz referem-se à corrupção. (= os
quais) - Na indicação de tempo, deve-se empregar quando
As cantoras que se apresentaram eram péssimas. (= as ou em que.
quais) Sinto saudades da época em que (quando) morávamos
no exterior.
- O qual, os quais, a qual e as quais são exclusivamente
pronomes relativos, por isso são utilizados didaticamente - Podem ser utilizadas como pronomes relativos as pa-
para verificar se palavras como “que”, “quem”, “onde” (que lavras:
podem ter várias classificações) são pronomes relativos. To- - como (= pelo qual) – desde que precedida das pala-
dos eles são usados com referência à pessoa ou coisa por vras modo, maneira ou forma:
motivo de clareza ou depois de determinadas preposições: Não me parece correto o modo como você agiu semana
Regressando de São Paulo, visitei o sítio de minha tia, o qual passada.
me deixou encantado. O uso de “que”, neste caso, geraria
ambiguidade. Veja: Regressando de São Paulo, visitei o sítio - quando (= em que) – desde que tenha como antece-
de minha tia, que me deixou encantado (quem me deixou dente um nome que dê ideia de tempo:
encantado: o sítio ou minha tia?). Bons eram os tempos quando podíamos jogar videoga-
Essas são as conclusões sobre as quais pairam muitas me.
dúvidas? (com preposições de duas ou mais sílabas utiliza-
se o qual / a qual) - Os pronomes relativos permitem reunir duas orações
numa só frase.
- O relativo “que” às vezes equivale a o que, coisa que, e O futebol é um esporte. / O povo gosta muito deste es-
se refere a uma oração: Não chegou a ser padre, mas deixou porte.
de ser poeta, que era a sua vocação natural. = O futebol é um esporte de que o povo gosta muito.

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LÍNGUA PORTUGUESA

- Numa série de orações adjetivas coordenadas, pode -lugares: Alemanha, Portugal


ocorrer a elipse do relativo “que”: A sala estava cheia de -sentimentos: amor, saudade
gente que conversava, (que) ria, observava. -estados: alegria, tristeza
-qualidades: honestidade, sinceridade...
Pronomes Interrogativos -ações: corrida, pescaria...

São usados na formulação de perguntas, sejam elas di- Morfossintaxe do substantivo


retas ou indiretas. Assim como os pronomes indefinidos,
referem-se à 3.ª pessoa do discurso de modo impreciso. Nas orações, geralmente o substantivo exerce funções
São pronomes interrogativos: que, quem, qual (e variações), diretamente relacionadas com o verbo: atua como núcleo
quanto (e variações). do sujeito, dos complementos verbais (objeto direto ou
Com quem andas?
indireto) e do agente da passiva, podendo, ainda, funcio-
Qual seu nome?
nar como núcleo do complemento nominal ou do aposto,
Diz-me com quem andas, que te direi quem és.
como núcleo do predicativo do sujeito, do objeto ou como
Sobre os pronomes: núcleo do vocativo. Também encontramos substantivos
como núcleos de adjuntos adnominais e de adjuntos ad-
O pronome pessoal é do caso reto quando tem função verbiais - quando essas funções são desempenhadas por
de sujeito na frase. O pronome pessoal é do caso oblíquo grupos de palavras.
quando desempenha função de complemento.
1. Eu não sei essa matéria, mas ele irá me ajudar. Classificação dos Substantivos
2. Maria foi embora para casa, pois não sabia se devia
lhe ajudar. Substantivos Comuns e Próprios

Na primeira oração os pronomes pessoais “eu” e “ele” Observe a definição:


exercem função de sujeito, logo, são pertencentes ao caso
reto. Já na segunda oração, o pronome “lhe” exerce função Cidade: s.f. 1: Povoação maior que vila, com muitas ca-
de complemento (objeto), ou seja, caso oblíquo. sas e edifícios, dispostos em ruas e avenidas (no Brasil, toda a
Os pronomes pessoais indicam as pessoas do discurso. sede de município é cidade). 2. O centro de uma cidade (em
O pronome oblíquo “lhe”, da segunda oração, aponta para oposição aos bairros).
a segunda pessoa do singular (tu/você): Maria não sabia se
devia ajudar... Ajudar quem? Você (lhe).
Qualquer “povoação maior que vila, com muitas casas
e edifícios, dispostos em ruas e avenidas” será chamada
Os pronomes pessoais oblíquos podem ser átonos ou
tônicos: os primeiros não são precedidos de preposição, cidade. Isso significa que a palavra cidade é um substantivo
diferentemente dos segundos, que são sempre precedidos comum.
de preposição. Substantivo Comum é aquele que designa os seres de
- Pronome oblíquo átono: Joana me perguntou o que uma mesma espécie de forma genérica: cidade, menino,
eu estava fazendo. homem, mulher, país, cachorro.
- Pronome oblíquo tônico: Joana perguntou para mim Estamos voando para Barcelona.
o que eu estava fazendo.
O substantivo Barcelona designa apenas um ser da es-
Fontes de pesquisa: pécie cidade. Barcelona é um substantivo próprio – aquele
http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf42. que designa os seres de uma mesma espécie de forma par-
php ticular: Londres, Paulinho, Pedro, Tietê, Brasil.
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. Substantivos Concretos e Abstratos
Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Cere-
ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo: Substantivo Concreto: é aquele que designa o ser que
Saraiva, 2010. existe, independentemente de outros seres.
Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-
ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.
Observação: os substantivos concretos designam se-
res do mundo real e do mundo imaginário.
Substantivo
Seres do mundo real: homem, mulher, cadeira, cobra,
Substantivo é a classe gramatical de palavras variáveis, Brasília.
as quais denominam todos os seres que existem, sejam Seres do mundo imaginário: saci, mãe-d’água, fantas-
reais ou imaginários. Além de objetos, pessoas e fenôme- ma.
nos, os substantivos também nomeiam:

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LÍNGUA PORTUGUESA

Substantivo Abstrato: é aquele que designa seres que enxoval roupas


dependem de outros para se manifestarem ou existirem.
Por exemplo: a beleza não existe por si só, não pode falange soldados, anjos
ser observada. Só podemos observar a beleza numa pes- fauna animais de uma região
soa ou coisa que seja bela. A beleza depende de outro ser
feixe lenha, capim
para se manifestar. Portanto, a palavra beleza é um subs-
tantivo abstrato. flora vegetais de uma região
Os substantivos abstratos designam estados, qualida- frota navios mercantes, ônibus
des, ações e sentimentos dos seres, dos quais podem ser
girândola fogos de artifício
abstraídos, e sem os quais não podem existir: vida (estado),
rapidez (qualidade), viagem (ação), saudade (sentimento). horda bandidos, invasores
médicos, bois, credores,
Substantivos Coletivos junta
examinadores

Ele vinha pela estrada e foi picado por uma abelha, ou- júri jurados
tra abelha, mais outra abelha. legião soldados, anjos, demônios
Ele vinha pela estrada e foi picado por várias abelhas. leva presos, recrutas
Ele vinha pela estrada e foi picado por um enxame.
malta malfeitores ou desordeiros
Note que, no primeiro caso, para indicar plural, foi ne- manada búfalos, bois, elefantes,
cessário repetir o substantivo: uma abelha, outra abelha, matilha cães de raça
mais outra abelha. No segundo caso, utilizaram-se duas
palavras no plural. No terceiro, empregou-se um substan- molho chaves, verduras
tivo no singular (enxame) para designar um conjunto de multidão pessoas em geral
seres da mesma espécie (abelhas).
insetos (gafanhotos,
nuvem
mosquitos, etc.)
O substantivo enxame é um substantivo coletivo.
penca bananas, chaves
Substantivo Coletivo: é o substantivo comum que, pinacoteca pinturas, quadros
mesmo estando no singular, designa um conjunto de seres
quadrilha ladrões, bandidos
da mesma espécie.
ramalhete flores
Substantivo coletivo Conjunto de: rebanho ovelhas
assembleia pessoas reunidas repertório peças teatrais, obras musicais
alcateia lobos réstia alhos ou cebolas
acervo livros romanceiro poesias narrativas
antologia trechos literários selecionados revoada pássaros
arquipélago ilhas sínodo párocos
banda músicos talha lenha
bando desordeiros ou malfeitores tropa muares, soldados
banca examinadores turma estudantes, trabalhadores
batalhão soldados vara porcos
cardume peixes
caravana viajantes peregrinos
cacho frutas
cancioneiro canções, poesias líricas
colmeia abelhas
concílio bispos
congresso parlamentares, cientistas
elenco atores de uma peça ou filme
esquadra navios de guerra

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LÍNGUA PORTUGUESA

Formação dos Substantivos Substantivos Uniformes: apresentam uma única forma,


Substantivos Simples e Compostos que serve tanto para o masculino quanto para o feminino.
Classificam-se em:
Chuva - subst. Fem. 1 - água caindo em gotas sobre a
terra. - Epicenos: referentes a animais. A distinção de sexo se
O substantivo chuva é formado por um único elemento faz mediante a utilização das palavras “macho” e “fêmea”: a
ou radical. É um substantivo simples. cobra macho e a cobra fêmea, o jacaré macho e o jacaré fêmea.
- Sobrecomuns: substantivos uniformes referentes a
Substantivo Simples: é aquele formado por um único pessoas de ambos os sexos: a criança, a testemunha, a víti-
elemento. ma, o cônjuge, o gênio, o ídolo, o indivíduo.
Outros substantivos simples: tempo, sol, sofá, etc. Veja - Comuns de Dois ou Comum de Dois Gêneros: in-
agora: O substantivo guarda-chuva é formado por dois ele- dicam o sexo das pessoas por meio do artigo: o colega e a
colega, o doente e a doente, o artista e a artista.
mentos (guarda + chuva). Esse substantivo é composto.
Substantivo Composto: é aquele formado por dois ou
Saiba que: Substantivos de origem grega terminados
mais elementos. Outros exemplos: beija-flor, passatempo.
em ema ou oma são masculinos: o fonema, o poema, o sis-
tema, o sintoma, o teorema.
Substantivos Primitivos e Derivados
- Existem certos substantivos que, variando de gênero,
Substantivo Primitivo: é aquele que não deriva de ne- variam em seu significado:
nhuma outra palavra da própria língua portuguesa. O subs- o águia (vigarista) e a águia (ave; perspicaz)
tantivo limoeiro, por exemplo, é derivado, pois se originou o cabeça (líder) e a cabeça (parte do corpo)
a partir da palavra limão. o capital (dinheiro) e a capital (cidade)
Substantivo Derivado: é aquele que se origina de ou- o coma (sono mórbido) e a coma (cabeleira, juba)
tra palavra. o lente (professor) e a lente (vidro de aumento)
o moral (estado de espírito) e a moral (ética; conclusão)
Flexão dos substantivos o praça (soldado raso) e a praça (área pública)
o rádio (aparelho receptor) e a rádio (estação emissora)
O substantivo é uma classe variável. A palavra é variá-
vel quando sofre flexão (variação). A palavra menino, por Formação do Feminino dos Substantivos Biformes
exemplo, pode sofrer variações para indicar:
Plural: meninos / Feminino: menina / Aumentativo: - Regra geral: troca-se a terminação -o por –a: aluno
meninão / Diminutivo: menininho - aluna.
- Substantivos terminados em -ês: acrescenta-se -a ao
Flexão de Gênero masculino: freguês - freguesa
- Substantivos terminados em -ão: fazem o feminino
Gênero é um princípio puramente linguístico, não de- de três formas:
vendo ser confundido com “sexo”. O gênero diz respeito 1- troca-se -ão por -oa. = patrão – patroa
a todos os substantivos de nossa língua, quer se refiram 2- troca-se -ão por -ã. = campeão - campeã
a seres animais providos de sexo, quer designem apenas 3- troca-se -ão por ona. = solteirão - solteirona
“coisas”: o gato/a gata; o banco, a casa.
* Exceções: barão – baronesa, ladrão- ladra, sultão -
Na língua portuguesa, há dois gêneros: masculino e
sultana
feminino. Pertencem ao gênero masculino os substantivos
que podem vir precedidos dos artigos o, os, um, uns. Veja - Substantivos terminados em -or:
estes títulos de filmes: acrescenta-se -a ao masculino = doutor – doutora
O velho e o mar troca-se -or por -triz: = imperador - imperatriz
Um Natal inesquecível
Os reis da praia - Substantivos com feminino em -esa, -essa, -isa: côn-
sul - consulesa / abade - abadessa / poeta - poetisa / duque
Pertencem ao gênero feminino os substantivos que - duquesa / conde - condessa / profeta - profetisa
podem vir precedidos dos artigos a, as, uma, umas:
A história sem fim - Substantivos que formam o feminino trocando o -e
Uma cidade sem passado final por -a: elefante - elefanta
As tartarugas ninjas
- Substantivos que têm radicais diferentes no masculi-
Substantivos Biformes e Substantivos Uniformes no e no feminino: bode – cabra / boi - vaca

Substantivos Biformes (= duas formas): apresentam - Substantivos que formam o feminino de maneira es-
uma forma para cada gênero: gato – gata, homem – mulher, pecial, isto é, não seguem nenhuma das regras anteriores:
poeta – poetisa, prefeito - prefeita czar – czarina, réu - ré

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LÍNGUA PORTUGUESA

Formação do Feminino dos Substantivos Uniformes Femininos: a dinamite, a derme, a hélice, a omoplata, a
cataplasma, a pane, a mascote, a gênese, a entorse, a libido,
Epicenos: a cal, a faringe, a cólera (doença), a ubá (canoa).
Novo jacaré escapa de policiais no rio Pinheiros.
- São geralmente masculinos os substantivos de ori-
Não é possível saber o sexo do jacaré em questão. Isso gem grega terminados em -ma: o grama (peso), o quilo-
ocorre porque o substantivo jacaré tem apenas uma forma grama, o plasma, o apostema, o diagrama, o epigrama, o
para indicar o masculino e o feminino. telefonema, o estratagema, o dilema, o teorema, o trema, o
Alguns nomes de animais apresentam uma só forma
eczema, o edema, o magma, o estigma, o axioma, o traco-
para designar os dois sexos. Esses substantivos são cha-
ma, o hematoma.
mados de epicenos. No caso dos epicenos, quando houver
a necessidade de especificar o sexo, utilizam-se palavras
macho e fêmea. * Exceções: a cataplasma, a celeuma, a fleuma, etc.
A cobra macho picou o marinheiro.
A cobra fêmea escondeu-se na bananeira. Gênero dos Nomes de Cidades: Com raras exceções,
nomes de cidades são femininos.
Sobrecomuns: A histórica Ouro Preto.
Entregue as crianças à natureza. A dinâmica São Paulo.
A acolhedora Porto Alegre.
A palavra crianças se refere tanto a seres do sexo mas- Uma Londres imensa e triste.
culino, quanto a seres do sexo feminino. Nesse caso, nem Exceções: o Rio de Janeiro, o Cairo, o Porto, o Havre.
o artigo nem um possível adjetivo permitem identificar o
sexo dos seres a que se refere a palavra. Veja: Gênero e Significação
A criança chorona chamava-se João.
A criança chorona chamava-se Maria. Muitos substantivos têm uma significação no masculi-
no e outra no feminino. Observe:
Outros substantivos sobrecomuns: o baliza (soldado que, que à frente da tropa, indica os
a criatura = João é uma boa criatura. Maria é uma boa
movimentos que se deve realizar em conjunto; o que vai à
criatura.
frente de um bloco carnavalesco, manejando um bastão), a
o cônjuge = O cônjuge de João faleceu. O cônjuge de
Marcela faleceu baliza (marco, estaca; sinal que marca um limite ou proibi-
ção de trânsito), o cabeça (chefe), a cabeça (parte do cor-
Comuns de Dois Gêneros: po), o cisma (separação religiosa, dissidência), a cisma (ato
Motorista tem acidente idêntico 23 anos depois. de cismar, desconfiança), o cinza (a cor cinzenta), a cinza
(resíduos de combustão), o capital (dinheiro), a capital (ci-
Quem sofreu o acidente: um homem ou uma mulher? dade), o coma (perda dos sentidos), a coma (cabeleira), o
É impossível saber apenas pelo título da notícia, uma coral (pólipo, a cor vermelha, canto em coro), a coral (cobra
vez que a palavra motorista é um substantivo uniforme. venenosa), o crisma (óleo sagrado, usado na administração
A distinção de gênero pode ser feita através da análise da crisma e de outros sacramentos), a crisma (sacramento
do artigo ou adjetivo, quando acompanharem o substanti- da confirmação), o cura (pároco), a cura (ato de curar), o
vo: o colega - a colega; o imigrante - a imigrante; um jovem estepe (pneu sobressalente), a estepe (vasta planície de vege-
- uma jovem; artista famoso - artista famosa; repórter fran- tação), o guia (pessoa que guia outras), a guia (documento,
cês - repórter francesa pena grande das asas das aves), o grama (unidade de peso),
a grama (relva), o caixa (funcionário da caixa), a caixa (re-
- A palavra personagem é usada indistintamente nos cipiente, setor de pagamentos), o lente (professor), a lente
dois gêneros. (vidro de aumento), o moral (ânimo), a moral (honestidade,
a) Entre os escritores modernos nota-se acentuada
bons costumes, ética), o nascente (lado onde nasce o Sol), a
preferência pelo masculino: O menino descobriu nas nuvens
nascente (a fonte), o maria-fumaça (trem como locomotiva
os personagens dos contos de carochinha.
b) Com referência a mulher, deve-se preferir o femini- a vapor), maria-fumaça (locomotiva movida a vapor), o pala
no: O problema está nas mulheres de mais idade, que não (poncho), a pala (parte anterior do boné ou quepe, antepa-
aceitam a personagem. ro), o rádio (aparelho receptor), a rádio (emissora), o voga
(remador), a voga (moda).
- Diz-se: o (ou a) manequim Marcela, o (ou a) modelo
fotográfico Ana Belmonte. Flexão de Número do Substantivo

Observe o gênero dos substantivos seguintes: Em português, há dois números gramaticais: o singular,
Masculinos: o tapa, o eclipse, o lança-perfume, o dó que indica um ser ou um grupo de seres, e o plural, que
(pena), o sanduíche, o clarinete, o champanha, o sósia, o indica mais de um ser ou grupo de seres. A característica
maracajá, o clã, o herpes, o pijama, o suéter, o soprano, o do plural é o “s” final.
proclama, o pernoite, o púbis.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Plural dos Substantivos Simples - Flexionam-se os dois elementos, quando formados


de:
- Os substantivos terminados em vogal, ditongo oral e substantivo + substantivo = couve-flor e couves-flores
“n” fazem o plural pelo acréscimo de “s”: pai – pais; ímã – substantivo + adjetivo = amor-perfeito e amores-per-
ímãs; hífen - hifens (sem acento, no plural). Exceção: cânon feitos
- cânones. adjetivo + substantivo = gentil-homem e gentis-ho-
mens
- Os substantivos terminados em “m” fazem o plural numeral + substantivo = quinta-feira e quintas-feiras
em “ns”: homem - homens.
- Flexiona-se somente o segundo elemento, quando
- Os substantivos terminados em “r” e “z” fazem o plu- formados de:
ral pelo acréscimo de “es”: revólver – revólveres; raiz - raízes. verbo + substantivo = guarda-roupa e guarda-roupas
palavra invariável + palavra variável = alto-falante e al-
to-falantes
* Atenção: O plural de caráter é caracteres.
palavras repetidas ou imitativas = reco-reco e reco-re-
cos
- Os substantivos terminados em al, el, ol, ul flexionam-
se no plural, trocando o “l” por “is”: quintal - quintais; cara-
- Flexiona-se somente o primeiro elemento, quando
col – caracóis; hotel - hotéis. Exceções: mal e males, cônsul formados de:
e cônsules. substantivo + preposição clara + substantivo = água-
de-colônia e águas-de-colônia
- Os substantivos terminados em “il” fazem o plural de substantivo + preposição oculta + substantivo = cava-
duas maneiras: lo-vapor e cavalos-vapor
- Quando oxítonos, em “is”: canil - canis substantivo + substantivo que funciona como determi-
- Quando paroxítonos, em “eis”: míssil - mísseis. nante do primeiro, ou seja, especifica a função ou o tipo do
termo anterior: palavra-chave - palavras-chave, bomba-re-
Observação: a palavra réptil pode formar seu plural de lógio - bombas-relógio, homem-rã - homens-rã, peixe-espa-
duas maneiras: répteis ou reptis (pouco usada). da - peixes-espada.

- Os substantivos terminados em “s” fazem o plural de - Permanecem invariáveis, quando formados de:
duas maneiras: verbo + advérbio = o bota-fora e os bota-fora
1- Quando monossilábicos ou oxítonos, mediante o verbo + substantivo no plural = o saca-rolhas e os sa-
acréscimo de “es”: ás – ases / retrós - retroses ca-rolhas
2- Quando paroxítonos ou proparoxítonos, ficam inva-
riáveis: o lápis - os lápis / o ônibus - os ônibus. * Casos Especiais

- Os substantivos terminados em “ao” fazem o plural o louva-a-deus e os louva-a-deus


de três maneiras.
o bem-te-vi e os bem-te-vis
1- substituindo o -ão por -ões: ação - ações
2- substituindo o -ão por -ães: cão - cães o bem-me-quer e os bem-me-queres
3- substituindo o -ão por -ãos: grão - grãos o joão-ninguém e os joões-ninguém.

- Os substantivos terminados em “x” ficam invariáveis: Plural das Palavras Substantivadas


o látex - os látex.
As palavras substantivadas, isto é, palavras de outras
Plural dos Substantivos Compostos classes gramaticais usadas como substantivo, apresentam,
no plural, as flexões próprias dos substantivos.
- A formação do plural dos substantivos compostos Pese bem os prós e os contras.
depende da forma como são grafados, do tipo de palavras O aluno errou na prova dos noves.
que formam o composto e da relação que estabelecem en- Ouça com a mesma serenidade os sins e os nãos.
tre si. Aqueles que são grafados sem hífen comportam-se
como os substantivos simples: aguardente/aguardentes, gi- * Observação: numerais substantivados terminados
rassol/girassóis, pontapé/pontapés, malmequer/malmeque- em “s” ou “z” não variam no plural: Nas provas mensais con-
res. segui muitos seis e alguns dez.
O plural dos substantivos compostos cujos elementos
são ligados por hífen costuma provocar muitas dúvidas e
discussões. Algumas orientações são dadas a seguir:

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LÍNGUA PORTUGUESA

Plural dos Diminutivos Singular Plural


Flexiona-se o substantivo no plural, retira-se o “s” final Corpo (ô) corpos (ó)
e acrescenta-se o sufixo diminutivo. esforço esforços
fogo fogos
pãe(s) + zinhos = pãezinhos forno fornos
animai(s) + zinhos = animaizinhos fosso fossos
botõe(s) + zinhos = botõezinhos imposto impostos
chapéu(s) + zinhos = chapeuzinhos olho olhos
farói(s) + zinhos = faroizinhos osso (ô) ossos (ó)
tren(s) + zinhos = trenzinhos ovo ovos
colhere(s) + zinhas = colherezinhas poço poços
flore(s) + zinhas = florezinhas porto portos
mão(s) + zinhas = mãozinhas posto postos
papéi(s) + zinhos = papeizinhos tijolo tijolos
nuven(s) + zinhas = nuvenzinhas
funi(s) + zinhos = funizinhos Têm a vogal tônica fechada (ô): adornos, almoços, bol-
sos, esposos, estojos, globos, gostos, polvos, rolos, soros, etc.
túnei(s) + zinhos = tuneizinhos
pai(s) + zinhos = paizinhos * Observação: distinga-se molho (ô) = caldo (molho
pé(s) + zinhos = pezinhos de carne), de molho (ó) = feixe (molho de lenha).
pé(s) + zitos = pezitos
Particularidades sobre o Número dos Substantivos
Plural dos Nomes Próprios Personativos
- Há substantivos que só se usam no singular: o sul, o
Devem-se pluralizar os nomes próprios de pessoas norte, o leste, o oeste, a fé, etc.
sempre que a terminação preste-se à flexão. - Outros só no plural: as núpcias, os víveres, os pêsames,
as espadas/os paus (naipes de baralho), as fezes.
Os Napoleões também são derrotados. - Outros, enfim, têm, no plural, sentido diferente do
As Raquéis e Esteres. singular: bem (virtude) e bens (riquezas), honra (probidade,
bom nome) e honras (homenagem, títulos).
Plural dos Substantivos Estrangeiros - Usamos às vezes, os substantivos no singular, mas
com sentido de plural:
Substantivos ainda não aportuguesados devem ser es- Aqui morreu muito negro.
critos como na língua original, acrescentando-se “s” (exceto Celebraram o sacrifício divino muitas vezes em capelas
quando terminam em “s” ou “z”): os shows, os shorts, os jazz. improvisadas.

Substantivos já aportuguesados flexionam-se de acor- Flexão de Grau do Substantivo


do com as regras de nossa língua: os clubes, os chopes, os
jipes, os esportes, as toaletes, os bibelôs, os garçons, os ré- Grau é a propriedade que as palavras têm de exprimir
quiens. as variações de tamanho dos seres. Classifica-se em:

Observe o exemplo: - Grau Normal - Indica um ser de tamanho considera-


Este jogador faz gols toda vez que joga. do normal. Por exemplo: casa
O plural correto seria gois (ô), mas não se usa.
- Grau Aumentativo - Indica o aumento do tamanho
Plural com Mudança de Timbre
do ser. Classifica-se em:
Analítico = o substantivo é acompanhado de um adje-
Certos substantivos formam o plural com mudança de
tivo que indica grandeza. Por exemplo: casa grande.
timbre da vogal tônica (o fechado / o aberto). É um fato
fonético chamado metafonia (plural metafônico). Sintético = é acrescido ao substantivo um sufixo indi-
cador de aumento. Por exemplo: casarão.

30
LÍNGUA PORTUGUESA

- Grau Diminutivo - Indica a diminuição do tamanho Classificação dos Verbos


do ser. Pode ser:
Analítico = substantivo acompanhado de um adjetivo Classificam-se em:
que indica pequenez. Por exemplo: casa pequena.
Sintético = é acrescido ao substantivo um sufixo indi- - Regulares: são aqueles que apresentam o radical
cador de diminuição. Por exemplo: casinha. inalterado durante a conjugação e desinências idênticas às
de todos os verbos regulares da mesma conjugação. Por
Fontes de pesquisa: exemplo: comparemos os verbos “cantar” e “falar”, conju-
http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf12.php gados no presente do Modo Indicativo:
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Cere- canto falo
ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo: cantas falas
Saraiva, 2010.
canta falas
Verbo cantamos falamos
cantais falais
Verbo é a palavra que se flexiona em pessoa, núme-
ro, tempo e modo. A estes tipos de flexão verbal dá-se o cantam falam
nome de conjugação (por isso também se diz que verbo
é a palavra que pode ser conjugada). Pode indicar, entre * Dica: Observe que, retirando os radicais, as desi-
outros processos: ação (amarrar), estado (sou), fenômeno nências modo-temporal e número-pessoal mantiveram-se
(choverá); ocorrência (nascer); desejo (querer). idênticas. Tente fazer com outro verbo e perceberá que se
repetirá o fato (desde que o verbo seja da primeira conju-
Estrutura das Formas Verbais gação e regular!). Faça com o verbo “andar”, por exemplo.
Substitua o radical “cant” e coloque o “and” (radical do ver-
Do ponto de vista estrutural, o verbo pode apresentar bo andar). Viu? Fácil!
os seguintes elementos:
- Radical: é a parte invariável, que expressa o significa- - Irregulares: são aqueles cuja flexão provoca altera-
do essencial do verbo. Por exemplo: fal-ei; fal-ava; fal-am. ções no radical ou nas desinências: faço, fiz, farei, fizesse.
(radical fal-) * Observação: alguns verbos sofrem alteração no ra-
- Tema: é o radical seguido da vogal temática que in- dical apenas para que seja mantida a sonoridade. É o caso
dica a conjugação a que pertence o verbo. Por exemplo: de: corrigir/corrijo, fingir/finjo, tocar/toquei, por exemplo.
fala-r. São três as conjugações: Tais alterações não caracterizam irregularidade, porque o
1.ª - Vogal Temática - A - (falar), 2.ª - Vogal Temática - fonema permanece inalterado.
E - (vender), 3.ª - Vogal Temática - I - (partir).
- Desinência modo-temporal: é o elemento que de-
- Defectivos: são aqueles que não apresentam conju-
signa o tempo e o modo do verbo. Por exemplo:
gação completa. Os principais são adequar, precaver, com-
falávamos ( indica o pretérito imperfeito do indicativo)
/ falasse ( indica o pretérito imperfeito do subjuntivo) putar, reaver, abolir, falir.
- Desinência número-pessoal: é o elemento que de-
signa a pessoa do discurso (1.ª, 2.ª ou 3.ª) e o número (sin- - Impessoais: são os verbos que não têm sujeito e, nor-
gular ou plural): malmente, são usados na terceira pessoa do singular. Os
falamos (indica a 1.ª pessoa do plural.) / falavam (in- principais verbos impessoais são:
dica a 3.ª pessoa do plural.)
* haver, quando sinônimo de existir, acontecer, realizar-
* Observação: o verbo pôr, assim como seus derivados se ou fazer (em orações temporais).
(compor, repor, depor), pertencem à 2.ª conjugação, pois a Havia muitos candidatos no dia da prova. (Havia = Exis-
forma arcaica do verbo pôr era poer. A vogal “e”, apesar tiam)
de haver desaparecido do infinitivo, revela-se em algumas Houve duas guerras mundiais. (Houve = Aconteceram)
formas do verbo: põe, pões, põem, etc. Haverá debates hoje. (Haverá = Realizar-se-ão)
Viajei a Madri há muitos anos. (há = faz)
Formas Rizotônicas e Arrizotônicas
* fazer, ser e estar (quando indicam tempo)
Ao combinarmos os conhecimentos sobre a estrutura Faz invernos rigorosos na Europa.
dos verbos com o conceito de acentuação tônica, perce- Era primavera quando o conheci.
bemos com facilidade que nas formas rizotônicas o acento Estava frio naquele dia.
tônico cai no radical do verbo: opino, aprendam, amo, por
exemplo. Nas formas arrizotônicas, o acento tônico não cai
no radical, mas sim na terminação verbal (fora do radical):
opinei, aprenderão, amaríamos.

31
LÍNGUA PORTUGUESA

* Todos os verbos que indicam fenômenos da natureza são impessoais: chover, ventar, nevar, gear, trovejar, amanhecer,
escurecer, etc. Quando, porém, se constrói, “Amanheci cansado”, usa-se o verbo “amanhecer” em sentido figurado. Qual-
quer verbo impessoal, empregado em sentido figurado, deixa de ser impessoal para ser pessoal, ou seja, terá conjugação
completa.
Amanheci cansado. (Sujeito desinencial: eu)
Choveram candidatos ao cargo. (Sujeito: candidatos)
Fiz quinze anos ontem. (Sujeito desinencial: eu)

* São impessoais, ainda:


- o verbo passar (seguido de preposição), indicando tempo: Já passa das seis.

- os verbos bastar e chegar, seguidos da preposição “de”, indicando suficiência:


Basta de tolices.
Chega de promessas.

- os verbos estar e ficar em orações como “Está bem, Está muito bem assim, Não fica bem, Fica mal”, sem referência a
sujeito expresso anteriormente (por exemplo: “ele está mal”). Podemos, nesse caso, classificar o sujeito como hipotético,
tornando-se, tais verbos, pessoais.

- o verbo dar + para da língua popular, equivalente de “ser possível”. Por exemplo:
Não deu para chegar mais cedo.
Dá para me arrumar uma apostila?

- Unipessoais: são aqueles que, tendo sujeito, conjugam-se apenas nas terceiras pessoas, do singular e do plural. São
unipessoais os verbos constar, convir, ser (= preciso, necessário) e todos os que indicam vozes de animais (cacarejar, cricrilar,
miar, latir, piar).

* Observação: os verbos unipessoais podem ser usados como verbos pessoais na linguagem figurada:
Teu irmão amadureceu bastante.
O que é que aquela garota está cacarejando?

Principais verbos unipessoais:

1. cumprir, importar, convir, doer, aprazer, parecer, ser (preciso, necessário):


Cumpre estudarmos bastante. (Sujeito: estudarmos bastante)
Parece que vai chover. (Sujeito: que vai chover)
É preciso que chova. (Sujeito: que chova)

2. fazer e ir, em orações que dão ideia de tempo, seguidos da conjunção que.
Faz dez anos que viajei à Europa. (Sujeito: que viajei à Europa)
Vai para (ou Vai em ou Vai por) dez anos que não a vejo. (Sujeito: que não a vejo)

* Observação: todos os sujeitos apontados são oracionais.

- Abundantes: são aqueles que possuem duas ou mais formas equivalentes, geralmente no particípio, em que, além
das formas regulares terminadas em -ado ou -ido, surgem as chamadas formas curtas (particípio irregular).
O particípio regular (terminado em “–do”) é utilizado na voz ativa, ou seja, com os verbos ter e haver; o irregular é em-
pregado na voz passiva, ou seja, com os verbos ser, ficar e estar. Observe:

Infinitivo Particípio Regular Particípio Irregular


Aceitar Aceitado Aceito
Acender Acendido Aceso
Anexar Anexado Anexo
Benzer Benzido Bento
Corrigir Corrigido Correto
Dispersar Dispersado Disperso

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LÍNGUA PORTUGUESA

Eleger Elegido Eleito


Envolver Envolvido Envolto
Imprimir Imprimido Impresso
Inserir Inserido Inserto
Limpar Limpado Limpo
Matar Matado Morto
Misturar Misturado Misto
Morrer Morrido Morto
Murchar Murchado Murcho
Pegar Pegado Pego
Romper Rompido Roto
Soltar Soltado Solto
Suspender Suspendido Suspenso
Tingir Tingido Tinto
Vagar Vagado Vago

* Importante:
- estes verbos e seus derivados possuem, apenas, o particípio irregular: abrir/aberto, cobrir/coberto, dizer/dito, escrever/
escrito, pôr/posto, ver/visto, vir/vindo.

- Anômalos: são aqueles que incluem mais de um radical em sua conjugação. Existem apenas dois: ser (sou, sois, fui) e
ir (fui, ia, vades).

- Auxiliares: São aqueles que entram na formação dos tempos compostos e das locuções verbais. O verbo principal
(aquele que exprime a ideia fundamental, mais importante), quando acompanhado de verbo auxiliar, é expresso numa das
formas nominais: infinitivo, gerúndio ou particípio.

Vou espantar todos!


(verbo auxiliar) (verbo principal no infinitivo)

Está chegando a hora!


(verbo auxiliar) (verbo principal no gerúndio)

* Observação: os verbos auxiliares mais usados são: ser, estar, ter e haver.

Conjugação dos Verbos Auxiliares

SER - Modo Indicativo

Presente Pret.Perfeito Pret. Imp. Pret.mais-que-perf. Fut.do Pres. Fut. Do Pretérito


sou fui era fora serei seria
és foste eras foras serás serias
é foi era fora será seria
somos fomos éramos fôramos seremos seríamos
sois fostes éreis fôreis sereis seríeis
são foram eram foram serão seriam

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LÍNGUA PORTUGUESA

SER - Modo Subjuntivo


Presente Pretérito Imperfeito Futuro
que eu seja se eu fosse quando eu for
que tu sejas se tu fosses quando tu fores
que ele seja se ele fosse quando ele for
que nós sejamos se nós fôssemos quando nós formos
que vós sejais se vós fôsseis quando vós fordes
que eles sejam se eles fossem quando eles forem

SER - Modo Imperativo


Afirmativo Negativo
sê tu não sejas tu
seja você não seja você
sejamos nós não sejamos nós
sede vós não sejais vós
sejam vocês não sejam vocês

SER - Formas Nominais

Infinitivo Impessoal Infinitivo Pessoal Gerúndio Particípio


ser ser eu sendo sido
seres tu
ser ele
sermos nós
serdes vós
serem eles

ESTAR - Modo Indicativo



Presente Pret. perf. Pret. Imp. Pret.mais-q-perf. Fut.doPres. Fut.doPreté.
estou estive estava estivera estarei estaria
estás estiveste estavas estiveras estarás estarias
está esteve estava estivera estará estaria
estamos estivemos estávamos estivéramos estaremos estaríamos
estais estivestes estáveis estivéreis estareis estaríeis
estão estiveram estavam estiveram estarão estariam

ESTAR - Modo Subjuntivo e Imperativo

Presente Pretérito Imperfeito Futuro Afirmativo Negativo


esteja estivesse estiver
estejas estivesses estiveres está estejas
esteja estivesse estiver esteja esteja
estejamos estivéssemos estivermos estejamos estejamos
estejais estivésseis estiverdes estai estejais
estejam estivessem estiverem estejam estejam

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LÍNGUA PORTUGUESA

ESTAR - Formas Nominais

Infinitivo Impessoal Infinitivo Pessoal Gerúndio Particípio


estar estar estando estado
estares
estar
estarmos
estardes
estarem

HAVER - Modo Indicativo

Presente Pret. Perf. Pret. Imp. Pret.Mais-Q-Perf. Fut.do Pres. Fut.doPreté.


hei houve havia houvera haverei haveria
hás houveste havias houveras haverás haverias
há houve havia houvera haverá haveria
havemos houvemos havíamos houvéramos haveremos haveríamos
haveis houvestes havíeis houvéreis havereis haveríeis
hão houveram haviam houveram haverão haveriam

HAVER - Modo Subjuntivo e Imperativo


Presente Pretérito Imperfeito Futuro Afirmativo Negativo
ja houvesse houver
hajas houvesses houveres há hajas
haja houvesse houver haja haja
hajamos houvéssemos houvermos hajamos hajamos
hajais houvésseis houverdes havei hajais
hajam houvessem houverem hajam hajam

HAVER - Formas Nominais


Infinitivo Impessoal Infinitivo Pessoal Gerúndio Particípio
haver haver havendo havido
haveres

haver

havermos
haverdes
haverem

TER - Modo Indicativo


Presente Pret. Perf. Pret. Imp. Preté.mais-q-perf. Fut. Do Pres. Fut. Do Preté.
tenho tive tinha tivera terei teria
tens tiveste tinhas tiveras terás terias
tem teve tinha tivera terá teria
temos tivemos tínhamos tivéramos teremos teríamos
tendes tivestes tínheis tivéreis tereis teríeis
têm tiveram tinham tiveram terão teriam

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LÍNGUA PORTUGUESA

TER - Modo Subjuntivo e Imperativo

Presente Pretérito Imperfeito Futuro Afirmativo Negativo


tenha tivesse tiver
tenhas tivesses tiveres tem tenhas
tenha tivesse tiver tenha tenha
tenhamos tivéssemos tivermos tenhamos tenhamos
tenhais tivésseis tiverdes tende tenhais
tenham tivessem tiverem tenham tenham

- Pronominais: São aqueles verbos que se conjugam com os pronomes oblíquos átonos me, te, se, nos, vos, se, na
mesma pessoa do sujeito, expressando reflexibilidade (pronominais acidentais) ou apenas reforçando a ideia já implícita no
próprio sentido do verbo (pronominais essenciais). Veja:

1. Essenciais: são aqueles que sempre se conjugam com os pronomes oblíquos me, te, se, nos, vos, se. São poucos:
abster-se, ater-se, apiedar-se, atrever-se, dignar-se, arrepender-se, etc. Nos verbos pronominais essenciais a reflexibilidade já
está implícita no radical do verbo. Por exemplo: Arrependi-me de ter estado lá.
A ideia é de que a pessoa representada pelo sujeito (eu) tem um sentimento (arrependimento) que recai sobre ela mes-
ma, pois não recebe ação transitiva nenhuma vinda do verbo; o pronome oblíquo átono é apenas uma partícula integrante
do verbo, já que, pelo uso, sempre é conjugada com o verbo. Diz-se que o pronome apenas serve de reforço da ideia refle-
xiva expressa pelo radical do próprio verbo.
Veja uma conjugação pronominal essencial (verbo e respectivos pronomes):
Eu me arrependo
Tu te arrependes
Ele se arrepende
Nós nos arrependemos
Vós vos arrependeis
Eles se arrependem

2. Acidentais: são aqueles verbos transitivos diretos em que a ação exercida pelo sujeito recai sobre o objeto repre-
sentado por pronome oblíquo da mesma pessoa do sujeito; assim, o sujeito faz uma ação que recai sobre ele mesmo. Em
geral, os verbos transitivos diretos ou transitivos diretos e indiretos podem ser conjugados com os pronomes mencionados,
formando o que se chama voz reflexiva. Por exemplo: A garota se penteava.
A reflexibilidade é acidental, pois a ação reflexiva pode ser exercida também sobre outra pessoa. Por exemplo: A garota
penteou-me.

* Observações:
- Por fazerem parte integrante do verbo, os pronomes oblíquos átonos dos verbos pronominais não possuem função
sintática.
- Há verbos que também são acompanhados de pronomes oblíquos átonos, mas que não são essencialmente prono-
minais - são os verbos reflexivos. Nos verbos reflexivos, os pronomes, apesar de se encontrarem na pessoa idêntica à do
sujeito, exercem funções sintáticas. Por exemplo:
Eu me feri. = Eu (sujeito) – 1.ª pessoa do singular; me (objeto direto) – 1.ª pessoa do singular

Modos Verbais

Dá-se o nome de modo às várias formas assumidas pelo verbo na expressão de um fato certo, real, verdadeiro. Existem
três modos:

Indicativo - indica uma certeza, uma realidade: Eu estudo para o concurso.


Subjuntivo - indica uma dúvida, uma possibilidade: Talvez eu estude amanhã.
Imperativo - indica uma ordem, um pedido: Estude, colega!

Formas Nominais

Além desses três modos, o verbo apresenta ainda formas que podem exercer funções de nomes (substantivo, adjetivo,
advérbio), sendo por isso denominadas formas nominais. Observe:

36
LÍNGUA PORTUGUESA

1-) Infinitivo
1.1-) Impessoal: exprime a significação do verbo de modo vago e indefinido, podendo ter valor e função de substan-
tivo. Por exemplo:
Viver é lutar. (= vida é luta)
É indispensável combater a corrupção. (= combate à)

O infinitivo impessoal pode apresentar-se no presente (forma simples) ou no passado (forma composta). Por exemplo:
É preciso ler este livro.
Era preciso ter lido este livro.

1.2-) Infinitivo Pessoal: é o infinitivo relacionado às três pessoas do discurso. Na 1.ª e 3.ª pessoas do singular, não
apresenta desinências, assumindo a mesma forma do impessoal; nas demais, flexiona-se da seguinte maneira:
2.ª pessoa do singular: Radical + ES = teres (tu)
1.ª pessoa do plural: Radical + MOS = termos (nós)
2.ª pessoa do plural: Radical + DES = terdes (vós)
3.ª pessoa do plural: Radical + EM = terem (eles)
Foste elogiado por teres alcançado uma boa colocação.

2-) Gerúndio: o gerúndio pode funcionar como adjetivo ou advérbio. Por exemplo:
Saindo de casa, encontrei alguns amigos. (função de advérbio)
Água fervendo, pele ardendo. (função de adjetivo)

Na forma simples (1), o gerúndio expressa uma ação em curso; na forma composta (2), uma ação concluída:
Trabalhando (1), aprenderás o valor do dinheiro.
Tendo trabalhado (2), aprendeu o valor do dinheiro.

* Quando o gerúndio é vício de linguagem (gerundismo), ou seja, uso exagerado e inadequado do gerúndio:
1- Enquanto você vai ao mercado, vou estar jogando futebol.
2 – Sim, senhora! Vou estar verificando!

Em 1, a locução “vou estar” + gerúndio é adequada, pois transmite a ideia de uma ação que ocorre no momento da
outra; em 2, essa ideia não ocorre, já que a locução verbal “vou estar verificando” refere-se a um futuro em andamento,
exigindo, no caso, a construção “verificarei” ou “vou verificar”.

3-) Particípio: quando não é empregado na formação dos tempos compostos, o particípio indica, geralmente, o resul-
tado de uma ação terminada, flexionando-se em gênero, número e grau. Por exemplo: Terminados os exames, os candidatos
saíram.

Quando o particípio exprime somente estado, sem nenhuma relação temporal, assume verdadeiramente a função de
adjetivo. Por exemplo: Ela é a aluna escolhida pela turma.

(Ziraldo)

Tempos Verbais

Tomando-se como referência o momento em que se fala, a ação expressa pelo verbo pode ocorrer em diversos tempos.

37
LÍNGUA PORTUGUESA

1. Tempos do Modo Indicativo


- Presente - Expressa um fato atual: Eu estudo neste colégio.
- Pretérito Imperfeito - Expressa um fato ocorrido num momento anterior ao atual, mas que não foi completamente
terminado: Ele estudava as lições quando foi interrompido.
- Pretérito Perfeito - Expressa um fato ocorrido num momento anterior ao atual e que foi totalmente terminado: Ele
estudou as lições ontem à noite.
- Pretérito-mais-que-perfeito - Expressa um fato ocorrido antes de outro fato já terminado: Ele já estudara as lições
quando os amigos chegaram. (forma simples).
- Futuro do Presente - Enuncia um fato que deve ocorrer num tempo vindouro com relação ao momento atual: Ele
estudará as lições amanhã.
- Futuro do Pretérito - Enuncia um fato que pode ocorrer posteriormente a um determinado fato passado: Se ele
pudesse, estudaria um pouco mais.

2. Tempos do Modo Subjuntivo


- Presente - Enuncia um fato que pode ocorrer no momento atual: É conveniente que estudes para o exame.
- Pretérito Imperfeito - Expressa um fato passado, mas posterior a outro já ocorrido: Eu esperava que ele vencesse o jogo.

Observação: o pretérito imperfeito é também usado nas construções em que se expressa a ideia de condição ou de-
sejo. Por exemplo: Se ele viesse ao clube, participaria do campeonato.

- Futuro do Presente - Enuncia um fato que pode ocorrer num momento futuro em relação ao atual: Quando ele vier
à loja, levará as encomendas.

Observação: o futuro do presente é também usado em frases que indicam possibilidade ou desejo. Por exemplo: Se
ele vier à loja, levará as encomendas.
** Há casos em que formas verbais de um determinado tempo podem ser utilizadas para indicar outro.
Em 1500, Pedro Álvares Cabral descobre o Brasil.
descobre = forma do presente indicando passado ( = descobrira/descobriu)

No próximo final de semana, faço a prova!


faço = forma do presente indicando futuro ( = farei)

Modo Indicativo

Presente do Indicativo
1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Desinência pessoal
CANTAR VENDER PARTIR
cantO vendO partO O
cantaS vendeS parteS S
canta vende parte -
cantaMOS vendeMOS partiMOS MOS
cantaIS vendeIS partIS IS
cantaM vendeM parteM M

Pretérito Perfeito do Indicativo


1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Desinência pessoal
CANTAR VENDER PARTIR
canteI vendI partI I
cantaSTE vendeSTE partISTE STE
cantoU vendeU partiU U
cantaMOS vendeMOS partiMOS MOS
cantaSTES vendeSTES partISTES STES
cantaRAM vendeRAM partiRAM RAM

38
LÍNGUA PORTUGUESA

Pretérito mais-que-perfeito

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Des. temporal Desinência pessoal
1.ª/2.ª e 3.ª conj.
CANTAR VENDER PARTIR
cantaRA vendeRA partiRA RA Ø
cantaRAS vendeRAS partiRAS RA S
cantaRA vendeRA partiRA RA Ø
cantáRAMOS vendêRAMOS partíRAMOS RA MOS
cantáREIS vendêREIS partíREIS RE IS
cantaRAM vendeRAM partiRAM RA M

Pretérito Imperfeito do Indicativo

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3ª. conjugação


CANTAR VENDER PARTIR
cantAVA vendIA partIA
cantAVAS vendIAS partAS
CantAVA vendIA partIA
cantÁVAMOS vendÍAMOS partÍAMOS
cantÁVEIS vendÍEIS partÍEIS
cantAVAM vendIAM partIAM

Futuro do Presente do Indicativo

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação


CANTAR VENDER PARTIR
cantar ei vender ei partir ei
cantar ás vender ás partir ás
cantar á vender á partir á
cantar emos vender emos partir emos
cantar eis vender eis partir eis
cantar ão vender ão partir ão

Futuro do Pretérito do Indicativo

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação


CANTAR VENDER PARTIR
cantarIA venderIA partirIA
cantarIAS venderIAS partirIAS
cantarIA venderIA partirIA
cantarÍAMOS venderÍAMOS partirÍAMOS
cantarÍEIS venderÍEIS partirÍEIS
cantarIAM venderIAM partirIAM

39
LÍNGUA PORTUGUESA

Presente do Subjuntivo

Para se formar o presente do subjuntivo, substitui-se a desinência -o da primeira pessoa do singular do presente do
indicativo pela desinência -E (nos verbos de 1.ª conjugação) ou pela desinência -A (nos verbos de 2.ª e 3.ª conjugação).

1.ª conjug. 2.ª conjug. 3.ª conju. Desinên. pessoal Des. temporal Des.temporal
1.ª conj. 2.ª/3.ª conj.
CANTAR VENDER PARTIR
cantE vendA partA E A Ø
cantES vendAS partAS E A S
cantE vendA partA E A Ø
cantEMOS vendAMOS partAMOS E A MOS
cantEIS vendAIS partAIS E A IS
cantEM vendAM partAM E A M

Pretérito Imperfeito do Subjuntivo

Para formar o imperfeito do subjuntivo, elimina-se a desinência -STE da 2.ª pessoa do singular do pretérito perfeito,
obtendo-se, assim, o tema desse tempo. Acrescenta-se a esse tema a desinência temporal -SSE mais a desinência de nú-
mero e pessoa correspondente.

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Des. temporal Desin. pessoal
1.ª /2.ª e 3.ª conj.
CANTAR VENDER PARTIR
cantaSSE vendeSSE partiSSE SSE Ø
cantaSSES vendeSSES partiSSES SSE S
cantaSSE vendeSSE partiSSE SSE Ø
cantáSSEMOS vendêSSEMOS partíSSEMOS SSE MOS
cantáSSEIS vendêSSEIS partíSSEIS SSE IS
cantaSSEM vendeSSEM partiSSEM SSE M

Futuro do Subjuntivo

Para formar o futuro do subjuntivo elimina-se a desinência -STE da 2.ª pessoa do singular do pretérito perfeito, ob-
tendo-se, assim, o tema desse tempo. Acrescenta-se a esse tema a desinência temporal -R mais a desinência de número e
pessoa correspondente.

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Des. temporal Desin. pessoal
1.ª /2.ª e 3.ª conj.
CANTAR VENDER PARTIR
cantaR vendeR partiR Ø
cantaRES vendeRES partiRES R ES
cantaR vendeR partiR R Ø
cantaRMOS vendeRMOS partiRMOS R MOS
cantaRDES vendeRDES partiRDES R DES
cantaREM vendeREM partiREM R EM

40
LÍNGUA PORTUGUESA

Modo Imperativo

Imperativo Afirmativo

Para se formar o imperativo afirmativo, toma-se do presente do indicativo a 2.ª pessoa do singular (tu) e a segunda
pessoa do plural (vós) eliminando-se o “S” final. As demais pessoas vêm, sem alteração, do presente do subjuntivo. Veja:

Presente do Indicativo Imperativo Afirmativo Presente do Subjuntivo


Eu canto --- Que eu cante
Tu cantas CantA tu Que tu cantes
Ele canta Cante você Que ele cante
Nós cantamos Cantemos nós Que nós cantemos
Vós cantais CantAI vós Que vós canteis
Eles cantam Cantem vocês Que eles cantem

Imperativo Negativo

Para se formar o imperativo negativo, basta antecipar a negação às formas do presente do subjuntivo.

Presente do Subjuntivo Imperativo Negativo

Que eu cante ---


Que tu cantes Não cantes tu
Que ele cante Não cante você
Que nós cantemos Não cantemos nós
Que vós canteis Não canteis vós
Que eles cantem Não cantem eles
Observações:
- No modo imperativo não faz sentido usar na 3.ª pessoa (singular e plural) as formas ele/eles, pois uma ordem, pedido
ou conselho só se aplicam diretamente à pessoa com quem se fala. Por essa razão, utiliza-se você/vocês.
- O verbo SER, no imperativo, faz excepcionalmente: sê (tu), sede (vós).

Infinitivo Pessoal

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação


CANTAR VENDER PARTIR
cantar vender partir
cantarES venderES partirES
cantar vender partir
cantarMOS venderMOS partirMOS
cantarDES venderDES partirDES
cantarEM venderEM partirEM

* Observações:
- o verbo parecer admite duas construções:
Elas parecem gostar de você. (forma uma locução verbal)
Elas parece gostarem de você. (verbo com sujeito oracional, correspondendo à construção: parece gostarem de você).

- o verbo pegar possui dois particípios (regular e irregular):


Elvis tinha pegado minhas apostilas.
Minhas apostilas foram pegas.

41
LÍNGUA PORTUGUESA

fontes de pesquisa: 3-) (POLÍCIA MILITAR/SP – OFICIAL ADMINISTRATIVO


http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf54. – VUNESP/2014) Considere o trecho a seguir.
php Já __________ alguns anos que estudos a respeito da
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac- utilização abusiva dos smartphones estão sendo desen-
coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. volvidos. Os especialistas acreditam _________ motivos para
Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Cere- associar alguns comportamentos dos adolescentes ao uso
ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo: prolongado desses aparelhos, e _________ alertado os pais
Saraiva, 2010. para que avaliem a necessidade de estabelecer limites aos
Português: novas palavras: literatura, gramática, reda- seus filhos.
ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000. De acordo com a norma-padrão da língua portuguesa,
as lacunas do texto devem ser preenchidas, correta e res-
pectivamente, com:
Questões sobre Verbo (A) faz … haver … têm
(B) fazem … haver … tem
1-) (TRE/MS - ESTÁGIO – JORNALISMO - TRE/MS – (C) faz … haverem … têm
2014) A assertiva correta quanto à conjugação verbal é: (D) fazem … haverem … têm
A) Houveram eleições em outros países este ano. (E) faz … haverem … tem
B) Se eu vir você por aí, acabou.
C) Tinha chego atrasado vinte minutos. 3-) Já FAZ (sentido de tempo: não sofre flexão) alguns
D) Fazem três anos que não tiro férias. anos que estudos a respeito da utilização abusiva dos
E) Esse homem possue muitos bens. smartphones estão sendo desenvolvidos. Os especialistas
acreditam HAVER (sentido de existir: não varia) motivos
1-) Correções à frente: para associar alguns comportamentos dos adolescentes ao
A) Houveram eleições em outros países este ano = uso prolongado desses aparelhos, e TÊM (concorda com o
houve termo “os especialistas”) alertado os pais para que avaliem
C) Tinha chego atrasado vinte minutos = tinha chegado a necessidade de estabelecer limites aos seus filhos.
D) Fazem três anos que não tiro férias = faz três anos Temos: faz, haver, têm.
RESPOSTA: “A”.
E) Esse homem possue muitos bens = possui
RESPOSTA: “B”.
Vozes do Verbo
2-) (POLÍCIA CIVIL/SC – AGENTE DE POLÍCIA – ACA-
Dá-se o nome de voz à maneira como se apresenta a
FE/2014) Complete as lacunas com os verbos, tempos e
ação expressa pelo verbo em relação ao sujeito, indicando
modos indicados entre parênteses, fazendo a devida con-
se este é paciente ou agente da ação. Importante lembrar
cordância.
que voz verbal não é flexão, mas aspecto verbal. São três
• O juiz agrário ainda não _________ no conflito porque
as vozes verbais:
surgiram fatos novos de ontem para hoje. (intervir - preté-
rito perfeito do indicativo) - Ativa = quando o sujeito é agente, isto é, pratica a
• Uns poucos convidados ___________-se com os vídeos ação expressa pelo verbo:
postados no facebook. (entreter - pretérito imperfeito do
indicativo) Ele fez o tra-
• Representantes do PCRT somente serão aceitos na balho.
composição da chapa quando se _________ de criticar a sujeito agente ação objeto
atual diretoria do clube, (abster-se - futuro do subjuntivo) (paciente)
A sequência correta, de cima para baixo, é:
A-) interveio - entretinham - abstiverem - Passiva = quando o sujeito é paciente, recebendo a
B-) interviu - entretiveram - absterem ação expressa pelo verbo:
C-) intervém - entreteram - abstêm
D-) interviera - entretêm - abstiverem O trabalho foi feito p o r
E-) intervirá - entretenham - abstiveram ele.
sujeito paciente ação agente
da passiva
2-) O verbo “intervir” deve ser conjugado como o ver-
bo “vir”. Este, no pretérito perfeito do Indicativo fica “veio”, - Reflexiva = quando o sujeito é, ao mesmo tempo,
portanto, “interveio” (não existe “interviu”, já que ele não agente e paciente, isto é, pratica e recebe a ação:
deriva do verbo “ver”). Descartemos a alternativa B. Como
não há outro item com a mesma opção, chegamos à res-
posta rapidamente!
RESPOSTA: “A”.

42
LÍNGUA PORTUGUESA

O menino feriu-se. Conversão da Voz Ativa na Voz Passiva

* Observação: não confundir o emprego reflexivo do Pode-se mudar a voz ativa na passiva sem alterar subs-
verbo com a noção de reciprocidade: tancialmente o sentido da frase.
Os lutadores feriram-se. (um ao outro)
Nós nos amamos. (um ama o outro) O concurseiro comprou a apostila. (Voz Ativa)
Sujeito da Ativa objeto Direto
Formação da Voz Passiva
A apostila foi comprada pelo concurseiro.
A voz passiva pode ser formada por dois processos: (Voz Passiva)
analítico e sintético. Sujeito da Passiva Agente da Passi-
va
1- Voz Passiva Analítica = Constrói-se da seguinte ma-
neira: Observe que o objeto direto será o sujeito da passiva; o
sujeito da ativa passará a agente da passiva, e o verbo ativo
Verbo SER + particípio do verbo principal. Por exemplo: assumirá a forma passiva, conservando o mesmo tempo.
A escola será pintada pelos alunos. (na ativa teríamos: os Observe:
alunos pintarão a escola) - Os mestres têm constantemente aconselhado os alu-
O trabalho é feito por ele. (na ativa: ele faz o trabalho) nos.
Os alunos têm sido constantemente aconselhados pelos
* Observação: o agente da passiva geralmente é acom- mestres.
panhado da preposição por, mas pode ocorrer a constru-
ção com a preposição de. Por exemplo: A casa ficou cercada - Eu o acompanharei.
de soldados. Ele será acompanhado por mim.
- Pode acontecer de o agente da passiva não estar ex- * Observação: quando o sujeito da voz ativa for inde-
plícito na frase: A exposição será aberta amanhã. terminado, não haverá complemento agente na passiva.
Por exemplo: Prejudicaram-me. / Fui prejudicado.
- A variação temporal é indicada pelo verbo auxiliar
(SER), pois o particípio é invariável. Observe a transforma-
** Saiba que:
ção das frases seguintes:
- com os verbos neutros (nascer, viver, morrer, dormir,
acordar, sonhar, etc.) não há voz ativa, passiva ou reflexiva,
a) Ele fez o trabalho. (pretérito perfeito do Indicativo)
porque o sujeito não pode ser visto como agente, paciente
O trabalho foi feito por ele. (verbo ser no pretérito per-
ou agente-paciente.
feito do Indicativo, assim como o verbo principal da voz
ativa)
Fontes de pesquisa:
b) Ele faz o trabalho. (presente do indicativo) http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf54.
O trabalho é feito por ele. (ser no presente do indica- php
tivo) SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
c) Ele fará o trabalho. (futuro do presente) Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Cere-
O trabalho será feito por ele. (futuro do presente) ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
Saraiva, 2010.
- Nas frases com locuções verbais, o verbo SER assume Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-
o mesmo tempo e modo do verbo principal da voz ativa. ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.
Observe a transformação da frase seguinte:
O vento ia levando as folhas. (gerúndio)
As folhas iam sendo levadas pelo vento. (gerúndio) Questões

2- Voz Passiva Sintética = A voz passiva sintética - ou 1-) (TRIBUNAL DE JUSTIÇA/GO – ANALISTA JUDICIÁ-
pronominal - constrói-se com o verbo na 3.ª pessoa, segui- RIO – FGV/2014 - adaptada) A frase “que foi trazida pelo
do do pronome apassivador “se”. Por exemplo: instituto Endeavor” equivale, na voz ativa, a:
Abriram-se as inscrições para o concurso. (A) que o instituto Endeavor traz;
Destruiu-se o velho prédio da escola. (B) que o instituto Endeavor trouxe;
(C) trazida pelo instituto Endeavor;
* Observação: o agente não costuma vir expresso na (D) que é trazida pelo instituto Endeavor;
voz passiva sintética. (E) que traz o instituto Endeavor.

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LÍNGUA PORTUGUESA

1-) Se na voz passiva temos dois verbos, na ativa tere- Regras ortográficas
mos um: “que o instituto Endeavor trouxe” (manter o tem-
po verbal no pretérito – assim como na passiva). O fonema s
RESPOSTA: “B”.
S e não C/Ç

2-) (PRODAM/AM – ASSISTENTE – FUNCAB/2014 - palavras substantivadas derivadas de verbos com radi-
adaptada) Ao passarmos a frase “...e É CONSIDERADO por cais em nd, rg, rt, pel, corr e sent: pretender - pretensão /
muitos o maior maratonista de todos os tempos” para a expandir - expansão / ascender - ascensão / inverter - inver-
voz ativa, encontramos a seguinte forma verbal: são / aspergir - aspersão / submergir - submersão / divertir
A) consideravam. - diversão / impelir - impulsivo / compelir - compulsório /
B) consideram. repelir - repulsa / recorrer - recurso / discorrer - discurso /
C) considerem. sentir - sensível / consentir – consensual.
D) considerarão.
E) considerariam.
SS e não C e Ç
2-) É CONSIDERADO por muitos o maior maratonista
nomes derivados dos verbos cujos radicais terminem
de todos os tempos = dois verbos na voz passiva, então na
em gred, ced, prim ou com verbos terminados por tir ou
ativa teremos UM: muitos o consideram o maior marato-
nista de todos os tempos. -meter: agredir - agressivo / imprimir - impressão / admitir
RESPOSTA: “B”. - admissão / ceder - cessão / exceder - excesso / percutir -
percussão / regredir - regressão / oprimir - opressão / com-
prometer - compromisso / submeter – submissão.
3-) (TRT-16ª REGIÃO/MA - ANALISTA JUDICIÁRIO –
ÁREA ADMINISTRATIVA – FCC/2014) *quando o prefixo termina com vogal que se junta com
Transpondo-se para a voz passiva a frase “vou glosar a palavra iniciada por “s”. Exemplos: a + simétrico - assimé-
uma observação de Machado de Assis”, a forma verbal re- trico / re + surgir – ressurgir.
sultante deverá ser *no pretérito imperfeito simples do subjuntivo. Exem-
(A) terei glosado plos: ficasse, falasse.
(B) seria glosada
(C) haverá de ser glosada C ou Ç e não S e SS
(D) será glosada
(E) terá sido glosada vocábulos de origem árabe: cetim, açucena, açúcar.
vocábulos de origem tupi, africana ou exótica: cipó, Ju-
3-) “vou glosar uma observação de Machado de Assis” çara, caçula, cachaça, cacique.
– “vou glosar” expressa “glosarei”, então teremos na pas- sufixos aça, aço, ação, çar, ecer, iça, nça, uça, uçu,
siva: uma observação de Machado de Assis será glosada uço: barcaça, ricaço, aguçar, empalidecer, carniça, caniço,
por mim. esperança, carapuça, dentuço.
RESPOSTA: “D”. nomes derivados do verbo ter: abster - abstenção / de-
ter - detenção / ater - atenção / reter – retenção.
após ditongos: foice, coice, traição.
palavras derivadas de outras terminadas em -te, to(r):
ORTOGRAFIA marte - marciano / infrator - infração / absorto – absorção.

O fonema z
A ortografia é a parte da Fonologia que trata da correta
S e não Z
grafia das palavras. É ela quem ordena qual som devem
ter as letras do alfabeto. Os vocábulos de uma língua são
grafados segundo acordos ortográficos. sufixos: ês, esa, esia, e isa, quando o radical é subs-
tantivo, ou em gentílicos e títulos nobiliárquicos: freguês,
A maneira mais simples, prática e objetiva de apren- freguesa, freguesia, poetisa, baronesa, princesa.
der ortografia é realizar muitos exercícios, ver as palavras, sufixos gregos: ase, ese, ise e ose: catequese, metamor-
familiarizando-se com elas. O conhecimento das regras é fose.
necessário, mas não basta, pois há inúmeras exceções e, formas verbais pôr e querer: pôs, pus, quisera, quis, qui-
em alguns casos, há necessidade de conhecimento de eti- seste.
mologia (origem da palavra). nomes derivados de verbos com radicais terminados
em “d”: aludir - alusão / decidir - decisão / empreender -
empresa / difundir – difusão.

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LÍNGUA PORTUGUESA

diminutivos cujos radicais terminam com “s”: Luís - Lui- CH e não X


sinho / Rosa - Rosinha / lápis – lapisinho.
após ditongos: coisa, pausa, pouso, causa. palavras de origem estrangeira: chave, chumbo, chassi,
verbos derivados de nomes cujo radical termina com mochila, espadachim, chope, sanduíche, salsicha.
“s”: anális(e) + ar - analisar / pesquis(a) + ar – pesquisar.
As letras “e” e “i”
Z e não S
Ditongos nasais são escritos com “e”: mãe, põem. Com
sufixos “ez” e “eza” das palavras derivadas de adjetivo: “i”, só o ditongo interno cãibra.
macio - maciez / rico – riqueza / belo – beleza. verbos que apresentam infinitivo em -oar, -uar são
sufixos “izar” (desde que o radical da palavra de ori- escritos com “e”: caçoe, perdoe, tumultue. Escrevemos com
gem não termine com s): final - finalizar / concreto – con- “i”, os verbos com infinitivo em -air, -oer e -uir: trai, dói,
cretizar. possui, contribui.
consoante de ligação se o radical não terminar com “s”:
pé + inho - pezinho / café + al - cafezal * Atenção para as palavras que mudam de sentido
quando substituímos a grafia “e” pela grafia “i”: área (super-
Exceção: lápis + inho – lapisinho. fície), ária (melodia) / delatar (denunciar), dilatar (expandir)
/ emergir (vir à tona), imergir (mergulhar) / peão (de estân-
O fonema j cia, que anda a pé), pião (brinquedo).

G e não J * Dica:
- Se o dicionário ainda deixar dúvida quanto à orto-
palavras de origem grega ou árabe: tigela, girafa, ges- grafia de uma palavra, há a possibilidade de consultar o
so. Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP), ela-
estrangeirismo, cuja letra G é originária: sargento, gim. borado pela Academia Brasileira de Letras. É uma obra de
terminações: agem, igem, ugem, ege, oge (com pou- referência até mesmo para a criação de dicionários, pois
cas exceções): imagem, vertigem, penugem, bege, foge. traz a grafia atualizada das palavras (sem o significado). Na
Internet, o endereço é www.academia.org.br.
Exceção: pajem.
Informações importantes
terminações: ágio, égio, ígio, ógio, ugio: sortilégio, - Formas variantes são formas duplas ou múltiplas,
litígio, relógio, refúgio. equivalentes: aluguel/aluguer, relampejar/relampear/re-
verbos terminados em ger/gir: emergir, eleger, fugir, lampar/relampadar.
mugir. - Os símbolos das unidades de medida são escritos
depois da letra “r” com poucas exceções: emergir, sur- sem ponto, com letra minúscula e sem “s” para indicar plu-
gir. ral, sem espaço entre o algarismo e o símbolo: 2kg, 20km,
depois da letra “a”, desde que não seja radical termina- 120km/h.
do com j: ágil, agente. Exceção para litro (L): 2 L, 150 L.
- Na indicação de horas, minutos e segundos, não deve
J e não G haver espaço entre o algarismo e o símbolo: 14h, 22h30min,
14h23’34’’(= quatorze horas, vinte e três minutos e trinta e
palavras de origem latinas: jeito, majestade, hoje. quatro segundos).
palavras de origem árabe, africana ou exótica: jiboia, - O símbolo do real antecede o número sem espaço:
manjerona. R$1.000,00. No cifrão deve ser utilizada apenas uma barra
palavras terminadas com aje: ultraje. vertical ($).

O fonema ch Fontes de pesquisa:


http://www.pciconcursos.com.br/aulas/portugues/or-
X e não CH tografia
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
palavras de origem tupi, africana ou exótica: abacaxi, coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
xucro. Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Cere-
palavras de origem inglesa e espanhola: xampu, lagar- ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
tixa. Saraiva, 2010.
depois de ditongo: frouxo, feixe. Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-
depois de “en”: enxurrada, enxada, enxoval. ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.

Exceção: quando a palavra de origem não derive de


outra iniciada com ch - Cheio - (enchente)

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LÍNGUA PORTUGUESA

Hífen ** O hífen é suprimido quando para formar outros ter-


mos: reaver, inábil, desumano, lobisomem, reabilitar.
O hífen é um sinal diacrítico (que distingue) usado para
ligar os elementos de palavras compostas (como ex-presi- Lembrete da Zê!
dente, por exemplo) e para unir pronomes átonos a verbos Ao separar palavras na translineação (mudança de li-
(ofereceram-me; vê-lo-ei). Serve igualmente para fazer a nha), caso a última palavra a ser escrita seja formada por
translineação de palavras, isto é, no fim de uma linha, se- hífen, repita-o na próxima linha. Exemplo: escreverei anti-
parar uma palavra em duas partes (ca-/sa; compa-/nheiro). -inflamatório e, ao final, coube apenas “anti-”. Na próxima
linha escreverei: “-inflamatório” (hífen em ambas as linhas).
Uso do hífen que continua depois da Reforma Or-
tográfica: Não se emprega o hífen:

1. Em palavras compostas por justaposição que formam 1. Nas formações em que o prefixo ou falso prefixo
uma unidade semântica, ou seja, nos termos que se unem termina em vogal e o segundo termo inicia-se em “r” ou
para formarem um novo significado: tio-avô, porto-ale- “s”. Nesse caso, passa-se a duplicar estas consoantes: antir-
grense, luso-brasileiro, tenente-coronel, segunda- -fei- religioso, contrarregra, infrassom, microssistema, minissaia,
ra, conta-gotas, guarda-chuva, arco-íris, primeiro-ministro, microrradiografia, etc.
azul-escuro.
2. Nas constituições em que o prefixo ou pseudopre-
2. Em palavras compostas por espécies botânicas e fixo termina em vogal e o segundo termo inicia-se com
zoológicas: couve-flor, bem-te-vi, bem-me-quer, abóbora- vogal diferente: antiaéreo, extraescolar, coeducação, autoes-
-menina, erva-doce, feijão-verde. trada, autoaprendizagem, hidroelétrico, plurianual, autoes-
cola, infraestrutura, etc.
3. Nos compostos com elementos além, aquém, re-
cém e sem: além-mar, recém-nascido, sem-número, recém- 3. Nas formações, em geral, que contêm os prefixos
-casado. “dês” e “in” e o segundo elemento perdeu o “h” inicial: de-
sumano, inábil, desabilitar, etc.
4. No geral, as locuções não possuem hífen, mas algu-
mas exceções continuam por já estarem consagradas pelo 4. Nas formações com o prefixo “co”, mesmo quando o
uso: cor-de-rosa, arco-da-velha, mais-que-perfeito, pé-de- segundo elemento começar com “o”: cooperação, coobriga-
meia, água-de-colônia, queima-roupa, deus-dará. ção, coordenar, coocupante, coautor, coedição, coexistir, etc.

5. Nos encadeamentos de vocábulos, como: ponte Rio- 5. Em certas palavras que, com o uso, adquiriram noção
Niterói, percurso Lisboa-Coimbra-Porto e nas combinações de composição: pontapé, girassol, paraquedas, paraquedis-
históricas ou ocasionais: Áustria-Hungria, Angola-Brasil, ta, etc.
etc.
6. Em alguns compostos com o advérbio “bem”: benfei-
6. Nas formações com os prefixos hiper-, inter- e su- to, benquerer, benquerido, etc.
per- quando associados com outro termo que é iniciado
por “r”: hiper-resistente, inter-racial, super-racional, etc. - Os prefixos pós, pré e pró, em suas formas corres-
pondentes átonas, aglutinam-se com o elemento seguinte,
7. Nas formações com os prefixos ex-, vice-: ex-diretor, não havendo hífen: pospor, predeterminar, predeterminado,
ex-presidente, vice-governador, vice-prefeito. pressuposto, propor.
- Escreveremos com hífen: anti-horário, anti-infeccio-
8. Nas formações com os prefixos pós-, pré- e pró-: so, auto-observação, contra-ataque, semi-interno, sobre-
pré-natal, pré-escolar, pró-europeu, pós-graduação, etc. -humano, super-realista, alto-mar.
- Escreveremos sem hífen: pôr do sol, antirreforma,
9. Na ênclise e mesóclise: amá-lo, deixá-lo, dá-se, abra- antisséptico, antissocial, contrarreforma, minirrestaurante,
ça-o, lança-o e amá-lo-ei, falar-lhe-ei, etc. ultrassom, antiaderente, anteprojeto, anticaspa, antivírus,
autoajuda, autoelogio, autoestima, radiotáxi.
10. Nas formações em que o prefixo tem como se-
gundo termo uma palavra iniciada por “h”: sub-hepático, Fontes de pesquisa:
geo--história, neo-helênico, extra-humano, semi-hospitalar, http://www.pciconcursos.com.br/aulas/portugues/or-
super-homem. tografia
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
11. Nas formações em que o prefixo ou pseudoprefixo coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
termina com a mesma vogal do segundo elemento: micro-
-ondas, eletro-ótica, semi-interno, auto-observação, etc.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Questões Armandinho, personagem do cartunista Alexandre


Beck, sabe perfeitamente empregar os parônimos “cestas”
1-) (TRE/MS - ESTÁGIO – JORNALISMO - TRE/MS – 2014) “sestas” e “sextas”. Quanto ao emprego de parônimos, da-
De acordo com a nova ortografia, assinale o item em que das as frases abaixo,
todas as palavras estão corretas: I. O cidadão se dirigia para sua _____________ eleitoral.
A) autoajuda – anti-inflamatório – extrajudicial. II. A zona eleitoral ficava ___________ 200 metros de um
B) supracitado – semi-novo – telesserviço. posto policial.
C) ultrassofisticado – hidro-elétrica – ultra-som. III. O condutor do automóvel __________ a lei seca.
D) contrarregra – autopista – semi-aberto. IV. Foi encontrada uma __________ soma de dinheiro no
E) contrarrazão – infra-estrutura – coprodutor. carro.
V. O policial anunciou o __________ delito.
1-) Correção:
A) autoajuda – anti-inflamatório – extrajudicial = correta Assinale a alternativa cujos vocábulos preenchem cor-
B) supracitado – semi-novo – telesserviço = seminovo retamente as lacunas das frases.
C) ultrassofisticado – hidro-elétrica – ultra-som = hi- A) seção, acerca de, infligiu, vultosa, fragrante.
droelétrica, ultrassom B) seção, acerca de, infligiu, vultuosa, flagrante.
D) contrarregra – autopista – semi-aberto = semiaberto C) sessão, a cerca de, infringiu, vultosa, fragrante.
E) contrarrazão – infra-estrutura – coprodutor = infraes- D) seção, a cerca de, infringiu, vultosa, flagrante.
trutura E) sessão, a cerca de, infligiu, vultuosa, flagrante.
RESPOSTA: “A”.
3-) Questão que envolve ortografia.
I. O cidadão se dirigia para sua SEÇÃO eleitoral. (setor)
2-) (TRE/MS - ESTÁGIO – JORNALISMO - TRE/MS – 2014) II. A zona eleitoral ficava A CERCA DE 200 metros de um
De acordo com a nova ortografia, assinale o item em que
posto policial. (= aproximadamente)
todas as palavras estão corretas:
III. O condutor do automóvel INFRINGIU a lei seca. (re-
A) autoajuda – anti-inflamatório – extrajudicial.
lacione com infrator)
B) supracitado – semi-novo – telesserviço.
IV. Foi encontrada uma VULTOSA soma de dinheiro no
C) ultrassofisticado – hidro-elétrica – ultra-som.
carro. (de grande vulto, volumoso)
D) contrarregra – autopista – semi-aberto.
V. O policial anunciou o FLAGRANTE delito. (relacione
E) contrarrazão – infra-estrutura – coprodutor.
com “pego no flagra”)
2-) Correção: Seção / a cerca de / infringiu / vultosa / flagrante
A) autoajuda – anti-inflamatório – extrajudicial = correta RESPOSTA: “D”.
B) supracitado – semi-novo – telesserviço = seminovo
C) ultrassofisticado – hidro-elétrica – ultra-som = hi-
droelétrica, ultrassom
D) contrarregra – autopista – semi-aberto = semiaberto ACENTUAÇÃO
E) contrarrazão – infra-estrutura – coprodutor = infraes-
trutura
RESPOSTA: “A”.
Quanto à acentuação, observamos que algumas pala-
vras têm acento gráfico e outras não; na pronúncia, ora se
3-) (CASAL/AL - ADMINISTRADOR DE REDE - COPEVE/ dá maior intensidade sonora a uma sílaba, ora a outra. Por
UFAL/2014) isso, vamos às regras!

Regras básicas – Acentuação tônica

A acentuação tônica está relacionada à intensidade


com que são pronunciadas as sílabas das palavras. Aquela
que se dá de forma mais acentuada, conceitua-se como sí-
laba tônica. As demais, como são pronunciadas com menos
intensidade, são denominadas de átonas.
De acordo com a tonicidade, as palavras são classifica-
das como:
Oxítonas – São aquelas cuja sílaba tônica recai sobre
a última sílaba. Ex.: café – coração – Belém – atum – caju –
papel

Paroxítonas – São aquelas em que a sílaba tônica recai


na penúltima sílaba. Ex.: útil – tórax – táxi – leque – sapato
– passível

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LÍNGUA PORTUGUESA

Proparoxítonas - São aquelas cuja sílaba tônica está ** Alerta da Zê! Cuidado: Se os ditongos abertos esti-
na antepenúltima sílaba. Ex.: lâmpada – câmara – tímpano verem em uma palavra oxítona (herói) ou monossílaba (céu)
– médico – ônibus ainda são acentuados: dói, escarcéu.

Há vocábulos que possuem mais de uma sílaba, mas Antes Agora


em nossa língua existem aqueles com uma sílaba somente:
são os chamados monossílabos. assembléia assembleia
idéia ideia
Os acentos
geléia geleia
acento agudo (´) – Colocado sobre as letras “a” e “i”, jibóia jiboia
“u” e “e” do grupo “em” - indica que estas letras represen- apóia (verbo apoiar) apoia
tam as vogais tônicas de palavras como pá, caí, público.
paranóico paranoico
Sobre as letras “e” e “o” indica, além da tonicidade, timbre
aberto: herói – médico – céu (ditongos abertos).
Acento Diferencial
acento circunflexo (^) – colocado sobre as letras “a”,
“e” e “o” indica, além da tonicidade, timbre fechado: tâma-
Representam os acentos gráficos que, pelas regras de
ra – Atlântico – pêsames – supôs .
acentuação, não se justificariam, mas são utilizados para
acento grave (`) – indica a fusão da preposição “a”
diferenciar classes gramaticais entre determinadas palavras
com artigos e pronomes: à – às – àquelas – àqueles
e/ou tempos verbais. Por exemplo:
trema ( ¨ ) – De acordo com a nova regra, foi totalmen-
Pôr (verbo) X por (preposição) / pôde (pretérito perfeito
te abolido das palavras. Há uma exceção: é utilizado em
de Indicativo do verbo “poder”) X pode (presente do Indica-
palavras derivadas de nomes próprios estrangeiros: mülle-
tivo do mesmo verbo).
riano (de Müller)
Se analisarmos o “pôr” - pela regra das monossílabas:
til (~) – indica que as letras “a” e “o” representam vo-
terminada em “o” seguida de “r” não deve ser acentuada,
gais nasais: oração – melão – órgão – ímã
mas nesse caso, devido ao acento diferencial, acentua-se,
para que saibamos se se trata de um verbo ou preposição.
Regras fundamentais
Os demais casos de acento diferencial não são mais
utilizados: para (verbo), para (preposição), pelo (substanti-
Palavras oxítonas:
vo), pelo (preposição). Seus significados e classes gramati-
Acentuam-se todas as oxítonas terminadas em: “a”, “e”,
cais são definidos pelo contexto.
“o”, “em”, seguidas ou não do plural(s): Pará – café(s) – ci-
Polícia para o trânsito para realizar blitz. = o primeiro
pó(s) – Belém.
“para” é verbo; o segundo, preposição (com relação de fi-
Esta regra também é aplicada aos seguintes casos:
nalidade).
- Monossílabos tônicos terminados em “a”, “e”, “o”, se-
** Quando, na frase, der para substituir o “por” por
guidos ou não de “s”: pá – pé – dó – há
“colocar”, estaremos trabalhando com um verbo, portanto:
- Formas verbais terminadas em “a”, “e”, “o” tônicos,
“pôr”; nos outros casos, “por” preposição. Ex: Faço isso por
seguidas de lo, la, los, las: respeitá-lo, recebê-lo, compô-lo
você. / Posso pôr (colocar) meus livros aqui?
Paroxítonas:
Regra do Hiato:
Acentuam-se as palavras paroxítonas terminadas em:
- i, is: táxi – lápis – júri
Quando a vogal do hiato for “i” ou “u” tônicos, for a se-
- us, um, uns: vírus – álbuns – fórum
gunda vogal do hiato, acompanhado ou não de “s”, haverá
- l, n, r, x, ps: automóvel – elétron - cadáver – tórax –
acento. Ex.: saída – faísca – baú – país – Luís
fórceps
Não se acentuam o “i” e o “u” que formam hiato quan-
- ã, ãs, ão, ãos: ímã – ímãs – órfão – órgãos
do seguidos, na mesma sílaba, de l, m, n, r ou z. Ra-ul, Lu-iz,
- ditongo oral, crescente ou decrescente, seguido ou
sa-ir, ju-iz
não de “s”: água – pônei – mágoa – memória
Não se acentuam as letras “i” e “u” dos hiatos se esti-
verem seguidas do dígrafo nh. Ex: ra-i-nha, ven-to-i-nha.
** Dica: Memorize a palavra LINURXÃO. Para quê? Re-
Não se acentuam as letras “i” e “u” dos hiatos se vierem
pare que esta palavra apresenta as terminações das paro-
precedidas de vogal idêntica: xi-i-ta, pa-ra-cu-u-ba
xítonas que são acentuadas: L, I N, U (aqui inclua UM =
fórum), R, X, Ã, ÃO. Assim ficará mais fácil a memorização!
Observação importante:
Regras especiais:
Não serão mais acentuados “i” e “u” tônicos, formando
Os ditongos de pronúncia aberta “ei”, “oi” (ditongos
hiato quando vierem depois de ditongo (nas paroxítonas):
abertos), que antes eram acentuados, perderam o acento
de acordo com a nova regra, mas desde que estejam em
palavras paroxítonas.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Antes Agora Questões

bocaiúva bocaiuva 1-) (PREFEITURA DE SÃO PAULO/SP – AUDITOR FISCAL


feiúra feiura TRIBUTÁRIO MUNICIPAL – CETRO/2014 - adaptada) Assi-
nale a alternativa que contém duas palavras acentuadas
Sauípe Sauipe
conforme a mesma regra.
(A) “Hambúrgueres” e “repórter”.
O acento pertencente aos encontros “oo” e “ee” foi
(B) “Inacreditáveis” e “repórter”.
abolido:
(C) “Índice” e “dólares”.
(D) “Inacreditáveis” e “atribuídos”.
Antes Agora (E) “Atribuídos” e “índice”.
crêem creem
1-)
lêem leem
(A) “Hambúrgueres” = proparoxítona / “repórter” = pa-
vôo voo roxítona
enjôo enjoo (B) “Inacreditáveis” = paroxítona / “repórter” = paro-
xítona
** Dica: Memorize a palavra CREDELEVÊ. São os verbos (C) “Índice” = proparoxítona / “dólares” = proparoxí-
que, no plural, dobram o “e”, mas que não recebem mais tona
acento como antes: CRER, DAR, LER e VER. (D) “Inacreditáveis” = paroxítona / “atribuídos” = regra
Repare: do hiato
1-) O menino crê em você. / Os meninos creem em você. (E) “Atribuídos” = regra do hiato / “índice” = proparo-
2-) Elza lê bem! / Todas leem bem! xítona
3-) Espero que ele dê o recado à sala. / Esperamos que RESPOSTA: “B”.
os garotos deem o recado!
4-) Rubens vê tudo! / Eles veem tudo! 2-) (SEFAZ/RS – AUDITOR FISCAL DA RECEITA FEDERAL
Cuidado! Há o verbo vir: Ele vem à tarde! / Eles vêm à – FUNDATEC/2014 - adaptada)
tarde! Analise as afirmações que são feitas sobre acentuação
As formas verbais que possuíam o acento tônico na gráfica.
raiz, com “u” tônico precedido de “g” ou “q” e seguido de I. Caso o acento das palavras ‘trânsito’ e ‘específicos’
“e” ou “i” não serão mais acentuadas: seja retirado, essas continuam sendo palavras da língua
portuguesa.
II. A regra que explica a acentuação das palavras ‘vá-
Antes Depois rios’ e ‘país’ não é a mesma.
apazigúe (apaziguar) apazigue III. Na palavra ‘daí’, há um ditongo decrescente.
averigúe (averiguar) averigue IV. Acentua-se a palavra ‘vêm’ para diferenciá-la, em si-
tuação de uso, quanto à flexão de número.
argúi (arguir) argui Quais estão corretas?
A) Apenas I e III.
Acentuam-se os verbos pertencentes a terceira pessoa B) Apenas II e IV.
do plural de: ele tem – eles têm / ele vem – eles vêm (verbo C) Apenas I, II e IV.
vir) D) Apenas II, III e IV.
E) I, II, III e IV.
A regra prevalece também para os verbos conter, obter,
reter, deter, abster: ele contém – eles contêm, ele obtém – eles 2-)
obtêm, ele retém – eles retêm, ele convém – eles convêm. I. Caso o acento das palavras ‘trânsito’ e ‘específicos’
seja retirado, essas continuam sendo palavras da língua
Fontes de pesquisa: portuguesa = teremos “transito” e “especifico” – serão ver-
http://www.brasilescola.com/gramatica/acentuacao. bos (correta)
htm II. A regra que explica a acentuação das palavras ‘vá-
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac- rios’ e ‘país’ não é a mesma = vários é paroxítona terminada
coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. em ditongo; país é a regra do hiato (correta)
Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Cere- III. Na palavra ‘daí’, há um ditongo decrescente = há um
ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo: hiato, por isso a acentuação (da - í) = incorreta.
Saraiva, 2010. IV. Acentua-se a palavra ‘vêm’ para diferenciá-la, em
situação de uso, quanto à flexão de número = “vêm” é uti-
lizado para a terceira pessoa do plural (correta)
RESPOSTA: “C”.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Dois pontos (:)


PONTUAÇÃO
1- Antes de uma citação
Vejamos como Afrânio Coutinho trata este assunto:

Os sinais de pontuação são marcações gráficas que 2- Antes de um aposto


servem para compor a coesão e a coerência textual, além Três coisas não me agradam: chuva pela manhã, frio à
de ressaltar especificidades semânticas e pragmáticas. tarde e calor à noite.
Um texto escrito adquire diferentes significados quando
pontuado de formas diversificadas. O uso da pontuação 3- Antes de uma explicação ou esclarecimento
depende, em certos momentos, da intenção do autor do Lá estava a deplorável família: triste, cabisbaixa, vivendo
discurso. Assim, os sinais de pontuação estão diretamente a rotina de sempre.
relacionados ao contexto e ao interlocutor.
4- Em frases de estilo direto
Principais funções dos sinais de pontuação
Maria perguntou:
- Por que você não toma uma decisão?
Ponto (.)

1- Indica o término do discurso ou de parte dele, en- Ponto de Exclamação (!)


cerrando o período.
1- Usa-se para indicar entonação de surpresa, cólera,
2- Usa-se nas abreviaturas: pág. (página), Cia. (Com- susto, súplica, etc.
panhia). Se a palavra abreviada aparecer em final de pe- Sim! Claro que eu quero me casar com você!
ríodo, este não receberá outro ponto; neste caso, o ponto
de abreviatura marca, também, o fim de período. Exemplo: 2- Depois de interjeições ou vocativos
Estudei português, matemática, constitucional, etc. (e não Ai! Que susto!
“etc..”) João! Há quanto tempo!

3- Nos títulos e cabeçalhos é opcional o emprego do Ponto de Interrogação (?)


ponto, assim como após o nome do autor de uma citação:
Haverá eleições em outubro Usa-se nas interrogações diretas e indiretas livres.
O culto do vernáculo faz parte do brio cívico. (Napoleão “- Então? Que é isso? Desertaram ambos?” (Artur Aze-
Mendes de Almeida) (ou: Almeida.) vedo)

4- Os números que identificam o ano não utilizam pon- Reticências (...)


to nem devem ter espaço a separá-los, bem como os nú-
meros de CEP: 1975, 2014, 2006, 17600-250. 1- Indica que palavras foram suprimidas: Comprei lápis,
canetas, cadernos...
Ponto e Vírgula ( ; )
2- Indica interrupção violenta da frase.
1- Separa várias partes do discurso, que têm a mesma “- Não... quero dizer... é verdad... Ah!”
importância: “Os pobres dão pelo pão o trabalho; os ricos
dão pelo pão a fazenda; os de espíritos generosos dão pelo
3- Indica interrupções de hesitação ou dúvida: Este
pão a vida; os de nenhum espírito dão pelo pão a alma...”
mal... pega doutor?
(VIEIRA)

2- Separa partes de frases que já estão separadas por 4- Indica que o sentido vai além do que foi dito: Deixa,
vírgulas: Alguns quiseram verão, praia e calor; outros, mon- depois, o coração falar...
tanhas, frio e cobertor.
Vírgula (,)
3- Separa itens de uma enumeração, exposição de mo-
tivos, decreto de lei, etc. Não se usa vírgula
Ir ao supermercado;
Pegar as crianças na escola; * separando termos que, do ponto de vista sintático,
Caminhada na praia; ligam-se diretamente entre si:
Reunião com amigos. - entre sujeito e predicado:
Todos os alunos da sala foram advertidos.
Sujeito predicado

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LÍNGUA PORTUGUESA

- entre o verbo e seus objetos: Fontes de pesquisa:


O trabalho custou sacrifício aos http://www.infoescola.com/portugues/pontuacao/
realizadores. http://www.brasilescola.com/gramatica/uso-da-virgu-
V.T.D.I. O.D. O.I. la.htm
Português linguagens: volume 3 / Wiliam Roberto Cere-
Usa-se a vírgula: ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
Saraiva, 2010.
- Para marcar intercalação: SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
a) do adjunto adverbial: O café, em razão da sua abun- coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
dância, vem caindo de preço.
b) da conjunção: Os cerrados são secos e áridos. Estão Questões
produzindo, todavia, altas quantidades de alimentos.
c) das expressões explicativas ou corretivas: As indús- 1-) (SAAE/SP - FISCAL LEITURISTA - VUNESP - 2014)
trias não querem abrir mão de suas vantagens, isto é, não
querem abrir mão dos lucros altos.

- Para marcar inversão:


a) do adjunto adverbial (colocado no início da oração):
Depois das sete horas, todo o comércio está de portas fe-
chadas.
b) dos objetos pleonásticos antepostos ao verbo: Aos
pesquisadores, não lhes destinaram verba alguma.
c) do nome de lugar anteposto às datas: Recife, 15 de
maio de 1982.

- Para separar entre si elementos coordenados (dis-


postos em enumeração):
Era um garoto de 15 anos, alto, magro.
A ventania levou árvores, e telhados, e pontes, e animais.

- Para marcar elipse (omissão) do verbo:


Nós queremos comer pizza; e vocês, churrasco.

- Para isolar: (SAAE/SP - FISCAL LEITURISTA - VUNESP - 2014) Se-


- o aposto: São Paulo, considerada a metrópole brasilei- gundo a norma-padrão da língua portuguesa, a pontuação
ra, possui um trânsito caótico. está correta em:
- o vocativo: Ora, Thiago, não diga bobagem. A) Hagar disse, que não iria.
B) Naquela noite os Stevensens prometeram servir, bi-
Observações: fes e lagostas, aos vizinhos.
- Considerando-se que “etc.” é abreviatura da expres- C) Chegou, o convite dos Stevensens, bife e lagostas:
são latina et cetera, que significa “e outras coisas”, seria dis- para Hagar e Helga
pensável o emprego da vírgula antes dele. Porém, o acordo D) “Eles são chatos e, nunca param de falar”, disse, Ha-
ortográfico em vigor no Brasil exige que empreguemos etc. gar à Helga.
precedido de vírgula: Falamos de política, futebol, lazer, etc. E) Helga chegou com o recado: fomos convidados, pe-
los Stevensens, para jantar bifes e lagostas.
- As perguntas que denotam surpresa podem ter com-
binados o ponto de interrogação e o de exclamação: Você 1-) Correções realizadas:
falou isso para ela?! A) Hagar disse que não iria. = não há vírgula entre ver-
bo e seu complemento (objeto)
- Temos, ainda, sinais distintivos: B) Naquela noite os Stevensens prometeram servir bi-
1-) a barra ( / ) = usada em datas (25/12/2014), sepa- fes e lagostas aos vizinhos. = não há vírgula entre verbo e
ração de siglas (IOF/UPC); seu complemento (objeto)
2-) os colchetes ([ ]) = usados em transcrições feitas C) Chegou o convite dos Stevensens: bife e lagostas
pelo narrador ([vide pág. 5]), usado como primeira opção para Hagar e Helga.
aos parênteses, principalmente na matemática; D) “Eles são chatos e nunca param de falar”, disse Ha-
3-) o asterisco ( * ) = usado para remeter o leitor a gar à Helga.
uma nota de rodapé ou no fim do livro, para substituir um E) Helga chegou com o recado: fomos convidados, pe-
nome que não se quer mencionar. los Stevensens, para jantar bifes e lagostas.
RESPOSTA: “E”.

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LÍNGUA PORTUGUESA

2-) (CAIXA ECONÔMICA FEDERAL – MÉDICO DO TRA- Concordância Verbal


BALHO – CESPE/2014 - adaptada)
A correção gramatical do trecho “Entre as bebidas al- É a flexão que se faz para que o verbo concorde com
coólicas, cervejas e vinhos são as mais comuns em todo seu sujeito.
o mundo” seria prejudicada, caso se inserisse uma vírgula
logo após a palavra “vinhos”. a) Sujeito Simples - Regra Geral
( ) CERTO ( ) ERRADO O sujeito, sendo simples, com ele concordará o verbo
em número e pessoa. Veja os exemplos:
2-) Não se deve colocar vírgula entre sujeito e predi- A prova para ambos os cargos será aplicada
cado, a não ser que se trate de um aposto (1), predicativo às 13h.
do sujeito (2), ou algum termo que requeira estar separado 3.ª p. Singular 3.ª p. Singular
entre pontuações. Exemplos:
O Rio de Janeiro, cidade maravilhosa (1), está em festa! Os candidatos à vaga chegarão às 12h.
Os meninos, ansiosos (2), chegaram! 3.ª p. Plural 3.ª p. Plural
RESPOSTA: “CERTO”.
Casos Particulares
3-) (PRODAM/AM – ASSISTENTE – FUNCAB/2014) Em
apenas uma das opções a vírgula foi corretamente empre- 1) Quando o sujeito é formado por uma expressão par-
gada. Assinale-a. titiva (parte de, uma porção de, o grosso de, metade de, a
A) No dia seguinte, estavam todos cansados. maioria de, a maior parte de, grande parte de...) seguida de
B) Romperam a fita da vitória, os dois atletas. um substantivo ou pronome no plural, o verbo pode ficar
C) Os seus hábitos estranhos, deixavam as pessoas per- no singular ou no plural.
plexas. A maioria dos jornalistas aprovou / aprovaram a ideia.
D) A luta em defesa dos mais fracos, é necessária e Metade dos candidatos não apresentou / apresentaram
fundamental. proposta.
E) As florestas nativas do Brasil, sobrevivem em peque-
na parte do território. Esse mesmo procedimento pode se aplicar aos casos
dos coletivos, quando especificados: Um bando de vânda-
3-) los destruiu / destruíram o monumento.
A) No dia seguinte, estavam todos cansados. = correta
B) Romperam a fita da vitória, os dois atletas = não se Observação: nesses casos, o uso do verbo no singular
separa sujeito do predicado (o sujeito está no final). enfatiza a unidade do conjunto; já a forma plural confere
C) Os seus hábitos estranhos, deixavam as pessoas per- destaque aos elementos que formam esse conjunto.
plexas = não se separa sujeito do predicado.
D) A luta em defesa dos mais fracos, é necessária e fun- 2) Quando o sujeito é formado por expressão que in-
damental = não se separa sujeito do predicado. dica quantidade aproximada (cerca de, mais de, menos de,
E) As florestas nativas do Brasil, sobrevivem em peque- perto de...) seguida de numeral e substantivo, o verbo con-
na parte do território. = não se separa sujeito do predicado corda com o substantivo.
RESPOSTA: “A”. Cerca de mil pessoas participaram do concurso.
Perto de quinhentos alunos compareceram à solenidade.
Mais de um atleta estabeleceu novo recorde nas últimas
Olimpíadas.
CONCORDÂNCIA VERBAL E NOMINAL
Observação: quando a expressão “mais de um” asso-
ciar-se a verbos que exprimem reciprocidade, o plural é
obrigatório: Mais de um colega se ofenderam na discussão.
Os concurseiros estão apreensivos. (ofenderam um ao outro)
Concurseiros apreensivos.
3) Quando se trata de nomes que só existem no plu-
No primeiro exemplo, o verbo estar encontra-se na ral, a concordância deve ser feita levando-se em conta a
terceira pessoa do plural, concordando com o seu sujeito, ausência ou presença de artigo. Sem artigo, o verbo deve
os concurseiros. No segundo exemplo, o adjetivo “apreen- ficar no singular; com artigo no plural, o verbo deve ficar
sivos” está concordando em gênero (masculino) e núme- o plural.
ro (plural) com o substantivo a que se refere: concurseiros. Os Estados Unidos possuem grandes universidades.
Nesses dois exemplos, as flexões de pessoa, número e gê- Estados Unidos possui grandes universidades.
nero correspondem-se. Alagoas impressiona pela beleza das praias.
A correspondência de flexão entre dois termos é a con- As Minas Gerais são inesquecíveis.
cordância, que pode ser verbal ou nominal. Minas Gerais produz queijo e poesia de primeira.

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LÍNGUA PORTUGUESA

4) Quando o sujeito é um pronome interrogativo ou *Quando “um dos que” vem entremeada de substanti-
indefinido plural (quais, quantos, alguns, poucos, muitos, vo, o verbo pode:
quaisquer, vários) seguido por “de nós” ou “de vós”, o verbo a) ficar no singular – O Tietê é um dos rios que atravessa
pode concordar com o primeiro pronome (na terceira pes- o Estado de São Paulo. (já que não há outro rio que faça o
soa do plural) ou com o pronome pessoal. mesmo).
Quais de nós são / somos capazes? b) ir para o plural – O Tietê é um dos rios que estão
Alguns de vós sabiam / sabíeis do caso? poluídos (noção de que existem outros rios na mesma con-
Vários de nós propuseram / propusemos sugestões ino- dição).
vadoras.
8) Quando o sujeito é um pronome de tratamento, o
Observação: veja que a opção por uma ou outra forma verbo fica na 3ª pessoa do singular ou plural.
indica a inclusão ou a exclusão do emissor. Quando alguém Vossa Excelência está cansado?
diz ou escreve “Alguns de nós sabíamos de tudo e nada fize- Vossas Excelências renunciarão?
mos”, ele está se incluindo no grupo dos omissos. Isso não
ocorre ao dizer ou escrever “Alguns de nós sabiam de tudo e 9) A concordância dos verbos bater, dar e soar faz-se de
nada fizeram”, frase que soa como uma denúncia. acordo com o numeral.
Nos casos em que o interrogativo ou indefinido estiver Deu uma hora no relógio da sala.
no singular, o verbo ficará no singular. Deram cinco horas no relógio da sala.
Qual de nós é capaz? Soam dezenove horas no relógio da praça.
Algum de vós fez isso. Baterão doze horas daqui a pouco.

5) Quando o sujeito é formado por uma expressão que Observação: caso o sujeito da oração seja a palavra re-
indica porcentagem seguida de substantivo, o verbo deve lógio, sino, torre, etc., o verbo concordará com esse sujeito.
concordar com o substantivo. O tradicional relógio da praça matriz dá nove horas.
25% do orçamento do país será destinado à Educação. Soa quinze horas o relógio da matriz.
85% dos entrevistados não aprovam a administração do
prefeito. 10) Verbos Impessoais: por não se referirem a nenhum
1% do eleitorado aceita a mudança. sujeito, são usados sempre na 3.ª pessoa do singular. São
1% dos alunos faltaram à prova. verbos impessoais: Haver no sentido de existir; Fazer indi-
cando tempo; Aqueles que indicam fenômenos da nature-
Quando a expressão que indica porcentagem não é za. Exemplos:
seguida de substantivo, o verbo deve concordar com o nú- Havia muitas garotas na festa.
mero. Faz dois meses que não vejo meu pai.
25% querem a mudança. Chovia ontem à tarde.
1% conhece o assunto.
b) Sujeito Composto
Se o número percentual estiver determinado por artigo
ou pronome adjetivo, a concordância far-se-á com eles: 1) Quando o sujeito é composto e anteposto ao verbo,
Os 30% da produção de soja serão exportados. a concordância se faz no plural:
Esses 2% da prova serão questionados. Pai e filho conversavam longamente.
Sujeito
6) O pronome “que” não interfere na concordância; já o
“quem” exige que o verbo fique na 3.ª pessoa do singular. Pais e filhos devem conversar com frequência.
Fui eu que paguei a conta. Sujeito
Fomos nós que pintamos o muro.
És tu que me fazes ver o sentido da vida. 2) Nos sujeitos compostos formados por pessoas gra-
Sou eu quem faz a prova. maticais diferentes, a concordância ocorre da seguinte ma-
Não serão eles quem será aprovado. neira: a primeira pessoa do plural (nós) prevalece sobre a
segunda pessoa (vós) que, por sua vez, prevalece sobre a
7) Com a expressão “um dos que”, o verbo deve assu- terceira (eles). Veja:
mir a forma plural. Teus irmãos, tu e eu tomaremos a decisão.
Ademir da Guia foi um dos jogadores que mais encan- Primeira Pessoa do Plural (Nós)
taram os poetas.
Este candidato é um dos que mais estudaram! Tu e teus irmãos tomareis a decisão.
Segunda Pessoa do Plural (Vós)
Se a expressão for de sentido contrário – nenhum dos
que, nem um dos que -, não aceita o verbo no singular: Pais e filhos precisam respeitar-se.
Nenhum dos que foram aprovados assumirá a vaga. Terceira Pessoa do Plural (Eles)
Nem uma das que me escreveram mora aqui.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Observação: quando o sujeito é composto, formado 5) Quando os núcleos do sujeito são unidos por “com”,
por um elemento da segunda pessoa (tu) e um da terceira o verbo fica no plural. Nesse caso, os núcleos recebem um
(ele), é possível empregar o verbo na terceira pessoa do mesmo grau de importância e a palavra “com” tem sentido
plural (eles): “Tu e teus irmãos tomarão a decisão.” – no muito próximo ao de “e”.
lugar de “tomaríeis”. O pai com o filho montaram o brinquedo.
O governador com o secretariado traçaram os planos
3) No caso do sujeito composto posposto ao verbo, para o próximo semestre.
passa a existir uma nova possibilidade de concordância: em O professor com o aluno questionaram as regras.
vez de concordar no plural com a totalidade do sujeito, o
verbo pode estabelecer concordância com o núcleo do su- Nesse mesmo caso, o verbo pode ficar no singular, se a
jeito mais próximo. ideia é enfatizar o primeiro elemento.
Faltaram coragem e competência. O pai com o filho montou o brinquedo.
Faltou coragem e competência. O governador com o secretariado traçou os planos para
o próximo semestre.
Compareceram todos os candidatos e o banca.
O professor com o aluno questionou as regras.
Compareceu o banca e todos os candidatos.
Observação: com o verbo no singular, não se pode
4) Quando ocorre ideia de reciprocidade, a concordân-
falar em sujeito composto. O sujeito é simples, uma vez
cia é feita no plural. Observe: que as expressões “com o filho” e “com o secretariado” são
Abraçaram-se vencedor e vencido. adjuntos adverbiais de companhia. Na verdade, é como se
Ofenderam-se o jogador e o árbitro. houvesse uma inversão da ordem. Veja:
“O pai montou o brinquedo com o filho.”
Casos Particulares “O governador traçou os planos para o próximo semes-
tre com o secretariado.”
1) Quando o sujeito composto é formado por núcleos “O professor questionou as regras com o aluno.”
sinônimos ou quase sinônimos, o verbo fica no singular.
Descaso e desprezo marca seu comportamento. *Casos em que se usa o verbo no singular:
A coragem e o destemor fez dele um herói. Café com leite é uma delícia!
O frango com quiabo foi receita da vovó.
2) Quando o sujeito composto é formado por núcleos
dispostos em gradação, verbo no singular: 6) Quando os núcleos do sujeito são unidos por ex-
Com você, meu amor, uma hora, um minuto, um segun- pressões correlativas como: “não só...mas ainda”, “não so-
do me satisfaz. mente”..., “não apenas...mas também”, “tanto...quanto”, o
verbo ficará no plural.
3) Quando os núcleos do sujeito composto são unidos Não só a seca, mas também o pouco caso castigam o
por “ou” ou “nem”, o verbo deverá ficar no plural, de acor- Nordeste.
do com o valor semântico das conjunções: Tanto a mãe quanto o filho ficaram surpresos com a no-
Drummond ou Bandeira representam a essência da poe- tícia.
sia brasileira.
Nem o professor nem o aluno acertaram a resposta. 7) Quando os elementos de um sujeito composto são
resumidos por um aposto recapitulativo, a concordância é
Em ambas as orações, as conjunções dão ideia de “adi- feita com esse termo resumidor.
Filmes, novelas, boas conversas, nada o tirava da apatia.
ção”. Já em:
Trabalho, diversão, descanso, tudo é muito importante
Juca ou Pedro será contratado.
na vida das pessoas.
Roma ou Buenos Aires será a sede da próxima Olim-
píada.
Outros Casos
* Temos ideia de exclusão, por isso os verbos ficam no 1) O Verbo e a Palavra “SE”
singular. Dentre as diversas funções exercidas pelo “se”, há duas
de particular interesse para a concordância verbal:
4) Com as expressões “um ou outro” e “nem um nem a) quando é índice de indeterminação do sujeito;
outro”, a concordância costuma ser feita no singular. b) quando é partícula apassivadora.
Um ou outro compareceu à festa. Quando índice de indeterminação do sujeito, o “se”
Nem um nem outro saiu do colégio. acompanha os verbos intransitivos, transitivos indiretos e
de ligação, que obrigatoriamente são conjugados na ter-
Com “um e outro”, o verbo pode ficar no plural ou no ceira pessoa do singular:
singular: Um e outro farão/fará a prova. Precisa-se de funcionários.
Confia-se em teses absurdas.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Quando pronome apassivador, o “se” acompanha ver- c) Quando o sujeito indicar peso, medida, quantidade e
bos transitivos diretos (VTD) e transitivos diretos e indiretos for seguido de palavras ou expressões como pouco, muito,
(VTDI) na formação da voz passiva sintética. Nesse caso, o menos de, mais de, etc., o verbo SER fica no singular:
verbo deve concordar com o sujeito da oração. Exemplos: Cinco quilos de açúcar é mais do que preciso.
Construiu-se um posto de saúde. Três metros de tecido é pouco para fazer seu vestido.
Construíram-se novos postos de saúde. Duas semanas de férias é muito para mim.
Aqui não se cometem equívocos
Alugam-se casas. d) Quando um dos elementos (sujeito ou predicativo)
for pronome pessoal do caso reto, com este concordará o
** Dica: Para saber se o “se” é partícula apassivadora verbo.
ou índice de indeterminação do sujeito, tente transformar No meu setor, eu sou a única mulher.
a frase para a voz passiva. Se a frase construída for “com- Aqui os adultos somos nós.
preensível”, estaremos diante de uma partícula apassivado-
ra; se não, o “se” será índice de indeterminação. Veja: Observação: sendo ambos os termos (sujeito e pre-
Precisa-se de funcionários qualificados. dicativo) representados por pronomes pessoais, o verbo
Tentemos a voz passiva: concorda com o pronome sujeito.
Funcionários qualificados são precisados (ou precisos)? Eu não sou ela.
Não há lógica. Portanto, o “se” destacado é índice de inde- Ela não é eu.
terminação do sujeito.
Agora: e) Quando o sujeito for uma expressão de sentido par-
Vendem-se casas. titivo ou coletivo e o predicativo estiver no plural, o verbo
Voz passiva: Casas são vendidas. Construção correta! SER concordará com o predicativo.
Então, aqui, o “se” é partícula apassivadora. (Dá para eu A grande maioria no protesto eram jovens.
passar para a voz passiva. Repare em meu destaque. Per- O resto foram atitudes imaturas.
cebeu semelhança? Agora é só memorizar!).
2) O Verbo “Ser” 3) O Verbo “Parecer”
O verbo parecer, quando é auxiliar em uma locução
A concordância verbal dá-se sempre entre o verbo e o verbal (é seguido de infinitivo), admite duas concordâncias:
sujeito da oração. No caso do verbo ser, essa concordân- a) Ocorre variação do verbo PARECER e não se flexiona
cia pode ocorrer também entre o verbo e o predicativo do o infinitivo: As crianças parecem gostar do desenho.
sujeito.
b) A variação do verbo parecer não ocorre e o infinitivo
Quando o sujeito ou o predicativo for: sofre flexão:
As crianças parece gostarem do desenho.
a)Nome de pessoa ou pronome pessoal – o verbo SER (essa frase equivale a: Parece gostarem do desenho as
concorda com a pessoa gramatical: crianças)
Ele é forte, mas não é dois.
Fernando Pessoa era vários poetas. Atenção: Com orações desenvolvidas, o verbo PARE-
A esperança dos pais são eles, os filhos. CER fica no singular. Por Exemplo: As paredes parece que
têm ouvidos. (Parece que as paredes têm ouvidos = oração
b)nome de coisa e um estiver no singular e o outro no subordinada substantiva subjetiva).
plural, o verbo SER concordará, preferencialmente, com o
que estiver no plural: Concordância Nominal
Os livros são minha paixão!
Minha paixão são os livros! A concordância nominal se baseia na relação entre
nomes (substantivo, pronome) e as palavras que a eles se
Quando o verbo SER indicar ligam para caracterizá-los (artigos, adjetivos, pronomes
adjetivos, numerais adjetivos e particípios). Lembre-se:
a) horas e distâncias, concordará com a expressão normalmente, o substantivo funciona como núcleo de um
numérica: termo da oração, e o adjetivo, como adjunto adnominal.
É uma hora. A concordância do adjetivo ocorre de acordo com as
São quatro horas. seguintes regras gerais:
Daqui até a escola é um quilômetro / são dois quilôme- 1) O adjetivo concorda em gênero e número quando
tros. se refere a um único substantivo: As mãos trêmulas denun-
ciavam o que sentia.
b) datas, concordará com a palavra dia(s), que pode
estar expressa ou subentendida: 2) Quando o adjetivo refere-se a vários substantivos, a
Hoje é dia 26 de agosto. concordância pode variar. Podemos sistematizar essa fle-
Hoje são 26 de agosto. xão nos seguintes casos:

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LÍNGUA PORTUGUESA

a) Adjetivo anteposto aos substantivos: ** Dica: Substitua o “só” por “apenas” ou “sozinho”. Se
- O adjetivo concorda em gênero e número com o a frase ficar coerente com o primeiro, trata-se de advérbio,
substantivo mais próximo. portanto, invariável; se houver coerência com o segundo,
Encontramos caídas as roupas e os prendedores. função de adjetivo, então varia:
Encontramos caída a roupa e os prendedores. Ela está só. (ela está sozinha) – adjetivo
Encontramos caído o prendedor e a roupa. Ele está só descansando. (apenas descansando) - ad-
vérbio
- Caso os substantivos sejam nomes próprios ou de pa-
rentesco, o adjetivo deve sempre concordar no plural. ** Mas cuidado! Se colocarmos uma vírgula depois de
As adoráveis Fernanda e Cláudia vieram me visitar. “só”, haverá, novamente, um adjetivo:
Encontrei os divertidos primos e primas na festa. Ele está só, descansando. (ele está sozinho e descansan-
do)
b) Adjetivo posposto aos substantivos: 7) Quando um único substantivo é modificado por dois
- O adjetivo concorda com o substantivo mais próximo ou mais adjetivos no singular, podem ser usadas as cons-
ou com todos eles (assumindo a forma masculina plural se truções:
houver substantivo feminino e masculino). a) O substantivo permanece no singular e coloca-se o
A indústria oferece localização e atendimento perfeito. artigo antes do último adjetivo: Admiro a cultura espanhola
A indústria oferece atendimento e localização perfeita. e a portuguesa.
A indústria oferece localização e atendimento perfeitos.
A indústria oferece atendimento e localização perfeitos. b) O substantivo vai para o plural e omite-se o artigo
antes do adjetivo: Admiro as culturas espanhola e portu-
Observação: os dois últimos exemplos apresentam guesa.
maior clareza, pois indicam que o adjetivo efetivamente se
refere aos dois substantivos. Nesses casos, o adjetivo foi Casos Particulares
flexionado no plural masculino, que é o gênero predomi-
nante quando há substantivos de gêneros diferentes. É proibido - É necessário - É bom - É preciso - É per-
mitido
- Se os substantivos possuírem o mesmo gênero, o ad-
jetivo fica no singular ou plural. a) Estas expressões, formadas por um verbo mais um
A beleza e a inteligência feminina(s). adjetivo, ficam invariáveis se o substantivo a que se referem
O carro e o iate novo(s). possuir sentido genérico (não vier precedido de artigo).
É proibido entrada de crianças.
3) Expressões formadas pelo verbo SER + adjetivo: Em certos momentos, é necessário atenção.
a) O adjetivo fica no masculino singular, se o substan- No verão, melancia é bom.
tivo não for acompanhado de nenhum modificador: Água É preciso cidadania.
é bom para saúde. Não é permitido saída pelas portas laterais.

b) O adjetivo concorda com o substantivo, se este for b) Quando o sujeito destas expressões estiver deter-
modificado por um artigo ou qualquer outro determinati- minado por artigos, pronomes ou adjetivos, tanto o verbo
vo: Esta água é boa para saúde. como o adjetivo concordam com ele.
É proibida a entrada de crianças.
4) O adjetivo concorda em gênero e número com os Esta salada é ótima.
pronomes pessoais a que se refere: Juliana encontrou-as A educação é necessária.
muito felizes. São precisas várias medidas na educação.

5) Nas expressões formadas por pronome indefinido Anexo - Obrigado - Mesmo - Próprio - Incluso - Qui-
neutro (nada, algo, muito, tanto, etc.) + preposição DE + te
adjetivo, este último geralmente é usado no masculino sin-
gular: Os jovens tinham algo de misterioso. Estas palavras adjetivas concordam em gênero e nú-
mero com o substantivo ou pronome a que se referem.
6) A palavra “só”, quando equivale a “sozinho”, tem fun- Seguem anexas as documentações requeridas.
ção adjetiva e concorda normalmente com o nome a que A menina agradeceu: - Muito obrigada.
se refere: Muito obrigadas, disseram as senhoras.
Cristina saiu só. Seguem inclusos os papéis solicitados.
Cristina e Débora saíram sós. Estamos quites com nossos credores.

Observação: quando a palavra “só” equivale a “somen-


te” ou “apenas”, tem função adverbial, ficando, portanto,
invariável: Eles só desejam ganhar presentes.

56
LÍNGUA PORTUGUESA

Bastante - Caro - Barato - Longe Questões

Estas palavras são invariáveis quando funcionam como 1-) (MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO, INDÚSTRIA
advérbios. Concordam com o nome a que se referem quan- E COMÉRCIO EXTERIOR – ANALISTA TÉCNICO ADMINIS-
do funcionam como adjetivos, pronomes adjetivos, ou nu- TRATIVO – CESPE/2014) Em “Vossa Excelência deve estar
merais. satisfeita com os resultados das negociações”, o adjetivo
As jogadoras estavam bastante cansadas. (advérbio) estará corretamente empregado se dirigido a ministro de
Há bastantes pessoas insatisfeitas com o trabalho. (pro- Estado do sexo masculino, pois o termo “satisfeita” deve
nome adjetivo) concordar com a locução pronominal de tratamento “Vossa
Nunca pensei que o estudo fosse tão caro. (advérbio) Excelência”.
As casas estão caras. (adjetivo) ( ) CERTO ( ) ERRADO
Achei barato este casaco. (advérbio)
Hoje as frutas estão baratas. (adjetivo) 1-) Se a pessoa, no caso o ministro, for do sexo femi-
nino (ministra), o adjetivo está correto; mas, se for do sexo
Meio - Meia masculino, o adjetivo sofrerá flexão de gênero: satisfeito. O
pronome de tratamento é apenas a maneira de como tratar
a) A palavra “meio”, quando empregada como adjetivo, a autoridade, não concordando com o gênero (o pronome
concorda normalmente com o nome a que se refere: Pedi de tratamento, apenas).
meia porção de polentas. RESPOSTA: “ERRADO”.
b) Quando empregada como advérbio permanece in- 2-) (GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL – CADASTRO
variável: A candidata está meio nervosa. RESERVA PARA O METRÔ/DF – ADMINISTRADOR - IA-
DES/2014 - adaptada) Se, no lugar dos verbos destacados
** Dica! Dá para eu substituir por “um pouco”, assim no verso “Escolho os filmes que eu não vejo no elevador”,
saberei que se trata de um advérbio, não de adjetivo: “A
fossem empregados, respectivamente, Esquecer e gostar, a
candidata está um pouco nervosa”.
nova redação, de acordo com as regras sobre regência ver-
bal e concordância nominal prescritas pela norma-padrão,
Alerta - Menos
deveria ser
(A) Esqueço dos filmes que eu não gosto no elevador.
Essas palavras são advérbios, portanto, permanecem
(B) Esqueço os filmes os quais não gosto no elevador.
sempre invariáveis.
(C) Esqueço dos filmes aos quais não gosto no eleva-
Os concurseiros estão sempre alerta.
dor.
Não queira menos matéria!
(D) Esqueço dos filmes dos quais não gosto no eleva-
* Tome nota! dor.
Não variam os substantivos que funcionam como ad- (E) Esqueço os filmes dos quais não gosto no elevador.
jetivos:
Bomba – notícias bomba 2-) O verbo “esquecer” pede objeto direto; “gostar”, in-
Chave – elementos chave direto (com preposição): Esqueço os filmes dos quais não
Monstro – construções monstro gosto.
Padrão – escola padrão RESPOSTA: “E”.

Fontes de pesquisa: 3-) (SABESP – TECNÓLOGO – FCC/2014) Considerada a


http://www.soportugues.com.br/secoes/sint/sint49. substituição do segmento grifado pelo que está entre pa-
php rênteses ao final da transcrição, o verbo que deverá perma-
Português linguagens: volume 3 / Wiliam Roberto Cere- necer no singular está em:
ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo: (A) ... disse o pesquisador à Folha de S. Paulo. (os pes-
Saraiva, 2010. quisadores)
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac- (B) Segundo ele, a mudança climática contribuiu para a
coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. ruína dessa sociedade... (as mudanças do clima)
Português: novas palavras: literatura, gramática, reda- (C) No sistema havia também uma estação... (várias es-
ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000. tações)
(D) ... a civilização maia da América Central tinha um
método sustentável de gerenciamento da água. (os povos
que habitavam a América Central)
(E) Um estudo publicado recentemente mostra que a
civilização maia... (Estudos como o que acabou de ser pu-
blicado).

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LÍNGUA PORTUGUESA

3-) 1-) Verbos Intransitivos


(A) ... disse (disseram) (os pesquisadores)
(B) Segundo ele, a mudança climática contribuiu (con- Os verbos intransitivos não possuem complemento. É
tribuíram) (as mudanças do clima) importante, no entanto, destacar alguns detalhes relativos
(C) No sistema havia (várias estações) = permanecerá aos adjuntos adverbiais que costumam acompanhá-los.
no singular - Chegar, Ir
(D) ... a civilização maia da América Central tinha (ti- Normalmente vêm acompanhados de adjuntos adver-
nham) (os povos que habitavam a América Central) biais de lugar. Na língua culta, as preposições usadas para
(E) Um estudo publicado recentemente mostra (mos- indicar destino ou direção são: a, para.
tram) (Estudos como o que acabou de ser publicado). Fui ao teatro.
RESPOSTA: “C”. Adjunto Adverbial de Lugar

Ricardo foi para a Espanha.


Adjunto Adverbial de Lugar
REGÊNCIA VERBAL E NOMINAL
- Comparecer
O adjunto adverbial de lugar pode ser introduzido por
em ou a.
Dá-se o nome de regência à relação de subordinação Comparecemos ao estádio (ou no estádio) para ver o
que ocorre entre um verbo (regência verbal) ou um nome último jogo.
(regência nominal) e seus complementos.
2-) Verbos Transitivos Diretos
Regência Verbal = Termo Regente: VERBO
Os verbos transitivos diretos são complementados por
A regência verbal estuda a relação que se estabelece objetos diretos. Isso significa que não exigem preposição
entre os verbos e os termos que os complementam (obje- para o estabelecimento da relação de regência. Ao empre-
tos diretos e objetos indiretos) ou caracterizam (adjuntos gar esses verbos, lembre-se de que os pronomes oblíquos
adverbiais). Há verbos que admitem mais de uma regência, o, a, os, as atuam como objetos diretos. Esses pronomes
o que corresponde à diversidade de significados que estes podem assumir as formas lo, los, la, las (após formas ver-
verbos podem adquirir dependendo do contexto em que bais terminadas em -r, -s ou -z) ou no, na, nos, nas (após
forem empregados. formas verbais terminadas em sons nasais), enquanto lhe e
A mãe agrada o filho = agradar significa acariciar, con- lhes são, quando complementos verbais, objetos indiretos.
tentar. São verbos transitivos diretos, dentre outros: aban-
A mãe agrada ao filho = agradar significa “causar agra- donar, abençoar, aborrecer, abraçar, acompanhar, acusar,
do ou prazer”, satisfazer. admirar, adorar, alegrar, ameaçar, amolar, amparar, auxiliar,
Conclui-se que “agradar alguém” é diferente de “agra- castigar, condenar, conhecer, conservar, convidar, defender,
dar a alguém”. eleger, estimar, humilhar, namorar, ouvir, prejudicar, prezar,
proteger, respeitar, socorrer, suportar, ver, visitar.
Saiba que: Na língua culta, esses verbos funcionam exatamente
O conhecimento do uso adequado das preposições é como o verbo amar:
um dos aspectos fundamentais do estudo da regência ver- Amo aquele rapaz. / Amo-o.
bal (e também nominal). As preposições são capazes de Amo aquela moça. / Amo-a.
modificar completamente o sentido daquilo que está sen- Amam aquele rapaz. / Amam-no.
do dito. Ele deve amar aquela mulher. / Ele deve amá-la.
Cheguei ao metrô.
Cheguei no metrô. Observação: os pronomes lhe, lhes só acompanham
No primeiro caso, o metrô é o lugar a que vou; no se- esses verbos para indicar posse (caso em que atuam como
gundo caso, é o meio de transporte por mim utilizado. adjuntos adnominais):
Quero beijar-lhe o rosto. (= beijar seu rosto)
A voluntária distribuía leite às crianças. Prejudicaram-lhe a carreira. (= prejudicaram sua car-
A voluntária distribuía leite com as crianças. reira)
Na primeira frase, o verbo “distribuir” foi empregado Conheço-lhe o mau humor! (= conheço seu mau hu-
como transitivo direto (objeto direto: leite) e indireto (obje- mor)
to indireto: às crianças); na segunda, como transitivo direto
(objeto direto: crianças; com as crianças: adjunto adverbial). 3-) Verbos Transitivos Indiretos

Para estudar a regência verbal, agruparemos os verbos Os verbos transitivos indiretos são complementados
de acordo com sua transitividade. Esta, porém, não é um por objetos indiretos. Isso significa que esses verbos exi-
fato absoluto: um mesmo verbo pode atuar de diferentes gem uma preposição para o estabelecimento da relação de
formas em frases distintas. regência. Os pronomes pessoais do caso oblíquo de ter-

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LÍNGUA PORTUGUESA

ceira pessoa que podem atuar como objetos indiretos são Informar
o “lhe”, o “lhes”, para substituir pessoas. Não se utilizam - Apresenta objeto direto ao se referir a coisas e objeto
os pronomes o, os, a, as como complementos de verbos indireto ao se referir a pessoas, ou vice-versa.
transitivos indiretos. Com os objetos indiretos que não re- Informe os novos preços aos clientes.
presentam pessoas, usam-se pronomes oblíquos tônicos Informe os clientes dos novos preços. (ou sobre os novos
de terceira pessoa (ele, ela) em lugar dos pronomes átonos preços)
lhe, lhes.
- Na utilização de pronomes como complementos, veja
Os verbos transitivos indiretos são os seguintes: as construções:
- Consistir - Tem complemento introduzido pela prepo- Informei-os aos clientes. / Informei-lhes os novos preços.
sição “em”: A modernidade verdadeira consiste em direitos Informe-os dos novos preços. / Informe-os deles. (ou so-
iguais para todos.
bre eles)
- Obedecer e Desobedecer - Possuem seus complemen-
Observação: a mesma regência do verbo informar é
tos introduzidos pela preposição “a”:
Devemos obedecer aos nossos princípios e ideais. usada para os seguintes: avisar, certificar, notificar, cientifi-
Eles desobedeceram às leis do trânsito. car, prevenir.

- Responder - Tem complemento introduzido pela pre- Comparar


posição “a”. Esse verbo pede objeto indireto para indicar “a Quando seguido de dois objetos, esse verbo admite as
quem” ou “ao que” se responde. preposições “a” ou “com” para introduzir o complemento
Respondi ao meu patrão. indireto: Comparei seu comportamento ao (ou com o) de
Respondemos às perguntas. uma criança.
Respondeu-lhe à altura.
Pedir
Observação: o verbo responder, apesar de transitivo Esse verbo pede objeto direto de coisa (geralmente na
indireto quando exprime aquilo a que se responde, admite forma de oração subordinada substantiva) e indireto de
voz passiva analítica: pessoa.
O questionário foi respondido corretamente.
Todas as perguntas foram respondidas satisfatoriamen- Pedi-lhe favores.
te.
Objeto Indireto Objeto Direto
- Simpatizar e Antipatizar - Possuem seus complemen-
Pedi-lhe que se mantivesse em silêncio.
tos introduzidos pela preposição “com”.
Antipatizo com aquela apresentadora. Objeto Indireto Oração Subordinada Subs-
Simpatizo com os que condenam os políticos que gover- tantiva Objetiva Direta
nam para uma minoria privilegiada.
Saiba que:
4-) Verbos Transitivos Diretos e Indiretos - A construção “pedir para”, muito comum na lingua-
gem cotidiana, deve ter emprego muito limitado na língua
Os verbos transitivos diretos e indiretos são acompa- culta. No entanto, é considerada correta quando a palavra
nhados de um objeto direto e um indireto. Merecem desta- licença estiver subentendida.
que, nesse grupo: agradecer, perdoar e pagar. São verbos Peço (licença) para ir entregar-lhe os catálogos em casa.
que apresentam objeto direto relacionado a coisas e objeto
indireto relacionado a pessoas. Observe que, nesse caso, a preposição “para” introduz
uma oração subordinada adverbial final reduzida de infiniti-
Agradeço aos ouvintes a audiência. vo (para ir entregar-lhe os catálogos em casa).
Objeto Indireto Objeto Direto
Preferir
Paguei o débito ao cobrador.
Na língua culta, esse verbo deve apresentar objeto in-
Objeto Direto Objeto Indireto
direto introduzido pela preposição “a”:
Prefiro qualquer coisa a abrir mão de meus ideais.
- O uso dos pronomes oblíquos átonos deve ser feito
com particular cuidado: Prefiro trem a ônibus.
Agradeci o presente. / Agradeci-o.
Agradeço a você. / Agradeço-lhe. Observação: na língua culta, o verbo “preferir” deve
Perdoei a ofensa. / Perdoei-a. ser usado sem termos intensificadores, tais como: muito,
Perdoei ao agressor. / Perdoei-lhe. antes, mil vezes, um milhão de vezes, mais. A ênfase já é
Paguei minhas contas. / Paguei-as. dada pelo prefixo existente no próprio verbo (pre).
Paguei aos meus credores. / Paguei-lhes.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Mudança de Transitividade - Mudança de Signifi- CHAMAR


cado - Chamar é transitivo direto no sentido de convocar,
solicitar a atenção ou a presença de.
Há verbos que, de acordo com a mudança de transitivi- Por gentileza, vá chamar a polícia. / Por favor, vá cha-
dade, apresentam mudança de significado. O conhecimen- má-la.
to das diferentes regências desses verbos é um recurso lin- Chamei você várias vezes. / Chamei-o várias vezes.
guístico muito importante, pois além de permitir a correta
interpretação de passagens escritas, oferece possibilidades - Chamar no sentido de denominar, apelidar pode
expressivas a quem fala ou escreve. Dentre os principais, apresentar objeto direto e indireto, ao qual se refere predi-
estão: cativo preposicionado ou não.
A torcida chamou o jogador mercenário.
AGRADAR A torcida chamou ao jogador mercenário.
A torcida chamou o jogador de mercenário.
- Agradar é transitivo direto no sentido de fazer cari-
A torcida chamou ao jogador de mercenário.
nhos, acariciar, fazer as vontades de.
Sempre agrada o filho quando.
- Chamar com o sentido de ter por nome é pronominal:
Aquele comerciante agrada os clientes.
Como você se chama? Eu me chamo Zenaide.
- Agradar é transitivo indireto no sentido de causar CUSTAR
agrado a, satisfazer, ser agradável a. Rege complemento in- - Custar é intransitivo no sentido de ter determinado
troduzido pela preposição “a”. valor ou preço, sendo acompanhado de adjunto adverbial:
O cantor não agradou aos presentes. Frutas e verduras não deveriam custar muito.
O cantor não lhes agradou.
- No sentido de ser difícil, penoso, pode ser intransitivo
*O antônimo “desagradar” é sempre transitivo indireto: ou transitivo indireto, tendo como sujeito uma oração re-
O cantor desagradou à plateia. duzida de infinitivo.

ASPIRAR Muito custa viver tão longe da família.


- Aspirar é transitivo direto no sentido de sorver, inspi- Verbo Intransitivo Oração Subordinada
rar (o ar), inalar: Aspirava o suave aroma. (Aspirava-o) Substantiva Subjetiva Reduzida de Infinitivo

- Aspirar é transitivo indireto no sentido de desejar, ter Custou-me (a mim) crer nisso.
como ambição: Aspirávamos a um emprego melhor. (Aspi- Objeto Indireto Oração Subordinada Subs-
rávamos a ele) tantiva Subjetiva Reduzida de Infinitivo

* Como o objeto direto do verbo “aspirar” não é pes- *A Gramática Normativa condena as construções que
soa, as formas pronominais átonas “lhe” e “lhes” não são atribuem ao verbo “custar” um sujeito representado por
utilizadas, mas, sim, as formas tônicas “a ele(s)”, “a ela(s)”. pessoa: Custei para entender o problema. = Forma
Veja o exemplo: Aspiravam a uma existência melhor. (= As- correta: Custou-me entender o problema.
piravam a ela)
IMPLICAR
- Como transitivo direto, esse verbo tem dois sentidos:
ASSISTIR
a) dar a entender, fazer supor, pressupor: Suas atitudes
- Assistir é transitivo direto no sentido de ajudar, pres-
implicavam um firme propósito.
tar assistência a, auxiliar.
b) ter como consequência, trazer como consequência,
As empresas de saúde negam-se a assistir os idosos.
acarretar, provocar: Uma ação implica reação.
As empresas de saúde negam-se a assisti-los.
- Como transitivo direto e indireto, significa compro-
- Assistir é transitivo indireto no sentido de ver, presen- meter, envolver: Implicaram aquele jornalista em questões
ciar, estar presente, caber, pertencer. econômicas.
Assistimos ao documentário.
Não assisti às últimas sessões. * No sentido de antipatizar, ter implicância, é transitivo
Essa lei assiste ao inquilino. indireto e rege com preposição “com”: Implicava com quem
não trabalhasse arduamente.
*No sentido de morar, residir, o verbo “assistir” é in-
transitivo, sendo acompanhado de adjunto adverbial de NAMORAR
lugar introduzido pela preposição “em”: Assistimos numa - Sempre transitivo direto: Luísa namora Carlos há dois
conturbada cidade. anos.

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LÍNGUA PORTUGUESA

OBEDECER - DESOBEDECER Há uma construção em que a coisa esquecida ou lem-


- Sempre transitivo indireto: brada passa a funcionar como sujeito e o verbo sofre leve
Todos obedeceram às regras. alteração de sentido. É uma construção muito rara na lín-
Ninguém desobedece às leis. gua contemporânea, porém, é fácil encontrá-la em textos
clássicos tanto brasileiros como portugueses. Machado de
*Quando o objeto é “coisa”, não se utiliza “lhe” nem Assis, por exemplo, fez uso dessa construção várias vezes.
“lhes”: As leis são essas, mas todos desobedecem a elas. Esqueceu-me a tragédia. (cair no esquecimento)
Lembrou-me a festa. (vir à lembrança)
PROCEDER Não lhe lembram os bons momentos da infância? (=
- Proceder é intransitivo no sentido de ser decisivo, ter momentos é sujeito)
cabimento, ter fundamento ou comportar-se, agir. Nessa
segunda acepção, vem sempre acompanhado de adjunto SIMPATIZAR - ANTIPATIZAR
adverbial de modo. - São transitivos indiretos e exigem a preposição “com”:
As afirmações da testemunha procediam, não havia Não simpatizei com os jurados.
como refutá-las. Simpatizei com os alunos.
Você procede muito mal.
Importante: A norma culta exige que os verbos e ex-
- Nos sentidos de ter origem, derivar-se (rege a prepo- pressões que dão ideia de movimento sejam usados com
sição “de”) e fazer, executar (rege complemento introduzido a preposição “a”:
pela preposição “a”) é transitivo indireto. Chegamos a São Paulo e fomos direto ao hotel.
O avião procede de Maceió. Cláudia desceu ao segundo andar.
Procedeu-se aos exames. Hoje, com esta chuva, ninguém sairá à rua.
O delegado procederá ao inquérito.
Regência Nominal
QUERER
- Querer é transitivo direto no sentido de desejar, ter É o nome da relação existente entre um nome (subs-
vontade de, cobiçar. tantivo, adjetivo ou advérbio) e os termos regidos por esse
Querem melhor atendimento. nome. Essa relação é sempre intermediada por uma prepo-
Queremos um país melhor. sição. No estudo da regência nominal, é preciso levar em
conta que vários nomes apresentam exatamente o mesmo
- Querer é transitivo indireto no sentido de ter afeição, regime dos verbos de que derivam. Conhecer o regime de
estimar, amar: Quero muito aos meus amigos. um verbo significa, nesses casos, conhecer o regime dos
nomes cognatos. Observe o exemplo: Verbo obedecer e os
VISAR nomes correspondentes: todos regem complementos in-
- Como transitivo direto, apresenta os sentidos de mi- troduzidos pela preposição a. Veja:
rar, fazer pontaria e de pôr visto, rubricar.
O homem visou o alvo. Obedecer a algo/ a alguém.
O gerente não quis visar o cheque. Obediente a algo/ a alguém.

- No sentido de ter em vista, ter como meta, ter como Se uma oração completar o sentido de um nome, ou
objetivo é transitivo indireto e rege a preposição “a”. seja, exercer a função de complemento nominal, ela será
O ensino deve sempre visar ao progresso social. completiva nominal (subordinada substantiva).
Prometeram tomar medidas que visassem ao bem-estar
público.

ESQUECER – LEMBRAR
- Lembrar algo – esquecer algo
- Lembrar-se de algo – esquecer-se de algo (pronomi-
nal)

No 1.º caso, os verbos são transitivos diretos, ou seja,


exigem complemento sem preposição: Ele esqueceu o livro.
No 2.º caso, os verbos são pronominais (-se, -me, etc) e
exigem complemento com a preposição “de”. São, portan-
to, transitivos indiretos:
- Ele se esqueceu do caderno.
- Eu me esqueci da chave.
- Eles se esqueceram da prova.
- Nós nos lembramos de tudo o que aconteceu.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Regência de Alguns Nomes

Substantivos
Admiração a, por Devoção a, para, com, por Medo a, de
Aversão a, para, por Doutor em Obediência a
Atentado a, contra Dúvida acerca de, em, sobre Ojeriza a, por
Bacharel em Horror a Proeminência sobre
Capacidade de, para Impaciência com Respeito a, com, para com, por
Adjetivos
Acessível a Diferente de Necessário a
Acostumado a, com Entendido em Nocivo a
Afável com, para com Equivalente a Paralelo a
Agradável a Escasso de Parco em, de
Alheio a, de Essencial a, para Passível de
Análogo a Fácil de Preferível a
Ansioso de, para, por Fanático por Prejudicial a
Apto a, para Favorável a Prestes a
Ávido de Generoso com Propício a
Benéfico a Grato a, por Próximo a
Capaz de, para Hábil em Relacionado com
Compatível com Habituado a Relativo a
Contemporâneo a, de Idêntico a Satisfeito com, de, em, por
Contíguo a Impróprio para Semelhante a
Contrário a Indeciso em Sensível a
Curioso de, por Insensível a Sito em
Descontente com Liberal com Suspeito de
Desejoso de Natural de Vazio de

Advérbios
Longe de Perto de

Observação: os advérbios terminados em -mente tendem a seguir o regime dos adjetivos de que são formados: para-
lela a; paralelamente a; relativa a; relativamente a.

Fontes de pesquisa:
http://www.soportugues.com.br/secoes/sint/sint61.php
Português linguagens: volume 3 / Wiliam Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
Saraiva, 2010.
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sacconi. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Português: novas palavras: literatura, gramática, redação / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.

Questões

1-) (PRODAM – AUXILIAR - MOTORISTA – FUNCAB/2014) Assinale a alternativa em que a frase segue a norma culta da
língua quanto à regência verbal.
A) Prefiro viajar de ônibus do que dirigir.
B) Eu esqueci do seu nome.
C) Você assistiu à cena toda?
D) Ele chegou na oficina pela manhã.
E) Sempre obedeço as leis de trânsito.

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LÍNGUA PORTUGUESA

1-) Quanto à estrutura da frase, as que possuem verbo


A) Prefiro viajar de ônibus do que dirigir. = prefiro viajar (oração) são estruturadas por dois elementos essenciais:
de ônibus a dirigir sujeito e predicado.
B) Eu esqueci do seu nome. = Eu me esqueci do seu O sujeito é o termo da frase que concorda com o verbo
nome em número e pessoa. É o “ser de quem se declara algo”, “o
C) Você assistiu à cena toda? = correta tema do que se vai comunicar”; o predicado é a parte da
D) Ele chegou na oficina pela manhã. = Ele chegou à frase que contém “a informação nova para o ouvinte”, é o
oficina pela manhã que “se fala do sujeito”. Ele se refere ao tema, constituindo
E) Sempre obedeço as leis de trânsito. = Sempre obe- a declaração do que se atribui ao sujeito.
deço às leis de trânsito Quando o núcleo da declaração está no verbo (que in-
RESPOSTA: “C”. dique ação ou fenômeno da natureza, seja um verbo signi-
ficativo), temos o predicado verbal. Mas, se o núcleo estiver
2-) (POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO/SP – em um nome (geralmente um adjetivo), teremos um predi-
MÉDICO LEGISTA – VUNESP/2014 - adaptada) Leia o se- cado nominal (os verbos deste tipo de predicado são os
guinte trecho para responder à questão. que indicam estado, conhecidos como verbos de ligação):
A pesquisa encontrou um dado curioso: homens com O menino limpou a sala. = “limpou” é verbo de ação
baixos níveis de testosterona tiveram uma resposta imuno- (predicado verbal)
lógica melhor a essa medida, similar _______________ . A prova foi fácil. – “foi” é verbo de ligação (ser); o nú-
A alternativa que completa, corretamente, o texto é: cleo é “fácil” (predicado nominal)
(A) das mulheres
(B) às mulheres Quanto ao período, ele denomina a frase constituída
(C) com das mulheres por uma ou mais orações, formando um todo, com sentido
(D) à das mulheres completo. O período pode ser simples ou composto.
(E) ao das mulheres
Período simples é aquele constituído por apenas uma
oração, que recebe o nome de oração absoluta.
2-) Similar significa igual; sua regência equivale à da
Chove.
palavra “igual”: igual a quê? Similar a quem? Similar à (su-
A existência é frágil.
bentendido: resposta imunológica) das mulheres.
Amanhã, à tarde, faremos a prova do concurso.
RESPOSTA: “D”.
Período composto é aquele constituído por duas ou
mais orações:
Cantei, dancei e depois dormi.
Quero que você estude mais.
FRASE, ORAÇÃO E PERÍODO
SINTAXE DA ORAÇÃO E DO PERÍODO Termos essenciais da oração
TERMOS DA ORAÇÃO
COORDENAÇÃO E SUBORDINAÇÃO O sujeito e o predicado são considerados termos
essenciais da oração, ou seja, são termos indispensáveis
para a formação das orações. No entanto, existem orações
formadas exclusivamente pelo predicado. O que define a
Frase é todo enunciado suficiente por si mesmo para oração é a presença do verbo. O sujeito é o termo que es-
estabelecer comunicação. Normalmente é composta por tabelece concordância com o verbo.
dois termos – o sujeito e o predicado – mas não obrigato- O candidato está preparado.
riamente, pois há orações ou frases sem sujeito: Trovejou Os candidatos estão preparados.
muito ontem à noite.
Na primeira frase, o sujeito é “o candidato”. “Candida-
Quanto aos tipos de frases, além da classificação em to” é a principal palavra do sujeito, sendo, por isso, deno-
verbais (possuem verbos, ou seja, são orações) e nominais minada núcleo do sujeito. Este se relaciona com o verbo,
(sem a presença de verbos), feita a partir de seus elementos estabelecendo a concordância (núcleo no singular, verbo
constituintes, elas podem ser classificadas a partir de seu no singular: candidato = está).
sentido global: A função do sujeito é basicamente desempenhada por
- frases interrogativas = o emissor da mensagem for- substantivos, o que a torna uma função substantiva da ora-
mula uma pergunta: Que dia é hoje? ção. Pronomes, substantivos, numerais e quaisquer outras
- frases imperativas = o emissor dá uma ordem ou faz palavras substantivadas (derivação imprópria) também po-
um pedido: Dê-me uma luz! dem exercer a função de sujeito.
- frases exclamativas = o emissor exterioriza um estado Os dois sumiram. (dois é numeral; no exemplo, subs-
afetivo: Que dia abençoado! tantivo)
- frases declarativas = o emissor constata um fato: A Um sim é suave e sugestivo. (sim é advérbio; no exem-
prova será amanhã. plo: substantivo)

63
LÍNGUA PORTUGUESA

Os sujeitos são classificados a partir de dois elementos: 1-) com verbo na terceira pessoa do plural, desde que
o de determinação ou indeterminação e o de núcleo do o sujeito não tenha sido identificado anteriormente:
sujeito. Bateram à porta;
Um sujeito é determinado quando é facilmente iden- Andam espalhando boatos a respeito da queda do mi-
tificado pela concordância verbal. O sujeito determinado nistro.
pode ser simples ou composto.
A indeterminação do sujeito ocorre quando não é * Se o sujeito estiver identificado, poderá ser simples
possível identificar claramente a que se refere a concor- ou composto:
dância verbal. Isso ocorre quando não se pode ou não inte- Os meninos bateram à porta. (simples)
ressa indicar precisamente o sujeito de uma oração. Os meninos e as meninas bateram à porta. (composto)
Estão gritando seu nome lá fora.
Trabalha-se demais neste lugar. 2-) com o verbo na terceira pessoa do singular, acres-
cido do pronome “se”. Esta é uma construção típica dos
O sujeito simples é o sujeito determinado que apre- verbos que não apresentam complemento direto:
senta um único núcleo, que pode estar no singular ou no Precisa-se de mentes criativas.
plural; pode também ser um pronome indefinido. Abaixo, Vivia-se bem naqueles tempos.
sublinhei os núcleos dos sujeitos: Trata-se de casos delicados.
Nós estudaremos juntos. Sempre se está sujeito a erros.
A humanidade é frágil.
Ninguém se move. O pronome “se”, nestes casos, funciona como índice de
O amar faz bem. (“amar” é verbo, mas aqui houve uma indeterminação do sujeito.
derivação imprópria, transformando-o em substantivo)
As crianças precisam de alimentos saudáveis. As orações sem sujeito, formadas apenas pelo predi-
cado, articulam-se a partir de um verbo impessoal. A men-
O sujeito composto é o sujeito determinado que apre- sagem está centrada no processo verbal. Os principais ca-
sos de orações sem sujeito com:
senta mais de um núcleo.
Alimentos e roupas custam caro.
1-) os verbos que indicam fenômenos da natureza:
Ela e eu sabemos o conteúdo.
Amanheceu.
O amar e o odiar são duas faces da mesma moeda.
Está trovejando.
Além desses dois sujeitos determinados, é comum a
2-) os verbos estar, fazer, haver e ser, quando indicam
referência ao sujeito implícito na desinência verbal (o
fenômenos meteorológicos ou se relacionam ao tempo em
“antigo” sujeito oculto [ou elíptico]), isto é, ao núcleo do
geral:
sujeito que está implícito e que pode ser reconhecido pela Está tarde.
desinência verbal ou pelo contexto. Já são dez horas.
Abolimos todas as regras. = (nós) Faz frio nesta época do ano.
Falaste o recado à sala? = (tu) Há muitos concursos com inscrições abertas.
* Os verbos deste tipo de sujeito estão sempre na pri- Predicado é o conjunto de enunciados que contém a
meira pessoa do singular (eu) ou plural (nós) ou na segun- informação sobre o sujeito – ou nova para o ouvinte. Nas
da do singular (tu) ou do plural (vós), desde que os prono- orações sem sujeito, o predicado simplesmente enuncia
mes não estejam explícitos. um fato qualquer. Nas orações com sujeito, o predicado é
Iremos à feira juntos? (= nós iremos) – sujeito implícito aquilo que se declara a respeito deste sujeito. Com exceção
na desinência verbal “-mos” do vocativo - que é um termo à parte - tudo o que difere
Cantais bem! (= vós cantais) - sujeito implícito na desi- do sujeito numa oração é o seu predicado.
nência verbal “-ais” Chove muito nesta época do ano.
Houve problemas na reunião.
Mas:
Nós iremos à festa juntos? = sujeito simples: nós * Em ambas as orações não há sujeito, apenas predi-
Vós cantais bem! = sujeito simples: vós cado.

O sujeito indeterminado surge quando não se quer - As questões estavam fáceis!


ou não se pode - identificar a que o predicado da oração Sujeito simples = as questões
refere-se. Existe uma referência imprecisa ao sujeito, caso Predicado = estavam fáceis
contrário, teríamos uma oração sem sujeito.
Na língua portuguesa, o sujeito pode ser indetermina- Passou-me uma ideia estranha pelo pensamento.
do de duas maneiras: Sujeito = uma ideia estranha
Predicado = passou-me pelo pensamento

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LÍNGUA PORTUGUESA

Para o estudo do predicado, é necessário verificar se No primeiro exemplo, o verbo amanheceu apresenta
seu núcleo é um nome (então teremos um predicado no- duas funções: a de verbo significativo e a de verbo de liga-
minal) ou um verbo (predicado verbal). Deve-se considerar ção. Este predicado poderia ser desdobrado em dois: um
também se as palavras que formam o predicado referem- verbal e outro nominal.
se apenas ao verbo ou também ao sujeito da oração. O dia amanheceu. / O dia estava ensolarado.

Os homens sensíveis pedem amor sincero às mulheres No segundo exemplo, é o verbo julgar que relaciona
de opinião. o complemento homens com o predicativo “inconstantes”.
Predicado
Termos integrantes da oração
O predicado acima apresenta apenas uma palavra que
se refere ao sujeito: pedem. As demais palavras ligam-se Os complementos verbais (objeto direto e indireto) e o
direta ou indiretamente ao verbo. complemento nominal são chamados termos integrantes da
A cidade está deserta. oração.
Os complementos verbais integram o sentido dos ver-
O nome “deserta”, por intermédio do verbo, refere-se bos transitivos, com eles formando unidades significativas.
ao sujeito da oração (cidade). O verbo atua como elemento Estes verbos podem se relacionar com seus complementos
de ligação (por isso verbo de ligação) entre o sujeito e a diretamente, sem a presença de preposição, ou indireta-
palavra a ele relacionada (no caso: deserta = predicativo mente, por intermédio de preposição.
do sujeito).
O objeto direto é o complemento que se liga direta-
O predicado verbal é aquele que tem como núcleo mente ao verbo.
significativo um verbo: Houve muita confusão na partida final.
Chove muito nesta época do ano. Queremos sua ajuda.
Estudei muito hoje!
O objeto direto preposicionado ocorre principalmen-
Compraste a apostila?
te:
- com nomes próprios de pessoas ou nomes comuns
Os verbos acima são significativos, isto é, não servem
referentes a pessoas:
apenas para indicar o estado do sujeito, mas indicam pro-
Amar a Deus; Adorar a Xangô; Estimar aos pais.
cessos.
(o objeto é direto, mas como há preposição, denomi-
na-se: objeto direto preposicionado)
O predicado nominal é aquele que tem como núcleo
significativo um nome; este atribui uma qualidade ou esta- - com pronomes indefinidos de pessoa e pronomes
do ao sujeito, por isso é chamado de predicativo do sujei- de tratamento: Não excluo a ninguém; Não quero cansar a
to. O predicativo é um nome que se liga a outro nome da Vossa Senhoria.
oração por meio de um verbo (o verbo de ligação).
Nos predicados nominais, o verbo não é significativo, - para evitar ambiguidade: Ao povo prejudica a crise.
isto é, não indica um processo, mas une o sujeito ao pre- (sem preposição, o sentido seria outro: O povo prejudica
dicativo, indicando circunstâncias referentes ao estado do a crise)
sujeito: Os dados parecem corretos.
O verbo parecer poderia ser substituído por estar, an- O objeto indireto é o complemento que se liga indi-
dar, ficar, ser, permanecer ou continuar, atuando como ele- retamente ao verbo, ou seja, através de uma preposição.
mento de ligação entre o sujeito e as palavras a ele rela- Gosto de música popular brasileira.
cionadas. Necessito de ajuda.
* A função de predicativo é exercida, normalmente, por
um adjetivo ou substantivo. O termo que integra o sentido de um nome chama-se
complemento nominal, que se liga ao nome que comple-
O predicado verbo-nominal é aquele que apresen- ta por intermédio de preposição:
ta dois núcleos significativos: um verbo e um nome. No A arte é necessária à vida. = relaciona-se com a palavra
predicado verbo-nominal, o predicativo pode se referir ao “necessária”
sujeito ou ao complemento verbal (objeto). Temos medo de barata. = ligada à palavra “medo”
O verbo do predicado verbo-nominal é sempre sig-
nificativo, indicando processos. É também sempre por in- Termos acessórios da oração e vocativo
termédio do verbo que o predicativo se relaciona com o
termo a que se refere. Os termos acessórios recebem este nome por serem
1- O dia amanheceu ensolarado; explicativos, circunstanciais. São termos acessórios o ad-
2- As mulheres julgam os homens inconstantes. junto adverbial, o adjunto adnominal, o aposto e o vocativo
– este, sem relação sintática com outros temos da oração.

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LÍNGUA PORTUGUESA

O adjunto adverbial é o termo da oração que indi- O aposto pode ser classificado, de acordo com seu va-
ca uma circunstância do processo verbal ou intensifica o lor na oração, em:
sentido de um adjetivo, verbo ou advérbio. É uma função a) explicativo: A linguística, ciência das línguas huma-
adverbial, pois cabe ao advérbio e às locuções adverbiais nas, permite-nos interpretar melhor nossa relação com o
exercerem o papel de adjunto adverbial: Amanhã voltarei a mundo.
pé àquela velha praça. b) enumerativo: A vida humana compõe-se de muitas
coisas: amor, arte, ação.
As circunstâncias comumente expressas pelo adjunto c) resumidor ou recapitulativo: Fantasias, suor e sonho,
adverbial são: tudo forma o carnaval.
- assunto: Falavam sobre futebol. d) comparativo: Seus olhos, indagadores holofotes, fixa-
- causa: As folhas caíram com o vento. ram-se por muito tempo na baía anoitecida.
- companhia: Ficarei com meus pais.
- concessão: Apesar de você, serei feliz. O vocativo é um termo que serve para chamar, invocar
- conformidade: Fez tudo conforme o combinado. ou interpelar um ouvinte real ou hipotético, não mantendo
- dúvida: Talvez ainda chova. relação sintática com outro termo da oração. A função de
- fim: Estudou para o exame. vocativo é substantiva, cabendo a substantivos, pronomes
- instrumento: Fez o corte com a faca. substantivos, numerais e palavras substantivadas esse pa-
- intensidade: Falava bastante.
pel na linguagem.
- lugar: Vou à cidade.
João, venha comigo!
- matéria: Este prato é feito de porcelana.
Traga-me doces, minha menina!
- meio: Viajarei de trem.
- modo: Foram recrutados a dedo.
- negação: Não há ninguém que mereça.
- tempo: Ontem à tarde encontrou o velho amigo. Questões

O adjunto adnominal é o termo acessório que deter- 1-) (CASAL/AL - ADMINISTRADOR DE REDE - COPEVE/
mina, especifica ou explica um substantivo. É uma função UFAL/2014 - adaptada)
adjetiva, pois são os adjetivos e as locuções adjetivas que
exercem o papel de adjunto adnominal na oração. Também
atuam como adjuntos adnominais os artigos, os numerais
e os pronomes adjetivos.
O poeta inovador enviou dois longos trabalhos ao seu
amigo de infância.

O adjunto adnominal se liga diretamente ao substan-


tivo a que se refere, sem participação do verbo. Já o predi-
cativo do objeto se liga ao objeto por meio de um verbo.
O poeta português deixou uma obra originalíssima.
O poeta deixou-a.
(originalíssima não precisou ser repetida, portanto: ad-
junto adnominal)

O poeta português deixou uma obra inacabada. O cartaz acima divulga a peça de teatro “Quem tem
O poeta deixou-a inacabada. medo de Virginia Woolf?” escrita pelo norte-americano
(inacabada precisou ser repetida, então: predicativo do Edward Albee. O termo “de Virginia Woolf”, do título em
objeto)
português da peça, funciona como:
A) objeto indireto.
Enquanto o complemento nominal se relaciona a um
B) complemento nominal.
substantivo, adjetivo ou advérbio, o adjunto adnominal se
relaciona apenas ao substantivo. C) adjunto adnominal.
D) adjunto adverbial.
O aposto é um termo acessório que permite ampliar, E) agente da passiva.
explicar, desenvolver ou resumir a ideia contida em um ter-
mo que exerça qualquer função sintática: Ontem, segunda- 1-) O termo complementa a palavra “medo”, que é
feira, passei o dia mal-humorado. substantivo (nome – nominal). Portanto é um complemen-
to nominal. O verbo “ter” tem como complemento verbal
Segunda-feira é aposto do adjunto adverbial de tempo (objeto) a palavra “medo”, que exerce a função sintática de
“ontem”. O aposto é sintaticamente equivalente ao termo objeto direto.
que se relaciona porque poderia substituí-lo: Segunda-feira RESPOSTA: “B”.
passei o dia mal-humorado.

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LÍNGUA PORTUGUESA

2-) (TRT/AL - ANALISTA JUDICIÁRIO - FCC/2014) Coordenadas Assindéticas


... que acompanham as fronteiras ocidentais chinesas...
O verbo que, no contexto, exige o mesmo tipo de com- São orações coordenadas entre si e que não são liga-
plemento que o da frase acima está em: das através de nenhum conectivo. Estão apenas justapos-
(A) A Rota da Seda nunca foi uma rota única... tas.
(B) Esses caminhos floresceram durante os primórdios Entrei na sala, deitei-me no sofá, adormeci.
da Idade Média.
(C) ... viajavam por cordilheiras... Coordenadas Sindéticas
(D) ... até cair em desuso, seis séculos atrás.
(E) O maquinista empurra a manopla do acelerador. Ao contrário da anterior, são orações coordenadas en-
tre si, mas que são ligadas através de uma conjunção coor-
2-) Acompanhar é transitivo direto (acompanhar quem denativa, que dará à oração uma classificação. As orações
ou o quê - não há preposição): coordenadas sindéticas são classificadas em cinco tipos:
A = foi = verbo de ligação (ser) – não há complemento, aditivas, adversativas, alternativas, conclusivas e explicati-
mas sim, predicativo do sujeito (rota única); vas.
B = floresceram = intransitivo (durante os primórdios =
adjunto adverbial); ** Dica: Memorize SINdética = SIM, tem conjunção!
C = viajavam = intransitivo (por cordilheiras = adjunto Orações Coordenadas Sindéticas Aditivas: suas prin-
adverbial); cipais conjunções são: e, nem, não só... mas também, não
D = cair = intransitivo; só... como, assim... como.
E = empurra = transitivo direto (empurrar quem ou o Nem comprei o protetor solar nem fui à praia.
quê?) Comprei o protetor solar e fui à praia.
RESPOSTA: “E”.
Orações Coordenadas Sindéticas Adversativas: suas
Período Composto por Coordenação principais conjunções são: mas, contudo, todavia, entretan-
to, porém, no entanto, ainda, assim, senão.
O período composto se caracteriza por possuir mais de Fiquei muito cansada, contudo me diverti bastante.
uma oração em sua composição. Sendo assim: Li tudo, porém não entendi!
- Eu irei à praia. (Período Simples = um verbo, uma
oração) Orações Coordenadas Sindéticas Alternativas: suas
- Estou comprando um protetor solar, depois irei à principais conjunções são: ou... ou; ora...ora; quer...quer;
praia. (Período Composto =locução verbal + verbo, duas seja...seja.
orações) Ou uso o protetor solar, ou uso o óleo bronzeador.
- Já me decidi: só irei à praia, se antes eu comprar
um protetor solar. (Período Composto = três verbos, três Orações Coordenadas Sindéticas Conclusivas: suas
orações). principais conjunções são: logo, portanto, por fim, por con-
seguinte, consequentemente, pois (posposto ao verbo).
Há dois tipos de relações que podem se estabelecer Passei no concurso, portanto comemorarei!
entre as orações de um período composto: uma relação de A situação é delicada; devemos, pois, agir.
coordenação ou uma relação de subordinação.
Duas orações são coordenadas quando estão juntas Orações Coordenadas Sindéticas Explicativas: suas
em um mesmo período, (ou seja, em um mesmo bloco de principais conjunções são: isto é, ou seja, a saber, na verda-
informações, marcado pela pontuação final), mas têm, am- de, pois (anteposto ao verbo).
bas, estruturas individuais, como é o exemplo de: Não fui à praia, pois queria descansar durante o Do-
Estou comprando um protetor solar, depois irei à praia. mingo.
(Período Composto) Maria chorou porque seus olhos estão vermelhos.
Podemos dizer:
1. Estou comprando um protetor solar. Período Composto Por Subordinação
2. Irei à praia.
Separando as duas, vemos que elas são independen- Quero que você seja aprovado!
tes. Tal período é classificado como Período Composto Oração principal oração subordinada
por Coordenação.
Quanto à classificação das orações coordenadas, te- Observe que na oração subordinada temos o verbo
mos dois tipos: Coordenadas Assindéticas e Coordenadas “seja”, que está conjugado na terceira pessoa do singular
Sindéticas. do presente do subjuntivo, além de ser introduzida por
conjunção. As orações subordinadas que apresentam ver-
bo em qualquer dos tempos finitos (tempos do modo do
indicativo, subjuntivo e imperativo) e são iniciadas por con-
junção, chamam-se orações desenvolvidas ou explícitas.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Podemos modificar o período acima. Veja: * Atenção: Observe que a oração subordinada subs-
tantiva pode ser substituída pelo pronome “isso”. Assim,
Quero ser aprovado. temos um período simples:
Oração Principal Oração Subordinada É fundamental isso ou Isso é fundamental.
Desta forma, a oração correspondente a “isso” exercerá
A análise das orações continua sendo a mesma: “Que- a função de sujeito.
ro” é a oração principal, cujo objeto direto é a oração su- Veja algumas estruturas típicas que ocorrem na oração
bordinada “ser aprovado”. Observe que a oração subordi- principal:
nada apresenta agora verbo no infinitivo (ser). Além disso,
a conjunção “que”, conectivo que unia as duas orações, - Verbos de ligação + predicativo, em construções do
desapareceu. As orações subordinadas cujo verbo surge tipo: É bom - É útil - É conveniente - É certo - Parece certo - É
numa das formas nominais (infinitivo, gerúndio ou particí- claro - Está evidente - Está comprovado
pio) chamamos orações reduzidas ou implícitas. É bom que você compareça à minha festa.
* Observação: as orações reduzidas não são introdu-
- Expressões na voz passiva, como: Sabe-se, Soube-se,
zidas por conjunções nem pronomes relativos. Podem ser,
Conta-se, Diz-se, Comenta-se, É sabido, Foi anunciado, Ficou
eventualmente, introduzidas por preposição.
provado.
Sabe-se que Aline não gosta de Pedro.
1-) Orações Subordinadas Substantivas

A oração subordinada substantiva tem valor de subs- - Verbos como: convir - cumprir - constar - admirar -
tantivo e vem introduzida, geralmente, por conjunção inte- importar - ocorrer - acontecer
grante (que, se). Convém que não se atrase na entrevista.

Não sei se sairemos hoje. Observação: quando a oração subordinada substanti-


Oração Subordinada Substantiva va é subjetiva, o verbo da oração principal está sempre na
3.ª pessoa do singular.
Temos medo de que não sejamos aprovados.
Oração Subordinada Substantiva b) Objetiva Direta = exerce função de objeto direto
do verbo da oração principal:
Os pronomes interrogativos (que, quem, qual) também
introduzem as orações subordinadas substantivas, bem Todos querem sua aprovação no concurso.
como os advérbios interrogativos (por que, quando, onde, Objeto Direto
como).
Todos querem que você seja aprovado. (Todos
O garoto perguntou qual seu nome. querem isso)
Oração Subordinada Subs- Oração Principal oração Subordinada Substantiva
tantiva Objetiva Direta

Não sabemos quando ele virá. As orações subordinadas substantivas objetivas diretas
Oração Subordinada Substan- (desenvolvidas) são iniciadas por:
tiva - Conjunções integrantes “que” (às vezes elíptica) e
“se”: A professora verificou se os alunos estavam presentes.
Classificação das Orações Subordinadas Substanti-
vas
- Pronomes indefinidos que, quem, qual, quanto (às ve-
zes regidos de preposição), nas interrogações indiretas: O
Conforme a função que exerce no período, a oração
pessoal queria saber quem era o dono do carro importado.
subordinada substantiva pode ser:
a) Subjetiva - exerce a função sintática de sujeito do
verbo da oração principal: - Advérbios como, quando, onde, por que, quão (às ve-
zes regidos de preposição), nas interrogações indiretas: Eu
É fundamental o seu comparecimento à reu- não sei por que ela fez isso.
nião.
Sujeito c) Objetiva Indireta = atua como objeto indireto do
verbo da oração principal. Vem precedida de preposição.
É fundamental que você compareça à
reunião. Meu pai insiste em meu estudo.
Oração Principal Oração Subordinada Substan- Objeto Indireto
tiva Subjetiva

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LÍNGUA PORTUGUESA

Meu pai insiste em que eu estude. (Meu pai insiste 2-) Orações Subordinadas Adjetivas
nisso)
Oração Subordinada Substantiva Uma oração subordinada adjetiva é aquela que possui
Objetiva Indireta valor e função de adjetivo, ou seja, que a ele equivale. As
orações vêm introduzidas por pronome relativo e exercem
Observação: em alguns casos, a preposição pode estar a função de adjunto adnominal do antecedente.
elíptica na oração.
Marta não gosta (de) que a chamem de senhora. Esta foi uma redação bem-sucedida.
Oração Subordinada Substantiva Substantivo Adjetivo (Adjunto Adno-
Objetiva Indireta minal)

d) Completiva Nominal = completa um nome que O substantivo “redação” foi caracterizado pelo adjetivo
pertence à oração principal e também vem marcada por “bem-sucedida”. Neste caso, é possível formarmos outra
preposição. construção, a qual exerce exatamente o mesmo papel:

Sentimos orgulho de seu comportamento. Esta foi uma redação que fez sucesso.
Complemento Nominal Oração Principal Oração Subordinada
Adjetiva
Sentimos orgulho de que você se comportou. (Sen-
timos orgulho disso.) Perceba que a conexão entre a oração subordinada
Oração Subordinada Substantiva adjetiva e o termo da oração principal que ela modifica é
Completiva Nominal feita pelo pronome relativo “que”. Além de conectar (ou
relacionar) duas orações, o pronome relativo desempenha
Lembre-se: as orações subordinadas substantivas ob- uma função sintática na oração subordinada: ocupa o pa-
jetivas indiretas integram o sentido de um verbo, enquanto pel que seria exercido pelo termo que o antecede (no caso,
que orações subordinadas substantivas completivas nomi- “redação” é sujeito, então o “que” também funciona como
nais integram o sentido de um nome. Para distinguir uma sujeito).
da outra, é necessário levar em conta o termo complemen-
tado. Esta é a diferença entre o objeto indireto e o com-
Observação: para que dois períodos se unam num
plemento nominal: o primeiro complementa um verbo; o
período composto, altera-se o modo verbal da segunda
segundo, um nome.
oração.
e) Predicativa = exerce papel de predicativo do sujei-
Atenção: Vale lembrar um recurso didático para re-
to do verbo da oração principal e vem sempre depois do
conhecer o pronome relativo “que”: ele sempre pode ser
verbo ser.
substituído por: o qual - a qual - os quais - as quais
Nosso desejo era sua desistência. Refiro-me ao aluno que é estudioso. = Esta oração é
Predicativo do Sujeito equivalente a: Refiro-me ao aluno o qual estuda.

Nosso desejo era que ele desistisse. (Nosso desejo Forma das Orações Subordinadas Adjetivas
era isso)
Oração Subordinada Substantiva Quando são introduzidas por um pronome relativo e
Predicativa apresentam verbo no modo indicativo ou subjuntivo, as
orações subordinadas adjetivas são chamadas desenvolvi-
Observação: em certos casos, usa-se a preposição ex- das. Além delas, existem as orações subordinadas adjetivas
pletiva “de” para realce. Veja o exemplo: A impressão é de reduzidas, que não são introduzidas por pronome relativo
que não fui bem na prova. (podem ser introduzidas por preposição) e apresentam o
verbo numa das formas nominais (infinitivo, gerúndio ou
f) Apositiva = exerce função de aposto de algum ter- particípio).
mo da oração principal.
Ele foi o primeiro aluno que se apresentou.
Fernanda tinha um grande sonho: a felicidade! Ele foi o primeiro aluno a se apresentar.
Aposto
No primeiro período, há uma oração subordinada ad-
Fernanda tinha um grande sonho: ser feliz! jetiva desenvolvida, já que é introduzida pelo pronome re-
Oração subordinada lativo “que” e apresenta verbo conjugado no pretérito per-
substantiva apositiva reduzida de infinitivo feito do indicativo. No segundo, há uma oração subordina-
(Fernanda tinha um grande sonho: isso) da adjetiva reduzida de infinitivo: não há pronome relativo
e seu verbo está no infinitivo.
* Dica: geralmente há a presença dos dois pontos! (:)

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LÍNGUA PORTUGUESA

Classificação das Orações Subordinadas Adjetivas Naquele momento, senti uma das maiores emoções de
minha vida.
Na relação que estabelecem com o termo que caracteri- Quando vi o mar, senti uma das maiores emoções de
zam, as orações subordinadas adjetivas podem atuar de duas minha vida.
maneiras diferentes. Há aquelas que restringem ou especifi-
cam o sentido do termo a que se referem, individualizando-o. No primeiro período, “naquele momento” é um adjun-
Nestas orações não há marcação de pausa, sendo chamadas to adverbial de tempo, que modifica a forma verbal “sen-
subordinadas adjetivas restritivas. Existem também orações ti”. No segundo período, este papel é exercido pela oração
que realçam um detalhe ou amplificam dados sobre o ante-
“Quando vi o mar”, que é, portanto, uma oração subordi-
cedente, que já se encontra suficientemente definido. Estas
nada adverbial temporal. Esta oração é desenvolvida, pois
orações denominam-se subordinadas adjetivas explicativas.
Exemplo 1: é introduzida por uma conjunção subordinativa (quando)
Jamais teria chegado aqui, não fosse um homem que e apresenta uma forma verbal do modo indicativo (“vi”, do
passava naquele momento. pretérito perfeito do indicativo). Seria possível reduzi-la,
Oração obtendo-se:
Subordinada Adjetiva Restritiva Ao ver o mar, senti uma das maiores emoções de minha
vida.
No período acima, observe que a oração em destaque
restringe e particulariza o sentido da palavra “homem”: tra- A oração em destaque é reduzida, apresentando uma
ta-se de um homem específico, único. A oração limita o uni- das formas nominais do verbo (“ver” no infinitivo) e não é
verso de homens, isto é, não se refere a todos os homens, introduzida por conjunção subordinativa, mas sim por uma
mas sim àquele que estava passando naquele momento. preposição (“a”, combinada com o artigo “o”).

Exemplo 2: Observação: a classificação das orações subordinadas


O homem, que se considera racional, muitas vezes age adverbiais é feita do mesmo modo que a classificação dos
animalescamente. adjuntos adverbiais. Baseia-se na circunstância expressa
Oração Subordinada Adjetiva Explicativa pela oração.
Agora, a oração em destaque não tem sentido restritivo
Orações Subordinadas Adverbiais
em relação à palavra “homem”; na verdade, apenas explici-
ta uma ideia que já sabemos estar contida no conceito de
“homem”. a) Causal = A ideia de causa está diretamente ligada
àquilo que provoca um determinado fato, ao motivo do
** Saiba que: A oração subordinada adjetiva explicati- que se declara na oração principal. Principal conjunção su-
va é separada da oração principal por uma pausa que, na bordinativa causal: porque. Outras conjunções e locuções
escrita, é representada pela vírgula. É comum, por isso, que causais: como (sempre introduzido na oração anteposta à
a pontuação seja indicada como forma de diferenciar as ora- oração principal), pois, pois que, já que, uma vez que, visto
ções explicativas das restritivas; de fato, as explicativas vêm que.
sempre isoladas por vírgulas; as restritivas, não. As ruas ficaram alagadas porque a chuva foi muito forte.
Já que você não vai, eu também não vou.
3-) Orações Subordinadas Adverbiais
A diferença entre a subordinada adverbial causal e a
Uma oração subordinada adverbial é aquela que exerce sindética explicativa é que esta “explica” o fato que aconte-
a função de adjunto adverbial do verbo da oração principal. ceu na oração com a qual ela se relaciona; aquela apresenta
Assim, pode exprimir circunstância de tempo, modo, fim, a “causa” do acontecimento expresso na oração à qual ela
causa, condição, hipótese, etc. Quando desenvolvida, vem se subordina. Repare:
introduzida por uma das conjunções subordinativas (com
1-) Faltei à aula porque estava doente.
exclusão das integrantes, que introduzem orações subor-
2-) Melissa chorou, porque seus olhos estão vermelhos.
dinadas substantivas). Classifica-se de acordo com a con-
junção ou locução conjuntiva que a introduz (assim como Em 1, a oração destacada aconteceu primeiro que o
acontece com as coordenadas sindéticas). fato expresso na oração anterior, ou seja, o fato de estar
doente impediu-me de ir à aula. No exemplo 2, a oração
Durante a madrugada, eu olhei você dormindo. sublinhada relata um fato que aconteceu depois, já que
Oração Subordinada Adverbial primeiro ela chorou, depois seus olhos ficaram vermelhos.
b) Consecutiva = exprime um fato que é consequên-
A oração em destaque agrega uma circunstância de cia, é efeito do que se declara na oração principal. São in-
tempo. É, portanto, chamada de oração subordinada adver- troduzidas pelas conjunções e locuções: que, de forma que,
bial temporal. Os adjuntos adverbiais são termos acessórios de sorte que, tanto que, etc., e pelas estruturas tão...que, tan-
que indicam uma circunstância referente, via de regra, a to...que, tamanho...que.
um verbo. A classificação do adjunto adverbial depende da Principal conjunção subordinativa consecutiva: que
exata compreensão da circunstância que exprime. (precedido de tal, tanto, tão, tamanho)

70
LÍNGUA PORTUGUESA

Nunca abandonou seus ideais, de sorte que acabou con- g) Final = indica a intenção, a finalidade daquilo que
cretizando-os. se declara na oração principal. Principal conjunção subordi-
Não consigo ver televisão sem bocejar. (Oração Reduzi- nativa final: a fim de. Outras conjunções finais: que, porque
da de Infinitivo) (= para que) e a locução conjuntiva para que.
Aproximei-me dela a fim de que ficássemos amigas.
c) Condicional = Condição é aquilo que se impõe Estudarei muito para que eu me saia bem na prova.
como necessário para a realização ou não de um fato. As
orações subordinadas adverbiais condicionais exprimem o h) Proporcional = exprime ideia de proporção, ou
que deve ou não ocorrer para que se realize - ou deixe de seja, um fato simultâneo ao expresso na oração principal.
se realizar - o fato expresso na oração principal. Principal locução conjuntiva subordinativa proporcional: à
Principal conjunção subordinativa condicional: se. Ou- proporção que. Outras locuções conjuntivas proporcio-
tras conjunções condicionais: caso, contanto que, desde que, nais: à medida que, ao passo que. Há ainda as estruturas:
salvo se, exceto se, a não ser que, a menos que, sem que, quanto maior...(maior), quanto maior...(menor), quanto me-
uma vez que (seguida de verbo no subjuntivo). nor...(maior), quanto menor...(menor), quanto mais...(mais),
Se o regulamento do campeonato for bem elaborado, quanto mais...(menos), quanto menos...(mais), quanto me-
certamente o melhor time será campeão. nos...(menos).
Caso você saia, convide-me. À proporção que estudávamos mais questões acertáva-
mos.
d) Concessiva = indica concessão às ações do verbo À medida que lia mais culto ficava.
da oração principal, isto é, admitem uma contradição ou
um fato inesperado. A ideia de concessão está diretamente i) Temporal = acrescenta uma ideia de tempo ao fato
ligada ao contraste, à quebra de expectativa. Principal con- expresso na oração principal, podendo exprimir noções de
junção subordinativa concessiva: embora. Utiliza-se tam- simultaneidade, anterioridade ou posterioridade. Principal
bém a conjunção: conquanto e as locuções ainda que, ainda conjunção subordinativa temporal: quando. Outras con-
quando, mesmo que, se bem que, posto que, apesar de que. junções subordinativas temporais: enquanto, mal e locu-
Só irei se ele for. ções conjuntivas: assim que, logo que, todas as vezes que,
A oração acima expressa uma condição: o fato de “eu”
antes que, depois que, sempre que, desde que, etc.
ir só se realizará caso essa condição seja satisfeita.
Assim que Paulo chegou, a reunião acabou.
Compare agora com:
Terminada a festa, todos se retiraram. (= Quando termi-
Irei mesmo que ele não vá.
nou a festa) (Oração Reduzida de Particípio)
A distinção fica nítida; temos agora uma concessão:
Fontes de pesquisa:
irei de qualquer maneira, independentemente de sua ida. A
http://www.pciconcursos.com.br/aulas/portugues/fra-
oração destacada é, portanto, subordinada adverbial con-
se-periodo-e-oracao
cessiva.
Observe outros exemplos: SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
Embora fizesse calor, levei agasalho. coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Foi aprovado sem estudar (= sem que estudasse / em-
bora não estudasse). (reduzida de infinitivo)

e) Comparativa= As orações subordinadas adverbiais CRASE


comparativas estabelecem uma comparação com a ação
indicada pelo verbo da oração principal. Principal conjun-
ção subordinativa comparativa: como.
Ele dorme como um urso. (como um urso dorme) A crase se caracteriza como a fusão de duas vogais
Você age como criança. (age como uma criança age) idênticas, relacionadas ao emprego da preposição “a” com
o artigo feminino a(s), com o “a” inicial referente aos pro-
*geralmente há omissão do verbo. nomes demonstrativos – aquela(s), aquele(s), aquilo e com
o “a” pertencente ao pronome relativo a qual (as quais).
f) Conformativa = indica ideia de conformidade, ou Casos estes em que tal fusão encontra-se demarcada pelo
seja, apresenta uma regra, um modelo adotado para a acento grave ( ` ): à(s), àquela, àquele, àquilo, à qual, às
execução do que se declara na oração principal. Principal quais.
conjunção subordinativa conformativa: conforme. Outras O uso do acento indicativo de crase está condicionado
conjunções conformativas: como, consoante e segundo (to- aos nossos conhecimentos acerca da regência verbal e no-
das com o mesmo valor de conforme). minal, mais precisamente ao termo regente e termo regido.
Fiz o bolo conforme ensina a receita. Ou seja, o termo regente é o verbo - ou nome - que exige
Consoante reza a Constituição, todos os cidadãos têm complemento regido pela preposição “a”, e o termo regido
direitos iguais. é aquele que completa o sentido do termo regente, admi-
tindo a anteposição do artigo a(s).

71
LÍNGUA PORTUGUESA

Refiro-me a (a) funcionária antiga, e não a (a)quela con- * A letra “a” que acompanha locuções femininas (ad-
tratada recentemente. verbiais, prepositivas e conjuntivas) recebe o acento grave:
Após a junção da preposição com o artigo (destacados - locuções adverbiais: às vezes, à tarde, à noite, às pres-
entre parênteses), temos: sas, à vontade...
Refiro-me à funcionária antiga, e não àquela contratada - locuções prepositivas: à frente, à espera de, à procura
recentemente. de...
- locuções conjuntivas: à proporção que, à medida que.
O verbo referir, de acordo com sua transitividade, clas-
sifica-se como transitivo indireto, pois sempre nos referi- * Cuidado: quando as expressões acima não exerce-
mos a alguém ou a algo. Houve a fusão da preposição a + o rem a função de locuções não ocorrerá crase. Repare:
artigo feminino (à) e com o artigo feminino a + o pronome Eu adoro a noite!
demonstrativo aquela (àquela). Adoro o quê? Adoro quem? O verbo “adoro” requer
objeto direto, no caso, a noite. Aqui, o “a” é artigo, não
Observação importante: Alguns recursos servem de preposição.
ajuda para que possamos confirmar a ocorrência ou não da
crase. Eis alguns: Casos passíveis de nota:
a) Substitui-se a palavra feminina por uma masculina
equivalente. Caso ocorra a combinação a + o(s), a crase *a crase é facultativa diante de nomes próprios femini-
está confirmada. nos: Entreguei o caderno a (à) Eliza.
Os dados foram solicitados à diretora.
Os dados foram solicitados ao diretor. *também é facultativa diante de pronomes possessivos
femininos: O diretor fez referência a (à) sua empresa.
b) No caso de nomes próprios geográficos, substitui-se
o verbo da frase pelo verbo voltar. Caso resulte na expres- *facultativa em locução prepositiva “até a”: A loja ficará
são “voltar da”, há a confirmação da crase. aberta até as (às) dezoito horas.
Faremos uma visita à Bahia.
Faz dois dias que voltamos da Bahia. (crase confirmada) * Constata-se o uso da crase se as locuções preposi-
tivas à moda de, à maneira de apresentarem-se implícitas,
Não me esqueço da viagem a Roma.
mesmo diante de nomes masculinos: Tenho compulsão por
Ao voltar de Roma, relembrarei os belos momentos ja-
comprar sapatos à Luis XV. (à moda de Luís XV)
mais vividos.
* Não se efetiva o uso da crase diante da locução ad-
Atenção: Nas situações em que o nome geográfico se
verbial “a distância”: Na praia de Copacabana, observamos
apresentar modificado por um adjunto adnominal, a crase
a queima de fogos a distância.
está confirmada.
Atendo-me à bela Fortaleza, senti saudades de suas
praias. Entretanto, se o termo vier determinado, teremos uma
locução prepositiva, aí sim, ocorrerá crase: O pedestre foi
** Dica: Use a regrinha “Vou A volto DA, crase HÁ; vou arremessado à distância de cem metros.
A volto DE, crase PRA QUÊ?” Exemplo: Vou a Campinas. =
Volto de Campinas. (crase pra quê?) - De modo a evitar o duplo sentido – a ambiguidade -,
Vou à praia. = Volto da praia. (crase há!) faz-se necessário o emprego da crase.
ATENÇÃO: quando o nome de lugar estiver especifica- Ensino à distância.
do, ocorrerá crase. Veja: Ensino a distância.
Retornarei à São Paulo dos bandeirantes. = mesmo
que, pela regrinha acima, seja a do “VOLTO DE” * Em locuções adverbiais formadas por palavras repeti-
Irei à Salvador de Jorge Amado. das, não há ocorrência da crase.
Ela ficou frente a frente com o agressor.
* A letra “a” dos pronomes demonstrativos aquele(s), Eu o seguirei passo a passo.
aquela(s) e aquilo receberão o acento grave se o termo re-
gente exigir complemento regido da preposição “a”. Casos em que não se admite o emprego da crase:
Entregamos a encomenda àquela menina.
(preposição + pronome demonstrativo) * Antes de vocábulos masculinos.
As produções escritas a lápis não serão corrigidas.
Iremos àquela reunião. Esta caneta pertence a Pedro.
(preposição + pronome demonstrativo)
* Antes de verbos no infinitivo.
Sua história é semelhante às que eu ouvia quando crian- Ele estava a cantar.
ça. (àquelas que eu ouvia quando criança) Começou a chover.
(preposição + pronome demonstrativo)

72
LÍNGUA PORTUGUESA

* Antes de numeral. Questões


O número de aprovados chegou a cem.
Faremos uma visita a dez países. 1-) (POLÍCIA CIVIL/SC – AGENTE DE POLÍCIA – ACA-
FE/2014) Assinale a alternativa que preenche corretamente
Observação: as lacunas da frase a seguir.
- Nos casos em que o numeral indicar horas – funcio- Quando________ três meses disse-me que iria _________
nando como uma locução adverbial feminina – ocorrerá Grécia para visitar ___ sua tia, vi-me na obrigação de ajudá-
crase: Os passageiros partirão às dezenove horas. -la _______ resgatar as milhas _________ quais tinha direito.
A-) a - há - à - à - às
- Diante de numerais ordinais femininos a crase está B-) há - à - a - a – às
confirmada, visto que estes não podem ser empregados C-) há - a - há - à - as
sem o artigo: As saudações foram direcionadas à primeira D-) a - à - a - à - às
aluna da classe. E-) a - a - à - há – as
- Não ocorrerá crase antes da palavra casa, quan- 1-) Quando HÁ (sentido de tempo) três meses disse-
do essa não se apresentar determinada: Chegamos todos
me que iria À (“vou a, volto da, crase há!”) Grécia para vi-
exaustos a casa.
sitar A (artigo) sua tia, vi-me na obrigação de ajudá-la A
Entretanto, se vier acompanhada de um adjunto ad-
(ajudar “ela” a fazer algo) resgatar as milhas ÀS quais tinha
nominal, a crase estará confirmada: Chegamos todos exaus-
direito (tinha direito a quê? às milhas – regência nominal).
tos à casa de Marcela.
Teremos: há, à, a, a, às.
- não há crase antes da palavra “terra”, quando essa RESPOSTA: “B”.
indicar chão firme: Quando os navegantes regressaram a
terra, já era noite. 2-) (EMPLASA/SP – ANALISTA JURÍDICO – DIREITO –
Contudo, se o termo estiver precedido por um deter- VUNESP/2014)
minante ou referir-se ao planeta Terra, ocorrerá crase. A ministra de Direitos Humanos instituiu grupo de tra-
Paulo viajou rumo à sua terra natal. balho para proceder _____ medidas necessárias _____ exu-
O astronauta voltou à Terra. mação dos restos mortais do ex-presidente João Goulart,
sepultado em São Borja (RS), em 1976. Com a exumação de
- não ocorre crase antes de pronomes que requerem o Jango, o governo visa esclarecer se o ex-presidente morreu
uso do artigo. de causas naturais, ou seja, devido ____ uma parada cardía-
Os livros foram entregues a mim. ca – que tem sido a versão considerada oficial até hoje –, ou
Dei a ela a merecida recompensa. se sua morte se deve ______ envenenamento.
(http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,-
Observação: Pelo fato de os pronomes de tratamento governo-cria-grupo-exumar--restos-mortais-de- jan-
relativos à senhora, senhorita e madame admitirem artigo, go,1094178,0.htm 07. 11.2013. Adaptado)
o uso da crase está confirmado no “a” que os antecede, no
caso de o termo regente exigir a preposição. Segundo a norma-padrão da língua portuguesa, as la-
Todos os méritos foram conferidos à senhorita Patrícia. cunas da frase devem ser completadas, correta e respecti-
vamente, por
*não ocorre crase antes de nome feminino utilizado em (A) a ... à ... a ... a
sentido genérico ou indeterminado: (B) as ... à ... a ... à
Estamos sujeitos a críticas. (C) às ... a ... à ... a
Refiro-me a conversas paralelas. (D) à ... à ... à ... a
(E) a ... a ... a ... à
Fontes de pesquisa:
http://www.portugues.com.br/gramatica/o-uso-crase-.
2-) A ministra de Direitos Humanos instituiu grupo de
html
trabalho para proceder a medidas (palavra no plural, ge-
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. neralizando) necessárias à (regência nominal pede prepo-
Português linguagens: volume 3 / Wiliam Roberto Cere- sição) exumação dos restos mortais do ex-presidente João
ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo: Goulart, sepultado em São Borja (RS), em 1976. Com a exu-
Saraiva, 2010. mação de Jango, o governo visa esclarecer se o ex-presi-
dente morreu de causas naturais, ou seja, devido a uma
(artigo indefinido) parada cardíaca – que tem sido a versão
considerada oficial até hoje –, ou se sua morte se deve a
(regência verbal) envenenamento. A / à / a / a
RESPOSTA: “A”.

73
LÍNGUA PORTUGUESA

3-) (SABESP/SP – ADVOGADO – FCC/2014) 2) Orações iniciadas por palavras interrogativas: Quem
Para chegar a esta conclusão, os pesquisadores fizeram lhe disse isso?
uma escavação arqueológica nas ruínas da antiga cidade
de Tikal, na Guatemala. 3) Orações iniciadas por palavras exclamativas: Quanto
O a empregado na frase acima, imediatamente depois se ofendem!
de chegar, deverá receber o sinal indicativo de crase caso o
segmento grifado seja substituído por: 4) Orações que exprimem desejo (orações optativas):
(A) Uma tal ilação. Que Deus o ajude.
(B) Afirmações como essa.
(C) Comprovação dessa assertiva. 5) A próclise é obrigatória quando se utiliza o pronome
(D) Emitir uma opinião desse tipo. reto ou sujeito expresso:
(E) Semelhante resultado. Eu lhe entregarei o material amanhã.
Tu sabes cantar?
3-)
(A) Uma tal ilação – chegar a uma (não há acento grave Mesóclise = É a colocação pronominal no meio do
antes de artigo) verbo. A mesóclise é usada:
(B) Afirmações como essa – chegar a afirmações (antes
de palavra no plural e o “a” no singular) Quando o verbo estiver no futuro do presente ou fu-
(C) Comprovação dessa assertiva – chegar à compro- turo do pretérito, contanto que esses verbos não estejam
vação precedidos de palavras que exijam a próclise. Exemplos:
(D) Emitir uma opinião desse tipo – chegar a emitir Realizar-se-á, na próxima semana, um grande evento
(verbo no infinitivo) em prol da paz no mundo.
(E) Semelhante resultado – chegar a semelhante (pala- Repare que o pronome está “no meio” do verbo “rea-
vra masculina) lizará”:
RESPOSTA: “C”. realizar – SE – á. Se houvesse na oração alguma palavra
que justificasse o uso da próclise, esta prevaleceria. Veja:
Não se realizará...
Não fossem os meus compromissos, acompanhar-te-ia
nessa viagem.
COLOCAÇÃO PRONOMINAL (com presença de palavra que justifique o uso de pró-
clise: Não fossem os meus compromissos, EU te acompanha-
ria nessa viagem).
Colocação Pronominal trata da correta colocação dos
Ênclise = É a colocação pronominal depois do verbo. A
pronomes oblíquos átonos na frase. ênclise é usada quando a próclise e a mesóclise não forem
possíveis:
* Dica: Pronome Oblíquo é aquele que exerce a função
de complemento verbal (objeto). Por isso, memorize: 1) Quando o verbo estiver no imperativo afirmativo:
OBlíquo = OBjeto! Quando eu avisar, silenciem-se todos.
Embora na linguagem falada a colocação dos prono- 2) Quando o verbo estiver no infinitivo impessoal: Não
mes não seja rigorosamente seguida, algumas normas de- era minha intenção machucá-la.
vem ser observadas na linguagem escrita.
3) Quando o verbo iniciar a oração. (até porque não se
Próclise = É a colocação pronominal antes do verbo. A inicia período com pronome oblíquo).
próclise é usada: Vou-me embora agora mesmo.
Levanto-me às 6h.
1) Quando o verbo estiver precedido de palavras que
atraem o pronome para antes do verbo. São elas: 4) Quando houver pausa antes do verbo: Se eu passo
a) Palavras de sentido negativo: não, nunca, ninguém, no concurso, mudo-me hoje mesmo!
jamais, etc.: Não se desespere!
b) Advérbios: Agora se negam a depor. 5-) Quando o verbo estiver no gerúndio: Recusou a pro-
c) Conjunções subordinativas: Espero que me expliquem posta fazendo-se de desentendida.
tudo!
d) Pronomes relativos: Venceu o concurseiro que se es- Colocação pronominal nas locuções verbais
forçou. - após verbo no particípio = pronome depois do verbo
e) Pronomes indefinidos: Poucos te deram a oportuni- auxiliar (e não depois do particípio):
dade. Tenho me deliciado com a leitura!
Eu tenho me deliciado com a leitura!
f) Pronomes demonstrativos: Isso me magoa muito. Eu me tenho deliciado com a leitura!

74
LÍNGUA PORTUGUESA

- não convém usar hífen nos tempos compostos e nas 1-) Primeiramente identifiquemos se temos objeto di-
locuções verbais: reto ou indireto. Reconhece o quê? Resposta: a informali-
Vamos nos unir! dade. Pergunta e resposta sem preposição, então: objeto
Iremos nos manifestar. direto. Não utilizaremos “lhe” – que é para objeto indireto.
Como temos a presença do “que” – independente de sua
- quando há um fator para próclise nos tempos com- função no período (pronome relativo, no caso!) – a regra
postos ou locuções verbais: opção pelo uso do pronome pede próclise (pronome oblíquo antes do verbo): que a re-
oblíquo “solto” entre os verbos = Não vamos nos preocupar conhecem.
(e não: “não nos vamos preocupar”). RESPOSTA: “A”.

Observações importantes: 2-) (SABESP – TECNÓLOGO – FCC/2014) A substitui-


ção do elemento grifado pelo pronome correspondente foi
Emprego de o, a, os, as realizada de modo INCORRETO em:
1) Em verbos terminados em vogal ou ditongo oral, os (A) que permitiu à civilização = que lhe permitiu
pronomes: o, a, os, as não se alteram. (B) envolveu diferentes fatores = envolveu-os
Chame-o agora. (C) para fazer a dragagem = para fazê-la
Deixei-a mais tranquila. (D) que desviava a água = que lhe desviava
(E) supriam a necessidade = supriam-na
2) Em verbos terminados em r, s ou z, estas consoantes
finais alteram-se para lo, la, los, las. Exemplos: 2-)
(Encontrar) Encontrá-lo é o meu maior sonho. (A) que permitiu à civilização = que lhe permitiu = cor-
(Fiz) Fi-lo porque não tinha alternativa. reta
(B) envolveu diferentes fatores = envolveu-os = correta
3) Em verbos terminados em ditongos nasais (am, em, (C) para fazer a dragagem = para fazê-la = correta
ão, õe), os pronomes o, a, os, as alteram-se para no, na, (D) que desviava a água = que lhe desviava = que a
nos, nas. desviava
Chamem-no agora. (E) supriam a necessidade = supriam-na = correta
Põe-na sobre a mesa. RESPOSTA: “D”.

* Dica: 3-) (TRT/AL - ANALISTA JUDICIÁRIO - FCC/2014)


Próclise – pró lembra pré; pré é prefixo que significa cruzando os desertos do oeste da China − que con-
“antes”! Pronome antes do verbo! tornam a Índia − adotam complexas providências
Ênclise – “en”... lembra, pelo “som”, /Ənd/ (end, em In- Fazendo-se as alterações necessárias, os segmentos
glês – que significa “fim, final!). Pronome depois do verbo! grifados acima foram corretamente substituídos por um
Mesóclise – pronome oblíquo no Meio do verbo pronome, respectivamente, em:
Pronome Oblíquo – função de objeto (A) os cruzando - que contornam-lhe - adotam-as
(B) cruzando-lhes - que contornam-na - as adotam
Fontes de pesquisa: (C) cruzando-os - que lhe contornam - adotam-lhes
http://www.portugues.com.br/gramatica/colocacao- (D) cruzando-os - que a contornam - adotam-nas
-pronominal-.html (E) lhes cruzando - que contornam-a - as adotam
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. 3-) Não podemos utilizar “lhes”, que corresponde ao
Português linguagens: volume 3 / Wiliam Roberto Cere- objeto indireto (verbo “cruzar” pede objeto direto: cruzar
ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo: o quê?), portanto já desconsideramos as alternativas “B”
Saraiva, 2010. e “D”. Ao iniciarmos um parágrafo (já que no enunciado
temos uma oração assim) devemos usar ênclise: (cruzan-
Questões do-os); na segunda oração temos um pronome relativo (dá
para substituirmos por “o qual”), o que nos obriga a usar
1-) (IBGE - SUPERVISOR DE PESQUISAS – ADMINIS- a próclise (que a contorna); “adotam” exige objeto direto
TRAÇÃO - CESGRANRIO/2014) Em “Há políticas que reco- (adotam quem ou o quê?), chegando à resposta: adotam-
nhecem a informalidade”, ao substituir o termo destacado nas (quando o verbo terminar em “m” e usarmos um pro-
por um pronome, de acordo com a norma-padrão da lín- nome oblíquo direto, lembre-se do alfabeto: jklM – N!).
gua, o trecho assume a formulação apresentada em: RESPOSTA: “D”.
A) Há políticas que a reconhecem.
B) Há políticas que reconhecem-a.
C) Há políticas que reconhecem-na.
D) Há políticas que reconhecem ela.
E) Há políticas que lhe reconhecem.

75
LÍNGUA PORTUGUESA

c) Homógrafas e homófonas simultaneamente (ou


SIGNIFICADO DAS PALAVRAS perfeitas): São palavras iguais na escrita e na pronúncia:
caminho (subst.) e caminho (verbo);
cedo (verbo) e cedo (adv.);
livre (adj.) e livre (verbo).
Semântica é o estudo da significação das palavras e
das suas mudanças de significação através do tempo ou - Parônimos = palavras com sentidos diferentes, po-
em determinada época. A maior importância está em dis- rém de formas relativamente próximas. São palavras pa-
tinguir sinônimos e antônimos (sinonímia / antonímia) e recidas na escrita e na pronúncia: cesta (receptáculo de
homônimos e parônimos (homonímia / paronímia). vime; cesta de basquete/esporte) e sesta (descanso após o
almoço), eminente (ilustre) e iminente (que está para ocor-
Sinônimos rer), osso (substantivo) e ouço (verbo), sede (substantivo e/
ou verbo “ser” no imperativo) e cede (verbo), comprimento
São palavras de sentido igual ou aproximado: alfabeto (medida) e cumprimento (saudação), autuar (processar) e
- abecedário; brado, grito - clamor; extinguir, apagar - abolir. atuar (agir), infligir (aplicar pena) e infringir (violar), deferir
Duas palavras são totalmente sinônimas quando são (atender a) e diferir (divergir), suar (transpirar) e soar (emi-
substituíveis, uma pela outra, em qualquer contexto (cara tir som), aprender (conhecer) e apreender (assimilar; apro-
e rosto, por exemplo); são parcialmente sinônimas quando, priar-se de), tráfico (comércio ilegal) e tráfego (relativo a
ocasionalmente, podem ser substituídas, uma pela outra, movimento, trânsito), mandato (procuração) e mandado
em determinado enunciado (aguardar e esperar). (ordem), emergir (subir à superfície) e imergir (mergulhar,
afundar).
Observação: A contribuição greco-latina é responsá-
vel pela existência de numerosos pares de sinônimos: ad- Hiperonímia e Hiponímia
versário e antagonista; translúcido e diáfano; semicírculo e
Hipônimos e hiperônimos são palavras que pertencem
hemiciclo; contraveneno e antídoto; moral e ética; colóquio e
a um mesmo campo semântico (de sentido), sendo o hipô-
diálogo; transformação e metamorfose; oposição e antítese.
nimo uma palavra de sentido mais específico; o hiperôni-
mo, mais abrangente.
Antônimos
O hiperônimo impõe as suas propriedades ao hipôni-
mo, criando, assim, uma relação de dependência semânti-
São palavras que se opõem através de seu significado:
ca. Por exemplo: Veículos está numa relação de hiperoní-
ordem - anarquia; soberba - humildade; louvar - censurar; mia com carros, já que veículos é uma palavra de significa-
mal - bem. do genérico, incluindo motos, ônibus, caminhões. Veículos é
um hiperônimo de carros.
Observação: A antonímia pode se originar de um pre- Um hiperônimo pode substituir seus hipônimos em
fixo de sentido oposto ou negativo: bendizer e maldizer; quaisquer contextos, mas o oposto não é possível. A utili-
simpático e antipático; progredir e regredir; concórdia e dis- zação correta dos hiperônimos, ao redigir um texto, evita a
córdia; ativo e inativo; esperar e desesperar; comunista e an- repetição desnecessária de termos.
ticomunista; simétrico e assimétrico.
Fontes de pesquisa:
Homônimos e Parônimos http://www.coladaweb.com/portugues/sinonimos,-an-
tonimos,-homonimos-e-paronimos
- Homônimos = palavras que possuem a mesma grafia SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
ou a mesma pronúncia, mas significados diferentes. Podem coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
ser Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Cere-
ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
a) Homógrafas: são palavras iguais na escrita e dife- Saraiva, 2010.
rentes na pronúncia: Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-
rego (subst.) e rego (verbo); ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.
colher (verbo) e colher (subst.); XIMENES, Sérgio. Minidicionário Ediouro da Lìngua Por-
jogo (subst.) e jogo (verbo); tuguesa – 2ªed. reform. – São Paulo: Ediouro, 2000.
denúncia (subst.) e denuncia (verbo);
providência (subst.) e providencia (verbo). Denotação e Conotação

b) Homófonas: são palavras iguais na pronúncia e di- Exemplos de variação no significado das palavras:
ferentes na escrita:
acender (atear) e ascender (subir); Os domadores conseguiram enjaular a fera. (sentido li-
concertar (harmonizar) e consertar (reparar); teral)
cela (compartimento) e sela (arreio); Ele ficou uma fera quando soube da notícia. (sentido
censo (recenseamento) e senso ( juízo); figurado)
paço (palácio) e passo (andar). Aquela aluna é fera na matemática. (sentido figurado)

76
LÍNGUA PORTUGUESA

As variações nos significados das palavras ocasionam Polissemia


o sentido denotativo (denotação) e o sentido conotativo
(conotação) das palavras. Polissemia é a propriedade de uma palavra adquirir
multiplicidade de sentidos, que só se explicam dentro de
Denotação um contexto. Trata-se, realmente, de uma única palavra,
mas que abarca um grande número de significados dentro
Uma palavra é usada no sentido denotativo quando de seu próprio campo semântico.
apresenta seu significado original, independentemente Reportando-nos ao conceito de Polissemia, logo per-
do contexto em que aparece. Refere-se ao seu significado cebemos que o prefixo “poli” significa multiplicidade de
mais objetivo e comum, aquele imediatamente reconheci- algo. Possibilidades de várias interpretações levando-se em
do e muitas vezes associado ao primeiro significado que consideração as situações de aplicabilidade. Há uma infini-
aparece nos dicionários, sendo o significado mais literal da dade de exemplos em que podemos verificar a ocorrência
palavra. da polissemia:
A denotação tem como finalidade informar o receptor O rapaz é um tremendo gato.
da mensagem de forma clara e objetiva, assumindo um ca- O gato do vizinho é peralta.
ráter prático. É utilizada em textos informativos, como jor- Precisei fazer um gato para que a energia voltasse.
nais, regulamentos, manuais de instrução, bulas de medi- Pedro costuma fazer alguns “bicos” para garantir sua
camentos, textos científicos, entre outros. A palavra “pau”, sobrevivência
por exemplo, em seu sentido denotativo é apenas um pe- O passarinho foi atingido no bico.
daço de madeira. Outros exemplos:
O elefante é um mamífero. Nas expressões polissêmicas rede de deitar, rede de
As estrelas deixam o céu mais bonito! computadores e rede elétrica, por exemplo, temos em
comum a palavra “rede”, que dá às expressões o sentido
Conotação de “entrelaçamento”. Outro exemplo é a palavra “xadrez”,
que pode ser utilizada representando “tecido”, “prisão” ou
Uma palavra é usada no sentido conotativo quando “jogo” – o sentido comum entre todas as expressões é o
apresenta diferentes significados, sujeitos a diferentes in- formato quadriculado que têm.
terpretações, dependendo do contexto em que esteja inse-
rida, referindo-se a sentidos, associações e ideias que vão Polissemia e homonímia
além do sentido original da palavra, ampliando sua signifi-
cação mediante a circunstância em que a mesma é utiliza- A confusão entre polissemia e homonímia é bastante
da, assumindo um sentido figurado e simbólico. Como no comum. Quando a mesma palavra apresenta vários signifi-
exemplo da palavra “pau”: em seu sentido conotativo ela cados, estamos na presença da polissemia. Por outro lado,
pode significar castigo (dar-lhe um pau), reprovação (tomei quando duas ou mais palavras com origens e significados
pau no concurso). distintos têm a mesma grafia e fonologia, temos uma ho-
A conotação tem como finalidade provocar sentimen- monímia.
tos no receptor da mensagem, através da expressividade e A palavra “manga” é um caso de homonímia. Ela pode
afetividade que transmite. É utilizada principalmente numa significar uma fruta ou uma parte de uma camisa. Não é
linguagem poética e na literatura, mas também ocorre em polissemia porque os diferentes significados para a pala-
conversas cotidianas, em letras de música, em anúncios pu- vra “manga” têm origens diferentes. “Letra” é uma palavra
blicitários, entre outros. Exemplos: polissêmica: pode significar o elemento básico do alfabeto,
Você é o meu sol! o texto de uma canção ou a caligrafia de um determinado
Minha vida é um mar de tristezas. indivíduo. Neste caso, os diferentes significados estão in-
Você tem um coração de pedra! terligados porque remetem para o mesmo conceito, o da
escrita.
* Dica: Procure associar Denotação com Dicionário:
trata-se de definição literal, quando o termo é utilizado Polissemia e ambiguidade
com o sentido que consta no dicionário.
Polissemia e ambiguidade têm um grande impacto na
Fontes de pesquisa: interpretação. Na língua portuguesa, um enunciado pode
http://www.normaculta.com.br/conotacao-e-denota- ser ambíguo, ou seja, apresentar mais de uma interpreta-
cao/ ção. Esta ambiguidade pode ocorrer devido à colocação
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac- específica de uma palavra (por exemplo, um advérbio) em
coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. uma frase. Vejamos a seguinte frase:
Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Cere- Pessoas que têm uma alimentação equilibrada frequen-
ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo: temente são felizes.
Saraiva, 2010. Neste caso podem existir duas interpretações diferen-
tes:

77
LÍNGUA PORTUGUESA

As pessoas têm alimentação equilibrada porque são feli- Observação: toda metáfora é uma espécie de compa-
zes ou são felizes porque têm uma alimentação equilibrada. ração implícita, em que o elemento comparativo não apa-
rece.
De igual forma, quando uma palavra é polissêmica, ela Seus olhos são como luzes brilhantes.
pode induzir uma pessoa a fazer mais do que uma interpre- O exemplo acima mostra uma comparação evidente,
tação. Para fazer a interpretação correta é muito importan- através do emprego da palavra como.
te saber qual o contexto em que a frase é proferida. Observe agora: Seus olhos são luzes brilhantes.
Muitas vezes, a disposição das palavras na construção Neste exemplo não há mais uma comparação (note a
do enunciado pode gerar ambiguidade ou, até mesmo, co- ausência da partícula comparativa), e sim símile, ou seja,
micidade. Repare na figura abaixo: qualidade do que é semelhante.
Por fim, no exemplo: As luzes brilhantes olhavam-me.
Há substituição da palavra olhos por luzes brilhantes. Esta
é a verdadeira metáfora.

Observe outros exemplos:


1) “Meu pensamento é um rio subterrâneo.” (Fernando
Pessoa)
Neste caso, a metáfora é possível na medida em que
o poeta estabelece relações de semelhança entre um rio
subterrâneo e seu pensamento (pode estar relacionando a
fluidez, a profundidade, a inatingibilidade, etc.).

2) Minha alma é uma estrada de terra que leva a lugar


(http://www.humorbabaca.com/fotos/diversas/corto- algum.
cabelo-e-pinto. Acesso em 15/9/2014). Uma estrada de terra que leva a lugar algum é, na frase
Poderíamos corrigir o cartaz de inúmeras maneiras, acima, uma metáfora. Por trás do uso dessa expressão que
indica uma alma rústica e abandonada (e angustiadamente
mas duas seriam:
inútil), há uma comparação subentendida: Minha alma é
Corte e coloração capilar
tão rústica, abandonada (e inútil) quanto uma estrada de
ou
terra que leva a lugar algum.
Faço corte e pintura capilar
A Amazônia é o pulmão do mundo.
Fontes de pesquisa:
Em sua mente povoa só inveja.
http://www.brasilescola.com/gramatica/polissemia.
htm Metonímia
Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Cere-
ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo: É a substituição de um nome por outro, em virtude de
Saraiva, 2010. existir entre eles algum relacionamento. Tal substituição
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac- pode acontecer dos seguintes modos:
coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
1 - Autor pela obra: Gosto de ler Machado de Assis. (=
Figura de Linguagem, Pensamento e Construção Gosto de ler a obra literária de Machado de Assis).
2 - Inventor pelo invento: Édson ilumina o mundo. (=
Figura de Palavra As lâmpadas iluminam o mundo).
3 - Símbolo pelo objeto simbolizado: Não te afastes
A figura de palavra consiste na substituição de uma da cruz. (= Não te afastes da religião).
palavra por outra, isto é, no emprego figurado, simbólico, 4 - Lugar pelo produto do lugar: Fumei um saboroso
seja por uma relação muito próxima (contiguidade), seja Havana. (= Fumei um saboroso charuto).
por uma associação, uma comparação, uma similaridade. 5 - Efeito pela causa: Sócrates bebeu a morte. (= Só-
Estes dois conceitos básicos - contiguidade e similaridade - crates tomou veneno).
permitem-nos reconhecer dois tipos de figuras de palavras: 6 - Causa pelo efeito: Moro no campo e como do meu
a metáfora e a metonímia. trabalho. (= Moro no campo e como o alimento que pro-
duzo).
Metáfora 7 - Continente pelo conteúdo: Bebeu o cálice todo. (=
Bebeu todo o líquido que estava no cálice).
Consiste em utilizar uma palavra ou uma expressão em 8 - Instrumento pela pessoa que utiliza: Os microfo-
lugar de outra, sem que haja uma relação real, mas em vir- nes foram atrás dos jogadores. (= Os repórteres foram atrás
tude da circunstância de que o nosso espírito as associa dos jogadores).
e percebe entre elas certas semelhanças. É o emprego da 9 - Parte pelo todo: Várias pernas passavam apres-
palavra fora de seu sentido normal. sadamente. (= Várias pessoas passavam apressadamente).

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LÍNGUA PORTUGUESA

10 - Gênero pela espécie: Os mortais pensam e so- Fontes de pesquisa:


frem nesse mundo. (= Os homens pensam e sofrem nesse http://www.soportugues.com.br/secoes/estil/estil2.
mundo). php
11 - Singular pelo plural: A mulher foi chamada para SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
ir às ruas na luta por seus direitos. (= As mulheres foram coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
chamadas, não apenas uma mulher). Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Cere-
12 - Marca pelo produto: Minha filha adora danone. ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
(= Minha filha adora o iogurte que é da marca Danone). Saraiva, 2010.
13 - Espécie pelo indivíduo: O homem foi à Lua. (=
Alguns astronautas foram à Lua). Antítese
14 - Símbolo pela coisa simbolizada: A balança pen-
derá para teu lado. (= A justiça ficará do teu lado). Consiste no emprego de palavras que se opõem quan-
to ao sentido. O contraste que se estabelece serve, essen-
Saiba que: Sinédoque se relaciona com o conceito de cialmente, para dar uma ênfase aos conceitos envolvidos
extensão (como nos exemplos 9, 10 e 11, acima), enquanto que não se conseguiria com a exposição isolada dos mes-
que a metonímia abrange apenas os casos de analogia ou mos. Observe os exemplos:
de relação. Não há necessidade, atualmente, de se fazer “O mito é o nada que é tudo.” (Fernando Pessoa)
distinção entre ambas as figuras. O corpo é grande e a alma é pequena.
“Quando um muro separa, uma ponte une.”
Catacrese Não há gosto sem desgosto.

Trata-se de uma metáfora que, dado seu uso contínuo, Paradoxo ou oximoro
cristalizou-se. A catacrese costuma ocorrer quando, por
falta de um termo específico para designar um conceito, É a associação de ideias, além de contrastantes, contra-
toma-se outro “emprestado”. Assim, passamos a empregar ditórias. Seria a antítese ao extremo.
algumas palavras fora de seu sentido original. Exemplos: Era dor, sim, mas uma dor deliciosa.
“asa da xícara”, “batata da perna”, “maçã do rosto”, “pé da Ouvimos as vozes do silêncio.
mesa”, “braço da cadeira”, “coroa do abacaxi”.
Eufemismo
Perífrase ou Antonomásia
É o emprego de uma expressão mais suave, mais nobre
ou menos agressiva, para comunicar alguma coisa áspera,
Trata-se de uma expressão que designa um ser através
desagradável ou chocante.
de alguma de suas características ou atributos, ou de um
Depois de muito sofrimento, entregou a alma ao Senhor.
fato que o celebrizou. É a substituição de um nome por
(= morreu)
outro ou por uma expressão que facilmente o identifique: O prefeito ficou rico por meios ilícitos. (= roubou)
A Cidade Maravilhosa (= Rio de Janeiro) continua Fernando faltou com a verdade. (= mentiu)
atraindo visitantes do mundo todo. Faltar à verdade. (= mentir)
A Cidade-Luz (=Paris)
O rei das selvas (=o leão) Ironia
Observação: quando a perífrase indica uma pessoa, É sugerir, pela entoação e contexto, o contrário do que
recebe o nome de antonomásia. Exemplos: as palavras ou frases expressam, geralmente apresentando
O Divino Mestre (= Jesus Cristo) passou a vida pratican- intenção sarcástica. A ironia deve ser muito bem construí-
do o bem. da para que cumpra a sua finalidade; mal construída, pode
O Poeta dos Escravos (= Castro Alves) morreu muito jo- passar uma ideia exatamente oposta à desejada pelo emis-
vem. sor.
O Poeta da Vila (= Noel Rosa) compôs lindas canções. Como você foi bem na prova! Não tirou nem a nota mí-
nima.
Sinestesia Parece um anjinho aquele menino, briga com todos que
estão por perto.
Consiste em mesclar, numa mesma expressão, as sen- O governador foi sutil como um elefante.
sações percebidas por diferentes órgãos do sentido. É o
cruzamento de sensações distintas. Hipérbole
Um grito áspero revelava tudo o que sentia. (grito = au-
ditivo; áspero = tátil) É a expressão intencionalmente exagerada com o intui-
No silêncio escuro do seu quarto, aguardava os aconte- to de realçar uma ideia.
cimentos. (silêncio = auditivo; escuro = visual) Faria isso milhões de vezes se fosse preciso.
Tosse gorda. (sensação auditiva X sensação tátil) “Rios te correrão dos olhos, se chorares.” (Olavo Bilac)
O concurseiro quase morre de tanto estudar!

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LÍNGUA PORTUGUESA

Prosopopeia ou Personificação Elipse

É a atribuição de ações ou qualidades de seres anima- Consiste na omissão de um ou mais termos numa ora-
dos a seres inanimados, ou características humanas a seres ção e que podem ser facilmente identificados, tanto por
não humanos. Observe os exemplos: elementos gramaticais presentes na própria oração, quanto
As pedras andam vagarosamente. pelo contexto.
O livro é um mudo que fala, um surdo que ouve, um A catedral da Sé. (a igreja catedral)
cego que guia. Domingo irei ao estádio. (no domingo eu irei ao está-
A floresta gesticulava nervosamente diante da serra. dio)
Chora, violão.
Zeugma
Apóstrofe
Zeugma é uma forma de elipse. Ocorre quando é feita
Consiste na “invocação” de alguém ou de alguma coisa a omissão de um termo já mencionado anteriormente.
personificada, de acordo com o objetivo do discurso, que Ele gosta de geografia; eu, de português. (eu gosto de
pode ser poético, sagrado ou profano. Caracteriza-se pelo português)
chamamento do receptor da mensagem, seja ele imaginá- Na casa dela só havia móveis antigos; na minha, só mo-
rio ou não. A introdução da apóstrofe interrompe a linha de dernos. (só havia móveis)
pensamento do discurso, destacando-se assim a entidade Ela gosta de natação; eu, de vôlei. (gosto de)
a que se dirige e a ideia que se pretende pôr em evidên-
cia com tal invocação. Realiza-se por meio do vocativo. Silepse
Exemplos:
Moça, que fazes aí parada? A silepse é a concordância que se faz com o termo que
“Pai Nosso, que estais no céu” não está expresso no texto, mas, sim, subentendido. É uma
Deus, ó Deus! Onde estás? concordância anormal, psicológica, porque se faz com um
termo oculto, facilmente identificado. Há três tipos de si-
Gradação lepse: de gênero, número e pessoa.

Silepse de Gênero - Os gêneros são masculino e femi-


Apresentação de ideias por meio de palavras, sinôni-
nino. Ocorre a silepse de gênero quando a concordância se
mas ou não, em ordem ascendente (clímax) ou descenden-
faz com a ideia que o termo comporta. Exemplos:
te (anticlímax). Observe este exemplo:
Havia o céu, havia a terra, muita gente e mais Joana
1) A bonita Porto Velho sofreu mais uma vez com o calor
com seus olhos claros e brincalhões...
intenso.
Neste caso, o adjetivo bonita não está concordando
O objetivo do narrador é mostrar a expressividade dos
com o termo Porto Velho, que gramaticalmente pertence
olhos de Joana. Para chegar a este detalhe, ele se refere ao
ao gênero masculino, mas com a ideia contida no termo (a
céu, à terra, às pessoas e, finalmente, a Joana e seus olhos. cidade de Porto Velho).
Nota-se que o pensamento foi expresso em ordem decres-
cente de intensidade. Outros exemplos: 2) Vossa Excelência está preocupado.
“Vive só para mim, só para a minha vida, só para meu O adjetivo preocupado concorda com o sexo da pes-
amor”. (Olavo Bilac) soa, que nesse caso é masculino, e não com o termo Vossa
“O trigo... nasceu, cresceu, espigou, amadureceu, colheu- Excelência.
se.” (Padre Antônio Vieira)
Silepse de Número - Os números são singular e plural.
Fontes de pesquisa: A silepse de número ocorre quando o verbo da oração não
http://www.soportugues.com.br/secoes/estil/estil5. concorda gramaticalmente com o sujeito da oração, mas
php com a ideia que nele está contida. Exemplos:
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac- A procissão saiu. Andaram por todas as ruas da cidade
coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. de Salvador.
Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Cere- O povo corria por todos os lados e gritavam muito alto.
ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
Saraiva, 2010. Note que nos exemplos acima, os verbos andaram e
gritavam não concordam gramaticalmente com os sujei-
As figuras de construção (ou sintática, de sintaxe) tos das orações (que se encontram no singular, procissão
ocorrem quando desejamos atribuir maior expressividade e povo, respectivamente), mas com a ideia que neles está
ao significado. Assim, a lógica da frase é substituída pela contida. Procissão e povo dão a ideia de muita gente, por
maior expressividade que se dá ao sentido. isso que os verbos estão no plural.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Silepse de Pessoa - Três são as pessoas gramaticais: Observação: o pleonasmo só tem razão de ser quan-
eu, tu e ele (as três pessoas do singular); nós, vós, eles (as do confere mais vigor à frase; caso contrário, torna-se um
três do plural). A silepse de pessoa ocorre quando há um pleonasmo vicioso:
desvio de concordância. O verbo, mais uma vez, não con- Vi aquela cena com meus próprios olhos.
corda com o sujeito da oração, mas sim com a pessoa que Vamos subir para cima.
está inscrita no sujeito. Exemplos: Ele desceu pra baixo.
O que não compreendo é como os brasileiros persista-
mos em aceitar essa situação. Anáfora
Os agricultores temos orgulho de nosso trabalho.
“Dizem que os cariocas somos poucos dados aos jardins É a repetição de uma ou mais palavras no início de vá-
públicos.” (Machado de Assis) rias frases, criando, assim, um efeito de reforço e de coe-
rência. Pela repetição, a palavra ou expressão em causa é
Observe que os verbos persistamos, temos e somos não posta em destaque, permitindo ao escritor valorizar de-
concordam gramaticalmente com os seus sujeitos (brasilei- terminado elemento textual. Os termos anafóricos podem
ros, agricultores e cariocas, que estão na terceira pessoa), muitas vezes ser substituídos por pronomes.
mas com a ideia que neles está contida (nós, os brasileiros, Encontrei um amigo ontem. Ele me disse que te conhe-
os agricultores e os cariocas). cia.
“Tudo cura o tempo, tudo gasta, tudo digere, tudo aca-
Polissíndeto / Assíndeto ba.” (Padre Vieira)
Para estudarmos as duas figuras de construção é ne- Anacoluto
cessário recordar um conceito estudado em sintaxe sobre
período composto. No período composto por coordena- Consiste na mudança da construção sintática no meio
ção, podemos ter orações sindéticas ou assindéticas. A da frase, ficando alguns termos desligados do resto do pe-
oração coordenada ligada por uma conjunção (conectivo)
ríodo. É a quebra da estrutura normal da frase para a intro-
é sindética; a oração que não apresenta conectivo é assin-
dução de uma palavra ou expressão sem nenhuma ligação
dética. Recordado esse conceito, podemos definir as duas
sintática com as demais.
figuras de construção:
Esses alunos da escola, não se pode duvidar deles.
Morrer, todo haveremos de morrer.
1) Polissíndeto - É uma figura caracterizada pela repe-
Aquele garoto, você não disse que ele chegaria logo?
tição enfática dos conectivos. Observe o exemplo: O meni-
no resmunga, e chora, e grita, e ninguém faz nada.
A expressão “esses alunos da escola”, por exemplo,
2) Assíndeto - É uma figura caracterizada pela ausên- deveria exercer a função de sujeito. No entanto, há uma
cia, pela omissão das conjunções coordenativas, resultando interrupção da frase e esta expressão fica à parte, não exer-
no uso de orações coordenadas assindéticas. Exemplos: cendo nenhuma função sintática. O anacoluto também é
Tens casa, tens roupa, tens amor, tens família. chamado de “frase quebrada”, pois corresponde a uma in-
“Vim, vi, venci.” (Júlio César) terrupção na sequência lógica do pensamento.

Pleonasmo Observação: o anacoluto deve ser usado com finalida-


de expressiva em casos muito especiais. Em geral, evite-o.
Consiste na repetição de um termo ou ideia, com as
mesmas palavras ou não. A finalidade do pleonasmo é real- Hipérbato / Inversão
çar a ideia, torná-la mais expressiva.
O problema da violência, é necessário resolvê-lo logo. É a inversão da estrutura frásica, isto é, a inversão da
ordem direta dos termos da oração, fazendo com que o
Nesta oração, os termos “o problema da violência” e sujeito venha depois do predicado:
“lo” exercem a mesma função sintática: objeto direto. As- Ao ódio venceu o amor. (Na ordem direta seria: O amor
sim, temos um pleonasmo do objeto direto, sendo o pro- venceu ao ódio)
nome “lo” classificado como objeto direto pleonástico. Ou- Dos meus problemas cuido eu! (Na ordem direta seria:
tro exemplo: Eu cuido dos meus problemas)
Aos funcionários, não lhes interessam tais medidas.
Aos funcionários, lhes = Objeto Indireto * Observação da Zê!
O nosso Hino Nacional é um exemplo de hipérbato, já
que, na ordem direta, teríamos:
Neste caso, há um pleonasmo do objeto indireto, e o “As margens plácidas do Ipiranga ouviram o brado re-
pronome “lhes” exerce a função de objeto indireto pleo- tumbante de um povo heroico”.
nástico.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Figuras de Som

Aliteração - Consiste na repetição de consoantes como recurso para intensificação do ritmo ou como efeito sonoro
significativo.
Três pratos de trigo para três tigres tristes.
Vozes veladas, veludosas vozes... (Cruz e Sousa)
Quem com ferro fere com ferro será ferido.

Assonância - Consiste na repetição ordenada de sons vocálicos idênticos:


“Sou um mulato nato no sentido lato mulato democrático do litoral.”

Onomatopéia - Ocorre quando se tentam reproduzir na forma de palavras os sons da realidade:


Os sinos faziam blem, blem, blem, blem.

Fontes de pesquisa:
http://www.soportugues.com.br/secoes/estil/estil8.php
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sacconi. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
Saraiva, 2010.

Questões
1-) (DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO – TÉCNICO SUPERIOR ESPECIALIZADO EM BIBLIOTECO-
NOMIA – FGV/2014 - adaptada) Ao dizer que os shoppings são “cidades”, o autor do texto faz uso de um tipo de linguagem
figurada denominada
(A) metonímia.
(B) eufemismo.
(C) hipérbole.
(D) metáfora.
(E) catacrese.

1-) A metáfora consiste em retirar uma palavra de seu contexto convencional (denotativo) e transportá-la para um novo
campo de significação (conotativa), por meio de uma comparação implícita, de uma similaridade existente entre as duas.
(Fonte:http://educacao.uol.com.br/disciplinas/portugues/metafora-figura-de-palavra-variacoes-e-exemplos.htm)
RESPOSTA: “D”.

2-) (PREFEITURA DE ARCOVERDE/PE - ADMINISTRADOR DE RECURSOS HUMANOS – CONPASS/2014) Identifique a


figura de linguagem presente na tira seguinte:

A) metonímia
B) prosopopeia
C) hipérbole
D) eufemismo
E) onomatopeia

82
LÍNGUA PORTUGUESA

2-) “Eufemismo = é o emprego de uma expressão mais Normalmente, numa prova, o candidato deve:
suave, mais nobre ou menos agressiva, para comunicar al-
guma coisa áspera, desagradável ou chocante”. No caso da 1- Identificar os elementos fundamentais de uma ar-
tirinha, é utilizada a expressão “deram suas vidas por nós” gumentação, de um processo, de uma época (neste caso,
no lugar de “que morreram por nós”. procuram-se os verbos e os advérbios, os quais definem o
RESPOSTA: “D”. tempo).
2- Comparar as relações de semelhança ou de diferen-
3-) (CASAL/AL - ADMINISTRADOR DE REDE - COPEVE/ ças entre as situações do texto.
UFAL/2014) 3- Comentar/relacionar o conteúdo apresentado com
Está tão quente que dá para fritar um ovo no asfalto. uma realidade.
O dito popular é, na maioria das vezes, uma figura de 4- Resumir as ideias centrais e/ou secundárias.
linguagem. Entre as 14h30min e às 15h desta terça-feira, 5- Parafrasear = reescrever o texto com outras pala-
horário do dia em que o calor é mais intenso, a tempera- vras.
tura do asfalto, medida com um termômetro de contato,
chegou a 65ºC. Para fritar um ovo, seria preciso que o local Condições básicas para interpretar
alcançasse aproximadamente 90ºC.
Disponível em: http://zerohora.clicrbs.com.br. Acesso Fazem-se necessários:
em: 22 jan. 2014. - Conhecimento histórico-literário (escolas e gêneros
literários, estrutura do texto), leitura e prática;
O texto cita que o dito popular “está tão quente que - Conhecimento gramatical, estilístico (qualidades do
dá para fritar um ovo no asfalto” expressa uma figura de texto) e semântico;
linguagem. O autor do texto refere-se a qual figura de lin-
guagem? Observação – na semântica (significado das palavras)
A) Eufemismo. incluem-se: homônimos e parônimos, denotação e conota-
B) Hipérbole. ção, sinonímia e antonímia, polissemia, figuras de lingua-
C) Paradoxo. gem, entre outros.
D) Metonímia.
E) Hipérbato. - Capacidade de observação e de síntese;
- Capacidade de raciocínio.
3-) A expressão é um exagero! Ela serve apenas para
representar o calor excessivo que está fazendo. A figura
Interpretar / Compreender
que é utilizada “mil vezes” (!) para atingir tal objetivo é a
hipérbole.
Interpretar significa:
RESPOSTA: “B”.
- Explicar, comentar, julgar, tirar conclusões, deduzir.
- Através do texto, infere-se que...
- É possível deduzir que...
- O autor permite concluir que...
INTERPRETAÇÃO TEXTUAL - Qual é a intenção do autor ao afirmar que...

Compreender significa
Texto – é um conjunto de ideias organizadas e relacio- - entendimento, atenção ao que realmente está escrito.
nadas entre si, formando um todo significativo capaz de - o texto diz que...
produzir interação comunicativa (capacidade de codificar - é sugerido pelo autor que...
e decodificar). - de acordo com o texto, é correta ou errada a afirma-
Contexto – um texto é constituído por diversas frases. ção...
Em cada uma delas, há uma informação que se liga com - o narrador afirma...
a anterior e/ou com a posterior, criando condições para a
estruturação do conteúdo a ser transmitido. A essa interli- Erros de interpretação
gação dá-se o nome de contexto. O relacionamento entre
as frases é tão grande que, se uma frase for retirada de seu - Extrapolação (“viagem”) = ocorre quando se sai do
contexto original e analisada separadamente, poderá ter contexto, acrescentando ideias que não estão no texto,
um significado diferente daquele inicial. quer por conhecimento prévio do tema quer pela imagi-
Intertexto - comumente, os textos apresentam refe- nação.
rências diretas ou indiretas a outros autores através de cita- - Redução = é o oposto da extrapolação. Dá-se aten-
ções. Esse tipo de recurso denomina-se intertexto. ção apenas a um aspecto (esquecendo que um texto é um
Interpretação de texto - o objetivo da interpretação conjunto de ideias), o que pode ser insuficiente para o en-
de um texto é a identificação de sua ideia principal. A partir tendimento do tema desenvolvido.
daí, localizam-se as ideias secundárias - ou fundamenta- - Contradição = às vezes o texto apresenta ideias con-
ções -, as argumentações - ou explicações -, que levam ao trárias às do candidato, fazendo-o tirar conclusões equivo-
esclarecimento das questões apresentadas na prova. cadas e, consequentemente, errar a questão.

83
LÍNGUA PORTUGUESA

Observação - Muitos pensam que existem a ótica do - Observe as relações interparágrafos. Um parágrafo
escritor e a ótica do leitor. Pode ser que existam, mas numa geralmente mantém com outro uma relação de continua-
prova de concurso, o que deve ser levado em consideração ção, conclusão ou falsa oposição. Identifique muito bem
é o que o autor diz e nada mais. essas relações.
- Sublinhe, em cada parágrafo, o tópico frasal, ou seja,
Coesão - é o emprego de mecanismo de sintaxe que a ideia mais importante.
relaciona palavras, orações, frases e/ou parágrafos entre si. - Nos enunciados, grife palavras como “correto” ou
Em outras palavras, a coesão dá-se quando, através de um “incorreto”, evitando, assim, uma confusão na hora da
pronome relativo, uma conjunção (NEXOS), ou um prono- resposta – o que vale não somente para Interpretação de
me oblíquo átono, há uma relação correta entre o que se Texto, mas para todas as demais questões!
vai dizer e o que já foi dito. - Se o foco do enunciado for o tema ou a ideia princi-
pal, leia com atenção a introdução e/ou a conclusão.
Observação – São muitos os erros de coesão no dia - Olhe com especial atenção os pronomes relativos,
a dia e, entre eles, está o mau uso do pronome relativo e pronomes pessoais, pronomes demonstrativos, etc., cha-
do pronome oblíquo átono. Este depende da regência do mados vocábulos relatores, porque remetem a outros vo-
verbo; aquele, do seu antecedente. Não se pode esquecer cábulos do texto.
também de que os pronomes relativos têm, cada um, valor
semântico, por isso a necessidade de adequação ao ante- Fontes de pesquisa:
cedente. http://www.tudosobreconcursos.com/materiais/portu-
Os pronomes relativos são muito importantes na in- gues/como-interpretar-textos
terpretação de texto, pois seu uso incorreto traz erros de http://portuguesemfoco.com/pf/09-dicas-para-me-
coesão. Assim sendo, deve-se levar em consideração que lhorar-a-interpretacao-de-textos-em-provas
existe um pronome relativo adequado a cada circunstância, http://www.portuguesnarede.com/2014/03/dicas-pa-
a saber: ra-voce-interpretar-melhor-um.html
- que (neutro) - relaciona-se com qualquer anteceden- http://vestibular.uol.com.br/cursinho/questoes/ques-
te, mas depende das condições da frase. tao-117-portugues.htm
- qual (neutro) idem ao anterior.
- quem (pessoa) Questões
- cujo (posse) - antes dele aparece o possuidor e depois
o objeto possuído. 1-) (SECRETARIA DE ESTADO DA ADMINISTRAÇÃO PÚ-
- como (modo) BLICA DO DISTRITO FEDERAL/DF – TÉCNICO EM ELETRÔ-
- onde (lugar) NICA – IADES/2014)
- quando (tempo)
- quanto (montante) Gratuidades
Exemplo: Crianças com até cinco anos de idade e adultos com
Falou tudo QUANTO queria (correto) mais de 65 anos de idade têm acesso livre ao Metrô-DF.
Falou tudo QUE queria (errado - antes do QUE, deveria Para os menores, é exigida a certidão de nascimento e, para
aparecer o demonstrativo O). os idosos, a carteira de identidade. Basta apresentar um
documento de identificação aos funcionários posicionados
Dicas para melhorar a interpretação de textos no bloqueio de acesso.
Disponível em: <http://www.metro.df.gov.br/estacoes/
- Leia todo o texto, procurando ter uma visão geral do gratuidades.html> Acesso em: 3/3/2014, com adaptações.
assunto. Se ele for longo, não desista! Há muitos candidatos
na disputa, portanto, quanto mais informação você absorver Conforme a mensagem do primeiro período do texto,
com a leitura, mais chances terá de resolver as questões. assinale a alternativa correta.
- Se encontrar palavras desconhecidas, não interrompa (A) Apenas as crianças com até cinco anos de idade
a leitura. e os adultos com 65 anos em diante têm acesso livre ao
- Leia, leia bem, leia profundamente, ou seja, leia o tex- Metrô-DF.
to, pelo menos, duas vezes – ou quantas forem necessárias. (B) Apenas as crianças de cinco anos de idade e os
- Procure fazer inferências, deduções (chegar a uma adultos com mais de 65 anos têm acesso livre ao Metrô-DF.
conclusão). (C) Somente crianças com, no máximo, cinco anos de
- Volte ao texto quantas vezes precisar. idade e adultos com, no mínimo, 66 anos têm acesso livre
- Não permita que prevaleçam suas ideias sobre as ao Metrô-DF.
do autor. (D) Somente crianças e adultos, respectivamente, com
- Fragmente o texto (parágrafos, partes) para melhor cinco anos de idade e com 66 anos em diante, têm acesso
compreensão. livre ao Metrô-DF.
- Verifique, com atenção e cuidado, o enunciado de (E) Apenas crianças e adultos, respectivamente, com
cada questão. até cinco anos de idade e com 65 anos em diante, têm
- O autor defende ideias e você deve percebê-las. acesso livre ao Metrô-DF.

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LÍNGUA PORTUGUESA

1-) Dentre as alternativas apresentadas, a única que 3-) Recorramos ao texto: “Localizada às margens do
condiz com as informações expostas no texto é “Somente Lago Paranoá, no Setor de Clubes Esportivos Norte (ao
crianças com, no máximo, cinco anos de idade e adultos lado do Museu de Arte de Brasília – MAB), está a Concha
com, no mínimo, 66 anos têm acesso livre ao Metrô-DF”. Acústica do DF. Projetada por Oscar Niemeyer”. As infor-
RESPOSTA: “C”. mações contidas nas demais alternativas são incoerentes
com o texto.
2-) (SUSAM/AM – TÉCNICO (DIREITO) – FGV/2014 - RESPOSTA: “A”.
adaptada) “Se alguém que é gay procura Deus e tem boa
vontade, quem sou eu para julgá‐lo?” a declaração do
Papa Francisco, pronunciada durante uma entrevista à im-
prensa no final de sua visita ao Brasil, ecoou como um TIPOLOGIA TEXTUAL
trovão mundo afora. Nela existe mais forma que substância
– mas a forma conta”. (...)
(Axé Silva, O Mundo, setembro 2013)
A todo o momento nos deparamos com vários textos,
O texto nos diz que a declaração do Papa ecoou como sejam eles verbais ou não verbais. Em todos há a presença
um trovão mundo afora. Essa comparação traz em si mes- do discurso, isto é, a ideia intrínseca, a essência daquilo
ma dois sentidos, que são que está sendo transmitido entre os interlocutores. Estes
(A) o barulho e a propagação. interlocutores são as peças principais em um diálogo ou
(B) a propagação e o perigo. em um texto escrito.
(C) o perigo e o poder. É de fundamental importância sabermos classificar os
(D) o poder e a energia.  textos com os quais travamos convivência no nosso dia a
(E)  a energia e o barulho.   dia. Para isso, precisamos saber que existem tipos textuais
e gêneros textuais.
Comumente relatamos sobre um acontecimento, um
2-) Ao comparar a declaração do Papa Francisco a um
fato presenciado ou ocorrido conosco, expomos nossa opi-
trovão, provavelmente a intenção do autor foi a de mostrar
nião sobre determinado assunto, descrevemos algum lugar
o “barulho” que ela causou e sua propagação mundo afora.
que visitamos, fazemos um retrato verbal sobre alguém
Você pode responder à questão por eliminação: a segun-
que acabamos de conhecer ou ver. É exatamente nessas
da opção das alternativas relaciona-se a “mundo afora”, ou
situações corriqueiras que classificamos os nossos textos
seja, que se propaga, espalha. Assim, sobraria apenas a al- naquela tradicional tipologia: Narração, Descrição e Dis-
ternativa A! sertação.
RESPOSTA: “A”.
As tipologias textuais caracterizam-se pelos aspec-
3-) (SECRETARIA DE ESTADO DE ADMINISTRAÇÃO PÚ- tos de ordem linguística
BLICA DO DISTRITO FEDERAL/DF – TÉCNICO EM CONTABI-
LIDADE – IADES/2014 - adaptada) Os tipos textuais designam uma sequência definida
Concha Acústica pela natureza linguística de sua composição. São observa-
Localizada às margens do Lago Paranoá, no Setor de dos aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais, relações
Clubes Esportivos Norte (ao lado do Museu de Arte de lógicas. Os tipos textuais são o narrativo, descritivo, argu-
Brasília – MAB), está a Concha Acústica do DF. Projetada mentativo/dissertativo, injuntivo e expositivo.
por Oscar Niemeyer, foi inaugurada oficialmente em 1969
e doada pela Terracap à Fundação Cultural de Brasília (hoje - Textos narrativos – constituem-se de verbos de ação
Secretaria de Cultura), destinada a espetáculos ao ar livre. demarcados no tempo do universo narrado, como também
Foi o primeiro grande palco da cidade. de advérbios, como é o caso de antes, agora, depois, entre
Disponível em: <http://www.cultura.df.gov.br/nossa- outros: Ela entrava em seu carro quando ele apareceu. De-
cultura/concha- acustica.html>. Acesso em: 21/3/2014, pois de muita conversa, resolveram...
com adaptações.
- Textos descritivos – como o próprio nome indica,
Assinale a alternativa que apresenta uma mensagem descrevem características tanto físicas quanto psicológicas
compatível com o texto. acerca de um determinado indivíduo ou objeto. Os tempos
(A) A Concha Acústica do DF, que foi projetada por Os- verbais aparecem demarcados no presente ou no pretérito
car Niemeyer, está localizada às margens do Lago Paranoá, imperfeito: “Tinha os cabelos mais negros como a asa da
no Setor de Clubes Esportivos Norte. graúna...”
(B) Oscar Niemeyer projetou a Concha Acústica do DF
em 1969. - Textos expositivos – Têm por finalidade explicar um
(C) Oscar Niemeyer doou a Concha Acústica ao que assunto ou uma determinada situação que se almeje de-
hoje é a Secretaria de Cultura do DF. senvolvê-la, enfatizando acerca das razões de ela aconte-
(D) A Terracap transformou-se na Secretaria de Cultura cer, como em: O cadastramento irá se prorrogar até o dia 02
do DF. de dezembro, portanto, não se esqueça de fazê-lo, sob pena
(E) A Concha Acústica foi o primeiro palco de Brasília. de perder o benefício.

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LÍNGUA PORTUGUESA

- Textos injuntivos (instrucional) – Trata-se de uma


modalidade na qual as ações são prescritas de forma se- COESÃO E COERÊNCIA
quencial, utilizando-se de verbos expressos no imperativo,
infinitivo ou futuro do presente: Misture todos os ingredien-
te e bata no liquidificador até criar uma massa homogênea.
Na construção de um texto, assim como na fala, usamos
- Textos argumentativos (dissertativo) – Demarcam- mecanismos para garantir ao interlocutor a compreensão
se pelo predomínio de operadores argumentativos, revela- do que é dito, ou lido. Estes mecanismos linguísticos que
dos por uma carga ideológica constituída de argumentos estabelecem a coesão e retomada do que foi escrito - ou
e contra-argumentos que justificam a posição assumida falado - são os referentes textuais, que buscam garantir
acerca de um determinado assunto: A mulher do mundo a coesão textual para que haja coerência, não só entre os
contemporâneo luta cada vez mais para conquistar seu es- elementos que compõem a oração, como também entre a
paço no mercado de trabalho, o que significa que os gêneros sequência de orações dentro do texto. Essa coesão tam-
estão em complementação, não em disputa. bém pode muitas vezes se dar de modo implícito, baseado
em conhecimentos anteriores que os participantes do pro-
cesso têm com o tema.
Numa linguagem figurada, a coesão é uma linha ima-
ginária - composta de termos e expressões - que une os
diversos elementos do texto e busca estabelecer relações
GÊNEROS TEXTUAIS de sentido entre eles. Dessa forma, com o emprego de di-
ferentes procedimentos, sejam lexicais (repetição, substi-
tuição, associação), sejam gramaticais (emprego de prono-
mes, conjunções, numerais, elipses), constroem-se frases,
São os textos materializados que encontramos em orações, períodos, que irão apresentar o contexto – decor-
nosso cotidiano; tais textos apresentam características só- re daí a coerência textual.
cio-comunicativas definidas por seu estilo, função, com- Um texto incoerente é o que carece de sentido ou o
posição, conteúdo e canal. Como exemplos, temos: receita apresenta de forma contraditória. Muitas vezes essa incoe-
culinária, e-mail, reportagem, monografia, poema, editorial, rência é resultado do mau uso dos elementos de coesão
piada, debate, agenda, inquérito policial, fórum, blog, etc. textual. Na organização de períodos e de parágrafos, um
erro no emprego dos mecanismos gramaticais e lexicais
A escolha de um determinado gênero discursivo de- prejudica o entendimento do texto. Construído com os ele-
pende, em grande parte, da situação de produção, ou seja, mentos corretos, confere-se a ele uma unidade formal.
a finalidade do texto a ser produzido, quem são os locu- Nas palavras do mestre Evanildo Bechara, “o enunciado
tores e os interlocutores, o meio disponível para veicular o não se constrói com um amontoado de palavras e orações.
texto, etc. Elas se organizam segundo princípios gerais de dependência
e independência sintática e semântica, recobertos por unida-
Os gêneros discursivos geralmente estão ligados a es- des melódicas e rítmicas que sedimentam estes princípios”.
feras de circulação. Assim, na esfera jornalística, por exem- Não se deve escrever frases ou textos desconexos – é
plo, são comuns gêneros como notícias, reportagens, edito- imprescindível que haja uma unidade, ou seja, que as frases
riais, entrevistas e outros; na esfera de divulgação científica estejam coesas e coerentes formando o texto. Relembre-se
são comuns gêneros como verbete de dicionário ou de enci- de que, por coesão, entende-se ligação, relação, nexo entre
clopédia, artigo ou ensaio científico, seminário, conferência. os elementos que compõem a estrutura textual.

Fontes de pesquisa: Formas de se garantir a coesão entre os elementos


de uma frase ou de um texto:
http://www.brasilescola.com/redacao/tipologia-tex-
tual.htm
1. Substituição de palavras com o emprego de sinôni-
Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Cere-
mos - palavras ou expressões do mesmo campo associa-
ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo: tivo.
Saraiva, 2010. 2. Nominalização – emprego alternativo entre um ver-
Português – Literatura, Produção de Textos & Gramática bo, o substantivo ou o adjetivo correspondente (desgastar
– volume único / Samira Yousseff Campedelli, Jésus Barbosa / desgaste / desgastante).
Souza. – 3. Ed. – São Paulo: Saraiva, 2002. 3. Emprego adequado de tempos e modos verbais:
Embora não gostassem de estudar, participaram da aula.
4. Emprego adequado de pronomes, conjunções, pre-
posições, artigos:
O papa Francisco visitou o Brasil. Na capital brasileira,
Sua Santidade participou de uma reunião com a Presiden-
te Dilma. Ao passar pelas ruas, o papa cumprimentava as
pessoas. Estas tiveram a certeza de que ele guarda respeito
por elas.

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LÍNGUA PORTUGUESA

5. Uso de hipônimos – relação que se estabelece com Questões


base na maior especificidade do significado de um deles.
Por exemplo, mesa (mais específico) e móvel (mais gené- * As questões abaixo também envolvem o conteúdo
rico). “Conjunção”. Eu as coloquei neste tópico porque abordam
6. Emprego de hiperônimos - relações de um termo de - inclusive - coesão e coerência.
sentido mais amplo com outros de sentido mais específico.
Por exemplo, felino está numa relação de hiperonímia com 1-) (SEDUC/AM – ASSISTENTE SOCIAL – FGV/2014) As-
gato. sinale a opção que indica o segmento em que a conjunção
7. Substitutos universais, como os verbos vicários.
e tem valor adversativo e não aditivo.
* Ajuda da Zê: verbo vicário é aquele que substitui (A) “Em termos de escala, assiduidade e participação
outro já utilizado no período, evitando repetições. Geral- da população na escolha dos governantes,...”.
mente é o verbo fazer e ser. Exemplo: Não gosto de estudar. (B) “... o Brasil de 1985 a 2014 parece outro país, mo-
Faço porque preciso. O “faço” foi empregado no lugar de derno e dinâmico, no cotejo com a restrita experiência elei-
“estudo”, evitando repetição desnecessária. toral anterior”.
(C) “A hipótese de ruptura com o passado se fortalece
A coesão apoiada na gramática se dá no uso de conec- quando avaliamos a extensão dos mecanismos de distri-
tivos, como pronomes, advérbios e expressões adverbiais, buição de oportunidades e de mitigação de desigualdades
conjunções, elipses, entre outros. A elipse justifica-se quan- de hoje”.
do, ao remeter a um enunciado anterior, a palavra elidida (D) “A democracia brasileira contemporânea, e apenas
é facilmente identificável (Exemplo.: O jovem recolheu-se ela na história nacional, inventou o que mais perto se pode
cedo. Sabia que ia necessitar de todas as suas forças. O ter- chegar de um Estado de Bem-Estar num país de renda mé-
mo o jovem deixa de ser repetido e, assim, estabelece a
dia”.
relação entre as duas orações).
(E) “A baixa qualidade dos serviços governamentais
Dêiticos são elementos linguísticos que têm a pro- está ligada sobretudo à limitação do PIB, e não à falta de
priedade de fazer referência ao contexto situacional ou ao políticas públicas social-democratas”.
próprio discurso. Exercem, por excelência, essa função de
progressão textual, dada sua característica: são elementos 1-)
que não significam, apenas indicam, remetem aos compo- (A) “Em termos de escala, assiduidade e participação
nentes da situação comunicativa. = adição
Já os componentes concentram em si a significação. (B) “... o Brasil de 1985 a 2014 parece outro país, mo-
Elisa Guimarães ensina-nos a esse respeito: derno e dinâmico”. = adição
“Os pronomes pessoais e as desinências verbais indi- (C) “A hipótese de ruptura com o passado se fortalece
cam os participantes do ato do discurso. Os pronomes de- quando avaliamos a extensão dos mecanismos de distri-
monstrativos, certas locuções prepositivas e adverbiais, bem buição de oportunidades e de mitigação de desigualdades
como os advérbios de tempo, referenciam o momento da de hoje”. = adição
enunciação, podendo indicar simultaneidade, anterioridade
(D) “A democracia brasileira contemporânea, e apenas
ou posterioridade. Assim: este, agora, hoje, neste momento
(presente); ultimamente, recentemente, ontem, há alguns ela na história nacional”. = adição
dias, antes de (pretérito); de agora em diante, no próximo (E) “A baixa qualidade dos serviços governamentais
ano, depois de (futuro).” está ligada sobretudo à limitação do PIB, e não à falta =
adversativa (dá para substituirmos por “mas”)
A coerência de um texto está ligada: RESPOSTA: “E”.
- à sua organização como um todo, em que devem es-
tar assegurados o início, o meio e o fim;
- à adequação da linguagem ao tipo de texto. Um texto 2-) (DEFENSORIA PÚBLICA DO DISTRITO FEDERAL/
técnico, por exemplo, tem a sua coerência fundamentada DF – ANALISTA DE APOIO À ASSISTÊNCIA JURÍDICA –
em comprovações, apresentação de estatísticas, relato de FGV/2014) A alternativa em que os elementos unidos pela
experiências; um texto informativo apresenta coerência se conjunção E não estão em adição, mas sim em oposição, é:
trabalhar com linguagem objetiva, denotativa; textos poé- (A) “...a disposição do povo de agir por conta própria e
ticos, por outro lado, trabalham com a linguagem figurada,
fazer justiça com as próprias mãos...”
livre associação de ideias, palavras conotativas.
(B) “...como sintoma de descrença nos políticos e nas
Fontes de pesquisa: instituições:...”
http://www.mundovestibular.com.br/articles/2586/1/ (C) “...os nossos mascarados se inspiram menos nos
COESAO-E-COERENCIA-TEXTUAL/Paacutegina1.html anarquistas e mais nos fascistas italianos...”
Português – Literatura, Produção de Textos & Gramática (D) “...desprezando o passado e a tradição...”
– volume único / Samira Yousseff Campedelli, Jésus Barbosa (E) “...capaz de exprimir a experiência da violência, da
Souza. – 3. Ed. – São Paulo: Saraiva, 2002. velocidade e do progresso...”

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LÍNGUA PORTUGUESA

2-) A Ordem dos Termos na Frase


(A) “...a disposição do povo de agir por conta própria e
fazer justiça com as próprias mãos”. = adição Leia novamente a frase contida no item 2. Note que
(B) “...como sintoma de descrença nos políticos e nas ela é organizada de maneira clara para produzir sentido.
instituições”. = adição Todavia, há diferentes maneiras de se organizar gramatical-
(C) “...os nossos mascarados se inspiram menos nos mente tal frase, tudo depende da necessidade ou da von-
anarquistas e mais nos fascistas italianos”. = ideia de opo- tade do redator em manter o sentido, ou mantê-lo, porém,
sição acrescentado ênfase a algum dos seus termos. Significa di-
(D) “...desprezando o passado e a tradição”. = adição zer que, ao escrever, podemos fazer uma série de inversões
(E) “...capaz de exprimir a experiência da violência, da e intercalações em nossas frases, conforme a nossa von-
velocidade e do progresso”. = adição tade e estilo. Tudo depende da maneira como queremos
RESPOSTA: “C”. transmitir uma ideia, do nosso estilo. Por exemplo, pode-
mos expressar a mensagem da frase 2 da seguinte maneira:

No Brasil e na América Latina, a globalização está cau-


sando desemprego.
REESCRITA DE TEXTOS/EQUIVALÊNCIA DE
ESTRUTURAS Neste caso, a mensagem é praticamente a mesma,
apenas mudamos a ordem das palavras para dar ênfase a
alguns termos (neste caso: No Brasil e na A. L.). Repare que,
para obter a clareza tivemos que fazer o uso de vírgulas.
“Ideias confusas geram redações confusas”. Esta frase Entre os sinais de pontuação, a vírgula é o mais usado e
leva-nos a refletir sobre a organização das ideias em um o que mais nos auxilia na organização de um período, pois
texto. Significa dizer que, antes da redação, naturalmen- facilita as boas “sintaxes”, boas misturas, ou seja, a vírgula
te devemos dominar o assunto sobre o qual iremos tratar ajuda-nos a não “embolar” o sentido quando produzimos
e, posteriormente, planejar o modo como iremos expô-lo, frases complexas. Com isto, “entregamos” frases bem orga-
do contrário haverá dificuldade em transmitir ideias bem nizadas aos nossos leitores.
acabadas. Portanto, a leitura, a interpretação de textos e a
experiência de vida antecedem o ato de escrever. O básico para a organização sintática das frases é a or-
Obtido um razoável conhecimento sobre o que iremos dem direta dos termos da oração. Os gramáticos estrutu-
escrever, feito o esquema de exposição da matéria, é ne- ram tal ordem da seguinte maneira:
cessário saber ordenar as ideias em frases bem estrutura-
das. Logo, não basta conhecer bem um determinado as- SUJEITO + VERBO + COMPLEMENTO VERBAL + CIR-
sunto, temos que o transmitir de maneira clara aos leitores. CUNSTÂNCIAS
O estudo da pontuação pode se tornar um valioso alia- A globalização + está causando + desemprego + no
do para organizarmos as ideias de maneira clara em frases. Brasil nos dias de hoje.
Para tanto, é necessário ter alguma noção de sintaxe. “Sin-
taxe”, conforme o dicionário Aurélio, é a “parte da gramá- Nem todas as orações mantêm esta ordem e nem to-
tica que estuda a disposição das palavras na frase e a das das contêm todos estes elementos, portanto cabem algu-
frases no discurso, bem como a relação lógica das frases mas observações:
entre si”; ou em outras palavras, sintaxe quer dizer “mistu-
ra”, isto é, saber misturar as palavras de maneira a produ- 1) As circunstâncias (de tempo, espaço, modo, etc.)
zirem um sentido evidente para os receptores das nossas normalmente são representadas por adjuntos adverbiais
mensagens. Observe: de tempo, lugar, etc. Note que, no mais das vezes, quan-
do queremos recordar algo ou narrar uma história, existe
1)A desemprego globalização no Brasil e no na está La- a tendência a colocar os adjuntos nos começos das frases:
tina América causando.
2) A globalização está causando desemprego no Brasil e “No Brasil e na América…” “Nos dias de hoje…” “Nas mi-
na América Latina. nhas férias…”, “No Brasil…”. e logo depois os verbos e ou-
tros elementos: “Nas minhas férias fui…”; “No Brasil existe…”
Ora, no item 1 não temos uma ideia, pois não há uma
frase, as palavras estão amontoadas sem a realização de Observações:
“uma sintaxe”, não há um contexto linguístico nem relação a) tais construções não estão erradas, mas rompem
inteligível com a realidade; no caso 2, a sintaxe ocorreu de com a ordem direta;
maneira perfeita e o sentido está claro para receptores de b) é preciso notar que em Língua Portuguesa, há mui-
língua portuguesa inteirados da situação econômica e cul- tas frases que não têm sujeito, somente predicado. Por
tural do mundo atual. exemplo: Está chovendo em Porto Alegre. Faz frio em Fri-
burgo. São quatro horas agora;

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LÍNGUA PORTUGUESA

c) Outras frases são construídas com verbos intransiti- Neste caso, há uma oração adjetiva intercalada.
vos, que não têm complemento: As orações adjetivas explicativas desempenham fre-
O menino morreu na Alemanha. (sujeito + verbo + ad- quentemente um papel semelhante ao do aposto explicati-
junto adverbial) vo, por isto são também isoladas por vírgula.
A globalização nasceu no século XX. (idem)
d) Há ainda frases nominais que não possuem verbos: A globalização causa, caro leitor, desemprego no Brasil…
cada macaco no seu galho. Nestes tipos de frase, a ordem Neste outro caso, há um vocativo entre o verbo e o seu
direta faz-se naturalmente. Usam-se apenas os termos complemento.
existentes nelas.
A globalização causa desemprego, e isto é lamentável,
Levando em consideração a ordem direta, podemos no Brasil…
estabelecer três regras básicas para o uso da vírgula: Aqui, há uma oração intercalada (note que ela não per-
1)Se os termos estão colocados na ordem direta não tence ao assunto: globalização, da frase principal, tal ora-
haverá a necessidade de vírgulas. A frase (2) é um exemplo ção é apenas um comentário à parte entre o complemento
disto: verbal e os adjuntos).
A globalização está causando desemprego no Brasil e na
América Latina. Observação: a simples negação em uma frase não exi-
ge vírgula: A globalização não causou desemprego no Brasil
Todavia, ao repetir qualquer um dos termos da oração e na América Latina.
por três vezes ou mais, então é necessário usar a vírgula,
mesmo que estejamos usando a ordem direta. Esta é a re- 3)Quando “quebramos” a ordem direta, invertendo-a,
gra básica nº1 para a colocação da vírgula. Veja: tal quebra torna a vírgula necessária. Esta é a regra nº3 da
A globalização, a tecnologia e a “ciranda financeira” colocação da vírgula.
causam desemprego…
(três núcleos do sujeito) No Brasil e na América Latina, a globalização está cau-
sando desemprego…
A globalização causa desemprego no Brasil, na América No fim do século XX, a globalização causou desemprego
Latina e na África. no Brasil…
(três adjuntos adverbiais)
Nota-se que a quebra da ordem direta frequentemente
A globalização está causando desemprego, insatisfação se dá com a colocação das circunstâncias antes do sujeito.
e sucateamento industrial no Brasil e na América Latina. Trata-se da ordem inversa. Estas circunstâncias, em gramá-
(três complementos verbais) tica, são representadas pelos adjuntos adverbiais. Muitas
vezes, elas são colocadas em orações chamadas adverbiais
2)Em princípio, não devemos, na ordem direta, sepa- que têm uma função semelhante a dos adjuntos adverbiais,
rar com vírgula o sujeito e o verbo, nem o verbo e o seu isto é, denotam tempo, lugar, etc. Exemplos:
complemento, nem o complemento e as circunstâncias, ou
seja, não devemos separar com vírgula os termos da ora- Quando o século XX estava terminando, a globalização
ção. Veja exemplos de tal incorreção: começou a causar desemprego.
Enquanto os países portadores de alta tecnologia de-
O Brasil, será feliz. A globalização causa, o desemprego. senvolvem-se, a globalização causa desemprego nos países
pobres.
Ao intercalarmos alguma palavra ou expressão entre Durante o século XX, a Globalização causou desempre-
os termos da oração, cabe isolar tal termo entre vírgulas, go no Brasil.
assim o sentido da ideia principal não se perderá. Esta é
a regra básica nº 2 para a colocação da vírgula. Dito em Observação: quanto à equivalência e transformação de
outras palavras: quando intercalamos expressões e frases estruturas, um exemplo muito comum cobrado em provas
entre os termos da oração, devemos isolar os mesmos com é o enunciado trazer uma frase no singular e pedir a passa-
vírgulas. Vejamos: gem para o plural, mantendo o sentido. Outro exemplo é a
A globalização, fenômeno econômico deste fim de sécu- mudança de tempos verbais.
lo XX, causa desemprego no Brasil.
Fonte de pesquisa:
Aqui um aposto à globalização foi intercalado entre o http://ricardovigna.wordpress.com/2009/02/02/estu-
sujeito e o verbo. dos-de-linguagem-1-estrutura-frasal-e-pontuacao/

Outros exemplos:
A globalização, que é um fenômeno econômico e cultu-
ral, está causando desemprego no Brasil e na América Lati-
na.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Questões
ESTRUTURA TEXTUAL
1-) (TRF/3ª REGIÃO - ANALISTA JUDICIÁRIO - FCC/2014
- adaptada)
Reunir-se para ouvir alguém ler tornou-se uma prática
necessária e comum no mundo laico da Idade Média. Até Primeiramente, o que nos faz produzir um texto é a ca-
a invenção da imprensa, a alfabetização era rara e os livros, pacidade que temos de pensar. Por meio do pensamento,
propriedade dos ricos, privilégio de um pequeno punhado elaboramos todas as informações que recebemos e orien-
de leitores. tamos as ações que interferem na realidade e organização
Embora alguns desses senhores afortunados ocasional- de nossos escritos. O que lemos é produto de um pensa-
mente emprestassem seus livros, eles o faziam para um nú- mento transformado em texto.
mero limitado de pessoas da própria classe ou família. Logo, como cada um de nós tem seu modo de pen-
(Adaptado de: MANGUEL, Alberto, op.cit.) sar, quando escrevemos sempre procuramos uma maneira
organizada do leitor compreender as nossas ideias. A fina-
Mantêm-se a correção e as relações de sentido estabe- lidade da escrita é direcionar totalmente o que você quer
lecidas no texto, substituindo-se Embora (2.º parágrafo) por dizer, por meio da comunicação.
(A) Contudo. Para isso, os elementos que compõem o texto se sub-
(B) Desde que. dividem em: introdução, desenvolvimento e conclusão. To-
(C) Porquanto. dos eles devem ser organizados de maneira equilibrada.
(D) Uma vez que.
(E) Conquanto. Introdução

1-) “Embora” é uma conjunção concessiva (apresenta Caracterizada pela entrada no assunto e a argumenta-
uma exceção à regra). A outra conjunção concessiva é “con- ção inicial. A ideia central do texto é apresentada nessa eta-
quanto”. pa. Essa apresentação deve ser direta, sem rodeios. O seu
RESPOSTA: “E”. tamanho raramente excede a 1/5 de todo o texto. Porém,
em textos mais curtos, essa proporção não é equivalente.
2-) (PRODEST/ES – ASSISTENTE ORGANIZACIONAL – Neles, a introdução pode ser o próprio título. Já nos textos
VUNESP/2014 - adaptada) Considere o trecho: “Se o senhor mais longos, em que o assunto é exposto em várias pági-
não se importa, vou levar minha sobrinha ao dentista, mas nas, ela pode ter o tamanho de um capítulo ou de uma par-
posso quebrar o galho e fazer sua corrida”. Esse trecho está te precedida por subtítulo. Nessa situação, pode ter vários
corretamente reescrito e mantém o sentido em: parágrafos. Em redações mais comuns, que em média têm
(A) Uma vez que o senhor não se importe, vou levar mi- de 25 a 80 linhas, a introdução será o primeiro parágrafo.
nha sobrinha ao dentista, assim que possa quebrar o galho
e fazer sua corrida. Desenvolvimento
(B) Já que o senhor não se importa, vou levar minha so-
brinha ao dentista, porque posso quebrar o galho e fazer A maior parte do texto está inserida no desenvol-
sua corrida. vimento, que é responsável por estabelecer uma ligação
(C) À medida que o senhor não se importe, vou levar entre a introdução e a conclusão. É nessa etapa que são
minha sobrinha ao dentista, logo que possa quebrar o galho elaboradas as ideias, os dados e os argumentos que sus-
e fazer sua corrida. tentam e dão base às explicações e posições do autor. É ca-
(D) Caso o senhor não se importe, vou levar minha so- racterizado por uma “ponte” formada pela organização das
brinha ao dentista, no entanto posso quebrar o galho e fazer ideias em uma sequência que permite formar uma relação
sua corrida. equilibrada entre os dois lados.
(E) Para que o senhor não se importe, vou levar minha O autor do texto revela sua capacidade de discutir um
sobrinha ao dentista, todavia posso quebrar o galho e fazer determinado tema no desenvolvimento, e é através desse
sua corrida. que o autor mostra sua capacidade de defender seus pon-
tos de vista, além de dirigir a atenção do leitor para a con-
2-) “Se o senhor não se importa, vou levar minha so- clusão. As conclusões são fundamentadas a partir daqui.
brinha ao dentista, mas posso quebrar o galho e fazer sua Para que o desenvolvimento cumpra seu objetivo, o es-
corrida” critor já deve ter uma ideia clara de como será a conclusão.
O primeiro período é introduzido por uma conjunção Daí a importância em planejar o texto.
condicional (“se”); o segundo, conjunção adversativa. As Em média, o desenvolvimento ocupa 3/5 do texto, no
conjunções apresentadas que têm a mesma classificação, mínimo. Já nos textos mais longos, pode estar inserido em
respectivamente, e que, por isso, poderiam substituir ade- capítulos ou trechos destacados por subtítulos. Apresentar-
quadamente as destacadas no enunciado são “caso” e “no se-á no formato de parágrafos medianos e curtos.
entanto”. Acredito que, mesmo que você não saiba a clas- Os principais erros cometidos no desenvolvimento são
sificação das conjunções, conseguiria responder à questão o desvio e a desconexão da argumentação. O primeiro está
apenas utilizando a coerência: as demais alternativas não relacionado ao autor tomar um argumento secundário que
a têm. se distancia da discussão inicial, ou quando se concentra
RESPOSTA: “D”. em apenas um aspecto do tema e esquece o seu todo. O

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LÍNGUA PORTUGUESA

segundo caso acontece quando quem redige tem muitas


ideias ou informações sobre o que está sendo discutido, REDAÇÃO OFICIAL
não conseguindo estruturá-las. Surge também a dificul-
dade de organizar seus pensamentos e definir uma linha
lógica de raciocínio.
Pronomes de tratamento na redação oficial
Conclusão
A redação oficial é a maneira utilizada pelo poder públi-
Considerada como a parte mais importante do texto, co para redigir atos normativos. Para redigi-los, muitas regras
é o ponto de chegada de todas as argumentações elabo- fazem-se necessárias. Entre elas, escrever de forma clara, con-
radas. As ideias e os dados utilizados convergem para essa cisa, sem muito comprometimento, bem como um uso ade-
parte, em que a exposição ou discussão se fecha. quado das formas de tratamento. Tais regras, acompanhadas
Em uma estrutura normal, ela não deve deixar uma de uma boa redação, com um bom uso da linguagem, asse-
brecha para uma possível continuidade do assunto; ou seja, guram que os atos normativos sejam bem executados.
possui atributos de síntese. A discussão não deve ser en- No Poder Público, nós nos deparamos com situações em
cerrada com argumentos repetitivos, como por exemplo: que precisamos escrever – ou falar – com pessoas com as
“Portanto, como já dissemos antes...”, “Concluindo...”, “Em quais não temos familiaridade. Nestes casos, os pronomes de
conclusão...”. tratamento assumem uma condição e precisam estar adequa-
Sua proporção em relação à totalidade do texto deve dos à categoria hierárquica da pessoa a quem nos dirigimos.
ser equivalente ao da introdução: de 1/5. Essa é uma das E mais, exige-se, em discurso falado ou escrito, uma homoge-
características de textos bem redigidos. neidade na forma de tratamento, não só nos pronomes como
Os seguintes erros aparecem quando as conclusões fi- também nos verbos. No entanto, as formas de tratamento
cam muito longas: não são do conhecimento de todos.
Abaixo, seguem as discriminações de usos dos pronomes
- O problema aparece quando não ocorre uma explo- de tratamento, com base no Manual da Presidência da Repú-
ração devida do desenvolvimento, o que gera uma invasão blica.
das ideias de desenvolvimento na conclusão.
- Outro fator consequente da insuficiência de funda- São de uso consagrado:
mentação do desenvolvimento está na conclusão precisar
de maiores explicações, ficando bastante vazia. Vossa Excelência, para as seguintes autoridades:
- Enrolar e “encher linguiça” são muito comuns no tex- a) do Poder Executivo
to em que o autor fica girando em torno de ideias redun- Presidente da República, Vice-Presidente da República, Mi-
dantes ou paralelas. nistro de Estado, Secretário-Geral da Presidência da República,
- Uso de frases vazias que, por vezes, são perfeitamen- Consultor-Geral da República, Chefe do Estado-Maior das For-
te dispensáveis. ças Armadas, Chefe do Gabinete Militar da Presidência da Re-
- Quando não tem clareza de qual é a melhor conclu- pública, Chefe do Gabinete Pessoal do Presidente da República,
são, o autor acaba se perdendo na argumentação final. Secretários da Presidência da República, Procurador – Geral da
República, Governadores e Vice-Governadores de Estado e do
Em relação à abertura para novas discussões, a con- Distrito Federal, Chefes de Estado – Maior das Três Armas, Ofi-
clusão não pode ter esse formato, exceto pelos seguintes ciais Generais das Forças Armadas, Embaixadores, Secretário
fatores: Executivo e Secretário Nacional de Ministérios, Secretários de
- Para não influenciar a conclusão do leitor sobre temas Estado dos Governos Estaduais, Prefeitos Municipais.
polêmicos, o autor deixa a conclusão em aberto.
- Para estimular o leitor a ler uma possível continuidade b) do Poder Legislativo:
do texto, o autor não fecha a discussão de propósito. Presidente, Vice–Presidente e Membros da Câmara dos
- Por apenas apresentar dados e informações sobre o Deputados e do Senado Federal, Presidente e Membros do Tri-
tema a ser desenvolvido, o autor não deseja concluir o as- bunal de Contas da União, Presidente e Membros dos Tribunais
sunto. de Contas Estaduais, Presidente e Membros das Assembleias
- Para que o leitor tire suas próprias conclusões, o autor Legislativas Estaduais, Presidente das Câmaras Municipais.
enumera algumas perguntas no final do texto.
c) do Poder Judiciário:
A maioria dessas falhas pode ser evitada se antes o au- Presidente e Membros do Supremo Tribunal Federal, Presi-
tor fizer um esboço de todas as suas ideias. Essa técnica dente e Membros do Superior Tribunal de Justiça, Presidente e
é um roteiro, em que estão presentes os planejamentos. Membros do Superior Tribunal Militar, Presidente e Membros do
Naquele devem estar indicadas as melhores sequências a Tribunal Superior Eleitoral, Presidente e Membros do Tribunal
serem utilizadas na redação; ele deve ser o mais enxuto Superior do Trabalho, Presidente e Membros dos Tribunais de
possível. Justiça, Presidente e Membros dos Tribunais Regionais Fede-
rais, Presidente e Membros dos Tribunais Regionais Eleitorais,
Fonte de pesquisa: Presidente e Membros dos Tribunais Regionais do Trabalho,
http://producao-de-textos.info/mos/view/Caracter%- Juízes e Desembargadores, Auditores da Justiça Militar.
C3%ADsticas_e_Estruturas_do_Texto/

91
LÍNGUA PORTUGUESA

O vocativo a ser empregado em comunicações dirigidas A Impessoalidade


aos Chefes do Poder é Excelentíssimo Senhor, seguido do car- A finalidade da língua é comunicar, quer pela fala, quer
go respectivo: Excelentíssimo Senhor Presidente da República; pela escrita. Para que haja comunicação, são necessários: a)
Excelentíssimo Senhor Presidente do Congresso Nacional; Ex- alguém que comunique; b) algo a ser comunicado; c) alguém
celentíssimo Senhor Presidente do Supremo Tribunal Federal. que receba essa comunicação. No caso da redação oficial,
E mais: As demais autoridades serão tratadas com o vo- quem comunica é sempre o Serviço Público (este ou aquele
cativo Senhor, seguido do cargo respectivo: Senhor Senador, Ministério, Secretaria, Departamento, Divisão, Serviço, Seção);
Senhor Juiz, Senhor Ministro, Senhor Governador. o que se comunica é sempre algum assunto relativo às atri-
O Manual ainda preceitua que a forma de tratamento buições do órgão que comunica; o destinatário dessa comu-
“Digníssimo” fica abolida para as autoridades descritas acima, nicação ou é o público, o conjunto dos cidadãos, ou outro
afinal, a dignidade é condição primordial para que tais cargos órgão público, do Executivo ou dos outros Poderes da União.
públicos sejam ocupados. Percebe-se, assim, que o tratamento impessoal que deve
Fica ainda dito que doutor não é forma de tratamento, ser dado aos assuntos que constam das comunicações oficiais
mas titulação acadêmica de quem defende tese de douto- decorre:
rado. Portanto, é aconselhável que não se use discriminada- a) da ausência de impressões individuais de quem comu-
mente tal termo. nica: embora se trate, por exemplo, de um expediente assina-
do por Chefe de determinada Seção, é sempre em nome do
As Comunicações Oficiais Serviço Público que é feita a comunicação. Obtém-se, assim,
uma desejável padronização, que permite que comunicações
1. Aspectos Gerais da Redação Oficial elaboradas em diferentes setores da Administração guardem
entre si certa uniformidade;
O que é Redação Oficial b) da impessoalidade de quem recebe a comunicação,
com duas possibilidades: ela pode ser dirigida a um cidadão,
Em uma frase, pode-se dizer que redação oficial é a ma- sempre concebido como público, ou a outro órgão público.
neira pela qual o Poder Público redige atos normativos Nos dois casos, temos um destinatário concebido de forma
e comunicações. Interessa-nos tratá-la do ponto de vista do homogênea e impessoal;
Poder Executivo. c) do caráter impessoal do próprio assunto tratado: se o
A redação oficial deve caracterizar-se pela impessoalida- universo temático das comunicações oficiais restringe-se a
de, uso do padrão culto de linguagem, clareza, concisão, for- questões que dizem respeito ao interesse público, é natural
malidade e uniformidade. Fundamentalmente esses atributos que não caiba qualquer tom particular ou pessoal.
decorrem da Constituição, que dispõe, no artigo 37: “A admi- Desta forma, não há lugar na redação oficial para impres-
nistração pública direta, indireta ou fundacional, de qualquer sões pessoais, como as que, por exemplo, constam de uma
dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos carta a um amigo, ou de um artigo assinado de jornal, ou
Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoali- mesmo de um texto literário. A redação oficial deve ser isenta
dade, moralidade, publicidade e eficiência (...)”. Sendo a publi- da interferência da individualidade que a elabora.
cidade e a impessoalidade princípios fundamentais de toda A concisão, a clareza, a objetividade e a formalidade de
administração pública, claro que devem igualmente nortear a que nos valemos para elaborar os expedientes oficiais con-
elaboração dos atos e comunicações oficiais. tribuem, ainda, para que seja alcançada a necessária impes-
Não se concebe que um ato normativo de qualquer na- soalidade.
tureza seja redigido de forma obscura, que dificulte ou im-
possibilite sua compreensão. A transparência do sentido dos A Linguagem dos Atos e Comunicações Oficiais
atos normativos, bem como sua inteligibilidade, são requisitos A necessidade de empregar determinado nível de lingua-
do próprio Estado de Direito: é inaceitável que um texto le- gem nos atos e expedientes oficiais decorre, de um lado, do
gal não seja entendido pelos cidadãos. A publicidade implica, próprio caráter público desses atos e comunicações; de outro,
pois, necessariamente, clareza e concisão. de sua finalidade. Os atos oficiais, aqui entendidos como atos
Fica claro também que as comunicações oficiais são ne- de caráter normativo, ou estabelecem regras para a conduta
cessariamente uniformes, pois há sempre um único comuni- dos cidadãos, ou regulam o funcionamento dos órgãos públi-
cador (o Serviço Público) e o receptor dessas comunicações cos, o que só é alcançado se em sua elaboração for empre-
ou é o próprio Serviço Público (no caso de expedientes dirigi- gada a linguagem adequada. O mesmo se dá com os expe-
dos por um órgão a outro) – ou o conjunto dos cidadãos ou dientes oficiais, cuja finalidade precípua é a de informar com
instituições tratados de forma homogênea (o público). clareza e objetividade.
A redação oficial não é necessariamente árida e infensa à As comunicações que partem dos órgãos públicos fede-
evolução da língua. É que sua finalidade básica – comunicar rais devem ser compreendidas por todo e qualquer cidadão
com impessoalidade e máxima clareza – impõe certos parâ- brasileiro. Para atingir esse objetivo, há que evitar o uso de
metros ao uso que se faz da língua, de maneira diversa da- uma linguagem restrita a determinados grupos. Não há dú-
quele da literatura, do texto jornalístico, da correspondência vida de que um texto marcado por expressões de circulação
particular, etc. restrita, como a gíria, os regionalismos vocabulares ou o jar-
Apresentadas essas características fundamentais da re- gão técnico, tem sua compreensão dificultada.
dação oficial, passemos à análise pormenorizada de cada Ressalte-se que há necessariamente uma distância en-
uma delas. tre a língua falada e a escrita. Aquela é extremamente dinâ-
mica, reflete de forma imediata qualquer alteração de cos-

92
LÍNGUA PORTUGUESA

tumes, e pode eventualmente contar com outros elementos Concisão e Clareza


que auxiliem a sua compreensão, como os gestos, a entoação, A concisão é antes uma qualidade do que uma caracte-
etc., para mencionar apenas alguns dos fatores responsáveis rística do texto oficial. Conciso é o texto que consegue trans-
por essa distância. Já a língua escrita incorpora mais lenta- mitir o máximo de informações com um mínimo de palavras.
mente as transformações, tem maior vocação para a perma- Para que se redija com essa qualidade, é fundamental que se
nência e vale-se apenas de si mesma para comunicar. tenha, além de conhecimento do assunto sobre o qual se es-
Os textos oficiais, devido ao seu caráter impessoal e sua creve, o necessário tempo para revisar o texto depois de pron-
finalidade de informar com o máximo de clareza e concisão, to. É nessa releitura que muitas vezes se percebem eventuais
requerem o uso do padrão culto da língua. Há consenso de redundâncias ou repetições desnecessárias de ideias.
que o padrão culto é aquele em que se observam as regras O esforço de sermos concisos atende, basicamente, ao
da gramática formal e se emprega um vocabulário comum princípio de economia linguística, à mencionada fórmula de
ao conjunto dos usuários do idioma. É importante ressaltar empregar o mínimo de palavras para informar o máximo. Não
que a obrigatoriedade do uso do padrão culto na redação se deve, de forma alguma, entendê-la como economia de
oficial decorre do fato de que ele está acima das diferenças pensamento, isto é, não se devem eliminar passagens subs-
lexicais, morfológicas ou sintáticas regionais, dos modismos tanciais do texto no afã de reduzi-lo em tamanho. Trata-se
vocabulares, das idiossincrasias linguísticas, permitindo, por exclusivamente de cortar palavras inúteis, redundâncias, pas-
essa razão, que se atinja a pretendida compreensão por todos sagens que nada acrescentem ao que já foi dito.
os cidadãos. A clareza deve ser a qualidade básica de todo texto ofi-
Lembre-se de que o padrão culto nada tem contra a sim- cial. Pode-se definir como claro aquele texto que possibilita
plicidade de expressão, desde que não seja confundida com imediata compreensão pelo leitor. No entanto, a clareza não
pobreza de expressão. De nenhuma forma o uso do padrão é algo que se atinja por si só: ela depende estritamente das
culto implica emprego de linguagem rebuscada, nem dos demais características da redação oficial. Para ela concorrem:
contorcionismos sintáticos e figuras de linguagem próprios - a impessoalidade, que evita a duplicidade de interpre-
da língua literária. tações que poderia decorrer de um tratamento personalista
Pode-se concluir, então, que não existe propriamente um dado ao texto;
“padrão oficial de linguagem”; o que há é o uso do padrão - o uso do padrão culto de linguagem, em princípio, de
culto nos atos e comunicações oficiais. É claro que haverá pre- entendimento geral e por definição avesso a vocábulos de
ferência pelo uso de determinadas expressões, ou será obe- circulação restrita, como a gíria e o jargão;
decida certa tradição no emprego das formas sintáticas, mas - a formalidade e a padronização, que possibilitam a im-
isso não implica, necessariamente, que se consagre a utiliza- prescindível uniformidade dos textos;
ção de uma forma de linguagem burocrática. O jargão buro- - a concisão, que faz desaparecer do texto os excessos
crático, como todo jargão, deve ser evitado, pois terá sempre linguísticos que nada lhe acrescentam.
sua compreensão limitada. É pela correta observação dessas características que se
A linguagem técnica deve ser empregada apenas em redige com clareza. Contribuirá, ainda, a indispensável relei-
situações que a exijam, evitando o seu uso indiscriminado. tura de todo texto redigido. A ocorrência, em textos oficiais,
Certos rebuscamentos acadêmicos, e mesmo o vocabulário de trechos obscuros e de erros gramaticais provém, principal-
próprio à determinada área, são de difícil entendimento por mente, da falta da releitura que torna possível sua correção.
quem não esteja com eles familiarizado. Deve-se ter o cui- A revisão atenta exige, necessariamente, tempo. A pressa
dado, portanto, de explicitá-los em comunicações encami- com que são elaboradas certas comunicações quase sempre
nhadas a outros órgãos da administração e em expedientes compromete sua clareza. Não se deve proceder à redação de
dirigidos aos cidadãos. um texto que não seja seguida por sua revisão. “Não há as-
suntos urgentes, há assuntos atrasados”, diz a máxima. Evite-se,
Formalidade e Padronização pois, o atraso, com sua indesejável repercussão no redigir.
As comunicações oficiais devem ser sempre formais, isto
é, obedecem a certas regras de forma: além das já mencio- Pronomes de Tratamento
nadas exigências de impessoalidade e uso do padrão culto Concordância com os Pronomes de Tratamento
de linguagem, é imperativo, ainda, certa formalidade de tra- Os pronomes de tratamento (ou de segunda pessoa indi-
tamento. Não se trata somente da eterna dúvida quanto ao reta) apresentam certas peculiaridades quanto à concordân-
correto emprego deste ou daquele pronome de tratamento cia verbal, nominal e pronominal. Embora se refiram à segun-
para uma autoridade de certo nível; mais do que isso, a for- da pessoa gramatical (à pessoa com quem se fala, ou a quem
malidade diz respeito à polidez, à civilidade no próprio enfo- se dirige a comunicação), levam a concordância para a terceira
que dado ao assunto do qual cuida a comunicação. pessoa. É que o verbo concorda com o substantivo que in-
A formalidade de tratamento vincula-se, também, à ne- tegra a locução como seu núcleo sintático: “Vossa Senhoria
cessária uniformidade das comunicações. Ora, se a administra- nomeará o substituto”; “Vossa Excelência conhece o assunto”.
ção federal é una, é natural que as comunicações que expede Da mesma forma, os pronomes possessivos referidos a
sigam um mesmo padrão. O estabelecimento desse padrão pronomes de tratamento são sempre os da terceira pessoa:
exige que se atente para todas as características da redação “Vossa Senhoria nomeará seu substituto” (e não “Vossa... vos-
oficial e que se cuide, ainda, da apresentação dos textos. so...”).
A clareza datilográfica, o uso de papéis uniformes para Já quanto aos adjetivos referidos a esses pronomes, o
o texto definitivo e a correta diagramação do texto são in- gênero gramatical deve coincidir com o sexo da pessoa a que
dispensáveis para a padronização. se refere, e não com o substantivo que compõe a locução.

93
LÍNGUA PORTUGUESA

Assim, se nosso interlocutor for homem, o correto é “Vossa - deve ser utilizada fonte do tipo Times New Roman de
Excelência está atarefado”, “Vossa Senhoria deve estar satis- corpo 12 no texto em geral, 11 nas citações, e 10 nas notas
feito”; se for mulher, “Vossa Excelência está atarefada”, “Vossa de rodapé;
Senhoria deve estar satisfeita”. - para símbolos não existentes na fonte Times New Ro-
No envelope, o endereçamento das comunicações diri- man poder-se-á utilizar as fontes Symbol e Wingdings;
gidas às autoridades tratadas por Vossa Excelência, terá a se- - é obrigatório constar a partir da segunda página o
guinte forma: número da página;
- os ofícios, memorandos e anexos destes poderão ser
A Sua Excelência o Senhor impressos em ambas as faces do papel. Neste caso, as mar-
Fulano de Tal gens esquerda e direita terão as distâncias invertidas nas
Ministro de Estado da Justiça páginas pares (“margem espelho”);
70.064-900 – Brasília. DF - o campo destinado à margem lateral esquerda terá,
no mínimo, 3,0 cm de largura;
A Sua Excelência o Senhor
- o início de cada parágrafo do texto deve ter 2,5 cm de
Senador Fulano de Tal
distância da margem esquerda;
Senado Federal
70.165-900 – Brasília. DF - o campo destinado à margem lateral direita terá 1,5
cm;
Senhor Ministro, - deve ser utilizado espaçamento simples entre as li-
Submeto a Vossa Excelência projeto (...) nhas e de 6 pontos após cada parágrafo, ou, se o editor
de texto utilizado não comportar tal recurso, de uma linha
Fechos para Comunicações em branco;
O fecho das comunicações oficiais possui, além da fina- - não deve haver abuso no uso de negrito, itálico, sub-
lidade de arrematar o texto, a de saudar o destinatário. Os linhado, letras maiúsculas, sombreado, sombra, relevo, bor-
modelos para fecho que vinham sendo utilizados foram re- das ou qualquer outra forma de formatação que afete a
gulados pela Portaria nº1 do Ministério da Justiça, de 1937, elegância e a sobriedade do documento;
que estabelecia quinze padrões. Com o fito de simplificá-los - a impressão dos textos deve ser feita na cor preta em
e uniformiza-los, este Manual estabelece o emprego de so- papel branco. A impressão colorida deve ser usada apenas
mente dois fechos diferentes para todas as modalidades de para gráficos e ilustrações;
comunicação oficial: - todos os tipos de documentos do Padrão Ofício de-
a) para autoridades superiores, inclusive o Presidente vem ser impressos em papel de tamanho A-4, ou seja, 29,7
da República: Respeitosamente, x 21,0 cm;
b) para autoridades de mesma hierarquia ou de hie- - deve ser utilizado, preferencialmente, o formato de
rarquia inferior: Atenciosamente, arquivo Rich Text nos documentos de texto;
- dentro do possível, todos os documentos elabora-
Ficam excluídas dessa fórmula as comunicações dirigidas dos devem ter o arquivo de texto preservado para consulta
a autoridades estrangeiras, que atendem a rito e tradição pró- posterior ou aproveitamento de trechos para casos análo-
prios, devidamente disciplinados no Manual de Redação do gos;
Ministério das Relações Exteriores. - para facilitar a localização, os nomes dos arquivos de-
vem ser formados da seguinte maneira:
Identificação do Signatário
tipo do documento + número do documento + pala-
Excluídas as comunicações assinadas pelo Presidente da
vras-chaves do conteúdo
República, todas as demais comunicações oficiais devem trazer
Ex.: “Of. 123 - relatório produtividade ano 2002”
o nome e o cargo da autoridade que as expede, abaixo do local
de sua assinatura. A forma da identificação deve ser a seguinte:
Aviso e Ofício
(espaço para assinatura)
Nome Definição e Finalidade
Chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República Aviso e ofício são modalidades de comunicação oficial
praticamente idênticas. A única diferença entre eles é que
(espaço para assinatura) o aviso é expedido exclusivamente por Ministros de Estado,
Nome para autoridades de mesma hierarquia, ao passo que o ofí-
Ministro de Estado da Justiça cio é expedido para e pelas demais autoridades. Ambos têm
como finalidade o tratamento de assuntos oficiais pelos ór-
Para evitar equívocos, recomenda-se não deixar a assi- gãos da Administração Pública entre si e, no caso do ofício,
natura em página isolada do expediente. Transfira para essa também com particulares.
página ao menos a última frase anterior ao fecho.
Forma e Estrutura
Forma de diagramação Quanto a sua forma, aviso e ofício seguem o modelo
Os documentos do Padrão Ofício devem obedecer à do padrão ofício, com acréscimo do vocativo, que invoca o
seguinte forma de apresentação: destinatário, seguido de vírgula.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Exemplos: Em regra, a exposição de motivos é dirigida ao Presidente


Excelentíssimo Senhor Presidente da República da República por um Ministro de Estado.
Senhora Ministra Nos casos em que o assunto tratado envolva mais de um
Senhor Chefe de Gabinete Ministério, a exposição de motivos deverá ser assinada por to-
dos os Ministros envolvidos, sendo, por essa razão, chamada
Devem constar do cabeçalho ou do rodapé do ofício as de interministerial.
seguintes informações do remetente:
– nome do órgão ou setor; Forma e Estrutura - Formalmente, a exposição de mo-
– endereço postal; tivos tem a apresentação do padrão ofício. A exposição de
– telefone e e-mail. motivos, de acordo com sua finalidade, apresenta duas for-
mas básicas de estrutura: uma para aquela que tenha caráter
Observação: Estas informações estão ausentes no exclusivamente informativo e outra para a que proponha al-
guma medida ou submeta projeto de ato normativo.
memorando, pois se trata de comunicação interna - des-
No primeiro caso, o da exposição de motivos que sim-
tinatário e remetente possuem o mesmo endereço. Se o
plesmente leva algum assunto ao conhecimento do Presiden-
Aviso é de um Ministério para outro Ministério, também
te da República, sua estrutura segue o modelo antes referido
não precisa especificar o endereço. O Ofício é enviado para para o padrão ofício.
outras instituições, logo, são necessárias as informações do
remetente e o endereço do destinatário para que o ofício Mensagem
possa ser entregue e o remetente possa receber resposta.
Definição e Finalidade - É o instrumento de comunica-
Memorando ção oficial entre os Chefes dos Poderes Públicos, notadamente
as mensagens enviadas pelo Chefe do Poder Executivo ao Poder
Definição e Finalidade Legislativo para informar sobre fato da Administração Pública,
O memorando é a modalidade de comunicação entre expor o plano de governo por ocasião da abertura de sessão
unidades administrativas de um mesmo órgão, que podem legislativa, submeter ao Congresso Nacional matérias que de-
estar hierarquicamente em mesmo nível ou em nível dife- pendem de deliberação de suas Casas, apresentar veto, enfim,
rente. Trata-se, portanto, de uma forma de comunicação fazer e agradecer comunicações de tudo quanto seja de inte-
eminentemente interna. resse dos poderes públicos e da Nação.
Pode ter caráter meramente administrativo, ou ser em- Minuta de mensagem pode ser encaminhada pelos Mi-
pregado para a exposição de projetos, ideias, diretrizes, nistérios à Presidência da República, a cujas assessorias caberá
etc. a serem adotados por determinado setor do serviço a redação final.
público. As mensagens mais usuais do Poder Executivo ao Con-
Sua característica principal é a agilidade. A tramitação gresso Nacional têm as seguintes finalidades:
do memorando em qualquer órgão deve pautar-se pela ra- - encaminhamento de projeto de lei ordinária, comple-
pidez e pela simplicidade de procedimentos burocráticos. mentar ou financeira;
Para evitar desnecessário aumento do número de comu- - encaminhamento de medida provisória;
nicações, os despachos ao memorando devem ser dados - indicação de autoridades;
no próprio documento e, no caso de falta de espaço, em - pedido de autorização para o Presidente ou o Vice-Pre-
folha de continuação. Este procedimento permite formar sidente da República ausentarem-se do País por mais de 15
dias;
uma espécie de processo simplificado, assegurando maior
- encaminhamento de atos de concessão e renovação de
transparência à tomada de decisões e permitindo que se
concessão de emissoras de rádio e TV;
historie o andamento da matéria tratada no memorando.
- encaminhamento das contas referentes ao exercício an-
terior;
Forma e Estrutura - mensagem de abertura da sessão legislativa;
Quanto a sua forma, o memorando segue o modelo do - comunicação de sanção (com restituição de autógrafos);
padrão ofício, com a diferença de que o seu destinatário - comunicação de veto;
deve ser mencionado pelo cargo que ocupa. Ex: - outras mensagens.

Ao Sr. Chefe do Departamento de Administração Forma e Estrutura - As mensagens contêm:


Ao Sr. Subchefe para Assuntos Jurídicos a) a indicação do tipo de expediente e de seu número,
horizontalmente, no início da margem esquerda;
Exposição de Motivos b) vocativo, de acordo com o pronome de tratamento e o
cargo do destinatário, horizontalmente, no início da margem
Definição e Finalidade - Exposição de motivos é o ex- esquerda (Excelentíssimo Senhor Presidente do Senado Fede-
pediente dirigido ao Presidente da República ou ao Vice-Pre- ral);
sidente para: c) o texto, iniciando a 2,0 cm do vocativo;
a) informá-lo de determinado assunto; b) propor algu- d) o local e a data, verticalmente a 2,0 cm do final do
ma medida; ou c) submeter a sua consideração projeto de texto, e horizontalmente fazendo coincidir seu final com a
ato normativo. margem direita.

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LÍNGUA PORTUGUESA

A mensagem, como os demais atos assinados pelo Pre- Forma e Estrutura - Um dos atrativos de comunica-
sidente da República, não traz identificação de seu signa- ção por correio eletrônico é sua flexibilidade. Assim, não
tário. interessa definir forma rígida para sua estrutura. Entretanto,
deve-se evitar o uso de linguagem incompatível com uma
Telegrama comunicação oficial.
O campo “assunto” do formulário de correio eletrôni-
Definição e Finalidade - Com o fito de uniformizar a co mensagem deve ser preenchido de modo a facilitar a
terminologia e simplificar os procedimentos burocráticos, organização documental tanto do destinatário quanto do
passa a receber o título de telegrama toda comunicação remetente.
oficial expedida por meio de telegrafia, telex, etc. Para os arquivos anexados à mensagem, deve ser utili-
Por tratar-se de forma de comunicação dispendiosa aos zado, preferencialmente, o formato Rich Text. A mensagem
cofres públicos e tecnologicamente superada, deve restringir- que encaminha algum arquivo deve trazer informações mí-
se o uso do telegrama apenas àquelas situações que não seja nimas sobre seu conteúdo.
possível o uso de correio eletrônico ou fax e que a urgência Sempre que disponível, deve-se utilizar recurso de con-
justifique sua utilização. Em razão de seu custo elevado, esta firmação de leitura. Caso não seja disponível, deve constar
forma de comunicação deve pautar-se pela concisão. na mensagem o pedido de confirmação de recebimento.
Forma e Estrutura - Não há padrão rígido, devendo- Valor documental - Nos termos da legislação em vi-
se seguir a forma e a estrutura dos formulários disponíveis gor, para que a mensagem de correio eletrônico tenha valor
nas agências dos Correios e em seu sítio na Internet. documental, e para que possa ser aceito como documento
original, é necessário existir certificação digital que ateste
Fax a identidade do remetente, na forma estabelecida em lei.

Definição e Finalidade - O fax (forma abreviada já Elementos de Ortografia e Gramática


consagrada de fac-símile) é uma forma de comunicação
que está sendo menos usada devido ao desenvolvimento Problemas de Construção de Frases
da Internet. É utilizado para a transmissão de mensagens
urgentes e para o envio antecipado de documentos, de A clareza e a concisão na forma escrita são alcançadas,
cujo conhecimento há premência, quando não há condi- principalmente, pela construção adequada da frase, “a me-
ções de envio do documento por meio eletrônico. Quando nor unidade autônoma da comunicação”, na definição de
necessário o original, ele segue posteriormente pela via e Celso Pedro Luft.
na forma de praxe. A função essencial da frase é desempenhada pelo pre-
Se necessário o arquivamento, deve-se fazê-lo com có-
dicado, que, para Adriano da Gama Kury, pode ser entendi-
pia do fax e não com o próprio fax, cujo papel, em certos
do como “a enunciação pura de um fato qualquer”. Sempre
modelos, deteriora-se rapidamente.
que a frase possuir pelo menos um verbo, recebe o nome
de período, que terá tantas orações quantos forem os ver-
Forma e Estrutura - Os documentos enviados por fax
bos não auxiliares que o constituem.
mantêm a forma e a estrutura que lhes são inerentes.
Outra função relevante é a do sujeito – mas não indis-
É conveniente o envio, juntamente com o documento
pensável, pois há orações sem sujeito, ditas impessoais –,
principal, de folha de rosto e de pequeno formulário com
os dados de identificação da mensagem a ser enviada, con- de quem se diz algo, cujo núcleo é sempre um substantivo.
forme exemplo a seguir: Sempre que o verbo o exigir, teremos nas orações substan-
tivos (nomes ou pronomes) que desempenham a função
[Órgão Expedidor] de complementos (objetos direto e indireto, predicativo e
[setor do órgão expedidor] complemento adverbial). Função acessória desempenham
[endereço do órgão expedidor] os adjuntos adverbiais, que vêm geralmente ao final da
Destinatário:____________________________________ oração, mas que podem ser ou intercalados aos elementos
No do fax de destino:_______________ Data:___/___/___ que desempenham as outras funções, ou deslocados para
Remetente: ____________________________________ o início da oração.
Tel. p/ contato:____________ Fax/correio eletrônico:____ Temos, assim, a seguinte ordem de colocação dos ele-
No de páginas: ________ No do documento:____________ mentos que compõem uma oração (Observação: os parên-
teses indicam os elementos que podem não ocorrer):
Observações:___________________________________
(sujeito) - verbo - (complementos) - (adjunto adverbial).
Correio Eletrônico
Podem ser identificados seis padrões básicos para as
Definição e finalidade - O correio eletrônico (“e-mail”), orações pessoais (isto é, com sujeito) na língua portuguesa
por seu baixo custo e celeridade, transformou-se na princi- (a função que vem entre parênteses é facultativa e pode
pal forma de comunicação para transmissão de documen- ocorrer em ordem diversa):
tos.
1. Sujeito - verbo intransitivo - (Adjunto Adverbial)

96
LÍNGUA PORTUGUESA

O Presidente - regressou - (ontem). Certo: Não vejo mal em o Governo proceder assim.

2. Sujeito - verbo transitivo direto - objeto direto - (ad- Errado: Antes destes requisitos serem cumpridos, (...).
junto adverbial) Certo: Antes de estes requisitos serem cumpridos, (...).
O Chefe da Divisão - assinou - o termo de posse - (na
manhã de terça-feira). Errado: Apesar da Assessoria ter informado em tempo, (...).
Certo: Apesar de a Assessoria ter informado em tempo, (...).
3. Sujeito - verbo transitivo indireto - objeto indireto -
(adjunto adverbial). Frases Fragmentadas
O Brasil - precisa - de gente honesta - (em todos os se- A fragmentação de frases “consiste em pontuar uma
tores). oração subordinada ou uma simples locução como se fosse
uma frase completa”. Decorre da pontuação errada de uma
frase simples. Embora seja usada como recurso estilístico na
4. Sujeito - verbo transitivo direto e indireto - obj. dire-
literatura, a fragmentação de frases deve ser evitada nos
to - obj. indireto - (adj. Adv.)
textos oficiais, pois muitas vezes dificulta a compreensão.
Os desempregados - entregaram - suas reivindicações -
Exemplo:
ao Deputado - (no Congresso). Errado: O programa recebeu a aprovação do Congresso
5. Sujeito - verbo transitivo indireto - complemento ad- Nacional. Depois de ser longamente debatido.
verbial - (adjunto adverbial) Certo: O programa recebeu a aprovação do Congresso
A reunião do Grupo de Trabalho - ocorrerá - em Buenos Nacional, depois de ser longamente debatido.
Aires - (na próxima semana). Certo: Depois de ser longamente debatido, o programa re-
O Presidente - voltou - da Europa - (na sexta-feira) cebeu a aprovação do Congresso Nacional.

6. Sujeito - verbo de ligação - predicativo - (adjunto ad- Errado: O projeto de Convenção foi oportunamente sub-
verbial) metido ao Presidente da República, que o aprovou. Consultadas
O problema - será - resolvido - prontamente. as áreas envolvidas na elaboração do texto legal.
Certo: O projeto de Convenção foi oportunamente subme-
Estes seriam os padrões básicos para as orações, ou seja, tido ao Presidente da República, que o aprovou, consultadas as
as frases que possuem apenas um verbo conjugado. Na cons- áreas envolvidas na elaboração do texto legal.
trução de períodos, as várias funções podem ocorrer em or-
dem inversa à mencionada, misturando-se e confundindo-se. Erros de Paralelismo
Não interessa aqui análise exaustiva de todos os padrões exis- Uma das convenções estabelecidas na linguagem escrita
tentes na língua portuguesa. O que importa é fixar a ordem “consiste em apresentar ideias similares numa forma gramati-
normal dos elementos nesses seis padrões básicos. Acrescen- cal idêntica”, o que se chama de paralelismo. Assim, incorre-se
te-se que períodos mais complexos, compostos por duas ou em erro ao conferir forma não paralela a elementos paralelos.
mais orações, em geral podem ser reduzidos aos padrões bá- Vejamos alguns exemplos:
sicos (de que derivam).
Os problemas mais frequentemente encontrados na Errado: Pelo aviso circular recomendou-se aos Ministérios eco-
construção de frases dizem respeito à má pontuação, à am- nomizar energia e que elaborassem planos de redução de despesas.
biguidade da ideia expressa, à elaboração de falsos paralelis-
Na frase temos, nas duas orações subordinadas que com-
mos, erros de comparação, etc. Decorrem, em geral, do des-
pletam o sentido da principal, duas estruturas diferentes para
conhecimento da ordem das palavras na frase. Indicam-se, a
ideias equivalentes: a primeira oração (economizar energia) é
seguir, alguns desses defeitos mais comuns e recorrentes na
reduzida de infinitivo, enquanto a segunda (que elaborassem
construção de frases, registrados em documentos oficiais. planos de redução de despesas) é uma oração desenvolvida
introduzida pela conjunção integrante que. Há mais de uma
Sujeito possibilidade de escrevê-la com clareza e correção; uma seria
Como dito, o sujeito é o ser de quem se fala ou que exe- a de apresentar as duas orações subordinadas como desen-
cuta a ação enunciada na oração. Ele pode ter complemen- volvidas, introduzidas pela conjunção integrante que:
to, mas não ser complemento. Devem ser evitadas, portanto,
construções como: Certo: Pelo aviso circular, recomendou-se aos Ministérios
que economizassem energia e (que) elaborassem planos para
Errado: É tempo do Congresso votar a emenda. redução de despesas.
Certo: É tempo de o Congresso votar a emenda.
Outra possibilidade: as duas orações são apresentadas
Errado: Apesar das relações entre os países estarem cor- como reduzidas de infinitivo:
tadas, (...). Certo: Pelo aviso circular, recomendou-se aos Ministérios
Certo: Apesar de as relações entre os países estarem cor- economizar energia e elaborar planos para redução de despesas.
tadas, (...).
Nas duas correções respeita-se a estrutura paralela na
Errado: Não vejo mal no Governo proceder assim. coordenação de orações subordinadas.

97
LÍNGUA PORTUGUESA

Mais um exemplo de frase inaceitável na língua escrita culta: Certo: O salário de um professor é mais baixo do que o de
Errado: No discurso de posse, mostrou determinação, não um médico.
ser inseguro, inteligência e ter ambição.
Errado: O alcance do Decreto é diferente da Portaria.
O problema aqui decorre de coordenar palavras (subs- Novamente, a não repetição dos termos comparados
tantivos) com orações (reduzidas de infinitivo). confunde. Alternativas para correção:
Para tornar a frase clara e correta, pode-se optar ou por Certo: O alcance do Decreto é diferente do alcance da Por-
transformá-la em frase simples, substituindo as orações redu- taria.
zidas por substantivos: Certo: O alcance do Decreto é diferente do da Portaria.
Certo: No discurso de posse, mostrou determinação, segu- Errado: O Ministério da Educação dispõe de mais verbas
rança, inteligência e ambição. do que os Ministérios do Governo.
No exemplo acima, a omissão da palavra “outros” (ou
Atentemos, ainda, para o problema inverso, o falso pa- “demais”) acarretou imprecisão:
ralelismo, que ocorre ao se dar forma paralela (equivalente) Certo: O Ministério da Educação dispõe de mais verbas do
a ideias de hierarquia diferente ou, ainda, ao se apresentar, que os outros Ministérios do Governo.
de forma paralela, estruturas sintáticas distintas: Certo: O Ministério da Educação dispõe de mais verbas do
Errado: O Presidente visitou Paris, Bonn, Roma e o Papa. que os demais Ministérios do Governo.
Ambiguidade
Nesta frase, colocou-se em um mesmo nível cidades (Pa-
ris, Bonn, Roma) e uma pessoa (o Papa). Uma possibilidade Ambígua é a frase ou oração que pode ser tomada em
de correção é transformá-la em duas frases simples, com o mais de um sentido. Como a clareza é requisito básico de
cuidado de não repetir o verbo da primeira (visitar): todo texto oficial, deve-se atentar para as construções que
Certo: O Presidente visitou Paris, Bonn e Roma. Nesta últi- possam gerar equívocos de compreensão.
ma capital, encontrou-se com o Papa. A ambiguidade decorre, em geral, da dificuldade de
identificar a qual palavra se refere um pronome que possui
Mencionemos, por fim, o falso paralelismo provocado mais de um antecedente na terceira pessoa. Pode ocorrer
pelo uso inadequado da expressão “e que” num período que com:
não contém nenhum “que” anterior.
Errado: O novo procurador é jurista renomado, e que tem - pronomes pessoais:
sólida formação acadêmica. Ambíguo: O Ministro comunicou a seu secretariado que
ele seria exonerado.
Para corrigir a frase, suprimimos o pronome relativo: Claro: O Ministro comunicou exoneração dele a seu se-
Certo: O novo procurador é jurista renomado e tem sólida cretariado.
formação acadêmica. Ou então, caso o entendimento seja outro:
Claro: O Ministro comunicou a seu secretariado a exo-
Outro exemplo de falso paralelismo com “e que”: neração deste.
Errado: Neste momento, não se devem adotar medidas
precipitadas, e que comprometam o andamento de todo o pro- - pronomes possessivos e pronomes oblíquos:
grama. Ambíguo: O Deputado saudou o Presidente da Repúbli-
Da mesma forma com que corrigimos o exemplo anterior, ca, em seu discurso, e solicitou sua intervenção no seu Esta-
aqui podemos suprimir a conjunção: do, mas isso não o surpreendeu.
Certo: Neste momento, não se devem adotar medidas pre- Observe a multiplicidade de ambiguidade no exemplo
cipitadas, que comprometam o andamento de todo o progra- acima, a qual torna incompreensível o sentido da frase.
ma. Claro: Em seu discurso o Deputado saudou o Presidente
da República. No pronunciamento, solicitou a intervenção
Erros de Comparação
federal em seu Estado, o que não surpreendeu o Presidente
da República.
A omissão de certos termos ao fazermos uma compara-
ção, omissão própria da língua falada, deve ser evitada na lín-
- pronome relativo:
gua escrita, pois compromete a clareza do texto: nem sempre
Ambíguo: Roubaram a mesa do gabinete em que eu
é possível identificar, pelo contexto, qual o termo omitido. A
costumava trabalhar.
ausência indevida de um termo pode impossibilitar o enten-
dimento do sentido que se quer dar a uma frase: Não fica claro se o pronome relativo da segunda ora-
ção faz referência “à mesa” ou “a gabinete”. Esta ambigui-
Errado: O salário de um professor é mais baixo do que um dade se deve ao pronome relativo “que”, sem marca de gê-
médico. nero. A solução é recorrer às formas o qual, a qual, os quais,
A omissão de termos provocou uma comparação indevi- as quais, que marcam gênero e número.
da: “o salário de um professor” com “um médico”. Claro: Roubaram a mesa do gabinete no qual eu costu-
Certo: O salário de um professor é mais baixo do que o mava trabalhar.
salário de um médico. Se o entendimento é outro, então:

98
LÍNGUA PORTUGUESA

Claro: Roubaram a mesa do gabinete na qual eu costu- dos pronomes de tratamento apresentados nas alternati-
mava trabalhar. vas, o pronome demonstrativo será “sua”. Descartamos, en-
tão, os itens A, C e E. Agora recorramos ao pronome ade-
Há, ainda, outro tipo de ambiguidade, que decorre da quado a ser utilizado para deputados. Segundo o Manual
dúvida sobre a que se refere a oração reduzida: de Redação Oficial, temos:
Ambíguo: Sendo indisciplinado, o Chefe admoestou o Vossa Excelência, para as seguintes autoridades:
funcionário. b) do Poder Legislativo: Presidente, Vice–Presidente e
Para evitar o tipo de ambiguidade do exemplo acima, Membros da Câmara dos Deputados e do Senado Federal
deve-se deixar claro qual o sujeito da oração reduzida. (...).
Claro: O Chefe admoestou o funcionário por ser este RESPOSTA: “D”.
indisciplinado.
2-) (ANTAQ – ESPECIALISTA EM REGULAÇÃO DE SER-
Ambíguo: Depois de examinar o paciente, uma senhora VIÇOS DE TRANSPORTES AQUAVIÁRIOS – CESPE/2014)
chamou o médico. Considerando aspectos estruturais e linguísticos das cor-
Claro: Depois que o médico examinou o paciente, foi respondências oficiais, julgue os itens que se seguem, de
chamado por uma senhora. acordo com o Manual de Redação da Presidência da Re-
pública.
O tratamento Digníssimo deve ser empregado para to-
Fontes de pesquisa:
das as autoridades do poder público, uma vez que a dig-
http://www.redacaooficial.com.br/redacao_oficial_pu-
nidade é tida como qualidade inerente aos ocupantes de
blicacoes_ver.php?id=2
cargos públicos.
http://portuguesxconcursos.blogspot.com.br/p/reda-
( ) CERTO ( ) ERRADO
cao-oficial-para-concursos.html
2-) Vamos ao Manual: O Manual ainda preceitua que a
Questões forma de tratamento “Digníssimo” fica abolida (...) afinal, a
dignidade é condição primordial para que tais cargos públi-
1-) (TJ-PA - MÉDICO PSIQUIATRA - VUNESP - 2014) cos sejam ocupados.
Leia o seguinte fragmento de um ofício, citado do Manual Fonte: http://www.redacaooficial.com.br/redacao_ofi-
de Redação da Presidência da República, no qual expres- cial_publicacoes_ver.php?id=2
sões foram substituídas por lacunas. RESPOSTA: “ERRADO”.

Senhor Deputado 3-) (TRIBUNAL DE JUSTIÇA/SE – TÉCNICO JUDICIÁRIO


Em complemento às informações transmitidas pelo te- – CESPE/2014) Em toda comunicação oficial, exceto nas di-
legrama n.º 154, de 24 de abril último, informo _____ de que recionadas a autoridades estrangeiras, deve-se fazer uso
as medidas mencionadas em ______ carta n.º 6708, dirigida dos fechos Respeitosamente ou Atenciosamente, de acor-
ao Senhor Presidente da República, estão amparadas pelo do com as hierarquias do destinatário e do remetente.
procedimento administrativo de demarcação de terras in- ( ) CERTO (
dígenas instituído pelo Decreto n.º 22, de 4 de fevereiro de ) ERRADO
1991 (cópia anexa).
(http://www.planalto.gov.br. Adaptado) 3-) Segundo o Manual de Redação Oficial: (...) Manual
estabelece o emprego de somente dois fechos diferentes
A alternativa que completa, correta e respectivamen- para todas as modalidades de comunicação oficial:
te, as lacunas do texto, de acordo com a norma-padrão a) para autoridades superiores, inclusive o Presidente
da língua portuguesa e atendendo às orientações oficiais da República: Respeitosamente,
a respeito do uso de formas de tratamento em correspon- b) para autoridades de mesma hierarquia ou de hierar-
quia inferior: Atenciosamente,
dências públicas, é:
Ficam excluídas dessa fórmula as comunicações dirigi-
A) Vossa Senhoria … tua.
das a autoridades estrangeiras, que atendem a rito e tra-
B) Vossa Magnificência … sua.
dição próprios, devidamente disciplinados no Manual de
C) Vossa Eminência … vossa.
Redação do Ministério das Relações Exteriores.
D) Vossa Excelência … sua. RESPOSTA: “CERTO”.
E) Sua Senhoria … vossa.

1-) Podemos começar pelo pronome demonstrativo.


Mesmo utilizando pronomes de tratamento “Vossa” (mui-
tas vezes confundido com “vós” e seu respectivo “vosso”),
os pronomes que os acompanham deverão ficar sempre na
terceira pessoa (do plural ou do singular, de acordo com o
número do pronome de tratamento). Então, em quaisquer

99
LÍNGUA PORTUGUESA

Não encontramos as pessoas que saíram.


FUNÇÕES DO “QUE” E DO “SE” • pronome indefinido: nesse caso, pode funcionar
como pronome substantivo ou pronome adjetivo.
• pronome substantivo: equivale a que coisa. Quando
for pronome substantivo, a palavra que exercerá as fun-
A palavra que em português pode ser: ções próprias do substantivo (sujeito, objeto direto, objeto
Interjeição: exprime espanto, admiração, surpresa. indireto, etc.)
Nesse caso, será acentuada e seguida de ponto de Que aconteceu com você?
exclamação. Usa-se também a variação  o quê! A pala-
vra que não exerce função sintática quando funciona como • pronome adjetivo: determina um substantivo. Nesse
interjeição. caso, exerce a função sintática de adjunto adnominal.

Quê! Você ainda não está pronto? Que vida é essa?


O quê! Quem sumiu?
Conjunção: relaciona entre si duas orações. Nesse
Substantivo: equivale a alguma coisa. caso, não exerce função sintática. Como conjunção, a pala-
Nesse caso, virá sempre antecedida de artigo ou outro vra que pode relacionar tanto orações coordenadas quan-
determinante, e receberá acento por ser monossílabo tô- to subordinadas, daí classificar-se como conjunção coorde-
nativa ou conjunção subordinativa. Quando funciona como
nico terminado em e. Como substantivo, designa também
conjunção coordenativa ou subordinativa, a palavra que
a 16ª letra de nosso alfabeto. Quando a palavra que for
recebe o nome da oração que introduz. Por exemplo:
substantivo, exercerá as funções sintáticas próprias dessa
Venha logo, que é tarde. (conjunção coordenativa ex-
classe de palavra (sujeito, objeto direto, objeto indireto,
plicativa)
predicativo, etc.) Falou tanto que ficou rouco. (conjunção subordinativa
consecutiva)
Ele tem certo quê misterioso. (substantivo na função
de núcleo do objeto direto) Quando inicia uma oração subordinada substantiva, a
palavra que recebe o nome de conjunção subordinativa
Preposição: liga dois verbos de uma locução verbal integrante.
em que o auxiliar é o verboter.
Equivale a de. Quando é preposição, a palavra que não Desejo que você venha logo.
exerce função sintática.

Tenho que sair agora. A palavra se 


Ele tem que dar o dinheiro hoje.
A palavra se, em português, pode ser:
Partícula expletiva ou de realce: pode ser retirada da
frase, sem prejuízo algum para o sentido. Conjunção: relaciona entre si duas orações. Nesse
Nesse caso, a palavra que  não exerce função sintáti- caso, não exerce função sintática. Como conjunção, a pala-
ca; como o próprio nome indica, é usada apenas para dar vra se pode ser:
realce. Como partícula expletiva, aparece também na ex- * conjunção subordinativa integrante: inicia uma ora-
pressão é que. ção subordinada substantiva.
Perguntei se ele estava feliz.
Quase que não consigo chegar a tempo. * conjunção subordinativa condicional: inicia uma ora-
Elas é que conseguiram chegar. ção adverbial condicional (equivale a caso).
Advérbio:  modifica um adjetivo ou um advérbio. Se todos tivessem estudado, as notas seriam boas.
Equivale a quão. Quando funciona como advérbio, a pala-
Partícula expletiva ou de realce: pode ser retirada da
vra que exerce a função sintática de adjunto adverbial; no
frase sem prejuízo algum para o sentido. Nesse caso, a pa-
caso, de intensidade.
lavra se não exerce função sintática. Como o próprio nome
indica, é usada apenas para dar realce.
Que lindas flores!
Passavam-se os dias e nada acontecia.
Que barato!
Parte integrante do verbo: faz parte integrante dos
Pronome: como pronome, a palavra que pode ser: verbos pronominais. Nesse caso, o se não exerce função
• pronome relativo: retoma um termo da oração an- sintática.
tecedente, projetando-o na oração consequente. Equivale Ele arrependeu-se do que fez.
a o qual e flexões.

100
LÍNGUA PORTUGUESA

Partícula apassivadora: ligada a verbo que pede ob- Quanto ao nível informal, por sua vez, representa o es-
jeto direto, caracteriza as orações que estão na voz passi- tilo considerado “de menor prestígio”, e isto tem gerado
va sintética. É também chamada de pronome apassivador. controvérsias entre os estudos da língua, uma vez que, para
Nesse caso, não exerce função sintática, seu papel é apenas a sociedade, aquela pessoa que fala ou escreve de maneira
apassivar o verbo. errônea é considerada “inculta”, tornando-se desta forma
um estigma.
Vendem-se casas. Compondo o quadro do padrão informal da lingua-
Aluga-se carro. gem, estão as chamadas variedades linguísticas, as quais
Compram-se joias. representam as variações de acordo com as condições so-
Índice de indeterminação do sujeito: vem ligando a ciais, culturais, regionais e históricas em que é utilizada.
um verbo que não é transitivo direto, tornando o sujeito Dentre elas destacam-se:
indeterminado. Não exerce propriamente uma função sin-
tática, seu papel é o de indeterminar o sujeito. Lembre-se Variações históricas: Dado o dinamismo que a lín-
de que, nesse caso, o verbo deverá estar na terceira pessoa gua apresenta, a mesma sofre transformações ao longo do
do singular. tempo. Um exemplo bastante representativo é a questão
da ortografia, se levarmos em consideração a palavra far-
Trabalha-se de dia. mácia, uma vez que a mesma era grafada com “ph”, con-
Precisa-se de vendedores. trapondo-se à linguagem dos internautas, a qual se fun-
damenta pela supressão do vocábulos. Analisemos, pois, o
Pronome reflexivo: quando a palavra se é pronome fragmento exposto:
pessoal, ela deverá estar sempre na mesma pessoa do su-
jeito da oração de que faz parte. Por isso o pronome oblí-
quo se sempre será reflexivo (equivalendo a a si mesmo), Antigamente
podendo assumir as seguintes funções sintáticas:
“Antigamente, as moças chamavam-se mademoiselles e
eram todas mimosas e muito prendadas. Não faziam anos:
* objeto direto
completavam primaveras, em geral dezoito. Os janotas,
Ele cortou-se com o facão.
mesmo sendo rapagões, faziam-lhes pé-de-alferes, arras-
* objeto indireto
tando a asa, mas ficavam longos meses debaixo do balaio.”
Ele se atribui muito valor.
Carlos Drummond de Andrade
* sujeito de um infinitivo
Comparando-o à modernidade, percebemos um voca-
“Sofia deixou-se estar à janela.”
bulário antiquado.
* Texto adaptado por Por Marina Cabral Variações regionais: São os chamados dialetos, que
são as marcas determinantes referentes a diferentes re-
Fonte: http://brasilescola.uol.com.br/gramatica/classi- giões. Como exemplo, citamos a palavra mandioca que,
ficacao-das-palavras-que-e-se.htm em certos lugares, recebe outras nomenclaturas, tais como:
macaxeira e aipim. Figurando também esta modalidade es-
tão os sotaques, ligados às características orais da lingua-
gem.

VARIAÇÃO LINGUÍSTICA. Variações sociais ou culturais: Estão diretamente li-


gadas aos grupos sociais de uma maneira geral e também
ao grau de instrução de uma determinada pessoa. Como
exemplo, citamos as gírias, os jargões e o linguajar caipira.
A linguagem é a característica que nos difere dos de- As gírias pertencem ao vocabulário específico de cer-
mais seres, permitindo-nos a oportunidade de expressar tos grupos, como os surfistas, cantores de rap, tatuadores,
sentimentos, revelar conhecimentos, expor nossa opinião entre outros. Os jargões estão relacionados ao profissiona-
frente aos assuntos relacionados ao nosso cotidiano e, so- lismo, caracterizando um linguajar técnico. Representando
bretudo, promovendo nossa inserção ao convívio social. a classe, podemos citar os médicos, advogados, profissio-
Dentre os fatores que a ela se relacionam destacam-se os nais da área de informática, dentre outros.
níveis da fala, que são basicamente dois: o nível de formali-
dade e o de informalidade. Vejamos um poema sobre o assunto:
O padrão formal está diretamente ligado à linguagem
escrita, restringindo-se às normas gramaticais de um modo Vício na fala
geral. Razão pela qual nunca escrevemos da mesma ma- Para dizerem milho dizem mio
neira que falamos. Este fator foi determinante para a que Para melhor dizem mió
a mesma pudesse exercer total soberania sobre as demais. Para pior pió

101
LÍNGUA PORTUGUESA

Para telha dizem teia Releva considerar, assim, o momento do discurso, que
Para telhado dizem teiado pode ser íntimo, neutro ou solene. O momento íntimo é o
E vão fazendo telhados. das liberdades da fala. No recesso do lar, na fala entre ami-
Oswald de Andrade gos, parentes, namorados, etc., portanto, são consideradas
perfeitamente normais construções do tipo:
Fonte: http://www.brasilescola.com/gramatica/varia- Eu não vi ela hoje.
coes-linguisticas.htm Ninguém deixou ele falar.
Deixe eu ver isso!
Eu te amo, sim, mas não abuse!
Níveis de linguagem Não assisti o filme nem vou assisti-lo.
Sou teu pai, por isso vou perdoá-lo.
A língua é um código de que se serve o homem para
elaborar mensagens, para se comunicar. Existem basica- Nesse momento, a informalidade prevalece sobre a
mente duas modalidades de língua, ou seja, duas línguas norma culta, deixando mais livres os interlocutores.
funcionais: O momento neutro é o do uso da língua-padrão, que
1) a língua funcional de modalidade culta, língua culta é a língua da Nação. Como forma de respeito, tomam-se
ou língua-padrão, que compreende a língua literária, tem por base aqui as normas estabelecidas na gramática, ou
por base a norma culta, forma linguística utilizada pelo seja, a norma culta. Assim, aquelas mesmas construções se
segmento mais culto e influente de uma sociedade. Cons- alteram:
titui, em suma, a língua utilizada pelos veículos de comu- Eu não a vi hoje.
nicação de massa (emissoras de rádio e televisão, jornais, Ninguém o deixou falar.
revistas, painéis, anúncios, etc.), cuja função é a de serem Deixe-me ver isso!
aliados da escola, prestando serviço à sociedade, colabo- Eu te amo, sim, mas não abuses!
rando na educação; Não assisti ao filme nem vou assistir a ele.
2) a língua funcional de modalidade popular; língua po-
Sou seu pai, por isso vou perdoar-lhe.
pular ou língua cotidiana, que apresenta gradações as mais
diversas, tem o seu limite na gíria e no calão.
Considera-se momento neutro o utilizado nos veículos
Norma culta:
de comunicação de massa (rádio, televisão, jornal, revista,
etc.). Daí o fato de não se admitirem deslizes ou transgres-
A norma culta, forma linguística que todo povo civiliza-
sões da norma culta na pena ou na boca de jornalistas,
do possui, é a que assegura a unidade da língua nacional.
quando no exercício do trabalho, que deve refletir serviço
E justamente em nome dessa unidade, tão importante do
à causa do ensino.
ponto de vista político--cultural, que é ensinada nas esco-
las e difundida nas gramáticas. Sendo mais espontânea e O momento solene, acessível a poucos, é o da arte
criativa, a língua popular afigura-se mais expressiva e dinâ- poética, caracterizado por construções de rara beleza.
mica. Temos, assim, à guisa de exemplificação: Vale lembrar, finalmente, que a língua é um costume.
Estou preocupado. (norma culta) Como tal, qualquer transgressão, ou chamado erro, deixa
Tô preocupado. (língua popular) de sê-lo no exato instante em que a maioria absoluta o co-
Tô grilado. (gíria, limite da língua popular) mete, passando, assim, a constituir fato linguístico registro
de linguagem definitivamente consagrado pelo uso, ainda
Não basta conhecer apenas uma modalidade de lín- que não tenha amparo gramatical. Exemplos:
gua; urge conhecer a língua popular, captando-lhe a es- Olha eu aqui! (Substituiu: Olha-me aqui!)
pontaneidade, expressividade e enorme criatividade, para Vamos nos reunir. (Substituiu: Vamo-nos reunir.)
viver; urge conhecer a língua culta para conviver. Não vamos nos dispersar. (Substituiu: Não nos vamos
Podemos, agora, definir gramática: é o estudo das nor- dispersar e Não vamos dispersar-nos.)
mas da língua culta. Tenho que sair daqui depressinha. (Substituiu: Tenho de
sair daqui bem depressa.)
O conceito de erro em língua: O soldado está a postos. (Substituiu: O soldado está no
seu posto.)
Em rigor, ninguém comete erro em língua, exceto nos
casos de ortografia. O que normalmente se comete são As formas impeço, despeço e desimpeço, dos verbos im-
transgressões da norma culta. De fato, aquele que, num pedir, despedir e desimpedir, respectivamente, são exemplos
momento íntimo do discurso, diz: “Ninguém deixou ele fa- também de transgressões ou “erros” que se tornaram fatos
lar”, não comete propriamente erro; na verdade, transgride linguísticos, já que só correm hoje porque a maioria viu
a norma culta. tais verbos como derivados de pedir, que tem início, na sua
Um repórter, ao cometer uma transgressão em sua fala, conjugação, com peço. Tanto bastou para se arcaizarem as
transgride tanto quanto um indivíduo que comparece a um formas então legítimas impido, despido e desimpido, que
banquete trajando xortes ou quanto um banhista, numa hoje nenhuma pessoa bem-escolarizada tem coragem de
praia, vestido de fraque e cartola. usar.

102
LÍNGUA PORTUGUESA

Em vista do exposto, será útil eliminar do vocabulário


escolar palavras como corrigir e correto, quando nos refe- O PROCESSO DE COMUNICAÇÃO E AS
rimos a frases. “Corrija estas frases” é uma expressão que FUNÇÕES DA LINGUAGEM.
deve dar lugar a esta, por exemplo: “Converta estas frases
da língua popular para a língua culta”.
Uma frase correta não é aquela que se contrapõe a
uma frase “errada”; é, na verdade, uma frase elaborada con- Comunicação
forme as normas gramaticais; em suma, conforme a norma
culta. A comunicação constitui uma das ferramentas mais im-
portantes que os líderes têm à sua disposição para desem-
Língua escrita e língua falada. Nível de linguagem: penhar as suas funções de influência. A sua importância é
tal que alguns autores a consideram mesmo como o “san-
A língua escrita, estática, mais elaborada e menos eco- gue” que dá vida à organização. Esta importância deve-se
nômica, não dispõe dos recursos próprios da língua falada. essencialmente ao fato de apenas através de uma comuni-
A acentuação (relevo de sílaba ou sílabas), a entoação cação efetiva ser possível:
(melodia da frase), as pausas (intervalos significativos no
decorrer do discurso), além da possibilidade de gestos, - Estabelecer e dar a conhecer, com a participação de
olhares, piscadas, etc., fazem da língua falada a modalidade membros de todos os níveis hierárquicos da organização,
mais expressiva, mais criativa, mais espontânea e natural, os objetivos organizacionais por forma a que contemplem,
estando, por isso mesmo, mais sujeita a transformações e não apenas os interesses da organização, mas também os
a evoluções. interesses de todos os seus membros.
Nenhuma, porém, sobrepõe-se a outra em importân-
cia. Nas escolas, principalmente, costuma se ensinar a lín- - Definir e dar a conhecer, com a participação de mem-
gua falada com base na língua escrita, considerada supe- bros de todos os níveis hierárquicos da organização, a es-
rior. Decorrem daí as correções, as retificações, as emendas, trutura organizacional, quer ao nível do desenho organiza-
a que os professores sempre estão atentos. cional, quer ao nível da distribuição de autoridade, respon-
Ao professor cabe ensinar as duas modalidades, mos- sabilidade e tarefas.
trando as características e as vantagens de uma e outra,
sem deixar transparecer nenhum caráter de superioridade - Definir e dar a conhecer, com a participação de mem-
ou inferioridade, que em verdade inexiste. bros de todos os níveis hierárquicos da organização, de-
Isso não implica dizer que se deve admitir tudo na lín- cisões, planos, políticas, procedimentos e regras aceites e
gua falada. A nenhum povo interessa a multiplicação de respeitadas por todos os membros da organização.
línguas. A nenhuma nação convém o surgimento de diale-
tos, consequência natural do enorme distanciamento entre - Coordenar, dar apoio e controlar as atividades de to-
uma modalidade e outra. dos os membros da organização.
A língua escrita é, foi e sempre será mais bem-ela-
borada que a língua falada, porque é a modalidade que - Efetuar a integração dos diferentes departamentos e
mantém a unidade linguística de um povo, além de ser a permitir a ajuda e cooperação interdepartamental.
que faz o pensamento atravessar o espaço e o tempo. Ne-
nhuma reflexão, nenhuma análise mais detida será possível - Desempenhar eficazmente o papel de influência atra-
sem a língua escrita, cujas transformações, por isso mesmo, vés da compreensão e atuação em conformidade satisfa-
processam-se lentamente e em número consideravelmente ção das necessidades e sentimentos das pessoas por forma
menor, quando cotejada com a modalidade falada. a aumentar a sua motivação.
Importante é fazer o educando perceber que o nível da
linguagem, a norma linguística, deve variar de acordo com Elementos do Processo de Comunicação
a situação em que se desenvolve o discurso.
O ambiente sociocultural determina o nível da lingua- Para perceber desenvolver políticas de comunicação
gem a ser empregado. O vocabulário, a sintaxe, a pronúncia eficazes é necessário analisar antes cada um dos elemen-
e até a entoação variam segundo esse nível. Um padre não tos que fazem parte do processo de comunicação. Assim,
fala com uma criança como se estivesse em uma missa, as- fazem parte do processo de comunicação o emissor, um
sim como uma criança não fala como um adulto. Um enge- canal de transmissão, geralmente influenciado por ruídos,
nheiro não usará um mesmo discurso, ou um mesmo nível um receptor e ainda o feedback do receptor.
de fala, para colegas e para pedreiros, assim como nenhum
professor utiliza o mesmo nível de fala no recesso do lar e - Emissor (ou fonte da mensagem da comunicação):
na sala de aula. representa quem pensa, codifica e envia a mensagem, ou
Existem, portanto, vários níveis de linguagem e, entre seja, quem inicia o processo de comunicação. A codificação
esses níveis, destacam-se em importância o culto e o coti- da mensagem pode ser feita transformando o pensamento
diano, a que já fizemos referência. que se pretende transmitir em palavras, gestos ou símbolos
que sejam compreensíveis por quem recebe a mensagem.

103
LÍNGUA PORTUGUESA

- Canal de transmissão da mensagem: faz a ligação parte do emissor, nomeadamente com o fato de se tor-
entre o emissor e o receptor e representa o meio através narem impossíveis ou pelo menos difíceis as retificações e
do qual é transmitida a mensagem. Existe uma grande as novas explicações para melhor compreensão após a sua
variedade de canais de transmissão, cada um deles com transmissão. Assim, os principais cuidados a ter para que
vantagens e inconvenientes: destacam-se o ar (no caso do a mensagem seja perfeitamente recebida e compreendida
emissor e receptor estarem frente a frente), o telefone, os pelo(s) receptor(es) são o uso de caligrafia legível e unifor-
meios eletrônicos e informáticos, os memorandos, a rádio, me (se manuscrita), a apresentação cuidada, a pontuação
a televisão, entre outros. e ortografia corretas, a organização lógica das ideias, a ri-
queza vocabular e a correção frásica. O emissor deve ainda
- Receptor da mensagem: representa quem recebe e possuir um perfeito conhecimento dos temas e deve tentar
descodifica a mensagem. Aqui é necessário ter em atenção prever as reações/feedback à sua mensagem.
que a descodificação da mensagem resulta naquilo que Como principais vantagens da comunicação escrita,
efetivamente o emissor pretendia enviar (por exemplo, em podemos destacar o fato de ser duradoura e permitir um
diferentes culturas, um mesmo gesto pode ter significados registro e de permitir uma maior atenção à organização
diferentes). Podem existir apenas um ou numerosos recep- da mensagem sendo, por isso, adequada para a transmitir
tores para a mesma mensagem. políticas, procedimentos, normas e regras. Adequa-se tam-
bém a mensagens longas e que requeiram uma maior aten-
- Ruídos: representam obstruções mais ou menos in- ção e tempo por parte do receptor tais como relatórios e
tensas ao processo de comunicação e podem ocorrer em análises diversas. Como principais desvantagens destacam-
qualquer uma das suas fases. Denominam-se ruídos inter- se a já referida ausência do receptor o que impossibilita o
nos se ocorrem durante as fases de codificação ou desco- feedback imediato, não permite correções ou explicações
dificação e externos se ocorrerem no canal de transmissão. adicionais e obriga ao uso exclusivo da linguagem verbal.
Obviamente estes ruídos variam consoante o tipo de canal
de transmissão utilizado e consoante as características do Comunicação Oral
emissor e do(s) receptor(es), sendo, por isso, um dos crité-
rios utilizados na escolha do canal de transmissão quer do No caso da comunicação oral, a sua principal caracte-
tipo de codificação. rística é a presença do receptor (exclui-se, obviamente, a
comunicação oral que utilize a televisão, a rádio, ou as gra-
- Retro-informação (feedback): representa a resposta vações). Esta característica explica diversas das suas prin-
do(s) receptor(es) ao emissor da mensagem e pode ser cipais vantagens, nomeadamente o fato de permitir o fee-
utilizada como uma medida do resultado da comunicação. dback imediato, permitir a passagem imediata do receptor
Pode ou não ser transmitida pelo mesmo canal de trans- a emissor e vice-versa, permitir a utilização de comunica-
missão. ção não verbal como os gestos a mímica e a entoação, por
  exemplo, facilitar as retificações e explicações adicionais,
Embora os tipos de comunicação sejam inúmeros, po- permitir observar as reações do receptor, e ainda a grande
dem ser agrupados em comunicação verbal e comunica- rapidez de transmissão. Contudo, e para que estas vanta-
ção não verbal. Como comunicação não verbal podemos gens sejam aproveitadas é necessário o conhecimento dos
considerar os gestos, os sons, a mímica, a expressão facial, temas, a clareza, a presença e naturalidade, a voz agradável
as imagens, entre outros. É frequentemente utilizada em e a boa dicção, a linguagem adaptada, a segurança e auto-
locais onde o ruído ou a situação impede a comunicação domínio, e ainda a disponibilidade para ouvir.
oral ou escrita como por exemplo as comunicações entre Como principais desvantagens da comunicação oral
“dealers” nas bolsas de valores. É também muito utilizada destacam-se o fato de ser efêmera, não permitindo qual-
como suporte e apoio à comunicação oral. quer registro e, consequentemente, não se adequando a
Quanto à comunicação verbal, que inclui a comunica- mensagens longas e que exijam análise cuidada por parte
ção escrita e a comunicação oral, por ser a mais utilizada na do receptor.
sociedade em geral e nas organizações em particular, por
ser a única que permite a transmissão de ideias complexas Gêneros Escritos e Orais
e por ser um exclusivo da espécie humana, é aquela que
mais atenção tem merecido dos investigadores, caracteri- Gêneros textuais são tipos específicos de textos de
zando-a e estudando quando e como deve ser utilizada. qualquer natureza, literários ou não. Modalidades discur-
sivas constituem as estruturas e as funções sociais (narra-
Comunicação Escrita tivas, discursivas, argumentativas) utilizadas como formas
de organizar a linguagem. Dessa forma, podem ser consi-
A comunicação escrita teve o seu auge, e ainda hoje derados exemplos de gêneros textuais: anúncios, convites,
predomina, nas organizações burocráticas que seguem atas, avisos, programas de auditórios, bulas, cartas, comé-
os princípios da Teoria da Burocracia enunciados por Max dias, contos de fadas, crônicas, editoriais, ensaios, entrevis-
Weber. A principal característica é o fato do receptor estar tas, contratos, decretos, discursos políticos, histórias, ins-
ausente tornando-a, por isso, num monólogo permanente truções de uso, letras de música, leis, mensagens, notícias.
do emissor. Esta característica obriga a alguns cuidados por São textos que circulam no mundo, que têm uma função

104
LÍNGUA PORTUGUESA

específica, para um público específico e com características Exemplo de gêneros orais e escritos: Texto expositivo,
próprias. Aliás, essas características peculiares de um gêne- exposição oral, seminário, conferência, comunicação oral,
ro discursivo nos permitem abordar aspectos da textualida- palestra, entrevista de especialista, verbete, artigo enciclo-
de, tais como coerência e coesão textuais, impessoalidade, pédico, texto explicativo, tomada de notas, resumo de tex-
técnicas de argumentação e outros aspectos pertinentes tos expositivos e explicativos, resenha, relatório científico,
ao gênero em questão. relatório oral de experiência.
Gênero de texto então, refere-se às diferentes formas
de expressão textual. Nos estudos da Literatura, temos, por Domínios sociais de comunicação: Instruções e prescri-
exemplo, poesia, crônicas, contos, prosa, etc. ções.
Para a linguística, os gêneros textuais englobam estes Aspectos tipológicos: Descrever ações.
e todos os textos produzidos por usuários de uma língua. Capacidade de linguagem dominante: Regulação mú-
Assim, ao lado da crônica, do conto, vamos também iden- tua de comportamentos.
tificar a carta pessoal, a conversa telefônica, o email, e tan- Exemplo de gêneros orais e escritos: Instruções de mon-
tos outros exemplares de gêneros que circulam em nossa tagem, receita, regulamento, regras de jogo, instruções de
sociedade. uso, comandos diversos, textos prescritivos.
Quanto à forma ou estrutura das sequências linguís-
ticas encontradas em cada texto, podemos classificá-los
dentro dos tipos textuais a partir de suas estruturas e esti-
los composicionais. Funções da Linguagem
Domínios sociais de comunicação: Cultura Literária Fic-
cional. Quando se pergunta a alguém para que serve a lingua-
Aspectos tipológicos: Narrar. gem, a resposta mais comum é que ela serve para comuni-
Capacidade de linguagem dominante: Mimeses de ação car. Isso está correto. No entanto, comunicar não é apenas
através da criação da intriga no domínio do verossímil. transmitir informações. É também exprimir emoções, dar
Exemplo de gêneros orais e escritos: Conto de Fadas, fá- ordens, falar apenas para não haver silêncio. Para que serve
bula, lenda,narrativa de aventura, narrativa de ficção cien- a linguagem?
tífica, narrativa de enigma, narrativa mítica, sketch ou his- - A linguagem serve para informar: Função Referencial.
tória engraçada, biografia romanceada, romance, romance
histórico, novela fantástica, conto, crônica literária, adivi- “Estados Unidos invadem o Iraque”
nha, piada.
Domínios sociais de comunicação: Documentação e Essa frase, numa manchete de jornal, informa-nos so-
memorização das ações humana. bre um acontecimento do mundo.
Aspectos tipológicos: Relatar. Com a linguagem, armazenamos conhecimentos na
Capacidade de linguagem dominante: Representação memória, transmitimos esses conhecimentos a outras pes-
pelo discurso de experiências vividas, situadas no tempo. soas, ficamos sabendo de experiências bem-sucedidas, so-
Exemplo de gêneros orais e escritos: Relato de expe- mos prevenidos contra as tentativas mal sucedidas de fazer
riência vivida, relato de viagem, diário íntimo, testemunho, alguma coisa. Graças à linguagem, um ser humano recebe
anedota ou caso, autobiografia, curriculum vitae, notícia, de outro conhecimentos, aperfeiçoa-os e transmite-os.
reportagem, crônica social, crônica esportiva, histórico, re- Condillac, um pensador francês, diz: “Quereis aprender
lato histórico, ensaio ou perfil biográfico, biografia. ciências com facilidade? Começai a aprender vossa própria
língua!” Com efeito, a linguagem é a maneira como apren-
Domínios sociais de comunicação: Discussão de proble- demos desde as mais banais informações do dia a dia até
mas sociais controversos. as teorias científicas, as expressões artísticas e os sistemas
Aspectos tipológicos: Argumentar. filosóficos mais avançados.
Capacidade de linguagem dominante: Sustentação, re- A função informativa da linguagem tem importância
futação e negociação de tomadas de posição. central na vida das pessoas, consideradas individualmente
Exemplo de gêneros orais e escritos: Textos de opinião, ou como grupo social. Para cada indivíduo, ela permite co-
diálogo argumentativo, carta de leitor, carta de solicitação, nhecer o mundo; para o grupo social, possibilita o acúmulo
deliberação informal, debate regrado, assembleia, discurso de conhecimentos e a transferência de experiências. Por
de defesa (advocacia), discurso de acusação (advocacia), meio dessa função, a linguagem modela o intelecto.
resenha crítica, artigos de opinião ou assinados, editorial, É a função informativa que permite a realização do
ensaio. trabalho coletivo. Operar bem essa função da linguagem
possibilita que cada indivíduo continue sempre a aprender.
Domínios sociais de comunicação: Transmissão e cons- A função informativa costuma ser chamada também de
trução de saberes. função referencial, pois seu principal propósito é fazer com
Aspectos tipológicos: Expor. que as palavras revelem da maneira mais clara possível as
Capacidade de linguagem dominante: Apresentação coisas ou os eventos a que fazem referência.
textual de diferentes formas dos saberes.

