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CONHECENDO A VIDA DO SOLO

Macro
VO LUME 2

fauna
© 2017 by Maíra Akemi Toma, Rogério Custódio Vilas Boas e Fatima Maria de Souza Moreira
Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, por qualquer meio ou forma,
sem a autorização escrita e prévia dos detentores do copyright.
Direitos de publicação reservados à Editora UFLA.
Impresso no Brasil – ISBN: 978-85-8127-066-1

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Ficha Catalográfica Elaborada pela Coordenadoria de


Produtos e Serviços da Biblioteca Universitária da UFLA

Macrofauna / editores: Maíra Akemi Toma, Rogério Custódio Vilas Boas


e Fatima Maria de Souza Moreira – Lavras :
Ed. UFLA, 2017.
32 p. : il. (Conhecendo a vida do solo ; v. 2)

ISBN: 978-85-8127-066-1

1. Biodiversidade. 2. Organismos do solo. 3. Serviços


ambientais. I. Toma, Maíra Akemi. II. Boas, Rogério Custódio Vilas.
III. Moreira, Fatima Maria de Souza. IV. Universidade Federal de Lavras.
V. Título.

CDD – 631.4
CONHECENDO A VIDA DO SOLO

VO LU M E 2

Macro
fauna

Lavras, Minas Gerais


2017
EDITORES
Maíra Akemi Toma
Universidade Federal de Lavras | mairakemi@gmail.com

Rogério Custódio Vilas Boas


Universidade Federal de Lavras | rogeriovilas@gmail.com

Fatima Maria de Souza Moreira


Universidade Federal de Lavras | fmoreira@dcs.ufla.br

AUTORES
Vanesca Korasaki
Universidade do Estado de Minas Gerais | vanesca.korasaki@gmail.com

Ronara de Souza Ferreira


Universidade Federal do Espírito Santo | ronararonara@yahoo.com.br

Ernesto de Oliveira Canedo-Júnior


Universidade Federal de Lavras | canedojr.e.o@gmail.com

Filipe França
Universidade Federal de Lavras | filipeufla@gmail.com

Lívia Dorneles Audino


Universidade Federal de Lavras | livia.audino@gmail.com

REVISÃO TÉCNICA
Júlio Neil Cassa Louzada
Universidade Federal de Lavras | jlouzada@dbi.ufla.br

Ronald Zanetti
Universidade Federal de Lavras | zanetti@den.ufla.br

REVISÃO DE TEXTO
Paulo Roberto Ribeiro

PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO


Miriam Lerner | Equatorium Design

CRÉDITOS DAS IMAGENS


Ernesto de Oliveira Canedo-Júnior: pp. 12, 13, 15, 16
Filipe França: pp. 5, 6, 9, 18, 19, 27
Leopoldo Ferreira de Oliveira Bernardi: pp. 29, 30, 31, 32
Maíra Akemi Toma: pp. 4, 11, 14, 19, 21, 22, 23, 24, 25, 28
Ronald Zanetti: p. 20
Vanesca Korasaki: p. 6
Shutterstock/ ©kzww: p. 6
Shutterstock/ © chakkrachai nicharat: p. 17

Agradecemos às agências de fomento:


O que é a
macrofauna
invertebrada do solo?
A macrofauna do solo é forma-
da por todos os invertebrados
(animais sem coluna vertebral) que
invertebrados, sendo representada
por mais de 20 grupos taxonômicos.
Na macrofauna invertebrada do solo
vivem no solo em pelo menos uma estão os organismos mais conheci-
fase do seu ciclo de vida, seja na fase dos pelos agricultores e mais estuda-
adulta seja na imatura, e possuem o dos pelos pesquisadores, como as mi-
diâmetro do corpo maior que 2 mm. nhocas, formigas, cupins, besouros,
São os maiores invertebrados que vi- centopeias, piolhos-de-cobra, bara-
vem no solo, e podemos visualizá-los tas, tesourinhas, grilos, ga­fanhotos,
a olho nu, ou seja, sem a necessidade caracóis, percevejos, ta­tuzinhos, ci-
de lupa ou microscópio. garras, larvas de moscas, lagartas,
O grupo inclui organismos de di- aranhas, opiliões, pseudoescorpiões,
ferentes classes, ordens e famílias de

FIQUE SABENDO
-
entre outros.

