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Alvenaria

SCHOLA DIGITAL
2018

Material Didático de Leitura


Obrigatória utilizado na
Disciplina de Alvenaria –
Revisão 00 de Janeiro de
2018
ÍNDICE

UNIDADE 1 – ALVENARIA DE VEDAÇÃO

Aula 1: Contextos e Conceitos....................................................................................................1

Aula 2: Etapas de Projeto I..........................................................................................................7

Aula 3: Etapas de Projeto II.......................................................................................................19

Aula 4: Execução I.....................................................................................................................35

Alvenaria
Aula 5: Execução II....................................................................................................................45

Aula 6: Qualidade e Manutenção.............................................................................................51

UNIDADE 2 – ALVENARIA ESTRUTURAL

Aula 7: Introdução à Alvenaria Estrutural.................................................................................57

Aula 8: Argamassas de Assentamento......................................................................................67

Aula 9: Projetos I.......................................................................................................................74

Aula 10: Projetos II....................................................................................................................85

Aula 11: Controle......................................................................................................................95

Aula 12: Patologias.................................................................................................................101


Aula 1 - Contextos e Conceitos
UNIDADE 1 – ALVENARIA DE VEDAÇÃO

Unidade 1 – Alvenaria de Vedação

Aula 1: Contextos e Conceitos

Alvenaria é a pedra sem lavra com que se erigem paredes e muros mediante seu
assentamento com ou sem argamassa de ligação, em fiadas horizontais ou em camadas
parecidas, que se repetem sobrepondo-se umas sobre as outras. Alvenaria também pode ser
conceituada como sendo o sistema construtivo de paredes e muros, ou obras similares,
executadas com pedras, com tijolos cerâmicos, blocos de concreto, cerâmicas e silicocalcário,
assentados com ou sem argamassa de ligação.

1. Das Alvenarias de Vedação

Alvenarias de vedação são aquelas destinadas a compartimentar espaços,


preenchendo os vãos de estruturas de concreto armado, aço ou outras estruturas. Assim
sendo, devem suportar tão somente o peso próprio e cargas de utilização, como armários,
rede de dormir e outros. Devem apresentar adequada resistência às cargas laterais
estáticas e dinâmicas, advindas, por exemplo, da atuação do vento, impactos acidentais e
outras.

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Aula 1 - Contextos e Conceitos
ALVENARIA

As alvenarias têm sido empregadas desde a antiguidade, porém o conhecimento


adquirido ao longo dos anos tem hoje pouco valor relativo, em função das transformações
sofridas pela construção: os edifícios atuais atingem alturas de dezenas de metros, as
estruturas foram flexibilizadas, com o surgimento das estruturas pilar-laje (“lajes planas”)
eliminou-se grande parte das vigas, em algumas obras os contrapisos vêm sendo eliminados
(“laje zero”), os sistemas prediais têm sido muito implementados (controles remotos,
instalações de lógica, circuitos internos de televisão, segurança, aspiração central e outras).

Os projetos de arquitetura, e até mesmo alguns projetos de alvenaria, têm se


restringido ao comportamento mecânico e à coordenação dimensional das paredes com
outros elementos da obra, como caixilhos e vãos estruturais. Na realidade, as alvenarias
devem ser enfocadas de forma mais ampla, considerando-se aspectos do desempenho
termo-acústico, resistência à ação do fogo, produtividade e outros. Sob o ponto de vista da
isolação térmica ou da inércia térmica das fachadas, por exemplo, as paredes influenciam a
necessidade ou não de condicionamento artificial dos ambientes internos, com repercussão
no consumo de energia ao longo de toda a vida útil do edifício.

Diante das novas opções arquitetônicas e estruturais, dos novos modelos de


construção, dos novos tipos de blocos vazados desenvolvidos pela indústria cerâmica e até
mesmo das novas exigências econômicas e ambientais, este material didático será
alicerçado na efetiva experiência construtiva e na normalização técnica brasileira.

1.1. Objetivo da Disciplina

O objetivo deste material didático é recomendar e unificar práticas construtivas bem-


sucedidas e consensualizadas junto ao setor produtivo, para alvenaria de vedação em
blocos cerâmicos, complementando a normalização técnica e balizando o uso dessa técnica
construtiva no Brasil, mesmo considerando-se as especificidades regionais.

Com a aplicação desse documento, que consolida o estado-da-arte de elementos ou


técnicas construtivas já consagradas pelo uso, pretende-se otimizar a produtividade e a
qualidade das edificações, além de melhor balizar as relações contratuais entre os
diferentes agentes da cadeia produtiva, envolvendo empreendedores, fabricantes de
materiais e componentes, projetistas, construtoras, agentes promotores, agentes
financeiros e responsáveis pela operação e manutenção dos edifícios.

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Aula 1 - Contextos e Conceitos
UNIDADE 1 – ALVENARIA DE VEDAÇÃO

1.2. Campo de Estudos

Focaremos nestas aulas na aplicação das alvenarias de vedação executadas com blocos
cerâmicos vazados assentados com argamassa, preenchendo os reticulados de estruturas de
concreto armado ou protendido, concreto pré-moldado, aço, madeira, estruturas mistas
aço-concreto e outras. Aplica-se ainda a estruturas pilar-laje e a paredes apoiadas sobre
lajes maciças, lajes pré-moldadas, lajes alveolares e lajes mistas steel-deck, dentre outras.

As referidas alvenarias podem ser empregadas tanto nas fachadas das construções
(paredes externas) como nas paredes internas, além de poderem integrar platibandas,
muros de divisa e outros elementos. Podem, ainda, constituir paredes com ou sem
revestimento.

As práticas indicadas podem também ser empregadas em vedações em tijolos


cerâmicos maciços, sendo que algumas das especificidades relativas ao emprego desses
componentes encontram-se indicadas no documento. É válido lembrar que as aulas da
primeira unidade não se aplicam a obras de alvenaria estrutural.

2. Terminologias

Nesta Aula introdutória, descrever-se-ão as definições de termos doravante utilizadas


no material didático. São os principais:

• Alvenaria de Vedação: parede constituída pelo assentamento de tijolos


maciços ou blocos vazados com argamassa, com a função de suportar apenas
seu peso próprio e cargas de ocupação como armários, prateleiras, redes de
dormir, etc.;
• Bisnaga de Assentar: bolsa de couro ou tecido resistente, com formato
cônico, tendo no vértice orifício circular, utilizada na execução de alvenarias,
para formar cordões para o assentamento ou o rejuntamento dos blocos;
• Bloco Cerâmico de Vedação: componente vazado, com furos prismáticos
perpendiculares às faces que os contêm, que integra alvenarias de vedação
intercaladas nos vãos de estruturas de concreto armado, aço ou outros
materiais. Normalmente são empregados com os furos dispostos
horizontalmente, devendo resistir somente ao peso próprio e a pequenas
cargas de ocupação;
• Bloco Cerâmico Estrutural: componente vazado, com furos prismáticos
perpendiculares às faces que os contêm, que integra alvenarias que
constituem o arcabouço resistente da construção, sendo normalmente

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Aula 1 - Contextos e Conceitos
ALVENARIA

aplicados com os furos dispostos verticalmente. Pode também ser aplicado


em alvenarias de vedação;
• Bloco Cerâmico Vazado: componente de alvenaria fabricado com material
cerâmico, com furos posicionados vertical ou horizontalmente, com área útil
do material cerâmico não excedendo a 25% da correspondente área bruta da
seção;
• Bloco Compensador: componente com medidas equivalentes a sub-módulo
do comprimento do bloco padrão (exemplo 1/4 M e 1/8 M), utilizado para
complementar vãos que não sejam múltiplos inteiros do módulo;
• Bloco de Amarração: Bloco com dimensões que permitem a amarração das
paredes entre si, sem interferir na modulação;
• Boneca: pequeno trecho saliente de alvenaria destinado ao alojamento de
tubulações ou à fixação de marcos de portas e janelas;
• Canaleta “J”: componente cerâmico com seção em forma de J, sem paredes
transversais, que permite o apoio de lajes sem que se quebre a modulação
vertical das fi adas nas paredes de fachada;
• Canaleta “U”: componente cerâmico com seção em forma de U, sem paredes
transversais, que permite a construção de cintas de amarração, vergas e
contravergas. Aplicada no topo de paredes internas, permite o apoio de laje
sem que se quebre a modulação vertical das fiadas;
• Componentes Complementares: blocos ou outros componentes cerâmicos
que integram as alvenarias com função específica;
• Contraverga: reforço de material resistente à tração e ao cisalhamento,
introduzida e solidarizada às alvenarias, localizada na parte inferior de vãos,
como os de janelas, com a finalidade de absorver essas tensões;
• Escantilhão: régua graduada, com subdivisão correspondente à altura de cada
fiada, utilizada para obediência à modulação vertical da alvenaria e também
para orientar o prumo das paredes;
• Escantilhão com Tripé: escantilhão suportado na vertical por três hastes
articuladas, fixadas na base com pregos de aço, parafusos com buchas ou
outros recursos, com sistema de regulagem que possibilita mantê-lo no
prumo e alinhar a primeira marca com a cota da primeira fiada;
• Escantilhão Telescópico: escantilhão constituído por partes escamoteáveis,
com regulagem de altura e sistema de molas que lhes confere capacidade de
encaixar-se e manter-se preso nos reticulados da estrutura, com possibilidade
de manter-se aprumado e alinhado com a cota da primeira fiada;
• Esticador de Linha: ferramenta normalmente de madeira, com formato de
“U”, com a linha de náilon enrolada na base do “U”; encaixa-se a ferramenta