105
LÍNGUA PORTUGUESA

- A linguagem serve para influenciar e ser influenciado: insinuarem intimidade com ele e, portanto, de exprimirem
Função Conativa. a importância que lhes seria atribuída pela proximidade
com o poder. Inúmeras vezes, contamos coisas que fizemos
“Vem pra Caixa você também.” para afirmarmo-nos perante o grupo, para mostrar nossa
valentia ou nossa erudição, nossa capacidade intelectual ou
Essa frase fazia parte de uma campanha destinada a nossa competência na conquista amorosa.
aumentar o número de correntistas da Caixa Econômica Por meio do tipo de linguagem que usamos, do tom
Federal. Para persuadir o público alvo da propaganda a de voz que empregamos, etc., transmitimos uma imagem
adotar esse comportamento, formulou-se um convite com nossa, não raro inconscientemente.
uma linguagem bastante coloquial, usando, por exemplo, a Emprega-se a expressão função emotiva para designar
forma vem, de segunda pessoa do imperativo, em lugar de a utilização da linguagem para a manifestação do enuncia-
venha, forma de terceira pessoa prescrita pela norma culta dor, isto é, daquele que fala.
quando se usa você.
Pela linguagem, as pessoas são induzidas a fazer de- - A linguagem serve para criar e manter laços sociais:
terminadas coisas, a crer em determinadas ideias, a sen- Função Fática.
tir determinadas emoções, a ter determinados estados de
alma (amor, desprezo, desdém, raiva, etc.). Por isso, pode- __Que calorão, hein?
se dizer que ela modela atitudes, convicções, sentimentos, __Também, tem chovido tão pouco.
emoções, paixões. Quem ouve desavisada e reiteradamente __Acho que este ano tem feito mais calor do que nos
a palavra negro pronunciada em tom desdenhoso aprende outros.
a ter sentimentos racistas; se a todo momento nos dizem, __Eu não me lembro de já ter sentido tanto calor.
num tom pejorativo, “Isso é coisa de mulher”, aprendemos
os preconceitos contra a mulher. Esse é um típico diálogo de pessoas que se encontram
Não se interfere no comportamento das pessoas ape- num elevador e devem manter uma conversa nos poucos
nas com a ordem, o pedido, a súplica. Há textos que nos instantes em que estão juntas. Falam para nada dizer, ape-
influenciam de maneira bastante sutil, com tentações e nas porque o silêncio poderia ser constrangedor ou pare-
seduções, como os anúncios publicitários que nos dizem cer hostil.
como seremos bem sucedidos, atraentes e charmosos se Quando estamos num grupo, numa festa, não pode-
usarmos determinadas marcas, se consumirmos certos mos manter-nos em silêncio, olhando uns para os outros.
produtos. Por outro lado, a provocação e a ameaça expres- Nessas ocasiões, a conversação é obrigatória. Por isso,
sas pela linguagem também servem para fazer fazer. quando não se tem assunto, fala-se do tempo, repetem-se
Com essa função, a linguagem modela tanto bons ci- histórias que todos conhecem, contam-se anedotas velhas.
dadãos, que colocam o respeito ao outro acima de tudo, A linguagem, nesse caso, não tem nenhuma função que
quanto espertalhões, que só pensam em levar vantagem, não seja manter os laços sociais. Quando encontramos al-
e indivíduos atemorizados, que se deixam conduzir sem guém e lhe perguntamos “Tudo bem?”, em geral não que-
questionar. remos, de fato, saber se nosso interlocutor está bem, se
Emprega-se a expressão função conativa da linguagem está doente, se está com problemas.
quando esta é usada para interferir no comportamento A fórmula é uma maneira de estabelecer um vínculo
das pessoas por meio de uma ordem, um pedido ou uma social.
sugestão. A palavra conativo é proveniente de um verbo Também os hinos têm a função de criar vínculos, seja
latino (conari) que significa “esforçar-se” (para obter algo). entre alunos de uma escola, entre torcedores de um time
de futebol ou entre os habitantes de um país. Não importa
- A linguagem serve para expressar a subjetividade: que as pessoas não entendam bem o significado da letra
Função Emotiva. do Hino Nacional, pois ele não tem função informativa: o
importante é que, ao cantá-lo, sentimo-nos participantes
“Eu fico possesso com isso!” da comunidade de brasileiros.
Na nomenclatura da linguística, usa-se a expressão
Nessa frase, quem fala está exprimindo sua indignação função fática para indicar a utilização da linguagem para
com alguma coisa que aconteceu. Com palavras, objetiva- estabelecer ou manter aberta a comunicação entre um fa-
mos e expressamos nossos sentimentos e nossas emoções. lante e seu interlocutor.
Exprimimos a revolta e a alegria, sussurramos palavras de
amor e explodimos de raiva, manifestamos desespero, - A linguagem serve para falar sobre a própria lingua-
desdém, desprezo, admiração, dor, tristeza. Muitas ve- gem: Função Metalinguística.
zes, falamos para exprimir poder ou para afirmarmo-nos
socialmente. Durante o governo do presidente Fernando Quando dizemos frases como “A palavra ‘cão’ é um
Henrique Cardoso, ouvíamos certos políticos dizerem “A substantivo”; “É errado dizer ‘a gente viemos’”; “Estou usan-
intenção do Fernando é levar o país à prosperidade” ou “O do o termo ‘direção’ em dois sentidos”; “Não é muito elegan-
Fernando tem mudado o país”. Essa maneira informal de se te usar palavrões”, não estamos falando de acontecimen-
referirem ao presidente era, na verdade, uma maneira de tos do mundo, mas estamos tecendo comentários sobre a

106
LÍNGUA PORTUGUESA

própria linguagem. É o que chama função metalinguística. Verifica-se que a linguagem pode ser usada utilitaria-
A atividade metalinguística é inseparável da fala. Falamos mente ou esteticamente. No primeiro caso, ela é utilizada
sobre o mundo exterior e o mundo interior e ao mesmo para informar, para influenciar, para manter os laços sociais,
tempo, fazemos comentários sobre a nossa fala e a dos etc. No segundo, para produzir um efeito prazeroso de des-
outros. Quando afirmamos como diz o outro, estamos co- coberta de sentidos. Em função estética, o mais importante
mentando o que declaramos: é um modo de esclarecer que é como se diz, pois o sentido também é criado pelo ritmo,
não temos o hábito de dizer uma coisa tão trivial como a pelo arranjo dos sons, pela disposição das palavras, etc.
que estamos enunciando; inversamente, podemos usar a Na estrofe abaixo, retirada do poema “A Cavalgada”, de
metalinguagem como recurso para valorizar nosso modo Raimundo Correia, a sucessão dos sons oclusivos /p/, /t/,
de dizer. É o que se dá quando dizemos, por exemplo, Paro-
/k/, /b/, /d/, /g/ sugere o patear dos cavalos:
diando o padre Vieira ou Para usar uma expressão clássica,
vou dizer que “peixes se pescam, homens é que se não
E o bosque estala, move-se, estremece...
podem pescar”.
Da cavalgada o estrépito que aumenta
- A linguagem serve para criar outros universos. Perde-se após no centro da montanha...

A linguagem não fala apenas daquilo que existe, fala Apud: Lêdo Ivo. Raimundo Correia: Poesia. 4ª ed.
também do que nunca existiu. Com ela, imaginamos novos Rio de Janeiro, Agir, p. 29. Coleção Nossos Clássi-
mundos, outras realidades. Essa é a grande função da arte: cos.
mostrar que outros modos de ser são possíveis, que outros
universos podem existir. O filme de Woody Allen “A rosa Observe-se que a maior concentração de sons oclu-
púrpura do Cairo” (1985) mostra isso de maneira bem ex- sivos ocorre no segundo verso, quando se afirma que o
pressiva. Nele, conta-se a história de uma mulher que, para barulho dos cavalos aumenta.
consolar-se do cotidiano sofrido e dos maus-tratos infligi- Quando se usam recursos da própria língua para acres-
dos pelo marido, refugia-se no cinema, assistindo inúmeras centar sentidos ao conteúdo transmitido por ela, diz-se
vezes a um filme de amor em que a vida é glamorosa, e o que estamos usando a linguagem em sua função poética.
galã é carinhoso e romântico. Um dia, ele sai da tela e am-
bos vão viver juntos uma série de aventuras. Nessa outra Para melhor compreensão das funções de linguagem,
realidade, os homens são gentis, a vida não é monótona, o torna-se necessário o estudo dos elementos da comuni-
amor nunca diminui e assim por diante.
cação.
Antigamente, tinha-se a ideia que o diálogo era de-
- A linguagem serve como fonte de prazer: Função
Poética. senvolvido de maneira “sistematizada” (alguém pergunta
- alguém espera ouvir a pergunta, daí responde, enquanto
Brincamos com as palavras. Os jogos com o sentido outro escuta em silêncio, etc).
e os sons são formas de tornar a linguagem um lugar de Exemplo:
prazer. Divertimo-nos com eles. Manipulamos as palavras
para delas extrairmos satisfação. Elementos da comunicação
Oswald de Andrade, em seu “Manifesto antropófago”,
diz “Tupi or not tupi”; trata-se de um jogo com a frase sha- - Emissor - emite, codifica a mensagem;
kespeariana “To be or not to be”. Conta-se que o poeta Emí- - Receptor - recebe, decodifica a mensagem;
lio de Menezes, quando soube que uma mulher muito gor- - Mensagem - conteúdo transmitido pelo emissor;
da se sentara no banco de um ônibus e este quebrara, fez - Código - conjunto de signos usado na transmissão e
o seguinte trocadilho: “É a primeira vez que vejo um banco recepção da mensagem;
quebrar por excesso de fundos”. - Referente - contexto relacionado a emissor e recep-
A palavra banco está usada em dois sentidos: “móvel tor;
comprido para sentar-se” e “casa bancária”. Também está - Canal - meio pelo qual circula a mensagem.
empregado em dois sentidos o termo fundos: “nádegas” e Porém, com os estudos recentes dos linguistas, essa
“capital”, “dinheiro”.
teoria sofreu uma modificação, pois, chegou-se a conclu-
são que quando se trata da parole, entende-se que é um
Observe-se o uso do verbo bater, em expressões diver-
veículo democrático (observe a função fática), assim, admi-
sas, com significados diferentes, nesta frase do deputado
Virgílio Guimarães: te-se um novo formato de locução, ou, interlocução (diá-
logo interativo):
“ACM bate boca porque está acostumado a bater: bateu
continência para os militares, bateu palmas para o Collor e - locutor - quem fala (e responde);
quer bater chapa em 2002. Mas o que falta é que lhe bata - locutário - quem ouve e responde;
uma dor de consciência e bata em retirada.” - interlocução - diálogo
(Folha de S. Paulo)

107
LÍNGUA PORTUGUESA

As respostas, dos “interlocutores” podem ser gestuais, EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES


faciais etc. por isso a mudança (aprimoração) na teoria. SOBRE: LÍNGUA PORTUGUESA
As atitudes e reações dos comunicantes são também
referentes e exercem influência sobre a comunicação 1-) (FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC/
SP – ADMINISTRADOR - VUNESP/2013) Assinale a al-
Lembramo-nos: ternativa correta quanto à concordância, de acordo
com a norma-padrão da língua portuguesa.
- Emotiva (ou expressiva): a mensagem centra-se no (A) A má distribuição de riquezas e a desigualdade
“eu” do emissor, é carregada de subjetividade. Ligada a esta social está no centro dos debates atuais.
função está, por norma, a poesia lírica. (B) Políticos, economistas e teóricos diverge em re-
- Função apelativa (imperativa): com este tipo de men- lação aos efeitos da desigualdade social.
sagem, o emissor atua sobre o receptor, afim de que este (C) A diferença entre a renda dos mais ricos e a dos
assuma determinado comportamento; há frequente uso mais pobres é um fenômeno crescente.
do vocativo e do imperativo. Esta função da linguagem é (D) A má distribuição de riquezas tem sido muito
frequentemente usada por oradores e agentes de publici- criticado por alguns teóricos.
dade. (E) Os debates relacionado à distribuição de rique-
- Função metalinguística: função usada quando a lín- zas não são de exclusividade dos economistas.
gua explica a própria linguagem (exemplo: quando, na aná-
Realizei a correção nos itens:
lise de um texto, investigamos os seus aspectos morfossin-
(A) A má distribuição de riquezas e a desigualdade so-
táticos e/ou semânticos).
cial está = estão
- Função informativa (ou referencial): função usada
(B) Políticos, economistas e teóricos diverge = diver-
quando o emissor informa objetivamente o receptor de
gem
uma realidade, ou acontecimento.
(C) A diferença entre a renda dos mais ricos e a dos
- Função fática: pretende conseguir e manter a atenção
mais pobres é um fenômeno crescente.
dos interlocutores, muito usada em discursos políticos e
(D) A má distribuição de riquezas tem sido muito criti-
textos publicitários (centra-se no canal de comunicação). cado = criticada
- Função poética: embeleza, enriquecendo a mensa- (E) Os debates relacionado = relacionados
gem com figuras de estilo, palavras belas, expressivas, rit-
mos agradáveis, etc. RESPOSTA: “C”.
Também podemos pensar que as primeiras falas cons- 2-) (COREN/SP – ADVOGADO – VUNESP/2013) Se-
cientes da raça humana ocorreu quando os sons emitidos guindo a norma-padrão da língua portuguesa, a frase
evoluíram para o que podemos reconhecer como “interjei- – Um levantamento mostrou que os adolescentes ame-
ções”. As primeiras ferramentas da fala humana. ricanos consomem em média 357 calorias diárias dessa
fonte. – recebe o acréscimo correto das vírgulas em:
A função biológica e cerebral da linguagem é aquilo (A) Um levantamento mostrou, que os adolescentes
que mais profundamente distingue o homem dos outros americanos consomem em média 357 calorias, diárias
animais. dessa fonte.
(B) Um levantamento mostrou que, os adolescentes
Podemos considerar que o desenvolvimento desta fun- americanos consomem, em média 357 calorias diárias
ção cerebral ocorre em estreita ligação com a bipedia e a dessa fonte.
libertação da mão, que permitiram o aumento do volume (C) Um levantamento mostrou que os adolescentes
do cérebro, a par do desenvolvimento de órgãos fonadores americanos consomem, em média, 357 calorias diárias
e da mímica facial dessa fonte.
(D) Um levantamento, mostrou que os adolescentes
Devido a estas capacidades, para além da linguagem americanos, consomem em média 357 calorias diárias
falada e escrita, o homem, aprendendo pela observação de dessa fonte.
animais, desenvolveu a língua de sinais adaptada pelos sur- (E) Um levantamento mostrou que os adolescentes
dos em diferentes países, não só para melhorar a comuni- americanos, consomem em média 357 calorias diárias,
cação entre surdos, mas também para utilizar em situações dessa fonte.
especiais, como no teatro e entre navios ou pessoas e não
animais que se encontram fora do alcance do ouvido, mas Assinalei com um “X” onde há pontuação inadequada
que se podem observar entre si. ou faltante:
(A) Um levantamento mostrou, (X) que os adolescentes
americanos consomem (X) em média (X) 357 calorias, (X)
diárias dessa fonte.
(B) Um levantamento mostrou que, (X) os adolescentes
americanos consomem, em média (X) 357 calorias diárias
dessa fonte.

108
LÍNGUA PORTUGUESA

(C) Um levantamento mostrou que os adolescentes Distribuímos = regra do hiato


americanos consomem, em média, 357 calorias diárias des- (A) sócio = paroxítona terminada em ditongo
sa fonte. (B) sofrê-lo = oxítona (não se considera o pronome
(D) Um levantamento, (X) mostrou que os adolescentes oblíquo. Nunca!)
americanos, (X) consomem (X) em média (X) 357 calorias (C) lúcidos = proparoxítona
diárias dessa fonte. (D) constituí = regra do hiato (diferente de “constitui”
(E) Um levantamento mostrou que os adolescentes – oxítona: cons-ti-tui)
americanos, (X) consomem (X) em média (X) 357 calorias (E) órfãos = paroxítona terminada em “ão”
diárias, (X) dessa fonte.
RESPOSTA: “D”.
RESPOSTA: “C”.
5-) (TRT/PE – ANALISTA JUDICIÁRIO – FCC/2012)
3-) (TRT/RO E AC – ANALISTA JUDICIÁRIO – A concordância verbal está plenamente observada na
FCC/2011) Estão plenamente observadas as normas de frase:
concordância verbal na frase: (A) Provocam muitas polêmicas, entre crentes e
a) Destinam-se aos homens-placa um lugar visível materialistas, o posicionamento de alguns religiosos e
nas ruas e nas praças, ao passo que lhes é suprimida a parlamentares acerca da educação religiosa nas escolas
visibilidade social. públicas.
b) As duas tábuas em que se comprimem o famige- (B) Sempre deverão haver bons motivos, junto
rado homem-placa carregam ditos que soam irônicos, àqueles que são contra a obrigatoriedade do ensino
como “compro ouro”. religioso, para se reservar essa prática a setores da ini-
c) Não se compara aos vexames dos homens-placa ciativa privada.
a exposição pública a que se submetem os guardadores (C) Um dos argumentos trazidos pelo autor do tex-
de carros. to, contra os que votam a favor do ensino religioso na
d) Ao se revogarem o emprego de carros-placa na escola pública, consistem nos altos custos econômicos
propaganda imobiliária, poupou-se a todos uma de- que acarretarão tal medida.
monstração de mau gosto. (D) O número de templos em atividade na cidade
e) Não sensibilizavam aos possíveis interessados de São Paulo vêm gradativamente aumentando, em
em apartamentos de luxo a visão grotesca daqueles ve- proporção maior do que ocorrem com o número de es-
lhos carros-placa. colas públicas.
(E) Tanto a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Fiz as correções entre parênteses: como a regulação natural do mercado sinalizam para
a) Destinam-se (destina-se) aos homens-placa um lu- as inconveniências que adviriam da adoção do ensino
gar visível nas ruas e nas praças, ao passo que lhes é supri- religioso nas escolas públicas.
mida a visibilidade social.
b) As duas tábuas em que se comprimem (comprime) (A) Provocam = provoca (o posicionamento)
o famigerado homem-placa carregam ditos que soam irô- (B) Sempre deverão haver bons motivos = deverá haver
nicos, como “compro ouro”. (C) Um dos argumentos trazidos pelo autor do texto,
c) Não se compara aos vexames dos homens-placa a contra os que votam a favor do ensino religioso na escola
exposição pública a que se submetem os guardadores de pública, consistem = consiste.
carros. (D) O número de templos em atividade na cidade de
d) Ao se revogarem (revogar) o emprego de carros- São Paulo vêm gradativamente aumentando, em propor-
-placa na propaganda imobiliária, poupou-se a todos uma ção maior do que ocorrem = ocorre
demonstração de mau gosto. (E) Tanto a Lei de Diretrizes e Bases da Educação como
e) Não sensibilizavam (sensibilizava) aos possíveis in- a regulação natural do mercado sinalizam para as inconve-
teressados em apartamentos de luxo a visão grotesca da- niências que adviriam da adoção do ensino religioso nas
queles velhos carros-placa. escolas públicas.

RESPOSTA: “C”. RESPOSTA: “E”.

4-) (TRE/PA- ANALISTA JUDICIÁRIO – FGV/2011) 6-) (TRE/PA- ANALISTA JUDICIÁRIO – FGV/2011)
Assinale a palavra que tenha sido acentuada seguindo a Segundo o Manual de Redação da Presidência da Repú-
mesma regra que distribuídos. blica, NÃO se deve usar Vossa Excelência para
(A) sócio (A) embaixadores.
(B) sofrê-lo (B) conselheiros dos Tribunais de Contas estaduais.
(C) lúcidos (C) prefeitos municipais.
(D) constituí (D) presidentes das Câmaras de Vereadores.
(E) órfãos (E) vereadores.

109
LÍNGUA PORTUGUESA

(...) O uso do pronome de tratamento Vossa Senhoria (D) As instituições fundamentais de um regime demo-
(abreviado V. Sa.) para vereadores está correto, sim. Numa crático não pode (podem) estar subordinado (subordina-
Câmara de Vereadores só se usa Vossa Excelência para o seu das) às ordens indiscriminadas de um único poder central.
presidente, de acordo com o Manual de Redação da Presi- (E) O interesse de todos os cidadãos estão (está) vol-
dência da República (1991). tados (voltado) para o momento eleitoral, que expõem (ex-
(Fonte: http://www.linguabrasil.com.br/nao-tropece- põe) as diferentes opiniões existentes na sociedade.
-detail.php?id=393)
RESPOSTA: “A”.
RESPOSTA: “E”.
9-) (TRE/AL – ANALISTA JUDICIÁRIO – FCC/2010)
A frase que admite transposição para a voz passiva é:
7-) (TRE/AL – TÉCNICO JUDICIÁRIO – FCC/2010)
(A) O cúmulo da ilusão é também o cúmulo do sa-
... valores e princípios que sejam percebidos pela so-
grado.
ciedade como tais. (B) O conceito de espetáculo unifica e explica uma
Transpondo para a voz ativa a frase acima, o verbo grande diversidade de fenômenos.
passará a ser, corretamente, (C) O espetáculo é ao mesmo tempo parte da so-
(A) perceba. ciedade, a própria sociedade e seu instrumento de uni-
(B) foi percebido. ficação.
(C) tenham percebido. (D) As imagens fluem desligadas de cada aspecto
(D) devam perceber. da vida (...).
(E) estava percebendo. (E) Por ser algo separado, ele é o foco do olhar ilu-
dido e da falsa consciência.
... valores e princípios que sejam percebidos pela so-
ciedade como tais = dois verbos na voz passiva, então te- (A) O cúmulo da ilusão é também o cúmulo do sagra-
remos um na ativa: que a sociedade perceba os valores e do.
princípios... (B) O conceito de espetáculo unifica e explica uma
grande diversidade de fenômenos.
RESPOSTA: “A” - Uma grande diversidade de fenômenos é unificada e
explicada pelo conceito...
(C) O espetáculo é ao mesmo tempo parte da socieda-
8-) (TRE/AL – TÉCNICO JUDICIÁRIO – FCC/2010) A
de, a própria sociedade e seu instrumento de unificação.
concordância verbal e nominal está inteiramente corre-
(D) As imagens fluem desligadas de cada aspecto da
ta na frase: vida (...).
(A) A sociedade deve reconhecer os princípios e (E) Por ser algo separado, ele é o foco do olhar iludido
valores que determinam as escolhas dos governantes, e da falsa consciência.
para conferir legitimidade a suas decisões.
(B) A confiança dos cidadãos em seus dirigentes RESPOSTA: “B”.
devem ser embasados na percepção dos valores e prin-
cípios que regem a prática política. 10-) (MPE/AM - AGENTE DE APOIO ADMINISTRA-
(C) Eleições livres e diretas é garantia de um verda- TIVO - FCC/2013) “Quando a gente entra nas serrarias,
deiro regime democrático, em que se respeita tanto as vê dezenas de caminhões parados”, revelou o analista
liberdades individuais quanto as coletivas. ambiental Geraldo Motta.
(D) As instituições fundamentais de um regime de- Substituindo-se Quando por Se, os verbos subli-
mocrático não pode estar subordinado às ordens indis- nhados devem sofrer as seguintes alterações:
criminadas de um único poder central. (A) entrar − vira
(E) O interesse de todos os cidadãos estão voltados (B) entrava − tinha visto
para o momento eleitoral, que expõem as diferentes (C) entrasse − veria
opiniões existentes na sociedade. (D) entraria − veria
(E) entrava − teria visto
Fiz os acertos entre parênteses:
(A) A sociedade deve reconhecer os princípios e valores
Se a gente entrasse (verbo no singular) na serraria, ve-
que determinam as escolhas dos governantes, para confe-
ria = entrasse / veria.
rir legitimidade a suas decisões.
(B) A confiança dos cidadãos em seus dirigentes de- RESPOSTA: “C”.
vem (deve) ser embasados (embasada) na percepção dos
valores e princípios que regem a prática política.
(C) Eleições livres e diretas é (são) garantia de um ver-
dadeiro regime democrático, em que se respeita (respei-
tam) tanto as liberdades individuais quanto as coletivas.

110
LÍNGUA PORTUGUESA

Por exemplo, um raciocínio lógico é o seguinte enca-


ARGUMENTAÇÃO. deamento:

A é igual a B.
A é igual a C.
Argumentação Então: C é igual a A.

O ato de comunicação não visa apenas transmitir uma Admitidos os dois postulados, a conclusão é, obrigato-
informação a alguém. Quem comunica pretende criar uma riamente, que C é igual a A.
imagem positiva de si mesmo (por exemplo, a de um sujeito Outro exemplo:
educado, ou inteligente, ou culto), quer ser aceito, deseja
que o que diz seja admitido como verdadeiro. Em síntese, Todo ruminante é um mamífero.
tem a intenção de convencer, ou seja, tem o desejo de que A vaca é um ruminante.
o ouvinte creia no que o texto diz e faça o que ele propõe. Logo, a vaca é um mamífero.
Se essa é a finalidade última de todo ato de comunica-
ção, todo texto contém um componente argumentativo. A Admitidas como verdadeiras as duas premissas, a con-
argumentação é o conjunto de recursos de natureza linguís- clusão também será verdadeira.
tica destinados a persuadir a pessoa a quem a comunica- No domínio da argumentação, as coisas são diferen-
ção se destina. Está presente em todo tipo de texto e visa a tes. Nele, a conclusão não é necessária, não é obrigatória.
promover adesão às teses e aos pontos de vista defendidos. Por isso, deve-se mostrar que ela é a mais desejável, a
As pessoas costumam pensar que o argumento seja mais provável, a mais plausível. Se o Banco do Brasil fi-
apenas uma prova de verdade ou uma razão indiscutível zer uma propaganda dizendo-se mais confiável do que
para comprovar a veracidade de um fato. O argumento é os concorrentes porque existe desde a chegada da família
mais que isso: como se disse acima, é um recurso de lin- real portuguesa ao Brasil, ele estará dizendo-nos que um
guagem utilizado para levar o interlocutor a crer naquilo banco com quase dois séculos de existência é sólido e, por
que está sendo dito, a aceitar como verdadeiro o que está isso, confiável. Embora não haja relação necessária entre
sendo transmitido. A argumentação pertence ao domínio a solidez de uma instituição bancária e sua antiguidade,
da retórica, arte de persuadir as pessoas mediante o uso de esta tem peso argumentativo na afirmação da confiabili-
recursos de linguagem. dade de um banco. Portanto é provável que se creia que
Para compreender claramente o que é um argumento, um banco mais antigo seja mais confiável do que outro
é bom voltar ao que diz Aristóteles, filósofo grego do sécu- fundado há dois ou três anos. Enumerar todos os tipos de
lo IV a.C., numa obra intitulada “Tópicos: os argumentos são argumentos é uma tarefa quase impossível, tantas são as
úteis quando se tem de escolher entre duas ou mais coisas”. formas de que nos valemos para fazer as pessoas prefe-
Se tivermos de escolher entre uma coisa vantajosa e rirem uma coisa a outra. Por isso, é importante entender
uma desvantajosa, como a saúde e a doença, não precisa- bem como eles funcionam.
mos argumentar. Suponhamos, no entanto, que tenhamos Já vimos diversas características dos argumentos. É
de escolher entre duas coisas igualmente vantajosas, a ri- preciso acrescentar mais uma: o convencimento do inter-
queza e a saúde. Nesse caso, precisamos argumentar sobre locutor, o auditório, que pode ser individual ou coletivo,
qual das duas é mais desejável. O argumento pode então será tanto mais fácil quanto mais os argumentos estive-
ser definido como qualquer recurso que torna uma coisa rem de acordo com suas crenças, suas expectativas, seus
mais desejável que outra. Isso significa que ele atua no do- valores. Não se pode convencer um auditório pertencente
mínio do preferível. Ele é utilizado para fazer o interlocutor a uma dada cultura enfatizando coisas que ele abomina.
crer que, entre duas teses, uma é mais provável que a ou- Será mais fácil convencê-lo valorizando coisas que ele
tra, mais possível que a outra, mais desejável que a outra, considera positivas. No Brasil, a publicidade da cerveja
é preferível à outra. vem com frequência associada ao futebol, ao gol, à paixão
O objetivo da argumentação não é demonstrar a ver- nacional. Nos Estados Unidos, essa associação certamente
dade de um fato, mas levar o ouvinte a admitir como ver- não surtiria efeito, porque lá o futebol não é valorizado
dadeiro o que o enunciador está propondo. da mesma forma que no Brasil. O poder persuasivo de um
Há uma diferença entre o raciocínio lógico e a argu- argumento está vinculado ao que é valorizado ou desvalo-
mentação. O primeiro opera no domínio do necessário, rizado numa dada cultura.
ou seja, pretende demonstrar que uma conclusão deriva
necessariamente das premissas propostas, que se deduz Tipos de Argumento
obrigatoriamente dos postulados admitidos. No raciocínio
lógico, as conclusões não dependem de crenças, de uma Já verificamos que qualquer recurso linguístico desti-
maneira de ver o mundo, mas apenas do encadeamento de nado a fazer o interlocutor dar preferência à tese do enun-
premissas e conclusões. ciador é um argumento. Exemplo:

111
LÍNGUA PORTUGUESA

Argumento de Autoridade Nesse tipo de argumento, incluem-se as provas documen-


tais (fotos, estatísticas, depoimentos, gravações, etc.) ou provas
É a citação, no texto, de afirmações de pessoas reco- concretas, que tornam mais aceitável uma afirmação genérica.
nhecidas pelo auditório como autoridades em certo domí- Durante a invasão do Iraque, por exemplo, os jornais diziam que
nio do saber, para servir de apoio àquilo que o enunciador o exército americano era muito mais poderoso do que o iraquia-
está propondo. Esse recurso produz dois efeitos distintos: no. Essa afirmação, sem ser acompanhada de provas concretas,
revela o conhecimento do produtor do texto a respeito do poderia ser vista como propagandística. No entanto, quando do-
assunto de que está tratando; dá ao texto a garantia do cumentada pela comparação do número de canhões, de carros
autor citado. É preciso, no entanto, não fazer do texto um de combate, de navios, etc., ganhava credibilidade.
amontoado de citações. A citação precisa ser pertinente e
verdadeira. Exemplo: Argumento quase lógico

“A imaginação é mais importante do que o conheci- É aquele que opera com base nas relações lógicas, como
mento.” causa e efeito, analogia, implicação, identidade, etc. Esses racio-
cínios são chamados quase lógicos porque, diversamente dos
Quem disse a frase aí de cima não fui eu... Foi Einstein. raciocínios lógicos, eles não pretendem estabelecer relações ne-
Para ele, uma coisa vem antes da outra: sem imaginação, cessárias entre os elementos, mas sim instituir relações prováveis,
não há conhecimento. Nunca o inverso. possíveis, plausíveis. Por exemplo, quando se diz “A é igual a B”,
“B é igual a C”, “então A é igual a C”, estabelece-se uma relação
Alex José Periscinoto. de identidade lógica. Entretanto, quando se afirma “Amigo de
In: Folha de S. Paulo, 30/8/1993, p. 5-2 amigo meu é meu amigo” não se institui uma identidade lógica,
mas uma identidade provável.
A tese defendida nesse texto é que a imaginação é Um texto coerente do ponto de vista lógico é mais facilmen-
mais importante do que o conhecimento. Para levar o te aceito do que um texto incoerente. Vários são os defeitos que
auditório a aderir a ela, o enunciador cita um dos mais concorrem para desqualificar o texto do ponto de vista lógico:
célebres cientistas do mundo. Se um físico de renome fugir do tema proposto, cair em contradição, tirar conclusões
mundial disse isso, então as pessoas devem acreditar que não se fundamentam nos dados apresentados, ilustrar afir-
que é verdade. mações gerais com fatos inadequados, narrar um fato e dele ex-
Argumento de Quantidade trair generalizações indevidas.

É aquele que valoriza mais o que é apreciado pelo maior Argumento do Atributo
número de pessoas, o que existe em maior número, o que tem
É aquele que considera melhor o que tem proprieda-
maior duração, o que tem maior número de adeptos, etc. O fun-
des típicas daquilo que é mais valorizado socialmente, por
damento desse tipo de argumento é que mais = melhor. A pu-
exemplo, o mais raro é melhor que o comum, o que é mais
blicidade faz largo uso do argumento de quantidade.
refinado é melhor que o que é mais grosseiro, etc.
Por esse motivo, a publicidade usa, com muita frequên-
Argumento do Consenso
cia, celebridades recomendando prédios residenciais, pro-
dutos de beleza, alimentos estéticos, etc., com base no fato
É uma variante do argumento de quantidade. Fundamen-
de que o consumidor tende a associar o produto anunciado
ta-se em afirmações que, numa determinada época, são aceitas
com atributos da celebridade.
como verdadeiras e, portanto, dispensam comprovações, a me- Uma variante do argumento de atributo é o argumento
nos que o objetivo do texto seja comprovar alguma delas. Parte da competência linguística. A utilização da variante culta e
da ideia de que o consenso, mesmo que equivocado, correspon- formal da língua que o produtor do texto conhece a norma
de ao indiscutível, ao verdadeiro e, portanto, é melhor do que linguística socialmente mais valorizada e, por conseguinte,
aquilo que não desfruta dele. Em nossa época, são consensuais, deve produzir um texto em que se pode confiar. Nesse sen-
por exemplo, as afirmações de que o meio ambiente precisa ser tido é que se diz que o modo de dizer dá confiabilidade ao
protegido e de que as condições de vida são piores nos países que se diz.
subdesenvolvidos. Ao confiar no consenso, porém, corre-se o Imagine-se que um médico deva falar sobre o estado de
risco de passar dos argumentos válidos para os lugares comuns, saúde de uma personalidade pública. Ele poderia fazê-lo das
os preconceitos e as frases carentes de qualquer base científica. duas maneiras indicadas abaixo, mas a primeira seria infini-
tamente mais adequada para a persuasão do que a segunda,
Argumento de Existência pois esta produziria certa estranheza e não criaria uma ima-
gem de competência do médico:
É aquele que se fundamenta no fato de que é mais fácil - Para aumentar a confiabilidade do diagnóstico e levan-
aceitar aquilo que comprovadamente existe do que aquilo que do em conta o caráter invasivo de alguns exames, a equipe
é apenas provável, que é apenas possível. A sabedoria popular médica houve por bem determinar o internamento do gover-
enuncia o argumento de existência no provérbio “Mais vale um nador pelo período de três dias, a partir de hoje, 4 de fevereiro
pássaro na mão do que dois voando”. de 2001.

112
LÍNGUA PORTUGUESA

- Para conseguir fazer exames com mais cuidado e por- de e certeza, autenticidade e verdade, o enunciador deve
que alguns deles são barrapesada, a gente botou o governa- construir um texto que revele isso. Em outros termos, essas
dor no hospital por três dias. qualidades não se prometem, manifestam-se na ação.
Como dissemos antes, todo texto tem uma função argu- A argumentação é a exploração de recursos para fazer
mentativa, porque ninguém fala para não ser levado a sério, parecer verdadeiro aquilo que se diz num texto e, com isso,
para ser ridicularizado, para ser desmentido: em todo ato de levar a pessoa a que texto é endereçado a crer naquilo que
comunicação deseja-se influenciar alguém. Por mais neutro ele diz.
que pretenda ser, um texto tem sempre uma orientação ar- Um texto dissertativo tem um assunto ou tema e ex-
gumentativa. pressa um ponto de vista, acompanhado de certa funda-
A orientação argumentativa é uma certa direção que o mentação, que inclui a argumentação, questionamento,
falante traça para seu texto. Por exemplo, um jornalista, ao com o objetivo de persuadir. Argumentar é o processo pelo
falar de um homem público, pode ter a intenção de criticá-lo, qual se estabelecem relações para chegar à conclusão, com
de ridicularizá-lo ou, ao contrário, de mostrar sua grandeza. base em premissas. Persuadir é um processo de conven-
O enunciador cria a orientação argumentativa de seu cimento, por meio da argumentação, no qual procura-se
texto dando destaque a uns fatos e não a outros, omitindo convencer os outros, de modo a influenciar seu pensamen-
to e seu comportamento.
certos episódios e revelando outros, escolhendo determina-
A persuasão pode ser válida e não válida. Na persua-
das palavras e não outras, etc. Veja:
são válida, expõem-se com clareza os fundamentos de
“O clima da festa era tão pacífico que até sogras e noras
uma ideia ou proposição, e o interlocutor pode questionar
trocavam abraços afetuosos.” cada passo do raciocínio empregado na argumentação. A
O enunciador aí pretende ressaltar a ideia geral de que persuasão não válida apoia-se em argumentos subjetivos,
noras e sogras não se toleram. Não fosse assim, não teria apelos subliminares, chantagens sentimentais, com o em-
escolhido esse fato para ilustrar o clima da festa nem teria prego de “apelações”, como a inflexão de voz, a mímica e
utilizado o termo até, que serve para incluir no argumento até o choro.
alguma coisa inesperada. Alguns autores classificam a dissertação em duas mo-
Além dos defeitos de argumentação mencionados dalidades, expositiva e argumentativa. Esta, exige argu-
quando tratamos de alguns tipos de argumentação, vamos mentação, razões a favor e contra uma ideia, ao passo que
citar outros: a outra é informativa, apresenta dados sem a intenção de
- Uso sem delimitação adequada de palavra de sentido convencer. Na verdade, a escolha dos dados levantados,
tão amplo, que serve de argumento para um ponto de vista a maneira de expô-los no texto já revelam uma “tomada
e seu contrário. São noções confusas, como paz, que, para- de posição”, a adoção de um ponto de vista na disserta-
doxalmente, pode ser usada pelo agressor e pelo agredido. ção, ainda que sem a apresentação explícita de argumen-
Essas palavras podem ter valor positivo (paz, justiça, ho- tos. Desse ponto de vista, a dissertação pode ser definida
nestidade, democracia) ou vir carregadas de valor negativo como discussão, debate, questionamento, o que implica a
(autoritarismo, degradação do meio ambiente, injustiça, liberdade de pensamento, a possibilidade de discordar ou
corrupção). concordar parcialmente. A liberdade de questionar é fun-
- Uso de afirmações tão amplas, que podem ser derru- damental, mas não é suficiente para organizar um texto
badas por um único contra exemplo. Quando se diz “Todos dissertativo. É necessária também a exposição dos funda-
os políticos são ladrões”, basta um único exemplo de políti- mentos, os motivos, os porquês da defesa de um ponto de
co honesto para destruir o argumento. vista.
- Emprego de noções científicas sem nenhum rigor, Pode-se dizer que o homem vive em permanente atitu-
fora do contexto adequado, sem o significado apropriado, de argumentativa. A argumentação está presente em qual-
vulgarizando-as e atribuindo-lhes uma significação subje- quer tipo de discurso, porém, é no texto dissertativo que
ela melhor se evidencia.
tiva e grosseira. É o caso, por exemplo, da frase “O imperia-
Para discutir um tema, para confrontar argumentos
lismo de certas indústrias não permite que outras crescam”,
e posições, é necessária a capacidade de conhecer ou-
em que o termo imperialismo é descabido, uma vez que, a
tros pontos de vista e seus respectivos argumentos. Uma
rigor, significa “ação de um Estado visando a reduzir outros discussão impõe, muitas vezes, a análise de argumentos
à sua dependência política e econômica”. opostos, antagônicos. Como sempre, essa capacidade
aprende-se com a prática. Um bom exercício para aprender
A boa argumentação é aquela que está de acordo com a argumentar e contra-argumentar consiste em desenvol-
a situação concreta do texto, que leva em conta os compo- ver as seguintes habilidades:
nentes envolvidos na discussão (o tipo de pessoa a quem - argumentação: anotar todos os argumentos a favor
se dirige a comunicação, o assunto, etc). de uma ideia ou fato; imaginar um interlocutor que adote a
Convém ainda alertar que não se convence ninguém posição totalmente contrária;
com manifestações de sinceridade do autor (como eu, - contra-argumentação: imaginar um diálogo-debate
que não costumo mentir...) ou com declarações de certeza e quais os argumentos que essa pessoa imaginária pos-
expressas em fórmulas feitas (como estou certo, creio fir- sivelmente apresentaria contra a argumentação proposta;
memente, é claro, é óbvio, é evidente, afirmo com toda a - refutação: argumentos e razões contra a argumen-
certeza, etc). Em vez de prometer, em seu texto, sincerida- tação oposta.

113
LÍNGUA PORTUGUESA

A argumentação tem a finalidade de persuadir, portan- A indução percorre o caminho inverso ao da dedução,
to, argumentar consiste em estabelecer relações para tirar baseiase em uma conexão ascendente, do particular para
conclusões válidas, como se procede no método dialético. o geral. Nesse caso, as constatações particulares levam às
O método dialético não envolve apenas questões ideoló- leis gerais, ou seja, parte de fatos particulares conhecidos
gicas, geradoras de polêmicas. Trata-se de um método de para os fatos gerais, desconhecidos. O percurso do racio-
investigação da realidade pelo estudo de sua ação recípro- cínio se faz do efeito para a causa. Exemplo:
ca, da contradição inerente ao fenômeno em questão e da
mudança dialética que ocorre na natureza e na sociedade. O calor dilata o ferro (particular)
Descartes (1596-1650), filósofo e pensador francês, O calor dilata o bronze (particular)
criou o método de raciocínio silogístico, baseado na dedu- O calor dilata o cobre (particular)
ção, que parte do simples para o complexo. Para ele, ver- O ferro, o bronze, o cobre são metais
dade e evidência são a mesma coisa, e pelo raciocínio tor- Logo, o calor dilata metais (geral, universal)
na-se possível chegar a conclusões verdadeiras, desde que
o assunto seja pesquisado em partes, começando-se pelas Quanto a seus aspectos formais, o silogismo pode
proposições mais simples até alcançar, por meio de dedu- ser válido e verdadeiro; a conclusão será verdadeira se as
ções, a conclusão final. Para a linha de raciocínio cartesiana, duas premissas também o forem. Se há erro ou equívo-
é fundamental determinar o problema, dividi-lo em partes,
co na apreciação dos fatos, pode-se partir de premissas
ordenar os conceitos, simplificando-os, enumerar todos os
verdadeiras para chegar a uma conclusão falsa. Tem-se,
seus elementos e determinar o lugar de cada um no con-
desse modo, o sofisma. Uma definição inexata, uma divi-
junto da dedução.
são incompleta, a ignorância da causa, a falsa analogia são
A lógica cartesiana, até os nossos dias, é fundamental
algumas causas do sofisma. O sofisma pressupõe má fé,
para a argumentação dos trabalhos acadêmicos. Descartes
intenção deliberada de enganar ou levar ao erro; quando o
propôs quatro regras básicas que constituem um conjunto
sofisma não tem essas intenções propositais, costuma-se
de reflexos vitais, uma série de movimentos sucessivos e
chamar esse processo de argumentação de paralogismo.
contínuos do espírito em busca da verdade:
Encontra-se um exemplo simples de sofisma no seguinte
- evidência;
- divisão ou análise; diálogo:
- ordem ou dedução;
- enumeração. - Você concorda que possui uma coisa que não per-
deu?
A enumeração pode apresentar dois tipos de falhas: a - Lógico, concordo.
omissão e a incompreensão. Qualquer erro na enumeração - Você perdeu um brilhante de 40 quilates?
pode quebrar o encadeamento das ideias, indispensável - Claro que não!
para o processo dedutivo. - Então você possui um brilhante de 40 quilates...
A forma de argumentação mais empregada na reda- Exemplos de sofismas:
ção acadêmica é o silogismo, raciocínio baseado nas regras
cartesianas, que contém três proposições: duas premissas, Dedução
maior e menor, e a conclusão. As três proposições são enca- Todo professor tem um diploma (geral, universal)
deadas de tal forma, que a conclusão é deduzida da maior Fulano tem um diploma (particular)
por intermédio da menor. A premissa maior deve ser uni- Logo, fulano é professor (geral – conclusão falsa)
versal, emprega todo, nenhum, pois alguns não caracteriza
a universalidade. Indução
Há dois métodos fundamentais de raciocínio: a dedução O Rio de Janeiro tem uma estátua do Cristo Reden-
(silogística), que parte do geral para o particular, e a indu- tor. (particular)
ção, que vai do particular para o geral. A expressão formal Taubaté (SP) tem uma estátua do Cristo Redentor.
do método dedutivo é o silogismo. A dedução é o caminho (particular)
das consequências, baseia-se em uma conexão descenden- Rio de Janeiro e Taubaté são cidades.
te (do geral para o particular) que leva à conclusão. Segun- Logo, toda cidade tem uma estátua do Cristo Reden-
do esse método, partindo-se de teorias gerais, de verdades tor. (geral – conclusão falsa)
universais, pode-se chegar à previsão ou determinação de
fenômenos particulares. O percurso do raciocínio vai da Nota-se que as premissas são verdadeiras, mas a con-
causa para o efeito. Exemplo: clusão pode ser falsa. Nem todas as pessoas que têm di-
ploma são professores; nem todas as cidades têm uma
Todo homem é mortal (premissa maior = geral, univer- estátua do Cristo Redentor. Comete-se erro quando se faz
sal) generalizações apressadas ou infundadas. A “simples ins-
Fulano é homem (premissa menor = particular) peção” é a ausência de análise ou análise superficial dos
Logo, Fulano é mortal (conclusão) fatos, que leva a pronunciamentos subjetivos, baseados
nos sentimentos não ditados pela razão.

114
LÍNGUA PORTUGUESA

Tem-se, ainda, outros métodos, subsidiários ou não meio de um processo mais ou menos arbitrário, em que
fundamentais, que contribuem para a descoberta ou com- os caracteres comuns e diferenciadores são empregados
provação da verdade: análise, síntese, classificação e defi- de modo mais ou menos convencional. A classificação, no
nição. Além desses, existem outros métodos particulares reino animal, em ramos, classes, ordens, subordens, gêne-
de algumas ciências, que adaptam os processos de de- ros e espécies, é um exemplo de classificação natural, pelas
dução e indução à natureza de uma realidade particular. características comuns e diferenciadoras. A classificação
Pode-se afirmar que cada ciência tem seu método pró- dos variados itens integrantes de uma lista mais ou menos
prio demonstrativo, comparativo, histórico etc. A análise, a caótica é artificial.
síntese, a classificação a definição são chamadas métodos Exemplo: aquecedor, automóvel, barbeador, batata,
sistemáticos, porque pela organização e ordenação das caminhão, canário, jipe, leite, ônibus, pão, pardal, pintassil-
ideias visam sistematizar a pesquisa. go, queijo, relógio, sabiá, torradeira.

Análise e síntese são dois processos opostos, mas Aves: Canário, Pardal, Pintassilgo, Sabiá.
interligados; a análise parte do todo para as partes, a sín- Alimentos: Batata, Leite, Pão, Queijo.
tese, das partes para o todo. A análise precede a síntese, Mecanismos: Aquecedor, Barbeador, Relógio, Torra-
deira.
porém, de certo modo, uma depende da outra. A análise
Veículos: Automóvel, Caminhão, Jipe, Ônibus.
decompõe o todo em partes, enquanto a síntese recom-
põe o todo pela reunião das partes. Sabe-se, porém, que
Os elementos desta lista foram classificados por ordem
o todo não é uma simples justaposição das partes. Se al-
alfabética e pelas afinidades comuns entre eles. Estabele-
guém reunisse todas as peças de um relógio, não significa
cer critérios de classificação das ideias e argumentos, pela
que reconstruiu o relógio, pois fez apenas um amontoado
ordem de importância, é uma habilidade indispensável
de partes. Só reconstruiria todo se as partes estivessem or-
para elaborar o desenvolvimento de uma redação. Tanto
ganizadas, devidamente combinadas, seguida uma ordem
faz que a ordem seja crescente, do fato mais importante
de relações necessárias, funcionais, então, o relógio estaria
para o menos importante, ou decrescente, primeiro o me-
reconstruído. nos importante e, no final, o impacto do mais importante;
Síntese, portanto, é o processo de reconstrução do é indispensável que haja uma lógica na classificação. A ela-
todo por meio da integração das partes, reunidas e re- boração do plano compreende a classificação das partes e
lacionadas num conjunto. Toda síntese, por ser uma re- subdivisões, ou seja, os elementos do plano devem obede-
construção, pressupõe a análise, que é a decomposição. A cer a uma hierarquização. (Garcia, 1973, p. 302304.)
análise, no entanto, exige uma decomposição organizada, Para a clareza da dissertação, é indispensável que, logo
é preciso saber como dividir o todo em partes. As opera- na introdução, os termos e conceitos sejam definidos, pois,
ções que se realizam na análise e na síntese podem ser para expressar um questionamento, deve-se, de antemão,
assim relacionadas: expor clara e racionalmente as posições assumidas e os
argumentos que as justificam. É muito importante deixar
Análise: penetrar, decompor, separar, dividir. claro o campo da discussão e a posição adotada, isto é,
Síntese: integrar, recompor, juntar, reunir. esclarecer não só o assunto, mas também os pontos de
A análise tem importância vital no processo de cole- vista sobre ele.
ta de ideias a respeito do tema proposto, de seu desdo- A definição tem por objetivo a exatidão no emprego da
bramento e da criação de abordagens possíveis. A síntese linguagem e consiste na enumeração das qualidades pró-
também é importante na escolha dos elementos que farão prias de uma ideia, palavra ou objeto. Definir é classificar o
parte do texto. elemento conforme a espécie a que pertence, demonstra: a
Segundo Garcia (1973, p.300), a análise pode ser for- característica que o diferencia dos outros elementos dessa
mal ou informal. A análise formal pode ser científica ou mesma espécie.
experimental; é característica das ciências matemáticas, fí- Entre os vários processos de exposição de ideias, a de-
sico-naturais e experimentais. A análise informal é racional finição é um dos mais importantes, sobretudo no âmbito
ou total, consiste em “discernir” por vários atos distintos das ciências. A definição científica ou didática é denotativa,
da atenção os elementos constitutivos de um todo, os di- ou seja, atribui às palavras seu sentido usual ou consensual,
ferentes caracteres de um objeto ou fenômeno. enquanto a conotativa ou metafórica emprega palavras de
A análise decompõe o todo em partes, a classifica- sentido figurado. Segundo a lógica tradicional aristotélica,
ção estabelece as necessárias relações de dependência e a definição consta de três elementos:
hierarquia entre as partes. Análise e classificação ligam-se - o termo a ser definido;
intimamente, a ponto de se confundir uma com a outra, - o gênero ou espécie;
contudo são procedimentos diversos: análise é decompo- - a diferença específica.
sição e classificação é hierarquisação.
Nas ciências naturais, classificam-se os seres, fatos O que distingue o termo definido de outros elementos
e fenômenos por suas diferenças e semelhanças; fora da mesma espécie. Exemplo:
das ciências naturais, a classificação pode-se efetuar por

115
LÍNGUA PORTUGUESA

Na frase: O homem é um animal racional classifica-se: se tais elementos são verdadeiros ou falsos; em seguida,
avaliar se o argumento está expresso corretamente; se há
coerência e adequação entre seus elementos, ou se há
contradição. Para isso é que se aprende os processos de
Elemento especie diferença raciocínio por dedução e por indução. Admitindo-se que
a ser definido específica raciocinar é relacionar, conclui-se que o argumento é um
tipo específico de relação entre as premissas e a conclusão.
É muito comum formular definições de maneira defei-
tuosa, por exemplo: Análise é quando a gente decompõe o Procedimentos Argumentativos: Constituem os pro-
todo em partes. Esse tipo de definição é gramaticalmente cedimentos argumentativos mais empregados para com-
incorreto; quando é advérbio de tempo, não representa o provar uma afirmação: exemplificação, explicitação, enu-
gênero, a espécie, a gente é forma coloquial não adequa- meração, comparação.
da à redação acadêmica. Tão importante é saber formular
uma definição, que se recorre a Garcia (1973, p.306), para Exemplificação: Procura justificar os pontos de vista
determinar os “requisitos da definição denotativa”. Para ser por meio de exemplos, hierarquizar afirmações. São expres-
exata, a definição deve apresentar os seguintes requisitos: sões comuns nesse tipo de procedimento: mais importan-
- o termo deve realmente pertencer ao gênero ou classe te que, superior a, de maior relevância que. Empregam-se
em que está incluído: “mesa é um móvel” (classe em que também dados estatísticos, acompanhados de expressões:
‘mesa’ está realmente incluída) e não “mesa é um instru- considerando os dados; conforme os dados apresentados. Fa-
mento ou ferramenta ou instalação”; z-se a exemplificação, ainda, pela apresentação de causas e
- o gênero deve ser suficientemente amplo para incluir consequências, usando-se comumente as expressões: por-
todos os exemplos específicos da coisa definida, e suficiente- que, porquanto, pois que, uma vez que, visto que, por causa
mente restrito para que a diferença possa ser percebida sem de, em virtude de, em vista de, por motivo de.
dificuldade;
- deve ser obrigatoriamente afirmativa: não há, em ver- Explicitação: O objetivo desse recurso argumentativo
dade, definição, quando se diz que o “triângulo não é um é explicar ou esclarecer os pontos de vista apresentados.
prisma”; Pode-se alcançar esse objetivo pela definição, pelo teste-
- deve ser recíproca: “O homem é um ser vivo” não cons- munho e pela interpretação. Na explicitação por definição,
titui definição exata, porque a recíproca, “Todo ser vivo é um empregamse expressões como: quer dizer, denomina-se,
homem” não é verdadeira (o gato é ser vivo e não é homem); chama-se, na verdade, isto é, haja vista, ou melhor; nos tes-
- deve ser breve (contida num só período). Quando a temunhos são comuns as expressões: conforme, segundo,
definição, ou o que se pretenda como tal, é muito longa (sé- na opinião de, no parecer de, consoante as ideias de, no en-
ries de períodos ou de parágrafos), chama-se explicação, e tender de, no pensamento de. A explicitação se faz também
também definição expandida;d pela interpretação, em que são comuns as seguintes ex-
- deve ter uma estrutura gramatical rígida: sujeito (o ter- pressões: parece, assim, desse ponto de vista.
mo) + cópula (verbo de ligação ser) + predicativo (o gênero)
+ adjuntos (as diferenças). Enumeração: Faz-se pela apresentação de uma se-
quência de elementos que comprovam uma opinião, tais
como a enumeração de pormenores, de fatos, em uma se-
As definições dos dicionários de língua são feitas por quência de tempo, em que são frequentes as expressões:
meio de paráfrases definitórias, ou seja, uma operação me- primeiro, segundo, por último, antes, depois, ainda, em se-
talinguística que consiste em estabelecer uma relação de guida, então, presentemente, antigamente, depois de, antes
equivalência entre a palavra e seus significados. de, atualmente, hoje, no passado, sucessivamente, respecti-
A força do texto dissertativo está em sua fundamen- vamente. Na enumeração de fatos em uma sequência de
tação. Sempre é fundamental procurar um porquê, uma espaço, empregam-se as seguintes expressões: cá, lá, acolá,
razão verdadeira e necessária. A verdade de um ponto de ali, aí, além, adiante, perto de, ao redor de, no Estado tal, na
vista deve ser demonstrada com argumentos válidos. O capital, no interior, nas grandes cidades, no sul, no leste...
ponto de vista mais lógico e racional do mundo não tem
valor, se não estiver acompanhado de uma fundamentação Comparação: Analogia e contraste são as duas ma-
coerente e adequada. neiras de se estabelecer a comparação, com a finalidade
Os métodos fundamentais de raciocínio segundo a de comprovar uma ideia ou opinião. Na analogia, são
lógica clássica, que foram abordados anteriormente, auxi- comuns as expressões: da mesma forma, tal como, tanto
liam o julgamento da validade dos fatos. Às vezes, a ar- quanto, assim como, igualmente. Para estabelecer contras-
gumentação é clara e pode reconhecer-se facilmente seus te, empregam-se as expressões: mais que, menos que, me-
elementos e suas relações; outras vezes, as premissas e as lhor que, pior que.
conclusões organizam-se de modo livre, misturando-se
na estrutura do argumento. Por isso, é preciso aprender Entre outros tipos de argumentos empregados para
a reconhecer os elementos que constituem um argumen- aumentar o poder de persuasão de um texto dissertativo
to: premissas/conclusões. Depois de reconhecer, verificar encontram-se:

116
LÍNGUA PORTUGUESA

Argumento de autoridade: O saber notório de uma Ataque ao argumento pelo testemunho de autori-
autoridade reconhecida em certa área do conhecimento dá dade: consiste em refutar um argumento empregando os
apoio a uma afirmação. Dessa maneira, procura-se trazer testemunhos de autoridade que contrariam a afirmação
para o enunciado a credibilidade da autoridade citada. Lem- apresentada;
bre-se que as citações literais no corpo de um texto cons-
tituem argumentos de autoridade. Ao fazer uma citação, o Desqualificar dados concretos apresentados: con-
enunciador situa os enunciados nela contidos na linha de siste em desautorizar dados reais, demonstrando que
raciocínio que ele considera mais adequada para explicar o enunciador baseou-se em dados corretos, mas tirou
ou justificar um fato ou fenômeno. Esse tipo de argumento conclusões falsas ou inconsequentes. Por exemplo, se
tem mais caráter confirmatório que comprobatório. na argumentação afirmou-se, por meio de dados esta-
tísticos, que “o controle demográfico produz o desenvol-
Apoio na consensualidade: Certas afirmações dispen- vimento”, afirma-se que a conclusão é inconsequente,
sam explicação ou comprovação, pois seu conteúdo é acei- pois baseia-se em uma relação de causa-feito difícil de
to como válido por consenso, pelo menos em determinado ser comprovada. Para contraargumentar, propõese uma
espaço sociocultural. Nesse caso, incluem-se relação inversa: “o desenvolvimento é que gera o controle
- A declaração que expressa uma verdade universal (o demográfico”.
homem, mortal, aspira à imortalidade);
- A declaração que é evidente por si mesma (caso dos Apresentam-se aqui sugestões, um dos roteiros pos-
postulados e axiomas); síveis para desenvolver um tema, que podem ser anali-
- Quando escapam ao domínio intelectual, ou seja, é de sadas e adaptadas ao desenvolvimento de outros temas.
natureza subjetiva ou sentimental (o amor tem razões que Elege-se um tema, e, em seguida, sugerem-se os proce-
a própria razão desconhece); implica apreciação de ordem dimentos que devem ser adotados para a elaboração de
estética (gosto não se discute); diz respeito a fé religiosa, um Plano de Redação.
aos dogmas (creio, ainda que parece absurdo).
Tema: O homem e a máquina: necessidade e riscos
Comprovação pela experiência ou observação: A ver- da evolução tecnológica
dade de um fato ou afirmação pode ser comprovada por
meio de dados concretos, estatísticos ou documentais. - Questionar o tema, transformá-lo em interroga-
ção, responder a interrogação (assumir um ponto de
Comprovação pela fundamentação lógica: A com- vista); dar o porquê da resposta, justificar, criando um
provação se realiza por meio de argumentos racionais, ba- argumento básico;
seados na lógica: causa/efeito; consequência/causa; condi- - Imaginar um ponto de vista oposto ao argumento
ção/ocorrência. básico e construir uma contra-argumentação; pensar a
forma de refutação que poderia ser feita ao argumento
Fatos não se discutem; discutem-se opiniões. As decla- básico e tentar desqualificá-la (rever tipos de argumen-
rações, julgamento, pronunciamentos, apreciações que ex- tação);
pressam opiniões pessoais (não subjetivas) devem ter sua - Refletir sobre o contexto, ou seja, fazer uma coleta
validade comprovada, e só os fatos provam. Em resumo de ideias que estejam direta ou indiretamente ligadas ao
toda afirmação ou juízo que expresse uma opinião pessoal tema (as ideias podem ser listadas livremente ou organi-
só terá validade se fundamentada na evidência dos fatos, zadas como causa e consequência);
ou seja, se acompanhada de provas, validade dos argu- - Analisar as ideias anotadas, sua relação com o tema
mentos, porém, pode ser contestada por meio da contra- e com o argumento básico;
-argumentação ou refutação. São vários os processos de - Fazer uma seleção das ideias pertinentes, escolhen-
contra-argumentação: do as que poderão ser aproveitadas no texto; essas ideias
transformam-se em argumentos auxiliares, que explicam
Refutação pelo absurdo: refuta-se uma afirmação de- e corroboram a ideia do argumento básico;
monstrando o absurdo da consequência. Exemplo clássico - Fazer um esboço do Plano de Redação, organizando
é a contraargumentação do cordeiro, na conhecida fábula uma sequência na apresentação das ideias selecionadas,
“O lobo e o cordeiro”; obedecendo às partes principais da estrutura do texto,
que poderia ser mais ou menos a seguinte:
Refutação por exclusão: consiste em propor várias hi-
póteses para eliminá-las, apresentando-se, então, aquela Introdução
que se julga verdadeira;
- função social da ciência e da tecnologia;
Desqualificação do argumento: atribui-se o argu- - definições de ciência e tecnologia;
mento à opinião pessoal subjetiva do enunciador, restrin- - indivíduo e sociedade perante o avanço tecnoló-
gindo-se a universalidade da afirmação; gico.

117
LÍNGUA PORTUGUESA

Desenvolvimento também com explicitude que há oposição entre Neto e


os outros jogadores, sob o ponto de vista de contar com
- apresentação de aspectos positivos e negativos do tempo para evoluir. A escolha do conector “mas” entre
desenvolvimento tecnológico; a segunda e a primeira oração só é possível levando em
- como o desenvolvimento científico-tecnológico mo- conta esse dado implícito. Como se vê, há mais significa-
dificou as condições de vida no mundo atual; dos num texto do que aqueles que aparecem explícitos na
- a tecnocracia: oposição entre uma sociedade tecno- sua superfície. Leitura proficiente é aquela capaz de de-
logicamente desenvolvida e a dependência tecnológica preender tanto um tipo de significado quanto o outro, o
dos países subdesenvolvidos; que, em outras palavras, significa ler nas entrelinhas. Sem
- enumerar e discutir os fatores de desenvolvimento essa habilidade, o leitor passará por cima de significados
social; importantes ou, o que é bem pior, concordará com ideias
- comparar a vida de hoje com os diversos tipos de e pontos de vista que rejeitaria se os percebesse.
vida do passado; apontar semelhanças e diferenças; Os significados implícitos costumam ser classificados
- analisar as condições atuais de vida nos grandes cen- em duas categorias: os pressupostos e os subentendidos.
tros urbanos;
- como se poderia usar a ciência e a tecnologia para Pressupostos: são ideias implícitas que estão implica-
humanizar mais a sociedade. das logicamente no sentido de certas palavras ou expres-
sões explicitadas na superfície da frase. Exemplo:
Conclusão
- a tecnologia pode libertar ou escravizar: benefícios/ “André tornouse um antitabagista convicto.”
consequências maléficas;
- síntese interpretativa dos argumentos e contra-argu- A informação explícita é que hoje André é um anti-
mentos apresentados. tabagista convicto. Do sentido do verbo tornarse, que
significa “vir a ser”, decorre logicamente que antes André
Naturalmente esse não é o único, nem o melhor plano não era antitabagista convicto. Essa informação está pres-
de redação: é um dos possíveis. suposta. Ninguém se torna algo que já era antes. Seria
muito estranho dizer que a palmeira tornouse um vegetal.

“Eu ainda não conheço a Europa.”


PRESSUPOSTOS E SUBENTENDIDOS.
A informação explícita é que o enunciador não tem
conhecimento do continente europeu. O advérbio ain-
da deixa pressuposta a possibilidade de ele um dia co-
INFORMAÇÕES EXPLÍCITAS E IMPLÍCITAS nhecêla.
As informações explícitas podem ser questionadas
Texto: pelo receptor, que pode ou não concordar com elas. Os
pressupostos, porém, devem ser verdadeiros ou, pelo me-
“Neto ainda está longe de se igualar a qualquer um des- nos, admitidos como tais, porque esta é uma condição
ses craques (Rivelino, Ademir da Guia, Pedro Rocha e Pelé), para garantir a continuidade do diálogo e também para
mas ainda tem um longo caminho a trilhar (...).” fornecer fundamento às afirmações explícitas. Isso signi-
Veja São Paulo, 26/12/1990, p. 15. fica que, se o pressuposto é falso, a informação explícita
não tem cabimento. Assim, por exemplo, se Maria não fal-
Esse texto diz explicitamente que: ta nunca a aula nenhuma, não tem o menor sentido dizer
- Rivelino, Ademir da Guia, Pedro Rocha e Pelé são craques; “Até Maria compareceu à aula de hoje”. Até estabelece o
- Neto não tem o mesmo nível desses craques; pressuposto da inclusão de um elemento inesperado.
- Neto tem muito tempo de carreira pela frente. Na leitura, é muito importante detectar os pressupos-
O texto deixa implícito que: tos, pois eles são um recurso argumentativo que visa a
- Existe a possibilidade de Neto um dia aproximar-se levar o receptor a aceitar a orientação argumentativa do
dos craques citados; emissor. Ao introduzir uma ideia sob a forma de pressu-
- Esses craques são referência de alto nível em sua posto, o enunciador pretende transformar seu interlocutor
especialidade esportiva; em cúmplice, pois a ideia implícita não é posta em discus-
- Há uma oposição entre Neto e esses craques no que são, e todos os argumentos explícitos só contribuem para
diz respeito ao tempo disponível para evoluir. confirmála. O pressusposto aprisiona o receptor no sistema
de pensamento montado pelo enunciador.
Todos os textos transmitem explicitamente certas in- A demonstração disso pode ser feita com as “verdades
formações, enquanto deixam outras implícitas. Por exem- incontestáveis” que estão na base de muitos discursos po-
plo, o texto acima não explicita que existe a possibilidade líticos, como o que segue:
de Neto se equiparar aos quatro futebolistas, mas a inclu-
são do advérbio ainda estabelece esse implícito. Não diz

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LÍNGUA PORTUGUESA

“Quando o curso do rio São Francisco for mudado, será - Certos advérbios
resolvido o problema da seca no Nordeste.”
A produção automobilística brasileira está totalmente
O enunciador estabelece o pressuposto de que é certa nas mãos das multinacionais.
a mudança do curso do São Francisco e, por consequência, O advérbio totalmente pressupõe que não há no Brasil
a solução do problema da seca no Nordeste. O diálogo indústria automobilística nacional.
não teria continuidade se um interlocutor não admitisse Você conferiu o resultado da loteria?
ou colocasse sob suspeita essa certeza. Em outros termos, Hoje não.
haveria quebra da continuidade do diálogo se alguém in-
terviesse com uma pergunta deste tipo: A negação precedida de um advérbio de tempo de
âmbito limitado estabelece o pressuposto de que apenas
nesse intervalo (hoje) é que o interrogado não praticou o
“Mas quem disse que é certa a mudança do curso do
ato de conferir o resultado da loteria.
rio?”
- Orações adjetivas
A aceitação do pressuposto estabelecido pelo emissor
permite levar adiante o debate; sua negação comprome- Os brasileiros, que não se importam com a coletividade,
te o diálogo, uma vez que destrói a base sobre a qual se só se preocupam com seu bemestar e, por isso, jogam lixo na
constrói a argumentação, e daí nenhum argumento tem rua, fecham os cruzamentos, etc.
mais importância ou razão de ser. Com pressupostos dis- O pressuposto é que “todos” os brasileiros não se im-
tintos, o diálogo não é possível ou não tem sentido. portam com a coletividade.
A mesma pergunta, feita para pessoas diferentes,
pode ser embaraçosa ou não, dependendo do que está Os brasileiros que não se importam com a coletividade
pressuposto em cada situação. Para alguém que não faz só se preocupam com seu bemestar e, por isso, jogam lixo na
segredo sobre a mudança de emprego, não causa o menor rua, fecham os cruzamentos, etc.
embaraço uma pergunta como esta: Nesse caso, o pressuposto é outro: “alguns” brasileiros
não se importam com a coletividade.
“Como vai você no seu novo emprego?”
No primeiro caso, a oração é explicativa; no segundo,
é restritiva. As explicativas pressupõem que o que elas ex-
O efeito da mesma pergunta seria catastrófico se ela
pressam se refere à totalidade dos elementos de um con-
se dirigisse a uma pessoa que conseguiu um segundo em-
junto; as restritivas, que o que elas dizem concerne apenas
prego e quer manter sigilo até decidir se abandona o an- a parte dos elementos de um conjunto. O produtor do tex-
terior. O adjetivo novo estabelece o pressuposto de que o to escreverá uma restritiva ou uma explicativa segundo o
interrogado tem um emprego diferente do anterior. pressuposto que quiser comunicar.

Marcadores de Pressupostos Subentendidos: são insinuações contidas em uma fra-


se ou um grupo de frases. Suponhamos que uma pessoa
- Adjetivos ou palavras similares modificadoras do estivesse em visita à casa de outra num dia de frio glacial
substantivo e que uma janela, por onde entravam rajadas de vento,
estivesse aberta. Se o visitante dissesse “Que frio terrível”,
Julinha foi minha primeira filha. poderia estar insinuando que a janela deveria ser fechada.
“Primeira” pressupõe que tenho outras filhas e que as Há uma diferença capital entre o pressuposto e o su-
outras nasceram depois de Julinha. bentendido. O primeiro é uma informação estabelecida
como indiscutível tanto para o emissor quanto para o re-
Destruíram a outra igreja do povoado. ceptor, uma vez que decorre necessariamente do sentido
“Outra” pressupõe a existência de pelo menos uma de algum elemento linguístico colocado na frase. Ele pode
igreja além da usada como referência. ser negado, mas o emissor colocao implicitamente para
que não o seja. Já o subentendido é de responsabilidade
- Certos verbos
do receptor. O emissor pode esconder-se atrás do sentido
literal das palavras e negar que tenha dito o que o receptor
Renato continua doente. depreendeu de suas palavras. Assim, no exemplo dado aci-
O verbo “continua” indica que Renato já estava doente ma, se o dono da casa disser que é muito pouco higiênico
no momento anterior ao presente. fechar todas as janelas, o visitante pode dizer que também
acha e que apenas constatou a intensidade do frio.
Nossos dicionários já aportuguesaram a palavrea co- O subentendido serve, muitas vezes, para o emissor pro-
pydesk. tegerse, para transmitir a informação que deseja dar a conhe-
O verbo “aportuguesar” estabelece o pressuposto de cer sem se comprometer. Imaginemos, por exemplo, que um
que copidesque não existia em português. funcionário recémpromovido numa empresa ouvisse de um
colega o seguinte:

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LÍNGUA PORTUGUESA

“Competência e mérito continuam não valendo nada Um repórter, ao cometer uma transgressão em sua
como critério de promoção nesta empresa...” fala, transgride tanto quanto um indivíduo que compare-
Esse comentário talvez suscitasse esta suspeita: ce a um banquete trajando xortes ou quanto um banhista,
“Você está querendo dizer que eu não merecia a promoção?” numa praia, vestido de fraque e cartola.
Releva considerar, assim, o momento do discurso, que
Ora, o funcionário preterido, tendo recorrido a um su- pode ser íntimo, neutro ou solene. O momento íntimo é o
bentendido, poderia responder: das liberdades da fala. No recesso do lar, na fala entre ami-
gos, parentes, namorados, etc., portanto, são consideradas
“Absolutamente! Estou falando em termos gerais.” perfeitamente normais construções do tipo:
Eu não vi ela hoje.
Ninguém deixou ele falar.
NÍVEIS DE LINGUAGEM. Deixe eu ver isso!
Eu te amo, sim, mas não abuse!
Não assisti o filme nem vou assisti-lo.
Sou teu pai, por isso vou perdoá-lo.
Níveis de linguagem
Nesse momento, a informalidade prevalece sobre a nor-
A língua é um código de que se serve o homem para ela- ma culta, deixando mais livres os interlocutores.
borar mensagens, para se comunicar. Existem basicamente O momento neutro é o do uso da língua-padrão, que é
duas modalidades de língua, ou seja, duas línguas funcionais: a língua da Nação. Como forma de respeito, tomam-se por
1) a língua funcional de modalidade culta, língua culta base aqui as normas estabelecidas na gramática, ou seja, a
ou língua-padrão, que compreende a língua literária, tem por norma culta. Assim, aquelas mesmas construções se alteram:
base a norma culta, forma linguística utilizada pelo segmento Eu não a vi hoje.
mais culto e influente de uma sociedade. Constitui, em suma, Ninguém o deixou falar.
a língua utilizada pelos veículos de comunicação de mas- Deixe-me ver isso!
sa (emissoras de rádio e televisão, jornais, revistas, painéis, Eu te amo, sim, mas não abuses!
Não assisti ao filme nem vou assistir a ele.
anúncios, etc.), cuja função é a de serem aliados da escola,
Sou seu pai, por isso vou perdoar-lhe.
prestando serviço à sociedade, colaborando na educação;
2) a língua funcional de modalidade popular; língua po-
Considera-se momento neutro o utilizado nos veículos
pular ou língua cotidiana, que apresenta gradações as mais
de comunicação de massa (rádio, televisão, jornal, revista,
diversas, tem o seu limite na gíria e no calão.
etc.). Daí o fato de não se admitirem deslizes ou transgres-
sões da norma culta na pena ou na boca de jornalistas, quan-
Norma culta:
do no exercício do trabalho, que deve refletir serviço à causa
do ensino.
A norma culta, forma linguística que todo povo civilizado O momento solene, acessível a poucos, é o da arte poé-
possui, é a que assegura a unidade da língua nacional. E jus- tica, caracterizado por construções de rara beleza.
tamente em nome dessa unidade, tão importante do ponto Vale lembrar, finalmente, que a língua é um costume.
de vista político--cultural, que é ensinada nas escolas e di- Como tal, qualquer transgressão, ou chamado erro, deixa de
fundida nas gramáticas. Sendo mais espontânea e criativa, a sê-lo no exato instante em que a maioria absoluta o come-
língua popular afigura-se mais expressiva e dinâmica. Temos, te, passando, assim, a constituir fato linguístico registro de
assim, à guisa de exemplificação: linguagem definitivamente consagrado pelo uso, ainda que
Estou preocupado. (norma culta) não tenha amparo gramatical. Exemplos:
Tô preocupado. (língua popular) Olha eu aqui! (Substituiu: Olha-me aqui!)
Tô grilado. (gíria, limite da língua popular) Vamos nos reunir. (Substituiu: Vamo-nos reunir.)
Não basta conhecer apenas uma modalidade de lín- Não vamos nos dispersar. (Substituiu: Não nos vamos dis-
gua; urge conhecer a língua popular, captando-lhe a es- persar e Não vamos dispersar-nos.)
pontaneidade, expressividade e enorme criatividade, para Tenho que sair daqui depressinha. (Substituiu: Tenho de
viver; urge conhecer a língua culta para conviver. sair daqui bem depressa.)
Podemos, agora, definir gramática: é o estudo das nor- O soldado está a postos. (Substituiu: O soldado está no
mas da língua culta. seu posto.)

O conceito de erro em língua: As formas impeço, despeço e desimpeço, dos verbos im-
pedir, despedir e desimpedir, respectivamente, são exemplos
Em rigor, ninguém comete erro em língua, exceto nos também de transgressões ou “erros” que se tornaram fatos
casos de ortografia. O que normalmente se comete são linguísticos, já que só correm hoje porque a maioria viu tais
transgressões da norma culta. De fato, aquele que, num verbos como derivados de pedir, que tem início, na sua conju-
momento íntimo do discurso, diz: “Ninguém deixou ele fa- gação, com peço. Tanto bastou para se arcaizarem as formas
lar”, não comete propriamente erro; na verdade, transgride então legítimas impido, despido e desimpido, que hoje ne-
a norma culta. nhuma pessoa bem-escolarizada tem coragem de usar.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Em vista do exposto, será útil eliminar do vocabulário Variedades Linguísticas


escolar palavras como corrigir e correto, quando nos refe-
rimos a frases. “Corrija estas frases” é uma expressão que A linguagem é a característica que nos difere dos demais
deve dar lugar a esta, por exemplo: “Converta estas frases seres, permitindo-nos a oportunidade de expressar senti-
da língua popular para a língua culta”. mentos, revelar conhecimentos, expor nossa opinião frente
Uma frase correta não é aquela que se contrapõe a aos assuntos relacionados ao nosso cotidiano e, sobretudo,
uma frase “errada”; é, na verdade, uma frase elaborada promovendo nossa inserção ao convívio social. Dentre os fa-
conforme as normas gramaticais; em suma, conforme a tores que a ela se relacionam destacam-se os níveis da fala,
norma culta. que são basicamente dois: o nível de formalidade e o de in-
formalidade.
Língua escrita e língua falada. Nível de linguagem: O padrão formal está diretamente ligado à linguagem
escrita, restringindo-se às normas gramaticais de um modo
A língua escrita, estática, mais elaborada e menos eco- geral. Razão pela qual nunca escrevemos da mesma maneira
nômica, não dispõe dos recursos próprios da língua falada. que falamos. Este fator foi determinante para a que a mesma
A acentuação (relevo de sílaba ou sílabas), a entoação pudesse exercer total soberania sobre as demais.
(melodia da frase), as pausas (intervalos significativos no Quanto ao nível informal, por sua vez, representa o estilo
decorrer do discurso), além da possibilidade de gestos, considerado “de menor prestígio”, e isto tem gerado con-
olhares, piscadas, etc., fazem da língua falada a modalidade trovérsias entre os estudos da língua, uma vez que, para a
mais expressiva, mais criativa, mais espontânea e natural, sociedade, aquela pessoa que fala ou escreve de maneira er-
estando, por isso mesmo, mais sujeita a transformações e rônea é considerada “inculta”, tornando-se desta forma um
a evoluções. estigma.
Nenhuma, porém, sobrepõe-se a outra em impor- Compondo o quadro do padrão informal da linguagem,
tância. Nas escolas, principalmente, costuma se ensinar a estão as chamadas variedades linguísticas, as quais repre-
língua falada com base na língua escrita, considerada su- sentam as variações de acordo com as condições sociais, cul-
perior. Decorrem daí as correções, as retificações, as emen- turais, regionais e históricas em que é utilizada. Dentre elas
das, a que os professores sempre estão atentos. destacam-se:
Ao professor cabe ensinar as duas modalidades, mos-
trando as características e as vantagens de uma e outra, Variações históricas: Dado o dinamismo que a língua
sem deixar transparecer nenhum caráter de superioridade apresenta, a mesma sofre transformações ao longo do tem-
ou inferioridade, que em verdade inexiste. po. Um exemplo bastante representativo é a questão da or-
Isso não implica dizer que se deve admitir tudo na lín- tografia, se levarmos em consideração a palavra farmácia,
gua falada. A nenhum povo interessa a multiplicação de uma vez que a mesma era grafada com “ph”, contrapondo-
línguas. A nenhuma nação convém o surgimento de diale- -se à linguagem dos internautas, a qual se fundamenta pela
tos, consequência natural do enorme distanciamento entre supressão do vocábulos. Analisemos, pois, o fragmento ex-
uma modalidade e outra. posto:
A língua escrita é, foi e sempre será mais bem-ela-
borada que a língua falada, porque é a modalidade que Antigamente
mantém a unidade linguística de um povo, além de ser a
que faz o pensamento atravessar o espaço e o tempo. Ne- “Antigamente, as moças chamavam-se mademoiselles e
nhuma reflexão, nenhuma análise mais detida será possível eram todas mimosas e muito prendadas. Não faziam anos:
sem a língua escrita, cujas transformações, por isso mesmo, completavam primaveras, em geral dezoito. Os janotas, mes-
processam-se lentamente e em número consideravelmen- mo sendo rapagões, faziam-lhes pé-de-alferes, arrastando a
te menor, quando cotejada com a modalidade falada. asa, mas ficavam longos meses debaixo do balaio.”
Importante é fazer o educando perceber que o nível da Carlos Drummond de Andrade
linguagem, a norma linguística, deve variar de acordo com a Comparando-o à modernidade, percebemos um voca-
situação em que se desenvolve o discurso. bulário antiquado.
O ambiente sociocultural determina o nível da linguagem Variações regionais: São os chamados dialetos,
a ser empregado. O vocabulário, a sintaxe, a pronúncia e até a que são as marcas determinantes referentes a diferen-
entoação variam segundo esse nível. Um padre não fala com tes regiões. Como exemplo, citamos a palavra mandioca
uma criança como se estivesse em uma missa, assim como que, em certos lugares, recebe outras nomenclaturas,
uma criança não fala como um adulto. Um engenheiro não tais como: macaxeira e aipim. Figurando também esta
usará um mesmo discurso, ou um mesmo nível de fala, para modalidade estão os sotaques, ligados às características
colegas e para pedreiros, assim como nenhum professor uti- orais da linguagem.
liza o mesmo nível de fala no recesso do lar e na sala de aula.
Existem, portanto, vários níveis de linguagem e, entre es- Variações sociais ou culturais: Estão diretamente li-
ses níveis, destacam-se em importância o culto e o cotidiano, gadas aos grupos sociais de uma maneira geral e também
a que já fizemos referência. ao grau de instrução de uma determinada pessoa. Como
exemplo, citamos as gírias, os jargões e o linguajar caipira.

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LÍNGUA PORTUGUESA

As gírias pertencem ao vocabulário específico de cer- Há diversas formas de se garantir a coesão entre os
tos grupos, como os surfistas, cantores de rap, tatuadores, elementos de uma frase ou de um texto:
entre outros. Os jargões estão relacionados ao profissiona- - Substituição de palavras com o emprego de sinôni-
lismo, caracterizando um linguajar técnico. Representando mos, ou de palavras ou expressões do mesmo campo as-
a classe, podemos citar os médicos, advogados, profissio- sociativo.
nais da área de informática, dentre outros. - Nominalização – emprego alternativo entre um ver-
Vejamos um poema sobre o assunto: bo, o substantivo ou o adjetivo correspondente (desgastar /
desgaste / desgastante).
Vício na fala - Repetição na ligação semântica dos termos, empre-
Para dizerem milho dizem mio gada como recurso estilístico de intenção articulatória, e
Para melhor dizem mió não uma redundância - resultado da pobreza de vocabulá-
Para pior pió rio. Por exemplo, “Grande no pensamento, grande na ação,
Para telha dizem teia grande na glória, grande no infortúnio, ele morreu desconhe-
Para telhado dizem teiado cido e só.” (Rocha Lima)
E vão fazendo telhados. - Uso de hipônimos – relação que se estabelece com
Oswald de Andrade base na maior especificidade do significado de um deles.
Por exemplo, mesa (mais específico) e móvel (mais gené-
Na construção de um texto, assim como na fala, usamos rico).
mecanismos para garantir ao interlocutor a compreensão - Emprego de hiperônimos - relações de um termo de
do que é dito, ou lido. Esses mecanismos linguísticos que sentido mais amplo com outros de sentido mais específico.
estabelecem a conectividade e retomada do que foi escrito Por exemplo, felino está numa relação de hiperonímia com
ou dito, são os referentes textuais, que buscam garantir gato.
a coesão textual para que haja coerência, não só entre os - Substitutos universais, como os verbos vicários (ver-
elementos que compõem a oração, como também entre a bos que substituem um outro empregado anteriormente).
sequência de orações dentro do texto. Ex.: Necessito viajar, porém só o farei no ano vindouro.
Essa coesão também pode muitas vezes se dar de
modo implícito, baseado em conhecimentos anteriores A coesão apoiada na gramática dá-se no uso de co-
que os participantes do processo têm com o tema. Por nectivos, como certos pronomes, certos advérbios e expres-
exemplo, o uso de uma determinada sigla, que para o pú- sões adverbiais, conjunções, elipses, entre outros. A elipse
blico a quem se dirige deveria ser de conhecimento geral, justifica-se quando, ao remeter a um enunciado anterior, a
evita que se lance mão de repetições inúteis. palavra elidida é facilmente identificável (Ex.: O jovem reco-
Numa linguagem figurada, a coesão é uma linha ima- lheu-se cedo. Sabia que ia necessitar de todas as suas forças.
ginária - composta de termos e expressões - que une os O termo o jovem deixa de ser repetido e, assim, estabelece
diversos elementos do texto e busca estabelecer relações a relação entre as duas orações.).
de sentido entre eles. Dessa forma, com o emprego de di-
ferentes procedimentos, sejam lexicais (repetição, substi- Dêiticos são elementos linguísticos que têm a proprie-
tuição, associação), sejam gramaticais (emprego de prono- dade de fazer referência ao contexto situacional ou ao pró-
mes, conjunções, numerais, elipses), constroem-se frases, prio discurso. Exercem, por excelência, essa função de pro-
orações, períodos, que irão apresentar o contexto – decor- gressão textual, dada sua característica: são elementos que
re daí a coerência textual. não significam, apenas indicam, remetem aos componentes
Um texto incoerente é o que carece de sentido ou o da situação comunicativa.
apresenta de forma contraditória. Muitas vezes essa incoe- Já os componentes concentram em si a significação. Eli-
rência é resultado do mau uso daqueles elementos de coe- sa Guimarães ensina-nos a esse respeito:
são textual. Na organização de períodos e de parágrafos, “Os pronomes pessoais e as desinências verbais indicam os
um erro no emprego dos mecanismos gramaticais e lexi- participantes do ato do discurso. Os pronomes demonstrativos,
cais prejudica o entendimento do texto. Construído com os certas locuções prepositivas e adverbiais, bem como os advér-
elementos corretos, confere-se a ele uma unidade formal. bios de tempo, referenciam o momento da enunciação, poden-
Nas palavras do mestre Evanildo Bechara, “o enunciado do indicar simultaneidade, anterioridade ou posterioridade. As-
não se constrói com um amontoado de palavras e orações. sim: este, agora, hoje, neste momento (presente); ultimamente,
Elas se organizam segundo princípios gerais de dependência recentemente, ontem, há alguns dias, antes de (pretérito); de
e independência sintática e semântica, recobertos por unida- agora em diante, no próximo ano, depois de (futuro).”
des melódicas e rítmicas que sedimentam estes princípios”.
Desta lição, extrai-se que não se deve escrever frases Somente a coesão, contudo, não é suficiente para que
ou textos desconexos – é imprescindível que haja uma uni- haja sentido no texto, esse é o papel da coerência, e coe-
dade, ou seja, que essas frases estejam coesas e coerentes rência relaciona--se intimamente a contexto.
formando o texto.
Além disso, relembre-se de que, por coesão, entende-
-se ligação, relação, nexo entre os elementos que compõem
a estrutura textual.

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LÍNGUA PORTUGUESA

A seleção vocabular A coesão decorre das relações de sentido que se ope-


ram entre os elementos de um texto. Também resulta da
Na produção de texto, a seleção vocabular também perfeita relação de sentido que tem de haver entre as partes
é importante elemento de coesão, já que, muitas vezes, de um texto. Assim, o uso de conectivos é de grande impor-
substituímos uma palavra que já empregamos por outra tância para que possa haver coesão textual.
que lhe retoma o sentido. Observe:
Os advogados do réu apresentaram um pedido ao juiz, Leia o texto que se segue:
no entanto o magistrado não acatou a solicitação dos patro-
nos do acusado. “Além de ter liberdade para receber e transmitir infor-
mações é preciso que todos sejam livres para manifestar opi-
Nessa frase, as palavras magistrado, solicitação, patro- niões e críticas sobre o comportamento do governo. Não bas-
ta, porém, dizer na Constituição que essas liberdades existem.
nos e acusado funcionam como elementos de coesão, pois
É preciso que existam meios concretos ao alcance de todo
retomam, respectivamente, os termos juiz, pedido, advoga-
o povo para a obtenção e divulgação de informações, e por
dos e réu. Veja que a seleção vocabular utilizada na frase
esses meios o povo participe constantemente do governo, que
acima, além de dar coesão ao texto, tem função estilística, existe para realizar sua vontade, satisfazer suas necessidades
pois permite que não se repitam as mesmas palavras. e promover a melhoria de suas condições de vida”.
DALLARI, Dalmo de Abreu. In: Viver em sociedade. São
Os mecanismos de combinação e seleção – a coe- Paulo: Editora Moderna, 1985. p. 41.
rência e articulação de sentidos
Atente para o fato de que as orações que formam esse
Como você já deve ter percebido, escrever não é só trecho apresentam uma perfeita relação de sentido criada
colocar as ideias no papel. Até porque essas ideias não sur- com a ajuda dos conectivos. Vamos analisar um a um os pe-
gem do nada. Elas fazem parte do processo de comunica- ríodos encontrados no texto transcrito acima para entender
ção de que participamos e de todas as informações que esses mecanismos relacionais que os conectivos nos dão.
nos chegam, através de trocas de experiências com seus “Além de ter liberdade para receber e transmitir infor-
interlocutores e muita, muita leitura. mações é preciso que todos sejam livres para manifestar opi-
Veja a manchete de um jornal de grande circulação na- niões e críticas sobre o comportamento do governo.”
cional que publicou o seguinte: No 1º segmento, encontramos a locução conjuntiva
Professoras mandam carta a deputados protestando “além de” que introduz as orações seguintes, ambas subor-
dinadas adverbiais finais ‘para receber e (para) transmitir’,
contra o aumento de seus salários.
que por sua vez são coordenadas aditivas entre si, ou seja,
têm a mesma função.
Repare que, da forma como a manchete foi redigida, o
Na 2ª oração “Não basta, porém, dizer na Constituição
leitor poderia entendê-la de dois modos diversos: as pro- que essas liberdades existem”, a conjunção destacada indica
fessoras, chateadas com o aumento insignificante de seus contradição, oposição ou restrição ao que foi dito na oração
salários, reclamam, protestando, através de uma carta, aos anterior.
senhores deputados; ou as professoras questionam o au- Já no último segmento do texto encontramos o pro-
mento de salário que os deputados tiveram, comparando nome relativo “que” retomando o substantivo “governo”
com o salário delas e escrevem-nos protestando. da oração anterior e que aparece como oração principal
Por que essa dupla interpretação aconteceu e acontece de três outras orações subordinadas a ela, também com o
quando menos esperamos? sentido de finalidade – para realizar sua vontade; (para) sa-
Nesse caso, é o emprego do pronome “seus” o causa- tisfazer suas necessidades e (para) promover a melhoria de
dor desse duplo sentido. Podemos dizer que o pronome suas condições de vida.
possessivo destacado tanto pode se referir aos salários das
professoras como dos deputados. ‘É preciso que existam meios concretos ao alcance de todo
Sendo o texto uma ‘unidade de sentido’, os elementos o povo para a obtenção e divulgação de informações, e por
que o compõem (palavras, orações, períodos) precisam se esses meios o povo participe constantemente do governo, que
relacionar harmonicamente. existe para realizar sua vontade, satisfazer suas necessidades e
promover a melhoria de suas condições de vida”.
A estruturação de uma simples frase pode ser compa-
Repare que trabalhamos com os conectores (outro nome
rada com a articulação de um esqueleto com seus ossos.
para os conectivos), visando à perfeita relação de sentido que
Do mesmo jeito que uma articulação entre dois ou mais
deve haver entre as partes que compõem um texto.
ossos acontece, resultando num movimento, as palavras Sendo os conectivos elementos que relacionam partes
devem combinar umas com as outras numa articulação de de um discurso, estabelecendo relações de significado entre
pensamentos, tornando o texto coeso, com nexo. Não se essas partes, possuem valores próprios, uns exprimindo fina-
esqueça de que nexo significa “ligação, vínculo”. lidade, outros, oposição; outros, escolha e assim por diante.
Esse modo de estruturar o texto, a combinação e sele- A seleção vocabular é também um importante meca-
ção das palavras para evitar a falta de nexo, recebe o nome nismo coesivo e a estamos empregando quando substituí-
de mecanismos de coesão. mos uma palavra que já foi usada por outra que lhe retoma

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LÍNGUA PORTUGUESA

o sentido. Podemos usar sinônimos, pronomes (retos ou - Palavras terminadas em EL:


oblíquos), pronomes relativos, etc. Esse mecanismo seleti- átono: plural em EIS: nível – níveis.
vo, além de dar coesão ao texto, tem função estilística, pois tônico: plural em ÉIS: carretel – carretéis.
permite que as palavras não sejam repetidas.
De maneira geral, podemos dizer que temos um texto - Palavras terminadas em X são invariáveis: o clímax
coerente e coeso quando este não contém contradições, o − os clímax.
vocabulário utilizado está adequado, as afirmações são re-
levantes para o desenvolvimento do tema, os fatos estão - Há palavras cuja sílaba tônica avança: júnior − juniores;
corretamente sequenciados, ou seja, o texto deverá estar caráter – caracteres. A palavra
constituído de relações de sentido entre os vocábulos, ex- Caracteres é plural tanto de caractere quanto de caráter.
pressões e frases e do encadeamento linear das unidades
linguísticas no texto. - Palavras terminadas em ão fazem o plural em ãos,
O inverso é verdadeiro e podemos dizer que não haverá ães e ões.
coesão quando, por exemplo, empregarmos conjunções e Em ões: balões, corações, grilhões, melões, gaviões.
pronomes de modo inadequado, deixarmos palavras ou até Em ãos: pagãos, cristãos, cidadãos, bênçãos, órgãos. Os
frases inteiras desconectadas e quando a escolha vocabular paroxítonos, como os dois últimos, sempre fazem o plural
for inadequada, levando à ambiguidade, entre outros pro- em ãos.
blemas. Em ães: escrivães, tabeliães, capelães, capitães, alemães.
Aconselhamos que, para se perceber a falta de coesão Em ões ou ãos: corrimões/corrimãos, verões/verãos,
no texto produzido por você, o melhor que se tem a fazer anões/anãos.
é lê-lo atentamente, estabelecer as relações entre as pala- Em ões ou ães: charlatões/charlatães, guardiões/guar-
vras que o compõem, as orações que formam os períodos e, diães, cirugiões/cirurgiães.
por fim, os períodos que formam o texto. Em ões, ãos ou ães: anciões/anciãos/anciães, ermitões/
Como você pôde notar, a coesão e a coerência textuais ermitãos/ermitães
são elementos facilitadores para a compreensão perfeita
de um texto.
- Plural dos diminutivos com a letra z. Coloca-se a
Coerência diz respeito a tudo que se harmoniza entre
palavra no plural, corta-se o s e acrescenta-se zinhos (ou zi-
si, que tem ligação. O conceito da palavra relaciona-se à
nhas): coraçãozinho – corações – coraçõe – coraçõezinhos.
presença de conexão, de nexo entre as ideias. Isso porque
buscamos sempre a existência de sentido, quer seja ao refle-
- Plural com metafonia (ô - ó). Algumas palavras, quan-
tirmos sobre algo, quer seja interpretando o que nos rodeia,
do vão ao plural, abrem o timbre da vogal “o”, outras não.
quer seja ao tentarmos compreender o conteúdo daquilo
Com metafonia singular (ô) plural (ó): coro-coros; corvo-cor-
que nos é apresentado em forma de texto escrito. Assim,
podemos inferir que o uso de algumas expressões pode vos; destroço-destroços. Sem metafonia singular (ô) plural
comprometer o entendimento de um texto. (ô): adorno-adornos; bolso-bolsos; transtorno-transtornos.
Fonte: http://www.brasilescola.com/gramatica/varia-
coes-linguisticas.htm - Casos especiais: aval, avales e avaiscal − cales e cais-
cós − coses e cós – fel, feles e féis – mal e males – cônsul e
cônsules.
FLEXÃO NOMINAL E VERBAL.
- Os dois elementos variam. Quando os compostos
são formados por substantivo mais palavra variável (adjeti-
vo, substantivo, numeral, pronome): amor-perfeito − amo-
FLEXÃO NOMINAL res-perfeitos; couve-flor − couves-flores; segunda-feira −
segundas-feiras.
Flexão de número: Os nomes (substantivo, adjetivo
etc.), de modo geral, admitem a flexão de número: singular - Só o primeiro elemento varia. Quando há preposição
e plural: animal – animais. no composto, mesmo que oculta: pé-de-moleque − pés-
- Na maioria das vezes, acrescenta-se S: ponte – -de-moleque; cavalo-vapor − cavalos-vapor (de ou a vapor).
pontes; bonito – bonitos. Quando o segundo substantivo determina o primeiro (fim
- Palavras terminadas em R ou Z: acrescenta-se ES: ou semelhança): banana-maçã − bananas-maçã (semelhan-
éter – éteres; avestruz – avestruzes. O pronome qualquer te a maçã); navio-escola − navios-escola (a finalidade é a
faz o plural no meio: quaisquer escola).
- Palavras oxítonas terminadas em S: acrescenta-se Alguns autores admitem a flexão dos dois elementos.
ES: ananás – ananases. As paroxítonas e as proparoxítonas É uma situação polêmica: mangas-espada (preferível) ou
são invariáveis: o pires − os pires, o ônibus − os ônibus mangas-espadas. Quando dizemos (e isso vai ocorrer outras
vezes) que é uma situação polêmica, discutível, convém ter
- Palavras terminadas em IL: em mente que a questão do concurso deve ser resolvida
átono: trocam IL por EIS: fóssil – fósseis. por eliminação, ou seja, analisando bem as outras opções.
tônico: trocam L por S: funil – funis.

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LÍNGUA PORTUGUESA

- Apenas o último elemento varia. Quando os ele- O feminino de elefante é elefanta , e não elefoa. Aliá é
mentos são adjetivos: hispano-americano − hispano-ame- correto, mas designa apenas uma espécie de elefanta. Ma-
ricanos. A exceção é surdo-mudo, em que os dois adjeti- mão, para alguns gramáticos, deve ser considerado epice-
vos se flexionam: surdos-mudos. Nos compostos em que no. É algo discutível.
aparecem os adjetivos grão, grã e bel: grão-duque − grão- Há substantivos de gênero duvidoso, que as pessoas
-duques; grã-cruz − grã-cruzes; bel-prazer − bel-prazeres. costumam trocar: champanha aguardente, dó, alface, eclip-
Quando o composto é formado por verbo ou qualquer se, calformicida, cataplasma, grama (peso), grafite, milhar
elemento invariável (advérbio, interjeição, prefixo etc.) mais libido, plasma, soprano, musse, suéter, preá, telefonema.
substantivo ou adjetivo: arranha-céu − arranha-céus; sem- Existem substantivos que admitem os dois gêneros:
pre-viva − sempre-vivas; super-homem − super-homens. diabetes (ou diabete), laringe, usucapião etc.
Quando os elementos são repetidos ou onomatopaicos (re-
presentam sons): reco-reco − reco-recos; pingue-pongue − Flexão de Grau:
pingue-pongues; bem-te-vi − bem-te-vis.
Como se vê pelo segundo exemplo, pode haver algu-
Grau do substantivo
ma alteração nos elementos, ou seja, não serem iguais. Se
- Normal ou Positivo: sem nenhuma alteração.
forem verbos repetidos, admite-se também pôr os dois no
- Aumentativo: Sintético: chapelão. Analítico: chapéu
plural: pisca-pisca − pisca-piscas ou piscas-piscas
grande, chapéu enorme etc.
- Nenhum elemento varia. Quando há verbo mais - Diminutivo: Sintético: chapeuzinho. Analítico: cha-
palavra invariável: O cola-tudo – os cola-tudo. Quando há péu pequeno, chapéu reduzido etc. Um grau é sintético
dois verbos de sentido oposto: o perde-ganha – os perde- quando formado por sufixo; analítico, por meio de outras
-ganha. Nas frases substantivas (frases que se transformam palavras.
em substantivos): O maria-vai-com-as-outras − os maria-
-vai-com-as-outras. Grau do adjetivo
- Normal ou Positivo: João é forte.
- São invariáveis arco-íris, louva-a-deus, sem-vergonha, - Comparativo: de superioridade: João é mais forte
sem-teto e sem-terra: Os sem-terra apreciavam os arco-íris. que André. (ou do que); de inferioridade: João é menos
Admitem mais de um plural: pai-nosso − pais-nossos ou pai- forte que André. (ou do que); de igualdade: João é tão for-
-nossos; padre-nosso − padres-nossos ou padre-nossos; ter- te quanto André. (ou como)
ra-nova − terras-novas ou terra-novas; salvo-conduto − sal- - Superlativo: Absoluto: sintético: João é fortíssimo;
vos-condutos ou salvo-condutos; xeque-mate − xeques-ma- analítico: João é muito forte (bastante forte, forte demais
tes ou xeques-mate; fruta-pão − frutas-pães ou frutas-pão; etc.); Relativo: de superioridade: João é o mais forte da tur-
guarda-marinha − guardas-marinhas ou guardas-marinha. ma; de inferioridade: João é o menos forte da turma.
Casos especiais: palavras que não se encaixam nas regras: o O grau superlativo absoluto corresponde a um aumento
bem-me-quer − os bem-me-queres; o joão-ninguém − os do adjetivo. Pode ser expresso por um sufixo (íssimo, érrimo
joões-ninguém; o lugar-tenente − os lugar-tenentes; o ma- ou imo) ou uma palavra de apoio, como muito, bastante,
pa-múndi − os mapas-múndi. demasiadamente, enorme etc. As palavras maior, menor,
melhor, e pior constituem sempre graus de superioridade:
Flexão de Gênero: Os substantivos e as palavras que O carro é menor que o ônibus; menor (mais pequeno): com-
o acompanham na frase admitem a flexão de gênero: mas- parativo de superioridade. Ele é o pior do grupo; pior (mais
culino e feminino: Meu amigo diretor recebeu o primeiro mau): superlativo relativo de superioridade.
salário. Minha amiga diretora recebeu a primeira prestação.
Alguns superlativos absolutos sintéticos que podem apre-
A flexão de feminino pode ocorrer de duas maneiras.
sentar dúvidas. acre – acérrimo, amargo – amaríssimo; amigo –
- Com a troca de o ou e por a: lobo – loba; mestre – mestra.
amicíssimo; antigo – antiqüíssimo; cruel – crudelíssimo; doce –
- Por meio de diferentes sufixos nominais de gênero,
dulcíssimo; fácil – facílimo; feroz – ferocíssimo; fiel – fidelíssimo;
muitas vezes com alterações do radical: ateu – atéia; bispo – epis-
copisa; conde – condessa; duque – duquesa; frade – freira; ilhéu geral – generalíssimo; humilde – humílimo; magro – macérrimo;
– ilhoa; judeu – judia; marajá – marani; monje – monja; pigmeu – negro – nigérrimo; pobre – paupérrimo; sagrado – sacratíssimo;
pigmeia; píton – pitonisa; sandeu – sandia; sultão – sultana. sério – seriíssimo; soberbo – superbíssimo.

Alguns substantivos são uniformes quanto ao gênero, FLEXÃO VERBAL


ou seja, possuem uma única forma para masculino e femi-
nino. Podem ser: As flexões verbais são expressas por meio dos tempos,
Sobrecomuns: admitem apenas um artigo, podendo modo e pessoa da seguinte forma: O tempo indica o mo-
designar os dois sexos: a pessoa, o cônjuge, a testemunha. mento em que ocorre o processo verbal; O modo indica a
Comuns de dois gêneros: admitem os dois artigos, po- atitude do falante (dúvida, certeza, impossibilidade, pedido,
dendo então ser masculinos ou femininos: o estudante − a imposição, etc.); A pessoa marca na forma do verbo a pes-
estudante, o cientista − a cientista, o patriota − a patriota. soa gramatical do sujeito.
Epicenos: admitem apenas um artigo, designando os Tempos: Há tempos do presente, do passado (pretéri-
animais: O jacaré, a cobra, o polvo to) e do futuro.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Modo a) saia amarelo-ouro


b) papel amarelo-ouro
Modo Indicativo: Indica uma certeza relativa do falante c) caixa vermelho-sangue
com referência ao que o verbo exprime; pode ocorrer no d) caixa vermelha-sangue
tempo presente, passado ou futuro: e) caixas vermelho-sangue
Presente: Processo simultâneo ao ato da fala, fato cor-
riqueiro, habitual: Compro livros nesta livraria. Usa-se tam- 03. Indique a frase correta:
bém o presente com o valor de passado, passado histórico a) Mariazinha e Rita são duas leva-e-trazes.
(nos contos, narrativas) b) Os filhos de Clotilde são dois espalhas-brasas.
Tempos do Pretérito (passado): Exprimem processos c) O ladrão forçou a porta com dois pés-de-cabra.
anteriores ao ato da fala. São eles: d) Godofredo almoçou duas couves-flor.
- Pretérito Imperfeito: Exprime um processo habitual, e) Alfredo e Radagásio são dois gentilhomens.
ou com duração no tempo: Naquela época eu cantava
como um pássaro. 04. Flexão incorreta:
- Pretérito Perfeito: Exprime uma ação acabada: Paulo a) os cidadãos
quebrou meu violão de estimação. b) os açúcares
- Pretérito Mais-que-Perfeito: Exprime um processo c) os cônsules
anterior a um processo acabado: Embora tivera deixado a d) os tóraxes
escola, ele nunca deixou de estudar. e) os fósseis

Tempos do Futuro: Indicam processos que irão acon- 05. Mesma pronúncia de “bolos”:
tecer: a) tijolos
- Futuro do Presente: Exprime um processo que ainda b) caroços
não aconteceu: Farei essa viagem no fim do ano. c) olhos
- Futuro do Pretérito: Exprime um processo posterior d) fornos
e) rostos
a um processo que já passou: Eu faria essa viagem se não
tivesse comprado o carro.
06. Não varia no plural:
Modo Subjuntivo: Expressa incerteza, possibilidade ou
a) tique-taque
dúvida em relação ao processo verbal e não está ligado
b) guarda-comida
com a noção de tempo. Há três tempos: presente, imperfei- c) beija-flor
to e futuro. Quero que voltes para mim; Não pise na gra- d) para-lama
ma; É possível que ele seja honesto; Espero que ele fique e) cola-tudo
contente; Duvido que ele seja o culpado; Procuro alguém
que seja meu companheiro para sempre; Ainda que ele 07. Está mal flexionado o adjetivo na alternativa:
queira, não lhe será concedida a vaga; Se eu fosse bailari- a) Tecidos verde-olivas
na, estaria na Rússia; Quando eu tiver dinheiro, irei para as b) Festas cívico-religiosas
praias do nordeste. c) Guardas noturnos luso-brasileiros
Modo Imperativo: Exprime atitude de ordem, pedido d) Ternos azul-marinho
ou solicitação: Vai e não voltes mais. e) Vários porta-estandartes
Pessoa: A norma da língua portuguesa estabelece três
pessoas: Singular: eu , tu , ele, ela. Plural: nós, vós, eles, elas. 08. Na sentença “Há frases que contêm mais beleza do
No português brasileiro é comum o uso do pronome de que verdade”, temos grau:
tratamento você (s) em lugar do tu e vós. a) comparativo de superioridade
b) superlativo absoluto sintético
Exercícios c) comparativo de igualdade
d) superlativo relativo
01. Assinale o par de vocábulos que formam o plural e) superlativo por meio de acréscimo de sufixo
como órfão e mata-burro, respectivamente:
a) cristão / guarda-roupa 09. Assinale a alternativa em que a flexão do substanti-
b) questão / abaixo-assinado vo composto está errada:
c) alemão / beija-flor a) os pés-de-chumbo
d) tabelião / sexta-feira b) os corre-corre
e) cidadão / salário-família c) as públicas-formas
d) os cavalos-vapor
e) os vaivéns
02. Relativamente à concordância dos adjetivos com-
postos indicativos de cor, uma, dentre as seguintes, está
Respostas: 1-A / 2-D / 3-C / 4-D / 5-E / 6-E / 7-A / 8-A
errada. Qual?
/ 9-B /

126
DIREITO PENAL

1. Princípios Constitucionais do Direito Penal. ............................................................................................................................................ 01


2. Da aplicação da lei penal. ................................................................................................................................................................................ 04
3. Do crime. ................................................................................................................................................................................................................ 09
3.1 Tentativa e consumação. .......................................................................................................................................................................... 09
3.2 Dolo e culpa. ................................................................................................................................................................................................. 09
3.3 Excludentes de ilicitude e culpabilidade. ........................................................................................................................................... 09
4. Da imputabilidade penal. ................................................................................................................................................................................ 20
5. Das espécies de pena. ....................................................................................................................................................................................... 20
6. Infração penal: espécies. .................................................................................................................................................................................. 30
7. Sujeito ativo e sujeito passivo da infração penal. .................................................................................................................................. 30
8. Tipicidade, ilicitude, culpabilidade, punibilidade. .................................................................................................................................. 32
9. Imputabilidade penal. ....................................................................................................................................................................................... 33
10. Concurso de pessoas. ..................................................................................................................................................................................... 33
11. Das Penas. ........................................................................................................................................................................................................... 35
12. Crimes contra a pessoa. ................................................................................................................................................................................. 35
13. Crimes contra o patrimônio. ........................................................................................................................................................................ 42
14. Crimes contra a administração pública.................................................................................................................................................... 53
DIREITO PENAL

Taxatividade ou da determinação (nullum crimen


PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO DIREITO sine lege scripta et stricta)
PENAL. Diz respeito à técnica de elaboração da lei penal, que
deve ser suficientemente clara e precisa na formulação do
conteúdo do tipo legal e no estabelecimento da sanção
para que exista real segurança jurídica. Tal assertiva cons-
O Direito Penal está interligado a todos os ramos do titui postulado indeclinável do Estado de direito material
Direito, especialmente Direito Constitucional. - democrático e social.
A Constituição Federal, é a Carta Magna brasileira, es- O princípio da reserva legal implica a máxima determi-
tatuto máximo de uma sociedade que viva de forma politi- nação e taxatividade dos tipos penais, impondo-se ao Po-
camente organizada. Todos os ramos do direito positivo só der Legislativo, na elaboração das leis, que redija tipo pe-
adquiri a plena eficácia quando compatível com os Princí- nais com a máxima precisão de seus elementos, bem como
pios e Normas descritos na Constituição Federal abstrain- ao Judiciário que as interprete restritivamente, de modo a
do-a como um todo. preservar a efetividade do princípio.
Os princípios são o alicerce de todo sistema normati-
vo, fundamentam todo o sistema de direito e estabelecem Princípio da culpabilidade
os direitos fundamentais do homem. São eles que deter- O princípio da culpabilidade possui três sentidos fun-
minam a unicidade do texto constitucional, definindo as damentais:
diretrizes básicas do estado de forma harmoniosa com a Culpabilidade como elemento integrante da teoria
garantia dos direitos fundamentais. O Direito Penal, como analítica do crime – a culpabilidade é a terceira caracterís-
todo e qualquer outro ramo do direito, submete-se direta- tica ou elemento integrante do conceito analítico de crime,
mente às normas e princípios constitucionais. sendo estudada, sendo Welzel, após a análise do fato típico
e da ilicitude, ou seja, após concluir que o agente praticou
Princípios um injusto penal;
O Direito Penal moderno se assenta em determinados Culpabilidade como princípio medidor da pena – uma
princípios fundamentais, próprios do Estado de Direito de- vez concluído que o fato praticado pelo agente é típico,
mocrático, entre os quais sobreleva o da legalidade dos ilícito e culpável, podemos afirmar a existência da infração
delitos e das penas, da reserva legal ou da intervenção le- penal. Deverá o julgador, após condenar o agente, encon-
galizada, que tem base constitucional expressa. A sua dic- trar a pena correspondente à infração praticada, tendo sua
ção legal tem sentido amplo: não há crime (infração penal), atenção voltada para a culpabilidade do agente como cri-
nem pena ou medida de segurança (sanção penal) sem tério regulador;
prévia lei (stricto sensu). Assim, o princípio da legalidade Culpabilidade como princípio impedidor da responsa-
tem quatro funções fundamentais: bilidade penal objetiva, ou seja, da responsabilidade penal
a) Proibir a retroatividade da lei penal (nullum crimen sem culpa – o princípio da culpabilidade impõe a subjetivi-
nulla poena sine lege praevia); dade da responsabilidade penal. Isso significa que a impu-
b) Proibir a criação de crimes e penas pelo costume tação subjetiva de um resultado sempre depende de dolo,
(nullum crimen nulla poena sine lege scripta); ou quando previsto, de culpa, evitando a responsabilização
c) Proibir o emprego da analogia para criar crimes, por caso fortuito ou força maior.
fundamentar ou agravar penas (nullum crimen nulla poena
sine lege stricta); Princípio da exclusiva proteção dos bens jurídicos
d) Proibir incriminações vagas e indeterminadas (nul- O pensamento jurídico moderno reconhece que o
lum crimen nulla poena sine lege certa); escopo imediato e primordial do Direito Penal reside na
proteção de bens jurídicos - essenciais ao individuo e à co-
Irretroatividade da lei penal munidade -, dentro do quadro axiológico constitucional ou
Consagra-se aqui o princípio da irretroatividade da lei decorrente da concepção de Estado de Direito democráti-
penal, ressalvada a retroatividade favorável ao acusado. co (teoria constitucional eclética).
Fundamentam-se a regra geral nos princípios da reserva
legal, da taxatividade e da segurança jurídica - princípio Princípio da intervenção mínima (ou da subsidia-
do favor libertatis -, e a hipótese excepcional em razões riedade)
de política criminal (justiça). Trata-se de restringir o arbítrio Estabelece que o Direito Penal só deve atuar na defesa
legislativo e judicial na elaboração e aplicação de lei retroa- dos bens jurídicos imprescindíveis à coexistência pacífica
tiva prejudicial. das pessoas e que não podem ser eficazmente protegidos
A regra constitucional (art. 5°, XL) é no sentido da ir- de forma menos gravosa. Desse modo, a lei penal só de-
retroatividade da lei penal; a exceção é a retroatividade, verá intervir quando for absolutamente necessário para a
desde que seja para beneficiar o réu. Com essa vertente sobrevivência da comunidade, como ultima ratio.
do princípio da legalidade tem-se a certeza de que nin- O princípio da intervenção mínima é o responsável não
guém será punido por um fato que, ao tempo da ação ou só pelos bens de maior relevo que merecem a especial pro-
omissão, era tido como um indiferente penal, haja vista a teção do Direito Penal, mas se presta, também, a fazer com
inexistência de qualquer lei penal incriminando-o. que ocorra a chamada descriminalização. Se é com base

1
DIREITO PENAL

neste princípio que os bens são selecionados para perma- Execução penal – a execução não pode igual para todos os
necer sob a tutela do Direito Penal, porque considerados presos, justamente porque as pessoas não são iguais, mas
como de maior importância, também será com fundamen- sumamente diferentes, e tampouco a execução pode ser
to nele que o legislador, atento às mutações da socieda- homogênea durante todo período de seu cumprimento.
de, que com sua evolução deixa de dar importância a bens Individualizar a pena, na execução consiste em dar a cada
que, no passado, eram da maior relevância, fará retirar do preso as oportunidades para lograr a sua reinserção social,
ordenamento jurídico-penal certos tipos incriminadores. posto que é pessoa, ser distinto.

Fragmentariedade Proporcionalidade da pena


A função maior de proteção dos bens jurídicos atribuí- Deve existir sempre uma medida de justo equilíbrio
da à lei penal não é absoluta. O que faz com que só devem entre a gravidade do fato praticado e a sanção imposta. A
eles ser defendidos penalmente frente a certas formas de pena deve ser proporcionada ou adequada à magnitude da
agressão, consideradas socialmente intoleráveis. Isto quer lesão ao bem jurídico representada pelo delito e a medida
dizer que apenas as ações ou omissões mais graves ende- de segurança à periculosidade criminal do agente.
reçadas contra bens valiosos podem ser objeto de crimi- O princípio da proporcionalidade rechaça, portanto, o
nalização. estabelecimento de cominações legais (proporcionalidade
O caráter fragmentário do Direito Penal aparece sob em abstrato) e a imposição de penas (proporcionalidade
uma tríplice forma nas atuais legislações penais: a) defen- em concreto) que careçam de relação valorativa com o
dendo o bem jurídico somente contra ataques de especial fato cometido considerado em seu significado global. Tem
gravidade, exigindo determinadas intenções e tendências, assim duplo destinatário: o poder legislativo (que tem de
excluindo a punibilidade da ação culposa em alguns casos estabelecer penas proporcionadas, em abstrato,à gravida-
etc; b) tipificando somente uma parte do que nos demais de do delito) e o juiz (as penas que os juizes impõem ao
ramos do ordenamento jurídico se estima como antijurídi- autor do delito tem de ser proporcionais à sua concreta
co; c) deixando, em princípio, sem castigo, as ações mera- gravidade).
mente imorais, como a homossexualidade e a mentira.
Princípio da humanidade (ou da limitação das pe-
Princípio da pessoalidade da pena (da responsabili- nas)
dade pessoal ou da intranscendência da pena) Em um Estado de Direito democrático veda-se a cria-
Impede-se a punição por fato alheio, vale dizer, só o ção, a aplicação ou a execução de pena, bem como de qual-
autor da infração penal pode ser apenado (CF, art. 5°, XLV). quer outra medida que atentar contra a dignidade huma-
Havendo falecimento do condenado, a pena que lhe fora na. Apresenta-se como uma diretriz garantidora de ordem
infligida, mesmo que seja de natureza pecuniária, não po- material e restritiva da lei penal, verdadeira salvaguarda da
derá ser estendida a ninguém, tendo em vista seu caráter dignidade pessoal, relaciona-se de forma estreita com os
personalíssimo, quer dizer, somente o autor do delito é que princípios da culpabilidade e da igualdade.
pode submeter-se às sanções penais a ele aplicadas. Está previsto no art. 5°, XLVII, que proíbe as seguintes
Todavia, se estivermos diante de uma responsabilidade penas: a) de morte, salvo em caso de guerra declarada; b)
não penal, como a obrigação de reparar o dano, nada im- de caráter perpétuo; c) de trabalhos forçados; d) de bani-
pede que, no caso de morte do condenado e tendo havido mento; e) cruéis. “Um Estado que mata, que tortura, que
bens para transmitir aos seus sucessores, estes respondem humilha o cidadão não só perde qualquer legitimidade, se-
até as forças da herança. A pena de multa, apesar de ser não que contradiz sua razão de ser, colocando-se ao nível
considerada agora dívida de valor, não deixou de ter cará- dos mesmos delinqüentes” (Ferrajoli).
ter penal e, por isso, continua obedecendo a este princípio.
Princípio da adequação social
Individualização da pena Apesar de uma conduta se subsumir ao modelo legal
A individualização da pena ocorre em três momentos: não será tida como típica se for socialmente adequada ou
a) Cominação – a primeira fase de individualização da reconhecida, isto é, se estiver de acordo da ordem social
pena se inicia com a seleção feita pelo legislador, quando da vida historicamente condicionada. Outro aspecto é o
escolhe para fazer parte do pequeno âmbito de abrangên- de conformidade ao Direito, que prevê uma concordância
cia do Direito Penal aquelas condutas, positivas ou nega- com determinações jurídicas de comportamentos já esta-
tivas, que atacam nossos bens mais importantes. Uma vez belecidos.
feita essa seleção, o legislador valora as condutas, comi- O princípio da adequação social possui dupla função.
nando-lhe penas de acordo com a importância do bem a Uma delas é a de restringir o âmbito de abrangência do
ser tutelado. tipo penal, limitando a sua interpretação, e dele excluindo
b) Aplicação – tendo o julgador chegado à conclusão as condutas consideradas socialmente adequadas e aceitas
de que o fato praticado é típico, ilícito e culpável, dirá qual pela sociedade. A segunda função é dirigida ao legislador
a infração praticada e começará, agora, a individualizar a em duas vertentes. A primeira delas o orienta quando da
pena a ele correspondente, observando as determinações seleção das condutas que deseja proibir ou impor, com a
contidas no art. 59 do Código Penal (método trifásico).c) finalidade de proteger os bens considerados mais impor-

2
DIREITO PENAL

tantes. Se a conduta que está na mira do legislador for con- não adotou uma teoria absoluta da territorialidade, mas
siderada socialmente adequada, não poderá ele reprimi-la sim uma teoria conhecida como temperada, haja vista que
valendo-se do Direito Penal. A segunda vertente destina-se o Estado, mesmo sendo soberano, em determinadas situa-
a fazer com que o legislador repense os tipos penais e reti- ções, pode abrir mão da aplicação de sua legislação, em
re do ordenamento jurídico a proteção sobre aqueles bens virtude de convenções, tratados e regras de direito inter-
cujas condutas já se adaptaram perfeitamente à evolução nacional.
da sociedade.
Princípio da extraterritorialidade
Princípio da insignificância (ou da bagatela) Ao contrário do princípio da territorialidade, cuja regra
Relacionado o axioma minima non cura praeter, en- geral é a aplicação da lei brasileira àqueles que pratica-
quanto manifestação contrária ao uso excessivo da sanção rem infrações dentro do território nacional, incluídos aqui
penal, postula que devem ser tidas como atípicas as ações os casos considerados fictamente como sua extensão, o
ou omissões que afetam muito infimamente a um bem ju- princípio da extraterritorialidade se preocupa com a apli-
rídico-penal. A irrelevante lesão do bem jurídico protegido cação da lei brasileira além de nossas fronteiras, em países
não justifica a imposição de uma pena, devendo-se excluir estrangeiros.
a tipicidade em caso de danos de pouca importância.
“A insignificância da afetação [do bem jurídico] exclui Princípios que solucionam o conflito aparente de
a tipicidade, mas só pode ser estabelecida através da con- normas
sideração conglobada da norma: toda ordem normativa
persegue uma finalidade, tem um sentido, que é a garantia Especialidade
jurídica para possibilitar uma coexistência que evite a guer- Especial é a norma que possui todos os elementos da
ra civil (a guerra de todos contra todos). A insignificância geral e mais alguns, denominados especializantes, que tra-
só pode surgir à luz da finalidade geral que dá sentido à zem um minus ou um plus de severidade. A lei especial
ordem normativa, e, portanto, à norma em particular, e que prevalece sobre a geral. Afasta-se, dessa forma, o bis in
nos indica que essas hipóteses estão excluídas de seu âm- idem, pois o comportamento do sujeito só é enquadrado
bito de proibição, o que não pode ser estabelecido à luz de na norma incriminadora especial, embora também estives-
sua consideração isolada”. (Zaffaroni e Pierangeli) se descrito na geral.

Princípio da lesividade Subsidiariedade


Os princípios da intervenção mínima e da lesividade Subsidiária é aquela norma que descreve um graus
são como duas faces da mesma moeda. Se, de um lado, menor de violação do mesmo bem jurídico, isto é, um fato
a intervenção mínima somente permite a interferência do menos amplo e menos grave, o qual, embora definido
Direito Penal quando estivermos diante de ataques a bens como delito autônomo, encontra-se também compreendi-
jurídicos importantes, o princípio da lesividade nos esclare- do em outro tipo como fase normal de execução do crime
cerá, limitando ainda mais o poder do legislador, quais são mais grave. Define, portanto, como delito independente,
as condutas que deverão ser incriminadas pela lei penal. Na conduta que funciona como parte de um crime maior.
verdade, nos esclarecerá sobre quais são as condutas que
não poderão sofrer os rigores da lei penal. Consunção
O mencionado princípio proíbe a incriminação de: a) É o princípio segundo o qual um fato mais grave e mais
uma atitude interna (pensamentos ou sentimentos pes- amplo consome, isto é, absorve, outros fatos menos am-
soais); b) uma conduta que não exceda o âmbito do próprio plos e graves, que funcionam como fase normal de prepa-
autor (condutas não lesivas a bens de terceiros); c) simples ração ou execução ou como mero exaurimento. Hipóteses
estados ou condições existenciais (aquilo que se é, não o em que se verifica a consunção: crime progressivo (ocorre
que se fez); d) condutas desviadas (reprovadas moralmente quando o agente, objetivando desde o início, produzir o
pela sociedade) que não afetem qualquer bem jurídico. resultado mais grave, pratica, por meio de atos sucessivos,
crescentes violações ao bem jurídico); crime complexo (re-
Princípio da extra-atividade da lei penal sulta da fusão de dois ou mais delitos autônomos, que pas-
A lei penal, mesmo depois de revogada, pode conti- sam a funcionar como elementares ou circunstâncias no
nuar a regular fatos ocorridos durante a vigência ou retroa- tipo complexo).
gir para alcançar aqueles que aconteceram anteriormente
à sua entrada em vigor. Essa possibilidade que é dada á lei Alternatividade
penal de se movimentar no tempo é chamada de extra- Ocorre quando a norma descreve várias formas de
-atividade. A regra geral é a da irretroatividade in pejus; a realização da figura típica, em que a realização de uma
exceção é a retroatividade in melius. ou de todas configura um único crime. São os chamados
tipos mistos alternativos, os quais descrevem crimes de
Princípio da territorialidade ação múltipla ou de conteúdo variado. Não há propria-
O CP determina a aplicação da lei brasileira, sem pre- mente conflito entre normas, mas conflito interno na pró-
juízo de convenções, tratados e regras de direito interna- pria norma.
cional, ao crime cometido no território nacional. O Brasil

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DIREITO PENAL

Princípio da mera legalidade ou da lata legalidade Princípio da culpabilidade ou da responsabilidade


Exige a lei como condição necessária da pena e do de- pessoal
lito. A lei é condicionante. A simples legalidade da forma Nulla actio sine culpa.
e da fonte é condição da vigência ou da existência das
normas que prevêem penas e delitos, qualquer que seja Princípio de utilidade
seu conteúdo. O princípio convencionalista da mera lega- As proibições não devem só ser dirigidas à tutela de
lidade é norma dirigida aos juízes, aos quais prescreve que bens jurídicos como, também, devem ser idôneas. Obriga
considera delito qualquer fenômeno livremente qualifica- a considerar injustificada toda proibição da qual, previsi-
do como tal na lei. velmente, não derive a desejada eficácia intimidatória, em
razão dos profundos motivos – individuais, econômicos e
Princípio da legalidade estrita sociais – de sua violação; e isso à margem do que se pense
Exige todas as demais garantias como condições ne- sobre a moralidade e, inclusive, sobre a lesividade da ação
cessárias da legalidade penal. A lei é condicionada. A lega- proibida.
lidade estrita ou taxatividade dos conteúdos resulta de sua
conformidade com as demais garantias e, por hipótese de Princípio axiológico de separação entre direito e
hierarquia constitucional, é condição de validade ou legiti- moral
midade das leis vigentes. A valorização da interiorização da moral e da autono-
O pressuposto necessário da verificabilidade ou da fal- mia da consciência é traço distintivo da ética laica moder-
seabilidade jurídica é que as definições legais que estabe- na, a reivindicação da absoluta licitude jurídica dos atos
leçam as conotações das figuras abstratas de delito e, mais internos e, mais ainda, de um direito natural à imoralidade
em geral, dos conceitos penais sejam suficientemente pre- é o princípio mais autenticamente revolucionário do libe-
cisas para permitir, no âmbito de aplicação da lei, a deno- ralismo moderno.
tação jurídica (ou qualificação, classificação ou subsunção
judicial) de fatos empíricos exatamente determinados.

Princípio da necessidade ou da economia do Direi- DA APLICAÇÃO DA LEI PENAL.


to Penal
Nulla lex (poenalis) sine necessitate. Justamente por-
que a intervenção punitiva é a técnica de controle social
mais gravosamente lesiva da dignidade e da dignidade A APLICAÇÃO DA LEI PENAL
dos cidadãos , o princípio da necessidade exige que se
recorra a ela apenas como remédio extremo. Se o Direito Dispõe o Código Penal:
Penal responde somente ao objetivo de tutelar os cida-
dãos e minimizar a violência, as únicas proibições penais PARTE GERAL
justificadas por sua “absoluta necessidade” são, por sua TÍTULO I
vez, as proibições mínimas necessárias. DA APLICAÇÃO DA LEI PENAL

Princípio da lesividade ou da ofensividade do Anterioridade da Lei


evento
Nulla necessitas sine injuria. A lei penal tem o dever Art. 1º - Não há crime sem lei anterior que o defina.
de prevenir os mais altos custos individuais representa- Não há pena sem prévia cominação legal.
dos pelos efeitos lesivos das ações reprováveis e somente
eles podem justificar o custo das penas e das proibições. Lei penal no tempo
O princípio axiológico da separação entre direito e mo-
ral veta, por sua vez, a proibição de condutas meramente Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei
imorais ou de estados de ânimo pervertidos, hostis, ou, posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude
inclusive, perigosos. dela a execução e os efeitos penais da sentença condena-
tória.
Princípio da materialidade ou da exterioridade da Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer
ação modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores,
Nulla injuria sine actione. Nenhum dano, por mais gra- ainda que decididos por sentença condenatória transitada
ve que seja, pode-se estimar penalmente relevante, senão em julgado.
como efeito de uma ação. Em conseqüência, os delitos,
como pressupostos da pena não podem consistir em ati- Lei excepcional ou temporária
tudes ou estados de ânimo interiores, nem sequer, gene-
ricamente, em fatos, senão que devem se concretizar em Art. 3º - A lei excepcional ou temporária, embora de-
ações humanas – materiais, físicas ou externas, quer dizer, corrido o período de sua duração ou cessadas as circuns-
empiricamente observáveis – passíveis de serem descritas, tâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado
enquanto tais, pelas leis penais. durante sua vigência.

4
DIREITO PENAL

Tempo do crime § 2º - Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira


depende do concurso das seguintes condições:
Art. 4º - Considera-se praticado o crime no momento a) entrar o agente no território nacional;
da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do b) ser o fato punível também no país em que foi pra-
resultado.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 1984) ticado;
c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei
Territorialidade brasileira autoriza a extradição;
d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou
Art. 5º - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de con- não ter aí cumprido a pena;
venções, tratados e regras de direito internacional, ao cri- e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou,
me cometido no território nacional. (Redação dada pela Lei por outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segun-
nº 7.209, de 1984) do a lei mais favorável.
§ 1º - Para os efeitos penais, consideram-se como ex- § 3º - A lei brasileira aplica-se também ao crime co-
tensão do território nacional as embarcações e aeronaves metido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se,
brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo reunidas as condições previstas no parágrafo anterior:
brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as ae- a) não foi pedida ou foi negada a extradição;
ronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de pro- b) houve requisição do Ministro da Justiça.
priedade privada, que se achem, respectivamente, no espa-
ço aéreo correspondente ou em alto-mar. (Redação dada
pela Lei nº 7.209, de 1984) Pena cumprida no estrangeiro
§ 2º - É também aplicável a lei brasileira aos crimes pra-
Art. 8º - A pena cumprida no estrangeiro atenua a
ticados a bordo de aeronaves ou embarcações estrangeiras
pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando diver-
de propriedade privada, achando-se aquelas em pouso no
sas, ou nela é computada, quando idênticas.
território nacional ou em vôo no espaço aéreo correspon-
dente, e estas em porto ou mar territorial do Brasil. Eficácia de sentença estrangeira
Lugar do crime Art. 9º - A sentença estrangeira, quando a aplicação da
lei brasileira produz na espécie as mesmas consequências,
Art. 6º - Considera-se praticado o crime no lugar em pode ser homologada no Brasil para:
que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem I - obrigar o condenado à reparação do dano, a resti-
como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado. tuições e a outros efeitos civis;
II - sujeitá-lo a medida de segurança.
Extraterritorialidade Parágrafo único - A homologação depende: a) para
os efeitos previstos no inciso I, de pedido da parte inte-
Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometi- ressada;
dos no estrangeiro: b) para os outros efeitos, da existência de tratado de
I - os crimes: extradição com o país de cuja autoridade judiciária ema-
a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da Re- nou a sentença, ou, na falta de tratado, de requisição do
pública; Ministro da Justiça.
b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do
Distrito Federal, de Estado, de Território, de Município, de Contagem de prazo
empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia
ou fundação instituída pelo Poder Público; Art. 10 - O dia do começo inclui-se no cômputo do
c) contra a administração pública, por quem está a seu prazo. Contam-se os dias, os meses e os anos pelo calen-
serviço; dário comum.
d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou
domiciliado no Brasil; Frações não computáveis da pena
II - os crimes:
Art. 11 - Desprezam-se, nas penas privativas de liber-
a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou
dade e nas restritivas de direitos, as frações de dia, e, na
a reprimir;
pena de multa, as frações de cruzeiro.
b) praticados por brasileiro;
c) praticados em aeronaves ou embarcações brasilei-
Legislação especial
ras, mercantes ou de propriedade privada, quando em ter-
ritório estrangeiro e aí não sejam julgados. Art. 12 - As regras gerais deste Código aplicam-se aos
§ 1º - Nos casos do inciso I, o agente é punido segun- fatos incriminados por lei especial, se esta não dispuser de
do a lei brasileira, ainda que absolvido ou condenado no modo diverso.
estrangeiro.

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DIREITO PENAL

Interpretação da Lei Penal Distinção entre interpretação extensiva e interpretação


A interpretação é medida necessária para que com- analógica
preendamos o verdadeiro sentido da norma e seu alcance.
Na interpretação, há lei para regular o caso em con- Enquanto a interpretação extensiva amplia o alcance
creto, assim, apenas deverá ser extraído do conteúdo nor- das palavras, a analógica fornece exemplos encerrados de
mativo sua vontade e seu alcance para que possa regular forma genérica, permitindo ao juiz encontrar outras hipó-
o fato jurídico. teses, funcionando como uma analogia in malan partem
admitida pela lei.
1. Interpretação quanto ao sujeito
Autêntica ou legislativa- aquela fornecida pela própria Rogério Greco fala em interpretação extensiva em sen-
lei (exemplo: o art. 327 do CP define quem pode ser consi- tido amplo, a qual abrange a interpretação extensiva em
derado funcionário público para fins penais); sentido estrito e interpretação analógica.
doutrinária ou científica- aquela aduzida pelo jurista
por meio de sua doutrina; Analogia
Jurisprudencial- é o significado da lei dado pelos Tri-
bunais (exemplo: súmulas) Ressalte-se que a Exposição Analogia não é forma de interpretação, mas de inte-
dos Motivos do Código Penal configura uma interpretação gração de lacuna, ou seja, sendo omissa a lei acerca do
doutrinária, pois foi elaborada pelos doutos que criaram o tema, ou ainda em caso da Lei não tratar do tema em espe-
Código, ao passo que a Exposição de Motivos do Código cífico o magistrado irá recorrer ao instituto. São pressupos-
de Processo Penal é autêntica ou legislativa, pois foi criada tos da analogia: certeza de que sua aplicação será favorável
por lei.2. Interpretação quanto ao modo ao réu; existência de uma efetiva lacuna a ser preenchida
- gramatical, filológica ou literal- considera o sentido (omissão involuntária do legislador).
literal das palavras;
- teleológica- se refere à intenção objetivada pela lei Irretroatividade da Lei Penal
(exemplo: proibir a entrada de acessórios de celular, mes-
mo que a lei se refira apenas ao aparelho); Dita o Código Penal em seu artigo 2º:
- histórica- indaga a origem da lei;
- sistemática- interpretação em conjunto com a legis- Art. 2.“Ninguém pode ser punido por fato que lei pos-
lação em vigor e com os princípios gerais do direito; terior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela
- progressiva ou evolutiva- busca o significado legal a execução e os efeitos penais da sentença condenatória”.
de acordo com o progresso da ciência.
O parágrafo único do artigo trata da exceção a regra
Interpretação quanto ao resultado da irretroatividade da Lei, ou seja, nos casos de benefício
ao réu, ainda que os fatos já tenham sidos decididos por
declarativa ou declaratória- é aquela em que a letra sentença condenatória transitada em julgado.
da lei corresponde exatamente àquilo que a ela quis dizer, Outrossim, o Código dispõe que a Lei Penal só retroa-
sem restringir ou estender seu sentido; girá em benefício do réu.
restritiva- a interpretação reduz o alcance das palavras Frise-se todavia que tal regra restringe-se somente às
da lei para corresponder à intenção do legislador; normas penais.
extensiva- amplia o alcance das palavras da lei para
corresponder à sua vontade. Do Princípio da Legalidade

Interpretação sui generis Art. 1º Não há crime sem lei anterior que o defina. Não
há pena sem prévia cominação legal.
A interpretação sui generis pode ser exofórica ou en-
dofórica. Veja-se: Princípio: Nullum crimen, nulla poena sine praevia lege

exofórica- o significado da norma interpretativa não Constituição Federal, art. 5º, XXXIX.
está no ordenamento normativo (exemplo: erro de tipo);
endofórica- o texto normativo interpretado empresta o Princípio da legalidade: a maioria dos nossos autores
sentido de outros textos do próprio ordenamento jurídico considera o princípio da legalidade sinônimo de reserva
(muito usada nas normas penais em branco). legal.

Interpretação conforme a Constituição A doutrina, orienta-se maciçamente no sentido de não


haver diferença conceitual entre legalidade e reserva legal.
A Constituição Federal informa e conforma as normas Dissentindo desse entendimento o professor Fernando Ca-
hierarquicamente inferiores. Esta é uma importante forma pez diz que o princípio da legalidade é gênero que com-
de interpretação no Estado Democrático de Direito. preende duas espécies: reserva legal e anterioridade da lei
penal. Com efeito, o princípio da legalidade corresponde

6
DIREITO PENAL

aos enunciados dos arts. 5º, XXXIX, da Constituição Federal c) “Novatio legis in pejus” – é a lei posterior que
e 1º do Código Penal (“não há crime sem lei anterior que o agrava a situação;
defina, nem pena sem prévia cominação legal”) e contém, d) “Novatio legis incriminadora” – é a lei posterior
nele embutidos, dois princípios diferentes: o da reserva le- que cria um tipo incriminador, tornando típica a conduta
gal, reservando para o estrito campo da lei a existência do antes considerada irrelevante pela lei penal.
crime e sua correspondente pena (não há crime sem lei A lei posterior não retroage para atingir os fatos prati-
que o defina, nem pena sem prévia cominação legal), e o cados na vigência da lei mais benéfica (“Irretroatividade da
da anterioridade, exigindo que a lei esteja em vigor no mo- lei penal”). Contudo, haverá extratividade da lei mais bené-
mento da prática da infração penal (lei anterior e prévia co- fica, pois será válida mesmo após a cessação da vigência
minação). Assim, a regra do art. 1º, denominada princípio (Ultratividade da Lei Penal).
da legalidade, compreende os princípios da reserva legal e Ressalta-se, por fim, que aos crimes permanentes e
da anterioridade. continuados, aplica-se a lei nova ainda que mais grave, nos
termos da Súmula 711 do STF.
LEI PENAL NO TEMPO
A lei penal não pode retroagir, o que é denominado Do Tempo Do Crime
como irretroatividade da lei penal. Contudo, exceção à nor- Artigo 4º, do Código Penal
ma, a Lei poderá retroagir quando trouxer benefício ao réu.
A respeito do tempo do crime, existem três teorias:
Em regra, aplica-se a lei penal a fatos ocorridos durante a) Teoria da Atividade – O tempo do crime consiste no
sua vigência, porém, por vezes, verificamos a “extrativida- momento em que ocorre a conduta criminosa;
de” da lei penal. A extratividade da lei penal se manifesta b) Teoria do Resultado – O tempo do crime consiste
de duas maneiras, ou pela ultratividade da lei ou retroati- no momento do resultado advindo da conduta criminosa;
vidade da lei. c) Teoria da Ubiquidade ou Mista – O tempo do crime
Assim, considerando que a extra atividade da lei penal consiste no momento tanto da conduta como do resultado
é o seu poder de regular situações fora de seu período de que adveio da conduta criminosa.
vigência, podendo ocorrer seja em relação a situações pas- O Artigo 4º do Código Penal dispõe que:
sadas, seja em relação a situações futuras. Artigo 4º: Considera-se praticado o crime no momento
Quando a lei regula situações passadas, fatos anterio- da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do
res a sua vigência, ocorre a denominada retroatividade. Já, resultado (Tempus regit actum). Assim, aplica-se a teoria
se sua aplicação se der para fatos após a cessação de sua da atividade, nos termos do sistema jurídico instituído pelo
vigência, será chamada ultratividade. Código Penal.
Em se tratando de extra-atividade da lei penal, obser- O Código Penal vigente seguiu os moldes do Código
va-se a ocorrência das seguintes situações: Penal português em que também é adotada a Teoria da
a) “Abolitio criminis” – trata-se da supressão da figu- Atividade para o tempo do crime. Em decorrência disso,
ra criminosa; aquele que praticou o crime no momento da vigência da
b) “Novatio legis in melius” ou “lex mitior” – é a lei lei anterior terá direito a aplicação da lei mais benéfica.
penal mais benigna; O menor de 18 anos, por exemplo, não será considerado
Tanto a “abolitio criminis” como a “novatio legis in me- imputável mesmo que a consumação ocorrer quando ti-
lius”, aplica-se o principio da retroatividade da Lei penal ver completado idade equivalente a maioridade penal. E,
mais benéfica. também, o deficiente mental será imputável, se na época
da ação era consciente, tendo sofrido moléstia mental tão
A Lei nº 11.106 de 28 de março de 2006 descriminalizou somente na época do resultado.
os artigos 217 e 240, do Código Penal, respectivamente, os Novamente, observa-se a respeito dos crimes perma-
crimes de “sedução” e “adultério”, de modo que o sujeito nentes, tal como o sequestro, nos quais a ação se prolonga
que praticou uma destas condutas em fevereiro de 2006, no tempo, de modo que em se tratando de “novatio legis
por exemplo, não será responsabilizado na esfera penal. in pejus”, nos termos da Súmula 711 do STF, a lei mais gra-
Segundo a maior parte da doutrina, a Lei nº 11.106 ve será aplicada.
de 28 de março de 2006, não descriminalizou o crime de
rapto, previsto anteriormente no artigo 219 e seguintes do Lei Excepcional ou Temporária
Código Penal, mas somente deslocou sua tipicidade para (art. 3º do Código Penal)
o artigo 148 e seguintes (“sequestro” e “cárcere privado”),
houve, assim, uma continuidade normativa atípica. Lei excepcional é aquela feita para vigorar em épocas
A “abolitio criminis” faz cessar a execução da pena e es¬peciais, como guerra, calamidade etc. É aprovada para
todos os efeitos penais da sentença. vigorar enquanto perdurar o período excepcional.
A Lei 9.099/99 trouxe novas formas de substituição de
penas e, por consequência, considerando que se trata de Lei temporária é aquela feita para vigorar por deter-
“novatio legis in melius” ocorreu retroatividade de sua vi- minado tempo, estabelecido previamente na própria lei.
gência a fatos anteriores a sua publicação. Assim, a lei traz em seu texto a data de cessação de sua
vigência.

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DIREITO PENAL

Nessas hipóteses, determina o art. 3º do Código Penal Princípios norteadores:


que, embora cessadas as circunstâncias que a determina- a) Princípio da nacionalidade ativa. Aplica-se a lei na-
ram (lei excepcional) ou decorrido o período de sua dura- cional do autor do crime, qualquer que tenha sido o local
ção (lei temporária), aplicam-se elas aos fatos praticados da infração.
durante sua vigência. São, portanto, leis ultra-ativas, pois b) Princípio da nacionalidade passiva. A lei nacional do
regulam atos praticados durante sua vigência, mesmo após autor do crime aplica-se quando este for praticado contra
sua revogação. bem jurídico de seu próprio Estado ou contra pessoa de sua
nacionalidade.
LEI PENAL NO ESPAÇO c) Princípio da defesa real. Prevalece a lei referente à na-
Territorialidade cionalidade do bem jurídico lesado, qualquer que tenha sido
(art. 5º do Código Penal) o local da infração ou a nacionalidade do autor do delito. É
também chamado de princípio da proteção.
Há várias teorias para fixar o âmbito de aplicação da d) Princípio da justiça universal. Todo Estado tem o di-
norma penal a fatos cometidos no Brasil: reito de punir qualquer crime, seja qual for a nacionalidade
do sujeito ativo e passivo, e o local da infração, desde que o
a) Princípio da territorialidade. A lei penal só tem apli- agente esteja dentro de seu território (que tenha voltado a
cação no território do Estado que a editou, pouco impor- seu país, p. ex.).
tando a nacionalidade do sujeito ativo ou passivo. e) Princípio da representação. A lei nacional é aplicável
aos crimes cometidos no estrangeiro em aeronaves e em-
b) Princípio da territorialidade absoluta. Só a lei nacio- barcações privadas, desde que não julgados no local do cri-
nal é aplicável a fatos cometidos em seu território. me.

c) Princípio da territorialidade temperada. A lei nacio- Já vimos que o princípio da territorialidade temperada é
nal se aplica aos fatos praticados em seu território, mas, a regra em nosso direito, cujas exceções se iniciam no pró-
excepcionalmente, permite-se a aplicação da lei estrangei- prio art. 5º (decorrentes de tratados e convenções, nas quais
ra, quando assim estabelecer algum tratado ou convenção a lei estrangeira pode ser aplicada a fato cometido no Brasil).
internacional. Foi este o princípio adotado pelo art. 5º do O art. 7º, por sua vez, traça as seguintes regras referentes à
Código Penal: Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de aplicação da lei nacional a fatos ocorridos no exterior:
convenções, tratados e regras de direito internacional, ao O art. 7º, por sua vez, traça as seguintes regras referen-
tes à aplicação da lei nacional a fatos ocorridos no exterior:
crime cometido no território nacional.
Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no es-
trangeiro:
O Território nacional abrange todo o espaço em que
o Estado exerce sua soberania: o solo, rios, lagos, mares
I - os crimes:
interiores, baías, faixa do mar exterior ao longo da costa (12
a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da Repú-
milhas) e espaço aéreo.
blica;
b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Dis-
Os § 1º e 2º do art. 5ºdo Código Penal esclarecem ain- tri¬to Federal, de Estado, de Território, de Município, de em-
da que: presa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou
fundação instituída pelo Poder Público;
“Para os efeitos penais, consideram-se como extensão c) contra a administração pública, por quem está a seu-
do território nacional as embarcações e aeronaves brasilei- servIço;
ras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou do-
onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e miciliado no Brasil;
as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade II - os crimes:
privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a
correspondente ou em alto-mar” (§ 1º). reprimir;
b) praticados por brasileiro;
“É também aplicável a lei brasileira aos crimes prati- c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras,
cados a bordo de aeronaves ou embarcações estrangeiras mercantes ou de propriedade privada, quando em território
de propriedade privada, achando-se aquelas em pouso no es¬trangeiro e aí não sejam julgados.
território nacional ou em vôo no espaço aéreo correspon- § 1 Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a
dente, e estas em porto ou mar territorial do Brasil” (§ 2º). lei brasileira, ainda que absolvido ou condenado no estran-
geiro
Extraterritorialidade § 2 Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira
(art. 7º do Código Penal) depende do concurso das seguintes condições:
a) entrar o agente no território nacional;
É a possibilidade de aplicação da lei penal brasileira a b) ser o fato punível também no país em que foi prati-
fatos criminosos ocorridos no exterior. cado; c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a
lei brasileira autoriza a extradição;

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DIREITO PENAL

d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou b) Conceito formal ou jurídico: é aquilo que a Lei cha-
não ter aí cumprido a pena; ma de crime. Está definido no art. 1º da Lei de Introdução
e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, do Código Penal. Crime é toda infração a que a Lei comina
por outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo pena de reclusão ou detenção e multa, isolada, cumula-
a lei mais favorável. tiva ou alternativamente. De acordo com este conceito, a
§ 3º A lei brasileira aplica-se também ao crime cometi- diferença seria apenas quantitativa, relativa à quantidade
do por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se, reuni- da pena;
das as condições previstas no parágrafo anterior: c) Conceito analítico: aqui se analisa todos os elemen-
a) não foi pedida ou foi negada a extradição; tos que integram o crime. Crime é todo fato típico, antiju-
b) houve requisição do Ministro da Justiça. rídico (é melhor utilizar o termo ilícito, apesar de não fazer
tanta diferença, já que fica mais fácil manejar o CP e as leis
Percebe-se, portanto, que: especiais quando há excludentes de ilicitude) e culpável
a) no art. 72, I, a, b e c, foi adotado o princípio da defesa real; (alguns autores não consideram a culpabilidade como ele-
b) no art. 72, 11, a, foi adotado o princípio da justiça mento do crime, e sim como pressuposto da pena). Apesar
universal de ser indivisível, o crime é estudado de acordo com essas
c) no art. 72, 11, b, foi adotado o princípio da naciona- três características para facilitar sua compreensão. Elas se-
lidade ativa; rão analisadas mais adiante, após vermos as classificações
d) no art. 72, c, adotou-se o princípio da representação; de crime existentes.
e) no art. 72, § 32, foi também adotado o princípio da
defesa real ou proteção; CRIME DOLOSO, CULPOSO OU PRETERDOLOSO (ou
Preterintencional) e de Ímpeto
Dos dispositivos analisados, pode-se perceber que a a) Crime doloso: é o crime em que o agente quis ou
extraterritorialidade pode ser incondicionada (quando a lei assumiu o risco de produzir o resultado. A regra geral é que
brasileira é aplicada a fatos ocorridos no exterior, sem que todo crime seja doloso.
sejam exigidas condições) ou condicionada (quando a apli- b) Crime preterdoloso: é o crime em que o resultado
cação da lei pátria a fatos ocorridos fora de nosso território
delitivo é mais grave do que o querido pelo agente. Ele
depende da existência de certos requisitos). A extraterrito-
praticou uma conduta dolosa, entretanto o resultado final
rialidade é condicionada nas hipóteses do art. 7º, II e § 3º.
é culposo. Não se admite tentativa em crimes preterdolo-
sos. Há dolo na ação e culpa na consequência. Deve ha-
ver uma expressa previsão legal do resultado culposo mais
DO CRIME. TENTATIVA E CONSUMAÇÃO. grave. Se não houver, punir-se-á apenas o crime doloso ou,
se houver crime culposo após, haverá concurso formal, se
DOLO E CULPA.
este estiver previsto em Lei.
EXCLUDENTES DE ILICITUDE E
Todos os crimes preterdolosos são qualificados pelo
CULPABILIDADE. resultado, porém, nem todo crime qualificado pelo resulta-
do é preterdoloso (visto que o resultado qualificador pode
ter sido desejado).
O ato ilícito penal é tipificado pelo Direito Penal, ou São elementos do crime preterdoloso:
seja, só pratica o ato ilícito penal gerador da responsabilida- i. Conduta dolosa visando determinado resultado (le-
de penal o indivíduo que contraria o tipo penal específico. são corporal);
Não podemos esquecer que tipo penal é a descrição legal ii. Resultado culposo mais grave que o desejado (se-
de uma conduta definida como crime. Quem diz que um guida de morte);
fato é crime e estabelece uma pena para a prática deste é iii. Nexo causal (artigo 129, § 3, CP);
o legislador. iv. Previsão na norma das elementares do consequente
No Brasil é adotada formalmente, a teoria bipartida do culposo.
crime. Quando o resultado mais grave advém de caso fortuito
Destarte, conforme dispõe a Lei de Introdução ao Códi- ou força maior não se imputa a agravação ao agente. O
go Penal, crime é a infração penal a que a Lei comine pena resultado mais grave tem que ser pelo menos culposo.
de reclusão ou detenção e multa, alternativa, cumulativa ou c) Crime culposo: é o crime ao qual o agente deu cau-
isoladamente. Já contravenção é a infração a que a Lei co- sa por imprudência, negligência ou imperícia, não havendo
mine pena de prisão simples e multa, alternativa, cumulati- em si qualquer desejo de praticar o resultado juridicamente
va ou isoladamente. reprovável. O crime culposo só é possível em tipos penais
Entretanto, tal conceito é extremamente precário, ca- que expressamente o prevejam, como no homicídio. Quase
bendo à doutrina seu desenvolvimento. de forma absoluta, não se admite a tentativa nos crimes
O crime possui três conceitos principais, material, for- culposos.
mal e analítico. d) Crime de ímpeto: é o praticado sem premeditação.
a) Conceito material: crime seria toda a ação ou omissão A vontade delituosa é repentina, sem preceder deliberação,
humana que lesa ou expõe a perigo de lesão bens jurídicos como ocorre com o homicídio praticado sob domínio de
protegidos pelo Direito Penal, ou penalmente tutelados. violenta emoção.

9
DIREITO PENAL

Relevância da omissão c) Crime instantâneo de efeitos permanentes: é aquele


Crime Comissivo, Omissivo Próprio ou Comissivo crime que se consuma num momento determinado, mas
por Omissão seus efeitos perduram no tempo .
a) Crime comissivo: crime comissivo é aquele em que d) Crime eventualmente permanente: é o delito ins-
o agente realiza uma ação positiva visando a um resultado tantâneo que, em caráter excepcional, pode realizar-se de
ilícito. Crime comissivo não se confunde, por evidente, com modo a lesionar o bem jurídico de maneira permanente.
crime material, já que pode não haver qualquer resultado e) Crime de fusão: é o crime que pressupõe a prática de
naturalístico. Por exemplo, é comissivo o crime de injúria, outro, como nos casos dos crimes de lavagem de dinheiro
mas não é material. O importante é uma conduta da pessoa e de receptação.
livre e consciente que lhe retire do estado de inércia.
b) Crime omissivo próprio ou puro: são crimes em que Crime de Dano e de Perigo
a própria omissão já é prevista no tipo penal, sendo ela uma a) Crime de dano: crime em que é necessário haver
elementar, a única forma de se realizar a conduta criminosa. uma efetiva lesão ao bem jurídico (lesão perceptível no
Nesses crimes omissivos basta a abstenção, é suficiente a mundo fático) para se caracterizar, como no caso do furto.
desobediência ao dever de agir para que o delito se consu- b) Crime de perigo: crime em que a simples ameaça ao
me. O resultado que eventualmente surgir dessa omissão
bem jurídico já é abominada, justificando, assim, sua pe-
será irrelevante para a consumação do crime, podendo ape-
nalização.
nas configurar uma majorante ou qualificadora. O agente
Subdivide-se em crime de perigo concreto, crime de
desobedece a uma norma mandamental, norma esta que
determina a prática de uma conduta subentendida no tipo, perigo abstrato e crime de perigo concreto-abstrato.
que não é realizada. i. Crimes de perigo abstrato: Nos crimes de perigo
c) Crime comissivo por omissão, omissivo impróprio ou abstrato, como o perigo não é elemento do tipo, não se
impuro: são os crimes em que o agente produz o resultado precisa provar. Só se tem de provar o que é elementar do
pela própria omissão, após ter assumido o dever de evitá-lo crime e o perigo não é elementar do crime porque ele não
ou outras das causas previstas no CP. É previsto no § 2º do é requerido no tipo pelo legislador. Consequência: basta
artigo 13 do Código Penal, segundo o qual “a omissão é praticar a ação e se presume que ela é sempre perigosa.
penalmente relevante quando o agente devia e podia agir Haveria então uma presunção iure et de iure de perigo pela
para evitar o resultado. Poderão ser tanto dolosos quanto simples realização da conduta tipificada na norma. É o caso
culposos, admitem tentativa etc. São pressupostos do crime de dirigir embriagado em via pública.
omissivo impróprio: ii. Crimes de perigo concreto: e os crimes de perigo
concreto? Neles o legislador faz referência no tipo ao pe-
Poder agir: o agente precisa ter a possibilidade física rigo. Normalmente a forma de redigir um tipo de perigo
de agir. concreto é assim: “expor a perigo iminente”.
Evitabilidade do resultado: a conduta omitida pelo O perigo então é elementar do tipo e, por isso, tem que
agente deve ser causa do resultado. Caso, mesmo com a ser provado. Nesses crimes será possível que a conduta se
conduta, o resultado tivesse se verificado, não haveria que realize e o perigo não seja causado.
se falar em evitabilidade. iii. Crimes de perigo abstrato-concreto crimes de inido-
Dever de impedir o resultado: aqui surge a figura do neidade crimes de perigo idôneo crimes de perigo hipoté-
garantidor: além de poder agir e da evitabilidade do resul- tico: são aqueles em que a conduta analisada ex ante pelo
tado, é necessário que o agente tenha o dever de agir que legislador é considerada perigosa ao bem jurídico segundo
surgirá nos seguintes casos: um juízo de probabilidade do dano. Não exige demonstra-
a. Ter, por Lei, obrigação de cuidado, proteção ou vi- ção de risco ao bem. Também não coloca como elementar
gilância, como no caso do dever do policial, do dever de no tipo incriminador. Não coloca no tipo incriminador a
mútua assistência entre os cônjuges.
exigência de perigo. Não se diferencia muito cabalmente
b. Quando o agente, de outra forma, assumir a respon-
dos crimes de perigo abstrato. Nos dois há ponto comum:
sabilidade de impedir o resultado de forma voluntária.
periculosidade geral.
c. Quando o agente cria, com seu comportamento an-
terior, o risco da ocorrência do resultado, ou agrava um ris-
co já existente, e não o evita. Crimes de Perigo Abstrato: Aprofundamentos
Apesar da existência de ampla controvérsia doutriná-
Crime Instantâneo, Permanente, Instantâneo de Efeitos ria, os crimes de perigo abstrato podem ser identificados
Permanentes, Eventualmente Permanente e de Fusão como aqueles em que não se exige nem a efetiva lesão ao
a) Crime instantâneo: é o crime que se consuma num bem jurídico protegido pela norma nem a configuração do
momento único e determinado do tempo, sem se protrair. perigo em concreto a esse bem jurídico.
V.g, invasão de domicílio, injúria etc. Nessa espécie de delito, o legislador penal não toma
b) Crime permanente: são os crimes que se perpetuam, como pressuposto da criminalização a lesão ou o perigo
protraem durante o tempo, mesmo que seja curto, como de lesão concreta a determinado bem jurídico. Baseado em
no caso do sequestro, estelionato previdenciário praticado dados empíricos, o legislador seleciona grupos ou classes
pelo próprio segurado etc. Admitem flagrante enquanto de ações que geralmente levam consigo o indesejado pe-
não interrompida a consumação. rigo ao bem jurídico.

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DIREITO PENAL

Assim, os tipos de perigo abstrato descrevem ações Crime Unissubsistente, Plurissubsistente e Pluriofensivo
que, segundo a experiência, produzem efetiva lesão ou pe- a) Crime unissubsistente: é o crime cuja consumação
rigo de lesão a um bem jurídico digno de proteção penal, ocorre mediante um único ato, não sendo admitido seu
ainda que concretamente essa lesão ou esse perigo de le- fracionamento, sendo impossível a tentativa. A conduta
são não venham a ocorrer. O legislador, dessa forma, for- se esgota com a concretização do delito. V.g., injúria, ca-
mula uma presunção absoluta a respeito da periculosidade lúnia e difamação na forma verbal. Neles não há um iter
de determinada conduta em relação ao bem jurídico que criminis perfeito, a pessoa não tem a possibilidade de ar-
pretende proteger. O perigo, nesse sentido, não é concre- rependimento eficaz.
to, mas apenas abstrato. Não é necessário, portanto, que, b) Crime plurissubsistente: é o crime para cuja con-
no caso concreto, a lesão ou o perigo de lesão venham a sumação podem ser realizados mais de um ato, como no
se efetivar. O delito estará consumado com a mera conduta homicídio. Entretanto, esse crime poderá ser realizado
descrita no tipo. com apenas um ato. A diferença para o unissubsistente é
que aquele somente poderá, necessariamente, ser reali-
A atividade legislativa de produção de tipos de perigo
zado apenas com um ato. Logo, em regra os crimes são
abstrato, por isso, deve ser objeto de rígida fiscalização a
plurissubsistentes. Exatamente por isso, a conduta pode
respeito da sua constitucionalidade; especificamente, so-
ser fracionada, permitindo a tentativa.
bre sua adequação ao princípio da proporcionalidade. A
criação de crimes de perigo abstrato não representa, por c) Crime pluriofensivo: é o que lesa ou expõe a perigo
si só, comportamento inconstitucional por parte do legis- de dano mais de um bem jurídico.
lador penal. A tipificação de condutas que geram perigo
em abstrato, muitas vezes, acaba sendo a melhor alterna- Crime Comum, Próprio, Próprio Impuro, Bipróprio, de
tiva, ou a medida mais eficaz, para proteção de bens jurí- Mão Própria e de Acumulação
dico-penais supraindividuais ou de caráter coletivo, como a) Crime comum: é o crime que pode ser praticado
o meio ambiente, por exemplo. A antecipação da prote- por qualquer pessoa, independentemente de alguma
ção penal em relação à efetiva lesão torna mais eficaz, em qualidade especial que ela tenha.
muitos casos, a proteção do bem jurídico. Portanto, pode b) Crime próprio: é o crime que somente pode ser
o legislador, dentro de suas amplas margens de avaliação praticado por uma pessoa que detenha determinada ca-
e de decisão, definir quais as medidas mais adequadas e racterística, como no caso do peculato, em que o agente
necessárias para a efetiva proteção de determinado bem deve, necessariamente, ser servidor público. Também se
jurídico, o que lhe permite escolher espécies de tipificação analisa a propriedade do crime com base numa carac-
próprias de um direito penal preventivo. terística especial do sujeito passivo. Essa classificação
Crime Material, Formal e de Mera Conduta ou de Ati- também é chamada de crimes especiais próprios. Se for
vidade exigida característica especial tanto do agente quanto da
a) Crime material: é o crime cujo tipo penal descreve vítima, fala-se em crime duplamente próprio.
uma conduta e um resultado, o qual necessariamente deve c) Crime próprio impuro: o crime próprio impuro é
ser verificado, sob pena de se constituir em mera tentativa. aquele que, se desaparecer a qualidade particular do
Exemplo: homicídio. A conduta é matar; o resultado é a agente (que é exigida para configuração do crime pró-
morte. Caso a vítima não morra, não existe homicídio. prio), desaparece também o crime especial. Entretanto,
b) Crime formal ou de consumação antecipada: é o cri- ocorrerá a desclassificação da conduta para outro delito,
me em que, mesmo sendo possível um resultado naturalís- que terá natureza diversa. Assim, a falta de uma elemen-
tico que lese o bem jurídico, o tipo penal adianta a punição tar torna o crime próprio puro absolutamente atípico,
aos atos de consumação. Exemplo: extorsão: a simples prá-
enquanto o crime próprio impuro, relativamente atípico.
tica da constrição já faz o delito se consumar, independen-
Essa classificação também é chamada de crimes especiais
temente da pessoa auferir ou não a vantagem indevida.
impróprios .
c) Crime de mera conduta ou de atividade: nesses cri-
d) Crime bipróprio: aquele que exige uma especial
mes, não só não há resultado naturalístico como é impos-
sível que este aconteça. O tipo penal descreve a conduta qualidade, tanto do sujeito ativo como do sujeito passivo
proibida, quase sempre de perigo abstrato. Exemplo clás- do delito.
sico é o porte de arma sem autorização. O simples portar e) Crime de mão própria: é o crime em que o agente
arma em nada modifica o mundo real. deve praticar a execução diretamente, não se admitindo
a prática por interposta pessoa. V.g., bigamia, prática de
Crime Unissubjetivo e Plurissubjetivo atos obscenos, falso testemunho.
a) Crime unissubjetivo: é o crime que pode ser prati- d) Crimes de acumulação: fruto de uma controversa
cado por qualquer pessoa, sozinha, sem auxílio. Em regra, tendência de política criminal voltada à prevenção de ilí-
todo crime é unissubjetivo. citos. Neles, o legislador incrimina uma conduta que, in-
b) Crime plurissubjetivo: é o crime para cuja realização dividualmente considerada, não encerra um risco jurídico
necessita-se de pelo menos duas pessoas, como a bigamia ao bem tutelado, mas se vier a ser praticada por um con-
e a formação de quadrilha. Pode ser de condutas conver- junto grande de indivíduos, efetivamente lesará tal bem.
gentes, contrapostas ou paralelas.

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DIREITO PENAL

Crime Impossível e Putativo -Crime putativo por obra do agente provocador: deno-
a) Crime impossível, quase-crime, tentativa inidônea minado crime de ensaio, crime de experiência ou flagran-
ou tentativa inadequada: ocorre quando o agente se utili- te provocado, ocorre quando uma pessoa induz o agente
za de meio absolutamente ineficaz ou objeto absolutamente a cometer uma conduta criminosa e, simultaneamente,
impróprio para consumar o crime. É o caso da tentativa de adota medidas para impedir a consumação. Aqui, incide a
homicídio dando-se um copo de água à vítima na expectati- súmula 145 do STF: “Não há crime, quando a preparação
va de que ela venha a morrer (meio absolutamente ineficaz) do flagrante pela polícia torna impossível a sua consuma-
ou quando se tenta furtar a honra da vítima (objeto absolu- ção”.
tamente impróprio, honra não pode ser furtada). A relativa
ineficácia do meio e a relativa impropriedade do objeto não Crime Vago, Remetido, Exaurido, Habitual e Habitua-
afastam a configuração do crime. O crime impossível deve lidade Criminosa
ser analisado após a realização do fato, visto que algo apa- a) Crime vago, multivitimários ou de vítimas difusas:
rentemente inofensivo pode ter o efeito de efetivamente ge-
crime praticado contra uma coletividade sem personali-
rar o crime.
dade jurídica. Por exemplo, o crime de racismo.
Acerca do crime impossível há três teorias: b) Crime remetido: ocorre quando a sua definição se
Teoria objetiva pura: não distingue entre absoluta ou remete a outros crimes, que passam a integrá-lo (v.g., art.
relativa impropriedade do objeto ou ineficácia do meio. A 304 - fazer uso de qualquer dos papéis falsificados ou al-
teoria dispõe que, não importa saber, por exemplo, se a arma terados a que se referem os arts. 297 a 302).
não funcionou porque nunca funcionaria, ou a arma não fun- c) Crime exaurido : é aquele já consumado nos termos
cionou naquele caso porque, por azar do autor, ela emper- da lei, embora possa ter desdobramentos posteriores que
rou, uma vez que em ambos os casos se estaria diante de um não influenciam no fato típico. Nele, o agente, mesmo
crime impossível. após ter consumado o delito, o leva a consequências mais
Teoria objetiva temperada: prima pela distinção entre abso- lesivas. Ocorre o exaurimento, v.g., na extorsão, quando o
luta ou relativa impropriedade do objeto ou ineficácia do meio. agente obtém a vantagem indevida, o que é um indiferen-
Essa teoria sustenta que só há perigo ao bem jurídico apto a te penal (exceto para a reparação do dano).
fundamentar a punibilidade do crime tentado quando o objeto d) Crime habitual: é aquele crime que exige uma
ou o meio forem, em tese, aptos à produção do resultado, ainda sequência de atos para se consumar, tem uma duração
que circunstancialmente não se consiga produzi-lo. Ou seja, em contínua, geralmente indefinida e casuística, no tempo.
tese, no caso da teoria objetiva temperada, só seria de se reco- Crimes habituais não se confundem com crimes continua-
nhecer o crime impossível, por exemplo, após a arma utilizada dos. Caso a habitualidade cesse antes de findo o resul-
para um roubo ser periciada. Se chegar à conclusão de que a
tado, os fatos praticados não serão considerados crimes,
arma que foi acionada não disparou e nunca dispararia por ser
podendo, no máximo, haver punição por tentativa. Ao
defeituosa, seria caso de crime impossível. Porém, se essa arma,
contrário do que se defendo por aí, esses crimes admitem
uma vez apreendida e submetida à perícia, for revelada como
apta a produzir disparos, tendo o insucesso do roubo decor- sim o flagrante, quando a prisão é feita após já se ter ve-
rido unicamente de seu emperramento episódico, o meio será rificado o implemento da habitualidade e a configuração
relativamente ineficaz, merecendo o agente, pois, punição pela criminosa. Exemplo o rufianismo.
tentativa. Essa foi a opção adotada pelo legislador brasileiro. -Habitual próprio: habitual próprio é aquele crime
Teoria sintomática ou subjetiva: defende que o agente cuja tipicidade depende da reiteração de condutas. No
deve ser punido, mesmo em caso de crime impossível, por- habitual próprio um único ato não é suficiente a dar tipici-
que demonstrou periculosidade, disposição para agredir um dade à conduta, pois a tipicidade decorrerá do somatório
bem jurídico. Nesse caso, ele seria punido pela intenção, e dos atos típicos praticados.
não por algum fato. Não é adotada no Brasil. -Habitual impróprio ou acidentalmente habitual: é
b) Crime putativo (delito de alucinação): no crime puta- aquele crime que, não obstante a regra seja sua perpetua-
tivo, o agente pratica uma conduta acreditando estar prati- ção no tempo para se configurar, permite que um único
cando um ilícito penal, quando, de fato, sua ação não está ato seja suficiente para a consumação, em casos extre-
tipificada. mos, como ocorre no crime de gestão fraudulenta. Não
constituirá pluralidade de crimes a repetição de atos.
O crime putativo pode ocorrer nas seguintes hipóteses: e) Habitualidade criminosa: a habitualidade criminosa
-Crime putativo por erro de proibição: o agente acredita
ocorre quando o agente faz do delito seu meio de vida,
ofender uma lei penal que não existe realmente. A existência
sem que ele queira necessariamente e tenha em mente
da lei incriminadora só existe na mente do agente, recaindo
que um crime seja tido por continuação do outro, caso
o erro, portanto, sobre a ilicitude do fato.
-Crime putativo por erro de tipo: o crime imaginário se contrário haveria continuidade delitiva. Inclusive, o STJ
verifica quando o autor acredita ofender uma lei penal incri- reiteradamente tem decidido que a habitualidade crimi-
minadora, mas os fatos revelam faltar uma elementar do tipo. nosa impede o reconhecimento do benefício da continui-
Ou seja, a lei penal existe, entretanto o fato não foi típico. dade delitiva, já que totalmente incompatível com o com-
Aqui, há um erro sobre uma circunstância fática, e não so- portamento social do réu, que merece maior reprimenda.
bre uma questão jurídica. Nesse sentido:

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DIREITO PENAL

Crime de Espaço Mínimo, Crime de Espaço Máximo Se as Novas Causas forem absolutamente indepen-
ou Plurilocal e Crime à Distância dentes da conduta do agente, não importando a conduta
a) Crime de espaço mínimo: aquele que é cometido e do agente, o resultado ocorreria do mesmo jeito, o agente
consumado em um mesmo lugar. responde apenas pela conduta que praticou, mas não pelo
b) Crime de espaço máximo ou plurilocal: aqueles co- resultado. Podemos citar como exemplo, o seguinte caso:
metidos em território de duas ou mais comarcas ou seções X quer se suicidar e ingere veneno. Posteriormente, Y quer
judiciárias de um mesmo país. A comarca responsável pelo matar X e dá-lhe um tiro. X morre. Contudo, X morreria
julgamento será, em regra, aquela onde ocorreu o resulta- de qualquer jeito por ter tomado veneno. Y responde pela
do (teoria prevalente no processo penal), salvo se o crime conduta (tentativa de homicídio) e não pelo resultado (ho-
for de menor potencial ofensivo ou tentado, caso em que a micídio consumado)
competência é fixada pelo local da conduta. Se as Novas Causas forem relativamente independen-
c) Crime à distância: relacionado ao direito internacio- tes, em regra o agente responde pelo resultado (i.e., se a
nal, é aquele em que se pratica a conduta num país e ocor- conduta do agente não tivesse ocorrido, o resultado tam-
re o resultado num outro. bém deixaria de ocorrer). Há que se analisar se a Nova Cau-
sa é anterior, concomitante ou posterior aos fatos.
Crimes de Tendência (Intenção Especial) e Crimes de
Intenção Consumação e Tentativa
Crimes de tendência ou de intenção especial: neles,
o tipo penal requer o ânimo de realizar a própria conduta Crime Consumado
legalmente prevista, sem necessidade de transcender tal Fundamentado no artigo. 14, inciso I do Código Penal,
conduta, como ocorre nos delitos de intenção. É aquele que o crime consumado é o tipo penal integralmente realizado,
condiciona a sua existência à intenção do sujeito, devendo ou seja, quando o tipo concreto amolda-se perfeitamente
necessariamente ser analisado um aspecto subjetivo. Em ou- ao tipo abstrato. De acordo com o artigo 14, I do Código
tras palavras, não se exige que o autor do crime deseje um Penal, diz-se consumado o crime quando nele se reúnem
resultado ulterior ao previsto no tipo penal, mas, apenas, que todos os elementos de sua definição legal. No homicídio,
confira à ação típica um sentido subjetivo não previsto ex- por exemplo, o tipo penal consiste em “matar alguém” (ar-
pressamente no tipo, mas dedutível da natureza do delito. tigo 121 do CP), assim o crime restará consumado com a
morte da vítima.
Crime Acessório ou Parasitário
É o crime que pressupõe, para a consumação, a prática Crime Tentado
de outro, como a receptação, o favorecimento real e a la- O crime tentado tem fundamentação no artigo 14, in-
vagem de dinheiro. ciso II do Código Penal ocorre quando o agente inicia a
execução do delito mas este não se consuma por circuns-
Crime Transeunte e Não Transeunte tâncias alheias à sua vontade. De acordo com o parágrafo
Transeunte vem da palavra transitar; passa a ideia de único do art. 14, do Código Penal, “salvo disposição em
algo que permanece ou não. contrário, pune-se a tentativa com a pena corresponden-
É classificação adotada para os crimes que deixam ou te ao crime consumado, diminuída de um a dois terços”.
não vestígios. Se deixarem vestígios, é não transeunte; não Para fixar a pena, o magistrado deve usar como critério a
deixando, é transeunte. Como exemplo de crimes não tran- maior ou menor proximidade da consumação, de forma
seuntes tem-se a apropriação indébita previdenciária, cujo que quanto mais o agente percorrer o “iter criminis”, maior
vestígio é exatamente a diminuição da arrecadação de con- será sua punição.
tribuição previdenciária do empregado.
Pena de Crime Consumado e Crime Tentado
Crime transeunte clássico é a invasão de domicílio.
Para a punição da tentativa se considera a extensão da
Crime de Consumação Atípica Impunível conduta do autor até o momento em que foi interrompida.
È aquele quando o fato consumado é indiferente penal Quanto mais próxima da consumação, menor deve ser a
e a forma tentada é punida pelo ordenamento jurídico. redução (1/3).
De outro lado, quanto mais longe a conduta do autor
Superveniência de causa independente ficou da consumação delitiva, maior deve ser a redução da
pena (2/3). O Juiz deve fixar a redução dentro desses limi-
(...) tes, de modo justificado.
§ 1º - A superveniência de causa relativamente inde-
pendente exclui a imputação quando, por si só, produziu Desistência Voluntária ou Tentativa Abandonada
o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a (Art. 15, CP)
quem os praticou. Ocorre quando, após iniciados os atos executórios,
mas antes de esgotá-los, o agente interrompe a prática cri-
As Novas Causas podem ser absolutamente ou relati- minosa voluntariamente, ainda que por motivos egoísticos.
vamente independentes da conduta do agente. Deve-se pensar da seguinte forma: “posso prosseguir, mas

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DIREITO PENAL

não quero”. Se isso se configurar, haverá desistência volun- Natureza Jurídica dos Institutos
tária. Somente é possível na tentativa imperfeita ou inaca- Há três principais correntes sobre a natureza jurídica:
bada. Além disso, não é cabível no crime unissubsistente a) Causa de exclusão de tipicidade: O fato praticado é
(já que não admite tentativa). atípico, visto que o crime visado pelo agente não foi prati-
De fato, nos crimes unissubsistentes não se admite a cado, por ter sido evitado. Trata-se da tese dominante. So-
desistência voluntária (agente interrompe voluntariamen- mente responderá o agente pelos atos já praticados, desde
te a execução do crime) porque se praticado o primeiro que típicos, evidentemente.
ato ocorre o fim da execução. E, por outro lado, se não b) Causa de extinção da punibilidade: tese sustentada
praticado o primeiro ato, o crime simplesmente não sai da por Nelson Hungria. No caso de homicídio tentado, a evi-
cabeça do agente, não sendo a cogitação punível. tação do resultado praticada pelo agente faz surgir uma
A Fórmula de Frank define a desistência voluntária de causa de extinção da punibilidade pelo homicídio tentado,
forma lapidar. Ela consiste na seguinte expressão: Posso, ao mesmo tempo em que faz surgir uma tipicidade pelos
mas não quero continuar. Isso é importantíssimo porque, atos já praticados, se existir correspondência típica.
por exemplo, se foram outros fatores que não a própria c) Causa de isenção de pena: defendida por Rogério
vontade do agente que o impediu de continuar, como Greco. Ele adota esse entendimento sob o argumento de
fica? que, se o ato foi praticado pelo agente, por exemplo, se um
A desistência voluntária, está ligada a uma omissão na tiro foi dado na vítima com a intenção de matá-la, não há
prática de atos complementares que seriam praticados, como um ato posterior tornar atípico um ato que foi típico,
segundo o plano e que poderiam ter sido praticados, da- como se apagasse acontecimentos passados. Não, para ele
das as circunstâncias. o ato praticado é típico, porém o Direito Penal, com vistas
a resguardar o bem jurídico, evitando maiores danos, não
Arrependimento Eficaz faz incidir pena ao agente.
(art. 15, CP)
Aqui, o agente exaure a execução do crime, entre- Arrependimento Posterior
tanto, arrepende-se e atua de forma a evitar o resultado. (Art. 16, CP)
possui natureza jurídica de causa geradora da atipicidade. Tem natureza jurídica de causa geral de diminuição de
Considerando que apenas crimes materiais exigem a pena. Ele se dá quando, nos crimes cometidos sem violên-
ocorrência do resultado para consumação, somente tem cia ou grave ameaça à pessoa, o agente repare voluntaria-
sentido em falar de arrependimento eficaz nesta catego- mente o dano até o recebimento da denúncia ou queixa
ria de crime. A conduta do agente não precisa ser espon- pelo juiz (não é oferecimento pelo MP), sendo-lhe reduzida
tânea (ele teve a ideia de desistir ou impedir o resultado), a pena de um a dois terços (se a reparação se der após o
mas apenas voluntária (há vontade própria, ainda adve- recebimento, haverá apenas uma atenuante genérica).
nha da sugestão de terceiros).
Considerações Gerais Acerca da Desistência Voluntá- De acordo com Von Liszt, enquanto o art. 15 (o arre-
ria e do Arrependimento Eficaz pendimento eficaz e desistência voluntária) configura uma
Intenção do Agente ponte de ouro que o Direito Penal oferece ao delinquente,
A aplicação prática desses institutos independe de o art. 16 configura a ponte de prata, porque agora ele vai
considerações acerca de intenção nobre ou não do agen- responder pelo crime. Mas, igualmente, aqui a razão do
te. Não é necessário que ele tenha atuado com nobreza, instituto é entre punir completamente e punir menos de
ou com desprendimento, no momento em que ele prati- acordo com a restituição da esfera jurídica alheia.
cou a nova ação, ou no momento em que ele se abste- Com o arrependimento posterior, já fracassou o obje-
ve de praticar novas ações. Logo, não se exige sequer a tivo preventivo do Direito Penal. O bem jurídico já foi le-
espontaneidade na desistência, ou a espontaneidade na sionado. Porém, ainda resta como alternativa a sua recom-
nova ação, no caso do arrependimento eficaz. Se exige, posição. E aí o Direito Penal oferece para o agente: “olha
tão somente, a voluntariedade no desistir. Ou a volun- meu amigo, aqui você já tem que ser punido, porque o
tariedade no atuar novamente. Isso para se resguardar o bem jurídico alheio já foi lesionado. No art. 15 não. Sua
bem jurídico. ação impediu a lesão efetiva. Aqui, a lesão já ocorreu. Mas
você pode responder inteiramente, ou você pode respon-
Finalidade dos Institutos der com a diminuição de pena, desde que repare a esfera
Esses institutos existem para que não seja frustrada jurídica lesionada. E aí eu vou diminuir a sua pena. Porém,
a expectativa do Direito Penal como um todo, que é a pena eu tenho que aplicar”.
de proteger o bem jurídico. O Direito Penal opta por não São, então, requisitos para seu reconhecimento:
punir, desde que a pessoa cesse a sua atividade, no caso a) A conduta tem que ter produzido o resultado (caso
da desistência voluntária, ou pratique uma nova atividade, contrário será arrependimento eficaz);
no caso do arrependimento eficaz. E, com isso, ao cessar b) Voluntariedade;
ou praticar uma nova atividade, evite a lesão ao bem jurí- c) Crimes sem violência ou grave ameaça (tem-se ad-
dico, evite a produção do resultado. mitido o arrependimento posterior nos crimes com violên-
cia culposos);

14
DIREITO PENAL

d) Arrependimento antes de recebida a denúncia pelo juiz; tentado quando o objeto ou o meio forem, em tese, aptos
e) Reparação do dano seja completa (requisito mitiga- à produção do resultado, ainda que circunstancialmente
do. Vide julgado abaixo). não se consiga produzi-lo. Ou seja, em tese, no caso da
teoria objetiva temperada, só seria de se reconhecer o cri-
Presentes os requisitos acima elencados, a incidência me impossível, por exemplo, após a arma utilizada para um
da causa de diminuição de pena é direito subjetivo do réu, roubo ser periciada. Se chegar à conclusão de que a arma
e não uma faculdade do juiz. que foi acionada não disparou e nunca dispararia por ser
O agente será beneficiado pelo arrependimento pos- defeituosa, seria caso de crime impossível. Porém, se essa
terior mesmo que somente repare o dano por ter sido des- arma, uma vez apreendida e submetida à perícia, for re-
coberto pela polícia. Isso visa resguardar a vítima, melhorar velada como apta a produzir disparos, tendo o insucesso
sua condição enquanto ofendida. do roubo decorrido unicamente de seu emperramento
Os coautores de crimes também serão beneficiados episódico, o meio será relativamente ineficaz, merecen-
caso um dos agentes repare o dano, mesmo que aqueles do o agente, pois, punição pela tentativa. Essa foi cla-
não quiseram a reparação ou dela não participaram. Isso ramente a opção adotada pelo legislador brasileiro.
porque é circunstância de caráter objetivo. iii. Teoria sintomática ou subjetiva: defende que o
Nos crimes submetidos ao Juizado Especial Criminal, agente deve ser punido, mesmo em caso de crime im-
caso o agente repare o dano (se houver composição ci- possível, porque demonstrou periculosidade, disposição
vil), mesmo após o recebimento da queixa ou da repre- para agredir um bem jurídico. Nesse caso, ele seria pu-
sentação, e mesmo que o crime tenha sido com violência nido pela intenção, e não por algum fato. Não é adotada
ou grave ameaça, o agente será beneficiado, não somente no Brasil.
com a diminuição de pena, mas sim com a extinção de sua b) Crime putativo (delito de alucinação): no crime pu-
punibilidade e a renúncia legal pela vítima do direito de tativo, o agente pratica uma conduta acreditando estar
ingressar em juízo. praticando um ilícito penal, quando, de fato, sua ação
No crime de emissão de cheque sem fundo, o paga- não está tipificada. V.g., quando o agente adultera com
mento até o recebimento da denúncia ou queixa extingue o fito de cometer crime (o adultério não é mais consi-
a punibilidade (Súmula 554, STF). derado ilícito penal em nosso ordenamento, logo, não
No peculato culposo, se a reparação do dano prece- há crime). O crime putativo pode ocorrer nas seguintes
de à sentença irrecorrível, extingue a punibilidade; se lhe é hipóteses:
posterior, reduz em metade a pena imposta. i. Crime putativo por erro de proibição: o agente
acredita ofender uma lei penal que não existe realmen-
Crime Impossível te. A existência da lei incriminadora só existe na mente
do agente, recaindo o erro, portanto, sobre a ilicitude do
Crime impossível, quase-crime, tentativa inidônea ou fato.
tentativa inadequada: ocorre quando o agente se utiliza ii. Crime putativo por erro de tipo: o crime imaginário
de meio ABSOLUTAMENTE INEFICAZ ou objeto ABSOLU- se verifica quando o autor acredita ofender uma lei penal
TAMENTE IMPRÓPRIO para consumar o crime. É o caso da incriminadora, mas os fatos revelam faltar uma elemen-
tentativa de homicídio dando-se um copo de água à víti- tar do tipo. Ou seja, a lei penal existe, entretanto o fato
ma na expectativa de que ela venha a morrer (meio abso- não foi típico. Aqui, há um erro sobre uma circunstância
lutamente ineficaz) ou quando se tenta furtar a honra da fática, e não sobre uma questão jurídica. Por exemplo,
vítima (objeto absolutamente impróprio, honra não pode o agente quer cometer um crime tributário declarando
ser furtada). A relativa ineficácia do meio e a relativa impro- erroneamente dados na DCTF; porém, ao invés de preen-
priedade do objeto não afastam a configuração do crime, cher a DCTF, ele preenche um formulário de cadastro no
geralmente dando azo à forma tentada. O crime impossível show do milhão.
deve ser analisado após a realização do fato, visto que algo iii. Crime putativo por obra do agente provocador:
aparentemente inofensivo pode ter o efeito de efetivamen- denominado crime de ensaio, crime de experiência ou
te gerar o crime, v.g., quando se dá açúcar a pessoa com flagrante provocado, ocorre quando uma pessoa induz
diabetes. Sobre o crime impossível há três teorias: o agente a cometer uma conduta criminosa e, simulta-
i. Teoria objetiva pura: não distingue entre absoluta ou neamente, adota medidas para impedir a consumação.
relativa impropriedade do objeto ou ineficácia do meio. Aqui, incide a súmula 145 do STF: “Não há crime, quando
Segundo a teoria objetiva pura, não interessa saber, por a preparação do flagrante pela polícia torna impossível a
exemplo, se a arma não funcionou porque nunca funciona- sua consumação”.
ria, ou a arma não funcionou naquele caso porque, por azar
do autor, ela emperrou. Tanto um, quanto em outro caso, Causas de exclusão da culpabilidade
se estaria diante de um crime impossível.
ii. Teoria objetiva temperada: prima pela distinção en- O Código Penal prevê causas que excluem a culpabi-
tre absoluta ou relativa impropriedade do objeto ou ine- lidade pela ausência de um de seus elementos, ficando o
ficácia do meio. Essa teoria sustenta que só há perigo ao sujeito isento de pena, ainda que tenha praticado um fato
bem jurídico apto a fundamentar a punibilidade do crime típico e antijurídico.

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DIREITO PENAL

a) inimputabilidade: a incapacidade de entender o ca- O excesso Punível


ráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com Ao reagir à agressão injusta que está sofrendo, ou em
esse entendimento. vias de sofrê-la, em relação ao meio usado o agente pode
- doença mental, desenvolvimento mental incompleto encontrar-se em três situações diferentes:
ou retardado (art. 26); - usa de um meio moderado e dentro do necessário para
- desenvolvimento mental incompleto por presunção repelir à agressão;
legal, do menor de 18 anos (art. 27); Haverá necessariamente o reconhecimento da legítima
- embriaguez completa, proveniente de caso fortuito defesa.
ou força maior (art. 28, § 1º). - de maneira consciente emprega um meio desnecessário
ou usa imoderadamente o meio necessário;
b) inexistência da possibilidade de conhecimento da A legítima defesa fica afastada por excluído um dos seus
ilicitude: requisitos essenciais.
- erro de proibição (art. 21). - após a reação justa (meio e moderação) por imprevi-
dência ou conscientemente continua desnecessariamente na
c) inexigibilidade de conduta diversa: ação.
- coação moral irresistível (art. 22, 1ª parte); No terceiro agirá com excesso, o agente que intensifica
- obediência hierárquica (art. 22, 2ª parte). demasiada e desnecessariamente a reação inicialmente jus-
tificada. O excesso poderá ser doloso ou culposo. O agente
Punibilidade responderá pela conduta constitutiva do excesso.

A punibilidade é uma das condições para o exercício Ilicitude


da ação penal (CPP, art. 43, II) e pode ser definida como a Ilícito penal, é o crime ou delito. Ou seja, é o descumpri-
possibilidade jurídica de o Estado aplicar a sanção penal mento de um dever jurídico imposto por normas de direito
(pena ou medida de segurança) ao autor do ilícito. público, sujeitando o agente a uma pena.
A Punibilidade, portanto, é consequência do crime. As- Na ilicitude penal, a antijuridicidade é a contradição entre
uma conduta e o ordenamento jurídico. O fato típico, até pro-
sim, é punível a conduta que pode receber pena.
va em contrário, é um fato que, ajustando-se a um tipo penal,
é antijurídico.
Extinção da Punibilidade
A extinção da punibilidade é a perda do direito do Es-
Excludente de ilicitude
tado de punir o agente autor de fato típico e ilícito, ou seja,
Excludente de ilicitude é uma causa excepcional que reti-
é a perda do direito de impor sanção penal. As causas de
ra o caráter antijurídico de uma conduta tipificada como cri-
extinção da punibilidade estão espalhadas no ordenamen- minosa (fato típico).
to jurídico brasileiro. Art. 23 - Exclusão da ilicitude
Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato:
Dispõe o Código Penal: I - em estado de necessidade;
II - em legítima defesa;
Extinção da punibilidade III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercí-
cio regular de direito.
Art. 107 - Extingue-se a punibilidade:
I - pela morte do agente; Excesso punível
II - pela anistia, graça ou indulto; Parágrafo único - O agente, em qualquer das hipóteses
III - pela retroatividade de lei que não mais considera o deste artigo, responderá pelo excesso doloso ou culposo.
fato como criminoso;
IV - pela prescrição, decadência ou perempção; A ação do homem será típica sob o aspecto criminal
V - pela renúncia do direito de queixa ou pelo perdão quando a lei penal a descreve como sendo um delito. Numa
aceito, nos crimes de ação privada; primeira compreensão, isso também basta para se afirmar
VI - pela retratação do agente, nos casos em que a lei que ela está em desacordo com a norma, que se trata de uma
a admite; conduta ilícita ou, noutros termos, antijurídica.
VII - (Revogado) Essa ilicitude ou antijuridicidade, contudo, consistente na rela-
VIII - (Revogado) ção de contrariedade entre a conduta típica do autor e o ordena-
IX - pelo perdão judicial, nos casos previstos em lei. mento jurídico, pode ser suprimida, desde que, no caso concreto,
estejam presentes uma das hipóteses previstas no artigo 23 do
Art. 108 - A extinção da punibilidade de crime que é Código Penal: o estado de necessidade, a legítima defesa, o estrito
pressuposto, elemento constitutivo ou circunstância agra- cumprimento do dever legal ou o exercício regular de direito.
vante de outro não se estende a este. Nos crimes conexos, O estado de necessidade e a legítima defesa são concei-
a extinção da punibilidade de um deles não impede, quan- tuados nos artigos 24 e 25 do Código Penal, merecendo des-
to aos outros, a agravação da pena resultante da conexão. taque, neste tópico, apenas o estrito cumprimento do dever
legal e o exercício regular de um direito, como excludentes
(...) da ilicitude ou da antijuridicidade.

16
DIREITO PENAL

A expressão estrito cumprimento do dever legal, por si b) inexistência da possibilidade de conhecimento da


só, basta para justificar que tal conduta não é ilícita, ainda ilicitude:
que se constitua típica. Isso porque, se a ação do homem - erro de proibição (art. 21).
decorre do cumprimento de um dever legal, ela está de
acordo com a lei, não podendo, por isso, ser contrária a ela. c) inexigibilidade de conduta diversa:
Noutros termos, se há um dever legal na ação do autor, - coação moral irresistível (art. 22, 1ª parte);
esta não pode ser considerada ilícita, contrária ao ordena- - obediência hierárquica (art. 22, 2ª parte).
mento jurídico.
Um exemplo possível de estrito cumprimento do dever Agravação pelo resultado
legal pode restar configurado no crime de homicídio, em
que, durante tiroteio, o revide dos policiais, que estavam Atos cujo resultado extrapola a vontade do agente só
no cumprimento de um dever legal, resulta na morte do o responsabilizam penalmente quando forem praticados
marginal. Neste sentido - RT 580/447.
ao menos culposamente, quando ele agiu sem observar
O exercício regular de um direito, como excludente da
um dever de cuidado, atuando com imprudência, negli-
ilicitude, também quer evitar a antinomia nas relações ju-
gência ou imperícia.
rídicas, posto que, se a conduta do autor decorre do exer-
Uma responsabilização que extrapola a órbita do dolo
cício regular de um direito, ainda que ela seja típica, não
poderá ser considerada antijurídica, já que está de acordo e da culpa, por sua vez, torna-se objetiva, por escapar, in-
com o direito. clusive, da previsibilidade do resultado, que na hipótese
Um exemplo de exercício regular de um direito, como de culpa não é almejado, muito embora previsível. A res-
excludente da ilicitude, é o desforço imediato, emprega- ponsabilidade objetiva, contudo, é rejeitada pela norma
do pela vítima da turbação ou do esbulho possessório, penal, que aceita apenas o dolo ou a culpa. O dispositivo
enquanto possuidor que pretende reaver a posse da coisa penal em análise contempla tal entendimento.
para si (RT - 461/341). Acerca dos crimes preterdolosos, constantes no Códi-
A incidência da excludente da ilicitude, conduto, não go Penal, caracterizam-se eles por preverem uma conduta
pode servir de salvo conduto para eventuais excessos do inicial dolosa e um resultado adicional culposo, que justifi-
autor, que venham a extrapolar os limites do necessário ca o agravamento da sanção.
para a defesa do bem jurídico, do cumprimento de um de- Para exemplificarmos ,podemos citar a lesão corporal
ver legal ou do exercício regular de um direito. Havendo seguida de morte (art. 129, §.3.º, do Código Penal), na qual
excesso, o autor do fato será responsável por ele, caso res- se pode falar em dolo na lesão corporal e culpa no evento
tem verificados seu dolo ou sua culpa. Nesse sentido é a morte. Mesmo que a morte não tenha sido o objetivo pre-
regra do parágrafo único do artigo 23 do Código Penal. tendido pelo autor, está previsto como resultado culposo,
razão pela qual incide responsabilidade penal sobre ele.
Culpabilidade Dita o Código Penal, que a responsabilidade do autor
Culpabilidade é um elemento integrante do conceito não poderia ir além da culpa, justamente porque se torna-
definidor de uma infração penal. A motivação e objetivos ria objetiva. Deste modo, a lesão corporal seguida de mor-
subjetivos do agente praticante da conduta ilegal. A culpa- te, assim como outros delitos preterdolosos, versa sobre
bilidade aufere, a princípio, se o agente da conduta ilícita hipótese na qual o dolo e a culpa estão previstos no tipo
é penalmente culpável, isto é, se ele agiu com dolo (in- penal, sendo o resultado plenamente oponível ao autor,
tenção), ou pelo menos com imprudência, negligência ou porque previsto também a título de culpa.
imperícia, nos casos em que a lei prever como puníveis tais
modalidades
Dispõe o Código Penal:
Causas de exclusão da culpabilidade
Art. 19 - Pelo resultado que agrava especialmente a
O Código Penal prevê causas que excluem a culpabi-
pena, só responde o agente que o houver causado ao me-
lidade pela ausência de um de seus elementos, ficando o
sujeito isento de pena, ainda que tenha praticado um fato nos culposamente.
típico e antijurídico.
Concurso de Crimes
a) inimputabilidade: a incapacidade de entender o ca-
ráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com O concurso de crimes acontece quando o agente co-
esse entendimento. mete mais de um crime mediante uma ou mais ação ou
- doença mental, desenvolvimento mental incompleto omissão. No direito brasileiro, por questões de política cri-
ou retardado (art. 26); minal, cada forma de concurso tem uma maneira distinta
- desenvolvimento mental incompleto por presunção no sistema de aplicação e cálculo das penas.
legal, do menor de 18 anos (art. 27); Os tipos de concurso admitidos no direito brasileiro
- embriaguez completa, proveniente de caso fortuito são o material, que pode se dividir em homogênio e he-
ou força maior (art. 28, § 1º). terogêneo; o formal, que pode ser dividido em próprio e
impróprio; além do crime continuado.

17
DIREITO PENAL

As formas adotadas para aplicação das penas a cada No impróprio, o agente mediante uma única ação ou
tipo de concurso são os sistemas do cúmulo material e o omissão produz mais de um resultado, tendo vontade de
da exasperação, em alguns casos, também encontramos o produzi-los ou sendo indiferente quanto a estes, neste
cúmulo material benéfico, sendo este um desdobramen- caso, acontece o que a doutrina chama de desígnios autô-
to para evitar um prejuízo maior ao agente, sempre que o nomos, que é quando se quer todos os resultados produ-
sistema de exasperação for menos benéfico que o cúmulo zidos, mesmo a título de dolo eventual. Para que não tor-
material. ne benéfica a prática de mais de um crime por uma única
ação, no concurso formal impróprio, é utilizado o sistema
Concurso Material de cúmulo material das penas, o mesmo que é utilizado
no concurso material. Havendo apenas a soma das penas
O concurso material de crimes acontece quando o aplicadas aos diversos crimes.
agente comete dois ou mais crimes mediante mais de uma Ainda no caso do concurso formal, quando as penas
ação ou omissão. Ele pode ser tanto homogêneo, quando aplicadas por o sistema de exasperação superarem as que
os crimes cometidos são idênticos (dois homicídios sim- por ventura fossem aplicadas por o sistema do cúmulo ma-
ples, por exemplo), ou heterogêneo, quando os crimes são terial, para que o apenado não saia prejudicado, sua pena
de natureza diversa (Um homicídio qualificado e lesões será computada como se desta forma fosse, este é o cha-
corporais). Esta distinção em homogêneo e heterogêneo é mado cúmulo material benéfico. Exemplificando, caso o
apenas doutrinária, não importando na forma de aplicação agente cometa um homicídio simples e uma lesão corporal
da pena. em concurso formal próprio, sua pena seria a do homicídio
Havendo concurso material, a forma de aplicação das (por ser maior) acrescida de um terço até metade, o que
penas será o cúmulo material, que é aquele onde as pe- poderia, dependendo do aumento aplicado, ser maior que
nas dos diversos crimes são somadas umas as outras, não a do homicídio e das lesões corporais somadas. Assim caso
havendo benefício ao agente. Desta forma, o agente que a pena aplicada pelo sistema da exasperação seja maior
mediante duas condutas, cometeu o crime de furto sim- que a que fosse aplicada pelo cúmulo material, este será
ples e recebeu pena de quatro anos de reclusão, e um ho- o aplicado.
micídio qualificado, tendo recebido pena de doze anos de O aumento de pena no concurso formal deve ser fun-
damentado pelo juiz, devendo, segundo a maioria dos
reclusão, terá as penas destes crimes somadas para ques-
doutrinadores, ser aplicado levando em consideração o
tões de cumprimento.
número de vítimas ou a quantidade de crimes praticados.
Em caso as espécies de penas não sejam iguais, cum-
Para a aplicação da suspensão condicional do proces-
pre-se primeiro a mais grave, assim, a reclusão deve ser
so, é necessário que se faça primeiro o cálculo da pena com
cumprida primeiro que a detenção.
o acréscimo de um terço até metade, para só assim fixar os
Apesar dos prazos prescricionais serem considerados
novos limites mínimos.
individualmente para cada crime, o mesmo não acontece
com a aplicação das penas restritivas de direitos, que só Erro
são permitidas, caso em um dos crimes seja permitida a O erro pode ser tanto falsa representação da realidade,
concessão do sursis (suspensão condicional da pena). Mas como falso ou equivocado conhecimento de um determi-
caso sejam aplicadas, as penas restritivas serão cumpridas nado objeto. Vale dizer que este difere da ignorância, uma
simultaneamente quando compatíveis, ou sucessivamen- vez que é a falta de representação da realidade ou total
te, quando houver incompatibilidade entre as mesmas. desconhecimento do objeto – sendo um estado negativo,
Com relação à suspensão condicional do processo, a enquanto o erro é um estado positivo. Entretanto, apesar
regra é que seja feito o somatório das penas, se a mínima de didática e teoricamente diferentes, a legislação penal
for igual ou inferior a um ano, esta será possível. Portanto, brasileira trata de forma idêntica tanto erro como ignorân-
a aplicação não é individual. cia, com as mesmas consequências.

Concurso Formal Erro de Tipo


O concurso formal é aquele em que o agente median- O erro é considerado o falso entendimento da reali-
te uma única ação ou omissão, comete dois ou mais cri- dade, a concepção errônea do que acontece, seja quanto
mes. Este pode se dividir em formal próprio ou impróprio. à pessoa ou quanto ao objeto, podendo recair sobre cir-
No próprio, era querido apenas um resultado, mas cunstâncias ou elementares. No erro de tipo, a pessoa acha
por erro na execução ou por acidente, dois ou mais são que não está cometendo um crime não por julgar seu ato
atingidos. É o exemplo do assassino que atira em seu ini- permitido, mas por compreender mal o que se passa. Logo,
migo, mas por ocasião o disparo além de atingi-lo, tam- ele sempre afastará o dolo, já que não estão presentes os
bém atinge outra pessoa. Neste caso é utilizado o sistema elementos constitutivos do dolo “vontade” e “consciência”.
da exasperação, que é quando apenas a pena de um dos Logo, se ausente o dolo, o fato é atípico, não sendo passí-
crimes é aplicada se forem iguais, ou a maior deles se di- vel de punição, salvo se prevista a conduta como crime cul-
versos, sendo em qualquer dos casos elevada de um sexto poso. O agente poderá ou não responder pela modalidade
até metade. culposa, de acordo com os seguintes casos.

18
DIREITO PENAL

Descriminantes Putativas Erro de proibição não se confunde com erro de tipo. O


(Art. 20, § 1º) erro de tipo ocorre quanto a alguma circunstância fática.
Descriminantes putativas são as situações nas quais o Os erros de proibição estão ligados ao direito, ao conhe-
agente, diante de um fato, acreditando erroneamente estar cimento ou não da realidade do que pratica o agente, de-
diante de uma das causas excludentes de ilicitude, pratica terminado por algum engano justificável que recai sobre o
um ato. Não se confunde com erro de proibição indireto juízo pessoal de licitude ou ilicitude do fato. O agente atua
(erro de permissão), o qual se situa no âmbito da má inter- conscientemente, sem errar sobre as circunstâncias fáticas
pretação da extensão da norma permissiva. que o cercam, apesar de as avaliar mal, de supor ter, peran-
Se o erro for plenamente escusável em função das cir- te o caso, um direito que na verdade inexiste.
cunstâncias, o agente será isento de pena pelos seus atos Cezar Roberto Bitencourt leciona que o erro de proi-
praticados dolosamente. Entretanto, se o agente atua com bição “é o que incide sobre a ilicitude de um comporta-
erro que não seja plenamente escusável, exagerando na mento. O agente supõe, por erro, ser lícita a sua conduta.
reação a uma situação de fato, responderá pela forma cul- O objeto do erro não é, pois, nem a lei, nem o fato, mas a
posa, se prevista em Lei (art. 20, § 1º). ilicitude, isto é, a contrariedade do fato em relação à lei.”
O Código Penal adota a Teoria Limitada da Culpabi- O agente não pensa errado avaliando o direito apli-
lidade, somente podendo se reconhecer a descriminante cável à espécie, mas erra na avaliação do desvalor de sua
putativa como erro de tipo quando se está diante de uma conduta, desvalor esse advindo das instâncias formais de
situação fática. Ou seja, o agente atua em função da situa- controle social. Ele entende bem o fato que pratica, mas o
ção, não se questionando se a causa de justificação existe pratica com a tranquila consciência de que atua desprovido
ou sobre os limites dela (pois isso seria um erro de proibi- de ilicitude material.
ção). Ele realmente acredita que ela está presente. a descri- Erro de proibição é hipótese que exclui a culpabilidade
minante putativa é espécie de erro de tipo . do agente, por interferir diretamente no elemento da cul-
É o caso, em outro exemplo, de alguém que acredita pabilidade “potencial consciência da ilicitude”. Porém, essa
será assassinado por desafeto seu, que espalhou na comu- exclusão somente ocorrerá se o erro for invencível ou escu-
nidade a notícia de que na primeira oportunidade iria ma- sável. Se vencível (ou culposo), ou seja, se o agente tivesse
tá-lo. Transitando pela rua, essa pessoa encontra seu desa- agido com um pouco mais de cuidado, será uma causa de
feto, o qual põe a mão no bolso para tirar, aparentemente, diminuição de pena.
uma arma. A pessoa se adianta, saca seu revólver e mata o
desafeto. Depois, descobre-se que este estava apenas pe- Existem três espécies de erro de proibição:
gando o celular. a) Erro de proibição direto (art. 21): ocorre quan-
Aqui há culpa imprópria, já que o agente atua com do o erro do agente recai sobre o conteúdo proibitivo de
dolo, mas responde como se tivesse cometido um delito uma norma penal, não acreditando o agente que face o
culposo. conteúdo, significado ou amplitude da norma, realiza uma
conduta proibida. O sujeito não sabe que a conduta que
Erro Determinado por Terceiros praticou era típica. O erro recai sobre a própria tipicida-
(Art. 20, § 2º) de da ação ou omissão praticada. No momento em que
No erro de tipo o agente erra por conta própria, por agiu, ele desconhecia o caráter típico, isto é, a proibição
si só. Já no erro determinado por terceiro, existe alguém em si. É muito improvável que surja, na prática jurídica, o
induzindo a erro outrem para praticar o crime (ERRO NÃO reconhecimento desta espécie de erro de proibição (dire-
ESPONTÂNEO). V.g., médico, querendo matar o paciente to), em algum crime previsto no Código Penal, visto que ao
engana a enfermeira fazendo com que esta ministre a dro- Código foram reservados os crimes mais cotidianos, cujo
ga letal. Tem como consequências: desvalor são ensinados no dia a dia da sociedade. Exemplo
a) Quem determina dolosamente o erro responde de erro de proibição seria o do estrangeiro que tenta sair
por crime doloso, se a provocação é culposa, responde por do Brasil portando vinte mil dólares em uma pochete, sem
crime culposo. regular declaração. Trata-se de crime contra o SFN (evasão
b) Quem determina o erro é o autor mediato do crime; de divisas) no Brasil. Porém, no país dele pode não ser, seja
c) Quem pratica a conduta pratica fato atípico por porque o valor era baixo, seja porque não há proibição de
falta de dolo. deixar o país levando dinheiro. Assim, nenhum erro houve
na situação fática, ele sabia exatamente o que estava fazen-
Erro de proibição do, mas não conhecia a proibição jurídica interna.
Normatizado no direito penal brasileiro pelo artigo 21 b) Erro de proibição indireto ou erro de permissão
do Código Penal, o erro de proibição é erro do agente que ou excesso exculpante (art. 21): aqui há uma suposição
acredita ser sua conduta admissível no direito, quando, na equivocada da existência de uma causa de justificação, ou
verdade ela é proibida. Sem discussão, o autor, aqui, sabe seja, de exclusão da ilicitude, que o ordenamento não pre-
o que tipicamente faz, porém, desconhece sua ilegalidade. vê ou que até prevê, mas em limites mais restritos do que
Concluímos, então, que o erro de proibição recai sobre a o que era imaginado pelo agente. Não se confunde com
consciência de ilicitude do fato. O erro de proibição é um descriminante putativa, pois nesta o agente realiza o ato
juízo contrário aos preceitos emanados pela sociedade, em face de um fato. Naquele, ele vai além dos poderes da
que chegam ao conhecimento de outrem na forma de usos excludente por má avaliação da norma, errando quanto à
e costumes, da escolaridade, da tradição, família etc. ilicitude, e não quanto à tipicidade.

19
DIREITO PENAL

É exemplo de erro de proibição o agente que está sendo Redução de pena


roubado e, no exercício da legítima defesa, reage e espanca o Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a
roubador até a beira da morte, por acreditar que está agindo dois terços, se o agente, em virtude de perturbação de saú-
legitimamente, amparado pelo direito. Outro exemplo seria de mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou
de um professor de uma tradicional cidade interiorana que, retardado não era inteiramente capaz de entender o cará-
supondo estar no exercício regular de direito, usa moderada- ter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse
mente palmatória para disciplinar seus alunos. entendimento.
c) Erro mandamental (art. 21): é o erro que recai so-
bre mandamentos contidos nos crimes omissivos, sejam eles Menores de dezoito anos
próprios ou impróprios. Ocorre, v.g., quando uma pessoa vê Art. 27 - Os menores de 18 (dezoito) anos são penal-
outra se afogando, mas não faz nada por acreditar que não mente inimputáveis, ficando sujeitos às normas estabeleci-
estava obrigada a tal (erro sobre a condição de garante); ou das na legislação especial.
quando o médico deixa de atender paciente em seu intervalo
por achar que não tem o dever jurídico para tal.
Emoção e paixão
Art. 28 - Não excluem a imputabilidade penal:
O erro de proibição excluirá a pena se for inevitável ou
I - a emoção ou a paixão;
escusável. Esse é aquele em que o agente não tinha como
conhecer a ilicitude do fato, em face do caso concreto. No
entanto, se for evitável ou inescusável, aquele em que o Embriaguez
agente desconheça o fato ilícito, embora tinha condições II - a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou
de saber que contrariava o ordenamento jurídico, poderá substância de efeitos análogos.
diminuí-la de um sexto a um terço (art. 21) (Isso porque a § 1º - É isento de pena o agente que, por embriaguez
culpabilidade do agente será menor). completa, proveniente de caso fortuito ou força maior, era,
ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de
entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de
acordo com esse entendimento.
DA IMPUTABILIDADE PENAL. § 2º - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se
o agente, por embriaguez, proveniente de caso fortuito ou
força maior, não possuía, ao tempo da ação ou da omissão,
a plena capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou
A imputabilidade é a possibilidade de atribuir a um de determinar-se de acordo com esse entendimento.
indivíduo a responsabilidade por uma infração. Segundo
prescreve o artigo 26, do Código Penal, podemos, também,
definir a imputabilidade como a capacidade do agente en-
tender o caráter ilícito do fato por ele perpetrado ou, de DAS ESPÉCIES DE PENA.
determinar-se de acordo com esse entendimento.
È portanto a possibilidade de se estabelecer o nexo en-
tre a ação e seu agente, imputando a alguém a realização
de um determinado ato. Penas
Quando existe algum agravo à saúde mental, os indi-
víduos podem ser considerados inimputáveis – se não ti-
Teoria das Penas
verem discernimento sobre os seus atos ou não possuírem
a) Teoria absoluta ou retributiva: a teoria absoluta da
autocontrole, são isentos de pena.
pena prevê que a condenação é um fim em si mesma, ou
Os semi-imputáveis são aqueles que, sem ter o discer-
seja, é um castigo, uma reação, uma retribuição ao autor de
nimento ou autocontrole abolidos, têm-nos reduzidos ou
prejudicados por doença ou transtorno mental. um crime pelo fato por ele cometido. O mal que é imposto
ao autor equilibra e expia a sua culpabilidade. A teoria é
Dispõe o Código Penal: absoluta pois não visa qualquer efeito social.
b) Teoria relativa ou preventiva: defende que a pena
(...) é meio de se evitar futuros crimes, ou seja, ao invés de afir-
TÍTULO III mar que a pena serve como retribuição ao condenado, di-
DA IMPUTABILIDADE PENAL z-se que ela serve somente como meio de proteção social.

Inimputáveis O Brasil adotou a teoria mista, eclética ou unificadora


da pena no art. 59, CP, já que ela tem, de acordo com nosso
Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença ordenamento jurídico, função retributiva e preventiva.
mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retar- Para justificar as penas, inicialmente havia as teorias
dado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente morais ou absolutas ou retributivas, que não se vinculam
incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determi- ou pretendem justificar a pena a partir de um fim social-
nar-se de acordo com esse entendimento. mente útil, pois se fundamentam numa ideia abstrata de

20
DIREITO PENAL

justiça (ex.: Lei de Talião). A Lei de Talião foi relevante no Zaffaroni critica essa ideia, pois a imensa maioria dos
momento de seu surgimento, pois estabeleceu um parâ- crimes não é punida: assim, a coação psicológica seria mui-
metro para a pena, evitando a desproporcionalidade. to fraca. Isso acaba fomentando a criatividade do agente
Uma das teorias desse grupo é a da retribuição divina: para não ser punido, mas não coíbe a prática de crimes.
o delito seria um pecado, e a punição seria uma reação Guilherme Raposo discorda em parte, pois entende
divina. Essa ideia esteve presente na Antiguidade e na Ida- que o direito penal exerce algum grau de coação psicoló-
de Média. Há também a teoria da retribuição expiatória, gica como forma de controle social. Mas este não é o pa-
segundo a qual todo sofrimento teria um poder de puri- pel preponderante da pena: do contrário, quanto maior a
ficação dos pecados: quanto maior o sofrimento, maior a pena, maior seria a coação psicológica, e menor o número
purificação. É uma teoria muito perigosa, pois não tem li- de crimes. Porém, a coação psicológica teria o seu papel.
mites e depende de crenças. A teoria da retribuição moral A teoria da prevenção geral positiva diz que a pena
de Kant dizia que a aplicação da pena era uma questão tem a função de reforçar ou conservar a crença das pes-
de justiça, uma exigência ética absoluta. Impõe-se um mal soas na validade da norma. O descumprimento reiterado
em razão de um mal causado. Não há, em Kant, qualquer e não-sancionado de uma norma faz com que as pessoas
viés utilitarista na pena, ou seja, ela não tem a finalidade acreditem que ela não vale. A pena teria ainda uma função
de exemplo na sociedade ou algo do tipo. “Apenas” é algo educativa: a sanção pela violação a um valor mostra que
cuja necessidade se impõe por si mesma. tal valor é relevante, e que as pessoas devem pautar sua
Por fim, há a teoria da retribuição jurídica de Hegel, conduta para não violar este valor. Assim, a pena não só
pela qual a pena não deveria ser considerada como um impediria a violação do valor, como faria com que as pes-
mal. O crime nega o direito; assim, a pena seria uma ne- soas se comportassem positivamente de acordo com o
gação do delito, e, portanto, uma reafirmação do direito valor. Critica-se a teoria, pois segundo essa ideia o direito
. Bettiol é o grande defensor do caráter exclusivamente penal não protegeria bens jurídicos, e sim a validade de
retributivo da pena privativa de liberdade. Para o pensa- normas.
dor italiano “a ideia da retribuição é ideia central do Di- Já a prevenção especial se dirige ao agente do fato
reito Penal. A pena encontra razão de ser no seu caráter específico, procurando evitar que ele cometa novos cri-
retributivo. A retribuição é uma das ideias-força de nossa mes. Pode ser positiva ou negativa. A positiva é a ideia de
civilização. Pode mesmo dizer-se que a ideia da retribuição ressocialização. Na prática, essa ideia é uma falácia, mas
é própria de todo tipo de civilização que não renegue os não deixa de ser um ideal a ser perseguido. Já a negativa
valores supremos e se ajuste às exigências espirituais da é relacionada à segregação: coíbe-se a prática de crimes
natureza humana”. trancafiando o agente. Critica-se essa teoria por utilizar
Para Bettiol a pena é, portanto, um sofrimento impin- o indivíduo como um meio para um fim socialmente útil
gido ao delinquente por causa do delito praticado. A ideia (isto se aplica a todas as teorias relativas, mas especial-
de retribuição encontra-se de tal modo intrinsecamente mente à prevenção especial negativa). Em última análise,
ligada ao conceito de pena, fora dessa justificação a pena o sujeito poderia ser preso para o resto da vida em nome
não existe. desta finalidade da pena, segundo a crítica de Kant. A ob-
A doutrina critica essas teorias, pois não seria razoável jeção é pertinente, mas, para Raposo, se levada ao extre-
que um Estado de Direito impusesse um mal sem utilidade, mo, invalidaria qualquer pena. A imposição de sanções
apenas por uma questão abstrata de justiça. Desta forma, no direito em geral é necessária para permitir a vida em
as teorias absolutas são adotadas por poucas legislações. sociedade. De certa forma, a pessoa pode ser usada como
Assim, surgiram as teorias relativas (do latim refere, estar um meio para atingir alguns fins. Não se deve adotar uma
vinculado) ou utilitárias, que pregam uma finalidade social- concepção liberal clássica de 300 anos atrás sobre o indi-
mente útil para a pena. Platão dizia que não faz sentido víduo. Mas deve-se ter cuidado para evitar o totalitarismo.
punir pelo pecado causado, mas sim para evitar que se pe- As teorias da prevenção dividem-se em gerais e espe-
que no futuro. ciais. São gerais, quando consideram a pena em face da
Deve-se a Feuerbach a formulação da teoria da coação coletividade, no momento preciso de exercer a sua ação
psicológica, que alicerça a prevenção geral, sustentando intimidativa; são especiais, quando consideram a pena em
que através da pena combate-se a criminalidade: com a face de determinado delinquente, que já cometeu o cri-
cominação penal intimida-se, a ameaça da pena informa me, como meio idôneo de evitar a reincidência. Em resu-
aos membros da sociedade contra quais condutas injus- mo, a prevenção geral encerra a função social; a preven-
tas o direito reagirá; por outro lado, com a aplicação da ção especial, a função individual da pena.
pena cominada, deixa-se patente a disposição de cumprir Zaffaroni propõe a teoria negativa ou agnóstica (gno-
a ameaça realizada. se = conhecimento). A pena seria uma manifestação do
Nesse contexto enquadram-se as teorias da prevenção Estado de Polícia no Estado Democrático. Não há como
geral: o fim da pena seria evitar que outras pessoas da so- fundamentar positivamente a pena num Estado Demo-
ciedade, e não o agente do crime em questão, venham a crático. Assim, o correto seria ter uma postura crítica. Ele
cometer crimes. reconhece que não consegue identificar o fim da pena.
A prevenção geral negativa (Feuerbach) baseava-se na Portanto, a pena deveria ser reconhecida como um mal,
teoria da coação psicológica, isto é, o poder de intimidação e aplicada de forma excepcional. Para Raposo, se se ad-
da pena, que impediria a prática de crimes. mitir essa ideia, a pena deveria ser extinta. Mas abolir o

21
DIREITO PENAL

direito penal seria voltar à barbárie. A violência do Estado b) perda de bens;


é muito mais controlável do que a violência particular do c) multa;
mais forte. d) prestação social alternativa;
e) suspensão ou interdição de direitos;
TEORIAS SOBRE AS PENAS XLVII - não haverá penas:
Teorias absolutas ou retributivas a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos
(não se vinculam a um fim socialmente útil) termos do art. 84, XIX;
Retribuição divina b) de caráter perpétuo;
Retribuição expiatória c) de trabalhos forçados;
Retribuição moral (Kant) d) de banimento;
Retribuição jurídica (Hegel) e) cruéis.
Retribuição teleológica (Bettiol)
Prevenção geral negativa (coação psicológica para a Penas Privativas de Liberdade
inocorrência de crimes) Reclusão e Detenção e os Regimes da Pena
Teorias relativas, utilitárias ou preventivas A pena privativa de liberdade vem prevista no preceito
Prevenção geral positiva (reafirmar a norma) secundário dos tipos penais. Existem diferenças entre re-
(vinculam-se a um fim socialmente útil) clusão e detenção, logicamente, caso contrário não haveria
Prevenção especial negativa (trancafiamento, evita que que se falar nessa dicotomia. Entretanto, parte da doutrina
sujeito volte a delinquir) afirma que, na prática, em se tratando de execução penal,
Prevenção especial positiva (ressocialização) não há qualquer diferença entre ambas.
Teorias mistas ou ecléticas ou unificadoras
(conciliam retribuição e prevenção) O regime fechado é aquele cumprido em estabeleci-
Exemplos: CP, art. 59 mento de segurança máxima ou média, em penitenciária. O
Teoria unificadora dialética (Roxin) regime semi-aberto é aquele executado em colônia agríco-
Teoria negativa ou agnóstica la, industrial ou estabelecimento similar. Já o regime aberto
Não há nada de positivo na pena (Zaffaroni) é aquele cumprido em casa de albergado ou estabeleci-
Neorretribucionismo penal mento adequado (art. 33, § 1º, CP).
Confirmar a autoridade da norma pela retribuição ao
seu transgressor (Jakobs) Lei de Organizações Criminosas
Teoria preventiva pode ser: Art. 10 Os condenados por crime decorrentes de or-
Geral (voltada para a sociedade) ganização criminosa iniciarão o cumprimento da pena em
Especial (voltada para o infrator) regime fechado.
Positiva (valor da norma)
Fixação do Regime Inicial de Cumprimento da Pena
Negativa (coibir a criminalidade)
A fixação do regime de cumprimento da pena ocorre
durante o processo de conhecimento, ou seja, na vara cri-
O Brasil adota o sistema prisional progressivo, por meio
minal. Após a sentença, transitada em julgado, inicia-se a
do qual o condenado deverá, necessariamente, começar a
execução perante a Vara de Execução Penal, salvo se não
cumprir a pena em regime mais grave, obtendo gradação
houver, caso em que será o próprio juízo da Vara Criminal
de regime na medida em que cumpre os requisitos objeti- quem deverá acompanhar o cumprimento da pena.
vos e subjetivos previstos na Lei de Execução Penal. O Código Penal estabelece dois critérios para a fixação
do regime inicial da pena, ambos devendo ser observados
Espécies de Penas cumulativamente:
Em nosso Código Penal somente são admitidos três a) Critério temporal (art. 33, § 2º):
tipos de pena: i. O condenado a pena de reclusão superior a oito
a) Pena privativa de liberdade: reclusão, detenção e anos (reincidente ou não) deverá, necessariamente, come-
prisão simples (esta aplicável somente às contravenções çar a cumprir a pena em regime inicialmente fechado.
penais). ii. O condenado não reincidente, cuja pena for supe-
b) Pena restritiva de direitos: perda de bens e valores, rior a quatro anos e inferior a oito, poderá cumpri-la desde
prestação de serviços à comunidade, interdição temporária de o início em regime semi-aberto.
direitos, limitação de fim de semana e prestação pecuniária. iii. Os condenados reincidentes a pena não superior
c) Multa: a multa, hoje em dia, é chamada, geralmen- a 4 anos poderão cumprir a pena desde o início em regime
te, de dia-multa. Antigamente, ela era chamada apenas de semi-aberto, se favoráveis as circunstâncias judiciais (Sú-
multa, calculada sobre o salário mínimo. mula 269, STF).
A Constituição, entretanto, prevê outras penas em ROL iv. O condenado não reincidente, cuja pena seja igual
NÃO TAXATIVO, enquanto veda expressamente determina- ou inferior a quatro anos, poderá cumprir a pena desde o
dos tipos. Isso está no art. 5º, XLVI e XLVII: início em regime aberto.
XLVI - a Lei regulará a individualização da pena e ado- v. O condenado reincidente deverá cumprir a pena, ne-
tará, entre outras, as seguintes: cessariamente, em regime inicialmente fechado, independen-
a) privação ou restrição da liberdade; temente do quantum da pena aplicada (exceção no item iii).

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DIREITO PENAL

vi. Os crimes classificados como hediondos (Lei nº É admissível o trabalho externo, bem como a frequên-
8.072/90) têm previsão de cumprimento inicial no regime cia a cursos supletivos profissionalizantes, de instrução de
fechado . segundo grau ou superior. Seu trabalho também possibilita
b) Condições judiciais: esse critério é o disposto no art. a remição da pena, na proporção de três dias trabalhados
59 do Código Penal, referente às circunstâncias do crime, para um dia remido (art. 35, § 2º, CP), assim como o estudo,
periculosidade do agente, antecedentes sociais etc. Assim, na proporção de 3 dias de estudo, com carga horária diária
mesmo que ele seja não-reincidente e tenha sido condena- de 4 horas, para cada dia de pena. (Ver comentários à LEP
do a uma pena de quatro anos, ele poderá começar a cum- sobre esse assunto).
prir pena em regime fechado, caso o juiz entenda, funda- De acordo com a Súmula 269, STJ, é admissível a ado-
mentadamente, ser necessário. ção do regime prisional semi-aberto aos reincidentes con-
denados a pena igual ou inferior a quatro anos se favoráveis
Impossibilidade de Cumprimento de Pena em Regime as circunstâncias judiciais.
Mais Gravoso do que o Fixado na Sentença Penal Conde-
natória Regras do Regime Aberto
Não obstante a previsão legal dos regimes de cumpri- Seu cumprimento deve ser realizado na Casa de Alber-
mento de pena, poucos ou nenhum estados-membros na- gado. Este regime permite que o condenado, fora do esta-
cionais possuem casas de albergado ou colônias agrícolas. belecimento e sem vigilância, trabalhe, frequente curso ou
Assim, presos condenados a penas de 2 anos, muitas vezes, exerça outra atividade autorizada, permanecendo recolhido
ao invés de serem detidos em casa de albergado, cumprem durante o período noturno e nos dias de folga.
a pena em regime fechado, com evidente prejuízo e ilega- Também é exigida a Guia de Recolhimento. O preso
lidade. TERÁ direito à remição no regime aberto, somente pelo es-
Porém, grande parte dos magistrados, com fundamen- tudo (pelo trabalho não, pois é obrigatório) de acordo com
to exatamente sobre a inexistência dos referidos estabele- modificação promovida na LEP:
cimentos, colocam os reclusos em regimes mais gravosos, Art. 126 (...)
adotando o princípio pro societate. § 6o O condenado que cumpre pena em regime aberto
Porém, o STJ vem decidindo pela ilegalidade desta con- ou semiaberto e o que usufrui liberdade condicional pode-
duta (que é evidente), permitindo, até mesmo, que determi- rão remir, pela frequência a curso de ensino regular ou de
nados condenados cumpram sentença em regime domici- educação profissional, parte do tempo de execução da pena
liar, mesmo fora das hipóteses previstas na Lei de Execução ou do período de prova, observado o disposto no inciso I
do § 1o deste artigo.(Incluído pela Lei nº 12.433, de 2011)
Penal, sob o fundamento de que o preso não pode arcar
A LEP excepciona a exigência do trabalho nas hipóteses
com o despreparo do Estado em cumprir a legislação que
do art. 117, a saber:
ele próprio produziu.
a) Condenado maior de setenta anos;
b) Condenado acometido de doença grave;
Regras dos Regimes
c) Condenada com filho menor ou deficiente físico e/
Regime Fechado
ou mental;
O condenado somente poderá ser encaminhado à pe- d) Condenada gestante.
nitenciária após expedição da Guia de Recolhimento (art. A LEP fala em trabalho, não em emprego. Logo, qual-
107, LEP). O condenado será submetido, no início do cum- quer atividade lícita serve, mesmo não havendo vínculo em-
primento da pena, a exame criminológico (art. 34, CP) para a pregatício.
obtenção dos elementos necessários a uma adequada clas- Também é exigido, além do trabalho, que o condenado
sificação e com vista à individualização da execução. apresente, pelos seus antecedentes, ou pelo resultado dos
Ele ficará sujeito a trabalho no período diurno e a iso- exames a que foi submetido, fundados indícios de que irá
lamento durante o repouso noturno (isolamento com mais ajustar-se.
60 pessoas em cela de 10 m²...). O trabalho deverá ser via-
bilizado de acordo com as aptidões do preso e desde que Comparação entre os Regimes
compatível com a execução da pena (arts. 34, § § 1º e 2º, CP). Regime Fechado: o condenado fica completamente
Somente se admite o trabalho externo em serviços ou isolado do meio social, privado de sua liberdade de loco-
obras públicas realizadas por órgãos da administração dire- moção, sendo a pena cumprida em penitenciária. Regime
ta e indireta, ou entidades privadas, desde que garantida a Semi-Aberto: o condenado fica privado de sua liberdade
disciplina e a segurança contra fugas, e que não ultrapasse de locomoção, mas não completamente isolado do meio
10% da mão de obra. social, pois que o trabalho externo e a freqüência a cur-
sos supletivos profissionalizantes, de instrução de segun-
Regime Semi-Aberto do grau ou superior são admitidos, sendo a pena cumprida
No regime semi-aberto, poderá ser inicializado o cum- em colônia agrícola, industrial ou estabelecimento similar.
primento da pena com a realização do exame criminológi- Regime Aberto: baseia-se na autodisciplina e senso de res-
co, diferentemente do fechado, no qual o exame deverá ser ponsabilidade do condenado, o condenado não fica com-
realizado. De qualquer forma, é imprescindível a expedição pletamente isolado do meio social, nem privado totalmente
da Guia de Recolhimento para que a pena seja cumprida em de sua liberdade de locomoção, já que deverá, fora do esta-
colônia agrícola, industrial ou estabelecimento similar. belecimento e sem vigilância, trabalhar, freqüentar curso ou

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DIREITO PENAL

exercer outra atividade autorizada, permanecendo recolhi- necessariamente regime fechado, nada impede que as mu-
do durante o período noturno e nos dias de folga em casa lheres, de forma inicial ou por regressão, cumpram suas
do albergado. penas em regime fechado, o qual não é incompatível com
sua singular condição pessoal de mulher.
Progressão e Regressão de Regime Trabalho de Preso e Remição de Pena
A progressão é um misto de tempo mínimo de cumpri- A LEP (art. 31) determina que o condenado à pena pri-
mento de pena (critério objetivo) com o mérito do conde- vativa de liberdade está obrigado ao trabalho interno na
nado (critério subjetivo). Ela está determinada no art. 112 da medida de suas aptidões e capacidade.
LEP, e estabelece como critério objetivo mínimo o cumpri- Somente não estão obrigados os presos provisórios e
mento de, pelo menos, um sexto (2/5 ou 3/5 da pena, em o condenado por crime político. O trabalho do preso de-
caso de crimes hediondos ou equiparados, se primário ou verá ser remunerado, não podendo seu salário ser inferior
reincidente, respectivamente) da pena no regime anterior. a três quartos do mínimo. A ele se lhe garantem os bene-
Em seguida, deverá ser analisado o comportamento do pre- fícios do RGPS.
so, comprovado pelo diretor do estabelecimento prisional. A remição somente tem cabimento para os condena-
Não se admite a progressão por saltos, ou seja, que o dos aos regimes fechado e semi-aberto. A contagem do
preso passe diretamente do regime fechado para o aberto. tempo será na proporção de um dia de pena para três de
O cálculo da segunda progressão deverá ocorrer somente trabalho. De acordo com a LEP, art. 126, § § 1º e 2º, o preso
pelo tempo restante da pena, e não sobre a pena total. que estiver impossibilitado de prosseguir no trabalho em
De acordo com a Súmula 716, STF, admite-se a pro- virtude de acidente continuará a beneficiar-se da remição.
gressão de regime de cumprimento de pena ou a aplicação O condenado que for punido por falta grave perderá
imediata de regime menos severo nela determinada, antes até 1/3 do direito ao tempo remido (art. 127):
do trânsito em julgado da sentença condenatória. Nesse Art. 127. Em caso de falta grave, o juiz poderá revogar até
caso, a progressão se fará com base na pena in abstracto. 1/3 (um terço) do tempo remido, observado o disposto no
Também, conforme Súmula 717, STF, não impede a art. 57, recomeçando a contagem a partir da data da infração
progressão de regime de execução da pena, fixada em sen- disciplinar. (Redação dada pela Lei nº 12.433, de 2011)
tença não transitada em julgado, o fato de o réu se encon-
trar em prisão especial. Superveniência de Doença Mental
É permitida a regressão de regime caso o preso prati- O condenado a quem sobrevém doença mental deve
que falta grave (LEP, Art. 118, I). É considerada falta grave ser recolhido a hospital de custódia ou tratamento psiquiá-
(rol taxativo, somente ampliável por Lei nacional): trico. Somente se aplica essa disposição àquele que, à épo-
a) Incitar ou participar de movimento para subverter ca da prolação da sentença, era imputável.
a ordem ou a disciplina; Isso porque, se era inimputável, deverá ser proferida
b) Fugir; sentença absolutória imprópria.
c) Possuir, indevidamente, instrumento capaz de
ofender a integridade física de outrem; Detração
d) Provocar acidente de trabalho; É o instituto jurídico mediante o qual se computa, na
e) Descumprir, no regime aberto, as condições im- pena privativa de liberdade e na medida de segurança, o
postas; tempo de prisão provisória cumprido no Brasil ou no es-
f) Tiver em sua posse, utilizar ou fornecer aparelho trangeiro, o de prisão administrativa e o de internação em
telefônico, de rádio ou similar, que permita a comunicação qualquer dos estabelecimentos referidos no art. 41 do CP.
com outros presos ou com o ambiente externo; Importante ilustrar que, somente existem como prisão
g) Prática de fato definido como crime doloso (art. provisória:
52, LEP). a) Prisão em flagrante;
No caso de falta grave, a regressão somente poderá ser b) Prisão temporária;
determinada após ser ouvido o condenado, numa audiên- c) Prisão preventiva.
cia de justificação (art. 118, § 2º, LEP). Se o condenado estiver preso cautelarmente por um
crime, mas estiver sendo processado simultaneamente por
Regime Especial (art. 37, CP) vários, for absolvido naquele em que foi preso, o tempo
Consiste na separação entre homens e mulheres den- de prisão deverá ser considerado para fins de detração no
tro do estabelecimento prisional. Determina o art. 83, § 2º, caso de condenação em outros crimes.
LEP, que os estabelecimentos penais destinados às mulhe- Logo, vê-se que os processos devem ser simultâneos.
res serão dotados de berçário. Se ele estava sendo processado apenas por um crime, pre-
O regime especial não é necessariamente regime fe- so provisoriamente, sendo absolvido, e logo em seguida
chado, o regime especial é o das mulheres, previsto no art. passa a ser processado por outro e condenado, não poderá
37, do CP, segundo o qual as mulheres cumprem pena em ele computar aquele tempo de prisão antigo para fins de
estabelecimento próprio, observando-se os deveres e di- detração neste crime.
reitos inerentes à sua condição pessoal, bem como, no que Isso porque, caso possível fosse, haveria um verdadeiro
couber, o disposto neste Capítulo. Assim, quanto a última “crédito” para os delinquentes. Sobre o instituto:
parte do dispositivo, embora o regime especial não seja

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DIREITO PENAL

Prisão Especial condenação anterior, a medida seja socialmente recomen-


A prisão especial terá cabimento para as pessoas arro- dável e a reincidência não se tenha operado em virtude de
ladas no art. 295 do CPP, somente quando sujeitos a prisão prática do mesmo crime. Logo, tal ressalva não se aplica se
antes de condenação definitiva. o condenado for reincidente específico.
Caso não exista estabelecimento específico para o pre- c) Culpabilidade, antecedentes, conduta social e per-
so especial, ele não mais poderá receber o benefício de sonalidade do condenado, bem como os motivos e as cir-
prisão especial em sua própria residência. Ele deverá ser re- cunstâncias indicarem que essa substituição seja suficiente
colhido dentro do próprio sistema carcerário, mas em cela (requisito subjetivo).
distinta da dos demais presos.
De acordo com a Súmula 717, STF, não impede a pro- Duração das Penas Restritivas de Direitos (art. 55, CP)
gressão de regime de execução da pena, fixada em senten- As penas restritivas de direito terão a mesma duração
ça não transitada em julgado, o fato de o réu se encontrar das privativas de liberdade substituídas. Obviamente que
em prisão especial. tal disposição não se aplica à prestação pecuniária e à per-
da de bens e valores.
Prisão-Albergue Domiciliar
Prevista, no art. 117 da LEP, em quatro hipóteses: Prestação Pecuniária (art. 45, § 1º)
a) Maior de 70 anos; Consiste no pagamento em dinheiro à vítima, a seus
b) Portador de doença grave; dependentes ou a entidade pública ou privada, com des-
c) Condenada com filho menor ou deficiente físico tinação social, de importância fixada pelo juiz, não inferior
ou mental; a um salário mínimo nem superior a 360. O valor será de-
d) Condenada gestante. duzido do montante de eventual condenação em ação de
Aqui, o condenado que cumpre sua pena em regime reparação civil, se coincidentes os beneficiários.
aberto poderá cumpri-la em residência particular. Somente haverá o direcionamento da prestação pecu-
A doutrina tem considerado as hipóteses acima como niária a entidade pública ou privada quando se tratar de
taxativas. infração penal em que não houver vítima.
Para que ocorra a substituição, não é necessário que
Penas Restritivas de Direitos tenha ocorrido um prejuízo material à vítima, podendo ser
Espécies de Penas Restritivas de Direitos (art. 43, CP) aplicada quando houver apenas danos morais.
Existem cinco penas restritivas de direitos:
a) Prestação pecuniária; Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher
b) Perda de bens e valores; No caso da Lei Maria da Penha, seu art. 17 dispõe que é
c) Prestação de serviço à comunidade ou a entidades vedada a aplicação, nos casos de violência doméstica e fa-
públicas;
miliar contra a mulher, de penas de cesta básica ou outras
d) Interdição temporária de direitos. Esta, por sua
de prestação pecuniária, bem como a substituição de pena
vez, se subdivide nas seguintes:
que implique o pagamento isolado de multa.
1. Proibição do exercício de cargo;
Isso não impede que ao autor de uma das infrações
2. Proibição do exercício de profissão;
tratadas na Lei se aplique as demais penas substitutivas
3. Suspensão da habilitação para dirigir veículo;
previstas no art. 43 do CP, e nem mesmo que se cumule a
4. Proibição de frequentar determinados lugares.
e) Limitação de fim de semana. prestação pecuniária a outra PRD.
Essas penas são substitutivas, ou seja, primeiramente
se aplica a pena privativa de liberdade e, quando possível, Perda de Bens e Valores (art. 45, § 3º)
presentes os requisitos legais, procede-se a substituição. A perda de bens e valores se dará em benefício do Fundo
Penitenciário Nacional, e seu valor terá como teto o montan-
Requisitos para a Substituição (art. 44, CP) te do prejuízo causado ou do proveito obtido pelo agente ou
Os requisitos previstos no art. 44 do CP são cumulati- por terceiro, em consequência da prática do crime.
vos. São eles: Diferencia-se a perda de bens e valores do confisco,
a) Pode-se fazer a substituição quando aplicada pois este só é cabível sobre os instrumentos do crime, de
pena privativa de liberdade não superior a 04 anos e o seus produtos ou do proveito com ele obtido, enquanto
crime não for cometido com violência ou grave ameaça à aquela recai sobre o patrimônio lícito do agente.
pessoa ou, qualquer que seja a pena aplicada, se o crime A perda de bens e valores, de acordo com o CPP, sem-
for culposo. Aqui, deve-se ressaltar: se a infração penal for pre será revestida à União, jamais ao Estado-membro ou
da competência do JECrim, em virtude da pena máxima a Município, mesmo que a condenação tenha sido proferida
ela cominada, mesmo que haja o emprego de violência ou perante a Justiça Estadual.
grave ameaça será possível a substituição. Art. 122, CPP. Sem prejuízo do disposto nos arts. 120 e
b) Inexistência de reincidência em crime doloso: se o 133, decorrido o prazo de 90 dias, após transitar em julga-
segundo crime for doloso, após o trânsito em julgado do do a sentença condenatória, o juiz decretará, se for caso, a
primeiro, não será cabível a substituição. Porém, o CP, no perda, em favor da União, das coisas apreendidas (art. 74,
art. 44, § 3º, faz uma ressalva: mesmo sendo reincidente, o II, a e b do Código Penal) e ordenará que sejam vendidas
juiz poderá aplicar a substituição, desde que, em face de em leilão público.

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DIREITO PENAL

Art. 243. As glebas de qualquer região do País onde Somente será cabível quando a infração penal cometi-
forem localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópi- da pelo condenado for de natureza culposa e relacionada
cas serão imediatamente expropriadas e especificamente com a condução de veículo automotor, uma vez que, se o
destinadas ao assentamento de colonos, para o cultivo de crime tiver sido doloso e se o agente tiver utilizado o seu
produtos alimentícios e medicamentosos, sem qualquer in- veículo como instrumento para o cometimento do delito,
denização ao proprietário e sem prejuízo de outras sanções não terá aplicação tal modalidade de interdição temporária
previstas em Lei. de direitos. Nesse caso, poderá ser determinada a inabilita-
Parágrafo único. Todo e qualquer bem de valor eco- ção para dirigir, nos termos do art. 92, III, CP.
nômico apreendido em decorrência do tráfico ilícito de
entorpecentes e drogas afins será confiscado e reverterá -Proibição de Frequentar Determinados Lugares
em benefício de instituições e pessoal especializados no É uma das coisas mais inúteis inventadas pelo Direito
tratamento e recuperação de viciados e no aparelhamento Penal brasileiro, já que o Estado não possui aparato mínimo
e custeio de atividades de fiscalização, controle, prevenção para fiscalizar o condenado.
e repressão do crime de tráfico dessas substâncias. Entretanto, há pelo menos iniciativa legislativa para
que isso venha a se consolidar, visto que a Lei de medi-
Prestação de Serviços à Comunidade ou a Entidades das cautelares (Lei nº 12.403/11) inseriu, entre as medidas
Públicas (art. 46) cautelares do CPP, o monitoramento eletrônico. Evidente é
A prestação de serviços à comunidade ou a entida- que as cautelares têm diferente aplicabilidade e natureza
des públicas consiste na atribuição de tarefas gratuitas ao jurídica em comparação a essa pena restritiva de direitos,
condenado em entidades assistenciais, hospitais, escolas, que é efetivamente algo que será cumprido após o trânsito
orfanatos e outros estabelecimentos congêneres, devendo em julgado.
ser cumprida à razão de uma hora de tarefa por dia de
condenação (art. 46, § 3º), fixada de forma a não prejudicar -Proibição de se Inscrever em Concursos Públicos
a jornada de trabalho do condenado. Trata-se de restrição de direitos implementada pela Lei
Será o juiz da vara de execuções penais quem desig- nº 11.250, de 2011, que deve ser intimamente ligada aos
nará onde o apenado prestará os serviços, determinará a crimes de fraude a certames públicos inseridos no Código
intimação do condenado e alterará a forma de execução a Penal pela mesma Lei.
fim de ajustá-la às modificações eventualmente ocorridas
na jornada de trabalho.
Limitação de Fim de Semana (art. 48, CP)
Porém, ainda que o condenado queira cumprir mais de
Consiste na obrigação de permanecer, aos sábados e
uma hora por dia para que sua pena termine mais rapida-
domingos, por cinco horas diárias, em casa de albergado
mente, o art. 55 da LEP e o art. 46, § 4º, CP determinam que
ou outro estabelecimento adequado.
o tempo de cumprimento da pena substitutiva nunca po-
Caberá ao juiz da execução determinar a intimação
derá ser inferior à metade da pena privativa de liberdade.
do condenado, cientificando-o do local, dias e horários
Veja, então, quer por essa lógica, o tempo máximo
em que deverá cumprir a pena (art. 151, LEP), sendo que
de cumprimento da pena restritiva de direitos será de 02
a execução terá início a partir da data do primeiro compa-
(dois) anos.
recimento.
Interdição Temporária de Direitos (art. 47) O estabelecimento designado encaminhará mensalmente
A interdição de direitos terá a mesma duração da pena ao juiz da execução relatório de frequência do condenado.
privativa de liberdade substituída.
Conversão das Penas Restritivas de Direito em PPL (art.
-Proibição do Exercício de Cargo, Função ou Atividade 44, § 4º)
Pública, bem como de Mandato Eletivo A pena restritiva de direitos será convertida em pena
Essa pena é temporária. Logo, a proibição vigorará so- privativa de liberdade quando ocorrer o descumprimento
mente por um tempo pré-determinado, não causando a injustificado da restrição imposta. No cálculo do tempo da
perda do cargo, conforme art. 92, I, do CP. pena privativa de liberdade será deduzido o tempo cum-
prido da restritiva de direitos, respeitado o saldo mínimo
-Proibição do Exercício de Profissão, Atividade ou Ofí- de 30 dias de detenção ou reclusão (art. 44, § 4º, CP). Isso
cio que dependam de Habilitação Especial, de Licença ou quer dizer que, mesmo que faltasse apenas 1 dia para se
de Autorização do Poder Público findar a conclusão da pena restritiva, havendo descumpri-
A proibição em tela se dirigirá somente a determinada mento injustificado, o preso deverá cumprir mais, pelo me-
atividade, profissão ou ofício, podendo o condenado atuar nos, 30 dias de pena.
em outras áreas fora da proibida. O juiz não pode fixar essa A conversão ocorrerá, de acordo com o art. 181, § 1º,
PRD de forma aleatória, deve ela ter algum vínculo com o LEP, quando o condenado:
crime praticado e ter caráter sancionatório/preventivo de a) Não for encontrado por estar em lugar incerto e
outros crimes. não sabido, ou desatender à intimação por edital;
-Suspensão de Autorização ou de Habilitação para Di- b) Não comparecer, injustificadamente, à entidade
rigir Veículo ou programa em que deva prestar serviço;

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DIREITO PENAL

c) Recusar-se, injustificadamente, a prestar o serviço logo após, as causas de aumento e diminuição de pena. Há
que lhe foi imposto; juízes que não seguem o critério trifásico de determinação
d) Praticar falta grave; da PPL para fixar a quantidade de dias multa, fixando-as
e) Sofrer condenação por outro crime à pena priva- em ato único.
tiva de liberdade, cuja execução não tenha sido suspensa: b) Fixação do valor dos dias-multa: esse valor pode-
neste caso, o crime deve ser praticado durante o cumpri- rá variar entre o mínimo de um trigésimo até cinco vezes o
mento da pena alternativa, já que o condenado estará de- valor do salário-mínimo vigente à época do fato, podendo
monstrando sua inaptidão ao cumprimento da pena substi- o juiz aumentar esse máximo em até três vezes.
tutiva. Assim, verifica-se que o juiz, a princípio, não leva em
Antes de ser levada a efeito a conversão, deverá o juiz consideração a situação econômica do acusado para fixar
da execução designar uma audiência de justificação, a fim os dias-multa, podendo considerá-la, entretanto, para a fi-
de que o condenado nela exponha os motivos pelos quais xação de seu valor.
não está cumprindo o disposto na sentença.
Pagamento da Pena de Multa
Modificação Superveniente da Pena Restritiva de Direi- Uma vez transitada em julgado a sentença penal con-
tos denatória, a multa deverá ser paga dentro de 10 dias. A re-
A pena restritiva de direitos que o acusado irá cumprir querimento do condenado, o juiz poderá permitir o parce-
deve ter sido previamente fixada na sentença condenatória lamento mensal (art. 50, CP).
definitiva. Após o trânsito em julgado desta, não pode o juí- A cobrança de multa pode efetuar-se mediante o des-
zo da execução determinar o cumprimento de pena substi- conto no vencimento ou no salário do condenado, quando:
tutiva diversa, sob pena de ofensa à coisa julgada. a) Aplicada isoladamente;
b) Aplicada cumulativamente com pena restritiva de
Pena de Multa direitos;
A multa é uma das três modalidades de penas comi- c) Concedida a suspensão condicional da pena.
nadas pelo CP (reclusão, detenção e multa) e consiste no O desconto não deve incidir sobre os recursos indis-
pagamento ao Fundo Penitenciário da quantia fixada na pensáveis ao sustento do condenado e de sua família (art.
sentença e calculada em dias-multa. Logo, vemos que sua 50, § § 1º e 2º, CP).
destinação é diferente daquela da pena pecuniária, cujo be- A sentença valerá como título executivo judicial para
neficiário é a vítima. fins de execução. A pena de multa ficará suspensa se sobre-
De acordo com o art. 44, § 2º, CP, a multa poderá subs- vier ao condenado doença mental.
tituir a pena aplicada desde que a condenação seja igual ou
inferior a um ano (multa substitutiva ou vicariante). Execução, Pagamento e Prescrição da Pena de Multa
Não é possível a conversão da pena de multa em pena
A Multa Substitutiva Da Ppl Prevista No Art. 44, § 2º, privativa de liberdade, por razões de política criminal e jus-
Não Substitui A Multa Decorrente Do Preceito Secundário tiça social.
Do Tipo Penal, A Qual Tem Autonomia.
Não confundir a impossibilidade de conversão da pena
Sistema de Dias-Multa de multa substitutiva com a possibilidade de conversão da
A sistemática de dias-multa permite que o valor da PRD prestação pecuniária em PPL. Neste caso, perfeitamen-
multa aplicado seja sempre atual, já que a pena de multa te possível.
estava desmoralizada face os movimentos inflacionários da
moeda. De acordo com a redação do art. 51 do CP, a multa
Hoje em dia, a pena de multa será de, no mínimo, 10 é considerada dívida de valor, devendo sua cobrança ser
dias-multa, e, no máximo, 360. O seu valor será fixado pelo realizada de acordo com a legislação da dívida ativa da Fa-
juiz, não podendo ser inferior a um trigésimo do valor do zenda Pública. Daqui, surgiu a dúvida sobre a responsabi-
maior salário-mínimo mensal vigente à época do fato, nem lidade de executá-la, se seria uma das Varas de Execuções
cinco vezes superior a esse salário (art. 49, § 1º, CP). Criminais, por intermédio do MP, ou se seria numa Vara de
O valor da pena de multa poderá ser aumentado até o Fazenda Pública Estadual, por meio de um Procurador da
triplo se o juiz a considerar ineficaz, face a situação econô- Fazenda.
mica do réu. Logo, o valor do dia-multa será de até 15 vezes
o salário-mínimo. Aplicação da Pena ou Dosimetria Penal
Sabe-se que a pena é individualizada em três momen-
Aplicação da Pena de Multa tos distintos. O primeiro ocorre na fase legislativa, pela fi-
A aplicação da pena de multa segue critério bifásico, xação das espécies delituosas e dos mínimos e máximos
conforme seguinte ordem: cominados. O segundo momento é de competência do jul-
a) Fixação do total de dias multa: primeiro, fixa-se gador, quando se aplica àquele que praticou um fato típico,
a pena-base, variando entre o mínimo de 10 e o máximo antijurídico e culpável a pena necessária. O último seria o
de 360 dias-multa, com base no art. 59 do CP. Em seguida, momento de execução.
aplicam-se as agravantes e as atenuantes, se houverem e,

27
DIREITO PENAL

Cálculo da Pena c) Conduta social: é o comportamento do agente


O Juiz, atendendo as circunstâncias judiciais as quais são perante a sociedade, perante seus pares. Não se pode le-
discriminadas no caput do art. 59, estabelecerá a pena base, vantar aqui nada ligado a infrações antigas cometidas, mas
de acordo com uma proporcionalidade que visa a aferir a sim ao seu portar na comunidade. A conduta social pode
necessidade e a suficiência para a reprovação e prevenção ser demonstrada por intermédio de meros depoimentos
do crime. testemunhais de pessoas que conhecem a vida anteacta
A pena será aplicada em três fases distintas, de acordo do agente. É importante lembrar que o silêncio sobre essa
com o art. 68. Primeiramente, deve-se encontrar a pena- circunstância judicial, como ocorre em qualquer outra, mi-
-base, sobre a qual incidirão os demais cálculos. lita a favor do agente, em virtude do benefício da dúvida.
A pena-base é calculada levando em consideração as d) Personalidade do agente: é circunstância judicial
circunstâncias judiciais mencionadas no art. 59, CP, deven- bastante criticada pela doutrina, já que o juiz não é psicó-
do cada uma delas ser analisada individualmente. A prática logo para avaliar a personalidade de alguém. Além disso,
normal no Judiciário é que cada circunstância aumente ou tal análise acaba por priorizar questões subjetivas, ao in-
diminua a pena em 1/6 ou 1/8 dentro do intervalo comina- vés de objetivas, como deveria ocorrer no direito penal do
do. Entretanto, a pena-base deve sempre partir do mínimo fato.
legal. e) Motivos: razões que antecederam e levaram o
Após fixar a pena-base, o juiz deverá considerar as ate- agente a cometer a infração penal. Caso os motivos já
nuantes e agravantes, que se encontram previstas na parte estejam incluídos no tipo penal, ainda que derivado, não
geral do CP, arts. 61 e 65. Além disso, o quantum de agra- poderá ser reconsiderado para agravar ainda mais a pena
vação ou atenuação de pena não vem determinado em Lei. do agente, como ocorre no homicídio praticado por mo-
As atenuantes e agravantes somente poderão ser apli- tivo torpe. É a proibição do bis in idem.
cadas se não forem elementares ou qualificadoras do cri- f) Circunstâncias: são elementos acidentais que não
me. participam da estrutura própria de cada tipo, mas que,
A terceira fase do cálculo da pena diz respeito às cau- embora estranhas à configuração típica, influem sobre a
sas de diminuição e aumento. Estas se encontram previstas quantidade punitiva para efeito de agravá-la ou abrandá-
tanto na parte geral quanto na parte especial do CP, e o seu -la. V.g., lugar do crime, tempo de sua duração, relacio-
quantum de aumento ou diminuição sempre será forneci- namento existente entre autor e vítima, atitude assumida
do em frações pela Lei, fixas ou variáveis. pelo delinquente no decorrer da realização do fato etc.
Neste terceiro momento, certamente poderá a pena ser Essas circunstâncias não se confundem com as circuns-
fixada aquém do mínimo ou além do máximo. Vê-se, por- tâncias legais, atenuantes ou agravantes, a serem aferidas
tanto, que no Brasil foi adotado o sistema trifásico, ideali- no segundo momento de aplicação da pena.
zado internamente por Nelson Hungria, em detrimento do g) Consequências do crime: são as consequências
sistema bifásico idealizado por Roberto Lyra. para a família da vítima ou para a sociedade quando, v.g.,
ocorre o assassinato de um pai cuja família dele dependia
Circunstâncias Judiciais inteiramente.
As circunstâncias judiciais, em número de 08 (oito), são h) Comportamento da vítima: caso a vítima tenha
as previstas no art. 59 do Código Penal. Lembrando que, contribuído para o cometimento da infração, tal fato de-
para os crimes de drogas, há circunstâncias preponderan- verá ser considerado. Porém, se o comportamento da ví-
tes previstas no art. 42 da Lei nº 11.343/06. tima já se encontra previsto em determinado tipo penal,
Elas são assim chamadas porque são de apreciação ex- diminuindo a reprimenda, a exemplo da injusta provoca-
clusiva e reservada do julgador, o qual usará de seu poder ção da vítima prevista no art. 121, § 1º, do CP, não poderá
discricionário, devidamente motivado, para avaliar cada uma ele ser novamente considerado em favor do agente.
delas. É o juiz que irá determinar se elas terão carga positiva As circunstâncias judiciais que forem, ao mesmo tem-
ou negativa, ao contrário das demais circunstâncias, que têm po, elementares do tipo, não podem ser consideradas no-
sua valoração previamente determinada pelo legislador. vamente para fins de afastar a pena-base do mínimo legal.
a) Culpabilidade: é a análise da censurabilidade do
ato realizado pelo agente, com base em sua imputabilida- Circunstâncias Atenuantes e Agravantes (arts. 61, 62
de e no conhecimento da ilicitude. e 65)
b) Antecedentes: se referem ao histórico criminal do Circunstâncias são dados periféricos que gravitam ao
agente, não se confundindo com a reincidência. Somente redor da figura típica e têm por finalidade diminuir ou
as condenações anteriores com trânsito em julgado, que aumentar a pena aplicada ao sentenciado. Elas em nada
não sirvam para forjar a reincidência, é que poderão ser interferem na definição jurídica da infração penal.
consideradas em prejuízo do sentenciado, e desde que não Diferenciam-se das elementares, que são dados es-
decorrido o período depurador de cinco anos. Suponha- senciais à definição da figura típica. Essas, caso afastadas
mos que o agente tenha sido condenado por crimes ante- do tipo penal, geram, no mínimo, uma desclassificação
riores, mas que estes não transitaram em julgado. Poderá, típica (atipicidade relativa), ou, no máximo, a atipicidade
neste caso, sobrevindo condenação por novo crime, o juiz da conduta.
considerar aqueles como maus antecedentes.

28
DIREITO PENAL

O CP não fornece um quantum para fins de atenuação (norma penal em branco homogênea). Para que a agravan-
ou agravação da pena. Pela ausência de critério, a doutri- te da gravidez da vítima seja considerada, necessário é que
na tem entendido razoável agravar ou atenuar em até um o agente tenha conhecimento do estado gravídico à época
sexto, fazendo-se, pois, uma comparação com as causas do crime.
de diminuição e de aumento de pena. IX. Quando o ofendido estava sob a imediata prote-
ção da autoridade:
Circunstâncias Agravantes X. Em ocasião de incêndio, naufrágio, inundação ou
As circunstâncias agravantes são previstas no Código qualquer calamidade pública, ou de desgraça particular do
Penal de forma taxativa. ofendido: esta última hipótese pode ser qualquer uma que
a) Reincidência: ocorre quando a pessoa é condena- deprima a vítima, como o luto, acidente etc.
da por crime novo praticado após o trânsito em julgado de XI. Em estado de embriaguez preordenada: é a em-
sentença penal condenatória de crime anterior no brasil ou briaguez voluntária em sentido estrito. Porém, a finalidade
no estrangeiro. Não se pode cogitar de reincidência se a do agente não é a de somente embriagar-se, mas de se
infração penal anterior foi uma contravenção penal. Porém, colocar em estado de embriaguez com o fim de praticar
para fins de contravenções penais, considerar-se-á reinci- determinada infração penal.
dência a prática anterior transitada em julgado de crime ou c) Agravantes no caso de concurso de pessoas:
contravenção (art. 7º, LCP). i. Agente que promove, ou organiza a cooperação
no crime ou dirige a atividade dos demais agentes: aqui,
Sentença anterior extintiva de punibilidade do agen- permite-se agravar a pena do chefe do grupo criminoso.
te pela prescrição da pretensão punitiva não gera a re- ii. Coage ou induz outrem à execução material do
incidência; decisão anterior extintiva da punibilidade do crime: a agravante somente recai sobre o coator, não sobre
agente pela prescrição da pretensão executória gera rein- o coacto, ainda que a coação tenha sido resistível. Também
cidência, uma vez que pressupõe a existência de sentença é agravada a pena daquele que cria a ideia delituosa na
penal condenatória transitada em julgado; a concessão de cabeça do agente, por intermédio da indução à execução
indulto gera reincidência; aceitação proposta de transação material.
penal e de sursis processual não gera reincidência. iii. Instiga ou determina a cometer o crime alguém
A reincidência deverá ser provada mediante certidão sujeito à sua autoridade ou não punível em virtude de con-
expedida pelo cartório criminal. Ela é circunstância prepon- dição ou qualidade pessoal:
derante. Entretanto, o STF tem decidido que não há docu- iv. Executa o crime, ou nele participa, mediante paga
mento específico exigido em Lei como necessário para se ou promessa de recompensa.
provar a reincidência.
b) Ter o agente cometido o crime: Circunstâncias Atenuantes
I. Por motivo fútil ou torpe: motivo fútil é aquele a) Ser o agente menor de 21 anos, na data do fato,
motivo insignificante, desproporcional. Torpe é o motivo ou maior de 70 na data da sentença: para efeitos de aplica-
vil, abjeto, que causa repugnância. ção da atenuante, foi publicada a Súmula 74, STJ, pela qual,
II. Para facilitar ou assegurar a execução, a ocultação, “para efeitos penais, o reconhecimento da menoridade do
a impunidade ou vantagem de outro crime: réu requer prova por documento hábil”. O mesmo se aplica
III. À traição, de emboscada, ou mediante dissimula- para o septuagenário. Em relação ao septuagenário, os tri-
ção, ou outro recurso que dificultou ou tornou impossível bunais têm sido unânimes e resistentes em não reconhecer
a defesa do ofendido: traição é o delito cometido median- o benefício se os 70 anos somente forem completos após a
te ataque súbito e sorrateiro, atingindo a vítima confiante. sentença, mas antes do acórdão confirmatório.
Emboscada é a tocaia, o aguardo da passagem da vítima. b) Desconhecimento da Lei: aqui, quanto maior a
Dissimulação é a ocultação da intenção hostil, para pegar a influência que o desconhecimento da Lei tenha causado,
vítima de surpresa. maior deverá ser a redução da pena. O desconhecimento
IV. Com o emprego de veneno, fogo, explosivo, tor- da Lei pode ser aplicado como circunstância atenuante; ele
tura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que podia re- simplesmente não tem a força de afastar a infração penal,
sulta perigo comum: salvo se constituir erro de proibição justificável.
V. Contra ascendente, descendente, irmão ou cônju- c) Ter o agente:
ge: a prova do parentesco deve constar obrigatoriamente i. Cometido o crime por motivo de relevante valor
nos autos, mediante documento próprio. social ou moral: valor social é aquele que atende mais aos
VI. Com abuso de autoridade ou prevalecendo-se de interesses da sociedade do que aos do próprio agente. É
relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade, ou crime cuja motivação está em conformidade com os pa-
com violência contra a mulher na forma da Lei específica: drões de valores morais do meio em que vive o agente, ou
VII. Com abuso de poder ou violação de dever ineren- da própria classe social a que pertence.
te a cargo, ofício, ministério ou profissão: ii. Procurado, por sua espontânea vontade e com
VIII. Contra criança, maior de 60 anos, enfermo ou eficiência, logo após o crime, evitar-lhe ou minorar-lhe
mulher grávida: criança é a pessoa que tem até 12 anos. as consequências, ou ter, antes do julgamento, reparado
Porém, essa idade não está prevista no CP, e sim no ECA o dano: não se confunde a hipótese com arrependimento

29
DIREITO PENAL

eficaz ou arrependimento posterior. Isso porque, no arre- rante com outra que não tenha essa natureza, prevalecerá
pendimento eficaz, o agente não causa danos, enquanto aquela do segundo momento da aplicação da pena. No
aqui, ele causa mas buscar minorar seus efeitos. Já no arre- concurso de circunstâncias agravantes e atenuantes de
pendimento posterior, o agente busca reparar o dano até o idêntico valor, a existência de ambas levará ao afastamen-
recebimento da denúncia ou da queixa, enquanto aqui, até to das duas.
o julgamento.
iii. Cometido o crime sob coação a que podia resistir, Causas de Aumento e de Diminuição de Pena
ou em cumprimento de ordem de autoridade superior, ou Muito corrente também é o equívoco provocado pela
sob a influência de violenta emoção, provocada por ato confusa redação do parágrafo único do artigo 68 do Có-
injusto da vítima: digo Penal, que se refere ao concurso entre causas de au-
iv. Confessado espontaneamente, perante a autori- mento e, também no concurso entre causas de diminuição.
dade, a autoria do crime: a confissão pode ser tanto pe- Muitos se confundem entendendo que o concurso previsto
rante a autoridade policial quanto judiciária. Se o agente neste dispositivo é entre as causas de aumento e diminui-
confessar perante a autoridade policial e voltar atrás pe- ção. O parágrafo único do artigo 68 teve escopo de orien-
rante o juiz, não deve ser aplicada a atenuante. tar os magistrados nestes casos. Portanto, quando houver
Por sua vez, a confissão deve ser pura e simples. Se concurso entre duas ou mais causas de aumento aplica-se
o agente confessa, mas alega em seu favor a existência a que mais aumenta, por outro lado, se houver concurso
de uma excludente de ilicitude ou de culpabilidade (con- entre causas de diminuição, aplica-se a que mais diminua.
fissão qualificada, agregação de teses discriminantes ou Ilustre-se que esta prerrogativa somente poderá ser usada
exculpantes), não fará jus ao benefício. Ainda sobre essa pelo juiz quando o concurso for entre causas majorantes
ou minorantes inseridas na parte especial do código penal.
atenuante, vide:
A circunstância atenuante de confissão espontânea é
Aplicação das Penas por Particulares
de caráter subjetivo, pessoal, uma vez que o ato de reco-
A aplicação das penas é um poder/dever exclusivo do
nhecer e declarar o ocorrido é prestado pela própria parte
Estado. Porém, no ordenamento jurídico brasileiro, há uma
à qual a benesse se destina. O que busca a norma é agra- hipótese em que se admite aos particulares exercer o jus
ciar o agente que contribui com a Justiça. puniendi. Vide:
v. Cometido o crime sob a influência de multidão Estatuto do índio
em tumulto, se não o provocou: ocorre nos crimes multi- Art. 57°. Será tolerada aplicação, pelos grupos tribais,
tudinários, aplicando-se sempre que o agente não tenha de acordo com as instituições próprias, de sanções penais
sido o provocador da baderna. ou disciplinares contra os seus membros, desde que não
revistam caráter cruel ou infamante, proibida em qualquer
Circunstâncias Atenuantes Inominadas caso a pena de morte.
O art. 66, CP, dispõe que a pena poderá ser ainda ate-
nuada em razão de circunstância relevante, anterior ou
posterior ao crime, embora não prevista expressamente
em Lei. É conceito jurídico indeterminado. O juiz poderá, INFRAÇÃO PENAL: ESPÉCIES.SUJEITO ATIVO
pois, atenuar a pena caso, v.g., o agente tenha crescido E SUJEITO PASSIVO DA INFRAÇÃO PENAL.
num ambiente negativo que influenciou a formação de
seu caráter.
A atenuante inominada é de aplicação obrigatória,
quando verificada pelo juiz. INFRAÇÃO PENAL

Concurso de Circunstâncias Agravantes e Atenuantes Elementos da Infração Penal


De acordo com o art. 67, CP, no concurso de agravan- A infração penal ocorre quando uma pessoa pratica
tes e atenuantes, a pena deve aproximar-se do limite indi- qualquer conduta descrita na lei e, através dessa conduta,
cado pelas circunstâncias preponderantes, entendendo-se ofende um bem jurídico de uma terceira pessoa.
como tais as que resultam dos motivos determinantes do Ou seja, as infrações penais constituem determinados
comportamentos humanos proibidos por lei, sob a ameaça
crime, da personalidade do agente e da reincidência. Logo,
de uma pena.
são três as espécies de circunstâncias preponderantes:
a) Motivos determinantes: aqueles que impulsiona-
Espécies de Infração Penal
ram o agente ao cometimento do delito.
A legislação brasileira, apresenta um sistema biparti-
b) Personalidade do agente: dados pessoais, inse- do sobre as espécies de infração penal, uma vez que exis-
paráveis da pessoa, como o caso de ser menor de 21 ou tem apenas duas espécies (crime = delito ≠ contravenção).
maior de 70 anos. Situação diferente ocorre com alguns países tais como a
c) Reincidência. França e a Espanha que adotaram o sistema tripartido (cri-
De acordo com o STF, a menoridade do réu (21 anos) me ≠ delito ≠ contravenção).
prepondera sobre todas as demais circunstâncias legais.
Se houve concurso de uma circunstância preponde-

30
DIREITO PENAL

As duas espécies de infração penal são: o crime, con- * Princípio da Lesividade: uma pessoa não pode ser,
siderado o mesmo que delito, e a contravenção. Ilustre-se, ao mesmo tempo, sujeito ativo e sujeito passivo de uma
porém que, apesar de existirem duas espécies, os conceitos infração penal.
são bem parecidos, diferenciando-se apenas na gravidade O princípio da lesividade diz que, para haver uma in-
da conduta e no tipo (natureza) da sanção ou pena. fração penal, a lesão deve ocorrer a um bem jurídico de
No que diz respeito à gravidade da conduta, os crimes alguém diferente do seu causador, ou seja, a ofensa deva
e delitos se distinguem por serem infrações mais graves,
extrapolar o âmbito da pessoa que a causou.
enquanto que a contravenção refere-se às infrações menos
Dessa forma, se uma pessoa dá vários socos em seu
graves.
próprio rosto (autolesão), não há crime de lesão corporal
Em relação ao tipo da sanção, a diferença tem origem
(Art. 129 do CP), pois não foi ofendido o bem jurídico de
no Art. 1º da Lei de Introdução ao Código Penal (Decreto-
uma terceira pessoa.
-Lei 3.914/41).
Entretanto, a autolesão pode caracterizar o crime de
Art. 1º - Considera-se crime a infração penal que a
fraude para recebimento de seguro (Art. 171, § 2o, V do CP)
lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer isolada-
ou criação de incapacidade para se furtar ao serviço militar
mente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena
(Art. 184 do CPM).
de multa; contravenção, a infração penal a que a lei comina,
isoladamente, penas de prisão simples ou de multa, ou am- Diferenças práticas entre crimes e contravenções
bas. Alternativa ou cumulativamente. a) Tentativa: no crime/delito a tentativa é punível, en-
Em razão dos crimes serem condutas mais graves, en- quanto que na contravenção, por força do Art. 4º do De-
tão eles são repelidos através da imposição de penas mais creto-Lei 3.688/41, a tentativa não é punível.
graves (reclusão ou detenção e/ou multa). b) Extraterritorialidade: no crime/delito, nas situações
As contravenções, todavia, por serem condutas menos do Art. 7º do Código Penal, a extraterritorialidade é aplica-
graves, são sancionadas com penas menos graves (prisão da, enquanto que nas contravenções a extraterritorialidade
simples e/ou multa). não é aplicada.
A escolha se determinada infração penal será crime/ c) Tempo máximo de pena: no crime/delito, o tempo
delito ou contravenção é puramente política, da mesma máximo de cumprimento de pena é de 30 anos, enquanto
forma que o critério de escolha dos bens que devem ser que nas contravenções, por serem menos graves, o tempo
protegidos pelo Direito Penal. Além disso, o que hoje é máximo de cumprimento de pena é de 5 anos.
considerado crime pode vir, no futuro, a ser considerada d) Reincidência: de acordo com o Art. 7º do Decreto-
infração e vice-versa. O exemplo disso aconteceu com a -Lei 3.688/41, é possível a reincidência nas contravenções.
conduta de portar uma arma ilegalmente. Até 1997, tal A reincidência ocorrerá após a prática de crime ou contra-
conduta caracterizava uma mera contravenção, porém, venção no Brasil e após a prática de crime no estrangeiro.
com o advento da Lei 9.437/97, esta infração passou a ser Não há reincidência após a prática de contravenção no es-
considerada crime/delito. trangeiro.
“Art. 7º Verifica-se a reincidência quando o agente pra-
Sujeito Ativo tica uma contravenção depois de passar em julgado a sen-
Sujeito Ativo ou agente: é aquele que ofende o bem ju- tença que o tenha condenado, no Brasil ou no estrangeiro,
rídico protegido por lei. Em regra só o ser humano maior por qualquer crime, ou, no Brasil, por motivo de contra-
de 18 anos pode ser sujeito ativo de uma infração penal. A venção.”
exceção acontece nos crimes contra o meio ambiente onde
existe a possibilidade da pessoa jurídica ser sujeito ativo, Semelhança no estudo dos crimes e contravenções.
conforme preconiza o Art. 225, § 3º da Constituição Federal. Vimos que em termos práticos existem algumas dife-
Art. 225 [...]. renças entre crime e contravenção, porém, não podemos
§ 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao falar o mesmo sobre a essência dessas infrações. Tanto a
meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou contravenção como o crime, substancialmente, são fatos
jurídicas, a sanções penais e administrativas, independen- típicos, ilícitos e, para alguns, culpáveis.
temente da obrigação de reparar os danos causados. Ou seja, possuem a mesma estrutura.

Sujeito Passivo
O Sujeito Passivo pode ser de dois tipos. O sujeito pas-
sivo formal é sempre o Estado, pois tanto ele como a socie-
dade são prejudicados quando as leis são desobedecidas.
O sujeito passivo material é o titular do bem jurídico ofen-
dido e pode ser tanto pessoa física como pessoa jurídica.
*É possível que o Estado seja ao mesmo tempo sujeito
passivo formal e sujeito passivo material. Como exemplo,
podemos citar o furto de um computador de uma repar-
tição pública.

31
DIREITO PENAL

A doutrina moderna dá preferência ao exame do re-


TIPICIDADE, ILICITUDE, CULPABILIDADE, sultado jurídico . Este constitui elemento implícito de todo
PUNIBILIDADE. fato penalmente típico , pois se encontra ínsito na noção
de tipicidade material.
O resultado naturalístico, porém, não pode ser menos-
prezado, uma vez que se cuida de elementar presente em
Prezado Candidato , os temas Culpabilidade e pu- determinados tipos penais, de tal modo que desprezar sua
nibilidade já foram abordados em tópicos anteriores. análise seria malferir o princípio da legalidade.

Tipicidade Ilicitude
A Tipicidade é a relação de enquadramento entre o Ilícito penal, é o crime ou delito. Ou seja, é o descum-
fato delituoso (concreto) e o modelo (abstrato) contido na primento de um dever jurídico imposto por normas de di-
lei penal. É preciso que todos os elementos presentes no reito público, sujeitando o agente a uma pena.
tipo se reproduzam na situação de fato Na ilicitude penal, a antijuridicidade é a contradição
Assim, o Fato Típico é denominado como o comporta- entre uma conduta e o ordenamento jurídico. O fato típico,
mento humano que se molda perfeitamente aos elementos até prova em contrário, é um fato que, ajustando-se a um
constantes do modelo previsto na lei penal. tipo penal, é antijurídico.
A primeira característica do crime é ser um fato típico,
descrito, como tal, numa lei penal. Um acontecimento da Exclusão de ilicitude é uma causa excepcional que retira
vida que corresponde exatamente a um modelo de fato o caráter antijurídico de uma conduta tipificada como crimi-
contido numa norma penal incriminadora, a um tipo. nosa (fato típico).
Art. 23 - Exclusão da ilicitude
Para que o operador do Direito possa chegar à con-
Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato:
clusão de que determinado acontecimento da vida é um
I - em estado de necessidade;
fato típico, deve debruçar-se sobre ele e, analisando-o, de-
II - em legítima defesa;
compô-lo em suas faces mais simples, para verificar, com
III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercí-
certeza absoluta, se entre o fato e o tipo existe relação de
cio regular de direito.
adequação exata, fiel, perfeita, completa, total e absoluta.
Excesso punível
Essa relação é a tipicidade.
Parágrafo único - O agente, em qualquer das hipóteses
Para que determinado fato da vida seja considerado deste artigo, responderá pelo excesso doloso ou culposo.
típico, é preciso que todos os seus componentes, todos os A ação do homem será típica sob o aspecto criminal
seus elementos estruturais sejam, igualmente, típicos. quando a lei penal a descreve como sendo um delito. Numa
Os elementos de um fato típico são a conduta humana, primeira compreensão, isso também basta para se afirmar
a consequência dessa conduta se ela a produzir (o resulta- que ela está em desacordo com a norma, que se trata de uma
do), a relação de causa e efeito entre aquela e esta (nexo conduta ilícita ou, noutros termos, antijurídica.
causal) e, por fim, a tipicidade. Essa ilicitude ou antijuridicidade, contudo, consistente
na relação de contrariedade entre a conduta típica do autor
Conduta e o ordenamento jurídico, pode ser suprimida, desde de que,
Considera-se conduta a ação ou omissão humana no caso concreto, estejam presentes uma das hipóteses pre-
consciente e voluntária dirigida a uma finalidade. A condu- vistas no artigo 23 do Código Penal: o estado de necessidade,
ta compreende duas formas: o agir e o omitir-se. a legítima defesa, o estrito cumprimento do dever legal ou o
exercício regular de direito.
Resultado O estado de necessidade e a legítima defesa são concei-
A expressão resultado tem natureza equívoca, já que tuados nos artigos 24 e 25 do Código Penal, merecendo des-
possui dois significados distintos em matéria penal. Pode taque, neste tópico, apenas o estrito cumprimento do dever
se falar, assim, em resultado material ou naturalístico e em legal e o exercício regular de um direito, como excludentes
resultado jurídico ou normativo. da ilicitude ou da antijuridicidade.
O resultado naturalístico ou material consiste na modi- A expressão estrito cumprimento do dever legal, por si
ficação no mundo exterior provocada pela conduta. Trata- só, basta para justificar que tal conduta não é ilícita, ainda
-se de um evento que só se faz necessário em crimes mate- que se constitua típica. Isso porque, se a ação do homem de-
riais, ou seja, naqueles cujo tipo penal descreva a conduta corre do cumprimento de um dever legal, ela está de acordo
e a modificação no mundo externo, exigindo ambas para com a lei, não podendo, por isso, ser contrária a ela. Noutros
efeito de consumação. termos, se há um dever legal na ação do autor, esta não pode
O resultado jurídico ou normativo reside na lesão ou ser considerada ilícita, contrária ao ordenamento jurídico.
ameaça de lesão ao bem jurídico tutelado pela norma pe- Um exemplo possível de estrito cumprimento do de-
nal. Todas as infrações devem conter, expressa ou impli- ver legal pode restar configurado no crime de homicídio, em
citamente, algum resultado, pois não há delito sem que que, durante tiroteio, o revide dos policiais, que estavam no
ocorra lesão ou perigo (concreto ou abstrato) a algum bem cumprimento de um dever legal, resulta na morte do margi-
penalmente protegido. nal. Neste sentido - RT 580/447.

32
DIREITO PENAL

O exercício regular de um direito, como excludente da corporais). Esta distinção em homogêneo e heterogêneo é
ilicitude, também quer evitar a antinomia nas relações jurí- apenas doutrinária, não importando na forma de aplicação
dicas, posto que, se a conduta do autor decorre do exercício da pena.
regular de um direito, ainda que ela seja típica, não poderá Havendo concurso material, a forma de aplicação das
ser considerada antijurídica, já que está de acordo com o penas será o cúmulo material, que é aquele onde as penas
direito. dos diversos crimes são somadas umas as outras, não ha-
Um exemplo de exercício regular de um direito, como vendo benefício ao agente. Desta forma, o agente que me-
excludente da ilicitude, é o desforço imediato, empregado diante duas condutas, cometeu o crime de furto simples e
pela vítima da turbação ou do esbulho possessório, enquan- recebeu pena de quatro anos de reclusão, e um homicídio
to possuidor que pretende reaver a posse da coisa para si qualificado, tendo recebido pena de doze anos de reclu-
(RT - 461/341). são, terá as penas destes crimes somadas para questões de
A incidência da excludente da ilicitude, conduto, não cumprimento.
pode servir de salvo conduto para eventuais excessos do au- Em caso as espécies de penas não sejam iguais, cum-
tor, que venham a extrapolar os limites do necessário para a pre-se primeiro a mais grave, assim, a reclusão deve ser
defesa do bem jurídico, do cumprimento de um dever legal cumprida primeiro que a detenção.
ou do exercício regular de um direito. Havendo excesso, o Apesar dos prazos prescricionais serem considerados
autor do fato será responsável por ele, caso restem verifi- individualmente para cada crime, o mesmo não acontece
cados seu dolo ou sua culpa. Nesse sentido é a regra do com a aplicação das penas restritivas de direitos, que só
parágrafo único do artigo 23 do Código Penal. são permitidas, caso em um dos crimes seja permitida a
concessão do sursis (suspensão condicional da pena). Mas
caso sejam aplicadas, as penas restritivas serão cumpridas
simultaneamente quando compatíveis, ou sucessivamente,
IMPUTABILIDADE PENAL. quando houver incompatibilidade entre as mesmas.
Com relação à suspensão condicional do processo, a
regra é que seja feito o somatório das penas, se a mínima
for igual ou inferior a um ano, esta será possível. Portanto,
Prezado candidato , o tema acima supracitado , já a aplicação não é individual.
foi abordado em tópicos anteriores.
Concurso Formal
O concurso formal é aquele em que o agente mediante
uma única ação ou omissão, comete dois ou mais crimes.
CONCURSO DE PESSOAS. Este pode se dividir em formal próprio ou impróprio.
No próprio, era querido apenas um resultado, mas por
erro na execução ou por acidente, dois ou mais são atin-
gidos. É o exemplo do assassino que atira em seu inimigo,
Concurso de Crimes mas por ocasião o disparo além de atingi-lo, também atin-
O concurso de crimes acontece quando o agente co- ge outra pessoa. Neste caso é utilizado o sistema da exas-
mete mais de um crime mediante uma ou mais ação ou peração, que é quando apenas a pena de um dos crimes
omissão. No direito brasileiro, por questões de política cri- é aplicada se forem iguais, ou a maior deles se diversos,
minal, cada forma de concurso tem uma maneira distinta sendo em qualquer dos casos elevada de um sexto até me-
no sistema de aplicação e cálculo das penas. tade.
Os tipos de concurso admitidos no direito brasileiro No impróprio, o agente mediante uma única ação ou
são o material, que pode se dividir em homogênio e he- omissão produz mais de um resultado, tendo vontade de
terogêneo; o formal, que pode ser dividido em próprio e produzi-los ou sendo indiferente quanto a estes, neste
impróprio; além do crime continuado.
caso, acontece o que a doutrina chama de desígnios autô-
As formas adotadas para aplicação das penas a cada
nomos, que é quando se quer todos os resultados produ-
tipo de concurso são os sistemas do cúmulo material e o
zidos, mesmo a título de dolo eventual. Para que não tor-
da exasperação, em alguns casos, também encontramos o
cúmulo material benéfico, sendo este um desdobramen- ne benéfica a prática de mais de um crime por uma única
to para evitar um prejuízo maior ao agente, sempre que o ação, no concurso formal impróprio, é utilizado o sistema
sistema de exasperação for menos benéfico que o cúmulo de cúmulo material das penas, o mesmo que é utilizado
material. no concurso material. Havendo apenas a soma das penas
aplicadas aos diversos crimes.
Concurso Material Ainda no caso do concurso formal, quando as penas
O concurso material de crimes acontece quando o aplicadas por o sistema de exasperação superarem as que
agente comete dois ou mais crimes mediante mais de uma por ventura fossem aplicadas por o sistema do cúmulo ma-
ação ou omissão. Ele pode ser tanto homogêneo, quando terial, para que o apenado não saia prejudicado, sua pena
os crimes cometidos são idênticos (dois homicídios sim- será computada como se desta forma fosse, este é o cha-
ples, por exemplo), ou heterogêneo, quando os crimes são mado cúmulo material benéfico. Exemplificando, caso o
de natureza diversa (Um homicídio qualificado e lesões agente cometa um homicídio simples e uma lesão corporal

33
DIREITO PENAL

em concurso formal próprio, sua pena seria a do homicídio b) inexistência da possibilidade de conhecimento da ili-
(por ser maior) acrescida de um terço até metade, o que citude:
poderia, dependendo do aumento aplicado, ser maior que - erro de proibição (art. 21).
a do homicídio e das lesões corporais somadas. Assim caso
a pena aplicada pelo sistema da exasperação seja maior c) inexigibilidade de conduta diversa:
que a que fosse aplicada pelo cúmulo material, este será - coação moral irresistível (art. 22, 1ª parte);
o aplicado. - obediência hierárquica (art. 22, 2ª parte).
O aumento de pena no concurso formal deve ser fun-
damentado pelo juiz, devendo, segundo a maioria dos Concurso de Pessoas
doutrinadores, ser aplicado levando em consideração o O concurso de pessoas é o cometimento da infração
número de vítimas ou a quantidade de crimes praticados. penal por mais de um pessoa. Tal cooperação da prática da
Para a aplicação da suspensão condicional do proces- conduta delitiva pode se dar por meio da coautoria, partici-
so, é necessário que se faça primeiro o cálculo da pena com pação, concurso de delinquentes ou de agentes, entre ou-
o acréscimo de um terço até metade, para só assim fixar os tras formas. Existem ainda três teorias sobre o concurso de
novos limites mínimos. pessoas, vejamos:
a) teoria unitária: quando mais de um agente concorre
O excesso Punível para a prática da infração penal, mas cada um praticando
Ao reagir à agressão injusta que está sofrendo, ou em conduta diversa do outro, obtendo, porém, um só resulta-
vias de sofrê-la, em relação ao meio usado o agente pode do. Neste caso, haverá somente um delito. Assim, todos os
encontrar-se em três situações diferentes: agentes incorrem no mesmo tipo penal. Tal teoria é adota-
- usa de um meio moderado e dentro do necessário da pelo Código Penal.
para repelir à agressão; b) teoria pluralista: quando houver mais de um agen-
Haverá necessariamente o reconhecimento da legítima te, praticando cada um conduta diversa dos demais, ainda
defesa. que obtendo apenas um resultado, cada qual responderá
- de maneira consciente emprega um meio desnecessá- por um delito. Esta teoria foi adotada pelo Código Penal
rio ou usa imoderadamente o meio necessário; ao tratar do aborto, pois quando praticado pela gestante,
A legítima defesa fica afastada por excluído um dos esta incorrerá na pena do art. 124, se praticado por outrem,
seus requisitos essenciais. aplicar-se-á a pena do art. 126. O mesmo procedimento
- após a reação justa (meio e moderação) por impre- ocorre na corrupção ativa e passiva.
vidência ou conscientemente continua desnecessariamente c) teoria dualista: segundo tal teoria, quando houver
na ação. mais de um agente, com diversidades de conduta, pro-
No terceiro agirá com excesso, o agente que intensifica vocando-se um resultado, deve-se separar os coautores
demasiada e desnecessariamente a reação inicialmente jus- e partícipes, sendo que cada “grupo” responderá por um
tificada. O excesso poderá ser doloso ou culposo. O agente delito.
responderá pela conduta constitutiva do excesso.
Autoria e participação
Culpabilidade Há dois posicionamentos sobre o assunto, embora am-
Culpabilidade é um elemento integrante do conceito bos dentro da teoria objetiva:
definidor de uma infração penal. A motivação e objetivos a) teoria formal: de acordo com a teoria formal, autor
subjetivos do agente praticante da conduta ilegal. A culpabi- é o agente que pratica a figura típica descrita no tipo pe-
lidade aufere, a princípio, se o agente da conduta ilícita é pe- nal, e partícipe é aquele que comete ações não contidas
nalmente culpável, isto é, se ele agiu com dolo (intenção), ou no tipo, respondendo apenas pelo auxílio que prestou (en-
pelo menos com imprudência, negligência ou imperícia, nos tendimento majoritário). Exemplo: o agente que furta os
casos em que a lei prever como puníveis tais modalidades
bens de uma pessoa, incorre nas penas do art. 155 do CP,
enquanto aquele que o aguarda com o carro para ajudá-lo
Causas de exclusão da culpabilidade
a fugir, responderá apenas pela colaboração.
O Código Penal prevê causas que excluem a culpabilida-
de pela ausência de um de seus elementos, ficando o sujeito b) teoria normativa: aqui o autor é o agente que, além
isento de pena, ainda que tenha praticado um fato típico e de praticar a figura típica, comanda a ação dos demais (“au-
antijurídico. tor executor” e “autor intelectual”). Já o partícipe é aquele
colabora para a prática da conduta delitiva, mas sem reali-
a) inimputabilidade: a incapacidade de entender o cará- zar a figura típica descrita, e sem ter controle das ações dos
ter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse demais. Assim, aquele que planeja o delito e aquele que o
entendimento. executa são coautores.
- doença mental, desenvolvimento mental incompleto
ou retardado (art. 26); Sendo assim, de acordo com a opinião majoritária -
- desenvolvimento mental incompleto por presunção teoria formal, o executor de reserva é apenas partícipe, ou
legal, do menor de 18 anos (art. 27); seja, se João atira em Pedro e o mata, e logo após Mario
- embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou também desfere tiros em Pedro, Mario (executor de reser-
força maior (art. 28, § 1º). va) responderá apenas pela participação, pois não praticou

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DIREITO PENAL

a conduta matar, já que atirou em um cadáver. Ressalta-se, Homicídio qualificado - Artigo 121 - parágrafo segun-
porém, que o juiz poderá aplicar penas iguais para autor do – É a conduta típica do homicídio onde se aumen-
e partícipe, e até mesmo pena mais gravosa a este último, ta a pena pela prática do crime, pela sua ocorrência nas
quando, por exemplo, for o mentor do crime. seguintes condições: mediante paga ou promessa de re-
compensa, ou por outro motivo torpe; por motivo fútil,
Sobre o assunto, preceitua o art. 29 do CP que, “quem, com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura
de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas ou outro meio insidioso ou cruel, ou do qual possa resultar
a este cominadas, na medida de sua culpabilidade”, des- perigo comum; por traição, emboscada, ou mediante dissi-
sa forma deve-se analisar cada caso concreto de modo a mulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível
verificar a proporção da colaboração. Além disso, se a par- a defesa do ofendido; e para assegurar a execução, a ocul-
ticipação for de menor importância, a pena pode ser dimi- tação, a impunidade ou a vantagem de outro crime.
nuída de um sexto a um terço, segundo disposição do § 1º Homicídio Culposo - Artigo 121- parágrafo terceiro –
do artigo supramencionado, e se algum dos concorrentes É a conduta típica do homicídio que se dá pela imprudên-
quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada cia, negligência ou imperícia do agente, o qual produz um
a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na resultado não pretendido, mas previsível, estando claro
hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave (art. que o resultado poderia ter sido evitado.
29, § 2º, do CP). No homicídio culposo a pena é aumentada de um ter-
Ademais, quando o autor praticar fato atípico ou se ço, se o crime resulta de inobservância de regra técnica de
não houver antijuridicidade, não há o que se falar em puni- profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar
ção ao partícipe - teoria da acessoriedade limitada. imediato socorro à vítima. O mesmo ocorre se não procu-
ra diminuir as consequências do seu ato, ou foge para evi-
tar prisão em flagrante. Sendo o homicídio doloso, a pena
é aumentada de um terço se o crime é praticado contra
DAS PENAS. pessoa menor de quatorze ou maior de sessenta anos.
Perdão Judicial - Na hipótese de homicídio culposo, o
juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as consequências
da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave
que torne desnecessária a sanção penal.
Prezado candidato , o tema acima supracitado já foi
Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio - Artigo
abordado em tópicos anteriores.
122 do CPB – Ato pelo qual o agente induz ou instiga al-
guém a se suicidar ou presta-lhe auxílio para que o faça.
Reclusão de dois a seis anos, se o suicídio se consumar,
ou reclusão de um a três anos, se da tentativa de suicídio
CRIMES CONTRA A PESSOA.
resultar lesão corporal de natureza grave.
A pena é duplicada se o crime é praticado por motivo
egoístico, se a vítima é menor ou se tem diminuída, por
qualquer causa, a capacidade de resistência. Neste crime
Crimes. não se pune a tentativa.
Infanticídio - Artigo 123 – Homicídio praticado pela
Dos crimes contra a pessoa - crimes contra a vida mãe contra o filho, sob condições especiais (em estado
puerperal, isto é, logo pós o parto).
HOMICÍDIO Aborto - Artigo 124 – Ato pelo qual a mulher interrom-
De forma geral, o homicídio é o ato de destruição da pe a gravidez de forma a trazer destruição do produto da
vida de um homem por outro homem. De forma objetiva, concepção. No auto-aborto ou no aborto com consenti-
é o ato cometido ou omitido que resulta na eliminação da mento da gestante, esta sempre será o sujeito ativo do ato,
vida do ser humano. e o feto, o sujeito passivo. No aborto sem o consentimento
Homicídio simples – Artigo 121 do CPB – É a conduta da gestante, os sujeitos passivos serão o feto e a gestante.
típica limitada a “matar alguém”. Esta espécie de homicí- Aborto provocado por terceiro – É o aborto provocado sem
dio não possui características de qualificação, privilégio o consentimento da gestante. Pena: reclusão, de três a dez anos.
ou atenuação. É o simples ato da prática descrita na in- Aborto provocado com o consentimento da gestante
terpretação da lei, ou seja, o ato de trazer a morte a uma – Reclusão, de um a quatro anos. A pena pode ser aumen-
pessoa. tada para reclusão de três a dez anos, se a gestante for
Homicídio privilegiado - Artigo 121 - parágrafo pri- menor de quatorze anos, se for alienada ou débil mental,
meiro – É a conduta típica do homicídio que recebe o ou ainda se o consentimento for obtido mediante fraude,
benefício do privilégio, sempre que o agente comete o grave ameaça ou violência.
crime impelido por motivo de relevante valor social ou Forma qualificada - As penas são aumentadas de um
moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo após terço se, em consequência do aborto ou dos meios em-
a injusta provocação da vítima, podendo o juiz reduzir a pregados para provocá-lo, a gestante sofrer lesão corporal
pena de um sexto a um terço. de natureza grave. São duplicadas se, por qualquer dessas
causas, lhe sobrevém a morte.

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DIREITO PENAL

Aborto necessário - Não se pune o aborto praticado Homicídio qualificado


por médico: se não há outro meio de salvar a vida da ges- § 2° Se o homicídio é cometido:
tante; e se a gravidez resulta de estupro e o aborto é pre- I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por
cedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, outro motivo torpe;
de seu representante legal. II - por motivo futil;
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia,
Lesões corporais tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa
resultar perigo comum;
Lesão corporal - Ofensa à integridade corporal ou a IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação
saúde de outra pessoa. ou outro recurso que dificulte ou torne impossivel a defesa
do ofendido;
Lesão corporal de natureza grave - Artigo 129 - pa- V - para assegurar a execução, a ocultação, a
rágrafo primeiro - Se resulta: incapacidade para as ocu- impunidade ou vantagem de outro crime:
pações habituais, por mais de trinta dias; perigo de vida; Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
debilidade permanente de membro, sentido ou função; ou Feminicídio (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
aceleração de parto. VI - contra a mulher por razões da condição de sexo
feminino: (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
Lesão corporal de natureza gravíssima - Artigo 129 - VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts.
parágrafo primeiro - Se resulta: incapacidade permanente 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema
para o trabalho; enfermidade incurável; perda ou inutiliza- prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no
ção do membro, sentido ou função; deformidade perma- exercício da função ou em decorrência dela, ou contra
nente; ou aborto. seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até
Lesão corporal seguida de morte - Se resulta morte e terceiro grau, em razão dessa condição: (Incluído pela Lei
as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o re- nº 13.142, de 2015)
sultado, nem assumiu o risco de produzi-lo (é o homicídio Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
preterintencional). § 2o-A Considera-se que há razões de condição de
sexo feminino quando o crime envolve: (Incluído pela Lei
Diminuição de pena - Se o agente comete o crime im- nº 13.104, de 2015)
pelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou I - violência doméstica e familiar; (Incluído pela Lei nº
ainda sob o domínio de violenta emoção, seguida de injus- 13.104, de 2015)
ta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um II - menosprezo ou discriminação à condição de
sexto a um terço. mulher. (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
Homicídio culposo
Lesão corporal culposa – Se o agente não queria o re- § 3º Se o homicídio é culposo: (Vide Lei nº 4.611, de
sultado do ato praticado, mesmo sabendo que tal resulta- 1965)
do era previsível. Pena - detenção, de um a três anos.
Aumento de pena
Violência doméstica - Se a lesão for praticada contra § 4o No homicídio culposo, a pena é aumentada de
ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância de
ou com quem conviva ou tenha convivido; ou ainda preva- regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente
lecendo-se o agente das relações domésticas, de coabita- deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura
ção ou de hospitalidade. Pena: detenção, de três meses a diminuir as conseqüências do seu ato, ou foge para evitar
três anos. prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é
aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra
TÍTULO I pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta)
DOS CRIMES CONTRA A PESSOA anos. (Redação dada pela Lei nº 10.741, de 2003)
CAPÍTULO I § 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá
DOS CRIMES CONTRA A VIDA deixar de aplicar a pena, se as conseqüências da infração
atingirem o próprio agente de forma tão grave que a
Homicídio simples sanção penal se torne desnecessária. (Incluído pela Lei nº
Art. 121. Matar alguem: 6.416, de 24.5.1977)
Pena - reclusão, de seis a vinte anos. § 6o A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a
Caso de diminuição de pena metade se o crime for praticado por milícia privada, sob
§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por
de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de grupo de extermínio. (Incluído pela Lei nº 12.720, de 2012)
violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da § 7o A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um
vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço. terço) até a metade se o crime for praticado: (Incluído pela
Lei nº 13.104, de 2015)

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DIREITO PENAL

I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores Pena - detenção, de três meses a um ano.
ao parto; (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015) Lesão corporal de natureza grave
II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de § 1º Se resulta:
60 (sessenta) anos ou com deficiência; (Incluído pela Lei nº I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais
13.104, de 2015) de trinta dias;
III - na presença de descendente ou de ascendente da II - perigo de vida;
vítima. (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015) III - debilidade permanente de membro, sentido ou
Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio função;
Art. 122 - Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou IV - aceleração de parto:
prestar-lhe auxílio para que o faça: Pena - reclusão, de um a cinco anos.
Pena - reclusão, de dois a seis anos, se o suicídio se § 2° Se resulta:
consuma; ou reclusão, de um a três anos, se da tentativa de I - Incapacidade permanente para o trabalho;
suicídio resulta lesão corporal de natureza grave. II - enfermidade incuravel;
Parágrafo único - A pena é duplicada: III perda ou inutilização do membro, sentido ou função;
Aumento de pena IV - deformidade permanente;
I - se o crime é praticado por motivo egoístico; V - aborto:
II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer Pena - reclusão, de dois a oito anos.
causa, a capacidade de resistência. Lesão corporal seguida de morte
Infanticídio § 3° Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam
Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, que o agente não quís o resultado, nem assumiu o risco
o próprio filho, durante o parto ou logo após: de produzí-lo:
Pena - detenção, de dois a seis anos. Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
Aborto provocado pela gestante ou com seu Diminuição de pena
consentimento § 4° Se o agente comete o crime impelido por motivo
Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir de relevante valor social ou moral ou sob o domínio de
que outrem lho provoque: (Vide ADPF 54) violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da
Pena - detenção, de um a três anos. vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.
Aborto provocado por terceiro Substituição da pena
Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da § 5° O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda
gestante: substituir a pena de detenção pela de multa, de duzentos
Pena - reclusão, de três a dez anos. mil réis a dois contos de réis:
Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da I - se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo
gestante: (Vide ADPF 54) anterior;
Pena - reclusão, de um a quatro anos. II - se as lesões são recíprocas.
Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, Lesão corporal culposa
se a gestante não é maior de quatorze anos, ou é alienada § 6° Se a lesão é culposa: (Vide Lei nº 4.611, de 1965)
ou debil mental, ou se o consentimento é obtido mediante Pena - detenção, de dois meses a um ano.
fraude, grave ameaça ou violência Aumento de pena
Forma qualificada § 7o Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se ocorrer
Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos qualquer das hipóteses dos §§ 4o e 6o do art. 121 deste
anteriores são aumentadas de um terço, se, em Código. (Redação dada pela Lei nº 12.720, de 2012)
conseqüência do aborto ou dos meios empregados para § 8º - Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do
provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza art. 121.(Redação dada pela Lei nº 8.069, de 1990)
grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe Violência Doméstica (Incluído pela Lei nº 10.886, de
sobrevém a morte. 2004)
Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico: § 9o Se a lesão for praticada contra ascendente,
(Vide ADPF 54) descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com
Aborto necessário quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-
I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante; se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de
Aborto no caso de gravidez resultante de estupro hospitalidade: (Redação dada pela Lei nº 11.340, de 2006)
II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três)
precedido de consentimento da gestante ou, quando anos. (Redação dada pela Lei nº 11.340, de 2006)
incapaz, de seu representante legal. § 10. Nos casos previstos nos §§ 1o a 3o deste artigo,
se as circunstâncias são as indicadas no § 9o deste artigo,
CAPÍTULO II aumenta-se a pena em 1/3 (um terço). (Incluído pela Lei nº
DAS LESÕES CORPORAIS 10.886, de 2004)
§ 11. Na hipótese do § 9o deste artigo, a pena será
Lesão corporal aumentada de um terço se o crime for cometido contra
Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde pessoa portadora de deficiência.  (Incluído pela Lei nº
de outrem: 11.340, de 2006)

37
DIREITO PENAL

§ 12. Se a lesão for praticada contra autoridade § 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza
ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição grave:
Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Pena - detenção, de um a três anos.
Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou § 2º - Se resulta a morte:
em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro Pena - detenção, de dois a seis anos.
ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão Omissão de socorro
dessa condição, a pena é aumentada de um a dois terços. Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando pos-
(Incluído pela Lei nº 13.142, de 2015) sível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou
extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo
CAPÍTULO III ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos,
DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE o socorro da autoridade pública:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
Perigo de contágio venéreo Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se
Art. 130 - Expor alguém, por meio de relações sexuais da omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e tri-
ou qualquer ato libidinoso, a contágio de moléstia venérea, plicada, se resulta a morte.
de que sabe ou deve saber que está contaminado: Condicionamento de atendimento médico-hospitalar
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. emergencial (Incluído pela Lei nº 12.653, de 2012).
§ 1º - Se é intenção do agente transmitir a moléstia: Art. 135-A. Exigir cheque-caução, nota promissória ou
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. qualquer garantia, bem como o preenchimento prévio de
§ 2º - Somente se procede mediante representação. formulários administrativos, como condição para o atendi-
Perigo de contágio de moléstia grave mento médico-hospitalar emergencial: (Incluído pela Lei
Art. 131 - Praticar, com o fim de transmitir a outrem nº 12.653, de 2012).
moléstia grave de que está contaminado, ato capaz de pro- Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e
duzir o contágio: multa. (Incluído pela Lei nº 12.653, de 2012).
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
Parágrafo único. A pena é aumentada até o dobro
Perigo para a vida ou saúde de outrem
se da negativa de atendimento resulta lesão corporal de
Art. 132 - Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo
natureza grave, e até o triplo se resulta a morte. (Incluído
direto e iminente:
pela Lei nº 12.653, de 2012).
Pena - detenção, de três meses a um ano, se o fato não
Maus-tratos
constitui crime mais grave.
Art. 136 - Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa
Parágrafo único. A pena é aumentada de um sexto a
sob sua autoridade, guarda ou vigilância, para fim de edu-
um terço se a exposição da vida ou da saúde de outrem a
cação, ensino, tratamento ou custódia, quer privando-a de
perigo decorre do transporte de pessoas para a prestação
de serviços em estabelecimentos de qualquer natureza, alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-
em desacordo com as normas legais. (Incluído pela Lei nº -a a trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando de
9.777, de 1998) meios de correção ou disciplina:
Abandono de incapaz Pena - detenção, de dois meses a um ano, ou multa.
Art. 133 - Abandonar pessoa que está sob seu cuidado, § 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza
guarda, vigilância ou autoridade, e, por qualquer motivo, grave:
incapaz de defender-se dos riscos resultantes do abando- Pena - reclusão, de um a quatro anos.
no: § 2º - Se resulta a morte:
Pena - detenção, de seis meses a três anos. Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
§ 1º - Se do abandono resulta lesão corporal de natu- § 3º - Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é
reza grave: praticado contra pessoa menor de 14 (catorze) anos. (In-
Pena - reclusão, de um a cinco anos. cluído pela Lei nº 8.069, de 1990)
§ 2º - Se resulta a morte:
Pena - reclusão, de quatro a doze anos. CAPÍTULO IV
Aumento de pena DA RIXA
§ 3º - As penas cominadas neste artigo aumentam-se Rixa
de um terço: Art. 137 - Participar de rixa, salvo para separar os con-
I - se o abandono ocorre em lugar ermo; tendores:
II - se o agente é ascendente ou descendente, cônjuge, Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou mul-
irmão, tutor ou curador da vítima. ta.
III – se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos (Incluído Parágrafo único - Se ocorre morte ou lesão corporal
pela Lei nº 10.741, de 2003) de natureza grave, aplica-se, pelo fato da participação na
Exposição ou abandono de recém-nascido rixa, a pena de detenção, de seis meses a dois anos.
Art. 134 - Expor ou abandonar recém-nascido, para
ocultar desonra própria:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos.

38
DIREITO PENAL

CAPÍTULO V Parágrafo único - Se o crime é cometido mediante


DOS CRIMES CONTRA A HONRA paga ou promessa de recompensa, aplica-se a pena em
dobro.
Calúnia Exclusão do crime
Art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente Art. 142 - Não constituem injúria ou difamação puní-
fato definido como crime: vel:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa. I - a ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa,
§ 1º - Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a pela parte ou por seu procurador;
imputação, a propala ou divulga. II - a opinião desfavorável da crítica literária, artística
§ 2º - É punível a calúnia contra os mortos. ou científica, salvo quando inequívoca a intenção de inju-
Exceção da verdade riar ou difamar;
§ 3º - Admite-se a prova da verdade, salvo: III - o conceito desfavorável emitido por funcionário
I - se, constituindo o fato imputado crime de ação pri- público, em apreciação ou informação que preste no cum-
vada, o ofendido não foi condenado por sentença irrecor- primento de dever do ofício.
rível; Parágrafo único - Nos casos dos ns. I e III, responde
II - se o fato é imputado a qualquer das pessoas indi- pela injúria ou pela difamação quem lhe dá publicidade.
cadas no nº I do art. 141; Retratação
III - se do crime imputado, embora de ação pública, o Art. 143 - O querelado que, antes da sentença, se re-
ofendido foi absolvido por sentença irrecorrível. trata cabalmente da calúnia ou da difamação, fica isento
Difamação de pena.
Art. 139 - Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensi- Parágrafo único. Nos casos em que o querelado tenha
vo à sua reputação: praticado a calúnia ou a difamação utilizando-se de meios
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. de comunicação, a retratação dar-se-á, se assim desejar o
Exceção da verdade ofendido, pelos mesmos meios em que se praticou a ofen-
Parágrafo único - A exceção da verdade somente se sa. (Incluído pela Lei nº 13.188, de 2015)
admite se o ofendido é funcionário público e a ofensa é Art. 144 - Se, de referências, alusões ou frases, se infere
relativa ao exercício de suas funções. calúnia, difamação ou injúria, quem se julga ofendido pode
Injúria pedir explicações em juízo. Aquele que se recusa a dá-las
Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou, a critério do juiz, não as dá satisfatórias, responde pela
ou o decoro: ofensa.
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. Art. 145 - Nos crimes previstos neste Capítulo somente
§ 1º - O juiz pode deixar de aplicar a pena: se procede mediante queixa, salvo quando, no caso do art.
I - quando o ofendido, de forma reprovável, provocou 140, § 2º, da violência resulta lesão corporal.
diretamente a injúria; Parágrafo único. Procede-se mediante requisição do
II - no caso de retorsão imediata, que consista em ou- Ministro da Justiça, no caso do inciso I do caput do art. 141
tra injúria. deste Código, e mediante representação do ofendido, no
§ 2º - Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, caso do inciso II do mesmo artigo, bem como no caso do
que, por sua natureza ou pelo meio empregado, se consi- § 3o do art. 140 deste Código. (Redação dada pela Lei nº
derem aviltantes: 12.033. de 2009)
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa,
além da pena correspondente à violência. CAPÍTULO VI
§ 3o Se a injúria consiste na utilização de elementos re- DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE INDIVIDUAL
ferentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de SEÇÃO I
pessoa idosa ou portadora de deficiência: (Redação dada DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE PESSOAL
pela Lei nº 10.741, de 2003)
Pena - reclusão de um a três anos e multa. (Incluído Constrangimento ilegal
pela Lei nº 9.459, de 1997) Art. 146 - Constranger alguém, mediante violência ou
Disposições comuns grave ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qual-
Art. 141 - As penas cominadas neste Capítulo aumen- quer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o
tam-se de um terço, se qualquer dos crimes é cometido: que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda:
I - contra o Presidente da República, ou contra chefe Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
de governo estrangeiro; Aumento de pena
II - contra funcionário público, em razão de suas fun- § 1º - As penas aplicam-se cumulativamente e em do-
ções; bro, quando, para a execução do crime, se reúnem mais de
III - na presença de várias pessoas, ou por meio que três pessoas, ou há emprego de armas.
facilite a divulgação da calúnia, da difamação ou da injúria. § 2º - Além das penas cominadas, aplicam-se as cor-
IV – contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos ou por- respondentes à violência.
tadora de deficiência, exceto no caso de injúria. (Incluído § 3º - Não se compreendem na disposição deste ar-
pela Lei nº 10.741, de 2003) tigo:

39
DIREITO PENAL

I - a intervenção médica ou cirúrgica, sem o consenti- Art. 149-A. Agenciar, aliciar, recrutar, transportar,
mento do paciente ou de seu representante legal, se justi- transferir, comprar, alojar ou acolher pessoa, mediante gra-
ficada por iminente perigo de vida; ve ameaça, violência, coação, fraude ou abuso, com a fina-
II - a coação exercida para impedir suicídio. lidade de: (Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016) (Vigência)
Ameaça I - remover-lhe órgãos, tecidos ou partes do corpo; (In-
Art. 147 - Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou cluído pela Lei nº 13.344, de 2016) (Vigência)
gesto, ou qualquer outro meio simbólico, de causar-lhe II - submetê-la a trabalho em condições análogas à de
mal injusto e grave: escravo; (Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016) (Vigência)
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. III - submetê-la a qualquer tipo de servidão; (Incluído
Parágrafo único - Somente se procede mediante re- pela Lei nº 13.344, de 2016) (Vigência)
presentação. IV - adoção ilegal; ou (Incluído pela Lei nº 13.344, de
Seqüestro e cárcere privado 2016) (Vigência)
Art. 148 - Privar alguém de sua liberdade, mediante V - exploração sexual. (Incluído pela Lei nº 13.344, de
seqüestro ou cárcere privado: (Vide Lei nº 10.446, de 2002) 2016) (Vigência)
Pena - reclusão, de um a três anos. Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.
§ 1º - A pena é de reclusão, de dois a cinco anos: (Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016) (Vigência)
I – se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge ou § 1o A pena é aumentada de um terço até a metade se:
companheiro do agente ou maior de 60 (sessenta) anos; (Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016) (Vigência)
(Redação dada pela Lei nº 11.106, de 2005) I - o crime for cometido por funcionário público no
II - se o crime é praticado mediante internação da víti- exercício de suas funções ou a pretexto de exercê-las; (In-
ma em casa de saúde ou hospital; cluído pela Lei nº 13.344, de 2016) (Vigência)
III - se a privação da liberdade dura mais de quinze II - o crime for cometido contra criança, adolescente
dias. ou pessoa idosa ou com deficiência; (Incluído pela Lei nº
IV – se o crime é praticado contra menor de 18 (dezoi- 13.344, de 2016) (Vigência)
III - o agente se prevalecer de relações de parentes-
to) anos; (Incluído pela Lei nº 11.106, de 2005)
co, domésticas, de coabitação, de hospitalidade, de de-
V – se o crime é praticado com fins libidinosos. (Incluí-
pendência econômica, de autoridade ou de superioridade
do pela Lei nº 11.106, de 2005)
hierárquica inerente ao exercício de emprego, cargo ou
§ 2º - Se resulta à vítima, em razão de maus-tratos ou
função; ou (Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016) (Vigência)
da natureza da detenção, grave sofrimento físico ou moral:
IV - a vítima do tráfico de pessoas for retirada do ter-
Pena - reclusão, de dois a oito anos.
ritório nacional. (Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016) (Vi-
Redução a condição análoga à de escravo
gência)
Art. 149. Reduzir alguém a condição análoga à de es- § 2o A pena é reduzida de um a dois terços se o agente
cravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jor- for primário e não integrar organização criminosa. (Incluído
nada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradan- pela Lei nº 13.344, de 2016) (Vigência)
tes de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua
locomoção em razão de dívida contraída com o empre- SEÇÃO II
gador ou preposto: (Redação dada pela Lei nº 10.803, de DOS CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DO
11.12.2003) DOMICÍLIO
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa, além da
pena correspondente à violência. (Redação dada pela Lei Violação de domicílio
nº 10.803, de 11.12.2003) Art. 150 - Entrar ou permanecer, clandestina ou as-
§ 1o Nas mesmas penas incorre quem: (Incluído pela tuciosamente, ou contra a vontade expressa ou tácita de
Lei nº 10.803, de 11.12.2003) quem de direito, em casa alheia ou em suas dependências:
I – cerceia o uso de qualquer meio de transporte por Pena - detenção, de um a três meses, ou multa.
parte do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de tra- § 1º - Se o crime é cometido durante a noite, ou em
balho; (Incluído pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003) lugar ermo, ou com o emprego de violência ou de arma, ou
II – mantém vigilância ostensiva no local de trabalho por duas ou mais pessoas:
ou se apodera de documentos ou objetos pessoais do tra- Pena - detenção, de seis meses a dois anos, além da
balhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho. (Incluí- pena correspondente à violência.
do pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003) § 2º - Aumenta-se a pena de um terço, se o fato é
§ 2o A pena é aumentada de metade, se o crime é co- cometido por funcionário público, fora dos casos legais, ou
metido: (Incluído pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003) com inobservância das formalidades estabelecidas em lei,
I – contra criança ou adolescente; (Incluído pela Lei nº ou com abuso do poder.
10.803, de 11.12.2003) § 3º - Não constitui crime a entrada ou permanência
II – por motivo de preconceito de raça, cor, etnia, reli- em casa alheia ou em suas dependências:
gião ou origem. (Incluído pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003) I - durante o dia, com observância das formalidades
Tráfico de Pessoas (Incluído pela Lei nº 13.344, de legais, para efetuar prisão ou outra diligência;
2016) (Vigência) II - a qualquer hora do dia ou da noite, quando algum
crime está sendo ali praticado ou na iminência de o ser.

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DIREITO PENAL

§ 4º - A expressão «casa» compreende: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.


I - qualquer compartimento habitado; § 1º Somente se procede mediante representação. (Pa-
II - aposento ocupado de habitação coletiva; rágrafo único renumerado pela Lei nº 9.983, de 2000)
III - compartimento não aberto ao público, onde al- § 1o-A. Divulgar, sem justa causa, informações sigilosas
guém exerce profissão ou atividade. ou reservadas, assim definidas em lei, contidas ou não nos
§ 5º - Não se compreendem na expressão «casa»: sistemas de informações ou banco de dados da Adminis-
I - hospedaria, estalagem ou qualquer outra habitação tração Pública: (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
coletiva, enquanto aberta, salvo a restrição do n.º II do pa- Pena – detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e mul-
rágrafo anterior; ta. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
II - taverna, casa de jogo e outras do mesmo gênero. § 2o Quando resultar prejuízo para a Administração
Pública, a ação penal será incondicionada. (Incluído pela
SEÇÃO III Lei nº 9.983, de 2000)
DOS CRIMES CONTRA A Violação do segredo profissional
INVIOLABILIDADE DE CORRESPONDÊNCIA Art. 154 - Revelar alguém, sem justa causa, segredo, de
que tem ciência em razão de função, ministério, ofício ou
Violação de correspondência profissão, e cuja revelação possa produzir dano a outrem:
Art. 151 - Devassar indevidamente o conteúdo de cor- Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
respondência fechada, dirigida a outrem: Parágrafo único - Somente se procede mediante re-
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. presentação.
Sonegação ou destruição de correspondência Invasão de dispositivo informático (Incluído pela Lei
§ 1º - Na mesma pena incorre: nº 12.737, de 2012) Vigência
I - quem se apossa indevidamente de correspondên- Art. 154-A. Invadir dispositivo informático alheio, co-
cia alheia, embora não fechada e, no todo ou em parte, a nectado ou não à rede de computadores, mediante vio-
sonega ou destrói; lação indevida de mecanismo de segurança e com o fim
Violação de comunicação telegráfica, radioelétrica
de obter, adulterar ou destruir dados ou informações sem
ou telefônica
autorização expressa ou tácita do titular do dispositivo ou
II - quem indevidamente divulga, transmite a outrem
instalar vulnerabilidades para obter vantagem ilícita: (In-
ou utiliza abusivamente comunicação telegráfica ou ra-
cluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência
dioelétrica dirigida a terceiro, ou conversação telefônica
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e mul-
entre outras pessoas;
ta. (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência
III - quem impede a comunicação ou a conversação
§ 1o Na mesma pena incorre quem produz, oferece,
referidas no número anterior;
distribui, vende ou difunde dispositivo ou programa de
IV - quem instala ou utiliza estação ou aparelho ra-
dioelétrico, sem observância de disposição legal. computador com o intuito de permitir a prática da conduta
§ 2º - As penas aumentam-se de metade, se há dano definida no  caput. (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012)
para outrem. Vigência
§ 3º - Se o agente comete o crime, com abuso de função § 2o Aumenta-se a pena de um sexto a um terço se da
em serviço postal, telegráfico, radioelétrico ou telefônico: invasão resulta prejuízo econômico. (Incluído pela Lei nº
Pena - detenção, de um a três anos. 12.737, de 2012) Vigência
§ 4º - Somente se procede mediante representação, § 3o Se da invasão resultar a obtenção de conteúdo
salvo nos casos do § 1º, IV, e do § 3º. de comunicações eletrônicas privadas, segredos comerciais
Correspondência comercial ou industriais, informações sigilosas, assim definidas em lei,
Art. 152 - Abusar da condição de sócio ou empregado ou o controle remoto não autorizado do dispositivo invadi-
de estabelecimento comercial ou industrial para, no todo do: (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência
ou em parte, desviar, sonegar, subtrair ou suprimir corres- Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e
pondência, ou revelar a estranho seu conteúdo: multa, se a conduta não constitui crime mais grave. (Incluí-
Pena - detenção, de três meses a dois anos. do pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência
Parágrafo único - Somente se procede mediante re- § 4o Na hipótese do § 3o, aumenta-se a pena de um
presentação. a dois terços se houver divulgação, comercialização ou
transmissão a terceiro, a qualquer título, dos dados ou in-
SEÇÃO IV formações obtidos. (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012)
DOS CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DOS Vigência
SEGREDOS § 5o Aumenta-se a pena de um terço à metade se o
crime for praticado contra: (Incluído pela Lei nº 12.737, de
Divulgação de segredo 2012) Vigência
Art. 153 - Divulgar alguém, sem justa causa, conteúdo I - Presidente da República, governadores e prefeitos;
de documento particular ou de correspondência confiden- (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência
cial, de que é destinatário ou detentor, e cuja divulgação II - Presidente do Supremo Tribunal Federal; (Incluído
possa produzir dano a outrem: pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência

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DIREITO PENAL

III - Presidente da Câmara dos Deputados, do Senado § 5º - A pena é de reclusão de três a oito anos, se a
Federal, de Assembleia Legislativa de Estado, da Câmara subtração for de veículo automotor que venha a ser trans-
Legislativa do Distrito Federal ou de Câmara Municipal; ou portado para outro Estado ou para o exterior. (Incluído pela
(Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência Lei nº 9.426, de 1996)
IV - dirigente máximo da administração direta e indi- § 6o A pena é de reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos se
reta federal, estadual, municipal ou do Distrito Federal. (In- a subtração for de semovente domesticável de produção,
cluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência ainda que abatido ou dividido em partes no local da sub-
Ação penal (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vi- tração. (Incluído pela Lei nº 13.330, de 2016)
gência
Art. 154-B. Nos crimes definidos no art. 154-A, somen- § 7º A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos
te se procede mediante representação, salvo se o crime é e multa, se a subtração for de substâncias explosivas ou de
cometido contra a administração pública direta ou indireta acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem sua
de qualquer dos Poderes da União, Estados, Distrito Fede- fabricação, montagem ou emprego. (Incluído pela Lei nº
ral ou Municípios ou contra empresas concessionárias de 13.654, de 2018)
serviços públicos. (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vi-
gência Furto de coisa comum

Art. 156 - Subtrair o condômino, coerdeiro ou sócio,


para si ou para outrem, a quem legitimamente a detém, a
CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO. coisa comum:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
§ 1º - Somente se procede mediante representação.
§ 2º - Não é punível a subtração de coisa comum fun-
DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO. gível, cujo valor não excede a quota a que tem direito o
agente.
TÍTULO II
DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO CAPÍTULO II
CAPÍTULO I DO ROUBO E DA EXTORSÃO
DO FURTO
Roubo
Furto Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para
Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou
móvel: depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossi-
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. bilidade de resistência:
§ 1º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
praticado durante o repouso noturno. § 1º - Na mesma pena incorre quem, logo depois de
§ 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor subtraída a coisa, emprega violência contra pessoa ou gra-
a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de reclusão ve ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime ou a
pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar detenção da coisa para si ou para terceiro.
somente a pena de multa. § 2º A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até metade:
§ 3º - Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou (Redação dada pela Lei nº 13.654, de 2018)
qualquer outra que tenha valor econômico. I – (revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.654, de
2018)
Furto qualificado II - se há o concurso de duas ou mais pessoas;
§ 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, III - se a vítima está em serviço de transporte de valo-
se o crime é cometido: res e o agente conhece tal circunstância.
I - com destruição ou rompimento de obstáculo à sub- IV - se a subtração for de veículo automotor que venha
tração da coisa; a ser transportado para outro Estado ou para o exterior;
II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, es- (Incluído pela Lei nº 9.426, de 1996)
calada ou destreza; V - se o agente mantém a vítima em seu poder, restrin-
III - com emprego de chave falsa; gindo sua liberdade. (Incluído pela Lei nº 9.426, de 1996)
IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas. VI – se a subtração for de substâncias explosivas ou
§ 4º-A A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) de acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem
anos e multa, se houver emprego de explosivo ou de arte- sua fabricação, montagem ou emprego. (Incluído pela Lei
fato análogo que cause perigo comum. (Incluído pela Lei nº 13.654, de 2018)
nº 13.654, de 2018) § 2º-A A pena aumenta-se de 2/3 (dois terços): (Incluí-
do pela Lei nº 13.654, de 2018)

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DIREITO PENAL

I – se a violência ou ameaça é exercida com emprego Extorsão indireta


de arma de fogo; (Incluído pela Lei nº 13.654, de 2018) Art. 160 - Exigir ou receber, como garantia de dívida,
II – se há destruição ou rompimento de obstáculo me- abusando da situação de alguém, documento que pode
diante o emprego de explosivo ou de artefato análogo que dar causa a procedimento criminal contra a vítima ou con-
cause perigo comum. (Incluído pela Lei nº 13.654, de 2018) tra terceiro:
§ 3º Se da violência resulta: (Redação dada pela Lei nº Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
13.654, de 2018)
I – lesão corporal grave, a pena é de reclusão de 7 CAPÍTULO III
(sete) a 18 (dezoito) anos, e multa; (Incluído pela Lei nº DA USURPAÇÃO
13.654, de 2018)
II – morte, a pena é de reclusão de 20 (vinte) a 30 Alteração de limites
(trinta) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 13.654, de 2018)
Art. 161 - Suprimir ou deslocar tapume, marco, ou
Extorsão qualquer outro sinal indicativo de linha divisória, para
apropriar-se, no todo ou em parte, de coisa imóvel alheia:
Art. 158 - Constranger alguém, mediante violência ou
Pena - detenção, de um a seis meses, e multa.
grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou para ou-
§ 1º - Na mesma pena incorre quem:
trem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se
faça ou deixar de fazer alguma coisa: Usurpação de águas
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa. I - desvia ou represa, em proveito próprio ou de ou-
§ 1º - Se o crime é cometido por duas ou mais pessoas, trem, águas alheias;
ou com emprego de arma, aumenta-se a pena de um terço
até metade. Esbulho possessório
§ 2º - Aplica-se à extorsão praticada mediante violên- II - invade, com violência a pessoa ou grave ameaça,
cia o disposto no § 3º do artigo anterior. Vide Lei nº 8.072, ou mediante concurso de mais de duas pessoas, terreno ou
de 25.7.90 edifício alheio, para o fim de esbulho possessório.
§ 3o Se o crime é cometido mediante a restrição da § 2º - Se o agente usa de violência, incorre também na
liberdade da vítima, e essa condição é necessária para a pena a esta cominada.
obtenção da vantagem econômica, a pena é de reclusão, § 3º - Se a propriedade é particular, e não há emprego
de 6 (seis) a 12 (doze) anos, além da multa; se resulta lesão de violência, somente se procede mediante queixa.
corporal grave ou morte, aplicam-se as penas previstas no
art. 159, §§ 2o e 3o, respectivamente. (Incluído pela Lei nº Supressão ou alteração de marca em animais
11.923, de 2009)
Art. 162 - Suprimir ou alterar, indevidamente, em gado
ou rebanho alheio, marca ou sinal indicativo de proprie-
Extorsão mediante sequestro dade:
Art. 159 - Sequestrar pessoa com o fim de obter, para
si ou para outrem, qualquer vantagem, como condição ou Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa.
preço do resgate: Vide Lei nº 8.072, de 25.7.90 (Vide Lei nº
10.446, de 2002) CAPÍTULO IV
Pena - reclusão, de oito a quinze anos.. (Redação dada DO DANO
pela Lei nº 8.072, de 25.7.1990)
§ 1o Se o sequestro dura mais de 24 (vinte e quatro) Dano
horas, se o sequestrado é menor de 18 (dezoito) ou maior Art. 163 - Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia:
de 60 (sessenta) anos, ou se o crime é cometido por bando Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
ou quadrilha. Vide Lei nº 8.072, de 25.7.90
Pena - reclusão, de doze a vinte anos. Dano qualificado
§ 2º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza Parágrafo único - Se o crime é cometido:
grave: Vide Lei nº 8.072, de 25.7.90 I - com violência à pessoa ou grave ameaça;
Pena - reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos. II - com emprego de substância inflamável ou explosi-
§ 3º - Se resulta a morte: Vide Lei nº 8.072, de 25.7.90 va, se o fato não constitui crime mais grave
III - contra o patrimônio da União, de Estado, do Distri-
Pena - reclusão, de vinte e quatro a trinta anos. (Reda-
to Federal, de Município ou de autarquia, fundação pública,
ção dada pela Lei nº 8.072, de 25.7.1990)
empresa pública, sociedade de economia mista ou empre-
§ 4º - Se o crime é cometido em concurso, o concor- sa concessionária de serviços públicos; (Redação dada pela
rente que o denunciar à autoridade, facilitando a libertação Lei nº 13.531, de 2017)
do sequestrado, terá sua pena reduzida de um a dois ter- IV - por motivo egoístico ou com prejuízo considerável
ços. (Redação dada pela Lei nº 9.269, de 1996) para a vítima:
Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa,
além da pena correspondente à violência.

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DIREITO PENAL

Introdução ou abandono de animais em propriedade III - pagar benefício devido a segurado, quando as respec-
alheia tivas cotas ou valores já tiverem sido reembolsados à empresa
Art. 164 - Introduzir ou deixar animais em propriedade pela previdência social. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
alheia, sem consentimento de quem de direito, desde que o § 2o É extinta a punibilidade se o agente, espontanea-
fato resulte prejuízo: mente, declara, confessa e efetua o pagamento das contri-
Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, ou multa. buições, importâncias ou valores e presta as informações
devidas à previdência social, na forma definida em lei ou
Dano em coisa de valor artístico, arqueológico ou histórico regulamento, antes do início da ação fiscal. (Incluído pela
Lei nº 9.983, de 2000)
Art. 165 - Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa tombada § 3o É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou
pela autoridade competente em virtude de valor artístico, ar- aplicar somente a de multa se o agente for primário e de
queológico ou histórico: bons antecedentes, desde que: (Incluído pela Lei nº 9.983,
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa. de 2000)
I – tenha promovido, após o início da ação fiscal e an-
Alteração de local especialmente protegido tes de oferecida a denúncia, o pagamento da contribuição
Art. 166 - Alterar, sem licença da autoridade competente, social previdenciária, inclusive acessórios; ou (Incluído pela
o aspecto de local especialmente protegido por lei: Lei nº 9.983, de 2000)
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa. II – o valor das contribuições devidas, inclusive aces-
sórios, seja igual ou inferior àquele estabelecido pela previ-
Ação penal dência social, administrativamente, como sendo o mínimo
Art. 167 - Nos casos do art. 163, do inciso IV do seu pa- para o ajuizamento de suas execuções fiscais. (Incluído pela
rágrafo e do art. 164, somente se procede mediante queixa. Lei nº 9.983, de 2000)
§ 4o A faculdade prevista no § 3o deste artigo não se
CAPÍTULO V aplica aos casos de parcelamento de contribuições cujo
DA APROPRIAÇÃO INDÉBITA valor, inclusive dos acessórios, seja superior àquele esta-
belecido, administrativamente, como sendo o mínimo para
Apropriação indébita o ajuizamento de suas execuções fiscais. (Incluído pela Lei
nº 13.606, de 2018)
Art. 168 - Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem
a posse ou a detenção: Apropriação de coisa havida por erro, caso fortuito ou
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. força da natureza
Art. 169 - Apropriar-se alguém de coisa alheia vinda
Aumento de pena ao seu poder por erro, caso fortuito ou força da natureza:
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa.
§ 1º - A pena é aumentada de um terço, quando o agente
Parágrafo único - Na mesma pena incorre:
recebeu a coisa:
Apropriação de tesouro
I - em depósito necessário;
I - quem acha tesouro em prédio alheio e se apropria,
II -na qualidade de tutor, curador, síndico, liquidatário,
no todo ou em parte, da quota a que tem direito o proprie-
inventariante, testamenteiro ou depositário judicial;
tário do prédio;
III - em razão de ofício, emprego ou profissão.
Apropriação de coisa achada
Apropriação indébita previdenciária (Incluído pela Lei nº
II - quem acha coisa alheia perdida e dela se apropria,
9.983, de 2000) total ou parcialmente, deixando de restituí-la ao dono ou
Art. 168-A. Deixar de repassar à previdência social as legítimo possuidor ou de entregá-la à autoridade compe-
contribuições recolhidas dos contribuintes, no prazo e forma tente, dentro no prazo de quinze dias.
legal ou convencional: (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
Art. 170 - Nos crimes previstos neste Capítulo, aplica-
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. -se o disposto no art. 155, § 2º.
(Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
§ 1o Nas mesmas penas incorre quem deixar de: (Incluí- CAPÍTULO VI
do pela Lei nº 9.983, de 2000) DO ESTELIONATO E OUTRAS FRAUDES
I – recolher, no prazo legal, contribuição ou outra im-
portância destinada à previdência social que tenha sido des- Estelionato
contada de pagamento efetuado a segurados, a terceiros ou Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem
arrecadada do público; (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000) ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém
II – recolher contribuições devidas à previdência social em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio
que tenham integrado despesas contábeis ou custos relativos fraudulento:
à venda de produtos ou à prestação de serviços; (Incluído Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, de qui-
pela Lei nº 9.983, de 2000) nhentos mil réis a dez contos de réis.