Reino

Filo
A existência de nome é um pré-requisito
fundamental para a comunicação. Carolus Classe
Linnaeus criou um sistema de classifica-
Ordem
ção para os organismos no século XVIII.
Originalmente a classificação apresentava Família
cinco categorias, mas posteriormente fo-
Gênero
ram incorporadas outras.
Espécie

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Importância da
macrofauna
A macrofauna invertebrada do
solo tem uma forte relação
com o seu meio. Através de seu ta-
Dessa forma, esses invertebrados
po­dem modificar as características
físicas e químicas do solo, e, em
manho e/ou comportamento para muitos casos, acarretam benefí-
sobrevivência, criam estruturas cios, co­mo: (1) aumento da aeração
biogênicas, como túneis, canais, e (2) infiltração de água no solo, (3)
câmaras, ninhos e coprólitos. menor escorrimento superficial de

4 CON HECEND O A V I DA D O SOLO


água, (4) incorporação de matéria
orgânica, (5) auxílio na ciclagem de C U R IO SI D A D E
nutrientes, (6) controle de parasi-
Alguns grupos da m
tas, e (7) dispersão secundária acrofauna, como
as minhocas, form
de sementes. Alguns desses pro- igas, cupins e
larvas de besouro
cessos serão detalhados ao longo s são considerados
“engenheiros do ec
desta cartilha. ossistema”,
devido à sua grande
capacidade de
modificar as cara
cterísticas físicas
do solo.

Estruturas biogênicas: toda estru- Dispersão secundária de semen­


tura criada por organismos que vivem tes: é o transporte de sementes, que já
no solo. se encontram no solo, por organismos
(exemplo: formigas, besouros, roedo-
Coprólitos: são excrementos conser- res) ou pela ação de eventos naturais
vados naturalmente pela dessecação ou (exemplo: vento ou enxurradas).
mineralização. É uma palavra originá-
ria do grego que significa “copro” = fezes
e “litos” = pedra.

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Minhocas
Quem são?

A s minhocas pertencem à
classe Oligochaeta (oligo =
pouco; chaeta = cerda). Os Oli-
8.800 espécies de anelídeos (ani-
mais que possuem corpo segmen-
tado, dividido em anéis) em todo o
gochaeta surgiram na Terra há mundo. No Brasil, são registrados
aproximadamente 570 milhões em torno de 305 espécies, mas es-
de anos. Atualmente, conhecemos tima-se que ainda existam mais de
aproxi­madamente 3.500 espécies 1.000 espécies a serem descober-
de Oligochaeta, dentre mais de tas pela ciência.

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Características morfológicas
As minhocas são animais terrestres
e/ou aquáticos de corpo cilíndrico,
alongado e formado por segmentos
que lembram anéis. A boca e o ânus
estão localizados nas extremidades
opostas do seu corpo, e o clitelo
(anel mais claro e largo) localiza-se
próximo à boca.
A maioria das minhocas mede al- A espécie Pontoscolex corethrurus,
guns centímetros; contudo, existem conhecida popularmente como mi-
algumas com mais de 3 m de com- nhoca mansa, é a mais comum e
primento, como a conhecida minho- uma das mais encontradas em solo
ca-gigante australiana (Megascolides brasileiro. Essa espécie de minhoca
australis), e outras com mais de 30 vive geralmente em ambientes per-
cm, conhecidas vulgarmente como turbados, fundos de quintal, jardins
minhocuçus. e hortas.

Outro grupo importante de anelideos são os enquitreideos.


Porém devido aos seu menor tamanho são considerados componentes
da mesofauna e por isso abordados na respectiva cartilha.

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Ciclo de vida
As minhocas são hermafroditas, produção assexuada ocorre por bi­
sua reprodução pode ser sexuada ou partição. Na reprodução sexuada, as
assexuada, mas a maioria apresenta minhocas se unem pelo clitelo para a
fecundação sexuada cruzada. A re- troca de esperma entre os indivíduos.

Importância ecológica
As minhocas são importantes bio­ mas naturais em sistemas agrícolas,
in­dicadores de distúrbios ambien- (ii) tipo de prática de manejo do solo
tais. Isso porque elas podem ser (como a queima da vegetação), (iii)
afetadas pela atividade humana, ou agrotóxicos, entre outros.
seja, o número de espécies e/ou o Enquanto algumas espécies são
tamanho de suas populações podem afetadas pelas atividades humanas e
ser modificados, indicando quão podem chegar à extinção, outras são
grave foi o distúrbio ambiental. beneficiadas e podem apresentar
Como exemplos de distúrbios, po- grandes populações em ambientes
demos citar: (i) conversão de siste- impactados.