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Aula 1 - Contextos e Conceitos
UNIDADE 1 – ALVENARIA DE VEDAÇÃO

nos blocos extremos da fi ada que se está executando, com suas pernas
enviesadas em relação ao eixo da parede, de forma que ao se esticar a linha a
ferramenta fica presa por atrito e permite manter a linha esticada;
• Finca-pinos: ferramenta semelhante a uma pistola, destinada a cravar pinos
de aço no concreto, na alvenaria ou em outros materiais, funcionando à base
de explosivos; a ferramenta deve ser operada por profissionais habilitados,
devendo apresentar regulagem de pressão (diferentes para os diferentes
tipos de base) e sistema de comando que evite a deflagração acidental do
projétil (pino de aço);
• Fio Traçante: barbante/fio de algodão que é impregnado com pó colorido
(“vermelhão” ou equivalente), destinado à marcação de paredes, eixos de
referência, etc.; na exata posição que se quer demarcar, fio é distendido e
suportado nas extremidades, sendo em seguida esticado intermediariamente
para que forme uma catenária invertida; soltando-se repentinamente o fi o
tencionado, grava na base a linha desejada;
• Graute: micro-concreto ou argamassa autoadensável, isto é, material que se
acomoda no interior do molde sem a necessidade de ser socado ou vibrado,
com a função de solidarizar a armadura à alvenaria;
• Junta a Prumo: assentamento de blocos ou tijolos onde os componentes da
fiada superior projetam-se exatamente sobre os componentes inferiores, isto
é, as juntas verticais de assentamento resultam alinhadas;
• Junta de Controle: junta introduzida em parede muito longa, em seção com
mudança abrupta de direção ou mudança de espessura da parede, com a
finalidade de evitar a fissuração da alvenaria;
• Junta de Amarração: assentamento de blocos ou tijolos de forma defasada,
isto é, o componente superior projeta-se simultaneamente sobre as duas
metades dos componentes inferiores, aceitando-se sobreposição mínima de
um quarto do comprimento em trechos localizados das paredes;
• Junta Seca: encontro vertical entre dois blocos contíguos, sem argamassa na
junta vertical de assentamento;
• Meia-cana: ferramenta côncava destinada à execução de alvenarias, com
pequena largura, com capacidade para recolher quantidade de argamassa
compatível com a dimensão do cordão que se pretende constituir para o
assentamento de blocos;
• Módulo (M): Unidade de medida padrão que representa a distância entre dois
planos consecutivos do reticulado modular de referência (em geral, assume-
se para essa distância o valor de um decímetro: 1M = 10cm);

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Aula 1 - Contextos e Conceitos
ALVENARIA

• Palete: plataforma de madeira sobre a qual se empilham os blocos ou tijolos a


fi m de transportá-los em maior quantidade e de forma segura, possibilitando
ainda o içamento através de gruas ou guinchos e facilitando o encaixe de
garfos de carrinhos porta-paletes;
• Palheta, Meia-desempenadeira ou Régua de Assentar: régua com largura em
torno de 4 ou 5cm, ligeiramente mais comprida que os blocos, com a qual se
recolhe argamassa da masseira e a deposita sobre o bloco mediante
pequenos movimentos de translação e rotação (raspando a ferramenta na
lateral do bloco e deixando a argamassa depositada no seu topo);
• Tijolo Cerâmico Maciço: componente de alvenaria com forma de
paralelepípedo, com todas as faces plenas de material cerâmico, podendo
apresentar rebaixos de fabricação em uma das faces de maior área;
• Vão em Osso: dimensões de uma parede ou de um vão de esquadria, ou ainda
medida linear entre faces de componentes estruturais ou de paredes, sem
que tenha ocorrido aplicação de qualquer tipo de acabamento na obra bruta
(estrutura e alvenarias);
• Verga: reforço de material resistente à flexão e ao cisalhamento, introduzida
e solidarizada às alvenarias sobre os vãos como os de portas ou janelas, com a
finalidade de absorver tensões que se concentram no entorno dos vãos;
• Vida Útil (VU): período de tempo durante o qual o edifício ou seus sistemas
mantém o desempenho esperado, quando submetidos às atividades de
manutenção pré-definidas no respectivo manual de operação, uso e
manutenção;
• Vida Útil de Projeto: período estimado de tempo em que um sistema é
projetado para atender aos requisitos de desempenho estabelecidos na série
de normas NBR 15575, desde que cumprido o programa de manutenção
previsto no respectivo manual de operação, uso e manutenção.

Baseado e adaptado de
CÓDIGO DE PRÁTICAS Nº 01,
IPT, EPUSP. Edições sem
prejuízo de conteúdo.

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Aula 2 – Etapas de Projeto I
UNIDADE 1 – ALVENARIA DE VEDAÇÃO

Aula 2: Etapas de Projeto I

Os blocos cerâmicos utilizados na execução das alvenarias de vedação, com ou sem


revestimentos, devem atender à norma NBR 15270-1, a qual, além de definir termos, fixa os
requisitos dimensionais, físicos e mecânicos exigíveis no recebimento

1. Seleção de Materiais

O estudo do assunto envolve os conceitos das disciplinas de Materiais de Construção e


têm seus critérios baseados nas contextualizações que seguirão.

1.1. Blocos Cerâmicos

Consideram-se dois tipos de blocos quanto ao direcionamento de seus furos


prismáticos, conforme ilustrado na Figura.

As dimensões de fabricação (largura - L, altura - H e comprimento - C) devem ser


correspondentes a múltiplos e submúltiplos do módulo dimensional M = 10 cm menos 1 cm,
conforme dimensões padronizadas indicadas na Tabela. Além dos blocos e meios-blocos
existem outros tipos de componentes cerâmicos complementares que integram as
alvenarias de vedação, com funções específicas como a canaleta U, que permite a
construção de cintas de amarração, vergas e contravergas, a canaleta J, os blocos de
amarração, os compensadores e outros que podem ser especificados em projetos, desde
que atendam aos requisitos de desempenho exigidos.

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Aula 2 – Etapas de Projeto I
ALVENARIA

As características que os blocos cerâmicos de vedação devem apresentar, de acordo


com a norma NBR 15270-1, são assim resumidas:

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Aula 2 – Etapas de Projeto I
UNIDADE 1 – ALVENARIA DE VEDAÇÃO

As características apresentadas na Tabela acima devem ser verificados para os blocos


cerâmicos conforme os procedimentos de ensaios definidos na norma NBR15270-3. Com a
finalidade de caracterização e aceitação ou rejeição dos blocos cerâmicos, essa norma
descreve os métodos de ensaios para a avaliação de conformidade dos mesmos, incluindo a
determinação de suas características geométricas, físicas e mecânicas.

Para avaliação da conformidade dos blocos, além de uma inspeção geral (onde se
verifica a correta identificação dos blocos, incluindo a marca do fabricante em cada peça, e
as características visuais dos blocos), deve ser realizada inspeção por ensaios para
determinação de suas características geométricas (valores das dimensões das faces,
espessura das nervuras que formam os septos e das paredes externas do bloco, esquadro e
planeza das faces), de sua caracterização física (índice de absorção de água) e sua
caracterização mecânica (resistência à compressão). Para tanto, deve-se observar os lotes
de fornecimento com no máximo 100.000 blocos ou fração, de acordo com as amostragens
e critérios de aceitação e rejeição apresentados na Tabela.

Análises e ensaios periódicos são realizados em blocos cerâmicos de empresas que


participam do Programa Setorial da Qualidade de Blocos Cerâmicos – PSQ-BC2, em vigor no
âmbito do PBQP-H (Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat),
vinculado ao Ministério das Cidades.

No PSQ-BC são realizadas, periodicamente, as seguintes análises de acordo com a


norma NBR 15270:

• Nível 1: Inscrição (Identificação), Avaliação Visual e Verificação das


Características Geométricas (Dimensional);
• Nível 2: Requisitos exigidos no Nível 1 mais Absorção de Água e Resistência à
Compressão;

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Aula 2 – Etapas de Projeto I
ALVENARIA

• Nível 3: Avaliação de Conformidade do Produto no âmbito do SBAC - Sistema


Brasileiro de Avaliação da Conformidade, INMETRO (Certificação).

Para o caso da utilização de tijolos maciços cerâmicos para alvenaria deve-se verificar
as especificações constantes da norma NBR 7170 (características visuais, geométricas e
mecânicas), considerando os respectivos critérios de aceitação e rejeição. A verificação da
resistência à compressão do tijolo deve ser feita conforme método de ensaio apresentado
na norma NBR 6460.

1.2. Argamassa de Assentamento

Recomendam-se as argamassas mistas, compostas por cimento e cal hidratada, para o


assentamento. A argamassa utilizada para o assentamento dos blocos pode ser
industrializada ou preparada em obra e devem atender aos requisitos estabelecidos na
norma NBR 13281.

