Você está na página 1de 137

Mecânica dos Solos

SCHOLA DIGITAL
2018

Material Didático de Leitura


Obrigatória utilizado na
Disciplina de Mecânica dos
Solos – Revisão 00 de Janeiro
de 2018
ÍNDICE

Mecânica dos Solos


UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO AOS SOLOS

Aula 1: Tipificação dos Solos ......................................................................................................1

Aula 2: Textura e Estrutura I.....................................................................................................17

Aula 3: Textura e Estrutura II....................................................................................................27

UNIDADE 2 – PROPRIEDADES DOS SOLOS

Aula 4: Consistência dos Solos..................................................................................................34

Aula 5: Classificação dos Solos..................................................................................................42

Aula 6: Índices Físicos...............................................................................................................52

UNIDADE 3 – DISTRIBUIÇÃO DE TENSÕES

Aula 7: Roteiros Para Classificação...........................................................................................63

Aula 8: Tensões no Solo I..........................................................................................................78

Aula 9: Tensões no Solo II.........................................................................................................85

UNIDADE 4 – OPERAÇÕES NO SOLO

Aula 10: Compactação............................................................................................................100

Aula 11: Equipamentos de Compactação...............................................................................108

Aula 12: Investigações de Subsolo..........................................................................................117


Aula 1 – Tipificação dos Solos
UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO AOS SOLOS

Unidade 1 – Introdução aos Solos

Aula 1: Tipificação dos Solos

Quase todas as obras de engenharia têm, de alguma forma, de transmitir as cargas sobre elas
impostas ao solo. Mesmo as embarcações, ainda durante o seu período de construção,
transmitem ao solo as cargas devidas ao seu peso próprio. Além disto, em algumas obras, o
solo é utilizado como o próprio material de construção, assim como o concreto e o aço são
utilizados na construção de pontes e edifícios.

1. O Estudo dos Solos

São exemplos de obras que utilizam o solo como material de construção os aterros
rodoviários, as bases para pavimentos de aeroportos e as barragens de terra, estas últimas
podendo ser citadas como pertencentes a uma categoria de obra de engenharia a qual é
capaz de concentrar, em um só local, uma enorme quantidade de recursos, exigindo para a
sua boa construção uma gigantesca equipe de trabalho, calcada principalmente na
interdisciplinaridade de seus componentes. O estudo do comportamento do solo frente às
solicitações a ele impostas por estas obras é portanto de fundamental importância. Pode-se
dizer que, de todas as obras de engenharia, aquelas relacionadas ao ramo do conhecimento
humano definido como geotecnia (do qual a mecânica dos solos faz parte), são responsáveis
pela maior parte dos prejuízos causados à humanidade, sejam eles de natureza econômica
ou mesmo a perda de vidas humanas. No Brasil, por exemplo, devido ao seu clima tropical e
ao crescimento desordenado das metrópoles, um sem número de eventos como os
deslizamentos de encostas ocorrem, provocando enormes prejuízos e ceifando a vida de
centenas de pessoas a cada ano.

1.1. Geotecnia e Disciplinas Relacionadas

Por ser o solo um material natural, cujo processo de formação não depende de forma
direta da intervenção humana, o seu estudo e o entendimento de seu comportamento
depende de uma série de conceitos desenvolvidos em ramos afins de conhecimento. A

1
Aula 1 – Tipificação dos Solos
MECÂNICA DOS SOLOS

mecânica dos solos é o estudo do comportamento de engenharia do solo quando este é


usado ou como material de construção ou como material de fundação. Ela é uma disciplina
relativamente jovem da engenharia civil, somente sistematizada e aceita como ciência em
1925, após trabalho publicado por Terzaghi, que é conhecido, com todos os méritos, como o
pai da mecânica dos solos.

O conhecimento e aplicação de princípios de outras matérias básicas como física e


química são úteis no entendimento desta disciplina. Por ser um material de origem natural,
o processo de formação do solo, o qual é estudado pela geologia, irá influenciar em muito
no seu comportamento. O solo, como será visto adiante, é um material trifásico, composto
basicamente de ar, água e partículas sólidas. A parte fluida do solo (ar e água) pode se
apresentar em repouso ou pode se movimentar pelos seus vazios mediante a existência de
determinadas forças. O movimento da fase fluida do solo é estudado com base em
conceitos desenvolvidos pela mecânica dos fluidos, que, neste curso, tem uma parte de seu
escopo estudado nas disciplinas de Hidráulica. Pode-se citar ainda algumas disciplinas, como
Fundações, Materiais de Construção I e Processos e Técnicas Construtivas, que acabam
compartilhando em algum momento os tópicos e assuntos, que são correlatos. Vale
ressaltar que o estudo e o desenvolvimento da mecânica dos solos são fortemente
amparados em bases experimentais, a partir de ensaios de campo e laboratório.

A aplicação dos princípios da mecânica dos solos para o projeto e construção de


fundações é denominada de "engenharia de fundações". A engenharia geotécnica (ou
geotecnia) pode ser considerada como a junção da mecânica dos solos, da engenharia de
fundações, da mecânica das rochas, da geologia de engenharia e mais recentemente da
geotecnia ambiental, que trata de problemas como transporte de contaminantes pelo solo,
avaliação de locais impactados, proposição de medidas de remediação para áreas
impactadas, projetos de sistemas de proteção em aterros sanitários, etc.

1.2. Aplicações de Campo

1.2.1. Fundações

As cargas de qualquer estrutura têm de ser, em última instância, descarregadas no


solo através de sua fundação. Assim a fundação é uma parte essencial de qualquer
estrutura. Seu tipo e detalhes de sua construção podem ser decididos somente com o
conhecimento e aplicação de princípios da mecânica dos solos.

2
Aula 1 – Tipificação dos Solos
UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO AOS SOLOS

1.2.2. Obras Subterrâneas e Estruturas de Contenção

Obras subterrâneas como estruturas de drenagem, dutos, túneis e as obras de


contenção como os muros de arrimo, cortinas atirantadas somente podem ser projetadas e
construídas usando os princípios da mecânica dos solos e o conceito de "interação solo-
estrutura".

1.2.3. Projeto de Pavimentos

O projeto de pavimentos pode consistir de pavimentos flexíveis ou rígidos. Pavimentos


flexíveis dependem mais do solo subjacente para transmissão das cargas geradas pelo
tráfego. Problemas peculiares no projeto de pavimentos flexíveis são o efeito de
carregamentos repetitivos e problemas devidos às expansões e contrações do solo por
variações em seu teor de umidade.

1.2.4. Escavações, Aterros e Barragens

A execução de escavações no solo requer frequentemente o cálculo da estabilidade


dos taludes resultantes. Escavações profundas podem necessitar de escoramentos
provisórios, cujos projetos devem ser feitos com base na mecânica dos solos. Para a
construção de aterros e de barragens de terra, onde o solo é empregado como material de
construção e fundação, necessita-se de um conhecimento completo do comportamento de
engenharia dos solos, especialmente na presença de água. O conhecimento da estabilidade
de taludes, dos efeitos do fluxo de água através do solo, do processo de adensamento e dos
recalques a ele associados, assim como do processo de compactação empregado é essencial
para o projeto e construção eficientes de aterros e barragens de terra.

2. Origem e Formação dos Solos

2.1. Conceitos de Solo e Rocha

Quando mencionamos a palavra solo já nos vem em mente uma idéia intuitiva do que
se trata. No linguajar popular a palavra solo está intimamente relacionada com a palavra
terra, a qual poderia ser definida como material solto, natural da crosta terrestre onde
habitamos, utilizado como material de construção e de fundação das obras do homem. Uma
definição precisa e teoricamente sustentada do significado da palavra solo é, contudo,
bastante difícil, de modo que o termo solo adquire diferentes conotações a depender do
ramo do conhecimento humano que o emprega. Para a agronomia, o termo solo significa o
material relativamente fofo da crosta terrestre, consistindo de rochas decompostas e

3
Aula 1 – Tipificação dos Solos
MECÂNICA DOS SOLOS

matéria orgânica, o qual é capaz de sustentar a vida. Desta forma, os horizontes de solo
para agricultura possuem em geral pequena espessura. Para a geologia, o termo solo
significa o material inorgânico não consolidado proveniente da decomposição das rochas, o
qual não foi transportado do seu local de formação. Na engenharia, é conveniente definir
como rocha aquilo que é impossível escavar manualmente, que necessite de explosivo para
seu desmonte. Chamamos de solo, em engenharia, a rocha já decomposta ao ponto
granular e passível de ser escavada apenas com o auxílio de pás e picaretas ou escavadeiras.

A crosta terrestre é composta de vários tipos de elementos que se interligam e


formam minerais. Esses minerais poderão estar agregados como rochas ou solo. Todo solo
tem origem na desintegração e decomposição das rochas pela ação de agentes
intempéricos ou antrópicos. As partículas resultantes deste processo de intemperismo irão
depender fundamentalmente da composição da rocha matriz e do clima da região. Por ser o
produto da decomposição das rochas, o solo invariavelmente apresenta um maior índice de
vazios do que a rocha mãe, vazios estes ocupados por ar, água ou outro fluido de natureza
diversa. Devido ao seu pequeno índice de vazios e as fortes ligações existentes entre os
minerais, as rochas são coesas, enquanto que os solos são granulares. Os grãos de solo
podem ainda estar impregnados de matéria orgânica. Desta forma, podemos dizer que para
a engenharia, solo é um material granular composto de rocha decomposta, água, ar (ou
outro fluido) e eventualmente matéria orgânica, que pode ser escavado sem o auxílio de
explosivos.

2.2. Intemperismo

Intemperismo é o conjunto de processos físicos, químicos e biológicos pelos quais a


rocha se decompõe para formar o solo. Por questões didáticas, o processo de intemperismo
é frequentemente dividido em três categorias: intemperismo físico químico e biológico.
Deve-se ressaltar, contudo, que na natureza todos estes processos tendem a acontecer ao
mesmo tempo, de modo que um tipo de intemperismo auxilia o outro no processo de
transformação rocha-solo.

Os processos de intemperismo físico reduzem o tamanho das partículas, aumentando


sua área de superfície e facilitando o trabalho do intemperismo químico. Já os processos
químicos e biológicos podem causar a completa alteração física da rocha e alterar suas
propriedades químicas.

4
Aula 1 – Tipificação dos Solos
UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO AOS SOLOS

2.2.1. Intemperismo Físico

É o processo de decomposição da rocha sem a alteração química dos seus


componentes. Os principais agentes do intemperismo físico são citados a seguir:

• Variações de Temperatura: da física sabemos que todo material varia de


volume em função de variações na sua temperatura. Estas variações de
temperatura ocorrem entre o dia e a noite e durante o ano, e sua intensidade
será função do clima local. Acontece que uma rocha é geralmente formada de
diferentes tipos de minerais, cada qual possuindo uma constante de dilatação
térmica diferente, o que faz a rocha deformar de maneira desigual em seu
interior, provocando o aparecimento de tensões internas que tendem a
fraturá-la. Mesmo rochas com uma uniformidade de componentes não têm
uma arrumação que permita uma expansão uniforme, pois grãos compridos
deformam mais na direção de sua maior dimensão, tendendo a gerar tensões
internas e auxiliar no seu processo de desagregação;
• Repuxo Coloidal: o repuxo coloidal é caracterizado pela retração da argila
devido à sua diminuição de umidade, o que em contato com a rocha pode
gerar tensões capazes de fraturá-la;
• Ciclos Gelo/Degelo: as fraturas existentes nas rochas podem se encontrar
parcialmente ou totalmente preenchidas com água. Esta água, em função das
condições locais, pode vir a congelar, expandindo-se e exercendo esforços no
sentido de abrir ainda mais as fraturas preexistentes na rocha, auxiliando no
processo de intemperismo (a água aumenta em cerca de 8% o seu volume
devido à nova arrumação das suas moléculas durante a cristalização). Vale
ressaltar também que a água transporta substâncias ativas quimicamente,
incluindo sais que ao reagirem com ácidos provocam cristalização com
aumento de volume;
• Alívio de Pressões: alívio de pressões irá ocorrer em um maciço rochoso
sempre que da retirada de material sobre ou ao lado do maciço, provocando
a sua expansão, o que por sua vez, irá contribuir no fraturamento, estricções
e formação de juntas na rocha. Estes processos, isolados ou combinados (caso
mais comum) "fraturam" as rochas continuamente, o que permite a entrada
de agentes químicos e biológicos, cujos efeitos aumentam a fraturação e
tende a reduzir a rocha a blocos cada vez menores.

5
Aula 1 – Tipificação dos Solos
MECÂNICA DOS SOLOS

2.2.2. Intemperismo Químico

É o processo de decomposição da rocha com a alteração química dos seus


componentes. Há várias formas através das quais as rochas decompõem-se quimicamente.
Pode-se dizer, contudo, que praticamente todo processo de intemperismo químico depende
da presença da água. Entre os processos de intemperismo químico destacam-se os
seguintes:

• Hidrólise: dentre os processos de decomposição química do intemperismo, a


hidrólise é a que se reveste de maior importância, porque é o mecanismo que
leva a destruição dos silicatos, que são os compostos químicos mais
importantes da litosfera. Em resumo, os minerais na presença dos íons H +
liberados pela água são atacados, reagindo com os mesmos. O H + penetra nas
estruturas cristalinas dos minerais desalojando os seus íons originais (Ca ++, K+,
Na+, etc.) causando um desequilíbrio na estrutura cristalina do mineral e
levando-o a destruição;
• Hidratação: como a própria palavra indica, é a entrada de moléculas de água
na estrutura dos minerais. Alguns minerais quando hidratados (feldspatos,
por exemplo) sofrem expansão, levando ao fraturamento da rocha;
• Carbonatação: o ácido carbônico é o responsável por este tipo de
intemperismo. O intemperismo por carbonatação é mais acentuado em
rochas calcárias por causa da diferença de solubilidade entre o CaCO 3 e o
bicarbonato de cálcio formado durante a reação.

Os diferentes minerais constituintes das rochas originarão solos com características


diversas, de acordo com a resistência que estes tenham ao intemperismo local. Há,
inclusive, minerais que têm uma estabilidade química e física tal que normalmente não são
decompostos. O quartzo, por exemplo, por possuir uma enorme estabilidade física e
química é parte predominante dos solos grossos, como as areias e os pedregulhos.

2.2.3. Intemperismo Biológico

Neste caso, a decomposição da rocha se dá graças a esforços mecânicos produzidos


por vegetais através das raízes, por animais através de escavações dos roedores, da
atividade de minhocas ou pela ação do próprio homem, ou por uma combinação destes
fatores, ou ainda pela liberação de substâncias agressivas quimicamente, intensificando
assim o intemperismo químico, seja pela decomposição de seus corpos ou através de
secreções, como é o caso dos ouriços do mar.

6
Aula 1 – Tipificação dos Solos
UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO AOS SOLOS

Logo, os fatores biológicos de maior importância incluem a influência da vegetação no


processo de fraturamento da rocha e o ciclo de meio ambiente entre solo e planta e entre
animais e solo. Pode-se dizer que a maior parte do intemperismo biológico poderia ser
classificado como uma categoria do intemperismo químico em que as reações químicas que
ocorrem nas rochas são propiciadas por seres vivos.

2.2.4. Influências do Intemperismo

O intemperismo químico possui um poder de desagregação da rocha muito maior do


que o intemperismo físico. Deste modo, solos gerados em regiões onde há a predominância
do intemperismo químico tendem a ser mais profundos e mais finos do que aqueles solos
formados em locais onde há a predominância do intemperismo físico. Além disto,
obviamente, os solos originados a partir de uma predominância do intemperismo físico
apresentarão uma composição química semelhante à da rocha mãe, ao contrário daqueles
solos formados em locais onde há predominância do intemperismo químico.

Conforme relatado anteriormente, a água é um fator fundamental no


desenvolvimento do intemperismo químico da rocha. Deste modo, regiões com altos índices
de pluviosidade e altos valores de umidade relativa do ar tendem a apresentar uma
predominância de intemperismo do tipo químico, o contrário ocorrendo em regiões de
clima seco.

2.3. Ciclo Rocha – Solo

Todo solo provém de uma rocha pré-existente, mas dada a riqueza da sua formação
não é de se esperar do solo uma estagnação a partir de um certo ponto. Como em tudo na
natureza, o solo continua suas transformações, podendo inclusive voltar a ser rocha. De
forma simplificada, será definido a seguir um esquema de transformações que vai do
magma ao solo sedimentar e volta ao magma.

7
Aula 1 – Tipificação dos Solos
MECÂNICA DOS SOLOS

No interior do Globo Terrestre, graças às elevadas pressões e temperaturas, os


elementos químicos que compõe as rochas se encontram em estado líquido, formando o
magma.

A camada sólida da Terra pode romper-se em pontos localizados e deixar escapar o


magma. Desta forma, haverá um resfriamento brusco do magma, que se transformará em
rochas ígneas, nas quais não haverá tempo suficiente para o desenvolvimento de estruturas
cristalinas mais estáveis. O processo de extrusão vulcânica ou derrame e é responsável pela
formação da rocha ígnea denominada de basalto. A depender do tempo de resfriamento, o
basalto pode mesmo vir a apresentar uma estrutura vítrea.

Quando o magma não chega à superfície terrestre, mas ascende a pontos mais
próximos à superfície, com menor temperatura e pressão, ocorre um resfriamento mais
lento, o que permite a formação de estruturas cristalinas mais estáveis, e, portanto, de
rochas mais resistentes, denominadas de intrusivas ou plutônicas (diabásio, gabro e
granito).

Pode-se avaliar comparativamente as rochas vulcânicas e plutônicas pelo tamanho dos


cristais, o que pode ser feito facilmente a olho nu ou com o auxílio de lupas. Cristais maiores
indicam uma formação mais lenta, característica das rochas plutônicas, e vice-versa.

Uma vez exposta, a rocha sofre a ação das intempéries e forma os solos residuais, os
quais podem ser transportados e depositados sobre outro solo de qualquer espécie ou
sobre uma rocha, vindo a se tornar um solo sedimentar. A contínua deposição de solos faz
aumentar a pressão e a temperatura nas camadas mais profundas, que terminam por
ligarem seus grãos e formar as rochas sedimentares, este processo chama-se litificação ou
diagênese.

As rochas sedimentares podem, da mesma maneira que as rochas ígneas, aflorarem à


superfície e reiniciar o processo de formação de solo, ou de forma inversa, as deposições
podem continuar e consequentemente prosseguir o aumento de pressão e temperatura, o
que irá levar a rocha sedimentar a mudar suas características texturais e mineralógicas, a
achatar os seus cristais de forma orientada transversalmente à pressão e a aumentar a
ligação entre os cristais. O material que surge daí tem características tão diversas da rocha
original, que muda a sua designação e passa a se chamar rocha metamórfica.

Naturalmente, a rocha metamórfica está sujeita a ser exposta, decomposta e formar


solo. Se persistir o aumento de pressão e temperatura graças à deposição de novas
camadas de solo, a rocha fundirá e voltará à forma de magma.

8
Aula 1 – Tipificação dos Solos
UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO AOS SOLOS

Obviamente, todos esses processos, com exceção do vulcanismo e de alguns


transportes mais rápidos, ocorrem numa escala de tempo geológica, isto é, de milhares ou
milhões de anos.

2.4. Classificação do Solo Quanto a Origem e Formação

Há diferentes maneiras de se classificar os solos, como pela origem, pela sua evolução,
pela presença ou não de matéria orgânica, pela estrutura, pelo preenchimento dos vazios,
etc. Neste item apresentar-se-á uma classificação genética para os solos, ou seja, conforme
o seu processo geológico de formação.

Na classificação genética, os solos são divididos em dois grandes grupos, sedimentares


e residuais, a depender da existência ou não de um agente de transporte na sua formação,
respectivamente. Os principais agentes de transporte atuando na formação dos solos
sedimentares são a água, o vento e a gravidade. Estes agentes de transporte influenciam
fortemente nas propriedades dos solos sedimentares, a depender do seu grau de
seletividade.

2.4.1. Solos Residuais

São solos que permanecem no local de decomposição da rocha. Para que eles ocorram
é necessário que a velocidade de decomposição da rocha seja maior do que a velocidade de
remoção do solo por agentes externos.

9
Aula 1 – Tipificação dos Solos
MECÂNICA DOS SOLOS

A velocidade de decomposição depende de vários fatores, entre os quais a


temperatura, o regime de chuvas e a vegetação. As condições existentes nas regiões
tropicais são favoráveis a degradações mais rápidas da rocha, razão pela qual há uma
predominância de solos residuais nestas regiões (centro sul do Brasil, por exemplo).

Como a ação das intempéries se dá, em geral, de cima para baixo, as camadas
superiores são, via de regra, mais trabalhadas que as inferiores. Este fato nos permite
visualizar todo o processo evolutivo do solo, de modo que passamos de uma condição de
rocha sã, para profundidades maiores, até uma condição de solo residual maduro, em
superfície. A figura acima ilustra um perfil típico de solo residual.

Conforme se pode observar da figura, a rocha sã passa paulatinamente à rocha


fraturada, depois ao saprolito, ao solo residual jovem e ao solo residual maduro. Em se
tratando de solos residuais, é de grande interesse a identificação da rocha sã, pois ela
condiciona, entre outras coisas, a própria composição química do solo.

A rocha alterada caracteriza-se por uma matriz de rocha possuindo intrusões de solo,
locais onde o intemperismo atuou de forma mais eficiente.

O solo saprolítico ainda guarda características da rocha mãe e tem basicamente os


mesmos minerais, porém a sua resistência já se encontra bastante reduzida. Este pode ser
caracterizado como uma matriz de solo envolvendo grandes pedaços de rocha altamente
alterada. Visualmente pode confundir-se com uma rocha alterada, mas apresenta
relativamente a rocha pequena resistência ao cisalhamento. Nos horizontes saprolíticos é
comum a ocorrência de grandes blocos de rocha denominados de matacões, responsáveis
por muitos problemas quando do projeto de fundações.

O solo residual jovem apresenta boa quantidade de material que pode ser classificado
como pedregulho (# > 4,8 mm). Geralmente são bastante irregulares quanto a resistência
mecânica, coloração, permeabilidade e compressibilidade, já que o processo de
transformação não se dá em igual intensidade em todos os pontos, comumente existindo
blocos da rocha no seu interior. Pode-se dizer também que nos horizontes de solo jovem e
saprolítico as sondagens a percussão a serem realizadas devem ser revestidas de muito
cuidado, haja vista que a presença de material pedregulhoso pode vir a danificar os
amostradores utilizados, vindo a mascarar os resultados obtidos.

Os solos maduros, mais próximos à superfície, são mais homogêneos e não


apresentam semelhanças com a rocha original. De uma forma geral, há um aumento da
resistência ao cisalhamento, da textura (granulometria) e da heterogeneidade do solo com a

10
Aula 1 – Tipificação dos Solos
UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO AOS SOLOS

profundidade, razão esta pela qual a realização de ensaios de laboratório em amostras de


solo residual jovem ou do horizonte saprolítico é bastante trabalhosa.

2.4.2. Solos Sedimentares

Os solos sedimentares ou transportados são aqueles que foram levados ao seu local
atual por algum agente de transporte e lá depositados. As características dos solos
sedimentares são função do agente de transporte.

Cada agente de transporte seleciona os grãos que transporta com maior ou menor
facilidade, além disto, durante o transporte, as partículas de solo se desgastam e/ou
quebram. Resulta daí um tipo diferente de solo para cada tipo de transporte. Esta influência
é tão marcante que a denominação dos solos sedimentares é feita em função do agente de
transporte predominante.

Pode-se listar os agentes de transporte, por ordem decrescente de seletividade, da


seguinte forma:

• Ventos (Solos Eólicos);


• Águas (Solos Aluvionares):
✓ Água dos Oceanos e Mares (Solos Marinhos);
✓ Água dos Rios (Solos Fluviais);
✓ Água de Chuvas (Solos Pluviais);
• Geleiras (Solos Glaciais);
• Gravidade (Solos Coluvionares).

Os agentes naturais citados acima não devem ser encarados apenas como agentes de
transporte, pois eles têm uma participação ativa no intemperismo e, portanto, na formação
do próprio solo, o que ocorre naturalmente antes do seu transporte.

2.4.2.1. SOLOS EÓLICOS

O transporte pelo vento dá origem aos depósitos eólicos de solo. Em virtude do atrito
constante entre as partículas, os grãos de solo transportados pelo vento geralmente
possuem forma arredondada. A capacidade do vento de transportar e erodir é muito maior
do que possa parecer à primeira vista. Vários são os exemplos de construções e até cidades
soterradas parcial ou totalmente pelo vento, como foram os casos de Itaúnas - ES e Tutóia -
MA; os grãos mais finos do deserto do Saara atingem em grande escala a Inglaterra,
percorrendo uma distância de mais de 3000 km. Como a capacidade de transporte do vento
depende de sua velocidade, o solo é geralmente depositado em zonas de calmaria.

11
Aula 1 – Tipificação dos Solos
MECÂNICA DOS SOLOS

O transporte eólico é o mais seletivo tipo de transporte das partículas do solo. Se por
um lado grãos maiores e mais pesados não podem ser transportados, os solos finos, como
as argilas, têm seus grãos unidos pela coesão, formando torrões dificilmente levados pelo
vento. Esse efeito também ocorre em areias e siltes saturados (falsa coesão) o que faz da
linha de lençol freático (definida por um valor de pressão da água intersticial igual a
atmosférica) um limite para a atuação dos ventos.

Pode-se dizer portanto que a ação do transporte do vento se restringe ao caso das
areias finas ou silte. Por conta destas características, os solos eólicos possuem grãos de
aproximadamente mesmo diâmetro, apresentando uma curva granulométrica denominada
de uniforme. São exemplos de solos eólicos:

a) Dunas: As dunas são exemplos comuns de solos eólicos no nordeste do Brasil. A


formação de uma duna se dá inicialmente pela existência de um obstáculo ao caminho
natural do vento, o que diminui a sua velocidade e resulta na deposição de partículas
de solo. A deposição continuada de solo neste local acaba por gerar mais deposição de
solo, já que o obstáculo ao caminho do vento se torna cada vez maior. Durante o
período de existência da duna, partículas de areia são levadas até o seu topo, rolando
então para o outro lado. Este movimento faz com que as dunas se desloquem a uma
velocidade de poucos metros por ano, o que para os padrões geológico é muito rápido.

b) Solos Loéssicos: Formado por deposições sobre vegetais que ao se decomporem


deixam seu molde no maciço, o Loess é um solo bastante problemático para a
engenharia, pois a despeito de uma capacidade de formar paredões de altura fora do
comum e inicialmente suportar grandes esforços mecânicos, podem se romper
completa e abruptamente devido ao umedecimento. O Loess, comum na Europa
oriental, geralmente contêm grandes quantidades de cal, responsável por sua grande
resistência inicial. Quando umedecido, contudo, o cimento calcário existente no solo
pode ser dissolvido e o solo entra em colapso.

12
Aula 1 – Tipificação dos Solos
UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO AOS SOLOS

2.4.2.2. SOLOS ALUVIONARES

São solos resultantes do transporte pela água e sua textura depende da velocidade da
água no momento da deposição, sendo frequente a ocorrência de camadas de
granulometrias distintas, devidas às diversas épocas de deposição.