Hermafrodita: organismo que apre- Bioindicadores: espécie ou grupo de


senta órgãos sexuais femininos e mascu- espécies, que respondem de maneira
linos em um mesmo indivíduo. previsível às mudanças ambientais, e
por esse motivo são considerados como
Bipartição: tipo de reprodução asse- indicadores para avaliar a qualidade
xuada que consiste na divisão de um ambiental e os impactos das atividades
organismo em duas metades iguais, que humanas no ambiente.
irão se desenvolver e originar dois novos
indivíduos iguais entre si.

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Categorias ecológicas
As minhocas podem ser classifica- tes por fragmentarem a ser-
das em três categorias, conforme rapilheira e, assim, auxiliarem
sua estratégia ecológica: epigeica, na sua decomposição.
anécica e endogeica:
(ii) As minhocas anécicas vivem
(i) As espécies epigeicas vivem em túneis permanentes, que
na serrapilheira, e não são construídos verticalmen-
constroem túneis; portanto, te. Alguns túneis podem ter
atuam mais na interface solo- mais de 2 m de profundidade
serrapilheira e são importan- (dependendo do solo) e seus

Serrapilheira: camada de folhas, galhos e outros materiais orgânicos


presentes na superfície do solo.

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canais podem servir preferen- ser: a) oligo-húmicas, quando
cialmente para o escorrimen- se alimentam de camadas pro-
to de água, trocas de oxigênio fundas do solo com pouca ma-
e outros gases entre as raízes téria orgânica; b) meso-húmica,
e a atmosfera, o que favorece quando se alimentam em locais
o crescimento das raízes das com nível intermediário de ma-
plantas. téria orgânica e c) poli-húmicas,
quando se alimentam na par-
(iii) As espécies endogeicas se ali- te superior do solo, próxima às
mentam de partículas orgânicas raízes, com maior concentração
encontradas no solo e podem de matéria orgânica.

Funções ambientais
O funcionamento do solo é resulta- A comunidade de minhocas das
do de uma complexa interação entre diferentes categorias ecológicas
os fatores físicos, químicos e bioló- for­ma uma rede de túneis que au-
gicos. A maioria das espécies de mi- menta o espaço poroso no solo,
nhocas é detritívora, alimentan- favorecendo a infiltração de água
do-se de matéria orgânica morta, e aeração no solo e, consequen-
principalmente vegetal. temente, diminui a erosão. Além
disso, as minhocas auxiliam na de-
composição da matéria orgânica,
Detritívoro: animais que se ali- e, assim, influenciam na ciclagem
mentam de matéria orgânica em
decomposição (plantas e/ou ani-
de nutrientes, podendo auxiliar no
mais mortos). crescimento das plantas, entre ou-
tros benefícios.

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Ameaça às minhocas
Além das atividades humanas que as minhocas deixa o solo degradado e
ameaçam a diversidade das minho- aumenta a erosão.
cas, outro grande problema é a utili-
zação das minhocas para a pesca. O
Vo c ê S a b
mercado de minhocas está baseado ia?
quase inteiramente na extração de O famoso c
ientista Ch
minhocas de seus habitats naturais, Darwin, cria arles
dor da teo
pois a utilização das espécies culti- seleção na ria da
tural, dizia
vadas na minhocultura é baixa. As a terra já e que
ra arada p
minhocas são extraídas do solo ma- minhocas m elas
uito antes
nualmente e vendidas a pescadores. humanos in de os seres
ventarem o
Além disso, o ato de cavar para retirar arado.

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Formigas
Quem são?

A s formigas são insetos que es-


tão presentes em praticamente
todos os lugares do mundo, exceto
nos polos e nos oceanos. Elas pos-
suem o maior número de indivíduos
dentre os insetos, e juntamente com
os cupins, correspondem a 1/3 de
toda a biomassa animal do planeta.
Todas as espécies de formigas
pertencem à Ordem Hymenoptera
e família Formicidae. Essa família
possui 21 subfamílias, 297 gêneros
e aproximadamente 12.850 espé-
cies descritas atualmente, mas a
estimativa é de que existam apro-
ximadamente 20.000 espécies em
todo o mundo.