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DIREITO PENAL

§ 1º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor Art. 174 - Abusar, em proveito próprio ou alheio, da
o prejuízo, o juiz pode aplicar a pena conforme o disposto inexperiência ou da simplicidade ou inferioridade mental de
no art. 155, § 2º. outrem, induzindo-o à prática de jogo ou aposta, ou à espe-
§ 2º - Nas mesmas penas incorre quem: culação com títulos ou mercadorias, sabendo ou devendo
saber que a operação é ruinosa:
Disposição de coisa alheia como própria Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
I - vende, permuta, dá em pagamento, em locação ou
em garantia coisa alheia como própria; Fraude no comércio
Alienação ou oneração fraudulenta de coisa própria Art. 175 - Enganar, no exercício de atividade comercial,
II - vende, permuta, dá em pagamento ou em garantia o adquirente ou consumidor:
coisa própria inalienável, gravada de ônus ou litigiosa, ou I - vendendo, como verdadeira ou perfeita, mercadoria
imóvel que prometeu vender a terceiro, mediante paga- falsificada ou deteriorada;
mento em prestações, silenciando sobre qualquer dessas II - entregando uma mercadoria por outra:
circunstâncias;
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
Defraudação de penhor
§ 1º - Alterar em obra que lhe é encomendada a qua-
III - defrauda, mediante alienação não consentida pelo
credor ou por outro modo, a garantia pignoratícia, quando lidade ou o peso de metal ou substituir, no mesmo caso,
tem a posse do objeto empenhado; pedra verdadeira por falsa ou por outra de menor valor;
Fraude na entrega de coisa vender pedra falsa por verdadeira; vender, como precioso,
IV - defrauda substância, qualidade ou quantidade de metal de ou outra qualidade:
coisa que deve entregar a alguém; Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.
Fraude para recebimento de indenização ou valor de § 2º - É aplicável o disposto no art. 155, § 2º.
seguro
V - destrói, total ou parcialmente, ou oculta coisa Outras fraudes
própria, ou lesa o próprio corpo ou a saúde, ou agrava as Art. 176 - Tomar refeição em restaurante, alojar-se em
consequências da lesão ou doença, com o intuito de haver hotel ou utilizar-se de meio de transporte sem dispor de
indenização ou valor de seguro; recursos para efetuar o pagamento:
Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou multa.
Fraude no pagamento por meio de cheque Parágrafo único - Somente se procede mediante repre-
VI - emite cheque, sem suficiente provisão de fundos sentação, e o juiz pode, conforme as circunstâncias, deixar
em poder do sacado, ou lhe frustra o pagamento. de aplicar a pena.
§ 3º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime
é cometido em detrimento de entidade de direito público
Fraudes e abusos na fundação ou administração de so-
ou de instituto de economia popular, assistência social ou
ciedade por ações
beneficência.
Art. 177 - Promover a fundação de sociedade por ações,
Estelionato contra idoso fazendo, em prospecto ou em comunicação ao público ou
§ 4o Aplica-se a pena em dobro se o crime for cometi- à assembleia, afirmação falsa sobre a constituição da so-
do contra idoso. (Incluído pela Lei nº 13.228, de 2015) ciedade, ou ocultando fraudulentamente fato a ela relativo:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa, se o fato
Duplicata simulada não constitui crime contra a economia popular.
Art. 172 - Emitir fatura, duplicata ou nota de venda que § 1º - Incorrem na mesma pena, se o fato não consti-
não corresponda à mercadoria vendida, em quantidade ou tui crime contra a economia popular: (Vide Lei nº 1.521, de
qualidade, ou ao serviço prestado. (Redação dada pela Lei 1951)
nº 8.137, de 27.12.1990) I - o diretor, o gerente ou o fiscal de sociedade por
Pena - detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. ações, que, em prospecto, relatório, parecer, balanço ou
(Redação dada pela Lei nº 8.137, de 27.12.1990) comunicação ao público ou à assembleia, faz afirmação fal-
sa sobre as condições econômicas da sociedade, ou oculta
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorrerá aquele fraudulentamente, no todo ou em parte, fato a elas relativo;
que falsificar ou adulterar a escrituração do Livro de Regis- II - o diretor, o gerente ou o fiscal que promove, por
tro de Duplicatas. (Incluído pela Lei nº 5.474. de 1968) qualquer artifício, falsa cotação das ações ou de outros tí-
tulos da sociedade;
Abuso de incapazes
III - o diretor ou o gerente que toma empréstimo à
Art. 173 - Abusar, em proveito próprio ou alheio, de
necessidade, paixão ou inexperiência de menor, ou da alie- sociedade ou usa, em proveito próprio ou de terceiro, dos
nação ou debilidade mental de outrem, induzindo qual- bens ou haveres sociais, sem prévia autorização da assem-
quer deles à prática de ato suscetível de produzir efeito bleia geral;
jurídico, em prejuízo próprio ou de terceiro: IV - o diretor ou o gerente que compra ou vende, por
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa. conta da sociedade, ações por ela emitidas, salvo quando a
Induzimento à especulação lei o permite;

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DIREITO PENAL

V - o diretor ou o gerente que, como garantia de cré- § 4º - A receptação é punível, ainda que desconhecido
dito social, aceita em penhor ou em caução ações da pró- ou isento de pena o autor do crime de que proveio a coisa.
pria sociedade; § 5º - Na hipótese do § 3º, se o criminoso é primário,
VI - o diretor ou o gerente que, na falta de balanço, em pode o juiz, tendo em consideração as circunstâncias, deixar
desacordo com este, ou mediante balanço falso, distribui lu- de aplicar a pena. Na receptação dolosa aplica-se o disposto
cros ou dividendos fictícios; no § 2º do art. 155.
VII - o diretor, o gerente ou o fiscal que, por interposta § 6o Tratando-se de bens do patrimônio da União, de
pessoa, ou conluiado com acionista, consegue a aprovação Estado, do Distrito Federal, de Município ou de autarquia,
de conta ou parecer; fundação pública, empresa pública, sociedade de economia
VIII - o liquidante, nos casos dos ns. I, II, III, IV, V e VII; mista ou empresa concessionária de serviços públicos, apli-
IX - o representante da sociedade anônima estrangeira, ca-se em dobro a pena prevista no caput deste artigo. (Reda-
autorizada a funcionar no País, que pratica os atos mencio- ção dada pela Lei nº 13.531, de 2017)
nados nos ns. I e II, ou dá falsa informação ao Governo.
§ 2º - Incorre na pena de detenção, de seis meses a Receptação de animal
dois anos, e multa, o acionista que, a fim de obter vantagem
para si ou para outrem, negocia o voto nas deliberações de Art. 180-A. Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocul-
assembleia geral. tar, ter em depósito ou vender, com a finalidade de produção
ou de comercialização, semovente domesticável de produ-
Emissão irregular de conhecimento de depósito ou ção, ainda que abatido ou dividido em partes, que deve saber
“warrant” ser produto de crime: (Incluído pela Lei nº 13.330, de 2016)
Art. 178 - Emitir conhecimento de depósito ou warrant, Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. (In-
em desacordo com disposição legal: cluído pela Lei nº 13.330, de 2016)
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
CAPÍTULO VIII
Fraude à execução DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 179 - Fraudar execução, alienando, desviando, des-
truindo ou danificando bens, ou simulando dívidas: Art. 181 - É isento de pena quem comete qualquer dos
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa. crimes previstos neste título, em prejuízo: (Vide Lei nº 10.741,
Parágrafo único - Somente se procede mediante quei- de 2003)
xa. I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal;
II - de ascendente ou descendente, seja o parentesco le-
CAPÍTULO VII gítimo ou ilegítimo, seja civil ou natural.
DA RECEPTAÇÃO
Art. 182 - Somente se procede mediante representação,
Receptação se o crime previsto neste título é cometido em prejuízo: (Vide
Lei nº 10.741, de 2003)
I - do cônjuge desquitado ou judicialmente separado;
Art. 180 - Adquirir, receber, transportar, conduzir ou
II - de irmão, legítimo ou ilegítimo;
ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser
III - de tio ou sobrinho, com quem o agente coabita.
produto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a
adquira, receba ou oculte:
Art. 183 - Não se aplica o disposto nos dois artigos an-
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
teriores:
I - se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em geral,
Receptação qualificada
quando haja emprego de grave ameaça ou violência à pessoa;
§ 1º - Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, II - ao estranho que participa do crime.
ter em depósito, desmontar, montar, remontar, vender, III – se o crime é praticado contra pessoa com idade igual
expor à venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito ou superior a 60 (sessenta) anos.
próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou
industrial, coisa que deve saber ser produto de crime: CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO
Pena - reclusão, de três a oito anos, e multa.
§ 2º - Equipara-se à atividade comercial, para efeito do O Título II da parte especial do Código Penal Brasileiro, faz
parágrafo anterior, qualquer forma de comércio irregular referências aos Crimes Contra o Patrimônio.
ou clandestino, inclusive o exercício em residência. Considera-se patrimônio de uma pessoa, os bens, o po-
§ 3º - Adquirir ou receber coisa que, por sua natureza derio econômico, a universalidade de direitos que tenham ex-
ou pela desproporção entre o valor e o preço, ou pela con- pressão econômica para a pessoa. Considera-se em geral, o
dição de quem a oferece, deve presumir-se obtida por meio patrimônio como universalidade de direitos. Vale dizer como
criminoso: uma unidade abstrata, distinta, diferente dos elementos
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa, ou que a compõem isoladamente considerados.
ambas as penas.

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DIREITO PENAL

Além desse conceito jurídico, que é próprio do direito de furto ou mesmo estelionato, pois é preciso analisar, a cada
privado, há uma noção econômica de patrimônio e, segun- conduta, não apenas a intenção do agente, mas o modo de
do a qual, ele consiste num complexo de bens, através dos operação do agente através da informática.
quais o homem satisfaz suas necessidades. O objeto material do furto é a coisa alheia móvel. Coisa
Cabe lembrar, que o direito penal em relação ao direito em direito penal representa qualquer substância corpórea,
civil, ao direito econômico, ele é autônomo e constitutivo, seja ela material ou materializável, ainda que não tangí-
e por isso mesmo quando tutela bens e interesses jurídicos vel, suscetível de apreciação e transporte, incluindo aqui os
já tutelados por outros ramos do direito, ele o faz com au- corpos gasosos, os instrumentos , os títulos, etc.
tonomia e de um modo peculiar. O homem não pode ser objeto material de furto, con-
A tutela jurídica do patrimônio no âmbito do Códi- forme o fato, o agente pode responder por sequestro ou
go Penal Brasileiro, é sem duvida extensamente realizada, cárcere privado, conforme artigo 148 do Código Penal Bra-
mas não se pode perder jamais em conta, a necessidade sileiro, ou subtração de incapazes.
de que no conceito de patrimônio esteja envolvida uma Afirma-se na doutrina que somente pode ser objeto de
furto a coisa que tiver relevância econômica, ou seja, valor
noção econômica, um noção de valor material econômico
de troca, incluindo no conceito, a ideia de valor afetivo (o
do bem.
que eu acho que não tem validade jurídica penal). Já a ju-
risprudência invoca o princípio da insignificância, conside-
FURTO rando que se a coisa furtada tem valor monetário irrisório,
ficará eliminada a antijuridicidade do delito e, portanto,
O primeiro é o crime de furto descrito no artigo 155 do não ficará caracterizado o crime.
Código Penal Brasileiro, em sua forma básica: “subtrair, para
si ou para outrem, coisa alheia móvel: pena – reclusão, de 1 Furto é crime material, não existindo sem que haja
(um) a 4 (quatro) anos, e multa”. desfalque do patrimônio alheio. Coisa alheia é a que não
O conceito de furto pode ser expresso nas seguintes pertence ao agente, nem mesmo parcialmente. Por essa
palavras: furto é a subtração de coisa alheia móvel para razão não comete furto e sim o crime contido no artigo
si ou para outrem sem a pratica de violência ou de grave 346 (Subtração ou Dano de Coisa Própria em Poder de
ameaça ou de qualquer espécie de constrangimento físi- Terceiro) do Código Penal Brasileiro, o proprietário que
co ou moral à pessoa. Significa, pois o assenhoramento da subtrai coisa sua que está em poder legitimo de outro.
coisa com fim de apoderar-se dela com ânimo definitivo. O crime de furto é cometido através do dolo que é a
Quanto a objetividade jurídica do furto é preciso res- vontade livre e consciente de subtrair, acrescido do ele-
saltar uma divergência na doutrina: entende-se que é pro- mento subjetivo do injusto também chamado de “dolo
tegida diretamente a posse e indiretamente a propriedade específico”, que no crime de furto está representado pela
ou, em sentido contrário, que a incriminação no caso de ideia de finalidade do agente, contida da expressão “para
furto, visa essencial ou principalmente a tutela da proprie- si ou para outrem”. Independe, todavia de intuito, obje-
dade e não da posse. É inegável que o dispositivo protege tivo de lucro por parte do agente, que pode atuar por
não só a propriedade como a posse, seja ela direta ou indi- vingança, capricho, liberalidade.
reta além da própria detenção. O consentimento da vítima na subtração elide o cri-
Devemos si ter primeiro o bem jurídico daquele que é me, já que o patrimônio é um bem disponível, mas se ele
afetado imediatamente pela conduta criminosa. Vale dizer ocorre depois da consumação, é evidente que sobrevivi o
que a vítima de furto não é necessariamente o proprietário ilícito penal.
da coisa subtraída, podendo recair a sujeição passiva sobre O delito de furto também pode ser praticado entre:
o mero detentor ou possuidor da coisa. cônjuges, ascendentes e descendentes, tios e sobrinhos,
Qualquer pessoa pode praticar o crime de furto, não entre irmãos.
exige além do sujeito ativo qualquer circunstância pessoal O direito romano não admitia, nesses casos, a ação
específica. Vale a mesma coisa para o sujeito passivo do cri- penal. Já o direito moderno não proíbe o procedimento
me, sendo ela física ou jurídica, titular da posse, detenção penal, mas isenta de pena, como elemento de preserva-
ou da propriedade. ção da vida familiar.
O núcleo do tipo é subtrair, que significa tirar, retirar, Para se definir o momento da consumação, existem
abrangendo mesmo o apossamento à vista do possuidor duas posições:
ou proprietário. 1) atinge a consumação no momento em que o obje-
O crime de furto pode ser praticado também através to material é retirado de posse e disponibilidade do sujei-
de animais amestrados, instrumentos etc. Esse crime será to passivo, ingressando na livre disponibilidade do autor,
de apossamento indireto, devido ao emprego de animais, ainda que não obtenha a posse tranquila;
caso contrário é de apossamento direto. 2) quando exige-se a posse tranquila, ainda que por
Reina uma única controvérsia, tendo em vista o desen- breve tempo.
volvimento da tecnologia, quanto a subtração praticada com
o auxílio da informática, se ela resultaria de furto ou crime de Temos a seguinte classificação para o crime de furto:
estelionato. Tenho para mim, que não podemos “aprioristica- comum quanto ao sujeito, doloso, de forma livre, comissi-
mente” ter o uso da informática como meio de cometimento vo de dano, material e instantâneo.

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DIREITO PENAL

A ação penal é pública incondicionada, exceto nas hi- ta necessariamente seja a casa habitada ou estejam seus
póteses do artigo 182 do Código Penal Brasileiro, que é moradores dormido. Podem até estar ausente, ou desabi-
condicionada à representação. tado o lugar do furto”.
O crime de furto pode ser de quatro espécies: furto sim- A exposição de motivos como a do mestre Noronha,
ples, furto noturno, furto privilegiado e furto qualificado é a que se iguala ao meu parecer, pois é prevista como
agravante especial do furto a circunstância de ser o crime
FURTO DE USO praticado durante o período do sossego noturno8, seja
ou não habitada a casa, estejam ou não seus moradores
Furto de uso é a subtração de coisa apenas para usu- dormindo, cabe a majoração se o delito ocorreu naquele
fruí-la momentaneamente, está prevista no art. 155 do Có- período.
digo Penal Brasileiro, para que seja reconhecível o furto de
uso e não o furto comum, é necessário que a coisa seja
restituída, devolvida, ao possuidor, proprietário ou deten- Furto em garagem de residência, também há duas
tor de que foi subtraída, isto é, que seja reposta no lugar, posições, uma em que incide a qualificadora, da qual o
para que o proprietário exerça o poder de disposição sobre Professor Damásio é partidário, e outra na qual não incide
a coisa subtraída. Fora daí a exclusão do “animus furandi” a qualificadora.
dependerá de prova plena a ser oferecida pelo agente.
Os tribunais tem subordinado o reconhecimento do FURTO PRIVILEGIADO ou mínimo
furto de uso a efetiva devolução ou restituição, afirman-
do que há furto comum se a coisa é abandonada em local O furto privilegiado está expresso no § 2º do artigo
distante ou diverso ou se não é recolocada na esfera de 155: “Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a
vigilância de seu dono. Há ainda entendimentos que exi- coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de reclusão
gem que a devolução da coisa, além de ser feita no mesmo pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou apli-
lugar da subtração seja feita em condições de restituição car somente a pena de multa”.
da coisa em sua integridade e aparência interna e externa, Vale dizer que é uma forma de causa especial de di-
assim como era no momento da subtração. minuição de pena. Existem requisitos para que se dê essa
Vale dizer a coisa devolvida assemelha-se em tudo e causa especial:
por tudo em sua aparência interna e externa à coisa sub- - O primeiro requisito para que ocorra o privilégio é ser
traída. o agente primário, ou seja, que não tenha sofrido em razão
de outro crime condenação anterior transitada em julgado.
FURTO NOTURNO - O segundo requisito é ser de pequeno valor a coisa
subtraída.
A doutrina e a jurisprudência têm exigido além desses
O Furto Noturno, está previsto no § 1º do artigo 155:
dois requisitos já citados, que o agente não revele perso-
“apena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado
nalidade ou antecedentes comprometedores, indicativos
durante o repouso noturno”.
da existência de probabilidade, de voltar a delinquir.
É furto agravado ou qualificado o praticado durante
A pena pode-se substituir a de reclusão pela de de-
o repouso noturno, aumenta-se de 1/3 artigo 155 §1º, a
tenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente
razão da majorante está ligada ao maior perigo que está
a multa.
submetido o bem jurídico diante da precariedade de vigi-
O § 3º do artigo 155 faz menção à igualdade entre
lância por parte de seu titular.
energia elétrica, ou qualquer outra que tenha valor econô-
Basta que ocorra a cessação da vigilância da vítima,
mico à coisa móvel, também a caracterizando como crime.
que, dormindo, não poderá efetivá-la com a segurança e A jurisprudência considera essa modalidade de furto
a amplitude com que a faria, caso estivesse acordada, para como crime permanente, pois o agente pratica uma só
que se configure a agravante do repouso noturno. ação, que se prolonga no tempo.
Repouso noturno é o tempo em que a cidade repousa,
é variável, dependendo do local e dos costumes. FURTO QUALIFICADO
É discutida pela doutrina e pela jurisprudência a cerca
da necessidade do lugar, ser habitado ou não, para se dar Em determinadas circunstâncias são destacadas o §4º
a agravante. A jurisprudência dominante nos tribunais é no do art. 155, para configurar furto qualificado, ao qual é
sentido de excluir a agravante, se o furto é praticado em cominada pena autônoma sensivelmente mais grave: “re-
lugar desabitado, pois evidente se praticado desta forma clusão de 2 à 8 anos seguida de multa”.
não haveria, mesmo durante a época o momento do não São as seguintes as hipóteses de furto qualificado:
repouso, a possibilidade de vigilância que continuaria a ser Se o crime é cometido com destruição ou rompimento
tão precária quanto este momento de repouso. de obstáculos à subtração da coisa; está hipótese trata da
Porém, como diz o mestre Magalhães Noronha “para destruição, isto é, fazer desaparecer em sua individualida-
nós, existe a agravante quando o furto se dá durante o de ou romper, quebrar, rasgar, qualquer obstáculo móvel
tempo em que a cidade ou local repousa, o que não impor- ou imóvel a apreensão e subtração da coisa.

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DIREITO PENAL

A destruição ou rompimento deve dar-se em qual- A Quarta e última hipótese é quando ocorre median-
quer momento da execução do crime e não apenas para te concurso de duas ou mais pessoas, quando praticado
apreensão da coisa. Porém é imprescindível que seja com- nestas circunstâncias, pois isto revela uma maior periculo-
provada pericialmente, nem mesmo a confissão do acusa- sidade dos agentes, que unem seus esforços para o crime.
do supre a falta da perícia. No caso de furto cometido por quadrilha, responde
Trata-se de circunstância objetiva e comunicável no caso por quadrilha pelo artigo 288 do Código Penal Brasileiro
de concurso de pessoas, desde que o seu conteúdo haja in- seguido de furto simples, ficando excluída a qualificadora,
gressado na esfera do conhecimento dos participantes. Concurso de qualificadoras, o agente incidindo em
A segunda hipótese é quando o crime é cometido com duas qualificadoras, apenas uma qualifica, podendo servir
abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza. a outra como agravante comum.
Há abuso de confiança quando o agente se prevalece Frise-se, outrossim que, fora incluída uma nova hipó-
de qualidade ou condição pessoal que lhe facilite à pratica tese de furto qualificado (§4º-A) com uma pena de 4 a 10
do furto. Qualifica o crime de furto quando o agente se anos. Nesse caso, essa pena mais elevada decorre da forma
serve de algum artifício para fazer a subtração. de execução (emprego de explosivo ou de artefato análo-
Mediante fraude é o meio enganoso capaz de iludir a go) e do perigo criado.
O §7º prevê ainda uma figura qualificada que depende
vigilância do ofendido e permitir maior facilidade na sub-
do objeto subtraído (e não da forma de execução), isto é, será
tração do objeto material. O furto mediante fraude distin-
aplicada a pena mais elevada se a subtração for de “substân-
gue-se do estelionato, naquele a fraude é empregada para
cias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou isolada-
iludir a atenção e vigilância do ofendido, que nem percebe mente, possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego”.
que a coisa lhe está sendo subtraída; no estelionato, ao
contrário, a fraude antecede o apossamento da coisa e é a FURTO DE COISA COMUM
causa de sua entrega ao agente pela vítima; esta entrega
a coisa iludida, pois a fraude motivou seu consentimento. Este crime está definido no art. 156 do Código Penal
É ainda qualificadora a penetração no local do furto Brasileiro, que diz: “Subtrair o condômino, coerdeiro, ou
por via que normalmente não se usa para o acesso, sendo sócio, para si ou para outrem, a quem legitimamente a de-
necessário o emprego de meio artificial, é no caso de esca- tém, a coisa comum: pena – detenção, de 6 (seis) meses à 2
lada, que não se relaciona necessariamente com a ação de (dois) anos, ou multa”.
galgar ou subir. Também deve ser comprovada por meio A razão da incriminação é de que o agente subtraia
de perícia, assim como o rompimento de obstáculo. coisa que pertença também a outrem. Este crime constitui
Tentativa, é admissível. Via de regra, a prisão em fla- caso especial de furto, distinguindo-se dele apenas as re-
grante indica delito tentado nos casos de furto, por não lações existentes entre o agente e o lesado ou os lesados.
chegar o agente a ter a posse tranquila da coisa subtraída, Sujeito ativo, somente pode ser o condômino, copro-
que não ultrapassa a esfera de vigilância da vítima. prietário, coerdeiro ou o sócio. Esta condição é indispen-
sável e chega a ser uma elementar do crime e por tanto é
Há ainda a tentativa frustrada. Exemplo A, segue uma
transmitido ao partícipe estranho nos termos do artigo 29
pessoa durante vários dias e subtrai do bolso interno do
do Código Penal Brasileiro.
paletó da vítima, envelope que acredita conter dinheiro.
Sujeito passivo será sempre o condomínio, coproprie-
Furtado o envelope, A é apanhado, todavia ao chegar na tário, coerdeiro ou o sócio, não podendo excluir-se o ter-
Delegacia, verifica-se que o envelope estava vazio, pois, a ceiro possuidor legítimo da coisa.
vítima havia esquecido o dinheiro em casa. O agente será A vontade de subtrair configura o momento subjetivo,
responsabilizado pelo crime nesse exemplo? Não, pois a fala-se em dolo específico na doutrina, na expressão “para
ausência do objeto material do delito faz do evento um si ou para outrem”.
crime impossível. A pena culminada para furto de coisa comum é alter-
Por fim, há a qualificadora da destreza, que se dá nativa de detenção de 6 (seis) meses à 2 (dois) anos ou
quando a subtração se dá dissimuladamente com espe- multa. Dá-se ao juiz a margem para individualização da
cial habilidade por parte do agente, onde a ação, sem em- pena tendo em vista as circunstâncias do caso concreto.
prego de violência, em situação em que a vítima, embora
consciente e alerta, não percebe que está tendo os bens ROUBO
furtados. O arrebatamento violento ou inopinado não a
configura. A ação penal é pública, porém depende de represen-
A terceira hipótese é o emprego de chave falsa. tação da parte.
Constitui chave falsa qualquer instrumento ou enge- Como expresso no artigo 157 do Código Penal Brasi-
nho de que se sirva o agente para abrir fechadura e que leiro: “Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem,
mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois
tenha ou não o formato de uma chave, podendo ser gram-
de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade
po, pedaço de arame, pinça, gancho, etc. O exame pericial
de resistência: pena – reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez)
da chave ou desse instrumento é indispensável para a ca- anos, e multa”.
racterização da qualificadora

49
DIREITO PENAL

Trata-se de crime contra o patrimônio, em que é atingi- § 3º Se da violência resulta: (Redação dada pela Lei nº
do também a integridade física ou psíquica da vítima. 13.654, de 2018)
É um crime complexo, onde o objeto jurídico imediato I – lesão corporal grave, a pena é de reclusão de 7 (sete)
do crime é o patrimônio, e tutela-se também a integridade a 18 (dezoito) anos, e multa; (Incluído pela Lei nº 13.654, de
corporal, a saúde, a liberdade e na hipótese de latrocínio a 2018)
vida do sujeito passivo. II – morte, a pena é de reclusão de 20 (vinte) a 30 (trin-
O Roubo também é um delito comum, podendo ser co- ta) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 13.654, de 2018)
metido por qualquer pessoa, dando-se o mesmo com o sujei- O presente parágrafo traz causa de aumento de pena
to passivo. Pode ocorrer a hipótese de dois sujeitos passivos: para o crime de roubo se a violência ou ameaça é exercida
um que sofre a violência e o titular do direito de propriedade. com emprego de arma de fogo, deslocada que foi para
Como no Furto, a conduta é subtrair, tirar a coisa móvel este parágrafo inovador, deixando de aumentar a pena em
alheia, mas faça-se necessário que o agente se utilize de vio- fração variável de 1/3 até a metade para uma fração fixa da
lência, lesões corporais, ou vias de fato, como grave ameaça ordem de 2/3 (dois terços).
ou de qualquer outro meio que produza a possibilidade de Acerca da tentativa, quanto ao roubo próprio ela é
resistência do sujeito passivo. admitida, visto podendo ocorrer quando o sujeito, após
A vontade de subtrair com emprego de violência, grave empregar a violência ou grave ameaça contra a pessoa,
ameaça ou outro recurso análogo é o dolo do delito de rou- por motivos alheios a sua vontade, não consegue efetuar
bo. Exige-se porém, o elemento subjetivo do tipo, o chamado a subtração.
dolo específico, idêntico ao do furto, para si ou para outrem, Já a tentativa para o crime de roubo impróprio temos
é que se dá a subtração. duas correntes:
Há uma figura denominada roubo impróprio que vem Sua classificação doutrinária é de crime comum quanto
definido no art.157 §1º do Código Penal Brasileiro: “na mesma ao sujeito, doloso, de forma livre, de dano, material e ins-
pena incorre quem, logo depois de subtraída a coisa, empre- tantâneo. Tendo ação penal pública incondicionada.
ga violência contra pessoa ou grave ameaça, a fim de assegu-
rar a impunidade do crime ou a detenção da coisa para si ou ROUBO E LESÃO CORPORAL GRAVE
para terceiro”. Nesse caso a violência ou a grave ameaça ocor-
re após a consumação da subtração, visando o agente asse- Nos termos do artigo 157 § 3º do Código Penal Brasilei-
gurar a posse da coisa subtraída ou a impunidade do crime. ra primeira parte, é qualificado roubo quando: “da violência
A violência posterior ou roubo para assegurar a sua im- resulta lesão corporal de natureza grave, fixando-se a pena
punidade, deve ser imediato para caracterização do roubo num patamar superior ao fixado anteriormente, aqui reclu-
impróprio. são de 5 (cinco) à 15 (quinze) anos, além da multa”.
A consumação do roubo impróprio ocorre com a violên- É indispensável que a lesão seja causada pela violência,
cia ou grave ameaça desde que já ocorrido a subtração, não não estando o agente, sujeito às penas previstas pelo dis-
se consumando esta, tem se entendido que o agente deverá positivo em estudo, se o evento decorra de grave ameaça,
ser responsabilizado por tentativa de furto em concurso com como enfarte, choque ou do emprego de narcóticos. Ha-
o crime de lesões corporais. verá no caso roubo simples seguido de lesões corporais de
natureza grave em concurso formal.
Consuma-se no momento em que o agente retira o ob-
A lesão poderá ser sofrida pelo titular do direito ou em
jeto material da esfera de disponibilidade da vítima, mesmo
um terceiro.
que não haja a posse tranquila.
A Lei nº 13.654, de 2018 mudou a redação do § 2º do ar-
O § 3º do artigo 157 também sofreu modificação sig-
tigo 157,dispondo que a pena no roubo é aumentada de 1/3
nificativa. Agora as hipóteses de violência são tratadas em
(um terço) até metade, revogando ainda o inciso I do referido
dois incisos.
artigo. No inciso I, se da violência resulta lesão corporal grave,
A referida Lei incluiu o inciso VI o qual dispõe que, “se a a pena é de reclusão de 7 (sete) a 18 (dezoito) anos, e mul-
subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que, ta. Por aqui houve modificação na pena máxima, que deixa
conjunta ou isoladamente, possibilitem sua fabricação, mon- de ser de 15 anos e passa a ser de 18 anos de reclusão.
tagem ou emprego.” No § 3º, inciso II, se da violência resulta morte, a pena
Sobre este inciso, destaca-se que foi criada uma causa de é de reclusão de 20 (vinte) a 30 (trinta) anos, e multa. Desse
aumento de pena (majorante) que, no caso de furto, consiste modo, nota-se que o latrocínio é tratado no § 3º, inciso II,
em qualificadora, como já referido. do Código Penal.
A Lei incluiu ainda o seguinte texto: ROUBO SEGUIDO DE MORTE - LATROCÍNIO
§ 2º-A A pena aumenta-se de 2/3 (dois terços): (Incluído
pela Lei nº 13.654, de 2018) Comina-se pena de reclusão de 20 à 30 anos se resulta
I – se a violência ou ameaça é exercida com emprego de a morte, as mesmas considerações referentes aos crimes
arma de fogo; (Incluído pela Lei nº 13.654, de 2018) qualificados pelo resultado, podem ser aqui aplicadas.
II – se há destruição ou rompimento de obstáculo me- O artigo da Lei 8072/90 (Lei dos Crimes Hediondos),
diante o emprego de explosivo ou de artefato análogo que em conformidade com o artigo 5º XLIII, da Constituição
cause perigo comum. (Incluído pela Lei nº 13.654, de 2018) Federal Brasileira, considera crime de latrocínio Hediondo.

50
DIREITO PENAL

Nos termos legais o Latrocínio não exige que o evento Tipo subjetivo
morte seja desejado pelo agente, basta que ele empregue O tipo é composto de dolo duplo: o primeiro constituído
violência para roubar e que dela resulte a morte para que pela vontade livre e consciente de constranger alguém me-
se tenha caracterizado o delito. diante violência ou grave ameaça, dolo genérico; o segundo
É indiferente, porém, que a violência tenha sido exerci- exige o elemento subjetivo do tipo específico na expressão
da para o fim da subtração ou para garantir, depois desta, “com intuito de”.
a impunidade do crime ou a detenção da coisa subtraída.
Ocorre latrocínio ainda que a violência atinja pessoa Consumação
diversa daquela que sofre o desapossamento da coisa. Ha- Discute-se na doutrina se o crime de extorsão é formal
verá, no entanto um só crime com dois sujeitos passivos. ou material. Para os que o consideram formal, a consumação
A consumação do latrocínio ocorre com a efetiva sub- ocorre independentemente do resultado. Basta ser idôneo ao
tração e a morte da vítima, embora no latrocínio haja mor- constrangimento imposto à vítima, sendo irrelevante a enfei-
te da vítima, ele é um crime contra o patrimônio, sendo tava obtenção da vantagem econômica indevida.
Juiz singular e não do Tribunal do Júri, essa é a posição O comportamento da vítima nesse caso é fundamental
válida. para a consumação do delito. É a indispensabilidade da con-
Pena: reclusão de vinte a trinta anos, sem prejuízo da duta do sujeito passivo para a consumação do crime, se o
multa, conforme alteração do artigo 6º da Lei n.º. 8072/90. constrangimento for sério, idôneo o suficiente para ensejar a
Conforme o artigo 9º dessa lei, a pena é agravada de me- ação ou omissão da vítima em detrimento do seu patrimônio,
tade quando a vítima se encontra nas condições do artigo perfaz-se o tipo penal do art. 168 do CP.
224 do Código Penal Brasileiro: “presunção de violência”. Da outra parte, se entendido como crime material, a con-
sumação se dará com obtenção de indevida vantagem eco-
nômica. Seguimos esse entendimento, para nós o crime de
EXTORSÃO
extorsão é material consumando-se com a efetiva obtenção
indevida vantagem econômica.
O crime de extorsão é formal e consuma-se no mo-
Tentativa
mento e no local em que ocorre o constrangimento para
Admite-se quer considerando o crime formal ou mate-
que se faça ou se deixe de fazer alguma coisa. Súmula nº
rial. Surge quando a vítima mesmo constrangida, mediante
96 do Superior Tribunal de Justiça.
violência ou grave ameaça, não realiza a condita por circuns-
tâncias alheias à vontade do agente. A vítima, então não se
Art. 158. Constranger alguém, mediante violência ou intimida, vence o medo e denuncia o fato a polícia.
grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou para
outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que EXTORSÃO MEDIANTE SEQUESTRO (art. 159)
se faça ou deixar fazer alguma coisa:
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa. Na extorsão mediante sequestro, diferentemente da ex-
§ 1º - Se o crime é cometido por duas ou mais pessoas, torsão do art. 158, a vantagem pode ser qualquer uma (in-
ou com emprego de arma, aumenta-se a pena de um terço clusive econômica). Trata-se de crime hediondo em todas as
até metade. suas modalidades, havendo privação da liberdade da vítima
§ 2º - Aplica-se à extorsão praticada mediante violên- para se obter a vantagem. É crime complexo, resultante da ex-
cia o disposto no § 3º do artigo anterior. torsão + sequestro ou cárcere privado (é o que diz a doutrina,
§ 3o Se o crime é cometido mediante a restrição da li- mas eu não concordo, visto que a extorsão exige finalidade de
berdade da vítima, e essa condição é necessária para a ob- obter vantagem econômica indevida).
tenção da vantagem econômica, a pena é de reclusão, de 6 Se o sequestro for para obtenção de qualquer van-
(seis) a 12 (doze) anos, além da multa; se resulta lesão corpo- tagem devida, haverá o crime de exercício arbitrário das
ral grave ou morte, aplicam-se as penas previstas no art. 159, próprias razões em concurso material com o sequestro ou
§§ 2o e 3o, respectivamente. (Incluído pela Lei nº 11.923, de cárcere privado.
2009) Apesar de o tipo se referir a “qualquer vantagem”, não ha-
É um crime comum, formal ou material, de forma livre, verá o crime se a vantagem não tiver algum valor econômico.
instantâneo, unissubjetivo, plurissubsistente, comissivo, Isso se depreende da interpretação sistêmica do tipo, que está
doloso, de dano, complexo e admite tentativa. inserido no Título II, relativo aos crimes contra o patrimônio.
A conduta consiste em constranger (obrigar, forcar, Não influi na caracterização do crime o fato de a vítima
coagir), mediante violência (física: vias de fato ou lesão ser transportada para algum lugar ou ser retida em sua pró-
corporal) ou grave ameaça (moral: intimidação idônea ex- pria casa. Ademais, o sequestro deve se dar como condição
plicita ou explicita que incute medo no ofendido) com o ou preço do resgate.
objetivo de obter para si ou para outrem indevida (injusta,
ilícita) vantagem econômica (qualquer vantagem seja de Sujeito passivo
coisa móvel ou imóvel). Pode ser qualquer pessoa, inclusive pessoa jurídica, que
Haverá constrangimento ilegal se a vantagem não for pode ter, v.g., um de seus sócios sequestrados para que seja
econômica e exercício arbitrário das próprias razoes se a efetuado o pagamento. Determina-se o sujeito passivo de
vantagem for devida. acordo com a pessoa que terá o patrimônio lesado.

51
DIREITO PENAL

Se a pessoa que sofre a privação da liberdade for dife- EXTORSÃO MEDIANTE SEQUESTRO E TORTURA
rente daquela que terá seu patrimônio diminuído, haverá
apenas um crime, não obstante existirem duas vítimas. Entendemos que os institutos possuem objetividades
jurídicas distintas e autônomas. Na extorsão são mediante
Consumação e tentativa sequestro ofende-se o patrimônio, a liberdade de ir e vir
Ocorre a consumação quando o agente pratica a con- e a vida. Na tortura atinge-se a dignidade humana, con-
duta prevista no núcleo do tipo, quando realiza o sequestro substanciada na integridade física e mental. Com efeito, a
privando a vítima da liberdade por tempo juridicamente nosso, juízo, nada impede o reconhecimento do concurso
relevante, ainda que não aufira a vantagem qualquer e ain- material de infrações.
da que nem tenha sido pedido o resgate. Logo, o crime é
formal.
DELAÇÃO PREMIADA
“A extorsão mediante sequestro, como crime formal ou O benefício somente se aplica quando o crime for co-
de consumação antecipada, opera-se com a simples priva- metido em concurso de pessoas, devendo o acusado for-
ção da liberdade de locomoção da vítima, por tempo juri- necer às autoridades elementos capazes de facilitar a reso-
dicamente relevante. Ainda que o sequestrado não tenha lução do crime. Causa obrigatória de diminuição de pena
sido conduzido ao local de destino, o crime está consuma- se preenchidos os requisitos estabelecidos pelo parágrafo
do” (MIRABETE, Julio Fabbrini. Código Penal Interpretado. 4º do art. 159, qual seja, denúncia à autoridade (juiz, dele-
6ª edição. São Paulo: Atlas. 2007, pág. 1.476). gado ou promotor) feita por um dos concorrentes, e esta
Perfeitamente possível a tentativa, já que a execução facilitar a libertação da vítima. Faz-se mister salientar que,
do crime requer um iter criminis desdobrado em vários se não houver a libertação do sequestrado, mesmo haven-
atos. Porém, difícil de se configurar. Hipótese seria aquela do delação do coautor, não haverá diminuição de pena.
em que os agentes são flagrados logo após colocarem a Não se confunde com a confissão espontânea, pois
nesta o agente garante confessa sua participação no crime,
vítima no carro, pois aí não teriam privado sua liberdade
sem incriminar outrem.
por tempo juridicamente relevante.
EXTORSÃO INDIRETA
EXTORSÃO MEDIANTE SEQUESTRO QUALIFICADA
Art. 160. Exigir ou receber, como garantia de dívida,
Se o sequestro dura mais de 24h, se o sequestrado é abusando da situação de alguém, documento que pode
menor de 18 e maior que 60 anos, ou se o crime é cometi- dar causa a procedimento criminal contra a vítima ou con-
do por bando ou quadrilha a pena será de reclusão de 12 tra terceiro:
a 20 anos. Quanto maior o tempo em que a vítima estiver Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
em poder do criminoso, maior será o dano à saúde e inte-
gridade física. Classificação doutrinária
Quanto ao crime cometido por bando ou quadrilha, Crime comum, doloso, de dano, formal (exigir) e ma-
entende-se como a reunião permanente de mais de três terial (receber), instantâneo, comissivo, de forma vinculada,
unissubjetivo, unissubsistente (exigir) ou plurissubsistente
pessoas para cometer e não uma reunião ocasional para
(receber) e admite tentativa.
cometer o sequestro A conduta recai sobre o documento que pode dar cau-
sa a um procedimento criminal contra o devedor, como a
EXTORSÃO MEDIANTE SEQUESTRO COM LESÃO confissão de um crime, a falsificação de um título de crédi-
CORPORAL GRAVE. to, uma duplicata fria etc.
A conduta consiste ainda em exigir (obrigar, ordenar)
Se o fato resulta lesão corporal de natureza grave a ou receber (aceitar) um documento que pode dar causa a
pena será de reclusão de 16 a 24 anos; se resulta a morte a procedimento criminal contra a vítima ou terceiro. É abusar
pena será de reclusão de 24 a 30 anos. Observa-se de ime- da situação daquele que necessita urgentemente de auxílio
diato a diferença deste delito com o de roubo qualificado financeiro. Necessário para a configuração do delito que o
pelo resultado. No art. 157 do CP a lei diz: “se da violência documento exigido ou recebido pelo agente, que pode ser
resultar lesão grave ou morte”; logo, num roubo em que ví- público ou particular, se preste a instauração de inquérito
tima cardíaca diante de uma ameaça vem a falecer, haverá policial contra o ofendido. Não se exige a instauração do
procedimento criminal, basta que o documento em poder
roubo em concurso material com homicídio e não latrocí-
do credor seja potencialmente apto a iniciar o processo.
nio. O tipo exige o emprego da violência. Na extorsão me-
diante sequestro a lei menciona: “se dos ato resultar lesão Consumação
grave ou morte”, pouco importando para qualificar o delito Na ação de exigir, crime formal, a consumação ocorre
que a lesão grave seja culposa ou dolosa.. Evidentemente, com a simples exigência do documento pelo extorsionário.
se a lesão grave ou morte resultar de caso fortuito ou força A iniciativa aqui é do agente, na conduta de receber, crime
maior, o resultado agravados não poderá ser imputado ao material, a consumação ocorre com o efetivo recebimento
agente. do documento. Nesse caso a iniciativas provém da vítima.

52
DIREITO PENAL

Tentativa § 1º Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo,


Na modalidade exigir, entendemos não ser possível sua emprego ou função em entidade paraestatal, e quem trabalha
configuração, embora uma parcela da doutrina a admita com o para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada
sovado exemplo, também oferecido nos crimes contra a honra, para a execução de atividade típica da Administração Pública.
de a exigência ser reduzida por escrito, mas não chegar ao co- § 2º A pena será aumentada da terça parte quando
nhecimento do ofendido. Na de receber, no entanto, é perfei- os autores dos crimes previstos neste Capítulo forem ocu-
tamente possível, podendo o iter criminis ser interrompido por pantes de cargos em comissão ou de função de direção
circunstâncias alheias à vontade do agente. ou assessoramento de órgão da administração direta, so-
ciedade de economia mista, empresa pública ou fundação
instituída pelo poder público.

CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO Contudo, ao considerar o que seja funcionário público


PÚBLICA. para fins penais, nosso Código Penal nos dá um conceito
unitário, sem atender aos ensinamentos do Direito Admi-
nistrativo, tomando a expressão no sentido amplo.
Dessa forma, para os efeitos penais, considera-se fun-
O Capítulo I do Título XI do Código Penal trata dos crimes cionário público não apenas o servidor legalmente investi-
funcionais, praticados por determinado grupo de pessoas no do em cargo público, mas também o que servidor publico
exercício de sua função, associado ou não com pessoa alheia efetivo ou temporário.
aos quadros administrativos, prejudicando o correto funciona-
mento dos órgãos do Estado. Tipos penais Contra Administração Pública
A Administração Pública deste modo, em geral direta, in- O crime de Peculato, Peculato apropriação, Peculato
direta e empresas privadas prestadoras de serviços públicos, desvio, Peculato furto, Peculato culposo, Peculato mediante
contratadas ou conveniadas será vítima primária e constante, erro de outrem, Concussão, Excesso de exação, Corrupção
podendo, secundariamente, figurar no polo passivo eventual passiva e Prevaricação, são os crimes tipificado com prati-
administrado prejudicado. cados por agentes públicos.
O agente, representante de um poder estatal, tem por
função principal cumprir regularmente seus deveres, confiados Peculato
pelo povo. A traição funcional faz com que todos tenhamos Previsto no artigo 312 do C.P., a objetividade jurídica
interesse na sua punição, até porque, de certa forma, somos do peculato é a probidade da administração pública. É um
afetados por elas. Dentro desse espírito, mesmo quando prati- crime próprio onde o sujeito ativo será sempre o funcioná-
cado no estrangeiro, logo, fora do alcance da soberania nacio- rio público e o sujeito passivo o Estado e em alguns casos
nal, o delito funcional será alcançado, obrigatoriamente, pela o particular. Admite-se a participação.
lei penal.
Não bastasse, a Lei 10.763, de 12 de novembro de 2003,
condicionou a progressão de regime prisional nos crimes con-
Peculato Apropriação
tra a Administração Pública à prévia reparação do dano cau-
É uma apropriação indébita e o objeto pode ser dinhei-
sado, ou à devolução do produto do ilícito praticado, com os
ro, valor ou bem móvel. É de extrema importância que o
acréscimos legais.
funcionário tenha a posse da coisa em razão do seu cargo.
A lei em comento não impede a progressão aos crimes
Consumação: Se dá no momento da apropriação, em que
funcionais, mas apenas acrescenta uma nova condição objeti-
ele passa a agir como o titular da coisa apropriada. Admi-
va, de cumprimento obrigatório para que o reeducando con-
quiste o referido benefício. te-se a tentativa.

Crimes Funcionais Peculato Desvio


Espécies
Os delitos funcionais são divididos em duas espécies: pró- O servidor desvia a coisa em vez de apropriar-se. Aqui
prios e impróprios. o sujeito ativo além do servidor pode tem participação de
Nos crimes funcionais próprios, na qualidade de funcioná- uma 3a pessoa. Consumação: No momento do desvio e
rio público ao autor, o fato passa a ser tratado como um tipo admite-se a tentativa.
penal descrito.
Já nos impróprios desaparecendo a qualidade de servidor Peculato Furto
publico, desaparece também o crime funcional, desclassifican- Previsto no Art. 312 CP., aqui o funcionário público não
do a conduta para outro delito, de natureza diversa. detêm a posse, mas consegue deter a coisa em razão da
facilidade de ser servidor público. Ex: Diretor de escola pú-
Conceito de Funcionário Público para Efeitos Penais blica que tem a chave de todas as salas da escola, apro-
Art. 327. Considera-se funcionário público, para os efeitos veita-se da sua função e facilidade e subtrai algo que não
penais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, estava sob sua posse, tem-se o peculato furto.
exerce cargo, emprego ou função pública.

53
DIREITO PENAL

Peculato Culposo Tais mecanismos de combate devem ser aplicas com


Aproveitando o exemplo da escola, neste caso o di- rigor e aperfeiçoados para que estes desviantes do servi-
retor esquece a porta aberta e alguém entra no colégio e ço publico, tenham suas praticas de errôneas coibidas e
subtrai um bem. A consumação se dá no momento em que extintas, podem assim fortalecer as instituições publica e
o 3o subtrai a coisa. Não admite-se a tentativa. valorizar os servidores.

Peculato mediante Erro de Outrem TÍTULO XI


DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Art. 313 C.P., o seu objeto jurídico é a probidade admi- CAPÍTULO I
nistrativa. Sujeito ativo: funcionário público; sujeito passi- DOS CRIMES PRATICADOS
vo: Estado e o particular lesado. A modalidade de peculato POR FUNCIONÁRIO PÚBLICO
mediante erro de outrem, é um peculato estelionato, onde CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL
a pessoa é induzida a erro. Ex: Um fiscal vai aplicar uma
multa a um determinado contribuinte e esse contribuinte Peculato
paga o valor direto a esse fiscal, que embolsa o dinheiro. Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de di-
Só que na verdade nunca existiu multa alguma e esse di- nheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou
nheiro não tinha como destino os cofres públicos e sim o particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou des-
favorecimento pessoal do agente. É um crime doloso e sua viá-lo, em proveito próprio ou alheio:
consumação se dá quando ele passa a ser o titular da coisa. Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.
Admite-se a tentativa. § 1º - Aplica-se a mesma pena, se o funcionário públi-
co, embora não tendo a posse do dinheiro, valor ou bem,
Concussão o subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em proveito
Art. 316 C.P., é uma espécie de extorsão praticada pelo próprio ou alheio, valendo-se de facilidade que lhe propor-
servidor público com abuso de autoridade. O objeto jurídico ciona a qualidade de funcionário.
é a probidade da administração pública. Sujeito ativo: Crime Peculato culposo
próprio praticado pelo servidor e o seu jeito passivo é o Es- § 2º - Se o funcionário concorre culposamente para o
tado e a pessoa lesada. A conduta é exigir. Trata-se de crime crime de outrem:
formal pois consuma-se com a exigência, se houver entrega Pena - detenção, de três meses a um ano.
de valor há exaurimento do crime e a vítima não responde § 3º - No caso do parágrafo anterior, a reparação do
por corrupção ativa porque foi obrigada a agir dessa maneira. dano, se precede à sentença irrecorrível, extingue a punibi-
lidade; se lhe é posterior, reduz de metade a pena imposta.
Excesso de Exação Peculato mediante erro de outrem
A exigência vai para os cofres públicos, isto é, recolhe Art. 313 - Apropriar-se de dinheiro ou qualquer utilida-
aos cofres valor não devido, ou era para recolher aos cofres de que, no exercício do cargo, recebeu por erro de outrem:
públicos, porém o funcionário se apropria do valor. Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
Corrupção Passiva Inserção de dados falsos em sistema de informa-
Art. 317 C.P., o Objeto jurídico é a probidade adminis- ções (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
trativa. Sujeito ativo: funcionário público. A vítima é o Esta- Art. 313-A. Inserir ou facilitar, o funcionário autorizado,
do e apenas na conduta solicitar é que a vítima será, além a inserção de dados falsos, alterar ou excluir indevidamen-
do Estado a pessoa ao qual foi solicitada. te dados corretos nos sistemas informatizados ou bancos
Condutas: Solicitar, receber e aceitar promessa, aumen- de dados da Administração Pública com o fim de obter
ta-se a pena se o funcionário retarda ou deixa de praticar vantagem indevida para si ou para outrem ou para causar
atos de ofício. Não admite-se a tentativa, é no caso de pri- dano: (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000))
vilegiado, onde cede ao pedido ou influência de 3a pessoa. Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e mul-
Só se consuma pela prática do ato do servidor público. ta. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
Modificação ou alteração não autorizada de siste-
Prevaricação ma de informações (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
Art. 319 C.P., aqui também tutela-se a probidade ad- Art. 313-B. Modificar ou alterar, o funcionário, sistema
ministrativa. É um crime próprio, cometido por funcioná- de informações ou programa de informática sem autori-
rio público e a vítima é o Estado. A conduta é: retardar ou zação ou solicitação de autoridade competente: (Incluído
deixar de praticar ato de ofício. O Crime consuma-se com pela Lei nº 9.983, de 2000)
o retardamento ou a omissão, é doloso e o objetivo do
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos, e
agente é buscar satisfação ou vantagem pessoal.
multa. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
Os crimes contra a Administração Pública é demasia-
Parágrafo único. As penas são aumentadas de um
damente prejudicial, pois refletem e afetam a todos os
terço até a metade se da modificação ou alteração resulta
cidadãos dependentes do serviço publico, colocando em
dano para a Administração Pública ou para o administrado.
crédito e a prova a credibilidade das instituições públicas,
(Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
para apenas satisfazer o egoísmo e egocentrismo desses
Extravio, sonegação ou inutilização de livro ou do-
agentes corruptos.
cumento

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DIREITO PENAL

Art. 314 - Extraviar livro oficial ou qualquer documen- Condescendência criminosa


to, de que tem a guarda em razão do cargo; sonegá-lo ou Art. 320 - Deixar o funcionário, por indulgência, de res-
inutilizá-lo, total ou parcialmente: ponsabilizar subordinado que cometeu infração no exercí-
Pena - reclusão, de um a quatro anos, se o fato não cio do cargo ou, quando lhe falte competência, não levar o
constitui crime mais grave. fato ao conhecimento da autoridade competente:
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.
Emprego irregular de verbas ou rendas públicas
Art. 315 - Dar às verbas ou rendas públicas aplicação Advocacia administrativa
diversa da estabelecida em lei: Art. 321 - Patrocinar, direta ou indiretamente, interes-
Pena - detenção, de um a três meses, ou multa. se privado perante a administração pública, valendo-se da
Concussão qualidade de funcionário:
Art. 316 - Exigir, para si ou para outrem, direta ou indi- Pena - detenção, de um a três meses, ou multa.
retamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, Parágrafo único - Se o interesse é ilegítimo:
mas em razão dela, vantagem indevida: Pena - detenção, de três meses a um ano, além da
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa. multa.
Excesso de exação Violência arbitrária
§ 1º - Se o funcionário exige tributo ou contribuição Art. 322 - Praticar violência, no exercício de função ou
social que sabe ou deveria saber indevido, ou, quando de- a pretexto de exercê-la:
vido, emprega na cobrança meio vexatório ou gravoso, Pena - detenção, de seis meses a três anos, além da
que a lei não autoriza: (Redação dada pela Lei nº 8.137, de pena correspondente à violência.
27.12.1990) Abandono de função
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa. (Re- Art. 323 - Abandonar cargo público, fora dos casos
dação dada pela Lei nº 8.137, de 27.12.1990) permitidos em lei:
§ 2º - Se o funcionário desvia, em proveito próprio ou Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.
de outrem, o que recebeu indevidamente para recolher aos § 1º - Se do fato resulta prejuízo público:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
cofres públicos:
§ 2º - Se o fato ocorre em lugar compreendido na faixa
Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.
de fronteira:
Corrupção passiva
Pena - detenção, de um a três anos, e multa.
Art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para outrem,
Exercício funcional ilegalmente antecipado ou pro-
direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes
longado
de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou
Art. 324 - Entrar no exercício de função pública antes
aceitar promessa de tal vantagem: de satisfeitas as exigências legais, ou continuar a exercê-la,
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e mul- sem autorização, depois de saber oficialmente que foi exo-
ta. (Redação dada pela Lei nº 10.763, de 12.11.2003) nerado, removido, substituído ou suspenso:
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.
§ 1º - A pena é aumentada de um terço, se, em conse- Violação de sigilo funcional
qüência da vantagem ou promessa, o funcionário retarda
Art. 325 - Revelar fato de que tem ciência em razão do
ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica
cargo e que deva permanecer em segredo, ou facilitar-lhe
infringindo dever funcional.
a revelação:
§ 2º - Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa,
retarda ato de ofício, com infração de dever funcional, ce-
se o fato não constitui crime mais grave.
dendo a pedido ou influência de outrem:
§ 1o Nas mesmas penas deste artigo incorre quem: (In-
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
cluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
Facilitação de contrabando ou descaminho
Art. 318 - Facilitar, com infração de dever funcional, a I – permite ou facilita, mediante atribuição, forneci-
prática de contrabando ou descaminho (art. 334): mento e empréstimo de senha ou qualquer outra forma, o
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa. (Re- acesso de pessoas não autorizadas a sistemas de informa-
dação dada pela Lei nº 8.137, de 27.12.1990) ções ou banco de dados da Administração Pública; (Incluí-
Prevaricação do pela Lei nº 9.983, de 2000)
Art. 319 - Retardar ou deixar de praticar, indevidamen- II – se utiliza, indevidamente, do acesso restrito. (In-
te, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa cluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal: § 2o Se da ação ou omissão resulta dano à Administração
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. Pública ou a outrem: (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
Art. 319-A. Deixar o Diretor de Penitenciária e/ou Pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa. (In-
agente público, de cumprir seu dever de vedar ao preso o cluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
acesso a aparelho telefônico, de rádio ou similar, que per- Violação do sigilo de proposta de concorrência
mita a comunicação com outros presos ou com o ambiente Art. 326 - Devassar o sigilo de proposta de concorrên-
externo: (Incluído pela Lei nº 11.466, de 2007). cia pública, ou proporcionar a terceiro o ensejo de devas-
Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano. sá-lo:

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DIREITO PENAL

Pena - Detenção, de três meses a um ano, e multa. Parágrafo único - A pena é aumentada da metade,
Funcionário público se o agente alega ou insinua que a vantagem é também
Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os destinada ao funcionário. (Redação dada pela Lei nº 9.127,
efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem re- de 1995)
muneração, exerce cargo, emprego ou função pública. Corrupção ativa
Art. 333 - Oferecer ou prometer vantagem indevida
§ 1º - Equipara-se a funcionário público quem exer- a funcionário público, para determiná-lo a praticar, omitir
ce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e ou retardar ato de ofício:
quem trabalha para empresa prestadora de serviço contra- Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e mul-
tada ou conveniada para a execução de atividade típica da ta. (Redação dada pela Lei nº 10.763, de 12.11.2003)
Administração Pública. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000) Parágrafo único - A pena é aumentada de um terço,
§ 2º - A pena será aumentada da terça parte quando se, em razão da vantagem ou promessa, o funcionário re-
os autores dos crimes previstos neste Capítulo forem ocu- tarda ou omite ato de ofício, ou o pratica infringindo dever
pantes de cargos em comissão ou de função de direção funcional.
ou assessoramento de órgão da administração direta, so- Descaminho
ciedade de economia mista, empresa pública ou fundação Art. 334. Iludir, no todo ou em parte, o pagamento de
instituída pelo poder público. (Incluído pela Lei nº 6.799, direito ou imposto devido pela entrada, pela saída ou pelo
de 1980) consumo de mercadoria (Redação dada pela Lei nº 13.008,
de 26.6.2014)
CAPÍTULO II Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. (Redação
DOS CRIMES PRATICADOS POR dada pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014)
PARTICULAR CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM § 1o Incorre na mesma pena quem: (Redação dada pela
GERAL Lei nº 13.008, de 26.6.2014)
I - pratica navegação de cabotagem, fora dos casos
Usurpação de função pública
permitidos em lei; (Redação dada pela Lei nº 13.008, de
Art. 328 - Usurpar o exercício de função pública:
26.6.2014)
Pena - detenção, de três meses a dois anos, e multa.
II - pratica fato assimilado, em lei especial, a descami-
Parágrafo único - Se do fato o agente aufere vanta-
nho; (Redação dada pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014)
gem:
III - vende, expõe à venda, mantém em depósito ou,
Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa.
de qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou alheio,
Resistência
no exercício de atividade comercial ou industrial, merca-
Art. 329 - Opor-se à execução de ato legal, mediante
doria de procedência estrangeira que introduziu clandes-
violência ou ameaça a funcionário competente para execu-
tinamente no País ou importou fraudulentamente ou que
tá-lo ou a quem lhe esteja prestando auxílio:
Pena - detenção, de dois meses a dois anos. sabe ser produto de introdução clandestina no território
§ 1º - Se o ato, em razão da resistência, não se exe- nacional ou de importação fraudulenta por parte de ou-
cuta: trem; (Redação dada pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014)
IV - adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou
Pena - reclusão, de um a três anos.
alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial,
§ 2º - As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuí-
mercadoria de procedência estrangeira, desacompanhada
zo das correspondentes à violência.
de documentação legal ou acompanhada de documentos
Desobediência
que sabe serem falsos. (Redação dada pela Lei nº 13.008,
Art. 330 - Desobedecer a ordem legal de funcionário
de 26.6.2014)
público:
§ 2o Equipara-se às atividades comerciais, para os efei-
Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, e multa.
tos deste artigo, qualquer forma de comércio irregular ou
Desacato
clandestino de mercadorias estrangeiras, inclusive o exer-
Art. 331 - Desacatar funcionário público no exercício
cido em residências. (Redação dada pela Lei nº 13.008, de
da função ou em razão dela: 26.6.2014)
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa. § 3o A pena aplica-se em dobro se o crime de descami-
Tráfico de Influência  (Redação dada pela Lei nº nho é praticado em transporte aéreo, marítimo ou fluvial.
9.127, de 1995) (Redação dada pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014)
Art. 332 - Solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou Contrabando
para outrem, vantagem ou promessa de vantagem, a pre- Art. 334-A. Importar ou exportar mercadoria proibida:
texto de influir em ato praticado por funcionário público (Incluído pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014)
no exercício da função: (Redação dada pela Lei nº 9.127, Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 ( cinco) anos. (Incluído
de 1995) pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014)
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e mul- § 1o Incorre na mesma pena quem: (Incluído pela Lei nº
ta. (Redação dada pela Lei nº 9.127, de 1995) 13.008, de 26.6.2014)

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DIREITO PENAL

I - pratica fato assimilado, em lei especial, a contra- I – omitir de folha de pagamento da empresa ou de
bando; (Incluído pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014) documento de informações previsto pela legislação previ-
II - importa ou exporta clandestinamente mercado- denciária segurados empregado, empresário, trabalhador
ria que dependa de registro, análise ou autorização de avulso ou trabalhador autônomo ou a este equiparado que
órgão público competente; (Incluído pela Lei nº 13.008, lhe prestem serviços; (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
de 26.6.2014) II – deixar de lançar mensalmente nos títulos próprios
III - reinsere no território nacional mercadoria brasi- da contabilidade da empresa as quantias descontadas dos
leira destinada à exportação; (Incluído pela Lei nº 13.008, segurados ou as devidas pelo empregador ou pelo toma-
de 26.6.2014) dor de serviços; (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
IV - vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, III – omitir, total ou parcialmente, receitas ou lucros
de qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou alheio, auferidos, remunerações pagas ou creditadas e demais fa-
no exercício de atividade comercial ou industrial, mer- tos geradores de contribuições sociais previdenciárias: (In-
cadoria proibida pela lei brasileira; (Incluído pela Lei nº cluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
13.008, de 26.6.2014) Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e mul-
V - adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou ta. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, § 1o É extinta a punibilidade se o agente, espontanea-
mercadoria proibida pela lei brasileira. (Incluído pela Lei mente, declara e confessa as contribuições, importâncias
nº 13.008, de 26.6.2014)§ 2º - Equipara-se às atividades ou valores e presta as informações devidas à previdência
comerciais, para os efeitos deste artigo, qualquer forma social, na forma definida em lei ou regulamento, antes do
de comércio irregular ou clandestino de mercadorias es- início da ação fiscal. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
trangeiras, inclusive o exercido em residências. (Incluído § 2o É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou apli-
pela Lei nº 4.729, de 14.7.1965) car somente a de multa se o agente for primário e de bons
§ 3o A pena aplica-se em dobro se o crime de con- antecedentes, desde que: (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
trabando é praticado em transporte aéreo, marítimo ou I – (VETADO) (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)
II – o valor das contribuições devidas, inclusive aces-
fluvial. (Incluído pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014)
sórios, seja igual ou inferior àquele estabelecido pela previ-
Impedimento, perturbação ou fraude de concor-
dência social, administrativamente, como sendo o mínimo
rência
para o ajuizamento de suas execuções fiscais.(Incluído pela
Art. 335 - Impedir, perturbar ou fraudar concorrên-
Lei nº 9.983, de 2000)
cia pública ou venda em hasta pública, promovida pela
§ 3o Se o empregador não é pessoa jurídica e sua folha
administração federal, estadual ou municipal, ou por en-
de pagamento mensal não ultrapassa R$ 1.510,00 (um mil,
tidade paraestatal; afastar ou procurar afastar concor-
quinhentos e dez reais), o juiz poderá reduzir a pena de um
rente ou licitante, por meio de violência, grave ameaça,
terço até a metade ou aplicar apenas a de multa. (Incluído
fraude ou oferecimento de vantagem: pela Lei nº 9.983, de 2000)
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou mul- § 4o O valor a que se refere o parágrafo anterior será
ta, além da pena correspondente à violência. reajustado nas mesmas datas e nos mesmos índices do
Parágrafo único - Incorre na mesma pena quem se reajuste dos benefícios da previdência social. (Incluído pela
abstém de concorrer ou licitar, em razão da vantagem Lei nº 9.983, de 2000)
oferecida.
Inutilização de edital ou de sinal CAPÍTULO II-A
Art. 336 - Rasgar ou, de qualquer forma, inutilizar (Incluído pela Lei nº 10.467, de 11.6.2002)
ou conspurcar edital afixado por ordem de funcionário DOS CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR CON-
público; violar ou inutilizar selo ou sinal empregado, por TRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ESTRANGEIRA
determinação legal ou por ordem de funcionário públi-
co, para identificar ou cerrar qualquer objeto: Corrupção ativa em transação comercial interna-
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa. cional
Subtração ou inutilização de livro ou documento Art. 337-B. Prometer, oferecer ou dar, direta ou indire-
Art. 337 - Subtrair, ou inutilizar, total ou parcialmen- tamente, vantagem indevida a funcionário público estran-
te, livro oficial, processo ou documento confiado à cus- geiro, ou a terceira pessoa, para determiná-lo a praticar,
tódia de funcionário, em razão de ofício, ou de particular omitir ou retardar ato de ofício relacionado à transação
em serviço público: comercial internacional: (Incluído pela Lei nº 10467, de
Pena - reclusão, de dois a cinco anos, se o fato não 11.6.2002)
constitui crime mais grave. Pena – reclusão, de 1 (um) a 8 (oito) anos, e multa. (In-
Sonegação de contribuição previdenciária (Incluí- cluído pela Lei nº 10467, de 11.6.2002)
do pela Lei nº 9.983, de 2000) Parágrafo único. A pena é aumentada de 1/3 (um ter-
Art. 337-A. Suprimir ou reduzir contribuição social ço), se, em razão da vantagem ou promessa, o funcionário
previdenciária e qualquer acessório, mediante as seguin- público estrangeiro retarda ou omite o ato de ofício, ou
tes condutas: (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000) o pratica infringindo dever funcional. (Incluído pela Lei nº
10467, de 11.6.2002)

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DIREITO PENAL

Tráfico de influência em transação comercial inter- Falso testemunho ou falsa perícia


nacional (Incluído pela Lei nº 10467, de 11.6.2002) Art. 342. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a
Art. 337-C. Solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou verdade como testemunha, perito, contador, tradutor ou
para outrem, direta ou indiretamente, vantagem ou pro- intérprete em processo judicial, ou administrativo, inquéri-
messa de vantagem a pretexto de influir em ato praticado to policial, ou em juízo arbitral: (Redação dada pela Lei nº
por funcionário público estrangeiro no exercício de suas 10.268, de 28.8.2001)
funções, relacionado a transação comercial internacio- Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
nal: (Incluído pela Lei nº 10467, de 11.6.2002) (Redação dada pela Lei nº 12.850, de 2013) (Vigência)
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e mul- § 1o As penas aumentam-se de um sexto a um terço,
ta. (Incluído pela Lei nº 10467, de 11.6.2002)
se o crime é praticado mediante suborno ou se cometido
Parágrafo único. A pena é aumentada da metade, se o
com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em
agente alega ou insinua que a vantagem é também desti-
processo penal, ou em processo civil em que for parte enti-
nada a funcionário estrangeiro. (Incluído pela Lei nº 10467,
dade da administração pública direta ou indireta.(Redação
de 11.6.2002)
Funcionário público estrangeiro (Incluído pela Lei nº dada pela Lei nº 10.268, de 28.8.2001)
10467, de 11.6.2002) § 2o O fato deixa de ser punível se, antes da sentença
Art. 337-D. Considera-se funcionário público estran- no processo em que ocorreu o ilícito, o agente se retrata
geiro, para os efeitos penais, quem, ainda que transitoria- ou declara a verdade.(Redação dada pela Lei nº 10.268, de
mente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou 28.8.2001)
função pública em entidades estatais ou em representa- Art. 343. Dar, oferecer ou prometer dinheiro ou qual-
ções diplomáticas de país estrangeiro. (Incluído pela Lei nº quer outra vantagem a testemunha, perito, contador, tra-
10467, de 11.6.2002) dutor ou intérprete, para fazer afirmação falsa, negar ou
Parágrafo único. Equipara-se a funcionário públi- calar a verdade em depoimento, perícia, cálculos, tradução
co estrangeiro quem exerce cargo, emprego ou função ou interpretação: (Redação dada pela Lei nº 10.268, de
em empresas controladas, diretamente ou indiretamente, 28.8.2001)
pelo Poder Público de país estrangeiro ou em organiza- Pena - reclusão, de três a quatro anos, e multa.(Reda-
ções públicas internacionais. (Incluído pela Lei nº 10467, ção dada pela Lei nº 10.268, de 28.8.2001)
de 11.6.2002) Parágrafo único. As penas aumentam-se de um sexto a
um terço, se o crime é cometido com o fim de obter prova
CAPÍTULO III destinada a produzir efeito em processo penal ou em pro-
DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO DA cesso civil em que for parte entidade da administração pú-
JUSTIÇA blica direta ou indireta. (Redação dada pela Lei nº 10.268,
de 28.8.2001)
Reingresso de estrangeiro expulso Coação no curso do processo
Art. 338 - Reingressar no território nacional o estran- Art. 344 - Usar de violência ou grave ameaça, com o
geiro que dele foi expulso: fim de favorecer interesse próprio ou alheio, contra auto-
Pena - reclusão, de um a quatro anos, sem prejuízo de ridade, parte, ou qualquer outra pessoa que funciona ou é
nova expulsão após o cumprimento da pena.
chamada a intervir em processo judicial, policial ou admi-
Denunciação caluniosa
nistrativo, ou em juízo arbitral:
Art. 339. Dar causa à instauração de investigação
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa, além da
policial, de processo judicial, instauração de investigação pena correspondente à violência.
administrativa, inquérito civil ou ação de improbidade ad- Exercício arbitrário das próprias razões
ministrativa contra alguém, imputando-lhe crime de que o Art. 345 - Fazer justiça pelas próprias mãos, para sa-
sabe inocente: (Redação dada pela Lei nº 10.028, de 2000) tisfazer pretensão, embora legítima, salvo quando a lei o
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa. permite:
§ 1º - A pena é aumentada de sexta parte, se o agente Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa,
se serve de anonimato ou de nome suposto. além da pena correspondente à violência.
§ 2º - A pena é diminuída de metade, se a imputação Parágrafo único - Se não há emprego de violência, so-
é de prática de contravenção. mente se procede mediante queixa.
Comunicação falsa de crime ou de contravenção Art. 346 - Tirar, suprimir, destruir ou danificar coisa
Art. 340 - Provocar a ação de autoridade, comunican- própria, que se acha em poder de terceiro por determina-
do-lhe a ocorrência de crime ou de contravenção que sabe ção judicial ou convenção:
não se ter verificado: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. Fraude processual
Auto-acusação falsa Art. 347 - Inovar artificiosamente, na pendência de
Art. 341 - Acusar-se, perante a autoridade, de crime processo civil ou administrativo, o estado de lugar, de coisa
inexistente ou praticado por outrem: ou de pessoa, com o fim de induzir a erro o juiz ou o perito:
Pena - detenção, de três meses a dois anos, ou multa. Pena - detenção, de três meses a dois anos, e multa.

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DIREITO PENAL

Parágrafo único - Se a inovação se destina a produzir Pena - detenção, de três meses a um ano, além da
efeito em processo penal, ainda que não iniciado, as penas pena correspondente à violência.
aplicam-se em dobro. Arrebatamento de preso
Favorecimento pessoal Art. 353 - Arrebatar preso, a fim de maltratá-lo, do
Art. 348 - Auxiliar a subtrair-se à ação de autoridade poder de quem o tenha sob custódia ou guarda:
pública autor de crime a que é cominada pena de reclusão: Pena - reclusão, de um a quatro anos, além da pena
Pena - detenção, de um a seis meses, e multa. correspondente à violência.
§ 1º - Se ao crime não é cominada pena de reclusão: Motim de presos
Pena - detenção, de quinze dias a três meses, e multa. Art. 354 - Amotinarem-se presos, perturbando a or-
§ 2º - Se quem presta o auxílio é ascendente, descen- dem ou disciplina da prisão:
dente, cônjuge ou irmão do criminoso, fica isento de pena. Pena - detenção, de seis meses a dois anos, além da
Favorecimento real pena correspondente à violência.
Art. 349 - Prestar a criminoso, fora dos casos de co-au- Patrocínio infiel
toria ou de receptação, auxílio destinado a tornar seguro o Art. 355 - Trair, na qualidade de advogado ou procu-
proveito do crime: rador, o dever profissional, prejudicando interesse, cujo
Pena - detenção, de um a seis meses, e multa. patrocínio, em juízo, lhe é confiado:
Art. 349-A. Ingressar, promover, intermediar, auxiliar Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa.
ou facilitar a entrada de aparelho telefônico de comunica- Patrocínio simultâneo ou tergiversação
ção móvel, de rádio ou similar, sem autorização legal, em Parágrafo único - Incorre na pena deste artigo o ad-
estabelecimento prisional. (Incluído pela Lei nº 12.012, de vogado ou procurador judicial que defende na mesma
2009). causa, simultânea ou sucessivamente, partes contrárias.
Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano. (Incluí- Sonegação de papel ou objeto de valor probatório
do pela Lei nº 12.012, de 2009). Art. 356 - Inutilizar, total ou parcialmente, ou deixar de
Exercício arbitrário ou abuso de poder restituir autos, documento ou objeto de valor probatório,
Art. 350 - Ordenar ou executar medida privativa de
que recebeu na qualidade de advogado ou procurador:
liberdade individual, sem as formalidades legais ou com
Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa.
abuso de poder:
Exploração de prestígio
Pena - detenção, de um mês a um ano.
Art. 357 - Solicitar ou receber dinheiro ou qualquer
Parágrafo único - Na mesma pena incorre o funcioná-
outra utilidade, a pretexto de influir em juiz, jurado, órgão
rio que:
do Ministério Público, funcionário de justiça, perito, tra-
I - ilegalmente recebe e recolhe alguém a prisão, ou
a estabelecimento destinado a execução de pena privativa dutor, intérprete ou testemunha:
de liberdade ou de medida de segurança; Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.
II - prolonga a execução de pena ou de medida de Parágrafo único - As penas aumentam-se de um ter-
segurança, deixando de expedir em tempo oportuno ou de ço, se o agente alega ou insinua que o dinheiro ou utili-
executar imediatamente a ordem de liberdade; dade também se destina a qualquer das pessoas referidas
III - submete pessoa que está sob sua guarda ou custó- neste artigo.
dia a vexame ou a constrangimento não autorizado em lei; Violência ou fraude em arrematação judicial
IV - efetua, com abuso de poder, qualquer diligência. Art. 358 - Impedir, perturbar ou fraudar arrematação
Fuga de pessoa presa ou submetida a medida de judicial; afastar ou procurar afastar concorrente ou licitante,
por meio de violência, grave ameaça, fraude ou ofereci-
segurança
Art. 351 - Promover ou facilitar a fuga de pessoa le- mento de vantagem:
galmente presa ou submetida a medida de segurança de- Pena - detenção, de dois meses a um ano, ou multa,
tentiva: além da pena correspondente à violência.
Pena - detenção, de seis meses a dois anos. Desobediência a decisão judicial sobre perda ou
§ 1º - Se o crime é praticado a mão armada, ou por suspensão de direito
mais de uma pessoa, ou mediante arrombamento, a pena Art. 359 - Exercer função, atividade, direito, autorida-
é de reclusão, de dois a seis anos. de ou múnus, de que foi suspenso ou privado por decisão
§ 2º - Se há emprego de violência contra pessoa, apli- judicial:
ca-se também a pena correspondente à violência. Pena - detenção, de três meses a dois anos, ou multa.
§ 3º - A pena é de reclusão, de um a quatro anos, se o
crime é praticado por pessoa sob cuja custódia ou guarda CAPÍTULO IV
está o preso ou o internado. DOS CRIMES CONTRA AS FINANÇAS PÚBLICAS
§ 4º - No caso de culpa do funcionário incumbido da (Incluído pela Lei nº 10.028, de 2000)
custódia ou guarda, aplica-se a pena de detenção, de três
meses a um ano, ou multa. Contratação de operação de crédito
Evasão mediante violência contra a pessoa Art. 359-A. Ordenar, autorizar ou realizar operação de
Art. 352 - Evadir-se ou tentar evadir-se o preso ou crédito, interno ou externo, sem prévia autorização legisla-
o indivíduo submetido a medida de segurança detentiva, tiva: (Incluído pela Lei nº 10.028, de 2000)
usando de violência contra a pessoa:

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DIREITO PENAL

Pena – reclusão, de 1 (um) a 2 (dois) anos. (Incluído Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. (Incluído
pela Lei nº 10.028, de 2000) pela Lei nº 10.028, de 2000)
Parágrafo único. Incide na mesma pena quem ordena, Oferta pública ou colocação de títulos no merca-
autoriza ou realiza operação de crédito, interno ou exter- do (Incluído pela Lei nº 10.028, de 2000)
no: (Incluído pela Lei nº 10.028, de 2000) Art. 359-H. Ordenar, autorizar ou promover a oferta
I – com inobservância de limite, condição ou montan- pública ou a colocação no mercado financeiro de títulos da
te estabelecido em lei ou em resolução do Senado Fede- dívida pública sem que tenham sido criados por lei ou sem
ral; (Incluído pela Lei nº 10.028, de 2000) que estejam registrados em sistema centralizado de liqui-
II – quando o montante da dívida consolidada ultra- dação e de custódia: (Incluído pela Lei nº 10.028, de 2000)
passa o limite máximo autorizado por lei. (Incluído pela Lei Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. (Incluído
nº 10.028, de 2000) pela Lei nº 10.028, de 2000)
Inscrição de despesas não empenhadas em restos a
pagar (Incluído pela Lei nº 10.028, de 2000) EXERCÍCIOS
Art. 359-B. Ordenar ou autorizar a inscrição em restos
a pagar, de despesa que não tenha sido previamente em- 01. (PC/PI - Escrivão de Polícia Civil – 2014 - UESPI)
penhada ou que exceda limite estabelecido em lei: (Incluí- Constitui abuso de autoridade, exceto:
do pela Lei nº 10.028, de 2000) (A) Atentado à inviolabilidade do domicílio e à liberdade
Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos. (In- de locomoção.
cluído pela Lei nº 10.028, de 2000) (B) Atentado ao sigilo da correspondência e à liberdade
Assunção de obrigação no último ano do mandato de consciência e de crença.
ou legislatura (Incluído pela Lei nº 10.028, de 2000) (C) Atentado ao livre culto religioso e ao direito de reu-
Art. 359-C. Ordenar ou autorizar a assunção de obri- nião.
gação, nos dois últimos quadrimestres do último ano do (D) Atentado a fuga de preso e transgressão irregular de
mandato ou legislatura, cuja despesa não possa ser paga natureza grave.
no mesmo exercício financeiro ou, caso reste parcela a ser (E) Atentado aos direito e garantias legais assegurados
paga no exercício seguinte, que não tenha contrapartida ao exercício do voto e ao direito de reunião.
suficiente de disponibilidade de caixa: (Incluído pela Lei nº
10.028, de 2000) 02. (DETRAN/DF - Agente de Trânsito – 2012 - FUNI-
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.(Incluído VERSA) Constitui abuso de autoridade,
pela Lei nº 10.028, de 2000) (A) Ordenar ou executar medida privativa da liberdade
Ordenação de despesa não autorizada (Incluído pela individual.
Lei nº 10.028, de 2000) (B) Submeter pessoa sob sua guarda ou custódia a ve-
Art. 359-D. Ordenar despesa não autorizada por xame ou a constrangimento, mesmo que autorizado em lei,
lei: (Incluído pela Lei nº 10.028, de 2000) pois essa atitude é incompatível com o Estado de Direito.
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. (Incluído (C) Levar à prisão e nela deter quem quer que se propo-
pela Lei nº 10.028, de 2000) nha a prestar fiança, ainda que não prevista em lei.
Prestação de garantia graciosa (Incluído pela Lei nº (D) Lesar a honra ou o patrimônio de pessoa natural ou
jurídica, mesmo quando esse ato for praticado sem abuso ou
10.028, de 2000)
desvio de poder.
Art. 359-E. Prestar garantia em operação de crédito
(E) Recusar o carcereiro ou o agente de autoridade poli-
sem que tenha sido constituída contragarantia em valor
cial recibo de importância adquirida a título de carceragem,
igual ou superior ao valor da garantia prestada, na forma
custas, emolumentos ou de qualquer outra despesa.
da lei: (Incluído pela Lei nº 10.028, de 2000)
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano. (In-
03. (TRT - 18ª Região (GO) - Juiz do Trabalho – 2014
cluído pela Lei nº 10.028, de 2000) - FCC) No que concerne aos crimes de abuso de autoridade,
Não cancelamento de restos a pagar (Incluído pela é correto afirmar que:
Lei nº 10.028, de 2000) (A) Compete à Justiça Militar processar e julgar militar por
Art. 359-F. Deixar de ordenar, de autorizar ou de pro- crime de abuso de autoridade praticado em serviço, segundo
mover o cancelamento do montante de restos a pagar ins- entendimento sumulado do Superior Tribunal de Justiça.
crito em valor superior ao permitido em lei: (Incluído pela (B) É cominada pena privativa de liberdade na modalida-
Lei nº 10.028, de 2000) de de reclusão.
Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos. (In- (C) Se considera autoridade apenas quem exerce cargo,
cluído pela Lei nº 10.028, de 2000) emprego ou função pública, de natureza civil ou militar, não
Aumento de despesa total com pessoal no últi- transitório e remunerado.
mo ano do mandato ou legislatura (Incluído pela Lei nº (D) Não é cominada pena de multa.
10.028, de 2000) (E) Constitui abuso de autoridade qualquer atentado aos
Art. 359-G. Ordenar, autorizar ou executar ato que direitos e garantias legais assegurados ao exercício profissional.
acarrete aumento de despesa total com pessoal, nos cento
e oitenta dias anteriores ao final do mandato ou da legisla-
tura: (Incluído pela Lei nº 10.028, de 2000))

60
DIREITO PENAL

04. (Prefeitura de Taubaté/SP – Escriturário – 2015 -PU- 09. (TJ/ RJ – Juiz Substituto – 2012 - VUNESP) A
BLICONSULT) Se um servidor, ao final do expediente, leva para regra tempus regit actum explica o fenômeno da
casa clips, canetas, borrachas, folhas de papel, por exemplo, ain- (A) retroatividade da lei penal mais benéfica.
da que em pequena quantidade, fere o patrimônio público, co- (B) ultratividade da lei penal excepcional.
metendo um ato ilícito, que é um crime previsto no Código Penal (C) territorialidade temperada.
brasileiro, caracterizado pela apropriação, por parte do servidor (D) extraterritorialidade.
público, de valores ou qualquer outro bem móvel ou de consu-
mo em proveito próprio ou de outrem. Trata-se do(a): 10. (PC/CE - Inspetor de Polícia Civil de 1a Classe
(A) Concussão – 2015 - VUNESP) Nos termos do Código Penal, a impu-
(B) Improbidade administrativa tabilidade penal é excluída pela
(C) Peculato (A) embriaguez completa e culposa que torna o au-
(D) Prevaricação tor, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente inca-
paz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-
05. (TRF - 3ª REGIÃO - Analista Judiciário – 2014 - -se de acordo com esse entendimento.
FCC) No que concerne aos crimes contra o patrimônio, (B) doença mental ou desenvolvimento mental in-
(A) se o agente obteve vantagem ilícita, em prejuízo da
completo ou retardado, que torna o autor, ao tempo da
vítima, mediante fraude, responderá pelo delito de extorsão.
ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o
(B) se, no crime de roubo, em razão da violência em-
caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com
pregada pelo agente, a vítima sofreu lesões corporais le-
esse entendimento.
ves, a pena aumenta-se de um terço.
(C) emoção
(C) se configura o crime de receptação mesmo se a coisa
(D) paixão.
tiver sido adquirida pelo agente sabendo ser produto de cri-
me não classificado como de natureza patrimonial. (E) embriaguez, proveniente de caso fortuito ou força
(D) não comete infração penal quem se apropria de maior, que privou o autor, ao tempo da ação ou da omissão,
coisa alheia vinda a seu poder por erro, caso fortuito ou da plena capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou
força da natureza. de determinar-se de acordo com esse entendimento
(E) o corte e a subtração de eucaliptos de propriedade
alheia não configura, em tese, o crime de furto por não se
tratar de bem móvel. RESPOSTAS

06. (PC-SP - Investigador de Polícia – 2014 - VU- 01. D.


NESP) Nos termos do Código Penal, assinale a alternativa O preso não tem o direito de fugir, muito pelo con-
que contenha apenas crimes contra o patrimônio. trário, conforme estabelecido no Art. 50 da lei em análise:
(A) Homicídio; estelionato; extorsão Art. 50. = Comete falta grave o condenado à pena pri-
(B) Estelionato; furto; roubo. vativa de liberdade que: II – fugir.
(C) Dano; estupro; homicídio
(D) Furto; roubo; lesão corporal. 02. E.
(E) Extorsão; lesão corporal; dano. A questão pediu apenas a letra da lei, ou seja, a letra “G”
do art. 4º da lei 4898/65, que é uma letra morta, uma vez que
07. (PC-TO - Delegado de Polícia – 2014- Aroeira) há a inaplicabilidade desse tipo penal por não existir no siste-
É crime contra o patrimônio, em que somente se procede ma carcerário brasileiro quaisquer custas ou emolumentos ou
mediante representação, outras despesas semelhantes, tornando esse tipo penal inapli-
(A) o furto de coisa comum. cável. Dessa forma, se o agente praticar essa conduta ela será
(B) a alteração de limites. ATÍPICA em relação ao delito de abuso de autoridade.
(C) o dano simples.
(D) a fraude à execução. 03. E.
O Artigo 3º da Lei do Abuso de Autoridade assim pre-
08. (Polícia Civil/SP - Escrivão de Polícia – 2013 - ceitua:
VUNESP) A conduta de constranger alguém, mediante Art. 3º. Constitui abuso de autoridade qualquer aten-
violência ou grave ameaça e com o intuito de obter para tado:
si ou para outrem trem indevida vantagem econômica, a (A) à liberdade de locomoção;
fazer, tolerar que se faça ou deixar fazer alguma coisa ca- (B) à inviolabilidade do domicílio;
racteriza o crime de (C) ao sigilo da correspondência;
(A) extorsão. (D) à liberdade de consciência e de crença;
(B) abuso de poder. (E) ao livre exercício do culto religioso;
(C) exercício arbitrário. f) à liberdade de associação;
(D) coação no curso do processo. g) aos direitos e garantias legais assegurados ao exer-
(E) roubo. cício do voto;
h) ao direito de reunião;
i) à incolumidade física do indivíduo;

61
DIREITO PENAL

j) aos direitos e garantias legais assegurados ao exer- 09. B.


cício profissional. Código Penal:
Art. 3º - A lei excepcional ou temporária, embora de-
04. C. corrido o período de sua duração ou cessadas as circuns-
(Peculato) Art. 312 do CP - Apropriar-se o funcionário tâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado
público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, durante sua vigência.
público ou particular, de que tem a posse em razão do car-
go, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio 10. E.
Código Penal:
05. C. Art. 28(...)
Art. 180 - Adquirir, receber, transportar, conduzir ou § 1º - É isento de pena o agente que, por embriaguez
ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser completa, proveniente de caso fortuito ou força maior, era,
produto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de
adquira, receba ou oculte: entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. acordo com esse entendimento.
2º - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se
06. B. o agente, por embriaguez, proveniente de caso fortuito ou
Código Penal: força maior, não possuía, ao tempo da ação ou da omissão,
Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para a plena capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou
outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
depois de havê-la, por qualquer meio,

07. A.
Furto de coisa comum
Art. 156 - Subtrair o condômino, co-herdeiro ou sócio,
para si ou para outrem, a quem legitimamente a detém, a
coisa comum:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, ou
multa.
§ 1º - Somente se procede mediante representação.
§ 2º - Não é punível a subtração de coisa comum fun-
gível, cujo valor não excede a quota a que tem direito o
agente.
Embora o direito de punir continue sendo estatal, a ini-
ciativa se transfere ao ofendido quando os delitos atingem
sua intimidade, de forma que pode optar por não levar a
questão a juízo, assim a legitimidade ativa é do próprio
particular ofendido.

08. A.
Código Penal:
Art. 158 - Constranger alguém, mediante violência ou
grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou para ou-
trem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se
faça ou deixar fazer alguma coisa:
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
§ 1º - Se o crime é cometido por duas ou mais pessoas,
ou com emprego de arma, aumenta-se a pena de um terço
até metade.
§ 2º - Aplica-se à extorsão praticada mediante violência
o disposto no § 3º do artigo anterior.
§ 3º Se o crime é cometido mediante a restrição da
liberdade da vítima, e essa condição é necessária para a
obtenção da vantagem econômica, a pena é de reclusão,
de 6 (seis) a 12 (doze) anos, além da multa; se resulta lesão
corporal grave ou morte, aplicam-se as penas previstas no
art. 159, §§ 2º e 3º, respectivamente.

62
DIREITO PENAL

EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES 03. (PM/DF - Administração - CESPE/2010) Entre as


Direito Penal formas de extinção da punibilidade do agente de fato
delituoso previstas no CP, inclui-se a possibilidade de
01. (PGE/PE - Procurador de Estado - CESPE/2009) casamento do autor do crime de estupro coma vítima,
O autor intelectual é assim chamado por ter sido quem contanto que o casamento se realize antes de a senten-
planejou o crime, não é necessariamente aquele que ça penal condenatória transitar em julgado.
tem controle sobre a consumação do crime.
Essa previsão legal foi revogada pela Lei 11.106/05.
Considera-se autor intelectual o agente que planeja o As causas de extinção de punibilidade possuem um rol
crime e também tem controle sobre a prática do crime. É exemplificativo disposto no art. 107 do Código Penal.
preciso que o agente tenha domínio do fato, para configurar Entretanto, por ser um rol exemplificativo e não taxativo,
a autoria intelectual, desse modo, ele será capaz de conter existem outras causas de extinção de punibilidade a
ou fazer prosseguir a execução do crime. exemplo do favorecimento pessoal, previsto no §2° do art.
348, entre outros.
RESPOSTA: “ERRADA”.
RESPOSTA: “ERRADA”.
02. (TRF/5ª Região Analista Judiciário – FCC/2013)
Sobre a prescrição como causa extintiva da punibilida- 04. (TCE/RO - Auditor - FCC/2010) No tocante às
causas de extinção da punibilidade, é correto afirmar
de é correto afirmar:
que
A) Seu fundamento político-criminal não prevalece
a) a concessão de anistia é atribuição exclusiva do
sobre as pretensões do réu, mesmo admitido seu cará-
Presidente da República.
ter de material.
b) O dia do começo inclui-se no cômputo do prazo
B) A consideração do perdão judicial é sempre an-
da decadência
tecedente ao eventual reconhecimento da prescrição.
c) São previstas exclusivamente na parte geral do
C) O réu pode renunciar ao seu reconhecimento e Código Penal.
requerer julgamento de mérito por seu caráter mera- d) A concessão do indulto restabelece a condição
mente processual. de primário do beneficiado.
D) Não sendo matéria de ordem pública, não pode e) É cabível o perdão judicial em qualquer crime.
ser reconhecida ex officio pelo juiz.
E) O reconhecimento da prescrição exclui a aprecia- O Código Penal em seu artigo 10, dispõe que:
ção de outras preliminares e do mérito.
Art. 10. O dia do começo inclui-se no cômputo do prazo.
Prescrição é a perda da pretensão punitiva ou executó- Contam-se os dias, os meses e os anos pelo calendário
ria em face do decurso do tempo. comum.
A prescrição é Instituto de direito material e, portanto,
o seu reconhecimento exclui a apreciação outras prelimi- Desse modo, a alternativa correta é a “B”, O dia do
nares e do mérito, conforme estatuído no artigo 107, inciso começo inclui-se no cômputo do prazo da decadência.
IV do Código Penal, in verbis:
RESPOSTA: “B”.
Art. 107 - Extingue-se a punibilidade:  (Redação dada
pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 05. (TJ/MG - Técnico Judiciário – FUNDEP/2010)
IV - pela prescrição, decadência ou perempção; Analisando as causas de extinção da punibilidade, NÃO
se inclui entre elas:
Segundo nos ensina o professor Alberto Silva Franco e a) a doença grave do agente
outros, in (Código Penal e Sua Interpretação Jurispruden- b) a graça
cial, 5ª ed., pág. 1241). “O reconhecimento da prescrição c) a perempção
exclui a apreciação de outras preliminares e do mérito. Se d) a renúncia do direito de queixa.
o instituto tivesse caráter processual, o réu poderia renun-
ciá-lo e exigir um julgamento de mérito, por acreditar em As causas de extinção da punibilidade estão elencadas
sua inocência. Mas, como se trata de instituto de direito no artigo 107 do Código Penal:
material, tal possibilidade não existe, pois o fundamento
político-criminal da prescrição prevalece sobre as preten- Art. 107 - Extingue-se a punibilidade:  
sões do réu” . I - pela morte do agente;
II - pela anistia, graça ou indulto;
RESPOSTA: “E”. III - pela retroatividade de lei que não mais considera o
fato como criminoso;
IV - pela prescrição, decadência ou perempção;
V - pela renúncia do direito de queixa ou pelo perdão
aceito, nos crimes de ação privada;

63
DIREITO PENAL

VI - pela retratação do agente, nos casos em que a lei O Código Penal dispõe que:
a admite;
VII - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005) Art. 117 - O curso da prescrição interrompe-se:        
VIII - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005) I - pelo recebimento da denúncia ou da queixa;       
IX - pelo perdão judicial, nos casos previstos em lei. II - pela pronúncia;
Conforme artigo acima mencionado, observamos que III - pela decisão confirmatória da pronúncia;          
a doença grave do agente não é causa de extinção de IV - pela publicação da sentença ou acórdão
punibilidade, portanto, a alternativa correta é a “A”. condenatórios recorríveis; 
V - pelo início ou continuação do cumprimento da pena; 
RESPOSTA: “A”. VI - pela reincidência. 

06. (AGU - Procurador - CESPE/2010) Nos crimes Desse modo, a alternativa correta é a ‘E”, a prescrição é
conexos, a extinção da punibilidade de um deles impe- interrompida pelo acórdão condenatório recorrível.
de, quanto aos outros, a agravação da pena resultante
da conexão. RESPOSTA: “E”.

Reza o art. 108 do Código Penal que: 109. (Detran/DF - Analista - CESPE/2009) A prescri-
ção da pretensão punitiva do Estado extingue a punibi-
Art. 108. A extinção da punibilidade de crime que lidade do agente e impede a propositura de ação civil
é pressuposto, elemento constitutivo ou circunstância reparatória dos danos causados pela conduta criminosa.
agravante de outro não se estende a este. Nos crimes conexos,
a extinção da punibilidade de um deles não impede, quanto A prescrição penal da pretensão punitiva recai apenas sobre o
aos outros, a agravação da pena resultante da conexão. direito de o Estado punir o acusado, porém, não recai sobre o direito
da vítima ser reparada pelo dano causado pela conduta criminosa.
RESPOSTA: “ERRADA”. Mesmo que o delito penal encontre-se prescrito,
não impede que a vítima, no juízo cível, entre com ação
reparatória dos danos causados pela conduta criminosa.
07. (TJ/MG - Técnico Judiciário – FUNDEP/2010)
Analisando as causas de extinção da punibilidade, NÃO
RESPOSTA: “ERRADA”.
se inclui entre elas:
A) a doença grave do agente.
10. (DETRAN/DF - Analista - CESPE/2009) O perdão
B) a graça.
do ofendido extingue a punibilidade do agente nos cri-
C) a perempção. mes de ação penal privada, ainda que concedido após
D) a renúncia ao direito de queixa. o trânsito em julgado da sentença penal condenatória.
Art. 107 - Extingue-se a punibilidade:  (Redação dada De acordo com o art. 106, § 2º do Código Penal :
pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
I - pela morte do agente; §2º. Não é admissível o perdão depois que passa em
II - pela anistia, graça ou indulto; julgado a sentença condenatória.
III - pela retroatividade de lei que não mais considera o
fato como criminoso; Desse modo, o perdão do ofendido extinguirá a pu-
IV - pela prescrição, decadência ou perempção; nibilidade nos crimes de ação penal privada somente se
V - pela renúncia do direito de queixa ou pelo perdão concedido antes do transito em julgado da sentença penal
aceito, nos crimes de ação privada; condenatória.
VI - pela retratação do agente, nos casos em que a lei
a admite; RESPOSTA: “ERRADA”.
VII - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005)
VIII - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005) 11. (DETRAN/DF - Analista - CESPE/2009) A lei pe-
IX - pelo perdão judicial, nos casos previstos em lei. nal que deixa de considerar determinado fato como cri-
minoso retroage e extingue a punibilidade do agente,
RESPOSTA: “A”. mas permanecem os efeitos civis.

08. (TCE/RO – Procurador – FCC/2010) A prescrição Ocorre a abolitio criminis quando o Estado deixa
é interrompida de considerar determinado fato como criminoso, e de
a) pelo oferecimento da denúncia acordo com o Art. 107, III, do Código Penal “Extingue-se a
b) pela sentença absolutória imprópria punibilidade:  III - pela retroatividade de lei que não mais
c) pela reincidência, se corresponder à prescrição considera o fato como criminoso”. Entretanto, como afirma
da pretensão punitiva a questão, permanecem os efeitos de natureza civil.
d) pela sentença concessiva de perdão judicial
e) pelo acórdão condenatório recorrível RESPOSTA: “CORRETA”.

64
DIREITO PENAL

12. (TRF 4ª Região - Analista Judiciário – FCC/2007) Art. 112 - No caso do art. 110 deste Código, a prescrição
São causas extintivas de punibilidade, prevista no Códi- começa a correr: 
go Penal, além de outras: I - do dia em que transita em julgado a sentença
a) renúncia do direito de queixa, nos crimes de ação condenatória, para a acusação, ou a que revoga a suspensão
privada; e casamento do agente com a vítima, nos cri- condicional da pena ou o livramento condicional;
mes contra costumes. II - do dia em que se interrompe a execução, salvo
b) Anistia; perdão judicial, nos casos previstos em quando o tempo da interrupção deva computar-se na pena. 
lei; morte da vítima; e decurso do prazo.
c) Retroatividade de lei que não mais considera o Dessa forma, observamos que a questão apresenta o
fato como criminoso; prescrição, decadência ou pe- mencionado artigo, porém, trocando os termos. Portanto,
rempção; e casamento do agente com a vítima, nos cri- a afirmação correta seria que a prescrição começa a correr
mes contra os costumes. a partir do dia em que transita em julgado a sentença
d) morte do agente; anistia, graça ou indulto; re- condenatória, para a acusação.
troatividade de lei que não mais considera o fato como
criminoso; e prescrição, decadência ou perempção. RESPOSTA: “ERRADA”.
e) prescrição, decadência, menoridade do agente;
morte da vítima; e agente maior de setenta anos na 15. (OAB - CESPE/2008) O curso da prescrição in-
data do crime. terrompe-se pelo oferecimento da denúncia e pela sen-
tença condenatória ou absolutória recorrível.
O Código Penal dispõe que:
A afirmação está errada, pois contradiz o disposto no
Art. 117 - O curso da prescrição interrompe-se:         art.117 do Código Penal, vejamos: 
I - pelo recebimento da denúncia ou da queixa;       
II - pela pronúncia; Art. 117 - O curso da prescrição interrompe-se:
III - pela decisão confirmatória da pronúncia;           I - pelo recebimento da denúncia ou da queixa;
IV - pela publicação da sentença ou acórdão IV - pela publicação da sentença ou acórdão
condenatórios recorríveis;  condenatórios recorríveis;
V - pelo início ou continuação do cumprimento da pena; 
VI - pela reincidência.  RESPOSTA: “ERRADA”.

Desse modo, a alternativa correta é a “D”, São causas 16. (TJ/TO - Juiz de Direito - CESPE/2007) Em caso
extintivas de punibilidade, prevista no Código Penal, além de extinção da punibilidade decorrente de anistia, não
de outras a morte do agente; anistia, graça ou indulto; subsiste a sentença penal condenatória para fins de re-
retroatividade de lei que não mais considera o fato como paração do dano.
criminoso; e prescrição, decadência ou perempção.
Conforme disposto no art. 107, II, do Código Penal,
RESPOSTA: “D”. extingui-se a punibilidade pena anistia, que é a renúncia
do Estado ao seu direito de punir. A anistia exclui o crime,
13. (OAB - CESPE/2008) No caso de o condenado apagando seus efeitos.
evadir-se, a prescrição da pretensão executória deve ser Entretanto, no juízo cível, a vítima continua possuindo
regulada pelo tempo que resta da pena. o direito à indenização, haja vista que, permanecem
inalterados os efeitos civis da sentença condenatória para
A resposta está correta, pois está de acordo com fins de reparação do dano.
disposto no art. 113 do Código Penal
RESPOSTA: “ERRADA”.
Art. 113. No caso de evadir-se o condenado ou de
revogar-se o livramento condicional, a prescrição é regulada 17. (TJ/RR - Analista Processual - CESPE/2006) O
pelo tempo que resta da pena. artigo do Código Penal que prevê as causas extintivas
da punibilidade é taxativo proibindo que sejam admiti-
RESPOSTA: “CORRETA”. das outras hipóteses extintivas além daquelas nele re-
lacionadas.
114. (OAB - CESPE/2008) A prescrição começa a A afirmação está errada, pois o rol previsto no art. 107
correr a partir do dia em que transita em julgado, para do Código Penal é exemplificativo, ou seja, admitindo-se
a defesa, a sentença condenatória. outras causas de extinção de punibilidade que não estejam
elencadas no mencionado artigo.
A resposta está errada, pois contraria o disposto no art.
112 do Código Penal, vejamos: RESPOSTA: “ERRADA”.

65
DIREITO PENAL

18. (DPF - Escrivão - CESPE/2004) O perdão do A teoria biopsicológica considera inimputável o agente
ofendido é o ato por meio do qual o próprio ofendi- que em razão de sua condição mental, é totalmente inca-
do ou o seu representante legal, após o início da ação paz de entender o caráter ilícito da sua ação ou omissão e
penal, desiste de seu prosseguimento. Aceito pelo acu- determinar-se de acordo com esse entendimento.
sado, implicará na extinção da punibilidade, desde que
o crime seja apurado por meio de ação penal privada. RESPOSTA: “CORRETA”.

Perdão do ofendido é o ato de desistência do 21. (TJ/ES - Analista Judiciário - CESPE/2012) A pena
prosseguimento da ação pena privada, é a desculpa ao de prestação pecuniária consiste no pagamento — em
querelado pela infração penal, sendo cabível após o início dinheiro, à vista ou em parcelas, à vítima, a seus de-
da ação penal, desde que não tenha transitado em julgado pendentes ou a entidade pública ou privada com des-
a sentença condenatória. tinação social — de importância fixada pelo juiz, não
Segundo disposto no art. 107, V do Código Penal: inferior a um salário mínimo, nem superior a trezentos
e sessenta salários mínimos.
Art.107. Extingue-se a punibilidade:
V - pela renúncia do direito de queixa ou pelo perdão O código Penal dispõe sobre a prestação pecuniária
aceito, nos crimes de ação privada. em seu art. 45, § 1º, vejamos:

O art. 105, do Código Penal dispõe que: §1o . A prestação pecuniária consiste no pagamento em
dinheiro à vítima, a seus dependentes ou a entidade públi-
Art. 105. O perdão do ofendido, nos crimes em ca ou privada com destinação social, de importância fixada
que somente se procede mediante queixa, obsta ao pelo juiz, não inferior a 1 (um) salário mínimo nem supe-
prosseguimento da ação. rior a 360 (trezentos e sessenta) salários mínimos. O valor
pago será deduzido do montante de eventual condenação
Desse modo, a afirmação está correta. em ação de reparação civil, se coincidentes os beneficiários.
Desse modo, observamos que a questão está em
RESPOSTA: “CORRETA”. consonância com o disposto em lei.

19. (PGM/SP - Procurador Municipal — FCC/2004) RESPOSTA: “CORRETA”.


A retroatividade de lei penal que não mais considera o
fato como criminoso: 22. (SEDU - Agente de Suporte Educacional - CES-
a) exclui a imputabilidade. PE/2010) A emancipação civil aos dezesseis anos de
b) afasta a tipicidade. idade acarreta a imputabilidade penal do adolescente,
c) extingue a punibilidade. razão pela qual ele não mais se sujeita às regras do ECA.
d) atinge a culpabilidade.
e) é causa de perdão judicial. A questão está errada, haja vista que a emancipação
abrange a responsabilidade civil, e não penal. Desse modo,
Trata-se da abolitio criminis, é causa extintiva da puni- a emancipação civil não gera efeitos quanto à inimputabi-
bilidade prevista no art. 107, III, do CP. lidade do menor de 18 anos.

Art. 107 - Extingue-se a punibilidade: RESPOSTA: “ERRADA”.


III - pela retroatividade de lei que não mais considera o
fato como criminoso; 23. (PC/PB - Agente de Investigação - CESPE/2009)
No ordenamento jurídico brasileiro, a imputabilidade
RESPOSTA: “C”. penal equivale à potencial consciência da ilicitude.

20. (TJ/ES - Analista Judiciário - CESPE/2012) No A imputabilidade é a capacidade de entender o caráter


direito penal, o critério adotado para aferir a inimpu- ilícito do seu comportamento e agir de acordo com esse
tabilidade do agente, como regra, é o biopsicológico. entendimento. Por sua vez, a potencial consciência da ilici-
tude é quando o agente possui condições de saber que seu
O Código Penal brasileiro adotou, comoo regra, a teo- comportamento contraria o ordenamento jurídico.
ria biopsicológica de acordo com estabelecido no art. 26,
vejamos: RESPOSTA: “ERRADA”.

Art. 26. É isento de pena o agente que, por doença men- 24. (PC/PB - Agente de Investigação - CESPE/2009)
tal ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, No ordenamento jurídico brasileiro, a imputabilidade
era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz penal é a capacidade de entender o caráter ilícito do
de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de fato ou de determinar-se de acordo com esse entendi-
acordo com esse entendimento. mento.

66
DIREITO PENAL

A imputabilidade penal é a capacidade que o agente Observamos que em caso de embriaguez culposa, em
possui de entender que determinado fato é ilícita e deter- que o agente não tendo a intenção de embriagar-se acaba,
minar-se de acordo com esse entendimento. por imprudência, ingerindo bebida alcoólica em demasia e
embriagando-se. Desse modo, de acordo com o art. 28, II,
RESPOSTA: “CORRETA”. do Código Penal, não excluem a imputabilidade.

25. (DPE/CE - Defensor - CESPE/2008) De acordo RESPOSTA: “ERRADA”.


com regra do Código Penal, a pena pode ser reduzi-
da de um a dois terços se o agente, por embriaguez 27. (PC/TO - Agente – CESPE/2008) Considere a se-
proveniente de caso fortuito, não possuía, ao tempo da guinte situação hipotética. Maria, maior de 18 anos de
ação ou omissão, a plena capacidade de entender o ca- idade, praticou um crime, e, no decorrer da ação penal,
ráter ilícito do fato ou de comportar-se de acordo com foi demonstrado, por meio do competente laudo, que
esse entendimento. esta, ao tempo do crime, era inimputável em decorrên-
cia de doença mental. Nessa hipótese, Maria será absol-
Vejamos o que dispõe o Código Penal acerca do tema: vida tendo como fundamento a inexistência de ilicitude
da conduta, embora presente a culpabilidade.
Art. 28 - Não excluem a imputabilidade penal: 
I - a emoção ou a paixão;  No caso acima citado, Maria será absolvida por não
Embriaguez existir culpabilidade. A imputabilidade é um dos elementos
II - a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou da culpabilidade. Desse modo, a questão está errada.
substância de efeitos análogos.
§ 1º - É isento de pena o agente que, por embriaguez RESPOSTA: “ERRADA”.
completa, proveniente de caso fortuito ou força maior, era,
ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de 28. (TJ/PI – Juiz de Direito - CESPE/2007) A emoção
entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de e a paixão, de acordo com o Código Penal, não servem
acordo com esse entendimento. para excluir a imputabilidade penal nem para aumentar
§ 2º - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se ou diminuir a pena aplicada.
o agente, por embriaguez, proveniente de caso fortuito ou
força maior, não possuía, ao tempo da ação ou da omissão, a A emoção e a paixão, de acordo com o art. 28 do
plena capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de código penal, não excluem a imputabilidade, entretanto,
determinar-se de acordo com esse entendimento. são causas de diminuição de pena.

A resposta está correta de acordo com o parágrafo 2º RESPOSTA: “ERRADA”.


do artigo citado.  
29. (TJ/PI – Juiz de Direito - CESPE/2007) A embria-
RESPOSTA: “CORRETA”. guez preordenada não exclui a culpabilidade do agen-
te, mas pode reduzir a sua pena de um a dois terços.
26. (SGA/AC - Perito - CESPE/2008) A embriaguez
completa e culposa, provocada por álcool ou substân- A embriaguez preordenada ocorre quando o agente
cia de efeitos análogos, exclui a imputabilidade penal. ingere bebida alcoólica com a intenção de embriagar-se e,
assim, cometer o crime.
O Código Penal dispõe que: A embriaguez preordenada não reduz a pena, de
acordo com o art. 61, II, l, do Código Penal, acaba por
Art. 28 - Não excluem a imputabilidade penal: agravar ou até qualificar o delito.
I - a emoção ou a paixão;
Embriaguez Art. 61 - São circunstâncias que sempre agravam a pena,
II - a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou quando não constituem ou qualificam o crime:
substância de efeitos análogos. II - ter o agente cometido o crime:
§ 1º - É isento de pena o agente que, por embriaguez l) em estado de embriaguez preordenada.
completa, proveniente de caso fortuito ou força maior, era,
ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de RESPOSTA: “ERRADA”.
entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de
acordo com esse entendimento. 30. (TJ/PI – Juiz de Direito - CESPE/2007) A embria-
§ 2º - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se guez involuntária incompleta do agente não é causa de
o agente, por embriaguez, proveniente de caso fortuito ou exclusão da culpabilidade nem de redução de pena.
força maior, não possuía, ao tempo da ação ou da omissão, a
plena capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de Vejamos o que dispõe o Código Penal:
determinar-se de acordo com esse entendimento.
Art. 28 - Não excluem a imputabilidade penal:

67
DIREITO PENAL

I - a emoção ou a paixão; 34. (TRF/3ª Região – Analista Judiciário - FCC/2014)


Embriaguez Dentre as ideias estruturantes ou princípios abaixo,
II - a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou todos especialmente importantes ao direito penal
substância de efeitos análogos. brasileiro, NÃO tem expressa e literal disposição
§ 1º - É isento de pena o agente que, por embriaguez constitucional o da:
completa, proveniente de caso fortuito ou força maior, era, A) legalidade.
ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz B) proporcionalidade.
de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de C) individualização.
acordo com esse entendimento. D) pessoalidade.
§ 2º - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se E) dignidade humana
o agente, por embriaguez, proveniente de caso fortuito ou
força maior, não possuía, ao tempo da ação ou da omissão, O princípio da proporcionalidade tem o objetivo de
a plena capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou coibir excessos, por meio do sopesamento da compatibi-
de determinar-se de acordo com esse entendimento. lidade entre os meios e os fins da atuação administrativa,
para evitar restrições desnecessárias ou abusivas. Tem por
De acordo com o § 2º do artigo acima mencionado, a objetivo a adequação entre os meios e os fins, vedando-se
embriaguez involuntária incompleta do agente é causa de a imposição punições em medida superior ao estritamente
redução de pena. necessário para atender interesse público.
RESPOSTA: “ERRADA”. RESPOSTA: “B”.
31. (DPF - Agente da Polícia Federal - CESPE/2004) 35. (PC/PA - Delegado - UEPA/2013) Dispondo so-
Segundo o Código Penal, a emoção e a paixão não são bre os direitos e garantias fundamentais dos brasilei-
causas excludentes da imputabilidade penal. ros e estrangeiros residentes no país, a Constituição
de 1988, em seu art. 5º, XLVIII, determina que “a pena
A questão está correta conforme dispõe o Código
será cumprida em estabelecimentos distintos, de acor-
Penal:
do com a natureza do delito, a idade e o sexo do ape-
nado”. Esta norma garante o princípio:
Art. 28 - Não excluem a imputabilidade penal: 
a) da legalidade, porque não se pode impor ao ape-
I - a emoção ou a paixão.
nado o cumprimento de pena em estabelecimento que
A emoção e paixão podem servir  como atenuantes não esteja regulamentado por lei específica.
genéricas até mesmo como circunstância minorante em b) da culpabilidade, porque não se pode impor ao
determinados delitos, porém, são causas excludentes da réu uma pena sem a comprovação de sua culpa, por
imputabilidade penal. sentença condenatória transitada em julgado.
c) da humanidade, porque evita a imposição de pe-
RESPOSTA: “CORRETA”. nas proscritas do ordenamento jurídico brasileiro.
d) da individualização da pena, porque impõe ao
32. (OAB - CESPE/2004) A pena imposta ao semi-im- Estado o dever de classificar os apenados a partir de
putável não pode ser substituída por medida de segurança. características pessoais concretas, prevenindo proble-
mas como o da “contaminação carcerária”.
As medidas de segurança aplicam-se tanto aos inimputá- e) da pessoalidade ou intranscendência da pena,
veis quanto aos semi-imputáveis, são providencias de caráter porque assegura aos familiares do apenado não sofre-
preventivo com fundamento na periculosidade do agente. rem os constrangimentos do cárcere.

RESPOSTA: “ERRADA”. O princípio da individualização da pena garante que as


penas dos infratores não devem ser igualadas, devem ser
33. (Senado - Consultor - CESPE/2004) Por imputa- personalizadas e particularizadas de acordo com a nature-
bilidade entende-se a capacidade de o agente entender za e as circunstâncias dos delitos e à luz das características
o caráter ilícito de um fato e de determinar-se de acor- pessoais do infrator, vedado, assim, qualquer tipo de pa-
do com esse entendimento; no direito penal, inicia-se dronização. Este princípio de fundamente no Art. 5º, XLVI
aos dezoito anos de idade, ainda que tenha sido desen- da CF, Arts. 5º, 8º, 41, XII e 92, parágrafo único, II, da LEP e
volvida essa capacidade em idade inferior. Art. 34 do CP.

A imputabilidade é a capacidade de o agente entender RESPOSTA: “D”.


o caráter ilícito de um fato e de determinar-se de acordo
com esse entendimento. Os menores de 18 anos são
inimputáveis no Direito Penal Pátrio.

RESPOSTA: “CORRETA”.

68
DIREITO PENAL

36. (TRF/1ª Região – Estágio em Direito – TRF/1ª 39. (MP/SP – Promotor de Justiça – MP/SP/2011)
Região/2013) São princípios informadores do direito Assinale a alternativa que estiver totalmente correta.
penal, expressamente previstos em lei, exceto: A) Em face do princípio da legalidade constitucio-
a) legalidade ou reserva legal nalmente consagrado, a lei penal é sempre irretroativa,
b) anterioridade nunca podendo retroagir.
c) intervenção mínima B) Se entrar em vigor lei penal mais severa, ela será
d) individualização da pena aplicável a fato cometido anteriormente a sua vigência,
e) retroatividade da lei penal benéfica desde que não venha a criar figura típica inexistente.
C) Sendo a lei penal mais favorável ao réu, aplica-se
O princípio da individualização da pena é o princípio ao fato cometido sob a égide de lei anterior, desde que
que garante que as penas dos infratores não sejam iguala- ele ainda não tenha sido decidido por sentença conde-
das ou padronizadas, pois segundo este princípio as penas natória transitada em julgado.
impostas aos infratores devem ser personalizadas e parti- D) A lei penal não pode retroagir para alcançar fa-
cularizadas de acordo com a natureza e as circunstâncias tos ocorridos anteriormente a sua vigência, salvo no
dos delitos e à luz das características pessoais do infrator. caso de abolitio criminis ou de se tratar de lei que, de
qualquer modo, favoreça o agente.
RESPOSTA: “D”. E) Se a lei nova for mais favorável ao réu, deixando
de considerar criminosa a sua conduta, ela retroagirá
37. (TRF/5ª- Analista Judiciário – Execução de Man- mesmo que o fato tenha sido definitivamente julga-
dados - TRF 5ª /2012) O princípio, segundo o qual se do, fazendo cessar os efeitos civis e penais da sentença
afirma que o Direito Penal não é o único controle social condenatória.
formal dotado de recursos coativos, embora seja o que
disponha dos instrumentos mais enérgicos, é reconhe- A Constituição Federal, em seu art. 5º, XL, garante que:
cido pela doutrina como o princípio da
A) lesividade. Art. 5º. XL - a lei penal não retroagirá, salvo para
B) intervenção mínima. beneficiar o réu;
C) fragmentariedade.
D) subsidiariedade. No mesmo sentido, o Código Penal, art. 2º prevê:
E) proporcionalidade
Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei
Segundo o princípio da subsidiariedade a intervenção posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela
do direito penal só se justifica em ultima ratio do Direito, a execução e os efeitos penais da sentença condenatória.
ou seja, quando o conflito puder ser resolvido por outro Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer modo
ramo do direito, não deverá ser utilizado o direito penal. favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que
decididos por sentença condenatória transitada em julgado.
RESPOSTA: “D”.
RESPOSTA: “D”.
38. (PC/SP - Delegado de Polícia Civil – PC/SP/2011)
Assinale a alternativa que contenha o nome de uma 40. (PC/SP - Delegado de Polícia Civil – PC/SP/2011)
elogiada legislação brasileira que, após debates aca- A ideia de que o Direito Penal deve tutelar os valores
lorados, manteve a pena de morte dentre as sanções considerados imprescindíveis para a sociedade, e não
penais e que foi responsável pela criação do sistema de todos os bens jurídicos, sintetiza o princípio da:
dias-multa. A) adequação social.
A) Código Penal da República (1890). B) culpabilidade.
B) Código Criminal do Império (1830). C) fragmentariedade.
C) Consolidação das Leis Penais (1932). D) ofensividade.
D) Ordenações Filipinas (1603). E) proporcionalidade.
E) Código Penal (1940).
O Código Criminal do Império foi promulgado quando Segundo o princípio da fragmentariedade o direito pe-
o Brasil iniciava seus primeiros passos como nação. A nal deve se ocupar de uma tutela seletiva de bens jurídicos,
elaboração de uma nova legislação criminal era premente, ou seja, o direito penal só deve se ocupar com ofensas
sobretudo porque simbolizava uma ruptura com a realmente graves aos bens jurídicos protegidos. 
dominação colonial. O Código Criminal representou grande
avanço para nosso direito, pois saímos da triste “Idade das RESPOSTA: “C”.
Trevas” para o Iluminismo, buscando adaptar nosso Direito
às novas doutrinas vigentes à época.

RESPOSTA: “B”.

69
DIREITO PENAL

41. (TJ/SP – Juiz de Direito – TJ/SP/2011) Antônio, 43. (TJ/MG - Técnico Judiciário – FUNDEP/2010)
quando ainda em vigor o inc. VII, do art. 107, do Código Analisando a Constituição de 1988, é INCORRETO afir-
Penal, que contemplava como causa extintiva da puni- mar que:
bilidade o casamento da ofendida com o agente, poste- A) a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar
riormente revogado pela Lei n. 11.106, publicada no dia o réu.
29 de março de 2005, estuprou Maria, com a qual veio B) não haverá juízo ou tribunal ou exceção.
a casar em 30 de setembro de 2005. O juiz, ao proferir a C) não há crime sem lei anterior que o defina, nem
sentença, julgou extinta a punibilidade de Antônio, em pena sem prévia cominação legal.
razão do casamento com Maria, fundamentando tal de- D) tribunal do júri tem competência unicamente
cisão no dispositivo revogado (art. 107, VII, do Código para o julgamento dos crimes dolosos consumados,
Penal). Assinale, dentre os princípios adiante mencio- contra a vida.
nados, em qual deles fundamentou-se tal decisão. De acordo com a Constituição Federal (art. 5º, XXXVIII,
a) Princípio da isonomia. alínea “d”), é reconhecida a instituição do júri com com-
b) Princípio da proporcionalidade. petência para o julgamento dos crimes dolosos contra a
c) Princípio da retroatividade da lei penal benéfica. vida, quais sejam: homicídio, infanticídio, participação em
d) Princípio da ultra-atividade da lei penal benéfica. suicídio, aborto.
e) Princípio da legalidade. No entanto, essa competência ditada pela Lei Maior,
qual seja, para julgar os crimes dolosos contra a vida, é
No caso acima citado, de acordo com a ultra-atividade considerada mínima porque ela não pode ser suprimida,
benéfica da lei penal, pois caso a lei seja revogada por ou- isto porque somente o Tribunal do Júri pode julgar crimes
tra gravosa, mesmo após sua revogação aplica-se a fatos desta natureza. Mas essa competência é mínima também
ocorridos durante sua vigência. porque ela pode ser estendida.
Dispõe do artigo 78, inciso I, do Código de Processo
RESPOSTA: “D”. Penal que.

42. (UDESC - Advogado – FEPESE/2010) Assinale a Art. 78. Na determinação da competência por conexão
alternativa correta. ou continência, serão observadas as seguintes regras: 
a) o princípio da humanidade das penas está consa- I - no concurso entre a competência do júri e a de outro
grado na Constituição Federal. órgão da jurisdição comum, prevalecerá a competência do
b) o princípio da aplicação da lei mais benéfica não júri.
é utilizado pelo direito penal.
c) o princípio da intervenção mínima não se con- Veja-se, portanto, que o Tribunal do Júri, minimamente,
funde com o princípio da ultima ratio. deve julgar o crime doloso contra a vida, mas lhe incumbe
d) por força do princípio da insignificância não são também o julgamento dos crimes que forem conexos aos
punidos os crimes de menor potencial ofensivo. dolosos contra a vida, muito embora essa regra comporte
e) A existência de crimes funcionais ofende o prin- exceções.
cípio da igualdade. O Tribunal do Júri, portanto, será competente, também
para julgar crimes conexos, desde que não sejam crimes
Por força do disposto na Constituição Federal, artigo eleitorais, juízo de menores (Vara da Infância e Juventude)
5º: ou sujeitos à Justiça Militar.

XLVII - não haverá penas: RESPOSTA: “D”.


a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos
termos do art. 84, XIX;
b) de caráter perpétuo;
c) de trabalhos forçados;
d) de banimento;
e) cruéis;

Desse modo, a alternativa correta é a “A”.

RESPOSTA: “A”.

70
DIREITO CONSTITUCIONAL

1. Dos princípios fundamentais........................................................................................................................................................................... 01


2. Dos direitos e garantias fundamentais (direitos e deveres individuais e coletivos). ................................................................ 05
3. Da organização do Estado (organização político-administrativa, União, Estados Federados, Municípios, Distrito Fede-
ral e Territórios, militares dos Estados, Distrito Federal e Territórios).................................................................................................. 38
4. Da organização dos poderes (poder legislativo, poder executivo, poder judiciário)............................................................... 47
5. Da defesa do Estado e das Instituições Democráticas (estado de defesa e estado de sítio, Forças Armadas, segurança
pública)......................................................................................................................................................................................................................... 76
6. Da administração pública................................................................................................................................................................................. 80
DIREITO CONSTITUCIONAL

justificam os meios. Portanto, se um príncipe pretende con-


1. DOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS. quistar e manter o poder, os meios que empregue serão
sempre tidos como honrosos, e elogiados por todos, pois
o vulgo atenta sempre para as aparências e os resultados”.
A concepção de soberania inerente ao monarca se
1) Fundamentos da República quebrou numa fase posterior, notadamente com a ascen-
O título I da Constituição Federal trata dos princípios são do ideário iluminista. Com efeito, passou-se a enxergar
fundamentais do Estado brasileiro e começa, em seu arti- a soberania como um poder que repousa no povo. Logo, a
go 1º, trabalhando com os fundamentos da República Fe- autoridade absoluta da qual emana o poder é o povo e a
derativa brasileira, ou seja, com as bases estruturantes do legitimidade do exercício do poder no Estado emana deste
Estado nacional. povo.
Neste sentido, disciplina: Com efeito, no Estado Democrático se garante a so-
berania popular, que pode ser conceituada como “a qua-
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela lidade máxima do poder extraída da soma dos atributos
união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Fe- de cada membro da sociedade estatal, encarregado de
deral, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem escolher os seus representantes no governo por meio do
como fundamentos: sufrágio universal e do voto direto, secreto e igualitário”3.
I - a soberania; Neste sentido, liga-se diretamente ao parágrafo úni-
co do artigo 1º, CF, que prevê que “todo o poder emana
II - a cidadania;
do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos
III - a dignidade da pessoa humana;
ou diretamente, nos termos desta Constituição”. O povo
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
é soberano em suas decisões e as autoridades eleitas que
V - o pluralismo político. decidem em nome dele, representando-o, devem estar
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o devidamente legitimadas para tanto, o que acontece pelo
exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, exercício do sufrágio universal.
nos termos desta Constituição. Por seu turno, a soberania nacional é princípio geral da
atividade econômica (artigo 170, I, CF), restando demons-
Vale estudar o significado e a abrangência de cada qual trado que não somente é guia da atuação política do Esta-
destes fundamentos. do, mas também de sua atuação econômica. Neste senti-
do, deve-se preservar e incentivar a indústria e a economia
1.1) Soberania nacionais.
Soberania significa o poder supremo que cada nação
possui de se autogovernar e se autodeterminar. Este con- 1.2) Cidadania
ceito surgiu no Estado Moderno, com a ascensão do ab- Quando se afirma no caput do artigo 1º que a Repú-
solutismo, colocando o reina posição de soberano. Sendo blica Federativa do Brasil é um Estado Democrático de Di-
assim, poderia governar como bem entendesse, pois seu reito, remete-se à ideia de que o Brasil adota a democracia
poder era exclusivo, inabalável, ilimitado, atemporal e divi- como regime político.
no, ou seja, absoluto. Historicamente, nota-se que por volta de 800 a.C. as
Neste sentido, Thomas Hobbes1, na obra Leviatã, de- comunidades de aldeias começaram a ceder lugar para
fende que quando os homens abrem mão do estado na- unidades políticas maiores, surgindo as chamadas cidades-
tural, deixa de predominar a lei do mais forte, mas para a -estado ou polis, como Tebas, Esparta e Atenas. Inicialmen-
consolidação deste tipo de sociedade é necessária a pre- te eram monarquias, transformaram-se em oligarquias e,
sença de uma autoridade à qual todos os membros devem por volta dos séculos V e VI a.C., tornaram-se democracias.
render o suficiente da sua liberdade natural, permitindo Com efeito, as origens da chamada democracia se encon-
que esta autoridade possa assegurar a paz interna e a de- tram na Grécia antiga, sendo permitida a participação dire-
fesa comum. Este soberano, que à época da escrita da obra ta daqueles poucos que eram considerados cidadãos, por
meio da discussão na polis.
de Hobbes se consolidava no monarca, deveria ser o Levia-
Democracia (do grego, demo+kratos) é um regime po-
tã, uma autoridade inquestionável.
lítico em que o poder de tomar decisões políticas está com
No mesmo direcionamento se encontra a obra de Ma-
os cidadãos, de forma direta (quando um cidadão se reúne
quiavel2, que rejeitou a concepção de um soberano que com os demais e, juntos, eles tomam a decisão política) ou
deveria ser justo e ético para com o seu povo, desde que indireta (quando ao cidadão é dado o poder de eleger um
sempre tivesse em vista a finalidade primordial de manter o representante).
Estado íntegro: “na conduta dos homens, especialmen- Portanto, o conceito de democracia está diretamente
te dos príncipes, contra a qual não há recurso, os fins ligado ao de cidadania, notadamente porque apenas quem
1 MALMESBURY, Thomas Hobbes de. Leviatã. Tra- possui cidadania está apto a participar das decisões políti-
dução de João Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza da Silva. cas a serem tomadas pelo Estado.
[s.c]: [s.n.], 1861. Cidadão é o nacional, isto é, aquele que possui o vín-
2 MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe. Tradução Pietro 3 BULOS, Uadi Lammêngo. Constituição federal
Nassetti. São Paulo: Martin Claret, 2007, p. 111. anotada. São Paulo: Saraiva, 2000.

1
DIREITO CONSTITUCIONAL

culo político-jurídico da nacionalidade com o Estado, que Para Reale6, a evolução histórica demonstra o domínio
goza de direitos políticos, ou seja, que pode votar e ser de um valor sobre o outro, ou seja, a existência de uma
votado (sufrágio universal). ordem gradativa entre os valores; mas existem os valores
Destacam-se os seguintes conceitos correlatos: fundamentais e os secundários, sendo que o valor fonte
a) Nacionalidade: é o vínculo jurídico-político que liga é o da pessoa humana. Nesse sentido, são os dizeres de
um indivíduo a determinado Estado, fazendo com que ele Reale7: “partimos dessa ideia, a nosso ver básica, de que a
passe a integrar o povo daquele Estado, desfrutando assim pessoa humana é o valor-fonte de todos os valores. O ho-
de direitos e obrigações. mem, como ser natural biopsíquico, é apenas um indivíduo
b) Povo: conjunto de pessoas que compõem o Estado, entre outros indivíduos, um ente animal entre os demais da
unidas pelo vínculo da nacionalidade. mesma espécie. O homem, considerado na sua objetividade
c) População: conjunto de pessoas residentes no Esta- espiritual, enquanto ser que só realiza no sentido de seu de-
do, nacionais ou não. ver ser, é o que chamamos de pessoa. Só o homem possui
Depreende-se que a cidadania é um atributo conferido a dignidade originária de ser enquanto deve ser, pondo-se
aos nacionais titulares de direitos políticos, permitindo a essencialmente como razão determinante do processo his-
consolidação do sistema democrático. tórico”.
Quando a Constituição Federal assegura a dignidade
1.3) Dignidade da pessoa humana da pessoa humana como um dos fundamentos da Repúbli-
A dignidade da pessoa humana é o valor-base de in- ca, faz emergir uma nova concepção de proteção de cada
terpretação de qualquer sistema jurídico, internacional ou membro do seu povo. Tal ideologia de forte fulcro huma-
nacional, que possa se considerar compatível com os valo- nista guia a afirmação de todos os direitos fundamentais e
res éticos, notadamente da moral, da justiça e da democra- confere a eles posição hierárquica superior às normas or-
cia. Pensar em dignidade da pessoa humana significa, aci- ganizacionais do Estado, de modo que é o Estado que está
ma de tudo, colocar a pessoa humana como centro e norte para o povo, devendo garantir a dignidade de seus mem-
para qualquer processo de interpretação jurídico, seja na bros, e não o inverso.
elaboração da norma, seja na sua aplicação.
Sem pretender estabelecer uma definição fechada ou
1.4) Valores sociais do trabalho e da livre iniciativa
plena, é possível conceituar dignidade da pessoa humana
Quando o constituinte coloca os valores sociais do tra-
como o principal valor do ordenamento ético e, por con-
balho em paridade com a livre iniciativa fica clara a percep-
sequência, jurídico que pretende colocar a pessoa humana
ção de necessário equilíbrio entre estas duas concepções.
como um sujeito pleno de direitos e obrigações na or-
De um lado, é necessário garantir direitos aos trabalhado-
dem internacional e nacional, cujo desrespeito acarreta a
própria exclusão de sua personalidade. res, notadamente consolidados nos direitos sociais enume-
Aponta Barroso4: “o princípio da dignidade da pessoa rados no artigo 7º da Constituição; por outro lado, estes
humana identifica um espaço de integridade moral a ser direitos não devem ser óbice ao exercício da livre iniciativa,
assegurado a todas as pessoas por sua só existência no mas sim vetores que reforcem o exercício desta liberdade
mundo. É um respeito à criação, independente da crença dentro dos limites da justiça social, evitando o predomínio
que se professe quanto à sua origem. A dignidade rela- do mais forte sobre o mais fraco.
ciona-se tanto com a liberdade e valores do espírito como Por livre iniciativa entenda-se a liberdade de iniciar a
com as condições materiais de subsistência”. exploração de atividades econômicas no território brasi-
O Ministro Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira, do leiro, coibindo-se práticas de truste (ex.: monopólio). O
Tribunal Superior do Trabalho, trouxe interessante conceito constituinte não tem a intenção de impedir a livre iniciativa,
numa das decisões que relatou: “a dignidade consiste na até mesmo porque o Estado nacional necessita dela para
percepção intrínseca de cada ser humano a respeito dos crescer economicamente e adequar sua estrutura ao aten-
direitos e obrigações, de modo a assegurar, sob o foco de dimento crescente das necessidades de todos os que nele
condições existenciais mínimas, a participação saudável e vivem. Sem crescimento econômico, nem ao menos é pos-
ativa nos destinos escolhidos, sem que isso importe des- sível garantir os direitos econômicos, sociais e culturais afir-
tilação dos valores soberanos da democracia e das liber- mados na Constituição Federal como direitos fundamentais.
dades individuais. O processo de valorização do indivíduo No entanto, a exploração da livre iniciativa deve se dar
articula a promoção de escolhas, posturas e sonhos, sem de maneira racional, tendo em vista os direitos inerentes
olvidar que o espectro de abrangência das liberdades in- aos trabalhadores, no que se consolida a expressão “valores
dividuais encontra limitação em outros direitos fundamen- sociais do trabalho”. A pessoa que trabalha para aquele que
tais, tais como a honra, a vida privada, a intimidade, a ima- explora a livre iniciativa deve ter a sua dignidade respeitada
gem. Sobreleva registrar que essas garantias, associadas ao em todas as suas dimensões, não somente no que tange
princípio da dignidade da pessoa humana, subsistem como aos direitos sociais, mas em relação a todos os direitos fun-
conquista da humanidade, razão pela qual auferiram pro- damentais afirmados pelo constituinte.
teção especial consistente em indenização por dano moral Luiz Bresciani de Fontan Pereira. Brasília, 05 de setembro de
decorrente de sua violação”5. 2012j1. Disponível em: www.tst.gov.br. Acesso em: 17 nov.
4 BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e aplica- 2012.
ção da Constituição. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 382. 6 REALE, Miguel. Filosofia do direito. 19. ed. São
5 BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Recurso Paulo: Saraiva, 2002, p. 228.
de Revista n. 259300-59.2007.5.02.0202. Relator: Alberto 7 Ibid., p. 220.

2
DIREITO CONSTITUCIONAL

A questão resta melhor delimitada no título VI do texto I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
constitucional, que aborda a ordem econômica e financei- II - garantir o desenvolvimento nacional; 
ra: “Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as
do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim desigualdades sociais e regionais;
assegurar a todos existência digna, conforme os ditames IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de
da justiça social, observados os seguintes princípios [...]”. origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de
Nota-se no caput a repetição do fundamento republicano discriminação.
dos valores sociais do trabalho e da livre iniciativa.
Por sua vez, são princípios instrumentais para a efeti- 3.1) Construir uma sociedade livre, justa e solidária
vação deste fundamento, conforme previsão do artigo 1º e O inciso I do artigo 3º merece destaque ao trazer a
do artigo 170, ambos da Constituição, o princípio da livre expressão “livre, justa e solidária”, que corresponde à tría-
concorrência (artigo 170, IV, CF), o princípio da busca do de liberdade, igualdade e fraternidade. Esta tríade con-
pleno emprego (artigo 170, VIII, CF) e o princípio do tra- solida as três dimensões de direitos humanos: a primei-
tamento favorecido para as empresas de pequeno porte ra dimensão, voltada à pessoa como indivíduo, refere-se
constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede aos direitos civis e políticos; a segunda dimensão, focada
e administração no País (artigo 170, IX, CF). Ainda, assegu- na promoção da igualdade material, remete aos direitos
rando a livre iniciativa no exercício de atividades econômi- econômicos, sociais e culturais; e a terceira dimensão se
cas, o parágrafo único do artigo 170 prevê: “é assegurado concentra numa perspectiva difusa e coletiva dos direitos
a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica, fundamentais.
independentemente de autorização de órgãos públicos, Sendo assim, a República brasileira pretende garantir a
salvo nos casos previstos em lei”. preservação de direitos fundamentais inatos à pessoa hu-
mana em todas as suas dimensões, indissociáveis e inter-
1.5) Pluralismo político conectadas. Daí o texto constitucional guardar espaço de
A expressão pluralismo remete ao reconhecimento da destaque para cada uma destas perspectivas.
multiplicidade de ideologias culturais, religiosas, econômi-
cas e sociais no âmbito de uma nação. Quando se fala em 3.2) Garantir o desenvolvimento nacional
pluralismo político, afirma-se que mais do que incorporar Para que o governo possa prover todas as condições
esta multiplicidade de ideologias cabe ao Estado nacional necessárias à implementação de todos os direitos funda-
fornecer espaço para a manifestação política delas. mentais da pessoa humana mostra-se essencial que o país
Sendo assim, pluralismo político significa não só res- se desenvolva, cresça economicamente, de modo que cada
peitar a multiplicidade de opiniões e ideias, mas acima de indivíduo passe a ter condições de perseguir suas metas.
tudo garantir a existência dela, permitindo que os vários
grupos que compõem os mais diversos setores sociais pos- 3.3) Erradicar a pobreza e a marginalização e redu-
sam se fazer ouvir mediante a liberdade de expressão, ma- zir as desigualdades sociais e regionais
nifestação e opinião, bem como possam exigir do Estado Garantir o desenvolvimento econômico não basta
substrato para se fazerem subsistir na sociedade. para a construção de uma sociedade justa e solidária. É
Pluralismo político vai além do pluripartidarismo ou necessário ir além e nunca perder de vista a perspectiva
multipartidarismo, que é apenas uma de suas consequên- da igualdade material. Logo, a injeção econômica deve
cias e garante que mesmo os partidos menores e com pou- permitir o investimento nos setores menos favorecidos,
cos representantes sejam ouvidos na tomada de decisões diminuindo as desigualdades sociais e regionais e paulati-
políticas, porque abrange uma verdadeira concepção de namente erradicando a pobreza.
multiculturalidade no âmbito interno. O impacto econômico deste objetivo fundamental é
tão relevante que o artigo 170 da Constituição prevê em
2) Separação dos Poderes seu inciso VII a “redução das desigualdades regionais e
A separação de Poderes é inerente ao modelo do Es- sociais” como um princípio que deve reger a atividade
tado Democrático de Direito, impedindo a monopolização econômica. A menção deste princípio implica em afirmar
do poder e, por conseguinte, a tirania e a opressão. Resta que as políticas públicas econômico-financeiras deverão
garantida no artigo 2º da Constituição Federal com o se- se guiar pela busca da redução das desigualdades, forne-
guinte teor: cendo incentivos específicos para a exploração da ativida-
de econômica em zonas economicamente marginalizadas.
Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmôni-
cos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. 3.4) Promover o bem de todos, sem preconceitos
de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras
3) Objetivos fundamentais formas de discriminação
O constituinte trabalha no artigo 3º da Constituição Ainda no ideário de justiça social, coloca-se o princípio
Federal com os objetivos da República Federativa do Brasil, da igualdade como objetivo a ser alcançado pela Repú-
nos seguintes termos: blica brasileira. Sendo assim, a república deve promover
o princípio da igualdade e consolidar o bem comum. Em
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República verdade, a promoção do bem comum pressupõe a preva-
Federativa do Brasil: lência do princípio da igualdade.

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DIREITO CONSTITUCIONAL

Sobre o bem de todos, isto é, o bem comum, o filóso- 4.2) Prevalência dos direitos humanos
fo Jacques Maritain8 ressaltou que o fim da sociedade é o O Estado existe para o homem e não o inverso. Portan-
seu bem comum, mas esse bem comum é o das pessoas to, toda normativa existe para a sua proteção como pessoa
humanas, que compõem a sociedade. Com base neste humana e o Estado tem o dever de servir a este fim de pre-
ideário, apontou as características essenciais do bem co- servação. A única forma de fazer isso é adotando a pessoa
mum: redistribuição, pela qual o bem comum deve ser humana como valor-fonte de todo o ordenamento, o que
redistribuído às pessoas e colaborar para o desenvolvi- somente é possível com a compreensão de que os direitos
mento delas; respeito à autoridade na sociedade, pois a humanos possuem uma posição prioritária no ordenamen-
autoridade é necessária para conduzir a comunidade de to jurídico-constitucional.
pessoas humanas para o bem comum; moralidade, que Conceituar direitos humanos é uma tarefa complicada,
constitui a retidão de vida, sendo a justiça e a retidão mo- mas, em síntese, pode-se afirmar que direitos humanos são
ral elementos essenciais do bem comum. aqueles inerentes ao homem enquanto condição para sua
dignidade que usualmente são descritos em documentos
4) Princípios de relações internacionais (artigo 4º) internacionais para que sejam mais seguramente garanti-
O último artigo do título I trabalha com os princípios dos. A conquista de direitos da pessoa humana é, na verda-
que regem as relações internacionais da República brasi- de, uma busca da dignidade da pessoa humana.
leira:
4.3) Autodeterminação dos povos
Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas A premissa dos direitos políticos é a autodetermina-
suas relações internacionais pelos seguintes princípios:  ção dos povos. Neste sentido, embora cada Estado tenha
I - independência nacional; obrigações de direito internacional que deve respeitar para
II - prevalência dos direitos humanos; a adequada consecução dos fins da comunidade interna-
III - autodeterminação dos povos; cional, também tem o direito de se autodeterminar, sendo
IV - não-intervenção; que tal autodeterminação é feita pelo seu povo.
Se autodeterminar significa garantir a liberdade do
V - igualdade entre os Estados;
povo na tomada das decisões políticas, logo, o direito à
VI - defesa da paz;
autodeterminação pressupõe a exclusão do colonialismo.
VII - solução pacífica dos conflitos;
Não se aceita a ideia de que um Estado domine o outro,
VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo;
tirando a sua autodeterminação.
IX - cooperação entre os povos para o progresso da hu-
manidade;
4.4) Não-intervenção
X - concessão de asilo político.
Por não-intervenção entenda-se que o Estado brasilei-
Parágrafo único. A República Federativa do Brasil bus- ro irá respeitar a soberania dos demais Estados nacionais.
cará a integração econômica, política, social e cultural dos Sendo assim, adotará práticas diplomáticas e respeitará as
povos da América Latina, visando à formação de uma co- decisões políticas tomadas no âmbito de cada Estado, eis
munidade latino-americana de nações. que são paritários na ordem internacional.
De maneira geral, percebe-se na Constituição Federal 4.5) Igualdade entre os Estados
a compreensão de que a soberania do Estado nacional Por este princípio se reconhece uma posição de pari-
brasileiro não permite a sobreposição em relação à sobe- dade, ou seja, de igualdade hierárquica, na ordem interna-
rania dos demais Estados, bem como de que é necessário cional entre todos os Estados. Em razão disso, cada Estado
respeitar determinadas práticas inerentes ao direito inter- possuirá direito de voz e voto na tomada de decisões polí-
nacional dos direitos humanos. ticas na ordem internacional em cada organização da qual
faça parte e deverá ter sua opinião respeitada.
4.1) Independência nacional
A formação de uma comunidade internacional não 4.6) Defesa da paz
significa a eliminação da soberania dos países, mas ape- O direito à paz vai muito além do direito de viver num
nas uma relativização, limitando as atitudes por ele to- mundo sem guerras, atingindo o direito de ter paz social,
madas em prol da preservação do bem comum e da paz de ver seus direitos respeitados em sociedade. Os direitos
mundial. Na verdade, o próprio compromisso de respeito e liberdades garantidos internacionalmente não podem
aos direitos humanos traduz a limitação das ações esta- ser destruídos com fundamento nas normas que surgiram
tais, que sempre devem se guiar por eles. Logo, o Brasil é para protegê-los, o que seria controverso. Em termos de
um país independente, que não responde a nenhum ou- relações internacionais, depreende-se que deve ser sempre
tro, mas que como qualquer outro possui um dever para priorizada a solução amistosa de conflitos.
com a humanidade e os direitos inatos a cada um de seus
membros. 4.7) Solução pacífica dos conflitos
Decorrendo da defesa da paz, este princípio remete
8 MARITAIN, Jacques. Os direitos do homem e a lei à necessidade de diplomacia nas relações internacionais.
natural. 3. ed. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, Caso surjam conflitos entre Estados nacionais, estes deve-
1967, p. 20-22. rão ser dirimidos de forma amistosa.

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DIREITO CONSTITUCIONAL

Negociação diplomática, serviços amistosos, bons ofí- Em relação a este princípio, o artigo 4º se aprofun-
cios, mediação, sistema de consultas, conciliação e inqué- da em seu parágrafo único, destacando a importância da
rito são os meios diplomáticos de solução de controvérsias cooperação brasileira no âmbito regional: “A República
internacionais, não havendo hierarquia entre eles. Somente Federativa do Brasil buscará a integração econômica, polí-
o inquérito é um procedimento preliminar e facultativo à tica, social e cultural dos povos da América Latina, visando
apuração da materialidade dos fatos, podendo servir de à formação de uma comunidade latino-americana de na-
base para qualquer meio de solução de conflito9. Concei- ções”. Neste sentido, o papel desempenhado no MERCO-
tua Neves10: SUL.
- “Negociação diplomática é a forma de autocompo-
sição em que os Estados oponentes buscam resolver suas 4.10) Concessão de asilo político
divergências de forma direta, por via diplomática”; Direito de asilo é o direito de buscar abrigo em outro
- “Serviços amistosos é um meio de solução pacífica de país quando naquele do qual for nacional estiver sofrendo
conflito, sem aspecto oficial, em que o governo designa um alguma perseguição. Tal perseguição não pode ter mo-
diplomada para sua conclusão”; tivos legítimos, como a prática de crimes comuns ou de
- “Bons ofícios constituem o meio diplomático de so- atos atentatórios aos princípios das Nações Unidas, o que
lução pacífica de controvérsia internacional, em que um subverteria a própria finalidade desta proteção. Em suma,
Estado, uma organização internacional ou até mesmo um o que se pretende com o direito de asilo é evitar a con-
chefe de Estado apresenta-se como moderador entre os
solidação de ameaças a direitos humanos de uma pessoa
litigantes”;
por parte daqueles que deveriam protegê-los – isto é, os
- “Mediação define-se como instituto por meio do qual
governantes e os entes sociais como um todo –, e não pro-
uma terceira pessoa estranha à contenda, mas aceita pelos
teger pessoas que justamente cometeram tais violações.
litigantes, de forma voluntária ou em razão de estipulação
“Sendo direito humano da pessoa refugiada, é obriga-
anterior, toma conhecimento da divergência e dos argu-
ção do Estado asilante conceder o asilo. Entretanto, pre-
mentos sustentados pelas partes, e propõe uma solução
valece o entendimento que o Estado não tem esta obri-
pacífica sujeita à aceitação destas”;
- “Sistema de Consultas constitui-se em meio diplomá- gação, nem de fundamentar a recusa. A segunda parte
tico de solução de litígios em que os Estados ou organiza- deste artigo permite a interpretação no sentido de que é o
ções internacionais sujeitam-se, sem qualquer interferência Estado asilante que subjetivamente enquadra o refugiado
pessoal externa, a encontros periódicos com o objetivo de como asilado político ou criminoso comum”11.
compor suas divergências”.

4.8) Repúdio ao terrorismo e ao racismo


Terrorismo é o uso de violência através de ataques lo-
calizados a elementos ou instalações de um governo ou 2. DOS DIREITOS E GARANTIAS
da população civil, de modo a incutir medo, terror, e assim
FUNDAMENTAIS (DIREITOS E DEVERES
obter efeitos psicológicos que ultrapassem largamente o
círculo das vítimas, incluindo, antes, o resto da população INDIVIDUAIS E COLETIVOS).
do território.
Racismo é a prática de atos discriminatórios baseados
em diferenças étnico-raciais, que podem consistirem vio-
lência física ou psicológica direcionada a uma pessoa ou a O título II da Constituição Federal é intitulado “Direitos
um grupo de pessoas pela simples questão biológica her- e Garantias fundamentais”, gênero que abrange as seguin-
dada por sua raça ou etnia. tes espécies de direitos fundamentais: direitos individuais
Sendo o Brasil um país que prega o pacifismo e que é e coletivos (art. 5º, CF), direitos sociais (genericamente
assumidamente pluralista, ambas práticas são considera- previstos no art. 6º, CF), direitos da nacionalidade (artigos
das vis e devem ser repudiadas pelo Estado nacional. 12 e 13, CF) e direitos políticos (artigos 14 a 17, CF).
Em termos comparativos à clássica divisão tridimen-
4.9) Cooperação entre os povos para o progresso sional dos direitos humanos, os direitos individuais (maior
da humanidade parte do artigo 5º, CF), os direitos da nacionalidade e os
A cooperação internacional deve ser especialmente direitos políticos se encaixam na primeira dimensão (direi-
econômica e técnica, a fim de conseguir progressivamente tos civis e políticos); os direitos sociais se enquadram na
a plena efetividade dos direitos humanos fundamentais in- segunda dimensão (direitos econômicos, sociais e cultu-
ternacionalmente reconhecidos. rais) e os direitos coletivos na terceira dimensão. Contudo,
Os países devem colaborar uns com os outros, o que é a enumeração de direitos humanos na Constituição vai
possível mediante a integração no âmbito de organizações além dos direitos que expressamente constam no título II
internacionais específicas, regionais ou globais. do texto constitucional.
9 NEVES, Gustavo Bregalda. Direito Internacional 11 SANTOS FILHO, Oswaldo de Souza. Comentários
Público & Direito Internacional Privado. 3. ed. São Paulo: aos artigos XIII e XIV. In: BALERA, Wagner (Coord.). Comen-
Atlas, 2009, p. 123. tários à Declaração Universal dos Direitos do Homem.
10 Ibid., p. 123-126. Brasília: Fortium, 2008, p. 83.

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DIREITO CONSTITUCIONAL

Os direitos fundamentais possuem as seguintes carac- Em caso de ineficácia da garantia, implicando em vio-
terísticas principais: lação de direito, cabe a utilização dos remédios constitu-
a) Historicidade: os direitos fundamentais possuem cionais.
antecedentes históricos relevantes e, através dos tempos, Atenção para o fato de o constituinte chamar os remé-
adquirem novas perspectivas. Nesta característica se en- dios constitucionais de garantias, e todas as suas fórmulas
quadra a noção de dimensões de direitos. de direitos e garantias propriamente ditas apenas de di-
b) Universalidade: os direitos fundamentais perten- reitos.
cem a todos, tanto que apesar da expressão restritiva do
caput do artigo 5º aos brasileiros e estrangeiros residentes Direitos e deveres individuais e coletivos
no país tem se entendido pela extensão destes direitos, na
perspectiva de prevalência dos direitos humanos. O capítulo I do título II é intitulado “direitos e deve-
c) Inalienabilidade: os direitos fundamentais não res individuais e coletivos”. Da própria nomenclatura do
possuem conteúdo econômico-patrimonial, logo, são in- capítulo já se extrai que a proteção vai além dos direitos
transferíveis, inegociáveis e indisponíveis, estando fora do do indivíduo e também abrange direitos da coletividade. A
comércio, o que evidencia uma limitação do princípio da maior parte dos direitos enumerados no artigo 5º do texto
autonomia privada. constitucional é de direitos individuais, mas são incluídos
d) Irrenunciabilidade: direitos fundamentais não po- alguns direitos coletivos e mesmo remédios constitucio-
dem ser renunciados pelo seu titular devido à fundamenta- nais próprios para a tutela destes direitos coletivos (ex.:
lidade material destes direitos para a dignidade da pessoa mandado de segurança coletivo).
humana.
e) Inviolabilidade: direitos fundamentais não podem 1) Brasileiros e estrangeiros
deixar de ser observados por disposições infraconstitucio- O caput do artigo 5º aparenta restringir a proteção
nais ou por atos das autoridades públicas, sob pena de nu- conferida pelo dispositivo a algumas pessoas, notadamen-
lidades. te, “aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País”.
f) Indivisibilidade: os direitos fundamentais compõem No entanto, tal restrição é apenas aparente e tem sido in-
um único conjunto de direitos porque não podem ser ana- terpretada no sentido de que os direitos estarão protegi-
lisados de maneira isolada, separada. dos com relação a todas as pessoas nos limites da sobera-
g) Imprescritibilidade: os direitos fundamentais não nia do país.
se perdem com o tempo, não prescrevem, uma vez que são Em razão disso, por exemplo, um estrangeiro pode in-
sempre exercíveis e exercidos, não deixando de existir pela gressar com habeas corpus ou mandado de segurança, ou
falta de uso (prescrição). então intentar ação reivindicatória com relação a imóvel
h) Relatividade: os direitos fundamentais não po- seu localizado no Brasil (ainda que não resida no país).
dem ser utilizados como um escudo para práticas ilícitas Somente alguns direitos não são estendidos a todas as
ou como argumento para afastamento ou diminuição da pessoas. A exemplo, o direito de intentar ação popular exi-
responsabilidade por atos ilícitos, assim estes direitos não ge a condição de cidadão, que só é possuída por nacionais
são ilimitados e encontram seus limites nos demais direitos titulares de direitos políticos.
igualmente consagrados como humanos.
2) Relação direitos-deveres
Vale destacar que a Constituição vai além da proteção O capítulo em estudo é denominado “direitos e garan-
dos direitos e estabelece garantias em prol da preservação tias deveres e coletivos”, remetendo à necessária relação
destes, bem como remédios constitucionais a serem utili- direitos-deveres entre os titulares dos direitos fundamen-
zados caso estes direitos e garantias não sejam preserva- tais. Acima de tudo, o que se deve ter em vista é a pre-
dos. Neste sentido, dividem-se em direitos e garantias as missa reconhecida nos direitos fundamentais de que não
previsões do artigo 5º: os direitos são as disposições de- há direito que seja absoluto, correspondendo-se para cada
claratórias e as garantias são as disposições assecuratórias. direito um dever. Logo, o exercício de direitos fundamen-
O legislador muitas vezes reúne no mesmo dispositivo tais é limitado pelo igual direito de mesmo exercício por
o direito e a garantia, como no caso do artigo 5º, IX: “é livre parte de outrem, não sendo nunca absolutos, mas sempre
a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de relativos.
comunicação, independentemente de censura ou licença” Explica Canotilho13 quanto aos direitos fundamentais:
– o direito é o de liberdade de expressão e a garantia é a “a ideia de deveres fundamentais é suscetível de ser enten-
vedação de censura ou exigência de licença. Em outros ca- dida como o ‘outro lado’ dos direitos fundamentais. Como
sos, o legislador traz o direito num dispositivo e a garantia ao titular de um direito fundamental corresponde um de-
em outro: a liberdade de locomoção, direito, é colocada ver por parte de um outro titular, poder-se-ia dizer que o
no artigo 5º, XV, ao passo que o dever de relaxamento da particular está vinculado aos direitos fundamentais como
prisão ilegal de ofício pelo juiz, garantia, se encontra no destinatário de um dever fundamental. Neste sentido, um
artigo 5º, LXV12. 13 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito cons-
12 FARIA, Cássio Juvenal. Notas pessoais tomadas titucional e teoria da constituição. 2. ed. Coimbra: Almedi-
em teleconferência. na, 1998, p. 479.

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DIREITO CONSTITUCIONAL

direito fundamental, enquanto protegido, pressuporia um No entanto, com o passar dos tempos, se percebeu
dever correspondente”. Com efeito, a um direito fundamen- que não bastava igualar todos os homens em direitos e
tal conferido à pessoa corresponde o dever de respeito ao deveres para torná-los iguais, pois nem todos possuem
arcabouço de direitos conferidos às outras pessoas. as mesmas condições de exercer estes direitos e deveres.
Logo, não é suficiente garantir um direito à igualdade for-
3) Direitos e garantias em espécie mal, mas é preciso buscar progressivamente a igualdade
Preconiza o artigo 5º da Constituição Federal em seu material. No sentido de igualdade material que aparece o
caput: direito à igualdade num segundo momento, pretenden-
do-se do Estado, tanto no momento de legislar quanto
Artigo 5º, caput, CF. Todos são iguais perante a lei, sem no de aplicar e executar a lei, uma postura de promoção
distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros de políticas governamentais voltadas a grupos vulneráveis.
e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do di- Assim, o direito à igualdade possui dois sentidos no-
reito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à pro- táveis: o de igualdade perante a lei, referindo-se à apli-
priedade, nos termos seguintes [...]. cação uniforme da lei a todas as pessoas que vivem em
sociedade; e o de igualdade material, correspondendo à
O caput do artigo 5º, que pode ser considerado um dos
necessidade de discriminações positivas com relação a
principais (senão o principal) artigos da Constituição Federal,
consagra o princípio da igualdade e delimita as cinco esferas grupos vulneráveis da sociedade, em contraponto à igual-
de direitos individuais e coletivos que merecem proteção, dade formal.
isto é, vida, liberdade, igualdade, segurança e propriedade.
Os incisos deste artigos delimitam vários direitos e garantias Ações afirmativas
que se enquadram em alguma destas esferas de proteção, Neste sentido, desponta a temática das ações afirmati-
podendo se falar em duas esferas específicas que ganham vas,que são políticas públicas ou programas privados cria-
também destaque no texto constitucional, quais sejam, di- dos temporariamente e desenvolvidos com a finalidade de
reitos de acesso à justiça e direitos constitucionais-penais. reduzir as desigualdades decorrentes de discriminações
ou de uma hipossuficiência econômica ou física, por meio
- Direito à igualdade da concessão de algum tipo de vantagem compensatória
Abrangência de tais condições.
Observa-se, pelo teor do caput do artigo 5º, CF, que o Quem é contra as ações afirmativas argumenta que,
constituinte afirmou por duas vezes o princípio da igualda- em uma sociedade pluralista, a condição de membro de
de: um grupo específico não pode ser usada como critério de
inclusão ou exclusão de benefícios. Ademais, afirma-se
Artigo 5º, caput, CF. Todos são iguais perante a lei, sem que elas desprivilegiam o critério republicano do mérito
distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros (segundo o qual o indivíduo deve alcançar determinado
e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do di- cargo público pela sua capacidade e esforço, e não por
reito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à pro- pertencer a determinada categoria); fomentariam o racis-
priedade, nos termos seguintes [...]. mo e o ódio; bem como ferem o princípio da isonomia por
causar uma discriminação reversa.
Não obstante, reforça este princípio em seu primeiro Por outro lado, quem é favorável às ações afirmativas
inciso: defende que elas representam o ideal de justiça compen-
satória (o objetivo é compensar injustiças passadas, dívi-
Artigo 5º, I, CF. Homens e mulheres são iguais em direi-
das históricas, como uma compensação aos negros por
tos e obrigações, nos termos desta Constituição.
tê-los feito escravos, p. ex.); representam o ideal de justiça
distributiva (a preocupação, aqui, é com o presente. Bus-
Este inciso é especificamente voltado à necessidade de
igualdade de gênero, afirmando que não deve haver nenhu- ca-se uma concretização do princípio da igualdade mate-
ma distinção sexo feminino e o masculino, de modo que o rial); bem como promovem a diversidade.
homem e a mulher possuem os mesmos direitos e obriga- Neste sentido, as discriminações legais asseguram
ções. a verdadeira igualdade, por exemplo, com as ações afir-
Entretanto, o princípio da isonomia abrange muito mais mativas, a proteção especial ao trabalho da mulher e do
do que a igualdade de gêneros, envolve uma perspectiva menor, as garantias aos portadores de deficiência, entre
mais ampla. outras medidas que atribuam a pessoas com diferentes
O direito à igualdade é um dos direitos norteadores de condições, iguais possibilidades, protegendo e respeitan-
interpretação de qualquer sistema jurídico. O primeiro enfo- do suas diferenças14. Tem predominado em doutrina e ju-
que que foi dado a este direito foi o de direito civil, enqua- risprudência, inclusive no Supremo Tribunal Federal, que
drando-o na primeira dimensão, no sentido de que a todas as ações afirmativas são válidas.
as pessoas deveriam ser garantidos os mesmos direitos e
deveres. Trata-se de um aspecto relacionado à igualdade en- 14 SANFELICE, Patrícia de Mello. Comentários aos
quanto liberdade, tirando o homem do arbítrio dos demais artigos I e II. In: BALERA, Wagner (Coord.). Comentários
por meio da equiparação. Basicamente, estaria se falando na à Declaração Universal dos Direitos do Homem. Brasília:
igualdade perante a lei. Fortium, 2008, p. 08.

7
DIREITO CONSTITUCIONAL

- Direito à vida Pena - reclusão, de dois a oito anos.


§ 1º Na mesma pena incorre quem submete pessoa
Abrangência presa ou sujeita a medida de segurança a sofrimento físico
O caput do artigo 5º da Constituição assegura a prote- ou mental, por intermédio da prática de ato não previsto
ção do direito à vida. A vida humana é o centro gravitacio- em lei ou não resultante de medida legal.
nal em torno do qual orbitam todos os direitos da pessoa § 2º Aquele que se omite em face dessas condutas,
humana, possuindo reflexos jurídicos, políticos, econômi- quando tinha o dever de evitá-las ou apurá-las, incorre na
cos, morais e religiosos. Daí existir uma dificuldade em con- pena de detenção de um a quatro anos.
ceituar o vocábulo vida. Logo, tudo aquilo que uma pessoa § 3º Se resulta lesão corporal de natureza grave ou gra-
possui deixa de ter valor ou sentido se ela perde a vida. víssima, a pena é de reclusão de quatro a dez anos; se resul-
Sendo assim, a vida é o bem principal de qualquer pessoa, ta morte, a reclusão é de oito a dezesseis anos.
é o primeiro valor moral inerente a todos os seres huma- § 4º Aumenta-se a pena de um sexto até um terço:
nos15. I - se o crime é cometido por agente público;
No tópico do direito à vida tem-se tanto o direito de II – se o crime é cometido contra criança, gestante, por-
nascer/permanecer vivo, o que envolve questões como tador de deficiência, adolescente ou maior de 60 (sessenta)
pena de morte, eutanásia, pesquisas com células-tronco e anos; 
aborto; quanto o direito de viver com dignidade, o que III - se o crime é cometido mediante sequestro.
engloba o respeito à integridade física, psíquica e moral, § 5º A condenação acarretará a perda do cargo, função
incluindo neste aspecto a vedação da tortura, bem como ou emprego público e a interdição para seu exercício pelo
a garantia de recursos que permitam viver a vida com dig- dobro do prazo da pena aplicada.
nidade. § 6º O crime de tortura é inafiançável e insuscetível de
Embora o direito à vida seja em si pouco delimitado graça ou anistia.
nos incisos que seguem o caput do artigo 5º, trata-se de § 7º O condenado por crime previsto nesta Lei, salvo a
um dos direitos mais discutidos em termos jurisprudenciais hipótese do § 2º, iniciará o cumprimento da pena em regi-
me fechado.
e sociológicos. É no direito à vida que se encaixam polêmi-
cas discussões como: aborto de anencéfalo, pesquisa com
- Direito à liberdade
células tronco, pena de morte, eutanásia, etc.
O caput do artigo 5º da Constituição assegura a pro-
teção do direito à liberdade, delimitada em alguns incisos
Vedação à tortura
que o seguem.
De forma expressa no texto constitucional destaca-se
a vedação da tortura, corolário do direito à vida, conforme
Liberdade e legalidade
previsão no inciso III do artigo 5º: Prevê o artigo 5º, II, CF:
Artigo 5º, III, CF. Ninguém será submetido a tortura nem Artigo 5º, II, CF. Ninguém será obrigado a fazer ou deixar
a tratamento desumano ou degradante. de fazer alguma coisa senão em virtude de lei.
A tortura é um dos piores meios de tratamento de- O princípio da legalidade se encontra delimitado neste
sumano, expressamente vedada em âmbito internacional, inciso, prevendo que nenhuma pessoa será obrigada a fazer
como visto no tópico anterior. No Brasil, além da disciplina ou deixar de fazer alguma coisa a não ser que a lei assim
constitucional, a Lei nº 9.455, de 7 de abril de 1997 define determine. Assim, salvo situações previstas em lei, a pessoa
os crimes de tortura e dá outras providências, destacando- tem liberdade para agir como considerar conveniente.
-se o artigo 1º: Portanto, o princípio da legalidade possui estrita rela-
ção com o princípio da liberdade, posto que, a priori, tudo à
Art. 1º Constitui crime de tortura: pessoa é lícito. Somente é vedado o que a lei expressamen-
I - constranger alguém com emprego de violência ou te estabelecer como proibido. A pessoa pode fazer tudo o
grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental: que quiser, como regra, ou seja, agir de qualquer maneira
a) com o fim de obter informação, declaração ou confis- que a lei não proíba.
são da vítima ou de terceira pessoa;
b) para provocar ação ou omissão de natureza crimi- Liberdade de pensamento e de expressão
nosa; O artigo 5º, IV, CF prevê:
c) em razão de discriminação racial ou religiosa;
II - submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autori- Artigo 5º, IV, CF. É livre a manifestação do pensamen-
dade, com emprego de violência ou grave ameaça, a intenso to, sendo vedado o anonimato.
sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo
pessoal ou medida de caráter preventivo. Consolida-se a afirmação simultânea da liberdade de
15 BARRETO, Ana Carolina Rossi; IBRAHIM, Fábio pensamento e da liberdade de expressão.
Zambitte. Comentários aos Artigos III e IV. In: BALERA, Wag- Em primeiro plano tem-se a liberdade de pensamento.
ner (Coord.). Comentários à Declaração Universal dos Di- Afinal, “o ser humano, através dos processos internos de re-
reitos do Homem. Brasília: Fortium, 2008, p. 15. flexão, formula juízos de valor. Estes exteriorizam nada mais

8
DIREITO CONSTITUCIONAL

do que a opinião de seu emitente. Assim, a regra constitu- Cada pessoa tem liberdade para professar a sua fé
cional, ao consagrar a livre manifestação do pensamento, como bem entender dentro dos limites da lei. Não há uma
imprime a existência jurídica ao chamado direito de opi- crença ou religião que seja proibida, garantindo-se que a
nião”16. Em outras palavras, primeiro existe o direito de ter profissão desta fé possa se realizar em locais próprios.
uma opinião, depois o de expressá-la. Nota-se que a liberdade de religião engloba 3 tipos
No mais, surge como corolário do direito à liberdade distintos, porém intrinsecamente relacionados de liberda-
de pensamento e de expressão o direito à escusa por con- des: a liberdade de crença; a liberdade de culto; e a liber-
vicção filosófica ou política: dade de organização religiosa.
Consoante o magistério de José Afonso da Silva17, entra
Artigo 5º, VIII, CF. Ninguém será privado de direitos por na liberdade de crença a liberdade de escolha da religião,
motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou a liberdade de aderir a qualquer seita religiosa, a liberdade
política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação (ou o direito) de mudar de religião, além da liberdade de
legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação al- não aderir a religião alguma, assim como a liberdade de
ternativa, fixada em lei. descrença, a liberdade de ser ateu e de exprimir o agnos-
ticismo, apenas excluída a liberdade de embaraçar o livre
Trata-se de instrumento para a consecução do direito exercício de qualquer religião, de qualquer crença. A liber-
assegurado na Constituição Federal – não basta permitir dade de culto consiste na liberdade de orar e de praticar
que se pense diferente, é preciso respeitar tal posiciona- os atos próprios das manifestações exteriores em casa ou
mento. em público, bem como a de recebimento de contribuições
Com efeito, este direito de liberdade de expressão é para tanto. Por fim, a liberdade de organização religiosa
limitado. Um destes limites é o anonimato, que consiste na refere-se à possibilidade de estabelecimento e organização
garantia de atribuir a cada manifestação uma autoria cer- de igrejas e suas relações com o Estado.
ta e determinada, permitindo eventuais responsabilizações Como decorrência do direito à liberdade religiosa, as-
por manifestações que contrariem a lei. segurando o seu exercício, destaca-se o artigo 5º, VII, CF:
Tem-se, ainda, a seguinte previsão no artigo 5º, IX, CF:
Artigo 5º, VII, CF. É assegurada, nos termos da lei, a pres-
Artigo 5º, IX, CF. É livre a expressão da atividade inte- tação de assistência religiosa nas entidades civis e mili-
lectual, artística, científica e de comunicação, indepen- tares de internação coletiva.
dentemente de censura ou licença.
O dispositivo refere-se não só aos estabelecimentos
Consolida-se outra perspectiva da liberdade de expres- prisionais civis e militares, mas também a hospitais.
são, referente de forma específica a atividades intelectuais, Ainda, surge como corolário do direito à liberdade reli-
artísticas, científicas e de comunicação. Dispensa-se, com giosa o direito à escusa por convicção religiosa:
relação a estas, a exigência de licença para a manifestação
do pensamento, bem como veda-se a censura prévia. Artigo 5º, VIII, CF. Ninguém será privado de direitos por
A respeito da censura prévia, tem-se não cabe impe- motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou po-
dir a divulgação e o acesso a informações como modo de lítica, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal
controle do poder. A censura somente é cabível quando a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alterna-
necessária ao interesse público numa ordem democrática, tiva, fixada em lei.
por exemplo, censurar a publicação de um conteúdo de
exploração sexual infanto-juvenil é adequado. Sempre que a lei impõe uma obrigação a todos, por
O direito à resposta (artigo 5º, V, CF) e o direito à in- exemplo, a todos os homens maiores de 18 anos o alis-
denização (artigo 5º, X, CF) funcionam como a contrapar- tamento militar, não cabe se escusar, a não ser que tenha
tida para aquele que teve algum direito seu violado (no- fundado motivo em crença religiosa ou convicção filosó-
tadamente inerentes à privacidade ou à personalidade) fica/política, caso em que será obrigado a cumprir uma
em decorrência dos excessos no exercício da liberdade de prestação alternativa, isto é, uma outra atividade que não
expressão. contrarie tais preceitos.

Liberdade de crença/religiosa Liberdade de informação


Dispõe o artigo 5º, VI, CF: O direito de acesso à informação também se liga a uma
dimensão do direito à liberdade. Neste sentido, prevê o
Artigo 5º, VI, CF. É inviolável a liberdade de consciên- artigo 5º, XIV, CF:
cia e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos
cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção Artigo 5º, XIV, CF. É assegurado a todos o acesso à in-
aos locais de culto e a suas liturgias. formação e resguardado o sigilo da fonte, quando neces-
sário ao exercício profissional.
16 ARAÚJO, Luiz Alberto David; NUNES JÚNIOR, Vi-
dal Serrano. Curso de direito constitucional. 10. ed. São 17 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitu-
Paulo: Saraiva, 2006. cional positivo. 25. ed. São Paulo: Malheiros, 2006.

9
DIREITO CONSTITUCIONAL

Trata-se da liberdade de informação, consistente na Dentro do espectro do direito de petição se insere, por
liberdade de procurar e receber informações e ideias por exemplo, o direito de solicitar esclarecimentos, de solicitar
quaisquer meios, independente de fronteiras, sem interfe- cópias reprográficas e certidões, bem como de ofertar de-
rência. núncias de irregularidades. Contudo, o constituinte, talvez
A liberdade de informação tem um caráter passivo, ao na intenção de deixar clara a obrigação dos Poderes Públi-
passo que a liberdade de expressão tem uma caracterís- cos em fornecer certidões, trouxe a letra b) do inciso, o que
tica ativa, de forma que juntas formam os aspectos ativo gera confusões conceituais no sentido do direito de obter
e passivo da exteriorização da liberdade de pensamento: certidões ser dissociado do direito de petição.
não basta poder manifestar o seu próprio pensamento, é Por fim, relevante destacar a previsão do artigo 5º, LX,
preciso que ele seja ouvido e, para tanto, há necessidade CF:
de se garantir o acesso ao pensamento manifestado para
a sociedade. Artigo 5º, LX, CF. A lei só poderá restringir a publicidade
Por sua vez, o acesso à informação envolve o direito de dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o
todos obterem informações claras, precisas e verdadeiras a interesse social o exigirem.
respeito de fatos que sejam de seu interesse, notadamente
pelos meios de comunicação imparciais e não monopoliza- Logo,o processo, em regra, não será sigiloso. Apenas
dos (artigo 220, CF). No entanto, nem sempre é possível que o será quando a intimidade merecer preservação (ex: pro-
a imprensa divulgue com quem obteve a informação divul- cesso criminal de estupro ou causas de família em geral) ou
gada, sem o que a segurança desta poderia ficar prejudica- quando o interesse social exigir (ex: investigações que pos-
da e a informação inevitavelmente não chegaria ao público. sam ser comprometidas pela publicidade). A publicidade é
Especificadamente quanto à liberdade de informação instrumento para a efetivação da liberdade de informação.
no âmbito do Poder Público, merecem destaque algumas
previsões. Liberdade de locomoção
Primeiramente, prevê o artigo 5º, XXXIII, CF: Outra faceta do direito à liberdade encontra-se no ar-
tigo 5º, XV, CF:
Artigo 5º, XXXIII, CF. Todos têm direito a receber dos ór-
gãos públicos informações de seu interesse particular, ou Artigo 5º, XV, CF. É livre a locomoção no território na-
de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no pra- cional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos ter-
zo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas mos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus
cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do bens.
Estado.
A liberdade de locomoção é um aspecto básico do di-
A respeito, a Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011 reito à liberdade, permitindo à pessoa ir e vir em todo o
regula o acesso a informações previsto no inciso XXXIII do território do país em tempos de paz (em tempos de guerra
art. 5º, CF, também conhecida como Lei do Acesso à Infor- é possível limitar tal liberdade em prol da segurança). A li-
mação. berdade de sair do país não significa que existe um direito
Não obstante, estabelece o artigo 5º, XXXIV, CF: de ingressar em qualquer outro país, pois caberá à ele, no
exercício de sua soberania, controlar tal entrada.
Artigo 5º, XXXIV, CF. São a todos assegurados, indepen- Classicamente, a prisão é a forma de restrição da liber-
dentemente do pagamento de taxas: dade. Neste sentido, uma pessoa somente poderá ser presa
a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa nos casos autorizados pela própria Constituição Federal. A
de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder; despeito da normativa específica de natureza penal, refor-
b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para ça-se a impossibilidade de se restringir a liberdade de loco-
defesa de direitos e esclarecimento de situações de interesse moção pela prisão civil por dívida.
pessoal. Prevê o artigo 5º, LXVII, CF:

Quanto ao direito de petição, de maneira prática, cum- Artigo 5º, LXVII, CF. Não haverá prisão civil por dívi-
pre observar que o direito de petição deve resultar em uma da, salvo a do responsável pelo inadimplemento voluntário e
manifestação do Estado, normalmente dirimindo (resol- inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel.
vendo) uma questão proposta, em um verdadeiro exercí-
cio contínuo de delimitação dos direitos e obrigações que Nos termos da Súmula Vinculante nº 25 do Supremo
regulam a vida social e, desta maneira, quando “dificulta a Tribunal Federal, “é ilícita a prisão civil de depositário infiel,
apreciação de um pedido que um cidadão quer apresentar” qualquer que seja a modalidade do depósito”. Por isso, a
(muitas vezes, embaraçando-lhe o acesso à Justiça); “demo- única exceção à regra da prisão por dívida do ordenamento
ra para responder aos pedidos formulados” (administrativa é a que se refere à obrigação alimentícia.
e, principalmente, judicialmente) ou “impõe restrições e/ou
condições para a formulação de petição”, traz a chamada Liberdade de trabalho
insegurança jurídica, que traz desesperança e faz proliferar O direito à liberdade também é mencionado no artigo
as desigualdades e as injustiças. 5º, XIII, CF:

10
DIREITO CONSTITUCIONAL

Artigo 5º, XIII, CF. É livre o exercício de qualquer tra- Neste sentido, associações são organizações resultan-
balho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações tes da reunião legal entre duas ou mais pessoas, com ou
profissionais que a lei estabelecer. sem personalidade jurídica, para a realização de um obje-
tivo comum; já cooperativas são uma forma específica de
O livre exercício profissional é garantido, respeitados associação, pois visam a obtenção de vantagens comuns
os limites legais. Por exemplo, não pode exercer a profis- em suas atividades econômicas.
são de advogado aquele que não se formou em Direito Ainda, tem-se o artigo 5º, XIX, CF:
e não foi aprovado no Exame da Ordem dos Advogados
do Brasil; não pode exercer a medicina aquele que não fez Artigo 5º, XIX, CF. As associações só poderão ser com-
faculdade de medicina reconhecida pelo MEC e obteve o pulsoriamente dissolvidas ou ter suas atividades suspensas
cadastro no Conselho Regional de Medicina. por decisão judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito
em julgado.
Liberdade de reunião
Sobre a liberdade de reunião, prevê o artigo 5º, XVI, CF: O primeiro caso é o de dissolução compulsória, ou seja,
a associação deixará de existir para sempre. Obviamente, é
Artigo 5º, XVI, CF. Todos podem reunir-se pacificamen- preciso o trânsito em julgado da decisão judicial que as-
te, sem armas, em locais abertos ao público, independen- sim determine, pois antes disso sempre há possibilidade
temente de autorização, desde que não frustrem outra re- de reverter a decisão e permitir que a associação continue
união anteriormente convocada para o mesmo local, sendo em funcionamento. Contudo, a decisão judicial pode sus-
apenas exigido prévio aviso à autoridade competente. pender atividades até que o trânsito em julgado ocorra, ou
seja, no curso de um processo judicial.
Pessoas podem ir às ruas para reunirem-se com de- Em destaque, a legitimidade representativa da associa-
mais na defesa de uma causa, apenas possuindo o dever ção quanto aos seus filiados, conforme artigo 5º, XXI, CF:
de informar tal reunião. Tal dever remonta-se a questões de
segurança coletiva. Imagine uma grande reunião de pes- Artigo 5º, XXI, CF. As entidades associativas, quando ex-
soas por uma causa, a exemplo da Parada Gay, que chega pressamente autorizadas, têm legitimidade para represen-
a aglomerar milhões de pessoas em algumas capitais: seria tar seus filiados judicial ou extrajudicialmente.
absurdo tolerar tal tipo de reunião sem o prévio aviso do
poder público para que ele organize o policiamento e a as- Trata-se de caso de legitimidade processual extraordi-
sistência médica, evitando algazarras e socorrendo pessoas nária, pela qual um ente vai a juízo defender interesse de
que tenham algum mal-estar no local. Outro limite é o uso outra(s) pessoa(s) porque a lei assim autoriza.
de armas, totalmente vedado, assim como de substâncias A liberdade de associação envolve não somente o di-
ilícitas (Ex: embora a Marcha da Maconha tenha sido auto- reito de criar associações e de fazer parte delas, mas tam-
rizada pelo Supremo Tribunal Federal, vedou-se que nela bém o de não associar-se e o de deixar a associação, con-
tal substância ilícita fosse utilizada). forme artigo 5º, XX, CF:

Liberdade de associação Artigo 5º, XX, CF. Ninguém poderá ser compelido a as-
No que tange à liberdade de reunião, traz o artigo 5º, sociar-se ou a permanecer associado.
XVII, CF:
- Direitos à privacidade e à personalidade
Artigo 5º, XVII, CF. É plena a liberdade de associação
para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar. Abrangência
Prevê o artigo 5º, X, CF:
A liberdade de associação difere-se da de reunião por
sua perenidade, isto é, enquanto a liberdade de reunião é Artigo 5º, X, CF. São invioláveis a intimidade, a vida
exercida de forma sazonal, eventual, a liberdade de asso- privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o
ciação implica na formação de um grupo organizado que direito a indenização pelo dano material ou moral decorren-
se mantém por um período de tempo considerável, dotado te de sua violação.
de estrutura e organização próprias.
Por exemplo, o PCC e o Comando vermelho são asso- O legislador opta por trazer correlacionados no mes-
ciações ilícitas e de caráter paramilitar, pois possuem ar- mo dispositivo legal os direitos à privacidade e à persona-
mas e o ideal de realizar sua própria justiça paralelamente lidade.
à estatal. Reforçando a conexão entre a privacidade e a intimida-
O texto constitucional se estende na regulamentação de, ao abordar a proteção da vida privada – que, em resu-
da liberdade de associação. mo, é a privacidade da vida pessoal no âmbito do domicílio
O artigo 5º, XVIII, CF, preconiza: e de círculos de amigos –, Silva18 entende que “o segredo
da vida privada é condição de expansão da personalidade”,
Artigo 5º, XVIII, CF. A criação de associações e, na for- mas não caracteriza os direitos de personalidade em si.
ma da lei, a de cooperativas independem de autorização, 18 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitu-
sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento. cional positivo. 25. ed. São Paulo: Malheiros, 2006.

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DIREITO CONSTITUCIONAL

A união da intimidade e da vida privada forma a pri- Personalidade jurídica e gratuidade de registro
vacidade, sendo que a primeira se localiza em esfera mais Quando se fala em reconhecimento como pessoa pe-
estrita. É possível ilustrar a vida social como se fosse um rante a lei desdobra-se uma esfera bastante específica dos
grande círculo no qual há um menor, o da vida privada, e direitos de personalidade, consistente na personalidade
dentro deste um ainda mais restrito e impenetrável, o da jurídica. Basicamente, consiste no direito de ser reconheci-
intimidade. Com efeito, pela “Teoria das Esferas” (ou “Teo- do como pessoa perante a lei.
ria dos Círculos Concêntricos”), importada do direito ale- Para ser visto como pessoa perante a lei mostra-se
mão, quanto mais próxima do indivíduo, maior a proteção necessário o registro. Por ser instrumento que serve como
a ser conferida à esfera (as esferas são representadas pela pressuposto ao exercício de direitos fundamentais, asse-
intimidade, pela vida privada, e pela publicidade). gura-se a sua gratuidade aos que não tiverem condição de
“O direito à honra distancia-se levemente dos dois an- com ele arcar.
teriores, podendo referir-se ao juízo positivo que a pessoa Aborda o artigo 5º, LXXVI, CF:
tem de si (honra subjetiva) e ao juízo positivo que dela
fazem os outros (honra objetiva), conferindo-lhe respeita- Artigo 5º, LXXVI, CF. São gratuitos para os reconheci-
bilidade no meio social. O direito à imagem também pos- damente pobres, na forma da lei: a) o registro civil de nas-
sui duas conotações, podendo ser entendido em sentido cimento; b) a certidão de óbito.
objetivo, com relação à reprodução gráfica da pessoa, por
O reconhecimento do marco inicial e do marco final
meio de fotografias, filmagens, desenhos, ou em sentido
da personalidade jurídica pelo registro é direito individual,
subjetivo, significando o conjunto de qualidades cultiva-
não dependendo de condições financeiras. Evidente, seria
das pela pessoa e reconhecidas como suas pelo grupo
absurdo cobrar de uma pessoa sem condições a elabora-
social”19.
ção de documentos para que ela seja reconhecida como
viva ou morta, o que apenas incentivaria a indigência dos
Inviolabilidade de domicílio e sigilo de correspon- menos favorecidos.
dência
Correlatos ao direito à privacidade, aparecem a invio- Direito à indenização e direito de resposta
labilidade do domicílio e o sigilo das correspondências e Com vistas à proteção do direito à privacidade, do di-
comunicações. reito à personalidade e do direito à imagem, asseguram-se
Neste sentido, o artigo 5º, XI, CF prevê: dois instrumentos, o direito à indenização e o direito de
resposta, conforme as necessidades do caso concreto.
Artigo 5º, XI, CF. A casa é asilo inviolável do indiví- Com efeito, prevê o artigo 5º, V, CF:
duo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento
do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, Artigo 5º, V, CF. É assegurado o direito de resposta,
ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação proporcional ao agravo, além da indenização por dano ma-
judicial. terial, moral ou à imagem.

O domicílio é inviolável, razão pela qual ninguém pode “A manifestação do pensamento é livre e garantida
nele entrar sem o consentimento do morador, a não ser em nível constitucional, não aludindo a censura prévia em
EM QUALQUER HORÁRIO no caso de flagrante delito (o diversões e espetáculos públicos. Os abusos porventura
morador foi flagrado na prática de crime e fugiu para seu ocorridos no exercício indevido da manifestação do pensa-
domicílio) ou desastre (incêndio, enchente, terremoto...) mento são passíveis de exame e apreciação pelo Poder Ju-
ou para prestar socorro (morador teve ataque do coração, diciário com a consequente responsabilidade civil e penal
está sufocado, desmaiado...), e SOMENTE DURANTE O DIA de seus autores, decorrentes inclusive de publicações inju-
por determinação judicial. riosas na imprensa, que deve exercer vigilância e controle
Quanto ao sigilo de correspondência e das comunica- da matéria que divulga”20.
ções, prevê o artigo 5º, XII, CF: O  direito de resposta é o direito que uma pessoa
tem de se defender de críticas públicas no mesmo meio
em que foram publicadas garantida exatamente a mes-
Artigo 5º, XII, CF. É inviolável o sigilo da correspondên-
ma repercussão. Mesmo quando for garantido o direito
cia e das comunicações telegráficas, de dados e das comuni-
de resposta não é possível reverter plenamente os da-
cações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial,
nos causados pela manifestação ilícita de pensamento,
nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de razão pela qual a pessoa inda fará jus à indenização.
investigação criminal ou instrução processual penal. A manifestação ilícita do pensamento geralmente cau-
sa um dano, ou seja, um prejuízo sofrido pelo agente, que
O sigilo de correspondência e das comunicações está pode ser individual ou coletivo, moral ou material, econô-
melhor regulamentado na Lei nº 9.296, de 1996. mico e não econômico.

19 MOTTA, Sylvio; BARCHET, Gustavo. Curso de di- 20 BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucio-
reito constitucional. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. nal. 26. ed. São Paulo: Malheiros, 2011.

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DIREITO CONSTITUCIONAL

Dano material é aquele que atinge o patrimônio (ma- § 3º Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão
terial ou imaterial) da vítima, podendo ser mensurado finan- judicial de que já não caiba recurso.
ceiramente e indenizado.
“Dano moral direto consiste na lesão a um interesse - Direito à propriedade
que visa a satisfação ou gozo de um bem jurídico extrapatri- O caput do artigo 5º da Constituição assegura a pro-
monial contido nos direitos da personalidade (como a vida, teção do direito à propriedade, tanto material quanto inte-
a integridade corporal, a liberdade, a honra, o decoro, a inti- lectual, delimitada em alguns incisos que o seguem.
midade, os sentimentos afetivos, a própria imagem) ou nos
atributos da pessoa (como o nome, a capacidade, o estado Função social da propriedade material
de família)”21. O artigo 5º, XXII, CF estabelece:
Já o dano à imagem é delimitado no artigo 20 do Có-
digo Civil: Artigo 5º, XXII, CF. É garantido o direito de proprie-
dade.
Artigo 20, CC. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à
administração da justiça ou à manutenção da ordem pública, A seguir, no inciso XXIII do artigo 5º, CF estabelece o
a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a publi- principal fator limitador deste direito:
cação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa
poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da Artigo 5º, XXIII, CF. A propriedade atenderá a sua fun-
indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ção social.
ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais.
A propriedade, segundo Silva23, “[...] não pode mais ser
- Direito à segurança considerada como um direito individual nem como institui-
O caput do artigo 5º da Constituição assegura a prote- ção do direito privado. [...] embora prevista entre os direi-
ção do direito à segurança. Na qualidade de direito indivi- tos individuais, ela não mais poderá ser considerada puro
dual liga-se à segurança do indivíduo como um todo, desde
direito individual, relativizando-se seu conceito e significa-
sua integridade física e mental, até a própria segurança ju-
do, especialmente porque os princípios da ordem econô-
rídica.
mica são preordenados à vista da realização de seu fim:
No sentido aqui estudado, o direito à segurança pessoal
assegurar a todos existência digna, conforme os ditames
é o direito de viver sem medo, protegido pela solidariedade
da justiça social. Se é assim, então a propriedade privada,
e liberto de agressões, logo, é uma maneira de garantir o
que, ademais, tem que atender a sua função social, fica vin-
direito à vida.
culada à consecução daquele princípio”.
Nesta linha, para Silva22, “efetivamente, esse conjunto de
direitos aparelha situações, proibições, limitações e proce- Com efeito, a proteção da propriedade privada está li-
dimentos destinados a assegurar o exercício e o gozo de mitada ao atendimento de sua função social, sendo este o
algum direito individual fundamental (intimidade, liberdade requisito que a correlaciona com a proteção da dignidade
pessoal ou a incolumidade física ou moral)”. da pessoa humana. A propriedade de bens e valores em
Especificamente no que tange à segurança jurídica, tem- geral é um direito assegurado na Constituição Federal e,
-se o disposto no artigo 5º, XXXVI, CF: como todos os outros, se encontra limitado pelos demais
princípios conforme melhor se atenda à dignidade do ser
Artigo 5º, XXXVI, CF. A lei não prejudicará o direito ad- humano.
quirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada. A Constituição Federal delimita o que se entende por
função social:
Pelo inciso restam estabelecidos limites à retroatividade
da lei. Art. 182, caput, CF. A política de desenvolvimento urba-
Define o artigo 6º da Lei de Introdução às Normas do no, executada pelo Poder Público municipal, conforme dire-
Direito Brasileiro: trizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno
desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o
Artigo 6º, LINDB. A Lei em vigor terá efeito imediato e bem-estar de seus habitantes.
geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e
a coisa julgada. Artigo 182, § 1º, CF. O plano diretor, aprovado pela Câ-
§ 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado se- mara Municipal, obrigatório para cidades com mais de vinte
gundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou. mil habitantes, é o instrumento básico da política de desen-
§ 2º Consideram-se adquiridos assim os direitos que o volvimento e de expansão urbana.
seu titular, ou alguém por ele, possa exercer, como aqueles
cujo começo do exercício tenha termo pré-fixo, ou condição Artigo 182, § 2º, CF. A propriedade urbana cumpre sua
pré-estabelecida inalterável, a arbítrio de outrem. função social quando atende às exigências fundamentais de
21 ZANNONI, Eduardo. El daño en la responsabili- ordenação da cidade expressas no plano diretor24.
dad civil. Buenos Aires: Astrea, 1982. 23 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitu-
22 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitu- cional positivo. 25. ed. São Paulo: Malheiros, 2006.
cional positivo... Op. Cit., p. 437. 24 Instrumento básico de um processo de planejamen-

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DIREITO CONSTITUCIONAL

Artigo 186, CF. A função social é cumprida quando a Artigo 184, § 1º, CF. As benfeitorias úteis e necessárias
propriedade rural atende, simultaneamente, segundo crité- serão indenizadas em dinheiro.
rios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes
requisitos: No que tange à desapropriação por necessidade ou uti-
I - aproveitamento racional e adequado; lidade pública, prevê o artigo 5º, XXIV, CF:
II - utilização adequada dos recursos naturais disponí-
veis e preservação do meio ambiente; Artigo 5º, XXIV, CF. A lei estabelecerá o procedimento
III - observância das disposições que regulam as rela- para desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou
ções de trabalho; por interesse social, mediante justa e prévia indenização em
IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprie- dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituição.
tários e dos trabalhadores.
Ainda, prevê o artigo 182, § 3º, CF:
Desapropriação
No caso de desrespeito à função social da proprieda- Artigo 182, §3º, CF. As desapropriações de imóveis urba-
de cabe até mesmo desapropriação do bem, de modo que nos serão feitas com prévia e justa indenização em dinheiro.
pode-se depreender do texto constitucional duas possibi-
lidades de desapropriação: por desrespeito à função social Tem-se, ainda o artigo 184, §§ 2º e 3º, CF:
e por necessidade ou utilidade pública.
A Constituição Federal prevê a possibilidade de desa- Artigo 184, §2º, CF. O decreto que declarar o imóvel
propriação por desatendimento à função social: como de interesse social, para fins de reforma agrária, auto-
riza a União a propor a ação de desapropriação.
Artigo 182, § 4º, CF. É facultado ao Poder Público mu-
nicipal, mediante lei específica para área incluída no plano Artigo 184, §3º, CF. Cabe à lei complementar estabelecer
diretor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do procedimento contraditório especial, de rito sumário, para o
processo judicial de desapropriação.
solo urbano não edificado, subutilizado ou não utiliza-
do, que promova seu adequado aproveitamento, sob pena,
A desapropriação por utilidade ou necessidade pública
sucessivamente, de:
deve se dar mediante prévia e justa indenização em dinhei-
I - parcelamento ou edificação compulsórios;
ro. O Decreto-lei nº 3.365/1941 a disciplina, delimitando o
II - imposto sobre a propriedade predial e territorial ur-
procedimento e conceituando utilidade pública, em seu ar-
bana progressivo no tempo;
tigo 5º:
III - desapropriação com pagamento mediante títulos
da dívida pública de emissão previamente aprovada pelo Artigo 5º, Decreto-lei n. 3.365/1941. Consideram-se ca-
Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em sos de utilidade pública:
parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real a) a segurança nacional;
da indenização e os juros legais25. b) a defesa do Estado;
c) o socorro público em caso de calamidade;
Artigo 184, CF. Compete à União desapropriar por in- d) a salubridade pública;
teresse social, para fins de reforma agrária, o imóvel rural e) a criação e melhoramento de centros de população,
que não esteja cumprindo sua função social, mediante seu abastecimento regular de meios de subsistência;
prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária, f) o aproveitamento industrial das minas e das jazidas
com cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no minerais, das águas e da energia hidráulica;
prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano de sua g) a assistência pública, as obras de higiene e decoração,
emissão, e cuja utilização será definida em lei26. casas de saúde, clínicas, estações de clima e fontes medici-
to municipal para a implantação da política de desenvolvimen- nais;
to urbano, norteando a ação dos agentes públicos e privados h) a exploração ou a conservação dos serviços públicos;
(Lei n. 10.257/2001 - Estatuto da cidade). i) a abertura, conservação e melhoramento de vias ou
25 Nota-se que antes de se promover a desapropria- logradouros públicos; a execução de planos de urbanização;
ção de imóvel urbano por desatendimento à função social é o parcelamento do solo, com ou sem edificação, para sua me-
necessário tomar duas providências, sucessivas: primeiro, o lhor utilização econômica, higiênica ou estética; a construção
parcelamento ou edificação compulsórios; depois, o estabe- ou ampliação de distritos industriais;
lecimento de imposto sobre a propriedade predial e territorial j) o funcionamento dos meios de transporte coletivo;
urbana progressivo no tempo. Se ambas medidas restarem k) a preservação e conservação dos monumentos históri-
ineficazes, parte-se para a desapropriação por desatendimen- cos e artísticos, isolados ou integrados em conjuntos urbanos
to à função social. ou rurais, bem como as medidas necessárias a manter-lhes
26 A desapropriação em decorrência do desatendimen- e realçar-lhes os aspectos mais valiosos ou característicos e,
to da função social é indenizada, mas não da mesma maneira ainda, a proteção de paisagens e locais particularmente do-
que a desapropriação por necessidade ou utilidade pública, tados pela natureza;
já que na primeira há violação do ordenamento constitucional em títulos da dívida agrária, que na prática não são tão valori-
pelo proprietário, mas na segunda não. Por isso, indeniza-se zados quanto o dinheiro.

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DIREITO CONSTITUCIONAL

l) a preservação e a conservação adequada de arquivos, Art. 185, CF. São insuscetíveis de desapropriação para
documentos e outros bens moveis de valor histórico ou ar- fins de reforma agrária:
tístico; I - a pequena e média propriedade rural, assim definida
m) a construção de edifícios públicos, monumentos co- em lei, desde que seu proprietário não possua outra;
memorativos e cemitérios; II - a propriedade produtiva.
n) a criação de estádios, aeródromos ou campos de pou- Parágrafo único. A lei garantirá tratamento especial à
so para aeronaves; propriedade produtiva e fixará normas para o cumprimento
o) a reedição ou divulgação de obra ou invento de natu- dos requisitos relativos a sua função social.
reza científica, artística ou literária;
p) os demais casos previstos por leis especiais. Sobre as diretrizes da política agrícola, prevê o artigo
187:
Um grande problema que faz com que processos que
tenham a desapropriação por objeto se estendam é a in-
Art. 187, CF. A política agrícola será planejada e exe-
devida valorização do imóvel pelo Poder Público, que ge-
cutada na forma da lei, com a participação efetiva do setor
ralmente pretende pagar valor muito abaixo do devido,
de produção, envolvendo produtores e trabalhadores rurais,
necessitando o Judiciário intervir em prol da correta ava-
bem como dos setores de comercialização, de armazena-
liação.
Outra questão reside na chamada tredestinação, pela mento e de transportes, levando em conta, especialmente:
qual há a destinação de um bem expropriado (desapro- I - os instrumentos creditícios e fiscais;
priação) a finalidade diversa da que se planejou inicial- II - os preços compatíveis com os custos de produção e a
mente. A tredestinação pode ser lícita ou ilícita. Será ilícita garantia de comercialização;
quando resultante de desvio do propósito original; e será III - o incentivo à pesquisa e à tecnologia;
lícita quando a Administração Pública dê ao bem finalidade IV - a assistência técnica e extensão rural;
diversa, porém preservando a razão do interesse público. V - o seguro agrícola;
VI - o cooperativismo;
Política agrária e reforma agrária VII - a eletrificação rural e irrigação;
Enquanto desdobramento do direito à propriedade VIII - a habitação para o trabalhador rural.
imóvel e da função social desta propriedade, tem-se ainda § 1º Incluem-se no planejamento agrícola as atividades
o artigo 5º, XXVI, CF: agroindustriais, agropecuárias, pesqueiras e florestais.
§ 2º Serão compatibilizadas as ações de política agríco-
Artigo 5º, XXVI, CF. A pequena propriedade rural, as- la e de reforma agrária.
sim definida em lei, desde que trabalhada pela família, não
será objeto de penhora para pagamento de débitos decor- As terras devolutas e públicas serão destinadas confor-
rentes de sua atividade produtiva, dispondo a lei sobre os me a política agrícola e o plano nacional de reforma agrá-
meios de financiar o seu desenvolvimento. ria (artigo 188, caput, CF). Neste sentido, “a alienação ou a
concessão, a qualquer título, de terras públicas com área
Assim, se uma pessoa é mais humilde e tem uma pe- superior a dois mil e quinhentos hectares a pessoa física
quena propriedade será assegurado que permaneça com ou jurídica, ainda que por interposta pessoa, dependerá de
ela e a torne mais produtiva. prévia aprovação do Congresso Nacional”, salvo no caso
A preservação da pequena propriedade em detrimento de alienações ou concessões de terras públicas para fins de
dos grandes latifúndios improdutivos é uma das diretrizes- reforma agrária (artigo 188, §§ 1º e 2º, CF).
-guias da regulamentação da política agrária brasileira, que
Os que forem favorecidos pela reforma agrária (ho-
tem como principal escopo a realização da reforma agrária.
mens, mulheres, ambos, qualquer estado civil) não pode-
Parte da questão financeira atinente à reforma agrária
rão negociar seus títulos pelo prazo de 10 anos (artigo 189,
se encontra prevista no artigo 184, §§ 4º e 5º, CF:
CF).
Artigo 184, §4º, CF. O orçamento fixará anualmente Consta, ainda, que “a lei regulará e limitará a aquisição
o volume total de títulos da dívida agrária, assim como o ou o arrendamento de propriedade rural por pessoa física
montante de recursos para atender ao programa de reforma ou jurídica estrangeira e estabelecerá os casos que depen-
agrária no exercício. derão de autorização do Congresso Nacional” (artigo 190,
CF).
Artigo 184, §5º, CF. São isentas de impostos federais, es-
taduais e municipais as operações de transferência de imó- Usucapião
veis desapropriados para fins de reforma agrária. Usucapião é o modo originário de aquisição da pro-
priedade que decorre da posse prolongada por um lon-
Como a finalidade da reforma agrária é transformar go tempo, preenchidos outros requisitos legais. Em outras
terras improdutivas e grandes propriedades em atinentes à palavras, usucapião é uma situação em que alguém tem a
função social, alguns imóveis rurais não podem ser abran- posse de um bem por um tempo longo, sem ser incomo-
gidos pela reforma agrária: dado, a ponto de se tornar proprietário.

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DIREITO CONSTITUCIONAL

A Constituição regulamenta o acesso à propriedade Parágrafo único. Os imóveis públicos não serão adquiri-
mediante posse prolongada no tempo – usucapião – em dos por usucapião.
casos específicos, denominados usucapião especial urbana
e usucapião especial rural. Além dos requisitos gerais (animus e posse que seja
O artigo 183 da Constituição regulamenta a usucapião pública, pacífica, ininterrupta e contínua), são exigidos os
especial urbana: seguintes requisitos específicos:
a) Imóvel rural
Art. 183, CF. Aquele que possuir como sua área urba- b) 50 hectares, no máximo – há também legislação que
na de até duzentos e cinquenta metros quadrados, por cinco estabelece um limite mínimo, o módulo rural (Estatuto da
anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para Terra). É possível usucapir áreas menores que o módulo ru-
sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, des- ral? Tem prevalecido o entendimento de que pode, mas é
de que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. assunto muito controverso.
§ 1º O título de domínio e a concessão de uso serão c) 5 anos – pode ser considerado o prazo antes 05 de
conferidos ao homem ou à mulher, ou a ambos, indepen- outubro de 1988 (Constituição Federal)? Depende. Se a
dentemente do estado civil. área é de até 25 hectares sim, pois já havia tal possibilidade
§ 2º Esse direito não será reconhecido ao mesmo pos- antes da CF/88. Se área for maior (entre 25 ha e 50 ha) não.
suidor mais de uma vez. d) Moradia sua ou de sua família – a pessoa deve morar
§ 3º Os imóveis públicos não serão adquiridos por usu- na área rural.
capião. e) Nenhum outro imóvel.
f) O usucapiente, com seu trabalho, deve ter tornado
Além dos requisitos gerais (animus e posse que seja a área produtiva. Por isso, é chamado de usucapião “pro
pública, pacífica, ininterrupta e contínua), são exigidos os labore”. Dependerá do caso concreto.
seguintes requisitos específicos:
a) Área urbana – há controvérsia. Pela teoria da localiza- Uso temporário
ção, área urbana é a que está dentro do perímetro urbano. No mais, estabelece-se uma terceira limitação ao di-
Pela teoria da destinação, mais importante que a localiza- reito de propriedade que não possui o caráter definitivo
ção é a sua utilização. Ex.: se tem fins agrícolas/pecuários e da desapropriação, mas é temporária, conforme artigo 5º,
estiver dentro do perímetro urbana, o imóvel é rural. Para XXV, CF:
fins de usucapião a maioria diz que prevalece a teoria da
localização. Artigo 5º, XXV, CF. No caso de iminente perigo públi-
b) Imóveis até 250 m² – Pode dentro de uma posse co, a autoridade competente poderá usar de propriedade
maior isolar área de 250m² e ingressar com a ação? A juris- particular, assegurada ao proprietário indenização ulterior,
prudência é pacífica que a posse desde o início deve ficar se houver dano.
restrita a 250m². Predomina também que o terreno deve ter
250m², não a área construída (a área de um sobrado, por Se uma pessoa tem uma propriedade, numa situação
exemplo, pode ser maior que a de um terreno). de perigo, o poder público pode se utilizar dela (ex: montar
c) 5 anos – houve controvérsia porque a Constituição uma base para capturar um fugitivo), pois o interesse da
Federal de 1988 que criou esta modalidade. E se antes de coletividade é maior que o do indivíduo proprietário.
05 de outubro de 1988 uma pessoa tivesse há 4 anos dentro
do limite da usucapião urbana? Predominou que só corria o Direito sucessório
prazo a partir da criação do instituto, não só porque antes O direito sucessório aparece como uma faceta do di-
não existia e o prazo não podia correr, como também não reito à propriedade, encontrando disciplina constitucional
se poderia prejudicar o proprietário. no artigo 5º, XXX e XXXI, CF:
d) Moradia sua ou de sua família – não basta ter posse,
é preciso que a pessoa more, sozinha ou com sua família, ao Artigo 5º, XXX, CF. É garantido o direito de herança;
longo de todo o prazo (não só no início ou no final). Logo,
não cabe acessio temporis por cessão da posse. Artigo 5º, XXXI, CF. A sucessão de bens de estrangei-
e) Nenhum outro imóvel, nem urbano, nem rural, no ros situados no País será regulada pela lei brasileira em be-
Brasil. O usucapiente não prova isso, apenas alega. Se al- nefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, sempre que não
guém não quiser a usucapião, prova o contrário. Este re- lhes seja mais favorável a lei pessoal do de cujus.
quisito é verificado no momento em que completa 5 anos.
Em relação à previsão da usucapião especial rural, des- O direito à herança envolve o direito de receber – seja
taca-se o artigo 191, CF: devido a uma previsão legal, seja por testamento – bens
de uma pessoa que faleceu. Assim, o patrimônio passa
Art. 191, CF. Aquele que, não sendo proprietário de imó- para outra pessoa, conforme a vontade do falecido e/ou
vel rural ou urbano, possua como seu, por cinco anos inin- a lei determine. A Constituição estabelece uma disciplina
terruptos, sem oposição, área de terra, em zona rural, não específica para bens de estrangeiros situados no Brasil, as-
superior a cinquenta hectares, tornando-a produtiva por seu segurando que eles sejam repassados ao cônjuge e filhos
trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia, adquirir- brasileiros nos termos da lei mais benéfica (do Brasil ou do
-lhe-á a propriedade. país estrangeiro).

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DIREITO CONSTITUCIONAL

Direito do consumidor Assim, a propriedade possui uma vertente intelectual


Nos termos do artigo 5º, XXXII, CF: que deve ser respeitada, tanto sob o aspecto moral quanto
sob o patrimonial. No âmbito infraconstitucional brasilei-
Artigo 5º, XXXII, CF. O Estado promoverá, na forma da ro, a Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, regulamenta
lei, a defesa do consumidor. os direitos autorais, isto é, “os direitos de autor e os que
lhes são conexos”.
O direito do consumidor liga-se ao direito à proprie- O artigo 7° do referido diploma considera como obras
dade a partir do momento em que garante à pessoa que intelectuais que merecem a proteção do direito do autor
irá adquirir bens e serviços que estes sejam entregues e os textos de obras de natureza literária, artística ou cien-
prestados da forma adequada, impedindo que o forne- tífica; as conferências, sermões e obras semelhantes; as
cedor se enriqueça ilicitamente, se aproveite de maneira obras cinematográficas e televisivas; as composições mu-
indevida da posição menos favorável e de vulnerabilidade sicais; fotografias; ilustrações; programas de computador;
técnica do consumidor. coletâneas e enciclopédias; entre outras.
O Direito do Consumidor pode ser considerado um Os direitos morais do autor, que são imprescritíveis,
ramo recente do Direito. No Brasil, a legislação que o re- inalienáveis e irrenunciáveis, envolvem, basicamente, o
gulamentou foi promulgada nos anos 90, qual seja a Lei nº direito de reivindicar a autoria da obra, ter seu nome di-
8.078, de 11 de setembro de 1990, conforme determinado vulgado na utilização desta, assegurar a integridade desta
pela Constituição Federal de 1988, que também estabele- ou modificá-la e retirá-la de circulação se esta passar a
ceu no artigo 48 do Ato das Disposições Constitucionais afrontar sua honra ou imagem.
Transitórias: Já os direitos patrimoniais do autor, nos termos dos
artigos 41 a 44 da Lei nº 9.610/98, prescrevem em 70 anos
Artigo 48, ADCT. O Congresso Nacional, dentro de cen- contados do primeiro ano seguinte à sua morte ou do
to e vinte dias da promulgação da Constituição, elaborará falecimento do último coautor, ou contados do primeiro
código de defesa do consumidor. ano seguinte à divulgação da obra se esta for de natureza
audiovisual ou fotográfica. Estes, por sua vez, abrangem,
A elaboração do Código de Defesa do Consumidor foi basicamente, o direito de dispor sobre a reprodução, edi-
um grande passo para a proteção da pessoa nas relações
ção, adaptação, tradução, utilização, inclusão em bases de
de consumo que estabeleça, respeitando-se a condição de
dados ou qualquer outra modalidade de utilização; sendo
hipossuficiente técnico daquele que adquire um bem ou
que estas modalidades de utilização podem se dar a título
faz uso de determinado serviço, enquanto consumidor.
oneroso ou gratuito.
“Os direitos autorais, também conhecidos como co-
Propriedade intelectual
pyright (direito de cópia), são considerados bens móveis,
Além da propriedade material, o constituinte protege
podendo ser alienados, doados, cedidos ou locados. Res-
também a propriedade intelectual, notadamente no artigo
salte-se que a permissão a terceiros de utilização de cria-
5º, XXVII, XXVIII e XXIX, CF:
ções artísticas é direito do autor. [...] A proteção consti-
Artigo 5º, XXVII, CF. Aos autores pertence o direito ex- tucional abrange o plágio e a contrafação. Enquanto que
clusivo de utilização, publicação ou reprodução de suas o primeiro caracteriza-se pela difusão de obra criada ou
obras, transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fi- produzida por terceiros, como se fosse própria, a segunda
xar; configura a reprodução de obra alheia sem a necessária
permissão do autor”27.
Artigo 5º, XXVIII, CF. São assegurados, nos termos da
lei: - Direitos de acesso à justiça
a) a proteção às participações individuais em obras A formação de um conceito sistemático de acesso à
coletivas e à reprodução da imagem e voz humanas, justiça se dá com a teoria de Cappelletti e Garth, que apon-
inclusive nas atividades desportivas; taram três ondas de acesso, isto é, três posicionamentos
b) o direito de fiscalização do aproveitamento eco- básicos para a realização efetiva de tal acesso. Tais ondas
nômico das obras que criarem ou de que participarem aos foram percebidas paulatinamente com a evolução do Di-
criadores, aos intérpretes e às respectivas representações reito moderno conforme implementadas as bases da onda
sindicais e associativas; anterior, quer dizer, ficou evidente aos autores a emergên-
cia de uma nova onda quando superada a afirmação das
Artigo 5º, XXIX, CF. A lei assegurará aos autores de in- premissas da onda anterior, restando parcialmente imple-
ventos industriais privilégio temporário para sua utiliza- mentada (visto que até hoje enfrentam-se obstáculos ao
ção, bem como proteção às criações industriais, à proprie- pleno atendimento em todas as ondas).
dade das marcas, aos nomes de empresas e a outros signos 27 MORAES, Alexandre de. Direitos humanos fun-
distintivos, tendo em vista o interesse social e o desenvolvi- damentais: teoria geral, comentários aos artigos 1º a 5º da
mento tecnológico e econômico do País. Constituição da República Federativa do Brasil, doutrina e ju-
risprudência. São Paulo: Atlas, 1997.

17
DIREITO CONSTITUCIONAL

Primeiro, Cappelletti e Garth28 entendem que surgiu O constituinte, ciente de que não basta garantir o aces-
uma onda de concessão de assistência judiciária aos po- so ao Poder Judiciário, sendo também necessária a efeti-
bres, partindo-se da prestação sem interesse de remunera- vidade processual, incluiu pela Emenda Constitucional nº
ção por parte dos advogados e, ao final, levando à criação 45/2004 o inciso LXXVIII ao artigo 5º da Constituição:
de um aparato estrutural para a prestação da assistência
pelo Estado. Artigo 5º, LXXVIII, CF. A todos, no âmbito judicial e ad-
Em segundo lugar, no entender de Cappelletti e Garth29, ministrativo, são assegurados a razoável duração do pro-
veio a onda de superação do problema na representação cesso e os meios que garantam a celeridade de sua trami-
dos interesses difusos, saindo da concepção tradicional de tação.
processo como algo restrito a apenas duas partes indivi-  
dualizadas e ocasionando o surgimento de novas institui- Com o tempo se percebeu que não bastava garantir
ções, como o Ministério Público. o acesso à justiça se este não fosse célere e eficaz. Não
Finalmente, Cappelletti e Garth30 apontam uma terceira significa que se deve acelerar o processo em detrimento
onda consistente no surgimento de uma concepção mais de direitos e garantias assegurados em lei, mas sim que é
ampla de acesso à justiça, considerando o conjunto de ins- preciso proporcionar um trâmite que dure nem mais e nem
tituições, mecanismos, pessoas e procedimentos utilizados: menos que o necessário para a efetiva realização da justiça
“[...] esse enfoque encoraja a exploração de uma ampla va- no caso concreto.
riedade de reformas, incluindo alterações nas formas de
procedimento, mudanças na estrutura dos tribunais ou a - Direitos constitucionais-penais
criação de novos tribunais, o uso de pessoas leigas ou pa-
raprofissionais, tanto como juízes quanto como defensores, Juiz natural e vedação ao juízo ou tribunal de ex-
modificações no direito substantivo destinadas a evitar li- ceção
tígios ou facilitar sua solução e a utilização de mecanismos Quando o artigo 5º, LIII, CF menciona:
privados ou informais de solução dos litígios. Esse enfoque,
em suma, não receia inovações radicais e compreensivas, Artigo 5º, LIII, CF. Ninguém será processado nem sen-
que vão muito além da esfera de representação judicial”. tenciado senão pela autoridade competente”, consolida o
Assim, dentro da noção de acesso à justiça, diversos princípio do juiz natural que assegura a toda pessoa o direito
aspectos podem ser destacados: de um lado, deve criar-se de conhecer previamente daquele que a julgará no processo
o Poder Judiciário e se disponibilizar meios para que todas em que seja parte, revestindo tal juízo em jurisdição com-
as pessoas possam buscá-lo; de outro lado, não basta ga- petente para a matéria específica do caso antes mesmo do
rantir meios de acesso se estes forem insuficientes, já que fato ocorrer.
para que exista o verdadeiro acesso à justiça é necessário
que se aplique o direito material de maneira justa e célere. Por sua vez, um desdobramento deste princípio encon-
Relacionando-se à primeira onda de acesso à justiça, tra-se no artigo 5º, XXXVII, CF:
prevê a Constituição em seu artigo 5º, XXXV:
Artigo 5º, XXXVII, CF. Não haverá juízo ou tribunal de
Artigo 5º, XXXV, CF. A lei não excluirá da apreciação do exceção.
Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito.
Juízo ou Tribunal de Exceção é aquele especialmente
O princípio da inafastabilidade da jurisdição é o prin- criado para uma situação pretérita, bem como não reco-
cípio de Direito Processual Público subjetivo, também nhecido como legítimo pela Constituição do país.
cunhado como Princípio da Ação, em que a Constituição
garante a necessária tutela estatal aos conflitos ocorrentes Tribunal do júri
na vida em sociedade. Sempre que uma controvérsia for A respeito da competência do Tribunal do júri, prevê o
levada ao Poder Judiciário, preenchidos os requisitos de artigo 5º, XXXVIII, CF:
admissibilidade, ela será resolvida, independentemente de
haver ou não previsão específica a respeito na legislação. Artigo 5º, XXXVIII. É reconhecida a instituição do júri,
Também se liga à primeira onda de acesso à justiça, com a organização que lhe der a lei, assegurados:
no que tange à abertura do Judiciário mesmo aos menos a) a plenitude de defesa;
favorecidos economicamente, o artigo 5º, LXXIV, CF: b) o sigilo das votações;
c) a soberania dos veredictos;
Artigo 5º, LXXIV, CF. O Estado prestará assistência jurí- d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos
dica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiên- contra a vida.
cia de recursos.
28 CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à O Tribunal do Júri é formado por pessoas do povo, que
Justiça. Tradução Ellen Grace Northfleet. Porto Alegre: Sér- julgam os seus pares. Entende-se ser direito fundamental o
gio Antônio Fabris Editor, 1998, p. 31-32. de ser julgado por seus iguais, membros da sociedade e não
29 Ibid., p. 49-52 magistrados, no caso de determinados crimes que por sua
30 Ibid., p. 67-73 natureza possuem fortes fatores de influência emocional.

18
DIREITO CONSTITUCIONAL

Plenitude da defesa envolve tanto a autodefesa quanto Sendo assim confere fórmula genérica que remete ao
a defesa técnica e deve ser mais ampla que a denominada princípio da igualdade numa concepção ampla, razão pela
ampla defesa assegurada em todos os procedimentos judi- qual práticas discriminatórias não podem ser aceitas. No
ciais e administrativos. entanto, o constituinte entendeu por bem prever trata-
Sigilo das votações envolve a realização de votações mento específico a certas práticas criminosas.
secretas, preservando a liberdade de voto dos que com- Neste sentido, prevê o artigo 5º, XLII, CF:
põem o conselho que irá julgar o ato praticado.
A decisão tomada pelo conselho é soberana. Contudo, Artigo 5º, XLII, CF. A prática do racismo constitui crime
a soberania dos veredictos veda a alteração das decisões inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão,
dos jurados, não a recorribilidade dos julgamentos do Tri- nos termos da lei.
bunal do Júri para que seja procedido novo julgamento
uma vez cassada a decisão recorrida, haja vista preservar A Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989 define os crimes
o ordenamento jurídico pelo princípio do duplo grau de resultantes de preconceito de raça ou de cor. Contra eles
jurisdição. não cabe fiança (pagamento de valor para deixar a prisão
Por fim, a competência para julgamento é dos crimes provisória) e não se aplica o instituto da prescrição (perda
dolosos (em que há intenção ou ao menos se assume o de pretensão de se processar/punir uma pessoa pelo de-
risco de produção do resultado) contra a vida, que são: ho- curso do tempo).
micídio, aborto, induzimento, instigação ou auxílio a sui- Não obstante, preconiza ao artigo 5º, XLIII, CF:
cídio e infanticídio. Sua competência não é absoluta e é
mitigada, por vezes, pela própria Constituição (artigos 29, Artigo 5º, XLIII, CF. A lei considerará crimes inafian-
X / 102, I, b) e c) / 105, I, a) / 108, I). çáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da
tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o
Anterioridade e irretroatividade da lei terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles
O artigo 5º, XXXIX, CF preconiza: respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo
evitá-los, se omitirem.
Artigo5º, XXXIX, CF. Não há crime sem lei anterior que
Anistia, graça e indulto diferenciam-se nos seguintes
o defina, nem pena sem prévia cominação legal.
termos: a anistia exclui o crime, rescinde a condenação e
extingue totalmente a punibilidade, a graça e o indulto
É a consagração da regra do nullum crimen nulla poena
apenas extinguem a punibilidade, podendo ser parciais; a
sine praevia lege. Simultaneamente, se assegura o princípio
anistia, em regra, atinge crimes políticos, a graça e o in-
da legalidade (ou reserva legal), na medida em que não há
dulto, crimes comuns; a anistia pode ser concedida pelo
crime sem lei que o defina, nem pena sem prévia comina-
Poder Legislativo, a graça e o indulto são de competência
ção legal, e o princípio da anterioridade, posto que não há exclusiva do Presidente da República; a anistia pode ser
crime sem lei anterior que o defina. concedida antes da sentença final ou depois da condena-
Ainda no que tange ao princípio da anterioridade, tem- ção irrecorrível, a graça e o indulto pressupõem o trânsito
-se o artigo 5º, XL, CF: em julgado da sentença condenatória; graça e o indulto
apenas extinguem a punibilidade, persistindo os efeitos do
Artigo 5º, XL, CF. A lei penal não retroagirá, salvo para crime, apagados na anistia; graça é em regra individual e
beneficiar o réu. solicitada, enquanto o indulto é coletivo e espontâneo.
Não cabe graça, anistia ou indulto (pode-se considerar
O dispositivo consolida outra faceta do princípio da que o artigo o abrange, pela doutrina majoritária) contra
anterioridade: se, por um lado, é necessário que a lei tenha crimes de tortura, tráfico, terrorismo (TTT) e hediondos
definido um fato como crime e dado certo tratamento pe- (previstos na Lei nº 8.072 de 25 de julho de 1990). Além
nal a este fato (ex.: pena de detenção ou reclusão, tempo disso, são crimes que não aceitam fiança.
de pena, etc.) antes que ele ocorra; por outro lado, se vier Ainda, prevê o artigo 5º, XLIV, CF:
uma lei posterior ao fato que o exclua do rol de crimes ou
que confira tratamento mais benéfico (diminuindo a pena Artigo 5º, XLIV, CF. Constitui crime inafiançável e im-
ou alterando o regime de cumprimento, notadamente), ela prescritível a ação de grupos armados, civis ou militares,
será aplicada. Restam consagrados tanto o princípio da ir- contra a ordem constitucional e o Estado Democrático.
retroatividade da lei penal in pejus quanto o da retroativi-
dade da lei penal mais benéfica. Por fim, dispõe a CF sobre a possibilidade de extradi-
ção de brasileiro naturalizado caso esteja envolvido com
Menções específicas a crimes tráfico ilícito de entorpecentes:
O artigo 5º, XLI, CF estabelece:
Artigo 5º, LI, CF. Nenhum brasileiro será extraditado, salvo
Artigo 5º, XLI, CF. A lei punirá qualquer discriminação o naturalizado, em caso de crime comum, praticado antes da
atentatória dos direitos e liberdades fundamentais. naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico
ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei.

19
DIREITO CONSTITUCIONAL

Personalidade da pena A distinção do estabelecimento conforme a natureza


A personalidade da pena encontra respaldo no artigo do delito visa impedir que a prisão se torne uma faculdade
5º, XLV, CF: do crime. Infelizmente, o Estado não possui aparato sufi-
ciente para cumprir tal diretiva, diferenciando, no máximo,
Artigo 5º, XLV, CF. Nenhuma pena passará da pessoa o nível de segurança das prisões. Quanto à idade, desta-
do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e cam-se as Fundações Casas, para cumprimento de medida
a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, por menores infratores. Quanto ao sexo, prisões costumam
estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o ser exclusivamente para homens ou para mulheres.
limite do valor do patrimônio transferido. Também se denota o respeito à individualização da
pena nesta faceta pelo artigo 5º, L, CF:
O princípio da personalidade encerra o comando de
o crime ser imputado somente ao seu autor, que é, por Artigo 5º, L, CF. Às presidiárias serão asseguradas con-
seu turno, a única pessoa passível de sofrer a sanção. Seria dições para que possam permanecer com seus filhos duran-
flagrante a injustiça se fosse possível alguém responder te o período de amamentação.
pelos atos ilícitos de outrem: caso contrário, a reação, ao
invés de restringir-se ao malfeitor, alcançaria inocentes. Preserva-se a individualização da pena porque é toma-
Contudo, se uma pessoa deixou patrimônio e faleceu, este da a condição peculiar da presa que possui filho no perío-
patrimônio responderá pelas repercussões financeiras do do de amamentação, mas também se preserva a dignidade
ilícito. da criança, não a afastando do seio materno de maneira
precária e impedindo a formação de vínculo pela amamen-
Individualização da pena tação.
A individualização da pena tem por finalidade concre-
tizar o princípio de que a responsabilização penal é sem- Vedação de determinadas penas
pre pessoal, devendo assim ser aplicada conforme as pe- O constituinte viu por bem proibir algumas espécies de
culiaridades do agente. penas, consoante ao artigo 5º, XLVII, CF:
A primeira menção à individualização da pena se en-
contra no artigo 5º, XLVI, CF: Artigo 5º, XLVII, CF. não haverá penas:
a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos
Artigo 5º, XLVI, CF. A lei regulará a individualização termos do art. 84, XIX;
da pena e adotará, entre outras, as seguintes: b) de caráter perpétuo;
a) privação ou restrição da liberdade; c) de trabalhos forçados;
b) perda de bens; d) de banimento;
c) multa; e) cruéis.
d) prestação social alternativa;
e) suspensão ou interdição de direitos. Em resumo, o inciso consolida o princípio da humani-
dade, pelo qual o “poder punitivo estatal não pode aplicar
Pelo princípio da individualização da pena, a pena sanções que atinjam a dignidade da pessoa humana ou que
deve ser individualizada nos planos legislativo, judiciário e lesionem a constituição físico-psíquica dos condenados”31 .
executório, evitando-se a padronização a sanção penal. A Quanto à questão da pena de morte, percebe-se que o
individualização da pena significa adaptar a pena ao con- constituinte não estabeleceu uma total vedação, autorizan-
denado, consideradas as características do agente e do do-a nos casos de guerra declarada. Obviamente, deve-se
delito. respeitar o princípio da anterioridade da lei, ou seja, a le-
A pena privativa de liberdade é aquela que restringe, gislação deve prever a pena de morte ao fato antes dele ser
com maior ou menor intensidade, a liberdade do conde- praticado. No ordenamento brasileiro, este papel é cumpri-
nado, consistente em permanecer em algum estabeleci- do pelo Código Penal Militar (Decreto-Lei nº 1.001/1969),
mento prisional, por um determinado tempo. que prevê a pena de morte a ser executada por fuzilamento
A pena de multa ou patrimonial opera uma diminuição nos casos tipificados em seu Livro II, que aborda os crimes
do patrimônio do indivíduo delituoso. militares em tempo de guerra.
A prestação social alternativa corresponde às penas Por sua vez, estão absolutamente vedadas em quais-
restritivas de direitos, autônomas e substitutivas das pe- quer circunstâncias as penas de caráter perpétuo, de traba-
nas privativas de liberdade, estabelecidas no artigo 44 do lhos forçados, de banimento e cruéis.
Código Penal. No que tange aos trabalhos forçados, vale destacar
Por seu turno, a individualização da pena deve tam- que o trabalho obrigatório não é considerado um trata-
bém se fazer presente na fase de sua execução, conforme mento contrário à dignidade do recluso, embora o trabalho
se depreende do artigo 5º, XLVIII, CF: forçado o seja. O trabalho é obrigatório, dentro das condi-
ções do apenado, não podendo ser cruel ou menosprezar
Artigo 5º, XLVIII, CF. A pena será cumprida em estabe- a capacidade física e intelectual do condenado; como o
lecimentos distintos, de acordo com a natureza do deli- 31 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito
to, a idade e o sexo do apenado. penal. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. v. 1.

20
DIREITO CONSTITUCIONAL

trabalho não existe independente da educação, cabe in- Vedação de provas ilícitas
centivar o aperfeiçoamento pessoal; até mesmo porque o Conforme o artigo 5º, LVI, CF:
trabalho deve se aproximar da realidade do mundo exter-
no, será remunerado; além disso, condições de dignidade e Artigo 5º, LVI, CF. São inadmissíveis, no processo, as pro-
segurança do trabalhador, como descanso semanal e equi- vas obtidas por meios ilícitos.
pamentos de proteção, deverão ser respeitados.
Provas ilícitas, por força da nova redação dada ao arti-
Respeito à integridade do preso go 157 do CPP, são as obtidas em violação a normas cons-
Prevê o artigo 5º, XLIX, CF: titucionais ou legai, ou seja, prova ilícita é a que viola regra
de direito material, constitucional ou legal, no momento
Artigo 5º, XLIX, CF. É assegurado aos presos o respeito da sua obtenção. São vedadas porque não se pode aceitar
à integridade física e moral. o descumprimento do ordenamento para fazê-lo cumprir:
seria paradoxal.
Obviamente, o desrespeito à integridade física e moral
do preso é uma violação do princípio da dignidade da pes- Presunção de inocência
soa humana. Prevê a Constituição no artigo 5º, LVII:
Dois tipos de tratamentos que violam esta integridade
estão mencionados no próprio artigo 5º da Constituição Fe- Artigo 5º, LVII, CF. Ninguém será considerado culpado
deral. Em primeiro lugar, tem-se a vedação da tortura e de até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória.
tratamentos desumanos e degradantes (artigo 5º, III, CF), o
que vale na execução da pena. Consolida-se o princípio da presunção de inocência,
No mais, prevê o artigo 5º, LVIII, CF: pelo qual uma pessoa não é culpada até que, em definitivo,
o Judiciário assim decida, respeitados todos os princípios e
Artigo 5º, LVIII, CF. O civilmente identificado não será garantias constitucionais.
submetido a identificação criminal, salvo nas hipóteses
previstas em lei. Ação penal privada subsidiária da pública
Nos termos do artigo 5º, LIX, CF:
Se uma pessoa possui identificação civil, não há porque
fazer identificação criminal, colhendo digitais, fotos, etc. Artigo 5º, LIX, CF. Será admitida ação privada nos cri-
Pensa-se que seria uma situação constrangedora desneces- mes de ação pública, se esta não for intentada no prazo
sária ao suspeito, sendo assim, violaria a integridade moral. legal.

Devido processo legal, contraditório e ampla defesa A chamada ação penal privada subsidiária da pública
Estabelece o artigo 5º, LIV, CF: encontra respaldo constitucional, assegurando que a omis-
são do poder público na atividade de persecução criminal
Artigo 5º, LIV, CF. Ninguém será privado da liberdade ou não será ignorada, fornecendo-se instrumento para que o
de seus bens sem o devido processo legal. interessado a proponha.

Pelo princípio do devido processo legal a legislação Prisão e liberdade


deve ser respeitada quando o Estado pretender punir al- O constituinte confere espaço bastante extenso no ar-
guém judicialmente. Logo, o procedimento deve ser livre de tigo 5º em relação ao tratamento da prisão, notadamente
vícios e seguir estritamente a legislação vigente, sob pena por se tratar de ato que vai contra o direito à liberdade.
de nulidade processual. Obviamente, a prisão não é vedada em todos os casos,
Surgem como corolário do devido processo legal o porque práticas atentatórias a direitos fundamentais impli-
contraditório e a ampla defesa, pois somente um procedi- cam na tipificação penal, autorizando a restrição da liber-
mento que os garanta estará livre dos vícios. Neste sentido, dade daquele que assim agiu.
o artigo 5º, LV, CF: No inciso LXI do artigo 5º, CF, prevê-se:

Artigo 5º, LV, CF. Aos litigantes, em processo judicial ou Artigo 5º, LXI, CF. Ninguém será preso senão em fla-
administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o grante delito ou por ordem escrita e fundamentada de
contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a autoridade judiciária competente, salvo nos casos de trans-
ela inerentes. gressão militar ou crime propriamente militar, definidos em
lei.
O devido processo legal possui a faceta formal, pela
qual se deve seguir o adequado procedimento na aplicação Logo, a prisão somente se dará em caso de flagrante
da lei e, sendo assim, respeitar o contraditório e a ampla delito (necessariamente antes do trânsito em julgado), ou
defesa. Não obstante, o devido processo legal tem sua fa- em caráter temporário, provisório ou definitivo (as duas
ceta material que consiste na tomada de decisões justas, primeiras independente do trânsito em julgado, preen-
que respeitem os parâmetros da razoabilidade e da propor- chidos requisitos legais e a última pela irreversibilidade da
cionalidade. condenação).

21
DIREITO CONSTITUCIONAL

Aborda-se no artigo 5º, LXII o dever de comunicação 4) Direitos fundamentais implícitos


ao juiz e à família ou pessoa indicada pelo preso: Nos termos do § 2º do artigo 5º da Constituição
Federal:
Artigo 5º, LXII, CF. A prisão de qualquer pessoa e o lo-
cal onde se encontre serão comunicados imediatamente ao Artigo 5º, §2º, CF. Os direitos e garantias expressos nesta
juiz competente e à família do preso ou à pessoa por ele Constituição não excluem outros decorrentes do regime e
indicada. dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacio-
nais em que a República Federativa do Brasil seja parte.
Não obstante, o preso deverá ser informado de todos
os seus direitos, inclusive o direito ao silêncio, podendo Daí se depreende que os direitos ou garantias podem
entrar em contato com sua família e com um advogado, estar expressos ou implícitos no texto constitucional. Sen-
conforme artigo 5º, LXIII, CF: do assim, o rol enumerado nos incisos do artigo 5º é ape-
nas exemplificativo, não taxativo.
Artigo 5º, LXIII, CF. O preso será informado de seus di-
reitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe 5) Tratados internacionais incorporados ao ordena-
assegurada a assistência da família e de advogado. mento interno
Estabelece o artigo 5º, § 2º, CF que os direitos e garan-
Estabelece-se no artigo 5º, LXIV, CF: tias podem decorrer, dentre outras fontes, dos “tratados
internacionais em que a República Federativa do Brasil
Artigo 5º, LXIV, CF. O preso tem direito à identificação seja parte”.
dos responsáveis por sua prisão ou por seu interrogatório Para o tratado internacional ingressar no ordenamen-
policial. to jurídico brasileiro deve ser observado um procedimento
complexo, que exige o cumprimento de quatro fases: a ne-
Por isso mesmo, o auto de prisão em flagrante e a ata gociação (bilateral ou multilateral, com posterior assinatura
do depoimento do interrogatório são assinados pelas au-
do Presidente da República), submissão do tratado assina-
toridades envolvidas nas práticas destes atos procedimen-
do ao Congresso Nacional (que dará referendo por meio
tais.
do decreto legislativo), ratificação do tratado (confirmação
Ainda, a legislação estabelece inúmeros requisitos para
da obrigação perante a comunidade internacional) e a pro-
que a prisão seja validada, sem os quais cabe relaxamento,
mulgação e publicação do tratado pelo Poder Executivo32.
tanto que assim prevê o artigo 5º, LXV, CF:
Notadamente, quando o constituinte menciona os tratados
internacionais no §2º do artigo 5º refere-se àqueles que
Artigo 5º, LXV, CF. A prisão ilegal será imediatamente
tenham por fulcro ampliar o rol de direitos do artigo 5º, ou
relaxada pela autoridade judiciária.
seja, tratado internacional de direitos humanos.
Desta forma, como decorrência lógica, tem-se a previ- O §1° e o §2° do artigo 5° existiam de maneira originá-
são do artigo 5º, LXVI, CF: ria na Constituição Federal, conferindo o caráter de prima-
zia dos direitos humanos, desde logo consagrando o prin-
Artigo 5º, LXVI, CF. Ninguém será levado à prisão ou cípio da primazia dos direitos humanos, como reconhecido
nela mantido, quando a lei admitir a liberdade provisória, pela doutrina e jurisprudência majoritários na época. “O
com ou sem fiança. princípio da primazia dos direitos humanos nas relações
internacionais implica em que o Brasil deve incorporar os
Mesmo que a pessoa seja presa em flagrante, devido tratados quanto ao tema ao ordenamento interno brasilei-
ao princípio da presunção de inocência, entende-se que ro e respeitá-los. Implica, também em que as normas vol-
ela não deve ser mantida presa quando não preencher os tadas à proteção da dignidade em caráter universal devem
requisitos legais para prisão preventiva ou temporária. ser aplicadas no Brasil em caráter prioritário em relação a
outras normas”33.
Indenização por erro judiciário Regra geral, os tratados internacionais comuns ingres-
A disciplina sobre direitos decorrentes do erro judiciá- sam com força de lei ordinária no ordenamento jurídico
rio encontra-se no artigo 5º, LXXV, CF: brasileiro porque somente existe previsão constitucional
quanto à possibilidade da equiparação às emendas consti-
Artigo 5º, LXXV, CF. O Estado indenizará o condenado tucionais se o tratado abranger matéria de direitos huma-
por erro judiciário, assim como o que ficar preso além do nos. Antes da emenda alterou o quadro quanto aos trata-
tempo fixado na sentença.
32 VICENTE SOBRINHO, Benedito. Direitos
Trata-se do erro em que incorre um juiz na apreciação Fundamentais e Prisão Civil. Porto Alegre: Sérgio An-
e julgamento de um processo criminal, resultando em con- tonio Fabris Editor, 2008.
denação de alguém inocente. Neste caso, o Estado inde- 33 PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito
nizará. Ele também indenizará uma pessoa que ficar presa Internacional Público e Privado. Salvador: JusPodi-
além do tempo que foi condenada a cumprir. vm, 2009.

22
DIREITO CONSTITUCIONAL

dos de direitos humanos, era o que acontecia, mas isso não Resume Mello35: “a Conferência das Nações Unidas
significa que tais direitos eram menos importantes devido sobre a criação de uma Corte Criminal Internacional, re-
ao princípio da primazia e ao reconhecimento dos direitos unida em Roma, em 1998, aprovou a referida Corte. Ela
implícitos. é permanente. Tem sede em Haia. A corte tem persona-
Por seu turno, com o advento da Emenda Constitucio- lidade internacional. Ela julga: a) crime de genocídio; b)
nal nº 45/04 se introduziu o §3º ao artigo 5º da Constituição crime contra a humanidade; c) crime de guerra; d) crime
Federal, de modo que os tratados internacionais de direitos de agressão. Para o crime de genocídio usa a definição
humanos foram equiparados às emendas constitucionais, da convenção de 1948. Como crimes contra a humanida-
desde que houvesse a aprovação do tratado em cada Casa de são citados: assassinato, escravidão, prisão violando as
do Congresso Nacional e obtivesse a votação em dois tur- normas internacionais, violação tortura, apartheid, escra-
nos e com três quintos dos votos dos respectivos membros: vidão sexual, prostituição forçada, esterilização, etc. São
crimes de guerra: homicídio internacional, destruição de
Art. 5º, § 3º, CF. Os tratados e convenções interna- bens não justificada pela guerra, deportação, forçar um
cionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em prisioneiro a servir nas forças inimigas, etc.”.
cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três
quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalen- Direitos sociais
tes às emendas constitucionais.  A Constituição Federal, dentro do Título II, aborda no
capítulo II a categoria dos direitos sociais, em sua maioria
Logo, a partir da alteração constitucional, os tratados normas programáticas e que necessitam de uma postura
de direitos humanos que ingressarem no ordenamento ju- interventiva estatal em prol da implementação.
rídico brasileiro, versando sobre matéria de direitos huma- Os direitos assegurados nesta categoria encontram
nos, irão passar por um processo de aprovação semelhante menção genérica no artigo 6º, CF:
ao da emenda constitucional.
Contudo, há posicionamentos conflituosos quanto à Artigo 6º, CF. Art. 6º São direitos sociais a educação,
possibilidade de considerar como hierarquicamente cons- a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o trans-
titucional os tratados internacionais de direitos humanos porte, o lazer, a segurança, a previdência social, a pro-
que ingressaram no ordenamento jurídico brasileiro ante- teção à maternidade e à infância, a assistência aos de-
riormente ao advento da referida emenda. Tal discussão se
samparados, na forma desta Constituição. 
deu com relação à prisão civil do depositário infiel, prevista
como legal na Constituição e ilegal no Pacto de São José
Trata-se de desdobramento da perspectiva do Estado
da Costa Rica (tratado de direitos humanos aprovado an-
Social de Direito. Em suma, são elencados os direitos hu-
tes da EC nº 45/04), sendo que o Supremo Tribunal Federal
manos de 2ª dimensão, notadamente conhecidos como
firmou o entendimento pela supralegalidade do tratado de
direitos econômicos, sociais e culturais. Em resumo, os
direitos humanos anterior à Emenda (estaria numa posição
direitos sociais envolvem prestações positivas do Estado
que paralisaria a eficácia da lei infraconstitucional, mas não
(diferente dos de liberdade, que referem-se à postura de
revogaria a Constituição no ponto controverso).
abstenção estatal), ou seja, políticas estatais que visem
6) Tribunal Penal Internacional consolidar o princípio da igualdade não apenas formal-
Preconiza o artigo 5º, CF em seu § 4º: mente, mas materialmente (tratando os desiguais de ma-
neira desigual).
Artigo 5º, §4º, CF. O Brasil se submete à jurisdição de Tri- Por seu turno, embora no capítulo específico do Tí-
bunal Penal Internacional a cuja criação tenha manifestado tulo II que aborda os direitos sociais não se perceba uma
adesão. intensa regulamentação destes, à exceção dos direitos tra-
  balhistas, o Título VIII da Constituição Federal, que aborda
O Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional foi a ordem social, se concentra em trazer normativas mais
promulgado no Brasil pelo Decreto nº 4.388 de 25 de se- detalhadas a respeitos de direitos indicados como sociais.
tembro de 2002. Ele contém 128 artigos e foi elaborado em
Roma, no dia 17 de julho de 1998, regendo a competência 1) Igualdade material e efetivação dos direitos so-
e o funcionamento deste Tribunal voltado às pessoas res- ciais
ponsáveis por crimes de maior gravidade com repercussão Independentemente da categoria de direitos que este-
internacional (artigo 1º, ETPI). ja sendo abordada, a igualdade nunca deve aparecer num
“Ao contrário da Corte Internacional de Justiça, cuja ju- sentido meramente formal, mas necessariamente material.
risdição é restrita a Estados, ao Tribunal Penal Internacional Significa que discriminações indevidas são proibidas, mas
compete o processo e julgamento de violações contra indi- existem certas distinções que não só devem ser aceitas,
víduos; e, distintamente dos Tribunais de crimes de guerra como também se mostram essenciais.
da Iugoslávia e de Ruanda, criados para analisarem crimes Público & Direito Internacional Privado. 3. ed. São Paulo:
cometidos durante esses conflitos, sua jurisdição não está Atlas, 2009.
restrita a uma situação específica”34. 35 MELLO, Celso D. de Albuquerque. Curso de Direito
34 NEVES, Gustavo Bregalda. Direito Internacional Internacional Público. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2000.

23
DIREITO CONSTITUCIONAL

No que tange aos direitos sociais percebe-se que a letividade, substituir, de maneira ilegítima, o cumprimento
igualdade material assume grande relevância. Afinal, esta de seu impostergável dever, por um gesto irresponsável de
categoria de direitos pressupõe uma postura ativa do Es- infidelidade governamental ao que determina a própria Lei
tado em prol da efetivação. Nem todos podem arcar com Fundamental do Estado”37.
suas despesas de saúde, educação, cultura, alimentação e Sendo assim, a invocação da cláusula da reserva do
moradia, assim como nem todos se encontram na posição possível, embora viável, não pode servir de muleta para
de explorador da mão-de-obra, sendo a grande maioria da que o Estado não arque com obrigações básicas. Neste
população de explorados. Estas pessoas estão numa clara viés, geralmente, quando invocada a cláusula é afastada,
posição de desigualdade e caberá ao Estado cuidar para entendendo o Poder Judiciário que não cabe ao Estado se
que progressivamente atinjam uma posição de igualdade eximir de garantir direitos sociais com o simples argumen-
real, já que não é por conta desta posição desfavorável que to de que não há orçamento específico para isso – ele de-
se pode afirmar que são menos dignos, menos titulares de veria ter reservado parcela suficiente de suas finanças para
direitos fundamentais. atender esta demanda.
Logo, a efetivação dos direitos sociais é uma meta a ser Com efeito, deve ser preservado o mínimo existencial,
alcançada pelo Estado em prol da consolidação da igual- que tem por fulcro limitar a discricionariedade político-ad-
dade material. Sendo assim, o Estado buscará o crescente ministrativa e estabelecer diretrizes orçamentárias básicas
aperfeiçoamento da oferta de serviços públicos com quali- a serem seguidas, sob pena de caber a intervenção do Po-
dade para que todos os nacionais tenham garantidos seus der Judiciário em prol de sua efetivação.
direitos fundamentais de segunda dimensão da maneira
mais plena possível. 3) Princípio da proibição do retrocesso
Há se ressaltar também que o Estado não possui ape- Proibição do retrocesso é a impossibilidade de que
nas um papel direto na promoção dos direitos econômicos, uma conquista garantida na Constituição Federal sofra um
sociais e culturais, mas também um indireto, quando por retrocesso, de modo que um direito social garantido não
meio de sua gestão permite que os indivíduos adquiram pode deixar de o ser.
condições para sustentarem suas necessidades pertencen-
Conforme jurisprudência, a proibição do retrocesso
tes a esta categoria de direitos.
deve ser tomada com reservas, até mesmo porque segun-
do entendimento predominante as normas do artigo 7º,
2) Reserva do possível e mínimo existencial
CF não são cláusula pétrea, sendo assim passíveis de alte-
Os direitos sociais serão concretizados gradualmente,
ração. Se for alterada normativa sobre direito trabalhista
notadamente porque estão previstos em normas progra-
assegurado no referido dispositivo, não sendo o prejuízo
máticas e porque a implementação deles gera um ônus
evidente, entende-se válida (por exemplo, houve alteração
para o Estado. Diferentemente dos direitos individuais, que
do prazo prescricional diferenciado para os trabalhadores
dependem de uma postura de abstenção estatal, os direi-
tos sociais precisam que o Estado assuma um papel ativo agrícolas). O que, em hipótese alguma, pode ser aceito é
em prol da efetivação destes. um retrocesso evidente, seja excluindo uma categoria de
A previsão excessiva de direitos sociais no bojo de uma direitos (ex.: abolir o Sistema Único de Saúde), seja dimi-
Constituição, a despeito de um instante bem-intencionado nuindo sensivelmente a abrangência da proteção (ex.: ex-
de palavras promovido pelo constituinte, pode levar à ne- cluindo o ensino médio gratuito).
gativa, paradoxal – e, portanto, inadmissível – consequên- Questão polêmica se refere à proibição do retrocesso:
cia de uma Carta Magna cujas finalidades não condigam se uma decisão judicial melhorar a efetivação de um direito
com seus próprios prescritos, fato que deslegitima o Poder social, ela se torna vinculante e é impossível ao legislador
Público como determinador de que particulares respeitem alterar a Constituição para retirar este avanço? Por um lado,
os direitos fundamentais, já que sequer eles próprios, os a proibição do retrocesso merece ser tomada em conceito
administradores, conseguem cumprir o que consta de seu amplo, abrangendo inclusive decisões judiciais; por outro
Estatuto Máximo36. lado, a decisão judicial não tem por fulcro alterar a norma,
Tecnicamente, nos direitos sociais é possível invocar o que somente é feito pelo legislador, e ele teria o direito
a cláusula da reserva do possível como argumento para a de prever que aquela decisão judicial não está incorporada
não implementação de determinado direito social – seja na proibição do retrocesso. A questão é polêmica e não há
pela absoluta ausência de recursos (reserva do possível fá- entendimento dominante.
tica), seja pela ausência de previsão orçamentária nos ter-
mos do artigo 167, CF (reserva do possível jurídica). 4) Direito individual do trabalho
O Ministro Celso de Mello afirmou em julgamento que O artigo 7º da Constituição enumera os direitos indi-
os direitos sociais “não pode converter-se em promessa viduais dos trabalhadores urbanos e rurais. São os direitos
constitucional inconsequente, sob pena de o Poder Públi- individuais tipicamente trabalhistas, mas que não excluem
co, fraudando justas expectativas nele depositadas pela co- os demais direitos fundamentais (ex.: honra é um direito
36 LAZARI, Rafael José Nadim de. Reserva do possí- no espaço de trabalho, sob pena de se incidir em prática
vel e mínimo existencial: a pretensão de eficácia da norma de assédio moral).
constitucional em face da realidade. Curitiba: Juruá, 2012, p.
56-57. 37 RTJ 175/1212-1213, Rel. Min. CELSO DE MELLO.

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DIREITO CONSTITUCIONAL

Artigo 7º, I, CF. Relação de emprego protegida contra Artigo 7º, V, CF. Piso salarial proporcional à extensão e
despedida arbitrária ou sem justa causa, nos termos de à complexidade do trabalho.
lei complementar, que preverá indenização compensatória,
dentre outros direitos. Cada trabalhador, dentro de sua categoria de empre-
go, seja ele professor, comerciário, metalúrgico, bancário,
Significa que a demissão, se não for motivada por justa construtor civil, enfermeiro, recebe um salário base, cha-
causa, assegura ao trabalhador direitos como indenização mado de Piso Salarial, que é sua garantia de recebimento
compensatória, entre outros, a serem arcados pelo empre- dentro de seu grau profissional. O Valor do Piso Salarial é
gador. estabelecido em conformidade com a data base da cate-
goria, por isso ele é definido em conformidade com um
Artigo 7º, II, CF. Seguro-desemprego, em caso de de- acordo, ou ainda com um entendimento entre patrão e
semprego involuntário. trabalhador.

Sem prejuízo de eventual indenização a ser recebida Artigo 7º, VI, CF. Irredutibilidade do salário, salvo o
do empregador, o trabalhador que fique involuntariamente disposto em convenção ou acordo coletivo.
desempregado – entendendo-se por desemprego invo-
luntário o que tenha origem num acordo de cessação do O salário não pode ser reduzido, a não ser que anão
contrato de trabalho – tem direito ao seguro-desemprego, redução implique num prejuízo maior, por exemplo, de-
a ser arcado pela previdência social, que tem o caráter de missão em massa durante uma crise, situações que devem
assistência financeira temporária. ser negociadas em convenção ou acordo coletivo.

Artigo 7º, III, CF. Fundo de garantia do tempo de ser- Artigo 7º, VII, CF. Garantia de salário, nunca inferior
viço. ao mínimo, para os que percebem remuneração variável.

Foi criado em 1967 pelo Governo Federal para pro- O salário mínimo é direito de todos os trabalhadores,
teger o trabalhador demitido sem justa causa. O FGTS é mesmo daqueles que recebem remuneração variável (ex.:
constituído de contas vinculadas, abertas em nome de baseada em comissões por venda e metas);
cada trabalhador, quando o empregador efetua o primei-
ro depósito. O saldo da conta vinculada é formado pelos Artigo 7º, VIII, CF. Décimo terceiro salário com base na
depósitos mensais efetivados pelo empregador, equivalen- remuneração integral ou no valor da aposentadoria.
tes a 8,0% do salário pago ao empregado, acrescido de
atualização monetária e juros. Com o FGTS, o trabalhador Também conhecido como gratificação natalina, foi ins-
tem a oportunidade de formar um patrimônio, que pode tituída no Brasil pela Lei nº 4.090/1962 e garante que o tra-
ser sacado em momentos especiais, como o da aquisição balhador receba o correspondente a 1/12 (um doze avos)
da casa própria ou da aposentadoria e em situações de da remuneração por mês trabalhado, ou seja, consiste no
dificuldades, que podem ocorrer com a demissão sem justa pagamento de um salário extra ao trabalhador e ao apo-
causa ou em caso de algumas doenças graves. sentado no final de cada ano.

Artigo 7º, IV, CF. Salário mínimo, fixado em lei, nacio- Artigo 7º, IX, CF. Remuneração do trabalho noturno
nalmente unificado, capaz de atender a suas necessidades superior à do diurno.
vitais básicas e às de sua família com moradia, alimenta-
ção, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, trans- O adicional noturno é devido para o trabalho exercido
porte e previdência social, com reajustes periódicos que durante a noite, de modo que cada hora noturna sofre a re-
lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vincula- dução de 7 minutos e 30 segundos, ou ainda, é feito acrés-
ção para qualquer fim. cimo de 12,5% sobre o valor da hora diurna. Considera-se
T noturno, nas atividades urbanas, o trabalho realizado entre
rata-se de uma visível norma programática da Cons- as 22:00 horas de um dia às 5:00 horas do dia seguinte; nas
tituição que tem por pretensão um salário mínimo que atividades rurais, é considerado noturno o trabalho execu-
atenda a todas as necessidades básicas de uma pessoa e tado na lavoura entre 21:00 horas de um dia às 5:00 horas
de sua família. Em pesquisa que tomou por parâmetro o do dia seguinte; e na pecuária, entre 20:00 horas às 4:00
preceito constitucional, detectou-se que “o salário mínimo horas do dia seguinte.
do trabalhador brasileiro deveria ter sido de R$ 2.892,47
em abril para que ele suprisse suas necessidades básicas e Artigo 7º, X, CF. Proteção do salário na forma da lei,
da família, segundo estudo divulgado nesta terça-feira, 07, constituindo crime sua retenção dolosa.
pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos
Socioeconômicos (Dieese)”38. Quanto ao possível crime de retenção de salário, não
há no Código Penal brasileiro uma norma que determina a
38 http://exame.abril.com.br/economia/noticias/salario- ação de retenção de salário como crime. Apesar do artigo
-minimo-deveria-ter-sido-de-r-2-892-47-em-abril 7º, X, CF dizer que é crime a retenção dolosa de salário,

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DIREITO CONSTITUCIONAL

o dispositivo é norma de eficácia limitada, pois depende Artigo 7º, XIV, CF. Jornada de seis horas para o traba-
de lei ordinária, ainda mais porque qualquer norma penal lho realizado em turnos ininterruptos de revezamento,
incriminadora é regida pela legalidade estrita (artigo 5º, salvo negociação coletiva.
XXXIX, CF).
O constituinte ao estabelecer jornada máxima de 6
Artigo 7º, XI, CF. Participação nos lucros, ou resul- horas para os turnos ininterruptos de revezamento, ex-
tados, desvinculada da remuneração, e, excepcionalmente, pressamente ressalvando a hipótese de negociação cole-
participação na gestão da empresa, conforme definido em tiva, objetivou prestigiar a atuação da entidade sindical.
lei. Entretanto, a jurisprudência evoluiu para uma interpreta-
ção restritiva de seu teor, tendo como parâmetro o fato
A Participação nos Lucros e Resultado (PLR), que é de que o trabalho em turnos ininterruptos é por demais
conhecida também por Programa de Participação nos Re- desgastante, penoso, além de trazer malefícios de ordem
sultados (PPR), está prevista na Consolidação das Leis do fisiológica para o trabalhador, inclusive distúrbios no âm-
Trabalho (CLT) desde a Lei nº 10.101, de 19 de dezembro bito psicossocial já que dificulta o convívio em sociedade
de 2000. Ela funciona como um bônus, que é ofertado pelo e com a própria família.
empregador e negociado com uma comissão de trabalha-
dores da empresa. A CLT não obriga o empregador a forne- Artigo 7º, XV, CF. Repouso semanal remunerado, pre-
cer o benefício, mas propõe que ele seja utilizado. ferencialmente aos domingos.

Artigo 7º, XII, CF. Salário-família pago em razão do O Descanso Semanal Remunerado é de 24 (vinte e
dependente do trabalhador de baixa renda nos termos da lei. quatro) horas consecutivas, devendo ser concedido pre-
ferencialmente aos domingos, sendo garantido a todo
Salário-família é o benefício pago na proporção do trabalhador urbano, rural ou doméstico. Havendo neces-
respectivo número de filhos ou equiparados de qualquer sidade de trabalho aos domingos, desde que previamente
condição até a idade de quatorze anos ou inválido de qual- autorizados pelo Ministério do Trabalho, aos trabalhado-
quer idade, independente de carência e desde que o salá- res é assegurado pelo menos um dia de repouso semanal
rio-de-contribuição seja inferior ou igual ao limite máximo remunerado coincidente com um domingo a cada perío-
permitido. De acordo com a Portaria Interministerial MPS/ do, dependendo da atividade (artigo 67, CLT).
MF nº 19, de 10/01/2014, valor do salário-família será de
R$ 35,00, por filho de até 14 anos incompletos ou inválido, Artigo 7º, XVII, CF. Gozo de férias anuais remunera-
para quem ganhar até R$ 682,50. Já para o trabalhador que das com, pelo menos, um terço a mais do que o salário
receber de R$ 682,51 até R$ 1.025,81, o valor do salário- normal.
-família por filho de até 14 anos de idade ou inválido de
qualquer idade será de R$ 24,66. O salário das férias deve ser superior em pelo menos
um terço ao valor da remuneração normal, com todos os
Artigo 7º, XIII, CF. duração do trabalho normal não su- adicionais e benefícios aos quais o trabalhador tem direi-
perior a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais, to. A cada doze meses de trabalho – denominado período
facultada a compensação de horários e a redução da jorna- aquisitivo – o empregado terá direito a trinta dias corridos
da, mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho. de férias, se não tiver faltado injustificadamente mais de
cinco vezes ao serviço (caso isso ocorra, os dias das férias
Artigo 7º, XVI, CF. Remuneração do serviço extraor- serão diminuídos de acordo com o número de faltas).
dinário superior, no mínimo, em cinquenta por cento à do
normal. Artigo 7º, XVIII, CF. Licença à gestante, sem prejuízo
do emprego e do salário, com a duração de cento e vinte
A legislação trabalhista vigente estabelece que a du- dias.
ração normal do trabalho, salvo os casos especiais, é de
8 (oito) horas diárias e 44 (quarenta e quatro) semanais, O salário da trabalhadora em licença é chamado de
no máximo. Todavia, poderá a jornada diária de trabalho salário-maternidade, é pago pelo empregador e por ele
dos empregados maiores ser acrescida de horas suple- descontado dos recolhimentos habituais devidos à Previ-
mentares, em número não excedentes a duas, no máximo, dência Social. A trabalhadora pode sair de licença a partir
para efeito de serviço extraordinário, mediante acordo in- do último mês de gestação, sendo que o período de licen-
dividual, acordo coletivo, convenção coletiva ou sentença ça é de 120 dias. A Constituição também garante que, do
normativa. Excepcionalmente, ocorrendo necessidade im- momento em que se confirma a gravidez até cinco meses
periosa, poderá ser prorrogada além do limite legalmente após o parto, a mulher não pode ser demitida.
permitido. A remuneração do serviço extraordinário, des-
de a promulgação da Constituição Federal, deverá cons- Artigo 7º, XIX, CF. Licença-paternidade, nos termos
tar, obrigatoriamente, do acordo, convenção ou sentença fixados em lei.
normativa, e será, no mínimo, 50% (cinquenta por cento)
superior à da hora normal.

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DIREITO CONSTITUCIONAL

O homem tem direito a 5 dias de licença-paternidade em condições de insalubridade assegura ao trabalhador a


para estar mais próximo do bebê recém-nascido e ajudar a percepção de adicional, incidente sobre o salário base do
mãe nos processos pós-operatórios. empregado (súmula 228 do TST), ou previsão mais benéfi-
ca em Convenção Coletiva de Trabalho, equivalente a 40%
Artigo 7º, XX, CF. Proteção do mercado de trabalho da (quarenta por cento), para insalubridade de grau máximo;
mulher, mediante incentivos específicos, nos termos da lei. 20% (vinte por cento), para insalubridade de grau médio;
10% (dez por cento), para insalubridade de grau mínimo.
Embora as mulheres sejam maioria na população de 10 O adicional de periculosidade é um valor devido ao
anos ou mais de idade, elas são minoria na população ocu- empregado exposto a atividades perigosas. São conside-
pada, mas estão em maioria entre os desocupados. Acres- radas atividades ou operações perigosas, aquelas que, por
centa-se ainda, que elas são maioria também na população sua natureza ou métodos de trabalho, impliquem risco
não economicamente ativa. Além disso, ainda há relevante acentuado em virtude de exposição permanente do tra-
diferença salarial entre homens e mulheres, sendo que os balhador a inflamáveis, explosivos ou energia elétrica; e a
homens recebem mais porque os empregadores entendem roubos ou outras espécies de violência física nas atividades
que eles necessitam de um salário maior para manter a fa- profissionais de segurança pessoal ou patrimonial. O valor
mília. Tais disparidades colocam em evidência que o mer- do adicional de periculosidade será o salário do empre-
cado de trabalho da mulher deve ser protegido de forma gado acrescido de 30%, sem os acréscimos resultantes de
especial. gratificações, prêmios ou participações nos lucros da em-
presa.
Artigo 7º, XXI, CF. Aviso prévio proporcional ao tempo O Tribunal Superior do Trabalho ainda não tem enten-
de serviço, sendo no mínimo de trinta dias, nos termos da dimento unânime sobre a possibilidade de cumulação des-
lei. tes adicionais.

Nas relações de emprego, quando uma das partes de- Artigo 7º, XXIV, CF. Aposentadoria.
seja rescindir, sem justa causa, o contrato de trabalho por
prazo indeterminado, deverá, antecipadamente, notificar à A aposentadoria é um benefício garantido a todo tra-
outra parte, através do aviso prévio. O aviso prévio tem por balhador brasileiro que pode ser usufruído por aquele que
finalidade evitar a surpresa na ruptura do contrato de traba- tenha contribuído ao Instituto Nacional de Seguridade So-
lho, possibilitando ao empregador o preenchimento do car- cial (INSS) pelos prazos estipulados nas regras da Previ-
go vago e ao empregado uma nova colocação no mercado dência Social e tenha atingido as idades mínimas previstas.
de trabalho, sendo que o aviso prévio pode ser trabalhado Aliás, o direito à previdência social é considerado um direi-
ou indenizado. to social no próprio artigo 6º, CF.

Artigo 7º, XXII, CF. Redução dos riscos inerentes ao tra- Artigo 7º, XXV, CF. Assistência gratuita aos filhos e
balho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança. dependentes desde o nascimento até 5 (cinco) anos de ida-
de em creches e pré-escolas.
Trata-se ao direito do trabalhador a um meio ambiente
do trabalho salubre. Fiorillo39 destaca que o equilíbrio do Todo estabelecimento com mais de 30 funcionárias
meio ambiente do trabalho está sedimentado na salubrida- com mais de 16 anos tem a obrigação de oferecer um es-
de e na ausência de agentes que possam comprometer a paço físico para que as mães deixem o filho de 0 a 6 meses,
incolumidade físico-psíquica dos trabalhadores. enquanto elas trabalham. Caso não ofereçam esse espaço
aos bebês, a empresa é obrigada a dar auxílio-creche a mu-
Artigo 7º, XXIII, CF. Adicional de remuneração para as lher para que ela pague uma creche para o bebê de até 6
atividades penosas, insalubres ou perigosas, na forma da meses. O valor desse auxílio será determinado conforme
lei. negociação coletiva na empresa (acordo da categoria ou
convenção). A empresa que tiver menos de 30 funcionárias
Penoso é o trabalho acerbo, árduo, amargo, difícil, mo- registradas não tem obrigação de conceder o benefício. É
lesto, trabalhoso, incômodo, laborioso, doloroso, rude, que facultativo (ela pode oferecer ou não). Existe a possibilida-
não é perigoso ou insalubre, mas penosa, exigindo atenção de de o benefício ser estendido até os 6 anos de idade e
e vigilância acima do comum. Ainda não há na legislação incluir o trabalhador homem. A duração do auxílio-creche
específica previsão sobre o adicional de penosidade. e o valor envolvido variarão conforme negociação coletiva
São consideradas atividades ou operações insalubres as na empresa.
que se desenvolvem excesso de limites de tolerância para:
ruído contínuo ou intermitente, ruídos de impacto, exposi- Artigo 7º, XXVI, CF. Reconhecimento das convenções e
ção ao calor e ao frio, radiações, certos agentes químicos e acordos coletivos de trabalho.
biológicos, vibrações, umidade, etc. O exercício de trabalho
39 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de Direi- Neste dispositivo se funda o direito coletivo do trabalho,
to Ambiental brasileiro. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p. que encontra regulamentação constitucional nos artigo 8º
21. a 11 da Constituição. Pelas convenções e acordos coletivos,

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DIREITO CONSTITUCIONAL

entidades representativas da categoria dos trabalhadores Prescrição é a perda da pretensão de buscar a tutela
entram em negociação com as empresas na defesa dos inte- jurisdicional para assegurar direitos violados. Sendo assim,
resses da classe, assegurando o respeito aos direitos sociais; há um período de tempo que o empregado tem para re-
querer seu direito na Justiça do Trabalho. A prescrição tra-
Artigo 7º, XXVII, CF. Proteção em face da automação, balhista é sempre de 2 (dois) anos a partir do término do
na forma da lei. contrato de trabalho, atingindo as parcelas relativas aos 5
(cinco) anos anteriores, ou de 05 (cinco) anos durante a
Trata-se da proteção da substituição da máquina pelo vigência do contrato de trabalho.
homem, que pode ser feita, notadamente, qualificando o
profissional para exercer trabalhos que não possam ser Artigo 7º, XXX, CF. Proibição de diferença de salários,
desempenhados por uma máquina (ex.: se criada uma má- de exercício de funções e de critério de admissão por motivo
quina que substitui o trabalhador, deve ser ele qualificado de sexo, idade, cor ou estado civil.
para que possa operá-la).
Há uma tendência de se remunerar melhor homens
Artigo 7º, XXVIII, CF. Seguro contra acidentes de tra- brancos na faixa dos 30 anos que sejam casados, sendo
balho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização patente a diferença remuneratória para com pessoas de
a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa. diferente etnia, faixa etária ou sexo. Esta distinção atenta
contra o princípio da igualdade e não é aceita pelo consti-
Atualmente, é a Lei nº 8.213/91 a responsável por tra- tuinte, sendo possível inclusive invocar a equiparação sala-
tar do assunto e em seus artigos 19, 20 e 21 apresenta a rial judicialmente.
definição de doenças e acidentes do trabalho. Não se trata
de legislação específica sobre o tema, mas sim de uma Artigo 7º, XXXI, CF. Proibição de qualquer discrimina-
norma que dispõe sobre as modalidades de benefícios da ção no tocante a salário e critérios de admissão do trabalha-
previdência social. Referida Lei, em seu artigo 19 da pre- dor portador de deficiência.
ceitua que acidente do trabalho é o que ocorre pelo exer-
cício do trabalho a serviço da empresa ou pelo exercício A pessoa portadora de deficiência, dentro de suas li-
do trabalho, provocando lesão corporal ou perturbação mitações, possui condições de ingressar no mercado de
funcional que cause a morte ou a perda ou redução, per- trabalho e não pode ser preterida meramente por conta de
sua deficiência.
manente ou temporária, da capacidade para o trabalho.
Seguro de Acidente de Trabalho (SAT) é uma contri-
Artigo 7º, XXXII, CF. Proibição de distinção entre traba-
buição com natureza de tributo que as empresas pagam
lho manual, técnico e intelectual ou entre os profissionais
para custear benefícios do INSS oriundos de acidente de
respectivos.
trabalho ou doença ocupacional, cobrindo a aposentado-
ria especial. A alíquota normal é de um, dois ou três por
Os trabalhos manuais, técnicos e intelectuais são igual-
cento sobre a remuneração do empregado, mas as em-
mente relevantes e contribuem todos para a sociedade,
presas que expõem os trabalhadores a agentes nocivos
não cabendo a desvalorização de um trabalho apenas por
químicos, físicos e biológicos precisam pagar adicionais se enquadrar numa ou outra categoria.
diferenciados. Assim, quanto maior o risco, maior é a alí-
quota, mas atualmente o Ministério da Previdência Social Artigo 7º, XXXIII, CF. proibição de trabalho noturno,
pode alterar a alíquota se a empresa investir na segurança perigoso ou insalubre a menores de dezoito e de qual-
do trabalho. quer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na
Neste sentido, nada impede que a empresa seja res- condição de aprendiz, a partir de quatorze anos.
ponsabilizada pelos acidentes de trabalho, indenizando
o trabalhador. Na atualidade entende-se que a possibi- Trata-se de norma protetiva do adolescente, estabele-
lidade de cumulação do benefício previdenciário, assim cendo-se uma idade mínima para trabalho e proibindo-se
compreendido como prestação garantida pelo Estado ao o trabalho em condições desfavoráveis.
trabalhador acidentado (responsabilidade objetiva) com
a indenização devida pelo empregador em caso de culpa Artigo 7º, XXXIV, CF. Igualdade de direitos entre o tra-
(responsabilidade subjetiva), é pacífica, estando ampla- balhador com vínculo empregatício permanente e o tra-
mente difundida na jurisprudência do Tribunal Superior do balhador avulso.
Trabalho;
Avulso é o trabalhador que presta serviço a várias em-
Artigo 7º, XXIX, CF. Ação, quanto aos créditos resul- presas, mas é contratado por sindicatos e órgãos gestores
tantes das relações de trabalho, com prazo prescricional de mão-de-obra, possuindo os mesmos direitos que um
de cinco anos para os trabalhadores urbanos e rurais, até trabalhador com vínculo empregatício permanente.
o limite de dois anos após a extinção do contrato de tra- A Emenda Constitucional nº 72/2013, conhecida como
balho. PEC das domésticas, deu nova redação ao parágrafo único
do artigo 7º:

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DIREITO CONSTITUCIONAL

Artigo 7º, parágrafo único, CF. São assegurados à cate- Art. 9º É assegurado o direito de greve, competindo aos
goria dos trabalhadores domésticos os direitos previstos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e
nos incisos IV, VI, VII, VIII, X, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XXI, sobre os interesses que devam por meio dele defender.
XXII, XXIV, XXVI, XXX, XXXI e XXXIII e, atendidas as condições § 1º A lei definirá os serviços ou atividades essenciais
estabelecidas em lei e observada a simplificação do cum- e disporá sobre o atendimento das necessidades inadiáveis
primento das obrigações tributárias, principais e acessórias, da comunidade.
decorrentes da relação de trabalho e suas peculiaridades, os § 2º Os abusos cometidos sujeitam os responsáveis às
previstos nos incisos I, II, III, IX, XII, XXV e XXVIII, bem como penas da lei.
a sua integração à previdência social. 
A respeito, conferir a Lei nº 7.783/89, que dispõe sobre
5) Direito coletivo do trabalho o exercício do direito de greve, define as atividades essen-
Os artigos 8º a 11 trazem os direitos sociais coletivos ciais, regula o atendimento das necessidades inadiáveis
dos trabalhadores, que são os exercidos pelos trabalha- da comunidade, e dá outras providências. Enquanto não
dores, coletivamente ou no interesse de uma coletivida- for disciplinado o direito de greve dos servidores públicos,
de, quais sejam: associação profissional ou sindical, greve, esta é a legislação que se aplica, segundo o STF.
substituição processual, participação e representação clas- O direito de participação é previsto no artigo 10, CF:
sista40.
A liberdade de associação profissional ou sindical tem Artigo 10, CF. É assegurada a participação dos traba-
escopo no artigo 8º, CF: lhadores e empregadores nos colegiados dos órgãos pú-
blicos em que seus interesses profissionais ou previdenciá-
Art. 8º, CF. É livre a associação profissional ou sindi- rios sejam objeto de discussão e deliberação.
cal, observado o seguinte:
I - a lei não poderá exigir autorização do Estado para Por fim, aborda-se o direito de representação classista
a fundação de sindicato, ressalvado o registro no órgão no artigo 11, CF:
competente, vedadas ao Poder Público a interferência e a
intervenção na organização sindical;
Artigo 11, CF. Nas empresas de mais de duzentos em-
II - é vedada a criação de mais de uma organização
pregados, é assegurada a eleição de um representante
sindical, em qualquer grau, representativa de categoria
destes com a finalidade exclusiva de promover-lhes o enten-
profissional ou econômica, na mesma base territorial, que
dimento direto com os empregadores.
será definida pelos trabalhadores ou empregadores interes-
sados, não podendo ser inferior à área de um Município;
Nacionalidade
III - ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interes-
O capítulo III do Título II aborda a nacionalidade, que
ses coletivos ou individuais da categoria, inclusive em
questões judiciais ou administrativas; vem a ser corolário dos direitos políticos, já que somente
IV - a assembleia geral fixará a contribuição que, em um nacional pode adquirir direitos políticos.
se tratando de categoria profissional, será descontada em Nacionalidade é o vínculo jurídico-político que liga
folha, para custeio do sistema confederativo da representa- um indivíduo a determinado Estado, fazendo com que
ção sindical respectiva, independentemente da contribuição ele passe a integrar o povo daquele Estado, desfrutando
prevista em lei; assim de direitos e obrigações.
V - ninguém será obrigado a filiar-se ou a manter-se Povo é o conjunto de nacionais. Por seu turno, povo
filiado a sindicato; não é a mesma coisa que população. População é o con-
VI - é obrigatória a participação dos sindicatos nas junto de pessoas residentes no país – inclui o povo, os es-
negociações coletivas de trabalho; trangeiros residentes no país e os apátridas.
VII - o aposentado filiado tem direito a votar e ser vo-
tado nas organizações sindicais; 1) Nacionalidade como direito humano fundamental
VIII - é vedada a dispensa do empregado sindicali- Os direitos humanos internacionais são completamen-
zado a partir do registro da candidatura a cargo de direção te contrários à ideia do apátrida – ou heimatlos –, que é o
ou representação sindical e, se eleito, ainda que suplente, indivíduo que não possui o vínculo da nacionalidade com
até um ano após o final do mandato, salvo se cometer falta nenhum Estado. Logo, a nacionalidade é um direito da pes-
grave nos termos da lei. soa humana, o qual não pode ser privado de forma arbitrá-
Parágrafo único. As disposições deste artigo aplicam-se ria. Não há privação arbitrária quando respeitados os crité-
à organização de sindicatos rurais e de colônias de pes- rios legais previstos no texto constitucional no que tange à
cadores, atendidas as condições que a lei estabelecer. perda da nacionalidade. Em outras palavras, o constituinte
brasileiro não admite a figura do apátrida.
O direito de greve, por seu turno, está previsto no ar- Contudo, é exatamente por ser um direito que a na-
tigo 9º, CF: cionalidade não pode ser uma obrigação, garantindo-se à
pessoa o direito de deixar de ser nacional de um país e
40 LENZA, Pedro. Curso de direito constitucional passar a sê-lo de outro, mudando de nacionalidade, por
esquematizado. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. um processo conhecido como naturalização.

29
DIREITO CONSTITUCIONAL

Prevê a Declaração Universal dos Direitos Humanos b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe
em seu artigo 15: “I) Todo homem tem direito a uma na- brasileira, desde que qualquer deles esteja a serviço da Re-
cionalidade. II) Ninguém será arbitrariamente privado de pública Federativa do Brasil;
sua nacionalidade, nem do direito de mudar de naciona- c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de
lidade”. mãe brasileira, desde que sejam registrados em repartição
A Convenção Americana sobre Direitos Humanos brasileira competente ou venham a residir na República
aprofunda-se em meios para garantir que toda pessoa te- Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois
nha uma nacionalidade desde o seu nascimento ao adotar de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira.
o critério do jus solis, explicitando que ao menos a pessoa
terá a nacionalidade do território onde nasceu, quando Tradicionalmente, são possíveis dois critérios para a
não tiver direito a outra nacionalidade por previsões legais atribuição da nacionalidade primária – nacional nato –, no-
diversas. tadamente: ius soli, direito de solo, o nacional nascido em
“Nacionalidade é um direito fundamental da pessoa território do país independentemente da nacionalidade dos
humana. Todos a ela têm direito. A nacionalidade de um pais; e ius sanguinis, direito de sangue, que não depende do
indivíduo não pode ficar ao mero capricho de um governo, local de nascimento mas sim da descendência de um nacio-
de um governante, de um poder despótico, de decisões nal do país (critério comum em países que tiveram êxodo de
unilaterais, concebidas sem regras prévias, sem o contra- imigrantes).
ditório, a defesa, que são princípios fundamentais de todo O brasileiro nato, primeiramente, é aquele que nasce
sistema jurídico que se pretenda democrático. A questão no território brasileiro – critério do ius soli, ainda que filho
não pode ser tratada com relativismos, uma vez que é de pais estrangeiros, desde que não sejam estrangeiros que
muito séria”41. estejam a serviço de seu país ou de organismo internacional
Não obstante, tem-se no âmbito constitucional e in- (o que geraria um conflito de normas). Contudo, também é
ternacional a previsão do direito de asilo, consistente no possível ser brasileiro nato ainda que não se tenha nascido
direito de buscar abrigo em outro país quando naquele no território brasileiro.
No entanto, a Constituição reconhece o brasileiro nato
do qual for nacional estiver sofrendo alguma perseguição.
também pelo critério do ius sanguinis. Se qualquer dos pais
Tal perseguição não pode ter motivos legítimos, como a
estiver a serviço do Brasil, é considerado brasileiro nato,
prática de crimes comuns ou de atos atentatórios aos prin-
mesmo que nasça em outro país. Se qualquer dos pais não
cípios das Nações Unidas, o que subverteria a própria fi-
estiverem a serviço do Brasil e a pessoa nascer no exterior
nalidade desta proteção. Em suma, o que se pretende com
é exigido que o nascido do exterior venha ao território bra-
o direito de asilo é evitar a consolidação de ameaças a
sileiro e aqui resida ou que tenha sido registrado em repar-
direitos humanos de uma pessoa por parte daqueles que
tição competente, caso em que poderá, aos 18 anos, ma-
deveriam protegê-los – isto é, os governantes e os entes nifestar-se sobre desejar permanecer com a nacionalidade
sociais como um todo –, e não proteger pessoas que jus- brasileira ou não.
tamente cometeram tais violações.
b) Brasileiros naturalizados
2) Naturalidade e naturalização
O artigo 12 da Constituição Federal estabelece quem Art. 12, CF. São brasileiros: [...]
são os nacionais brasileiros, dividindo-os em duas catego- II - naturalizados:
rias: natos e naturalizados. Percebe-se que naturalidade é a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalida-
diferente de nacionalidade – naturalidade é apenas o local de brasileira, exigidas aos originários de países de língua
de nascimento, nacionalidade é um efetivo vínculo com o portuguesa apenas residência por um ano ininterrupto e
Estado. idoneidade moral;
Uma pessoa pode ser considerada nacional brasileira b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, resi-
tanto por ter nascido no território brasileiro quanto por dentes na República Federativa do Brasil há mais de quinze
voluntariamente se naturalizar como brasileiro, como se anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que re-
percebe no teor do artigo 12, CF. O estrangeiro, num con- queiram a nacionalidade brasileira.
ceito tomado à base de exclusão, é todo aquele que não é
nacional brasileiro. A naturalização deve ser voluntária e expressa.
O Estatuto do Estrangeiro, Lei nº 6.815/1980, rege a
a) Brasileiros natos questão da naturalização em mais detalhes, prevendo no
Art. 12, CF. São brasileiros: artigo 112:
I - natos:
a) os nascidos na República Federativa do Brasil, Art. 112, Lei nº 6.815/1980. São condições para a conces-
ainda que de pais estrangeiros, desde que estes não estejam são da naturalização:
a serviço de seu país; I - capacidade civil, segundo a lei brasileira;
41 VALVERDE, Thiago Pellegrini. Comentários aos ar- II - ser registrado como permanente no Brasil;
tigos XV e XVI. In: BALERA, Wagner (Coord.). Comentários III - residência contínua no território nacional, pelo pra-
à Declaração Universal dos Direitos do Homem. Brasília: zo mínimo de quatro anos, imediatamente anteriores ao
Fortium, 2008, p. 87-88. pedido de naturalização;

30
DIREITO CONSTITUCIONAL

IV - ler e escrever a língua portuguesa, consideradas as A lógica do dispositivo é a de que qualquer pessoa no
condições do naturalizando; exercício da presidência da República ou de cargo que pos-
V - exercício de profissão ou posse de bens suficientes à sa levar a esta posição provisoriamente deve ser natural do
manutenção própria e da família; país (ausente o Presidente da República, seu vice-presidente
VI - bom procedimento; desempenha o cargo; ausente este assume o Presidente da
VII - inexistência de denúncia, pronúncia ou condenação Câmara; também este ausente, em seguida, exerce o cargo
no Brasil ou no exterior por crime doloso a que seja comi- o Presidente do Senado; e, por fim, o Presidente do Supre-
nada pena mínima de prisão, abstratamente considerada, mo pode assumir a presidência na ausência dos anteriores
superior a 1 (um) ano; e – e como o Presidente do Supremo é escolhido num critério
VIII - boa saúde. de revezamento nenhum membro pode ser naturalizado);
ou a de que o cargo ocupado possui forte impacto em ter-
Destaque vai para o requisito da residência contínua. mos de representação do país ou de segurança nacional.
Outras exceções são: não aceitação, em regra, de brasi-
Em regra, o estrangeiro precisa residir no país por 4 anos
leiro naturalizado como membro do Conselho da Repúbli-
contínuos, conforme o inciso III do referido artigo 112. No
ca (artigos 89 e 90, CF); impossibilidade de ser proprietário
entanto, por previsão constitucional do artigo 12, II, “a”, se
de empresa jornalística, de radiodifusão sonora e imagens,
o estrangeiro foi originário de país com língua portuguesa
salvo se já naturalizado há 10 anos (artigo 222, CF); possi-
o prazo de residência contínua é reduzido para 1 ano. Daí bilidade de extradição do brasileiro naturalizado que tenha
se afirmar que o constituinte estabeleceu a naturalização praticado crime comum antes da naturalização ou, depois
ordinária no artigo 12, II, “b” e a naturalização extraordiná- dela, crime de tráfico de drogas (artigo 5º, LI, CF).
ria no artigo 12, II, “a”.
Outra diferença sensível é que à naturalização ordiná- 3) Quase-nacionalidade: caso dos portugueses
ria se aplica o artigo 121 do Estatuto do Estrangeiro, se- Nos termos do artigo 12, § 1º, CF:
gundo o qual “a satisfação das condições previstas nesta
Lei não assegura ao estrangeiro direito à naturalização”. Artigo 12, §1º, CF. Aos portugueses com residência per-
Logo, na naturalização ordinária não há direito subjetivo à manente no País, se houver reciprocidade em favor de bra-
naturalização, mesmo que preenchidos todos os requisitos. sileiros, serão atribuídos os direitos inerentes ao brasilei-
Trata-se de ato discricionário do Ministério da Justiça. O ro, salvo os casos previstos nesta Constituição.
mesmo não vale para a naturalização extraordinária, quan-
do há direito subjetivo, cabendo inclusive a busca do Poder É uma regra que só vale se os brasileiros receberem o
Judiciário para fazê-lo valer42. mesmo tratamento, questão regulamentada pelo Tratado
de Amizade, Cooperação e Consulta entre a República Fe-
c) Tratamento diferenciado derativa do Brasil e a República Portuguesa, assinado em 22
A regra é que todo nacional brasileiro, seja ele nato ou de abril de 2000 (Decreto nº 3.927/2001).
naturalizado, deverá receber o mesmo tratamento. Neste As vantagens conferidas são: igualdade de direitos civis,
sentido, o artigo 12, § 2º, CF: não sendo considerado um estrangeiro; gozo de direitos
políticos se residir há 3 anos no país, autorizando-se o alis-
Artigo 12, §2º, CF. A lei não poderá estabelecer distin- tamento eleitoral. No caso de exercício dos direitos políticos
ção entre brasileiros natos e naturalizados, salvo nos ca- nestes moldes, os direitos desta natureza ficam suspensos
sos previstos nesta Constituição. no outro país, ou seja, não exerce simultaneamente direitos
políticos nos dois países.
Percebe-se que a Constituição simultaneamente esta-
4) Perda da nacionalidade
belece a não distinção e se reserva ao direito de estabele-
Artigo 12, § 4º, CF. Será declarada a perda da naciona-
cer as hipóteses de distinção.
lidade do brasileiro que:
Algumas destas hipóteses de distinção já se encontram I - tiver cancelada sua naturalização, por sentença ju-
enumeradas no parágrafo seguinte. dicial, em virtude de atividade nociva ao interesse nacional;
II - adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos:
Artigo 12, § 3º, CF. São privativos de brasileiro nato a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela
os cargos: lei estrangeira;
I - de Presidente e Vice-Presidente da República; b) de imposição de naturalização, pela norma estrangei-
II - de Presidente da Câmara dos Deputados; ra, ao brasileiro residente em estado estrangeiro, como con-
III - de Presidente do Senado Federal; dição para permanência em seu território ou para o exercício
IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal; de direitos civis.
V - da carreira diplomática;
VI - de oficial das Forças Armadas; A respeito do inciso I do §4º do artigo 12, a Lei nº 818,
VII - de Ministro de Estado da Defesa. de 18 de setembro de 1949 regula a aquisição, a perda e a
reaquisição da nacionalidade, e a perda dos direitos polí-
42 FARIA, Cássio Juvenal. Notas pessoais tomadas ticos. No processo deve ser respeitado o contraditório e a
em teleconferência. iniciativa de propositura é do Procurador da República.

31
DIREITO CONSTITUCIONAL

No que tange ao inciso II do parágrafo em estudo, Aplicam-se os seguintes princípios à extradição:


percebe-se a aceitação da figura do polipátrida. Na alínea a) Princípio da Especialidade: Significa que o estrangei-
“a” aceita-se que a pessoa tenha nacionalidade brasileira ro só pode ser julgado pelo Estado requerente pelo crime
e outra se ao seu nascimento tiver adquirido simultanea- objeto do pedido de extradição. O importante é que o ex-
mente a nacionalidade do Brasil e outro país; na alínea “b” traditado só seja submetido às penas relativas aos crimes
é reconhecida a mesma situação se a aquisição da nacio- que foram objeto do pedido de extradição.
nalidade do outro país for uma exigência para continuar b) Princípio da Dupla Punibilidade: O fato praticado
lá permanecendo ou exercendo seus direitos civis, pois se deve ser punível no Estado requerente e no Brasil. Logo,
assim não o fosse o brasileiro seria forçado a optar por uma além do fato ser típico em ambos os países, deve ser puní-
nacionalidade e, provavelmente, se ver privado da naciona- vel em ambos (se houve prescrição em algum dos países,
lidade brasileira. p. ex., não pode ocorrer a extradição).
c) Princípio da Retroatividade dos Tratados: O fato de
5) Deportação, expulsão e entrega um tratado de extradição entre dois países ter sido cele-
A deportação representa a devolução compulsória de brado após a ocorrência do crime não impede a extradição.
um estrangeiro que tenha entrado ou esteja de forma ir- d) Princípio da Comutação da Pena (Direitos Humanos):
regular no território nacional, estando prevista na Lei nº Se o crime for apenado por qualquer das penas vedadas
6.815/1980, em seus artigos 57 e 58. Neste caso, não hou- pelo artigo 5º, XLVII da CF, a extradição não será autoriza-
ve prática de qualquer ato nocivo ao Brasil, havendo, pois, da, salvo se houver a comutação da pena, transformação
mera irregularidade de visto. para uma pena aceita no Brasil.
A expulsão é a retirada “à força” do território brasi-
leiro de um estrangeiro que tenha praticado atos tipifica- 7) Idioma e símbolos
dos no artigo 65 e seu parágrafo único, ambos da Lei nº Art. 13, CF. A língua portuguesa é o idioma oficial da
6.815/1980: República Federativa do Brasil.
§ 1º São símbolos da República Federativa do Brasil a
Art. 65, Lei nº 6.815/1980. É passível de expulsão o es- bandeira, o hino, as armas e o selo nacionais.
trangeiro que, de qualquer forma, atentar contra a seguran- § 2º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios po-
ça nacional, a ordem política ou social, a tranquilidade ou derão ter símbolos próprios.
moralidade pública e a economia popular, ou cujo proce-
dimento o torne nocivo à conveniência e aos interesses na- Idioma é a língua falada pela população, que confere
cionais. caráter diferenciado em relação à população do resto do
Parágrafo único. É passível, também, de expulsão o es- mundo. Sendo assim, é manifestação social e cultural de
trangeiro que: uma nação.
a) praticar fraude a fim de obter a sua entrada ou per- Os símbolos, por sua vez, representam a imagem da
manência no Brasil; nação e permitem o seu reconhecimento nacional e inter-
b) havendo entrado no território nacional com infração nacionalmente.
à lei, dele não se retirar no prazo que lhe for determinado Por esta intrínseca relação com a nacionalidade, a pre-
para fazê-lo, não sendo aconselhável a deportação; visão é feito dentro do capítulo do texto constitucional que
c) entregar-se à vadiagem ou à mendicância; ou aborda o tema.
d) desrespeitar proibição especialmente prevista em lei
para estrangeiro. Direitos políticos
Como mencionado, a nacionalidade é corolário dos di-
A entrega (ou surrender) consiste na submissão de um reitos políticos, já que somente um nacional pode adquirir
nacional a um tribunal internacional do qual o próprio país direitos políticos. No entanto, nem todo nacional é titular
faz parte. É o que ocorreria, por exemplo, se o Brasil en- de direitos políticos. Os nacionais que são titulares de direi-
tregasse um brasileiro para julgamento pelo Tribunal Penal tos políticos são denominados cidadãos. Significa afirmar
Internacional (competência reconhecida na própria Consti- que nem todo nacional brasileiro é um cidadão brasileiro,
tuição no artigo 5º, §4º). mas somente aquele que for titular do direito de sufrágio
universal.
6) Extradição
A extradição é ato diverso da deportação, da expulsão 1) Sufrágio universal
e da entrega. Extradição é um ato de cooperação interna- A primeira parte do artigo 14, CF, prevê que “a sobera-
cional que consiste na entrega de uma pessoa, acusada ou nia popular será exercida pelo sufrágio universal [...]”.
condenada por um ou mais crimes, ao país que a reclama. Sufrágio universal é a soma de duas capacidades elei-
O Brasil, sob hipótese alguma, extraditará brasileiros natos torais, a capacidade ativa – votar e exercer a democracia
mas quanto aos naturalizados assim permite caso tenham direta – e a capacidade passiva – ser eleito como represen-
praticado crimes comuns (exceto crimes políticos e/ou de tante no modelo da democracia indireta. Ou ainda, sufrá-
opinião) antes da naturalização, ou, mesmo depois da na- gio universal é o direito de todos cidadãos de votar e ser
turalização, em caso de envolvimento com o tráfico ilícito votado. O voto, que é o ato pelo qual se exercita o sufrágio,
de entorpecentes (artigo 5º, LI e LII, CF). deverá ser direto e secreto.

32
DIREITO CONSTITUCIONAL

Para ter capacidade passiva é necessário ter a ativa, a) os analfabetos;


mas não apenas isso, há requisitos adicionais. Sendo assim, b) os maiores de setenta anos;
nem toda pessoa que tem capacidade ativa tem também c) os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos.
capacidade passiva, embora toda pessoa que tenha capa-
cidade passiva tenha necessariamente a ativa. No mais, esta obrigatoriedade se aplica aos nacionais
brasileiros, já que, nos termos do artigo 14, §2º, CF:
2) Democracia direta e indireta
Art. 14, CF. A soberania popular será exercida pelo su- Artigo 14, §2º, CF. Não podem alistar-se como eleitores
frágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual os estrangeiros e, durante o período do serviço militar obri-
para todos, e, nos termos da lei, mediante: gatório, os conscritos.
I - plebiscito;
II - referendo; Quanto aos conscritos, são aqueles que estão prestan-
III - iniciativa popular. do serviço militar obrigatório, pois são necessárias tropas
disponíveis para os dias da eleição.
A democracia brasileira adota a modalidade semidire-
ta, porque possibilita a participação popular direta no po- 4) Elegibilidade
der por intermédio de processos como o plebiscito, o refe- O artigo 14, §§ 3º e 4º, CF, descrevem as condições de
rendo e a iniciativa popular. Como são hipóteses restritas, elegibilidade, ou seja, os requisitos que devem ser preen-
pode-se afirmar que a democracia indireta é predominan- chidos para que uma pessoa seja eleita, no exercício de sua
temente adotada no Brasil, por meio do sufrágio univer- capacidade passiva do sufrágio universal.
sal e do voto direto e secreto com igual valor para todos.
Quanto ao voto direto e secreto, trata-se do instrumento Artigo 14, § 3º, CF. São condições de elegibilidade, na
para o exercício da capacidade ativa do sufrágio universal. forma da lei:
Por seu turno, o que diferencia o plebiscito do refe- I - a nacionalidade brasileira;
rendo é o momento da consulta à população: no plebis-
II - o pleno exercício dos direitos políticos;
cito, primeiro se consulta a população e depois se toma a
III - o alistamento eleitoral;
decisão política; no referendo, primeiro se toma a decisão
IV - o domicílio eleitoral na circunscrição;
política e depois se consulta a população. Embora os dois
V - a filiação partidária;
partam do Congresso Nacional, o plebiscito é convocado,
VI - a idade mínima de:
ao passo que o referendo é autorizado (art. 49, XV, CF), am-
a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presidente
bos por meio de decreto legislativo. O que os assemelha é
da República e Senador;
que os dois são “formas de consulta ao povo para que de-
b) trinta anos para Governador e Vice-Governador de
libere sobre matéria de acentuada relevância, de natureza
constitucional, legislativa ou administrativa”43. Estado e do Distrito Federal;
Na iniciativa popular confere-se à população o poder c) vinte e um anos para Deputado Federal, Deputado
de apresentar projeto de lei à Câmara dos Deputados, Estadual ou Distrital, Prefeito, Vice-Prefeito e juiz de paz;
mediante assinatura de 1% do eleitorado nacional, distri- d) dezoito anos para Vereador.
buído por 5 Estados no mínimo, com não menos de 0,3%
dos eleitores de cada um deles. Em complemento, prevê o Artigo 14, § 4º, CF. São inelegíveis os inalistáveis e os
artigo 61, §2°, CF: analfabetos.

Art. 61, § 2º, CF. A iniciativa popular pode ser exercida Dos incisos I a III denotam-se requisitos correlatos à
pela apresentação à Câmara dos Deputados de projeto de lei nacionalidade e à titularidade de direitos políticos. Logo,
subscrito por, no mínimo, um por cento do eleitorado nacio- para ser eleito é preciso ser cidadão.
nal, distribuído pelo menos por cinco Estados, com não me- O domicílio eleitoral é o local onde a pessoa se alista
nos de três décimos por cento dos eleitores de cada um deles. como eleitor e, em regra, é no município onde reside, mas
pode não o ser caso analisados aspectos como o vínculo
3) Obrigatoriedade do alistamento eleitoral e do de afeto com o local (ex.: Presidente Dilma vota em Porto
voto Alegre – RS, embora resida em Brasília – DF). Sendo assim,
O alistamento eleitoral e o voto para os maiores de para se candidatar a cargo no município, deve ter domicílio
dezoito anos são, em regra, obrigatórios. Há facultativi- eleitoral nele; para se candidatar a cargo no estado, deve
dade para os analfabetos, os maiores de setenta anos e os ter domicílio eleitoral em um de seus municípios; para se
maiores de dezesseis e menores de dezoito anos. candidatar a cargo nacional, deve ter domicílio eleitoral
em uma das unidades federadas do país. Aceita-se a trans-
Artigo 14, § 1º, CF. O alistamento eleitoral e o voto são: ferência do domicílio eleitoral ao menos 1 ano antes das
I - obrigatórios para os maiores de dezoito anos; eleições.
II - facultativos para: A filiação partidária implica no lançamento da candi-
43 LENZA, Pedro. Curso de direito constitucional datura por um partido político, não se aceitando a filiação
esquematizado. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. avulsa.

33
DIREITO CONSTITUCIONAL

Finalmente, o §3º do artigo 14, CF, coloca o requisi- São inelegíveis absolutamente, para quaisquer cargos,
to etário, com faixa etária mínima para o desempenho de os chefes do Executivo que não renunciarem aos seus man-
cada uma das funções, a qual deve ser auferida na data datos até seis meses antes do pleito eleitoral, antes das
da posse. eleições. Ex.: Se a eleição aconteceu em 05/10/2014, neces-
sário que tivesse renunciado até 04/04/2014.
5) Inelegibilidade
Atender às condições de elegibilidade é necessário Artigo 14, §7º, CF. São inelegíveis, no território de ju-
para poder ser eleito, mas não basta. Além disso, é preciso risdição do titular, o cônjuge e os parentes consanguíneos
não se enquadrar em nenhuma das hipóteses de inelegi- ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do Presiden-
bilidade. te da República, de Governador de Estado ou Território, do
A inelegibilidade pode ser absoluta ou relativa. Na ab- Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os haja substituído
soluta, são atingidos todos os cargos; nas relativas, são dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo se já titular
atingidos determinados cargos. de mandato eletivo e candidato à reeleição.

Artigo 14, § 4º, CF. São inelegíveis os inalistáveis e os São inelegíveis absolutamente, para quaisquer cargos,
analfabetos. cônjuge e os parentes consanguíneos ou afins, até o se-
gundo grau ou por adoção, dos Chefes do Executivo ou
O artigo 14, §4º, CF traz duas hipóteses de inelegibi- de quem os tenha substituído ao final do mandato, a não
lidade, que são absolutas, atingem todos os cargos. Para ser que seja já titular de mandato eletivo e candidato à
ser elegível é preciso ser alfabetizado (os analfabetos têm reeleição.
a faculdade de votar, mas não podem ser votados) e é
preciso possuir a capacidade eleitoral ativa – poder vo- Artigo 14, §8º, CF. O militar alistável é elegível, aten-
tar (inalistáveis são aqueles que não podem tirar o título didas as seguintes condições:
de eleitor, portanto, não podem votar, notadamente: os I - se contar menos de dez anos de serviço, deverá afas-
estrangeiros e os conscritos durante o serviço militar obri- tar-se da atividade;
gatório). II - se contar mais de dez anos de serviço, será agregado
pela autoridade superior e, se eleito, passará automatica-
Artigo 14, §5º, CF. O Presidente da República, os Go- mente, no ato da diplomação, para a inatividade.
vernadores de Estado e do Distrito Federal, os Prefeitos e
quem os houver sucedido, ou substituído no curso dos São inelegíveis absolutamente, para quaisquer cargos,
mandatos poderão ser reeleitos para um único período os militares que não podem se alistar ou os que podem,
subsequente. mas não preenchem as condições do §8º do artigo 14, CF,
ou seja, se não se afastar da atividade caso trabalhe há me-
Descreve-se no dispositivo uma hipótese de inelegibi- nos de 10 anos, se não for agregado pela autoridade supe-
lidade relativa. Se um Chefe do Poder Executivo de qual- rior (suspenso do exercício das funções por sua autoridade
quer das esferas for substituído por seu vice no curso do sem prejuízo de remuneração) caso trabalhe há mais de
mandato, este vice somente poderá ser eleito para um pe- 10 anos (sendo que a eleição passa à condição de inativo).
ríodo subsequente.
Ex.: Governador renuncia ao mandato no início do seu Artigo 14, §9º, CF. Lei complementar estabelecerá ou-
último ano de governo para concorrer ao Senado Federal tros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a
e é substituído pelo seu vice-governador. Se este se can- fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade
didatar e for eleito, não poderá ao final deste mandato para exercício de mandato considerada vida pregressa do
se reeleger. Isto é, se o mandato o candidato renuncia no candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições con-
início de 2010 o seu mandato de 2007-2010, assumindo o tra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício
vice em 2010, poderá este se candidatar para o mandato de função, cargo ou emprego na administração direta ou
2011-2014, mas caso seja eleito não poderá se reeleger indireta.
para o mandato 2015-2018 no mesmo cargo. Foi o que
aconteceu com o ex-governador de Minas Gerais, Antônio O rol constitucional de inelegibilidades dos parágrafos
Anastasia, que assumiu em 2010 no lugar de Aécio Neves do artigo 14 não é taxativo, pois lei complementar pode
o governo do Estado de Minas Gerais e foi eleito gover- estabelecer outros casos, tanto de inelegibilidades absolu-
nador entre 2011 e 2014, mas não pode se candidatar à tas como de inelegibilidades relativas. Neste sentido, a Lei
reeleição, concorrendo por isso a uma vaga no Senado Complementar nº 64, de 18 de maio de 1990, estabelece
Federal. casos de inelegibilidade, prazos de cessação, e determina
outras providências. Esta lei foi alterada por aquela que fi-
Artigo 14, §6º, CF. Para concorrerem a outros cargos, cou conhecida como Lei da Ficha Limpa, Lei Complementar
o Presidente da República, os Governadores de Estado e do nº 135, de 04 de junho de 2010, principalmente em seu
Distrito Federal e os Prefeitos devem renunciar aos respec- artigo 1º, que segue.
tivos mandatos até seis meses antes do pleito.

34
DIREITO CONSTITUCIONAL

Art. 1º, Lei Complementar nº 64/1990. São inelegíveis: o disposto no inciso II do art. 71 da Constituição Federal, a
I - para qualquer cargo: todos os ordenadores de despesa, sem exclusão de manda-
a) os inalistáveis e os analfabetos; tários que houverem agido nessa condição; (Redação dada
b) os membros do Congresso Nacional, das Assembleias pela Lei Complementar nº 135, de 2010)
Legislativas, da Câmara Legislativa e das Câmaras Munici- h) os detentores de cargo na administração pública di-
pais, que hajam perdido os respectivos mandatos por infrin- reta, indireta ou fundacional, que beneficiarem a si ou a ter-
gência do disposto nos incisos I e II do art. 55 da Consti- ceiros, pelo abuso do poder econômico ou político, que forem
tuição Federal, dos dispositivos equivalentes sobre perda de condenados em decisão transitada em julgado ou proferida
mandato das Constituições Estaduais e Leis Orgânicas dos por órgão judicial colegiado, para a eleição na qual concor-
Municípios e do Distrito Federal, para as eleições que se rea- rem ou tenham sido diplomados, bem como para as que se
lizarem durante o período remanescente do mandato para o realizarem nos 8 (oito) anos seguintes; (Redação dada pela
qual foram eleitos e nos oito anos subsequentes ao término Lei Complementar nº 135, de 2010)
da legislatura; i) os que, em estabelecimentos de crédito, financiamento
d) os que tenham contra sua pessoa representação jul- ou seguro, que tenham sido ou estejam sendo objeto de pro-
gada procedente pela Justiça Eleitoral, em decisão transitada cesso de liquidação judicial ou extrajudicial, hajam exercido,
em julgado ou proferida por órgão colegiado, em processo de nos 12 (doze) meses anteriores à respectiva decretação, car-
apuração de abuso do poder econômico ou político, para a go ou função de direção, administração ou representação,
eleição na qual concorrem ou tenham sido diplomados, bem enquanto não forem exonerados de qualquer responsabili-
como para as que se realizarem nos 8 (oito) anos seguintes; dade;
(Redação dada pela Lei Complementar nº 135, de 2010) j) os que forem condenados, em decisão transitada em
e) os que forem condenados, em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão colegiado da Justiça Eleitoral,
julgado ou proferida por órgão judicial colegiado, desde a por corrupção eleitoral, por captação ilícita de sufrágio, por
condenação até o transcurso do prazo de 8 (oito) anos após doação, captação ou gastos ilícitos de recursos de campanha
o cumprimento da pena, pelos crimes: (Redação dada pela ou por conduta vedada aos agentes públicos em campanhas
Lei Complementar nº 135, de 2010) eleitorais que impliquem cassação do registro ou do diplo-
1. contra a economia popular, a fé pública, a administra- ma, pelo prazo de 8 (oito) anos a contar da eleição; (Incluído
ção pública e o patrimônio público; (Incluído pela Lei Com- pela Lei Complementar nº 135, de 2010)
plementar nº 135, de 2010) k) o Presidente da República, o Governador de Estado e
2. contra o patrimônio privado, o sistema financeiro, o do Distrito Federal, o Prefeito, os membros do Congresso Na-
mercado de capitais e os previstos na lei que regula a falên- cional, das Assembleias Legislativas, da Câmara Legislativa,
cia; (Incluído pela Lei Complementar nº 135, de 2010) das Câmaras Municipais, que renunciarem a seus mandatos
3. contra o meio ambiente e a saúde pública; (Incluído desde o oferecimento de representação ou petição capaz de
pela Lei Complementar nº 135, de 2010) autorizar a abertura de processo por infringência a dispositi-
4. eleitorais, para os quais a lei comine pena privativa de vo da Constituição Federal, da Constituição Estadual, da Lei
liberdade; (Incluído pela Lei Complementar nº 135, de 2010) Orgânica do Distrito Federal ou da Lei Orgânica do Muni-
5. de abuso de autoridade, nos casos em que houver cípio, para as eleições que se realizarem durante o período
condenação à perda do cargo ou à inabilitação para o exer- remanescente do mandato para o qual foram eleitos e nos 8
cício de função pública; (Incluído pela Lei Complementar nº (oito) anos subsequentes ao término da legislatura; (Incluído
135, de 2010) pela Lei Complementar nº 135, de 2010)
6. de lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores; l) os que forem condenados à suspensão dos direitos
(Incluído pela Lei Complementar nº 135, de 2010) políticos, em decisão transitada em julgado ou proferida
7. de tráfico de entorpecentes e drogas afins, racismo, por órgão judicial colegiado, por ato doloso de improbidade
tortura, terrorismo e hediondos; administrativa que importe lesão ao patrimônio público e
8. de redução à condição análoga à de escravo; (Incluído enriquecimento ilícito, desde a condenação ou o trânsito em
pela Lei Complementar nº 135, de 2010) julgado até o transcurso do prazo de 8 (oito) anos após o
9. contra a vida e a dignidade sexual; e (Incluído pela Lei cumprimento da pena; (Incluído pela Lei Complementar nº
Complementar nº 135, de 2010) 135, de 2010)
10. praticados por organização criminosa, quadrilha ou m) os que forem excluídos do exercício da profissão, por
bando; (Incluído pela Lei Complementar nº 135, de 2010) decisão sancionatória do órgão profissional competente, em
f) os que forem declarados indignos do oficialato, ou decorrência de infração ético-profissional, pelo prazo de 8
com ele incompatíveis, pelo prazo de 8 (oito) anos; (Redação (oito) anos, salvo se o ato houver sido anulado ou suspenso
dada pela Lei Complementar nº 135, de 2010) pelo Poder Judiciário; (Incluído pela Lei Complementar nº
g) os que tiverem suas contas relativas ao exercício de 135, de 2010)
cargos ou funções públicas rejeitadas por irregularidade in- n) os que forem condenados, em decisão transitada em
sanável que configure ato doloso de improbidade adminis- julgado ou proferida por órgão judicial colegiado, em razão
trativa, e por decisão irrecorrível do órgão competente, salvo de terem desfeito ou simulado desfazer vínculo conjugal ou
se esta houver sido suspensa ou anulada pelo Poder Judi- de união estável para evitar caracterização de inelegibilida-
ciário, para as eleições que se realizarem nos 8 (oito) anos de, pelo prazo de 8 (oito) anos após a decisão que reconhecer
seguintes, contados a partir da data da decisão, aplicando-se a fraude; (Incluído pela Lei Complementar nº 135, de 2010)

35
DIREITO CONSTITUCIONAL

o) os que forem demitidos do serviço público em decor- e) os que, até 6 (seis) meses antes da eleição, tenham
rência de processo administrativo ou judicial, pelo prazo de exercido cargo ou função de direção, administração ou re-
8 (oito) anos, contado da decisão, salvo se o ato houver sido presentação nas empresas de que tratam os arts. 3° e 5° da
suspenso ou anulado pelo Poder Judiciário; (Incluído pela Lei Lei n° 4.137, de 10 de setembro de 1962, quando, pelo âm-
Complementar nº 135, de 2010) bito e natureza de suas atividades, possam tais empresas
p) a pessoa física e os dirigentes de pessoas jurídicas res- influir na economia nacional;
ponsáveis por doações eleitorais tidas por ilegais por decisão f) os que, detendo o controle de empresas ou grupo de
transitada em julgado ou proferida por órgão colegiado da empresas que atuem no Brasil, nas condições monopolísti-
Justiça Eleitoral, pelo prazo de 8 (oito) anos após a decisão, cas previstas no parágrafo único do art. 5° da lei citada na
observando-se o procedimento previsto no art. 22; (Incluído alínea anterior, não apresentarem à Justiça Eleitoral, até 6
pela Lei Complementar nº 135, de 2010) (seis) meses antes do pleito, a prova de que fizeram cessar o
q) os magistrados e os membros do Ministério Público abuso apurado, do poder econômico, ou de que transferiram,
que forem aposentados compulsoriamente por decisão san- por força regular, o controle de referidas empresas ou grupo
cionatória, que tenham perdido o cargo por sentença ou que de empresas;
tenham pedido exoneração ou aposentadoria voluntária na g) os que tenham, dentro dos 4 (quatro) meses ante-
pendência de processo administrativo disciplinar, pelo prazo riores ao pleito, ocupado cargo ou função de direção, ad-
de 8 (oito) anos; (Incluído pela Lei Complementar nº 135, de ministração ou representação em entidades representativas
2010) de classe, mantidas, total ou parcialmente, por contribuições
II - para Presidente e Vice-Presidente da República: impostas pelo poder Público ou com recursos arrecadados e
a) até 6 (seis) meses depois de afastados definitivamente repassados pela Previdência Social;
de seus cargos e funções: h) os que, até 6 (seis) meses depois de afastados das fun-
1. os Ministros de Estado: ções, tenham exercido cargo de Presidente, Diretor ou Supe-
2. os chefes dos órgãos de assessoramento direto, civil e rintendente de sociedades com objetivos exclusivos de ope-
militar, da Presidência da República; rações financeiras e façam publicamente apelo à poupança
e ao crédito, inclusive através de cooperativas e da empresa
3. o chefe do órgão de assessoramento de informações
ou estabelecimentos que gozem, sob qualquer forma, de
da Presidência da República;
vantagens asseguradas pelo poder público, salvo se decor-
4. o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas;
rentes de contratos que obedeçam a cláusulas uniformes;
5. o Advogado-Geral da União e o Consultor-Geral da
i) os que, dentro de 6 (seis) meses anteriores ao pleito,
República;
hajam exercido cargo ou função de direção, administração
6. os chefes do Estado-Maior da Marinha, do Exército e
ou representação em pessoa jurídica ou em empresa que
da Aeronáutica;
mantenha contrato de execução de obras, de prestação de
7. os Comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica;
serviços ou de fornecimento de bens com órgão do Poder
8. os Magistrados; Público ou sob seu controle, salvo no caso de contrato que
9. os Presidentes, Diretores e Superintendentes de autar- obedeça a cláusulas uniformes;
quias, empresas públicas, sociedades de economia mista e j) os que, membros do Ministério Público, não se tenham
fundações públicas e as mantidas pelo poder público; afastado das suas funções até 6 (seis) meses anteriores ao
10. os Governadores de Estado, do Distrito Federal e de pleito;
Territórios; I) os que, servidores públicos, estatutários ou não, dos
11. os Interventores Federais; órgãos ou entidades da Administração direta ou indireta
12. os Secretários de Estado; da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e
13. os Prefeitos Municipais; dos Territórios, inclusive das fundações mantidas pelo Poder
14. os membros do Tribunal de Contas da União, dos Público, não se afastarem até 3 (três) meses anteriores ao
Estados e do Distrito Federal; pleito, garantido o direito à percepção dos seus vencimentos
15. o Diretor-Geral do Departamento de Polícia Federal; integrais;
16. os Secretários-Gerais, os Secretários-Executivos, os III - para Governador e Vice-Governador de Estado e do
Secretários Nacionais, os Secretários Federais dos Ministérios Distrito Federal;
e as pessoas que ocupem cargos equivalentes; a) os inelegíveis para os cargos de Presidente e Vice-
b) os que tenham exercido, nos 6 (seis) meses anteriores -Presidente da República especificados na alínea a do inciso
à eleição, nos Estados, no Distrito Federal, Territórios e em II deste artigo e, no tocante às demais alíneas, quando se
qualquer dos poderes da União, cargo ou função, de nomea- tratar de repartição pública, associação ou empresas que
ção pelo Presidente da República, sujeito à aprovação prévia operem no território do Estado ou do Distrito Federal, obser-
do Senado Federal; vados os mesmos prazos;
c) (Vetado); b) até 6 (seis) meses depois de afastados definitivamente
d) os que, até 6 (seis) meses antes da eleição, tiverem de seus cargos ou funções:
competência ou interesse, direta, indireta ou eventual, no 1. os chefes dos Gabinetes Civil e Militar do Governador
lançamento, arrecadação ou fiscalização de impostos, taxas do Estado ou do Distrito Federal;
e contribuições de caráter obrigatório, inclusive parafiscais, 2. os comandantes do Distrito Naval, Região Militar e
ou para aplicar multas relacionadas com essas atividades; Zona Aérea;

36
DIREITO CONSTITUCIONAL

3. os diretores de órgãos estaduais ou sociedades de as- § 5º A renúncia para atender à desincompatibilização


sistência aos Municípios; com vistas a candidatura a cargo eletivo ou para assunção
4. os secretários da administração municipal ou mem- de mandato não gerará a inelegibilidade prevista na alínea
bros de órgãos congêneres; k, a menos que a Justiça Eleitoral reconheça fraude ao dispos-
IV - para Prefeito e Vice-Prefeito: to nesta Lei Complementar. (Incluído pela Lei Complementar
a) no que lhes for aplicável, por identidade de situações, nº 135, de 2010).
os inelegíveis para os cargos de Presidente e Vice-Presidente
da República, Governador e Vice-Governador de Estado e do 6) Impugnação de mandato
Distrito Federal, observado o prazo de 4 (quatro) meses para Encerrando a disciplina, o artigo 14, CF, aborda a im-
a desincompatibilização; pugnação de mandato.
b) os membros do Ministério Público e Defensoria Públi-
ca em exercício na Comarca, nos 4 (quatro) meses anteriores Artigo 14, § 10, CF. O mandato eletivo poderá ser im-
ao pleito, sem prejuízo dos vencimentos integrais; pugnado ante a Justiça Eleitoral no prazo de quinze dias
c) as autoridades policiais, civis ou militares, com exercí- contados da diplomação, instruída a ação com provas de
cio no Município, nos 4 (quatro) meses anteriores ao pleito; abuso do poder econômico, corrupção ou fraude.
V - para o Senado Federal:
a) os inelegíveis para os cargos de Presidente e Vice-Pre- Artigo 14, § 11, CF. A ação de impugnação de mandato
sidente da República especificados na alínea a do inciso II tramitará em segredo de justiça, respondendo o autor, na for-
deste artigo e, no tocante às demais alíneas, quando se tra- ma da lei, se temerária ou de manifesta má-fé.
tar de repartição pública, associação ou empresa que opere
no território do Estado, observados os mesmos prazos; 7) Perda e suspensão de direitos políticos
b) em cada Estado e no Distrito Federal, os inelegíveis Art. 15, CF. É vedada a cassação de direitos políticos,
para os cargos de Governador e Vice-Governador, nas mes- cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de:
mas condições estabelecidas, observados os mesmos prazos; I - cancelamento da naturalização por sentença transi-
VI - para a Câmara dos Deputados, Assembleia Legisla- tada em julgado;
tiva e Câmara Legislativa, no que lhes for aplicável, por iden- II - incapacidade civil absoluta;
tidade de situações, os inelegíveis para o Senado Federal, III - condenação criminal transitada em julgado, enquan-
nas mesmas condições estabelecidas, observados os mesmos to durarem seus efeitos;
prazos; IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou
VII - para a Câmara Municipal: prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII;
a) no que lhes for aplicável, por identidade de situações, V - improbidade administrativa, nos termos do art. 37,
os inelegíveis para o Senado Federal e para a Câmara dos § 4º.
Deputados, observado o prazo de 6 (seis) meses para a de-
sincompatibilização; O inciso I refere-se ao cancelamento da naturalização, o
b) em cada Município, os inelegíveis para os cargos de que faz com que a pessoa deixe de ser nacional e, portanto,
Prefeito e Vice-Prefeito, observado o prazo de 6 (seis) meses deixe de ser titular de direitos políticos.
para a desincompatibilização . O inciso II trata da incapacidade civil absoluta, ou seja,
§ 1° Para concorrência a outros cargos, o Presidente da da interdição da pessoa para a prática de atos da vida civil,
República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal entre os quais obviamente se enquadra o sufrágio universal.
e os Prefeitos devem renunciar aos respectivos mandatos O inciso III refere-se a um dos possíveis efeitos da con-
até 6 (seis) meses antes do pleito. denação criminal, que é a suspensão de direitos políticos.
§ 2° O Vice-Presidente, o Vice-Governador e o Vice-Pre- O inciso IV trata da recusa em cumprir a obrigação mi-
feito poderão candidatar-se a outros cargos, preservando litar ou a prestação substitutiva imposta em caso de escusa
os seus mandatos respectivos, desde que, nos últimos 6 moral ou religiosa.
(seis) meses anteriores ao pleito, não tenham sucedido ou O inciso V se refere à ação de improbidade administra-
substituído o titular. tiva, que tramita para apurar a prática dos atos de improbi-
§ 3° São inelegíveis, no território de jurisdição do titu- dade administrativa, na qual uma das penas aplicáveis é a
lar, o cônjuge e os parentes, consanguíneos ou afins, até o suspensão dos direitos políticos.
segundo grau ou por adoção, do Presidente da República, Os direitos políticos somente são perdidos em dois ca-
de Governador de Estado ou Território, do Distrito Federal, sos, quais sejam cancelamento de naturalização por senten-
de Prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos 6 ça transitada em julgado (o indivíduo naturalizado volta à
(seis) meses anteriores ao pleito, salvo se já titular de man- condição de estrangeiro) e perda da nacionalidade brasilei-
dato eletivo e candidato à reeleição. ra em virtude da aquisição de outra (brasileiro se naturaliza
§ 4º A inelegibilidade prevista na alínea e do inciso I em outro país e assim deixa de ser considerado um cidadão
deste artigo não se aplica aos crimes culposos e àqueles brasileiro, perdendo direitos políticos). Nos demais casos,
definidos em lei como de menor potencial ofensivo, nem há suspensão. Nota-se que não há perda de direitos políti-
aos crimes de ação penal privada. (Incluído pela Lei Com- cos pela prática de atos atentatórios contra a Administração
plementar nº 135, de 2010) Pública por parte do servidor, mas apenas suspensão.

37
DIREITO CONSTITUCIONAL

A cassação de direitos políticos, consistente na retirada Os estatutos que tecem esta regulamentação devem
dos direitos políticos por ato unilateral do poder público, ser registrados no Tribunal Superior Eleitoral (artigo 17, §2º,
sem observância dos princípios elencados no artigo 5º, LV, CF).
CF (ampla defesa e contraditório), é um procedimento que Quanto ao financiamento das campanhas e o acesso à
só existe nos governos ditatoriais e que é absolutamente mídia, prevê o §3º do artigo 17 da CF:
vedado pelo texto constitucional.
Art. 17, §3º, CF. Os partidos políticos têm direito a recur-
8) Anterioridade anual da lei eleitoral sos do fundo partidário e acesso gratuito ao rádio e à televi-
são, na forma da lei.
Art. 16, CF. A lei que alterar o processo eleitoral entrará § 4º É vedada a utilização pelos partidos políticos de
em vigor na data de sua publicação, não se aplicando à elei- organização paramilitar.
ção que ocorra até um ano da data de sua vigência. 
§ 5º Ao eleito por partido que não preencher os requisi-
É necessário que a lei eleitoral entre em vigor pelo me- tos previstos no § 3º deste artigo é assegurado o mandato e
nos 1 ano antes da próxima eleição, sob pena de não se facultada a filiação, sem perda do mandato, a outro partido
aplicar a ela, mas somente ao próximo pleito. que os tenha atingido, não sendo essa filiação considerada
para fins de distribuição dos recursos do fundo partidário e
Partidos políticos de acesso gratuito ao tempo de rádio e de televisão.     (In-
O pluripartidarismo é uma das facetas do pluralismo cluído pela Emenda Constitucional nº 97, de 2017)
político e encontra respaldo enquanto direito fundamental,
já que regulamentado no Título II, “Dos Direitos e Garantias
Fundamentais”, capítulo V, “Dos Partidos Políticos”.
O caput do artigo 17 da Constituição prevê:

Art. 17. É livre a criação, fusão, incorporação e extinção 3. DA ORGANIZAÇÃO DO ESTADO


de partidos políticos, resguardados a soberania nacional, o (ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-
regime democrático, o pluripartidarismo, os direitos funda- ADMINISTRATIVA, UNIÃO, ESTADOS
mentais da pessoa humana [...]. FEDERADOS, MUNICÍPIOS, DISTRITO
FEDERAL E TERRITÓRIOS, MILITARES
Consolida-se, assim a liberdade partidária, não estabe- DOS ESTADOS, DISTRITO FEDERAL E
lecendo a Constituição um limite de números de partidos TERRITÓRIOS).
políticos que possam ser constituídos, permitindo também
que sejam extintos, fundidos e incorporados.
Os incisos do artigo 17 da Constituição indicam os pre-
ceitos a serem observados na liberdade partidária: caráter Da organização político-administrativa
nacional, ou seja, terem por objetivo o desempenho de O artigo 18 da Constituição Federal tem caráter genéri-
atividade política no âmbito interno do país; proibição de co e regulamenta a organização político-administrativa do
recebimento de recursos financeiros de entidade ou gover- Estado. Basicamente, define os entes federados que irão
no estrangeiros ou de subordinação a estes, logo, o Poder compor o Estado brasileiro.
Público não pode financiar campanhas eleitorais; prestação Neste dispositivo se percebe o Pacto Federativo fir-
de contas à Justiça Eleitoral, notadamente para resguardar mado entre os entes autônomos que compõem o Estado
a mencionada vedação; e funcionamento parlamentar de brasileiro. Na federação, todos os entes que compõem o
acordo com a lei. Ainda, a lei veda a utilização de organi- Estado têm autonomia, cabendo à União apenas concentrar
zação paramilitar por parte dos partidos políticos (artigo esforços necessários para a manutenção do Estado uno.
17, §4º, CF). O pacto federativo brasileiro se afirmou ao inverso do
O respeito a estes ditames permite o exercício do par- que os Estados federados geralmente se formam. Trata-se
tidarismo de forma autônoma em termos estruturais e or- de federalismo por desagregação – tinha-se um Estado
ganizacionais, conforme o §1º do artigo 17, CF: uno, com a União centralizada em suas competências, e di-
vidiu-se em unidades federadas. Difere-se do denominado
Art. 17, §1º, CF. É assegurada aos partidos políticos auto- federalismo por agregação, no qual unidades federativas
nomia para definir sua estrutura interna, organização e fun- autônomas se unem e formam um Poder federal no qual
cionamento e para adotar os critérios de escolha e o regime se concentrarão certas atividades, tornando o Estado mais
de suas coligações eleitorais, sem obrigatoriedade de vincu- forte (ex.: Estados Unidos da América).
lação entre as candidaturas em âmbito nacional, estadual, No federalismo por agregação, por já vir tradicional-
distrital ou municipal, devendo seus estatutos estabelecer mente das bases do Estado a questão da autonomia das
normas de disciplina e fidelidade partidária.  unidades federadas, percebe-se um federalismo real na
prática. Já no federalismo por desagregação nota-se uma
persistente tendência centralizadora.

38
DIREITO CONSTITUCIONAL

Prova de que nem mesmo o constituinte brasileiro en- Artigo 18, §4º, CF. A criação, a incorporação, a fusão
tendeu o federalismo que estava criando é o fato de ter e o desmembramento de Municípios, far-se-ão por lei
colocado o município como entidade federativa autônoma. estadual, dentro do período determinado por Lei Comple-
No modelo tradicional, o pacto federativo se dá apenas en- mentar Federal, e dependerão de consulta prévia, mediante
tre União e estados-membros, motivo pelo qual a doutrina plebiscito, às populações dos Municípios envolvidos, após
afirma que o federalismo brasileiro é atípico. divulgação dos Estudos de Viabilidade Municipal, apresenta-
Além disso, pelo que se desprende do modelo de di- dos e publicados na forma da lei.
visão de competências a ser estudado neste capítulo, aca-
bou-se esvaziando a competência dos estados-membros, Como se percebe pelos dispositivos retro, é possível
mantendo uma concentração de poderes na União e distri- criar, incorporar e desmembrar os Estados-membros e os
buindo vasta gama de poderes aos municípios. Municípios. No caso dos Estados, exige-se plebiscito e lei
federal. No caso dos municípios, exige-se plebiscito e lei
Art. 18, caput, CF. A organização político-administra- estadual.
tiva da República Federativa do Brasil compreende a União, Ressalta-se que é aceita a subdivisão e o desmembra-
os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos au- mento no âmbito interno, mas não se permite que uma
tônomos, nos termos desta Constituição. parte do país se separe do todo, o que atentaria contra o
pacto federativo.
Ainda assim, inegável, pela redação do caput do artigo
Art. 19, CF. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito
18, CF, que o Brasil adota um modelo de Estado Federado
Federal e aos Municípios:
no qual são considerados entes federados e, como tais, au- I - estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencio-
tônomos, a União, os Estados, o Distrito Federal e os Muni- ná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com
cípios. Esta autonomia se reflete tanto numa capacidade de eles ou seus representantes relações de dependência ou
auto-organização (normatização própria) quanto numa ca- aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de inte-
pacidade de autogoverno (administrar-se pelos membros resse público;
eleitos pelo eleitorado da unidade federada). II - recusar fé aos documentos públicos;
III - criar distinções entre brasileiros ou preferências en-
Artigo 18, §1º, CF. Brasília é a Capital Federal. tre si.

Brasília é a capital da República Federativa do Brasil, Embora o artigo 19 traga algumas vedações expressas
sendo um dos municípios que compõem o Distrito Federal. aos entes federados, fato é que todo o sistema constitucio-
O Distrito Federal tem peculiaridades estruturais, não sen- nal traz impedimento à atuação das unidades federativas
do nem um Município, nem um Estado, tanto é que o caput e de seus administradores. Afinal, não possuem liberdade
deste artigo 18 o nomeia em separado. Trata-se, assim, de para agirem como quiserem e somente podem fazer o que
unidade federativa autônoma. a lei permite (princípio da legalidade aplicado à Adminis-
tração Pública).
Artigo 18, §2º, CF. Os Territórios Federais integram a
União, e sua criação, transformação em Estado ou reinte- Repartição de competências e bens
gração ao Estado de origem serão reguladas em lei comple- O título III da Constituição Federal regulamenta a orga-
mentar. nização do Estado, definindo competências administrativas
e legislativas, bem como traçando a estrutura organizacio-
Apesar dos Territórios Federais integrarem a União, eles nal por ele tomada.
não podem ser considerados entes da federação, logo não Bens Públicos são todos aqueles que integram o pa-
fazem parte da organização político-administrativa, não trimônio da Administração Pública direta e indireta, sendo
dispõem de autonomia política e não integram o Estado que todos os demais bens são considerados particulares.
Federal. São meras descentralizações administrativo-ter- Destaca-se a disciplina do Código Civil:
ritoriais pertencentes à União. A Constituição Federal de
1988 aboliu todos os territórios então existentes: Fernando Artigo 98, CC. São públicos os bens de domínio nacional
de Noronha tornou-se um distrito estadual do Estado de pertencentes as pessoas jurídicas de direito público interno;
Pernambuco, Amapá e Roraima ganham o status integral todos os outros são particulares, seja qual for a pessoa a que
de Estados da Federação. pertencerem.

Artigo 18, §3º, CF. Os Estados podem incorporar-se en- Artigo 99, CC. São bens públicos:
tre si, subdividir-se ou desmembrar-se para se anexarem I - os de uso comum do povo, tais como rios, mares,
a outros, ou formarem novos Estados ou Territórios Federais, estradas, ruas e praças;
mediante aprovação da população diretamente interessa- II - os de uso especial, tais como edifícios ou terrenos
da, através de plebiscito, e do Congresso Nacional, por lei destinados a serviço ou estabelecimento da administração
complementar. federal, estadual, territorial ou municipal, inclusive os de
suas autarquias;

39
DIREITO CONSTITUCIONAL

III - os dominicais, que constituem o patrimônio das hídricos para fins de geração de energia elétrica e de outros
pessoas jurídicas de direito público, como objeto de direito recursos minerais no respectivo território, plataforma conti-
pessoal, ou real, de cada uma dessas entidades. nental, mar territorial ou zona econômica exclusiva, ou com-
Parágrafo único. Não dispondo a lei em contrário, con- pensação financeira por essa exploração.
sideram-se dominicais os bens pertencentes às pessoas ju- § 2º A faixa de até cento e cinquenta quilômetros de
rídicas de direito público a que se tenha dado estrutura de largura, ao longo das fronteiras terrestres, designada
direito privado. como faixa de fronteira, é considerada fundamental para
defesa do território nacional, e sua ocupação e utilização
Artigo 100, CC. Os bens públicos de uso comum do serão reguladas em lei.
povo e os de uso especial são inalienáveis, enquanto con-
servarem a sua qualificação, na forma que a lei determinar. Artigo 26, CF. Incluem-se entre os bens dos Estados:
I - as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emer-
Artigo 101, CC. Os bens públicos dominicais podem ser gentes e em depósito, ressalvadas, neste caso, na forma da
alienados, observadas as exigências da lei. lei, as decorrentes de obras da União;
II - as áreas, nas ilhas oceânicas e costeiras, que es-
Artigo 102, CC. Os bens públicos não estão sujeitos a tiverem no seu domínio, excluídas aquelas sob domínio da
usucapião. União, Municípios ou terceiros;
III - as ilhas fluviais e lacustres não pertencentes à
Artigo 103, CC. O uso comum dos bens públicos pode União;
ser gratuito ou retribuído, conforme for estabelecido le- IV - as terras devolutas não compreendidas entre as
galmente pela entidade a cuja administração pertencerem. da União.
Os bens da União estão enumerados no artigo 20 e os 1) Competência organizacional-administrativa ex-
bens dos Estados-membros no artigo 26, ambos da Cons- clusiva da União
tituição, que seguem abaixo. Na divisão de bens estabele-
A Constituição Federal, quando aborda a competência
cida pela Constituição Federal denota-se o caráter residual
da União, traz no artigo 21 a expressão “compete à União”
dos bens dos Estados-membros porque exige-se que estes
e no artigo 22 a expressão “compete privativamente à
não pertençam à União ou aos Municípios.
União”. Neste sentido, questiona-se se a competência no
artigo 21 seria privativa. Obviamente, não seria comparti-
Artigo 20, CF. São bens da União:
lhada, pois os casos que o são estão enumerados no texto
I - os que atualmente lhe pertencem e os que lhe vierem
constitucional.
a ser atribuídos;
Com efeito, entende-se que o artigo 21, CF, enumera
II - as terras devolutas indispensáveis à defesa das
fronteiras, das fortificações e construções militares, das vias competências exclusivas da União. Estas expressões que
federais de comunicação e à preservação ambiental, defini- a princípio seriam sinônimas assumem significado diverso.
das em lei; Exclusiva é a competência da União que pode ser delegada
III - os lagos, rios e quaisquer correntes de água em a outras unidades federadas e privativa é a competência da
terrenos de seu domínio, ou que banhem mais de um Estado, União que somente pode ser exercida por ela.
sirvam de limites com outros países, ou se estendam a terri- O artigo 21, que traz as competências exclusivas da
tório estrangeiro ou dele provenham, bem como os terrenos União, trabalha com questões organizacional-administra-
marginais e as praias fluviais; tivas.
IV - as ilhas fluviais e lacustres nas zonas limítrofes
com outros países; as praias marítimas; as ilhas oceânicas Artigo 21, CF. Compete à União:
e as costeiras, excluídas, destas, as que contenham a sede de I - manter relações com Estados estrangeiros e parti-
Municípios, exceto aquelas áreas afetadas ao serviço público cipar de organizações internacionais;
e a unidade ambiental federal, e as referidas no art. 26, II;  II - declarar a guerra e celebrar a paz;
V - os recursos naturais da plataforma continental e da III - assegurar a defesa nacional;
zona econômica exclusiva; IV - permitir, nos casos previstos em lei complementar,
VI - o mar territorial; que forças estrangeiras transitem pelo território nacional
VII - os terrenos de marinha e seus acrescidos; ou nele permaneçam temporariamente;
VIII - os potenciais de energia hidráulica; V - decretar o estado de sítio, o estado de defesa e a
IX - os recursos minerais, inclusive os do subsolo; intervenção federal;
X - as cavidades naturais subterrâneas e os sítios ar- VI - autorizar e fiscalizar a produção e o comércio de
queológicos e pré-históricos; material bélico;
XI - as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios. VII - emitir moeda;
§ 1º É assegurada, nos termos da lei, aos Estados, ao VIII - administrar as reservas cambiais do País e fisca-
Distrito Federal e aos Municípios, bem como a órgãos da lizar as operações de natureza financeira, especialmente as
administração direta da União, participação no resultado de crédito, câmbio e capitalização, bem como as de seguros
da exploração de petróleo ou gás natural, de recursos e de previdência privada;

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DIREITO CONSTITUCIONAL

IX - elaborar e executar planos nacionais e regionais b) sob regime de permissão, são autorizadas a comer-
de ordenação do território e de desenvolvimento econô- cialização e a utilização de radioisótopos para a pesquisa e
mico e social; usos médicos, agrícolas e industriais;
X - manter o serviço postal e o correio aéreo nacional; c) sob regime de permissão, são autorizadas a produção,
XI - explorar, diretamente ou mediante autorização, con- comercialização e utilização de radioisótopos de meia-vida
cessão ou permissão, os serviços de telecomunicações, nos igual ou inferior a duas horas;
termos da lei, que disporá sobre a organização dos serviços, d) a responsabilidade civil por danos nucleares inde-
a criação de um órgão regulador e outros aspectos institu- pende da existência de culpa;
cionais; XXIV - organizar, manter e executar a inspeção do tra-
XII - explorar, diretamente ou mediante autorização, balho;
concessão ou permissão: XXV - estabelecer as áreas e as condições para o exer-
a) os serviços de radiodifusão sonora, e de sons e ima- cício da atividade de garimpagem, em forma associativa.
gens;
b) os serviços e instalações de energia elétrica e o apro- Envolve a competência organizacional-administrativa
veitamento energético dos cursos de água, em articulação da União a atuação regionalizada com vistas à redução das
com os Estados onde se situam os potenciais hidroenergé- desigualdade regionais, descrita no artigo 43 da Constitui-
ticos; ção Federal:
c) a navegação aérea, aeroespacial e a infraestrutura
aeroportuária; Artigo 43, CF. Para efeitos administrativos, a União po-
d) os serviços de transporte ferroviário e aquaviário derá articular sua ação em um mesmo complexo geoeco-
entre portos brasileiros e fronteiras nacionais, ou que trans- nômico e social, visando a seu desenvolvimento e à redu-
ponham os limites de Estado ou Território; ção das desigualdades regionais.
e) os serviços de transporte rodoviário interestadual e § 1º Lei complementar disporá sobre:
internacional de passageiros; I - as condições para integração de regiões em desen-
f) os portos marítimos, fluviais e lacustres; volvimento;
XIII - organizar e manter o Poder Judiciário, o Minis- II - a composição dos organismos regionais que exe-
tério Público do Distrito Federal e dos Territórios e a De- cutarão, na forma da lei, os planos regionais, integrantes dos
fensoria Pública dos Territórios; planos nacionais de desenvolvimento econômico e social,
XIV - organizar e manter a polícia civil, a polícia mi- aprovados juntamente com estes.
litar e o corpo de bombeiros militar do Distrito Federal, § 2º Os incentivos regionais compreenderão, além de
bem como prestar assistência financeira ao Distrito Fede- outros, na forma da lei:
ral para a execução de serviços públicos, por meio de fundo I - igualdade de tarifas, fretes, seguros e outros itens
próprio; de custos e preços de responsabilidade do Poder Público;
XV - organizar e manter os serviços oficiais de estatísti- II - juros favorecidos para financiamento de atividades
ca, geografia, geologia e cartografia de âmbito nacional; prioritárias;
XVI - exercer a classificação, para efeito indicativo, de III - isenções, reduções ou diferimento temporário de
diversões públicas e de programas de rádio e televisão; tributos federais devidos por pessoas físicas ou jurídicas;
XVII - conceder anistia; IV - prioridade para o aproveitamento econômico e
XVIII - planejar e promover a defesa permanente con- social dos rios e das massas de água represadas ou repre-
tra as calamidades públicas, especialmente as secas e as sáveis nas regiões de baixa renda, sujeitas a secas periódicas.
inundações; § 3º Nas áreas a que se refere o § 2º, IV, a União in-
XIX - instituir sistema nacional de gerenciamento de centivará a recuperação de terras áridas e cooperará com
recursos hídricos e definir critérios de outorga de direitos de os pequenos e médios proprietários rurais para o estabele-
seu uso; cimento, em suas glebas, de fontes de água e de pequena
XX - instituir diretrizes para o desenvolvimento urba- irrigação.
no, inclusive habitação, saneamento básico e transportes ur-
banos; 2) Competência legislativa privativa da União
XXI - estabelecer princípios e diretrizes para o sistema A competência legislativa da União é privativa e, sendo
nacional de viação; assim, pode ser delegada. As matérias abaixo relacionadas
XXII - executar os serviços de polícia marítima, aero- somente podem ser legisladas por atos normativos com
portuária e de fronteiras; abrangência nacional, mas é possível que uma lei comple-
XXIII - explorar os serviços e instalações nucleares de mentar autorizar que determinado Estado regulamente
qualquer natureza e exercer monopólio estatal sobre a pes- questão devidamente especificada.
quisa, a lavra, o enriquecimento e reprocessamento, a indus-
trialização e o comércio de minérios nucleares e seus deri- Artigo 22, CF. Compete privativamente à União legislar
vados, atendidos os seguintes princípios e condições: sobre:
a) toda atividade nuclear em território nacional so- I - direito civil, comercial, penal, processual, eleito-
mente será admitida para fins pacíficos e mediante aprova- ral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do tra-
ção do Congresso Nacional; balho;

41
DIREITO CONSTITUCIONAL

II - desapropriação; poderá atuar, desenvolver políticas públicas, nestas áreas.