O cimento exerce papel importante na aderência, na resistência mecânica da parede e


na estanqueidade à água das juntas. Na preparação da argamassa, sempre que possível,
deve-se evitar a utilização de cimentos de alto forno (CP III) ou pozolânico (CP IV), pois,
devido à importante presença de escória de alto forno e de material pozolânico
respectivamente, a argamassa poderá ter elevada retração caso não haja adequada
hidratação do aglomerante; esses tipos de cimento, entretanto, podem ser utilizados em
situações em que se tenta prevenir reações de compostos do cimento com sulfatos
presentes na cerâmica.

A cal, em função de seu poder de retenção de água, propicia menor módulo de


deformação às paredes, com maior potencial de acomodar movimentações resultantes de
deformações impostas. Relativamente à cal hidratada, pode-se utilizar qualquer um dos
tipos de cal que atenda à norma NBR 7175.

As areias devem ser lavadas e bem granuladas, recomendando-se para a argamassa de


assentamento areias médias (módulo de finura em torno de 2 a 3). Não se recomenda o
emprego de areias com porcentagens elevadas de material silto-argiloso (conhecidas no
Brasil com diversos nomes: “saibro”, “caulim”, “arenoso”, “areia de estrada”, “areia de
barranco” etc.), sendo que a areia deve atender às especificações da norma NBR 7211.

Os ensaios recomendados para as argamassas de assentamento, conforme a NBR


13281, são os seguintes: resistência à compressão, densidade de massa aparente nos

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Aula 2 – Etapas de Projeto I
UNIDADE 1 – ALVENARIA DE VEDAÇÃO

estados fresco e endurecido, resistência à tração na flexão, coeficiente de capilaridade,


retenção de água e resistência de aderência à tração.

1.3. Telas Metálicas

Recomenda-se que as telas utilizadas na ligação alvenaria – pilar sejam telas metálicas
eletrosoldadas, galvanizadas, e dotadas de fi os com diâmetro em torno de 1 mm e malha
quadrada de 15 mm. As telas devem atender às especificações da norma NBR 10119.

2. Etapa de Projeto

2.1. Requisitos e Critérios de Desempenho

As dimensões dos blocos, a forma da seção transversal, a presença de revestimento, a


relação altura / espessura da parede, as características da argamassa de assentamento, as
características de rigidez da estrutura e a presença de vãos de portas e janelas influenciam
significativamente o desempenho das alvenarias.

No caso de paredes, a resistência à compressão dos blocos, além de ser um indicador


geral da sua qualidade, terá influência direta na resistência ao cisalhamento e à compressão
de paredes solicitadas por deformações impostas da estrutura, devendo ser empregados
blocos que atendam às exigências já relacionadas. Blocos com resistência mínima à
compressão de 1,5 MPa podem ser utilizados em paredes de vedação com as alturas
indicadas na Tabela da página 18; caso as paredes venham a ser submetidas a deformações
impostas ou a cargas de ocupação mais significativas pode-se optar pelos blocos com
resistência mínima de 3 MPa. A deformabilidade das alvenarias de vedação em blocos
cerâmicos vazados pode ser avaliada com base nos valores de seu módulo de deformação,
indicados na Tabela.

Em situações especiais, como nos edifícios com mais de 20 pavimentos, nas paredes
mais longas e naquelas com altura considerável (superior a 3 m), as alvenarias devem
apresentar adequada resistência às cargas laterais, particularmente aquelas devidas à ação
do vento. Nesse caso, o momento fletor que atua na parede deve ser calculado com base na
carga atuante, nas dimensões da parede e nas suas condições de vinculação, sendo que a
tensão atuante não deve exceder a tensão admissível da alvenaria solicitada à tração na
flexão. Para alvenarias com juntas em amarração totalmente preenchidas (juntas
horizontais e juntas verticais), assentadas com argamassas de resistência à compressão
maior ou igual a 5 MPa pode-se considerar para as alvenarias os valores admissíveis e
resistência à tração na flexão indicados na Tabela.

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Aula 2 – Etapas de Projeto I
ALVENARIA

Relativamente a cargas dinâmicas, para blocos que atendam exigências do item 1.1,
alvenarias assentadas com juntas em amarração e argamassas de assentamento com
resistência à compressão ≥ 5 MPa, para impactos de corpo mole (realizados conforme NBR
11675) podem ser admitidos os valores de resistência indicados na próxima tabela
(alvenarias com ou sem revestimento em argamassa). Para paredes com essas mesmas
condições construtivas, para a capacidade de fixação de peças suspensas (ensaio realizado
conforme NBR 11678) podem ser admitidos os valores igualmente indicados na tabela.

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Aula 2 – Etapas de Projeto I
UNIDADE 1 – ALVENARIA DE VEDAÇÃO

A aplicação de revestimentos em argamassa ou gesso pode melhorar


substancialmente o desempenho das alvenarias frente à ação do fogo, aumentando ainda a
isolação térmica e acústica. Valores médios dessas características, obtidas com a realização
de ensaios de laboratório, são indicados abaixo.

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Aula 2 – Etapas de Projeto I
ALVENARIA

2.2. Exigência e Recomendações para Projetos

O projeto das alvenarias de vedação deve levar em conta, além do próprio


desempenho mecânico, exigências relacionadas à estanqueidade à água, à isolação térmica,
à isolação acústica, à resistência ao fogo e a outras características. Assim sendo, na seleção
do sistema de blocos deve-se considerar:

• Dimensões modulares / peso dos blocos (aspectos ergonômicos e de


produtividade);
• Disponibilidade de blocos especiais (para coordenação modular nos encontros
entre paredes);
• Disponibilidade de peças complementares (meio-blocos, canaletas, blocos
compensadores, etc.);
• Regularidade geométrica e integridade das arestas;
• Embalagem / paletização;

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Aula 2 – Etapas de Projeto I
UNIDADE 1 – ALVENARIA DE VEDAÇÃO

• Facilidade de embutimento de dutos / fixação de esquadrias;


• Capacidade de sustentação de peças suspensas;
• Absorção de água / expansão higroscópica / risco de eflorescências;
• Rugosidade superficial/capacidade de aderência de revestimentos;
• Resistência à compressão;
• Isolação térmica;
• Isolação acústica;
• Resistência ao fogo.

O projeto de arquitetura tem grande influência no desempenho das paredes de


vedação. Com vistas à estanqueidade à água e à própria durabilidade das paredes externas
e dos revestimentos das fachadas, é desejável que as lâminas de água sejam descoladas o
mais rapidamente possível das fachadas, o que se pode conseguir com diferentes recursos
arquitetônicos, como molduras, cornijas, capitéis, peitoris, pingadeiras e outros.

A pintura das fachadas em cores escuras deve ser evitada, quando possível, pois
favorece a absorção de calor, redundando em maiores movimentações térmicas das
paredes, aumentando a possibilidade de ocorrência de fissuras e destacamentos; a
combinação alternada de faixas claras e escuras numa mesma fachada pode aumentar essa
potencialidade. No caso de alvenarias aparentes, cuidados especiais devem ser observados
a fi m de evitar eflorescências: seleção dos componentes de alvenaria (isentos ou com
teores mínimos de saís solúveis), argamassa de assentamento sem a presença de cal,
aplicação de hidrofugante, etc.

O desempenho das alvenarias está diretamente associado à perfeita coordenação


dimensional, à compatibilidade com outros projetos e à adoção de detalhes construtivos
apropriados. Em razão da pequena resistência a solicitações de tração, torção e
cisalhamento, as alvenarias devem ser convenientemente reforçadas com telas, ferros
corridos, vergas e outros dispositivos. No topo de muros de divisa, guarda-corpos de
terraços e platibandas devem obrigatoriamente ser construídas cintas de amarração.

2.3. Coordenação Modular Horizontal e Vertical

Recomenda-se a coordenação modular para qualquer projeto de arquitetura, em


função da disponibilidade local dos componentes cerâmicos.

Em relação à coordenação modular dos componentes cerâmicos da alvenaria, foram


elaboradas há tempo algumas normas brasileiras como a NBR 5718/1982: Alvenaria
Modular – Procedimento, a NBR 5708/1982: Vãos modulares e seus fechamentos, e outras

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Aula 2 – Etapas de Projeto I
ALVENARIA

que também datam de 1982 e que, portanto, não consideram avanços mais recentes nessa
área. A partir da revisão e complementação de tais normas, as mesmas devem ser
consideradas nos estudos de modulação, além das considerações estabelecidas no presente
documento.

Recomenda-se que o posicionamento dos componentes da construção (blocos,


esquadrias, etc.), das juntas e dos acabamentos seja feito conforme o reticulado modular de
referência; nesse caso, a medida dos componentes, vãos ou distância entre partes da
construção deve ser igual a um módulo ou a um múltiplo inteiro do módulo (Figura).

2.3.1. Disposição das Paredes em Relação aos Pilares

Na coordenação modular horizontal, as paredes de vedação podem ser projetadas de


forma a concorrerem de diferentes maneiras com os pilares: eixos coincidentes com os
eixos dos pilares, alinhadas por uma das faces dos pilares, passando fora dos pilares, na
parte mais externa da construção. Nesta última disposição, evitam-se problemas de
destacamentos entre as alvenarias e os pilares; em contrapartida, as flechas desenvolvidas
nas extremidades dos balanços podem afetar as paredes e algumas alvenarias podem
resultar muito extensas, exigindo a inserção de juntas de controle. Em função da disposição
das paredes em relação aos pilares, ocorrerá maior ou menor incidência de recortes nos

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Aula 2 – Etapas de Projeto I
UNIDADE 1 – ALVENARIA DE VEDAÇÃO

pisos e nos forros, maior ou menor proteção às esquadrias e maior ou menor dificuldade na
execução e na manutenção das fachadas.