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Existem espécies de formigas que vivem exclusivamente no subsolo sem
nunca ficarem expostas à luz do sol. Essas formigas têm os olhos reduzidos
ou em alguns casos ausentes, possuem pouca pig­mentação e seu corpo é
coberto por diversas cerdas (pelos). Essas cerdas ajudam as formigas a
se locomoverem nos túneis, a encontrar alimentos e a se comunicarem.

Como é uma formiga?


Como todos os insetos, as formi- pernas, podendo apresentar espi-
gas possuem o corpo dividido em nhos e/ou pêlos; e 3) Abdômen,
três partes: 1) Cabeça, com dois que pode apresentar ferrão ou um
olhos compostos e um par de an- órgão responsável pela excreção de
tenas; 2) Tórax, com três pares de ácido fórmico.

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As formigas são insetos sociais rainha e pelo macho; geralmente há
e vivem em colônias (formigueiros) apenas uma rainha por formiguei-
que, dependendo da espécie, po- ro, mas há espécies que podem ter
dem apresentar entre dezenas e até mais de uma rainha; e a casta estéril,
milhões de indivíduos. As formigas composta pelas operárias e solda-
de um formigueiro são divididas em dos, sendo todas do sexo feminino e
castas: a casta fértil é composta pela incapazes de se reproduzirem.
CASTA FÉRTIL CASTA INFÉRTIL

Iça: Bitú: Operária Soldado


fêmea reprodutora macho reprodutor

Como são os formigueiros?


As formigas podem construir seus é destinada a uma fun­ção, como:
ninhos sobre e/ou dentro de ár- berçário, depósito de alimentos e/
vores, galhos caídos, embaixo de ou lixo. As formigas do gênero Atta
pedras e no solo. Ao construírem (conhecidas co­mo cortadeiras) se
seus ninhos, as formigas cavam destacam entre as espécies que fa-
diversos túneis, interligando câ- zem ninhos no solo por construí-
maras e dando acesso à superfície rem formigueiros gigantes e revol-
do solo. Geralmente, cada câmara verem grande quantidade de solo.

Insetos sociais: são aqueles insetos demais demais indivíduos, geralmente


que vivem em sociedade e possuem di- estéreis, são responsáveis pelas ativida-
visão de trabalho. Nas colônias, existem des de obtenção de alimento, constru-
um ou alguns indivíduos especializados ção e defesa do ninho, além de cuidados
na reprodução (os reprodutores), e os com a prole.

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Importância ecológica
As formigas possuem um papel im- de outros invertebrados; b) a dis-
portante na manutenção do fun- persão secundária de sementes,
cionamento do solo, pois desempe- onde, ao transportar as sementes
nham diversas funções, como: a) a para seus ninhos, facilitam a sua
predação e o controle populacional germinação quando depositadas

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em locais apropriados; c) facilitação pois depositam detritos orgânicos
da aeração e infiltração de água no no solo, o que estimula a decompo-
solo através da escavação de túneis sição realizada por fungos e bacté-
e câmaras; e d) a facilitação dos pro- rias, propiciando a alta fertilidade
cessos de ciclagem de nutrientes, no solo.

Fertilização do solo

Dispersão secundária de sementes Predação

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Cupins
Quem são?

O s cupins são conhecidos como


térmitas, siriris ou aleluias.
Assim como as formigas, são insetos
desempenhada na colônia. São co-
nhecidas cerca de 2.800 espécies no
mundo, divididas em sete famílias.
sociais e vivem em colônias formadas Estudos recentes demonstraram
por indivíduos especializados organi- que os cupins pertencem à Ordem
zados em castas, que assumem fun- Blattodea, ou seja, a mesma das ba-
ções específicas, como reprodução, ratas. Anteriormente, esses insetos
defesa da colônia, coleta de alimen- possuiam uma ordem só para eles, a
tos, entre outras. Cada casta possui Ordem Isoptera, que hoje é conside-
indivíduos com uma morfologia rada um grupo (infraordem) dentro
específica, de acordo com a função da Ordem Blattodea.

As castas
A casta estéril é formada por operá- composto pelo rei e rainha, que reali-
rios e soldados, que não se reprodu- zam a proliferação da espécie dentro
zem devido ao não desenvolvimen- do cupinzeiro; b) machos e fêmeas
to de órgãos sexuais. alados, que, por possuírem asas, são
A casta dos reprodutores consis- responsáveis pela propagação da
te em três subdivisões: a) casal real, colônia fora do cupinzeiro que tive-

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ram origem, e (c) reis e rainhas de desenvolvidas. Na falta do casal real,
substituição, que são formados por esse último pode assumir o papel de
formas jovens e sexualmente pouco reprodutores.