III - requisições civis e militares, em caso de iminente Todas estas áreas são áreas que necessitam de atuação in-
perigo e em tempo de guerra; tensa ou vigilância constantes, de modo que mediante ges-
IV - águas, energia, informática, telecomunicações e tão cooperada se torna possível efetivar o máximo possível
radiodifusão; os direitos fundamentais em casa uma delas.
V - serviço postal;
VI - sistema monetário e de medidas, títulos e garan- Artigo 23, CF. É competência comum da União, dos Es-
tias dos metais; tados, do Distrito Federal e dos Municípios:
VII - política de crédito, câmbio, seguros e transferên- I - zelar pela guarda da Constituição, das leis e das
cia de valores; instituições democráticas e conservar o patrimônio pú-
VIII - comércio exterior e interestadual; blico;
IX - diretrizes da política nacional de transportes; II - cuidar da saúde e assistência pública, da proteção
X - regime dos portos, navegação lacustre, fluvial, ma- e garantia das pessoas portadoras de deficiência;
rítima, aérea e aeroespacial; III - proteger os documentos, as obras e outros bens
XI - trânsito e transporte; de valor histórico, artístico e cultural, os monumentos, as
XII - jazidas, minas, outros recursos minerais e me- paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos;
talurgia; IV - impedir a evasão, a destruição e a descaracte-
XIII - nacionalidade, cidadania e naturalização; rização de obras de arte e de outros bens de valor histórico,
XIV - populações indígenas; artístico ou cultural;
XV - emigração e imigração, entrada, extradição e V - proporcionar os meios de acesso à cultura, à educa-
expulsão de estrangeiros; ção, à ciência, à tecnologia, à pesquisa e à inovação;
XVI - organização do sistema nacional de emprego e VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição
condições para o exercício de profissões; em qualquer de suas formas;
XVII - organização judiciária, do Ministério Públi- VII - preservar as florestas, a fauna e a flora;
co do Distrito Federal e dos Territórios e da Defensoria
VIII - fomentar a produção agropecuária e organizar
Pública dos Territórios, bem como organização adminis-
o abastecimento alimentar;
trativa destes
IX - promover programas de construção de moradias
XVIII - sistema estatístico, sistema cartográfico e de
e a melhoria das condições habitacionais e de sanea-
geologia nacionais;
mento básico;
XIX - sistemas de poupança, captação e garantia da
X - combater as causas da pobreza e os fatores de
poupança popular;
marginalização, promovendo a integração social dos seto-
XX - sistemas de consórcios e sorteios;
res desfavorecidos;
XXI - normas gerais de organização, efetivos, material
bélico, garantias, convocação e mobilização das polícias XI - registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de
militares e corpos de bombeiros militares; direitos de pesquisa e exploração de recursos hídricos e
XXII - competência da polícia federal e das polícias ro- minerais em seus territórios;
doviária e ferroviária federais; XII - estabelecer e implantar política de educação para
XXIII - seguridade social; a segurança do trânsito.
XXIV - diretrizes e bases da educação nacional; Parágrafo único. Leis complementares fixarão normas
XXV - registros públicos; para a cooperação entre a União e os Estados, o Distrito
XXVI - atividades nucleares de qualquer natureza; Federal e os Municípios, tendo em vista o equilíbrio do de-
XXVII - normas gerais de licitação e contratação, em senvolvimento e do bem-estar em âmbito nacional.
todas as modalidades, para as administrações públicas di-
retas, autárquicas e fundacionais da União, Estados, Distrito 4) Competência legislativa compartilhada
Federal e Municípios, obedecido o disposto no art. 37, XXI, e Além de compartilharem competências organizacio-
para as empresas públicas e sociedades de economia mista, nal-administrativas, os entes federados compartilham
nos termos do art. 173, § 1°, III;  competência para legislar sobre determinadas matérias.
XXVIII - defesa territorial, defesa aeroespacial, defesa Entretanto, excluem-se do artigo 24, CF, os entes federa-
marítima, defesa civil e mobilização nacional; dos da espécie Município, sendo que estes apenas legislam
XXIX - propaganda comercial. sobre assuntos de interesse local.
Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar
os Estados a legislar sobre questões específicas das ma- Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Fe-
térias relacionadas neste artigo. deral legislar concorrentemente sobre:
I - direito tributário, financeiro, penitenciário, eco-
3) Competência organizacional-administrativa nômico e urbanístico;
compartilhada II - orçamento;
União, Estados-membros, Distrito Federal e Municípios III - juntas comerciais;
compartilham certas competências organizacional-ad- IV - custas dos serviços forenses;
ministrativas. Significa que qualquer dos entes federados V - produção e consumo;

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DIREITO CONSTITUCIONAL

VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da nature- 5) Limitações e regras mínimas aplicáveis à com-
za, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio petência organizacional-administrativa autônoma dos
ambiente e controle da poluição; Estados-membros
VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, artís-
tico, turístico e paisagístico; Artigo 25, CF. Os Estados organizam-se e regem-se
VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, pelas Constituições e leis que adotarem, observados os
ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, princípios desta Constituição.
histórico, turístico e paisagístico; § 1º São reservadas aos Estados as competências que
IX - educação, cultura, ensino, desporto, ciência, não lhes sejam vedadas por esta Constituição.
tecnologia, pesquisa, desenvolvimento e inovação; § 2º Cabe aos Estados explorar diretamente, ou me-
X - criação, funcionamento e processo do juizado de diante concessão, os serviços locais de gás canalizado, na
pequenas causas; forma da lei, vedada a edição de medida provisória para a
XI - procedimentos em matéria processual; sua regulamentação. 
XII - previdência social, proteção e defesa da saúde; § 3º Os Estados poderão, mediante lei complementar,
XIII - assistência jurídica e Defensoria pública; instituir regiões metropolitanas, aglomerações urbanas
XIV - proteção e integração social das pessoas porta- e microrregiões, constituídas por agrupamentos de municí-
doras de deficiência; pios limítrofes, para integrar a organização, o planejamento
XV - proteção à infância e à juventude; e a execução de funções públicas de interesse comum.
XVI - organização, garantias, direitos e deveres das po-
lícias civis. O documento que está no ápice da estrutura norma-
§ 1º No âmbito da legislação concorrente, a com- tiva de um Estado-membro é a Constituição estadual. Ela
petência da União limitar-se-á a estabelecer normas deve guardar compatibilidade com a Constituição Federal,
gerais. notadamente no que tange aos princípios nela estabeleci-
§ 2º A competência da União para legislar sobre nor- dos, sob pena de ser considerada norma inconstitucional.
A competência do Estado é residual – tudo o que não
mas gerais não exclui a competência suplementar dos
obrigatoriamente deva ser regulamentado pela União ou
Estados.
pelos Municípios, pode ser legislado pelo Estado-membro,
§ 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os
sem prejuízo da já estudada competência legislativa con-
Estados exercerão a competência legislativa plena, para
corrente com a União.
atender a suas peculiaridades.
O §3º do artigo 25 regulamenta a conurbação, que
§ 4º A superveniência de lei federal sobre normas ge-
abrange regiões metropolitanas (um município, a metró-
rais suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for
pole, está em destaque) e aglomerações urbanas (não há
contrário.
município em destaque), e as microrregiões (não conur-
badas, mas limítrofes, geralmente identificada por bacias
O estudo das competências concorrentes permite vis- hidrográficas).
lumbrar os limites da atuação conjunta entre União, Esta- A estrutura e a organização dos Poderes Legislativo e
dos e Distrito Federal no modelo Federativo adotado no Executivo no âmbito do Estado-membro é detalhada na
Brasil, visando à obtenção de uma homogeneidade nacio- Constituição estadual, mas os artigos 27e 28 trazem bases
nal, com preservação dos pluralismos regionais e locais. regulamentadoras que devem ser respeitadas.
O cerne da distinção da competência entre os entes
federados repousa na competência da União para o esta- Artigo 27, CF. O número de Deputados à Assembleia
belecimento de normas gerais. A competência legislativa Legislativa corresponderá ao triplo da representação do
dos Estados-membros e dos Municípios nestas questões é Estado na Câmara dos Deputados e, atingido o número de
suplementar, ou seja, as normas estaduais agregam deta- trinta e seis, será acrescido de tantos quantos forem os De-
lhes que a norma da União não compreende, notadamente putados Federais acima de doze.
trazendo peculiaridades regionais. § 1º Será de quatro anos o mandato dos Deputados
No caso do artigo 24, CF, a União dita as normas gerais Estaduais, aplicando- sê-lhes as regras desta Constituição
e as normas suplementares ficam por conta dos Estados, sobre sistema eleitoral, inviolabilidade, imunidades, re-
ou seja, as peculiaridades regionais são normatizadas pelos muneração, perda de mandato, licença, impedimentos
Estados. As normas estaduais, neste caso, devem guardar e incorporação às Forças Armadas.
uma relação de compatibilidade com as normas federais § 2º O subsídio dos Deputados Estaduais será fixado
(relação hierárquica). Diferentemente da competência co- por lei de iniciativa da Assembleia Legislativa, na razão
mum em que as leis estão em igualdade de condições, uma de, no máximo, setenta e cinco por cento daquele estabe-
não deve subordinação à outra. lecido, em espécie, para os Deputados Federais, observado
Entretanto, os Estados não ficam impedidos de criar leis o que dispõem os arts. 39, § 4º, 57, § 7º, 150, II, 153, III, e
regulamentadoras destas matérias enquanto a União não o 153, § 2º, I.
faça. Sobrevindo norma geral reguladora, perdem a eficácia § 3º Compete às Assembleias Legislativas dispor sobre
os dispositivos de lei estadual com ela incompatível. seu regimento interno, polícia e serviços administrati-
vos de sua secretaria, e prover os respectivos cargos.

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DIREITO CONSTITUCIONAL

§ 4º A lei disporá sobre a iniciativa popular no proces- IV - para a composição das Câmaras Municipais, será
so legislativo estadual. observado o limite máximo de:  (Vide ADIN 4307)
a) 9 (nove) Vereadores, nos Municípios de até 15.000
Artigo 28, CF. A eleição do Governador e do Vice-Go- (quinze mil) habitantes; 
vernador de Estado, para mandato de quatro anos, reali- b) 11 (onze) Vereadores, nos Municípios de mais de
zar-se-á no primeiro domingo de outubro, em primeiro 15.000 (quinze mil) habitantes e de até 30.000 (trinta mil)
turno, e no último domingo de outubro, em segundo habitantes; 
turno, se houver, do ano anterior ao do término do mandato c) 13 (treze) Vereadores, nos Municípios com mais de
de seus antecessores, e a posse ocorrerá em primeiro de 30.000 (trinta mil) habitantes e de até 50.000 (cinquenta mil)
janeiro do ano subsequente, observado, quanto ao mais, habitantes; 
o disposto no art. 77.  d) 15 (quinze) Vereadores, nos Municípios de mais de
§ 1º Perderá o mandato o Governador que assumir ou- 50.000 (cinquenta mil) habitantes e de até 80.000 (oitenta
tro cargo ou função na administração pública direta ou mil) habitantes; 
indireta, ressalvada a posse em virtude de concurso público e) 17 (dezessete) Vereadores, nos Municípios de mais de
e observado o disposto no art. 38, I, IV e V. 80.000 (oitenta mil) habitantes e de até 120.000 (cento e
§ 2º Os subsídios do Governador, do Vice-Governador e vinte mil) habitantes; 
dos Secretários de Estado serão fixados por lei de iniciativa f) 19 (dezenove) Vereadores, nos Municípios de mais de
da Assembleia Legislativa, observado o que dispõem os 120.000 (cento e vinte mil) habitantes e de até 160.000 (cen-
arts. 37, XI, 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I. to sessenta mil) habitantes; 
g) 21 (vinte e um) Vereadores, nos Municípios de mais de
6) Limitações e regras mínimas aplicáveis à com- 160.000 (cento e sessenta mil) habitantes e de até 300.000
petência organizacional-administrativa autônoma dos (trezentos mil) habitantes; 
Municípios h) 23 (vinte e três) Vereadores, nos Municípios de mais
Os Municípios gozam de autonomia no modelo fede- de 300.000 (trezentos mil) habitantes e de até 450.000 (qua-
rativo brasileiro e, sendo assim, possuem capacidade de
trocentos e cinquenta mil) habitantes; 
auto-organização, normatização e autogoverno.
i) 25 (vinte e cinco) Vereadores, nos Municípios de mais
Notadamente, mediante lei orgânica, conforme se
de 450.000 (quatrocentos e cinquenta mil) habitantes e de
extrai do artigo 29, caput, CF, o Município se normatiza,
até 600.000 (seiscentos mil) habitantes; 
devendo esta lei guardar compatibilidade tanto com a
j) 27 (vinte e sete) Vereadores, nos Municípios de mais de
Constituição Federal quanto com a respectiva Constituição
600.000 (seiscentos mil) habitantes e de até 750.000 (sete-
estadual. O dispositivo mencionado traça, ainda, regras mí-
centos cinquenta mil) habitantes; 
nimas de estruturação do Poder Executivo e do Legislativo
k) 29 (vinte e nove) Vereadores, nos Municípios de mais
municipais.
Por exemplo, só haverá eleição de segundo turno se o de 750.000 (setecentos e cinquenta mil) habitantes e de até
município tiver mais de duzentos mil habitantes. Destaca- 900.000 (novecentos mil) habitantes; 
-se, ainda, a exaustiva regra sobre o número de vereadores l) 31 (trinta e um) Vereadores, nos Municípios de mais de
e a questão dos subsídios. Incidente, também a regra sobre 900.000 (novecentos mil) habitantes e de até 1.050.000 (um
o julgamento do Prefeito pelo Tribunal de Justiça. milhão e cinquenta mil) habitantes; 
O artigo 29-A, CF, por seu turno, detalha os limites de m) 33 (trinta e três) Vereadores, nos Municípios de mais
despesas com o Poder Legislativo municipal, permitindo a de 1.050.000 (um milhão e cinquenta mil) habitantes e de
responsabilização do Prefeito e do Presidente da Câmara até 1.200.000 (um milhão e duzentos mil) habitantes; 
por violação a estes limites. n) 35 (trinta e cinco) Vereadores, nos Municípios de mais
de 1.200.000 (um milhão e duzentos mil) habitantes e de
Artigo 29, CF. O Município reger-se-á por lei orgâni- até 1.350.000 (um milhão e trezentos e cinquenta mil) ha-
ca, votada em dois turnos, com o interstício mínimo de dez bitantes; 
dias, e aprovada por dois terços dos membros da Câmara o) 37 (trinta e sete) Vereadores, nos Municípios de
Municipal, que a promulgará, atendidos os princípios esta- 1.350.000 (um milhão e trezentos e cinquenta mil) habitan-
belecidos nesta Constituição, na Constituição do respectivo tes e de até 1.500.000 (um milhão e quinhentos mil) habi-
Estado e os seguintes preceitos: tantes; 
I - eleição do Prefeito, do Vice-Prefeito e dos Vereadores, p) 39 (trinta e nove) Vereadores, nos Municípios de mais
para mandato de quatro anos, mediante pleito direto e si- de 1.500.000 (um milhão e quinhentos mil) habitantes e de
multâneo realizado em todo o País; até 1.800.000 (um milhão e oitocentos mil) habitantes; 
II - eleição do Prefeito e do Vice-Prefeito realizada no q) 41 (quarenta e um) Vereadores, nos Municípios de
primeiro domingo de outubro do ano anterior ao término mais de 1.800.000 (um milhão e oitocentos mil) habitantes
do mandato dos que devam suceder, aplicadas as regras do e de até 2.400.000 (dois milhões e quatrocentos mil) habi-
art. 77, no caso de Municípios com mais de duzentos mil tantes; 
eleitores;  r) 43 (quarenta e três) Vereadores, nos Municípios de
III - posse do Prefeito e do Vice-Prefeito no dia 1º de mais de 2.400.000 (dois milhões e quatrocentos mil) habi-
janeiro do ano subsequente ao da eleição; tantes e de até 3.000.000 (três milhões) de habitantes; 

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DIREITO CONSTITUCIONAL

s) 45 (quarenta e cinco) Vereadores, nos Municípios XII - cooperação das associações representativas no
de mais de 3.000.000 (três milhões) de habitantes e de até planejamento municipal; 
4.000.000 (quatro milhões) de habitantes;  XIII - iniciativa popular de projetos de lei de interesse
t) 47 (quarenta e sete) Vereadores, nos Municípios de específico do Município, da cidade ou de bairros, através de
mais de 4.000.000 (quatro milhões) de habitantes e de até manifestação de, pelo menos, cinco por cento do eleito-
5.000.000 (cinco milhões) de habitantes;  rado; 
u) 49 (quarenta e nove) Vereadores, nos Municípios de XIV - perda do mandato do Prefeito, nos termos
mais de 5.000.000 (cinco milhões) de habitantes e de até do art. 28, parágrafo único (assumir outro cargo). 
6.000.000 (seis milhões) de habitantes; 
v) 51 (cinquenta e um) Vereadores, nos Municípios de Artigo   29-A, CF.   O total da despesa do Poder Le-
mais de 6.000.000 (seis milhões) de habitantes e de até gislativo Municipal, incluídos os subsídios dos Vereadores
7.000.000 (sete milhões) de habitantes;  e excluídos os gastos com inativos, não poderá ultrapassar
w) 53 (cinquenta e três) Vereadores, nos Municípios os seguintes percentuais, relativos ao somatório da receita
de mais de 7.000.000 (sete milhões) de habitantes e de até tributária e das transferências previstas no § 5o do art. 153
8.000.000 (oito milhões) de habitantes; e   e nos arts. 158 e 159, efetivamente realizado no exercício
x) 55 (cinquenta e cinco) Vereadores, nos Municípios de anterior: 
mais de 8.000.000 (oito milhões) de habitantes;  I - 7% (sete por cento) para Municípios com população
V - subsídios do Prefeito, do Vice-Prefeito e dos Se- de até 100.000 (cem mil) habitantes;   (Redação dada pela
cretários Municipais fixados por lei de iniciativa da Câma- Emenda Constituição Constitucional nº 58, de 2009)   (Pro-
ra Municipal, observado o que dispõem os arts. 37, XI, 39, § dução de efeito)
4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I;  II - 6% (seis por cento) para Municípios com população
VI - o subsídio dos Vereadores será fixado pelas respec- entre 100.000 (cem mil) e 300.000 (trezentos mil) habitantes; 
tivas Câmaras Municipais em cada legislatura para a subse- III - 5% (cinco por cento) para Municípios com popula-
quente, observado o que dispõe esta Constituição, observa- ção entre 300.001 (trezentos mil e um) e 500.000 (quinhen-
tos mil) habitantes; 
dos os critérios estabelecidos na respectiva Lei Orgânica e os
IV - 4,5% (quatro inteiros e cinco décimos por cento)
seguintes limites máximos: 
para Municípios com população entre 500.001 (quinhentos
a) em Municípios de até dez mil habitantes, o subsídio
mil e um) e 3.000.000 (três milhões) de habitantes; 
máximo dos Vereadores corresponderá a vinte por cento do
V - 4% (quatro por cento) para Municípios com popu-
subsídio dos Deputados Estaduais; 
lação entre 3.000.001 (três milhões e um) e 8.000.000 (oito
b) em Municípios de dez mil e um a cinquenta mil habi-
milhões) de habitantes; 
tantes, o subsídio máximo dos Vereadores corresponderá a
VI - 3,5% (três inteiros e cinco décimos por cento) para
trinta por cento do subsídio dos Deputados Estaduais;  Municípios com população acima de 8.000.001 (oito milhões
c) em Municípios de cinquenta mil e um a cem mil ha- e um) habitantes. 
bitantes, o subsídio máximo dos Vereadores corresponderá § 1o  A Câmara Municipal não gastará mais de se-
a quarenta por cento do subsídio dos Deputados Estaduais;  tenta por cento de sua receita com folha de pagamento,
d) em Municípios de cem mil e um a trezentos mil ha- incluído o gasto com o subsídio de seus Vereadores. 
bitantes, o subsídio máximo dos Vereadores corresponderá § 2o  Constitui crime de responsabilidade do Prefeito
a cinquenta por cento do subsídio dos Deputados Estaduais;  Municipal: 
e) em Municípios de trezentos mil e um a quinhentos mil I - efetuar repasse que supere os limites definidos nes-
habitantes, o subsídio máximo dos Vereadores corresponde- te artigo; 
rá a sessenta por cento do subsídio dos Deputados Estaduais;  II - não enviar o repasse até o dia vinte de cada mês; ou 
f) em Municípios de mais de quinhentos mil habitantes, III - enviá-lo a menor em relação à proporção fixada
o subsídio máximo dos Vereadores corresponderá a setenta e na Lei Orçamentária. 
cinco por cento do subsídio dos Deputados Estaduais;  § 3o  Constitui crime de responsabilidade do Presiden-
VII - o total da despesa com a remuneração dos Ve- te da Câmara Municipal o desrespeito ao § 1o deste artigo.
readores não poderá ultrapassar o montante de cinco por
cento da receita do Município;  As competências legislativas e administrativas dos mu-
VIII - inviolabilidade dos Vereadores por suas opi- nicípios estão fixadas no artigo 30, CF. Quanto à compe-
niões, palavras e votos no exercício do mandato e na cir- tência legislativa, é suplementar, garantindo o direito de
cunscrição do Município;  legislar sobre assuntos de interesse local.
IX - proibições e incompatibilidades, no exercício da
vereança, similares, no que couber, ao disposto nesta Consti- Artigo 30, CF. Compete aos Municípios:
tuição para os membros do Congresso Nacional e na Consti- I - legislar sobre assuntos de interesse local;
tuição do respectivo Estado para os membros da Assembleia II - suplementar a legislação federal e a estadual no
Legislativa;  que couber;
X - julgamento do Prefeito perante o Tribunal de Jus- III - instituir e arrecadar os tributos de sua competên-
tiça;  cia, bem como aplicar suas rendas, sem prejuízo da obriga-
XI - organização das funções legislativas e fiscalizadoras toriedade de prestar contas e publicar balancetes nos prazos
da Câmara Municipal;  fixados em lei;

45
DIREITO CONSTITUCIONAL

IV - criar, organizar e suprimir distritos, observada a Artigo 32, CF. O Distrito Federal, vedada sua divisão
legislação estadual; em Municípios, reger-se-á por lei orgânica, votada em
V - organizar e prestar, diretamente ou sob regime de dois turnos com interstício mínimo de dez dias, e aprovada
concessão ou permissão, os serviços públicos de interes- por dois terços da Câmara Legislativa, que a promulgará,
se local, incluído o de transporte coletivo, que tem caráter atendidos os princípios estabelecidos nesta Constituição.
essencial; § 1º Ao Distrito Federal são atribuídas as competências
VI - manter, com a cooperação técnica e financeira da legislativas reservadas aos Estados e Municípios.
União e do Estado, programas de educação infantil e de § 2º A eleição do Governador e do Vice-Governador,
ensino fundamental;  observadas as regras do art. 77, e dos Deputados Distri-
VII - prestar, com a cooperação técnica e financeira da tais coincidirá com a dos Governadores e Deputados Es-
União e do Estado, serviços de atendimento à saúde da taduais, para mandato de igual duração.
população; § 3º Aos Deputados Distritais e à Câmara Legislativa
VIII - promover, no que couber, adequado ordenamen- aplica-se o disposto no art. 27.
to territorial, mediante planejamento e controle do uso, do § 4º Lei federal disporá sobre a utilização, pelo Governo
parcelamento e da ocupação do solo urbano; do Distrito Federal, das polícias civil e militar e do corpo
IX - promover a proteção do patrimônio histórico-cul- de bombeiros militar.
tural local, observada a legislação e a ação fiscalizadora
federal e estadual. Artigo 33, CF. A lei disporá sobre a organização admi-
nistrativa e judiciária dos Territórios.
A fiscalização dos Municípios se dá tanto no âmbito § 1º Os Territórios poderão ser divididos em Municí-
interno quanto no externo. Externamente, é exercida pelo pios, aos quais se aplicará, no que couber, o disposto no Ca-
Poder Legislativo com auxílio de Tribunal de Contas. A cons- pítulo IV deste Título.
tituição, no artigo 31, CF, veda a criação de novos Tribunais § 2º As contas do Governo do Território serão submeti-
de Contas municipais, mas não extingue os já existentes. das ao Congresso Nacional, com parecer prévio do Tribunal
de Contas da União.
Artigo 31, CF. A fiscalização do Município será exer-
§ 3º Nos Territórios Federais com mais de cem mil ha-
cida pelo Poder Legislativo Municipal, mediante contro-
bitantes, além do Governador nomeado na forma desta
le externo, e pelos sistemas de controle interno do Poder
Constituição, haverá órgãos judiciários de primeira e se-
Executivo Municipal, na forma da lei.
gunda instância, membros do Ministério Público e defenso-
§ 1º O controle externo da Câmara Municipal será exer-
res públicos federais; a lei disporá sobre as eleições para a
cido com o auxílio dos Tribunais de Contas dos Estados
Câmara Territorial e sua competência deliberativa.
ou do Município ou dos Conselhos ou Tribunais de Con-
tas dos Municípios, onde houver.
§ 2º O parecer prévio, emitido pelo órgão competente Intervenção
sobre as contas que o Prefeito deve anualmente prestar, A intervenção consiste no afastamento temporário das
só deixará de prevalecer por decisão de dois terços dos prerrogativas totais ou parciais próprias da autonomia dos
membros da Câmara Municipal. entes federados, por outro ente federado, prevalecendo a
§ 3º As contas dos Municípios ficarão, durante sessenta vontade do ente interventor. Neste sentido, necessária a
dias, anualmente, à disposição de qualquer contribuinte, verificação de:
para exame e apreciação, o qual poderá questionar-lhes a a) Pressupostos materiais – requisitos a serem verifica-
legitimidade, nos termos da lei. dos quanto ao atendimento de uma das justificativas para
§ 4º É vedada a criação de Tribunais, Conselhos ou a intervenção.
órgãos de Contas Municipais. b) Pressupostos processuais – requisitos para que o ato
da intervenção seja válido, como prazo, abrangência, con-
7) Peculiaridades da competência organizacional- dições, além da autorização do Poder Legislativo (artigo 36,
-administrativa do Distrito Federal e Territórios CF).
O Distrito Federal não se divide em Municípios, mas A intervenção pode ser federal, quando a União inter-
em regiões administrativas. Se regulamenta por lei orgâni- fere nos Estados e no Distrito Federal (artigo 34, CF), ou
ca, mas esta lei orgânica aproxima-se do status de Consti- estadual, quando os Estados-membros interferem em seus
tuição estadual, cabendo controle de constitucionalidade Municípios (artigo 35, CF).
direto de leis que a contrariem pelo Tribunal de Justiça do
Distrito Federal e dos Territórios. Artigo 34, CF. A União não intervirá nos Estados nem
O Distrito Federal possui um governador e uma Câma- no Distrito Federal, exceto para:
ra Legislativa, eleitos na forma dos governadores e deputa- I - manter a integridade nacional;
dos estaduais. Entretanto, não tem eleições municipais. O II - repelir invasão estrangeira ou de uma unidade da
Distrito Federal tem 3 senadores, 8 deputados federais e 24 Federação em outra;
deputados distritais. III - pôr termo a grave comprometimento da ordem
Quanto aos territórios, não existem hoje no país, mas pública;
se vierem a existir serão nomeados pelo Presidente da IV - garantir o livre exercício de qualquer dos Poderes
República. nas unidades da Federação;

46
DIREITO CONSTITUCIONAL

V - reorganizar as finanças da unidade da Federação que: § 3º Nos casos do art. 34, VI e VII (execução de decisão/
a) suspender o pagamento da dívida fundada por mais lei federal e violação de certos princípios constitucionais),
de dois anos consecutivos, salvo motivo de força maior; ou do art. 35, IV (idem com relação à intervenção em mu-
b) deixar de entregar aos Municípios receitas tributárias nicípios), dispensada a apreciação pelo Congresso Nacio-
fixadas nesta Constituição, dentro dos prazos estabelecidos nal ou pela Assembleia Legislativa, o decreto limitar-se-á a
em lei; suspender a execução do ato impugnado, se essa medida
VI - prover a execução de lei federal, ordem ou de- bastar ao restabelecimento da normalidade.
cisão judicial; § 4º Cessados os motivos da intervenção, as autorida-
VII - assegurar a observância dos seguintes princípios des afastadas de seus cargos a estes voltarão, salvo impe-
constitucionais: dimento legal.
a) forma republicana, sistema representativo e re-
gime democrático;
b) direitos da pessoa humana;
c) autonomia municipal;
d) prestação de contas da administração pública, di-
reta e indireta. 4. DA ORGANIZAÇÃO DOS PODERES (PODER
e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de LEGISLATIVO, PODER EXECUTIVO, PODER
impostos estaduais, compreendida a proveniente de transfe- JUDICIÁRIO).
rências, na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas
ações e serviços públicos de saúde”. 

Artigo 35, CF. O Estado não intervirá em seus Municí- A separação de Poderes é inerente ao modelo do Es-
pios, nem a União nos Municípios localizados em Territó- tado Democrático de Direito, impedindo a monopolização
rio Federal, exceto quando:
do poder e, por conseguinte, a tirania e a opressão. Resta
I - deixar de ser paga, sem motivo de força maior, por
garantida no artigo 2º da Constituição Federal com o se-
dois anos consecutivos, a dívida fundada;
guinte teor: “Art. 2º São Poderes da União, independentes
II - não forem prestadas contas devidas, na forma da
e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judi-
lei;
ciário”. Se, por um lado, o Estado é uno, até mesmo por se
III - não tiver sido aplicado o mínimo exigido da receita
legitimar na soberania popular; por outro lado, é necessá-
municipal na manutenção e desenvolvimento do ensino e
ria a divisão de funções das atividades estatais de maneira
nas ações e serviços públicos de saúde; 
equilibrada, o que se faz pela divisão de Poderes.
IV - o Tribunal de Justiça der provimento a representa-
O constituinte afirma que estes poderes são indepen-
ção para assegurar a observância de princípios indicados
na Constituição Estadual, ou para prover a execução de lei, dentes e harmônicos entre si. Independência significa que
de ordem ou de decisão judicial”. cada qual possui poder para se autogerir, notadamente
pela capacidade de organização estrutural (criação de car-
Artigo 36, CF. A decretação da intervenção dependerá: gos e subdivisões) e orçamentária (divisão de seus recursos
I - no caso do art. 34, IV (livre exercício dos Poderes), conforme legislação por eles mesmos elaborada). Harmo-
de solicitação do Poder Legislativo ou do Poder Execu- nia significa que cada Poder deve respeitar os limites de
tivo coacto ou impedido, ou de requisição do Supremo competência do outro e não se imiscuir indevidamente em
Tribunal Federal, se a coação for exercida contra o Poder suas atividades típicas.
Judiciário; A noção de separação de Poderes começou a tomar
II - no caso de desobediência a ordem ou decisão ju- forma com o ideário iluminista. Neste viés, o Iluminismo
diciária, de requisição do Supremo Tribunal Federal, do lançou base para os dois principais eventos que ocorre-
Superior Tribunal de Justiça ou do Tribunal Superior ram no início da Idade Contemporânea, quais sejam as
Eleitoral; Revoluções Francesa e Industrial. Entre os pensadores que
III de provimento, pelo Supremo Tribunal Federal, de lançaram as ideias que vieram a ser utilizadas no ideário
representação do Procurador-Geral da República, na hipó- das Revoluções Francesa e Americana se destacam Loc-
tese do art. 34, VII (observância de princípios constitucio- ke, Montesquieu e Rousseau, sendo que Montesquieu foi
nais), e no caso de recusa à execução de lei federal. o que mais trabalhou com a concepção de separação dos
§ 1º O decreto de intervenção, que especificará a am- Poderes.
plitude, o prazo e as condições de execução e que, se Montesquieu (1689 –  1755) avançou nos estudos de
couber, nomeará o interventor, será submetido à aprecia- Locke, que também entendia necessária a separação dos
ção do Congresso Nacional ou da Assembleia Legislati- Poderes, e na obra O Espírito das Leis estabeleceu em de-
va do Estado, no prazo de vinte e quatro horas. finitivo a clássica divisão de poderes: Executivo, Legislativo
§ 2º Se não estiver funcionando o Congresso Nacional e Judiciário. O pensador viveu na França, numa época em
ou a Assembleia Legislativa, far-se-á convocação extraor- que o absolutismo estava cada vez mais forte.
dinária, no mesmo prazo de vinte e quatro horas.

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DIREITO CONSTITUCIONAL

O objeto central da principal obra de Montesquieu44 c) Funções atípicas do Poder Judiciário: se auto-or-
não é a lei regida nas relações entre os homens, mas as leis ganizar (função executiva) – dispondo sobre organização,
e instituições criadas pelos homens para reger as relações estrutura, concessão de férias e licenças a seus servidores,
entre os homens. Segundo Montesquieu45, as leis criam etc. – e legislar – elaborando o regimento interno de seus
costumes que regem o comportamento humano, sendo Tribunais, por exemplo (art. 96, CF).
influenciadas por diversos fatores, não apenas pela razão.
Quanto à fonte do poder, diferencia-se, segundo Mon- O regime político envolve o modo como se institui e é
tesquieu46, do modo como se dará o seu exercício, uma vez exercido o poder no Estado de Direito, podendo ser auto-
ritário ou democrático.
que o poder emana do povo, apto a escolher mas inapto
Nos regimes autoritários ou não democráticos, as de-
a governar, sendo necessário que seu interesse seja repre-
cisões políticas não contam com qualquer tipo de manifes-
sentado conforme sua vontade.
tação da vontade do povo.
Montesquieu47 estabeleceu como condição do Estado Nos regimes democráticos o povo participa na tomada
de Direito a separação dos Poderes em Legislativo, Judi- das decisões políticas, diretamente (democracia direta), por
ciário e Executivo – que devem se equilibrar –, servindo o meio de representantes (democracia indireta) e de ambas
primeiro para a elaboração, a correção e a ab-rogação de formas (democracia semidireta).
leis, o segundo para a promoção da paz e da guerra e a Já a forma de governo envolve a concentração de par-
garantia de segurança, e o terceiro para julgar (mesmo os cela considerável do poder num dos atores envolvidos no
próprios Poderes). processo político. Se o poder é reservado por direito a uma
Ao modelo de repartição do exercício de poder por in- categoria de pessoas, os nobres, tem-se monarquia; se o
termédio de órgãos ou funções distintas e independentes poder não é reservado a nenhuma pessoa específica tem-
de forma que um desses não possa agir sozinho sem ser -se República.
limitado pelos outros confere-se o nome de sistema de Na monarquia, o Estado se classifica pelo trinômio vi-
freios e contrapesos (no inglês, checks and balances). taliciedade, hereditariedade e irresponsabilidade. O poder
Neste modelo, o Estado desempenha funções típicas e pertence a uma pessoa entre os nobres que o recebe de
atípicas. Por função típica entenda-se aquela para a qual o seu ancestral que ocupava a mesma posição, geralmente
Poder foi criado. um ascendente direto (ex.: pai é o rei e ao falecer o trono
passa para seu primogênito). Hoje existem as chamadas
a) Função típica do Poder Executivo: administrar –
monarquias constitucionais, nas quais o poder monárqui-
gerir a coisa pública e aplicar a lei;
co que não é absoluto, havendo formas de limitação e de
b) Funções típicas do Poder Legislativo: legislar – al-
atuação do povo no processo decisório. O mais comum é
terando e criando a ordem jurídica vigente – e fiscalizar o concentrar o exercício das funções de chefia de Estado na
Executivo – fiscalizando a contabilidade, o orçamento, as monarquia e das funções de chefia de governo ao repre-
finanças e o patrimônio do Executivo; sentante do parlamento (Primeiro Ministro).
c) Função típica do Poder Judiciário: julgar – solucio- Na república, forma adotada no Brasil, o Estado não
nar litígios e fazer valer a lei no caso concreto e, eventual- pertence a nenhum rei ou imperador, mas sim ao povo. O
mente, em casos abstratos, como no controle de constitu- Estado pertence a todos, caracterizando-se pelo trinômio
cionalidade. eletividade, temporariedade e responsabilidade. O repre-
Funções atípicas são aquelas que tradicionalmente sentante será eleito por um prazo determinado e têm seus
pertenceriam a outro Poder, mas por ser tal função ineren- poderes limitados, sendo responsabilizados em caso de má
te à sua natureza será por ele mesmo desempenhada. governança.
a) Funções atípicas do Poder Executivo: legislar – no- Importante, ainda, a noção de sistema de Governo.
tadamente quando o Presidente da República adota uma Podem ser adotados o presidencialismo, quando há um
medida provisória (art. 62, CF) – e julgar –no que tange a governante – o Presidente da República, chefe do Executi-
defesas e recursos administrativos; vo – que acumula as funções de chefe de governo (chefia
b) Funções atípicas do Poder Legislativo: se auto- do poder executivo) e de chefe de Estado (representante
-organizar (função executiva) – dispondo sobre organiza- diplomático); ou parlamentarismo, sistema que separa as
funções de chefe de governo e de chefe de Estado em duas
ção, provimento de cargos, concessão de férias e licenças a
autoridades diferentes.
seus servidores, etc. – e julgar – a exemplo do julgamento
Com efeito, tem-se que no Parlamentarismo as funções
do Presidente da República por crime de responsabilidade de chefe de Estado e chefe de governo se bifurcam em
pelo Senado Federal (art. 52, I, CF); duas pessoas – o líder do parlamento é o chefe de governo
e o monarca ou presidente é o chefe de Estado. No Pre-
44 MONTESQUIEU, Charles de Secondat. O Es-
sidencialismo ambas as funções são desempenhadas pelo
pírito das Leis. Tradução Fernando Henrique Cardoso Presidente.
e Leôncio Martins Rodrigues. 2. ed. São Paulo: Abril
Cultural, 1979, p. 25. 1) Presidente e Vice-Presidente da República
45 Ibid., p. 26. O Poder Executivo tem por função principal a de ad-
46 Ibid., p. 32. ministrar a coisa pública, gerindo o patrimônio estatal em
47 Ibid., p. 148-149. prol do interesse comum da população. Na esfera federal,

48
DIREITO CONSTITUCIONAL

este papel é desempenhado pelo Presidente da Repúbli- É possível que tanto o Presidente quanto o Vice-Pre-
ca e por seu Vice-Presidente, com auxílio dos Ministros de sidente fiquem impedidos ou deixem seus cargos vagos,
Estado. A propósito, disciplina o artigo 76 da Constituição: questão regulada pelo artigo 80 da Constituição:

Artigo 76, CF. O Poder Executivo é exercido pelo Presi- Artigo 80, CF. Em caso de impedimento do Presidente e
dente da República, auxiliado pelos Ministros de Estado. do Vice-Presidente, ou vacância dos respectivos cargos, se-
rão sucessivamente chamados ao exercício da Presidên-
Tendo em vista a adoção do sistema presidencialista de cia o Presidente da Câmara dos Deputados, o do Senado
governo, o Presidente será eleito juntamente com seu Vi- Federal e o do Supremo Tribunal Federal.
ce-Presidente após processo eleitoral com regras mínimas
descritas no artigo 77 da Constituição: Neste caso de vacância dupla, no entanto, a Presidên-
cia da República não será assumida em definitivo – caberá a
Artigo 77, CF. A eleição do Presidente e do Vice-Presi-
realização de novas eleições para que se complete o perío-
dente da República realizar-se-á, simultaneamente, no pri-
do do mandato, indiretas se a vacância se der nos últimos
meiro domingo de outubro, em primeiro turno, e no último
dois anos de mandato, diretas se ocorrer nos dois primei-
domingo de outubro, em segundo turno, se houver, do ano
anterior ao do término do mandato presidencial vigente.  ros anos de mandato, conforme artigo 81 da Constituição:
§ 1º A eleição do Presidente da República importará a
do Vice-Presidente com ele registrado. Artigo 81, CF. Vagando os cargos de Presidente e Vi-
§ 2º Será considerado eleito Presidente o candidato ce-Presidente da República, far-se-á eleição noventa dias
que, registrado por partido político, obtiver a maioria ab- depois de aberta a última vaga.
soluta de votos, não computados os em branco e os nulos. § 1º Ocorrendo a vacância nos últimos dois anos do
§ 3º Se nenhum candidato alcançar maioria absoluta período presidencial, a eleição para ambos os cargos será
na primeira votação, far-se-á nova eleição em até vinte feita trinta dias depois da última vaga, pelo Congresso
dias após a proclamação do resultado, concorrendo os dois Nacional, na forma da lei.
candidatos mais votados e considerando-se eleito aquele § 2º Em qualquer dos casos, os eleitos deverão com-
que obtiver a maioria dos votos válidos. pletar o período de seus antecessores.
§ 4º Se, antes de realizado o segundo turno, ocorrer
morte, desistência ou impedimento legal de candidato, O mandato do Presidente da República tem a duração
convocar-se-á, dentre os remanescentes, o de maior votação. de quatro anos e sempre começa em 1º de janeiro do ano
§ 5º Se, na hipótese dos parágrafos anteriores, rema- seguinte à eleição.
nescer, em segundo lugar, mais de um candidato com a
mesma votação, qualificar-se-á o mais idoso. Artigo 82, CF. O mandato do Presidente da República
é de quatro anos e terá início em primeiro de janeiro do
Eleitos, o Presidente e o Vice-Presidente da República ano seguinte ao da sua eleição.
tomarão posse e prestarão compromisso perante o Con-
gresso Nacional: Por fim, o artigo 83 da Constituição regulamenta a au-
sência do país por parte do Presidente e do Vice-Presiden-
Artigo 78, CF. O Presidente e o Vice-Presidente da Re- te.
pública tomarão posse em sessão do Congresso Nacional,
prestando o compromisso de manter, defender e cumprir a
Artigo 83, CF. O Presidente e o Vice-Presidente da Re-
Constituição, observar as leis, promover o bem geral do povo
pública não poderão, sem licença do Congresso Nacional,
brasileiro, sustentar a união, a integridade e a independên-
ausentar-se do País por período superior a quinze dias,
cia do Brasil.
Parágrafo único. Se, decorridos dez dias da data fixa- sob pena de perda do cargo.
da para a posse, o Presidente ou o Vice-Presidente, salvo
motivo de força maior, não tiver assumido o cargo, este 2) Atribuições e Responsabilidade do Presidente da
será declarado vago. República
As atribuições do Presidente da República, substitutiva-
O Vice-Presidente tem a função de auxiliar o Presiden- mente exercíveis pelo Vice-Presidente da República e, em
te da República e poderá substituí-lo temporariamente, alguns casos, delegáveis aos Ministros de Estado e outras
quando o Presidente estiver ausente do país, ou definitiva- autoridades, estão descritas no artigo 84 da Constituição.
mente, no caso de vacância do cargo.
Artigo 84, CF. Compete privativamente ao Presidente
Artigo 79, CF. Substituirá o Presidente, no caso de im- da República:
pedimento, e suceder-lhe-á, no de vaga, o Vice-Presidente. I - nomear e exonerar os Ministros de Estado;
Parágrafo único. O Vice-Presidente da República, além II - exercer, com o auxílio dos Ministros de Estado, a di-
de outras atribuições que lhe forem conferidas por lei com- reção superior da administração federal;
plementar, auxiliará o Presidente, sempre que por ele con- III - iniciar o processo legislativo, na forma e nos casos
vocado para missões especiais. previstos nesta Constituição;

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DIREITO CONSTITUCIONAL

IV - sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, XXVI - editar medidas provisórias com força de lei, nos
bem como expedir decretos e regulamentos para sua fiel termos do art. 62;
execução; XXVII - exercer outras atribuições previstas nesta Cons-
V - vetar projetos de lei, total ou parcialmente; tituição.
VI - dispor, mediante decreto, sobre:  Parágrafo único. O Presidente da República poderá de-
a) organização e funcionamento da administração legar as atribuições mencionadas nos incisos VI, XII e
federal, quando não implicar aumento de despesa nem XXV, primeira parte, aos Ministros de Estado, ao Procura-
criação ou extinção de órgãos públicos;  dor-Geral da República ou ao Advogado-Geral da União, que
b) extinção de funções ou cargos públicos, quando observarão os limites traçados nas respectivas delegações.
vagos; 
VII - manter relações com Estados estrangeiros e O Presidente da República pode cometer atos ilícitos
acreditar seus representantes diplomáticos; considerados crimes de responsabilidade, conforme regu-
VIII - celebrar tratados, convenções e atos interna- lado pelo artigo 85 da Constituição.
cionais, sujeitos a referendo do Congresso Nacional;
IX - decretar o estado de defesa e o estado de sítio; Artigo 85, CF. São crimes de responsabilidade os atos
X - decretar e executar a intervenção federal; do Presidente da República que atentem contra a Consti-
XI - remeter mensagem e plano de governo ao Con- tuição Federal e, especialmente, contra:
gresso Nacional por ocasião da abertura da sessão legislati- I - a existência da União;
va, expondo a situação do País e solicitando as providências II - o livre exercício do Poder Legislativo, do Poder Judi-
que julgar necessárias; ciário, do Ministério Público e dos Poderes constitucionais das
XII - conceder indulto e comutar penas, com audiên- unidades da Federação;
cia, se necessário, dos órgãos instituídos em lei; III - o exercício dos direitos políticos, individuais e so-
XIII - exercer o comando supremo das Forças Arma- ciais;
das, nomear os Comandantes da Marinha, do Exército e IV - a segurança interna do País;
da Aeronáutica, promover seus oficiais-generais e nomeá- V - a probidade na administração;
-los para os cargos que lhes são privativos;  VI - a lei orçamentária;
XIV - nomear, após aprovação pelo Senado Federal, os VII - o cumprimento das leis e das decisões judiciais.
Ministros do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais Parágrafo único. Esses crimes serão definidos em lei es-
Superiores, os Governadores de Territórios, o Procura- pecial, que estabelecerá as normas de processo e julgamento.
dor-Geral da República, o presidente e os diretores do
banco central  e outros servidores, quando determinado A propósito, a Lei nº 1.079, de 10 de abril de 1950, defi-
em lei; ne os crimes de responsabilidade e regula o respectivo pro-
XV - nomear, observado o disposto no art. 73, os Minis- cesso de julgamento. Ainda assim, o artigo 86 da Constitui-
tros do Tribunal de Contas da União; ção traz regras mínimas sobre tal processo e julgamento.
XVI - nomear os magistrados, nos casos previstos nes- Neste sentido, o Senado Federal presidido pelo Presidente
ta Constituição, e o Advogado-Geral da União; do Supremo tribunal Federal julgará os crimes de responsa-
XVII - nomear membros do Conselho da República, bilidade, ao passo que o Supremo Tribunal Federal julgará
nos termos do art. 89, VII; as infrações comuns.
XVIII - convocar e presidir o Conselho da República
e o Conselho de Defesa Nacional; Artigo 86, CF. Admitida a acusação contra o Presidente
XIX - declarar guerra, no caso de agressão estrangeira, da República, por dois terços da Câmara dos Deputados, será
autorizado pelo Congresso Nacional ou referendado por ele, ele submetido a julgamento perante o Supremo Tribunal
quando ocorrida no intervalo das sessões legislativas, e, nas Federal, nas infrações penais comuns, ou perante o Sena-
mesmas condições, decretar, total ou parcialmente, a mobi- do Federal, nos crimes de responsabilidade.
lização nacional; § 1º O Presidente ficará suspenso de suas funções:
XX - celebrar a paz, autorizado ou com o referendo do I - nas infrações penais comuns, se recebida a denún-
Congresso Nacional; cia ou queixa-crime pelo Supremo Tribunal Federal;
XXI - conferir condecorações e distinções honoríficas; II - nos crimes de responsabilidade, após a instaura-
XXII - permitir, nos casos previstos em lei complementar, ção do processo pelo Senado Federal.
que forças estrangeiras transitem pelo território nacional § 2º Se, decorrido o prazo de cento e oitenta dias, o
ou nele permaneçam temporariamente; julgamento não estiver concluído, cessará o afastamento
XXIII - enviar ao Congresso Nacional o plano pluria- do Presidente, sem prejuízo do regular prosseguimento do
nual, o projeto de lei de diretrizes orçamentárias e as processo.
propostas de orçamento previstos nesta Constituição; § 3º Enquanto não sobrevier sentença condenatória,
XXIV - prestar, anualmente, ao Congresso Nacional, nas infrações comuns, o Presidente da República não estará
dentro de sessenta dias após a abertura da sessão legislati- sujeito a prisão.
va, as contas referentes ao exercício anterior; § 4º O Presidente da República, na vigência de seu
XXV - prover e extinguir os cargos públicos federais, mandato, não pode ser responsabilizado por atos estra-
na forma da lei; nhos ao exercício de suas funções.

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DIREITO CONSTITUCIONAL

3) Ministros de Estado II - as questões relevantes para a estabilidade das ins-


O artigo 87 da Constituição Federal sintetiza as obriga- tituições democráticas.
ções dos Ministros de Estado, bem como os requisitos para § 1º O Presidente da República poderá convocar Mi-
ocupação do cargo. nistro de Estado para participar da reunião do Conselho,
quando constar da pauta questão relacionada com o respec-
Artigo 87, CF. Os Ministros de Estado serão escolhidos tivo Ministério.
dentre brasileiros maiores de vinte e um anos e no exer- § 2º A lei regulará a organização e o funcionamento do
cício dos direitos políticos. Conselho da República.
Parágrafo único. Compete ao Ministro de Estado, além
de outras atribuições estabelecidas nesta Constituição e na 5) Conselho de Defesa Nacional
lei: O Conselho de Defesa Nacional é regulado pelo artigo
I - exercer a orientação, coordenação e supervisão 91 da Constituição. A Lei nº 8.183, de 11 de abril de 1991,
dos órgãos e entidades da administração federal na área de dispõe sobre a organização e o funcionamento do Conse-
sua competência e referendar os atos e decretos assinados lho de Defesa Nacional e dá outras providências.
pelo Presidente da República;
II - expedir instruções para a execução das leis, decretos Artigo 91, CF. O Conselho de Defesa Nacional é órgão
e regulamentos; de consulta do Presidente da República nos assuntos rela-
III - apresentar ao Presidente da República relatório cionados com a soberania nacional e a defesa do Estado
anual de sua gestão no Ministério; democrático, e dele participam como membros natos:
IV - praticar os atos pertinentes às atribuições que lhe I - o Vice-Presidente da República;
forem outorgadas ou delegadas pelo Presidente da Repú- II - o Presidente da Câmara dos Deputados;
blica. III - o Presidente do Senado Federal;
IV - o Ministro da Justiça;
Por seu turno, o artigo 88 da Constituição estabelece: V - o Ministro de Estado da Defesa;
VI - o Ministro das Relações Exteriores;
Artigo 88, CF. A lei disporá sobre a criação e extinção VII - o Ministro do Planejamento.
de Ministérios e órgãos da administração pública.  VIII - os Comandantes da Marinha, do Exército e da
Aeronáutica.
4) Conselho da República § 1º Compete ao Conselho de Defesa Nacional:
O Conselho da República e o Conselho de Defesa Na- I - opinar nas hipóteses de declaração de guerra e de
cional são dois órgãos instituídos no âmbito do Executivo celebração da paz, nos termos desta Constituição;
Federal, ambos com função consultiva. II - opinar sobre a decretação do estado de defesa, do
Neste sentido, os artigo 89 e 90 regulamentam o Con- estado de sítio e da intervenção federal;
selho da República, sua composição, suas funções e sua III - propor os critérios e condições de utilização de
convocação. A título complementar, a Lei nº 8.041, de 05 áreas indispensáveis à segurança do território nacional
de junho de 1990, dispõe sobre a organização e o funcio- e opinar sobre seu efetivo uso, especialmente na faixa de
namento do Conselho da República. fronteira e nas relacionadas com a preservação e a explora-
ção dos recursos naturais de qualquer tipo;
Artigo 89, CF. O Conselho da República é órgão supe- IV - estudar, propor e acompanhar o desenvolvimento de
rior de consulta do Presidente da República, e dele partici- iniciativas necessárias a garantir a independência nacio-
pam: nal e a defesa do Estado democrático.
I - o Vice-Presidente da República; § 2º A lei regulará a organização e o funcionamento do
II - o Presidente da Câmara dos Deputados; Conselho de Defesa Nacional.
III - o Presidente do Senado Federal;
IV - os líderes da maioria e da minoria na Câmara dos
Deputados;
V - os líderes da maioria e da minoria no Senado Fe- 1) Do Congresso Nacional
deral; O Legislativo Federal brasileiro adota um sistema bica-
VI - o Ministro da Justiça; meral, contando com uma casa representativa do Povo e
VII - seis cidadãos brasileiros natos, com mais de uma casa representativa dos Estados-membros. No caso,
trinta e cinco anos de idade, sendo dois nomeados pelo a Câmara dos Deputados desempenha um papel de re-
Presidente da República, dois eleitos pelo Senado Fede- presentação do povo; ao passo que o Senado Federal é
ral e dois eleitos pela Câmara dos Deputados, todos com responsável pela representação das unidades federadas da
mandato de três anos, vedada a recondução. espécie Estados-membros.
No Congresso Nacional se desempenham as ativida-
Artigo 90, CF. Compete ao Conselho da República pro- des legislativas e determinadas atividades fiscalizatórias.
nunciar-se sobre: Uma legislatura tem a duração de quatro anos, ao passo
I - intervenção federal, estado de defesa e estado que uma sessão legislativa tem duração de um ano, sen-
de sítio; do esta dividida em dois períodos legislativos cada qual

51
DIREITO CONSTITUCIONAL

com duração de 6 meses. Por seu turno, o Deputado Fe- um Estado para a mesma eleição; alternadamente, vagam 2
deral tem mandato equivalente a uma legislatura (4 anos), cadeiras ou 1 cadeira (ex.: nas eleições de 2014 vagou ape-
ao passo que o Senador tem mandato equivalente a duas nas 1 cadeira no Senado para cada unidade federativa com
legislaturas (8 anos). representação; nas eleições de 2010 vagaram 2 cadeiras).
A respeito, destaca-se o artigo 44 da Constituição Fe- Note que, diferente do que ocorre na Câmara dos De-
deral: putados, não há um maior número de representantes por
ser a unidade federativa mais populosa, o número de ca-
Artigo 44, CF. O Poder Legislativo é exercido pelo Con- deiras é fixo por Estado/Distrito Federal. Adota-se, assim, o
gresso Nacional, que se compõe da Câmara dos Deputa- princípio majoritário e não o princípio proporcional.
dos e do Senado Federal. Finalmente, o artigo 47 da Constituição prevê:
Parágrafo único. Cada legislatura terá a duração de
quatro anos. Art. 47, CF. Salvo disposição constitucional em contrário,
as deliberações de cada Casa e de suas Comissões serão to-
Por sua vez, o artigo 45 da Constituição Federal expõe madas por maioria dos votos, presente a maioria absolu-
como se dá a composição da Câmara dos Deputados: ta de seus membros.

Artigo 45, CF. A Câmara dos Deputados compõe-se de Logo, em regra, o quórum de instalação de sessão é
representantes do povo, eleitos, pelo sistema proporcio- de maioria absoluta dos membros da Casa ou Comissão
nal, em cada Estado, em cada Território e no Distrito Federal. (metade mais um), ao passo que o quórum de deliberação
§ 1º O número total de Deputados, bem como a repre- é de maioria simples (metade mais um dos membros pre-
sentação por Estado e pelo Distrito Federal, será estabe- sentes).
lecido por lei complementar, proporcionalmente à popu-
lação, procedendo-se aos ajustes necessários, no ano an- 2) Atribuições do Congresso Nacional
terior às eleições, para que nenhuma daquelas unidades A União, como visto no capítulo anterior, possui com-
da Federação tenha menos de oito ou mais de setenta petência para legislar sobre determinadas matérias, sendo
Deputados. esta competência por vezes privativa e por vezes concor-
§ 2º Cada Território elegerá quatro Deputados. rente. A atividade legislativa, por seu turno, em regra será
desempenhada pelo Poder Legislativo, exercido pelo Con-
Nota-se que na Câmara dos Deputados é adotado um gresso Nacional. Neste sentido, a disciplina do artigo 48 da
sistema proporcional de composição – quanto maior a po- Constituição.
pulação de um Estado, maior o número de representantes
que terá, respeitado o limite de setenta deputados; quanto Artigo 48, CF. Cabe ao Congresso Nacional, com a san-
menos a população de um Estado, menor o número de re- ção do Presidente da República, não exigida esta para o
presentantes que terá, respeitado o limite mínimo de oito especificado nos arts. 49, 51 e 52, dispor sobre todas as
deputados. O Distrito Federal recebe o mesmo tratamento matérias de competência da União, especialmente sobre:
de um Estado e por ser menos populoso possui a represen- I - sistema tributário, arrecadação e distribuição de ren-
tação mínima – quatro deputados. Já os Territórios, se exis- das;
tentes, teriam cada qual 4 deputados. No total, a Câmara é II - plano plurianual, diretrizes orçamentárias, orçamen-
composta por 513 deputados. to anual, operações de crédito, dívida pública e emissões de
O artigo 46 da Constituição Federal disciplina a com- curso forçado;
posição do Senado Federal nos seguintes termos: III - fixação e modificação do efetivo das Forças Arma-
das;
Artigo 46, CF. O Senado Federal compõe-se de represen- IV - planos e programas nacionais, regionais e setoriais
tantes dos Estados e do Distrito Federal, eleitos segundo o de desenvolvimento;
princípio majoritário. V - limites do território nacional, espaço aéreo e maríti-
§ 1º Cada Estado e o Distrito Federal elegerão três Se- mo e bens do domínio da União;
nadores, com mandato de oito anos. VI - incorporação, subdivisão ou desmembramento de
§ 2º A representação de cada Estado e do Distrito Fe- áreas de Territórios ou Estados, ouvidas as respectivas As-
deral será renovada de quatro em quatro anos, alterna- sembleias Legislativas;
damente, por um e dois terços. VII - transferência temporária da sede do Governo Fe-
§ 3º Cada Senador será eleito com dois suplentes. deral;
VIII - concessão de anistia;
O Senado Federal é composto por 81 Senadores, sen- IX - organização administrativa, judiciária, do Ministério
do que 78 representam cada um dos Estados brasileiros, Público e da Defensoria Pública da União e dos Territórios
que são 26, e 3 representam o Distrito Federal. O man- e organização judiciária e do Ministério Público do Distrito
dato do Senador é de duas legislaturas, ou seja, 8 anos. Federal; 
No entanto, a cada 4 anos sempre são eleitos Senadores, X - criação, transformação e extinção de cargos, empre-
garantindo a alternância no Senado a cada novas eleições. gos e funções públicas, observado o que estabelece o art. 84,
Por isso, nunca vagam as 3 cadeiras no Senado Federal de VI, b; 

52
DIREITO CONSTITUCIONAL

XI - criação e extinção de Ministérios e órgãos da admi- XVI - autorizar, em terras indígenas, a exploração e o
nistração pública;  aproveitamento de recursos hídricos e a pesquisa e lavra de
XII - telecomunicações e radiodifusão; riquezas minerais;
XIII - matéria financeira, cambial e monetária, institui- XVII - aprovar, previamente, a alienação ou concessão
ções financeiras e suas operações; de terras públicas com área superior a dois mil e quinhen-
XIV - moeda, seus limites de emissão, e montante da tos hectares.
dívida mobiliária federal.
XV - fixação do subsídio dos Ministros do Supremo Tri- Com vistas à consecução destas tarefas, o artigo 50 da
bunal Federal, observado o que dispõem os arts. 39, § 4º; Constituição disciplina providências que podem ser toma-
150, II; 153, III; e 153, § 2º, I.  das por cada qual das Casas do Congresso Nacional:

Contudo, a competência do Congresso Nacional não é Artigo 50, CF. A Câmara dos Deputados e o Senado Fe-
exclusivamente legislativa, de forma que possuem funções deral, ou qualquer de suas Comissões, poderão convocar
atípicas de caráter administrativo, além da função típica de Ministro de Estado ou quaisquer titulares de órgãos
controle. diretamente subordinados à Presidência da República para
prestarem, pessoalmente, informações sobre assunto pre-
Artigo 49, CF. É da competência exclusiva do Con- viamente determinado, importando crime de responsabi-
gresso Nacional: lidade a ausência sem justificação adequada. 
I - resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou § 1º Os Ministros de Estado poderão comparecer ao
atos internacionais que acarretem encargos ou compro- Senado Federal, à Câmara dos Deputados, ou a qualquer
missos gravosos ao patrimônio nacional; de suas Comissões, por sua iniciativa e mediante enten-
II - autorizar o Presidente da República a declarar guer- dimentos com a Mesa respectiva, para expor assunto de
ra, a celebrar a paz, a permitir que forças estrangeiras relevância de seu Ministério.
transitem pelo território nacional ou nele permaneçam § 2º As Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado
Federal poderão encaminhar pedidos escritos de infor-
temporariamente, ressalvados os casos previstos em lei com-
mações a Ministros de Estado ou a qualquer das pessoas
plementar;
referidas no caput deste artigo, importando em crime de
III - autorizar o Presidente e o Vice-Presidente da Re-
responsabilidade a recusa, ou o não-atendimento, no prazo
pública a se ausentarem do País, quando a ausência exce-
de trinta dias, bem como a prestação de informações falsas.
der a quinze dias;
IV - aprovar o estado de defesa e a intervenção fede-
3) Da Câmara dos Deputados
ral, autorizar o estado de sítio, ou suspender qualquer uma
Delimitada a competência do Congresso Nacional, ne-
dessas medidas;
cessário definir a competência de cada uma de suas Casas,
V - sustar os atos normativos do Poder Executivo que sendo que o artigo 51 da Constituição cumpre este papel
exorbitem do poder regulamentar ou dos limites de delega- em relação à Câmara dos Deputados.
ção legislativa;
VI - mudar temporariamente sua sede; Artigo 51, CF. Compete privativamente à Câmara dos
VII - fixar idêntico subsídio para os Deputados Federais Deputados:
e os Senadores, observado o que dispõem os arts. 37, XI, 39, I - autorizar, por dois terços de seus membros, a ins-
§ 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I;   tauração de processo contra o Presidente e o Vice-Presi-
VIII - fixar os subsídios do Presidente e do Vice-Presi- dente da República e os Ministros de Estado;
dente da República e dos Ministros de Estado, observado o II - proceder à tomada de contas do Presidente da Re-
que dispõem os arts. 37, XI, 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, pública, quando não apresentadas ao Congresso Nacional
§ 2º, I;  dentro de sessenta dias após a abertura da sessão legisla-
IX - julgar anualmente as contas prestadas pelo Pre- tiva;
sidente da República e apreciar os relatórios sobre a execu- III - elaborar seu regimento interno;
ção dos planos de governo; IV - dispor sobre sua organização, funcionamento,
X - fiscalizar e controlar, diretamente, ou por qualquer polícia, criação, transformação ou extinção dos cargos,
de suas Casas, os atos do Poder Executivo, incluídos os da empregos e funções de seus serviços, e a iniciativa de lei
administração indireta; para fixação da respectiva remuneração, observados os
XI - zelar pela preservação de sua competência legis- parâmetros estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias; 
lativa em face da atribuição normativa dos outros Poderes; V - eleger membros do Conselho da República, nos
XII - apreciar os atos de concessão e renovação de con- termos do art. 89, VII.
cessão de emissoras de rádio e televisão;
XIII - escolher dois terços dos membros do Tribunal de 4) Do Senado Federal
Contas da União; Na mesma toada do artigo 51, o artigo 52 da Cons-
XIV - aprovar iniciativas do Poder Executivo referentes a tituição delimita as competências da outra Casa do Con-
atividades nucleares; gresso Nacional, o Senado Federal.
XV - autorizar referendo e convocar plebiscito;

53
DIREITO CONSTITUCIONAL

Artigo 52, CF. Compete privativamente ao Senado Fe- Parágrafo único. Nos casos previstos nos incisos I e II,
deral: funcionará como Presidente o do Supremo Tribunal Fe-
I - processar e julgar o Presidente e o Vice-Presidente deral, limitando-se a condenação, que somente será profe-
da República nos crimes de responsabilidade, bem como rida por dois terços dos votos do Senado Federal, à perda
os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do do cargo, com inabilitação, por oito anos, para o exercício
Exército e da Aeronáutica nos crimes da mesma natureza co- de função pública, sem prejuízo das demais sanções judiciais
nexos com aqueles;  cabíveis.
II - processar e julgar os Ministros do Supremo Tribunal
Federal, os membros do Conselho Nacional de Justiça e 5) Das reuniões
do Conselho Nacional do Ministério Público, o Procura- O artigo 57 da Constituição descreve os períodos de
dor-Geral da República e o Advogado-Geral da União reuniões do Congresso Nacional e as hipóteses de sessão
nos crimes de responsabilidade;  conjunta e de convocação extraordinária, além de outras
III - aprovar previamente, por voto secreto, após argui- situações práticas envolvidas no funcionamento do Legis-
ção pública, a escolha de: lativo Federal:
a) Magistrados, nos casos estabelecidos nesta Consti-
tuição; Artigo 57, CF. O Congresso Nacional reunir-se-á, anual-
b) Ministros do Tribunal de Contas da União indicados mente, na Capital Federal, de 2 de fevereiro a 17 de julho e
pelo Presidente da República; de 1º de agosto a 22 de dezembro. 
c) Governador de Território; § 1º As reuniões marcadas para essas datas serão trans-
d) Presidente e diretores do banco central; feridas para o primeiro dia útil subsequente, quando re-
e) Procurador-Geral da República; caírem em sábados, domingos ou feriados.
f) titulares de outros cargos que a lei determinar; § 2º A sessão legislativa não será interrompida sem a
IV - aprovar previamente, por voto secreto, após argui- aprovação do projeto de lei de diretrizes orçamentárias.
ção em sessão secreta, a escolha dos chefes de missão di- § 3º Além de outros casos previstos nesta Constituição,
plomática de caráter permanente; a Câmara dos Deputados e o Senado Federal reunir-se-ão
em sessão conjunta para:
V - autorizar operações externas de natureza financei-
I - inaugurar a sessão legislativa;
ra, de interesse da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos
II - elaborar o regimento comum e regular a criação de
Territórios e dos Municípios;
serviços comuns às duas Casas;
VI - fixar, por proposta do Presidente da República, li-
III - receber o compromisso do Presidente e do Vice-Pre-
mites globais para o montante da dívida consolidada
sidente da República;
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;
IV - conhecer do veto e sobre ele deliberar.
VII - dispor sobre limites globais e condições para as § 4º Cada uma das Casas reunir-se-á em sessões pre-
operações de crédito externo e interno da União, dos Esta- paratórias, a partir de 1º de fevereiro, no primeiro ano da
dos, do Distrito Federal e dos Municípios, de suas autarquias legislatura, para a posse de seus membros e eleição das res-
e demais entidades controladas pelo Poder Público federal; pectivas Mesas, para mandato de 2 (dois) anos, vedada a
VIII - dispor sobre limites e condições para a concessão recondução para o mesmo cargo na eleição imediatamente
de garantia da União em operações de crédito externo e subsequente. 
interno; § 5º A Mesa do Congresso Nacional será presidida
IX - estabelecer limites globais e condições para o mon- pelo Presidente do Senado Federal, e os demais cargos
tante da dívida mobiliária dos Estados, do Distrito Federal serão exercidos, alternadamente, pelos ocupantes de cargos
e dos Municípios; equivalentes na Câmara dos Deputados e no Senado Federal.
X - suspender a execução, no todo ou em parte, de § 6º A convocação extraordinária do Congresso Na-
lei declarada inconstitucional por decisão definitiva do cional far-se-á:
Supremo Tribunal Federal; I - pelo Presidente do Senado Federal, em caso de decre-
XI - aprovar, por maioria absoluta e por voto secreto, a tação de estado de defesa ou de intervenção federal, de
exoneração, de ofício, do Procurador-Geral da República pedido de autorização para a decretação de estado de sítio e
antes do término de seu mandato; para o compromisso e a posse do Presidente e do Vice-Pre-
XII - elaborar seu regimento interno; sidente da República;
XIII - dispor sobre sua organização, funcionamento, II - pelo Presidente da República, pelos Presidentes da
polícia, criação, transformação ou extinção dos cargos, Câmara dos Deputados e do Senado Federal ou a requeri-
empregos e funções de seus serviços, e a iniciativa de lei para mento da maioria dos membros de ambas as Casas, em caso
fixação da respectiva remuneração, observados os parâme- de urgência ou interesse público relevante, em todas as
tros estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias;  hipóteses deste inciso com a aprovação da maioria absoluta
XIV - eleger membros do Conselho da República, nos de cada uma das Casas do Congresso Nacional. 
termos do art. 89, VII. § 7º Na sessão legislativa extraordinária, o Congresso
XV - avaliar periodicamente a funcionalidade do Sis- Nacional somente deliberará sobre a matéria para a qual
tema Tributário Nacional, em sua estrutura e seus com- foi convocado, ressalvada a hipótese do § 8º deste artigo,
ponentes, e o desempenho das administrações tributárias da vedado o pagamento de parcela indenizatória, em razão da
União, dos Estados e do Distrito Federal e dos Municípios.  convocação.

54
DIREITO CONSTITUCIONAL

§ 8º Havendo medidas provisórias em vigor na data de VI - apreciar programas de obras, planos nacionais,
convocação extraordinária do Congresso Nacional, serão elas regionais e setoriais de desenvolvimento e sobre eles emitir
automaticamente incluídas na pauta da convocação. parecer.

Vale destacar que durante o recesso o Congresso Na- Merece atenção especial o §3º do artigo 58, CF, que
cional não fica isento de qualquer tipo de atividade, preven- aborda as Comissões Parlamentares de Inquérito – CPIs:
do o artigo 58, CF em seu §4º:
Art. 58, §3º, CF. As comissões parlamentares de in-
Art. 58, §4º, CF. Durante o recesso, haverá uma Comis- quérito, que terão poderes de investigação próprios das au-
são representativa do Congresso Nacional, eleita por suas toridades judiciais, além de outros previstos nos regimentos
Casas na última sessão ordinária do período legislativo, com das respectivas Casas, serão criadas pela Câmara dos Depu-
atribuições definidas no regimento comum, cuja composição tados e pelo Senado Federal, em conjunto ou separadamen-
reproduzirá, quanto possível, a proporcionalidade da repre- te, mediante requerimento de um terço de seus membros,
sentação partidária. para a apuração de fato determinado e por prazo certo, sen-
do suas conclusões, se for o caso, encaminhadas ao Minis-
6) Das comissões tério Público, para que promova a responsabilidade civil ou
O Poder Legislativo não funciona exclusivamente com criminal dos infratores.
suas Casas, pois a elas seria inviável lidar razoavelmente,
apreciando com a devida profundidade, todas as temáti- Com efeito, as CPIs possuem a particularidade de servi-
cas de competência deste Poder. Para a apreciação especí- rem para a investigação e fiscalização de questões de rele-
fica e aprofundada de cada uma das iniciativas legislativas vante interesse nacional, caracterizando-se por:
são criadas Comissões. Tais Comissões servem, ainda, para - Poderes instrutórios – podem apurar fatos tal como é
o exercício de outras competências do Legislativo, como a feito pelo Poder Judiciário. A regra somente não vale para
investigatória e fiscalizatória. interceptação telefônica e afins, competência exclusiva de
As comissões podem ser temporárias ou permanentes, magistrado.
conforme o tipo de finalidade para a qual é instituída (ex.: a - Instituição por uma das Casas do Congresso ou por
Comissão de Constituição e Justiça é necessariamente uma ambas, mediante requerimento de um terço de seus mem-
comissão permanente que serve para apreciar a constitu- bros (1/3 dos membros da Câmara ou 1/3 dos membros
cionalidade de todos os projetos que tramitam na Casa; a do Senado ou 1/3 dos membros do Congresso Nacional,
Comissão Parlamentar de Inquérito é necessariamente tem- sendo a última hipótese para comissão conjunta).
porária, perdurando por prazo determinado fixado para a - Apuração de fato certo – A constituição não indica o
realização de investigação). que é fato determinado, mas o regimento da Câmara dos
Vale destacar que uma Comissão pode ter o poder, nos Deputados, em seu artigo 35, conceitua como sendo “o
termos do regimento, de aprovar o Projeto de Lei sem que acontecimento de relevante interesse para a vida pública
ele nem sequer passe pelo Plenário. e a ordem constitucional, legal, econômica e social do País,
Nestes termos, o artigo 58, caput e §§ 1º e 2º, CF: que estiver devidamente caracterizado no requerimento de
constituição da Comissão”.
Artigo 58, CF. O Congresso Nacional e suas Casas terão - Prazo determinado – o funcionamento da Comissão
comissões permanentes e temporárias, constituídas na Parlamentar de Inquérito não pode se prolongar irrestrita-
forma e com as atribuições previstas no respectivo regimen- mente no tempo, sendo necessário fixar prazo para a dura-
to ou no ato de que resultar sua criação. ção da CPI, embora este prazo seja prorrogável.
§ 1º Na constituição das Mesas e de cada Comissão, - Finalidade de promover a responsabilização civil e
é assegurada, tanto quanto possível, a representação pro- criminal de infratores – no entanto, não é a Comissão que
porcional dos partidos ou dos blocos parlamentares que decidirá sobre tal responsabilização, mas o Poder Judiciário
participam da respectiva Casa. por seu órgão competente. O conteúdo da CPI será, então,
§ 2º Às comissões, em razão da matéria de sua compe- encaminhado ao Ministério Público para que tome as de-
tência, cabe: vidas providências.
I - discutir e votar projeto de lei que dispensar, na
forma do regimento, a competência do Plenário, salvo se 7) Prerrogativas parlamentares
houver recurso de um décimo dos membros da Casa; As imunidades e impedimentos parlamentares, ao lado
II - realizar audiências públicas com entidades da so- de questões correlatas, encontram previsão constitucional
ciedade civil; dos artigos 53 a 56 da Constituição Federal.
III - convocar Ministros de Estado para prestar informa- Imunidades parlamentares são prerrogativas que asse-
ções sobre assuntos inerentes a suas atribuições; guram aos membros do Legislativo ampla liberdade, auto-
IV - receber petições, reclamações, representações ou nomia e independência no exercício de suas funções, sen-
queixas de qualquer pessoa contra atos ou omissões das au- do estas tanto inerentes a um aspecto material (inviolabi-
toridades ou entidades públicas; lidade propriamente dita) quanto correlatas a um aspecto
V - solicitar depoimento de qualquer autoridade ou ci- formal (sujeição a processamento por foro especial – foro
dadão; por prerrogativa de função).

55
DIREITO CONSTITUCIONAL

A essência da imunidade parlamentar está descrita no Prevê o §7º do artigo 53:


caput do artigo 53, CF:
Art. 53, §7º, CF. A incorporação às Forças Armadas de
Art. 53, CF. Os Deputados e Senadores são invioláveis, Deputados e Senadores, embora militares e ainda que em
civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, pa- tempo de guerra, dependerá de prévia licença da Casa res-
lavras e votos. pectiva.
 
Trata-se da faceta material da imunidade parlamentar, Destaca-se a perenidade destas imunidades parlamen-
consistente na inviolabilidade civil e penal por opiniões, tares descritas no artigo 53, porque o §8º do dispositivo
palavras e votos. Entende-se que o parlamentar tem irres- assegura:
trita liberdade de expressão na defesa de seus posiciona-
mentos políticos, sob pena de se caracterizar uma ruptura Art. 53, §8º, CF. As imunidades de Deputados ou Sena-
no próprio modelo democrático, que exige o debate de dores subsistirão durante o estado de sítio, só podendo
ideias.  ser suspensas mediante o voto de dois terços dos mem-
Por seu turno, a principal imunidade parlamentar de bros da Casa respectiva, nos casos de atos praticados fora
caráter formal está descrita no §1º do artigo 53, CF: do recinto do Congresso Nacional, que sejam incompatí-
veis com a execução da medida.
Art. 53, §1º, CF. Os Deputados e Senadores, desde a ex-  
pedição do diploma, serão submetidos a julgamento pe- No entanto, ao lado das imunidades, a Constituição Fe-
rante o Supremo Tribunal Federal.  deral prevê vedações em seu artigo 54:

Propriamente, é o denominado foro por prerrogativa Artigo 54, CF. Os Deputados e Senadores não poderão:
de função. Não se trata de privilégio pessoal, que tem a I - desde a expedição do diploma:
ver com a pessoa do parlamentar, mas de privilégio do a) firmar ou manter contrato com pessoa jurídica de
cargo, inerente ao cargo. direito público, autarquia, empresa pública, sociedade de
economia mista ou empresa concessionária de serviço pú-
Ainda sobre a questão do julgamento, estendem os §§
blico, salvo quando o contrato obedecer a cláusulas uni-
3º a 5º do mesmo dispositivo:
formes;
b) aceitar ou exercer cargo, função ou emprego remu-
Art. 53, §3º, CF. Recebida a denúncia contra o Sena-
nerado, inclusive os de que sejam demissíveis ‘ad nutum’,
dor ou Deputado, por crime ocorrido após a diplomação, o
nas entidades constantes da alínea anterior;
Supremo Tribunal Federal dará ciência à Casa respectiva,
II - desde a posse:
que, por iniciativa de partido político nela representado a) ser proprietários, controladores ou diretores de
e pelo voto da maioria de seus membros, poderá, até a empresa que goze de favor decorrente de contrato com
decisão final, sustar o andamento da ação. pessoa jurídica de direito público, ou nela exercer função
Art. 53, §4º, CF. O pedido de sustação será apreciado remunerada;
pela Casa respectiva no prazo improrrogável de quaren- b) ocupar cargo ou função de que sejam demissíveis
ta e cinco dias do seu recebimento pela Mesa Diretora. ‘ad nutum’, nas entidades referidas no inciso I, ‘a’;
Art. 53, §5º, CF. A sustação do processo suspende a c) patrocinar causa em que seja interessada qualquer
prescrição, enquanto durar o mandato.  das entidades a que se refere o inciso I, ‘a’;
d) ser titulares de mais de um cargo ou mandato pú-
Outras imunidades encontram-se descritas nos de- blico eletivo.
mais parágrafos do artigo 53. Neste sentido, o §2º do ar-
tigo 53 da Constituição aborda o impedimento de prisão, A consequência do desrespeito a estas proibições é
salvo em caso de flagrante por crime inafiançável: a perda do mandato, conforme o artigo 55, I, CF. Existem
outras causas de perda de mandato, também descritas no
Art. 53, §2º, CF. Desde a expedição do diploma, os artigo 55 da Constituição:
membros do Congresso Nacional não poderão ser presos,
salvo em flagrante de crime inafiançável. Nesse caso, os au- Artigo 55, CF. Perderá o mandato o Deputado ou Se-
tos serão remetidos dentro de vinte e quatro horas à Casa nador:
respectiva, para que, pelo voto da maioria de seus membros, I - que infringir qualquer das proibições estabelecidas
resolva sobre a prisão.  no artigo anterior;
II - cujo procedimento for declarado incompatível com
Ainda, disciplina o §6º do artigo 53 que: o decoro parlamentar;
III - que deixar de comparecer, em cada sessão legisla-
Art. 53, §6º, CF. Os Deputados e Senadores não serão tiva, à terça parte das sessões ordinárias da Casa a que
obrigados a testemunhar sobre informações recebidas pertencer, salvo licença ou missão por esta autorizada;
ou prestadas em razão do exercício do mandato, nem IV - que perder ou tiver suspensos os direitos políticos;
sobre as pessoas que lhes confiaram ou deles receberam V - quando o decretar a Justiça Eleitoral, nos casos
informações. previstos nesta Constituição;

56
DIREITO CONSTITUCIONAL

VI - que sofrer condenação criminal em sentença Destaca-se que a Lei Complementar nº 95, de 26 de
transitada em julgado. fevereiro de 1998, dispõe sobre a elaboração, a redação, a
§ 1º É incompatível com o decoro parlamentar, além alteração e a consolidação das leis, conforme determina o
dos casos definidos no regimento interno, o abuso das parágrafo único do artigo 59 da Constituição Federal, e es-
prerrogativas asseguradas a membro do Congresso Nacio- tabelece normas para a consolidação dos atos normativos
nal ou a percepção de vantagens indevidas. que menciona.
§ 2º Nos casos dos incisos I, II e VI, a perda do man-
dato será decidida pela Câmara dos Deputados ou pelo Artigo 59, CF. O processo legislativo compreende a ela-
Senado Federal, por maioria absoluta, mediante provo- boração de:
cação da respectiva Mesa ou de partido político representa- I - emendas à Constituição;
do no Congresso Nacional, assegurada ampla defesa.  II - leis complementares;
§ 3º Nos casos previstos nos incisos III a V, a perda III - leis ordinárias;
será declarada pela Mesa da Casa respectiva, de ofício IV - leis delegadas;
ou mediante provocação de qualquer de seus membros, V - medidas provisórias;
ou de partido político representado no Congresso Nacional, VI - decretos legislativos;
assegurada ampla defesa. VII - resoluções.
§ 4º A renúncia de parlamentar submetido a processo Parágrafo único. Lei complementar disporá sobre a ela-
que vise ou possa levar à perda do mandato, nos termos boração, redação, alteração e consolidação das leis.
deste artigo, terá seus efeitos suspensos até as deliberações
finais de que tratam os §§ 2º e 3º. As leis ordinárias são denominadas na Constituição
como “leis”, de modo que o constituinte só utiliza a expres-
Por fim, o artigo 56 da Constituição disciplina situa- são “lei ordinária” quando quer trazer uma contraposição
ções em que poderia se entender a princípio que caberia a com a lei complementar. Tanto é assim que as leis ordi-
perda de mandato, notadamente por incompatibilidade ou nárias do país são denominadas apenas como leis (Lei nº
afastamento, mas que não geram esta consequência por X); enquanto que as leis complementares são denominadas
previsão expressa. como tais (Lei complementar nº Y).
A primeira lei ordinária foi elaborada a partir da pro-
Artigo 56, CF. Não perderá o mandato o Deputado ou mulgação da Constituição de 1946, enquanto que a primei-
Senador: ra lei complementar foi elaborada a partir da promulgação
I - investido no cargo de Ministro de Estado, Governa- da Constituição de 1967. Não há problemas com o fato de
dor de Território, Secretário de Estado, do Distrito Fede- existirem leis anteriores à Constituição Federal de 1988, eis
ral, de Território, de Prefeitura de Capital ou chefe de que se faz presente o fenômeno da recepção.
missão diplomática temporária; Após enumerar as espécies normativas no artigo 59,
II - licenciado pela respectiva Casa por motivo de a Constituição Federal descreve as peculiaridades de cada
doença, ou para tratar, sem remuneração, de interesse par- uma delas. Somente os decretos legislativos e as resolu-
ticular, desde que, neste caso, o afastamento não ultrapasse ções não são regulamentados no texto constitucional, mas
cento e vinte dias por sessão legislativa. em regimento interno do Congresso Nacional e de suas
§ 1º O suplente será convocado nos casos de vaga, de Casas.
investidura em funções previstas neste artigo ou de licença
superior a cento e vinte dias. 8.1) Emenda à Constituição
§ 2º Ocorrendo vaga e não havendo suplente, far-se-á As emendas à Constituição se sujeitam aos limites do
eleição para preenchê-la se faltarem mais de quinze meses poder de reforma, já abordadas quando da temática poder
para o término do mandato. constituinte (artigo 60, §4º, CF). A possibilidade de emen-
§ 3º Na hipótese do inciso I, o Deputado ou Senador da à Constituição decorre do Poder Constituinte derivado,
poderá optar pela remuneração do mandato. investido pelo Poder Constituinte originário quando da
elaboração do texto constitucional. Sendo assim, a Cons-
8) Processo Legislativo tituição Federal pode ser modificada mediante o processo
Processo legislativo é o conjunto de atos que devem legislativo adequado.
ser praticados para a adequada elaboração das espécies Se desrespeitado o processo legislativo adequado, ha-
normativas. O desatendimento das normas de processo le- verá inconstitucionalidade. Destaca-se que isso responde à
gislativo gera inconstitucionalidade formal. O artigo 59 da seguinte pergunta: é possível norma constitucional incons-
Constituição Federal traz o rol de espécies normativas, sen- titucional? A resposta é sim, desde que esta norma consti-
do que cada qual exige um processo legislativo específico. tucional decorra de uma reforma do texto da Constituição.
Por seu turno, quanto a estas espécies normativas, o Em hipótese alguma há norma constitucional inconstitu-
processo legislativo pode adotar um procedimento sumá- cional na redação originária da Constituição, na norma que
rio, ordinário (é a regra, válida como base para todos os decorra do Poder Constituinte originário.
demais processos legislativos, aplicável às leis ordinárias) Em outras palavras, o procedimento da emenda à
ou especial (ex.: emenda constitucional, lei delegada, lei Constituição descrito no artigo 60 deve ser respeitado para
complementar – estabelecem-se variações em relação ao que a reforma constitucional possa produzir efeitos e ad-
procedimento ordinário). quirir plena vigência.

57
DIREITO CONSTITUCIONAL

Basicamente, o processo legislativo da emenda consti- Artigo 60, §4º, CF. Não será objeto de deliberação a pro-
tucional é muito parecido com o processo legislativo da lei posta de emenda tendente a abolir:
ordinária, diferenciando-se nos seguintes aspectos: I - a forma federativa de Estado;
a) Iniciativa – como se depreende dos incisos do caput II - o voto direto, secreto, universal e periódico;
do artigo 60, a iniciativa para a apresentação de proposta III - a separação dos Poderes;
de emenda constitucional é, em regra, coletiva. Somente IV - os direitos e garantias individuais.
o Presidente da República pode, sozinho, apresentar uma
PEC. Um deputado federal ou um Senador sozinhos não Artigo 60, §5º, CF. A matéria constante de proposta de
possuem este poder, precisam da anuência de pelo me- emenda rejeitada ou havida por prejudicada não pode ser
nos um terço da Casa. Nem ao menos uma Assembleia objeto de nova proposta na mesma sessão legislativa.
Legislativa pode apresentar a proposta sozinha, precisa
que a maioria dos membros presentes em sessão de vo- e) Não aplicação do princípio da primazia da deli-
tação concordem e também necessita estar acompanhada beração principal – se um projeto de emenda constitucio-
nal for emendado na deliberação revisional, irá voltar para
de mais da metade das Assembleias Legislativas do país
a Casa da deliberação principal e, se esta não concordar
(14, no mínimo). A doutrina entende majoritariamente que
com a emenda, volta novamente para a Casa da delibera-
cabe a iniciativa popular, mas não se trata de previsão ex-
ção revisional, até se decidir sobre qual a redação que irá
pressa do artigo 60 da Constituição. Nota-se que o poder prevalecer. Instaura-se um vai e volta sem fim.
de iniciativa legislativa é bastante diverso do fixado para os
projetos de leis. 8.2) Leis ordinárias
Lei é um ato normativo típico revestido de abstração e
Artigo 60, caput, CF. A Constituição poderá ser emen- generalidade. Por ser ato primário e autônomo, se sujeita
dada mediante proposta: diretamente ao controle de constitucionalidade, verifican-
I - de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara do-se sua conformidade/contrariedade com a Constituição
dos Deputados ou do Senado Federal; Federal.
II - do Presidente da República;
III - de mais da metade das Assembleias Legislativas a) Fase introdutória – Iniciativa
das unidades da Federação, manifestando-se, cada uma de- A iniciativa das leis encontra regulamentação notada-
las, pela maioria relativa de seus membros. mente no caput do artigo 61, CF:

b) Quórum para aprovação – nos termos do §2º do Artigo 61, caput, CF. A iniciativa das leis comple-
artigo 60 da Constituição, “a proposta será discutida e vo- mentares e ordinárias cabe a qualquer membro ou Co-
tada em cada Casa do Congresso Nacional, em dois tur- missão da Câmara dos Deputados, do Senado Federal ou
nos, considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, três do Congresso Nacional, ao Presidente da República, ao
quintos dos votos dos respectivos membros”. Com efeito, Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores, ao
para a emenda à Constituição exige-se quórum especial Procurador-Geral da República e aos cidadãos, na forma
para a aprovação – 3/5 do total dos membros de cada Casa e nos casos previstos nesta Constituição.
– além da votação em dois turnos – cada Casa vota duas
vezes. A iniciativa pode ser parlamentar quando de membro
ou Comissão da Câmara dos Deputados, do Senado Fe-
c) Promulgação – segundo o §3º do artigo 60 da deral ou do Congresso Nacional; ou extraparlamentar nos
demais casos.
Constituição, “a emenda à Constituição será promulgada
Ainda, poderá ser genérica, quando permitir que a ini-
pelas Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Fede-
ciativa seja exercida quanto a quaisquer projetos de leis
ral, com o respectivo número de ordem”. Comoas emendas
(membro ou Comissão do Congresso ou das Casas, Pre-
constitucionais decorrem de um poder exclusivo conferido sidente da República, iniciativa popular); ou específica,
ao Congresso Nacional, o Poder Constituinte, não serão quando permitir que apenas se apresentem projetos com
enviadas ao Presidente da República para sanção, promul- relação a determinadas matérias (Supremo Tribunal Fede-
gação e publicação. Sendo assim, são promulgadas e re- ral, Tribunais Superiores, Procurador-Geral da República
metidas para publicação pelas Mesas das Casas. e, apesar da não menção expressa, Tribunal de Contas da
União).
d) Limitações ao poder de reforma – o poder de re- O caput do artigo 61 não faz esta distinção expressa-
forma à Constituição se sujeita a diversos limites temporais, mente, mas ela pode ser depreendida do texto constitucio-
materiais e circunstanciais, já estudados, descritos notada- nal e se mostra de extrema importância prática. É necessá-
mente nos §§ 1º, 4º e 5º do artigo 60 da Constituição. rio atenção ao fato de que quando o constituinte confere
a iniciativa a determinado órgão, esta é somente dele, ou
Artigo 60, §1º, CF. A Constituição não poderá ser emen- seja, trata-se de competência reservada (ex.: o artigo 93,
dada na vigência de intervenção federal, de estado de defesa CF confere ao Supremo Tribunal Federal a iniciativa quanto
ou de estado de sítio. ao Estatuto da Magistratura e somente por projeto de lei
apresentado por este órgão é possível alterá-lo).

58
DIREITO CONSTITUCIONAL

A princípio, não existe um prazo para se exercer o que vai definir se a deliberação principal será feita pela Câ-
poder de iniciativa. Logo, em regra, a iniciativa é um ato mara dos Deputados ou pelo Senado Federal é a porta de
discricionário. No entanto, há casos em que o constituinte entrada do projeto de lei.
obriga a iniciativa num prazo determinado, o que é muito Salvo no caso de projeto proposto por Senador ou Co-
comum no que tange a questões financeiras e orçamen- missão do Senado Federal, o projeto de lei começa na Câ-
tárias, caso em que se denomina a iniciativa de vinculada. mara dos Deputados. Neste sentido, o caput do artigo 64
da Constituição prevê que:
- Iniciativa reservada do Presidente da República
O chefe do Poder Executivo federal possui iniciativa Artigo 64, CF. A discussão e votação dos projetos de lei
reservada quanto a determinados projetos de lei, ou seja, de iniciativa do Presidente da República, do Supremo Tribu-
somente ele poderá apresentá-los perante o Congresso nal Federal e dos Tribunais Superiores terão início na Câma-
Nacional: ra dos Deputados.

Artigo 61, §1º, CF. São de iniciativa privativa do Presi- Assim, em regra, o projeto vai seguir após a deliberação
dente da República as leis que: principal para a deliberação revisional no Senado Federal,
I - fixem ou modifiquem os efetivos das Forças Armadas; quando será possível a apresentação de emendas. Logo,
II - disponham sobre: se na deliberação revisional se optar por uma emenda ao
a) criação de cargos, funções ou empregos públicos na projeto de lei, ele volta para a Casa que fez a deliberação
administração direta e autárquica ou aumento de sua re- principal. Esta emenda será votada e, caso se opte por não
muneração; aceitá-la, predomina a deliberação principal (princípio da
b) organização administrativa e judiciária, matéria tri- primazia da deliberação principal).
butária e orçamentária, serviços públicos e pessoal da admi- A respeito, tem-se o artigo 65 da Constituição:
nistração dos Territórios;
c) servidores públicos da União e Territórios, seu regime Artigo 65, CF. O projeto de lei aprovado por uma Casa
jurídico, provimento de cargos, estabilidade e aposentadoria;  será revisto pela outra, em um só turno de discussão e vo-
d) organização do Ministério Público e da Defensoria tação, e enviado à sanção ou promulgação, se a Casa reviso-
Pública da União, bem como normas gerais para a orga- ra o aprovar, ou arquivado, se o rejeitar.
nização do Ministério Público e da Defensoria Pública dos Parágrafo único. Sendo o projeto emendado, voltará à
Estados, do Distrito Federal e dos Territórios; Casa iniciadora.
e) criação e extinção de Ministérios e órgãos da adminis-
tração pública, observado o disposto no art. 84, VI;  - Atuação das Comissões
f) militares das Forças Armadas, seu regime jurídico, Com efeito, após a fase de iniciativa, introdutória, o
provimento de cargos, promoções, estabilidade, remunera- projeto será deliberado. Entretanto, antes de ir para o Ple-
ção, reforma e transferência para a reserva.  nário e ser votado, o projeto passa pelas Comissões, o que
acontece tanto na Câmara dos Deputados quanto no Se-
- Iniciativa popular nado Federal.
A iniciativa popular é modo de exercício da democracia Aliás, parecer da Comissão de Constituição e Justiça e
direta (artigo 14, III, CF). O cidadão sozinho não pode apre- o parecer da Comissão de Finanças e Tributação possuem
sentar projeto de lei, mas é possível fazê-lo em conjunto o caráter terminativo, ou seja, impedem a continuidade do
com outros cidadãos, conforme regulamenta o §2º do arti- projeto com sua remessa ao Plenário ou a outra Comissão.
go 60 da Constituição: Todas as Comissões que possuam pertinência temática
com o projeto serão envolvidas, sendo que a Comissão de
Artigo 61, §2º, CF. A iniciativa popular pode ser exercida Constituição e Justiça delibera a respeito de todos eles.
pela apresentação à Câmara dos Deputados de projeto de
lei subscrito por, no mínimo, um por cento do eleitorado - Quórum de instalação
nacional, distribuído pelo menos por cinco Estados, com O quórum para instalação da sessão do Senado ou da
não menos de três décimos por cento dos eleitores de Câmara é de maioria absoluta, ou seja, presença de ao me-
cada um deles. nos metade dos membros.

Extraem-se três requisitos: a) projeto subscrito por ao - Limitação ao poder de emenda – vedação ao au-
menos 1% do eleitorado nacional; b) assinaturas distribuí- mento de despesa
das em ao menos 5 Estados; c) ao menos 0,3% de eleitores O constituinte estabelece no artigo 63 da Constitui-
em cada Estado. ção a vedação ao aumento de despesa em determinados
projetos quando passarem pela deliberação no Congresso
b) Fase constitutiva – Deliberação Nacional.

- Deliberação principal e deliberação revisional Artigo 63, CF. Não será admitido aumento da despesa
O Poder Legislativo brasileiro adota um sistema bica- prevista:
meral, de modo que a deliberação principal é feita por uma I - nos projetos de iniciativa exclusiva do Presidente da
das Casas e a deliberação revisional é feita pela outra. O República, ressalvado o disposto no art. 166, § 3º e § 4º;

59
DIREITO CONSTITUCIONAL

II - nos projetos sobre organização dos serviços adminis- - Deliberação executiva – sanção e veto
trativos da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, dos Se não apresentadas emendas na deliberação revi-
Tribunais Federais e do Ministério Público. sional, o projeto segue para a deliberação executiva do
Presidente da República. Se apresentadas emendas e vo-
- Procedimento sumário tadas pela Casa da deliberação principal, também segue
O procedimento sumário está descrito nos §§ 1º a 4º para esta deliberação executiva (não importa se a Casa da
do artigo 64 da Constituição Federal, permitindo a solici- deliberação principal votar contra a emenda, porque pre-
tação de urgência na apreciação de projetos de iniciativa valece a redação original anterior à emenda que foi dada
do Presidente da República, não somente os de iniciativa pela casa que fez a deliberação principal – é o princípio da
privativa, mas os de quaisquer matérias. Disciplina o §1º do primazia da deliberação principal). Fala-se em deliberação
artigo 64 da Constituição: executiva porque o Presidente da República tem o poder
de vetar dispositivos de lei.
Art. 64, §1º, CF. O Presidente da República poderá soli-
citar urgência para apreciação de projetos de sua iniciativa. Artigo 66, CF. A Casa na qual tenha sido concluída a
votação enviará o projeto de lei ao Presidente da República,
Contudo, diante das medidas provisórias, este procedi- que, aquiescendo, o sancionará.
mento sumário acabou esvaziado. § 1º Se o Presidente da República considerar o projeto,
Prevê o §2º do artigo 64 da Constituição o seguinte: no todo ou em parte, inconstitucional ou contrário ao inte-
resse público, vetá-lo-á total ou parcialmente, no prazo
Art. 64, §2º, CF. Se, no caso do § 1º, a Câmara dos De- de quinze dias úteis, contados da data do recebimento, e
putados e o Senado Federal não se manifestarem sobre a comunicará, dentro de quarenta e oito horas, ao Presidente
proposição, cada qual sucessivamente, em até quarenta e do Senado Federal os motivos do veto.
cinco dias, sobrestar-se-ão todas as demais delibera- § 2º O veto parcial somente abrangerá texto integral de
ções legislativas da respectiva Casa, com exceção das que artigo, de parágrafo, de inciso ou de alínea.
tenham prazo constitucional determinado, até que se ultime § 3º Decorrido o prazo de quinze dias, o silêncio do
a votação.  Presidente da República importará sanção.
§ 4º O veto será apreciado em sessão conjunta, den-
Fica obstruída a pauta, impedindo-se a deliberação de tro de trinta dias a contar de seu recebimento, só podendo
qualquer outro projeto, salvo votação de medida provisória ser rejeitado pelo voto da maioria absoluta dos Deputados
e projetos de Código. Disciplina, ainda o §4º do artigo 64 e Senadores. 
da Constituição: § 5º Se o veto não for mantido, será o projeto enviado,
para promulgação, ao Presidente da República.
Art. 64, §4º, CF. Os prazos do § 2º não correm nos perío- § 6º Esgotado sem deliberação o prazo estabelecido
dos de recesso do Congresso Nacional, nem se aplicam aos no § 4º, o veto será colocado na ordem do dia da sessão
projetos de código. imediata, sobrestadas as demais proposições, até sua vota-
ção final. 
Nos termos do artigo 64, §3º, CF,
O veto é, assim, a manifestação discordante do Chefe
Art. 64, §3º, CF. A apreciação das emendas do Senado do Poder Executivo que impede que um Projeto de Lei (em
Federal pela Câmara dos Deputados far-se-á no prazo de parte ou no todo) se torne lei a não ser que seja derrubado
dez dias, observado quanto ao mais o disposto no parágrafo pelo Congresso Nacional.
anterior. O veto se caracteriza por ser: expresso (não existe veto
tácito), motivado (deve acompanhar justificativa do Chefe
Se a iniciativa é do Presidente da República, obviamen- do Executivo), formalizado (pela mensagem de veto, envia-
te, a deliberação principal sempre será feita pela Câmara e da em até 48 horas ao Congresso Nacional e publicada no
a revisional pelo Senado, sendo que em caso de emenda Diário Oficial); supressivo (não pode acrescentar nada, só
voltará para a Câmara que deverá apreciar em 10 dias. suprimir a redação integral do dispositivo ou do projeto);
irretratável (formalizado, o veto é irretratável pelo Presi-
- Reapresentação de projeto dente da República, ou seja, ele não pode mudar de ideia);
Se um projeto de lei for barrado na fase de deliberação, superável (o Congresso Nacional pode derrubar o veto em
não poderá ser reapresentado na mesma sessão legislativa, sessão conjunta pela maioria absoluta dos membros de
salvo proposta de maioria absoluta dos membros de qual- cada Casa, sendo que a não apreciação do veto gera obs-
quer das Casas do Congresso Nacional: trução de pauta).
Por seu turno, a sanção, que é o ato de concordância
Artigo 67, CF. A matéria constante de projeto de lei re- do Chefe do Poder Executivo com o Projeto apresentado,
jeitado somente poderá constituir objeto de novo projeto, pode ser expressa (Presidente diz que sanciona) ou tácita
na mesma sessão legislativa, mediante proposta da maioria (decurso do prazo de 15 dias úteis sem que tenha ocorrido
absoluta dos membros de qualquer das Casas do Con- o veto).
gresso Nacional.

60
DIREITO CONSTITUCIONAL

c) Fase complementar – Promulgação e publicação bastando a maioria dos presentes; bem como um aspecto
A promulgação é a verificação da regularidade do pro- material, pois o campo material sujeito a lei complementar
cedimento de elaboração, a sua autenticação e o reconhe- é estabelecido pelo próprio constituinte.
cimento de sua potencialidade para produzir efeitos no Existem 3 correntes em resposta ao questionamento
mundo jurídico. Na sanção expressa, promulgação e san- de haver ou não hierarquia entre lei complementar e lei
ção coexistem no mesmo tempo e no mesmo instrumento ordinária:
(se o Presidente diz que sanciona, também promulga). Na a) Lei complementar está acima de lei ordinária na qua-
sanção tácita e na rejeição de veto também é necessária a lidade de um gênero interposto entre a Constituição Fede-
promulgação. ral e a lei ordinária (Manoel Gonçalves Ferreira Filho);
A obrigação de promulgar é do Presidente da Repúbli- b) Lei complementar está no mesmo patamar de lei
ca, mas se trata de obrigação transmissível, conforme o §7º ordinária porque o constituinte estabelece uma divisão cri-
do artigo 66 da Constituição: teriosa entre as matérias que devem ser regulamentadas
por cada qual das espécies (tributaristas, STF);
Art. 66, §7º, CF. Se a lei não for promulgada dentro de c) Lei complementar está no mesmo patamar de lei
quarenta e oito horas pelo Presidente da República, nos ca- ordinária se for uma lei complementar não normativa, ou
sos dos § 3º e § 5º, o Presidente do Senado a promulgará, e, seja, se não tiver por fim regulamentar matéria a ser regu-
se este não o fizer em igual prazo, caberá ao Vice-Presidente lada por lei ordinária, mas está acima de lei ordinária se
do Senado fazê-lo. for uma lei complementar normativa (José Afonso da Silva).
Da promulgação decorre a executoriedade da lei, mas 8.5) Medidas provisórias
só da publicação decorre a notoriedade da lei. Para a lei Trata-se de espécie normativa que permite ao Presi-
ser obrigatória, não basta ter executoriedade, é preciso dente da República legislar em situações de relevância e
também notoriedade. A obrigação de publicar é de quem urgência. Veio para substituir os Decretos-leis a partir da
promulga. Constituição de 1988 porque se entendia que estes seriam
um vestígio da ditadura.
8.3) Leis delegadas
Com a Emenda Constitucional nº 32/2001, a medida
Trata-se de espécie normativa em desuso. Nela, o Pre-
provisória passou a ter limitações materiais, eis que esta
sidente da República possui iniciativa solicitadora perante
emenda incluiu todos os parágrafos do artigo 62 da Cons-
o Congresso Nacional, que mediante resolução autoriza
tituição (apenas o caput constava em sua redação origi-
especificando o conteúdo e os termos do exercício da de-
nária). Da mesma forma, com esta emenda se regularam
legação. Durante a delegação não se inibe a atuação legis-
detalhes do processo legislativo da medida provisória pe-
lativa do Congresso Nacional.
rante o Congresso Nacional.
Artigo 68, CF. As leis delegadas serão elaboradas pelo Por seu turno, o caput do artigo 62 da Constituição
Presidente da República, que deverá solicitar a delegação descreve os requisitos para a adoção de medidas provi-
ao Congresso Nacional. sórias – relevância e urgência. São conceitos abertos que
§ 1º Não serão objeto de delegação os atos de compe- remetem a uma discricionariedade do Presidente da Re-
tência exclusiva do Congresso Nacional, os de competência pública. Em que pese a abertura dos conceitos, o Supremo
privativa da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal, Tribunal Federal tem aceito o controle judicial caso a medi-
a matéria reservada à lei complementar, nem a legislação da provisória viole critérios de razoabilidade ou caracteri-
sobre: zem desvio ou excesso de poder.
I - organização do Poder Judiciário e do Ministério Públi- A vigência do texto da medida provisória é imediata,
co, a carreira e a garantia de seus membros; embora o Congresso Nacional vá apreciá-la futuramente.
II - nacionalidade, cidadania, direitos individuais, políti-
cos e eleitorais; Artigo 62, CF. Em caso de relevância e urgência, o Pre-
III - planos plurianuais, diretrizes orçamentárias e orça- sidente da República poderá adotar medidas provisórias,
mentos. com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Con-
§ 2º A delegação ao Presidente da República terá a for- gresso Nacional. 
ma de resolução do Congresso Nacional, que especificará § 1º É vedada a edição de medidas provisórias sobre
seu conteúdo e os termos de seu exercício. matéria: 
§ 3º Se a resolução determinar a apreciação do projeto I – relativa a: 
pelo Congresso Nacional, este a fará em votação única, ve- a) nacionalidade, cidadania, direitos políticos, par-
dada qualquer emenda. tidos políticos e direito eleitoral; 
b) direito penal, processual penal e processual civil; 
8.4) Leis complementares c) organização do Poder Judiciário e do Ministério
A distinção das leis complementares em relação às leis Público, a carreira e a garantia de seus membros; 
ordinárias tem um aspecto formal, pois “as leis comple- d) planos plurianuais, diretrizes orçamentárias, orça-
mentares serão aprovadas por maioria absoluta” (artigo mento e créditos adicionais e suplementares, ressalvado o
69, CF) – é preciso a maioria do total de membros, não previsto no art. 167, § 3º; 

61
DIREITO CONSTITUCIONAL

II – que vise a detenção ou sequestro de bens, de pou- Artigo 70, caput, CF. A fiscalização contábil, financei-
pança popular ou qualquer outro ativo financeiro;  ra, orçamentária, operacional e patrimonial da União e
III – reservada a lei complementar;  das entidades da administração direta e indireta, quanto à
IV – já disciplinada em projeto de lei aprovado pelo legalidade, legitimidade, economicidade, aplicação das sub-
Congresso Nacional e pendente de sanção ou veto do Pre- venções e renúncia de receitas, será exercida pelo Congres-
sidente da República.  so Nacional, mediante controle externo, e pelo sistema
§ 2º Medida provisória que implique instituição ou de controle interno de cada Poder.
majoração de impostos, exceto os previstos nos arts. 153, I,
II, IV, V, e 154, II, só produzirá efeitos no exercício financeiro A fiscalização contábil, financeira e orçamentária regu-
seguinte se houver sido convertida em lei até o último dia lada pela Constituição recai sobre as receitas da União e
daquele em que foi editada. demais entidades da administração direta e indireta nesta
§ 3º As medidas provisórias, ressalvado o disposto nos esfera. Tal fiscalização se dá mediante controle externo, a
§§ 11 e 12 perderão eficácia, desde a edição, se não forem ser exercido pelo Congresso Nacional com auxílio do Tribu-
convertidas em lei no prazo de sessenta dias, prorro- nal de Contas da União, e mediante controle interno, con-
gável, nos termos do § 7º, uma vez por igual período, soante órgãos instituídos pelo próprio Poder fiscalizado
devendo o Congresso Nacional disciplinar, por decreto em seu âmbito interno.
legislativo, as relações jurídicas delas decorrentes.  Para que se viabilize esta atividade de fiscalização é
§ 4º O prazo a que se refere o § 3º contar-se-á da pu- necessária a instituição de obrigação de prestar contas, re-
blicação da medida provisória, suspendendo-se durante os gulada no próprio artigo 70, CF em seu parágrafo único:
períodos de recesso do Congresso Nacional.
§ 5º A deliberação de cada uma das Casas do Con- Artigo 70, parágrafo único, CF. Prestará contas qual-
gresso Nacional sobre o mérito das medidas provisórias quer pessoa física ou jurídica, pública ou privada, que
dependerá de juízo prévio sobre o atendimento de seus utilize, arrecade, guarde, gerencie ou administre dinheiros,
pressupostos constitucionais.  bens e valores públicos ou pelos quais a União responda,
§ 6º Se a medida provisória não for apreciada em até ou que, em nome desta, assuma obrigações de natureza
quarenta e cinco dias contados de sua publicação, entrará pecuniária. 
em regime de urgência, subsequentemente, em cada uma
das Casas do Congresso Nacional, ficando sobrestadas, até a) Controle externo – Tribunal de Contas da União
que se ultime a votação, todas as demais deliberações le- Com efeito, o principal órgão que colabora com o con-
gislativas da Casa em que estiver tramitando. trole externo na fiscalização exercida pelo Congresso Na-
§ 7º Prorrogar-se-á uma única vez por igual período cional é o Tribunal de Contas da União. A composição do
a vigência de medida provisória que, no prazo de sessenta Tribunal de Contas da União está regulamentada no artigo
dias, contado de sua publicação, não tiver a sua votação 73 da Constituição Federal, conferindo-se a capacidade de
encerrada nas duas Casas do Congresso Nacional. auto-organização e autoadministração assegurada aos ór-
§ 8º As medidas provisórias terão sua votação inicia- gãos do Poder Judiciário:
da na Câmara dos Deputados. 
§ 9º Caberá à comissão mista de Deputados e Sena- Artigo 73, CF. O Tribunal de Contas da União, integrado
dores examinar as medidas provisórias e sobre elas emitir por nove Ministros, tem sede no Distrito Federal, quadro
parecer, antes de serem apreciadas, em sessão separada, próprio de pessoal e jurisdição em todo o território na-
pelo plenário de cada uma das Casas do Congresso Nacio- cional, exercendo, no que couber, as atribuições previstas
nal.  no art. 96.
§ 10. É vedada a reedição, na mesma sessão legislativa, § 1º Os Ministros do Tribunal de Contas da União serão
de medida provisória que tenha sido rejeitada ou que tenha nomeados dentre brasileiros que satisfaçam os seguintes
perdido sua eficácia por decurso de prazo.  requisitos:
§ 11. Não editado o decreto legislativo a que se refere I - mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco
o § 3º até sessenta dias após a rejeição ou perda de eficá- anos de idade;
cia de medida provisória, as relações jurídicas constituídas e II - idoneidade moral e reputação ilibada;
decorrentes de atos praticados durante sua vigência conser- III - notórios conhecimentos jurídicos, contábeis, eco-
var-se-ão por ela regidas. nômicos e financeiros ou de administração pública;
§ 12. Aprovado projeto de lei de conversão alterando IV - mais de dez anos de exercício de função ou de
o texto original da medida provisória, esta manter-se-á in- efetiva atividade profissional que exija os conhecimentos
tegralmente em vigor até que seja sancionado ou vetado mencionados no inciso anterior.
o projeto.  § 2º Os Ministros do Tribunal de Contas da União serão
escolhidos:
9) Fiscalização contábil, financeira e orçamentária. I - um terço pelo Presidente da República, com apro-
Tribunal de Contas. vação do Senado Federal, sendo dois alternadamente dentre
auditores e membros do Ministério Público junto ao Tribu-
Estabelece o caput do artigo 70 da Constituição: nal, indicados em lista tríplice pelo Tribunal, segundo os cri-
térios de antiguidade e merecimento;

62
DIREITO CONSTITUCIONAL

II - dois terços pelo Congresso Nacional. IX - assinar prazo para que o órgão ou entidade adote
§ 3° Os Ministros do Tribunal de Contas da União te- as providências necessárias ao exato cumprimento da
rão as mesmas garantias, prerrogativas, impedimentos, lei, se verificada ilegalidade;
vencimentos e vantagens dos Ministros do Superior Tri- X - sustar, se não atendido, a execução do ato im-
bunal de Justiça, aplicando-se-lhes, quanto à aposentado- pugnado, comunicando a decisão à Câmara dos Depu-
ria e pensão, as normas constantes do art. 40.  tados e ao Senado Federal;
§ 4º O auditor, quando em substituição a Ministro, terá XI - representar ao Poder competente sobre irregulari-
as mesmas garantias e impedimentos do titular e, quando dades ou abusos apurados.
no exercício das demais atribuições da judicatura, as de juiz § 1º No caso de contrato, o ato de sustação será ado-
de Tribunal Regional Federal. tado diretamente pelo Congresso Nacional, que solicita-
rá, de imediato, ao Poder Executivo as medidas cabíveis.
Por seu turno, as atribuições do Tribunal de Contas da § 2º Se o Congresso Nacional ou o Poder Executivo, no
União encontram-se descritas no artigo 71 da Constituição, prazo de noventa dias, não efetivar as medidas previstas
envolvendo notadamente o auxílio ao Congresso Nacional no parágrafo anterior, o Tribunal decidirá a respeito.
no controle externo (tanto é assim que o Tribunal não susta § 3º As decisões do Tribunal de que resulte imputação
diretamente os atos ilegais, mas solicita ao Congresso Na- de débito ou multa terão eficácia de título executivo.
cional que o faça): § 4º O Tribunal encaminhará ao Congresso Nacional,
trimestral e anualmente, relatório de suas atividades.
Artigo 71, CF. O controle externo, a cargo do Congresso
Nacional, será exercido com o auxílio do Tribunal de Contas Após, o artigo 72 regulamenta a atuação da Comissão
da União, ao qual compete: Mista Permanente de Planos, Orçamentos Públicos e Fis-
I - apreciar as contas prestadas anualmente pelo Pre- calização:
sidente da República, mediante parecer prévio que deverá
ser elaborado em sessenta dias a contar de seu recebimento; Artigo 72, CF. A Comissão mista permanente a que se
II - julgar as contas dos administradores e demais res-
refere o art. 166, §1º48, diante de indícios de despesas não
ponsáveis por dinheiros, bens e valores públicos da adminis-
autorizadas, ainda que sob a forma de investimentos não
tração direta e indireta, incluídas as fundações e sociedades
programados ou de subsídios não aprovados, poderá soli-
instituídas e mantidas pelo Poder Público federal, e as contas
citar à autoridade governamental responsável que, no
daqueles que derem causa a perda, extravio ou outra irregu-
prazo de cinco dias, preste os esclarecimentos necessários.
laridade de que resulte prejuízo ao erário público;
§ 1º Não prestados os esclarecimentos, ou considera-
III - apreciar, para fins de registro, a legalidade dos
dos estes insuficientes, a Comissão solicitará ao Tribunal
atos de admissão de pessoal, a qualquer título, na admi-
nistração direta e indireta, incluídas as fundações instituídas pronunciamento conclusivo sobre a matéria, no prazo de
e mantidas pelo Poder Público, excetuadas as nomeações trinta dias.
para cargo de provimento em comissão, bem como a das § 2º Entendendo o Tribunal irregular a despesa, a Co-
concessões de aposentadorias, reformas e pensões, ressalva- missão, se julgar que o gasto possa causar dano irreparável
das as melhorias posteriores que não alterem o fundamento ou grave lesão à economia pública, proporá ao Congresso
legal do ato concessório; Nacional sua sustação.
IV - realizar, por iniciativa própria, da Câmara dos De-
putados, do Senado Federal, de Comissão técnica ou de in- b) Controle interno
quérito, inspeções e auditorias de natureza contábil, fi- O controle interno será exercido em todos os Poderes
nanceira, orçamentária, operacional e patrimonial, nas mediante sistema integrado entre os órgãos do controle
unidades administrativas dos Poderes Legislativo, Execu- interno, bem como entre estes e o Tribunal de Contas da
tivo e Judiciário, e demais entidades referidas no inciso II; União, cuja finalidade está descrita no artigo 74 da Cons-
V - fiscalizar as contas nacionais das empresas su- tituição.
pranacionais de cujo capital social a União participe, de
forma direta ou indireta, nos termos do tratado constitutivo; 48 Disciplina o referido dispositivo: “Art. 166. Os proje-
VI - fiscalizar a aplicação de quaisquer recursos re- tos de lei relativos ao plano plurianual, às diretrizes orçamen-
passados pela União mediante convênio, acordo, ajuste ou tárias, ao orçamento anual e aos créditos adicionais serão
outros instrumentos congêneres, a Estado, ao Distrito Fede- apreciados pelas duas Casas do Congresso Nacional, na for-
ral ou a Município; ma do regimento comum. § 1º Caberá a uma Comissão mista
VII - prestar as informações solicitadas pelo Congres- permanente de Senadores e Deputados: I - examinar e emitir
so Nacional, por qualquer de suas Casas, ou por qualquer parecer sobre os projetos referidos neste artigo e sobre as
das respectivas Comissões, sobre a fiscalização contábil, fi- contas apresentadas anualmente pelo Presidente da Repúbli-
nanceira, orçamentária, operacional e patrimonial e sobre ca; II - examinar e emitir parecer sobre os planos e programas
resultados de auditorias e inspeções realizadas; nacionais, regionais e setoriais previstos nesta Constituição
VIII - aplicar aos responsáveis, em caso de ilegalidade e exercer o acompanhamento e a fiscalização orçamentária,
de despesa ou irregularidade de contas, as sanções pre- sem prejuízo da atuação das demais comissões do Congres-
vistas em lei, que estabelecerá, entre outras cominações, so Nacional e de suas Casas, criadas de acordo com o art.
multa proporcional ao dano causado ao erário; 58”.

63
DIREITO CONSTITUCIONAL

Artigo 74, CF. Os Poderes Legislativo, Executivo e Ju- V - os Tribunais e Juízes Eleitorais;
diciário manterão, de forma integrada, sistema de controle VI - os Tribunais e Juízes Militares;
interno com a finalidade de: VII - os Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito
I - avaliar o cumprimento das metas previstas no plano Federal e Territórios.
plurianual, a execução dos programas de governo e dos or- § 1º O Supremo Tribunal Federal, o Conselho Nacional
çamentos da União; de Justiça e os Tribunais Superiores têm sede na Capital
II - comprovar a legalidade e avaliar os resultados, Federal. 
quanto à eficácia e eficiência, da gestão orçamentária, fi- § 2º O Supremo Tribunal Federal e os Tribunais Supe-
nanceira e patrimonial nos órgãos e entidades da adminis- riores têm jurisdição em todo o território nacional.
tração federal, bem como da aplicação de recursos públicos
por entidades de direito privado; 1) Estatuto da Magistratura 
III - exercer o controle das operações de crédito, avais e A Lei Complementar nº 35, de 14 de março de 1979,
garantias, bem como dos direitos e haveres da União; dispõe sobre a Lei Orgânica da Magistratura Nacional, que
IV - apoiar o controle externo no exercício de sua mis- faz as vezes de Estatuto da Magistratura. A lei foi recep-
são institucional. cionada pela Constituição Federal no que for compatível
§ 1º Os responsáveis pelo controle interno, ao tomarem com este artigo 93, que segue abaixo. Com efeito, a Lei
conhecimento de qualquer irregularidade ou ilegalidade, Complementar nº 35/1979 foi sendo atualizada pelas Leis
dela darão ciência ao Tribunal de Contas da União, sob Complementares nº 37/1979, 54/1986 e 60/1989 e Resolu-
pena de responsabilidade solidária. ções do Senado Federal nº 12/9031/93. Contudo, somente
§ 2º Qualquer cidadão, partido político, associação com a edição da Constituição Federal de 1988 e, principal-
ou sindicato é parte legítima para, na forma da lei, denun- mente, com a Emenda Constitucional nº 45/2004, abriu-se
ciar irregularidades ou ilegalidades perante o Tribunal de um horizonte mais promissor.
Contas da União. A Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), inclu-
sive, elaborou em fevereiro de 2005 uma Proposta de An-
c) Simetria quanto aos demais entes federados
teprojeto de Lei Complementar versando sobre o Estatuto
O artigo 75 da Constituição estabelece normativa mí-
da Magistratura Nacional (LOMAN) de forma mais compa-
nima a ser aplicada à fiscalização contábil, financeira e or-
tível com o atual contexto da Constituição Federal. Mais
çamentária das demais unidades federativas, respeitando
recentemente, ao final de 2014, o Presidente do Supremo
uma simetria constitucional.
Tribunal Federal divulgou minuta do Estatuto da Magistra-
tura, anteprojeto que pode ser apresentado ao Congresso
Artigo 75, CF. As normas estabelecidas nesta seção apli-
Nacional no ano de 201549. A edição do Estatuto, entretan-
cam-se, no que couber, à organização, composição e fiscali-
to, vem tardando. Ainda assim, prevalece o entendimento
zação dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito
Federal, bem como dos Tribunais e Conselhos de Contas pela autoaplicabilidade do artigo 93 da Constituição Fe-
dos Municípios. deral, o que reforça garantias essenciais ao exercício da
Parágrafo único. As Constituições estaduais disporão atividade judicante.
sobre os Tribunais de Contas respectivos, que serão integra-
dos por sete Conselheiros. Artigo 93, CF. Lei complementar, de iniciativa do Supre-
mo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistra-
tura, observados os seguintes princípios:
I - ingresso na carreira, cujo cargo inicial será o de juiz
Disposições gerais substituto, mediante concurso público de provas e títulos,
com a participação da Ordem dos Advogados do Brasil
O Poder Judiciário tem por função essencial aplicar a lei em todas as fases, exigindo-se do bacharel em direito, no
ao caso concreto, julgar os casos levados à sua apreciação. mínimo, três anos de atividade jurídica e obedecendo-se,
O artigo 92 da Constituição disciplina os órgãos que com- nas nomeações, à ordem de classificação;
põem o Poder Judiciário, sendo que os artigos posteriores II - promoção de entrância para entrância, alterna-
delimitam a competência de cada um deles. Os órgãos que damente, por antiguidade e merecimento, atendidas as
ficam no topo do sistema possuem sede na Capital Federal, seguintes normas:
Brasília, e são dotados de jurisdição em todo o território a) é obrigatória a promoção do juiz que figure por três
nacional. vezes consecutivas ou cinco alternadas em lista de me-
recimento;
Artigo 92, CF. São órgãos do Poder Judiciário: b) a promoção por merecimento pressupõe dois
I - o Supremo Tribunal Federal; anos de exercício na respectiva entrância e integrar o
I-A - o Conselho Nacional de Justiça;  juiz a primeira quinta parte da lista de antiguidade
II - o Superior Tribunal de Justiça; desta, salvo se não houver com tais requisitos quem aceite
II-A - o Tribunal Superior do Trabalho; o lugar vago;
III - os Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais; 49 http://jota.info/o-que-o-stf-quer-mudar-estatuto-da-
IV - os Tribunais e Juízes do Trabalho; -magistratura

64
DIREITO CONSTITUCIONAL

c) aferição do merecimento conforme o desempenho cionais delegadas da competência do tribunal pleno, pro-
e pelos critérios objetivos de produtividade e presteza no vendo-se metade das vagas por antiguidade e a outra meta-
exercício da jurisdição e pela frequência e aproveitamento de por eleição pelo tribunal pleno;
em cursos oficiais ou reconhecidos de aperfeiçoamento;  XII - a atividade jurisdicional será ininterrupta, sendo
d) na apuração de antiguidade, o tribunal somente po- vedado férias coletivas nos juízos e tribunais de segundo
derá recusar o juiz mais antigo pelo voto fundamentado grau, funcionando, nos dias em que não houver expediente
de dois terços de seus membros, conforme procedimento forense normal, juízes em plantão permanente;
próprio, e assegurada ampla defesa, repetindo-se a votação XIII - o número de juízes na unidade jurisdicional será
até fixar-se a indicação;  proporcional à efetiva demanda judicial e à respectiva po-
e) não será promovido o juiz que, injustificadamente, pulação; 
retiver autos em seu poder além do prazo legal, não XIV - os servidores receberão delegação para a prática
podendo devolvê-los ao cartório sem o devido despacho ou de atos de administração e atos de mero expediente sem
decisão;  caráter decisório;
III - o acesso aos tribunais de segundo grau far-se-á XV - a distribuição de processos será imediata, em to-
por antiguidade e merecimento, alternadamente, apura- dos os graus de jurisdição.
dos na última ou única entrância; 
IV - previsão de cursos oficiais de preparação, aperfei- 2) Quinto constitucional 
çoamento e promoção de magistrados, constituindo etapa O artigo 94 da Constituição Federal regulamenta o de-
obrigatória do processo de vitaliciamento a participação nominado quinto constitucional, que garante que 1/5 de
em curso oficial ou reconhecido por escola nacional de for- determinados Tribunais seja composto por membros do
mação e aperfeiçoamento de magistrados;  Ministério Público ou Advogados, exercentes há 10 anos
V - o subsídio dos Ministros dos Tribunais Superio- no mínimo, sendo lista tríplice remetida ao Chefe do Exe-
res corresponderá a noventa e cinco por cento do subsídio cutivo, que fará a nomeação.
mensal fixado para os Ministros do Supremo Tribunal Fe-
deral e os subsídios dos demais magistrados serão fixados Artigo 94, CF. Um quinto dos lugares dos Tribunais Re-
em lei e escalonados, em nível federal e estadual, conforme gionais Federais, dos Tribunais dos Estados, e do Distrito
Federal e Territórios será composto de membros, do Mi-
as respectivas categorias da estrutura judiciária nacional,
nistério Público, com mais de dez anos de carreira, e de
não podendo a diferença entre uma e outra ser superior a
advogados de notório saber jurídico e de reputação iliba-
dez por cento ou inferior a cinco por cento, nem exceder a
da, com mais de dez anos de efetiva atividade profissio-
noventa e cinco por cento do subsídio mensal dos Ministros
nal, indicados em lista sêxtupla pelos órgãos de represen-
dos Tribunais Superiores, obedecido, em qualquer caso, o
tação das respectivas classes.
disposto nos arts. 37, XI, e 39, § 4º; 
Parágrafo único. Recebidas as indicações, o tribunal
VI - a aposentadoria dos magistrados e a pensão de
formará lista tríplice, enviando-a ao Poder Executivo, que,
seus dependentes observarão o disposto no art. 40; 
nos vinte dias subsequentes, escolherá um de seus inte-
VII - o juiz titular residirá na respectiva comarca, salvo grantes para nomeação.
autorização do tribunal; 
VIII - o ato de remoção, disponibilidade e aposen- 3) Garantias da magistratura
tadoria do magistrado, por interesse público, fundar-se-á As garantias da magistratura encontram previsão no
em decisão por voto da maioria absoluta do respectivo caput do artigo 95 da Constituição Federal, sendo elas vi-
tribunal ou do Conselho Nacional de Justiça, assegurada taliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade de subsídio.
ampla defesa; 
VIII-A - a remoção a pedido ou a permuta de ma- Artigo 95, CF. Os juízes gozam das seguintes garantias:
gistrados de comarca de igual entrância atenderá, no que I - vitaliciedade, que, no primeiro grau, só será adquirida
couber, ao disposto nas alíneas ‘a’ , ‘b’ , ‘c’ e ‘e’ do inciso II;  após dois anos de exercício, dependendo a perda do cargo,
IX - todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciá- nesse período, de deliberação do tribunal a que o juiz estiver
rio serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, vinculado, e, nos demais casos, de sentença judicial transi-
sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em tada em julgado;
determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, II - inamovibilidade, salvo por motivo de interesse públi-
ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do co, na forma do art. 93, VIII;
direito à intimidade do interessado no sigilo não preju- III - irredutibilidade de subsídio, ressalvado o disposto
dique o interesse público à informação;  nos artigos 37, X e XI, 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I.
X - as decisões administrativas dos tribunais serão
motivadas e em sessão pública, sendo as disciplinares a) Vitaliciedade – trata-se da garantia de que o ma-
tomadas pelo voto da maioria absoluta de seus membros;  gistrado não perderá o cargo a não ser em caso de senten-
XI - nos tribunais com número superior a vinte e cinco ça judicial transitada em julgado. Nos primeiros dois anos
julgadores, poderá ser constituído órgão especial, com o de exercício, não se adquire a garantia da vitaliciedade, de
mínimo de onze e o máximo de vinte e cinco membros, modo que caberá a perda do cargo mesmo em caso de
para o exercício das atribuições administrativas e jurisdi- deliberação do tribunal ao qual o juiz estiver vinculado.

65
DIREITO CONSTITUCIONAL

b) Inamovibilidade – o magistrado não pode ser b) a criação e a extinção de cargos e a remuneração


transferido da comarca ou seção na qual é titular e nem dos seus serviços auxiliares e dos juízos que lhes forem vin-
mesmo de sua vara, salvo motivo de interesse público, exi- culados, bem como a fixação do subsídio de seus membros
gindo-se no caso decisão por voto da maioria absoluta do e dos juízes, inclusive dos tribunais inferiores, onde houver; 
respectivo tribunal ou do Conselho Nacional de Justiça, as- c) a criação ou extinção dos tribunais inferiores;
segurada ampla defesa. d) a alteração da organização e da divisão judiciárias;
c) Irredutibilidade de subsídio – o subsídio do magis- III - aos Tribunais de Justiça julgar os juízes estaduais
trado não pode ser reduzido, mas é necessário observar o e do Distrito Federal e Territórios, bem como os membros
respeito aos limites de teto e demais limites financeiros e do Ministério Público, nos crimes comuns e de respon-
orçamentários fixados na Constituição. sabilidade, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral.
Prossegue o artigo 95 estabelecendo vedações aos juí-
zes no exercício de suas funções ou em decorrência dele. Por seu turno, o artigo 97 da Constituição traz uma re-
gra já estudada quando do controle de constitucionalidade
Artigo 95, parágrafo único, CF. Aos juízes é vedado: referente ao quórum para a declaração de inconstitucio-
I - exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo nalidade:
ou função, salvo uma de magistério;
II - receber, a qualquer título ou pretexto, custas ou par- Artigo 97, CF. Somente pelo voto da maioria absoluta
ticipação em processo; de seus membros ou dos membros do respectivo órgão espe-
III - dedicar-se à atividade político-partidária. cial poderão os tribunais declarar a inconstitucionalidade
IV - receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou de lei ou ato normativo do Poder Público.
contribuições de pessoas físicas, entidades públicas ou
privadas, ressalvadas as exceções previstas em lei;  Já o artigo 98 da Constituição Federal prevê questões
V - exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se organizacionais, notadamente sobre órgãos judiciários a
afastou, antes de decorridos três anos do afastamento do serem criados. Os juizados especiais são regidos na esfera
estadual pela Lei nº 9.099/1995 e na esfera federal pela Lei
cargo por aposentadoria ou exoneração. 
nº 10.259/2001.
4) Competência e organização
Artigo 98, CF. A União, no Distrito Federal e nos Territó-
O artigo 96 da Constituição Federal disciplina a ques-
rios, e os Estados criarão:
tão da competência dos principais órgãos do Poder Judi-
I - juizados especiais, providos por juízes togados, ou
ciário, notadamente tribunais, deixando evidente a auto-
togados e leigos, competentes para a conciliação, o julga-
nomia organizacional e administrativa do Poder Judiciário,
mento e a execução de causas cíveis de menor complexidade
questão reforçada no artigo 99 da Constituição.
e infrações penais de menor potencial ofensivo, mediante os
procedimentos oral e sumaríssimo, permitidos, nas hipóteses
Artigo 96, CF. Compete privativamente: previstas em lei, a transação e o julgamento de recursos por
I - aos tribunais: turmas de juízes de primeiro grau;
a) eleger seus órgãos diretivos e elaborar seus regi- II - justiça de paz, remunerada, composta de cidadãos
mentos internos, com observância das normas de proces- eleitos pelo voto direto, universal e secreto, com mandato de
so e das garantias processuais das partes, dispondo sobre a quatro anos e competência para, na forma da lei, celebrar
competência e o funcionamento dos respectivos órgãos juris- casamentos, verificar, de ofício ou em face de impugnação
dicionais e administrativos; apresentada, o processo de habilitação e exercer atribuições
b) organizar suas secretarias e serviços auxiliares e os conciliatórias, sem caráter jurisdicional, além de outras pre-
dos juízos que lhes forem vinculados, velando pelo exercício vistas na legislação.
da atividade correicional respectiva; § 1º Lei federal disporá sobre a criação de juizados es-
c) prover, na forma prevista nesta Constituição, os car- peciais no âmbito da Justiça Federal. 
gos de juiz de carreira da respectiva jurisdição; § 2º As custas e emolumentos serão destinados exclu-
d) propor a criação de novas varas judiciárias; sivamente ao custeio dos serviços afetos às atividades espe-
e) prover, por concurso público de provas, ou de provas cíficas da Justiça. 
e títulos, obedecido o disposto no art. 169, parágrafo único,
os cargos necessários à administração da Justiça, exceto O artigo 99 da Constituição detalha a questão da auto-
os de confiança assim definidos em lei; nomia administrativa e financeira do Poder Judiciário.
f) conceder licença, férias e outros afastamentos a
seus membros e aos juízes e servidores que lhes forem ime- Artigo 99, CF. Ao Poder Judiciário é assegurada autono-
diatamente vinculados; mia administrativa e financeira.
II - ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Supe- § 1º Os tribunais elaborarão suas propostas orçamen-
riores e aos Tribunais de Justiça propor ao Poder Legis- tárias dentro dos limites estipulados conjuntamente com os
lativo respectivo, observado o disposto no art. 169: demais Poderes na lei de diretrizes orçamentárias.
a) a alteração do número de membros dos tribunais § 2º O encaminhamento da proposta, ouvidos os ou-
inferiores; tros tribunais interessados, compete:

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DIREITO CONSTITUCIONAL

I - no âmbito da União, aos Presidentes do Supremo os fins do disposto no § 3º deste artigo, admitido o fraciona-
Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores, com a apro- mento para essa finalidade, sendo que o restante será pago
vação dos respectivos tribunais; na ordem cronológica de apresentação do precatório.. 
II - no âmbito dos Estados e no do Distrito Federal e § 3º O disposto no caput deste artigo relativamente à
Territórios, aos Presidentes dos Tribunais de Justiça, com expedição de precatórios não se aplica aos pagamentos de
a aprovação dos respectivos tribunais. obrigações definidas em leis como de pequeno valor que
§ 3º Se os órgãos referidos no § 2º não encaminha- as Fazendas referidas devam fazer em virtude de sentença
rem as respectivas propostas orçamentárias dentro do judicial transitada em julgado.
prazo estabelecido na lei de diretrizes orçamentárias, o § 4º Para os fins do disposto no § 3º, poderão ser fi-
Poder Executivo considerará, para fins de consolidação da xados, por leis próprias, valores distintos às entidades de
proposta orçamentária anual, os valores aprovados na lei direito público, segundo as diferentes capacidades econômi-
orçamentária vigente, ajustados de acordo com os limites cas, sendo o mínimo igual ao valor do maior benefício do
estipulados na forma do § 1º deste artigo.  regime geral de previdência social.
§ 4º Se as propostas orçamentárias de que trata este § 5º É obrigatória a inclusão, no orçamento das enti-
artigo forem encaminhadas em desacordo com os limites dades de direito público, de verba necessária ao paga-
estipulados na forma do § 1º, o Poder Executivo procederá mento de seus débitos, oriundos de sentenças transitadas
aos ajustes necessários para fins de consolidação da pro- em julgado, constantes de precatórios judiciários apresen-
posta orçamentária anual.  tados até 1º de julho, fazendo-se o pagamento até o final
§ 5º Durante a execução orçamentária do exercício, do exercício seguinte, quando terão seus valores atualizados
não poderá haver a realização de despesas ou a assunção monetariamente.
de obrigações que extrapolem os limites estabelecidos na § 6º As dotações orçamentárias e os créditos aber-
lei de diretrizes orçamentárias, exceto se previamente au- tos serão consignados diretamente ao Poder Judiciário,
torizadas, mediante a abertura de créditos suplementares cabendo ao Presidente do Tribunal que proferir a decisão
ou especiais.  exequenda determinar o pagamento integral e autorizar, a
requerimento do credor e exclusivamente para os casos de
5) Precatórios preterimento de seu direito de precedência ou de não alo-
Precatório é o instrumento pelo qual o Poder Judiciário cação orçamentária do valor necessário à satisfação do seu
requisita, à Fazenda Pública, o pagamento a que esta tenha débito, o sequestro da quantia respectiva. 
sido condenada em processo judicial. Grosso modo, é o § 7º O Presidente do Tribunal competente que, por ato
documento pelo qual o Presidente de Tribunal, por solici- comissivo ou omissivo, retardar ou tentar frustrar a li-
tação do Juiz da causa, determina o pagamento de dívida quidação regular de precatórios incorrerá em crime de res-
da União, de Estado, Distrito Federal ou do Município, por ponsabilidade e responderá, também, perante o Conselho
meio da inclusão do valor do débito no orçamento público. Nacional de Justiça. 
O tratamento dos precatórios na Constituição Brasilei- § 8º É vedada a expedição de precatórios complemen-
ra foi substancialmente alterado pela Emenda Constitucio- tares ou suplementares de valor pago, bem como o fra-
nal nº 62/2009, que conferiu nova redação ao artigo 100 do cionamento, repartição ou quebra do valor da execução
texto da Constituição. para fins de enquadramento de parcela do total ao que dis-
põe o § 3º deste artigo. 
Artigo 100, CF. Os pagamentos devidos pelas Fazen- § 9º No momento da expedição dos precatórios, inde-
das Públicas Federal, Estaduais, Distrital e Municipais, em pendentemente de regulamentação, deles deverá ser aba-
virtude de sentença judiciária, far-se-ão exclusivamente na tido, a título de compensação, valor correspondente aos
ordem cronológica de apresentação dos precatórios e à débitos líquidos e certos, inscritos ou não em dívida ativa
conta dos créditos respectivos, proibida a designação de e constituídos contra o credor original pela Fazenda Pública
casos ou de pessoas nas dotações orçamentárias e nos crédi- devedora, incluídas parcelas vincendas de parcelamentos,
tos adicionais abertos para este fim.  ressalvados aqueles cuja execução esteja suspensa em vir-
§ 1º Os débitos de natureza alimentícia compreen- tude de contestação administrativa ou judicial. 
dem aqueles decorrentes de salários, vencimentos, proven- § 10. Antes da expedição dos precatórios, o Tribunal
tos, pensões e suas complementações, benefícios previden- solicitará à Fazenda Pública devedora, para resposta em
ciários e indenizações por morte ou por invalidez, fundadas até 30 (trinta) dias, sob pena de perda do direito de aba-
em responsabilidade civil, em virtude de sentença judicial timento, informação sobre os débitos que preencham as
transitada em julgado, e serão pagos com preferência sobre condições estabelecidas no § 9º, para os fins nele previstos.
todos os demais débitos, exceto sobre aqueles referidos no § § 11. É facultada ao credor, conforme estabelecido em
2º deste artigo.  lei da entidade federativa devedora, a entrega de créditos
§ 2º Os débitos de natureza alimentícia cujos titula- em precatórios para compra de imóveis públicos do respec-
res, originários ou por sucessão hereditária, tenham 60 tivo ente federado. 
(sessenta) anos de idade, ou sejam portadores de doença § 12. A partir da promulgação desta Emenda Constitu-
grave, ou pessoas com deficiência, assim definidos na forma cional, a atualização de valores de requisitórios, após sua
da lei, serão pagos com preferência sobre todos os demais expedição, até o efetivo pagamento, independentemente
débitos, até o valor equivalente ao triplo fixado em lei para de sua natureza, será feita pelo índice oficial de remunera-

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DIREITO CONSTITUCIONAL

ção básica da caderneta de poupança, e, para fins de com- monetária, ou mediante acordos diretos, perante Juízos Au-
pensação da mora, incidirão juros simples no mesmo per- xiliares de Conciliação de Precatórios, com redução máxima
centual de juros incidentes sobre a caderneta de poupança, de 40% (quarenta por cento) do valor do crédito atualizado,
ficando excluída a incidência de juros compensatórios. desde que em relação ao crédito não penda recurso ou de-
§ 13. O credor poderá ceder, total ou parcialmente, seus fesa judicial e que sejam observados os requisitos definidos
créditos em precatórios a terceiros, independentemente da na regulamentação editada pelo ente federado.
concordância do devedor, não se aplicando ao cessionário o
disposto nos §§ 2º e 3º.  Órgãos do poder judiciário
§ 14. A cessão de precatórios somente produzirá efeitos 1) Supremo Tribunal Federal
após comunicação, por meio de petição protocolizada, ao O Supremo Tribunal Federal é o órgão de cúpula do
tribunal de origem e à entidade devedora.  Poder Judiciário brasileiro e desempenha a função de guar-
§ 15. Sem prejuízo do disposto neste artigo, lei com- dião da Constituição e do sistema democrático. Trata-se da
plementar a esta Constituição Federal poderá estabelecer última instância judiciária a qual se pode postular e a sua
regime especial para pagamento de crédito de precatórios decisão não pode ser questionada a nenhum outro órgão
de Estados, Distrito Federal e Municípios, dispondo sobre vin- interno.
culações à receita corrente líquida e forma e prazo de liqui- Entre suas principais atribuições está a de julgar a
dação.  ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato norma-
§ 16. A seu critério exclusivo e na forma de lei, a União tivo federal ou estadual, a ação declaratória de constitu-
poderá assumir débitos, oriundos de precatórios, de Estados, cionalidade de lei ou ato normativo federal, a arguição de
Distrito Federal e Municípios, refinanciando-os diretamente.  descumprimento de preceito fundamental decorrente da
§ 17. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Muni- própria Constituição e a extradição solicitada por Estado
cípios aferirão mensalmente, em base anual, o comprometi- estrangeiro.
mento de suas respectivas receitas correntes líquidas com o Na área penal, destaca-se a competência para julgar,
pagamento de precatórios e obrigações de pequeno valor. nas infrações penais comuns, o Presidente da República, o
§ 18. Entende-se como receita corrente líquida, para os Vice-Presidente, os membros do Congresso Nacional, seus
fins de que trata o § 17, o somatório das receitas tributárias, próprios Ministros e o Procurador-Geral da República, en-
patrimoniais, industriais, agropecuárias, de contribuições tre outros.
e de serviços, de transferências correntes e outras receitas Em grau de recurso, sobressaem-se as atribuições de
correntes, incluindo as oriundas do § 1º do art. 20 da Cons- julgar, em recurso ordinário, o habeas corpus, o mandado
tituição Federal, verificado no período compreendido pelo
de segurança, o habeas data e o mandado de injunção de-
segundo mês imediatamente anterior ao de referência e os
cididos em única instância pelos Tribunais Superiores, se
11 (onze) meses precedentes, excluídas as duplicidades, e
denegatória a decisão, e, em recurso extraordinário, as cau-
deduzidas:
sas decididas em única ou última instância, quando a deci-
I - na União, as parcelas entregues aos Estados, ao Distri-
são recorrida contrariar dispositivo da Constituição.
to Federal e aos Municípios por determinação constitucional;
A composição está regulada no artigo 101 da Consti-
II - nos Estados, as parcelas entregues aos Municípios por
tuição Federal, ao passo que a competência está prevista
determinação constitucional;
III - na União, nos Estados, no Distrito Federal e nos Mu- no artigo 102 da mesma.
nicípios, a contribuição dos servidores para custeio de seu
sistema de previdência e assistência social e as receitas pro- Artigo 101, CF. O Supremo Tribunal Federal compõe-se
venientes da compensação financeira referida no § 9º do art. de onze Ministros, escolhidos dentre cidadãos com mais de
201 da Constituição Federal. trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos de idade,
§ 19. Caso o montante total de débitos decorrentes de de notável saber jurídico e reputação ilibada.
condenações judiciais em precatórios e obrigações de pe- Parágrafo único. Os Ministros do Supremo Tribunal
queno valor, em período de 12 (doze) meses, ultrapasse a Federal serão nomeados pelo Presidente da República,
média do comprometimento percentual da receita corren- depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do
te líquida nos 5 (cinco) anos imediatamente anteriores, a Senado Federal.
parcela que exceder esse percentual poderá ser financia-
da, excetuada dos limites de endividamento de que tratam Artigo 102, CF. Compete ao Supremo Tribunal Federal,
os incisos VI e VII do art. 52 da Constituição Federal e de precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:
quaisquer outros limites de endividamento previstos, não I - processar e julgar, originariamente:
se aplicando a esse financiamento a vedação de vinculação a) a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato
de receita prevista no inciso IV do art. 167 da Constituição normativo federal ou estadual e a ação declaratória de cons-
Federal. titucionalidade de lei ou ato normativo federal; 
§ 20. Caso haja precatório com valor superior a 15% b) nas infrações penais comuns, o Presidente da Repú-
(quinze por cento) do montante dos precatórios apresenta- blica, o Vice-Presidente, os membros do Congresso Nacional,
dos nos termos do § 5º deste artigo, 15% (quinze por cento) seus próprios Ministros e o Procurador-Geral da República;
do valor deste precatório serão pagos até o final do exercí- c) nas infrações penais comuns e nos crimes de res-
cio seguinte e o restante em parcelas iguais nos cinco exer- ponsabilidade, os Ministros de Estado e os Comandantes da
cícios subsequentes, acrescidas de juros de mora e correção Marinha, do Exército e da Aeronáutica, ressalvado o disposto

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DIREITO CONSTITUCIONAL

no art. 52, I, os membros dos Tribunais Superiores, os do Tri- d) julgar válida lei local contestada em face de lei
bunal de Contas da União e os chefes de missão diplomática federal.
de caráter permanente;  § 1º A arguição de descumprimento de preceito fun-
d) o ‘habeas corpus’, sendo paciente qualquer das pes- damental, decorrente desta Constituição, será apreciada
soas referidas nas alíneas anteriores; o mandado de segu- pelo Supremo Tribunal Federal, na forma da lei.
rança e o ‘habeas data’ contra atos do Presidente da Repú- § 2º As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo
blica, das Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Fe- Supremo Tribunal Federal, nas ações diretas de inconstitu-
deral, do Tribunal de Contas da União, do Procurador-Geral cionalidade e nas ações declaratórias de constitucionalida-
da República e do próprio Supremo Tribunal Federal; de produzirão eficácia contra todos e efeito vinculante,
e) o litígio entre Estado estrangeiro ou organismo in- relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário e à
ternacional e a União, o Es0tado, o Distrito Federal ou administração pública direta e indireta, nas esferas federal,
o Território; estadual e municipal. 
f) as causas e os conflitos entre a União e os Estados, a
§ 3º No recurso extraordinário o recorrente deverá de-
União e o Distrito Federal, ou entre uns e outros, inclusi-
monstrar a repercussão geral das questões constitucio-
ve as respectivas entidades da administração indireta;
nais discutidas no caso, nos termos da lei, a fim de que o
g) a extradição solicitada por Estado estrangeiro;
Tribunal examine a admissão do recurso, somente podendo
h) (Revogado)
i) o ‘habeas corpus’, quando o coator for Tribunal Su- recusá-lo pela manifestação de dois terços de seus mem-
perior ou quando o coator ou o paciente for autoridade ou bros. 
funcionário cujos atos estejam sujeitos diretamente à juris-
dição do Supremo Tribunal Federal, ou se trate de crime Ação direta de inconstitucionalidade
sujeito à mesma jurisdição em uma única instância; Controle de constitucionalidade é um exercício de
j) a revisão criminal e a ação rescisória de seus jul- verificação de compatibilidade entre um ato jurídico de
gados; qualquer natureza, mas principalmente normativo, com
l) a reclamação para a preservação de sua competência relação à Constituição Federal, de modo que a ausência
e garantia da autoridade de suas decisões; de adequação deste ato jurídico quanto ao texto consti-
m) a execução de sentença nas causas de sua com- tucional gera a declaração de inconstitucionalidade e, por
petência originária, facultada a delegação de atribuições consequência, o afastamento de sua aplicabilidade.
para a prática de atos processuais; O fundamento do controle de constitucionalidade é
n) a ação em que todos os membros da magistratura a supremacia da Constituição. Com efeito, a Constituição
sejam direta ou indiretamente interessados, e aquela em Federal e os demais atos normativos que compõem o de-
que mais da metade dos membros do tribunal de origem nominado bloco de constitucionalidade, notadamente,
estejam impedidos ou sejam direta ou indiretamente inte- emendas constitucionais e tratados internacionais de di-
ressados; reitos humanos aprovados com quórum especial após a
o) os conflitos de competência entre o Superior Tri- Emenda Constitucional nº 45/2004, estão no topo do or-
bunal de Justiça e quaisquer tribunais, entre Tribunais Su- denamento jurídico.
periores, ou entre estes e qualquer outro tribunal; Sendo assim, todos os atos abaixo deles devem guar-
p) o pedido de medida cautelar das ações diretas de dar uma estrita compatibilidade, sob pena de serem in-
inconstitucionalidade; constitucionais. O respeito a esta relação de compatibili-
q) o mandado de injunção, quando a elaboração da dade vertical é, assim, essencial para que um ato jurídico
norma regulamentadora for atribuição do Presidente da Re-
adquira validade no ordenamento jurídico nacional.
pública, do Congresso Nacional, da Câmara dos Deputados,
O controle concentrado, no sistema brasileiro, é rea-
do Senado Federal, das Mesas de uma dessas Casas Legisla-
lizado pelo Supremo Tribunal Federal, mediante utilização
tivas, do Tribunal de Contas da União, de um dos Tribunais
de ações específicas previstas na Constituição Federal, as
Superiores, ou do próprio Supremo Tribunal Federal;
r) as ações contra o Conselho Nacional de Justiça e quais tem por causa de pedir a própria declaração de in-
contra o Conselho Nacional do Ministério Público;  constitucionalidade. A norma abstratamente considerada
II - julgar, em recurso ordinário: é atacada em sua constitucionalidade mediante ação es-
a) o ‘habeas corpus’, o mandado de segurança, o ‘habeas pecífica.
data’ e o mandado de injunção decididos em única instância Logo, o controle é feito por via de ação porque uma
pelos Tribunais Superiores, se denegatória a decisão; ação própria tem por objetivo único e exclusivo a reali-
b) o crime político; zação deste controle, decidindo pela constitucionalidade
III - julgar, mediante recurso extraordinário, as cau- ou inconstitucionalidade. Não existe um interesse jurídico
sas decididas em única ou última instância, quando a subjacente ligado a uma pessoa, não existe alguém espe-
decisão recorrida: cífico em relação ao qual os efeitos da decisão impactarão
a) contrariar dispositivo desta Constituição; de forma mais intensa. A única finalidade é assegurar a su-
b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei premacia da Constituição. Uma vez reconhecido que a lei é
federal; inconstitucional, todas as pessoas sujeitas ao ordenamen-
c) julgar válida lei ou ato de governo local contestado to jurídico nacional serão atingidas – efeito “erga omnes”
em face desta Constituição. da decisão (artigo 28, parágrafo único, Lei nº 9.868/1999).

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No mais, fala-se em controle concentrado porque se publicação na imprensa oficial, terá efeito vinculante em
concentra num único órgão – o Tribunal Pleno do Supre- relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à adminis-
mo Tribunal Federal. Aliás, no Tribunal Pleno do STF será tração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual
necessária a maioria absoluta dos membros no julgamen- e municipal, bem como proceder à sua revisão ou cancela-
to deste tipo de ação: logo, dos 11 ministros, ao menos 6 mento, na forma estabelecida em lei.
devem votar pela inconstitucionalidade para que ela seja § 1º A súmula terá por objetivo a validade, a inter-
declarada. pretação e a eficácia de normas determinadas, acerca das
quais haja controvérsia atual entre órgãos judiciários ou
Recursos Extraordinários entre esses e a administração pública que acarrete grave in-
No controle de constitucionalidade difuso o controle segurança jurídica e relevante multiplicação de proces-
é feito conforme o caso concreto para que aquele objeto sos sobre questão idêntica. 
de discussão na relação jurídico-processual seja apreciado. § 2º Sem prejuízo do que vier a ser estabelecido em lei,
Logo, é incidental, funcionando como uma questão pre- a aprovação, revisão ou cancelamento de súmula poderá
judicial de mérito, que influenciará no objeto principal da ser provocada por aqueles que podem propor a ação di-
lide. Seus efeitos são “inter partes”, restritos às partes no reta de inconstitucionalidade.
processo, mas existe uma tendência de extensão de efei- § 3º Do ato administrativo ou decisão judicial que con-
tos. No Supremo Tribunal Federal um dos principais meca- trariar a súmula aplicável ou que indevidamente a aplicar,
nismos para que o órgão exerça o controle difuso é o dos caberá reclamação ao Supremo Tribunal Federal que,
recursos extraordinários. julgando-a procedente, anulará o ato administrativo ou
Os recursos extraordinários em geral não servem para cassará a decisão judicial reclamada, e determinará que
a pura manifestação de inconformismo, servem para o res- outra seja proferida com ou sem a aplicação da súmula,
guardo e a uniformidade de interpretação da Constituição conforme o caso. 
Federal e das leis federais. Por isso, são recursos de funda-
mentação restrita, a qual é estabelecida pela Constituição Repercussão geral
Federal (perante o STF, fundamentação em violação da CF)
A repercussão geral é um dos mecanismos criado pelo
– artigo 102, III, CF.
Legislativo para restringir o número de recursos no STF.
Vale destacar a questão da repercussão geral nos re-
Prevista no art. 102, §3º, CF, desde a Emenda Constitucional
cursos extraordinários. A repercussão geral é um dos me-
nº 45/2004, passou a ser requisito de admissibilidade do
canismos criado pelo Legislativo para restringir o número
REXT, exigindo que a matéria tenha relevante valor social,
de recursos no STF. Prevista no art. 102, §3º, CF, desde a
político, econômico ou jurídico, transcendendo o interesse
Emenda Constitucional nº 45/2004, passou a ser requisito
individual das partes. Nota-se que a lei usa expressões um
de admissibilidade do REXT, exigindo que a matéria te-
tanto quanto vagas, de modo a deixar ao julgador, STF,
nha relevante valor social, político, econômico ou jurídico,
transcendendo o interesse individual das partes. Nota-se a possibilidade de examinar cada caso concreto, dizendo
que a lei usa expressões um tanto quanto vagas, de modo se há repercussão geral. Aquele que interpõe REXT deve
a deixar ao julgador, STF, a possibilidade de examinar cada dizer, primeiramente, porque há repercussão geral. Dos 11
caso concreto, dizendo se há repercussão geral. ministros, ao menos 8 (2/3) devem dizer que não há reper-
Aquele que interpõe REXT deve dizer, primeiramen- cussão geral. Logo, a falta de repercussão geral deve ser
te, porque há repercussão geral. O REXT é interposto pe- bem evidente.
rante o órgão “a quo”, que fará análise dos requisitos de Art. 1.035, CPC. O Supremo Tribunal Federal, em deci-
admissibilidade, SALVO REPERCUSSÃO GERAL. Só haverá são irrecorrível, não conhecerá do recurso extraordinário
pronunciamento sobre a repercussão geral se o recurso quando a questão constitucional nele versada não tiver re-
chegar de fato ao STF. Dos 11 ministros, ao menos 8 (2/3) percussão geral, nos termos deste artigo.
devem dizer que não há repercussão geral. Logo, a falta de § 1o Para efeito de repercussão geral, será considerada
repercussão geral deve ser bem evidente. a existência ou não de questões relevantes do ponto de
vista econômico, político, social ou jurídico que ultrapas-
Súmula vinculante sem os interesses subjetivos do processo.
A partir da Emenda Constitucional n. 45/2004, foi in- § 2o O recorrente deverá demonstrar a existência de
troduzida a possibilidade de o Supremo Tribunal Federal repercussão geral para apreciação exclusiva pelo Supremo
aprovar, após reiteradas decisões sobre matéria constitu- Tribunal Federal.
cional, súmula com efeito vinculante em relação aos de- § 3o  Haverá repercussão geral sempre que o recurso
mais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública impugnar acórdão que:
direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, I - contrarie súmula ou jurisprudência dominante do
questão regulada pelo artigo 103-A da Constituição. Supremo Tribunal Federal;
II - tenha sido proferido em julgamento de casos repe-
Art. 103-A. CF. O Supremo Tribunal Federal poderá, de titivos;
ofício ou por provocação, mediante decisão de dois terços III - tenha reconhecido a inconstitucionalidade de tra-
dos seus membros, após reiteradas decisões sobre ma- tado ou de lei federal, nos termos do art. 97 da Constituição
téria constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua Federal.

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DIREITO CONSTITUCIONAL

§ 4o O relator poderá admitir, na análise da reper- habeas corpus concedidos ou negados por tribunais regio-
cussão geral, a manifestação de terceiros, subscrita por nais federais ou dos estados, bem como causas decididas
procurador habilitado, nos termos do Regimento Interno do nessas instâncias, sempre que envolverem lei federal.
Supremo Tribunal Federal. Em 2005, como parte da reforma do Judiciário, o STJ
§ 5o Reconhecida a repercussão geral, o relator no Su- assumiu também a competência para analisar a concessão
premo Tribunal Federal determinará a suspensão do pro- de cartas rogatórias e processar e julgar a homologação
cessamento de todos os processos pendentes, individuais de sentenças estrangeiras. Até então, a apreciação desses
ou coletivos, que versem sobre a questão e tramitem no ter- pedidos era feita no Supremo Tribunal Federal (STF)50.
ritório nacional. O artigo 104 da Constituição regula sua composição,
§ 6o  O interessado pode requerer, ao presidente ou ao passo que o artigo 105 regula sua competência.
ao vice-presidente do tribunal de origem, que exclua da
decisão de sobrestamento e inadmita o recurso extraordi- Artigo 104, CF. O Superior Tribunal de Justiça compõe-se
nário que tenha sido interposto intempestivamente, tendo de, no mínimo, trinta e três Ministros.
o recorrente o prazo de 5 (cinco) dias para manifestar-se Parágrafo único. Os Ministros do Superior Tribunal de
sobre esse requerimento. Justiça serão nomeados pelo Presidente da República,
§ 7o Da decisão que indeferir o requerimento referido dentre brasileiros com mais de trinta e cinco e menos de
no § 6o caberá agravo, nos termos do art. 1.042. sessenta e cinco anos, de notável saber jurídico e reputação
§ 8o  Negada a repercussão geral, o presidente ou o ilibada, depois de aprovada a escolha pela maioria absolu-
vice-presidente do tribunal de origem negará seguimento ta do Senado Federal, sendo: 
aos recursos extraordinários sobrestados na origem que I - um terço dentre juízes dos Tribunais Regionais
versem sobre matéria idêntica. Federais e um terço dentre desembargadores dos Tribu-
§ 9o O recurso que tiver a repercussão geral reconhe- nais de Justiça, indicados em lista tríplice elaborada pelo
cida deverá ser julgado no prazo de 1 (um) ano e terá próprio Tribunal;
preferência sobre os demais feitos, ressalvados os que envol- II - um terço, em partes iguais, dentre advogados e
membros do Ministério Público Federal, Estadual, do Dis-
vam réu preso e os pedidos de habeas corpus.
trito Federal e Territórios, alternadamente, indicados na for-
§ 10.  Não ocorrendo o julgamento no prazo de 1 (um)
ma do art. 94.
ano a contar do reconhecimento da repercussão geral,
cessa, em todo o território nacional, a suspensão dos pro-
Artigo 105, CF. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:
cessos, que retomarão seu curso normal.
I - processar e julgar, originariamente:
§ 11.  A súmula da decisão sobre a repercussão geral
a) nos crimes comuns, os Governadores dos Estados
constará de ata, que será publicada no diário oficial e va-
e do Distrito Federal, e, nestes e nos de responsabilidade,
lerá como acórdão. os desembargadores dos Tribunais de Justiça dos Estados
e do Distrito Federal, os membros dos Tribunais de Contas
2) Superior Tribunal de Justiça dos Estados e do Distrito Federal, os dos Tribunais Regionais
Criado pela Constituição Federal de 1988, o Superior Federais, dos Tribunais Regionais Eleitorais e do Trabalho,
Tribunal de Justiça (STJ) é a corte responsável por unifor- os membros dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Mu-
mizar a interpretação da lei federal em todo o Brasil, se- nicípios e os do Ministério Público da União que oficiem
guindo os princípios constitucionais e a garantia e defesa perante tribunais;
do Estado de Direito. b) os mandados de segurança e os ‘habeas data’ contra
O STJ é a última instância da Justiça brasileira para as ato de Ministro de Estado, dos Comandantes da Marinha,
causas infraconstitucionais, não relacionadas diretamente do Exército e da Aeronáutica ou do próprio Tribunal; 
à Constituição. Como órgão de convergência da Justiça c) os ‘habeas corpus’, quando o coator ou paciente for
comum, aprecia causas oriundas de todo o território na- qualquer das pessoas mencionadas na alínea ‘a’, ou quan-
cional, em todas as vertentes jurisdicionais não especiali- do o coator for tribunal sujeito à sua jurisdição, Ministro de
zadas. Estado ou Comandante da Marinha, do Exército ou da Aero-
Sua competência está prevista no art. 105 da Consti- náutica, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral; 
tuição Federal, que estabelece os processos que têm início d) os conflitos de competência entre quaisquer tribu-
no STJ (originários) e os casos em que o Tribunal age como nais, ressalvado o disposto no art. 102, I, ‘o’, bem como entre
órgão de revisão, inclusive nos julgamentos de recursos tribunal e juízes a ele não vinculados e entre juízes vincula-
especiais. dos a tribunais diversos;
O STJ julga crimes comuns praticados por governa- e) as revisões criminais e as ações rescisórias de seus
dores dos estados e do Distrito Federal, crimes comuns e julgados;
de responsabilidade de desembargadores dos tribunais de f) a reclamação para a preservação de sua competên-
justiça e de conselheiros dos tribunais de contas estaduais, cia e garantia da autoridade de suas decisões;
dos membros dos tribunais regionais federais, eleitorais e g) os conflitos de atribuições entre autoridades ad-
do Trabalho. ministrativas e judiciárias da União, ou entre autoridades
Julga também habeas corpus que envolvam essas au- judiciárias de um Estado e administrativas de outro ou do
toridades ou ministros de Estado, exceto em casos relati- Distrito Federal, ou entre as deste e da União;
vos à Justiça eleitoral. Pode apreciar ainda recursos contra 50 http://www.stj.jus.br/sites/STJ/

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DIREITO CONSTITUCIONAL

h) o mandado de injunção, quando a elaboração da I - um quinto dentre advogados com mais de dez anos
norma regulamentadora for atribuição de órgão, entidade de efetiva atividade profissional e membros do Ministério
ou autoridade federal, da administração direta ou indireta, Público Federal com mais de dez anos de carreira;
excetuados os casos de competência do Supremo Tribunal II - os demais, mediante promoção de juízes federais
Federal e dos órgãos da Justiça Militar, da Justiça Eleitoral, da com mais de cinco anos de exercício, por antiguidade e me-
Justiça do Trabalho e da Justiça Federal; recimento, alternadamente.
i) a homologação de sentenças estrangeiras e a con- § 1º A lei disciplinará a remoção ou a permuta de juí-
cessão de ‘exequatur’ às cartas rogatórias;  zes dos Tribunais Regionais Federais e determinará sua ju-
II - julgar, em recurso ordinário: risdição e sede.
a) os habeas corpus decididos em única ou última ins- § 2º Os Tribunais Regionais Federais instalarão a jus-
tância pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais tiça itinerante, com a realização de audiências e demais
dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a deci- funções da atividade jurisdicional, nos limites territoriais da
são for denegatória; respectiva jurisdição, servindo-se de equipamentos públicos
e comunitários.
b) os mandados de segurança decididos em única ins-
§ 3º Os Tribunais Regionais Federais poderão funcionar
tância pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais
descentralizadamente, constituindo Câmaras regionais, a
dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando dene- fim de assegurar o pleno acesso do jurisdicionado à justiça
gatória a decisão; em todas as fases do processo.
c) as causas em que forem partes Estado estrangeiro ou  
organismo internacional, de um lado, e, do outro, Municí- Artigo 108, CF. Compete aos Tribunais Regionais Fede-
pio ou pessoa residente ou domiciliada no País; rais:
III - julgar, em recurso especial, as causas decididas, I - processar e julgar, originariamente:
em única ou última instância, pelos Tribunais Regionais a) os juízes federais da área de sua jurisdição, incluídos
Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Fe- os da Justiça Militar e da Justiça do Trabalho, nos crimes
deral e Territórios, quando a decisão recorrida: comuns e de responsabilidade, e os membros do Ministé-
a) contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vi- rio Público da União, ressalvada a competência da Justiça
gência; Eleitoral;
b) julgar válido ato de governo local contestado em b) as revisões criminais e as ações rescisórias de jul-
face de lei federal; gados seus ou dos juízes federais da região;
c) der a lei federal interpretação divergente da que c) os mandados de segurança e os habeas data contra
lhe haja atribuído outro tribunal. ato do próprio Tribunal ou de juiz federal;
Parágrafo único. Funcionarão junto ao Superior Tri- d) os habeas corpus, quando a autoridade coatora for
bunal de Justiça:  juiz federal;
I - a Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamen- e) os conflitos de competência entre juízes federais
to de Magistrados, cabendo-lhe, dentre outras funções, re- vinculados ao Tribunal;
gulamentar os cursos oficiais para o ingresso e promoção na II - julgar, em grau de recurso, as causas decididas
carreira;  pelos juízes federais e pelos juízes estaduais no exercí-
II - o Conselho da Justiça Federal, cabendo-lhe exercer, cio da competência federal da área de sua jurisdição.
na forma da lei, a supervisão administrativa e orçamentária
da Justiça Federal de primeiro e segundo graus, como órgão Artigo 109, CF. Aos juízes federais compete processar
e julgar:
central do sistema e com poderes correicionais, cujas decisões
I - as causas em que a União, entidade autárquica
terão caráter vinculante. 
ou empresa pública federal forem interessadas na con-
dição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de
3) Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça
Os Tribunais Regionais Federais e os Juízes Federais são Eleitoral e à Justiça do Trabalho;
os órgãos que possuem competência de julgamento no II - as causas entre Estado estrangeiro ou organismo
âmbito da Justiça Federal, conforme delimitação feita pelos internacional e Município ou pessoa domiciliada ou re-
artigos 108 e 109 da Constituição Federal. Por sua vez, os sidente no País;
artigos 106, 107 e 110 da Constituição voltam-se ao esta- III - as causas fundadas em tratado ou contrato da
belecimento de estrutura e composição da Justiça Federal. União com Estado estrangeiro ou organismo internacio-
nal;
Artigo 106, CF. São órgãos da Justiça Federal: IV - os crimes políticos e as infrações penais prati-
I - os Tribunais Regionais Federais; cadas em detrimento de bens, serviços ou interesse da
II - os Juízes Federais. União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públi-
cas, excluídas as contravenções e ressalvada a competência
Artigo 107, CF. Os Tribunais Regionais Federais com- da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral;
põem-se de, no mínimo, sete juízes, recrutados, quando V - os crimes previstos em tratado ou convenção in-
possível, na respectiva região e nomeados pelo Presidente ternacional, quando, iniciada a execução no País, o resul-
da República dentre brasileiros com mais de trinta e me- tado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reci-
nos de sessenta e cinco anos, sendo: procamente;

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DIREITO CONSTITUCIONAL

V-A as causas relativas a direitos humanos a que se a última instância possível – em tese, ainda se pode ir ao
refere o § 5º deste artigo;  Supremo Tribunal Federal. A composição deste Tribunal
VI - os crimes contra a organização do trabalho e, Superior está definida no artigo 111-A, CF. Ainda sobre
nos casos determinados por lei, contra o sistema financeiro questões estruturais da Justiça do Trabalho, têm-se os ar-
e a ordem econômico-financeira; tigos 112, 113, 114 e 115 da Constituição Federal. Por seu
VII - os habeas corpus, em matéria criminal de sua turno, o artigo 114, CF define as competências da Justiça
competência ou quando o constrangimento provier de au- do Trabalho.
toridade cujos atos não estejam diretamente sujeitos a outra
jurisdição; Artigo 111, CF. São órgãos da Justiça do Trabalho:
VIII - os mandados de segurança e os habeas data I - o Tribunal Superior do Trabalho;
contra ato de autoridade federal, excetuados os casos de II - os Tribunais Regionais do Trabalho;
competência dos tribunais federais; III - Juízes do Trabalho. 
IX - os crimes cometidos a bordo de navios ou aero-
naves, ressalvada a competência da Justiça Militar; Art. 111-A. O Tribunal Superior do Trabalho compor-se-
X - os crimes de ingresso ou permanência irregular -á de vinte e sete Ministros, escolhidos dentre brasileiros
de estrangeiro, a execução de carta rogatória, após o com mais de trinta e cinco anos e menos de sessenta e
exequatur, e de sentença estrangeira, após a homologa- cinco anos, de notável saber jurídico e reputação iliba-
ção, as causas referentes à nacionalidade, inclusive a res- da, nomeados pelo Presidente da República após apro-
pectiva opção, e à naturalização; vação pela maioria absoluta do Senado Federal, sendo:
XI - a disputa sobre direitos indígenas. I - um quinto dentre advogados com mais de dez anos
§ 1º As causas em que a União for autora serão afora- de efetiva atividade profissional e membros do Ministério
das na seção judiciária onde tiver domicílio a outra parte. Público do Trabalho com mais de dez anos de efetivo exer-
§ 2º As causas intentadas contra a União poderão ser cício, observado o disposto no art. 94; 
aforadas na seção judiciária em que for domiciliado o II - os demais dentre juízes dos Tribunais Regionais do
autor, naquela onde houver ocorrido o ato ou fato que deu Trabalho, oriundos da magistratura da carreira, indicados
origem à demanda ou onde esteja situada a coisa, ou, ainda, pelo próprio Tribunal Superior. 
no Distrito Federal. § 1º A lei disporá sobre a competência do Tribunal Su-
§ 3º Serão processadas e julgadas na justiça esta- perior do Trabalho.
dual, no foro do domicílio dos segurados ou beneficiários, § 2º Funcionarão junto ao Tribunal Superior do Traba-
as causas em que forem parte instituição de previdência lho: 
social e segurado, sempre que a comarca não seja sede I - a Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamen-
de vara do juízo federal, e, se verificada essa condição, a to de Magistrados do Trabalho, cabendo-lhe, dentre ou-
lei poderá permitir que outras causas sejam também proces- tras funções, regulamentar os cursos oficiais para o ingresso
sadas e julgadas pela justiça estadual. e promoção na carreira; 
§ 4º Na hipótese do parágrafo anterior, o recurso ca- II - o Conselho Superior da Justiça do Trabalho, ca-
bível será sempre para o Tribunal Regional Federal na bendo-lhe exercer, na forma da lei, a supervisão adminis-
área de jurisdição do juiz de primeiro grau. trativa, orçamentária, financeira e patrimonial da Justiça do
§ 5º Nas hipóteses de grave violação de direitos hu- Trabalho de primeiro e segundo graus, como órgão central
manos, o Procurador-Geral da República, com a finalidade do sistema, cujas decisões terão efeito vinculante. 
de assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de § 3º Compete ao Tribunal Superior do Trabalho proces-
tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Bra- sar e julgar, originariamente, a reclamação para a pre-
sil seja parte, poderá suscitar, perante o Superior Tribunal servação de sua competência e garantia da autoridade
de Justiça, em qualquer fase do inquérito ou processo, inci- de suas decisões.
dente de deslocamento de competência para a Justiça
Federal.  Artigo 112, CF. A lei criará varas da Justiça do Traba-
lho, podendo, nas comarcas não abrangidas por sua juris-
Artigo 110, CF. Cada Estado, bem como o Distrito Fe- dição, atribuí-la aos juízes de direito, com recurso para o
deral, constituirá uma seção judiciária que terá por sede a respectivo Tribunal Regional do Trabalho. 
respectiva Capital, e varas localizadas segundo o estabele-
cido em lei. Artigo 113, CF. A lei disporá sobre a constituição, in-
Parágrafo único. Nos Territórios Federais, a jurisdição e vestidura, jurisdição, competência, garantias e condi-
as atribuições cometidas aos juízes federais caberão aos juí- ções de exercício dos órgãos da Justiça do Trabalho.
zes da justiça local, na forma da lei.
Artigo 114, CF. Compete à Justiça do Trabalho pro-
4) Tribunal Superior do Trabalho, dos Tribunais Re- cessar e julgar:
gionais do Trabalho e dos Juízes do Trabalho I - as ações oriundas da relação de trabalho, abran-
A Justiça do Trabalho tem sua estrutura estabelecida gidos os entes de direito público externo e da administração
no artigo 111 da Constituição e possui como órgão de cú- pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito
pula o Tribunal Superior do Trabalho, embora ele não seja Federal e dos Municípios; 

73
DIREITO CONSTITUCIONAL

II - as ações que envolvam exercício do direito de greve; ‘Exercer a supervisão administrativa, orçamentária, fi-
III - as ações sobre representação sindical, entre sindi- nanceira e patrimonial da Justiça do Trabalho de 1º e 2º
catos, entre sindicatos e trabalhadores, e entre sindicatos e graus, a fim de promover seu aprimoramento em benefício
empregadores;  da sociedade’.
IV - os mandados de segurança, ‘habeas corpus’ e Visão do CSJT
‘habeas data’, quando o ato questionado envolver matéria ‘Ser reconhecido perante a sociedade pela excelência
sujeita à sua jurisdição;  desempenhada na supervisão, integração e desenvolvi-
V - os conflitos de competência entre órgãos com ju- mento da Justiça do Trabalho de 1º e 2º graus’.
risdição trabalhista, ressalvado o disposto no art. 102, I, ‘o’;  Valores
VI - as ações de indenização por dano moral ou pa- ‘Consciência Socioambiental; Ética; Excelência; Inova-
trimonial, decorrentes da relação de trabalho;  ção; Respeito às Peculiaridades Regionais; Transparência;
VII - as ações relativas às penalidades administrati- Valorização das pessoas’.
vas impostas aos empregadores pelos órgãos de fiscaliza- Atribuições
O Conselho Superior da Justiça do Trabalho (CSJT)
ção das relações de trabalho; 
exerce a supervisão administrativa, orçamentária, finan-
VIII - a execução, de ofício, das contribuições sociais
ceira e patrimonial da Justiça do Trabalho de primeiro e
previstas no art. 195, I, a, e II, e seus acréscimos legais, de- segundo graus. As decisões do CSJT têm efeito vinculante.
correntes das sentenças que proferir;  Composição
IX - outras controvérsias decorrentes da relação de tra- O CSJT é integrado pelo Presidente e Vice-Presidente
balho, na forma da lei. do Tribunal Superior do Trabalho e pelo Corregedor-Geral
§ 1º Frustrada a negociação coletiva, as partes pode- da Justiça do Trabalho, membros natos. Também compõem
rão eleger árbitros. o Conselho três ministros eleitos pelo Pleno do Tribunal
§ 2º Recusando-se qualquer das partes à negociação Superior do Trabalho e cinco presidentes de Tribunais Re-
coletiva ou à arbitragem, é facultado às mesmas, de co- gionais do Trabalho, cada um deles representando uma
mum acordo, ajuizar dissídio coletivo de natureza eco- das cinco Regiões geográficas do País (Sul, Sudeste, Cen-
nômica, podendo a Justiça do Trabalho decidir o conflito, tro-Oeste, Nordeste e Norte).
respeitadas as disposições mínimas legais de proteção ao Sessões
trabalho, bem como as convencionadas anteriormente.  As sessões ordinárias ocorrem mensalmente durante
§ 3º Em caso de greve em atividade essencial, com o ano judiciário. O quórum mínimo para as deliberações
possibilidade de lesão do interesse público, o Ministério do órgão é de sete integrantes. As decisões precisam da
Público do Trabalho poderá ajuizar dissídio coletivo, aprovação da maioria dos presentes à sessão. Em caso de
competindo à Justiça do Trabalho decidir o conflito. empate, prevalece o voto do Presidente.
  Organização
Artigo 115, CF. Os Tribunais Regionais do Trabalho São órgãos do CSJT a Presidência, a Vice-Presidência
compõem-se de, no mínimo, sete juízes, recrutados, quan- e o Plenário.
do possível, na respectiva região, e nomeados pelo Presi- Histórico
dente da República dentre brasileiros com mais de trinta O Conselho Superior da Justiça do Trabalho (CSJT) foi
e menos de sessenta e cinco anos, sendo:  criado pela Emenda Constitucional nº 45, de 30 de dezem-
I - um quinto dentre advogados com mais de dez anos bro de 2004, com o acréscimo do art. 111-A. A sessão de
de efetiva atividade profissional e membros do Ministério instalação do CSJT ocorreu em 15 de junho de 2005”51.
Público do Trabalho com mais de dez anos de efetivo exer-
5) Tribunais e juízes dos Estados
cício, observado o disposto no art. 94; 
A Justiça Comum Estadual não é regulamentada de
II - os demais, mediante promoção de juízes do traba-
maneira extensa no texto constitucional por um motivo
lho por antiguidade e merecimento, alternadamente.  bastante razoável: trata-se do soldado de reserva. Tudo
§ 1º Os Tribunais Regionais do Trabalho instalarão a o que não for competência de justiça especializada ou da
justiça itinerante, com a realização de audiências e demais Justiça Federal, será de competência da Justiça Comum Es-
funções de atividade jurisdicional, nos limites territoriais da tadual, afinal, o Judiciário não pode deixar de apreciar lesão
respectiva jurisdição, servindo-se de equipamentos públicos ou ameaça de lesão a direito algum.
e comunitários.  Contudo, as Constituições estaduais e as leis estaduais
§ 2º Os Tribunais Regionais do Trabalho poderão fun- de organização judiciária delimitam melhor a questão da
cionar descentralizadamente, constituindo Câmaras re- competência e organização de cada um dos órgãos da
gionais, a fim de assegurar o pleno acesso do jurisdicionado Justiça Comum Estadual. Basicamente, em cada Judiciário
à justiça em todas as fases do processo. Comum Estadual se terá um Tribunal de Justiça com diver-
  sas Câmaras na qualidade de 2ª instância, além de varas
Artigo 116, CF. Nas Varas do Trabalho, a jurisdição será com maior grau de especialização conforme a amplitude
exercida por um juiz singular.  da comarca em 1ª instância (uma comarca maior pode ter
varas criminais, varas cíveis, varas de família e sucessões,
Precisamente sobre o Conselho Superior da Justiça do juizados especiais; uma comarca menor pode até mesmo
Trabalho, destaca-se: ter uma vara única).
“Missão do CSJT 51 http://www.csjt.jus.br/missao-visao-valores

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DIREITO CONSTITUCIONAL

Artigo 125, CF. Os Estados organizarão sua Justiça, c) Presidência – A presidência do Conselho Nacional
observados os princípios estabelecidos nesta Constituição. de Justiça é ocupada pelo Presidente do Supremo Tribu-
§ 1º A competência dos tribunais será definida na nal Federal. Desempenha funções administrativas em geral,
Constituição do Estado, sendo a lei de organização judi- como superintender a ordem e a disciplina do CNJ, aplicar
ciária de iniciativa do Tribunal de Justiça. penalidades aos seus servidores, representar o CNJ peran-
§ 2º Cabe aos Estados a instituição de representação te quaisquer órgãos e autoridades, convocar e presidir as
de inconstitucionalidade de leis ou atos normativos es- sessões plenárias do CNJ, entre outras. Também se mani-
taduais ou municipais em face da Constituição Estadual, festa por diversos atos, como portarias, resoluções, atas e
vedada a atribuição da legitimação para agir a um único instruções normativas.
órgão. O CNJ tem promovido diversos projetos na sociedade
[...] aproximando-a do Poder Judiciário, do conhecimento de
§ 6º O Tribunal de Justiça poderá funcionar descentra- seus direitos e de uma maior consciência social acerca dos
lizadamente, constituindo Câmaras regionais, a fim de as- preconceitos existentes. Também promove projetos que vi-
segurar o pleno acesso do jurisdicionado à justiça em todas sam dar maior celeridade à atuação do Poder Judiciário, di-
as fases do processo.  minuindo o número de processos. São exatamente nestas
§ 7º O Tribunal de Justiça instalará a justiça itinerante, iniciativas que se encontram as maiores críticas ao CNJ, o
com a realização de audiências e demais funções da ativida- qual estaria se imiscuindo nas atribuições do Poder Judiciá-
de jurisdicional, nos limites territoriais da respectiva jurisdi- rio de julgar seus processos.
ção, servindo-se de equipamentos públicos e comunitários.
Art. 103-B, CF. O Conselho Nacional de Justiça com-
Artigo 126, CF. Para dirimir conflitos fundiários, o Tri- põe-se de 15 (quinze) membros com mandato de 2 (dois)
bunal de Justiça proporá a criação de varas especializadas, anos, admitida 1 (uma) recondução, sendo: 
com competência exclusiva para questões agrárias. I - o Presidente do Supremo Tribunal Federal;
Parágrafo único. Sempre que necessário à eficiente pres- II - um Ministro do Superior Tribunal de Justiça, indi-
tação jurisdicional, o juiz far-se-á presente no local do lití- cado pelo respectivo tribunal; 
gio. III - um Ministro do Tribunal Superior do Trabalho,
indicado pelo respectivo tribunal; 
6) Conselho Nacional de Justiça IV - um desembargador de Tribunal de Justiça, indi-
O Conselho Nacional de Justiça é um órgão que foi cado pelo Supremo Tribunal Federal; 
criado para reformular quadros e meios de atuação do V - um juiz estadual, indicado pelo Supremo Tribunal
Poder Judiciário, promovendo transparência administrati- Federal;
va e processual. Foi criado em 31 de dezembro de 2004 e VI - um juiz de Tribunal Regional Federal, indicado
instalado em 14 de junho de 2005, com sede em Brasília/ pelo Superior Tribunal de Justiça; 
DF e atuação em todo o território nacional. Sua missão é VII - um juiz federal, indicado pelo Superior Tribunal
contribuir para que a prestação jurisdicional seja realiza- de Justiça; 
da com moralidade, eficiência e efetividade, beneficiando VIII - um juiz de Tribunal Regional do Trabalho, indi-
a sociedade. Em sua visão, pretende ser um instrumento cado pelo Tribunal Superior do Trabalho; 
efetivo de desenvolvimento do Poder Judiciário. Tem por IX - um juiz do trabalho, indicado pelo Tribunal Supe-
diretrizes, em linhas gerais, promover: “planejamento es- rior do Trabalho; 
tratégico e proposição de políticas públicas judiciárias; mo- X - um membro do Ministério Público da União, in-
dernização tecnológica do Judiciário; ampliação do acesso dicado pelo Procurador-Geral da República; 
à justiça, pacificação e responsabilidade social; garantia de XI - um membro do Ministério Público estadual, es-
efetivo respeito às liberdades públicas e execuções penais”. colhido pelo Procurador-Geral da República dentre os nomes
Entre seus principais órgãos, destacam-se: indicados pelo órgão competente de cada instituição esta-
a) Corregedoria – é o órgão do CNJ que exerce o dual;
controle disciplinar e promove a administração da justiça, XII - dois advogados, indicados pelo Conselho Federal
delegando atribuições e instruções. Não pune os desvios da Ordem dos Advogados do Brasil; 
de conduta praticados por magistrados e servidores, mas XIII - dois cidadãos, de notável saber jurídico e reputa-
apura os fatos trazidos ao seu conhecimento e leva à apre- ção ilibada, indicados um pela Câmara dos Deputados e
ciação do Plenário do CNJ todas estas questões relaciona- outro pelo Senado Federal. 
das à atividade judiciária que se apresentem mais graves e § 1º O Conselho será presidido pelo Presidente do
que possam macular a imagem do Judiciário na sociedade. Supremo Tribunal Federal e, nas suas ausências e impedi-
O cargo de corregedor é ocupado por um ministro do Su- mentos, pelo Vice-Presidente do Supremo Tribunal Federal. 
perior Tribunal de Justiça (STJ). § 2º Os demais membros do Conselho serão nomea-
b) Ouvidoria – é o instrumento de comunicação da dos pelo Presidente da República, depois de aprovada a
sociedade com o CNJ. É um serviço posto à disposição do escolha pela maioria absoluta do Senado Federal. 
cidadão para que esclareça dúvidas, reclame, denuncie, § 3º Não efetuadas, no prazo legal, as indicações pre-
elogie ou apresente sugestões sobre os serviços e as ati- vistas neste artigo, caberá a escolha ao Supremo Tribunal
vidades do CNJ. Federal. 

75
DIREITO CONSTITUCIONAL

§ 4º Compete ao Conselho o controle da atuação ad- § 7º A União, inclusive no Distrito Federal e nos Territó-
ministrativa e financeira do Poder Judiciário e do cum- rios, criará ouvidorias de justiça, competentes para receber
primento dos deveres funcionais dos juízes, cabendo-lhe, reclamações e denúncias de qualquer interessado contra
além de outras atribuições que lhe forem conferidas pelo membros ou órgãos do Poder Judiciário, ou contra seus ser-
Estatuto da Magistratura:  viços auxiliares, representando diretamente ao Conselho
I - zelar pela autonomia do Poder Judiciário e pelo Nacional de Justiça. 
cumprimento do Estatuto da Magistratura, podendo ex-
pedir atos regulamentares, no âmbito de sua competên-
cia, ou recomendar providências; 
II - zelar pela observância do art. 37 e apreciar, de ofício
ou mediante provocação, a legalidade dos atos adminis- 5. DA DEFESA DO ESTADO E DAS
trativos praticados por membros ou órgãos do Poder Judi- INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS (ESTADO
ciário, podendo desconstituí-los, revê-los ou fixar prazo DE DEFESA E ESTADO DE SÍTIO, FORÇAS
para que se adotem as providências necessárias ao exato
ARMADAS, SEGURANÇA PÚBLICA).
cumprimento da lei, sem prejuízo da competência do Tribu-
nal de Contas da União; 
III - receber e conhecer das reclamações contra mem-
bros ou órgãos do Poder Judiciário, inclusive contra seus No título V, aborda-se a defesa do Estado e das insti-
serviços auxiliares, serventias e órgãos prestadores de servi- tuições democráticas, com outros institutos relevantes para
ços notariais e de registro que atuem por delegação do po- evitar impacto na organização do Estado, razão pela qual
der público ou oficializados, sem prejuízo da competência se promove aqui um estudo conjunto.
disciplinar e correicional dos tribunais, podendo avocar
processos disciplinares em curso e determinar a remo- Estado de Defesa e Estado de Sítio
ção, a disponibilidade ou a aposentadoria com subsídios O título V, intitulado “Da Defesa do Estado e Das Ins-
ou proventos proporcionais ao tempo de serviço e aplicar tituições Democráticas”, trabalha em seu capítulo I com o
outras sanções administrativas, assegurada ampla defe- Estado de Defesa e o Estado de Sítio.
sa;  Estado de defesa e estado de sítio são duas situações
IV - representar ao Ministério Público, no caso de cri- excepcionais decretadas pelo Chefe do Executivo Federal,
me contra a administração pública ou de abuso de au- cumpridos determinados requisitos, visando preservar o
toridade;  próprio Estado e suas instituições democráticas.
V - rever, de ofício ou mediante provocação, os proces- O estado de defesa é decretado para preservar ou
sos disciplinares de juízes e membros de tribunais julga- restabelecer, em locais restritos e determinados, a ordem
dos há menos de um ano;  pública ou a paz social ameaçadas por grave e iminente
VI - elaborar semestralmente relatório estatístico instabilidade institucional ou atingidas por calamidades de
sobre processos e sentenças prolatadas, por unidade da Fe- grandes proporções na natureza.
deração, nos diferentes órgãos do Poder Judiciário;  O estado de sítio é decretado quando estado de defesa
VII - elaborar relatório anual, propondo as providên- não resolveu o problema, quando o problema atinge todo
cias que julgar necessárias, sobre a situação do Poder Ju- o país, ou em casos de guerra.
diciário no País e as atividades do Conselho, o qual deve A disciplina se encontra do artigo 136, CF ao artigo
integrar mensagem do Presidente do Supremo Tribunal Fe- 141, CF, que seguem.
deral a ser remetida ao Congresso Nacional, por ocasião da
abertura da sessão legislativa.  Seção I
§ 5º O Ministro do Superior Tribunal de Justiça exer- DO ESTADO DE DEFESA
cerá a função de Ministro-Corregedor e ficará excluído da Art. 136, CF. O Presidente da República pode, ouvidos o
distribuição de processos no Tribunal, competindo-lhe, além Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional,
das atribuições que lhe forem conferidas pelo Estatuto da decretar estado de defesa para preservar ou prontamente
Magistratura, as seguintes:  restabelecer, em locais restritos e determinados, a ordem
I - receber as reclamações e denúncias, de qualquer pública ou a paz social ameaçadas por grave e iminente
interessado, relativas aos magistrados e aos serviços judi- instabilidade institucional ou atingidas por calamidades
ciários;  de grandes proporções na natureza.
II - exercer funções executivas do Conselho, de inspe- § 1º O decreto que instituir o estado de defesa deter-
ção e de correição geral;  minará o tempo de sua duração, especificará as áreas a
III - requisitar e designar magistrados, delegando- serem abrangidas e indicará, nos termos e limites da lei, as
-lhes atribuições, e requisitar servidores de juízos ou tribu- medidas coercitivas a vigorarem, dentre as seguintes:
nais, inclusive nos Estados, Distrito Federal e Territórios.  I - restrições aos direitos de:
§ 6º Junto ao Conselho oficiarão o Procurador-Geral a) reunião, ainda que exercida no seio das associações;
da República e o Presidente do Conselho Federal da Or- b) sigilo de correspondência;
dem dos Advogados do Brasil.  c) sigilo de comunicação telegráfica e telefônica;

76
DIREITO CONSTITUCIONAL

II - ocupação e uso temporário de bens e serviços Seção II


públicos, na hipótese de calamidade pública, respondendo DO ESTADO DE SÍTIO
a União pelos danos e custos decorrentes. Art. 137, CF. O Presidente da República pode, ouvidos
§ 2º O tempo de duração do estado de defesa não o Conselho da República e o Conselho de Defesa Na-
será superior a trinta dias, podendo ser prorrogado uma cional, solicitar ao Congresso Nacional autorização para
vez, por igual período, se persistirem as razões que justifi- decretar o estado de sítio nos casos de:
caram a sua decretação.  I - comoção grave de repercussão nacional ou ocorrên-
§ 3º Na vigência do estado de defesa: cia de fatos que comprovem a ineficácia de medida tomada
I - a prisão por crime contra o Estado, determinada durante o estado de defesa;
pelo executor da medida, será por este comunicada ime- II - declaração de estado de guerra ou resposta a
diatamente ao juiz competente, que a relaxará, se não for agressão armada estrangeira.
legal, facultado ao preso requerer exame de corpo de delito Parágrafo único. O Presidente da República, ao solicitar
à autoridade policial; autorização para decretar o estado de sítio ou sua prorroga-
II - a comunicação será acompanhada de declaração, ção, relatará os motivos determinantes do pedido, devendo o
pela autoridade, do estado físico e mental do detido no Congresso Nacional decidir por maioria absoluta”.
momento de sua autuação; “Art. 138, CF. O decreto do estado de sítio indicará sua
III - a prisão ou detenção de qualquer pessoa não po- duração, as normas necessárias a sua execução e as ga-
derá ser superior a dez dias, salvo quando autorizada pelo rantias constitucionais que ficarão suspensas, e, depois
Poder Judiciário; de publicado, o Presidente da República designará o execu-
IV - é vedada a incomunicabilidade do preso. tor das medidas específicas e as áreas abrangidas.
§ 4º Decretado o estado de defesa ou sua prorroga- § 1º O estado de sítio, no caso do art. 137, I, não pode-
ção, o Presidente da República, dentro de vinte e quatro rá ser decretado por mais de trinta dias, nem prorrogado,
horas, submeterá o ato com a respectiva justificação ao de cada vez, por prazo superior; no do inciso II, poderá ser
Congresso Nacional, que decidirá por maioria absoluta. decretado por todo o tempo que perdurar a guerra ou a
agressão armada estrangeira.
§ 5º Se o Congresso Nacional estiver em recesso, será
§ 2º Solicitada autorização para decretar o estado de
convocado, extraordinariamente, no prazo de cinco dias.
sítio durante o recesso parlamentar, o Presidente do Sena-
§ 6º O Congresso Nacional apreciará o decreto dentro
do Federal, de imediato, convocará extraordinariamente
de dez dias contados de seu recebimento, devendo conti-
o Congresso Nacional para se reunir dentro de cinco dias, a
nuar funcionando enquanto vigorar o estado de defesa.
fim de apreciar o ato.
§ 7º Rejeitado o decreto, cessa imediatamente o esta-
§ 3º O Congresso Nacional permanecerá em funciona-
do de defesa.
mento até o término das medidas coercitivas.
Da disciplina do Estado de Defesa no artigo 136, CF
Art. 139, CF. Na vigência do estado de sítio decretado
podem ser extraídos alguns aspectos relevantes. com fundamento no art. 137, I, só poderão ser tomadas
Primeiro, a finalidade do Estado de Defesa, que é a contra as pessoas as seguintes medidas:
preservação ou restabelecimento em locais restritos e de- I - obrigação de permanência em localidade deter-
terminados a ordem pública e a paz social que estejam minada;
ameaçados por grave instabilidade institucional ou cala- II - detenção em edifício não destinado a acusados ou
midade de grande proporção. condenados por crimes comuns;
Ainda, a especificidade que se percebe pela exigência III - restrições relativas à inviolabilidade da correspon-
de determinação do local e do prazo de vigência (que não dência, ao sigilo das comunicações, à prestação de informa-
pode exceder 30 dias, prorrogáveis por mais 30 dias), bem ções e à liberdade de imprensa, radiodifusão e televisão, na
como pela delimitação de medidas. forma da lei;
Nota-se que a natureza das medidas cabíveis ora se IV - suspensão da liberdade de reunião;
voltam ao estado de defesa por instabilidade institucional V - busca e apreensão em domicílio;
(casos do inciso I do §1º, restringindo certos sigilos e o di- VI - intervenção nas empresas de serviços públicos;
reito de reunião) e ora se voltam ao estado de defesa por VII - requisição de bens.
calamidade (caso do inciso II do §1º, com uso temporário Parágrafo único. Não se inclui nas restrições do inciso III
de bens e serviços públicos). a difusão de pronunciamentos de parlamentares efetuados
Por fim, destaca-se que a decretação do Estado de De- em suas Casas Legislativas, desde que liberada pela respec-
fesa, embora seja feita pelo Presidente da República, não tiva Mesa.
é um ato arbitrário porque ele deve ouvir a opinião do
Conselho da República e do Conselho de Defesa Nacional No Estado de Sítio também é necessária a oitiva do
e depois submeter o decreto para aprovação pelo Con- Conselho da República e do Conselho de Defesa Nacional,
gresso Nacional por maioria absoluta. bem como a aprovação pelo Congresso Nacional. As hi-
póteses são de grave comoção nacional, ineficácia do es-
tado de defesa e estado de guerra. Também há requisitos

77
DIREITO CONSTITUCIONAL

de especificidade quanto ao tempo, áreas abrangidas e II - o militar em atividade que tomar posse em cargo ou
medidas coercitivas a serem aplicados no Estado de Sítio. emprego público civil permanente, ressalvada a hipótese
Entre as medidas coercitivas cabíveis no Estado de Sítio, prevista no art. 37, inciso XVI, alínea ‘c’, será transferido para
estão as enumeradas no artigo 139, CF. a reserva, nos termos da lei; 
III - o militar da ativa que, de acordo com a lei, tomar
Seção III posse em cargo, emprego ou função pública civil tempo-
DISPOSIÇÕES GERAIS rária, não eletiva, ainda que da administração indireta,
Art. 140, CF. A Mesa do Congresso Nacional, ouvidos os ressalvada a hipótese prevista no art. 37, inciso XVI, alínea
líderes partidários, designará Comissão composta de cinco ‘c’, ficará agregado ao respectivo quadro e somente poderá,
de seus membros para acompanhar e fiscalizar a execução enquanto permanecer nessa situação, ser promovido por an-
das medidas referentes ao estado de defesa e ao estado de tiguidade, contando-se-lhe o tempo de serviço apenas para
sítio. aquela promoção e transferência para a reserva, sendo de-
pois de dois anos de afastamento, contínuos ou não, transfe-
rido para a reserva, nos termos da lei; 
Art. 141, CF. Cessado o estado de defesa ou o estado de
IV - ao militar são proibidas a sindicalização e a gre-
sítio, cessarão também seus efeitos, sem prejuízo da res-
ve; 
ponsabilidade pelos ilícitos cometidos por seus executores
V - o militar, enquanto em serviço ativo, não pode estar
ou agentes. filiado a partidos políticos;
Parágrafo único. Logo que cesse o estado de defesa ou VI - o oficial só perderá o posto e a patente se for julgado
o estado de sítio, as medidas aplicadas em sua vigência se- indigno do oficialato ou com ele incompatível, por deci-
rão relatadas pelo Presidente da República, em mensagem são de tribunal militar de caráter permanente, em tempo de
ao Congresso Nacional, com especificação e justificação das paz, ou de tribunal especial, em tempo de guerra;
providências adotadas, com relação nominal dos atingidos e VII - o oficial condenado na justiça comum ou militar a
indicação das restrições aplicadas. pena privativa de liberdade superior a dois anos, por senten-
ça transitada em julgado, será submetido ao julgamento
O Congresso Nacional, mediante Comissão específica, previsto no inciso anterior; 
exerce atividade fiscalizatória das medidas coercitivas. Pra- VIII - aplica-se aos militares o disposto no art. 7º, incisos
ticados atos atentatórios serão punidos mesmo após ces- VIII, XII, XVII, XVIII, XIX e XXV, e no art. 37, incisos XI, XIII,
sado o estado de defesa ou de sítio. XIV e XV, bem como, na forma da lei e com prevalência da
atividade militar, no art. 37, inciso XVI, alínea ‘c’;   
Forças armadas IX -  (Revogado)
O capítulo II do título V aborda as forças armadas, que X - a lei disporá sobre o ingresso nas Forças Arma-
exercem a defesa do Estado. das, os limites de idade, a estabilidade e outras condições
de transferência do militar para a inatividade, os direitos,
CAPÍTULO II os deveres, a remuneração, as prerrogativas e outras situa-
DAS FORÇAS ARMADAS ções especiais dos militares, consideradas as peculiaridades
de suas atividades, inclusive aquelas cumpridas por força de
Art. 142, CF. As Forças Armadas, constituídas pela Ma- compromissos internacionais e de guerra. 
rinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições
nacionais permanentes e regulares, organizadas com Art. 143, CF. O serviço militar é obrigatório nos ter-
base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade su- mos da lei.
§ 1º Às Forças Armadas compete, na forma da lei, atri-
prema do Presidente da República, e destinam-se à defesa
buir serviço alternativo aos que, em tempo de paz, após
da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por
alistados, alegarem imperativo de consciência, entendendo-
iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.
-se como tal o decorrente de crença religiosa e de convicção
§ 1º Lei complementar estabelecerá as normas gerais
filosófica ou política, para se eximirem de atividades de ca-
a serem adotadas na organização, no preparo e no emprego ráter essencialmente militar. 
das Forças Armadas. § 2º As mulheres e os eclesiásticos ficam isentos do
§ 2º Não caberá habeas corpus em relação a punições serviço militar obrigatório em tempo de paz, sujeitos, porém,
disciplinares militares. a outros encargos que a lei lhes atribuir. 
§ 3º Os membros das Forças Armadas são denomina-
dos militares, aplicando-se-lhes, além das que vierem a ser As Forças Armadas são compostas por Marinha, Exér-
fixadas em lei, as seguintes disposições:  cito e Aeronáutica e o chefe delas é o Presidente da Re-
I - as patentes, com prerrogativas, direitos e deveres pública. Por terem a finalidade de defender a pátria, a
a elas inerentes, são conferidas pelo Presidente da República Constituição, a lei e a ordem, são permanentes, regulares e
e asseguradas em plenitude aos oficiais da ativa, da reser- hierarquizadas, além de terem vedações como o direito de
va ou reformados, sendo-lhes privativos os títulos e postos greve e o direito de sindicalização, bem como de filiação
militares e, juntamente com os demais membros, o uso dos a partidos políticos. Pela natureza diversa dos crimes pra-
uniformes das Forças Armadas;  ticados por estes militares, serão julgados por órgão pró-

78
DIREITO CONSTITUCIONAL

prio e perdem a garantia do habeas corpus. O alistamento I - deixar de ser paga, sem motivo de força maior, por
militar é obrigatório, ainda que seja dispensado, caso em dois anos consecutivos, a dívida fundada;
que ficará como reservista. A mulher não precisa prestar o II - não forem prestadas contas devidas, na forma da lei;
serviço militar obrigatório, mas pode ser convocada para a III - não tiver sido aplicado o mínimo exigido da receita
prestação de outros serviços para o Estado, assim como os municipal na manutenção e desenvolvimento do ensino e
eclesiásticos. nas ações e serviços públicos de saúde; 
IV - o Tribunal de Justiça der provimento a representa-
Intervenção nos Estados e Municípios. ção para assegurar a observância de princípios indicados
A intervenção consiste no afastamento temporário das na Constituição Estadual, ou para prover a execução de lei,
prerrogativas totais ou parciais próprias da autonomia dos de ordem ou de decisão judicial”.
entes federados, por outro ente federado, prevalecendo a
vontade do ente interventor. Neste sentido, necessária a Artigo 36, CF. A decretação da intervenção dependerá:
verificação de: I - no caso do art. 34, IV (livre exercício dos Poderes),
a) Pressupostos materiais – requisitos a serem verifica- de solicitação do Poder Legislativo ou do Poder Execu-
dos quanto ao atendimento de uma das justificativas para tivo coacto ou impedido, ou de requisição do Supremo
a intervenção. Tribunal Federal, se a coação for exercida contra o Poder
b) Pressupostos processuais – requisitos para que o ato Judiciário;
da intervenção seja válido, como prazo, abrangência, con- II - no caso de desobediência a ordem ou decisão ju-
dições, além da autorização do Poder Legislativo (artigo 36, diciária, de requisição do Supremo Tribunal Federal, do
CF). Superior Tribunal de Justiça ou do Tribunal Superior
A intervenção pode ser federal, quando a União inter- Eleitoral;
fere nos Estados e no Distrito Federal (artigo 34, CF), ou III de provimento, pelo Supremo Tribunal Federal, de
estadual, quando os Estados-membros interferem em seus representação do Procurador-Geral da República, na hipó-
Municípios (artigo 35, CF). tese do art. 34, VII (observância de princípios constitucio-
nais), e no caso de recusa à execução de lei federal.
Artigo 34, CF. A União não intervirá nos Estados nem § 1º O decreto de intervenção, que especificará a am-
no Distrito Federal, exceto para: plitude, o prazo e as condições de execução e que, se cou-
I - manter a integridade nacional; ber, nomeará o interventor, será submetido à apreciação
II - repelir invasão estrangeira ou de uma unidade da do Congresso Nacional ou da Assembleia Legislativa do
Federação em outra; Estado, no prazo de vinte e quatro horas.
III - pôr termo a grave comprometimento da ordem § 2º Se não estiver funcionando o Congresso Nacional
pública; ou a Assembleia Legislativa, far-se-á convocação extraor-
IV - garantir o livre exercício de qualquer dos Poderes dinária, no mesmo prazo de vinte e quatro horas.
nas unidades da Federação; § 3º Nos casos do art. 34, VI e VII (execução de decisão/
V - reorganizar as finanças da unidade da Federação lei federal e violação de certos princípios constitucionais),
que: ou do art. 35, IV (idem com relação à intervenção em mu-
a) suspender o pagamento da dívida fundada por mais nicípios), dispensada a apreciação pelo Congresso Nacio-
de dois anos consecutivos, salvo motivo de força maior; nal ou pela Assembleia Legislativa, o decreto limitar-se-á a
b) deixar de entregar aos Municípios receitas tributárias suspender a execução do ato impugnado, se essa medida
fixadas nesta Constituição, dentro dos prazos estabelecidos bastar ao restabelecimento da normalidade.
em lei; § 4º Cessados os motivos da intervenção, as autorida-
VI - prover a execução de lei federal, ordem ou deci- des afastadas de seus cargos a estes voltarão, salvo impe-
são judicial; dimento legal.
VII - assegurar a observância dos seguintes princípios artigo 42, CF, “os membros das Polícias Militares e Cor-
constitucionais: pos de Bombeiros Militares, instituições organizadas com
a) forma republicana, sistema representativo e regi- base na hierarquia e disciplina, são militares dos Estados,
me democrático; do Distrito Federal e dos Territórios. § 1º Aplicam-se aos
b) direitos da pessoa humana; militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios,
c) autonomia municipal; além do que vier a ser fixado em lei, as disposições do art.
d) prestação de contas da administração pública, dire- 14, § 8º; do art. 40, § 9º; e do art. 142, §§ 2º e 3º, cabendo a
ta e indireta. lei estadual específica dispor sobre as matérias do art. 142,
e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de § 3º, inciso X, sendo as patentes dos oficiais conferidas pelos
impostos estaduais, compreendida a proveniente de transfe- respectivos governadores. § 2º Aos pensionistas dos militares
rências, na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios aplica-se o
ações e serviços públicos de saúde”.  que for fixado em lei específica do respectivo ente estatal.

Artigo 35, CF. O Estado não intervirá em seus Municí- Artigo 144, § 7º, CF. A lei disciplinará a organização e o
pios, nem a União nos Municípios localizados em Territó- funcionamento dos órgãos responsáveis pela segurança pú-
rio Federal, exceto quando: blica, de maneira a garantir a eficiência de suas atividades.

79
DIREITO CONSTITUCIONAL

Artigo 144, § 8º, CF. Os Municípios poderão constituir Para memorizar: veja que as iniciais das palavras for-
guardas municipais destinadas à proteção de seus bens, mam o vocábulo LIMPE, que remete à limpeza esperada da
serviços e instalações, conforme dispuser a lei. Administração Pública. É de fundamental importância um
olhar atento ao significado de cada um destes princípios,
Artigo 144, § 9º, CF. A remuneração dos servidores po- posto que eles estruturam todas as regras éticas prescritas
liciais integrantes dos órgãos relacionados neste artigo será no Código de Ética e na Lei de Improbidade Administrativa,
fixada na forma do § 4º do art. 39.  tomando como base os ensinamentos de Carvalho Filho52
e Spitzcovsky53:
Artigo 144, § 10, CF. A segurança viária, exercida para a) Princípio da legalidade: Para o particular, legali-
a preservação da ordem pública e da incolumidade das pes- dade significa a permissão de fazer tudo o que a lei não
soas e do seu patrimônio nas vias públicas:  proíbe. Contudo, como a administração pública representa
I - compreende a educação, engenharia e fiscalização os interesses da coletividade, ela se sujeita a uma relação
de trânsito, além de outras atividades previstas em lei, que de subordinação, pela qual só poderá fazer o que a lei ex-
assegurem ao cidadão o direito à mobilidade urbana eficien- pressamente determina (assim, na esfera estatal, é preciso
te; e  lei anterior editando a matéria para que seja preservado o
II - compete, no âmbito dos Estados, do Distrito Federal princípio da legalidade). A origem deste princípio está na
e dos Municípios, aos respectivos órgãos ou entidades exe- criação do Estado de Direito, no sentido de que o próprio
cutivos e seus agentes de trânsito, estruturados em Carreira, Estado deve respeitar as leis que dita.
na forma da lei. b) Princípio da impessoalidade: Por força dos interes-
ses que representa, a administração pública está proibida
de promover discriminações gratuitas. Discriminar é tratar
alguém de forma diferente dos demais, privilegiando ou
prejudicando. Segundo este princípio, a administração pú-
6. DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. blica deve tratar igualmente todos aqueles que se encon-
trem na mesma situação jurídica (princípio da isonomia ou
igualdade). Por exemplo, a licitação reflete a impessoalida-
de no que tange à contratação de serviços. O princípio da
impessoalidade correlaciona-se ao princípio da finalidade,
1) Princípios da Administração Pública
pelo qual o alvo a ser alcançado pela administração públi-
Os valores éticos inerentes ao Estado, os quais permi-
ca é somente o interesse público. Com efeito, o interesse
tem que ele consolide o bem comum e garanta a preser-
particular não pode influenciar no tratamento das pessoas,
vação dos interesses da coletividade, se encontram exte-
já que deve-se buscar somente a preservação do interesse
riorizados em princípios e regras. Estes, por sua vez, são
coletivo.
estabelecidos na Constituição Federal e em legislações in- c) Princípio da moralidade: A posição deste princí-
fraconstitucionais, a exemplo das que serão estudadas nes- pio no artigo 37 da CF representa o reconhecimento de
te tópico, quais sejam: Decreto n° 1.171/94, Lei n° 8.112/90 uma espécie de moralidade administrativa, intimamente
e Lei n° 8.429/92. relacionada ao poder público. A administração pública não
Todas as diretivas de leis específicas sobre a ética no atua como um particular, de modo que enquanto o des-
setor público partem da Constituição Federal, que estabe- cumprimento dos preceitos morais por parte deste parti-
lece alguns princípios fundamentais para a ética no setor cular não é punido pelo Direito (a priori), o ordenamento
público. Em outras palavras, é o texto constitucional do ar- jurídico adota tratamento rigoroso do comportamento
tigo 37, especialmente o caput, que permite a compreen- imoral por parte dos representantes do Estado. O princípio
são de boa parte do conteúdo das leis específicas, porque da moralidade deve se fazer presente não só para com os
possui um caráter amplo ao preconizar os princípios fun- administrados, mas também no âmbito interno. Está indis-
damentais da administração pública. Estabelece a Consti- sociavelmente ligado à noção de bom administrador, que
tuição Federal: não somente deve ser conhecedor da lei, mas também dos
princípios éticos regentes da função administrativa. TODO
Artigo 37, CF. A administração pública direta e indireta ATO IMORAL SERÁ DIRETAMENTE ILEGAL OU AO MENOS
de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito IMPESSOAL, daí a intrínseca ligação com os dois princípios
Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legali- anteriores.
dade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, d) Princípio da publicidade: A administração pública
também, ao seguinte: [...] é obrigada a manter transparência em relação a todos seus
atos e a todas informações armazenadas nos seus ban-
São princípios da administração pública, nesta ordem: cos de dados. Daí a publicação em órgãos da imprensa e
Legalidade 52 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de
Impessoalidade direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris,
Moralidade 2010.
Publicidade 53 SPITZCOVSKY, Celso. Direito Administrativo. 13.
Eficiência ed. São Paulo: Método, 2011.

80
DIREITO CONSTITUCIONAL

a afixação de portarias. Por exemplo, a própria expressão finidos do que a moralidade. Diógenes Gasparini54 alerta
concurso público (art. 37, II, CF) remonta ao ideário de que que alguns autores tratam veem como distintos os prin-
todos devem tomar conhecimento do processo seletivo de cípios da moralidade e da probidade administrativa, mas
servidores do Estado. Diante disso, como será visto, se ne- não há  características que permitam tratar os mesmos
gar indevidamente a fornecer informações ao administrado como procedimentos distintos, sendo no máximo possí-
caracteriza ato de improbidade administrativa. vel afirmar que a probidade administrativa é um aspecto
No mais, prevê o §1º do artigo 37, CF, evitando que o particular da moralidade administrativa.
princípio da publicidade seja deturpado em propaganda b) Princípio da motivação: É a obrigação conferida
político-eleitoral: ao administrador de motivar todos os atos que edita, ge-
rais ou de efeitos concretos. É considerado, entre os de-
Artigo 37, §1º, CF. A publicidade dos atos, programas, mais princípios, um dos mais importantes, uma vez que
obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos deverá ter sem a motivação não há o devido processo legal, uma
caráter educativo, informativo ou de orientação social,
vez que a fundamentação surge como meio interpretativo
dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que
da decisão que levou à prática do ato impugnado, sendo
caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servido-
verdadeiro meio de viabilização do controle da legalidade
res públicos.
dos atos da Administração.
Somente pela publicidade os indivíduos controlarão Motivar significa mencionar o dispositivo legal apli-
a legalidade e a eficiência dos atos administrativos. Os cável ao caso concreto e relacionar os fatos que concre-
instrumentos para proteção são o direito de petição e as tamente levaram à aplicação daquele dispositivo legal.
certidões (art. 5°, XXXIV, CF), além do habeas data e - resi- Todos os atos administrativos devem ser motivados para
dualmente - do mandado de segurança. Neste viés, ainda, que o Judiciário possa controlar o mérito do ato adminis-
prevê o artigo 37, CF em seu §3º:  trativo quanto à sua legalidade. Para efetuar esse contro-
le, devem ser observados os motivos dos atos adminis-
Artigo 37, §3º, CF. A lei disciplinará as formas de par- trativos.
ticipação do usuário na administração pública direta e Em relação à necessidade de motivação dos atos ad-
indireta, regulando especialmente: ministrativos vinculados (aqueles em que a lei aponta um
I -  as reclamações relativas à prestação dos serviços único comportamento possível) e dos atos discricionários
públicos em geral, asseguradas a manutenção de serviços de (aqueles que a lei, dentro dos limites nela previstos, apon-
atendimento ao usuário e a avaliação periódica, externa e ta um ou mais comportamentos possíveis, de acordo com
interna, da qualidade dos serviços; um juízo de conveniência e oportunidade), a doutrina é
II -  o acesso dos usuários a registros administrativos e uníssona na determinação da obrigatoriedade de motiva-
a informações sobre atos de governo, observado o disposto ção com relação aos atos administrativos vinculados; to-
no art. 5º, X e XXXIII; davia, diverge quanto à referida necessidade quanto aos
III -  a disciplina da representação contra o exercício ne- atos discricionários.
gligente ou abusivo de cargo, emprego ou função na admi- Meirelles55 entende que o ato discricionário, editado
nistração pública. sob os limites da Lei, confere ao administrador uma mar-
gem de liberdade para fazer um juízo de conveniência e
e) Princípio da eficiência: A administração pública oportunidade, não sendo necessária a motivação. No en-
deve manter o ampliar a qualidade de seus serviços com tanto, se houver tal fundamentação, o ato deverá condi-
controle de gastos. Isso envolve eficiência ao contratar cionar-se a esta, em razão da necessidade de observância
pessoas (o concurso público seleciona os mais qualifi-
da Teoria dos Motivos Determinantes. O entendimento
cados ao exercício do cargo), ao manter tais pessoas em
majoritário da doutrina, porém, é de que, mesmo no ato
seus cargos (pois é possível exonerar um servidor público
discricionário, é necessária a motivação para que se saiba
por ineficiência) e ao controlar gastos (limitando o teto de
qual o caminho adotado pelo administrador. Gasparini56,
remuneração), por exemplo. O núcleo deste princípio é a
procura por produtividade e economicidade. Alcança os com respaldo no art. 50 da Lei n. 9.784/98, aponta inclu-
serviços públicos e os serviços administrativos internos, se sive a superação de tais discussões doutrinárias, pois o
referindo diretamente à conduta dos agentes. referido artigo exige a motivação para todos os atos nele
Além destes cinco princípios administrativo-constitu- elencados, compreendendo entre estes, tanto os atos dis-
cionais diretamente selecionados pelo constituinte, podem cricionários quanto os vinculados.
ser apontados como princípios de natureza ética relaciona-
dos à função pública a probidade e a motivação:
a) Princípio da probidade:  um princípio constitucio- 54 GASPARINI, Diógenes. Direito Administrativo. 9ª
nal incluído dentro dos princípios específicos da licitação, ed. São Paulo: Saraiva, 2004.
é o dever de todo o administrador público, o dever de ho- 55 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo
nestidade e fidelidade com o Estado, com a população, no brasileiro. São Paulo: Malheiros, 1993.
desempenho de suas funções. Possui contornos mais de- 56 GASPARINI, Diógenes. Direito Administrativo. 9ª
ed. São Paulo: Saraiva, 2004.

81
DIREITO CONSTITUCIONAL

2) Regras mínimas sobre direitos e deveres dos ser- atividade profissional também é considerado. Cargo em
vidores comissão é o cargo de confiança, que não exige concurso
O artigo 37 da Constituição Federal estabelece os prin- público, sendo exceção à regra geral.
cípios da administração pública estudados no tópico ante-
rior, aos quais estão sujeitos servidores de quaisquer dos Artigo 37, III, CF. O prazo de validade do concurso públi-
Poderes em qualquer das esferas federativas, e, em seus co será de até dois anos, prorrogável uma vez, por igual
incisos, regras mínimas sobre o serviço público: período.
Artigo 37, I, CF. Os cargos, empregos e funções públicas
Artigo 37, IV, CF. Durante o prazo improrrogável pre-
são acessíveis aos brasileiros que preencham os requisi-
visto no edital de convocação, aquele aprovado em concur-
tos estabelecidos em lei, assim como aos estrangeiros, na
so público de provas ou de provas e títulos será convocado
forma da lei.
com prioridade sobre novos concursados para assumir car-
Aprofundando a questão, tem-se o artigo 5º da Lei nº go ou emprego, na carreira.
8.112/1990, que prevê:
Prevê o artigo 12 da Lei nº 8.112/1990:
Artigo 5º, Lei nº 8.112/1990. São requisitos básicos para
investidura em cargo público: Artigo 12, Lei nº 8.112/1990. O concurso público terá
I - a nacionalidade brasileira; validade de até 2 (dois) anos, podendo ser prorrogado uma
II - o gozo dos direitos políticos; única vez, por igual período.
III - a quitação com as obrigações militares e eleitorais; §1º O prazo de validade do concurso e as condições de
IV - o nível de escolaridade exigido para o exercício do sua realização serão fixados em edital, que será publicado
cargo; no Diário Oficial da União e em jornal diário de grande cir-
V - a idade mínima de dezoito anos; culação.
VI - aptidão física e mental. § 2º Não se abrirá novo concurso enquanto houver
§ 1º As atribuições do cargo podem justificar a exigên- candidato aprovado em concurso anterior com prazo de
cia de outros requisitos estabelecidos em lei. [...] validade não expirado.
§ 3º As universidades e instituições de pesquisa cientí-
fica e tecnológica federais poderão prover seus cargos com
O edital delimita questões como valor da taxa de ins-
professores, técnicos e cientistas estrangeiros, de acordo
crição, casos de isenção, número de vagas e prazo de vali-
com as normas e os procedimentos desta Lei.
dade. Havendo candidatos aprovados na vigência do prazo
Destaca-se a exceção ao inciso I do artigo 5° da Lei nº do concurso, ele deve ser chamado para assumir eventual
8.112/1990 e do inciso I do artigo 37, CF, prevista no arti- vaga e não ser realizado novo concurso.
go 207 da Constituição, permitindo que estrangeiros as- Destaca-se que o §2º do artigo 37, CF, prevê:
sumam cargos no ramo da pesquisa, ciência e tecnologia.
Artigo 37, §2º, CF. A não-observância do disposto nos in-
Artigo 37, II, CF. A investidura em cargo ou emprego pú- cisos II e III implicará a nulidade do ato e a punição da
blico depende de aprovação prévia em concurso público autoridade responsável, nos termos da lei.
de provas ou de provas e títulos, de acordo com a na-
tureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma Com efeito, há tratamento rigoroso da responsabiliza-
prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em ção daquele que viola as diretrizes mínimas sobre o ingres-
comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração. so no serviço público, que em regra se dá por concurso de
provas ou de provas e títulos.
Preconiza o artigo 10 da Lei nº 8.112/1990:
Artigo 37, V, CF. As funções de confiança, exercidas ex-
Artigo 10, Lei nº 8.112/90. A nomeação para cargo de clusivamente por servidores ocupantes de cargo efetivo, e
carreira ou cargo isolado de provimento efetivo depende de
os cargos em comissão, a serem preenchidos por servidores
prévia habilitação em concurso público de provas ou de pro-
de carreira nos casos, condições e percentuais mínimos
vas e títulos, obedecidos a ordem de classificação e o prazo
de sua validade. previstos em lei, destinam-se apenas às atribuições de di-
Parágrafo único. Os demais requisitos para o ingresso reção, chefia e assessoramento.
e o desenvolvimento do servidor na carreira, mediante pro-
moção, serão estabelecidos pela lei que fixar as diretrizes do Observa-se o seguinte quadro comparativo57:
sistema de carreira na Administração Pública Federal e seus
regulamentos.

No concurso de provas o candidato é avaliado ape-


nas pelo seu desempenho nas provas, ao passo que nos 57 http://direitoemquadrinhos.blogspot.com.br/2011/03/
concursos de provas e títulos o seu currículo em toda sua quadro-comparativo-funcao-de-confianca.html

82
DIREITO CONSTITUCIONAL

Função de Confiança Cargo em Comissão


Exercidas exclusivamente por servidores Qualquer pessoa, observado o percentual
ocupantes de cargo efetivo. mínimo reservado ao servidor de carreira.
Com concurso público, já que somente pode Sem concurso público, ressalvado o percentual
exercê-la o servidor de cargo efetivo, mas a função mínimo reservado ao servidor de carreira.
em si não prescindível de concurso público.
Somente são conferidas atribuições e É atribuído posto (lugar) num dos quadros da
responsabilidade Administração Pública, conferida atribuições e
responsabilidade àquele que irá ocupá-lo
Destinam-se apenas às atribuições de direção, Destinam-se apenas às atribuições de direção,
chefia e assessoramento chefia e assessoramento
De livre nomeação e exoneração no que se De livre nomeação e exoneração
refere à função e não em relação ao cargo efetivo.

Artigo 37, VI, CF. É garantido ao servidor público civil o direito à livre associação sindical.

A liberdade de associação é garantida aos servidores públicos tal como é garantida a todos na condição de direito
individual e de direito social.

Artigo 37, VII, CF. O direito de greve será exercido nos termos e nos limites definidos em lei específica.

O Supremo Tribunal Federal decidiu que os servidores públicos possuem o direito de greve, devendo se atentar pela
preservação da sociedade quando exercê-lo. Enquanto não for elaborada uma legislação específica para os funcionários
públicos, deverá ser obedecida a lei geral de greve para os funcionários privados, qual seja a Lei n° 7.783/89 (Mandado de
Injunção nº 20).

Artigo 37, VIII, CF. A lei reservará percentual dos cargos e empregos públicos para as pessoas portadoras de deficiên-
cia e definirá os critérios de sua admissão.

Neste sentido, o §2º do artigo 5º da Lei nº 8.112/1990:

Artigo 5º, Lei nº 8.112/90. Às pessoas portadoras de deficiência é assegurado o direito de se inscrever em concurso público
para provimento de cargo cujas atribuições sejam compatíveis com a deficiência de que são portadoras; para tais pessoas
serão reservadas até 20% (vinte por cento) das vagas oferecidas no concurso.

Prossegue o artigo 37, CF:

Artigo 37, IX, CF. A lei estabelecerá os casos de contratação por tempo determinado para atender a necessidade tempo-
rária de excepcional interesse público.

A Lei nº 8.745/1993 regulamenta este inciso da Constituição, definindo a natureza da relação estabelecida entre o
servidor contratado e a Administração Pública, para atender à “necessidade temporária de excepcional interesse público”.
“Em se tratando de relação subordinada, isto é, de relação que comporta dependência jurídica do servidor perante o
Estado, duas opções se ofereciam: ou a relação seria trabalhista, agindo o Estado iure gestionis, sem usar das prerrogativas
de Poder Público, ou institucional, estatutária, preponderando o ius imperii do Estado. Melhor dizendo: o sistema preconi-
zado pela Carta Política de 1988 é o do contrato, que tanto pode ser trabalhista (inserindo-se na esfera do Direito Privado)
quanto administrativo (situando-se no campo do Direito Público). [...] Uma solução intermediária não deixa, entretanto,
de ser legítima. Pode-se, com certeza, abonar um sistema híbrido, eclético, no qual coexistam normas trabalhistas e esta-
tutárias, pondo-se em contiguidade os vínculos privado e administrativo, no sentido de atender às exigências do Estado
moderno, que procura alcançar os seus objetivos com a mesma eficácia dos empreendimentos não-governamentais”58.

Artigo 37, X, CF. A remuneração dos servidores públicos e o subsídio de que trata o § 4º do art. 39 somente po-
derão ser fixados ou alterados por lei específica, observada a iniciativa privativa em cada caso, assegurada revisão geral
anual, sempre na mesma data e sem distinção de índices.
58 VOGEL NETO, Gustavo Adolpho. Contratação de servidores para atender a necessidade temporária de excepcio-
nal interesse público. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/revista/Rev_39/Artigos/Art_Gustavo.htm>. Acesso
em: 23 dez. 2014.

83
DIREITO CONSTITUCIONAL

Artigo 37, XV, CF. O subsídio e os vencimentos dos ocu- cento do subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do
pantes de cargos e empregos públicos são irredutíveis, Supremo Tribunal Federal, no âmbito do Poder Judiciário,
ressalvado o disposto nos  incisos XI  e  XIV  deste artigo e aplicável este limite aos membros do Ministério Público,
nos arts. 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I. aos Procuradores e aos Defensores Públicos.

Artigo 37, §10, CF. É vedada a percepção simultânea Artigo 37, XII, CF. Os vencimentos dos cargos do Poder
de proventos de aposentadoria decorrentes do art. Legislativo e do Poder Judiciário não poderão ser superio-
40 ou dos arts. 42 e 142 com a remuneração de cargo, res aos pagos pelo Poder Executivo.
emprego ou função pública, ressalvados os cargos acu-
muláveis na forma desta Constituição, os cargos eletivos e Prevê a Lei nº 8.112/1990 em seu artigo 42:
os cargos em comissão declarados em lei de livre nomea-
ção e exoneração. Artigo 42, Lei nº 8.112/90. Nenhum servidor poderá per-
ceber, mensalmente, a título de remuneração, importância
Sobre a questão, disciplina a Lei nº 8.112/1990 nos ar- superior à soma dos valores percebidos como remuneração,
tigos 40 e 41: em espécie, a qualquer título, no âmbito dos respectivos Po-
deres, pelos Ministros de Estado, por membros do Congresso
Art. 40. Vencimento é a retribuição pecuniária pelo Nacional e Ministros do Supremo Tribunal Federal. Parágra-
exercício de cargo público, com valor fixado em lei. fo único. Excluem-se do teto de remuneração as vantagens
previstas nos incisos II a VII do art. 61.
Art. 41. Remuneração é o vencimento do cargo efetivo,
acrescido das vantagens pecuniárias permanentes estabele- Com efeito, os §§ 11 e 12 do artigo 37, CF tecem apro-
cidas em lei.
fundamentos sobre o mencionado inciso XI:
§ 1º A remuneração do servidor investido em função
ou cargo em comissão será paga na forma prevista no art.
Artigo 37, § 11, CF. Não serão computadas, para efei-
62.
to dos limites remuneratórios de que trata o inciso XI do
§ 2º O servidor investido em cargo em comissão de
caput deste artigo, as parcelas de caráter indenizatório
órgão ou entidade diversa da de sua lotação receberá a
previstas em lei.
remuneração de acordo com o estabelecido no § 1º do art.
93.
Artigo 37, § 12, CF. Para os fins do disposto no inciso
§ 3º O vencimento do cargo efetivo, acrescido das van-
XI do caput deste artigo, fica facultado aos Estados e ao
tagens de caráter permanente, é irredutível.
§ 4º É assegurada a isonomia de vencimentos para Distrito Federal fixar, em seu âmbito, mediante emenda às
cargos de atribuições iguais ou assemelhadas do mesmo respectivas Constituições e Lei Orgânica, como limite úni-
Poder, ou entre servidores dos três Poderes, ressalvadas as co, o subsídio mensal dos Desembargadores do respec-
vantagens de caráter individual e as relativas à natureza ou tivo Tribunal de Justiça, limitado a noventa inteiros e
ao local de trabalho. vinte e cinco centésimos por cento do subsídio mensal dos
§ 5º Nenhum servidor receberá remuneração inferior Ministros do Supremo Tribunal Federal, não se aplicando o
ao salário mínimo. disposto neste parágrafo aos subsídios dos Deputados Esta-
duais e Distritais e dos Vereadores.
Ainda, o artigo 37 da Constituição:
Por seu turno, o artigo 37 quanto à vinculação ou equi-
Artigo 37, XI, CF. A remuneração e o subsídio dos paração salarial:
ocupantes de cargos, funções e empregos públicos da
administração direta, autárquica e fundacional, dos Artigo 37, XIII, CF. É vedada a vinculação ou equipara-
membros de qualquer dos Poderes da União, dos Esta- ção de quaisquer espécies remuneratórias para o efeito de
dos, do Distrito Federal e dos Municípios, dos detentores remuneração de pessoal do serviço público.
de mandato eletivo e dos demais agentes políticos e os
proventos, pensões ou outra espécie remuneratória, per- Os padrões de vencimentos são fixados por conselho
cebidos cumulativamente ou não, incluídas as vantagens de política de administração e remuneração de pessoal,
pessoais ou de qualquer outra natureza, não poderão integrado por servidores designados pelos respectivos
exceder o subsídio mensal, em espécie, dos Ministros Poderes (artigo 39, caput e § 1º), sem qualquer garantia
do Supremo Tribunal Federal, aplicando-se como limite, constitucional de tratamento igualitário aos cargos que se
nos Municípios, o subsídio do Prefeito, e nos Estados e mostrem similares.
no Distrito Federal, o subsídio mensal do Governador no
âmbito do Poder Executivo, o subsídio dos Deputados Es- Artigo 37, XIV, CF. Os acréscimos pecuniários percebi-
taduais e Distritais no âmbito do Poder Legislativo e o dos por servidor público não serão computados nem acu-
subsídio dos Desembargadores do Tribunal de Justiça, li- mulados para fins de concessão de acréscimos ulteriores.
mitado a noventa inteiros e vinte e cinco centésimos por

84
DIREITO CONSTITUCIONAL

A preocupação do constituinte, ao implantar tal pre- Parágrafo único.  O disposto neste artigo não se aplica
ceito, foi de que não eclodisse no sistema remuneratório à remuneração devida pela participação em conselhos de
dos servidores, ou seja, evitar que se utilize uma vantagem administração e fiscal das empresas públicas e sociedades de
como base de cálculo de um outro benefício. Dessa forma, economia mista, suas subsidiárias e controladas, bem como
qualquer gratificação que venha a ser concedida ao servi- quaisquer empresas ou entidades em que a União, direta ou
dor só pode ter como base de cálculo o próprio vencimen- indiretamente, detenha participação no capital social, obser-
to básico. É inaceitável que se leve em consideração outra vado o que, a respeito, dispuser legislação específica.
vantagem até então percebida.
Art.  120, Lei nº 8.112/1990.   O servidor vinculado ao
Artigo 37, XVI, CF. É vedada a acumulação remune- regime desta Lei, que acumular licitamente dois cargos efeti-
rada de cargos públicos, exceto, quando houver com- vos, quando investido em cargo de provimento em comissão,
patibilidade de horários, observado em qualquer caso o ficará afastado de ambos os cargos efetivos, salvo na hipóte-
disposto no inciso XI: a)  a de dois cargos de professor; se em que houver compatibilidade de horário e local com o
b)   a de um cargo de professor com outro, técnico ou exercício de um deles, declarada pelas autoridades máximas
científico; c)  a de dois cargos ou empregos privativos dos órgãos ou entidades envolvidos.
de profissionais de saúde, com profissões regulamentadas.
“Os artigos 118 a 120 da Lei nº 8.112/90 ao tratarem da
Artigo 37, XVII, CF. A proibição de acumular estende-se acumulação de cargos e funções públicas, regulamentam,
a empregos e funções e abrange autarquias, fundações, no âmbito do serviço público federal a vedação genérica
empresas públicas, sociedades de economia mista, suas constante do art. 37, incisos VXI e XVII, da Constituição da
subsidiárias, e sociedades controladas, direta ou indire- República. De fato, a acumulação ilícita de cargos públicos
tamente, pelo poder público. constitui uma das infrações mais comuns praticadas por
servidores públicos, o que se constata observando o eleva-
Segundo Carvalho Filho59, “o fundamento da proibição do número de processos administrativos instaurados com
é impedir que o cúmulo de funções públicas faça com que
esse objeto. O sistema adotado pela Lei nº 8.112/90 é rela-
o servidor não execute qualquer delas com a necessária efi-
tivamente brando, quando cotejado com outros estatutos
ciência. Além disso, porém, pode-se observar que o Cons-
de alguns Estados, visto que propicia ao servidor incurso
tituinte quis também impedir a cumulação de ganhos em
nessa ilicitude diversas oportunidades para regularizar sua
detrimento da boa execução de tarefas públicas. [...] Nota-
situação e escapar da pena de demissão. Também prevê a
-se que a vedação se refere à acumulação remunerada. Em
lei em comentário, um processo administrativo simplifica-
consequência, se a acumulação só encerra a percepção de
do (processo disciplinar de rito sumário) para a apuração
vencimentos por uma das fontes, não incide a regra cons-
titucional proibitiva”. dessa infração – art. 133” 60.
A Lei nº 8.112/1990 regulamenta intensamente a ques-
tão: Artigo 37, XVIII, CF. A administração fazendária e
seus servidores fiscais terão, dentro de suas áreas de com-
Artigo 118, Lei nº 8.112/1990.  Ressalvados os casos pre- petência e jurisdição, precedência sobre os demais setores
vistos na Constituição, é vedada a acumulação remunera- administrativos, na forma da lei.
da de cargos públicos.
§ 1o  A proibição de acumular estende-se a cargos, em- Artigo 37, XXII, CF. As administrações tributárias da
pregos e funções em autarquias, fundações públicas, em- União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
presas públicas, sociedades de economia mista da União, atividades essenciais ao funcionamento do Estado, exercidas
do Distrito Federal, dos Estados, dos Territórios e dos Mu- por servidores de carreiras específicas, terão recursos prio-
nicípios. ritários para a realização de suas atividades e atuarão
§ 2o  A acumulação de cargos, ainda que lícita, fica con- de forma integrada, inclusive com o compartilhamento de
dicionada à comprovação da compatibilidade de horá- cadastros e de informações fiscais, na forma da lei ou con-
rios. vênio.
§ 3o  Considera-se acumulação proibida a percepção
de vencimento de cargo ou emprego público efetivo com “O Estado tem como finalidade essencial a garantia
proventos da inatividade, salvo quando os cargos de que do bem-estar de seus cidadãos, seja através dos serviços
decorram essas remunerações forem acumuláveis na ati- públicos que disponibiliza, seja através de investimentos
vidade. na área social (educação, saúde, segurança pública). Para
atingir esses objetivos primários, deve desenvolver uma
Art.  119, Lei nº 8.112/1990.   O servidor não poderá atividade financeira, com o intuito de obter recursos indis-
exercer mais de um cargo em comissão, exceto no caso pensáveis às necessidades cuja satisfação se comprometeu
previsto no parágrafo único do art. 9o, nem ser remunerado quando estabeleceu o “pacto” constitucional de 1988. [...]
pela participação em órgão de deliberação coletiva.  60 MORGATO, Almir. O Regime Disciplinar dos Ser-
59 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de vidores Públicos da União. Disponível em: <http://www.ca-
direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, naldosconcursos.com.br/artigos/almirmorgado_artigo1.pdf>.
2010. Acesso em: 11 ago. 2013.

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DIREITO CONSTITUCIONAL

A importância da Administração Tributária foi reconhecida Artigo 37, § 9º, CF. O disposto no inciso XI aplica-se às
expressamente pelo constituinte que acrescentou, no arti- empresas públicas e às sociedades de economia mista e
go 37 da Carta Magna, o inciso XVIII, estabelecendo a sua suas subsidiárias, que receberem recursos da União, dos Es-
precedência e de seus servidores sobre os demais setores tados, do Distrito Federal ou dos Municípios para pagamento
da Administração Pública, dentro de suas áreas de compe- de despesas de pessoal ou de custeio em geral.
tência”61.
Continua o artigo 37, CF:
Artigo 37, XIX, CF. Somente por lei específica pode-
Artigo 37, XXI, CF. Ressalvados os casos especificados
rá ser criada autarquia e autorizada a instituição de
na legislação, as obras, serviços, compras e alienações serão
empresa pública, de sociedade de economia mista e de
contratados mediante processo de licitação pública que
fundação, cabendo à lei complementar, neste último caso,
assegure igualdade de condições a todos os concorrentes,
definir as áreas de sua atuação. com cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento,
mantidas as condições efetivas da proposta, nos termos da
Artigo 37, XX, CF. Depende de autorização legislati- lei, o qual somente permitirá as exigências de qualificação
va, em cada caso, a criação de subsidiárias das entidades técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumpri-
mencionadas no inciso anterior, assim como a participação mento das obrigações.
de qualquer delas em empresa privada.
A Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993, regulamenta o
Órgãos da administração indireta somente podem ser art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal, institui normas
criados por lei específica e a criação de subsidiárias des- para licitações e contratos da Administração Pública e dá
tes dependem de autorização legislativa (o Estado cria e outras providências. Licitação nada mais é que o conjunto
controla diretamente determinada empresa pública ou so- de procedimentos administrativos (administrativos porque
ciedade de economia mista, e estas, por sua vez, passam parte da administração pública) para as compras ou serviços
a gerir uma nova empresa, denominada subsidiária. Ex.: contratados pelos governos Federal, Estadual ou Municipal,
Transpetro, subsidiária da Petrobrás). “Abrimos um parên- ou seja todos os entes federativos. De forma mais simples,
tese para observar que quase todos os autores que abor- podemos dizer que o governo deve comprar e contratar
serviços seguindo regras de lei, assim a licitação é um pro-
dam o assunto afirmam categoricamente que, a despeito
cesso formal onde há a competição entre os interessados.
da referência no texto constitucional a ‘subsidiárias das
entidades mencionadas no inciso anterior’, somente em-
Artigo 37, §5º, CF. A lei estabelecerá os prazos de pres-
presas públicas e sociedades de economia mista podem ter crição para ilícitos praticados por qualquer agente, servidor
subsidiárias, pois a relação de controle que existe entre a ou não, que causem prejuízos ao erário, ressalvadas as res-
pessoa jurídica matriz e a subsidiária seria própria de pes- pectivas ações de ressarcimento.
soas com estrutura empresarial, e inadequada a autarquias
e fundações públicas. OUSAMOS DISCORDAR. Parece-nos A prescrição dos ilícitos praticados por servidor encon-
que, se o legislador de um ente federado pretendesse, por tra disciplina específica no artigo 142 da Lei nº 8.112/1990:
exemplo, autorizar a criação de uma subsidiária de uma
fundação pública, NÃO haveria base constitucional para Art.  142, Lei nº 8.112/1990.   A ação disciplinar pres-
considerar inválida sua autorização”62. creverá:
Ainda sobre a questão do funcionamento da adminis- I - em 5 (cinco) anos, quanto às infrações puníveis com
tração indireta e de suas subsidiárias, destaca-se o previsto demissão, cassação de aposentadoria ou disponibilidade e
nos §§ 8º e 9º do artigo 37, CF: destituição de cargo em comissão;
II - em 2 (dois) anos, quanto à suspensão;
Artigo 37, §8º, CF. A autonomia gerencial, orçamen- III - em 180 (cento e oitenta) dias, quanto á advertência.
tária e financeira dos órgãos e entidades da administração § 1o  O prazo de prescrição começa a correr da data em
que o fato se tornou conhecido.
direta e indireta poderá ser ampliada mediante contrato,
§ 2o  Os prazos de prescrição previstos na lei penal apli-
a ser firmado entre seus administradores e o poder público,
cam-se às infrações disciplinares capituladas também como
que tenha por objeto a fixação de metas de desempenho
crime.
para o órgão ou entidade, cabendo à lei dispor sobre: § 3o  A abertura de sindicância ou a instauração de pro-
I -  o prazo de duração do contrato; cesso disciplinar interrompe a prescrição, até a decisão final
II -  os controles e critérios de avaliação de desempenho, proferida por autoridade competente.
direitos, obrigações e responsabilidade dos dirigentes; § 4o  Interrompido o curso da prescrição, o prazo co-
III -  a remuneração do pessoal. meçará a correr a partir do dia em que cessar a interrupção.

61 http://www.sindsefaz.org.br/parecer_administracao_ Prescrição é um instituto que visa regular a perda do


tributaria_sao_paulo.htm direito de acionar judicialmente. No caso, o prazo é de 5
62 ALEXANDRINO, Marcelo. Direito Administrativo anos para as infrações mais graves, 2 para as de gravidade
Descomplicado. São Paulo: GEN, 2014. intermediária (pena de suspensão) e 180 dias para as menos

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DIREITO CONSTITUCIONAL

graves (pena de advertência), contados da data em que o administrativa) impede falar-se em bis in idem, já que, on-
fato se tornou conhecido pela administração pública. Se tologicamente, não se trata de punições idênticas, embora
a infração disciplinar for crime, valerão os prazos prescri- baseadas no mesmo fato, mas de responsabilização em es-
cionais do direito penal, mais longos, logo, menos favorá- feras distintas do Direito.
veis ao servidor. Interrupção da prescrição significa parar a Destaca-se um conceito mais amplo de agente públi-
contagem do prazo para que, retornando, comece do zero. co previsto pela lei nº 8.429/1992 em seus artigos 1º e 2º
Da abertura da sindicância ou processo administrativo dis- porque o agente público pode ser ou não um servidor pú-
ciplinar até a decisão final proferida por autoridade com- blico. Ele poderá estar vinculado a qualquer instituição ou
petente não corre a prescrição. Proferida a decisão, o prazo órgão que desempenhe diretamente o interesse do Estado.
começa a contar do zero. Passado o prazo, não caberá mais Assim, estão incluídos todos os integrantes da administra-
propor ação disciplinar. ção direta, indireta e fundacional, conforme o preâmbulo
da legislação. Pode até mesmo ser uma entidade privada
que desempenhe tais fins, desde que a verba de criação ou
Artigo 37, §7º, CF. A lei disporá sobre os requisitos e as
custeio tenha sido ou seja pública em mais de 50% do pa-
restrições ao ocupante de cargo ou emprego da adminis-
trimônio ou receita anual. Caso a verba pública que tenha
tração direta e indireta que possibilite o acesso a informa-
auxiliado uma entidade privada a qual o Estado não tenha
ções privilegiadas. concorrido para criação ou custeio, também haverá sujei-
ção às penalidades da lei. Em caso de custeio/criação pelo
A Lei nº 12.813, de 16 de maio de 2013 dispõe sobre Estado que seja inferior a 50% do patrimônio ou receita
o conflito de interesses no exercício de cargo ou emprego anual, a legislação ainda se aplica. Entretanto, nestes dois
do Poder Executivo federal e impedimentos posteriores ao casos, a sanção patrimonial se limitará ao que o ilícito re-
exercício do cargo ou emprego; e revoga dispositivos da Lei percutiu sobre a contribuição dos cofres públicos. Significa
nº 9.986, de 18 de julho de 2000, e das Medidas Provisórias que se o prejuízo causado for maior que a efetiva contribui-
nºs 2.216-37, de 31 de agosto de 2001, e 2.225-45, de 4 de ção por parte do poder público, o ressarcimento terá que
setembro de 2001. ser buscado por outra via que não a ação de improbidade
Neste sentido, conforme seu artigo 1º: administrativa.
A legislação em estudo, por sua vez, divide os atos de
Artigo 1º, Lei nº 12.813/2013. As situações que configu- improbidade administrativa em três categorias:
ram conflito de interesses envolvendo ocupantes de cargo ou a) Ato de improbidade administrativa que importe
emprego no âmbito do Poder Executivo federal, os requisitos enriquecimento ilícito (artigo 9º, Lei nº 8.429/1992)
e restrições a ocupantes de cargo ou emprego que tenham O grupo mais grave de atos de improbidade adminis-
acesso a informações privilegiadas, os impedimentos poste- trativa se caracteriza pelos elementos: enriquecimento +
riores ao exercício do cargo ou emprego e as competências ilícito + resultante de uma vantagem patrimonial indevi-
para fiscalização, avaliação e prevenção de conflitos de inte- da + em razão do exercício de cargo, mandato, emprego,
resses regulam-se pelo disposto nesta Lei. função ou outra atividade nas entidades do artigo 1° da
Lei nº 8.429/1992.
3) Atos de improbidade administrativa O enriquecimento deve ser ilícito, afinal, o Estado não
A Lei n° 8.429/1992 trata da improbidade administra- se opõe que o indivíduo enriqueça, desde que obedeça aos
tiva, que é uma espécie qualificada de imoralidade, sinôni- ditames morais, notadamente no desempenho de função
mo de desonestidade administrativa. A improbidade é uma de interesse estatal.
Exige-se que o sujeito obtenha vantagem patrimonial
lesão ao princípio da moralidade, que deve ser respeitado
ilícita. Contudo, é dispensável que efetivamente tenha ocor-
estritamente pelo servidor público. O agente ímprobo sem-
rido dano aos cofres públicos (por exemplo, quando um
pre será um violador do princípio da moralidade, pelo qual
policial recebe propina pratica ato de improbidade admi-
“a Administração Pública deve agir com boa-fé, sinceridade, nistrativa, mas não atinge diretamente os cofres públicos).
probidade, lhaneza, lealdade e ética”63. Como fica difícil imaginar que alguém possa se enrique-
A atual Lei de Improbidade Administrativa foi criada de- cer ilicitamente por negligência, imprudência ou imperícia,
vido ao amplo apelo popular contra certas vicissitudes do todas as condutas configuram atos dolosos (com intenção).
serviço público que se intensificavam com a ineficácia do Não cabe prática por omissão.64
diploma então vigente, o Decreto-Lei nº 3240/41. Decorreu, b) Ato de improbidade administrativa que importe
assim, da necessidade de acabar com os atos atentatórios à lesão ao erário (artigo 10, Lei nº 8.429/1992)
moralidade administrativa e causadores de prejuízo ao erá- O grupo intermediário de atos de improbidade admi-
rio público ou ensejadores de enriquecimento ilícito, infeliz- nistrativa se caracteriza pelos elementos: causar dano ao
mente tão comuns no Brasil. erário ou aos cofres públicos + gerando perda patrimo-
Com o advento da Lei nº 8.429/1992, os agentes públi- nial ou dilapidação do patrimônio público. Assim como o
cos passaram a ser responsabilizados na esfera civil pelos artigo anterior, o caput descreve a fórmula genérica e os
atos de improbidade administrativa descritos nos artigos incisos algumas atitudes específicas que exemplificam o seu
9º, 10 e 11, ficando sujeitos às penas do art. 12. A existên- conteúdo65.
cia de esferas distintas de responsabilidade (civil, penal e 64 SPITZCOVSKY, Celso. Direito Administrativo. 13.
63 LENZA, Pedro. Curso de direito constitucional ed. São Paulo: Método, 2011.
esquematizado. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. 65 Ibid.

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DIREITO CONSTITUCIONAL

Perda patrimonial é o gênero, do qual são espécies: imparcialidade, legalidade, e lealdade às instituições [...]”. O
desvio, que é o direcionamento indevido; apropriação, que grupo mais ameno de atos de improbidade administrativa
é a transferência indevida para a própria propriedade; mal- se caracteriza pela simples violação a princípios da admi-
baratamento, que significa desperdício; e dilapidação, que nistração pública, ou seja, aplica-se a qualquer atitude do
se refere a destruição66. sujeito ativo que viole os ditames éticos do serviço público.
O objeto da tutela é a preservação do patrimônio pú- Isto é, o legislador pretende a preservação dos princípios
blico, em todos seus bens e valores. O pressuposto exigível gerais da administração pública69.
é a ocorrência de dano ao patrimônio dos sujeitos passivos. O objeto de tutela são os princípios constitucionais.
Este artigo admite expressamente a variante culpo- Basta a vulneração em si dos princípios, sendo dispensáveis
sa, o que muitos entendem ser inconstitucional. O STJ, no o enriquecimento ilícito e o dano ao erário. Somente é pos-
REsp n° 939.142/RJ, apontou alguns aspectos da inconsti- sível a prática de algum destes atos com dolo (intenção),
tucionalidade do artigo. Contudo, “a jurisprudência do STJ embora caiba a prática por ação ou omissão.
consolidou a tese de que é indispensável a existência de Será preciso utilizar razoabilidade e proporcionalida-
dolo nas condutas descritas nos artigos 9º e 11 e ao menos de para não permitir a caracterização de abuso de poder,
de culpa nas hipóteses do artigo 10, nas quais o dano ao diante do conteúdo aberto do dispositivo. Na verdade,
erário precisa ser comprovado. De acordo com o ministro trata-se de tipo subsidiário, ou seja, que se aplica quando
Castro Meira, a conduta culposa ocorre quando o agente o ato de improbidade administrativa não tiver gerado ob-
não pretende atingir o resultado danoso, mas atua com ne-
tenção de vantagem
gligência, imprudência ou imperícia (REsp n° 1.127.143)”67.
Com efeito, os atos de improbidade administrativa
Para Carvalho Filho68, não há inconstitucionalidade na mo-
não são crimes de responsabilidade. Trata-se de punição
dalidade culposa, lembrando que é possível dosar a pena
conforme o agente aja com dolo ou culpa. na esfera cível, não criminal. Por isso, caso o ato configure
O ponto central é lembrar que neste artigo não se exi- simultaneamente um ato de improbidade administrativa
ge que o sujeito ativo tenha percebido vantagens indevi- desta lei e um crime previsto na legislação penal, o que
das, basta o dano ao erário. Se tiver recebido vantagem é comum no caso do artigo 9°, responderá o agente por
indevida, incide no artigo anterior. Exceto pela não per- ambos, nas duas esferas.
cepção da vantagem indevida, os tipos exemplificados se
aproximam muito dos previstos nos incisos do art. 9°. Em suma, a lei encontra-se estruturada da seguinte
c) Ato de Improbidade Administrativa Decorrentes forma: inicialmente, trata das vítimas possíveis (sujeito pas-
de Concessão ou Aplicação Indevida de Benefício Fi- sivo) e daqueles que podem praticar os atos de improbida-
nanceiro ou Tributário (Incluído pela Lei Complementar nº de administrativa (sujeito ativo); ainda, aborda a reparação
157, de 2016) do dano ao lesionado e o ressarcimento ao patrimônio
Uma das alterações recentes à disciplina do ISS visou público; após, traz a tipologia dos atos de improbidade ad-
evitar a continuidade da guerra fiscal entre os municípios, ministrativa, isto é, enumera condutas de tal natureza; se-
fixando-se a alíquota mínima em 2%. guindo-se à definição das sanções aplicáveis; e, finalmente,
Com efeito, os municípios não poderão fixar dentro de descreve os procedimentos administrativo e judicial.
sua competência constitucional alíquotas inferiores a 2% No caso do art. 9°, categoria mais grave, o agente ob-
para atrair e fomentar investimentos novos (incentivo fis- tém um enriquecimento ilícito (vantagem econômica inde-
cal), prejudicando os municípios vizinhos. vida) e pode ainda causar dano ao erário, por isso, deverá
Em razão disso, tipifica-se como ato de improbidade não só reparar eventual dano causado mas também colo-
administrativa a eventual concessão do benefício abaixo da car nos cofres públicos tudo o que adquiriu indevidamente.
alíquota mínima. Ou seja, poderá pagar somente o que enriqueceu indevida-
d) Ato de improbidade administrativa que atente mente ou este valor acrescido do valor do prejuízo causado
contra os princípios da administração pública (artigo aos cofres públicos (quanto o Estado perdeu ou deixou de
11, Lei nº 8.429/1992) ganhar). No caso do artigo 10, não haverá enriquecimento
Nos termos do artigo 11 da Lei nº 8.429/1992,
ilícito, mas sempre existirá dano ao erário, o qual será re-
“constitui ato de improbidade administrativa que atenta
parado (eventualmente, ocorrerá o enriquecimento ilícito,
contra os princípios da administração pública qualquer
devendo o valor adquirido ser tomado pelo Estado). Na hi-
ação ou omissão que viole os deveres de honestidade,
pótese do artigo 10-A, não se denota nem enriquecimento
66 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de ilícito e nem dano ao erário, pois no máximo a prática de
direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, guerra fiscal pode gerar. Já no artigo 11, o máximo que
2010. pode ocorrer é o dano ao erário, com o devido ressarci-
67 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Improbidade mento. Além disso, em todos os casos há perda da função
administrativa: desonestidade na gestão dos recursos públi- pública. Nas três categorias, são estabelecidas sanções de
cos. Disponível em: <http://www.stj.gov.br/portal_stj/publica- suspensão dos direitos políticos, multa e vedação de con-
cao/engine.wsp?tmp.area=398&tmp.texto=103422>. Acesso tratação ou percepção de vantagem, graduadas conforme
em: 26 mar. 2013. a gravidade do ato. É o que se depreende da leitura do
68 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de artigo 12 da Lei nº 8.929/1992 como §4º do artigo 37, CF,
direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 69 SPITZCOVSKY, Celso. Direito Administrativo. 13.
2010. ed. São Paulo: Método, 2011.

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DIREITO CONSTITUCIONAL

que prevê: “Os atos de improbidade administrativa im- to de indenização que se refere às perdas e danos. Afinal,
portarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da quem pratica um ato ou incorre em omissão que gere dano
função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressar- deve suportar as consequências jurídicas decorrentes, res-
cimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, taurando-se o equilíbrio social.72
sem prejuízo da ação penal cabível”. A responsabilidade civil, assim, difere-se da penal, po-
A única sanção que se encontra prevista na Lei nº dendo recair sobre os herdeiros do autor do ilícito até os
8.429/1992 mas não na Constituição Federal é a de mul- limites da herança, embora existam reflexos na ação que
ta. (art. 37, §4°, CF). Não há nenhuma inconstitucionalidade apure a responsabilidade civil conforme o resultado na es-
disto, pois nada impediria que o legislador infraconstitu- fera penal (por exemplo, uma absolvição por negativa de
cional ampliasse a relação mínima de penalidades da Cons- autoria impede a condenação na esfera cível, ao passo que
tituição, pois esta não limitou tal possibilidade e porque a uma absolvição por falta de provas não o faz).
lei é o instrumento adequado para tanto70. A responsabilidade civil do Estado acompanha o racio-
Carvalho Filho71 tece considerações a respeito de algu- cínio de que a principal consequência da prática de um ato
mas das sanções: ilícito é a obrigação que gera para o seu auto de reparar o
- Perda de bens e valores: “tal punição só incide sobre dano, mediante o pagamento de indenização que se re-
os bens acrescidos após a prática do ato de improbidade. fere às perdas e danos. Todos os cidadãos se sujeitam às
Se alcançasse anteriores, ocorreria confisco, o que restaria regras da responsabilidade civil, tanto podendo buscar o
sem escora constitucional. Além disso, o acréscimo deve ressarcimento do dano que sofreu quanto respondendo
derivar de origem ilícita”. por aqueles danos que causar. Da mesma forma, o Estado
- Ressarcimento integral do dano: há quem entenda tem o dever de indenizar os membros da sociedade pelos
que engloba dano moral. Cabe acréscimo de correção mo- danos que seus agentes causem durante a prestação do
netária e juros de mora. serviço, inclusive se tais danos caracterizarem uma violação
- Perda de função pública: “se o agente é titular de aos direitos humanos reconhecidos.
mandato, a perda se processa pelo instrumento de cassa- Trata-se de responsabilidade extracontratual porque
ção. Sendo servidor estatutário, sujeitar-se-á à demissão não depende de ajuste prévio, basta a caracterização de
do serviço público. Havendo contrato de trabalho (servido- elementos genéricos pré-determinados, que perpassam
res trabalhistas e temporários), a perda da função pública pela leitura concomitante do Código Civil (artigos 186, 187
se consubstancia pela rescisão do contrato com culpa do e 927) com a Constituição Federal (artigo 37, §6°).
empregado. No caso de exercer apenas uma função públi- Genericamente, os elementos da responsabilidade civil
ca, fora de tais situações, a perda se dará pela revogação se encontram no art. 186 do Código Civil:
da designação”. Lembra-se que determinadas autoridades
se sujeitam a procedimento especial para perda da função Artigo 186, CC. Aquele que, por ação ou omissão vo-
pública, ponto em que não se aplica a Lei de Improbidade luntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar
Administrativa. dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato
- Multa: a lei indica inflexibilidade no limite máximo, ilícito.
mas flexibilidade dentro deste limite, podendo os julga-
dos nesta margem optar pela mais adequada. Há ainda Este é o artigo central do instituto da responsabilidade
variabilidade na base de cálculo, conforme o tipo de ato civil, que tem como elementos: ação ou omissão voluntária
de improbidade (a base será o valor do enriquecimento ou (agir como não se deve ou deixar de agir como se deve),
o valor do dano ou o valor da remuneração do agente). A culpa ou dolo do agente (dolo é a vontade de cometer uma
natureza da multa é de sanção civil, não possuindo caráter violação de direito e culpa é a falta de diligência), nexo
indenizatório, mas punitivo. causal (relação de causa e efeito entre a ação/omissão e
- Proibição de receber benefícios: não se incluem as o dano causado) e dano (dano é o prejuízo sofrido pelo
imunidades genéricas e o agente punido deve ser ao me- agente, que pode ser individual ou coletivo, moral ou ma-
nos sócio majoritário da instituição vitimada. terial, econômico e não econômico).
- Proibição de contratar: o agente punido não pode 1) Dano - somente é indenizável o dano certo, espe-
participar de processos licitatórios. cial e anormal. Certo é o dano real, existente. Especial é
o dano específico, individualizado, que atinge determina-
4) Responsabilidade civil do Estado e de seus ser- da ou determinadas pessoas. Anormal é o dano que ul-
vidores trapassa os problemas comuns da vida em sociedade (por
O instituto da responsabilidade civil é parte integran- exemplo, infelizmente os assaltos são comuns e o Estado
te do direito obrigacional, uma vez que a principal conse- não responde por todo assalto que ocorra, a não ser que
quência da prática de um ato ilícito é a obrigação que gera na circunstância específica possuía o dever de impedir o
para o seu auto de reparar o dano, mediante o pagamen- assalto, como no caso de uma viatura presente no local -
70 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de muito embora o direito à segurança pessoal seja um direito
direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, humano reconhecido).
2010. 72 GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade
71 Ibid. Civil. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2005.

89
DIREITO CONSTITUCIONAL

2) Agentes públicos - é toda pessoa que trabalhe den- Não obstante, agentes públicos que pratiquem atos
tro da administração pública, tenha ingressado ou não por violadores de direitos humanos se sujeitam à responsabi-
concurso, possua cargo, emprego ou função. Envolve os lidade penal e à responsabilidade administrativa, todas
agentes políticos, os servidores públicos em geral (funcio- autônomas uma com relação à outra e à já mencionada
nários, empregados ou temporários) e os particulares em responsabilidade civil. Neste sentido, o artigo 125 da Lei
colaboração (por exemplo, jurado ou mesário). nº 8.112/90:
3) Dano causado quando o agente estava agindo nesta
qualidade - é preciso que o agente esteja lançando mão Artigo 125, Lei nº 8.112/1990. As sanções civis, penais
das prerrogativas do cargo, não agindo como um particular. e administrativas poderão cumular-se, sendo independentes
Sem estes três requisitos, não será possível acionar o entre si.
Estado para responsabilizá-lo civilmente pelo dano, por
mais relevante que tenha sido a esfera de direitos atingida. No caso da responsabilidade civil, o Estado é direta-
Assim, não é qualquer dano que permite a responsabiliza- mente acionado e responde pelos atos de seus servido-
ção civil do Estado, mas somente aquele que é causado por res que violem direitos humanos, cabendo eventualmente
um agente público no exercício de suas funções e que ex- ação de regresso contra ele. Contudo, nos casos da res-
ceda as expectativas do lesado quanto à atuação do Estado. ponsabilidade penal e da responsabilidade administrativa
É preciso lembrar que não é o Estado em si que viola os aciona-se o agente público que praticou o ato.
direitos humanos, porque o Estado é uma ficção formada São inúmeros os exemplos de crimes que podem ser
por um grupo de pessoas que desempenham as atividades praticados pelo agente público no exercício de sua função
estatais diversas. Assim, viola direitos humanos não o Esta- que violam direitos humanos. A título de exemplo, pecula-
do em si, mas o agente que o representa, fazendo com que to, consistente em apropriação ou desvio de dinheiro pú-
o próprio Estado seja responsabilizado por isso civilmente, blico (art. 312, CP), que viola o bem comum e o interesse
pagando pela indenização (reparação dos danos materiais da coletividade; concussão, que é a exigência de vantagem
e morais). Sem prejuízo, com relação a eles, caberá ação de indevida (art. 316, CP), expondo a vítima a uma situação de
constrangimento e medo que viola diretamente sua digni-
regresso se agiram com dolo ou culpa.
dade; tortura, a mais cruel forma de tratamento humano,
Prevê o artigo 37, §6° da Constituição Federal:
cuja pena é agravada quando praticada por funcionário
público (art. 1º, §4º, I, Lei nº 9.455/97); etc.
Artigo 37, §6º, CF. As pessoas jurídicas de direito públi-
Quanto à responsabilidade administrativa, menciona-
co e as de direito privado prestadoras de serviços públicos
-se, a título de exemplo, as penalidades cabíveis descritas
responderão pelos danos que seus agentes, nessa quali-
no art. 127 da Lei nº 8.112/90, que serão aplicadas pelo
dade, causarem a terceiros, assegurado o direito de re-
funcionário que violar a ética do serviço público, como ad-
gresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.
vertência, suspensão e demissão.
Evidencia-se a independência entre as esferas civil, pe-
Este artigo deixa clara a formação de uma relação jurí- nal e administrativa no que tange à responsabilização do
dica autônoma entre o Estado e o agente público que cau- agente público que cometa ato ilícito.
sou o dano no desempenho de suas funções. Nesta relação, Tomadas as exigências de características dos danos
a responsabilidade civil será subjetiva, ou seja, caberá ao Es- acima colacionadas, notadamente a anormalidade, con-
tado provar a culpa do agente pelo dano causado, ao qual sidera-se que para o Estado ser responsabilizado por um
foi anteriormente condenado a reparar. Direito de regresso dano, ele deve exceder expectativas cotidianas, isto é, não
é justamente o direito de acionar o causador direto do dano cabe exigir do Estado uma excepcional vigilância da socie-
para obter de volta aquilo que pagou à vítima, considerada dade e a plena cobertura de todas as fatalidades que pos-
a existência de uma relação obrigacional que se forma entre sam acontecer em território nacional.
a vítima e a instituição que o agente compõe. Diante de tal premissa, entende-se que a responsa-
Assim, o Estado responde pelos danos que seu agen- bilidade civil do Estado será objetiva apenas no caso de
te causar aos membros da sociedade, mas se este agente ações, mas subjetiva no caso de omissões. Em outras pa-
agiu com dolo ou culpa deverá ressarcir o Estado do que foi lavras, verifica-se se o Estado se omitiu tendo plenas con-
pago à vítima. O agente causará danos ao praticar condutas dições de não ter se omitido, isto é, ter deixado de agir
incompatíveis com o comportamento ético dele esperado.73 quando tinha plenas condições de fazê-lo, acarretando em
A responsabilidade civil do servidor exige prévio pro- prejuízo dentro de sua previsibilidade.
cesso administrativo disciplinar no qual seja assegurado São casos nos quais se reconheceu a responsabilida-
contraditório e ampla defesa. Trata-se de responsabilidade de omissiva do Estado: morte de filho menor em creche
civil subjetiva ou com culpa. Havendo ação ou omissão municipal, buracos não sinalizados na via pública, tentativa
com culpa do servidor que gere dano ao erário (Adminis- de assalto a usuário do metrô resultando em morte, danos
tração) ou a terceiro (administrado), o servidor terá o dever provocados por enchentes e escoamento de águas pluviais
de indenizar. quando o Estado sabia da problemática e não tomou pro-
73 SPITZCOVSKY, Celso. Direito Administrativo. 13. vidência para evitá-las, morte de detento em prisão, incên-
ed. São Paulo: Método, 2011. dio em casa de shows fiscalizada com negligência, etc.

90
DIREITO CONSTITUCIONAL

Logo, não é sempre que o Estado será responsabili- cursos um dos requisitos para a promoção na carreira, fa-
zado. Há excludentes da responsabilidade estatal, nota- cultada, para isso, a celebração de convênios ou contratos
damente: a) caso fortuito (fato de terceiro) ou força maior entre os entes federados.
(fato da natureza) fora dos alcances da previsibilidade do § 3º Aplica-se aos servidores ocupantes de cargo
dano; b) culpa exclusiva da vítima. público o disposto no art. 7º, IV, VII, VIII, IX, XII, XIII,
XV,XVI, XVII, XVIII, XIX, XX, XXII e XXX, podendo a lei
5) Exercício de mandato eletivo por servidores públicos estabelecer requisitos diferenciados de admissão quan-
A questão do exercício de mandato eletivo pelo servi- do a natureza do cargo o exigir.
dor público encontra previsão constitucional em seu artigo § 4º O membro de Poder, o detentor de mandato eleti-
38, que notadamente estabelece quais tipos de mandatos vo, os Ministros de Estado e os Secretários Estaduais e Mu-
geram incompatibilidade ao serviço público e regulamenta nicipais serão remunerados exclusivamente por subsídio
a questão remuneratória: fixado em parcela única, vedado o acréscimo de qualquer
gratificação, adicional, abono, prêmio, verba de represen-
Artigo 38, CF.  Ao servidor público da administração
tação ou outra espécie remuneratória, obedecido, em qual-
direta, autárquica e fundacional, no exercício de mandato
quer caso, o disposto no art. 37, X e XI.
eletivo, aplicam-se as seguintes disposições:
§ 5º Lei da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
I - tratando-se de mandato eletivo federal, estadual ou
distrital, ficará afastado de seu cargo, emprego ou função; Municípios poderá estabelecer a relação entre a maior e
II - investido no mandato de Prefeito, será afastado do a menor remuneração dos servidores públicos, obedecido,
cargo, emprego ou função, sendo-lhe facultado optar pela em qualquer caso, o disposto no art. 37, XI.
sua remuneração; § 6º Os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário pu-
III - investido no mandato de Vereador, havendo compa- blicarão anualmente os valores do subsídio e da remunera-
tibilidade de horários, perceberá as vantagens de seu cargo, ção dos cargos e empregos públicos.
emprego ou função, sem prejuízo da remuneração do cargo § 7º Lei da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
eletivo, e, não havendo compatibilidade, será aplicada a Municípios disciplinará a aplicação de recursos orçamen-
norma do inciso anterior; tários provenientes da economia com despesas correntes
IV - em qualquer caso que exija o afastamento para o em cada órgão, autarquia e fundação, para aplicação no
exercício de mandato eletivo, seu tempo de serviço será desenvolvimento de programas de qualidade e produtivi-
contado para todos os efeitos legais, exceto para promo- dade, treinamento e desenvolvimento, modernização, rea-
ção por merecimento; parelhamento e racionalização do serviço público, inclusive
V - para efeito de benefício previdenciário, no caso sob a forma de adicional ou prêmio de produtividade.
de afastamento, os valores serão determinados como se no § 8º A remuneração dos servidores públicos organiza-
exercício estivesse. dos em carreira poderá ser fixada nos termos do § 4º.

6) Regime de remuneração e previdência dos servi- Artigo 40, CF.  Aos servidores titulares de cargos efeti-
dores públicos vos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Muni-
Regulamenta-se o regime de remuneração e previdên- cípios, incluídas suas autarquias e fundações, é assegurado
cia dos servidores públicos nos artigo 39 e 40 da Constitui- regime de previdência de caráter contributivo e solidário,
ção Federal: mediante contribuição do respectivo ente público, dos ser-
vidores ativos e inativos e dos pensionistas, observados cri-
Artigo 39, CF. A União, os Estados, o Distrito Federal e os térios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial e o
Municípios instituirão conselho de política de administra-
disposto neste artigo.
ção e remuneração de pessoal, integrado por servidores
§ 1º Os servidores abrangidos pelo regime de previ-
designados pelos respectivos Poderes. (Redação dada pela
dência de que trata este artigo serão aposentados, calcula-
Emenda Constitucional nº 19, de 1998 e aplicação suspensa
dos os seus proventos a partir dos valores fixados na forma
pela ADIN nº 2.135-4, destacando-se a redação anterior: “A
União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios institui- dos §§ 3º e 17:
rão, no âmbito de sua competência, regime jurídico único e I - por invalidez permanente, sendo os proventos pro-
planos de carreira para os servidores da administração pú- porcionais ao tempo de contribuição, exceto se decor-
blica direta, das autarquias e das fundações públicas”). rente de acidente em serviço, moléstia profissional ou
§ 1º A fixação dos padrões de vencimento e dos de- doença grave, contagiosa ou incurável, na forma da lei;
mais componentes do sistema remuneratório observará: II - compulsoriamente, com proventos proporcionais
I -  a natureza, o grau de responsabilidade e a complexi- ao tempo de contribuição, aos 70 (setenta) anos de idade,
dade dos cargos componentes de cada carreira; ou aos 75 (setenta e cinco) anos de idade, na forma de lei
II -  os requisitos para a investidura; complementar;
III -  as peculiaridades dos cargos. III - voluntariamente, desde que cumprido tempo mí-
§ 2º A União, os Estados e o Distrito Federal manterão nimo de dez anos de efetivo exercício no serviço público
escolas de governo para a formação e o aperfeiçoamento e cinco anos no cargo efetivo em que se dará a aposenta-
dos servidores públicos, constituindo-se a participação nos doria, observadas as seguintes condições:

91
DIREITO CONSTITUCIONAL

a)  sessenta anos de idade e trinta e cinco de contribui- o regime geral de previdência social, e ao montante resul-
ção, se homem, e cinquenta e cinco anos de idade e trinta tante da adição de proventos de inatividade com remunera-
de contribuição, se mulher; ção de cargo acumulável na forma desta Constituição, cargo
b)  sessenta e cinco anos de idade, se homem, e ses- em comissão declarado em lei de livre nomeação e exonera-
senta anos de idade, se mulher, com proventos propor- ção, e de cargo eletivo.
cionais ao tempo de contribuição. § 12. Além do disposto neste artigo, o regime de pre-
§ 2º Os proventos de aposentadoria e as pensões, por vidência dos servidores públicos titulares de cargo efetivo
ocasião de sua concessão, não poderão exceder a remu- observará, no que couber, os requisitos e critérios fixados
neração do respectivo servidor, no cargo efetivo em que para o regime geral de previdência social.
se deu a aposentadoria ou que serviu de referência para a § 13. Ao servidor ocupante, exclusivamente, de cargo
concessão da pensão. em comissão declarado em lei de livre nomeação e exone-
§ 3º  Para o cálculo dos proventos de aposentadoria, ração bem como de outro cargo temporário ou de emprego
por ocasião da sua concessão, serão consideradas as re- público, aplica-se o regime geral de previdência social.
munerações utilizadas como base para as contribuições do § 14. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Muni-
servidor aos regimes de previdência de que tratam este ar- cípios, desde que instituam regime de previdência comple-
tigo e o art. 201, na forma da lei. mentar para os seus respectivos servidores titulares de car-
§ 4º É vedada a adoção de requisitos e critérios di- go efetivo, poderão fixar, para o valor das aposentadorias e
ferenciados para a concessão de aposentadoria aos abran- pensões a serem concedidas pelo regime de que trata este
gidos pelo regime de que trata este artigo, ressalvados, nos artigo, o limite máximo estabelecido para os benefícios
termos definidos em leis complementares, os casos de ser- do regime geral de previdência social de que trata o art.
vidores: 201.
I -  portadores de deficiência; § 15. O regime de previdência complementar de que
II -  que exerçam atividades de risco; trata o § 14 será instituído por lei de iniciativa do respectivo
III -  cujas atividades sejam exercidas sob condições es- Poder Executivo, observado o disposto no art. 202 e seus
peciais que prejudiquem a saúde ou a integridade física. parágrafos, no que couber, por intermédio de entidades
§ 5º Os requisitos de idade e de tempo de contribui- fechadas de previdência complementar, de natureza públi-
ção serão reduzidos em cinco anos, em relação ao disposto ca, que oferecerão aos respectivos participantes planos de
no § 1º, III, a, para o professor que comprove exclusivamen- benefícios somente na modalidade de contribuição definida.
te tempo de efetivo exercício das funções de magistério na § 16. Somente mediante sua prévia e expressa opção,
o disposto nos §§ 14 e 15 poderá ser aplicado ao servidor
educação infantil e no ensino fundamental e médio.
que tiver ingressado no serviço público até a data da publi-
§ 6º Ressalvadas as aposentadorias decorrentes dos car-
cação do ato de instituição do correspondente regime de
gos acumuláveis na forma desta Constituição, é vedada
previdência complementar.
a percepção de mais de uma aposentadoria à conta do
§ 17. Todos os valores de remuneração considerados
regime de previdência previsto neste artigo.
para o cálculo do benefício previsto no § 3° serão devida-
§ 7º Lei disporá sobre a concessão do benefício de
mente atualizados, na forma da lei.
pensão por morte, que será igual: § 18. Incidirá contribuição sobre os proventos de apo-
I - ao valor da totalidade dos proventos do servidor fa- sentadorias e pensões concedidas pelo regime de que tra-
lecido, até o limite máximo estabelecido para os benefícios ta este artigo que superem o limite máximo estabelecido
do regime geral de previdência social de que trata o art. 201, para os benefícios do regime geral de previdência social de
acrescido de setenta por cento da parcela excedente a este que trata o art. 201, com percentual igual ao estabelecido
limite, caso aposentado à data do óbito; ou para os servidores titulares de cargos efetivos.
II - ao valor da totalidade da remuneração do servidor § 19. O servidor de que trata este artigo que tenha
no cargo efetivo em que se deu o falecimento, até o limite completado as exigências para aposentadoria voluntária
máximo estabelecido para os benefícios do regime geral de estabelecidas no § 1º, III, a, e que opte por permanecer em
previdência social de que trata o art. 201, acrescido de se- atividade fará jus a um abono de permanência equivalente
tenta por cento da parcela excedente a este limite, caso em ao valor da sua contribuição previdenciária até completar
atividade na data do óbito. as exigências para aposentadoria compulsória contidas no
§ 8º É assegurado o reajustamento dos benefícios para § 1º, II.
preservar-lhes, em caráter permanente, o valor real, confor- § 20. Fica vedada a existência de mais de um regime
me critérios estabelecidos em lei. próprio de previdência social para os servidores titula-
§ 9º O tempo de contribuição federal, estadual ou mu- res de cargos efetivos, e de mais de uma unidade gesto-
nicipal será contado para efeito de aposentadoria e o ra do respectivo regime em cada ente estatal, ressalvado o
tempo de serviço correspondente para efeito de dispo- disposto no art. 142, § 3º, X.
nibilidade. § 21. A contribuição prevista no § 18 deste artigo inci-
§ 10. A lei não poderá estabelecer qualquer forma de dirá apenas sobre as parcelas de proventos de aposenta-
contagem de tempo de contribuição fictício. doria e de pensão que superem o dobro do limite máximo
§ 11. Aplica-se o limite fixado no art. 37, XI, à soma estabelecido para os benefícios do regime geral de previdên-
total dos proventos de inatividade, inclusive quando de- cia social de que trata o art. 201 desta Constituição, quando
correntes da acumulação de cargos ou empregos públicos, o beneficiário, na forma da lei, for portador de doença inca-
bem como de outras atividades sujeitas a contribuição para pacitante.

92
DIREITO CONSTITUCIONAL

7) Estágio probatório e perda do cargo § 4º Ao servidor em estágio probatório somente pode-


Estabelece a Constituição Federal em seu artigo 41, a rão ser concedidas as licenças e os afastamentos previstos
ser lido em conjunto com o artigo 20 da Lei nº 8.112/1990: nos arts. 81, incisos I a IV, 94, 95 e 96, bem assim afasta-
mento para participar de curso de formação decorrente de
Artigo 41, CF.  São estáveis após três anos de efetivo aprovação em concurso para outro cargo na Administração
exercício os servidores nomeados para cargo de provi- Pública Federal.
mento efetivo em virtude de concurso público. § 5º O estágio probatório ficará suspenso durante as
§ 1º O servidor público estável só perderá o cargo: licenças e os afastamentos previstos nos arts. 83, 84, § 1o,
I -  em virtude de sentença judicial transitada em jul- 86 e 96, bem assim na hipótese de participação em curso
gado; de formação, e será retomado a partir do término do im-
II -  mediante processo administrativo em que lhe pedimento.
seja assegurada ampla defesa;
III -  mediante procedimento de avaliação periódica O estágio probatório pode ser definido como um lapso
de desempenho, na forma de lei complementar, assegurada de tempo no qual a aptidão e capacidade do servidor serão
ampla defesa. avaliadas de acordo com critérios de assiduidade, discipli-
§ 2º Invalidada por sentença judicial a demissão do na, capacidade de iniciativa, produtividade e responsabili-
servidor estável, será ele reintegrado, e o eventual ocupan- dade. O servidor não aprovado no estágio probatório será
te da vaga, se estável, reconduzido ao cargo de origem, sem exonerado ou, se estável, reconduzido ao cargo anterior-
direito a indenização, aproveitado em outro cargo ou posto mente ocupado. Não existe vedação para um servidor em
em disponibilidade com remuneração proporcional ao tem- estágio probatório exercer quaisquer cargos de provimen-
po de serviço. to em comissão ou funções de direção, chefia ou assesso-
§ 3º Extinto o cargo ou declarada a sua desnecessi- ramento no órgão ou entidade de lotação.
dade, o servidor estável ficará em disponibilidade, com Desde a Emenda Constitucional nº 19 de 1998, a disci-
remuneração proporcional ao tempo de serviço, até seu ade- plina do estágio probatório mudou, notadamente aumen-
quado aproveitamento em outro cargo.
tando o prazo de 2 anos para 3 anos. Tendo em vista que a
§ 4º Como condição para a aquisição da estabilidade,
norma constitucional prevalece sobre a lei federal, mesmo
é obrigatória a avaliação especial de desempenho por co-
que ela não tenha sido atualizada, deve-se seguir o dispos-
missão instituída para essa finalidade.
to no artigo 41 da Constituição Federal.
Uma vez adquirida a aprovação no estágio probató-
Art. 20, Lei nº 8.112/1990. Ao entrar em exercício, o ser-
rio, o servidor público somente poderá ser exonerado nos
vidor nomeado para cargo de provimento efetivo ficará su-
casos do §1º do artigo 40 da Constituição Federal, nota-
jeito a estágio probatório por período de 24 (vinte e quatro)
meses, durante o qual a sua aptidão e capacidade serão ob- damente: em virtude de sentença judicial transitada em
jeto de avaliação para o desempenho do cargo, observados julgado; mediante processo administrativo em que lhe
os seguinte fatores: seja assegurada ampla defesa; ou mediante procedi-
I - assiduidade; mento de avaliação periódica de desempenho, na forma
II - disciplina; de lei complementar, assegurada ampla defesa (sendo esta
III - capacidade de iniciativa; lei complementar ainda inexistente no âmbito federal.
IV - produtividade;
V - responsabilidade. 8) Militares dos estados, do Distrito Federal e dos
§ 1º 4 (quatro) meses antes de findo o período do está- territórios
gio probatório, será submetida à homologação da autori- Prevê o artigo 42, CF:
dade competente a avaliação do desempenho do servidor,
realizada por comissão constituída para essa finalidade, Art. 42. Os membros das Polícias Militares e Corpos de
de acordo com o que dispuser a lei ou o regulamento da Bombeiros Militares, instituições organizadas com base na
respectiva carreira ou cargo, sem prejuízo da continuidade hierarquia e disciplina, são militares dos Estados, do Dis-
de apuração dos fatores enumerados nos incisos I a V do trito Federal e dos Territórios.
caput deste artigo. § 1º Aplicam-se aos militares dos Estados, do Distrito
§ 2º O servidor não aprovado no estágio probatório Federal e dos Territórios, além do que vier a ser fixado em
será exonerado ou, se estável, reconduzido ao cargo an- lei, as disposições do art. 14, § 8º; do art. 40, § 9º; e do art.
teriormente ocupado, observado o disposto no parágrafo 142, §§ 2º e 3º, cabendo a lei estadual específica dispor so-
único do art. 29. bre as matérias do art. 142, § 3º, inciso X, sendo as patentes
§ 3º O servidor em estágio probatório poderá exercer dos oficiais conferidas pelos respectivos governadores.
quaisquer cargos de provimento em comissão ou funções § 2º Aos pensionistas dos militares dos Estados, do Dis-
de direção, chefia ou assessoramento no órgão ou enti- trito Federal e dos Territórios aplica-se o que for fixado em
dade de lotação, e somente poderá ser cedido a outro ór- lei específica do respectivo ente estatal.
gão ou entidade para ocupar cargos de Natureza Especial,
cargos de provimento em comissão do Grupo-Direção e
Assessoramento Superiores - DAS, de níveis 6, 5 e 4, ou
equivalentes.

93
DIREITO CONSTITUCIONAL

EXERCÍCIOS (A) Sentido político

(B) Sentido sociológico.


1. (TJ/MG - Juiz - FUNDEP/2014) Sobre o conceito de
Constituição, assinale a alternativa CORRETA. (C) Sentido jurídico.
(A) É o estatuto que regula as relações entre Estados
soberanos. (D) Sentido culturalista.

(B) É o conjunto de normas que regula os direitos e (E) Sentido simbólico.


deveres de um povo.

(C) É a lei fundamental e suprema de um Estado, que 5. (PC/SC - Agente de Polícia - ACAFE/2014) A Repú-
contém normas referentes à estruturação, à formação dos blica Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel
poderes públicos, direitos, garantias e deveres dos cida- dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se
dãos. em Estado Democrático de Direito (art. 1º da CF).
Com base no enunciado acima é correto afirmar, ex-
(D) É a norma maior de um Estado, que regula os di- ceto:
reitos e deveres de um povo nas suas relações.
(A) são objetivos fundamentais da república federati-
va do Brasil erradicar a pobreza e a marginalização e redu-
2. (TJ/MG - Juiz - FUNDEP/2014) Dentre as formas zir as desigualdades sociais e regionais.
de classificação das Constituições, uma delas é quanto à
origem. (B) a soberania, a cidadania e o pluralismo político
Em relação às características de uma Constituição não são fundamentos da república federativa do brasil.
quanto à sua origem, assinale a alternativa CORRETA.
(A) Dogmáticas ou históricas. (C) ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer
alguma coisa senão em virtude de lei.
(B) Materiais ou formais.
(D) é livre a manifestação de pensamento, sendo ve-
(C) Analíticas ou sintéticas. dado o anonimato.

(D) Promulgadas ou outorgadas. (E) construir uma sociedade livre, justa e solidária é
um dos objetivos fundamentais da república federativa do
Brasil.
3. (TJ/MG - Juiz - FUNDEP/2014) Sobre a supremacia
da Constituição da República, assinale a alternativa COR-
RETA. 6. (PC/SC - Agente de Polícia - ACAFE/2014) A Cons-
(A) A supremacia está no fato de o controle da cons- tituição brasileira inicia com o Título I dedicado aos “prin-
titucionalidade das leis só ser exercido pelo Supremo Tri- cípios fundamentais”, que são as regras informadoras de
bunal Federal. todo um sistema de normas, as diretrizes básicas do orde-
namento constitucional brasileiro. São regras que contêm
(B) A supremacia está na obrigatoriedade de submis- os mais importantes valores que informam a elaboração da
são das leis aos princípios que norteiam o Estado por ela Constituição da República Federativa do Brasil.
instituído. Diante dessa afirmação, analise as questões a seguir e
assinale a alternativa correta.
(C) A supremacia está no fato de a interpretação da
I - Nas relações internacionais, a República brasileira
constituição não depender da observância dos princípios
rege-se, entre outros, pelos seguintes princípios: autode-
que a norteiam.
terminação dos povos, defesa da paz, igualdade entre os
(D) A supremacia está no fato de que os princípios e Estados, concessão de asilo político.
fundamentos da constituição se resumam na declaração de II - Os princípios não são dotados de normatividade,
soberania. ou seja, possuem efeito vinculante, mas constituem regras
jurídicas efetivas.
III - Violar um princípio é muito mais grave que trans-
4. (PC/PI - Delegado de Polícia – UESPI/2014) Entre gredir uma norma qualquer, pois implica ofensa a todo o
os chamados sentidos doutrinariamente atribuídos à Cons- sistema de comandos.
tituição, existe um que realiza a distinção entre Constituição IV - São princípios que norteiam a atividade econômica
e lei constitucional. Assinale a alternativa que o contempla. no Brasil: a soberania nacional, a função social da proprie-
dade, a livre concorrência, a defesa do consumidor; a pro-
priedade privada.

94
DIREITO CONSTITUCIONAL

V - A diferença de salários, de critério de admissão por (E) a autodeterminação dos povos, a não intervenção
motivo de sexo, idade, cor ou estado civil a qualquer dos e a defesa da paz são princípios regedores das relações
trabalhadores urbanos e rurais fere o princípio da igualda- internacionais da República Federativa do Brasil.
de do caput do art. 5º da Constituição Federal.
(A) Apenas I, II, III estão corretas. 9. (PC/SC - Agente de Polícia - ACAFE/2014) O art.
5º da Constituição Federal trata dos direitos e deveres in-
(B) Apenas II e IV estão corretas. dividuais e coletivos, espécie do gênero direitos e garan-
tias fundamentais (Título II). Assim, apesar de referir-se,
(C) Apenas III e V estão corretas. de modo expresso, apenas a direitos e deveres, também
consagrou as garantias fundamentais. (LENZA, Pedro. Di-
(D) Apenas I, III, IV e V estão corretas. reito Constitucional Esquematizado, São Paulo: Saraiva,
2009,13ª. ed., p. 671).
(E) Todas as afirmações estão corretas.
Com base na afirmação acima, analise as questões a
seguir e assinale a alternativa correta.
7. (DPE/GO - Defensor Público - UFG/2014) A pro- I - Os direitos são bens e vantagens prescritos na nor-
pósito dos princípios fundamentais da República Federati- ma constitucional, enquanto as garantias são os instrumen-
va do Brasil, reconhece-se que: tos através dos quais se assegura o exercício dos aludidos
(A) o pluralismo político está inserido entre seus ob- direitos.
jetivos. II - O rol dos direitos expressos nos 78 incisos e pa-
rágrafos do art. 5º da Constituição Federal é meramente
(B) a livre iniciativa é um de seus fundamentos e se exemplificativo.
contrapõe ao valor social do trabalho. III - Os direitos e garantias expressos na Constituição
Federal não excluem outros decorrentes do regime e dos
(C) a dignidade é também do nascituro, o que desau- princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais
toriza, portanto, a prática da interrupção da gravidez quan- em que o Brasil seja parte.
do decorrente de estupro. IV - São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra
e a imagem das pessoas, assegurado o direito à indeniza-
(D) a promoção do bem de todos, sem preconceito ção pelo dano material ou moral decorrente de sua viola-
de origem, raça, sexo, cor, idade e qualquer outra forma de ção.
discriminação, é um de seus objetivos. V - É inviolável a liberdade de consciência e de crença,
sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e
(E) o legislativo, o executivo e o judiciário, dependen- garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e
tes e harmônicos entre si, são poderes da união. suas liturgias.
(A) Apenas I, II e III estão corretas.
8. (DPE/DF - Analista - Assistência Judiciária - (B) Apenas II, III e IV estão corretas.
FGV/2014) Sobre os Princípios Fundamentais da República
Federativa do Brasil, à luz do texto constitucional de 1988, (C) Apenas III e V estão corretas.
é INCORRETO afirmar que:
(A) a República Federativa do Brasil tem como funda- (D) Apenas IV e V estão corretas.
mentos: a soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa
humana, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa (E) Todas as questões estão corretas.
e o pluralismo político.

(B) a República Federativa do Brasil tem como obje- 10. (PC/SC - Agente de Polícia - ACAFE/2014) Os
tivos fundamentais: construir uma sociedade livre, justa e remédios constitucionais são as formas estabelecidas pela
solidária; garantir o desenvolvimento nacional, erradicar Constituição Federal para concretizar e proteger os direitos
a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades fundamentais a fim de que sejam assegurados os valores
sociais e regionais; promover o bem de todos, sem precon- essenciais e indisponíveis do ser humano.
ceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras Assim, é correto afirmar, exceto:
formas de discriminação. (A) O habeas corpus pode ser formulado sem advo-
gado, não tendo de obedecer a qualquer formalidade pro-
(C) todo o poder emana do povo, que o exerce unica- cessual, e o próprio cidadão prejudicado pode ser o autor.
mente por meio de representantes eleitos.
(B) O habeas corpus é utilizado sempre que alguém
(D) entre outros, são princípios adotados pela Repú- sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação
blica Federativa do Brasil nas suas relações internacionais, em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso
os seguintes: a independência nacional, a prevalência dos de poder.
direitos humanos e o repúdio ao terrorismo e ao racismo.

95
DIREITO CONSTITUCIONAL

(C) O autor da ação constitucional de habeas corpus Federativa do Brasil, pois estão como tais enumerados no
recebe o nome de impetrante; o indivíduo em favor do qual artigo 1º, CF, além de decorrerem da própria estrutura de
se impetra, paciente, podendo ser o mesmo impetrante, e um Estado Democrático de Direito.
a autoridade que pratica a ilegalidade, autoridade coatora.
6. Resposta: “D”. O item “I” descreve alguns dos prin-
(D) Caberá habeas corpus em relação a punições dis- cípios que regem as relações internacionais brasileiras,
ciplinares militares. enumerados no artigo 4º, CF, estando correto; o item “II”
afasta a normatividade dos princípios, o que é incorreto,
(E) O habeas corpus será preventivo quando alguém pois os princípios têm forma normativa e, inclusive, po-
se achar ameaçado de sofrer violência, ou repressivo, dem ser aplicados de forma autônoma se não houver lei
quando for concreta a lesão. específica a respeito ou se esta se mostrar inadequada, por
isso mesmo, correta a afirmação do item “III”; os princípios
descritos no item “IV” são alguns dos que regem a ordem
econômica, enumerados no artigo 170, CF, restando corre-
RESPOSTAS ta; o item “V” traz um exemplo de violação ao princípio da
igualdade material, assegurado no artigo 5º, CF e refletido
1. Resposta: “C”. Constituição é muito mais do que em todo texto constitucional, estando assim correto. Logo,
um documento escrito que fica no ápice do ordenamen- apenas o item “II” está incorreto.
to jurídico nacional estabelecendo normas de limitação e
organização do Estado, mas tem um significado intrínseco 7. Resposta: “D”. O artigo 1º, CF traz os princípios
sociológico, político, cultural e econômico. Independente fundamentais (fundamentos) da República Federativa do
do conceito, percebe-se que o foco é a organização do Es- Brasil: “I - a soberania; II - a cidadania; III - a dignidade da
tado e a limitação de seu poder. pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da
livre iniciativa; V - o pluralismo político”. O princípio de “A”
2. Resposta: “D”. Quanto à origem, a Constituição se encontra no inciso V; o de “B” no inciso IV; o de “C” no
pode ser outorgada, quando imposta unilateralmente pelo inciso III, pois viola a dignidade humana da mãe forçá-la a
agente revolucionário, ou promulgada, quando é votada, dar luz à um filho que resulte de estupro; o de “E” decorre
sendo também conhecida como democrática ou popular. dos incisos I e II e é previsão do artigo 2º, que dispõe que
“são Poderes da União, independentes e harmônicos entre
3. Resposta: “B”. A Constituição Federal e os demais si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário”. Somente resta a
atos normativos que compõem o denominado bloco de alternativa “D”, que apesar de realmente trazer um objetivo
constitucionalidade, notadamente, emendas constitucio- da República Federativa brasileira – previsto no artigo 3º,
nais e tratados internacionais de direitos humanos apro- IV, não tem a ver com os princípios fundamentais, mas sim
vados com quórum especial após a Emenda Constitucional com os objetivos.
nº 45/2004, estão no topo do ordenamento jurídico. Sendo
assim, todos os atos abaixo deles devem guardar uma es- 8. Resposta: “C”. A democracia brasileira adota a mo-
trita compatibilidade, sob pena de serem inconstitucionais. dalidade semidireta, porque possibilita a participação po-
Por isso, estes atos que estão abaixo na pirâmide, se sujei- pular direta no poder por intermédio de processos como
tam a controle de constitucionalidade. o plebiscito, o referendo e a iniciativa popular. Como são
hipóteses restritas, pode-se afirmar que a democracia indi-
4. Resposta: “A”. Carl Schmitt propõe que o conceito reta é predominantemente adotada no Brasil, por meio do
de Constituição não está na Constituição em si, mas nas sufrágio universal e do voto direto e secreto com igual va-
decisões políticas tomadas antes de sua elaboração. Sen- lor para todos. Contudo, não é a única maneira de se exer-
do assim, o conceito de Constituição será estruturado por cer o poder (artigo 14, CF e artigo 1º, parágrafo único, CF).
fatores como o regime de governo e a forma de Estado
vigentes no momento de elaboração da lei maior. A Cons- 9. Resposta: “E”. “I” está correta porque a principal
tituição é o produto de uma decisão política e variará con- diferença entre direitos e garantias é que os primeiros
forme o modelo político à época de sua elaboração. servem para determinar os bens jurídicos tutelados e as
segundas são os instrumentos para assegurar estes (ex:
5. Resposta: “B”. Todas as alternativas descrevem ca- direito de liberdade de locomoção – garantia do habeas
racterísticas, atributos do Estado Democrático de Direito corpus). “II” está correta, afinal, o próprio artigo 5º prevê
que é a República Federativa brasileira, notadamente: er- em seu §2º que “os direitos e garantias expressos nesta
radicação da pobreza e diminuição de desigualdades (ar- Constituição não excluem outros decorrentes do regime e
tigo 3º, III, CF); soberania, cidadania e pluralismo político dos princípios por ela adotados, ou dos tratados interna-
(artigo 1º, I, II e V, CF); princípio da legalidade (artigo 5º, II, cionais em que a República Federativa do Brasil seja parte”,
CF); liberdade de expressão (artigo 5º, IV, CF); construção fundamento que também demonstra que o item “III” está
de sociedade justa, livre e solidária (artigo 3º, I, CF). Sendo correto. O item IV traz cópia do artigo 5º, X, CF, que prevê
assim, incorreta a afirmação de que soberania, cidadania que “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e
e pluralismo político não são fundamentos da República a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização

96
DIREITO CONSTITUCIONAL

pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”; EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES


o que faz também o item V com relação ao artigo 5º, VI, Direito Constitucional
CF que diz que “é inviolável a liberdade de consciência e
de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos 01. (TRT/17ª REGIÃO - ANALISTA JUDICIÁRIO -
religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais CESPE/2013) Julgue o item que se segue, a respeito
de culto e a suas liturgias”. Sendo assim, todas afirmativas dos princípios fundamentais: “Os valores sociais do
estão corretas. trabalho e da livre iniciativa constituem fundamentos
da República Federativa do Brasil”.
10. Resposta: “D”. O habeas corpus é garantia pre-
vista no artigo 5º, LXVIII, CF: “conceder-se-á habeas corpus Extraem-se do art. 1º, da Constituição Federal os
sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer fundamentos da República Federativa do Brasil, quais
violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por sejam: a soberania (inciso I), a cidadania (inciso II), a
ilegalidade ou abuso de poder”. A respeito dele, a lei bus- dignidade da pessoa humana (inciso III), os valores sociais
ca torná-lo o mais acessível possível, por ser diretamente do trabalho e da livre iniciativa (inciso IV), e o pluralismo
relacionado a um direito fundamental da pessoa humana. político (inciso V).
O objeto de tutela é a liberdade de locomoção; a propo- Diante disso, a alternativa deve se assinalada como
situra não depende de advogado; o que propõe a ação é correta, pois, de fato, os valores sociais do trabalho e da
denominado impetrante e quem será por ela beneficiado é livre iniciativa constituem fundamentos da República
chamado paciente (podendo a mesma pessoa ser os dois), Federativa do Brasil.
contra quem é proposta a ação é a denominada autoridade
coatora; e é possível utilizar habeas corpus repressivamen- RESPOSTA: “CORRETA”.
te e preventivamente. Por sua vez, a Constituição Federal
prevê no artigo 142, §2º que “não caberá habeas corpus em 02. (TRF/4ª REGIÃO - TÉCNICO JUDICIÁRIO -
relação a punições disciplinares militares”. FCC/2014) A dignidade da pessoa humana, no âmbito
da Constituição Brasileira de 1988, deve ser entendida
como:
A) Uma exemplificação do princípio de cooperação
entre os povos para o progresso da humanidade
reconhecida pela Constituição.
B) Um direito individual garantido somente aos
brasileiros natos.
C) Uma decorrência do princípio constitucional da
soberania do Estado Brasileiro.
D) Um direito social decorrente de convenção
internacional ratificada pelo Estado Brasileiro.
E) Um dos fundamentos do Estado Democrático de
Direito da República Federativa do Brasil.

A dignidade da pessoa humana é um dos fundamentos


do Estado Democrático de Direito, conforme consta no art.
1º, III, da Constituição da República.
Deve ser assinalado, portanto, o item “E”.

RESPOSTA: “E”.

03. (TRT/3ª REGIÃO - JUIZ - TRT/3ª REGIÃO/2013)


Na literalidade da Constituição de 1988, não se
inclui entre os objetivos fundamentais da República
Federativa do Brasil:
A) Construir uma sociedade livre, justa e solidária.
B) Garantir o desenvolvimento nacional.
C) Promover a dignidade da pessoa humana.
D) Erradicar a pobreza e a marginalização.
E) Reduzir as desigualdades sociais e regionais.

Os objetivos fundamentais da República Federativa


do Brasil constam no art. 3º, da Constituição Federal, que
prevê: construir uma sociedade livre, justa e solidária (inciso
I), garantir o desenvolvimento nacional (inciso II), erradicar

97
DIREITO CONSTITUCIONAL

a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades Assim, referida emenda não tornou o Tribunal de
sociais e regionais (inciso III), e promover o bem de todos, Contas um dos Poderes da União, pois não alterou o art. 2º,
sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e que estabelece que são Poderes da União, independentes
quaisquer outras formas de discriminação (inciso IV). e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o
A dignidade a pessoa humana, por sua vez, tem Judiciário. Consoante um posicionamento tradicional, o
previsão no art. 1º, da CF, que estabelece os fundamentos TCU integra o Poder Legislativo, por auxiliar o Congresso
da República. Nacional no controle externo da fiscalização financeira,
Assim, pela literalidade dos dispositivos supracitados, contábil, orçamentária, operacional e patrimonial da União
deve ser assinalada a alternativa “C”. e das entidades das administrações direta e indireta (art.
71, caput, CF).
RESPOSTA: “C”. Com fundamento na explanação acima, a alternativa
deve ser assinalada como errada.
04. (CNJ - ANALISTA JUDICIÁRIO - CESPE/2013)
Julgue o item que se segue relativo aos princípios RESPOSTA: “ERRADA”.
fundamentais da Constituição Federal de 1988 (CF):
“É fundamento da República Federativa do Brasil a 07. (TJ/SC - JUIZ - TJ/SC/2013) Com base nas
construção de uma sociedade livre, justa e solidária”. proposições abaixo, assinale a alternativa correta:
I. A República Federativa do Brasil, formada pela
Conforme consta no art. 3º, I, do Texto Maior, a união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito
construção de uma sociedade livre, justa e solidária Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito
constitui-se um dos objetivos fundamentais da República e tem como fundamentos: a soberania; a cidadania; a
Federativa do Brasil. prevalência dos direitos humanos; os valores sociais do
Os fundamentos, por sua vez, estão estampados no art. 1º, CF. trabalho e da livre iniciativa; o pluralismo político.
Diante disso, a alternativa deve ser assinalada como errada. II. A República Federativa do Brasil buscará a
integração econômica, política, social e cultural dos
RESPOSTA: “ERRADA”.
povos da América Latina, visando à formação de uma
comunidade latino-americana de nações.
05. (CNJ - ANALISTA JUDICIÁRIO - CESPE/2013)
III. Constituem objetivos fundamentais da República
Acerca dos princípios fundamentais da Constituição
Federativa do Brasil: promover o bem de todos, sem
Federal de 1988 (CF), julgue o item que segue: “A
preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e
República Federativa do Brasil rege-se, nas suas
relações internacionais, pelos seguintes princípios: quaisquer outras formas de discriminação; erradicar a
independência nacional; prevalência dos direitos pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades
humanos; autodeterminação dos povos; não sociais e regionais; garantir o desenvolvimento nacional;
intervenção; igualdade entre os Estados; defesa da paz; construir uma sociedade livre, justa e solidária.
solução pacífica dos conflitos; repúdio ao terrorismo e IV. A República Federativa do Brasil rege-se nas suas
ao racismo; cooperação entre os povos para o progresso relações internacionais pelos seguintes princípios a
da humanidade; e concessão de asilo político”. independência nacional; a dignidade da pessoa humana;
a autodeterminação dos povos; a não intervenção; a
A alternativa está correta, pois todos os princípios igualdade entre os Estados; a defesa da paz; a solução
relacionados no enunciado da questão estão previstos no pacífica dos conflitos; o repúdio ao terrorismo e ao
art. 4º, em seus dez incisos, da Constituição da República, racismo; a cooperação entre os povos para o progresso
que estabelece os princípios a serem observados nas da humanidade; a concessão de asilo político.
relações internacionais. A) Todas as proposições estão corretas.
B) Somente as proposições I, II e III estão corretas.
RESPOSTA: “CORRETA”. C) Somente as proposições I, III e IV estão corretas.
D) Somente as proposições II e III estão corretas.
06. (MS - ANALISTA ADMINISTRATIVO - CESPE/2013) E) Somente as proposições II, III e IV estão corretas.
Considerando as disposições constitucionais a respeito
dos princípios fundamentais, julgue o item a seguir: O item “I” está incorreto. A prevalência dos direitos
“Com a promulgação da Emenda Constitucional humanos não é um dos fundamentos previstos no art. 1º, da
nº 73/2013, são considerados Poderes da União, Lei Fundamental, mas sim um dos princípios da República
independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Federativa do Brasil em suas relações internacionais,
Executivo, o Judiciário e o Tribunal de Contas”. conforme consta no art. 4º, II, CF.
O item “II” está certo. O enunciado da alternativa
A Emenda Constitucional nº 73/2013 acrescentou está amparado pelo texto do art. 4º, parágrafo único, da
o §11 ao art. 27 do Ato das Disposições Constitucionais Constituição da República.
Transitórias, criando os Tribunais Regionais Federais da 6ª O item “III” está correto, com fundamento no art.
(sede em Curitiba), 7ª (sede em Belo Horizonte), 8ª (sede 3º, CF, que prevê, em seus quatro incisos, os objetivos
em Salvador) e 9ª (sede em Manaus) Regiões. fundamentais da República Federativa do Brasil.

98
DIREITO CONSTITUCIONAL

O item “IV” está equivocado. Os princípios que regem 10. (SEPLAG/RJ - ANALISTA EXECUTIVO -
a República Federativa do Brasil estão expressos no art. 4º, CEPERJ/2013) A Constituição brasileira de 1988
da Constituição da República. Neste rol não se encontra estabeleceu um imenso rol de princípios fundamentais,
a dignidade da pessoa humana, que na verdade se trata dentre os quais o que se relaciona à forma de governo
de um dos fundamentos da República brasileira (art. 1º, é o:
III, CF). A) Federalista.
Sendo assim, estando corretos apenas os itens “II” e B) Republicano
“III”, deve ser assinalada a alternativa “D”. C) Democrático
D) Soberano
RESPOSTA: “D”. E) Popular

08.  (MP/SC - PROMOTOR DE JUSTIÇA - MPE/ A Constituição Federal, em seu primeiro artigo,
SC/2013) Dentre os princípios que regem a República evidência que a forma de governo adotada no Brasil é a
Federativa do Brasil em suas relações internacionais republicana, que foi confirmada por plebiscito, nos termos
podem ser citados: a concessão de asilo político; o do art. 2º do ADCT.
repúdio ao terrorismo e ao racismo; a defesa da paz; a Sobre este assunto, é importante anotar brevemente
não intervenção e a autodeterminação dos povos. algumas considerações sobre a organização do Estado:
quanto à forma de governo, pode ser adotada a republicana,
Dispõe a Constituição da República que o Brasil quando o poder é exercício em nome do povo e visando seus
rege-se nas suas relações internacionais pelos princípios interesses, ou a monarquia, na qual o poder fica concentrado
da independência nacional; prevalência dos direitos nas mãos de poucas pessoas; quanto ao sistema de governo,
humanos; autodeterminação dos povos; não intervenção; pode ser adotado o presidencialismo, em que o Presidente da
igualdade entre os Estados; defesa da paz; solução República acumula as funções de Chefe de Estado e de Chefe
pacífica dos conflitos; repúdio ao terrorismo e ao de Governo, ou o parlamentarismo, quando a chefia de Estado
e a chefia de Governo são exercidas por pessoas diferentes;
racismo; cooperação entre os povos para o progresso da
por fim, quanto à forma de Estado, poderá ser adotado
humanidade; concessão de asilo político (art. 4º e incisos,
o federalismo, onde há unidades dotadas de autonomia
CF).
política, ou a forma unitária, em que o Estado é constituído de
Diante disso, a alternativa deve ser assinalada como
um governo único, conduzido por uma só pessoa.
correta.
Feitas estas considerações, registre-se que o Brasil adota
a forma republicana de governo, o sistema presidencialista
RESPOSTA: “CORRETA”.
de governo e a forma federativa de Estado.
Diante disso, deve ser assinalada a alternativa “B” como
09. (TRT/10ª REGIÃO - ANALISTA JUDICIÁRIO correta.
- CESPE/2013) Acerca dos princípios fundamentais
expressos na Constituição Federal de 1988 (CF) e da RESPOSTA: “B”.
aplicabilidade das normas constitucionais, julgue
o item a seguir: “Embora a Federação seja um dos 11. (SEPLAG/RJ - ANALISTA EXECUTIVO -
princípios fundamentais da CF, nada impede que o CEPERJ/2013) A Constituição de 1988 é muito criticada
direito de secessão seja introduzido no ordenamento por ter previsto a prestação de inúmeros serviços e a
jurídico brasileiro por meio de emenda constitucional”. previsão de incontáveis direitos e garantias, individuais
e coletivos, criando justas expectativas para os
Nos termos do art. 60, §4º, I, da Constituição da cidadãos, mas encontrando limitações orçamentárias na
República, a forma federativa de Estado não pode ser maior parte dos entes públicos. Alguns doutrinadores
abolida no ordenamento jurídico pátrio, constituindo defendem que nesse tema deve ser aplicada a reserva
verdadeira cláusula pétrea, inalterável por meio de do possível. Dentre os princípios constitucionais
emenda constitucional. Assim, não é possível a extinção fundamentais relativos à prestação positiva do Estado
do pacto federativo, muito menos a possibilidade de está o seguinte princípio:
secessão, ou seja, separação dos entes políticos. A) Integração regional
Diante da constatação de que não há, no Brasil, o B) Defesa da paz
direito de secessão, a afirmação errada. C) Convivência justa
D) Não intervenção
RESPOSTA: “ERRADA”. E) Livre organização

A alternativa “A” deve ser assinalada como correta,


pois o princípio da integração regional gera uma prestação
positiva, um dever de agir para o Estado brasileiro em prol
do desenvolvimento harmônico e proporcional de todas as
regiões do país.

99
DIREITO CONSTITUCIONAL

As alternativas “B”, “C”, “D” e “E” estão erradas, tendo Diante disso, a alternativa deve ser assinalada como
em vista que a defesa da paz, convivência justa, não errada.
intervenção e livre organização são prestações negativas
do Estado, isto é, exigem apenas um “deixar fluir” estatal RESPOSTA: “ERRADA”.
como medidas inerentes a seus respeitos.
14. (PC/BA - INVESTIGADOR DE POLÍCIA
RESPOSTA: “A”. - CESPE/2013) Considerando os princípios
fundamentais da CF, julgue o item que se segue:
12. (PRF - POLICIAL RODOVIÁRIO FEDERAL “A eleição periódica dos detentores do poder
- CESPE/2013) No que se refere aos princípios político e a responsabilidade política do chefe do
fundamentais da Constituição Federal de 1988 (CF) e Poder Executivo são características do princípio
à aplicabilidade das normas constitucionais, julgue republicano”.
o item a seguir: “O mecanismo denominado sistema
de freios e contrapesos é aplicado, por exemplo, no
No Estado em que se adota a forma republicana
caso da nomeação dos Ministros do Supremo Tribunal
de governo há a concentração do poder nas mãos
Federal (STF), atribuição do Presidente da República e
dependente da aprovação pelo Senado Federal”. de pessoas eleitas periodicamente, que deverão
representar os interesses da coletividade. Além disso,
A alternativa está correta. De acordo com o art. 101, na República, os detentores do poder exercem as suas
CF, o STF compõe-se de onze ministros, escolhidos dentre funções com responsabilidade, respondendo pelos
brasileiros natos (art. 12, §3º, IV, CF), com mais de trinta excessos cometidos.
e cinco e menos de sessenta e cinco anos de idade, de Nestes termos, a alternativa deve ser assinalada
notável saber jurídico e reputação ilibada. Ademais, o como correta.
parágrafo único do mencionado dispositivo determina que
o nome indicado pelo Presidente da República deverá ser RESPOSTA: “CORRETA”.
aprovado pela maioria absoluta do Senado Federal. Após
a aprovação do Senado, o Presidente da República poderá 15. (MP/RO - TÉCNICO EM CONTABILIDADE -
fazer a nomeação do Ministro. FUNCAB/2012) Segundo a Constituição Federal,
Na hipótese trazida pela questão, incide o sistema de constitui objetivo fundamental da República
freios e contrapesos, que é um mecanismo de controle Federativa do Brasil:
recíproco entre os Poderes, pois a nomeação do nome A) A cidadania.
indicado pelo Presidente da República como Ministro B) A dignidade da pessoa humana.
do STF depende de aprovação pela maioria absoluta do C) Os valores sociais do trabalho e da livre
Senado Federal. iniciativa.
D) Garantir o desenvolvimento nacional.
RESPOSTA: “CORRETA”. E) A soberania.
13. (PRF - POLICIAL RODOVIÁRIO FEDERAL Os objetivos fundamentais da República Federativa
- CESPE/2013) No que se refere aos princípios do Brasil estão previstos no art. 3º, da Constituição, de
fundamentais da Constituição Federal de 1988 (CF) e onde se extrai a garantia do desenvolvimento nacional
à aplicabilidade das normas constitucionais, julgue
(inciso II), o que torna correta a letra “D”.
o item a seguir: “Decorre do princípio constitucional
As alternativas “A”, “B”, “C” e “E” são, na verdade, os
fundamental da independência e harmonia entre os
fundamentos da República brasileira, juntamente com o
poderes a impossibilidade de que um poder exerça
pluralismo político, previsto no art. 1º, do Texto Maior.
função típica de outro, não podendo, por exemplo, o
Poder Judiciário exercer a função administrativa”.
RESPOSTA: “D”.
No Brasil vigora o princípio da separação de poderes.
Contudo, esta separação não deve se dar de forma
absoluta, mas de forma flexível, por meio da qual cada
um dos poderes estatais exerce a sua função típica, bem
como as funções típicas dos demais poderes desde que
haja expressa previsão constitucional neste sentido. Assim,
ao Legislativo compete legislar e fiscalizar de forma
típica, bem como julgar e administrar de forma atípica; o
Executivo, por sua vez, tem a função típica de administrar, e
as funções atípicas de legislar e julgar; por fim, o Judiciário
tem competência para julgar, de forma típica, bem como
legislar e administrar, quando no exercício das funções
atípicas.

100
DIREITO CONSTITUCIONAL

16. (TJM/MG - TÉCNICO JUDICIÁRIO - 17. (OAB - EXAME DE ORDEM UNIFICADO XII -
FUMARC/2013) A Constituição Federal brasileira, no FGV/2013) A Constituição declara que todos podem
seu rol de direitos individuais, garante o direito de reunir-se em local aberto ao público. Algumas
propriedade que deverá atender a sua função social. condições para que as reuniões se realizem são
Além de previsão de mecanismos que a protejam, apresentadas nas alternativas a seguir, à exceção de
enumera algumas situações de intervenção do Estado uma. Assinale-a:
na propriedade privada. No que diz respeito ao direito A) Os participantes não portem armas.
de propriedade, constitucionalmente tutelado, é B) A reunião seja autorizada pela autoridade
possível afirmar corretamente: competente.
A) A Constituição Federal prevê hipótese de C) A reunião não frustre outra reunião
expropriação sem qualquer indenização ao proprietário anteriormente convocada para o mesmo local.
de glebas. D) Os participantes reúnam-se pacificamente.
B) Aos autores pertence o privilégio temporário
para utilização de sua obra, transmissível aos herdeiros,
O Texto Maior determina que todos podem reunir-
pelo tempo que lei complementar fixar.
se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao
C) A desapropriação poderá ocorrer por necessidade
ou utilidade pública, ou por interesse social, tendo como público, independentemente de autorização, desde que
requisitos constitucionais indenizatórios inafastáveis a não frustrem outra reunião anteriormente convocada
justeza, a anterioridade e o pagamento em dinheiro. para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à
D) A lei assegurará aos autores de inventos autoridade competente (art. 5º, XVI, CF).
industriais o direito exclusivo de sua utilização, Nestes termos, a alternativa “B” deve ser assinalada,
publicação ou reprodução, bem como proteção às pois é o único requisito que não está previsto na norma
criações industriais, à propriedade das marcas, aos descrita acima.
nomes de empresas, imagem, moral e voz humanas e a
outros signos distintivos, tendo em vista a função social RESPOSTA: “B”.
e o desenvolvimento tecnológico e econômico do País.
18. (TRE/CE - ANALISTA JUDICIÁRIO - FCC/2012)
A alternativa “A” está correta. Nos termos do art. 243, Roberval, brasileiro, ficou viúvo, pois sua esposa
da Lei Fundamental, com redação dada pela EC nº 81/2014, Amália, holandesa e que não tinha filhos, faleceu na
as propriedades rurais e urbanas de qualquer região do Escócia durante um passeio turístico, cujo ascendente
País onde forem localizadas culturas ilegais de plantas paterno, Arquimedes, reside na Espanha e sua
psicotrópicas ou a exploração de trabalho escravo na forma ascendente materna, Hilda, reside na França. Amália
da lei serão expropriadas e destinadas à reforma agrária e a era proprietária de três imóveis no Brasil e, segundo
programas de habitação popular, sem qualquer indenização a Constituição Federal, a sucessão dos seus bens será
ao proprietário e sem prejuízo de outras sanções previstas regulada, no caso, pela lei:
em lei, observado, no que couber, o disposto no art. 5º. A) Francesa em benefício de Roberval, pois
Ademais, a título de complemento, o parágrafo único prevalece o domicilio de Hilda.
do aludido dispositivo, também com redação dada pela B) Holandesa em benefício de Roberval, mesmo
EC nº 81/2014, prevê que todo e qualquer bem de valor lhe sendo mais favorável a lei brasileira.
econômico apreendido em decorrência do tráfico ilícito de C) Escocesa em benefício de Roberval, pois
entorpecentes e drogas afins e da exploração de trabalho
prevalece o local do óbito.
escravo será confiscado e reverterá a fundo especial com
D) Espanhola em benefício de Roberval, pois
destinação específica, na forma da lei.
prevalece o domicilio de Arquimedes.
A alternativa “B” está errada. Os autores possuem o
E) Brasileira em benefício de Roberval, sempre que
direito exclusivo de utilização, publicação ou reprodução
de suas obras, transmissível aos herdeiros pelo tempo que não lhe seja mais favorável a lei pessoal de Amália.
a lei fixar (art. 5º, XXVII, CF). Nota-se que a constituição não
estabelece que o tempo será fixado em lei complementar. Consoante o art. 5º, XXXI, CF, a sucessão de bens
A alternativa “C” está equivocada. De acordo com o de estrangeiros situados no país será regulada pela lei
art. 5º, XXIV, CF, a desapropriação será por necessidade ou brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros,
utilidade, ou por interesse social, mediante justa e prévia sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoa do
indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos “de cujus”. Em mesmo sentido, o art. 10, §1º, da Lei de
na Constituição, ou seja, os requisitos da desapropriação Introdução às Normas do Direito Brasileiro. Isto posto, a
poderão ser afastados por força de previsão constitucional alternativa que guarda perfilhamento com o dispositivo
(p. ex., arts. 182, §4º, III e 184, CF). constitucional é a letra “E”.
A alternativa “D” está incorreta. Os autores de inventos
industriais possuem privilégio temporário para a utilização RESPOSTA: “E”.
do invento (art. 5º, XXIX, CF).

RESPOSTA: “A”.

101
DIREITO CONSTITUCIONAL

19. (TJ/PE - ANALISTA JUDICIÁRIO - FCC/2012) de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder (alínea
Lúcio, Amélia e Tito, respectivamente, pai, mãe e “a”), bem como a obtenção de certidões em repartições
filho, são lavradores na pequena cidade de Amambaí, públicas, para defesa de direitos e esclarecimento de
Estado do Mato Grosso do Sul, e sozinhos, sem a situações de interesse pessoal (alínea “b”). A alternativa “A”
ajuda de funcionários, cultivam soja na sua pequena está correta, por tratar desta situação prevista na alínea “a”.
propriedade rural, assim definida em lei. Lúcio investiu A alternativa “B” está errada, pois, como visto no
todas as suas economias pessoais na compra de uma parágrafo acima, o direito à obtenção gratuita de certidões
máquina específica para ajudar a sua família na colheita somente vale para repartições públicas, mas não para
da soja, acreditando que seria farta e que a máquina estabelecimentos privados.
lhes traria um excelente resultado econômico. Porém, A alternativa “C” está incorreta, pois, conforme o inciso
ocorreu uma geada que estragou toda a plantação, LXXVI, alíneas “a” e “b”, do art. 5º, da Constituição, apenas
deixando Lúcio sem condições de saldar seus débitos o registro civil de nascimento e a certidão de óbito são
vencidos decorrentes da atividade produtiva, sendo gratuitos para os reconhecidamente pobres na forma
processado judicialmente. Nesse caso, a referida da lei. Quanto à gratuidade da certidão de casamento, o
pequena propriedade rural: parágrafo único, do art. 1512, do Código Civil, prevê que
A) Será penhorada, porém o Juiz limitará a penhora a habilitação para o casamento, o registro e a primeira
à parte de propriedade de Lúcio, pois Amélia e Tito não certidão serão isentos de selos, emolumentos e custas,
compraram a máquina. apenas para as pessoas cuja pobreza for declarada, sob as
B) É penhorável sempre porque deve garantir penas da lei.
o pagamento integral das dividas decorrentes da A alternativa “D” está errada, pois o art. 5º, LXXVI, CF
atividade produtiva, independentemente da existência prevê a gratuidade apenas das ações de habeas corpus e
de outros bens. habeas data.
C) Será penhorada desde que não existam outros Por fim, o que torna incorreta a alternativa “E” é o
bens penhoráveis. fato de que o Estado somente prestará assistência jurídica
D) Será penhorada, mas, segundo a Constituição integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de
recursos (art. 5º, LXXIV, CF).
Federal, o Juiz dará a prévia oportunidade a Lucio de
pagar as dívidas em trinta e seis meses sem juros.
RESPOSTA: “A”.
E) É impenhorável, face a vedação constitucional.

A pequena propriedade rural, assim definida em lei,


desde que trabalhada pela família, não será objeto de
penhora para pagamento de débitos decorrentes de sua
atividade produtiva, dispondo a lei sobe os meios de
financiar o seu desenvolvimento (art. 5º, XXVI, CF).
Assim, em face da vedação constitucional, a propriedade
de Lúcio, Amélia e Tito é impenhorável, o que torna correta
a letra “E”.

RESPOSTA: “E”.

20. (TRE/PR - TÉCNICO JUDICIÁRIO - FCC/2012)


A Constituição da República assegura a todos,
independentemente do pagamento de taxas:
A) O direito de petição aos Poderes Públicos em
defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de
poder.
B) A obtenção de certidões em repartições públicas
e estabelecimentos privados, para defesa de direitos e
esclarecimento de situações de interesse pessoal.
C) O registro civil de nascimento, a certidão de
casamento e a certidão de óbito.
D) As ações de habeas corpus, habeas data e o
mandado de segurança.
E) A prestação de assistência jurídica integral pelo
Estado.

Conforme o art. 5º, XXXIV, da Lei Fundamental,


assegura-se a todos, independentemente do pagamento de
taxas, o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa

102
DIREITO PENAL MILITAR

1. Aplicação da lei penal militar.......................................................................................................................................................................... 01


2. Do Crime................................................................................................................................................................................................................. 01
3. Concurso de agentes.......................................................................................................................................................................................... 01
4. Das penas principais........................................................................................................................................................................................... 01
5. Das Penas acessórias.......................................................................................................................................................................................... 01
6. Ação penal.............................................................................................................................................................................................................. 01
7. Extinção da punibilidade................................................................................................................................................................................... 01
8. Dos crimes militares em tempo de paz....................................................................................................................................................... 13
9. Dos crimes contra a autoridade ou disciplina militar............................................................................................................................ 13
10. Dos crimes contra o serviço e o dever militar........................................................................................................................................ 13
11. Dos crimes contra a Administração Militar............................................................................................................................................. 15
DIREITO PENAL MILITAR

Ainda sobre a aplicação da lei penal militar no tempo,


1. APLICAÇÃO DA LEI PENAL MILITAR. há a norma penal militar em branco. Esta norma necessita
2. DO CRIME. de complementação para efetivar o preceito primário do
3. CONCURSO DE AGENTES. tipo penal. Ela pode ser em sentido lato ou homogênea,
quando o complemento provém da mesma fonte material
4. DAS PENAS PRINCIPAIS.
que a norma penal, ou pode ser em sentido estrito ou
5. DAS PENAS ACESSÓRIAS. heterogênea, quando se busca o complemento em fonte
6. AÇÃO PENAL. material de natureza diversa da norma penal.
7. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE. É exemplo de norma penal em branco em sentido lato
ou homogênea o crime de desobediência:
Art. 301 do CPM: Desobedecer a ordem legal de
autoridade militar.
– DIREITO PENAL MILITAR Art. 22 do CPM: “É considerada militar, para efeito da
– APLICAÇÃO DA LEI PENAL MILITAR aplicação deste Código, qualquer pessoa que, em tempo de
paz ou de guerra, seja incorporada às forças armadas, para
nelas servir em posto, graduação, ou sujeição à disciplina
– APLICAÇÃO DA LEI PENAL MILITAR NO TEMPO
militar”.
O artigo 1º do Código Penal Militar possui a mesma
Um exemplo de norma penal em branco em sentido
redação do artigo 1º do Código Penal e do inciso XXXIX do
estrito ou heterogênea é o artigo 290 do CPM, que traz no
artigo 5º da CF, não há crime sem lei anterior que o define, preceito primário um conjunto de ações: receber, preparar,
nem pena sem prévia cominação legal. produzir, vender, fornecer, ainda que gratuitamente, ter
Está contido no art. 1º do CPM o Princípio da em depósito, transportar, trazer consigo, ainda que para
Legalidade. Por este princípio, somente a União por meio uso próprio, guardar, ministrar ou entregar de qualquer
do Poder Legislativo (por lei) pode definir fato típico e forma a consumo substância entorpecente, ou que
cominar a pena. E também o Princípio da Anterioridade, determine dependência física ou psíquica, em lugar sujeito
por ser necessária além da lei define o delito e comina a à administração militar, sem autorização ou em desacordo
pena, a lei deve estar em vigor antes de o agente praticar com determinação legal ou regulamentar. Neste caso
a conduta delitiva. precisa de complemento que vem por meio da Portaria nº
Assim como no Código Penal, o CPM afirma que 344, de 12 de maio de 1998, que aprova o regulamento
ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa técnico sobre substâncias e medicamentos sujeitos a
de considerar crime (abolitio criminis – lei supressiva de controle especial.
incriminação), cessando, em virtude dela, a própria vigência E há norma penal em branco ao inverso (avesso ou
de sentença condenatória irrecorrível, salvo quanto aos revés) quando o complemento é necessário para integrar
efeitos de natureza civil. o preceito secundário, a pena em abstrato. A doutrina do
A lei penal militar, em regra, não retroage. Mas cabe direito penal comum exemplifica por meio do art. 1º da
exceção, quando a nova lei penal retroagir para beneficiar lei nº 2.889/56 (crime de genocídio) que trás no preceito
o réu. Quando se trata de novatio legis in pejus, a lei não secundário que a pena para o agente que matar membro
retroage. Porém, no caso de novatio legis in mellius a lei de grupo nacional, étnico, racial ou religioso está sujeito as
retroage por beneficiar o réu. penas do art. 121, §2º do Código Penal, ou seja, reclusão,
Aprecia-se a nova lei penal militar nos casos concretos de 12 a 30 anos.
para verificar se a lei posterior é realmente benéfica ao réu. No direito penal militar, o exemplo de norma penal em
Por exemplo, se a nova lei reduzir o mínimo e o máximo da branco ao inverso também é o art. 290 do CPM. O preceito
pena em abstrato, e majorar o aumento de pena para as secundário deste artigo é a pena abstrata de reclusão de
até 5 anos. O complemento está no art. 59 do próprio CPM
qualificadoras do crime, apreciam-se as circunstâncias para
em que estabelece que o mínimo da pena de reclusão é
concluir sobre a retroatividade da lei.
de 1 ano.
Agora, no caso de leis excepcionais ou temporárias a
Conhecemos a lei penal. A entrada em vigor da lei
lei penal militar poderá ser ultra-ativa. Isto significa que penal militar e seu período de vigência. Sabemos que a lei
a lei pode manter seus efeitos de regular acontecimento não retroage, exceto em benefício para o réu. Mas, quando
ocorrido durante sua vigência, mesmo que os fatos estão se considera o tempo do crime?
sendo apurados após sua revogação. Pois bem, considera-se o tempo do crime o momento
As leis temporárias são as que entram em vigor após da conduta correspondente à ação ou à omissão. Nos
a publicação e é revogada em data pré-estabelecida. As crimes de ação (comissivos), como no homicídio, o tempo
leis excepcionais possuem apenas data de início da entrada do crime é o momento em que o agente efetua os disparos
em vigor, sendo a data da revogação correspondente ao contra a vítima. Já no estelionato, quando o agente ilude a
fim da situação excepcional. Um exemplo claro está no vítima para obter vantagem ilícita.
Livro II da Parte Especial do Código Penal Militar (Crimes Nos crimes omissivos o fato considera-se praticado
Militares em Tempo de Guerra), em que lei entra em vigor no lugar em que deveria realizar-se a ação omitida, por
com a declaração da guerra e é revogada com o fim das exemplo, na omissão de socorro. O lugar do crime é aquele
atividades beligerantes. em que se iniciou a execução da conduta criminosa.

1
DIREITO PENAL MILITAR

Há ainda os crimes omissivos impróprios. O CPM Mas o que é crime? Guilherme de Souza Nucci, na obra
adotou neste caso a teoria normativa: hipótese em que o “Código Penal Militar Comentado”, de 2014, conceitua
agente está obrigado a agir para impedir o resultado. Ele crime como conduta lesiva a bem juridicamente tutelado,
assume a condição de garantidor (garante). Não é qualquer merecedora de pena, devidamente prevista em lei. O
pessoa que está obrigada a agir para evitar o resultado, conceito formal desdobra-se no analítico, para o qual o
mas apenas aquelas pessoas que estão nas situações crime é um fato típico, antijurídico (ou ilícito) e culpável. A
previstas na norma. São exemplos o médico militar tem por punibilidade não é elemento do delito, mas somente um
obrigação de cuidado garantir que não haja o resultado dado fundamental para assegurar a aplicação efetiva da
morte e salva-vidas como garantidor de banhistas. sanção penal.
O citado autor afirma que a corrente tripartida (fato
1.1.2 – APLICAÇÃO DA LEI PENAL MILITAR NO típico, antijurídico e culpável) é amplamente majoritária
ESPAÇO na doutrina brasileira, abrangendo causalistas, finalistas e
O Código Penal Militar adotou a teoria da ação ou da funcionalistas. A ótica bipartida (fato típico e antijurídico,
atividade para determinar o tempo do crime. Considera-se sendo culpabilidade pressuposto de aplicação da pena),
praticado o crime no momento da ação ou da omissão, no de fundo finalista, teve o seu apogeu nos anos 80,
todo ou em parte e ainda que sob forma de participação, experimentando um declínio acentuado de lá para a
bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o atualidade.
resultado. O crime possui a figura do sujeito ativo e do sujeito
Neste sentido, é possível identificar que o CPM adotou passivo. O sujeito ativo é a pessoa que pratica a conduta
a teoria mista ou da ubiquidade para os crimes comissivos, descrita pelo tipo penal. Não é contemplada na seara
ou seja, o lugar em que se desenvolveu o fato pode ser penal militar a discussão sobre a possibilidade de a pessoa
tanto o lugar do início da execução como aquele em que jurídica ser sujeito ativo em crime ambiental (NUCCI, 2014).
ocorreu o resultado ou deveria ocorrer. O sujeito passivo é o titular do bem jurídico protegido
E adotou a teoria da atividade para os crimes omissivos, pelo tipo penal incriminador, que foi violado. Divide-se
pois considera praticado o crime no lugar em deveria em sujeito passivo formal (ou constante) que é o titular
realizar-se a conduta omitida. do interesse jurídico de punir, que surge com a prática da
Outro ponto a ser tratado como aplicação da lei infração penal. É sempre o Estado. O sujeito passivo material
penal militar no espaço versa a territorialidade e a (ou eventual) é o titular do bem jurídico diretamente lesado
extraterritorialidade. O Código Penal adota como regra pela conduta do agente (NUCCI, 2014).
o princípio da territorialidade e o Código Penal Militar o Para que a conduta seja tipificada como crime militar é
princípio da extraterritorialidade, uma vez que se aplica a necessária a seguinte análise:
lei penal militar, sem prejuízo de convenções, tratados e Em razão:
regras de direito internacional, ao crime cometido, no todo - da matéria (ratione materiae), o bem jurídico que é
ou em parte, no território nacional, ou fora dele, ainda que, protegido pela lei panal e que é lesado ou posto em perigo
neste caso, o agente esteja sendo processado ou tenha pela ação delituosa.
sido julgado pela justiça estrangeira. - do local (ratione loci), não importa a condição do
A doutrina justifica a adoção do princípio da agente e do sujeito passivo, o fato é considerado militar e
extraterritorialidade ao direito penal militar pelo fato de os for praticado em local sujeito à administração militar.
militares atuarem em missões de manutenção da paz ou - da pessoa (ratione personae), pressupõe militar o
outras atividades fora do território nacional. delito praticado por militar, sem outras condições.
Entende-se por território o solo, subsolo, águas - do tempo (ratione temporis), se for praticado em
interiores, mar territorial e espaço aéreo onde o Estado tempo de guerra.
exerce sua soberania. Consideram-se como extensão - da função (propter officium), o fato criminoso é
do território nacional as aeronaves e os navios do país, considerado ilícito militar se o agente, ainda que fora do
onde quer que se encontrem, sob comando militar ou horário de serviço, praticá-lo em razão da função.
militarmente utilizados ou ocupados por ordem legal de Diante das razões, é oportuno compreender a definição
autoridade competente, ainda que de propriedade privada. de civil e militar.
Considerando o fato de o agente poder ser processado Civil é o cidadão e representa todas aquelas pessoas
ou ter sido julgado pela justiça estrangeira, não podemos que não fazem parte das forças armadas do seu país, ou seja,
esquecer que a homologação da decisão estrangeira deve que não são militares (Direito Internacional Humanitário).
ser feita pelo Superior Tribunal de Justiça, art. 101, I, “i”, da Militar é relativo à guerra, às Forças Armadas, à sua
CF. A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta organização e às suas atividades.
no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, ou nela é Os membros das Forças Armadas, em razão de sua
computada, quando idênticas. destinação constitucional, formam uma categoria especial
de servidores da Pátria e são denominados militares, como
1.2 – CRIME descreve o art. 3º da Lei nº 6.880/80, Estatuto dos Militares.
Os crimes militares estão definidos no CPM, sendo que
em tempo de paz as circunstâncias estão descritas no art.
9º e, em tempo de guerra no art. 10 do CPM.

2
DIREITO PENAL MILITAR

MILITAR ATIVA MILITAR INATIVO Pena - reclusão, até seis anos.