2.3.2. Disposição das Paredes em Relação com Conjunto Laje-Piso

O projeto de coordenação modular vertical considera a altura de projeto das vigas de


borda, a espessura das lajes, a folga prevista para a fixação (“encunhamento”) da alvenaria
no encontro com a laje ou com a viga e, quando for o caso, as espessuras de nivelamento da
laje (ou contrapiso) e de revestimento do piso. Consideram-se, ainda, as tolerâncias de
regularidade na concretagem de lajes e vigas, bem como as flechas e torções desses
componentes estruturais, levando-se em conta os efeitos da retração e da deformação
lenta do concreto, da fluência do aço (particularmente no caso de peças em concreto
protendido) e outras.

Os esquemas de escoramento e de cimbramento de lajes e vigas, bem como a previsão


de flechas devem ser indicados no projeto estrutural e a estrutura deve ser executada em
obediência à norma NBR 14931.

2.3.3. Coordenação Dimensional com Esquadrias

As dimensões dos vãos de portas e janelas são determinadas com base no tipo de
janela ou porta que será instalada (de abrir, de correr, etc.), nas necessidades de ventilação
e iluminação do ambiente, em exigências funcionais (passagem de cadeira de rodas, por
exemplo) e outras. Os vãos nas alvenarias são estabelecidos em função do tamanho da
esquadria, do eventual emprego de contramarcos e vergas ou contravergas pré-moldadas,
da manutenção de folga para assentamento de peitoris e, finalmente, do tipo de fixação da
esquadria, conforme hipóteses.

No caso da não utilização de contramarcos, peitoris e outros elementos semelhantes,


as folgas usualmente observadas entre o contorno externo do marco da porta ou da janela
e o contorno interno do vão são:

• Fixação com espuma de poliuretano: 1 a 1,5 cm em relação à alvenaria;


• Fixação com argamassa aplicada na cavidade de chapa dobrada constituinte
do marco: 1 a 1,5 cm em relação à alvenaria;
• Fixação com grapas: 2 a 3 cm em relação à alvenaria (para posterior
requadramento do vão com argamassa);
• Fixação com tacos de madeira: 2 a 3 cm em relação à alvenaria (para posterior
requadramento do vão com argamassa);

17
Aula 2 – Etapas de Projeto I
ALVENARIA

• Fixação com buchas de náilon e parafusos: 1,5 a 2 cm em relação à alvenaria,


1 a 2 mm em relação ao vão requadrado com argamassa.

2.4. Estabilidade e Resistência das Paredes de Vedação

As alvenarias de vedação podem, eventualmente, ser submetidas à ação de


carregamentos provenientes de recalques, flexão de lajes e vigas, movimentações térmicas
diferenciadas entre alvenarias e estrutura, etc. Nesse caso, o projeto deve considerar a
capacidade de deformação compatível com as solicitações que atuam na edificação.

A fi m de garantir-se razoável nível de segurança contra as aludidas deformações


impostas, cargas laterais provenientes da ação do vento e cargas de ocupação (impactos
acidentais, peças suspensas, etc.), as dimensões das paredes devem ser limitadas tanto na
direção do seu comprimento como na direção da sua altura.

Essa limitação é imposta por elementos ditos contraventantes, ou seja:

• Na direção do comprimento da parede: pilares e paredes transversais, sendo


as ligações com paredes transversais executadas juntas em amarração;
• Na direção da altura da parede: vigas e lajes.

Em função da largura do bloco cerâmico e da localização da parede no edifício


(paredes internas ou paredes de fachada), respeitadas as tensões limites de tração na flexão
indicadas na Tabela de Módulo de Deformação (acima), não devem ser superados os valores
indicados na Tabela abaixo.

Baseado e adaptado de
CÓDIGO DE PRÁTICAS Nº 01,
IPT, EPUSP. Edições sem
prejuízo de conteúdo.

18
Aula 3 – Etapas de Projeto II
UNIDADE 1 – ALVENARIA DE VEDAÇÃO

Aula 3: Etapas de Projeto II

Nesta aula serão dados os prosseguimentos às observações de Projeto com relações às


Alvenarias de Vedações. Serão vistos os principais pontos de compatibilizações e utilizações
mínimas para a correta aplicação dos recursos de Alvenaria, bem como as particularidades
dos casos específicos do tema.

1. Compatibilizações

As questões de compatibilizações de Projetos devem se dar seguindo os parâmetros


apresentados a seguir.

1.1. Compatibilização com Projetos de Estruturas e Fundações

Em função de recalques diferenciados das fundações e esforços das estruturas como


torção de vigas de suporte, flexão de vigas ou de lajes, etc., as alvenarias de vedação de
blocos cerâmicos, a exemplo de outros tipos de alvenaria, são susceptíveis à fissuração.

Portanto, alguns problemas podem surgir na alvenaria de vedação ocasionados pelas


estruturas e fundações, como a ocorrência de destacamentos entre alvenarias e estrutura,
ocorrências de fissuras, esmagamentos ou mesmo ruptura de paredes solicitadas pelas
deformações estruturais.

Assim, deve-se recomendar aos projetistas de estruturas e de fundações que sejam


observados no desenvolvimento dos seus respectivos projetos os seguintes limites:

• No caso de recalques das fundações, o limite das distorções angulares deve


ser de L/400, sendo L a distância entre elementos de fundação ou o
comprimento da parede no caso de fundações contínuas;
• O limite das flechas finais das vigas e lajes, incluindo vigas de fundação, deve
ser igual a L/400 (L = vão teórico do componente estrutural), considerando-se
no cálculo das flechas dos elementos fletidos os efeitos da fissuração e da
deformação lenta do concreto;
• O limite da parcela de flecha que irá ocorrer após a elevação da alvenaria
deve ser de L/600 (L = vão teórico do componente estrutural), considerando-

19
Aula 3 – Etapas de Projeto II
ALVENARIA

se no cálculo das flechas dos elementos fletidos os efeitos da fissuração e da


deformação lenta do concreto;
• O limite da torção de vigas ou lajes que se prestam ao apoio das alvenarias de
vedação, deve ser tal que o ângulo de giro do suporte, na direção normal à
parede, não ultrapasse 0,1o (0,017 rad).

Caso qualquer um desses limites venha a ser ultrapassado, cuidados especiais devem
ser observados no projeto e na execução das paredes de vedação, bem como na sua
vinculação com a estrutura, que serão tratadas mais adiante.

Há necessidade também de limitarem-se as flechas de vigas de fundação e vigas de


transição, já que, sob ação dos deslocamentos, há tendência das paredes trabalharem
solidariamente, comportando-se como vigas altas.

1.2. Compatibilização com Projetos de Sistemas Prediais

Os projetos dos sistemas prediais devem preceder o projeto executivo da alvenaria, ou


serem desenvolvidos concomitantemente com a paginação das paredes. Tal paginação deve
indicar o posicionamento de tubos e eletrodutos, caixas de luz ou telefone, pontos de
tomada, cintas de amarração, necessidade de blocos compensadores e outros detalhes. De
preferência, as caixas de pequenas dimensões devem ser previamente embutidas e, quando
for o caso, chumbadas nos blocos, o que deve estar previsto no projeto.

Deve-se evitar ao máximo o corte dos componentes de alvenaria, utilizando-se os


furos dos blocos para caminhamento vertical de tubos e eletrodutos. Podem também ser
utilizados blocos mais estreitos para caminhamento de dutos de pequena bitola no corpo da
parede, shafts para alojamento de número considerável de prumadas, enchimentos ou
carenagens sob tampos de pia para alojamento dos tubos, caminhamento através do
plenum de forros ou de pisos elevados e outros recursos.

1.3. Compatibilização com Projetos de Impermeabilização

Nos ambientes laváveis cujos pisos receberão impermeabilização com manta asfáltica
é conveniente utilizar nas bases das paredes (duas primeiras fiadas) blocos mais estreitos
que aqueles integrantes do restante da parede para realizar a dobra da manta, ou seja,
blocos de 9 cm quando a parede for constituída por blocos de 11,5 cm; blocos de 11,5 cm
quando a parede estiver composta por blocos de 14 cm; e assim por diante. No caso da
instalação de banheiras, os blocos mais estreitos podem chegar até a quarta ou mesmo a
quinta fiada, chegando até a oitava ou nona fiada no caso dos boxes de chuveiro. Tal

20
Aula 3 – Etapas de Projeto II
UNIDADE 1 – ALVENARIA DE VEDAÇÃO

providência pode ser adotada ou não, em função do sistema de impermeabilização que


venha a ser adotado, conforme projeto específico. No caso da impermeabilização com
manta asfáltica, no encontro da manta com a alvenaria, recomenda-se reforçar com tela
metálica o revestimento da parede.

Ainda nas áreas molháveis, deve-se projetar os vãos de portas com largura suficiente
para que o sistema de impermeabilização possa envolver a espaleta da alvenaria na sua
base, interpondo-se entre a parede e o marco. Nessa circunstância, pode-se deixar
pequenos dentes na base do vão, recorrendo-se ao estreitamento das juntas verticais de
assentamento nas duas primeiras fi adas da alvenaria.