O transporte pela água é bastante semelhante ao transporte realizado pelo vento,


porém algumas características importantes os distinguem:

• Viscosidade - por ser mais viscosa a água tem uma capacidade de transporte
maior, transportando grãos de tamanhos diversos.
• Velocidade e Direção - ao contrário do vento que em um minuto pode soprar
com forças e direções bastante diferenciadas, a água têm seu roteiro mais
estável; suas variações de velocidade tem em geral um ciclo anual e as
mudanças de direção estão condicionadas ao próprio processo de desmonte e
desgaste do relevo.
• Dimensão das Partículas - os solos aluvionares fluviais são, via de regra, mais
grossos que os eólicos, pois as partículas mais finas mantêm-se sempre em
suspensão e só se sedimentam quando existe um processo químico que as
flocule (isto é o que acontece no mar ou em alguns lagos).
• Eliminação da Coesão - vimos que o vento não pode transportar os solos
argilosos devido a coesão entre os seus grãos. A presença de água em
abundância diminui este efeito; com isso somam-se as argilas ao universo de
partículas transportadas pela água.

a) Solos Pluviais: A água das chuvas pode ser retida em vegetais ou construções, podendo
se evaporar a partir daí. Ela pode se infiltrar no solo ou escoar sobre este e, neste caso,
a vegetação rasteira funciona como elemento de fixação da parte superficial do solo
ou como um tapete impermeabilizador (para as gramíneas), sendo um importante
elemento de proteção contra a erosão. A água que se infiltra pode carrear grãos finos
através dos poros existentes nos solos grossos, mas este transporte é raro e pouco
volumoso, portanto de pouca relevância em relação à erosão superficial. De muito
maior importância é o solo que as águas das chuvas levam ao escoar de pontos mais
elevados no relevo aos vales. Os vales contêm rios ou riachos que serão alimentados
não só da água que escoa das escarpas, como também de matéria sólida.
b) Solos Fluviais: Os rios durante sua existência têm várias fases. Em áreas de formação
geológicas mais recentes, menos desgastadas, existem irregularidades topográficas
muito grandes e por isso os rios têm uma inclinação maior e conseqüentemente uma
maior velocidade. Existem vários fatores determinantes da capacidade de erosão e

13
Aula 1 – Tipificação dos Solos
MECÂNICA DOS SOLOS

transporte dos rios, sendo a velocidade a mais importante. Assim, os rios mais jovens
transportam mais matéria sólida do que os rios mais velhos. Sabe-se que os rios não
possuem a mesma idade em toda a sua extensão; quanto mais distantes da nascente,
menor a inclinação e a velocidade. As partículas de determinado tamanho passam a
ter peso suficiente para se decantar e permanecer naquele ponto, outras menores só
serão depositadas com velocidade também menor. O transporte fluvial pode ser
descrito sumariamente da seguinte forma:

• Os rios desgastam o relevo em sua parte mais elevada e levam os solos para
sua parte mais baixa, existindo com o tempo uma tendência a planificação
do leito. Rios mais velhos têm, portanto, menor velocidade e transportam
menos;
• Cada tamanho de grão será depositado em um determinado ponto do rio,
correspondente a uma determinada velocidade, o que leva os solos fluviais a
terem uma certa uniformidade granulométrica. Solos muito finos, como as
argilas, permanecerão em suspensão até decantar em mares ou lagos com
água em repouso.

De um modo geral, pode-se dizer que os solos aluvionares apresentam um grau de


uniformidade de tamanho de grãos intermediário entre os solos eólicos (mais
uniformes) e coluvionares (menos uniformes).
c) Solos Marinhos: As ondas atingem as praias com um pequeno ângulo em relação ao
continente. Isso faz com que a areia, além do movimento de vai e vem das ondas,
desloquem-se também ao longo da praia. Obras que impeçam esse fluxo tendem a ser
pontos de deposição de areia, o que pode acarretar sérios problemas.

2.4.2.3. SOLOS GLACIAIS

De pequena importância para nós, os solos formados pelas geleiras, ao se deslocarem


pela ação da gravidade, são comuns nas regiões temperadas. São formados de maneira
análoga aos solos fluviais. A corrente de gelo que escorre de pontos elevados onde o gelo é
formado para as zonas mais baixas, leva consigo partículas de solo e rocha, as quais, por sua
vez, aumentam o desgaste do terreno.

Os detritos são depositados nas áreas de degelo. Uma ampla gama de tamanho de
partículas é transportada, levando assim a formação de solos bastante heterogêneos que
possuem desde grandes blocos de rocha até materiais de granulometria fina.

14
Aula 1 – Tipificação dos Solos
UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO AOS SOLOS

2.4.2.4. SOLOS COLUVIONARES

São solos formados pela ação da gravidade. Os solos coluvionares são dentre os solos
transportados os mais heterogêneos granulometricamente, pois a gravidade transporta
indiscriminadamente desde grandes blocos de rocha até as partículas mais finas de argila.

Entre os solos coluvionares estão os escorregamentos das escarpas da Serra do Mar


formando os Tálus nos pés do talude, massas de materiais muito diversas e sujeitas a
movimentações de rastejo. Têm sido também classificados como coluviões os solos
superficiais do Planalto Brasileiro depositados sobre solos residuais.

a) Tálus: são solos coluvionares formados pelo deslizamento de solo do topo das
encostas. A figura lustra suas formações típicas. A parte mais inclinada dos morros
corresponde à formação original, enquanto que a parte menos inclinada é composta
basicamente de solo coluvionar (tálus).

2.4.3. Solos Orgânicos

Formados pela impregnação do solo por sedimentos orgânicos preexistentes, em


geral misturados a restos de vegetais e animais. Podem ser identificados pela cor escura e
por possuir forte cheiro característico. Têm granulometria fina, pois os solos grossos têm
uma permeabilidade que permite a "lavagem" dos grãos, eximindo-os da matéria
impregnada.

2.4.3.1. TURFAS

Solos que incorporam florestas soterradas em estado avançado de decomposição. Têm


estrutura fibrilar composta de restos de fibras vegetais e não se aplicam aí as teorias da
Mecânica dos Solos, sendo necessários estudos especiais. Têm ocorrência registrada na
Bahia, Sergipe, Rio Grande do Sul e outros estados do Brasil.

15
Aula 1 – Tipificação dos Solos
MECÂNICA DOS SOLOS

2.4.4. Solos de Evolução Pedogênica

Alguns solos sofrem, em seu local de formação (ou de deposição) uma série de
transformações físico-químicas que os levam a ser classificados como solos de evolução
pedogênica. Os solos lateríticos são um tipo de solo de evolução pedogênica. O processo de
laterização é típico de regiões onde há uma nítida separação entre períodos chuvosos e
secos e é caracterizado pela lavagem da sílica coloidal dos horizontes superiores do solo,
com posterior deposição desta em horizontes mais profundos, resultando em solos
superficiais com altas concentrações de óxidos de ferro e alumínio. A importância do
processo de laterização no comportamento dos solos tropicais é discutida no item
classificação dos solos.

Baseado e adaptado de
Sandro Lemos Machado e
Miriam C. Machado. Edições
sem prejuízo de conteúdo.

16
Aula 2 – Textura e Estrutura I
UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO AOS SOLOS

Aula 2: Textura e Estrutura I

Entende-se por textura o tamanho relativo e a distribuição das partículas sólidas que formam
os solos. O estudo da textura dos solos é realizado por intermédio do ensaio de granulometria,
do qual falaremos adiante. Pela sua textura os solos podem ser classificados em dois grandes
grupos: solos grossos (areia, pedregulho, matacão) e solos finos (silte e argila). Nesta aula,
serão revistos e complementados (aprofundados) alguns conceitos da disciplina Materiais de
Construção I, que tratou do assunto em seu tópico de Agregados.

1. Tamanho e Forma das Partículas

A divisão dos grupos de solos pelo tamanho de suas partículas é fundamental no


entendimento do de seu comportamento, pois a depender do tamanho predominante das
suas partículas, as forças de campo influenciando em seu comportamento serão
gravitacionais (solos grossos) ou elétricas (solos finos). De uma forma geral, pode-se dizer
que quanto maior for a relação área/volume ou área/massa das partículas sólidas, maior
será a predominância das forças elétricas ou de superfície. Estas relações são inversamente
proporcionais ao tamanho das partículas, de modo que os solos finos apresentam uma
predominância das forças de superfície na influência do seu comportamento. Conforme
relatado anteriormente, o tipo de intemperismo influencia na textura e estrutura do solo.
Pode-se dizer que partículas com dimensões até cerca de 0,001 mm são obtidas através do
intemperismo físico, já as partículas menores que 0,001 mm provém do intemperismo
químico.

1.1. Solos Grossos

Nos solos grossos, por ser predominante a atuação de forças gravitacionais, resultando
em arranjos estruturais bastante simplificados, o comportamento mecânico e hidráulico
está principalmente condicionado a sua compacidade, que é uma medida de quão próximas
estão as partículas sólidas umas das outras, resultando em arranjos com maiores ou
menores quantidades de vazios. Os solos grossos possuem uma maior percentagem de
partículas visíveis a olho nu (φ ≥ 0,074 mm) e suas partículas têm formas arredondadas,
poliédricas e angulosas.

17
Aula 2 – Textura e Estrutura I
MECÂNICA DOS SOLOS

1.1.1. Pedregulhos

São classificados como pedregulho as partículas de solo com dimensões maiores que
2,0 mm (DNER, MIT) ou 2,0 mm (ABNT). Os pedregulhos são encontrados em geral nas
margens dos rios, em depressões preenchidas por materiais transportados pelos rios ou até
mesmo em uma massa de solo residual (horizontes correspondentes ao solo residual jovem
e ao saprolito).

1.1.2. Areias

As areias se distinguem pelo formato dos grãos que pode ser angular, subangular e
arredondado, sendo este último uma característica das areias transportadas por rios ou
pelo vento. A forma dos grãos das areias está relacionada com a quantidade de transporte
sofrido pelos mesmos até o local de deposição. O transporte das partículas dos solos tende
a arredondar as suas arestas, de modo que quanto maior a distância de transporte, mais
esféricas serão as partículas resultantes. Classificamos como areia as partículas com
dimensões entre 2,0 mm e 0,074 mm (DNER), 2,0 mm e 0,05 mm (MIT) ou ainda 2,0 mm e
0,06 mm (ABNT).

O formato dos grãos de areia tem muita importância no seu comportamento


mecânico, pois determina como eles se encaixam e se entrosam, e, em contrapartida, como
eles deslizam entre si quando solicitados por forças externas. Por outro lado, como estas
forças se transmitem dentro do solo pelos pequenos contatos existentes entre as partículas,
as de formato mais angulares, por possuírem em geral uma menor área de contato, são
mais susceptíveis a se quebrarem.

1.2. Solos Finos

Quando as partículas que constituem o solo possuem dimensões menores que 0,074
mm (DNER), ou 0,06 mm (ABNT), o solo é considerado fino e, neste caso, será classificado
como argila ou como silte.

Nos solos formados por partículas muito pequenas, as forças que intervêm no
processo de estruturação do solo são de caráter muito mais complexo e serão estudadas no
item composição mineralógica dos solos. Os solos finos possuem partículas com formas
lamelares, fibrilares e tubulares e é o mineral que determina a forma da partícula. As
partículas de argila normalmente apresentam uma ou duas direções em que o tamanho da
partícula é bem superior àquele apresentado em uma terceira direção. O comportamento
dos solos finos é definido pelas forças de superfície (moleculares, elétricas) e pela presença
de água, a qual influi de maneira marcante nos fenômenos de superfície dos argilo-minerais.

18
Aula 2 – Textura e Estrutura I
UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO AOS SOLOS

1.2.1. Argilas

A fração granulométrica do solo classificada como argila (diâmetro inferior a 0,002


mm) se caracteriza pela sua plasticidade marcante (capacidade de se deformar sem
apresentar variações volumétricas) e elevada resistência quando seca. É a fração mais ativa
dos solos.

1.2.2. Siltes

Apesar de serem classificados como solos finos, o comportamento dos siltes é


governado pelas mesmas forças dos solos grossos (forças gravitacionais), embora possuam
alguma atividade. Estes possuem granulação fina, pouca ou nenhuma plasticidade e baixa
resistência quando seco. A figura apresenta a escala granulométrica adotada pela ABNT
(NBR 6502):

2. Identificação Visual e Tátil dos Solos

Muitas vezes em campo temos a necessidade de uma identificação prévia do solo, sem
que o uso do aparato de laboratório esteja disponível. Esta classificação primária é
extremamente importante na definição (ou escolha) de ensaios de laboratório mais
elaborados e pode ser obtida a partir de alguns testes feitos rapidamente em uma amostra
de solo. No processo de identificação tátil visual de um solo utilizam-se frequentemente os
seguintes procedimentos (vide NBR 7250):

• Tato: Esfrega-se uma porção do solo na mão. As areias são ásperas; as argilas
parecem com um pó quando secas e com sabão quando úmidas;
• Plasticidade: Moldar bolinhas ou cilindros de solo úmido. As argilas são
moldáveis enquanto as areias e siltes não são moldáveis;
• Resistência do solo seco: As argilas são resistentes à pressão dos dedos
enquanto os siltes e areias não são;

19
Aula 2 – Textura e Estrutura I
MECÂNICA DOS SOLOS

• Dispersão em água: Misturar uma porção de solo seco com água em uma
proveta, agitando-a. As areias depositam-se rapidamente, enquanto que as
argilas turvam a suspensão e demoram para sedimentar;
• Impregnação: Esfregar uma pequena quantidade de solo úmido na palma de
uma das mãos. Colocar a mão embaixo de uma torneira aberta e observar a
facilidade com que a palma da mão fica limpa. Solos finos se impregnam e
não saem da mão com facilidade;
• Dilatância: O teste de dilatância permite obter uma informação sobre a
velocidade de movimentação da água dentro do solo. Para a realização do
teste deve-se preparar uma amostra de solo com cerca de 15 mm de
diâmetro e com teor de umidade que lhe garanta uma consistência mole. O
solo deve ser colocado sobre a palma de uma das mãos e distribuído
uniformemente sobre ela, de modo que não apareça uma lâmina d’água. O
teste se inicia com um movimento horizontal da mão, batendo vigorosamente
a sua lateral contra a lateral da outra mão, diversas vezes. Deve-se observar o
aparecimento de uma lâmina d’água na superfície do solo e o tempo para a
ocorrência. Em seguida, a palma da mão deve ser curvada, de forma a exercer
uma leve compressão na amostra, observando-se o que poderá ocorrer à
lâmina d’água, se existir, à superfície da amostra. O aparecimento da lâmina
d’água durante a fase de vibração, bem como o seu desaparecimento durante
a compressão e o tempo necessário para que isto aconteça deve ser
comparado aos dados da tabela, para a classificação do solo.

Após realizados estes testes, classifica-se o solo de modo apropriado, de acordo com
os resultados obtidos (areia siltosa, argila arenosa, etc.). Os solos orgânicos são
identificados em separado, em função de sua cor e odor característicos.

Além da identificação tátil visual do solo, todas as informações pertinentes à


identificação do mesmo, disponíveis em campo, devem ser anotadas. Deve-se informar,
sempre que possível, a eventual presença de material cimentante ou matéria orgânica, a cor
do solo, o local da coleta do solo, sua origem geológica, sua classificação genética, etc.

20
Aula 2 – Textura e Estrutura I
UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO AOS SOLOS

A distinção entre solos argilosos e siltosos, na prática da engenharia geotécnica, possui


certas dificuldades, já que ambos os solos são finos. Porém, após a identificação tátil-visual
ter sido realizada, algumas diferenças básicas entre eles, já citadas nos parágrafos
anteriores, podem ser utilizadas para distingui-los.

• O solo é classificado como argiloso quando se apresenta bastante plástico em


presença de água, formando torrões resistentes ao secar. Já os solos siltosos
quando secos, se esfarelam com facilidade;
• Os solos argilosos se desmancham na água mais lentamente que os solos
siltosos. Os solos siltosos, por sua vez, apresentam dilatância marcante, o que
não ocorre com os solos argilosos.

3. Análise Granulométrica

A análise da distribuição das dimensões dos grãos, denominada análise


granulométrica, objetiva determinar os tamanhos dos diâmetros equivalentes das partículas
sólidas em conjunto com a proporção de cada fração constituinte do solo em relação ao
peso de solo seco. A representação gráfica das medidas realizadas é denominada de curva
granulométrica. Pelo fato de o solo geralmente apresentar partículas com diâmetros
equivalentes variando em uma ampla faixa, a curva granulométrica é normalmente
apresentada em um gráfico semi-log, com o diâmetro equivalente das partículas em uma
escala logarítmica e a percentagem de partículas com diâmetro inferior à abertura da
peneira considerada (porcentagem que passa) em escala linear.

3.1. Ensaio de Granulometria

O ensaio de granulometria conjunta para o levantamento da curva granulométrica do


solo é realizado com base em dois procedimentos distintos: peneiramento - realizado para
partículas com diâmetros equivalentes superiores a 0,074 mm (peneira 200) e
Sedimentação - procedimento válido para partículas com diâmetros equivalentes inferiores
a 0,2 mm. O ensaio de peneiramento não é realizado para partículas com diâmetros
inferiores a 0,074 mm pela dificuldade em se confeccionar peneiras com aberturas de malha
desta ordem de grandeza. Embora existindo no mercado, a peneira 400 (com abertura de
malha de 0,045 mm) não é regularmente utilizada no ensaio de peneiramento, por ser
facilmente danificada e de custo elevado.

O ensaio de granulometria é realizado empregando-se os seguintes equipamentos:


jogo de peneiras, balança, estufa, destorroador, quarteador, bandejas, proveta,
termômetro, densímetro, cronômetro, dispersor, defloculante, etc. A preparação das

21
Aula 2 – Textura e Estrutura I
MECÂNICA DOS SOLOS

amostras de solo se dá pelos processos de secagem ao ar, quarteamento, destorroamento


(vide Aulas de Material de Construção I), utilizando-se quantidades de solo que variam em
função de sua textura (aproximadamente 1500 g para o caso de solos grossos e 200 g, para
o caso de solos finos).

A seguir são listadas algumas características dos processos normalmente empregados


no ensaio de granulometria conjunta (vide NBR 7181).

• Peneiramento: utilizado para a fração grossa do solo (grãos com até 0,074
mm de diâmetro equivalente), realiza-se pela passagem do solo por peneiras
padronizadas e pesagem das quantidades retidas em cada uma delas. Retira-
se 50 a 100 g da quantidade que passa na peneira de #200 e prepara-se o
material para a sedimentação;
• Sedimentação: os solos muito finos, com granulometria inferior a 0,074 mm,
são tratados de forma diferenciada, através do ensaio de sedimentação
desenvolvido por Arthur Casagrande. Este ensaio se baseia na Lei de Stokes,
segundo a qual a velocidade de queda, V, de uma partícula esférica, em um
meio viscoso infinito, é proporcional ao quadrado do diâmetro da partícula.
Sendo assim, as menores partículas se sedimentam mais lentamente que as
partículas maiores.

O ensaio de sedimentação é realizado medindo-se a densidade de uma suspensão de


solo em água, no decorrer do tempo. A partir da medida da densidade da solução no tempo,
calcula-se a percentagem de partículas que ainda não sedimentaram e a velocidade de
queda destas partículas (a profundidade de medida da densidade é calculada em função da
curva de calibração do densímetro). Com o uso da lei de Stokes, pode-se inferir o diâmetro
máximo das partículas ainda em suspensão, de modo que com estes dados, a curva
granulométrica é completada. A equação apresenta a lei de Stokes.

γS − γW
V= . D²
18 . μ

Onde:

γS é o peso específico médio das partículas do solo;


γW é o peso específico do fluido;
μ é a viscosidade do fluído;
D é o diâmetro das partículas.

22
Aula 2 – Textura e Estrutura I
UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO AOS SOLOS

Pode-se dizer que o Diâmetro Máximo corresponde ao número da peneira da série


normal na qual a porcentagem acumulada é inferior ou igual a 5%, desde que essa
porcentagem seja superior a 5% na peneira imediatamente abaixo.

Deve-se notar que o diâmetro equivalente calculado se empregando a equação


corresponde a apenas uma aproximação, à medida em que durante a realização do ensaio
de sedimentação, as seguintes ocorrências tendem a afastá-lo das condições ideais para as
quais a lei de Stokes foi formulada. Algumas observações devem ser feitas:

• As partículas de solo não são esféricas (muito menos as partículas dos argilo-
minerais que têm forma placóide).
• A coluna líquida possui tamanho definido;
• O movimento de uma partícula interfere no movimento de outra;
• As paredes do recipiente influenciam no movimento de queda das partículas;
• O peso específico das partículas do solo é um valor médio;
• O processo de leitura (inserção e retirada do densímetro) influencia no
processo de queda das partículas.

3.2. Representação Gráfica de Resultado da Granulometria

A representação gráfica do resultado de um ensaio de granulometria é dada pela curva


granulométrica do solo. A partir da curva granulométrica, podemos separar facilmente os
solos grossos dos solos finos, apontando a percentagem equivalente de cada fração
granulométrica que constitui o solo (pedregulho, areia, silte e argila). Além disto, a curva
granulométrica pode fornecer informações sobre a origem geológica do solo que está sendo
investigado. Por exemplo, na figura abaixo, a curva granulométrica “a” corresponde a um
solo com a presença de partículas em uma ampla faixa de variação. Assim, o solo
representado por esta curva granulométrica poderia ser um solo de origem glacial, um solo
coluvionar (tálus) (ambos de baixa seletividade) ou mesmo um solo residual jovem.
Contrariamente, o solo descrito pela curva granulométrica “c” foi evidentemente
depositado por um agente de transporte seletivo, tal como a água ou o vento (a curva “c”
poderia representar um solo eólico, por exemplo), pois possui quase que todas as partículas
do mesmo diâmetro. Na curva granulométrica “b”, uma faixa de diâmetros das partículas
sólidas está ausente. Esta curva poderia ser gerada, por exemplo, por variações bruscas na
capacidade de transporte de um rio em decorrência de chuvas.

De acordo com a curva granulométrica obtida, o solo pode ser classificado como bem
graduado, caso ele possua uma distribuição contínua de diâmetros equivalentes em uma
ampla faixa de tamanho de partículas (caso da curva granulométrica “a”) ou mal graduado,

23
Aula 2 – Textura e Estrutura I
MECÂNICA DOS SOLOS

caso ele possua uma curva granulométrica uniforme (curva granulométrica “c”) ou uma
curva granulométrica que apresente ausência de uma faixa de tamanhos de grãos (curva
granulométrica “b”).

Alguns sistemas de classificação utilizam a curva granulométrica para auxiliar na


previsão do comportamento de solos grossos. Para tanto, estes sistemas de classificação
lançam mão de alguns índices característicos da curva granulométrica, para uma avaliação
de sua uniformidade e curvatura. Os coeficientes de uniformidade e curvatura de uma
determinada curva granulométrica são obtidos a partir de alguns diâmetros equivalente
característicos do solo na curva granulométrica. São eles:

D10 - Diâmetro Efetivo - Diâmetro equivalente da partícula para o qual temos 10% das
partículas passando (10% das partículas são mais finas que o diâmetro efetivo);

D30 e D60 - O mesmo que o diâmetro efetivo, para as percentagens de 30 e 60%,


respectivamente.

As equações a seguir apresentam os coeficientes de uniformidade e curvatura de uma


dada curva granulométrica.

Coeficiente de Uniformidade:

D60
Cu =
D10

De acordo como valor do Cu obtido, a curva granulométrica pode ser classificada


conforme apresentado abaixo:

24
Aula 2 – Textura e Estrutura I
UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO AOS SOLOS

• Cu < 5 → muito uniforme;


• 5 < Cu < 15 → uniformidade média;
• Cu > 15 → não uniforme.

E o Coeficiente de Curvatura:

𝐷30 2
𝐶𝑐 =
𝐷60 . 𝐷10

Classificação da curva granulométrica quanto ao coeficiente de curvatura:

• 1 < Cc < 3 → solo bem graduado;


• Cc < 1 ou Cc > 3 → solo mal graduado.

Exemplo: Para a curva granulométrica 5 abaixo, calcular Cu e Cc.

Resolução:

1º Passo: Encontrar D10 (ou Def – Diâmetro Efetivo), D30 e D60 da amostra.

O Def da amostra corresponde à porcentagem passante de 10% em massa. Neste caso,


segundo o gráfico podemos pegar a porcentagem retida de 90% pela escala da esquerda ou

25
Aula 2 – Textura e Estrutura I
MECÂNICA DOS SOLOS

a porcentagem que passa de 10% da escala da direita. Fica a critério pois significam a
mesma coisa. Vejamos no gráfico:

Nota: é válido lembrar que o eixo “X” está em escala logarítmica, ou seja, uma
escala que usa o logaritmo da grandeza em vez da grandeza propriamente dita.

Pelo gráfico, observa-se que a curva 5 cruza os 10% (na porcentagem que passa) em
0,0035 mm, que é o D10.

O mesmo é válido para os valores de D 30 e D60, demonstrados no gráfico, com valores


de ≈ 0,17 e ≈ 1,3 mm respectivamente.

2º Passo: Calcular o Coeficiente de uniformidade (Cu):

Cu = D60/D10 → Cu = 1,3/0,0035 → Cu = 371,43

3º Passo: Calcular o Coeficiente de Curvatura:

Cc = D30²/D60 . D10 → Cc = (0,17²)/1,3 . 0,0035 → Cc = 6,35


Baseado e adaptado de
Sandro Lemos Machado e
Portando, como Cu > 15 e Cc > 3, então a amostra é “não uniforme e mal graduado”. Miriam C. Machado. Edições
sem prejuízo de conteúdo.

26
Aula 3 – Textura e Estrutura II
UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO AOS SOLOS

Aula 3: Textura e Estrutura II

A completa classificação de um solo depende também de outros fatores além da


granulometria, sendo a adoção de uma nomenclatura baseada apenas na curva
granulométrica insuficiente para uma previsão, ainda que qualitativa, do seu comportamento
de engenharia.

1. Designação Segundo a NBR 6502

A NBR- 6502 apresenta algumas regras práticas para designar os solos de acordo com a
sua curva granulométrica. A tabela abaixo ilustra o resultado de ensaios de granulometria
realizados em três solos distintos. As regras apresentadas pela NBR-6502 serão então
empregadas para classificá-los, em caráter ilustrativo.

1.1. Normas para a Designação do Solo Segundo a NBR, Baseando-se na Curvatura


Granulométrica

Quando da ocorrência de mais de 10% de areia, silte ou argila adjetiva-se o solo com as
frações obtidas, vindo em primeiro lugar as frações com maiores percentagens.

27
Aula 3 – Textura e Estrutura II
MECÂNICA DOS SOLOS

Em caso de empate, adota-se a seguinte hierarquia:

• 1°) Argila;
• 2°) Areia;
• 3°) Silte.

No caso de percentagens menores do que 10% adjetiva-se o solo do seguinte modo,


independente da fração granulométrica considerada:

• 1 a 5% → com vestígios;
• De 5 a 10% → com pouco.

Para o caso de pedregulho com frações superiores a 10% adjetiva-se o solo do seguinte
modo:

• 10 a 29% → com pedregulho;


• > 30% → com muito pedregulho.

Resultado da nomenclatura dos solos conforme os dados apresentados na tabela


acima:

• Solo 1: Argila Silto-Arenosa com pouco Pedregulho;


• Solo 2: Areia Silto-Argilosa com Pedregulho;
• Solo 3: Pedregulho Arenoso com vestígios de Silte e Pedra.

2. Estrutura dos Solos

Denomina-se estrutura dos solos a maneira pela qual as partículas minerais de


diferentes tamanhos se arrumam para formá-lo. A estrutura de um solo possui um papel
fundamental em seu comportamento, seja em termos de resistência ao cisalhamento,
compressibilidade ou permeabilidade. Como os solos finos possuem o seu comportamento
governado por forças elétricas, enquanto os solos grossos têm na gravidade o seu principal
fator de influência, a estrutura dos solos finos ocorre em uma diversificação e complexidade
muito maior do que a estrutura dos solos grossos. De fato, sendo a gravidade o fator
principal agindo na formação da estrutura dos solos grossos, a estrutura destes solos difere,
de solo para solo, somente no que se refere ao seu grau de compacidade. No caso dos solos
finos, devido a presença das forças de superfície, arranjos estruturais bem mais elaborados
são possíveis. A figura abaixo ilustra algumas estruturas típicas de solos grossos e finos.