Furto (CP)
DE SERVIÇO RESERVA Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia
DE FOLGA REFORMADO móvel:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
Deve-se compreender com atenção o disposto no Mas, e se?
art. 12 CPM, em que militar da reserva ou reformado Homicídio simples (CPM)
empregado na administração militar, equipara-se ao militar Art. 205. Matar alguém:
em situação de atividade, para o efeito da aplicação da lei Pena - reclusão, de seis a vinte anos.
penal militar. Homicídio simples (CP)
Art. 121. Matar alguém:
Art 9º - Consideram-se crimes militares, em tempo de paz: Pena - reclusão, de seis a vinte anos.
I - os crimes de que trata este Código, quando definidos Neste caso, socorre-se ao inciso II do art. 9º do CPM.
de modo diverso na lei penal comum, ou nela não previstos, II - os crimes previstos neste Código, embora também
qualquer que seja o agente, salvo disposição especial; o sejam com igual definição na lei penal comum, quando
Ato obsceno: praticado:
Art. 238 do CPM: “Praticar ato obsceno em lugar sujeito a) por militar em situação de atividade ou assemelhado
à administração militar.” contra militar da mesma situação ou assemelhado;
Art. 233 do CP: “Praticar ato obsceno em lugar público, Sujeito ativo: militar da ativa.
ou lugar aberto, ou exposto ao público.” Sujeito passivo: militar da ativa.
Desobediência Observação necessária: o termo assemelhado (art. 21,
Art. 301 do CPM: “Desobedecer a ordem legal de CPM) não existe mais no universo jurídico desde a edição
autoridade militar”. do Decreto nº 23.203/47.
b) por militar em situação de atividade ou assemelhado,
Art. 330 do CP: “Desobedecer a ordem legal de em lugar sujeito à administração militar, contra militar da
funcionário público”. reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil;
Autoridade militar: Sujeito ativo: militar da ativa.
Art. 22 do CPM: “É considerada militar, para efeito da Circunstância: lugar sujeito a administração militar.
aplicação deste Código, qualquer pessoa que, em tempo de Sujeito passivo: civil, militar da reserva, militar
paz ou de guerra, seja incorporada às forças armadas, para reformado.
nelas servir em posto, graduação, ou sujeição à disciplina c) por militar em serviço ou atuando em razão da função,
militar”.
em comissão de natureza militar, ou em formatura, ainda
Funcionário público:
que fora do lugar sujeito à administração militar contra
Art. 327 do CP: “Considera-se funcionário público, para
militar da reserva, ou reformado, ou civil;
os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem
Sujeito ativo: militar da ativa.
remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública”.
Circunstância: serviço, razão da função, comissão,
I - os crimes de que trata este Código, quando definidos
formatura..
de modo diverso na lei penal comum, ou nela não previstos,
Sujeito passivo: civil, militar da reserva, militar
qualquer que seja o agente, salvo disposição especial;
Embriaguez em serviço reformado.
Art. 202. Embriagar-se o militar, quando em serviço, ou d) por militar durante o período de manobras ou
apresentar-se embriagado para prestá-lo. exercício, contra militar da reserva, ou reformado, ou
Dormir em serviço assemelhado, ou civil;
Art. 203. Dormir o militar, quando em serviço, como Sujeito ativo: militar da ativa.
oficial de quarto ou de ronda, ou em situação equivalente, Circunstância: período de manobras.
ou, não sendo oficial, em serviço de sentinela, vigia, plantão Sujeito passivo: civil, militar da reserva, militar
às máquinas, ao leme, de ronda ou em qualquer serviço de reformado.
natureza semelhante. e) por militar em situação de atividade, ou assemelhado,
Insubmissão contra o patrimônio sob a administração militar, ou a ordem
Art. 183. Deixar de apresentar-se o convocado à administrativa militar.
incorporação, dentro do prazo que lhe foi marcado, ou, Sujeito ativo: militar da ativa.
apresentando-se, ausentar-se antes do ato oficial de Sujeito passivo: patrimônio sob a administrçao militar,
incorporação: ordem administrativa militar.
Pena - impedimento, de três meses a um ano. III - Os crimes praticados por militar da reserva, ou
E se o crime está tipificado no CPM e no CP ou em reformado, ou por civil, contra as instituições militares,
outra lei penal? considerando-se como tais não só os compreendidos no
Furto simples (CPM) inciso I, como os do inciso II nos seguintes casos:
Art. 240. Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia a) contra o patrimônio sob a administração militar, ou
móvel: contra a ordem administrativa militar;

3
DIREITO PENAL MILITAR

Sujeito ativo: civil, militar da reserva, militar reformado. Forças Armadas (Marinha, Exército e Aeronáutica) e civis,
Sujeito passivo: patrimônio sob a administração militar, e pela Justiça Militar dos Estados os integrantes da Polícia
ordem administrativa militar. Militar e Corpo de Bombeiro Militar, exceto os crimes
b) em lugar sujeito à administração militar contra dolosos contra a vide de civil.
militar em situação de atividade ou assemelhado, ou contra Crime militar é “ratione legis”. A lei poderá eleger
funcionário de Ministério militar ou da Justiça Militar, no que crime militar é aquele praticado por militar ou em
exercício de função inerente ao seu cargo; determinado lugar, mas não é reconhecimento de crime
Sujeito ativo: civil, militar da reserva, militar reformado. militar. A lei não distingue quais crimes são propriamente
Circunstâncias: lugar sujeito a administração militar. ou impropriamente militares.
Sujeito passivo: militar da ativa, funcionário de É necessário observar o disposto no artigo 5º, LXI da
ministério militar ou justiça militar no exercício de função. CF – ninguém será preso senão em flagrante delito ou por
c) contra militar em formatura, ou durante o período ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária
e prontidão, vigilância, observação, exploração, exercício, competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime
acampamento, acantonamento ou manobras; propriamente militar, definidos em lei.
Sujeito ativo: civil, militar da reserva, militar reformado. E, ainda, o estabelecido no art. 18 do CPPM –
Circunstâncias: formatura, prontidão, vigilância, Independentemente de flagrante delito, o indiciado poderá
observação, exploração, acampamento, acantonamento, ficar detido, durante as investigações policiais, até trinta
manobras. dias, comunicando-se a detenção à autoridade judiciária
Sujeito passivo: militar. competente. Esse prazo poderá ser prorrogado, por mais vinte
d) ainda que fora do lugar sujeito à administração dias, pelo comandante da Região, Distrito Naval ou Zona
militar, contra militar em função de natureza militar, ou no Aérea, mediante solicitação fundamentada do encarregado
desempenho de serviço de vigilância, garantia e preservação do inquérito e por via hierárquica.
de ordem pública, administrativa ou jurídica, quando Observa-se que não há reincidência entre crime
legalmente requisitado para aquele fim, ou em obediência à comum e crime propriamente militar, conforme descrito
determinação legal superior. no Código Penal:
Sujeito ativo: civil, militar da reserva, militar reformado. Art. 64, do CP – Para efeito de reincidência:
Sujeito passivo: militar em função de natureza militar
II – não se consideram os crimes militares próprios e
desempenhando serviço de vigilância quando legalmente
políticos.
requisitado ou em obediência a determinação legal
Por exemplo, crime de deserção, crime propriamente
superior.
militar, o autor não será considerado reincidente em futura
A Lei nº 13.491, de 2017, alterou o Código Penal Militar
prática de delito comum.
no sentido de que:
§ 1o Os crimes de que trata este artigo (artigo 9º),
– EXCLUDENTES DE ANTIJURIDICIDADE (ILICITUDE)
quando dolosos contra a vida e cometidos por militares
contra civil, serão da competência do Tribunal do Júri. Antijuridicidade ou ilicitude é a contrariedade de uma
§ 2o Os crimes de que trata este artigo (artigo 9º), conduta com o direito, causando lesão a um bem jurídico
quando dolosos contra a vida e cometidos por militares protegido.
das Forças Armadas contra civil, serão da competência da Art. 42 - Não há crime quando o agente pratica o fato:
Justiça Militar da União, se praticados no contexto: I - em estado de necessidade;
I – do cumprimento de atribuições que lhes forem II - em legítima defesa;
estabelecidas pelo Presidente da República ou pelo III - em estrito cumprimento do dever legal;
Ministro de Estado da Defesa; IV - em exercício regular de direito.
II – de ação que envolva a segurança de instituição Parágrafo único - Não há igualmente crime quando
militar ou de missão militar, mesmo que não beligerante; o comandante de navio, aeronave ou praça de guerra,
ou na iminência de perigo ou grave calamidade, compele
III – de atividade de natureza militar, de operação os subalternos, por meios violentos, a executar serviços
de paz, de garantia da lei e da ordem ou de atribuição e manobras urgentes, para salvar a unidade ou vidas, ou
subsidiária, realizadas em conformidade com o disposto no evitar o desânimo, o terror, a desordem, a rendição, a revolta
art. 142 da Constituição Federal e na forma dos seguintes ou o saque.
diplomas legais: Estado de necessidade.
a) Lei no 7.565, de 19 de dezembro de 1986 - Código Art. 43 - Considera-se em estado de necessidade quem
Brasileiro de Aeronáutica; pratica o fato para preservar direito seu ou alheio, de
b) Lei Complementar no 97, de 9 de junho de 1999 – Lei perigo certo e atual, que não provocou, nem podia de outro
de Preparo e Emprego das Forças Armadas; modo evitar, desde que o mal causado, por sua natureza e
c) Decreto-Lei no 1.002, de 21 de outubro de 1969 - importância é consideravelmente inferior ao mal evitado, e
Código de Processo Penal Militar; e o agente não era legalmente obrigado a arrostar o perigo.
d) Lei no 4.737, de 15 de julho de 1965 - Código Eleitoral. Legítima defesa.
Compete à justiça militar processar e julgar os crimes Art. 44 - Entende-se em legítima defesa quem, usando
propriamente militares e os impropriamente militares. moderadamente dos meios necessários, repele injusta
São julgados pela Justiça Militar da União os militares das agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.

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DIREITO PENAL MILITAR

Estrito cumprimento do dever legal. Previsibilidade subjetiva


Não há crime quando o agente pratica o fato em O agente que, deixando de empregar a diligência
estrito cumprimento de dever legal, como no caso do ordinária ou especial a que estava obrigado, segundo as
oficial de justiça que apreende bens a penhora, ou militar aptidões e poder pessoal, pelas circunstâncias, não prevê o
que efetua uma prisão em flagrante, ou, ainda, quando resultado que podia prever e dá causa ao resultado. Homo
ocorre o fuzilamento do condenado pelo executor no caso medius.
de pena de morte. Culpa Consciente
Exercício regular do direito. O agente prevê o resultado, mas supõe levianamente
Não há crime quando o agente pratica o fato no que não se realizará o que poderá evitá-lo.
exercício regular de direito, como na recusa em depor em Atenção
juízo por parte de quem tem o dever legal de sigilo, na Dolo eventual: o agente tem a previsão do resultado e
intervenção cirúrgica ou na violência esportiva, desde que consente na sua produção, não desiste, prefere se arriscar
respeitadas, respectivamente, as regras da atividade ou a interromper a sua ação.
profissão. Culpa Consciente: o agente tem a previsão do
resultado e supõe que não se realizará.
– CULPABILIDADE
Art. 33 - Diz-se o crime: – EXCLUDENTES DE CULPABILIDADE
I – Doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu Coação.
o risco de produzi-lo; Coação: física irresistível.
II – Culposo, quando o agente, deixando de empregar O coator emprega meios que impedem o agente de
a cautela, atenção, ou diligência ordinária ou especial, resistir porque seu movimento corpóreo ou sua abstenção
a que estava obrigado em face das circunstâncias, não do movimento estão submetidos fisicamente ao coator.
prevê o resultado que podia prever ou, prevendo-o supõe Apertar a mão do agente que dispara a arma na prática
levianamente que não se realizaria ou que poderia evitá-lo. de um homicídio.
Dolo – elementos: Coação: moral irresistível.
- consciência da conduta e do resultado; Há uma ameaça e a vontade do coacto não é livre. É
- consciência da relação causal objetiva entre a indispensável que seja irresistível, que acompanhe de um
conduta e o resultado; e perigo sério e atual que ao coagido não é possível eximir.
- vontade de realizar a conduta e de produzir o Militar recebe mensagem que ameaçam matar seu filho
resultado. que foi sequestrado, obrigando-o a colaborar num furto
Dolo direto: quer o resultado. de objetos da organização militar.
Dolo indireto alternativo: quer um ou outro resultado Obediência hierárquica.
previsto. Obediência hierárquica é acatar a ordem direta de
Dolo indireto eventual: não quer diretamente o superior hierárquico, em matéria de serviços. Responde
resultado, mas assume o risco. pelo crime o autor da coação ou da ordem. Se a ordem do
superior tem por objeto a prática de ato manifestamente
Culpa: criminoso, ou há excesso nos atos ou na forma da
II – Culposo, quando o agente, deixando de empregar execução, é punível também o inferior.
a cautela, atenção, ou diligência ordinária ou especial, a
que estava obrigado em face das circunstâncias, não prevê – DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA E AREPENDIMENTO
o resultado que podia prever (Inconsciente) ou, prevendo-o EFICAZ
supõe levianamente que não se realizaria ou que poderia Art. 31 - O agente que, voluntariamente, desiste de
evitá-lo (Consciente). prosseguir na execução ou impede que o resultado se
Imprudência produza, só responde pelos atos já praticados.
O agente que, deixando de empregar a cautela a Desistência voluntária: o agente, podendo prosseguir
que estava obrigado pelas circunstâncias, não prevê o na execução, interrompe a ação, voluntariamente.
resultado que podia prever e dá causa ao resultado. O Arrependimento eficaz: o agente, tendo praticado
militar que dirige veículo automotor em alta velocidade. todos os atos necessários e suficientes para que advenha
Negligência o resultado, pratica atos que o impedem.
O agente que, deixando de empregar a atenção a que
estava obrigado pelas circunstâncias, não prevê o resultado – CRIME IMPOSSÍVEL
que podia prever e dá causa ao resultado, desatenção. O Art. 32 - Quando, por ineficácia absoluta do meio
militar que limpa a arma carregada na proximidade de empregado ou por absoluta impropriedade do objeto, é
outros militares. impossível consumar-se o crime, nenhuma pena é aplicável.
Atenção. O CPM não cuida do que se pode chamar de O CPM adota a Teoria Objetiva Temperada: se houver
IMPERÍCIA, falta de conhecimento técnico no exercício da ineficácia relativa do meio e relativa impropriedade do
profissão. objeto haverá tentativa.

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DIREITO PENAL MILITAR

Ineficácia absoluta do meio: impossibilidade do Os arts. 50, 51 e 52 do CPM não foram recepcionados
instrumento utilizado consumar o delito de qualquer pela Constituição Federal e possuem as seguintes redações:
forma: usar um alfinete para matar uma pessoa adulta, o Menores
sujeito deseja matar a vítima por meio de ato de magia Art. 50. O menor de dezoito anos é inimputável, salvo
ou bruxaria. se, já tendo completado dezesseis anos, revela suficiente
Absoluta impropriedade do objeto: a conduta do desenvolvimento psíquico para entender o caráter ilícito
agente não é capaz provocar qualquer resultado lesivo à do fato e determinar-se de acordo com este entendimento.
vítima: matar um cadáver. Neste caso, a pena aplicável é diminuída de um terço até a
metade.
– CRIME CONSUMADO E CRIME TENTADO Equiparação a maiores
Art. 30 - Diz-se o crime: Art. 51. Equiparam-se aos maiores de dezoito anos,
I - consumado, quando nele se reúnem todos os ainda que não tenham atingido essa idade:
elementos de sua definição legal; a) os militares;
II - Tentado, quando, iniciada a execução, não se b) os convocados, os que se apresentam à incorporação
consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente. e os que, dispensados temporariamente desta, deixam de se
Parágrafo único: Pune-se a tentativa com a pena apresentar, decorrido o prazo de licenciamento;
correspondente ao crime, diminuída de um a dois terços, c) os alunos de colégios ou outros estabelecimentos de
podendo o juiz, no caso de excepcional gravidade, aplicar a ensino, sob direção e disciplina militares, que já tenham
pena do crime consumado. completado dezessete anos.
Nos crimes materiais, de ação e resultado, o momento Art. 52. Os menores de dezesseis anos, bem como os
consumativo é o da produção deste: homicídio com a menores de dezoito e maiores de dezesseis inimputáveis,
morte da vítima; o aborto com a morte do feto. ficam sujeitos às medidas educativas, curativas ou
Nos crimes de mera conduta, em que o tipo não faz disciplinares determinadas em legislação especial.
menção ao resultado, a consumação se dá com a simples Desenvolvimento metal retardado é o que não pôde
ação: violação de domicílio, simples entrada. chegar à maturidade psíquica. Trata-se da situação em que
Nos crimes formais existe o resultado, mas a lei não o a graduação da inteligência é incompatível como estágio
exige para a consumação: extorsão mediante sequestro não da vida em que se encontra a pessoa.
é necessário o aferimento da vantagem para que o crime Se a doença ou deficiência mental não suprime, mas
esteja consumado, arrebatamento da vítima caracteriza o diminui consideravelmente a capacidade de entendimento
crime. da ilicitude do fato ou a de autodeterminação, não fica
Tentativa perfeita (crime falho) excluída a imputabilidade, mas a pena pode ser atenuada,
A consumação não ocorre, apesar de ter o agente podendo, se o condenado necessitar de especial tratamento
praticado os atos necessários à produção de evento; a curativo, a pena privativa de liberdade pode ser substituída
vítima de envenenamento é salva por intervenção médica. pela internação em estabelecimento psiquiátrico.
Tentativa imperfeita
O agente não consegue praticar todos os atos – CONCURSO DE AGENTES
necessários à consumação por interferência externa; o –AUTOR, COAUTOR E PARTÍCIPE
agente é segurado quando está desferindo golpes de faca Autor é aquele que realiza a conduta principal descrito
contra a vítima. no tipo penal. A Coautoria é quando duas ou mais pessoas
praticam a conduta descrita no tipo incriminador. O
1.3 IMPUTABILIDADE PENAL Partícipe é aquele que, sem realizar a conduta descrita no
A imputabilidade penal é o conjunto de condições tipo, concorre para sua realização.
pessoais de sanidade e maturidade que dão ao agente Algumas considerações sobre autor são importantes.
capacidade para lhe ser imputada juridicamente a prática Há três teorias que tentam conceituar o autor, e as
de um fato punível. questões de concurso utilizam, às vezes, nomenclaturas
A inimputabilidade penal é uma das condições que menos usuais. Então vamos conhecer as nomenclaturas e
exclui a culpabilidade, isto é, o crime persiste, mas não se conceitos das teorias do autor.
aplica a pena por ausência de responsabilidade. Teoria subjetiva causal ou extensiva. Observe as
Causas de exclusão da imputabilidade: definições de vários autores. Esta teoria tem orientação
Doença mental; causalista e não distingue autor e partícipe, pois são
Desenvolvimento mental incompleto, menor de 18 autores todos os que colaboram na realização do crime
anos; e (Nélson Hungria). Todo colaborador é autor (Aníbal
Desenvolvimento mental retardado, deficiente mental. Bruno). O código diz quem de qualquer modo concorrer
Nos ensinamentos de Enio Luiz Rossetto (2015), a para o crime incide nas penas a ele cominadas (Enio Luiz
doença mental é a enfermidade, permanente ou transitória, Rossetto). Também é conhecida como teoria unitária ou
que tira do agente a capacidade de entender e de querer. monista, e é a regra do Código Penal Militar. Aquele que
Desenvolvimento mental incompleto é o menor de presta uma colaboração pouco ou nada significativa, pode
idade, no caso, menor de dezoito anos há presunção legal ser até atípica, é abrangido pela concepção extensiva (José
de que não tem capacidade de entender e de querer. Henrique Pierangeli). A teoria é subjetiva porque, do ponto

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DIREITO PENAL MILITAR

de vista objetivo, as atividades do autor e do cúmplice Com toda a informação, não podemos prosseguir
devem ser consideradas unicamente como condições no estudo sem sedimentar o conhecimento com alguns
do resultado (Álvaro Mayrink da Costa). Note-se que questionamentos. O Código Penal Militar permite a
qualquer agente que tenha praticado a conduta direta ou aplicação de qual teoria sobre o autor? Para respondermos
indireta responde na mesma proporção pelo crime. Enio essa questão vamos estudar a relação de causalidade. O
Luiz Rossetto ilustra o fato de que Caio entrega a arma de Código Penal Militar adota a teoria causal (ou naturalista)
fogo para Tício matar outra pessoa, a atividade de Caio ou a teoria finalista da ação?
e a de Tício são condições do resultado e, desse modo, Agora são duas questões. As respostas possuem
não há diferenças objetivas. Finalizando, nesta teoria todos elo e, por isso, compreenderemos esses dois assuntos
os agentes que dão causa ao evento são considerados simultaneamente.
autores, independente de terem ou não praticado a ação
descrita no tipo penal (Cícero Coimbra). – RELAÇÃO DE CAUSALIDADE
Teoria formal objetiva ou restritiva. Esta teoria define O Art. 29 do Código Penal Militar diz que o resultado
autor como quem realiza, no todo ou em parte, a conduta de que depende a existência do crime somente é imputável
típica, aquele que executa o crime. Aquele que induz, a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou
instiga ou auxilia outrem é o partícipe (Enio Luiz Rossetto). omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.
Em princípio a conduta do partícipe não se amolda à figura Já estudamos autor, coautor e partícipe, assim como
penal. São autores os que praticam os atos de execução estudamos ação e omissão. Relembrando, ação pode
previstos no tipo penal, enquanto os partícipes concorrem ser realizada por vários atos, pode ainda ser em diversos
para o resultado do crime sem praticar, no todo ou em momentos sucessivos. Pode ser unissubsistente quando
parte, a ação tipificada (Cícero Coimbra). Esta teoria é um só ato executório é suficiente para a consumação. Ou
criticada por considerar partícipe, por exemplo, o chefe de pode ser plurissubsistente se dois ou mais atos executórios
uma quadrilha, pois ela não pratica conduta típica apesar de são necessários para a consumação.
ter o controle de seus componentes. De modo semelhante, Para tratar da relação de causalidade, estudaremos
responde por estupro quem aponta a arma para a vítima,
duas teorias, a teoria causal ou naturalista e a teoria
porque é crime constranger. E não responde pelo crime
finalista da ação.
aquele que pratica a conjunção carnal por ser fato atípico.
A teoria causal ou naturalista, para Mirabete, “… basta
Teoria do domínio do fato ou objetivo-subjetiva ou
a certeza de que o agente atuou voluntariamente, sendo
final-objetiva. A teoria em estudo concilia os critérios
irrelevante o que queria, para se afirmar que praticou a
objetivos e subjetivos, os quais se mostram insuficientes
ação típica.” Verifica-se o vínculo entre a conduta do
na distinção entre autoria e participação. Autor é quem,
agente e o resultado ilícito.
consciente do fim, tem o domínio sobre o fato, autor é
Nesta teoria o dolo e a culpa não integram o crime.
quem tem o poder sobre a realização do fato (Wilzel). Autor
é quem obra com vontade e possui o domínio subjetivo do O dolo e a culpa serão abordados quando estudarmos
fato e obre como tal (Álvaro Mayrink da Costa). Considera o crime. Por enquanto, fixa-se que prevalece a vontade
autor o agente que detém o controle da ação, embora de fazer ou não do indivíduo, sendo irrelevante o que o
possa não praticar atos executórios previstos no tipo penal agente queria.
(Cícero Coimbra). Para a teoria finalista da ação Heleno Fragoso
Participação por omissão, segundo doutrina (Nelson entende que é “… comportamento humano voluntário
Hungria, citado por Enio Luiz Rossetto), basta que se não conscientemente dirigido a um fim. Crime nada mais é que
tenha impedido o crime faltando a um dever jurídico. O atividade humana”.
dever jurídico de impedir o resultado é indispensável, pois, Deve-se observar a intenção e a finalidade objetiva
se inexiste o dever jurídico de atuar, não há cumplicidade, do autor para que possa lhe imputar a conduta. Para esta
mas simples conveniência, impunível (Heleno Fragoso teoria, a ação ou a omissão combinada com o dolo e com
citado por Rossetto). E complementa, além do dever a culpa são os elementos para a composição da conduta.
jurídico de impedir o resultado, o omitente deve aderir à Qual a teoria adotada no Código Penal?
prática do crime. Teoria Finalista da Ação; crime como atividade humana.
Note-se que a omissão é relevante como causa quando A reforma do Código Penal (Parte Geral; Lei nº 7.209/84).
o omitente devia e podia agir para evitar o resultado, Anteriormente o dolo se encontrava na culpabilidade,
conferindo esse dever de cuidado, proteção ou vigilância propriamente dita, a reforma deslocou o dolo, para
a quem assume a responsabilidade de impedir o resultado. integrá-lo como elemento constitutivo do tipo penal (art.
Trata-se, no ensinamento de Cícero Coimbra, da figura 18, I).
do garante ou garantidor. E exemplifica ao descrever a Pois bem, retornamos a pergunta do item anterior.
hipótese de um militar que vê um estupro em andamento Qual a teoria adotada no Código Penal Militar?
e, por qualquer razão, ainda que possa agir para impedir O CPM não foi alterado com a reforma de 1984. Para
o crime, decide quedar-se inerte, tendo por lei obrigação o CPM o dolo e a culpa não integram o fato típico, mas,
de agir, o militar passará a figurar no polo ativo do mesmo sim, encontra-se na culpabilidade, consoante artigo 33 do
crime como partícipe, e não por prevaricação como poderia CPM, portanto, o CPM adota a teoria causalista neoclássica
supor. da culpabilidade.

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DIREITO PENAL MILITAR

Pode-se trabalhar com a doutrina finalista da ação Por fim, liame subjetivo entre os agentes é caracteriza
sendo o Código Penal Militar causalista? A sistematização pelo ajuste entre os consortes. É imprescindível que esse
de conceitos extraídos de um programa de política criminal liame seja celebrado antes do crime, podendo ocorrer
permite aplicar a teoria finalista da ação no CPM formalizado durante a agressão ao bem jurídico. Note-se que basta a
em lei, e em que a construção dogmática é transcendente consciência ou a vontade de cooperação formada antes ou
à letra da lei. A adoção da teoria psicológico-normativa durante a execução do crime.
da culpabilidade, com o dolo e a culpa no conceito de
culpabilidade, não obsta à aplicação de dogmas finalistas – CABEÇA
ao conceito causal da ação (Enio Luiz Rossetto). Conforme redação do art. 54 do CPM, o ajuste, a
Agora podemos responder a outra pergunta do item determinação ou instigação e o auxílio, salvo disposição
anterior. O Código Penal Militar permite a aplicação de em contrário, não são puníveis se o crime não chega, pelo
qual teoria sobre o autor? menos, a ser tentado.
Enio Luiz Rossetto ensina que o CPM não adota a teoria No direito penal militar há a figura do “Cabeça”. Na
finalista, sem que isso signifique, definitivamente, a adoção prática de crime de autoria necessária, reputam-se cabeças
da teoria do domínio do fato, o código castrense permite a os que dirigem, provocam, instigam ou excitam a ação.
punição de cada concorrente, segundo sua culpabilidade, É importante destacar que quando o crime é cometido
agrava a pena daquele que promove ou organiza a por inferiores e um ou mais oficiais, são estes considerados
cooperação do crime ou dirige a atividade dos demais cabeças, assim como os inferiores que exercem função de
agentes, do cabeça e daquele que instiga ou determina a oficial.
cometer o crime alguém sujeito à sua autoridade, ou não Assim como no direito penal comum, no direito penal
punível em virtude de condição ou qualidade pessoal. militar os crimes pode ser unissubjetivos ou plurissubjetivos.
Portando, o Código Penal Militar adota a teoria Os crimes unissubjetivos são aqueles que podem ser
subjetiva causal ou extensiva. Por essa teoria, art. 53 do praticados por apenas um agente, porém nada impede a
CPM, a pena para o autor (ou coautor) e partícipe pode ser coautoria, quando todos praticam o núcleo do tipo penal. E
a mesma. Como a doutrina aponta, há certos casos em que pode haver também apenas participação, quando o agente,
a participação é tão tênue que a aplicação da pena igual sem praticar o núcleo do tipo penal, auxilia na prática do
para autor e partícipe mostra-se extremamente injusta. ilícito, neste caso, pode-se chamar de concurso eventual.
Sendo assim, o CPM, na mesma linha que o Código Penal, Os crimes plurissubjetivos exigem dois ou mais agentes
possibilita a aplicação de pena diferente.
para a prática da conduta. No crime de motim há condutas
Observa-se que o §3º do art. 53 do CPM não define
paralelas. No delito de pederastia, condutas convergentes.
participação de somenos importância, ficando ao arbítrio
E na rixa, condutas divergentes.
do juiz (conselho de justiça). Também não define o quantum
Como alerta Cícero Coimbra, há crimes que não
para a redução da pena, devendo-se utilizar o art. 73 do
admitem a coautoria, mas apenas a participação,
código penal castrense que fixa entre um terço, redução
denominado de crime de mão própria, como o caso do
máxima, e um quinto, redução mínima (redução máxima e
mínima genérica). crime de falso testemunho (art. 346 do CPM).

– REQUISITOS PARA CONCURSO – APLICABILIDADE DE ELEMENTARES


O concurso de agentes no Código Penal Militar adota a O Código Penal Militar, do mesmo modo que o Código
Teoria Causal ou Extensiva pela qual todos os agentes que Penal, prevê a comunicação das circunstâncias pessoais
dão causa ao fato são considerados autores ou partícipes, que, ao mesmo tempo, sejam elementares do tipo penal.
independente de terem ou não praticado a conduta Exige-se, portanto, que as circunstâncias subjetivas do
descrita no tipo penal. autor do crime estejam descrita na lei e conhecida pelo
Art. 53. Quem, de qualquer modo, concorre para o crime coautor.
incide nas penas a este cominadas. O §1º do art. 53 do CPM especifica que a punibilidade de
O que se exige é identidade de fato, pluralidade de qualquer dos concorrentes é independente da dos outros,
conduta, relevância causal de cada uma das condutas e determinando-se segundo a sua própria culpabilidade. Não
liame subjetivo entre os agentes. se comunicam as condições ou circunstâncias de caráter
Identidade de fato significa que todos os consortes pessoal, salvo quando elementares do crime.
deverão, em regra, responder pelo mesmo crime, teoria Um exemplo apontado pela doutrina versa sobre o
unitária. Contudo, há exceção, quando se aplica a teoria crime de motim. Neste crime é necessário que estejam
pluralística, onde cada um dos consortes responderá por presentes, ao menos, dois militares. Considerando o
um delito próprio, como ocorre nos delitos de corrupção disposto no citado §1º di art. 53 do CPM, podemos
passiva e ativa (art. 308 e 309 do CPM). responder com convicção que o caráter pessoal, ser militar,
Pluralidade de conduta exige, no mínimo, duas se comunicam no crime de motim. E vamos um pouco
condutas realizadas pelos autores, podendo ter autor e mais a frente. Pode ser considerado o caráter pessoal de
coautor ou autor e partícipe. ser militar inativo no crime de motim?
Relevância causal de cada uma das condutas significa Teoria da culpabilidade adequada. Determinado evento
que a ação deve ter contribuído para o resultado, tendo, somente será produto da ação humana quando esta tiver
nos crimes materiais, a técnica da eliminação hipotética. sido apta e idônea a gerar o resultado.

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DIREITO PENAL MILITAR

Teoria da imputação objetiva. Atribuir a alguém 1.5 – PENAS


a realização de uma conduta de um risco relevante e O Código Penal Militar, diferente do Código Penal,
juridicamente proibido e a produção do resultado jurídico. apresenta as penas principais, aquelas que integram o
É necessário compreender o que são crimes por preceito secundário do tipo penal, e as penas acessórias
omissão para poder verificar a relação de causalidade que podem ser aplicadas em circunstâncias legais.
nestes casos.
Lei exige a realização de um comportamento ativo 1.5.1 – PENAS PRINCIPAIS
para evitar resultados socialmente indesejáveis. O crime Art. 55 As penas principais são:
omissivo pode ser próprio se o agente deixa de agir de a) morte;
acordo com a obrigação que lhe é juridicamente imposta b) reclusão;
por norma jurídica. Cezar Bitencourt c) detenção;
São delitos de mera conduta, portanto não há d) prisão;
causalidade. e) impedimento;
Deixar e Omitir = abster-se de uma ação ordenada pela f) suspensão do exercício do posto, graduação, cargo ou
lei. função;
Ação: resultado naturalístico. g) reforma.
Omissão: normativo. Morte.
O agente responde pelo resultado não porque o causou Art. 56 - A pena de morte é executada por fuzilamento.
com a omissão, mas porque não o impediu realizando a (CPPM)
conduta a que estava obrigado. Damásio E. de Jesus Art. 400 – Praticar homicídio, em presença do inimigo
Omissão de lealdade militar. (…)
Art. 151. Deixar o militar ou assemelhado de levar ao III – no caso do §2º do artigo 205. (homicídio qualificado)
conhecimento do superior o motim ou revolta de cuja Pena - morte, grau máximo; reclusão, de vinte anos,
preparação teve notícia, ou, estando presente ao ato grau mínimo.
criminoso, não usar de todos os meios ao seu alcance para
Art. 707 do CPPM. O militar que tiver de ser fuzilado
impedi-lo:
sairá da prisão com uniforme comum e sem insígnias, e
Pena - reclusão, de três a cinco anos.
terá os olhos vendados, salvo se o recusar, no momento
Omissão de eficiência da força
em que tiver de receber as descargas. As vozes de fogo
Art. 198. Deixar o comandante de manter a força sob
serão substituídas por sinais.
seu comando em estado de eficiência:
O civil será executado nas mesmas condições.
Pena - suspensão do exercício do posto, de três meses
Será permitido ao condenado receber socorro
a um ano.
espiritual.
Omissão de socorro
Art. 201. Deixar o comandante de socorrer, sem A pena será executada sete dias após a comunicação
justa causa, navio de guerra ou mercante, nacional ou ao Presidente da República.
estrangeiro, ou aeronave, em perigo, ou náufragos que Reclusão.
hajam pedido socorro: Art. 58 – O mínimo da pena de reclusão é de um ano, e
Pena - suspensão do exercício do posto, de um a três o máximo de trinta anos
anos ou reforma. (…)
Omissão de notificação de doença Art. 232 - Constranger mulher à conjunção carnal,
Art. 297. Deixar o médico militar, no exercício da função, mediante violência ou grave ameaça:
de denunciar à autoridade pública doença cuja notificação Pena - reclusão, de três a oito anos, sem prejuízo da
é compulsória: correspondente à violência.
Pena - detenção, de seis meses a dois anos. Detenção.
E nos crimes omissivos impróprios há o dever de agir Art. 58 - (…) o mínimo da pena de detenção é de trinta
para evitar o resultado, e não agiu, embora pudesse fazê-lo. dias, e o máximo de dez anos.
O agente podia agir significa que possuía condições físicas Art. 164 - Opor-se às ordens da sentinela:
de agir e possibilidade de atuar para impedir o resultado. Pena - detenção de seis meses a um ano, se o fato não
CPM adotou a teoria normativa que é hipótese constitui crime mais grave.
em que o agente está obrigado a agir para impedir o Art. 228 – Divulgar, sem justa causa, conteúdo de
resultado; assume a condição de garantidor (garante). documento particular sigiloso ou de correspondência
Não será nenhuma pessoa que está obrigada a agir para confidencial, de que é detentor ou destinatário, desde que
evitar o resultado, mas apenas aquelas pessoas que estão da divulgação possa resultar dano a outrem:
nas situações previstas na norma. Por exemplo, médico Pena – detenção, até seis meses.
militar tem por obrigação de cuidado garantir que não Art. 58 - (…) o mínimo da pena de detenção é de trinta
haja o resultado morte. Outros exemplos, administrador dias, e o máximo de dez anos.
de estabelecimento prisional; salva-vidas garantidor de Art. 298 – Desacatar superior, ofendendo-lhe a
banhistas. dignidade ou o decoro, ou procurando deprimir-lhe a
autoridade:

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DIREITO PENAL MILITAR

Pena – reclusão até quatro anos, se o fato não constitui Pena - suspensão do exercício do posto, de um a três
crime mais grave. anos ou reforma.
Art. 58 - O mínimo da pena de reclusão é de um ano, e
o máximo de trinta anos; (…) 1.5.2 – PENAS ACESSÓRIAS
Prisão. Art. 98 - São penas acessórias:
Art. 59 – A pena de reclusão ou detenção até dois I - a perda de posto e patente;
anos, aplicada a militar, é convertida em pena de prisão II - a indignidade para oficialato;
e cumprida, quando não cabível a suspensão condicional. III - a incompatibilidade com o oficialato;
Oficial: estabelecimento militar. IV - a exclusão das Forças Armadas;
Praça: estabelecimento penal militar, separado de presos V - a perda da função pública, ainda que eletiva;
disciplinares e presos com pena superior a dois anos. VI - inabilitação para o exercício de função pública;
VII - a suspensão do pátrio poder, tutela ou curatela; e
Se a pena aplicada de reclusão ou detenção for superior
VIII - a suspensão dos direitos políticos.
a dois anos?
Perda de posto e patente.
Art. 61 - A pena privativa da liberdade por mais de 2
Art. 99. A perda de posto e patente resulta da
(dois) anos, aplicada a militar, é cumprida em penitenciária
militar e, na falta dessa, em estabelecimento prisional civil, condenação a pena privativa de liberdade por tempo
ficando o recluso ou detento sujeito ao regime conforme a superior a dois anos, e importa a perda das condecorações.
legislação penal comum, de cujos benefícios e concessões, Indignidade para oficialato.
também, poderá gozar. Art. 100. Fica sujeito à declaração de indignidade para
o oficialato o militar condenado, qualquer que seja a pena,
Se a pena privativa de liberdade for aplicada a civil? nos crimes de traição, espionagem ou cobardia, ou em
Art. 62 - O civil cumpre a pena aplicada pela Justiça qualquer dos definidos nos arts. 161, 235, 240, 242, 243,
Militar, em estabelecimento prisional civil, ficando ele 244, 245, 251, 252, 303, 304, 311 e 312, ou seja, desrespeito
sujeito ao regime conforme a legislação penal comum, de a símbolos nacionais, furto, roubo, extorsão, extorsão
cujos benefícios e concessões, também, poderá gozar. mediante sequestro, chantagem, estelionato, peculato,
Impedimento. falsificação de documento e falsidade ideológica.
Art. 63 - A pena de impedimento sujeita o condenado Incompatibilidade com o oficialato.
a permanecer no recinto da unidade, sem prejuízo da Art. 101. Fica sujeito à declaração de incompatibilidade
instrução militar. com o oficialato o militar condenado nos crimes dos arts.
Insubmissão. 141 e 142, isto é, entendimento para gerar conflito ou
Art. 183. Deixar de apresentar-se o convocado à divergência com o Brasil; e tentativa contra a soberania
incorporação, dentro do prazo que lhe foi marcado, ou, do Brasil.
apresentando-se, ausentar-se antes do ato oficial de Exclusão das Forças Armadas.
incorporação: Art. 102. A condenação da praça a pena privativa de
Pena - impedimento, de três meses a um ano. liberdade, por tempo superior a dois anos, importa sua
Suspensão do exercício do posto, graduação, cargo ou exclusão das Forças Armadas.
função. Perda da função pública.
Art. 64 - A pena de suspensão do exercício do posto, Art. 103. Incorre na perda da função pública o
graduação, cargo ou função consiste no afastamento, assemelhado ou o civil:
no licenciamento ou na disponibilidade do condenado,
I - condenado a pena privativa de liberdade por crime
pelo tempo fixado na sentença, sem prejuízo do seu
cometido com abuso de poder ou violação de dever
comparecimento regular à sede do serviço. Não será
inerente à função pública; e
contado como tempo de serviço, para qualquer efeito, o
II - condenado, por outro crime, a pena privativa de
do cumprimento da pena.
Art. 324 – Deixar, no exercício da função, de observar liberdade por mais de dois anos.
lei, regulamento ou instrução, dando causa direta à prática Parágrafo único. O disposto no artigo aplica-se ao
de ato prejudicial à administração militar: militar da reserva, ou reformado, se estiver no exercício de
Pena: (...) se por negligência, suspensão do exercício função pública de qualquer natureza.
do posto, graduação, cargo ou função, de 3 (três) meses a Perda da função pública, ainda que eletiva.
1 (um) ano. Art. 104. Incorre na inabilitação para o exercício
Reforma. de função pública, pelo prazo de dois até vinte anos, o
Art. 65 - A pena de reforma sujeita o condenado à condenado a reclusão por mais de quatro anos, em virtude
situação de inatividade, não podendo perceber mais de de crime praticado com abuso de poder ou violação do
um. vinte e cinco avos do soldo, por ano de serviço, nem dever militar ou inerente à função pública.
perceber importância superior à do soldo. Suspensão do pátrio poder, tutela ou curatela.
Art. 201. Deixar o comandante de socorrer, sem Apenas para atualizar, deve-se substituir o termo
justa causa, navio de guerra ou mercante, nacional ou “pátrio poder” por “poder familiar”, conforme definição
estrangeiro, ou aeronave, em perigo, ou náufragos que contida no Código Civil.
hajam pedido socorro:

10
DIREITO PENAL MILITAR

Art. 105. O condenado a pena privativa de liberdade I - o sentenciado não haja sofrido no País ou no
por mais de dois anos, seja qual for o crime praticado, fica estrangeiro, condenação irrecorrível por outro crime a
suspenso do exercício do pátrio poder, tutela ou curatela, pena privativa da liberdade, salvo o disposto no §1º do art.
enquanto dura a execução da pena, ou da medida de 71 (reincidência); e
segurança imposta em substituição (art. 113). II - os seus antecedentes e personalidade, os motivos
Parágrafo único. Durante o processo pode o juiz e as circunstâncias do crime, bem como sua conduta
decretar a suspensão provisória do exercício do pátrio posterior, autorizem a presunção de que não tornará a
poder, tutela ou curatela. delinquir.
Suspensão dos direitos políticos. Deve-se ter atenção. A suspensão não se estende
Art. 106. Durante a execução da pena privativa às penas de reforma, suspensão do exercício do posto,
de liberdade ou da medida de segurança imposta em graduação, cargo ou função ou à pena acessória, nem
substituição, ou enquanto perdura a inabilitação para exclui a aplicação de medida de segurança não detentiva.
função pública, o condenado não pode votar, nem ser Revogação obrigatória do sursis.
votado. Art. 86 - A suspensão é revogada se, no curso do prazo,
1.5.3 – APLICAÇÃO DA PENA o beneficiário:
São circunstâncias que sempre agravam a pena, I - é condenado, por sentença irrecorrível, na Justiça
quando não integrantes ou qualificativas do crime: Militar ou na comum, em razão de crime, ou de contravenção
- a reincidência; reveladora de má índole ou a que tenha sido imposta pena
- ter o agente cometido o crime depois de embriagar- privativa da liberdade;
se; II- não efetua, sem motivo justificado a reparação do
- com o emprego de veneno, asfixia, tortura, fogo, dano;
explosivo ou qualquer outro meio dissimulado ou cruel ou III sendo militar, é punido por infração disciplinar
de que podia resultar perigo comum; considerada grave.
- contra ascendente, descendente, irmão ou cônjuge; Não aplicação do sursis.
Art. 88 - A suspensão condicional da pena não se aplica:
- contra criança, velho ou enfermo; e
I - ao condenado por crime cometido em tempo de
- estando de serviço.
guerra;
II - em tempo de paz, por crime contra a segurança
1.5.4 – REINCIDÊNCIA
nacional, de aliciação e incitamento, de violência
Art. 71 - Verifica-se a reincidência quando o agente
contra superior, oficial de dia, de serviço ou de quarto,
comete crime depois de transitada em julgado a sentença
sentinela, vigia ou plantão, de desrespeito a superior, de
que, no país ou no estrangeiro, o tenha condenado por crime
insubordinação, ou de deserção.
anterior.
§ 1º - Não se toma em conta, para efeito da reincidência, 1.5.6 – LIVRAMENTO CONDICIONAL
a condenação anterior, se, entre a data do cumprimento ou O livramento condicional previsto no CPM ocorre na
extinção da pena e o crime posterior, decorreu período de seguinte hipótese:
tempo superior a cinco anos. Art. 89 - O condenado à pena de reclusão ou de
§ 2º - Para efeito da reincidência, não se consideram os detenção por tempo igual ou superior a dois anos pode ser
crimes anistiados e os crimes militares próprios. liberado condicionalmente, desde que:
Aplicação da pena. I - tenha cumprido:
São circunstâncias que sempre atenuam a pena: a) metade da pena, se primário;
- ser o agente menor de vinte e um ou maior de setenta b) dois terços, se reincidente;
anos; II - tenha reparado, salvo impossibilidade de fazê-lo, o
- ter o agente procurado, por sua espontânea vontade dano causado pelo crime;
e com eficiência, logo após o crime, evitar-lhe ou minorar- III - sua boa conduta durante a execução da pena,
lhe as consequências, ou ter, antes do julgamento, reparado sua adaptação ao trabalho e às circunstâncias atinentes à
o dano; e sua personalidade, ao meio social e à sua vida pregressa
- confessado espontaneamente, perante a autoridade, permitam supor que não voltará a delinquir.
a autoria do crime ignorada ou imputada a outros.
1.6 – MEDIDAS DE SEGURANÇA
1.5.5 – SUSPENSÃO CONDICIONAL DA PENA As medidas de segurança podem ser pessoais ou
(Sursis) patrimoniais.
Art. 84 - A execução da pena privativa da liberdade, As medidas de segurança pessoais são detentivas ou
não superior a 2 (dois) anos, pode ser suspensa, por 2 não detentivas. As detentivas são as seguintes:
(dois) anos a 6 (seis) anos. Código Penal Militar. Interdição em manicômio. O prazo é fixado na
Art. 77 - A execução da pena privativa de liberdade, sentença, de 1 a 3 anos; em seguida verifica a cessação da
não superior a 2 (dois) anos, poderá ser suspensa, por 2 periculosidade. Necessita de perícia médica de ano em ano
(dois) a 4 (quatro) anos. Código Penal. e a desinternação condicionada pode ser pelo período de
No direito Penal Militar é observado no sursis que: 1 ano.

11
DIREITO PENAL MILITAR

Internação em estabelecimento psiquiátrico. O art. O Ministério Público estadual ou o Ministério Público


48 do CPM, adota o sistema vicariante, pena privativa de Militar, respectivamente, quando se tratar de competência
liberdade atenuada ou substituição por internação. da Justiça Militar Estadual ou da Justiça Militar da União,
No caso de semi-imputabilidade, sobrevindo cura, terá o prazo de 15 dias para oferecer a denúncia no caso
transfere para estabelecimento penal. de o réu estar solto, e de 5 dias para o caso de o réu estar
Dentre as medidas de segurança pessoais não preso. Admite-se, contudo, por meio da Constituição
detentivas, estão capituladas no Código Penal Militar: Federal a ação penal privada subsidiária da pública (art. 5º,
Cassação de licença para dirigir contempla apenas veículos LIX, da CF), na hipótese de a denúncia não ser intentada no
automotores, excetuando aeronaves. Para aplicar esta medida prazo legal.
de segurança é necessário observar se as circunstâncias estão
relacionadas ao fato-crime, bem como os antecedentes do 1.8 EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE
condenado referente a conduta na direção veicular. Inicia A extinção da punibilidade, conforme os ensinamentos
a medida de segurança após cumprir pena privativa de
de Cícero Coimbra (2009) ocorre nos seguintes casos:
liberdade, pelo prazo de 1 ano, prorrogável por igual período.
I - pela morte do agente – alinha-se ao princípio de
Exílio local, trate de proibição de o condenado residir
que a morte apaga tudo, do modo como está enunciado
ou permanecer em determinado local como o objetivo de
manter a ordem pública e o próprio bem do condenado. na Constituição Federal ao dispor no aet. 5º, XLV, que
Inicia após cumprida a pena privativa de liberdade pelo nenhuma pena passará da pessoa do condenado,
prazo, de 1 anos, pelo menos, pois pode ser prorrogado. podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do
Proibição de frequentar determinados lugares pelo perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas as
prazo de 1 a 3 anos. Estes lugares que serão proibidos de sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor
frequentar devem ser favoráveis ao retorno do condenado do patrimônio transferido.
à atividade criminosa, como por exemplo, bares para II - pela anistia (exclui o crime, abrange fatos e não
condenado usuário de álcool. pessoas) ou indulto (exclui apenas a punibilidade e não o
São medidas de segurança não pessoais: crime; compete ao Presidente da República; abrange grupo
Interdição de estabelecimento, que visa a segurança de sentenciados) – anistia consiste no esquecimento do
patrimonial. É facultativa, com prazo: de 15 dias a 6 meses, e crime ou dos crimes, por alguma razão de interesse do
atinge estabelecimento comercial ou industrial, sociedade Estado, como, por exemplo, a não conveniência em se
ou associação. Se a sede é interditada, não pode exercer as reprimir mais um crime político em razão da mudança de
atividades em outro local. orientação política de um país. A anistia é alcançada por
O Confisco é outra modalidade de medida de segurança vontade do Congresso Nacional, nos termos do artigo 48,
não detentiva. Visa à segurança patrimonial. Independente VIII, da CF e, se antes da sentença, atingirá também os
de autoria, imputabilidade e tem finalidade preventiva. efeitos extrapenais.
Confiscam-se instrumentos e produtos de crime (fabrico, O indulto pode ser coletivo ou individual, neste caso
alienação, uso, porte, detenção), material das Forças sinônimo de graça. É uma forma de clemência soberana
Armadas e coisas abandonadas, ocultas, desaparecidas. destinada a pessoa determinada e não ao fato.
Anistia: competência Congresso Nacional, atinge o
1.7 – AÇÃO PENAL fato.
Ação penal é o direito subjetivo público de pleitear Indulto: competência Presidente da República, tem por
ao Estado (Poder Judiciário) a aplicação do direito penal objeto o autor do fato.
militar objetivo.
III - pela retroatividade de lei que não mais considera
As condições da ação penal militar são possibilidade
o fato como criminoso – chamada de “abolitio criminis”,
jurídica do pedido, legitimidade para agir e interesse
estende a todos os codelinquentes. Pode ser aplicada pelo
legítimo ou interesse de agir.
juiz do processo, em qualquer fase, ou pelo juiz da execução
A ação penal, em regra, somente pode ser promovida
por denúncia do Ministério Público Militar (art. 121, CPM). penal, se já houver sentença condenatória definitiva e
Trata-se de Ação Penal Pública Incondicionada. atingirá apenas os efeitos penais da condenação;
Nos crimes de hostilidade contra país estrangeiro IV - pela prescrição – consiste na perda de “jus puniendi”
(art. 136), provocação a país estrangeiro (art. 137), ato do Estado em razão de sai inércia em satisfazê-la durante
de jurisdição indevida (art. 138), violação de território os prazos estipulados pela lei. O prazo prescricional é
estrangeiro (art. 139), entendimento para empenhar o definido, em primeiro momento, de acordo com a pena
Brasil à neutralidade ou à guerra (art. 140), entendimento abstratamente cominada para o tipo, e está definido nos
para gerar conflito ou divergência com o Brasil (art. 141) a incisos do art. 125 do CPM.
ação penal dependerá de requisição do Comando Militar Prescrevem em:
a que o agente estiver subordinado. No caso do crime - 30 anos, se a pena é de morte;
de entendimento para gerar conflito ou divergência com - 20 anos, se o máximo da pena é superior a 12 anos;
o Brasil (art. 141) o agente for civil e não houver coautor - 16 anos, se o máximo da pena é superior a 8 anos e
militar, a requisição será do Ministério da Justiça. Note-se não excede a 12 anos;
que nestes casos a ação penal será Pública Condicionada à - 12 anos, se o máximo da pena é superior a 4 anos e
representação (art. 122, CPM). não excede a 8 anos;

12
DIREITO PENAL MILITAR

- 8 anos, se o máximo da pena é de 2 anos e não


excede a 4 anos; 8. DOS CRIMES MILITARES EM TEMPO DE
- 4 anos, se o máximo da pena é igual a 1 ano ou, PAZ.
sendo superior, não excede a 2 anos;e 9. DOS CRIMES CONTRA A AUTORIDADE OU
- 2 anos, se o máximo da pena é inferior a 1 ano.
DISCIPLINA MILITAR.
Além da prescrição descrita no art. 125 do CPM, deve-
10, DOS CRIMES CONTRA O SERVIÇO E O
se ter muita atenção para a prescrição específica para o
crime de deserção, bem como para o crime em que a pena DEVER MILITAR.
cominada é de reforma.
Para o crime de deserção, cuja pena máxima cominada
é de 4 anos, o art. 132 dispõe que mesmo decorrido o prazo
prescricional, a punição só será extinta quando o desertor, – CRIMES MILITARES EM TEMPO DE PAZ
praça, atingir a idade de 45 anos, ou se oficial, 60 anos. – CRIMES CONTRA A SEGURANÇA EXTERNA DO
Para os crimes em que a pena máxima seja a reforma PAÍS
ou suspensão de exercício do posto, graduação, cargo ou – HOSTILIDADE CONTRA PÁIS ESTRANGEIRO
função, a prescrição será de 4 anos. Art. 136 – Praticar o MILITAR ato de hostilidade contra
V - pela reabilitação – cumprida ou extinta a pena, país estrangeiro, expondo a perigo de guerra.
não constarão da folha corrida, atestados ou certidões Sujeito ativo: militar das Forças Armadas.
fornecidas por autoridade policial ou por auxiliares da Ato de hostilidade: inimizade, agressividade, por
Justiça, qualquer notícia ou referência à condenação, salvo exemplo, morte, agressão, humilhação em público de
para instruir processo pela prática de nova infração penal representante de país estrangeiro. Não é necessário
ou nos casos expressos em lei; a guerra, basta o potencial risco, ruptura de relações
A reabilitação só pode ser requerida decorridos 5 diplomáticas, retaliação.
anos (requisito temporal) do dia em que for extinta a Pena – reclusão de 8 a 15 anos.
pena principal. No caso de livramento condicional e de
“sursis”, a contagem do prazo começa a correr do dia em – VIOLAÇÃO DE TERRITÓRIO ESTRANGEIRO
que terminar o período de prova, e não da declaração de Art. 139 – Violar o MILITAR território estrangeiro, com o
extinção da pena. fim de praticar ato de jurisdição em nome do Brasil.
Quanto ao requisito subjetivo, o bom comportamento Sujeito ativo: militar das Forças Armadas.
público e privado se refere à vida pública do agente e Significa entrar em território estrangeiro sem
na vida privada, respectivamente, no trabalho e na vida autorização para praticar ato decorrente de decisão de
familiar. A demonstração pode ser feita por todos os meios um juiz brasileiro, por exemplo, captura de pessoas ou
de provas. apreensão de objetos.
Como requisito objetivo, consiste em ressarcir o Pena – reclusão, de 6 a 12 anos.
dano causado pelo crime ou demonstrar a absoluta
impossibilidade de o fazer até o dia do pedido, ou exibir – TENTATIVA CONTRA A SOBERANIA DO BRASIL
documento que comprove a renúncia da vítima ou novação Art. 142 – Tentar:
de dívida. I – submeter o Território Nacional, ou parte dele, à
VI - pelo ressarcimento do dano, no peculato culposo soberania de país estrangeiro;
(art. 303, § 4º) – no peculato culposo a completa reparação II – desmembrar, por meio de movimento armado ou
do dano, que pode ser pela restituição da coisa íntegra tumultos planejados, o Território Nacional, desde que o
ou pela indenização correspondente ao valor do dano, fato atente contra a segurança externa do Brasil ou a sua
promovida pelo agente ou por terceiro, pode ter dois soberania;
efeitos: se preceder a sentença irrecorrível, extingue III – internacionalizar, por qualquer meio, região ou
a punibilidade. Se lhe for posterior, reduz a pena pela parte do Território Nacional.
metade. Os efeitos penais da reparação do dano não Sujeito ativo: civil ou militar. Há um exemplo para cada
prejudicam o reconhecimento de eventual responsabilidade hipótese legal, respectivamente:
administrativa (ROSSETTO, 2015). I – criar espaço geográfico brasileiro onde o próprio
Brasil perde a soberania.
II – Brasil perde controle sobre determinada região.
III – o território nacional passa a ser domínio de um
grupo de países e ou de todos os países.
Pena – reclusão de 15 a 30 anos, para os cabeças; de 10
a 20 anos para os demais agentes.

– CRIMES CONTRA A AUTORIDADE OU DISCIPLINA


MILITAR
- MOTIM
Art. 149 - Reunirem-se militares ou assemelhados:

13
DIREITO PENAL MILITAR

I- contra a ordem recebida de superior ou negando-se São formas qualificadas:


a cumpri-la; Se a violência é praticada com arma, a pena é
II - recusando obediência a superior, quando estejam aumentada de um terço.
agindo sem ordem ou praticando violência; Se a violência resulta lesão corporal, aplica-se, além da
III - assentindo em recusa conjunta de obediência, ou em pena da violência, a do crime contra a pessoa.
resistência ou violência, em comum, contra superior; Se da violência resulta morte, a pena será de reclusão,
IV - ocupando quartel, fortaleza, arsenal, fábrica ou de 12 a 30 anos.
estabelecimento militar, ou dependência de qualquer deles, Quanto aos meios empregados pelo agente do delito,
hangar, aeródromo ou aeronave, navio ou viatura militar, o crime se apresenta com duas feições: cometido com
ou utilizando-se de qualquer daqueles locais ou meios de arma ou sem arma.
transporte. para ação militar, ou prática de violência em Conforme decisão do TJM/RS, comete o crime descrito
desobediência à ordem superior ou em detrimento da ordem no artigo 158, § 3º, o militar que desfere, contra seu oficial
ou da disciplina militar; de serviço, seis tiros de revólver, pelas costas, causando-lhe
Pena - reclusão, de quatro a oito anos, com aumento de a morte.
um terço para os cabeças.
- DESRESPEITO A SUPERIOR
- REVOLTA Art. 160 - Desrespeitar superior diante de outro militar:
Parágrafo único - Se os agentes estavam armados: Pena - detenções de três meses a um ano, se o fato não
Pena - reclusão, de oito a vinte anos, com aumento de constitui crime mais grave.
um terço para os cabeças. O desrespeito consiste na falta de consideração, de
A distinção entre o motim e a revolta é que no primeiro respeito, de acatamento, praticada pelo subordinado na
a reunião é sem armas e, no segundo, a condição para relação com seu superior hierárquico, na presença de outro
configuração do delito é que o grupamento de militares militar e desde que o fato não constitua crime mais grave.
esteja armado. Conforme decisão do TJM/MG, o soldado que, com
Sujeito ativo: crime plurissubjetivo, necessidade de no
palavras insolentes e desdenhosas, desrespeita o cabo, na
mínimo 2 militares. Exemplo, uma companhia que recebe
presença de outros militares, fica incurso nas sanções do
ordem para instrução ou outra atividade e, em vez de
artigo 160 do Código Penal Militar.
obedecê-la, dirige-se, sem ordem ou autorização, à sede
O Parágrafo único do artigo em comento, trás
do Comando para apresentação de suas reivindicações.
circunstância qualificadora, se o fato é praticado contra o
comandante da unidade a que pertence o agente, oficial
– VIOLÊNCIA CONTRA SUPERIOR
Art. 157 - Praticar violência contra superior: general, oficial de dia, de serviço ou de quarto, a pena é
Pena - detenção, de três meses a dois anos. aumentada da metade.
Sujeito ativo é o subordinado hierárquico.
A autoridade do superior hierárquico agredido é – RECUSA DE OBEDIÊNCIA
maculada perante o subordinado ou terceiros que tenham Art. 163 - Recusar obedecer à ordem do superior sobre
presenciado ou tomado conhecimento do fato. assunto ou matéria de serviço, ou relativamente a dever
Violência = força física, próprio corpo ou objeto. imposto em lei, regulamento ou instrução:
Exemplo: empurrão, bofetada, arrancar distintivo, bater Pena - detenção, de um a dois anos, se o fato não
com um objeto. constitui crime mais grave.
Pena – detenção, de 3 meses a 2 anos. A ordem que trata o presente artigo é a expressão da
São formas qualificadas: vontade do superior dirigida a um ou mais subordinados
Se o superior é comandante da unidade a que pertence determinados para que cumpram com uma prestação ou
o agente ou oficial general: abstenção no interesse do serviço. Esta ordem deve ser
Pena - reclusão, de três a nove anos. imperativa, uma exigência para o subordinado; pessoal,
Se a violência é praticada com arma, a pena é aumentada dirigida a um ou mais subordinados, descartando as ordens
de um terço. de caráter geral, que constitui transgressão disciplinar; e,
Conforme decisão do TJM/RS, o delito foi configurado por fim, concreta, pois o cumprimento da ordem não deve
no caso concreto em que o soldado que agride e ofende estar sujeito à apreciação do subordinado.
um cabo comete violência contar superior, ainda que da
agressão não resultem lesões corporais na vítima. – OPOSIÇÃO À ORDEM DE SENTINELA
Art. 164 - Opor-se às ordens da sentinela:
– VIOLÊNCIA CONTRA MILITAR DE SERVIÇO Pena - detenção, de seis meses a um ano, se o fato não
Art. 158 - Praticar violência contra oficial de dia, de constitui crime mais grave.
serviço, ou de quarto, ou contra sentinela, vigia ou plantão: Sentinela é o militar legalmente encarregado de
Pena - reclusão, de três a oito anos. guardar, com ou sem arma, determinado lugar sob
Sujeito ativo poderá ser qualquer pessoa. Porém o administração militar, usando os acessórios que indiquem
sujeito passivo, como exige no tipo penal, deve ser Oficial encontrar-se em serviço.
de dia, Oficial de serviço ou Oficial de quarto, ou, ainda, O presente delito pode ser praticado por qualquer
sentinela, vigia ou plantão. pessoa.

14
DIREITO PENAL MILITAR

– REUNIÃO ILÍCITA III - tendo cumprido a pena, deixa de se apresentar


Art. 165 - Promover a reunião de militares, ou nela dentro do prazo de oito dias;
tomar parte, para discussão de ato de superior ou assunto IV- consegue exclusão do serviço ativo ou situação
atinente à disciplina militar: inatividade, criando ou simulando incapacidade.
Pena - detenção, de seis meses a um ano a quem promove A deserção é crime permanente e formal. Permanente
a reunião, de dois a seis meses a quem dela participa, se o porque a consumação se prolonga no tempo e somente
fato, não constitui crime mais grave. cessa quando o militar se apresenta ou é capturado. É
A finalidade é a discussão de ato de superior ou assunto formal porque se configura com a ausência pura e simples
atinente à disciplina militar. do militar, além do prazo estabelecido em lei.
Superior é o militar que, em virtude da função, exerce A deserção somente se consuma depois de transcorridos
autoridade sobre outro de igual posto ou graduação. oito dias após a ausência do militar. Antes desse prazo não
haverá militar desertor e sim, militar ausente, que é definido
– FUGA DE PRESO OU INTERDITADO como sanção disciplinar nos termos dos regulamentos de
Art. 178 – Promover ou facilitar a fuga de pessoa cada força singular (Marinha, Exército e Aeronáutica) e das
legalmente presa ou submetida a medida de segurança forças auxiliares (Polícia Militar e Bombeiro Militar).
detentiva. A contagem do prazo de graça inicia-se no dia seguinte
Sujeito passivo: qualquer pessoa. ao dia da verificação da ausência, enquanto o dia final é
Pena – detenção, de 6 meses a 2 anos. contado por inteiro. Se, por exemplo, a ausência ocorreu
Art. 180 – Evadir-se, ou tentar evadir-se o preso ou no dia 13, inicia-se a contagem do prazo a zero hora do
internado, usando de violência contra a pessoa. dia 14 e consumar-se-á a deserção a partir de zero hora
Pena – detenção, de 1 a 2 anos, além da correspondente do dia 22.
à violência.

– CRIMES CONTRA O SERVIÇO E O DEVER MILITAR


- INSUBMISSÃO
11. DOS CRIMES CONTRA A
Art. 183 - Deixar de apresentar-se o convocado à incorporação,
dentro do prazo que lhe foi marcado, ou, apresentando-se, ADMINISTRAÇÃO MILITAR.
ausentar-se antes do ato oficial de incorporação:
Pena - impedimento, de três meses a um ano.
O delito de insubmissão ocorre de duas formas: o
alistado, após ter sido aprovado em todos os exames é 2.7 – CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO MILITAR
convocado para o serviço militar e, não se apresenta na data 2.7.1- DESACATO A SUPERIOR
marcada, ou, apresenta-se e, antes de ter sido oficialmente Art. 298 - Desacatar superior, ofendendo-lhe a
incorporado, se ausenta. dignidade ou procurando deprimir-lhe a autoridade:
Na mesma pena incorre quem, dispensado Pena - reclusão, até quatro anos, se o fato não constitui
temporariamente da incorporação, deixa de se apresentar crime mais grave.
decorrido o prazo de licenciamento. É crime doloso devido a vontade livre e consciente de
proferir palavra ou praticar ato injurioso e, o especial fim
- CRIAÇÃO OU SIMULAÇÃO DE INCAPACIDADE FÍ- de agir está na finalidade de desprestigiar a autoridade do
SICA superior hierárquico.
Art. 184 - Criar ou simular incapacidade física, que É crime militar próprio, sendo que exige do agente
inabilite o convocado para o serviço militar: a condição especial de ser militar, mias que isso, de ser
Pena - detenção de seis meses a dois anos. subordinado da vítima.
A auto lesão ou simulação dela, tem como objetivo Conforme decisão do TJM/MG, a utilização de palavras
específico fugir do serviço militar obrigatório, pune-se de baixo calão, de desrespeito a superior hierárquico,
quando ocorre com a finalidade delituosa. ofendendo-lhe a dignidade diante de terceiros, deprimindo-
lhe a autoridade, caracteriza o crime de desacato a superior.
- DESERÇÃO O Tribunal decidiu que comete o crime de desacato
Art. 187 - Ausentar-se militar, sem licença, da unidade a superior, atantando contra a ordem administrativa
em que serve, ou de lugar em que deve permanecer, por militar, o militar que, inconformado com as determinações
mais de oito dias: recebidas, encara o superior, irrogando-lhe palavras
Pena - detenção, de seis meses a dois anos; se oficial, altamente ofensivas, em franco desafio à autoridade de
a pena é agravada. que se acha investido.
Na mesma pena incorre o militar que: A pena é agravada se o superior é oficial general ou
I - não se apresenta no lugar designado, dentro de oito comandante da unidade a que pertence o agente.
dias,, findo o prazo de transito ou férias;
II - deixa de se apresentar à autoridade competente,
2.7.2- DESCATO A MILITAR
dentro do prazo de oito dias contado daquele em que
Art. 299 - Desacatar militar no exercício de função de
termina ou é cassada a licença ou agregação ou em que é
natureza militar ou em razão dela:
declarado o estado de sítio ou de guerra;

15
DIREITO PENAL MILITAR

Pena - detenção de seis meses a dois anos, se o fato A corrupção passiva é delito formal, e consuma-se com
não constitui outro crime. a simples solicitação, a não ser se esta é impossível de ser
O agente ativo do delito pode ser qualquer pessoa, cumprida, ou seja, não esteja ao alcance da pessoa que é
sendo necessário que este se encontre no exercício de solicitada. Não admite tentativa.
função militar ou que a ofensa se relacione com essa função. O TJM/MG decidiu que militar, instrutor de auto
escola em Unidade Militar, responsável pelo treinamento
2.7.3 – DESOBEDIÊNCIA e exames de candidatos à habilitação para condução
Art. 301 – Desobedecer a ordem legal de autoridade de automóveis, que se vale dessa função para receber
militar. vantagens indevidas, facilitando ou dispensando exames,
Pena – detenção, até 6 meses. comete o crime de corrupção passiva e são coautores
aqueles que intermedeiam.
2.7.4 – INGRESSO CLANDESTINO
Art. 302 – Penetrar em fortaleza, quartel, estabelecimento 2.7.7 – CORRUPÇÃO ATIVA
militar, navio, aeronave, hangar ou em outro lugar sujeito Art. 309 - Dar, oferecer ou prometer dinheiro ou
a administração militar, por onde seja defeso ou não haja vantagem indevida para a prática, omissão ou retardamento
passagem regular, ou iludindo a vigilância de sentinela ou de ato funcional:
de vigia. Pena - Reclusão, até oito anos.
Pena – detenção, de 6 meses a 2 anos, se o fato não Aumento de pena
constitui crime mais grave. Parágrafo único - A pena é aumentada de um terço, se,
em razão da vantagem, dádiva ou promessa, é retardado
2.7.5 - PECULATO ou omitido o ato, ou praticado com infração de dever
Art. 303 - Apropriar-se de dinheiro, valor ou qualquer funcional.
outro bem móvel, público ou particular, de que tem posse O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa que, dá,
ou detenção, em razão do cargo ou comissão, ou desviá-lo oferece ou promete dinheiro ou vantagem indevida. O
servidor público, civil ou militar, também pode ser sujeito
em proveito próprio ou alheio:
ativo, desde que esteja agindo como particular e despido
Pena - reclusão de três a quinze anos.
de sua qualidade funcional.
§1º - A pena aumenta um terço, se o objeto da
O sujeito passivo, ao contrário do que se possa pensar,
apropriação ou desvio é de valor superior a vinte vezes o
não é o servidor público, mas, sim, a administração militar,
salário mínimo.
em favor da qual aquele opera na qualidade de seu agente.
Primeiramente, protege-se a administração militar.
Oferecer vantagem indevida a policial militar para que
Em segundo, e eventualmente, protege-se também o
se omita quanto ao flagrante que presenciara caracteriza o
patrimônio do particular, quando o objeto material lhe
delito de corrupção ativa e ainda que o policial esteja fora
pertence. de seu horário de trabalho e à paisana, pois, ao surpreender
O peculato somente pode ser praticado por funcionário a prática de crime, age no cumprimento do dever legal e
público, militar ou civil. nos limites de sua competência, conforme decisão do TJSP.
2.7.6 - CORRUPÇÃO PASSIVA 2.7.8 – FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO
Art. 308 - Receber, para si ou para outrem, direta ou Art. 311 - Falsificar, no todo ou em parte, documento
indiretamente, ainda que fora da função, ou antes de público ou particular, ou alterar documento verdadeiro,
assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou desde que o fato atente contra a administração ou o
aceitar promessa de tal vantagem: serviço militar:
Pena - Reclusão, de dois a oito anos. Pena - sendo documento público, reclusão, de dois
Aumento de pena. a seis anos; sendo o documento particular, reclusão, até
§ 1º - a pena é aumentada de um terço, se, em cinco anos.
consequência da vantagem ou promessa, o agente retarda A pena é agravada se o agente é oficial ou exerce
ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica função em repartição militar.
infringindo o dever funcional. Equipara-se a documento a, para os efeitos
Diminuição de pena penais, o disco fonográfico ou a fita ou fio de aparelho
§ 2º - se o agente pratica, deixa de praticar ou retarda eletromagnético a que se incorpore declaração destinada à
o ato de ofício com infração de dever funcional, cedendo a prova de fato juridicamente relevante.
pedido ou influência de outrem. O sujeito ativo pode ser tanto o militar quanto o civil,
Pena - Detenção, de três meses a um ano. desde que o fato atente contra as instituições militares.
O sujeito ativo é o servidor, militar ou civil, que recebe O sujeito passivo é a administração militar.
ou aceita a vantagem. Para que configure o delito é imprescindível que a
Para a consumação do crime não é imprescindível estar o falsificação seja idônea de iludir terceiro. Se é grosseira,
agente no exercício da função, já que a lei ressalva a hipótese perceptível à primeira vista, inexiste o delito em face da
da vantagem indevida ser recebida ainda que fora da função, ausência de potencialidade lesiva do comportamento.
ou antes de assumi-la, mas sempre em razão dela.

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DIREITO PENAL MILITAR

O STM decidiu que pratica o crime de falsidade de EXERCÍCIOS


ducumento o militar que falsifica atestado médico com
o objetivo de conseguir prorrogação de licença para 01) Um policial militar da ativa, de serviço no
tratamento de saúde. policiamento velado, foi preso em flagrante delito pelo
Tenente “Sabe-Tudo”, do 100º BPM, após cometer um
2.7.9 – FALSIDADE IDEOLÓGICA crime de latrocínio contra um civil. Neste caso, estamos
Art. 312 - Omitir, em documento público ou particular, diante de um delito de competência da:
declaração que dela devia constar, ou nele inserir ou fazer A. Justiça Comum Estadual.
inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, B. Justiça Militar Federal.
com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar C. Justiça Militar Estadual.
a verdade sobre fato juridicamente relevante, desde que o D. Justiça Comum Federal.
fato atente contra a administração militar ou serviço militar:
Pena - reclusão, até cinco anos, se o documento é Resposta: C
público; reclusão, até três anos, se o documento é particular.
A falsidade documental pode ser de duas espécies: 02) Marque a alternativa CORRETA. O Tenente Delta
a material e a ideológica. Aquela revela-se no próprio está comandando uma operação de trânsito rodoviário
documento, recaindo sobre elemento físico do papel quando uma tia, muito querida do oficial é parada. O
escrito e verdadeiro. Esta não se revela em sinais exteriores veículo conduzido pela distinta senhora está com várias
da escrita, mas concerne ao conteúdo do documento. Na irregularidades. (Sem equipamentos obrigatórios e outras
falsidade ideológica, inexistem rasuras, emendas, omissões infrações contidas no Código de Trânsito Brasileiro). O
ou acréscimos, sendo falsa a ideia que o documento oficial libera sua tia sem adotar qualquer providência legal.
contém. Em tese, o oficial cometeu o delito militar de:
O TJM/RS decidiu que policiais militares que, ao A. Prevaricação – Artigo 319 do Código Penal Militar.
comunicarem o encontro do veículo furtado, fazem constar, B. Concussão – Artigo 305 do Código Penal Militar.
no boletim de ocorrência policial, que o veículo estava
C. Excesso de exação – Artigo 306 do Código Penal
depenado, valendo-se disso o proprietário do automóvel
Militar.
para tentar fraudar a seguradora.
D. Corrupção ativa – Artigo 309 do Código Penal Militar.
2.7.10 – PREVARICAÇÃO
Resposta: A
Art. 319 – Retardar ou deixar de praticar, indevidamente,
ato de ofício, ou praticá-lo contra expressa disposição de
lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal: 03) No que tange à aplicação da lei penal militar, em
Pena – detenção, de 6 meses a 2 anos. consonância com o que prescreve o Código Penal Militar,
2.7.11 – CONDESCENDÊNCIA CRIMINOSA assinale a alternativa CORRETA:
Art. 322 – Deixar de responsabilizar subordinado que A. É admissível a retroatividade de lei penal posterior,
comete infração no exercício do cargo, ou, quando lhe desde que seja para prejudicar o réu.
falte competência, não levar o fato ao conhecimento da B. Os crimes militares, em tempo de paz, quando
autoridade competente: dolosos contra a honra e cometidos contra civil, serão da
Pena – se o fato foi praticado por indulgência, detenção, competência da Justiça Comum.
até 6 meses; se por negligência, detenção até 3 meses. C. O militar que, em virtude da função, exerce autoridade
sobre outro de igual posto ou graduação, considera-se
2.8 – CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO DA superior, para efeito da aplicação da lei penal militar.
JUSTIÇA MILITAR D. O militar da reserva ou reformado, mesmo quando
2.8.1 – RECUSA DA FUNÇÃO NAJUSTIÇA MILITAR empregado na administração militar, não se equipara ao
Art. 340 – Recusar o militar ou assemelhado exercer, militar em situação de atividade, para fins de aplicação da
sem motivo legal, função que lhe seja atribuída na lei penal militar.
administração da Justiça Militar:
Pena – suspensão do exercício do posto ou cargo, de Resposta: C
2 a 6 meses.
04) Com base no Código de Processo Penal Militar
2.8.2 – DESACATO (CPPM), julgue os próximos itens.
Art. 341 – Desacatar autoridade judiciária militar no A polícia judiciária militar exerce funções idênticas
exercício da função ou em razão dela: à polícia judiciária, e ambas têm como uma de suas
Pena – reclusão até 4 anos. finalidades o colhimento de elementos que indiquem a
autoria e comprovem a materialidade do delito.
2.8.3 – DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA C. Certo
Art. 343 – Dar causa à instauração de inquérito policial E. Errado
ou processo judicial militar contra alguém, imputando-lhe
crime sujeito à jurisdição militar, de que o sabe inocente: Resposta: Certo
Pena – reclusão, de 2 a 8 anos.

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DIREITO PENAL MILITAR

05) Com relação às legislações pertinentes aos crimes D. ajuste, a determinação ou a instigação e o auxílio,
de abuso de autoridade, lavagem de capitais e tortura, salvo disposição em contrário, são puníveis mesmo se o
bem como à lei que disciplina os procedimentos relativos crime não chegou, a ser tentado.
às infrações de menor potencial ofensivo, julgue os itens E. pena é atenuada em relação ao agente que promove
de 112 a 115. ou organize a cooperação no crime ou dirija a atividade
Considere a seguinte situação hipotética. dos demais agentes.
Rui, que é policial militar, mediante violência e grave
ameaça, infligiu intenso sofrimento físico e mental a um Resposta: B
civil, utilizando para isso as instalações do quartel de sua
corporação. A intenção do policial era obter a confissão da 08) Ainda com relação ao direito penal militar, julgue
vítima em relação a um suposto caso extraconjugal havido os seguintes itens.
com sua esposa. As causas extintivas de punibilidade, previstas na parte
Nessa situação hipotética, a conduta de Rui, geral do CPM, incluem a reabilitação, o ressarcimento do
independentemente de sua condição de militar e de o fato dano no peculato culposo e o perdão judicial.
ter ocorrido em área militar, caracteriza o crime de tortura C. Certo
na forma tipificada em lei específica. E. Errado
C. Certo
E. Errado Resposta: Errado

Resposta: Certo 09) Assinale a alternativa que indica um crime


propriamente militar, de acordo com a denominada
06) A respeito do direito penal militar, assinale a Teoria Clássica.
alternativa correta. A. Ofensa às Forças Armadas (art. 219 do Código
A. Lei ordinária que estabeleça crimes militares e o Penal Militar).
Código Penal Militar devem prevalecer sobre a legislação B. Dano em navio de guerra ou mercante em serviço
comum, conforme essência lógicointerpretativa do militar (art. 263 do Código Penal Militar).
princípio da especialidade. C. Omissão de socorro (art. 201 do Código Penal
B. Quanto ao local e ao tempo do crime, o Código Militar).
Penal Militar adotou a teoria da ubiquidade; portanto, D. Favorecimento a desertor (art. 193 do Código Penal
consideram-se o local e o tempo do crime tanto onde e Militar).
quando foi praticada a ação ou a omissão quanto onde e E. Ingresso clandestino (art. 302 do Código Penal
quando se produziu o resultado. Militar).
C. Lei posterior que descriminalize um tipo penal
previsto no Código Penal Militar não impedirá a punição Resposta: C
de uma pessoa por fato que não for mais crime.
D. Segundo o Código Penal Militar, é também aplicável 10) Quando o agente, mediante uma só ação ou
a lei penal militar ao crime praticado a bordo de aeronaves omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não,
ou navios estrangeiros, desde que em lugar sujeito à sendo as penas para eles previstas, da mesma espécie,
administração militar ou civil e que o crime atente contra A. nos termos do Código Penal Militar, deverá ter as
as instituições militares ou civis. penas privativas de liberdade unificadas e a pena única
E. Segundo o Código Penal Militar, a lei excepcional será a soma de todas.
ou temporária, decorrido o período de sua duração ou B. nos termos do Código Penal Militar, deverá ter as
cessadas as circunstâncias que a determinaram, não se penas privativas de liberdade unificadas, sendo a pena
aplica ao fato praticado durante sua vigência. única a mais grave, mas com aumento correspondente à
metade do tempo das menos graves.
Resposta: A C. nos termos do Código Penal Comum, deverá ter as
penas privativas de liberdade unificadas e a pena única
07) Segundo o Código Penal Militar, é correto afirmar será a soma de todas.
que a (o) D. nos termos do Código Penal Militar, aplica-se-lhe a
A. pena é agravada com relação ao agente cuja pena de um só dos crimes.
participação no crime for de somenos importância. E. nos termos do Código Penal Comum, deverá ter
B. punibilidade de qualquer dos concorrentes é aplicada cumulativamente as penas privativas de liberdade
independente da dos outros e será determinada segundo em que haja incorrido.
a própria culpabilidade do agente em questão. Não se
comunicam, outrossim, as condições ou as circunstâncias Resposta: A
de caráter pessoal, salvo quando elementares ao crime.
C. pena é atenuada em relação ao agente que executa
o crime, ou dele participa mediante paga ou promessa de
recompensa.

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DIREITO PENAL MILITAR

EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES Art. 39. O direito de representação poderá ser exercido,


Direito Penal pessoalmente ou por procurador com poderes especiais,
mediante declaração, escrita ou oral, feita ao juiz, ao órgão
1. (TJ/AL – Auxiliar Judiciário – CESPE/2012) Assina- do Ministério Público, ou à autoridade policial.
le a opção correta a respeito de ação penal. § 5º. O órgão do Ministério Público dispensará o inquérito,
A) Nas hipóteses de ação penal privada, se o ofen- se com a representação forem oferecidos elementos que o
dido morrer ou for declarado ausente por decisão judi- habilitem a promover a ação penal, e, neste caso, oferecerá
cial, a ação será extinta, uma vez que não haverá mais a denúncia no prazo de 15 (quinze) dias.
legitimidade processual que justifique o seu prossegui-
mento. Finalmente, para os adeptos da referida tese, o § 1º do
B) Em se tratando de delitos de ação penal pública art. 46, descreve mais uma hipótese de dispensabilidade do
condicionada à representação do ofendido, o órgão do inquérito policial:
MP dispensará o inquérito se, com a representação, fo-
rem oferecidos elementos que o habilitem a promover Art. 46.  O prazo para oferecimento da denúncia, estando
a ação penal. o réu preso, será de 5 dias, contado da data em que o órgão
C) Tanto a ação pública incondicionada quanto a do Ministério Público receber os autos do inquérito policial,
ação condicionada devem ser promovidas por denún- e de 15 dias, se o réu estiver solto ou afiançado. No último
cia do MP, independentemente de representação do caso, se houver devolução do inquérito à autoridade policial
ofendido. (art. 16), contar-se-á o prazo da data em que o órgão do
D) Seja qual for o crime, quando praticado em de- Ministério Público receber novamente os autos.
trimento do patrimônio da União ou de estado, a ação § 1o  Quando o Ministério Público dispensar o inquérito
penal será pública condicionada à representação da au- policial, o prazo para o oferecimento da denúncia contar-
toridade competente. se-á da data em que tiver recebido as peças de informações
E) Se o MP, em vez de apresentar a denúncia, re- ou a representação.
querer o arquivamento do inquérito policial, o juiz, no
caso de considerar improcedentes as razões invocadas,
No último caso, se houver devolução do inquérito à
deverá determinar o prosseguimento da ação penal.
autoridade policial (art. 16), contar-se-á o prazo da data
em que o órgão do Ministério Público receber novamente
Atualmente, a doutrina tradicional entende que o in-
os autos.
quérito policial, apesar de ser uma peça importante, não é
imprescindível.
RESPOSTA: “B”.
Os defensores dessa corrente sustentam que o inqué-
rito policial não é uma etapa obrigatória da persecução
penal, podendo ser dispensado sempre que o integrante 2. (FEPESE/SC - Auditor Fiscal da Receita Estadual –
do Ministério Público ou o ofendido tiver elementos sufi- SEFAZ/2010) De acordo com o Código Penal, pode-se
cientes para promover a ação penal. afirmar:
Os doutrinadores baseiam tal entendimento no fato de a) A representação será irretratável depois de rece-
o art. 12, do Código de Processo Penal, utilizar a expressão bida a denúncia.
“sempre que”, que significa uma condição. b) O direito de queixa pode ser exercido mesmo de-
pois de renunciado tacitamente.
Art. 12. O inquérito policial acompanhará a denúncia ou c) O ofendido decai do direito de queixa ou de re-
queixa, sempre que servir de base a uma ou outra”. presentação se não o exerce dentro do prazo de 6 (seis)
meses, contado do data em que se praticou a conduta
Da mesma forma, porque o art. 27, do CPP, que trata delituosa, ainda que outro seja o momento do resultado.
da  delatio criminis postulatória, estabelece que qualquer d) Quando a lei considera como elemento ou cir-
um do povo poderá fornecer, por escrito, informações so- cunstâncias do tipo legal fatos que, por si mesmos,
bre o fato e a autoria, indicando o tempo, o lugar e os constituem crimes, cabe ação pública em relação àque-
elementos de convicção. le, desde que, em relação a qualquer destes, se deva
Essa circunstância significa, que quando tais informa- proceder por iniciativa do Ministério Público.
ções forem suficientes não é necessário o inquérito policial: e) Para produzir efeitos, o perdão independe de
Art. 27. Qualquer pessoa do povo poderá provocar a aceitação pelo querelado.
iniciativa do Ministério Público, nos casos em que caiba
a ação pública, fornecendo-lhe, por escrito, informações O Código Penal, em seu art. 101 dispõe sobre a ação
sobre o fato e a autoria e indicando o tempo, o lugar e os penal no crime complexo:
elementos de convicção.
Art. 101 - Quando a lei considera como elemento ou
No mesmo sentido, o § 5º, do art. 39, do CPP, estabe- circunstâncias do tipo legal fatos que, por si mesmos,
lece que o integrante do Parquet dispensará o inquérito se constituem crimes, cabe ação pública em relação àquele,
forem apresentados elementos suficientes para a proposi- desde que, em relação a qualquer destes, se deva proceder
tura da ação: por iniciativa do Ministério Público.

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DIREITO PENAL MILITAR

Assim, a questão está correta de acordo com disposto 6. (DPU - Agente administrativo – CESPE/2010)
no Código Penal. Nos crimes de ação penal pública ou nos que se pro-
cede mediante queixa, o perdão do ofendido obsta o
RESPOSTA: “D”. prosseguimento da ação.

3. (DPU - Agente administrativo - CESPE/2010) No A afirmativa está errada porque contraria o disposto
sistema criminal brasileiro, não se admite a renúncia no Código Penal, art. 105, in verbis:
tácita ao direito de queixa.
Art. 105. O perdão do ofendido, nos crimes em
A questão está errada pois contrária dispositivo de que somente se procede mediante queixa, obsta ao
lei, haja vista que, de acordo com o art. 104, do Código prosseguimento da ação.
Penal.
RESPOSTA: “ERRADA”.
Art. 104. O direito de queixa não pode ser exercido
quando renunciado expressa ou tacitamente. 7. (DPU - Agente administrativo – CESPE/2010)
Parágrafo único - Importa renúncia tácita ao direito O prazo decadencial de representação para os suces-
de queixa a prática de ato incompatível com a vontade sores corre a partir do momento em que eles forem
de exercê-lo; não a implica, todavia, o fato de receber o notificados judicialmente para manifestar interesse
ofendido a indenização do dano causado pelo crime.  em representar.

RESPOSTA: “ERRADA”. O Código Penal, art. 103, reza que o prazo decadencial
é de 6 meses contado do dia em que o ofendido ou
4. (DPU - Agente administrativo – CESPE /2010) sucessor veio a saber quem é o autor do crime.
Para oferecer queixa, o procurador deve ser necessa-
riamente advogado e possuir poderes gerais de repre- Art. 103 - Salvo disposição expressa em contrário, o
sentação do ofendido. ofendido decai do direito de queixa ou de representação
se não o exerce dentro do prazo de 6 (seis) meses, contado
Vejamos o que dispõe o Código Penal a respeito da do dia em que veio a saber quem é o autor do crime, ou,
Ação pública e de iniciativa privada: no caso do § 3º do art. 100 deste Código, do dia em que
Art. 100 - A ação penal é pública, salvo quando a lei se esgota o prazo para oferecimento da denúncia. 
expressamente a declara privativa do ofendido. 
2º - A ação de iniciativa privada é promovida mediante RESPOSTA: “ERRADA”.
queixa do ofendido ou de quem tenha qualidade para
representá-lo.   8. (DPU - Agente administrativo – CESPE/2010)
A ação penal no crime complexo será intentada, em
Desse modo, a questão está errada, pois a qualquer hipótese, por intermédio de queixa-crime.
representação não necessita ser efetuada por advogado
com poderes gerais de representação do ofendido. O Código Penal, no art. 101, dispõe sobre a ação
penal no crime complexo, vejamos:
RESPOSTA: “ERRADA”.
Art. 101 - Quando a lei considera como elemento
5. (DPU - Agente administrativo – CESPE/2010) Na ou circunstâncias do tipo legal fatos que, por si mesmos,
ação penal privada, a vítima poderá perdoar o agres- constituem crimes, cabe ação pública em relação àquele,
sor, ainda que o processo esteja em grau de recurso desde que, em relação a qualquer destes, se deva proceder
e tramitando perante tribunal, contanto que o faça por iniciativa do Ministério Público.  
antes do trânsito em julgado da sentença penal con-
denatória. Dessa forma, a questão errada ao contrariar
dispositivo de lei quando afirma que a ação penal no
A questão está de acordo com o disposto no Código crime complexo será intentada por intermédio de
Penal, art. 106, § 2º que reza que “Não é admissível queixa-crime.
o perdão depois que passa em julgado a sentença
condenatória”, desse modo, a questão está correta. RESPOSTA: “ERRADA”.

RESPOSTA: “CORRETA”.

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DIREITO PENAL MILITAR

9. (DPU - Agente administrativo – CESPE/2010) No Dessa forma, caso o cônjuge manifeste desinteresse
caso de morte do ofendido ou quando declarado au- em propor a ação ou em ofertar a representação, não
sente por decisão judicial, se comparecer mais de uma obstará o direito dos demais sucessores.
pessoa com direito de queixa, terá preferência o côn-
juge, e, na ausência deste, o parente mais próximo na RESPOSTA: “ERRADA”.
ordem de ascendente, descendente ou irmão. Havendo
divergência entre os sucessores, o juiz extinguirá a ação 12. (DPU - Agente administrativo – CESPE/2010) Na
penal. ação penal pública condicionada à representação, caso
a vítima, maior de idade e capaz, tenha deixado trans-
O art. 100, § 4º do Código Penal, reza que: correr o prazo para representar, mesmo tendo ciência
da autoria da infração penal, vindo esta a falecer, o di-
§ 4º. No caso de morte do ofendido ou de ter sido reito de representação passará aos sucessores.
declarado ausente por decisão judicial, o direito de
oferecer queixa ou de prosseguir na ação passa ao cônjuge, O Código Penal em seu art. 103, reza que:
ascendente, descendente ou irmão.
Art. 103. Salvo disposição expressa em contrário, o
A doutrina entende havendo divergência entre ofendido decai do direito de queixa ou de representação
sucessores, a ordem de preferência deverá ser respeitada. se não o exerce dentro do prazo de 6 (seis) meses, contado
do dia em que veio a saber quem é o autor do crime, ou,
RESPOSTA: “ERRADA”. no caso do § 3º do art. 100 deste Código, do dia em que se
esgota o prazo para oferecimento da denúncia.
10. (DPU - Agente administrativo – CESPE/2010) A
recusa do perdão por um dos querelados não produz Observamos que o prazo para a representação é
efeitos jurídicos aos demais querelados que aceitarem decadencial, de seis meses. Caso transcorra o prazo, o
ser perdoados e impede, de igual modo, a extinção da exercício do direito não passará aos sucessores.
punibilidade.
RESPOSTA: “ERRADA”.
O Código Penal em seu art. 106 dispõe que:
13. (DPU - Agente administrativo – CESPE/2010)
Art. 106 - O perdão, no processo ou fora dele, expresso Em qualquer infração penal, o recebimento de valores
ou tácito: pelo ofendido ou seus sucessores, como indenização do
I - se concedido a qualquer dos querelados, a todos dano causado pelo crime, consiste em renúncia tácita
aproveita; ao direito de queixa ou de representação.
II - se concedido por um dos ofendidos, não prejudica o Resposta: errada.
direito dos outros;
III - se o querelado o recusa, não produz efeito. De acordo com o parágrafo único, do art. 104, do
§ 1º - Perdão tácito é o que resulta da prática de ato Código Penal, in verbis:
incompatível com a vontade de prosseguir na ação.
§ 2º - Não é admissível o perdão depois que passa em Parágrafo Único. Importa renúncia tácita ao direito
julgado a sentença condenatória. de queixa a prática de ato incompatível com a vontade de
exercê-lo; não a implica, todavia, o fato de receber o ofendido
Desse modo, observamos que a questão está errada, a indenização do dano causado pelo crime.
haja vista que, se um dos querelados não aceitar o perdão,
os outros que o aceitaram terão extinta a punibilidade. Assim, a questão está errada.

RESPOSTA: “ERRADA”. RESPOSTA: “ERRADA”.

11. (DPU - Agente administrativo – CESPE/2010) 14. (DPU - Agente administrativo – CESPE/2010) A
Na sucessão do direito de queixa ou de representação, extinção da pessoa jurídica, titular da ação penal priva-
caso o cônjuge, que possui preferência, manifeste de- da em curso, sem deixar sucessor, autoriza o MP a dar
sinteresse em propor a ação ou em ofertar a represen- seguimento à ação.
tação, isso obstará o direito dos outros sucessores.
O art. 100 do Código Penal, dispõe sobre a ação pública
O art. 100, § 4º do Código Penal, reza que: e de iniciativa privada e em seu § 2º, reza que:

§ 4º. No caso de morte do ofendido ou de ter sido § 2º. A ação de iniciativa privada é promovida mediante
declarado ausente por decisão judicial, o direito de queixa do ofendido ou de quem tenha qualidade para
oferecer queixa ou de prosseguir na ação passa ao cônjuge, representá-lo.
ascendente, descendente ou irmão.

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DIREITO PENAL MILITAR

Em caso de extinção da pessoa jurídica, o Ministério 18. (DPU - Agente administrativo – CESPE/2010)
Público não poderá dar prosseguimento à ação, portanto, Na ação penal privada personalíssima, sendo a vítima
a questão está errada. menor de idade, deverá aguardara maioridade para in-
gressar com a ação penal, ou nomear curador especial
RESPOSTA: “ERRADA”. para tal fim.

15. (DPU - Agente administrativo – CESPE/2010) A Na ação penal personalíssima, a legitimidade ativa é
denúncia é o instrumento de provocação da jurisdição exclusiva do ofendido, não cabendo portanto, a nomeação
na ação penal pública, seja esta condicionada ou in- de curador especial. Caso o ofendido seja menos, este deve
condicionada. aguardar a maioridade para ingressar com ação penal e a
partir de então terá início a contagem do prazo decadencial.
A questão está correta, haja vista que, a ação penal
pública, seja ela condicionada ou incondicionada, necessita RESPOSTA: “ERRADA”.
de provocação do Ministério Público e é inicia por meio da
denúncia. 19. (DPU - Agente administrativo – CESPE/2010) No
caso de falecimento do titular da ação penal privada
RESPOSTA: “CORRETA”. personalíssima com a ação penal em curso, os sucesso-
res poderão prosseguir no feito.
16. (DPU - Agente administrativo – CESPE/2010)
Na ação penal pública condicionada, caso o MP não Como já antes mencionado, a legitimidade, na ação
ofereça denúncia no prazo, ocorrerá para este a deca- penal personalíssima, é exclusiva do ofendido, em caso de
dência. falecimento do titular da ação penal privada personalíssima,
não haverá possibilidade de prosseguimento no feito por
Vejamos o que dispõe o art. 103, do Código Penal: seus sucessores.

RESPOSTA: “ERRADA”.
Art. 103. Salvo disposição expressa em contrário, o
ofendido decai do direito de queixa ou de representação se
20. (DPU - Agente administrativo – CESPE/2010) A
não o exerce dentro do prazo de 6 (seis) meses, contado do
única possibilidade da ação penal privada personalís-
dia em que veio a saber quem é o autor do crime, ou, no
sima do ofendido existente no ordenamento jurídico
caso do § 3º do art. 100 deste Código, do dia em que se
brasileiro é a do crime de induzimento a erro essencial
esgota o prazo para oferecimento da denúncia.
e ocultação de impedimento para o casamento.
De acordo com mencionado artigo, observamos que na A única possibilidade existente em nosso Direito Penal
ação penal pública condicionada, existe prazo decadencial da ação penal privada personalíssima do ofendido é a
para o oferecimento da representação, entretanto, não há do crime de induzimento a erro essencial e ocultação de
prazo decadencial para a denúncia, devendo ser observado impedimento para o casamento.
o prazo prescricional do delito.
De acordo com o Código Penal:
RESPOSTA: “ERRADA”.
Art. 236 - Contrair casamento, induzindo em erro
17. (DPU - Agente administrativo – CESPE/2010) essencial o outro contraente, ou ocultando-lhe impedimento
Se, na ação penal privada personalíssima, a vítima se que não seja casamento anterior:
tornar incapaz, o direito de queixa transfere-se ao Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos.
curador legal e uma vez restabelecida a capacidade, Parágrafo único - A ação penal depende de queixa do
pode a vítima prosseguir com a ação penal intentada contraente enganado e não pode ser intentada senão depois
ou desistir dela. de transitar em julgado a sentença que, por motivo de erro
ou impedimento, anule o casamento.
A legitimidade ativa, na ação penal privada
personalíssima, é exclusiva do ofendido, desse modo, é RESPOSTA: “CORRETA”.
vedado seu exercício ao curador legal.

RESPOSTA: “ERRADA”.

22
DIREITOS HUMANOS

1. Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada pela ONU, em 10 de dezembro de 1948..................................... 01
2. Convenção Americana Sobre Direitos Humanos. (Assinada na Conferência Especializada Interamericana sobre Direi-
tos Humanos, San José, Costa Rica, em 22 de novembro de 1969)..................................................................................................... 10
3. Constituição da República Federativa do Brasil: Art. 1º, 3º ao 17, 197 ao 232............................................................................ 23
4. Lei nº 9.459, de 10 de março de 1997, define os crimes de preconceito de raça e de cor.................................................... 61
5. Lei nº 9.455, de 07 de abril de 1997, define os crimes de tortura e dá outras providências................................................. 61
6. Lei nº 9.807, de 13 de julho de 1999, estabelece normas para a organização e a manutenção de programas especiais
de proteção a vítimas e a testemunhas ameaçadas: Art. 1º ao 15....................................................................................................... 64
7. Lei nº 10.741, de 01 de outubro de 2003, Estatuto do Idoso, Art. 1º ao 10, 15 ao 25, 33 ao 42 e 95 ao 118................ 66
8. Lei Estadual nº 14.170, de 15 de janeiro de 2002, determina a imposição de sanções a pessoa jurídica 49 por ato dis-
criminatório praticado contra pessoa em virtude de sua orientação sexual.................................................................................... 76
9. Decreto nº 43.683, de 10 de dezembro de 2003, regulamenta a Lei Estadual nº 14.170 de 15/01/2002........................ 77
10. Lei nº 13.104, de 09 de março de 2015, altera o art. 121 do Decreto-Lei no 2.848, de 07 de dezembro de 1940 - Códi-
go Penal, para prever o feminicídio como circunstância qualificadora do crime de homicídio, e o art. 1º da Lei no 8.072,
de 25 de julho de 1990, para incluir o feminicídio no rol dos crimes hediondos........................................................................... 79
11. Lei nº 12.288, de 20 de julho de 2010, que institui o Estatuto da Igualdade Racial, Art. 1º ao 26................................... 79
DIREITOS HUMANOS

não eram considerados seres humanos perante aquele


1. DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS regime político se amontoavam. Aquelas pessoas não
HUMANOS, APROVADA PELA ONU, EM 10 DE eram consideradas iguais às demais por possuírem
DEZEMBRO DE 1948. alguma característica, crença ou aparência que o Estado
não apoiava. Daí a importância de se atentar para os
antecedentes históricos e compreender a igualdade de
todos os homens, independentemente de qualquer fator.
Adotada e proclamada pela Resolução n° 217 A (III) da  Considerando essencial que os direitos humanos sejam
Assembleia Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro protegidos pelo Estado de Direito, para que o homem não
de 1948 seja compelido, como último recurso, à rebelião contra
tirania e a opressão,
Por todo o mundo se espalharam, notadamente
Preâmbulo
durante a Segunda Guerra Mundial, regimes totalitários
altamente opressivos, não só por parte das Potências do
O preâmbulo é um elemento comum em textos
Eixo (Alemanha, Itália, Japão), mas também no lado dos
constitucionais. Em relação ao preâmbulo constitucional,
Aliados (Rússia e o regime de Stálin).
Jorge Miranda1 define: “[...] proclamação mais ou menos
Considerando essencial promover o desenvolvimento de
solene, mais ou menos significante, anteposta ao articulado relações amistosas entre as nações,
constitucional, não é componente necessário de qualquer Depois de duas grandes guerras a humanidade
Constituição, mas tão somente um elemento natural de conseguiu perceber o quanto era prejudicial não manter
Constituições feitas em momentos de ruptura histórica relações amistosas entre as nações, de forma que o ideal
ou de grande transformação político-social”. Do conceito de paz ganhou uma nova força.
do autor é possível extrair elementos para definir o que Considerando que os povos das Nações Unidas
representam os preâmbulos em documentos internacionais: reafirmaram, na Carta, sua fé nos direitos humanos
proclamação dotada de certa solenidade e significância fundamentais, na dignidade e no valor da pessoa humana e
que antecede o texto do documento internacional e, na igualdade de direitos dos homens e das mulheres, e que
embora não seja um elemento necessário a ele, merece ser decidiram promover o progresso social e melhores condições
considerada porque reflete o contexto de ruptura histórica de vida em uma liberdade mais ampla,
e de transformação político-social que levou à elaboração Considerando que os Estados-Membros se
do documento como um todo. No caso da Declaração de comprometeram a desenvolver, em cooperação com as
1948 ficam evidentes os antecedentes históricos inerentes Nações Unidas, o respeito universal aos direitos humanos
às Guerras Mundiais. e liberdades fundamentais e a observância desses direitos e
Considerando que o reconhecimento da dignidade liberdades,
inerente a todos os membros da família humana e de seus Considerando que uma compreensão comum desses
direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade, direitos e liberdades é da mais alta importância para o pleno
da justiça e da paz no mundo, cumprimento desse compromisso,
O princípio da dignidade da pessoa humana, pelo qual Todos os países que fazem parte da Organização das
todos os seres humanos são dotados da mesma dignidade Nações Unidas, tanto os 51 membros fundadores quanto
e para que ela seja preservada é preciso que os direitos os que ingressaram posteriormente (basicamente, todos
inerentes à pessoa humana sejam garantidos, já aparece no demais países do mundo), totalizando 193, assumiram o
preâmbulo constitucional, sendo guia de todo documento. compromisso de cumprir a Carta da ONU, documento que
Denota-se, ainda, a característica da inalienabilidade a fundou e que traz os princípios condutores da ação da
dos direitos humanos, pela qual os direitos humanos não organização.
possuem conteúdo econômico patrimonial, logo, são
intransferíveis, inegociáveis e indisponíveis, estando fora A Assembleia  Geral proclama
do comércio, o que evidencia uma limitação do princípio A presente Declaração Universal dos Diretos Humanos
da autonomia privada. como o ideal comum a ser atingido por todos os povos e
Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos todas as nações, com o objetivo de que cada indivíduo
direitos humanos resultaram em atos bárbaros que e cada órgão da sociedade, tendo sempre em mente esta
ultrajaram a consciência da Humanidade e que o advento Declaração, se esforce, através do ensino e da educação,
de um mundo em que os homens gozem de liberdade de por promover o respeito a esses direitos e liberdades, e,
palavra, de crença e da liberdade de viverem a salvo do pela adoção de medidas progressivas de caráter nacional
temor e da necessidade foi proclamado como a mais alta e internacional, por assegurar o seu reconhecimento e a
aspiração do homem comum, sua observância universais e efetivos, tanto entre os povos
A humanidade nunca irá esquecer das imagens dos próprios Estados-Membros, quanto entre os povos dos
vistas quando da abertura dos campos de concentração territórios sob sua jurisdição.
nazistas, nos quais os cadáveres esqueléticos do que A Assembleia Geral é o principal órgão deliberativo
das Nações Unidas, no qual há representatividade de
1 MIRANDA, Jorge (Coord.). Estudos sobre a constituição. Lisboa: todos os membros e por onde passam inúmeros tratados
Petrony, 1978. internacionais.

1
DIREITOS HUMANOS

Artigo I liberdade e fraternidade. Embora os direitos de 1ª, 2ª e 3ª


Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade dimensão, que se baseiam nesta tríade, tenham surgido
e direitos. São dotadas de razão  e consciência e devem agir de forma paulatina, devem ser considerados em conjunto
em relação umas às outras com espírito de fraternidade. proporcionando a plena realização do homem4.
O primeiro artigo da Declaração é altamente Na primeira parte do artigo estatui-se que não basta a
representativo, trazendo diversos conceitos chaves de todo igualdade formal perante a lei, mas é preciso realizar esta
o documento: igualdade de forma a ser possível que todo homem atinja
a) Princípios da universalidade, presente na palavra um grau satisfatório de dignidade.
todos, que se repete no documento inteiro, pelo qual Neste sentido, as discriminações legais asseguram
os direitos humanos pertencem a todos e por isso se a verdadeira igualdade, por exemplo, com as ações
encontram ligados a um sistema global (ONU), o que afirmativas, a proteção especial ao trabalho da mulher e
impede o retrocesso. do menor, as garantias aos portadores de deficiência, entre
Na primeira parte do artigo estatui-se que não basta outras medidas que atribuam a pessoas com diferentes
a igualdade formal perante a lei, mas é preciso realizar condições, iguais possibilidades, protegendo e respeitando
esta igualdade de forma a ser possível que todo homem suas diferenças.
atinja um grau satisfatório de dignidade. Neste sentido, as
discriminações legais asseguram a verdadeira igualdade, Artigo II
por exemplo, com as ações afirmativas, a proteção Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as
especial ao trabalho da mulher e do menor, as garantias liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção
aos portadores de deficiência, entre outras medidas que de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua,  religião,
atribuam a pessoas com diferentes condições, iguais opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou
possibilidades, protegendo e respeitando suas diferenças.2 social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição. 
b) Princípio da dignidade da pessoa humana: a Reforça-se o princípio da igualdade, bem como o da
dignidade é um atributo da pessoa humana, segundo o dignidade da pessoa humana, de forma que todos seres
humanos são iguais independentemente de qualquer
qual ela merece todo o respeito por parte dos Estados e dos
condição, possuindo os mesmos direitos visando a
demais indivíduos, independentemente de qualquer fator
preservação de sua dignidade.
como aparência, religião, sexualidade, condição financeira.
O dispositivo traz um aspecto da igualdade que
Todo ser humano é digno e, por isso, possui direitos que
impede a distinção entre pessoas pela condição do país ou
visam garantir tal dignidade.
território a que pertença, o que é importante sob o aspecto
c) Dimensões de direitos humanos: tradicionalmente,
de proteção dos refugiados, prisioneiros de guerra, pessoas
os direitos humanos dividem-se em três dimensões,
perseguidas politicamente, nacionais de Estados que não
cada qual representativa de um momento histórico no cumpram os preceitos das Nações Unidas. Não obstante, a
qual se evidenciou a necessidade de garantir direitos discriminação não é proibida apenas quanto a indivíduos,
de certa categoria. A primeira dimensão, presente na mas também quanto a grupos humanos, sejam formados
expressão livres, refere-se aos direitos civis e políticos, por classe social, etnia ou opinião em comum5.
os quais garantem a liberdade do homem no sentido “A Declaração reconhece a capacidade de gozo
de não ingerência estatal e de participação nas decisões indistinto dos direitos e liberdades assegurados a todos os
políticas, evidenciados historicamente com as Revoluções homens, e não apenas a alguns setores ou atores sociais.
Americana e Francesa. A segunda dimensão, presente na Garantir a capacidade de gozo, no entanto, não é suficiente
expressão iguais, refere-se aos direitos econômicos, sociais para que este realmente se efetive. É fundamental aos
e culturais, os quais garantem a igualdade material entre ordenamentos jurídicos próprios dos Estados viabilizar
os cidadãos exigindo prestações positivas estatais nesta os meios idôneos a proporcionar tal gozo, a fim de que
direção, por exemplo, assegurando direitos trabalhistas se perfectibilize, faticamente, esta garantia. Isto se dá
e de saúde, possuindo como antecedente histórico a não somente com a igualdade material diante da lei, mas
Revolução Industrial. A terceira dimensão, presente na também, e principalmente, através do reconhecimento e
expressão fraternidade, refere-se ao necessário olhar sobre respeito das desigualdades naturais entre os homens, as
o mundo como um lugar de todos, no qual cada qual deve quais devem ser resguardadas pela ordem jurídica, pois
reconhecer no outro seu semelhante, digno de direitos, é somente assim que será possível propiciar a aludida
olhar este que também se lança para as gerações futuras, capacidade de gozo a todos”6.
por exemplo, com a preservação do meio ambiente e a
garantia da paz social, sendo o marco histórico justamente Artigo III
as Guerras Mundiais.3 Assim, desde logo a Declaração Toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à
estabelece seus parâmetros fundamentais, com esteio na segurança pessoal.
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789
4 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à Declaração Universal dos
e na Constituição Francesa de 1791, quais sejam igualdade, Direitos do Homem. Brasília: Fortium, 2008.
2 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à Declaração Universal dos 5 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à Declaração Universal dos
Direitos do Homem. Brasília: Fortium, 2008. Direitos do Homem. Brasília: Fortium, 2008
3 BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Tradução Celso Lafer. 9. ed. Rio 6 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à Declaração Universal dos
de Janeiro: Elsevier, 2004. Direitos do Homem. Brasília: Fortium, 2008.

2
DIREITOS HUMANOS

Segundo Lenza7, “abrange tanto o direito de não ser admitir que um ser humano pudesse ser submetido ao
morto, privado da vida, portanto, direito de continuar outro, ser tratado como coisa. O ser humano não possui
vivo, como também o direito de ter uma vida digna”. Na valor financeiro e nem serve ao domínio de outro, razão
primeira esfera, enquadram-se questões como pena de pela qual a escravidão não pode ser aceita.
morte, aborto, pesquisas com células-tronco, eutanásia,
entre outras polêmicas. Na segunda esfera, notam- Artigo V
se desdobramentos como a proibição de tratamentos Ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento
indignos, a exemplo da tortura, dos trabalhos forçados, etc. ou castigo cruel, desumano ou degradante.
A vida humana é o centro gravitacional no qual orbitam Tortura é a imposição de dor física ou psicológica por
todos os direitos da pessoa humana, possuindo reflexos crueldade, intimidação, punição, para obtenção de uma
jurídicos, políticos, econômicos, morais e religiosos. Daí confissão, informação ou simplesmente por prazer da
existir uma dificuldade em conceituar o vocábulo vida. pessoa que tortura. A tortura é uma espécie de tratamento
Logo, tudo aquilo que uma pessoa possui deixa de ter valor ou castigo cruel, desumano ou degradante. A Convenção
ou sentido se ela perde a vida. Sendo assim, a vida é o bem das Nações Unidas contra a Tortura e Outros Tratamentos
principal de qualquer pessoa, é o primeiro valor moral de ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes (Resolução
todos os seres humanos. Trata-se de um direito que pode n° 39/46 da Assembleia Geral das Nações Unidas) foi
ser visto em 4 aspectos, quais sejam: a) direito de nascer; b) estabelecida em 10 de dezembro de 1984 e ratificada pelo
direito de permanecer vivo; c) direito de ter uma vida digna Brasil em 28 de setembro de 1989. Em destaque, o artigo 1
quanto à subsistência e; d) direito de não ser privado da da referida Convenção:
vida através da pena de morte8.
Por sua vez, o direito à liberdade é posto como
Artigo 1º, Convenção da ONU contra Tortura e Outros
consectário do direito à vida, pois ela depende da
Tratamentos ou Penas Cruéis
liberdade para o desenvolvimento intelectual e moral.
1. Para os fins da presente Convenção, o termo “tortura”
Assim, “[...] liberdade é assim a faculdade de escolher o
designa qualquer ato pelo qual dores ou sofrimentos agudos,
próprio caminho, sendo um valor inerente à dignidade do
físicos ou mentais, são infligidos intencionalmente a uma
ser, uma vez que decorre da inteligência e da volição, duas
pessoa a fim de obter, dela ou de uma terceira pessoa,
características da pessoa humana”9.
O direito à segurança pessoal é o direito de viver sem informações ou confissões; de castigá-la por ato que ela
medo, protegido pela solidariedade e liberto de agressões, ou uma terceira pessoa tenha cometido ou seja suspeita de
logo, é uma maneira de garantir o direito à vida10. ter cometido; de intimidar ou coagir esta pessoa ou outras
pessoas; ou por qualquer motivo baseado em discriminação
Artigo IV de qualquer natureza; quando tais dores ou sofrimentos são
Ninguém será mantido em escravidão ou servidão, a infligidos por um funcionário público ou outra pessoa no
escravidão e o tráfico de escravos serão proibidos em todas exercício de funções públicas, ou por sua instigação, ou com
as suas formas.  o seu consentimento ou aquiescência. Não se considerará
“O trabalho escravo não se confunde com o trabalho como tortura as dores ou sofrimentos que sejam consequência
servil. A escravidão é a propriedade plena de um homem unicamente de sanções legítimas, ou que sejam inerentes a
sobre o outro. Consiste na utilização, em proveito próprio, tais sanções ou delas decorram.
do trabalho alheio. Os escravos eram considerados seres 2. O presente Artigo não será interpretado de maneira a
humanos sem personalidade, mérito ou valor. A servidão, restringir qualquer instrumento internacional ou legislação
por seu turno, é uma alienação relativa da liberdade de nacional que contenha ou possa conter dispositivos de
trabalho através de um pacto de prestação de serviços ou alcance mais amplo.
de uma ligação absoluta do trabalhador à terra, já que a
servidão era uma instituição típica das sociedades feudais. Artigo VI
A servidão, representava a espinha dorsal do feudalismo. Toda pessoa tem o direito de ser, em todos os lugares,
O servo pagava ao senhor feudal uma taxa altíssima pela reconhecida como pessoa perante a lei.
utilização do solo, que superava a metade da colheita”11. “Afinal, se o Direito existe em função da pessoa humana,
A abolição da escravidão foi uma luta histórica em será ela sempre sujeito de direitos e de obrigações. Negar-
todo o globo. Seria totalmente incoerente quanto aos lhe a personalidade, a aptidão para exercer direitos e
princípios da liberdade, da igualdade e da dignidade se contrair obrigações, equivale a não reconhecer sua própria
existência. [...] O reconhecimento da personalidade jurídica
7 LENZA, Pedro. Curso de direito constitucional esquematizado. 15. ed.
São Paulo: Saraiva, 2011.
é imprescindível à plena realização da pessoa humana.
8 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à Declaração Universal dos Trata-se de garantir a cada um, em todos os lugares, a
Direitos do Homem. Brasília: Fortium, 2008. possibilidade de desenvolvimento livre e isonômico”12.
9 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à Declaração Universal dos O sistema de proteção de direitos humanos
Direitos do Homem. Brasília: Fortium, 2008. estabelecido no âmbito da Organização das Nações Unidas
10 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à Declaração Universal dos é global, razão pela qual não cabe o seu desrespeito em
Direitos do Homem. Brasília: Fortium, 2008. qualquer localidade do mundo. Por isso, um estrangeiro
11 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à Declaração Universal dos 12 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à Declaração Universal dos
Direitos do Homem. Brasília: Fortium, 2008. Direitos do Homem. Brasília: Fortium, 2008.

3
DIREITOS HUMANOS

que visite outro país não pode ter seus direitos humanos “De acordo com a ordem que promana do preceito
violados, independentemente da Constituição daquele acima reproduzido, as pessoas têm a faculdade de exigir
país nada prever a respeito dos direitos dos estrangeiros. um pronunciamento do Poder Judiciário, acerca de seus
A pessoa humana não perde tal caráter apenas por sair do direitos e deveres postos em litígio ou do fundamento de
território de seu país. Em outras palavras, denota-se uma acusação criminal, realizado sob o amparo dos princípios
das facetas do princípio da universalidade. da isonomia, do devido processo legal, da publicidade dos
atos processuais, da ampla defesa e do contraditório e da
Artigo  VII imparcialidade do juiz”13.
Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer Em outras palavras não é possível juízo ou tribunal
distinção, a igual proteção da lei. Todos têm direito a igual de exceção, ou seja, um juízo especialmente delegado
proteção contra qualquer discriminação que viole a presente para o julgamento do caso daquela pessoa. O juízo deve
Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação. ser escolhido imparcialmente, de acordo com as regras
Um dos desdobramentos do princípio da igualdade de organização judiciária que valem para todos. Não
refere-se à igualdade perante à lei. Toda lei é dotada de obstante, o juízo deve ser independente, isto é, poder
caráter genérico e abstrato que evidencia não aplicar-se a julgar independentemente de pressões externas para que o
uma pessoa determinada, mas sim a todas as pessoas que julgamento se dê num ou noutro sentido. O juízo também
venham a se encontrar na situação por ela descrita. Não deve ser imparcial, não possuindo amizade ou inimizade
significa que a legislação não possa estabelecer, em abstrato, em graus relevantes para com o acusado. Afinal, o direito
regras especiais para um grupo de pessoas desfavorecido à liberdade é consagrado e para que alguém possa ser
socialmente, direcionando ações afirmativas, por exemplo, privado dela por uma condenação criminal é preciso que
aos deficientes, às mulheres, aos pobres - no entanto, esta se dê dentro dos trâmites legais, sem violar direitos
todas estas ações devem respeitar a proporcionalidade e a humanos do acusado.
razoabilidade (princípio da igualdade material).
Artigo XI
Artigo VIII 1. Toda pessoa acusada de um ato delituoso tem o direito
Toda pessoa tem direito a receber dos tributos nacionais de ser presumida inocente até que a sua culpabilidade
competentes remédio efetivo para os atos que violem os tenha sido provada de acordo com a lei, em julgamento
direitos fundamentais que lhe sejam reconhecidos pela público no qual lhe tenham sido asseguradas todas as
constituição ou pela lei. garantias necessárias à sua defesa.
Não basta afirmar direitos, é preciso conferir meios O princípio da presunção de inocência ou não
para garanti-los. Ciente disto, a Declaração traz aos culpabilidade liga-se ao direito à liberdade. Antes que
Estados partes o dever de estabelecer em suas legislações ocorra a condenação criminal transitada em julgado, isto é,
internas instrumentos para proteção dos direitos humanos. processada até o último recurso interposto pelo acusado,
Geralmente, nos textos constitucionais são estabelecidos este deve ser tido como inocente. Durante o processo
os direitos fundamentais e os instrumentos para protegê- penal, o acusado terá direito ao contraditório e à ampla
los, por exemplo, o habeas corpus serve à proteção do defesa, bem como aos meios e recursos inerentes a estas
direito à liberdade de locomoção. garantias, e caso seja condenado ao final poderá ser
considerado culpado. A razão é que o estado de inocência
Artigo IX é inerente ao ser humano até que ele viole direito alheio,
Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou caso em que merecerá sanção.
exilado. “Através desse princípio verifica-se a necessidade de o
Prisão e detenção são formas de impedir que a pessoa Estado comprovar a culpabilidade do indivíduo presumido
saia de um estabelecimento sob tutela estatal, privando-a inocente. Está diretamente relacionado à questão da prova
de sua liberdade de locomoção. Exílio é a expulsão ou no processo penal que deve ser validamente produzida
mudança forçada de uma pessoa do país, sendo assim para ao final do processo conduzir a culpabilidade do
também uma forma de privar a pessoa de sua liberdade indivíduo admitindo-se a aplicação das penas previamente
de locomoção em um determinado território. Nenhuma cominadas. Entretanto, a presunção de inocência não
destas práticas é permitida de forma arbitrária, ou seja, sem afasta a possibilidade de medidas cautelares como as
o respeito aos requisitos previstos em lei. prisões provisórias, busca e apreensão, quebra de sigilo
Não significa que em alguns casos não seja aceita a como medidas de caráter excepcional cujos requisitos
privação de liberdade, notadamente quando o indivíduo autorizadores devem estar previstos em lei”14.
tiver praticado um ato que comprometa a segurança ou 2. Ninguém poderá ser culpado por qualquer ação ou
outro direito fundamental de outra pessoa. omissão que, no momento, não constituíam delito perante
o direito nacional ou internacional. Tampouco será
Artigo X imposta pena mais forte do que aquela que, no momento
Toda pessoa tem direito, em plena igualdade, a uma da prática, era aplicável ao ato delituoso.
audiência justa e pública por parte de um tribunal 13 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à Declaração Universal dos
independente e imparcial, para decidir de seus direitos e Direitos do Homem. Brasília: Fortium, 2008.
deveres ou do fundamento de qualquer acusação criminal 14 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à Declaração Universal dos
contra ele. Direitos do Homem. Brasília: Fortium, 2008.

4
DIREITOS HUMANOS

Evidencia-se o princípio da irretroatividade da lei penal 1. Toda pessoa tem direito à liberdade de locomoção e
in pejus (para piorar a situação do acusado) pelo qual uma residência dentro das fronteiras de cada Estado.
lei penal elaborada posteriormente não pode se aplicar a Não há limitações ao direito de locomoção dentro
atos praticados no passado - nem para um ato que não do próprio Estado, nem ao direito de residir. Vale lembrar
era considerado crime passar a ser, nem para que a pena que a legislação interna pode estabelecer casos em que
de um ato que era considerado crime seja aumentada. tal direito seja relativizado, por exemplo, obrigando um
Evidencia não só o respeito à liberdade, mas também - e funcionário público a residir no município em que está
principalmente - à segurança jurídica. sediado ou impedindo o ingresso numa área de interesse
estatal.
Artigo XII São exceções à liberdade de locomoção: decisão judicial
Ninguém será sujeito a interferências na sua que imponha pena privativa de liberdade ou limitação da
vida privada, na sua família, no seu lar ou na sua liberdade, normas administrativas de controle de vias e
correspondência, nem a ataques à sua honra e veículos, limitações para estrangeiros em certas regiões ou
reputação. Toda pessoa tem direito à proteção da lei contra áreas de segurança nacional e qualquer situação em que
tais interferências ou ataques. o direito à liberdade deva ceder aos interesses públicos18.
A proteção aos direitos à privacidade e à personalidade 2. Toda pessoa tem o direito de deixar qualquer país,
se enquadra na primeira dimensão de direitos fundamentais inclusive o próprio, e a este regressar.
no que tange à proteção à liberdade. Enfim, o exercício da A nacionalidade é um direito humano, assim como
liberdade lega-se também às limitações a este exercício: a liberdade de locomoção. Destaca-se que o artigo não
de que adianta ser plenamente livre se a liberdade de menciona o direito de entrar em qualquer país, mas sim o
um interfere na liberdade - e nos direitos inerentes a esta de deixá-lo.
liberdade - do outro.
“O direito à intimidade representa relevante Artigo XIV
manifestação dos direitos da personalidade e qualifica- 1.Toda pessoa, vítima de perseguição, tem o direito de
se como expressiva prerrogativa de ordem jurídica que procurar e de gozar asilo em outros países. 
consiste em reconhecer, em favor da pessoa, a existência 2. Este direito não pode ser invocado em caso de
de um espaço indevassável destinado a protegê-la contra perseguição legitimamente motivada por crimes de
indevidas interferências de terceiros na esfera de sua vida direito comum ou por atos contrários aos propósitos e
privada”15. princípios das Nações Unidas.
Reforçando a conexão entre a privacidade e a intimidade, O direito de asilo serve para proteger uma pessoa
ao abordar a proteção da vida privada - que, em resumo, perseguida por suas opiniões políticas, situação racial,
é a privacidade da vida pessoal no âmbito do domicílio e convicções religiosas ou outro motivo político em seu
de círculos de amigos -, Silva16 entende que “o segredo da país de origem, permitindo que ela requeira perante a
vida privada é condição de expansão da personalidade”, autoridade de outro Estado proteção. Claro, não se protege
mas não caracteriza os direitos de personalidade em si. “O aquele que praticou um crime comum em seu país e fugiu
direito à honra distancia-se levemente dos dois anteriores, para outro, caso em que deverá ser extraditado para
podendo referir-se ao juízo positivo que a pessoa tem de responder pelo crime praticado.
si (honra subjetiva) e ao juízo positivo que dela fazem os O direito dos refugiados é o que envolve a garantia de
outros (honra objetiva), conferindo-lhe respeitabilidade asilo fora do território do qual é nacional por algum dos
no meio social. O direito à imagem também possui duas motivos especificados em normas de direitos humanos,
conotações, podendo ser entendido em sentido objetivo, notadamente, perseguição por razões de raça, religião,
com relação à reprodução gráfica da pessoa, por meio de nacionalidade, pertença a um grupo social determinado ou
fotografias, filmagens, desenhos, ou em sentido subjetivo, convicções políticas. Diversos documentos internacionais
significando o conjunto de qualidades cultivadas pela disciplinam a matéria, a exemplo da Declaração Universal
pessoa e reconhecidas como suas pelo grupo social”17. de 1948, Convenção de 1951 relativa ao Estatuto dos
O artigo também abrange a proteção ao domicílio, Refugiados, Quarta Convenção de Genebra Relativa à
local no qual a pessoa deseja manter sua privacidade e Proteção das Pessoas Civis em Tempo de Guerra de 1949,
pode desenvolver sua personalidade; e à correspondência, Convenção relativa ao Estatuto dos Apátridas de 1954,
enviada ao seu lar unicamente para sua leitura e não de Convenção sobre a Redução da Apatridia de 1961 e
terceiros, preservando-se sua privacidade. Declaração das Nações Unidas sobre a Concessão de Asilo
Territorial de 1967. Não obstante, a constituição brasileira
adota a concessão de asilo político como um de seus
Artigo XIII princípios nas relações internacionais (art. 4º, X, CF).
15 MOTTA, Sylvio; BARCHET, Gustavo. Curso de direito constitucional. “A prática de conceder asilo em terras estrangeiras
Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. a pessoas que estão fugindo de perseguição é uma das
16 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 25. ed. características mais antigas da civilização. Referências
São Paulo: Malheiros, 2006. a essa prática foram encontradas em textos escritos há
17 MOTTA, Sylvio; BARCHET, Gustavo. Curso de direito constitucional. 18 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à Declaração Universal dos
Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. Direitos do Homem. Brasília: Fortium, 2008.

5
DIREITOS HUMANOS

3.500 anos, durante o florescimento dos antigos grandes ecológicas e a extrema pobreza. Daí que muitos dos atuais
impérios do Oriente Médio, como o Hitita, Babilônico, refugiados não se enquadrem na definição da Convenção
Assírio e  Egípcio antigo. relativa ao Estatuto dos Refugiados. Esta Convenção refere-
Mais de três milênios depois, a proteção de refugiados se a vítimas de perseguição por razões de raça, religião,
foi estabelecida como missão principal da agência de nacionalidade, pertença a um grupo social determinado ou
refugiados da ONU, que foi constituída para assistir, entre convicções políticas. [...]
outros, os refugiados que esperavam para retornar aos
seus países de origem no final da II Guerra Mundial. Existe uma relação evidente entre o problema dos
A Convenção de Refugiados de 1951, que estabeleceu refugiados e a questão dos direitos humanos. As violações
o ACNUR, determina que um refugiado é alguém que dos direitos humanos constituem não só uma das principais
‘temendo ser perseguida por motivos de raça, religião, causas dos êxodos maciços, mas afastam também a opção
nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas, se do repatriamento voluntário enquanto se verificarem. As
encontra fora do país de sua nacionalidade e que não pode violações dos direitos das minorias e os conflitos étnicos
ou, em virtude desse temor, não quer valer-se da proteção encontram-se cada vez mais na origem quer dos êxodos
desse país’. maciços, quer das deslocações internas. [...]
Desde então, o ACNUR tem oferecido proteção Na sua segunda sessão, no final de 1946, a Assembleia
e assistência para dezenas de milhões de refugiados, Geral criou a Organização Internacional para os Refugiados
encontrando soluções duradouras para muitos deles. Os (OIR), que assumiu as funções da Agência das Nações
padrões da migração se tornaram cada vez mais complexos Unidas para a Assistência e a Reabilitação (ANUAR). Foi
nos tempos modernos, envolvendo não apenas refugiados, investida no mandato temporário de registrar, proteger,
mas também milhões de migrantes econômicos. Mas instalar e repatriar refugiados. [...] Cedo se tornou evidente
refugiados e migrantes, mesmo que viajem da mesma que a responsabilidade pelos refugiados merecia um maior
forma com frequência, são fundamentalmente distintos, esforço da comunidade internacional, a desenvolver sob os
e por esta razão são tratados de maneira muito diferente auspícios da própria Organização das Nações Unidas. Assim,
muito antes de terminar o mandato da OIR, iniciaram-se
perante o direito internacional moderno.
as discussões sobre a criação de uma organização que lhe
Migrantes, especialmente migrantes econômicos,
pudesse suceder.
decidem deslocar-se para melhorar as perspectivas
O Alto Comissariado das Nações Unidas para os
para si mesmos e para suas famílias. Já os refugiados
Refugiados (ACNUR) Na sua Resolução 319 A (IV) de 3
necessitam deslocar-se para salvar suas vidas ou preservar
de Dezembro de 1949, a Assembleia Geral decidiu criar o
sua liberdade. Eles não possuem proteção de seu próprio
Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados.
Estado e de fato muitas vezes é seu próprio governo que
O Alto Comissariado foi instituído em 1 de Janeiro de
ameaça persegui-los. Se outros países não os aceitarem 1951, como órgão subsidiário da Assembleia Geral, com
em seus territórios, e não os auxiliarem uma vez acolhidos, um mandato inicial de três anos. Desde então, o mandato
poderão estar condenando estas pessoas à morte ou à do ACNUR tem sido renovado por períodos sucessivos de
uma vida insuportável nas sombras, sem sustento e sem cinco anos [...]”.
direitos”19.
As Nações Unidas20 descrevem sua participação no Artigo XV
histórico do direito dos refugiados no mundo: 1. Toda pessoa tem direito a uma nacionalidade. 
“Desde a sua criação, a Organização das Nações Unidas 2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua
tem dedicado os seus esforços à proteção dos refugiados no nacionalidade, nem do direito de mudar de nacionalidade.
mundo. Em 1951, data em que foi criado o Alto Comissariado Nacionalidade é o vínculo jurídico-político que liga
das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), havia um um indivíduo a determinado Estado, fazendo com que ele
milhão de refugiados sob a sua responsabilidade. Hoje passe a integrar o povo daquele Estado, desfrutando assim
este número aumentou para 17,5 milhões, para além de direitos e obrigações. Não é aceita a figura do apátrida
dos 2,5 milhões assistidos pelo Organismo das Nações ou heimatlos, o indivíduo que não possui nenhuma
Unidas das Obras Públicas e Socorro aos Refugiados da nacionalidade.
Palestina, no Próximo Oriente (ANUATP), e ainda mais de É possível mudar de nacionalidade nas situações
25 milhões de pessoas deslocadas internamente. Em 1951, previstas em lei, naturalizando-se como nacional de outro
a maioria dos refugiados eram Europeus. Hoje, a maior Estado que não aquele do qual originalmente era nacional.
parte é proveniente da África e da Ásia. Atualmente, os Geralmente, a permanência no território do pais por um
movimentos de refugiados assumem cada vez mais a forma longo período de tempo dá direito à naturalização, abrindo
de êxodos maciços, diferentemente das fugas individuais mão da nacionalidade anterior para incorporar a nova.
do passado. Hoje, oitenta por cento dos refugiados são
mulheres e crianças. Também as causas dos êxodos se Artigo XVI
multiplicaram, incluindo agora as catástrofes naturais ou 1. Os homens e mulheres de maior idade, sem qualquer
19 http://www.acnur.org/t3/portugues/a-quem-ajudamos/refugiados/ restrição de raça, nacionalidade ou religião, têm o direito
20 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS - ONU. Direitos Humanos de contrair matrimônio e fundar uma família. Gozam
e Refugiados. Ficha normativa nº 20. Disponível em: <http://www.gddc.pt/ de iguais direitos em relação ao casamento, sua duração e
direitos-humanos/Ficha_Informativa_20.pdf >. Acesso em: 13 jun. 2013. sua dissolução. 

6
DIREITOS HUMANOS

2. O casamento não será válido senão com o livre e ter religião, ter ou não ter opinião político-partidária ou
pleno consentimento dos nubentes. qualquer outra manifestação positiva ou negativa da
O casamento, como todas as instituições sociais, varia consciência24.
com o tempo e os povos, que evoluem e adquirem novas No que tange à exteriorização da liberdade de religião,
culturas. Há quem o defina como um ato, outros como um ou seja, à liberdade de expressão religiosa, não é devida
contato. Basicamente, casamento é a união, devidamente nenhuma perseguição, assim como é garantido o direito de
formalizada conforme a lei, com a finalidade de construir praticá-la em grupo ou individualmente.
família. A principal finalidade do casamento é estabelecer
a comunhão plena de vida, impulsionada pelo amor e Artigo XIX
afeição existente entre o casal e baseada na igualdade de Toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e
direitos e deveres dos cônjuges e na mútua assistência.21 expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferência,
Não é aceitável o casamento que se estabeleça à força ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações
para algum dos nubentes, sendo exigido o livre e pleno e ideias por quaisquer meios e independentemente de
consentimento de ambos. Não obstante, é coerente que a fronteiras.
lei traga limitações como a idade, pois o casamento é uma Silva25 entende que a liberdade de expressão pode
instituição séria, base da família, e somente a maturidade ser vista sob diversos enfoques, como o da liberdade de
pode permitir compreender tal importância. comunicação, ou liberdade de informação, que consiste
em um conjunto de direitos, formas, processos e veículos
Artigo XVII que viabilizam a coordenação livre da criação, expressão
1. Toda pessoa tem direito à propriedade, só ou em e difusão da informação e do pensamento. Contudo, o a
sociedade com outros. manifestação do pensamento não pode ocorrer de forma
2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua ilimitada, devendo se pautar na verdade e no respeito
propriedade. dos direitos à honra, à intimidade e à imagem dos demais
“Toda pessoa [...] tem direito à propriedade, podendo membros da sociedade.
o ordenamento jurídico estabelecer suas modalidades de
aquisição, perda, uso e limites. O direito de propriedade, Artigo XX
constitucionalmente assegurado, garante que dela 1. Toda pessoa tem direito à  liberdade de reunião e
ninguém poderá ser privado arbitrariamente [...]”22. O direito associação pacíficas. 
à propriedade se insere na primeira dimensão de direitos O direito de reunião pode ser exercido
humanos, garantindo que cada qual tenha bens materiais independentemente de autorização estatal, mas deve se
justamente adquiridos, respeitada a função social. dar de maneira pacífica, por exemplo, sem utilização de
armas.
Artigo XVIII 2. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma
Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento, associação.
consciência e religião; este direito inclui a liberdade de Por sua vez, “a liberdade de associação para fins lícitos,
mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar vedada a de caráter paramilitar, é plena. Portanto, ninguém
essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto poderá ser compelido a associar-se e, uma vez associado,
e pela observância, isolada ou coletivamente, em público ou será livre, também, para decidir se permanece associado
em particular. ou não”26.
Silva23 aponta que a liberdade de pensamento, que
também pode ser chamada de liberdade de opinião, é Artigo XXI
considerada pela doutrina como a liberdade primária, 1. Toda pessoa tem o direito de tomar parte no
eis que é ponto de partida de todas as outras, e deve ser governo de seu país, diretamente ou por intermédio de
entendida como a liberdade da pessoa adotar determinada representantes livremente escolhidos. 
atitude intelectual ou não, de tomar a opinião pública que 2. Toda pessoa tem igual direito de acesso ao serviço
crê verdadeira. Tal opinião pública se refere a diversos público do seu país. 
aspectos, entre eles religião e crença. A liberdade de 3. A vontade do povo será a base  da autoridade do
religião atrela-se à liberdade de consciência e à liberdade governo; esta vontade será expressa em eleições periódicas
de pensamento, mas o inverso não ocorre, porque é e legítimas, por sufrágio universal, por voto secreto ou
possível existir liberdade de pensamento e consciência processo equivalente que assegure a liberdade de voto.
desvinculada de cunho religioso. Aliás, a liberdade de “Na sociedade moderna, nascida de transformações
consciência também concretiza a liberdade de ter ou não que culminaram na Revolução Francesa, o indivíduo é visto
como homem (pessoa privada) e como cidadão (pessoa
21 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro. 6. ed. São
Paulo: Saraiva, 2009. v. 6. 24 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à Declaração Universal dos
22 MORAES, Alexandre de. Direitos humanos fundamentais: teoria geral, Direitos do Homem. Brasília: Fortium, 2008.
comentários aos artigos 1º a 5º da Constituição da República Federativa do 25 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 25. ed.
Brasil, doutrina e jurisprudência. São Paulo: Atlas, 1997. São Paulo: Malheiros, 2006.
23 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 25. ed. 26 LENZA, Pedro. Curso de direito constitucional esquematizado. 15. ed.
São Paulo: Malheiros, 2006. São Paulo: Saraiva, 2011.

7
DIREITOS HUMANOS

pública). O termo cidadão designava originalmente o 3. Toda pessoa que trabalhe tem direito a uma
habitante da cidade. Com a consolidação da sociedade remuneração justa e satisfatória, que lhe assegure,
burguesa, passa a indicar a ação política e a participação assim como à sua família, uma existência compatível com a
do sujeito na vida da sociedade”27. dignidade humana, e a que se acrescentarão, se necessário,
Democracia (do grego, demo+kratos) é um regime de outros meios de proteção social. 
governo em que o poder de tomar decisões políticas está 4. Toda pessoa tem direito a organizar sindicatos e
com os cidadãos, de forma direta (quando um cidadão neles ingressar para proteção de seus interesses.
se reúne com os demais e, juntos, eles tomam a decisão O trabalho é um instrumento fundamental para
política) ou indireta (quando ao cidadão é dado o poder de assegurar a todos uma existência digna: de um lado por
eleger um representante). Uma democracia pode existir num proporcionar a remuneração com a qual a pessoa adquirirá
sistema presidencialista ou parlamentarista, republicano ou bens materiais para sua subsistência, de outro por gerar
monárquico - somente importa que seja dado aos cidadãos por si só o sentimento de importância para a sociedade
o poder de tomar decisões políticas (por si só ou por
por parte daquele que faz algo útil nela. No entanto,
seu representante eleito), nos termos que este artigo da
a geração de empregos não se dá automaticamente,
Declaração prevê. A principal classificação das democracias
cabendo aos Estados desenvolverem políticas econômicas
é a que distingue a direta da indireta - a) direta, também
para diminuir os índices de desemprego o máximo
chamada de pura, na qual o cidadão expressa sua vontade
por voto direto e individual em casa questão relevante; possível.
b) indireta, também chamada representativa, em que os A remuneração é a retribuição financeira pelo trabalho
cidadãos exercem individualmente o direito de voto para realizado. Nesta esfera também é necessário o respeito
escolher representante(s) e aquele(s) que for(em) mais ao princípio da igualdade, por não ser justo que uma
escolhido(s) representa(m) todos os eleitores. pessoa que desempenhe as mesmas funções que a outra
Não obstante, se introduz a dimensão do Estado receba menos por um fator externo, característico dela,
Social, de forma que ao cidadão é garantida a prestação como sexo ou raça. No âmbito do serviço público é mais
de serviços públicos. Isto se insere na segunda dimensão fácil controlar tal aspecto, mas são inúmeras as empresas
de direitos humanos, referentes aos direitos econômicos, privadas que pagam menor salário a mulheres e que não
sociais e culturais - sem os quais não se consolida a chegam a ser levadas à justiça por isso. Não obstante,
igualdade material. a remuneração deve ser suficiente para proporcionar
uma existência digna, com o necessário para manter
Artigo XXII assegurados ao menos minimamente todos os direitos
Toda pessoa, como membro da sociedade, tem direito à humanos previstos na Declaração.
segurança social e à realização, pelo esforço nacional, pela Os sindicatos são bastante comuns na seara
cooperação internacional e de acordo com a organização trabalhista e, como visto, a todos é garantida a liberdade
e recursos de cada Estado, dos direitos econômicos, de associação, não podendo ninguém ser impedido ou
sociais e culturais indispensáveis à sua dignidade e ao livre forçado a ingressar ou sair de um sindicato.
desenvolvimento da sua personalidade.
Direitos econômicos, sociais e culturais compõem Artigo XXIV
a segunda dimensão de direitos fundamentais. O Pacto Toda pessoa tem direito a repouso e lazer, inclusive
internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais de a limitação razoável das horas de trabalho e férias
1966 é o documento que especifica e descreve tais direitos. periódicas remuneradas.
de uma maneira geral, são direitos que não dependem
Por mais que o trabalho seja um direito humano, nem
puramente do indivíduo para a implementação, exigindo
somente dele é feita a vida de uma pessoa. Desta forma,
prestações positivas estatais, geralmente externadas por
assegura-se horários livres para que a pessoa desfrute
políticas públicas (escolhas políticas a respeito de áreas
de momentos de lazer e descanso, bem como impede-
que necessitam de investimento maior ou menos para
proporcionar um bom índice de desenvolvimento social, se a fixação de uma jornada de trabalho muito exaustiva.
diminuindo desigualdades). Entre outros direitos, envolvem São medidas que asseguram isto a previsão de descanso
o trabalho, a educação, a saúde, a alimentação, a moradia, semanal remunerado, a limitação do horário de trabalho,
o lazer, etc. Como são inúmeras as áreas que necessitam de a concessão de férias remuneradas anuais, entre outras.
investimento estatal, naturalmente o atendimento a estes Quanto aos artigos XXIII e XXIV, tem-se que é fornecido
direitos se dá de maneira gradual. “[...] um conjunto mínimo de direitos dos trabalhadores.
De forma geral, os dispositivos em comento versam sobre
Artigo XXIII o direito ao trabalho, principal meio de sobrevivência
1. Toda pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha dos indivíduos que ‘vendem’ força de trabalho em troca
de emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho de uma remuneração justa. Ademais, estabelecem a
e à proteção contra o desemprego. liberdade do cidadão de escolher o trabalho e, uma vez
2. Toda pessoa, sem qualquer distinção, tem direito a obtido o emprego, o direito de nele encontrar condições
igual remuneração por igual trabalho. justas, tanto no tocante à remuneração, como no que
27 SCHLESENER, Anita Helena. Cidadania e política. In: CARDI, diz respeito ao limite de horas trabalhadas e períodos
Cassiano; et. al. Para filosofar. São Paulo: Scipione, 2000. de repouso (disposição constante do artigo XXIV da

8
DIREITOS HUMANOS

Declaração). Garantem ainda o direito dos trabalhadores ensino médio no Brasil, sendo elementar o primeiro e
de se unirem em associação, com o objetivo de defesa de fundamental o segundo. A educação técnico-profissional
seus interesses”28. refere-se às escolas voltadas ao ensino de algum ofício,
não complexo a ponto de exigir formação superior e,
Artigo XXV justamente por isso, possuem menor duração e menor
1. Toda pessoa tem direito a um padrão de vida capaz custo; ao passo que a educação superior é a que se dá
de assegurar a si e a sua família saúde e bem estar, inclusive no âmbito das universidades, formando profissionais de
alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os maior especialidade numa área profissional, com amplo
serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em conhecimento, razão pela qual dura mais tempo e é mais
caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou onerosa. As duas últimas são de maior custo e não podem
outros casos de perda dos meios de subsistência fora de seu ser instituídas de tal forma que sejam garantidas vagas
controle.     para todas as pessoas em sociedade, entretanto, exige-se
O ideal é que todas as pessoas possuam um padrão um critério justo para a seleção dos ingressos, o qual seja
de vida suficiente para garantir sua dignidade em todas as baseado no mérito (os mais capacitados conseguirão as
esferas: alimentação, vestuário, moradia, saúde, etc. Bem se vagas de ensino técnico-profissional e superior).
sabe que é um objetivo constante do Estado Democrático Ainda, a Declaração de 1948 deixa clara que a
de Direito proporcionar que pessoas cheguem o mais educação não envolve apenas o aprendizado do
próximo possível - e cada vez mais - desta circunstância. conteúdo programático das matérias comuns como
Fala-se em segurança no sentido de segurança matemática, português, história e geografia, mas também
pública, de dever do Estado de preservar a ordem pública a compreensão de abordagens sobre assuntos que possam
e a incolumidade das pessoas e do patrimônio público e contribuir para a formação da personalidade da pessoa
privado29. Neste conceito enquadra-se a seguridade social, humana e conscientizá-la de seu papel social.
na qual o Estado, custeado pela coletividade e pelos cofres Não obstante, da parte final da Declaração extrai-se
públicos, garante a manutenção financeira dos que por a consciência de que a educação não é apenas a formal,
algum motivo não possuem condição de trabalhar. aprendida nos estabelecimentos de ensino, mas também
2. A maternidade e a infância têm direito a cuidados a informal, transmitida no ambiente familiar e nas demais
e assistência especiais. Todas as crianças nascidas dentro ou áreas de contato da pessoa, como igreja, clubes e,
fora do matrimônio, gozarão da mesma proteção social. notadamente, a residência. Por isso, os pais têm um papel
A proteção da maternidade tem sentido porque sem direto na escolha dos meios de educação de seus filhos.
isto o mundo não continua. É preciso que as crianças sejam
protegidas com atenção especial para que se tornem Artigo XXVII
adultos capazes de proporcionar uma melhora no planeta. 1. Toda pessoa tem o direito de participar livremente
da vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de
Artigo XXVI participar do processo científico e de seus benefícios. 
1. Toda pessoa tem direito à instrução. A instrução será 2. Toda pessoa tem direito à proteção dos interesses
gratuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais. morais e materiais decorrentes de qualquer produção
A instrução elementar será obrigatória. A instrução técnico- científica, literária ou artística da qual seja autor.
profissional será acessível a todos, bem como a instrução Os conflitos que se dão entre a liberdade e a propriedade
superior, esta baseada no mérito. intelectual se evidenciam, principalmente, sob o aspecto da
2. A instrução será orientada no sentido do pleno liberdade de expressão, na esfera específica da liberdade
desenvolvimento da personalidade humana e do de comunicação ou informação, que, nos dizeres de Silva30,
fortalecimento do respeito pelos direitos humanos e “compreende a liberdade de informar e a liberdade de ser
pelas liberdades fundamentais. A instrução promoverá a informado”. Sob o enfoque do direito à liberdade e do
compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações direito de acesso à cultura, seria livre a divulgação de toda
e grupos raciais ou religiosos, e coadjuvará as atividades das e qualquer informação e o acesso aos dados disponíveis,
Nações Unidas em prol da manutenção da paz.  independentemente da fonte ou da autoria. De outro lado,
3. Os pais têm prioridade de direito na escolha do gênero há o direito de propriedade intelectual, o qual possui um
de instrução que será ministrada a seus filhos. caráter dualista: moral, que nunca prescreve porque o autor
A Declaração Universal de 1948 divide a disponibilidade de uma obra nunca deixará de ser considerado como tal,
e a obrigatoriedade da educação em níveis. Aquela e patrimonial, que prescreve, perdendo o autor o direito
educação que é considerada essencial, qual seja, a de explorar benefícios econômicos de sua obra31. Cada vez
elementar, deve ser gratuita e obrigatória. Já a educação mais esta dualidade entre direitos se encontra em conflito,
fundamental, de grande importância, deve ser gratuita, uma vez que a evolução tecnológica trouxe meios para a
mas não é obrigatória. Esta nomenclatura adotada pela cópia em massa de conteúdos protegidos pela propriedade
Declaração equipara-se ao ensino fundamental e ao intelectual.
28 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à Declaração Universal dos 30 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 25. ed.
Direitos do Homem. Brasília: Fortium, 2008. São Paulo: Malheiros, 2006
29 LENZA, Pedro. Curso de direito constitucional esquematizado. 15. ed. 31 PAESANI, Liliana Minardi. Direito e Internet: liberdade de informação,
São Paulo: Saraiva, 2011. privacidade e responsabilidade civil. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2006.

9
DIREITOS HUMANOS

Artigo XVIII tendente a infirmar qualquer das disposições da Declaração


Toda pessoa tem direito a uma ordem social e ao argumento de que estão respeitando um direito em
internacional em que os direitos e  liberdades estabelecidos detrimento de outro”34.
na presente Declaração possam ser plenamente realizados. Nenhum direito humano é ilimitado: se o fossem, seria
Como já destacado, o sistema de proteção dos direitos impossível garantir um sistema no qual todas as pessoas
humanos tem caráter global e cada Estado que assumiu tivessem tais direitos plenamente respeitados, afinal, estes
compromisso perante a ONU ao integrá-la deve garantir o necessariamente colidiriam com os direitos das outras
respeito a estes direitos no âmbito de seu território. Com pessoas, os quais teriam que ser violados. Este é um dos
isso, a pessoa estará numa ordem social e internacional sentidos do princípio da relatividade dos direitos humanos
na qual seus direitos humanos sejam assegurados, - os direitos humanos não podem ser utilizados como
preservando-se sua dignidade. Em outras palavras, um escudo para práticas ilícitas ou como argumento para
“devidamente emparelhadas, portanto, a ordem social e afastamento ou diminuição da responsabilidade por atos
a ordem internacional se manifestam, a seu modo, como ilícitos, assim os direitos humanos não são ilimitados e
as duas faces das instituições humanitárias, tanto estatais encontram seus limites nos demais direitos igualmente
quanto particulares, orientando seus passos a serviço da consagrados como humanos. Isto vale tanto para os
comunidade humana”32. indivíduos, numa atitude perante os demais, quanto para
os Estados, ao externar o compromisso global assumido
Artigo XXIX perante a ONU.
1. Toda pessoa tem deveres para com a comunidade,
em que o livre e pleno desenvolvimento de sua personalidade
é possível.
2. No exercício de seus direitos e liberdades, toda 2. CONVENÇÃO AMERICANA SOBRE
pessoa estará sujeita apenas às limitações determinadas DIREITOS HUMANOS. (ASSINADA
pela lei, exclusivamente com o fim de assegurar o devido NA CONFERÊNCIA ESPECIALIZADA
reconhecimento e respeito dos direitos e liberdades de outrem INTERAMERICANA SOBRE DIREITOS
e de satisfazer às justas exigências da moral, da ordem HUMANOS, SAN JOSÉ, COSTA RICA, EM 22
pública e do bem-estar de uma sociedade democrática.
DE NOVEMBRO DE 1969)
3. Esses direitos e liberdades não podem, em hipótese
alguma, ser exercidos contrariamente aos propósitos e
princípios das Nações Unidas.
Explica Canotilho33 que “a ideia de deveres
CONVENÇÃO AMERICANA SOBRE DIREITOS
fundamentais é suscetível de ser entendida como o ‘outro
HUMANOS
lado’ dos direitos fundamentais. Como ao titular de um
direito fundamental corresponde um dever por parte de
(Assinada na Conferência Especializada Interamericana
um outro titular, poder-se-ia dizer que o particular está sobre Direitos Humanos,
vinculado aos direitos fundamentais como destinatário San José, Costa Rica, em 22 de novembro de 1969)
de um dever fundamental. Neste sentido, um direito
fundamental, enquanto protegido, pressuporia um dever PREÂMBULO
correspondente”. Esta é a ideia que a Declaração de 1948
busca trazer: não será assegurada nenhuma liberdade que Os Estados americanos signatários da presente
contrarie a lei ou os demais direitos de outras pessoas, Convenção,
isto é, os preceitos universais consagrados pelas Nações
Unidas. Reafirmando seu propósito de consolidar neste
Continente, dentro do quadro das instituições democráticas,
Artigo XXX um regime de liberdade pessoal e de justiça social, fundado
Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser no respeito dos direitos essenciais do homem;
interpretada como o reconhecimento a qualquer Estado,
grupo ou pessoa, do direito de exercer qualquer atividade Reconhecendo que os direitos essenciais do homem
ou praticar qualquer ato destinado à destruição  de não derivam do fato de ser ele nacional de determinado
quaisquer dos direitos e liberdades aqui estabelecidos. Estado, mas sim do fato de ter como fundamento os
“A colidência entre os direitos afirmados na Declaração atributos da pessoa humana, razão por que justificam
é natural. Busca-se com o presente artigo evitar que, uma proteção internacional, de natureza convencional,
no eventual choque entre duas normas garantistas, os coadjuvante ou complementar da que oferece o direito
sujeitos nela mencionados se valham de uma interpretação interno dos Estados americanos;
32 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à Declaração Universal dos
Direitos do Homem. Brasília: Fortium, 2008.
33 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito constitucional e teoria da 34 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à Declaração Universal dos
constituição. 2. ed. Coimbra: Almedina, 1998. Direitos do Homem. Brasília: Fortium, 2008.

10
DIREITOS HUMANOS

Considerando que esses princípios foram CAPÍTULO II


consagrados na Carta da Organização dos Estados DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS
Americanos, na Declaração Americana dos Direitos e
Deveres do Homem e na Declaração Universal dos Direitos Artigo 3. Direito ao reconhecimento da
do Homem e que foram reafirmados e desenvolvidos personalidade jurídica
em outros instrumentos internacionais, tanto de âmbito
mundial como regional; Toda pessoa tem direito ao reconhecimento de sua
personalidade jurídica.
Reiterando que, de acordo com a Declaração
Universal dos Direitos do Homem, só pode ser realizado Artigo 4. Direito à vida
o ideal do ser humano livre, isento do temor e da miséria,
se forem criadas condições que permitam a cada pessoa 1. Toda pessoa tem o direito de que se respeite sua
gozar dos seus direitos econômicos, sociais e culturais, vida. Esse direito deve ser protegido pela lei e, em geral,
bem como dos seus direitos civis e políticos; e desde o momento da concepção. Ninguém pode ser
privado da vida arbitrariamente.
Considerando que a Terceira Conferência
Interamericana Extraordinária (Buenos Aires, 1967) 2. Nos países que não houverem abolido a pena
aprovou a incorporação à própria Carta da Organização de morte, esta só poderá ser imposta pelos delitos mais
de normas mais amplas sobre direitos econômicos, graves, em cumprimento de sentença final de tribunal
sociais e educacionais e resolveu que uma convenção competente e em conformidade com lei que estabeleça tal
interamericana sobre direitos humanos determinasse pena, promulgada antes de haver o delito sido cometido.
a estrutura, competência e processo dos órgãos Tampouco se estenderá sua aplicação a delitos aos quais
encarregados dessa matéria, não se aplique atualmente.

3. Não se pode restabelecer a pena de morte nos


Convieram no seguinte:
Estados que a hajam abolido.
PARTE I
4. Em nenhum caso pode a pena de morte ser aplicada
DEVERES DOS ESTADOS E DIREITOS PROTEGIDOS
por delitos políticos, nem por delitos comuns conexos com
CAPÍTULO I
delitos políticos.
ENUMERAÇÃO DE DEVERES
5. Não se deve impor a pena de morte a pessoa que,
Artigo 1. Obrigação de respeitar os direitos
no momento da perpetração do delito, for menor de
dezoito anos, ou maior de setenta, nem aplicá-la a mulher
1. Os Estados Partes nesta Convenção comprometem- em estado de gravidez.
se a respeitar os direitos e liberdades nela reconhecidos
e a garantir seu livre e pleno exercício a toda pessoa que 6. Toda pessoa condenada à morte tem direito a
esteja sujeita à sua jurisdição, sem discriminação alguma solicitar anistia, indulto ou comutação da pena, os quais
por motivo de raça, cor, sexo, idioma, religião, opiniões podem ser concedidos em todos os casos. Não se pode
políticas ou de qualquer outra natureza, origem nacional executar a pena de morte enquanto o pedido estiver
ou social, posição econômica, nascimento ou qualquer pendente de decisão ante a autoridade competente.
outra condição social.
Artigo 5. Direito à integridade pessoal
2. Para os efeitos desta Convenção, pessoa é todo
ser humano. 1. Toda pessoa tem o direito de que se respeite sua
integridade física, psíquica e moral.
Artigo 2. Dever de adotar disposições de direito
interno 2. Ninguém deve ser submetido a torturas, nem a
penas ou tratos cruéis, desumanos ou degradantes. Toda
Se o exercício dos direitos e liberdades mencionados pessoa privada da liberdade deve ser tratada com o
no artigo 1 ainda não estiver garantido por disposições respeito devido à dignidade inerente ao ser humano.
legislativas ou de outra natureza, os Estados Partes
comprometem-se a adotar, de acordo com as suas 3. A pena não pode passar da pessoa do delinquente.
normas constitucionais e com as disposições desta
Convenção, as medidas legislativas ou de outra natureza 4. Os processados devem ficar separados dos
que forem necessárias para tornar efetivos tais direitos e condenados, salvo em circunstâncias excepcionais, e ser
liberdades. submetidos a tratamento adequado à sua condição de
pessoas não condenadas.

11
DIREITOS HUMANOS

5. Os menores, quando puderem ser processados, 5. Toda pessoa detida ou retida deve ser conduzida,
devem ser separados dos adultos e conduzidos a tribunal sem demora, à presença de um juiz ou outra autoridade
especializado, com a maior rapidez possível, para seu autorizada pela lei a exercer funções judiciais e tem direito
tratamento. a ser julgada dentro de um prazo razoável ou a ser posta
em liberdade, sem prejuízo de que prossiga o processo.
6. As penas privativas da liberdade devem ter por Sua liberdade pode ser condicionada a garantias que
finalidade essencial a reforma e a readaptação social dos assegurem o seu comparecimento em juízo.
condenados.
6. Toda pessoa privada da liberdade tem direito a
Artigo 6. Proibição da escravidão e da servidão recorrer a um juiz ou tribunal competente, a fim de que
este decida, sem demora, sobre a legalidade de sua prisão
1. Ninguém pode ser submetido a escravidão ou ou detenção e ordene sua soltura se a prisão ou a detenção
a servidão, e tanto estas como o tráfico de escravos e o forem ilegais. Nos Estados Partes cujas leis prevêem que
tráfico de mulheres são proibidos em todas as suas formas. toda pessoa que se vir ameaçada de ser privada de sua
liberdade tem direito a recorrer a um juiz ou tribunal
2. Ninguém deve ser constrangido a executar trabalho competente a fim de que este decida sobre a legalidade
forçado ou obrigatório. Nos países em que se prescreve, para de tal ameaça, tal recurso não pode ser restringido nem
certos delitos, pena privativa da liberdade acompanhada abolido. O recurso pode ser interposto pela própria pessoa
de trabalhos forçados, esta disposição não pode ser ou por outra pessoa.
interpretada no sentido de que proíbe o cumprimento
da dita pena, imposta por juiz ou tribunal competente. 7. Ninguém deve ser detido por dívidas. Este
O trabalho forçado não deve afetar a dignidade nem a princípio não limita os mandados de autoridade judiciária
capacidade física e intelectual do recluso. competente expedidos em virtude de inadimplemento de
obrigação alimentar.
3. Não constituem trabalhos forçados ou obrigatórios
para os efeitos deste artigo: Artigo 8. Garantias judiciais
a. os trabalhos ou serviços normalmente exigidos de
pessoa reclusa em cumprimento de sentença ou resolução 1. Toda pessoa tem direito a ser ouvida, com as
formal expedida pela autoridade judiciária competente. devidas garantias e dentro de um prazo razoável, por um
Tais trabalhos ou serviços devem ser executados sob juiz ou tribunal competente, independente e imparcial,
a vigilância e controle das autoridades públicas, e os estabelecido anteriormente por lei, na apuração de
indivíduos que os executarem não devem ser postos qualquer acusação penal formulada contra ela, ou para que
à disposição de particulares, companhias ou pessoas se determinem seus direitos ou obrigações de natureza
jurídicas de caráter privado; civil, trabalhista, fiscal ou de qualquer outra natureza.
b. o serviço militar e, nos países onde se admite a
isenção por motivos de consciência, o serviço nacional que 2. Toda pessoa acusada de delito tem direito a que
a lei estabelecer em lugar daquele; se presuma sua inocência enquanto não se comprove
c. o serviço imposto em casos de perigo ou calamidade legalmente sua culpa. Durante o processo, toda pessoa
que ameace a existência ou o bem-estar da comunidade; e tem direito, em plena igualdade, às seguintes garantias
d. o trabalho ou serviço que faça parte das obrigações mínimas:
cívicas normais. a. direito do acusado de ser assistido gratuitamente
por tradutor ou intérprete, se não compreender ou não
Artigo 7. Direito à liberdade pessoal falar o idioma do juízo ou tribunal;
b. comunicação prévia e pormenorizada ao acusado da
1. Toda pessoa tem direito à liberdade e à segurança acusação formulada;
pessoais. c. concessão ao acusado do tempo e dos meios
adequados para a preparação de sua defesa;
2. Ninguém pode ser privado de sua liberdade física, d. direito do acusado de defender-se pessoalmente
salvo pelas causas e nas condições previamente fixadas ou de ser assistido por um defensor de sua escolha e de
pelas constituições políticas dos Estados Partes ou pelas comunicar-se, livremente e em particular, com seu defensor;
leis de acordo com elas promulgadas. e. direito irrenunciável de ser assistido por um
defensor proporcionado pelo Estado, remunerado ou
3. Ninguém pode ser submetido a detenção ou não, segundo a legislação interna, se o acusado não se
encarceramento arbitrários. defender ele próprio nem nomear defensor dentro do
prazo estabelecido pela lei;
4. Toda pessoa detida ou retida deve ser informada f. direito da defesa de inquirir as testemunhas
das razões da sua detenção e notificada, sem demora, da presentes no tribunal e de obter o comparecimento, como
acusação ou acusações formuladas contra ela. testemunhas ou peritos, de outras pessoas que possam
lançar luz sobre os fatos;

12
DIREITOS HUMANOS

g. direito de não ser obrigado a depor contra si mesma, 3. A liberdade de manifestar a própria religião e as
nem a declarar-se culpada; e próprias crenças está sujeita unicamente às limitações
h. direito de recorrer da sentença para juiz ou tribunal prescritas pela lei e que sejam necessárias para proteger
superior. a segurança, a ordem, a saúde ou a moral públicas ou os
direitos ou liberdades das demais pessoas.
3. A confissão do acusado só é válida se feita sem
coação de nenhuma natureza. 4. Os pais, e quando for o caso os tutores, têm direito
a que seus filhos ou pupilos recebam a educação religiosa
4. O acusado absolvido por sentença passada em e moral que esteja acorde com suas próprias convicções.
julgado não poderá ser submetido a novo processo pelos
mesmos fatos. Artigo 13. Liberdade de pensamento e de
expressão
5. O processo penal deve ser público, salvo no que for
necessário para preservar os interesses da justiça. 1. Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento
e de expressão. Esse direito compreende a liberdade de
Artigo 9. Princípio da legalidade e da buscar, receber e difundir informações e idéias de toda
retroatividade natureza, sem consideração de fronteiras, verbalmente
ou por escrito, ou em forma impressa ou artística, ou por
Ninguém pode ser condenado por ações ou omissões qualquer outro processo de sua escolha.
que, no momento em que forem cometidas, não sejam
delituosas, de acordo com o direito aplicável. Tampouco se 2. O exercício do direito previsto no inciso
pode impor pena mais grave que a aplicável no momento precedente não pode estar sujeito a censura prévia, mas a
da perpetração do delito. Se depois da perpetração do responsabilidades ulteriores, que devem ser expressamente
delito a lei dispuser a imposição de pena mais leve, o fixadas pela lei e ser necessárias para assegurar:
a. o respeito aos direitos ou à reputação das demais
delinquente será por isso beneficiado.
pessoas; ou
b. a proteção da segurança nacional, da ordem pública,
Artigo 10. Direito a indenização
ou da saúde ou da moral públicas.
Toda pessoa tem direito de ser indenizada conforme a
3. Não se pode restringir o direito de expressão por
lei, no caso de haver sido condenada em sentença passada
vias ou meios indiretos, tais como o abuso de controles
em julgado, por erro judiciário.
oficiais ou particulares de papel de imprensa, de frequências
radioelétricas ou de equipamentos e aparelhos usados na
Artigo 11. Proteção da honra e da dignidade difusão de informação, nem por quaisquer outros meios
destinados a obstar a comunicação e a circulação de idéias
1. Toda pessoa tem direito ao respeito de sua honra e e opiniões.
ao reconhecimento de sua dignidade.
4. A lei pode submeter os espetáculos públicos a
2. Ninguém pode ser objeto de ingerências arbitrárias censura prévia, com o objetivo exclusivo de regular o acesso
ou abusivas em sua vida privada, na de sua família, em seu a eles, para proteção moral da infância e da adolescência,
domicílio ou em sua correspondência, nem de ofensas sem prejuízo do disposto no inciso 2.
ilegais à sua honra ou reputação.
5. A lei deve proibir toda propaganda a favor da
3. Toda pessoa tem direito à proteção da lei contra tais guerra, bem como toda apologia ao ódio nacional, racial
ingerências ou tais ofensas. ou religioso que constitua incitação à discriminação, à
hostilidade, ao crime ou à violência.
Artigo 12. Liberdade de consciência e de religião
Artigo 14. Direito de retificação ou resposta
1. Toda pessoa tem direito à liberdade de consciência
e de religião. Esse direito implica a liberdade de conservar 1. Toda pessoa atingida por informações inexatas ou
sua religião ou suas crenças, ou de mudar de religião ou de ofensivas emitidas em seu prejuízo por meios de difusão
crenças, bem como a liberdade de professar e divulgar sua legalmente regulamentados e que se dirijam ao público em
religião ou suas crenças, individual ou coletivamente, tanto geral, tem direito a fazer, pelo mesmo órgão de difusão,
em público como em privado. sua retificação ou resposta, nas condições que estabeleça
a lei.
2. Ninguém pode ser objeto de medidas restritivas que
possam limitar sua liberdade de conservar sua religião ou 2. Em nenhum caso a retificação ou a resposta eximirão
suas crenças, ou de mudar de religião ou de crenças. das outras responsabilidades legais em que se houver
incorrido.

13
DIREITOS HUMANOS

3. Para a efetiva proteção da honra e da reputação, 5. A lei deve reconhecer iguais direitos tanto aos filhos
toda publicação ou empresa jornalística, cinematográfica, nascidos fora do casamento como aos nascidos dentro do
de rádio ou televisão, deve ter uma pessoa responsável casamento.
que não seja protegida por imunidades nem goze de foro
especial. Artigo 18. Direito ao nome

Artigo 15. Direito de reunião Toda pessoa tem direito a um prenome e aos nomes
de seus pais ou ao de um destes. A lei deve regular a forma
É reconhecido o direito de reunião pacífica e sem de assegurar a todos esse direito, mediante nomes fictícios,
armas. O exercício de tal direito só pode estar sujeito às se for necessário.
restrições previstas pela lei e que sejam necessárias, numa
sociedade democrática, no interesse da segurança nacional, Artigo 19. Direitos da criança
da segurança ou da ordem públicas, ou para proteger a
saúde ou a moral públicas ou os direitos e liberdades das Toda criança tem direito às medidas de proteção que a
demais pessoas. sua condição de menor requer por parte da sua família, da
sociedade e do Estado.
Artigo 16. Liberdade de associação
Artigo 20. Direito à nacionalidade
1. Todas as pessoas têm o direito de associar-se
livremente com fins ideológicos, religiosos, políticos, 1. Toda pessoa tem direito a uma nacionalidade.
econômicos, trabalhistas, sociais, culturais, desportivos ou
de qualquer outra natureza. 2. Toda pessoa tem direito à nacionalidade do Estado
em cujo território houver nascido, se não tiver direito a
2. O exercício de tal direito só pode estar sujeito às outra.
restrições previstas pela lei que sejam necessárias, numa
sociedade democrática, no interesse da segurança nacional, 3. A ninguém se deve privar arbitrariamente de sua
da segurança ou da ordem públicas, ou para proteger a nacionalidade nem do direito de mudá-la.
saúde ou a moral públicas ou os direitos e liberdades das
demais pessoas. Artigo 21. Direito à propriedade privada

3. O disposto neste artigo não impede a imposição 1. Toda pessoa tem direito ao uso e gozo dos seus
de restrições legais, e mesmo a privação do exercício do bens. A lei pode subordinar esse uso e gozo ao interesse
direito de associação, aos membros das forças armadas e social.
da polícia.
2. Nenhuma pessoa pode ser privada de seus bens,
Artigo 17. Proteção da família salvo mediante o pagamento de indenização justa, por
motivo de utilidade pública ou de interesse social e nos
1. A família é o elemento natural e fundamental da casos e na forma estabelecidos pela lei.
sociedade e deve ser protegida pela sociedade e pelo
Estado. 3. Tanto a usura como qualquer outra forma de
exploração do homem pelo homem devem ser reprimidas
2. É reconhecido o direito do homem e da mulher pela lei.
de contraírem casamento e de fundarem uma família, se
tiverem a idade e as condições para isso exigidas pelas leis Artigo 22. Direito de circulação e de residência
internas, na medida em que não afetem estas o princípio
da não-discriminação estabelecido nesta Convenção. 1. Toda pessoa que se ache legalmente no território de
um Estado tem direito de circular nele e de nele residir em
3. O casamento não pode ser celebrado sem o livre e conformidade com as disposições legais.
pleno consentimento dos contraentes.
2. Toda pessoa tem o direito de sair livremente de
4. Os Estados Partes devem tomar medidas qualquer país, inclusive do próprio.
apropriadas no sentido de assegurar a igualdade de
direitos e a adequada equivalência de responsabilidades 3. O exercício dos direitos acima mencionados não
dos cônjuges quanto ao casamento, durante o casamento pode ser restringido senão em virtude de lei, na medida
e em caso de dissolução do mesmo. Em caso de dissolução, indispensável, numa sociedade democrática, para prevenir
serão adotadas disposições que assegurem a proteção infrações penais ou para proteger a segurança nacional,
necessária aos filhos, com base unicamente no interesse e a segurança ou a ordem públicas, a moral ou a saúde
conveniência dos mesmos. públicas, ou os direitos e liberdades das demais pessoas.

14
DIREITOS HUMANOS

4. O exercício dos direitos reconhecidos no inciso constituição, pela lei ou pela presente Convenção, mesmo
1 pode também ser restringido pela lei, em zonas quando tal violação seja cometida por pessoas que estejam
determinadas, por motivo de interesse público. atuando no exercício de suas funções oficiais.

5. Ninguém pode ser expulso do território do Estado 2. Os Estados Partes comprometem-se:


do qual for nacional, nem ser privado do direito de nele
entrar. a. a assegurar que a autoridade competente prevista
pelo sistema legal do Estado decida sobre os direitos de
6. O estrangeiro que se ache legalmente no território toda pessoa que interpuser tal recurso;
de um Estado Parte nesta Convenção só poderá dele ser
expulso em cumprimento de decisão adotada de acordo b. a desenvolver as possibilidades de recurso judicial; e
com a lei.
c. a assegurar o cumprimento, pelas autoridades
7. Toda pessoa tem o direito de buscar e receber asilo competentes, de toda decisão em que se tenha considerado
em território estrangeiro, em caso de perseguição por procedente o recurso.
delitos políticos ou comuns conexos com delitos políticos
e de acordo com a legislação de cada Estado e com os CAPÍTULO III
convênios internacionais. DIREITOS ECONÔMICOS, SOCIAIS E CULTURAIS

8. Em nenhum caso o estrangeiro pode ser expulso Artigo 26. Desenvolvimento progressivo
ou entregue a outro país, seja ou não de origem, onde
seu direito à vida ou à liberdade pessoal esteja em risco Os Estados Partes comprometem-se a adotar
de violação por causa da sua raça, nacionalidade, religião, providências, tanto no âmbito interno como mediante
condição social ou de suas opiniões políticas. cooperação internacional, especialmente econômica e
técnica, a fim de conseguir progressivamente a plena
9. É proibida a expulsão coletiva de estrangeiros. efetividade dos direitos que decorrem das normas
econômicas, sociais e sobre educação, ciência e cultura,
Artigo 23. Direitos políticos constantes da Carta da Organização dos Estados
Americanos, reformada pelo Protocolo de Buenos Aires, na
1. Todos os cidadãos devem gozar dos seguintes medida dos recursos disponíveis, por via legislativa ou por
direitos e oportunidades: outros meios apropriados.
a. de participar na direção dos assuntos públicos,
diretamente ou por meio de representantes livremente CAPÍTULO IV
eleitos; SUSPENSÃO DE GARANTIAS, INTERPRETAÇÃO E
b. de votar e ser eleitos em eleições periódicas APLICAÇÃO
autênticas, realizadas por sufrágio universal e igual e por
voto secreto que garanta a livre expressão da vontade dos Artigo 27. Suspensão de garantias
eleitores; e
c. de ter acesso, em condições gerais de igualdade, às 1. Em caso de guerra, de perigo público, ou de outra
funções públicas de seu país. emergência que ameace a independência ou segurança
do Estado Parte, este poderá adotar disposições que, na
2. A lei pode regular o exercício dos direitos medida e pelo tempo estritamente limitados às exigências
e oportunidades a que se refere o inciso anterior, da situação, suspendam as obrigações contraídas em
exclusivamente por motivos de idade, nacionalidade, virtude desta Convenção, desde que tais disposições não
residência, idioma, instrução, capacidade civil ou mental, sejam incompatíveis com as demais obrigações que lhe
ou condenação, por juiz competente, em processo penal. impõe o Direito Internacional e não encerrem discriminação
alguma fundada em motivos de raça, cor, sexo, idioma,
Artigo 24. Igualdade perante a lei religião ou origem social.

Todas as pessoas são iguais perante a lei. Por 2. A disposição precedente não autoriza a suspensão
conseguinte, têm direito, sem discriminação, a igual dos direitos determinados seguintes artigos: 3 (Direito ao
proteção da lei. reconhecimento da personalidade jurídica); 4 (Direito à vida);
5 (Direito à integridade pessoal); 6 (Proibição da escravidão
Artigo 25. Proteção judicial e servidão); 9 (Princípio da legalidade e da retroatividade);
12 (Liberdade de consciência e de religião); 17 (Proteção da
1. Toda pessoa tem direito a um recurso simples e família); 18 (Direito ao nome); 19 (Direitos da criança); 20
rápido ou a qualquer outro recurso efetivo, perante os (Direito à nacionalidade) e 23 (Direitos políticos), nem das
juízes ou tribunais competentes, que a proteja contra atos garantias indispensáveis para a proteção de tais direitos.
que violem seus direitos fundamentais reconhecidos pela

15
DIREITOS HUMANOS

3. Todo Estado Parte que fizer uso do direito de Artigo 31. Reconhecimento de outros direitos
suspensão deverá informar imediatamente os outros
Estados Partes na presente Convenção, por intermédio do Poderão ser incluídos no regime de proteção desta
Secretário-Geral da Organização dos Estados Americanos, Convenção outros direitos e liberdades que forem
das disposições cuja aplicação haja suspendido, dos reconhecidos de acordo com os processos estabelecidos
motivos determinantes da suspensão e da data em que nos artigos 76 e 77.
haja dado por terminada tal suspensão.
CAPÍTULO V
Artigo 28. Cláusula federal DEVERES DAS PESSOAS

1. Quando se tratar de um Estado Parte constituído Artigo 32. Correlação entre deveres e direitos
como Estado federal, o governo nacional do aludido
Estado Parte cumprirá todas as disposições da presente 1. Toda pessoa tem deveres para com a família, a
Convenção, relacionadas com as matérias sobre as quais comunidade e a humanidade.
exerce competência legislativa e judicial.
2. Os direitos de cada pessoa são limitados pelos
2. No tocante às disposições relativas às matérias direitos dos demais, pela segurança de todos e pelas justas
que correspondem à competência das entidades exigências do bem comum, numa sociedade democrática.
componentes da federação, o governo nacional deve
tomar imediatamente as medidas pertinente, em PARTE II
conformidade com sua constituição e suas leis, a fim de MEIOS DA PROTEÇÃO
que as autoridades competentes das referidas entidades
possam adotar as disposições cabíveis para o cumprimento CAPÍTULO VI
desta Convenção. ÓRGÃOS COMPETENTES

3. Quando dois ou mais Estados Partes decidirem Artigo 33


constituir entre eles uma federação ou outro tipo de
associação, diligenciarão no sentido de que o pacto São competentes para conhecer dos assuntos
comunitário respectivo contenha as disposições necessárias relacionados com o cumprimento dos compromissos
para que continuem sendo efetivas no novo Estado assim assumidos pelos Estados Partes nesta Convenção:
organizado as normas da presente Convenção. a. a Comissão Interamericana de Direitos Humanos,
doravante denominada a Comissão; e
Artigo 29. Normas de interpretação b. a Corte Interamericana de Direitos Humanos,
doravante denominada a Corte.
Nenhuma disposição desta Convenção pode ser
interpretada no sentido de: CAPÍTULO VII
a. permitir a qualquer dos Estados Partes, grupo ou COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS
pessoa, suprimir o gozo e exercício dos direitos e liberdades HUMANOS
reconhecidos na Convenção ou limitá-los em maior medida
do que a nela prevista; Seção 1 — Organização
b. limitar o gozo e exercício de qualquer direito ou
liberdade que possam ser reconhecidos de acordo com as Artigo 34
leis de qualquer dos Estados Partes ou de acordo com outra
convenção em que seja parte um dos referidos Estados; A Comissão Interamericana de Direitos Humanos
c. excluir outros direitos e garantias que são inerentes compor-se-á de sete membros, que deverão ser pessoas de
ao ser humano ou que decorrem da forma democrática alta autoridade moral e de reconhecido saber em matéria
representativa de governo; e de direitos humanos.
d. excluir ou limitar o efeito que possam produzir a
Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem e Artigo 35
outros atos internacionais da mesma natureza.
A Comissão representa todos os membros da
Artigo 30. Alcance das restrições Organização dos Estados Americanos.

As restrições permitidas, de acordo com esta Artigo 36


Convenção, ao gozo e exercício dos direitos e liberdades
nela reconhecidos, não podem ser aplicadas senão de 1. Os membros da Comissão serão eleitos a título
acordo com leis que forem promulgadas por motivo de pessoal, pela Assembléia Geral da Organização, de uma
interesse geral e com o propósito para o qual houverem lista de candidatos propostos pelos governos dos Estados
sido estabelecidas. membros.

16
DIREITOS HUMANOS

2. Cada um dos referidos governos pode propor até e. atender às consultas que, por meio da Secretaria-Geral
três candidatos, nacionais do Estado que os propuser ou da Organização dos Estados Americanos, lhe formularem
de qualquer outro Estado membro da Organização dos os Estados membros sobre questões relacionadas com os
Estados Americanos. Quando for proposta uma lista de três direitos humanos e, dentro de suas possibilidades, prestar-
candidatos, pelo menos um deles deverá ser nacional de lhes o assessoramento que eles lhe solicitarem;
Estado diferente do proponente. f. atuar com respeito às petições e outras comunicações,
no exercício de sua autoridade, de conformidade com o
Artigo 37 disposto nos artigos 44 a 51 desta Convenção; e
g. apresentar um relatório anual à Assembleia Geral da
1. Os membros da Comissão serão eleitos por quatro Organização dos Estados Americanos.
anos e só poderão ser reeleitos uma vez, porém o mandato
de três dos membros designados na primeira eleição Artigo 42
expirará ao cabo de dois anos. Logo depois da referida
eleição, serão determinados por sorteio, na Assembleia Os Estados Partes devem remeter à Comissão cópia
Geral, os nomes desses três membros. dos relatórios e estudos que, em seus respectivos campos,
submetem anualmente às Comissões Executivas do
2. Não pode fazer parte da Comissão mais de um Conselho Interamericano Econômico e Social e do Conselho
nacional de um mesmo Estado. Interamericano de Educação, Ciência e Cultura, a fim de que
aquela vele por que se promovam os direitos decorrentes
Artigo 38 das normas econômicas, sociais e sobre educação, ciência
e cultura, constantes da Carta da Organização dos Estados
As vagas que ocorrerem na Comissão, que não se Americanos, reformada pelo Protocolo de Buenos Aires.
devam à expiração normal do mandato, serão preenchidas
pelo Conselho Permanente da Organização, de acordo com Artigo 43
o que dispuser o Estatuto da Comissão.
Os Estados Partes obrigam-se a proporcionar à
Artigo 39 Comissão as informações que esta lhes solicitar sobre a
maneira pela qual o seu direito interno assegura a aplicação
A Comissão elaborará seu estatuto e submetê-lo-á efetiva de quaisquer disposições desta Convenção.
à aprovação da Assembleia Geral e expedirá seu próprio
regulamento. Seção 3 — Competência

Artigo 40 Artigo 44

Os serviços de secretaria da Comissão devem ser Qualquer pessoa ou grupo de pessoas, ou entidade
desempenhados pela unidade funcional especializada que não-governamental legalmente reconhecida em um ou
faz parte da Secretaria-Geral da Organização e devem mais Estados membros da Organização, pode apresentar
dispor dos recursos necessários para cumprir as tarefas que à Comissão petições que contenham denúncias ou queixas
lhe forem confiadas pela Comissão. de violação desta Convenção por um Estado Parte.

Seção 2 — Funções Artigo 45

Artigo 41 1. Todo Estado Parte pode, no momento do depósito


do seu instrumento de ratificação desta Convenção ou de
A Comissão tem a função principal de promover a adesão a ela, ou em qualquer momento posterior, declarar
observância e a defesa dos direitos humanos e, no exercício que reconhece a competência da Comissão para receber
do seu mandato, tem as seguintes funções e atribuições: e examinar as comunicações em que um Estado Parte
a. estimular a consciência dos direitos humanos nos alegue haver outro Estado Parte incorrido em violações dos
povos da América; direitos humanos estabelecidos nesta Convenção.
b. formular recomendações aos governos dos Estados
membros, quando o considerar conveniente, no sentido 2. As comunicações feitas em virtude deste artigo só
de que adotem medidas progressivas em prol dos direitos podem ser admitidas e examinadas se forem apresentadas
humanos no âmbito de suas leis internas e seus preceitos por um Estado Parte que haja feito uma declaração pela
constitucionais, bem como disposições apropriadas para qual reconheça a referida competência da Comissão. A
promover o devido respeito a esses direitos; Comissão não admitirá nenhuma comunicação contra um
c. preparar os estudos ou relatórios que considerar Estado Parte que não haja feito tal declaração.
convenientes para o desempenho de suas funções;
d. solicitar aos governos dos Estados membros que 3. As declarações sobre reconhecimento de competência
lhe proporcionem informações sobre as medidas que podem ser feitas para que esta vigore por tempo indefinido,
adotarem em matéria de direitos humanos; por período determinado ou para casos específicos.

17
DIREITOS HUMANOS

4. As declarações serão depositadas na Secretaria- a. se reconhecer a admissibilidade da petição ou


Geral da Organização dos Estados Americanos, a qual comunicação, solicitará informações ao Governo do Estado
encaminhará cópia das mesmas aos Estados membros da ao qual pertença a autoridade apontada como responsável
referida Organização. pela violação alegada e transcreverá as partes pertinentes
da petição ou comunicação. As referidas informações
Artigo 46 devem ser enviadas dentro de um prazo razoável, fixado
pela Comissão ao considerar as circunstâncias de cada
1. Para que uma petição ou comunicação apresentada caso;
de acordo com os artigos 44 ou 45 seja admitida pela b. recebidas as informações, ou transcorrido o prazo
Comissão, será necessário: fixado sem que sejam elas recebidas, verificará se existem
a. que hajam sido interpostos e esgotados os recursos ou subsistem os motivos da petição ou comunicação. No
da jurisdição interna, de acordo com os princípios de direito caso de não existirem ou não subsistirem, mandará arquivar
internacional geralmente reconhecidos; o expediente;
b. que seja apresentada dentro do prazo de seis meses, c. poderá também declarar a inadmissibilidade ou a
a partir da data em que o presumido prejudicado em seus improcedência da petição ou comunicação, com base em
direitos tenha sido notificado da decisão definitiva; informação ou prova supervenientes;
c. que a matéria da petição ou comunicação não esteja d. se o expediente não houver sido arquivado, e com
pendente de outro processo de solução internacional; e o fim de comprovar os fatos, a Comissão procederá, com
d. que, no caso do artigo 44, a petição contenha o nome, conhecimento das partes, a um exame do assunto exposto
a nacionalidade, a profissão, o domicílio e a assinatura da na petição ou comunicação. Se for necessário e conveniente,
pessoa ou pessoas ou do representante legal da entidade a Comissão procederá a uma investigação para cuja
que submeter a petição. eficaz realização solicitará, e os Estados interessados lhes
proporcionarão todas as facilidades necessárias;
2. As disposições das alíneas a e b do inciso 1 deste e. poderá pedir aos Estados interessados qualquer
artigo não se aplicarão quando: informação pertinente e receberá, se isso lhe for solicitado,
a. não existir, na legislação interna do Estado de que se as exposições verbais ou escritas que apresentarem os
tratar, o devido processo legal para a proteção do direito interessados; e
ou direitos que se alegue tenham sido violados; f. pôr-se-á à disposição das partes interessadas, a fim
b. não se houver permitido ao presumido prejudicado de chegar a uma solução amistosa do assunto, fundada
em seus direitos o acesso aos recursos da jurisdição interna, no respeito aos direitos humanos reconhecidos nesta
ou houver sido ele impedido de esgotá-los; e Convenção.
c. houver demora injustificada na decisão sobre os
mencionados recursos. 2. Entretanto, em casos graves e urgentes, pode ser
realizada uma investigação, mediante prévio consentimento
Artigo 47 do Estado em cujo território se alegue haver sido cometida
a violação, tão somente com a apresentação de uma
A Comissão declarará inadmissível toda petição ou petição ou comunicação que reúna todos os requisitos
comunicação apresentada de acordo com os artigos 44 ou formais de admissibilidade.
45 quando:
a. não preencher algum dos requisitos estabelecidos Artigo 49
no artigo 46;
b. não expuser fatos que caracterizem Se se houver chegado a uma solução amistosa de
violação dos direitos garantidos por esta acordo com as disposições do inciso 1, f, do artigo 48, a
Convenção; Comissão redigirá um relatório que será encaminhado
c. pela exposição do próprio peticionário ou do Estado, ao peticionário e aos Estados Partes nesta Convenção
for manifestamente infundada a petição ou comunicação e, posteriormente, transmitido, para sua publicação, ao
ou for evidente sua total improcedência; ou Secretário-Geral da Organização dos Estados Americanos.
d. for substancialmente reprodução de petição ou O referido relatório conterá uma breve exposição dos fatos
comunicação anterior, já examinada pela Comissão ou por e da solução alcançada. Se qualquer das partes no caso o
outro organismo internacional. solicitar, ser-lhe-á proporcionada a mais ampla informação
possível.
Seção 4 — Processo
Artigo 50
Artigo 48
1. Se não se chegar a uma solução, e dentro do prazo
1. A Comissão, ao receber uma petição ou comunicação que for fixado pelo Estatuto da Comissão, esta redigirá um
na qual se alegue violação de qualquer dos direitos relatório no qual exporá os fatos e suas conclusões. Se o
consagrados nesta Convenção, procederá da seguinte relatório não representar, no todo ou em parte, o acordo
maneira: unânime dos membros da Comissão, qualquer deles

18
DIREITOS HUMANOS

poderá agregar ao referido relatório seu voto em separado. Estados Americanos. Quando se propuser uma lista de três
Também se agregarão ao relatório as exposições verbais ou candidatos, pelo menos um deles deverá ser nacional de
escritas que houverem sido feitas pelos interessados em Estado diferente do proponente.
virtude do inciso 1, e, do artigo 48.
Artigo 54
2. O relatório será encaminhado aos Estados
interessados, aos quais não será facultado publicá-lo. 1. Os juízes da Corte serão eleitos por um período de
seis anos e só poderão ser reeleitos uma vez. O mandato
3. Ao encaminhar o relatório, a Comissão pode formular de três dos juízes designados na primeira eleição expirará
as proposições e recomendações que julgar adequadas. ao cabo de três anos. Imediatamente depois da referida
eleição, determinar-se-ão por sorteio, na Assembleia Geral,
Artigo 51 os nomes desses três juízes.

1. Se no prazo de três meses, a partir da remessa aos 2. O juiz eleito para substituir outro cujo mandato não
Estados interessados do relatório da Comissão, o assunto haja expirado, completará o período deste.
não houver sido solucionado ou submetido à decisão da
Corte pela Comissão ou pelo Estado interessado, aceitando 3. Os juízes permanecerão em funções até o término
sua competência, a Comissão poderá emitir, pelo voto dos seus mandatos. Entretanto, continuarão funcionando
da maioria absoluta dos seus membros, sua opinião e nos casos de que já houverem tomado conhecimento e
conclusões sobre a questão submetida à sua consideração. que se encontrem em fase de sentença e, para tais efeitos,
não serão substituídos pelos novos juízes eleitos.
2. A Comissão fará as recomendações pertinentes e
fixará um prazo dentro do qual o Estado deve tomar as Artigo 55
medidas que lhe competirem para remediar a situação
examinada. 1. O juiz que for nacional de algum dos Estados Partes
no caso submetido à Corte, conservará o seu direito de
conhecer do mesmo.
3. Transcorrido o prazo fixado, a Comissão decidirá,
pelo voto da maioria absoluta dos seus membros, se o
2. Se um dos juízes chamados a conhecer do caso for
Estado tomou ou não medidas adequadas e se publica ou
de nacionalidade de um dos Estados Partes, outro Estado
não seu relatório.
Parte no caso poderá designar uma pessoa de sua escolha
para fazer parte da Corte na qualidade de juiz ad hoc.
CAPÍTULO VIII
CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS 3. Se, dentre os juízes chamados a conhecer do caso,
nenhum for da nacionalidade dos Estados Partes, cada um
Seção 1 — Organização destes poderá designar um juiz ad hoc.
Artigo 52 4. O juiz ad hoc deve reunir os requisitos indicados no
artigo 52.
1. A Corte compor-se-á de sete juízes, nacionais
dos Estados membros da Organização, eleitos a título 5. Se vários Estados Partes na Convenção tiverem o
pessoal dentre juristas da mais alta autoridade moral, de mesmo interesse no caso, serão considerados como uma
reconhecida competência em matéria de direitos humanos, só Parte, para os fins das disposições anteriores. Em caso
que reúnam as condições requeridas para o exercício de dúvida, a Corte decidirá.
das mais elevadas funções judiciais, de acordo com a lei
do Estado do qual sejam nacionais, ou do Estado que os Artigo 56
propuser como candidatos.
O quorum para as deliberações da Corte é constituído
2. Não deve haver dois juízes da mesma nacionalidade. por cinco juízes.

Artigo 53 Artigo 57

1. Os juízes da Corte serão eleitos, em votação secreta A Comissão comparecerá em todos os casos perante
e pelo voto da maioria absoluta dos Estados Partes na a Corte.
Convenção, na Assembleia Geral da Organização, de uma
lista de candidatos propostos pelos mesmos Estados. Artigo 58

2. Cada um dos Estados Partes pode propor até 1. A Corte terá sua sede no lugar que for determinado,
três candidatos, nacionais do Estado que os propuser ou na Assembleia Geral da Organização, pelos Estados Partes
de qualquer outro Estado membro da Organização dos na Convenção, mas poderá realizar reuniões no território

19
DIREITOS HUMANOS

de qualquer Estado membro da Organização dos Estados Estados Partes no caso tenham reconhecido ou reconheçam
Americanos em que o considerar conveniente pela maioria a referida competência, seja por declaração especial, como
dos seus membros e mediante prévia aquiescência do preveem os incisos anteriores, seja por convenção especial.
Estado respectivo. Os Estados Partes na Convenção podem,
na Assembleia Geral, por dois terços dos seus votos, mudar Artigo 63
a sede da Corte.
1. Quando decidir que houve violação de um direito ou
2. A Corte designará seu Secretário. liberdade protegidos nesta Convenção, a Corte determinará
que se assegure ao prejudicado o gozo do seu direito
3. O Secretário residirá na sede da Corte e deverá ou liberdade violados. Determinará também, se isso for
assistir às reuniões que ela realizar fora da mesma. procedente, que sejam reparadas as consequências da medida
ou situação que haja configurado a violação desses direitos,
Artigo 59 bem como o pagamento de indenização justa à parte lesada.

2. Em casos de extrema gravidade e urgência, e quando


A Secretaria da Corte será por esta estabelecida e
se fizer necessário evitar danos irreparáveis às pessoas, a
funcionará sob a direção do Secretário da Corte, de acordo
Corte, nos assuntos de que estiver conhecendo, poderá
com as normas administrativas da Secretaria-Geral da
tomar as medidas provisórias que considerar pertinentes. Se
Organização em tudo o que não for incompatível com a se tratar de assuntos que ainda não estiverem submetidos
independência da Corte. Seus funcionários serão nomeados ao seu conhecimento, poderá atuar a pedido da Comissão.
pelo Secretário-Geral da Organização, em consulta com o
Secretário da Corte. Artigo 64

Artigo 60 1. Os Estados membros da Organização poderão


consultar a Corte sobre a interpretação desta Convenção
A Corte elaborará seu estatuto e submetê-lo-á à ou de outros tratados concernentes à proteção dos direitos
aprovação da Assembleia Geral e expedirá seu regimento. humanos nos Estados americanos. Também poderão
consultá-la, no que lhes compete, os órgãos enumerados
Seção 2 — Competência e funções no capítulo X da Carta da Organização dos Estados
Americanos, reformada pelo Protocolo de Buenos Aires.
Artigo 61 2. A Corte, a pedido de um Estado membro
da Organização, poderá emitir pareceres sobre a
1. Somente os Estados Partes e a Comissão têm direito compatibilidade entre qualquer de suas leis internas e os
de submeter caso à decisão da Corte. mencionados instrumentos internacionais.

2. Para que a Corte possa conhecer de qualquer caso, Artigo 65


é necessário que sejam esgotados os processos previstos
nos artigos 48 a 50. A Corte submeterá à consideração da Assembléia Geral da
Organização, em cada período ordinário de sessões, um relatório
Artigo 62 sobre suas atividades no ano anterior. De maneira especial, e
com as recomendações pertinentes, indicará os casos em que
1. Todo Estado Parte pode, no momento do depósito um Estado não tenha dado cumprimento a suas sentenças.
do seu instrumento de ratificação desta Convenção ou de
adesão a ela, ou em qualquer momento posterior, declarar Seção 3 — Procedimento
que reconhece como obrigatória, de pleno direito e sem
Artigo 66
convenção especial, a competência da Corte em todos
os casos relativos à interpretação ou aplicação desta
1. A sentença da Corte deve ser fundamentada.
Convenção.
2. Se a sentença não expressar no todo ou em parte a
2. A declaração pode ser feita incondicionalmente, ou opinião unânime dos juízes, qualquer deles terá direito a que
sob condição de reciprocidade, por prazo determinado se agregue à sentença o seu voto dissidente ou individual.
ou para casos específicos. Deverá ser apresentada ao
Secretário-Geral da Organização, que encaminhará cópias Artigo 67
da mesma aos outros Estados membros da Organização e
ao Secretário da Corte. A sentença da Corte será definitiva e inapelável. Em
caso de divergência sobre o sentido ou alcance da sentença,
3. A Corte tem competência para conhecer de qualquer a Corte interpretá-la-á, a pedido de qualquer das partes,
caso relativo à interpretação e aplicação das disposições desde que o pedido seja apresentado dentro de noventa
desta Convenção que lhe seja submetido, desde que os dias a partir da data da notificação da sentença.

20
DIREITOS HUMANOS

Artigo 68 Comissão ou aos juízes da Corte que incorrerem nos


casos previstos nos respectivos estatutos. Para expedir
1. Os Estados Partes na Convenção comprometem-se uma resolução, será necessária maioria de dois terços dos
a cumprir a decisão da Corte em todo caso em que forem votos dos Estados Membros da Organização, no caso dos
partes. membros da Comissão; e, além disso, de dois terços dos
votos dos Estados Partes na Convenção, se se tratar dos
2. A parte da sentença que determinar indenização juízes da Corte.
compensatória poderá ser executada no país respectivo
pelo processo interno vigente para a execução de sentenças PARTE III
contra o Estado. DISPOSIÇÕES GERAIS E TRANSITÓRIAS

Artigo 69 CAPÍTULO X
ASSINATURA, RATIFICAÇÃO, RESERVA, EMENDA,
A sentença da Corte deve ser notificada às partes no PROTOCOLO E DENÚNCIA
caso e transmitida aos Estados Partes na Convenção.
Artigo 74
CAPÍTULO IV
DISPOSIÇÕES COMUNS 1. Esta Convenção fica aberta à assinatura e à ratificação
ou adesão de todos os Estados membros da Organização
Artigo 70 dos Estados Americanos.
1. Os juízes da Corte e os membros da Comissão 2. A ratificação desta Convenção ou a adesão a ela
gozam, desde o momento de sua eleição e enquanto efetuar-se-á mediante depósito de um instrumento de
durar o seu mandato, das imunidades reconhecidas aos ratificação ou de adesão na Secretaria-Geral da Organização
agentes diplomáticos pelo Direito Internacional. Durante dos Estados Americanos. Esta Convenção entrará em vigor
o exercício dos seus cargos gozam, além disso, dos logo que onze Estados houverem depositado os seus
privilégios diplomáticos necessários para o desempenho respectivos instrumentos de ratificação ou de adesão. Com
de suas funções. referência a qualquer outro Estado que a ratificar ou que a
ela aderir ulteriormente, a Convenção entrará em vigor na
2. Não se poderá exigir responsabilidade em tempo
data do depósito do seu instrumento de ratificação ou de
algum dos juízes da Corte, nem dos membros da Comissão,
adesão.
por votos e opiniões emitidos no exercício de suas funções.
3. O Secretário-Geral informará todos os Estados
Artigo 71
membros da Organização sobre a entrada em vigor da
Convenção.
Os cargos de juiz da Corte ou de membro da Comissão
são incompatíveis com outras atividades que possam afetar
sua independência ou imparcialidade conforme o que for Artigo 75
determinado nos respectivos estatutos.
Esta Convenção só pode ser objeto de reservas em
Artigo 72 conformidade com as disposições da Convenção de Viena
sobre o Direito dos Tratados, assinada em 23 de maio de
Os juízes da Corte e os membros da Comissão 1969.
perceberão honorários e despesas de viagem na forma
e nas condições que determinarem os seus estatutos, Artigo 76
levando em conta a importância e independência de
suas funções. Tais honorários e despesas de viagem serão 1. Qualquer Estado Parte, diretamente, e a Comissão
fixados no orçamento-programa da Organização dos ou a Corte, por intermédio do Secretário-Geral, podem
Estados Americanos, no qual devem ser incluídas, além submeter à Assembleia Geral, para o que julgarem
disso, as despesas da Corte e da sua Secretaria. Para conveniente, proposta de emenda a esta Convenção.
tais efeitos, a Corte elaborará o seu próprio projeto de
orçamento e submetê-lo-á à aprovação da Assembleia 2. As emendas entrarão em vigor para os Estados
Geral, por intermédio da Secretaria-Geral. Esta última não que ratificarem as mesmas na data em que houver sido
poderá nele introduzir modificações. depositado o respectivo instrumento de ratificação que
corresponda ao número de dois terços dos Estados Partes
Artigo 73 nesta Convenção. Quanto aos outros Estados Partes,
entrarão em vigor na data em que depositarem eles os
Somente por solicitação da Comissão ou da Corte, seus respectivos instrumentos de ratificação.
conforme o caso, cabe à Assembleia Geral da Organização
resolver sobre as sanções aplicáveis aos membros da

21
DIREITOS HUMANOS

Artigo 77 Seção 2 — Corte Interamericana de Direitos


Humanos
1. De acordo com a faculdade estabelecida no artigo
31, qualquer Estado Parte e a Comissão podem submeter Artigo 81
à consideração dos Estados Partes reunidos por ocasião da
Assembleia Geral, projetos de protocolos adicionais a esta Ao entrar em vigor esta Convenção, o Secretário-Geral
Convenção, com a finalidade de incluir progressivamente solicitará por escrito a cada Estado Parte que apresente,
no regime de proteção da mesma outros direitos e dentro de um prazo de noventa dias, seus candidatos a
liberdades. juiz da Corte Interamericana de Direitos Humanos. O
Secretário-Geral preparará uma lista por ordem alfabética
2. Cada protocolo deve estabelecer as modalidades dos candidatos apresentados e a encaminhará aos Estados
de sua entrada em vigor e será aplicado somente entre os Partes pelo menos trinta dias antes da Assembleia Geral
Estados Partes no mesmo. seguinte.

Artigo 78 Artigo 82

1. Os Estados Partes poderão denunciar esta A eleição dos juízes da Corte far-se-á dentre os
Convenção depois de expirado um prazo de cinco anos, a candidatos que figurem na lista a que se refere o artigo
partir da data da entrada em vigor da mesma e mediante 81, por votação secreta dos Estados Partes, na Assembleia
aviso prévio de um ano, notificando o Secretário-Geral da Geral, e serão declarados eleitos os candidatos que
Organização, o qual deve informar as outras Partes. obtiverem maior número de votos e a maioria absoluta dos
votos dos representantes do Estados Partes. Se, para eleger
2. Tal denúncia não terá o efeito de desligar o Estado todos os juízes da Corte, for necessário realizar várias
Parte interessado das obrigações contidas nesta Convenção, votações, serão eliminados sucessivamente, na forma que
no que diz respeito a qualquer ato que, podendo constituir for determinada pelos Estados Partes, os candidatos que
violação dessas obrigações, houver sido cometido por ele receberem menor número de votos.
anteriormente à data na qual a denúncia produzir efeito.
DECRETO No 678, DE 6 DE NOVEMBRO DE 1992
CAPÍTULO XI
DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS Promulga a Convenção Americana sobre Direitos
Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), de 22 de
Seção 1 — Comissão Interamericana de Direitos novembro de 1969
Humanos
O VICE-PRESIDENTE DA REPÚBLICA , no exercício do
Artigo 79 cargo de PRESIDENTE DA REPÚBLICA , no uso da atribuição
que lhe confere o art. 84, inciso VIII, da Constituição, e 
Ao entrar em vigor esta Convenção, o Secretário-Geral Considerando que a Convenção Americana sobre Direitos
pedirá por escrito a cada Estado membro da Organização Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), adotada no
que apresente, dentro de um prazo de noventa dias, seus âmbito da Organização dos Estados Americanos, em São
candidatos a membro da Comissão Interamericana de José da Costa Rica, em 22 de novembro de 1969, entrou
Direitos Humanos. O Secretário-Geral preparará uma lista em vigor internacional em 18 de julho de 1978, na forma
por ordem alfabética dos candidatos apresentados e a do segundo parágrafo de seu art. 74;
encaminhará aos Estados membros da Organização pelo Considerando que o Governo brasileiro depositou a
menos trinta dias antes da Assembleia Geral seguinte. carta de adesão a essa convenção em 25 de setembro de
1992;  Considerando que a Convenção Americana sobre
Artigo 80 Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica) entrou
em vigor, para o Brasil, em 25 de setembro de 1992 , de
A eleição dos membros da Comissão far-se-á dentre os conformidade com o disposto no segundo parágrafo de
candidatos que figurem na lista a que se refere o artigo 79, seu art. 74;
por votação secreta da Assembleia Geral, e serão declarados
eleitos os candidatos que obtiverem maior número de DECRETA:
votos e a maioria absoluta dos votos dos representantes
dos Estados membros. Se, para eleger todos os membros Art. 1° A Convenção Americana sobre Direitos Humanos
da Comissão, for necessário realizar várias votações, serão (Pacto de São José da Costa Rica), celebrada em São José da
eliminados sucessivamente, na forma que for determinada Costa Rica, em 22 de novembro de 1969, apensa por cópia
pela Assembleia Geral, os candidatos que receberem ao presente decreto, deverá ser cumprida tão inteiramente
menor número de votos. como nela se contém.

22
DIREITOS HUMANOS

Art. 2° Ao depositar a carta de adesão a esse ato Neste sentido, Thomas Hobbes35, na obra Leviatã,
internacional, em 25 de setembro de 1992, o Governo defende que quando os homens abrem mão do estado
brasileiro fez a seguinte declaração interpretativa: “O natural, deixa de predominar a lei do mais forte, mas
Governo do Brasil entende que os arts. 43 e 48, alínea d , para a consolidação deste tipo de sociedade é necessária
não incluem o direito automático de visitas e inspeções in a presença de uma autoridade à qual todos os membros
loco da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, devem render o suficiente da sua liberdade natural,
as quais dependerão da anuência expressa do Estado». permitindo que esta autoridade possa assegurar a paz
interna e a defesa comum. Este soberano, que à época
Art. 3° O presente decreto entra em vigor na data de da escrita da obra de Hobbes se consolidava no monarca,
sua publicação. deveria ser o Leviatã, uma autoridade inquestionável.
No mesmo direcionamento se encontra a obra de
Brasília, 6 de novembro de 1992; 171° da Maquiavel36, que rejeitou a concepção de um soberano que
deveria ser justo e ético para com o seu povo, desde que
Independência e 104° da República.
sempre tivesse em vista a finalidade primordial de manter
ITAMAR FRANCO 
o Estado íntegro: “na conduta dos homens, especialmente
Fernando Henrique Cardoso
dos príncipes, contra a qual não há recurso, os fins justificam
os meios. Portanto, se um príncipe pretende conquistar e
manter o poder, os meios que empregue serão sempre
3. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA tidos como honrosos, e elogiados por todos, pois o vulgo
atenta sempre para as aparências e os resultados”.
FEDERATIVA DO BRASIL: ART. 1º, 3º AO 17,
A concepção de soberania inerente ao monarca se
197 AO 232. quebrou numa fase posterior, notadamente com a ascensão
do ideário iluminista. Com efeito, passou-se a enxergar a
soberania como um poder que repousa no povo. Logo, a
autoridade absoluta da qual emana o poder é o povo e a
1) Fundamentos da República legitimidade do exercício do poder no Estado emana deste
O título I da Constituição Federal trata dos princípios povo.
fundamentais do Estado brasileiro e começa, em seu Com efeito, no Estado Democrático se garante a
artigo 1º, trabalhando com os fundamentos da República soberania popular, que pode ser conceituada como “a
Federativa brasileira, ou seja, com as bases estruturantes qualidade máxima do poder extraída da soma dos atributos
do Estado nacional. de cada membro da sociedade estatal, encarregado de
Neste sentido, disciplina: escolher os seus representantes no governo por meio do
sufrágio universal e do voto direto, secreto e igualitário”37.
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela Neste sentido, liga-se diretamente ao parágrafo único
união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito do artigo 1º, CF, que prevê que “todo o poder emana do
Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou
tem como fundamentos: diretamente, nos termos desta Constituição”. O povo é
I - a soberania; soberano em suas decisões e as autoridades eleitas que
II - a cidadania; decidem em nome dele, representando-o, devem estar
III - a dignidade da pessoa humana; devidamente legitimadas para tanto, o que acontece pelo
exercício do sufrágio universal.
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
Por seu turno, a soberania nacional é princípio geral
V - o pluralismo político.
da atividade econômica (artigo 170, I, CF), restando
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o
demonstrado que não somente é guia da atuação política
exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente,
do Estado, mas também de sua atuação econômica. Neste
nos termos desta Constituição. sentido, deve-se preservar e incentivar a indústria e a
economia nacionais.
Vale estudar o significado e a abrangência de cada
qual destes fundamentos. 1.2) Cidadania
Quando se afirma no caput do artigo 1º que a República
1.1) Soberania Federativa do Brasil é um Estado Democrático de Direito,
Soberania significa o poder supremo que cada nação remete-se à ideia de que o Brasil adota a democracia como
possui de se autogovernar e se autodeterminar. Este regime político.
conceito surgiu no Estado Moderno, com a ascensão do 35 MALMESBURY, Thomas Hobbes de. Leviatã. Tradução
absolutismo, colocando o reina posição de soberano. de João Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza da Silva. [s.c]:
Sendo assim, poderia governar como bem entendesse, [s.n.], 1861.
pois seu poder era exclusivo, inabalável, ilimitado, 36 MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe. Tradução Pietro Nas-
atemporal e divino, ou seja, absoluto. setti. São Paulo: Martin Claret, 2007, p. 111.
37 BULOS, Uadi Lammêngo. Constituição federal anotada.
São Paulo: Saraiva, 2000.

23
DIREITOS HUMANOS

Historicamente, nota-se que por volta de 800 a.C. as crença que se professe quanto à sua origem. A dignidade
comunidades de aldeias começaram a ceder lugar para relaciona-se tanto com a liberdade e valores do espírito
unidades políticas maiores, surgindo as chamadas cidades- como com as condições materiais de subsistência”.
estado ou polis, como Tebas, Esparta e Atenas. Inicialmente O Ministro Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira, do
eram monarquias, transformaram-se em oligarquias e, por Tribunal Superior do Trabalho, trouxe interessante conceito
volta dos séculos V e VI a.C., tornaram-se democracias. Com numa das decisões que relatou: “a dignidade consiste
efeito, as origens da chamada democracia se encontram na percepção intrínseca de cada ser humano a respeito
na Grécia antiga, sendo permitida a participação direta dos direitos e obrigações, de modo a assegurar, sob o
daqueles poucos que eram considerados cidadãos, por foco de condições existenciais mínimas, a participação
meio da discussão na polis. saudável e ativa nos destinos escolhidos, sem que isso
Democracia (do grego, demo+kratos) é um regime importe destilação dos valores soberanos da democracia
político em que o poder de tomar decisões políticas está e das liberdades individuais. O processo de valorização
com os cidadãos, de forma direta (quando um cidadão do indivíduo articula a promoção de escolhas, posturas
se reúne com os demais e, juntos, eles tomam a decisão e sonhos, sem olvidar que o espectro de abrangência
política) ou indireta (quando ao cidadão é dado o poder de das liberdades individuais encontra limitação em outros
eleger um representante). direitos fundamentais, tais como a honra, a vida privada,
Portanto, o conceito de democracia está diretamente a intimidade, a imagem. Sobreleva registrar que essas
ligado ao de cidadania, notadamente porque apenas garantias, associadas ao princípio da dignidade da pessoa
quem possui cidadania está apto a participar das decisões humana, subsistem como conquista da humanidade, razão
políticas a serem tomadas pelo Estado. pela qual auferiram proteção especial consistente em
Cidadão é o nacional, isto é, aquele que possui o indenização por dano moral decorrente de sua violação”39.
vínculo político-jurídico da nacionalidade com o Estado, Para Reale40, a evolução histórica demonstra o domínio
que goza de direitos políticos, ou seja, que pode votar e de um valor sobre o outro, ou seja, a existência de uma
ser votado (sufrágio universal). ordem gradativa entre os valores; mas existem os valores
Destacam-se os seguintes conceitos correlatos: fundamentais e os secundários, sendo que o valor fonte
a) Nacionalidade: é o vínculo jurídico-político que liga é o da pessoa humana. Nesse sentido, são os dizeres de
um indivíduo a determinado Estado, fazendo com que ele Reale41: “partimos dessa ideia, a nosso ver básica, de que
passe a integrar o povo daquele Estado, desfrutando assim a pessoa humana é o valor-fonte de todos os valores.
de direitos e obrigações. O homem, como ser natural biopsíquico, é apenas um
b) Povo: conjunto de pessoas que compõem o Estado, indivíduo entre outros indivíduos, um ente animal entre
unidas pelo vínculo da nacionalidade. os demais da mesma espécie. O homem, considerado na
c) População: conjunto de pessoas residentes no sua objetividade espiritual, enquanto ser que só realiza
Estado, nacionais ou não. no sentido de seu dever ser, é o que chamamos de
Depreende-se que a cidadania é um atributo conferido pessoa. Só o homem possui a dignidade originária de ser
aos nacionais titulares de direitos políticos, permitindo a enquanto deve ser, pondo-se essencialmente como razão
consolidação do sistema democrático. determinante do processo histórico”.
Quando a Constituição Federal assegura a dignidade
1.3) Dignidade da pessoa humana da pessoa humana como um dos fundamentos da
A dignidade da pessoa humana é o valor-base de República, faz emergir uma nova concepção de proteção
interpretação de qualquer sistema jurídico, internacional de cada membro do seu povo. Tal ideologia de forte
ou nacional, que possa se considerar compatível com fulcro humanista guia a afirmação de todos os direitos
os valores éticos, notadamente da moral, da justiça e da fundamentais e confere a eles posição hierárquica superior
democracia. Pensar em dignidade da pessoa humana às normas organizacionais do Estado, de modo que é o
significa, acima de tudo, colocar a pessoa humana como Estado que está para o povo, devendo garantir a dignidade
centro e norte para qualquer processo de interpretação de seus membros, e não o inverso.
jurídico, seja na elaboração da norma, seja na sua aplicação.
Sem pretender estabelecer uma definição fechada ou 1.4) Valores sociais do trabalho e da livre iniciativa
plena, é possível conceituar dignidade da pessoa humana Quando o constituinte coloca os valores sociais do
como o principal valor do ordenamento ético e, por trabalho em paridade com a livre iniciativa fica clara
consequência, jurídico que pretende colocar a pessoa a percepção de necessário equilíbrio entre estas duas
humana como um sujeito pleno de direitos e obrigações concepções. De um lado, é necessário garantir direitos
na ordem internacional e nacional, cujo desrespeito 39 BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Recurso de Re-
acarreta a própria exclusão de sua personalidade. vista n. 259300-59.2007.5.02.0202. Relator: Alberto Luiz
Aponta Barroso38: “o princípio da dignidade da pessoa Bresciani de Fontan Pereira. Brasília, 05 de setembro de
humana identifica um espaço de integridade moral a 2012j1. Disponível em: www.tst.gov.br. Acesso em: 17 nov.
ser assegurado a todas as pessoas por sua só existência 2012.
no mundo. É um respeito à criação, independente da 40 REALE, Miguel. Filosofia do direito. 19. ed. São Paulo:
38 BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e aplicação da Saraiva, 2002, p. 228.
Constituição. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 382. 41 Ibid., p. 220.

24
DIREITOS HUMANOS

aos trabalhadores, notadamente consolidados nos direitos possam se fazer ouvir mediante a liberdade de expressão,
sociais enumerados no artigo 7º da Constituição; por outro manifestação e opinião, bem como possam exigir do
lado, estes direitos não devem ser óbice ao exercício da livre Estado substrato para se fazerem subsistir na sociedade.
iniciativa, mas sim vetores que reforcem o exercício desta Pluralismo político vai além do pluripartidarismo ou
liberdade dentro dos limites da justiça social, evitando o multipartidarismo, que é apenas uma de suas consequências
predomínio do mais forte sobre o mais fraco. e garante que mesmo os partidos menores e com poucos
Por livre iniciativa entenda-se a liberdade de iniciar representantes sejam ouvidos na tomada de decisões
a exploração de atividades econômicas no território políticas, porque abrange uma verdadeira concepção de
brasileiro, coibindo-se práticas de truste (ex.: monopólio). multiculturalidade no âmbito interno.
O constituinte não tem a intenção de impedir a livre
iniciativa, até mesmo porque o Estado nacional necessita 2) Separação dos Poderes
dela para crescer economicamente e adequar sua estrutura A separação de Poderes é inerente ao modelo do Estado
ao atendimento crescente das necessidades de todos os Democrático de Direito, impedindo a monopolização do
que nele vivem. Sem crescimento econômico, nem ao poder e, por conseguinte, a tirania e a opressão. Resta
menos é possível garantir os direitos econômicos, sociais e garantida no artigo 2º da Constituição Federal com o
culturais afirmados na Constituição Federal como direitos seguinte teor:
fundamentais.
No entanto, a exploração da livre iniciativa deve se dar Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos
de maneira racional, tendo em vista os direitos inerentes entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.
aos trabalhadores, no que se consolida a expressão “valores
sociais do trabalho”. A pessoa que trabalha para aquele que 3) Objetivos fundamentais
explora a livre iniciativa deve ter a sua dignidade respeitada O constituinte trabalha no artigo 3º da Constituição
em todas as suas dimensões, não somente no que tange Federal com os objetivos da República Federativa do Brasil,
aos direitos sociais, mas em relação a todos os direitos nos seguintes termos:
fundamentais afirmados pelo constituinte.
A questão resta melhor delimitada no título VI do texto Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República
constitucional, que aborda a ordem econômica e financeira: Federativa do Brasil:
“Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim II - garantir o desenvolvimento nacional; 
assegurar a todos existência digna, conforme os ditames III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as
da justiça social, observados os seguintes princípios [...]”. desigualdades sociais e regionais;
Nota-se no caput a repetição do fundamento republicano IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de
dos valores sociais do trabalho e da livre iniciativa. origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de
Por sua vez, são princípios instrumentais para a discriminação.
efetivação deste fundamento, conforme previsão do artigo
1º e do artigo 170, ambos da Constituição, o princípio da 3.1) Construir uma sociedade livre, justa e solidária
livre concorrência (artigo 170, IV, CF), o princípio da busca O inciso I do artigo 3º merece destaque ao trazer a
do pleno emprego (artigo 170, VIII, CF) e o princípio do expressão “livre, justa e solidária”, que corresponde à tríade
tratamento favorecido para as empresas de pequeno liberdade, igualdade e fraternidade. Esta tríade consolida as
porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua três dimensões de direitos humanos: a primeira dimensão,
sede e administração no País (artigo 170, IX, CF). Ainda, voltada à pessoa como indivíduo, refere-se aos direitos
assegurando a livre iniciativa no exercício de atividades civis e políticos; a segunda dimensão, focada na promoção
econômicas, o parágrafo único do artigo 170 prevê: “é da igualdade material, remete aos direitos econômicos,
assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade sociais e culturais; e a terceira dimensão se concentra numa
econômica, independentemente de autorização de órgãos perspectiva difusa e coletiva dos direitos fundamentais.
públicos, salvo nos casos previstos em lei”. Sendo assim, a República brasileira pretende garantir
a preservação de direitos fundamentais inatos à pessoa
1.5) Pluralismo político humana em todas as suas dimensões, indissociáveis e
A expressão pluralismo remete ao reconhecimento interconectadas. Daí o texto constitucional guardar espaço
da multiplicidade de ideologias culturais, religiosas, de destaque para cada uma destas perspectivas.
econômicas e sociais no âmbito de uma nação. Quando
se fala em pluralismo político, afirma-se que mais do 3.2) Garantir o desenvolvimento nacional
que incorporar esta multiplicidade de ideologias cabe Para que o governo possa prover todas as condições
ao Estado nacional fornecer espaço para a manifestação necessárias à implementação de todos os direitos
política delas. fundamentais da pessoa humana mostra-se essencial que
Sendo assim, pluralismo político significa não só o país se desenvolva, cresça economicamente, de modo
respeitar a multiplicidade de opiniões e ideias, mas acima que cada indivíduo passe a ter condições de perseguir suas
de tudo garantir a existência dela, permitindo que os vários metas.
grupos que compõem os mais diversos setores sociais

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DIREITOS HUMANOS

3.3) Erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir IX - cooperação entre os povos para o progresso da
as desigualdades sociais e regionais humanidade;
Garantir o desenvolvimento econômico não basta X - concessão de asilo político.
para a construção de uma sociedade justa e solidária. É Parágrafo único. A República Federativa do Brasil
necessário ir além e nunca perder de vista a perspectiva da buscará a integração econômica, política, social e cultural
igualdade material. Logo, a injeção econômica deve permitir dos povos da América Latina, visando à formação de uma
o investimento nos setores menos favorecidos, diminuindo comunidade latino-americana de nações.
as desigualdades sociais e regionais e paulatinamente
erradicando a pobreza. De maneira geral, percebe-se na Constituição Federal
O impacto econômico deste objetivo fundamental é a compreensão de que a soberania do Estado nacional
tão relevante que o artigo 170 da Constituição prevê em brasileiro não permite a sobreposição em relação à
seu inciso VII a “redução das desigualdades regionais e soberania dos demais Estados, bem como de que é
sociais” como um princípio que deve reger a atividade necessário respeitar determinadas práticas inerentes ao
econômica. A menção deste princípio implica em afirmar direito internacional dos direitos humanos.
que as políticas públicas econômico-financeiras deverão se
guiar pela busca da redução das desigualdades, fornecendo 4.1) Independência nacional
incentivos específicos para a exploração da atividade A formação de uma comunidade internacional não
econômica em zonas economicamente marginalizadas. significa a eliminação da soberania dos países, mas apenas
uma relativização, limitando as atitudes por ele tomadas
3.4) Promover o bem de todos, sem preconceitos de em prol da preservação do bem comum e da paz mundial.
origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas Na verdade, o próprio compromisso de respeito aos
de discriminação direitos humanos traduz a limitação das ações estatais,
Ainda no ideário de justiça social, coloca-se o princípio que sempre devem se guiar por eles. Logo, o Brasil é um
da igualdade como objetivo a ser alcançado pela República país independente, que não responde a nenhum outro,
brasileira. Sendo assim, a república deve promover o mas que como qualquer outro possui um dever para com
princípio da igualdade e consolidar o bem comum. a humanidade e os direitos inatos a cada um de seus
Em verdade, a promoção do bem comum pressupõe a membros.
prevalência do princípio da igualdade.
Sobre o bem de todos, isto é, o bem comum, o filósofo 4.2) Prevalência dos direitos humanos
Jacques Maritain42 ressaltou que o fim da sociedade O Estado existe para o homem e não o inverso.
é o seu bem comum, mas esse bem comum é o das Portanto, toda normativa existe para a sua proteção como
pessoas humanas, que compõem a sociedade. Com base pessoa humana e o Estado tem o dever de servir a este fim
neste ideário, apontou as características essenciais do de preservação. A única forma de fazer isso é adotando a
bem comum: redistribuição, pela qual o bem comum pessoa humana como valor-fonte de todo o ordenamento,
deve ser redistribuído às pessoas e colaborar para o o que somente é possível com a compreensão de que os
desenvolvimento delas; respeito à autoridade na sociedade, direitos humanos possuem uma posição prioritária no
pois a autoridade é necessária para conduzir a comunidade ordenamento jurídico-constitucional.
de pessoas humanas para o bem comum; moralidade, que Conceituar direitos humanos é uma tarefa complicada,
constitui a retidão de vida, sendo a justiça e a retidão moral mas, em síntese, pode-se afirmar que direitos humanos são
elementos essenciais do bem comum. aqueles inerentes ao homem enquanto condição para sua
dignidade que usualmente são descritos em documentos
4) Princípios de relações internacionais (artigo 4º) internacionais para que sejam mais seguramente
O último artigo do título I trabalha com os princípios garantidos. A conquista de direitos da pessoa humana é,
que regem as relações internacionais da República na verdade, uma busca da dignidade da pessoa humana.
brasileira:
4.3) Autodeterminação dos povos
Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas A premissa dos direitos políticos é a autodeterminação
relações internacionais pelos seguintes princípios:  dos povos. Neste sentido, embora cada Estado tenha
I - independência nacional; obrigações de direito internacional que deve respeitar
II - prevalência dos direitos humanos; para a adequada consecução dos fins da comunidade
III - autodeterminação dos povos; internacional, também tem o direito de se autodeterminar,
IV - não-intervenção; sendo que tal autodeterminação é feita pelo seu povo.
V - igualdade entre os Estados; Se autodeterminar significa garantir a liberdade do
VI - defesa da paz; povo na tomada das decisões políticas, logo, o direito à
VII - solução pacífica dos conflitos; autodeterminação pressupõe a exclusão do colonialismo.
VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo; Não se aceita a ideia de que um Estado domine o outro,
42 MARITAIN, Jacques. Os direitos do homem e a lei na- tirando a sua autodeterminação.
tural. 3. ed. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora,
1967, p. 20-22.

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DIREITOS HUMANOS

4.4) Não-intervenção - “Sistema de Consultas constitui-se em meio


Por não-intervenção entenda-se que o Estado brasileiro diplomático de solução de litígios em que os Estados ou
irá respeitar a soberania dos demais Estados nacionais. organizações internacionais sujeitam-se, sem qualquer
Sendo assim, adotará práticas diplomáticas e respeitará as interferência pessoal externa, a encontros periódicos com
decisões políticas tomadas no âmbito de cada Estado, eis o objetivo de compor suas divergências”.
que são paritários na ordem internacional.
4.8) Repúdio ao terrorismo e ao racismo
4.5) Igualdade entre os Estados Terrorismo é o uso de violência através de ataques
Por este princípio se reconhece uma posição de localizados a elementos ou instalações de um governo ou
paridade, ou seja, de igualdade hierárquica, na ordem da população civil, de modo a incutir medo, terror, e assim
internacional entre todos os Estados. Em razão disso, cada obter efeitos psicológicos que ultrapassem largamente o
Estado possuirá direito de voz e voto na tomada de decisões círculo das vítimas, incluindo, antes, o resto da população
políticas na ordem internacional em cada organização da do território.
qual faça parte e deverá ter sua opinião respeitada. Racismo é a prática de atos discriminatórios baseados
em diferenças étnico-raciais, que podem consistirem
4.6) Defesa da paz violência física ou psicológica direcionada a uma pessoa
O direito à paz vai muito além do direito de viver num ou a um grupo de pessoas pela simples questão biológica
mundo sem guerras, atingindo o direito de ter paz social, herdada por sua raça ou etnia.
de ver seus direitos respeitados em sociedade. Os direitos Sendo o Brasil um país que prega o pacifismo e
e liberdades garantidos internacionalmente não podem que é assumidamente pluralista, ambas práticas são
ser destruídos com fundamento nas normas que surgiram consideradas vis e devem ser repudiadas pelo Estado
para protegê-los, o que seria controverso. Em termos de nacional.
relações internacionais, depreende-se que deve ser sempre
priorizada a solução amistosa de conflitos. 4.9) Cooperação entre os povos para o progresso
da humanidade
4.7) Solução pacífica dos conflitos
A cooperação internacional deve ser especialmente
Decorrendo da defesa da paz, este princípio remete
econômica e técnica, a fim de conseguir progressivamente
à necessidade de diplomacia nas relações internacionais.
a plena efetividade dos direitos humanos fundamentais
Caso surjam conflitos entre Estados nacionais, estes
internacionalmente reconhecidos.
deverão ser dirimidos de forma amistosa.
Os países devem colaborar uns com os outros, o que é
Negociação diplomática, serviços amistosos, bons
possível mediante a integração no âmbito de organizações
ofícios, mediação, sistema de consultas, conciliação
internacionais específicas, regionais ou globais.
e inquérito são os meios diplomáticos de solução de
controvérsias internacionais, não havendo hierarquia entre Em relação a este princípio, o artigo 4º se aprofunda
eles. Somente o inquérito é um procedimento preliminar e em seu parágrafo único, destacando a importância da
facultativo à apuração da materialidade dos fatos, podendo cooperação brasileira no âmbito regional: “A República
servir de base para qualquer meio de solução de conflito43. Federativa do Brasil buscará a integração econômica,
Conceitua Neves44: política, social e cultural dos povos da América Latina,
- “Negociação diplomática é a forma de autocomposição visando à formação de uma comunidade latino-americana
em que os Estados oponentes buscam resolver suas de nações”. Neste sentido, o papel desempenhado no
divergências de forma direta, por via diplomática”; MERCOSUL.
- “Serviços amistosos é um meio de solução pacífica de
conflito, sem aspecto oficial, em que o governo designa um 4.10) Concessão de asilo político
diplomada para sua conclusão”; Direito de asilo é o direito de buscar abrigo em
- “Bons ofícios constituem o meio diplomático de outro país quando naquele do qual for nacional estiver
solução pacífica de controvérsia internacional, em que um sofrendo alguma perseguição. Tal perseguição não pode
Estado, uma organização internacional ou até mesmo um ter motivos legítimos, como a prática de crimes comuns
chefe de Estado apresenta-se como moderador entre os ou de atos atentatórios aos princípios das Nações Unidas,
litigantes”; o que subverteria a própria finalidade desta proteção. Em
- “Mediação define-se como instituto por meio do suma, o que se pretende com o direito de asilo é evitar
qual uma terceira pessoa estranha à contenda, mas aceita a consolidação de ameaças a direitos humanos de uma
pelos litigantes, de forma voluntária ou em razão de pessoa por parte daqueles que deveriam protegê-los –
estipulação anterior, toma conhecimento da divergência e isto é, os governantes e os entes sociais como um todo –,
dos argumentos sustentados pelas partes, e propõe uma e não proteger pessoas que justamente cometeram tais
solução pacífica sujeita à aceitação destas”; violações.
43 NEVES, Gustavo Bregalda. Direito Internacional Públi- “Sendo direito humano da pessoa refugiada, é
co & Direito Internacional Privado. 3. ed. São Paulo: Atlas, obrigação do Estado asilante conceder o asilo. Entretanto,
2009, p. 123. prevalece o entendimento que o Estado não tem esta
44 Ibid., p. 123-126. obrigação, nem de fundamentar a recusa. A segunda

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DIREITOS HUMANOS

parte deste artigo permite a interpretação no sentido de Vale destacar que a Constituição vai além da
que é o Estado asilante que subjetivamente enquadra o proteção dos direitos e estabelece garantias em prol da
refugiado como asilado político ou criminoso comum”45. preservação destes, bem como remédios constitucionais
a serem utilizados caso estes direitos e garantias não
O título II da Constituição Federal é intitulado “Direitos e sejam preservados. Neste sentido, dividem-se em direitos
Garantias fundamentais”, gênero que abrange as seguintes e garantias as previsões do artigo 5º: os direitos são as
espécies de direitos fundamentais: direitos individuais disposições declaratórias e as garantias são as disposições
e coletivos (art. 5º, CF), direitos sociais (genericamente assecuratórias.
previstos no art. 6º, CF), direitos da nacionalidade (artigos O legislador muitas vezes reúne no mesmo dispositivo
12 e 13, CF) e direitos políticos (artigos 14 a 17, CF). o direito e a garantia, como no caso do artigo 5º, IX: “é livre
Em termos comparativos à clássica divisão tridimensional a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de
dos direitos humanos, os direitos individuais (maior parte comunicação, independentemente de censura ou licença”
do artigo 5º, CF), os direitos da nacionalidade e os direitos – o direito é o de liberdade de expressão e a garantia é
políticos se encaixam na primeira dimensão (direitos civis a vedação de censura ou exigência de licença. Em outros
e políticos); os direitos sociais se enquadram na segunda casos, o legislador traz o direito num dispositivo e a garantia
dimensão (direitos econômicos, sociais e culturais) e os direitos em outro: a liberdade de locomoção, direito, é colocada
coletivos na terceira dimensão. Contudo, a enumeração de no artigo 5º, XV, ao passo que o dever de relaxamento da
direitos humanos na Constituição vai além dos direitos que prisão ilegal de ofício pelo juiz, garantia, se encontra no
expressamente constam no título II do texto constitucional. artigo 5º, LXV46.
Os direitos fundamentais possuem as seguintes Em caso de ineficácia da garantia, implicando em
características principais: violação de direito, cabe a utilização dos remédios
a) Historicidade: os direitos fundamentais possuem constitucionais.
antecedentes históricos relevantes e, através dos tempos, Atenção para o fato de o constituinte chamar os
adquirem novas perspectivas. Nesta característica se remédios constitucionais de garantias, e todas as suas
enquadra a noção de dimensões de direitos. fórmulas de direitos e garantias propriamente ditas apenas
b) Universalidade: os direitos fundamentais pertencem de direitos.
a todos, tanto que apesar da expressão restritiva do caput
do artigo 5º aos brasileiros e estrangeiros residentes no
Direitos e deveres individuais e coletivos
país tem se entendido pela extensão destes direitos, na
perspectiva de prevalência dos direitos humanos.
O capítulo I do título II é intitulado “direitos e deveres
c) Inalienabilidade: os direitos fundamentais não
individuais e coletivos”. Da própria nomenclatura do
possuem conteúdo econômico-patrimonial, logo, são
capítulo já se extrai que a proteção vai além dos direitos
intransferíveis, inegociáveis e indisponíveis, estando fora
do indivíduo e também abrange direitos da coletividade. A
do comércio, o que evidencia uma limitação do princípio
maior parte dos direitos enumerados no artigo 5º do texto
da autonomia privada.
d) Irrenunciabilidade: direitos fundamentais constitucional é de direitos individuais, mas são incluídos
não podem ser renunciados pelo seu titular devido à alguns direitos coletivos e mesmo remédios constitucionais
fundamentalidade material destes direitos para a dignidade próprios para a tutela destes direitos coletivos (ex.:
da pessoa humana. mandado de segurança coletivo).
e) Inviolabilidade: direitos fundamentais não
podem deixar de ser observados por disposições 1) Brasileiros e estrangeiros
infraconstitucionais ou por atos das autoridades públicas, O caput do artigo 5º aparenta restringir a proteção
sob pena de nulidades. conferida pelo dispositivo a algumas pessoas,
f) Indivisibilidade: os direitos fundamentais compõem notadamente, “aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
um único conjunto de direitos porque não podem ser no País”. No entanto, tal restrição é apenas aparente e tem
analisados de maneira isolada, separada. sido interpretada no sentido de que os direitos estarão
g) Imprescritibilidade: os direitos fundamentais não protegidos com relação a todas as pessoas nos limites da
se perdem com o tempo, não prescrevem, uma vez que são soberania do país.
sempre exercíveis e exercidos, não deixando de existir pela Em razão disso, por exemplo, um estrangeiro pode
falta de uso (prescrição). ingressar com habeas corpus ou mandado de segurança,
h) Relatividade: os direitos fundamentais não podem ou então intentar ação reivindicatória com relação a imóvel
ser utilizados como um escudo para práticas ilícitas ou seu localizado no Brasil (ainda que não resida no país).
como argumento para afastamento ou diminuição da Somente alguns direitos não são estendidos a todas
responsabilidade por atos ilícitos, assim estes direitos não as pessoas. A exemplo, o direito de intentar ação popular
são ilimitados e encontram seus limites nos demais direitos exige a condição de cidadão, que só é possuída por
igualmente consagrados como humanos. nacionais titulares de direitos políticos.
45 SANTOS FILHO, Oswaldo de Souza. Comentários aos ar-
tigos XIII e XIV. In: BALERA, Wagner (Coord.). Comentários
à Declaração Universal dos Direitos do Homem. Brasília: 46 FARIA, Cássio Juvenal. Notas pessoais tomadas em
Fortium, 2008, p. 83. teleconferência.

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DIREITOS HUMANOS

2) Relação direitos-deveres Não obstante, reforça este princípio em seu primeiro


O capítulo em estudo é denominado “direitos e inciso:
garantias deveres e coletivos”, remetendo à necessária
relação direitos-deveres entre os titulares dos direitos Artigo 5º, I, CF. Homens e mulheres são iguais em
fundamentais. Acima de tudo, o que se deve ter em vista direitos e obrigações, nos termos desta Constituição.
é a premissa reconhecida nos direitos fundamentais de
que não há direito que seja absoluto, correspondendo-se Este inciso é especificamente voltado à necessidade
para cada direito um dever. Logo, o exercício de direitos de igualdade de gênero, afirmando que não deve haver
fundamentais é limitado pelo igual direito de mesmo nenhuma distinção sexo feminino e o masculino, de modo
exercício por parte de outrem, não sendo nunca absolutos, que o homem e a mulher possuem os mesmos direitos e
mas sempre relativos. obrigações.
Explica Canotilho47 quanto aos direitos fundamentais: Entretanto, o princípio da isonomia abrange muito mais
“a ideia de deveres fundamentais é suscetível de ser do que a igualdade de gêneros, envolve uma perspectiva
entendida como o ‘outro lado’ dos direitos fundamentais. mais ampla.
Como ao titular de um direito fundamental corresponde O direito à igualdade é um dos direitos norteadores
um dever por parte de um outro titular, poder-se-ia dizer de interpretação de qualquer sistema jurídico. O primeiro
que o particular está vinculado aos direitos fundamentais enfoque que foi dado a este direito foi o de direito civil,
como destinatário de um dever fundamental. Neste enquadrando-o na primeira dimensão, no sentido de que
sentido, um direito fundamental, enquanto protegido, a todas as pessoas deveriam ser garantidos os mesmos
pressuporia um dever correspondente”. Com efeito, a um direitos e deveres. Trata-se de um aspecto relacionado
direito fundamental conferido à pessoa corresponde o à igualdade enquanto liberdade, tirando o homem do
dever de respeito ao arcabouço de direitos conferidos às arbítrio dos demais por meio da equiparação. Basicamente,
outras pessoas. estaria se falando na igualdade perante a lei.
No entanto, com o passar dos tempos, se percebeu que
3) Direitos e garantias em espécie não bastava igualar todos os homens em direitos e deveres
Preconiza o artigo 5º da Constituição Federal em seu para torná-los iguais, pois nem todos possuem as mesmas
caput: condições de exercer estes direitos e deveres. Logo, não
é suficiente garantir um direito à igualdade formal, mas
Artigo 5º, caput, CF. Todos são iguais perante a lei, sem é preciso buscar progressivamente a igualdade material.
distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros No sentido de igualdade material que aparece o direito
e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do à igualdade num segundo momento, pretendendo-se do
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à Estado, tanto no momento de legislar quanto no de aplicar
propriedade, nos termos seguintes [...]. e executar a lei, uma postura de promoção de políticas
governamentais voltadas a grupos vulneráveis.
O caput do artigo 5º, que pode ser considerado um Assim, o direito à igualdade possui dois sentidos
dos principais (senão o principal) artigos da Constituição notáveis: o de igualdade perante a lei, referindo-se à
Federal, consagra o princípio da igualdade e delimita aplicação uniforme da lei a todas as pessoas que vivem
as cinco esferas de direitos individuais e coletivos que em sociedade; e o de igualdade material, correspondendo
merecem proteção, isto é, vida, liberdade, igualdade, à necessidade de discriminações positivas com relação
segurança e propriedade. Os incisos deste artigos a grupos vulneráveis da sociedade, em contraponto à
delimitam vários direitos e garantias que se enquadram em igualdade formal.
alguma destas esferas de proteção, podendo se falar em
duas esferas específicas que ganham também destaque Ações afirmativas
no texto constitucional, quais sejam, direitos de acesso à Neste sentido, desponta a temática das ações
justiça e direitos constitucionais-penais. afirmativas,que são políticas públicas ou programas
privados criados temporariamente e desenvolvidos com
- Direito à igualdade a finalidade de reduzir as desigualdades decorrentes de
Abrangência discriminações ou de uma hipossuficiência econômica ou
Observa-se, pelo teor do caput do artigo 5º, CF, que física, por meio da concessão de algum tipo de vantagem
o constituinte afirmou por duas vezes o princípio da compensatória de tais condições.
igualdade: Quem é contra as ações afirmativas argumenta que,
em uma sociedade pluralista, a condição de membro de
Artigo 5º, caput, CF. Todos são iguais perante a lei, sem um grupo específico não pode ser usada como critério de
distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros inclusão ou exclusão de benefícios. Ademais, afirma-se
e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do que elas desprivilegiam o critério republicano do mérito
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à (segundo o qual o indivíduo deve alcançar determinado
propriedade, nos termos seguintes [...]. cargo público pela sua capacidade e esforço, e não por
47 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito constitu- pertencer a determinada categoria); fomentariam o racismo
cional e teoria da constituição. 2. ed. Coimbra: Almedina, e o ódio; bem como ferem o princípio da isonomia por
1998, p. 479. causar uma discriminação reversa.

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DIREITOS HUMANOS

Por outro lado, quem é favorável às ações afirmativas A tortura é um dos piores meios de tratamento
defende que elas representam o ideal de justiça desumano, expressamente vedada em âmbito internacional,
compensatória (o objetivo é compensar injustiças passadas, como visto no tópico anterior. No Brasil, além da disciplina
dívidas históricas, como uma compensação aos negros por constitucional, a Lei nº 9.455, de 7 de abril de 1997 define
tê-los feito escravos, p. ex.); representam o ideal de justiça os crimes de tortura e dá outras providências, destacando-
distributiva (a preocupação, aqui, é com o presente. Busca- se o artigo 1º:
se uma concretização do princípio da igualdade material);
bem como promovem a diversidade. Art. 1º Constitui crime de tortura:
Neste sentido, as discriminações legais asseguram I - constranger alguém com emprego de violência ou
a verdadeira igualdade, por exemplo, com as ações grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental:
afirmativas, a proteção especial ao trabalho da mulher e a) com o fim de obter informação, declaração ou
do menor, as garantias aos portadores de deficiência, entre confissão da vítima ou de terceira pessoa;
outras medidas que atribuam a pessoas com diferentes b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa;
condições, iguais possibilidades, protegendo e respeitando c) em razão de discriminação racial ou religiosa;
suas diferenças48. Tem predominado em doutrina e II - submeter alguém, sob sua guarda, poder ou
jurisprudência, inclusive no Supremo Tribunal Federal, que autoridade, com emprego de violência ou grave ameaça, a
as ações afirmativas são válidas. intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar
castigo pessoal ou medida de caráter preventivo.
- Direito à vida Pena - reclusão, de dois a oito anos.
Abrangência § 1º Na mesma pena incorre quem submete pessoa
O caput do artigo 5º da Constituição assegura a presa ou sujeita a medida de segurança a sofrimento físico
proteção do direito à vida. A vida humana é o centro ou mental, por intermédio da prática de ato não previsto
gravitacional em torno do qual orbitam todos os direitos em lei ou não resultante de medida legal.
da pessoa humana, possuindo reflexos jurídicos, políticos, § 2º Aquele que se omite em face dessas condutas,
econômicos, morais e religiosos. Daí existir uma dificuldade quando tinha o dever de evitá-las ou apurá-las, incorre na
em conceituar o vocábulo vida. Logo, tudo aquilo que uma pena de detenção de um a quatro anos.
pessoa possui deixa de ter valor ou sentido se ela perde § 3º Se resulta lesão corporal de natureza grave ou
a vida. Sendo assim, a vida é o bem principal de qualquer gravíssima, a pena é de reclusão de quatro a dez anos; se
pessoa, é o primeiro valor moral inerente a todos os seres resulta morte, a reclusão é de oito a dezesseis anos.
humanos49. § 4º Aumenta-se a pena de um sexto até um terço:
No tópico do direito à vida tem-se tanto o direito de I - se o crime é cometido por agente público;
nascer/permanecer vivo, o que envolve questões como II – se o crime é cometido contra criança, gestante,
pena de morte, eutanásia, pesquisas com células-tronco e portador de deficiência, adolescente ou maior de 60
aborto; quanto o direito de viver com dignidade, o que (sessenta) anos; 
engloba o respeito à integridade física, psíquica e moral, III - se o crime é cometido mediante sequestro.
incluindo neste aspecto a vedação da tortura, bem como § 5º A condenação acarretará a perda do cargo, função
a garantia de recursos que permitam viver a vida com ou emprego público e a interdição para seu exercício pelo
dignidade. dobro do prazo da pena aplicada.
Embora o direito à vida seja em si pouco delimitado § 6º O crime de tortura é inafiançável e insuscetível de
nos incisos que seguem o caput do artigo 5º, trata-se de um graça ou anistia.
dos direitos mais discutidos em termos jurisprudenciais e § 7º O condenado por crime previsto nesta Lei, salvo
sociológicos. É no direito à vida que se encaixam polêmicas a hipótese do § 2º, iniciará o cumprimento da pena em
discussões como: aborto de anencéfalo, pesquisa com regime fechado.
células tronco, pena de morte, eutanásia, etc.
- Direito à liberdade
Vedação à tortura O caput do artigo 5º da Constituição assegura a
De forma expressa no texto constitucional destaca-se proteção do direito à liberdade, delimitada em alguns
a vedação da tortura, corolário do direito à vida, conforme incisos que o seguem.
previsão no inciso III do artigo 5º:
Liberdade e legalidade
Artigo 5º, III, CF. Ninguém será submetido a tortura nem Prevê o artigo 5º, II, CF:
a tratamento desumano ou degradante.
48 SANFELICE, Patrícia de Mello. Comentários aos artigos I e Artigo 5º, II, CF. Ninguém será obrigado a fazer ou deixar
II. In: BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à Declaração de fazer alguma coisa senão em virtude de lei.
Universal dos Direitos do Homem. Brasília: Fortium, 2008,
p. 08. O princípio da legalidade se encontra delimitado neste
49 BARRETO, Ana Carolina Rossi; IBRAHIM, Fábio Zam- inciso, prevendo que nenhuma pessoa será obrigada a fazer
bitte. Comentários aos Artigos III e IV. In: BALERA, Wagner ou deixar de fazer alguma coisa a não ser que a lei assim
(Coord.). Comentários à Declaração Universal dos Direi- determine. Assim, salvo situações previstas em lei, a pessoa
tos do Homem. Brasília: Fortium, 2008, p. 15. tem liberdade para agir como considerar conveniente.

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DIREITOS HUMANOS

Portanto, o princípio da legalidade possui estrita necessária ao interesse público numa ordem democrática,
relação com o princípio da liberdade, posto que, a priori, por exemplo, censurar a publicação de um conteúdo de
tudo à pessoa é lícito. Somente é vedado o que a lei exploração sexual infanto-juvenil é adequado.
expressamente estabelecer como proibido. A pessoa O direito à resposta (artigo 5º, V, CF) e o direito
pode fazer tudo o que quiser, como regra, ou seja, agir de à indenização (artigo 5º, X, CF) funcionam como a
qualquer maneira que a lei não proíba. contrapartida para aquele que teve algum direito seu
violado (notadamente inerentes à privacidade ou à
Liberdade de pensamento e de expressão personalidade) em decorrência dos excessos no exercício
O artigo 5º, IV, CF prevê: da liberdade de expressão.

Artigo 5º, IV, CF. É livre a manifestação do pensamento, Liberdade de crença/religiosa


sendo vedado o anonimato. Dispõe o artigo 5º, VI, CF:

Consolida-se a afirmação simultânea da liberdade de Artigo 5º, VI, CF. É inviolável a liberdade de consciência
pensamento e da liberdade de expressão. e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos
Em primeiro plano tem-se a liberdade de pensamento. religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos
Afinal, “o ser humano, através dos processos internos de locais de culto e a suas liturgias.
reflexão, formula juízos de valor. Estes exteriorizam nada
mais do que a opinião de seu emitente. Assim, a regra Cada pessoa tem liberdade para professar a sua fé
constitucional, ao consagrar a livre manifestação do como bem entender dentro dos limites da lei. Não há uma
pensamento, imprime a existência jurídica ao chamado crença ou religião que seja proibida, garantindo-se que a
direito de opinião”50. Em outras palavras, primeiro existe o profissão desta fé possa se realizar em locais próprios.
direito de ter uma opinião, depois o de expressá-la. Nota-se que a liberdade de religião engloba 3
No mais, surge como corolário do direito à liberdade tipos distintos, porém intrinsecamente relacionados de
de pensamento e de expressão o direito à escusa por liberdades: a liberdade de crença; a liberdade de culto; e a
convicção filosófica ou política: liberdade de organização religiosa.
Consoante o magistério de José Afonso da Silva51, entra
Artigo 5º, VIII, CF. Ninguém será privado de direitos por na liberdade de crença a liberdade de escolha da religião,
motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou a liberdade de aderir a qualquer seita religiosa, a liberdade
política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação (ou o direito) de mudar de religião, além da liberdade
legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação de não aderir a religião alguma, assim como a liberdade
alternativa, fixada em lei. de descrença, a liberdade de ser ateu e de exprimir o
agnosticismo, apenas excluída a liberdade de embaraçar o
Trata-se de instrumento para a consecução do direito livre exercício de qualquer religião, de qualquer crença. A
assegurado na Constituição Federal – não basta permitir que liberdade de culto consiste na liberdade de orar e de praticar
se pense diferente, é preciso respeitar tal posicionamento. os atos próprios das manifestações exteriores em casa ou
Com efeito, este direito de liberdade de expressão é em público, bem como a de recebimento de contribuições
limitado. Um destes limites é o anonimato, que consiste na para tanto. Por fim, a liberdade de organização religiosa
garantia de atribuir a cada manifestação uma autoria certa refere-se à possibilidade de estabelecimento e organização
e determinada, permitindo eventuais responsabilizações de igrejas e suas relações com o Estado.
por manifestações que contrariem a lei. Como decorrência do direito à liberdade religiosa,
Tem-se, ainda, a seguinte previsão no artigo 5º, IX, CF: assegurando o seu exercício, destaca-se o artigo 5º, VII, CF:

Artigo 5º, IX, CF. É livre a expressão da atividade Artigo 5º, VII, CF. É assegurada, nos termos da lei, a
intelectual, artística, científica e de comunicação, prestação de assistência religiosa nas entidades civis e
independentemente de censura ou licença. militares de internação coletiva.

Consolida-se outra perspectiva da liberdade de O dispositivo refere-se não só aos estabelecimentos


expressão, referente de forma específica a atividades prisionais civis e militares, mas também a hospitais.
intelectuais, artísticas, científicas e de comunicação. Ainda, surge como corolário do direito à liberdade
Dispensa-se, com relação a estas, a exigência de licença religiosa o direito à escusa por convicção religiosa:
para a manifestação do pensamento, bem como veda-se a
censura prévia. Artigo 5º, VIII, CF. Ninguém será privado de direitos
A respeito da censura prévia, tem-se não cabe impedir por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica
a divulgação e o acesso a informações como modo de ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação
controle do poder. A censura somente é cabível quando legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação
50 ARAÚJO, Luiz Alberto David; NUNES JÚNIOR, Vidal Ser- alternativa, fixada em lei.
rano. Curso de direito constitucional. 10. ed. São Paulo: 51 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional
Saraiva, 2006. positivo. 25. ed. São Paulo: Malheiros, 2006.

31
DIREITOS HUMANOS

Sempre que a lei impõe uma obrigação a todos, a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa
por exemplo, a todos os homens maiores de 18 anos o de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder;
alistamento militar, não cabe se escusar, a não ser que b) a obtenção de certidões em repartições públicas,
tenha fundado motivo em crença religiosa ou convicção para defesa de direitos e esclarecimento de situações de
filosófica/política, caso em que será obrigado a cumprir interesse pessoal.
uma prestação alternativa, isto é, uma outra atividade que
não contrarie tais preceitos. Quanto ao direito de petição, de maneira prática,
cumpre observar que o direito de petição deve resultar
Liberdade de informação em uma manifestação do Estado, normalmente dirimindo
O direito de acesso à informação também se liga a uma (resolvendo) uma questão proposta, em um verdadeiro
dimensão do direito à liberdade. Neste sentido, prevê o exercício contínuo de delimitação dos direitos e obrigações
artigo 5º, XIV, CF: que regulam a vida social e, desta maneira, quando
“dificulta a apreciação de um pedido que um cidadão quer
Artigo 5º, XIV, CF. É assegurado a todos o acesso à apresentar” (muitas vezes, embaraçando-lhe o acesso à
informação e resguardado o sigilo da fonte, quando Justiça); “demora para responder aos pedidos formulados”
necessário ao exercício profissional. (administrativa e, principalmente, judicialmente) ou “impõe
restrições e/ou condições para a formulação de petição”,
Trata-se da liberdade de informação, consistente traz a chamada insegurança jurídica, que traz desesperança
na liberdade de procurar e receber informações e ideias e faz proliferar as desigualdades e as injustiças.
por quaisquer meios, independente de fronteiras, sem Dentro do espectro do direito de petição se insere, por
interferência. exemplo, o direito de solicitar esclarecimentos, de solicitar
A liberdade de informação tem um caráter passivo, ao cópias reprográficas e certidões, bem como de ofertar
passo que a liberdade de expressão tem uma característica denúncias de irregularidades. Contudo, o constituinte,
ativa, de forma que juntas formam os aspectos ativo e talvez na intenção de deixar clara a obrigação dos Poderes
passivo da exteriorização da liberdade de pensamento: Públicos em fornecer certidões, trouxe a letra b) do inciso,
não basta poder manifestar o seu próprio pensamento, é o que gera confusões conceituais no sentido do direito de
preciso que ele seja ouvido e, para tanto, há necessidade obter certidões ser dissociado do direito de petição.
de se garantir o acesso ao pensamento manifestado para Por fim, relevante destacar a previsão do artigo 5º, LX,
a sociedade. CF:
Por sua vez, o acesso à informação envolve o
direito de todos obterem informações claras, precisas e Artigo 5º, LX, CF. A lei só poderá restringir a publicidade
verdadeiras a respeito de fatos que sejam de seu interesse, dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o
notadamente pelos meios de comunicação imparciais e não interesse social o exigirem.
monopolizados (artigo 220, CF). No entanto, nem sempre
é possível que a imprensa divulgue com quem obteve Logo,o processo, em regra, não será sigiloso. Apenas
a informação divulgada, sem o que a segurança desta o será quando a intimidade merecer preservação (ex:
poderia ficar prejudicada e a informação inevitavelmente processo criminal de estupro ou causas de família em
não chegaria ao público. geral) ou quando o interesse social exigir (ex: investigações
Especificadamente quanto à liberdade de informação que possam ser comprometidas pela publicidade). A
no âmbito do Poder Público, merecem destaque algumas publicidade é instrumento para a efetivação da liberdade
previsões. de informação.
Primeiramente, prevê o artigo 5º, XXXIII, CF:
Liberdade de locomoção
Artigo 5º, XXXIII, CF. Todos têm direito a receber dos Outra faceta do direito à liberdade encontra-se no
órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou artigo 5º, XV, CF:
de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo
da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas Artigo 5º, XV, CF. É livre a locomoção no território
cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos
do Estado. termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus
bens.
A respeito, a Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011
regula o acesso a informações previsto no inciso XXXIII A liberdade de locomoção é um aspecto básico do
do art. 5º, CF, também conhecida como Lei do Acesso à direito à liberdade, permitindo à pessoa ir e vir em todo o
Informação. território do país em tempos de paz (em tempos de guerra
Não obstante, estabelece o artigo 5º, XXXIV, CF: é possível limitar tal liberdade em prol da segurança). A
liberdade de sair do país não significa que existe um direito
Artigo 5º, XXXIV, CF. São a todos assegurados, de ingressar em qualquer outro país, pois caberá à ele, no
independentemente do pagamento de taxas: exercício de sua soberania, controlar tal entrada.

32
DIREITOS HUMANOS

Classicamente, a prisão é a forma de restrição da Liberdade de associação


liberdade. Neste sentido, uma pessoa somente poderá No que tange à liberdade de reunião, traz o artigo 5º,
ser presa nos casos autorizados pela própria Constituição XVII, CF:
Federal. A despeito da normativa específica de natureza
penal, reforça-se a impossibilidade de se restringir a Artigo 5º, XVII, CF. É plena a liberdade de associação
liberdade de locomoção pela prisão civil por dívida. para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar.
Prevê o artigo 5º, LXVII, CF:
A liberdade de associação difere-se da de reunião por
Artigo 5º, LXVII, CF. Não haverá prisão civil por dívida, sua perenidade, isto é, enquanto a liberdade de reunião
salvo a do responsável pelo inadimplemento voluntário e é exercida de forma sazonal, eventual, a liberdade de
inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel. associação implica na formação de um grupo organizado
que se mantém por um período de tempo considerável,
Nos termos da Súmula Vinculante nº 25 do Supremo dotado de estrutura e organização próprias.
Tribunal Federal, “é ilícita a prisão civil de depositário infiel, Por exemplo, o PCC e o Comando vermelho são
qualquer que seja a modalidade do depósito”. Por isso, a associações ilícitas e de caráter paramilitar, pois possuem
única exceção à regra da prisão por dívida do ordenamento armas e o ideal de realizar sua própria justiça paralelamente
é a que se refere à obrigação alimentícia. à estatal.
O texto constitucional se estende na regulamentação
Liberdade de trabalho da liberdade de associação.
O direito à liberdade também é mencionado no artigo O artigo 5º, XVIII, CF, preconiza:
5º, XIII, CF:
Artigo 5º, XVIII, CF. A criação de associações e, na forma
Artigo 5º, XIII, CF. É livre o exercício de qualquer da lei, a de cooperativas independem de autorização, sendo
trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações vedada a interferência estatal em seu funcionamento.
profissionais que a lei estabelecer.
Neste sentido, associações são organizações resultantes
da reunião legal entre duas ou mais pessoas, com ou sem
O livre exercício profissional é garantido, respeitados
personalidade jurídica, para a realização de um objetivo
os limites legais. Por exemplo, não pode exercer a profissão
comum; já cooperativas são uma forma específica de
de advogado aquele que não se formou em Direito e não
associação, pois visam a obtenção de vantagens comuns
foi aprovado no Exame da Ordem dos Advogados do Brasil;
em suas atividades econômicas.
não pode exercer a medicina aquele que não fez faculdade
Ainda, tem-se o artigo 5º, XIX, CF:
de medicina reconhecida pelo MEC e obteve o cadastro no
Conselho Regional de Medicina. Artigo 5º, XIX, CF. As associações só poderão ser
compulsoriamente dissolvidas ou ter suas atividades
Liberdade de reunião suspensas por decisão judicial, exigindo-se, no primeiro caso,
Sobre a liberdade de reunião, prevê o artigo 5º, XVI, CF: o trânsito em julgado.
Artigo 5º, XVI, CF. Todos podem reunir-se O primeiro caso é o de dissolução compulsória, ou seja,
pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, a associação deixará de existir para sempre. Obviamente,
independentemente de autorização, desde que não é preciso o trânsito em julgado da decisão judicial que
frustrem outra reunião anteriormente convocada para assim determine, pois antes disso sempre há possibilidade
o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à de reverter a decisão e permitir que a associação continue
autoridade competente. em funcionamento. Contudo, a decisão judicial pode
suspender atividades até que o trânsito em julgado ocorra,
Pessoas podem ir às ruas para reunirem-se com ou seja, no curso de um processo judicial.
demais na defesa de uma causa, apenas possuindo o dever Em destaque, a legitimidade representativa da associação
de informar tal reunião. Tal dever remonta-se a questões quanto aos seus filiados, conforme artigo 5º, XXI, CF:
de segurança coletiva. Imagine uma grande reunião de
pessoas por uma causa, a exemplo da Parada Gay, que Artigo 5º, XXI, CF. As entidades associativas, quando
chega a aglomerar milhões de pessoas em algumas capitais: expressamente autorizadas, têm legitimidade para
seria absurdo tolerar tal tipo de reunião sem o prévio aviso representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente.
do poder público para que ele organize o policiamento
e a assistência médica, evitando algazarras e socorrendo Trata-se de caso de legitimidade processual
pessoas que tenham algum mal-estar no local. Outro extraordinária, pela qual um ente vai a juízo defender
limite é o uso de armas, totalmente vedado, assim como interesse de outra(s) pessoa(s) porque a lei assim autoriza.
de substâncias ilícitas (Ex: embora a Marcha da Maconha A liberdade de associação envolve não somente o
tenha sido autorizada pelo Supremo Tribunal Federal, direito de criar associações e de fazer parte delas, mas
vedou-se que nela tal substância ilícita fosse utilizada). também o de não associar-se e o de deixar a associação,
conforme artigo 5º, XX, CF:

33
DIREITOS HUMANOS

Artigo 5º, XX, CF. Ninguém poderá ser compelido a O domicílio é inviolável, razão pela qual ninguém pode
associar-se ou a permanecer associado. nele entrar sem o consentimento do morador, a não ser
EM QUALQUER HORÁRIO no caso de flagrante delito (o
- Direitos à privacidade e à personalidade morador foi flagrado na prática de crime e fugiu para seu
domicílio) ou desastre (incêndio, enchente, terremoto...) ou
Abrangência para prestar socorro (morador teve ataque do coração, está
Prevê o artigo 5º, X, CF: sufocado, desmaiado...), e SOMENTE DURANTE O DIA por
determinação judicial.
Artigo 5º, X, CF. São invioláveis a intimidade, a vida Quanto ao sigilo de correspondência e das
privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o comunicações, prevê o artigo 5º, XII, CF:
direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente
de sua violação. Artigo 5º, XII, CF. É inviolável o sigilo da correspondência e
das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações
O legislador opta por trazer correlacionados no mesmo telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas
dispositivo legal os direitos à privacidade e à personalidade. hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de
Reforçando a conexão entre a privacidade e a investigação criminal ou instrução processual penal.
intimidade, ao abordar a proteção da vida privada – que,
em resumo, é a privacidade da vida pessoal no âmbito O sigilo de correspondência e das comunicações está
do domicílio e de círculos de amigos –, Silva52 entende melhor regulamentado na Lei nº 9.296, de 1996.
que “o segredo da vida privada é condição de expansão
da personalidade”, mas não caracteriza os direitos de Personalidade jurídica e gratuidade de registro
personalidade em si. Quando se fala em reconhecimento como pessoa
A união da intimidade e da vida privada forma a perante a lei desdobra-se uma esfera bastante específica
privacidade, sendo que a primeira se localiza em esfera dos direitos de personalidade, consistente na personalidade
mais estrita. É possível ilustrar a vida social como se fosse jurídica. Basicamente, consiste no direito de ser reconhecido
um grande círculo no qual há um menor, o da vida privada, como pessoa perante a lei.
e dentro deste um ainda mais restrito e impenetrável, o da Para ser visto como pessoa perante a lei mostra-
intimidade. Com efeito, pela “Teoria das Esferas” (ou “Teoria se necessário o registro. Por ser instrumento que serve
dos Círculos Concêntricos”), importada do direito alemão, como pressuposto ao exercício de direitos fundamentais,
quanto mais próxima do indivíduo, maior a proteção a assegura-se a sua gratuidade aos que não tiverem condição
ser conferida à esfera (as esferas são representadas pela de com ele arcar.
intimidade, pela vida privada, e pela publicidade). Aborda o artigo 5º, LXXVI, CF:
“O direito à honra distancia-se levemente dos dois
anteriores, podendo referir-se ao juízo positivo que a pessoa Artigo 5º, LXXVI, CF. São gratuitos para os
tem de si (honra subjetiva) e ao juízo positivo que dela fazem reconhecidamente pobres, na forma da lei: a) o registro
os outros (honra objetiva), conferindo-lhe respeitabilidade civil de nascimento; b) a certidão de óbito.
no meio social. O direito à imagem também possui duas
conotações, podendo ser entendido em sentido objetivo, O reconhecimento do marco inicial e do marco final
com relação à reprodução gráfica da pessoa, por meio de da personalidade jurídica pelo registro é direito individual,
fotografias, filmagens, desenhos, ou em sentido subjetivo, não dependendo de condições financeiras. Evidente,
significando o conjunto de qualidades cultivadas pela pessoa seria absurdo cobrar de uma pessoa sem condições a
e reconhecidas como suas pelo grupo social”53. elaboração de documentos para que ela seja reconhecida
como viva ou morta, o que apenas incentivaria a indigência
Inviolabilidade de domicílio e sigilo de dos menos favorecidos.
correspondência
Correlatos ao direito à privacidade, aparecem a Direito à indenização e direito de resposta
inviolabilidade do domicílio e o sigilo das correspondências Com vistas à proteção do direito à privacidade, do
e comunicações. direito à personalidade e do direito à imagem, asseguram-
Neste sentido, o artigo 5º, XI, CF prevê: se dois instrumentos, o direito à indenização e o direito de
resposta, conforme as necessidades do caso concreto.
Artigo 5º, XI, CF. A casa é asilo inviolável do indivíduo, Com efeito, prevê o artigo 5º, V, CF:
ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do
morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou Artigo 5º, V, CF. É assegurado o direito de resposta,
para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação proporcional ao agravo, além da indenização por dano
judicial. material, moral ou à imagem.
52 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional
positivo. 25. ed. São Paulo: Malheiros, 2006. “A manifestação do pensamento é livre e garantida
53 MOTTA, Sylvio; BARCHET, Gustavo. Curso de direito em nível constitucional, não aludindo a censura prévia em
constitucional. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. diversões e espetáculos públicos. Os abusos porventura

34
DIREITOS HUMANOS

ocorridos no exercício indevido da manifestação do Especificamente no que tange à segurança jurídica,


pensamento são passíveis de exame e apreciação pelo tem-se o disposto no artigo 5º, XXXVI, CF:
Poder Judiciário com a consequente responsabilidade
civil e penal de seus autores, decorrentes inclusive de Artigo 5º, XXXVI, CF. A lei não prejudicará o direito
publicações injuriosas na imprensa, que deve exercer adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada.
vigilância e controle da matéria que divulga”54.
O  direito de resposta  é o direito que uma pessoa Pelo inciso restam estabelecidos limites à retroatividade
tem de se defender de críticas públicas no mesmo da lei.
meio em que foram publicadas garantida exatamente Define o artigo 6º da Lei de Introdução às Normas do
a mesma repercussão. Mesmo quando for garantido o Direito Brasileiro:
direito de resposta não é possível reverter plenamente os
danos causados pela manifestação ilícita de pensamento, Artigo 6º, LINDB. A Lei em vigor terá efeito imediato e
razão pela qual a pessoa inda fará jus à indenização. geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido
A manifestação ilícita do pensamento geralmente e a coisa julgada.
causa um dano, ou seja, um prejuízo sofrido pelo agente, § 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado
que pode ser individual ou coletivo, moral ou material, segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou.
econômico e não econômico. § 2º Consideram-se adquiridos assim os direitos que
Dano material é aquele que atinge o patrimônio o seu titular, ou alguém por ele, possa exercer, como
(material ou imaterial) da vítima, podendo ser mensurado aqueles cujo começo do exercício tenha termo pré-fixo, ou
financeiramente e indenizado. condição pré-estabelecida inalterável, a arbítrio de outrem.
“Dano moral direto consiste na lesão a um interesse § 3º Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão
que visa a satisfação ou gozo de um bem jurídico judicial de que já não caiba recurso.
extrapatrimonial contido nos direitos da personalidade
(como a vida, a integridade corporal, a liberdade, a honra, - Direito à propriedade
o decoro, a intimidade, os sentimentos afetivos, a própria
O caput do artigo 5º da Constituição assegura a
imagem) ou nos atributos da pessoa (como o nome, a
proteção do direito à propriedade, tanto material quanto
capacidade, o estado de família)”55.
intelectual, delimitada em alguns incisos que o seguem.
Já o dano à imagem é delimitado no artigo 20 do
Código Civil:
Função social da propriedade material
O artigo 5º, XXII, CF estabelece:
Artigo 20, CC. Salvo se autorizadas, ou se necessárias
à administração da justiça ou à manutenção da ordem
pública, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, Artigo 5º, XXII, CF. É garantido o direito de propriedade.
ou a publicação, a exposição ou a utilização da imagem de
uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e A seguir, no inciso XXIII do artigo 5º, CF estabelece o
sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a principal fator limitador deste direito:
honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem
a fins comerciais. Artigo 5º, XXIII, CF. A propriedade atenderá a sua
função social.
- Direito à segurança
O caput do artigo 5º da Constituição assegura a A propriedade, segundo Silva57, “[...] não pode mais
proteção do direito à segurança. Na qualidade de direito ser considerada como um direito individual nem como
individual liga-se à segurança do indivíduo como um instituição do direito privado. [...] embora prevista entre os
todo, desde sua integridade física e mental, até a própria direitos individuais, ela não mais poderá ser considerada
segurança jurídica. puro direito individual, relativizando-se seu conceito e
No sentido aqui estudado, o direito à segurança significado, especialmente porque os princípios da ordem
pessoal é o direito de viver sem medo, protegido pela econômica são preordenados à vista da realização de
solidariedade e liberto de agressões, logo, é uma maneira seu fim: assegurar a todos existência digna, conforme os
de garantir o direito à vida. ditames da justiça social. Se é assim, então a propriedade
Nesta linha, para Silva56, “efetivamente, esse conjunto privada, que, ademais, tem que atender a sua função social,
de direitos aparelha situações, proibições, limitações e fica vinculada à consecução daquele princípio”.
procedimentos destinados a assegurar o exercício e o Com efeito, a proteção da propriedade privada está
gozo de algum direito individual fundamental (intimidade, limitada ao atendimento de sua função social, sendo este o
liberdade pessoal ou a incolumidade física ou moral)”. requisito que a correlaciona com a proteção da dignidade da
54 BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 26. pessoa humana. A propriedade de bens e valores em geral
ed. São Paulo: Malheiros, 2011. é um direito assegurado na Constituição Federal e, como
55 ZANNONI, Eduardo. El daño en la responsabilidad civil. todos os outros, se encontra limitado pelos demais princípios
Buenos Aires: Astrea, 1982. conforme melhor se atenda à dignidade do ser humano.
56 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional 57 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional
positivo... Op. Cit., p. 437. positivo. 25. ed. São Paulo: Malheiros, 2006.

35
DIREITOS HUMANOS

A Constituição Federal delimita o que se entende por Artigo 184, CF. Compete à União desapropriar por
função social: interesse social, para fins de reforma agrária, o imóvel rural
que não esteja cumprindo sua função social, mediante
Art. 182, caput, CF. A política de desenvolvimento prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária,
urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme com cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no
diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano de sua
o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e emissão, e cuja utilização será definida em lei60.
garantir o bem-estar de seus habitantes.
Artigo 184, § 1º, CF. As benfeitorias úteis e necessárias
Artigo 182, § 1º, CF. O plano diretor, aprovado pela serão indenizadas em dinheiro.
Câmara Municipal, obrigatório para cidades com mais de
vinte mil habitantes, é o instrumento básico da política de No que tange à desapropriação por necessidade ou
desenvolvimento e de expansão urbana. utilidade pública, prevê o artigo 5º, XXIV, CF:

Artigo 182, § 2º, CF. A propriedade urbana cumpre sua Artigo 5º, XXIV, CF. A lei estabelecerá o procedimento
função social quando atende às exigências fundamentais de para desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou
ordenação da cidade expressas no plano diretor58. por interesse social, mediante justa e prévia indenização em
dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituição.
Artigo 186, CF. A função social é cumprida quando
a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo Ainda, prevê o artigo 182, § 3º, CF:
critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos
seguintes requisitos: Artigo 182, §3º, CF. As desapropriações de imóveis
I - aproveitamento racional e adequado; urbanos serão feitas com prévia e justa indenização em
II - utilização adequada dos recursos naturais dinheiro.
disponíveis e preservação do meio ambiente;
III - observância das disposições que regulam as relações Tem-se, ainda o artigo 184, §§ 2º e 3º, CF:
de trabalho;
IV - exploração que favoreça o bem-estar dos Artigo 184, §2º, CF. O decreto que declarar o imóvel
proprietários e dos trabalhadores. como de interesse social, para fins de reforma agrária,
autoriza a União a propor a ação de desapropriação.
Desapropriação
No caso de desrespeito à função social da propriedade Artigo 184, §3º, CF. Cabe à lei complementar estabelecer
cabe até mesmo desapropriação do bem, de modo procedimento contraditório especial, de rito sumário, para o
que pode-se depreender do texto constitucional duas processo judicial de desapropriação.
possibilidades de desapropriação: por desrespeito à função
social e por necessidade ou utilidade pública. A desapropriação por utilidade ou necessidade
A Constituição Federal prevê a possibilidade de pública deve se dar mediante prévia e justa indenização
desapropriação por desatendimento à função social: em dinheiro. O Decreto-lei nº 3.365/1941 a disciplina,
delimitando o procedimento e conceituando utilidade
Artigo 182, § 4º, CF. É facultado ao Poder Público pública, em seu artigo 5º:
municipal, mediante lei específica para área incluída no
plano diretor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário Artigo 5º, Decreto-lei n. 3.365/1941. Consideram-se
do solo urbano não edificado, subutilizado ou não casos de utilidade pública:
utilizado, que promova seu adequado aproveitamento, sob a) a segurança nacional;
pena, sucessivamente, de: b) a defesa do Estado;
I - parcelamento ou edificação compulsórios; c) o socorro público em caso de calamidade;
II - imposto sobre a propriedade predial e territorial rio tomar duas providências, sucessivas: primeiro, o parcela-
urbana progressivo no tempo; mento ou edificação compulsórios; depois, o estabelecimento
III - desapropriação com pagamento mediante títulos de imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana
da dívida pública de emissão previamente aprovada pelo progressivo no tempo. Se ambas medidas restarem inefica-
Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em zes, parte-se para a desapropriação por desatendimento à
parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real função social.
da indenização e os juros legais59. 60 A desapropriação em decorrência do desatendimento da
58 Instrumento básico de um processo de planejamento mu- função social é indenizada, mas não da mesma maneira que
nicipal para a implantação da política de desenvolvimento ur- a desapropriação por necessidade ou utilidade pública, já que
bano, norteando a ação dos agentes públicos e privados (Lei na primeira há violação do ordenamento constitucional pelo
n. 10.257/2001 - Estatuto da cidade). proprietário, mas na segunda não. Por isso, indeniza-se em
59 Nota-se que antes de se promover a desapropriação de títulos da dívida agrária, que na prática não são tão valoriza-
imóvel urbano por desatendimento à função social é necessá- dos quanto o dinheiro.

36
DIREITOS HUMANOS

d) a salubridade pública; A preservação da pequena propriedade em detrimento


e) a criação e melhoramento de centros de população, dos grandes latifúndios improdutivos é uma das diretrizes-
seu abastecimento regular de meios de subsistência; guias da regulamentação da política agrária brasileira, que
f) o aproveitamento industrial das minas e das jazidas tem como principal escopo a realização da reforma agrária.
minerais, das águas e da energia hidráulica; Parte da questão financeira atinente à reforma agrária
g) a assistência pública, as obras de higiene e decoração, se encontra prevista no artigo 184, §§ 4º e 5º, CF:
casas de saúde, clínicas, estações de clima e fontes medicinais;
h) a exploração ou a conservação dos serviços públicos; Artigo 184, §4º, CF. O orçamento fixará anualmente
i) a abertura, conservação e melhoramento de vias ou o volume total de títulos da dívida agrária, assim como o
logradouros públicos; a execução de planos de urbanização; montante de recursos para atender ao programa de reforma
o parcelamento do solo, com ou sem edificação, para sua agrária no exercício.
melhor utilização econômica, higiênica ou estética; a
construção ou ampliação de distritos industriais; Artigo 184, §5º, CF. São isentas de impostos federais,
j) o funcionamento dos meios de transporte coletivo; estaduais e municipais as operações de transferência de
k) a preservação e conservação dos monumentos imóveis desapropriados para fins de reforma agrária.
históricos e artísticos, isolados ou integrados em conjuntos
urbanos ou rurais, bem como as medidas necessárias a Como a finalidade da reforma agrária é transformar
manter-lhes e realçar-lhes os aspectos mais valiosos ou terras improdutivas e grandes propriedades em atinentes
característicos e, ainda, a proteção de paisagens e locais à função social, alguns imóveis rurais não podem ser
particularmente dotados pela natureza; abrangidos pela reforma agrária:
l) a preservação e a conservação adequada de arquivos,
documentos e outros bens moveis de valor histórico ou Art. 185, CF. São insuscetíveis de desapropriação para
artístico; fins de reforma agrária:
m) a construção de edifícios públicos, monumentos I - a pequena e média propriedade rural, assim definida
comemorativos e cemitérios;
em lei, desde que seu proprietário não possua outra;
n) a criação de estádios, aeródromos ou campos de
II - a propriedade produtiva.
pouso para aeronaves;
Parágrafo único. A lei garantirá tratamento especial à
o) a reedição ou divulgação de obra ou invento de
propriedade produtiva e fixará normas para o cumprimento
natureza científica, artística ou literária;
dos requisitos relativos a sua função social.
p) os demais casos previstos por leis especiais.

Um grande problema que faz com que processos Sobre as diretrizes da política agrícola, prevê o artigo
que tenham a desapropriação por objeto se estendam é 187:
a indevida valorização do imóvel pelo Poder Público, que
geralmente pretende pagar valor muito abaixo do devido, Art. 187, CF. A política agrícola será planejada e
necessitando o Judiciário intervir em prol da correta executada na forma da lei, com a participação efetiva do
avaliação. setor de produção, envolvendo produtores e trabalhadores
Outra questão reside na chamada tredestinação, rurais, bem como dos setores de comercialização, de
pela qual há a destinação de um bem expropriado armazenamento e de transportes, levando em conta,
(desapropriação) a finalidade diversa da que se planejou especialmente:
inicialmente. A tredestinação pode ser lícita ou ilícita. Será I - os instrumentos creditícios e fiscais;
ilícita quando resultante de desvio do propósito original; II - os preços compatíveis com os custos de produção e a
e será lícita quando a Administração Pública dê ao bem garantia de comercialização;
finalidade diversa, porém preservando a razão do interesse III - o incentivo à pesquisa e à tecnologia;
público. IV - a assistência técnica e extensão rural;
V - o seguro agrícola;
Política agrária e reforma agrária VI - o cooperativismo;
Enquanto desdobramento do direito à propriedade VII - a eletrificação rural e irrigação;
imóvel e da função social desta propriedade, tem-se ainda VIII - a habitação para o trabalhador rural.
o artigo 5º, XXVI, CF: § 1º Incluem-se no planejamento agrícola as atividades
agroindustriais, agropecuárias, pesqueiras e florestais.
Artigo 5º, XXVI, CF. A pequena propriedade rural, § 2º Serão compatibilizadas as ações de política
assim definida em lei, desde que trabalhada pela família, agrícola e de reforma agrária.
não será objeto de penhora para pagamento de débitos
decorrentes de sua atividade produtiva, dispondo a lei sobre As terras devolutas e públicas serão destinadas
os meios de financiar o seu desenvolvimento. conforme a política agrícola e o plano nacional de reforma
agrária (artigo 188, caput, CF). Neste sentido, “a alienação ou
Assim, se uma pessoa é mais humilde e tem uma a concessão, a qualquer título, de terras públicas com área
pequena propriedade será assegurado que permaneça superior a dois mil e quinhentos hectares a pessoa física
com ela e a torne mais produtiva. ou jurídica, ainda que por interposta pessoa, dependerá de

37
DIREITOS HUMANOS

prévia aprovação do Congresso Nacional”, salvo no caso dentro do limite da usucapião urbana? Predominou que
de alienações ou concessões de terras públicas para fins de só corria o prazo a partir da criação do instituto, não só
reforma agrária (artigo 188, §§ 1º e 2º, CF). porque antes não existia e o prazo não podia correr, como
Os que forem favorecidos pela reforma agrária também não se poderia prejudicar o proprietário.
(homens, mulheres, ambos, qualquer estado civil) não d) Moradia sua ou de sua família – não basta ter posse,
poderão negociar seus títulos pelo prazo de 10 anos (artigo é preciso que a pessoa more, sozinha ou com sua família,
189, CF). ao longo de todo o prazo (não só no início ou no final).
Consta, ainda, que “a lei regulará e limitará a aquisição Logo, não cabe acessio temporis por cessão da posse.
ou o arrendamento de propriedade rural por pessoa e) Nenhum outro imóvel, nem urbano, nem rural, no
física ou jurídica estrangeira e estabelecerá os casos que Brasil. O usucapiente não prova isso, apenas alega. Se alguém
dependerão de autorização do Congresso Nacional” (artigo não quiser a usucapião, prova o contrário. Este requisito é
190, CF). verificado no momento em que completa 5 anos.
Em relação à previsão da usucapião especial rural,
Usucapião destaca-se o artigo 191, CF:
Usucapião é o modo originário de aquisição da
propriedade que decorre da posse prolongada por um Art. 191, CF. Aquele que, não sendo proprietário de
longo tempo, preenchidos outros requisitos legais. Em imóvel rural ou urbano, possua como seu, por cinco anos
outras palavras, usucapião é uma situação em que alguém ininterruptos, sem oposição, área de terra, em zona rural,
tem a posse de um bem por um tempo longo, sem ser não superior a cinquenta hectares, tornando-a produtiva
incomodado, a ponto de se tornar proprietário. por seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia,
A Constituição regulamenta o acesso à propriedade adquirir-lhe-á a propriedade.
mediante posse prolongada no tempo – usucapião – em Parágrafo único. Os imóveis públicos não serão
casos específicos, denominados usucapião especial urbana adquiridos por usucapião.
e usucapião especial rural.
O artigo 183 da Constituição regulamenta a usucapião Além dos requisitos gerais (animus e posse que seja
especial urbana: pública, pacífica, ininterrupta e contínua), são exigidos os
seguintes requisitos específicos:
Art. 183, CF. Aquele que possuir como sua área urbana
a) Imóvel rural
de até duzentos e cinquenta metros quadrados, por cinco
b) 50 hectares, no máximo – há também legislação que
anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para
estabelece um limite mínimo, o módulo rural (Estatuto da
sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio,
Terra). É possível usucapir áreas menores que o módulo
desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou
rural? Tem prevalecido o entendimento de que pode, mas
rural.
§ 1º O título de domínio e a concessão de uso é assunto muito controverso.
serão conferidos ao homem ou à mulher, ou a ambos, c) 5 anos – pode ser considerado o prazo antes 05 de
independentemente do estado civil. outubro de 1988 (Constituição Federal)? Depende. Se a
§ 2º Esse direito não será reconhecido ao mesmo área é de até 25 hectares sim, pois já havia tal possibilidade
possuidor mais de uma vez. antes da CF/88. Se área for maior (entre 25 ha e 50 ha) não.
§ 3º Os imóveis públicos não serão adquiridos por d) Moradia sua ou de sua família – a pessoa deve morar
usucapião. na área rural.
e) Nenhum outro imóvel.
Além dos requisitos gerais (animus e posse que seja f) O usucapiente, com seu trabalho, deve ter tornado
pública, pacífica, ininterrupta e contínua), são exigidos os a área produtiva. Por isso, é chamado de usucapião “pro
seguintes requisitos específicos: labore”. Dependerá do caso concreto.
a) Área urbana – há controvérsia. Pela teoria da
localização, área urbana é a que está dentro do perímetro Uso temporário
urbano. Pela teoria da destinação, mais importante que No mais, estabelece-se uma terceira limitação ao
a localização é a sua utilização. Ex.: se tem fins agrícolas/ direito de propriedade que não possui o caráter definitivo
pecuários e estiver dentro do perímetro urbana, o imóvel é da desapropriação, mas é temporária, conforme artigo 5º,
rural. Para fins de usucapião a maioria diz que prevalece a XXV, CF:
teoria da localização.
b) Imóveis até 250 m² – Pode dentro de uma posse Artigo 5º, XXV, CF. No caso de iminente perigo público,
maior isolar área de 250m² e ingressar com a ação? A a autoridade competente poderá usar de propriedade
jurisprudência é pacífica que a posse desde o início deve particular, assegurada ao proprietário indenização ulterior,
ficar restrita a 250m². Predomina também que o terreno se houver dano.
deve ter 250m², não a área construída (a área de um
sobrado, por exemplo, pode ser maior que a de um terreno). Se uma pessoa tem uma propriedade, numa situação
c) 5 anos – houve controvérsia porque a Constituição de perigo, o poder público pode se utilizar dela (ex: montar
Federal de 1988 que criou esta modalidade. E se antes uma base para capturar um fugitivo), pois o interesse da
de 05 de outubro de 1988 uma pessoa tivesse há 4 anos coletividade é maior que o do indivíduo proprietário.

38
DIREITOS HUMANOS

Direito sucessório Artigo 5º, XXVII, CF. Aos autores pertence o direito
O direito sucessório aparece como uma faceta do exclusivo de utilização, publicação ou reprodução de
direito à propriedade, encontrando disciplina constitucional suas obras, transmissível aos herdeiros pelo tempo que a
no artigo 5º, XXX e XXXI, CF: lei fixar;

Artigo 5º, XXX, CF. É garantido o direito de herança; Artigo 5º, XXVIII, CF. São assegurados, nos termos da lei:
a) a proteção às participações individuais em obras
Artigo 5º, XXXI, CF. A sucessão de bens de estrangeiros coletivas e à reprodução da imagem e voz humanas,
situados no País será regulada pela lei brasileira em benefício inclusive nas atividades desportivas;
do cônjuge ou dos filhos brasileiros, sempre que não lhes seja b) o direito de fiscalização do aproveitamento
mais favorável a lei pessoal do de cujus. econômico das obras que criarem ou de que participarem
aos criadores, aos intérpretes e às respectivas representações
O direito à herança envolve o direito de receber – seja sindicais e associativas;
devido a uma previsão legal, seja por testamento – bens
de uma pessoa que faleceu. Assim, o patrimônio passa Artigo 5º, XXIX, CF. A lei assegurará aos autores de
para outra pessoa, conforme a vontade do falecido e/ou inventos industriais privilégio temporário para sua
a lei determine. A Constituição estabelece uma disciplina utilização, bem como proteção às criações industriais, à
específica para bens de estrangeiros situados no Brasil, propriedade das marcas, aos nomes de empresas e a outros
assegurando que eles sejam repassados ao cônjuge e filhos signos distintivos, tendo em vista o interesse social e o
brasileiros nos termos da lei mais benéfica (do Brasil ou do desenvolvimento tecnológico e econômico do País.
país estrangeiro).
Assim, a propriedade possui uma vertente intelectual
Direito do consumidor que deve ser respeitada, tanto sob o aspecto moral quanto
Nos termos do artigo 5º, XXXII, CF: sob o patrimonial. No âmbito infraconstitucional brasileiro,
a Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, regulamenta os
Artigo 5º, XXXII, CF. O Estado promoverá, na forma da direitos autorais, isto é, “os direitos de autor e os que lhes
lei, a defesa do consumidor. são conexos”.
O artigo 7° do referido diploma considera como obras
O direito do consumidor liga-se ao direito à intelectuais que merecem a proteção do direito do autor os
propriedade a partir do momento em que garante à pessoa textos de obras de natureza literária, artística ou científica;
que irá adquirir bens e serviços que estes sejam entregues e as conferências, sermões e obras semelhantes; as obras
prestados da forma adequada, impedindo que o fornecedor cinematográficas e televisivas; as composições musicais;
fotografias; ilustrações; programas de computador;
se enriqueça ilicitamente, se aproveite de maneira indevida
coletâneas e enciclopédias; entre outras.
da posição menos favorável e de vulnerabilidade técnica
Os direitos morais do autor, que são imprescritíveis,
do consumidor.
inalienáveis e irrenunciáveis, envolvem, basicamente, o
O Direito do Consumidor pode ser considerado um
direito de reivindicar a autoria da obra, ter seu nome
ramo recente do Direito. No Brasil, a legislação que o
divulgado na utilização desta, assegurar a integridade
regulamentou foi promulgada nos anos 90, qual seja
desta ou modificá-la e retirá-la de circulação se esta passar
a Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990, conforme
a afrontar sua honra ou imagem.
determinado pela Constituição Federal de 1988, que Já os direitos patrimoniais do autor, nos termos dos
também estabeleceu no artigo 48 do Ato das Disposições artigos 41 a 44 da Lei nº 9.610/98, prescrevem em 70 anos
Constitucionais Transitórias: contados do primeiro ano seguinte à sua morte ou do
falecimento do último coautor, ou contados do primeiro
Artigo 48, ADCT. O Congresso Nacional, dentro de cento ano seguinte à divulgação da obra se esta for de natureza
e vinte dias da promulgação da Constituição, elaborará audiovisual ou fotográfica. Estes, por sua vez, abrangem,
código de defesa do consumidor. basicamente, o direito de dispor sobre a reprodução,
edição, adaptação, tradução, utilização, inclusão em bases
A elaboração do Código de Defesa do Consumidor foi de dados ou qualquer outra modalidade de utilização;
um grande passo para a proteção da pessoa nas relações sendo que estas modalidades de utilização podem se dar a
de consumo que estabeleça, respeitando-se a condição de título oneroso ou gratuito.
hipossuficiente técnico daquele que adquire um bem ou “Os direitos autorais, também conhecidos como
faz uso de determinado serviço, enquanto consumidor. copyright (direito de cópia), são considerados bens móveis,
podendo ser alienados, doados, cedidos ou locados.
Propriedade intelectual Ressalte-se que a permissão a terceiros de utilização
Além da propriedade material, o constituinte protege de criações artísticas é direito do autor. [...] A proteção
também a propriedade intelectual, notadamente no artigo constitucional abrange o plágio e a contrafação. Enquanto
5º, XXVII, XXVIII e XXIX, CF: que o primeiro caracteriza-se pela difusão de obra criada ou

39
DIREITOS HUMANOS

produzida por terceiros, como se fosse própria, a segunda Relacionando-se à primeira onda de acesso à justiça,
configura a reprodução de obra alheia sem a necessária prevê a Constituição em seu artigo 5º, XXXV:
permissão do autor”61.
Artigo 5º, XXXV, CF. A lei não excluirá da apreciação do
- Direitos de acesso à justiça Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito.
A formação de um conceito sistemático de acesso
à justiça se dá com a teoria de Cappelletti e Garth, O princípio da inafastabilidade da jurisdição é o
que apontaram três ondas de acesso, isto é, três princípio de Direito Processual Público subjetivo, também
posicionamentos básicos para a realização efetiva de tal cunhado como Princípio da Ação, em que a Constituição
acesso. Tais ondas foram percebidas paulatinamente com garante a necessária tutela estatal aos conflitos ocorrentes
a evolução do Direito moderno conforme implementadas na vida em sociedade. Sempre que uma controvérsia for
as bases da onda anterior, quer dizer, ficou evidente aos levada ao Poder Judiciário, preenchidos os requisitos de
autores a emergência de uma nova onda quando superada admissibilidade, ela será resolvida, independentemente de
a afirmação das premissas da onda anterior, restando haver ou não previsão específica a respeito na legislação.
parcialmente implementada (visto que até hoje enfrentam- Também se liga à primeira onda de acesso à justiça,
se obstáculos ao pleno atendimento em todas as ondas). no que tange à abertura do Judiciário mesmo aos menos
Primeiro, Cappelletti e Garth62 entendem que surgiu favorecidos economicamente, o artigo 5º, LXXIV, CF:
uma onda de concessão de assistência judiciária aos pobres,
partindo-se da prestação sem interesse de remuneração Artigo 5º, LXXIV, CF. O Estado prestará assistência
por parte dos advogados e, ao final, levando à criação de jurídica integral e gratuita aos que comprovarem
um aparato estrutural para a prestação da assistência pelo insuficiência de recursos.
Estado.
Em segundo lugar, no entender de Cappelletti e Garth63, O constituinte, ciente de que não basta garantir o
veio a onda de superação do problema na representação acesso ao Poder Judiciário, sendo também necessária a
dos interesses difusos, saindo da concepção tradicional efetividade processual, incluiu pela Emenda Constitucional
de processo como algo restrito a apenas duas partes nº 45/2004 o inciso LXXVIII ao artigo 5º da Constituição:
individualizadas e ocasionando o surgimento de novas
instituições, como o Ministério Público. Artigo 5º, LXXVIII, CF. A todos, no âmbito judicial e
Finalmente, Cappelletti e Garth64 apontam uma terceira administrativo, são assegurados a razoável duração do
onda consistente no surgimento de uma concepção processo e os meios que garantam a celeridade de sua
mais ampla de acesso à justiça, considerando o conjunto tramitação.
de instituições, mecanismos, pessoas e procedimentos  
utilizados: “[...] esse enfoque encoraja a exploração de Com o tempo se percebeu que não bastava garantir
uma ampla variedade de reformas, incluindo alterações o acesso à justiça se este não fosse célere e eficaz. Não
nas formas de procedimento, mudanças na estrutura dos significa que se deve acelerar o processo em detrimento
tribunais ou a criação de novos tribunais, o uso de pessoas de direitos e garantias assegurados em lei, mas sim que é
leigas ou paraprofissionais, tanto como juízes quanto preciso proporcionar um trâmite que dure nem mais e nem
como defensores, modificações no direito substantivo menos que o necessário para a efetiva realização da justiça
destinadas a evitar litígios ou facilitar sua solução e a no caso concreto.
utilização de mecanismos privados ou informais de solução
dos litígios. Esse enfoque, em suma, não receia inovações - Direitos constitucionais-penais
radicais e compreensivas, que vão muito além da esfera de
representação judicial”. Juiz natural e vedação ao juízo ou tribunal de
Assim, dentro da noção de acesso à justiça, diversos exceção
aspectos podem ser destacados: de um lado, deve criar-se o Quando o artigo 5º, LIII, CF menciona:
Poder Judiciário e se disponibilizar meios para que todas as
pessoas possam buscá-lo; de outro lado, não basta garantir Artigo 5º, LIII, CF. Ninguém será processado nem
meios de acesso se estes forem insuficientes, já que para sentenciado senão pela autoridade competente”, consolida
que exista o verdadeiro acesso à justiça é necessário que se o princípio do juiz natural que assegura a toda pessoa o
aplique o direito material de maneira justa e célere. direito de conhecer previamente daquele que a julgará no
61 MORAES, Alexandre de. Direitos humanos fundamen- processo em que seja parte, revestindo tal juízo em jurisdição
tais: teoria geral, comentários aos artigos 1º a 5º da Constitui- competente para a matéria específica do caso antes mesmo
ção da República Federativa do Brasil, doutrina e jurisprudên- do fato ocorrer.
cia. São Paulo: Atlas, 1997.
62 CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à Jus- Por sua vez, um desdobramento deste princípio
tiça. Tradução Ellen Grace Northfleet. Porto Alegre: Sérgio encontra-se no artigo 5º, XXXVII, CF:
Antônio Fabris Editor, 1998, p. 31-32.
63 Ibid., p. 49-52 Artigo 5º, XXXVII, CF. Não haverá juízo ou tribunal de
64 Ibid., p. 67-73 exceção.

40
DIREITOS HUMANOS

Juízo ou Tribunal de Exceção é aquele especialmente Artigo 5º, XL, CF. A lei penal não retroagirá, salvo para
criado para uma situação pretérita, bem como não beneficiar o réu.
reconhecido como legítimo pela Constituição do país.
O dispositivo consolida outra faceta do princípio da
Tribunal do júri anterioridade: se, por um lado, é necessário que a lei tenha
A respeito da competência do Tribunal do júri, prevê o definido um fato como crime e dado certo tratamento
artigo 5º, XXXVIII, CF: penal a este fato (ex.: pena de detenção ou reclusão, tempo
de pena, etc.) antes que ele ocorra; por outro lado, se vier
Artigo 5º, XXXVIII. É reconhecida a instituição do júri, uma lei posterior ao fato que o exclua do rol de crimes ou
com a organização que lhe der a lei, assegurados: que confira tratamento mais benéfico (diminuindo a pena
a) a plenitude de defesa; ou alterando o regime de cumprimento, notadamente),
b) o sigilo das votações; ela será aplicada. Restam consagrados tanto o princípio
c) a soberania dos veredictos; da irretroatividade da lei penal in pejus quanto o da
d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos retroatividade da lei penal mais benéfica.
contra a vida.
Menções específicas a crimes
O Tribunal do Júri é formado por pessoas do povo, que O artigo 5º, XLI, CF estabelece:
julgam os seus pares. Entende-se ser direito fundamental
o de ser julgado por seus iguais, membros da sociedade Artigo 5º, XLI, CF. A lei punirá qualquer discriminação
e não magistrados, no caso de determinados crimes que atentatória dos direitos e liberdades fundamentais.
por sua natureza possuem fortes fatores de influência
emocional. Sendo assim confere fórmula genérica que remete
Plenitude da defesa envolve tanto a autodefesa quanto ao princípio da igualdade numa concepção ampla, razão
a defesa técnica e deve ser mais ampla que a denominada pela qual práticas discriminatórias não podem ser aceitas.
ampla defesa assegurada em todos os procedimentos No entanto, o constituinte entendeu por bem prever
tratamento específico a certas práticas criminosas.
judiciais e administrativos.
Neste sentido, prevê o artigo 5º, XLII, CF:
Sigilo das votações envolve a realização de votações
secretas, preservando a liberdade de voto dos que
Artigo 5º, XLII, CF. A prática do racismo constitui crime
compõem o conselho que irá julgar o ato praticado.
inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão,
A decisão tomada pelo conselho é soberana. Contudo,
nos termos da lei.
a soberania dos veredictos veda a alteração das decisões
dos jurados, não a recorribilidade dos julgamentos do A Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989 define os crimes
Tribunal do Júri para que seja procedido novo julgamento resultantes de preconceito de raça ou de cor. Contra eles
uma vez cassada a decisão recorrida, haja vista preservar não cabe fiança (pagamento de valor para deixar a prisão
o ordenamento jurídico pelo princípio do duplo grau de provisória) e não se aplica o instituto da prescrição (perda
jurisdição. de pretensão de se processar/punir uma pessoa pelo
Por fim, a competência para julgamento é dos crimes decurso do tempo).
dolosos (em que há intenção ou ao menos se assume o Não obstante, preconiza ao artigo 5º, XLIII, CF:
risco de produção do resultado) contra a vida, que são:
homicídio, aborto, induzimento, instigação ou auxílio a Artigo 5º, XLIII, CF. A lei considerará crimes inafiançáveis e
suicídio e infanticídio. Sua competência não é absoluta e é insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico
mitigada, por vezes, pela própria Constituição (artigos 29, ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos
X / 102, I, b) e c) / 105, I, a) / 108, I). como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os
executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem.
Anterioridade e irretroatividade da lei
O artigo 5º, XXXIX, CF preconiza: Anistia, graça e indulto diferenciam-se nos seguintes
termos: a anistia exclui o crime, rescinde a condenação e
Artigo5º, XXXIX, CF. Não há crime sem lei anterior que extingue totalmente a punibilidade, a graça e o indulto
o defina, nem pena sem prévia cominação legal. apenas extinguem a punibilidade, podendo ser parciais;
a anistia, em regra, atinge crimes políticos, a graça e o
É a consagração da regra do nullum crimen nulla poena indulto, crimes comuns; a anistia pode ser concedida pelo
sine praevia lege. Simultaneamente, se assegura o princípio Poder Legislativo, a graça e o indulto são de competência
da legalidade (ou reserva legal), na medida em que não exclusiva do Presidente da República; a anistia pode ser
há crime sem lei que o defina, nem pena sem prévia concedida antes da sentença final ou depois da condenação
cominação legal, e o princípio da anterioridade, posto que irrecorrível, a graça e o indulto pressupõem o trânsito
não há crime sem lei anterior que o defina. em julgado da sentença condenatória; graça e o indulto
Ainda no que tange ao princípio da anterioridade, tem- apenas extinguem a punibilidade, persistindo os efeitos do
se o artigo 5º, XL, CF: crime, apagados na anistia; graça é em regra individual e
solicitada, enquanto o indulto é coletivo e espontâneo.

41
DIREITOS HUMANOS

Não cabe graça, anistia ou indulto (pode-se considerar Pelo princípio da individualização da pena, a pena
que o artigo o abrange, pela doutrina majoritária) contra deve ser individualizada nos planos legislativo, judiciário
crimes de tortura, tráfico, terrorismo (TTT) e hediondos e executório, evitando-se a padronização a sanção penal.
(previstos na Lei nº 8.072 de 25 de julho de 1990). Além A individualização da pena significa adaptar a pena ao
disso, são crimes que não aceitam fiança. condenado, consideradas as características do agente e do
Ainda, prevê o artigo 5º, XLIV, CF: delito.
A pena privativa de liberdade é aquela que restringe,
Artigo 5º, XLIV, CF. Constitui crime inafiançável e com maior ou menor intensidade, a liberdade do
imprescritível a ação de grupos armados, civis ou condenado, consistente em permanecer em algum
militares, contra a ordem constitucional e o Estado estabelecimento prisional, por um determinado tempo.
Democrático. A pena de multa ou patrimonial opera uma diminuição
do patrimônio do indivíduo delituoso.
Por fim, dispõe a CF sobre a possibilidade de extradição A prestação social alternativa corresponde às penas
de brasileiro naturalizado caso esteja envolvido com tráfico restritivas de direitos, autônomas e substitutivas das penas
ilícito de entorpecentes: privativas de liberdade, estabelecidas no artigo 44 do
Código Penal.
Artigo 5º, LI, CF. Nenhum brasileiro será extraditado, Por seu turno, a individualização da pena deve também
salvo o naturalizado, em caso de crime comum, praticado se fazer presente na fase de sua execução, conforme se
antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento depreende do artigo 5º, XLVIII, CF:
em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na
forma da lei. Artigo 5º, XLVIII, CF. A pena será cumprida em
estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza do
Personalidade da pena delito, a idade e o sexo do apenado.
A personalidade da pena encontra respaldo no artigo
5º, XLV, CF: A distinção do estabelecimento conforme a natureza do
delito visa impedir que a prisão se torne uma faculdade do
Artigo 5º, XLV, CF. Nenhuma pena passará da pessoa crime. Infelizmente, o Estado não possui aparato suficiente
do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e para cumprir tal diretiva, diferenciando, no máximo, o nível
a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, de segurança das prisões. Quanto à idade, destacam-se
estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o as Fundações Casas, para cumprimento de medida por
limite do valor do patrimônio transferido. menores infratores. Quanto ao sexo, prisões costumam ser
exclusivamente para homens ou para mulheres.
O princípio da personalidade encerra o comando de Também se denota o respeito à individualização da
o crime ser imputado somente ao seu autor, que é, por pena nesta faceta pelo artigo 5º, L, CF:
seu turno, a única pessoa passível de sofrer a sanção. Seria
flagrante a injustiça se fosse possível alguém responder Artigo 5º, L, CF. Às presidiárias serão asseguradas
pelos atos ilícitos de outrem: caso contrário, a reação, ao condições para que possam permanecer com seus filhos
invés de restringir-se ao malfeitor, alcançaria inocentes. durante o período de amamentação.
Contudo, se uma pessoa deixou patrimônio e faleceu, este
patrimônio responderá pelas repercussões financeiras do Preserva-se a individualização da pena porque é
ilícito. tomada a condição peculiar da presa que possui filho no
período de amamentação, mas também se preserva a
Individualização da pena dignidade da criança, não a afastando do seio materno de
A individualização da pena tem por finalidade maneira precária e impedindo a formação de vínculo pela
concretizar o princípio de que a responsabilização penal é amamentação.
sempre pessoal, devendo assim ser aplicada conforme as
peculiaridades do agente. Vedação de determinadas penas
A primeira menção à individualização da pena se O constituinte viu por bem proibir algumas espécies de
encontra no artigo 5º, XLVI, CF: penas, consoante ao artigo 5º, XLVII, CF:

Artigo 5º, XLVI, CF. A lei regulará a individualização da Artigo 5º, XLVII, CF. não haverá penas:
pena e adotará, entre outras, as seguintes: a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos
a) privação ou restrição da liberdade; termos do art. 84, XIX;
b) perda de bens; b) de caráter perpétuo;
c) multa; c) de trabalhos forçados;
d) prestação social alternativa; d) de banimento;
e) suspensão ou interdição de direitos. e) cruéis.

42
DIREITOS HUMANOS

Em resumo, o inciso consolida o princípio da Devido processo legal, contraditório e ampla defesa
humanidade, pelo qual o “poder punitivo estatal não Estabelece o artigo 5º, LIV, CF:
pode aplicar sanções que atinjam a dignidade da pessoa
humana ou que lesionem a constituição físico-psíquica dos Artigo 5º, LIV, CF. Ninguém será privado da liberdade ou
condenados”65 . de seus bens sem o devido processo legal.
Quanto à questão da pena de morte, percebe-se
que o constituinte não estabeleceu uma total vedação, Pelo princípio do devido processo legal a legislação
autorizando-a nos casos de guerra declarada. Obviamente, deve ser respeitada quando o Estado pretender punir
deve-se respeitar o princípio da anterioridade da lei, ou alguém judicialmente. Logo, o procedimento deve ser livre
seja, a legislação deve prever a pena de morte ao fato de vícios e seguir estritamente a legislação vigente, sob
antes dele ser praticado. No ordenamento brasileiro, este pena de nulidade processual.
papel é cumprido pelo Código Penal Militar (Decreto-Lei Surgem como corolário do devido processo legal
nº 1.001/1969), que prevê a pena de morte a ser executada o contraditório e a ampla defesa, pois somente um
por fuzilamento nos casos tipificados em seu Livro II, que procedimento que os garanta estará livre dos vícios. Neste
aborda os crimes militares em tempo de guerra. sentido, o artigo 5º, LV, CF:
Por sua vez, estão absolutamente vedadas em
quaisquer circunstâncias as penas de caráter perpétuo, de Artigo 5º, LV, CF. Aos litigantes, em processo judicial ou
trabalhos forçados, de banimento e cruéis. administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o
No que tange aos trabalhos forçados, vale destacar contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a
que o trabalho obrigatório não é considerado um ela inerentes.
tratamento contrário à dignidade do recluso, embora
o trabalho forçado o seja. O trabalho é obrigatório, O devido processo legal possui a faceta formal,
dentro das condições do apenado, não podendo ser pela qual se deve seguir o adequado procedimento na
cruel ou menosprezar a capacidade física e intelectual do aplicação da lei e, sendo assim, respeitar o contraditório e
condenado; como o trabalho não existe independente a ampla defesa. Não obstante, o devido processo legal tem
da educação, cabe incentivar o aperfeiçoamento pessoal; sua faceta material que consiste na tomada de decisões
até mesmo porque o trabalho deve se aproximar da justas, que respeitem os parâmetros da razoabilidade e da
realidade do mundo externo, será remunerado; além disso, proporcionalidade.
condições de dignidade e segurança do trabalhador, como
descanso semanal e equipamentos de proteção, deverão Vedação de provas ilícitas
ser respeitados. Conforme o artigo 5º, LVI, CF:

Respeito à integridade do preso Artigo 5º, LVI, CF. São inadmissíveis, no processo, as
Prevê o artigo 5º, XLIX, CF: provas obtidas por meios ilícitos.

Artigo 5º, XLIX, CF. É assegurado aos presos o respeito Provas ilícitas, por força da nova redação dada ao
à integridade física e moral. artigo 157 do CPP, são as obtidas em violação a normas
constitucionais ou legai, ou seja, prova ilícita é a que
Obviamente, o desrespeito à integridade física e moral viola regra de direito material, constitucional ou legal, no
do preso é uma violação do princípio da dignidade da momento da sua obtenção. São vedadas porque não se
pessoa humana. pode aceitar o descumprimento do ordenamento para
Dois tipos de tratamentos que violam esta integridade fazê-lo cumprir: seria paradoxal.
estão mencionados no próprio artigo 5º da Constituição
Federal. Em primeiro lugar, tem-se a vedação da tortura Presunção de inocência
e de tratamentos desumanos e degradantes (artigo 5º, III, Prevê a Constituição no artigo 5º, LVII:
CF), o que vale na execução da pena.
No mais, prevê o artigo 5º, LVIII, CF: Artigo 5º, LVII, CF. Ninguém será considerado culpado
até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória.
Artigo 5º, LVIII, CF. O civilmente identificado não será
submetido a identificação criminal, salvo nas hipóteses Consolida-se o princípio da presunção de inocência,
previstas em lei. pelo qual uma pessoa não é culpada até que, em definitivo,
o Judiciário assim decida, respeitados todos os princípios e
Se uma pessoa possui identificação civil, não há garantias constitucionais.
porque fazer identificação criminal, colhendo digitais,
fotos, etc. Pensa-se que seria uma situação constrangedora Ação penal privada subsidiária da pública
desnecessária ao suspeito, sendo assim, violaria a Nos termos do artigo 5º, LIX, CF:
integridade moral.
65 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal. Artigo 5º, LIX, CF. Será admitida ação privada nos crimes
16. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. v. 1. de ação pública, se esta não for intentada no prazo legal.

43
DIREITOS HUMANOS

A chamada ação penal privada subsidiária da pública Artigo 5º, LXV, CF. A prisão ilegal será imediatamente
encontra respaldo constitucional, assegurando que a relaxada pela autoridade judiciária.
omissão do poder público na atividade de persecução
criminal não será ignorada, fornecendo-se instrumento Desta forma, como decorrência lógica, tem-se a
para que o interessado a proponha. previsão do artigo 5º, LXVI, CF:

Prisão e liberdade Artigo 5º, LXVI, CF. Ninguém será levado à prisão ou
O constituinte confere espaço bastante extenso no nela mantido, quando a lei admitir a liberdade provisória,
artigo 5º em relação ao tratamento da prisão, notadamente com ou sem fiança.
por se tratar de ato que vai contra o direito à liberdade.
Obviamente, a prisão não é vedada em todos os casos, Mesmo que a pessoa seja presa em flagrante, devido
porque práticas atentatórias a direitos fundamentais ao princípio da presunção de inocência, entende-se que
implicam na tipificação penal, autorizando a restrição da ela não deve ser mantida presa quando não preencher os
liberdade daquele que assim agiu. requisitos legais para prisão preventiva ou temporária.
No inciso LXI do artigo 5º, CF, prevê-se:
Indenização por erro judiciário
Artigo 5º, LXI, CF. Ninguém será preso senão em A disciplina sobre direitos decorrentes do erro judiciário
flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada encontra-se no artigo 5º, LXXV, CF:
de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de
transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos Artigo 5º, LXXV, CF. O Estado indenizará o condenado
em lei. por erro judiciário, assim como o que ficar preso além do
tempo fixado na sentença.
Logo, a prisão somente se dará em caso de flagrante
delito (necessariamente antes do trânsito em julgado), Trata-se do erro em que incorre um juiz na apreciação
ou em caráter temporário, provisório ou definitivo (as e julgamento de um processo criminal, resultando em
duas primeiras independente do trânsito em julgado, condenação de alguém inocente. Neste caso, o Estado
preenchidos requisitos legais e a última pela irreversibilidade indenizará. Ele também indenizará uma pessoa que ficar
da condenação). presa além do tempo que foi condenada a cumprir.
Aborda-se no artigo 5º, LXII o dever de comunicação
ao juiz e à família ou pessoa indicada pelo preso: 4) Direitos fundamentais implícitos
Nos termos do § 2º do artigo 5º da Constituição
Artigo 5º, LXII, CF. A prisão de qualquer pessoa e o local Federal:
onde se encontre serão comunicados imediatamente ao
juiz competente e à família do preso ou à pessoa por ele Artigo 5º, §2º, CF. Os direitos e garantias expressos nesta
indicada. Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos
princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais
Não obstante, o preso deverá ser informado de todos em que a República Federativa do Brasil seja parte.
os seus direitos, inclusive o direito ao silêncio, podendo
entrar em contato com sua família e com um advogado, Daí se depreende que os direitos ou garantias podem
conforme artigo 5º, LXIII, CF: estar expressos ou implícitos no texto constitucional. Sendo
assim, o rol enumerado nos incisos do artigo 5º é apenas
Artigo 5º, LXIII, CF. O preso será informado de seus exemplificativo, não taxativo.
direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe
assegurada a assistência da família e de advogado. 5) Tratados internacionais incorporados ao
ordenamento interno
Estabelece-se no artigo 5º, LXIV, CF: Estabelece o artigo 5º, § 2º, CF que os direitos e
garantias podem decorrer, dentre outras fontes, dos
Artigo 5º, LXIV, CF. O preso tem direito à identificação “tratados internacionais em que a República Federativa
dos responsáveis por sua prisão ou por seu interrogatório do Brasil seja parte”.
policial. Para o tratado internacional ingressar no ordenamento
jurídico brasileiro deve ser observado um procedimento
Por isso mesmo, o auto de prisão em flagrante e complexo, que exige o cumprimento de quatro fases:
a ata do depoimento do interrogatório são assinados a negociação (bilateral ou multilateral, com posterior
pelas autoridades envolvidas nas práticas destes atos assinatura do Presidente da República), submissão do
procedimentais. tratado assinado ao Congresso Nacional (que dará
Ainda, a legislação estabelece inúmeros requisitos para referendo por meio do decreto legislativo), ratificação do
que a prisão seja validada, sem os quais cabe relaxamento, tratado (confirmação da obrigação perante a comunidade
tanto que assim prevê o artigo 5º, LXV, CF: internacional) e a promulgação e publicação do tratado pelo

44
DIREITOS HUMANOS

Poder Executivo66. Notadamente, quando o constituinte discussão se deu com relação à prisão civil do depositário
menciona os tratados internacionais no §2º do artigo 5º infiel, prevista como legal na Constituição e ilegal no
refere-se àqueles que tenham por fulcro ampliar o rol Pacto de São José da Costa Rica (tratado de direitos
de direitos do artigo 5º, ou seja, tratado internacional de humanos aprovado antes da EC nº 45/04), sendo que o
direitos humanos. Supremo Tribunal Federal firmou o entendimento pela
O §1° e o §2° do artigo 5° existiam de maneira originária supralegalidade do tratado de direitos humanos anterior à
na Constituição Federal, conferindo o caráter de primazia Emenda (estaria numa posição que paralisaria a eficácia da
dos direitos humanos, desde logo consagrando o princípio lei infraconstitucional, mas não revogaria a Constituição no
da primazia dos direitos humanos, como reconhecido ponto controverso).
pela doutrina e jurisprudência majoritários na época. “O
princípio da primazia dos direitos humanos nas relações 6) Tribunal Penal Internacional
internacionais implica em que o Brasil deve incorporar os Preconiza o artigo 5º, CF em seu § 4º:
tratados quanto ao tema ao ordenamento interno brasileiro
e respeitá-los. Implica, também em que as normas voltadas Artigo 5º, §4º, CF. O Brasil se submete à jurisdição
à proteção da dignidade em caráter universal devem ser de Tribunal Penal Internacional a cuja criação tenha
aplicadas no Brasil em caráter prioritário em relação a manifestado adesão.
outras normas”67.  
Regra geral, os tratados internacionais comuns O Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional
ingressam com força de lei ordinária no ordenamento foi promulgado no Brasil pelo Decreto nº 4.388 de
jurídico brasileiro porque somente existe previsão 25 de setembro de 2002. Ele contém 128 artigos e foi
constitucional quanto à possibilidade da equiparação às elaborado em Roma, no dia 17 de julho de 1998, regendo a
emendas constitucionais se o tratado abranger matéria competência e o funcionamento deste Tribunal voltado às
de direitos humanos. Antes da emenda alterou o quadro pessoas responsáveis por crimes de maior gravidade com
quanto aos tratados de direitos humanos, era o que repercussão internacional (artigo 1º, ETPI).
acontecia, mas isso não significa que tais direitos eram “Ao contrário da Corte Internacional de Justiça, cuja
menos importantes devido ao princípio da primazia e ao jurisdição é restrita a Estados, ao Tribunal Penal Internacional
reconhecimento dos direitos implícitos. compete o processo e julgamento de violações contra
Por seu turno, com o advento da Emenda Constitucional indivíduos; e, distintamente dos Tribunais de crimes de
nº 45/04 se introduziu o §3º ao artigo 5º da Constituição guerra da Iugoslávia e de Ruanda, criados para analisarem
Federal, de modo que os tratados internacionais de direitos crimes cometidos durante esses conflitos, sua jurisdição
humanos foram equiparados às emendas constitucionais, não está restrita a uma situação específica”68.
desde que houvesse a aprovação do tratado em cada Resume Mello69: “a Conferência das Nações Unidas
Casa do Congresso Nacional e obtivesse a votação em sobre a criação de uma Corte Criminal Internacional,
dois turnos e com três quintos dos votos dos respectivos reunida em Roma, em 1998, aprovou a referida Corte. Ela é
membros: permanente. Tem sede em Haia. A corte tem personalidade
internacional. Ela julga: a) crime de genocídio; b) crime
Art. 5º, § 3º, CF. Os tratados e convenções contra a humanidade; c) crime de guerra; d) crime de
internacionais sobre direitos humanos que forem agressão. Para o crime de genocídio usa a definição da
aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois convenção de 1948. Como crimes contra a humanidade são
turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, citados: assassinato, escravidão, prisão violando as normas
serão equivalentes às emendas constitucionais.  internacionais, violação tortura, apartheid, escravidão
sexual, prostituição forçada, esterilização, etc. São crimes
Logo, a partir da alteração constitucional, os tratados de guerra: homicídio internacional, destruição de bens não
de direitos humanos que ingressarem no ordenamento justificada pela guerra, deportação, forçar um prisioneiro a
jurídico brasileiro, versando sobre matéria de direitos servir nas forças inimigas, etc.”.
humanos, irão passar por um processo de aprovação
semelhante ao da emenda constitucional. Direitos sociais
Contudo, há posicionamentos conflituosos quanto A Constituição Federal, dentro do Título II, aborda no
à possibilidade de considerar como hierarquicamente capítulo II a categoria dos direitos sociais, em sua maioria
constitucional os tratados internacionais de direitos normas programáticas e que necessitam de uma postura
humanos que ingressaram no ordenamento jurídico interventiva estatal em prol da implementação.
brasileiro anteriormente ao advento da referida emenda. Tal Os direitos assegurados nesta categoria encontram
menção genérica no artigo 6º, CF:
66 VICENTE SOBRINHO, Benedito. Direitos Funda-
mentais e Prisão Civil. Porto Alegre: Sérgio Antonio 68 NEVES, Gustavo Bregalda. Direito Internacional Públi-
Fabris Editor, 2008. co & Direito Internacional Privado. 3. ed. São Paulo: Atlas,
67 PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito In- 2009
ternacional Público e Privado. Salvador: JusPodivm, 69 MELLO, Celso D. de Albuquerque. Curso de Direito Inter-
2009. nacional Público. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2000.

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DIREITOS HUMANOS

Artigo 6º, CF. Art. 6º São direitos sociais a educação, 2) Reserva do possível e mínimo existencial
a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o Os direitos sociais serão concretizados gradualmente,
transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a notadamente porque estão previstos em normas
proteção à maternidade e à infância, a assistência aos programáticas e porque a implementação deles gera um
desamparados, na forma desta Constituição.  ônus para o Estado. Diferentemente dos direitos individuais,
que dependem de uma postura de abstenção estatal, os
Trata-se de desdobramento da perspectiva do Estado direitos sociais precisam que o Estado assuma um papel
Social de Direito. Em suma, são elencados os direitos ativo em prol da efetivação destes.
humanos de 2ª dimensão, notadamente conhecidos como A previsão excessiva de direitos sociais no bojo
direitos econômicos, sociais e culturais. Em resumo, os de uma Constituição, a despeito de um instante bem-
direitos sociais envolvem prestações positivas do Estado intencionado de palavras promovido pelo constituinte,
(diferente dos de liberdade, que referem-se à postura pode levar à negativa, paradoxal – e, portanto, inadmissível
de abstenção estatal), ou seja, políticas estatais que – consequência de uma Carta Magna cujas finalidades
visem consolidar o princípio da igualdade não apenas não condigam com seus próprios prescritos, fato que
formalmente, mas materialmente (tratando os desiguais de deslegitima o Poder Público como determinador de que
maneira desigual). particulares respeitem os direitos fundamentais, já que
Por seu turno, embora no capítulo específico do Título sequer eles próprios, os administradores, conseguem
II que aborda os direitos sociais não se perceba uma intensa cumprir o que consta de seu Estatuto Máximo70.
regulamentação destes, à exceção dos direitos trabalhistas, Tecnicamente, nos direitos sociais é possível invocar
o Título VIII da Constituição Federal, que aborda a ordem a cláusula da reserva do possível como argumento para a
social, se concentra em trazer normativas mais detalhadas não implementação de determinado direito social – seja
a respeitos de direitos indicados como sociais. pela absoluta ausência de recursos (reserva do possível
fática), seja pela ausência de previsão orçamentária nos
1) Igualdade material e efetivação dos direitos termos do artigo 167, CF (reserva do possível jurídica).
sociais O Ministro Celso de Mello afirmou em julgamento que
Independentemente da categoria de direitos que esteja os direitos sociais “não pode converter-se em promessa
sendo abordada, a igualdade nunca deve aparecer num constitucional inconsequente, sob pena de o Poder
sentido meramente formal, mas necessariamente material. Público, fraudando justas expectativas nele depositadas
Significa que discriminações indevidas são proibidas, mas pela coletividade, substituir, de maneira ilegítima, o
existem certas distinções que não só devem ser aceitas, cumprimento de seu impostergável dever, por um gesto
como também se mostram essenciais. irresponsável de infidelidade governamental ao que
No que tange aos direitos sociais percebe-se que a determina a própria Lei Fundamental do Estado”71.
igualdade material assume grande relevância. Afinal, esta Sendo assim, a invocação da cláusula da reserva do
categoria de direitos pressupõe uma postura ativa do possível, embora viável, não pode servir de muleta para
Estado em prol da efetivação. Nem todos podem arcar com que o Estado não arque com obrigações básicas. Neste
suas despesas de saúde, educação, cultura, alimentação e viés, geralmente, quando invocada a cláusula é afastada,
moradia, assim como nem todos se encontram na posição entendendo o Poder Judiciário que não cabe ao Estado se
de explorador da mão-de-obra, sendo a grande maioria da eximir de garantir direitos sociais com o simples argumento
população de explorados. Estas pessoas estão numa clara de que não há orçamento específico para isso – ele deveria
posição de desigualdade e caberá ao Estado cuidar para ter reservado parcela suficiente de suas finanças para
que progressivamente atinjam uma posição de igualdade atender esta demanda.
real, já que não é por conta desta posição desfavorável que Com efeito, deve ser preservado o mínimo existencial,
se pode afirmar que são menos dignos, menos titulares de que tem por fulcro limitar a discricionariedade político-
direitos fundamentais. administrativa e estabelecer diretrizes orçamentárias
Logo, a efetivação dos direitos sociais é uma meta básicas a serem seguidas, sob pena de caber a intervenção
a ser alcançada pelo Estado em prol da consolidação da do Poder Judiciário em prol de sua efetivação.
igualdade material. Sendo assim, o Estado buscará o
crescente aperfeiçoamento da oferta de serviços públicos 3) Princípio da proibição do retrocesso
com qualidade para que todos os nacionais tenham Proibição do retrocesso é a impossibilidade de que
garantidos seus direitos fundamentais de segunda uma conquista garantida na Constituição Federal sofra um
dimensão da maneira mais plena possível. retrocesso, de modo que um direito social garantido não
Há se ressaltar também que o Estado não possui pode deixar de o ser.
apenas um papel direto na promoção dos direitos Conforme jurisprudência, a proibição do retrocesso
econômicos, sociais e culturais, mas também um indireto, deve ser tomada com reservas, até mesmo porque
quando por meio de sua gestão permite que os indivíduos segundo entendimento predominante as normas do artigo
adquiram condições para sustentarem suas necessidades 70 LAZARI, Rafael José Nadim de. Reserva do possível e
pertencentes a esta categoria de direitos. mínimo existencial: a pretensão de eficácia da norma consti-
tucional em face da realidade. Curitiba: Juruá, 2012, p. 56-57.
71 RTJ 175/1212-1213, Rel. Min. CELSO DE MELLO.

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DIREITOS HUMANOS

7º, CF não são cláusula pétrea, sendo assim passíveis de pelos depósitos mensais efetivados pelo empregador,
alteração. Se for alterada normativa sobre direito trabalhista equivalentes a 8,0% do salário pago ao empregado,
assegurado no referido dispositivo, não sendo o prejuízo acrescido de atualização monetária e juros. Com o FGTS, o
evidente, entende-se válida (por exemplo, houve alteração trabalhador tem a oportunidade de formar um patrimônio,
do prazo prescricional diferenciado para os trabalhadores que pode ser sacado em momentos especiais, como o
agrícolas). O que, em hipótese alguma, pode ser aceito da aquisição da casa própria ou da aposentadoria e em
é um retrocesso evidente, seja excluindo uma categoria situações de dificuldades, que podem ocorrer com a
de direitos (ex.: abolir o Sistema Único de Saúde), seja demissão sem justa causa ou em caso de algumas doenças
diminuindo sensivelmente a abrangência da proteção (ex.: graves.
excluindo o ensino médio gratuito).
Questão polêmica se refere à proibição do retrocesso: Artigo 7º, IV, CF. Salário mínimo, fixado em lei,
se uma decisão judicial melhorar a efetivação de um direito nacionalmente unificado, capaz de atender a suas
social, ela se torna vinculante e é impossível ao legislador necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia,
alterar a Constituição para retirar este avanço? Por um lado, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene,
a proibição do retrocesso merece ser tomada em conceito transporte e previdência social, com reajustes periódicos
amplo, abrangendo inclusive decisões judiciais; por outro que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua
lado, a decisão judicial não tem por fulcro alterar a norma, vinculação para qualquer fim.
o que somente é feito pelo legislador, e ele teria o direito T
de prever que aquela decisão judicial não está incorporada rata-se de uma visível norma programática da
na proibição do retrocesso. A questão é polêmica e não há Constituição que tem por pretensão um salário mínimo
entendimento dominante. que atenda a todas as necessidades básicas de uma pessoa
e de sua família. Em pesquisa que tomou por parâmetro o
4) Direito individual do trabalho preceito constitucional, detectou-se que “o salário mínimo
O artigo 7º da Constituição enumera os direitos do trabalhador brasileiro deveria ter sido de R$ 2.892,47
individuais dos trabalhadores urbanos e rurais. São os em abril para que ele suprisse suas necessidades básicas e
direitos individuais tipicamente trabalhistas, mas que não da família, segundo estudo divulgado nesta terça-feira, 07,
excluem os demais direitos fundamentais (ex.: honra é um pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos
direito no espaço de trabalho, sob pena de se incidir em Socioeconômicos (Dieese)”72.
prática de assédio moral).
Artigo 7º, V, CF. Piso salarial proporcional à extensão e
Artigo 7º, I, CF. Relação de emprego protegida contra à complexidade do trabalho.
despedida arbitrária ou sem justa causa, nos termos de
lei complementar, que preverá indenização compensatória, Cada trabalhador, dentro de sua categoria de
dentre outros direitos. emprego, seja ele professor, comerciário, metalúrgico,
bancário, construtor civil, enfermeiro, recebe um salário
Significa que a demissão, se não for motivada por justa base, chamado de Piso Salarial, que é sua garantia de
causa, assegura ao trabalhador direitos como indenização recebimento dentro de seu grau profissional. O Valor do
compensatória, entre outros, a serem arcados pelo Piso Salarial é estabelecido em conformidade com a data
empregador. base da categoria, por isso ele é definido em conformidade
com um acordo, ou ainda com um entendimento entre
Artigo 7º, II, CF. Seguro-desemprego, em caso de patrão e trabalhador.
desemprego involuntário.
Artigo 7º, VI, CF. Irredutibilidade do salário, salvo o
Sem prejuízo de eventual indenização a ser recebida disposto em convenção ou acordo coletivo.
do empregador, o trabalhador que fique involuntariamente
desempregado – entendendo-se por desemprego O salário não pode ser reduzido, a não ser que anão
involuntário o que tenha origem num acordo de cessação do redução implique num prejuízo maior, por exemplo,
contrato de trabalho – tem direito ao seguro-desemprego, demissão em massa durante uma crise, situações que
a ser arcado pela previdência social, que tem o caráter de devem ser negociadas em convenção ou acordo coletivo.
assistência financeira temporária.
Artigo 7º, VII, CF. Garantia de salário, nunca inferior
Artigo 7º, III, CF. Fundo de garantia do tempo de ao mínimo, para os que percebem remuneração variável.
serviço.
O salário mínimo é direito de todos os trabalhadores,
Foi criado em 1967 pelo Governo Federal para mesmo daqueles que recebem remuneração variável (ex.:
proteger o trabalhador demitido sem justa causa. O FGTS baseada em comissões por venda e metas);
é constituído de contas vinculadas, abertas em nome
de cada trabalhador, quando o empregador efetua o 72 http://exame.abril.com.br/economia/noticias/salario-mini-
primeiro depósito. O saldo da conta vinculada é formado mo-deveria-ter-sido-de-r-2-892-47-em-abril

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DIREITOS HUMANOS

Artigo 7º, VIII, CF. Décimo terceiro salário com base na MPS/MF nº 19, de 10/01/2014, valor do salário-família
remuneração integral ou no valor da aposentadoria. será de R$ 35,00, por filho de até 14 anos incompletos
ou inválido, para quem ganhar até R$ 682,50. Já para o
Também conhecido como gratificação natalina, foi trabalhador que receber de R$ 682,51 até R$ 1.025,81, o
instituída no Brasil pela Lei nº 4.090/1962 e garante que valor do salário-família por filho de até 14 anos de idade ou
o trabalhador receba o correspondente a 1/12 (um doze inválido de qualquer idade será de R$ 24,66.
avos) da remuneração por mês trabalhado, ou seja,
consiste no pagamento de um salário extra ao trabalhador Artigo 7º, XIII, CF. duração do trabalho normal não
e ao aposentado no final de cada ano. superior a oito horas diárias e quarenta e quatro
semanais, facultada a compensação de horários e a
Artigo 7º, IX, CF. Remuneração do trabalho noturno redução da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva
superior à do diurno. de trabalho.

O adicional noturno é devido para o trabalho exercido Artigo 7º, XVI, CF. Remuneração do serviço
durante a noite, de modo que cada hora noturna sofre extraordinário superior, no mínimo, em cinquenta por
a redução de 7 minutos e 30 segundos, ou ainda, é cento à do normal.
feito acréscimo de 12,5% sobre o valor da hora diurna.
Considera-se noturno, nas atividades urbanas, o trabalho A legislação trabalhista vigente estabelece que a
realizado entre as 22:00 horas de um dia às 5:00 horas do duração normal do trabalho, salvo os casos especiais,
dia seguinte; nas atividades rurais, é considerado noturno é de 8 (oito) horas diárias e 44 (quarenta e quatro)
o trabalho executado na lavoura entre 21:00 horas de um semanais, no máximo. Todavia, poderá a jornada diária de
dia às 5:00 horas do dia seguinte; e na pecuária, entre 20:00 trabalho dos empregados maiores ser acrescida de horas
horas às 4:00 horas do dia seguinte. suplementares, em número não excedentes a duas, no
máximo, para efeito de serviço extraordinário, mediante
Artigo 7º, X, CF. Proteção do salário na forma da lei,
acordo individual, acordo coletivo, convenção coletiva
constituindo crime sua retenção dolosa.
ou sentença normativa. Excepcionalmente, ocorrendo
necessidade imperiosa, poderá ser prorrogada além do
Quanto ao possível crime de retenção de salário, não
limite legalmente permitido. A remuneração do serviço
há no Código Penal brasileiro uma norma que determina a
extraordinário, desde a promulgação da Constituição
ação de retenção de salário como crime. Apesar do artigo
Federal, deverá constar, obrigatoriamente, do acordo,
7º, X, CF dizer que é crime a retenção dolosa de salário,
convenção ou sentença normativa, e será, no mínimo, 50%
o dispositivo é norma de eficácia limitada, pois depende
(cinquenta por cento) superior à da hora normal.
de lei ordinária, ainda mais porque qualquer norma penal
incriminadora é regida pela legalidade estrita (artigo 5º,
XXXIX, CF). Artigo 7º, XIV, CF. Jornada de seis horas para o trabalho
realizado em turnos ininterruptos de revezamento, salvo
Artigo 7º, XI, CF. Participação nos lucros, ou resultados, negociação coletiva.
desvinculada da remuneração, e, excepcionalmente,
participação na gestão da empresa, conforme definido em O constituinte ao estabelecer jornada máxima de
lei. 6 horas para os turnos ininterruptos de revezamento,
expressamente ressalvando a hipótese de negociação
A Participação nos Lucros e Resultado (PLR), que é coletiva, objetivou prestigiar a atuação da entidade
conhecida também por Programa de Participação nos sindical. Entretanto, a jurisprudência evoluiu para uma
Resultados (PPR), está prevista na Consolidação das Leis do interpretação restritiva de seu teor, tendo como parâmetro
Trabalho (CLT) desde a Lei nº 10.101, de 19 de dezembro o fato de que o trabalho em turnos ininterruptos é por
de 2000. Ela funciona como um bônus, que é ofertado demais desgastante, penoso, além de trazer malefícios de
pelo empregador e negociado com uma comissão de ordem fisiológica para o trabalhador, inclusive distúrbios
trabalhadores da empresa. A CLT não obriga o empregador no âmbito psicossocial já que dificulta o convívio em
a fornecer o benefício, mas propõe que ele seja utilizado. sociedade e com a própria família.

Artigo 7º, XII, CF. Salário-família pago em razão do Artigo 7º, XV, CF. Repouso semanal remunerado,
dependente do trabalhador de baixa renda nos termos da lei. preferencialmente aos domingos.

Salário-família é o benefício pago na proporção do O Descanso Semanal Remunerado é de 24 (vinte


respectivo número de filhos ou equiparados de qualquer e quatro) horas consecutivas, devendo ser concedido
condição até a idade de quatorze anos ou inválido de preferencialmente aos domingos, sendo garantido a
qualquer idade, independente de carência e desde que todo trabalhador urbano, rural ou doméstico. Havendo
o salário-de-contribuição seja inferior ou igual ao limite necessidade de trabalho aos domingos, desde que
máximo permitido. De acordo com a Portaria Interministerial previamente autorizados pelo Ministério do Trabalho, aos

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DIREITOS HUMANOS

trabalhadores é assegurado pelo menos um dia de repouso por finalidade evitar a surpresa na ruptura do contrato de
semanal remunerado coincidente com um domingo a cada trabalho, possibilitando ao empregador o preenchimento
período, dependendo da atividade (artigo 67, CLT). do cargo vago e ao empregado uma nova colocação no
mercado de trabalho, sendo que o aviso prévio pode ser
Artigo 7º, XVII, CF. Gozo de férias anuais remuneradas trabalhado ou indenizado.
com, pelo menos, um terço a mais do que o salário normal.
Artigo 7º, XXII, CF. Redução dos riscos inerentes
O salário das férias deve ser superior em pelo menos ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e
um terço ao valor da remuneração normal, com todos os segurança.
adicionais e benefícios aos quais o trabalhador tem direito.
A cada doze meses de trabalho – denominado período Trata-se ao direito do trabalhador a um meio ambiente
aquisitivo – o empregado terá direito a trinta dias corridos do trabalho salubre. Fiorillo73 destaca que o equilíbrio do
de férias, se não tiver faltado injustificadamente mais de meio ambiente do trabalho está sedimentado na salubridade
cinco vezes ao serviço (caso isso ocorra, os dias das férias e na ausência de agentes que possam comprometer a
serão diminuídos de acordo com o número de faltas). incolumidade físico-psíquica dos trabalhadores.

Artigo 7º, XVIII, CF. Licença à gestante, sem prejuízo Artigo 7º, XXIII, CF. Adicional de remuneração para as
do emprego e do salário, com a duração de cento e vinte atividades penosas, insalubres ou perigosas, na forma da
dias. lei.