Ciclo de vida
Os cupins são considerados como os “destinos” das ninfas, ou seja,
insetos hemimetábolos (com de- se elas se transformarão em operá-
senvolvimento incompleto), pois rios, soldados, reprodutores alados
possuem apenas três fases de de- ou de substituição. Após a revoada
senvolvimento: ovo, ninfa e adulto. (voo de vários indivíduos com a fi-
As ninfas sofrem ecdises até chega- nalidade de reprodução), os cupins
rem à forma adulta. alados perdem as asas e se juntam
Durante essa fase de desenvolvi- a um/a parceiro/a, saindo à procura
mento, e de acordo com a necessida- de um local adequado para o esta-
de da colônia, é que serão definidos belecimento de uma nova colônia.

Ecdise: também conhecida como mente um esqueleto externo que cobre


muda, é o processo de troca do exoes- o corpo dos artrópodes), o que permite
queleto (cutícula resistente, pratica- o crescimento desses organismos.

18 CON HECEND O A V I DA D O SOLO


Alguns dias após a cópula, a rainha castas começam a surgir. Quando
começa a postura dos ovos. Os pri- a colônia se torna madura (por vol-
meiros ovos originam apenas ope- ta de 5 anos), começam também a
rários, que vão realizar a construção surgir novos indivíduos alados, que
da colônia. Depois de estabelecida através de novas revoadas, irão pro-
a colônia, os indivíduos das outras pagar e estabelecer novas colônias.

Rainhas de cupim: adquirem um abdômen super desenvolvido para abrigar a grande


quantidade de ovos que produzem. Esse fenômeno é denominado fisiogastria.

CURIOSIDADE:
dependendo da espécie, uma rainha de cupim pode colocar até 80 mil ovos/dia.

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Hábitos alimentares
Os cupins alimentam-se preferen- mediárias), e há também espécies
cialmente de madeira (xilofagia), que cultivam fungos para a sua ali-
mas existem espécies que se ali- mentação (fungivoria). Os cupins
mentam matéria orgânica do solo são capazes de se alimentar da ma-
(humivoria ou geofagia), de folhas deira graças à associação que eles
que eles mesmos cortam ou de pe- tem com simbiontes intestinais
quenos fragmentos de serrapilhei- (protozoários e bactérias) que per-
ra (espécies ceifadoras), de madeira mitem a digestão da celulose (com-
em decomposição, encontrada em ponente responsável pela rigidez e
contato com o solo (espécies inter- firmeza das plantas).

20 CON HECEND O A V I DA D O SOLO


CURIOS
I DA D E :
Os cupin
s geralm
modo de ente vive
comunic m no esc
a ção mai uro, e se
feromôn s u
ios. No e conhecid
ntanto, a o são os
produze lgumas e
m sinais spécies
cabeças vibracio
contra o n a i s ao bate
substrat rem suas
sinal tem o . E sse tipo
a função de
a colônia de alarm
de um pe e , a lertando
rigo pot
encial.

Importância ecológica
Os cupins possuem um importante trução dos ninhos abaixo e acima do
papel na decomposição da serrapi- solo (montículos) e/ou galerias junto
lheira e ciclagem de nutrientes, in- ao solo, acabam sendo responsáveis
fluenciando a fertilidade e estrutura pela distribuição de vários nutrientes
do solo. Com as atividades de cons- ao longo do perfil do solo.

Feromônios: substâncias químicas terajam entre si. Esse reconhecimento


(hormônios) secretadas por espécies é importante para possibilitar a repro-
animais, que permitem que indivíduos dução, acesso a recursos, entre outros.
da mesma espécie se reconheçam e in-

M AC R O FAU N A 21
Importância econômica
Os cupins são muito conhecidos maior parte dos cupins é benéfica
pelo seu potencial como pragas. Na para o ecossistema, e somente uma
agricultura, podem causar perdas minoria deles (menos de 10%) pode
para diversas culturas, por consu- ser caracterizada como praga. Nor-
mirem sementes, raízes e partes malmente, isso ocorre quando as
aéreas das plantas. Podem também espécies se proliferam de maneira
ser responsáveis por consideráveis descontrolada, o que geralmente
danos em construções urbanas. ocorre fora de seu ambiente natural,
Deve-se lembrar, entretanto, que a podendo causar danos econômicos.

