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1Confesso que a ideia de escrever um livro sempre me assustou.

Gosto de
escrever, porém meus textos costumam ser curtos e diretos.
Digo o que acredito ser necessário e pronto.
Ainda assim, escrever um livro tem sido um projeto convidativo. Muitas coisas
sobre as quais eu gostaria de falar, muitas histórias para contar e quando
alguém me sugere escrever um livro (o que já ocorreu várias vezes) eu penso
que há conteúdo para vários, não apenas um livro.
E finalmente decidi iniciar este projeto trazendo a minha experiência nesta
jornada de ir para dentro, olhar para mim.
Necessário revelar que hoje percebo que sempre fui lerda. Lerda nas
percepções de si mesma. Lerda nas percepções à respeito do entorno e até
meio alheia, às vezes – não tão às vezes...rsrs
A vida foi boa, tranquila até mais ou menos meus 19 anos. Minha infância
foram tranquila, fui um criança protegida e tudo que eu fazia era brincar,
comer, dormir, obedecer. E estudar! Aos quatro anos infernizei meus pais
porque queria ir pra escola.
À época não havia maternal I, II, III, infantil, pré... Existia jardim da infância,
pré primário, primário e ginasial (hoje primeiro grau) e depois vinha o colegial
(segundo grau, atualmente).
Minha mãe foi até uma escola municipal próxima à nossa casa e conversou
com a diretora sobre a minha ‘’urgência’’ em começar os estudos. Ela então
sugeriu que eu fosse para o jardim de infância, e lá permaneci 4 anos até
ingressa na primeira série. Era muito importante, eu nunca faltava, de alguma
forma aquilo era essencial para mim. Tudo que eu fazia na escola era brincar...
risos.
E assim segui, uma vida tranquila, nunca me faltou nada, nem amor, nem o
básico, às vezes até um supérfluo se fazia presente.
Meus pais sempre presentes, conversavam sobre tudo, explicavam tudo,
evitavam impor de forma impactante, apresentavam motivos, deixavam claras
as condições, e me habituei a isso.
Não possuo recordações muito claras da infância ou do que me desagradava
nela. Fui vivendo.
Fui abençoada com uma família com poucos e raros conflitos, onde todos se
ajudavam e se apoiavam, mesmo no caso de não haver muita afinidade, havia
respeito.
Minha vida se resumia à vida escolar, uma vez que não praticava nenhuma
atividade extra curricular. Até a quarta seria eu tinha uma amiga de cada vez.
Na primeira seria, era Ecila, ela era ruiva e tocava piano... como eu admirava o
fato dela tocar piano. Pedi a meus pais pra fazer aulas. Eles responderam que
eu era muito nova, quando eu crescesse eu poderia fazer, quando soubesse o
que queria. Fiz aulas de piano. Dos 16 até os 18 anos. D. Ignez a mãe de umas
amigas minhas foi minha professora, ainda hoje mantenho contato, apesar de
não fazer aulas, não ter mais piano, mas tenho D.Ignez na minha vida, que é
uma pessoa admirável e muito lúcida aos seus 83 anos. Ela é minha amiga no
facebook.
Na quarta série fui morar com minha avó materna no interior de São Paulo,
pois a poluição da cidade de São Paulo, onde morávamos, me fazia mal.
Morei um ano e meio com meus avós maternos, até o falecimento do meu
avô.
Lá eu tinha muitas amigas, as filhas da vizinha da minha avó, depois a colegas
da escola do grupo escolar, os amigos das amigas, os primos das amigas, pois
cidade do interior acaba juntando todo mundo, nos encontrávamos na escola,
íamos juntos para o clube de campo nadar, ao cinema, jogar vôlei na praça da
Igreja e no quintal de uma amiga (o Kike, sim, o quintal tinha nome), à praça,
aos eventos da cidade.
Foi uma época muito feliz, eu me sentia livre, a cidade era segura, pequena, as
pessoas se conheciam e todos me conheciam quando eu me apresentava
como a neta do Tenente Abílio e da D. Maria. Vivia na rua, como dizia minha
avó.
Com o falecimento do meu avô, voltei para a casa dos meus pais, em São
Paulo, onde cursei a sexta série, e lá tinha duas amigas, Lygia (que
posteriormente se casou com um amigo meu) e Eliane, da qual nunca mais
soube após este tempo.