O salário da trabalhadora em licença é chamado Penoso é o trabalho acerbo, árduo, amargo, difícil,
de salário-maternidade, é pago pelo empregador e por molesto, trabalhoso, incômodo, laborioso, doloroso, rude,
ele descontado dos recolhimentos habituais devidos à que não é perigoso ou insalubre, mas penosa, exigindo
Previdência Social. A trabalhadora pode sair de licença a atenção e vigilância acima do comum. Ainda não há
partir do último mês de gestação, sendo que o período na legislação específica previsão sobre o adicional de
de licença é de 120 dias. A Constituição também garante penosidade.
que, do momento em que se confirma a gravidez até cinco São consideradas atividades ou operações insalubres
meses após o parto, a mulher não pode ser demitida. as que se desenvolvem excesso de limites de tolerância
para: ruído contínuo ou intermitente, ruídos de impacto,
Artigo 7º, XIX, CF. Licença-paternidade, nos termos exposição ao calor e ao frio, radiações, certos agentes
fixados em lei. químicos e biológicos, vibrações, umidade, etc. O exercício
de trabalho em condições de insalubridade assegura ao
O homem tem direito a 5 dias de licença-paternidade trabalhador a percepção de adicional, incidente sobre
para estar mais próximo do bebê recém-nascido e ajudar a o salário base do empregado (súmula 228 do TST), ou
mãe nos processos pós-operatórios. previsão mais benéfica em Convenção Coletiva de Trabalho,
equivalente a 40% (quarenta por cento), para insalubridade
Artigo 7º, XX, CF. Proteção do mercado de trabalho da de grau máximo; 20% (vinte por cento), para insalubridade
mulher, mediante incentivos específicos, nos termos da lei. de grau médio; 10% (dez por cento), para insalubridade de
grau mínimo.
Embora as mulheres sejam maioria na população de O adicional de periculosidade é um valor devido
10 anos ou mais de idade, elas são minoria na população ao empregado exposto a atividades perigosas. São
ocupada, mas estão em maioria entre os desocupados. consideradas atividades ou operações perigosas, aquelas
Acrescenta-se ainda, que elas são maioria também na que, por sua natureza ou métodos de trabalho, impliquem
população não economicamente ativa. Além disso, ainda há risco acentuado em virtude de exposição permanente
relevante diferença salarial entre homens e mulheres, sendo do trabalhador a inflamáveis, explosivos ou energia
que os homens recebem mais porque os empregadores elétrica; e a roubos ou outras espécies de violência física
entendem que eles necessitam de um salário maior para nas atividades profissionais de segurança pessoal ou
manter a família. Tais disparidades colocam em evidência patrimonial. O valor do adicional de periculosidade será o
que o mercado de trabalho da mulher deve ser protegido salário do empregado acrescido de 30%, sem os acréscimos
de forma especial. resultantes de gratificações, prêmios ou participações nos
lucros da empresa.
Artigo 7º, XXI, CF. Aviso prévio proporcional ao tempo O Tribunal Superior do Trabalho ainda não tem
de serviço, sendo no mínimo de trinta dias, nos termos da entendimento unânime sobre a possibilidade de cumulação
lei. destes adicionais.

Nas relações de emprego, quando uma das partes Artigo 7º, XXIV, CF. Aposentadoria.
deseja rescindir, sem justa causa, o contrato de trabalho por
prazo indeterminado, deverá, antecipadamente, notificar à 73 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de Direito Am-
outra parte, através do aviso prévio. O aviso prévio tem biental brasileiro. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 21.

49
DIREITOS HUMANOS

A aposentadoria é um benefício garantido a todo artigo 19 da preceitua que acidente do trabalho é o que
trabalhador brasileiro que pode ser usufruído por aquele ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa ou
que tenha contribuído ao Instituto Nacional de Seguridade pelo exercício do trabalho, provocando lesão corporal ou
Social (INSS) pelos prazos estipulados nas regras da perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou
Previdência Social e tenha atingido as idades mínimas redução, permanente ou temporária, da capacidade para
previstas. Aliás, o direito à previdência social é considerado o trabalho.
um direito social no próprio artigo 6º, CF. Seguro de Acidente de Trabalho (SAT) é uma
contribuição com natureza de tributo que as empresas
Artigo 7º, XXV, CF. Assistência gratuita aos filhos pagam para custear benefícios do INSS oriundos de
e dependentes desde o nascimento até 5 (cinco) anos de acidente de trabalho ou doença ocupacional, cobrindo a
idade em creches e pré-escolas. aposentadoria especial. A alíquota normal é de um, dois ou
três por cento sobre a remuneração do empregado, mas as
Todo estabelecimento com mais de 30 funcionárias com empresas que expõem os trabalhadores a agentes nocivos
mais de 16 anos tem a obrigação de oferecer um espaço químicos, físicos e biológicos precisam pagar adicionais
físico para que as mães deixem o filho de 0 a 6 meses, diferenciados. Assim, quanto maior o risco, maior é a
enquanto elas trabalham. Caso não ofereçam esse espaço alíquota, mas atualmente o Ministério da Previdência Social
aos bebês, a empresa é obrigada a dar auxílio-creche a pode alterar a alíquota se a empresa investir na segurança
mulher para que ela pague uma creche para o bebê de até do trabalho.
6 meses. O valor desse auxílio será determinado conforme Neste sentido, nada impede que a empresa seja
negociação coletiva na empresa (acordo da categoria ou responsabilizada pelos acidentes de trabalho, indenizando
convenção). A empresa que tiver menos de 30 funcionárias o trabalhador. Na atualidade entende-se que a
registradas não tem obrigação de conceder o benefício. É possibilidade de cumulação do benefício previdenciário,
facultativo (ela pode oferecer ou não). Existe a possibilidade assim compreendido como prestação garantida pelo
de o benefício ser estendido até os 6 anos de idade e incluir Estado ao trabalhador acidentado (responsabilidade
o trabalhador homem. A duração do auxílio-creche e o objetiva) com a indenização devida pelo empregador
valor envolvido variarão conforme negociação coletiva na em caso de culpa (responsabilidade subjetiva), é pacífica,
empresa. estando amplamente difundida na jurisprudência do
Tribunal Superior do Trabalho;
Artigo 7º, XXVI, CF. Reconhecimento das convenções e
acordos coletivos de trabalho. Artigo 7º, XXIX, CF. Ação, quanto aos créditos resultantes
das relações de trabalho, com prazo prescricional de cinco
Neste dispositivo se funda o direito coletivo do anos para os trabalhadores urbanos e rurais, até o limite de
trabalho, que encontra regulamentação constitucional nos dois anos após a extinção do contrato de trabalho.
artigo 8º a 11 da Constituição. Pelas convenções e acordos
coletivos, entidades representativas da categoria dos Prescrição é a perda da pretensão de buscar a tutela
trabalhadores entram em negociação com as empresas na jurisdicional para assegurar direitos violados. Sendo assim,
defesa dos interesses da classe, assegurando o respeito aos há um período de tempo que o empregado tem para
direitos sociais; requerer seu direito na Justiça do Trabalho. A prescrição
trabalhista é sempre de 2 (dois) anos a partir do término
Artigo 7º, XXVII, CF. Proteção em face da automação, do contrato de trabalho, atingindo as parcelas relativas aos
na forma da lei. 5 (cinco) anos anteriores, ou de 05 (cinco) anos durante a
vigência do contrato de trabalho.
Trata-se da proteção da substituição da máquina pelo
homem, que pode ser feita, notadamente, qualificando Artigo 7º, XXX, CF. Proibição de diferença de salários,
o profissional para exercer trabalhos que não possam de exercício de funções e de critério de admissão por motivo
ser desempenhados por uma máquina (ex.: se criada de sexo, idade, cor ou estado civil.
uma máquina que substitui o trabalhador, deve ser ele
qualificado para que possa operá-la). Há uma tendência de se remunerar melhor homens
brancos na faixa dos 30 anos que sejam casados, sendo
Artigo 7º, XXVIII, CF. Seguro contra acidentes de patente a diferença remuneratória para com pessoas
trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização de diferente etnia, faixa etária ou sexo. Esta distinção
a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa. atenta contra o princípio da igualdade e não é aceita pelo
constituinte, sendo possível inclusive invocar a equiparação
Atualmente, é a Lei nº 8.213/91 a responsável por salarial judicialmente.
tratar do assunto e em seus artigos 19, 20 e 21 apresenta
a definição de doenças e acidentes do trabalho. Não se Artigo 7º, XXXI, CF. Proibição de qualquer discriminação
trata de legislação específica sobre o tema, mas sim no tocante a salário e critérios de admissão do trabalhador
de uma norma que dispõe sobre as modalidades de portador de deficiência.
benefícios da previdência social. Referida Lei, em seu

50
DIREITOS HUMANOS

A pessoa portadora de deficiência, dentro de suas I - a lei não poderá exigir autorização do Estado para
limitações, possui condições de ingressar no mercado de a fundação de sindicato, ressalvado o registro no órgão
trabalho e não pode ser preterida meramente por conta de competente, vedadas ao Poder Público a interferência e a
sua deficiência. intervenção na organização sindical;
II - é vedada a criação de mais de uma organização
Artigo 7º, XXXII, CF. Proibição de distinção entre sindical, em qualquer grau, representativa de categoria
trabalho manual, técnico e intelectual ou entre os profissional ou econômica, na mesma base territorial,
profissionais respectivos. que será definida pelos trabalhadores ou empregadores
interessados, não podendo ser inferior à área de um
Os trabalhos manuais, técnicos e intelectuais são Município;
igualmente relevantes e contribuem todos para a sociedade, III - ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses
não cabendo a desvalorização de um trabalho apenas por coletivos ou individuais da categoria, inclusive em
se enquadrar numa ou outra categoria. questões judiciais ou administrativas;
IV - a assembleia geral fixará a contribuição que, em
Artigo 7º, XXXIII, CF. proibição de trabalho noturno, se tratando de categoria profissional, será descontada
perigoso ou insalubre a menores de dezoito e de em folha, para custeio do sistema confederativo da
qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na representação sindical respectiva, independentemente da
condição de aprendiz, a partir de quatorze anos. contribuição prevista em lei;
V - ninguém será obrigado a filiar-se ou a manter-se
Trata-se de norma protetiva do adolescente, filiado a sindicato;
estabelecendo-se uma idade mínima para trabalho e VI - é obrigatória a participação dos sindicatos nas
proibindo-se o trabalho em condições desfavoráveis. negociações coletivas de trabalho;
VII - o aposentado filiado tem direito a votar e ser
Artigo 7º, XXXIV, CF. Igualdade de direitos entre o votado nas organizações sindicais;
trabalhador com vínculo empregatício permanente e o
VIII - é vedada a dispensa do empregado sindicalizado
trabalhador avulso.
a partir do registro da candidatura a cargo de direção ou
representação sindical e, se eleito, ainda que suplente, até
Avulso é o trabalhador que presta serviço a várias
um ano após o final do mandato, salvo se cometer falta
empresas, mas é contratado por sindicatos e órgãos
grave nos termos da lei.
gestores de mão-de-obra, possuindo os mesmos direitos
Parágrafo único. As disposições deste artigo aplicam-
que um trabalhador com vínculo empregatício permanente.
se à organização de sindicatos rurais e de colônias de
A Emenda Constitucional nº 72/2013, conhecida como
pescadores, atendidas as condições que a lei estabelecer.
PEC das domésticas, deu nova redação ao parágrafo único
do artigo 7º:
O direito de greve, por seu turno, está previsto no
Artigo 7º, parágrafo único, CF. São assegurados à artigo 9º, CF:
categoria dos trabalhadores domésticos os direitos
previstos nos incisos IV, VI, VII, VIII, X, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, Art. 9º É assegurado o direito de greve, competindo aos
XIX, XXI, XXII, XXIV, XXVI, XXX, XXXI e XXXIII e, atendidas as trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e
condições estabelecidas em lei e observada a simplificação sobre os interesses que devam por meio dele defender.
do cumprimento das obrigações tributárias, principais § 1º A lei definirá os serviços ou atividades essenciais
e acessórias, decorrentes da relação de trabalho e suas e disporá sobre o atendimento das necessidades inadiáveis
peculiaridades, os previstos nos incisos I, II, III, IX, XII, XXV e da comunidade.
XXVIII, bem como a sua integração à previdência social.  § 2º Os abusos cometidos sujeitam os responsáveis às
penas da lei.
5) Direito coletivo do trabalho
Os artigos 8º a 11 trazem os direitos sociais coletivos dos A respeito, conferir a Lei nº 7.783/89, que dispõe sobre o
trabalhadores, que são os exercidos pelos trabalhadores, exercício do direito de greve, define as atividades essenciais,
coletivamente ou no interesse de uma coletividade, regula o atendimento das necessidades inadiáveis da
quais sejam: associação profissional ou sindical, greve, comunidade, e dá outras providências. Enquanto não for
substituição processual, participação e representação disciplinado o direito de greve dos servidores públicos,
classista74. esta é a legislação que se aplica, segundo o STF.
A liberdade de associação profissional ou sindical tem O direito de participação é previsto no artigo 10, CF:
escopo no artigo 8º, CF:
Artigo 10, CF. É assegurada a participação dos
Art. 8º, CF. É livre a associação profissional ou trabalhadores e empregadores nos colegiados dos
sindical, observado o seguinte: órgãos públicos em que seus interesses profissionais ou
74 LENZA, Pedro. Curso de direito constitucional esque- previdenciários sejam objeto de discussão e deliberação.
matizado. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.

51
DIREITOS HUMANOS

Por fim, aborda-se o direito de representação classista Não obstante, tem-se no âmbito constitucional e
no artigo 11, CF: internacional a previsão do direito de asilo, consistente
no direito de buscar abrigo em outro país quando naquele
Artigo 11, CF. Nas empresas de mais de duzentos do qual for nacional estiver sofrendo alguma perseguição.
empregados, é assegurada a eleição de um representante Tal perseguição não pode ter motivos legítimos, como
destes com a finalidade exclusiva de promover-lhes o a prática de crimes comuns ou de atos atentatórios aos
entendimento direto com os empregadores. princípios das Nações Unidas, o que subverteria a própria
finalidade desta proteção. Em suma, o que se pretende
Nacionalidade com o direito de asilo é evitar a consolidação de ameaças
O capítulo III do Título II aborda a nacionalidade, que a direitos humanos de uma pessoa por parte daqueles
vem a ser corolário dos direitos políticos, já que somente que deveriam protegê-los – isto é, os governantes e os
um nacional pode adquirir direitos políticos. entes sociais como um todo –, e não proteger pessoas que
Nacionalidade é o vínculo jurídico-político que liga
justamente cometeram tais violações.
um indivíduo a determinado Estado, fazendo com que
ele passe a integrar o povo daquele Estado, desfrutando
2) Naturalidade e naturalização
assim de direitos e obrigações.
O artigo 12 da Constituição Federal estabelece
Povo é o conjunto de nacionais. Por seu turno,
povo não é a mesma coisa que população. População é o quem são os nacionais brasileiros, dividindo-os em
conjunto de pessoas residentes no país – inclui o povo, os duas categorias: natos e naturalizados. Percebe-se que
estrangeiros residentes no país e os apátridas. naturalidade é diferente de nacionalidade – naturalidade é
apenas o local de nascimento, nacionalidade é um efetivo
1) Nacionalidade como direito humano fundamental vínculo com o Estado.
Os direitos humanos internacionais são completamente Uma pessoa pode ser considerada nacional brasileira
contrários à ideia do apátrida – ou heimatlos –, que é o tanto por ter nascido no território brasileiro quanto por
indivíduo que não possui o vínculo da nacionalidade com voluntariamente se naturalizar como brasileiro, como
nenhum Estado. Logo, a nacionalidade é um direito da se percebe no teor do artigo 12, CF. O estrangeiro, num
pessoa humana, o qual não pode ser privado de forma conceito tomado à base de exclusão, é todo aquele que
arbitrária. Não há privação arbitrária quando respeitados não é nacional brasileiro.
os critérios legais previstos no texto constitucional no que
tange à perda da nacionalidade. Em outras palavras, o a) Brasileiros natos
constituinte brasileiro não admite a figura do apátrida. Art. 12, CF. São brasileiros:
Contudo, é exatamente por ser um direito que a I - natos:
nacionalidade não pode ser uma obrigação, garantindo-se a) os nascidos na República Federativa do Brasil,
à pessoa o direito de deixar de ser nacional de um país e ainda que de pais estrangeiros, desde que estes não estejam
passar a sê-lo de outro, mudando de nacionalidade, por a serviço de seu país;
um processo conhecido como naturalização. b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou
Prevê a Declaração Universal dos Direitos Humanos mãe brasileira, desde que qualquer deles esteja a serviço
em seu artigo 15: “I) Todo homem tem direito a uma da República Federativa do Brasil;
nacionalidade. II) Ninguém será arbitrariamente privado c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de
de sua nacionalidade, nem do direito de mudar de mãe brasileira, desde que sejam registrados em repartição
nacionalidade”.
brasileira competente ou venham a residir na República
A Convenção Americana sobre Direitos Humanos
Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois
aprofunda-se em meios para garantir que toda pessoa tenha
de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira.
uma nacionalidade desde o seu nascimento ao adotar o
critério do jus solis, explicitando que ao menos a pessoa terá
a nacionalidade do território onde nasceu, quando não tiver Tradicionalmente, são possíveis dois critérios para a
direito a outra nacionalidade por previsões legais diversas. atribuição da nacionalidade primária – nacional nato –,
“Nacionalidade é um direito fundamental da pessoa notadamente: ius soli, direito de solo, o nacional nascido
humana. Todos a ela têm direito. A nacionalidade de em território do país independentemente da nacionalidade
um indivíduo não pode ficar ao mero capricho de um dos pais; e ius sanguinis, direito de sangue, que não
governo, de um governante, de um poder despótico, de depende do local de nascimento mas sim da descendência
decisões unilaterais, concebidas sem regras prévias, sem de um nacional do país (critério comum em países que
o contraditório, a defesa, que são princípios fundamentais tiveram êxodo de imigrantes).
de todo sistema jurídico que se pretenda democrático. A O brasileiro nato, primeiramente, é aquele que nasce
questão não pode ser tratada com relativismos, uma vez no território brasileiro – critério do ius soli, ainda que filho
que é muito séria”75. de pais estrangeiros, desde que não sejam estrangeiros que
75 VALVERDE, Thiago Pellegrini. Comentários aos artigos XV estejam a serviço de seu país ou de organismo internacional
e XVI. In: BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à Decla- (o que geraria um conflito de normas). Contudo, também é
ração Universal dos Direitos do Homem. Brasília: Fortium, possível ser brasileiro nato ainda que não se tenha nascido
2008, p. 87-88. no território brasileiro.

52
DIREITOS HUMANOS

No entanto, a Constituição reconhece o brasileiro assegura ao estrangeiro direito à naturalização”. Logo,


nato também pelo critério do ius sanguinis. Se qualquer na naturalização ordinária não há direito subjetivo à
dos pais estiver a serviço do Brasil, é considerado brasileiro naturalização, mesmo que preenchidos todos os requisitos.
nato, mesmo que nasça em outro país. Se qualquer dos Trata-se de ato discricionário do Ministério da Justiça. O
pais não estiverem a serviço do Brasil e a pessoa nascer mesmo não vale para a naturalização extraordinária,
no exterior é exigido que o nascido do exterior venha quando há direito subjetivo, cabendo inclusive a busca do
ao território brasileiro e aqui resida ou que tenha sido Poder Judiciário para fazê-lo valer76.
registrado em repartição competente, caso em que poderá,
aos 18 anos, manifestar-se sobre desejar permanecer com c) Tratamento diferenciado
a nacionalidade brasileira ou não. A regra é que todo nacional brasileiro, seja ele nato ou
naturalizado, deverá receber o mesmo tratamento. Neste
b) Brasileiros naturalizados sentido, o artigo 12, § 2º, CF:

Art. 12, CF. São brasileiros: [...] Artigo 12, §2º, CF. A lei não poderá estabelecer distinção
II - naturalizados: entre brasileiros natos e naturalizados, salvo nos casos
a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade previstos nesta Constituição.
brasileira, exigidas aos originários de países de língua
portuguesa apenas residência por um ano ininterrupto Percebe-se que a Constituição simultaneamente
e idoneidade moral; estabelece a não distinção e se reserva ao direito de
b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, estabelecer as hipóteses de distinção.
residentes na República Federativa do Brasil há mais de Algumas destas hipóteses de distinção já se encontram
quinze anos ininterruptos e sem condenação penal, enumeradas no parágrafo seguinte.
desde que requeiram a nacionalidade brasileira.
Artigo 12, § 3º, CF. São privativos de brasileiro nato
A naturalização deve ser voluntária e expressa.
os cargos:
O Estatuto do Estrangeiro, Lei nº 6.815/1980, rege a
I - de Presidente e Vice-Presidente da República;
questão da naturalização em mais detalhes, prevendo no
II - de Presidente da Câmara dos Deputados;
artigo 112:
III - de Presidente do Senado Federal;
IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal;
Art. 112, Lei nº 6.815/1980. São condições para a
V - da carreira diplomática;
concessão da naturalização:
VI - de oficial das Forças Armadas;
I - capacidade civil, segundo a lei brasileira;
VII - de Ministro de Estado da Defesa.
II - ser registrado como permanente no Brasil;
III - residência contínua no território nacional, pelo
prazo mínimo de quatro anos, imediatamente anteriores A lógica do dispositivo é a de que qualquer pessoa
ao pedido de naturalização; no exercício da presidência da República ou de cargo
IV - ler e escrever a língua portuguesa, consideradas as que possa levar a esta posição provisoriamente deve
condições do naturalizando; ser natural do país (ausente o Presidente da República,
V - exercício de profissão ou posse de bens suficientes à seu vice-presidente desempenha o cargo; ausente este
manutenção própria e da família; assume o Presidente da Câmara; também este ausente, em
VI - bom procedimento; seguida, exerce o cargo o Presidente do Senado; e, por fim,
VII - inexistência de denúncia, pronúncia ou condenação o Presidente do Supremo pode assumir a presidência na
no Brasil ou no exterior por crime doloso a que seja cominada ausência dos anteriores – e como o Presidente do Supremo
pena mínima de prisão, abstratamente considerada, superior é escolhido num critério de revezamento nenhum membro
a 1 (um) ano; e pode ser naturalizado); ou a de que o cargo ocupado
VIII - boa saúde. possui forte impacto em termos de representação do país
ou de segurança nacional.
Destaque vai para o requisito da residência contínua. Outras exceções são: não aceitação, em regra, de
Em regra, o estrangeiro precisa residir no país por 4 anos brasileiro naturalizado como membro do Conselho da
contínuos, conforme o inciso III do referido artigo 112. No República (artigos 89 e 90, CF); impossibilidade de ser
entanto, por previsão constitucional do artigo 12, II, “a”, se proprietário de empresa jornalística, de radiodifusão
o estrangeiro foi originário de país com língua portuguesa sonora e imagens, salvo se já naturalizado há 10 anos
o prazo de residência contínua é reduzido para 1 ano. Daí (artigo 222, CF); possibilidade de extradição do brasileiro
se afirmar que o constituinte estabeleceu a naturalização naturalizado que tenha praticado crime comum antes da
ordinária no artigo 12, II, “b” e a naturalização extraordinária naturalização ou, depois dela, crime de tráfico de drogas
no artigo 12, II, “a”. (artigo 5º, LI, CF).
Outra diferença sensível é que à naturalização ordinária
se aplica o artigo 121 do Estatuto do Estrangeiro, segundo 76 FARIA, Cássio Juvenal. Notas pessoais tomadas em tele-
o qual “a satisfação das condições previstas nesta Lei não conferência.

53
DIREITOS HUMANOS

3) Quase-nacionalidade: caso dos portugueses A expulsão é a retirada “à força” do território brasileiro


Nos termos do artigo 12, § 1º, CF: de um estrangeiro que tenha praticado atos tipificados no
artigo 65 e seu parágrafo único, ambos da Lei nº 6.815/1980:
Artigo 12, §1º, CF. Aos portugueses com residência
permanente no País, se houver reciprocidade em favor Art. 65, Lei nº 6.815/1980. É passível de expulsão
de brasileiros, serão atribuídos os direitos inerentes ao o estrangeiro que, de qualquer forma, atentar contra
brasileiro, salvo os casos previstos nesta Constituição. a segurança nacional, a ordem política ou social, a
tranquilidade ou moralidade pública e a economia popular,
É uma regra que só vale se os brasileiros receberem o ou cujo procedimento o torne nocivo à conveniência e aos
mesmo tratamento, questão regulamentada pelo Tratado interesses nacionais.
de Amizade, Cooperação e Consulta entre a República Parágrafo único. É passível, também, de expulsão o
Federativa do Brasil e a República Portuguesa, assinado em estrangeiro que:
22 de abril de 2000 (Decreto nº 3.927/2001). a) praticar fraude a fim de obter a sua entrada ou
As vantagens conferidas são: igualdade de direitos permanência no Brasil;
civis, não sendo considerado um estrangeiro; gozo de b) havendo entrado no território nacional com infração
direitos políticos se residir há 3 anos no país, autorizando- à lei, dele não se retirar no prazo que lhe for determinado
se o alistamento eleitoral. No caso de exercício dos para fazê-lo, não sendo aconselhável a deportação;
direitos políticos nestes moldes, os direitos desta natureza c) entregar-se à vadiagem ou à mendicância; ou
ficam suspensos no outro país, ou seja, não exerce d) desrespeitar proibição especialmente prevista em lei
simultaneamente direitos políticos nos dois países. para estrangeiro.

4) Perda da nacionalidade A entrega (ou surrender) consiste na submissão de


Artigo 12, § 4º, CF. Será declarada a perda da um nacional a um tribunal internacional do qual o próprio
nacionalidade do brasileiro que: país faz parte. É o que ocorreria, por exemplo, se o Brasil
I - tiver cancelada sua naturalização, por sentença entregasse um brasileiro para julgamento pelo Tribunal
judicial, em virtude de atividade nociva ao interesse Penal Internacional (competência reconhecida na própria
nacional; Constituição no artigo 5º, §4º).
II - adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos:
a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela 6) Extradição
lei estrangeira; A extradição é ato diverso da deportação, da expulsão e
b) de imposição de naturalização, pela norma da entrega. Extradição é um ato de cooperação internacional
estrangeira, ao brasileiro residente em estado estrangeiro, que consiste na entrega de uma pessoa, acusada ou
como condição para permanência em seu território ou para condenada por um ou mais crimes, ao país que a reclama.
o exercício de direitos civis. O Brasil, sob hipótese alguma, extraditará brasileiros natos
mas quanto aos naturalizados assim permite caso tenham
A respeito do inciso I do §4º do artigo 12, a Lei nº 818, praticado crimes comuns (exceto crimes políticos e/ou
de 18 de setembro de 1949 regula a aquisição, a perda de opinião) antes da naturalização, ou, mesmo depois
e a reaquisição da nacionalidade, e a perda dos direitos da naturalização, em caso de envolvimento com o tráfico
políticos. No processo deve ser respeitado o contraditório ilícito de entorpecentes (artigo 5º, LI e LII, CF).
e a iniciativa de propositura é do Procurador da República. Aplicam-se os seguintes princípios à extradição:
No que tange ao inciso II do parágrafo em estudo, a) Princípio da Especialidade: Significa que o
percebe-se a aceitação da figura do polipátrida. Na estrangeiro só pode ser julgado pelo Estado requerente
alínea “a” aceita-se que a pessoa tenha nacionalidade pelo crime objeto do pedido de extradição. O importante é
brasileira e outra se ao seu nascimento tiver adquirido que o extraditado só seja submetido às penas relativas aos
simultaneamente a nacionalidade do Brasil e outro país; na crimes que foram objeto do pedido de extradição.
alínea “b” é reconhecida a mesma situação se a aquisição b) Princípio da Dupla Punibilidade: O fato praticado
da nacionalidade do outro país for uma exigência para deve ser punível no Estado requerente e no Brasil. Logo,
continuar lá permanecendo ou exercendo seus direitos além do fato ser típico em ambos os países, deve ser
civis, pois se assim não o fosse o brasileiro seria forçado punível em ambos (se houve prescrição em algum dos
a optar por uma nacionalidade e, provavelmente, se ver países, p. ex., não pode ocorrer a extradição).
privado da nacionalidade brasileira. c) Princípio da Retroatividade dos Tratados: O fato
de um tratado de extradição entre dois países ter sido
5) Deportação, expulsão e entrega celebrado após a ocorrência do crime não impede a
A deportação representa a devolução compulsória extradição.
de um estrangeiro que tenha entrado ou esteja de forma d) Princípio da Comutação da Pena (Direitos Humanos):
irregular no território nacional, estando prevista na Lei nº Se o crime for apenado por qualquer das penas vedadas
6.815/1980, em seus artigos 57 e 58. Neste caso, não houve pelo artigo 5º, XLVII da CF, a extradição não será autorizada,
prática de qualquer ato nocivo ao Brasil, havendo, pois, salvo se houver a comutação da pena, transformação para
mera irregularidade de visto. uma pena aceita no Brasil.

54
DIREITOS HUMANOS

7) Idioma e símbolos direto e secreto com igual valor para todos. Quanto ao voto
Art. 13, CF. A língua portuguesa é o idioma oficial da direto e secreto, trata-se do instrumento para o exercício
República Federativa do Brasil. da capacidade ativa do sufrágio universal.
§ 1º São símbolos da República Federativa do Brasil a Por seu turno, o que diferencia o plebiscito do
bandeira, o hino, as armas e o selo nacionais. referendo é o momento da consulta à população: no
§ 2º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios plebiscito, primeiro se consulta a população e depois se
poderão ter símbolos próprios. toma a decisão política; no referendo, primeiro se toma a
decisão política e depois se consulta a população. Embora
Idioma é a língua falada pela população, que confere os dois partam do Congresso Nacional, o plebiscito é
caráter diferenciado em relação à população do resto do convocado, ao passo que o referendo é autorizado (art. 49,
mundo. Sendo assim, é manifestação social e cultural de XV, CF), ambos por meio de decreto legislativo. O que os
uma nação. assemelha é que os dois são “formas de consulta ao povo
Os símbolos, por sua vez, representam a imagem para que delibere sobre matéria de acentuada relevância,
da nação e permitem o seu reconhecimento nacional e de natureza constitucional, legislativa ou administrativa”77.
internacionalmente. Na iniciativa popular confere-se à população o poder
Por esta intrínseca relação com a nacionalidade, a de apresentar projeto de lei à Câmara dos Deputados,
previsão é feito dentro do capítulo do texto constitucional mediante assinatura de 1% do eleitorado nacional,
que aborda o tema. distribuído por 5 Estados no mínimo, com não menos de
0,3% dos eleitores de cada um deles. Em complemento,
Direitos políticos prevê o artigo 61, §2°, CF:
Como mencionado, a nacionalidade é corolário dos
direitos políticos, já que somente um nacional pode Art. 61, § 2º, CF. A iniciativa popular pode ser exercida
adquirir direitos políticos. No entanto, nem todo nacional pela apresentação à Câmara dos Deputados de projeto de lei
é titular de direitos políticos. Os nacionais que são titulares subscrito por, no mínimo, um por cento do eleitorado nacional,
de direitos políticos são denominados cidadãos. Significa distribuído pelo menos por cinco Estados, com não menos de
afirmar que nem todo nacional brasileiro é um cidadão três décimos por cento dos eleitores de cada um deles.
brasileiro, mas somente aquele que for titular do direito de
sufrágio universal. 3) Obrigatoriedade do alistamento eleitoral e do
voto
1) Sufrágio universal O alistamento eleitoral e o voto para os maiores de
A primeira parte do artigo 14, CF, prevê que “a soberania dezoito anos são, em regra, obrigatórios. Há facultatividade
popular será exercida pelo sufrágio universal [...]”. para os analfabetos, os maiores de setenta anos e os
Sufrágio universal é a soma de duas capacidades maiores de dezesseis e menores de dezoito anos.
eleitorais, a capacidade ativa – votar e exercer a democracia
direta – e a capacidade passiva – ser eleito como Artigo 14, § 1º, CF. O alistamento eleitoral e o voto são:
representante no modelo da democracia indireta. Ou I - obrigatórios para os maiores de dezoito anos;
ainda, sufrágio universal é o direito de todos cidadãos de II - facultativos para:
votar e ser votado. O voto, que é o ato pelo qual se exercita a) os analfabetos;
o sufrágio, deverá ser direto e secreto. b) os maiores de setenta anos;
Para ter capacidade passiva é necessário ter a ativa, c) os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos.
mas não apenas isso, há requisitos adicionais. Sendo assim,
nem toda pessoa que tem capacidade ativa tem também No mais, esta obrigatoriedade se aplica aos nacionais
capacidade passiva, embora toda pessoa que tenha brasileiros, já que, nos termos do artigo 14, §2º, CF:
capacidade passiva tenha necessariamente a ativa.
Artigo 14, §2º, CF. Não podem alistar-se como eleitores
2) Democracia direta e indireta os estrangeiros e, durante o período do serviço militar
Art. 14, CF. A soberania popular será exercida pelo obrigatório, os conscritos.
sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor
igual para todos, e, nos termos da lei, mediante: Quanto aos conscritos, são aqueles que estão
I - plebiscito; prestando serviço militar obrigatório, pois são necessárias
II - referendo; tropas disponíveis para os dias da eleição.
III - iniciativa popular.
4) Elegibilidade
A democracia brasileira adota a modalidade semidireta, O artigo 14, §§ 3º e 4º, CF, descrevem as condições
porque possibilita a participação popular direta no poder de elegibilidade, ou seja, os requisitos que devem ser
por intermédio de processos como o plebiscito, o referendo preenchidos para que uma pessoa seja eleita, no exercício
e a iniciativa popular. Como são hipóteses restritas, pode- de sua capacidade passiva do sufrágio universal.
se afirmar que a democracia indireta é predominantemente 77 LENZA, Pedro. Curso de direito constitucional es-
adotada no Brasil, por meio do sufrágio universal e do voto quematizado. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.

55
DIREITOS HUMANOS

Artigo 14, § 3º, CF. São condições de elegibilidade, na poder votar (inalistáveis são aqueles que não podem tirar o
forma da lei: título de eleitor, portanto, não podem votar, notadamente:
I - a nacionalidade brasileira; os estrangeiros e os conscritos durante o serviço militar
II - o pleno exercício dos direitos políticos; obrigatório).
III - o alistamento eleitoral;
IV - o domicílio eleitoral na circunscrição; Artigo 14, §5º, CF. O Presidente da República, os
V - a filiação partidária; Governadores de Estado e do Distrito Federal, os Prefeitos
VI - a idade mínima de: e quem os houver sucedido, ou substituído no curso dos
a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presidente mandatos poderão ser reeleitos para um único período
da República e Senador; subsequente.
b) trinta anos para Governador e Vice-Governador de
Estado e do Distrito Federal; Descreve-se no dispositivo uma hipótese de
c) vinte e um anos para Deputado Federal, Deputado inelegibilidade relativa. Se um Chefe do Poder Executivo de
Estadual ou Distrital, Prefeito, Vice-Prefeito e juiz de paz; qualquer das esferas for substituído por seu vice no curso
d) dezoito anos para Vereador. do mandato, este vice somente poderá ser eleito para um
período subsequente.
Artigo 14, § 4º, CF. São inelegíveis os inalistáveis e os Ex.: Governador renuncia ao mandato no início do seu
analfabetos. último ano de governo para concorrer ao Senado Federal
e é substituído pelo seu vice-governador. Se este se
Dos incisos I a III denotam-se requisitos correlatos à candidatar e for eleito, não poderá ao final deste mandato
nacionalidade e à titularidade de direitos políticos. Logo, se reeleger. Isto é, se o mandato o candidato renuncia no
para ser eleito é preciso ser cidadão. início de 2010 o seu mandato de 2007-2010, assumindo o
O domicílio eleitoral é o local onde a pessoa se alista vice em 2010, poderá este se candidatar para o mandato
como eleitor e, em regra, é no município onde reside, mas 2011-2014, mas caso seja eleito não poderá se reeleger
pode não o ser caso analisados aspectos como o vínculo para o mandato 2015-2018 no mesmo cargo. Foi o que
de afeto com o local (ex.: Presidente Dilma vota em Porto aconteceu com o ex-governador de Minas Gerais, Antônio
Alegre – RS, embora resida em Brasília – DF). Sendo assim, Anastasia, que assumiu em 2010 no lugar de Aécio Neves o
para se candidatar a cargo no município, deve ter domicílio governo do Estado de Minas Gerais e foi eleito governador
eleitoral nele; para se candidatar a cargo no estado, deve entre 2011 e 2014, mas não pode se candidatar à reeleição,
ter domicílio eleitoral em um de seus municípios; para se concorrendo por isso a uma vaga no Senado Federal.
candidatar a cargo nacional, deve ter domicílio eleitoral
em uma das unidades federadas do país. Aceita-se a Artigo 14, §6º, CF. Para concorrerem a outros cargos,
transferência do domicílio eleitoral ao menos 1 ano antes o Presidente da República, os Governadores de Estado e
das eleições. do Distrito Federal e os Prefeitos devem renunciar aos
A filiação partidária implica no lançamento da respectivos mandatos até seis meses antes do pleito.
candidatura por um partido político, não se aceitando a
filiação avulsa. São inelegíveis absolutamente, para quaisquer cargos,
Finalmente, o §3º do artigo 14, CF, coloca o requisito os chefes do Executivo que não renunciarem aos seus
etário, com faixa etária mínima para o desempenho de mandatos até seis meses antes do pleito eleitoral, antes
cada uma das funções, a qual deve ser auferida na data da das eleições. Ex.: Se a eleição aconteceu em 05/10/2014,
posse. necessário que tivesse renunciado até 04/04/2014.

5) Inelegibilidade Artigo 14, §7º, CF. São inelegíveis, no território de


Atender às condições de elegibilidade é necessário jurisdição do titular, o cônjuge e os parentes consanguíneos
para poder ser eleito, mas não basta. Além disso, é ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do Presidente
preciso não se enquadrar em nenhuma das hipóteses de da República, de Governador de Estado ou Território, do
inelegibilidade. Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os haja substituído
A inelegibilidade pode ser absoluta ou relativa. Na dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo se já titular
absoluta, são atingidos todos os cargos; nas relativas, são de mandato eletivo e candidato à reeleição.
atingidos determinados cargos.
São inelegíveis absolutamente, para quaisquer cargos,
Artigo 14, § 4º, CF. São inelegíveis os inalistáveis e os cônjuge e os parentes consanguíneos ou afins, até o
analfabetos. segundo grau ou por adoção, dos Chefes do Executivo ou
de quem os tenha substituído ao final do mandato, a não
O artigo 14, §4º, CF traz duas hipóteses de ser que seja já titular de mandato eletivo e candidato à
inelegibilidade, que são absolutas, atingem todos os reeleição.
cargos. Para ser elegível é preciso ser alfabetizado (os
analfabetos têm a faculdade de votar, mas não podem ser Artigo 14, §8º, CF. O militar alistável é elegível,
votados) e é preciso possuir a capacidade eleitoral ativa – atendidas as seguintes condições:

56
DIREITOS HUMANOS

I - se contar menos de dez anos de serviço, deverá 1. contra a economia popular, a fé pública, a
afastar-se da atividade; administração pública e o patrimônio público; (Incluído pela
II - se contar mais de dez anos de serviço, será Lei Complementar nº 135, de 2010)
agregado pela autoridade superior e, se eleito, passará 2. contra o patrimônio privado, o sistema financeiro,
automaticamente, no ato da diplomação, para a inatividade. o mercado de capitais e os previstos na lei que regula a
falência; (Incluído pela Lei Complementar nº 135, de 2010)
São inelegíveis absolutamente, para quaisquer cargos, 3. contra o meio ambiente e a saúde pública; (Incluído
os militares que não podem se alistar ou os que podem, mas pela Lei Complementar nº 135, de 2010)
não preenchem as condições do §8º do artigo 14, CF, ou 4. eleitorais, para os quais a lei comine pena privativa de
seja, se não se afastar da atividade caso trabalhe há menos liberdade; (Incluído pela Lei Complementar nº 135, de 2010)
de 10 anos, se não for agregado pela autoridade superior 5. de abuso de autoridade, nos casos em que houver
(suspenso do exercício das funções por sua autoridade sem condenação à perda do cargo ou à inabilitação para o
prejuízo de remuneração) caso trabalhe há mais de 10 anos exercício de função pública; (Incluído pela Lei Complementar
(sendo que a eleição passa à condição de inativo). nº 135, de 2010)
6. de lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores;
Artigo 14, §9º, CF. Lei complementar estabelecerá (Incluído pela Lei Complementar nº 135, de 2010)
outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, 7. de tráfico de entorpecentes e drogas afins, racismo,
a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade tortura, terrorismo e hediondos;
para exercício de mandato considerada vida pregressa do 8. de redução à condição análoga à de escravo; (Incluído
candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições pela Lei Complementar nº 135, de 2010)
contra a influência do poder econômico ou o abuso do 9. contra a vida e a dignidade sexual; e (Incluído pela Lei
exercício de função, cargo ou emprego na administração Complementar nº 135, de 2010)
direta ou indireta. 10. praticados por organização criminosa, quadrilha ou
bando; (Incluído pela Lei Complementar nº 135, de 2010)
O rol constitucional de inelegibilidades dos parágrafos f) os que forem declarados indignos do oficialato, ou
do artigo 14 não é taxativo, pois lei complementar pode com ele incompatíveis, pelo prazo de 8 (oito) anos; (Redação
estabelecer outros casos, tanto de inelegibilidades absolutas dada pela Lei Complementar nº 135, de 2010)
como de inelegibilidades relativas. Neste sentido, a Lei g) os que tiverem suas contas relativas ao exercício de
Complementar nº 64, de 18 de maio de 1990, estabelece cargos ou funções públicas rejeitadas por irregularidade
casos de inelegibilidade, prazos de cessação, e determina insanável que configure ato doloso de improbidade
outras providências. Esta lei foi alterada por aquela que ficou administrativa, e por decisão irrecorrível do órgão
conhecida como Lei da Ficha Limpa, Lei Complementar nº competente, salvo se esta houver sido suspensa ou anulada
135, de 04 de junho de 2010, principalmente em seu artigo pelo Poder Judiciário, para as eleições que se realizarem nos
1º, que segue. 8 (oito) anos seguintes, contados a partir da data da decisão,
aplicando-se o disposto no inciso II do art. 71 da Constituição
Art. 1º, Lei Complementar nº 64/1990. São inelegíveis: Federal, a todos os ordenadores de despesa, sem exclusão de
I - para qualquer cargo: mandatários que houverem agido nessa condição; (Redação
a) os inalistáveis e os analfabetos; dada pela Lei Complementar nº 135, de 2010)
b) os membros do Congresso Nacional, das Assembleias h) os detentores de cargo na administração pública
Legislativas, da Câmara Legislativa e das Câmaras Municipais, direta, indireta ou fundacional, que beneficiarem a si ou a
que hajam perdido os respectivos mandatos por infringência terceiros, pelo abuso do poder econômico ou político, que
do disposto nos incisos I e II do art. 55 da Constituição Federal, forem condenados em decisão transitada em julgado ou
dos dispositivos equivalentes sobre perda de mandato das proferida por órgão judicial colegiado, para a eleição na qual
Constituições Estaduais e Leis Orgânicas dos Municípios e do concorrem ou tenham sido diplomados, bem como para as
Distrito Federal, para as eleições que se realizarem durante o que se realizarem nos 8 (oito) anos seguintes; (Redação dada
período remanescente do mandato para o qual foram eleitos pela Lei Complementar nº 135, de 2010)
e nos oito anos subsequentes ao término da legislatura; i) os que, em estabelecimentos de crédito, financiamento ou
d) os que tenham contra sua pessoa representação seguro, que tenham sido ou estejam sendo objeto de processo
julgada procedente pela Justiça Eleitoral, em decisão de liquidação judicial ou extrajudicial, hajam exercido, nos
transitada em julgado ou proferida por órgão colegiado, 12 (doze) meses anteriores à respectiva decretação, cargo ou
em processo de apuração de abuso do poder econômico função de direção, administração ou representação, enquanto
ou político, para a eleição na qual concorrem ou tenham não forem exonerados de qualquer responsabilidade;
sido diplomados, bem como para as que se realizarem nos 8 j) os que forem condenados, em decisão transitada em
(oito) anos seguintes; (Redação dada pela Lei Complementar julgado ou proferida por órgão colegiado da Justiça Eleitoral,
nº 135, de 2010) por corrupção eleitoral, por captação ilícita de sufrágio, por
e) os que forem condenados, em decisão transitada em doação, captação ou gastos ilícitos de recursos de campanha
julgado ou proferida por órgão judicial colegiado, desde a ou por conduta vedada aos agentes públicos em campanhas
condenação até o transcurso do prazo de 8 (oito) anos após eleitorais que impliquem cassação do registro ou do diploma,
o cumprimento da pena, pelos crimes: (Redação dada pela pelo prazo de 8 (oito) anos a contar da eleição; (Incluído pela
Lei Complementar nº 135, de 2010) Lei Complementar nº 135, de 2010)

57
DIREITOS HUMANOS

k) o Presidente da República, o Governador de Estado 5. o Advogado-Geral da União e o Consultor-Geral da


e do Distrito Federal, o Prefeito, os membros do Congresso República;
Nacional, das Assembleias Legislativas, da Câmara 6. os chefes do Estado-Maior da Marinha, do Exército e
Legislativa, das Câmaras Municipais, que renunciarem a seus da Aeronáutica;
mandatos desde o oferecimento de representação ou petição 7. os Comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica;
capaz de autorizar a abertura de processo por infringência a 8. os Magistrados;
dispositivo da Constituição Federal, da Constituição Estadual, 9. os Presidentes, Diretores e Superintendentes de
da Lei Orgânica do Distrito Federal ou da Lei Orgânica do autarquias, empresas públicas, sociedades de economia
Município, para as eleições que se realizarem durante o mista e fundações públicas e as mantidas pelo poder público;
período remanescente do mandato para o qual foram eleitos 10. os Governadores de Estado, do Distrito Federal e de
e nos 8 (oito) anos subsequentes ao término da legislatura; Territórios;
(Incluído pela Lei Complementar nº 135, de 2010) 11. os Interventores Federais;
l) os que forem condenados à suspensão dos direitos 12. os Secretários de Estado;
políticos, em decisão transitada em julgado ou proferida 13. os Prefeitos Municipais;
por órgão judicial colegiado, por ato doloso de improbidade 14. os membros do Tribunal de Contas da União, dos
administrativa que importe lesão ao patrimônio público e Estados e do Distrito Federal;
enriquecimento ilícito, desde a condenação ou o trânsito em 15. o Diretor-Geral do Departamento de Polícia Federal;
julgado até o transcurso do prazo de 8 (oito) anos após o 16. os Secretários-Gerais, os Secretários-Executivos, os
cumprimento da pena; (Incluído pela Lei Complementar nº Secretários Nacionais, os Secretários Federais dos Ministérios
135, de 2010) e as pessoas que ocupem cargos equivalentes;
m) os que forem excluídos do exercício da profissão, por b) os que tenham exercido, nos 6 (seis) meses anteriores
decisão sancionatória do órgão profissional competente, em à eleição, nos Estados, no Distrito Federal, Territórios e
decorrência de infração ético-profissional, pelo prazo de 8 em qualquer dos poderes da União, cargo ou função, de
(oito) anos, salvo se o ato houver sido anulado ou suspenso nomeação pelo Presidente da República, sujeito à aprovação
pelo Poder Judiciário; (Incluído pela Lei Complementar nº prévia do Senado Federal;
135, de 2010) c) (Vetado);
n) os que forem condenados, em decisão transitada em d) os que, até 6 (seis) meses antes da eleição, tiverem
julgado ou proferida por órgão judicial colegiado, em razão competência ou interesse, direta, indireta ou eventual, no
de terem desfeito ou simulado desfazer vínculo conjugal ou lançamento, arrecadação ou fiscalização de impostos, taxas
de união estável para evitar caracterização de inelegibilidade, e contribuições de caráter obrigatório, inclusive parafiscais,
pelo prazo de 8 (oito) anos após a decisão que reconhecer a ou para aplicar multas relacionadas com essas atividades;
fraude; (Incluído pela Lei Complementar nº 135, de 2010) e) os que, até 6 (seis) meses antes da eleição, tenham
o) os que forem demitidos do serviço público em exercido cargo ou função de direção, administração ou
decorrência de processo administrativo ou judicial, pelo representação nas empresas de que tratam os arts. 3° e 5°
prazo de 8 (oito) anos, contado da decisão, salvo se o ato da Lei n° 4.137, de 10 de setembro de 1962, quando, pelo
houver sido suspenso ou anulado pelo Poder Judiciário; âmbito e natureza de suas atividades, possam tais empresas
(Incluído pela Lei Complementar nº 135, de 2010) influir na economia nacional;
p) a pessoa física e os dirigentes de pessoas jurídicas f) os que, detendo o controle de empresas ou grupo de
responsáveis por doações eleitorais tidas por ilegais por empresas que atuem no Brasil, nas condições monopolísticas
decisão transitada em julgado ou proferida por órgão previstas no parágrafo único do art. 5° da lei citada na alínea
colegiado da Justiça Eleitoral, pelo prazo de 8 (oito) anos anterior, não apresentarem à Justiça Eleitoral, até 6 (seis) meses
após a decisão, observando-se o procedimento previsto no antes do pleito, a prova de que fizeram cessar o abuso apurado,
art. 22; (Incluído pela Lei Complementar nº 135, de 2010) do poder econômico, ou de que transferiram, por força regular, o
q) os magistrados e os membros do Ministério Público controle de referidas empresas ou grupo de empresas;
que forem aposentados compulsoriamente por decisão g) os que tenham, dentro dos 4 (quatro) meses anteriores
sancionatória, que tenham perdido o cargo por sentença ou ao pleito, ocupado cargo ou função de direção, administração
que tenham pedido exoneração ou aposentadoria voluntária ou representação em entidades representativas de classe,
na pendência de processo administrativo disciplinar, pelo mantidas, total ou parcialmente, por contribuições impostas
prazo de 8 (oito) anos; (Incluído pela Lei Complementar nº pelo poder Público ou com recursos arrecadados e repassados
135, de 2010) pela Previdência Social;
II - para Presidente e Vice-Presidente da República: h) os que, até 6 (seis) meses depois de afastados das
a) até 6 (seis) meses depois de afastados definitivamente funções, tenham exercido cargo de Presidente, Diretor ou
de seus cargos e funções: Superintendente de sociedades com objetivos exclusivos
1. os Ministros de Estado: de operações financeiras e façam publicamente apelo à
2. os chefes dos órgãos de assessoramento direto, civil e poupança e ao crédito, inclusive através de cooperativas e
militar, da Presidência da República; da empresa ou estabelecimentos que gozem, sob qualquer
3. o chefe do órgão de assessoramento de informações forma, de vantagens asseguradas pelo poder público, salvo
da Presidência da República; se decorrentes de contratos que obedeçam a cláusulas
4. o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas; uniformes;

58
DIREITOS HUMANOS

i) os que, dentro de 6 (seis) meses anteriores ao pleito, VI - para a Câmara dos Deputados, Assembleia
hajam exercido cargo ou função de direção, administração Legislativa e Câmara Legislativa, no que lhes for aplicável,
ou representação em pessoa jurídica ou em empresa que por identidade de situações, os inelegíveis para o Senado
mantenha contrato de execução de obras, de prestação de Federal, nas mesmas condições estabelecidas, observados os
serviços ou de fornecimento de bens com órgão do Poder mesmos prazos;
Público ou sob seu controle, salvo no caso de contrato que VII - para a Câmara Municipal:
obedeça a cláusulas uniformes; a) no que lhes for aplicável, por identidade de situações,
j) os que, membros do Ministério Público, não se tenham os inelegíveis para o Senado Federal e para a Câmara dos
afastado das suas funções até 6 (seis) meses anteriores ao Deputados, observado o prazo de 6 (seis) meses para a
pleito; desincompatibilização;
I) os que, servidores públicos, estatutários ou não, dos b) em cada Município, os inelegíveis para os cargos de
órgãos ou entidades da Administração direta ou indireta Prefeito e Vice-Prefeito, observado o prazo de 6 (seis) meses
da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e para a desincompatibilização .
dos Territórios, inclusive das fundações mantidas pelo Poder § 1° Para concorrência a outros cargos, o Presidente da
Público, não se afastarem até 3 (três) meses anteriores ao República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal
pleito, garantido o direito à percepção dos seus vencimentos e os Prefeitos devem renunciar aos respectivos mandatos
integrais; até 6 (seis) meses antes do pleito.
III - para Governador e Vice-Governador de Estado e do § 2° O Vice-Presidente, o Vice-Governador e o
Distrito Federal; Vice-Prefeito poderão candidatar-se a outros cargos,
a) os inelegíveis para os cargos de Presidente e Vice- preservando os seus mandatos respectivos, desde que,
Presidente da República especificados na alínea a do inciso nos últimos 6 (seis) meses anteriores ao pleito, não tenham
II deste artigo e, no tocante às demais alíneas, quando se sucedido ou substituído o titular.
tratar de repartição pública, associação ou empresas que § 3° São inelegíveis, no território de jurisdição do titular,
operem no território do Estado ou do Distrito Federal, o cônjuge e os parentes, consanguíneos ou afins, até o
segundo grau ou por adoção, do Presidente da República,
observados os mesmos prazos;
de Governador de Estado ou Território, do Distrito Federal,
b) até 6 (seis) meses depois de afastados definitivamente
de Prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos
de seus cargos ou funções:
6 (seis) meses anteriores ao pleito, salvo se já titular de
1. os chefes dos Gabinetes Civil e Militar do Governador
mandato eletivo e candidato à reeleição.
do Estado ou do Distrito Federal;
§ 4º A inelegibilidade prevista na alínea e do inciso I
2. os comandantes do Distrito Naval, Região Militar e
deste artigo não se aplica aos crimes culposos e àqueles
Zona Aérea;
definidos em lei como de menor potencial ofensivo,
3. os diretores de órgãos estaduais ou sociedades de
nem aos crimes de ação penal privada. (Incluído pela Lei
assistência aos Municípios; Complementar nº 135, de 2010)
4. os secretários da administração municipal ou § 5º A renúncia para atender à desincompatibilização
membros de órgãos congêneres; com vistas a candidatura a cargo eletivo ou para assunção
IV - para Prefeito e Vice-Prefeito: de mandato não gerará a inelegibilidade prevista na
a) no que lhes for aplicável, por identidade de situações, alínea k, a menos que a Justiça Eleitoral reconheça fraude
os inelegíveis para os cargos de Presidente e Vice-Presidente ao disposto nesta Lei Complementar. (Incluído pela Lei
da República, Governador e Vice-Governador de Estado e Complementar nº 135, de 2010).
do Distrito Federal, observado o prazo de 4 (quatro) meses
para a desincompatibilização; 6) Impugnação de mandato
b) os membros do Ministério Público e Defensoria Encerrando a disciplina, o artigo 14, CF, aborda a
Pública em exercício na Comarca, nos 4 (quatro) meses impugnação de mandato.
anteriores ao pleito, sem prejuízo dos vencimentos integrais;
c) as autoridades policiais, civis ou militares, com Artigo 14, § 10, CF. O mandato eletivo poderá ser
exercício no Município, nos 4 (quatro) meses anteriores ao impugnado ante a Justiça Eleitoral no prazo de quinze dias
pleito; contados da diplomação, instruída a ação com provas de
V - para o Senado Federal: abuso do poder econômico, corrupção ou fraude.
a) os inelegíveis para os cargos de Presidente e Vice-
Presidente da República especificados na alínea a do inciso Artigo 14, § 11, CF. A ação de impugnação de mandato
II deste artigo e, no tocante às demais alíneas, quando tramitará em segredo de justiça, respondendo o autor, na
se tratar de repartição pública, associação ou empresa forma da lei, se temerária ou de manifesta má-fé.
que opere no território do Estado, observados os mesmos
prazos; 7) Perda e suspensão de direitos políticos
b) em cada Estado e no Distrito Federal, os inelegíveis Art. 15, CF. É vedada a cassação de direitos políticos,
para os cargos de Governador e Vice-Governador, nas cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de:
mesmas condições estabelecidas, observados os mesmos I - cancelamento da naturalização por sentença
prazos; transitada em julgado;

59
DIREITOS HUMANOS

II - incapacidade civil absoluta; Art. 17. É livre a criação, fusão, incorporação e extinção
III - condenação criminal transitada em julgado, de partidos políticos, resguardados a soberania nacional,
enquanto durarem seus efeitos; o regime democrático, o pluripartidarismo, os direitos
IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou fundamentais da pessoa humana [...].
prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII;
V - improbidade administrativa, nos termos do art. 37, Consolida-se, assim a liberdade partidária, não
§ 4º. estabelecendo a Constituição um limite de números de
partidos políticos que possam ser constituídos, permitindo
O inciso I refere-se ao cancelamento da naturalização, o também que sejam extintos, fundidos e incorporados.
que faz com que a pessoa deixe de ser nacional e, portanto, Os incisos do artigo 17 da Constituição indicam
deixe de ser titular de direitos políticos. os preceitos a serem observados na liberdade
O inciso II trata da incapacidade civil absoluta, ou seja, partidária:  caráter nacional, ou seja, terem por objetivo o
da interdição da pessoa para a prática de atos da vida civil, desempenho de atividade política no âmbito interno do
entre os quais obviamente se enquadra o sufrágio universal. país; proibição de recebimento de recursos financeiros de
O inciso III refere-se a um dos possíveis efeitos da entidade ou governo estrangeiros ou de subordinação a
condenação criminal, que é a suspensão de direitos estes, logo, o Poder Público não pode financiar campanhas
políticos. eleitorais; prestação de contas à Justiça Eleitoral,
O inciso IV trata da recusa em cumprir a obrigação notadamente para resguardar a mencionada vedação; e
militar ou a prestação substitutiva imposta em caso de funcionamento parlamentar de acordo com a lei. Ainda, a
escusa moral ou religiosa. lei veda a utilização de organização paramilitar por parte
O inciso V se refere à ação de improbidade dos partidos políticos (artigo 17, §4º, CF).
administrativa, que tramita para apurar a prática dos atos O respeito a estes ditames permite o exercício do
de improbidade administrativa, na qual uma das penas partidarismo de forma autônoma em termos estruturais e
aplicáveis é a suspensão dos direitos políticos. organizacionais, conforme o §1º do artigo 17, CF:
Os direitos políticos somente são perdidos em dois
casos, quais sejam cancelamento de naturalização por Art. 17, §1º, CF. É assegurada aos partidos políticos
sentença transitada em julgado (o indivíduo naturalizado autonomia para definir sua estrutura interna, organização
volta à condição de estrangeiro) e perda da nacionalidade e funcionamento e para adotar os critérios de escolha e o
brasileira em virtude da aquisição de outra (brasileiro se regime de suas coligações eleitorais, sem obrigatoriedade
naturaliza em outro país e assim deixa de ser considerado de vinculação entre as candidaturas em âmbito nacional,
um cidadão brasileiro, perdendo direitos políticos). Nos estadual, distrital ou municipal, devendo seus estatutos
demais casos, há suspensão. Nota-se que não há perda de estabelecer normas de disciplina e fidelidade partidária. 
direitos políticos pela prática de atos atentatórios contra a
Administração Pública por parte do servidor, mas apenas Os estatutos que tecem esta regulamentação devem
suspensão. ser registrados no Tribunal Superior Eleitoral (artigo 17, §2º,
A cassação de direitos políticos, consistente na retirada CF).
dos direitos políticos por ato unilateral do poder público, Quanto ao financiamento das campanhas e o acesso à
sem observância dos princípios elencados no artigo 5º, LV, mídia, prevê o §3º do artigo 17 da CF:
CF (ampla defesa e contraditório), é um procedimento que
só existe nos governos ditatoriais e que é absolutamente Art. 17, §3º, CF. Os partidos políticos têm direito a
vedado pelo texto constitucional. recursos do fundo partidário e acesso gratuito ao rádio e à
televisão, na forma da lei.
8) Anterioridade anual da lei eleitoral § 4º É vedada a utilização pelos partidos políticos de
organização paramilitar.
Art. 16, CF. A lei que alterar o processo eleitoral entrará § 5º Ao eleito por partido que não preencher os re-
em vigor na data de sua publicação, não se aplicando à quisitos previstos no § 3º deste artigo é assegurado o
eleição que ocorra até um ano da data de sua vigência.  mandato e facultada a filiação, sem perda do mandato, a
outro partido que os tenha atingido, não sendo essa filia-
É necessário que a lei eleitoral entre em vigor pelo ção considerada para fins de distribuição dos recursos do
menos 1 ano antes da próxima eleição, sob pena de não se fundo partidário e de acesso gratuito ao tempo de rádio e
aplicar a ela, mas somente ao próximo pleito. de televisão.     (Incluído pela Emenda Constitucional nº 97,
de 2017)
Partidos políticos
O pluripartidarismo é uma das facetas do pluralismo
político e encontra respaldo enquanto direito fundamental,
já que regulamentado no Título II, “Dos Direitos e Garantias
Fundamentais”, capítulo V, “Dos Partidos Políticos”.
O caput do artigo 17 da Constituição prevê:

60
DIREITOS HUMANOS

4. LEI Nº 9.459, DE 10 DE MARÇO DE 1997, 5. LEI Nº 9.455, DE 07 DE ABRIL DE 1997,


DEFINE OS CRIMES DE PRECONCEITO DE DEFINE OS CRIMES DE TORTURA E DÁ
RAÇA E DE COR. OUTRAS PROVIDÊNCIAS.

LEI Nº 9.459, DE 13 DE MAIO DE 1997. No Brasil, o uso da tortura - seja como meio de obtenção
de provas através da confissão, seja como forma de castigo
Altera os arts. 1º e 20 da Lei nº 7.716, de 5 de janeiro a prisioneiros - data dos tempos da Colônia. Legado da
de 1989, que define os crimes resultantes de preconceito Inquisição, a tortura nunca deixou de ser aplicada durante
de raça ou de cor, e acrescenta parágrafo ao art. 140 do os 322 anos de período colonial e nem posteriormente -
Decreto-lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. nos 67 anos do Império e no período republicano.
Durante os chamados anos de chumbo, assim como
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço  saber  que o na ditadura Vargas (período denominado Estado Novo
Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: ou República Nova, em alusão à República Velha, que se
Art. 1º Os arts. 1º e 20 da Lei nº 7.716, de 5 de janeiro findava), houve a prática sistemática da tortura contra
de 1989, passam a vigorar com a seguinte redação: presos políticos - aqueles considerados subversivos, que
“Art. 1º Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes alegadamente ameaçavam a segurança nacional. Durante
resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, o regime militar de 1964, os torturadores brasileiros eram
etnia, religião ou procedência nacional.” em sua grande maioria militares das forças armadas, em
“Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou especial do exército. Os principais centros de tortura no
preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência na- Brasil, nesta época, eram os DOI/CODI, órgãos militares de
cional. defesa interna.
Pena: reclusão de um a três anos e multa. No final dos anos 1960 e início dos anos 1970, as
§ 1º Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular sím- ditaduras militares do Brasil e de outros países da América
bolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda do Sul criaram a chamada Operação Condor, para perseguir,
que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divul- torturar e eliminar opositores. Receberam o suporte de
gação do nazismo.
especialistas militares norte-americanos, ligados à CIA,
Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa.
que ensinaram novas técnicas de tortura para obtenção de
§ 2º Se qualquer dos crimes previstos no caput é co-
informações.
metido por intermédio dos meios de comunicação social
Com a redemocratização, em 1985, cessou a prática
ou publicação de qualquer natureza:
da tortura com fins políticos. Mas as técnicas foram
Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa.
incorporadas por muitos policiais, que passaram a aplicá-
§ 3º No caso do parágrafo anterior, o juiz poderá de-
las contra os presos comuns, “suspeitos” ou detentos.
terminar, ouvido o Ministério Público ou a pedido deste,
ainda antes do inquérito policial, sob pena de desobediên- O artigo V da Declaração de 1948 prevê que “ninguém
cia: será submetido à tortura, nem a tratamento ou castigo
I - o recolhimento imediato ou a busca e apreensão cruel, desumano ou degradante”, previsão repetida no
dos exemplares do material respectivo; artigo 7º do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos
II - a cessação das respectivas transmissões radiofôni- e no artigo 5º da Convenção Americana sobre os Direitos
cas ou televisivas. Humanos. Vale lembrar que a tortura é o clássico tipo de
§ 4º Na hipótese do § 2º, constitui efeito da condena- tratamento cruel.
ção, após o trânsito em julgado da decisão, a destruição do Há uma preocupação especial da comunidade
material apreendido.» internacional de vedar tais práticas. Neste sentido, na
Art. 2º O art. 140 do Código Penal fica acrescido do esfera das Nações Unidas, tem-se a Declaração sobre a
seguinte parágrafo: Proteção de Todas as Pessoas contra a Tortura e Outras
“Art. 140. ................................................................... Penas ou Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes,
................................................................................... adotada pela Assembleia Geral em 9 de dezembro de
§ 3º Se a injúria consiste na utilização de elementos 1975, e a Convenção contra a Tortura e Outras Penas ou
referentes a raça, cor, etnia, religião ou origem: Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes, adotada
Pena: reclusão de um a três anos e multa.” pela Assembleia Geral em 10 de dezembro de 1984 e
Art. 3º Esta Lei entra em vigor na data de sua publica- ratificada pelo Brasil em 28 de setembro de 1989.
ção. Na referida Declaração, o artigo 1º traz um conceito
Art. 4º Revogam-se as disposições em contrário, espe- de tortura: “1. Sob os efeitos da presente declaração,
cialmente o art. 1º da Lei nº 8.081, de 21 de setembro de será entendido por tortura todo ato pelo qual um
1990, e a Lei nº 8.882, de 3 de junho de 1994. funcionário público, ou outra pessoa a seu poder, inflija
Brasília, 13 de maio de 1997; 176º da Independência e intencionalmente a uma pessoa penas ou sofrimentos
109º da República. graves, sendo eles físicos ou mentais, com o fim de obter

61
DIREITOS HUMANOS

dela ou de um terceiro informação ou uma confissão, de LEI NO 9.455, DE 07 DE ABRIL DE 1997


castigá-la por um ato que tenha cometido ou seja suspeita Define os crimes de tortura e dá outras providências.
de que tenha cometido, ou de intimidar a essa pessoa ou
a outras. [...]”. No documento o conceito de tortura pode Art. 1º Constitui crime de tortura:
ser assim subdividido: a) ação, não omissão; b) praticada I - constranger alguém com emprego de violência
por funcionário público ou alguém sob sua autoridade; c) ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou
com dolo (intenção); d) contra uma pessoa; e) consistente mental:
em penas ou sofrimentos graves, físicos ou mentais; f) a) com o fim de obter informação, declaração ou
visando - obtenção de informação ou confissão, castigo ou confissão da vítima ou de terceira pessoa;
intimidação. Tortura-prova ou tortura-persecutória
Pelo mesmo dispositivo, a pena privativa de
liberdade que seja aplicada em obediência à lei, ou seja, b) para provocar ação ou omissão de natureza
sem arbitrariedade, em respeito aos direitos humanos criminosa;
consagrados nas Regras Mínimas para o Tratamento dos Tortura para a prática de crime ou tortura-crime
Reclusos, não é tortura. O que constitui tortura é “[...] uma
forma agravada e deliberada de tratamento ou de pena c) em razão de discriminação racial ou religiosa;
cruel, desumana ou degradante”. Tortura discriminatória ou tortura-racismo
Merece evidência, ainda, o artigo 3º da Declaração:
“Nenhum Estado poderá tolerar a tortura ou tratos ou Sujeito ativo: crime comum, qualquer pessoa.
penas cruéis, desumanos ou degradantes. Não poderão Sujeito passivo: qualquer pessoa.
ser invocadas circunstâncias excepcionais tais como Elemento subjetivo: dolo, específico, variando para
estado de guerra ou ameaça de guerra, instabilidade cada um dos três tipos.
política interna ou qualquer outra emergência pública Tipo objetivo: constranger alguém mediante violência
como justificativa da tortura ou outros tratamentos ou ou grave ameaça, gerando sofrimento físico ou mental, é
penas cruéis, desumanos ou degradantes”. A tortura é uma conduta plurissubsistente, logo, admite tentativa.
ofensa tamanha à dignidade da pessoa humana que em
nenhuma hipótese pode ser praticada, suspendendo ou II - submeter alguém, sob sua guarda, poder ou
excetuando as garantias que a envolvem. autoridade, com emprego de violência ou grave ameaça,
Os outros artigos da Declaração tratam dos deveres a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de
estatais de criminalização e punição da tortura, bem como aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventivo.
de conscientização em treinamento de seus agentes Tortura-castigo
a respeito de sua vedação e de reparação dos danos Sujeito ativo: crime próprio, pois a pessoa deve
causados, encerrando com a invalidação de qualquer ter atributo especial consistente em guarda, poder ou
declaração ou confissão proferida nestas condições. autoridade sobre a outra.
Em geral, a Convenção mencionada apenas amplia as Sujeito passivo: qualquer pessoa que esteja sob guarda,
questões protetivas tratadas na Declaração, merecendo poder ou autoridade de outrem.
destaque o seu artigo 1º, que diferente do primeiro artigo Elemento subjetivo: dolo, específico pois deve ser
da Declaração traz uma fórmula genérica para a finalidade forma de castigo pessoal ou medida de caráter preventivo.
da tortura consistente em qualquer motivo baseado Tipo objetivo: a conduta de submeter alguém a
em discriminação de qualquer natureza. Não obstante, violência ou grave ameaça, intenso sofrimento físico ou
exclui as sanções legítimas e lembra que se a lei nacional ou mental, é plurissubsistente e, como tal, admite tentativa.
internacional trouxer conceito mais amplo este prevalecerá.
No Brasil, a Constituição de 1988 prevê no artigo 5o, III Pena - reclusão, de dois a oito anos.
que “ninguém será submetido a tortura nem a tratamento
desumano ou degradante” e considera a prática de tortura § 1º Na mesma pena incorre quem submete pessoa
como crime inafiançável e insuscetível de graça ou anistia presa ou sujeita a medida de segurança a sofrimento
(para o STF, a proibição se estende ao indulto). físico ou mental, por intermédio da prática de ato não
Pela lei infraconstitucional, a tortura é disciplinada pela previsto em lei ou não resultante de medida legal.
Lei no 9.455, de 07 de abril de 1997, que tipifica o crime de Tortura de preso ou de pessoa sujeita a medida de
tortura em seu artigo 1o, com pena de reclusão de 2 a 8 segurança
anos. Sujeito ativo: crime comum, qualquer pessoa, mas
Diferentemente da disciplina internacional, a tortura na prática será comumente cometido por quem tenha
não é ato exclusivamente praticado por funcionário público poderes no âmbito da detenção, como carcereiro ou agente
ou terceiro particular às suas ordens (seria crime próprio) prisional, ou da medida de segurança, como enfermeiro.
e sim ato que pode ser praticado, em regra, por qualquer Sujeito passivo: apenas pode ser pessoa presa ou
pessoa. Desta feita, o que distinguirá a tortura de outros sujeita a medida de segurança.
tipos penais não será a condição do agente, mas sim a Elemento subjetivo: dolo.
finalidade do ato ou mesmo a intensidade do sofrimento Tipo objetivo: submeter a sofrimento físico ou mental
causado (esse é o critério para distinguir da prática de diverso de ato típico previsto em lei ou resultante de
maus-tratos, art. 136, CP). medida legal, que é plurissubsistente, admitindo tentativa.

62
DIREITOS HUMANOS

Evidente que a pena e a medida de segurança tipicamente de pena em regime fechado para crimes hediondos e
geram um tipo de sofrimento, não é este abrangido pela equiparados (HC 111.840/ES). Caberá ao juiz individualizar
conduta típica. a pena, inclusive quanto ao regime de cumprimento.

§ 2º Aquele que se omite em face dessas condutas, Art. 2º O disposto nesta Lei aplica-se ainda quando o
quando tinha o dever de evitá-las ou apurá-las, incorre na crime não tenha sido cometido em território nacional,
pena de detenção de um a quatro anos. sendo a vítima brasileira ou encontrando-se o agente
Omissão perante a tortura em local sob jurisdição brasileira.
Sujeito ativo: pessoa que tivesse autoridade para evitar Trata-se de hipótese de extraterritorialidade
ou apurar as condutas. incondicionada da lei penal. O legislador quis garantir a
Sujeito passivo: qualquer pessoa. punição da prática repulsiva da tortura independentemente
Elemento subjetivo: dolo. da localização da vítima (sendo ela brasileira) ou da
Tipo objetivo: tratando-se de conduta omissiva, não nacionalidade do agente (estando ele sob jurisdição
admite tentativa. brasileira).

§ 3º Se resulta lesão corporal de natureza grave ou Art. 3º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
gravíssima, a pena é de reclusão de quatro a dez anos; se
resulta morte, a reclusão é de oito a dezesseis anos. Art. 4º Revoga-se o art. 233 da Lei nº 8.069, de 13 de
Tortura qualificada julho de 1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente.
Tortura + lesão grave ou gravíssima = reclusão, 4 a 10
anos. Brasília, 7 de abril de 1997; 176º da Independência e
Tortura + morte = reclusão, 8 a 16 anos. 109º da República.
Em ambos casos, vai se verificar se o autor da conduta
realmente não quis nem assumiu o risco de produzir o EXERCÍCIOS
resultado da lesão grave/gravíssima ou da morte, ou seja,
a lesão grave/gravíssima ou a morte não podem ter sido 1. (UECE-CEV/2017 - SEAS - CE - Assistente Social /
Pedagogo / Psicólogo) O disposto na Lei Federal nº 9.455
almejadas pelo autor, se forem, há concurso formal entre a
de 1997 (Lei da Tortura)
tortura e a lesão (art. 129, §§ 1o e 2o, CP) ou então homicídio
a) aplica-se quando o crime não tenha sido cometido
qualificado pela tortura (art. 121, §2o, III, CP).
em território nacional, sendo a vítima estrangeira, ainda que
o agente não se encontre em local sob jurisdição brasileira.
§ 4º Aumenta-se a pena de um sexto até um terço:
b) não se aplica quando o crime não tenha sido
I - se o crime é cometido por agente público;
cometido em território nacional.
II – se o crime é cometido contra criança, gestante,
c) aplica-se quando o crime não tenha sido cometido
portador de deficiência, adolescente ou maior de 60 em território nacional, sendo a vítima brasileira ou
(sessenta) anos; encontrando-se o agente em local sob jurisdição brasileira.
III - se o crime é cometido mediante sequestro. d) não se aplica quando o crime tenha sido cometido
Causas de aumento de pena em território nacional, mas a vítima seja estrangeira.
Se aplicam a todos os tipos anteriores.
Se houver mais de uma causa presente, o juiz apenas R: C. Prevê a Lei de Tortura (Lei no 9.455/97): “art.
aumenta a pena uma vez, no montante máximo de 1/3. 2º. O disposto nesta Lei aplica-se ainda quando o crime
não tenha sido cometido em território nacional, sendo a
§ 5º A condenação acarretará a perda do cargo, vítima brasileira ou encontrando-se o agente em local sob
função ou emprego público e a interdição para seu jurisdição brasileira”.
exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada.
Se o sujeito ativo for funcionário público, perderá o 2. (CONSULPLAN/2017 - TRF - 2ª REGIÃO - Técnico
cargo, função ou emprego; se não for, ficará impedido de Judiciário - Segurança e Transporte) Os crimes previstos
obtê-lo ou de tentar retornar a cargo diverso, pelo dobro na Lei de Tortura (Lei nº 9.455, de 7 de abril de 1997) NÃO
do prazo da pena empregada. terão a sua pena aumentada de um sexto até um terço se
o crime for cometido
§ 6º O crime de tortura é inafiançável e insuscetível a) por agente público.
de graça ou anistia. b) mediante sequestro.
Também é insuscetível de indulto. c) contra vítima de 55 anos.
d) contra portador de deficiência.
§ 7º O condenado por crime previsto nesta Lei, salvo
a hipótese do § 2º, iniciará o cumprimento da pena em R: C. Preconiza o art. 1o em seu §4o: “Aumenta-se a pena
regime fechado. de um sexto até um terço: I - se o crime é cometido por agente
Salvo no caso de omissão para a prática de tortura, público; II - se o crime é cometido contra criança, gestante,
o regime inicial de cumprimento da pena seria fechado. portador de deficiência, adolescente ou maior de 60 (sessenta)
Entretanto, o STF afastou a obrigatoriedade de início anos; III - se o crime é cometido mediante sequestro”.

63
DIREITOS HUMANOS

§ 3o O ingresso no programa, as restrições de segurança


6. LEI Nº 9.807, DE 13 DE JULHO DE e demais medidas por ele adotadas terão sempre a anuência
1999, ESTABELECE NORMAS PARA A da pessoa protegida, ou de seu representante legal.
ORGANIZAÇÃO E A MANUTENÇÃO DE § 4o  Após ingressar no programa, o protegido ficará
obrigado ao cumprimento das normas por ele prescritas.
PROGRAMAS ESPECIAIS DE PROTEÇÃO A
§ 5o As medidas e providências relacionadas com os
VÍTIMAS E A TESTEMUNHAS AMEAÇADAS:
programas serão adotadas, executadas e mantidas em si-
ART. 1º AO 15. gilo pelos protegidos e pelos agentes envolvidos em sua
execução.
Art. 3o Toda admissão no programa ou exclusão dele
será precedida de consulta ao Ministério Público sobre o
LEI Nº 9.807, DE 13 DE JULHO DE 1999. disposto no art. 2o e deverá ser subsequentemente comu-
nicada à autoridade policial ou ao juiz competente.
Estabelece normas para a organização e a manutenção Art. 4o Cada programa será dirigido por um conselho
de programas especiais de proteção a vítimas e a testemu- deliberativo em cuja composição haverá representantes do
nhas ameaçadas, institui o Programa Federal de Assistência Ministério Público, do Poder Judiciário e de órgãos públi-
a Vítimas e a Testemunhas Ameaçadas e dispõe sobre a cos e privados relacionados com a segurança pública e a
proteção de acusados ou condenados que tenham volun- defesa dos direitos humanos.
tariamente prestado efetiva colaboração à investigação
§ 1o A execução das atividades necessárias ao progra-
policial e ao processo criminal.
ma ficará a cargo de um dos órgãos representados no con-
selho deliberativo, devendo os agentes dela incumbidos
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Con-
ter formação e capacitação profissional compatíveis com
gresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
suas tarefas.
§ 2o Os órgãos policiais prestarão a colaboração e o
CAPÍTULO I
apoio necessários à execução de cada programa.
DA PROTEÇÃO ESPECIAL A VÍTIMAS E A TESTEMU-
NHAS Art. 5o A solicitação objetivando ingresso no programa
poderá ser encaminhada ao órgão executor:
Art. 1o As medidas de proteção requeridas por vítimas I - pelo interessado;
ou por testemunhas de crimes que estejam coagidas ou II - por representante do Ministério Público;
expostas a grave ameaça em razão de colaborarem com III - pela autoridade policial que conduz a investigação
a investigação ou processo criminal serão prestadas pela criminal;
União, pelos Estados e pelo Distrito Federal, no âmbito das IV - pelo juiz competente para a instrução do processo
respectivas competências, na forma de programas espe- criminal;
ciais organizados com base nas disposições desta Lei. V - por órgãos públicos e entidades com atribuições de
§ 1o A União, os Estados e o Distrito Federal poderão defesa dos direitos humanos.
celebrar convênios, acordos, ajustes ou termos de parceria § 1o A solicitação será instruída com a qualificação da
entre si ou com entidades não-governamentais objetivan- pessoa a ser protegida e com informações sobre a sua vida
do a realização dos programas. pregressa, o fato delituoso e a coação ou ameaça que a
§ 2o A supervisão e a fiscalização dos convênios, acor- motiva.
dos, ajustes e termos de parceria de interesse da União § 2o Para fins de instrução do pedido, o órgão executor
ficarão a cargo do órgão do Ministério da Justiça com atri- poderá solicitar, com a aquiescência do interessado:
buições para a execução da política de direitos humanos. I - documentos ou informações comprobatórios de sua
Art. 2o A proteção concedida pelos programas e as me- identidade, estado civil, situação profissional, patrimônio e
didas dela decorrentes levarão em conta a gravidade da grau de instrução, e da pendência de obrigações civis, ad-
coação ou da ameaça à integridade física ou psicológica, a ministrativas, fiscais, financeiras ou penais;
dificuldade de preveni-las ou reprimi-las pelos meios con- II - exames ou pareceres técnicos sobre a sua persona-
vencionais e a sua importância para a produção da prova. lidade, estado físico ou psicológico.
§ 1o A proteção poderá ser dirigida ou estendida ao cônju- § 3o Em caso de urgência e levando em considera-
ge ou companheiro, ascendentes, descendentes e dependen- ção a procedência, gravidade e a iminência da coação ou
tes que tenham convivência habitual com a vítima ou teste- ameaça, a vítima ou testemunha poderá ser colocada pro-
munha, conforme o especificamente necessário em cada caso. visoriamente sob a custódia de órgão policial, pelo órgão
§ 2o Estão excluídos da proteção os indivíduos cuja per- executor, no aguardo de decisão do conselho deliberativo,
sonalidade ou conduta seja incompatível com as restrições com comunicação imediata a seus membros e ao Ministé-
de comportamento exigidas pelo programa, os condena- rio Público.
dos que estejam cumprindo pena e os indiciados ou acusa- Art. 6o O conselho deliberativo decidirá sobre:
dos sob prisão cautelar em qualquer de suas modalidades. I - o ingresso do protegido no programa ou a sua ex-
Tal exclusão não trará prejuízo a eventual prestação de me- clusão;
didas de preservação da integridade física desses indiví- II - as providências necessárias ao cumprimento do
duos por parte dos órgãos de segurança pública. programa.

64
DIREITOS HUMANOS

Parágrafo único. As deliberações do conselho serão to- III - a remessa da sentença ao órgão nacional compe-
madas por maioria absoluta de seus membros e sua execu- tente para o registro único de identificação civil, cujo pro-
ção ficará sujeita à disponibilidade orçamentária. cedimento obedecerá às necessárias restrições de sigilo.
Art. 7o Os programas compreendem, dentre outras, as § 4o O conselho deliberativo, resguardado o sigilo das
seguintes medidas, aplicáveis isolada ou cumulativamente informações, manterá controle sobre a localização do pro-
em benefício da pessoa protegida, segundo a gravidade e tegido cujo nome tenha sido alterado.
as circunstâncias de cada caso: § 5o Cessada a coação ou ameaça que deu causa à al-
I - segurança na residência, incluindo o controle de te- teração, ficará facultado ao protegido solicitar ao juiz com-
lecomunicações; petente o retorno à situação anterior, com a alteração para
II - escolta e segurança nos deslocamentos da residên- o nome original, em petição que será encaminhada pelo
cia, inclusive para fins de trabalho ou para a prestação de conselho deliberativo e terá manifestação prévia do Minis-
depoimentos; tério Público.
III - transferência de residência ou acomodação provi- Art. 10. A exclusão da pessoa protegida de programa
sória em local compatível com a proteção; de proteção a vítimas e a testemunhas poderá ocorrer a
IV - preservação da identidade, imagem e dados pes- qualquer tempo:
soais; I - por solicitação do próprio interessado;
V - ajuda financeira mensal para prover as despesas II - por decisão do conselho deliberativo, em conse-
necessárias à subsistência individual ou familiar, no caso quência de:
de a pessoa protegida estar impossibilitada de desenvolver a) cessação dos motivos que ensejaram a proteção;
trabalho regular ou de inexistência de qualquer fonte de b) conduta incompatível do protegido.
renda; Art. 11. A proteção oferecida pelo programa terá a du-
VI - suspensão temporária das atividades funcionais, ração máxima de dois anos.
sem prejuízo dos respectivos vencimentos ou vantagens, Parágrafo único. Em circunstâncias excepcionais, per-
quando servidor público ou militar; durando os motivos que autorizam a admissão, a perma-
VII - apoio e assistência social, médica e psicológica;
nência poderá ser prorrogada.
VIII - sigilo em relação aos atos praticados em virtude
Art. 12. Fica instituído, no âmbito do órgão do Ministé-
da proteção concedida;
rio da Justiça com atribuições para a execução da política
IX - apoio do órgão executor do programa para o cum-
de direitos humanos, o Programa Federal de Assistência a
primento de obrigações civis e administrativas que exijam
Vítimas e a Testemunhas Ameaçadas, a ser regulamentado
o comparecimento pessoal.
por decreto do Poder Executivo.             (Regulamento)
Parágrafo único. A ajuda financeira mensal terá um
teto fixado pelo conselho deliberativo no início de cada
exercício financeiro. CAPÍTULO II
Art. 8o Quando entender necessário, poderá o conselho DA PROTEÇÃO AOS RÉUS COLABORADORES
deliberativo solicitar ao Ministério Público que requeira ao
juiz a concessão de medidas cautelares direta ou indireta- Art. 13. Poderá o juiz, de ofício ou a requerimento das
mente relacionadas com a eficácia da proteção. partes, conceder o perdão judicial e a consequente extin-
Art. 9o Em casos excepcionais e considerando as ca- ção da punibilidade ao acusado que, sendo primário, tenha
racterísticas e gravidade da coação ou ameaça, poderá o colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação
conselho deliberativo encaminhar requerimento da pessoa e o processo criminal, desde que dessa colaboração tenha
protegida ao juiz competente para registros públicos obje- resultado:
tivando a alteração de nome completo. I - a identificação dos demais co-autores ou partícipes
§ 1o A alteração de nome completo poderá estender-se da ação criminosa;
às pessoas mencionadas no § 1o do art. 2o desta Lei, inclu- II - a localização da vítima com a sua integridade física
sive aos filhos menores, e será precedida das providências preservada;
necessárias ao resguardo de direitos de terceiros. III - a recuperação total ou parcial do produto do crime.
§ 2o  O requerimento será sempre fundamentado e o Parágrafo único. A concessão do perdão judicial leva-
juiz ouvirá previamente o Ministério Público, determinan- rá em conta a personalidade do beneficiado e a natureza,
do, em seguida, que o procedimento tenha rito sumaríssi- circunstâncias, gravidade e repercussão social do fato cri-
mo e corra em segredo de justiça. minoso.
§ 3o Concedida a alteração pretendida, o juiz determi- Art. 14. O indiciado ou acusado que colaborar volunta-
nará na sentença, observando o sigilo indispensável à pro- riamente com a investigação policial e o processo criminal
teção do interessado: na identificação dos demais co-autores ou partícipes do
I - a averbação no registro original de nascimento da crime, na localização da vítima com vida e na recuperação
menção de que houve alteração de nome completo em total ou parcial do produto do crime, no caso de condena-
conformidade com o estabelecido nesta Lei, com expressa ção, terá pena reduzida de um a dois terços.
referência à sentença autorizatória e ao juiz que a exarou e Art. 15. Serão aplicadas em benefício do colaborador,
sem a aposição do nome alterado; na prisão ou fora dela, medidas especiais de segurança e
II - a determinação aos órgãos competentes para o for- proteção a sua integridade física, considerando ameaça ou
necimento dos documentos decorrentes da alteração; coação eventual ou efetiva.

65
DIREITOS HUMANOS

§ 1o Estando sob prisão temporária, preventiva ou em do Estado, da comunidade e da família); direito ao trabalho
decorrência de flagrante delito, o colaborador será custo- ou a outro rendimento; direito de decidir junto com a
diado em dependência separada dos demais presos. sociedade quando é o momento de deixar de ter uma
§ 2o Durante a instrução criminal, poderá o juiz com- vida ativa de participação social e política, dedicando-
petente determinar em favor do colaborador qualquer das se ao repouso com dignidade; acesso a programas de
medidas previstas no art. 8o desta Lei. educação e formação; convivência em ambientes seguros e
§ 3o No caso de cumprimento da pena em regime fe- adaptáveis às suas necessidades e preferências; residência
chado, poderá o juiz criminal determinar medidas especiais em seu próprio domicílio tanto quanto possível;
que proporcionem a segurança do colaborador em relação b) Participação (princípios 7 a 9): permanência na
aos demais apenados. integração em sociedade, participando na formulação
e execução de políticas que o afetem diretamente,
compartilhando suas experiências, conhecimentos e
aptidões; possibilidade de prestar serviços à comunidade,
7. LEI Nº 10.741, DE 01 DE OUTUBRO DE 2003, inclusive voluntariamente, no que for de seu interesse e
ESTATUTO DO IDOSO, ART. 1º AO 10, 15 AO capacidade; construção de movimentos e associações de
25, 33 AO 42 E 95 AO 118. idosos;
c) Assistência (princípios 10 a 14): aproveitar os
benefícios dos cuidados e da proteção da família e da
comunidade, conforme os valores culturais de cada
O tratamento do idoso no campo dos direitos sociedade; acesso a cuidados de saúde que o garantam
humanos bem-estar físico, mental e emocional, inclusive preventivos;
Os idosos costumam ser afastados do convívio social utilização de meios adequados de assistência em âmbito
à medida em que adquirem mais dificuldades de saúde, institucional em prol de proteção, reabilitação e estimulação
naturais ao processo de envelhecimento. A lógica da social e mental num ambiente humano e seguro; acesso a
“descartabilidade” do ser humano e da produtividade serviços jurídicos; gozo dos direitos humanos e liberdades
em massa que teima em persistir na sociedade leva à fundamentais onde quer que se encontrem (lar próprio
intensificação deste movimento de rejeição, cabendo ao ou instituições de assistência), com pleno respeito de sua
Direito assumir uma postura de promoção da igualdade dignidade e do seu direito de decidir seu próprio destino;
material dos idosos, por medidas judiciais, legislativas e d) Realização pessoal (princípios 15 e 16):
executivas pertinentes. possibilidade de procurar oportunidades com vista ao
No plano da proteção internacional dos direitos
pleno desenvolvimento do seu potencial; acesso aos
humanos deste grupo de pessoas, já ocorreu algum avanço,
recursos educativos, culturais, espirituais e recreativos da
mas este é ainda distante se comparado ao sistema de
sociedade;
proteção de outros grupos vulneráveis específicos, como
e) Dignidade (princípios 17 e 18): possibilidade de
mulheres e pessoas portadoras de deficiência.
viver com dignidade e segurança, sem serem explorados
Em relação à ONU, ainda não há Convenção específica
ou maltratados física ou mentalmente; tratamento de
de proteção, mas apenas normativas principiológicas não
diretamente coativas, que podem ser combinadas com forma justa, independentemente da sua idade, gênero,
normas genéricas como as dos Pactos Internacionais de origem racial ou étnica, deficiência ou outra condição, e
1966. Neste sentido, de forma mais relevante, em 1991 sendo devidamente valorizados.
sobrevieram os Princípios das Nações Unidas para as Por sua vez, no âmbito regional, destaca-se a menção
Pessoas Idosas; e em 2002, na II Conferência Internacional do Protocolo à Convenção Americana sobre Direitos
de Madri sobre o Envelhecimento, surgiram a Declaração Humanos: “Artigo 18 - Proteção de pessoas idosas,
Política e o Plano de Ação Internacional de Madri sobre PCADH. Toda pessoa tem direito à proteção especial na
Envelhecimento (MIPAA), estes de ordem um pouco mais velhice. Nesse sentido, os Estados Partes comprometemse
pragmática. a adotar de maneira progressiva as medidas necessárias
Em janeiro de 2010, o Comitê Consultivo do Conselho a fim de pôr em prática este direito e, especialmente, a:
de Direitos Humanos das Nações Unidas publicou estudo a) Proporcionar instalações adequadas, bem como
apontando a necessidade de uma convenção internacional alimentação e assistência médica especializada, às
específica, o que indica que futuramente é possível que pessoas de idade avançada que careçam delas e não
tal documento seja elaborado e ratificado pelos países- estejam em condições de provê-las por seus próprios
membros da ONU. meios; b) Executar programas trabalhistas específicos
Vale colacionar alguns trechos dos Princípios das destinados a dar a pessoas idosas a possibilidade de
Nações Unidas para as Pessoas Idosas, de ordem mais realizar atividade produtiva adequada às suas capacidades,
genérica, identificando as pretendidas políticas da ONU em respeitando sua vocação ou desejos; c) Promover a
favor deste grupo vulnerável ao dividir em categorias as formação de organizações sociais destinadas a melhorar
esferas de proteção específica a ser conferida: a qualidade de vida das pessoas idosas”.
a) Independência (princípios 1 a 6): acesso à Ainda, a OEA aprovou em 15 de junho de 2015 a
alimentação, água, alojamento, vestuário e cuidados de Convenção Interamericana sobre a Proteção dos Direitos
saúde adequados, recebendo recursos para tanto (apoio Humanos das Pessoas Idosas, ainda não incorporada ao

66
DIREITOS HUMANOS

ordenamento interno brasileiro. Logo, a proteção específica Não se pode deixar de reconhecer, veja-se, que os
destes direitos avançou substancialmente no ano de 2015 avanços das indústrias médica e farmacológica, a prática
dentro do sistema interamericano, primeiro sistema a criar de bons hábitos alimentares e esportivos/recreativos, a
um tratado internacional específico para o resguarde das gradativa melhoria das condições de saneamento básico
pessoas idosas. Conforme o disposto no primeiro artigo e as políticas voltadas à previdência social têm promovido
do documento: “O objetivo da Convenção é promover, um processo geral de envelhecimento das populações de
proteger e assegurar o reconhecimento e o pleno gozo e alguns países (o que se soma, geralmente, à queda nos
exercício, em condições de igualdade, de todos os direitos índices de natalidade). O direito internacional dos direitos
humanos e liberdades fundamentais do idoso, a fim de humanos, portanto, não pode deixar desamparada esta
contribuir para sua plena inclusão, integração e participação nova realidade em rápido processo evolutivo.
na sociedade”. Frisa-se, ademais, no mesmo dispositivo,
que o disposto em tal Convenção Interamericana não O tratamento do idoso no direito constitucional
deve ser interpretado como uma limitação a direitos ou Estabelece a Constituição Federal em seu artigo 230,
benefícios mais amplos ou adicionais reconhecidos pelo inserido no título VII (Ordem Social), capítulo VII sobre a
direito internacional ou pelas legislações internas dos proteção da Família, da Criança, do Adolescente, do Jovem
Estados-partes em favor dos idosos. e do Idoso:
Também, no artigo 3º da Convenção são trazidos
princípios gerais que lhe são inerentes, a saber, a promoção Art. 230. A família, a sociedade e o Estado têm o
e defesa dos direitos humanos e liberdades fundamentais dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua
do idoso; a valorização do idoso, seu papel na sociedade participação na comunidade, defendendo sua dignidade
e sua contribuição ao desenvolvimento; a dignidade, e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida.
independência, protagonismo e autonomia do idoso; a § 1º Os programas de amparo aos idosos serão
igualdade e não discriminação; a participação, integração e executados preferencialmente em seus lares.
inclusão plena e efetiva na sociedade; o bem-estar e cuidado; § 2º Aos maiores de sessenta e cinco anos é garantida
a segurança física, econômica e social; a autorrealização;
a gratuidade dos transportes coletivos urbanos.
a equidade e igualdade de gênero e enfoque do curso de
vida; a solidariedade e o fortalecimento da proteção familiar
Ainda, a segunda parte do artigo 229, CF preconiza
e comunitária; o bom tratamento e a atuação preferencial; o
que “[...] os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar
enfoque diferencial para o gozo efetivo dos direitos do idoso;
os pais na velhice, carência ou enfermidade”. Consolida o
o respeito e a valorização da diversidade cultural; a proteção
dever de solidariedade familiar, compensando os pais que
judicial efetiva; bem como a responsabilidade do Estado e a
criaram seus filhos quando tinham condições e que hoje
participação da família e da comunidade na integração ativa,
plena e produtiva do idoso dentro da sociedade, bem como se encontram na posição de necessitados. Contudo, este
em seu cuidado e atenção, de acordo com a legislação interna. dever de amparo não é exclusivo da família, conforme se
Por fim, são elencados na Convenção alguns direitos extrai do artigo 230, CF.
protegidos: igualdade e não discriminação por razões de O fato de uma pessoa ter se tornado idosa não a
idade (artigo 5º); direito à vida e à dignidade na velhice transforma numa parte dispensável da sociedade, que
(artigo 6º); direito à independência e à autonomia (artigo merece isolamento. Pelo contrário, suas experiências
7º); direito à participação e integração comunitária (artigo devem ser valorizadas e incorporadas nas práticas sociais,
8º); direito à segurança e a uma vida sem nenhum tipo tornando-as mais adequadas. Assim, Estado, família e
de violência (artigo 9º); direito a não ser submetido à sociedade possuem o dever compartilhado de conferir
tortura nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou assistência aos idosos.
degradantes (artigo 10); direito a manifestar consentimento O amparo aos idosos inclui múltiplas facetas:
livre e informado no âmbito da saúde (artigo 11); direitos participação na comunidade, dignidade, bem-estar e vida.
do idoso que recebe serviços de cuidado de longo prazo Além disso, os programas de assistência, que prestam este
(artigo 12); direito à liberdade pessoal (artigo 13); direito à amparo, devem ser executados de preferência em seus
liberdade de expressão e opinião e ao acesso à informação lares.
(artigo 14); direito à nacionalidade e à liberdade de O artigo 230, CF também assegura de forma expressa a
circulação (artigo 15); direito à intimidade e à privacidade gratuidade dos transportes coletivos urbanos aos maiores
(art. 16); direito à seguridade social (art. 17); direito ao de 65 anos.
trabalho (artigo 18); direito à saúde (artigo 19); direito à
educação (artigo 20); direito à cultura (artigo 21); direito Histórico do estatuto do idoso
à recreação, ao esporte e ao lazer (artigo 22); direito à A Lei nº 10.741, de 01 de outubro de 2003, que
propriedade (artigo 23); direito à moradia (artigo 24); institui o Estatuto do Idoso, dispõe sobre papel da família,
direito a um meio ambiente saudável (artigo 25); direito à da comunidade, da sociedade e do Poder Público de
acessibilidade e à mobilidade pessoal (artigo 26); direitos assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação
políticos (artigo 27); direito de reunião e de associação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à
(artigo 28); situações de risco e emergências humanitárias cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à
(artigo 29); igual reconhecimento como pessoa perante a liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar
lei (artigo 30); e acesso à justiça (artigo 31). e comunitária.

67
DIREITOS HUMANOS

O panorama demográfico mundial tem apresentado Os idosos possuem todos os direitos fundamentais
mudanças nos últimos anos devido ao declínio das taxas de assegurados a todas as outras pessoas, sendo-lhes
fertilidade e mortalidade e como decorrência a longevidade garantido gozar destes direitos face aos direitos de todos.
tem-se apresentado como um fenômeno real. Neste sentido, o título II do Estatuto aprofunda direitos
O Brasil tem sido surpreendido por uma significativa fundamentais de forma específica em relação à condição
mudança demográfica. Atualmente apresenta cerca de 15 do idoso.
milhões de idosos e, segundo projeção do IBGE, no ano
de 2025, será o sexto país mais idoso do mundo, apenas Art. 3o  É obrigação da família, da comunidade, da
perdendo para a Suíça, França, Estados Unidos, Uruguai, sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com
Argentina, China, com um contingente de 34 milhões de absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à
idosos, cerca de 15% da população. alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao
Diante dessa realidade, diferentes segmentos como a trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e
saúde, transporte, habitação, previdência social e educação à convivência familiar e comunitária.
precisam ser redimensionados para atender esse novo § 1o A garantia de prioridade compreende:
perfil populacional. I – atendimento preferencial imediato e individualizado
A sociedade política também assumiu sua junto aos órgãos públicos e privados prestadores de serviços
responsabilidade diante desse novo panorama demográfico à população;
brasileiro, elaborou a Política Nacional do Idoso e o Estatuto II – preferência na formulação e na execução de políticas
do Idoso. São leis elaboradas para preservar os direitos do sociais públicas específicas;
idoso e evitar que essa faixa etária sofra discriminações e III – destinação privilegiada de recursos públicos nas
seja marginalizado na sociedade brasileira. áreas relacionadas com a proteção ao idoso;
É flagrante na sociedade brasileira um discurso IV – viabilização de formas alternativas de
favorável ao idoso, porém inserido em uma realidade participação, ocupação e convívio do idoso com as
prática incompatível, ora reforçado pelo paternalismo, ora demais gerações;
V – priorização do atendimento do idoso por sua
pelo assistencialismo, ora potencializando essa faixa etária,
própria família, em detrimento do atendimento asilar,
mas sem oferecer um real espaço social.
exceto dos que não a possuam ou careçam de condições de
Por isso, o Estatuto do Idoso surge como instrumento
manutenção da própria sobrevivência;
essencial ao resgate da dignidade inerente a todos idosos,
VI – capacitação e reciclagem dos recursos humanos
mediante inclusão social e reforço de direitos fundamentais.
nas áreas de geriatria e gerontologia e na prestação de
O fato é que a população brasileira está envelhecendo
serviços aos idosos;
e necessário se faz garantir que este envelhecimento
VII – estabelecimento de mecanismos que favoreçam a
ocorra dentro dos princípios norteadores do atual texto
divulgação de informações de caráter educativo sobre os
constitucional. A intervenção legislativa representada neste aspectos biopsicossociais de envelhecimento;
estatuto busca efetividade em resposta às necessidades VIII – garantia de acesso à rede de serviços de saúde
emergentes desse segmento da população. e de assistência social locais.
IX – prioridade no recebimento da restituição do
TÍTULO I Imposto de Renda. 
Disposições Preliminares § 2º Dentre os idosos, é assegurada prioridade especial
aos maiores de oitenta anos, atendendo-se suas necessidades
Art. 1o  É instituído o Estatuto do Idoso, destinado a sempre preferencialmente em relação aos demais idosos.
regular os direitos assegurados às pessoas com idade A garantia de prioridade compreende atendimento
igual ou superior a 60 (sessenta) anos. preferencial imediato e individualizado junto aos órgãos
A Lei nº 10.741/03 define como idoso a pessoa com públicos e privados prestadores de serviços à população.
idade maior ou igual que 60 anos, valendo-se assim do Isso significa que todos os segmentos sociais descritos na
critério cronológico para estabelecer os que estão sob o Constituição devem primeiramente proteger e defender as
efeito da presente lei. pessoas idosas na busca da concretização dos seus direitos.
Existem outras nomenclaturas utilizadas para se Os idosos devem figurar como destinatários de cuidados
atribuir à pessoa idosa, por exemplo, pessoa na terceira especiais e preferenciais na elaboração de políticas públicas
idade, pessoa na melhor idade, velhos, pessoas em idade pelos administradores públicos.
avançada, entre outros termos. Cabe na análise da prioridade destinada aos idosos
em relação às demais pessoas e até mesmos às crianças,
Art. 2o O idoso goza de todos os direitos fundamentais além do bom senso, que é sempre esperado, o princípio
inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção da proporcionalidade na busca da justiça em cada caso
integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhe, por lei concreto que este conflito aparecer pela harmonia dos
ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, interesses em conflito.
para preservação de sua saúde física e mental e seu A preferência na formulação e na execução de
aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, em políticas sociais públicas específicas também tem base na
condições de liberdade e dignidade. prioridade estabelecida no art. 230 da CF que vislumbra

68
DIREITOS HUMANOS

o idoso como prioritário, devendo-se assegurar-lhe uma de causa e efeito entre a ação/omissão e o dano causado)
velhice com dignidade. No mesmo norte está a destinação e dano (dano é o prejuízo sofrido pelo agente, que pode
privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas ser individual ou coletivo, moral ou material, econômico e
com a proteção ao idoso, que deve ser conferido com não econômico).
absoluta prioridade à criança e ao adolescente, bem como A prática de atos ilícitos contra pessoas idosas gera
ao idoso. Tais prioridades devem ser conjugadas a fim de responsabilização civil, em algumas situações, criminal,
que um menor sofra detrimento ao que for estabelecido ao e se a prática partir de servidor público ou equiparado,
idoso e vice-versa. O Poder Público, ao elaborar programas pode gerar responsabilidade administrativa, havendo
de saúde, educação e ação social deve igualmente atender independência entre elas.
prioritariamente a criança e ao adolescente como também
ao idoso, pautando-se nos princípios da proporcionalidade Art. 6o  Todo cidadão tem o dever de comunicar à
e razoabilidade. autoridade competente qualquer forma de violação a esta
Lei que tenha testemunhado ou de que tenha conhecimento.
Art. 4o  Nenhum idoso será objeto de qualquer tipo de No mais, qualquer violação a direitos dos idosos que
negligência, discriminação, violência, crueldade ou venha um cidadão a ter conhecimento deve imediatamente
opressão, e todo atentado aos seus direitos, por ação ou comunicar a autoridade competente, sob pena de ser
omissão, será punido na forma da lei. responsabilizado nos termos do que está disposto no
§ 1o É dever de todos prevenir a ameaça ou violação mencionado artigo 5º supra.
aos direitos do idoso.
§ 2o As obrigações previstas nesta Lei não excluem Art. 7o Os Conselhos Nacional, Estaduais, do Distrito
da prevenção outras decorrentes dos princípios por ela Federal e Municipais do Idoso, previstos na Lei no 8.842,
adotados. de 4 de janeiro de 1994, zelarão pelo cumprimento dos
Alguns tipos específicos de negligências, violências direitos do idoso, definidos nesta Lei.
e opressões são previstos no título VI do Estatuto como
TÍTULO II
crimes contra os idosos. Entretanto, não é suficiente
Dos Direitos Fundamentais
reprimir práticas criminosas contra idosos, mas também é
CAPÍTULO I
importante preveni-las.
Do Direito à Vida
Art. 5o A inobservância das normas de prevenção
Art. 8o O envelhecimento é um direito personalíssimo
importará em responsabilidade à pessoa física ou jurídica
e a sua proteção um direito social, nos termos desta Lei e
nos termos da lei.
da legislação vigente.
O instituto da responsabilidade civil é parte integrante O envelhecimento é colocado como um direito
do direito obrigacional, uma vez que a principal personalíssimo. A ideia é de que envelhecer é um processo
consequência da prática de um ato ilícito é a obrigação natural que não deve ser combatido, evitado ou negado a
que gera para o seu auto de reparar o dano, mediante todo custo. É, ainda, direito social, ou seja, direito humano
o pagamento de indenização que se refere às perdas e de segunda dimensão.
danos. Afinal, quem pratica um ato ou incorre em omissão
que gere dano deve suportar as consequências jurídicas Art. 9o É obrigação do Estado, garantir à pessoa idosa a
decorrentes, restaurando-se o equilíbrio social.78 proteção à vida e à saúde, mediante efetivação de políticas
A responsabilidade civil, assim, difere-se da penal, sociais públicas que permitam um envelhecimento
podendo recair sobre os herdeiros do autor do ilícito até saudável e em condições de dignidade.
os limites da herança, embora existam reflexos na ação Cabe ao Estado desenvolver políticas públicas que
que apure a responsabilidade civil conforme o resultado na garantam o direito à vida e à saúde das pessoas idosas.
esfera penal (por exemplo, uma absolvição por negativa de Políticas públicas são conjuntos de programas, ações e
autoria impede a condenação na esfera cível, ao passo que atividades desenvolvidas pelo Estado diretamente ou
uma absolvição por falta de provas não o faz). indiretamente, com a participação de entes públicos ou
Genericamente, os elementos da responsabilidade civil privados, que visam assegurar determinado direito de
se encontram no art. 186 do Código Civil: “aquele que, por cidadania, de forma difusa ou para determinado seguimento
ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, social, cultural, étnico ou econômico. As políticas públicas
violar direito e causar dano a outrem, ainda que específicas em relação ao idoso fazem parte da Política
exclusivamente moral, comete ato ilícito”. Este é o artigo Nacional do Idoso.
central do instituto da responsabilidade civil, que tem
como elementos: ação ou omissão voluntária (agir como CAPÍTULO II
não se deve ou deixar de agir como se deve), culpa ou dolo Do Direito à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade
do agente (dolo é a vontade de cometer uma violação de
direito e culpa é a falta de diligência), nexo causal (relação Art. 10. É obrigação do Estado e da sociedade, assegurar
à pessoa idosa a liberdade, o respeito e a dignidade,
78 GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade como pessoa humana e sujeito de direitos civis, políticos,
Civil. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2005. individuais e sociais, garantidos na Constituição e nas leis.

69
DIREITOS HUMANOS

§ 1o O direito à liberdade compreende, entre outros, os - Atenção especial às doenças que afetam a população
seguintes aspectos: idosa: liga-se ao aspecto da igualdade material e ao da
I – faculdade de ir, vir e estar nos logradouros públicos atenção especial.
e espaços comunitários, ressalvadas as restrições legais;
II – opinião e expressão; § 1o A prevenção e a manutenção da saúde do idoso
III – crença e culto religioso; serão efetivadas por meio de:
IV – prática de esportes e de diversões; I – cadastramento da população idosa em base
V – participação na vida familiar e comunitária; territorial;
VI – participação na vida política, na forma da lei; II – atendimento geriátrico e gerontológico em
VII – faculdade de buscar refúgio, auxílio e orientação. ambulatórios;
§ 2o O direito ao respeito consiste na inviolabilidade III – unidades geriátricas de referência, com pessoal
da integridade física, psíquica e moral, abrangendo a especializado nas áreas de geriatria e gerontologia social;
preservação da imagem, da identidade, da autonomia, de IV – atendimento domiciliar, incluindo a
valores, ideias e crenças, dos espaços e dos objetos pessoais. internação, para a população que dele necessitar e esteja
§ 3o É dever de todos zelar pela dignidade do idoso, impossibilitada de se locomover, inclusive para idosos
colocando-o a salvo de qualquer tratamento desumano, abrigados e acolhidos por instituições públicas, filantrópicas
violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor. ou sem fins lucrativos e eventualmente conveniadas com o
O Estado e a sociedade devem assegurar à pessoa Poder Público, nos meios urbano e rural;
idosa a liberdade, o respeito e a dignidade. O §1º especifica V – reabilitação orientada pela geriatria e gerontologia,
o direito à liberdade, que compreende o direito de ir e vir, para redução das sequelas decorrentes do agravo da saúde.
opinião e expressão, crença e culto religioso, esportes e O §1º fixa as formas especiais de tratamento da
diversões, vida familiar e comunitária, vida política, refúgio, população idosa, percebendo-se que a atuação se dá
auxílio e orientação. O §2º especifica o direito ao respeito na vertente de controle da população para viabilizar um
como inviolabilidade de qualquer tipo de integridade física, melhor tratamento, o qual deve ser especializado e se
psíquica e moral. O §3º especifica o direito à dignidade
dar tanto em ambientes especializados quanto de forma
como o direito de não ser posto em qualquer tipo de
domiciliar.
tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou
Obs.: geriatria é a especialidade médica que estuda
constrangedor.
e trata das doenças ligadas ao envelhecimento; e
gerontologia é o estudo dos fenômenos fisiológicos,
CAPÍTULO IV
psicológicos e sociais relacionados ao envelhecimento do
Do Direito à Saúde
ser humano.
Art. 15.  É assegurada a atenção integral à saúde
do idoso, por intermédio do Sistema Único de Saúde – § 2o Incumbe ao Poder Público fornecer aos idosos,
SUS, garantindo-lhe o acesso universal e igualitário, em gratuitamente, medicamentos, especialmente os de uso
conjunto articulado e contínuo das ações e serviços, para continuado, assim como próteses, órteses e outros recursos
a prevenção, promoção, proteção e recuperação da saúde, relativos ao tratamento, habilitação ou reabilitação.
incluindo a atenção especial às doenças que afetam O idoso tem direito a tratamento gratuito da saúde,
preferencialmente os idosos. inclusive recebendo medicamentos, próteses, órteses e
De forma semelhante à Constituição Federal quanto ao outros recursos.
direito à saúde em geral, o Estatuto do Idoso fixa:
- Direito à atenção integral: é a atenção plena, em § 3o É vedada a discriminação do idoso nos planos
todas dimensões, tanto paliativa quanto preventiva – os de saúde pela cobrança de valores diferenciados em razão
objetivos, afinal, são prevenção, promoção, proteção e da idade.
recuperação da saúde; A questão da discriminação do idoso nos planos de
- Por meio do Sistema Único de Saúde – SUS: é o saúde é complexa, porque não inviabiliza, segundo a
sistema público de saúde brasileiro, um dos maiores do jurisprudência pátria, de forma plena o reajuste por faixa
mundo, mas a sua presença não exclui a possibilidade de etária. O STJ disse que é possível reajustar por faixa etária
atuação privada no setor (até mesmo devido à previsão se houver previsão contratual, se não forem aplicados
sobre atenção integral); percentuais desarrazoados, se preenchidos os requisitos
- Assegurado o acesso universal e igualitário: o acesso da Lei nº 9.656/1998 (dispõe sobre os planos e seguros
ao sistema público de saúde deve ser garantido a todas privados de assistência à saúde), observância da boa-fé
pessoas e em condições de igualdade material, ou seja, objetiva que impede reajustes absurdos e desproporcionais
considerando as específicas necessidades das pessoas (por (REsp 866.840/SP, j. 07/06/2011).
isso, é devido o tratamento diferenciado ao idoso e ao
idoso com deficiência ou limitação); § 4o Os idosos portadores de deficiência ou com
- Conjunto articulado e contínuo: as práticas de limitação incapacitante terão atendimento especializado,
prevenção, promoção, proteção e recuperação devem ser nos termos da lei.
adotadas de forma constante e planejada e, para tanto, As pessoas idosas com condições peculiares devem
interligada; receber tratamento diferenciado, especializado.

70
DIREITOS HUMANOS

§ 5º É vedado exigir o comparecimento do idoso sua própria saúde sempre que estiver em suas plenas
enfermo perante os órgãos públicos, hipótese na qual será faculdades. Havendo incapacidade, permanente ou
admitido o seguinte procedimento: transitória, a ordem de tomada de decisões é a seguinte:
I - quando de interesse do poder público, o agente - Situações não emergenciais – se houver curador, ele
promoverá o contato necessário com o idoso em sua tem prioridade, se não houver a decisão cabe ao familiar,
residência; ou mas se não houver nenhum dos dois caberá ao médico,
II - quando de interesse do próprio idoso, este se fará que informará ao Ministério Público.
representar por procurador legalmente constituído. - Situações de urgência – risco de vida + ausência de
§ 6º É assegurado ao idoso enfermo o atendimento tempo hábil – cabe ao médico decidir.
domiciliar pela perícia médica do Instituto Nacional do
Seguro Social - INSS, pelo serviço público de saúde ou pelo Art. 18.  As instituições de saúde devem atender aos
serviço privado de saúde, contratado ou conveniado, que critérios mínimos para o atendimento às necessidades
integre o Sistema Único de Saúde - SUS, para expedição do idoso, promovendo o treinamento e a capacitação
do laudo de saúde necessário ao exercício de seus direitos dos profissionais, assim como orientação a cuidadores
sociais e de isenção tributária. familiares e grupos de autoajuda.
Os §§ 5º e 6º foram incluídos pela Lei nº 12.896/2013 Caberá às instituições de saúde atender a critérios
e trata do comparecimento do idoso enfermo em órgãos mínimos que viabilizem o atendimento especializado,
públicos, inclusive para realização de perícias: devendo treinar e capacitar outras entidades que atuem
- Interesse do poder público – agente público deve ir paralelamente a elas.
até a residência;
- Interesse pessoal – representação por procurador. Art. 19.  Os casos de suspeita ou confirmação de
* As perícias do INSS devem se realizar em domicílio. violência praticada contra idosos serão objeto de notificação
compulsória pelos serviços de saúde públicos e privados
§ 7º Em todo atendimento de saúde, os maiores de à autoridade sanitária, bem como serão obrigatoriamente
comunicados por eles a quaisquer dos seguintes órgãos: 
oitenta anos terão preferência especial sobre os demais
I – autoridade policial;
idosos, exceto em caso de emergência.
II – Ministério Público;
Trata-se de prioridade especial no atendimento de
III – Conselho Municipal do Idoso;
saúde.
IV – Conselho Estadual do Idoso;
V – Conselho Nacional do Idoso.
Art. 16.  Ao idoso internado ou em observação é
§ 1o  Para os efeitos desta Lei, considera-se violência
assegurado o direito a acompanhante, devendo o órgão
contra o idoso qualquer ação ou omissão praticada em
de saúde proporcionar as condições adequadas para a local público ou privado que lhe cause morte, dano ou
sua permanência em tempo integral, segundo o critério sofrimento físico ou psicológico. 
médico. § 2o  Aplica-se, no que couber, à notificação compulsória
Parágrafo único. Caberá ao profissional de saúde prevista no caput deste artigo, o disposto na Lei no 6.259, de
responsável pelo tratamento conceder autorização para o 30 de outubro de 1975 (dispõe sobre a organização das ações
acompanhamento do idoso ou, no caso de impossibilidade, de Vigilância Epidemiológica, sobre o Programa Nacional
justificá-la por escrito. de Imunizações, estabelece normas relativas à notificação
Embora o direito a acompanhante no tratamento de compulsória de doenças, e dá outras providências). 
saúde seja assegurado, caberá ao profissional de saúde O artigo 19 foi alterado e teve dispositivos incluídos
responsável decidir quanto ele é possível, justificando por pela Lei nº 12.461/2011.
escrito eventual impossibilidade. Sua redação é um pouco confusa e inadequada. Trabalha
com notificações que devem ser comunicadas a órgãos
Art. 17.  Ao idoso que esteja no domínio de suas competentes tanto práticas de violência (por qualquer ação
faculdades mentais é assegurado o direito de optar pelo ou omissão praticada em local público ou privado, sendo
tratamento de saúde que lhe for reputado mais favorável. violência todo caso de morte, dano ou sofrimento físico
Parágrafo único. Não estando o idoso em condições de ou psicológico) quanto de doenças epidemiológicas (com
proceder à opção, esta será feita: risco de transmissão em larga escala). Cabe a comunicação
I – pelo curador, quando o idoso for interditado; aos órgãos descritos nos incisos do caput – autoridade
II – pelos familiares, quando o idoso não tiver curador policial, Ministério Público, Conselhos Municipal, Estadual
ou este não puder ser contatado em tempo hábil; e Federal; além dos órgãos de vigilância sanitária e outros
III – pelo médico, quando ocorrer iminente risco de fixados na Lei nº 6.259/1975.
vida e não houver tempo hábil para consulta a curador
ou familiar; CAPÍTULO V
IV – pelo próprio médico, quando não houver curador Da Educação, Cultura, Esporte e Lazer
ou familiar conhecido, caso em que deverá comunicar o
fato ao Ministério Público. Art. 20. O idoso tem direito a educação, cultura,
O idoso não perde sua autonomia para a tomada esporte, lazer, diversões, espetáculos, produtos e
de decisões, de modo que caberá a ele decidir sobre serviços que respeitem sua peculiar condição de idade.

71
DIREITOS HUMANOS

Art. 21. O Poder Público criará oportunidades de acesso CAPÍTULO VIII


do idoso à educação, adequando currículos, metodologias Da Assistência Social
e material didático aos programas educacionais a ele
destinados. Art. 33.  A assistência social aos idosos será prestada,
§ 1o Os cursos especiais para idosos incluirão conteúdo de forma articulada, conforme os princípios e diretrizes
relativo às técnicas de comunicação, computação e demais previstos na Lei Orgânica da Assistência Social, na Política
avanços tecnológicos, para sua integração à vida moderna. Nacional do Idoso, no Sistema Único de Saúde e demais
§ 2o Os idosos participarão das comemorações normas pertinentes.
de caráter cívico ou cultural, para transmissão de
conhecimentos e vivências às demais gerações, no sentido Art. 34. Aos idosos, a partir de 65 (sessenta e cinco)
da preservação da memória e da identidade culturais. anos, que não possuam meios para prover sua subsistência,
nem de tê-la provida por sua família, é assegurado o
Art. 22.  Nos currículos mínimos dos diversos níveis benefício mensal de 1 (um) salário-mínimo, nos termos
de ensino formal serão inseridos conteúdos voltados ao da Lei Orgânica da Assistência Social – Loas. 
processo de envelhecimento, ao respeito e à valorização Parágrafo único. O benefício já concedido a qualquer membro
do idoso, de forma a eliminar o preconceito e a produzir da família nos termos do caput não será computado para os fins
conhecimentos sobre a matéria. do cálculo da renda familiar per capita a que se refere a Loas.

Art. 23. A participação dos idosos em atividades culturais Art. 35. Todas as entidades de longa permanência, ou
e de lazer será proporcionada mediante descontos de pelo casa-lar, são obrigadas a firmar contrato de prestação de
menos 50% (cinquenta por cento) nos ingressos para serviços com a pessoa idosa abrigada. 
eventos artísticos, culturais, esportivos e de lazer, bem como § 1o No caso de entidades filantrópicas, ou casa-lar, é
o acesso preferencial aos respectivos locais. facultada a cobrança de participação do idoso no custeio
da entidade.
§ 2o O Conselho Municipal do Idoso ou o Conselho
Art. 24. Os meios de comunicação manterão espaços
Municipal da Assistência Social estabelecerá a forma de
ou horários especiais voltados aos idosos, com finalidade
participação prevista no § 1o, que não poderá exceder a
informativa, educativa, artística e cultural, e ao público sobre
70% (setenta por cento) de qualquer benefício previdenciário
o processo de envelhecimento.
ou de assistência social percebido pelo idoso.
§ 3o  Se a pessoa idosa for incapaz, caberá a seu
Art. 25. As instituições de educação superior
representante legal firmar o contrato a que se refere
ofertarão às pessoas idosas, na perspectiva da educação
o caput deste artigo.
ao longo da vida, cursos e programas de extensão,
presenciais ou a distância, constituídos por atividades Art. 36. O acolhimento de idosos em situação de risco
formais e não formais. social, por adulto ou núcleo familiar, caracteriza a
Parágrafo único. O poder público apoiará a criação de dependência econômica, para os efeitos legais.
universidade aberta para as pessoas idosas e incentivará Já a assistência tem caráter não-contributivo visando ao
a publicação de livros e periódicos, de conteúdo e padrão amparo das pessoas necessitadas, conforme a previsão do
editorial adequados ao idoso, que facilitem a leitura, art. 230 da CRFB/88, que a assistência social será prestada
considerada a natural redução da capacidade visual. a quem dela necessitar independente de contribuição.A
O exercício ao direito à educação, cultura, esporte, assistência tem caráter não-contributivo visando ao
lazer, diversões, espetáculos, produtos e serviços dos amparo das pessoas necessitadas, conforme a previsão do
idosos deve respeitar sua peculiar condição de idade, art. 230 da CRFB/88, que a assistência social será prestada a
fundado efetivamente em razões de igualdade material, a quem dela necessitar independente de contribuição.
fim de proporcionar um tratamento justo ao idoso em seu
meio social. CAPÍTULO IX
O respeito à peculiar condição de idade implica Da Habitação
em afirmar que na medida de suas condições físicas e
emocionais de usufruir de educação, cultura, esporte, lazer, Art. 37. O idoso tem direito a moradia digna, no seio
diversões, espetáculos, produtos e serviços aos idosos da família natural ou substituta, ou desacompanhado
devem ser destinados oportunidades de participar do meio de seus familiares, quando assim o desejar, ou, ainda, em
social em que vive sem lhe acrescentar fardo algum tendo instituição pública ou privada.
em vista a sua vulnerabilidade, condição esta alçada em § 1o A assistência integral na modalidade de entidade
caráter de princípio a ser buscado por todos. de longa permanência será prestada quando verificada
Constitui obrigação do Poder Público criar inexistência de grupo familiar, casa-lar, abandono ou
oportunidades de acesso do idoso à educação, adequando carência de recursos financeiros próprios ou da família.
currículos, metodologias e material didático aos programas § 2o Toda instituição dedicada ao atendimento ao idoso
educacionais a ele destinados. O idoso que necessitar fica obrigada a manter identificação externa visível, sob
obter formação escolar regular deve ter acesso a processo pena de interdição, além de atender toda a legislação
educativo como as demais pessoas na sociedade. pertinente.

72
DIREITOS HUMANOS

§ 3o As instituições que abrigarem idosos são obrigadas II – desconto de 50% (cinquenta por cento), no
a manter padrões de habitação compatíveis com as mínimo, no valor das passagens, para os idosos que
necessidades deles, bem como provê-los com alimentação excederem as vagas gratuitas, com renda igual ou inferior a
regular e higiene indispensáveis às normas sanitárias e 2 (dois) salários-mínimos.
com estas condizentes, sob as penas da lei. Parágrafo único. Caberá aos órgãos competentes definir
os mecanismos e os critérios para o exercício dos direitos
Art. 38.  Nos programas habitacionais, públicos ou previstos nos incisos I e II.
subsidiados com recursos públicos, o idoso goza de
prioridade na aquisição de imóvel para moradia Art. 41.  É assegurada a reserva, para os idosos, nos
própria, observado o seguinte: termos da lei local, de 5% (cinco por cento) das vagas nos
  I - reserva de pelo menos 3% (três por cento) das estacionamentos públicos e privados, as quais deverão
unidades habitacionais residenciais para atendimento aos ser posicionadas de forma a garantir a melhor comodidade
idosos; (Redação dada pela Lei nº 12.418, de 2011) ao idoso.
II – implantação de equipamentos urbanos comunitários
voltados ao idoso; Art. 42. São asseguradas a prioridade e a segurança do
III – eliminação de barreiras arquitetônicas e urbanísticas, idoso nos procedimentos de embarque e desembarque nos
para garantia de acessibilidade ao idoso; veículos do sistema de transporte coletivo. (Redação dada
IV – critérios de financiamento compatíveis com os pela Lei nº 12.899, de 2013)
rendimentos de aposentadoria e pensão. Está presente no Estatuto o direito fundamental do
Parágrafo único.  As unidades residenciais reservadas para idoso ao transporte. Estabelece-se que os idosos maiores
atendimento a idosos devem situar-se, preferencialmente, no de 65 (sessenta e cinco) anos tem assegurado a gratuidade
pavimento térreo. (Incluído pela Lei nº 12.419, de 2011) dos transportes coletivos públicos urbanos e semiurbanos,
As ações do Estado visando conferir a pessoa idosa exceto nos serviços seletivos e especiais, quando prestados
moradia digna devem alcançar os programas habitacionais, paralelamente aos serviços regulares.
Assim, essa gratuidade compreende o transporte
públicos ou subsidiados com recursos públicos, sendo que
urbano coletivo, aquele transporte público oferecido a
nestes programas o idoso deve ter prioridade na aquisição
todas as pessoas a fim de que se desloquem diariamente
de imóvel para moradia própria. Alguns requisitos devem
na realização de suas atividades diversas e o transporte
ser observados nestes programas visando minimizar a
semiurbano que tem as características do transporte
situação do idoso e a conferir-lhe moradia digna, como a
coletivo, mas é prestado em áreas que ultrapassa os limites
reserva de pelo menos 3% (três por cento) das unidades
de municípios, em grandes centros metropolitanos. Essa
habitacionais residenciais para atendimento aos idosos.
benesse não alcança os serviços de transportes seletivos
destinado a determinadas categorias de pessoas, como
CAPÍTULO X servidores de determinado órgão ou empresa pública,
Do Transporte estudantes etc., como também não alcança o serviço
de transporte especial, como os ônibus executivos que
Art. 39.  Aos maiores de 65 (sessenta e cinco) anos oferecem serviço e atendimento diferenciado ao usuário.
fica assegurada a gratuidade dos transportes coletivos
públicos urbanos e semiurbanos, exceto nos serviços CAPÍTULO II
seletivos e especiais, quando prestados paralelamente aos Dos Crimes em Espécie
serviços regulares.
§ 1o Para ter acesso à gratuidade, basta que o idoso Direito penal promocional – função promocional da
apresente qualquer documento pessoal que faça prova de intervenção punitiva – busca-se transformar as condições
sua idade. de vida e a consciência do povo para dar uma direção a
§ 2o Nos veículos de transporte coletivo de que trata determinada finalidade.
este artigo, serão reservados 10% (dez por cento) dos
assentos para os idosos, devidamente identificados com a Art. 95. Os crimes definidos nesta Lei são de ação penal
placa de reservado preferencialmente para idosos. pública incondicionada, não se lhes aplicando os arts.
§ 3o No caso das pessoas compreendidas na faixa etária 181 e 182 do Código Penal.
entre 60 (sessenta) e 65 (sessenta e cinco) anos, ficará a Não se aplicam 181 e 182 – escusa absolutória e escusa
critério da legislação local dispor sobre as condições para relativa – qualquer delito contra o idoso, seja patrimonial
exercício da gratuidade nos meios de transporte previstos ou não, com ou sem violência ou grave ameaça, a ação
no caput deste artigo. sempre será pública incondicionada.
Cabe ação penal privada subsidiária da pública caso o
Art. 40. No sistema de transporte coletivo interestadual MP seja omisso.
observar-se-á, nos termos da legislação específica: 
I – a reserva de 2 (duas) vagas gratuitas por veículo Os crimes previstos nos artigos 96 a 108 do Estatuto
para idosos com renda igual ou inferior a 2 (dois) salários- buscam proteger a pessoa idosa da discriminação, do
mínimos; descuido, do abandono, da falta de acolhida, do desprezo,

73
DIREITOS HUMANOS

da exposição ao perigo, da negativa de oportunidades de Pena – detenção de 6 (seis) meses a 3 (três) anos e
realização pessoal e profissional, da obstrução do acesso à multa.
justiça, da exploração financeira, do assédio econômico e Disciplina o crime de abandono de idoso.
da manipulação. Objeto jurídico: saúde e dignidade do idoso.
Sujeito ativo: qualquer pessoa, no caso da primeira
Art. 96. Discriminar pessoa idosa, impedindo ou parte (crime comum); apenas o responsável por atender às
dificultando seu acesso a operações bancárias, aos meios necessidades básicas do idoso, no caso da segunda parte
de transporte, ao direito de contratar ou por qualquer (crime próprio).
outro meio ou instrumento necessário ao exercício da Sujeito passivo: idoso.
cidadania, por motivo de idade: Tipo objetivo: em ambas condutas, se deixa o idoso à
Pena – reclusão de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa. própria sorte; na conduta de abandono se trata de conduta
§ 1o Na mesma pena incorre quem desdenhar, comissiva, admitindo tentativa; na conduta de não prover
humilhar, menosprezar ou discriminar pessoa idosa, por
necessidades se tem conduta omissiva, que não admite
qualquer motivo.
tentativa.
§ 2o A pena será aumentada de 1/3 (um terço) se a
Tipo subjetivo: dolo.
vítima se encontrar sob os cuidados ou responsabilidade
Pena: detenção, 6 meses a 3 anos + multa.
do agente.
Trata-se do crime de discriminação contra a pessoa
idosa. Art. 99.  Expor a perigo a integridade e a saúde,
Objeto jurídico: dignidade da pessoa idosa, proteção física ou psíquica, do idoso, submetendo-o a condições
contra o tratamento desigual. desumanas ou degradantes ou privando-o de alimentos
Sujeito ativo: qualquer pessoa. e cuidados indispensáveis, quando obrigado a fazê-lo, ou
Sujeito passivo: idoso. sujeitando-o a trabalho excessivo ou inadequado:
Tipo objetivo: no caput se traz um crime material, Pena – detenção de 2 (dois) meses a 1 (um) ano e multa.
pois é preciso uma conduta que coloque em perigo real o § 1o Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
exercício da cidadania pela pessoa idosa, de modo que não Pena – reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
realizado o resultado naturalístico de se colocar em perigo § 2o Se resulta a morte:
a cidadania do idoso o crime será tentado. Já no §1º o crime Pena – reclusão de 4 (quatro) a 12 (doze) anos.
é de mera conduta, pois os motivos que levaram à prática Trata-se do crime de exposição do idoso ao perigo.
criminosa não precisam ser investigados, por consequência Objeto jurídico: saúde física ou psíquica e dignidade.
não se aceita tentativa. Sujeito ativo: qualquer pessoa para as condutas que
Tipo subjetivo: Dolo. envolvem submissão a condições desumanas, privação de
Pena: reclusão, de 6 meses a 1 ano + multa. cuidados ou degradantes e sujeição a trabalho excessivo
Causa de aumento de pena: aumento de 1/3 em caso ou inadequado (crime comum); apenas os responsáveis
de vítima sob cuidado ou responsabilidade do agente. por alimentos no caso de conduta de privação destes
(crime próprio).
Art. 97.  Deixar de prestar assistência ao idoso, Sujeito passivo: idoso.
quando possível fazê-lo sem risco pessoal, em situação Tipo objetivo: condutas objetivas comissivas
de iminente perigo, ou recusar, retardar ou dificultar (submissão a condições degradantes ou desumanas,
sua assistência à saúde, sem justa causa, ou não pedir, sujeição a trabalho excessivo ou inadequado), que
nesses casos, o socorro de autoridade pública:
admitem tentativa, e omissivas (privação de alimentos e
Pena – detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.
cuidados), que não a admitem.
Parágrafo único. A pena é aumentada de metade,
Tipo subjetivo: dolo.
se da omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e
Pena: detenção, 2 meses a 1 ano + multa.
triplicada, se resulta a morte.
Trata-se no artigo 97 o crime de omissão de socorro. Qualificadoras: se resulta em lesão grave, pena de
Objeto jurídico: vida e saúde do idoso. reclusão de 1 a 4 anos; se resulta em morte, pena de
Sujeito ativo: qualquer pessoa. reclusão de 4 a 12 anos.
Sujeito passivo: idoso.
Tipo objetivo: delito omissivo. Consuma-se no Art. 100.  Constitui crime punível com reclusão de 6
momento da omissão e não aceita a tentativa. (seis) meses a 1 (um) ano e multa:
Tipo subjetivo: dolo. I – obstar o acesso de alguém a qualquer cargo
Pena: detenção, 6 meses a 1 ano + multa. público por motivo de idade;
Causa de aumento de pena: aumento de 1/2 se resulta É o crime de impedimento de acesso a cargo público
em lesão corporal grave; triplicada em caso de morte. em razão da idade. O objeto jurídico é a dignidade; o
sujeito ativo pode ser qualquer pessoa; sujeito passivo é
Art. 98. Abandonar o idoso em hospitais, casas de a pessoa idosa; tipo subjetivo é o dolo; admite tentativa
saúde, entidades de longa permanência, ou congêneres, porque é possível não conseguir impedir o acesso ao cargo.
ou não prover suas necessidades básicas, quando II – negar a alguém, por motivo de idade, emprego ou
obrigado por lei ou mandado: trabalho;

74
DIREITOS HUMANOS

É o crime de recusa de emprego ou trabalho em Objeto jurídico: patrimônio.


razão de idade. O objeto jurídico é a dignidade; o sujeito Sujeito ativo: qualquer pessoa.
ativo pode ser qualquer pessoa; sujeito passivo é a pessoa Sujeito passivo: idoso.
idosa; tipo subjetivo é o dolo; não admite tentativa porque Tipo subjetivo: dolo.
a negação é ato unissubsistente. Tipo objetivo: o crime se caracteriza com a apropriação
III – recusar, retardar ou dificultar atendimento ou ou o desvio, assim se consumando, aceitando tentativa
deixar de prestar assistência à saúde, sem justa causa, a caso se frustre a apropriação ou o desvio.
pessoa idosa; Pena: reclusão, 1 a 4 anos + multa.
É o crime de prestação deficitária de atendimento à
saúde de idoso. O objeto jurídico é a saúde; o sujeito ativo Art. 103.  Negar o acolhimento ou a permanência
pode ser qualquer pessoa; sujeito passivo é a pessoa idosa; do idoso, como abrigado, por recusa deste em outorgar
tipo subjetivo é o dolo; não admite a tentativa porque a procuração à entidade de atendimento:
recusa/retardo/dificuldade são atos unissubsistentes. Pena – detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.
IV – deixar de cumprir, retardar ou frustrar, sem justo É o crime de negativa de abrigo por entidade de
motivo, a execução de ordem judicial expedida na ação atendimento ao idoso.
civil a que alude esta Lei; Objeto jurídico: saúde e patrimônio.
É o crime de desobediência a ordem judicial em Sujeito ativo: responsável por entidade de atendimento
ação civil específica. O objeto jurídico é a administração ou outra pessoa com poderes de recusar abrigo (crime
da justiça; o sujeito ativo pode ser qualquer pessoa; sujeito próprio).
passivo é o Estado e os idosos; tipo subjetivo é o dolo; Sujeito passivo: idoso.
admite tentativa nas condutas de frustrar e retardar e não Tipo subjetivo: dolo.
na de deixar de cumprir (é possível que não consiga frustrar Tipo objetivo: o crime se caracteriza com a negativa de
ou retardar e a ordem seja cumprida de toda forma), mas atendimento, que no caso não admite tentativa, ou com
não quando a deixar de cumprir ou retardar, que são a negação de permanência, que admite tentativa, pois a
condutas omissivas. pessoa pode conseguir permanecer na instituição.
V – recusar, retardar ou omitir dados técnicos Pena: detenção, 6 meses a 1 ano + multa.
indispensáveis à propositura da ação civil objeto desta Lei,
quando requisitados pelo Ministério Público. Art. 104. Reter o cartão magnético de conta bancária
É o crime de obstrução à atuação do MP para relativa a benefícios, proventos ou pensão do idoso, bem
instruir ação civil específica. O objeto jurídico é o poder como qualquer outro documento com objetivo de
do MP de requisitar informações; o sujeito ativo pode assegurar recebimento ou ressarcimento de dívida:
ser qualquer pessoa; sujeito passivo é o MP e os idosos; Pena – detenção de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos e multa.
tipo subjetivo é o dolo; não admite tentativa porque são É o crime de retenção de cartão bancário ou
condutas omissivas/negativas. documento do idoso.
Pena: reclusão, 6 meses a 1 ano + multa. Objeto jurídico: patrimônio.
Sujeito ativo: qualquer pessoa.
Art. 101. Deixar de cumprir, retardar ou frustrar, sem Sujeito passivo: idoso.
justo motivo, a execução de ordem judicial expedida nas Tipo subjetivo: dolo.
ações em que for parte ou interveniente o idoso: Tipo objetivo: se consuma com a retenção, não
Pena – detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa. admitindo tentativa. Caso resulte em apropriação de
Descreve o crime de desobediência a ordem judicial rendimentos, enquadra-se no artigo 102.
em ações de interesse do idoso. Pena: detenção, 6 meses a 2 anos + multa.
Objeto jurídico: administração da justiça.
Sujeito ativo: qualquer pessoa. Art. 105.  Exibir ou veicular, por qualquer meio de
Sujeito passivo: Estado e idoso. comunicação, informações ou imagens depreciativas ou
Tipo subjetivo: dolo. injuriosas à pessoa do idoso:
Tipo objetivo: não se refere a descumprir uma ordem Pena – detenção de 1 (um) a 3 (três) anos e multa.
em ação civil pública, baseada nos artigos 78 a 92 do Trata-se do crime de publicidade depreciativa ou
Estatuto (artigo 100, IV, EI), mas em qualquer ação em que injuriosa à pessoa idosa.
o idoso seja parte ou interveniente, admitindo tentativa Objeto jurídico: dignidade, honra e imagem.
nas condutas de frustrar e retardar e não na de deixar de Sujeito ativo: qualquer pessoa.
cumprir. Sujeito passivo: idoso.
Pena: detenção, 6 meses a 1 ano + multa. Tipo subjetivo: dolo.
Tipo objetivo: se consuma com a exibição ou veiculação,
Art. 102. Apropriar-se de ou desviar bens, proventos, que por serem condutas comissivas admitem tentativa.
pensão ou qualquer outro rendimento do idoso, dando-lhes Pena: detenção, 1 a 3 anos + multa.
aplicação diversa da de sua finalidade:
Pena – reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos e multa. Art. 106.  Induzir pessoa idosa sem discernimento de
É o crime de apropriação ou desvio de bens ou seus atos a outorgar procuração para fins de administração
rendimentos do idoso. de bens ou deles dispor livremente:

75
DIREITOS HUMANOS

Pena – reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos.


Trata-se do crime de indução de pessoa idosa sem 8. LEI ESTADUAL Nº 14.170, DE 15
discernimento a dispor de seus bens. DE JANEIRO DE 2002, DETERMINA A
Objeto jurídico: patrimônio. IMPOSIÇÃO DE SANÇÕES A PESSOA
Sujeito ativo: qualquer pessoa. JURÍDICA 49 POR ATO DISCRIMINATÓRIO
Sujeito passivo: idoso sem lucidez (não importa se PRATICADO CONTRA PESSOA EM VIRTUDE
não foi interditado). DE SUA ORIENTAÇÃO SEXUAL.
Tipo subjetivo: dolo.
Tipo objetivo: se consuma com o ato de outorga,
cabendo tentativa em tese.
Pena: reclusão, 2 a 4 anos.
LEI ESTADUAL Nº 14.170 de 15/01/2002 - MINAS
Art. 107. Coagir, de qualquer modo, o idoso a doar, GERAIS
contratar, testar ou outorgar procuração:
Pena – reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos. Determina a imposição de sanções a pessoa jurídica
Trata-se de crime de coação de pessoa idosa à por ato discriminatório praticado contra pessoa em virtude
dilapidação de seu patrimônio. de sua orientação sexual.
Objeto jurídico: liberdade e patrimônio. Art. 1º - O Poder Executivo imporá, no limite da sua
Sujeito ativo: qualquer pessoa. competência, sanções às pessoas jurídicas que, por ato de
Sujeito passivo: idoso. seus proprietários, dirigentes, prepostos ou empregados
Tipo subjetivo: dolo. no efetivo exercício de suas atividades profissionais, dis-
Tipo objetivo: se consuma com a coação, cabendo criminem, coajam ou atentem contra os direitos da pessoa
em tese tentativa se a coação não gerar o resultado em razão de sua orientação sexual.
esperado.
Art. 2º - Para os efeitos desta lei, consideram-se discri-
Pena: reclusão, 2 a 5 anos.
minação, coação e atentado contra os direitos da pessoa
os seguintes atos, desde que comprovadamente pratica-
Art. 108.  Lavrar ato notarial que envolva pessoa
dos em razão da orientação sexual da vítima:
idosa sem discernimento de seus atos, sem a devida
representação legal:
I - constrangimento de ordem física, psicológica ou
moral;
Pena – reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos.
II - proibição de ingresso ou permanência em logra-
Lavratura de ato notarial sem representação legal do
douro público,
idoso incapaz
estabelecimento público ou estabelecimento aberto ao
Objeto jurídico: patrimônio. público, inclusive o de propriedade de ente privado;
Sujeito ativo: tabelião ou escrivão público, ou III - preterição ou tratamento diferenciado em logra-
escrevente de cartório de registros públicos (crime douro público,
próprio). estabelecimento público ou estabelecimento aberto ao
Sujeito passivo: idoso sem lucidez (não importa se público, inclusive o de propriedade de ente privado;
não foi interditado). IV - coibição da manifestação de afeto em logradou-
Tipo subjetivo: dolo. ro público, estabelecimento público ou estabelecimento
Tipo objetivo: se consuma com o ato de lavratura, aberto ao público, inclusive o de propriedade de ente pri-
cabendo tentativa. vado
Pena: reclusão, 2 a 4 anos. V - impedimento, preterição ou tratamento diferen-
ciado nas relações que envolvem a aquisição, locação, ar-
rendamento ou empréstimo de bens móveis ou imóveis,
para qualquer finalidade;
VI - demissão, punição, impedimento de acesso, pre-
terição ou tratamento diferenciado nas relações que en-
volvem o acesso ao emprego e o exercício da atividade
profissional.
Art. 3º - As pessoas jurídicas de direito privado que, por
ação de seus proprietários, prepostos ou empregados no
efetivo exercício de suas atividades profissionais, incorre-
rem em algum dos atos previstos no art. 2º ficam sujeitas a:
I - advertência;
II - multa de valor entre R$1.000,00 (mil reais) e
R$50.000,00 (cinquenta mil reais), atualizados por índice
oficial de correção monetária, a ser definido na regulamen-
tação desta lei;

76
DIREITOS HUMANOS

III - suspensão do funcionamento do estabeleci-


mento; IV - interdição do estabelecimento; 9. DECRETO Nº 43.683, DE 10 DE DEZEMBRO
V - inabilitação para acesso a créditos estaduais; DE 2003, REGULAMENTA A LEI ESTADUAL Nº
VI - rescisão de contrato firmado com órgão ou 14.170 DE 15/01/2002.
entidade da administração pública estadual; VII - ina-
bilitação para concessão de isenção, remissão, anistia ou
quaisquer outros benefícios de natureza tributária.
“§ 1º Os valores pecuniários recolhidos na forma do Regulamenta a Lei nº 14.170 de 15 de janeiro de
inciso II deste artigo serão destinados integralmente, até 2002 que determina a imposição de sanções a pessoa ju-
que se crie o centro de referência citado no art.5º. desta rídica por ato discriminatório praticado contra pessoa em
lei, ao Fundo Estadual de Promoção dos Direitos Huma- virtude de sua orientação sexual.
nos. Art. 1º - Este Decreto estabelece o procedimento admi-
“§ 2º - A partir da criação do centro de referência ci- nistrativo para a apuração e punição de toda manifestação
tado no art. 5º desta lei, os valores pecuniários recolhidos de discriminação, coação e atentado contra os direitos da
na forma do inciso II deste artigo serão destinados inte- pessoa em razão de sua orientação sexual.
gralmente a ele.”. Art. 2º - Para os efeitos deste Decreto, consideram-se
Art. 4º - As pessoas jurídicas de direito público que, discriminação, coação e atentado contra os direitos da pes-
por ação de seus dirigentes, prepostos ou empregados soa os seguintes atos, desde que comprovadamente prati-
no efetivo exercício de suas atividades profissionais, pra- cados em razão da orientação sexual da vítima:
ticarem algum dos atos previstos no art. 2º desta lei ficam I - constrangimento de ordem física, psicológica ou
sujeitas, no que couber, às sanções previstas no seu art. 3º moral;
Parágrafo único - O infrator, quando agente do poder II - proibição de ingresso ou permanência em logra-
público, terá a conduta averiguada por meio de procedi- douro público, estabelecimento público ou estabelecimen-
mento apuratório, instaurado por órgão competente, sem to aberto ao público, inclusive o de propriedade de ente
prejuízo das sanções penais cabíveis. privado;
Art. 5º - Fica o Poder Executivo autorizado a criar, na III - preterição ou tratamento diferenciado em logra-
estrutura da administração pública estadual, um centro de douro público, estabelecimento público ou estabelecimen-
referência voltado para a defesa do direito à liberdade de to aberto ao público, inclusive o de propriedade de ente
orientação sexual, que contará com os recursos do Fundo privado;
Estadual de Promoção dos Direitos Humanos de que trata IV - coibição de manifestação de afeto em logradouro
o parágrafo único do art. 3º desta lei. público, estabelecimento público ou estabelecimento aber-
Art. 6o - Fica assegurada, na composição do Conselho to ao público, inclusive o de propriedade de ente privado;
Estadual de Defesa dos Direitos Humanos, a participação V - impedimento, preterição ou tratamento diferen-
de um representante das entidades civis legalmente reco- ciado nas relações que envolvam a aquisição, a locação, o
nhecidas voltadas para a defesa do direito à liberdade de arrendamento ou o empréstimo de bem móvel ou imóvel,
orientação sexual. para qualquer finalidade;
Art. 7º - O Poder Executivo regulamentará esta lei no VI - demissão, punição, impedimento de acesso, pre-
prazo de sessenta dias contados da data de sua publica- terição ou tratamento diferenciado nas relações que en-
ção, por meio de ato em que se observarão, entre outros, volvam o acesso ao emprego e o exercício da atividade
os seguintes aspectos: profissional.
I - mecanismo de recebimento de denúncias ou re- Art. 3º - A pessoa jurídica de direito privado que, por
presentações fundadas nesta lei; II - formas de apuração ação de seu proprietário, preposto ou empregado no efe-
das denúncias ou representações; tivo exercício de suas atividades profissionais, praticar ato
III - graduação das infrações e as respectivas sanções; previsto no art. 2º fica sujeita a:
IV - garantia de ampla defesa dos denunciados. I - advertência;
Art. 8º - Esta lei entra em vigor na data de sua publi- II - multa de valor entre R$1.000,00 (um mil reais) a
cação. Art. 9º - Revogam-se as disposições em contrário R$50.000,00 (cinqüenta mil reais), atualizados pelos fatores
Atualizada em 08/12/2004 de atualização monetária da Corregedoria-Geral de Justiça
do Tribunal de Justiça do Estado;
III - suspensão do funcionamento do estabelecimento
de um a sete dias;
IV - interdição do estabelecimento de oito a 30 dias;
V - inabilitação para acesso a crédito estadual;
VI - rescisão de contrato firmado com órgão ou entida-
de da administração pública estadual;
VII - inabilitação para concessão de isenção, remissão,
anistia ou qualquer outro benefício de natureza tributária.

77
DIREITOS HUMANOS

§ 1º - Os valores pecuniários recolhidos na forma do in- I - receber denúncia de manifestação de discrimina-


ciso II serão integralmente destinados ao Fundo de Promo- ção, coação e atentado contra os direitos da pessoa em
ção dos Direitos Humanos até que seja criado o centro de razão de sua orientação sexual praticada por dirigente,
referência de que trata o art. 6º da Lei nº 14.170, de 2002. preposto ou empregado de pessoa jurídica de direito pú-
§ 2º - Nos casos em que, pela natureza do serviço pres- blico ou privado, no exercício de suas atividades profis-
tado pelo estabelecimento, não for conveniente ao interes- sionais;
se público a aplicação das sanções previstas nos incisos III II - instaurar e conduzir o procedimento administra-
e IV, a multa estabelecida será aplicada em dobro a cada tivo para a apuração das denúncias de que trata o inciso
ocorrência. anterior;
§ 3º - Quando a infração estiver associada a atos de III - aplicar as penalidades previstas no art. 3º;
violência ou outras formas de discriminação ou preconcei- IV - elaborar o seu regimento interno.
to, como as baseadas em raça ou cor da pele, deficiência Art. 10 - A Comissão Especial será composta por cin-
física, convicção religiosa ou política, condição social ou co membros, sendo:
econômica, não será aplicada a pena de advertência, de- I - dois escolhidos entre os membros do CONEDH/
vendo a punição ser fixada entre as demais sanções pre- MG;
vistas no art. 3º. II - um escolhido por entidade representativa do mo-
§ 4º - As sanções previstas no caput poderão ser apli- vimento homossexual com sede em Minas Gerais;
cadas cumulativamente, de acordo com a gravidade da in- III - um escolhido pelas entidades empresariais de
fração. âmbito estadual;
§ 5º - Ao infrator é assegurado o direito à ampla defesa IV - um com a função de coordenador, indicado pela
e ao contraditório. Subsecretaria de Direitos Humanos da Secretaria de Esta-
Art. 4º - A punição aplicada e sua graduação serão fi- do de Desenvolvimento Social e Esportes.
xadas em decisão fundamentada, tendo em vista a gravi- § 1º - A cada membro titular corresponde um suplen-
dade da infração, sua repercussão social e reincidência do te.
infrator. § 2º - Os membros mencionados nos incisos II e III
Art. 5º - Se ao término do procedimento administrativo deste artigo serão escolhidos na forma de resolução do
o órgão competente concluir pela existência da infração, CONEDH/MG;
deverá encaminhar cópia dos autos ao Ministério Público § 3º - Os membros da Comissão Especial serão desig-
Estadual. nados pelo Governador para um mandado de dois anos
Parágrafo único. Os papéis, peças publicitárias ou de- admitida uma recondução.
mais matérias de cunho discriminatório ficarão à disposi- Art. 11 - As decisões da Comissão Especial serão to-
ção das autoridades policiais e judiciárias, sendo encami- madas na forma de seu regimento interno e das disposi-
nhadas se requisitadas. ções deste Decreto.
Art. 6º - A pessoa jurídica de direito público que, por Art. 12 - Das decisões da Comissão Especial caberá
ação de seu dirigente, preposto ou empregado no efetivo recurso com efeito suspensivo ao plenário do CONEDH/
exercício de suas atividades profissionais, praticar algum MG e ao Secretário de Estado de Desenvolvimento Social
ato previsto no art. 2º fica sujeita, no que couber, às san- e Esportes, sem prejuízo do respectivo controle jurisdi-
ções previstas no seu art. 3º. cional.
Parágrafo único. O infrator, quando agente do poder Art. 13 - A execução da penalidade cabe:
público, terá a conduta averiguada por meio de procedi- I - À Comissão Especial no caso de advertência;
mento de apuração instaurado por órgão competente, sem II - À Secretaria de Estado de Fazenda no caso de
prejuízo das sanções penais cabíveis. multa;
Art. 7º - O procedimento administrativo será iniciado III - Ao órgão público competente nos casos dos inci-
pelo Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos sos III, IV, V, VI e VII do art. 3º.
de Minas Gerais - CONEDH/MG, mediante requerimento: Art. 14 - O órgão oficial dos Poderes do Estado de-
I - da vítima ou de seu representante legal; verá, sob orientação da Comissão Especial, confeccionar
II - de entidade de defesa dos direitos humanos, em e distribuir gratuitamente material gráfico com o inteiro
nome da vítima; teor da Lei nº 14.170, de 2002 e deste Decreto.
III - de autoridade competente. Art. 15 - Este Decreto entra em vigor na data de sua
Parágrafo único. O requerimento deverá ser instruído publicação.
com o registro de ocorrência do fato lavrado por órgão Palácio da Liberdade, em Belo Horizonte, aos 10 de
oficial, representação criminal ou rol de testemunhas. dezembro de 2003; 215º da Inconfidência Mineira.
Art. 8º - O CONEDH/MG poderá celebrar termos de
cooperação com conselhos municipais, visando facilitar o
encaminhamento de denúncias provenientes do interior do
estado de Minas Gerais.
Art. 9º - Fica instituída, na estrutura do CONEDH, Co-
missão Especial incumbida de:

78
DIREITOS HUMANOS

...................................................................................” (NR)
10. LEI Nº 13.104, DE 09 DE MARÇO DE Art. 3o Esta Lei entra em vigor na data da sua publica-
2015, ALTERA O ART. 121 DO DECRETO- ção.
LEI NO 2.848, DE 07 DE DEZEMBRO DE Brasília, 9 de março de 2015; 194o da Independência e
127o da República.
1940 - CÓDIGO PENAL, PARA PREVER O
DILMA ROUSSEFF
FEMINICÍDIO COMO CIRCUNSTÂNCIA
QUALIFICADORA DO CRIME DE HOMICÍDIO,
E O ART. 1º DA LEI NO 8.072, DE 25 DE JULHO
DE 1990, PARA INCLUIR O FEMINICÍDIO NO 11. LEI Nº 12.288, DE 20 DE JULHO DE 2010,
ROL DOS CRIMES HEDIONDOS. QUE INSTITUI O ESTATUTO DA IGUALDADE
RACIAL, ART. 1º AO 26.

LEI Nº 13.104, DE 9 DE MARÇO DE 2015.


“O Estatuto da Igualdade Racial, instituído pela Lei
Altera o art. 121 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de 12.888, de 20 de julho de 2010, visa ‘garantir à população
dezembro de 1940 - Código Penal, para prever o feminicídio negra a efetivação da igualdade de oportunidades, a
como circunstância qualificadora do crime de homicídio, e defesa dos direitos étnicos individuais, coletivos e difusos
o art. 1o da Lei no 8.072, de 25 de julho de 1990, para e o combate à discriminação e às demais formas de
incluir o feminicídio no rol dos crimes hediondos intolerância étnica’ (art. 1º), ou seja, coibir práticas de
discriminação racial e estabelecer políticas públicas para
A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o diminuir a desigualdade social existente entre os diferentes
Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: grupos raciais no Brasil. A edição do Estatuto da Câmara
Art. 1o O art. 121 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dos Deputados traz também as legislações correlatas
dezembro de 1940 - Código Penal, passa a vigorar com a à Lei 12.888, como: a Convenção Internacional sobre a
seguinte redação: Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial; a
“Homicídio simples Lei Antirracismo n. 7.716, de 5 de janeiro de 1989; a Lei da
Art. 121. ........................................................................ Discriminação no Emprego n. 9.029, de 13 de abril de 1995,
............................................................................................. entre outras.
Homicídio qualificado A Lei 12.888/10 é bem abrangente e trata dos direitos
§ 2o ................................................................................ fundamentais para igualdade racial, dentre eles o direito
............................................................................................. à saúde, à educação, cultura, esporte e lazer, liberdade
Feminicídio de consciência, de crença e religiosa, acesso à moradia e
VI - contra a mulher por razões da condição de sexo trabalho.
feminino: A Lei determina também a instituição do Sinapir
............................................................................................. (Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial),
§ 2o-A  Considera-se que há razões de condição de ‘como forma de organização e de articulação voltadas
sexo feminino quando o crime envolve: à implementação do conjunto de políticas e serviços
I - violência doméstica e familiar; destinados a superar as desigualdades étnicas existentes
II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher.
no País’ (art. 47)”79.
..............................................................................................
Aumento de pena
LEI Nº 12.288, DE 20 DE JULHO DE 2010
..............................................................................................
§ 7o  A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um
Institui o Estatuto da Igualdade Racial; altera as Leis
terço) até a metade se o crime for praticado:
nºs 7.716, de 5 de janeiro de 1989, 9.029, de 13 de abril
I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posterio-
de 1995, 7.347, de 24 de julho de 1985, e 10.778, de 24 de
res ao parto;
II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior novembro de 2003.
de 60 (sessenta) anos ou com deficiência; O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o
III - na presença de descendente ou de ascendente da Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
vítima.” (NR)
Art. 2o O art. 1o da Lei no 8.072, de 25 de julho de 1990, TÍTULO I
passa a vigorar com a seguinte alteração: DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
“Art. 1o  .........................................................................
I - homicídio (art. 121), quando praticado em atividade Art. 1º Esta Lei institui o Estatuto da Igualdade Racial,
típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por um destinado a garantir à população negra a efetivação
só agente, e homicídio qualificado (art. 121, § 2o, I, II, III, da igualdade de oportunidades, a defesa dos direitos
IV, V e VI); 79 http://www.portalconscienciapolitica.com.br/products/
estatuto-da-igualdade-racial/

79
DIREITOS HUMANOS

étnicos individuais, coletivos e difusos e o combate São 3 as diretrizes político-jurídicas do estatuto, as


à discriminação e às demais formas de intolerância quais são complementadas pelas normas constitucionais.
étnica.
Logo, o estatuto volta-se à população negra brasileira, Art. 4º A participação da população negra, em
buscando garantir a igualdade material em relação aos condição de igualdade de oportunidade, na vida econômica,
demais. Significa que este grupo vulnerável socialmente social, política e cultural do País será promovida,
receberá um tratamento próprio específico para que de prioritariamente, por meio de:
fato, na prática, tenha os mesmos direitos dos demais I - inclusão nas políticas públicas de desenvolvimento
brasileiros. econômico e social;
Parágrafo único. Para efeito deste Estatuto, considera- II - adoção de medidas, programas e políticas de ação
se: afirmativa;
I - discriminação racial ou étnico-racial: toda III - modificação das estruturas institucionais do
distinção, exclusão, restrição ou preferência baseada em Estado para o adequado enfrentamento e a superação
raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica que das desigualdades étnicas decorrentes do preconceito e da
tenha por objeto anular ou restringir o reconhecimento, discriminação étnica;
gozo ou exercício, em igualdade de condições, de direitos IV - promoção de ajustes normativos para aperfeiçoar
humanos e liberdades fundamentais nos campos político, o combate à discriminação étnica e às desigualdades étnicas
econômico, social, cultural ou em qualquer outro campo da em todas as suas manifestações individuais, institucionais e
vida pública ou privada; estruturais;
II - desigualdade racial: toda situação injustificada V - eliminação dos obstáculos históricos, socioculturais
de diferenciação de acesso e fruição de bens, serviços e e institucionais que impedem a representação da
oportunidades, nas esferas pública e privada, em virtude de diversidade étnica nas esferas pública e privada;
raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica; VI - estímulo, apoio e fortalecimento de iniciativas
III - desigualdade de gênero e raça: assimetria oriundas da sociedade civil direcionadas à promoção da
existente no âmbito da sociedade que acentua a distância igualdade de oportunidades e ao combate às desigualdades
étnicas, inclusive mediante a implementação de incentivos
social entre mulheres negras e os demais segmentos
e critérios de condicionamento e prioridade no acesso aos
sociais;
recursos públicos;
IV - população negra: o conjunto de pessoas que se
VII - implementação de programas de ação afirmativa
autodeclaram pretas e pardas, conforme o quesito cor ou
destinados ao enfrentamento das desigualdades étnicas
raça usado pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia
no tocante à educação, cultura, esporte e lazer, saúde,
e Estatística (IBGE), ou que adotam autodefinição análoga;
segurança, trabalho, moradia, meios de comunicação
V - políticas públicas: as ações, iniciativas e de massa, financiamentos públicos, acesso à terra, à
programas adotados pelo Estado no cumprimento de suas Justiça, e outros.
atribuições institucionais; Parágrafo único. Os programas de ação afirmativa
VI - ações afirmativas: os programas e medidas constituir-se-ão em políticas públicas destinadas a reparar
especiais adotados pelo Estado e pela iniciativa privada as distorções e desigualdades sociais e demais práticas
para a correção das desigualdades raciais e para a discriminatórias adotadas, nas esferas pública e privada,
promoção da igualdade de oportunidades. durante o processo de formação social do País.
O parágrafo único do artigo 1º traz conceitos que serão O artigo 4º trata dos meios que serão utilizados para a
utilizados para fins de aplicação desta lei. Voltar atenção promoção da igualdade racial.
especial, porque podem cair nos testes das provas.
Art. 5º Para a consecução dos objetivos desta Lei, é
Art. 2º É dever do Estado e da sociedade garantir a instituído o Sistema Nacional de Promoção da Igualdade
igualdade de oportunidades, reconhecendo a todo cidadão Racial (Sinapir), conforme estabelecido no Título III.
brasileiro, independentemente da etnia ou da cor da pele, o
direito à participação na comunidade, especialmente nas TÍTULO II
atividades políticas, econômicas, empresariais, educacionais, DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS
culturais e esportivas, defendendo sua dignidade e seus CAPÍTULO I
valores religiosos e culturais. DO DIREITO À SAÚDE
Promover a igualdade não é só responsabilidade do
Estado, mas da sociedade como um todo. Art. 6º O direito à saúde da população negra será
garantido pelo poder público mediante políticas universais,
Art. 3º Além das normas constitucionais relativas sociais e econômicas destinadas à redução do risco de
aos princípios fundamentais, aos direitos e garantias doenças e de outros agravos.
fundamentais e aos direitos sociais, econômicos e culturais, § 1º O acesso universal e igualitário ao Sistema Único
o Estatuto da Igualdade Racial adota como diretriz de Saúde (SUS) para promoção, proteção e recuperação
político-jurídica a inclusão das vítimas de desigualdade da saúde da população negra será de responsabilidade dos
étnico-racial, a valorização da igualdade étnica e o órgãos e instituições públicas federais, estaduais, distritais e
fortalecimento da identidade nacional brasileira. municipais, da administração direta e indireta.

80
DIREITOS HUMANOS

§ 2º O poder público garantirá que o segmento da Art. 10. Para o cumprimento do disposto no art. 9º, os
população negra vinculado aos seguros privados de governos federal, estaduais, distrital e municipais adotarão
saúde seja tratado sem discriminação. as seguintes providências:
I - promoção de ações para viabilizar e ampliar o
Art. 7º O conjunto de ações de saúde voltadas à acesso da população negra ao ensino gratuito e às atividades
população negra constitui a Política Nacional de Saúde esportivas e de lazer;
Integral da População Negra, organizada de acordo com II - apoio à iniciativa de entidades que mantenham
as diretrizes abaixo especificadas: espaço para promoção social e cultural da população negra;
I - ampliação e fortalecimento da participação de III - desenvolvimento de campanhas educativas,
lideranças dos movimentos sociais em defesa da saúde da inclusive nas escolas, para que a solidariedade aos membros
população negra nas instâncias de participação e controle da população negra faça parte da cultura de toda a
social do SUS; sociedade;
II - produção de conhecimento científico e tecnológico
IV - implementação de políticas públicas para o
em saúde da população negra;
fortalecimento da juventude negra brasileira.
III - desenvolvimento de processos de informação,
Nota-se que envolve não somente uma postura estatal
comunicação e educação para contribuir com a redução
das vulnerabilidades da população negra. ativa, mas também uma de apoio às atitudes da sociedade
como um todo neste sentido.
Art. 8º Constituem objetivos da Política Nacional de
Saúde Integral da População Negra: Seção II
I - a promoção da saúde integral da população Da Educação
negra, priorizando a redução das desigualdades étnicas e o
combate à discriminação nas instituições e serviços do SUS; Art. 11. Nos estabelecimentos de ensino fundamental
II - a melhoria da qualidade dos sistemas de informação e de ensino médio, públicos e privados, é obrigatório
do SUS no que tange à coleta, ao processamento e à o estudo da história geral da África e da história da
análise dos dados desagregados por cor, etnia e gênero; população negra no Brasil, observado o disposto na Lei nº
III - o fomento à realização de estudos e pesquisas 9.394, de 20 de dezembro de 1996.
sobre racismo e saúde da população negra; § 1º Os conteúdos referentes à história da população
IV - a inclusão do conteúdo da saúde da população negra negra no Brasil serão ministrados no âmbito de todo o
nos processos de formação e educação permanente dos currículo escolar, resgatando sua contribuição decisiva para
trabalhadores da saúde; o desenvolvimento social, econômico, político e cultural do
V - a inclusão da temática saúde da população negra País.
nos processos de formação política das lideranças de § 2º O órgão competente do Poder Executivo
movimentos sociais para o exercício da participação e fomentará a formação inicial e continuada de professores
controle social no SUS. e a elaboração de material didático específico para o
Parágrafo único. Os moradores das comunidades cumprimento do disposto no caput deste artigo.
de remanescentes de quilombos serão beneficiários § 3º Nas datas comemorativas de caráter cívico,
de incentivos específicos para a garantia do direito à os órgãos responsáveis pela educação incentivarão a
saúde, incluindo melhorias nas condições ambientais, no participação de intelectuais e representantes do movimento
saneamento básico, na segurança alimentar e nutricional e negro para debater com os estudantes suas vivências
na atenção integral à saúde.
relativas ao tema em comemoração.
Com efeito, o capítulo 1 do título II trata de um viés
específico de promoção da igualdade da população negra
Art. 12. Os órgãos federais, distritais e estaduais de
que é o direito à saúde. Isto envolve não só a promoção de
fomento à pesquisa e à pós-graduação poderão criar
um acesso justo e igualitário ao SUS, mas também a busca
de desenvolvimento de estudos e pesquisas específicos, incentivos a pesquisas e a programas de estudo voltados
além da vedação de discriminação nos setores privados (ex: para temas referentes às relações étnicas, aos quilombos e
seguradoras de saúde). às questões pertinentes à população negra.

CAPÍTULO II Art. 13. O Poder Executivo federal, por meio dos órgãos
DO DIREITO À EDUCAÇÃO, À CULTURA, AO competentes, incentivará as instituições de ensino superior
ESPORTE E AO LAZER públicas e privadas, sem prejuízo da legislação em vigor, a:
Seção I I - resguardar os princípios da ética em pesquisa e
Disposições Gerais apoiar grupos, núcleos e centros de pesquisa, nos diversos
programas de pós-graduação que desenvolvam temáticas
Art. 9º A população negra tem direito a participar de interesse da população negra;
de atividades educacionais, culturais, esportivas e de II - incorporar nas matrizes curriculares dos cursos
lazer adequadas a seus interesses e condições, de modo a de formação de professores temas que incluam valores
contribuir para o patrimônio cultural de sua comunidade e concernentes à pluralidade étnica e cultural da sociedade
da sociedade brasileira. brasileira;

81
DIREITOS HUMANOS

III - desenvolver programas de extensão universitária Parágrafo único. O poder público buscará garantir, por
destinados a aproximar jovens negros de tecnologias meio dos atos normativos necessários, a preservação dos
avançadas, assegurado o princípio da proporcionalidade de elementos formadores tradicionais da capoeira nas suas
gênero entre os beneficiários; relações internacionais.
IV - estabelecer programas de cooperação técnica, nos Aspectos ligados à cultura negra, como a capoeira e
estabelecimentos de ensino públicos, privados e comunitários, os costumes em geral praticados nos quilombos, devem
com as escolas de educação infantil, ensino fundamental, ser preservados, cabendo ainda a instituição de datas
ensino médio e ensino técnico, para a formação docente comemorativas específicas em homenagem à cultura
baseada em princípios de equidade, de tolerância e de negra.
respeito às diferenças étnicas.
Seção IV
Art. 14. O poder público estimulará e apoiará ações Do Esporte e Lazer
socioeducacionais realizadas por entidades do movimento
negro que desenvolvam atividades voltadas para a inclusão Art. 21. O poder público fomentará o pleno acesso da
social, mediante cooperação técnica, intercâmbios, convênios população negra às práticas desportivas, consolidando o
e incentivos, entre outros mecanismos. esporte e o lazer como direitos sociais.

Art. 15. O poder público adotará programas de ação Art. 22. A capoeira é reconhecida como desporto de
afirmativa. criação nacional, nos termos do art. 217 da Constituição
Federal.
Art. 16. O Poder Executivo federal, por meio dos órgãos § 1º A atividade de capoeirista será reconhecida em
responsáveis pelas políticas de promoção da igualdade e todas as modalidades em que a capoeira se manifesta, seja
de educação, acompanhará e avaliará os programas de que como esporte, luta, dança ou música, sendo livre o exercício
trata esta Seção. em todo o território nacional.
Logo, no âmbito da educação foca-se no estudo § 2º É facultado o ensino da capoeira nas instituições
crítico dos precedentes da cultura negra, reforçando a sua públicas e privadas pelos capoeiristas e mestres tradicionais,
contribuição social, bem como o apoio às iniciativas de pública e formalmente reconhecidos.
pesquisa voltadas a este grupo social. Em destaque, a capoeira não é vista apenas como
manifestação cultural, mas também como esporte.
Seção III
Da Cultura CAPÍTULO III
DO DIREITO À LIBERDADE DE CONSCIÊNCIA
Art. 17. O poder público garantirá o reconhecimento E DE CRENÇA E AO LIVRE EXERCÍCIO DOS CULTOS
das sociedades negras, clubes e outras formas de RELIGIOSOS
manifestação coletiva da população negra, com trajetória
histórica comprovada, como patrimônio histórico e cultural, Art. 23. É inviolável a liberdade de consciência e
nos termos dos arts. 215 e 216 da Constituição Federal. de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos
religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais
Art. 18. É assegurado aos remanescentes das de culto e a suas liturgias.
comunidades dos quilombos o direito à preservação de
seus usos, costumes, tradições e manifestos religiosos, Art. 24. O direito à liberdade de consciência e de crença e
sob a proteção do Estado. ao livre exercício dos cultos religiosos de matriz africana
Parágrafo único. A preservação dos documentos e dos compreende:
sítios detentores de reminiscências históricas dos antigos I - a prática de cultos, a celebração de reuniões
quilombos, tombados nos termos do § 5º do art. 216 da relacionadas à religiosidade e a fundação e manutenção,
Constituição Federal, receberá especial atenção do poder por iniciativa privada, de lugares reservados para tais
público. fins;
II - a celebração de festividades e cerimônias de
Art. 19. O poder público incentivará a celebração das acordo com preceitos das respectivas religiões;
personalidades e das datas comemorativas relacionadas III - a fundação e a manutenção, por iniciativa
à trajetória do samba e de outras manifestações culturais privada, de instituições beneficentes ligadas às respectivas
de matriz africana, bem como sua comemoração nas convicções religiosas;
instituições de ensino públicas e privadas. IV - a produção, a comercialização, a aquisição e
o uso de artigos e materiais religiosos adequados aos
Art. 20. O poder público garantirá o registro e a costumes e às práticas fundadas na respectiva religiosidade,
proteção da capoeira, em todas as suas modalidades, como ressalvadas as condutas vedadas por legislação específica;
bem de natureza imaterial e de formação da identidade V - a produção e a divulgação de publicações
cultural brasileira, nos termos do art. 216 da Constituição relacionadas ao exercício e à difusão das religiões de matriz
Federal. africana;

82
DIREITOS HUMANOS

VI - a coleta de contribuições financeiras de pessoas 2. (IBFC/2015 - SAEB-BA - Técnico de Registro de


naturais e jurídicas de natureza privada para a manutenção Comércio) Assinale a alternativa correta sobre o que foi
das atividades religiosas e sociais das respectivas religiões; criado pela Lei Federal n° 12.888, de 20 de julho de 2010
VII - o acesso aos órgãos e aos meios de comunicação (Estatuto da Igualdade Racial) como forma de organização
para divulgação das respectivas religiões; e de articulação voltadas à implementação do conjunto de
VIII - a comunicação ao Ministério Público para políticas e serviços destinados a superar as desigualdades
abertura de ação penal em face de atitudes e práticas étnicas existentes no País.
de intolerância religiosa nos meios de comunicação e em a) Sinapir - Sistema Nacional de Promoção da Igualdade
quaisquer outros locais. Racial.
b) Senaprer- Serviço Nacional de Prevenção Racial.
Art. 25. É assegurada a assistência religiosa aos c) Sinagir - Sistema Nacional de Garantia da Inclusão
praticantes de religiões de matrizes africanas internados Racial.
em hospitais ou em outras instituições de internação coletiva, d) Sinatir - Serviço Integrado de Atenção e Igualdade
inclusive àqueles submetidos a pena privativa de liberdade. Racial.
e) Sincodir- Serviço integrado de Combate à
Art. 26. O poder público adotará as medidas necessárias Discriminação Racial.
para o combate à intolerância com as religiões de
matrizes africanas e à discriminação de seus seguidores, R: A. Dispõe a Lei nº 12.288/10: “Art. 47. É instituído
especialmente com o objetivo de: o SISTEMA NACIONAL DE PROMOÇÃO DA IGUALDADE
I - coibir a utilização dos meios de comunicação social RACIAL (SINAPIR) como forma de organização e de
para a difusão de proposições, imagens ou abordagens que articulação voltadas à implementação do conjunto de
exponham pessoa ou grupo ao ódio ou ao desprezo por políticas e serviços destinados a superar as desigualdades
motivos fundados na religiosidade de matrizes africanas; étnicas existentes no País, prestados pelo poder público
II - inventariar, restaurar e proteger os documentos, obras federal”.
e outros bens de valor artístico e cultural, os monumentos,
mananciais, flora e sítios arqueológicos vinculados às 3. (IBFC/2015 - EMBASA - Assistente de Saneamento
religiões de matrizes africanas; - Técnico em Segurança do Trabalho) Considerando as
III - assegurar a participação proporcional de disposições da lei federal n° 12.288, de 20/07/2010, que
representantes das religiões de matrizes africanas, ao lado da institui o Estatuto da Igualdade Racial, assinale a alternativa
representação das demais religiões, em comissões, conselhos, correta sobre o que a referida lei considera de forma
órgãos e outras instâncias de deliberação vinculadas ao precisa, desigualdade racial.
poder público. a) Assimetria existente no âmbito da sociedade que
As religiões africanas devem ser respeitadas assim acentua a distância social entre mulheres negras e os
como as demais, possuindo espaço próprio para a demais segmentos sociais.
manifestação da crença religiosa individualmente ou em b) Toda situação injustificada de diferenciação de acesso
grupo, coibindo-se a discriminação. Isto não significa e fruição de bens, serviços e oportunidades, nas esferas
tolerar práticas contrárias à lei, que deverão ser coibidas. pública e privada, em virtude de raça, cor, descendência ou
origem nacional ou étnica.
EXERCÍCIOS c) Toda distinção baseada em raça, cor, descendência
ou origem nacional ou étnica que tenha por objeto anular
1. (IBFC/2017 - AGERBA - Técnico em Regulação) exercício, em igualdade de condições, de direitos humanos.
Considerando as disposições da lei federal nº 12.288, de d) Toda exclusão ou preferência baseada em raça, cor,
20/07/2010 que institui o Estatuto da Igualdade Racial, descendência ou origem nacional ou étnica que tenha por
assinale a alternativa correta sobre o significado da sigla objeto anular ou restringir o reconhecimento, gozo ou
SINAPIR. exercício, em igualdade de condições, de direitos humanos
a) Serviço de Integração e Autopromoção Racial e liberdades fundamentais.
b) Serviço Nacional de Apoio às Práticas de Integração
Racial R: B. Dispõe a Lei nº 12.288/10: “Art. 1° Esta Lei
c) Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial institui o Estatuto da Igualdade Racial, destinado a
d) Sistema Nacional de Promoção da Integração Racial garantir à população negra a efetivação da igualdade de
e) Sindicato Nacional de Participação Racial oportunidades, a defesa dos direitos étnicos individuais,
coletivos e difusos e o combate à discriminação e às demais
R: C. Colaciona a Lei nº 12.288/10” “Art.47. É instituído formas de intolerância étnica. Parágrafo único. Para efeito
o SISTEMA NACIONAL DE PROMOÇÃO DA IGUALDADE deste Estatuto, considera-se: II - desigualdade racial: toda
RACIAL (SINAPIR) como forma de organização e de situação injustificada de diferenciação de acesso e fruição
articulação voltadas à implementação do conjunto de de bens, serviços e oportunidades, nas esferas pública e
políticas e serviços destinados a superar as desigualdades privada, em virtude de raça, cor, descendência ou origem
étnicas existentes no País, prestados pelo poder público nacional ou étnica”.
federal”.

83
DIREITOS HUMANOS

4. (IBFC/2017 - AGERBA - Especialista em Regulação) R: D. A alternativa “a” está incorreta porque “é


Assinale a alternativa INCORRETA sobre os objetivos assegurada a assistência religiosa aos praticantes de
do Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial religiões de matrizes africanas internados em hospitais ou
(Sinapir), considerando as disposições da lei federal nº em outras instituições de internação coletiva, INCLUSIVE
12.288, de 20/07/2010 que institui o Estatuto da Igualdade àqueles submetidos a pena privativa de liberdade” (art.
Racial. 25). A alternativa “b” está incorreta porque “os conteúdos
a) Promover a igualdade étnica e o combate às referentes à história da população negra no Brasil serão
desigualdades sociais resultantes do racismo, inclusive ministrados NO ÂMBITO DE TODO O CURRÍCULO
mediante adoção de ações afirmativas ESCOLAR, resgatando sua contribuição decisiva para o
b) Formular políticas destinadas a combater os fatores desenvolvimento social, econômico, político e cultural do
de marginalização e a promover a integração social da País” (art. 11, § 1º). A alternativa “c” está incorreta porque
população negra “é facultado o ensino da capoeira nas instituições públicas
c) Centralizar a implementação de ações afirmativas no e privadas pelos capoeiristas E MESTRES TRADICIONAIS,
nível federal PÚBLICA E FORMALMENTE RECONHECIDOS” (art. 21, §2º).
d) Articular planos, ações e mecanismos voltados à Apenas resta a alternativa “d”, correta, correspondendo ao
promoção da igualdade étnica teor do artigo 28 da lei: “Para incentivar o desenvolvimento
e) Garantir a eficácia dos meios e dos instrumentos das atividades produtivas da população negra no campo, o
criados para a implementação das ações afirmativas e o poder público promoverá ações para viabilizar e ampliar o
cumprimento das metas a serem estabelecidas seu acesso ao financiamento agrícola”.

R: C. Considerando o teor da Lei nº 12.288/10, a 6. (IBFC/2017 - AGERBA - Especialista em Regulação)


alternativa “a” tem o exato teor do artigo 48, I; a “b” do Assinale a alternativa correta, considerando as disposições
artigo 48, II; a “d” do artigo 48, IV e a “e” do artigo 48, da lei federal nº 12.288, de 20/07/2010 que institui o
V. Contudo, se faz pequena alteração quanto ao artigo Estatuto da Igualdade Racial.
48, III, descrito na alternativa “c”, consistente na palavra a) O Poder Legislativo federal elaborará plano nacional
“centralizar”, pois a legislação fala em “descentralizar”. Eis de promoção da igualdade racial contendo as metas,
o teor do artigo 48: Art. 48. São objetivos do Sinapir: I - princípios e diretrizes para a implementação da Política
promover a igualdade étnica e o combate às desigualdades Nacional de Promoção da Igualdade Racial (PNPIR)
sociais resultantes do racismo, inclusive mediante adoção b) A elaboração, implementação, coordenação,
de ações afirmativas; II - formular políticas destinadas a avaliação e acompanhamento da Política Nacional de
combater os fatores de marginalização e a promover a Promoção da Igualdade Racial (PNPIR), bem como a
integração social da população negra; III - descentralizar organização, articulação e coordenação do Sistema
a implementação de ações afirmativas pelos governos Nacional de Promoção da Igualdade Racial (Sinapir),
estaduais, distrital e municipais; IV - articular planos, ações serão efetivados pelo órgão responsável pela política de
e mecanismos voltados à promoção da igualdade étnica; promoção da igualdade étnica em âmbito nacional
V - garantir a eficácia dos meios e dos instrumentos c) É o Poder Legislativo federal autorizado a instituir
criados para a implementação das ações afirmativas e o fórum intergovernamental de promoção da igualdade
cumprimento das metas a serem estabelecidas”. étnica, a ser coordenado pelo órgão responsável
pelas políticas educacionais gerais, com o objetivo de
5. (IBFC/2015 - EMBASA - Analista de Saneamento implementar estratégias que visem à incorporação da
- Enfermeiro do Trabalho) Assinale a alternativa correta política nacional de promoção da igualdade étnica nas
considerando as disposições da lei federal n° 12.288, de ações governamentais de Estados e Municípios
20/07/2010, que institui o Estatuto da Igualdade Racial. d) As diretrizes das políticas nacional e regional de
a) É assegurada a assistência religiosa aos praticantes promoção da igualdade étnica serão elaboradas por
de religiões de matrizes africanas internados em hospitais órgão colegiado, independentemente de participação da
ou em outras instituições de internação coletiva, excluídos sociedade civil
os casos de pena privativa de liberdade. e) Os Poderes Executivos estaduais, distrital e
b) Os conteúdos referentes à história da população municipais, no âmbito das respectivas esferas de
negra no Brasil serão ministrados por meio de componente competência, poderão instituir conselhos de promoção
curricular específico, resgatando sua contribuição decisiva da igualdade étnica, de caráter provisório e deliberativo,
para o desenvolvimento social, econômico, político e compostos exclusivamente por representantes de órgãos
cultural do País. e entidades públicas
c) É facultado o ensino da capoeira nas instituições
públicas e privadas pelos capoeiristas formados em R: B. Neste sentido, eis o artigo 49 da Lei nº 12.288/10:
educação física. “Art. 49. O Poder Executivo federal elaborará plano
d) Para incentivar o desenvolvimento das atividades nacional de promoção da igualdade racial contendo
produtivas da população negra no campo, o poder público as metas, princípios e diretrizes para a implementação
promoverá ações para viabilizar e ampliar o seu acesso ao da Política Nacional de Promoção da Igualdade Racial
financiamento agrícola. (PNPIR). § 1º A elaboração, implementação, coordenação,

84
DIREITOS HUMANOS

avaliação e acompanhamento da PNPIR, bem como


a organização, articulação e coordenação do Sinapir, ANOTAÇÕES
serão efetivados pelo órgão responsável pela política de
promoção da igualdade étnica em âmbito nacional. § 2º
É o Poder Executivo federal autorizado a instituir fórum __________________________________________________
intergovernamental de promoção da igualdade étnica,
a ser coordenado pelo órgão responsável pelas políticas ___________________________________________________
de promoção da igualdade étnica, com o objetivo de
___________________________________________________
implementar estratégias que visem à incorporação da
política nacional de promoção da igualdade étnica nas ___________________________________________________
ações governamentais de Estados e Municípios. § 3º As
diretrizes das políticas nacional e regional de promoção ___________________________________________________
da igualdade étnica serão elaboradas por órgão colegiado
que assegure a participação da sociedade civil”. ___________________________________________________

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DIREITOS HUMANOS

ANOTAÇÕES

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LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

1. Estatuto do Desarmamento (Lei nº 10.826/03)........................................................................................................................................ 01


2. Crimes resultantes de preconceitos de raça ou de cor (Lei nº 7.716/89)...................................................................................... 08
3. Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/90)...................................................................................................................... 13
4. Juizados Especiais Criminais (Lei nº 9.099/95........................................................................................................................................... 71
4.2. 10.259/2001)................................................................................................................................................................................................... 82
5. Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (Lei nº 11.343/06)...................................................................................... 84
6. Código de Ética e Disciplina dos Militares do Estado de Minas Gerais – Lei Estadual 14.310/2002................................100
7. Lei nº 4.898, de 09 de dezembro de 1965, Regula o Direito de Representação e o processo de Responsabilidade Ad-
ministrativa Civil e Penal, nos casos de abuso de autoridade...............................................................................................................115
8. Lei nº 8.072, de 25 de julho de 1990, dispõe sobre os crimes hediondos..................................................................................120
9. Lei nº 11.340, de 07 de agosto de 2006, cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher:
Art. 1º ao 7º, 10 ao 12, 22 ao 24 e 34 ao 45................................................................................................................................................124
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

2) Registro
1. ESTATUTO DO DESARMAMENTO (LEI Nº Posse ou guarda - artigo 5º.
10.826/03). A finalidade é autorizar o proprietário a manter a arma
de fogo exclusivamente no interior de sua casa, domicílio
ou local de trabalho.
A falta de registro leva à criminalização - artigo 12.
“As regras para se comprar uma arma e os mecanismos Posse irregular de arma: delito previsto no artigo 12.
de controle destas no Brasil sempre foram falhos ou pra- A posse irregular é a posse sem registro. Trata-se de crime
ticamente inexistentes. Isto gerou, por muitos anos, uma comum (qualquer pessoa pode praticar), de perigo abstra-
grande entrada de armas em circulação no país. O fácil to (presume-se o perigo), de conteúdo múltiplo ou variado
acesso às armas de fogo sempre transformou os conflitos (mais de um verbo no tipo - possuir ou guardar), unissub-
existentes na sociedade brasileira em tragédias. jetivo (pode ser praticado por uma só pessoa), doloso, para
Em 1997, apareceram os primeiros movimentos pró- o qual não se admite tentativa.
-desarmamento no Brasil e o controle de armas de fogo 3) SINARM
começou a entrar na pauta de preocupações nacional. As armas de fogo possuem algumas características
Neste mesmo ano, houve a primeira mudança na legisla- como: marca, calibre, quantidade de cartuchos (balas), e
ção, ainda bastante insipiente frente à realidade brasileira. outras mais complexas, como tipo da coronha, raias, etc.
Afinal, mais de 80% dos crimes eram cometidos por armas Existem ainda as armas comuns como garruchas e revol-
de fogo. veres, que se diferenciam das armas automáticas, como
Os movimentos não pararam. Organizações passaram pistolas, metralhadoras e outras impróprias para o uso co-
a realizar eventos e atos públicos chamando a atenção da mum, que são utilizadas pelas policias em operações espe-
população brasileira. Somando-se a isso, os dados e pes- ciais. Cabe ao SINARM catalogar e registrar todas as armas
quisas que apareciam mostravam relação direta entre o em circulação no Brasil.
fácil acesso às armas de fogo e o aumento do número de Assim, o Sistema Nacional de Armas (SINARM), instituí-
homicídios, comprovando que quanto mais armas em cir- do no Ministério da Justiça, no âmbito da Polícia Federal,
culação, mais morte. com circunscrição em todo o território nacional, é respon-
Em junho de 2003, foi organizada uma Marcha Silen- sável pelo controle de armas de fogo em poder da popu-
ciosa, com sapatos de vítimas de armas de fogo em frente lação, conforme previsto na Lei nº 10.826/03 (Estatuto do
ao congresso nacional. Este fato chamou bastante atenção Desarmamento).
da mídia e da opinião pública. Os legisladores tomaram 4) Porte
para si o tema e criaram uma comissão mista, com deputa- Autoriza a pessoa a ter a arma consigo fora de casa ou
dos federais e senadores para formular uma nova lei. Esta do trabalho. Para ter porte, precisa ter posse.
comissão analisou todos os projetos que falavam sobre o O porte de uso para pessoas comuns em regra não é
tema nas duas casas e reescreveram uma lei conjunta: o permitido - artigo 10.
Estatuto do Desarmamento. O porte para funcionários de segurança e coleciona-
Depois de redigido, faltava a aprovação, tanto no Se- dores que participam de eventos esportivos é eventual, ou
nado quanto na Câmara dos Deputados. O Estatuto foi fa- seja, somente é aceito em algumas situações - artigos 6º
cilmente aprovado no Senado, mas logo em seguida ficou, e 9º.
mais de 3 meses parado esperando a aprovação na Câmara Magistratura e Ministério Público possuem porte fun-
dos Deputados. Lá enfrentou o poderosíssimo lobby das
cional, assegurado nas respectivas leis orgânicas.
armas, ou seja, deputados federais que na sua maioria tive-
No porte ilegal não interessa se a arma é permitida ou
ram as campanhas financiadas pelas indústrias de armas e
de uso restrito, se há registro ou não. Significa ter a arma
munições, a chamada Bancada da Bala.
consigo fora dos limites do trabalho e da residência, sem
No entanto, a pressão popular foi mais forte e o Es-
autorização para isso, o que já constitui ato ilícito. Logo,
tatuto foi aprovado em outubro de 2004 na Câmara dos
uma pessoa pode ter a posse legal ou regular (arma regis-
Deputados. Voltou para o Senado novamente onde outra
trada) e praticar o crime de porte ilegal, previsto no artigo
vez foi aprovado rapidamente. No dia 23 de Dezembro o
Estatuto do Desarmamento foi sancionado pelo presidente 14. Caso a posse seja ilegal, o delito é o do artigo 16.
Luis Inácio Lula da Silva”1. O porte ilegal de arma do artigo 14 é um crime co-
Alguns pontos essenciais do Estatuto merecem desta- mum (qualquer pessoa pode cometer), de merda conduta
que em separado: (não depende de resultado), de perigo abstrato (não pre-
1) Armas cisa sacar a arma), conteúdo múltiplo (13 núcleos de tipo),
O estatuto do desarmamento se aplica apenas às ar- unissubjetivo (basta ser praticado por 1 pessoa). Seu objeto
mas de fogo, munições e acessórios. Não se aplica às ar- material é a arma ou acessório de uso permitido devida-
mas brancas. mente numerado.
As armas podem ser próprias quando fabricadas para O tipo do artigo 16 se aplica tanto ao porte quanto
serem armas desde a sua origem, ou impróprias quando à posse de arma de uso restrito (mesma classificação do
não tem como finalidade ser arma mas ser usada como tal. artigo 14). O parágrafo único traz 6 ações diferentes que
constituem crimes autônomos.
1 http://www.deolhonoestatuto.org.br/

1
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

5) Prazo de regularização da arma ou entrega - ar- CAPÍTULO I


tigos 30 a 32 DO SISTEMA NACIONAL DE ARMAS
O prazo limite foi prorrogado e já se encerrou em 31
de dezembro de 2009 - artigo 20 (Lei nº 11706/08). Tra- Art. 1º O Sistema Nacional de Armas – Sinarm, ins-
ta-se de abolitio criminis temporária: o fato deixa de ser tituído no Ministério da Justiça, no âmbito da Polícia
considerado crime por algum tempo. Federal, tem circunscrição em todo o território nacional.
Os artigos 30 a 32 se aplicam só à posse, não ao por-
te. O artigo 30 fala que só se aplica à arma de uso per- Art. 2º Ao Sinarm compete:
mitido. O artigo 31 fala em arma regularmente adquirida, I – identificar as características e a propriedade de ar-
presumindo-se logicamente que só se aplica às armas de mas de fogo, mediante cadastro;
uso permitido, porque não é possível adquirir regularmen- II – cadastrar as armas de fogo produzidas, importadas
te arma de uso proibido. Já o artigo 32 não é expresso e vendidas no País;
III – cadastrar as autorizações de porte de arma de fogo
quanto à aplicação restrita às armas de uso permitido. Isto
e as renovações expedidas pela Polícia Federal;
criou uma divergência nos tribunais, que majoritariamente
IV – cadastrar as transferências de propriedade, extra-
(inclusive STJ) têm decidido que não se aplica às armas de
vio, furto, roubo e outras ocorrências suscetíveis de alterar
uso proibido.
os dados cadastrais, inclusive as decorrentes de fechamento
6) Exame pericial de empresas de segurança privada e de transporte de va-
Posição amplamente majoritária diz que o exame peri- lores;
cial é indispensável. A minoritária parte do pressuposto de V – identificar as modificações que alterem as caracte-
que o que a polícia diz que é arma, é arma. O laudo é nulo rísticas ou o funcionamento de arma de fogo;
se o exame pericial for feito pelos policiais que fizeram a VI – integrar no cadastro os acervos policiais já exis-
prisão em flagrante. tentes;
7) Arma com defeito VII – cadastrar as apreensões de armas de fogo, inclusi-
Se o defeito existia e não era possível disparar a arma, ve as vinculadas a procedimentos policiais e judiciais;
a doutrina majoritária diz que não há crime, porque não VIII – cadastrar os armeiros em atividade no País, bem
existe arma de fogo; a doutrina minoritária diz que há cri- como conceder licença para exercer a atividade;
me, porque o objetivo da lei é proteger a segurança pú- IX – cadastrar mediante registro os produtores, ataca-
blica. distas, varejistas, exportadores e importadores autorizados
8) Arma sem munição de armas de fogo, acessórios e munições;
Existem 3 posições: exige munição, porque não há cri- X – cadastrar a identificação do cano da arma, as ca-
me sem potencialidade lesiva; no se exige munição, desde racterísticas das impressões de raiamento e de microestria-
que ela esteja ao alcance (ex: arma no porta-malas e mu- mento de projétil disparado, conforme marcação e testes
nição no bolso); não interessa se a arma está com munição obrigatoriamente realizados pelo fabricante;
ou não por causa da objetividade jurídica, que é proteger XI – informar às Secretarias de Segurança Pública dos
a segurança e a incolumidade (majoritária, recomendável Estados e do Distrito Federal os registros e autorizações
para o concurso da PRF). de porte de armas de fogo nos respectivos territórios, bem
9) Concurso de crimes como manter o cadastro atualizado para consulta.
- Posse de mais de 1 arma: jurisprudência diz que é Parágrafo único. As disposições deste artigo não alcan-
um só crime. çam as armas de fogo das Forças Armadas e Auxiliares, bem
- Posse de 1 arma e de munição de calibre diferente: 2 como as demais que constem dos seus registros próprios.
crimes em concurso formal.
CAPÍTULO II
- Posse só de munição: 1 só crime independente da
DO REGISTRO
quantidade.
10) Disparo
Art. 3º É obrigatório o registro de arma de fogo no
Previsto no artigo 15. Trata-se de crime comum, de órgão competente.
mera conduta, unissubjetivo, de perigo abstrato. Seu ob- Parágrafo único. As armas de fogo de uso restrito serão
jeto jurídico é a proteção da incolumidade pública. Seu registradas no Comando do Exército, na forma do regula-
objeto material é a arma de fogo ou munição. O crime é mento desta Lei.
subsidiário, pois é preciso que não se tenha como finali-
dade a prática de outro crime (ex: tentativa de homicídio). Art. 4º Para adquirir arma de fogo de uso permitido
Consuma-se com o disparo. o interessado deverá, além de declarar a efetiva neces-
sidade, atender aos seguintes requisitos:
Dispõe sobre registro, posse e comercialização de I – comprovação de idoneidade, com a apresentação
armas de fogo e munição, sobre o Sistema Nacional de de certidões negativas de antecedentes criminais fornecidas
Armas – Sinarm, define crimes e dá outras providências. pela Justiça Federal, Estadual, Militar e Eleitoral e de não es-
tar respondendo a inquérito policial ou a processo criminal,
que poderão ser fornecidas por meios eletrônicos;

2
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

II – apresentação de documento comprobatório de ocu- de taxas e do cumprimento das demais exigências constan-
pação lícita e de residência certa; tes dos incisos I a III do caput do art. 4º desta Lei.
III – comprovação de capacidade técnica e de aptidão § 4º Para fins do cumprimento do disposto no § 3º
psicológica para o manuseio de arma de fogo, atestadas na deste artigo, o proprietário de arma de fogo poderá obter,
forma disposta no regulamento desta Lei. no Departamento de Polícia Federal, certificado de registro
§ 1º O Sinarm expedirá autorização de compra de provisório, expedido na rede mundial de computadores -
arma de fogo após atendidos os requisitos anteriormente internet, na forma do regulamento e obedecidos os proce-
estabelecidos, em nome do requerente e para a arma indi- dimentos a seguir:
cada, sendo intransferível esta autorização. I - emissão de certificado de registro provisório pela
§ 2º A aquisição de munição somente poderá ser fei- internet, com validade inicial de 90 (noventa) dias; e
ta no calibre correspondente à arma registrada e na quan- II - revalidação pela unidade do Departamento de
tidade estabelecida no regulamento desta Lei. Polícia Federal do certificado de registro provisório pelo
§ 3º A empresa que comercializar arma de fogo em prazo que estimar como necessário para a emissão definitiva
território nacional é obrigada a comunicar a venda à au- do certificado de registro de propriedade.
toridade competente, como também a manter banco de
dados com todas as características da arma e cópia dos do- CAPÍTULO III
cumentos previstos neste artigo. DO PORTE
§ 4º A empresa que comercializa armas de fogo, aces-
sórios e munições responde legalmente por essas merca- Art. 6º É proibido o porte de arma de fogo em todo
dorias, ficando registradas como de sua propriedade en- o território nacional, salvo para os casos previstos em
quanto não forem vendidas. legislação própria e para:
§ 5º A comercialização de armas de fogo, acessórios I – os integrantes das Forças Armadas;
e munições entre pessoas físicas somente será efetivada II – os integrantes de órgãos referidos nos incisos I, II, III,
mediante autorização do Sinarm. IV e V do caput do art. 144 da Constituição Federal e os
§ 6º A expedição da autorização a que se refere o § 1º da Força Nacional de Segurança Pública (FNSP);
será concedida, ou recusada com a devida fundamentação, III – os integrantes das guardas municipais das ca-
no prazo de 30 (trinta) dias úteis, a contar da data do re- pitais dos Estados e dos Municípios com mais de 500.000
querimento do interessado. (quinhentos mil) habitantes, nas condições estabelecidas no
§ 7º O registro precário a que se refere o § 4º prescinde regulamento desta Lei;
do cumprimento dos requisitos dos incisos I, II e III deste IV - os integrantes das guardas municipais dos Municí-
artigo. pios com mais de 50.000 (cinquenta mil) e menos de 500.000
§ 8º Estará dispensado das exigências constantes do (quinhentos mil) habitantes, quando em serviço;
inciso III do caput deste artigo, na forma do regulamento, o V – os agentes operacionais da Agência Brasileira de
interessado em adquirir arma de fogo de uso permitido que Inteligência e os agentes do Departamento de Segurança
comprove estar autorizado a portar arma com as mesmas do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência
características daquela a ser adquirida. da República;
VI – os integrantes dos órgãos policiais referidos no
Art. 5º O certificado de Registro de Arma de Fogo, art. 51, IV, e no art. 52, XIII, da Constituição Federal;
com validade em todo o território nacional, autoriza o seu VII – os integrantes do quadro efetivo dos agentes e
proprietário a manter a arma de fogo exclusivamente no in- guardas prisionais, os integrantes das escoltas de presos e
terior de sua residência ou domicílio, ou dependência desses, as guardas portuárias;
ou, ainda, no seu local de trabalho, desde que seja ele o titu- VIII – as empresas de segurança privada e de trans-
lar ou o responsável legal pelo estabelecimento ou empresa. porte de valores constituídas, nos termos desta Lei;
§ 1º O certificado de registro de arma de fogo será ex- IX – para os integrantes das entidades de desporto
pedido pela Polícia Federal e será precedido de autori- legalmente constituídas, cujas atividades esportivas de-
zação do Sinarm. mandem o uso de armas de fogo, na forma do regula-
§ 2º Os requisitos de que tratam os incisos I, II e III mento desta Lei, observando-se, no que couber, a legislação
do art. 4º deverão ser comprovados periodicamente, em ambiental.
período não inferior a 3 (três) anos, na conformidade do X - integrantes das Carreiras de Auditoria da Receita
estabelecido no regulamento desta Lei, para a renovação do Federal do Brasil e de Auditoria-Fiscal do Trabalho, car-
Certificado de Registro de Arma de Fogo. gos de Auditor-Fiscal e Analista Tributário.
§ 3º O proprietário de arma de fogo com certificados XI - os tribunais do Poder Judiciário descritos no art.
de registro de propriedade expedido por órgão estadual 92 da Constituição Federal e os Ministérios Públicos da
ou do Distrito Federal até a data da publicação desta Lei União e dos Estados, para uso exclusivo de servidores de
que não optar pela entrega espontânea prevista no art. 32 seus quadros pessoais que efetivamente estejam no exercício
desta Lei deverá renová-lo mediante o pertinente registro de funções de segurança, na forma de regulamento a ser
federal, até o dia 31 de dezembro de 2008, ante a apresen- emitido pelo Conselho Nacional de Justiça - CNJ e pelo Con-
tação de documento de identificação pessoal e compro- selho Nacional do Ministério Público - CNMP.
vante de residência fixa, ficando dispensado do pagamento

3
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

§ 1º As pessoas previstas nos incisos I, II, III, V e VI do Art. 7º As armas de fogo utilizadas pelos empregados
caput deste artigo terão direito de portar arma de fogo de das empresas de segurança privada e de transporte de
propriedade particular ou fornecida pela respectiva corpo- valores, constituídas na forma da lei, serão de propriedade,
ração ou instituição, mesmo fora de serviço, nos termos do responsabilidade e guarda das respectivas empresas,
regulamento desta Lei, com validade em âmbito nacional somente podendo ser utilizadas quando em serviço, deven-
para aquelas constantes dos incisos I, II, V e VI. do essas observar as condições de uso e de armazenagem
§ 1o-A (Revogado) estabelecidas pelo órgão competente, sendo o certificado de
§ 1º-B. Os integrantes do quadro efetivo de agentes e registro e a autorização de porte expedidos pela Polícia Fe-
guardas prisionais poderão portar arma de fogo de pro- deral em nome da empresa.
priedade particular ou fornecida pela respectiva corpora- § 1º O proprietário ou diretor responsável de empresa
ção ou instituição, mesmo fora de serviço, desde que es- de segurança privada e de transporte de valores responde-
tejam: rá pelo crime previsto no parágrafo único do art. 13 desta
I - submetidos a regime de dedicação exclusiva; Lei, sem prejuízo das demais sanções administrativas e ci-
II - sujeitos à formação funcional, nos termos do regu- vis, se deixar de registrar ocorrência policial e de comunicar
lamento; e à Polícia Federal perda, furto, roubo ou outras formas de
III - subordinados a mecanismos de fiscalização e de extravio de armas de fogo, acessórios e munições que este-
controle interno. jam sob sua guarda, nas primeiras 24 (vinte e quatro) horas
§ 1º-C. (VETADO). depois de ocorrido o fato.
§ 2º A autorização para o porte de arma de fogo aos § 2º A empresa de segurança e de transporte de va-
integrantes das instituições descritas nos incisos V, VI, VII e lores deverá apresentar documentação comprobatória do
X do caput deste artigo está condicionada à comprovação preenchimento dos requisitos constantes do art. 4º desta
do requisito a que se refere o inciso III do caput do art. Lei quanto aos empregados que portarão arma de fogo.
4º desta Lei nas condições estabelecidas no regulamento § 3º A listagem dos empregados das empresas refe-
desta Lei. ridas neste artigo deverá ser atualizada semestralmente
junto ao Sinarm.
§ 3º A autorização para o porte de arma de fogo das
guardas municipais está condicionada à formação funcio-
Art. 7º-A. As armas de fogo utilizadas pelos servido-
nal de seus integrantes em estabelecimentos de ensino de
res das instituições descritas no inciso XI do art. 6º serão
atividade policial, à existência de mecanismos de fiscaliza-
de propriedade, responsabilidade e guarda das respec-
ção e de controle interno, nas condições estabelecidas no
tivas instituições, somente podendo ser utilizadas quando
regulamento desta Lei, observada a supervisão do Ministé-
em serviço, devendo estas observar as condições de uso e de
rio da Justiça.
armazenagem estabelecidas pelo órgão competente, sendo
§ 4º Os integrantes das Forças Armadas, das polícias
o certificado de registro e a autorização de porte expedidos
federais e estaduais e do Distrito Federal, bem como os pela Polícia Federal em nome da instituição.
militares dos Estados e do Distrito Federal, ao exercerem § 1º A autorização para o porte de arma de fogo de
o direito descrito no art. 4º, ficam dispensados do cumpri- que trata este artigo independe do pagamento de taxa.
mento do disposto nos incisos I, II e III do mesmo artigo, na § 2º O presidente do tribunal ou o chefe do Ministério
forma do regulamento desta Lei. Público designará os servidores de seus quadros pessoais
§ 5º Aos residentes em áreas rurais, maiores de 25 no exercício de funções de segurança que poderão portar
(vinte e cinco) anos que comprovem depender do empre- arma de fogo, respeitado o limite máximo de 50% (cin-
go de arma de fogo para prover sua subsistência alimen- quenta por cento) do número de servidores que exerçam
tar familiar será concedido pela Polícia Federal o porte de funções de segurança.
arma de fogo, na categoria caçador para subsistência, de § 3º O porte de arma pelos servidores das instituições
uma arma de uso permitido, de tiro simples, com 1 (um) ou de que trata este artigo fica condicionado à apresentação
2 (dois) canos, de alma lisa e de calibre igual ou inferior a de documentação comprobatória do preenchimento dos
16 (dezesseis), desde que o interessado comprove a efetiva requisitos constantes do art. 4º desta Lei, bem como à for-
necessidade em requerimento ao qual deverão ser anexados mação funcional em estabelecimentos de ensino de ativi-
os seguintes documentos: dade policial e à existência de mecanismos de fiscalização
I - documento de identificação pessoal; e de controle interno, nas condições estabelecidas no re-
II - comprovante de residência em área rural; e gulamento desta Lei.
III - atestado de bons antecedentes. § 4º A listagem dos servidores das instituições de que
§ 6º O caçador para subsistência que der outro uso à trata este artigo deverá ser atualizada semestralmente no
sua arma de fogo, independentemente de outras tipifica- Sinarm.
ções penais, responderá, conforme o caso, por porte ilegal § 5º As instituições de que trata este artigo são obri-
ou por disparo de arma de fogo de uso permitido. gadas a registrar ocorrência policial e a comunicar à Polícia
§ 7º Aos integrantes das guardas municipais dos Mu- Federal eventual perda, furto, roubo ou outras formas de
nicípios que integram regiões metropolitanas será autori- extravio de armas de fogo, acessórios e munições que este-
zado porte de arma de fogo, quando em serviço. jam sob sua guarda, nas primeiras 24 (vinte e quatro) horas
depois de ocorrido o fato.

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LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

Art. 8º As armas de fogo utilizadas em entidades despor- § 1º Na comprovação da aptidão psicológica, o valor
tivas legalmente constituídas devem obedecer às condições cobrado pelo psicólogo não poderá exceder ao valor mé-
de uso e de armazenagem estabelecidas pelo órgão com- dio dos honorários profissionais para realização de avalia-
petente, respondendo o possuidor ou o autorizado a portar ção psicológica constante do item 1.16 da tabela do Con-
a arma pela sua guarda na forma do regulamento desta Lei. selho Federal de Psicologia.
§ 2º Na comprovação da capacidade técnica, o valor
Art. 9º Compete ao Ministério da Justiça a autorização cobrado pelo instrutor de armamento e tiro não poderá
do porte de arma para os responsáveis pela segurança exceder R$ 80,00 (oitenta reais), acrescido do custo da mu-
de cidadãos estrangeiros em visita ou sediados no Bra- nição.
sil e, ao Comando do Exército, nos termos do regulamento § 3º A cobrança de valores superiores aos previstos
desta Lei, o registro e a concessão de porte de trânsito nos §§ 1º e 2º deste artigo implicará o descredenciamento
de arma de fogo para colecionadores, atiradores e ca- do profissional pela Polícia Federal.
çadores e de representantes estrangeiros em competição
internacional oficial de tiro realizada no território nacional. CAPÍTULO IV
DOS CRIMES E DAS PENAS
Art. 10. A autorização para o porte de arma de fogo
de uso permitido, em todo o território nacional, é de com- Posse irregular de arma de fogo de uso permitido
petência da Polícia Federal e somente será concedida Art. 12. Possuir ou manter sob sua guarda arma de fogo,
após autorização do Sinarm. acessório ou munição, de uso permitido, em desacordo com
§ 1º A autorização prevista neste artigo poderá ser con- determinação legal ou regulamentar, no interior de sua re-
cedida com eficácia temporária e territorial limitada, nos sidência ou dependência desta, ou, ainda no seu local de
termos de atos regulamentares, e dependerá de o reque- trabalho, desde que seja o titular ou o responsável legal do
rente: estabelecimento ou empresa:
I – demonstrar a sua efetiva necessidade por exercício de Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.
atividade profissional de risco ou de ameaça à sua integrida-
de física; Omissão de cautela
II – atender às exigências previstas no art. 4º desta Lei; Art. 13. Deixar de observar as cautelas necessárias para
III – apresentar documentação de propriedade de arma impedir que menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa portadora
de fogo, bem como o seu devido registro no órgão compe- de deficiência mental se apodere de arma de fogo que esteja
tente. sob sua posse ou que seja de sua propriedade:
§ 2º A autorização de porte de arma de fogo, prevista Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos, e multa.
neste artigo, perderá automaticamente sua eficácia caso o Parágrafo único. Nas mesmas penas incorrem o pro-
prietário ou diretor responsável de empresa de segurança e
portador dela seja detido ou abordado em estado de em-
transporte de valores que deixarem de registrar ocorrência
briaguez ou sob efeito de substâncias químicas ou alucinó-
policial e de comunicar à Polícia Federal perda, furto, roubo
genas.
ou outras formas de extravio de arma de fogo, acessório ou
munição que estejam sob sua guarda, nas primeiras 24 (vin-
Art. 11. Fica instituída a cobrança de taxas, nos valo-
te quatro) horas depois de ocorrido o fato.
res constantes do Anexo desta Lei, pela prestação de serviços
relativos: Porte ilegal de arma de fogo de uso permitido
I – ao registro de arma de fogo; Art. 14. Portar, deter, adquirir, fornecer, receber, ter em
II – à renovação de registro de arma de fogo; depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, em-
III – à expedição de segunda via de registro de arma de prestar, remeter, empregar, manter sob guarda ou ocultar
fogo; arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, sem
IV – à expedição de porte federal de arma de fogo; autorização e em desacordo com determinação legal ou re-
V – à renovação de porte de arma de fogo; gulamentar:
VI – à expedição de segunda via de porte federal de arma Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
de fogo. Parágrafo único. O crime previsto neste artigo é inafian-
§ 1º Os valores arrecadados destinam-se ao custeio e çável, salvo quando a arma de fogo estiver registrada em
à manutenção das atividades do Sinarm, da Polícia Federal nome do agente. (Vide Adin 3.112-1)
e do Comando do Exército, no âmbito de suas respectivas
responsabilidades. Disparo de arma de fogo
§ 2º São isentas do pagamento das taxas previstas nes- Art. 15. Disparar arma de fogo ou acionar munição em
te artigo as pessoas e as instituições a que se referem os lugar habitado ou em suas adjacências, em via pública ou
incisos I a VII e X e o § 5º do art. 6º desta Lei. em direção a ela, desde que essa conduta não tenha como
finalidade a prática de outro crime:
Art. 11-A. O Ministério da Justiça disciplinará a forma Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
e as condições do credenciamento de profissionais pela Parágrafo único. O crime previsto neste artigo é inafian-
Polícia Federal para comprovação da aptidão psicológica çável. (Vide Adin 3.112-1)
e da capacidade técnica para o manuseio de arma de fogo.

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LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

Posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito CAPÍTULO V


Art. 16. Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber, DISPOSIÇÕES GERAIS
ter em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamen-
te, emprestar, remeter, empregar, manter sob sua guarda ou Art. 22. O Ministério da Justiça poderá celebrar convê-
ocultar arma de fogo, acessório ou munição de uso proibido nios com os Estados e o Distrito Federal para o cumprimento
ou restrito, sem autorização e em desacordo com determina- do disposto nesta Lei.
ção legal ou regulamentar:
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. Art. 23. A classificação legal, técnica e geral bem
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem: como a definição das armas de fogo e demais produtos con-
I – suprimir ou alterar marca, numeração ou qualquer trolados, de usos proibidos, restritos, permitidos ou obsoletos
sinal de identificação de arma de fogo ou artefato; e de valor histórico serão disciplinadas em ato do chefe do
II – modificar as características de arma de fogo, de for- Poder Executivo Federal, mediante proposta do Comando do
ma a torná-la equivalente a arma de fogo de uso proibido Exército.
ou restrito ou para fins de dificultar ou de qualquer modo § 1º Todas as munições comercializadas no País deve-
induzir a erro autoridade policial, perito ou juiz; rão estar acondicionadas em embalagens com sistema de
III – possuir, detiver, fabricar ou empregar artefato explo- código de barras, gravado na caixa, visando possibilitar a
sivo ou incendiário, sem autorização ou em desacordo com identificação do fabricante e do adquirente, entre outras
determinação legal ou regulamentar; informações definidas pelo regulamento desta Lei.
IV – portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer § 2º Para os órgãos referidos no art. 6º, somente serão
arma de fogo com numeração, marca ou qualquer outro si- expedidas autorizações de compra de munição com identi-
nal de identificação raspado, suprimido ou adulterado; ficação do lote e do adquirente no culote dos projéteis, na
V – vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuita- forma do regulamento desta Lei.
mente, arma de fogo, acessório, munição ou explosivo a § 3º As armas de fogo fabricadas a partir de 1 (um) ano
criança ou adolescente; e da data de publicação desta Lei conterão dispositivo intrín-
VI – produzir, recarregar ou reciclar, sem autorização le-
seco de segurança e de identificação, gravado no corpo da
gal, ou adulterar, de qualquer forma, munição ou explosivo.
arma, definido pelo regulamento desta Lei, exclusive para
os órgãos previstos no art. 6º.
Comércio ilegal de arma de fogo
§ 4º As instituições de ensino policial e as guardas
Art. 17. Adquirir, alugar, receber, transportar, conduzir,
municipais referidas nos incisos III e IV do caput do art. 6º
ocultar, ter em depósito, desmontar, montar, remontar, adul-
desta Lei e no seu § 7º poderão adquirir insumos e máqui-
terar, vender, expor à venda, ou de qualquer forma utilizar,
nas de recarga de munição para o fim exclusivo de supri-
em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade co-
mercial ou industrial, arma de fogo, acessório ou munição, mento de suas atividades, mediante autorização concedida
sem autorização ou em desacordo com determinação legal nos termos definidos em regulamento.
ou regulamentar:
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. Art. 24. Excetuadas as atribuições a que se refere o art.
Parágrafo único. Equipara-se à atividade comercial ou 2º desta Lei, compete ao Comando do Exército autorizar e
industrial, para efeito deste artigo, qualquer forma de pres- fiscalizar a produção, exportação, importação, desem-
tação de serviços, fabricação ou comércio irregular ou clan- baraço alfandegário e o comércio de armas de fogo e
destino, inclusive o exercido em residência. demais produtos controlados, inclusive o registro e o porte
de trânsito de arma de fogo de colecionadores, atiradores e
Tráfico internacional de arma de fogo caçadores.
Art. 18. Importar, exportar, favorecer a entrada ou saída
do território nacional, a qualquer título, de arma de fogo, Art. 25. As armas de fogo apreendidas, após a elabo-
acessório ou munição, sem autorização da autoridade com- ração do laudo pericial e sua juntada aos autos, quando
petente: não mais interessarem à persecução penal serão enca-
Pena – reclusão de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. minhadas pelo juiz competente ao Comando do Exér-
cito, no prazo máximo de 48 (quarenta e oito) horas, para
Art. 19. Nos crimes previstos nos arts. 17 e 18, a pena é destruição ou doação aos órgãos de segurança pública ou
aumentada da metade se a arma de fogo, acessório ou mu- às Forças Armadas, na forma do regulamento desta Lei.
nição forem de uso proibido ou restrito. § 1º As armas de fogo encaminhadas ao Comando do
Exército que receberem parecer favorável à doação, obe-
Art. 20. Nos crimes previstos nos arts. 14, 15, 16, 17 e decidos o padrão e a dotação de cada Força Armada ou
18, a pena é aumentada da metade se forem praticados por órgão de segurança pública, atendidos os critérios de prio-
integrante dos órgãos e empresas referidas nos arts. 6º, 7º ridade estabelecidos pelo Ministério da Justiça e ouvido
e 8º desta Lei. o Comando do Exército, serão arroladas em relatório re-
servado trimestral a ser encaminhado àquelas instituições,
Art. 21. Os crimes previstos nos arts. 16, 17 e 18 são in- abrindo-se-lhes prazo para manifestação de interesse.
suscetíveis de liberdade provisória. (Adin 3.112-1 – declarou § 2º O Comando do Exército encaminhará a relação
inconstitucional a vedação de liberdade provisória) das armas a serem doadas ao juiz competente, que deter-

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LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

minará o seu perdimento em favor da instituição benefi- adquiridas regularmente poderão, a qualquer tempo,
ciada. entregá-las à Polícia Federal, mediante recibo e inde-
§ 3º O transporte das armas de fogo doadas será de nização, nos termos do regulamento desta Lei.
responsabilidade da instituição beneficiada, que procede- Art. 32. Os possuidores e proprietários de arma de fogo
rá ao seu cadastramento no Sinarm ou no Sigma poderão entregá-la, espontaneamente, mediante reci-
§ 4º (VETADO) bo, e, presumindo-se de boa-fé, serão indenizados, na
§ 5º O Poder Judiciário instituirá instrumentos para forma do regulamento, ficando extinta a punibilidade de
o encaminhamento ao Sinarm ou ao Sigma, conforme se eventual posse irregular da referida arma.
trate de arma de uso permitido ou de uso restrito, semes-
tralmente, da relação de armas acauteladas em juízo, men- Art. 33. Será aplicada multa de R$ 100.000,00 (cem mil
cionando suas características e o local onde se encontram. reais) a R$ 300.000,00 (trezentos mil reais), conforme espe-
cificar o regulamento desta Lei:
Art. 26. São vedadas a fabricação, a venda, a co- I – à empresa de transporte aéreo, rodoviário, ferroviá-
mercialização e a importação de brinquedos, réplicas rio, marítimo, fluvial ou lacustre que deliberadamente, por
e simulacros de armas de fogo, que com estas se possam qualquer meio, faça, promova, facilite ou permita o trans-
confundir. porte de arma ou munição sem a devida autorização ou
Parágrafo único. Excetuam-se da proibição as réplicas e com inobservância das normas de segurança;
os simulacros destinados à instrução, ao adestramento, ou II – à empresa de produção ou comércio de armamen-
à coleção de usuário autorizado, nas condições fixadas pelo tos que realize publicidade para venda, estimulando o uso
Comando do Exército. indiscriminado de armas de fogo, exceto nas publicações
especializadas.
Art. 27. Caberá ao Comando do Exército autorizar,
excepcionalmente, a aquisição de armas de fogo de uso Art. 34. Os promotores de eventos em locais fecha-
restrito. dos, com aglomeração superior a 1000 (um mil) pessoas,
Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica adotarão, sob pena de responsabilidade, as providências
às aquisições dos Comandos Militares. necessárias para evitar o ingresso de pessoas armadas,
ressalvados os eventos garantidos pelo inciso VI do art. 5º
Art. 28. É vedado ao menor de 25 (vinte e cinco)
da Constituição Federal.
anos adquirir arma de fogo, ressalvados os integrantes
Parágrafo único. As empresas responsáveis pela presta-
das entidades constantes dos incisos I, II, III, V, VI, VII e X do
ção dos serviços de transporte internacional e interestadual
caput do art. 6º desta Lei.
de passageiros adotarão as providências necessárias para
evitar o embarque de passageiros armados.
Art. 29. As autorizações de porte de armas de fogo já
concedidas expirar-se-ão 90 (noventa) dias após a publica-
CAPÍTULO VI
ção desta Lei.
Parágrafo único. O detentor de autorização com prazo DISPOSIÇÕES FINAIS
de validade superior a 90 (noventa) dias poderá renová-la,
perante a Polícia Federal, nas condições dos arts. 4º, 6º e 10 Art. 35. É proibida a comercialização de arma de
desta Lei, no prazo de 90 (noventa) dias após sua publica- fogo e munição em todo o território nacional, salvo para
ção, sem ônus para o requerente. as entidades previstas no art. 6º desta Lei.
§ 1º Este dispositivo, para entrar em vigor, dependerá
Art. 30. Os possuidores e proprietários de arma de fogo de aprovação mediante referendo popular, a ser realizado
de uso permitido ainda não registrada deverão solicitar seu em outubro de 2005.
registro até o dia 31 de dezembro de 2008, mediante apre- § 2º Em caso de aprovação do referendo popular, o
sentação de documento de identificação pessoal e compro- disposto neste artigo entrará em vigor na data de publica-
vante de residência fixa, acompanhados de nota fiscal de ção de seu resultado pelo Tribunal Superior Eleitoral.
compra ou comprovação da origem lícita da posse, pelos
meios de prova admitidos em direito, ou declaração firmada Art. 36. É revogada a Lei nº 9.437, de 20 de fevereiro de
na qual constem as características da arma e a sua condi- 1997.
ção de proprietário, ficando este dispensado do pagamento
de taxas e do cumprimento das demais exigências constan- Art. 37. Esta Lei entra em vigor na data de sua publica-
tes dos incisos I a III do caput do art. 4º desta Lei. ção.
Parágrafo único. Para fins do cumprimento do disposto
no caput deste artigo, o proprietário de arma de fogo po- Brasília, 22 de dezembro de 2003; 182º da Independên-
derá obter, no Departamento de Polícia Federal, certificado cia e 115º da República.
de registro provisório, expedido na forma do § 4º do art. 5º
desta Lei. EXERCÍCIOS

Art. 31. Os possuidores e proprietários de armas de fogo 1. (CESPE/2018 - ABIN - Agente de Inteligência) À

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LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

luz do disposto no Estatuto do Desarmamento — Lei n.º


10.826/2003 —, julgue o item que se segue. 2. CRIMES RESULTANTES DE PRECONCEITOS
É obrigatório o registro de arma de fogo no órgão DE RAÇA OU DE COR (LEI Nº 7.716/89).
competente, sendo o comando do Exército o responsável
pelo registro de armas de uso restrito.

R: Certo. O art. 3o do Estatuto disciplina: “É obriga- Previsão constitucional


tório o registro de arma de fogo no órgão competente. Um dos objetivos da República Federativa do Brasil é,
Parágrafo único. As armas de fogo de uso restrito serão nos termos do artigo 3º, IV, CF: “promover o bem de to-
registradas no Comando do Exército, na forma do regula- dos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e
mento desta Lei”. quaisquer outras formas de discriminação”. A intenção de
construir uma sociedade livre de preconceitos de qualquer
2. (CESPE/2018 - ABIN - Agente de Inteligência) À espécie, na verdade, já desponta no próprio preâmbulo do
luz do disposto no Estatuto do Desarmamento — Lei n.º texto constitucional: “Nós, representantes do povo brasi-
10.826/2003 —, julgue o item que se segue. leiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para
O interessado em adquirir arma de fogo de uso per- instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o
mitido deve atender a alguns requisitos, como idoneidade, exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a
ocupação lícita, residência certa, capacidade técnica e ap- segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e
tidão psicológica para o manuseio de arma de fogo, bem a justiça como valores supremos de uma sociedade frater-
como declarar a efetiva necessidade da aquisição. na, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia
social e comprometida, na ordem interna e internacional,
R: Certo. Preconiza o art. 4o do Estatuto: “Para adquirir com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos,
arma de fogo de uso permitido o interessado deverá, além sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA
de declarar a efetiva necessidade, atender aos seguintes REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL”. Neste sentido, no
requisitos: I - comprovação de idoneidade, com a apre- artigo 5º da CF destacam-se: “ XLI - a lei punirá qualquer
sentação de certidões negativas de antecedentes criminais discriminação atentatória dos direitos e liberdades funda-
mentais; XLII - a prática do racismo constitui crime inafian-
fornecidas pela Justiça Federal, Estadual, Militar e Eleitoral
çável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos ter-
e de não estar respondendo a inquérito policial ou a pro-
mos da lei”.
cesso criminal, que poderão ser fornecidas por meios ele-
A Lei nº 7.716/1989, uma decorrência das previsões
trônicos; II – apresentação de documento comprobatório constitucionais, tutela a igualdade prevista como bem ju-
de ocupação lícita e de residência certa; III – comprovação rídico, sendo que se deve levar em conta não apenas as
de capacidade técnica e de aptidão psicológica para o ma- características próprias do discriminado, mas também os
nuseio de arma de fogo, atestadas na forma disposta no motivos que levam à discriminação, os quais, se lícitos,
regulamento desta Lei”. afastam a incidência da lei.

3. (CESPE/2018 - ABIN - Agente de Inteligência) Incidência da Lei


Ainda conforme o disposto no Estatuto do Desarmamen- A lei de discriminação e preconceito apresenta diver-
to, julgue o próximo item. sas formas de condutas criminosas que constituem atos
O mero disparo de arma de fogo nas adjacências de de segregação tendo por base, dentre outros aspectos, o
lugar habitado é crime punido com reclusão, estando seu racial. Todos eles apresentam uma conexão com seu artigo
autor sujeito a um aumento de pena se for integrante dos primeiro, onde afirma que ‘serão punidos, na forma desta
órgãos elencados na lei. Lei, os crimes resultantes de discriminação ou preconceito
de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional’. Isso
R: Certo. Prevê o Estatuto do Desarmamento: “Art. significa que todas as condutas incriminadas devem ocor-
15. Disparar arma de fogo ou acionar munição em lugar rer com orientação desse artigo.
habitado ou em suas adjacências, em via pública ou em
direção a ela, desde que essa conduta não tenha como Etimologia
finalidade a prática de outro crime: Pena – reclusão, de 2 Discriminação é sinônimo de distinção. Na lei tem a
(dois) a 4 (quatro) anos, e multa. [...] Art. 20. Nos crimes conotação de discriminação social, no sentido de propi-
previstos nos arts. 14, 15, 16, 17 e 18, a pena é aumentada ciar a exclusão social de uma pessoa pelo mero fato de
da metade se forem praticados por integrante dos órgãos pertencer a uma raça, cor, etnia, religião ou procedência
e empresas referidas nos arts. 6o, 7o e 8o desta Lei”. nacional.
Preconceito significa um conceito pré-estabelecido,
que existe antes mesmo de se conhecer especificadamen-
te o objeto do preconceito, no caso, uma pessoa. Assim,
pelo simples fato de alguém ser de certa raça, cor, etnia,
religião ou precedência nacional a outra pessoa a maltrata
e a exclui, sem nem ao menos conhecê-la.

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LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

Vale, ainda, distinguir as espécies de discriminações e Parágrafo único.  Incorre na mesma pena quem, por
preconceitos coibidos pela lei: motivo de discriminação de raça, cor, etnia, religião ou pro-
- Raça - termo biológico referente a aspectos morfo- cedência nacional, obstar a promoção funcional. 
lógicos como cor da pele e composição física, que perde Pena: reclusão de dois a cinco anos.
cada vez mais força, notadamente pela forte miscigenação Assim, todas as pessoas, independentemente de raça,
social. cor, etnia, religião ou procedência nacional, concorrem
- Cor - termo biológico ainda mais estrito que o de igualmente a cargos públicos na administração direta ou
raça, aplicando-se apenas à cor da pele. indireta, além das prestadoras de serviços públicos, ava-
- Etnia - termo sociológico, aplicando-se a grupos com liando-se apenas sua capacidade. Da mesma forma, o mais
afinidades linguísticas e culturais. competente é o que deve ser promovido. Comete o crime
- Religião - crença espiritual adotada pela pessoa, por o servidor público que for responsável pela avaliação dos
exemplo, catolicismo, judaísmo, umbanda, etc. candidatos num concurso público e/ou o que controlar o
- Procedência nacional - país de origem. quadro de funcionários da instituição.

Discriminações lícitas Art. 4º Negar ou obstar emprego em empresa privada. 


Contudo, é preciso se atentar ao fato de que a lei apli- § 1o  Incorre na mesma pena quem, por motivo de dis-
ca-se às discriminações ilícitas, não às lícitas. Um exemplo criminação de raça ou de cor ou práticas resultantes do
de motivo lícito seria negar emprego a um negro ou a um preconceito de descendência ou origem nacional ou étnica: 
oriental, em uma empresa teatral, para o papel de D. Pedro I - deixar de conceder os equipamentos necessários
I, assim como seria absurdo na mesma empresa dar a um ao empregado em igualdade de condições com os demais
branco o emprego de um dos escravos do país. Nota-se trabalhadores; 
que nos dois exemplos não houve preconceito, mas apenas II - impedir a ascensão funcional do empregado ou
respeito ao interesse artístico envolvido. Diferente seria se obstar outra forma de benefício profissional; 
uma empresa como um banco ou uma fábrica qualquer se III - proporcionar ao empregado tratamento diferenciado
recusasse a contratar o candidato mais qualificado apenas no ambiente de trabalho, especialmente quanto ao salário. 
pela cor de sua pele ou pela sua raça. § 2o  Ficará sujeito às penas de multa e de prestação
de serviços à comunidade, incluindo atividades de promo-
Classificação dos crimes ção da igualdade racial, quem, em anúncios ou qualquer
Citada lei apresentou diversas formas de discrimina- outra forma de recrutamento de trabalhadores, exigir
ção e preconceito, nenhuma delas, no entanto, teve a vida aspectos de aparência próprios de raça ou etnia para em-
como objetivo a tutelar, sendo que talvez fossem suficien- prego cujas atividades não justifiquem essas exigências.
tes as relacionadas ao trabalho, à obtenção de serviços, à Pena: reclusão de dois a cinco anos.
livre locomoção, à educação, à convivência familiar e social, Obviamente, nas empresas privadas há maior liberdade
quer no setor público ou privado, abrangendo a raça, cor, de contratação, mas isso não significa que seja permitido
religião, etnia e procedência nacional. o preconceito injustificado, deixando de contratar alguém
Os crimes envolvem de forma geral atos de segrega- por um motivo preconceituoso ou discriminatório. Se ficar
ção racial que decorrem dos seguintes atos de impedimen- provada tal intenção, a pessoa responsável pelo processo
to ou obstáculo: a cargo da administração pública; a em- seletivo cometerá o crime do artigo 4º, caput. Por isso mes-
prego em empresas privadas; a estabelecimento comercial, mo que o §2º proíbe que anúncios de recrutamento men-
ou no atendimento de quem lá tenha entrado; ao ensino cionem aspectos físicos de certa raça ou etnia (como neste
público ou privado; a hotel ou outras formas de hospeda- caso não se atingiu diretamente uma pessoa, a pena é mais
gem; a restaurantes e bares; estabelecimento esportivos, branda, de prestação de serviços à comunidade).
de diversão ou clubes sociais, desde que abertos ao pú- Além disso, como se extrai dos incisos do §1º, o funcio-
blico; a entradas sociais de edifícios, incluindo-se o uso de nário não pode ser discriminado no exercício de suas fun-
elevadores; a transporte público nas mais diversas formas; ções, seja pelas condições de segurança, seja quanto à pro-
às forças armadas; ao casamento. moção no quadro funcional, seja quanto à remuneração.
Todos os delitos dessa legislação são dolosos, admi-
tem concurso de pessoas na forma de coautoria e parti- Art. 5º Recusar ou impedir acesso a estabelecimento
cipação e são crimes de ação penal pública incondicio- comercial, negando-se a servir, atender ou receber cliente
nada, independem da vontade da vítima para investigação ou comprador.
e consequente processo. Possuem ainda o mesmo objeto Pena: reclusão de um a três anos.
jurídico, que é a igualdade constitucional. O funcionário de uma loja não pode deixar de aten-
der uma pessoa por sua aparência, por exemplo, por achar
Crimes em espécie que ela não tem condições de ali comprar, praticando o
crime do artigo 5º. Responde não só o funcionário que se
Art. 3º Impedir ou obstar o acesso de alguém, devidamen- negue a atender, mas eventual superior que assim tenha
te habilitado, a qualquer cargo da Administração Direta ou determinado.
Indireta, bem como das concessionárias de serviços públicos.

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LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

Art. 6º Recusar, negar ou impedir a inscrição ou ingres- Art. 13. Impedir ou obstar o acesso de alguém ao servi-
so de aluno em estabelecimento de ensino público ou priva- ço em qualquer ramo das Forças Armadas.
do de qualquer grau. Pena: reclusão de dois a quatro anos.
Pena: reclusão de três a cinco anos. Podem se alistar todos os brasileiros com condições
Parágrafo único. Se o crime for praticado contra menor de físicas e psicológicas objetivamente estabelecidas para ser-
dezoito anos a pena é agravada de 1/3 (um terço). vir. Não importa de qual raça, cor, etnia, religião ou pro-
Não significa que processos seletivos sejam proibidos, cedência nacional a pessoa seja, desde que seja brasileiro.
mas que nestes não se pode impedir o ingresso de uma pes-
soa capacitada apenas por sua raça ou etnia. O crime é mais Art. 14. Impedir ou obstar, por qualquer meio ou forma,
grave se o preconceito é cometido contra criança e adoles- o casamento ou convivência familiar e social.
cente, sendo majorado, ante o natural constrangimento pelo Pena: reclusão de dois a quatro anos.
qual esta pessoa em formação e que ainda não tem plena É garantida a liberdade para o casamento ou constituir
compreensão da vida em sociedade irá passar. família entre pessoas de qualquer raça, cor, etnia, religião
ou procedência nacional.
Art. 7º Impedir o acesso ou recusar hospedagem em ho-
tel, pensão, estalagem, ou qualquer estabelecimento similar. Art. 20, § 1º Fabricar, comercializar, distribuir ou veicu-
Pena: reclusão de três a cinco anos. lar símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propa-
Se uma pessoa pode pagar para se hospedar, não pode ganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de
ser impedida de fazê-lo por mero preconceito ou discrimi- divulgação do nazismo. 
nação. Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa.
O nazismo é uma das práticas de preconceito mais
Art. 8º Impedir o acesso ou recusar atendimento em res- condenáveis, que defende a existência de uma raça supe-
taurantes, bares, confeitarias, ou locais semelhantes aber- rior, a ariana, em relação às demais pessoas, notadamente
tos ao público. judeus, negros, homossexuais, etc. O nazismo foi a ideolo-
Pena: reclusão de um a três anos. gia por trás de uma das maiores tragédias da humanidade,
Locais voltados à alimentação que são abertos ao públi- a 2ª Guerra Mundial, sendo pregado pelo regime alemão
co não podem selecionar os clientes apenas pela etnia, cor durante este período.
ou raça. Tanto o funcionário que o fizer quanto o dono que
assim tiver orientado responde pelo crime. Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação
ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedên-
Art. 9º Impedir o acesso ou recusar atendimento em es- cia nacional.
tabelecimentos esportivos, casas de diversões, ou clubes Pena: reclusão de um a três anos e multa.
sociais abertos ao público. Em seu artigo 20, caput, a Lei nº 7.716/1989 apresenta
Pena: reclusão de um a três anos. uma fórmula genérica e de maior abrangência ao dispor
Parques e clubes abertos ao público não podem selecio- como crime ‘praticar, induzir ou incitar a discriminação ou
nar frequentadores pela raça ou etnia. preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência na-
cional’, de forma a abranger qualquer ato caracterizador de
Art. 10. Impedir o acesso ou recusar atendimento em discriminação ou preconceito, e de certo modo englobar
salões de cabeleireiros, barbearias, termas ou casas de todos os artigos anteriores que descrevem atos de segre-
massagem ou estabelecimento com as mesmas finalidades. gação. Isto garante a efetividade da lei, pois alguma falha
Pena: reclusão de um a três anos. no tipo específico permite o enquadramento neste tipo
Também não é aceitável a seleção de clientes em esta- genérico.
belecimentos voltados à estética. Vale lembrar, no entanto, que um crime mais grave
previsto na legislação comum que seja praticado por mo-
Art. 11. Impedir o acesso às entradas sociais em edi- tivo de preconceito de raça, cor, etnia, religião ou proce-
fícios públicos ou residenciais e elevadores ou escada de dência nacional não se enquadra no artigo 20, caput, mas
acesso aos mesmos: sim no tipo mais grave. Afinal, crime mais grave absorve o
Pena: reclusão de um a três anos. crime menos grave.
É proibido selecionar elevadores ou escadas para pes- Por exemplo, pensemos num homicídio de uma pessoa
soas de etnia, raça, cor ou procedência nacional diferencia- negra praticado por um grupo de neonazistas ou num in-
dos. dígena assassinado por um grupo semelhante. Obviamen-
te, eles praticaram uma discriminação de raça/etnia. No
Art. 12. Impedir o acesso ou uso de transportes públi- entanto, não faria sentido responderem pelo preconceito,
cos, como aviões, navios barcas, barcos, ônibus, trens, metrô crime muito mais brando que o de homicídio. Por isso, res-
ou qualquer outro meio de transporte concedido. ponderão pelo homicídio qualificado por um motivo torpe
Pena: reclusão de um a três anos. (art. 121, §2º, I, CP), sujeitando-se à pena de reclusão de 12
Basta que a pessoa pague, se for o caso, pelo uso do a 30 anos, pois o preconceito é um motivo torpe.
transporte que poderá fazê-lo, não cabendo impedir o Assim, sempre que o preconceito gerar um crime mais
acesso apenas pela etnia, raça, cor, religião ou procedência grave previsto na legislação, não será utilizada a fórmula
nacional. mais ampla do artigo 20, caput.

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LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

[...] II - impedir a ascensão funcional do empregado ou obs-


§ 2º Se qualquer dos crimes previstos no caput é come- tar outra forma de benefício profissional; 
tido por intermédio dos meios de comunicação social ou III - proporcionar ao empregado tratamento diferencia-
publicação de qualquer natureza:  do no ambiente de trabalho, especialmente quanto ao sa-
Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa. lário. 
A pena se amplia devido à maior repercussão do ilícito. § 2o  Ficará sujeito às penas de multa e de prestação de
§ 3º No caso do parágrafo anterior, o juiz poderá de- serviços à comunidade, incluindo atividades de promoção
terminar, ouvido o Ministério Público ou a pedido deste, da igualdade racial, quem, em anúncios ou qualquer outra
ainda antes do inquérito policial, sob pena de desobediência:  forma de recrutamento de trabalhadores, exigir aspectos de
I - o recolhimento imediato ou a busca e apreensão dos aparência próprios de raça ou etnia para emprego cujas ati-
exemplares do material respectivo; vidades não justifiquem essas exigências.
II - a cessação das respectivas transmissões radiofônicas, Pena: reclusão de dois a cinco anos.
televisivas, eletrônicas ou da publicação por qualquer meio; 
III - a interdição das respectivas mensagens ou páginas Art. 5º Recusar ou impedir acesso a estabelecimento co-
de informação na rede mundial de computadores.  mercial, negando-se a servir, atender ou receber cliente ou
§ 4º Na hipótese do § 2º, constitui efeito da condena- comprador.
ção, após o trânsito em julgado da decisão, a destruição do Pena: reclusão de um a três anos.
material apreendido. 
Art. 6º Recusar, negar ou impedir a inscrição ou ingresso
Efeitos da condenação de aluno em estabelecimento de ensino público ou privado
Art. 16. Constitui efeito da condenação a perda do de qualquer grau.
cargo ou função pública, para o servidor público, e a sus- Pena: reclusão de três a cinco anos.
pensão do funcionamento do estabelecimento particular por Parágrafo único. Se o crime for praticado contra menor
prazo não superior a três meses. de dezoito anos a pena é agravada de 1/3 (um terço).
Art. 18. Os efeitos de que tratam os arts. 16 e 17 desta
Lei não são automáticos, devendo ser motivadamente de- Art. 7º Impedir o acesso ou recusar hospedagem em ho-
clarados na sentença. tel, pensão, estalagem, ou qualquer estabelecimento similar.
Além de ser condenado à pena privativa de liberdade, Pena: reclusão de três a cinco anos.
o servidor público perderá o cargo ou função pública, as-
sim como o estabelecimento particular em que o crime foi Art. 8º Impedir o acesso ou recusar atendimento em res-
praticado não funcionará por um prazo de até 3 meses. É taurantes, bares, confeitarias, ou locais semelhantes abertos
preciso que a sentença seja expressa neste sentido. ao público.
Pena: reclusão de um a três anos.
Legislação seca
Art. 9º Impedir o acesso ou recusar atendimento em es-
Define os crimes resultantes de preconceito de raça ou tabelecimentos esportivos, casas de diversões, ou clubes so-
de cor. ciais abertos ao público.
Pena: reclusão de um a três anos.
Art. 1º Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes re-
sultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, Art. 10. Impedir o acesso ou recusar atendimento em sa-
religião ou procedência nacional.  lões de cabeleireiros, barbearias, termas ou casas de massa-
gem ou estabelecimento com as mesmas finalidades.
Art. 2º (Vetado). Pena: reclusão de um a três anos.

Art. 3º Impedir ou obstar o acesso de alguém, devida- Art. 11. Impedir o acesso às entradas sociais em edifícios
mente habilitado, a qualquer cargo da Administração Direta públicos ou residenciais e elevadores ou escada de acesso
ou Indireta, bem como das concessionárias de serviços pú- aos mesmos:
blicos. Pena: reclusão de um a três anos.
Parágrafo único.  Incorre na mesma pena quem, por
motivo de discriminação de raça, cor, etnia, religião ou pro- Art. 12. Impedir o acesso ou uso de transportes públicos,
cedência nacional, obstar a promoção funcional.  como aviões, navios barcas, barcos, ônibus, trens, metrô ou
Pena: reclusão de dois a cinco anos. qualquer outro meio de transporte concedido.
Pena: reclusão de um a três anos.
Art. 4º Negar ou obstar emprego em empresa privada. 
§ 1o  Incorre na mesma pena quem, por motivo de dis- Art. 13. Impedir ou obstar o acesso de alguém ao serviço
criminação de raça ou de cor ou práticas resultantes do em qualquer ramo das Forças Armadas.
preconceito de descendência ou origem nacional ou étnica:  Pena: reclusão de dois a quatro anos.
I - deixar de conceder os equipamentos necessários ao
empregado em igualdade de condições com os demais tra- Art. 14. Impedir ou obstar, por qualquer meio ou forma,
balhadores;  o casamento ou convivência familiar e social.

11
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

Pena: reclusão de dois a quatro anos. b) Impedir ou obstar, por qualquer meio ou forma, o
casamento ou convivência familiar e social em decorrência
Art. 15. (Vetado). da classe social do indivíduo.
c) Impedir ou obstar o acesso de alguém ao serviço
Art. 16. Constitui efeito da condenação a perda do cargo em qualquer ramo das Forças Armadas em decorrência da
ou função pública, para o servidor público, e a suspensão do orientação sexual do candidato.
funcionamento do estabelecimento particular por prazo não d) Negar ou obstar emprego em empresa privada à
superior a três meses. pessoa portadora de necessidades especiais.
e) Obstar promoção funcional de servidor da Adminis-
Art. 17. (Vetado). tração Pública em decorrência de raça, cor, etnia, religião ou
procedência nacional.
Art. 18. Os efeitos de que tratam os arts. 16 e 17 desta
Lei não são automáticos, devendo ser motivadamente decla-
R: E. Prevê a Lei nº 7.716/89: “Art. 3º Impedir ou obs-
rados na sentença.
tar o acesso de alguém, devidamente habilitado, a qualquer
cargo da Administração Direta ou Indireta, bem como das
Art. 19. (Vetado).
concessionárias de serviços públicos. Parágrafo único. In-
Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou corre na mesma pena quem, por motivo de discriminação
preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência na- de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional, obstar
cional. a promoção funcional”.
Pena: reclusão de um a três anos e multa.
§ 1º Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbo- 2. (IBFC/2014 - PC-SE - Escrivão Substituto) A Lei n°
los, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que 7.716/89 pune criminalmente algumas formas de precon-
utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação ceito e discriminação praticados contra a pessoa humana.
do nazismo.  NÃO serão punidos criminalmente por esta lei o preconcei-
Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa. to e a discriminação decorrente de:
§ 2º Se qualquer dos crimes previstos no caput é come- a) Religião.
tido por intermédio dos meios de comunicação social ou b) Procedência nacional.
publicação de qualquer natureza:  c) Etnia.
Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa. d) Orientação sexual
§ 3º No caso do parágrafo anterior, o juiz poderá deter- R: D. Prevê a Lei nº 7.716/89: “Art. 1º Serão punidos,
minar, ouvido o Ministério Público ou a pedido deste, ainda na forma desta Lei, os crimes resultantes de discriminação
antes do inquérito policial, sob pena de desobediência:  ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência
I - o recolhimento imediato ou a busca e apreensão dos nacional”.
exemplares do material respectivo; MACETE: A Lei nº 7.716/8 se aplica “RACO REPRO”:
II - a cessação das respectivas transmissões radiofônicas, RAcismo
televisivas, eletrônicas ou da publicação por qualquer meio;  COr
III - a interdição das respectivas mensagens ou páginas Religião
de informação na rede mundial de computadores.  Etnia
§ 4º Na hipótese do § 2º, constitui efeito da condena- PROcedência nacional
ção, após o trânsito em julgado da decisão, a destruição do
material apreendido.
3. (IBFC/2015 - EMBASA - Analista de Saneamento
Art. 21. Esta Lei entra em vigor na data de sua publica- - Enfermeiro do Trabalho) Assinale a alternativa corre-
ção.  ta considerando as disposições da lei federal n° 7.716, de
05/01/1989, que define os crimes resultantes de preconcei-
Art. 22. Revogam-se as disposições em contrário.  to de raça ou de cor.
a) Impedir o acesso ou recusar hospedagem em hotel,
Brasília, 5 de janeiro de 1989; 168º da Independência e pensão, estalagem, ou qualquer estabelecimento similar é
101º da República. crime punível com detenção de dois a cinco anos.
b) Impedir o acesso ou recusar atendimento em res-
EXERCÍCIOS taurantes, bares, confeitarias, ou locais semelhantes abertos
ao público é crime punível com reclusão de um a três anos.
1. (IBFC/2013 - PC-RJ - Oficial de Cartório) A Lei nº c) Impedir o acesso ou recusar atendimento em estabe-
7.716/1989, que “Define os crimes resultantes de precon- lecimentos esportivos, casas de diversões, ou clubes sociais
ceitos de raça ou de cor”, dispõe que constitui discrimina- abertos ao público é crime punível com reclusão de um a
ção ou preconceito punível: dois anos.
a) Recursar ou impedir acesso a estabelecimento co- d) Impedir o acesso ou recusar atendimento em salões
mercial, negando-se a servir, atender ou receber cliente ou de cabeleireiros, barbearias, termas ou casas de massagem
comprador em decorrência das vestes ousadas que utiliza. ou estabelecimento com as mesmas finalidades é crime pu-
nível com detenção de um a cinco anos.

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LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

R: B. Neste sentido, prevê o artigo 8º da Lei nº da lei que “constitui EFEITO DA CONDENAÇÃO (...) suspen-
7.716/1989: “Art. 8º Impedir o acesso ou recusar atendimen- são do funcionamento do estabelecimento particular por
to em restaurantes, bares, confeitarias, ou locais semelhan- prazo não superior a três meses”. Por isso o gabarito é a
tes abertos ao público. Pena: reclusão de um a três anos”. letra “e”. Entretanto, a questão é bastante criticável, pois o
Vale destacar que todos os crimes da Lei nº 7.716/1989 são examinador confundiu pena com efeito da condenação.
punidos com reclusão, o que já permite excluir desde logo
as duas alternativas que falam em pena de detenção.

4. (IBFC/2015 - EMBASA - Assistente de Saneamen- 3. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO


to - Técnico em Segurança do Trabalho) Assinale a alter- ADOLESCENTE (LEI Nº 8.069/90).
nativa correta considerando as disposições da lei federal n°
7.716, de 05/01/1989, que define os crimes resultantes de
preconceito de raça ou de cor.
Noções introdutórias e disciplina constitucional
a) Impedir ou obstar o acesso de alguém, devidamente
habilitado, a qualquer cargo da Administração Direta ou In-
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Es-
direta, bem como das concessionárias de serviços públicos
tado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com
é crime punível com reclusão de dois a cinco anos.
b) Obstar a promoção funcional por motivo de discrimi- absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimenta-
nação de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional é ção, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
crime punível com reclusão de três a seis anos. dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar
c) Recusar ou impedir acesso a estabelecimento co- e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma
mercial, negando-se a servir, atender ou receber cliente de negligência, discriminação, exploração, violência,
ou comprador é crime punível com detenção de um a dois crueldade e opressão. 
anos. § 1º O Estado promoverá programas de assistência
d) Recusar, negar ou impedir a inscrição ou ingresso de integral à saúde da criança, do adolescente e do jovem, ad-
aluno em estabelecimento de ensino público ou privado de mitida a participação de entidades não governamentais,
qualquer grau é crime punível com reclusão de um a três mediante políticas específicas e obedecendo aos seguintes
anos. preceitos: 
I - aplicação de percentual dos recursos públicos desti-
R: A. A propósito, prevê o artigo 3º da Lei nº 7.716/1989: nados à saúde na assistência materno-infantil;
“Art. 3º Impedir ou abstar o acesso de alguém, devidamente II - criação de programas de prevenção e atendimen-
habilitado, a qualquer cargo da Administração Direta ou In- to especializado para as pessoas portadoras de deficiência
direta, nem como das concessionárias de serviços públicos. física, sensorial ou mental, bem como de integração social
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, por motivo do adolescente e do jovem portador de deficiência, me-
de discriminação de raça, cor, etnia, religião ou procedência diante o treinamento para o trabalho e a convivência, e a
nacional, obstar a promoção funcional. Pena: reclusão de facilitação do acesso aos bens e serviços coletivos, com a eli-
dois a cinco anos”. minação de obstáculos arquitetônicos e de todas as formas
de discriminação. 
5. (IBFC/2015 - SAEB-BA - Analista de Registro de § 2º A lei disporá sobre normas de construção dos lo-
Comércio) Assinale a alternativa correta sobre a pena pre- gradouros e dos edifícios de uso público e de fabricação de
vista para quem “Impedir o acesso ou recusar atendimento veículos de transporte coletivo, a fim de garantir acesso
em salões de cabeleireiros, barbearias, termas ou casas de
adequado às pessoas portadoras de deficiência.
massagem ou estabelecimento com as mesmas finalidades”
§ 3º O direito a proteção especial abrangerá os seguin-
nos termos da Lei Federal n° 7.716, de 05/01/1989 que de-
tes aspectos:
fine os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor.
I - idade mínima de quatorze anos para admissão ao
a) Pena de reclusão de dois a quatro anos.
b) Pena de detenção de um a três anos. trabalho, observado o disposto no art. 7º, XXXIII;
c) Pena de serviços comunitários. II - garantia de direitos previdenciários e trabalhis-
d) Pena de pagamento de indenização por dano ma- tas;
terial. III - garantia de acesso do trabalhador adolescente e
e) Pena de suspensão do funcionamento do estabeleci- jovem à escola; 
mento particular por até três meses. IV - garantia de pleno e formal conhecimento da
atribuição de ato infracional, igualdade na relação pro-
R: E. Conforme o art. 10 da lei, é crime: “Impedir o aces- cessual e defesa técnica por profissional habilitado, se-
so ou recusar atendimento em salões de cabeleireiros, bar- gundo dispuser a legislação tutelar específica;
bearias, termas ou casas de massagem ou estabelecimento V - obediência aos princípios de brevidade, excepcio-
com as mesmas finalidades. Pena: reclusão de um a três nalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em de-
anos”. Contudo, nenhuma das alternativas trouxe a pena de senvolvimento, quando da aplicação de qualquer medida
reclusão de um a três anos. Por seu turno, prevê o artigo 16 privativa da liberdade;

13
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

VI - estímulo do Poder Público, através de assistência proteção de outro grupo vulnerável, que é a pessoa por-
jurídica, incentivos fiscais e subsídios, nos termos da lei, tadora de deficiência, valendo lembrar que o Decreto nº
ao acolhimento, sob a forma de guarda, de criança ou ado- 6.949, de 25 de agosto de 2009, que promulga a Convenção
lescente órfão ou abandonado; Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência
VII - programas de prevenção e atendimento especia- e seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova York, em
lizado à criança, ao adolescente e ao jovem dependente de 30 de março de 2007, foi promulgado após aprovação no
entorpecentes e drogas afins. Congresso Nacional nos moldes da Emenda Constitucional
§ 4º A lei punirá severamente o abuso, a violência e a nº 45/2004, tendo força de norma constitucional e não de
exploração sexual da criança e do adolescente. lei ordinária. A preocupação com o direito da pessoa porta-
§ 5º A adoção será assistida pelo Poder Público, na dora de deficiência se estende ao §2º do artigo 227, CF: “a
forma da lei, que estabelecerá casos e condições de sua efeti- lei disporá sobre normas de construção dos logradouros e
vação por parte de estrangeiros. dos edifícios de uso público e de fabricação de veículos
§ 6º Os filhos, havidos ou não da relação do casa- de transporte coletivo, a fim de garantir acesso adequado
mento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qua- às pessoas portadoras de deficiência”.
lificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias A proteção especial que decorre do princípio da prio-
relativas à filiação. ridade absoluta está prevista no §3º do artigo 227. Liga-se,
§ 7º No atendimento dos direitos da criança e do ado- ainda, à proteção especial, a previsão do §4º do artigo 227:
lescente levar-se-á em consideração o disposto no art. 2042. “A lei punirá severamente o abuso, a violência e a explora-
§ 8º A lei estabelecerá:  ção sexual da criança e do adolescente”.
I - o estatuto da juventude, destinado a regular os di- Tendo em vista o direito de toda criança e adolescente
reitos dos jovens;  de ser criado no seio de uma família, o §5º do artigo 227 da
II - o plano nacional de juventude, de duração dece- Constituição prevê que “a adoção será assistida pelo Poder
nal, visando à articulação das várias esferas do poder público Público, na forma da lei, que estabelecerá casos e condições
para a execução de políticas públicas.  de sua efetivação por parte de estrangeiros”. Neste sentido,
a Lei nº 12.010, de 3 de agosto de 2009, dispõe sobre a
No caput do artigo 227, CF se encontra uma das princi- adoção.
pais diretrizes do direito da criança e do adolescente que é
A igualdade entre os filhos, quebrando o paradigma da
o princípio da prioridade absoluta. Significa que cada crian-
Constituição anterior e do até então vigente Código Civil
ça e adolescente deve receber tratamento especial do Es-
de 1916 consta no artigo 227, § 6º, CF: “os filhos, havidos
tado e ser priorizado em suas políticas públicas, pois são o
ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os
futuro do país e as bases de construção da sociedade.
mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer desig-
A Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 dispõe sobre o
nações discriminatórias relativas à filiação”.
Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providên-
Quando o artigo 227 dispõe no § 7º que “no atendi-
cias, seguindo em seus dispositivos a ideologia do princípio
da absoluta prioridade. mento dos direitos da criança e do adolescente levar-se-
No §1º do artigo 227 aborda-se a questão da assistên- -á em consideração o disposto no art. 204” tem em vista a
cia à saúde da criança e do adolescente. Do inciso I se de- adoção de práticas de assistência social, com recursos da
preende a intrínseca relação entre a proteção da criança e do seguridade social, em prol da criança e do adolescente.
adolescente com a proteção da maternidade e da infância, Por seu turno, o artigo 227, § 8º, CF, preconiza: “A lei es-
mencionada no artigo 6º, CF. Já do inciso II se depreende a tabelecerá: I - o estatuto da juventude, destinado a regular
os direitos dos jovens; II - o plano nacional de juventude, de
2 Art. 204. As ações governamentais na área da as-
duração decenal, visando à articulação das várias esferas do
sistência social serão realizadas com recursos do orça-
poder público para a execução de políticas públicas”. A Lei
mento da seguridade social, previstos no art. 195, além
nº 12.852, de 5 de agosto de 2013, institui o Estatuto da Ju-
de outras fontes, e organizadas com base nas seguintes ventude e dispõe sobre os direitos dos jovens, os princípios
diretrizes: I - descentralização político-administrativa, e diretrizes das políticas públicas de juventude e o Sistema
cabendo a coordenação e as normas gerais à esfera fede- Nacional de Juventude - SINAJUVE. Mais informações sobre
ral e a coordenação e a execução dos respectivos progra- a Política mencionada no inciso II e sobre a Secretaria e o
mas às esferas estadual e municipal, bem como a entida- Conselho Nacional de Juventude que direcionam a imple-
des beneficentes e de assistência social; II - participação mentação dela podem ser obtidas na rede3.
da população, por meio de organizações representativas, Aprofundando o tema, a cabeça do art. 227, da Lei Fun-
na formulação das políticas e no controle das ações em damental, preconiza ser dever da família, da sociedade e do
todos os níveis. Parágrafo único. É facultado aos Estados Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com
e ao Distrito Federal vincular a programa de apoio à in- absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação,
clusão e promoção social até cinco décimos por cento de à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dig-
sua receita tributária líquida, vedada a aplicação desses nidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e
recursos no pagamento de: I - despesas com pessoal e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de
encargos sociais; II - serviço da dívida; III - qualquer outra negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade
despesa corrente não vinculada diretamente aos investi- e opressão.
mentos ou ações apoiados. 3 http://www.juventude.gov.br/politica

14
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

A leitura do art. 227, caput, da Constituição Federal Também, o art. 229 traz uma “via de mão dupla” entre
permite concluir que se adotou, neste país, a chamada pais e filhos, isto é, os pais têm o dever de assistir, criar e
“Doutrina da Proteção Integral da Criança”, ao lhe assegu- educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever
rar a absoluta prioridade em políticas públicas, medidas de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou en-
sociais, decisões judiciais, respeito aos direitos humanos, fermidade. Tal dispositivo, inclusive, permite que os filhos
e observância da dignidade da pessoa humana. Neste sen- peçam alimentos aos pais, e que os pais peçam alimentos
tido, o parágrafo único, do art. 5º, do “Estatuto da Crian- aos filhos.
ça e do Adolescente”, prevê que a garantia de priorida- Por fim, há se mencionar o acrescentado parágrafo oi-
de compreende a primazia de receber proteção e socorro tavo (pela Emenda Constitucional nº 65/2010), ao art. 227,
em quaisquer circunstâncias (alínea “a”), a precedência de da Constituição Federal, segundo o qual a lei estabelecerá
atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública o estatuto da juventude, destinado a regular os direitos dos
(alínea “b”), a preferência na formulação e na execução das jovens (inciso I), e o plano nacional de juventude, de du-
políticas sociais públicas (alínea “c”), e a destinação privi- ração decenal, visando à articulação das várias esferas do
legiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a poder público para a execução de políticas públicas (inciso
proteção à infância e à juventude (alínea “d”). II). Nada obstante a exigência constitucional desde 2010,
Ademais, a proteção à criança, ao adolescente e ao jo- somente bem recentemente o Estatuto da Juventude foi
vem representa incumbência atribuída não só ao Estado, aprovado (Lei nº 12.852/2013), como visto acima, carecen-
mas também à família e à sociedade. Sendo assim, há se do, ainda, o Plano Nacional de Juventude de maior regula-
prestar bastante atenção nas provas de concurso, tendo mentação infraconstitucional.
em vista que só se costuma colocar o Estado como obser-
vador da “Doutrina da Proteção Integral”, sendo que isso Evolução histórica
também compete à família e à sociedade.
Nesta frequência, o direito à proteção especial abran- Na Grécia antiga, a criança era colocada numa posição
gerá os seguintes aspectos (art. 227, §3º, CF): de inferioridade, tida como um ser irracional, sem capaci-
- A idade mínima de dezesseis anos para admissão ao
dade de tomar qualquer tipo de decisão. Trata-se de marco
trabalho, salvo a partir dos quatorze anos, na condição de
da cultura grega, que enxergava apenas poucos homens de
aprendiz (inciso I de acordo com o art. 7º, XXXIII, CF, pós-al-
posses como cidadãos. Estes homens concentravam para
teração promovida pela Emenda Constitucional nº 20/98);
si o pátrio poder, isto é, o poder do pai. Devido ao pátrio
- A garantia de direitos previdenciários e trabalhistas
poder, o pai de família concentrava em suas mãos plena
(inciso II);
possibilidade de gerir a vida das crianças e adolescentes
- A garantia de acesso ao trabalhador adolescente e
jovem à escola (inciso III); e estes não tinham nenhuma possibilidade de participar
- A garantia de pleno e formal conhecimento da atri- destas decisões. Na Idade Média se manteve o sistema do
buição do ato infracional, igualdade na relação processual “pátrio poder”. As crianças eram submetidas ao absoluto
e defesa técnica por profissional habilitado, segundo dis- poder do pai e seus destinos seguiam a mesma sorte.
puser a legislação tutelar específica (inciso IV); A partir da Idade Moderna, com o Renascimento e o
- A obediência aos princípios de brevidade, excepcio- Iluminismo, as crianças e os adolescentes saíram ligeira-
nalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em de- mente da margem social. A moral da época passa a impor
senvolvimento, quando da aplicação de qualquer medida aos pais o dever de educar seus filhos. Entretanto, a educa-
privativa de liberdade (inciso V); ção costumava ser oferecida apenas aos homens. Aqueles
- O estímulo do Poder Público, através de assistência que possuíam melhores condições enviavam seus filhos
jurídica, incentivos fiscais e subsídios, nos termos da lei, ao para estudarem nas universidades que começavam a des-
acolhimento, sob a forma de guarda, de criança ou adoles- pontar na Europa, aqueles que possuíam condições piores
cente órfão ou abandonado (inciso VI); ao menos passavam a ensinar seus ofícios a estes jovens.
- Programas de prevenção e atendimento especializa- Já as meninas permaneciam marginalizadas das atividades
do à criança, ao adolescente e ao jovem dependente de educacionais e profissionalizantes, apenas lhes era ensina-
entorpecentes e drogas afins (inciso VII). do como desempenhar atividades domésticas.
Prosseguindo, o parágrafo sexto, do art. 227, da Cons- Desde o final da Revolução Francesa e, com destaque,
tituição, garante o “Princípio da Igualdade entre os Filhos”, a partir da Revolução Industrial, que alterou substancial-
ao dispor que os filhos, havidos ou não da relação do ca- mente os modos e métodos de produção, a criança e o
samento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e quali- adolescente passam a ocupar papel central na sociedade,
ficações, proibidas quaisquer designações discriminatórias desempenhando atividades trabalhistas de caráter equiva-
relativas à filiação. lente a dos adultos. Foram vítimas de inúmeros acidentes
Assim, com a Constituição Federal, os filhos não têm de trabalho, morriam em meio à insalubridade das fábricas,
mais “valor” para efeito de direitos alimentícios e suces- então movidas predominantemente a carvão. Foi apenas
sórios. Não se pode falar em um filho receber metade da com a emergência da Organização Internacional do Tra-
parte que originalmente lhe cabia por ser “bastardo”, en- balho – OIT, em 1919, que aos poucos se consolidou uma
quanto aquele fruto da sociedade conjugal receber a quan- consciência a respeito da necessidade de se limitar a parti-
tia integral. Aliás, nem mesmo a expressão “filho bastardo” cipação das crianças e adolescentes no espaço de trabalho.
pode mais ser utilizada, por representar uma forma de dis- Este foi o estopim para o reconhecimento da condição es-
criminação designatória. pecial da criança e do adolescente.

15
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

Internacionalmente, a proteção efetiva da criança e em desenvolvimento, posto que, somente com o término
do adolescente começa a tomar corpo com o reconheci- da adolescência é que o menor completará o processo de
mento internacional dos direitos humanos e a fundação aquisição de mecanismos mentais relacionados ao pensa-
da UNICEF. A UNICEF, inicialmente conhecida como Fundo mento, percepção, reconhecimento, classificação etc. [...]
Internacional de Emergência das Nações Unidas para as Com isso, o Estatuto da Criança e do Adolescente, sabia-
Crianças, foi criada em dezembro de 1946 para ajudar as mente, se preocupou em envolver não somente a família,
crianças da Europa vítimas da II Guerra Mundial. No início mas, ainda, a comunidade, a sociedade e o próprio Estado,
da década de 50 o seu mandato foi alargado para respon- para que todos, em conjunto, exerçam seus direitos e deve-
der às necessidades das crianças e das mães nos países em res sem oprimir aqueles que, em condição inferior, viviam
desenvolvimento. Em 1953, torna-se uma agência perma- a mercê da sociedade. Mas, qual a razão dessa inclusão tão
nente das Nações Unidas, e passa a ocupar-se especial- abrangente? Pois bem, a intenção do Estatuto da Criança
mente das crianças dos países mais pobres da África, Ásia, e do Adolescente foi conferir ao menor, de forma integral,
América Latina e Médio Oriente. Passa então a designar-se todas as condições para que o mesmo possa desenvolver-
Fundo das Nações Unidas para a Infância, mas mantém a -se plenamente, evitando-se, com isso, que haja alguma
sigla que a tornara conhecida em todo o mundo – UNICEF. deficiência em sua formação. Desta forma, a melhor solu-
Desde então, sobrevieram no âmbito das Nações Unidas ção apresentada pelo legislador foi incluir todos os seg-
documentos bastante relevantes sobre a condição jurídica mentos da sociedade, para que ninguém ficasse isento de
peculiar da criança, já estudados neste material. qualquer responsabilidade, uma vez que a doutrina da pro-
No Brasil, no final do século XIX e início do século XX, teção integral apresentada pelo Estatuto da Criança e do
foi instituído no Rio de Janeiro o Instituto de Proteção e Adolescente exige a participação de todos, sem qualquer
Assistência à Infância, primeiro estabelecimento público exceção”5. Com efeito, o objeto formal do direito da criança
nacional de atendimento a crianças e adolescentes. Em se- e do adolescente é a proteção jurídica especial da criança
guida, veio a Lei nº 4.242/1921, que autorizou o governo e do adolescente. Já o objeto material é a própria criança
a organizar o Serviço de Assistência e Proteção à Infância ou adolescente.
Abandonada e Dellinquente. Em 1927 foi aprovado o pri-
meiro Código de Menores. Em 1941, durante o governo Princípios
Vargas, foi criado o Serviço de Assistência ao Menor, cujo
fim era dar tratamento penal teoricamente diferenciado Não se pode olvidar que os princípios sempre desem-
aos menores (na prática, eram tratados como criminosos penharam um importante papel social, mas foi somente na
comuns). Em 1964 surge a Política Nacional do Bem-estar atual dogmática jurídica que eles adquiriram normativida-
do Menor (Lei nº 4.513/1964), que criou a FUNABEM. Surge de. Hoje em dia, os princípios servem para condensar va-
novo Código de Menores em 1979 (Lei nº 6.697), cujo ob- lores, dar unidade ao sistema e condicionar a atividade do
jeto era a proteção e vigilância de crianças e adolescentes intérprete. Os princípios são normas jurídicas, não meros
em situação irregular. Na década de 80 começa um mo- conteúdos axiológicos, aceitando aplicação autônoma6.
vimento de reelaboração da concepção de infância e ju- Em resumo, a teoria dos princípios chega à presente
ventude. O destaque repercute na Constituição Federal de fase do Pós-positivismo com os seguintes resultados já
1988 e no Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990, consolidados: a passagem dos princípios da especulação
que revogou o Código de Menores e substituiu a doutrina metafísica e abstrata para o campo concreto e positivo do
da situação irregular pela doutrina da proteção integral4. Direito, com baixíssimo teor de densidade normativa; a
transição crucial da ordem jusprivatista (sua antiga inser-
Relações jurídicas no direito da criança e do adoles- ção nos Códigos) para a órbita juspublicística (seu ingresso
cente nas Constituições); a suspensão da distinção clássica entre
princípios e normas; o deslocamento dos princípios da es-
“As relações jurídicas são formas qualificadas de re- fera da jusfilosofia para o domínio da Ciência Jurídica; a
lações interpessoais, indicando, assim, a ligação entre proclamação de sua normatividade; a perda de seu cará-
pessoas, em razão de algum objeto, devidamente regu- ter de normas programáticas; o reconhecimento definitivo
lada pelo direito. Desta forma, o Direito da Criança e do de sua positividade e concretude por obra sobretudo das
Adolescente, sob o aspecto objetivo e formal, representa Constituições; a distinção entre regras e princípios, como
a disciplina das relações jurídicas entre Crianças e Adoles- espécies diversificadas do gênero norma, e, finalmente, por
centes, de um lado, e de outro, a família, a comunidade, a expressão máxima de todo esse desdobramento doutriná-
sociedade e o próprio Estado. [...] Percebemos que a inten- rio, o mais significativo de seus efeitos: a total hegemonia
ção dos doutrinadores e do próprio legislador foi, sempre, e preeminência dos princípios7.
criar uma doutrina da proteção integral não somente para
a Criança, como, ainda, para o Adolescente, ambos ainda 5 MENDES, Moacyr Pereira. As relações jurídicas
decorrentes do Estatuto da Criança e do Adolescente.
4 DEZEM, Guilherme Madeira; AGUIRRE, João Ri- Âmbito Jurídico, Rio Grande, XII, n. 70, nov. 2009.
cardo Brandão; FULLER, Paulo Henrique Aranda. Estatu- 6 Ibid., p.327.
to da Criança e do Adolescente. São Paulo: Revista dos 7 BONAVIDES, Paulo. Curso de direito consti-
Tribunais, 2009. (Coleção Elementos do Direito) tucional. 26. ed. São Paulo: Malheiros, 2011, p. 294.

16
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

No campo do direito da criança e do adolescente, al- a imagem. Sobreleva registrar que essas garantias, associa-
guns princípios assumem destaque, entre eles: das ao princípio da dignidade da pessoa humana, subsis-
a) Princípio da prioridade absoluta: previsto nos ar- tem como conquista da humanidade, razão pela qual au-
tigos 227, CF e 4º, ECA preconiza que é dever de todos – feriram proteção especial consistente em indenização por
Estado, sociedade, comunidade e família – assegurar com dano moral decorrente de sua violação”9.
absoluta prioridade direitos fundamentais às crianças e Para Reale10, a evolução histórica demonstra o domínio
adolescentes. Por isso, estabelece-se com primazia a ado- de um valor sobre o outro, ou seja, a existência de uma
ção de políticas públicas, a destinação de recursos e a pres- ordem gradativa entre os valores; mas existem os valores
tação de serviços essenciais àqueles que se encontram na fundamentais e os secundários, sendo que o valor fonte
faixa etária inferior a 18 anos. é o da pessoa humana. Nesse sentido, são os dizeres de
b) Princípio da proteção integral: previsto no artigo Reale11: “partimos dessa ideia, a nosso ver básica, de que a
1º, ECA estabelece que a proteção da criança e do adoles- pessoa humana é o valor-fonte de todos os valores. O ho-
cente não pode se restringir às situações de irregularidade, mem, como ser natural biopsíquico, é apenas um indivíduo
o que teria um caráter estigmatizante, mas deve abranger entre outros indivíduos, um ente animal entre os demais
da mesma espécie. O homem, considerado na sua objeti-
todas as situações de vida pelas quais passa a criança e o
vidade espiritual, enquanto ser que só realiza no sentido
adolescente, mesmo as regulares. Neste sentido, ao se as-
de seu dever ser, é o que chamamos de pessoa. Só o ho-
segurar direitos na regularidade, evita-se que a criança e o
mem possui a dignidade originária de ser enquanto deve
adolescente caiam em irregularidade.
ser, pondo-se essencialmente como razão determinante
c) Princípio da dignidade da pessoa humana: A dig- do processo histórico”.
nidade da pessoa humana é o valor-base de interpretação Quando a Constituição Federal assegura a dignidade
de qualquer sistema jurídico, internacional ou nacional, da pessoa humana como um dos fundamentos da Repúbli-
que possa se considerar compatível com os valores éticos, ca, faz emergir uma nova concepção de proteção de cada
notadamente da moral, da justiça e da democracia. Pensar membro do seu povo. Tal ideologia de forte fulcro huma-
em dignidade da pessoa humana significa, acima de tudo, nista guia a afirmação de todos os direitos fundamentais
colocar a pessoa humana como centro e norte para qual- e confere a eles posição hierárquica superior às normas
quer processo de interpretação jurídico, seja na elaboração organizacionais do Estado, de modo que é o Estado que
da norma, seja na sua aplicação. está para o povo, devendo garantir a dignidade de seus
Sem pretender estabelecer uma definição fechada ou membros, e não o inverso.
plena, é possível conceituar dignidade da pessoa humana d) Princípio da participação popular: previsto no ar-
como o principal valor do ordenamento ético e, por con- tigo 227, §§ 3º e 7º e no artigo 204, II, CF, assegura a par-
sequência, jurídico que pretende colocar a pessoa humana ticipação popular, através de organizações representativas,
como um sujeito pleno de direitos e obrigações na or- na elaboração de políticas públicas direcionadas à infância
dem internacional e nacional, cujo desrespeito acarreta a e à juventude.
própria exclusão de sua personalidade. e) Princípio da excepcionalidade: previsto no artigo
Aponta Barroso8: “o princípio da dignidade da pessoa 227, §3º, V, CF assegura que quando da imposição de me-
humana identifica um espaço de integridade moral a ser dida privativa de liberdade esta não será imposta a não
assegurado a todas as pessoas por sua só existência no ser que se trate de um caso excepcional, em que nenhuma
mundo. É um respeito à criação, independente da crença outra medida sócio-educativa possa ser utilizada.
que se professe quanto à sua origem. A dignidade rela- f) Princípio da brevidade: previsto no artigo 227, §3º,
ciona-se tanto com a liberdade e valores do espírito como V, CF assegura que quando da aplicação de medida privati-
com as condições materiais de subsistência”. va de liberdade esta não se estenderá no tempo, devendo
ser a mais breve possível, perdurando apenas pelo prazo
O Ministro Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira, do
necessário para a ressocialização do adolescente. No caso,
Tribunal Superior do Trabalho, trouxe interessante conceito
o ECA limita a aplicação de medidas desta natureza ao pra-
numa das decisões que relatou: “a dignidade consiste na
zo máximo de 3 anos.
percepção intrínseca de cada ser humano a respeito dos
g) Princípio da condição peculiar da pessoa em de-
direitos e obrigações, de modo a assegurar, sob o foco de senvolvimento: a criança e o adolescente estão em pro-
condições existenciais mínimas, a participação saudável e cesso de formação e de transformação física e psíquica,
ativa nos destinos escolhidos, sem que isso importe des- logo, possuem uma condição peculiar que deve ser respei-
tilação dos valores soberanos da democracia e das liber- tada quando da aplicação da lei.
dades individuais. O processo de valorização do indivíduo
articula a promoção de escolhas, posturas e sonhos, sem 9 BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Recurso
olvidar que o espectro de abrangência das liberdades de Revista n. 259300-59.2007.5.02.0202. Relator: Alber-
individuais encontra limitação em outros direitos funda- to Luiz Bresciani de Fontan Pereira. Brasília, 05 de setem-
mentais, tais como a honra, a vida privada, a intimidade, bro de 2012j1. Disponível em: www.tst.gov.br. Acesso em:
17 nov. 2012.
8 BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e 10 REALE, Miguel. Filosofia do direito. 19. ed.
aplicação da Constituição. 7. ed. São Paulo: Saraiva, São Paulo: Saraiva, 2002, p. 228.
2009, p. 382. 11 Ibid., p. 220.

17
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

Autonomia da criança e do adolescente 3. Os tempos e o ritmo em que o desenvolvimento se


processa são muito individualizados, fazendo com que dois
Coloca-se o trecho do trabalho de Cláudio Leone12 em indivíduos de uma mesma idade possam estar em momen-
que reflete sobre a construção da autonomia do infante: tos diferentes de desenvolvimento;
“Conceitualmente, a análise do respeito à autonomia 4. No caso específico da inteligência, o desenvolvimen-
de uma criança ou de um adolescente só tem sentido se for to é extremamente influenciável por fatores extrínsecos ao
conduzida a partir do conhecimento da evolução de suas indivíduo: as experiências, os estímulos, o ambiente, a edu-
competências nas diferentes idades. É de conhecimento cação, a cultura, etc., o que também acaba por reforçar sua
de todos que a criança nasce totalmente dependente de evolução extremamente individualizada.
Segundo Piaget, a capacidade de operar o pensamento
cuidados alheios e que passa por um processo de desen-
concreto estendendo-o à compreensão do outro e às pos-
volvimento progressivo que a leva a alcançar a completa
síveis consequências de boa parte dos seus atos se aper-
independência na maturidade, o que, nas sociedades mo- feiçoa na idade escolar, entre os 6 e os 11 anos de vida.
dernas, se situa por volta dos vinte anos de idade. Este amadurecimento se completa na adolescência, com a
Entretanto, para que este processo de análise de sua capacidade crescente de abstração que a criança desenvol-
autonomia transcorra de maneira isenta, fundamental- ve nesta fase da existência. Como consequência, é possível
mente centrado nas peculiaridades do desenvolvimento admitir que é na segunda fase da adolescência, em geral a
do ser humano, o primeiro ponto a ser considerado é a partir dos 15 anos, que o indivíduo atingiria as competên-
necessidade de abdicar de alguns conceitos preestabele- cias necessárias para o exercício de sua autonomia, com-
cidos, como é o caso da atitude paternalista. [...] petências estas que necessitariam apenas serem lapidadas
O segundo ponto a considerar neste percurso, em ao longo das vivências e de uma maior experiência de vida.
geral decorrente do primeiro, é a própria legislação que, Entretanto, isto não significa que a autonomia da crian-
mesmo tendo o melhor dos intuitos, praticamente nivela ça e do adolescente só possa (ou deva) ser respeitada a
todos os menores a uma mesma condição: a de incapaci- partir desta fase.
dade, criando a necessidade de se ter figuras aptas a de- Compete ao pediatra e aos demais profissionais de
cidir e responder por eles, como se estas figuras fossem saúde, utilizando suas competências profissionais, definir já
sempre e inevitavelmente imbuídas das melhores inten- desde os primeiros anos de vida em que etapa a criança
ções em relação à criança e ao adolescente. se encontra ao longo do seu processo evolutivo, tentan-
do diferenciar se se está diante de uma tomada de decisão
No entender de Kopelman, para que toda esta legisla-
ditada apenas pelo receio do desconhecido, por um capri-
ção fosse realmente válida seria necessário definir melhor,
cho ou vontade decorrente apenas de sua visão egocên-
de maneira bem precisa, o que se entende por um padrão trica, natural em determinadas idades, ou se a mesma já é
mínimo de benefício ou o que é ‘o melhor’ para os inte- o resultado de uma reflexão mais amadurecida. São estes
resses da criança ou do adolescente, de modo que a defi- extremos que dão a entender a ampla gama de estágios
nição não fique em aberto para a interpretação de quem de desenvolvimento, portanto de autonomia, que entre eles
detém o poder de decidir em nome deles. Além disso, es- podem se apresentar. [...]
tas definições deveriam estar em constante revisão, para Novamente, cabe enfatizar que o risco que se corre ao
que não acabem sendo ultrapassadas, frente à evolução se utilizar definições bastante precisas como estas é o de
histórico-social dos fatos que geraram a necessidade de acabar classificando um indivíduo de maneira dicotômica,
sua criação. no caso específico da autonomia, como sendo capaz ou in-
Superados estes dois pontos, que apesar de potencial- capaz, desistindo assim de uma possível análise de sua real
mente limitantes do processo de discussão da autonomia capacidade.
da criança e do adolescente não podem ser simplesmente Consequentemente, a ausência de uma ou de mais das
ignorados, como se não existissem, chega-se ao terceiro e características anteriormente citadas não deve ser utilizada
mais importante: a interpretação do conceito de autono- para qualificar a criança ou o adolescente como incapaz.
mia à luz do momento de desenvolvimento em que uma Deve, isto sim, servir de embasamento para que se possa
determinada criança ou adolescente se encontra. tentar entender como suas decisões se originaram.
Em face de situações específicas, individualizadas, como
Nesse sentido, diversas características do desenvolvi-
ocorre no dia-a-dia da prática pediátrica, esta é a única for-
mento devem ser levadas em consideração:
ma que o profissional tem de realmente respeitar a autono-
1. Trata-se de um processo que evolui continuamente mia da criança ou do adolescente.
à medida que habilidades se aperfeiçoam, novas capaci- A interpretação adequada da legislação e o dimensiona-
dades são adquiridas, novas vivências são acumuladas e mento correto da decisão dos pais ou responsáveis depen-
integradas e, portanto, passível de rápidas e extremas mu- derão fundamentalmente deste tipo de análise da autonomia
danças no tempo; da criança ou adolescente. Deste modo, mesmo que resulte
2. A aquisição das competências é progressiva, não se em situações de conflito entre as posições, servirá de emba-
dá saltos, como se se tratasse de compartimentos estan- samento para um trabalho, muitas vezes exaustivo, de apre-
ques, e segue sempre uma ordem preestabelecida, sendo, sentação, de reflexão e de discussão de argumentos e fatos,
portanto, razoavelmente previsível; capaz de conduzir a uma decisão amadurecida e o mais isen-
12 LEONE, Cláudio. A criança, o adolescente e a au- ta possível, que, respeitando a posição da criança ou do ado-
tonomia. Revista Bioética, v. 6, n. 1. lescente, poderá efetivamente redundar em seu benefício.

18
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

No leque das diferentes situações da prática pediá- Basicamente, tinha-se na doutrina da situação irregu-
trica, que se estende desde o recém-nascido no limite de lar que era necessário disciplinar um estatuto jurídico da
viabilidade ao qual se quer prestar cuidados intensivos de criança e do adolescente que apenas abordasse situações
validade questionável naquelas circunstâncias, passando em que ele estivesse irregular, seja por uma desproteção,
pelas pesquisas científicas que envolvem crianças e ado- como no caso de abandono, ou pela violação da lei, como
lescentes, até a criança cujo pátrio poder pertence a pais nos casos de atos infracionais.
adolescentes, portanto autônomos nas decisões que lhes Entretanto, o direito evoluiu e passou a contemplar
dizem respeito, todas estas situações, onde nem sempre o uma noção de proteção mais ampla da criança e do ado-
real interesse que está em jogo é o da criança, mas sim o lescente, que não apenas abordasse situações de irregula-
dos responsáveis por ela, clarificam que não há uma única ridade (embora ainda o fizesse), mas que abrangesse todo
resposta ou solução mágica, perfeita, para a questão da o arcabouço jurídico protetivo da criança e do adolescente.
autonomia da criança e do adolescente.
Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a
Na realidade, o que deve existir é a construção conjun-
pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente
ta de uma verdade para aquele momento, amadurecida no
aquela entre doze e dezoito anos de idade.
crescimento e evolução de todos: juízes e legisladores, pais
Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica-se
ou responsáveis, médicos e profissionais de saúde e, prin-
excepcionalmente este Estatuto às pessoas entre dezoito e
cipalmente, a criança ou o adolescente, como parte de um vinte e um anos de idade.
processo de interação franco, sincero, isento e realmente O Estatuto da Criança e do Adolescente opta por cate-
participativo que de fato respeite a autonomia, qualquer gorizar separadamente estas duas categorias de menores.
que seja o nível de competência que a criança ou o adoles- Criança é aquele que tem até 12 anos de idade (na data
cente estejam apresentando para tal”. de aniversário de 12 anos, passa a ser adolescente), ado-
lescente é aquele que tem entre 12 e 18 anos (na data de
Imputabilidade penal aniversário de 18 anos, passa a ser maior). Em situações
excepcionais o ECA se aplica ao maior de 18 anos, até os
Art. 228, CF. São penalmente inimputáveis os meno- 21 anos de idade, por exemplo, no caso do menor infrator
res de dezoito anos, sujeitos às normas da legislação es- sujeito a internação em fundação CASA que tenha 17 anos
pecial. e 11 meses na data do ato infracional poderá ficar detido
até o limite de seus 20 anos e 11 meses (eis que 3 anos é o
O artigo 228, CF dispõe: “são penalmente inimputáveis tempo máximo de internação).
os menores de dezoito anos, sujeitos às normas da legis-
lação especial”. Percebe-se que a normativa não está no Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os di-
rol de cláusulas pétreas, razão pela qual seria possível uma reitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem
emenda constitucional que alterasse a menoridade penal. prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegu-
Inclusive, há projetos de lei neste sentido. rando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as opor-
tunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desen-
Comentários à lei volvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em
condições de liberdade e de dignidade.
Parte geral Parágrafo único. Os direitos enunciados nesta Lei apli-
cam-se a todas as crianças e adolescentes, sem discrimi-
Título I nação de nascimento, situação familiar, idade, sexo, raça,
etnia ou cor, religião ou crença, deficiência, condição pessoal
Das Disposições Preliminares
de desenvolvimento e aprendizagem, condição econômica,
ambiente social, região e local de moradia ou outra condição
Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a proteção integral à
que diferencie as pessoas, as famílias ou a comunidade em
criança e ao adolescente.
que vivem.
O princípio da proteção integral se associa ao princípio O artigo 3º volta-se à concretização dos direitos da
da prioridade absoluta, colacionado no artigo 4º do ECA criança e do adolescente. Concretização significa viabiliza-
e no artigo 227, CF. “Com a positivação desse princípio ção prática, consecução real dos fins que a lei descreve.
tem-se também a positivação da proteção integral, que se Como se percebe pela leitura até o momento, o legislador
opõe à antiga e superada doutrina da situação irregular, brasileiro preocupou-se em elaborar uma legislação cujo
que era prevista no antigo Código de Menores e espe- objetivo é concretizar estes direitos da criança e do adoles-
cificava que sua incidência se restringia aos menores em cente. Entretanto, a lei é apenas uma carta de intenções. É
situação irregular, apresentando um conjunto de normas necessário colocar seu conteúdo em prática, porque sozi-
destinadas ao tratamento e prevenção dessas situações”13. nha ela nada faz.
13 DEZEM, Guilherme Madeira; AGUIRRE, João Ri- A implementação na prática dos direitos da criança e
cardo Brandão; FULLER, Paulo Henrique Aranda. Estatu- do adolescente depende da adoção de posturas por parte
to da Criança e do Adolescente. São Paulo: Revista dos de todos aqueles colocados como responsáveis para tanto:
Tribunais, 2009. (Coleção Elementos do Direito) Estado, sociedade, comunidade e família. Especificamente

19
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

no que se refere ao Estado, mostra-se essencial que ele c) preferência na formulação e na execução das po-
desenvolve políticas públicas adequadas em respeito à líticas sociais públicas;
peculiar condição do infante. d) destinação privilegiada de recursos públicos nas
“O Direito da Criança e do Adolescente deve ter con- áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude.
dições suficientemente próprias de promoção e concreti- O artigo 4º do ECA colaciona em seu caput teor idêntico
zação de direitos. Para isso deve-se desvencilhar do dog- ao do caput do artigo 227, CF, onde se encontra uma das
matismo e do mero positivismo jurídico acrítico. O Direito principais diretrizes do direito da criança e do adolescente
da Criança e do Adolescente enquanto ramo autônomo que é o princípio da prioridade absoluta. Significa que cada
do direito é responsável por ressignificar a atuação estatal, criança e adolescente deve receber tratamento especial do
principalmente no campo das políticas públicas e impõe Estado e ser priorizado em suas políticas públicas, pois são
corresponsabilidades compartilhadas”14. o futuro do país e as bases de construção da sociedade.
Vale ressaltar que às crianças e aos adolescentes são Explica Liberati15: “Por absoluta prioridade, devemos
garantidos os mesmos direitos fundamentais que aos entender que a criança e o adolescente deverão estar em
adultos, entretanto, o ECA aprofunda alguns direitos fun- primeiro lugar na escala de preocupação dos governantes;
damentais em espécie, abordando-os na vertente da con- devemos entender que, primeiro, devem ser atendidas to-
dição especial dos que pertencem a este grupo. das as necessidades das crianças e adolescentes [...]. Por ab-
As crianças e adolescentes gozam de igualdade de di- soluta prioridade, entende-se que, na área administrativa,
reitos em relação às demais pessoas, podendo usufruir de enquanto não existirem creches, escolas, postos de saúde,
todos eles. O próprio estatuto contempla em seu título II atendimento preventivo e emergencial às gestantes dignas
os direitos fundamentais da criança e do adolescente, entre moradias e trabalho, não se deveria asfaltar ruas, construir
eles incluindo-se: vida, saúde, liberdade, respeito, dignida- praças, sambódromos monumentos artísticos etc., porque a
de, convivência familiar e comunitária, educação, cultura, vida, a saúde, o lar, a prevenção de doenças são importan-
esporte, lazer, profissionalização e proteção no trabalho. tes que as obras de concreto que ficam par a demonstrar o
Não se trata de rol taxativo de direitos fundamentais ga- poder do governante”.
rantidos à criança e ao adolescente, eis que ele possui to- O parágrafo único do artigo 4º especifica a abrangência
dos os direitos humanos e fundamentais que as demais da absoluta prioridade, esclarecendo que é necessário con-
pessoas. O título II do ECA tem por objetivo aprofundar ferir atendimento prioritário às crianças e aos adolescentes
especificidades acerca de algumas das categorias de direi- diante de situações de perigo e risco (como no salvamento
tos fundamentais assegurados à criança e ao adolescente. em incêndios e enchentes, etc.), bem como nos serviços pú-
Deste artigo 3º do ECA é possível, ainda, extrair o des- blicos em geral (chegada aos hospitais, por exemplo). Além
taque ao princípio da igualdade, no sentido de que há ple- disso, devem ser priorizadas políticas públicas que favore-
na igualdade na garantia de direitos entre todas as crian- çam a criança e o adolescente e também devem ser reser-
ças e adolescentes, não sendo permitido qualquer tipo de vados recursos próprios prioritariamente a eles.
discriminação.
Art. 87. São linhas de ação da política de atendimen-
A leitura dos artigos 4º e 5º, em conjunto com outros to:
dispositivos do ECA, por sua vez, permite detectar a pre- I - políticas sociais básicas;
sença de um tríplice sistema de garantias. II - serviços, programas, projetos e benefícios de as-
Assim, o Estatuto da Criança e do Adolescente adota sistência social de garantia de proteção social e de prevenção
uma estrutura que contempla três sistemas de garantia – e redução de violações de direitos, seus agravamentos ou re-
primário, secundário e terciário. incidências;
a) Sistema primário – artigos 4º e 87, ECA – aborda III - serviços especiais de prevenção e atendimento
políticas públicas de atendimento de crianças e adolescen- médico e psicossocial às vítimas de negligência, maus-tratos,
tes. exploração, abuso, crueldade e opressão;
IV - serviço de identificação e localização de pais, res-
Art. 4º É dever da família, da comunidade, da socie- ponsável, crianças e adolescentes desaparecidos;
dade em geral e do poder público assegurar, com abso- V - proteção jurídico-social por entidades de defesa dos
luta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, direitos da criança e do adolescente.
à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, VI - políticas e programas destinados a prevenir ou
à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à abreviar o período de afastamento do convívio familiar
liberdade e à convivência familiar e comunitária. e a garantir o efetivo exercício do direito à convivência
Parágrafo único. A garantia de prioridade compreen- familiar de crianças e adolescentes;
de: VII - campanhas de estímulo ao acolhimento sob
a) primazia de receber proteção e socorro em quais- forma de guarda de crianças e adolescentes afastados do
quer circunstâncias; convívio familiar e à adoção, especificamente inter-racial, de
b) precedência de atendimento nos serviços públicos crianças maiores ou de adolescentes, com necessidades espe-
ou de relevância pública; cíficas de saúde ou com deficiências e de grupos de irmãos. 
14 http://t.boletimjuridico.com.br/doutrina/texto. 15 LIBERATI, Wilson Donizeti. O Estatuto da Crian-
asp?id=2236 ça e do Adolescente: Comentários. São Paulo: IBPS.

20
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

O artigo 87 descreve linhas de ação na política de novos modos de aplicação das normas. Como a sociedade
atendimento, que compõem a delimitação do princípio da é dinâmica e o Direito existe para servi-la, cabe a ele ade-
prioridade absoluta na vertente da priorização na adoção quar-se às novas exigências sociais, aplicando-se da ma-
de políticas públicas e na delimitação de recursos financei- neira mais justa à vasta gama de casos concretos. Sobre a
ros para execução de tais políticas. interpretação, explica Gonçalves16: “Quando o fato é típico
e se enquadra perfeitamente no conceito abstrato da nor-
b) Sistema secundário – artigos 98 e 101, ECA – abor- ma, dá-se o fenômeno da subsunção. Há casos, no entanto,
da as medidas de proteção destinadas à criança e ao ado- em que tal enquadramento não ocorre, não encontrando o
lescente em situação de risco pessoal ou social. juiz nenhuma norma aplicável à hipótese sub judice. Deve,
Obs.: as medidas de proteção são estudadas adiante então, proceder à integração normativa, mediante o em-
neste material. prego da analogia, dos costumes e dos princípios gerais do
c) Sistema terciário – artigo 112, ECA – aborda as direito. [...] Para verificar se a norma é aplicável ao caso em
medidas socioeducativas, destinadas à responsabilização julgamento (subsunção) ou se deve proceder à integração
penal do adolescente infrator, isto é, àquele entre 12 e 18 normativa, o juiz procura descobrir o sentido da norma, in-
anos que comete atos infracionais. terpretando-a. Interpretar é descobrir o sentido e o alcance
Obs.: as medidas socioeducativas são estudadas adian- da norma jurídica”.
te neste material. A hermenêutica possui 3 categorias de métodos.
O sistema tríplice deve operar de forma harmônica, Quanto às fontes ou origem, a interpretação pode ser
com o acionamento gradual de cada um deles. Nas situa- autêntica ou legislativa, jurisprudencial ou judicial e dou-
ções em que a criança ou adolescente escape ao sistema trinária. Quanto aos meios, pode ser gramatical ou literal,
primário de prevenção, ou seja, nos casos de ineficácia das examinando o texto normativo linguísticamente; lógica ou
políticas públicas específicas, deve ser acionado o sistema racional, apurando o sentido e a finalidade da norma; sis-
secundário, operado predominantemente pelo Conselho temática, analisando a lei de maneira comparativa com ou-
Tutelas. Por sua vez, em casos extremos, é necessário partir tras leis pertencentes à mesma província do Direito (livro,
para a adoção de medidas socioeducativas, operadas pre- título, capítulo, seção, parágrafo); histórica, baseando-se
dominantemente pelo Ministério Público e pelo Judiciário. na verificação dos antecedentes do processo legislativo;
sociológica, adaptando o sentido ou finalidade da nor-
Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será objeto de ma às novas exigências sociais (artigo 5°, LINDB). Quanto
qualquer forma de negligência, discriminação, explora- aos resultados pode ser declarativa, quando o texto legal
ção, violência, crueldade e opressão, punido na forma da corresponde ao pensamento do legislador; extensiva ou
lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos ampliativa, quando o alcance da lei é mais amplo que o in-
fundamentais. dicado pelo seu texto; e restritiva, na qual se limita o cam-
O artigo 5º ressalta o verdadeiro objetivo geral do ECA: po de aplicação da lei. Nenhum destes métodos se opera
proteger a criança de qualquer forma de negligência, dis- isoladamente17.
criminação, exploração, violência, crueldade e opressão. O artigo 6º do ECA, tal como o artigo 5º da LINDB, ex-
Neste sentido, coloca-se a possibilidade de responsabiliza- pressa o método de interpretação sociológico, chamando
ção de todos que atentarem contra esse propósito. A res- atenção à interpretação da lei levando em conta os seus
ponsabilização poderá se dar em qualquer uma das três es- fins sociais, as exigências do bem comum, os direitos e de-
feras, isolada ou cumulativamente: penal, respondendo por veres individuais e coletivos, e vai além: exige que se leve
crimes e contravenções penais todo aquele que praticá-lo em conta a condição peculiar da criança e do adolescente.
contra criança e adolescente, bem como respondendo por Logo, ao se interpretar o ECA não se pode nunca perder de
atos infracionais as crianças e adolescentes que atentarem vista que o seu objeto material, a criança e o adolescente, é
um contra o outro; civil, estabelecendo-se o dever de inde- extremamente peculiar, dotado de especificidades as quais
nizar por danos causados a crianças e a adolescentes, que sempre se deve atentar.
se estende a toda e qualquer pessoa física ou jurídica que
o faça, inclusive o próprio Estado; e administrativa, impon- Título II
do-se penas disciplinares a funcionários sujeitos a regime Dos Direitos Fundamentais
jurídico administrativo em trabalhos privados ou em car-
gos, empregos e funções públicos. Capítulo I
Do Direito à Vida e à Saúde
Art. 6º Na interpretação desta Lei levar-se-ão em conta
os fins sociais a que ela se dirige, as exigências do bem Art. 7º A criança e o adolescente têm direito a proteção
comum, os direitos e deveres individuais e coletivos, e a à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais
condição peculiar da criança e do adolescente como pes- públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimen-
soas em desenvolvimento. to sadio e harmonioso, em condições dignas de existência.

É pacífico que o processo de interpretação hoje faz 16 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Bra-
parte do Direito, principalmente se considerada a constan- sileiro. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2011, v. 1.
te evolução da sociedade, demandando diariamente por 17 Ibid.

21
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

Art. 8º É assegurado a todas as mulheres o acesso aos § 2º Os serviços de unidades de terapia intensiva neo-
programas e às políticas de saúde da mulher e de pla- natal deverão dispor de banco de leite humano ou unidade
nejamento reprodutivo e, às gestantes, nutrição adequa- de coleta de leite humano.
da, atenção humanizada à gravidez, ao parto e ao puerpé-
rio e atendimento pré-natal, perinatal e pós-natal integral Art. 10. Os hospitais e demais estabelecimentos de
no âmbito do Sistema Único de Saúde. atenção à saúde de gestantes, públicos e particulares, são
§ 1º O atendimento pré-natal será realizado por pro- obrigados a:
fissionais da atenção primária. I - manter registro das atividades desenvolvidas, através
§ 2º Os profissionais de saúde de referência da gestan- de prontuários individuais, pelo prazo de dezoito anos;
te garantirão sua vinculação, no último trimestre da ges- II - identificar o recém-nascido mediante o registro
tação, ao estabelecimento em que será realizado o parto, de sua impressão plantar e digital e da impressão digital
garantido o direito de opção da mulher. da mãe, sem prejuízo de outras formas normatizadas pela
§ 3º Os serviços de saúde onde o parto for realizado autoridade administrativa competente;
assegurarão às mulheres e aos seus filhos recém-nascidos III - proceder a exames visando ao diagnóstico e tera-
alta hospitalar responsável e contrarreferência na atenção pêutica de anormalidades no metabolismo do recém-nasci-
primária, bem como o acesso a outros serviços e a grupos do, bem como prestar orientação aos pais;
de apoio à amamentação. IV - fornecer declaração de nascimento onde constem
§ 4º Incumbe ao poder público proporcionar assis- necessariamente as intercorrências do parto e do desenvol-
tência psicológica à gestante e à mãe, no período pré e vimento do neonato;
pós-natal, inclusive como forma de prevenir ou minorar as V - manter alojamento conjunto, possibilitando ao neo-
consequências do estado puerperal. nato a permanência junto à mãe.
§ 5º A assistência referida no § 4º deste artigo deverá VI - acompanhar a prática do processo de amamen-
ser prestada também a gestantes e mães que manifestem tação, prestando orientações quanto à técnica adequada,
interesse em entregar seus filhos para adoção, bem como enquanto a mãe permanecer na unidade hospitalar, utili-
a gestantes e mães que se encontrem em situação de pri-
zando o corpo técnico já existente.
vação de liberdade.
§ 6º A gestante e a parturiente têm direito a 1 (um)
Art. 11. É assegurado acesso integral às linhas de
acompanhante de sua preferência durante o período do
cuidado voltadas à saúde da criança e do adolescen-
pré-natal, do trabalho de parto e do pós-parto imediato.
te, por intermédio do Sistema Único de Saúde, observado
§ 7º A gestante deverá receber orientação sobre alei-
o princípio da equidade no acesso a ações e serviços para
tamento materno, alimentação complementar saudável e
promoção, proteção e recuperação da saúde.
crescimento e desenvolvimento infantil, bem como sobre
formas de favorecer a criação de vínculos afetivos e de esti- § 1º A criança e o adolescente com deficiência serão
mular o desenvolvimento integral da criança. atendidos, sem discriminação ou segregação, em suas
§ 8º A gestante tem direito a acompanhamento sau- necessidades gerais de saúde e específicas de habilitação e
dável durante toda a gestação e a parto natural cuidadoso, reabilitação.
estabelecendo-se a aplicação de cesariana e outras inter- § 2º Incumbe ao poder público fornecer gratuitamen-
venções cirúrgicas por motivos médicos. te, àqueles que necessitarem, medicamentos, órteses,
§ 9º A atenção primária à saúde fará a busca ativa da próteses e outras tecnologias assistivas relativas ao tra-
gestante que não iniciar ou que abandonar as consultas de tamento, habilitação ou reabilitação para crianças e adoles-
pré-natal, bem como da puérpera que não comparecer às centes, de acordo com as linhas de cuidado voltadas às suas
consultas pós-parto. necessidades específicas.
§ 10. Incumbe ao poder público garantir, à gestante e § 3º Os profissionais que atuam no cuidado diário ou
à mulher com filho na primeira infância que se encontrem frequente de crianças na primeira infância receberão for-
sob custódia em unidade de privação de liberdade, am- mação específica e permanente para a detecção de sinais
biência que atenda às normas sanitárias e assistenciais do de risco para o desenvolvimento psíquico, bem como para
Sistema Único de Saúde para o acolhimento do filho, em o acompanhamento que se fizer necessário.
articulação com o sistema de ensino competente, visando
ao desenvolvimento integral da criança. Art. 12. Os estabelecimentos de atendimento à saúde,
inclusive as unidades neonatais, de terapia intensiva e de
Art. 9º O poder público, as instituições e os emprega- cuidados intermediários, deverão proporcionar condições
dores propiciarão condições adequadas ao aleitamento para a permanência em tempo integral de um dos pais
materno, inclusive aos filhos de mães submetidas a me- ou responsável, nos casos de internação de criança ou ado-
dida privativa de liberdade. lescente.
§ 1º Os profissionais das unidades primárias de saúde
desenvolverão ações sistemáticas, individuais ou coletivas, Art. 13. Os casos de suspeita ou confirmação de cas-
visando ao planejamento, à implementação e à avaliação tigo físico, de tratamento cruel ou degradante e de
de ações de promoção, proteção e apoio ao aleitamento maus-tratos contra criança ou adolescente serão obrigato-
materno e à alimentação complementar saudável, de for- riamente comunicados ao Conselho Tutelar da respectiva
ma contínua. localidade, sem prejuízo de outras providências legais.

22
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

§ 1º As gestantes ou mães que manifestem interesse V - participar da vida familiar e comunitária, sem
em entregar seus filhos para adoção serão obrigatoriamen- discriminação;
te encaminhadas, sem constrangimento, à Justiça da Infân- VI - participar da vida política, na forma da lei;
cia e da Juventude. VII - buscar refúgio, auxílio e orientação.
§ 2º Os serviços de saúde em suas diferentes portas de O artigo 16 aborda diversas facetas do direito de liber-
entrada, os serviços de assistência social em seu compo- dade: locomoção, opinião e expressão, religiosa e política.
nente especializado, o Centro de Referência Especializado Cria, ainda, duas facetes específicas deste direito: liberdade
de Assistência Social (Creas) e os demais órgãos do Siste- para brincar e divertir-se e liberdade para buscar refúgio,
ma de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente auxílio e orientação, processos estes essenciais para o de-
deverão conferir máxima prioridade ao atendimento das senvolvimento do infante.
crianças na faixa etária da primeira infância com suspeita
ou confirmação de violência de qualquer natureza, formu- Art. 17. O direito ao respeito consiste na inviolabilida-
lando projeto terapêutico singular que inclua intervenção de da integridade física, psíquica e moral da criança e
em rede e, se necessário, acompanhamento domiciliar. do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da
identidade, da autonomia, dos valores, ideias e crenças, dos
Art. 14. O Sistema Único de Saúde promoverá progra- espaços e objetos pessoais.
mas de assistência médica e odontológica para a pre-
venção das enfermidades que ordinariamente afetam a po- Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade da
pulação infantil, e campanhas de educação sanitária para criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer
pais, educadores e alunos. tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexató-
§ 1º É obrigatória a vacinação das crianças nos casos rio ou constrangedor.
recomendados pelas autoridades sanitárias. Os direitos ao respeito e à dignidade abrangem a pro-
§ 2º O Sistema Único de Saúde promoverá a atenção à teção da criança e do adolescente em todas facetas de sua
saúde bucal das crianças e das gestantes, de forma trans- integridade: física, psíquica e moral.
versal, integral e intersetorial com as demais linhas de cui-
dado direcionadas à mulher e à criança. Art. 18-A. A criança e o adolescente têm o direito de
§ 3º A atenção odontológica à criança terá função ser educados e cuidados sem o uso de castigo físico ou
educativa protetiva e será prestada, inicialmente, antes de de tratamento cruel ou degradante, como formas de cor-
o bebê nascer, por meio de aconselhamento pré-natal, e, reção, disciplina, educação ou qualquer outro pretexto,
posteriormente, no sexto e no décimo segundo anos de vida, pelos pais, pelos integrantes da família ampliada, pelos res-
com orientações sobre saúde bucal. ponsáveis, pelos agentes públicos executores de medidas so-
§ 4º A criança com necessidade de cuidados odontoló- cioeducativas ou por qualquer pessoa encarregada de cuidar
gicos especiais será atendida pelo Sistema Único de Saúde. deles, tratá-los, educá-los ou protegê-los.
§ 5º É obrigatória a aplicação a todas as crianças, nos Parágrafo único.  Para os fins desta Lei, considera-se:
seus primeiros dezoito meses de vida, de protocolo ou ou- I - castigo físico: ação de natureza disciplinar ou pu-
tro instrumento construído com a finalidade de facilitar a nitiva aplicada com o uso da força física sobre a criança
detecção, em consulta pediátrica de acompanhamento da ou o adolescente que resulte em: 
criança, de risco para o seu desenvolvimento psíquico. a) sofrimento físico; ou
b) lesão;
Capítulo II II - tratamento cruel ou degradante: conduta ou for-
Do Direito à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade ma cruel de tratamento em relação à criança ou ao adoles-
cente que:
Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liber- a) humilhe; ou
dade, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas b) ameace gravemente; ou
em processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos c) ridicularize.
civis, humanos e sociais garantidos na Constituição e nas
leis. Art. 18-B. Os pais, os integrantes da família ampliada, os
Entre os direitos fundamentais garantidos à criança e responsáveis, os agentes públicos executores de medidas so-
ao adolescente que são especificados e aprofundados no cioeducativas ou qualquer pessoa encarregada de cuidar
ECA estão os direitos à liberdade, ao respeito e à dignida- de crianças e de adolescentes, tratá-los, educá-los ou pro-
de. tegê-los que utilizarem castigo físico ou tratamento cruel ou
degradante como formas de correção, disciplina, educação
Art. 16. O direito à liberdade compreende os seguintes ou qualquer outro pretexto estarão sujeitos, sem prejuízo de
aspectos: outras sanções cabíveis, às seguintes medidas, que serão
I - ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços aplicadas de acordo com a gravidade do caso:
comunitários, ressalvadas as restrições legais; I - encaminhamento a programa oficial ou comunitá-
II - opinião e expressão; rio de proteção à família;
III - crença e culto religioso; II - encaminhamento a tratamento psicológico ou
IV - brincar, praticar esportes e divertir-se; psiquiátrico;

23
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

III - encaminhamento a cursos ou programas de § 1o Toda criança ou adolescente que estiver inserido
orientação; em programa de acolhimento familiar ou institucional
IV - obrigação de encaminhar a criança a tratamento terá sua situação reavaliada, no máximo, a cada 3 (três)
especializado; meses, devendo a autoridade judiciária competente, com
V - advertência. base em relatório elaborado por equipe interprofissio-
Parágrafo único.  As medidas previstas neste artigo se- nal ou multidisciplinar, decidir de forma fundamentada
rão aplicadas pelo Conselho Tutelar, sem prejuízo de outras pela possibilidade de reintegração familiar ou pela colo-
providências legais.  cação em família substituta, em quaisquer das modalida-
des previstas no art. 28 desta Lei.
Os artigos 18-A e 18-B foram incluídos no ECA pela Lei § 2o A permanência da criança e do adolescente em
nº 13.010, de 26 de junho de 2014, que estabelece o direito programa de acolhimento institucional não se prolongará
da criança e do adolescente de serem educados e cuidados por mais de 18 (dezoito meses), salvo comprovada neces-
sidade que atenda ao seu superior interesse, devidamente
sem o uso de castigos físicos ou de tratamento cruel ou de-
fundamentada pela autoridade judiciária.
gradante. Também ficou conhecida como “Lei do Menino
§ 3º A manutenção ou a reintegração de criança ou
Bernardo”18 e “Lei da Palmada”.
adolescente à sua família terá preferência em relação a
Em que pesem as aparentes boas intenções da lei no
qualquer outra providência, caso em que será esta incluí-
sentido de evitar situações extremas como a do menino da em serviços e programas de proteção, apoio e promoção,
Bernardo, assassinado após incontáveis ameaças e agres- nos termos do § 1o do art. 23, dos incisos I e IV do caput do
sões físicas por parte de seus responsáveis, seu conteúdo art. 101 e dos incisos I a IV do caput do art. 129 desta Lei. 
é bastante criticado. Afinal, é claro que a lei coloca todo e § 4º Será garantida a convivência da criança e do
qualquer tipo de agressão física no mesmo patamar. Con- adolescente com a mãe ou o pai privado de liberdade,
siderado o teor da lei, mesmo uma palmada numa criança por meio de visitas periódicas promovidas pelo responsável
é proibida. ou, nas hipóteses de acolhimento institucional, pela entida-
Os críticos da “Lei da Palmada” apontam que ela adota de responsável, independentemente de autorização judicial.
uma posição extrema e impõe uma indevida intervenção § 5o Será garantida a convivência integral da crian-
do Estado nos ambientes familiares, retirando o poder dis- ça com a mãe adolescente que estiver em acolhimento
ciplinar garantido aos pais na educação de seus filhos. institucional.
Os defensores da “Lei da Palmada” utilizam estudos de § 6o A mãe adolescente será assistida por equipe es-
psicólogos e educadores para argumentar que não é ne- pecializada multidisciplinar.
cessário utilizar qualquer tipo de agressão física, mesmo a Como se depreende do artigo 19, a família natural é
mais leve, para educar uma criança. a regra e a família substituta é a exceção. A criança e o
adolescente podem ser inseridos em programa de aco-
Capítulo III lhimento familiar ou institucional, pelo limite temporal de
Do Direito à Convivência Familiar e Comunitária 18 meses, cujo caráter é o de permitir a sua retirada de
potencial ou efetiva situação de risco. Durante este pro-
Seção I grama, reavaliado a cada 3 meses, se verificará se é pos-
Disposições Gerais sível a reinserção no ambiente da família natural (o que
é preferencial) ou se é o caso de colocação definitiva em
Quando se aborda o direito à convivência familiar e família substituta.
comunitária no ECA confere-se destaque à distinção entre
Art. 19-A. A gestante ou mãe que manifeste inte-
família natural e substituta e aos procedimentos que carac-
resse em entregar seu filho para adoção, antes ou logo
terizam a inserção e a retirada da criança e do adolescente
após o nascimento, será encaminhada à Justiça da In-
destes ambientes.
fância e da Juventude.
§ 1o A gestante ou mãe será ouvida pela equipe in-
Art. 19. É direito da criança e do adolescente ser terprofissional da Justiça da Infância e da Juventude, que
criado e educado no seio de sua família e, excepcional- apresentará relatório à autoridade judiciária, conside-
mente, em família substituta, assegurada a convivência rando inclusive os eventuais efeitos do estado gestacional
familiar e comunitária, em ambiente que garanta seu desen- e puerperal.
volvimento integral. § 2o De posse do relatório, a autoridade judiciária
poderá determinar o encaminhamento da gestante ou
mãe, mediante sua expressa concordância, à rede pública
18 O nome da lei é uma homenagem ao menino de saúde e assistência social para atendimento especiali-
Bernardo Boldrini, morto em abril de 2014, aos 11 anos, zado.
em Três Passos (RS). Os acusados são o pai e a ma- § 3o A busca à família extensa, conforme definida nos
drasta do menino, com ajuda de uma amiga e do irmão termos do parágrafo único do art. 25 desta Lei, respeitará
dela. Segundo as investigações, Bernardo procurou o prazo máximo de 90 (noventa) dias, prorrogável por
ajuda para denunciar as ameaças que sofria. igual período.

24
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

§ 4o Na hipótese de não haver a indicação do genitor Os programas de apadrinhamento visam permitir a


e de não existir outro representante da família exten- convivência comunitária da criança e do adolescente que
sa apto a receber a guarda, a autoridade judiciária com- estão no sistema de adoção, especialmente com relação
petente deverá decretar a extinção do poder familiar e àqueles que dificilmente sairão dele.
determinar a colocação da criança sob a guarda provi-
sória de quem estiver habilitado a adotá-la ou de enti- Art. 20. Os filhos, havidos ou não da relação do casa-
dade que desenvolva programa de acolhimento familiar ou mento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e quali-
institucional. ficações, proibidas quaisquer designações discriminató-
§ 5o Após o nascimento da criança, a vontade da mãe rias relativas à filiação.
ou de ambos os genitores, se houver pai registral ou pai O artigo 20 destaca a igualdade entre todos os filhos,
indicado, deve ser manifestada na audiência a que se re- sejam eles havidos dentro ou fora do casamento, sejam eles
fere o § 1o do art. 166 desta Lei, garantido o sigilo sobre a inseridos em família natural ou substituta.
entrega.
A disciplina sobre a perda e suspensão do poder de fa-
§ 6o (VETADO).
mília no ECA se encontra em dois blocos, o primeiro do ar-
§ 7o Os detentores da guarda possuem o prazo de 15
tigo 21 ao 24, que aborda questões materiais, e o segundo
(quinze) dias para propor a ação de adoção, contado do
do artigo 155 a 163, que foca em questões procedimentais:
dia seguinte à data do término do estágio de convivência.
§ 8o Na hipótese de desistência pelos genitores - ma- Art. 21. O poder familiar será exercido, em igualdade
nifestada em audiência ou perante a equipe interprofissional de condições, pelo pai e pela mãe, na forma do que dispu-
- da entrega da criança após o nascimento, a criança será ser a legislação civil, assegurado a qualquer deles o direito de,
mantida com os genitores, e será determinado pela Justiça em caso de discordância, recorrer à autoridade judiciária
da Infância e da Juventude o acompanhamento familiar competente para a solução da divergência. 
pelo prazo de 180 (cento e oitenta) dias.
§ 9o É garantido à mãe o direito ao sigilo sobre o nas- Art. 22. Aos pais incumbe o dever de sustento, guar-
cimento, respeitado o disposto no art. 48 desta Lei. da e educação dos filhos menores, cabendo-lhes ainda, no
§ 10. (VETADO). interesse destes, a obrigação de cumprir e fazer cumprir as
O artigo 19-A trata do procedimento aplicável nos determinações judiciais.
casos em que a família biológica pretenda entregar re- Parágrafo único. A mãe e o pai, ou os responsáveis, têm
cém-nascido para adoção, assegurando-se o acompanha- direitos iguais e deveres e responsabilidades comparti-
mento por equipe multidisciplinar e também a tomada de lhados no cuidado e na educação da criança, devendo ser
providências de busca de pessoa da família extensa apta a resguardado o direito de transmissão familiar de suas cren-
assumir o encargo. ças e culturas, assegurados os direitos da criança estabeleci-
dos nesta Lei.
Art. 19-B. A criança e o adolescente em programa de
acolhimento institucional ou familiar poderão participar de Art. 23. A falta ou a carência de recursos materiais
programa de apadrinhamento. não constitui motivo suficiente para a perda ou a sus-
§ 1o O apadrinhamento consiste em estabelecer e pro- pensão do poder familiar. 
porcionar à criança e ao adolescente vínculos externos à § 1º Não existindo outro motivo que por si só autorize
instituição para fins de convivência familiar e comu- a decretação da medida, a criança ou o adolescente será
nitária e colaboração com o seu desenvolvimento nos mantido em sua família de origem, a qual deverá obrigato-
riamente ser incluída em serviços e programas oficiais de
aspectos social, moral, físico, cognitivo, educacional e finan-
proteção, apoio e promoção.
ceiro.
§2º A condenação criminal do pai ou da mãe não im-
§ 2o (VETADO).
plicará a destituição do poder familiar, exceto na hipótese
§ 3o Pessoas jurídicas podem apadrinhar criança ou de condenação por crime doloso, sujeito à pena de reclu-
adolescente a fim de colaborar para o seu desenvolvimento. são, contra o próprio filho ou filha.
§ 4o O perfil da criança ou do adolescente a ser apa-
drinhado será definido no âmbito de cada programa de Art. 24. A perda e a suspensão do poder familiar serão
apadrinhamento, com prioridade para crianças ou ado- decretadas judicialmente, em procedimento contraditório,
lescentes com remota possibilidade de reinserção familiar nos casos previstos na legislação civil, bem como na hipótese
ou colocação em família adotiva. de descumprimento injustificado dos deveres e obrigações a
§ 5o Os programas ou serviços de apadrinhamento que alude o art. 22. 
apoiados pela Justiça da Infância e da Juventude poderão
ser executados por órgãos públicos ou por organizações O instituto do poder familiar surgiu no direito romano e
da sociedade civil. era conhecido naquela época como pátrio poder, pois o pai
§ 6o Se ocorrer violação das regras de apadrinhamen- exercia mais poderes sobre os filhos do que a mãe, o que vi-
to, os responsáveis pelo programa e pelos serviços de aco- nha a representar um poder absoluto por parte do genitor,
lhimento deverão imediatamente notificar a autoridade inclusive sobre a vida e a morte dos próprios filhos19.
judiciária competente. 19 AKEL, Ana Carolina Silveira. Guarda Compar-

25
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

O Código Civil de 1916 atribuiu o poder familiar ao pai, Em relação às suas características, o poder familiar é
que era considerado o chefe da sociedade conjugal, e a indisponível e decorre da paternidade natural ou legal,
mãe possuía um papel secundário, conforme apontava o por isso, não há a possibilidade de seu titular o transfe-
artigo 380 do Código Civil de 1916 que dizia que “durante rir a terceiros por iniciativa própria, tampouco existindo
o casamento compete o pátrio poder aos pais, exercendo- a viabilidade de ocorrer a sua prescrição pelo desuso. O
-o o marido com a colaboração da mulher [...]”. poder familiar é indelegável, sendo, em regra, irrenunciá-
De acordo com Santos Neto20: “[...] o exercício da auto- vel e sempre intransferível. Logo, não sendo possível ao
ridade parental pela mãe era admitido apenas em caráter titular do poder familiar abrir mão de seu dever, a renún-
excepcional. Ao homem era dada, em condições normais, cia é inviável, existindo apenas uma exceção, qual seja, a
a titularidade exclusiva do direito em pauta. Sua vontade
decorrente da adoção.
prevalecia e contra ela não havia remédio previsto, salvo, é
Existe apenas uma exceção, que é o caso do pedido
claro, no caso de comportamento abusivo e contrário aos
de colocação do menor em família substituta, disponibi-
interesses dos menores”.
O Código Civil de 2002, por seu turno, seguindo a toa- lizando o filho para a adoção, caso em que os direitos
da da Constituição Federal de 1988, trouxe significativas e deveres decorrentes do poder familiar serão exercidos
modificações ao instituto em análise, surgindo então o por novos titulares, ou seja, pelos pais adotivos.
chamado poder familiar, onde ambos os pais exercem de A esse respeito, os direitos e deveres dos pais dis-
forma igualitária o poder sobre os filhos menores, equili- postos nos artigos 1.630 a 1.638 do Código Civil regu-
brando dessa forma a relação familiar. lam, dentre os deveres e poderes decorrentes do poder
O artigo 1.630 do atual Código Civil, sem definir o po- familiar, também os de ordem pessoal, ou seja, o cuida-
der familiar, dispõe que “os filhos estão sujeitos ao poder do existencial do menor, a educação, a correição, e os de
familiar enquanto menores”, ou seja, enquanto não com- ordem material, que envolvem a administração dos bens
pletarem dezoito anos ou não alcançarem a maioridade dos filhos. Os principais atributos do poder familiar são a
civil por meio de uma das formas previstas no artigo 5º, guarda, a criação e a educação, que se refletem nos deve-
parágrafo único e seus incisos, do mesmo diploma legal. res dos pais para com os filhos; tanto que, não cumprindo
No mesmo sentido, o citado artigo 21, ECA. algum desses atributos, o detentor do poder poderá so-
O poder familiar, conhecido também como autoridade frer sanções cíveis e até criminais.
parental, é um conjunto de direitos e deveres que são atri- O poder familiar, conforme disposição do próprio or-
buídos aos pais para que esses administrem de forma legal denamento civil, não é um instituto irrevogável e pode ser
a pessoa dos filhos e também de seus bens. extinto, suspenso ou destituído a qualquer tempo. Basica-
“O poder familiar pode ser definido como um conjunto mente, as formas de extinção se aplicam quando o exer-
de direitos e obrigações, quanto às pessoas e bens do filho cício do poder familiar não é mais necessário; ao passo
menor não emancipado, exercido, em igualdade de condi- que as regras de perda e suspensão constituem casos de
ções, por ambos os pais, para que possam desempenhar os privação do exercício do poder familiar pelo descumpri-
encargos que a norma jurídica lhes impõe, tendo em vista o mento de seus deveres.
interesse e a proteção do filho”21. Sendo assim, o Estado poderá interferir na relação fa-
miliar, com o objetivo de resguardar os interesses do me-
Artigo 1.634, CC. Compete aos pais, quanto à pessoa dos
nor, sendo que a lei disciplina os casos em que o titular do
filhos menores:
poder familiar ficará privado de exercê-lo, seja de forma
I – dirigir-lhes a criação e educação;
temporária ou até mesmo definitiva.
II – tê-los em sua companhia e guarda;
III – conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para
casarem; Artigo 1.637, CC. Se o pai, ou a mãe, abusar de sua
IV – nomear-lhes tutor por testamento ou documento autoridade, faltando aos deveres a eles inerentes ou arrui-
autêntico, se o outro dos pais não lhe sobreviver, ou o sobre- nando os bens dos filhos, cabe ao juiz, requerendo algum
vivo não puder exercer o poder familiar; parente, ou o Ministério Público, adotar a medida que lhe
V – representá-los, até aos dezesseis anos, nos atos da pareça reclamada pela segurança do menor e seus haveres,
vida civil, e assisti-los, após essa idade, nos atos em que fo- até suspendendo o poder familiar, quando convenha.
rem partes, suprindo-lhes o consentimento; Parágrafo único. Suspende-se igualmente o exercício
VI – reclamá-los de quem ilegalmente os detenha; do poder familiar ao pai ou à mãe condenados por senten-
VII – exigir que lhes prestem obediência, respeito e os ça irrecorrível, em virtude de crime cuja pena exceda a dois
serviços próprios de sua idade e condição. anos de prisão.
tilhada: um Avanço para a Família. 2. ed. São Paulo:
Nestes casos, a suspensão não será definitiva, é ape-
Atlas, 2010. nas uma sanção imposta pelo Poder Judiciário visando
20 SANTOS NETO, José Antônio de Paula. Do preservar os interesses dos filhos, assim, diante da com-
Pátrio Poder. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1994. provação de que os problemas que levaram à suspensão
21 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil desapareceram, o poder familiar poderá retornar aos ge-
Brasileiro: Direito de Família. 22. ed. São Paulo: Sarai- nitores.
va, 2007. v. 5.

26
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

Assim sendo, os pais podem ser suspensos de exercer Seção II


os direitos e deveres decorrentes do poder familiar quan- Da Família Natural
do ficar evidenciado perante a autoridade competente o
abuso. Como visto, existe, também, a probabilidade de se Dos artigos 25 a 27 o ECA aborda a família natural, nos
decretar a suspensão do poder familiar, caso um dos pais seguintes termos:
seja condenado por crime cuja pena exceda a dois anos de
prisão. Art. 25. Entende-se por família natural a comunidade
Há, ainda, as hipóteses de perda ou destituição do po- formada pelos pais ou qualquer deles e seus descenden-
der familiar, que é a sanção mais grave imposta aos pais tes.
que faltarem com os deveres em relação aos filhos: Parágrafo único.  Entende-se por família extensa ou
ampliada aquela que se estende para além da unidade
Artigo 1.638, CC. Perderá por ato judicial o poder fami- pais e filhos ou da unidade do casal, formada por paren-
liar o pai ou a mãe que: tes próximos com os quais a criança ou adolescente convive
I – castigar imoderadamente o filho; e mantém vínculos de afinidade e afetividade. 
A família natural é composta por pais e filhos que for-
II – deixar o filho em abandono;
mam vínculo entre si desde o nascimento, por questão bio-
III – praticar atos contrários à moral e aos bons costumes;
lógica.
IV – incidir, reiteradamente, nas faltas previstas no artigo
O conceito de família pode ser visto de uma manei-
antecedente. ra mais ampla, o que se denomina família extensa ou am-
pliada. Por exemplo, avós e tios que sejam muito próximos
Nessa linha de pensamento, os artigos 24 e 22 do Es- e participem diretamente do convívio familiar, formando
tatuto da Criança e do Adolescente, citados anteriormente, para com a criança e o adolescente vínculos de afinidade
além de preverem a suspensão e destituição do poder fami- e afetividade.
liar, trazem também os motivos que poderão acarretá-las.
São bastante frequentes nos casos de pais que perdem Art. 26. Os filhos havidos fora do casamento poderão
o poder familiar os atos de violência e espancamento; as- ser reconhecidos pelos pais, conjunta ou separadamente,
sim como o de abandono, no qual os menores, ao se ve- no próprio termo de nascimento, por testamento, me-
rem abandonados, começam a relacionar-se com pessoas diante escritura ou outro documento público, qualquer
delinquentes e usuárias de drogas, que não vão colaborar que seja a origem da filiação.
em nada com seu desenvolvimento e crescimento. Nessas Parágrafo único. O reconhecimento pode preceder o
situações, os detentores do poder familiar podem sofrer a nascimento do filho ou suceder-lhe ao falecimento, se
perda do poder familiar. deixar descendentes.
Cabe aqui consignar que, no caso da perda do poder Como o artigo 20 estabelece a igualdade entre os filhos
familiar, se no decorrer do tempo o menor não vier a ser havidos dentro ou fora do casamento, sentido em que se
adotado por outra família e as causas que levaram a perda compreende que tanto os filhos inseridos no matrimônio
do poder desaparecerem, os genitores poderão requerer quanto os que não o estão fazem parte da família natural, o
judicialmente a reintegração do poder familiar, desde que artigo 26 tece detalhes sobre a possibilidade de reconheci-
comprovem realmente que o motivo que os levou a perder mento do vínculo de filiação, que pode se dar antes mesmo
esse poder já não existe mais. do nascimento do filho ou extrapolar a sua vida, devendo
Por seu turno, pelo que se verifica na análise da legis- ser feito em documento público.
lação, quando o legislador estabeleceu as hipóteses de ex-
tinção do poder familiar, em regra, o fez por perceber que Art. 27. O reconhecimento do estado de filiação é di-
reito personalíssimo, indisponível e imprescritível, po-
a pessoa que a ele se encontrava sujeita adquiriu maturi-
dendo ser exercitado contra os pais ou seus herdeiros, sem
dade o suficiente para guiar a sua vida, não havendo razão
qualquer restrição, observado o segredo de Justiça.
para que permaneça tal vínculo. Há casos, entretanto, que
O direito à filiação é personalíssimo, indisponível e im-
a violação aos direitos inerentes ao poder familiar tornou prescritível. Mesmo que um filho passe a vida toda ou boa
irreversível o seu restabelecimento, como ocorre na adoção. parte de sua vida sem buscar o seu reconhecimento, ele
não se perde. Logo, a ação de investigação de paternidade
Artigo 1.635, CC. Extingue-se o poder familiar: I – pela é imprescritível, pois também o é o vínculo que ela reco-
morte dos pais ou do filho; II – pela emancipação, nos termos nhece em caso de procedência.
do artigo 5º, parágrafo único; III – pela maioridade; IV – pela
adoção; V – por decisão judicial, na forma do artigo 1.638. Seção III
Da Família Substituta
A extinção do poder familiar é mais complexa, pois nes-
ta situação os pais, extintos do poder, não poderão reque- Subseção I
rer a reintegração do poder familiar se houve interferência Disposições Gerais
deles para sua extinção. Na maioria dos casos, é possível
identificar facilmente a existência da extinção do poder fa- Dos artigos 28 a 32 aborda-se a família substituta, nos
miliar, por se tratarem de hipóteses objetivas. seguintes termos:

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LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

Art. 28. A colocação em família substituta far-se-á Art. 32. Ao assumir a guarda ou a tutela, o responsável
mediante guarda, tutela ou adoção, independentemente prestará compromisso de bem e fielmente desempenhar o
da situação jurídica da criança ou adolescente, nos termos encargo, mediante termo nos autos.
desta Lei.
§ 1o  Sempre que possível, a criança ou o adolescen- Existem três formas de colocação em família substituta:
te será previamente ouvido por equipe interprofissional, guarda, tutela e adoção. Neste sentido, a criança é retirada
respeitado seu estágio de desenvolvimento e grau de com- da esfera do poder familiar de ambos os pais (o que pode
preensão sobre as implicações da medida, e terá sua opinião acontecer na tutela e na adoção), ou então permanece vin-
devidamente considerada.  culado ao poder familiar de ambos genitores enquanto
§ 2o  Tratando-se de maior de 12 (doze) anos de idade, apenas um ou um terceiro exerce a guarda (o que ocorre
será necessário seu consentimento, colhido em audiência.  apenas na guarda). Trata-se de situação excepcional, eis que
§ 3o  Na apreciação do pedido levar-se-á em conta o em regra a criança deve permanecer na família natural, vin-
grau de parentesco e a relação de afinidade ou de afeti- culada ao poder familiar atribuído a ambos os pais.
vidade, a fim de evitar ou minorar as consequências decor- Neste tipo de circunstância, deve-se buscar sempre
rentes da medida.  ouvir a criança ou o adolescente. Caso já possua 12 anos
§ 4o  Os grupos de irmãos serão colocados sob ado- completos, a oitiva é obrigatória. Trata-se de respeito à au-
ção, tutela ou guarda da mesma família substituta, res- tonomia da criança e do adolescente.
salvada a comprovada existência de risco de abuso ou outra Os irmãos devem permanecer unidos em qualquer cir-
situação que justifique plenamente a excepcionalidade de cunstância, sendo a separação de irmãos medida excepcio-
solução diversa, procurando-se, em qualquer caso, evitar o nal. Por exemplo, se um casal estiver disposto a adotar 4
rompimento definitivo dos vínculos fraternais.  filhos e existirem 4 irmãos, será dada prioridade a ele, pas-
§ 5o  A colocação da criança ou adolescente em família sando na frente dos demais candidatos à adoção.
substituta será precedida de sua preparação gradativa e
acompanhamento posterior, realizados pela equipe inter- Subseção II
profissional a serviço da Justiça da Infância e da Juventude, Da Guarda
preferencialmente com o apoio dos técnicos responsáveis
pela execução da política municipal de garantia do direito à Art. 33. A guarda obriga a prestação de assistência
convivência familiar.  material, moral e educacional à criança ou adolescente,
§ 6o  Em se tratando de criança ou adolescente indí- conferindo a seu detentor o direito de opor-se a terceiros,
gena ou proveniente de comunidade remanescente de qui- inclusive aos pais. 
lombo, é ainda obrigatório:  § 1º A guarda destina-se a regularizar a posse de fato,
I - que sejam consideradas e respeitadas sua identidade podendo ser deferida, liminar ou incidentalmente, nos pro-
social e cultural, os seus costumes e tradições, bem como cedimentos de tutela e adoção, exceto no de adoção por es-
suas instituições, desde que não sejam incompatíveis com os trangeiros.
direitos fundamentais reconhecidos por esta Lei e pela Cons- § 2º Excepcionalmente, deferir-se-á a guarda, fora dos
tituição Federal;  casos de tutela e adoção, para atender a situações pecu-
II - que a colocação familiar ocorra prioritariamente liares ou suprir a falta eventual dos pais ou responsável,
no seio de sua comunidade ou junto a membros da mes- podendo ser deferido o direito de representação para a práti-
ma etnia;  ca de atos determinados.
III - a intervenção e oitiva de representantes do órgão § 3º A guarda confere à criança ou adolescente a con-
federal responsável pela política indigenista, no caso de dição de dependente, para todos os fins e efeitos de direito,
crianças e adolescentes indígenas, e de antropólogos, pe- inclusive previdenciários.
rante a equipe interprofissional ou multidisciplinar que irá § 4o  Salvo expressa e fundamentada determinação em
acompanhar o caso.  contrário, da autoridade judiciária competente, ou quando
a medida for aplicada em preparação para adoção, o de-
Art. 29. Não se deferirá colocação em família substituta ferimento da guarda de criança ou adolescente a terceiros
a pessoa que revele, por qualquer modo, incompatibilida- não impede o exercício do direito de visitas pelos pais,
de com a natureza da medida ou não ofereça ambiente assim como o dever de prestar alimentos, que serão objeto
familiar adequado. de regulamentação específica, a pedido do interessado ou do
Ministério Público. 
Art. 30. A colocação em família substituta não admitirá
transferência da criança ou adolescente a terceiros ou Art. 34.  O poder público estimulará, por meio de assis-
a entidades governamentais ou não-governamentais, tência jurídica, incentivos fiscais e subsídios, o acolhimen-
sem autorização judicial. to, sob a forma de guarda, de criança ou adolescente afasta-
do do convívio familiar. 
Art. 31. A colocação em família substituta estrangei- § 1o  A inclusão da criança ou adolescente em progra-
ra constitui medida excepcional, somente admissível na mas de acolhimento familiar terá preferência a seu acolhi-
modalidade de adoção. mento institucional, observado, em qualquer caso, o caráter
temporário e excepcional da medida, nos termos desta Lei. 