1.4. Juntas de Assentamento e Juntas de Controle

As juntas em amarração promovem a redistribuição de tensões provenientes de cargas


verticais ou introduzidas por deformações estruturais e movimentações higrotérmicas; as
juntas a prumo não propiciam a distribuição das tensões, tendendo as paredes a
trabalharem como uma sucessão de “pilaretes”. Embora desejável a defasagem de meio
bloco entre fi adas sucessivas, sobreposições não inferiores a um quarto do bloco são
aceitáveis em regiões localizadas das paredes. Sempre que se executar alvenarias com
juntas a prumo é recomendável a introdução de cintas de amarração na parede, ou pelo
menos a introdução de barras de ferro ou telas metálicas em algumas juntas de
assentamento.

As juntas podem ser “tomadas” (raspagem da argamassa expulsa para fora da parede
pela pressão do assentamento) ou “frisadas”, situação característica das alvenarias
aparentes, recomendadas apenas para ambientes internos.

Recomenda-se o preenchimento das juntas verticais das alvenarias a fi m de otimizar a


resistência ao cisalhamento, resistência ao fogo, desempenho termoacústico, resistência a
cargas laterais e capacidade de redistribuição das tensões decorrentes de deformações
impostas. Tal cuidado deve ser especialmente observado em paredes muito longas ou muito
altas, ou naquelas sujeitas a consideráveis deformações do suporte ou intensas
movimentações higrotérmicas.

A fim de evitar-se a ocorrência de fissuras e destacamentos provocados por


movimentações higrotérmicas dos materiais, recomenda-se a inserção de juntas de controle
sempre que houver mudanças na direção ou na espessura das alvenarias, ou sempre que as
paredes forem muito longas; neste caso, sugere-se que não sejam ultrapassados os
distanciamentos entre juntas indicados na Tabela a seguir.

21
Aula 3 – Etapas de Projeto II
ALVENARIA

É também recomendável a introdução de juntas de controle nas paredes muito


enfraquecidas pela presença de vãos de portas ou janelas. Para obter-se ancoragem
mecânica entre os trechos de parede contíguos podem ser empregados ganchos de ferro φ
5mm a cada duas fi adas, conforme Figura. As juntas podem ainda ser calafetadas com
material deformável (cortiça, poliestireno ou poliuretano expandido, etc.), recebendo
externamente mata-junta ou cordão com altura de 10 a 15 mm de selante flexível a base de
silicone ou poliuretano.

Sempre que existir junta de movimentação na estrutura deve haver na parede uma
junta correspondente, com mesma localização e mesma largura, independentemente do
comprimento da parede. Não havendo junta de movimentação, a junta de controle inserida
na parede deve ser executada com largura de aproximadamente 1,5 a 2,0 cm.

22
Aula 3 – Etapas de Projeto II
UNIDADE 1 – ALVENARIA DE VEDAÇÃO

2. Ligações

2.1. Ligações entre Paredes

Nos encontros entre paredes (“L”, “T” ou cruz) é sempre desejável as juntas em
amarração; recomenda-se o emprego de blocos com comprimentos ou formas adaptadas
para essas ligações.

Quando optar-se por encontros entre paredes com juntas a prumo, uma série de
cuidados deve ser prevista: maior rigidez dos apoios, disposição de ferros ou telas metálicas
nas juntas de assentamento, embutimento de tela no revestimento, cuidados redobrados
na compactação da argamassa das juntas horizontais e verticais, etc. Nesse caso a junta
deve resultar sempre interna à edificação, desaconselhando-se, fortemente, juntas
aparentes nas fachadas conforme ilustrado na Figura.

Pode-se, também, optar por encontro entre paredes com juntas a prumo no caso de
plantas com ambientes reversíveis, com a opção da retirada de paredes. Nesse caso, a junta
a prumo facilita a retirada da alvenaria, sem causar danos às paredes remanescentes.

2.2. Ligações entre Alvenarias e Pilares

Nas ligações das alvenarias com a estrutura devem ser considerados os gradientes
térmicos nas fachadas, as dimensões dos panos e a flexibilidade da estrutura; para
estruturas muito flexíveis (por exemplo, estruturas pré-moldadas isostáticas, estruturas

23
Aula 3 – Etapas de Projeto II
ALVENARIA

reticuladas de grandes vãos, etc.), deve-se adotar detalhes construtivos especiais, como por
exemplo os apresentados em figuras que virão a seguir.

No caso de ligações convencionais, com materiais rígidos e estruturas de concreto


armado, independentemente do dispositivo de fixação a ser utilizado, deve-se proceder
inicialmente à vigorosa limpeza das faces do pilar, com completa remoção do desmoldante.
Após a limpeza, as faces de arranque das alvenarias devem receber camada de chapisco
rolado ou com chapisco industrializado. No assentamento, os blocos devem ser fortemente
pressionados contra o pilar, resultando refluxo de argamassa e total compacidade da junta.

O projeto da alvenaria deve definir a forma de ligação das paredes com pilares, a fi m
de prevenir futuros destacamentos. Como regra geral, as ligações com os pilares podem ser
executadas com telas metálicas especificadas de acordo com o item 2.3, aplicadas a cada
duas fi adas e fixadas no concreto com pinos metálicos (“tiros” aplicados com finca-pinos).
Neste caso a tela deve ser dobrada exatamente a 90o, conforme ilustrado na Figura 6,
aplicando-se os pinos e as respectivas arruelas o mais próximo possível da dobra da tela.
Pode-se aplicar apenas um tiro nas paredes com espessura de 9 cm, recomendando-se dois
tiros em cada uma das telas no caso de paredes mais espessas, estruturas mais
deformáveis, etc. As ligações com telas podem ser reforçadas mediante emprego de
cantoneira metálica entre a tela e a arruela/cabeça do pino. Para evitar-se risco de
corrosão, as telas devem ser recortadas com largura 1 ou 2 cm menor que a largura dos
blocos.

24
Aula 3 – Etapas de Projeto II
UNIDADE 1 – ALVENARIA DE VEDAÇÃO

Ligações mais fortes podem ser obtidas com armações de espera introduzidas na
armadura do pilar (ferros dobrados, faceando a fôrma internamente), ou com “ferros-
cabelo” posteriormente colados em furos executados com brocas de vídea φ 8mm (colagem
com resina epóxi); nos casos correntes recomenda-se introduzir um ferro de φ 6mm a cada
40 ou 50 cm, com transpasse em torno de 50cm para o interior da alvenaria e com
penetração no pilar de 6 a 8 cm.

Canaletas assentadas na posição dos “ferros-cabelo”, posteriormente preenchidas com


graute, produzem ligações ainda mais fortes e absorvem diferenças no posicionamento das
armações em relação às fi adas. A ligação pode ainda ser executada com gancho / estribo de
dois ramos, situações ilustradas na Figura.

No caso de estruturas muito flexíveis ou paredes muito longas, para limitar as


solicitações na alvenaria pelas deformações da estrutura ou evitar destacamentos em
função de movimentações higrotérmicas do material, podem ser adotadas juntas flexíveis
nos encontros com pilares. Nesse caso, a ancoragem das paredes deve ser executada com
cantoneiras metálicas, telas ou “ferros-cabelo”, procedendo-se ao acabamento com selante
flexível; a Figura abaixo ilustra algumas soluções construtivas para essas juntas.

25
Aula 3 – Etapas de Projeto II
ALVENARIA

No caso de ligação com estruturas metálicas, as ancoragens podem ser executadas


com insertos de aço soldados nos pilares e chumbados nas juntas horizontais de
assentamento, seguindo-se os mesmos preceitos estabelecidos nas alíneas anteriores
(bitolas, espaçamentos, transpasses, emprego de meio-blocos, canaletas, telas de reforço
no revestimento, etc.). As próximas duas figuras ilustram algumas possibilidades de ligações
entre alvenarias e pilares metálicos.

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Aula 3 – Etapas de Projeto II
UNIDADE 1 – ALVENARIA DE VEDAÇÃO

Em função de acentuadas diferenças entre as propriedades físicas dos aços e dos


materiais constituintes das alvenarias (módulo de deformação, coeficiente de dilatação
térmica), e principalmente em função da dificuldade de conseguir-se boa aderência entre
um material pétreo e um metal, particularmente nas paredes de fachada é mais segura a
adoção de juntas flexíveis nos encontros entre pilares e paredes.

As alvenarias de vedação podem ainda ser posicionadas externamente à estrutura de


aço, apoiando-se em pequenos balanços das lajes de piso ou, no caso de sobrados, sendo
elevadas desde as fundações; nessa última hipótese, deve-se cuidar para que os blocos
cerâmicos apresentem resistência suficiente para suportar o peso próprio da parede com
pé-direito mais elevado.

2.3. Fixações (Encunhamentos)

Nas fixações (“encunhamentos”) com lajes ou vigas superiores, após limpeza e


aplicação de chapisco no componente estrutural, recomenda-se o assentamento inclinado
de tijolos de barro cozido, empregando-se argamassa relativamente fraca (“massa podre”).
Cria-se assim uma espécie de “colchão deformável”, amortecedor das deformações
estruturais que seriam transmitidas à parede.