28
Aula 3 – Textura e Estrutura II
UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO AOS SOLOS

Quando duas partículas de argila estão muito próximas, entre elas ocorrem forças de
atração e de repulsão. As forças de repulsão são devidas às cargas líquidas negativas que
elas possuem e que ocorrem desde que as camadas duplas estejam em contato. As forças
de atração decorrem de forças de Van der Waals e de ligações secundárias que atraem
materiais adjacentes. Da combinação das forças de atração e de repulsão entre as partículas
resulta a estrutura dos solos, que se refere à disposição das partículas na massa de solo e as
forças entre elas. Lambe (1969) identificou dois tipos básicos de estrutura do solo,
denominando-os de estrutura floculada, quando os contatos se fazem entre faces e arestas
das partículas sólidas, ainda que através da água adsorvida, e de estrutura dispersa quando
as partículas se posicionam paralelamente, face a face.

3. Composição Química e Mineralógica

Os solos são formados a partir da desagregação de rochas por ações físicas e químicas
do intemperismo. As propriedades química e mineralógica das partículas dos solos assim
formados irão depender fundamentalmente da composição da rocha matriz e do clima da
região. Estas propriedades, por sua vez, irão influenciar de forma marcante o
comportamento mecânico do solo.

Os minerais são partículas sólidas inorgânicas que constituem as rochas e os solos, e


que possuem forma geométrica, composição química e estrutura própria e definidas. Eles
podem ser divididos em dois grandes grupos, a saber:

29
Aula 3 – Textura e Estrutura II
MECÂNICA DOS SOLOS

• Primários: Aqueles encontrados nos solos e que sobrevivem a transformação


da rocha (advêm, portanto, do intemperismo físico);
• Secundários: Os que foram formados durante a transformação da rocha em
solo (ação do intemperismo químico).

3.1. Solos Grossos: Areias e Pedregulhos

As partículas dos solos grossos, dentre as quais apresentam-se os pedregulhos, são


constituídas algumas vezes de agregações de minerais distintos, sendo mais comum,
entretanto, que as partículas sejam constituídas de um único mineral. Estes solos são
formados, na sua maior parte, por silicatos (90%) e apresentam também na sua composição
óxidos, carbonatos e sulfatos. Como já estudado em Materiais de Construção I, a saber os
grupos minerais:

• Silicatos - feldspato, quartzo, mica, serpentina;


• Óxidos - hematita, magnetita, limonita;
• Carbonatos - calcita, dolomita;
• Sulfatos - gesso, anidrita.

3.2. Solos Finos: Argilas

Os solos finos possuem uma estrutura mais complexa e alguns fatores, como forças de
superfície, concentração de íons, ambiente de sedimentação, etc., podem intervir no seu
comportamento. As argilas possuem uma complexa constituição química e mineralógica,
sendo formadas por sílica no estado coloidal (SiO2) e sesquióxidos metálicos (R2O3), onde R
= Al; Fe, etc.

Os feldspatos são os minerais mais atacados pela natureza, dando origem aos argilo-
minerais, que constituem a fração mais fina dos solos, geralmente com diâmetro inferior a 2
µm. Não só o reduzido tamanho, mas, principalmente, a constituição mineralógica faz com
que estas partículas tenham um comportamento extremamente diferenciado em relação ao
dos grãos de silte e areia.

O estudo da estrutura dos argilo-minerais pode ser facilitado "construindo-se" o argilo-


mineral a partir de unidades estruturais básicas. Este enfoque é puramente didático e não
representa necessariamente o método pelo qual o argilo-mineral é realmente formado na
natureza. Assim, as estruturas apresentadas nesta aula são apenas idealizações. Um cristal
típico de um argilo-mineral é uma estrutura complexa similar ao arranjo estrutural aqui
idealizado, mas contendo usualmente substituições de íons e outras modificações

30
Aula 3 – Textura e Estrutura II
UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO AOS SOLOS

estruturais que acabam por formar novos tipos de argilo-minerais. As duas unidades
estruturais básicas dos argilo-minerais são os tetraedros de silício e os octaedros de
alumínio (figura). Os tetraedros de silício são formados por quatro átomos de oxigênio
equidistantes de um átomo de silício enquanto que os octaedros de alumínio são formados
por um átomo de alumínio no centro, envolvido por seis átomos de oxigênio ou grupos de
hidroxilas, OH-. A depender do modo como estas unidades estruturais estão unidas entre si,
podemos dividir os argilo-minerais em três grandes grupos.

• GRUPO DA CAULINITA: A caulinita é formada por uma lâmina silícica e outra


de alumínio, que se superpõem indefinidamente. A união entre todas as
camadas é suficientemente firme (pontes de hidrogênio) para não permitir a
penetração de moléculas de água entre elas. Assim, as argilas cauliníticas são
as mais estáveis em presença d'água, apresentando baixa atividade e baixo
potencial de expansão;
• MONTMORILONITA: É formada por uma unidade de alumínio entre duas
silícicas, superpondo-se indefinidamente. Neste caso a união entre as
camadas de silício é fraca (forças de Van der Walls), permitindo a penetração
de moléculas de água na estrutura com relativa facilidade. Os solos com
grandes quantidades de montmorilonita tendem a ser instáveis em presença
de água. Apresentam em geral grande resistência quando secos, perdendo
quase que totalmente a sua capacidade de suporte por saturação. Sob
variações de umidade apresentam grandes variações volumétricas, retraindo-
se em processos de secagem e expandindo-se sob processos de
umedecimento;
• ILITA: Possui um arranjo estrutural semelhante ao da montmorilonita, porém
os íons não permutáveis fazem com que a união entre as camadas seja mais

31
Aula 3 – Textura e Estrutura II
MECÂNICA DOS SOLOS

estável e não muito afetada pela água. É também menos expansiva que a
montmorilonita.

Como a união entre as camadas adjacentes dos argilo-minerais do tipo 1:1 (grupo da
caulinita) é bem mais forte do que aquela encontrada para os outros grupos, é de se esperar
que estes argilo-minerais resultem por alcançar tamanhos maiores do que aqueles
alcançados pelos argilo-minerais do grupo 2:1, o que ocorre na realidade: Enquanto um
mineral típico de caulinita possui dimensões em torno de 500 (espessura) x 1000 x 1000
(nm), um mineral de montmorilonita possui dimensões em torno de 3x 500 x 500 (nm).

A presença de um determinado tipo de argilo-mineral no solo pode ser identificada


utilizando-se diferentes métodos, dentre eles a análise térmica diferencial, o raio-X, a
microscopia eletrônica de varredura, etc.

3.2.1. Superfície Específica

Denomina-se de superfície específica de um solo a soma da área de todas as partículas


contidas em uma unidade de volume ou peso. A superfície específica dos argilo-minerais é
geralmente expressa em unidades como m2/m3 ou m2/g. Quanto maior o tamanho do
mineral menor a superfície específica do mesmo. Deste modo, pode-se esperar que os
argilo-minerais do grupo 2:1 possuam maior superfície específica do que os argilo-minerais
do grupo 1:1. A montmorilonita, por exemplo, possui uma superfície específica de
aproximadamente 800 m2/g, enquanto que a ilita e a caulinita possuem superfícies
específicas de aproximadamente 80 e 10 m2/g, respectivamente. A superfície específica é
uma importante propriedade dos argilo-minerais, na medida em que quanto maior a
superfície específica, maior vai ser o predomínio das forças elétricas (em detrimento das
forças gravitacionais), na influência sobre as propriedades do solo (estrutura, plasticidade,
coesão, etc.).

4. As Fases do Solo

O solo é constituído de uma fase fluida (água e/ou ar) e se uma fase sólida. A fase
fluida ocupa os vazios deixados pelas partículas sólidas.

4.1. Fase Sólida

Caracterizada pelo seu tamanho, forma, distribuição e composição mineralógica dos


grãos, conforme já apresentado anteriormente.

32
Aula 3 – Textura e Estrutura II
UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO AOS SOLOS

4.2. Fase Gasosa

Fase composta geralmente pelo ar do solo em contato com a atmosfera, podendo-se


também apresentar na forma oclusa (bolhas de ar no interior da fase água).

A fase gasosa é importante em problemas de deformação de solos e é bem mais


compressível que as fases sólida e líquida.

4.3. Fase Líquida

Fase fluida composta em sua maior parte pela água, podendo conter solutos e outros
fluidos imiscíveis. Pode-se dizer que a água se apresenta de diferentes formas no solo,
sendo, contudo, extremamente difícil se isolar os estados em que a água se apresenta em
seu interior. A seguir são expressados os termos mais comumente utilizados para descrever
os estados da água no solo. É diversificada em:

• Água Livre: Preenche os vazios dos solos. Pode estar em equilíbrio


hidrostático ou fluir sob a ação da gravidade ou de outros gradientes de
energia;
• Água Capilar: É a água que se encontra presa às partículas do solo por meio
de forças capilares. Esta se eleva pelos interstícios capilares formados pelas
partículas sólidas, devido a ação das tensões superficiais nos contatos ar-
água-sólidos, oriundas a partir da superfície livre da água;
• Água Adsorvida: É uma película de água que adere às partículas dos solos
finos devido a ação de forças elétricas desbalanceadas na superfície dos
argilo-minerais. Está submetida a grandes pressões, comportando-se como
sólido na vizinhança da partícula de solo;
• Água de Constituição: É a água presente na própria composição química das
partículas sólidas. Não é retirada utilizando-se os processos de secagem
tradicionais. Ex: Montmorilonita (OH)4Si2Al4O20nH2O;
• Água Higroscópica: Água que o solo possui quando em equilíbrio com a
umidade atmosférica e a temperatura ambiente.

Baseado e adaptado de
Sandro Lemos Machado e
Miriam C. Machado. Edições
sem prejuízo de conteúdo.

33
Aula 4 – Consistência dos Solos
MECÂNICA DOS SOLOS

Unidade 2 – Propriedades dos Solos

Aula 4: Consistência dos Solos

Em linhas gerais, corresponde ao comportamento do material constituinte em função da


variação da umidade. A consistência do solo é altamente correlacionada com a textura e
atividade da fração de argila. Vale dizer que este atributo ocorre por atuação das forças de
adesão e coesão entre as partículas do solo, que variam com o grau de umidade do solo.

1. Noções Iniciais

Quando tratamos com solos grossos (areias e pedregulhos com pequena quantidade
ou sem a presença de finos), o efeito da umidade nestes solos é frequentemente
negligenciado, na medida em que a quantidade de água presente nos mesmos tem um
efeito secundário em seu comportamento. Pode se dizer que se pode classificar os solos
grossos utilizando-se somente a sua curva granulométrica, o seu grau de compacidade e a
forma de suas partículas. Por outro lado, o comportamento dos solos finos ou coesivos irá
depender de sua composição mineralógica, da sua umidade, de sua estrutura e do seu grau
de saturação. Em particular, a umidade dos solos finos tem sido considerada como uma
importante indicação do seu comportamento desde o início da mecânica dos solos.

Um solo argiloso pode se apresentar em um estado líquido, plástico, semissólido ou


sólido, a depender de sua umidade. A este estado físico do solo dá-se o nome de
consistência. Os limites inferiores e superiores de valor de umidade para cada estado do
solo são denominados de limites de consistência.

No estado plástico, o solo apresenta uma propriedade denominada de plasticidade,


caracterizada pela capacidade do solo se deformar sem apresentar ruptura ou trincas e sem
variação de volume.

A manifestação desta propriedade em um solo dependerá fundamentalmente dos


seguintes fatores:

34
Aula 4 – Consistência dos Solos
UNIDADE 2 – PROPRIEDADES DOS SOLOS

• Umidade: Existe uma faixa de umidade dentro da qual o solo se comporta de


maneira plástica. Valores de umidade inferiores aos valores contidos nesta
faixa farão o solo se comportar como semissólido ou sólido, enquanto que
para maiores valores de umidade o solo se comportará preferencialmente
como líquido;
• Tipo de argilo-mineral: O tipo de argilo-mineral (sua forma, constituição
mineralógica, tamanho, superfície específica, etc.) influi na capacidade do
solo de se comportar de maneira plástica. Quanto menor o argilo-mineral (ou
quanto maior sua superfície específica), maior a plasticidade do solo. É
importante salientar que o conhecimento da plasticidade na caracterização
dos solos finos é de fundamental importância.

2. Estados de Consistência

A depender da quantidade de água presente no solo, teremos os seguintes estados de


consistência:

Cada estado de consistência do solo se caracteriza por algumas propriedades


particulares, as quais são apresentadas a seguir. Os limites entre um estado de consistência
e outro são determinados empiricamente, sendo denominados de limite de contração, WS,
limite de plasticidade, WP e limite de liquidez, WL.

Estado Sólido - Dizemos que um solo está em um estado de consistência sólido


quando o seu volume "não varia" por variações em sua umidade.

Estado Semissólido - O solo apresenta fraturas e se rompe ao ser trabalhado. O limite


de contração, WS, separa os estados de consistência sólido e semissólido.

Estado Plástico - Dizemos que um solo está em um estado plástico quando podemos
moldá-lo sem que o mesmo apresente fissuras ou variações volumétricas. O limite de
plasticidade, WP, separa os estados de consistência semissólido e plástico.

Estado Fluido - Denso (Líquido) - Quando o solo possui propriedades e aparência de


uma suspensão, não apresentando resistência ao cisalhamento. O limite de liquidez, WL,
separa os estados plástico e fluido.

35
Aula 4 – Consistência dos Solos
MECÂNICA DOS SOLOS

Como seria de se esperar, a resistência ao cisalhamento, bem como a


compressibilidade dos solos, varia nos diversos estados de consistência.

2.1. Determinação dos Limites de Consistência

A delimitação entre os diversos estados de consistência é feita de forma empírica. Esta


delimitação foi inicialmente realizada por Atterberg, culminando com a padronização dos
ensaios para a determinação dos limites de consistência por Arthur Casagrande.

Conforme apresentado anteriormente, são os seguintes os limites que separam os


diversos estados de consistência do solo:

• Limite de Liquidez (WL) ou LL;


• Limite de Plasticidade (WP) ou LP;
• Limite de Contração (WS) ou LC.

2.1.1. Limite de Liquidez

É o valor de umidade para o qual o solo passa do estado plástico para o estado fluido.

A determinação do limite de liquidez do solo é realizada seguindo-se o seguinte


procedimento: 1º → coloca-se na concha do aparelho de Casagrande uma pasta de solo
passando #40 e com umidade próxima de seu limite de plasticidade. 2º → faz-se um sulco
na pasta com um cinzel padronizado. 3º → aplicam-se golpes à massa de solo posta na
concha do aparelho de Casagrande, girando-se uma manivela, a uma velocidade padrão de
2 golpes por segundo. Esta manivela é solidária a um eixo, o qual por possuir um excêntrico,
faz com que a concha do aparelho de casagrande caia de uma altura padrão de
aproximadamente 1 cm. 4º → conta-se o número de golpes necessário para que a ranhura
de solo se feche em uma extensão em torno de 1 cm. 5º → repete-se este processo ao
menos 5 vezes, geralmente empregando-se valores de umidade crescentes. 6º → lançam-se
os pontos experimentais obtidos, em termos de umidade versus log N° de golpes. 7º →
ajusta-se uma reta passando por esses pontos. O limite de liquidez corresponde à umidade
para a qual foram necessários 25 golpes para fechar a ranhura de solo. As figuras abaixo
ilustram o aparelho utilizado na determinação do limite de liquidez e a determinação do
limite de liquidez do solo (vide NBR 6459).

De acordo com os estudos do Federal Highway Administration, o limite de liquidez


pode ser determinado, conhecido “um só ponto”, pela fórmula Empírica:

36
Aula 4 – Consistência dos Solos
UNIDADE 2 – PROPRIEDADES DOS SOLOS

w
LL =
(1,419 − 0,3 log n)

Onde “w” é a umidade vinculada a “n” a golpes.

2.1.2. Limite de Plasticidade

É o valor de umidade para o qual o solo passa do estado semissólido para o estado
plástico.

A determinação do limite de plasticidade do solo é realizada seguindo-se o seguinte


procedimento: 1º → prepara-se uma pasta com o solo que passa na #40, fazendo-a rolar
com a palma da mão sobre uma placa de vidro esmerilhado, formando um pequeno
cilindro. 2º → quando o cilindro de solo atingir o diâmetro de 3 mm e apresentar fissuras,
mede-se a umidade do solo. 3º → esta operação é repetida pelo menos 5 vezes, definido

37
Aula 4 – Consistência dos Solos
MECÂNICA DOS SOLOS

assim como limite de plasticidade o valor médio dos teores de umidade determinados. A
figura ilustra a realização do ensaio para determinação do limite de plasticidade (vide NBR
9180).

2.1.3. Limite de Contração

É o valor de umidade para o qual o solo passa do estado sólido para o estado
semissólido.

A determinação do limite de contração do solo é realizada seguindo-se o seguinte


procedimento: 1º → molda-se uma amostra de solo passando na #40, na forma de pastilha,
em uma cápsula metálica com teor de umidade entre 10 e 25 golpes no aparelho de Casa
Grande. 2º → seca-se a amostra à sombra e depois em estufa, pesando-a em seguida. 3º →
utiliza-se um recipiente adequado (cápsula de vidro) para medir o volume do solo seco,
através do deslocamento de mercúrio provocado pelo solo quando de sua imersão no
recipiente. O limite de contração é determinado pela equação apresentada a seguir (vide
NBR 7183).

V 1
WS = ( − ) . γW . 100
P γS

Onde:

38
Aula 4 – Consistência dos Solos
UNIDADE 2 – PROPRIEDADES DOS SOLOS

V é o volume da amostra seca;


P é o peso da amostra seca;
γW é o peso específico da água;
γS é o peso específico das partículas sólidas.

3. Índices de Consistência

Uma vez conhecidos os limites de consistência de um solo, vários índices podem ser
definidos. A seguir, apresentaremos os mais utilizados.

3.1. Índice de Plasticidade

O índice de plasticidade (IP) corresponde a faixa de valores de umidade do solo na qual


ele se comporta de maneira plástica. É a diferença numérica entre o valor do limite de
liquidez e o limite de plasticidade.

IP = WL - WP ou IP = LL – LP

O IP é uma maneira de avaliarmos a plasticidade do solo. Seria a quantidade de água


necessária a acrescentar a um solo (com uma consistência dada pelo valor de WP) para que
este passasse do estado plástico ao líquido. A classificação do solo quanto ao seu índice de
plasticidade é:

• IP = 0 → Não plástico;
• 1 < IP < 7 → Pouco plástico.
• 7 < IP < 15 → Plasticidade média;
• IP > 15 → Muito plástico.

3.2. Índice de Consistência

É uma forma de medirmos a consistência do solo no estado em que se encontra em


campo.

WL − W
IC =
IP

Onde w (ou h) é a umidade da amostra.

39
Aula 4 – Consistência dos Solos
MECÂNICA DOS SOLOS

4. Demais Conceitos

4.1. Amolgamento

É a destruição da estrutura original do solo, provocando geralmente a perda de sua


resistência (no caso de solos apresentando sensibilidade).

4.2. Sensibilidade

É a perda de resistência do solo devido a destruição de sua estrutura original. A


sensibilidade de um solo é avaliada por intermédio do índice de sensibilidade (St), o qual é
definido pela razão entre a resistência à compressão simples de uma amostra indeformada
e a resistência à compressão simples de uma amostra amolgada, remoldada no mesmo teor
de umidade da amostra indeformada. A sensibilidade de um solo é calculada por intermédio
da seguinte equação:

RC
St =
R′C

Onde St é a sensibilidade do solo e RC e R'C são as resistências à compressão simples da


amostra indeformada e amolgada, respectivamente. Skempton fornece a seguinte relação:

• St < 1 → NÃO SENSÍVEIS;


• 1 < St < 2 → BAIXA SENSIBILIDADE;
• 2 < St < 4 → MÉDIA SENSIBILIDADE;
• 4 < St < 8 → SENSÍVEIS;
• St > 8 → EXTRA – SENSÍVEIS.

Quanto maior for o St, tem-se uma menor coesão, uma maior compressibilidade e uma
menor permeabilidade do solo.

4.3. Tixotropia

É o fenômeno da recuperação da resistência coesiva do solo, perdida pelo efeito do


amolgamento, quando este é colocado em repouso. Quando se interfere na estrutura
original de uma argila, ocorre um desequilíbrio das forças inter-partículas. Deixando-se este
solo em repouso, aos poucos vai-se recompondo parte daquelas ligações anteriormente
presentes entre as suas partículas.

40
Aula 4 – Consistência dos Solos
UNIDADE 2 – PROPRIEDADES DOS SOLOS

4.4. Atividade Coloidal

Conforme relatado anteriormente, a superfície das partículas dos argilo-minerais


possui uma carga elétrica negativa, cuja intensidade depende principalmente das
características do argilo-mineral considerado. As atividades físicas e químicas decorrentes
desta carga superficial constituem a chamada "atividade da superfície do argilo-mineral".
Dos três grupos de argilo-minerais apresentados aqui, a montmorilonita é a mais ativa,
enquanto que a caulinita é a menos ativa. Segundo Skempton (1953) a atividade dos argilo-
minerais pode ser avaliada pela equação, apresentada adiante.

IP
A=
% < 0.002mm

Onde o termo % < 0.002 mm representa a percentagem de partículas com diâmetro


inferior a 2µ presentes no solo. Ainda segundo Skempton, os solos podem ser classificados
de acordo com a sua atividade do seguinte modo:

• Solos inativos: A < 0,75


• Solos medianamente ativos: 0,75 < A < 1,25
• Solos ativos: A > 1,25.

A figura abaixo apresenta a variação do índice de plasticidade de amostras de solo


confeccionadas em laboratório em função da percentagem de argila (% < 0,002mm)
presente nos mesmos. Da equação, percebe-se que a atividade do argilo-mineral
corresponde ao coeficiente angular das áreas hachuradas apresentadas na figura. Na figura
estão também apresentados valores típicos de atividade para os três principais grupos de
argilo-minerais.

Baseado e adaptado de
Sandro Lemos Machado e
Miriam C. Machado. Edições
sem prejuízo de conteúdo.

41
Aula 5 – Classificação dos Solos
MECÂNICA DOS SOLOS

Aula 5: Classificação dos Solos

Por serem constituídos de um material de origem natural, os depósitos de solo nunca são
estritamente homogêneos. Grandes variações nas suas propriedades e em seu
comportamento são comumente observadas. Pode-se dizer contudo, que depósitos de solo
que exibem propriedades básicas similares podem ser agrupados como classes, mediante o
uso de critérios ou índices apropriados.

1. Aspectos Gerais de Classificação

Um sistema de classificação dos solos deve agrupar os solos de acordo com suas
propriedades intrínsecas básicas. Do ponto de vista da engenharia, um sistema de
classificação pode ser baseado no potencial de um determinado solo para uso em bases de
pavimentos, fundações, ou como material de construção, por exemplo. Devido à natureza
extremamente variável do solo, contudo, é inevitável que em qualquer classificação
ocorram casos onde é difícil se enquadrar o solo em uma determinada e única categoria, em
outras palavras, sempre vão existir casos em que um determinado solo poderá ser
classificado como pertencente a dois ou mais grupos. Do mesmo modo, o mesmo solo pode
mesmo ser colocado em grupos que pareçam radicalmente diferentes, em diferentes
sistemas de classificação.

Em vista disto, um sistema de classificação deve ser tomado como um guia preliminar
para a previsão do comportamento de engenharia do solo, a qual não pode ser realizada
utilizando-se somente sistemas de classificação. Testes para avaliação de importantes
características do solo devem sempre ser realizados, levando-se sempre em consideração o
uso do solo na obra, já que diferentes propriedades governam o comportamento do solo a
depender de sua finalidade. Assim, deve-se usar um sistema de classificação do solo, dentre
outras coisas, para se obter os dados necessários ao direcionamento de uma investigação
mais minuciosa, quer seja na engenharia, geoquímica, geologia ou outros ramos da ciência.

Implicitamente, nas aulas anteriores, utilizaram-se alguns sistemas de classificação dos


solos. Estes sistemas de classificação, por serem bastante simplificados, não são capazes de
fornecer, na maioria dos casos, uma resposta satisfatória do ponto de vista da engenharia,

42
Aula 5 – Classificação dos Solos
UNIDADE 2 – PROPRIEDADES DOS SOLOS

devendo ser usados como informações adicionais aos sistemas de classificação mais
elaborados. São eles:

a) Classificação genética dos solos (classificação do solo segundo a sua origem) -


Classifica os solos em residuais e sedimentares, podendo apresentar subdivisões (ex. solo
residual jovem, solo sedimentar eólico, etc.);

b) Classificação pela NBR 6502 - Conforme apresentado anteriormente, esta


classificação designa os solos de acordo com as suas frações granulométricas
preponderantes, utilizando a curva granulométrica;

c) Classificação pela estrutura - Essa classificação consta de dois tipos fundamentais de


estruturas (agregada e isolada), que por sua vez, são subdivididas em vários outros subtipos
(floculada, dispersa, orientada, aleatória), conforme foi visto na aula referente a estrutura
dos solos. A estrutura do solo está interligada com propriedades como coesão, peso
específico, sensibilidade, expansividade, resistência, anisotropia, permeabilidade,
compressibilidade e outras mais.

Nesta aula serão apresentados os dois sistemas de classificação dos solos mais
difundidos no meio geotécnico, a saber, o Sistema Unificado de Classificação do Solos, SUCS
(ou “Unified Soil Classification System”, USCS) e o sistema de classificação dos solos
proposto pela AASHTO (“American Association of State Highway and Transportation
Officials”). Deve-se salientar, contudo, que estes dois sistemas de classificação foram
desenvolvidos para classificar solos de países de clima temperado, não apresentando
resultados satisfatórios quando utilizados na classificação de solos tropicais (principalmente
aqueles de natureza laterítica), cuja gênese é bastante diferenciada daquela dos solos para
os quais estas classificações foram elaboradas. Por conta disto, e devido à grande
ocorrência de solos lateríticos nas regiões Sul e Sudeste do país, recentemente foi elaborada
uma classificação especialmente destinada a classificação de solos tropicais. Esta
classificação, brasileira, denominada de Classificação MCT, começou a se desenvolver na
década de 70, sendo apresentada oficialmente em 1980 (Nogami & Vilibor, 1980).

2. Classificação Segundo o Sistema Unificado de Classificação de


Solos (SUCS)

Este sistema de classificação foi originalmente desenvolvido pelo professor A.


Casagrande (Casagrande, 1948) para uso na construção de aterros em aeroportos durante a
Segunda Guerra Mundial, sendo modificada posteriormente para uso em barragens,

43
Aula 5 – Classificação dos Solos
MECÂNICA DOS SOLOS

fundações e outras construções. A idéia básica do Sistema Unificado de Classificação dos


solos é que os solos grossos podem ser classificados de acordo com a sua curva
granulométrica, ao passo que o comportamento de engenharia dos solos finos está
intimamente relacionado com a sua plasticidade. Em outras palavras, os solos nos quais a
fração fina não existe em quantidade suficiente para afetar o seu comportamento são
classificados de acordo com a sua curva granulométrica, enquanto que os solos nos quais o
comportamento de engenharia é controlado pelas suas frações finas (silte e argila), são
classificados de acordo com as suas características de plasticidade.

As quatro maiores divisões do Sistema Unificado de Classificação dos Solos, como visto
nas aulas iniciais do curso, são as seguintes:

• Solos grossos (pedregulho e areia),


• Solos finos (silte e argila),
• Solos orgânicos;
• Turfa.

A classificação é realizada na fração de solo que passa na peneira 75 mm, devendo-se


anotar a quantidade de material eventualmente retida nesta peneira. São denominados
solos grossos aqueles que possuem mais do que 50% de material retido na peneira 200 e
solos finos aqueles que possuem mais do 50% de material passando na peneira 200. Os
solos orgânicos e as turfas são geralmente identificados visualmente. Cada grupo é
classificado por um símbolo, derivado dos nomes em inglês correspondentes:

• Pedregulho (G), do inglês “gravel”;


• Argila ©, do inglês “Clay”;
• Areia (S), do inglês “Sand”;
• Solos orgânicos (O), de “Organic soils” e
• Turfa (Pt), do inglês “peat”.