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LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

§ 2o  Na hipótese do § 1o deste artigo a pessoa ou casal O juiz antes de decidir o mérito de uma ação de guar-
cadastrado no programa de acolhimento familiar poderá da, separação ou divórcio, tem que determinar a guarda
receber a criança ou adolescente mediante guarda, obser- provisória do menor a um dos pais, o qual não se trata de
vado o disposto nos arts. 28 a 33 desta Lei.  um modelo de guarda, mas de definir uma situação mo-
§ 3º A União apoiará a implementação de serviços mentânea em que a prole se encontra. Somente com o jul-
de acolhimento em família acolhedora como política gamento do mérito será estabelecida a guarda definitiva,
pública, os quais deverão dispor de equipe que organize o que deverá adotar um dos modelos de guarda permitida
acolhimento temporário de crianças e de adolescentes em no ordenamento jurídico brasileiro.
residências de famílias selecionadas, capacitadas e acompa- A guarda definitiva expressa o modelo de guarda ado-
nhadas que não estejam no cadastro de adoção. tado pelos pais. Porém, mesmo tratando-se de guarda de-
§ 4º Poderão ser utilizados recursos federais, esta- finitiva, tal modelo poderá ser alterado a qualquer tempo,
duais, distritais e municipais para a manutenção dos ser- pois o que regula o instituto da guarda é o melhor interes-
viços de acolhimento em família acolhedora, facultando-se o se do menor e, não sendo isso possível, a guarda é passível
repasse de recursos para a própria família acolhedora. de modificação.
a) Guarda Comum ou Guarda Originária
Art. 35. A guarda poderá ser revogada a qualquer tem- A guarda comum ou guarda originária não é uma guar-
po, mediante ato judicial fundamentado, ouvido o Ministério da judicial, existindo quando os genitores possuem vínculo
Público. matrimonial ou vivem em união estável e moram juntos
com seus filhos, situação na qual exercem plenamente e
Na definição de Santos Neto22 a guarda trata-se de um simultaneamente todos os poderes inerentes do poder fa-
“direito consistente na posse de menor oponível a terceiros miliar e, consequentemente, a guarda. Não existe a figura
e que acarreta deveres de vigilância em relação a este”. do guardião e nem arbitramento judicial sobre a questão.
No entender de Ishida23, a guarda é vinculada ao poder Ambos pais exercem juntos a guarda em plenitude.
familiar, “todavia, pode ocorrer a separação dos dois ins- b) Guarda Unilateral ou Guarda Única
titutos, por exemplo, com a separação judicial do marido Observando-se sempre o princípio do melhor interesse
e da mulher, onde o poder familiar continua pertencendo do menor, a guarda excepcionalmente poderá ser atribuí-
aos dois, no entanto um só poderá ficar com a guarda da da de forma unilateral a uma terceira pessoa quando os
prole”. ou seja, tanto o pai como a mãe são detentores do genitores não estiverem em condições de exercê-la, pois,
poder familiar mesmo após a separação, mas nos tipos de conforme determina o artigo 1.583, §1º, do Código Civil,
guarda comum, apenas um terá a guarda do filho. “compreende-se por guarda unilateral a atribuída a um só
Logo, a dissolução do vínculo conjugal não exclui o dos genitores ou a alguém que o substitua”. Neste viés,
poder familiar, mas pode excluir a guarda de um dos pais, dispõe o artigo 1.584, §5º, do mesmo diploma legal: “Se o
reservando-o apenas o direito de visitas, dependendo da juiz verificar que o filho não deve permanecer sob a guarda
modalidade de guarda adotada. Com a dissolução da união do pai ou da mãe, deferirá a guarda à pessoa que revele
conjugal, hoje se estabeleceu que a prole poderá ficar com compatibilidade com a natureza da medida, considerados,
o genitor que tiver melhor condições de assistir o filho. de preferência, o grau de parentesco e as relações de afini-
“Mesmo que a mãe seja considerada culpada pela se- dade e afetividade”. Vale ressaltar que a guarda unilateral
paração, pode o juiz deferir-lhe a guarda dos filhos me- também é possível quando nenhum dos pais tem condi-
nores, se estiver comprovado que o pai, por exemplo, é ções de exercê-la, por exemplo, atribuindo a guarda aos
alcoólatra e não tem condições de cuidar bem deles. Não avós ou aos tios.
se indaga, portanto, quem deu causa à separação e quem Usualmente, nesse contexto, podemos constatar a
é o cônjuge inocente, mas qual deles revela melhores con- existência da guarda unilateral, que é atribuída somen-
dições para exercer a guarda dos filhos menores, cujos te a um dos genitores, e da guarda compartilhada, que é
interesses foram colocados em primeiro plano. A solução atribuída a ambos, sendo que a previsão das duas moda-
será, portanto, a mesma se ambos os pais forem culpados lidades de guarda encontra-se no artigo 1.583, da Lei n.
pela separação e se a hipótese for de ruptura da vida em 11.698/2008, que constitui que “a guarda será unilateral ou
comum ou de separação por motivo de doença mental. A compartilhada”.
regra amolda-se ao princípio do melhor interesse da crian- A Lei alterou a redação do artigo 1.583 e passou a es-
ça, identificado como direito fundamental na Constituição tabelecer nos incisos do §2º do dispositivo algumas das
Federal (art. 5º, §2º), em razão da ratificação pela Conven- situações que deverão ser consideradas pelo magistrado
ção Internacional sobre os Direitos da Criança – ONU/89”24. ao atribuir a guarda a um dos genitores: afeto nas relações
com o genitor e com o grupo familiar; saúde e segurança;
22 SANTOS NETO, José Antônio de Paula. Do Pá- e educação.
trio Poder. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1994. Na guarda unilateral atribuída a apenas um dos pais,
23 ISHIDA, Valter Kenji. Estatuto da Criança e do apesar de um dos genitores não ser o guardião, continuam
Adolescente: Doutrina e Jurisprudência. 9. ed. São Paulo: ambos a exercerem a guarda jurídica. A diferença é que,
Atlas, 2008. em virtude da guarda, o genitor guardião tem o poder de
24 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Bra- decisão, enquanto o genitor não guardião tem o poder de
sileiro: Direito de Família. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. v. 6.

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LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

fiscalização, podendo contestar a decisão do genitor guar- Segundo Akel26, “a guarda compartilhada surgiu da ne-
dião e até mesmo recorrer à justiça, caso entenda que a cessidade de se encontrar uma maneira que fosse capaz de
decisão tomada não seja a melhor para a prole, conforme fazer com que os pais, que não mais convivem, e seus filhos
prevê o artigo 1.583, §3º, do Código Civil: “a guarda unila- mantivessem os vínculos afetivos latentes, mesmo após o
teral obriga o pai ou a mãe que não a detenha a supervi- rompimento”.
sionar os interesses dos filhos”. Com esse propósito, a recente Lei nº 11.698/2008 insti-
c) Guarda Alternada ou Guarda Partilhada tuiu expressamente no ordenamento jurídico o instituto da
Nesse modelo de guarda, cada um dos genitores terá guarda compartilhada. Embora tenha sido sancionada em
a possibilidade de ter sobre sua guarda o menor ou ado- 13 de junho de 2008 e publicada no Diário Oficial da União
lescente de forma alternada e exclusiva, ou seja, o casal em 16 de junho do mesmo ano, por força da vacatio legis
determinará o período em que o menor ficará com o pai instituída no artigo 2º, a lei somente entrou em vigor no
ou com a mãe, existindo dessa forma sempre uma alter- país 60 (sessenta) dias após a sua publicação, ou seja, em
16 de agosto de 2008 (vide anexo).
nância na guarda jurídica do menor. O período em que a
A nova lei trás em seu bojo o conceito de guarda com-
guarda ficará com o pai ou com a mãe na guarda alternada,
partilhada nos seguintes termos: “compreende-se por [...]
poderá ser de um dia, uma semana, uma parte da semana,
guarda compartilhada a responsabilização conjunta e o
um mês, um ano, ou até mais, dependendo do acordo dos
exercício de direitos e deveres do pai e da mãe que não
genitores, sendo que, ao término desse período, os papéis vivam sob o mesmo teto, concernentes ao poder familiar
se invertem. Os direitos e deveres deste modelo de guarda dos filhos comuns”.
ficarão sempre com o cônjuge que estiver com a guarda Assim, de acordo com o novo diploma legal, pode-
do menor, cabendo ao outro os direitos inerentes do não -se verificar que na guarda compartilhada os pais terão os
guardião, ou seja, o de visita e o de fiscalização25. mesmos direitos e deveres com relação ao filho, ou seja, as
d) Guarda Dividida tarefas serão divididas de forma igualitária, não sobrecar-
Na guarda dividida, são os próprios pais que contes- regando somente um dos genitores.
tam e procuram novos meios de garantir uma maior parti-
cipação na vida da prole, pois neste modelo o menor vive Subseção III
em um lar fixo e determinado e recebe periodicamente a Da Tutela
visita do pai ou da mãe que não tem a guarda.
Na guarda dividida o filho tem um lar fixo e recebe Art. 36.  A tutela será deferida, nos termos da lei civil, a
nele a visita de ambos os genitores em tempos diferentes, pessoa de até 18 (dezoito) anos incompletos. 
sendo que a guarda é exercida por aquele que estiver com Parágrafo único. O deferimento da tutela pressupõe a
a criança, o que é diferente da guarda unilateral, pois nela prévia decretação da perda ou suspensão do poder fa-
a guarda é de um dos genitores e o infante vai, em dias miliar e implica necessariamente o dever de guarda.
determinados, receber a visita do outro não guardião.
e) Guarda por Aninhamento ou Nidação Art. 37.  O tutor nomeado por testamento ou qual-
A guarda por aninhamento, conhecida também como quer documento autêntico, conforme previsto no parágra-
guarda por nidação, ocorre quando a prole possui um lar fo único do art. 1.729 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de
fixo e os pais se revezam, mudando-se para a casa do(s) 2002 - Código Civil, deverá, no prazo de 30 (trinta) dias
filho(s) em períodos alternados de tempo, para conviver e após a abertura da sucessão, ingressar com pedido des-
atender as suas necessidades. Basicamente, os pais se reve- tinado ao controle judicial do ato, observando o procedi-
mento previsto nos arts. 165 a 170 desta Lei. 
zam na residência do filho.
Parágrafo único.  Na apreciação do pedido, serão ob-
f) Guarda Compartilhada
servados os requisitos previstos nos arts. 28 e 29 desta Lei,
Considerando a evolução da família, especialmente a
somente sendo deferida a tutela à pessoa indicada na dispo-
da mulher na sociedade, bem como o grande número de
sição de última vontade, se restar comprovado que a medida
separações ocorridas nos últimos anos, o ordenamento ju- é vantajosa ao tutelando e que não existe outra pessoa em
rídico busca com o instituto da guarda compartilhada evitar melhores condições de assumi-la. 
prejuízos ainda maiores aos filhos de casal separado, que,
além de não terem o convívio diário com um dos genitores, Art. 38. Aplica-se à destituição da tutela o disposto no
têm que vivenciar os problemas conjugais de seus pais e art. 24.
ainda se tornarem, em muitos casos, vítimas da Síndrome
da Alienação Parental. A tutela é forma de colocação de criança e adolescente
em família substituta. Pressupõe, ao contrário da guarda,
a prévia destituição ou suspensão do poder familiar dos
pais (família natural). Visa essencialmente a suprir carência
25 COSTA, Luiz Jorge Valente Pontes. Guarda de representação legal, assumindo o tutor tal munus na
Conjunta: em busca do maior interesse do menor. Dis-
ponível em: <http://jus.uol.com.br/revista/texto/13965/ 26 AKEL, Ana Carolina Silveira. Guarda Compar-
guarda-conjunta-em-busca-do-maior-interesse-do-me- tilhada: um Avanço para a Família. 2. ed. São Paulo:
nor/2>. Acesso em: 16 out. 2010. Atlas, 2010.

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LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

ausência dos genitores. Na hipótese de os pais serem fale- na constância do período de convivência e que seja com-
cidos, tiverem sido destituídos ou suspensos do poder fa- provada a existência de vínculos de afinidade e afetividade
miliar, ou houverem aderido expressamente ao pedido de com aquele não detentor da guarda, que justifiquem a ex-
colocação em família substituta, este poderá ser formulado cepcionalidade da concessão.  
diretamente em cartório, em petição assinada pelos pró- § 5o  Nos casos do § 4o deste artigo, desde que de-
prios requerentes, dispensada a assistência por advogado monstrado efetivo benefício ao adotando, será assegurada
(art. 166, ECA). Em outras circunstâncias, deve passar pelo a guarda compartilhada, conforme previsto no art. 1.584 da
crivo do Judiciário. Lei no10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil. 
§ 6o  A adoção poderá ser deferida ao adotante que,
Subseção IV após inequívoca manifestação de vontade, vier a falecer no
Da Adoção curso do procedimento, antes de prolatada a sentença.

A disciplina do ECA a respeito da adoção também se Art. 43. A adoção será deferida quando apresentar reais
divide em dois blocos, um voltado a aspectos materiais, vantagens para o adotando e fundar-se em motivos legíti-
do artigo 39 ao 52-D, e outro voltado a aspectos procedi- mos.
mentais, notadamente no que se refere à habilitação para a
Art. 44. Enquanto não der conta de sua administração
adoção, do artigo 197-A a 197-D.
e saldar o seu alcance, não pode o tutor ou o curador ado-
tar o pupilo ou o curatelado.
Art. 39. A adoção de criança e de adolescente reger-se-á
segundo o disposto nesta Lei. Art. 45. A adoção depende do consentimento dos pais
§ 1o A adoção é medida excepcional e irrevogável, à ou do representante legal do adotando.
qual se deve recorrer apenas quando esgotados os recursos § 1º O consentimento será dispensado em relação à
de manutenção da criança ou adolescente na família natural criança ou adolescente cujos pais sejam desconhecidos ou
ou extensa, na forma do parágrafo único do art. 25 desta Lei.  tenham sido destituídos do poder familiar.
§ 2o É vedada a adoção por procuração.  § 2º Em se tratando de adotando maior de doze anos
§ 3o Em caso de conflito entre direitos e interesses do de idade, será também necessário o seu consentimento.
adotando e de outras pessoas, inclusive seus pais biológicos,
devem prevalecer os direitos e os interesses do adotando. Art. 46. A adoção será precedida de estágio de convi-
vência com a criança ou adolescente, pelo prazo máxi-
Art. 40. O adotando deve contar com, no máximo, de- mo de 90 (noventa) dias, observadas a idade da criança ou
zoito anos à data do pedido, salvo se já estiver sob a guar- adolescente e as peculiaridades do caso.
da ou tutela dos adotantes. § 1o  O estágio de convivência poderá ser dispensado
se o adotando já estiver sob a tutela ou guarda legal do
Art. 41. A adoção atribui a condição de filho ao adotado, adotante durante tempo suficiente para que seja possível
com os mesmos direitos e deveres, inclusive sucessórios, avaliar a conveniência da constituição do vínculo. 
desligando-o de qualquer vínculo com pais e parentes, salvo § 2o  A simples guarda de fato não autoriza, por si só, a
os impedimentos matrimoniais. dispensa da realização do estágio de convivência.  
§ 1º Se um dos cônjuges ou concubinos adota o filho § 2o-A. O prazo máximo estabelecido no caput deste
do outro, mantêm-se os vínculos de filiação entre o adota- artigo pode ser prorrogado por até igual período, mediante
do e o cônjuge ou concubino do adotante e os respectivos decisão fundamentada da autoridade judiciária.
parentes. § 3o Em caso de adoção por pessoa ou casal residente
§ 2º É recíproco o direito sucessório entre o adotado, ou domiciliado fora do País, o estágio de convivência será
de, no mínimo, 30 (trinta) dias e, no máximo, 45 (quarenta e
seus descendentes, o adotante, seus ascendentes, descen-
cinco) dias, prorrogável por até igual período, uma única vez,
dentes e colaterais até o 4º grau, observada a ordem de
mediante decisão fundamentada da autoridade judiciária.
vocação hereditária.
§ 3o-A. Ao final do prazo previsto no § 3o deste artigo,
deverá ser apresentado laudo fundamentado pela equipe
Art. 42.  Podem adotar os maiores de 18 (dezoito) mencionada no § 4o deste artigo, que recomendará ou não o
anos, independentemente do estado civil.  deferimento da adoção à autoridade judiciária.
§ 1º Não podem adotar os ascendentes e os irmãos do § 4o O estágio de convivência será acompanhado pela
adotando. equipe interprofissional a serviço da Justiça da Infância e da
§ 2o  Para adoção conjunta, é indispensável que os ado- Juventude, preferencialmente com apoio dos técnicos res-
tantes sejam casados civilmente ou mantenham união es- ponsáveis pela execução da política de garantia do direito
tável, comprovada a estabilidade da família.  à convivência familiar, que apresentarão relatório minucioso
§ 3º O adotante há de ser, pelo menos, dezesseis anos acerca da conveniência do deferimento da medida.
mais velho do que o adotando. § 5o O estágio de convivência será cumprido no terri-
§ 4o  Os divorciados, os judicialmente separados e os tório nacional, preferencialmente na comarca de residência
ex-companheiros podem adotar conjuntamente, contan- da criança ou adolescente, ou, a critério do juiz, em cidade
to que acordem sobre a guarda e o regime de visitas e limítrofe, respeitada, em qualquer hipótese, a competência
desde que o estágio de convivência tenha sido iniciado do juízo da comarca de residência da criança.

31
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

Art. 47. O vínculo da adoção constitui-se por sentença § 3o  A inscrição de postulantes à adoção será prece-
judicial, que será inscrita no registro civil mediante manda- dida de um período de preparação psicossocial e jurídi-
do do qual não se fornecerá certidão. ca, orientado pela equipe técnica da Justiça da Infância e
§ 1º A inscrição consignará o nome dos adotantes da Juventude, preferencialmente com apoio dos técnicos
como pais, bem como o nome de seus ascendentes. responsáveis pela execução da política municipal de ga-
§ 2º O mandado judicial, que será arquivado, cancelará rantia do direito à convivência familiar. 
o registro original do adotado. § 4o  Sempre que possível e recomendável, a prepa-
§ 3o A pedido do adotante, o novo registro poderá ser ração referida no § 3o deste artigo incluirá o contato com
lavrado no Cartório do Registro Civil do Município de sua crianças e adolescentes em acolhimento familiar ou insti-
residência. tucional em condições de serem adotados, a ser realizado
§ 4o Nenhuma observação sobre a origem do ato po- sob a orientação, supervisão e avaliação da equipe técnica
derá constar nas certidões do registro.   da Justiça da Infância e da Juventude, com apoio dos téc-
§ 5o A sentença conferirá ao adotado o nome do ado- nicos responsáveis pelo programa de acolhimento e pela
tante e, a pedido de qualquer deles, poderá determinar a execução da política municipal de garantia do direito à
modificação do prenome.   convivência familiar. 
§ 6o Caso a modificação de prenome seja requerida pelo § 5o  Serão criados e implementados cadastros esta-
adotante, é obrigatória a oitiva do adotando, observado o duais e nacional de crianças e adolescentes em condições
disposto nos §§ 1o e 2o do art. 28 desta Lei.   de serem adotados e de pessoas ou casais habilitados à
§ 7o A adoção produz seus efeitos a partir do trânsito adoção. 
em julgado da sentença constitutiva, exceto na hipótese § 6o  Haverá cadastros distintos para pessoas ou casais
prevista no § 6o do art. 42 desta Lei, caso em que terá força residentes fora do País, que somente serão consultados
retroativa à data do óbito.  na inexistência de postulantes nacionais habilitados nos
§ 8o O processo relativo à adoção assim como outros a cadastros mencionados no § 5o deste artigo. 
ele relacionados serão mantidos em arquivo, admitindo-se § 7o  As autoridades estaduais e federais em matéria
de adoção terão acesso integral aos cadastros, incumbin-
seu armazenamento em microfilme ou por outros meios,
do-lhes a troca de informações e a cooperação mútua,
garantida a sua conservação para consulta a qualquer tem-
para melhoria do sistema. 
po. 
§ 8o  A autoridade judiciária providenciará, no prazo
§ 9º Terão prioridade de tramitação os processos de
de 48 (quarenta e oito) horas, a inscrição das crianças e
adoção em que o adotando for criança ou adolescente
adolescentes em condições de serem adotados que não
com deficiência ou com doença crônica.
tiveram colocação familiar na comarca de origem, e das
§ 10. O prazo máximo para conclusão da ação de ado-
pessoas ou casais que tiveram deferida sua habilitação à
ção será de 120 (cento e vinte) dias, prorrogável uma única
adoção nos cadastros estadual e nacional referidos no §
vez por igual período, mediante decisão fundamentada da
5o deste artigo, sob pena de responsabilidade. 
autoridade judiciária. § 9o  Compete à Autoridade Central Estadual zelar
pela manutenção e correta alimentação dos cadastros,
Art. 48.  O adotado tem direito de conhecer sua origem com posterior comunicação à Autoridade Central Federal
biológica, bem como de obter acesso irrestrito ao processo Brasileira. 
no qual a medida foi aplicada e seus eventuais incidentes, § 10. Consultados os cadastros e verificada a ausência
após completar 18 (dezoito) anos.  de pretendentes habilitados residentes no País com perfil
Parágrafo único.  O acesso ao processo de adoção pode- compatível e interesse manifesto pela adoção de crian-
rá ser também deferido ao adotado menor de 18 (dezoito) ça ou adolescente inscrito nos cadastros existentes, será
anos, a seu pedido, assegurada orientação e assistência jurí- realizado o encaminhamento da criança ou adolescente à
dica e psicológica.  adoção internacional.
§ 11.  Enquanto não localizada pessoa ou casal in-
Art. 49. A morte dos adotantes não restabelece o poder teressado em sua adoção, a criança ou o adolescente,
familiar dos pais naturais.  sempre que possível e recomendável, será colocado sob
guarda de família cadastrada em programa de acolhimen-
Art. 50. A autoridade judiciária manterá, em cada co- to familiar. 
marca ou foro regional, um registro de crianças e ado- § 12.  A alimentação do cadastro e a convocação cri-
lescentes em condições de serem adotados e outro de teriosa dos postulantes à adoção serão fiscalizadas pelo
pessoas interessadas na adoção.   Ministério Público. 
§ 1º O deferimento da inscrição dar-se-á após prévia § 13.  Somente poderá ser deferida adoção em favor
consulta aos órgãos técnicos do juizado, ouvido o Minis- de candidato domiciliado no Brasil não cadastrado pre-
tério Público. viamente nos termos desta Lei quando: 
§ 2º Não será deferida a inscrição se o interessado não I - se tratar de pedido de adoção unilateral; 
satisfazer os requisitos legais, ou verificada qualquer das II - for formulada por parente com o qual a criança ou
hipóteses previstas no art. 29. adolescente mantenha vínculos de afinidade e afetividade; 

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LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

III - oriundo o pedido de quem detém a tutela ou guarda III - a Autoridade Central do país de acolhida enviará o
legal de criança maior de 3 (três) anos ou adolescente, desde relatório à Autoridade Central Estadual, com cópia para a Au-
que o lapso de tempo de convivência comprove a fixação toridade Central Federal Brasileira; 
de laços de afinidade e afetividade, e não seja constatada a IV - o relatório será instruído com toda a documentação
ocorrência de má-fé ou qualquer das situações previstas nos necessária, incluindo estudo psicossocial elaborado por equipe
arts. 237 ou 238 desta Lei.  interprofissional habilitada e cópia autenticada da legislação
§ 14.  Nas hipóteses previstas no § 13 deste artigo, o pertinente, acompanhada da respectiva prova de vigência; 
candidato deverá comprovar, no curso do procedimento, V - os documentos em língua estrangeira serão devida-
que preenche os requisitos necessários à adoção, confor- mente autenticados pela autoridade consular, observados os
me previsto nesta Lei.  tratados e convenções internacionais, e acompanhados da
§ 15. Será assegurada prioridade no cadastro a pes- respectiva tradução, por tradutor público juramentado; 
soas interessadas em adotar criança ou adolescente com VI - a Autoridade Central Estadual poderá fazer exigên-
deficiência, com doença crônica ou com necessidades es- cias e solicitar complementação sobre o estudo psicossocial
pecíficas de saúde, além de grupo de irmãos. do postulante estrangeiro à adoção, já realizado no país de
acolhida; 
Art. 51. Considera-se adoção internacional aquela na VII - verificada, após estudo realizado pela Autoridade
qual o pretendente possui residência habitual em país-parte Central Estadual, a compatibilidade da legislação estrangeira
da Convenção de Haia, de 29 de maio de 1993, Relativa à com a nacional, além do preenchimento por parte dos pos-
Proteção das Crianças e à Cooperação em Matéria de Ado- tulantes à medida dos requisitos objetivos e subjetivos neces-
ção Internacional, promulgada pelo Decreto no 3.087, de 21 sários ao seu deferimento, tanto à luz do que dispõe esta Lei
junho de 1999, e deseja adotar criança em outro país-parte como da legislação do país de acolhida, será expedido laudo
da Convenção. de habilitação à adoção internacional, que terá validade por,
§ 1o A adoção internacional de criança ou adolescente no máximo, 1 (um) ano; 
brasileiro ou domiciliado no Brasil somente terá lugar quan- VIII - de posse do laudo de habilitação, o interessado será
do restar comprovado:
autorizado a formalizar pedido de adoção perante o Juízo da
I - que a colocação em família adotiva é a solução ade-
Infância e da Juventude do local em que se encontra a criança
quada ao caso concreto;
ou adolescente, conforme indicação efetuada pela Autoridade
II - que foram esgotadas todas as possibilidades de colo-
Central Estadual. 
cação da criança ou adolescente em família adotiva brasilei-
§ 1o  Se a legislação do país de acolhida assim o au-
ra, com a comprovação, certificada nos autos, da inexistên-
torizar, admite-se que os pedidos de habilitação à adoção
cia de adotantes habilitados residentes no Brasil com perfil
internacional sejam intermediados por organismos creden-
compatível com a criança ou adolescente, após consulta aos
cadastros mencionados nesta Lei; ciados. 
III - que, em se tratando de adoção de adolescente, este § 2o  Incumbe à Autoridade Central Federal Brasileira o
foi consultado, por meios adequados ao seu estágio de de- credenciamento de organismos nacionais e estrangeiros en-
senvolvimento, e que se encontra preparado para a medida, carregados de intermediar pedidos de habilitação à adoção
mediante parecer elaborado por equipe interprofissional, internacional, com posterior comunicação às Autoridades
observado o disposto nos §§ 1o e 2o do art. 28 desta Lei.  Centrais Estaduais e publicação nos órgãos oficiais de im-
§ 2o  Os brasileiros residentes no exterior terão prefe- prensa e em sítio próprio da internet. 
rência aos estrangeiros, nos casos de adoção internacional § 3o  Somente será admissível o credenciamento de or-
de criança ou adolescente brasileiro.  ganismos que: 
§ 3o  A adoção internacional pressupõe a intervenção I - sejam oriundos de países que ratificaram a Convenção
das Autoridades Centrais Estaduais e Federal em matéria de Haia e estejam devidamente credenciados pela Autoridade
de adoção internacional.  Central do país onde estiverem sediados e no país de acolhida
do adotando para atuar em adoção internacional no Brasil; 
Art. 52.  A adoção internacional observará o procedi- II - satisfizerem as condições de integridade moral, com-
mento previsto nos arts. 165 a 170 desta Lei, com as seguin- petência profissional, experiência e responsabilidade exigidas
tes adaptações:  pelos países respectivos e pela Autoridade Central Federal
I - a pessoa ou casal estrangeiro, interessado em adotar Brasileira; 
criança ou adolescente brasileiro, deverá formular pedido III - forem qualificados por seus padrões éticos e sua for-
de habilitação à adoção perante a Autoridade Central em mação e experiência para atuar na área de adoção interna-
matéria de adoção internacional no país de acolhida, assim cional; 
entendido aquele onde está situada sua residência habitual;  IV - cumprirem os requisitos exigidos pelo ordenamento
II - se a Autoridade Central do país de acolhida consi- jurídico brasileiro e pelas normas estabelecidas pela Autorida-
derar que os solicitantes estão habilitados e aptos para ado- de Central Federal Brasileira. 
tar, emitirá um relatório que contenha informações sobre a § 4o  Os organismos credenciados deverão ainda: 
identidade, a capacidade jurídica e adequação dos solicitan- I - perseguir unicamente fins não lucrativos, nas condi-
tes para adotar, sua situação pessoal, familiar e médica, seu ções e dentro dos limites fixados pelas autoridades compe-
meio social, os motivos que os animam e sua aptidão para tentes do país onde estiverem sediados, do país de acolhida e
assumir uma adoção internacional;  pela Autoridade Central Federal Brasileira; 

33
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

II - ser dirigidos e administrados por pessoas qualifica- § 13.  A habilitação de postulante estrangeiro ou domi-
das e de reconhecida idoneidade moral, com comprovada ciliado fora do Brasil terá validade máxima de 1 (um) ano,
formação ou experiência para atuar na área de adoção in- podendo ser renovada. 
ternacional, cadastradas pelo Departamento de Polícia Fe- § 14.  É vedado o contato direto de representantes de
deral e aprovadas pela Autoridade Central Federal Brasileira, organismos de adoção, nacionais ou estrangeiros, com
mediante publicação de portaria do órgão federal compe- dirigentes de programas de acolhimento institucional ou
tente;  familiar, assim como com crianças e adolescentes em condi-
III - estar submetidos à supervisão das autoridades com- ções de serem adotados, sem a devida autorização judicial. 
petentes do país onde estiverem sediados e no país de aco- § 15.  A Autoridade Central Federal Brasileira poderá
lhida, inclusive quanto à sua composição, funcionamento e limitar ou suspender a concessão de novos credenciamen-
situação financeira;  tos sempre que julgar necessário, mediante ato administra-
IV - apresentar à Autoridade Central Federal Brasilei- tivo fundamentado. 
ra, a cada ano, relatório geral das atividades desenvolvidas,
bem como relatório de acompanhamento das adoções inter- Art. 52-A.  É vedado, sob pena de responsabilidade e
nacionais efetuadas no período, cuja cópia será encaminha- descredenciamento, o repasse de recursos provenientes de
da ao Departamento de Polícia Federal;  organismos estrangeiros encarregados de intermediar pe-
V - enviar relatório pós-adotivo semestral para a Autori- didos de adoção internacional a organismos nacionais
dade Central Estadual, com cópia para a Autoridade Central ou a pessoas físicas. 
Federal Brasileira, pelo período mínimo de 2 (dois) anos. O Parágrafo único.  Eventuais repasses somente poderão
envio do relatório será mantido até a juntada de cópia au- ser efetuados via Fundo dos Direitos da Criança e do Adoles-
tenticada do registro civil, estabelecendo a cidadania do país cente e estarão sujeitos às deliberações do respectivo Conse-
de acolhida para o adotado;  lho de Direitos da Criança e do Adolescente. 
VI - tomar as medidas necessárias para garantir que os
adotantes encaminhem à Autoridade Central Federal Brasi- Art. 52-B.  A adoção por brasileiro residente no ex-
leira cópia da certidão de registro de nascimento estrangeira terior em país ratificante da Convenção de Haia, cujo pro-
e do certificado de nacionalidade tão logo lhes sejam con- cesso de adoção tenha sido processado em conformidade
cedidos.  com a legislação vigente no país de residência e atendido o
§ 5o  A não apresentação dos relatórios referidos no § disposto na Alínea “c” do Artigo 17 da referida Convenção,
4  deste artigo pelo organismo credenciado poderá acarre-
o será automaticamente recepcionada com o reingresso
tar a suspensão de seu credenciamento.  no Brasil. 
§ 6o  O credenciamento de organismo nacional ou es- § 1o  Caso não tenha sido atendido o disposto na Alínea
“c” do Artigo 17 da Convenção de Haia, deverá a sentença
trangeiro encarregado de intermediar pedidos de adoção
ser homologada pelo Superior Tribunal de Justiça.  
internacional terá validade de 2 (dois) anos. 
§ 2o  O pretendente brasileiro residente no exterior em
§ 7o  A renovação do credenciamento poderá ser con-
país não ratificante da Convenção de Haia, uma vez rein-
cedida mediante requerimento protocolado na Autoridade
gressado no Brasil, deverá requerer a homologação da sen-
Central Federal Brasileira nos 60 (sessenta) dias anteriores
tença estrangeira pelo Superior Tribunal de Justiça. 
ao término do respectivo prazo de validade. 
§ 8o  Antes de transitada em julgado a decisão que con-
Art. 52-C.  Nas adoções internacionais, quando o
cedeu a adoção internacional, não será permitida a
Brasil for o país de acolhida, a decisão da autoridade
§ 9o  Transitada em julgado a decisão, a autoridade ju- competente do país de origem da criança ou do adolescen-
diciária determinará a expedição de alvará com autoriza- te será conhecida pela Autoridade Central Estadual que
ção de viagem, bem como para obtenção de passaporte, tiver processado o pedido de habilitação dos pais ado-
constando, obrigatoriamente, as características da criança tivos, que comunicará o fato à Autoridade Central Fe-
ou adolescente adotado, como idade, cor, sexo, eventuais deral e determinará as providências necessárias à expedição
sinais ou traços peculiares, assim como foto recente e a do Certificado de Naturalização Provisório.  
aposição da impressão digital do seu polegar direito, ins- § 1o  A Autoridade Central Estadual, ouvido o Ministério
truindo o documento com cópia autenticada da decisão e Público, somente deixará de reconhecer os efeitos daquela
certidão de trânsito em julgado.  decisão se restar demonstrado que a adoção é manifesta-
§ 10.  A Autoridade Central Federal Brasileira poderá, a mente contrária à ordem pública ou não atende ao interes-
qualquer momento, solicitar informações sobre a situação se superior da criança ou do adolescente. 
das crianças e adolescentes adotados.  § 2o  Na hipótese de não reconhecimento da adoção,
§ 11.  A cobrança de valores por parte dos organismos prevista no § 1o deste artigo, o Ministério Público deverá
credenciados, que sejam considerados abusivos pela Auto- imediatamente requerer o que for de direito para resguar-
ridade Central Federal Brasileira e que não estejam devida- dar os interesses da criança ou do adolescente, comunican-
mente comprovados, é causa de seu descredenciamento.  do-se as providências à Autoridade Central Estadual, que
§ 12.  Uma mesma pessoa ou seu cônjuge não podem fará a comunicação à Autoridade Central Federal Brasileira
ser representados por mais de uma entidade credenciada e à Autoridade Central do país de origem. 
para atuar na cooperação em adoção internacional. 

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LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

Art. 52-D.  Nas adoções internacionais, quando o Brasil para oitiva de testemunhas e requerentes, solicitar juntada
for o país de acolhida e a adoção não tenha sido deferida no de documentos complementares que sejam necessários.
país de origem porque a sua legislação a delega ao país de Deve ser obrigatório o estudo psicossocial onde se testa
acolhida, ou, ainda, na hipótese de, mesmo com decisão, a a capacidade dos indivíduos para se tornarem pai ou mãe,
criança ou o adolescente ser oriundo de país que não tenha o de incluir mais um membro junto aos filhos já existente.
aderido à Convenção referida, o processo de adoção segui- Os programas de capacitação também devem ser aderido
rá as regras da adoção nacional.  a este sistema, levando esclarecimentos aos pretendentes a
adoção além, de manter contato com a criança em regime
A adoção no Código Civil de 1916 era tratada em seu de acolhimento familiar.
capítulo V. A adoção seguia um critério de ter um filho para Sendo os adotantes inscritos são chamados por ordem
que a família tivesse sucessão e para configurar a família da cronológica de acordo com a habilitação, e que só poderá
época que só tinha uma configuração costumeira se hou- ser dispensada se for pelo melhor interesse do adotando.
vesse pai, mãe e filhos. A idade de 30 (trinta) anos para que Os seguintes princípios e diretrizes devem guiar a deci-
as pessoas pudessem não se arrepender do feito. Quando são pela adoção:
se falava do casamento criava-se o critério de que tenha se - Condição da criança e do adolescente como ser de
passado 05 (cinco) anos de matrimônio para que o casal direitos: As crianças são detentoras de direitos previstos na
possa adotar, pois o ideal era que os filhos fossem con- lei 8.069/90 e na Constituição Federal de 1988;
sanguíneos. A adoção poderia se dissolver por vontade das - Proteção integral e prioritária: Toda e qualquer norma
partes. Caso houvessem filhos naturais reconhecidos ou le- contida dentro da lei 8.069/90 deve ser voltada a proteção
gitimados os filhos adotivos não participavam da sucessão integral dos interesses do menor;
além de não se desfazer o vínculo com os parentes naturais, - Responsabilidade primária e solidaria do poder pú-
somente no que dizia respeito ao pátrio poder. blico: tanto nos casos ressalvados pelo E.C.A (Estatuto da
Houve um grande salto no que concerne a adoção que Criança e do Adolescente) quanto nos casos que a CF/88
foi a letra trazida pela Constituição Federal de 1988 em seu (Constituição Federal de 1988) e demais objetos legais es-
artigo 227 e com o ECA, que versa sobre todas as garantias pecíficos, é, dever dos três poderes atuarem no que for ne-
constitucionais e no que tange a adoção vem dos artigos cessário para a proteção do menor;
39 ao 52-D falando sobre a regularização da adoção e traz - Interesse superior da criança e do adolescente: me-
como princípio basilar o melhor interesse da criança, além diante a necessidade da intervenção estatal é necessário
de ter como fundamento o afeto de pai para filho sem que que se dê privilégio ao interesse do que for melhor para a
haja qualquer diferenciação para com os filhos biológicos. criança e/ou adolescente. O primeiro interesse a ser obser-
Ainda no que concerne a adoção, foi criada para dar vado é o que trouxer melhor benefício a estes;
efetividade ao ECA a Lei nº 12.010 de 03 de agosto de 2009, - Privacidade: A promoção dos direitos deve ser sempre
que tem o intuito de alterar o direito à convivência familiar feita respeitando a privação e o direito da imagem, a sua
mostrando com clareza como deve ocorrer a adoção. vida privada e a intimidade;
Para ser candidato a adoção deve ter cumprido uma - Intervenção precoce: Ao primeiro sinal de perigo e ris-
série de requisitos para se tornar hábil, estes requisitos são co ao menor, o Estado deve intervir para reverter a situação
elencados na lei. O primeiro deles é a qualificação completa: presente;
da pessoa que deseja adotar ou das pessoas que desejam
- Intervenção mínima;
no caso de casais juntamente com os dados familiares, da-
- Proporcionalidade e atualidade: Ser a atitude tomada
dos que vão completar não só a ficha do casal ou pessoa
de acordo com a proporção de perigo existente no momen-
que deseja adotar, mais da família onde o menor vai residir
to, evitando e revertendo o risco de morte;
e ter sua formação os documentos pessoais como cópias
- Responsabilidade parental: a intervenção deve ser a
de certidão de nascimento (quando solteiros), de certidão
princípio para que os pais tomem responsabilidade sobre
de casamento (quando casados), cópias de declaração de
seus filhos;
período de união estável, Cópias de Certidão de identidade
(RG), Comprovante da renda da pessoa ou casal, compro- - Prevalência da família: Primeiro se dará a preferên-
vante que demostre que as condições vão suprir a necessi- cia a família natural para que a criança continue com seus
dade de se incluir mais um membro naquele lar, compro- pais depois a preferência vai ser da família contínua (família
vante de moradia em que prove a pessoa ter sua residência natural a primeira e extensa a segunda), em último caso a
que acolherá o novo integrante. criança/adolescente vai ser direcionada a família substituta.
O interessado em adotar deve juntar atestados de saú- - Obrigatoriedade da informação: respeitando o es-
de física onde a pessoa vai demonstrar ser capaz de cuidar e tágio de desenvolvimento e compreensão da criança ou
garantir uma boa vida para o adotando e atestado de saúde adolescente, além de seus pais e responsáveis devem ser
mental, comprovando que a pessoa é capaz legalmente. informados o motivo em que se dá a intervenção e como
Nos aspectos judiciais inerentes ao caso devem ser jun- esta se processou;
tados Certidão de antecedentes criminais, que demostra - Oitiva obrigatória e participação: a criança ou adoles-
conduta legal do indivíduo perante a sociedade, Certidão cente separados ou na companhia de seus pais, responsá-
negativa de distribuição civil, além da manifestação do M.P veis ou pessoas por ela indicados; bem como seus pais e
(Ministério Público) apresentando quesitos a serem respon- responsáveis, tem o direito de serem ouvidas e sua opinião
didos pela equipe interdisciplinar, designação de audiência deve ser considerada pelas autoridades do judiciário.

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LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

- Afastamento da criança e do adolescente do conví- IV - atendimento em creche e pré-escola às crianças de


vio familiar: É um processo contencioso que importara aos zero a cinco anos de idade;
pais o direito do contraditório e da ampla defesa, este pro- V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da
cedimento é de competência do judiciário (procedimento pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de
judicial) artigo 28 §§ 1° e 2° do E.C.A; cada um;
- Acolhimento familiar: medida de proteção criada para VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às
o amparo da criança até que seja resolvida a situação; condições do adolescente trabalhador;
- Guia de acolhimento: será elaborado pelo poder Ju- VII - atendimento no ensino fundamental, através de
diciário um guia para encaminhar à criança a entidade de programas suplementares de material didático-escolar,
acolhimento (guia deve conter a causa da retirada e per- transporte, alimentação e assistência à saúde.
manência do menor fora da sua família natural além de § 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é di-
todos os dados) reito público subjetivo.
- Plano individual de atendimento: cada criança vai ter § 2º O não oferecimento do ensino obrigatório pelo
um plano a ser desenvolvido visando sua adaptação a nova poder público ou sua oferta irregular importa responsabi-
família; lidade da autoridade competente.
- Destituição do poder familiar: Promovida pelo M.P § 3º Compete ao poder público recensear os educan-
(Ministério público) sendo para isto necessário prévio aviso dos no ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar,
a entidade de acolhimento familiar, ou, responsáveis pela junto aos pais ou responsável, pela frequência à escola.
execução da política municipal de garantia do direito a
convivência familiar. Art. 55. Os pais ou responsável têm a obrigação de ma-
- Cadastro de crianças a adolescentes à regime institu- tricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino.
cional e familiar: é um cadastro para crianças e adolescen-
tes que necessitem de acolhimento familiar ou institucional Art. 56. Os dirigentes de estabelecimentos de ensino
devido a algum registro de maus tratos. fundamental comunicarão ao Conselho Tutelar os casos de:
I - maus-tratos envolvendo seus alunos;
A Lei no 13.509 de 22 de novembro de 2017 surgiu com
II - reiteração de faltas injustificadas e de evasão es-
o propósito de maximizar a efetividade das disposições do
colar, esgotados os recursos escolares;
ECA, inclusive no âmbito da adoção, possuindo a peculia-
III - elevados níveis de repetência.
ridade de ser mais rigorosa no que tange ao cumprimento
de prazos para maior celeridade do processo.
Art. 57. O poder público estimulará pesquisas, experiên-
cias e novas propostas relativas a calendário, seriação,
Capítulo IV currículo, metodologia, didática e avaliação, com vistas
Do Direito à Educação, à Cultura, ao Esporte e ao à inserção de crianças e adolescentes excluídos do ensino
Lazer fundamental obrigatório.
Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educa- Art. 58. No processo educacional respeitar-se-ão os va-
ção, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, pre- lores culturais, artísticos e históricos próprios do contexto
paro para o exercício da cidadania e qualificação para o tra- social da criança e do adolescente, garantindo-se a estes a
balho, assegurando-se-lhes: liberdade da criação e o acesso às fontes de cultura.
I - igualdade de condições para o acesso e perma-
nência na escola; Art. 59. Os municípios, com apoio dos estados e da
II - direito de ser respeitado por seus educadores; União, estimularão e facilitarão a destinação de recursos
III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo e espaços para programações culturais, esportivas e de
recorrer às instâncias escolares superiores; lazer voltadas para a infância e a juventude.
IV - direito de organização e participação em entida-
des estudantis; Capítulo V
V - acesso à escola pública e gratuita próxima de sua Do Direito à Profissionalização e à Proteção no
residência. Trabalho
Parágrafo único. É direito dos pais ou responsáveis
ter ciência do processo pedagógico, bem como participar da Art. 60. É proibido qualquer trabalho a menores de
definição das propostas educacionais. quatorze anos de idade, salvo na condição de aprendiz. 
Preconiza o artigo 7º, XXXIII, CF a “proibição de tra-
Art. 54. É dever do Estado assegurar à criança e ao ado- balho noturno, perigoso ou insalubre a menores de
lescente: dezoito e de qualquer trabalho a menores de dezesseis
I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclu- anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze
sive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria; anos”.
II - progressiva extensão da obrigatoriedade e gra- Portanto, em decorrência da própria norma constitu-
tuidade ao ensino médio; cional, nenhuma criança ou adolescente pode trabalhar an-
III - atendimento educacional especializado aos por- tes dos 14 anos de idade. Evidentemente que há algumas
tadores de deficiência, preferencialmente na rede regular exceções a esta regra, devidamente fiscalizadas pelo Con-
de ensino; selho Tutelar, como é o caso dos artistas mirins.

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LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

Entre 14 anos e 16 anos de idade somente será possí- II - perigoso, insalubre ou penoso;
vel o trabalho na condição de menor aprendiz, cuja natu- III - realizado em locais prejudiciais à sua formação e
reza é de ensino técnico-profissional, viabilizando a futura ao seu desenvolvimento físico, psíquico, moral e social;
inserção do adolescente no mercado de trabalho. IV - realizado em horários e locais que não permitam a
A partir dos 16 anos, o menor pode trabalhar, mas não frequência à escola.
no período noturno ou em condições de periculosidade e O menor aprendiz está proibido de trabalhar no perío-
insalubridade. do noturno, em trabalho que o coloque exposto a pericu-
losidade (ex.: em andaimes, em áreas com risco de incêndio
Art. 61. A proteção ao trabalho dos adolescentes é re-
ou choques), insalubridade (ex.: em freezers de frigoríficos,
gulada por legislação especial, sem prejuízo do disposto
expostos a radiação) ou penosidade (ex.: excesso de força
nesta Lei.
física exigida).
Art. 62. Considera-se aprendizagem a formação téc-
nico-profissional ministrada segundo as diretrizes e bases Art. 68. O programa social que tenha por base o tra-
da legislação de educação em vigor. balho educativo, sob responsabilidade de entidade governa-
mental ou não-governamental sem fins lucrativos, deverá
Art. 63. A formação técnico-profissional obedecerá aos assegurar ao adolescente que dele participe condições de
seguintes princípios: capacitação para o exercício de atividade regular remu-
I - garantia de acesso e frequência obrigatória ao en- nerada.
sino regular; § 1º Entende-se por trabalho educativo a atividade
II - atividade compatível com o desenvolvimento do laboral em que as exigências pedagógicas relativas ao
adolescente; desenvolvimento pessoal e social do educando prevalecem
III - horário especial para o exercício das atividades. sobre o aspecto produtivo.
Aquele que trabalha na condição de menor aprendiz § 2º A remuneração que o adolescente recebe pelo tra-
é obrigado a frequentar a escola, devendo ser facilitadas balho efetuado ou a participação na venda dos produtos de
as condições para que o faça, notadamente pelo estabe- seu trabalho não desfigura o caráter educativo.
lecimento de horário especial de trabalho. Além disso, a Os programas sociais voltados à capacitação dos ado-
atividade laboral deve ser compatível com as atividades de
lescentes devem sempre ter por objetivo educá-lo para
ensino, até mesmo por se tratar de ensino técnico-profis-
que ele adquira condições de inserir-se no mercado de
sionalizante.
trabalho. Deve ser ensinado, logo, dele não se deve cobrar
Ex.: um jovem pode trabalhar no período matutino, fre-
quentar o SENAI na parte da tarde e ir ao colégio no ensino tanta produtividade, mas sim deve ser avaliado pelo seu
médio noturno. aprendizado. O fato do trabalho ser remunerado não des-
virtua este propósito.
Art. 64. Ao adolescente até quatorze anos de idade é
assegurada bolsa de aprendizagem. Art. 69. O adolescente tem direito à profissionalização
Toda criança e adolescente que necessitar receberá fo- e à proteção no trabalho, observados os seguintes aspec-
mento para que não se desvincule das atividades de ensi- tos, entre outros:
no. Trata-se de incentivo àquele que sem auxílio acabaria I - respeito à condição peculiar de pessoa em desen-
entrando em situação irregular e trabalhando. volvimento;
II - capacitação profissional adequada ao mercado de
Art. 65. Ao adolescente aprendiz, maior de quatorze trabalho.
anos, são assegurados os direitos trabalhistas e previden- Com efeito, profissionalização e proteção no traba-
ciários. lho são direitos fundamentais garantidos ao adolescente,
Uma vez que o adolescente está autorizado a trabalhar, exigindo-se neste campo que sua condição peculiar ine-
mesmo que na condição de menor aprendiz, possui direi- rente ao processo de aprendizado seja respeitada e que o
tos trabalhistas e previdenciários. trabalho sirva para permitir a sua inserção no mercado de
trabalho.
Art. 66. Ao adolescente portador de deficiência é asse-
gurado trabalho protegido.
O adolescente que possui deficiência não pode ser ex- Título III
posto a uma situação de risco em decorrência da atividade Da Prevenção
laboral.
Capítulo I
Art. 67. Ao adolescente empregado, aprendiz, em regi- Disposições Gerais
me familiar de trabalho, aluno de escola técnica, assistido
em entidade governamental ou não-governamental, é ve- Art. 70. É dever de todos prevenir a ocorrência de
dado trabalho: ameaça ou violação dos direitos da criança e do ado-
I - noturno, realizado entre as vinte e duas horas de um lescente.
dia e as cinco horas do dia seguinte;

37
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

Art. 70-A. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Art. 71. A criança e o adolescente têm direito a infor-
Municípios deverão atuar de forma articulada na elabo- mação, cultura, lazer, esportes, diversões, espetáculos e
ração de políticas públicas e na execução de ações des- produtos e serviços que respeitem sua condição peculiar de
tinadas a coibir o uso de castigo físico ou de tratamento pessoa em desenvolvimento.
cruel ou degradante e difundir formas não violentas
de educação de crianças e de adolescentes, tendo como Art. 72. As obrigações previstas nesta Lei não excluem
da prevenção especial outras decorrentes dos princípios
principais ações:
por ela adotados.
I - a promoção de campanhas educativas permanentes
para a divulgação do direito da criança e do adolescente de
Art. 73. A inobservância das normas de prevenção im-
serem educados e cuidados sem o uso de castigo físico ou
portará em responsabilidade da pessoa física ou jurídica,
de tratamento cruel ou degradante e dos instrumentos de
nos termos desta Lei.
proteção aos direitos humanos;
II - a integração com os órgãos do Poder Judiciário, do Capítulo II
Ministério Público e da Defensoria Pública, com o Conselho Da Prevenção Especial
Tutelar, com os Conselhos de Direitos da Criança e do Ado-
lescente e com as entidades não governamentais que atuam Seção I
na promoção, proteção e defesa dos direitos da criança e do Da informação, Cultura, Lazer, Esportes, Diversões e
adolescente; Espetáculos
III - a formação continuada e a capacitação dos profis-
sionais de saúde, educação e assistência social e dos demais Art. 74. O poder público, através do órgão competente,
agentes que atuam na promoção, proteção e defesa dos di- regulará as diversões e espetáculos públicos, informan-
reitos da criança e do adolescente para o desenvolvimento do sobre a natureza deles, as faixas etárias a que não se
das competências necessárias à prevenção, à identificação recomendem, locais e horários em que sua apresentação se
de evidências, ao diagnóstico e ao enfrentamento de todas mostre inadequada.
as formas de violência contra a criança e o adolescente; Parágrafo único. Os responsáveis pelas diversões e es-
IV - o apoio e o incentivo às práticas de resolução pací- petáculos públicos deverão afixar, em lugar visível e de fácil
fica de conflitos que envolvam violência contra a criança e acesso, à entrada do local de exibição, informação destacada
o adolescente; sobre a natureza do espetáculo e a faixa etária especificada
V - a inclusão, nas políticas públicas, de ações que visem no certificado de classificação.
a garantir os direitos da criança e do adolescente, desde a
atenção pré-natal, e de atividades junto aos pais e respon- Art. 75. Toda criança ou adolescente terá acesso às di-
sáveis com o objetivo de promover a informação, a reflexão, versões e espetáculos públicos classificados como ade-
o debate e a orientação sobre alternativas ao uso de casti- quados à sua faixa etária.
go físico ou de tratamento cruel ou degradante no processo Parágrafo único. As crianças menores de dez anos so-
educativo; mente poderão ingressar e permanecer nos locais de apre-
VI - a promoção de espaços intersetoriais locais para a sentação ou exibição quando acompanhadas dos pais ou
articulação de ações e a elaboração de planos de atuação responsável.
conjunta focados nas famílias em situação de violência, com
participação de profissionais de saúde, de assistência social Art. 76. As emissoras de rádio e televisão somente exi-
e de educação e de órgãos de promoção, proteção e defesa birão, no horário recomendado para o público infanto ju-
dos direitos da criança e do adolescente. venil, programas com finalidades educativas, artísticas,
Parágrafo único.   As famílias com crianças e adoles- culturais e informativas.
centes com deficiência terão prioridade de atendimento nas Parágrafo único. Nenhum espetáculo será apresentado
ações e políticas públicas de prevenção e proteção. ou anunciado sem aviso de sua classificação, antes de sua
transmissão, apresentação ou exibição.
Art. 70-B.  As entidades, públicas e privadas, que atuem
nas áreas a que se refere o art. 71, dentre outras, devem Art. 77. Os proprietários, diretores, gerentes e funcioná-
contar, em seus quadros, com pessoas capacitadas a re- rios de empresas que explorem a venda ou aluguel de fitas
conhecer e comunicar ao Conselho Tutelar suspeitas ou de programação em vídeo cuidarão para que não haja
casos de maus-tratos praticados contra crianças e adoles- venda ou locação em desacordo com a classificação
centes. atribuída pelo órgão competente.
Parágrafo único.  São igualmente responsáveis pela co- Parágrafo único. As fitas a que alude este artigo deverão
municação de que trata este artigo, as pessoas encarrega- exibir, no invólucro, informação sobre a natureza da obra e a
das, por razão de cargo, função, ofício, ministério, profissão faixa etária a que se destinam.
ou ocupação, do cuidado, assistência ou guarda de crianças
e adolescentes, punível, na forma deste Estatuto, o injustifi- Art. 78. As revistas e publicações contendo material
cado retardamento ou omissão, culposos ou dolosos.  impróprio ou inadequado a crianças e adolescentes de-
verão ser comercializadas em embalagem lacrada, com a
advertência de seu conteúdo.

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LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

Parágrafo único. As editoras cuidarão para que as capas I - estiver acompanhado de ambos os pais ou respon-
que contenham mensagens pornográficas ou obscenas se- sável;
jam protegidas com embalagem opaca. II - viajar na companhia de um dos pais, autorizado
expressamente pelo outro através de documento com
Art. 79. As revistas e publicações destinadas ao pú- firma reconhecida.
blico infanto-juvenil não poderão conter ilustrações, fo-
tografias, legendas, crônicas ou anúncios de bebidas al- Art. 85. Sem prévia e expressa autorização judicial, ne-
coólicas, tabaco, armas e munições, e deverão respeitar nhuma criança ou adolescente nascido em território na-
os valores éticos e sociais da pessoa e da família. cional poderá sair do País em companhia de estrangeiro
residente ou domiciliado no exterior.
Art. 80. Os responsáveis por estabelecimentos que explo-
rem comercialmente bilhar, sinuca ou congênere ou por Parte Especial
casas de jogos, assim entendidas as que realizem apostas,
ainda que eventualmente, cuidarão para que não seja per- Título I
mitida a entrada e a permanência de crianças e adoles- Da Política de Atendimento
centes no local, afixando aviso para orientação do público.
Capítulo I
Seção II Disposições Gerais
Dos Produtos e Serviços
Art. 86. A política de atendimento dos direitos da criança
Art. 81. É proibida a venda à criança ou ao adoles- e do adolescente far-se-á através de um conjunto articula-
cente de: do de ações governamentais e não-governamentais, da
I - armas, munições e explosivos; União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios.
II - bebidas alcoólicas;
III - produtos cujos componentes possam causar depen- Art. 87. São linhas de ação da política de atendimen-
dência física ou psíquica ainda que por utilização indevi- to:
da; I - políticas sociais básicas;
IV - fogos de estampido e de artifício, exceto aqueles II - serviços, programas, projetos e benefícios de as-
que pelo seu reduzido potencial sejam incapazes de provocar sistência social de garantia de proteção social e de preven-
qualquer dano físico em caso de utilização indevida; ção e redução de violações de direitos, seus agravamentos ou
V - revistas e publicações a que alude o art. 78; reincidências;
VI - bilhetes lotéricos e equivalentes. III - serviços especiais de prevenção e atendimento
médico e psicossocial às vítimas de negligência, maus-tra-
Art. 82. É proibida a hospedagem de criança ou ado- tos, exploração, abuso, crueldade e opressão;
lescente em hotel, motel, pensão ou estabelecimento IV - serviço de identificação e localização de pais, res-
congênere, salvo se autorizado ou acompanhado pelos ponsável, crianças e adolescentes desaparecidos;
pais ou responsável. V - proteção jurídico-social por entidades de defesa
dos direitos da criança e do adolescente;
Seção III VI - políticas e programas destinados a prevenir ou
Da Autorização para Viajar abreviar o período de afastamento do convívio familiar
e a garantir o efetivo exercício do direito à convivência
Art. 83. Nenhuma criança poderá viajar para fora familiar de crianças e adolescentes;
da comarca onde reside, desacompanhada dos pais ou VII - campanhas de estímulo ao acolhimento sob forma
responsável, sem expressa autorização judicial. de guarda de crianças e adolescentes afastados do convívio
§ 1º A autorização não será exigida quando: familiar e à adoção, especificamente inter-racial, de crianças
a) tratar-se de comarca contígua à da residência da maiores ou de adolescentes, com necessidades específicas de
criança, se na mesma unidade da Federação, ou incluída na saúde ou com deficiências e de grupos de irmãos.
mesma região metropolitana;
b) a criança estiver acompanhada: Art. 88. São diretrizes da política de atendimento:
1) de ascendente ou colateral maior, até o terceiro I - municipalização do atendimento;
grau, comprovado documentalmente o parentesco; II - criação de conselhos municipais, estaduais e
2) de pessoa maior, expressamente autorizada pelo nacional dos direitos da criança e do adolescente, órgãos
pai, mãe ou responsável. deliberativos e controladores das ações em todos os níveis,
§ 2º A autoridade judiciária poderá, a pedido dos pais assegurada a participação popular paritária por meio de or-
ou responsável, conceder autorização válida por dois ganizações representativas, segundo leis federal, estaduais e
anos. municipais;
III - criação e manutenção de programas específicos,
Art. 84. Quando se tratar de viagem ao exterior, a au- observada a descentralização político-administrativa;
torização é dispensável, se a criança ou adolescente:

39
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

IV - manutenção de fundos nacional, estaduais e Criança e do Adolescente, o qual manterá registro das ins-
municipais vinculados aos respectivos conselhos dos direi- crições e de suas alterações, do que fará comunicação ao
tos da criança e do adolescente; Conselho Tutelar e à autoridade judiciária.
V - integração operacional de órgãos do Judiciário, § 2o  Os recursos destinados à implementação e ma-
Ministério Público, Defensoria, Segurança Pública e nutenção dos programas relacionados neste artigo serão
Assistência Social, preferencialmente em um mesmo local, previstos nas dotações orçamentárias dos órgãos públicos
para efeito de agilização do atendimento inicial a adoles- encarregados das áreas de Educação, Saúde e Assistência
cente a quem se atribua autoria de ato infracional; Social, dentre outros, observando-se o princípio da priori-
VI - integração operacional de órgãos do Judiciário, dade absoluta à criança e ao adolescente preconizado pelo
Ministério Público, Defensoria, Conselho Tutelar e en- caput do art. 227 da Constituição Federal e pelo caput e
carregados da execução das políticas sociais básicas e de parágrafo único do art. 4o desta Lei.
assistência social, para efeito de agilização do atendimento § 3o  Os programas em execução serão reavaliados pelo
de crianças e de adolescentes inseridos em programas de Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adoles-
acolhimento familiar ou institucional, com vista na sua rá- cente, no máximo, a cada 2 (dois) anos, constituindo-se
pida reintegração à família de origem ou, se tal solução se critérios para renovação da autorização de funcionamento:
mostrar comprovadamente inviável, sua colocação em fa- I - o efetivo respeito às regras e princípios desta Lei, bem
mília substituta, em quaisquer das modalidades previstas como às resoluções relativas à modalidade de atendimento
no art. 28 desta Lei; prestado expedidas pelos Conselhos de Direitos da Criança e
VII - mobilização da opinião pública para a indis- do Adolescente, em todos os níveis; 
pensável participação dos diversos segmentos da sociedade; II - a qualidade e eficiência do trabalho desenvolvido,
VIII - especialização e formação continuada dos pro- atestadas pelo Conselho Tutelar, pelo Ministério Público e
fissionais que trabalham nas diferentes áreas da atenção à pela Justiça da Infância e da Juventude; 
primeira infância, incluindo os conhecimentos sobre direitos III - em se tratando de programas de acolhimento insti-
da criança e sobre desenvolvimento infantil; tucional ou familiar, serão considerados os índices de sucesso
IX - formação profissional com abrangência dos di- na reintegração familiar ou de adaptação à família substitu-
versos direitos da criança e do adolescente que favoreça ta, conforme o caso.
a intersetorialidade no atendimento da criança e do adoles-
cente e seu desenvolvimento integral; Art. 91. As entidades não-governamentais somente
X - realização e divulgação de pesquisas sobre de- poderão funcionar depois de registradas no Conselho
senvolvimento infantil e sobre prevenção da violência. Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, o
qual comunicará o registro ao Conselho Tutelar e à autori-
Art. 89. A função de membro do conselho nacional e dade judiciária da respectiva localidade.
dos conselhos estaduais e municipais dos direitos da criança § 1o  Será negado o registro à entidade que: 
e do adolescente é considerada de interesse público rele- a) não ofereça instalações físicas em condições adequa-
vante e não será remunerada. das de habitabilidade, higiene, salubridade e segurança;
b) não apresente plano de trabalho compatível com os
Capítulo II princípios desta Lei;
Das Entidades de Atendimento c) esteja irregularmente constituída;
d) tenha em seus quadros pessoas inidôneas.
Seção I e) não se adequar ou deixar de cumprir as resoluções e
Disposições Gerais deliberações relativas à modalidade de atendimento pres-
tado expedidas pelos Conselhos de Direitos da Criança e do
Art. 90. As entidades de atendimento são respon- Adolescente, em todos os níveis.
sáveis pela manutenção das próprias unidades, assim § 2o  O registro terá validade máxima de 4 (quatro) anos,
como pelo planejamento e execução de programas de pro- cabendo ao Conselho Municipal dos Direitos da Criança e
teção e socioeducativos destinados a crianças e adolescen- do Adolescente, periodicamente, reavaliar o cabimento de
tes, em regime de:  sua renovação, observado o disposto no § 1o deste artigo.
I - orientação e apoio sociofamiliar;
II - apoio socioeducativo em meio aberto; Art. 92.  As entidades que desenvolvam programas de
III - colocação familiar; acolhimento familiar ou institucional deverão adotar os se-
IV - acolhimento institucional; guintes princípios:
V - prestação de serviços à comunidade; I - preservação dos vínculos familiares e promoção
VI - liberdade assistida; da reintegração familiar;
VII - semiliberdade; e II - integração em família substituta, quando esgo-
VIII - internação. tados os recursos de manutenção na família natural ou ex-
§ 1o  As entidades governamentais e não governa- tensa;
mentais deverão proceder à inscrição de seus programas, III - atendimento personalizado e em pequenos grupos;
especificando os regimes de atendimento, na forma defi- IV - desenvolvimento de atividades em regime de
nida neste artigo, no Conselho Municipal dos Direitos da coeducação;

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LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

V - não desmembramento de grupos de irmãos; Art. 94. As entidades que desenvolvem programas de
VI - evitar, sempre que possível, a transferência para internação têm as seguintes obrigações, entre outras:
outras entidades de crianças e adolescentes abrigados; I - observar os direitos e garantias de que são titula-
VII - participação na vida da comunidade local; res os adolescentes;
VIII - preparação gradativa para o desligamento; II - não restringir nenhum direito que não tenha sido
IX - participação de pessoas da comunidade no pro- objeto de restrição na decisão de internação;
cesso educativo. III - oferecer atendimento personalizado, em peque-
§ 1o  O dirigente de entidade que desenvolve progra- nas unidades e grupos reduzidos;
ma de acolhimento institucional é equiparado ao guardião, IV - preservar a identidade e oferecer ambiente de
para todos os efeitos de direito.  respeito e dignidade ao adolescente;
§ 2o  Os dirigentes de entidades que desenvolvem pro- V - diligenciar no sentido do restabelecimento e da
gramas de acolhimento familiar ou institucional remeterão preservação dos vínculos familiares;
à autoridade judiciária, no máximo a cada 6 (seis) meses, VI - comunicar à autoridade judiciária, periodica-
relatório circunstanciado acerca da situação de cada crian- mente, os casos em que se mostre inviável ou impossível o
ça ou adolescente acolhido e sua família, para fins da rea- reatamento dos vínculos familiares;
valiação prevista no § 1o do art. 19 desta Lei.  VII - oferecer instalações físicas em condições ade-
§ 3o  Os entes federados, por intermédio dos Poderes quadas de habitabilidade, higiene, salubridade e segu-
Executivo e Judiciário, promoverão conjuntamente a per- rança e os objetos necessários à higiene pessoal;
manente qualificação dos profissionais que atuam direta VIII - oferecer vestuário e alimentação suficientes e
ou indiretamente em programas de acolhimento institucio- adequados à faixa etária dos adolescentes atendidos;
nal e destinados à colocação familiar de crianças e adoles- IX - oferecer cuidados médicos, psicológicos, odonto-
centes, incluindo membros do Poder Judiciário, Ministério lógicos e farmacêuticos;
Público e Conselho Tutelar.  X - propiciar escolarização e profissionalização;
§ 4o  Salvo determinação em contrário da autorida- XI - propiciar atividades culturais, esportivas e de
de judiciária competente, as entidades que desenvolvem lazer;
programas de acolhimento familiar ou institucional, se ne- XII - propiciar assistência religiosa àqueles que deseja-
cessário com o auxílio do Conselho Tutelar e dos órgãos rem, de acordo com suas crenças;
de assistência social, estimularão o contato da criança ou XIII - proceder a estudo social e pessoal de cada caso;
adolescente com seus pais e parentes, em cumprimento ao XIV - reavaliar periodicamente cada caso, com inter-
disposto nos incisos I e VIII do caput deste artigo.  valo máximo de seis meses, dando ciência dos resultados à
§ 5o  As entidades que desenvolvem programas de aco- autoridade competente;
lhimento familiar ou institucional somente poderão rece- XV - informar, periodicamente, o adolescente interna-
ber recursos públicos se comprovado o atendimento dos do sobre sua situação processual;
princípios, exigências e finalidades desta Lei.  XVI - comunicar às autoridades competentes todos os
§ 6o  O descumprimento das disposições desta Lei casos de adolescentes portadores de moléstias infectocon-
pelo dirigente de entidade que desenvolva programas de tagiosas;
acolhimento familiar ou institucional é causa de sua desti- XVII - fornecer comprovante de depósito dos perten-
tuição, sem prejuízo da apuração de sua responsabilidade ces dos adolescentes;
administrativa, civil e criminal.  XVIII - manter programas destinados ao apoio e
§ 7o  Quando se tratar de criança de 0 (zero) a 3 (três) acompanhamento de egressos;
anos em acolhimento institucional, dar-se-á especial aten- XIX - providenciar os documentos necessários ao
ção à atuação de educadores de referência estáveis e quali- exercício da cidadania àqueles que não os tiverem;
tativamente significativos, às rotinas específicas e ao atendi- XX - manter arquivo de anotações onde constem data
mento das necessidades básicas, incluindo as de afeto como e circunstâncias do atendimento, nome do adolescente, seus
prioritárias.  pais ou responsável, parentes, endereços, sexo, idade, acom-
panhamento da sua formação, relação de seus pertences e
Art. 93.  As entidades que mantenham programa de demais dados que possibilitem sua identificação e a in-
acolhimento institucional poderão, em caráter excepcional dividualização do atendimento.
e de urgência, acolher crianças e adolescentes sem prévia § 1o  Aplicam-se, no que couber, as obrigações cons-
determinação da autoridade competente, fazendo comuni- tantes deste artigo às entidades que mantêm programas
cação do fato em até 24 (vinte e quatro) horas ao Juiz da de acolhimento institucional e familiar. 
Infância e da Juventude, sob pena de responsabilidade.  § 2º No cumprimento das obrigações a que alude este
Parágrafo único.  Recebida a comunicação, a autoridade artigo as entidades utilizarão preferencialmente os recur-
judiciária, ouvido o Ministério Público e se necessário com o sos da comunidade.
apoio do Conselho Tutelar local, tomará as medidas neces-
sárias para promover a imediata reintegração familiar da Art. 94-A.  As entidades, públicas ou privadas, que abri-
criança ou do adolescente ou, se por qualquer razão não for guem ou recepcionem crianças e adolescentes, ainda que em
isso possível ou recomendável, para seu encaminhamento a caráter temporário, devem ter, em seus quadros, profissio-
programa de acolhimento familiar, institucional ou a família nais capacitados a reconhecer e reportar ao Conselho
substituta, observado o disposto no § 2o do art. 101 desta Lei.  Tutelar suspeitas ou ocorrências de maus-tratos.

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LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

Seção II Art. 100. Na aplicação das medidas levar-se-ão em


Da Fiscalização das Entidades conta as necessidades pedagógicas, preferindo-se aque-
las que visem ao fortalecimento dos vínculos familiares e
Art. 95. As entidades governamentais e não-governa- comunitários.
mentais referidas no art. 90 serão fiscalizadas pelo Judiciá- Parágrafo único.  São também princípios que regem a
rio, pelo Ministério Público e pelos Conselhos Tutelares. aplicação das medidas: 
I - condição da criança e do adolescente como sujeitos
Art. 96. Os planos de aplicação e as prestações de de direitos: crianças e adolescentes são os titulares dos di-
contas serão apresentados ao estado ou ao município, reitos previstos nesta e em outras Leis, bem como na Cons-
conforme a origem das dotações orçamentárias. tituição Federal;  
II - proteção integral e prioritária: a interpretação e
Art. 97. São medidas aplicáveis às entidades de aten- aplicação de toda e qualquer norma contida nesta Lei deve
dimento que descumprirem obrigação constante do art. 94, ser voltada à proteção integral e prioritária dos direitos de
sem prejuízo da responsabilidade civil e criminal de seus que crianças e adolescentes são titulares;  
dirigentes ou prepostos: III - responsabilidade primária e solidária do poder pú-
I - às entidades governamentais: blico: a plena efetivação dos direitos assegurados a crianças
a) advertência; e a adolescentes por esta Lei e pela Constituição Federal,
b) afastamento provisório de seus dirigentes; salvo nos casos por esta expressamente ressalvados, é de
c) afastamento definitivo de seus dirigentes; responsabilidade primária e solidária das 3 (três) esferas de
d) fechamento de unidade ou interdição de programa. governo, sem prejuízo da municipalização do atendimento
II - às entidades não-governamentais: e da possibilidade da execução de programas por entidades
a) advertência; não governamentais;  
b) suspensão total ou parcial do repasse de verbas IV - interesse superior da criança e do adolescente: a in-
públicas; tervenção deve atender prioritariamente aos interesses e di-
c) interdição de unidades ou suspensão de programa;
reitos da criança e do adolescente, sem prejuízo da conside-
d) cassação do registro.
ração que for devida a outros interesses legítimos no âmbito
§ 1o  Em caso de reiteradas infrações cometidas por en-
da pluralidade dos interesses presentes no caso concreto;  
tidades de atendimento, que coloquem em risco os direitos
V - privacidade: a promoção dos direitos e proteção da
assegurados nesta Lei, deverá ser o fato comunicado ao Mi-
criança e do adolescente deve ser efetuada no respeito pela
nistério Público ou representado perante autoridade judi-
intimidade, direito à imagem e reserva da sua vida privada; 
ciária competente para as providências cabíveis, inclusive
VI - intervenção precoce: a intervenção das autoridades
suspensão das atividades ou dissolução da entidade. 
competentes deve ser efetuada logo que a situação de peri-
§ 2o  As pessoas jurídicas de direito público e as organi-
zações não governamentais responderão pelos danos que go seja conhecida;  
seus agentes causarem às crianças e aos adolescentes, ca- VII - intervenção mínima: a intervenção deve ser exer-
racterizado o descumprimento dos princípios norteadores cida exclusivamente pelas autoridades e instituições cuja
das atividades de proteção específica.  ação seja indispensável à efetiva promoção dos direitos e à
proteção da criança e do adolescente; 
Título II VIII - proporcionalidade e atualidade: a intervenção
Das Medidas de Proteção deve ser a necessária e adequada à situação de perigo em
que a criança ou o adolescente se encontram no momento
Capítulo I em que a decisão é tomada; 
Disposições Gerais IX - responsabilidade parental: a intervenção deve ser
efetuada de modo que os pais assumam os seus deveres
Art. 98. As medidas de proteção à criança e ao adoles- para com a criança e o adolescente; 
cente são aplicáveis sempre que os direitos reconhecidos nes- X - prevalência da família: na promoção de direitos e na
ta Lei forem ameaçados ou violados: proteção da criança e do adolescente deve ser dada preva-
I - por ação ou omissão da sociedade ou do Estado; lência às medidas que os mantenham ou reintegrem na sua
II - por falta, omissão ou abuso dos pais ou respon- família natural ou extensa ou, se isso não for possível, que
sável; promovam a sua integração em família adotiva;
III - em razão de sua conduta. XI - obrigatoriedade da informação: a criança e o ado-
lescente, respeitado seu estágio de desenvolvimento e capa-
Capítulo II cidade de compreensão, seus pais ou responsável devem ser
Das Medidas Específicas de Proteção informados dos seus direitos, dos motivos que determina-
ram a intervenção e da forma como esta se processa; 
Art. 99. As medidas previstas neste Capítulo poderão ser XII - oitiva obrigatória e participação: a criança e o ado-
aplicadas isolada ou cumulativamente, bem como subs- lescente, em separado ou na companhia dos pais, de res-
tituídas a qualquer tempo. ponsável ou de pessoa por si indicada, bem como os seus
pais ou responsável, têm direito a ser ouvidos e a participar

42
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

nos atos e na definição da medida de promoção dos direitos § 5o  O plano individual será elaborado sob a responsa-
e de proteção, sendo sua opinião devidamente considerada bilidade da equipe técnica do respectivo programa de aten-
pela autoridade judiciária competente, observado o dispos- dimento e levará em consideração a opinião da criança ou
to nos §§ 1o e 2o do art. 28 desta Lei.  do adolescente e a oitiva dos pais ou do responsável. 
§ 6o  Constarão do plano individual, dentre outros: 
Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas no I - os resultados da avaliação interdisciplinar; 
art. 98, a autoridade competente poderá determinar, dentre II - os compromissos assumidos pelos pais ou responsá-
outras, as seguintes medidas: vel; e 
I - encaminhamento aos pais ou responsável, me- III - a previsão das atividades a serem desenvolvidas com
diante termo de responsabilidade; a criança ou com o adolescente acolhido e seus pais ou res-
II - orientação, apoio e acompanhamento temporá- ponsável, com vista na reintegração familiar ou, caso seja
rios; esta vedada por expressa e fundamentada determinação ju-
III - matrícula e frequência obrigatórias em estabele- dicial, as providências a serem tomadas para sua colocação
cimento oficial de ensino fundamental; em família substituta, sob direta supervisão da autoridade
IV - inclusão em serviços e programas oficiais ou co-
judiciária. 
munitários de proteção, apoio e promoção da família, da
§ 7o  O acolhimento familiar ou institucional ocorrerá no
criança e do adolescente;
local mais próximo à residência dos pais ou do responsável
V - requisição de tratamento médico, psicológico ou
psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial; e, como parte do processo de reintegração familiar, sempre
VI - inclusão em programa oficial ou comunitário que identificada a necessidade, a família de origem será in-
de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxi- cluída em programas oficiais de orientação, de apoio e de
cômanos; promoção social, sendo facilitado e estimulado o contato
VII - acolhimento institucional;   com a criança ou com o adolescente acolhido. 
VIII - inclusão em programa de acolhimento familiar;  § 8o  Verificada a possibilidade de reintegração familiar,
IX - colocação em família substituta.  o responsável pelo programa de acolhimento familiar ou
§ 1o O acolhimento institucional e o acolhimento fa- institucional fará imediata comunicação à autoridade judi-
miliar são medidas provisórias e excepcionais, utilizáveis ciária, que dará vista ao Ministério Público, pelo prazo de 5
como forma de transição para reintegração familiar ou, não (cinco) dias, decidindo em igual prazo.
sendo esta possível, para colocação em família substituta, § 9o  Em sendo constatada a impossibilidade de reinte-
não implicando privação de liberdade.  gração da criança ou do adolescente à família de origem,
§ 2o  Sem prejuízo da tomada de medidas emergenciais após seu encaminhamento a programas oficiais ou comu-
para proteção de vítimas de violência ou abuso sexual e nitários de orientação, apoio e promoção social, será envia-
das providências a que alude o art. 130 desta Lei, o afasta- do relatório fundamentado ao Ministério Público, no qual
mento da criança ou adolescente do convívio familiar é de conste a descrição pormenorizada das providências toma-
competência exclusiva da autoridade judiciária e importará das e a expressa recomendação, subscrita pelos técnicos da
na deflagração, a pedido do Ministério Público ou de quem entidade ou responsáveis pela execução da política muni-
tenha legítimo interesse, de procedimento judicial conten- cipal de garantia do direito à convivência familiar, para a
cioso, no qual se garanta aos pais ou ao responsável legal destituição do poder familiar, ou destituição de tutela ou
o exercício do contraditório e da ampla defesa. guarda. 
§ 3o  Crianças e adolescentes somente poderão ser § 10. Recebido o relatório, o Ministério Público terá o
encaminhados às instituições que executam programas prazo de 15 (quinze) dias para o ingresso com a ação de
de acolhimento institucional, governamentais ou não, por
destituição do poder familiar, salvo se entender necessária
meio de uma Guia de Acolhimento, expedida pela autori-
a realização de estudos complementares ou de outras pro-
dade judiciária, na qual obrigatoriamente constará, dentre
vidências indispensáveis ao ajuizamento da demanda.
outros: 
I - sua identificação e a qualificação completa de seus § 11. A autoridade judiciária manterá, em cada comarca
pais ou de seu responsável, se conhecidos;  ou foro regional, um cadastro contendo informações atua-
II - o endereço de residência dos pais ou do responsável, lizadas sobre as crianças e adolescentes em regime de aco-
com pontos de referência;  lhimento familiar e institucional sob sua responsabilidade,
III - os nomes de parentes ou de terceiros interessados com informações pormenorizadas sobre a situação jurídica
em tê-los sob sua guarda;  de cada um, bem como as providências tomadas para sua
IV - os motivos da retirada ou da não reintegração ao reintegração familiar ou colocação em família substituta,
convívio familiar.  em qualquer das modalidades previstas no art. 28 desta Lei. 
§ 4o  Imediatamente após o acolhimento da criança ou § 12. Terão acesso ao cadastro o Ministério Público, o
do adolescente, a entidade responsável pelo programa de Conselho Tutelar, o órgão gestor da Assistência Social e os
acolhimento institucional ou familiar elaborará um plano Conselhos Municipais dos Direitos da Criança e do Adoles-
individual de atendimento, visando à reintegração familiar, cente e da Assistência Social, aos quais incumbe deliberar
ressalvada a existência de ordem escrita e fundamentada sobre a implementação de políticas públicas que permitam
em contrário de autoridade judiciária competente, caso em reduzir o número de crianças e adolescentes afastados do
que também deverá contemplar sua colocação em família convívio familiar e abreviar o período de permanência em
substituta, observadas as regras e princípios desta Lei.  programa de acolhimento.

43
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

Art. 102. As medidas de proteção de que trata este Capí- - colocação em família substituta (é utilizada somente
tulo serão acompanhadas da regularização do registro ci- em situações muito graves).
vil.  O Juiz pode aplicar essas medidas isolada ou cumulati-
§ 1º Verificada a inexistência de registro anterior, o as- vamente. Pode, também, substituir uma medida pela outra
sento de nascimento da criança ou adolescente será feito a qualquer tempo (art. 99 do ECA). Antes de aplicar qual-
à vista dos elementos disponíveis, mediante requisição da quer uma dessas medidas, o Juiz deverá ouvir os pais ou
autoridade judiciária. responsáveis, realizar estudo social do caso e ouvir o MP.
§ 2º Os registros e certidões necessários à regulariza- Essa oitiva do MP é obrigatória, sob pena de nulidade (art.
ção de que trata este artigo são isentos de multas, custas e 204 do ECA). Esse rol do art. 101 é taxativo.
emolumentos, gozando de absoluta prioridade.
§ 3o  Caso ainda não definida a paternidade, será  defla- Título III
grado procedimento específico destinado à sua averigua- Da Prática de Ato Infracional
ção, conforme previsto pela Lei no 8.560, de 29 de dezem-
Capítulo I
bro de 1992. 
Disposições Gerais
§ 4o  Nas hipóteses previstas no § 3o deste artigo, é dis-
pensável o ajuizamento de ação de investigação de pater- Art. 103. Considera-se ato infracional a conduta des-
nidade pelo Ministério Público se, após o não compareci- crita como crime ou contravenção penal.
mento ou a recusa do suposto pai em assumir a paternida-
de a ele atribuída, a criança for encaminhada para adoção.  Art. 104. São penalmente inimputáveis os menores
§ 5º Os registros e certidões necessários à inclusão, a de dezoito anos, sujeitos às medidas previstas nesta Lei.
qualquer tempo, do nome do pai no assento de nascimento Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei, deve ser con-
são isentos de multas, custas e emolumentos, gozando de siderada a idade do adolescente à data do fato.
absoluta prioridade.
§ 6º São gratuitas, a qualquer tempo, a averbação re- Art. 105. Ao ato infracional praticado por criança
querida do reconhecimento de paternidade no assento de corresponderão as medidas previstas no art. 101.
nascimento e a certidão correspondente.
Capítulo II
As normas de prevenção do ECA são destinadas a Dos Direitos Individuais
crianças e adolescentes em situação de risco. Existirá situa-
ção de risco quando a criança ou o adolescente estiverem Art. 106. Nenhum adolescente será privado de sua
privados de assistência. Essa assistência pode ser material liberdade senão em flagrante de ato infracional ou por
(quando não se tem onde dormir, o que comer, vestir etc.), ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária
moral (quando a criança ou o adolescente permanece em competente.
local inadequado, como locais de prática de jogo, prostitui- Parágrafo único. O adolescente tem direito à identifi-
ção etc.) ou jurídica (quando não tem quem o represente). cação dos responsáveis pela sua apreensão, devendo ser
O menor que pratica ato infracional está em situação informado acerca de seus direitos.
de risco por estar privado de assistência moral. A situação
de risco pode decorrer de ação ou omissão do Poder Pú- Art. 107. A apreensão de qualquer adolescente e o local
blico; ação ou omissão dos pais ou dos responsáveis; por onde se encontra recolhido serão incontinenti comunicados
à autoridade judiciária competente e à família do apreendi-
conduta própria.
do ou à pessoa por ele indicada.
O art. 101 do ECA traz um rol das medidas protetivas
Parágrafo único. Examinar-se-á, desde logo e sob pena
diante da situação de risco. Essas medidas poderão ser
de responsabilidade, a possibilidade de liberação imedia-
aplicadas tanto para a criança quanto para o adolescente. ta.
São elas:
- encaminhamento da criança e do adolescente aos Art. 108. A internação, antes da sentença, pode ser de-
pais ou responsáveis, mediante termo ou responsabilidade; terminada pelo prazo máximo de quarenta e cinco dias.
- orientação, apoio e acompanhamentos temporários Parágrafo único. A decisão deverá ser fundamentada e
por pessoa nomeada pelo Juiz; basear-se em indícios suficientes de autoria e materia-
- matrícula e frequência obrigatória em estabelecimen- lidade, demonstrada a necessidade imperiosa da medida.
to oficial de ensino fundamental (o Juiz determina aos pais
a obrigação); Art. 109. O adolescente civilmente identificado não
- inclusão em programa comunitário ou oficial de auxí- será submetido a identificação compulsória pelos ór-
lio à família, à criança e ao adolescente; gãos policiais, de proteção e judiciais, salvo para efeito
- requisição de tratamento médico, psicológico ou psi- de confrontação, havendo dúvida fundada.
quiátrico em regime hospitalar (internação) ou ambulato-
rial (consultas periódicas); O adolescente não é preso, é apreendido.
- abrigo em entidade (não se fala em orfanato). A dou- A internação é a medida mais gravosa para o adoles-
trina chama de “Tutela de Estado” quando a criança está cente. O ECA permite a internação provisória durante o
em abrigo sob a proteção do Estado; processo. É fixado o prazo máximo de 45 dias. Os funda-

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LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

mentos para que o Juiz decrete essa internação provisória Parágrafo único. A advertência poderá ser aplicada
são: indícios suficientes de autoria e materialidade e neces- sempre que houver prova da materialidade e indícios sufi-
sidade da medida. cientes da autoria.
Esse prazo de internação provisória será descontado
na internação definitiva. Em nenhuma hipótese a criança As medidas socioeducativas dependem de um pro-
poderá ser internada. Criança, que é todo aquele menor cedimento judicial, só podendo ser aplicadas pelo Juiz. O
de 12 anos, não se sujeita a medida sócio-educativa, mas ECA apresenta dois critérios genéricos para a aplicação de
apenas a medida de proteção. medida socioeducativa:
- capacidade do adolescente para cumprir a medida;
Capítulo III - circunstâncias e gravidade da infração.
Das Garantias Processuais A internação é uma exceção, existindo hipóteses legais
para sua aplicação.
Art. 110. Nenhum adolescente será privado de sua liber-
A medida de segurança não poderá ser aplicada ao
dade sem o devido processo legal.
adolescente, tendo em vista ser medida para maior de ida-
Art. 111. São asseguradas ao adolescente, entre outras, de que apresenta periculosidade. No caso de adolescente
as seguintes garantias: doente mental, será aplicada medida de proteção, poden-
I - pleno e formal conhecimento da atribuição de ato do ser requisitado tratamento médico.
infracional, mediante citação ou meio equivalente; O Juiz poderá cumular medidas socioeducativas, des-
II - igualdade na relação processual, podendo con- de que sejam compatíveis (ex.: prestação de serviço à co-
frontar-se com vítimas e testemunhas e produzir todas as munidade cumulada com reparação de danos). Com ex-
provas necessárias à sua defesa; ceção da internação, o Juiz poderá substituir as medidas
III - defesa técnica por advogado; socioeducativas de acordo com o caso concreto, visto não
IV - assistência judiciária gratuita e integral aos ne- haver taxatividade.
cessitados, na forma da lei; Se o Promotor discordar com a medida socioeducati-
V - direito de ser ouvido pessoalmente pela autoridade va aplicada, deverá entrar com recurso de apelação. Essa
competente; apelação do ECA possui juízo de retratação, ou seja, o Juiz
VI - direito de solicitar a presença de seus pais ou pode voltar atrás na decisão. O Tribunal competente para
responsável em qualquer fase do procedimento. julgar essa apelação é o TJ.

Capítulo IV Seção II
Das Medidas Socioeducativas Da Advertência

Seção I Art. 115. A advertência consistirá em admoestação


Disposições Gerais verbal, que será reduzida a termo e assinada.
Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a autori- Disposta no art. 115 do ECA, é uma medida sócio-e-
dade competente poderá aplicar ao adolescente as seguintes ducativa que consiste em uma admoestação verbal que é
medidas: aplicada pelo Juiz ao adolescente e que é reduzida a ter-
I - advertência;
mo. É destinada a atos de menor gravidade.
II - obrigação de reparar o dano;
Para a aplicação da advertência, o Juiz deve levar em
III - prestação de serviços à comunidade;
consideração a prova da materialidade e indícios suficien-
IV - liberdade assistida;
V - inserção em regime de semi-liberdade; tes de autoria. É a única medida que o Juiz poderá aplicar
VI - internação em estabelecimento educacional; fundamentando-se somente em indícios de autoria.
VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI.
§ 1º A medida aplicada ao adolescente levará em con- Seção III
ta a sua capacidade de cumpri-la, as circunstâncias e a Da Obrigação de Reparar o Dano
gravidade da infração.
§ 2º Em hipótese alguma e sob pretexto algum, será Art. 116. Em se tratando de ato infracional com re-
admitida a prestação de trabalho forçado. flexos patrimoniais, a autoridade poderá determinar, se
§ 3º Os adolescentes portadores de doença ou defi- for o caso, que o adolescente restitua a coisa, promova o
ciência mental receberão tratamento individual e espe- ressarcimento do dano, ou, por outra forma, compense o
cializado, em local adequado às suas condições. prejuízo da vítima.
Parágrafo único. Havendo manifesta impossibilidade, a
Art. 113. Aplica-se a este Capítulo o disposto nos arts. medida poderá ser substituída por outra adequada.
99 e 100.
Art. 114. A imposição das medidas previstas nos incisos Obrigação de reparar o dano (art. 116 do ECA). Há um
II a VI do art. 112 pressupõe a existência de provas suficien- pressuposto: o ato infracional deve ter causado um dano
tes da autoria e da materialidade da infração, ressalva- à vítima. Essa reparação é para a vítima que sofreu o dano.
da a hipótese de remissão, nos termos do art. 127. É uma medida voltada para o adolescente, então deve ser

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LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

estabelecida de acordo com a possibilidade de cumpri- É a última medida em que o adolescente permanece
mento pelo adolescente (ex.: devolução da coisa furtada, com sua família. O Juiz irá determinar um acompanhamen-
pequenos serviços a título de reparação etc.). to permanente ao adolescente, designando, para isso, um
A jurisprudência admite que essa reparação de dano orientador, que poderá ser substituído a qualquer tempo. A
pode ser aplicada à criança (ex.: devolução da coisa furtada). lei fixa um prazo mínimo de 6 meses para a duração dessa
medida. O orientador terá as seguintes obrigações legais:
Seção IV - promover socialmente o adolescente, bem como a
Da Prestação de Serviços à Comunidade sua família, inserindo-os em programas sociais. Promover
socialmente é fazer com que o adolescente realize ativida-
Art. 117. A prestação de serviços comunitários consiste des valorizadas socialmente (teatro, música etc.);
na realização de tarefas gratuitas de interesse geral, - supervisionar a frequência e o aproveitamento esco-
por período não excedente a seis meses, junto a entida- lar do adolescente;
des assistenciais, hospitais, escolas e outros estabelecimentos - profissionalizar o adolescente (nos termos da EC n.
congêneres, bem como em programas comunitários ou go- 20);
vernamentais. - apresentar relatório do caso ao Juiz.
Parágrafo único. As tarefas serão atribuídas conforme as
aptidões do adolescente, devendo ser cumpridas durante jor- Seção VI
nada máxima de oito horas semanais, aos sábados, domin- Do Regime de Semiliberdade
gos e feriados ou em dias úteis, de modo a não prejudicar a
frequência à escola ou à jornada normal de trabalho. Art. 120. O regime de semiliberdade pode ser determi-
nado desde o início, ou como forma de transição para o
Disposta no art. 117 do ECA, o adolescente será obri- meio aberto, possibilitada a realização de atividades exter-
gado a prestar serviços em benefício da coletividade. São nas, independentemente de autorização judicial.
tarefas gratuitas de interesse geral junto a entidades assis- § 1º São obrigatórias a escolarização e a profissio-
tenciais, hospitais, escolas ou estabelecimentos congêneres. nalização, devendo, sempre que possível, ser utilizados os
Como a medida é mais gravosa, a lei fixa um prazo má- recursos existentes na comunidade.
ximo de 6 meses para essa prestação e um máximo de 8 § 2º A medida não comporta prazo determinado
horas semanais. Essas 8 horas poderão ser estabelecidas aplicando-se, no que couber, as disposições relativas à in-
discricionariamente, desde que não prejudiquem a frequên- ternação.
cia ao trabalho e à escola. Deverá ser levada em conta a
aptidão do adolescente para a aplicação da medida. Disposta no art. 120 do ECA, é uma medida que impor-
ta em privação de liberdade ao adolescente que pratica um
Seção V ato infracional mais grave. O adolescente é retirado de sua
Da Liberdade Assistida família e colocado em um estabelecimento apropriado de
semiliberdade, podendo realizar atividades externas (estu-
Art. 118. A liberdade assistida será adotada sempre dar, trabalhar etc.) somente com autorização do diretor do
que se afigurar a medida mais adequada para o fim de estabelecimento, não havendo necessidade de autorização
acompanhar, auxiliar e orientar o adolescente. judicial. Pode ser usada tanto como medida principal quan-
§ 1º A autoridade designará pessoa capacitada para to como medida progressiva ou regressiva.
acompanhar o caso, a qual poderá ser recomendada por A semiliberdade não tem prazo fixado em lei, nem
entidade ou programa de atendimento. mínimo nem máximo. A doutrina e a jurisprudência deter-
§ 2º A liberdade assistida será fixada pelo prazo mínimo minam a aplicação da medida por analogia dos prazos da
de seis meses, podendo a qualquer tempo ser prorrogada, internação, tendo como prazo máximo 3 anos. Há a obri-
revogada ou substituída por outra medida, ouvido o orien- gatoriedade de escolarização e profissionalização na semi-
tador, o Ministério Público e o defensor. liberdade.

Art. 119. Incumbe ao orientador, com o apoio e a super- Seção VII


visão da autoridade competente, a realização dos seguintes Da Internação
encargos, entre outros:
I - promover socialmente o adolescente e sua família, Art. 121. A internação constitui medida privativa da
fornecendo-lhes orientação e inserindo-os, se necessário, em liberdade, sujeita aos princípios de brevidade, excepcio-
programa oficial ou comunitário de auxílio e assistência so- nalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em
cial; desenvolvimento.
II - supervisionar a frequência e o aproveitamento escolar § 1º Será permitida a realização de atividades externas,
do adolescente, promovendo, inclusive, sua matrícula; a critério da equipe técnica da entidade, salvo expressa de-
III - diligenciar no sentido da profissionalização do ado- terminação judicial em contrário.
lescente e de sua inserção no mercado de trabalho; § 2º A medida não comporta prazo determinado, de-
IV - apresentar relatório do caso. vendo sua manutenção ser reavaliada, mediante decisão
fundamentada, no máximo a cada seis meses.

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LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

§ 3º Em nenhuma hipótese o período máximo de inter- XVI - receber, quando de sua desinternação, os docu-
nação excederá a três anos. mentos pessoais indispensáveis à vida em sociedade.
§ 4º Atingido o limite estabelecido no parágrafo ante- § 1º Em nenhum caso haverá incomunicabilidade.
rior, o adolescente deverá ser liberado, colocado em regime § 2º A autoridade judiciária poderá suspender tem-
de semiliberdade ou de liberdade assistida. porariamente a visita, inclusive de pais ou responsável, se
§ 5º A liberação será compulsória aos vinte e um anos existirem motivos sérios e fundados de sua prejudicialida-
de idade. de aos interesses do adolescente.
§ 6º Em qualquer hipótese a desinternação será pre-
cedida de autorização judicial, ouvido o Ministério Público. Art. 125. É dever do Estado zelar pela integridade física
§ 7o  A determinação judicial mencionada no § 1o pode- e mental dos internos, cabendo-lhe adotar as medidas ade-
rá ser revista a qualquer tempo pela autoridade judiciária. quadas de contenção e segurança.

Art. 122. A medida de internação só poderá ser aplicada Disposta no art. 121 e seguintes do ECA, é a medida
quando: reservada para os atos infracionais de natureza grave. O
I - tratar-se de ato infracional cometido mediante grave ECA estabelece princípios específicos para a internação,
ameaça ou violência a pessoa; pois é medida de privação de liberdade sempre excepcio-
II - por reiteração no cometimento de outras infrações nal.
graves; A internação deve durar o menor tempo possível
III - por descumprimento reiterado e injustificável da (princípio da brevidade), é uma medida de exceção que só
medida anteriormente imposta. deverá ser utilizada em último caso (princípio da excepcio-
§ 1o  O prazo de internação na hipótese do inciso III des- nalidade) e deve seguir o princípio do respeito à condição
te artigo não poderá ser superior a 3 (três) meses, devendo peculiar do adolescente como pessoa em desenvolvimen-
ser decretada judicialmente após o devido processo legal. to. Em nenhuma hipótese pode ser aplicada à criança.
§ 2º Em nenhuma hipótese será aplicada a internação, O ECA estabelece hipóteses de internação para:
- prática de ato infracional mediante grave ameaça ou
havendo outra medida adequada.
violência à pessoa;
- reiteração de infrações graves;
Art. 123. A internação deverá ser cumprida em entidade
- descumprimento reiterado e injustificado da medi-
exclusiva para adolescentes, em local distinto daquele des-
da anteriormente imposta (é uma hipótese de regressão).
tinado ao abrigo, obedecida rigorosa separação por critérios
Neste caso, a internação não pode ultrapassar o prazo de
de idade, compleição física e gravidade da infração.
3 meses.
Parágrafo único. Durante o período de internação, inclu-
Nas duas primeiras hipóteses, o prazo máximo para
sive provisória, serão obrigatórias atividades pedagógicas.
internação é de 3 anos. Por força desse prazo, o ECA pode-
rá atingir o maior de 18 anos. Em rigor, todas as medidas
Art. 124. São direitos do adolescente privado de liberda- sócio-educativas poderão atingir o maior de 18 anos.
de, entre outros, os seguintes: A medida só poderá ser aplicada com o devido pro-
I - entrevistar-se pessoalmente com o representante do cesso legal e em nenhuma hipótese poderá ser aplicada à
Ministério Público; criança. Quando o adolescente completar 21 anos, a libe-
II - peticionar diretamente a qualquer autoridade; ração será obrigatória. Caso o adolescente tenha passado
III - avistar-se reservadamente com seu defensor; por internação provisória, esses dias serão computados na
IV - ser informado de sua situação processual, sempre internação (detração). A diferença entre semi-liberdade e
que solicitada; internação é que, nesta, o adolescente depende de auto-
V - ser tratado com respeito e dignidade; rização expressa do juiz para praticar atividades externas,
VI - permanecer internado na mesma localidade ou na- ou seja, o adolescente internado somente se ausentará do
quela mais próxima ao domicílio de seus pais ou responsável; estabelecimento em que se achar se autorizado pelo juiz.
VII - receber visitas, ao menos, semanalmente; O art. 123 dispõe que o local para a internação deve
VIII - corresponder-se com seus familiares e amigos; ser distinto do abrigo, devendo-se obedecer a separação
IX - ter acesso aos objetos necessários à higiene e asseio por idade, composição física (tamanho), sexo e gravidade
pessoal; do ato infracional. Há, também, a obrigatoriedade de rea-
X - habitar alojamento em condições adequadas de hi- lização de atividades pedagógicas.
giene e salubridade; O art. 124 dispõe sobre direitos específicos dos ado-
XI - receber escolarização e profissionalização; lescentes:
XII - realizar atividades culturais, esportivas e de lazer: - entrevista pessoal com o representante do MP;
XIII - ter acesso aos meios de comunicação social; - entrevista reservada com seu defensor, dentre ou-
XIV - receber assistência religiosa, segundo a sua crença, tros.
e desde que assim o deseje; As visitas podem ser suspensas pelo juiz, sob o funda-
XV - manter a posse de seus objetos pessoais e dispor mento de segurança e proteção do menor, entretanto, em
de local seguro para guardá-los, recebendo comprovante da- nenhuma hipótese o menor poderá ficar incomunicável.
queles porventura depositados em poder da entidade;

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LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

Capítulo V O ECA traz quatro requisitos genéricos para a aplicação


Da Remissão da remissão, devendo ficar a critério do membro do MP ou
do Juiz a sua concessão. São eles:
Art. 126. Antes de iniciado o procedimento judicial - circunstâncias e conseqüências do fato;
para apuração de ato infracional, o representante do - contexto social em que o fato foi praticado;
Ministério Público poderá conceder a remissão, como - personalidade do agente;
forma de exclusão do processo, atendendo às circunstâncias
- maior ou menor participação no ato infracional.
e consequências do fato, ao contexto social, bem como à per-
A remissão, quer concedida pelo MP quer pelo Juiz,
sonalidade do adolescente e sua maior ou menor participa-
ção no ato infracional. não implica confissão de culpa. Existe uma divergência na
Parágrafo único. Iniciado o procedimento, a concessão doutrina em considerar a remissão como um acordo ou
da remissão pela autoridade judiciária importará na suspen- não. A posição majoritária entende que a remissão não é
são ou extinção do processo. um acordo, tendo em vista a lei falar em concessão e, ain-
da, pelo fato de não haver nenhum prejuízo para o adoles-
Art. 127. A remissão não implica necessariamente o cente, não possuindo a remissão nenhum efeito, podendo
reconhecimento ou comprovação da responsabilidade, ser concedida quantas vezes forem necessárias.
nem prevalece para efeito de antecedentes, podendo in-
cluir eventualmente a aplicação de qualquer das medidas Título IV
previstas em lei, exceto a colocação em regime de semi-li- Das Medidas Pertinentes aos Pais ou Responsável
berdade e a internação.
Art. 129. São medidas aplicáveis aos pais ou responsá-
Art. 128. A medida aplicada por força da remissão pode-
vel:
rá ser revista judicialmente, a qualquer tempo, mediante
pedido expresso do adolescente ou de seu representante le- I - encaminhamento a serviços e programas oficiais ou
gal, ou do Ministério Público. comunitários de proteção, apoio e promoção da família;
II - inclusão em programa oficial ou comunitário de au-
Tem por conceito o perdão, a indulgência ao menor. xílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos;
Podem conceder remissão tanto o MP quanto o Juiz. São III - encaminhamento a tratamento psicológico ou psi-
hipóteses de natureza jurídica diferentes. A remissão ju- quiátrico;
dicial é forma de extinção ou de suspensão do processo IV - encaminhamento a cursos ou programas de orien-
(portanto, pressupõe o processo em curso). Já a remissão tação;
ministerial é forma de exclusão do processo (logo, deve V - obrigação de matricular o filho ou pupilo e acompa-
ser concedida antes do processo - administrativamente). nhar sua frequência e aproveitamento escolar;
Quando a remissão é concedida pelo MP, segue-se o se- VI - obrigação de encaminhar a criança ou adolescente
guinte procedimento: a tratamento especializado;
- o menor é ouvido pelo Promotor que concederá a
VII - advertência;
remissão;
- o Promotor encaminha a remissão para homologação VIII - perda da guarda;
pelo Juiz; IX - destituição da tutela;
- se o Juiz não aceitar a remissão, deverá remeter para X - suspensão ou destituição do poder familiar.
o Procurador de Justiça, que poderá insistir na remissão Parágrafo único. Na aplicação das medidas previstas
ou designar outro representante do MP para apresentar nos incisos IX e X deste artigo, observar-se-á o disposto nos
representação contra o menor. Essa remissão concedida arts. 23 e 24.
pelo MP é causa de exclusão do processo, visto que, ao
conceder a remissão, inexiste o processo. Art. 130. Verificada a hipótese de maus-tratos, opressão
Quando a remissão é concedida pelo Juiz, segue-se o ou abuso sexual impostos pelos pais ou responsável, a auto-
seguinte procedimento: ridade judiciária poderá determinar, como medida cautelar,
- o Promotor oferece a representação; o afastamento do agressor da moradia comum.
- na audiência de apresentação, o menor será ouvido Parágrafo único.  Da medida cautelar constará, ainda, a
pelo Juiz, que poderá decidir pela remissão;
fixação provisória dos alimentos de que necessitem a criança
- o representante do MP deverá, obrigatoriamente, ser
ou o adolescente dependentes do agressor.
ouvido sobre a possibilidade da remissão antes de ela ser
aplicada. A remissão concedida pelo Juiz causa extinção do
processo. Havendo discordância por parte do MP, este de- Capítulo I
verá ingressar com uma apelação para reformar a decisão Disposições Gerais
do Juiz.
Tanto a doutrina quanto a jurisprudência admitem a Art. 131. O Conselho Tutelar é órgão permanente e au-
cumulação da remissão com uma medida sócio-educativa tônomo, não jurisdicional, encarregado pela sociedade de
que seja compatível (ex.: reparação do dano, advertência zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adoles-
etc.). Neste caso, a remissão é causa de suspensão do pro- cente, definidos nesta Lei.
cesso.

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LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

Art. 132.  Em cada Município e em cada Região Admi- IX - assessorar o Poder Executivo local na elaboração da
nistrativa do Distrito Federal haverá, no mínimo, 1 (um) proposta orçamentária para planos e programas de atendi-
Conselho Tutelar como órgão integrante da administração mento dos direitos da criança e do adolescente;
pública local, composto de 5 (cinco) membros, escolhidos X - representar, em nome da pessoa e da família, contra
pela população local para mandato de 4 (quatro) anos, a violação dos direitos previstos no art. 220, § 3º, inciso II, da
permitida 1 (uma) recondução, mediante novo processo Constituição Federal;
de escolha.  XI - representar ao Ministério Público para efeito das
ações de perda ou suspensão do poder familiar, após esgota-
Art. 133. Para a candidatura a membro do Conselho das as possibilidades de manutenção da criança ou do ado-
Tutelar, serão exigidos os seguintes requisitos: lescente junto à família natural;
I - reconhecida idoneidade moral; XII - promover e incentivar, na comunidade e nos gru-
II - idade superior a vinte e um anos; pos profissionais, ações de divulgação e treinamento para o
III - residir no município. reconhecimento de sintomas de maus-tratos em crianças e
adolescentes.
Art. 134.  Lei municipal ou distrital disporá sobre o Parágrafo único.  Se, no exercício de suas atribuições, o
local, dia e horário de funcionamento do Conselho Tu- Conselho Tutelar entender necessário o afastamento do con-
telar, inclusive quanto à remuneração dos respectivos mem- vívio familiar, comunicará incontinenti o fato ao Ministério
bros, aos quais é assegurado o direito a: Público, prestando-lhe informações sobre os motivos de tal
I - cobertura previdenciária;  entendimento e as providências tomadas para a orientação,
II - gozo de férias anuais remuneradas, acrescidas de 1/3 o apoio e a promoção social da família. 
(um terço) do valor da remuneração mensal;
III - licença-maternidade; Art. 137. As decisões do Conselho Tutelar somente po-
IV - licença-paternidade;  derão ser revistas pela autoridade judiciária a pedido de
V - gratificação natalina.  quem tenha legítimo interesse.
Parágrafo único.  Constará da lei orçamentária munici-
pal e da do Distrito Federal previsão dos recursos necessários
Capítulo III
ao funcionamento do Conselho Tutelar e à remuneração e
Da Competência
formação continuada dos conselheiros tutelares.
Art. 138. Aplica-se ao Conselho Tutelar a regra de com-
Art. 135.  O exercício efetivo da função de conselheiro
petência constante do art. 147.
constituirá serviço público relevante e estabelecerá presun-
ção de idoneidade moral. 
Capítulo IV
Capítulo II Da Escolha dos Conselheiros
Das Atribuições do Conselho
Art. 139. O processo para a escolha dos membros do
Art. 136. São atribuições do Conselho Tutelar: Conselho Tutelar será estabelecido em lei municipal e rea-
I - atender as crianças e adolescentes nas hipóteses pre- lizado sob a responsabilidade do Conselho Municipal dos
vistas nos arts. 98 e 105, aplicando as medidas previstas no Direitos da Criança e do Adolescente, e a fiscalização do
art. 101, I a VII; Ministério Público. 
II - atender e aconselhar os pais ou responsável, aplican- § 1o  O processo de escolha dos membros do Conse-
do as medidas previstas no art. 129, I a VII; lho Tutelar ocorrerá em data unificada em todo o território
III - promover a execução de suas decisões, podendo nacional a cada 4 (quatro) anos, no primeiro domingo do
para tanto: mês de outubro do ano subsequente ao da eleição pre-
a) requisitar serviços públicos nas áreas de saúde, edu- sidencial. 
cação, serviço social, previdência, trabalho e segurança; § 2o  A posse dos conselheiros tutelares ocorrerá no dia
b) representar junto à autoridade judiciária nos casos de 10 de janeiro do ano subsequente ao processo de escolha. 
descumprimento injustificado de suas deliberações. § 3o  No processo de escolha dos membros do Con-
IV - encaminhar ao Ministério Público notícia de fato selho Tutelar, é vedado ao candidato doar, oferecer, pro-
que constitua infração administrativa ou penal contra os di- meter ou entregar ao eleitor bem ou vantagem pessoal de
reitos da criança ou adolescente; qualquer natureza, inclusive brindes de pequeno valor. 
V - encaminhar à autoridade judiciária os casos de sua
competência; Capítulo V
VI - providenciar a medida estabelecida pela autoridade Dos Impedimentos
judiciária, dentre as previstas no art. 101, de I a VI, para o
adolescente autor de ato infracional; Art. 140. São impedidos de servir no mesmo Conse-
VII - expedir notificações; lho marido e mulher, ascendentes e descendentes, sogro
VIII - requisitar certidões de nascimento e de óbito de e genro ou nora, irmãos, cunhados, durante o cunhadio,
criança ou adolescente quando necessário; tio e sobrinho, padrasto ou madrasta e enteado.

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LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

Parágrafo único. Estende-se o impedimento do conse- O Estado assumiu para si o poder-dever de dizer o Di-
lheiro, na forma deste artigo, em relação à autoridade judi- reito, de solucionar os conflitos, conhecido como jurisdi-
ciária e ao representante do Ministério Público com atuação ção. Assim, o Estado irá elaborar as leis (direito material)
na Justiça da Infância e da Juventude, em exercício na co- e prever como elas serão aplicadas (direito processual). A
marca, foro regional ou distrital. autotutela para a ser punida como regra geral e o Estado
exerce a heterotutela por meio da atividade jurisdicional.
Título VI Jurisdição é o poder-dever do Estado de dizer o Direi-
Do Acesso à Justiça to. Sendo assim, trata-se de atividade estatal exercida por
intermédio de um agente constituído com competência
Capítulo I para exercê-la, o juiz.
Disposições Gerais Nos primórdios da humanidade não existia o Direito e
nem existiam as leis, de modo que a justiça era feita pelas
Art. 141. É garantido o acesso de toda criança ou próprias mãos, na denominada autotutela. Com a evolução
adolescente à Defensoria Pública, ao Ministério Público das instituições, o Estado avocou para si o poder-dever de
e ao Poder Judiciário, por qualquer de seus órgãos. solucionar os litígios, o que é feito pela jurisdição.
§ 1º. A assistência judiciária gratuita será prestada aos O poder-dever de dizer o direito é uno, apenas existin-
que dela necessitarem, através de defensor público ou ad- do uma separação de funções: o Legislativo regulamenta
vogado nomeado. normas gerais e abstratas (função legislativa) e o Judiciário
§ 2º As ações judiciais da competência da Justiça da as aplica no caso concreto (função jurisdicional).
Infância e da Juventude são isentas de custas e emolu- Entretanto, vale destacar que na sociedade contempo-
mentos, ressalvada a hipótese de litigância de má-fé. rânea, devido às inúmeras mazelas que se apresentaram
envolvendo o abarrotamento de processos pelo Judiciário,
Art. 142. Os menores de dezesseis anos serão repre- passou-se a incentivar a adoção de métodos de autocom-
sentados e os maiores de dezesseis e menores de vinte e posição, como conciliação, mediação e arbitragem.
um anos assistidos por seus pais, tutores ou curadores, na Tradicionalmente, são enumerados pela doutrina os
forma da legislação civil ou processual. seguintes princípios inerentes à jurisdição: investidura,
Parágrafo único. A autoridade judiciária dará curador porque somente exerce jurisdição quem ocupa o cargo de
especial à criança ou adolescente, sempre que os interes- juiz; aderência ao território, posto que juízes somente têm
ses destes colidirem com os de seus pais ou responsável, ou autoridade no território nacional e nos limites de sua com-
quando carecer de representação ou assistência legal ainda petência; indelegabilidade, não podendo o Poder Judiciário
que eventual. delegar sua competência; inafastabilidade, pois a lei não
pode excluir da apreciação do Poder Judiciário nenhuma
Art. 143. E vedada a divulgação de atos judiciais, po- lesão ou ameaça a direito.
liciais e administrativos que digam respeito a crianças e Embora a jurisdição seja una, em termos doutrinários
adolescentes a que se atribua autoria de ato infracional. é possível classificá-la: a) quanto ao objeto – penal, traba-
Parágrafo único. Qualquer notícia a respeito do fato lhista e civil (a civil é subsidiária, envolvendo todo direito
não poderá identificar a criança ou adolescente, vedando-se material que não seja penal ou trabalhista, não somente
fotografia, referência a nome, apelido, filiação, parentesco, questões inerentes ao direito civil); b) quanto ao organismo
residência e, inclusive, iniciais do nome e sobrenome.  que a exerce – comum (estadual ou federal) ou especial
(trabalhista, militar, eleitoral); c) quanto à hierarquia – su-
Art. 144. A expedição de cópia ou certidão de atos a perior e inferior.
que se refere o artigo anterior somente será deferida pela Neste sentido, com vistas a instrumentalizar a jurisdi-
autoridade judiciária competente, se demonstrado o interes- ção, impedindo que ela seja exercida de maneira caótica,
se e justificada a finalidade. ela é distribuída entre juízos e foros (órgãos competentes
em localidades determinadas). A esta distribuição das par-
O homem necessita do convívio social, não é um ser celas de jurisdição dá-se o nome de competência.
capaz de viver de maneira autônoma e totalmente des- As tutelas jurisdicionais diferenciadas, por sua vez,
vinculada dos demais. Neste sentido, a imposição de re- são aquelas que apresentam procedimentos diversos do
gramentos e normas permitiu que a sociedade atingisse o comum. Possuem procedimentos ditos especiais, os quais
atual grau de evolução. buscam garantir um processo mais rápido e compatível
Obviamente, no ambiente social surgem conflitos de com as necessidades específicas do direito em discussão.
interesses. Afinal, nem sempre os bens e valores existem No âmbito do direito da criança e do adolescente, tem-se
em quantidade suficiente para atender a todas as pessoas. o estabelecimento de uma tutela jurisdicional diferenciada,
Inicialmente, estes conflitos eram solucionados pelos pró- eis que existem inúmeras regras específicas aplicáveis aos
prios envolvidos, na denominada fase da autotutela. processos que envolvem de algum modo criança ou ado-
Contudo, a solução possibilidade pela autotutela era lescente.
bastante insatisfatória e fazia com que prevalecesse a lei do A noção de jurisdição inclusiva também se aplica à tu-
mais forte. Então, surgiu o Estado apresentando um melhor tela jurisdicional da criança e do adolescente. Basicamente,
sistema para a solução dos conflitos. refere-se à propiciação de uma jurisdição que esteja atenta

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LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

às peculiaridades das minorias e dos grupos vulneráveis. Parágrafo único. Quando se tratar de criança ou adoles-
No caso, as crianças e adolescentes são considerados um cente nas hipóteses do art. 98, é também competente a Justiça
grupo vulnerável devido à condição especial que ocupam. da Infância e da Juventude para o fim de:
a) conhecer de pedidos de guarda e tutela;
Capítulo II b) conhecer de ações de destituição do poder familiar,
Da Justiça da Infância e da Juventude perda ou modificação da tutela ou guarda; 
c) suprir a capacidade ou o consentimento para o casa-
Seção I mento;
Disposições Gerais d) conhecer de pedidos baseados em discordância pater-
na ou materna, em relação ao exercício do poder familiar; 
Art. 145. Os estados e o Distrito Federal poderão criar e) conceder a emancipação, nos termos da lei civil, quan-
varas especializadas e exclusivas da infância e da juventude, do faltarem os pais;
f) designar curador especial em casos de apresentação de
cabendo ao Poder Judiciário estabelecer sua proporcionali-
queixa ou representação, ou de outros procedimentos judiciais
dade por número de habitantes, dotá-las de infra-estrutura e
ou extrajudiciais em que haja interesses de criança ou ado-
dispor sobre o atendimento, inclusive em plantões.
lescente;
g) conhecer de ações de alimentos;
Seção II h) determinar o cancelamento, a retificação e o supri-
Do Juiz mento dos registros de nascimento e óbito.
Art. 146. A autoridade a que se refere esta Lei é o Juiz da Art. 149. Compete à autoridade judiciária disciplinar,
Infância e da Juventude, ou o juiz que exerce essa função, na através de portaria, ou autorizar, mediante alvará:
forma da lei de organização judiciária local. I - a entrada e permanência de criança ou adolescente,
desacompanhado dos pais ou responsável, em:
Art. 147. A competência será determinada: a) estádio, ginásio e campo desportivo;
I - pelo domicílio dos pais ou responsável; b) bailes ou promoções dançantes;
II - pelo lugar onde se encontre a criança ou adolescente, c) boate ou congêneres;
à falta dos pais ou responsável. d) casa que explore comercialmente diversões eletrônicas;
§ 1º. Nos casos de ato infracional, será competente a e) estúdios cinematográficos, de teatro, rádio e televisão.
autoridade do lugar da ação ou omissão, observadas as re- II - a participação de criança e adolescente em:
gras de conexão, continência e prevenção. a) espetáculos públicos e seus ensaios;
§ 2º A execução das medidas poderá ser delegada à b) certames de beleza.
autoridade competente da residência dos pais ou respon- § 1º Para os fins do disposto neste artigo, a autoridade
sável, ou do local onde sediar-se a entidade que abrigar a judiciária levará em conta, dentre outros fatores:
criança ou adolescente. a) os princípios desta Lei;
§ 3º Em caso de infração cometida através de trans- b) as peculiaridades locais;
missão simultânea de rádio ou televisão, que atinja mais c) a existência de instalações adequadas;
de uma comarca, será competente, para aplicação da pe- d) o tipo de freqüência habitual ao local;
nalidade, a autoridade judiciária do local da sede estadual e) a adequação do ambiente a eventual participação ou
da emissora ou rede, tendo a sentença eficácia para todas freqüência de crianças e adolescentes;
f) a natureza do espetáculo.
as transmissoras ou retransmissoras do respectivo estado.
§ 2º As medidas adotadas na conformidade deste artigo
deverão ser fundamentadas, caso a caso, vedadas as deter-
Art. 148. A Justiça da Infância e da Juventude é compe-
minações de caráter geral.
tente para:
I - conhecer de representações promovidas pelo Minis- Seção III
tério Público, para apuração de ato infracional atribuído a Dos Serviços Auxiliares
adolescente, aplicando as medidas cabíveis;
II - conceder a remissão, como forma de suspensão ou Art. 150. Cabe ao Poder Judiciário, na elaboração de sua
extinção do processo; proposta orçamentária, prever recursos para manutenção de
III - conhecer de pedidos de adoção e seus incidentes; equipe interprofissional, destinada a assessorar a Justiça da
IV - conhecer de ações civis fundadas em interesses indi- Infância e da Juventude.
viduais, difusos ou coletivos afetos à criança e ao adolescen-
te, observado o disposto no art. 209; Art. 151. Compete à equipe interprofissional dentre outras
V - conhecer de ações decorrentes de irregularidades em atribuições que lhe forem reservadas pela legislação local, for-
entidades de atendimento, aplicando as medidas cabíveis; necer subsídios por escrito, mediante laudos, ou verbalmente,
VI - aplicar penalidades administrativas nos casos de in- na audiência, e bem assim desenvolver trabalhos de aconse-
frações contra norma de proteção à criança ou adolescente; lhamento, orientação, encaminhamento, prevenção e outros,
VII - conhecer de casos encaminhados pelo Conselho Tu- tudo sob a imediata subordinação à autoridade judiciária, as-
telar, aplicando as medidas cabíveis. segurada a livre manifestação do ponto de vista técnico.

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LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

Parágrafo único. Na ausência ou insuficiência de servi- Considerados os diferentes tipos de tutelas inseridas
dores públicos integrantes do Poder Judiciário responsáveis no direito da criança e do adolescente, justifica-se a tutela
pela realização dos estudos psicossociais ou de quaisquer jurisdicional diferenciada, adaptada à condição em desen-
outras espécies de avaliações técnicas exigidas por esta Lei volvimento da criança e do adolescente, que deve ser ágil,
ou por determinação judicial, a autoridade judiciária poderá efetiva, atenta às peculiaridades do caso concreto.
proceder à nomeação de perito, nos termos do art. 156 da Os procedimentos especiais do ECA se referem a: per-
Lei no 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo da e suspensão de poder familiar, destituição de tutela, co-
Civil). locação em família substituta, apuração de ato infracional
atribuído a adolescente, apuração de irregularidades em
Capítulo III atendimento, apuração de infração administrativa às nor-
Dos Procedimentos mas de proteção da criança e do adolescente e habilitação
em adoção.
Seção I
Disposições Gerais
Seção II
Da Perda e da Suspensão do Poder Familiar
Art. 152. Aos procedimentos regulados nesta Lei apli-
cam-se subsidiariamente as normas gerais previstas na
legislação processual pertinente. Art. 155. O procedimento para a perda ou a suspensão
§ 1o É assegurada, sob pena de responsabilidade, prio- do poder familiar terá início por provocação do Ministério
ridade absoluta na tramitação dos processos e procedi- Público ou de quem tenha legítimo interesse.
mentos previstos nesta Lei, assim como na execução dos atos
e diligências judiciais a eles referentes.  Art. 156. A petição inicial indicará:
§ 2º Os prazos estabelecidos nesta Lei e aplicáveis aos I - a autoridade judiciária a que for dirigida;
seus procedimentos são contados em dias corridos, excluí- II - o nome, o estado civil, a profissão e a residência do
do o dia do começo e incluído o dia do vencimento, vedado requerente e do requerido, dispensada a qualificação em se
o prazo em dobro para a Fazenda Pública e o Ministério Pú- tratando de pedido formulado por representante do Minis-
blico. tério Público;
III - a exposição sumária do fato e o pedido;
Art. 153. Se a medida judicial a ser adotada não cor- IV - as provas que serão produzidas, oferecendo, desde
responder a procedimento previsto nesta ou em outra lei, a logo, o rol de testemunhas e documentos.
autoridade judiciária poderá investigar os fatos e ordenar
de ofício as providências necessárias, ouvido o Ministé- Art. 157. Havendo motivo grave, poderá a autoridade
rio Público. judiciária, ouvido o Ministério Público, decretar a suspensão
Parágrafo único.  O disposto neste artigo não se aplica do poder familiar, liminar ou incidentalmente, até o julga-
para o fim de afastamento da criança ou do adolescente de mento definitivo da causa, ficando a criança ou adolescente
sua família de origem e em outros procedimentos necessaria- confiado a pessoa idônea, mediante termo de responsabili-
mente contenciosos.  dade. 
§ 1o Recebida a petição inicial, a autoridade judiciária
Art. 154. Aplica-se às multas o disposto no art. 214. determinará, concomitantemente ao despacho de citação e
independentemente de requerimento do interessado, a reali-
A tutela sócio-individual abrange aspectos do direito da
zação de estudo social ou perícia por equipe interprofissional
criança e do adolescente voltado à criança e ao adolescente
ou multidisciplinar para comprovar a presença de uma das
individualmente concebidos, isto é, pensados como sujeitos
causas de suspensão ou destituição do poder familiar, ressal-
de direitos individuais que possam ser por eles exercidos.
vado o disposto no § 10 do art. 101 desta Lei, e observada a
A tutela sócio-educativa abrange aspectos do direito da
criança e do adolescente voltados às atividades de ensino Lei no 13.431, de 4 de abril de 2017.
e aprendizagem, tanto no que se refere à educação formal § 2o Em sendo os pais oriundos de comunidades indíge-
quanto em relação à educação informal. nas, é ainda obrigatória a intervenção, junto à equipe inter-
A tutela coletiva volta-se à proteção de direitos difusos profissional ou multidisciplinar referida no § 1o deste artigo,
e coletivos da criança e do adolescente. Aos direitos difusos de representantes do órgão federal responsável pela política
e coletivos são conferidos mecanismos de tutela específi- indigenista, observado o disposto no § 6o do art. 28 desta Lei.
cos para sua proteção, bem como atribuída competência
para tanto a órgãos determinados que exercerão um papel Art. 158. O requerido será citado para, no prazo de dez
representativo. No Brasil, destacam-se instituições como dias, oferecer resposta escrita, indicando as provas a serem
o Ministério Público e a Defensoria Pública. Sem prejuízo, produzidas e oferecendo desde logo o rol de testemunhas
como visto, há remédios constitucionais que se voltam à e documentos.
proteção de interesses desta categoria, como o mandado § 1º A citação será pessoal, salvo se esgotados todos os
de segurança coletivo e a própria ação popular, sem falar meios para sua realização.
na ação civil pública, também mencionada no texto cons- § 2º O requerido privado de liberdade deverá ser cita-
titucional. do pessoalmente.

52
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

§ 3o Quando, por 2 (duas) vezes, o oficial de justiça hou- § 1º (Revogado).


ver procurado o citando em seu domicílio ou residência sem § 2o Na audiência, presentes as partes e o Ministério Pú-
o encontrar, deverá, havendo suspeita de ocultação, infor- blico, serão ouvidas as testemunhas, colhendo-se oralmen-
mar qualquer pessoa da família ou, em sua falta, qualquer te o parecer técnico, salvo quando apresentado por escrito,
vizinho do dia útil em que voltará a fim de efetuar a citação, manifestando-se sucessivamente o requerente, o requerido e
na hora que designar, nos termos do art. 252 e seguintes da o Ministério Público, pelo tempo de 20 (vinte) minutos cada
Lei no 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo um, prorrogável por mais 10 (dez) minutos.
Civil). § 3o A decisão será proferida na audiência, podendo a
§ 4o Na hipótese de os genitores encontrarem-se em lo- autoridade judiciária, excepcionalmente, designar data para
cal incerto ou não sabido, serão citados por edital no prazo sua leitura no prazo máximo de 5 (cinco) dias.
de 10 (dez) dias, em publicação única, dispensado o envio de § 4o Quando o procedimento de destituição de poder fa-
ofícios para a localização. miliar for iniciado pelo Ministério Público, não haverá neces-
sidade de nomeação de curador especial em favor da criança
Art. 159. Se o requerido não tiver possibilidade de cons- ou adolescente.
tituir advogado, sem prejuízo do próprio sustento e de sua
família, poderá requerer, em cartório, que lhe seja nomea- Art. 163. O prazo máximo para conclusão do proce-
do dativo, ao qual incumbirá a apresentação de resposta, dimento será de 120 (cento e vinte) dias, e caberá ao juiz,
contando-se o prazo a partir da intimação do despacho de no caso de notória inviabilidade de manutenção do poder
nomeação. familiar, dirigir esforços para preparar a criança ou o adoles-
Parágrafo único. Na hipótese de requerido privado de cente com vistas à colocação em família substituta.
liberdade, o oficial de justiça deverá perguntar, no momento Parágrafo único. A sentença que decretar a perda ou
da citação pessoal, se deseja que lhe seja nomeado defensor. a suspensão do poder familiar será averbada à margem do
registro de nascimento da criança ou do adolescente.
Art. 160. Sendo necessário, a autoridade judiciária re-
quisitará de qualquer repartição ou órgão público a apre- Seção III
sentação de documento que interesse à causa, de ofício ou Da Destituição da Tutela
a requerimento das partes ou do Ministério Público.
Art. 164. Na destituição da tutela, observar-se-á o pro-
Art. 161. Se não for contestado o pedido e tiver sido cedimento para a remoção de tutor previsto na lei proces-
concluído o estudo social ou a perícia realizada por equi- sual civil e, no que couber, o disposto na seção anterior.
pe interprofissional ou multidisciplinar, a autoridade judi-
ciária dará vista dos autos ao Ministério Público, por 5 A destituição da tutela pode, assim, ser decretada ju-
(cinco) dias, salvo quando este for o requerente, e decidirá dicialmente, em procedimento contraditório, nos casos
em igual prazo. previstos na legislação civil, bem como na hipótese de des-
§ 1º A autoridade judiciária, de ofício ou a requerimen- cumprimento injustificado dos deveres e obrigações.
to das partes ou do Ministério Público, determinará a oi-
tiva de testemunhas que comprovem a presença de uma Seção IV
das causas de suspensão ou destituição do poder familiar Da Colocação em Família Substituta
previstas nos arts. 1.637 e 1.638 da Lei no 10.406, de 10 de
janeiro de 2002 (Código Civil), ou no art. 24 desta Lei. Dos artigos 165 a 170 estão descritos procedimentos
§ 2o (Revogado). adotados na colocação em família substituta:
§ 3o Se o pedido importar em modificação de guarda,
será obrigatória, desde que possível e razoável, a oitiva da Art. 165. São requisitos para a concessão de pedidos de
criança ou adolescente, respeitado seu estágio de desen- colocação em família substituta:
volvimento e grau de compreensão sobre as implicações da I - qualificação completa do requerente e de seu even-
medida. tual cônjuge, ou companheiro, com expressa anuência deste;
§ 4º É obrigatória a oitiva dos pais sempre que eles II - indicação de eventual parentesco do requerente e de
forem identificados e estiverem em local conhecido, ressal- seu cônjuge, ou companheiro, com a criança ou adolescente,
vados os casos de não comparecimento perante a Justiça especificando se tem ou não parente vivo;
quando devidamente citados. III - qualificação completa da criança ou adolescente e
§ 5o Se o pai ou a mãe estiverem privados de liberda- de seus pais, se conhecidos;
de, a autoridade judicial requisitará sua apresentação para IV - indicação do cartório onde foi inscrito nascimento,
a oitiva. anexando, se possível, uma cópia da respectiva certidão;
V - declaração sobre a existência de bens, direitos ou
Art. 162. Apresentada a resposta, a autoridade judi- rendimentos relativos à criança ou ao adolescente.
ciária dará vista dos autos ao Ministério Público, por Parágrafo único. Em se tratando de adoção, observar-se-
cinco dias, salvo quando este for o requerente, designando, -ão também os requisitos específicos.
desde logo, audiência de instrução e julgamento.

53
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

Art. 166.  Se os pais forem falecidos, tiverem sido Parágrafo único. A perda ou a modificação da guarda
destituídos ou suspensos do poder familiar, ou houve- poderá ser decretada nos mesmos autos do procedimento,
rem aderido expressamente ao pedido de colocação em observado o disposto no art. 35.
família substituta, este poderá ser formulado diretamente
em cartório, em petição assinada pelos próprios requerentes, Art. 170. Concedida a guarda ou a tutela, observar-se-á
dispensada a assistência de advogado.  o disposto no art. 32, e, quanto à adoção, o contido no art.
§ 1o Na hipótese de concordância dos pais, o juiz: 47.
I - na presença do Ministério Público, ouvirá as partes, Parágrafo único.  A colocação de criança ou adolescen-
devidamente assistidas por advogado ou por defensor públi-
te sob a guarda de pessoa inscrita em programa de acolhi-
co, para verificar sua concordância com a adoção, no prazo
mento familiar será comunicada pela autoridade judiciária à
máximo de 10 (dez) dias, contado da data do protocolo da
petição ou da entrega da criança em juízo, tomando por ter- entidade por este responsável no prazo máximo de 5 (cinco)
mo as declarações; e dias.  
II - declarará a extinção do poder familiar.
§ 2o O consentimento dos titulares do poder familiar será Seção V
precedido de orientações e esclarecimentos prestados pela Da Apuração de Ato Infracional Atribuído a
equipe interprofissional da Justiça da Infância e da Juventu- Adolescente
de, em especial, no caso de adoção, sobre a irrevogabilidade
da medida. Art. 171. O adolescente apreendido por força de ordem
§ 3o São garantidos a livre manifestação de vontade judicial será, desde logo, encaminhado à autoridade judiciá-
dos detentores do poder familiar e o direito ao sigilo das ria.
informações.
§ 4o O consentimento prestado por escrito não terá va- Art. 172. O adolescente apreendido em flagrante de ato
lidade se não for ratificado na audiência a que se refere o § infracional será, desde logo, encaminhado à autoridade po-
1o deste artigo. licial competente.
§ 5o O consentimento é retratável até a data da reali- Parágrafo único. Havendo repartição policial especiali-
zação da audiência especificada no § 1o deste artigo, e os zada para atendimento de adolescente e em se tratando de
pais podem exercer o arrependimento no prazo de 10 (dez)
ato infracional praticado em co-autoria com maior, prevale-
dias, contado da data de prolação da sentença de extinção
cerá a atribuição da repartição especializada, que, após as
do poder familiar.
§ 6o O consentimento somente terá valor se for dado providências necessárias e conforme o caso, encaminhará o
após o nascimento da criança. adulto à repartição policial própria.
§ 7o A família natural e a família substituta receberão
a devida orientação por intermédio de equipe técnica inter- Art. 173. Em caso de flagrante de ato infracional come-
profissional a serviço da Justiça da Infância e da Juventude, tido mediante violência ou grave ameaça a pessoa, a auto-
preferencialmente com apoio dos técnicos responsáveis pela ridade policial, sem prejuízo do disposto nos arts. 106, pará-
execução da política municipal de garantia do direito à con- grafo único, e 107, deverá:
vivência familiar. I - lavrar auto de apreensão, ouvidos as testemunhas e
o adolescente;
Art. 167. A autoridade judiciária, de ofício ou a reque- II - apreender o produto e os instrumentos da infração;
rimento das partes ou do Ministério Público, determinará a III - requisitar os exames ou perícias necessários à com-
realização de estudo social ou, se possível, perícia por equi- provação da materialidade e autoria da infração.
pe interprofissional, decidindo sobre a concessão de guarda Parágrafo único. Nas demais hipóteses de flagrante,
provisória, bem como, no caso de adoção, sobre o estágio de a lavratura do auto poderá ser substituída por boletim de
convivência. ocorrência circunstanciada.
Parágrafo único.  Deferida a concessão da guarda pro-
visória ou do estágio de convivência, a criança ou o ado-
Art. 174. Comparecendo qualquer dos pais ou responsá-
lescente será entregue ao interessado, mediante termo de
vel, o adolescente será prontamente liberado pela autorida-
responsabilidade.  
de policial, sob termo de compromisso e responsabilidade de
Art. 168. Apresentado o relatório social ou o laudo pe- sua apresentação ao representante do Ministério Público, no
ricial, e ouvida, sempre que possível, a criança ou o adoles- mesmo dia ou, sendo impossível, no primeiro dia útil ime-
cente, dar-se-á vista dos autos ao Ministério Público, pelo diato, exceto quando, pela gravidade do ato infracional e
prazo de cinco dias, decidindo a autoridade judiciária em sua repercussão social, deva o adolescente permanecer sob
igual prazo. internação para garantia de sua segurança pessoal ou ma-
nutenção da ordem pública.
Art. 169. Nas hipóteses em que a destituição da tutela, a
perda ou a suspensão do poder familiar constituir pressupos- Art. 175. Em caso de não liberação, a autoridade poli-
to lógico da medida principal de colocação em família subs- cial encaminhará, desde logo, o adolescente ao representan-
tituta, será observado o procedimento contraditório previsto te do Ministério Público, juntamente com cópia do auto de
nas Seções II e III deste Capítulo.   apreensão ou boletim de ocorrência.

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LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

§ 1º Sendo impossível a apresentação imediata, a au- Art. 182. Se, por qualquer razão, o representante do Mi-
toridade policial encaminhará o adolescente à entidade de nistério Público não promover o arquivamento ou conceder
atendimento, que fará a apresentação ao representante do a remissão, oferecerá representação à autoridade judiciária,
Ministério Público no prazo de vinte e quatro horas. propondo a instauração de procedimento para aplicação da
§ 2º Nas localidades onde não houver entidade de medida sócio-educativa que se afigurar a mais adequada.
atendimento, a apresentação far-se-á pela autoridade po- § 1º A representação será oferecida por petição, que
licial. À falta de repartição policial especializada, o adoles- conterá o breve resumo dos fatos e a classificação do ato
cente aguardará a apresentação em dependência separada infracional e, quando necessário, o rol de testemunhas, po-
da destinada a maiores, não podendo, em qualquer hipó-
dendo ser deduzida oralmente, em sessão diária instalada
tese, exceder o prazo referido no parágrafo anterior.
pela autoridade judiciária.
Art. 176. Sendo o adolescente liberado, a autoridade po- § 2º A representação independe de prova pré-consti-
licial encaminhará imediatamente ao representante do Mi- tuída da autoria e materialidade.
nistério Público cópia do auto de apreensão ou boletim de
ocorrência. Art. 183. O prazo máximo e improrrogável para a con-
clusão do procedimento, estando o adolescente internado
Art. 177. Se, afastada a hipótese de flagrante, houver in- provisoriamente, será de quarenta e cinco dias.
dícios de participação de adolescente na prática de ato infra-
cional, a autoridade policial encaminhará ao representante Art. 184. Oferecida a representação, a autoridade judi-
do Ministério Público relatório das investigações e demais ciária designará audiência de apresentação do adolescente,
documentos. decidindo, desde logo, sobre a decretação ou manutenção
da internação, observado o disposto no art. 108 e parágrafo.
Art. 178. O adolescente a quem se atribua autoria de § 1º O adolescente e seus pais ou responsável serão
ato infracional não poderá ser conduzido ou transportado cientificados do teor da representação, e notificados a
em compartimento fechado de veículo policial, em condições comparecer à audiência, acompanhados de advogado.
atentatórias à sua dignidade, ou que impliquem risco à sua § 2º Se os pais ou responsável não forem localizados, a
integridade física ou mental, sob pena de responsabilidade. autoridade judiciária dará curador especial ao adolescente.
§ 3º Não sendo localizado o adolescente, a autoridade
Art. 179. Apresentado o adolescente, o representante
judiciária expedirá mandado de busca e apreensão, deter-
do Ministério Público, no mesmo dia e à vista do auto de
apreensão, boletim de ocorrência ou relatório policial, devi- minando o sobrestamento do feito, até a efetiva apresen-
damente autuados pelo cartório judicial e com informação tação.
sobre os antecedentes do adolescente, procederá imediata e § 4º Estando o adolescente internado, será requisitada
informalmente à sua oitiva e, em sendo possível, de seus pais a sua apresentação, sem prejuízo da notificação dos pais
ou responsável, vítima e testemunhas. ou responsável.
Parágrafo único. Em caso de não apresentação, o repre-
sentante do Ministério Público notificará os pais ou respon- Art. 185. A internação, decretada ou mantida pela au-
sável para apresentação do adolescente, podendo requisitar toridade judiciária, não poderá ser cumprida em estabeleci-
o concurso das polícias civil e militar. mento prisional.
§ 1º Inexistindo na comarca entidade com as carac-
Art. 180. Adotadas as providências a que alude o artigo terísticas definidas no art. 123, o adolescente deverá ser
anterior, o representante do Ministério Público poderá: imediatamente transferido para a localidade mais próxima.
I - promover o arquivamento dos autos; § 2º Sendo impossível a pronta transferência, o adoles-
II - conceder a remissão; cente aguardará sua remoção em repartição policial, desde
III - representar à autoridade judiciária para aplicação que em seção isolada dos adultos e com instalações apro-
de medida sócio-educativa. priadas, não podendo ultrapassar o prazo máximo de cinco
dias, sob pena de responsabilidade.
Art. 181. Promovido o arquivamento dos autos ou con-
cedida a remissão pelo representante do Ministério Público,
mediante termo fundamentado, que conterá o resumo dos Art. 186. Comparecendo o adolescente, seus pais ou res-
fatos, os autos serão conclusos à autoridade judiciária para ponsável, a autoridade judiciária procederá à oitiva dos mes-
homologação. mos, podendo solicitar opinião de profissional qualificado.
§ 1º Homologado o arquivamento ou a remissão, a au- § 1º Se a autoridade judiciária entender adequada a
toridade judiciária determinará, conforme o caso, o cum- remissão, ouvirá o representante do Ministério Público,
primento da medida. proferindo decisão.
§ 2º Discordando, a autoridade judiciária fará remessa § 2º Sendo o fato grave, passível de aplicação de medi-
dos autos ao Procurador-Geral de Justiça, mediante des- da de internação ou colocação em regime de semi-liberda-
pacho fundamentado, e este oferecerá representação, de- de, a autoridade judiciária, verificando que o adolescente
signará outro membro do Ministério Público para apresen- não possui advogado constituído, nomeará defensor, de-
tá-la, ou ratificará o arquivamento ou a remissão, que só signando, desde logo, audiência em continuação, podendo
então estará a autoridade judiciária obrigada a homologar. determinar a realização de diligências e estudo do caso.

55
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

§ 3º O advogado constituído ou o defensor nomeado, II – dar-se-á mediante requerimento do Ministério Pú-


no prazo de três dias contado da audiência de apresenta- blico ou representação de delegado de polícia e conterá a
ção, oferecerá defesa prévia e rol de testemunhas. demonstração de sua necessidade, o alcance das tarefas dos
§ 4º Na audiência em continuação, ouvidas as testemu- policiais, os nomes ou apelidos das pessoas investigadas e,
nhas arroladas na representação e na defesa prévia, cum- quando possível, os dados de conexão ou cadastrais que per-
pridas as diligências e juntado o relatório da equipe inter- mitam a identificação dessas pessoas;
profissional, será dada a palavra ao representante do Mi- III – não poderá exceder o prazo de 90 (noventa) dias,
nistério Público e ao defensor, sucessivamente, pelo tempo sem prejuízo de eventuais renovações, desde que o total não
exceda a 720 (setecentos e vinte) dias e seja demonstrada
de vinte minutos para cada um, prorrogável por mais dez,
sua efetiva necessidade, a critério da autoridade judicial.
a critério da autoridade judiciária, que em seguida proferirá
§ 1º A autoridade judicial e o Ministério Público poderão
decisão. requisitar relatórios parciais da operação de infiltração antes do
término do prazo de que trata o inciso II do § 1º deste artigo.
Art. 187. Se o adolescente, devidamente notificado, não § 2º Para efeitos do disposto no inciso I do § 1º deste
comparecer, injustificadamente à audiência de apresenta- artigo, consideram-se:
ção, a autoridade judiciária designará nova data, determi- I – dados de conexão: informações referentes a hora,
nando sua condução coercitiva. data, início, término, duração, endereço de Protocolo de In-
ternet (IP) utilizado e terminal de origem da conexão;
Art. 188. A remissão, como forma de extinção ou sus- II – dados cadastrais: informações referentes a nome e
pensão do processo, poderá ser aplicada em qualquer fase endereço de assinante ou de usuário registrado ou autenti-
do procedimento, antes da sentença. cado para a conexão a quem endereço de IP, identificação
de usuário ou código de acesso tenha sido atribuído no mo-
Art. 189. A autoridade judiciária não aplicará qualquer mento da conexão.
medida, desde que reconheça na sentença: § 3º A infiltração de agentes de polícia na internet não
I - estar provada a inexistência do fato; será admitida se a prova puder ser obtida por outros meios.
II - não haver prova da existência do fato;
III - não constituir o fato ato infracional; Art. 190-B. As informações da operação de infiltração
serão encaminhadas diretamente ao juiz responsável pela
IV - não existir prova de ter o adolescente concorrido
autorização da medida, que zelará por seu sigilo.
para o ato infracional.
Parágrafo único. Antes da conclusão da operação, o
Parágrafo único. Na hipótese deste artigo, estando o acesso aos autos será reservado ao juiz, ao Ministério Públi-
adolescente internado, será imediatamente colocado em li- co e ao delegado de polícia responsável pela operação, com
berdade. o objetivo de garantir o sigilo das investigações.

Art. 190. A intimação da sentença que aplicar medida de Art. 190-C. Não comete crime o policial que oculta a
internação ou regime de semi-liberdade será feita: sua identidade para, por meio da internet, colher indícios de
I - ao adolescente e ao seu defensor; autoria e materialidade dos crimes previstos nos arts. 240,
II - quando não for encontrado o adolescente, a seus pais 241, 241-A, 241-B, 241-C e 241-D desta Lei e nos arts. 154-
ou responsável, sem prejuízo do defensor. A, 217-A, 218, 218-A e 218-B do Decreto-Lei nº 2.848, de 7
§ 1º Sendo outra a medida aplicada, a intimação far-se- de dezembro de 1940 (Código Penal).
-á unicamente na pessoa do defensor. Parágrafo único. O agente policial infiltrado que deixar
§ 2º Recaindo a intimação na pessoa do adolescente, de observar a estrita finalidade da investigação responderá
deverá este manifestar se deseja ou não recorrer da sen- pelos excessos praticados.
tença.
Art. 190-D. Os órgãos de registro e cadastro público po-
Seção V-A derão incluir nos bancos de dados próprios, mediante proce-
dimento sigiloso e requisição da autoridade judicial, as infor-
Da Infiltração de Agentes de Polícia para a
mações necessárias à efetividade da identidade fictícia criada.
Investigação de Crimes contra a Dignidade Sexual de
Parágrafo único. O procedimento sigiloso de que trata
Criança e de Adolescente esta Seção será numerado e tombado em livro específico.
Art. 190-A. A infiltração de agentes de polícia na inter- Art. 190-E. Concluída a investigação, todos os atos ele-
net com o fim de investigar os crimes previstos nos arts. 240, trônicos praticados durante a operação deverão ser registra-
241, 241-A, 241-B, 241-C e 241-D desta Lei e nos arts. 154- dos, gravados, armazenados e encaminhados ao juiz e ao
A, 217-A, 218, 218-A e 218-B do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 Ministério Público, juntamente com relatório circunstanciado.
de dezembro de 1940 (Código Penal), obedecerá às seguin- Parágrafo único. Os atos eletrônicos registrados citados
tes regras: no caput deste artigo serão reunidos em autos apartados e
I – será precedida de autorização judicial devidamente apensados ao processo criminal juntamente com o inquéri-
circunstanciada e fundamentada, que estabelecerá os limites to policial, assegurando-se a preservação da identidade do
da infiltração para obtenção de prova, ouvido o Ministério agente policial infiltrado e a intimidade das crianças e dos
Público; adolescentes envolvidos.

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LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

Seção VI III - por via postal, com aviso de recebimento, se não for
Da Apuração de Irregularidades em Entidade de Aten- encontrado o requerido ou seu representante legal;
dimento IV - por edital, com prazo de trinta dias, se incerto ou
não sabido o paradeiro do requerido ou de seu representante
Art. 191. O procedimento de apuração de irregularida- legal.
des em entidade governamental e não-governamental terá
início mediante portaria da autoridade judiciária ou repre- Art. 196. Não sendo apresentada a defesa no prazo le-
sentação do Ministério Público ou do Conselho Tutelar, onde gal, a autoridade judiciária dará vista dos autos do Ministé-
conste, necessariamente, resumo dos fatos. rio Público, por cinco dias, decidindo em igual prazo.
Parágrafo único. Havendo motivo grave, poderá a auto-
ridade judiciária, ouvido o Ministério Público, decretar limi- Art. 197. Apresentada a defesa, a autoridade judiciária
narmente o afastamento provisório do dirigente da entidade, procederá na conformidade do artigo anterior, ou, sendo ne-
mediante decisão fundamentada. cessário, designará audiência de instrução e julgamento.
Parágrafo único. Colhida a prova oral, manifestar-se-ão
Art. 192. O dirigente da entidade será citado para, no sucessivamente o Ministério Público e o procurador do re-
prazo de dez dias, oferecer resposta escrita, podendo juntar querido, pelo tempo de vinte minutos para cada um, prorro-
documentos e indicar as provas a produzir. gável por mais dez, a critério da autoridade judiciária, que
em seguida proferirá sentença.
Art. 193. Apresentada ou não a resposta, e sendo neces-
sário, a autoridade judiciária designará audiência de instru- Seção VIII
ção e julgamento, intimando as partes. Da Habilitação de Pretendentes à Adoção
§ 1º Salvo manifestação em audiência, as partes e o
Ministério Público terão cinco dias para oferecer alegações Art. 197-A.  Os postulantes à adoção, domiciliados no
finais, decidindo a autoridade judiciária em igual prazo. Brasil, apresentarão petição inicial na qual conste: 
§ 2º Em se tratando de afastamento provisório ou de-
I - qualificação completa; 
finitivo de dirigente de entidade governamental, a auto-
II - dados familiares; 
ridade judiciária oficiará à autoridade administrativa ime-
III - cópias autenticadas de certidão de nascimento ou
diatamente superior ao afastado, marcando prazo para a
casamento, ou declaração relativa ao período de união es-
substituição.
tável; 
§ 3º Antes de aplicar qualquer das medidas, a autorida-
IV - cópias da cédula de identidade e inscrição no Ca-
de judiciária poderá fixar prazo para a remoção das irregu-
dastro de Pessoas Físicas; 
laridades verificadas. Satisfeitas as exigências, o processo
será extinto, sem julgamento de mérito. V - comprovante de renda e domicílio; 
§ 4º A multa e a advertência serão impostas ao dirigen- VI - atestados de sanidade física e mental; 
te da entidade ou programa de atendimento. VII - certidão de antecedentes criminais; 
VIII - certidão negativa de distribuição cível. 
Seção VII
Da Apuração de Infração Administrativa às Normas de Art. 197-B.  A autoridade judiciária, no prazo de 48
Proteção à Criança e ao Adolescente (quarenta e oito) horas, dará vista dos autos ao Ministério
Público, que no prazo de 5 (cinco) dias poderá: 
Art. 194. O procedimento para imposição de penalidade I - apresentar quesitos a serem respondidos pela equipe
administrativa por infração às normas de proteção à criança interprofissional encarregada de elaborar o estudo técnico a
e ao adolescente terá início por representação do Ministério que se refere o art. 197-C desta Lei; 
Público, ou do Conselho Tutelar, ou auto de infração elabo- II - requerer a designação de audiência para oitiva dos
rado por servidor efetivo ou voluntário credenciado, e assi- postulantes em juízo e testemunhas; 
nado por duas testemunhas, se possível. III - requerer a juntada de documentos complementares
§ 1º No procedimento iniciado com o auto de infração, e a realização de outras diligências que entender necessá-
poderão ser usadas fórmulas impressas, especificando-se a rias. 
natureza e as circunstâncias da infração.
§ 2º Sempre que possível, à verificação da infração se- Art. 197-C.  Intervirá no feito, obrigatoriamente, equi-
guir-se-á a lavratura do auto, certificando-se, em caso con- pe interprofissional a serviço da Justiça da Infância e da
trário, dos motivos do retardamento. Juventude, que deverá elaborar estudo psicossocial, que con-
terá subsídios que permitam aferir a capacidade e o prepa-
Art. 195. O requerido terá prazo de dez dias para apresen- ro dos postulantes para o exercício de uma paternidade ou
tação de defesa, contado da data da intimação, que será feita: maternidade responsável, à luz dos requisitos e princípios
I - pelo autuante, no próprio auto, quando este for lavra- desta Lei. 
do na presença do requerido; § 1o É obrigatória a participação dos postulantes em
II - por oficial de justiça ou funcionário legalmente habi- programa oferecido pela Justiça da Infância e da Juventude,
litado, que entregará cópia do auto ou da representação ao preferencialmente com apoio dos técnicos responsáveis pela
requerido, ou a seu representante legal, lavrando certidão; execução da política municipal de garantia do direito à con-

57
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

vivência familiar e dos grupos de apoio à adoção devidamen- Capítulo IV


te habilitados perante a Justiça da Infância e da Juventude, Dos Recursos
que inclua preparação psicológica, orientação e estímulo à
adoção inter-racial, de crianças ou de adolescentes com defi- Art. 198.  Nos procedimentos afetos à Justiça da Infância
ciência, com doenças crônicas ou com necessidades específi- e da Juventude, inclusive os relativos à execução das me-
cas de saúde, e de grupos de irmãos. didas socioeducativas, adotar-se-á o sistema recursal da Lei
§ 2o Sempre que possível e recomendável, a etapa obri- no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 (Código de Processo Ci-
gatória da preparação referida no § 1o deste artigo incluirá vil), com as seguintes adaptações: (Redação dada pela Lei nº
o contato com crianças e adolescentes em regime de aco- 12.594, de 2012)
lhimento familiar ou institucional, a ser realizado sob orien- I - os recursos serão interpostos independentemente de
tação, supervisão e avaliação da equipe técnica da Justiça preparo;
da Infância e da Juventude e dos grupos de apoio à adoção, II - em todos os recursos, salvo nos embargos de decla-
com apoio dos técnicos responsáveis pelo programa de aco- ração, o prazo para o Ministério Público e para a defesa será
lhimento familiar e institucional e pela execução da política sempre de 10 (dez) dias; (Redação dada pela Lei nº 12.594,
municipal de garantia do direito à convivência familiar. de 2012)
§ 3o É recomendável que as crianças e os adolescentes III - os recursos terão preferência de julgamento e dis-
acolhidos institucionalmente ou por família acolhedora se- pensarão revisor;
jam preparados por equipe interprofissional antes da inclu- VII - antes de determinar a remessa dos autos à superior
são em família adotiva. instância, no caso de apelação, ou do instrumento, no caso
de agravo, a autoridade judiciária proferirá despacho funda-
Art. 197-D.  Certificada nos autos a conclusão da partici- mentado, mantendo ou reformando a decisão, no prazo de
pação no programa referido no art. 197-C desta Lei, a autori- cinco dias;
dade judiciária, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, deci- VIII - mantida a decisão apelada ou agravada, o escri-
dirá acerca das diligências requeridas pelo Ministério Público vão remeterá os autos ou o instrumento à superior instância
e determinará a juntada do estudo psicossocial, designando,
dentro de vinte e quatro horas, independentemente de novo
conforme o caso, audiência de instrução e julgamento. 
pedido do recorrente; se a reformar, a remessa dos autos
Parágrafo único.  Caso não sejam requeridas diligências,
dependerá de pedido expresso da parte interessada ou do
ou sendo essas indeferidas, a autoridade judiciária determi-
Ministério Público, no prazo de cinco dias, contados da in-
nará a juntada do estudo psicossocial, abrindo a seguir vista
timação.
dos autos ao Ministério Público, por 5 (cinco) dias, decidindo
em igual prazo. 
Art. 199. Contra as decisões proferidas com base no art.
149 caberá recurso de apelação.
Art. 197-E.  Deferida a habilitação, o postulante será ins-
crito nos cadastros referidos no art. 50 desta Lei, sendo a
sua convocação para a adoção feita de acordo com ordem Art. 199-A.  A sentença que deferir a adoção produz efei-
cronológica de habilitação e conforme a disponibilidade de to desde logo, embora sujeita a apelação, que será recebida
crianças ou adolescentes adotáveis.  exclusivamente no efeito devolutivo, salvo se se tratar de
§ 1o A ordem cronológica das habilitações somente po- adoção internacional ou se houver perigo de dano irrepará-
derá deixar de ser observada pela autoridade judiciária nas vel ou de difícil reparação ao adotando. 
hipóteses previstas no § 13 do art. 50 desta Lei, quando com-
provado ser essa a melhor solução no interesse do adotando. Art. 199-B.  A sentença que destituir ambos ou qualquer
§ 2o A habilitação à adoção deverá ser renovada no mí- dos genitores do poder familiar fica sujeita a apelação, que
nimo trienalmente mediante avaliação por equipe interpro- deverá ser recebida apenas no efeito devolutivo. 
fissional.
§ 3o Quando o adotante candidatar-se a uma nova ado- Art. 199-C.  Os recursos nos procedimentos de adoção e
ção, será dispensável a renovação da habilitação, bastando a de destituição de poder familiar, em face da relevância das
avaliação por equipe interprofissional. questões, serão processados com prioridade absoluta, de-
§ 4o Após 3 (três) recusas injustificadas, pelo habilitado, vendo ser imediatamente distribuídos, ficando vedado que
à adoção de crianças ou adolescentes indicados dentro do aguardem, em qualquer situação, oportuna distribuição, e
perfil escolhido, haverá reavaliação da habilitação concedida. serão colocados em mesa para julgamento sem revisão e
§ 5o A desistência do pretendente em relação à guarda com parecer urgente do Ministério Público.  
para fins de adoção ou a devolução da criança ou do adoles-
cente depois do trânsito em julgado da sentença de adoção Art. 199-D.  O relator deverá colocar o processo em
importará na sua exclusão dos cadastros de adoção. mesa para julgamento no prazo máximo de 60 (sessenta)
dias, contado da sua conclusão. 
Art. 197-F. O prazo máximo para conclusão da habili- Parágrafo único.  O Ministério Público será intimado da
tação à adoção será de 120 (cento e vinte) dias, prorrogável data do julgamento e poderá na sessão, se entender neces-
por igual período, mediante decisão fundamentada da auto- sário, apresentar oralmente seu parecer. 
ridade judiciária.

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LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

Art. 199-E.  O Ministério Público poderá requerer a ins- XII - requisitar força policial, bem como a colaboração
tauração de procedimento para apuração de responsabili- dos serviços médicos, hospitalares, educacionais e de assis-
dades se constatar o descumprimento das providências e do tência social, públicos ou privados, para o desempenho de
prazo previstos nos artigos anteriores.   suas atribuições.
§ 1º A legitimação do Ministério Público para as ações
Capítulo V cíveis previstas neste artigo não impede a de terceiros, nas
Do Ministério Público mesmas hipóteses, segundo dispuserem a Constituição e
esta Lei.
Art. 200. As funções do Ministério Público previstas nesta § 2º As atribuições constantes deste artigo não ex-
Lei serão exercidas nos termos da respectiva lei orgânica. cluem outras, desde que compatíveis com a finalidade do
Ministério Público.
Art. 201. Compete ao Ministério Público: § 3º O representante do Ministério Público, no exercí-
I - conceder a remissão como forma de exclusão do pro-
cio de suas funções, terá livre acesso a todo local onde se
cesso;
encontre criança ou adolescente.
II - promover e acompanhar os procedimentos relativos
§ 4º O representante do Ministério Público será res-
às infrações atribuídas a adolescentes;
III - promover e acompanhar as ações de alimentos e os ponsável pelo uso indevido das informações e documentos
procedimentos de suspensão e destituição do poder familiar, que requisitar, nas hipóteses legais de sigilo.
nomeação e remoção de tutores, curadores e guardiães, bem § 5º Para o exercício da atribuição de que trata o inci-
como oficiar em todos os demais procedimentos da compe- so VIII deste artigo, poderá o representante do Ministério
tência da Justiça da Infância e da Juventude;  Público:
IV - promover, de ofício ou por solicitação dos interes- a) reduzir a termo as declarações do reclamante, ins-
sados, a especialização e a inscrição de hipoteca legal e a taurando o competente procedimento, sob sua presidência;
prestação de contas dos tutores, curadores e quaisquer ad- b) entender-se diretamente com a pessoa ou autoridade
ministradores de bens de crianças e adolescentes nas hipó- reclamada, em dia, local e horário previamente notificados
teses do art. 98; ou acertados;
V - promover o inquérito civil e a ação civil pública para c) efetuar recomendações visando à melhoria dos ser-
a proteção dos interesses individuais, difusos ou coletivos re- viços públicos e de relevância pública afetos à criança e ao
lativos à infância e à adolescência, inclusive os definidos no adolescente, fixando prazo razoável para sua perfeita ade-
art. 220, § 3º inciso II, da Constituição Federal; quação.
VI - instaurar procedimentos administrativos e, para ins-
truí-los: Art. 202. Nos processos e procedimentos em que não for
a) expedir notificações para colher depoimentos ou es- parte, atuará obrigatoriamente o Ministério Público na de-
clarecimentos e, em caso de não comparecimento injusti- fesa dos direitos e interesses de que cuida esta Lei, hipótese
ficado, requisitar condução coercitiva, inclusive pela polícia em que terá vista dos autos depois das partes, podendo jun-
civil ou militar; tar documentos e requerer diligências, usando os recursos
b) requisitar informações, exames, perícias e documen- cabíveis.
tos de autoridades municipais, estaduais e federais, da admi-
nistração direta ou indireta, bem como promover inspeções e Art. 203. A intimação do Ministério Público, em qualquer
diligências investigatórias; caso, será feita pessoalmente.
c) requisitar informações e documentos a particulares e
instituições privadas;
Art. 204. A falta de intervenção do Ministério Público
VII - instaurar sindicâncias, requisitar diligências inves-
acarreta a nulidade do feito, que será declarada de ofício
tigatórias e determinar a instauração de inquérito policial,
para apuração de ilícitos ou infrações às normas de proteção pelo juiz ou a requerimento de qualquer interessado.
à infância e à juventude;
VIII - zelar pelo efetivo respeito aos direitos e garantias Art. 205. As manifestações processuais do representante
legais assegurados às crianças e adolescentes, promovendo do Ministério Público deverão ser fundamentadas.
as medidas judiciais e extrajudiciais cabíveis;
IX - impetrar mandado de segurança, de injunção e ha- Capítulo VI
beas corpus, em qualquer juízo, instância ou tribunal, na de- Do Advogado
fesa dos interesses sociais e individuais indisponíveis afetos à
criança e ao adolescente; Art. 206. A criança ou o adolescente, seus pais ou res-
X - representar ao juízo visando à aplicação de penali- ponsável, e qualquer pessoa que tenha legítimo interesse na
dade por infrações cometidas contra as normas de proteção solução da lide poderão intervir nos procedimentos de que
à infância e à juventude, sem prejuízo da promoção da res- trata esta Lei, através de advogado, o qual será intimado
ponsabilidade civil e penal do infrator, quando cabível; para todos os atos, pessoalmente ou por publicação oficial,
XI - inspecionar as entidades públicas e particulares de respeitado o segredo de justiça.
atendimento e os programas de que trata esta Lei, adotando Parágrafo único. Será prestada assistência judiciária in-
de pronto as medidas administrativas ou judiciais necessá- tegral e gratuita àqueles que dela necessitarem.
rias à remoção de irregularidades porventura verificadas;

59
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

Art. 207. Nenhum adolescente a quem se atribua a prá- Art. 209. As ações previstas neste Capítulo serão propos-
tica de ato infracional, ainda que ausente ou foragido, será     tas no foro do local onde ocorreu ou deva ocorrer a ação ou
processado sem defensor. omissão, cujo juízo terá competência absoluta para proces-
§ 1º Se o adolescente não tiver defensor, ser-lhe-á no- sar a causa, ressalvadas a competência da Justiça Federal e
meado pelo juiz, ressalvado o direito de, a todo tempo, a competência originária dos tribunais superiores.
constituir outro de sua preferência.
§ 2º A ausência do defensor não determinará o adia- Art. 210. Para as ações cíveis fundadas em interesses
mento de nenhum ato do processo, devendo o juiz no- coletivos ou difusos, consideram-se legitimados concorren-
mear substituto, ainda que provisoriamente, ou para o só temente:
efeito do ato. I - o Ministério Público;
§ 3º Será dispensada a outorga de mandato, quando II - a União, os estados, os municípios, o Distrito Federal
se tratar de defensor nomeado ou, sido constituído, tiver e os territórios;
sido indicado por ocasião de ato formal com a presença da III - as associações legalmente constituídas há pelo me-
autoridade judiciária. nos um ano e que incluam entre seus fins institucionais a
defesa dos interesses e direitos protegidos por esta Lei, dis-
Capítulo VII pensada a autorização da assembleia, se houver prévia au-
Da Proteção Judicial dos Interesses Individuais, Difu- torização estatutária.
sos e Coletivos § 1º Admitir-se-á litisconsórcio facultativo entre os Mi-
nistérios Públicos da União e dos estados na defesa dos
Art. 208. Regem-se pelas disposições desta Lei as ações interesses e direitos de que cuida esta Lei.
de responsabilidade por ofensa aos direitos assegurados à § 2º Em caso de desistência ou abandono da ação por
criança e ao adolescente, referentes ao não oferecimento ou associação legitimada, o Ministério Público ou outro legiti-
oferta irregular: mado poderá assumir a titularidade ativa.
I - do ensino obrigatório;
II - de atendimento educacional especializado aos por-
Art. 211. Os órgãos públicos legitimados poderão tomar
tadores de deficiência;
dos interessados compromisso de ajustamento de sua con-
III - de atendimento em creche e pré-escola às crianças
duta às exigências legais, o qual terá eficácia de título exe-
de zero a cinco anos de idade;
cutivo extrajudicial.
IV - de ensino noturno regular, adequado às condições
do educando;
Art. 212. Para defesa dos direitos e interesses protegidos
V - de programas suplementares de oferta de material
por esta Lei, são admissíveis todas as espécies de ações per-
didático-escolar, transporte e assistência à saúde do edu-
tinentes.
cando do ensino fundamental;
VI - de serviço de assistência social visando à proteção § 1º Aplicam-se às ações previstas neste Capítulo as
à família, à maternidade, à infância e à adolescência, bem normas do Código de Processo Civil.
como ao amparo às crianças e adolescentes que dele ne- § 2º Contra atos ilegais ou abusivos de autoridade pú-
cessitem; blica ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribui-
VII - de acesso às ações e serviços de saúde; ções do poder público, que lesem direito líquido e certo
VIII - de escolarização e profissionalização dos adoles- previsto nesta Lei, caberá ação mandamental, que se rege-
centes privados de liberdade. rá pelas normas da lei do mandado de segurança.
IX - de ações, serviços e programas de orientação, apoio
e promoção social de famílias e destinados ao pleno exer- Art. 213. Na ação que tenha por objeto o cumprimento
cício do direito à convivência familiar por crianças e ado- de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tute-
lescentes.  la específica da obrigação ou determinará providências que
X - de programas de atendimento para a execução das assegurem o resultado prático equivalente ao do adimple-
medidas socioeducativas e aplicação de medidas de prote- mento.
ção. (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012)  § 1º Sendo relevante o fundamento da demanda e ha-
§ 1o As hipóteses previstas neste artigo não excluem vendo justificado receio de ineficácia do provimento final,
da proteção judicial outros interesses individuais, difusos é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou após jus-
ou coletivos, próprios da infância e da adolescência, pro- tificação prévia, citando o réu.
tegidos pela Constituição e pela Lei.  § 2º O juiz poderá, na hipótese do parágrafo anterior
§ 2o A investigação do desaparecimento de crianças ou na sentença, impor multa diária ao réu, independente-
ou adolescentes será realizada imediatamente após noti- mente de pedido do autor, se for suficiente ou compatível
ficação aos órgãos competentes, que deverão comunicar com a obrigação, fixando prazo razoável para o cumpri-
o fato aos portos, aeroportos, Polícia Rodoviária e compa- mento do preceito.
nhias de transporte interestaduais e internacionais, forne- § 3º A multa só será exigível do réu após o trânsito em
cendo-lhes todos os dados necessários à identificação do julgado da sentença favorável ao autor, mas será devida des-
desaparecido. de o dia em que se houver configurado o descumprimento.

60
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

Art. 214. Os valores das multas reverterão ao fundo ge- § 1º Se o órgão do Ministério Público, esgotadas todas
rido pelo Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente as diligências, se convencer da inexistência de fundamento
do respectivo município. para a propositura da ação cível, promoverá o arquivamen-
§ 1º As multas não recolhidas até trinta dias após o to dos autos do inquérito civil ou das peças informativas,
trânsito em julgado da decisão serão exigidas através de fazendo-o fundamentadamente.
execução promovida pelo Ministério Público, nos mesmos § 2º Os autos do inquérito civil ou as peças de informa-
autos, facultada igual iniciativa aos demais legitimados. ção arquivados serão remetidos, sob pena de se incorrer
§ 2º Enquanto o fundo não for regulamentado, o di- em falta grave, no prazo de três dias, ao Conselho Superior
nheiro ficará depositado em estabelecimento oficial de cré- do Ministério Público.
dito, em conta com correção monetária. § 3º Até que seja homologada ou rejeitada a promoção
de arquivamento, em sessão do Conselho Superior do Mi-
Art. 215. O juiz poderá conferir efeito suspensivo aos re- nistério público, poderão as associações legitimadas apre-
cursos, para evitar dano irreparável à parte. sentar razões escritas ou documentos, que serão juntados
aos autos do inquérito ou anexados às peças de informa-
Art. 216. Transitada em julgado a sentença que impuser ção.
condenação ao poder público, o juiz determinará a remessa § 4º A promoção de arquivamento será submetida a
de peças à autoridade competente, para apuração da res- exame e deliberação do Conselho Superior do Ministério
ponsabilidade civil e administrativa do agente a que se atri- Público, conforme dispuser o seu regimento.
bua a ação ou omissão. § 5º Deixando o Conselho Superior de homologar a
promoção de arquivamento, designará, desde logo, outro
Art. 217. Decorridos sessenta dias do trânsito em julgado órgão do Ministério Público para o ajuizamento da ação.
da sentença condenatória sem que a associação autora lhe
promova a execução, deverá fazê-lo o Ministério Público, fa- Art. 224. Aplicam-se subsidiariamente, no que couber, as
cultada igual iniciativa aos demais legitimados. disposições da Lei n.º 7.347, de 24 de julho de 1985.

Art. 218. O juiz condenará a associação autora a pagar Título VII


ao réu os honorários advocatícios arbitrados na conformi- Dos Crimes e Das Infrações Administrativas
dade do § 4º do art. 20 da Lei n.º 5.869, de 11 de janeiro de
1973 (Código de Processo Civil), quando reconhecer que a Capítulo I
pretensão é manifestamente infundada. Dos Crimes
Parágrafo único. Em caso de litigância de má-fé, a as-
sociação autora e os diretores responsáveis pela propositura Seção I
da ação serão solidariamente condenados ao décuplo das
custas, sem prejuízo de responsabilidade por perdas e danos. Disposições Gerais

Art. 219. Nas ações de que trata este Capítulo, não ha- Art. 225. Este Capítulo dispõe sobre crimes praticados
verá adiantamento de custas, emolumentos, honorários pe- contra a criança e o adolescente, por ação ou omissão, sem
riciais e quaisquer outras despesas. prejuízo do disposto na legislação penal.

Art. 220. Qualquer pessoa poderá e o servidor público Art. 226. Aplicam-se aos crimes definidos nesta Lei as
deverá provocar a iniciativa do Ministério Público, prestan- normas da Parte Geral do Código Penal e, quanto ao     pro-
do-lhe informações sobre fatos que constituam objeto de cesso, as pertinentes ao Código de Processo Penal.
ação civil, e indicando-lhe os elementos de convicção.
Art. 227. Os crimes definidos nesta Lei são de ação pú-
Art. 221. Se, no exercício de suas funções, os juízos e blica incondicionada.
tribunais tiverem conhecimento de fatos que possam ensejar
a propositura de ação civil, remeterão peças ao Ministério Seção II
Público para as providências cabíveis. Dos Crimes em Espécie

Art. 222. Para instruir a petição inicial, o interessado Art. 228. Deixar o encarregado de serviço ou o dirigente
poderá requerer às autoridades competentes as certidões e de estabelecimento de atenção à saúde de gestante de man-
informações que julgar necessárias, que serão fornecidas no ter registro das atividades desenvolvidas, na forma e prazo
prazo de quinze dias. referidos no art. 10 desta Lei, bem como de fornecer à par-
turiente ou a seu responsável, por ocasião da alta médica,
Art. 223. O Ministério Público poderá instaurar, sob sua declaração de nascimento, onde constem as intercorrências
presidência, inquérito civil, ou requisitar, de qualquer pes- do parto e do desenvolvimento do neonato:
soa, organismo público ou particular, certidões, informações, Pena - detenção de seis meses a dois anos.
exames ou perícias, no prazo que assinalar, o qual não pode- Parágrafo único. Se o crime é culposo:
rá ser inferior a dez dias úteis. Pena - detenção de dois a seis meses, ou multa.

61
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

Art. 229. Deixar o médico, enfermeiro ou dirigente de Parágrafo único. Se há emprego de violência, grave
estabelecimento de atenção à saúde de gestante de identifi- ameaça ou fraude: 
car corretamente o neonato e a parturiente, por ocasião do Pena - reclusão, de 6 (seis) a 8 (oito) anos, além da pena
parto, bem como deixar de proceder aos exames referidos no correspondente à violência.
art. 10 desta Lei:
Pena - detenção de seis meses a dois anos. Art. 240.  Produzir, reproduzir, dirigir, fotografar, filmar
Parágrafo único. Se o crime é culposo: ou registrar, por qualquer meio, cena de sexo explícito ou
Pena - detenção de dois a seis meses, ou multa. pornográfica, envolvendo criança ou adolescente:  
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. 
Art. 230. Privar a criança ou o adolescente de sua liber- § 1o  Incorre nas mesmas penas quem agencia, faci-
dade, procedendo à sua apreensão sem estar em flagrante lita, recruta, coage, ou de qualquer modo intermedeia a
de ato infracional ou inexistindo ordem escrita da autorida- participação de criança ou adolescente nas cenas referidas
de judiciária competente: no caputdeste artigo, ou ainda quem com esses contrace-
Pena - detenção de seis meses a dois anos. na.  
Parágrafo único. Incide na mesma pena aquele que pro- § 2o  Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o agente
cede à apreensão sem observância das formalidades legais. comete o crime:  
I – no exercício de cargo ou função pública ou a pretexto
Art. 231. Deixar a autoridade policial responsável pela de exercê-la;  
apreensão de criança ou adolescente de fazer imediata co- II – prevalecendo-se de relações domésticas, de coabita-
municação à autoridade judiciária competente e à família ção ou de hospitalidade; ou  
do apreendido ou à pessoa por ele indicada: III – prevalecendo-se de relações de parentesco consan-
Pena - detenção de seis meses a dois anos. güíneo ou afim até o terceiro grau, ou por adoção, de tu-
tor, curador, preceptor, empregador da vítima ou de quem,
Art. 232. Submeter criança ou adolescente sob sua au- a qualquer outro título, tenha autoridade sobre ela, ou com
toridade, guarda ou vigilância a vexame ou a constrangi-
seu consentimento.  
mento:
Pena - detenção de seis meses a dois anos.
Art. 241.  Vender ou expor à venda fotografia, vídeo ou
outro registro que contenha cena de sexo explícito ou porno-
Art. 234. Deixar a autoridade competente, sem justa
gráfica envolvendo criança ou adolescente: 
causa, de ordenar a imediata liberação de criança ou ado-
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. 
lescente, tão logo tenha conhecimento da ilegalidade da
apreensão:
Art. 241-A.  Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir,
Pena - detenção de seis meses a dois anos.
distribuir, publicar ou divulgar por qualquer meio, inclusive
Art. 235. Descumprir, injustificadamente, prazo fixado por meio de sistema de informática ou telemático, fotogra-
nesta Lei em benefício de adolescente privado de liberdade: fia, vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo ex-
Pena - detenção de seis meses a dois anos. plícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente:  
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. 
Art. 236. Impedir ou embaraçar a ação de autoridade § 1o  Nas mesmas penas incorre quem: 
judiciária, membro do Conselho Tutelar ou representante do I – assegura os meios ou serviços para o armazenamento
Ministério Público no exercício de função prevista nesta Lei: das fotografias, cenas ou imagens de que trata o caput deste
Pena - detenção de seis meses a dois anos. artigo; 
II – assegura, por qualquer meio, o acesso por rede de
Art. 237. Subtrair criança ou adolescente ao poder de computadores às fotografias, cenas ou imagens de que trata
quem o tem sob sua guarda em virtude de lei ou ordem judi- o caput deste artigo.
cial, com o fim de colocação em lar substituto:  § 2o  As condutas tipificadas nos incisos I e II do §
Pena - reclusão de dois a seis anos, e multa. 1o deste artigo são puníveis quando o responsável legal
pela prestação do serviço, oficialmente notificado, deixa
Art. 238. Prometer ou efetivar a entrega de filho ou pu- de desabilitar o acesso ao conteúdo ilícito de que trata
pilo a terceiro, mediante paga ou recompensa: o caput deste artigo. 
Pena - reclusão de um a quatro anos, e multa.
Parágrafo único. Incide nas mesmas penas quem oferece  Art. 241-B.  Adquirir, possuir ou armazenar, por qual-
ou efetiva a paga ou recompensa. quer meio, fotografia, vídeo ou outra forma de registro que
contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolven-
Art. 239. Promover ou auxiliar a efetivação de ato des- do criança ou adolescente: 
tinado ao envio de criança ou adolescente para o exterior  Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. 
com inobservância das formalidades legais ou com o fito de  § 1o  A pena é diminuída de 1 (um) a 2/3 (dois ter-
obter lucro: ços) se de pequena quantidade o material a que se refere
Pena - reclusão de quatro a seis anos, e multa. o caput deste artigo. 

62
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

 § 2o  Não há crime se a posse ou o armazenamento Art. 244. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou
tem a finalidade de comunicar às autoridades competentes entregar, de qualquer forma, a criança ou adolescente fogos
a ocorrência das condutas descritas nos arts. 240, 241, 241- de estampido ou de artifício, exceto aqueles que, pelo seu
A e 241-C desta Lei, quando a comunicação for feita por: reduzido potencial, sejam incapazes de provocar qualquer
 I – agente público no exercício de suas funções;  dano físico em caso de utilização indevida:
 II – membro de entidade, legalmente constituída, que Pena - detenção de seis meses a dois anos, e multa.
inclua, entre suas finalidades institucionais, o recebimento,
o processamento e o encaminhamento de notícia dos cri- Art. 244-A. Submeter criança ou adolescente, como tais
mes referidos neste parágrafo;  definidos no caput do art. 2o desta Lei, à prostituição ou à
 III – representante legal e funcionários responsáveis de exploração sexual: 
provedor de acesso ou serviço prestado por meio de rede Pena – reclusão de quatro a dez anos e multa, além da
de computadores, até o recebimento do material relativo à perda de bens e valores utilizados na prática criminosa em
notícia feita à autoridade policial, ao Ministério Público ou favor do Fundo dos Direitos da Criança e do Adolescente da
ao Poder Judiciário.  unidade da Federação (Estado ou Distrito Federal) em que foi
 § 3o  As pessoas referidas no § 2o deste artigo deverão cometido o crime, ressalvado o direito de terceiro de boa-fé.
manter sob sigilo o material ilícito referido.  § 1o Incorrem nas mesmas penas o proprietário, o ge-
rente ou o responsável pelo local em que se verifique a
Art. 241-C.  Simular a participação de criança ou adoles- submissão de criança ou adolescente às práticas referidas
cente em cena de sexo explícito ou pornográfica por meio de no caputdeste artigo. 
adulteração, montagem ou modificação de fotografia, vídeo § 2o Constitui efeito obrigatório da condenação a cas-
ou qualquer outra forma de representação visual:  sação da licença de localização e de funcionamento do es-
 Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.  tabelecimento. 
Parágrafo único.  Incorre nas mesmas penas quem ven-
de, expõe à venda, disponibiliza, distribui, publica ou divulga Art. 244-B.  Corromper ou facilitar a corrupção de menor
por qualquer meio, adquire, possui ou armazena o material de 18 (dezoito) anos, com ele praticando infração penal ou
produzido na forma do caput deste artigo.  induzindo-o a praticá-la: 
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. 
 Art. 241-D.  Aliciar, assediar, instigar ou constranger, § 1o  Incorre nas penas previstas no caput deste arti-
por qualquer meio de comunicação, criança, com o fim de go quem pratica as condutas ali tipificadas utilizando-se de
com ela praticar ato libidinoso:  quaisquer meios eletrônicos, inclusive salas de bate-papo da
 Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.  internet. 
 Parágrafo único.  Nas mesmas penas incorre quem:  § 2o  As penas previstas no caput deste artigo são au-
 I – facilita ou induz o acesso à criança de material con- mentadas de um terço no caso de a infração cometida ou
tendo cena de sexo explícito ou pornográfica com o fim de induzida estar incluída no rol do art. 1o da Lei no 8.072, de
com ela praticar ato libidinoso;  25 de julho de 1990. 
 II – pratica as condutas descritas no caput deste artigo
com o fim de induzir criança a se exibir de forma pornográ- Capítulo II
fica ou sexualmente explícita.  Das Infrações Administrativas

 Art. 241-E.  Para efeito dos crimes previstos nesta Lei, Art. 245. Deixar o médico, professor ou responsável por
a expressão “cena de sexo explícito ou pornográfica” com- estabelecimento de atenção à saúde e de ensino fundamen-
preende qualquer situação que envolva criança ou adoles- tal, pré-escola ou creche, de comunicar à autoridade com-
cente em atividades sexuais explícitas, reais ou simuladas, petente os casos de que tenha conhecimento, envolvendo
ou exibição dos órgãos genitais de uma criança ou adoles- suspeita ou confirmação de maus-tratos contra criança ou
cente para fins primordialmente sexuais.  adolescente:
Pena - multa de três a vinte salários de referência, apli-
Art. 242. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou cando-se o dobro em caso de reincidência.
entregar, de qualquer forma, a criança ou adolescente arma,
munição ou explosivo: Art. 246. Impedir o responsável ou funcionário de enti-
Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos.  dade de atendimento o exercício dos direitos constantes nos
incisos II, III, VII, VIII e XI do art. 124 desta Lei:
Art. 243. Vender, fornecer, servir, ministrar ou entregar, Pena - multa de três a vinte salários de referência, apli-
ainda que gratuitamente, de qualquer forma, a criança ou cando-se o dobro em caso de reincidência.
a adolescente, bebida alcoólica ou, sem justa causa, outros
produtos cujos componentes possam causar dependência fí- Art. 247. Divulgar, total ou parcialmente, sem autoriza-
sica ou psíquica: ção devida, por qualquer meio de comunicação, nome, ato
Pena - detenção de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa, se ou documento de procedimento policial, administrativo ou
o fato não constitui crime mais grave. judicial relativo a criança ou adolescente a que se atribua
ato infracional:

63
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

Pena - multa de três a vinte salários de referência, apli- Pena - multa de três a vinte salários de referência, du-
cando-se o dobro em caso de reincidência. plicada em caso de reincidência, aplicável, separadamente,
§ 1º Incorre na mesma pena quem exibe, total ou par- à casa de espetáculo e aos órgãos de divulgação ou publi-
cialmente, fotografia de criança ou adolescente envolvido cidade.
em ato infracional, ou qualquer ilustração que lhe diga res-
peito ou se refira a atos que lhe sejam atribuídos, de forma Art. 254. Transmitir, através de rádio ou televisão, espe-
a permitir sua identificação, direta ou indiretamente. táculo em horário diverso do autorizado ou sem aviso de sua
§ 2º Se o fato for praticado por órgão de imprensa ou classificação:
emissora de rádio ou televisão, além da pena prevista neste Pena - multa de vinte a cem salários de referência; du-
artigo, a autoridade judiciária poderá determinar a apreen- plicada em caso de reincidência a autoridade judiciária po-
são da publicação ou a suspensão da programação da emis- derá determinar a suspensão da programação da emissora
sora até por dois dias, bem como da publicação do periódico por até dois dias.
até por dois números. (Expressão declarada inconstitucional
pela ADIN 869-2).
Art. 255. Exibir filme, trailer, peça, amostra ou congêne-
re classificado pelo órgão competente como inadequado às
Art. 248. Deixar de apresentar à autoridade judiciária de
crianças ou adolescentes admitidos ao espetáculo:
seu domicílio, no prazo de cinco dias, com o fim de regula-
rizar a guarda, adolescente trazido de outra comarca para a Pena - multa de vinte a cem salários de referência; na
prestação de serviço doméstico, mesmo que autorizado pe- reincidência, a autoridade poderá determinar a suspensão
los pais ou responsável: do espetáculo ou o fechamento do estabelecimento por até
Pena - multa de três a vinte salários de referência, apli- quinze dias.
cando-se o dobro em caso de reincidência, independente-
mente das despesas de retorno do adolescente, se for o caso. Art. 256. Vender ou locar a criança ou adolescente fita
de programação em vídeo, em desacordo com a classificação
Art. 249. Descumprir, dolosa ou culposamente, os deve- atribuída pelo órgão competente:
res inerentes ao poder familiar ou decorrente de tutela ou Pena - multa de três a vinte salários de referência; em
guarda, bem assim determinação da autoridade judiciária caso de reincidência, a autoridade judiciária poderá deter-
ou Conselho Tutelar:  minar o fechamento do estabelecimento por até quinze dias.
Pena - multa de três a vinte salários de referência, apli-
cando-se o dobro em caso de reincidência. Art. 257. Descumprir obrigação constante dos arts. 78 e
79 desta Lei:
Art. 250.  Hospedar criança ou adolescente desacompa- Pena - multa de três a vinte salários de referência, du-
nhado dos pais ou responsável, ou sem autorização escrita plicando-se a pena em caso de reincidência, sem prejuízo de
desses ou da autoridade judiciária, em hotel, pensão, motel apreensão da revista ou publicação.
ou congênere: 
Pena – multa.  Art. 258. Deixar o responsável pelo estabelecimento ou o
§ 1º  Em caso de reincidência, sem prejuízo da pena de empresário de observar o que dispõe esta Lei sobre o acesso
multa, a autoridade judiciária poderá determinar o fecha- de criança ou adolescente aos locais de diversão, ou sobre
mento do estabelecimento por até 15 (quinze) dias.  sua participação no espetáculo:
§ 2º  Se comprovada a reincidência em período inferior Pena - multa de três a vinte salários de referência; em
a 30 (trinta) dias, o estabelecimento será definitivamente
caso de reincidência, a autoridade judiciária poderá deter-
fechado e terá sua licença cassada. 
minar o fechamento do estabelecimento por até quinze dias.
Art. 251. Transportar criança ou adolescente, por qual-
Art. 258-A.  Deixar a autoridade competente de provi-
quer meio, com inobservância do disposto nos arts. 83, 84 e
85 desta Lei: denciar a instalação e operacionalização dos cadastros pre-
Pena - multa de três a vinte salários de referência, apli- vistos no art. 50 e no § 11 do art. 101 desta Lei: 
cando-se o dobro em caso de reincidência. Pena - multa de R$ 1.000,00 (mil reais) a R$ 3.000,00
(três mil reais). 
Art. 252. Deixar o responsável por diversão ou espetá- Parágrafo único.  Incorre nas mesmas penas a autori-
culo público de afixar, em lugar visível e de fácil acesso, à dade que deixa de efetuar o cadastramento de crianças e de
entrada do local de exibição, informação destacada sobre a adolescentes em condições de serem adotadas, de pessoas
natureza da diversão ou espetáculo e a faixa etária especifi- ou casais habilitados à adoção e de crianças e adolescentes
cada no certificado de classificação: em regime de acolhimento institucional ou familiar.  
Pena - multa de três a vinte salários de referência, apli-
cando-se o dobro em caso de reincidência. Art. 258-B.  Deixar o médico, enfermeiro ou dirigente de
estabelecimento de atenção à saúde de gestante de efetuar
Art. 253. Anunciar peças teatrais, filmes ou quaisquer re- imediato encaminhamento à autoridade judiciária de caso
presentações ou espetáculos, sem indicar os limites de idade de que tenha conhecimento de mãe ou gestante interessada
a que não se recomendem: em entregar seu filho para adoção:  

64
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

Pena - multa de R$ 1.000,00 (mil reais) a R$ 3.000,00 § 5o  Observado o disposto no § 4o do art. 3o da Lei no
(três mil reais).  9.249, de 26 de dezembro de 1995, a dedução de que trata
Parágrafo único.  Incorre na mesma pena o funcionário o inciso I do caput: 
de programa oficial ou comunitário destinado à garantia do I - será considerada isoladamente, não se submetendo a
direito à convivência familiar que deixa de efetuar a comu- limite em conjunto com outras deduções do imposto; e
nicação referida no caput deste artigo.  II - não poderá ser computada como despesa operacio-
nal na apuração do lucro real.
Art. 258-C. Descumprir a proibição estabelecida no in-
ciso II do art. 81: Art. 260-A.  A partir do exercício de 2010, ano-calen-
Pena - multa de R$ 3.000,00 (três mil reais) a R$ dário de 2009, a pessoa física poderá optar pela doação de
10.000,00 (dez mil reais); que trata o inciso II do caput do art. 260 diretamente em sua
Medida Administrativa - interdição do estabelecimento Declaração de Ajuste Anual. 
comercial até o recolhimento da multa aplicada. § 1o  A doação de que trata o caput poderá ser deduzi-
da até os seguintes percentuais aplicados sobre o imposto
Disposições Finais e Transitórias
apurado na declaração:
I - (VETADO);
Art. 259. A União, no prazo de noventa dias contados da
publicação deste Estatuto, elaborará projeto de lei dispondo II - (VETADO); 
sobre a criação ou adaptação de seus órgãos às diretrizes da III - 3% (três por cento) a partir do exercício de 2012.
política de atendimento fixadas no art. 88 e ao que estabele- § 2o  A dedução de que trata o caput:
ce o Título V do Livro II. I - está sujeita ao limite de 6% (seis por cento) do im-
Parágrafo único. Compete aos estados e municípios pro- posto sobre a renda apurado na declaração de que trata o
moverem a adaptação de seus órgãos e programas às dire- inciso II do caput do art. 260;
trizes e princípios estabelecidos nesta Lei. II - não se aplica à pessoa física que: 
a) utilizar o desconto simplificado;
Art. 260.  Os contribuintes poderão efetuar doações aos b) apresentar declaração em formulário; ou 
Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente nacional, c) entregar a declaração fora do prazo;
distrital, estaduais ou municipais, devidamente comprova- III - só se aplica às doações em espécie; e 
das, sendo essas integralmente deduzidas do imposto de IV - não exclui ou reduz outros benefícios ou deduções
renda, obedecidos os seguintes limites:  em vigor.
I - 1% (um por cento) do imposto sobre a renda devido § 3o  O pagamento da doação deve ser efetuado até a
apurado pelas pessoas jurídicas tributadas com base no lu- data de vencimento da primeira quota ou quota única do
cro real; e imposto, observadas instruções específicas da Secretaria
II - 6% (seis por cento) do imposto sobre a renda apu- da Receita Federal do Brasil.
rado pelas pessoas físicas na Declaração de Ajuste Anual, § 4o  O não pagamento da doação no prazo estabe-
observado o disposto no art. 22 da Lei no 9.532, de 10 de lecido no § 3o implica a glosa definitiva desta parcela de
dezembro de 1997. dedução, ficando a pessoa física obrigada ao recolhimento
§ 1º - (Revogado) da diferença de imposto devido apurado na Declaração de
§ 1o-A.  Na definição das prioridades a serem atendidas Ajuste Anual com os acréscimos legais previstos na legisla-
com os recursos captados pelos fundos nacional, estaduais ção. 
e municipais dos direitos da criança e do adolescente, serão
§ 5o  A pessoa física poderá deduzir do imposto apu-
consideradas as disposições do Plano Nacional de Promo-
rado na Declaração de Ajuste Anual as doações feitas, no
ção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes
respectivo ano-calendário, aos fundos controlados pelos
à Convivência Familiar e Comunitária e as do Plano Nacio-
nal pela Primeira Infância.   Conselhos dos Direitos da Criança e do Adolescente mu-
§ 2o  Os conselhos nacional, estaduais e municipais nicipais, distrital, estaduais e nacional concomitantemente
dos direitos da criança e do adolescente fixarão critérios de com a opção de que trata o caput, respeitado o limite pre-
utilização, por meio de planos de aplicação, das dotações visto no inciso II do art. 260.
subsidiadas e demais receitas, aplicando necessariamen-
te percentual para incentivo ao acolhimento, sob a forma Art. 260-B.  A doação de que trata o inciso I do art. 260
de guarda, de crianças e adolescentes e para programas de poderá ser deduzida:
atenção integral à primeira infância em áreas de maior ca- I - do imposto devido no trimestre, para as pessoas jurí-
rência socioeconômica e em situações de calamidade.   dicas que apuram o imposto trimestralmente; e
§ 3º O Departamento da Receita Federal, do Ministé- II - do imposto devido mensalmente e no ajuste anual,
rio da Economia, Fazenda e Planejamento, regulamentará para as pessoas jurídicas que apuram o imposto anualmen-
a comprovação das doações feitas aos fundos, nos termos te. 
deste artigo. Parágrafo único.  A doação deverá ser efetuada dentro
§ 4º O Ministério Público determinará em cada comar- do período a que se refere a apuração do imposto.
ca a forma de fiscalização da aplicação, pelo Fundo Muni-
cipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, dos incen- Art. 260-C.  As doações de que trata o art. 260 desta Lei
tivos fiscais referidos neste artigo. podem ser efetuadas em espécie ou em bens. 

65
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

Parágrafo único.  As doações efetuadas em espécie de- Art. 260-H.  Em caso de descumprimento das obrigações
vem ser depositadas em conta específica, em instituição fi- previstas no art. 260-G, a Secretaria da Receita Federal do
nanceira pública, vinculadas aos respectivos fundos de que Brasil dará conhecimento do fato ao Ministério Público.
trata o art. 260.
Art. 260-I.  Os Conselhos dos Direitos da Criança e do
Art. 260-D.  Os órgãos responsáveis pela administração Adolescente nacional, estaduais, distrital e municipais divul-
das contas dos Fundos dos Direitos da Criança e do Adoles- garão amplamente à comunidade:
cente nacional, estaduais, distrital e municipais devem emitir I - o calendário de suas reuniões;
recibo em favor do doador, assinado por pessoa competente II - as ações prioritárias para aplicação das políticas de
e pelo presidente do Conselho correspondente, especificando: atendimento à criança e ao adolescente;
I - número de ordem;  III - os requisitos para a apresentação de projetos a se-
II - nome, Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) e rem beneficiados com recursos dos Fundos dos Direitos da
endereço do emitente;  Criança e do Adolescente nacional, estaduais, distrital ou
III - nome, CNPJ ou Cadastro de Pessoas Físicas (CPF) do municipais;
doador; IV - a relação dos projetos aprovados em cada ano-ca-
IV - data da doação e valor efetivamente recebido; e lendário e o valor dos recursos previstos para implementa-
V - ano-calendário a que se refere a doação. ção das ações, por projeto;
§ 1o  O comprovante de que trata o caput deste artigo V - o total dos recursos recebidos e a respectiva destina-
pode ser emitido anualmente, desde que discrimine os valo- ção, por projeto atendido, inclusive com cadastramento na
res doados mês a mês.  base de dados do Sistema de Informações sobre a Infância e
§ 2o  No caso de doação em bens, o comprovante deve a Adolescência; e
conter a identificação dos bens, mediante descrição em VI - a avaliação dos resultados dos projetos beneficiados
campo próprio ou em relação anexa ao comprovante, infor- com recursos dos Fundos dos Direitos da Criança e do Ado-
mando também se houve avaliação, o nome, CPF ou CNPJ e lescente nacional, estaduais, distrital e municipais.
endereço dos avaliadores.
Art. 260-J.  O Ministério Público determinará, em cada
Art. 260-E.  Na hipótese da doação em bens, o doador Comarca, a forma de fiscalização da aplicação dos incenti-
deverá: vos fiscais referidos no art. 260 desta Lei.
I - comprovar a propriedade dos bens, mediante docu- Parágrafo único.  O descumprimento do disposto nos
mentação hábil; arts. 260-G e 260-I sujeitará os infratores a responder por
II - baixar os bens doados na declaração de bens e direi- ação judicial proposta pelo Ministério Público, que poderá
tos, quando se tratar de pessoa física, e na escrituração, no atuar de ofício, a requerimento ou representação de qual-
caso de pessoa jurídica; e quer cidadão.
III - considerar como valor dos bens doados:
a) para as pessoas físicas, o valor constante da última de- Art. 260-K.  A Secretaria de Direitos Humanos da Pre-
claração do imposto de renda, desde que não exceda o valor sidência da República (SDH/PR) encaminhará à Secretaria
de mercado; da Receita Federal do Brasil, até 31 de outubro de cada ano,
b) para as pessoas jurídicas, o valor contábil dos bens. arquivo eletrônico contendo a relação atualizada dos Fundos
Parágrafo único.  O preço obtido em caso de leilão não dos Direitos da Criança e do Adolescente nacional, distrital,
será considerado na determinação do valor dos bens doados, estaduais e municipais, com a indicação dos respectivos nú-
exceto se o leilão for determinado por autoridade judiciária. meros de inscrição no CNPJ e das contas bancárias especí-
ficas mantidas em instituições financeiras públicas, destina-
Art. 260-F.  Os documentos a que se referem os arts. 260- das exclusivamente a gerir os recursos dos Fundos.
D e 260-E devem ser mantidos pelo contribuinte por um pra-
zo de 5 (cinco) anos para fins de comprovação da dedução Art. 260-L.  A Secretaria da Receita Federal do Brasil ex-
perante a Receita Federal do Brasil. pedirá as instruções necessárias à aplicação do disposto nos
arts. 260 a 260-K.
Art. 260-G.  Os órgãos responsáveis pela administração
das contas dos Fundos dos Direitos da Criança e do Adoles- Art. 261. A falta dos conselhos municipais dos direitos da
cente nacional, estaduais, distrital e municipais devem: criança e do adolescente, os registros, inscrições e alterações
I - manter conta bancária específica destinada exclusiva- a que se referem os arts. 90, parágrafo único, e 91 desta Lei
mente a gerir os recursos do Fundo;  serão efetuados perante a autoridade judiciária da comarca
II - manter controle das doações recebidas; e  a que pertencer a entidade.
III - informar anualmente à Secretaria da Receita Federal Parágrafo único. A União fica autorizada a repassar aos
do Brasil as doações recebidas mês a mês, identificando os estados e municípios, e os estados aos municípios, os recur-
seguintes dados por doador: sos referentes aos programas e atividades previstos nesta Lei,
a) nome, CNPJ ou CPF; tão logo estejam criados os conselhos dos direitos da criança
b) valor doado, especificando se a doação foi em espécie e do adolescente nos seus respectivos níveis.
ou em bens.

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LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

Art. 262. Enquanto não instalados os Conselhos Tute- Art. 267. Revogam-se as Leis nº 4.513, de 1964, e 6.697,
lares, as atribuições a eles conferidas serão exercidas pela de 10 de outubro de 1979 (Código de Menores), e as de-
autoridade judiciária. mais disposições em contrário.

Art. 263. O Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de Brasília, 13 de julho de 1990; 169º da Independência e
1940 (Código Penal), passa a vigorar com as seguintes al- 102º da República.
terações:
1) Art. 121 (...)
§ 4º No homicídio culposo, a pena é aumentada de um EXERCÍCIOS
terço, se o crime resulta de inobservância de regra técnica
de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar 1. (FCC/2014 - Prefeitura de Recife/PE - Procurador)
imediato socorro à vítima, não procura diminuir as conse- Nos termos do art. 226 da Constituição Federal, “a família,
quências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. base da sociedade, tem especial proteção do Estado”. Entre
Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de um terço, os aspectos abrangidos pelo direito à proteção especial,
se o crime é praticado contra pessoa menor de catorze anos. segundo o texto constitucional, encontram-se os seguin-
2) Art. 129 (...) tes:
§ 7º Aumenta-se a pena de um terço, se ocorrer qual- a) garantia de direitos previdenciários e trabalhistas; e
obediência aos princípios de brevidade, excepcionalidade
quer das hipóteses do art. 121, § 4º.
e respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvi-
§ 8º Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do
mento, quando da aplicação de qualquer medida privativa
art. 121.
da liberdade.
3) Art. 136 (...)
b) garantia de direitos previdenciários e trabalhistas; e
§ 3º Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é pra- acesso universal à educação infantil, em creche e pré-esco-
ticado contra pessoa menor de catorze anos. la, às crianças até 5 (cinco) anos de idade.
4) Art. 213 (...) c) erradicação do analfabetismo; e estímulo do Poder
Parágrafo único. Se a ofendida é menor de catorze anos: Público, através de assistência jurídica, incentivos fiscais e
Pena - reclusão de quatro a dez anos. subsídios, nos termos da lei, ao acolhimento, sob a forma
5) Art. 214 (...) de guarda, de criança ou adolescente órfão ou abandona-
Parágrafo único. Se o ofendido é menor de catorze anos: do.
Pena - reclusão de três a nove anos.” d) punição severa ao abuso, à violência e à exploração
sexual da criança e do adolescente; e garantia às presidiá-
Art. 264. O art. 102 da Lei n.º 6.015, de 31 de dezembro rias de condições para que possam permanecer com seus
de 1973, fica acrescido do seguinte item: filhos durante o período de amamentação.
“Art. 102 (...) e) punição severa ao abuso, à violência e à exploração
6º) a perda e a suspensão do pátrio poder.” sexual da criança e do adolescente; e estímulo do Poder
Público, através de assistência jurídica, incentivos fiscais e
Art. 265. A Imprensa Nacional e demais gráficas da subsídios, nos termos da lei, ao acolhimento, sob a forma
União, da administração direta ou indireta, inclusive fun- de guarda, de criança ou adolescente órfão ou abandona-
dações instituídas e mantidas pelo poder público federal do.
promoverão edição popular do texto integral deste Estatuto, R: A. O artigo 227, §3º, CF fixa os aspectos que abran-
que será posto à disposição das escolas e das entidades de gem a proteção especial da criança e do adolescente: “I -
atendimento e de defesa dos direitos da criança e do ado- idade mínima de quatorze anos para admissão ao trabalho,
lescente. observado o disposto no art. 7º, XXXIII; II - garantia de di-
reitos previdenciários e trabalhistas; III - garantia de acesso
Art. 265-A.  O poder público fará periodicamente am- do trabalhador adolescente e jovem à escola; IV - garantia
pla divulgação dos direitos da criança e do adolescente nos de pleno e formal conhecimento da atribuição de ato in-
fracional, igualdade na relação processual e defesa técnica
meios de comunicação social.
por profissional habilitado, segundo dispuser a legislação
Parágrafo único.  A divulgação a que se refere o caput
tutelar específica; V - obediência aos princípios de brevi-
será veiculada em linguagem clara, compreensível e ade-
dade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de
quada a crianças e adolescentes, especialmente às crianças
pessoa em desenvolvimento, quando da aplicação de qual-
com idade inferior a 6 (seis) anos. quer medida privativa da liberdade; VI - estímulo do Poder
Público, através de assistência jurídica, incentivos fiscais e
Art. 266. Esta Lei entra em vigor noventa dias após sua subsídios, nos termos da lei, ao acolhimento, sob a forma
publicação. de guarda, de criança ou adolescente órfão ou abandona-
Parágrafo único. Durante o período de vacância deve- do; VII - programas de prevenção e atendimento especiali-
rão ser promovidas atividades e campanhas de divulgação zado à criança, ao adolescente e ao jovem dependente de
e esclarecimentos acerca do disposto nesta Lei. entorpecentes e drogas afins”.

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LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

2. (Alternative Concursos/2017 - Prefeitura de Sul 4. (FCC/2016 - AL-MS - Agente de Polícia Legislati-


Brasil/SC - Agente Educativo) De acordo com o Estatu- vo) Sobre a prática de ato infracional à luz do Estatuto da
to da Criança e do Adolescente, Lei n.º 8.069/90, art. 60, é Criança e do Adolescente, é INCORRETO afirmar que a
proibido qualquer trabalho a menores: a) medida socioeducativa de internação pode ser de-
a) De quatorze anos de idade, inclusive na condição de terminada por descumprimento reiterado e injustificável
aprendiz. da medida anteriormente imposta.
b) De quatorze anos de idade, salvo na condição de b) internação, antes da sentença, poderá ser determi-
aprendiz. nada pelo prazo máximo de quarenta e cinco dias.
c) De dezesseis anos de idade, salvo na condição de c) medida socioeducativa de internação não pode-
aprendiz. rá exceder em nenhuma hipótese três anos, liberando-se
d) De dezesseis anos de idade, inclusive na condição compulsoriamente o menor infrator aos vinte e um anos
de aprendiz. de idade.
e) De dezessete anos de idade, inclusive na condição
d) medida socioeducativa de liberdade assistida será
de aprendiz.
fixada pelo prazo mínimo de trinta dias, podendo a qual-
quer tempo ser prorrogada, revogada ou substituída por
R: B. Em que pese o teor do art. 64 do ECA, que pode-
outra medida, ouvido o orientador, o Ministério Público e
ria dar a entender que um menor de 14 anos pode traba-
lhar, prevalece o que diz o texto da Constituição Federal: o defensor.
“Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, e) remissão não implica necessariamente o reconhe-
além de outros que visem à melhoria de sua condição so- cimento ou comprovação da responsabilidade, nem pre-
cial: [...] XXXIII - proibição de trabalho noturno, perigoso ou valece para efeito de antecedentes, podendo incluir even-
insalubre a menores de dezoito e de qualquer trabalho a tualmente a aplicação de qualquer das medidas previstas
menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, em lei, exceto a colocação em regime de semiliberdade e
a partir de quatorze anos”. Logo, o menor pode trabalhar a internação.
em qualquer serviço, desde que não seja noturno, perigoso
e insalubre, dos 16 aos 18 anos; e entre 14 e 16 anos ape- R: D. A lei exige como prazo mínimo de medida so-
nas pode trabalhar como aprendiz. cioeducativa o período de 6 meses, conforme art. 118, § 2º,
ECA, não 30 dias conforme a alternativa “d”, razão pela qual
3. (FCC/2016 - AL-MS - Agente de Polícia Legislati- está incorreta. A alternativa “a” está prevista no art. 122, §
vo) Sobre a adoção, nos termos preconizados pelo Estatu- 1º, ECA; a alternativa “b” está prevista no art. 108 do ECA;
to da Criança e do Adolescente, a alternativa “c” está prevista no art. 121, §§ 3º e 5º, ECA; a
a) o adotante deve ser, no mínimo, 18 anos mais velho alternativa “e” está prevista no art. 127 ECA.
que o adotando.
b) é permitida a adoção por procuração. 5. (COMPERVE/2016 - Câmara de Natal/RN - Guar-
c) se um dos cônjuges adota o filho do outro, mantêm- da Legislativo) As crianças e os adolescentes, qualificados
-se os vínculos de filiação entre o adotado e o cônjuge do pelo direito hoje vigente como pessoas em desenvolvimen-
adotante e os respectivos parentes. to, receberam do direito positivo brasileiro, tutela especial
d) é vedada a adoção conjunta pelos divorciados, se- através da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, mais conhe-
parados judicialmente e pelos ex-companheiros. cida como Estatuto da Criança e do Adolescente. Seguindo
e) o estágio de convivência que precede a adoção não as diretrizes traçadas pela Constituição de 1988, o Estatuto
poderá, em nenhuma hipótese, ser dispensado pela auto- da Criança e do Adolescente trouxe a previsão normativa
ridade judiciária.
da absoluta prioridade e de variados direitos fundamentais.
Em tal seara, foi determinado que as crianças e os adoles-
R: C. Neste sentido, disciplina o art. 41, § 1º, ECA: “Se
centes têm direito,
um dos cônjuges ou concubinos adota o filho do outro,
a) à liberdade, de forma a compreender a liberdade de
mantêm-se os vínculos de filiação entre o adotado e o côn-
juge ou concubino do adotante e os respectivos parentes”. ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitá-
A alternativa “a” está errada porque o adotante deve ser, rios, ressalvadas as restrições legais; a liberdade de opinião
pelo menos, 16 anos mais velho que o adotado e possuir e de expressão; a liberdade de brincar e de praticar espor-
pelo menos 18 anos (art. 42, § 3º, ECA); a alternativa “b” tes, a liberdade de participar da vida familiar e comunitária;
está incorreta porque é vedada a adoção por procuração, a liberdade de buscar refúgio, auxílio e orientação, exce-
pois a adoção é ato personalíssimo (art. 39, § 2º, ECA); a tuadas dessa tutela a liberdade de crença e culto religioso
alternativa “d” está incorreta porque é possível a adoção e de participar da vida política.
conjunta desde que preencha os requisitos de serem casa- b) ao respeito, consistente na inviolabilidade da sua
dos civilmente ou mantenham união estável, comprovada integridade física, psíquica e moral, abrangendo a preser-
a estabilidade da família (art. 42, § 1º, ECA); e a alternativa vação da imagem, da identidade, da autonomia, de seus
“e” está incorreta porque pode ser dispensado o estágio de valores, ideias e crenças, excluída a tutela dos seus espaços
convivência quando o adotando já estiver sob a tutela ou e objetos pessoais.
guarda do adotante (art. 46, § 1º, ECA).

68
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

c) de serem educados e cuidados sem o uso de castigo 7. (FUNRIO/2016 - IF-PA - Assistente de Alunos) A
físico ou de tratamento cruel ou degradante, como formas intenção principal do Estatuto da Criança e do Adolescente
de correção, disciplina, educação ou a qualquer outro pre- (Lei nº 8.069/90) é
texto, por parte dos pais, de integrantes da família amplia- a) prover uma boa escola para que crianças e adoles-
da, dos responsáveis, dos agentes públicos executores de centes possam trabalhar o mais cedo possível.
medidas socioeducativas ou por qualquer pessoa encarre- b) questionar políticas sociais que venham a proteger
gada de cuidar deles, tratá-los, educá-los ou protegê-los. quem não merece.
d) de serem criados e educados no seio de sua famí- c) distribuir renda entre os mais empobrecidos da po-
lia biológica, não se admitindo a sua inserção em família pulação.
substituta, assegurada a convivência familiar e comunitá- d) proteger integralmente crianças e adolescentes, ga-
ria, em ambiente que garanta seu desenvolvimento inte- rantindo políticas públicas neste sentido.
gral. e) proteger crianças e adolescentes da prisão.
R: C. Nestes termos, preconiza o artigo 18-A do ECA:
“A criança e o adolescente têm o direito de ser educados R: D. Conforme o artigo 1º do ECA, “esta Lei dispõe
e cuidados sem o uso de castigo físico ou de tratamento sobre a proteção integral à criança e ao adolescente”. O
cruel ou degradante, como formas de correção, disciplina, princípio da proteção integral se associa ao princípio da
educação ou qualquer outro pretexto, pelos pais, pelos in- prioridade absoluta, colacionado no artigo 4º do ECA e no
tegrantes da família ampliada, pelos responsáveis, pelos artigo 227, CF. De uma doutrina da situação irregular, o
agentes públicos executores de medidas socioeducativas direito evoluiu e passou a contemplar uma noção de prote-
ou por qualquer pessoa encarregada de cuidar deles, tra- ção mais ampla da criança e do adolescente, que não ape-
tá-los, educá-los ou protegê-los”. A alternativa “a” está er- nas abordasse situações de irregularidade (embora ainda
rada porque o artigo 16 do ECA fixa que o direito à liber- o fizesse), mas que abrangesse todo o arcabouço jurídico
dade envolve os seguintes aspectos: “I - ir, vir e estar nos protetivo da criança e do adolescente, que é a doutrina da
logradouros públicos e espaços comunitários, ressalvadas proteção integral.
as restrições legais; II - opinião e expressão; III - crença e
culto religioso; IV - brincar, praticar esportes e divertir-se; 8. (Prefeitura de Cruzeiro - SP - Auxiliar de Desen-
V - participar da vida familiar e comunitária, sem discri- volvimento Infantil - Instituto Excelência/2016) O Esta-
minação; VI - participar da vida política, na forma da tuto da Criança e do Adolescente em seu art. 4º, parágrafo
lei; VII - buscar refúgio, auxílio e orientação”. A alternativa único fixa a garantia de prioridade. Assinale a alternativa
“b” está errada porque o artigo 17 do ECA prevê que “o CORRETA que compreende uma dessas prioridades:
direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integri- a) Nenhuma criança ou adolescente será objeto de
dade física, psíquica e moral da criança e do adolescente, qualquer forma de negligência, descriminação e explora-
abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da ção.
autonomia, dos valores, ideias e crenças, dos espaços e b) É assegurado atendimento integral á saúde da crian-
objetos pessoais”. A alternativa “d” está errada porque o ça e do adolescente por intermédio do sistema único de
artigo 18 do ECA assegura que “é direito da criança e do saúde.
adolescente ser criado e educado no seio de sua família c) Precedência de atendimento, nos serviços públicos
e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a ou de relevância pública.
convivência familiar e comunitária, em ambiente que ga- d) Manter alojamento conjunto, possibilitando ao neo-
ranta seu desenvolvimento integral”. nato a permanência junto á mãe.

6. (FUNRIO/2016 - IF-PA - Assistente de Alunos) R: C. Conforme o artigo 4º, parágrafo único, ECA, “a
Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei garantia de prioridade compreende: [...] b) precedência de
8.069/90), é considerado criança atendimento nos serviços públicos ou de relevância públi-
a) a pessoa até seis anos incompletos de idade. ca”.
b) a pessoa até oito anos incompletos de idade.
c) a pessoa até 12 anos incompletos de idade. 9. (FUNDAÇÃO CASA - Agente Administrativo - VU-
d) a pessoa até 18 anos incompletos de idade. NESP/2010) Relativamente às Disposições Preliminares do
e) a pessoa até 14 anos incompletos, desde que não Estatuto da Criança e do Adolescente, assinale a alternativa
tenha cometido nenhum crime. correta.
a) Considera-se criança a pessoa com até doze anos
R: C. O Estatuto da Criança e do Adolescente opta por completos, e adolescente aquela entre treze e dezoito anos
categorizar separadamente estas duas categorias de me- de idade incompletos.
nores. Criança é aquele que tem até 12 anos de idade (na b) Nos casos em que a lei determinar, deverá ser cons-
data de aniversário de 12 anos, passa a ser adolescente), tantemente aplicado o Estatuto da Criança e do Adolescen-
adolescente é aquele que tem entre 12 e 18 anos (na data te às pessoas entre dezenove e vinte anos de idade.
de aniversário de 18 anos, passa a ser maior), conforme o c) A garantia de prioridade para o adolescente com-
artigo 2º do ECA. preende a primazia na formulação das políticas sociais pú-
blicas para o lazer.

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LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

d) Na aplicação dessa Lei, deverão ser levados em con- 12. (TRT - 1ª REGIÃO - Juiz do Trabalho Substituto -
ta os fins políticos a que ela se destina. FCC/2016) A formação técnico-profissional do adolescen-
e) Destinação privilegiada de recursos públicos nas te NÃO deverá obedecer a
áreas relacionadas com a proteção à infância e à juven- a) horário especial, estabelecido em lei.
tude. b) horário especial, de acordo com a atividade.
R: E. Conforme o artigo 4º, parágrafo único, ECA, “a c) peculiaridades do seu desenvolvimento pessoal.
garantia de prioridade compreende: [...] d) destinação pri- d) adequação ao mercado de trabalho.
vilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com e) prevalência das atividades educativas sobre as pro-
a proteção à infância e à juventude”. dutivas.
R: A. Dispõe o ECA: “Art. 63. A formação técnico-pro-
10. (Prefeitura de Cruzeiro - SP - Auxiliar de De- fissional obedecerá aos seguintes princípios: [...] III - horário
senvolvimento Infantil - Instituto Excelência/2016) As- especial para o exercício das atividades”. Especificamente,
sinale a alternativa CORRETA conforme o artigo 15 do ECA: o horário deve ser fixado sem prejudicar a frequência à es-
a) na dignidade da criança e do adolescente, pondo- cola (artigo 67, IV, ECA) e é proibido o trabalho noturno.
-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, Entretanto, a lei não fixa com precisão o horário de traba-
aterrorizante, vexatório ou constrangedor. lho permitido ao adolescente.
b) no direito de ser educados e cuidados sem o uso
de castigo físico ou de tratamento cruel ou degradante, 13. (IDECAN/2016 - UFPB - Auxiliar em Assuntos
como formas de correção, disciplina, educação ou qual- Educacionais) Considerando a prática de ato infracional
quer outro pretexto, pelos pais, pelos integrantes da famí- por adolescentes e os direitos individuais assegurados,
lia ampliada, pelos responsáveis, pelos agentes públicos nessa situação, pelo Estatuto da Criança e do Adolescente
executores de medidas socioeducativas ou por qualquer (ECA), assinale a alternativa correta.
pessoa encarregada de cuidar deles, tratá-los, educá-los a) Considera-se ato infracional a conduta descrita como
ou protegê-los. crime e não a estabelecida como contravenção penal.
c) no direito à liberdade, ao respeito e à dignidade b) O adolescente não pode ser privado de sua liberda-
como pessoas humanas em processo de desenvolvimento de senão em flagrante de ato infracional ou por ordem es-
e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garan- crita e fundamentada da autoridade judiciária competente.
tidos na Constituição e nas leis. c) O adolescente que comete ato infracional perde o
d) na inviolabilidade da integridade física, psíquica e direito à identificação dos responsáveis pela sua apreen-
moral da criança e do adolescente, abrangendo a preser- são, devendo, contudo, ser informado acerca de seus di-
vação da imagem, da identidade, da autonomia, dos valo- reitos.
res, ideias e crenças, dos espaços e objetos pessoais. d) O adolescente civilmente identificado será subme-
tido à identificação compulsória pelos órgãos policiais, de
R: D. Dispõe o ECA em seu artigo 15: “A criança e o proteção e judiciais, independente se para efeito de con-
adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à digni- frontação em caso de dúvida fundada.
dade como pessoas humanas em processo de desenvolvi- R: B. Conforme preconiza o art. 106, “nenhum adoles-
mento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais cente será privado de sua liberdade senão em flagrante de
garantidos na Constituição e nas leis”. ato infracional ou por ordem escrita e fundamentada da
autoridade judiciária competente”.
11. (TRT - 1ª REGIÃO - Juiz do Trabalho Substituto
- FCC/2016) Sobre o trabalho da criança e do adolescente,
é correto afirmar:
a) É proibido o trabalho de adolescentes em atividades
lúdicas.
b) É proibido para os menores de 16, salvo na condi-
ção de aprendizes.
c) É proibido o trabalho noturno de menores de 16
anos, salvo na condição de aprendizes.
d) É proibido o trabalho de adolescentes em hospitais,
salvo na condição de aprendizes de enfermagem.
e) É proibido o trabalho de crianças em peças teatrais
e atividades cinematográficas.

R: B. Nos termos do artigo 60, ECA, “é proibido


qualquer trabalho a menores de quatorze anos de ida-
de, salvo na condição de aprendiz”. Aceita-se o trabalho
como aprendiz entre 14 e 16 anos. A partir dos 16 anos,
o adolescente pode trabalhar, não necessariamente como
aprendiz, embora a lei fixe outras restrições.

70
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

I - as causas cujo valor não exceda a quarenta vezes o


4. JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS (LEI Nº salário mínimo;
9.099/95 E II - as enumeradas no art. 275, inciso II, do Código de
Processo Civil;
III - a ação de despejo para uso próprio;
IV - as ações possessórias sobre bens imóveis de valor
LEI Nº 9.099, DE 26 DE SETEMBRO DE 1995. não excedente ao fixado no inciso I deste artigo.
§ 1º Compete ao Juizado Especial promover a execução:
Dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais e I - dos seus julgados;
dá outras providências. II - dos títulos executivos extrajudiciais, no valor de até
quarenta vezes o salário mínimo, observado o disposto no
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Con- § 1º do art. 8º desta Lei.
gresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: § 2º Ficam excluídas da competência do Juizado Espe-
cial as causas de natureza alimentar, falimentar, fiscal e de
CAPÍTULO I interesse da Fazenda Pública, e também as relativas a aci-
Disposições Gerais dentes de trabalho, a resíduos e ao estado e capacidade das
pessoas, ainda que de cunho patrimonial.
Art. 1º Os Juizados Especiais Cíveis e Criminais, órgãos § 3º A opção pelo procedimento previsto nesta Lei im-
da Justiça Ordinária, serão criados pela União, no Distrito portará em renúncia ao crédito excedente ao limite esta-
Federal e nos Territórios, e pelos Estados, para conciliação, belecido neste artigo, excetuada a hipótese de conciliação.
processo, julgamento e execução, nas causas de sua com-
petência. Art. 4º É competente, para as causas previstas nesta Lei,
o Juizado do foro:
Art. 2º O processo orientar-se-á pelos critérios da ora- I - do domicílio do réu ou, a critério do autor, do local
lidade, simplicidade, informalidade, economia processual e onde aquele exerça atividades profissionais ou econômicas
celeridade, buscando, sempre que possível, a conciliação ou ou mantenha estabelecimento, filial, agência, sucursal ou
a transação. escritório;
II - do lugar onde a obrigação deva ser satisfeita;
Comentários aos artigos 1º e 2 º: III - do domicílio do autor ou do local do ato ou fato,
Os Juizados Especiais Cíveis têm como intuito resolver nas ações para reparação de dano de qualquer natureza.
causas de menor complexidade com maior rapidez, bus- Parágrafo único. Em qualquer hipótese, poderá a ação
cando, sempre que possível, o acordo entre as partes. São ser proposta no foro previsto no inciso I deste artigo.
consideradas causas cíveis de menor complexidade aquelas
cujo valor não exceda a 40 salários mínimos. Nas causas de Comentários aos artigos 3º e 4º: Concernente à com-
até 20 salários mínimos não é obrigatória a assistência de petência do juizado, o art. 3º da lei dispõe que as causas
advogado; nas de valor superior, a assistência é obrigatória. não podem exceder a quarenta vezes o salário mínimo; as
Já os Juizados Criminais são órgãos do Poder Judiciário enumeradas no art. 275, inciso II, do Código de Processo Ci-
que julgam todas as contravenções penais e crimes de me- vil; as ações de despejo para uso próprio e as ações posses-
nor potencial ofensivo, ou seja, de baixa gravidade, segun- sórias sobre bens imóveis de valor não excedente ao fixado
do o entendimento do legislador. Hoje, são considerados no inciso I do art. 3º. Verifica-se que o inciso I do artigo tem
crimes de menor potencial ofensivo, todos aqueles que têm a limitação pelo valor. E os incisos II a IV, limitam a compe-
pena máxima de até 2 anos. tência pela matéria.
O Juizado Especial Criminal é órgão da Justiça que exis-
te no âmbito da União, do Distrito Federal e dos Estados. Seção II
Tem competência para conciliação, processo e julgamento Do Juiz, dos Conciliadores e dos Juízes Leigos
dos crimes de menor potencial ofensivo, mediante a orali-
dade e abreviação do rito pelo procedimento sumaríssimo. Art. 5º O Juiz dirigirá o processo com liberdade para
Estes órgãos jurisdicionais devem ser orientados pela con- determinar as provas a serem produzidas, para apreciá-las
ciliação e transação penal como forma de composição, e o e para dar especial valor às regras de experiência comum
julgamento de recursos por turmas de juízes.
ou técnica.
Capítulo II
Art. 6º O Juiz adotará em cada caso a decisão que repu-
Dos Juizados Especiais Cíveis
tar mais justa e equânime, atendendo aos fins sociais da lei
Seção I
e às exigências do bem comum.
Da Competência

Art. 3º O Juizado Especial Cível tem competência para Art. 7º Os conciliadores e Juízes leigos são auxiliares da
conciliação, processo e julgamento das causas cíveis de me- Justiça, recrutados, os primeiros, preferentemente, entre os
nor complexidade, assim consideradas: bacharéis em Direito, e os segundos, entre advogados com
mais de cinco anos de experiência.

71
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

Parágrafo único. Os Juízes leigos ficarão impedidos de § 2º O maior de dezoito anos poderá ser autor, inde-
exercer a advocacia perante os Juizados Especiais, enquan- pendentemente de assistência, inclusive para fins de con-
to no desempenho de suas funções. ciliação.

Comentários aos artigos 5º 6º e 7º: O juiz togado é o Art. 9º Nas causas de valor até vinte salários mínimos,
magistrado de carreira lotado no Juizado Especial, também as partes comparecerão pessoalmente, podendo ser assis-
designado como “juiz presidente” pela Lei nº 10.259/2001 tidas por advogado; nas de valor superior, a assistência é
(art. 18). Além dele, a norma classifica os conciliadores e obrigatória.
juízes leigos como auxiliares da Justiça, ou seja, não inte- § 1º Sendo facultativa a assistência, se uma das partes
gram o quadro de carreira do Judiciário (em decorrência do comparecer assistida por advogado, ou se o réu for pessoa
exercício da função, não havendo impedimento para que jurídica ou firma individual, terá a outra parte, se quiser,
os próprios servidores sejam escolhidos como conciliado- assistência judiciária prestada por órgão instituído junto ao
res) Juizado Especial, na forma da lei local.
O Conciliador poderá ser bacharel em Direito e atuará § 2º O Juiz alertará as partes da conveniência do patro-
na solução de conflitos. Exerce fundamental papel, pois seu cínio por advogado, quando a causa o recomendar.
desempenho conciliatório resulta, muitas vezes, na auto § 3º O mandato ao advogado poderá ser verbal, salvo
composição amigável da demanda. quanto aos poderes especiais.
A função exige tendência conciliatória e elevado inte- § 4º O réu, sendo pessoa jurídica ou titular de firma
resse pelo instituto da conciliação. individual, poderá ser representado por preposto creden-
Os Juízes leigos deve ser bacharel em Direito, estar re- ciado, munido de carta de preposição com poderes para
gularmente inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil, transigir, sem haver necessidade de vínculo empregatício.
possuir pelo menos dois anos de experiência jurídica. Im-
portante elucidar que as atribuições do juiz leigo são: Art. 10. Não se admitirá, no processo, qualquer forma
a) presidir as audiências de conciliação; de intervenção de terceiro nem de assistência. Admitir-se-á
b) presidir audiências de instrução e julgamento, po- o litisconsórcio.
dendo, inclusive, colher provas;
c) proferir parecer, em matéria de competência dos Jui- Art. 11. O Ministério Público intervirá nos casos previs-
zados Especiais, a ser submetido ao Juiz Supervisor da uni- tos em lei.
dade de Juizado Especial onde exerça suas funções, para
homologação por sentença. Comentários aos artigos 8º, 9º 10 e 11: Poderão ser
A atuação dos juízes leigos ficará limitada aos feitos partes: As Pessoas físicas, capazes, ou seja, maiores de 18
de competência dos Juizados Especiais Cíveis e da Fazenda anos, Microempresas – ME, Empresas de Pequeno Porte –
Pública. EPP, Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público
Os juízes leigos ficam impedidos de exercer a advoca- – OSCIP.
cia perante a Unidade do Juizado Especial da Comarca ou O artigo 8º dispõe as pessoas que não poderão recla-
Foro onde forem designados. mar nos Juizados Especiais Cíveis.

Seção III Seção IV


Das Partes Dos atos processuais

Art. 8º Não poderão ser partes, no processo instituído Art. 12. Os atos processuais serão públicos e poderão
por esta Lei, o incapaz, o preso, as pessoas jurídicas de di- realizar-se em horário noturno, conforme dispuserem as
reito público, as empresas públicas da União, a massa falida normas de organização judiciária.
e o insolvente civil.
§ 1º Somente serão admitidas a propor ação perante o Art. 13. Os atos processuais serão válidos sempre que
Juizado Especial: preencherem as finalidades para as quais forem realizados,
I - as pessoas físicas capazes, excluídos os cessionários atendidos os critérios indicados no art. 2º desta Lei.
de direito de pessoas jurídicas § 1º Não se pronunciará qualquer nulidade sem que
II - as pessoas enquadradas como microempreende- tenha havido prejuízo.
dores individuais, microempresas e empresas de pequeno § 2º A prática de atos processuais em outras comarcas
porte na forma da Lei Complementar nº 123, de 14 de de- poderá ser solicitada por qualquer meio idôneo de comu-
zembro de 2006; (Redação dada pela Lei Complementar nº nicação.
147, de 2014) § 3º Apenas os atos considerados essenciais serão re-
III - as pessoas jurídicas qualificadas como Organização gistrados resumidamente, em notas manuscritas, datilo-
da Sociedade Civil de Interesse Público, nos termos da Lei grafadas, taquigrafadas ou estenotipadas. Os demais atos
no 9.790, de 23 de março de 1999; poderão ser gravados em fita magnética ou equivalente,
IV - as sociedades de crédito ao microempreendedor, que será inutilizada após o trânsito em julgado da decisão.
nos termos do art. 1º da Lei nº 10.194, de 14 de fevereiro § 4º As normas locais disporão sobre a conservação das
de 2001. peças do processo e demais documentos que o instruem.

72
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

Comentários aos artigos 12 e 13: No procedimento Após a apresentação do pedido, fica designada a au-
da presente Lei, os atos são mais simplificados, são públi- diência de conciliação, devendo o demandado ser citado
cos e podem ocorrer, inclusive, em horário noturno, se as- para comparecer a mesma.
sim dispuserem as normas de organização judiciária, o que
facilita o acesso das partes as audiências. Seção VI
Preenchendo os atos as finalidades a que se destinam Das Citações e Intimações
e atendidos os critérios do artigo 2º, serão considerados
válidos. Art. 18. A citação far-se-á:
I - por correspondência, com aviso de recebimento em
Seção V mão própria;
Do pedido II - tratando-se de pessoa jurídica ou firma individual,
mediante entrega ao encarregado da recepção, que será
Art. 14. O processo instaurar-se-á com a apresentação obrigatoriamente identificado;
do pedido, escrito ou oral, à Secretaria do Juizado. III - sendo necessário, por oficial de justiça, indepen-
§ 1º Do pedido constarão, de forma simples e em lin- dentemente de mandado ou carta precatória.
guagem acessível: § 1º A citação conterá cópia do pedido inicial, dia e
I - o nome, a qualificação e o endereço das partes; hora para comparecimento do citando e advertência de
II - os fatos e os fundamentos, de forma sucinta; que, não comparecendo este, considerar-se-ão verdadeiras
III - o objeto e seu valor. as alegações iniciais, e será proferido julgamento, de plano.
§ 2º É lícito formular pedido genérico quando não for § 2º Não se fará citação por edital.
possível determinar, desde logo, a extensão da obrigação. § 3º O comparecimento espontâneo suprirá a falta ou
§ 3º O pedido oral será reduzido a escrito pela Secre- nulidade da citação.
taria do Juizado, podendo ser utilizado o sistema de fichas
ou formulários impressos. Art. 19. As intimações serão feitas na forma prevista
para citação, ou por qualquer outro meio idôneo de co-
Art. 15. Os pedidos mencionados no art. 3º desta Lei
municação.
poderão ser alternativos ou cumulados; nesta última hipó-
§ 1º Dos atos praticados na audiência, considerar-se-
tese, desde que conexos e a soma não ultrapasse o limite
-ão desde logo cientes as partes.
fixado naquele dispositivo.
§ 2º As partes comunicarão ao juízo as mudanças de
endereço ocorridas no curso do processo, reputando-se
Art. 16. Registrado o pedido, independentemente de
distribuição e autuação, a Secretaria do Juizado designará a eficazes as intimações enviadas ao local anteriormente in-
sessão de conciliação, a realizar-se no prazo de quinze dias. dicado, na ausência da comunicação.

Art. 17. Comparecendo inicialmente ambas as partes, Comentários aos artigos 18 e 19: A citação em regra
instaurar-se-á, desde logo, a sessão de conciliação, dispen- ocorre pelo correio, não se admitindo a citação por edital
sados o registro prévio de pedido e a citação. e as intimações são feitas da mesma forma prevista para
Parágrafo único. Havendo pedidos contrapostos, po- as citações.
derá ser dispensada a contestação formal e ambos serão O que se pretende com o procedimento é a solução
apreciados na mesma sentença. do conflito de forma mais célere, especialmente, através da
conciliação, principal objetivo do Juizado Especial.
Comentários aos artigos 14, 15, 16 e 17: Os requisi-
tos mínimos para interpor ação no procedimento do Jui- Seção VII
zado Especial estão previstos no artigo 14 e em razão da Da Revelia
simplicidade e informalidade deste procedimento, o mes-
mo pode ser feito por escrito ou oralmente. Desse modo, Art. 20. Não comparecendo o demandado à sessão de
o cidadão pode se dirigir até o cartório do Juizado Especial conciliação ou à audiência de instrução e julgamento, re-
e ingressar com uma ação de menor complexidade cujo putar-se-ão verdadeiros os fatos alegados no pedido ini-
valor seja de até vinte salários mínimos, bastando para isso, cial, salvo se o contrário resultar da convicção do Juiz.
informar a qualificação das partes, os fatos, o objeto e o va-
lor da mesma. O pedido poderá ser verbal e será reduzido Seção VIII
a escrito pelo funcionário ou a própria parte pode trazer Da Conciliação e do Juízo Arbitral
por escrito o seu pedido. Ilustre-se que a pessoa que pode
ingressar com ação neste procedimento, o pedido inicial Art. 21. Aberta a sessão, o Juiz togado ou leigo esclare-
não necessita conter fundamentação jurídica, pois se trata cerá as partes presentes sobre as vantagens da conciliação,
de um leigo, bastando uma explicação de forma clara e mostrando-lhes os riscos e as consequências do litígio, es-
simples dos fatos e delimitação do objetivo da causa. pecialmente quanto ao disposto no § 3º do art. 3º desta Lei.
Por outro lado, quando a parte é assistida por advoga-
do, mesmo tratando-se de procedimento do Juizado Espe- Art. 22. A conciliação será conduzida pelo Juiz togado
cial, deve a peça inicial conter uma fundamentação jurídica. ou leigo ou por conciliador sob sua orientação.

73
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

Parágrafo único. Obtida a conciliação, esta será redu- Art. 29. Serão decididos de plano todos os incidentes
zida a escrito e homologada pelo Juiz togado, mediante que possam interferir no regular prosseguimento da au-
sentença com eficácia de título executivo. diência. As demais questões serão decididas na sentença.
Parágrafo único. Sobre os documentos apresentados
Art. 23. Não comparecendo o demandado, o Juiz toga- por uma das partes, manifestar-se-á imediatamente a par-
do proferirá sentença. te contrária, sem interrupção da audiência.

Art. 24. Não obtida a conciliação, as partes poderão Comentários aos artigos 27, 28 e 29: Na audiência
optar, de comum acordo, pelo juízo arbitral, na forma pre- de instrução e julgamento, o juiz togado ou o leigo, ten-
vista nesta Lei. tará novamente a conciliação das partes, eis que esse é
§ 1º O juízo arbitral considerar-se-á instaurado, inde- o principal objetivo deste procedimento e, não obtendo
pendentemente de termo de compromisso, com a escolha êxito, colherá as provas, isto é, receberá documentos, con-
do árbitro pelas partes. Se este não estiver presente, o Juiz testação, contra pedido, fará a oitiva das partes e das tes-
convocá-lo-á e designará, de imediato, a data para a au- temunhas.
diência de instrução.
§ 2º O árbitro será escolhido dentre os juízes leigos. Seção X
Da Resposta do Réu
Art. 25. O árbitro conduzirá o processo com os mesmos
critérios do Juiz, na forma dos arts. 5º e 6º desta Lei, po- Art. 30. A contestação, que será oral ou escrita, conte-
dendo decidir por equidade. rá toda matéria de defesa, exceto arguição de suspeição
ou impedimento do Juiz, que se processará na forma da
Art. 26. Ao término da instrução, ou nos cinco dias sub- legislação em vigor.
sequentes, o árbitro apresentará o laudo ao Juiz togado
para homologação por sentença irrecorrível. Art. 31. Não se admitirá a reconvenção. É lícito ao réu,
na contestação, formular pedido em seu favor, nos limites
Comentários aos artigos 21, 22, 23, 24, 25, 26: Os do art. 3º desta Lei, desde que fundado nos mesmos fatos
conciliadores estão aptos a dirigir sob a orientação do juiz que constituem objeto da
togado ou do leigo as audiências de conciliação e os juízes Parágrafo único. O autor poderá responder ao pedido
leigos podem realizar tanto as audiências de conciliação do réu na própria audiência ou requerer a designação da
quanto as de instrução e julgamento. nova data, que será desde logo fixada, cientes todos os
Poderão ocorrer duas audiências, uma de conciliação presentes.
e outra de instrução e julgamento. Nas audiências de con-
ciliação, os conciliadores devem tentar demonstrar as van- Comentários aos artigos 30 e 31: A contestação
tagens de uma composição e as consequências e riscos do deve ser apresentada até a audiência de instrução e julga-
prosseguimento do feito, fazendo com que as partes en- mento, assim como o pedido contraposto, podendo o au-
volvidas compreendam a importância da referida audiên- tor responder oralmente na própria audiência ou requerer
cia e possam optar por solucionar o conflito desde já pelo designação de nova data.
acordo.
Caso seja realizado o acordo entre as partes, o termo Seção XI
é submetido ao juiz togado para homologação, o qual Das Provas
passará a valer como título executivo. Não sendo exitosa a
tentativa de conciliação, o processo prossegue com a au- Art. 32. Todos os meios de prova moralmente legíti-
diência de instrução e julgamento. mos, ainda que não especificados em lei, são hábeis para
provar a veracidade dos fatos alegados pelas partes.
Seção IX
Da Instrução e Julgamento Art. 33. Todas as provas serão produzidas na audiência
de instrução e julgamento, ainda que não requeridas pre-
Art. 27. Não instituído o juízo arbitral, proceder-se-á viamente, podendo o Juiz limitar ou excluir as que consi-
imediatamente à audiência de instrução e julgamento, des- derar excessivas, impertinentes ou protelatórias.
de que não resulte prejuízo para a defesa.
Parágrafo único. Não sendo possível a sua realização Art. 34. As testemunhas, até o máximo de três para
imediata, será a audiência designada para um dos quinze cada parte, comparecerão à audiência de instrução e jul-
dias subsequentes, cientes, desde logo, as partes e teste- gamento levadas pela parte que as tenha arrolado, inde-
munhas eventualmente presentes. pendentemente de intimação, ou mediante esta, se assim
for requerido.
Art. 28. Na audiência de instrução e julgamento serão § 1º O requerimento para intimação das testemunhas
ouvidas as partes, colhida a prova e, em seguida, proferida será apresentado à Secretaria no mínimo cinco dias antes
a sentença. da audiência de instrução e julgamento.

74
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

§ 2º Não comparecendo a testemunha intimada, o Juiz Art. 40. O Juiz leigo que tiver dirigido a instrução pro-
poderá determinar sua imediata condução, valendo-se, se ferirá sua decisão e imediatamente a submeterá ao Juiz
necessário, do concurso da força pública. togado, que poderá homologá-la, proferir outra em subs-
tituição ou, antes de se manifestar, determinar a realização
Art. 35. Quando a prova do fato exigir, o Juiz pode- de atos probatórios indispensáveis.
rá inquirir técnicos de sua confiança, permitida às partes a
apresentação de parecer técnico. Art. 41. Da sentença, excetuada a homologatória de
Parágrafo único. No curso da audiência, poderá o Juiz, conciliação ou laudo arbitral, caberá recurso para o próprio
de ofício ou a requerimento das partes, realizar inspeção Juizado.
em pessoas ou coisas, ou determinar que o faça pessoa de § 1º O recurso será julgado por uma turma composta
sua confiança, que lhe relatará informalmente o verificado. por três Juízes togados, em exercício no primeiro grau de
jurisdição, reunidos na sede do Juizado.
Art. 36. A prova oral não será reduzida a escrito, deven- § 2º No recurso, as partes serão obrigatoriamente re-
do a sentença referir, no essencial, os informes trazidos nos presentadas por advogado.
depoimentos.
Art. 42. O recurso será interposto no prazo de dez dias,
Art. 37. A instrução poderá ser dirigida por Juiz leigo, contados da ciência da sentença, por petição escrita, da
sob a supervisão de Juiz togado. qual constarão as razões e o pedido do recorrente.
§ 1º O preparo será feito, independentemente de inti-
Comentários acerca dos artigos 32 a 37: Acerca das mação, nas quarenta e oito horas seguintes à interposição,
provas no Juizado Especial, leciona Humberto Theodoro sob pena de deserção.
Júnior27: § 2º Após o preparo, a Secretaria intimará o recorrido
para oferecer resposta escrita no prazo de dez dias.
“A prova técnica é admissível no Juizado Especial,
quando o exame do fato controvertido a exigir. Não assu- Art. 43. O recurso terá somente efeito devolutivo, po-
mirá, porém, a forma de uma perícia, nos moldes habituais dendo o Juiz dar-lhe efeito suspensivo, para evitar dano
do Código de Processo Civil. O perito escolhido pelo Juiz, irreparável para a parte.
será convocado para a audiência, onde prestará as infor-
mações solicitadas pelo instrutor da causa (art. 35, caput). Art. 44. As partes poderão requerer a transcrição da
Se não for possível solucionar a lide à base de simples es- gravação da fita magnética a que alude o § 3º do art. 13
clarecimentos do técnico em audiência, a causa deverá ser desta Lei, correndo por conta do requerente as despesas
considerada complexa. O feito será encerrado no âmbito respectivas.
do Juizado Especial, sem julgamento do mérito, e as partes
serão remetidas à justiça comum. Isto porque os Juizados Art. 45. As partes serão intimadas da data da sessão de
Especiais, por mandamento constitucional, são destinados julgamento.
apenas a compor ‘causas cíveis de menor complexidade’
(CF, art. 98, inc. I).” Art. 46. O julgamento em segunda instância consta-
rá apenas da ata, com a indicação suficiente do processo,
Nesse sentido: fundamentação sucinta e parte dispositiva. Se a sentença
for confirmada pelos próprios fundamentos, a súmula do
“Admite-se a prova técnica nos Juizados Especiais, atra- julgamento servirá de acórdão.
vés de simples esclarecimentos do experto, em audiência.”
(JEC, Apelação 100/96, 1ª Turma Recursal, Belo Horizonte, Art. 47. (Vetado)
rel. Marine da Costa - in Informa Jurídico 25).
Comentários aos artigos 38 ao 46: Realizada a au-
Seção XII diência de conciliação e, não comparecendo o demandado,
Da Sentença o juiz proferirá a sentença ou, ainda, após a produção de
provas na audiência de instrução e julgamento o juiz pro-
Art. 38. A sentença mencionará os elementos de con- ferirá a sentença.
vicção do Juiz, com breve resumo dos fatos relevantes A sentença no procedimento do Juizado Especial Cível
ocorridos em audiência, dispensado o relatório. o relatório está dispensado, bastando um breve resumo
Parágrafo único. Não se admitirá sentença condenató- dos fatos relevantes que fundamentaram a decisão. E, ain-
ria por quantia ilíquida, ainda que genérico o pedido. da, a mesma deve ser líquida, já que neste procedimento
está vedada a produção de sentença ilíquida.
Art. 39. É ineficaz a sentença condenatória na parte que Da sentença proferida caberá recurso, o qual é deno-
exceder a alçada estabelecida nesta Lei. minado de recurso inominado, no prazo de dez dias, para
o próprio Juizado e esse será julgado pela Turma Recursal
27 Humberto Theodoro Júnior. Curso de Direito Pro- composta por três juízes togados em exercício no primeiro
cessual Civil. 31ª ed., v. III, p. 436. grau de jurisdição.

75
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

Seção XIII III - a intimação da sentença será feita, sempre que


Dos Embargos de Declaração possível, na própria audiência em que for proferida. Nessa
intimação, o vencido será instado a cumprir a sentença tão
Art. 48. Caberão embargos de declaração quando, na logo ocorra seu trânsito em julgado, e advertido dos efei-
sentença ou acórdão, houver obscuridade, contradição, tos do seu descumprimento (inciso V);
omissão ou dúvida. IV - não cumprida voluntariamente a sentença transita-
Parágrafo único. Os erros materiais podem ser corrigi- da em julgado, e tendo havido solicitação do interessado,
dos de ofício. que poderá ser verbal, proceder-se-á desde logo à execu-
ção, dispensada nova citação;
Art. 49. Os embargos de declaração serão interpostos V - nos casos de obrigação de entregar, de fazer, ou
por escrito ou oralmente, no prazo de cinco dias, contados de não fazer, o Juiz, na sentença ou na fase de execução,
da ciência da decisão. cominará multa diária, arbitrada de acordo com as condi-
ções econômicas do devedor, para a hipótese de inadim-
Art. 50. Quando interpostos contra sentença, os embar- plemento. Não cumprida a obrigação, o credor poderá re-
gos de declaração suspenderão o prazo para recurso. querer a elevação da multa ou a transformação da conde-
nação em perdas e danos, que o Juiz de imediato arbitrará,
Comentários aos artigos 48, 49 e 50: Os embargos de seguindo-se a execução por quantia certa, incluída a multa
declaração são cabíveis da sentença ou do acórdão proferi- vencida de obrigação de dar, quando evidenciada a malícia
do e quando interpostos da sentença suspenderão o prazo do devedor na execução do julgado;
para recursos. VI - na obrigação de fazer, o Juiz pode determinar o
cumprimento por outrem, fixado o valor que o devedor
Seção XIV deve depositar para as despesas, sob pena de multa diária;
Da Extinção do Processo Sem Julgamento do Mérito VII - na alienação forçada dos bens, o Juiz poderá auto-
rizar o devedor, o credor ou terceira pessoa idônea a tratar
Art. 51. Extingue-se o processo, além dos casos previs- da alienação do bem penhorado, a qual se aperfeiçoará em
tos em lei: juízo até a data fixada para a praça ou leilão. Sendo o preço
I - quando o autor deixar de comparecer a qualquer das inferior ao da avaliação, as partes serão ouvidas. Se o pa-
audiências do processo; gamento não for à vista, será oferecida caução idônea, nos
II - quando inadmissível o procedimento instituído por casos de alienação de bem móvel, ou hipotecado o imóvel;
esta Lei ou seu prosseguimento, após a conciliação; VIII - é dispensada a publicação de editais em jornais,
III - quando for reconhecida a incompetência territorial; quando se tratar de alienação de bens de pequeno valor;
IV - quando sobrevier qualquer dos impedimentos pre- IX - o devedor poderá oferecer embargos, nos autos da
vistos no art. 8º desta Lei; execução, versando sobre:
V - quando, falecido o autor, a habilitação depender de a) falta ou nulidade da citação no processo, se ele cor-
sentença ou não se der no prazo de trinta dias; reu à revelia;
VI - quando, falecido o réu, o autor não promover a cita- b) manifesto excesso de execução;
ção dos sucessores no prazo de trinta dias da ciência do fato. c) erro de cálculo;
§ 1º A extinção do processo independerá, em qualquer d) causa impeditiva, modificativa ou extintiva da obri-
hipótese, de prévia intimação pessoal das partes. gação, superveniente à sentença.
§ 2º No caso do inciso I deste artigo, quando comprovar
que a ausência decorre de força maior, a parte poderá ser Art. 53. A execução de título executivo extrajudicial, no
isentada, pelo Juiz, do pagamento das custas. valor de até quarenta salários mínimos, obedecerá ao dis-
posto no Código de Processo Civil, com as modificações
Comentário: O presente artigo trata da extinção do introduzidas por esta Lei.
processo, no caso de ocorrer algum dos impedimentos do § 1º Efetuada a penhora, o devedor será intimado a
artigo 8º e, ainda, em alguns casos de falecimento do autor comparecer à audiência de conciliação, quando poderá
e do réu. oferecer embargos (art. 52, IX), por escrito ou verbalmente.
§ 2º Na audiência, será buscado o meio mais rápido e
Seção XV eficaz para a solução do litígio, se possível com dispensa
Da Execução da alienação judicial, devendo o conciliador propor, entre
outras medidas cabíveis, o pagamento do débito a prazo
Art. 52. A execução da sentença processar-se-á no pró- ou a prestação, a dação em pagamento ou a imediata ad-
prio Juizado, aplicando-se, no que couber, o disposto no Có- judicação do bem penhorado.
digo de Processo Civil, com as seguintes alterações: § 3º Não apresentados os embargos em audiência, ou
I - as sentenças serão necessariamente líquidas, conten- julgados improcedentes, qualquer das partes poderá re-
do a conversão em Bônus do Tesouro Nacional - BTN ou querer ao Juiz a adoção de uma das alternativas do pará-
índice equivalente; grafo anterior.
II - os cálculos de conversão de índices, de honorários, § 4º Não encontrado o devedor ou inexistindo bens
de juros e de outras parcelas serão efetuados por servidor penhoráveis, o processo será imediatamente extinto, de-
judicial; volvendo-se os documentos ao autor.

76
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

Comentários aos artigos 52 e 53: Nas execuções dos Parágrafo único. Valerá como título extrajudicial o
julgados, o demandante vitorioso pretende obter, sempre, acordo celebrado pelas partes, por instrumento escrito, re-
aquilo que ganhou com a sentença. Somente a sentença ferendado pelo órgão competente do Ministério Público.
condenatória enseja um novo processo de execução.
Após a prolação da sentença, caso esta não seja cum- Art. 58. As normas de organização judiciária local po-
prida voluntariamente, poderá o exequente solicitar seja o derão estender a conciliação prevista nos arts. 22 e 23 a
executado compelido judicialmente a satisfazer a obrigação causas não abrangidas por esta Lei.
que assumiu em sede de acordo, ou que lhe foi imposta por
sentença condenatória. Art. 59. Não se admitirá ação rescisória nas causas su-
As sentenças proferidas no Juizado serão nele executa- jeitas ao procedimento instituído por esta Lei.
das, extinguindo-se o processo ao final com a obtenção da
pretensão do exequente ou com a frustração da execução Capítulo III
diante da inexistência de bens em posse ou propriedade do Dos Juizados Especiais Criminais
devedor, que sejam suficientes para garantir a satisfação do Disposições Gerais
crédito.
Art. 60. O Juizado Especial Criminal, provido por juízes
Seção XVI togados ou togados e leigos, tem competência para a con-
Das Despesas ciliação, o julgamento e a execução das infrações penais de
menor potencial ofensivo, respeitadas as regras de cone-
Art. 54. O acesso ao Juizado Especial independerá, em xão e continência.
primeiro grau de jurisdição, do pagamento de custas, taxas Parágrafo único. Na reunião de processos, perante o
ou despesas. juízo comum ou o tribunal do júri, decorrentes da aplica-
Parágrafo único. O preparo do recurso, na forma do § ção das regras de conexão e continência, observar-se-ão
1º do art. 42 desta Lei, compreenderá todas as despesas os institutos da transação penal e da composição dos da-
processuais, inclusive aquelas dispensadas em primeiro grau
nos civis.
de jurisdição, ressalvada a hipótese de assistência judiciária
gratuita.
Art. 61. Consideram-se infrações penais de menor po-
tencial ofensivo, para os efeitos desta Lei, as contravenções
Art. 55. A sentença de primeiro grau não condenará o
penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não
vencido em custas e honorários de advogado, ressalvados
superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa.
os casos de litigância de má-fé. Em segundo grau, o recor-
rente, vencido, pagará as custas e honorários de advogado,
que serão fixados entre dez por cento e vinte por cento do Art. 62. O processo perante o Juizado Especial orien-
valor de condenação ou, não havendo condenação, do valor tar-se-á pelos critérios da oralidade, simplicidade, infor-
corrigido da causa. malidade, economia processual e celeridade, objetivando,
Parágrafo único. Na execução não serão contadas cus- sempre que possível, a reparação dos danos sofridos pela
tas, salvo quando: vítima e a aplicação de pena não privativa de liberdade.
I - reconhecida a litigância de má-fé; (Redação dada pela Lei nº 13.603, de 2018)
II - improcedentes os embargos do devedor;
III - tratar-se de execução de sentença que tenha sido Comentários aos artigos 60, 61 e 62: Fica a cargo da
objeto de recurso improvido do devedor. Lei de Organização Judiciária de cada Estado fazer a opção
pela inclusão de leigos no âmbito dos Juizados. Esses juízes
Comentários aos artigos 54 e 55: No âmbito dos Jui- leigos jamais terão competência para o julgamento, limi-
zados Especiais, não são devidas despesas para efeito do tam- se à conciliação. A homologação de eventual acordo
cumprimento de diligências, inclusive, quando da expedição deve ser feita exclusivamente pelo juiz togado.
de cartas precatórias. Assim, nos Juizados Especiais as partes - Ainda que a competência dos JECrim para o processo
não estão sujeitas ao pagamento de custas processuais e e julgamento de infrações de menor potencial ofensivo de-
honorários de advogado, o que ocorrerá, apenas, se a parte rive do art. 98, I, da CF/88, ela admite modificações, sendo,
vencida, insatisfeita, recorrer da sentença. portanto, COMPETÊNCIARELATIVA

Seção XVII Seção I


Disposições Finais Da Competência e dos Atos Processuais

Art. 56. Instituído o Juizado Especial, serão implantadas Art. 63. A competência do Juizado será determinada
as curadorias necessárias e o serviço de assistência judiciária. pelo lugar em que foi praticada a infração penal.

Art. 57. O acordo extrajudicial, de qualquer natureza ou Art. 64. Os atos processuais serão públicos e poderão
valor, poderá ser homologado, no juízo competente, inde- realizar-se em horário noturno e em qualquer dia da se-
pendentemente de termo, valendo a sentença como título mana, conforme dispuserem as normas de organização
executivo judicial. judiciária.

77
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

Art. 65. Os atos processuais serão válidos sempre que Comentário: Termo circunstanciado: a autoridade po-
preencherem as finalidades para as quais foram realizados, licial lavrará o termo e encaminhará ao Juizado o autor do
atendidos os critérios indicados no art. 62 desta Lei. fato e a vítima, requisitando os exames periciais necessá-
§ 1º Não se pronunciará qualquer nulidade sem que rios. Direito Público Subjetivo (art. 69, parágrafo único). É
tenha havido prejuízo. vedada a prisão em flagrante ou exigência de fiança se o
§ 2º A prática de atos processuais em outras comarcas autor do fato comprometer-se a comparecer ao Juizado.
poderá ser solicitada por qualquer meio hábil de comuni-
cação. Art. 70. Comparecendo o autor do fato e a vítima, e
§ 3º Serão objeto de registro escrito exclusivamente os não sendo possível a realização imediata da audiência
atos havidos por essenciais. Os atos realizados em audiên- preliminar, será designada data próxima, da qual ambos
cia de instrução e julgamento poderão ser gravados em fita sairão cientes.
magnética ou equivalente.
Comentário: Pode ocorrer de uma das partes, ou até
Art. 66. A citação será pessoal e far-se-á no próprio ambas as partes não comparecerem à audiência por al-
Juizado, sempre que possível, ou por mandado. gum motivo, sendo ele particular ou por força maior, e
Parágrafo único. Não encontrado o acusado para ser acontecer desta audiência ser designada para um outro
citado, o Juiz encaminhará as peças existentes ao Juízo co- dia. Quando isso acontece, as partes têm que ser devi-
mum para adoção do procedimento previsto em lei. damente intimadas para a próxima audiência que se fará
realizar.
Art. 67. A intimação far-se-á por correspondência, com
aviso de recebimento pessoal ou, tratando-se de pessoa Art. 71. Na falta do comparecimento de qualquer dos
jurídica ou firma individual, mediante entrega ao encarre- envolvidos, a Secretaria providenciará sua intimação e, se
gado da recepção, que será obrigatoriamente identificado, for o caso, a do responsável civil, na forma dos arts. 67 e
ou, sendo necessário, por oficial de justiça, independente- 68 desta Lei.
mente de mandado ou carta precatória, ou ainda por qual-
quer meio idôneo de comunicação. Art. 72. Na audiência preliminar, presente o represen-
Parágrafo único. Dos atos praticados em audiência tante do Ministério Público, o autor do fato e a vítima e, se
considerar-se-ão desde logo cientes as partes, os interes- possível, o responsável civil, acompanhados por seus ad-
sados e defensores. vogados, o Juiz esclarecerá sobre a possibilidade da com-
posição dos danos e da aceitação da proposta de aplica-
Art. 68. Do ato de intimação do autor do fato e do ção imediata de pena não privativa de liberdade.
mandado de citação do acusado, constará a necessidade
de seu comparecimento acompanhado de advogado, com Art. 73. A conciliação será conduzida pelo Juiz ou por
a advertência de que, na sua falta, ser-lhe-á designado de- conciliador sob sua orientação.
fensor público. Parágrafo único. Os conciliadores são auxiliares da
Justiça, recrutados, na forma da lei local, preferentemente
Comentário art. 67 e 68: As intimações ou notifica- entre bacharéis em Direito, excluídos os que exerçam fun-
ções são permitidas por qualquer meio válido (princípio da ções na administração da Justiça Criminal.
informalidade). Assim, a intimação pode ser feita por cor-
respondência com A. R., por oficial de justiça, fax, telefone, Comentário: A conciliação entre as partes será reali-
e-mail etc. zada por um juiz titular do Juizado, ou ainda por um Con-
ciliador. O conciliador é uma pessoa nomeada perante o
Seção II juiz, que tenha um conhecimento breve perante as normas,
Da Fase Preliminar mas não obrigatoriamente precisa ter o curso superior em
bacharel em Direito. Este Conciliador é considerado, den-
Art. 69. A autoridade policial que tomar conhecimento tro da classificação dos entes atuantes no judiciário, como
da ocorrência lavrará termo circunstanciado e o encami- auxiliares da Justiça, assim como os Oficiais de Justiça e
nhará imediatamente ao Juizado, com o autor do fato e a Comissários de Menor.
vítima, providenciando-se as requisições dos exames peri-
ciais necessários. Art. 74. A composição dos danos civis será reduzida a
Parágrafo único. Ao autor do fato que, após a lavratura escrito e, homologada pelo Juiz mediante sentença irre-
do termo, for imediatamente encaminhado ao juizado ou corrível, terá eficácia de título a ser executado no juízo civil
assumir o compromisso de a ele comparecer, não se impo- competente.
rá prisão em flagrante, nem se exigirá fiança. Em caso de Parágrafo único. Tratando-se de ação penal de inicia-
violência doméstica, o juiz poderá determinar, como medi- tiva privada ou de ação penal pública condicionada à re-
da de cautela, seu afastamento do lar, domicílio ou local de presentação, o acordo homologado acarreta a renúncia ao
convivência com a vítima. direito de queixa ou representação.

78
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

Comentário: Na composição civil dos danos, o foco Comentário: Havendo representação ou tratando-se
são os interesses patrimoniais e, portanto, de natureza in- de crime de ação penal pública incondicionada, poderá
dividual disponível. Não há necessidade de intervenção do ocorrer a transação penal, a qual é acordo celebrado entre
MP, a não ser que se trate de causa em que haja interesse o MP (ou querelante, nos crimes de ação privada) e o autor
de incapazes. do fato delituoso, por meio da qual é proposta a aplicação
Ocorrendo a composição de danos civis, o acordo será imediata de pena restritiva de direitos ou multa, evitando-
reduzido a escrito e homologado pelo juiz mediante sen- -se, assim, a instauração do processo. Quando se trata de
tença irrecorrível, que terá eficácia de título a ser executado infração de menor potencial ofensivo, ainda que haja las-
no juízo cível competente. tro probatório suficiente para o oferecimento de denúncia,
desde que o autor do fato preencha os requisitos objetivos
Art. 75. Não obtida a composição dos danos civis, será e subjetivos do art. 76, ao invés do MP oferecer denúncia,
dada imediatamente ao ofendido a oportunidade de exer- deve propor a transação penal, com a aplicação imediata de
cer o direito de representação verbal, que será reduzida a penas restritivas de direito ou multa.
termo.
Parágrafo único. O não oferecimento da representação Seção III
na audiência preliminar não implica decadência do direito, Do Procedimento Sumaríssimo
que poderá ser exercido no prazo previsto em lei.
Art. 77. Na ação penal de iniciativa pública, quando não
Comentário: Caso não haja composição civil a vítima houver aplicação de pena, pela ausência do autor do fato,
pode exercer a representação/queixa oral Na audiência, que ou pela não ocorrência da hipótese prevista no art. 76 des-
será reduzida a termo. ta Lei, o Ministério Público oferecerá ao Juiz, de imediato,
Importante ilustrar que a representação pode ser ofe- denúncia oral, se não houver necessidade de diligências im-
recida perante a autoridade policial, o MP ou o juízo (art. prescindíveis.
39 do CPP), não necessariamente após a composição civil § 1º Para o oferecimento da denúncia, que será elabora-
não obtida. da com base no termo de ocorrência referido no art. 69 des-
A representação não exige formalismo, bastando que ta Lei, com dispensa do inquérito policial, prescindir-se-á do
fique evidenciado o interesse da vítima na persecução pe- exame do corpo de delito quando a materialidade do crime
nal. estiver aferida por boletim médico ou prova equivalente.
§ 2º Se a complexidade ou circunstâncias do caso não
Art. 76. Havendo representação ou tratando-se de cri- permitirem a formulação da denúncia, o Ministério Público
me de ação penal pública incondicionada, não sendo caso poderá requerer ao Juiz o encaminhamento das peças exis-
de arquivamento, o Ministério Público poderá propor a tentes, na forma do parágrafo único do art. 66 desta Lei.
aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multas, § 3º Na ação penal de iniciativa do ofendido poderá ser
a ser especificada na proposta. oferecida queixa oral, cabendo ao Juiz verificar se a com-
§ 1º Nas hipóteses de ser a pena de multa a única apli- plexidade e as circunstâncias do caso determinam a ado-
cável, o Juiz poderá reduzi-la até a metade. ção das providências previstas no parágrafo único do art.
§ 2º Não se admitirá a proposta se ficar comprovado: 66 desta Lei.
I - ter sido o autor da infração condenado, pela prática
de crime, à pena privativa de liberdade, por sentença defi- Art. 78. Oferecida a denúncia ou queixa, será reduzida a
nitiva; termo, entregando-se cópia ao acusado, que com ela ficará
II - ter sido o agente beneficiado anteriormente, no pra- citado e imediatamente cientificado da designação de dia
zo de cinco anos, pela aplicação de pena restritiva ou multa, e hora para a audiência de instrução e julgamento, da qual
nos termos deste artigo; também tomarão ciência o Ministério Público, o ofendido,
III - não indicarem os antecedentes, a conduta social e o responsável civil e seus advogados.
a personalidade do agente, bem como os motivos e as cir- § 1º Se o acusado não estiver presente, será citado na
cunstâncias, ser necessária e suficiente a adoção da medida. forma dos arts. 66 e 68 desta Lei e cientificado da data da
§ 3º Aceita a proposta pelo autor da infração e seu de- audiência de instrução e julgamento, devendo a ela trazer
fensor, será submetida à apreciação do Juiz. suas testemunhas ou apresentar requerimento para intima-
§ 4º Acolhendo a proposta do Ministério Público acei- ção, no mínimo cinco dias antes de sua realização.
ta pelo autor da infração, o Juiz aplicará a pena restritiva § 2º Não estando presentes o ofendido e o responsável
de direitos ou multa, que não importará em reincidência, civil, serão intimados nos termos do art. 67 desta Lei para
sendo registrada apenas para impedir novamente o mesmo comparecerem à audiência de instrução e julgamento.
benefício no prazo de cinco anos. § 3º As testemunhas arroladas serão intimadas na for-
§ 5º Da sentença prevista no parágrafo anterior caberá ma prevista no art. 67 desta Lei.
a apelação referida no art. 82 desta Lei.
§ 6º A imposição da sanção de que trata o § 4º deste Art. 79. No dia e hora designados para a audiência de
artigo não constará de certidão de antecedentes criminais, instrução e julgamento, se na fase preliminar não tiver ha-
salvo para os fins previstos no mesmo dispositivo, e não vido possibilidade de tentativa de conciliação e de ofereci-
terá efeitos civis, cabendo aos interessados propor ação ca- mento de proposta pelo Ministério Público, proceder-se-á
bível no juízo cível. nos termos dos arts. 72, 73, 74 e 75 desta Lei.

79
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

Comentários aos artigos 77, 78 e 79: O rito sumarís- § 1º A apelação será interposta no prazo de dez dias,
simo é adotado para julgamento das infrações penais de contados da ciência da sentença pelo Ministério Público,
menor potencial ofensivo, quais sejam, as contravenções pelo réu e seu defensor, por petição escrita, da qual cons-
penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não tarão as razões e o pedido do recorrente.
superior a 2 anos, cumulada ou não com multa. § 2º O recorrido será intimado para oferecer resposta
Caso o autor dos fatos não compareça à audiência pre- escrita no prazo de dez dias.
liminar ou não ocorra as hipóteses previstas no artigo 76 da § 3º As partes poderão requerer a transcrição da gra-
Lei, o Ministério Público oferecerá, oralmente, denúncia, se vação da fita magnética a que alude o § 3º do art. 65 desta
não houver a necessidade da realização de diligência im- Lei.
prescindível. § 4º As partes serão intimadas da data da sessão de
O MP em caso de complexidade, poderá requerer o julgamento pela imprensa.
encaminhamento das peças existentes, pois sua denuncia § 5º Se a sentença for confirmada pelos próprios fun-
se baseará nos relatos do Termo Circunstanciado elaborado damentos, a súmula do julgamento servirá de acórdão.
pela Autoridade Policial.
Em caso de ação penal de inciativa privada, a queixa Comentários aos artigos 81 e 82: Caso a denúncia
também poderá ser oral, sendo que a denuncia ou queixa ou queixa sejam rejeitadas, caberá apelação da decisão no
oral serão reduzidas a escrito e uma cópia será entregue ao prazo de 10 dias, contados da ciência da sentença pelo MP,
autor dos fatos ficando citado e imediatamente cientificado réu e defensor. Ainda, caberá apelação da sentença em que
da data da audiência de instrução e julgamento, devendo absolver ou condenar o acusado.
apresentar suas testemunhas. O ofendido será intimado da O recurso de apelação deverá ser apresentado por pe-
data e hora da referida audiência. tição escrita, constando dessa as razões e os pedidos do
Sendo a denúncia recebida, ouvir-se-á a vítima, as tes- recorrente. Frise- se que o recorrido terá 10 dias para apre-
temunhas de acusação, as testemunhas de defesa, o acusa- sentar suas contrarrazões.
do será interrogado, passando-se aos debates orais. A apelação poderá ser julgada por turma composta
por 3 juízes em exercício 1º grau de jurisdição, reunidos na
Art. 80. Nenhum ato será adiado, determinando o Juiz,
sede do Juizado.
quando imprescindível, a condução coercitiva de quem
deva comparecer.
Art. 83. Caberão embargos de declaração quando, em
sentença ou acórdão, houver obscuridade, contradição,
Comentário: Como a autodefesa é renunciável, tendo
omissão ou dúvida. (Vide Lei nº 13.105, de 2015)
o acusado o direito de permanecer em silêncio, prevalece
§ 1º Os embargos de declaração serão opostos por es-
que não é possível que o juiz determine sua condução coer-
crito ou oralmente, no prazo de cinco dias, contados da
citiva, salvo se necessária para eventual reconhecimento de
pessoas, meio de prova que não está protegido pelo princí- ciência da decisão.
pio que veda a autoincriminação. § 2º Quando opostos contra sentença, os embargos de
A Lei 9.099 confere à defesa a oportunidade de se ma- declaração suspenderão o prazo para o recurso. (Vide Lei
nifestar oralmente antes de haver o recebimento da peça nº 13.105, de 2015)
acusatória (defesa preliminar oral). § 3º Os erros materiais podem ser corrigidos de ofício.

Art. 81. Aberta a audiência, será dada a palavra ao de- Comentário: os embargos de declaração serão opos-
fensor para responder à acusação, após o que o Juiz rece- tos no prazo de 5 dias, contados da ciência da decisão. Este
berá, ou não, a denúncia ou queixa; havendo recebimen- caberá quando houver obscuridade, contradição, omissão
to, serão ouvidas a vítima e as testemunhas de acusação ou dúvida acerca da sentença. Deverão ser opostos por es-
e defesa, interrogando-se a seguir o acusado, se presente, crito ou oralmente.
passando-se imediatamente aos debates orais e à prolação Os Embargos de Declaração contra sentença SUSPEN-
da sentença. DEM o prazo para interpor outro recurso. Já os Embargos
§ 1º Todas as provas serão produzidas na audiência de de Declaração contra Acórdão da Turma Recursal, INTER-
instrução e julgamento, podendo o Juiz limitar ou excluir as ROMPEM o prazo para interpor out
que considerar excessivas, impertinentes ou protelatórias.
§ 2º De todo o ocorrido na audiência será lavrado termo, Seção IV
assinado pelo Juiz e pelas partes, contendo breve resumo Da Execução
dos fatos relevantes ocorridos em audiência e a sentença.
§ 3º A sentença, dispensado o relatório, mencionará os Art. 84. Aplicada exclusivamente pena de multa, seu
elementos de convicção do Juiz. cumprimento far-se-á mediante pagamento na Secretaria
do Juizado.
Art. 82. Da decisão de rejeição da denúncia ou quei- Parágrafo único. Efetuado o pagamento, o Juiz declara-
xa e da sentença caberá apelação, que poderá ser julgada rá extinta a punibilidade, determinando que a condenação
por turma composta de três Juízes em exercício no primeiro não fique constando dos registros criminais, exceto para
grau de jurisdição, reunidos na sede do Juizado. fins de requisição judicial.

80
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

Comentário: O presente artigo dispõe que, sendo a § 5º Expirado o prazo sem revogação, o Juiz declarará
pena de multa aplicada exclusivamente sem cumprimento extinta a punibilidade.
se dará mediante o seu pagamento, quando o Juiz declarará § 6º Não correrá a prescrição durante o prazo de sus-
extinta a punibilidade do autor. pensão do processo.
No caso da suspensão do processo, expirado o prazo, o § 7º Se o acusado não aceitar a proposta prevista neste
Juiz declarará extinta a punibilidade. Caso a multa não seja artigo, o processo prosseguirá em seus ulteriores termos.
paga, a procuradoria fiscal deverá proceder à execução da
pena de multa. Art. 90. As disposições desta Lei não se aplicam aos
processos penais cuja instrução já estiver iniciada. (Vide
Art. 85. Não efetuado o pagamento de multa, será feita ADIN nº 1.719-9)
a conversão em pena privativa da liberdade, ou restritiva de
direitos, nos termos previstos em lei. Art. 90-A. As disposições desta Lei não se aplicam no
âmbito da Justiça Militar.
Art. 86. A execução das penas privativas de liberdade e
restritivas de direitos, ou de multa cumulada com estas, será Art. 91. Nos casos em que esta Lei passa a exigir re-
processada perante o órgão competente, nos termos da lei. presentação para a propositura da ação penal pública, o
ofendido ou seu representante legal será intimado para
Seção V oferecê-la no prazo de trinta dias, sob pena de decadência.
Das Despesas Processuais
Art. 92. Aplicam-se subsidiariamente as disposições
Art. 87. Nos casos de homologação do acordo civil e dos Códigos Penal e de Processo Penal, no que não forem
aplicação de pena restritiva de direitos ou multa (arts. 74 e incompatíveis com esta Lei.
76, § 4º), as despesas processuais serão reduzidas, confor-
me dispuser lei estadual. Capítulo IV
Disposições Finais Comuns
Seção VI
Disposições Finais
Art. 93. Lei Estadual disporá sobre o Sistema de Juiza-
dos Especiais Cíveis e Criminais, sua organização, composi-
Art. 88. Além das hipóteses do Código Penal e da legis-
ção e competência.
lação especial, dependerá de representação a ação penal
relativa aos crimes de lesões corporais leves e lesões cul-
posas. Art. 94. Os serviços de cartório poderão ser prestados,
e as audiências realizadas fora da sede da Comarca, em
Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada for bairros ou cidades a ela pertencentes, ocupando instala-
igual ou inferior a um ano, abrangidas ou não por esta Lei, o ções de prédios públicos, de acordo com audiências pre-
Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor a viamente anunciadas.
suspensão do processo, por dois a quatro anos, desde que
o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido Art. 95. Os Estados, Distrito Federal e Territórios criarão
condenado por outro crime, presentes os demais requisitos e instalarão os Juizados Especiais no prazo de seis meses, a
que autorizariam a suspensão condicional da pena (art. 77 contar da vigência desta Lei.
do Código Penal). Parágrafo único. No prazo de 6 (seis) meses, contado
§ 1º Aceita a proposta pelo acusado e seu defensor, na da publicação desta Lei, serão criados e instalados os Jui-
presença do Juiz, este, recebendo a denúncia, poderá sus- zados Especiais Itinerantes, que deverão dirimir, prioritaria-
pender o processo, submetendo o acusado a período de mente, os conflitos existentes nas áreas rurais ou nos locais
prova, sob as seguintes condições: de menor concentração populacional.
I - reparação do dano, salvo impossibilidade de fazê-lo;
II - proibição de frequentar determinados lugares; Art. 96. Esta Lei entra em vigor no prazo de sessenta
III - proibição de ausentar-se da comarca onde reside, dias após a sua publicação.
sem autorização do Juiz;
IV - comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, Art. 97. Ficam revogadas a Lei nº 4.611, de 2 de abril de
mensalmente, para informar e justificar suas atividades. 1965 e a Lei nº 7.244, de 7 de novembro de 1984.
§ 2º O Juiz poderá especificar outras condições a que
fica subordinada a suspensão, desde que adequadas ao Brasília, 26 de setembro de 1995; 174º da Indepen-
fato e à situação pessoal do acusado. dência e 107º da República.
§ 3º A suspensão será revogada se, no curso do prazo, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
o beneficiário vier a ser processado por outro crime ou não Nelson A. Jobim
efetuar, sem motivo justificado, a reparação do dano.
§ 4º A suspensão poderá ser revogada se o acusado
vier a ser processado, no curso do prazo, por contravenção,
ou descumprir qualquer outra condição imposta.

81
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

§ 2o Quando a pretensão versar sobre obrigações vin-


4.2. LEI 10.259/2001). cendas, para fins de competência do Juizado Especial, a
soma de doze parcelas não poderá exceder o valor referido
no art. 3o, caput.

§ 3o No foro onde estiver instalada Vara do Juizado Es-


LEI No 10.259, DE 12 DE JULHO DE 2001. pecial, a sua competência é absoluta.

Art. 4o O Juiz poderá, de ofício ou a requerimento das


partes, deferir medidas cautelares no curso do processo,
Vigência
para evitar dano de difícil reparação.
Regulamento
Art. 5o Exceto nos casos do art. 4o, somente será admi-
Dispõe sobre a instituição dos Juizados Especiais Cíveis tido recurso de sentença definitiva.
e Criminais no âmbito da Justiça Federal.
Art. 6o Podem ser partes no Juizado Especial Federal
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Con- Cível:
gresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
I – como autores, as pessoas físicas e as microempre-
Art. 1o São instituídos os Juizados Especiais Cíveis e Cri- sas e empresas de pequeno porte, assim definidas na Lei
minais da Justiça Federal, aos quais se aplica, no que não no 9.317, de 5 de dezembro de 1996;
conflitar com esta Lei, o disposto na Lei no 9.099, de 26 de
setembro de 1995. II – como rés, a União, autarquias, fundações e empre-
sas públicas federais.
Art. 2o  Compete ao Juizado Especial Federal Criminal
processar e julgar os feitos de competência da Justiça Fe- Art. 7o As citações e intimações da União serão feitas
deral relativos às infrações de menor potencial ofensivo, na forma prevista nos arts. 35 a 38 da Lei Complementar
respeitadas as regras de conexão e continência. (Redação no 73, de 10 de fevereiro de 1993.
dada pela Lei nº 11.313, de 2006)
Parágrafo único. A citação das autarquias, fundações
Parágrafo único. Na reunião de processos, perante o e empresas públicas será feita na pessoa do representan-
juízo comum ou o tribunal do júri, decorrente da aplicação te máximo da entidade, no local onde proposta a causa,
das regras de conexão e continência, observar-se-ão os quando ali instalado seu escritório ou representação; se
institutos da transação penal e da composição dos danos não, na sede da entidade.
civis. (Redação dada pela Lei nº 11.313, de 2006)
Art. 8o As partes serão intimadas da sentença, quando
Art. 3o Compete ao Juizado Especial Federal Cível pro- não proferida esta na audiência em que estiver presente
cessar, conciliar e julgar causas de competência da Justi- seu representante, por ARMP (aviso de recebimento em
ça Federal até o valor de sessenta salários mínimos, bem mão própria).
como executar as suas sentenças.
§ 1o As demais intimações das partes serão feitas na
pessoa dos advogados ou dos Procuradores que oficiem
§ 1o Não se incluem na competência do Juizado Espe-
nos respectivos autos, pessoalmente ou por via postal.
cial Cível as causas:
§ 2o Os tribunais poderão organizar serviço de intima-
I - referidas no art. 109, incisos II, III e XI, da Constitui-
ção das partes e de recepção de petições por meio eletrô-
ção Federal, as ações de mandado de segurança, de desa-
nico.
propriação, de divisão e demarcação, populares, execuções
fiscais e por improbidade administrativa e as demandas so- Art. 9o Não haverá prazo diferenciado para a prática de
bre direitos ou interesses difusos, coletivos ou individuais qualquer ato processual pelas pessoas jurídicas de direi-
homogêneos; to público, inclusive a interposição de recursos, devendo
a citação para audiência de conciliação ser efetuada com
II - sobre bens imóveis da União, autarquias e funda- antecedência mínima de trinta dias.
ções públicas federais;
Art. 10. As partes poderão designar, por escrito, repre-
III - para a anulação ou cancelamento de ato adminis- sentantes para a causa, advogado ou não.
trativo federal, salvo o de natureza previdenciária e o de
lançamento fiscal; Parágrafo único. Os representantes judiciais da União,
autarquias, fundações e empresas públicas federais, bem
IV - que tenham como objeto a impugnação da pena como os indicados na forma do caput, ficam autorizados a
de demissão imposta a servidores públicos civis ou de san- conciliar, transigir ou desistir, nos processos da competên-
ções disciplinares aplicadas a militares. cia dos Juizados Especiais Federais.

82
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

Art. 11. A entidade pública ré deverá fornecer ao Juiza- § 6o Eventuais pedidos de uniformização idênticos, re-
do a documentação de que disponha para o esclarecimen- cebidos subseqüentemente em quaisquer Turmas Recur-
to da causa, apresentando-a até a instalação da audiência sais, ficarão retidos nos autos, aguardando-se pronuncia-
de conciliação. mento do Superior Tribunal de Justiça.

Parágrafo único. Para a audiência de composição dos § 7o Se necessário, o relator pedirá informações ao
danos resultantes de ilícito criminal (arts. 71, 72 e 74 da Lei Presidente da Turma Recursal ou Coordenador da Turma
no 9.099, de 26 de setembro de 1995), o representante da de Uniformização e ouvirá o Ministério Público, no prazo
entidade que comparecer terá poderes para acordar, desis- de cinco dias. Eventuais interessados, ainda que não sejam
tir ou transigir, na forma do art. 10. partes no processo, poderão se manifestar, no prazo de
trinta dias.
Art. 12. Para efetuar o exame técnico necessário à con-
ciliação ou ao julgamento da causa, o Juiz nomeará pessoa § 8o Decorridos os prazos referidos no § 7o, o relator in-
habilitada, que apresentará o laudo até cinco dias antes cluirá o pedido em pauta na Seção, com preferência sobre
da audiência, independentemente de intimação das partes. todos os demais feitos, ressalvados os processos com réus
presos, os habeas corpus e os mandados de segurança.
§ 1o Os honorários do técnico serão antecipados à con-
ta de verba orçamentária do respectivo Tribunal e, quando § 9o Publicado o acórdão respectivo, os pedidos retidos
vencida na causa a entidade pública, seu valor será incluído referidos no § 6o serão apreciados pelas Turmas Recursais,
na ordem de pagamento a ser feita em favor do Tribunal. que poderão exercer juízo de retratação ou declará-los
prejudicados, se veicularem tese não acolhida pelo Supe-
§ 2o Nas ações previdenciárias e relativas à assistência rior Tribunal de Justiça.
social, havendo designação de exame, serão as partes in-
timadas para, em dez dias, apresentar quesitos e indicar § 10. Os Tribunais Regionais, o Superior Tribunal de
assistentes. Justiça e o Supremo Tribunal Federal, no âmbito de suas
competências, expedirão normas regulamentando a com-
Art. 13. Nas causas de que trata esta Lei, não haverá posição dos órgãos e os procedimentos a serem adotados
reexame necessário. para o processamento e o julgamento do pedido de unifor-
mização e do recurso extraordinário.
Art. 14. Caberá pedido de uniformização de interpre-
tação de lei federal quando houver divergência entre de- Art. 15. O recurso extraordinário, para os efeitos desta
cisões sobre questões de direito material proferidas por Lei, será processado e julgado segundo o estabelecido nos
Turmas Recursais na interpretação da lei. §§ 4o a 9o do art. 14, além da observância das normas do
Regimento.
§ 1o O pedido fundado em divergência entre Turmas da
mesma Região será julgado em reunião conjunta das Tur- Art. 16. O cumprimento do acordo ou da sentença,
mas em conflito, sob a presidência do Juiz Coordenador. com trânsito em julgado, que imponham obrigação de fa-
zer, não fazer ou entrega de coisa certa, será efetuado me-
§ 2o O pedido fundado em divergência entre decisões diante ofício do Juiz à autoridade citada para a causa, com
de turmas de diferentes regiões ou da proferida em contra- cópia da sentença ou do acordo.
riedade a súmula ou jurisprudência dominante do STJ será
julgado por Turma de Uniformização, integrada por juízes Art. 17. Tratando-se de obrigação de pagar quantia
de Turmas Recursais, sob a presidência do Coordenador da certa, após o trânsito em julgado da decisão, o pagamento
Justiça Federal. será efetuado no prazo de sessenta dias, contados da en-
trega da requisição, por ordem do Juiz, à autoridade citada
§ 3o A reunião de juízes domiciliados em cidades diver- para a causa, na agência mais próxima da Caixa Econômi-
sas será feita pela via eletrônica. ca Federal ou do Banco do Brasil, independentemente de
precatório.
§ 4o Quando a orientação acolhida pela Turma de Uni-
formização, em questões de direito material, contrariar sú- § 1o Para os efeitos do § 3o do art. 100 da Constitui-
mula ou jurisprudência dominante no Superior Tribunal de ção Federal, as obrigações ali definidas como de pequeno
Justiça -STJ, a parte interessada poderá provocar a mani- valor, a serem pagas independentemente de precatório,
festação deste, que dirimirá a divergência. terão como limite o mesmo valor estabelecido nesta Lei
para a competência do Juizado Especial Federal Cível (art.
§ 5o No caso do § 4o, presente a plausibilidade do di- 3o, caput).
reito invocado e havendo fundado receio de dano de difícil
reparação, poderá o relator conceder, de ofício ou a re- § 2o Desatendida a requisição judicial, o Juiz determi-
querimento do interessado, medida liminar determinando nará o seqüestro do numerário suficiente ao cumprimento
a suspensão dos processos nos quais a controvérsia esteja da decisão.
estabelecida.

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LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

§ 3o São vedados o fracionamento, repartição ou que- Art. 24. O Centro de Estudos Judiciários do Conselho
bra do valor da execução, de modo que o pagamento se da Justiça Federal e as Escolas de Magistratura dos Tribu-
faça, em parte, na forma estabelecida no § 1o deste artigo, nais Regionais Federais criarão programas de informática
e, em parte, mediante expedição do precatório, e a expedi- necessários para subsidiar a instrução das causas submeti-
ção de precatório complementar ou suplementar do valor das aos Juizados e promoverão cursos de aperfeiçoamento
pago. destinados aos seus magistrados e servidores.

§ 4o Se o valor da execução ultrapassar o estabelecido Art. 25. Não serão remetidas aos Juizados Especiais as
no § 1o, o pagamento far-se-á, sempre, por meio do pre- demandas ajuizadas até a data de sua instalação.
catório, sendo facultado à parte exeqüente a renúncia ao
crédito do valor excedente, para que possa optar pelo pa- Art. 26. Competirá aos Tribunais Regionais Federais
gamento do saldo sem o precatório, da forma lá prevista. prestar o suporte administrativo necessário ao funciona-
mento dos Juizados Especiais.
Art. 18. Os Juizados Especiais serão instalados por de-
cisão do Tribunal Regional Federal. O Juiz presidente do Art. 27. Esta Lei entra em vigor seis meses após a data
Juizado designará os conciliadores pelo período de dois de sua publicação.
anos, admitida a recondução. O exercício dessas funções
será gratuito, assegurados os direitos e prerrogativas do Brasília, 12 de julho de 2001; 180o da Independência e
jurado (art. 437 do Código de Processo Penal). 113  da República.
o

Parágrafo único. Serão instalados Juizados Especiais


Adjuntos nas localidades cujo movimento forense não jus-
tifique a existência de Juizado Especial, cabendo ao Tribu-
nal designar a Vara onde funcionará.
5. SISTEMA NACIONAL DE POLÍTICAS
Art. 19. No prazo de seis meses, a contar da publicação PÚBLICAS SOBRE DROGAS (LEI Nº
desta Lei, deverão ser instalados os Juizados Especiais nas 11.343/06).
capitais dos Estados e no Distrito Federal.

Parágrafo único. Na capital dos Estados, no Distrito Fe- Institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre
deral e em outras cidades onde for necessário, neste últi- Drogas - Sisnad; prescreve medidas para prevenção do uso
mo caso, por decisão do Tribunal Regional Federal, serão indevido, atenção e reinserção social de usuários e depen-
instalados Juizados com competência exclusiva para ações dentes de drogas; estabelece normas para repressão à pro-
previdenciárias. dução não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas; define
crimes e dá outras providências.
Art. 20. Onde não houver Vara Federal, a causa poderá
ser proposta no Juizado Especial Federal mais próximo do TÍTULO I
foro definido no art. 4o da Lei no 9.099, de 26 de setembro DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
de 1995, vedada a aplicação desta Lei no juízo estadual.
Art. 1o Esta Lei institui o Sistema Nacional de Políticas
Art. 21. As Turmas Recursais serão instituídas por deci- Públicas sobre Drogas - Sisnad; prescreve medidas para
são do Tribunal Regional Federal, que definirá sua compo- prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de
sição e área de competência, podendo abranger mais de usuários e dependentes de drogas; estabelece normas para
uma seção. repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de
drogas e define crimes.
Art. 22. Os Juizados Especiais serão coordenados por
Parágrafo único. Para fins desta Lei, consideram-se
Juiz do respectivo Tribunal Regional, escolhido por seus pa-
como drogas as substâncias ou os produtos capazes de
res, com mandato de dois anos.
causar dependência, assim especificados em lei ou re-
lacionados em listas atualizadas periodicamente pelo
Parágrafo único. O Juiz Federal, quando o exigirem as
Poder Executivo da União.
circunstâncias, poderá determinar o funcionamento do Jui-
A lei tem três escopos: cria o SISNAD, fixa medidas de
zado Especial em caráter itinerante, mediante autorização
prevenção e de reinserção social e estabelece normas de
prévia do Tribunal Regional Federal, com antecedência de
repressão.
dez dias.
Se a Lei é de Drogas, a pergunta que se faz é: o que são
Art. 23. O Conselho da Justiça Federal poderá limitar, drogas? No linguajar técnico, drogas são substâncias en-
por até três anos, contados a partir da publicação desta Lei, torpecentes ou que causam dependência física ou psíquica.
a competência dos Juizados Especiais Cíveis, atendendo à Substância = Matéria-prima (ex.: folha de coca).
necessidade da organização dos serviços judiciários ou ad- Produto = substância manipulada pelo homem (ex.:
ministrativos. cocaína).

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LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

O parágrafo único traz uma norma penal em branco, Basicamente, compete ao SISNAD a prescrição de me-
prevendo que a lei ou listas atualizadas do Executivo fede- didas para a prevenção do uso indevido de drogas, tra-
ral (portaria SVS/MS nº 344, de 12 de maio de 1998) irão tamento e reinserção social dos usuários e dependentes,
determinar quais são estas drogas abrangidas pela Lei no além do estabelecimento de normas e mecanismos para
11.343/2006. Basicamente, significa que uma norma diver- o combate ao narcotráfico. Também é de sua atribuição a
sa que estabelecerá as substâncias abrangidas pela lei de proposta de criação de normas penais incriminadoras ao
drogas – se a substância não estiver listada, então não é Poder Legislativo.
abrangida pela lei e o fato é atípico, mesmo que a substân-
cia cause dependência (ex.: álcool). CAPÍTULO I
DOS PRINCÍPIOS E DOS OBJETIVOS DO SISTEMA
Art. 2o Ficam proibidas, em todo o território nacional, NACIONAL DE POLÍTICAS PÚBLICAS SOBRE DROGAS
as drogas, bem como o plantio, a cultura, a colheita e a
exploração de vegetais e substratos dos quais possam ser Art. 4o São princípios do Sisnad:
extraídas ou produzidas drogas, ressalvada a hipótese I - o respeito aos direitos fundamentais da pessoa
de autorização legal ou regulamentar, bem como o que humana, especialmente quanto à sua autonomia e à sua
estabelece a Convenção de Viena, das Nações Unidas, sobre liberdade;
Substâncias Psicotrópicas, de 1971, a respeito de plantas de II - o respeito à diversidade e às especificidades po-
uso estritamente ritualístico-religioso. pulacionais existentes;
Parágrafo único. Pode a União autorizar o plantio, a III - a promoção dos valores éticos, culturais e de ci-
cultura e a colheita dos vegetais referidos no caput deste dadania do povo brasileiro, reconhecendo-os como fatores
artigo, exclusivamente para fins medicinais ou científicos, de proteção para o uso indevido de drogas e outros compor-
em local e prazo predeterminados, mediante fiscalização, tamentos correlacionados;
respeitadas as ressalvas supramencionadas. IV - a promoção de consensos nacionais, de ampla
A ressalva da norma quanto às autorizações legais e re- participação social, para o estabelecimento dos funda-
gulamentares é relevante porque muitos dos vegetais que mentos e estratégias do Sisnad;
podem ser empregados para a produção de drogas igual- V - a promoção da responsabilidade compartilhada
mente podem servir de matéria-prima para a elaboração entre Estado e Sociedade, reconhecendo a importância da
de remédios ou serem usados em experimentos científicos. participação social nas atividades do Sisnad;
Caberá ao Ministério da Saúde autorizar e fiscalizar o em- VI - o reconhecimento da intersetorialidade dos fa-
prego destas substâncias de forma lícita. tores correlacionados com o uso indevido de drogas, com
O artigo 32, 4 da Convenção de Viena prevê: “O Esta- a sua produção não autorizada e o seu tráfico ilícito; (não é
do em cujo território cresçam plantas silvestres que con- apenas um fator que leva alguém a usar ou traficar drogas,
tenham substâncias psicotrópicas dentre as incluídas na mas uma série de fatores conjugados)
Lista I, e que são tradicionalmente utilizadas por pequenos VII - a integração das estratégias nacionais e inter-
grupos, nitidamente caracterizados, em rituais mágicos ou nacionais de prevenção do uso indevido, atenção e reinser-
religiosos, poderão, no momento da assinatura, ratificação ção social de usuários e dependentes de drogas e de repres-
ou adesão, formular reservas, em relação a tais plantas, são à sua produção não autorizada e ao seu tráfico ilícito;
com respeito às disposições do art. 7º, exceto quanto às VIII - a articulação com os órgãos do Ministério Pú-
disposições relativas ao comércio internacional”. Um exem- blico e dos Poderes Legislativo e Judiciário visando à
plo que pode ser dado de ritual religioso é o da seita Santo cooperação mútua nas atividades do Sisnad;
Daime, cujo uso do chá de ayahuasca é incorporado aos IX - a adoção de abordagem multidisciplinar que re-
ritos corriqueiros em suas celebrações (o CONAD, órgão do conheça a interdependência e a natureza complementar
SISNAD, autorizou o uso da substância, que tem proprie- das atividades de prevenção do uso indevido, atenção e
dades alucinógenas, pela Resolução nº 04, de 04.11.2004). reinserção social de usuários e dependentes de drogas, re-
pressão da produção não autorizada e do tráfico ilícito
TÍTULO II de drogas;
DO SISTEMA NACIONAL DE POLÍTICAS PÚBLICAS X - a observância do equilíbrio entre as atividades de
SOBRE DROGAS prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social
de usuários e dependentes de drogas e de repressão à sua
Art. 3o O Sisnad tem a finalidade de articular, integrar, produção não autorizada e ao seu tráfico ilícito, visando a
organizar e coordenar as atividades relacionadas com: garantir a estabilidade e o bem-estar social;
I - a prevenção do uso indevido, a atenção e a rein- XI - a observância às orientações e normas emanadas
serção social de usuários e dependentes de drogas; do Conselho Nacional Antidrogas - Conad.
II - a repressão da produção não autorizada e do
tráfico ilícito de drogas. Art. 5o O Sisnad tem os seguintes objetivos:
O Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas I - contribuir para a inclusão social do cidadão, visan-
– SISNAD veio para substituir o Sistema Nacional Antidro- do a torná-lo menos vulnerável a assumir comportamentos
gas. O aspecto punitivo associado ao preventivo fica evi- de risco para o uso indevido de drogas, seu tráfico ilícito e
dente na previsão de competências do SISNAD. outros comportamentos correlacionados;

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LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

II - promover a construção e a socialização do conhe- Art. 17. Os dados estatísticos nacionais de repressão ao
cimento sobre drogas no país; tráfico ilícito de drogas integrarão sistema de informações
III - promover a integração entre as políticas de pre- do Poder Executivo.
venção do uso indevido, atenção e reinserção social de Será adotado um mecanismo de integração de dados,
usuários e dependentes de drogas e de repressão à sua pro- mas cada município manterá suas próprias estatísticas a
dução não autorizada e ao tráfico ilícito e as políticas públi- partir das informações das instituições de saúde e assistên-
cas setoriais dos órgãos do Poder Executivo da União, cia social.
Distrito Federal, Estados e Municípios;
IV - assegurar as condições para a coordenação, a in- TÍTULO III
tegração e a articulação das atividades de que trata o art. DAS ATIVIDADES DE PREVENÇÃO DO USO INDEVIDO,
3o desta Lei. ATENÇÃO E REINSERÇÃO SOCIAL DE USUÁRIOS E
DEPENDENTES DE DROGAS
CAPÍTULO II
DA COMPOSIÇÃO E DA ORGANIZAÇÃO DO SISTEMA CAPÍTULO I
NACIONAL DE POLÍTICAS PÚBLICAS SOBRE DROGAS DA PREVENÇÃO

Art. 6o (VETADO) Art. 18. Constituem atividades de prevenção do uso


indevido de drogas, para efeito desta Lei, aquelas direcio-
Art. 7o A organização do Sisnad assegura a orientação nadas para a redução dos fatores de vulnerabilidade e
central e a execução descentralizada das atividades risco e para a promoção e o fortalecimento dos fatores
realizadas em seu âmbito, nas esferas federal, distrital, de proteção.
estadual e municipal e se constitui matéria definida no regu-
lamento desta Lei. Art. 19. As atividades de prevenção do uso indevido de
O SISNAD é o órgão responsável pela orientação cen- drogas devem observar os seguintes princípios e diretrizes:
tral e execução descentralizada de suas políticas no âmbito I - o reconhecimento do uso indevido de drogas como
Federal, Estadual e Municipal. fator de interferência na qualidade de vida do indivíduo
e na sua relação com a comunidade à qual pertence;
Art. 8o (VETADO) II - a adoção de conceitos objetivos e de fundamenta-
ção científica como forma de orientar as ações dos serviços
CAPÍTULO III públicos comunitários e privados e de evitar preconceitos e
(VETADO) estigmatização das pessoas e dos serviços que as aten-
dam;
Art. 9o a 14. (VETADO) III - o fortalecimento da autonomia e da responsa-
bilidade individual em relação ao uso indevido de drogas;
O fundamento para tantos vetos consiste no fato de IV - o compartilhamento de responsabilidades e a
que o Poder Executivo entendeu que o Poder Legislativo colaboração mútua com as instituições do setor privado e
havia excedido suas atribuições ao regulamentar o SISNAD. com os diversos segmentos sociais, incluindo usuários e de-
Afinal, quando o legislador normatiza a criação de um ór- pendentes de drogas e respectivos familiares, por meio do
gão no âmbito do Poder Executivo, deve se limitar a regras estabelecimento de parcerias;
gerais, como princípios e atribuições, preservando o poder V - a adoção de estratégias preventivas diferenciadas
de auto-organização do Executivo. Neste sentido, suprindo e adequadas às especificidades socioculturais das diver-
os dispositivos vetados, o Poder Executivo Federal instituiu sas populações, bem como das diferentes drogas utilizadas;
o Decreto nº 5.912/2006, que regulamentou o SISNAD e os VI - o reconhecimento do “não-uso”, do “retarda-
órgãos que o compõem. mento do uso” e da redução de riscos como resultados
desejáveis das atividades de natureza preventiva, quando da
CAPÍTULO IV definição dos objetivos a serem alcançados;
DA COLETA, ANÁLISE E DISSEMINAÇÃO DE INFOR- VII - o tratamento especial dirigido às parcelas mais
MAÇÕES SOBRE DROGAS vulneráveis da população, levando em consideração as suas
necessidades específicas;
Art. 15. (VETADO) VIII - a articulação entre os serviços e organizações
que atuam em atividades de prevenção do uso indevido de
Art. 16. As instituições com atuação nas áreas da aten- drogas e a rede de atenção a usuários e dependentes de dro-
ção à saúde e da assistência social que atendam usuários gas e respectivos familiares;
ou dependentes de drogas devem comunicar ao órgão IX - o investimento em alternativas esportivas, culturais,
competente do respectivo sistema municipal de saúde artísticas, profissionais, entre outras, como forma de inclu-
os casos atendidos e os óbitos ocorridos, preservando a são social e de melhoria da qualidade de vida;
identidade das pessoas, conforme orientações emanadas da X - o estabelecimento de políticas de formação conti-
União. nuada na área da prevenção do uso indevido de drogas para
profissionais de educação nos 3 (três) níveis de ensino;

86
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

XI - a implantação de projetos pedagógicos de preven- VI - o alinhamento às diretrizes dos órgãos de con-


ção do uso indevido de drogas, nas instituições de ensino trole social de políticas setoriais específicas.
público e privado, alinhados às Diretrizes Curriculares Nacio-
nais e aos conhecimentos relacionados a drogas; Art. 23. As redes dos serviços de saúde da União, dos
XII - a observância das orientações e normas emana- Estados, do Distrito Federal, dos Municípios desenvolverão
das do Conad; programas de atenção ao usuário e ao dependente de
XIII - o alinhamento às diretrizes dos órgãos de controle drogas, respeitadas as diretrizes do Ministério da Saúde e
social de políticas setoriais específicas. os princípios explicitados no art. 22 desta Lei, obrigatória a
Parágrafo único. As atividades de prevenção do uso in- previsão orçamentária adequada.
devido de drogas dirigidas à criança e ao adolescente de-
verão estar em consonância com as diretrizes emanadas pelo Art. 24. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Mu-
Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente nicípios poderão conceder benefícios às instituições pri-
- Conanda. vadas que desenvolverem programas de reinserção no
mercado de trabalho, do usuário e do dependente de drogas
O combate às drogas não se faz apenas com a punição, encaminhados por órgão oficial.
pois há necessidade da prevenção, sendo que a prevenção
depende de políticas públicas que a almejem, o que fica Art. 25. As instituições da sociedade civil, sem fins
claro no artigo 18. O artigo seguinte descreve as diretrizes lucrativos, com atuação nas áreas da atenção à saúde e da
e os princípios de prevenção, que vão desde o tratamento assistência social, que atendam usuários ou dependentes de
adequado dos dependentes até a inserção de temas afe- drogas poderão receber recursos do Funad, condicionados
tos à área de interesse nos currículos escolares, conferindo à sua disponibilidade orçamentária e financeira.
atenção às repercussões sociais e econômicas no âmbito do
tema das drogas. Art. 26. O usuário e o dependente de drogas que, em
razão da prática de infração penal, estiverem cumprindo
pena privativa de liberdade ou submetidos a medida de
CAPÍTULO II
segurança, têm garantidos os serviços de atenção à sua
DAS ATIVIDADES DE ATENÇÃO E DE REINSERÇÃO
saúde, definidos pelo respectivo sistema penitenciário.
SOCIAL DE USUÁRIOS OU DEPENDENTES DE DROGAS
A lei pretende inserir nas atividades de atenção não
Art. 20. Constituem atividades de atenção ao usuá-
apenas os usuários, mas também os familiares, integran-
rio e dependente de drogas e respectivos familiares, para
do-os em redes sociais que ofertem assistência integral à
efeito desta Lei, aquelas que visem à melhoria da qualida-
saúde física e psicológica, mediante atendimento multidis-
de de vida e à redução dos riscos e dos danos associados ciplinar. Evidentemente que estas políticas públicas exigem
ao uso de drogas. recursos orçamentários, que devem contar com dotação
própria. Além disso, serão prestadas tanto pelo setor públi-
Art. 21. Constituem atividades de reinserção social do co quanto por instituições privadas em parceria.
usuário ou do dependente de drogas e respectivos familiares,
para efeito desta Lei, aquelas direcionadas para sua integra- CAPÍTULO III
ção ou reintegração em redes sociais. DOS CRIMES E DAS PENAS
Art. 22. As atividades de atenção e as de reinserção so- Art. 27. As penas previstas neste Capítulo poderão
cial do usuário e do dependente de drogas e respectivos fami- ser aplicadas isolada ou cumulativamente, bem como
liares devem observar os seguintes princípios e diretrizes: substituídas a qualquer tempo, ouvidos o Ministério Pú-
I - respeito ao usuário e ao dependente de drogas, blico e o defensor.
independentemente de quaisquer condições, observados os Os crimes descritos neste capítulo, que não são os pra-
direitos fundamentais da pessoa humana, os princípios e di- ticados por traficantes, mas sim por usuários, não possuem
retrizes do Sistema Único de Saúde e da Política Nacional de uma pena taxativa aplicável. O artigo 28 descreve três tipos
Assistência Social; de penas, nenhuma delas privativa de liberdade, as quais
II - a adoção de estratégias diferenciadas de atenção poderão ser aplicadas cumulativamente.
e reinserção social do usuário e do dependente de drogas
e respectivos familiares que considerem as suas peculiarida- Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito,
des socioculturais; transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal,
III - definição de projeto terapêutico individualizado, drogas sem autorização ou em desacordo com determi-
orientado para a inclusão social e para a redução de riscos e nação legal ou regulamentar será submetido às seguintes
de danos sociais e à saúde; penas:
IV - atenção ao usuário ou dependente de drogas e aos O crime é de perigo abstrato e coletivo, não se exigin-
respectivos familiares, sempre que possível, de forma multi- do a produção de dano.
disciplinar e por equipes multiprofissionais; Objeto jurídico: saúde pública (principal), e a vida, a
V - observância das orientações e normas emanadas saúde e a tranquilidade das pessoas individualmente con-
do Conad; sideradas (secundário).

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LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

Sujeito ativo: O crime é comum e pode ser praticado Atenção: O debate sobre a descriminalização de pe-
por qualquer pessoa. quenas quantidades de entorpecentes é feito no STF no
Sujeito passivo: coletividade. Recurso Extraordinário 635.659, que tem repercussão geral
Objeto material: droga. reconhecida. Até o momento foram proferidos três votos
Tipo objetivo: adquirir significa obter ou conseguir o nesse caso – suspenso por pedido de vista do ministro
objeto material de forma onerosa ou gratuita; guardar tem Teori Zavascki (morto em janeiro de 2017) –, todos pela
o sentido de conservar ou manter o objeto material consigo inconstitucionalidade do artigo 28 da Lei de Drogas (Lei
para uso próprio futuro, mas longe das vistas; ter em depó- 11.343/2006), que criminaliza o porte de drogas para con-
sito é praticamente sinônimo de guardar; transportar tem sumo pessoal. Luís Roberto Barroso e Edson Fachin enten-
o sentido de levar a droga de um local para outro que não deram que a descriminalização apenas atingiria a maconha
seja por meio pessoal, que caracteriza a conduta de trazer e Gilmar Mendes que atingiria todas drogas.
consigo; trazer consigo significa portar, ter ou manter o ob-
jeto material consigo ou ao alcance para seu pronto uso. § 1o Às mesmas medidas submete-se quem, para seu
A conduta de fazer uso da droga, pura e simplesmente, é consumo pessoal, semeia, cultiva ou colhe plantas des-
fato atípico. O tipo objetivo é misto ou de conteúdo varia- tinadas à preparação de pequena quantidade de subs-
do, o que significa que na prática de mais de uma conduta tância ou produto capaz de causar dependência física ou
simultânea o crime é único. Admite-se a tentativa em todos psíquica.
os verbos, teoricamente, mas devido à diversidade de con- Objeto jurídico: saúde pública (principal), e a vida, a
dutas previstas no tipo raramente ocorrerá. saúde e a tranquilidade das pessoas individualmente con-
Elemento subjetivo: dolo, que deve atender ao intuito sideradas (secundário).
específico de consumo pessoal. Sujeito ativo: O crime é comum e pode ser praticado
Elemento normativo: sem autorização ou em desacor- por qualquer pessoa.
do com determinação legal ou regulamentar. Sujeito passivo: coletividade.
Ação penal: pública incondicionada. Objeto material: plantas.
Tipo objetivo: semear é o ato de lançar sementes a
terra para que possam germinar, cultivar significa manter
I - advertência sobre os efeitos das drogas;
plantação, colher tem o sentido de apanhar as plantas.
II - prestação de serviços à comunidade;
Sendo tipo misto alternativo ou de conteúdo variado, a
III - medida educativa de comparecimento a progra-
prática simultânea das três condutas no mesmo contexto
ma ou curso educativo.
caracteriza crime único. É cabível a tentativa.
O artigo 27 já afirma que as penas podem ser aplicadas
Elemento subjetivo: dolo, que deve atender ao intuito
de forma isolada ou cumulativa e não o serão necessaria-
específico de consumo pessoal.
mente nesta ordem dos incisos (o juiz analisará a culpabi- Ação penal: pública incondicionada.
lidade caso a caso).
Advertência: o sujeito comparece em cartório e assina § 2o Para determinar se a droga destinava-se a consu-
um termo em que constam os efeitos deletérios que o uso mo pessoal, o juiz atenderá à natureza e à quantidade da
da droga pode causar. substância apreendida, ao local e às condições em que
Pena restritiva de direitos: deverá ser cumprida em se desenvolveu a ação, às circunstâncias sociais e pessoais,
programas comunitários, entidades educacionais ou assis- bem como à conduta e aos antecedentes do agente.
tenciais, hospitais, estabelecimentos congêneres, públicos Não se trata de circunstâncias taxativas, mas exemplifi-
ou privados sem fins lucrativos, que se ocupem, preferen- cativas. Outras poderão ser somadas para que o juiz possa
cialmente, da prevenção do consumo ou da recuperação decidir sobre qual o crime praticado.
de usuários e dependentes de drogas. A intenção é que o
usuário perceba os efeitos danosos que as drogas podem § 3o As penas previstas nos incisos II e III do caput deste
causar. artigo serão aplicadas pelo prazo máximo de 5 (cinco)
Medida educativa de comparecimento a programa ou meses.
curso educativo: aqui também a intenção é que o usuário § 4o Em caso de reincidência, as penas previstas nos in-
perceba os efeitos danosos das drogas, sob o viés educa- cisos II e III do caput deste artigo serão aplicadas pelo prazo
tivo. máximo de 10 (dez) meses.
Em que pese a não mais aplicação de pena privativa de Se a conduta é crime, evidente que pode gerar rein-
liberdade, o entendimento majoritário é de que legislador cidência, caso em que dobra o prazo máximo de duração
optou por manter a criminalização das condutas. Há quem da pena. Tal reincidência deve ser específica, nas mesmas
diga que como o artigo 1o da Lei de Introdução ao Código condutas descritas neste artigo 28.
Penal prevê que crime é a infração penal a que a lei comi-
ne pena de reclusão ou detenção, não sendo o caso deste § 5o A prestação de serviços à comunidade será cum-
artigo 28, então não se estaria diante de crime. O enten- prida em programas comunitários, entidades educacionais
dimento não predomina (STF e STJ já se manifestaram no ou assistenciais, hospitais, estabelecimentos congêneres, pú-
sentido de que não houve descriminalização, embora no blicos ou privados sem fins lucrativos, que se ocupem, prefe-
STF o tema ainda esteja sendo debatido), sendo mais cor- rencialmente, da prevenção do consumo ou da recupe-
reto falar em despenalização e não em descriminalização. ração de usuários e dependentes de drogas.

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LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

§ 6o Para garantia do cumprimento das medidas educati- Art. 32. As plantações ilícitas serão imediatamente
vas a que se refere o caput, nos incisos I, II e III, a que injusti- destruídas pelo delegado de polícia na forma do art.
ficadamente se recuse o agente, poderá o juiz submetê-lo, 50-A, que recolherá quantidade suficiente para exame peri-
sucessivamente a: cial, de tudo lavrando auto de levantamento das condições
I - admoestação verbal; encontradas, com a delimitação do local, asseguradas as
II - multa. medidas necessárias para a preservação da prova.
Se o não comparecimento deve ser injustificado, é pre- § 1o e § 2o (Revogados).
ciso conferir oportunidade para que o apenado justifique § 3o Em caso de ser utilizada a queimada para destruir
sua ausência. a plantação, observar-se-á, além das cautelas necessárias
à proteção ao meio ambiente, o disposto no Decreto no
§ 7o O juiz determinará ao Poder Público que coloque à 2.661, de 8 de julho de 1998, no que couber, dispensada a
disposição do infrator, gratuitamente, estabelecimento de autorização prévia do órgão próprio do Sistema Nacio-
saúde, preferencialmente ambulatorial, para tratamen- nal do Meio Ambiente - Sisnama.
to especializado. § 4o As glebas cultivadas com plantações ilícitas se-
O infrator tem direito a tratamento médico gratuito rão expropriadas, conforme o disposto no art. 243 da Cons-
para livrá-lo do vício ou do uso de drogas. tituição Federal, de acordo com a legislação em vigor.
A destruição das plantações ilícitas deve ser imediata,
Art. 29. Na imposição da medida educativa a que se apenas armazenando-se o suficiente para perícia, essen-
refere o inciso II do § 6o do art. 28 (multa), o juiz, atendendo à cial para a demonstração de culpabilidade nos autos. Se a
reprovabilidade da conduta, fixará o número de dias-mul- destruição for se dar por queimada, providências de pre-
ta, em quantidade nunca inferior a 40 (quarenta) nem servação ambiental devem ser tomadas, mas dispensa-se
superior a 100 (cem), atribuindo depois a cada um, segun- autorização do órgão competente do Sisnama. As terras
do a capacidade econômica do agente, o valor de um trinta serão desapropriadas (art. 243, CF).
avos até 3 (três) vezes o valor do maior salário mínimo.
Parágrafo único. Os valores decorrentes da imposição CAPÍTULO II
da multa a que se refere o § 6o do art. 28 serão creditados à DOS CRIMES
conta do Fundo Nacional Antidrogas.
A multa apenas será aplicada se o apenado se recusar a Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, pro-
prestar os serviços à comunidade ou a comparecer a curso duzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer,
ou programa educativo. No caso, será de 40 a 100 dias-mul- ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar,
ta, sendo que cada dia-multa terá o valor mínimo de 1/30 prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer
do salário mínimo e o valor máximo de 3x o salário mínimo. drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em
desacordo com determinação legal ou regulamentar:
Art. 30. Prescrevem em 2 (dois) anos a imposição e Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e paga-
a execução das penas, observado, no tocante à interrupção mento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-
do prazo, o disposto nos arts. 107 e seguintes do Código Pe- -multa.
nal. Tipicamente, trata-se do delito de tráfico de drogas.
Os tipos dos artigos art. 33, § 1º, 34 e 36 são equiparados
TÍTULO IV a este, sendo subespécies de tráfico de drogas. Tanto este
DA REPRESSÃO À PRODUÇÃO NÃO AUTORIZADA E AO quanto os apontados como equiparados são considerados
TRÁFICO ILÍCITO DE DROGAS crimes equiparados a hediondos (art. 2o, Lei no 8.072/1990).
Crime de perigo abstrato e coletivo.
CAPÍTULO I Objeto jurídico: saúde pública (principal), e a vida, a
DISPOSIÇÕES GERAIS saúde e a tranquilidade das pessoas individualmente con-
sideradas (secundário).
Art. 31. É indispensável a licença prévia da autorida- Sujeito ativo: O crime é comum e pode ser praticado
de competente para produzir, extrair, fabricar, transformar, por qualquer pessoa, exceto na conduta de prescrever, que
preparar, possuir, manter em depósito, importar, exportar, somente pode ser praticada por médico ou dentista (crime
reexportar, remeter, transportar, expor, oferecer, vender, com- próprio).
prar, trocar, ceder ou adquirir, para qualquer fim, drogas ou Sujeito passivo: coletividade. Eventualmente, poderá
matéria-prima destinada à sua preparação, observadas as ser sujeito passivo secundário a criança, o adolescente ou a
demais exigências legais. pessoa que tem suprimida a capacidade de entendimento
Embora a regra seja a proibição, excepciona-se median- ou de autodeterminação (art. 40, VI), que recebam a droga
te licença prévia da autoridade competente, observadas as para usá-la.
exigências legais. Trata-se de exceção necessária porque Objeto material: droga.
muitas drogas são empregadas pela indústria farmacêutica Tipo objetivo: importar significa fazer entrar em terri-
para a produção de remédios, dentre eles anestésicos e po- tório nacional; exportar significa fazer sair do território na-
tentes analgésicos. cional; remeter significa mandar ou enviar de um local para
outro; preparar é misturar substâncias para fazer surgir a

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LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

espécie de droga; produzir é elaborar uma nova espécie II - semeia, cultiva ou faz a colheita, sem autorização
de droga; fabricar significa preparar ou produzir em larga ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar,
escala; adquirir implica em obter ou conseguir o objeto de plantas que se constituam em matéria-prima para a
material de forma onerosa ou gratuita; vender é alienar preparação de drogas;
onerosamente; expor a venda é exibir com o intuito de que Objeto jurídico: saúde pública (principal), e a vida, a
possa ser comprado; oferecer é sugerir a aquisição, mes- saúde e a tranquilidade das pessoas individualmente con-
mo por gestos ou palavras; ter em depósito é a retenção sideradas (secundário).
ou manutenção do objeto material para sua disponibilida- Sujeito ativo: O crime é comum e pode ser praticado
de, ou seja, para a venda ou fornecimento; transportar sig- por qualquer pessoa.
nifica levar de um lugar ao outro; ter ou manter o objeto Sujeito passivo: coletividade.
material consigo ou ao seu alcance para sua pronta dispo- Tipo objetivo: Semear é o ato de lançar sementes na
nibilidade; guardar é reter consigo em nome de terceiro; terra para que possam germinar. Cultivar significa manter
prescrever é receitar; ministrar é introduzir no organismo
plantação. Fazer a colheita tem o sentido de apanhar as
de outrem; entregar a consumo é a regra genérica que
plantas. Em tese, cabe tentativa. Sendo praticada mais de
vale para toda conduta de disponibilizar; fornecer significa
uma conduta no mesmo contexto, o crime é único.
entregar, de forma onerosa ou gratuita. O tipo descreve
Objeto material: plantas (ex.: folha de coca, cannabis).
múltiplas condutas e a prática de mais de uma delas no
mesmo contexto implica em crime único. Por isso mes- Elemento subjetivo: dolo.
mo, é difícil ocorrer a tentativa, embora teoricamente seja Ação penal: pública incondicionada.
viável.
Atenção - Muitas das condutas aqui previstas também III - utiliza local ou bem de qualquer natureza de
constam do artigo 28, o que diferencia é o dolo específico que tem a propriedade, posse, administração, guarda ou vi-
daquele tipo, pois no tipo de tráfico de drogas a intenção gilância, ou consente que outrem dele se utilize, ainda
não é o consumo pessoal. que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com
Elemento subjetivo: dolo. determinação legal ou regulamentar, para o tráfico ilícito
Elemento normativo: sem autorização ou em desacor- de drogas.
do com determinação legal ou regulamentar. Objeto jurídico: saúde pública (principal), e a vida, a
Ação penal: pública incondicionada. saúde e a tranquilidade das pessoas individualmente con-
sideradas (secundário).
§ 1o Nas mesmas penas incorre quem: Sujeito ativo: O crime é próprio, pois exige a condi-
I - importa, exporta, remete, produz, fabrica, adquire, ção especial de possuir propriedade, posse, administração,
vende, expõe à venda, oferece, fornece, tem em depósito, guarda ou vigilância do local ou do bem.
transporta, traz consigo ou guarda, ainda que gratuitamen- Sujeito passivo: coletividade.
te, sem autorização ou em desacordo com determinação le- Tipo objetivo: Na utilização do local (coisa imóvel) ou
gal ou regulamentar, matéria-prima, insumo ou produto bem (coisa móvel), o próprio sujeito ativo utiliza o local
químico destinado à preparação de drogas; ou bem para o tráfico de drogas (como a utilização efetiva
Objeto jurídico: saúde pública (principal), e a vida, a pode ou não ocorrer, admite tentativa). No consentimento
saúde e a tranquilidade das pessoas individualmente con- para a utilização do local ou bem, não é o sujeito ativo
sideradas (secundário). que emprega o local ou bem para o tráfico de drogas, mas
Sujeito ativo: O crime é comum e pode ser praticado terceiro por ele autorizado, o qual poderá responder por
por qualquer pessoa. tráfico de drogas (noutro tipo do art. 33) (como o consenti-
Sujeito passivo: coletividade.
mento é ato unissubsistente, não se admite tentativa).
Tipo objetivo: Os tipos objetivos descritos se asseme-
Elemento subjetivo: dolo, específico pois exige-se a es-
lham ao do caput, sendo relevante observar que o tráfico
pecial finalidade de emprego do local ou bem para o trá-
ocorre mesmo quando o objeto material não é a droga. Da
fico de drogas.
mesma forma, em tese, cabe tentativa.
Objeto material: não é a droga, mas uma matéria- Elemento normativo: sem autorização ou em desacor-
-prima (substância original e básica), insumo (substância do com determinação legal ou regulamentar.
ou insumo necessário, mas não indispensável) ou produ- Ação penal: pública incondicionada.
to químico (produto resultante de composição química),
que sejam destinados ou possam vir a ser empregados em § 2o Induzir, instigar ou auxiliar alguém ao uso in-
produção de drogas. devido de droga:
Elemento subjetivo: dolo, com o fim específico de que Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa de
a matéria-prima, o insumo ou o produto sejam destinados 100 (cem) a 300 (trezentos) dias-multa.
à produção de droga. Objeto jurídico: saúde pública (principal), e a vida, a
Elemento normativo: sem autorização ou em desacor- saúde e a tranquilidade das pessoas individualmente con-
do com determinação legal ou regulamentar. sideradas (secundário).
Ação penal: pública incondicionada. Sujeito ativo: O crime é comum e pode ser praticado
por qualquer pessoa.

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LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

Sujeito passivo: coletividade. Eventualmente, poderá Fixa-se aqui uma causa de diminuição de pena.
ser sujeito passivo secundário a criança, o adolescente ou a A Resolução nº 5/2012 suspendeu o dispositivo no
pessoa que tem suprimida a capacidade de entendimento que tange à vedação à aplicação de penas restritivas de
ou de autodeterminação (art. 40, VI), que recebam a droga direitos porque a expressão foi declarada inconstitucional
para usá-la. por decisão definitiva do Supremo Tribunal Federal nos
Objeto material: droga. autos do Habeas Corpus nº 97.256/RS.
Tipo objetivo: induzir é incutir ou criar na mente a von-
tade do uso indevido de droga; instigar é alimentar uma Art. 34. Fabricar, adquirir, utilizar, transportar, oferecer,
ideia pré-existente de tal uso; auxiliar é prestar colaboração vender, distribuir, entregar a qualquer título, possuir, guar-
material (ex.: levar a pessoa na boca de fumo). Em tese cabe dar ou fornecer, ainda que gratuitamente, maquinário,
tentativa, quando nas condutas de induzir ou instigar não aparelho, instrumento ou qualquer objeto destinado à
se produz no outro a vontade de usar a droga. Não há ten- fabricação, preparação, produção ou transformação de
tativa na modalidade de auxílio. drogas, sem autorização ou em desacordo com determina-
Segundo o STF, a tipificação deve excluir qualquer sig- ção legal ou regulamentar:
nificado que enseje a proibição de manifestações e deba- Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamen-
tes públicos acerca da descriminalização ou legalização do to de 1.200 (mil e duzentos) a 2.000 (dois mil) dias-multa.
uso de drogas ou de qualquer substância que leve o ser Objeto jurídico: saúde pública (principal), e a vida, a
humano ao entorpecimento episódico, ou então viciado, saúde e a tranquilidade das pessoas individualmente con-
das suas faculdades psicofísicas – “Marcha da Maconha” sideradas (secundário).
(ADI 4274, Rel. Min. Ayres Britto, v. u., j. 23.11.2011). Sujeito ativo: O crime é comum e pode ser praticado
Elemento subjetivo: dolo. por qualquer pessoa.
Elemento normativo: o uso deve ser indevido, se a lei Sujeito passivo: coletividade.
apoiar o uso então o fato é atípico. Tipo objetivo: Os tipos objetivos descritos se asseme-
Ação penal: pública incondicionada. lham bastante aos do caput do art. 33, mudando o objeto
material. Da mesma forma, em tese, cabe tentativa (sal-
§ 3o Oferecer droga, eventualmente e sem objetivo vo na oferta quando verbal e no fornecimento habitual),
de lucro, a pessoa de seu relacionamento, para juntos a mas sendo tipo misto de conteúdo variado ela dificilmente
consumirem: ocorrerá.
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e paga- Objeto material: maquinários, aparelhos, instrumentos
mento de 700 (setecentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias- ou quaisquer objetos destinados à fabricação, preparação,
-multa, sem prejuízo das penas previstas no art. 28. produção ou transformação de drogas. Maquinário é o
Objeto jurídico: saúde pública (principal), e a vida, a conjunto de peças ou uma máquina. Aparelho é o con-
saúde e a tranquilidade das pessoas individualmente con-
junto de mecanismos ou engenho. Instrumento é o objeto
sideradas (secundário).
empregado para a execução de um trabalho. Traz-se uma
Sujeito ativo: O crime é comum e pode ser praticado
fórmula genérica de que se incluem quaisquer outros ob-
por qualquer pessoa, mas exige-se que a pessoa seja do
jetos semelhantes aos anteriores. Os objetos devem ser
mesmo círculo de relacionamento (ex.: amigo, parente, na-
destinados à fabricação, produção, preparação ou trans-
morado, colega de trabalho).
formação de drogas. Preparação é a reunião de elementos
Sujeito passivo: coletividade. Eventualmente, poderá
para a elaboração de uma droga já conhecida. Produção
ser sujeito passivo secundário a criança, o adolescente ou a
pessoa que tem suprimida a capacidade de entendimento significa elaborar uma nova espécie de droga. Fabricação
ou de autodeterminação (art. 40, VI), que recebam a droga significa a preparação ou produção de droga em larga es-
para usá-la. cala. Transformação tem o sentido de mudar a natureza da
Objeto material: droga. droga para outra.
Tipo objetivo: oferecer significa sugerir a aquisição, Elemento subjetivo: dolo, que deve abranger o conhe-
que deve ser gratuita, entendendo-se que a conduta de cimento de o objeto material ser destinado à fabricação,
fornecer gratuitamente a pessoa de seu círculo está aqui preparação, produção ou transformação de drogas.
amparada. Cabe tentativa, mas não é preciso que se aceite Elemento normativo: sem autorização ou em desacor-
a droga ofertada ou fornecida. do com determinação legal ou regulamentar.
Elemento subjetivo: dolo, sendo que o propósito deve Ação penal: pública incondicionada.
ser de uso eventual e compartilhado com pessoa de seu
relacionamento. Art. 35. Associarem-se duas ou mais pessoas para o
Ação penal: pública incondicionada. fim de praticar, reiteradamente ou não, qualquer dos
crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 desta
§ 4o Nos delitos definidos no caput e no § 1o deste arti- Lei:
go, as penas poderão ser reduzidas de um sexto a dois Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamen-
terços, vedada a conversão em penas restritivas de direitos, to de 700 (setecentos) a 1.200 (mil e duzentos) dias-multa.
desde que o agente seja primário, de bons antecedentes, Objeto jurídico: saúde pública (principal), e a vida, a
não se dedique às atividades criminosas nem integre saúde e a tranquilidade das pessoas individualmente con-
organização criminosa. sideradas (secundário).

91
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

Sujeito ativo: O crime é comum e pode ser praticado Elemento subjetivo: dolo.
por qualquer pessoa, mas exige no mínimo duas pessoas Ação penal: pública incondicionada.
(crime plurissubjetivo).
Sujeito passivo: coletividade. Art. 37. Colaborar, como informante, com grupo, or-
Tipo objetivo: O verbo “associarem-se” significa a reu- ganização ou associação destinados à prática de qualquer
nião com vínculo estável e permanente (tempo indetermi- dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 desta
nado), no caso, de duas ou mais pessoas. A associação não Lei:
precisa ser reiterada, ou seja, habitual. Há necessidade de Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e pagamento
vínculo psicológico para a prática dos delitos por tempo de 300 (trezentos) a 700 (setecentos) dias-multa.
indeterminado. O tipo é autônomo e aplica-se de forma Objeto jurídico: saúde pública (principal), e a vida, a
cumulada com o tráfico se ele também ocorrer ou isola- saúde e a tranquilidade das pessoas individualmente con-
damente. sideradas (secundário).
Elemento subjetivo: dolo, com a finalidade especial de Sujeito ativo: O crime é comum e pode ser praticado
praticar os crimes descritos nos artigos 33, caput, § 1º, ou por qualquer pessoa.
34, por tempo indeterminado. Sujeito passivo: coletividade.
Ação penal: pública incondicionada. Tipo objetivo: Financiar ou custear Tipo objetivo: a con-
duta é de colaborar, como informante, com grupo, organi-
Parágrafo único. Nas mesmas penas do caput deste zação ou associação destinada à prática de qualquer dos
artigo incorre quem se associa para a prática reiterada crimes previstos nos artigos 33, caput, § 1º, e 34. Colaborar
do crime definido no art. 36 desta Lei. tem o sentido de ajudar ou prestar auxílio. Ex.: soltar rojão,
Objeto jurídico: saúde pública (principal), e a vida, a sinal de luz, mandar mensagem de celular avisando da che-
saúde e a tranquilidade das pessoas individualmente con- gada de policiais. A tentativa só é possível se a colabora-
sideradas (secundário). ção for por escrito, não cabendo em comunicação oral ou
Sujeito ativo: O crime é comum e pode ser praticado gestos. Há exceção à teoria monista, pois aquele que seria
por qualquer pessoa, mas exige no mínimo duas pessoas
partícipe nos crimes dos arts. 33, caput e §1o, e 34, respon-
(crime plurissubjetivo).
de por tipo autônomo.
Sujeito passivo: coletividade.
Elemento subjetivo: dolo.
Tipo objetivo: Consiste em associarem-se para a prática
Ação penal: pública incondicionada.
reiterada do crime de financiamento ou custeio para o trá-
fico de drogas (art. 36). Enquanto o caput define a conduta
Art. 38. Prescrever ou ministrar, culposamente, dro-
de associação para o tráfico de drogas, o tipo em questão
gas, sem que delas necessite o paciente, ou fazê-lo em
criou a associação destinada a financiar ou custear a prática
doses excessivas ou em desacordo com determinação
de um dos crimes descritos nos artigos 33, caput, §1º, ou 34
(tráfico de drogas). Há necessidade de vínculo psicológico legal ou regulamentar:
para a prática do delito do art. 36 por tempo indetermina- Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e pa-
do. Aqui, a associação tem que ser habitual, não eventual. gamento de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos) dias-multa.
Devido à habitualidade, não há possibilidade de tentativa. Parágrafo único. O juiz comunicará a condenação ao
Elemento subjetivo: dolo, com a finalidade especial de Conselho Federal da categoria profissional a que pertença
praticar o crime descrito no art. 36 por tempo indetermi- o agente.
nado. Objeto jurídico: saúde pública (principal), e a vida, a
Ação penal: pública incondicionada. saúde e a tranquilidade das pessoas individualmente con-
sideradas (secundário).
Art. 36. Financiar ou custear a prática de qualquer Objeto material: drogas.
dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 desta Sujeito ativo: O crime é próprio e somente pode ser
Lei: praticado por quem pode prescrever, notadamente, médi-
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 20 (vinte) anos, e paga- co ou dentista.
mento de 1.500 (mil e quinhentos) a 4.000 (quatro mil) dias- Sujeito passivo: coletividade e, secundariamente, o pa-
-multa. ciente.
Objeto jurídico: saúde pública (principal), e a vida, a Tipo objetivo: Prescrever é receitar, ministrar é introdu-
saúde e a tranquilidade das pessoas individualmente con- zir no organismo. Sem necessidade – o paciente não pre-
sideradas (secundário). cisava da droga. Doses acima do necessário – o paciente
Sujeito ativo: O crime é comum e pode ser praticado necessita, mas em menor quantidade. Em desacordo com
por qualquer pessoa. determinação legal ou regulamentar – medicamento não
Sujeito passivo: coletividade. autorizado pela ANVISA.
Tipo objetivo: Financiar ou custear são termos sinôni- Elemento subjetivo: apenas culpa, por negligência, im-
mos, que significam prover as despesas com dinheiro ou prudência ou imperícia. Por ser crime culposo, não admite
bens. O objeto da conduta é qualquer dos crimes descritos tentativa.
nos artigos 33, caput, § 1º, ou 34, i. e., delitos considerados Ação penal: pública incondicionada.
como tráfico de drogas.

92
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

Art. 39. Conduzir embarcação ou aeronave após o São causas de aumento de pena, aplicáveis aos crimes
consumo de drogas, expondo a dano potencial a incolu- descritos do art. 33 ao 37, no montante de 1/6 a 2/3 (se
midade de outrem: presente mais de uma, aplica-se um único aumento, de no
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, além máximo 2/3), podendo ocorrer fixação de pena abaixo do
da apreensão do veículo, cassação da habilitação respectiva mínimo e acima do máximo:
ou proibição de obtê-la, pelo mesmo prazo da pena privati- 1 – Transnacionalidade: condutas que objetivem im-
va de liberdade aplicada, e pagamento de 200 (duzentos) a portação e exportação.
400 (quatrocentos) dias-multa. 2 – Condição do agente: função pública ou desempe-
Parágrafo único. As penas de prisão e multa, aplicadas nho de missão em educação, poder familiar, guarda ou vi-
cumulativamente com as demais, serão de 4 (quatro) a 6 gilância.
(seis) anos e de 400 (quatrocentos) a 600 (seiscentos) dias- 3 – Local: imediações (proximidade) ou no próprio local
-multa, se o veículo referido no caput deste artigo for de – estabelecimentos prisionais, de ensino, hospitalares ou
policiais/militares; espaços de lazer ou recreação; onde se
transporte coletivo de passageiros.
prestem serviços de tratamento de dependentes de drogas
Objeto jurídico: incolumidade pública (segurança pú-
ou de reinserção social.
blica).
4 – Violência, grave ameaça, arma de fogo ou intimida-
Sujeito ativo: O crime é comum e pode ser praticado
ção: comum quando o tráfico é exercido por organizações
por qualquer pessoa. criminosas.
Sujeito passivo: coletividade. 5 – Tráfico interestadual: dispensável a efetiva trans-
Tipo objetivo: Conduzir tem o sentido de dirigir ou posição de fronteiras (STF, HC nº 99452/MS, j. 21.09.2010).
pilotar (exige movimento). O objeto da conduta é a em- 6 – Condição do sujeito passivo: criança e adolescen-
barcação ou a aeronave. Embarcação é qualquer meio de te (no confronto com o art. 243, ECA, prevalece a Lei de
transporte utilizado para navegação. Aeronave é qualquer Drogas, servindo o ECA para bebidas alcóolicas e outras
aparelho que possa voar. No caso de automóvel, o delito substâncias que causem dependência não consideradas
está tipificado no Código de Trânsito em seu art. 306. O drogas), pessoa com capacidade diminuída ou suprimida.
tipo objetivo exige que a condução se dê por influência de 7 – Financiamento ou custeio: Se houver prática de um
droga, se for de álcool há contravenção penal do art. 34, dos delitos previstos nos artigos 33, 34, 35 e 37 e o agente
LCP. Não aceita tentativa. o prover com dinheiro ou bens, haverá o aumento da pena.
Elemento subjetivo: dolo, direto ou eventual. Praticado o crime previsto no artigo 36, não se aplica a cau-
Ação penal: pública incondicionada. sa de aumento, pois caracterizaria bis in idem.

Art. 40. As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei Art. 41. O indiciado ou acusado que colaborar volun-
são aumentadas de um sexto a dois terços, se: tariamente com a investigação policial e o processo crimi-
I - a natureza, a procedência da substância ou do pro- nal na identificação dos demais co-autores ou partícipes do
duto apreendido e as circunstâncias do fato evidenciarem a crime e na recuperação total ou parcial do produto do crime,
transnacionalidade do delito; no caso de condenação, terá pena reduzida de um terço a
II - o agente praticar o crime prevalecendo-se de fun- dois terços.
ção pública ou no desempenho de missão de educação, Delação premiada: A norma estabelece dois requisitos
poder familiar, guarda ou vigilância; para a redução da pena, notadamente, colaboração volun-
III - a infração tiver sido cometida nas dependências tária e eficiência, esta consubstanciada na identificação dos
ou imediações de estabelecimentos prisionais, de en- demais coautores ou partícipes do crime e na recupera-
ção total ou parcial do produto do delito. Para que seja
sino ou hospitalares, de sedes de entidades estudantis,
possível essa barganha ao menos um dos integrantes deve
sociais, culturais, recreativas, esportivas, ou beneficen-
ser identificado. Além disso, as provas a ele apresentadas
tes, de locais de trabalho coletivo, de recintos onde se
devem ser substanciais de modo que haja chance real ou
realizem espetáculos ou diversões de qualquer natureza,
mesmo a certeza da condenação a severas sanções. Sem
de serviços de tratamento de dependentes de drogas ou isso, não haverá estímulo para o acordo. Produzindo fruto
de reinserção social, de unidades militares ou policiais o acordo, reduz-se a pena de 1/3 a 2/3.
ou em transportes públicos;
IV - o crime tiver sido praticado com violência, grave Art. 42. O juiz, na fixação das penas, considerará, com
ameaça, emprego de arma de fogo, ou qualquer pro- preponderância sobre o previsto no art. 59 do Código Pe-
cesso de intimidação difusa ou coletiva; nal, a natureza e a quantidade da substância ou do pro-
V - caracterizado o tráfico entre Estados da Federa- duto, a personalidade e a conduta social do agente.
ção ou entre estes e o Distrito Federal; Art. 59, CP. O juiz, atendendo à culpabilidade, aos ante-
VI - sua prática envolver ou visar a atingir criança ou cedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos
adolescente ou a quem tenha, por qualquer motivo, dimi- motivos, às circunstâncias e consequências do crime, bem
nuída ou suprimida a capacidade de entendimento e como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme
determinação; seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do
VII - o agente financiar ou custear a prática do crime. crime.