Nos projetos modulados, onde a última fiada de blocos praticamente faceia a face
inferior do componente estrutural, deve-se com muito mais razão empregar argamassa
fraca em cimento. Nessa situação, tratando-se de blocos vazados, a última fiada pode ser
composta por meio-blocos assentados com furos na horizontal (Figura), facilitando-se
sobremaneira a execução da fixação (“encunhamento”).

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Aula 3 – Etapas de Projeto II
ALVENARIA

No caso de estruturas muito deformáveis, paredes muito extensas ou muito


enfraquecidas pela presença de aberturas, recomenda-se a adoção de ligações ainda mais
flexíveis, por exemplo com o emprego de poliuretano expandido ou “massa podre”
composta com esferas de EPS (poliestireno expandido). Nesse caso, adequações de
materiais e de detalhes construtivos devem ser estudadas para garantir a integridade do
revestimento das paredes.

Para que não ocorra transmissão de carregamentos entre os sucessivos pavimentos,


em qualquer situação, recomenda-se o máximo retardamento entre a elevação das
alvenarias e a fixação (“encunhamento”) das paredes. Transcorrido certo prazo após a
elevação, pode-se adotar a fixação em pavimentos alternados; nessa hipótese, para abrir
frentes para trabalhos internos (revestimentos, etc.), encunham-se dois pavimentos e pula-
se o próximo, e assim sucessivamente.

Sempre que as estruturas forem intencionalmente flexíveis, com deformações que


sabidamente superam a capacidade de acomodação das alvenarias, detalhes construtivos
apropriados devem ser adotados nos encontros das alvenarias com as vigas ou lajes,
conforme Figura a seguir. A ancoragem superior das paredes, nesse caso, pode ser feita com
insertos de aço (ferro de φ 6mm, espaçamento em torno de 2m), fixados nas vigas ou lajes
mediante furação (broca φ 8mm, profundidade do furo 5 a 6cm), limpeza e colagem com
resina epóxi. O acabamento da junta pode ser executado com selante flexível, podendo-se
optar pelo emprego de moldura de gesso (“roda-teto”).

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Aula 3 – Etapas de Projeto II
UNIDADE 1 – ALVENARIA DE VEDAÇÃO

Para as ligações com vigas de aço ou lajes mistas steel deck valem as mesmas
recomendações anteriores, ressaltando-se mais uma vez que as alvenarias de fachada
podem ser posicionadas externamente à estrutura, conforme detalhe ilustrado na Figura:

2.4. Reforços Metálicos, Vergas, Contravergas e Cintas de Amarração

A introdução de uma taxa mínima de armadura na alvenaria (0,2% por exemplo) não
chega a aumentar significativamente a resistência à compressão da parede; entretanto, tal
armadura melhora substancialmente o comportamento da alvenaria quanto à fissuração,
normalmente provocada por flexão ou torção da estrutura de apoio, ocorrências de

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Aula 3 – Etapas de Projeto II
ALVENARIA

recalques diferenciados ou qualquer outra espécie de ação. Tais armaduras podem ser
integrantes de cintas de amarração ou pilaretes grauteados, ou serem constituídas por
ferros corridos ou treliças planas embutidas nas juntas de assentamento.

Com a finalidade de absorver tensões que se concentram nos contornos dos vãos,
oriundas de deformações impostas, devem ser previstas vergas e contravergas com
transpasse em torno de 20% da largura do vão, avançando no mínimo 20 cm para cada lado
do vão.

No caso de vãos sucessivos, as vergas e contravergas devem ser contínuas (Figura


abaixo); em casos especiais (janelas ou portas de grandes dimensões, paredes muito altas),
vergas e contravergas devem ser dimensionadas como vigas.

No caso de paredes com alturas relativamente elevadas, respeitados os limites da


Tabela de Resistências, devem ser previstas cintas de amarração intermediárias,
introduzidas sobretudo para minimizar o risco de formação de fissuras e também para

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Aula 3 – Etapas de Projeto II
UNIDADE 1 – ALVENARIA DE VEDAÇÃO

absorver a ação de cargas laterais. Acima dos limites de altura especificados na Tabela 6, as
paredes devem ser dimensionadas como alvenarias estruturais.

Vergas, contravergas e cintas de amarração devem ser convenientemente armadas,


recomendando-se pelo menos dois ferros com diâmetro de 6 mm; podem ser construídas
com concreto normal, ou com graute no caso do preenchimento de canaletas.

A prática de adotar-se coxins pré-moldados de distribuição nas laterais dos vãos, ao


invés de contravergas contínuas, deve ser cuidadosamente estudada, já que tais elementos
não têm poder de redistribuir tensões provocadas por movimentações térmicas ou
distorções dos panos no plano das paredes.

2.5. Fixação de Marcos de Portas e Janelas

A paginação das paredes deve indicar com precisão posicionamentos e dimensões dos
vãos em osso (e não dos vãos acabados ou dos caixilhos) a serem inseridos na alvenaria.
Com base nessas dimensões, devem ser previstos gabaritos metálicos indeformáveis para
garantia das dimensões lineares e dos ângulos. No caso do emprego de contramarcos, estes
devem ser fixados durante a própria elevação da parede, dispensando-se os gabaritos.

O projeto da alvenaria deve indicar dimensões e detalhes construtivos de posição de


vergas e contravergas contemplando no caso de vãos muito grandes ou esquadrias muito
pesadas a introdução de pilaretes laterais aos vãos, construídos em concreto amado ou
mediante armação e grauteamento dos furos dos blocos imediatamente vizinhos aos vãos.
Caso as esquadrias venham a ser fixadas com parafusos e buchas, os furos dos blocos
laterais ao correspondente vão sempre devem ser grauteados.

Em função do sistema de fi xação da esquadria, a folga em cada face do contorno do


vão pode variar desde 10 mm (fi xação com poliuretano expandido), passando por 20 mm
(fixação com parafusos e buchas, prevendo-se 20 mm para a espessura da argamassa de
requadramento do vão) e chegando até cerca de 30 ou 40 mm (fixação com grapas). No
caso da colocação de peitoris pré-moldados ou constituídos por placas de rocha o
correspondente espaço deve ser reservado na altura do vão.

2.6. Alvenarias do Último Pavimento

As alvenarias do último pavimento são em geral muito solicitadas pelas


movimentações térmicas das lajes de cobertura; neste aspecto, cuidados como
sombreamento, ventilação dos áticos e isolação térmica da laje de cobertura podem
minimizar a ocorrência de problemas. Soluções mais eficazes exigem a inserção de juntas de

31
Aula 3 – Etapas de Projeto II
ALVENARIA

dilatação na laje de cobertura, adoção de apoios deslizantes (neoprene, teflon, camada


dupla de manta de PVC), fixações (“encunhamentos”) deformáveis, reforços mais
cuidadosos nos vértices das aberturas etc.

Pode-se também recorrer ao seccionamento das paredes do último pavimento,


mediante introdução de juntas de controle ou adoção de portas com bandeiras (parede
naturalmente seccionada pelo vão), conforme ilustrado na Figura abaixo. Outros aspectos
que podem ser contemplados, também como soluções alternativas, são a adoção de pintura
branca ou reflexiva na face superior das telhas, de subcoberturas que diminuam
sensivelmente a reirradiação das telhas para as lajes, de armaduras nas juntas de
assentamento das últimas fi adas e inserção de tela metálica no revestimento, no encontro
alvenaria/estrutura.

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Aula 3 – Etapas de Projeto II
UNIDADE 1 – ALVENARIA DE VEDAÇÃO

3. Recebimento de projetos de Alvenaria de Vedação

O projeto das alvenarias de vedação deve ser compatível com os projetos de


fundações, estruturas, impermeabilizações e outros (previsão dos recalques diferenciados e
dos deslocamentos de vigas e lajes, rigidez e prazos de retirada de cimbramentos e
escoramentos residuais, plano/sequência de elevação das alvenarias); sempre que
necessário, devem ser previstas ligações flexíveis ou outros detalhes construtivos que
assegurem comportamento harmônico entre as partes.

Em linhas gerais, o projeto deve apresentar especificação de todos os materiais de


construção necessários (incluindo traços indicativos das argamassas de assentamento e
fixação/“encunhamento”), memorial descritivo da construção (forma de locação das
paredes, execução dos cantos, escoramentos provisórios frente à ação do vento, prazos
entre execução da estrutura/elevação das paredes/“encunhamentos”, forma de fixação de
marcos e contramarcos) e todos os elementos gráficos necessários, ou seja:

• Planta da 1a e 2a fiadas, coordenação dimensional com a estrutura;


coordenação dimensional com esquadrias, caixas de ar condicionado, caixas
de entrada de energia elétrica e outros;
• Coordenação / estudos das interferências com os projetos de estruturas,
sistemas prediais, impermeabilização e outros;
• Necessidade de cintas ou pilaretes de reforço (paredes altas ou longas);
• Paginação das paredes, indicando forma e espessura das juntas de
assentamento, posições e dimensões dos vãos, instalações, juntas de
controle;
• Detalhes construtivos em geral (ligações com pilares, encontros entre
paredes, fixações (“encunhamentos”), vergas, contravergas, cintas de
amarração, presença de peitoris, fixação de esquadrias, embutimento de
tubulações).

No recebimento do projeto das alvenarias de vedação todos os aspectos anteriores


devem ser analisados, adotando-se lista de verificação conforme modelo apresentado na
Tabela abaixo, por exemplo.