A única exceção para esta regra advém do grupo do silte, cuja letra representante, M,
advém do Sueco “mjäla”.

2.1. Solos Grossos

Os solos grossos são classificados como pedregulho ou areia. São classificados como
pedregulhos aqueles solos possuindo mais do que 50% de sua fração grossa retida na
peneira 4 (4,75 mm) e como areias aqueles solos possuindo mais do que 50% de sua fração
grossa passando na peneira 4. Cada grupo por sua vez é dividido em quatro subgrupos a

44
Aula 5 – Classificação dos Solos
UNIDADE 2 – PROPRIEDADES DOS SOLOS

depender de sua curva granulométrica ou da natureza da fração fina eventualmente


existente. São eles:

• Material praticamente limpo de finos, bem graduado W, (SW e GW);


• Material praticamente limpo de finos, mal graduado P, (SP e GP);
• Material com quantidades apreciáveis de finos não plásticos, M, (GM e SM);
• Material com quantidades apreciáveis de finos plásticos C, (GC ou SC).

2.1.1. Grupos GW e SW

Formados por um solo bem graduado com poucos finos. Em um solo bem graduado, os
grãos menores podem ficar nos espaços vazios deixados pelos grãos maiores, de modo que
os solos bem graduados tendem a apresentar altos valores de peso específico (ou menor
quantidade de vazios) e boas características de resistência e deformabilidade. A presença de
finos nestes grupos não deve produzir efeitos apreciáveis nas propriedades da fração
grossa, nem interferir na sua capacidade de drenagem, sendo fixada como no máximo 5%
do solo, em relação ao seu peso seco. O exame da curva granulométrica dos solos grossos
se faz por meio dos coeficientes de uniformidade (Cu) e curvatura (Cc), já apresentados
anteriormente. Para que o solo seja considerado bem graduado é necessário que seu
coeficiente de uniformidade seja maior que 4, no caso de pedregulhos, ou maior que 6, no
caso de areias, e que o seu coeficiente de curvatura esteja entre 1 e 3.

2.1.2. Grupos GP e SP

Formados por solos mal graduados (curvas granulométricas uniformes ou abertas).


Como os subgrupos SW e GW, possuem no máximo 5% de partículas finas, mas suas curvas
granulométricas não completam os requisitos de graduação indicados para serem
considerados como bem graduados. Dentro destes grupos estão compreendidos as areias
uniformes das dunas e os solos possuindo duas frações granulométricas predominantes,
provenientes da deposição pela água de rios em períodos alternados de cheia/seca.

2.1.3. Grupo GM e SM

São classificados como pertencentes aos subgrupos GM e SM os solos grossos nos


quais existe uma quantidade de finos suficiente para afetar as suas propriedades de
engenharia: resistência ao cisalhamento, deformabilidade e permeabilidade. Convenciona-
se a quantidade de finos necessária para que isto ocorra em 12%, embora sabendo-se que a
influência dos finos no comportamento de um solo depende não somente da sua
quantidade mas também da atividade do argilo-mineral preponderante. Para os solos
grossos possuindo mais do que 12% de finos, deve-se realizar ensaios com vistas a

45
Aula 5 – Classificação dos Solos
MECÂNICA DOS SOLOS

determinação de seus limites de consistência WL e WP, utilizando-se para isto a fração de


solo que passa na peneira #40. Para que o solo seja classificado como GM ou SM, a sua
fração fina deve se situar abaixo da linha A da carta de plasticidade de Casagrande (vide
figura da página 39).

2.1.4. Grupo GC e SC

São classificados como GC e SC os solos grossos que atendem aos critérios


especificados no item acima, mas cuja fração fina possui representação na carta de
plasticidade acima da linha A. Em outras palavras, são classificados como GC e SC os solos
grossos possuindo mais que 12% de finos com comportamento predominante de argila.

OBS: Os solos grossos possuindo percentagens de finos entre 5 e 12% devem possuir
nomenclaturas duplas, como GW-GM, SP-SC, etc., atribuídas de acordo com o especificado
anteriormente. De uma forma geral, sempre que um material não se encontra claramente
dentro de um grupo, devemos utilizar símbolos duplos, correspondentes a casos de
fronteira. Ex: GW-SW (material bem graduado com menos de 5% de finos e formado com
fração de grossos com iguais proporções de pedregulho e areia) ou GM-GC (solos grossos
com mais do que 12% de finos cuja representação na carta de plasticidade de Casagrande se
situa muito próxima da linha A).

A figura apresenta um fluxograma exibindo os passos básicos a serem seguidos na


classificação de solos grossos pelo Sistema Unificado.

46
Aula 5 – Classificação dos Solos
UNIDADE 2 – PROPRIEDADES DOS SOLOS

2.2. Solos Finos

Os solos finos são classificados como argila e silte. A classificação dos solos finos é
realizada tomando-se como base apenas os limites de plasticidade e liquidez do solo,
plotados na forma da carta de plasticidade de Casagrande. Em outras palavras, o
conhecimento da curva granulométrica de solos possuindo mais do que 50% de material
passando na peneira 200, pouco ou muito pouco acrescenta acerca das expectativas sobre
suas propriedades de engenharia.

A Carta de plasticidade dos solos foi desenvolvida por A. Casagrande de modo a


agrupar os solos finos em diversos subgrupos, a depender de suas características de
plasticidade. Conforme é apresentado na figura abaixo, a carta de plasticidade possui três
divisores principais: A linha A (de eq. IP = 0,73(wL - 20)), a linha B (wL = 50%) e a linha U (de
eq. IP = 0,9(wL - 8). Deste modo, os solos finos, que são divididos em quatro subgrupos (CL,
CH, ML e MH), são classificados de acordo com a sua posição em relação às linhas A e B,
conforme apresentado a seguir:

OBS: Solos cuja representação na carta de plasticidade se situe dentro da zona CL-ML devem ter
nomenclatura dupla.
Solos cuja representação na carta de plasticidade se situe próximo à linha LL = 50 % devem ter
nomenclatura dupla: (MH-ML ou CH-
Solos cuja representação na carta de plasticidade se situe próximo à linha A devem ter
nomenclatura dupla: (MH-CH ou CL-ML). As argilas inorgânicas de média plasticidade possuem WL
entre 30 e 50%.

47
Aula 5 – Classificação dos Solos
MECÂNICA DOS SOLOS

2.2.1. Grupo CL e CH

Os solos classificados como CL (argilas inorgânicas de baixa plasticidade) são aqueles


os quais têm a sua representação na carta de plasticidade acima da linha A e à esquerda da
linha B (conforme pode-se observar na figura acima, deve-se ter também um IP > 7%). O
grupo CH (argilas inorgânicas de alta plasticidade), possuem a sua representação na carta de
plasticidade acima da linha A e à direita da linha B (WL > 50%). São exemplos deste grupo as
argilas formadas por decomposição química de cinzas vulcânicas, tais como a argila do vale
do México, com WL de até 500%.

2.2.2. Grupo ML e MH

Os solos classificados como ML (siltes inorgânicos de baixa plasticidade) são aqueles os


quais têm a sua representação na carta de plasticidade abaixo da linha A e à esquerda da
linha B (conforme pode-se observar na figura acima, deve-se ter também um IP < 4%). O
grupo MH (siltes inorgânicos de alta plasticidade), possuem a sua representação na carta de
plasticidade abaixo da linha A e à direita da linha B (WL > 50%).

2.2.3. Grupo OL e OH

São classificados utilizando-se os mesmos critérios definidos para os subgrupos ML e


MH. A presença de matéria orgânica é geralmente identificada visualmente e pelo seu odor
característico. Em caso de dúvida a escolha entre os símbolos OL/ML ou OH/MH pode ser
feita utilizando-se o seguinte critério: Se WLs/WLn < 0,75 então o solo é orgânico senão é
inorgânico. Os símbolos WLs e WLn correspondem a limites de liquidez determinados em
amostras que foram secas em estufa e ao ar livre, respectivamente. Neste caso, a diferença
entre os valores de WL se deve ao fato de que a amostra seca em estufa a 105 oC terá a sua
matéria orgânica queimada, tendo em consequência o seu valor de WL reduzido.

2.3. Solos Pantanosos e Turfas

São solos altamente orgânicos, geralmente fibrilares e extremamente compressíveis.


As turfas são solos que incorporam florestas soterradas em estágio avançado de
decomposição. Estes solos formam um grupo independente de símbolo (Pt).

Na maioria dos solos turfosos os limites de consistência podem ser determinados após
completo amolgamento do solo. O limite de liquidez destes solos varia entre 300 e
500%permanecendo a sua posição na carta de plasticidade notavelmente acima da linha A.
O Índice de plasticidade destes solos normalmente se situa entre 100 e 200.

48
Aula 5 – Classificação dos Solos
UNIDADE 2 – PROPRIEDADES DOS SOLOS

A linha U apresentada na carta de plasticidade representa o limite superior das


coordenadas (WL;IP) encontrado para a grande maioria dos solos (mesmo solos possuindo
argilo-mineriais de alta atividade). Deste modo, sempre que em um processo de
classificação o ponto representante do solo se situar acima da linha U, os dados de
laboratório devem ser checados e os ensaios refeitos.

A carta de plasticidade de Casagrande pode ainda nos dar uma idéia acerca do tipo de
argilo-mineral predominante na fração fina do solo. Solos possuindo argilo-minerais do tipo
1:1 (como a caulinita) tem seus pontos de representação na carta de plasticidade próximo à
linha A (parte superior à linha A), enquanto que solos possuindo argilo-minerais de alta
atividade (como a montmorilonita) tendem a ter seus pontos de representação na carta de
plasticidade próximos à linha U (parte imediatamente inferior à linha U).

Apesar dos símbolos utilizados no SUCS serem de grande valia, eles não descrevem
completamente um depósito de solo. Em todos os solos deve-se acrescentar informações
como odor, cor e homogeneidade do material à classificação. Para o caso de solos grossos,
informações como a forma dos grãos, tipo de mineral predominante, graus de
intemperismo ou compacidade, presença ou não de finos são pertinentes. Para o caso dos
solos finos, informações como a umidade natural e consistência (natural e amolgada)
devem ser sempre que possível ser fornecidas.

3. Classificação Segundo à AASHTO - HBR

A sistema de classificação da AASHTO foi desenvolvido em 1920 pelo "Bureau of Public


Roads", que realizou um extenso programa de pesquisa sobre o uso de solos na construção
de vias secundárias ("farm to market roads"). O sistema original foi baseado nas
características de estabilidade dos solos quando usados como a própria superfície da pista
ou em conjunto com uma fina capa asfáltica. Diversas aplicações foram realizadas desde a
sua concepção e a sua aplicabilidade foi estendida consideravelmente. Segundo a AASHTO
(vide AASHTO, 1978), esta classificação pode ser utilizada para os casos de aterros,
subleitos, bases e subbases de pavimentos flexíveis, mas deve-se ter sempre em mente o
propósito original da classificação quando da sua utilização.

O sistema da AASHTO classifica o solo em oito diferentes grupos: de A1 a A8 e inclui


diversos subgrupos. Os solos dentro de cada grupo ou subgrupo são ainda avaliados de
acordo com o seu índice de grupo, o qual é calculado por intermédio de uma fórmula
empírica.

49
Aula 5 – Classificação dos Solos
MECÂNICA DOS SOLOS

3.1. Solos Pertencentes aos Grupos A1 ao A3

Os solos pertencentes ao grupo A1 são bem graduados, ao passo que os solos


pertencentes ao grupo A3 são areias mal graduadas, sem presença de finos. Os materiais
pertencentes ao grupo A2 apesar de granulares (35% ou menos passando na peneira 200),
possuem uma quantia significativa de finos.

3.2. Solos Pertencentes aos Grupos A4 ao A7

Os solos pertencentes aos grupos A4 ao A7 são solos finos, materiais silto-argilosos. A


diferenciação entre os diversos grupos é realizada com base nos limites de Atterberg. Solos
altamente orgânicos (incluindo-se aí a turfa) devem ser colocados no grupo A8. Como no
caso do SUCS, a classificação dos solos A8 é feita visualmente.

O índice de grupo é utilizado para auxiliar na classificação do solo. Ele é baseado na


performance de diversos solos, especialmente quando utilizados como subleitos. O índice
de grupo é determinado utilizando-se a equação, apresentada adiante:

IG = F – 35 . [0,2 + 0,005 . (WL – 40)] + 0,01 . (F – 15) . (IP – 10)

Onde F é a percentagem de solo passando na peneira 200.

Quando trabalhando com os grupos A-2-6 e A-2-7 o índice de grupo deve ser
determinado utilizando-se somente o índice de plasticidade.

No caso da obtenção de índices de grupo negativos, deve-se adotar um índice do


grupo nulo.

Usar o sistema de classificação da AASHTO não é difícil. Uma vez obtidos os dados
necessários, deve-se seguir os passos indicados na figura abaixo, da esquerda para a direita,
e encontrar o grupo correto por um processo de eliminação. O primeiro grupo à esquerda
que atenda as exigências especificadas é a classificação correta da AASHTO. A classificação
completa inclui o valor do índice de grupo (arredondado para o inteiro mais próximo),
apresentado em parênteses, à direita do símbolo da AASHTO. Ex: A-2-6(3), A-6(12), A-7-
5(17), etc.

Devido a sua ligação histórica com a classificação de solos para uso rodoviário, a
classificação da AASHTO é bastante utilizada na seleção de solos para uso como base, sub-
bases e sub-leitos de pavimentos.

50
Aula 5 – Classificação dos Solos
UNIDADE 2 – PROPRIEDADES DOS SOLOS

Baseado e adaptado de
Sandro Lemos Machado e
Miriam C. Machado. Edições
sem prejuízo de conteúdo.

51
Aula 6 – Índices Físicos
MECÂNICA DOS SOLOS

Aula 6: Índices Físicos

Os índices físicos desempenham um importante papel no estudo das propriedades dos solos,
uma vez que estas dependem dos seus constituintes e das proporções relativa entre eles,
assim como da interação de uma fase sobre as outras.

1. Os Índices

O comportamento de um solo depende da quantidade relativa de cada uma de suas


três fases (sólidos, água e ar). Diversas relações são empregadas para expressar as
proporções entre elas. Na figura mostrada a seguir estão representadas, de modo
esquemático, as três fases que normalmente ocorrem nos solos, ainda que, em alguns
casos, todos os vazios possam estar ocupados pela água e a água possa conter substâncias
dissolvidas.

Onde: Va, Vw, Vs, Vv e Vt representam os volumes de ar, água, sólidos, de vazios e
total do solo, respectivamente. Ps, Pw, Pa e Pt São os pesos de sólidos, água, ar e total e Ms,
Mw, Ma e Mt são as respectivas massas de sólidos, água, ar e total.

52
Aula 6 – Índices Físicos
UNIDADE 2 – PROPRIEDADES DOS SOLOS

2. Relação Entre Volumes

2.1. Porosidade (n)

A porosidade é definida como a relação entre o volume de vazios e o volume total. O


intervalo de variação da porosidade está compreendido entre 0 e 1.

Vv
n=
Vt

2.2. Grau de Saturação (Sr)

Os vazios do solo podem estar apenas parcialmente ocupados por água. A relação
entre o volume de água e o volume dos vazios é definida como o grau de saturação,
expresso em percentagem e com variação de 0 a 100% (solo saturado).

Vw
Sr =
Vv

2.3. Índice de Vazios (e)

O índice de vazios é definido como a relação entre o volume de vazios e o volume das
partículas sólidas, expresso em termos absolutos, podendo ser maior do que a unidade. Sua
variação é de 0 a ∞.

Vv
e=
Vs

3. Relação Entre Pesos e Volumes

3.1. Peso Específico (γ) e Massa Específica (ρ) do Solo

O peso específico de um solo é a relação entre o seu peso total e o seu volume total,
incluindo-se aí o peso da água existente em seus vazios e o volume de vazios do solo. A
massa específica do solo possui definição semelhante ao peso específico, considerando-se
agora a sua massa.

Pt Mt
γ= e ρ=
Vt Vt

E ainda:

γ=ρ.g

53
Aula 6 – Índices Físicos
MECÂNICA DOS SOLOS

Sendo g a aceleração da gravidade.

3.2. Umidade (w)

A umidade é definida como a relação entre o peso da água e o peso dos sólidos em
uma porção do solo, sendo expressa em percentagem.

Pw
w =
Ps

E ainda:

Pw = Pt - Ps

3.3. Pesos Específico das Partículas Sólidas

O peso específico das partículas sólidas é obtido dividindo-se o peso das partículas
sólidas (não se considerando o peso da água) pelo volume ocupado pelas partículas sólidas
(sem a consideração do volume ocupado pelos vazios do solo). É o maior valor de peso
específico que um solo pode ter, já que as outras duas fases que compõe o solo são menos
densas que as partículas sólidas.

Ps
γS =
Vs

3.4. Peso Específico do Solo Seco

Corresponde a um caso particular do peso específico do solo, obtido para Sr = 0.

Ps
γd =
Vt

3.5. Peso Específico do Solo Saturado

É o peso específico do solo quando todos os seus vazios estão ocupados pela água. É
numericamente dado pelo peso das partículas sólidas dividido pelo volume total do solo,
quando Sr = 1.

Pt
γsat =
Vt

54
Aula 6 – Índices Físicos
UNIDADE 2 – PROPRIEDADES DOS SOLOS

3.6. Peso Específico do Solo Submerso

Neste caso, considera-se a existência do empuxo de água no solo. Logo, o peso


específico do solo submerso será equivalente ao o peso específico do solo menos o peso
específico da água.

γsub = γsat - γw

OBSERVAÇÃO: As distinções entre os pesos específicos de solo saturado e submerso


serão melhor compreendidas quando do estudo da aula tensões geostáticas, onde se
apresenta o princípio das tensões efetivas, proposto por Terzaghi para representar o
comportamento dos solos em termos de resistência ao cisalhamento e deformação.

4. Diagrama de Fases

As relações entre pesos ou entre volumes, por serem adimensionais, não serão
modificadas caso no lado direito da figura da página 1, os volumes de água, ar e sólidos
sejam divididos por um determinado fator, conservado constante para todas as fases. Este
fator pode ser escolhido, por exemplo, para que o volume de sólidos se torne unitário.
Deste modo, utilizando-se as relações entre volumes e entre pesos e volumes, definidas
anteriormente, temos:

Uma outra forma de organizar as relações entre volumes e entre pesos e volumes em
um diagrama de fases seria adotando um volume total igual a 1. Neste caso teríamos:

55
Aula 6 – Índices Físicos
MECÂNICA DOS SOLOS

Das relações das figuras acima e utilizando-se as definições dadas para o índice de
vazios e a porosidade tem-se:

e n
n= ou e=
1+e 1−n

4.1. Utilização do Diagrama de Fases para a Determinação de Diversos Índices Físicos

Com o uso das duas figuras acima, diversas relações podem ser facilmente definidas
entre os índices físicos. As equações a seguir expressam algumas destas relações mais
usuais:

γ
γd =
1+w

γS . w = γw . Sr . e

γS + Sr . e . γw
γ=
1+ e

PW Sr . e . γw
w= =
PS γS

γS
e= −1
γd

OBS: Apesar de alguns índices físicos serem apresentados em percentagem, o cálculo


das relações entre eles deve ser feito utilizando-os na forma decimal. Todos os outros
índices devem estar em unidades compatíveis.

56
Aula 6 – Índices Físicos
UNIDADE 2 – PROPRIEDADES DOS SOLOS

5. Densidade Relativa (Dr)

Conforme será discutido no transcorrer deste curso, por possuírem arranjos


estruturais bastante simplificados, os solos grossos (areias e pedregulhos com nenhuma ou
pouca presença de finos) podem ter o seu comportamento avaliado conforme a sua curva
característica e a sua densidade relativa Dr, definida conforme a equação a seguir.

Há uma variedade grande de ensaios para a determinação de emin e γdmax; todos eles
envolvem alguma forma de vibração. Para emax e γdmin, geralmente se adota a colocação do
solo secado previamente, em um recipiente, tomando-se todo cuidado para evitar qualquer
tipo de vibração. Os procedimentos para a execução de tais ensaios são padronizados em
nosso País pelas normas NBR 12004 e 12051, variando muito em diferentes partes do
Globo, não havendo ainda um consenso internacional sobre os mesmos. A densidade
relativa é um índice adotado apenas na caracterização dos SOLOS NÃO COESIVOS. A tabela
abaixo apresenta a classificação da compacidade dos solos grossos em função de sua
densidade relativa.

emax − e γdmax γd − γdmin


Dr(%) = . 100 → Dr(%) = . . 100
emax − emin γd γdmax − γdmin

Onde:

emax é o índice de vazios do solo no estado mais solto (fofo);


emin é o índice de vazios do solo no estado mais denso ou compacto;
e é o índice de vazios do solo no seu estado natural;
γdmin e γdmax são definidos analogamente a emax e emin;
γd é o peso específico aparente do solo seco no seu estado natural.

Observações importantes:

• A densidade relativa é o fator preponderante, tanto na deformabilidade


quanto na resistência ao cisalhamento de solos grossos, influindo até na sua
permeabilidade;
• A densidade relativa pode ser utilizada na estimativa preliminar de regiões
sujeitas à liquefação e no controle de compactação de solos não coesivos.

57
Aula 6 – Índices Físicos
MECÂNICA DOS SOLOS

6. Ensaios Necessários para Determinação de Índices Físicos

Para estimativa de todos os índices físicos de um determinado solo normalmente


efetuam-se as seguintes determinações:

• Umidade (w);
• Peso específico do solo (γ);
• Peso específico das partículas sólidas (γs).

6.1. Determinação da Umidade

A umidade do solo é geralmente determinada em estufa, em laboratório. Para tanto,


uma amostra de solo com determinado teor de umidade é pesada e posteriormente levada
a uma estufa, com temperatura entre 105 e 110 o, onde permanece por um determinado
período (geralmente um dia), até que a sua constância de peso seja assegurada. As
variações no peso da amostra de solo se devem a evaporação da água existente no seu
interior. Após o período de secagem em estufa, o peso da amostra é novamente
determinado. Deste modo, o peso da água existente no solo é igual a diferença entre os
pesos da amostra antes e após esta ser levada à estufa, sendo a umidade do solo a razão
entre esta diferença e o peso da amostra determinado após secagem. A seguir são listados
alguns métodos utilizados na determinação da umidade do solo em campo e em
laboratório.

• Estufa a 105 - 110°C (laboratório);


• Speedy (campo);
• Fogareiro à Álcool (campo);
• Estufa a 60°C. (laboratório, no caso da suspeita de existência de matéria
orgânica) Sonda de nêutrons (campo);
• TDR (campo).

6.2. Determinação do Peso Específico do Solo

São listados a seguir os principais métodos utilizados em laboratório e em campo para


determinação do peso específico do solo.

Em Laboratório:

• Cravação de cilindro biselado em amostras indeformadas;


• Cilindro de compactação;

58
Aula 6 – Índices Físicos
UNIDADE 2 – PROPRIEDADES DOS SOLOS

• Imersão em mercúrio (amostra indeformada, pequena);


• Balança hidrostática, solo parafinado (NBR 10838).

Em Campo:

• Cravação do cilindro de Hilf;


• Método do cone de areia;
• Método do balão de borracha;
• Sonda de nêutrons.

6.3. Determinação do Peso Específico das Partículas

Esta determinação é efetuada exclusivamente em laboratório, utilizando-se o


picnômetro e os detalhes de sua execução são apresentados na NBR 6508. Alguns valores
típicos são:

Sobre o peso específico das partículas, algumas observações necessitam ser


mencionadas:

• Segundo dados de Lambe e Whitman (1969), γs geralmente se encontra no


intervalo de 22 a 29 kN/m³ é em função dos minerais constituintes do solo;
• Solos orgânicos tendem a apresentar valores de γs menores que o
convencional, enquanto que solos ricos em minerais ferrosos tendem a
apresentar γs > 30 kN/m³.

Exemplo: Uma amostra de solo tem volume de 60 cm³ e peso de 92,5 gf. Depois de
completamente seca seu peso é de 74,3 gf. O peso específico real dos grãos sólidos é 2,62
gf/cm³. Calcular sua umidade e grau de saturação. Considere a densidade da água 1,0
gf/cm³.

59
Aula 6 – Índices Físicos
MECÂNICA DOS SOLOS

Resolução:

1º Passo: Extração de dados

Vt = 60 cm³
Pt = 92,5 gf
Ps = 74,3 gf
γS = 2,62 gf/cm³

2º Passo: Cálculo da Umidade

Para o cálculo da umidade, precisamos saber o peso da água da amostra. O problema


não nos forneceu, porém, ele nos deu o peso dos sólidos e o peso total. Segue-se:

Pt = Pw + Ps → 92,5 = Pw + 74,3 → Pw = 18,2 gf

Então:

Pw 18,2
w = →w= → w = 0,245 = 24,5%
Ps 74,3

3º Passo: Cálculo da Saturação

O grau de saturação é a relação entre o volume da água e o volume de vazios, porém,


o exercício não nos forneceu estes dados. Para encontrar as variáveis, necessitaremos
das informações adicionais do enunciado. Procede-se:

γw = Pw/Vw → 1 = 18,2/Vw → Vw = 18,2 cm³

Analogamente, aos grãos sólidos:

γS = Ps/Vs → Vs = 74,3/2,62 → Vs = 28,36 cm³

Com o Volume da Água (Vw) e o Volume de Sólidos (Vs), encontramos o Volume de


Vazios:

Vt = Vs + Vv → Vv = Vt – Vs → Vv = 60 – 28,36 → Vv = 31,64 cm³

E finalmente:

Vw 18,2
Sr = → Sr = → Sr = 0,575 = 57,5%
Vv 31,64

60
Aula 6 – Índices Físicos
UNIDADE 2 – PROPRIEDADES DOS SOLOS

Exemplo: Uma amostra de argila saturada possui umidade de 70% e peso específico
aparente de 2,0 gf/cm³. Determinar a porosidade, o índice de vazios e o peso específico
aparente seco. Considerar γw igual a 1 gf/cm³.

Resolução:

1º Passo: Extração de dados e esquema:

O enunciado nos diz que a amostra é saturada, ou seja, livre de ar. Portando, conclui-
se que Vv = Vw (Va e Pa na figura: água → water). Fica:

w = 70%
γ = 2,0 gf/cm³
Sr = 100% = 1
γw = 1 gf/cm³

2º Passo: Existem no mínimo 3 maneiras diferentes de se resolver o exercício:

• Obter-se todos os pesos e volumes em função de um deles;


• Como todos os índices físicos são relações entre pesos e/ou volumes nos
casos em que estes são desconhecidos, pode-se arbitrar um valor qualquer
para um dos pesos ou volumes, de modo a facilitar a resolução do problema;
• Pode-se facilmente deduzir expressões que relacionam os índices físicos entre
si, ou seja, utilizar as equações do tópico 4.1 (extraídas da imagem da página
56).

Resolveremos da primeira maneira, ficando a critério do aluno a prova real com as


outras duas maneiras.

Sabemos que w = Pw/Ps, portanto:

0,70 = Pw/Ps → Pw = 0,7 . Ps ①

Como Pt = Pw + Ps, então, se aplicarmos ① a ela, tem-se:

Pt = 0,7Ps + Ps → Pt = 1,7 . Ps ②

O exercício também forneceu a densidade da amostra (γ = 2,0 gf/cm³). Utilizaremos


② para deixar o Volume Total (Vt) em função de Ps:

γ = Pt/Vt → Vt = Pt/γ → Vt = 1,7Ps/2 → Vt = 0,85 . Ps ③

61
Aula 6 – Índices Físicos
MECÂNICA DOS SOLOS

E, consequentemente, deixaremos o volume da água (Vw) também em função de Ps,


aplicando ① na relação a seguir:

Vw = Pw/γw → Vw = 0,7Ps/1 → Vw = 0,7 . Ps ④

Para encontrar os índices solicitados, ainda precisamos deixar mais 2 grandezas em


função de Ps: Saturação e Volume de sólidos. Segue-se:

Sr = Vw/Vv → 1 = Vw/Vv → Vv = Vw → Aplicando ④ → Vv = 0,7 . Ps ⑤

Este resultado já era sabido, pois o enunciado diz que a amostra é saturada e
consequentemente Vv = Vw. A demonstração foi apenas para relacionar Vv com Ps.