22 CON HECEND O A V I DA D O SOLO


Besouros
Quem são?

O s besouros pertencem à or-


dem de insetos chamada Co-
leoptera (“coleos” = estojo; “ptera” =
ca de 350.000 espécies) e represen-
ta aproximadamente 25% de todos
os seres vivos descritos. Entre os
asas); por isso, são conhecidos tam- representantes dessa ordem, pode-
bém como coleópteros. A ordem Co- mos citar os escaravelhos, besouros
leoptera é a ordem de insetos com serra-pau, joaninhas, gorgulhos,
o maior número de espécies entre besouros-rinocerontes, vagalumes,
todos os seres vivos do mundo (cer- potós e corós.

CU RI OS ID AD E:
A família Curculionidae é
a maior família dentro da
ordem Coleoptera (cerca de
50.000 espécies) e também
A
dentre todo o Reino Animalia.
principal característica deles
é o prolongamento do rosto
(bico encurvado ou tromba)

M AC R O FAU N A 23
Características morfológicas
Os coleópteros ocupam pratica- Como os demais insetos, os be-
mente todos os tipos de ambientes souros apresentam o corpo dividi-
existentes no planeta, incluindo do em cabeça, tórax e abdômen. A
os ambientes de água doce. Dessa cabeça sempre apresenta um par
forma, a morfologia geral desses de antenas, podendo também apre-
organismos é muito variável e de sentar olhos e ocelos. O tórax des-
acordo com o ambiente em que são ses organismos, apresenta três pa-
encontrados. res de pernas e dois pares de asas.

Ocelos

Ocelos: olhos simples e primitivos


encontrados nos insetos e em vá-
rios outros organismos. Os ocelos
detectam a intensidade e direção da
luz, mas não são capazes de formar
imagens.

24 CON HECEND O A V I DA D O SOLO


A principal característica morfoló- mos dessa ordem é a presença do
gica dos besouros é a presença de aparelho bucal do tipo mastigador
um par de asas anteriores bem es­ que, em algumas famílias, pode ser
clerotizadas e rígidas, chamadas modificado, como, por exemplo,
de élitros. Esses élitros protegem o nos curculionídeos, que apresen-
segundo par de asas que é mais de- tam um prolongamento do mesmo
licado (conhecidas como asas mem- (conhecido como rostro), e escara-
branosas) e que têm como principal beíneos, que também apresentam
função o vôo. Além disso, outra ca- modificações no aparelho bucal
racterística marcante nos organis- para filtração.

Élitros

Esclerotizado: aquilo que sofreu esclero- dos insetos com a principal finalidade de
tização. Endurecimento de parte do corpo proteção e sustentação dos organismos.

M AC R O FAU N A 25
Hábitos alimentares
Esses insetos apresentam hábitos pos de habitats (por ex.: desertos,,
alimentares bem variados e de- planícies, matas, rios, lagos, praias,
pendentes da espécie e da fase de florestas tropicais e temperadas),
desenvolvimento dos organismos os besouros podem se alimentar de
(por exemplo, na forma larval e/ praticamente todos os tipos de ma-
ou adulta). Uma vez que podem ser teriais animais e vegetais.
encontrados em quase todos os ti-

Ciclo de vida
Os besouros são insetos holome- e passam para o estágio de pupa,
tábolos, ou seja, apresentam me- que geralmente é onde ocorrem as
tamorfose completa, podendo ha- mudanças mais significativas em
ver partenogênese em algumas termos fisiológicos. A pupa fica
espécies. A seguir, temos o exem- protegida dentro da massa fecal
plo do ciclo de vida de uma espé- e após seu desenvolvimento se
cie de besouro rola-bosta. Nesse, transforma no indivíduo adulto,
o ovo é depositado dentro de uma que ao emergir, escava um túnel
massa ou bolo fecal (em marrom). até a superfície do solo e voa em
Dos ovos saem as larvas que se busca de alimento e/ou parceiros
alimentam dessas fezes, crescem reprodutivos.

