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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA DO BRASIL
DISCIPLINA: HISTÓRIA E GÊNERO
PROFESSORA: Dra ELIZANGELA CARDOSO BARBOSA
ALUNA: LIZIANNY LEAL NUNES

Aula 2: História das mulheres: avaliações e debates

FARGE, Arlette et al. A história das mulheres, a cultura e o poder das mulheres: ensaio
de historiografia. Gênero, Niterói, v.2, n.1, p.7-30, 2 sem. 2001.

O surgimento do campo da história das mulheres está relacionado com o


diálogo com a antropologia e as pesquisas nos campos das mentalidades e da história
social. Esta, ainda, intimamente ligado às pesquisas e o desenvolvimento da
historiografia feminina. A partir da década de 80, quando surgem os primeiros debates e
criticas, o campo ganha ainda mais legitimidade ao seu processo de construção.

As autoras destacam a existência de trabalhos com duas chaves de leituras, a


“opressão x dominação” e “cultura feminina”, essas chamam atenção para o fato de que
as mulheres possuem uma visão de mundo.

Os trabalhos desenvolvidos sobre a chave de leitura “Opressão x Dominação”


sofrem críticas que questionam a predileção temática com associação ao feminino (por
exemplo, a história da infância), desconhecimento da história do feminismo e a
fragilidade das concepções metodológicas.

Os que abordam a chave “Cultura feminina” são associados aos gestos e


práticas, passando a perceber-se a criação de uma cultura feminina/masculina (onde
existem uma relação de complementaridade entre esses) e a questionar como esses
espaços influenciam as relações de opressão x dominação. Contudo, quando se dá
ênfase a complementaridade, deixa-se de lado a diferenciação, as violências, os
conflitos e as contradições. As autoras chama atenção para o risco de silenciar essas
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diferenças, de pensar os papéis como complementares e criticam a carência de uma


chave de leitura de que dê conta dessas lacunas.

Ao analisar a cultura feminina se dá atenção aos sistemas de valores. A noção


de complementaridade é perpassada pela hierarquia que é composta por diferentes
formas de complementaridade (subordinação, emulação), ela ainda possibilita perceber
que nos sistemas de valores os significados atribuídos às práticas a aos papéis femininos
e masculinos.

É preciso ainda considerar a temporalidade. Trabalhar somente com aquilo que


permanece dá visibilidade a uma temporalidade quase imóvel e existem críticas a essa
visão, pois se as práticas cotidianas mudam, mudam também as mentalidades. Existe a
dificuldade de pensar historicamente as relações entre masculino e feminino na longa
duração, pois essa máscara falhas, não sendo possível dá visibilidade as especificidades.
É preciso estudar a partir do contexto como a cultura feminina se constrói em um
sistema de relações.

As abordagens dão sua contribuição aos estudos quando, na perspectiva


cultural, nos orienta a considerar que as produções intelectuais e espirituais, pois quando
deixado de lado esses aspectos, só é possível perceber o “quando” aconteceu,
desconsiderando o “por que”. E ainda quando consideramos o “conflito/contradição”
como ponto nodal se dará conta da dominação masculina, essa sendo contextualizada e
inserido nas analises as compensações e articulando poderes e contra-poderes, dessa
forma será possível perceber a construção de (des)igualdades.

FARGE, Arlette. Da diferença dos sexos. In: FARGE, Arlette. Lugares para a História.
Lisboa: Teorema, 1999.

A autora propõe fazer um balanço acerca das pesquisas relativas aos estudos
em torno da relação entre o mundo masculino e o mundo feminino, as construções
sociais dos papéis e das representações, a fim de melhor compreender a atualidade do
nosso tempo. Há uma certa dúvida por parte da autora se os estudos que afirmam a
igualdade entre os sexos são relevantes e podem mudar a realidade dos fatos.
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Os movimentos, as rupturas são responsáveis por trazer uma forte oposição ao


pensamento de que as diferenças entre os sexos são imóveis ou só podem ocorrer na
longuíssima duração. Farge, aponta que o saber histórico ao se preocupar com as
multiplicidades, movimentos, mudanças, consegue superar a visão defendida por
Héritier de que não haveria perspectiva de alteração na (des)igualdade entre os sexos.
Sendo essa obra importante pois sucinta o debate sobre o presente e solicita outros
campos do saber para o caminho tão difícil da designação das estruturas das nossas
sociedades.

Pensar o que muda, seria pensar a permanência e a mudança, uma vez que os
deslocamentos provoca mudanças e deve ser analisado juntamente a permanência. O
simbólico é movediço e está associado a inúmeros contextos. Nesse sentido, é
importante para a autora, pensar a diferença entre os sexo a partir da experimentação
social.