Finalmente, a última relação, aplicando-se ⑤ e ③:

Vt = Vv + Vs → Vs = Vt – Vv → Vs = 0,85Ps – 0,7Ps → Vs = 0,85 . Ps ⑥

3º Passo: Aplicar a relação nas equações dos índices.

Para a porosidade, utilizamos ③ e ⑤:

n = Vv/Vt → n = 0,7Ps/0,85Ps → n = 0,8

Para o índice de vazias, utilizamos ⑤ e ⑥:

e = Vv/Vs → e = 0,7Ps/0,15Ps → e = 4,7

Para o peso específico aparente seco, utilizaremos ③:

γd = Ps/Vt → γd = Ps/0,85Ps → γd = 1,18 gf/cm³

Note o aluno que na explicação da aula e na resolução dos exercícios foram utilizados
os subscritos em inglês, pois é muito comum confundir-se, na correria da resolução, os
termos de subscrito “S” com “seco” e “sólido”. Portanto, da maneira apresentada,
trocando-se as iniciais em português pelas em inglês, este erro dificilmente acontece.
Exemplo: densidade específica aparente solo seco γd (o d é de “dry”, em inglês) → se
usássemos simplesmente γS, poderia ser confundida com massa específica dos sólidos, que
é de fato a grandeza que recebe este termo (s de “solid” em inglês).

62
Aula 7 – Roteiros Para Classificação
UNIDADE 3 – DISTRIBUIÇÃO DE TENSÕES

Unidade 3 – Distribuição de Tensões

Aula 7: Roteiros Para Classificação

Nesta aula serão aplicados todos os conceitos das aulas anteriores para, de fato, classificar
um solo. Uma roteirização das duas principais maneiras de se classificar o solo (Unificada e
HBR) será apresentada como uma “receita” a ser executada, visto que todos os elementos a
serem levados em consideração já são conhecidos.

1. Roteiro de Trabalho

Conhecidas e estudadas as variáveis para a classificação de um solo, serão vistas agora


duas maneiras de se fazer isso: quanto à classificação segundo o Sistema Unificado de
Classificação de Solos (SUCS) e Classificação Segundo à AASHTO – HBR. A aula visa resumir
as teorias vistas nas partes introdutórias e fornecer melhor acesso às resoluções dos
exercícios de maneira mais mecânica e acessível. Muitas vezes os dados são fornecidos
pelos próprios exercício, porém, a aula desconsiderará este fato e traçará o roteiro de
maneira que habilite o aluno a conseguir todos os dados com o mínimo de informações
disponibilizadas.

1.1. Sistema Unificado (SUCS)

Deve-se observar o valor da percentagem passante na peneira 200, obtido através da


análise granulométrica. Na mesma, proceder:

• Achar a percentagem retida em cada peneira: a percentagem retida numa


peneira P, será o peso retido na peneira P, dividido pelo peso total da
amostra, multiplicado por 100;
• Achar a percentagem passante em cada peneira: a percentagem passante
numa peneira P, será 100 subtraído da percentagem retida na peneira P;

1.1.1. Hipótese 1: Percentagem Passante na Peneira 200 > 50%

63
Aula 7 – Roteiros Para Classificação
MECÂNICA DOS SOLOS

Caso isto aconteça, será um solo fino, assim, devemos proceder da seguinte maneira:

1º Passo: Determinação do Limite de Liquidez (LL) ou (WL):

A maioria dos problemas envolvidos com classificação de solos fornece uma tabela
com a Umidade das amostras vinculadas ao Número de Golpes para a elaboração do gráfico
e a interpolação dos resultados (será demonstrada em exercício). Caso contrário, utilizar a
fórmula empírica do Federal Highway Administration. Caso isto não aconteça, deverão ser
aproveitados os demais dados deste problema para que se encontre as umidades.

• Desenhar o gráfico, traçar a reta média e interpolar a umidade a 25 golpes;


• No caso de apenas um ponto (apenas uma amostra), submetê-lo à fórmula:
w
LL =
(1,419 − 0,3 log n)
• Desconsiderar a amostra que possuir umidade maior ou menor que 5% da
umidade média (LP).

2º Passo: Determinar o Limite de Plasticidade (LP) ou (WP)

Como dito acima e na aula 4, o Limite de Plasticidade é a média das umidades obtidas.
Descartar a amostra que estiver a ± 5% da média e refazê-la (e reencontrar o LP).

∑ni=1 wi
LP =
n

3º Passo: Determinar o Índice de Plasticidade (IP):

Com este valor determina-se o grau de plasticidade do solo (fraco, médio ou alto);

IP = LL – LP

4º Passo: Determinação do Índice de Consistência (IC):

LL − W
IC =
IP

Onde w é o teor de umidade em que se encontra o solo. Com o IC determinamos a


consistência do solo (muito mole, mole, médio, rijo ou duro);

5º Passo: Determinação do Limite de Contração (LC) ou (WS):

V 1
LC = ( − ) . γW . 100
P γS

64
Aula 7 – Roteiros Para Classificação
UNIDADE 3 – DISTRIBUIÇÃO DE TENSÕES

Com os valores de LL, LP e LC, poderemos determinar o estado do solo para qualquer
teor de umidade.

6º Passo: Carta de Plasticidade:

Com os valores de LL e IP, entramos na Carta de Plasticidade, e determinamos o tipo


de solo, lembrando que solos com LL < 50 terão baixa compressibilidade (L), e solos com LL
> 50 terão alta compressibilidade (H). Solos acima da Linha A, serão argilosos (C), e solos
abaixo desta linha serão siltosos (M) ou orgânicos (O).

1.1.2. Hipótese: Percentagem Passante na Peneira 200 < 50%

Caso isto aconteça, o solo será grosso, então procede-se da seguinte maneira:

1º Passo: Calcular o Coeficiente de uniformidade (Cu) e Calcular o Coeficiente de


Curvatura (Cc):

Através da percentagem passante e da abertura de malha (log), traçamos o gráfico no


papel milimetrado, achando D10, D30 e D60, assim:

Cu = D60/D10 e Cc = D30²/D60 . D10

2º Passo: Determinação dos Percentuais dos Componentes:

65
Aula 7 – Roteiros Para Classificação
MECÂNICA DOS SOLOS

Através da percentagem passante, isolada, de cada peneira, determinam-se os


percentuais dos grãos menores que a peneira, e observando-se as dimensões de cada
componente do solo, acham-se os percentuais de cada componente do solo.

Com os valores de % #200, CU e CC, e os percentuais dos componentes do solo,


entramos no quadro de classificação e determinamos o tipo do solo: GW, GP, GC, GM, GW-
GC, GP-GM, SW, SP, SC, SM, SW-SC, SP-SC, etc.

1.2. Sistema HBR

Para o Sistema HBR, o sistema é análogo, lembrando que aqui o que definirá se um
solo é fino ou grosso é o percentual passante na peneira #200:

• Se a percentagem passante na peneira 200 for maior que 35, será um solo
silto-argiloso,
• Se menor, será um solo granular.

Após todos os passos apresentados no tópico 1.1.1 para o cálculo dos índices, deverá
ser adicionado o Grupo:

IG = F – 35 . [0,2 + 0,005 . (WL – 40)] + 0,01 . (F – 15) . (IP – 10)

Onde F é % passante na peneira #200.

Após isso, catalogar conforme imagens, já estuadas na aula 5.

66
Aula 7 – Roteiros Para Classificação
UNIDADE 3 – DISTRIBUIÇÃO DE TENSÕES

2. Exercícios Resolvidos

Exemplo: Na determinação do Limite de Liquidez de um solo, de acordo com o Método


Brasileiro NBR 6459, foram feitas cinco determinações do número de golpes para que a
ranhura se feche, com teores de umidade crescentes como na tabela a seguir.

Com a mesma amostra, foram feitas quatro determinações do Limite de Plasticidade,


de acordo com o Método Brasileiro NBR 7180. Obtiveram-se as seguintes umidades quando
o cilindro com diâmetro de 3 mm se fragmentava ao ser moldado: 22,3%; 24,2%; 21,9% e
22,5%. Pergunta-se: Qual o Limite de Liquidez do solo ensaiado? Qual o Índice de
Plasticidade do solo ensaiado?

Resolução:

1º Passo: Encontrar o LL

67
Aula 7 – Roteiros Para Classificação
MECÂNICA DOS SOLOS

Para a tabela dada, construímos um gráfico relacionando a umidade ao número de


golpes. O LL, como sabido, é a umidade aos 25 golpes. Como o ensaio não nos forneceu este
dado, precisaremos encontrá-lo por interpolação linear.

Da matemática básica:

y2 − y1 x2 − x1
=
Y − y1 X − x1
56,7 − 51,3 36 − 16
=
LL − 51,3 25 − 16
5,4 20
=
(LL − 51,3) 9
20LL − 1026 = 48,6
20LL = 1074,6
LL = 53,73

2º Passo: Encontrar LP

Foram fornecidos 4 valores de umidade para o ensaio de LP. Encontraremos a média


entre eles e descartaremos o valor que estiver com 5% de defasagem. Se necessário,
recalcularemos a média. Pela fórmula:

∑ni=1 wi 22,3 + 24,2 + 21,9 + 22,5


LP = → LP = → LP = 22,73%
n 4

68
Aula 7 – Roteiros Para Classificação
UNIDADE 3 – DISTRIBUIÇÃO DE TENSÕES

3º Passo: Limites superiores e Inferiores de aceitação do dado da amostra:

+5%: 23,86%
22,73% {
−5%: 21,59%

As umidades que estiverem fora deste intervalo deverão ser eliminadas. No caso,
temos o valor de 24,2% da segunda amostra.

4º Passo: Recálculo da umidade média (LP) com eliminação de amostras anômalas:

∑ni=1 wi 22,3 + 21,9 + 22,5


LP = → LP = → LP = 22,23%
n 3

5º Passo: Cálculo do Índice de Plasticidade:

IP = LL – LP → IP = 53,73 – 22,23 → IP = 31,5%

Exemplo: Um corpo de prova cilíndrico de um solo argiloso tem uma altura de 12,5 cm
e diâmetro de 5 cm. A massa úmida do corpo de prova é 478,25 g e após sua secagem
passou para 418,32 g. Sabendo-se que a massa específica dos sólidos é de 2,70 g/cm³,
determinar: massa específica aparente seca, teor de umidade, índice de vazios, porosidade e
o grau de saturação.

Resolução:

1º Passo: Calcular o Volume do Cilindro (que é o volume da amostra):

Vcilindro = Abase . h → Vcilindro = πr² . h → Vcilindro = 3,14 . 2,5² . 12,5 → Vcilindro = 245,43 cm³

Vcilindro = Vt = 245,43 cm³

2º Passo: Calcular as massas e os volumes:

O exercício forneceu a massa total do sistema e a massa após secagem (ms). Como os
índices podem ser dados em função da massa e do peso, podemos proceder com os
cálculos, lembrando que teremos que encontrar todas as massas e todos os volumes para
encontrar os índices.

Massa da Água:

mw = mt – ms → mw = 478,25 – 418,32 → mw = 59,93 g

69
Aula 7 – Roteiros Para Classificação
MECÂNICA DOS SOLOS

Volume da Água, sabendo que sua densidade é 1 sempre g/cm³:

Vw = mw/ρw → Vw = 59,93 cm³

Volume dos Sólidos:

Vt = Vw + Vs→ Vs = Vt – Vw → Vs = 245,43 – 59,93 → Vs = 185,5 cm³

Massa Específica do Solo:

ρ = mt/Vt → ρ = 478,25/245,43 → ρ = 1,95 g/cm³

3º Passo: Responder ao enunciado

Com as variáveis encontradas, podemos responder as proposições do exercício.

Umidade:

w = mw/ms → w = 59,93/418,32 → w = 0,1432 = 14,32%

4º Passo: Massa Específica Aparente Seca

Análoga ao Peso Específico Aparente Seco. É uma particularidade para quando Sr é


zero. Tem-se da aula 6:

ρ 1,95
ρd = → ρd = → ρd = 1,705 g/cm³
1+w 1 + 0,1432

5º Passo: Índice de Vazios

ρS 2,7
e= −1→ e = − 1 → e = 0,58 = 58%
ρd 1,705

6º Passo: Porosidade

e 0,58
n= → n = → n = 0,37 = 37%
1+e 1 + 0,58

7º Passo: Grau de Saturação

ρS . w 2,7 . 0,1432
ρS . w = ρw . Sr . e → Sr = → Sr = → Sr = 0,66 = 66%
ρw . e 1 . 0,58

70
Aula 7 – Roteiros Para Classificação
UNIDADE 3 – DISTRIBUIÇÃO DE TENSÕES

Exemplo: Com os dados obtidos no laboratório em ensaios de granulometria e


plasticidade para três amostras de solo (solo A, B e C), apresentados abaixo, determine:
a) diâmetro efetivo;
b) coeficiente de uniformidade;
c) coeficiente de curvatura;
d) índice de plasticidade;
e) classifique estas amostras de acordo com o sistema textural SUCS.

Resolução:

a) Diâmetros Efetivos

O diâmetro efetivo de amostras corresponde ao seu D 10, que poderá ser extraído do
gráfico:

71
Aula 7 – Roteiros Para Classificação
MECÂNICA DOS SOLOS

De acordo com o demonstrado no Gráfico, temos:

Curva A: D10 = 0,07; D30 = 0,18; D60 = 0,38

Curva B: D10 = 0,007; D30 = 0,044; D60 = 0,1

Curva C: D10 = 0; D30 = 0, D60 = 0,011

b) Coeficientes de Uniformidade

CuA = D60A/D10A → CuA = 0,38/0,07 → CuA = 5,43

CuB = D60B/D10B → CuB = 0,1/0,007 → CuB = 14,28

CuC = D60C/D10C → CuC = 0,11/0 → CuC = ∞

c) Coeficientes de Curvatura

CcA = D²30A/D60A . D10A → CcA = 0,18²/(0,38 . 0,07) → CcA = 1,22

72
Aula 7 – Roteiros Para Classificação
UNIDADE 3 – DISTRIBUIÇÃO DE TENSÕES

CcB = D²30B/D60B . D10B → CcB = 0,044²/(0,1 . 0,007) → CcB = 2,76

CcC = D²30C/D60C . D10C → CcC = 0²/(0,38 . 0) → CcC = 0

d) Índices de Plasticidade

IPA = LLA – LPA → IPA = Não Possui

IPB = LLB – LPB → IPB = 35 – 20 → IPB = 15

IPC = LLC – LPC → IPC = 65 – 35 → IPC = 30

e) Classificação dos Solos

Seguiremos o seguinte critério (da figura) que teve sua parte teórica exposta nas
primeiras aulas e o roteiro descrito acima. Resume-se nesta imagem e na tabela
“Classificação de Solos SUCS”, que está nas próximas páginas.

1º Passo: Para classificarmos o solo neste método, deveremos, primeiramente,


conforme roteiro, saber se ele é grosso ou fino. Para isto, devemos encontrar o percentual
passante na peneira #200 e analisar se é maior ou menor que 50%.

Analisando-se os números, temos que tudo que está à esquerda do corte da peneira
#200 é partícula de dimensão menor que sua malha, ou seja, é percentual passante. O
contrário, o que está à direita da linha de corte da peneira, é partícula maior que sua malha,
portanto, não passante.

73
Aula 7 – Roteiros Para Classificação
MECÂNICA DOS SOLOS

Portanto, temos a seguinte disposição:

• Solo A é grosso, pois % que passa é 11, portanto, menor que 50%;
• Solo B é grosso, pois % que passa é 45, portanto, menor que 50%;
• Solo C é fino, pois % que passa é 87%, portanto, maior que 50%.

A saber, teremos caminhos distintos para a classificação dos solos, pois C é fino e terá
outro “caminho” de definição.

2º Passo: Catalogação do Solo C:

Como o exercício já forneceu os índices do roteiro e o IP foi calculado anteriormente,


podemos ir direto à carta de Casagrande para catalogação.

Temos que:

• IP = 30;
• LL = 65.

Portanto, analisemos a tabela de Classificação de Solos SUCS e a Carta de Casagrande:

74
Aula 7 – Roteiros Para Classificação
UNIDADE 3 – DISTRIBUIÇÃO DE TENSÕES

75
Aula 7 – Roteiros Para Classificação
MECÂNICA DOS SOLOS

A situação fornecida é LL > 50% (à direita da “curva B”) e abaixo da linha “A”, porém, é
uma região em que não se pode afirmar se o solo é “MH” ou “OH”. Segundo o critério
técnico (visto na aula 5), nestes casos a identificação é feita pelo odor e cor da amostra, e,
ainda, se existirem dúvidas, deverá ser feito um teste de secagem. Como o exercício não
forneceu a umidade e tampouco temos contato com o solo, encerraremos a classificação na
dúvida, sabendo apenas que é um Silte ou Argila de Alta Compressibilidade.

3º Passo: Catalogação do Solo A:

Para prosseguir com a análise do solo “grosso”, precisamos abordá-lo após a


perspectiva da peneira #4 para poder classificá-lo em areia ou pedregulho. Note que pela
ABNT, que é a escala utilizada no gráfico, considera-se pedregulho a partir do diâmetro dos
grãos de 2 mm, o que não é o caso no exercício, pois vamos graduá-lo pelo SUCS. Segue-se:

76
Aula 7 – Roteiros Para Classificação
UNIDADE 3 – DISTRIBUIÇÃO DE TENSÕES

Ambos os Solos, tanto A quanto B, são areias, pois possuem percentual passante de
100% na peneira de 4,75 mm.

O próximo passo é analisar novamente o percentual passante na peneira #200. Temos:

• Solo A: 11% → entre 5% e 12% → Nomenclatura dupla: S – SW – SM (Aula 5);


• Solo B: 45% → maior que 12% → cai em outro critério:
✓ IPB = 15 (maior que 7) → S – SC.

Portanto, finalizando o exercício, temos:

Solo A:

Areia com certa quantidade de finos, semi-plástica e semi-graduada.

Solo B:

Areia com quantidades apreciáveis de finos plásticos.

77
Aula 8 – Tensões no Solo I
MECÂNICA DOS SOLOS

Aula 8: Tensões no Solo I

Como em todo material utilizado na engenharia, o solo, ao sofrer solicitações, irá se deformar,
modificando o seu volume e forma iniciais. A magnitude das deformações apresentadas pelo
solo irá depender não só de suas propriedades intrínsecas de deformabilidade (elásticas e
plásticas), mas também do valor do carregamento a ele imposto. O conhecimento das tensões
atuantes em um maciço de terra, sejam elas advindas do peso próprio ou em decorrência de
carregamentos em superfície (ou até mesmo do alívio de cargas provocado por escavações) é
de vital importância no entendimento do comportamento de praticamente todas as obras da
engenharia.

1. Tensões em uma Massa de Solo

Nesta aula tratar-se-á da determinação ou previsão simplificada das pressões,


aplicadas ou desenvolvidas em pontos do terreno, como resultado de um carregamento
imposto, bem como as tensões existentes no maciço devido ao seu peso próprio, isto é, as
tensões geostáticas.

Nos solos ocorrem tensões devidas ao seu peso próprio e às cargas externas aplicadas.
Assim, o estado de tensões em cada ponto do maciço depende do peso próprio do terreno,
da intensidade da força aplicada e da geometria da área carregada e a obtenção de sua
distribuição espacial é normalmente feita a partir das hipóteses formuladas pela teoria da
elasticidade, conforme será visto mais adiante. No caso de tensões induzidas pelo peso
próprio das camadas de solo (tensões geostáticas) e superfície do terreno horizontal, a
distribuição das tensões total, neutra e efetiva a uma dada profundidade é imediata,
considerando-se apenas o peso do solo sobrejacente.

O conceito de tensão em um ponto (desenvolvido pela mecânica do contínuo) é


apresentado na disciplina Mecânica dos Sólidos, podendo ser representado pela equação
apresentada adiante, e já conhecida de outras disciplinas, por exemplo, como Fundações:

F
σ=
A

Onde F é o módulo da força que atua no elemento de área de módulo A.

78
Aula 8 – Tensões no Solo I
UNIDADE 3 – DISTRIBUIÇÃO DE TENSÕES

1.1. O Princípio das Tensões Efetivas

Postulado por Terzaghi, para o caso dos solos saturados, o princípio das tensões
efetivas é uma função da tensão total (soma das tensões nas fases água e partículas sólidas)
e da tensão neutra (denominada também de pressão neutra, é a pressão existente na fase
água do solo), que governa o comportamento do solo em termos de deformação e
resistência ao cisalhamento.

Mostra-se experimentalmente que, para o caso dos solos saturados, o que governa o
comportamento do solo em termos de resistência e deformabilidade é a diferença entre a
tensão total e a pressão neutra, denominada então tensão efetiva. As tensões normais
desenvolvidas em qualquer plano num maciço terroso, serão suportadas, parte pelas
partículas sólidas e parte pela água. As tensões cisalhantes somente poderão ser suportadas
pelas partículas sólidas.

No caso dos solos saturados, uma parcela da tensão normal age nos contatos inter-
partículas e a outra parcela atua na água existente nos vazios. Assim, a tensão total num
plano será a soma da tensão efetiva, resultante das forças transmitidas pelas partículas, e
da pressão neutra, dando origem a uma das relações mais importantes da Mecânica dos
Solos, proposta por Terzaghi:

σ′ = σ − μ

Onde σ′ é a tensão efetiva do solo, σ é a tensão total e μ é a pressão neutra no ponto


considerado.

Devido a sua natureza de fluido, a pressão na fase água do solo não contribui para a
sua resistência, sendo assim chamada de pressão neutra. Para visualizar um pouco melhor o
efeito da água no solo imagine uma esponja colocada dentro de um recipiente com água
suficiente para encobri-la (a esponja se encontra totalmente submersa). Se o nível de água
for elevado no recipiente, a pressão total sobre a esponja aumenta, mas a esponja não se
deforma. Isto ocorre porque os acréscimos de tensão total são contrabalançados por iguais
acréscimos na tensão neutra, de modo que a tensão efetiva permanece inalterada.

1.2. Cálculo das Pressões Geostáticas

Conforme relatado anteriormente, as tensões no interior de um maciço de solo podem


ser causadas por cargas aplicadas ao solo e pelo seu peso próprio. A distribuição destes
estados de tensão ponto a ponto no interior do maciço obedece a um conjunto de equações
diferenciais denominadas de equações de equilíbrio, de compatibilidade e as leis

79
Aula 8 – Tensões no Solo I
MECÂNICA DOS SOLOS

constitutivas do material, cuja resolução é geralmente bastante complicada e não abordada


em nível de ensino médio. Mesmo a distribuição de tensões no solo devido ao seu peso
próprio pode resultar em um problema mais elaborado.

Existe, contudo, uma situação frequentemente encontrada na geotecnia, em que o


peso do solo propicia um padrão de distribuição de tensões bastante simplificado. Isto
acontece quando a superfície do solo é horizontal e quando as propriedades do solo variam
muito pouco na direção horizontal.

1.2.1. Cálculo da Tensão Geostática Vertical

Para a situação descrita anteriormente, não existem tensões cisalhantes atuando nos
planos vertical e horizontal (em outras palavras, os planos vertical e horizontal são planos
principais de tensão). Portanto, a tensão vertical em qualquer profundidade é calculada
simplesmente considerando o peso de solo acima daquela profundidade. Assim, se o peso
específico do solo é constante com a profundidade, a tensão vertical total pode ser
calculada simplesmente utilizando-se a equação apresentada adiante, onde “z” representa a
distância do ponto considerado até a superfície do terreno:

σV = γ . z

Onde:

σV é a tensão geostática vertical total no ponto considerado;


γ é o peso específico do solo;
z equivale à profundidade.

A pressão neutra é calculada de modo semelhante, utilizando-se a equação a seguir:

μ = γw . zw

Onde:

μ é a pressão neutra atuando na água no ponto considerado;


γw é o peso específico do da água (adotado normalmente como γ w = 10 kN/m3).
zw equivale a profundidade do ponto considerado até a superfície do lençol freático.

Quando o terreno é constituído de camadas estratificadas, o que é comum em grande


parte dos casos, ocorre uma variação dos pesos específicos ao longo da profundidade e a
tensão normal resulta do somatório do efeito das diversas camadas. A tensão vertical
efetiva é então calculada utilizando-se:

80
Aula 8 – Tensões no Solo I
UNIDADE 3 – DISTRIBUIÇÃO DE TENSÕES

σ′V = ∑(γi . hi ) − (γw . zw )


i=1

Onde hi e γi representam a espessura e o peso específico de cada camada considerada.

A figura abaixo, mostra um diagrama de tensões com a profundidade em um perfil de


solo estratificado.

1.2.2. Uso do Peso Específico Submerso

Caso o nível de água, apresentado na figura acima, estivesse localizado na superfície


do terreno, o cálculo das tensões efetivas poderia ser simplificado pelo uso do conceito de
peso específico submerso, discutido na aula de índices físicos (item 3.6 da aula 6). Neste
caso, a tensão total vertical será dada por σv = γsat . z, enquanto que a pressão neutra no
mesmo ponto será μ = γw . z.

A tensão efetiva, correspondente à diferença entre estes dois valores, será:

σv' = σv – μ → σv' = (γsat . z) – (γw . z) → σv' = (γsat - γw) . z

O que tenhamos:

81
Aula 8 – Tensões no Solo I
MECÂNICA DOS SOLOS

σv' = γsub . z

Onde γsub é o peso específico submerso do solo.

Exemplo: Determinar as tensões geostáticas verticais efetiva e total e a pressão neutra


para o perfil apresentado na figura e traçar os diagramas correspondentes.

Resolução:

1º Passo: Cálculo das Tensões Totais:

σv = γ . z

σv1 = γ1 . z1 → σv1 = 17,0 . 1,0 → σv1 = 17,0 kN/m²

σv2 = σv1 + (γ2 . z2) → σv2 = 17,0 + (18,5 . 2,0) → σv2 = 54,0 kN/m²

σv3 = σv2 + (γ3 . z3) → σv3 = 54,0 + (20,8. 1,5) → σv3 = 85,2 kN/m²

Perceba, aluno, que as tensões totais do solo consideram sempre as camadas que
estão acima dele.

2º Passo: Cálculo das Pressões Neutras

μ = γw . h w

μ1 = γw1 . hw1 → μ1 = 0 (acima do lençol freático)

μ2 = μ1 + (γw2 . hw2) → μ2 = 0 + (10 . 2,0) → μ2 = 20,0 kN/m²

μ3 = μ2 + (γw3 . hw3) → μ3 = 20,0 + (10 . 1,5) → μ3 = 35,0 kN/m²

82
Aula 8 – Tensões no Solo I
UNIDADE 3 – DISTRIBUIÇÃO DE TENSÕES

3º Passo: Tensões Efetivas

σV’ = σV – μ

σV1’ = σV1 – μ1 → σV1’ = 17,0 – 0 → σV1’ = 17 kN/m²

σV2’ = σV2 – μ2 → σV2’ = 54,0 – 20,0 → σV2’ = 34,0 kN/m²

σV3’ = σV3 – μ3 → σV3’ = 85,2 – 35,0 → σV3’ = 50,2 kN/m²

4º Passo: Gráfico

1.2.3. Cálculo das Tensões Geostáticas Horizontais

As tensões geostáticas horizontais existentes em um maciço de solo são muito


importantes no cálculo dos esforços de solo sobre estruturas de contenção, como os muros
de arrimo, cortinas atirantadas etc. Estes esforços dependem em muito dos movimentos
relativos do solo, ocasionados em função da instalação da estrutura de contenção. Para o
caso do solo em repouso, as tensões geostáticas horizontais são calculadas empregando-se
o coeficiente de empuxo em repouso do solo, conforme apresentado pela equação:

σ′H = Ko . σ′V

Segundo Jaky (1956), o coeficiente de empuxo em repouso do solo pode ser estimado
com o uso da equação, apresentada a seguir, onde φ' é o ângulo de atrito interno efetivo do
solo:

83
Aula 8 – Tensões no Solo I
MECÂNICA DOS SOLOS

Ko = 1 − sin ф′

1.3. Acréscimo de Tensões Devido Carga Aplicada

As cargas aplicadas na superfície de um terreno induzem tensões, com consequentes


deformações, no interior de uma massa de solo. Embora as relações entre tensões induzidas
e as deformações resultantes sejam essencialmente não lineares, soluções baseadas na
teoria da elasticidade são comumente adotadas em aplicações práticas, respeitando-se as
equações de equilíbrio e compatibilidade relatadas anteriormente.

