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Espiral

do silêncio
Domingo, 22/04/2018, às 12:03, por Luciano Trigo – G1 http://g1.globo.com/pop-arte/blog/maquina-de-
escrever/post/espiral-do-silencio-examina-os-mecanismos-de-manipulacao-da-opiniao-publica.html
'A espiral do silêncio' examina os mecanismos de manipulação da opinião pública

Em meados da década de 70, a cientista política Elisabeth Noelle-Neumann formulou a Teoria da
Espiral do Silêncio, após uma análise profunda das pesquisas eleitorais na Alemanha. Evidências
mostravam que o medo do isolamento social era o principal fator determinante das manifestações de
opiniões políticas – bem como da opção pelo silêncio. Em resumo, a tese é que, quando uma opinião
é percebida como majoritária, as pessoas demonstram maior predisposição a se manifestar,
enquanto os que têm uma opinião minoritária tendem a ficar calados. O silêncio leva ao
enfraquecimento ainda maior da opinião minoritária, e ao fortalecimento da opinião que parece
prevalecer. Um dos resultados disso é que o foco da propaganda política passa a ser o
convencimento de que determinadas opiniões são majoritárias na sociedade, o que nem sempre
corresponde à verdade.

A teoria está exposta no já clássico “A espiral do silêncio – Opinião pública: Nosso tecido social”
(Estudos Nacionais, 344 pgs. R$ 79), publicado originalmente em 1982, que finalmente chega ao
Brasil. Com o peso crescente das redes sociais no debate político, as questões investigadas no livro
parecem mais atuais do que nunca, já que o ônus de não ter uma opinião compartilhada pela maioria
foi exponencialmente amplificado. Aumentou, assim, a aversão ao confronto, o que alimenta falsos
consensos por meio da intimidação e do constrangimento público. Em um ambiente no qual ousar
dizer aquilo que se pensa se tornou um comportamento de risco – e no qual a liberdade de expressão
é relativizada – mais e mais pessoas preferem se recolher e ficar caladas, simulando uma adequação
ao seu entorno social ou adotando uma conduta imitativa, à ameaça de perder amigos, de sofrer
perseguição e de se verem isoladas em seu grupo social.

Nesse contexto, em nome de um discurso de tolerância, frequentemente se exerce a intolerância
mais radical em relação a qualquer pensamento divergente. Esmagado pela ditadura do
politicamente correto, o cidadão comum percebe que já não pode mais expressar suas opiniões
livremente, pois a diferença de pensamento é cada vez menos tolerada pela classe falante,
autointitulada detentora da verdade. Ainda que minoritária, no Brasil essa classe domina o ambiente
acadêmico e as redes sociais, empenhando-se permanentemente para impor seu ponto de vista e
calar o dos adversários. A manipulação da opinião pública – tanto na mídia quanto nas relações
interpessoais no entorno social – se transforma, assim, em uma ferramenta de controle social. O fato
é que a maioria das pessoas tende a aderir ao pensamento percebido como dominante em seus
círculos de convivência.

Noelle-Neumann dedica boa parte do livro a investigar a relação entre os meios de comunicação e
mecanismo de controle social embutido na espiral do silêncio – sobretudo em períodos eleitorais,
quando o comportamento dos eleitores pode ter consequências dramáticas para a sociedade. A
percepção de quais são as escolhas aceitáveis pela maioria influencia decisivamente o voto do
cidadão comum, mas pode também levar ao fenômeno do voto envergonhado. Estas nem sempre
são condutas conscientes, uma vez que elementos irracionais e emocionais também desempenham
seu papel, seja na opção pela sujeição resignada, seja na opção pela revolta silenciosa.
Uma das conclusões de Noelle-Neumann é que as pesquisas servem mais para formar e determinar a
opinião pública do que para aferir sua verdadeira feição. Entender esse processo é fundamental para
lidar de forma consciente com as pressões a que estamos submetidos cotidianamente – pressões que
aumentarão à medida que se aproximarem as eleições.

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