93
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

Art. 43. Na fixação da multa a que se referem os arts. O agente é inimputável quando praticar um dos cri-
33 a 39 desta Lei, o juiz, atendendo ao que dispõe o art. 42 mes descritos do artigo 33 ao 39 e for inteiramente incapaz
desta Lei, determinará o número de dias-multa, atribuindo de compreender as consequências dos seus atos, seja em
a cada um, segundo as condições econômicas dos acusados, razão de dependência química (a dependência clama por
valor não inferior a um trinta avos nem superior a 5 uma constância do vício, não para o uso eventual), seja em
(cinco) vezes o maior salário-mínimo. razão da pessoa estar sob efeito de droga por caso fortuito
Parágrafo único. As multas, que em caso de concurso ou força maior (é o caso da vítima do crime do artigo 38). O
de crimes serão impostas sempre cumulativamente, po- agente é imputável, mas terá a pena reduzida, em caso de
dem ser aumentadas até o décuplo se, em virtude da si- semi-imputabilidade (o caráter ilícito do fato é compreen-
tuação econômica do acusado, considerá-las o juiz ineficazes, dido e existe o poder de determinação, mas de forma limi-
ainda que aplicadas no máximo. tada) nas mesmas circunstâncias.
Cada dispositivo fixa uma margem mínima e máxima
para a fixação de dias-multa, sendo que cada qual terá no
Art. 47. Na sentença condenatória, o juiz, com base em
mínimo o valor de 1/30 do salário mínimo e no máximo
avaliação que ateste a necessidade de encaminhamen-
o valor de 5 salários mínimos. O juiz pode fixar o valor do
to do agente para tratamento, realizada por profissional
dia-multa em até 50 salários mínimos se a situação econô-
de saúde com competência específica na forma da lei, de-
mica do apenado indicar que o valor máximo de 5 salários
é insignificante. terminará que a tal se proceda, observado o disposto no
art. 26 desta Lei.
Art. 44. Os crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e
34 a 37 desta Lei são inafiançáveis e insuscetíveis de sur- CAPÍTULO III
sis, graça, indulto, anistia e liberdade provisória, vedada a DO PROCEDIMENTO PENAL
conversão de suas penas em restritivas de direitos.
Parágrafo único. Nos crimes previstos no caput deste ar- Art. 48. O procedimento relativo aos processos por cri-
tigo, dar-se-á o livramento condicional após o cumprimento mes definidos neste Título rege-se pelo disposto neste Capí-
de dois terços da pena, vedada sua concessão ao reincidente tulo, aplicando-se, subsidiariamente, as disposições do
específico. Código de Processo Penal e da Lei de Execução Penal.
No HC nº 104.339/SP o STF julgou inconstitucional a § 1o O agente de qualquer das condutas previstas no
expressão liberdade provisória neste artigo. A negação da art. 28 desta Lei, salvo se houver concurso com os crimes
liberdade provisória e a conversão da prisão em flagrante previstos nos arts. 33 a 37 desta Lei, será processado e jul-
em preventiva deve se calcar em motivos concretos expres- gado na forma dos arts. 60 e seguintes da Lei no 9.099,
samente previstos em lei. O juiz só pode negar a liberdade de 26 de setembro de 1995, que dispõe sobre os Juizados
provisória quando couber prisão preventiva (art. 312, CPP), Especiais Criminais.
devendo analisar o caso concreto e não sendo a gravidade § 2o Tratando-se da conduta prevista no art. 28 desta
do delito argumento suficiente. Lei, não se imporá prisão em flagrante, devendo o autor
A jurisprudência se firma no sentido de que não cabe do fato ser imediatamente encaminhado ao juízo competen-
realmente suspensão condicional da pena. Não cabe tam- te ou, na falta deste, assumir o compromisso de a ele compa-
bém indulto, graça ou anistia. recer, lavrando-se termo circunstanciado e providenciando-
No HC nº 97.256/RS, o STF julgou inconstitucional a -se as requisições dos exames e perícias necessários.
previsão de impossibilidade de conversão da pena privativa § 3o Se ausente a autoridade judicial, as providências
de liberdade em pena restritiva de direitos.
previstas no § 2o deste artigo serão tomadas de imediato
pela autoridade policial, no local em que se encontrar, veda-
Art. 45. É isento de pena o agente que, em razão da
da a detenção do agente.
dependência, ou sob o efeito, proveniente de caso fortui-
§ 4o Concluídos os procedimentos de que trata o § 2o
to ou força maior, de droga, era, ao tempo da ação ou
da omissão, qualquer que tenha sido a infração penal prati- deste artigo, o agente será submetido a exame de corpo de
cada, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do delito, se o requerer ou se a autoridade de polícia judiciária
fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. entender conveniente, e em seguida liberado.
Parágrafo único. Quando absolver o agente, reconhecen- § 5o Para os fins do disposto no art. 76 da Lei no 9.099,
do, por força pericial, que este apresentava, à época do fato de 1995, que dispõe sobre os Juizados Especiais Criminais, o
previsto neste artigo, as condições referidas no caput deste Ministério Público poderá propor a aplicação imediata
artigo, poderá determinar o juiz, na sentença, o seu enca- de pena prevista no art. 28 desta Lei, a ser especificada
minhamento para tratamento médico adequado. na proposta.
• Os crimes com pena máxima inferior a 2 anos são
Art. 46. As penas podem ser reduzidas de um terço a infrações de menor potencial ofensivo e sujeitam-se ao
dois terços se, por força das circunstâncias previstas no art. procedimento sumaríssimo da Lei no 9.099/95 (arts. 77 a
45 desta Lei, o agente não possuía, ao tempo da ação ou 83), no que for cabível devido às peculiaridades das penas
da omissão, a plena capacidade de entender o caráter aplicáveis. Caberá a suspensão condicional do processo
ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse en- nos crimes em que a pena mínima comentada for igual ou
tendimento. inferior a 1 ano.

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LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

São infrações de menor potencial ofensivo: Art. 52. Findos os prazos a que se refere o art. 51 desta
- Porte de drogas (art. 28, caput e §1º); Lei, a autoridade de polícia judiciária, remetendo os au-
- Compartilhamento (art. 33, §3º); tos do inquérito ao juízo:
- Prescrição culposa (art. 38). I - relatará sumariamente as circunstâncias do fato,
• Nos crimes do artigo 28, aos quais não se comina justificando as razões que a levaram à classificação do de-
pena privativa de liberdade, não é cabível prisão em fla- lito, indicando a quantidade e natureza da substância ou
grante. do produto apreendido, o local e as condições em que se
desenvolveu a ação criminosa, as circunstâncias da prisão,
Art. 49. Tratando-se de condutas tipificadas nos arts. a conduta, a qualificação e os antecedentes do agente; ou
33, caput e § 1o, e 34 a 37 desta Lei, o juiz, sempre que as II - requererá sua devolução para a realização de di-
circunstâncias o recomendem, empregará os instrumentos ligências necessárias.
protetivos de colaboradores e testemunhas previstos na Parágrafo único. A remessa dos autos far-se-á sem pre-
Lei no 9.807, de 13 de julho de 1999. juízo de diligências complementares:
Envolvem-se os mecanismos de proteção de colabora- I - necessárias ou úteis à plena elucidação do fato,
dores e testemunhas. cujo resultado deverá ser encaminhado ao juízo competente
até 3 (três) dias antes da audiência de instrução e julgamen-
Seção I to;
Da Investigação II - necessárias ou úteis à indicação dos bens, di-
reitos e valores de que seja titular o agente, ou que figu-
Art. 50. Ocorrendo prisão em flagrante, a autoridade rem em seu nome, cujo resultado deverá ser encaminhado
de polícia judiciária fará, imediatamente, comunicação ao juízo competente até 3 (três) dias antes da audiência de
ao juiz competente, remetendo-lhe cópia do auto lavrado, instrução e julgamento.
do qual será dada vista ao órgão do Ministério Público,
em 24 (vinte e quatro) horas. Art. 53. Em qualquer fase da persecução criminal relati-
va aos crimes previstos nesta Lei, são permitidos, além dos
§ 1o Para efeito da lavratura do auto de prisão em fla-
previstos em lei, mediante autorização judicial e ouvido
grante e estabelecimento da materialidade do delito, é sufi-
o Ministério Público, os seguintes procedimentos inves-
ciente o laudo de constatação da natureza e quantidade
tigatórios:
da droga, firmado por perito oficial ou, na falta deste, por
I - a infiltração por agentes de polícia, em tarefas de
pessoa idônea.
investigação, constituída pelos órgãos especializados perti-
§ 2o O perito que subscrever o laudo a que se refere
nentes;
o § 1o deste artigo não ficará impedido de participar da
II - a não-atuação policial sobre os portadores de
elaboração do laudo definitivo. drogas, seus precursores químicos ou outros produtos
§ 3o Recebida cópia do auto de prisão em flagrante, o utilizados em sua produção, que se encontrem no terri-
juiz, no prazo de 10 (dez) dias, certificará a regularida- tório brasileiro, com a finalidade de identificar e respon-
de formal do laudo de constatação e determinará a des- sabilizar maior número de integrantes de operações de
truição das drogas apreendidas, guardando-se amostra tráfico e distribuição, sem prejuízo da ação penal cabível.
necessária à realização do laudo definitivo. Parágrafo único. Na hipótese do inciso II deste artigo, a
§ 4o A destruição das drogas será executada pelo dele- autorização será concedida desde que sejam conhecidos
gado de polícia competente no prazo de 15 (quinze) dias o itinerário provável e a identificação dos agentes do
na presença do Ministério Público e da autoridade sanitária. delito ou de colaboradores.
§ 5o O local será vistoriado antes e depois de efetiva- Flagrante
da a destruição das drogas referida no § 3o, sendo lavrado • Prisão em flagrante – Delegado deve comunicar
auto circunstanciado pelo delegado de polícia, certificando- imediatamente ao juiz, remetendo auto e conferindo vista
-se neste a destruição total delas. ao MP, em 24hs.
• Para que o auto da prisão não demore para ser en-
Art. 50-A. A destruição de drogas apreendidas sem viado, aceita-se que no laudo de constatação se fixe ape-
a ocorrência de prisão em flagrante será feita por inci- nas a natureza e quantidade da droga, assinado por perito
neração, no prazo máximo de 30 (trinta) dias contado oficial ou, na falta deste, de pessoa idônea.
da data da apreensão, guardando-se amostra necessária à • O juiz, no prazo de 10 (dez) dias, certificará a re-
realização do laudo definitivo, aplicando-se, no que couber, gularidade formal do laudo de constatação e determinará
o procedimento dos §§ 3o a 5o do art. 50. a destruição.
Destruição
Art. 51. O inquérito policial será concluído no prazo • Guarda-se amostra da droga para o futuro laudo
de 30 (trinta) dias, se o indiciado estiver preso, e de 90 definitivo, destruindo-se o restante.
(noventa) dias, quando solto. • A destruição deve ser executada na presença do
Parágrafo único. Os prazos a que se refere este artigo MP e da autoridade sanitária.
podem ser duplicados pelo juiz, ouvido o Ministério Pú- • No caso de prisão em flagrante, a destruição se
blico, mediante pedido justificado da autoridade de po- dará no prazo de 15 dias da determinação do juiz para a
lícia judiciária. destruição.

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LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

• Não havendo flagrante, a destruição se dará em Art. 56. Recebida a denúncia, o juiz designará dia e
até 30 dias da data de apreensão. hora para a audiência de instrução e julgamento, orde-
Prazo para conclusão do inquérito nará a citação pessoal do acusado, a intimação do Minis-
• Réu preso – 30 dias. tério Público, do assistente, se for o caso, e requisitará os
• Réu solto – 90 dias. laudos periciais.
• Juiz pode duplicar a pedido justificado da autori- § 1o Tratando-se de condutas tipificadas como infração
dade judiciária, ouvido o MP. do disposto nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 a 37 desta Lei, o
Conclusão do inquérito juiz, ao receber a denúncia, poderá decretar o afastamento
• O inquérito será remetido ao juízo, com o relato cautelar do denunciado de suas atividades, se for fun-
sumário dos fatos (circunstâncias do crime e da prisão, jus- cionário público, comunicando ao órgão respectivo.
tificativas para a classificação do delito, quantidade e na- § 2o A audiência a que se refere o caput deste artigo
tureza da substância/produto, local e condições da ação, será realizada dentro dos 30 (trinta) dias seguintes ao
conduta/qualificação/antecedentes do agente) ou um pe- recebimento da denúncia, salvo se determinada a realiza-
dido de devolução dos autos apara realização de audiência. ção de avaliação para atestar dependência de drogas,
• Mesmo após a remessa do inquérito é possível quando se realizará em 90 (noventa) dias.
continuar efetuando diligências necessárias ou úteis para
elucidar fatos e para indicar bens, direitos e valores de titu- Art. 57. Na audiência de instrução e julgamento, após
laridade ou propriedade do agente, encaminhando-as ao o interrogatório do acusado e a inquirição das testemu-
juízo competente até 3 dias antes da audiência de instru- nhas, será dada a palavra, sucessivamente, ao represen-
ção e julgamento. tante do Ministério Público e ao defensor do acusado,
Investigação para sustentação oral, pelo prazo de 20 (vinte) minutos
• Agente infiltrado e ação controlada: Além das me- para cada um, prorrogável por mais 10 (dez), a critério do
didas de investigação tradicionais, é possível a infiltração juiz.
de agentes e a não-atuação imediata sobre portadores de Parágrafo único. Após proceder ao interrogatório, o
drogas com o fim de persegui-los para a identificação de juiz indagará das partes se restou algum fato para ser
um número maior de agentes/colaboradores. esclarecido, formulando as perguntas correspondentes se o
entender pertinente e relevante.
Seção II
Da Instrução Criminal Art. 58. Encerrados os debates, proferirá o juiz sentença
de imediato, ou o fará em 10 (dez) dias, ordenando que
Art. 54. Recebidos em juízo os autos do inquérito policial, os autos para isso lhe sejam conclusos.
de Comissão Parlamentar de Inquérito ou peças de informa- § 1o Ao proferir sentença, o juiz, não tendo havido con-
ção, dar-se-á vista ao Ministério Público para, no prazo trovérsia, no curso do processo, sobre a natureza ou quanti-
de 10 (dez) dias, adotar uma das seguintes providências: dade da substância ou do produto, ou sobre a regularidade
I - requerer o arquivamento; do respectivo laudo, determinará que se proceda na forma
II - requisitar as diligências que entender necessárias; do art. 32, § 1o, desta Lei, preservando-se, para eventual con-
III - oferecer denúncia, arrolar até 5 (cinco) testemunhas traprova, a fração que fixar.
e requerer as demais provas que entender pertinentes. § 2o Igual procedimento poderá adotar o juiz, em decisão
motivada e, ouvido o Ministério Público, quando a quanti-
Art. 55. Oferecida a denúncia, o juiz ordenará a no- dade ou valor da substância ou do produto o indicar, prece-
tificação do acusado para oferecer defesa prévia, por dendo a medida a elaboração e juntada aos autos do laudo
escrito, no prazo de 10 (dez) dias. toxicológico.
§ 1o Na resposta, consistente em defesa preliminar e
exceções, o acusado poderá arguir preliminares e invocar Art. 59. Nos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o,
todas as razões de defesa, oferecer documentos e justi- e 34 a 37 desta Lei, o réu não poderá apelar sem reco-
ficações, especificar as provas que pretende produzir e, até lher-se à prisão, salvo se for primário e de bons antece-
o número de 5 (cinco), arrolar testemunhas. dentes, assim reconhecido na sentença condenatória.
§ 2o As exceções serão processadas em apartado, nos
termos dos arts. 95 a 113 do Decreto-Lei no 3.689, de 3 de Providências iniciais
outubro de 1941 - Código de Processo Penal. • Recebidos os autos, dar-se-á vistas ao Ministério
§ 3o Se a resposta não for apresentada no prazo, o juiz Público, no prazo de 10 dias, que poderá: requerer arquiva-
nomeará defensor para oferecê-la em 10 (dez) dias, con- mento, requisitar diligências ou oferecer denúncia.
cedendo-lhe vista dos autos no ato de nomeação. • Na denúncia, poderá arrolar até 10 testemunhas e
§ 4o Apresentada a defesa, o juiz decidirá em 5 (cinco) requerer outras provas.
dias. Defesa prévia
§ 5o Se entender imprescindível, o juiz, no prazo máxi- • A defesa prévia é uma especificidade da lei de dro-
mo de 10 (dez) dias, determinará a apresentação do pre- gas, permitindo ao acusado se defender antes mesmo do
so, realização de diligências, exames e perícias. recebimento da denúncia – por isso será notificado e não
citado.

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LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

• Consiste na apresentação de defesa escrita no Apelação e prisão


prazo de 10 dias pelo acusado, com todas razões de de- • A lei diz que o réu não poderá apelar sem recolher-
fesa, preliminares e exceções, apresentando documentos -se à prisão, salvo se for primário e de bons antecedentes,
e justificações. assim reconhecido na sentença condenatória. Contudo, a
• Se necessário, nomeia-se defensor dativo para súmula 347 do STJ diz que “o conhecimento de recurso
apresentá-la no caso de omissão do acusado. de apelação do réu independe de sua prisão”. No mesmo
• Apresentada, o juiz decidirá em 5 dias, mas se não sentido tem decidido o STF.
possuir elementos para decidir, poderá pedir no prazo de
10 dias a apresentação do preso, a realização de diligên- CAPÍTULO IV
cias, exames e perícias. DA APREENSÃO, ARRECADAÇÃO E DESTINAÇÃO DE
Providências após o recebimento da denúncia BENS DO ACUSADO
• Se o juiz receber a denúncia, deve motivar sua de-
cisão.
Art. 60. O juiz, de ofício, a requerimento do Ministério
• Apesar da lei de drogas não fazer referência à pos-
Público ou mediante representação da autoridade de polí-
sibilidade de absolvição sumária, esta pode ser aplicada a
cia judiciária, ouvido o Ministério Público, havendo indícios
quaisquer processos penais. Logo após o recebimento da
suficientes, poderá decretar, no curso do inquérito ou da
denúncia, o juiz deve analisar se é possível a absolvição su-
mária. Não faria sentido determinar-se a citação do acusa- ação penal, a apreensão e outras medidas assecurató-
do para comparecer à audiência de instrução e julgamento rias relacionadas aos bens móveis e imóveis ou valores
se o juiz já está convencido acerca da presença de uma consistentes em produtos dos crimes previstos nesta Lei,
das hipóteses que autorizam a absolvição sumária. Caso ou que constituam proveito auferido com sua prática, pro-
o acusado não seja absolvido sumariamente, o procedi- cedendo-se na forma dos arts. 125 a 144 do Decreto-Lei no
mento seguirá seu curso normal (designação de audiência 3.689, de 3 de outubro de 1941 - Código de Processo Penal.
e citação). § 1o Decretadas quaisquer das medidas previstas neste
• O acusado será citado. A citação deve ser pessoal. artigo, o juiz facultará ao acusado que, no prazo de 5
Se o acusado não for encontrado, deve ser citado por edi- (cinco) dias, apresente ou requeira a produção de pro-
tal. No caso do réu revel citado por edital nomeia-se defen- vas acerca da origem lícita do produto, bem ou valor objeto
sor dativo e, como não houve ato de comunicação dando da decisão.
ciência pessoal ao acusado, impõe-se a aplicação do art. § 2o Provada a origem lícita do produto, bem ou va-
366 do CPP (suspensão do processo e da prescrição). lor, o juiz decidirá pela sua liberação.
• O Ministério Público será intimado, tal como assis- § 3o Nenhum pedido de restituição será conhecido sem
tente, se houver. o comparecimento pessoal do acusado, podendo o juiz de-
• O juiz também requisitará laudos periciais, se o terminar a prática de atos necessários à conservação de
caso. bens, direitos ou valores.
• Nas infrações de tráfico e equiparadas, o juiz pode § 4o A ordem de apreensão ou sequestro de bens, di-
afastar das funções o acusado funcionário público. reitos ou valores poderá ser suspensa pelo juiz, ouvido o
• O juiz designará audiência de instrução e julga- Ministério Público, quando a sua execução imediata possa
mento, no prazo de 30 dias do recebimento da denúncia, comprometer as investigações.
ou em 90 dias se for preciso avaliação de dependência de
drogas. Art. 61. Não havendo prejuízo para a produção da
Obs.: Há controvérsia se na lei de drogas há respos- prova dos fatos e comprovado o interesse público ou so-
ta à acusação. Parte da doutrina entende inaplicável a res-
cial, ressalvado o disposto no art. 62 desta Lei, mediante
posta à acusação na lei de drogas. Para Renato Brasileiro,
autorização do juízo competente, ouvido o Ministério
o ideal é entender que não pode haver 2 manifestações da
Público e cientificada a Senad, os bens apreendidos
defesa, logo, o acusado deveria apresentar a defesa preli-
poderão ser utilizados pelos órgãos ou pelas entidades
minar e a resposta à acusação no mesmo momento. Num
primeiro momento, o sujeito pediria a rejeição da peça que atuam na prevenção do uso indevido, na atenção e
acusatória, num segundo momento, buscaria sua absolvi- reinserção social de usuários e dependentes de drogas e na
ção sumária. repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de
Ordem da oitiva na audiência drogas, exclusivamente no interesse dessas atividades.
• 1o: Interrogatório do acusado; Parágrafo único. Recaindo a autorização sobre veículos,
• 2o: Oitiva das testemunhas. embarcações ou aeronaves, o juiz ordenará à autoridade de
Debates orais trânsito ou ao equivalente órgão de registro e controle a ex-
• A sustentação oral será de 20 minutos, para cada pedição de certificado provisório de registro e licenciamento,
parte, prorrogáveis, a critério do juiz, por mais 10 minutos. em favor da instituição à qual tenha deferido o uso, ficando
Sentença esta livre do pagamento de multas, encargos e tributos an-
• Encerrados os debates, o juiz proferirá sentença teriores, até o trânsito em julgado da decisão que decretar o
de imediato, ou o fará em 10 dias, ordenando que os autos seu perdimento em favor da União.
para isso lhe sejam conclusos.

97
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

Art. 62. Os veículos, embarcações, aeronaves e § 10. Terão apenas efeito devolutivo os recursos inter-
quaisquer outros meios de transporte, os maquinários, postos contra as decisões proferidas no curso do procedi-
utensílios, instrumentos e objetos de qualquer nature- mento previsto neste artigo.
za, utilizados para a prática dos crimes definidos nesta § 11. Quanto aos bens indicados na forma do § 4o deste
Lei, após a sua regular apreensão, ficarão sob custódia artigo, recaindo a autorização sobre veículos, embarcações
da autoridade de polícia judiciária, excetuadas as armas, ou aeronaves, o juiz ordenará à autoridade de trânsito ou
que serão recolhidas na forma de legislação específica. ao equivalente órgão de registro e controle a expedição de
§ 1o Comprovado o interesse público na utilização de certificado provisório de registro e licenciamento, em favor
qualquer dos bens mencionados neste artigo, a autoridade da autoridade de polícia judiciária ou órgão aos quais tenha
de polícia judiciária poderá deles fazer uso, sob sua respon- deferido o uso, ficando estes livres do pagamento de multas,
sabilidade e com o objetivo de sua conservação, mediante encargos e tributos anteriores, até o trânsito em julgado da
autorização judicial, ouvido o Ministério Público. decisão que decretar o seu perdimento em favor da União.
§ 2o Feita a apreensão a que se refere o caput deste arti-
Art. 63. Ao proferir a sentença de mérito, o juiz decidirá
go, e tendo recaído sobre dinheiro ou cheques emitidos como
sobre o perdimento do produto, bem ou valor apreendi-
ordem de pagamento, a autoridade de polícia judiciária que
do, sequestrado ou declarado indisponível.
presidir o inquérito deverá, de imediato, requerer ao juízo § 1o Os valores apreendidos em decorrência dos crimes
competente a intimação do Ministério Público. tipificados nesta Lei e que não forem objeto de tutela cau-
§ 3o Intimado, o Ministério Público deverá requerer ao telar, após decretado o seu perdimento em favor da União,
juízo, em caráter cautelar, a conversão do numerário apreen- serão revertidos diretamente ao Funad.
dido em moeda nacional, se for o caso, a compensação dos § 2o Compete à Senad a alienação dos bens apreendidos
cheques emitidos após a instrução do inquérito, com cópias e não leiloados em caráter cautelar, cujo perdimento já te-
autênticas dos respectivos títulos, e o depósito das corres- nha sido decretado em favor da União.
pondentes quantias em conta judicial, juntando-se aos autos § 3o A Senad poderá firmar convênios de cooperação, a
o recibo. fim de dar imediato cumprimento ao estabelecido no § 2o
§ 4o Após a instauração da competente ação penal, o deste artigo.
Ministério Público, mediante petição autônoma, requererá § 4o Transitada em julgado a sentença condenatória, o
ao juízo competente que, em caráter cautelar, proceda à juiz do processo, de ofício ou a requerimento do Ministério
alienação dos bens apreendidos, excetuados aqueles que a Público, remeterá à Senad relação dos bens, direitos e valo-
União, por intermédio da Senad, indicar para serem coloca- res declarados perdidos em favor da União, indicando, quan-
dos sob uso e custódia da autoridade de polícia judiciária, de to aos bens, o local em que se encontram e a entidade ou o
órgãos de inteligência ou militares, envolvidos nas ações de órgão em cujo poder estejam, para os fins de sua destinação
prevenção ao uso indevido de drogas e operações de repres- nos termos da legislação vigente.
são à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas,
exclusivamente no interesse dessas atividades. Art. 64. A União, por intermédio da Senad, poderá fir-
§ 5o Excluídos os bens que se houver indicado para os mar convênio com os Estados, com o Distrito Federal e
fins previstos no § 4o deste artigo, o requerimento de aliena- com organismos orientados para a prevenção do uso
ção deverá conter a relação de todos os demais bens apreen- indevido de drogas, a atenção e a reinserção social de
didos, com a descrição e a especificação de cada um deles, e usuários ou dependentes e a atuação na repressão à
informações sobre quem os tem sob custódia e o local onde produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas, com
vistas na liberação de equipamentos e de recursos por ela
se encontram.
arrecadados, para a implantação e execução de programas
§ 6o Requerida a alienação dos bens, a respectiva petição
relacionados à questão das drogas.
será autuada em apartado, cujos autos terão tramitação au-
tônoma em relação aos da ação penal principal. TÍTULO V
§ 7o Autuado o requerimento de alienação, os autos se- DA COOPERAÇÃO INTERNACIONAL
rão conclusos ao juiz, que, verificada a presença de nexo de
instrumentalidade entre o delito e os objetos utilizados para Art. 65. De conformidade com os princípios da não-in-
a sua prática e risco de perda de valor econômico pelo decur- tervenção em assuntos internos, da igualdade jurídica e do
so do tempo, determinará a avaliação dos bens relacionados, respeito à integridade territorial dos Estados e às leis e aos
cientificará a Senad e intimará a União, o Ministério Público regulamentos nacionais em vigor, e observado o espírito das
e o interessado, este, se for o caso, por edital com prazo de Convenções das Nações Unidas e outros instrumentos jurí-
5 (cinco) dias. dicos internacionais relacionados à questão das drogas, de
§ 8o Feita a avaliação e dirimidas eventuais divergências que o Brasil é parte, o governo brasileiro prestará, quan-
sobre o respectivo laudo, o juiz, por sentença, homologará o do solicitado, cooperação a outros países e organismos
valor atribuído aos bens e determinará sejam alienados em internacionais e, quando necessário, deles solicitará a
leilão. colaboração, nas áreas de:
§ 9o Realizado o leilão, permanecerá depositada em con- I - intercâmbio de informações sobre legislações,
ta judicial a quantia apurada, até o final da ação penal res- experiências, projetos e programas voltados para ativida-
pectiva, quando será transferida ao Funad, juntamente com des de prevenção do uso indevido, de atenção e de reinser-
os valores de que trata o § 3o deste artigo. ção social de usuários e dependentes de drogas;

98
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

II - intercâmbio de inteligência policial sobre pro- Art. 70. O processo e o julgamento dos crimes previstos
dução e tráfico de drogas e delitos conexos, em especial nos arts. 33 a 37 desta Lei, se caracterizado ilícito transna-
o tráfico de armas, a lavagem de dinheiro e o desvio de pre- cional, são da competência da Justiça Federal.
cursores químicos; Parágrafo único. Os crimes praticados nos Municípios
III - intercâmbio de informações policiais e judiciais que não sejam sede de vara federal serão processados e jul-
sobre produtores e traficantes de drogas e seus precur- gados na vara federal da circunscrição respectiva.
sores químicos.
Art. 71. (VETADO)
TÍTULO VI
DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS Art. 72. Encerrado o processo penal ou arquivado o
inquérito policial, o juiz, de ofício, mediante representação
Art. 66. Para fins do disposto no parágrafo único do art. do delegado de polícia ou a requerimento do Ministério Pú-
1o desta Lei, até que seja atualizada a terminologia da lista
blico, determinará a destruição das amostras guardadas
mencionada no preceito, denominam-se drogas substân-
para contraprova, certificando isso nos autos.
cias entorpecentes, psicotrópicas, precursoras e outras
sob controle especial, da Portaria SVS/MS no 344, de 12
de maio de 1998. Art. 73. A União poderá estabelecer convênios com os
Estados e o com o Distrito Federal, visando à prevenção
Art. 67. A liberação dos recursos previstos na Lei no e repressão do tráfico ilícito e do uso indevido de dro-
7.560, de 19 de dezembro de 1986, em favor de Estados e gas, e com os Municípios, com o objetivo de prevenir o uso
do Distrito Federal, dependerá de sua adesão e respeito às indevido delas e de possibilitar a atenção e reinserção social
diretrizes básicas contidas nos convênios firmados e do de usuários e dependentes de drogas.
fornecimento de dados necessários à atualização do sis-
tema previsto no art. 17 desta Lei, pelas respectivas polícias Art. 74. Esta Lei entra em vigor 45 (quarenta e cinco)
judiciárias. dias após a sua publicação.

Art. 68. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Mu- Art. 75. Revogam-se a Lei no 6.368, de 21 de outubro de
nicípios poderão criar estímulos fiscais e outros, destina- 1976, e a Lei no 10.409, de 11 de janeiro de 2002.
dos às pessoas físicas e jurídicas que colaborem na pre-
venção do uso indevido de drogas, atenção e reinserção
social de usuários e dependentes e na repressão da produ-
ção não autorizada e do tráfico ilícito de drogas. EXERCÍCIOS

Art. 69. No caso de falência ou liquidação extraju- 1. (IBADE/2017 - PC-AC - Agente de Polícia Civil) A
dicial de empresas ou estabelecimentos hospitalares, pena prevista no crime de tráfico de drogas, previsto no art.
de pesquisa, de ensino, ou congêneres, assim como nos 33 da Lei n° 11.343/2006 (Lei de Drogas), é aumentada de
serviços de saúde que produzirem, venderem, adquirirem, um sexto a dois terços, se:
consumirem, prescreverem ou fornecerem drogas ou de a) a natureza, a procedência cia substância ou do pro-
qualquer outro em que existam essas substâncias ou pro- duto apreendido e as circunstâncias do fato evidenciarem
dutos, incumbe ao juízo perante o qual tramite o feito: a intermunicipalidade do delito.
I - determinar, imediatamente à ciência da falência ou
b) a infração tiver sido cometida por funcionários de
liquidação, sejam lacradas suas instalações;
serviço hospitalar, tais como médicos e enfermeiros.
II - ordenar à autoridade sanitária competente a urgen-
c) sua prática envolver ou visar a atingir idoso ou ges-
te adoção das medidas necessárias ao recebimento e
guarda, em depósito, das drogas arrecadadas; tante.
III - dar ciência ao órgão do Ministério Público, para d) a infração tiver sido cometida nas dependências ou
acompanhar o feito. imediações de estabelecimentos prisionais.
§ 1o Da licitação para alienação de substâncias ou pro- e) o autor for reincidente na prática do crime de tráfico
dutos não proscritos referidos no inciso II do caput deste de drogas.
artigo, só podem participar pessoas jurídicas regularmente R: D. É o que prevê a Lei de Drogas: “Art. 40. As penas
habilitadas na área de saúde ou de pesquisa científica que previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei são aumentadas de um
comprovem a destinação lícita a ser dada ao produto a ser sexto a dois terços, se: [...] III - a infração tiver sido cometida
arrematado. nas dependências ou imediações de estabelecimentos pri-
§ 2o Ressalvada a hipótese de que trata o § 3o deste ar- sionais, de ensino ou hospitalares, de sedes de entidades
tigo, o produto não arrematado será, ato contínuo à hasta estudantis, sociais, culturais, recreativas, esportivas, ou be-
pública, destruído pela autoridade sanitária, na presença dos neficentes, de locais de trabalho coletivo, de recintos onde
Conselhos Estaduais sobre Drogas e do Ministério Público. se realizem espetáculos ou diversões de qualquer natureza,
§ 3o Figurando entre o praceado e não arrematadas es- de serviços de tratamento de dependentes de drogas ou
pecialidades farmacêuticas em condições de emprego tera- de reinserção social, de unidades militares ou policiais ou
pêutico, ficarão elas depositadas sob a guarda do Ministério em transportes públicos”.
da Saúde, que as destinará à rede pública de saúde.

99
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

2. (CESPE/2017 - DPU - Defensor Público Federal) Parágrafo único – Não estão sujeitos ao disposto neste
Tendo como referência as disposições da Lei de Drogas (Lei Código:
nº 11.343/2006) e a jurisprudência pertinente, julgue o item
subsecutivo. I – os Coronéis Juízes do Tribunal de Justiça Militar Es-
Situação hipotética: Com o intuito de vender maconha tadual, regidos por legislação específica;
em bairro nobre da cidade onde mora, Mário utilizou o
transporte público para transportar 3 kg dessa droga. An- II – (Vetado);
tes de chegar ao destino, Mário foi abordado por policiais
militares, que o prenderam em flagrante. Assertiva: Nessa a) (Vetado);
situação, Mário responderá por tentativa de tráfico, já que
não chegou a comercializar a droga. b) (Vetado);
R: Errado. O tipo do artigo 33 descreve múltiplas con-
dutas e a prática de mais de uma delas no mesmo contexto c) (Vetado).
implica em crime único. Por isso mesmo, é difícil ocorrer a
tentativa, embora teoricamente seja viável. Art. 3º – A camaradagem é indispensável ao convívio
dos militares, devendo-se preservar as melhores relações
sociais entre eles.

§ 1º – É dever do militar incentivar e manter a harmo-


nia, a solidariedade e a amizade em seu ambiente social,
6. CÓDIGO DE ÉTICA E DISCIPLINA DOS familiar e profissional.
MILITARES DO ESTADO DE MINAS GERAIS –
LEI ESTADUAL 14.310/2002. § 2º – O relacionamento dos militares entre si e com os
civis pautar-se-á pela civilidade, assentada em manifesta-
ções de cortesia, respeito, confiança e lealdade.
Dispõe sobre o Código de Ética e Disciplina dos Milita- Art. 4º – Para efeito deste Código, a palavra coman-
res do Estado de Minas Gerais. dante é a denominação genérica dada ao militar investido
de cargo ou função de direção, comando ou chefia.
(Vide Lei Complementar nº 74, de 8/1/2004.)
Art. 5º – Será classificado com um dos seguintes con-
O Povo do Estado de Minas Gerais, por seus represen- ceitos o militar que, no período de doze meses, tiver re-
tantes, decretou e eu, em seu nome, sanciono a seguinte gistrada em seus assentamentos funcionais a pontuação
Lei: adiante especificada:

I – conceito “A” – cinquenta pontos positivos;


TÍTULO I II – conceito “B” – cinquenta pontos negativos, no má-
ximo;
Disposições Gerais
III – conceito “C” – mais de cinquenta pontos negati-
CAPÍTULO I
vos.
Generalidades
§ 1º – Ao ingressar nas Instituições Militares Estaduais
–IMEs –, o militar será classificado no conceito “B”, com
zero ponto.
Art. 1º – O Código de Ética e Disciplina dos Militares de
Minas Gerais – CEDM – tem por finalidade definir, especifi- § 2º – A cada ano sem punição, o militar receberá dez
car e classificar as transgressões disciplinares e estabelecer pontos positivos, até atingir o conceito “A”.
normas relativas a sanções disciplinares, conceitos, recur-
sos, recompensas, bem como regulamentar o Processo Ad- CAPÍTULO II
ministrativo-Disciplinar e o funcionamento do Conselho de
Ética e Disciplina Militares da Unidade – CEDMU. Princípios de Hierarquia e Disciplina

Art. 2º – Este Código aplica-se: Art. 6º – A hierarquia e a disciplina constituem a base


institucional das IMEs.
I – aos militares da ativa;
§ 1º – A hierarquia é a ordenação da autoridade, em
II – aos militares da reserva remunerada, nos casos ex- níveis diferentes, dentro da estrutura das IMEs.
pressamente mencionados neste Código.

100
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

§ 2º – A disciplina militar é a exteriorização da ética VIII – ser discreto e cortês em suas atitudes, maneiras e
profissional dos militares do Estado e manifesta-se pelo linguagem e observar as normas da boa educação;
exato cumprimento de deveres, em todos os escalões e em
todos os graus da hierarquia, quanto aos seguintes aspec- IX – abster-se de tratar, fora do âmbito apropriado, de
tos: assuntos internos das IMEs ou de matéria sigilosa;

I – pronta obediência às ordens legais; X – cumprir seus deveres de cidadão;

II – observância às prescrições regulamentares; XI – respeitar as autoridades civis e militares;

III – emprego de toda a capacidade em benefício do XII – garantir assistência moral e material à família ou
serviço; contribuir para ela;

IV – correção de atitudes; XIII – preservar e praticar, mesmo fora do serviço ou


quando já na reserva remunerada, os preceitos da ética mi-
V – colaboração espontânea com a disciplina coletiva e litar;
com a efetividade dos resultados pretendidos pelas IMEs.
XIV – exercitar a proatividade no desempenho profis-
Art. 7º – O princípio de subordinação rege todos os sional;
graus da hierarquia militar, em conformidade com o Es-
tatuto dos Militares do Estado de Minas Gerais – EMEMG. XV – abster-se de fazer uso do posto ou da graduação
para obter facilidade pessoal de qualquer natureza ou en-
Art. 8º – O militar que presenciar ou tomar conheci- caminhar negócios particulares ou de terceiros;
mento de prática de transgressão disciplinar comunicará
o fato à autoridade competente, no prazo estabelecido no XVI – abster-se, mesmo na reserva remunerada, do uso
art. 57, nos limites de sua competência. das designações hierárquicas:

a) em atividades liberais, comerciais ou industriais;


CAPÍTULO III b) para discutir ou provocar discussão pela imprensa a
respeito de assuntos institucionais;
Ética Militar
c) no exercício de cargo de natureza civil, na iniciativa
privada;
Art. 9º – A honra, o sentimento do dever militar e a d) em atividades religiosas;
correção de atitudes impõem conduta moral e profissional
irrepreensíveis a todo integrante das IMEs, o qual deve ob- e) em circunstâncias prejudiciais à imagem das IMEs.
servar os seguintes princípios de ética militar:
Parágrafo único – Os princípios éticos orientarão a con-
I – amar a verdade e a responsabilidade como funda- duta do militar e as ações dos comandantes para adequá-
mentos da dignidade profissional; -las às exigências das IMEs, dando-se sempre, entre essas
ações, preferência àquelas de cunho educacional.
II – observar os princípios da Administração Pública, no
exercício das atribuições que lhe couberem em decorrência
Art. 10 – Sempre que possível, a autoridade competen-
do cargo;
te para aplicar a sanção disciplinar verificará a conveniência
III – respeitar a dignidade da pessoa humana; e a oportunidade de substituí-la por aconselhamento ou
advertência verbal pessoal, ouvido o CEDMU.
IV – cumprir e fazer cumprir as leis, códigos, resolu-
ções, instruções e ordens das autoridades competentes;

V – ser justo e imparcial na apreciação e avaliação dos TÍTULO II


atos praticados por integrantes das IMEs;
Transgressões Disciplinares
VI – zelar pelo seu próprio preparo profissional e in-
centivar a mesma prática nos companheiros, em prol do CAPÍTULO I
cumprimento da missão comum;
Definições, Classificações e Especificações
VII – praticar a camaradagem e desenvolver o espírito
de cooperação;

101
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

Art. 11 – Transgressão disciplinar é toda ofensa concre- XI – maltratar ou permitir que se maltrate o preso ou
ta aos princípios da ética e aos deveres inerentes às ativi- a pessoa apreendida sob sua custódia ou deixar de tomar
dades das IMEs em sua manifestação elementar e simples, providências para garantir sua integridade física;
objetivamente especificada neste Código, distinguindo-se
da infração penal, considerada violação dos bens juridica- XII – referir-se de modo depreciativo a outro militar, a
mente tutelados pelo Código Penal Militar ou comum. autoridade e a ato da administração pública;

Art. 12 – A transgressão disciplinar será leve, média ou XIII – autorizar, promover ou tomar parte em manifes-
grave, conforme classificação atribuída nos artigos seguin- tação ilícita contra ato de superior hierárquico ou contrária
tes, podendo ser atenuada ou agravada, consoante a pon- à disciplina militar;
tuação recebida da autoridade sancionadora e a decorren-
XIV – agir de maneira parcial ou injusta quando da
te de atenuantes e agravantes.
apreciação e avaliação de atos, no exercício de sua compe-
tência, causando prejuízo ou restringindo direito de qual-
Art. 13 – São transgressões disciplinares de natureza
quer pessoa;
grave:
XV – dormir em serviço;
I – praticar ato atentatório à dignidade da pessoa ou
que ofenda os princípios da cidadania e dos direitos hu- XVI – retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato
manos, devidamente comprovado em procedimento apu- de ofício;
ratório;
XVII – negar publicidade a ato oficial;
II – concorrer para o desprestígio da respectiva IME,
por meio da prática de crime doloso devidamente compro- XVIII – induzir ou instigar alguém a prestar declaração
vado em procedimento apuratório, que, por sua natureza, falsa em procedimento penal, civil ou administrativo ou
amplitude e repercussão, afete gravemente a credibilidade ameaçá-lo para que o faça;
e a imagem dos militares;
XIX – fazer uso do posto ou da graduação para obter
III – faltar, publicamente, com o decoro pessoal, dando ou permitir que terceiros obtenham vantagem pecuniária
causa a grave escândalo que comprometa a honra pessoal indevida;
e o decoro da classe;
XX – faltar ao serviço.
IV – exercer coação ou assediar pessoas com as quais
mantenha relações funcionais; Art. 14 – São transgressões disciplinares de natureza
média:
V – ofender ou dispensar tratamento desrespeitoso,
vexatório ou humilhante a qualquer pessoa; I – executar atividades particulares durante o serviço;

VI – apresentar-se com sinais de embriaguez alcoólica II – demonstrar desídia no desempenho das funções,
ou sob efeito de outra substância entorpecente, estando caracterizada por fato que revele desempenho insuficiente,
desconhecimento da missão, afastamento injustificado do
em serviço, fardado, ou em situação que cause escândalo
local ou procedimento contrário às normas legais, regula-
ou que ponha em perigo a segurança própria ou alheia;
mentares e a documentos normativos, administrativos ou
operacionais;
VII – praticar ato violento, em situação que não carac-
terize infração penal; III – deixar de cumprir ordem legal ou atribuir a outrem,
fora dos casos previstos em lei, o desempenho de atividade
VIII – divulgar ou contribuir para a divulgação de as-
que lhe competir;
sunto de caráter sigiloso de que tenha conhecimento em
razão do cargo ou função; IV – assumir compromisso em nome da IME ou repre-
sentá-la indevidamente;
IX – utilizar-se de recursos humanos ou logísticos do
Estado ou sob sua responsabilidade para satisfazer a inte- V – usar indevidamente prerrogativa inerente a inte-
resses pessoais ou de terceiros; grante das IMEs;
X – exercer, em caráter privado, quando no serviço VI – descumprir norma técnica de utilização e manu-
ativo, diretamente ou por interposta pessoa, atividade ou seio de armamento ou equipamento;
serviço cuja fiscalização caiba à Polícia Militar ou ao Corpo
de Bombeiros Militar ou que se desenvolva em local sujeito VII – faltar com a verdade, na condição de testemunha,
à sua atuação; ou omitir fato do qual tenha conhecimento, assegurado o
exercício constitucional da ampla defesa;

102
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

VIII – deixar de providenciar medida contra irregularida- VI – fumar em local onde esta prática seja legalmente
de de que venha a tomar conhecimento ou esquivar-se de vedada;
tonar providências a respeito de ocorrência no âmbito de
suas atribuições; VII – permutar serviço sem permissão da autoridade
competente.
IX – utilizar-se do anonimato ou envolver indevidamen-
te o nome de outrem para esquivar-se de responsabilidade; CAPÍTULO II

X – danificar ou inutilizar, por uso indevido, negligência, Julgamento da Transgressão


imprudência ou imperícia, bem da administração pública de
que tenha posse ou seja detentor; Art. 16 – O julgamento da transgressão será precedido
de análise que considere:
XI – deixar de observar preceito legal referente a trata-
mento, sinais de respeito e honras militares, definidos em I – os antecedentes do transgressor;
normas específicas;
II – as causas que a determinaram;
XII – contribuir para a desarmonia entre os integrantes
das respectivas IMEs, por meio da divulgação de notícia, co- III – a natureza dos fatos ou dos atos que a envolveram;
mentário ou comunicação infundados;
IV – as consequências que dela possam advir.
XIII – manter indevidamente em seu poder bem de ter-
ceiro ou da Fazenda Pública; Art. 17 – No julgamento da transgressão, serão apura-
das as causas que a justifiquem e as circunstâncias que a
XIV – maltratar ou não ter o devido cuidado com os atenuem ou agravem.
bens semoventes das IMEs;
Parágrafo único – A cada atenuante será atribuído um
XV – deixar de observar prazos regulamentares; ponto positivo e a cada agravante, um ponto negativo.

XVI – comparecer fardado a manifestação ou reunião Art. 18 – Para cada transgressão, a autoridade aplica-
de caráter político-partidário, exceto a serviço; dora da sanção atribuirá pontos negativos dentro dos se-
guintes parâmetros:
XVII – recusar-se a identificar-se quando justificada-
mente solicitado; I – de um a dez pontos para infração de natureza leve;

XVIII – não portar etiqueta de identificação quando em II – de onze a vinte pontos para infração de natureza
serviço, salvo se previamente autorizado, em operações po- média;
liciais específicas;
III – de vinte e um a trinta pontos para infração de na-
XIX – participar, o militar da ativa, de firma comercial ou tureza grave.
de empresa industrial de qualquer natureza, ou nelas exer-
cer função ou emprego remunerado. § 1º – Para cada transgressão, a autoridade aplicadora
tomará por base a seguinte pontuação, sobre a qual incidi-
Art. 15 – São transgressões disciplinares de natureza rão, se existirem, as atenuantes e agravantes:
leve:
I – cinco pontos para transgressão de natureza leve;
I – chegar injustificadamente atrasado para qualquer
ato de serviço de que deva participar; II – quinze pontos para transgressão de natureza mé-
dia;
II – deixar de observar norma específica de apresenta-
ção pessoal definida em regulamentação própria; III – vinte e cinco pontos para transgressão de natureza
grave.
III – deixar de observar princípios de boa educação e
correção de atitudes; § 2º – Com os pontos atribuídos, far-se-á a computa-
ção dos pontos correspondentes às atenuantes e às agra-
IV – entrar ou tentar entrar em repartição ou acessar ou vantes, bem como da pontuação prevista no art. 51, reclas-
tentar acessar qualquer sistema informatizado, de dados ou sificando-se a transgressão, se for o caso.
de proteção, para o qual não esteja autorizado;
Art. 19 – São causas de justificação:
V – retardar injustificadamente o cumprimento de or-
dem ou o exercício de atribuição; I – motivo de força maior ou caso fortuito, plenamente
comprovado;

103
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

II – evitar mal maior, dano ao serviço ou à ordem pública; b) com abuso de autoridade hierárquica ou funcional;

III – ter sido cometida a transgressão: c) estando fardado e em público;

a) na prática de ação meritória; d) com induzimento de outrem à prática de transgres-


sões mediante concurso de pessoas;
b) em estado de necessidade;
e) com abuso de confiança inerente ao cargo ou fun-
c) em legítima defesa própria ou de outrem; ção;

d) em obediência a ordem superior, desde que mani- f) por motivo egoístico ou para satisfazer interesse pes-
festamente legal; soal ou de terceiros;

e) no estrito cumprimento do dever legal; g) para acobertar erro próprio ou de outrem;

f) sob coação irresistível. h) com o fim de obstruir ou dificultar apuração admi-


nistrativa, policial ou judicial, ou o esclarecimento da ver-
Parágrafo único – Não haverá punição, quando for re- dade.
conhecida qualquer causa de justificação.
Art. 22 – Obtido o somatório de pontos, serão aplica-
Art. 20 – São circunstâncias atenuantes: das as seguintes sanções disciplinares:

I – estar classificado no conceito “A”; I – de um a quatro pontos, advertência;

II – ter prestado serviços relevantes; II – de cinco a dez pontos, repreensão;

III – ter o agente confessado espontaneamente a auto- III – de onze vinte pontos, prestação de serviço;
ria da transgressão, quando esta for ignorada ou imputada
a outrem; IV – de vinte e um a trinta pontos, suspensão.

IV – ter o transgressor procurado diminuir as conse-


quências da transgressão, antes da sanção, reparando os
danos; TÍTULO III

V – ter sido cometida a transgressão: Sanções Disciplinares

a) para evitar consequências mais danosas que a pró- CAPÍTULO I


pria transgressão disciplinar;
Natureza e Amplitude
b) em defesa própria, de seus direitos ou de outrem,
desde que isso não constitua causa de justificação;
Art. 23 – A sanção disciplinar objetiva preservar a disci-
c) por falta de experiência no serviço;
plina e tem caráter preventivo e educativo.
d) por motivo de relevante valor social ou moral. Art. 24 – Conforme a natureza, a gradação e as circuns-
tâncias da transgressão, serão aplicáveis as seguintes san-
Art. 21 – São circunstâncias agravantes:
ções disciplinares:
I – estar classificado no conceito “C”;
I – advertência;
II – prática simultânea ou conexão de duas ou mais
II – repreensão;
transgressões;
III – prestação de serviços de natureza preferencial-
III – reincidência de transgressões, ressalvado o dispos- mente operacional, correspondente a um turno de serviço
to no art. 94; semanal, que não exceda a oito horas;
IV – conluio de duas ou mais pessoas; IV – suspensão, de até dez dias;
V – cometimento da transgressão: V – reforma disciplinar compulsória;
a) durante a execução do serviço; VI – demissão;

104
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

VII – perda do posto, patente ou graduação do militar § 3º – A disponibilidade cautelar assegura ao militar a
da reserva. percepção de vencimento e vantagens integrais do cargo.

Art. 25 – Poderão ser aplicadas, independentemente


das demais sanções ou cumulativamente com elas, as se-
guintes medidas: CAPÍTULO III

I – cancelamento de matrícula, com desligamento de Execução


curso, estágio ou exame;

II – destituição de cargo, função ou comissão;


Art. 28 – A advertência consiste em uma admoestação
III – movimentação de unidade ou fração. verbal ao transgressor.

§ 1º – Quando se tratar de falta ou abandono ao ser- Art. 29 – A repreensão consiste em uma censura formal
viço ou expediente, o militar perderá os vencimentos cor- ao transgressor.
respondentes aos dias em que se verificar a transgressão,
independentemente da sanção disciplinar. Art. 30 – A prestação de serviço consiste na atribuição
ao militar de tarefa, preferencialmente de natureza opera-
§ 2º – As sanções disciplinares de militares serão pu- cional, fora de sua jornada habitual, correspondente a um
blicadas em boletim reservado, e o transgressor notificado turno de serviço semanal, que não exceda a oito horas, sem
pessoalmente, sendo vedada a sua divulgação ostensiva, remuneração extra.
salvo quando o conhecimento for imprescindível ao caráter
educativo da coletividade, assim definido pelo CEDMU. Art. 31 – A suspensão consiste em uma interrupção
temporária do exercício de cargo, encargo ou função, não
podendo exceder a dez dias, observado o seguinte:
CAPÍTULO II I – os dias de suspensão não serão remunerados;
Disponibilidade Cautelar II – o militar suspenso perderá todas as vantagens e di-
reitos decorrentes do exercício do cargo, encargo ou função.

Parágrafo único – A aplicação da suspensão obedece-


Art. 26 – O Corregedor da IME, o Comandante da Uni- rá aos seguintes parâmetros, conforme o total de pontos
dade, o Conselho de Ética e Disciplina Militares da Unidade apurados:
– CEDMU –, o Presidente da Comissão de Processo Admi-
nistrativo-Disciplinar e o Encarregado de Inquérito Policial I – de vinte e um a vinte e três pontos, até três dias;
Militar – IPM – poderão solicitar ao Comandante-geral a
disponibilidade cautelar do militar. II – de vinte e quatro a vinte e cinco pontos, até cinco dias;
Art. 27 – Por ato fundamentado de competência inde- III – de vinte e seis a vinte e oito pontos, até oito dias;
legável do Comandante-geral, o militar poderá ser colo-
cado em disponibilidade cautelar, nas seguintes hipóteses: IV – de vinte e nove a trinta pontos, até dez dias.
I – quando der causa a grave escândalo que compro- Art. 32 – A reforma disciplinar compulsória consiste em
meta o decoro da classe e a honra pessoal; uma medida excepcional, de conveniência da administra-
ção, que culmina no afastamento do militar, de ofício, do
II – quando acusado de prática de crime ou de ato ir- serviço ativo da Corporação, pelo reiterado cometimento
regular que efetivamente concorra para o desprestígio das
de faltas ou pela sua gravidade, quando contar pelo menos
IMEs e dos militares.
quinze anos de efetivo serviço.
§ 1º – Para declaração da disponibilidade cautelar, é
Parágrafo único – Não poderá ser reformado discipli-
imprescindível a existência de provas da conduta irregular
narmente o militar que:
e indícios suficientes de responsabilidade do militar.
I – estiver indiciado em inquérito ou submetido a pro-
§ 2º – A disponibilidade cautelar terá duração e local
cesso por crime contra o patrimônio público ou particular;
de cumprimento determinado pelo Comandante-geral, e
como pressuposto a instauração de procedimento apura-
II – tiver sido condenado a pena privativa de liberdade
tório, não podendo exceder o período de quinze dias, pror-
superior a dois anos, transitada em julgado, na Justiça Co-
rogável por igual período, por ato daquela autoridade, em
mum ou Militar, ou estiver cumprindo pena;
casos de reconhecida necessidade.

105
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

III – cometer ato que afete a honra pessoal, a ética mi- Art. 37 – A perda da graduação consiste no desliga-
litar ou o decoro da classe, nos termos do inciso II do art. mento dos quadros das IMEs.
64, assim reconhecido em decisão de Processo Administra-
tivo-Disciplinar. Art. 38 – Será aplicado o cancelamento de matrícula,
com desligamento de curso, estágio ou exame, conforme
Art. 33 – A demissão consiste no desligamento de mi- dispuser a norma escolar própria, aos discentes de cursos
litar da ativa dos quadros da IME, nos termos do EMEMG das IMEs, observado o disposto no art. 34 ou no art. 64,
e deste Código. dependendo de seu tempo de efetivo serviço.

Parágrafo único – A demissão pune determinada trans- Art. 39 – O discente das IMEs que era civil quando de
gressão ou decorre da incorrigibilidade do transgressor sua admissão, ao ter cancelada sua matrícula e ser desliga-
contumaz, cujo histórico e somatório de sanções indiquem do do curso, observando-se o disposto no art. 34 ou no art.
sua inadaptabilidade ou incompatibilidade ao regime dis- 64, será também excluído da Instituição.
ciplinar da Instituição.
Art. 40 – Quando o militar incorrer em ato incompatível
Art. 34 – Ressalvado o disposto no § 1º do art. 42 da com o exercício do cargo, função ou comissão, será desti-
Constituição da República, a demissão de militar da ativa tuído, independentemente da aplicação de sanção discipli-
com menos de três anos de efetivo serviço, assegurado o nar, nos termos do inciso II do art. 25.
direito à ampla defesa e ao contraditório, será precedida
de Processo Administrativo-Disciplinar Sumário – PADS –,
instaurado quando da ocorrência das situações a seguir re-
lacionadas: CAPÍTULO IV

I – reincidência em falta disciplinar de natureza grave, Regras de Aplicação


para o militar classificado no conceito “C”;

II – prática de ato que afete a honra pessoal ou o de-


coro da classe, independentemente do conceito do militar. Art. 41 – A sanção será aplicada com justiça, serenida-
de, imparcialidade e isenção.
Art. 35 – No PADS, as razões escritas de defesa deverão
ser apresentadas pelo acusado ou seu procurador legal- Art. 42 – O ato administrativo-disciplinar conterá:
mente constituído, no prazo de cinco dias úteis do final da
instrução. I – a transgressão cometida, em termos concisos, com
relato objetivo dos fatos e atos ensejadores da transgres-
§ 1º – É assegurada a participação da defesa na instru- são;
ção, por meio do requerimento da produção das provas
que se fizerem necessárias, cujo deferimento ficará a cri- II – a síntese das alegações de defesa do militar;
tério da autoridade processante, e do arrolamento de até
cinco testemunhas. III – a conclusão da autoridade e a indicação expressa
dos artigos e dos respectivos parágrafos, incisos, alíneas e
§ 2º – O acusado e seu defensor serão notificados, por números, quando couber, da lei ou da norma em que se
escrito, com antecedência mínima de vinte e quatro horas enquadre o transgressor e em que se tipifiquem as circuns-
de todos os atos instrutórios, sendo que, no caso de seu tâncias atenuantes e agravantes, se existirem;
interrogatório, esse prazo será de quarenta e oito horas.
IV – a classificação da transgressão;
§ 3º – É permitido à defesa, no momento da qualifi-
cação, contraditar a testemunha, bem como, ao final do V – a sanção imposta;
depoimento, formular perguntas por intermédio da autori-
dade processante. VI – a classificação do conceito que passa a ter ou em
que permanece o transgressor.
§ 4º – Aplicam-se ao PADS, no que couber, as normas
do Processo Administrativo-Disciplinar. Art. 43 – O militar será formalmente cientificado de sua
classificação no conceito “C”.
§ 5º – O prazo para conclusão do processo sumário
será de vinte dias, prorrogável por mais dez dias. Art. 44 – O cumprimento da sanção disciplinar por mi-
litar afastado do serviço ocorrerá após sua apresentação,
Art. 36 – A demissão de militar da ativa com no míni- pronto, na unidade.
mo três anos de efetivo serviço ocorrerá por proposta da
Comissão de Processo Administrativo-Disciplinar – CPAD –,
ressalvado o disposto no § 1º do art. 42 da Constituição da
República.

106
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

CAPÍTULO V § 3º – A competência de que trata este artigo e seus


§ § 1º e 2º será exercida também pelo Corregedor da res-
Competência para Aplicação pectiva IME.

Art. 47 – As autoridades mencionadas nos incisos I e II


do art. 45 são competentes para aplicar sanção disciplinar
Art. 45 – A competência para aplicar sanção disciplinar, a militar que estiver à disposição ou a serviço de órgão do
no âmbito da respectiva IME, é atribuição inerente ao cargo poder público, independentemente da competência da au-
e não ao grau hierárquico, sendo deferida: toridade sob cujas ordens estiver servindo para aplicar-lhe
a sanção legal por infração funcional.
I – ao Governador do Estado e Comandante-geral, em
relação àqueles que estiverem sujeitos a este Código; Parágrafo único – A autoridade que tiver de ouvir mi-
litar ou que lhe houver aplicado sanção disciplinar requi-
II – ao Chefe do Estado-Maior, na qualidade de Subco- sitará a apresentação do infrator, devendo tal requisição
mandante da Corporação, em relação aos militares que lhe
ser atendida no prazo de cinco dias após seu recebimento.
são subordinados hierarquicamente;

III – ao Corregedor da IME, em relação aos militares su-


jeitos a este Código, exceto o Comandante-geral, o Chefe CAPÍTULO VI
do Estado-Maior e o Chefe do Gabinete Militar;
Anulação
IV – ao Chefe do Gabinete Militar, em relação aos que
servirem sob sua chefia ou ordens;

V – aos Diretores e Comandantes de Unidades de Co- Art. 48 – A anulação da punição consiste em tornar to-
mando Intermediário, em relação aos que servirem sob sua talmente sem efeito o ato punitivo, desde sua publicação,
direção, comando ou ordens, dentro do respectivo sistema ouvido o Conselho de Ética e Disciplina da Unidade.
hierárquico;
§ 1º – Na hipótese de comprovação de ilegalidade ou
VI – aos Comandantes de Unidade, Chefes de Centro
injustiça, no prazo máximo de cinco anos da aplicação da
e Chefes de Seção do Estado-Maior, em relação aos que
sanção, o ato punitivo será anulado.
servirem sob seu comando ou chefia.
§ 2º – A anulação da punição eliminará todas as ano-
§ 1º – Além das autoridades mencionadas nos incisos
tações nos assentamentos funcionais relativos à sua apli-
I, II e III deste artigo, compete ao Corregedor ou corres-
cação.
pondente, na Capital, a aplicação de sanções disciplinares
a militares inativos.
Art. 49 – São competentes para anular as sanções im-
§ 2º – A competência descrita no parágrafo anterior postas por elas mesmas ou por seus subordinados as auto-
é dos Comandantes de Comandos Intermediários e de ridades discriminadas no art. 45.
Unidades, na respectiva região ou área, exceto, em ambos
os casos, quanto aos oficiais inativos do último posto das
IMEs.
TÍTULO IV
Art. 46 – Quando a ocorrência disciplinar envolver mi-
Recompensas
litares de mais de uma Unidade, caberá ao Comandante
imediatamente superior, na linha de subordinação, apurar
CAPÍTULO I
ou determinar a apuração dos fatos, adotar as medidas dis-
ciplinares de sua competência ou transferir para a autori- Definições e Especificações
dade competente o que lhe escapar à alçada.

§ 1º – Quando duas autoridades de postos diferentes,


ambas com ação disciplinar sobre o militar, conhecerem Art. 50 – Recompensas são prêmios concedidos aos
da falta, competirá à de posto mais elevado punir, salvo se militares em razão de atos meritórios, serviços relevantes e
esta entender que a punição cabe nos limites da compe- inexistência de sanções disciplinares.
tência da outra autoridade.
§ 1º – Além de outras previstas em leis e regulamentos
§ 2º – No caso de ocorrência disciplinar na qual se en- especiais, são recompensas militares:
volvam militar das Forças Armadas e militares estaduais, a
autoridade competente das IMEs deverá tomar as medidas I – elogio;
disciplinares referentes àqueles que lhe são subordinados.

107
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

II – dispensa de serviço; III – o Chefe do Estado-Maior, as recompensas previs-


tas no § 1º do art. 50, sendo a dispensa de serviço por até
III – cancelamento de punições; quinze dias;

IV – consignação de nota meritória nos assentamentos IV – as autoridades especificadas nos incisos III a VI do
do militar, por atos relevantes relacionados com a ativida- art. 45, as recompensas previstas no § 1º do art. 50, sendo
de profissional, os quais não comportem outros tipos de a dispensa de serviço por até dez dias;
recompensa.
V – o Comandante de Companhia e Pelotão destaca-
§ 2º – A dispensa de que trata o inciso II do § 1º será dos, dispensa de serviço por até três dias.
formalizada em documento escrito em duas vias, sendo a
segunda entregue ao beneficiário.

Art. 51– As recompensas, regulamentadas em normas CAPÍTULO III


específicas, serão pontuadas positivamente, conforme a
natureza e as circunstâncias dos fatos que as originaram, Ampliação, Restrição e Anulação
nos seguintes limites:

I – elogio individual: cinco pontos cada;


Art. 53 – A recompensa dada por uma autoridade pode
II – nota meritória: três pontos cada; ser ampliada, restringida ou anulada por autoridade supe-
rior, que motivará seu ato.
III – comendas concedidas pela instituição:
Parágrafo único – Quando o serviço ou ato meritório
a) Alferes Tiradentes na Polícia Militar de Minas Gerais prestado pelo militar ensejar recompensa que escape à al-
– PMMG – ou equivalente no Corpo de Bombeiros Militar çada de uma autoridade, esta diligenciará a respectiva con-
de Minas Gerais – CBMMG: três pontos; cessão perante a autoridade superior competente.
b) Mérito Profissional: três pontos;

c) Mérito Militar: três pontos; CAPÍTULO IV


d) Guimarães Rosa na PMMG ou equivalente no CB- Regras para Concessão
MMG: três pontos.

§ 1º – A pontuação a que se refere este artigo tem vali-


dade por doze meses a partir da data da concessão. Art. 54 – A concessão das recompensas está subordina-
da às seguintes prescrições:
§ 2º – A concessão das recompensas de que trata o
“caput” deste artigo será fundamentada, ouvido o CEDMU. I – só se registram nos assentamentos dos militares os
elogios e as notas meritórias obtidos no desempenho de
atividades próprias das IMEs e concedidos ou homologa-
CAPÍTULO II dos por autoridades competentes;

Competência para Concessão II – salvo por motivo de força maior, não se concederá
a recompensa prevista no inciso II do § 1º do art. 50 a dis-
centes, durante o período letivo, nem a militar, durante o
período de manobras ou em situações extraordinárias;
Art. 52 – A concessão de recompensa é função ineren-
te ao cargo e não ao grau hierárquico, sendo competente III – a dispensa de serviço é concedida por dias de vinte
para fazê-la aos militares que se achem sob o seu Coman- e quatro horas, contadas da hora em que o militar come-
do: çou a gozá-la.

I – o Governador do Estado, as previstas nos incisos I, Art. 55 – A dispensa de serviço, para ser gozada fora da
III e IV do § 1º do art. 50 e as que lhe são atribuídas em leis sede, fica condicionada às mesmas regras da concessão de
ou códigos; férias previstas no EMEMG.

II – o Comandante-geral, as previstas no § 1º do art. 50,


sendo a dispensa de serviço por até vinte dias;

108
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

TÍTULO V CAPÍTULO III


Comunicação e Queixa Disciplinares
Recurso Disciplinar
CAPÍTULO I

Comunicação Disciplinar
Art. 59 – Interpor, na esfera administrativa, recurso
disciplinar é direito do militar que se sentir prejudicado,
Art. 56 – A comunicação disciplinar é a formalização ofendido ou injustiçado por qualquer ato ou decisão ad-
escrita, assinada por militar e dirigida à autoridade compe- ministrativa.
tente, acerca de ato ou fato contrário à disciplina.
Art. 60 – Da decisão que aplicar sanção disciplinar ca-
§ 1º – A comunicação será clara, concisa e precisa, sem berá recurso à autoridade superior, com efeito suspensivo,
comentários ou opiniões pessoais, e conterá os dados que no prazo de cinco dias úteis, contados a partir do primeiro
permitam identificar o fato e as pessoas ou coisas envolvi- dia útil posterior ao recebimento da notificação pelo mili-
das, bem como o local, a data e a hora da ocorrência. tar.

§ 2º – A comunicação deve ser a expressão da verdade, Parágrafo único – Da decisão que avaliar o recurso ca-
cabendo à autoridade a quem for dirigida encaminhá-la ao berá novo recurso no prazo de cinco dias úteis.
acusado, para que, no prazo de cinco dias úteis, apresente
as suas alegações de defesa por escrito. Art. 61 – O recurso disciplinar, encaminhado por inter-
médio da autoridade que aplicou a sanção, será dirigido
Art. 57 – A comunicação será apresentada no prazo de à autoridade imediatamente superior àquela, por meio de
cinco dias úteis contados da observação ou do conheci- petição ou requerimento, contendo os seguintes requisi-
mento do fato. tos:
§ 1º – A administração encaminhará a comunicação ao
I – exposição do fato e do direito;
acusado mediante notificação formal para que este apre-
sente as alegações de defesa no prazo improrrogável de
II – as razões do pedido de reforma da decisão.
cinco dias úteis.

§ 2º – A inobservância injustificada do prazo previsto Parágrafo único – Recebido o recurso disciplinar, a


no § 1º não inviabilizará os trabalhos da autoridade, ope- autoridade que aplicou a sanção poderá reconsiderar a
rando-se os efeitos da revelia. sua decisão, no prazo de cinco dias, ouvido o CEDMU, se
entender procedente o pedido, e, caso contrário, encami-
nhá-lo-á ao destinatário, instruído com os argumentos e
CAPÍTULO II documentação necessários.

Queixa Disciplinar Art. 62 – A autoridade imediatamente superior proferi-


rá decisão em cinco dias úteis, explicitando o fundamento
legal, fático e a finalidade.
Art. 58 – Queixa é a comunicação interposta pelo mi-
litar diretamente atingido por ato pessoal que repute irre-
gular ou injusto. TÍTULO VI
§ 1º – A apresentação da queixa será feita no prazo Processo Administrativo-Disciplinar
máximo de cinco dias úteis, a contar da data do fato, e
encaminhada por intermédio da autoridade a quem o que- CAPÍTULO I
relante estiver diretamente subordinado.
Destinação e Nomeação
§ 2º – A autoridade de que trata o § 1º terá prazo de
três dias para encaminhar a queixa, sob pena de incorrer no
disposto no inciso XVI do art. 13 desta lei.
Art. 63 – A Comissão de Processo Administrativo-Disci-
§ 3º – Por decisão da autoridade superior e desde que
plinar – CPAD – é destinada a examinar e dar parecer, me-
haja solicitação do querelante, este poderá ser afastado da
diante processo especial, sobre a incapacidade de militar
subordinação direta da autoridade contra quem formulou
a queixa, até que esta seja decidida. para permanecer na situação de atividade ou inatividade
nas IMEs, tendo como princípios o contraditório e a ampla
§ 4º – Na formulação da queixa, será observado o dis- defesa.
posto no art. 56.

109
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

Art. 64 – Será submetido a Processo Administrativo- V – Quadro de Praças Bombeiros Militares – QPBM.
-Disciplinar o militar, com no mínimo três anos de efetivo
serviço, que: § 2º – O oficial do QOPM ou QOBM, de maior posto
ou mais antigo, será o presidente; o militar de menor grau
I – vier a cometer nova falta disciplinar grave, se classi- hierárquico ou mais moderno, o escrivão; o que o preceder,
ficado no conceito “C”; o interrogante e relator do processo.

II – praticar ato que afete a honra pessoal ou o decoro § 3º – Fica impedido de atuar na mesma Comissão o
da classe, independentemente do conceito em que estiver militar que:
classificado.
I – tiver comunicado o fato motivador da convocação
Paragrafo único – Para fins do disposto no inciso II ou tiver sido encarregado do inquérito policial-militar, auto
do caput, consideram-se atos que afetam a honra pessoal de prisão em flagrante ou sindicância sobre o fato acusa-
ou o decoro da classe: tório;

I – praticar ato atentatório à dignidade da pessoa ou que II – tenha emitido parecer sobre a acusação;
ofenda os princípios da cidadania e dos direitos humanos,
devidamente comprovado em procedimento apuratório; III – estiver submetido a Processo Administrativo-Dis-
ciplinar;
II – concorrer para o desprestígio da respectiva IME,
por meio da prática de crime doloso, devidamente com- IV – tenha parentesco consanguíneo ou afim, em linha
provado em procedimento apuratório, que, por sua natu- ascendente, descendente ou colateral, até o 4º grau, com
reza, amplitude e repercussão, afete gravemente a credibi- quem fez a comunicação ou realizou a apuração ou com o
lidade e a imagem dos militares; acusado.

III – faltar publicamente, fardado, de folga ou em servi- § 4º – Ficam sob suspeição para atuar na mesma Co-
ço, com o decoro pessoal, dando causa a grave escândalo missão os militares que:
que comprometa a honra pessoal e o decoro da classe;
I – sejam inimigos ou amigos íntimos do acusado;
IV – exercer coação ou assediar pessoas com as quais
mantenha relações funcionais; II – tenham particular interesse na decisão da causa.

V – fazer uso do posto ou da graduação para obter § 5º – O militar que se enquadrar em qualquer dos inci-
ou permitir que terceiros obtenham vantagem pecuniária sos dos §§ 3º e 4º suscitará seu impedimento ou suspeição
indevida. antes da reunião de instalação da Comissão.

(Parágrafo acrescentado pelo art. 1º da Lei nº 22.504, Art. 67 – Havendo arguição de impedimento ou sus-
de 31/5/2017.) peição de membro da CPAD, a situação será resolvida pela
autoridade convocante.
Art. 65 – A CPAD será nomeada e convocada:
§ 1º – A arguição de impedimento poderá ser feita a
I – pelo Comandante Regional ou autoridade com atri- qualquer tempo e a de suspeição até o término da primeira
buição equivalente; reunião, sob pena de decadência, salvo quando fundada
em motivo superveniente.
II – pelo Chefe do Estado-Maior, ou por sua determinação;
§ 2º – Não constituirá causa de anulação ou nulidade
III – pelo Corregedor da IME. do processo ou de qualquer de seus atos a participação
de militar cuja suspeição não tenha sido arguida no prazo
Art. 66 – A CPAD compõe-se de três militares de maior grau estipulado no § 1º, exceto em casos de comprovada má-fé.
hierárquico ou mais antigos que o submetido ao processo.

§ 1º – Poderão compor a CPAD integrantes dos seguin- CAPÍTULO II


tes quadros:
Peças Fundamentais do Processo
I – Quadro de Oficiais Policiais Militares – QOPM –;

II – Quadro de Oficiais Bombeiros Militares – QOBM –;


Art. 68 – São peças fundamentais do processo:
III – Quadro de Oficiais Administrativos – QOA –;
I – a autuação;
IV – Quadro de Praças Policiais Militares – QPPM –;
II – a portaria;

110
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

III – a notificação do acusado e de seu defensor, para a CAPÍTULO III


reunião de instalação e interrogatório;
Funcionamento do Processo
IV – a juntada da procuração do defensor e, no caso de
insanidade mental, do ato de nomeação do seu curador;

V – o compromisso da CPAD; Art. 70 – A CPAD, no funcionamento do processo, aten-


derá ao seguinte:
VI – o interrogatório, salvo o caso de revelia ou deser-
ção do acusado; I – funcionará no local que seu presidente julgar me-
lhor indicado para a apuração e análise do fato;
VII – a defesa prévia do acusado, nos termos do §1º
deste artigo; II – examinará e emitirá seu parecer, no prazo de qua-
renta dias, o qual, somente por motivos excepcionais, po-
VIII – os termos de inquirição de testemunhas;
derá ser prorrogado pela autoridade convocante, por até
IX – as atas das reuniões da CPAD; vinte dias;

X – as razões finais de defesa do acusado; III – exercerá suas atribuições sempre com a totalidade
de seus membros;
XI – o parecer da Comissão, que será datilografado ou
digitado e assinado por todos os membros, que rubricarão IV – marcará, preliminarmente, a reunião de instalação
todas as suas folhas. no prazo de dez dias, a contar da data de publicação da
portaria, por meio de seu presidente, o qual notificará o
§ 1º – O acusado e seu representante legal devem ser militar da acusação que lhe é feita, da data, hora e local da
notificados para apresentar defesa prévia, sendo obrigató- reunião, com até quarenta e oito horas de antecedência,
ria a notificação por edital quando o primeiro for declarado fornecendo-lhe cópia da portaria e dos documentos que a
revel ou não for encontrado. acompanham;
§ 2º – A portaria a que se refere o inciso II deste artigo V – a reunião de instalação terá a seguinte ordem:
conterá a convocação da Comissão e o libelo acusatório,
sendo acompanhada do Extrato dos Registros Funcionais a) o presidente da Comissão prestará o compromisso,
– ERF – do acusado e dos documentos que fundamentam em voz alta, de pé e descoberto, com as seguintes palavras:
a acusação. “Prometo examinar, cuidadosamente, os fatos que me fo-
rem submetidos e opinar sobre eles, com imparcialidade e
§ 3º – Quando o acusado for militar da reserva remune-
justiça”, ao que, em idêntica postura, cada um dos outros
rada e não for localizado ou deixar de atender à notificação
escrita para comparecer perante a CPAD, observar-se-ão os membros confirmará: “Assim o prometo”;
seguintes procedimentos:
b) o escrivão autuará todos os documentos apresenta-
I – a notificação será publicada em órgão de divulga- dos, inclusive os oferecidos pelo acusado;
ção na área do domicílio do acusado ou no órgão oficial
dos Poderes do Estado; c) será juntada aos autos a respectiva procuração con-
cedida ao defensor constituído pelo acusado;
II – o processo correrá à revelia, se o acusado não aten-
der à publicação no prazo de trinta dias; VI – as razões escritas de defesa deverão ser apresen-
tadas pelo acusado ou seu procurador legalmente consti-
III – será designado curador em favor do revel. tuído, no prazo de cinco dias úteis, no final da instrução;

Art. 69 – A nulidade do processo ou de qualquer de VII – se o processo ocorrer à revelia do acusado, ser-
seus atos verificar-se-á quando existir comprovado cercea- -lhe-á nomeado curador pelo presidente;
mento de defesa ou prejuízo para o acusado, decorrente
de ato, fato ou omissão que configure vício insanável. VIII – nas reuniões posteriores, proceder-se-á da se-
guinte forma:
§ 1º – Os membros da CPAD manifestar-se-ão imedia-
tamente à autoridade convocante sobre qualquer nulidade a) o acusado e o seu defensor serão notificados, por
que não tenham conseguido sanar, para que a autoridade escrito, com antecedência mínima de quarenta e oito horas,
convocante mande corrigir a irregularidade ou arquivar o exceto quando já tiverem sido intimados na reunião ante-
processo. rior, observado o interstício mínimo de vinte e quatro horas
entre o término de uma reunião e a abertura de outra;
§ 2º – A nulidade de um ato acarreta a de outros suces-
sivos dele dependentes.

111
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

b) o militar que, na reunião de instalação, se seguir ao XV – findo o prazo para apresentação das razões es-
presidente em hierarquia ou antiguidade procederá ao in- critas de defesa, à vista das provas dos autos, a Comissão
terrogatório do acusado; se reunirá para emitir parecer sobre a procedência total
ou parcial da acusação ou sua improcedência, propondo
c) ao acusado é assegurado, após o interrogatório, pra- as medidas cabíveis entre as previstas no art. 74;
zo de cinco dias úteis para oferecer sua defesa prévia e o
rol de testemunhas; XVI – na reunião para deliberação dos trabalhos da
Comissão, será facultado ao defensor do acusado assistir
d) o interrogante inquirirá, sucessiva e separadamente, à votação, devendo ser notificado pelo menos quarenta e
as testemunhas que a Comissão julgar necessárias ao es- oito horas antes da data de sua realização;
clarecimento da verdade e as apresentadas pelo acusado,
estas limitadas a cinco, salvo nos casos em que a portaria XVII – o parecer da Comissão será posteriormente re-
for motivada em mais de um fato, quando o limite máximo digido pelo relator, devendo o membro vencido funda-
mentar seu voto;
será de dez;
XVIII – as folhas do processo serão numeradas e rubri-
e) antes de iniciado o depoimento, o acusado poderá
cadas pelo escrivão, inutilizando-se os espaços em bran-
contraditar a testemunha e, em caso de acolhimento pelo
co;
presidente da Comissão, não se lhe deferirá o compromis-
so ou a dispensará nos casos previstos no Código de Pro- XIX – os documentos serão juntados aos autos me-
cesso Penal Militar – CPPM; diante despacho do presidente;
IX – providenciará quaisquer diligências que entender XX – as resoluções da Comissão serão tomadas por
necessárias à completa instrução do processo, até mesmo maioria de votos de seus membros;
acareação de testemunhas e exames periciais, e indeferi-
rá, motivadamente, solicitação de diligência descabida ou XXI – a ausência injustificada do acusado ou do de-
protelatória; fensor não impedirá a realização de qualquer ato da Co-
missão, desde que haja um defensor nomeado pelo pre-
X – tanto no interrogatório do acusado como na inqui- sidente;
rição de testemunhas, podem os demais membros da Co-
missão, por intermédio do interrogante e relator, perguntar XXII – de cada sessão da Comissão o escrivão lavrará
e reperguntar; uma ata que será assinada por seus membros, pelo acusa-
do, pelo defensor e pelo curador, se houver.
XI – é permitido à defesa, em assunto pertinente à ma-
téria, perguntar às testemunhas, por intermédio do interro- Art. 71 – Na situação prevista no inciso I do art. 64, a
gante, e apresentar questões de ordem, que serão respon- Comissão, atendendo a circunstâncias especiais de caso
didas pela Comissão quando não implicarem nulidade dos concreto e reconhecendo a possibilidade de recuperar o
atos já praticados; acusado, poderá sugerir, ouvido o CEDMU, a aplicação do
disposto no § 2º do art. 74.
XII – efetuado o interrogatório, apresentada a defesa
prévia, inquiridas as testemunhas e realizadas as diligên- § 1º – Se, no prazo estabelecido no artigo, o militar
cias deliberadas pela Comissão, o presidente concederá o cometer transgressão disciplinar, será efetivada a sua de-
missão.
prazo de cinco dias úteis ao acusado para apresentação
das razões escritas de defesa, acompanhadas ou não de § 2º – O benefício a que se refere este artigo será con-
documentos, determinando que se lhe abra vista dos au- cedido apenas uma vez ao mesmo militar.
tos, mediante recibo;
Art. 72 – Quando forem dois ou mais os acusados por
XIII – havendo dois ou mais acusados, o prazo para faltas disciplinares conexas que justifiquem a instauração
apresentação das razões escritas de defesa será comum de de Processo Administrativo-Disciplinar, adotar-se-á o
dez dias úteis; princípio da economia processual, com instalação de um
único processo.
XIV – se a defesa não apresentar suas razões escritas,
tempestivamente, novo defensor será nomeado, mediante § 1º – Quando os envolvidos forem de Unidades dife-
indicação pelo acusado ou nomeação pelo presidente da rentes dentro do mesmo sistema hierárquico, o Coman-
Comissão, renovando-se-lhe o prazo, apenas uma vez, que dante da Unidade de Direção Intermediária instaurará o
será acrescido ao tempo estipulado para o encerramento Processo Administrativo-Disciplinar; quando não perten-
do processo; cerem ao mesmo sistema hierárquico, a instauração cabe-
rá ao Corregedor da IME.

112
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

§ 2º – Quando ocorrer a situação descrita neste artigo, § 2º – O Comandante-geral poderá conceder o bene-
o processo original ficará arquivado na pasta funcional do fício da suspensão da demissão pelo período de um ano,
militar mais graduado ou mais antigo, arquivando-se tam- caso o militar tenha sido submetido a processo com base
bém cópia do parecer e da decisão nas pastas dos demais no inciso I do art. 64.
acusados.
§ 3º – Quando for o caso de cumprimento do disposto
§ 3º – A qualquer momento, surgindo diferenças signi- no § 1º do art. 42 combinado com o inciso VI do § 3º do art.
ficativas na situação pessoal dos acusados, poderá ocorrer a 142 da Constituição da República, o Comandante-geral re-
separação dos processos, aproveitando–se, no que couber, meterá o processo, no prazo de três dias, à Justiça Militar,
os atos já concluídos. para decisão.

Art. 73 – Surgindo fundadas dúvidas quanto à sanidade Art. 75 – Se, ao examinar o parecer, a autoridade julga-
mental do acusado, o processo será sobrestado pela au- dora verificar a existência de algum fato passível de medida
toridade convocante que, mediante fundamentada solicita- penal ou disciplinar que atinja militar que não esteja sob
seu comando, fará a remessa de cópias das respectivas pe-
ção do presidente, encaminhará o militar à Junta Central de
ças à autoridade competente.
Saúde – JCS –, para realização de perícia psicopatológica.
Art. 76 – A autoridade que convocar a CPAD poderá,
Parágrafo único – Confirmada a insanidade mental, o
a qualquer tempo, tornar insubsistente a sua portaria, so-
processo não poderá prosseguir, e a autoridade convocan- brestar seu funcionamento ou modificar sua composição,
te determinará seu encerramento, arquivando-o na pasta motivando administrativamente seu ato.
funcional do acusado para futuros efeitos e remetendo o
respectivo laudo à Diretoria de Recursos Humanos para Parágrafo único– A modificação da composição da
adoção de medidas decorrentes. CPAD é permitida apenas quando indispensável para asse-
gurar o seu normal funcionamento.

Art. 77 – O Comandante-geral poderá modificar mo-


CAPÍTULO IV tivadamente as decisões da autoridade convocante da
CPAD, quando ilegais ou flagrantemente contrárias às pro-
Decisão vas dos autos.

Art. 74 – Encerrados os trabalhos, o presidente remeterá TÍTULO VII


os autos do processo ao CEDMU, que emitirá o seu parecer,
no prazo de dez dias úteis, e encaminhará os autos do pro- Conselho de Ética e Disciplina Militares da Unidade
cesso à autoridade convocante, que proferirá, nos limites de
sua competência e no prazo de dez dias úteis, decisão fun- CAPÍTULO I
damentada, que será publicada em boletim, concordando
ou não com os pareceres da CPAD e do CEDMU: Finalidade e Nomeação

I – recomendando sanar irregularidades, renovar o pro-


cesso ou realizar diligências complementares;
Art. 78 – O Conselho de Ética e Disciplina Militares da
II – determinando o arquivamento do processo, se con- Unidade – CEDMU – é o órgão colegiado designado pelo
siderar improcedente a acusação; Comandante da Unidade, abrangendo até o nível de Com-
panhia Independente, com vistas ao assessoramento do
III – aplicando, agravando, atenuando ou anulando san- Comando nos assuntos de que trata este Código.
ção disciplinar, na esfera de sua competência;
Art. 79 – O CEDMU será integrado por três militares,
superiores hierárquicos ou mais antigos que o militar cujo
IV – remetendo o processo à Justiça Militar ou ao Minis-
procedimento estiver sob análise, possuindo caráter con-
tério Público, se constituir infração penal a ação do acusado;
sultivo.
V – opinando, se cabível, pela reforma disciplinar com-
§ 1º – Poderá funcionar na Unidade, concomitante-
pulsória; mente, mais de um CEDMU, em caráter subsidiário, quando
o órgão colegiado previamente designado se achar impe-
VI – opinando pela demissão. dido de atuar.
§ 1º – Os autos que concluírem pela demissão ou refor- § 2º – A qualquer tempo, o Comandante da Unidade
ma disciplinar compulsória de militar da ativa serão encami- poderá substituir membros do Conselho, desde que haja
nhados ao Comandante-geral para decisão. impedimento de atuação ou suspeição de algum deles.

113
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

§ 3º – A Unidade que não possuir os militares que TÍTULO VIII


preencham os requisitos previstos neste Código solicitará
ao escalão superior a designação dos membros do CED- Disposições Gerais
MU.

§ 4º – Tratando-se de punição a ser aplicada pela Cor-


regedoria da IME, esta ouvirá o CEDMU da Unidade do Art. 85 – A classificação de conceito obedecerá ao pre-
militar faltoso. visto neste Código, a partir de sua vigência.

§ 5º – O integrante do CEDMU será designado para Art. 86 – Os prazos previstos neste Código são contí-
um período de seis meses, permitida uma recondução. nuos e peremptórios, salvo quando vencerem em dia em
que não houver expediente na IME, caso em que serão
§ 6º – Após o interstício de um ano, contado do térmi- considerados prorrogados até o primeiro dia útil imediato.
no do último período de designação, o militar poderá ser
novamente designado para o CEDMU. Parágrafo único – A contagem do prazo inicia-se no dia
útil seguinte ao da prática do ato.

Art. 87 – A não interposição de recurso disciplinar no


CAPÍTULO II momento oportuno implicará aceitação da sanção, que se
tornará definitiva.
Funcionamento
Art. 88 – A CPAD não admitirá em seus processos a
reabertura de discussões em torno do mérito de punições
definitivas.
Art. 80 – Recebida qualquer documentação para análi-
se, o CEDMU lavrará termo próprio, o qual será seguido de Art. 89 – A forma de apresentação do recurso discipli-
parecer destinado ao Comandante da Unidade, explicitan- nar não impedirá seu exame, salvo quando houver má-fé.
do os fundamentos legal e fático e a finalidade, bem como
Art. 90 – Contados da data em que foi praticada a
propondo as medidas pertinentes ao caso.
transgressão, a ação disciplinar prescreve em:
Art. 81 – O CEDMU atuará com a totalidade de seus
I – cento e vinte dias, se transgressão leve;
membros e deliberará por maioria de votos, devendo o
membro vencido justificar de forma objetiva o seu voto. II – um ano, se transgressão média;
Parágrafo único – A votação será iniciada pelo mili- III – dois anos, se transgressão grave.
tar de menor posto ou graduação ou pelo mais moderno,
sendo que o presidente votará por último. Art. 91 – O Governador do Estado poderá baixar nor-
mas complementares para a aplicação deste Código.
Art. 82 – Após a conclusão e o encaminhamento dos
autos de procedimento administrativo à autoridade dele- Art. 92 – Os militares da reserva remunerada sujeitam-
gante, e havendo em tese prática de transgressão discipli- -se às transgressões disciplinares especificadas nos incisos
nar, serão remetidos os documentos alusivos ao fato para II, III e VI do art. 13.
o CEDMU.
Art. 93 – Para os fins de competência para aplicação de
Art. 83 – O militar que servir fora do município-sede sanção disciplinar, são equivalentes à graduação de Cadete
de sua Unidade, ao ser comunicado disciplinarmente, será as referentes aos alunos do Curso Especial de Formação de
notificado por seu chefe direto para a apresentação da de- Oficiais ou do Curso de Habilitação de Oficiais.
fesa escrita, observando-se o que prescreve o art. 57.
Art. 94 – Decorridos cinco anos de efetivo serviço, a
Parágrafo único – É facultado ao militar comparecer à contar da data da publicação da última transgressão, o mi-
audiência do CEDMU. litar sem nenhuma outra punição terá suas penas discipli-
nares canceladas automaticamente.
Art. 84 – Havendo discordância entre o parecer do
CEDMU e a decisão do Comandante da Unidade, toda a § 1º – As punições canceladas serão suprimidas do re-
documentação produzida será encaminhada ao comando gistro de alterações do militar, proibida qualquer referência
hierárquico imediatamente superior, que será competente a elas, a partir do ato de cancelamento.
para decidir sobre a aplicação ou não da sanção discipli-
nar. § 2º – Após dois anos de sua transferência para a inati-
vidade, o militar classificado no conceito “C” será automa-
ticamente reclassificado.

114
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

Art. 95 – O militar que presenciar ou tomar conheci- Art. 99 – Revogam-se as disposições em contrário,
mento de ato ou fato contrário à moralidade ou à legali- especialmente as contidas no Regulamento aprovado
dade praticado por outro militar mais antigo ou de maior pelo  Decreto nº 23.085, de 10 de outubro de 1983, e os
grau hierárquico poderá encaminhar relatório reservado arts. 1º a 16 daLei nº 6.712, de 3 de dezembro de 1975.
e fundamentado à autoridade imediatamente superior
ou órgão corregedor das IMEs, contendo inclusive meios
para demonstrar os fatos, ficando-lhe assegurado que ne-
nhuma medida administrativa poderá ser aplicada em eu
desfavor.

§ 1º – A comunicação infundada acarretará responsa-


7. LEI Nº 4.898, DE 09 DE DEZEMBRO DE 1965,
bilidade administrativa, civil e penal ao comunicante.
REGULA O DIREITO DE REPRESENTAÇÃO
§ 2º – A autoridade que receber o relatório, quando E O PROCESSO DE RESPONSABILIDADE
não lhe couber apurar os fatos, dar-lhe-á o devido enca- ADMINISTRATIVA CIVIL E PENAL, NOS
minhamento, sob pena de responsabilidade administrati- CASOS DE ABUSO DE AUTORIDADE.
va, civil e penal.

Art. 96 – Ficam definidas as seguintes regras de aplica-


ção dos dispositivos deste Código, a partir de sua vigência:
Regula o Direito de Representação e o processo de
I – o militar que possuir registro de até uma detenção Responsabilidade Administrativa Civil e Penal, nos casos
em sua ficha funcional nos últimos cinco anos fica classifi- de abuso de autoridade.
cado no conceito “A”;
Art. 1º O direito de representação e o processo de res-
II – o militar que possuir registro de menos de duas ponsabilidade administrativa civil e penal, contra as auto-
prisões em sua ficha funcional no período de um ano ou ridades que, no exercício de suas funções, cometerem
de até duas prisões em dois anos fica classificado no con- abusos, são regulados pela presente lei.
ceito “B”, com zero ponto; Objeto da lei: direito de representação e processo de
responsabilidade contra autoridades que cometam abusos
III – o militar que possuir registro de até duas prisões ao exercer suas funções.
em sua ficha funcional no período de um ano fica classifi-
cado no conceito “B”, com vinte e cinco pontos negativos; Art. 2º O direito de representação será exercido por
meio de petição:
IV – o militar que possuir registro de mais de duas
a) dirigida à autoridade superior que tiver competência
prisões em sua ficha funcional no período de um ano fica
legal para aplicar, à autoridade civil ou militar culpada, a
classificado no conceito “C”, com cinquenta e um pontos
respectiva sanção;
negativos;
b) dirigida ao órgão do Ministério Público que tiver
competência para iniciar processo-crime contra a autorida-
V – as punições aplicadas anteriormente à vigência
de culpada.
deste Código serão consideradas para fins de anteceden-
Parágrafo único. A representação será feita em duas
tes e outros efeitos inseridos em legislação específica;
vias e conterá a exposição do fato constitutivo do abuso
VI – aplicam-se aos procedimentos administrativo- de autoridade, com todas as suas circunstâncias, a quali-
-disciplinares em andamento as disposições deste Código, ficação do acusado e o rol de testemunhas, no máximo
aproveitando-se os atos já concluídos; de três, se as houver.
Direito de representação consiste na prerrogativa de
VII – fica abolido o caderno de registros como ins- apresentar denúncias administrativas contra pessoa deter-
trumento de avaliação do oficial da PMMG e do CBMMG, minada, no caso, contra autoridade que tenha cometido
ficando instituída a avaliação anual de desempenho e pro- abuso.
dutividade. O instrumento para seu exercício é a petição, em duas
vias, com os seguintes elementos formais:
Art. 97 – Os casos omissos ou duvidosos, resultantes - Exposição do fato que caracterizou o abuso e suas
da aplicação deste Código, serão normatizados pelo Co- circunstâncias;
mandante-geral, mediante atos publicados no Boletim Ge- - Qualificação do acusado;
ral das IMEs ou equivalente no CBMMG. - Rol de até 3 testemunhas.
A petição será dirigida à autoridade superior daquela
Art. 98 – Esta Lei entra em vigor quarenta e cinco dias que cometeu o abuso denunciado (pode ser um delegado
após a data de sua publicação. ou outra autoridade policial, no caso de abuso cometido
por policial; ou o juiz, no caso de abuso cometido por ser-

115
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

ventuário; ou ainda a corregedoria de justiça, no caso de Artigo 5º, XVI, CF. Todos podem reunir-se pacifica-
abuso cometido por juiz; etc...) ou ao órgão do Ministério mente, sem armas, em locais abertos ao público, inde-
Público competente para a investigação. Nota-se que, di- pendentemente de autorização, desde que não frustrem
ferente das infrações comuns, não se representa pura e outra reunião anteriormente convocada para o mesmo lo-
simplesmente direto em delegacia – o motivo é que a au- cal, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade com-
toridade que cometeu o abuso, muitas vezes, poderá ser petente.
um policial ou o próprio delegado.
A garantia do direito à representação não significa que i) à incolumidade física do indivíduo;
a ação penal seja condicionada à representação. Todos cri- Art. 5o, caput, CF – Garante o direito à vida – Abrange
mes de abuso de autoridade são de ação penal pública incolumidade física.
incondicionada. O objetivo do direito de representação é Artigo 5º, III, CF. Ninguém será submetido a tortura nem
meramente informativo do ocorrido. a tratamento desumano ou degradante.

Art. 3º. Constitui abuso de autoridade qualquer j) aos direitos e garantias legais assegurados ao exer-
atentado: cício profissional.
Colacionam-se aqui condutas atentatórias a direitos Artigo 5º, XIII, CF. É livre o exercício de qualquer tra-
fundamentais sagrados no texto constitucional e que ve- balho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações
nham a ser cometidas por autoridade que exceda seus profissionais que a lei estabelecer.
poderes.
Art. 4º Constitui também abuso de autoridade:
a) à liberdade de locomoção; Colacionam-se aqui condutas atentatórias a direitos
Artigo 5º, XV, CF. É livre a locomoção no território fundamentais sagrados no texto constitucional e que ve-
nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos nham a ser cometidas por autoridade que exceda seus po-
termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus deres, em teor especificamente voltado às práticas de abu-
bens. so de autoridade de detenção ilegal e excesso nos poderes
de captura e detenção.
b) à inviolabilidade do domicílio;
Artigo 5º, XI, CF. A casa é asilo inviolável do indiví- a) ordenar ou executar medida privativa da liberda-
duo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento de individual, sem as formalidades legais ou com abuso
de poder;
do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre,
Artigo 5º, LXI, CF. Ninguém será preso senão em fla-
ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação
grante delito ou por ordem escrita e fundamentada de
judicial.
autoridade judiciária competente, salvo nos casos de trans-
gressão militar ou crime propriamente militar, definidos em
c) ao sigilo da correspondência;
lei.
Artigo 5º, XII, CF. É inviolável o sigilo da correspon-
dência e das comunicações telegráficas, de dados e das co-
b) submeter pessoa sob sua guarda ou custódia a
municações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem
vexame ou a constrangimento não autorizado em lei;
judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para Artigo 5º, XLIX, CF. É assegurado aos presos o respeito
fins de investigação criminal ou instrução processual penal. à integridade física e moral.
d) à liberdade de consciência e de crença; c) deixar de comunicar, imediatamente, ao juiz com-
e) ao livre exercício do culto religioso; petente a prisão ou detenção de qualquer pessoa;
Artigo 5º, VI, CF. É inviolável a liberdade de consciên- Artigo 5º, LXII, CF. A prisão de qualquer pessoa e o lo-
cia e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cal onde se encontre serão comunicados imediatamente ao
cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção juiz competente e à família do preso ou à pessoa por ele
aos locais de culto e a suas liturgias. indicada.

f) à liberdade de associação; d) deixar o Juiz de ordenar o relaxamento de prisão


Artigo 5º, XVII, CF. É plena a liberdade de associação ou detenção ilegal que lhe seja comunicada;
para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar. Artigo 5º, LXV, CF. A prisão ilegal será imediatamente
relaxada pela autoridade judiciária.
g) aos direitos e garantias legais assegurados ao
exercício do voto; e) levar à prisão e nela deter quem quer que se pro-
Art. 14, CF. A soberania popular será exercida pelo su- ponha a prestar fiança, permitida em lei;
frágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor Artigo 5º, LXVI, CF. Ninguém será levado à prisão ou
igual para todos, e, nos termos da lei, mediante: [...] nela mantido, quando a lei admitir a liberdade provisória,
com ou sem fiança.
h) ao direito de reunião;

116
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

f) cobrar o carcereiro ou agente de autoridade poli- Art. 6º O abuso de autoridade sujeitará o seu autor à
cial carceragem, custas, emolumentos ou qualquer ou- sanção administrativa civil e penal.
tra despesa, desde que a cobrança não tenha apoio em § 1º A sanção administrativa será aplicada de acordo
lei, quer quanto à espécie quer quanto ao seu valor; com a gravidade do abuso cometido e consistirá em:
g) recusar o carcereiro ou agente de autoridade po- a) advertência;
licial recibo de importância recebida a título de carce- b) repreensão;
ragem, custas, emolumentos ou de qualquer outra des- c) suspensão do cargo, função ou posto por prazo de
pesa; cinco a cento e oitenta dias, com perda de vencimentos
Custas, emolumentos e outras despesas – Somente e vantagens;
podem ser cobradas nos casos previstos em lei e, carac- d) destituição de função;
terizando-se um destes casos, o carcereiro ou o agente de e) demissão;
autoridade policial têm o dever de receber as importâncias f) demissão, a bem do serviço público.
devidas. § 2º A sanção civil, caso não seja possível fixar o valor
do dano, consistirá no pagamento de uma indenização de
h) o ato lesivo da honra ou do patrimônio de pes- quinhentos a dez mil cruzeiros.
soa natural ou jurídica, quando praticado com abuso ou § 3º A sanção penal será aplicada de acordo com as
desvio de poder ou sem competência legal; regras dos artigos 42 a 56 do Código Penal e consistirá em:
Artigo 5º, LIV, CF. Ninguém será privado da liberdade ou a) multa de cem a cinco mil cruzeiros;
de seus bens sem o devido processo legal. b) detenção por dez dias a seis meses;
c) perda do cargo e a inabilitação para o exercício de
i) prolongar a execução de prisão temporária, de qualquer outra função pública por prazo até três anos.
pena ou de medida de segurança, deixando de expedir § 4º As penas previstas no parágrafo anterior poderão
em tempo oportuno ou de cumprir imediatamente or- ser aplicadas autônoma ou cumulativamente.
dem de liberdade. § 5º Quando o abuso for cometido por agente de au-
Caracterizando-se excesso de prazo de prisão tempo- toridade policial, civil ou militar, de qualquer categoria,
rária, pena ou medida de seguraná, a pessoa deve ser li- poderá ser cominada a pena autônoma ou acessória, de
bertada. não poder o acusado exercer funções de natureza poli-
Artigo 5º, LXI, CF. Ninguém será preso senão em fla- cial ou militar no município da culpa, por prazo de um a
grante delito ou por ordem escrita e fundamentada de cinco anos.
autoridade judiciária competente, salvo nos casos de trans- Sanção administrativa
gressão militar ou crime propriamente militar, definidos em - Advertência – verbal.
lei. - Repreensão – escrita.
Artigo 5º, LXVI, CF. Ninguém será levado à prisão ou - Suspensão do cargo, função ou posto por prazo de
nela mantido, quando a lei admitir a liberdade provisória, cinco a cento e oitenta dias, com perda de vencimentos e
com ou sem fiança. vantagens – o agente não exercerá o cargo por um período
determinado, sem receber remuneração.
O uso de algemas em contrariedade à súmula vincu- - Destituição de função – o agente será destituído de
lante no 11 do STF caracteriza abuso de autoridade: “Só é função de confiança ou cargo em comissão.
lícito o uso de algemas em casos de resistência e de funda- - Demissão – o servidor será desvinculado dos quadros
do receio de fuga ou de perigo à integridade física própria da Administração.
ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a - Demissão, a bem do serviço público – o servidor será
excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilida- desvinculado dos quadros da Administração.
de disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e Sanção civil
de nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere, Indenização – danos morais + danos materiais. Como o
sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado”. valor está desatualizado, em cruzeiros, o juiz arbitrará caso
a caso.
Art. 5º Considera-se autoridade, para os efeitos desta Sanção penal
lei, quem exerce cargo, emprego ou função pública, de - Multa – o juiz utilizará os critérios do Código Penal
natureza civil, ou militar, ainda que transitoriamente e para fixar o valor;
sem remuneração. - Detenção, de 10 dias a 6 meses;
O sujeito ativo de todos os crimes descritos nesta lei é - Perda do cargo e inabilitação ao exercício de função
pessoa que exerça posição de autoridade, embora seja ad- por até 3 anos.
missível coautoria e participação de terceiros particulares. Podem ser aplicadas as três penas ou apenas uma de-
Assim, o particular jamais pode agir sozinho cometendo las isoladamente.
abuso de autoridade, precisa estar em concurso com fun- Se a autoridade que cometeu o abuso for policial, será
cionário público. possível aplicar a pena de proibição do exercício de fun-
A autoridade será qualquer pessoa que exerça cargo, ções policiais no município em que o ato foi praticado, por
emprego ou função pública, civil ou militar, de forma per- 1 a 5 anos.
manente ou transitória, de forma gratuita ou remunerada.

117
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

Art. 7º Recebida a representação em que for solicita- Entendem Fuller, Junqueira e Machado28: “a absolvição
da a aplicação de sanção administrativa, a autoridade civil dubitativa (motivada por juízo de dúvida), ou seja, por falta
ou militar competente determinará a instauração de in- de provas, (art. 386, II, V e VII, na nova redação conferi-
quérito para apurar o fato. da ao CPP), não empresta qualquer certeza ao âmbito da
§ 1º O inquérito administrativo obedecerá às normas jurisdição civil, restando intocada a possibilidade de, na
estabelecidas nas leis municipais, estaduais ou federais, ação civil de conhecimento, ser provada e reconhecida a
civis ou militares, que estabeleçam o respectivo processo. existência do direito ao ressarcimento, de acordo com o
§ 2º Não existindo no município no Estado ou na le- grau de cognição e convicção próprios da seara civil (na
gislação militar normas reguladoras do inquérito adminis- esfera penal, a decisão de condenação somente pode ser
trativo serão aplicadas supletivamente, as disposições dos lastreada em juízo de certeza, tendo em vista o princípio
arts. 219 a 225 da Lei nº 1.711, de 28 de outubro de 1952 constitucional do estado de inocência)”.
(Estatuto dos Funcionários Públicos Civis da União). A responsabilidade civil e a penal são passíveis de apu-
§ 3º O processo administrativo não poderá ser so- ração perante a justiça. No caso, em regra, a competência
brestado para o fim de aguardar a decisão da ação pe- será da justiça estadual, salvo se forem afetados bens, ser-
nal ou civil. viços ou interesses da União ou de suas autarquias e fun-
Exercido o direito de representação, instaura-se in- dações públicas (art. 109, CF).
quérito no âmbito administrativo para apurar o fato. Não Em se tratando de funcionário público federal – civil
havendo regra específica sobre o inquérito administrativo, ou militar que pratique o abuso contra civil – a compe-
aplica-se a legislação federal, no caso, o Estatuto dos Ser- tência é da justiça federal para a apuração penal. (súmula
vidores Públicos Civis Federais – Lei no 8.112/1990 e a Lei 172, STJ).
do Processo Administrativo – Lei no 9.784/1999. O proces-
so administrativo corre independente dos processos cível Art. 10. (Vetado).
e penal, justamente devido à independência das esferas.
Art. 11. À ação civil serão aplicáveis as normas do Có-
digo de Processo Civil.
Art. 8º A sanção aplicada será anotada na ficha fun-
Sendo a ação civil, aplicam-se as normas processuais
cional da autoridade civil ou militar.
civis, que são regidas pelo CPC.
A sanção aplicada será anotada na ficha funcional.
Art. 12. A ação penal será iniciada, independente-
Art. 9º Simultaneamente com a representação dirigida
mente de inquérito policial ou justificação por denún-
à autoridade administrativa ou independentemente dela,
cia do Ministério Público, instruída com a representa-
poderá ser promovida pela vítima do abuso, a respon-
ção da vítima do abuso.
sabilidade civil ou penal ou ambas, da autoridade cul-
pada. Art. 13. Apresentada ao Ministério Público a repre-
Destaca-se aqui a independência entre as esferas pe- sentação da vítima, aquele, no prazo de quarenta e
nal, civil e administrativa, sendo cabível a punição da auto- oito horas, denunciará o réu, desde que o fato narrado
ridade que cometeu o abuso nas três esferas, cumulativa- constitua abuso de autoridade, e requererá ao Juiz a sua
mente. Se as responsabilidades se cumularem, também as citação, e, bem assim, a designação de audiência de ins-
sanções serão cumuladas. Daí afirmar-se que tais respon- trução e julgamento.
sabilidades são independentes, ou seja, não dependem § 1º A denúncia do Ministério Público será apresenta-
uma da outra. da em duas vias.
Determinadas decisões na esfera penal geram exclu-
são da responsabilidade nas esferas civil e administrativa, Art. 14. Se a ato ou fato constitutivo do abuso de auto-
quais sejam: absolvição por inexistência do fato ou negati- ridade houver deixado vestígios o ofendido ou o acusado
va de autoria. A absolvição criminal por falta de provas não poderá:
gera exclusão da responsabilidade civil e administrativa. a) promover a comprovação da existência de tais vestí-
A absolvição proferida na ação penal, em regra, nada gios, por meio de duas testemunhas qualificadas;
prejudica a pretensão de reparação civil do dano ex delic- b) requerer ao Juiz, até setenta e duas horas antes da
to, conforme artigos 65, 66 e 386, IV do CPP: “art. 65. Faz audiência de instrução e julgamento, a designação de um
coisa julgada no cível a sentença penal que reconhecer ter perito para fazer as verificações necessárias.
sido o ato praticado em estado de necessidade, em legíti- § 1º O perito ou as testemunhas farão o seu relatório
ma defesa, em estrito cumprimento de dever legal ou no e prestarão seus depoimentos verbalmente, ou o apresen-
exercício regular de direito” (excludentes de antijuridi- tarão por escrito, querendo, na audiência de instrução e
cidade); “art. 66. não obstante a sentença absolutória no julgamento.
juízo criminal, a ação civil poderá ser proposta quando não
tiver sido, categoricamente, reconhecida a inexistência 28 FULLER, Paulo Henrique Aranda; JUNQUEIRA,
material do fato”; “art. 386, IV –  estar provado que o réu Gustavo Octaviano Diniz; MACHADO, Angela C. Cangia-
não concorreu para a infração penal”. no. Processo Penal. 9. ed. São Paulo: Revista dos Tribu-
nais, 2010. (Coleção Elementos do Direito)

118
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

§ 2º No caso previsto na letra a deste artigo a represen- Art. 22. Aberta a audiência o Juiz fará a qualificação e
tação poderá conter a indicação de mais duas testemunhas. o interrogatório do réu, se estiver presente.
Parágrafo único. Não comparecendo o réu nem seu ad-
Art. 15. Se o órgão do Ministério Público, ao invés de apre- vogado, o Juiz nomeará imediatamente defensor para fun-
sentar a denúncia requerer o arquivamento da represen- cionar na audiência e nos ulteriores termos do processo.
tação, o Juiz, no caso de considerar improcedentes as razões
invocadas, fará remessa da representação ao Procurador- Art. 23. Depois de ouvidas as testemunhas e o peri-
-Geral e este oferecerá a denúncia, ou designará outro órgão to, o Juiz dará a palavra sucessivamente, ao Ministério
do Ministério Público para oferecê-la ou insistirá no arquiva- Público ou ao advogado que houver subscrito a queixa e
mento, ao qual só então deverá o Juiz atender. ao advogado ou defensor do réu, pelo prazo de quinze
minutos para cada um, prorrogável por mais dez (10), a cri-
Art. 16. Se o órgão do Ministério Público não oferecer a tério do Juiz.
denúncia no prazo fixado nesta lei, será admitida ação
Art. 24. Encerrado o debate, o Juiz proferirá imediata-
privada. O órgão do Ministério Público poderá, porém, adi-
mente a sentença.
tar a queixa, repudiá-la e oferecer denúncia substitutiva
e intervir em todos os termos do processo, interpor recursos e,
Art. 25. Do ocorrido na audiência o escrivão lavrará no
a todo tempo, no caso de negligência do querelante, retomar livro próprio, ditado pelo Juiz, termo que conterá, em resu-
a ação como parte principal. mo, os depoimentos e as alegações da acusação e da defesa,
os requerimentos e, por extenso, os despachos e a sentença.
Art. 17. Recebidos os autos, o Juiz, dentro do prazo de
quarenta e oito horas, proferirá despacho, recebendo ou Art. 26. Subscreverão o termo o Juiz, o representante
rejeitando a denúncia. do Ministério Público ou o advogado que houver subscrito a
§ 1º No despacho em que receber a denúncia, o Juiz queixa, o advogado ou defensor do réu e o escrivão.
designará, desde logo, dia e hora para a audiência de ins-
trução e julgamento, que deverá ser realizada, improrroga- Art. 27. Nas comarcas onde os meios de transporte
velmente, dentro de cinco dias. forem difíceis e não permitirem a observância dos prazos
§ 2º A citação do réu para se ver processar, até julga- fixados nesta lei, o juiz poderá aumentá-los, sempre moti-
mento final e para comparecer à audiência de instrução e vadamente, até o dobro.
julgamento, será feita por mandado sucinto que, será acom-
panhado da segunda via da representação e da denúncia. Art. 28. Nos casos omissos, serão aplicáveis as normas
do Código de Processo Penal, sempre que compatíveis com
Art. 18. As testemunhas de acusação e defesa poderão o sistema de instrução e julgamento regulado por esta lei.
ser apresentadas em juízo, independentemente de intimação. Parágrafo único. Das decisões, despachos e sentenças,
Parágrafo único. Não serão deferidos pedidos de pre- caberão os recursos e apelações previstas no Código de Pro-
catória para a audiência ou a intimação de testemunhas ou, cesso Penal.
salvo o caso previsto no artigo 14, letra “b”, requerimentos
para a realização de diligências, perícias ou exames, a não ser Art. 29. Revogam-se as disposições em contrário.
que o Juiz, em despacho motivado, considere indispensáveis
tais providências. Procedimento penal
- Denúncia do MP, em 48hs do recebimento de repre-
sentação que efetivamente relate abuso de autoridade, em
Art. 19. A hora marcada, o Juiz mandará que o porteiro
duas vias, instruída com representação da vítima;
dos auditórios ou o oficial de justiça declare aberta a au-
Obs.: O MP pode pedir arquivamento, cabendo ao Juiz
diência, apregoando em seguida o réu, as testemunhas, o
homologar ou então remeter ao Procurador-Geral de Jus-
perito, o representante do Ministério Público ou o advogado tiça para que ofereça denúncia ou designe quem o faça ou
que tenha subscrito a queixa e o advogado ou defensor do réu. então para que insista no arquivamento.
Parágrafo único. A audiência somente deixará de reali- Obs.: Desrespeitado o prazo de 48hs, cabe ação priva-
zar-se se ausente o Juiz. da subsidiária da pública. O MP poderá neste caso aditar a
queixa, repudiá-la e oferecer denúncia substitutiva e inter-
Art. 20. Se até meia hora depois da hora marcada o vir nos autos.
Juiz não houver comparecido, os presentes poderão reti- - Apuração de vestígios, por testemunhas ou perito, se
rar-se, devendo o ocorrido constar do livro de termos de au- existentes, conforme indicação na representação;
diência. - Recebida a denúncia, o juiz em 48hs decidirá, rece-
bendo ou rejeitando. Se receber, já designará a audiência
Art. 21. A audiência de instrução e julgamento será pú- de instrução e julgamento para os próximos 5 dias;
blica, se contrariamente não dispuser o Juiz, e realizar-se-á - Citação do réu para comparecer à audiência;
em dia útil, entre dez (10) e dezoito (18) horas, na sede - Na audiência, as testemunhas podem ser apresenta-
do Juízo ou, excepcionalmente, no local que o Juiz designar. das independente de intimação e, salvo se indispensável,
não caberá oitiva por carta precatória;

119
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

- Audiência: declarada aberta e apregoada; podendo 2. (FCC/2017 - TRF - 5ª REGIÃO - Técnico Judiciário
as partes se retirarem se o juiz atrasar por mais de 30 mi- - Segurança e Transporte) Genival, Delegado de Polícia
nutos; será pública; em dia útil e horário das 10hs às 18hs; Civil do Estado X, prende em flagrante delito Marcos, pelo
o primeiro ato é a qualificação e o interrogatório do réu; crime de estupro. Ao encarcerá-lo junto a outros detentos
possível a nomeação de defensor dativo; segue-se com determina que Marcos passe a noite despido, devolvendo-
oitiva de testemunhas e peritos e memoriais – ouve-se a -lhe suas vestes somente na manhã seguinte. De acordo
acusação, ouve-se a defesa, 15 minutos cada, prorrogáveis com a Lei n° 4.898 de 1965, sem prejuízo de outras sanções
por mais 10 – e encerra-se com a sentença imediatamente penais, Genival estará sujeito a sanções
a) penal e disciplinar, sendo vedada a sanção civil.
proferida pelo juiz; o escrivão lavrará termo, subscrito pelos
b) administrativa, somente, por não ter observado as
presentes;
determinações em vigor para encarceramento de detento.
- Possível flexibilização de prazos;
c) civil, eximindo-se as demais sanções com a efetiva
- Aplica-se a Lei no 9.099/1995; reparação dos danos morais provocados.
- Aplicação subsidiária do CPP. d) penal, somente, que absorverá as sanções das de-
mais esferas.
Brasília, 9 de dezembro de 1965; 144º da Independência e) administrativa, penal e civil.
e 77º da República. R: E. O ato consiste em abuso de autoridade, confor-
me o art. 4º, “b” da Lei de Abuso de Autoridade: “Constitui
também abuso de autoridade: [...] b) submeter pessoa sob
sua guarda ou custódia a vexame ou a constrangimento
EXERCÍCIOS não autorizado em lei”. Quanto à cumulação de esferas,
prevê o art. 6º da lei: “O abuso de autoridade sujeitará o
1. (FCC/2017 - DPE-RS - Técnico - Segurança) Um seu autor à sanção administrativa civil e penal”.
agente público de natureza civil, no exercício de seu cargo,
executou medida privativa da liberdade individual para um
cidadão, sem as formalidades legais. De acordo com a Lei
n° 4.898/1965, esse agente público está sujeito à sanção
administrativa que
a) consistirá em multa de valor fixado pela legislação
vigente; detenção por dez dias a seis meses; perda do car-
go e a inabilitação para o exercício de qualquer outra fun- 8. LEI Nº 8.072, DE 25 DE JULHO DE 1990,
ção pública por prazo até três anos. DISPÕE SOBRE OS CRIMES HEDIONDOS.
b) consistirá no pagamento de uma indenização com
valor pré-fixado pela legislação vigente, caso não seja pos-
sível fixar o valor do dano.
c) será aplicada de acordo com a gravidade do abuso LEI Nº 8.072, DE 25 DE JULHO DE 1990
cometido, que poderá consistir em advertência; repreen-
Dispõe sobre os crimes hediondos, nos termos do art.
são; suspensão do cargo, função ou posto por prazo de 5
5º, inciso XLIII, da Constituição Federal, e determina outras
a 180 dias, com perda de vencimentos e vantagens; des-
providências.
tituição de função; demissão; demissão, a bem do serviço
público. Hediondo é o crime bárbaro, asqueroso, repugnante.
d) poderá ser cominada a pena autônoma ou acessó- Não é subjetivo o critério de definir quais são os crimes
ria, de não poder o acusado exercer funções de natureza hediondos, pois a lei cumpre este papel. O artigo 1o desta
policial ou militar no município em questão, por prazo de lei traz o rol de crimes hediondos. Estes crimes são inafian-
um a cinco anos. çáveis e insuscetíveis de graça, anistia ou indulto (artigo 5o,
e) consistirá, dentre outros, em detenção de dez dias a XLIII, CF). O mesmo artigo 5o, XLIII, CF estabelece que se
um ano, pagamento de uma indenização com valor pré-fi- equiparam aos hediondos o tráfico (apenas no que tange
xado pela legislação vigente e demissão, a bem do serviço aos crimes descritos nos artigos 33 a 36 da Lei de Drogas
público. – Lei no 11.343/2006), o terrorismo (Lei no 13.260/2016) e a
tortura (Lei no 9.455/1997).
R: C. O art. 6o, § 1º da Lei de Abuso de Autoridade pre-
vê: “A sanção administrativa será aplicada de acordo com Art. 1o São considerados hediondos os seguintes cri-
a gravidade do abuso cometido e consistirá em: a) adver- mes, todos tipificados no Decreto-Lei no 2.848, de 7 de de-
tência; b) repreensão; c) suspensão do cargo, função ou zembro de 1940 - Código Penal, consumados ou tentados:
posto por prazo de cinco a cento e oitenta dias, com perda I – homicídio (art. 121), quando praticado em ativi-
dade típica de grupo de extermínio, ainda que cometido
de vencimentos e vantagens; d) destituição de função; e)
por um só agente, e homicídio qualificado (art. 121, § 2o,
demissão; f) demissão, a bem do serviço público”.
incisos I, II, III, IV, V, VI e VII);

120
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

Art. 121. Matar alguém: II - latrocínio (art. 157, § 3o, in fine);


Pena - reclusão, de seis a vinte anos. Art. 157, § 3º [...] se resulta morte, a reclusão é de vinte
Não é qualquer homicídio simples, mas apenas aquele a trinta anos, sem prejuízo da multa.
praticado em atividade de grupo de extermínio (por um Trata-se do roubo seguido de morte.
agente ou mais).
Art. 121, § 2°, Se o homicídio é cometido: III - extorsão qualificada pela morte (art. 158, § 2o);
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por Art. 157, § 2º Aplica-se à extorsão praticada mediante
outro motivo torpe; violência o disposto no § 3º do artigo anterior.
II - por motivo fútil; Trata-se de extorsão da qual resultou morte, aplican-
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, do-se pena de reclusão de 20 a 30 anos, tal como a do
tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa latrocínio.
resultar perigo comum;
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação IV - extorsão mediante sequestro e na forma quali-
ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa ficada (art. 159, caput, e §§ 1o, 2o e 3o);
do ofendido; Art. 159 - Sequestrar pessoa com o fim de obter, para
V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunida- si ou para outrem, qualquer vantagem, como condição ou
de ou vantagem de outro crime; preço do resgate:
VI - contra a mulher por razões da condição de sexo Pena - reclusão, de oito a quinze anos.
feminino: § 1o Se o sequestro dura mais de 24 (vinte e quatro) ho-
VII - contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 ras, se o sequestrado é menor de 18 (dezoito) ou maior de
e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisio- 60 (sessenta) anos, ou se o crime é cometido por bando ou
nal e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício quadrilha.
da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, Pena - reclusão, de doze a vinte anos.
companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em § 2º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza gra-
razão dessa condição: ve:
Pena - reclusão, de doze a trinta anos. Pena - reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos.
No caso dos homicídios qualificados, todos eles são § 3º - Se resulta a morte:
abrangidos. Pena - reclusão, de vinte e quatro a trinta anos.
Obs.: No caso de homicídio privilegiado (art. 121, §1o, Abrangem-se todas as modalidades de extorsão me-
CP), mesmo que cometido com instrumentos materiais tí- diante sequestro.
picos de homicídio qualificado, tem-se o que a doutrina
chama de homicídio qualificado-privilegiado. Quanto a V - estupro (art. 213, caput e §§ 1o e 2o);
este, a doutrina diz não se caracterizar crime hediondo. Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou
grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou per-
I-A – lesão corporal dolosa de natureza gravíssima mitir que com ele se pratique outro ato libidinoso:
(art. 129, § 2o) e lesão corporal seguida de morte (art. Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos.
129, § 3o), quando praticadas contra autoridade ou agen- § 1o Se da conduta resulta lesão corporal de natureza
te descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, grave ou se a vítima é menor de 18 (dezoito) ou maior de 14
integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Se- (catorze) anos:
gurança Pública, no exercício da função ou em decorrên- Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos.
cia dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente § 2o Se da conduta resulta morte:
consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição; Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos
Art. 129, § 2° Se resulta:
I - Incapacidade permanente para o trabalho; VI - estupro de vulnerável (art. 217-A, caput e §§ 1o,
II - enfermidade incurável; 2o, 3o e 4o);
III - perda ou inutilização do membro, sentido ou função; Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato
IV - deformidade permanente; libidinoso com menor de 14 (catorze) anos:
V - aborto: Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.
Pena - reclusão, de dois a oito anos. § 1o Incorre na mesma pena quem pratica as ações des-
Art. 129, § 3° Se resulta morte e as circunstâncias evi- critas no caput com alguém que, por enfermidade ou defi-
denciam que o agente não quis o resultado, nem assumiu o ciência mental, não tem o necessário discernimento para a
risco de produzi-lo: prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode
Pena - reclusão, de quatro a doze anos. oferecer resistência.
Não é qualquer lesão gravíssima ou seguida de mor- § 2o (VETADO).
te, mas apenas praticado contra autoridade ou agente do § 3o Se da conduta resulta lesão corporal de natureza
sistema de segurança pública, no exercício ou em razão da grave:
função, ou então seu parente até 3o grau/cônjuge/compa- Pena - reclusão, de 10 (dez) a 20 (vinte) anos.
nheiro, em razão da função. § 4o Se da conduta resulta morte:
Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.

121
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

VII - epidemia com resultado morte (art. 267, § 1o); Lei no 2.889/1956
Art. 267 - Causar epidemia, mediante a propagação de Art. 1º Quem, com a intenção de destruir, no todo ou em
germes patogênicos: parte, grupo nacional, étnico, racial ou religioso, como tal:
Pena - reclusão, de dez a quinze anos. a) matar membros do grupo;
§ 1º - Se do fato resulta morte, a pena é aplicada em dobro. b) causar lesão grave à integridade física ou mental de
membros do grupo;
VII-A - (VETADO); c) submeter intencionalmente o grupo a condições de
VII-B - falsificação, corrupção, adulteração ou alte- existência capazes de ocasionar-lhe a destruição física total
ração de produto destinado a fins terapêuticos ou medi- ou parcial;
cinais (art. 273, caput e § 1o, § 1o-A e § 1o-B, com a redação d) adotar medidas destinadas a impedir os nascimentos
dada pela Lei no 9.677, de 2 de julho de 1998); no seio do grupo;
Art. 273 - Falsificar, corromper, adulterar ou alterar pro- e) efetuar a transferência forçada de crianças do grupo
duto destinado a fins terapêuticos ou medicinais: para outro grupo;
Pena - reclusão, de 10 (dez) a 15 (quinze) anos, e multa. Será punido:
§ 1º - Nas mesmas penas incorre quem importa, ven- Com as penas do art. 121, § 2º, do Código Penal, no caso
de, expõe à venda, tem em depósito para vender ou, de da letra a;
qualquer forma, distribui ou entrega a consumo o produto Com as penas do art. 129, § 2º, no caso da letra b;
falsificado, corrompido, adulterado ou alterado. Com as penas do art. 270, no caso da letra c;
§ 1º-A - Incluem-se entre os produtos a que se refere Com as penas do art. 125, no caso da letra d;
este artigo os medicamentos, as matérias-primas, os insu- Com as penas do art. 148, no caso da letra e;
mos farmacêuticos, os cosméticos, os saneantes e os de Art. 2º Associarem-se mais de 3 (três) pessoas para prá-
uso em diagnóstico. tica dos crimes mencionados no artigo anterior:
§ 1º-B - Está sujeito às penas deste artigo quem pratica Pena: Metade da cominada aos crimes ali previstos.
as ações previstas no § 1º em relação a produtos em qual- Art. 3º Incitar, direta e publicamente alguém a cometer
quer das seguintes condições:
qualquer dos crimes de que trata o art. 1º:
I - sem registro, quando exigível, no órgão de vigilância
Pena: Metade das penas ali cominadas.
sanitária competente;
§ 1º A pena pelo crime de incitação será a mesma de
II - em desacordo com a fórmula constante do registro
crime incitado, se este se consumar.
previsto no inciso anterior;
§ 2º A pena será aumentada de 1/3 (um terço), quando
III - sem as características de identidade e qualidade ad-
a incitação for cometida pela imprensa.
mitidas para a sua comercialização;
IV - com redução de seu valor terapêutico ou de sua Lei no 10.826/2003
atividade; Art. 16. Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber,
V - de procedência ignorada; ter em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamen-
VI - adquiridos de estabelecimento sem licença da auto- te, emprestar, remeter, empregar, manter sob sua guarda ou
ridade sanitária competente. ocultar arma de fogo, acessório ou munição de uso proibido
ou restrito, sem autorização e em desacordo com determina-
VIII - favorecimento da prostituição ou de outra for- ção legal ou regulamentar:
ma de exploração sexual de criança ou adolescente ou Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.
de vulnerável (art. 218-B, caput, e §§ 1º e 2º). Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem:
Art. 218-B. Submeter, induzir ou atrair à prostituição ou I – suprimir ou alterar marca, numeração ou qualquer
outra forma de exploração sexual alguém menor de 18 (de- sinal de identificação de arma de fogo ou artefato;
zoito) anos ou que, por enfermidade ou deficiência mental, II – modificar as características de arma de fogo, de for-
não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ma a torná-la equivalente a arma de fogo de uso proibido
facilitá-la, impedir ou dificultar que a abandone: ou restrito ou para fins de dificultar ou de qualquer modo
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos. induzir a erro autoridade policial, perito ou juiz;
§ 1o Se o crime é praticado com o fim de obter vantagem III – possuir, detiver, fabricar ou empregar artefato explo-
econômica, aplica-se também multa. sivo ou incendiário, sem autorização ou em desacordo com
§ 2o Incorre nas mesmas penas: determinação legal ou regulamentar;
I - quem pratica conjunção carnal ou outro ato libidino- IV – portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer
so com alguém menor de 18 (dezoito) e maior de 14 (cator- arma de fogo com numeração, marca ou qualquer outro si-
ze) anos na situação descrita no caput deste artigo; nal de identificação raspado, suprimido ou adulterado;
II - o proprietário, o gerente ou o responsável pelo local em V – vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuita-
que se verifiquem as práticas referidas no caput deste artigo. mente, arma de fogo, acessório, munição ou explosivo a
criança ou adolescente; e
Parágrafo único. Consideram-se também hediondos o VI – produzir, recarregar ou reciclar, sem autorização le-
crime de genocídio previsto nos arts. 1o, 2o e 3o da Lei no gal, ou adulterar, de qualquer forma, munição ou explosivo.
2.889, de 1o de outubro de 1956, e o de posse ou porte
ilegal de arma de fogo de uso restrito, previsto no art. Art. 2º Os crimes hediondos, a prática da tortura, o
16 da Lei no 10.826, de 22 de dezembro de 2003, todos tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e o terro-
tentados ou consumados. rismo são insuscetíveis de:

122
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

I - anistia, graça e indulto; Art. 6º Os arts. 157, § 3º; 159, caput e seus §§ 1º, 2º e
II - fiança. 3º; 213; 214; 223, caput e seu parágrafo único; 267, caput e
Repete-se a disciplina constitucional do artigo 5o, XLIII, 270; caput, todos do Código Penal, passam a vigorar com a
CF. O dispositivo constitucional não menciona o indulto, seguinte redação:
mas o STF já firmou entendimento de que a vedação é ex-
tensível. “Art. 157. [...]
O STF julgou no Habeas Corpus 104339 que embora § 3º Se da violência resulta lesão corporal grave, a pena
não seja cabível fiança, é cabível liberdade provisória, sem- é de reclusão, de cinco a quinze anos, além da multa; se
pre que ausentes os requisitos do art. 312, CPP. resulta morte, a reclusão é de vinte a trinta anos, sem pre-
juízo da multa.
§ 1o A pena por crime previsto neste artigo será cumpri- Art. 159. [...]
da inicialmente em regime fechado. Pena - reclusão, de oito a quinze anos.
O STF julgou no Habeas Corpus 111.840 que o dispo- § 1º [...]
sitivo é inconstitucional e cabe, conforme o caso, o início Pena - reclusão, de doze a vinte anos.
do cumprimento da pena em regime diverso do fechado. § 2º [...]
Pena - reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos.
§ 2o A progressão de regime, no caso dos condenados § 3º [...]
aos crimes previstos neste artigo, dar-se-á após o cumpri- Pena - reclusão, de vinte e quatro a trinta anos.
mento de 2/5 (dois quintos) da pena, se o apenado for Art. 213. [...]
primário, e de 3/5 (três quintos), se reincidente. Pena - reclusão, de seis a dez anos.
2/5 – apenado primário Art. 214. [...]
3/5 – apenado reincidente Pena - reclusão, de seis a dez anos.
Art. 223. [...]
§ 3o Em caso de sentença condenatória, o juiz deci- Pena - reclusão, de oito a doze anos.
dirá fundamentadamente se o réu poderá apelar em Parágrafo único. [...]
liberdade. Pena - reclusão, de doze a vinte e cinco anos.
Havendo condenação de primeira instância, o juiz de- Art. 267. [...]
verá decidir se o réu poderá ou não apelar em liberdade. Pena - reclusão, de dez a quinze anos.
Art. 270. [...]
§ 4o A prisão temporária, sobre a qual dispõe a Lei no Pena - reclusão, de dez a quinze anos”.
7.960, de 21 de dezembro de 1989, nos crimes previstos nes-
te artigo, terá o prazo de 30 (trinta) dias, prorrogável por Art. 7º Ao art. 159 do Código Penal fica acrescido o se-
igual período em caso de extrema e comprovada neces- guinte parágrafo:
sidade. “Art. 159. [...]
A Lei no 7.960/1989 prevê prazo máximo de 5 dias § 4º Se o crime é cometido por quadrilha ou bando, o
(prorrogável por mais 5), que é ampliado para os crimes coautor que denunciá-lo à autoridade, facilitando a liberta-
hediondos, chegando a 30 dias (prorrogável por mais 30). ção do sequestrado, terá sua pena reduzida de um a dois
terços”.
Art. 3º A União manterá estabelecimentos penais, de
segurança máxima, destinados ao cumprimento de pe- Art. 8º Será de três a seis anos de reclusão a pena
nas impostas a condenados de alta periculosidade, cuja prevista no art. 288 do Código Penal, quando se tratar de
permanência em presídios estaduais ponha em risco a or- crimes hediondos, prática da tortura, tráfico ilícito de
dem ou incolumidade pública. entorpecentes e drogas afins ou terrorismo.
Parágrafo único. O participante e o associado que de-
Art. 4º (Vetado). nunciar à autoridade o bando ou quadrilha, possibilitando
seu desmantelamento, terá a pena reduzida de um a dois
Art. 5º Ao art. 83 do Código Penal é acrescido o seguinte terços.
inciso: Art. 288, CP. Associarem-se 3 (três) ou mais pessoas,
para o fim específico de cometer crimes:
“Art. 83. [...] V - cumprido mais de dois terços da pena, Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos.
nos casos de condenação por crime hediondo, prática da tor- Parágrafo único. A pena aumenta-se até a metade se a
tura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, e terro- associação é armada ou se houver a participação de criança
rismo, se o apenado não for reincidente específico em ou adolescente.
crimes dessa natureza.” Redução da pena – delação premiada – 1/3 a 2/3.
Trata-se de requisito para o livramento condicional
para os casos de crimes hediondos. Cabe o livramento Art. 9º As penas fixadas no art. 6º para os crimes capi-
após 2/3 da pena cumpridos, exceto se o apenado for rein- tulados nos arts. 157, § 3º, 158, § 2º, 159, caput e seus §§ 1º,
cidente em crime hediondo ou equiparado. 2º e 3º, 213, caput e sua combinação com o art. 223, caput
e parágrafo único, 214 e sua combinação com o art. 223,

123
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

caput e parágrafo único, todos do Código Penal, são acresci- b) constranger alguém, mediante violência ou grave
das de metade, respeitado o limite superior de trinta anos de ameaça e com o intuito de obter para si ou para outrem
reclusão, estando a vítima em qualquer das hipóteses referi- indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça
das no art. 224 também do Código Penal. ou deixar de fazer alguma coisa.
O art. 224, CP foi revogado, logo, o dispositivo em co- c) lesão corporal leve quando cometida contra agente
mento perde efeito. do sistema prisional.
d) homicídio simples praticado por qualquer cidadão.
Art. 10. O art. 35 da Lei nº 6.368, de 21 de outubro de R: A. Trata-se de tipo descrito no art. 1o, VIII da lei de
1976, passa a vigorar acrescido de parágrafo único, com a
crimes hediondos.
seguinte redação:
“Art. 35. [...]
Parágrafo único. Os prazos procedimentais deste capí-
tulo serão contados em dobro quando se tratar dos crimes
previstos nos arts. 12, 13 e 14”.
9. LEI Nº 11.340, DE 07 DE AGOSTO DE
Art. 11. (Vetado). 2006, CRIA MECANISMOS PARA COIBIR
A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR
Art. 12. Esta lei entra em vigor na data de sua publicação. CONTRA A MULHER: ART. 1º AO 7º, 10 AO 12,
22 AO 24 E 34 AO 45
Art. 13. Revogam-se as disposições em contrário.

Brasília, 25 de julho de 1990; 169º da Independência e


102º da República.
Na abertura deste material, apresentamos um resumo
EXERCÍCIOS das considerações da doutrinadora Maria Berenice Dias29
sobre a Lei Maria da Penha. Se trabalho contribui por le-
1. (VUNESP/2015 - MPE-SP - Analista de Promoto- vantar a discussão sobre a efetividade do referido diploma,
ria) A Lei n° 8.072/90 (crimes hediondos) demonstrando-a por meio de uma explicação detalhada
a) define no seu artigo 1° os crimes considerados he- sobre o procedimento que deve ser seguido nas ações pe-
diondos, todos previstos no Código Penal, sem prejuízo, nais que envolvem a violência doméstica. Neste ponto é
contudo, de outros delitos considerados hediondos pela esclarecedor, a partir do momento no qual explica de ma-
Legislação Penal Especial. neira suficiente e breve os papeis da autoridade policial,
b) não permite a interposição de apelação antes do re- do Ministério Público, do magistrado, dos advogados, da
colhimento do condenado à prisão, em razão do disposto vítima e do agressor em se tratando de crimes no âmbito
no seu artigo 2°, § 1° (a pena será cumprida em regime da relação familiar.
inicial fechado).
Contribui ao destacar a importância da figura do tra-
c) prevê progressão de regime para os condenados
tamento psicológico e hospitalar do agressor, o que pode
pela prática de crime hediondo após o cumprimento de
1/6 da pena se o apenado for primário e 2/5 se for reinci- contribuir para o aumento de denúncias e para a diminui-
dente. ção da violência doméstica. De fato, muitas vezes a vítima
d) traz no rol do seu art. 1° o crime de roubo impróprio deixa de fazer a denúncia porque o agressor é o responsá-
(art. 157, § 1°, CP), o roubo circunstanciado (art. 157, § 2°, I, vel pelo sustento do lar.
II, III, IV e V, CP) e o roubo qualificado pelo resultado (art. Por outro lado, é de se considerar que o artigo traz
157, § 3o, CP). apenas a posição da autora no tocante à espécie de ação
e) estabelece o prazo de 30 (trinta) dias (podendo ser penal aplicável no caso de lesões corporais leves ou cul-
prorrogado por mais 30 dias) da prisão temporária decre- posas cometidas no âmbito da relação familiar. Para Dias,
tada nas investigações pela prática de crime hediondo. a ação penal em tais casos será sempre incondicionada,
R: E. O prazo de 30 dias de prisão temporária é fixado diante do afastamento da Lei n. 9.099/95. Referido enten-
no artigo 2o, §4o. O rol da lei é taxativo. Para o STF, o regime dimento tem sido abarcado nas principais cortes brasilei-
inicial de cumprimento de pena não necessariamente deve ras, inclusive resultando em súmula do STJ:
ser fechado. O regime de progressão é de 2/5 para apena-
do primário e de 3/5 para apenado reincidente. Roubo não Súmula 542, STJ. A ação penal relativa ao crime de
é hediondo, salvo se resultar em morte (latrocínio). lesão corporal resultante de violência doméstica contra
a mulher é pública incondicionada.
2. (INSTITUTO AOCP/2017 - SEJUS - Agente Pe-
nitenciário) Constitui crime hediondo, previsto na Lei
8.072/1990, 29 DIAS, Maria Berenice. A efetividade da lei Ma-
a) o favorecimento da prostituição ou de outra forma ria da Penha. Revista Brasileira de Ciências Crimi-
de exploração sexual de criança ou adolescente ou de vul- nais, São Paulo, n. 64, ano 14, p. 297-312, jan./fev.
nerável. 2007.

124
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

Em que pesem as controvérsias, a Lei Maria da Penha ridade policial (artigo 20).
foi fundamental para uma mudança no modo pelo qual a 3) Sua constitucionalidade
sociedade encarava a violência doméstica contra a mulher, Há quem sustente a inconstitucionalidade da lei, sob
que muitas vezes era vista com indiferença. Anteriormen- dois argumentos principais:
te, a denúncia da violência poucas vezes gerava a punição a) afronta ao princípio da igualdade porque o homem
efetiva do agressor, o que levava aos constantes casos de não pode ser sujeito passivo;
reincidência. b) definição de competências, transbordando os limi-
A Lei Maria da Penha trouxe instrumentos importan- tes da lei, porque tal definição deve ser feita pelo Poder
tes para uma postura proativa do Estado perante o pro- Judiciário.
blema da violência doméstica contra a mulher, dando-lhe O primeiro argumento não se justifica porque, sob
instrumentos de atuação mais eficientes para a realização um aspecto histórico, a mulher sempre foi colocada em
da justiça em seu significado mais profundo, não apenas posição menos favorável que o homem, o que levou ao
como a aplicação fria e cega de regras, mas como instru- contexto de inferioridade e submissão que leva à violência
mentos de mudança social em prol da emancipação do doméstica, sendo, portanto, necessárias ações afirmativas
ser humano. para promover a efetividade do princípio da igualdade.
Já o segundo deve ser afastado porque não é a pri-
1) Uma justificativa meira vez que o legislador cria competências específicas
A Lei Maria da Penha foi recebida pelos juristas com (no caso, estabeleceu a criação dos JVDFM e a competên-
desconfiança, constituindo objeto de várias críticas, que cia cível e criminal das Varas Criminais até que esta ocor-
em geral buscam desqualificá-la, suscitando dúvidas, ra) e, como houve o afastamento da aplicação da Lei n.
apontando erros, identificando imprecisões e até mesmo 9.099/95, a definição de competência deixou de pertencer
proclamando inconstitucionalidades, tudo isto servindo de exclusivamente à esfera do Judiciário.
motivo para impedir sua efetividade. O STF julgou nas ADI 4424 e ADC 19:
No entanto, todas estas críticas apenas demonstram - o artigo 1º da Lei é constitucional, logo ela não fere
uma injustificável resistência às mudanças na postura de os princípios constitucionais da igualdade e proporciona-
enfrentamento da violência doméstica, que sempre foi lidade (não é desproporcional ou ilegítimo o uso do sexo
alvo de absoluto descaso por parte do ordenamento ju- como critério de diferenciação, visto que a mulher é emi-
rídico, principalmente a partir do momento no qual a le- nentemente vulnerável no tocante a constrangimentos fí-
são corporal leve passou a ser considerada como crime sicos, morais e psicológicos sofridos em âmbito privado);
de pequeno potencial ofensivo (podendo os conflitos ser - o artigo 33 da Lei da mesma forma é constitucional,
solucionados de forma consensual). Além disso, tornou-se portanto, enquanto não forem organizados os Juizados de
popular a punição com o pagamento de cestas básicas, o Violência Doméstica e Familiar, compete às varas criminais
que banalizou ainda mais a violência doméstica e a inte- o julgamento destas causas;
gridade física da vítima. A Lei Maria da Penha veio para - também é constitucional o artigo 44 da Lei, assim,
mudar esta perspectiva. aos crimes praticados com violência doméstica e familiar
contra a mulher, não se aplica a Lei 9.099/95 (Precedente
2) Os avanços STF, HC 106.212/MS, Plenário, 24/03/2011);
A Lei Maria da Penha trouxe benefícios significativos e - os artigos 12, I; 16 e 41 da Lei Maria da Penha foram
de efeito imediato. O maior avanço foi a criação dos Jui- interpretados conforme a Constituição para assentar a na-
zados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher tureza incondicionada da ação penal em caso de crime de
(JVDFM), com competência cível e criminal (artigo 14). lesão corporal, praticado mediante violência doméstica e
O ideal seria que os JVDFM fossem instalados em to- familiar contra a mulher.
das as comarcas imediatamente, com especialistas (juízes,
promotores e defensores) no atendimento das demandas, 4) Competência
equipes de atendimento multidisciplinar integrada por A violência doméstica está fora do âmbito dos Juiza-
profissionais das áreas psicossocial, jurídica e de saúde (ar- dos Especiais Criminais, e estes não poderão mais apreciar
tigo 29) e serviço de assistência judiciária (artigo 34). No tal matéria. A instalação dos JDFM é imprescindível e deve
entanto, até que isto ocorra foi atribuída às Varas Criminais ser feita logo que possível.
competência cível e criminal (artigos 11 e 33), o que se jus- Destaca-se que cada denúncia de violência doméstica
tifica diante do afastamento da aplicação da Lei 9.099/95 pode gerar duas demandas, porque tanto o expediente
(Juizados Especiais Cíveis e Criminais) (artigo 41). para a adoção de medidas protetivas de urgência quanto
Outro avanço se encontra no artigo 27, que garante à o inquérito policial são enviados pela autoridade policial
vítima o acesso aos serviços da Defensoria Pública e à as- ao juiz e ao Ministério Público.
sistência judiciária tanto na fase policial como na judicial.
A Lei Maria da Penha criou ainda nova hipótese de 5) Fase policial
prisão preventiva, visando garantir a execução das medi- Anteriormente, o único meio de afastar o agressor do
das de urgência (artigo 42). Com isso, a prisão preventiva lar era a ação cautelar de separação de corpos.
deixou de ser restrita aos crimes apenados com reclusão. Com a Lei Maria da Penha, passaram a ser necessá-
Ela pode ser decretada de ofício pelo juiz, a requerimento rias diversas providências quando comunicada a violência
do Ministério Público ou mediante representação da auto- doméstica: registra-se a ocorrência, com oitiva da vítima

125
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

(artigo 12, I), oportunidade na qual esta é informada dos Após, esgota-se a atividade do JVDFM ou da Vara Cri-
direitos e serviços disponíveis existentes (artigo 11, V), in- minal no tocante às medidas de urgência. Controvérsias
clusive medidas protetivas disponíveis (artigo. 12, §1°); a quanto ao adimplemento do acordo no toante a matéria
vítima é encaminhada ao hospital com transporte seguro cível ou de Direito de Família devem ser discutidas nas va-
e acompanhamento para retirar seus pertences do lar (ar- ras Cíveis ou de Família.
tigo 11); instaura-se o inquérito policial (artigo 12, VII); a O inquérito policial continua independente do defe-
polícia toma por termo o pedido de medidas urgentes (ar- rimento de medida protetiva ou de acordo realizado em
tigo 12, §1°), formalizando-se a representação na mesma juízo, devendo ser remetido à justiça quando encerrado e
ocasião (artigo 12, I); a autoridade policial pode solicitar a distribuído ao mesmo juízo que apreciou a medida caute-
prisão do agressor (artigo 20). lar, que será a este apensada. Em seguida, os autos serão
Para a busca de medidas protetivas faz-se necessária remetidos ao Ministério Público para oferecimento de de-
somente a ouvida da ofendida, anexadas apenas as provas núncia.
que estiverem disponíveis e em sua posse (artigo 12, §2°).
Logo, não é preciso tomar depoimento do agressor ou 7) Ministério Público
de testemunhas e nem realizar exame de corpo de delito, A participação do Ministério Público é indispensável e
providências que devem instruir exclusivamente o inqué- ele tem legitimidade para agir como parte, intervindo nas
rito policial. ações cíveis e criminais (artigo 25). Pode, ainda, exercer a
No inquérito policial é determinada a realização do defesa dos interesses e direitos transindividuais (artigo 37).
exame de corpo de delito e outros que se fizerem neces- Devem ser comunicadas ao promotor as medidas adotadas
sários (artigo 12, IV) e são colhidos os depoimentos do (artigo 22, §1°), podendo ele requerer outras providências
agressor e das testemunhas (artigo 12, VI). ou a substituição das medidas (artigo 19), bem como a pri-
são do agressor (artigo 20).
6) Procedimento judicial Quando a vítima manifestar o interesse em desistir da
O pedido de medidas de urgência é encaminhado à ação, o Ministério Público deverá estar presente (artigo 16).
justiça em até 48 horas, quando é autuado e distribuído às
Varas Criminais, enquanto não existir juízo especializado 8) A polêmica sobre o delito de lesão corporal
na comarca. A Lei n. 9.099/95 estabeleceu que a lesão corporal leve
O juiz pode deferir medidas cautelares em sede de li- a lesão culposa são delitos de menor potencial ofensivo
minar (tenham ela sido requeridas pela ofendida ou pelo (artigo 88), restando condicionadas à representação. Entre-
Ministério Público ou não, conforme os artigos 12, III; 18; tanto, não houve modificação no Código Penal.
19 e 19, §3°), designar audiência de justificação ou inde- Já a Lei n. 11.340 (Lei Maria da Penha), em seu artigo
feri-las de plano. Assim, o juiz pode determinar de ofício 41, afastou a aplicação da Lei n. 9.099/95 aos crimes prati-
as medidas que entender de direito (artigos 20, 22, §4°, cados com violência doméstica e familiar contra a mulher,
23 e 24), por exemplo, afastamento do agressor do lar, independente da pena prevista.
impedimento de que este se aproxime da casa, vedação Desta forma, não é possível falar em ação penal pú-
de comunicação com a família, suspensão de visitas, en- blica condicionada à representação nas lesões corporais
caminhamento da mulher e dos filhos a lugar seguro, fi- leves cometidas no âmbito das relações familiares, diante
xação de alimentos provisórios ou provisionais, restituição do afastamento por lei posterior da lei que prevê nestes
de bens da ofendida, suspensão de procuração por esta termos.
outorgada ao agressor, proibição temporária da venda de Além disso, o aumento da pena do delito de lesão
bens comuns etc. corporal para 3 anos (artigo 44) afasta a possibilidade de
Para garantir a efetividade destas medidas, o juiz pode, aplicação de medidas de despenalização e suspensão con-
a qualquer momento, utilizar força policial (artigo 22, §3°) dicional do processo, somente cabíveis em delitos que te-
ou decretar a prisão preventiva do agressor (artigo 20). nham por pena mínima cominada igual ou inferior a 1 ano.
O magistrado pode, ainda, determinar a inclusão da O entendimento foi consolidado na súmula 542 do Su-
vítima em programas assistenciais (artigo 9°, §1°). À ofen- perior Tribunal da Justiça: “A ação penal relativa ao crime
dida é assegurado o acesso prioritário à remoção, se ela de lesão corporal resultante de violência doméstica contra
for funcionária pública, e, se trabalhar na iniciativa privada, a mulher é pública incondicionada”.
a manutenção do vínculo empregatício por até seis meses
de for necessário o afastamento do local de trabalho (ar- 9) Necessidade de representação e possibilidade de
tigo 9°, §2°). renúncia
Deferida ou não a medida protetiva, é recomendável Pela Lei Maria da Penha, nos crimes de ação penal pú-
a designação de audiência para se ouvir o agressor e para blica condicionada, a vítima pode renunciar à representa-
tentar resolver consensualmente os temas como guarda ção (artigo 16). Esta representação é tomada por termo
dos filhos, regulamentação de visitas, definição dos ali- pela autoridade policial quando ela registra a ocorrência
mentos. Realizado o acordo, prossegue o inquérito poli- (artigo 12, I). No entanto, só há esta possibilidade nos de-
cial, pois o acordo não significa a renúncia à representa- litos que o Código Penal classifica como de ação pública
ção. Na audiência estarão o Ministério Público (artigo 25) condicionada à representação, por exemplo, nos crimes
e as partes com seus advogados (artigo 27). contra a liberdade sexual e no de ameaça.

126
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

A vontade de desistir deve ser comunicada pela ofen- Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher e
dida ao cartório da Vara na qual foi distribuída a medida de outros tratados internacionais ratificados pela República
protetiva de urgência, comunicando-se ao juiz que realiza- Federativa do Brasil; dispõe sobre a criação dos Juizados
rá audiência, o mais rápido possível, na qual deverá estar de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; e esta-
presente o Ministério Público. Após a renúncia, deverá ha- belece medidas de assistência e proteção às mulheres em
ver comunicação à autoridade policial para que arquive o situação de violência doméstica e familiar.
inquérito policial. Se o inquérito já tiver sido remetido ao
juízo, a extinção somente pode ocorrer até o recebimento Art. 2o  Toda mulher, independentemente de classe,
da denúncia. raça, etnia, orientação sexual, renda, cultura, nível educa-
cional, idade e religião, goza dos direitos fundamentais
10) Dos delitos e das penas inerentes à pessoa humana, sendo-lhe asseguradas as
A Lei Maria da Penha não fez alterações relevantes no oportunidades e facilidades para viver sem violência, pre-
Código Penal, limitando-se a aumentar a pena máxima e servar sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento mo-
diminuir a pena mínima do delito de lesão corporal: de seis ral, intelectual e social.
meses a um ano para de três meses a três anos. Além dis-
so, estabeleceu uma majorante (artigo 129, §9°, CP) e uma Art. 3o Serão asseguradas às mulheres as condições
agravante (artigo 61, II, CP). para o exercício efetivo dos direitos à vida, à segurança,
Não deve ser considerado como de ação penal públi- à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, à moradia,
ca condicionada à representação os crimes de lesões cor- ao acesso à justiça, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cida-
porais leves ou culposas, diante do afastamento da Lei n. dania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência
9.099/95. Assim, são crimes de ação penal pública incondi- familiar e comunitária.
cionada, motivo pelo qual não é possível a renúncia ou a § 1o O poder público desenvolverá políticas que visem
desistência. garantir os direitos humanos das mulheres no âmbito das
Não incidindo a Lei n. 9.099/95 também não há possi- relações domésticas e familiares no sentido de resguardá-
bilidade de suspensão condicional do processo, composi-
-las de toda forma de negligência, discriminação, explora-
ção de danos ou aplicação imediata de pena não-privativa
ção, violência, crueldade e opressão.
de liberdade. Neste sentido, reforça o artigo 17 da Lei Ma-
§ 2o Cabe à família, à sociedade e ao poder público criar
ria da Penha.
as condições necessárias para o efetivo exercício dos di-
Igualmente, por conta do afastamento da Lei dos Jui-
reitos enunciados no caput.
zados Especiais, não pode o Ministério Público propor
transação penal ou aplicar imediatamente a pena restritiva
Art. 4o Na interpretação desta Lei, serão considerados
de direito ou multa.
os fins sociais a que ela se destina e, especialmente, as con-
Entretanto, é possível a suspensão condicional da pena
(artigo 77, CP) e a sua substituição por medida restritiva de dições peculiares das mulheres em situação de violência
direitos (artigo 43, CP), isto porque tais benefícios estão doméstica e familiar.
previstos no Código Penal, aplicável na Lei Maria da Penha.
TÍTULO II
LEI Nº 11.340, DE 7 DE AGOSTO DE 2006. DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A
MULHER
Cria mecanismos para coibir a violência doméstica
e familiar contra a mulher, nos termos do § 8º do art. 226 CAPÍTULO I
da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação DISPOSIÇÕES GERAIS
de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e
da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradi- Art. 5o Para os efeitos desta Lei, configura violência
car a Violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação dos doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou
Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, so-
altera o Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de frimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou
Execução Penal; e dá outras providências. patrimonial: 
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Con- I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida
gresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou
sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agrega-
TÍTULO I das;
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES II - no âmbito da família, compreendida como a comu-
nidade formada por indivíduos que são ou se consideram
Art. 1o  Esta Lei cria mecanismos para coibir e preve- aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por
nir a violência doméstica e familiar contra a mulher, vontade expressa;
nos termos do § 8o do art. 226 da Constituição Federal, da III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o
Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Vio- agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, inde-
lência contra a Mulher, da Convenção Interamericana para pendentemente de coabitação.

127
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

Parágrafo único.  As relações pessoais enunciadas neste II - a promoção de estudos e pesquisas, estatísticas e
artigo independem de orientação sexual. outras informações relevantes, com a perspectiva de gêne-
ro e de raça ou etnia, concernentes às causas, às consequên-
Art. 6o A violência doméstica e familiar contra a mulher cias e à frequência da violência doméstica e familiar contra a
constitui uma das formas de violação dos direitos humanos. mulher, para a sistematização de dados, a serem unificados
nacionalmente, e a avaliação periódica dos resultados das
CAPÍTULO II medidas adotadas;
DAS FORMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMI- III - o respeito, nos meios de comunicação social, dos
LIAR CONTRA A MULHER valores éticos e sociais da pessoa e da família, de forma
a coibir os papéis estereotipados que legitimem ou exa-
Art. 7o São formas de violência doméstica e familiar cerbem a violência doméstica e familiar, de acordo com o
contra a mulher, entre outras: estabelecido no inciso III do art. 1o, no inciso IV do art. 3o e
I - a violência física, entendida como qualquer conduta no inciso IV do art. 221 da Constituição Federal;
que ofenda sua integridade ou saúde corporal; IV - a implementação de atendimento policial espe-
II - a violência psicológica, entendida como qualquer cializado para as mulheres, em particular nas Delegacias
conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da de Atendimento à Mulher;
auto-estima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno de- V - a promoção e a realização de campanhas educati-
senvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas vas de prevenção da violência doméstica e familiar con-
ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante amea- tra a mulher, voltadas ao público escolar e à sociedade em
ça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, geral, e a difusão desta Lei e dos instrumentos de proteção
vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chanta- aos direitos humanos das mulheres;
gem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e VI - a celebração de convênios, protocolos, ajustes,
vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde termos ou outros instrumentos de promoção de parce-
psicológica e à autodeterminação; ria entre órgãos governamentais ou entre estes e entidades
não-governamentais, tendo por objetivo a implementação
III - a violência sexual, entendida como qualquer
de programas de erradicação da violência doméstica e fami-
conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a
liar contra a mulher;
participar de relação sexual não desejada, mediante in-
VII - a capacitação permanente das Polícias Civil e
timidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza
Militar, da Guarda Municipal, do Corpo de Bombeiros e dos
a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua
profissionais pertencentes aos órgãos e às áreas enunciados
sexualidade, que a impeça de usar qualquer método con-
no inciso I quanto às questões de gênero e de raça ou etnia;
traceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao
VIII - a promoção de programas educacionais que dis-
aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, su- seminem valores éticos de irrestrito respeito à dignidade da
borno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício pessoa humana com a perspectiva de gênero e de raça ou
de seus direitos sexuais e reprodutivos; etnia;
IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer IX - o destaque, nos currículos escolares de todos os
conduta que configure retenção, subtração, destruição níveis de ensino, para os conteúdos relativos aos direitos hu-
parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, manos, à equidade de gênero e de raça ou etnia e ao proble-
documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos ma da violência doméstica e familiar contra a mulher.
econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas neces-
sidades; CAPÍTULO II
V - a violência moral, entendida como qualquer con- DA ASSISTÊNCIA À MULHER EM SITUAÇÃO DE
duta que configure calúnia, difamação ou injúria. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR

TÍTULO III Art. 9o A assistência à mulher em situação de violência


DA ASSISTÊNCIA À MULHER EM SITUAÇÃO DE VIO- doméstica e familiar será prestada de forma articulada
LÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR e conforme os princípios e as diretrizes previstos na Lei Or-
gânica da Assistência Social, no Sistema Único de Saúde, no
CAPÍTULO I Sistema Único de Segurança Pública, entre outras normas e
DAS MEDIDAS INTEGRADAS DE PREVENÇÃO políticas públicas de proteção, e emergencialmente quando
for o caso.
Art. 8o A política pública que visa coibir a violência do- § 1o  O juiz determinará, por prazo certo, a inclusão da
méstica e familiar contra a mulher far-se-á por meio de um mulher em situação de violência doméstica e familiar no
conjunto articulado de ações da União, dos Estados, do cadastro de programas assistenciais do governo federal,
Distrito Federal e dos Municípios e de ações não-gover- estadual e municipal.
namentais, tendo por diretrizes: § 2o  O juiz assegurará à mulher em situação de vio-
I - a integração operacional do Poder Judiciário, do lência doméstica e familiar, para preservar sua integridade
Ministério Público e da Defensoria Pública com as áreas de física e psicológica:
segurança pública, assistência social, saúde, educação, tra- I - acesso prioritário à remoção quando servidora
balho e habitação; pública, integrante da administração direta ou indireta;

128
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

II - manutenção do vínculo trabalhista, quando neces- VII - remeter, no prazo legal, os autos do inquérito
sário o afastamento do local de trabalho, por até seis meses. policial ao juiz e ao Ministério Público.
§ 3o  A assistência à mulher em situação de violência § 1o  O pedido da ofendida será tomado a termo pela
doméstica e familiar compreenderá o acesso aos benefícios autoridade policial e deverá conter:
decorrentes do desenvolvimento científico e tecnológico, I - qualificação da ofendida e do agressor;
incluindo os serviços de contracepção de emergência, a II - nome e idade dos dependentes;
profilaxia das Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) e III - descrição sucinta do fato e das medidas proteti-
da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) e outros vas solicitadas pela ofendida.
procedimentos médicos necessários e cabíveis nos casos de § 2o  A autoridade policial deverá anexar ao documen-
violência sexual. to referido no § 1o o boletim de ocorrência e cópia de
todos os documentos disponíveis em posse da ofendida.
CAPÍTULO III § 3o  Serão admitidos como meios de prova os laudos
DO ATENDIMENTO PELA AUTORIDADE POLICIAL ou prontuários médicos fornecidos por hospitais e postos
de saúde.
Art. 10.  Na hipótese da iminência ou da prática de vio-
lência doméstica e familiar contra a mulher, a autoridade TÍTULO IV
policial que tomar conhecimento da ocorrência adotará, de DOS PROCEDIMENTOS
imediato, as providências legais cabíveis.
Parágrafo único.  Aplica-se o disposto no caput deste ar- CAPÍTULO I
tigo ao descumprimento de medida protetiva de urgên- DISPOSIÇÕES GERAIS
cia deferida.
Art. 13.  Ao processo, ao julgamento e à execução das
Art. 11.  No atendimento à mulher em situação de vio- causas cíveis e criminais decorrentes da prática de violência
lência doméstica e familiar, a autoridade policial deverá, en- doméstica e familiar contra a mulher aplicar-se-ão as nor-
tre outras providências:
mas dos Códigos de Processo Penal e Processo Civil e da
I - garantir proteção policial, quando necessário, co-
legislação específica relativa à criança, ao adolescente e
municando de imediato ao Ministério Público e ao Poder Ju-
ao idoso que não conflitarem com o estabelecido nesta Lei.
diciário;
II - encaminhar a ofendida ao hospital ou posto de
Art. 14.  Os Juizados de Violência Doméstica e Fami-
saúde e ao Instituto Médico Legal;
liar contra a Mulher, órgãos da Justiça Ordinária com
III - fornecer transporte para a ofendida e seus depen-
competência cível e criminal, poderão ser criados pela
dentes para abrigo ou local seguro, quando houver risco
União, no Distrito Federal e nos Territórios, e pelos Estados,
de vida;
IV - se necessário, acompanhar a ofendida para assegu- para o processo, o julgamento e a execução das causas de-
rar a retirada de seus pertences do local da ocorrência ou correntes da prática de violência doméstica e familiar con-
do domicílio familiar; tra a mulher.
V - informar à ofendida os direitos a ela conferidos nes- Parágrafo único.  Os atos processuais poderão reali-
ta Lei e os serviços disponíveis. zar-se em horário noturno, conforme dispuserem as nor-
mas de organização judiciária.
Art. 12.  Em todos os casos de violência doméstica e fa-
miliar contra a mulher, feito o registro da ocorrência, deverá Art. 15.  É competente, por opção da ofendida, para
a autoridade policial adotar, de imediato, os seguintes pro- os processos cíveis regidos por esta Lei, o Juizado:
cedimentos, sem prejuízo daqueles previstos no Código de I - do seu domicílio ou de sua residência;
Processo Penal: II - do lugar do fato em que se baseou a demanda;
I - ouvir a ofendida, lavrar o boletim de ocorrência e III - do domicílio do agressor.
tomar a representação a termo, se apresentada;
II - colher todas as provas que servirem para o esclare- Art. 16.  Nas ações penais públicas condicionadas à
cimento do fato e de suas circunstâncias; representação da ofendida de que trata esta Lei, só será
III - remeter, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, admitida a renúncia à representação perante o juiz, em
expediente apartado ao juiz com o pedido da ofendida, para audiência especialmente designada com tal finalidade, an-
a concessão de medidas protetivas de urgência; tes do recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Pú-
IV - determinar que se proceda ao exame de corpo de blico.
delito da ofendida e requisitar outros exames periciais ne-
cessários; Art. 17.  É vedada a aplicação, nos casos de violência
V - ouvir o agressor e as testemunhas; doméstica e familiar contra a mulher, de penas de cesta
VI - ordenar a identificação do agressor e fazer juntar básica ou outras de prestação pecuniária, bem como a
aos autos sua folha de antecedentes criminais, indicando substituição de pena que implique o pagamento isolado de
a existência de mandado de prisão ou registro de outras ocor- multa.
rências policiais contra ele;

129
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

CAPÍTULO II I - suspensão da posse ou restrição do porte de ar-


DAS MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA mas, com comunicação ao órgão competente, nos termos
da Lei no 10.826, de 22 de dezembro de 2003;
Seção I II - afastamento do lar, domicílio ou local de convi-
Disposições Gerais vência com a ofendida;
III - proibição de determinadas condutas, entre as
Art. 18.  Recebido o expediente com o pedido da ofen- quais:
dida, caberá ao juiz, no prazo de 48 (quarenta e oito) a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das
horas: testemunhas, fixando o limite mínimo de distância entre
I - conhecer do expediente e do pedido e decidir so- estes e o agressor;
bre as medidas protetivas de urgência; b) contato com a ofendida, seus familiares e testemu-
II - determinar o encaminhamento da ofendida ao ór- nhas por qualquer meio de comunicação;
gão de assistência judiciária, quando for o caso; c) frequentação de determinados lugares a fim de pre-
III - comunicar ao Ministério Público para que adote servar a integridade física e psicológica da ofendida;
as providências cabíveis. IV - restrição ou suspensão de visitas aos dependen-
tes menores, ouvida a equipe de atendimento multidiscipli-
Art. 19.  As medidas protetivas de urgência poderão nar ou serviço similar;
ser concedidas pelo juiz, a requerimento do Ministério Pú- V - prestação de alimentos provisionais ou provisórios.
blico ou a pedido da ofendida. § 1o  As medidas referidas neste artigo não impedem a
§ 1o  As medidas protetivas de urgência poderão ser aplicação de outras previstas na legislação em vigor, sem-
concedidas de imediato, independentemente de audiên- pre que a segurança da ofendida ou as circunstâncias o exi-
cia das partes e de manifestação do Ministério Público, girem, devendo a providência ser comunicada ao Ministério
devendo este ser prontamente comunicado. Público.
§ 2o  As medidas protetivas de urgência serão aplica- § 2o  Na hipótese de aplicação do inciso I, encontrando-
-se o agressor nas condições mencionadas no caput e inci-
das isolada ou cumulativamente, e poderão ser subs-
sos do art. 6o da Lei no 10.826, de 22 de dezembro de 2003,
tituídas a qualquer tempo por outras de maior eficácia,
o juiz comunicará ao respectivo órgão, corporação ou ins-
sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem amea-
tituição as medidas protetivas de urgência concedidas e
çados ou violados.
determinará a restrição do porte de armas, ficando o su-
§ 3o  Poderá o juiz, a requerimento do Ministério Pú-
perior imediato do agressor responsável pelo cumprimento
blico ou a pedido da ofendida, conceder novas medidas
da determinação judicial, sob pena de incorrer nos crimes de
protetivas de urgência ou rever aquelas já concedidas, se en-
prevaricação ou de desobediência, conforme o caso.
tender necessário à proteção da ofendida, de seus familiares § 3o  Para garantir a efetividade das medidas protetivas
e de seu patrimônio, ouvido o Ministério Público. de urgência, poderá o juiz requisitar, a qualquer momento,
auxílio da força policial.
Art. 20.  Em qualquer fase do inquérito policial ou da § 4o  Aplica-se às hipóteses previstas neste artigo, no
instrução criminal, caberá a prisão preventiva do agres- que couber, o disposto no caput e nos §§ 5o e 6º do art.
sor, decretada pelo juiz, de ofício, a requerimento do Mi- 461 da Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973 (Código de
nistério Público ou mediante representação da autoridade Processo Civil).
policial.
Parágrafo único.  O juiz poderá revogar a prisão pre- Seção III
ventiva se, no curso do processo, verificar a falta de motivo Das Medidas Protetivas de Urgência à Ofendida
para que subsista, bem como de novo decretá-la, se sobre-
vierem razões que a justifiquem. Art. 23.  Poderá o juiz, quando necessário, sem prejuízo
de outras medidas:
Art. 21.  A ofendida deverá ser notificada dos atos pro- I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a pro-
cessuais relativos ao agressor, especialmente dos pertinen- grama oficial ou comunitário de proteção ou de atendi-
tes ao ingresso e à saída da prisão, sem prejuízo da intima- mento;
ção do advogado constituído ou do defensor público. II - determinar a recondução da ofendida e a de seus
Parágrafo único.  A ofendida não poderá entregar inti- dependentes ao respectivo domicílio, após afastamento do
mação ou notificação ao agressor. agressor;
III - determinar o afastamento da ofendida do lar,
Seção II sem prejuízo dos direitos relativos a bens, guarda dos filhos
Das Medidas Protetivas de Urgência que Obrigam o e alimentos;
Agressor IV - determinar a separação de corpos.

Art. 22.  Constatada a prática de violência doméstica e fa- Art. 24.  Para a proteção patrimonial dos bens da so-
miliar contra a mulher, nos termos desta Lei, o juiz poderá apli- ciedade conjugal ou daqueles de propriedade particular
car, de imediato, ao agressor, em conjunto ou separadamente, da mulher, o juiz poderá determinar, liminarmente, as se-
as seguintes medidas protetivas de urgência, entre outras: guintes medidas, entre outras:

130
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

I - restituição de bens indevidamente subtraídos pelo Art. 28.  É garantido a toda mulher em situação de vio-
agressor à ofendida; lência doméstica e familiar o acesso aos serviços de De-
II - proibição temporária para a celebração de atos e fensoria Pública ou de Assistência Judiciária Gratuita,
contratos de compra, venda e locação de propriedade em nos termos da lei, em sede policial e judicial, mediante aten-
comum, salvo expressa autorização judicial; dimento específico e humanizado.
III - suspensão das procurações conferidas pela ofen-
dida ao agressor; TÍTULO V
IV - prestação de caução provisória, mediante depó- DA EQUIPE DE ATENDIMENTO MULTIDISCIPLINAR
sito judicial, por perdas e danos materiais decorrentes da
prática de violência doméstica e familiar contra a ofendida. Art. 29.  Os Juizados de Violência Doméstica e Fa-
Parágrafo único.  Deverá o juiz oficiar ao cartório com- miliar contra a Mulher que vierem a ser criados poderão
petente para os fins previstos nos incisos II e III deste artigo. contar com uma equipe de atendimento multidiscipli-
nar, a ser integrada por profissionais especializados nas
Seção IV áreas psicossocial, jurídica e de saúde.
Do Crime de Descumprimento de Medidas Protetivas
de Urgência Descumprimento de Medidas Protetivas de Art. 30.  Compete à equipe de atendimento multidis-
ciplinar, entre outras atribuições que lhe forem reservadas
Urgência
pela legislação local, fornecer subsídios por escrito ao juiz,
ao Ministério Público e à Defensoria Pública, mediante lau-
Art. 24-A. Descumprir decisão judicial que defere
dos ou verbalmente em audiência, e desenvolver trabalhos
medidas protetivas de urgência previstas nesta Lei:
de orientação, encaminhamento, prevenção e outras me-
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos. didas, voltados para a ofendida, o agressor e os familiares,
§ 1o A configuração do crime independe da competên- com especial atenção às crianças e aos adolescentes.
cia civil ou criminal do juiz que deferiu as medidas.
§ 2o Na hipótese de prisão em flagrante, apenas a Art. 31.  Quando a complexidade do caso exigir avalia-
autoridade judicial poderá conceder fiança. ção mais aprofundada, o juiz poderá determinar a manifes-
§ 3o O disposto neste artigo não exclui a aplicação de tação de profissional especializado, mediante a indicação
outras sanções cabíveis. da equipe de atendimento multidisciplinar.

CAPÍTULO III Art. 32.  O Poder Judiciário, na elaboração de sua pro-


DA ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO posta orçamentária, poderá prever recursos para a cria-
ção e manutenção da equipe de atendimento multidis-
Art. 25.  O Ministério Público intervirá, quando não ciplinar, nos termos da Lei de Diretrizes Orçamentárias.
for parte, nas causas cíveis e criminais decorrentes da vio-
lência doméstica e familiar contra a mulher. TÍTULO VI
DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS
Art. 26.  Caberá ao Ministério Público, sem prejuízo de
outras atribuições, nos casos de violência doméstica e fami- Art. 33.  Enquanto não estruturados os Juizados de Vio-
lência Doméstica e Familiar contra a Mulher, as varas cri-
liar contra a mulher, quando necessário:
minais acumularão as competências cível e criminal
I - requisitar força policial e serviços públicos de
para conhecer e julgar as causas decorrentes da prática de
saúde, de educação, de assistência social e de segurança, violência doméstica e familiar contra a mulher, observadas
entre outros; as previsões do Título IV desta Lei, subsidiada pela legislação
II - fiscalizar os estabelecimentos públicos e parti- processual pertinente.
culares de atendimento à mulher em situação de violên- Parágrafo único.  Será garantido o direito de preferên-
cia doméstica e familiar, e adotar, de imediato, as medidas cia, nas varas criminais, para o processo e o julgamento das
administrativas ou judiciais cabíveis no tocante a quaisquer causas referidas no caput.
irregularidades constatadas;
III - cadastrar os casos de violência doméstica e fami- TÍTULO VII
liar contra a mulher. DISPOSIÇÕES FINAIS

CAPÍTULO IV Art. 34.  A instituição dos Juizados de Violência Do-


DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA méstica e Familiar contra a Mulher poderá ser acompa-
nhada pela implantação das curadorias necessárias e do
Art. 27.  Em todos os atos processuais, cíveis e criminais, serviço de assistência judiciária.
a mulher em situação de violência doméstica e familiar de-
verá estar acompanhada de advogado, ressalvado o pre- Art. 35.  A União, o Distrito Federal, os Estados e os Mu-
nicípios poderão criar e promover, no limite das respectivas
visto no art. 19 desta Lei.
competências:

131
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

I - centros de atendimento integral e multidiscipli- ................................................................


nar para mulheres e respectivos dependentes em situação IV - se o crime envolver violência doméstica e familiar
de violência doméstica e familiar; contra a mulher, nos termos da lei específica, para garantir a
II - casas-abrigos para mulheres e respectivos depen- execução das medidas protetivas de urgência.” (NR)
dentes menores em situação de violência doméstica e fami-
liar; Art. 43.  A alínea f do inciso II do art. 61 do Decreto-Lei
III - delegacias, núcleos de defensoria pública, serviços no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), passa
de saúde e centros de perícia médico-legal especializados no a vigorar com a seguinte redação:
atendimento à mulher em situação de violência doméstica “Art. 61.  ..................................................
e familiar; .................................................................
IV - programas e campanhas de enfrentamento da II - ............................................................
violência doméstica e familiar; .................................................................
V - centros de educação e de reabilitação para os f) com abuso de autoridade ou prevalecendo-se de rela-
agressores. ções domésticas, de coabitação ou de hospitalidade, ou com
violência contra a mulher na forma da lei específica;
Art. 36.  A União, os Estados, o Distrito Federal e os Mu- ........................................................... ” (NR)
nicípios promoverão a adaptação de seus órgãos e de seus
programas às diretrizes e aos princípios desta Lei. Art. 44.  O art. 129 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de
dezembro de 1940 (Código Penal), passa a vigorar com as
Art. 37.  A defesa dos interesses e direitos transindividuais seguintes alterações:
previstos nesta Lei poderá ser exercida, concorrentemente, “Art. 129.  ..................................................
pelo Ministério Público e por associação de atuação na ..................................................................
área, regularmente constituída há pelo menos um ano, § 9o  Se a lesão for praticada contra ascendente, des-
nos termos da legislação civil. cendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem
conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o
Parágrafo único.  O requisito da pré-constituição po-
agente das relações domésticas, de coabitação ou de hos-
derá ser dispensado pelo juiz quando entender que não
pitalidade:
há outra entidade com representatividade adequada para o
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos.
ajuizamento da demanda coletiva.
..................................................................
§ 11.  Na hipótese do § 9o deste artigo, a pena será
Art. 38.  As estatísticas sobre a violência doméstica e
aumentada de um terço se o crime for cometido contra
familiar contra a mulher serão incluídas nas bases de dados
pessoa portadora de deficiência.” (NR)
dos órgãos oficiais do Sistema de Justiça e Segurança a fim
de subsidiar o sistema nacional de dados e informações re- Art. 45.  O art. 152 da Lei no 7.210, de 11 de julho de
lativo às mulheres. 1984 (Lei de Execução Penal), passa a vigorar com a seguin-
Parágrafo único.  As Secretarias de Segurança Pública te redação:
dos Estados e do Distrito Federal poderão remeter suas in- “Art. 152.  ...................................................
formações criminais para a base de dados do Ministério da Parágrafo único.  Nos casos de violência doméstica con-
Justiça. tra a mulher, o juiz poderá determinar o comparecimento
obrigatório do agressor a programas de recuperação e ree-
Art. 39.  A União, os Estados, o Distrito Federal e os Mu- ducação.” (NR)
nicípios, no limite de suas competências e nos termos das
respectivas leis de diretrizes orçamentárias, poderão estabe- Art. 46.  Esta Lei entra em vigor 45 (quarenta e cinco)
lecer dotações orçamentárias específicas, em cada exer- dias após sua publicação.
cício financeiro, para a implementação das medidas estabe-
lecidas nesta Lei. Brasília,  7  de  agosto  de 2006; 185o da Independência
e 118o da República.
Art. 40.  As obrigações previstas nesta Lei não excluem
outras decorrentes dos princípios por ela adotados. EXERCÍCIOS

Art. 41.  Aos crimes praticados com violência domésti- 1. (FMP/2017 - MPE-RO - Promotor de Justiça
ca e familiar contra a mulher, independentemente da pena Substituto) Em relação à Lei n. 11.340/2006 (Lei Maria da
prevista, não se aplica a Lei no 9.099, de 26 de setembro de Penha), assinale a alternativa CORRETA.
1995. a) Os crimes de ameaça e de lesões corporais leves pra-
ticados no contexto de violência doméstica e familiar são
Art. 42.  O art. 313 do Decreto-Lei no 3.689, de 3 de ou- de ação penal pública incondicionada.
tubro de 1941 (Código de Processo Penal), passa a vigorar b) A mulher pode ser sujeito ativo de crime praticado
acrescido do seguinte inciso IV: no contexto de violência doméstica e familiar.
“Art. 313.  ................................................. c) A ação penal no crime de lesões corporais leves é

132
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

pública condicionada, segundo a jurisprudência do Supre-


mo Tribunal Federal. ANOTAÇÕES
d) Admite-se a aplicação da suspensão condicional do
processo aos autores de crimes praticados no contexto de
violência doméstica e familiar. ___________________________________________________
e) As medidas protetivas de urgência vigem durante o
prazo decadencial da representação da vítima, ou seja, 6 ___________________________________________________
(seis) meses.
R: B. A violência deve ser dirigida contra mulher, mas ___________________________________________________
não necessariamente deve partir de homem, pois o deter- ___________________________________________________
minante é o contexto da prática de violência – âmbito do-
méstico, familiar ou afetivo – e não quem a perpetrou. A ___________________________________________________
alternativa “a” está errada porque apenas o crime de lesões
é de ação incondicionada (estando “c” errada). Não cabe ___________________________________________________
suspensão condicional do processo e nem transação penal
___________________________________________________
(súmula 536, STJ). Não se fixa na lei prazo mínimo e máxi-
mo de duração das medidas punitivas. ___________________________________________________

2. (VUNESP/2017 - TJ-SP - Psicólogo Judiciário) A ___________________________________________________


Lei n° 11.340/2006, conhecida como Lei Maria da Penha,
em casos de prática de violência doméstica contra a mu- ___________________________________________________
lher,
___________________________________________________
a) determina que seja delegada à mulher a responsa-
bilidade pela entrega de intimações e notificações judiciais ___________________________________________________
ao agressor.
b) prevê a aplicação de penas ao agressor como multas ___________________________________________________
e distribuição de determinado número de cestas básicas.
c) limita-se à violência na relação homem-mulher, ig- ___________________________________________________
norando os novos arranjos conjugais e familiares da con- ___________________________________________________
temporaneidade.
d) prevê a restrição de visitas do agressor aos depen- ___________________________________________________
dentes menores, ouvida a equipe de atendimento multidis-
ciplinar ou serviço similar. ___________________________________________________
e) ignora a violência patrimonial, por não implicar ris-
___________________________________________________
co iminente à integridade física, moral ou psicológica da
mulher. ___________________________________________________
R: D. Trata-se de previsão do art. 22, IV da Lei Maria
da Penha. ___________________________________________________

3. (FUNDATEC/2017 - FHGV - Assistente Adminis- ___________________________________________________


trativo) Na interpretação da Lei nº 11.340/2006, serão con-
___________________________________________________
siderados os fins sociais a que ela se destina e, especial-
mente, as condições peculiares das mulheres em situação ___________________________________________________
de:
a) Vulnerabilidade. ___________________________________________________
b) Incapacidade.
c) Violência doméstica e familiar. ___________________________________________________
d) Abandono. ___________________________________________________
e) Risco e perigo.
R: C. Preconiza o art. 4o da Lei Maria da Penha: “Na ___________________________________________________
interpretação desta Lei, serão considerados os fins sociais
a que ela se destina e, especialmente, as condições pecu- ___________________________________________________
liares das mulheres em situação de violência doméstica e
___________________________________________________
familiar”.
___________________________________________________

___________________________________________________

___________________________________________________

133
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

ANOTAÇÕES

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134
ESTATÍSTICA

1. Visão Conceitual Básica (1.01. População ou Universo; 1.02. Amostragem x Amostra; 1.03. Experimento Aleatório; 1.04.
Amostragem Aleatória; 1.05. Método Estatístico)....................................................................................................................................... 01
2. Variáveis Aleatórias (2.01. A Variável Aleatória Discreta, 2.02. A Variável Aleatória Contínua, 2.03. A Variável Qualitati-
va)................................................................................................................................................................................................................................... 01
3. Normas de Apresentação Tabular (3.01. Modelo de uma Tabela; 3.02. Séries/Tabelas Estatísticas; 3.03. Tipos de Séries
Estatísticas; 3.04. Estudo elementar de uma série temporal; 3.05. As variações percentuais).................................................... 01
4. Medidas de Tendência Central (4.01. Média Aritmética, simples e ponderada; 4.02. Propriedades da Média Aritmética;
4.03. Vantagens da Média Aritmética; 4.04. Desvantagens da Média Aritmética; 4.05. Média Típica; 4.06. Média Atípica;
4.07. Mediana; 4.08. Moda)................................................................................................................................................................................... 01
5. Análise e Interpretação Matemática de Gráficos Estatísticos (5.01. Gráfico de Colunas; 5.02. Gráfico Pictórico; 5.03.
Gráfico de Setores; 5.04. Gráfico de Linhas)................................................................................................................................................... 01
ESTATÍSTICA

1. VISÃO CONCEITUAL BÁSICA (1.01. POPULAÇÃO OU UNIVERSO; 1.02.


AMOSTRAGEM X AMOSTRA; 1.03. EXPERIMENTO ALEATÓRIO; 1.04.
AMOSTRAGEM ALEATÓRIA; 1.05. MÉTODO ESTATÍSTICO).
2. VARIÁVEIS ALEATÓRIAS (2.01. A VARIÁVEL ALEATÓRIA DISCRETA, 2.02. A
VARIÁVEL ALEATÓRIA CONTÍNUA, 2.03. A VARIÁVEL QUALITATIVA).
3. NORMAS DE APRESENTAÇÃO TABULAR (3.01. MODELO DE UMA TABELA;
3.02. SÉRIES/TABELAS ESTATÍSTICAS; 3.03. TIPOS DE SÉRIES ESTATÍSTICAS;
3.04. ESTUDO ELEMENTAR DE UMA SÉRIE TEMPORAL; 3.05. AS VARIAÇÕES
PERCENTUAIS).
4. MEDIDAS DE TENDÊNCIA CENTRAL (4.01. MÉDIA ARITMÉTICA, SIMPLES
E PONDERADA; 4.02. PROPRIEDADES DA MÉDIA ARITMÉTICA;
4.03. VANTAGENS DA MÉDIA ARITMÉTICA; 4.04. DESVANTAGENS DA
MÉDIA ARITMÉTICA; 4.05. MÉDIA TÍPICA; 4.06. MÉDIA ATÍPICA; 4.07.
MEDIANA; 4.08. MODA.
5. ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO MATEMÁTICA DE GRÁFICOS ESTATÍSTICOS
(5.01. GRÁFICO DE COLUNAS; 5.02. GRÁFICO PICTÓRICO; 5.03. GRÁFICO DE
SETORES;
5.04. GRÁFICO DE LINHAS).

A estatística é, hoje em dia, um instrumento útil e, em alguns casos, indispensável para tomadas de decisão em diver-
sos campos: científico, econômico, social, político… Todavia, antes de chegarmos à parte de interpretação para tomadas de
decisão, há que proceder a um indispensável trabalho de recolha e organização de dados, sendo a recolha feita através de
recenseamentos (ou censos ou levantamentos estatísticos) ou sondagens. Existem indícios que há 300 mil anos a.C. já se
faziam censos na China, Babilônia e no Egito. Censos estes que se destinavam à taxação de impostos.
Estatística pode ser pensada como a ciência de aprendizagem a partir de dados. No nosso quotidiano, precisamos
tomar decisões, muitas vezes decisões rápidas.

Em linhas gerais a Estatística fornece métodos que auxiliam o processo de tomada de decisão através da análise dos
dados que possuímos.
Em Estatística, um resultado é significante, portanto, tem significância estatística, se for improvável que tenha ocorrido
por acaso (que em estatística e probabilidade é tratado pelo conceito de chance), caso uma determinada hipótese nula seja
verdadeira, mas não sendo improvável caso a hipótese base seja falsa. A expressão teste de significância foi cunhada por
Ronald Fisher.
Mais concretamente, no teste de hipóteses com base em frequência estatística, a significância de um teste é a proba-
bilidade máxima de rejeitar acidentalmente uma hipótese nula verdadeira (uma decisão conhecida como erro de tipo I). O
nível de significância de um resultado é também chamado de α e não deve ser confundido com o valor p (p-value).

Por exemplo, podemos escolher um nível de significância de, digamos, 5%, e calcular um valor crítico de um parâmetro
(por exemplo a média) de modo que a probabilidade de ela exceder esse valor, dada a verdade da hipótese nulo, ser 5%. Se
o valor estatístico calculado (ou seja, o nível de 5% de significância anteriormente escolhido) exceder o valor crítico, então
é significante “ao nível de 5%”.

Se o nível de significância (ex: 5% anteriormente dado) é menor, o valor é menos provavelmente um extremo em rela-
ção ao valor crítico. Deste modo, um resultado que é “significante ao nível de 1%” é mais significante do que um resultado
que é significante “ao nível de 5%”. No entanto, um teste ao nível de 1% é mais susceptível de padecer do erro de tipo II do
que um teste de 5% e por isso terá menos poder estatístico.

1
ESTATÍSTICA

Ao divisar um teste de hipóteses, o técnico deverá Pesquisa “Correlacional” X Pesquisa “Experimen-


tentar maximizar o poder de uma dada significância, mas tal”: A maioria das pesquisas empíricas pertencem cla-
ultimamente tem de reconhecer que o melhor resultado ramente a uma dessas duas categorias gerais: em uma
que se pode obter é um compromisso entre significância e pesquisa correlacional (Levantamento) o pesquisador não
poder, em outras palavras, entre os erros de tipo I e tipo II. influencia (ou tenta não influenciar) nenhuma variável, mas
É importante ressaltar que os valores p Fisherianos são apenas as mede e procura por relações (correlações) entre
filosoficamente diferentes dos erros de tipo I de Neyman- elas, como pressão sangüínea e nível de colesterol. Em uma
-Pearson. Esta confusão é infelizmente propagada por mui- pesquisa experimental (Experimento) o pesquisador manipu-
tos livros de estatística. la algumas variáveis e então mede os efeitos desta manipu-
Divisão da Estatística: lação em outras variáveis; por exemplo, aumentar artificial-
mente a pressão sangüínea e registrar o nível de colesterol.
- Estatística Descritiva: Média (Aritmética, Geométri- A análise dos dados em uma pesquisa experimental também
ca, Harmônica, Ponderada) - Mediana - Moda - Variância calcula “correlações” entre variáveis, especificamente entre
- Desvio padrão - Coeficiente de variação. aquelas manipuladas e as que foram afetadas pela manipula-
- Inferência Estatística: Testes de hipóteses - Signi- ção. Entretanto, os dados experimentais podem demonstrar
ficância - Potência - Hipótese nula/Hipótese alternativa conclusivamente relações causais (causa e efeito) entre va-
- Erro de tipo I - Erro de tipo II - Teste T - Teste Z - Distri- riáveis. Por exemplo, se o pesquisador descobrir que sempre
buição t de Student - Normalização - Valor p - Análise de que muda a variável A então a variável B também muda, en-
variância. tão ele poderá concluir que A “influencia” B. Dados de uma
- Estatística Não-Paramétrica: Teste Binomial - Teste pesquisa correlacional podem ser apenas “interpretados” em
Qui-quadrado (uma amostra, duas amostras independen- termos causais com base em outras teorias (não estatísticas)
tes, k amostras independentes) - Teste Kolmogorov-Smir- que o pesquisador conheça, mas não podem ser conclusiva-
nov (uma amostra, duas amostras independentes) - Teste mente provar causalidade.
de McNemar - Teste dos Sinais - Teste de Wilcoxon - Teste
de Walsh - Teste Exata de Fisher - Teste Q de Cochran - Tes-
Variáveis dependentes e variáveis independentes:
te de Kruskal-Wallis - Teste de Friedman.
Variáveis independentes são aquelas que são manipuladas
- Análise da Sobrevivência: Função de sobrevivência -
enquanto que variáveis dependentes são apenas medidas
Kaplan-Meier - Teste log-rank - Taxa de falha - Proportional
ou registradas. Esta distinção confunde muitas pessoas
hazards models.
que dizem que “todas variáveis dependem de alguma coi-
- Amostragem: Amostragem aleatória simples (com
sa”. Entretanto, uma vez que se esteja acostumado a esta
reposição, sem reposição) - Amostragem estratificada -
distinção ela se torna indispensável. Os termos variável
Amostragem por conglomerados - Amostragem sistemá-
dependente e independente aplicam-se principalmente
tica - estimador razão - estimador regressão.
- Distribuição de Probabilidade: Normal - De Pareto à pesquisa experimental, onde algumas variáveis são ma-
- De Poisson - De Bernoulli - Hipergeométrica - Binomial nipuladas, e, neste sentido, são “independentes” dos pa-
- Binomial negativa - Gama - Beta - t de Student - F-Sne- drões de reação inicial, intenções e características dos su-
decor. jeitos da pesquisa (unidades experimentais).Espera-se que
- Correlação: Variável de confusão - Coeficiente de outras variáveis sejam “dependentes” da manipulação ou
correlação de Pearson - Coeficiente de correlação de pos- das condições experimentais. Ou seja, elas dependem “do
tos de Spearman - Coeficiente de correlação tau de Ken- que os sujeitos farão” em resposta. Contrariando um pouco
dall). a natureza da distinção, esses termos também são usados
Regressão: Regressão linear - Regressão não-linear em estudos em que não se manipulam variáveis indepen-
- Regressão logística - Método dos mínimos quadrados dentes, literalmente falando, mas apenas se designam su-
- Modelos Lineares Generalizados - Modelos para Dados jeitos a “grupos experimentais” baseados em propriedades
Longitudinais. pré-existentes dos próprios sujeitos. Por exemplo, se em
- Análise Multivariada: Distribuição normal multiva- uma pesquisa compara-se a contagem de células brancas
riada - Componentes principais - Análise fatorial - Análise (White Cell Count em inglês, WCC) de homens e mulheres,
discriminante - Análise de “Cluster” (Análise de agrupa- sexo pode ser chamada de variável independente e WCC
mento) - Análise de Correspondência. de variável dependente.
- Séries Temporais: Modelos para séries temporais -  
Tendência e sazonalidade - Modelos de suavização expo- Níveis de Mensuração: As variáveis diferem em “quão
nencial - ARIMA - Modelos sazonais. bem” elas podem ser medidas, isto é, em quanta informa-
ção seu nível de mensuração pode prover. Há obviamente
Panorama Geral: algum erro em cada medida, o que determina o “montante
de informação” que se pode obter, mas basicamente o fa-
Variáveis: São características que são medidas, contro- tor que determina a quantidade de informação que uma
ladas ou manipuladas em uma pesquisa. Diferem em mui- variável pode prover é o seu tipo de nível de mensuração.
tos aspectos, principalmente no papel que a elas é dado Sob este prisma as variáveis são classificadas como nomi-
em uma pesquisa e na forma como podem ser medidas. nais, ordinais e intervalares.

2
ESTATÍSTICA

- Variáveis nominais permitem apenas classificação Aspectos básicos da relação entre variáveis: As duas
qualitativa. Ou seja, elas podem ser medidas apenas em propriedades formais mais elementares de qualquer rela-
termos de quais itens pertencem a diferentes categorias, ção entre variáveis são a magnitude (“tamanho”) e a con-
mas não se pode quantificar nem mesmo ordenar tais ca- fiabilidade da relação.
tegorias. Por exemplo, pode-se dizer que 2 indivíduos são - Magnitude é muito mais fácil de entender e medir
diferentes em termos da variável A (sexo, por exemplo), do que a confiabilidade. Por exemplo, se cada homem em
mas não se pode dizer qual deles “tem mais” da qualidade nossa amostra tem um WCC maior do que o de qualquer
representada pela variável. Exemplos típicos de variáveis mulher da amostra, poderia-se dizer que a magnitude da
nominais são sexo, raça, cidade, etc. relação entre as duas variáveis (sexo e WCC) é muito alta
- Variáveis ordinais permitem ordenar os itens medidos em nossa amostra. Em outras palavras, poderia-se prever
em termos de qual tem menos e qual tem mais da qualidade uma baseada na outra (ao menos na amostra em questão).
representada pela variável, mas ainda não permitem que se - Confiabilidade é um conceito muito menos intuitivo,
diga “o quanto mais”. Um exemplo típico de uma variável or- mas extremamente importante. Relaciona-se à “represen-
dinal é o status sócio-econômico das famílias residentes em tatividade” do resultado encontrado em uma amostra es-
uma localidade: sabe-se que média-alta é mais “alta” do que pecífica de toda a população. Em outras palavras, diz quão
média, mas não se pode dizer, por exemplo, que é 18% mais provável será encontrar uma relação similar se o experi-
alta. A própria distinção entre mensuração nominal, ordinal e mento fosse feito com outras amostras retiradas da mesma
intervalar representa um bom exemplo de uma variável or- população, lembrando que o maior interesse está na po-
dinal: pode-se dizer que uma medida nominal provê menos pulação. O interesse na amostra reside na informação que
informação do que uma medida ordinal, mas não se pode ela pode prover sobre a população. Se o estudo atender
dizer “quanto menos” ou como esta diferença se compara à certos critérios específicos (que serão mencionados pos-
diferença entre mensuração ordinal e intervalar. teriormente) então a confiabilidade de uma relação obser-
- Variáveis intervalares permitem não apenas ordenar vada entre variáveis na amostra pode ser estimada quan-
em postos os itens que estão sendo medidos, mas também titativamente e representada usando uma medida padrão
quantificar e comparar o tamanho das diferenças entre (chamada tecnicamente de nível-p ou nível de significância
eles. Por exemplo, temperatura, medida em graus Celsius estatística).
constitui uma variável intervalar. Pode-se dizer que a tem- Significância Estatística (nível-p): A significância es-
peratura de 40C é maior do que 30C e que um aumento de tatística de um resultado é uma medida estimada do grau
20C para 40C é duas vezes maior do que um aumento de em que este resultado é “verdadeiro” (no sentido de que
30C para 40C. seja realmente o que ocorre na população, ou seja no sen-
tido de “representatividade da população”). Mais tecnica-
Relações entre variáveis: Duas ou mais variáveis mente, o valor do nível-p representa um índice decrescen-
quaisquer estão relacionadas se em uma amostra de obser- te da confiabilidade de um resultado. Quanto mais alto o
vações os valores dessas variáveis são distribuídos de forma nível-p, menos se pode acreditar que a relação observada
consistente. Em outras palavras, as variáveis estão relaciona- entre as variáveis na amostra é um indicador confiável da
das se seus valores correspondem sistematicamente uns aos relação entre as respectivas variáveis na população. Especi-
outros para aquela amostra de observações. Por exemplo, ficamente, o nível-p representa a probabilidade de erro en-
sexo e WCC seriam relacionados se a maioria dos homens volvida em aceitar o resultado observado como válido, isto
tivesse alta WCC e a maioria das mulheres baixa WCC, ou é, como “representativo da população”. Por exemplo, um
vice-versa; altura é relacionada ao peso porque tipicamente nível-p de 0,05 (1/20) indica que há 5% de probabilidade
indivíduos altos são mais pesados do que indivíduos baixos; de que a relação entre as variáveis, encontrada na amostra,
Q.I. está relacionado ao número de erros em um teste se pes- seja um “acaso feliz”. Em outras palavras, assumindo que
soas com Q.I.’s mais altos cometem menos erros. não haja relação entre aquelas variáveis na população, e o
experimento de interesse seja repetido várias vezes, pode-
Importância das relações entre variáveis: Geralmen- ria-se esperar que em aproximadamente 20 realizações do
te o objetivo principal de toda pesquisa ou análise científi- experimento haveria apenas uma em que a relação entre as
ca é encontrar relações entre variáveis. A filosofia da ciência variáveis em questão seria igual ou mais forte do que a que
ensina que não há outro meio de representar “significado” foi observada naquela amostra anterior. Em muitas áreas
exceto em termos de relações entre quantidades ou qua- de pesquisa, o nível-p de 0,05 é costumeiramente tratado
lidades, e ambos os casos envolvem relações entre variá- como um “limite aceitável” de erro.
veis. Assim, o avanço da ciência sempre tem que envolver a
descoberta de novas relações entre variáveis. Em pesquisas Como determinar que um resultado é “realmente”
correlacionais a medida destas relações é feita de forma significante: Não há meio de evitar arbitrariedade na de-
bastante direta, bem como nas pesquisas experimentais. cisão final de qual nível de significância será tratado como
Por exemplo, o experimento já mencionado de comparar realmente “significante”. Ou seja, a seleção de um nível de
WCC em homens e mulheres pode ser descrito como pro- significância acima do qual os resultados serão rejeitados
cura de uma correlação entre 2 variáveis: sexo e WCC. A como inválidos é arbitrária. Na prática, a decisão final de-
Estatística nada mais faz do que auxiliar na avaliação de pende usualmente de: se o resultado foi previsto a priori ou
relações entre variáveis.

3
ESTATÍSTICA

apenas a posteriori no curso de muitas análises e compara- probabilidade de obter por acaso uma combinação desses
ções efetuadas no conjunto de dados; no total de evidên- valores que indique uma forte relação é relativamente alta.
cias consistentes do conjunto de dados; e nas “tradições” Considere-se o seguinte exemplo:
existentes na área particular de pesquisa. Tipicamente, em Há interesse em duas variáveis (sexo: homem, mulher;
muitas ciências resultados que atingem nível-p 0,05 são WCC: alta, baixa) e há apenas quatro sujeitos na amostra
considerados estatisticamente significantes, mas este nível (2 homens e 2 mulheres). A probabilidade de se encontrar,
ainda envolve uma probabilidade de erro razoável (5%). puramente por acaso, uma relação de 100% entre as duas
Resultados com um nível-p 0,01 são comumente conside- variáveis pode ser tão alta quanto 1/8. Explicando, há uma
rados estatisticamente significantes, e com nível-p 0,005 ou chance em oito de que os dois homens tenham alta WCC
nível-p 0,001 são freqüentemente chamados “altamente” e que as duas mulheres tenham baixa WCC, ou vice-ver-
significantes. Estas classificações, porém, são convenções sa, mesmo que tal relação não exista na população. Agora
arbitrárias e apenas informalmente baseadas em experiên- considere-se a probabilidade de obter tal resultado por
cia geral de pesquisa. Uma conseqüência óbvia é que um acaso se a amostra consistisse de 100 sujeitos: a probabi-
resultado considerado significante a 0,05, por exemplo, lidade de obter aquele resultado por acaso seria pratica-
pode não sê-lo a 0,01. mente zero.
Observando um exemplo mais geral. Imagine-se uma
Significância estatística e o número de análises rea- população teórica em que a média de WCC em homens
lizadas: Desnecessário dizer quanto mais análises sejam e mulheres é exatamente a mesma. Supondo um expe-
realizadas em um conjunto de dados, mais os resultados rimento em que se retiram pares de amostras (homens e
atingirão “por acaso” o nível de significância convenciona- mulheres) de um certo tamanho da população e calcula-
do. Por exemplo, ao calcular correlações entre dez variáveis -se a diferença entre a média de WCC em cada par de
(45 diferentes coeficientes de correlação), seria razoável es- amostras (supor ainda que o experimento será repetido
perar encontrar por acaso que cerca de dois (um em cada várias vezes). Na maioria dos experimento os resultados
20) coeficientes de correlação são significantes ao nível-p das diferenças serão próximos de zero. Contudo, de vez
0,05, mesmo que os valores das variáveis sejam totalmente
em quando, um par de amostra apresentará uma diferença
aleatórios, e aquelas variáveis não se correlacionem na po-
entre homens e mulheres consideravelmente diferente de
pulação. Alguns métodos estatísticos que envolvem muitas
zero. Com que freqüência isso acontece? Quanto menor a
comparações, e portanto uma boa chance para tais erros,
amostra em cada experimento maior a probabilidade de
incluem alguma “correção” ou ajuste para o número total
obter esses resultados errôneos, que, neste caso, indica-
de comparações. Entretanto, muitos métodos estatísticos
riam a existência de uma relação entre sexo e WCC obtida
(especialmente análises exploratórias simples de dados)
de uma população em que tal relação não existe. Obser-
não oferecem nenhum remédio direto para este problema.
ve-se mais um exemplo (“razão meninos para meninas”,
Cabe então ao pesquisador avaliar cuidadosamente a con-
fiabilidade de descobertas não esperadas. Nisbett et al., 1987):
Força X Confiabilidade de uma relação entre va- Há dois hospitais: no primeiro nascem 120 bebês a
riáveis: Foi dito anteriormente que força (magnitude) e cada dia e no outro apenas 12. Em média a razão de me-
confiabilidade são dois aspectos diferentes dos relaciona- ninos para meninas nascidos a cada dia em cada hospi-
mentos entre variáveis. Contudo, eles não são totalmente tal é de 50/50. Contudo, certo dia, em um dos hospitais
independentes. Em geral, em uma amostra de um certo nasceram duas vezes mais meninas do que meninos. Em
tamanho quanto maior a magnitude da relação entre va- que hospital isso provavelmente aconteceu? A resposta é
riáveis, mais confiável a relação. óbvia para um estatístico, mas não tão óbvia para os lei-
Assumindo que não há relação entre as variáveis na gos: é muito mais provável que tal fato tenha ocorrido no
população, o resultado mais provável deveria ser também hospital menor. A razão para isso é que a probabilidade
não encontrar relação entre as mesmas variáveis na amos- de um desvio aleatório da média da população aumenta
tra da pesquisa. Assim, quanto mais forte a relação encon- com a diminuição do tamanho da amostra (e diminui com
trada na amostra menos provável é a não existência da re- o aumento do tamanho da amostra).
lação correspondente na população. Então a magnitude e Por que pequenas relações podem ser provadas
a significância de uma relação aparentam estar fortemente como significantes apenas por grandes amostras: Os
relacionadas, e seria possível calcular a significância a partir exemplos dos parágrafos anteriores indicam que se um
da magnitude e vice-versa. Entretanto, isso é válido ape- relacionamento entre as variáveis em questão (na popu-
nas se o tamanho da amostra é mantido constante, por- lação) é pequeno, então não há meio de identificar tal
que uma relação de certa força poderia ser tanto altamente relação em um estudo a não ser que a amostra seja cor-
significante ou não significante de todo dependendo do respondentemente grande. Mesmo que a amostra seja de
tamanho da amostra. fato “perfeitamente representativa” da população o efeito
não será estatisticamente significante se a amostra for pe-
Por que a significância de uma relação entre va- quena. Analogamente, se a relação em questão é muito
riáveis depende do tamanho da amostra: Se há muito grande na população então poderá ser constatada como
poucas observações então há também poucas possibili- altamente significante mesmo em um estudo baseado em
dades de combinação dos valores das variáveis, e então a uma pequena amostra. Mais um exemplo:

4
ESTATÍSTICA

Se uma moeda é ligeiramente viciada, de tal forma que Em uma amostra o índice médio de WCC é igual a 100
quando lançada é ligeiramente mais provável que ocorram em homens e 102 em mulheres. Assim, poderia-se dizer
caras do que coroas (por exemplo uma proporção 60% para que, em média, o desvio de cada valor da média de ambos
40%). Então dez lançamentos não seriam suficientes para (101) contém uma componente devida ao sexo do sujeito,
convencer alguém de que a moeda é viciada, mesmo que e o tamanho desta componente é 1. Este valor, em certo
o resultado obtido (6 caras e 4 coroas) seja perfeitamente sentido, representa uma medida da relação entre sexo e
representativo do viesamento da moeda. Entretanto, dez lan- WCC. Contudo, este valor é uma medida muito pobre, por-
çamentos não são suficientes para provar nada? Não, se o que não diz quão relativamente grande é aquela compo-
efeito em questão for grande o bastante, os dez lançamen- nente em relação à “diferença global” dos valores de WCC.
tos serão suficientes. Por exemplo, imagine-se que a moeda Há duas possibilidades extremas: S
seja tão viciada que não importe como venha a ser lançada - Se todos os valore de WCC de homens são exata-
o resultado será cara. Se tal moeda fosse lançada dez vezes, mente iguais a 100 e os das mulheres iguais a 102 então
e cada lançamento produzisse caras, muitas pessoas consi- todos os desvios da média conjunta na amostra seriam in-
derariam isso prova suficiente de que há “algo errado” com teiramente causados pelo sexo. Poderia-se dizer que nesta
a moeda. Em outras palavras, seria considerada prova con- amostra sexo é perfeitamente correlacionado a WCC, ou
vincente de que a população teórica de um número infinito seja, 100% das diferenças observadas entre os sujeitos re-
de lançamentos desta moeda teria mais caras do que coroas. lativas a suas WCC’s devem-se a seu sexo.
Assim, se a relação é grande, então poderá ser considerada
- Se todos os valores de WCC estão em um intervalo de
significante mesmo em uma pequena amostra.
0 a 1000, a mesma diferença (de 2) entre a WCC média de
homens e mulheres encontrada no estudo seria uma par-
Pode uma “relação inexistente” ser um resultado
te tão pequena na diferença global dos valores que muito
significante: Quanto menor a relação entre as variáveis
provavelmente seria considerada desprezível. Por exemplo,
maior o tamanho de amostra necessário para prová-la sig-
um sujeito a mais que fosse considerado poderia mudar,
nificante. Por exemplo, imagine-se quantos lançamentos
seriam necessários para provar que uma moeda é viciada ou mesmo reverter, a direção da diferença. Portanto, toda
se seu viesamento for de apenas 0,000001 %! Então, o ta- boa medida das relações entre variáveis tem que levar em
manho mínimo de amostra necessário cresce na mesma conta a diferenciação global dos valores individuais na
proporção em que a magnitude do efeito a ser demonstra- amostra e avaliar a relação em termos (relativos) de quanto
do decresce. Quando a magnitude do efeito aproxima-se desta diferenciação se deve à relação em questão.
de zero, o tamanho de amostra necessário para prová-lo
aproxima-se do infinito. Isso quer dizer que, se quase não “Formato geral” de muitos testes estatísticos: Como
há relação entre duas variáveis o tamanho da amostra pre- o objetivo principal de muitos testes estatísticos é avaliar
cisa quase ser igual ao tamanho da população, que teorica- relações entre variáveis, muitos desses testes seguem o
mente é considerado infinitamente grande. A significância princípio exposto no item anterior. Tecnicamente, eles re-
estatística representa a probabilidade de que um resultado presentam uma razão de alguma medida da diferenciação
similar seja obtido se toda a população fosse testada. As- comum nas variáveis em análise (devido à sua relação) pela
sim, qualquer coisa que fosse encontrada após testar toda diferenciação global daquelas variáveis. Por exemplo, teria-
a população seria, por definição, significante ao mais alto -se uma razão da parte da diferenciação global dos valores
nível possível, e isso também inclui todos os resultados de de WCC que podem se dever ao sexo pela diferenciação
“relação inexistente”. global dos valores de WCC. Esta razão é usualmente cha-
mada de razão da variação explicada pela variação total.
Como medir a magnitude (força) das relações en- Em estatística o termo variação explicada não implica ne-
tre variáveis: Há muitas medidas da magnitude do rela- cessariamente que tal variação é “compreendida concei-
cionamento entre variáveis que foram desenvolvidas por tualmente”. O termo é usado apenas para denotar a va-
estatísticos: a escolha de uma medida específica em dadas riação comum às variáveis em questão, ou seja, a parte da
circunstâncias depende do número de variáveis envolvidas, variação de uma variável que é “explicada” pelos valores
níveis de mensuração usados, natureza das relações, etc. específicos da outra variável e vice-versa.
Quase todas, porém, seguem um princípio geral: elas pro-
curam avaliar a relação comparando-a de alguma forma Como é calculado o nível de significância estatís-
com a “máxima relação imaginável” entre aquelas variáveis tico: Assuma-se que já tenha sido calculada uma medida
específicas. Tecnicamente, um modo comum de realizar da relação entre duas variáveis (como explicado acima). A
tais avaliações é observar quão diferenciados são os valo- próxima questão é “quão significante é esta relação”? Por
res das variáveis, e então calcular qual parte desta “diferen- exemplo, 40% da variação global ser explicada pela relação
ça global disponível” seria detectada na ocasião se aquela entre duas variáveis é suficiente para considerar a relação
diferença fosse “comum” (fosse apenas devida à relação significante? “Depende”. Especificamente, a significância
entre as variáveis) nas duas (ou mais) variáveis em questão. depende principalmente do tamanho da amostra. Como já
Falando menos tecnicamente, compara-se “o que é comum foi explicado, em amostras muito grandes mesmo relações
naquelas variáveis” com “o que potencialmente poderia muito pequenas entre variáveis serão significantes, en-
haver em comum se as variáveis fossem perfeitamente re- quanto que em amostras muito pequenas mesmo relações
lacionadas”. Outro exemplo:

5
ESTATÍSTICA

muito grandes não poderão ser consideradas confiáveis de amostras apresentará uma diferença substancialmente
(significantes). Assim, para determinar o nível de significân- diferente de zero. Quão freqüentemente isso ocorre? Se o
cia estatística torna-se necessária uma função que repre- tamanho da amostra é grande o bastante, os resultados
sente o relacionamento entre “magnitude” e “significância” de tais repetições são “normalmente distribuídos”, e assim,
das relações entre duas variáveis, dependendo do tama- conhecendo a forma da curva normal pode-se calcular pre-
nho da amostra. Tal função diria exatamente “quão prová- cisamente a probabilidade de obter “por acaso” resultados
vel é obter uma relação de dada magnitude (ou maior) de representando vários níveis de desvio da hipotética média
uma amostra de dado tamanho, assumindo que não há tal populacional 0 (zero). Se tal probabilidade calculada é tão
relação entre aquelas variáveis na população”. Em outras pequena que satisfaz ao critério previamente aceito de sig-
palavras, aquela função forneceria o nível de significância nificância estatística, então pode-se concluir que o resul-
(nível-p), e isso permitiria conhecer a probabilidade de erro tado obtido produz uma melhor aproximação do que está
envolvida em rejeitar a idéia de que a relação em ques- acontecendo na população do que a “hipótese nula”. Lem-
tão não existe na população. Esta hipótese “alternativa” (de brando ainda que a hipótese nula foi considerada apenas
que não há relação na população) é usualmente chamada por “razões técnicas” como uma referência contra a qual o
de hipótese nula. Seria ideal se a função de probabilidade resultado empírico (dos experimentos) foi avaliado.
fosse linear, e por exemplo, apenas tivesse diferentes incli- Todos os testes estatísticos são normalmente dis-
nações para diferentes tamanhos de amostra. Infelizmente, tribuídos: Não todos, mas muitos são ou baseados na
a função é mais complexa, e não é sempre exatamente a distribuição normal diretamente ou em distribuições a ela
mesma. Entretanto, em muitos casos, sua forma é conhe- relacionadas, e que podem ser derivadas da normal, como
cida e isso pode ser usado para determinar os níveis de as distribuições t, F ou Chi-quadrado (Qui-quadrado). Tipi-
significância para os resultados obtidos em amostras de camente, estes testes requerem que as variáveis analisadas
certo tamanho. Muitas daquelas funções são relacionadas sejam normalmente distribuídas na população, ou seja, que
a um tipo geral de função que é chamada de normal (ou elas atendam à “suposição de normalidade”. Muitas variá-
gaussiana). veis observadas realmente são normalmente distribuídas,
o que é outra razão por que a distribuição normal repre-
Por que a distribuição normal é importante: A “dis- senta uma “característica geral” da realidade empírica. O
tribuição normal” é importante porque em muitos casos problema pode surgir quando se tenta usar um teste ba-
ela se aproxima bem da função introduzida no item ante- seado na distribuição normal para analisar dados de variá-
rior. A distribuição de muitas estatísticas de teste é normal veis que não são normalmente distribuídas. Em tais casos
ou segue alguma forma que pode ser derivada da distribui- há duas opções. Primeiramente, pode-se usar algum teste
ção normal. Neste sentido, filosoficamente, a distribuição “não paramétrico” alternativo (ou teste “livre de distribui-
normal representa uma das elementares “verdades acerca ção”); mas isso é freqüentemente inconveniente porque
da natureza geral da realidade”, verificada empiricamente, tais testes são tipicamente menos poderosos e menos fle-
e seu status pode ser comparado a uma das leis funda- xíveis em termos dos tipos de conclusões que eles podem
mentais das ciências naturais. A forma exata da distribuição proporcionar. Alternativamente, em muitos casos ainda
normal (a característica “curva do sino”) é definida por uma se pode usar um teste baseado na distribuição normal se
função que tem apenas dois parâmetros: média e desvio apenas houver certeza de que o tamanho das amostras é
padrão. suficientemente grande. Esta última opção é baseada em
Uma propriedade característica da distribuição normal um princípio extremamente importante que é largamente
é que 68% de todas as suas observações caem dentro de responsável pela popularidade dos testes baseados na dis-
um intervalo de 1 desvio padrão da média, um intervalo de tribuição normal. Nominalmente, quanto mais o tamanho
2 desvios padrões inclui 95% dos valores, e 99% das obser- da amostra aumente, mais a forma da distribuição amos-
vações caem dentro de um intervalo de 3 desvios padrões tral (a distribuição de uma estatística da amostra) da média
da média. Em outras palavras, em uma distribuição normal aproxima-se da forma da normal, mesmo que a distribui-
as observações que tem um valor padronizado de menos ção da variável em questão não seja normal. Este princípio
do que -2 ou mais do que +2 tem uma freqüência relativa é chamado de Teorema Central do Limite.
de 5% ou menos (valor padronizado significa que um valor
é expresso em termos de sua diferença em relação à média, Como se conhece as consequências de violar a supo-
dividida pelo desvio padrão). sição de normalidade: Embora muitas das declarações fei-
tas anteriormente possam ser provadas matematicamente,
Ilustração de como a distribuição normal é usada algumas não têm provas teóricas e podem demonstradas
em raciocínio estatístico (indução): Retomando o exem- apenas empiricamente via experimentos Monte Carlo (si-
plo já discutido, onde pares de amostras de homens e mu- mulações usando geração aleatória de números). Nestes
lheres foram retirados de uma população em que o valor experimentos grandes números de amostras são geradas
médio de WCC em homens e mulheres era exatamente o por um computador seguindo especificações pré-designa-
mesmo. Embora o resultado mais provável para tais expe- das e os resultados de tais amostras são analisados usando
rimentos (um par de amostras por experimento) é que a uma grande variedade de testes. Este é o modo empírico
diferença entre a WCC média em homens e mulheres em de avaliar o tipo e magnitude dos erros ou viesamentos a
cada par seja próxima de zero, de vez em quando um par que se expõe o pesquisador quando certas suposições teó-

6
ESTATÍSTICA

ricas dos testes usados não são verificadas nos dados sob uma boa amostragem, livre de erros, tais como falta de de-
análise. Especificamente, os estudos de Monte Carlo foram terminação correta da população, falta de aleatoriedade e
usados extensivamente com testes baseados na distribui- erro no dimensionamento da amostra.
ção normal para determinar quão sensíveis eles eram à vio- Quando não é possível estudar, exaustivamente, todos
lações da suposição de que as variáveis analisadas tinham os elementos da população, estudam-se só alguns elemen-
distribuição normal na população. A conclusão geral destes tos, a que damos o nome de Amostra.
estudos é que as conseqüências de tais violações são me-
nos severas do que se tinha pensado a princípio. Embora Exemplo: Se o objetivo for estudar o desempenho es-
estas conclusões não devam desencorajar ninguém de se colar de um colégio, é indicado estudar as notas dos alunos
preocupar com a suposição de normalidade, elas aumenta- ao final do ano letivo. A partir daí poderemos facilmente 
ram a popularidade geral dos testes estatísticos dependen- obter a percentagem de aprovações e reprovações. Agora,
tes da distribuição normal em todas as áreas de pesquisa. se entretanto o interesse for aprofundar o estudo, saber se
por exemplo o sucesso no estudo pode ser atribuído para
Objeto da Estatística: Estatística é uma ciência exata as alunas ou alunos, deveremos recolher não somente a
que visa fornecer subsídios ao analista para coletar, orga- informação relativa a nota do aluno que aprovou ou não,
nizar, resumir, analisar e apresentar dados. Trata de parâ- mas também para cada um, o sexo.
metros extraídos da população, tais como média ou desvio
padrão. A estatística fornece-nos as técnicas para extrair   Aprovados
informação de dados, os quais são muitas vezes incom-
pletos, na medida em que nos dão informação útil sobre Masculino 28%
o problema em estudo, sendo assim, é objetivo da Estatís- Feminino 13%
tica extrair informação dos dados para obter uma melhor
compreensão das situações que representam. Quando se Total 41%
aborda uma problemática envolvendo métodos estatísti-
cos, estes devem ser utilizados mesmo antes de se recolher Quando a amostra não representa corretamente a po-
a amostra, isto é, deve-se planejar a experiência que nos vai pulação diz-se enviesada e a sua utilização pode dar ori-
permitir recolher os dados, de modo que, posteriormente, gem a interpretações erradas.
se possa extrair o máximo de informação relevante para o
problema em estudo, ou seja, para a população de onde Estatística Descritiva e Estatística Indutiva
os dados provêm. Quando de posse dos dados, procura-se
agrupá-los e reduzi-los, sob forma de amostra, deixando de Sondagem: por vezes não é viável nem desejável, prin-
lado a aleatoriedade presente. Seguidamente o objetivo do cipalmente quando o número de elementos da população
estudo estatístico pode ser o de estimar uma quantidade é muito elevado, inquirir todos os seus elementos sempre
ou testar uma hipótese, utilizando-se técnicas estatísticas que se quer estudar uma ou mais características particula-
convenientes, as quais realçam toda a potencialidade da res dessa população. Assim surge o conceito de sondagem,
Estatística, na medida em que vão permitir tirar conclusões que se pode tentar definir como: Estudo científico de uma
acerca de uma população, baseando-se numa pequena parte de uma população com o objetivo de estudar ati-
amostra, dando-nos ainda uma medida do erro cometido. tudes, hábitos e preferências da população relativamente
Exemplo: Ao chegarmos a uma churrascaria, não pre- a acontecimentos, circunstâncias e assuntos de interesse
cisamos comer todos os tipos de saladas, de sobremesas comum. 
e de carnes disponíveis, para conseguirmos chegar a con-
clusão de que a comida é de boa qualidade. Basta que seja Amostragem: é o processo que procura extrair da po-
provado um tipo de cada opção para concluirmos que es- pulação elementos que através de cálculos probabilísticos
tamos sendo bem servidos e que a comida está dentro dos ou não, consigam prover dados inferenciais da população-
padrões. -alvo.

Técnicas de Amostragem. Não Probabilística


Acidental ou conveniência
Qualquer estudo científico enfrenta o dilema de estu-
do da população ou da amostra. Obviamente teria-se uma Intencional
precisão muito superior se fosse analisado o grupo inteiro, Quotas ou proporcional
a população, do que uma pequena parcela representati- Tipos de
va, denominada amostra. Observa-se que é impraticável Desproporcional
Amostragem
na grande maioria dos casos, estudar-se a população em Probabilística
virtude de distâncias, custo, tempo, logística, entre outros
Aleatória Simples
motivos. A alternativa praticada nestes casos é o trabalho
com uma amostra confiável. Se a amostra é confiável e pro- Aleatória Estratificada
porciona inferir sobre a população, chamamos de inferên- Conglomerado
cia estatística. Para que a inferência seja válida, é necessária

7
ESTATÍSTICA

- Não Probabilística: A escolha de um método não pro- Marcas Pesos Número de elementos a
babilístico, via de regra, sempre encontrará desvantagem serem entrevistados
frente ao método probabilístico. No entanto, em alguns
casos, se faz necessário a opção por este método. Fonse- Nokia 2,4 120
ca (1996), alerta que não há formas de se generalizar os Ericson 0,8 40
resultados obtidos na amostra para o todo da população
quando se opta por este método de amostragem. Gradiente 0,6 30
Philips 0,2 10
- Acidental ou Conveniência: Indicada para estudos ex- Total 4,0 200
ploratórios. Frequentemente utilizados em super mercados
para testar produtos.
Dimensionamento da amostra: Quando deseja-se di-
mensionar o tamanho da amostra, o procedimento desen-
- Intencional: O entrevistador dirige-se a um grupo em
volve-se em três etapas distintas:
específico para saber sua opinião. Por exemplo, quando de
- Avaliar a variável mais importante do grupo e a mais
um estudo sobre automóveis, o pesquisador procura ape-
significativa;
nas oficinas.
- Analisar se é ordinal, intervalar ou nominal;
- Verificar se a população é finita ou infinita;
- Quotas ou Proporcional: Na realidade, trata-se de uma
variação da amostragem intencional. Necessita-se ter um
prévio conhecimento da população e sua proporcionalida-
Variável intervalar e
de. Por exemplo, deseja-se entrevistar apenas indivíduos
população infinita
da classe A, que representa 12% da população. Esta será a
quota para o trabalho. Comumente também substratifica-
-se uma quota obedecendo a uma segunda proporciona- Variável intervalar e
lidade.D população finita

- Desproporcional: Muito utilizada quando a escolha Variável nominal ou


da amostra for desproporcional à população. Atribui-se ordinal e população
pesos para os dados, e assim obtém-se resultados ponde- infinita
rados representativos para o estudo.
Variável nominal ou
Exemplo: Em um mercado de telefones celulares, con-
ordinal e população
siderando uma fatia de mercado meramente ilustrativa,
finita
obteve-se os resultados conforme descritos a seguir:

Obs.: A proporção (p) será a estimativa da verdadeira


Marcas  Participação Elementos da Amostra proporção de um dos níveis escolhidos para a variável ado-
no mercado n % tada. Por exemplo, 60% dos telefones da amostra é Nokia,
então p será 0,60. A proporção (q) será sempre 1 - p. Neste
Nokia 60% 50 25%
exemplo q, será 0,4. O erro é representado por d. Para ca-
Ericson 20% 50 25% sos em que não se tenha como identificar as proporções
Gradiente 15% 50 25% confere-se 0,5 para p e q.
Philips 05% 50 25% Motivação: Muitas vezes estamos interessados em
Total 100% 200 100% algumas características de uma população, por exemplo,
qual a característica de uma região em Belo Horizonte?
Objetivando obtermos os pesos a serem atribuídos a Qual o perfil dos moradores dessa região? A consulta a
cada marca de telefone celular, para uma análise conjunta todos os moradores dessa região tornaria o levantamento
de todas as marcas no exemplo acima, obtemos os seguin- muito inviável por diversas razões (limitações):
tes coeficientes: - Custo
- Tempo
- Pessoal
- Comodidade
- Impossibilidade de observar todas as unidades amos-
trais.

Dessa forma, consultar uma parte dos moradores (uma


amostra) é uma alternativa bem razoável. Por que fazer
amostragem? População grande, diminuir custo, resulta-

8
ESTATÍSTICA

dos mais rápidos, aumentar a representatividade, melhorar Estimador: É qualquer função das observações amos-
a precisão (mais cuidado na obtenção dos dados), minimi- trais e que é utilizada para inferir sobre o parâmetro popu-
zar perdas por medidas destrutivas. Por que fazer censo? lacional de interesse. Ex.: proporção das pessoas que estão
População pequena, precisão completa (não se permite satisfeitas com o 190.
erros), a observação já é completa.
Notação: Estimativa: É o valor numérico observado do estima-
N: tamanho da população dor. Ex.: 68% das pessoas que acionaram o 190 estão sa-
n: tamanho da amostra tisfeitas.
X1,..., XN : elementos da população Variação amostral: É a variação que acontece quando
x1,..., xn: elementos da amostra amostras com unidades amostrais diferentes produz esti-
mativas diferentes.
Características Populacionais: São aspectos (variá- Erro de estimação (erro de amostragem): É a quan-
veis) da população que nós estamos interessados em ana- tidade:
lisar. Ex.: o grau de satisfação com o serviço 190 da polícia.

Elemento: É um objeto no qual as características de Onde = parâmetro populacional de interesse


interesse podem ser medidas. Ex.: cada residente que acio-
nou a polícia através do 190. = estimador de
Esse erro acontece devido ao fato de que a amostra
População alvo (ou objetiva): É a coleção finita de não pode fornecer uma informação completa sobre a ca-
elementos sobre a qual desejamos fazer inferência, ou seja, racterística populacional medida. Tal erro pode ser con-
coletar informações. Ex.: todas as pessoas que acionaram a trolado através da escolha adequada do procedimento de
polícia pelo 190. amostragem a ser utilizada na coleta de dados e do tama-
nho da amostra.
População de estudo (ou referenciada): É o grupo de
elementos do qual a amostra é selecionada, ou seja, é a Erros não devidos à amostragem: São erros que po-
população que deveria ser representada pela amostra. Ex.: dem aparecer nas pesquisas e são mais difíceis de serem
todas as pessoas que ligaram para o 190 consideradas no controlados.
cadastro que auxiliou à amostragem. a) Erros de campo: Não respostas, informações impre-
cisas, efeitos dos entrevistadores, etc.
Unidades amostrais: São partes disjuntas da popula- b) Erros de planejamento: Sistemas de referências não
ção. A união dessas unidades deve constituir toda a popu- adequados, escolha incorreta do método de seleção de
lação referenciada e cada elemento da população só pode unidades amostrais, vício na seleção das unidades amos-
pertencer a uma única unidade amostral. Ex.: cada residen- trais, deficiência dos questionários, etc.
te que acionou a polícia através do 190. A invalidação ou não da extensão dos resultados da
pesquisa devido a “não resposta” dependerá:
Sistema de referência (ou frame): É uma lista de to- a) do volume de não respondentes;
das as unidades amostrais. Ex.: cadastro de todas as pes- b) de uma análise criteriosa sobre a diferença de perfil
soas que acionaram a polícia pelo 190. dos respondentes em relação aos não respondentes.

Amostra: É uma coleção de unidades amostrais sele- Amostragem: É o processo de seleção de uma amos-
cionadas do sistema de referência da pesquisa. tra.

Amostra representativa: É uma amostra na qual qual- Plano amostral: É o protocolo que descreve todos
quer elemento da população pode fazer parte dela. os métodos e medidas envolvidos na execução da amos-
tragem. O plano amostral contém todas as informações,
População amostrada: É a população que dá origem como o método usado para seleção da amostra, erro de
à amostra final da pesquisa, conhecida somente após o tra- estimação e tamanho de amostra, estimadores usados na
balho de campo. Ex.: suponha que indo a campo não se pesquisa, etc.
consiga informações sobre algumas pessoas que usaram
o 190 selecionadas para entrevista, por recusa, ausência, Seleção probabilística: São procedimentos de seleção
morte, etc ou ainda que não estavam no frame, nesse caso, de amostras nas quais cada unidade amostral tem associa-
a amostra final refletirá informações sobre uma nova popu- da uma probabilidade de seleção diferente de zero.
lação, que é a população amostrada.
Seleção não-probabilística: São procedimentos de
Parâmetros populacionais: São medidas que sinteti- seleção nos quais as unidades amostrais são escolhidas in-
zam a informação dos elementos populacionais em relação tencionalmente, ou até atingir-se uma cota, ou de algum
às características populacionais de interesse. Ex.: grau de outro modo, com isso algumas unidades amostrais tem
satisfação das pessoas que usaram o 190. probabilidade zero de seleção.

9
ESTATÍSTICA

Planejamento de Pesquisa

Para que se possa fazer uma pesquisa por amostragem com qualidade é necessário definir-se claramente:
- Os objetivos gerais da pesquisa;
- As populações alvo e de estudo, além de subpopulações de interesse;
- As características populacionais e os parâmetros de interesse;
- A unidade amostral e o sistema de referência de cada estágio de seleção da amostra;
- O método de amostragem a ser empregado na seleção da amostra; os estimadores e seus erros de estimação; tama-
nho de amostras;
- O método de coleta de informações a ser empregado em campo, ou seja, entrevistas pessoais, por telefone, pelo
correio, internet, etc.
- O instrumento de medida a ser utilizado na coleta de informações, ou seja, um medidor físico. Exemplo: questionário;

Se o instrumento for um questionário, as questões precisam ser cuidadosamente formuladas e testadas de modo a
evitar-se dupla interpretação, constrangimentos, respostas incorretas, etc.
- Procedimentos a serem adotados pelos responsáveis pela coleta de informações em campo para diminuir a taxa de
não resposta, ou os erros não amostrais;
- A população amostrada;
- Além disso é necessário ter uma equipe de trabalho muito bem escolhida, treinada e organizada;
- É essencial que se tenha manuais de instrução para o pessoal encarregado da coleta de dados e supervisores prepa-
rados para resolver situações inesperadas;
- Processamento de dados: escolher bem a forma de entrar com os dados no sistema para não dificultar a análise es-
tatística posterior dos dados;
- Deve-se ter bons digitadores bem treinados, manual de digitação com dicionários de variáveis e códigos de digitação;
- Os erros de digitação e a consistência dos dados precisam ser verificados;

Principais casos de amostragem não-probabilística

- Inacessibilidade a toda população: quando o pesquisador não tem acesso a toda população de estudo, somente uma
parte dela está disponível. Exemplo: população de usuários de drogas de Belo Horizonte (não existe cadastro).
- Material contínuo: devido a característica da continuidade é impossível realizar sorteio. Exemplo: Retirar amostras de
água em diferentes pontos de um rio para avaliar a poluição.
- Amostragem por quotas: Inclui unidades amostrais na amostra segundo diversas características da população e nas
mesmas proporções que figuram na população. Exemplo: idade, sexo, nível sócio-econômico, etc.
- Amostragem por julgamento (ou conveniência): Inclui na amostra as unidades estatísticas que poderão proporcionar
uma representatividade da população, de acordo com a lógica, senso comum ou um julgamento equilibrado.
- Amostragem por voluntário: Quando o indivíduo se apresenta para fazer parte da amostra. É um método muito apli-
cado em pesquisas médicas.
- A esmo (ou sem norma): O pesquisador procura ser aleatório sem, no entanto, realizar propriamente o sorteio. Exem-
plo: Misturar 10000 parafusos e retirar 100.

Algumas Técnicas de Amostragem Probabilística

Amostragem Aleatória Simples (AAS): Indicada quando:


- uma amostra de tamanho n é selecionada de uma população de tamanho N no qual todas as amostras possíveis de
tamanho n tem a mesma probabilidade de ser selecionada.
- a lista de todos os elementos que compõem a população-alvo é conhecida.
- a população-alvo é homogênea em relação à variável de interesse.
Procedimento:
Þ Enumerar de 1 a N, os elementos da população.
Þ Sortear n números compreendidos entre 1 e N.

O mecanismo aleatório de seleção dos números poderia ser, por exemplo, um gerador computacional ou uma tabela
de números aleatórios.
- Os elementos correspondentes aos números sorteados formarão a amostra.
Exemplo: Os dados a seguir referem-se aos diâmetros (mm) de 30 eixos produzidos por uma indústria automobilística.

26 32 26 19 20 22 30 31 17 20 16 17 28 15 26 19 14 16 16 26 27 31 13 26 18 29 18 16 21 24

10
ESTATÍSTICA

Extrair, sem reposição, uma amostra aleatória de tamanho n = 5.

Solução:

Eixo 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15
Diâmetro 26 32 26 19 20 22 30 31 17 20 16 17 28 15 26
Eixo 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30
Diâmetro 19 14 16 16 26 27 31 13 26 18 29 18 16 21 24

Sorteio: 26 15 03 07 06
Diâmetro: 29 26 26 30 22
Amostragem Estratificada (AAE): Este tipo de amostragem deve ser utilizado quando os elementos da população
podem ser divididos em grupos não-superpostos e homogêneos em relação à característica que se quer medir (em relação
à variável de interesse).
O objetivo da amostragem aleatória estratificada é formar estratos homogêneos e então realizar amostragem aleatória
simples dentro de cada estrato.
Essa forma de amostragem é uma das mais utilizadas, já que a maioria das populações tem estratos bem definidos: os
homens e as mulheres; os alunos das escolas X, Y, Z; os operários pertencentes às classes salariais 1, 2, 3, 4 etc. Os estratos
devem ser heterogêneos entre si e, homogêneos internamente.

Procedimento:
- Primeiro divide a população alvo em L estratos (ou grupos)
Seja: Ni= número de unidades amostrais no estrato i;
N=N1+N2+...+NL N é o nº de unidades amostrais na população
- Selecionamos uma AAS dentro de cada estrato
O mais comum é utilizar-se amostragem estratificada proporcional, que consiste em selecionar os elementos da amos-
tra entre os vários estratos em número proporcional ao tamanho de cada um dos estratos.

Procedimento:
- Calcula-se a fração de amostragem: f = n/N
- O número de elementos a serem sorteados em cada estrato será:
n1 = N1f , n2 = N2f , ...., nL = NLf

Exemplo: Considere a população dos funcionários de uma indústria (N=50.000).


Desejamos estimar o salário médio de um funcionário desta indústria usando uma amostra de tamanho n=2500 fun-
cionários. A população é heterogênea com relação a variável de interesse, pois o salário varia muito dependendo do cargo.
(n=2500).

Cargo N Salário
Chefe de seção 5000 Alto
Operário especializado 15000 Médio
Operário não especializado 30000 Baixo
Total 50000  

Podemos formar estratos de acordo com o cargo. Assim teremos estratos homogêneos com relação ao salário e tere-
mos heterogeneidade entre os estratos. Selecionar os elementos da amostra entre os vários estratos em número propor-
cional ao tamanho de cada um deles fração de amostragem: f = n/N = 2500/50000 = 0,05
O número de elementos a serem sorteados em cada estrato será: n1 = fN1 = 0,05.5000 = 250; n2 = 0,05.15000 = 750; n3
= 0,05.30000 = 15000
Usando o frame, sortear 250 chefes de seção, 750 operários especializados e 15000 operários não especializados.
Exemplo: Na execução de uma rede elétrica, uma firma especializada utiliza eletrodutos de dois tipos: E e F. Em uma
análise do custo do material, foram consideradas 30 faturas, representadas a seguir pelo preço de 10 m de eletroduto:
E: 710 710 715 715 755 760
F: 750 750 750 750 755 760 760 765 765 765 765 765 770 770 770 785 785 790 790 795 795 800 810 820
Extrair, sem reposição, uma amostra estratificada proporcional de tamanho n = 8.

11
ESTATÍSTICA

Solução:
Eletroduto 1 2 3 4 5 6
Fatura 710 710 715 715 755 760

Tipo E:

Eletroduto 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Fatura 750 750 750 750 755 760 760 765 765 765 765 765
Eletroduto 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24
Fatura 770 770 770 785 785 790 790 795 795 800 810 820

Tipo F: f = 8/30 = 0,27; n1 = 6.0,27 = 1,62 @ 2; n2 = 24.0,27 = 6,48 @ 6


Sorteio no frame 03 01 01 10 02 04 24 07
Tipo E E F F F F F F
Fatura - Amostra 715 710 750 765 750 750 820 760

Vantagens da AAE sobre a AAS:


- Pode fornecer estimativas mais precisas para a mesma amostra de tamanho n, em particular, as observações em cada
estrato são quase homogêneas;
- Pode reduzir o custo tal como requisitar tamanhos amostrais pequenos;
- Podemos estar interessados em subgrupos (estratos) tal como a população completa.

Amostragem Sistemática (AS): Utilizada quando temos os elementos de uma população ordenada, e a retirada dos
elementos da amostra é feita periodicamente.
Ex.: os prédios de uma rua, as linhas de produção, listas telefônicas, etc.

Procedimento:
- Define-se o intervalo de amostragem r = N/n
- Sorteia-se o primeiro elemento K, 1£ K £ r, e os demais serão definidos pela soma de r.

A amostra sistemática de tamanho n será constituída dos elementos de ordem K, K + r, K + 2r, ..., K + (n – 1)r.

Exemplo: 100 casas em uma rua, queremos sortear 6.


Solução: N = 100, n = 6 , r = 100/6 = 16,6 @ 17.
Número sorteado K = 14
A amostra será constituída dos elementos de ordem: 14 31 48 65 82 99.
Se o tamanho da população é desconhecido, não podemos determinar exatamente o valor de r. Escolheremos intui-
tivamente um valor razoável para r.
Às vezes a amostragem sistemática é preferida à amostragem aleatória simples pois acarreta economia de tempo e
dinheiro, além de ter grande facilidade de determinação dos elementos da amostra.
Vantagem: amostra-se uniformemente todo o espaço.

Amostragem por Conglomerado (ou Clusters) (AC): É uma amostra probabilística em que cada unidade amostral é
uma coleção, ou grupo de elementos.
Exemplo: Um quarteirão de uma cidade, que consiste de uma coleção (ou conglomerado) de domicílios.
O primeiro passo para se usar esse processo é especificar conglomerados apropriados, que idealmente são heterogê-
neos internamente e semelhantes entre si.
Nesse caso, a seleção de um pequeno número de conglomerados com um grande número de elementos é suficiente
para representar a população.
A amostra por conglomerado é muito útil quando:
- Não se dispõe de um bom frame, ou sua obtenção é muito complicada;
- Quando a distância geográfica entre os elementos eleva demais o custo de obter uma observação.
Na AAE seleciona-se uma AAS (de indivíduos) dentro de cada estrato;
Na AC selecionam-se AAS de grupos, e todos os indivíduos dentro dos grupos selecionados farão parte da amostra.

12
ESTATÍSTICA

Exemplo: Estamos interessados no salário médio dos Frequência e Tabela de frequências


operários da indústria automobilística.
Solução: A frequência absoluta, ou apenas frequência, de um
- Amostragem aleatória simples é inviável, pois pressu- valor é o número de vezes que uma determinada variável
põe uma listagem de todos os operários de todas as mon- assume esse valor. Ao conjunto das frequências dos dife-
tadoras, o que é difícil de se obter. rentes valores da variável dá-se o nome de distribuição da
- Amostragem estratificada é também inviável, já que frequência (ou apenas distribuição).
aqui também é necessária uma listagem dos elementos por
estrato. A frequência relativa, é a percentagem relativa à fre-
- A melhor escolha é amostragem por conglomerado. quência.
Cada montadora é um conglomerado. Assim temos hete-
rogeneidade dentro dos conglomerados com relação ao A frequência acumulada de um valor, é o numero de
salário e entre os conglomerados existe homogeneidade. vezes que uma variável assume um valor inferior ou igual
Extrai-se uma amostra aleatória simples de montadoras e a esse valor.
nelas pesquisa-se o salário de todos os funcionários.
A  frequência relativa acumulada, é a percentagem
relativa à frequência acumulada.

A tabela de frequências é uma forma de representa-


ção da frequência de cada valor distinto da variável. Junta-
mente com as frequências, esta poderá incluir frequências
relativas, frequências acumuladas e frequências relativas
acumuladas.
 
De uma forma geral, a tabela de frequências é usada
Exemplo: Um estatístico contratado pela prefeitura de- para variáveis categóricas, uma vez que no caso de uma
seja estimar a renda média por domicílio em uma determi- variável contínua a maior parte dos valores terá frequência
nada cidade do estado Paraná. Como ele deve escolher a 1, o que não resolve o problema inicial de se resumir a
amostra? informação.
Solução: Se ele utilizar a AAS, precisará ter uma lista Neste caso, pode-se agrupar os valores da variável
com todos os domicílios desta cidade (solução muitas ve- contínua em intervalos, transformado-a numa variável
zes impossível ou muito cara). Se utilizar então a AAE, ele categórica e assim ter mais sentido a tabela de frequên-
também precisará desta lista contendo todos os domicílios cias respectiva.
em cada estrato. Porém, ele utilizando esta amostragem Exemplo:
por conglomerados, poderia dividir a cidade em regiões Consideremos a seguinte tabela
tais como quarteirões, bairros (conglomerados de elemen-  
tos) e selecionar uma AAS de bairros da população. Depois Nome  Sexo  Nome  Sexo 
poderia observar a renda de todos os domicílios dentro de
cada bairro. Vemos que desta forma o custo de se realizar Paula F Gonçalo M
esta entrevista seria menor, pois os elementos dentro de Manuel M Pedro M
um conglomerado estariam geograficamente mais próxi-
Carla F Cristina F
mos uns dos outros, diminuindo assim as despesas com
transporte. Maria F Sofia F
João M Susana F
Exemplo: Pretende-se fazer uma pesquisa de opinião,
envolvendo famílias de uma determinada cidade. Temos,
Solução: Como é muito difícil obter um cadastro de to- Sexo Masculino:
das as famílias, pode-se planejar uma amostra da seguinte Frequência absoluta : 4 
forma: com um mapa da cidade delimita-se os bairros e Frequência relativa: 4 em 10 = 40%
as quadras; toma-se como unidade amostral, primeiramen-
te os bairros e dentre eles sorteia-se uma amostra casual Sexo Feminino:
simples. Em seguida, tomando-se como unidade amostral, Frequência absoluta : 6 ]
as quadras dos bairros selecionadas fazem-se, novamente, Frequência relativa: 6 em 10 = 60%
um sorteio. Ao conjunto de famílias que habitam as qua-
dras sorteadas dá-se o nome de conglomerado, sendo elas Neste exemplo, a frequência acumulada não tem muita
que serão investigadas na pesquisa. utilidade pois o Sexo é uma variável nominal, não havendo
desta forma, “categorias anteriores”.

13
ESTATÍSTICA

Assim a tabela de frequências da variável Sexo será: - Mediana: Se n é impar, o valor é central; Se n é par, o
valor é a média dos dois valores centrais.
variável freq. absoluta (n) freq. relativa (%)
- Moda: Valor que ocorre com mais frequência.
Sexo
M 4 40% - Média Geométrica:
F 6 60% - Média Harmônica:
Total 10 100%

Fonte: http://stat2.med.up.pt/cursop/glossario/ - Quartil:


tfrequencia.html

Medidas de Posição e de Variabilidade Sendo a média uma medida tão sensível aos dados,
é preciso ter cuidado com a sua utilização, pois pode
Como o próprio nome indica, são medidas que indi- dar uma imagem distorcida dos dados. Pode-se mostrar,
cam a localização dos dados. O objetivo não é o cálculo das que quando a distribuição dos dados é “normal”, então
medidas, mas, sim, explorar propriedades e relações entre a melhor medida de localização do centro, é a média.
três das principais medidas de posição. Sendo a Distribuição Normal uma das distribuições mais
importantes e que surge com mais frequência nas aplica-
Média Aritmética Simples: é calculada somando-se ções, (esse fato justifica a grande utilização da média).
os valores de todas as observações e dividindo-se essa A média possui uma particularidade bastante interes-
soma pelo número de observações. Equivale a dividir o to- sante, que consiste no seguinte: se calcularmos os desvios
tal das n observações em n partes iguais. –– de todas as observações relativamente à média e somar-
mos esses desvios o resultado obtido é igual a zero.
Mediana: é o valor que divide o conjunto de dados A média tem uma outra característica, que torna a sua
em duas partes tais que abaixo e acima da mediana en- utilização vantajosa em certas aplicações: Quando o que
contram-se 50% das observações. O cálculo da mediana se pretende representar é a quantidade total expressa pe-
requer que os dados estejam ordenados. Se o número de los dados, utiliza-se a média. Na realidade, ao multiplicar a
observações for ímpar, a mediana é o valor central; se o média pelo número total de elementos, obtemos a quanti-
número de observações for par, a mediana é a média dos dade pretendida.
dois valores centrais.
Moda: é o valor mais frequente. A média amostral ou simplesmente média, que se re-
presenta por é uma medida de localização do centro da
Média Aritmética amostra, e obtém-se a partir da seguinte expressão: onde
x1, x2, ..., xn representam os elementos da amostra e n a sua
É o quociente da soma de todos os dados pelo efetivo dimensão.
total.

Se as observações se encontram agrupadas, então um


valor aproximado para a média é dado pela seguinte ex-
pressão. Onde: k é o número de classes do agrupamento
Medidas de Tendência Central: As mais importan- ni é a frequência absoluta da classe i yi é o ponto médio da
te medidas de tendência central são a média aritmética, classe i, o qual é considerado como elemento representa-
média aritmética para dados agrupados, média aritméti- tivo da classe.
ca ponderada, mediana, moda, média geométrica, média
harmônica, quartis. Quando se estuda variabilidade, as
medidas mais importantes são: amplitude, desvio padrão
e variância.

- Média Aritmética:

- Média Aritmética para dados agrupados:


A média será sempre uma medida representativa dos
- Média Aritmética Ponderada: dados? Ao determinar a média dos seguintes dados obte-
ve-se o valor = 24.1

14
ESTATÍSTICA

12.4 13.5 13.6 11.2 15.1 10.6 12.4 14.3 113.5

Embora todos os dados, menos um, estejam no intervalo [10.6, 15.1], o valor obtido para a média está “bem afastado”
daquele intervalo! O que aconteceu é que a média é muito sensível a valores muito grandes ou muito pequenos. No caso
do exemplo foi o valor 113.5 que inflacionou a média. Além disso, temos razões para pensar que pode ter havido um erro
ao digitar o valor 113.5, digitando um 1 a mais.
E se em vez de 113.5 o valor correto fosse 13.5, qual o valor da média? Ao determinar a média dos seguintes dados:
12.4 13.5 13.6 11.2 15.1 10.6 12.4 14.3 13.5, obteve-se o valor da média = 13.0, significativamente diferente
do obtido no caso anterior.

Sendo a média uma medida tão sensível aos dados, é preciso ter cuidado com a sua utilização, pois pode dar uma
imagem distorcida dos dados, que pretende representar. Para além do fato de ser uma medida muito simples de calcular,
existirá alguma outra razão, que a torne uma medida tão “popular”?
Pode-se mostrar (e essa demonstração faz parte da Estatística Indutiva), que quando a distribuição dos dados é “nor-
mal”, então a melhor medida de localização do centro, é a média.
Ora sendo a Distribuição Normal uma das distribuições mais importantes e que surge com mais frequência nas aplica-
ções, esse fato justifica a grande utilização da média.
Esquematicamente podemos posicionar a média da forma seguinte, tendo em conta a representação gráfica na forma
de histograma.

Figura aproximadamente simétrica, pelo que o centro está bem definido.

O enviesamento para a direita provoca que a média seja deslocada para a direita.

O enviesamento para a esquerda provoca uma deslocação da média para a esquerda.

Exemplo: Considerando os valores 2, 3, 3 e 4 fomos construir um diagrama de barras e posicionar a média e posterior-
mente alteramos um desses valores para estudar o comportamento da média.

15
ESTATÍSTICA

Desvio
 João 8  8 - 5.5 = 2.5
 Filipa 7  7 - 5.5 = 1.5
 Ana 3  3 - 5.5 = -2.5
 Maria 5  5 - 5.5 = -0.5
 Teresa 4  4 - 5.5 = -1.5
 David 6  6 - 5.5 = 0.5
-0.5 -1.5 + 0.5 + 2.5 + 1.5 -2.5 = 0

Graficamente temos:
Um diagrama de barras (ou histograma) comporta-se
como um balancé em que o ponto de apoio é a média. Ao
contrário da mediana, como se verá adiante, a percenta-
gem de elementos para um e outro lado da média não é
necessariamente igual a 50%.

Particularidade: A média goza de uma particularidade


interessante e que consiste no seguinte: se calcularmos os
desvios de todas as observações relativamente à média e
somarmos esses desvios o resultado obtido é igual a zero.

O resultado anterior verifica-se porque a soma dos


desvios positivos é igual à soma dos desvios negativos. A
Exemplo: Suponhamos que numa festa foram distribuí- média tem uma outra característica, que torna a sua utiliza-
dos berlindes pelos meninos presentes. Os berlindes eram ção vantajosa em certas aplicações:
lançados ao ar e quem mais corria mais apanhava. No fim Quando o que se pretende representar é a quantidade
fez-se a contagem e verificou-se a seguinte distribuição so- total expressa pelos dados, utiliza-se a média. Na realidade,
bre os números de berlindes que cada menino conseguiu ao multiplicar a média pelo nº total de elementos, obtemos
apanhar: a quantidade pretendida.

 João 8  Vejamos de outra forma: ...Tenho algumas quantias em


quatro Bancos, que pretendo distribuir pelos meus quatro
 Filipa 7 
filhos ...Qual o melhor processo? Para que fiquem todos
 Ana 3  satisfeitos darei a cada um a média dessas quantias. Mas
 Maria 5  cuidado com as medidas de localização.
Suponha que numa região começaram a aparecer pes-
 Teresa 4  soas com uma virose desconhecida. Os médicos do Centro
 David 6  de Saúde dessa região procuraram recolher alguma in-
formação sobre as pessoas atacadas por essa doença. Foi
A cada menino coube em média 5.5 berlindes. Houve recolhida uma amostra de 34 desses doentes a quem se
meninos que apanharam menos berlindes do que a média, perguntou, entre outras características, a idade. Depois de
enquanto que outros apanharam mais. Os meninos que analisados os dados os médicos foram informados que a
apanharam mais berlindes resolveram dividir com os que idade média dos doentes era de 32 anos. Um dos médicos,
apanharam menos de forma a ficarem todos com a mesma mais curioso que os outros pediu que lhe mostrassem a
quantidade. Terão conseguido? Exemplo (resposta): distribuição dos dados, tendo-lhe sido apresentada a se-
Calculando os desvios relativamente à média, temos: guinte distribuição.
Perante a representação anterior (bimodal) o médico
não teve dúvidas em pôr de parte a média, assim como
qualquer outra medida de localização do centro da amos-
tra.
Efetivamente para dados deste tipo é enganador qual-
quer medida de localização do centro da distribuição. O
que o médico concluiu imediatamente foi, que a doença
ataca crianças e pessoas da 3ª idade.

16
ESTATÍSTICA

=10.75 e =11

Admitamos que uma das notas de 10 foi substituída


por uma de 18. Neste caso a mediana continuaria a ser
igual a 11, enquanto que a média subiria para 11.75.

Média e Mediana: Se se representarmos os elementos


Mediana: é o valor que tem tantos dados antes dele,
da amostra ordenada com a seguinte notação: X1:n, X2:n,
como depois dele. Para se medir a mediana, os valores de-
..., Xn: “n” então uma expressão para o cálculo da mediana
vem estar por ordem crescente ou decrescente. No caso do
será:
número de dados ser ímpar, existe um e só um valor central
Como medida de localização, a mediana é mais robus-
que é a mediana. Se o número de dados é par, toma-se a
ta do que a média, pois não é tão sensível aos dados.
média aritmética dos dois valores centrais para a mediana.
- Quando a distribuição é simétrica, a média e a me-
É uma medida de localização do centro da distribui-
diana coincidem.
ção dos dados, definida do seguinte modo: Ordenados os
- A mediana não é tão sensível, como a média, às ob-
elementos da amostra, a mediana é o valor (pertencente
servações que são muito maiores ou muito menores do
ou não à amostra) que a divide ao meio, isto é, 50% dos
que as restantes (outliers). Por outro lado a média reflete o
elementos da amostra são menores ou iguais à mediana e
valor de todas as observações.
os outros 50% são maiores ou iguais à mediana.
A média ao contrário da mediana, é uma medida muito
Para a sua determinação utiliza-se a seguinte regra, de-
influenciada por valores “muito grandes” ou “muito peque-
pois de ordenada a amostra de n elementos: Se n é ímpar,
nos”, mesmo que estes valores surjam em pequeno núme-
a mediana é o elemento médio. Se n é par, a mediana é a
ro na amostra. Estes valores são os responsáveis pela má
semi-soma dos dois elementos médios.
utilização da média em muitas situações em que teria mais
A mediana, m, é uma medida de localização do centro
significado utilizar a mediana.
da distribuição dos dados, definida do seguinte modo:
A partir do exposto, deduzimos que se a distribuição
Ordenados os elementos da amostra, a mediana é o va-
dos dados:
lor (pertencente ou não à amostra) que a divide ao meio, isto
- for aproximadamente simétrica, a média aproxima-se
é, 50% dos elementos da amostra são menores ou iguais à
da mediana.
mediana e os outros 50% são maiores ou iguais à mediana.
- for enviesada para a direita (alguns valores grandes
Para a sua determinação utiliza-se a seguinte regra,
como “outliers”), a média tende a ser maior que a mediana.
depois de ordenada a amostra de n elementos:
- for enviesada para a esquerda (alguns valores peque-
- Se n é ímpar, a mediana é o elemento médio.
nos como “outliers”), a média tende a ser inferior à media-
- Se n é par, a mediana é a semi-soma dos dois ele-
na.
mentos médios.
Se se representarem os elementos da amostra orde-
nada com a seguinte notação: X1:n, X2:n, ..., Xn:n; então uma
expressão para o cálculo da mediana será:

Como medida de localização, a mediana é mais robusta


do que a média, pois não é tão sensível aos dados. Consi-
deremos o seguinte exemplo: um aluno do 10º ano obteve
as seguintes notas: 10, 10, 10, 11, 11, 11, 11, 12. A média e a
mediana da amostra anterior são respectivamente.

17
ESTATÍSTICA

Dado um histograma é fácil obter a posição da mediana, pois esta está na posição em que passando uma linha vertical
por esse ponto o histograma fica dividido em

duas partes com áreas iguais.

Como medida de localização, a mediana é mais resistente do que a média, pois não é tão sensível aos dados.
- Quando a distribuição é simétrica, a média e a mediana coincidem.
- A mediana não é tão sensível, como a média, às observações que são muito maiores ou muito menores do que as
restantes (outliers). Por outro lado a média reflete o valor de todas as observações.

Assim, não se pode dizer em termos absolutos qual destas medidas de localização é preferível, dependendo do con-
texto em que estão a ser utilizadas.
Exemplo: Os salários dos 160 empregados de uma determinada empresa, distribuem-se de acordo com a seguinte
tabela de frequências:

Salário (em euros) 75 100 145 200 400 1700


Frequência absoluta 23 58 50 20 7 2
Frequência
23 81 131 151 158 160
acumulada

Calcular a média e a mediana e comentar os resultados obtidos.


Resolução: = = (75.23+100.58+...+400.7+1700.2)/160 = 156,10
Resolução: euros. m = semi-soma dos elementos de ordem 80 e 81 = 100 euros.
Comentário: O fato de termos obtido uma média de 156,10 e uma mediana de 100, é reflexo do fato de existirem al-
guns, embora poucos, salários muito altos, relativamente aos restantes. Repare-se que, numa perspectiva social, a mediana
é uma característica mais importante do que a média. Na realidade 50% dos trabalhadores têm salário menor ou igual a
100 €, embora a média de 156,10 € não transmita essa ideia.
Vejamos de uma outra forma: Sabes, quando a distribuição dos dados é simétrica ou aproximadamente simétrica, as
medidas de localização do centro da amostra (média e mediana) coincidem ou são muito semelhantes. O mesmo não se
passa quando a distribuição dos dados é assimétrica, fato que se prende com a pouca resistência da média.

Representando as distribuições dos dados (esta observação é válida para as representações gráficas na forma de dia-
gramas de barras ou de histograma) na forma de uma mancha, temos, de um modo geral:

Moda: é o valor que ocorre mais vezes numa distribuição, ou seja, é o de maior efetivo e, portanto, de maior frequência.
Define-se moda como sendo: o valor que surge com mais frequência se os dados são discretos, ou, o intervalo de classe
com maior frequência se os dados são contínuos. Assim, da representação gráfica dos dados, obtém-se imediatamente o
valor que representa a moda ou a classe modal. Esta medida é especialmente útil para reduzir a informação de um conjunto
de dados qualitativos, apresentados sob a forma de nomes ou categorias, para os quais não se pode calcular a média e por
vezes a mediana.
Para um conjunto de dados, define-se moda como sendo: o valor que surge com mais frequência se os dados são
discretos, ou, o intervalo de classe com maior frequência se os dados são contínuos. Assim, da representação gráfica dos
dados, obtém-se imediatamente o valor que representa a moda ou a classe modal.

18
ESTATÍSTICA

Esta medida é especialmente útil para reduzir a informação de um conjunto de dados qualitativos, apresentados sob a
forma de nomes ou categorias, para os quais não se pode calcular a média e por vezes a mediana (se não forem susceptíveis
de ordenação).

Quartis: Generalizando a noção de mediana m, que como vimos anteriormente é a medida de localização, tal que 50%
dos elementos da amostra são menores ou iguais a m, e os outros 50% são maiores ou iguais a m, temos a noção de quartil
de ordem p, com 0<p<1, como sendo o valor Qp tal que 100p% dos elementos da amostra são menores ou iguais a Qp e
os restantes 100 (1-p)% dos elementos da amostra são maiores ou iguais a Qp.
Tal como a mediana, é uma medida que se calcula a partir da amostra ordenada.
Um processo de obter os quartis é utilizando a Função Distribuição Empírica.
Generalizando ainda a expressão para o cálculo da mediana, temos uma expressão análoga para o cálculo dos quartis:

Qp =

onde representamos por [a], o maior inteiro contido em a.

Aos quartis de ordem 1/4 e 3/4 , damos respectivamente o nome de 1º quartil e 3º quartil. Exemplo: Tendo-se decidido
registrar os pesos dos alunos de uma determinada turma prática do 10º ano, obtiveram-se os seguintes valores (em kg):

52 56 62 54 52 51 60 61 56 55 56 54 57 67 61 49

a) Determine os quantis de ordem 1/7, 1/2 e os 1º e 3º quartis.


b) Um aluno com o peso de 61 kg, pode ser considerado “normal”, isto é nem demasiado magro, nem demasiado
gordo?

Resolução: Ordenando a amostra anterior, cuja dimensão é 16, temos:

49 51 52 52 54 54 55 56 56 56 57 60 61 61 62 67

a) 16 . 1/7 = 16/7, onde [16/7] = 2 e Q1/7 = x3 : 16 = 52


16 . 1/4 = 4, onde Q1/2 = [x8 : 16 + x9 : 16]/2 = 56
16 . 1/2 = 8, onde Q1/4 = [x4 : 16 + x5 : 16]/2 = 53
16 . 3/4 = 12, onde Q3/4 = [x12 : 16 + x13 : 16]/2 = 60.5

19
ESTATÍSTICA

b) Um aluno com 61 kg pode ser considerado um pou-


co “forte”, pois naquela turma só 25% dos alunos é que
têm peso maior ou igual a 60.5 kg.

MEDIDAS DE DISPERSÃO: VARIÂNCIA E DESVIO


PADRÃO

No estudo da Estatística, dispomos de algumas estra-


tégias para verificar se os valores apresentados em um con-
junto de dados estão dispersos ou não e o quão distantes Antes de calcular a variância, é necessário verificar
um do outro eles podem estar. As ferramentas empregadas a média aritmética (x) da quantidade de alunos acima da
para que isso seja possível são classificadas como medidas média em cada turma:
de dispersão e denominadas de variância  e desvio pa-
drão. Vejamos o que representa cada uma delas: 6° ano → x = 5 + 8 + 10 + 7 = 30 = 7,50.
Variância:                   4               4
• Dado um conjunto de dados, a variância é uma
medida de dispersão que mostra o quão distante cada va- 7° ano → x = 8 + 6 + 6 + 12 = 32 = 8,00.
lor desse conjunto está do valor central (médio).          4       4
• Quanto menor é a variância, mais próximos os
valores estão da média; mas quanto maior ela é, mais os 8° ano → x = 11 + 9 + 5 + 10 = 35 = 8,75.
valores estão distantes da média.                     4              4
• Considere que x1, x2, …, xn são os n elementos de
uma amostra e que x é a média aritmética desses elemen- 9° ano → x = 8 + 13 + 9 + 4 = 34 = 8,50.
tos. O cálculo da variância amostral é dado por:
•                   4               4
Var. amostral = (x1 – x)² + (x2 – x)² + (x3 – x)² + ... +
(xn – x)² Para calcular a variância da quantidade de alunos
                      ​n – 1 acima da média em cada turma, utilizamos uma amostra,
por isso empregamos a fórmula da variância amostral:
• Se, em contrapartida, quisermos calcular a variân-
cia populacional, consideraremos todos os elementos da Var. amostral = (x1 – x)² + (x2 – x)² + (x3 – x)² + ... +
população, e não apenas de uma amostra. Nesse caso, o (xn – x)²
cálculo possui uma pequena diferença. Observe:                        n – 1

Var. populacional = (x1 – x)² + (x2 – x)² + (x3 – x)² + 6° ano → Var = (5 – 7,50)² + (8 – 7,50)² + (10 –
... + (xn – x)² 7,50)² + (7 – 7,50)²
                           n              4–1
Desvio Padrão:
• O desvio padrão é capaz de identificar o “erro” em Var = (– 2,50)² + (0,50)² + (2,50)² + (– 0,50)²
um conjunto de dados, caso quiséssemos substituir um dos            3
valores coletados pela média aritmética. Var = 6,25 + 0,25 + 6,25 + 0,25
• O desvio padrão aparece junto à média aritmética,          3
informando o quão “confiável” é esse valor. Ele é apresen-
tado da seguinte forma: Var = 13,00
média aritmética (x) ± desvio padrão (dp)          3
• O cálculo do desvio padrão é feito a partir da raiz Var = 4,33
quadrada positiva da variância. Portanto:
dp = √var 7° ano → Var = (8 – 8,00)² + (6 – 8,00)² + (6 – 8,00)²
Vamos agora aplicar o calculo da variância e do desvio + (12 – 8,00)²
padrão em um exemplo:           4–1
Em uma escola, a direção decidiu observar a quantida-
de de alunos que apresentam todas as notas acima da mé- Var = (0,00)² + (– 2,00)² + (– 2,00)² + (4,00)²
dia em todas as disciplinas. Para analisar melhor, a diretora      3
Ana resolveu montar uma tabela com a quantidade de no-
tas “azuis” em uma amostra de quatro turmas ao longo de Var = 0,00 + 4,00 + 4,00 + 16,00
um ano. Observe a seguir a tabela organizada pela diretora:          3

Var = 24,00
         3

20
ESTATÍSTICA

Var = 8,00 COEFICIENTE DE VARIAÇÃO

8° ano → Var = (11 – 8,75)² + (9 – 8,75)² + (5 – Como o desvio padrão é expresso na mesma unidade
8,75)² + (10 – 8,75)² dos dados observados em estudo, comparar duas ou mais
          4–1 séries de valores que estão em unidades de medida dife-
rentes torna-se impossível. Para sanar essas dificuldades,
Var = (2,25)² + (0,25)² + (– 3,75)² + (1,25)² podemos analisar a dispersão em termos relativos a seu va-
    3 lor médio, utilizando o coeficiente de variação de Pearson.
O coeficiente de variação é dado pela fórmula
Var = 5,06 + 0,06 + 14,06 + 1,56
         3

Var = 20,74
         3 Onde,
Cv → é o coeficiente de variação
Var = 6,91 s → é o desvio padrão
X ̅ → é a média dos dado
9° ano → Var = (8 – 8,50)² + (13 – 8,50)² + (9 –
8,50)² + (4 – 8,50)² O coeficiente de variação é dado em %, por isso a fórmula
           4–1 é multiplicada por 100.

Var = (– 0,50)² + (4,50)² + (0,50)² + (– 4,50)² Observações:


         3 O coeficiente de variação fornece a variação dos da-
dos obtidos em relação à média. Quanto menor for o seu
Var = 0,25 + 20,25 + 0,25 + 20,25 valor, mais homogêneos serão os dados. O coeficiente de
           3 variação é considerado baixo (apontando um conjunto de
dados bem homogêneos) quando for menor ou igual a
Var = 41,00 25%. O fato de o coeficiente de variação ser dado em valor
         3 relativo nos permite comparar séries de valores que apre-
sentam unidades de medida distintas.
Var = 13,66 Exemplo. Compare a variabilidade relativa do tempo
de reação de um analgésico A com a variabilidade do peso
Conhecida a variância de cada turma, vamos calcular das pessoas que se submeteram à dosagem desse analgé-
agora o desvio padrão: sico. As médias e os desvios padrão foram:

9° ano Analgésico A: X ̅=3 min e s = 0,7


7° ano 8° ano
6° ano Peso das pessoas: X ̅=58,25 kg e s = 5,17
dp = √var
dp = √var dp = √var
dp = √var dp = dp = Solução: Vamos calcular o coeficiente de variação para
dp =
dp = √4,33 √8,00 √6,91 cada item observado.
√13,66
dp ≈ 2,08 Cálculo para o tempo de reação do analgésico:
dp ≈ 2,83 dp ≈ 2,63
dp ≈ 3,70

Para concluir sua análise, a diretora pode apresentar


os seguintes valores que indicam a quantidade média de
alunos acima da média por turma pesquisada:
Cálculo para o peso das pessoas:
6° ano: 7,50 ± 2,08 alunos acima da média por bi-
mestre;
7° ano: 8,00 ± 2,83 alunos acima da média por bi-
mestre; Comparando o coeficiente de variação do tempo de
8° ano: 8,75 ± 2,63 alunos acima da média por bi- reação do analgésico e o do peso das pessoas, podemos
mestre; concluir que os dados referentes ao peso são mais con-
9° ano: 8,50 ± 3,70 alunos acima da média por bi- sistentes que os dados referentes ao tempo de reação do
mestre; analgésico, ou ainda, que os dados referentes ao peso são
mais homogêneos que os do tempo de reação do analgé-
sico.

21
ESTATÍSTICA

Fontes: http://www.brasilescola.com/matematica/me- Tabela de Frequências: Como o nome indica, conte-


didas-dispersao-variancia-desvio-padrao.htm rá os valores da variável e suas respectivas contagens, as
quais são denominadas frequências absolutas ou simples-
http://www.brasilescola.com/matematica/coeficiente- mente, frequências. No caso de variáveis qualitativas ou
-variacao.htm quantitativas discretas, a tabela de freqüência consiste em
listar os valores possíveis da variável, numéricos ou não, e
CORRELAÇÃO. HISTOGRAMAS E CURVAS DE FRE- fazer a contagem na tabela de dados brutos do número de
QUÊNCIA. DIAGRAMA BOX-PLOT. AVALIAÇÃO DE suas ocorrências. A frequência do valor i será representada
OUTLIERS. por ni, a frequência total por n e a freqüência relativa por
fi = ni/n.
Escalas – Tabelas – Gráficos
Para variáveis cujos valores possuem ordenação natu-
Tipos de gráficos: Os dados podem então ser repre- ral (qualitativas ordinais e quantitativas em geral), faz sen-
sentados de várias formas: tido incluirmos também uma coluna contendo as frequên-
cias acumuladas f ac, obtidas pela soma das frequências
Diagramas de Barras de todos os valores da variável, menores ou iguais ao valor
considerado.

No caso das variáveis quantitativas contínuas, que po-


dem assumir infinitos valores diferentes, é inviável cons-
truir a tabela de frequência nos mesmos moldes do caso
anterior, pois obteríamos praticamente os valores originais
da tabela de dados brutos. Para resolver este problema,
determinamos classes ou faixas de valores e contamos o
número de ocorrências em cada faixa. Por ex., no caso da
variável peso de adultos, poderíamos adotar as seguintes
Diagramas Circulares faixas: 30 |— 40 kg, 40 |— 50 kg, 50 |— 60, 60 |— 70, e as-
sim por diante. Apesar de não adotarmos nenhuma regra
formal para estabelecer as faixas, procuraremos utilizar, em
geral, de 5 a 8 faixas com mesma amplitude.

Eventualmente, faixas de tamanho desigual podem ser


convenientes para representar valores nas extremidades da
tabela. Exemplo:

Histogramas

Gráfico de Barras: Para construir um gráfico de barras,


Pictogramas representamos os valores da variável no eixo das abscissas
  e suas as frequências ou porcentagens no eixo das orde-
1ª (10) nadas. Para cada valor da variável desenhamos uma barra
2ª (8) com altura correspondendo à sua freqüência ou porcenta-
3ª (4) gem. Este tipo de gráfico é interessante para as variáveis
4ª (5) qualitativas ordinais ou quantitativas discretas, pois permi-
5ª (4) te investigar a presença de tendência nos dados. Exemplo:
= 1 unidade

22
ESTATÍSTICA

Diagrama Circular: Para construir um diagrama circu-


lar ou gráfico de pizza, repartimos um disco em setores
circulares correspondentes às porcentagens de cada valor
(calculadas multiplicando-se a frequência relativa por 100). Gráfico de Linha ou Sequência: Adequados para
Este tipo de gráfico adapta-se muito bem para as variáveis apresentar observações medidas ao longo do tempo, enfa-
qualitativas nominais. Exemplo: tizando sua tendência ou periodicidade. Exemplo:

Histograma: O histograma consiste em retângulos


contíguos com base nas faixas de valores da variável e com
área igual à frequência relativa da respectiva faixa. Desta
forma, a altura de cada retângulo é denominada densidade Polígono de Frequência:
de frequência ou simplesmente densidade definida pelo Semelhante ao histograma, mas construído a partir dos
quociente da área pela amplitude da faixa. Alguns autores pontos médios das classes. Exemplo:
utilizam a frequência absoluta ou a porcentagem na cons-
trução do histograma, o que pode ocasionar distorções (e,
consequentemente, más interpretações) quando amplitu-
des diferentes são utilizadas nas faixas. Exemplo:

Gráfico de Ogiva:
Apresenta uma distribuição de frequências acumula-
das, utiliza uma poligonal ascendente utilizando os pontos
extremos.

23
ESTATÍSTICA

Função de probabilidade: Se a variável aleatória


X que contém o número de tentativas que resultam em
sucesso tem uma distribuição binomial com parâmetros
n e p escrevemos X ~ B(n, p). A probabilidade de ter exa-
tamente k sucessos é dado pela função de probabilidade:

para e onde é uma com-


binação.

Através do desenvolvimento do binômio e algumas


operações com expoentes e fatoriais, é possível demons-
Distribuições
trar que:
A distribuição da probabilidade é uma função que de-
termina probabilidades para eventos ou proposições. Para
qualquer conjunto de eventos ou proposições existem mui-
tas maneiras de determinar probabilidades, de forma que a
escolha de uma ou outra distribuição é equivalente a criar
diferentes hipóteses sobre os eventos ou proposições em
questão. Há várias formas equivalentes de se especificar Exemplo:
uma distribuição de probabilidade. Talvez a mais comum é
especificar uma função densidade da probabilidade. Daí, a Três dados comuns e honestos serão lançados. A
probabilidade de um evento ou proposição é obtida pela probabilidade de que o número 6 seja obtido mais de
integração da função densidade. uma vez é: A probabilidade de que seja obtido 2 vezes
mais a probabilidade de que seja obtido 3 vezes. Usando
A função distribuição pode ser também especificada a distribuição binomial de probabilidade:
diretamente. Em uma dimensão, a função distribuição é
chamada de função distribuição cumulativa. As distribui- Acha-se a probabilidade de que seja obtido 2 vezes:
ções de probabilidade também podem ser especificadas
via momentos ou por funções características, ou por outras
formas. Uma distribuição é chamada de distribuição discre-
ta se for definida em um conjunto contável e discreto, tal
como o subconjunto dos números inteiros; ou é chamada
de distribuição contínua se tiver uma função distribuição
contínua, tal como uma função polinomial ou exponencial.
A maior parte das distribuições de importância prática são
ou discretas ou contínuas, porém há exemplos de distribui-
ções que não são de nenhum desses tipos.

Dentre as distribuições discretas importantes, pode-


-se citar a distribuição uniforme discreta, a distribuição de
Poisson, a distribuição binomial, a distribuição binomial
negativa e a distribuição de Maxwell-Boltzmann. Dentre
as distribuições contínuas, a distribuição normal, a distri-
buição gama, a distribuição t de Student e a distribuição
exponencial.

Distribuição Binomial

Em teoria das probabilidades e estatística, a distribui-


ção binomial é a distribuição de probabilidade discreta do
número de sucessos numa sequência de n tentativas tais
que as tentativas são independentes; cada tentativa resul-
ta apenas em duas possibilidades, sucesso ou fracasso (a
que se chama de tentativa de Bernoulli); a probabilidade de
cada tentativa, p, permanece constante.

24
ESTATÍSTICA

Agora a probabilidade de que seja obtido 3 vezes: importante propriedade provém do Teorema do Limite
Central que diz que “toda soma de variáveis aleatórias in-
dependentes de média finita e variância limitada é apro-
ximadamente Normal, desde que o número de termos da
soma seja suficientemente grande” (ver o teorema para um
enunciado mais preciso).
A distribuição normal foi introduzida pela primeira vez
por Abraham de Moivre em um artigo no ano 1733, que
foi reproduzido na segunda edição de seu The Doctrine of
Chances (1738) no contexto da aproximação de distribui-
ções binomiais para grandes valores de n. Seu resultado
foi estendido por Laplace, em seu livro Analytical Theory
of Probabilities (1812), e agora é chamado o teorema de
Moivre-Laplace.
Laplace usou a distribuição normal na análise de er-
ros de experimentos. O importante método dos mínimos
Assim, a resposta é: quadrados foi introduzido por Legendre, em 1805. Gauss,
que alegou ter usado o método desde 1794, justifica-o ri-
gorosamente em 1809 assumindo uma distribuição normal
para os erros. O fato de muitas vezes esta distribuição ser
chamado de distribuição gaussiana pode ser um exemplo
de Stigler’s Law.
Valor esperado e variância: Se a X ~ B(n, p) (isto é, X é O nome “curva em forma de sino” ou “curva de sino”
uma variável aleatória binomialmente distribuida), então o remonta a Esprit Jouffret que primeiro utilizou o termo “su-
valor esperado de X é perfície de sino” em 1872 para um normal bivariada com
componentes independentes (atentar que nem toda curva
de sino é uma gaussiana). O nome “distribuição normal”,
foi inventado independentemente por Charles S. Peirce,
e a variância é Francis Galton e Wilhelm Lexis, por volta de 1875.

Função de densidade de probabilidade: A função


densidade de probabilidade da distribuição normal com mé-
Exemplo dia e variância (de forma equivalente, desvio padrão
) é assim definida,
Seja X uma variável aleatória que contém o número de
caras saídas em 12 lançamentos de uma moeda honesta. A
probabilidade de sair 5 caras em 12 lançamentos, P(X=5),
é dada por:

Se a variável aleatória segue esta distribuição escre-


ve-se: ~ . Se e , a distribuição é
chamada de distribuição normal padrão e a função de den-
sidade de probabilidade reduz-se a,

Distribuição Normal

A distribuição normal é uma das mais importantes


distribuições da estatística, conhecida também como Dis- Propriedades: Sejam a e b constantes conhecidas.
tribuição de Gauss ou Gaussiana. Foi primeiramente in-
troduzida pelo matemático Abraham de Moivre. Além de - Se X segue uma distribuição normal, ~
descrever uma série de fenômenos físicos e financeiros, , então
possui grande uso na estatística inferencial. É inteiramente
descrita por seus parâmetros de média e desvio padrão, ou ~ .
seja, conhecendo-se estes consegue-se determinar qual- - Se X e Y são variáveis aleatórias independentes que
quer probabilidade em uma distribuição Normal. seguem distribuição normal, então a soma U = X + Y, a
Um interessante uso da Distribuição Normal é que ela diferença V = X - Y ou qualquer combinação linear W = a
serve de aproximação para o cálculo de outras distribui- X + b Y também são variáveis aleatórias com distribuição
ções quando o número de observações fica grande. Essa normal.

25
ESTATÍSTICA

- É fácil construir exemplos de distribuições normais X Como função de k, esta é a função de probabilidade.
e Y dependentes (mesmo com correlação zero) cuja soma A distribuição de Poisson pode ser derivada como um caso
X + Y não é normal. Por exemplo, seja X uma distribuição limite da distribuição binomial.
normal padrão (média 0 e variância 1), então fixando-se um
número real positivo a, seja Ya definida como X sempre que
|X| < a e -X sempre que |X| ≥ a. Obviamente, Ya também é
uma normal e X + Ya é uma variável aleatória que nunca
pode assumir valores de módulo acima de 2 a (ou seja, não
é normal). Quando a é muito pequeno, X e Y são pratica-
mente opostas, e sua correlação é próxima de -1. Quando
a é muito grande, X e Y são praticamente idênticas, e sua
correlação é próxima de 1. Como a correlação entre X e Ya
varia continuamente com a, existe um valor de a para o
qual a correlação é zero.
- A soma de uma grande quantidade de variáveis alea-
tórias (com algumas restrições) tende a uma distribuição
normal - o significado mais preciso disto é o Teorema do
Limite Central.
- A distribuição normal é infinitamente divisível, no
seguinte sentido: se X é uma variável aleatória que segue
uma distribuição normal e n é um número natural, então Função de probabilidade da distribuição de
existem n variáveis aletórias , indepen- Poisson para vários valores de λ.
dentes e identicamente distribuídas, tal que
Processo de Poisson: A distribuição de Poisson apare-
ce em vários problemas físicos, com a seguinte formulação:
considerando uma data inicial (t = 0), seja N(t) o número de
Distribuição de Poisson eventos que ocorrem até uma certa data t. Por exemplo, N(t)
pode ser um modelo para o número de impactos de asterói-
Na teoria da probabilidade e na estatística, a distribui- des maiores que um certo tamanho desde uma certa data
ção de Poisson é uma distribuição de probabilidade dis- de referência. Uma aproximação que pode ser considerada
creta que expressa a probabilidade de uma série de even- é que a probabilidade de acontecer um evento em qualquer
tos ocorrer num certo período de tempo se estes eventos intervalo não depende (no sentido de independência estatís-
ocorrem independentemente de quando ocorreu o último tica) da probabilidade de acontecer em qualquer outro in-
evento. A distribuição foi descoberta por Siméon-Denis tervalo disjunto. Neste caso, a solução para o problema é o
Poisson (1781–1840) e publicada, conjuntamente com a processo estocástico chamado de Processo de Poisson, para
sua teoria da probabilidade, em 1838 no seu trabalho Re- o qual vale:
cherches sur la probabilité des jugements en matières crimi-
nelles et matière civile (“Inquérito sobre a probabilidade em
julgamentos sobre matérias criminais e civis”). O trabalho
focava-se em certas variáveis aleatórias N que contavam,
entre outras coisas, o número de ocorrências discretas (por
vezes chamadas de “chegadas”) que tinham lugar durante em que λ é uma constante (de unidade inversa da uni-
um intervalo de tempo de determinado comprimento. A dade do tempo). Ou seja, o número de eventos até uma
probabilidade de que existam exactamente k ocorrências (k época qualquer t é uma distribuição de Poisson com pa-
sendo um inteiro não negativo, k = 0, 1, 2, ...) é râmetro λ t.

Propriedades

Média: O valor esperado de uma distribuição de Poisson


onde é igual a λ. Esta propriedade pode ser derivada facilmente:
- e é base do logaritmo natural (e = 2.71828...),
- k! é o fatorial de k,
- λ é um número real, igual ao número esperado de
ocorrências que ocorrem num dado intervalo de tempo.
Por exemplo, se o evento ocorre a uma média de 4 mi-
nutos, e estamos interessados no número de eventos que
ocorrem num intervalo de 10 minutos, usariámos como
modelo a distribuição de Poisson com λ = 10/4 = 2.5.

26
ESTATÍSTICA

Em linguagem matemática Abrindo o somatório, verifica-se que a série converge


para

Obtemos
Variância: A variância de uma distribuição de Poisson
é igual a λ.

Soma de variáveis: A soma de duas variáveis de Pois-


son independentes é ainda uma variável de Poisson com
parâmetro igual à soma dos respectivos parâmetros. Ou
seja, se segue uma distribuição de Poisson
com parâmetro e as variáveis aleatórias são estatisti-
camente independentes, então

Como

também segue uma distribuição de Poisson cujo parâ-


metro é igual à soma dos .

Por exemplo, é uma variável aleatória que repre-


senta o número de óbitos por mil nascimentos na cida-
de “A” (distribuição de Poisson com média 1,2, digamos)
e é uma variável aleatória que representa o número
de óbitos por mil nascimentos na cidade “B” (variável de
Poisson com média 3). Ao todo, o número de óbitos por
mil nascimentos nas cidades “A” e “B” têm distribuição de
Poisson com média .

Intervalo de confiança: Um método rápido e fácil


para calcular um intervalo de confiança de aproximada de
λ, é proposto na Guerriero (2012). Dado um conjunto de
eventos k (pelo menos 15 - 20) ao longo de um período de
tempo T, os limites do intervalo confiança para a frequên-
Em Português cia são dadas por:
Por definição, a esperança de uma variável aleatória X
é igual à soma de cada uma das suas possíveis ocorrências
ponderadas pela probabilidade de que estas ocorrências
aconteçam. No caso de variáveis com distribuição, a pro-
babilidade de que determinado evento ocorre é calculado
por : .

Portanto, este valor foi substituído na fórmula. Esta ex- em seguida, os limites do parâmetro são dadas por:
pressão equivale à expressão da linha imediatamente su-
perior; apenas se substituiu a expressão de somatório pela
soma infinita para melhor compreensão. Note que como o .
primeiro termo é sempre igual a zero, podemos reescrever
Exemplos

A distribuição de Poisson representa um modelo pro-


Fazemos uma substituição para facilitar o cálculo. To- babilístico adequado para o estudo de um grande número
mamos a substituição acima e tiramos a constante para de fenômenos observáveis. Eis alguns exemplos:
fora do somatório (pois o primeiro termo da expressão - Chamadas telefônicas por unidade de tempo;
imediatamente superior é igual à . Nova transfor- - Defeitos por unidade de área;
mação para facilitar os cálculos... - Acidentes por unidade de tempo;

27
ESTATÍSTICA

- Chegada de clientes a um supermercado por unidade de tempo;


- Número de glóbulos sangüíneos visíveis ao microscópio por unidade de área;
- Número de partículas emitidas por uma fonte de material radioativo por unidade de tempo.

Distribuição Qui-Quadrado

O coeficiente χ2 ou chi-quadrado é um valor da dispersão para duas variáveis de escala nominal, usado em alguns
testes estatísticos. Ele nos diz em que medida é que os valores observados se desviam do valor esperado, caso as duas
variáveis não estivessem correlacionadas. Quanto maior o chi-quadrado (ou Qui-quadrado), mais significante é a relação
entre a variável dependente e a variável independente. Este valor está relacionado com uma distribuição, chamada Distri-
buição Chi-Quadrado.
A Distribuição Chi-quadrado com k graus de liberdade é a distribuição gama com parâmetros (k/2, 1/2). Quanto maior
o número de casos (n) ou o número de linhas ou colunas da tabela de contingência, maior será o Chi-quadrado. Por isso
não faz sentido comparar o Chi-quadrado de duas relações entre variáveis. Para o efeito existem outros coeficientes, entre
os quais o coeficiente de contingência. A distribuição Chi-quadrado pode ser simulada a partir da distribuição normal. Por
definição, se forem k distribuições normais padronizadas (ou seja, média 0 e desvio padrão 1) indepen-
dentes, então a soma de seus quadrados é uma distribuição Chi-quadrado com k graus de liberdade:

Um corolário imediato da definição é que a soma de duas Chi-quadrado independentes também é uma Chi-quadrado:

A fórmula do chi-quadrado é:

A função densidade de probabilidade da distribuição χ²

A função distribuição acumulada da distribuição χ²

28
ESTATÍSTICA

Análise de Regressão Linear.

Regressão múltipla

Quando se quer investigar se uma variável está correlacionada concomitantemente a várias outras, considera-se a
primeira como variável dependente e as outras como variáveis independentes, e aplica-se aos dados a seguinte fórmula:

y = a + b1x1 + b2x2 + b3x3 + b4x4+ ... + bnxn

em que:
y = é a estimativa da variável dependente
x = variável independente
a = constante = intercepto múltiplo
b = constante = coeficientes de regressão

A análise de regressão múltipla é trabalhosa pois envolve a construção e multiplicação de matrizes tanto maiores quan-
to maior for o número de variáveis independentes analisadas. Assim, é necessário realizar tal análise em computadores.
Portanto, aqui nos preocupamos com a interpretação de resultados de análise de regressão múltipla.

Exemplo: Em uma amostra de 36 hansenianos de sexo masculino tentou-se verificar se a quantidade de um certo medi-
camento presente no sangue 6 hs após a sua ingestão (variável dependente) está correlacionada com idade, peso corporal,
duração da doença, anos de sulfonoterapia, valor do hematócrito, taxa de hemoglobina, nível de globulinas e nível de
albumina (variáveis independentes).

Quantidade do medicamento no b sb t(27) P


sangue, após 6h de ingestão
x1 idade -0,0586 0,0542 -1,081 > 0,20
x2 peso corporal -0,0145 0,0374 -0,388 > 0,60
x3 duração da doença -0,0115 0,0468 0,246 > 0,80
x4 anos de sulfonoterapia -0,0894 0,0520 1,719 > 0,05
x5 valor do hematócrito -0,2317 0,0990 -2,340 < 0,05
x6 taxa de hemoglobina 0,00005 0,0318 0,002 > 0,90
x7 nível de globulinas 0,0695 0,0876 0,793 > 0,40
x8 nível de albumina -0,0079 0,0601 -0,131 > 0,80

que GL = N -1 - número de variáveis = 36 -1 - 8 = 27


Conclui-se que o nível sanguíneo desse medicamento, após 6h de ingestão depende apenas da variável x5, valor do
hematócrito, pois entre todos os coeficientes de regressão calculados somente o b (-0,2317) dessa variável é significativa-
mente diferente de zero (pois t(27) = -2,340), que determina uma probabilidade menor que 0,05.
Um cuidado a ser tomado antes de se realizar uma análise de regressão múltipla é calcular os coeficientes de correla-
ção de todas as variáveis tomadas aos pares. Sabe-se que se houver duas ou mais variáveis com coeficientes de correlação
muito altos (r igual ou superior a 0,95) elas interferirão nos cálculos de regressão múltipla. Se forem encontradas 2 ou mais
variáveis nessa condição deve-se escolher apenas uma delas para o processamento da análise de regressão múltipla.

Regressão múltipla escalonada

É um modelo de regressão que permite selecionar as variáveis independentes por ordem decrescente de intensidade
de correlação com a variável dependente. Matematicamente se chega à formula do coeficiente de determinação r2, que
mede o componente da regressão que decorre da variação concomitante das variáveis estudadas. (a expressão 1 - r2 indica
o quanto da variância não depende dessas variáveis em estudo).
Nessa análise se ordena as variáveis independentes de acordo com o valor de bSP. E, depois desse ordenamento se faz
a análise de regressão simples da variável dependente sobre a independente que apresentou o maior valor de bSP. Final-
mente, inicia-se a análise de regressão múltipla introduzindo as outras variáveis independentes pela ordem de grandeza
decrescente do valor de bSP.

29
ESTATÍSTICA

Ao final, verifica-se se o acréscimo de r2 é significativo ou não por meio de um teste t: t = (b / sb). A tabela que se se-
gue mostra o resultado da análise de regressão múltipla escalonada aplicada aos mesmos dados que foram usados para a
tabela anterior.

Qtdd do
medicamento no Acrés-
r2 b sb t(27) P
sangue após cimo
6h de ingestão

valor do
x5 0,1750 --------- -0,2317 0,0990 -2,340 < 0,05
hematócrito
anos de
x4 0,3133 0,1383 -0,0894 0,0520 1,719 > 0,05
sulfonoterapia
x3 duração da doença 0,3155 0,0022 -0,0115 0,0468 0,246 > 0,80
x7 nível de globulinas 0,3472 0,0317 0,0695 0,0876 0,793 > 0,40
x2 peso corporal 0,3613 0,0141 -0,0145 0,0374 -0,388 > 0,60
x8 nível de albumina 0,3615 0,0002 -0,0079 0,0601 -0,131 > 0,80
taxa de
x6 0,3517 0,0002 0,00005 0,0318 0,002 > 0,90
hemoglobina
x1 idade 0,3882 0,0265 -0,0586 0,0542 -1,081 > 0,20

Em estatística ou Econometria, regressão linear é um método para se estimar a condicional (valor esperado) de uma
variável y, dados os valores de algumas outras variáveis x. A regressão, em geral, trata da questão de se estimar um valor
condicional esperado.
A regressão linear é chamada “linear” porque se considera que a relação da resposta às variáveis é uma função linear
de alguns parâmetros. Os modelos de regressão que não são uma função linear dos parâmetros se chamam modelos de
regressão não-linear.

Equação da Regressão Linear: Para se estimar o valor esperado, usa-se de uma equação, que determina a relação
entre ambas as variáveis.

Em que: Yi - Variável explicada (dependente); é o valor que se quer atingir;


α - É uma constante, que representa a interceptação da reta com o eixo vertical;
β - É outra constante, que representa o declive da reta;
Xi - Variável explicativa (independente), representa o factor explicativo na equação;
εi - Variável que inclui todos os factores residuais mais os possíveis erros de medição. O seu comportamento é aleatório,
devido à natureza dos factores que encerra. Para que essa fórmula possa ser aplicada, os erros devem satisfazer determi-
nadas hipóteses, que são: serem variáveis normais, com a mesma variância (desconhecida), independentes e indepen-
dentes da variável explicativa X.

Cálculo dos fatores α e β:

Definindo e , temos que e se relacionam por:

30
ESTATÍSTICA

Desenvolvimento: Estas fórmulas podem ser desenvolvidas a partir da definição de mínimos quadrados. O objectivo é
determinar α e β de forma que a soma dos quadrados dos erros seja mínima, ou seja, devemos minimizar.

Desenvolvendo este quadrado e eliminando os termos constantes (ou seja, aqueles que não têm termos em α e β,
chega-se a:

A partir desse ponto, pode-se resolver usando-se cálculo (tomando as derivadas parciais, etc), ou através de uma trans-
formação de coordenadas:

ou

Transformando a expressão a ser minimizada em:

ou

Esta expressão se separa na soma de duas expressões quadráticas independentes, que podem ser minimizadas usando
matemática elementar:

Cujos valores minimizadores são:

31
ESTATÍSTICA

Memorização: Nesta perspectiva, as análises univariadas deverão ser


consideradas como complementares das multivariadas:
Uma forma fácil de memorizar esta expressão é escre- face à constatação de diferenças significativas numa análi-
ver: se multivariada, esta deve ser precedida de testes univaria-
Y = α + Xβ dos para identificar as variáveis que contribuem para a não
XY = Xα + X2β rejeição das hipóteses nulas.
e, em seguida, somar as colunas:
Análise de Séries Temporais.

“Série Temporal é um conjunto de observações sobre


uma variável, ordenado no tempo”, e registrado em perío-
dos regulares. Podemos enumerar os seguintes exemplos
de séries temporais: temperaturas máximas e mínimas diá-
Intervalos de confiança: rias em uma cidade, vendas mensais de uma empresa, va-
O valor estimado de , , deve ser analisado através lores mensais do IPC-A, valores de fechamento diários do
da distribuição t de Student, porque IBOVESPA, resultado de um eletroencefalograma, gráfico
de controle de um processo produtivo.
A suposição básica que norteia a análise de séries tem-
porais é que há um sistema causal mais ou menos cons-
tante, relacionado com o tempo, que exerceu influência
sobre os dados no passado e pode continuar a fazê-lo no
futuro. Este sistema causal costuma atuar criando padrões
tem a distribuição t de Student com n-2 graus de liber- não aleatórios que podem ser detectados em um gráfico
dade (ver Fisher, R. A. (1925). “Applications of “Student’s” da série temporal, ou mediante algum outro processo es-
distribution”. Metron 5: 90–104.), em que:
tatístico.
O objetivo da análise de séries temporais é identificar
padrões não aleatórios na série temporal de uma variável
de interesse, e a observação deste comportamento passa-
do pode permitir fazer previsões sobre o futuro, orientan-
A variância de , pode ser estimada através dos
do a tomada de decisões.
erros observados:

se distribui como uma Chi quadrado com n-2 graus de


liberdade.

Análise Multivariada

Trata-se de um conjunto de métodos que permite a


análise simultânea de medidas múltiplas para cada indivi-
duo ou objeto em análise, ou seja, qualquer método que
permita a análise simultânea de duas ou mais variáveis
pode ser considerado como multivariado.
Vários autores apontam algumas razões para justifica-
rem a sua opção por análises multivariadas, nomeadamen-
te porque:
(1) a utilização de testes estatísticos separados para
cada variável provoca um erro tipo I demasiado elevado Vamos ver alguns gráficos de séries temporais.
(ou seja, a probabilidade de rejeitar a hipótese nula, quan-
do ela é falsa, toma valores que ultrapassam o aceitável); Que padrões não aleatórios podemos identificar na
(2) as análises ignoram muita informação importante figura 1?
contida nos dados (nomeadamente, as correlações entre as - observe que há uma tendência crescente no número
variáveis intervenientes na análise); de passageiros transportados (ou pelo menos havia antes
(3) algumas diferenças entre os grupos, quando ana- de 11 de setembro de 2001...).
lisados separadamente, poderão não ser significativas e, - há uma sucessão regular de “picos e vales” no número
quando analisados em conjunto, poderão revelar-se sig- de passageiros transportados, isso deve ser causado pelas
nificativas. oscilações devido a feriados, períodos de férias escolares,

32
ESTATÍSTICA

etc., que estão geralmente relacionados às estações do ano, e que se repetem todo ano (com maior ou menor intensidade).
Em outras palavras, identificamos dois padrões que podem tornar a ocorrer no futuro: crescimento no número de
passageiros transportados, flutuações sazonais. Tais padrões poderiam ser incorporados a um modelo estatístico, possibi-
litando fazer previsões que auxiliarão na tomada de decisões.

Figura 2 - Gráfico de controle: fração de defeituosos

Na figura 2 temos uma série temporal particular, trata-se de um gráfico de controle de fração de defeituosos, bastante
utilizado em Controle Estatístico da Qualidade para avaliar se um processo produtivo está estável, e, portanto, previsível.
Neste caso, não queremos que haja padrões não aleatórios, se eles existirem o processo está fora de controle estatístico,
instável e imprevisível, e não podemos garantir a qualidade dos produtos resultantes: precisamos atuar sobre o processo
e fazer as correções necessárias.

Outro exemplo:

Figura 3 - Produção mensal de minério de ferro no Brasil

33
ESTATÍSTICA

No caso da figura 3 a série aparenta comportar-se - a série pode apresenta apenas variações sazonais e
de forma errática. Em vermelho pode-se ver uma linha1 irregulares: o comportamento de longo prazo da série é
que possibilita identificar o nível da produção de miné- aproximadamente constante, mas observam-se flutuações
rio de ferro, uma tendência, que se situa entre 10000 e dentro dos períodos de um ano, que se repetem todos os
12000 milhares de toneladas: neste caso não há tendência anos.
crescente ou decrescente, mas é possível identificar o - quaisquer outras combinações possíveis.
comportamento de longo prazo da série. Aparentemente A decomposição da série permitirá identificar quais
não há variações regulares, como no caso da figura 1, que componentes estão atuando naquele conjunto em particu-
configurem sazonalidade. lar, além de possibilitar obter índices e/ou equações para
O problema fundamental é utilizar um modelo que realizar previsões para períodos futuros da série.
permita incluir os vários tipos de padrões, possibilitando A questão crucial do modelo clássico é decidir como
realizar previsões. O ponto de partida é realizar a decom- será a equação que relaciona as componentes com a variá-
posição da série em padrões. vel. Há duas opções: o modelo aditivo ou o modelo mul-
tiplicativo:
Modelo Clássico das Séries Temporais - No modelo aditivo o valor da série (Y) será o resul-
Segundo o modelo clássico todas as séries temporais tado da soma dos valores das componentes (que apresen-
são compostas de quatro padrões: tam a mesma unidade da variável):
- tendência (T), que é o comportamento de longo pra-
zo da série, que pode ser causada pelo crescimento demo-
gráfico, ou mudança gradual de hábitos de consumo, ou
qualquer outro aspecto que afete a variável de interesse Y = T + C + S + I ou Y = T + C + I (se os dados forem
no longo prazo; registrados anualmente)
- variações cíclicas ou ciclos (C), flutuações nos valores Nas previsões não temos como incluir a componente
da variável com duração superior a um ano, e que se repe- irregular no modelo, pois ela é resultado de fatos fortuitos,
tem com certa periodicidade2, que podem ser resultado de teoricamente imprevisíveis. Todas as componentes têm a
variações da economia como períodos de crescimento ou mesma unidade da série: se esta for em milhões de reais
recessão, ou fenômenos climáticos como o El Niño (que se todas também terão tal unidade.
repete com periodicidade superior a um ano); - Pode ser usado também o modelo multiplicativo,
- variações sazonais ou sazonalidade (S), flutuações no qual o produto das componentes resultará na variável
nos valores da variável com duração inferior a um ano, da série:
e que se repetem todos os anos, geralmente em função
das estações do ano (ou em função de feriados ou festas Y = T x C x S x I ou Y = T x C x I (se os dados forem
populares, ou por exigências legais, como o período para registrados anualmente)
entrega da declaração de Imposto de Renda); se os dados Novamente, não incluímos a componente irregular. Há,
forem registrados anualmente NÃO haverá influência da porém, uma diferença crucial: apenas a tendência tem a
sazonalidade na série3; mesma unidade da variável. As demais componentes têm
- variações irregulares (I), que são as flutuações inex- valores que modificam a tendência: assumem valores em
plicáveis, resultado de fatos fortuitos e inesperados como torno de 1 (se maiores do que 1 aumentam a tendência,
catástrofes naturais, atentados terroristas como o de 11 de se menores diminuem a tendência, se exatamente iguais
setembro de 2001, decisões intempestivas de governos, a 1 não causam efeito). Na figura 5 observe a escala ver-
etc. tical do gráfico das componentes cíclicas, sazonais e irre-
Aqui é importante salientar que nem sempre uma série gulares: são valores próximos de 1, enquanto a escala da
temporal, mesmo que o modelo clássico seja considerado figura 4 tem a mesma escala para o valor original da série
apropriado para analisá-la, irá apresentar todos os compo- e a tendência (em milhões de dólares). Isso ocorreu porque
nentes citados acima: decompusemos a série temporal usando um modelo mul-
- a série pode apresentar apenas variações irregulares: tiplicativo.
não se percebe comportamento crescente ou decrescente Chamando a variável de interesse de Y, a equação de
de longo prazo (tendência), ou flutuações sazonais ou cícli- sua série temporal seria: Y = f(T,C,S,I)
cas (como as séries das figuras 2 e 3).
- a série pode apresentar apenas tendência e variações
irregulares4: não são identificadas flutuações sazonais ou
cíclicas, apenas o comportamento crescente/decrescente
de longo prazo e as variações aleatórias.
1 Veremos posteriormente que se trata de uma média móvel.
2 Alguns autores não incluem as variações cíclicas no modelo clás-
sico da série temporal.
3 Pois não será possível observar se as flutuações se repetem siste-
maticamente dentro dos anos.
4 Não há como se livrar das variações irregulares...

34
ESTATÍSTICA

Podemos observar as componentes nas figuras 4 e 5.

Na figura 4 podemos observar uma série temporal de vendas (em milhões de dólares), e a tendência, no caso uma reta
(tendência linear), que mostra um crescimento no longo prazo.

Na figura 5 podemos observar as três outras componentes. Observe que a cada 5 ou 6 anos ocorre um ciclo, uma
mudança nos valores da variável (a linha azul). Há também variações sazonais, que se repetem todos os anos, devido pro-
vavelmente às estações (a linha vermelha). Por fim, há variações erráticas, que não apresentam regularidade, mas que talvez
se relacionem com eventos inesperados ocorridos no período, as variações irregulares (linha verde).

Figura 5 - Componentes cíclicas, sazonais e irregulares.

35
ESTATÍSTICA

QUESTÕES 05 - Paulo e Helena jogam, cada um, uma moeda. Se


do lançamento dessas duas moedas resultar duas caras,
01 - Para dados agrupados representados por uma Paulo paga a Helena R$ 5,00. Dando qualquer outro resul-
curva de frequências, as diferenças entre os valores da mé- tado, Helena paga a Paulo R$ 2,00. Supondo que ambas as
dia, da mediana e da moda são indicadores da assimetria moedas sejam estatisticamente honestas, o valor esperado
da curva. Indique a relação entre essas medidas de posição dos ganhos de Helena (considerando-se como ganhos ne-
para uma distribuição negativamente assimétrica. gativos os valores que ela paga a Paulo) é igual a
a) A média apresenta o maior valor e a mediana se en- a) – R$ 0,25
contra abaixo da moda. b) + R$ 0,25
va se encontra abaixo da mediana. c) + R$ 3,00
c) A média apresenta o menor valor e a mediana se d) – R$ 1,50
encontra abaixo da moda. e) + R$ 1,25
d) A média, a mediana e a moda são coincidentes em  
valor. 06 - Sobre a moda de uma variável, é correto afirmar
e) A moda apresenta o menor valor e a mediana se que
encontra abaixo da média.  a) para toda variável existe uma e apenas uma moda.
  b) a moda é uma medida de dispersão relativa.
02 - Assinale a opção que expresse a relação entre as c) a moda é uma medida não afetada por valores ex-
médias aritmética ( X ), geométrica (G) e harmônica (H), tremos.
para um conjunto de n valores positivos (X , X , ..., X ):1 2 n d) em distribuições assimétricas, o valor da moda en-
a) G <_ H <_ A , com G = H = -X somente se os n valo- contra-se entre o valor da média e o da mediana.
res forem todos iguais. e) sendo o valor mais provável da distribuição, a moda,
b) G 5 X <_ H, com G = X = H somente se os n valores tal como a probabilidade, pode assumir valores somente
forem todos iguais. no intervalo entre zero e a unidade.
c) X <_ G 5 H, com X = G = H somente se os n valores
 
forem todos iguais.
07 - Um motorista de táxi faz 10 viagens ida e volta
d) H 5 G 5 X, com H = G = X somente se os n valores
do aeroporto Santos Dumont ao aeroporto do Galeão, no
forem todos iguais.
Rio de Janeiro. Ele calcula e anota a velocidade média, em
e) X <_ H 5 G, com X = H = G somente se os n valores
quilômetros por hora, em cada uma dessas viagens. O mo-
forem todos iguais.
torista quer, agora, saber qual a velocidade média do táxi
para aquele percurso, em quilômetros por hora, conside-
03 - O coeficiente de correlação entre duas variáveis Y
rando todas as 10 viagens ida e volta. Para tanto, ele deve
e X é igual a +0,8. Considere, agora, a variável Z definida
como:Z = 0,2 - 0,5 XO coeficiente de correlação entre as va- calcular a média
riáveis Z e X, e o coeficiente de correlação entre as variáveis a) aritmética dos inversos das velocidades médias ob-
Z e Y serão iguais, respectivamente, a: servadas.
a) – 1,0; – 0,8 b) geométrica das velocidades médias observadas.
b) + 1,0; + 0,8 c) aritmética das velocidades médias observadas.
c) – 0,5; – 0,8 d) harmônica das velocidades médias observadas.
d) – 0,5; + 0,8 e) harmônica dos inversos das velocidades médias ob-
e) – 0,2; – 0,4 servadas.20
 
04 – Em um gráfico, as colunas representam as fre- 08 - Considere a seguinte distribuição das frequências
quências relativas do número de aparelhos de rádio por absolutas dos salários mensais, em R$, referentes a 200 tra-
domicílio em uma certa área da cidade:O exame da forma balhadores de uma indústria (os intervalos são fechados à
da distribuição das frequências relativas permite concluir esquerda e abertos à direita).
corretamente que, nesse caso, e para essa variável:
a) A moda é maior do que a mediana, e a mediana Classes de Salários : Frequências Absolutas de
maior do que a média. R$ 400 até R$ 500 : 50
b) A média é maior do que a moda, e a moda maior do de R$ 500 até R$ 600: 70
que a mediana. de R$ 600 até R$ 700 :40
c) A média é maior do que a mediana, e a mediana de R$ 700 até R$ 800 : 30
maior do que a moda. de R$ 800 até R$ 900: 10
d) A moda é maior do que a média, e a média maior do
que a mediana. Sobre essa distribuição de salários é correto afirmar
e) A mediana é maior do que a moda, e a moda maior que:
do que média. a) O salário modal encontra-se na classe de R$ 800 até
R$ 900.

36
ESTATÍSTICA

b) O salário mediano encontra-se na classe de R$ 600 13 - Assinale a opção que dá o valor do coeficiente
até R$ 700. quartílico de assimetria.
c) O salário modal encontra-se na classe de R$ 600 até a) 0,080
R$ 700. b) -0,206
d) O salário modal encontra-se na classe de R$ 700 até c) 0,000
R$ 800. d) -0,095
e) O salário mediano encontra-se na classe de R$ 500 e) 0,300
até R$ 600.
Para a solução das questões de números 09 a 13 utilize 14 - Uma variável contábil Y, medida em milhares de
o enunciado que segue. Rascunho reais, foi observada em dois grupos de empresas
apresentando os resultados seguintes:
O atributo do tipo contínuo X, observado como um in- A: Média 20 - Desvio padrão 4
teiro, numa amostra de tamanho 100 obtida de uma popu- B: Média 10 - Desvio padrão 3
lação de 1000 indivíduos, produziu a tabela de freqüências Assinale a opção correta.
seguinte: a) No Grupo B, Y tem maior dispersão absoluta.
b) A dispersão absoluta de cada grupo é igual à dis-
Classes  => Frequência (f ) persão relativa.
a) 29,5-39,5 => 4 c) A dispersão relativa do Grupo B é maior do que a
b) 39,5-49,5 => 8 dispersão relativa do Grupo A.
c) 49,5-59,5 => 14 d) A dispersão relativa de Y entre os Grupos A e B é
d) 59,5-69,5 => 20 medida pelo quociente da diferença de desvios padrão
e) 69,5-79,5 => 26 pela diferença de médias.
f) 79,5-89,5 => 18 e) Sem o conhecimento dos quartis não é possível cal-
g) 89,5-99,5 =>10 cular a dispersão relativa nos grupos.
   
09 - Assinale a opção que corresponde à estimativa da 15 - No tempo t0+2 o preço médio de um bem é 30%
mediana amostral do atributo X. maior do que em t0+1, 20% menor do que em t0 e 40%
a) 71,04 maior do que em t0+3. Assinale a opção que dá o relativo
b) 65,02 de preços do bem em t0+3 com base em t0+1.
c) 75,03 a) 162,5%
d) 68,08 b) 130,0%
e) 70,02 c) 120,0%
  d) 092,9%
10 - Assinale a opção que corresponde à estimativa do e) 156,0%
número de indivíduos na população com valores do atribu-
to X menores ou iguais a 95,5 e maiores do que 50,5. RESPOSTAS:
a) 700
b) 638 01-C / 02-D / 03-A / 04-C / 05-A / 06-C / 07-D / 08-E /
c) 826 09-A / 10-C / 11-B / 12-E / 13-D / 14-C / 15-D
d) 995
e) 900 Resolução 05:
  E(R) [Renda esperada] = 5.P(k,k) – 2.P(Co,k) – 2.P(k,Co)
11 - Assinale a opção que corresponde ao valor modal – 2.P(Co,Co)
do atributo X. E(R)= 5 . 0,25 - 2 . 0,25 - 2 . 0,25 - 2 . 0,25
a) 69,50 E(R) = - 0,25
b) 73,79 Alternativa “A”
c) 71,20
d) 74,53
e) 80,10
 
12 - Assinale a opção que corresponde ao desvio abso-
luto médio do atributo X.
a) 16,0
b) 17,0
c) 16,6
d) 18,1
e) 13,0

37
ESTATÍSTICA

EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES A) 7,5.


Matemática B) 7,6.
C) 7,7.
D) 7,8.
1. (SAP/SP - AGENTE DE SEGURANÇA PENITENCIÁ- E) 7,9.
RIA DE CLASSE I – VUNESP/2013) Em uma seção de uma
empresa com 20 funcionários, a distribuição dos salários
mensais, segundo os cargos que ocupam, é a seguinte: 8∙3+8∙2+7∙3+7∙2
= 7,5
10
!
RESPOSTA: “A”.

3. (SEED/SP – ANALISTA ADMINISTRATIVO – VU-


NESP/2013) Em certo departamento, trabalham homens e
mulheres, sendo que nesse grupo há 10 homens a mais
que o número de mulheres. A média salarial desse depar-
Sabendo-se que o salário médio desses funcionários é tamento é de R$ 3.800,00. Entretanto, calculando separa-
de R$ 1.490,00, pode-se concluir que o salário de cada um damente, verifica-se que a média salarial dos homens é de
dos dois gerentes é de R$ 4.000,00, enquanto a média salarial das mulheres é de
A) R$ 2.900,00. R$ 3.500,00. O número de homens que trabalham nesse
B) R$ 4.200,00. departamento é igual a
C) R$ 2.100,00. A) 20.
D) R$ 1.900,00. B) 40.
E) R$ 3.400,00. C) 30.
D) 25.
2! + 8 ∙ 1700 + 10 ∙ 1200 E) 15.
!é!"# =
20 Salário homens: SH
Salário mulher:SM
2! + 8 ∙ 1700 + 10 ∙ 1200 Homens: x+10
1490 =
20 Mulheres: x

2! + 13600 + 12000 = 29800 !"


2! = 4200 = 4000!!!!" = 4000! + 40000
!!!"
! = 2100
! !"
! ! = 3500!!!!!" = 3500!
Cada um dos gerentes recebem R$ 2100,00
!"!!"
RESPOSTA: “C”. = 3800
!!!!!"

2. (CREFITO/SP – ALMOXARIFE – VUNESP/2012) Em


!"!!"
época de Natal, uma pesquisadora colheu dados de opi- = 3800
nião dos clientes sobre shopping centers, seguindo os cri- !!!!"
térios da tabela seguinte:
7600! + 38000 = !" + !"
!
Substituindo SH e SM:
7600x+38000=4000x+40000+3500x
100x=2000
X=20
Homens:x+10=20+10=30

RESPOSTA: “C”.
Um shopping recebeu nota 8 para “estacionamento” e
“preços” e nota 7 para os demais critérios. Logo, a média
final atingida por esse shopping foi

38
ESTATÍSTICA

4. (ASSEMBLEIA LEGISLATIVA/PB – ASSESSOR TÉCNI- 6. (PM/SP – SARGENTO CFS – CETRO/2012) Em um


CO LEGISLATIVO – FCC/2013) A média aritmética simples grupo de pessoas, há 5 pessoas com 1,80m de altura, 6
entre dois números é igual à metade da soma desses nú- com 1,70m e 4 com 1,90m. Logo, é correto afirmar que a
meros. Utilizando essa definição, a média aritmética sim- média aritmética das alturas desse grupo é, aproximada-
ples entre é igual a mente, de
A) ½ A) Z1,82m.
B) 2/9 B) 1,73m.
C) 8/9 C) 1,87m.
D) ! ! D) 1,79m.
!
!
E) !
( )²! 5 ∙ 1,80 + 6 ∙ 1,70 + 4 ∙ 1,90
!
≈ 1,79
Pela definição:
15
!
1 5 3+5 8 RESPOSTA: “D”.
+9 8 4 2
3 = 9 =9= = = ( )² 7. (SEAP – AGENTE DE ESCOLTA E VIGILÂNCIA PENI-
2 2 2 18 9 3 TENCIÁRIA – VUNESP/2013) Uma pessoa comprou quatro
! cadeiras iguais para sua cozinha, pagando R$ 120,00 por
cada uma delas, três cadeiras de praia por R$ 90,00 cada
RESPOSTA: “D”.
uma delas e dois banquinhos iguais, de madeira. Conside-
rando-se o total de peças compradas, na média, o preço
5. (PC/SP – OFICIAL ADMINISTRATIVO – VU-
de uma peça saiu por R$ 94,00. O preço de cada banqui-
NESP/2014) Em uma empresa com 5 funcionários, a soma
nho era de
dos dois menores salários é R$4.000,00, e a soma dos três
A) R$ 44,00.
maiores salários é R$12.000,00. Excluindo-se o menor e
o maior desses cinco salários, a média dos 3 restantes é B) R$ 56,00.
R$3.000,00, podendo-se concluir que a média aritmética C) R$ 52,00.
entre o menor e o maior desses salários é igual a D) R$ 48,00.
A) R$3.500,00. E) R$ 40,00.
B) R$3.400,00.
C) R$3.050,00. Total de objetos: 4+3+2=9
D) R$2.800,00. Cadeiras de cozinha: 120 . 4=480
E) R$2.500,00. Cadeiras de praia: 90 . 3=270
Banquinhos : 2x
X1+x2+x3+x4+x5
X1+x2=4000 480 + 270 + 2!
X3+x4+x5=12000
= 94
9
!
x2+x3+x4=9000 2x+750=846
2x=96
!!!!!! + !! + !! + !! + !! = 4000 + 12000 = 16000! x=48
Sendo x1 e x5 o menor e o maior salário respectiva- Cada banquinhos custa R$48,00.
mente:
RESPOSTA: “D”.
!! + 9000 + !! = 16000
!!! + !! = 16000 − 9000 = 7000
!
Então, a média aritmética:

! ! !! ! !"""
= = 3500
! !
!
RESPOSTA: “A”.

39
ESTATÍSTICA

8. (PREF. PAULISTANA/PI – PROFESSOR DE MATEMÁ- 10. (IAMSPE – OFICIAL ADMINISTRATIVO – VU-


TICA – IMA/2014) Considere o conjunto de dados abaixo, NESP/2012) A tabela mostra o número de funcionários por
referente ao salário médio dos funcionários de uma em- cargo em certa empresa, com seus respectivos salários em
presa. janeiro de 2012.

Se a média de todos esses salários foi, em janeiro de


2012, igual a R$ 2.500,00, pode-se concluir que o valor de
X da tabela é
A) R$ 2.600,00.
B) R$ 2.800,00.
C) R$ 3.000,00.
D) R$ 3.200,00.
E) R$ 3.600,00.
O valor da Mediana é: 2 ∙ 1200 + 3 ∙ 2200 + 5!
A) 1240 = 2500
B) 1500 10
C) 1360 2400 + 6600 + 5! = 25000
D) 1600 5! = 25000 − 2400 − 6600
E) 1420 !
X=3200
Colocando na ordem crescente:
1100;1200;1210;1250;1300;1420;1450;1500;1600;1980 RESPOSTA: “D”.
A mediana é o número que se encontra no meio. Nesse
caso que tem 10 números(par) é a média do 5º e 6º nú- 11. (COREN/SP – AGENTE ADMINISTRATIVO – VU-
meros: NESP/2013) Um caminhão de entregas estava carregado
com 240 caixas de diferentes produtos, sendo a média arit-
1300 + 1420 2720 mética das massas das caixas igual a 10,5 kg. Após descar-
= = 1360 regar n caixas, cuja massa total era 560 kg, a média aritmé-
2 2 tica das massas das caixas restantes no caminhão passou a
! ser igual a 9,8 kg.
RESPOSTA: “C”. Desse modo, é correto afirmar que
A) n = 44.
9. (BNDES – TÉCNICO ADMINISTRATIVO – CESGRAN- B) n = 40.
RIO/2013) Considere o seguinte conjunto: C) n = 35.
{15; 17; 21; 25; 25; 29; 33; 35} D) n = 30.
A média, a mediana e a moda desse conjunto de dados E) n = 26
são, respectivamente,
A) 1, 2 e 3
B) 5, 7 e 9
C) 7, 9 e 5
D) 25, 25 e 25
E) 25, 27 e 29

!"!!"!!"!!"!!"!!"!!!!!"
!é!"# = = 25
!
!
A mediana é a média entre o 4º e 5º termo:
25 + 25
!!!!!"#$%&% = = 25
2
!
Moda é o número que mais aparece: 25

RESPOSTA: “D”.

40
ESTATÍSTICA

! 13. (SPTRANS – AGENTE DE INFORMAÇÕES – VU-


= 10,5 NESP/2012) A tabela mostra o número de acidentes com
240 motos, em determinada cidade, no decorrer de 5 dias.

! = 2520!!"

2520-560=1960kg

1960
= 9,8
240 − !

9,8 240 − ! = 1960

2352 − 9,8! = 1960 Na média, o número de acidentes por dia foi 4,4. Se ti-
vesse ocorrido mais um acidente na 6.ª feira, a média diária
−9,8! = −392 desses 5 dias teria sido de
! = 40 A) 4,5.
! B) 4,6.
RESPOSTA: “B”. C) 4,7.
D) 4,8.
12. (UFABC/SP – TRADUTOR E INTÉRPRETE DE LIN- E) 4,9.
GUAGENS DE SINAIS – VUNESP/2013) Daniel trabalha 8
horas por dia, de segunda a sexta-feira, e 10 horas aos sá- Número de acidentes na sexta: X
bados. O valor da hora trabalhada aos sábados é o dobro 6+3+4+2+!
do valor recebido nos outros dias. Em um determinado = 4,4
mês, Daniel trabalhou 25 dias, sendo que 5 dias foram sá- 5
bados, e recebeu, em média, R$ 26,00 por hora. O valor da
hora trabalhada aos sábados é 15 + ! = 22
A) R$ 32,00. !
B) R$ 36,00.
C) R$ 42,00. X=7
D) R$ 48,00.
E) R$ 52,00. 15 + 8
=!
5
5 sábados: 5.10=50 horas !5Y=23
20 dias de segunda a sexta: 20.8=160 horas
Y=4,6
Sendo x o valor da hora trabalhada de dia de semana e
2x o valor de sábado(sábado é o dobro do valor recebido RESPOSTA: “B”.
nos outros dias)
Total de horas: 50+160=210horas (SEFAZ/RJ – ANALISTA DE CONTROLE INTERNO – CE-
PERJ/2013) Observe os números relacionados a seguir, e
50 ∙ 2! + 160 ∙ ! responda às questões de números 14 e 15.
= 26
210
100! + 160! = 5460
260! = 5460
! = 21
! 14. A mediana desses valores vale:
Ele recebe R$ 21,00 de segunda a sexta por hora, por- A) 6
tanto recebe R$ 42,00 por hora aos sábados. B) 6,5
C) 7
RESPOSTA: “C”. D) 7,5
E) 8

Colocando em ordem crescente:


3; 4; 6; 7; 7; 8; 8; 8; 9

41
ESTATÍSTICA

São 9 elementos, então a mediana é o quinto elemen-


to(9+1/2) !! + !! + !!
Mediana 7 =!
3
!! + !!
RESPOSTA: “C”. =!
2
15. A moda desses valores vale: !! + !! = 2!
A) 8
B) 7 2! + !!
C) 6 =!
D) 5 3
E) 4 !! = 3! − 2!
!
Moda é o elemento que aparece com mais frequência: RESPOSTA: “D”.
8
18. (UNESP – ASSISTENTE ADMINISTRATIVO – VU-
RESPOSTA: “A”. NESP/2012) Em uma instituição, a nota final de cada dis-
ciplina é composta pela média aritmética ponderada de 3
16. (UEM/PR – AGENTE UNIVERSITÁRIO – MOTORISTA avaliações: A1, A2 e A3.
– UEM/2013) A média aritmética simples de três números
é 10 e a média aritmética simples de dois desses números A avaliação A1 tem peso um e as demais avaliações
é 5. têm peso dois, cada uma delas. Um aluno que tirou, em
determinada disciplina, notas 3, 7 e 5 na A1, A2 e A3, res-
Nessas condições, o terceiro número é igual a pectivamente, teve, como nota final, nessa disciplina,
A) 10.
A) 5.
B) 14.
B) 5,4.
C) 15.
C) 5,5.
D) 18.
D) 6.
E) 20.
E) 6,4.
Números: x, y e z
(x+y+z)/3 =10 3 + 7 ∙ 2 + 5 ∙ 2 27
!= = = 5,4
!!! 5 5
=5 !
!
! X+y=10 RESPOSTA: “B”.

!"!!
= 10 19. (FAPESP – ANALISTA ADMINISTRATIVO – VU-
! NESP/2012) A tabela a seguir apresenta o número de usuá-
! Z=30-10=20 rios internos atendidos por um departamento de uma de-
terminada fundação, de segunda a sexta-feira, da semana
RESPOSTA: “E”. anterior.

17. (SEED/SP – AGENTE DE ORGANIZAÇÃO ESCOLAR


– VUNESP/2012) A média aritmética entre três números
inteiros positivos é igual a , e a média aritmética entre o
maior e o menor desses números é igual a . Sendo assim, o
número intermediário entre os três números mencionados
é, necessariamente, igual a
A) !"!

B) ! + !"!

C) !!
D) !" − !"!
E) !+!
!
!

42
ESTATÍSTICA

Com base nas informações da tabela, é possível afir- Então foi guardado no recipiente, 1/3 da metade do
mar que o número médio de atendimentos diário, daque- que a pessoa tinha.
les dias, foi
A) 120 Se a quantia foi dividida em 3 pessoas, ela tem x/3
B) 117,5. 1 1 !
C) 110. ∙ ∙ = 300
D) 54,5. 3 2 3
E) 47.
! = 300.18 = 5400
52 + 47 + 38 + 45 + 53 !
= 47
5 RESPOSTA: “D”.
!
RESPOSTA: “E”. 22. (SABESP – APRENDIZ – FCC/2012) Um quadrado é
chamado mágico quando suas casas são preenchidas por
20. (FAPESP – ANALISTA ADMINISTRATIVO – VU- números cuja soma em cada uma das linhas, colunas ou
NESP/2012) A nota média 0≤M≤10 de análise dos projetos diagonais é sempre a mesma.
recebidos por uma determinada instituição, efetuada para O quadrado abaixo é mágico.
fins de financiamento, é calculada pela média aritmética
ponderada das notas das fases F1, F2 e F3, pelas quais todos
os projetos passam no período de avaliação. Se a fase F1
tem peso 1, a fase F2, peso 2, e a fase F3, peso 3, e todas elas
são avaliadas com notas que variam de zero a dez, um pro-
jeto que teve nota M igual a 8 e notas 7 e 8,5 nas fases F1
e F2, respectivamente, ele teve a fase F3 avaliada com nota
A) 7,5.
B) 8.
C) 8,5.
D) 9.
E) 9,5.
!! . !! ;!!! !! ;!!! !! ;!… ;!!! !! !
!=
!! + ! !! + ! !! + ! … + ! !!

7 + 2 ∙ 8,5 + 3 ∙ !!
=8
6
!
3F3=48-24
F3=8
Um estudante determinou os valores desconhecidos
RESPOSTA: “B”. corretamente e para 3x − 1 atribuiu
A) 14
21. (PREF. IMARUÍ – AGENTE EDUCADOR – PREF. B) 12
IMARUÍ/2014) Certa quantia em dinheiro foi dividida igual- C) 5
mente entre três pessoas, cada pessoa gastou a metade do D) 3
dinheiro que ganhou e 1/3(um terço) do restante de cada E) 1
uma foi colocado em um recipiente totalizando R$900,00(-
novecentos reais), qual foi a quantia dividida inicialmente? Igualando a 1ª linha com a 3ª
A) R$900,00
B) R$1.800,00 15 + 10 + ! − 2 + 6 = 3! − 1 + 11 + 2 + 7
C) R$2.700,00 2! = 10
D) R$5.400,00 !=5
Quantidade a ser dividida:x 3x-1=14
!
Se 1/3 de cada um foi colocado em um recipiente e RESPOSTA: “A”.
deu R$900,00, quer dizer que cada uma colocou R$300,00.
A pessoa gastou metade, e ficou com metade.

43
ESTATÍSTICA

23. (PGE/BA – ASSISTENTE DE PROCURADORIA – 3ªsemana:2y


FCC/2013) A prefeitura de um município brasileiro anun- 4ª semana:y
ciou que 3/5 da verba destinada ao transporte público se- !
riam aplicados na construção de novas linhas de metrô. O 2! + ! = ! !
restante da verba seria igualmente distribuído entre quatro 3! = ! !
!

outras frentes: corredores de ônibus, melhoria das estações !


de trem, novos terminais de ônibus e subsídio a passagens. ! = !!
Se o site da prefeitura informa que serão gastos R$ 520 mi- !
lhões com a melhoria das estações de trem, então o gasto RESPOSTA: “B”.
com a construção de novas linhas de metrô, em reais, será
de 25. (CÂMARA DE SÃO PAULO/SP – TÉCNICO ADMI-
A) 3,12 bilhões. NISTRATIVO – FCC/2014) Bia tem 10 anos a mais que Lua-
B) 2,86 bilhões. na, que tem 7 anos a menos que Felícia. Qual é a diferença
C) 2,60 bilhões. de idades entre Bia e Felícia?
D) 2,34 bilhões. A) 3 anos.
E) 2,08 bilhões. B) 7 anos.
520 milhões para as melhorias das estações de trem, C) 5 anos.
como foi distribuído igualmente, corredores de ônibus, no- D) 10 anos.
vos terminais e subsídio de passagem também receberam E) 17 anos.
cada um 520 milhões.
Restante da verba foi de 520.4=2080 Luana:x
Bia:x+10
Verba:y Felícia:x+7
Bia-Felícia=x+10-x-7=3
!
! + 2080.10! = !
!
! RESPOSTA: “A”.
! − ! = −2080.10!
!
−2! = −10400.10! 26. (DAE AMERICANAS/SP – ANALISTA ADMINSTRA-
! = 5200.10! TIVO – SHDIAS/2013) Em uma praça, Graziela estava con-
! versando com Rodrigo. Graziela perguntou a Rodrigo qual
5200.10! = 3120.10! = 3,12.10! era sua idade, e ele respondeu da seguinte forma:
!
! - 2/5 de minha idade adicionados de 3 anos correspon-
RESPOSTA: “A”. dem à metade de minha idade.

24. (CÂMARA DE SÃO PAULO/SP – TÉCNICO ADMI- Qual é a idade de Rodrigo?


NISTRATIVO – FCC/2014) Um funcionário de uma empresa A) Rodrigo tem 25 anos.
deve executar uma tarefa em 4 semanas. Esse funcionário B) Rodrigo tem 30 anos.
executou 3/8 da tarefa na 1a semana. Na 2a semana, ele C) Rodrigo tem 35 anos.
executou 1/3 do que havia executado na 1a semana. Na 3a D) Rodrigo tem 40 anos.
e 4a semanas, o funcionário termina a execução da tarefa e
verifica que na 3a semana executou o dobro do que havia Idade de Rodrigo: x
executado na 4a semana. Sendo assim, a fração de toda a
tarefa que esse funcionário executou na 4ª semana é igual !
! +3 = !!
!
a !
! !
A) 5/16. ! − ! ! = −3
B) 1/6. !
C) 8/24. ! Mmc(2,5)=10
D)1/ 4.
E) 2/5. !!!!!
! !" = −3
Tarefa:x 4! − 5! = −30
Primeira semana:3/8x ! = 30
1 3 1 !
2 semana: ∙ ! = !! RESPOSTA: “B”.
3 8 8
3 1 4 1
1ª e 2ª semana: ! + ! = ! = !!
8 8 8 2
Na 3ª e 4ª semana devem ser feito a outra metade.

44
ESTATÍSTICA

27. (PREF. JUNDIAI/SP – ELETRICISTA – MAKIYA- 29. (METRO/SP - AGENTE DE SEGURANÇA METRO-
MA/2013) Para que a equação (3m-9)x²-7x+6=0 seja uma VIÁRIA I - FCC/2013) Glauco foi à livraria e comprou 3
equação de segundo grau, o valor de m deverá, necessaria- exemplares do livro J. Comprou 4 exemplares do livro K,
mente, ser diferente de: com preço unitário de 15 reais a mais que o preço unitário
A) 1. do livro J. Comprou também um álbum de fotografias que
B) 2. custou a terça parte do preço unitário do livro K.
C) 3. Glauco pagou com duas cédulas de 100 reais e recebeu
D) 0. o troco de 3 reais. Glauco pagou pelo álbum o valor, em
E) 9. reais, igual a
3m-9≠0 A) 33.
3m≠9 B) 132.
m≠3 C) 54.
D) 44.
RESPOSTA: “C”. E) 11.

28. (METRO/SP - AGENTE DE SEGURANÇA METROVIÁ- Preço livro J: x


RIA I - FCC/2013) Dois amigos foram a uma pizzaria. O mais Preço do livro K=x+15
velho comeu da pizza que compraram. Ainda da mesma ! + 15
pizza o mais novo comeu da quantidade que seu amigo á!"#$:
havia comido. Sendo assim, e sabendo que mais nada dessa 3
pizza foi comido, a fração da pizza que restou foi !valor pago:197 reais
! !!!"
A) ! 3! + 4(! + 15) + = 197
! !
9! + 12 ! + 15 + ! + 15
= 197
B) !! 3
! 9! + 12! + 180 + ! + 15 = 591
22! = 396
C) !
!"
! ! = 18
! + 15 18 + 15
D) ! !
á!"#$: = = 11
3 3
!" !

E) !"! RESPOSTA: “E”.


!"
30. (METRO/SP - AGENTE DE SEGURANÇA METRO-
!"##$: ! VIÁRIA I - FCC/2013) Hoje, a soma das idades de três ir-
mãos é 65 anos. Exatamente dez anos antes, a idade do
mais velho era o dobro da idade do irmão do meio, que
3 por sua vez tinha o dobro da idade do irmão mais novo.
!"#$!!"#ℎ!: !
8 Daqui a dez anos, a idade do irmão mais velho será, em
anos, igual a
7 3 21 A) 55.
!"#$!!"#" ∶ ∙ != ! B) 25.
5 8 40
C) 40.
3 21 D) 50.
!+ !+! =! E) 35.
8 40
3 21 Irmão mais novo: x
!=!− !− ! Irmão do meio: 2x
8 40 Irmão mais velho:4x
Hoje:
40! − 15! − 21! 4! 1 Irmão mais novo: x+10
!= = = !
40 40 10 Irmão do meio: 2x+10
! Irmão mais velho:4x+10
Sobrou 1/10 da pizza.
x+10+2x+10+4x+10=65
RESPOSTA: “C”. 7x=65-30

45
ESTATÍSTICA

7x=35 33. (SABESP/SP – AGENTE DE SANEAMENTO AM-


x=5 BIENTAL – FCC/2014) Somando-se certo número positivo
hoje: x ao numerador, e subtraindo-se o mesmo número x do
Irmão mais novo: x+10=5+10=15 denominador da fração 2/3 obtém-se como resultado, o
Irmão do meio: 2x+10=10+10=20 número 5. Sendo assim, x é igual a
Irmão mais velho:4x+10=20+10=30 A) 52/25.
B) 13/6.
Daqui a dez anos C) 7/3.
Irmão mais novo: 15+10=25 D) 5/2.
Irmão do meio: 20+10=30 E) 47/23.
Irmão mais velho: 30+10=40 2+!
=5
RESPOSTA: “C”.
3−!
15 − 5! = 2 + !
31. (PREF. NEPOMUCENO/MG – SERVENTE DE OBRAS 6! = 13
– CONSULPLAN/2013) Se a soma de dois números conse- 13
cutivos é igual a 101, então a metade do sucessor do maior !=
desses números é
6
!
A)23.
B)24. RESPOSTA: “B”.
C)25.
D)26. 34. (SABESP – TÉCNICO EM SISTEMAS DE SANEA-
E)27. MENTO-QUÍMICA – FCC/2014) Uma empresa resolveu
doar a seus funcionários uma determinada quantia. Essa
Primeiro número:x quantia seria dividida igualmente entre 3, ou 5, ou 7 fun-
Maior número:x+1 cionários. Se fosse dividida entre 3 funcionários, cada um
deles receberia 4 mil reais a mais do que se a quantia fosse
! + ! + 1 = 101 dividida entre 7 funcionários. A diretoria da empresa resol-
2! = 100 veu dividir para 5 funcionários. Sendo assim, a quantia que
! = 50 cada um desses 5 funcionários recebeu é, em reais, igual a
A) 4.600,00.
!Maior número:x+1=50+1=51 B) 4.200,00.
Sucessor :52 C) 4.800,00.
D) 5.200,00.
52 E) 3.900,00.
= 26 Quantia: x
2
!RESPOSTA: “D”. ! !
= + 4000
3 7
32. (CÂMARA DE CANITAR/SP – RECEPCIONISTA – IN- !
DEC/2013) Qual a equação do 2º grau cujas raízes são 1 e Mmc(3,7)=21
3/2?
A)x²-3x+4=0
B)-3x²-5x+1=0 7! = 3! + 84000
C)3x²+5x+2=0 4! = 84000
D)2x²-5x+3=0 ! = 21000
Como as raízes foram dadas, para saber qual a equa-
!
ção:
x²-Sx+P=0 A quantia que vai ser dividida é de R$21.000,00
3 5
! =1+ = 21000
2 2 = 4200
3 3 5
! =1∙ = !
2 2
5 3
!
! − !+ =0 RESPOSTA: “B”.
2 2
2! ! − 5! + 3 = 0
!
RESPOSTA: “D”.

46

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