O solo é admitido como um meio homogêneo (propriedades iguais em cada ponto do


maciço), isotrópico (em cada ponto, as propriedades são iguais em qualquer direção), de
extensão infinita, sendo as deformações proporcionais às tensões aplicadas e calculadas
utilizando-se os parâmetros elásticos do solo: E (módulo de elasticidade) e ν (coeficiente de
Poisson). Estas hipóteses envolvem considerável simplificação do comportamento real do
solo, sendo as soluções obtidas apenas aproximadas, devido às seguintes razões:

• A admissão de uma relação linear entre tensões e deformações é


razoavelmente consistente apenas no regime de pequenas deformações,
quando a magnitude final das tensões induzidas é bastante inferior a
magnitude das tensões de ruptura;
• A hipótese de meio isotrópico e homogêneo significa assumir valores
constantes para os parâmetros elásticos do solo quando se sabe, por
exemplo, que o módulo de elasticidade tende a variar tanto em profundidade
como lateralmente. A aplicação do modelo elástico fica então,
implicitamente, vinculada à adoção de constantes elásticas do solo
compatíveis com as condições de tensões e deformações existentes "in situ";
• A consideração do solo como um semi-espaço infinito e homogêneo, requer
que terreno seja homogêneo em amplas áreas e até uma grande
profundidade, função das dimensões da área do carregamento.

Apesar destas limitações, a simplicidade das soluções obtidas justifica o amplo


emprego desta teoria. Em análises mais avançadas, o método dos elementos finitos,
incorporando modelos de comportamento tensão - deformação mais realistas para os solos,
tem sido frequentemente utilizado para a avaliação de tensões e deformações induzidas em
uma massa de solo.

Baseado e adaptado de
Sandro Lemos Machado e
Miriam C. Machado. Edições
sem prejuízo de conteúdo.

84
Aula 9 – Tensões no Solo II
UNIDADE 3 – DISTRIBUIÇÃO DE TENSÕES

Aula 9: Tensões no Solo II

As tensões induzidas em uma massa de solo, decorrentes de carregamentos superficiais,


dependem fundamentalmente da posição do ponto considerado no interior do terreno em
relação à área de carregamento. A lei de variação das tensões, lateralmente e com a
profundidade, constitui a denominada distribuição de tensões nos solos.

1. Distribuição de Tensões em Solos

Nesta aula tratar-se-á da determinação ou previsão simplificada das pressões,


aplicadas ou desenvolvidas em pontos do terreno, como resultado de um carregamento
imposto, bem como as tensões existentes no maciço devido ao seu peso próprio, isto é, as
tensões geostáticas.

A magnitude das tensões aplicadas tende a diminuir tanto com a profundidade como
lateralmente, à medida que aumenta a distância horizontal do ponto à zona de
carregamento.

Pode-se dizer que embora as perturbações no estado de tensão inicial de um maciço


de solo, provocadas por um determinado carregamento, se propaguem indefinidamente, a
intensidade destas perturbações (ou os valores dos acréscimos de tensão induzidos na
massa de solo) diminuem bastante em profundidade e com o afastamento lateral, de modo
que a influência, do ponto de vista prático, destas cargas, é limitada a uma determinada
região. Unindo-se os pontos da massa de solo solicitados por tensões iguais, obtém-se
superfícies de distribuição de tensões denominadas isóbaras. Ao conjunto dessas isóbaras
denomina-se de bulbo de tensões. Em termos práticos, o conceito de bulbo de tensões é
aplicado para a massa de solo delimitada pela isóbara correspondente a 10% de carga
aplicada à superfície do terreno (0,1q), de modo que na área de solo externa a esta isóbara
supõe-se ser negligenciável a influência do carregamento imposto. Na figura, (a) apresenta
a distribuição de tensões verticais em um plano passando pelo centro de uma área
carregada circular de raio B e (b) os bulbos de tensões verticais obtidos para 20, 10, 5, e 2
kPa, considerando uma carga pontual de 100 kN.

85
Aula 9 – Tensões no Solo II
MECÂNICA DOS SOLOS

86
Aula 9 – Tensões no Solo II
UNIDADE 3 – DISTRIBUIÇÃO DE TENSÕES

A distribuição de tensões nos solos pode ser estimada de forma expedita, admitindo-
se que as tensões se propagem uniformemente através da massa de solo segundo um dado
ângulo de espraiamento (por exemplo, 30° ou 45°) ou uma dada declividade (por exemplo,
método 2:1). Essa aproximação empírica baseia-se na suposição de que a área sobre a qual
a carga atua aumenta de uma forma sistemática com a profundidade, de modo que (σv =
Q/A) decrescem com a profundidade, como mostra a figura.

Para o caso da figura, de uma sapata retangular, as tensões induzidas na superfície do


terreno são dadas por:

𝑄
𝜎𝑉 (𝑧 = 0) =
𝑏0 . 𝑙0

Na profundidade (z), a área da sapata aumenta de z/2 (para o método 2:1) ou z . tan φo
(espraiamento), para cada lado. Assim, a tensão nesta profundidade será estimada pela
equação:

𝑄
𝜎𝑉 (𝑧) =
𝑏𝑧 . 𝑙𝑧

O ângulo de espraiamento (φo) é função do tipo de solo, com valores típicos de:

• Solos muito moles: φo < 40°;


• Areias puras: φo ≅ 40° a 45°;
• Argilas rijas e duras: φo ≅ 70°;
• Rochas: φo > 70°.

É importante salientar que a distribuição simplificada de tensões pressupõe que a


tensão vertical em cada plano horizontal seja uniforme, sendo que na realidade a

87
Aula 9 – Tensões no Solo II
MECÂNICA DOS SOLOS

distribuição real tem uma forma de sino, havendo maior concentração de tensão na região
próxima ao eixo da carga, como mostra a figura abaixo, onde um determinado
carregamento foi dividido em uma série de intervalos, para cada intervalo sendo aplicado o
método simplificado da distribuição de tensões.

1.1. Soluções Advindas da Teoria da Elasticidade

As tensões dentro de uma massa de solo podem também ser estimadas empregando
as soluções obtidas a partir da teoria da elasticidade. Apesar das hipóteses adotadas nestas
formulações, seu emprego aos casos práticos é bastante frequente, dada a sua simplicidade,
quando comparadas a outros tipos de análises mais elaboradas, como o emprego de
técnicas de discretização do contínuo. Por outro lado, pode-se dizer também que estas
soluções apresentam resultados bem mais próximos do real do que aqueles obtidos com o
uso da solução simplificada, apresentada no item anterior. Existem formulações para uma
grande variedade de tipos de carregamento. Serão apresentados aqui, apenas os casos mais
frequentes, sem nos preocuparmos com o desenvolvimento matemático das equações
resultantes.

1.1.1. Solução de Boussinesq

Boussinesq (1885) desenvolveu as equações para cálculo dos acréscimos de tensões


efetivas verticais, radiais e tangenciais, causadas pela aplicação de uma carga pontual
agindo perpendicularmente na superfície de um terreno. Para obtenção da solução,
assumiu as seguintes hipóteses: maciço homogêneo, isotrópico, semi-infinito e de
comportamento linearmente elástico (validade da lei Hooke), a variação de volume do solo
sob aplicação da carga é negligenciada, dentre outras. A equação apresenta a solução de
Boussinesq, para o cálculo do acréscimo da tensão vertical efetiva em qualquer ponto do
maciço, obtida por meio de integração das equações diferenciais da teoria da elasticidade.

A estimativa dos acréscimos de tensões verticais é muito mais frequente, em termos


práticos, que de tensões tangenciais, radiais e de cisalhamento, de modo que esta é
geralmente realizada por intermédio de um fator de influência (Nb), apresentado na

88
Aula 9 – Tensões no Solo II
UNIDADE 3 – DISTRIBUIÇÃO DE TENSÕES

equação utilizando-se de fórmulas e ábacos específicos para cada tipo de carregamento. Os


valores de Nb dependem apenas da geometria do problema, sendo dado em função de r/z,
no ábaco a seguir.

Observar que σz é independente do material, os parâmetros elásticos não entram na


equação.

3
𝑄 2𝜋 𝑄
𝜎𝑧 = 2 . 5/2
→ 𝜎𝑧 = 2 . 𝑁𝑏
𝑧 𝑟 2 𝑧
[ [1 + (2) ] ]

Ou, caso se possua o ângulo de espraiamento:

3. 𝑄
𝜎𝑧 = . 𝑐𝑜𝑠 5 ф
2 . 𝜋 . 𝑧²

Onde:

Q é a carga pontual;
z é a profundidade que vai da superfície do terreno (ponto de aplicação da carga) até a
cota onde deseja-se calcular σz;
r é a distância horizontal do ponto de aplicação da carga até onde atua σ z.
ф é o ângulo de espraiamento.

89
Aula 9 – Tensões no Solo II
MECÂNICA DOS SOLOS

A solução de Boussinesq, apresentada acima, não conduz a resultados satisfatórios


quando tratamos com alguns solos sedimentares, onde o processo de deposição em
camadas conduz a obtenção de um material de natureza anisotrópica. A análise da
influência da anisotropia do solo nos valore obtidos por Boussinesq foi realizada por
Westergaard, simulando uma condição extrema de anisotropia para uma massa de solo
impedida de se deformar lateralmente. As tensões são inferiores às da solução proposta por
Boussinesq que é, por sua vez, o procedimento mais intensamente utilizado nas aplicações
práticas. A figura também apresenta o fator de influência (Nw) obtido por Westergaard.

1.1.2. Extensão da Solução de Boussinesq

As distribuições de tensões em uma massa de solo, induzidas por outros tipos de


carregamentos mais frequentes na prática, puderam ser estabelecidas a partir da
generalização da solução de Boussinesq, as quais serão apresentadas a seguir.

1.1.2.1. CARGA DISTRIBUÍDA AO LONGO DE UMA LINHA (SOLUÇÃO DE MELAN)

As tensões induzidas no ponto (A), por uma carga uniformemente distribuída ao longo
de uma linha (Y) na superfície do semi-espaço foram obtidas por Melan e estão
apresentadas nas seguintes equações:

2𝑞 𝑧3 2𝑞 𝑥 2. 𝑧
𝜎𝑧 = . 2 𝑒 𝜎𝑥 = . 2
𝜋 (𝑥 + 𝑧 2 )² 𝜋 (𝑥 + 𝑧 2 )²

90
Aula 9 – Tensões no Solo II
UNIDADE 3 – DISTRIBUIÇÃO DE TENSÕES

E ainda, a Tensão Cisalhante (τxy):

2𝑞 𝑥 . 𝑧²
𝜏𝑥𝑦 = . 2
𝜋 (𝑥 + 𝑧 2 )²

E ainda, mostrada de uma outra forma mais simplificada:

1.1.2.2. CARREGAMENTO UNIFORME SOBRE UMA PLACA RETANGULAR DE


COMPRIMENTO INFINITO (SAPATAS CORRIDAS)

Em se tratando de uma placa retangular em que uma das dimensões é muito maior
que a outra, como por exemplo, no caso das sapatas corridas, os esforços introduzidos na
massa de solo podem ser calculados por meio da fórmula desenvolvida por Terzaghi &
Carothers. A figura apresenta o esquema de carregamento e o ponto onde se está
calculando o acréscimo de tensões. Observar que a placa tem largura 2b e está carregada
uniformemente com q. As tensões num ponto A, situado a uma profundidade (z) e distante

91
Aula 9 – Tensões no Solo II
MECÂNICA DOS SOLOS

(x) do centro da placa sã dadas pelas subsequentes equações, com ângulo α dado em
radianos.

𝑞 𝑞
𝜎𝑧 = . (𝛼 + 𝑠𝑖𝑛 𝛼 + 𝑐𝑜𝑠 2𝛽) 𝑒 𝜎𝑥 = . (𝛼 − 𝑠𝑖𝑛 𝛼 + 𝑐𝑜𝑠 2𝛽)
𝜋 𝜋

E ainda a tensão de cisalhamento:

𝑞
𝜏𝑥𝑦 = . (𝑠𝑖𝑛 𝛼 + 𝑐𝑜𝑠 2𝛽)
𝜋

1.1.2.3. CARREGAMENTO UNIFORMEMENTE DISTRIBUÍDO SOBRE PLACA


RETANGULAR

Newmark (1935), integrou a equação de Melan e obteve a equação para cálculo da


tensão vertical (σz) induzida no canto de uma área retangular uniformemente carregada.
Para o caso de uma área retangular de lados (x) e (y), uniformemente carregada (figura
abaixo), as tensões verticais em um ponto situado numa profundidade (z), na mesma
vertical de um dos vértices, é dada pela equação:

𝑞 2𝑚𝑛(𝑚2 + 𝑛2 + 1)1/2 𝑚2 + 𝑛2 + 2 2𝑚𝑛(𝑚2 + 𝑛2 + 1)1/2


𝜎𝑧 = . 2 . . 𝑎𝑟𝑐𝑡𝑎𝑛
4𝜋 𝑚 + 𝑛2 + 𝑚2 𝑛2 + 1 𝑚2 + 𝑛2 + 1 𝑚2 + 𝑛2 + 𝑚2 𝑛2 + 1

92
Aula 9 – Tensões no Solo II
UNIDADE 3 – DISTRIBUIÇÃO DE TENSÕES

Onde:

q = carga por unidade de área, ou seja, σo;


m = x/z;
n = y/z;
x e y = largura e comprimento da área uniformemente carregada.

Os parâmetros m e n são intercambiáveis. Pode-se observar que a equação depende


apenas da geometria da área carregada (m e n), assim, felizmente, pode ser reescrita em
função de um fator de influência:

σz = q . Iσ

Onde Iσ é o fator de influência, o qual depende de m e n.

Os valores de Iσ, para vários valores de m e n, podem ser mais facilmente


determinados com o uso do gráfico apresentado na sequência ou usando a tabela abaixo.

Assim, para calcular σz, em um ponto, sob um vértice de uma área uniformemente
carregada, basta determinar x e y e os valores de m e n, e obter Iσ, usando o gráfico ou a
tabela.

É importante salientar que todas as deduções estão referenciadas a um sistema de


coordenadas, no qual o vértice, ou seja, o canto da área carregada, coincide com a origem
dos eixos. Para calcular o acréscimo de tensões em pontos que não coincidem com o canto

93
Aula 9 – Tensões no Solo II
MECÂNICA DOS SOLOS

da área carregada, deve-se usar o princípio da superposição dos efeitos, acrescentando e


subtraindo áreas, de tal forma que o efeito final corresponda à área efetivamente
carregada.

O cálculo do acréscimo de tensões verticais num ponto (P), situado a uma


profundidade (z) sob o centro da área retangular ABCD (a), por exemplo, deve ser feito
mediante aplicação da equação acima, onde Iσ corresponde à influência de quatro áreas
retangulares iguais AMPN, ou seja, Iσ = 4I(AMPN). Suponhamos agora, que desejamos
encontrar as tensões verticais no ponto (A), a uma profundidade z, produzida pela área
carregada II (b). Para essa condição teremos que fazer algumas construções auxiliares a fim
de satisfazer as condições iniciais (acrescentar e subtrair áreas). Para esse casso, o fator de
influência (Iσ) será: IσA = I(I+II+III+IV) - I(I+III) -I(III+IV) + I(III).

Muitos outros tipos de carregamentos também têm equações específicas, mas não
serão abordados no curso.

94
Aula 9 – Tensões no Solo II
UNIDADE 3 – DISTRIBUIÇÃO DE TENSÕES

2. Exemplos Resolvidos

Exemplo: Utilizando a Solução de Boussinesq, determinar os acréscimos de pressão nos


ponto A e B da figura abaixo.

Resolução:

Este é o tipo mais simples de exercício. É uma carga concentrada onde pode-se
encontrar facilmente o ângulo de espraiamento e fazer a aplicação direta da fórmula.
Vejamos:

1º Passo: Encontrar o ângulo de espraiamento θ

tan θ = CO/CA → tg θ = 3/4 → θ = arctan 0,75 → θ = 36,57o

2º Passo: Acréscimo de tensão no ponto A

Como o ângulo de espraiamento para o ponto A é θ = 0o, fica-se, utilizando-se a


fórmula mais simplificada:

3. Q 3 . 10
σzA = . cos 5 ф → σzA = . cos 5 00 → σzA = 0,298 tf/m²
2 . π . z² 2 . 3,1415 . 4²

3º Passo: Acréscimo de tensão no ponto B

Analogamente ao ponto A, temos:

3. Q 3 . 10
σzB = . cos 5 ф → σzB = . cos 5 36,870 → σzB = 0,098 tf/m²
2 . π . z² 2 . 3,1415 . 4²

Exemplo: Uma carga de 405 t é aplicada sobre uma fundação quadrada de 4,50m de
lado. Determinar:

95
Aula 9 – Tensões no Solo II
MECÂNICA DOS SOLOS

a) A pressão vertical a 10 m de profundidade no vértice A;


b) A pressão vertical a 10 m de profundidade abaixo do centro da fundação;
c) A pressão vertical a 3 m de profundidade de 4m do seu do centro, sobre o seu eixo
de simetria.

Resolução:

a) A pressão vertical a 10 m de profundidade no vértice A:

Para esta situação, tem-se o seguinte panorama:

1º Passo: Carga por unidade de área

Como se trata de uma carga distribuída, deve-se primeiro achar a carga por unidade de
área (σ0 ou q). Procede-se desta forma:

σ0 = q = Q/A → q = 405/(4,5 . 4,5) → q = 20 t/m²

2º Passo: Encontrar “m” e “n” para a situação proposta

m = x/z → m = 4,5/10 → m = 0,45


n = y/z → n = 4,5/10 → n = 0,45

3º Passo: Encontrar o Fator de Influência (Iσ)

Para isto, deve-se recorrer à tabela da página 94. Não existe um valor exato para os
resultados obtidos, portanto, pegaremos a média entre a interseção dos pontos 0,40 X 0,40
(0,060) e 0,50 x 0,50 (0,084), que dá o valor de Iσ que satisfaz m e n → 0,072. Note-se que
não é a maneira mais correta de se fazer, pois a evolução de I σ não é uma reta. Porém, se
utilizarmos o gráfico da página 93, atestamos que o valore é praticamente este mesmo.

4º Passo: Cálculo da Tensão:

96
Aula 9 – Tensões no Solo II
UNIDADE 3 – DISTRIBUIÇÃO DE TENSÕES

σz = q . Iσ → σz = 20 . 0,072 → σz = 1,44 t/m²

b) A pressão vertical a 10 m de profundidade abaixo do centro da fundação:

Para esta situação, conforme descrito no tópico de carga distribuída em placas,


teremos que calcular a área de influência para outros setores, devido termos de utilizar a
fórmula sempre numa aresta. Vejamos:

Esta é a situação descrita para o problema. Como o ponto é fixo e não pode ser
transportado, deveremos utilizar de artifício matemático para colocar este ponto em uma
aresta. O que será feito é: Calcularemos apenas S1, que terá o ponto A numa de suas
arestas e multiplicaremos o valor encontrado por 4, que será a área total de influência.
Matematicamente fica:

1º Passo: Área de influência Relativa (Setor S1).

Tem-se então:

Iσ = Is1 + IS2 + IS3 + IS4

Como S1, S2, S3 e S4 são iguais, então:

Iσ = 4 . IS1

A demonstração gráfica é:

97
Aula 9 – Tensões no Solo II
MECÂNICA DOS SOLOS

2º Passo: Cálculo de m e n

m = x/z → m = 2,25/10 → m = 0,225

n = y/z → n = 2,25/10 → n = 0,225

3º Passo: encontrar o Fator de Influência IS1 e Iσ

Por interpolação linear, na tabela, chega-se a um valor de ≈ 0,023

Portanto:

Iσ = 4 . IS1 → Iσ = 4 . 0,023 → Iσ = 0,092

4º Passo: Cálculo da tensão

σz = q . Iσ → σz = 20 . 0,092 → σz = 1,84 t/m²

c) A pressão vertical a 3 m de profundidade de 4 m do seu do centro, sobre o seu


eixo de simetria.

Temos a seguinte situação:

1º Passo: Áreas de Influências Relativas

Para acharmos a área de influência correta, utilizaremos o seguinte artifício:

98
Aula 9 – Tensões no Solo II
UNIDADE 3 – DISTRIBUIÇÃO DE TENSÕES

Ou seja, para mantermos o ponto A sempre nas arestas, precisamos estender o


retângulo S1 até o ponto, e subtrair a área S2, que não está contemplando a placa. O
resultado (S3) será nossa Área de Influência quando multiplicada por 2, pois o ponto A está
no ponto médio do eixo de simetria.

Portanto:

Iσ = 2 . IS3 → Iσ = 2 . (IS1 – IS2)

2º Passo: Cálculo de IS1

m = x/z → m = 6,25/3 → m = 2,083


n = y/z → n = 2,25/3 → n = 0,750

O valor mais aproximado na tabela para estes valores de m e n é IS1 ≈ 0,175.

3º Passo: Cálculo de IS2

m = x/z → m = 1,75/3 → m = 0,583


n = y/z → n = 2,25/3 → n = 0,750

O valor mais aproximado na tabela para estes valores de m e n é IS2 ≈ 0,118.

Portanto:

Iσ = 2 . (IS1 – IS2) → Iσ = 2 . (0,175 – 0,118) → Iσ = 2 . 0,057 → Iσ = 0,114

4º Passo: Cálculo da tensão

Finalmente:

σz = q . Iσ → σz = 20 . 0,114 → σz = 2,28 t/m²

99
Aula 10 – Compactação
MECÂNICA DOS SOLOS

Unidade 4 – Operações no Solo

Aula 10: Compactação

Entende-se por compactação o processo manual ou mecânico que visa reduzir o volume de
vazios do solo, melhorando as suas características de resistência, deformabilidade e
permeabilidade. Muito útil para a disciplina de Processos e Técnicas Construtivas (unidade de
Pavimentações), esta aula fornecerá as informações necessárias para um aprendizado e
emprego das técnicas pertinentes.

1. Conceitos Envolvidos

Muitas vezes, na prática da engenharia, o solo de um determinado local não apresenta


as condições requeridas pela obra. Ele pode ser pouco resistente, muito compressível ou
apresentar características que deixam a desejar de um ponto de vista econômico. Pareceria
razoável em tais circunstâncias, simplesmente relocar obra. Deve-se notar, contudo, que
considerações outras que não geotécnicas frequentemente impõem a localização da
estrutura e o profissional da construção é forçado a realizar o projeto com o solo que ele
tem em mãos. Para resolver este problema, uma possibilidade é adaptar a fundação da obra
às condições geotécnicas do local. Uma outra possibilidade é tentar melhorar as
propriedades de engenharia do solo local. Dependendo das circunstâncias, a segunda opção
pode ser o melhor caminho a ser seguido.

Nesta aula será apresentado um método de estabilização e melhoria do solo por vias
mecânicas, denominado de compactação. Deve-se ressaltar que existem diversos outros
métodos de estabilização dos solos, sendo alguns destes realizados pela mistura ou injeção
de substâncias químicas (misturas solo-cimento, "jet-ground", misturas solo-cal), ou pela
incorporação no solo de elementos estruturais, os quais têm por função conferir ao mesmo
as características necessárias para a execução da obra. Ex: solo reforçado, solo envelopado,
terra armada, etc.

100
Aula 10 – Compactação
UNIDADE 4 – OPERAÇÕES NO SOLO

Os fundamentos da compactação de solos são relativamente novos e foram


desenvolvidos por Ralph Proctor, que, na década de 20, postulou ser a compactação uma
função de quatro variáveis: a) Peso específico seco, b) Umidade, c) Energia de compactação
e d) Tipo de solo (solos grossos, solos finos, etc.). A compactação dos solos tem uma grande
importância para as obras geotécnicas, já que através do processo de compactação
consegue-se promover no solo um aumento de sua resistência estável e uma diminuição da
sua compressibilidade e permeabilidade.

1.1. O Emprego da Compactação

Em diversas obras, dentre elas os aterros rodoviários e as barragens de terra, o solo é


o próprio material resistente ou de construção. Em vista disto, alguns métodos de
estabilização ou de melhoria das características de resistência, deformabilidade e
permeabilidade dos solos foram desenvolvidos, e a compactação é um desses métodos.

O objetivo principal da compactação é obter um solo, de tal maneira estruturado, que


possua e mantenha um comportamento mecânico adequado ao longo de toda a vida útil da
obra.

1.2. Diferenças entre Compactação e Adensamento

Pelo processo de compactação, a compressão do solo se dá por expulsão do ar contido


em seus vazios, de forma diferente do processo de adensamento, onde ocorre a expulsão
de água dos interstícios do solo (NÃO CONFUNDIR COM ADENSAMENTO DO CONCRETO –
OPOSTO).

Além do mais, as cargas aplicadas quando compactamos o solo são geralmente de


natureza dinâmica e o efeito conseguido é imediato, enquanto que o processo de
adensamento é diferido no tempo (pode levar muitos anos para ocorra por completo, a
depender do tipo de solo) e as cargas são normalmente estáticas.

1.3. Ensaio de Compactação

Em 1933, o Eng. Norte americano Ralph Proctor postulou os procedimentos básicos


para a execução do ensaio de compactação. A energia de compactação utilizada na
realização destes ensaios é hoje conhecida como energia de compactação "Proctor
Normal". A seguir são listadas, de modo resumido, as principais fases de execução de um
ensaio de compactação.

101
Aula 10 – Compactação
MECÂNICA DOS SOLOS

• Ao se receber uma amostra de solo (no caso, deformada) para a realização de


um ensaio de compactação, o primeiro passo é colocá-la em bandejas de
modo que a mesma adquira a umidade higroscópica (secagem ao ar). O solo
então é destorroado e passado na peneira #4, após o que adiciona-se água na
amostra para a obtenção do primeiro ponto da curva de compactação do
solo. Para que haja uma perfeita homogeneização de umidade em toda a
massa de solo, é recomendável que a mesma fique em repouso por um
período de aproximadamente 24 horas;
• Após preparada a amostra de solo, a mesma é colocada em um recipiente
cilíndrico com volume igual a 1000 ml e compactada com um soquete de 2500
g, caindo de uma altura de aproximadamente 30 cm, em três camadas com 25
golpes do soquete por camada, como demonstra figura apresentada adiante;
• Este processo é repetido para amostras de solo com diferentes valores de
umidade, utilizando-se em média 5 pontos para a obtenção da curva de
compactação;
• De cada corpo de prova assim obtido, determinam-se o peso específico do
solo seco e o teor de umidade de compactação;
• Após efetuados os cálculos dos pesos específicos secos e das umidades,
lançam-se esses valores (γd;w) em um par de eixos cartesianos, tendo nas
ordenadas os pesos específicos do solo seco e nas abcissas os teores de
umidade, como se demonstrará.