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Aula 3 – Etapas de Projeto II
ALVENARIA

Baseado e adaptado de
CÓDIGO DE PRÁTICAS Nº 01,
IPT, EPUSP. Edições sem
prejuízo de conteúdo.

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Aula 4 – Execução I
UNIDADE 1 – ALVENARIA DE VEDAÇÃO

Aula 4: Execução I

Um dos principais objetivos dos projetos de execução de alvenaria é a racionalização dos


serviços, o que proporciona economia de tempo e material. Mas para que tudo corra bem, é
importante que haja um bom entendimento da planta. Com essa ferramenta em mãos, você
terá todas as informações sobre os elementos de alvenaria como blocos, juntas de
assentamento, vergas e contravergas, pontos de grauteamento e armação. Além de dados
específicos sobre pontos de hidráulica e elétrica, elementos que interferem diretamente na
execução da alvenaria.

1. Estocagem de Materiais Componentes

Como este tema já foi abordado nas disciplinas introdutórias, será feito um resumo das
principais características de armazenagem.

1.1. Blocos Cerâmicos

Os blocos cerâmicos devem ser estocados em pilhas com altura máxima de 1,80 m,
apoiadas sobre superfície plana, limpa e livre de umidade ou materiais que possam impregnar
a superfície dos blocos. As pilhas não devem ser apoiadas diretamente sobre o terreno,
sugerindo-se o apiloamento do terreno e a execução de colchão de brita ou o apoio sobre
paletes.

Quando a estocagem for feita a céu aberto, deve-se proteger as pilhas de blocos contra
as chuvas por meio de uma cobertura impermeável, de maneira a impedir que os blocos
sejam assentados com excessiva umidade. Na formação da pilha, os blocos devem ser
sobrepostos aos blocos inferiores, com “juntas em amarração” conforme ilustrado na Figura
a seguir.

É recomendável que os blocos sejam fornecidos em paletes, sendo os mesmos


embalados com o auxílio de fitas metálicas ou de plástico; dessa maneira os paletes podem
ser transportados em carrinhos porta-paletes até o local de aplicação dos blocos, com
considerável redução na mão-de-obra e risco de quebra ou danos. É recomendável que o
fornecedor também disponha de plataformas acopláveis à estrutura dos pavimentos,
facilitando o transporte dos paletes por meio de gruas. Qualquer que seja o sistema de

35
Aula 4 – Execução I
ALVENARIA

transporte dos blocos cerâmicos, deve-se evitar que os mesmos sofram impactos que venham
a provocar lascamentos, fissuras, etc.

1.2. Aço

O aço deve ser armazenado em local coberto, protegido de intempéries e afastado do


solo, para que não fi que em contato com umidade. O armazenamento deve ser feito em
feixes separados para cada bitola, facilitando o uso.

1.3. Cimento, Cal e Argamassa Industrializada

O cimento, a cal hidratada e eventuais argamassas industrializadas, materiais fornecidos


em sacos, devem ser armazenados em locais protegidos da ação das intempéries e da
umidade do solo, devendo as pilhas ficarem afastadas de paredes ou do teto do depósito.
Não se recomenda a formação de pilhas com mais de 15 sacos. No caso do emprego de cal
virgem, recomenda-se sua extinção imediatamente após chegada na obra, podendo ser
armazenada em tonéis ou no próprio “queimador”.

1.4. Areia

A estocagem da areia deve ser feita em local limpo, de fácil drenagem e sem
possibilidade de contaminação por materiais estranhos que possam prejudicar sua qualidade.
As pilhas devem ser convenientemente cobertas ou contidas lateralmente, de forma que a
areia não seja arrastada por enxurrada.

36
Aula 4 – Execução I
UNIDADE 1 – ALVENARIA DE VEDAÇÃO

2. Preparo de Argamassa de Assentamento e Chapisco

As especificações e recomendações a respeito da argamassa de assentamento e seus


materiais constituintes (cimento, cal e areia) devem ser consideradas de acordo com o
apresentado nas aulas passadas, relativo à etapa de seleção dos materiais.

O traço da argamassa deve ser estabelecido em função das diferentes exigências de


aderência, impermeabilidade da junta, poder de retenção de água, plasticidade requerida
para o assentamento e módulo de deformação (propriedade muito importante nas alvenarias
de vedação, frente ao risco de sobrecarga pelas deformações impostas). Também devem ser
consideradas as características dos materiais a serem empregados em cada obra, incluindo-
se aí os próprios blocos (com diferentes rugosidades, absorção de água, etc.), e dos processos
executivos a serem adotados (assentamento com colher de pedreiro, meia desempenadeira
(“palheta”), bisnaga, meia cana ou outras ferramentas, chapisco aplicado com colher, rolo,
desempenadeira de aço denteada, projetor ou outras ferramentas).

Em função das características dos materiais disponíveis no local da obra, o traço da


argamassa de assentamento deve ser estabelecido por meio de estudo de dosagem e ensaios
laboratoriais. Para os processos tradicionais de construção, considerando-se para a areia
módulo de finura em torno de 3, apresentam-se traços indicativos na Tabela abaixo. Outros
traços podem ser especificados pelos projetistas desde que atendam aos requisitos
estabelecidos na norma NBR 13281. Traços alternativos podem ser previstos pelo projetista
também para as argamassas de fixação (“encunhamento”), utilizando-se quando for o caso
materiais resilientes, adesivos e outros aditivos.

Para argamassas de assentamento industrializadas ou pré-dosadas, fornecidas a granel,


são válidas todas as indicações anteriores. Algumas argamassas são dosadas sem a introdução
de cal hidratada, compensando-se essa ausência com a introdução de aditivos plastificante,

37
Aula 4 – Execução I
ALVENARIA

incorporadores de ar e retentores de água. O resultado final, em temos de aderência, módulo


de deformação e outros requisitos, deve ser o mesmo.

O assentamento dos blocos pode ser feto com colher de pedreiro, meia-cana, bisnaga,
régua de assentar ou “palheta”. Optando-se por assentamento com bisnaga (tipo bisnaga de
confeiteiro), a argamassa de assentamento deve ser constituída por areia um pouco mais fi
na, com ligeiro enriquecimento do traço.

Para o chapisco da estrutura, nas posições de ligação com alvenarias de vedação,


recomenda-se a utilização de produtos industrializados ou mesmo de argamassa preparada
na obra. Nesse caso, recomenda-se o emprego de areia lavada, de granulometria
média/grossa, e de cimentos tipo I ou II, com traço indicativo de 1:3 (cimento : areia, em
volume). No caso de chapisco rolado, o traço pode variar de 1:2 até 1:3 (cimento : areia, em
volume), sendo esta argamassa preparada com um volume de resina acrílica ou PVA e seis
volumes de água.

3. Marcação (1ª Fiada)

O projeto de estrutura deve definir a época e a sequência de execução das vedações em


cada pavimento. No caso de estruturas convencionais de concreto armado, recomenda-se
iniciar os serviços de alvenaria no mínimo após 28 dias da concretagem do respectivo
pavimento, após completa retirada das escoras desse pavimento e sem que sobre ele estejam
atuando cargas do pavimento superior. No caso de edifícios com estrutura de aço não há
necessidade dessa espera.

O assentamento da primeira fiada deve ser executado após rigorosa locação das
alvenarias, feita com base na transferência de cota e dos eixos de referência para o andar
onde estão sendo realizados os serviços (Figura); relativamente à cota, deve ser observada
aquela prevista para o piso acabado de cada pavimento, valendo em geral para os edifícios
multipisos a cota das soleiras das portas dos elevadores, com tolerância menor ou igual a
5mm. A posição de cada parede deve ser delimitada independentemente dos eventuais
desvios da estrutura. Caso o projeto de estrutura ou de alvenaria preveja a constituição de
juntas de dilatação ou de controle, a marcação da alvenaria deve respeitar com todo rigor o
posicionamento e a abertura das juntas. A modulação horizontal prevista para a primeira
fiada no projeto de alvenaria deve ser rigorosamente observada.

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Aula 4 – Execução I
UNIDADE 1 – ALVENARIA DE VEDAÇÃO

No plano vertical, após completo nivelamento do andar (com nível lazer, nível de
mangueira ou nível alemão), devem ser consideradas particularmente as cotas das soleiras
de portas de elevador e de peitoris de janelas, sempre alinhadas em todas as fachadas,
efetuando-se eventuais correções de nivelamento com engrossamento da camada de
assentamento da primeira fiada.

Com base nos eixos de referência, e em cotas acumuladas a partir deles (forma de evitar-
se propagação de erros), as posições das paredes são marcadas inicialmente pelos seus eixos,
e depois pelas suas faces. A marcação deve ser iniciada pelas paredes de fachada e pelas
paredes internas principais, incluindo paredes de geminação entre apartamentos, paredes de
elevadores, de caixas de escada, de separação com áreas comuns e outras, podendo ser feita
com linhas distendidas entre blocos extremos, giz de cera ou fio traçante, isto é, linha
impregnada com pó colorido (“vermelhão” ou equivalente).