CHARTIER, Roger. Diferenças entre os sexos e dominação simbólica (nota crítica).


Cadernos Pagu, Campinas, n.4, p.42, 1995.

Propor três reflexões em forma de questão à história das mulheres. A primeira


delas visa problematizar quais seriam os limites de validade e os critérios de pertinência
da oposição entre masculino e feminino? É grande o risco de remeter a uma identidade
tida por especifica as mulheres. É uma questão importante a ser levantada a fim de
evitar que reproduza o erro da história social de considerar apenas a oposição de classes
como principio único de diferenciação. Dessa forma, deve não se contentar com um
diagnostico prematura caracterizando uma especificidade à partir de uma diferença, mas
problematizar a natureza e o assento dessa diferença.

A segunda questão é que diferenciação fazer entre a dominação masculina e a


dominação simbólica que supõe a adesão dos próprios dominados às categorias e
recortes que fundam sua sujeição? A construção de uma identidade feminina se
enraizaria na interiorização pelas mulheres de normas enunciadas pelos discursos
masculinos. As representações da inferioridade feminina, incansavelmente repetidas e
mostradas, se inscrevem nos pensamentos e nos corpos umas e de outros. A
incorporação da dominação, não exclui o enfrentamento, afastamento e manipulações.
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Reconhecer os mecanismos, os limites e os consentimentos é uma boa


estratégia para corrigir o privilégio amplamente concedido às vitimas e as rebeldes, em
detrimento das mulheres passivas. Uma vez que o consentimento é chave central de
funcionamento de um sistema de poder. A questão é problematizar historicamente os
pressupostos que enunciam e representam como “natural” a divisão social dos papéis e
das funções. A diferença sexual é construída a partir do discurso que a funda e legitima.

A última questão diz respeito à temporalidade da história das relações entre os


sexos, onde o estabelecimento de uma cronologia que lhe seja própria é um
investimento importante. É preciso pensar a história das mulheres numa perspectiva não
linear. Pois é ao desembaraçar as relações que elas têm umas com as outras que se
poderá, para cada momento histórico, como uma cultura feminina se constrói no interior
de um sistema de relações desiguais, como ela pensa particularidades e suas relações
com a sociedade global.

DIAS, Maria Odila Leite da Silva. Teoria e método dos estudos feministas: perspectivas
histórica e hermenêutica do cotidiano. In: BRUSCHINI, Cristina; COSTA, Albertina de
Oliveira (Orgs). Uma questão de gênero. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, São Paulo:
Fundação Carlos Chagas, 1992.

É preciso considerar os estudos feministas em todas as ciências humanas e


fazer uma critica que se devem pensar historicamente as análises da história das
mulheres. Há uma confluência dessa crítica com as críticas dos historiadores do
patriarcado.

Maria Odila defende que é preciso pensar historicamente para se criticar a


teoria, dessa forma, as pesquisas devem perceber que existem temporalidades múltiplas
e é preciso dar atenção a elas. Considerando-se ainda que a relação indivíduo e
sociedade é atravessada por relações de poder.

A emergência da categoria mulheres surge como uma critica a verdade, a razão


e a categoria sujeito universal. Só se pode dizer o que é feminino através da análise
histórica da construção do que é feminino. É preciso questionar o significado da
denominação a partir de um recorte temporal.
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SCHPUN, Mônica Raisa. Retraçar itinerários individuais: a micro-história das


mulheres. In: FUNCK, Susana Bornéo; MINELLA, Luzinete Simões; ASSIS, Gláucia
de Oliveira (Orgs). Linguagens e narrativas. Tubarão: Copiart, 2014.

Preocupada em perceber como as dinâmicas das relações interpessoais vistas


no cotidiano e de que maneira a ordem de gênero se apresentava em tais circunstâncias,
impondo acomodações, mas também se mostrando permeável e abrindo-se a
improvisações quanto aos papéis femininos e masculinos, a resistência e a subversão.

O interesse por parte dos historiadores pela biografia, aliado a uma


aproximação com os estudos da história das mulheres dos anos 70-80, que denunciavam
o desconhecimento de certas personagens apenas por serem mulheres. Era uma
conjuntura favorável a provocação de uma problematização da perspectiva biográfica e,
em particular, a aos personagens femininos, escritos no feminino.

As mulheres biografadas eram em geral mulheres excepcionais, e nesse


contexto que surge a critica de Christine Planté que recusa essas categoria de
excepcionalidade das mulheres, uma vez que essas mulheres continuavam a ser raras em
meio as demais.

As mulheres ganham voz graças a uma perspectiva biográfica e a uma redução


da escala empreendida pela “micro-história”, permitindo trazer à tona aspectos
historicamente estruturados nas relações de gênero, através da experiência de mulheres
excepcionais e ordinárias.

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