1.4. Curva de Compactação

A partir dos pontos experimentais obtidos conforme descrito anteriormente, traça-se a


curva de compactação do solo, apresentada na figura abaixo. Nota-se que na curva de
compactação o peso específico seco aumenta com o teor de umidade até atingir um valor
máximo, decrescendo com a umidade a partir de então. O teor de umidade para o qual se
obtém o maior valor de γd (γdmax) é denominado de teor de umidade ótimo (ou
simplesmente umidade ótima).

O ramo da curva de compactação anterior ao valor de umidade ótima é denominado


de "ramo seco" e o trecho posterior de "ramo úmido" da curva de compactação. No ramo
seco, a umidade é baixa, a água contida nos vazios do solo está sob o efeito capilar e exerce
uma função aglutinadora entre as partículas. À medida que se adiciona água ao solo ocorre
a destruição dos benefícios da capilaridade, tornando-se mais fácil o rearranjo estrutural
das partículas. No ramo úmido, a umidade é elevada e a água se encontra livre na estrutura
do solo, absorvendo grande parte da energia de compactação.

102
Aula 10 – Compactação
UNIDADE 4 – OPERAÇÕES NO SOLO

Na figura é apresentada também a curva de saturação do solo. Como no processo de


compactação não conseguimos nunca expulsar todo o ar existente nos vazios do solo, todas
as curvas compactação (mesmo que para diferentes energias) se situam à esquerda da
curva de saturação. Pode-se mostrar que a curva de saturação do solo pode ser
representada pela equação apresentada adiante.

γw . Sr
γd = γ
w + w . Sr
γs

103
Aula 10 – Compactação
MECÂNICA DOS SOLOS

2. Energia de Compactação

Embora mantendo-se o procedimento de ensaio descrito no item acima, um ensaio de


compactação poderá ser realizado utilizando-se diferentes energias. A energia de
compactação empregada em um ensaio de laboratório pode ser facilmente calculada
mediante o uso da equação apresentada a seguir:

P. h. N. n
E=
V

Onde:

P é o peso do soquete (em Newtons);


h é a altura de queda do soquete;
N é o número de golpes por camada;
n é o número de camadas;
V é o volume do solo compactado (m³).

2.1. Influência da Energia de Compactação na Curva de Compactação do Solo

À medida em que se aumenta a energia de compactação, há uma redução do teor de


umidade ótimo e uma elevação do valor do peso específico seco máximo. A figura a seguir
apresenta curvas de compactação obtidas para diferentes energias.

Tendo em vista o surgimento de novos equipamentos de campo, de grande porte, com


possibilidade de elevar a energia de compactação e capazes de implementar uma maior

104
Aula 10 – Compactação
UNIDADE 4 – OPERAÇÕES NO SOLO

velocidade na construção de aterros, houve a necessidade de se criar em laboratório


ensaios com maiores energias que a do Proctor Normal. Surgiram então as energias do
Proctor Modificado e Intermediário, superiores à energia do Proctor Normal. As energias de
compactação usuais são de 6 kgf.cm/cm3 para o Proctor normal, 12,6 kgf.cm/cm3 para o
Proctor Intermediário e 25kgf.cm/cm3 para o Proctor Modificado. Na tabela apresenta-se
uma comparação entre os padrões adotados para a realização dos ensaios de compactação
por diferentes órgãos.

2.2. Influência da Compactação na Estrutura dos Solos

A fig. A seguir apresenta a influência da compactação na estrutura dos solos. Conforme


se pode observar desta figura, as estruturas formadas no lado seco da curva de
compactação tendem a ser do tipo floculada, enquanto que no lado úmido da curva de
compactação formam-se solos com estruturas predominantemente dispersas.

105
Aula 10 – Compactação
MECÂNICA DOS SOLOS

2.3. Influência do Tipo de Solo na Curva de Compactação

A influência do tipo de solo na curva de compactação é ilustrada a seguir. Conforme se


pode observar desta figura, os solos grossos tendem a exibir uma curva de compactação
com um maior valor de γdmax e um menor valor de wot do que solos contendo grande
quantidade de finos. Pode-se observar também que as curvas de compactação obtidas para
solos finos são bem mais "abertas" do que aquelas obtidas para solos grossos.

2.4. Escolha do Valor de Umidade para Compactação em Campo

Conforme relatado anteriormente, a compactação do solo deve proporcionar a este,


para a energia de compactação adotada, a maior resistência estável possível. O gráfico
apresenta a variação da resistência de um solo, obtida por meio de um ensaio de
penetração realizado com uma agulha Proctor, em função de sua umidade de compactação.
Conforme se pode observar desta figura, quanto maior a umidade menor a resistência do
solo.

Pode-se fazer então a seguinte indagação: Porque os solos não são compactados em
campo em valores de umidade inferiores ao valor ótimo? A resposta a esta pergunta se
encontra na palavra estável. Não basta que o solo adquira boas propriedades de resistência
e deformação, elas devem permanecer durante todo o tempo de vida útil da obra.

106
Aula 10 – Compactação
UNIDADE 4 – OPERAÇÕES NO SOLO

Conforme se pode notar do gráfico acima, caso o solo fosse compactado no teor de
umidade w1, ele iria apresentar uma resistência bastante superior àquela obtida quando da
compactação no teor de umidade ótimo. Conforme também apresentado no gráfico,
contudo, este solo poderia vir a se saturar em campo (em virtude de um período de fortes
chuvas, por exemplo), vindo a alcançar o valor de umidade w2, para o qual o valor de
resistência apresentado pelo solo é praticamente nulo. No caso de o solo ser compactado
na umidade ótima, o valor de sua resistência cairia somente de R para r, estando o mesmo
ainda a apresentar características de resistência razoáveis.

Baseado e adaptado de
Sandro Lemos Machado e
Miriam C. Machado. Edições
sem prejuízo de conteúdo.

107
Aula 11 – Equipamentos de Compactação
MECÂNICA DOS SOLOS

Aula 11: Equipamentos de Compactação

Vistos também na disciplina de Fundações e na unidade de Pavimentação em Processos e


Técnicas Construtivas, serão desdobrados conceitos suplementares a respeito dos
Equipamentos de Compactação. Os princípios que estabelecem a compactação dos solos no
campo são essencialmente os mesmos discutidos anteriormente para os ensaios em
laboratório.

1. Equipamentos de Campo

Os valores de peso específico seco máximo obtidos em laboratório, pré-requisito para


a compactação de campo, são fundamentalmente em função do tipo do solo, da quantidade
de água utilizada e da energia específica aplicada pelo equipamento que será utilizado, a
qual depende do tipo e peso deste equipamento, da espessura da camada de compactação
e do número de passadas sucessivas aplicadas.

A compactação de campo se dá por meio de esforços de pressão, impacto, vibração ou


por uma combinação destes. Os processos de compactação de campo geralmente
combinam a vibração com a pressão, já que a vibração utilizada isoladamente se mostra
pouco eficiente, sendo a pressão necessária para diminuir, com maior eficácia, o volume de
vazios inter-partículas do solo.

1.1. Soquetes

São compactadores de impacto utilizados em locais de difícil acesso para os rolos


compressores, como em valas, trincheiras, etc. Possuem peso mínimo de 15 kgf, podendo
ser manuais ou mecânicos (sapos). A camada compactada deve ter 10 a 15 cm para o caso
dos solos finos e em torno de 15cm para o caso dos solos grossos.

1.2. Rolos Estáticos

1.2.1. Pé-de-Carneiro

É um tambor metálico com protuberâncias (patas) solidarizadas, em forma tronco-


cônica e com altura de aproximadamente de 20 cm. Podem ser auto propulsivos ou

108
Aula 11 – Equipamentos de Compactação
UNIDADE 4 – OPERAÇÕES NO SOLO

arrastados por trator. É indicado na compactação de outros tipos de solo que não a areia e
promove um grande entrosamento entre as camadas compactadas.

A camada compactada possui geralmente 15 cm, com número de passadas variando


entre 4 e 6 para solos finos e de 6 a 8 para os solos grossos. A figura ilustra rolos
compactadores do tipo pé-de-carneiro.

1.2.2. Rolo Liso

Trata-se de um cilindro oco de aço, podendo ser preenchido por areia úmida ou água,
a fim de que seja aumentada a pressão aplicada. São usados em bases de estradas, em
capeamentos e são indicados para solos arenosos, pedregulhos e pedra britada, lançados
em espessuras inferiores a 15 cm.

Este tipo de rolo compacta bem camadas finas de 5 a 15 cm com 4 a 5 passadas. Os


rolos lisos possuem pesos de 1 a 20 t e frequentemente são utilizados para o acabamento
superficial das camadas compactadas. Para a compactação de solos finos utilizam-se rolos
com três rodas com pesos em torno de 10 t, para materiais de baixa plasticidade e 7 t, para
materiais de alta plasticidade. A figura ilustra rolos compactadores do tipo liso.

Os rolos lisos possuem certas desvantagens como:

• Pequena área de contato.


• Em solos de pequena capacidade de suporte afundam demasiadamente
dificultando a tração.

109
Aula 11 – Equipamentos de Compactação
MECÂNICA DOS SOLOS

1.2.3. Rolo Pneumático

Os rolos pneumáticos são eficientes na compactação de capas asfálticas, bases e sub-


bases de estradas e indicados para solos de granulação fina a arenosa. Os rolos pneumáticos
podem ser utilizados em camadas de mais espessas e possuem área de contato variável,
função da pressão nos pneus e do peso do equipamento.

Pode se usar rolos com cargas elevadas obtendo-se bons resultados. Nestes casos,
muito cuidado deve ser tomado no sentido de se evitar a ruptura do solo. A figura a seguir
ilustra algum tipo de rolo pneumático existente.

1.2.4. Rolos Vibratórios

Nos rolos vibratórios, a frequência da vibração influi de maneira extraordinária no


processo de compactação do solo. São utilizados eficientemente na compactação de solos

110
Aula 11 – Equipamentos de Compactação
UNIDADE 4 – OPERAÇÕES NO SOLO

granulares (areias), onde os rolos pneumáticos ou Pé-de-Carneiro não atuam com eficiência.
A espessura máxima da camada é de 15cm.

2. Controle de Compactação

Para que se possa efetuar um bom controle da compactação do solo em campo, temos
que atentar para os seguintes aspectos:

• Tipo de Solo;
• Espessura da camada;
• Entrosamento entre as Camadas;
• Número de passadas;
• Tipo de Equipamentos;
• Umidade do Solo;
• Grau de compactação alcançado.

Os principais cuidados a serem tomados são:

• A espessura da camada lançada não deve exceder a 30 cm, sendo que a


espessura da camada compactada deverá ser menor que 20 cm;
• Deve-se realizar a manutenção da umidade do solo o mais próximo possível
da umidade ótima;
• Deve-se garantir a homogeneização do solo a ser lançado, tanto no que se
refere à umidade quanto ao material.

111
Aula 11 – Equipamentos de Compactação
MECÂNICA DOS SOLOS

Na prática, o procedimento usual de controle da compactação é o seguinte:

Coletam-se amostras de solo da área de empréstimo e efetua-se em laboratório o


ensaio de compactação. Obtêm-se a curva de compactação e daí os valores de peso
específico seco máximo e o teor de umidade ótimo do solo.

No campo, à proporção em que o aterro for sendo executado, deve-se verificar, para
cada camada compactada, qual o teor de umidade empregado e compará-lo com a umidade
ótima determinada em laboratório. Este valor deve atender a seguinte especificação: w campo
- 2% < wot < wcampo + 2%.

Determina-se também o peso específico seco do solo no campo, comparando-o com o


obtido no laboratório. Define-se então o grau de compactação do solo, dado pela razão
entre os pesos específicos secos de campo e de laboratório GC = (γdcampo / γdmax) . 100. Deve-
se obter sempre valores de grau de compactação superiores a 95%.

Caso estas especificações não sejam atendidas, o solo terá de ser revolvido, e uma
nova compactação deverá ser efetuada.

Para a determinação da umidade no campo utiliza-se normalmente o umidímetro


denominado "Speedy". Este aparelho consiste em um recipiente metálico, hermeticamente
fechado, onde são colocadas duas esferas de aço, a amostra do solo da qual se quer
determinar a umidade e uma ampola de carbureto (carbonato de cálcio - CaC2). Para a
determinação da umidade, agita-se o frasco, a ampola é quebrada pelas esferas de aço e o
CaC2 combina-se com a água contida no solo, formando o gás acetileno, que exercerá
pressão no interior do recipiente, acionando o manômetro localizado na tampa do
aparelho. Com o valor de pressão medido, os valores de umidade são obtidos através de
uma tabela específica, que correlaciona a umidade em função da pressão manométrica e do
peso da amostra de solo.

Existem outros métodos também utilizados para determinar a umidade no campo, tais
como a queima do solo com a utilização de álcool ou de uma frigideira. Quando possível,
deve-se procurar utilizar a estufa.

Para a determinação do peso específico seco do solo compactado, o método mais


empregado é o do frasco de areia. Faz-se uma cavidade na camada do solo compactado,
extraindo-se o solo e pesando-o em seguida. Para se medir o volume da cavidade, coloca-se
o frasco de areia com a parte do funil para baixo sobre a mesma e abre-se a torneira do
frasco, deixando-se que a areia contida no frasco encha a cavidade por completo. O volume

112
Aula 11 – Equipamentos de Compactação
UNIDADE 4 – OPERAÇÕES NO SOLO

de areia que saiu do frasco é igual ao volume de solo escavado, de modo que o peso
específico do solo pode ser determinado.

Uma outra forma de se verificar a resistência do solo compactado é através da


cravação da Agulha de Proctor, que consiste de uma haste calibrada a qual está ligada a um
êmbolo apoiado sobre uma mola. Este aparelho permite medir o esforço necessário para
fazer penetrar a agulha na camada compactada. Os valores de resistência obtidos nesse
ensaio são utilizados no controle da compactação em campo.

2.1. Influência do Número de Passadas

Com o progresso da compactação em campo, o número de passadas do rolo vai


perdendo a sua eficiência na compactação do solo. Deste modo, a compactação dos solos
em campo é definida para um determinado número de passadas, normalmente inferior a
10. Este número dependerá do tipo de solo a ser compactado, do tipo de equipamento
disponível, e das condições particulares de cada caso. No caso de grandes obras,
empregam-se geralmente aterros experimentais para se determinar o número ótimo de
passadas do rolo.

Em geral, 8 a 12 passadas do rolo em uma camada de solo a ser compactada é


suficiente. Caso com 15 passadas não se atinja o valor do peso específico seco determinado,
é recomendável que se modifique as condições antes fixadas para a compactação.

2.2. Índice de Suporte Califórnia (ISC)

Estudado também na disciplina de Processos e Técnicas Construtivas, muito utilizado


em Projetos de Pavimentações, o Índice de Suporte Califórnia é utilizado como base para o
dimensionamento de pavimentos flexíveis. Para a realização do ensaio de ISC, são
confeccionados corpos de prova no valor da umidade ótima (w ot), utilizando-se três
diferentes energias de compactação (a maior energia empregada sendo aproximadamente
igual à energia do Proctor modificado). O ensaio ISC visa determinar:

• Propriedades expansivas do material;


• Índice de Suporte Califórnia.

Para a determinação do Índice de Suporte Califórnia teremos que passar por três fases
anteriores: a execução de um ensaio de compactação, na energia do Proctor Modificado, a
preparação dos corpos de prova, o ensaio de expansão e finalmente o ensaio de
determinação do Índice de Suporte Califórnia ou CBR ("California Bearing Ratio"),
propriamente dito.

113
Aula 11 – Equipamentos de Compactação
MECÂNICA DOS SOLOS

2.2.1. Ensaio de Compactação

Este ensaio é realizado de maneira similar àquela apresentada para o ensaio de


compactação na energia do Proctor Normal. Neste caso, as dimensões do cilindro de
compactação geralmente utilizadas são dadas pela figura e a energia de compactação
empregada corresponde à do Proctor Modificado (vide tabela, coluna AASHTO).

Antes de começar a execução do ensaio, coloca-se um disco espaçador no cilindro de


compactação, conforme demostrado na figura, cuja função é permitir a execução dos
ensaios de expansão e CBR.

O solo a ser utilizado na compactação do corpo de prova deve passar pela malha de 19
mm (3/4") e ser moldado na umidade ótima determinada anteriormente.

2.2.2. Ensaio de Expansão

Após concluída a preparação do corpo de prova, retira-se o disco espaçador, inverte-se


o cilindro e coloca-se a base perfurada na extremidade oposta. No espaço vazio deixado
pelo disco espaçador encaixa-se um dispositivo com extensômetro a fim de se determinar
as medidas de expansão sofridas pelo solo.

São colocados também sobre o corpo de prova um contrapeso não inferior a 4,5 kgf
que simulará o peso do pavimento a ser construído sobre este solo. O conjunto desta forma
preparado é colocado num tanque d'água por um período de quatro dias. Durante este
período, são feitas leituras no extensômetro de 24 em 24 horas.

Algumas especificações adotadas para os solos a serem utilizados na construção de


pavimentos flexíveis são:

• Subleitos: Expansão < 3%;


• Sub-bases: Expansão < 2%.

114
Aula 11 – Equipamentos de Compactação
UNIDADE 4 – OPERAÇÕES NO SOLO

2.2.3. Determinação do CRB ou ISC

O Índice de Suporte Califórnia representa a capacidade de suporte do solo se


comparada com a resistência à penetração de uma haste de cinco centímetros de diâmetro
em uma camada de pedra britada, considerada como padrão (CBR = 100%).

O ensaio é realizado colocando-se o molde cilíndrico (corpo de prova e contrapeso) em


uma prensa, onde se fará penetrar um pistão de aço a uma velocidade controlada e
constante, medindo-se as penetrações através de um extensômetro ligado ao pistão, como
demonstra a figura. Três corpos de prova são preparados na umidade ótima com 12, 26 e 55
golpes, determinando-se o valor de γd obtido para cada corpo de prova. Após a imersão em
água durante quatro dias, mede-se, para cada corpo de prova, a resistência à penetração de
um pistão com φ = 5 cm, a uma velocidade de 1,25 mm/min, para alguns valores de
penetração pré-determinados (0,64 mm; 1,27; 1,91; 2.54; 3,81; 5,08 mm; etc.).

Os valores de resistência ao puncionamento assim obtidos, para os valores de


penetração de 0,1" e 0,2", são expressos em percentagem das pressões padrão
(correspondentes a um ensaio realizado com pedra britada), sendo que o CBR é então
calculado através das relações abaixo, adotando-se o maior valor encontrado para cada
corpo de prova. Nas seguintes equações, os valores das pressões estão expressos em
kgf/cm2, sendo 70 kgf/cm2 o valor da pressão padrão para uma penetração de 0,1" e 105
kgf/cm2 o valor da pressão padrão para uma penetração de 0,2".

𝑃𝑟𝑒𝑠𝑠ã𝑜 𝐶𝑎𝑙𝑐𝑢𝑙𝑎𝑑𝑎
𝐶𝐵𝑅 = . 100
70

115
Aula 11 – Equipamentos de Compactação
MECÂNICA DOS SOLOS

𝑃𝑟𝑒𝑠𝑠ã𝑜 𝐶𝑎𝑙𝑐𝑢𝑙𝑎𝑑𝑎
𝐶𝐵𝑅 = . 100
105

Com os valores obtidos dos três corpos de prova traça-se o gráfico apresentado
abaixo. O valor do Índice de Suporte Califórnia é determinado como sendo igual ao valor
correspondente a 95% do γdmax determinado para a energia do Proctor Modificado. O valor
de Índice de Suporte Califórnia assim obtido é utilizado para avaliar as potencialidades do
solo para uso na construção de pavimentos flexíveis. A eqação seguinte, por exemplo,
apresenta uma correlação empírica utilizada para se estimar, a partir do I.S.C., o módulo de
elasticidade do solo.

E = 65 . (ISC)0,65 (kgf/cm2)

Baseado e adaptado de
Sandro Lemos Machado e
Miriam C. Machado. Edições
sem prejuízo de conteúdo.

116
Aula 12 – Investigações de Subsolo
UNIDADE 4 – OPERAÇÕES NO SOLO

Aula 12: Investigações de Subsolo

Qualquer projeto de engenharia, por mais modesto que seja, requer o conhecimento
adequado das características e propriedades dos solos onde a obra irá ser implantada. As
investigações de campo e laboratório requeridas para obter os dados necessários para
responder a essas questões são chamadas de exploração do subsolo ou investigação do
subsolo. Obviamente, na disciplina de Fundações o tema também é abordado, porém, com
maior riqueza de detalhes nesta aula.

1. Introdução

Os principais objetivos de uma exploração do subsolo são:

• Determinação da profundidade e espessura de cada camada do solo e sua


extensão na direção horizontal;
• Determinação da natureza do solo: compacidade dos solos grossos e
consistência dos solos finos;
• Profundidade da rocha e suas características (litologia, mergulho e direção
das camadas, espaçamento das juntas, planos de acamamento, estado de
decomposição);
• Localização do nível d'água (NA);
• Obtenção de amostras (deformadas e/ou indeformadas) de solo e rocha para
determinação das propriedades de engenharia;
• Determinação das propriedades "in situ" do solo por meio de ensaios de
campo.

O programa de investigação do subsolo deve levar em conta o tipo e a importância da


obra a ser executada. Isso quer dizer que, determinadas estruturas como túneis, barragens
e grandes edificações exigem um conhecimento mais minucioso do subsolo do que aquele
necessário à construção de uma pequena residência térrea, por exemplo. É importante
ressaltar, que mesmo para estruturas de pequeno porte é extremamente importante o
conhecimento adequando do subsolo sobre qual está se trabalhando, pois a negligência na
obtenção dessas informações podem conduzir a problemas na obra com prejuízos de tempo
e recursos para recuperação. Usualmente, a estimativa de custo de um programa de

117
Aula 12 – Investigações de Subsolo
MECÂNICA DOS SOLOS

investigação do subsolo está entre 0,5 a 1% do custo da construção da estrutura, sendo a


percentagem mais baixa referente aos grandes projetos e projetos sem condições críticas
de fundação e a percentagem mais alta ligada a projetos menores e com condições
desfavoráveis.

Um programa de investigações deve ser executado em etapas, quais sejam:

• Reconhecimento: nesta etapa procura-se obter todo o tipo de informação


necessária ao desenvolvimento do projeto, através de documentos existentes
(mapas geológicos, fotos aéreas, literatura especializada) e visita ao local;
• Prospecção: obtém-se, nesta etapa, as características e propriedades do
subsolo, de acordo com as necessidades do projeto ou do estágio em que a
obra se encontra. Assim, a prospecção pode ser dividida em fase preliminar,
complementar e localizada. A fase de prospecção preliminar deve fornecer os
dados suficientes para a localização das estruturas principais e estimativas de
custos. Nesta fase serão executados os ensaios in situ e retirada de amostras
para investigação por meio de ensaios de laboratório, etc. Na fase
complementar, como o próprio nome já indica, são feitas investigações
adicionais com o objetivo de solucionar problemas específicos. Finalmente, a
fase de prospecção localizada, deverá ser realizada quando as informações
obtidas nas fases anteriores são insuficientes para um bom desenvolvimento
do projeto.
• Acompanhamento: Esta etapa tem a finalidade de avaliar o comportamento
previsto e o desempenhado pelo solo, sendo geralmente feita através de
instrumentos instalados antes e durante a construção da obra para a medida
da posição do nível d'água, da pressão neutra, tensão total, recalque,
deslocamento, vazão e outros.

2. Métodos de Prospecções Geotécnicas

Existem 3 métodos de Prospeções: os diretos, semidiretos e indiretos. Será dado mais


ênfase àqueles mais utilizados, porém, permeando também a outros existentes a título de
conhecimento.

2.1. Métodos Diretos

São perfurações executadas no subsolo destinadas a observar diretamente as diversas


camadas do solo, em furos de grande diâmetro, ou obter amostras ao longo do perfil, em
furos de pequenos diâmetros. Os métodos diretos podem ser classificados em manuais

118
Aula 12 – Investigações de Subsolo
UNIDADE 4 – OPERAÇÕES NO SOLO

(poços, trincheiras e sondagem a trado) e mecânicos (sondagem a percussão, rotativa e


mista).

2.1.1. Poços

Os poços são perfurados manualmente com o auxílio de pás e picaretas, sendo a


profundidade máxima limitada pela presença do nível d'água ou desmoronamento das
paredes laterais. O diâmetro mínimo do poço deve ser da ordem se 60 cm, para permitir a
movimentação do operário dentro do mesmo. Os poços permitem, através do perfil exposto
em suas paredes, um exame visual das camadas do subsolo e de suas características de
consistência e compacidade, bem como, a coleta de amostras indeformadas na forma de
blocos.

2.1.2. Trincheiras

São valas escavadas mecanicamente por meio de escavadeiras. Permitem um exame


visual e contínuo do subsolo, segundo uma direção e permitem, também, coleta de
amostras deformadas e indeformadas.

2.1.3. Sondagens a Trado

A sondagem a trado é uma perfuração executada manualmente no subsolo com o


auxílio de trados. A perfuração é feita com os operadores girando a barra horizontal
acoplada à haste vertical do trado, em cuja extremidade oposta encontra-se o elemento
cortante (broca ou cavadeira). A cada 5 ou 6 rotações, o trado deve ser retirado a fim de
remover o material acumulado em seu corpo, o qual deverá ser colocado em sacos plásticos
devidamente etiquetados. Esse material pode ser usado no laboratório para identificação
visual e táctil das camadas e determinação da umidade do solo.

A sondagem a trado é, usualmente, utilizada em investigações preliminares do


subsolo, até uma profundidade da ordem de 10m e acima do NA. Tem como principal
vantagem a de ser um procedimento simples, rápido e econômico. Porém as informações
obtidas são apenas do tipo de solo, espessura de camada e posição do lençol freático, sendo
também possível a coleta de amostra deformadas e acima do NA. Esse processo de
perfuração não deve ser usado para solos contendo camadas de pedregulhos, matacões,
areias muito compactas e solos abaixo do nível d'água.

2.1.4. Sondagens a Percussão ou Simples Reconhecimento (SPT)

119
Aula 12 – Investigações de Subsolo
MECÂNICA DOS SOLOS

É o método de sondagem mais empregado no Brasil, principalmente em prospecção


do subsolo para fins de fundações. Permite tanto a retirada de amostras deformadas e
determinação do NA, quanto a medida do índice de resistência a penetração dinâmica
(SPT), o qual é usado para obter, através de correlações, o comportamento de resistência ao
cisalhamento do solo, dentre diversos outros parâmetros do solo. Além disso, é um ensaio
de baixo custo, simples de executar, permitindo, ainda, a obtenção de informações do
estado de consistência e compacidade dos solos. O procedimento do ensaio é normalizado
pela ABNT através da norma NBR 6484/80. O equipamento para execução da sondagem à
percussão é constituído de um tripé equipado com roldanas e sarilho que possibilita o
manuseio de hastes metálicas ocas, em cujas extremidades fixa-se um trépano biselado
(faca cortante) ou um amostrador padrão. Fazem parte do equipamento, tubos metálicos
com diâmetro nominal superior ao da haste de perfuração, coxim de madeira, martelo de
ferro com 65kg para cravação das hastes e dos tubos de revestimento, sendo este último
destinado a revestir as paredes do furo a fim de evitar instabilidade. O equipamento possui,
ainda, um conjunto motor-bomba para circulação de água no avanço da perfuração, bem
como amostrador de parede grossa, trados cavadeira e espiral e trépanos.

O amostrador padrão ou amostrador Terzaghi-Peck (ao lado), o único que deve ser
usado no ensaio, possui três partes, engate, corpo e sapata. É constituído de tubos
metálicos de parede grossa com corpo bipartido e ponta em forma de bisel. O engate tem
dois orifícios laterais para saída da água e ar e contém, interiormente, uma válvula
constituída por esfera de aço inoxidável.