Partenogênese: é um tipo de repro- fertilização, ou seja, a fêmea não preci-


dução assexuada, onde há o desenvol- sa de um macho para reproduzir.
vimento do embrião sem que ocorra a

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Importância ecológica
Como mencionado anteriormente, que permitem uma maior infiltração
o funcionamento do solo é resulta- de água das chuvas, a incorporação
do de uma complexa interação entre de nutrientes ao solo, o crescimento
diversos fatores e organismos. Den- de raízes das plantas e uma melhor
tro destes, podemos também incluir estruturação física do solo.
os besouros, que através dos seus Por exemplo, os besouros da famí-
hábitos alimentares, participam de lia Scarabaeinae, conhecidos como
diversos processos como fragmen- rola-bosta, se alimentam, nidificam e
tação de matéria orgânica e ciclagem ovipositam nas fezes de diversos ver-
de nutrientes. Além disso, algumas tebrados (como apresentado na figu-
espécies constroem túneis e galerias ra anterior). Ao construírem túneis

M AC R O FAU N A 27
e galerias para enterrarem as fezes, nidade vegetal nas florestas. Outra
eles são responsáveis pela incorpo- função ecológica despenhada por
ração de nutrientes e pelo aumento esses besouros é o controle indireto
da entrada de ar e água no solo. Eles de algumas pragas na pecuária, pois
também podem dispersar sementes ao enterrarem as fezes de bovinos,
presentes nas fezes de alguns ani- os besouros rola-bosta eliminam os
mais, facilitando assim a sua germi- ovos de alguns insetos e outros in-
nação, e contribuindo com a comu- vertebrados danosos ao gado.

CURIOSIDADE

q
O besouro Titanus gigantus (Linnaeus, 1771) é
o maior inseto do mundo. Ele vive na Floresta
Amazônica e se alimenta de matéria orgânica
em decomposição. Pode
chegar até 22 cm
de comprimento
e pesar cerca de
70 gramas.

Importância econômica
Algumas espécies de besouros são cial, como pragas, podendo causar
muito conhecidas pelo seu poten- diversas perdas na agricultura.

Importância médica
Os besouros conhecidos como da eliminação de uma substância
potós podem causar sérias quei- altamente tóxica e nociva à nossa
maduras na pele humana, através pele.

28 CON HECEND O A V I DA D O SOLO


Outros
macroinvertebrados
E xistem diversos outros grupos
de invertebrados pertencentes
à macrofauna. Aranhas, escorpiões,
empregados no processo de manipu-
lação e captura do alimento. No caso
dos escorpiões e pseudoescorpiões,
pseudoescorpiões e opiliões per- os pedipalpos apresentam-se em
tencem ao grupo dos Quelicerados, forma de pinças (“quelas”). Aranhas,
e apresentam como características escorpiões e pseudoescorpiões in-
principais: corpo dividido em cefa- jetam enzimas digestivas nas suas
lotórax (cabeça fundida ao tórax) e presas para liquefazê-las (tornar lí-
abdômen, quatro pares de pernas, quido) e, então, ingeri-las. Devido
um par de quelíceras e um par de a essas adaptações, os quelicerados
pedipalpos. As quelíceras são estru- são considerados predadores vorazes
turas localizadas próximas à boca e dominantes no solo e, por isso, são
servem principalmente para a captu- importantes componentes da ma-
ra de presas. Os pedipalpos, localiza- crofauna desses ecossistemas. Esses
dos atrás das quelíceras, são também organismos podem servir, portanto,

Aranha Pseudoescorpião Opilião

M AC R O FAU N A 29
como grandes aliados no controle de tem “forcípulas”, um primeiro par
pragas. Os opiliões, além de preda- de pernas modificadas em garras
dores, podem também se alimentar e contendo veneno. As centopeias
de matéria orgânica, como seiva de são velozes e predadoras, podendo
plantas e invertebrados mortos. se alimentar de pequenos inverte-
brados. Os piolhos-de-cobra são
Centopeias e Piolhos-de- lentos e cavam através do solo e da
-cobra são facilmente reconhe- serrapilheira para consumir restos
cidos por apresentarem um corpo de plantas, convertendo-os em hú-
alongado dividido em vários seg- mus. Em ambientes tropicais, onde
mentos, com um elevado número as minhocas são frequentemente
de pernas. As centopeias apresen- escassas, os piolhos-de-cobra po-
tam um par de pernas em cada dem ser os principais agentes mo-
segmento do corpo, enquanto os dificadores do solo.
piolhos-de-cobra apresentam dois.
Na cabeça das centopeias, exis- Lesmas e caracóis, moluscos
pertencentes à classe Gastropo-
da, são organismos de corpo mole,
não segmentado e viscoso, que ge-
ralmente apresentam uma concha
externa para proteção, com exceção
das lesmas. Esses organismos são
herbívoros e alimentam-se de uma
grande variedade de plantas, poden-
do, muitas vezes, ser considerados
pragas agrícolas.