Morávamos num condomínio popular, numa rua com cinquenta e seis
casinhas, e havia também uma turma da rua, as crianças que lá residiam. Uma
das amigas é minha amiga até hoje, Maria Claudia, a “mana”, completamos
bodas de ouro de amizade, já.
Combinávamos para vestir o mesmo tipo de roupa, tivemos um primeiro amor
comum, porem ele gostava dela. Tudo bem, eu gostava dos dois, então estava
bom para mim. E nossa amizade perdura até hoje, não nos vemos com
frequência, porem quando nos encontramos é ‘’como se fosse ontem’’.
Nos mudamos para Santos, estado de São Paulo, onde cursei a sétima série, e
entrei para um colégio particular, anteriormente todas as escolas que
frequentei eram públicas.
Aí fiz amizade com a Regina e a Solange, estamos sempre juntas para lá e para
cá. Ainda mantenho algum contato com a Regina. O universo nos brindou com
alguns encontros inesperados, uma vez no cinema, nossos filhos eram
pequenos e ela havia retornado do Alasca onde morara um tempo. Mais
tarde, nos encontramos inesperadamente num encontro de casais , e foi uma
felicidade imensa para mim. Desde então mantemos contato via facebook.
Durante o segundo grau a vida se tornou mais divertida, éramos a turma do
fundão! Cursávamos o Curso Técnico de Secretariado, quarenta e três moças
na classe, e nossa turma era composta de nove: Leninha, Bernardete, a Bê,
Soninha, Claudia, Carmen, Tácia, Cecília, Luciana e eu.
Leninha, Bê, Soninha e eu, mantemos contato, nos encontramos com
frequencia. Cecília faleceu, vitima de um câncer há uns 2 anos, as outras
perdemos contato.
Eramos terríveis, sempre aprontando, porém eram um tempo inocente, onde
as coisas graves que fazíamos eram sujar a sala com chuva de isopor raspado,
rir sem parar de qualquer graça que alguém fazia – até sermos postas pra
fora da sala -, e fora da sala ficarmos pulando numa janelinha que havia na
porta e acenando para aquelas que ainda permaneciam na sala, e que haviam
permanecido porque haviam parado de rir no exato momento que o professor
olhou pra trás quando escrevia na lousa. Foi um tempo muito bom.
Depois a faculdade, onde muitas amizades preciosas começaram e continuam
até hoje: Tânia (minha alma gêmea feminina), Cristina, Luciana, Sueli e Luiz
Roberto (padrinhos da minha filha), e outros que permaneceram durante um
período e no decorrer da vida se afastaram. Foi um tempo bom também.
Até aí a vida foi tranquila comigo, não me deu espelho, não me cobrou, me
deixou viver sem muitos imprevistos.
Comecei a namorar aos quatorze anos, um rapaz de 18, namoramos um ano e
meio, foi bem bom no início, porem posteriormente ele se demostrou muito
ciumento e não foi pra frente. Namorei brevemente mais umas poucas vezes.
Até conhecer aquele que se tornou marido, aos 19 anos. Oito anos mais
velhos que eu, galanteador, cheio de charme, me enviava rosas, escondia
anéis de outro com em bombons de cereja da Kopenhagen, abria a porta do
carro para eu entrar. Começamos a namorar sem querer, saindo juntos
porque ambos estávamos sozinhos. Eu liguei para minha amiga, que era sua
irmã, e ela havia saído assim como as demais amigas, e então saímos nós.
Começamos a namorar, nos casamos, e permanecemos casados até o
falecimento dele, após 35 anos de casados. Porem esta é uma historia pra
outro livro.
Através deste relacionamento começou meu auto conhecimento.
Ele possuía um temperamento desconhecido para mim, sentia ciúmes, era
impulsivo. Eu não sabia lidar com este tipo de temperamento. Levei muito
tempo para aprender, mas aprendi.
Aprendi a parar de justificar e explicar, pois isso funcionava na minha família,
e me impor mais, ser mais assertiva.
Foi um caminho difícil, pois descontruir algo tão solido que vinha desde a
infância tomou uns vinte anos.

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