Em linhas gerais, o procedimento de execução de sondagens de simples


reconhecimento é um processo repetitivo, de modo que em cada metro de solo, são
realizadas três operações, abertura do furo (perfuração), ensaio de penetração e
amostragem, as quais serão comentadas a seguir. Em cada metro, faz-se, inicialmente, a
abertura do furo de comprimento igual 55 cm deixando-se os 45 cm restantes de solo para a
realização do ensaio de penetração dinâmica e amostragem. A figura abaixo mostra um
esquema de execução da sondagem.

120
Aula 12 – Investigações de Subsolo
UNIDADE 4 – OPERAÇÕES NO SOLO

Como Fazer um Ensaio SPT:

Perfuração: A perfuração é iniciada com o trado cavadeira de 100 mm de diâmetro, até a profundidade de 1
metro, instalando-se o primeiro segmento do tubo de revestimento. A partir do segundo metro e até atingir o
nível d'água a perfuração deverá ser feita com trado espiral. Abaixo do NA, a abertura do furo passa a ser feita
por processo de lavagem por circulação de água, usando o trépano como ferramenta de escavação. A lama,
resultante da desagregação do solo e água injetada, retornará à superfície pelo espaço anelar formado pelo
tubo de revestimento e hastes de perfuração, sendo depositada em um reservatório próprio. Durante a
lavagem, o mestre sondador ficará observando, na saída, as amostras de lama para identificar possível
mudança de camada de solo. O processo de lavagem por circulação de água permite um rápido avanço do
furo, sendo por isso preferido pelas equipes de perfuração. Deve-se ressaltar, contudo, que esse procedimento
não deve ser usado acima do NA, pois dificulta a determinação do nível d'água e altera as características
geotécnicas dos solos. Atingida a cota de ensaio, por qualquer dos procedimentos, o furo deverá estar bem
limpo para a realização do ensaio de penetração.
Ensaio de penetração: Atingida a cota de ensaio, conecta - se o amostrador padrão às hastes de perfuração,
posicionando-o no fundo do furo de sondagem. Em seguida, a cabeça de bater é posicionada no topo da haste
e o martelo é apoiado suavemente sobre essa peça, anotando-se a eventual penetração do amostrador. A
partir de um ponto fixo qualquer, por exemplo o tubo de revestimento, marca-se na haste de perfuração um
segmento de 45cm dividido em três trechos de 15cm. O ensaio de penetração consiste na cravação do
amostrador no solo através de quedas sucessivas do martelo de 65kg, erguido até a altura de 75cm e deixado
cair em queda livre. Procede-se a cravação de 45cm do amostrador, anotando-se, separadamente, o número
de golpes necessários à cravação de cada 15cm do amostrador. O resultado do ensaio de penetração será
expresso pelo índice de resistência à penetração dinâmica (N), conhecido como SPT (“Standard Penetration
Test”). O SPT é dado pela soma do número de golpes necessários para cravar os 30cm finais do amostrador
padrão.
Amostragem: A cada metro de profundidade, são coletadas amostras pela cravação do amostrador padrão
com o objetivo de identificar o solo "in situ" e/ou, posteriormente, no laboratório para esclarecimento de
dúvidas que por ventura venha a ocorrer. As amostras obtidas são deformadas e comprimidas em função do
impacto de cravação e são adequadas apenas para caracterização e identificação táctil visual do solo.

Uma vez com a amostra colhida no amostrador e com o valor o SPT (soma dos número
de golpes para cravar os 30 cm finais do amostrador) fazem-se a identificação e classificação
do solo, de acordo com a ABNT - NBR 7250/80, utilizando testes tácteis-visuais com a
finalidade de definir as características granulométricas, de plasticidade, presença acentuada
de mica, matéria orgânica e cores predominantes. De acordo com a norma acima, o nome
dado ao solo não deverá conter mais do que duas frações e sugere as cores: branco, cinza,
preto, marrom, amarelo, vermelho, roxo, azul e verde, podendo-se usar claro e escuro, para
o máximo de duas cores e o termo variegado quando não houver duas cores
predominantes.

Com o valor do SPT obtido em cada metro, os solos são classificados, quanto a
compacidade (solos grossos) e consistência (solos finos), conforme mostram as Tabelas a
seguir. Nestas tabelas também estão apresentados os valores estimados de ângulo de
atrito, densidade relativa e resistência de ponta do cone, (qc), para os solos arenosos e
estimativa da resistência a compressão simples (Su), para os solos argilosos.

121
Aula 12 – Investigações de Subsolo
MECÂNICA DOS SOLOS

As correlações existentes entre o SPT e a consistência das argilas, principalmente as


argilas sensíveis, podem estar sujeitas a erros, em virtude da mudança de comportamento
da argila em função de cargas dinâmicas e estáticas, provocando o amolgamento
(destruição da estrutura) e consequentemente modificando sua resistência à penetração.
Além disso, é importante ressaltar que os valores podem ser alterados por fatores ligados
ao equipamento usado, técnica operacional, bem como erros acidentais.

Os resultados de uma sondagem deverão ser apresentados em forma de relatório


contendo o perfil individual de cada furo, com as cotas, diâmetro do tubo de revestimento,
posições onde foram recolhidas amostras, posição do N.A., resistência a penetração (SPT) e
descrição do solo, bem como um corte longitudinal (seção), onde podem ser evidenciadas
as sequências prováveis das camadas do subsolo. O relatório fornecerá dados gerais sobre o
local e o tipo de obra, descrição sumária do equipamento e outros dados julgados
importantes. A figura na próxima página apresenta um perfil individual de sondagem à
percussão e a posterior, um perfil associado do subsolo. Na figura do perfil, o termo P/45
indicam uma penetração de 45 cm devida apenas ao peso próprio da composição, sem a
necessidade de execução de qualquer golpe.

2.1.4.1. CRITÉRIOS SOBRE O ENSAIO SPT

Os critérios para a paralisação da Sondagens são os seguintes:

i. Quando em 3m sucessivos, se obtiver índices de penetração maiores do


que 45/15 (quarenta e cinco golpes para os quinze primeiros cm de
penetração);
ii. Quando, em 4m sucessivos, forem obtidos índices de penetração entre
45/15 e 45/30;
iii. Quando, em 5m sucessivos, forem obtidos índices de penetração entre
45/30 e 45/45;
iv. Caso a penetração seja nula em 5 impactos do martelo, o ensaio deverá
ser interrompido, não havendo necessidade de obedecer o critério
estabelecido acima. No entanto, se esta situação ocorrer antes de 8,0m

122
Aula 12 – Investigações de Subsolo
UNIDADE 4 – OPERAÇÕES NO SOLO

123
Aula 12 – Investigações de Subsolo
MECÂNICA DOS SOLOS

de profundidade, a sondagem deverá ser deslocada até o mínimo de 4


vezes em posições diametralmente opostas, distantes 2,0m da sondagem
inicial.
v. Atingida a condição de impenetrável à percussão anteriormente descrita,
a mesma poderá ser confirmada pelo ensaio de avanço por lavagem, por
30minutos, anotando-se os avanços para cada período de 10 minutos. A
sondagem será dada como encerrada quando nessa operação forem
obtidos avanços inferiores a 5cm em cada período de 10minutos, ou
quando após a realização de 4 ensaios consecutivos não for alcançada a
profundidade de execução do ensaio penetrométrico seguinte.

2.1.4.2. ESPAÇAMENTO ENTRE CADA SONDAGEM

O espaçamento ou o número de sondagens e sua distribuição em planta dependerá do


tipo, tamanho da obra e da fase em que se encontra a investigação do subsolo.

124
Aula 12 – Investigações de Subsolo
UNIDADE 4 – OPERAÇÕES NO SOLO

Praticamente, é impossível estipular o espaçamento entre as sondagens antes de uma


investigação inicial, pois este será em função da uniformidade do solo. Quando a estrutura
tem sua localização bem definida dentro do terreno, a ABNT (NBR 8036) sugere o número
mínimo de sondagens a serem realizadas, em função da área construída, conforme mostra a
Tabela a seguir. Os furos devem ser internos à projeção da área construída. Quando as
estruturas não estiverem ainda localizadas, o número de sondagens deve ser fixado, de
modo que, a máxima distância entre os furos seja de 100 m e cobrindo, uniformemente,
toda a área. A sondagem deverá ser executada até o impenetrável ao amostrador ou até a
cota mais baixa da isóbara igual a 0,10 p, estimada pelo engenheiro projetista da fundação,
para o caso de fundações rasas.

2.1.4.3. OBSERVAÇÃO DO NÍVEL D’ÁGUA

Durante a execução da sondagem são feitas as determinações do nível d'água,


registando-se a sua cota e/ou a pressão que se encontra em campo (verificação da
existência de artesianismo). Quando detectar um grande aumento da umidade do solo
retirado com o trado helicoidal, a perfuração deverá ser interrompida e passa-se a observar
a elevação da água no furo até a sua estabilização, efetuando-se leituras a cada 5 minutos,
durante 30 minutos. As leituras são efetuadas utilizando um pêndulo ou pio elétrico.
Sempre que houver paralisação dos serviços, antes do reinicio é conveniente uma
verificação da posição do nível d'água.

2.1.5. Sondagem Rotativa

A sondagem rotativa é empregada na perfuração de rochas, matacões e solos de alta


resistência. Tem como objetivo principal a obtenção de testemunhos (amostras de rocha)
para identificação das descontinuidades do maciço rochoso, mas permite ainda a realização
de ensaios "in situ", como por exemplo o ensaio de perda d'água ou infiltração.

125
Aula 12 – Investigações de Subsolo
MECÂNICA DOS SOLOS

O equipamento para a realização da sondagem rotativa compõe-se de uma haste


metálica rotativa dotada, na extremidade, de uma ferramenta de corte, denominada coroa,
bem como de barriletes, conjunto motor-bomba, tubos de revestimento e sonda rotativa.

As sondas rotativas imprimem o movimento de rotação, recuo e avanço nas hastes.


Através desse movimento, a coroa, que é uma peça constituída de aço especial com
incrustações de diamante ou vídea nas extremidades, vai desgastando a rocha e permitindo
a descida do tubo de revestimento e alojamento do testemunho no interior do barrilete. As
hastes são ocas, para permitir a injeção de água no fundo da escavação a fim de refrigerar a
coroa e carregar os detritos da perfuração até superfície. A utilização de tubos de
revestimento é indispensável quando as paredes do furo se apresentarem instáveis, com
tendência ao desmoronamento, pondo em risco a coluna de perfuração. Os revestimentos
também são necessários quando se atravessa uma formação fraturada ou muito permeável,
causando perdas consideráveis de água de circulação. Os revestimentos são tubos de aço
com paredes finas mas de elevada resistência mecânica, com comprimento de 1 a 3 m,
rosqueados nas extremidades.

A execução da sondagem rotativa consiste basicamente na realização de manobras


consecutivas de movimento rotativo para o corte da rocha. O comprimento da manobra é
determinado pelo comprimento do barrilete, em geral 1,5 a 3,0 m. Terminada a manobra, o
barrilete é retirado do furo e os testemunhos são cuidadosamente retirados e colocados em
caixas especiais com separação e obedecendo a ordem de avanço da perfuração.

Os resultados da sondagem são apresentados na forma de um perfil individual de cada


furo, contendo cotas e descrição dos testemunhos. A descrição dos testemunhos inclui a
classificação litológica (gênese, mineralogia, textura e cor), o estado de alteração da rocha e
o grau de fraturamento.

O estado de alteração é um fator qualitativo e subjetivo para expressar o grau de


alteração da rocha, a saber: rocha extremamente alterada ou decomposta, muito alterada,
medianamente alterada, pouco alterada. O grau de fraturamento é expresso através do
número de fragmentos por metro, o qual é obtido dividindo-se o número de fragmentos
recuperados em cada manobra pelo comprimento da manobra. O critério adotado na
classificação é o seguinte:

• Ocasionalmente fraturada: 1 fratura/metro;


• Pouco fraturada: 1 - 5 fraturas/metro;
• Medianamente fraturada: 6 - 10 fraturas/metro;
• Muito fraturada: 11 - 20 fraturas/metro;

126
Aula 12 – Investigações de Subsolo
UNIDADE 4 – OPERAÇÕES NO SOLO

• Extremamente fraturada: > 20 fraturas/metro;


• Em fragmentos: pedaços de diversos tamanhos.

Atualmente tem-se utilizado um parâmetro chamado RQD (Rock Quality Designation),


para expressar a qualidade das rochas. O RQD é dado pela relação entre a soma dos
comprimentos dos testemunhos com mais de 10 cm dividido pelo comprimento da
manobra. A Tabela apresenta a classificação da rocha em função do RQD.

2.1.6. Sondagem Mista

Sondagem mista é aquela em que são executados os processos de percussão


associados ao processo rotativo. Os dois métodos são alternados de acordo com as camadas
do terreno. É recomendada para terrenos com presença de blocos de rocha, matacões,
sobrejacentes a camadas de solo. A maioria dos casos de sondagem mista inicia-se, pelo
método à percussão, atingindo o impenetrável por esse método, reveste-se o furo e passa-
se ao processo rotativo. Quando ocorre novamente a mudança de material (rocha para
solo), interrompe-se a manobra e o furo prossegue por percussão com medida do índice de
resistência à penetração. Os resultados são apresentados conforme já comentado
anteriormente para cada caso.

2.1.7. Amostragem

A amostragem é o processo de retirada de amostras de um solo com o objetivo de


avaliar as propriedades de engenharia do mesmo. As amostras obtidas podem ser de dois
tipos: amostras deformadas e indeformadas.

• Amostras deformadas: As amostras deformadas são aquelas que conservam


as composições granulométrica e mineral do solo "in situ" e se possível sua
umidade natural, entretanto, a sua estrutura foi perturbada pelo processo de
extração. São obtidas por meio de pás, picaretas, trados e amostradores de
parede grossa. As amostras deformadas são utilizadas para execução dos
ensaios de caracterização do solo (granulometria, limites de consistência,
massa específica dos sólidos), ensaios de identificação táctil - visual, ensaio de

127
Aula 12 – Investigações de Subsolo
MECÂNICA DOS SOLOS

compactação e moldagem de corpos de prova, sob determinadas condições


de grau de compactação e teor de umidade.
• Amostras indeformadas: São aquelas que conservam tanto as composições
granulométrica e mineral do solo, quanto o teor de umidade e a estrutura. O
termo indeformada quer dizer que a amostra foi submetida ao mínimo de
perturbação possível, pois qualquer método amostragem sempre produz uma
modificação no estado de tensão o qual está submetido essa amostra. As
amostras indeformadas são usadas na execução de ensaios de laboratório
para obtenção dos parâmetros de resistência ao cisalhamento e
compressibilidade do solo. Podem ser obtidas por meio de blocos
indeformados ou por meio de amostradores de parede fina. A amostragem
por meio de blocos é, geralmente, realizada na superfície do terreno, em
taludes ou no interior de um poço, acima do nível de água. A retirada de um
bloco de solo prismático indeformado segue esquema apresentado na figura
abaixo. O molde metálico (30x30cm) é cravado no solo e efetua-se a
escavação em torno e na base do mesmo, até separar o bloco do maciço.
Após a retirada do bloco, aplica-se uma fina camada de parafina, recobrindo-o
com um tecido poroso (tela, estopa), e em seguida aplica-se uma nova
camada de parafina. Essas operações tem o objetivo de preservar a umidade
e a estrutura do bloco. Os blocos devem ser devidamente identificados e
colocados em caixas contendo serragem para serem enviados para o
laboratório, onde devem ser mantidos em câmara úmida até a utilização.

2.2. Métodos Semidiretos

Os métodos semidiretos de prospecção são aqueles que não permitem coleta de


amostras e visualização do tipo de solo, sendo as características de comportamento
mecânico, obtidas por meio de correlações com grandezas medidas na execução do ensaio.
Foram desenvolvidos com o intuito de contornar as dificuldades de obtenção de amostras
de boa qualidade em certos tipos de solos, como areias puras ou submersas e argilas
sensíveis de consistência muito mole. Os métodos semidiretos são conhecidos como ensaios
"in situ", que tem por vantagem minimizar as perturbações causadas pela variação do

128
Aula 12 – Investigações de Subsolo
UNIDADE 4 – OPERAÇÕES NO SOLO

estado de tensões e distorções devidas ao processo de amostragem, bem como evitar os


choques e vibrações decorrentes do transporte e subsequente manuseio das amostras.
Além disso, o efeito da configuração geológica do terreno está presente nesses ensaios "in
situ" permitindo uma medida mais realista das propriedades físicas do solo.

Dentre os ensaios "in situ" mais empregados no Brasil destacam-se o ensaio de


penetração estática (CPT), o ensaio de "vane test" ou palheta e o ensaio pressiométrico. O
ensaio de CPT e "vane test" têm por objetivo a determinação da resistência ao cisalhamento
do solo, enquanto o ensaio pressiométro visa estabelecer uma espécie de curva tensão-
deformação para o solo investigado. A seguir será detalhado o ensaio CPT e brevemente
abordados o vane test e pressiométrico.

2.2.1. Ensaio de Penetração Estática (CPT)

O ensaio de penetração contínua ou estática do cone, também conhecido como deep-


sounding, foi desenvolvido na Holanda com o propósito de simular a cravação de estacas e
está normalizado pela ABNT através da norma NBR 3406.

O ensaio de CPT permite medidas quase contínuas da resistência de ponta e lateral


devido à cravação de um penetrômetro no solo, as quais, por correlações, permitem
identificar o tipo de solo, destacando a uniformidade e continuidade das camadas. Permite,
também, determinar os parâmetros de resistência ao cisalhamento e a capacidade de carga
dos materiais investigados. É um ensaio de custo relativamente baixo, rápido de ser
executado, sendo, portanto, indicado para a prospecção de grandes áreas. Apresenta como
desvantagens a não obtenção de amostras para inspeção visual, a não penetração em
camadas muito densas e com presença de pedregulhos e matacões, as quais podem tornar
os resultados extremamente variáveis e causar problemas operacionais como deflexão das
hastes e estragos na ponteira.

O equipamento para execução do ensaio de CPT consta de um cone de aço, móvel,


com um ângulo no vértice de 60° e área transversal de 10 cm2. O cone é acionado por
hastes metálicas, as quais transmitem o esforço estático de cravação produzido por
macacos hidráulicos ou por engrenagens que acionam duas cremalheiras (hastes dentadas).
O movimento de subida e descida são obtidos por intermédio das engrenagens
movimentadas por sarillhos manuais. A pressão de cravação é obtida por manômetros ou
anéis dinamométricos, sendo geralmente utilizados dois manômetros, um para altas
pressões e outro para baixas pressões. O equipamento tem normalmente uma capacidade
de 10 toneladas.

129
Aula 12 – Investigações de Subsolo
MECÂNICA DOS SOLOS

O ensaio consiste em cravar o cone solidário a uma haste e medir o esforço de


necessário à penetração. São feitas medidas de resistência de ponta e total. Com o
penetrômetro na cota de ensaio, crava-se 4 cm da ponta por meio uma haste interna. Em
seguida, a luva (camisa) e a ponta são cravados, numa extensão de aproximadamente 4cm,
medindo-se a força usada para obtenção da resistência total, ponta mais atrito lateral,
desenvolvido ao longo do comprimento do cone. Novamente, o penetrômetro é colocado
na posição inicial, e as operações são sucessivamente repetidas. A resistência lateral (ql) é
obtida pela diferença entre a resistência total e a de ponta (qc). A velocidade de cravação
do cone deverá ser constante e da ordem de 2 cm/seg. A cada 4 cm de profundidade,
portanto, podem-se ter valores das resistências lateral e de ponta que, lançados em um
gráfico versus a profundidade toma o aspecto da figura.

Os resultados do ensaio de cone, isto é, as relações entre resistência de ponta (qc) e


razão de atrito (atrito lateral /resistência de ponta) permitem obter a classificação dos tipos
de solos encontrados, através do gráfico da figura abaixo, apresentado por Schermertmann.

Os dados permitem obter, ainda, boas indicações das propriedades do solo, ângulo de
atrito interno de areias, e coesão e consistência das argilas. Foi Meyerhof (1956) quem
inicialmente propôs uma correlação do tipo qc = n . N, entre a resistência de ponta (qc) e N
número de golpes para cravar 30cm finais do SPT. O autor acima sugeriu para as areias um n
= 4. Com base nesta relação foi elaborado um gráfico que estabelece as características de
resistência ao cisalhamento e de deformabilidade de areias e argilas em função dos

130
Aula 12 – Investigações de Subsolo
UNIDADE 4 – OPERAÇÕES NO SOLO

resultados do SPT e da resistência de ponta do CPT. Entre as experiências brasileiras


menciona-se a desenvolvida por engenheiros do grupo “estaca franki”, que com base em
grande número de ensaios, chegaram aos valores de qc/N, apresentados na Tabela.

2.2.2. Ensaio da Palheta (Vane-Test)

O "vane test" foi desenvolvido na Suécia, com o objetivo de medir a resistência ao


cisalhamento não drenada de solos coesivos moles saturados. Hoje o ensaio é normalizado
no Brasil pela ABNT (NBR 10905).

O equipamento para realização do ensaio é constituído de uma palheta de aço,


formada por quatro aletas finas retangulares, hastes, tubos de revestimentos, mesa,
dispositivo de aplicação do momento torçor e acessórios para medida do momento e das
deformações. O equipamento está mostrado ao lado. O diâmetro e a altura da palheta
devem manter uma relação constante 1:2 e, sendo os diâmetro mais usuais de 55, 65 e 88

131
Aula 12 – Investigações de Subsolo
MECÂNICA DOS SOLOS

mm. A medida do momento é feito através de anéis dinamométricos e vários tipos de


instrumentos com molas, capazes de registrar o momento máximo aplicado.

O ensaio consiste em cravar a palheta e em medir o torque necessário para cisalhar o


solo, segundo uma superfície cilíndrica de ruptura, que se desenvolve no entorno da
palheta, quando se aplica ao aparelho um movimento de rotação. A instalação da palheta
na cota de ensaio pode ser feita ou por cravação estática ou utilizando furos abertos a trado
e/ou por circulação de água. No caso de cravação estática, é necessário que não haja
camadas resistentes sobrejacentes à argila a ser ensaiada e que a palheta seja munida de
uma sapata de proteção durante a cravação. Tanto o processo de cravação da sapata,
quanto o de perfuração devem ser paralisados a 50 cm acima da cota de ensaio, a fim de
evitar o amolgamento do terreno a ser ensaiado. A partir daí, desce apenas a palheta de
realização do ensaio. Com a palheta na posição desejada, deve-se girar a manivela a uma
velocidade constante de 6°/min, fazendo-se as leituras da deformação no anel
dinamométrico de meio em meio minuto, até atingir o momento máximo. Em seguida deve-
se soltar a mesa e girar a manivela, rapidamente, com um mínimo de 10 rotações a fim de
amolgar a argila e em seguida é feito novo ensaio para medir a resistência amolgada da
argila e com isto, determinar a sensibilidade da argila (resistência da argila indeformada/
resistência da argila amolgada).

2.2.3. Ensaio Pressiométrico

Este ensaio é usado para determinação "in situ" do módulo de elasticidade e da


resistência ao cisalhamento de solos e rochas, sendo originalmente desenvolvido na França
pelo engenheiro Menard.

O ensaio pressiométrico consiste em efetuar uma prova de carga horizontal no


terreno, graças a uma sonda que se introduz por um furo de sondagem de mesmo diâmetro
e realizado previamente com grande cuidado para não modificar-se as características do
solo.

O equipamento destinado a execução do ensaio, chamado pressiômetro, é constituído


por três partes: sonda, unidade de controle de medida pressão - volume e tubulações de
conexão (figura ao lado). A sonda pressiométrica é constituída por uma célula central ou de
medida e duas células extremas, chamadas de células guardas, cuja finalidade é estabelecer
um campo de tensões radiais em torno da célula de medida. O comprimento total da sonda
é da ordem de 60 a 70 cm e o da célula central de medida é cerca de 20 cm. A unidade de
controle é a parte do sistema que fica à superfície e contém, um depósito de CO 2,
manômetros para medir a pressão e dispositivo de controle.

132
Aula 12 – Investigações de Subsolo
UNIDADE 4 – OPERAÇÕES NO SOLO

2.3. Métodos Indiretos

Os métodos ditos indiretos de prospecção são aqueles em que a determinação das


propriedades das camadas do subsolo é feita indiretamente pela medida de um parâmetro
geofísico, geralmente resistividade elétrica ou velocidade de propagação das ondas no
meio. Os índices medidos mantêm correlações com a natureza geológica dos diversos
horizontes, podendo-se ainda conhecer as suas respectivas profundidades e espessuras.
Dentre os vários processos geofísicos de prospecção podemos citar a resistividade elétrica e
o método de "cross-hole", como sendo os de uso mais frequentes na engenharia civil. Os
métodos indiretos apresentam como grande vantagem, em relação aos anteriormente
descritos, a de serem rápidos e econômicos, não necessitando da coleta de amostras,
podendo ser utilizados na prospecção preliminar de grandes áreas. Atualmente, a técnica
geofísica denominada de GPR (“Ground Penetration Radar” ou radar de penetração do solo)
está ganhando terreno em diversas áreas da geotecnia.

2.3.1. Ensaio de Resistividade Elétrica

Este ensaio fundamenta-se no princípio de que diferentes materiais do subsolo


possuem valores característicos diferentes de resistividade elétrica.

"A técnica de caminhamento elétrico consiste em observar a variação lateral de


resistividade a profundidades aproximadamente constantes. Isso é obtido fixando o
espaçamento dos eletrodos e caminhando-se com os mesmos ao longo de perfis, efetuando
as medidas de resistividade aparente. Com o dispositivo eletródico dipolo-dipolo, os
eletrodos AB de injeção de corrente e MN de potencial são dispostos segundo um mesmo
perfil e o arranjo é definido pelos espaçamentos X = AB = MN. A profundidade de
investigação cresce com o espaçamento (R), e teoricamente corresponde a R/2 (figura), as
medidas são efetuadas em várias profundidades de investigação, permitindo assim a
construção de uma seção de resistividade aparente (ELIS & ZUQUETTE 1996)".

133
Aula 12 – Investigações de Subsolo
MECÂNICA DOS SOLOS

Ao passar uma corrente elétrica (I) através dos eletrodos A e B, e medir a diferença de
potencial (∆V) criada entre os eletrodos M e N, obtém-se a resistividade por uma equação
que dispensaremos que será dispensada a demonstração.

2.3.2. Ensaio Cross-Hole

A técnica sísmica do cross-hole, ou transmissão direta entre furos, tem como principal
objetivo a medida, em profundidade, das velocidades de propagação das ondas de
compressão (p) e cisalhante (s) de um furo de sondagem equipado com um martelo, a outro
equipado com um geofone (GIACHETI, 1991).

As velocidades das ondas de compressão e cisalhante são determinadas através da


medida do tempo requerido para o impacto percorrer a massa de solo e ser captado pelo
geofone colocado a uma distância, em geral não excedente a 8 metros da fonte. Assim, a
partir da obtenção das velocidades de propagação das ondas e do peso específico do solo é
possível estimar os módulos cisalhante e de deformabilidade.

A técnica de GPR vem sendo utilizada nos últimos anos com maior ênfase na
identificação de patologias em estruturas de concreto armado, localização de estruturas
enterradas, diagnóstico de áreas contaminadas, monitorização, levantamento de perfis
geotécnicos, etc. O ensaio consiste na emissão de um pulso de onda eletromagnética, de
forma e duração conhecidos, e do acompanhamento do retorno destes pulsos à antena
receptora. Sempre que o meio muda as suas propriedades eletromagnéticas, há reflexões e
refrações do pulso de onda emitido que indicam esta mudança. Embora o ensaio seja
pontual, a execução de uma série de ensaios com um determinado espaçamento, segundo
um determinado alinhamento, permite traçar perfis ou cortes do objeto em estudo, que se
juntos poderão a vir a formar imagens tridimensionais da área estudada. A figura ilustra um
modelo de equipamento de GPR.

Baseado e adaptado de
Sandro Lemos Machado e
Miriam C. Machado. Edições
sem prejuízo de conteúdo.

134

Você também pode gostar