Os tatuzinhos-de-jardim
Piolho-de-cobra (crus­­táceos da ordem Isopoda) são

30 CON HECEND O A V I DA D O SOLO


Outros insetos. Além dos in-
vertebrados citados anteriormente,
vários outros organismos também
são componentes importantes da
macrofauna do solo, como: baratas,
grilos, paquinhas, larvas-de-moscas,
Tatuzinho-de-jardim
tesourinhas, percevejos, cigarras, ci-
garrinhas, psocópteros, entre outros.
assim chamados, pois algumas es- As baratas, por mais repugnan-
pécies são capazes de se enrolar, tes que sejam para muitas pessoas,
formando uma bola. Gostam de apresentam um importante papel
ambientes úmidos, pois perdem na natureza. Elas se alimentam de
água com facilidade. Os tatuzinhos carcaças e excrementos de animais
são importantes na ciclagem de e material vegetal em decomposi-
nutrientes, podendo se alimentar ção, sendo importantes para a ci-
de matéria orgânica em decompo- clagem de nutrientes e incorpora-
sição e plantas. São considerados
indicadores da presença de metais
pesados no solo, já que podem tole-
rar e bioacumular grandes quan-
tidades desses metais, sendo muito
Bioacumulação: processo pelo
importantes para o monitoramen-
qual substâncias tóxicas se acu-
to ambiental. Contribuem também mulam ao longo de uma cadeia ali-
para o processo de aeração ao cavar mentar. Animais, ao se alimenta-
túneis e para conservar a umida- rem de outros animais ou plantas
contaminadas, acabam acumulan-
de do solo, já que suas fezes fun- do altas concentrações de substân-
cionam como microesponjas (por cias tóxicas no seu corpo.
serem constituídas de compostos
orgânicos).

M AC R O FAU N A 31
ção de nitrogênio no solo. Grilos
e paquinhas são importantes no
processo de aeração do solo, já que
eles constroem túneis abaixo da
superfície. Como são insetos her-
bívoros, muitas espécies são consi-
deradas pragas. Alguns grilos, bem
como larvas-de-moscas, se ali-
mentam de matéria orgânica em
decomposição, participando da Grilo
ciclagem de nutrientes. As tesou­
rinhas alimentam-se de matéria Os psocópteros ou psocídeos,
vegetal morta e em decomposição, geralmente desconhecidos pela
mas algumas ocasionalmente são maioria das pessoas, se alimentam
predadoras ou se alimentam de de algas e líquen, enquanto outros
plantas vivas. Percevejos, cigar­ consomem fungos, cereais, pólen e
ras e cigarrinhas são geralmente insetos mortos. A conexão entre a
herbívoros e podem ser conside- atividade e diversidade desses or-
rados pragas. Algumas espécies de ganismos certamente garantem a
percevejos podem ser predadoras. integridade, funcionalidade e esta-
bilidade do ecossistema solo.

Barata Cigarrinha

32 CON HECEND O A V I DA D O SOLO


O solo e suas múltiplas funções são a base da vida no planeta. Além
de produzir nossos alimentos, fibras para nossas roupas e energia
para diversos fins, é responsável pela qualidade do ar e da água, entre
outras funções. Apesar disso, os diferentes segmentos da sociedade, em
geral, negligenciam a sua importância. Para muitos, o solo é considerado
“sujeira”. Do mesmo modo, os inúmeros organismos que nele ha­bi­tam
são considerados pragas e causadores de doenças. No entanto, organis-
mos maléficos são uma minoria das espécies existentes e são controla-
dos por outras espécies quando o ambiente está em equilíbrio. Equilíbrio
que é rompido por atividades humanas inadequadas. Isso acontece dev-
ido ao enorme desconhecimento sobre tudo que se refere ao solo. O ob-
jetivo da coleção “Conhecendo a vida do solo” é aumentar a consciência
sobre a importância do solo, de modo que esse recurso da natureza seja
preservado, não só para garantir a existência das futuras gerações, mas
também para melhorar a qualidade de nossa vida hoje.

Os editores

ISBN 978-85-8127-066-1

9 788581 270661

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