O assentamento dos blocos da primeira fiada influencia a qualidade de todas as demais


características da alvenaria, ou seja, modulação horizontal e vertical, nivelamento das fi adas
e espessura da camada de assentamento, folgas para instalação de esquadrias,
posicionamento de ferros-cabelo ou de telas de ancoragem das paredes, folga para execução
da fixação (“encunhamento”) das paredes etc. Após lavagem da base, devem ser inicialmente
assentados os chamados “blocos-chave”, ou seja, aqueles localizados nas extremidades dos
panos, nos encontros entre paredes, em shafts ou cantos de paredes, nas laterais de vãos de
portas e outros que identifiquem singularidades.

O assentamento da primeira fiada deve, portanto, ser realizado com todo o cuidado,
utilizando-se equipamentos de precisão como teodolito ou nível lazer, trena metálica, prumo
de face (“fio-de-prumo”), régua de alumínio, esquadros de braços longos, prumo de

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Aula 4 – Execução I
ALVENARIA

face/réguas com bolhas de nível nas duas direções, etc. Antes do assentamento da primeira
fiada devem ser rigorosamente conferidas a presença e o posicionamento de eletrodutos,
caixas de passagem, tubos de água, arranques de pilaretes grauteados e outros. No caso de
pilaretes grauteados, deve ser assentado na correspondente posição bloco com abertura de
janela, possibilitando a posterior limpeza do furo e verificação do completo preenchimento
do furo pelo lançamento do graute.

3.1. Equipamentos e Ferramentas

Na Figura são ilustrados alguns equipamentos auxiliares para a marcação e também a


elevação das paredes.

Para a elevação das alvenarias devem estar disponíveis todos os equipamentos e


ferramentas necessárias para o assentamento dos blocos, incluindo colher de pedreiro, meia-
cana, bisnaga, linha, esticadores de linha, réguas de alumínio, prumo de face, escantilhões,
broxa, nível de bolha e nível de mangueira, esquadros de braço longo, furadeira elétrica,
pistola finca-pinos, etc. Tomando por referência a primeira fiada, assentada com os cuidados
anteriormente mencionados, podem ser marcadas nos próprios pilares as cotas da demais
fiadas; é interessante contudo o emprego de escantilhões, suportados por tripés ou
introduzidos sob pressão no reticulado vertical da estrutura (escantilhão telescópico),
conforme figura acima.

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Aula 4 – Execução I
UNIDADE 1 – ALVENARIA DE VEDAÇÃO

4. Elevação das Alvenarias

Para o início dos serviços de elevação das alvenarias, todas as providências de logística
devem ter sido tomadas, por exemplo, instalação no andar de guarda-corpos ou bandejas de
proteção, eventual fixação de plataforma de recepção de blocos e outros materiais,
disponibilidade de carrinhos porta-paletes, esquema de distribuição e empilhamento dos
blocos, forma de transporte e preparação da argamassa de assentamento (argamassadeiras,
caixotes de massa sobre suporte com altura regulável, etc.), disponibilidade de gabaritos para
os vãos de portas e janelas, disponibilidade de andaimes, prévio recorte de telas para as
ligações com pilares ou ligações entre paredes com juntas a prumo e outras.

Os dispositivos de ligação dos pilares com as alvenarias devem ser previamente


providenciados, ou seja, marcação das fiadas, fixação de telas com finca-pinos, introdução de
ferros-cabelo ou ganchos nos pilares, etc. O lançamento de chapisco nos pilares, lajes e vigas
deve ter sido executado há pelo menos três dias. As telas de arranque devem ser
corretamente assentadas nas ligações com juntas a prumo, resultando totalmente embutidas
em argamassa bem compactada.

Recomenda-se que as paredes do mesmo pavimento sejam executadas


simultaneamente, a fim de não sobrecarregar a estrutura de forma desbalanceada; é
aconselhável promover o levantamento de meia-altura da parede num dia e complementá-
la no dia seguinte, quando a primeira metade já ganhou certa resistência. É aconselhável
também iniciar-se a construção pelas paredes de fachada, trecho inicial com 1m de altura, a
fi m de liberar bandejas, grades de proteção e outros. Para as ligações das paredes de fachada
com as respectivas paredes internas recomenda-se que sejam simultaneamente construídos
trechos das paredes internas na forma de “escada”, desaconselhando-se a manutenção de
vazios para posterior amarração dos blocos das alvenarias internas, conforme figura a seguir.

Nos pavimentos mais elevados, nas paredes muito altas ou nas regiões com ventos
fortes deve-se tomar cuidado para que as alvenarias em fase de elevação não sejam
derrubadas pela ação do vento, providenciando-se escoramentos, fixações
(“encunhamentos”) provisórios ou outros dispositivos adequados.

Recomenda-se facear os blocos pelo lado da parede que receberá o revestimento menos
espesso (exemplo: gesso de um lado e revestimento cerâmico do lado oposto, facear pelo
lado que recebe o gesso). No assentamento devem ser criteriosamente observados todos os
detalhes previstos no projeto da parede correspondente, considerando caixas de elétrica,
pontos de água, luz e gás, cintas de amarração, vergas e contravergas, pilaretes, blocos mais
estreitos nas primeiras fi adas e outros detalhes. Trabalhando-se sempre com as lajes bem

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Aula 4 – Execução I
ALVENARIA

limpas, ou o piso protegido com mantas de plástico, pode-se reaproveitar a argamassa que
cair no chão durante o assentamento.

Os blocos são assentados de maneira escalonada (juntas em amarração), nivelados e


aprumados com os blocos da primeira fiada; para a marcação da cota de cada fiada são
utilizadas linhas bem esticadas, suportadas lateralmente por esticadores ou presas em
escantilhões, que neste caso garante a altura da fiada e o prumo da parede. Na ligação da
alvenaria com os pilares, verificando-se inicialmente se o chapisco está bem aderido com o
concreto, deve-se encabeçar totalmente o bloco cerâmico, pressionando-se o bloco contra o
pilar de modo que a argamassa em excesso reflua por toda a periferia do bloco.

A argamassa de assentamento deve ser estendida sobre a superfície horizontal da fiada


anterior e na face lateral do bloco a ser assentado, em cordões ou ocupando toda a superfície,
mas em quantidade suficiente para que certa porção seja expelida quando o bloco é
assentado sob pressão. O bloco é conduzido à sua posição definitiva mediante forte pressão
para baixo e para lado (Figura); os ajustes de nível, prumo e espessura da junta só podem ser
feitos antes do início da pega da argamassa, ou seja, logo após o assentamento do bloco.

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Aula 4 – Execução I
UNIDADE 1 – ALVENARIA DE VEDAÇÃO

No máximo a cada duas ou três fiadas recomenda-se verificar o nivelamento e o prumo


da parede, utilizando-se prumo de face, régua e nível de bolha; tais verificações, além da
conferência da cota, devem ser procedidas com mais cuidado ainda na fiada que ficará
imediatamente abaixo dos vãos de janela. O alinhamento e o prumo devem também ser
verificados com o máximo cuidado nas laterais dos vãos de portas e janelas (ombreiras).

No caso da construção das vergas e contravergas com blocos tipo canaleta, deve-se
limpar e umedecer as canaletas antes do lançamento do graute ou do micro-concreto. Para
alvenarias com largura inferior a 11,5 cm e vãos acima de 0,80 m recomenda-se que as vergas
e contravergas sejam pré-moldadas ou moldadas com o auxílio de fôrmas, tomando toda a
espessura da parede. Para vãos de até 1 m podem ser moldadas contravergas com altura em
torno de 7 a 9 cm, utilizando-se blocos seccionáveis; acima dessa medida, recomenda-se que
as contravergas tomem toda a altura da fiada, conforme ilustrado na Figura a seguir.

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Aula 4 – Execução I
ALVENARIA

A elevação das alvenarias só deve ser realizada após conveniente cura do concreto da
estrutura, recomendando-se para tanto o período mínimo de 28 dias. Em atendimento a esse
prazo, e considerando os ciclos usuais de concretagem de 7 dias, exemplifica-se na próxima
imagem as etapas de concretagem da estrutura, marcação e elevação das alvenarias.

Baseado e adaptado de
CÓDIGO DE PRÁTICAS Nº 01,
IPT, EPUSP. Edições sem
prejuízo de conteúdo.

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Aula 5 – Execução II
UNIDADE 1 – ALVENARIA DE VEDAÇÃO

Aula 5: Execução II

Nesta aula será dado o prosseguimento das execuções em alvenaria de vedação. A vedação
vertical é responsável pelo fechamento da edificação e também pela compartimentação dos
ambientes internos. A maioria das edificações executadas pelo processo construtivo
convencional (estrutura reticulada de concreto armado moldada no local) utiliza para o
fechamento dos vãos paredes de alvenaria.

1. Fixações ou Encunhamentos

A fim de evitar-se a transferência de carga para as paredes de vedação durante a


execução da obra, recomenda-se defasagem de cerca de dez dias entre o término da elevação
da alvenaria e a execução da fixação (“encunhamento”); em nenhuma hipótese essa fixação
deve ser executada antes que a parede do andar superior esteja construída.

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Aula 5 – Execução II
ALVENARIA

O ideal é que a fixação (“encunhamento”) seja feita de cima para baixo após 14 dias da
elevação da parede do último pavimento. Porém, caso não seja possível realizar dessa forma
devido ao planejamento da obra, recomenda-se fixar (“encunhar”) em grupos de três
pavimentos, de cima para baixo, estando três pavimentos acima com alvenaria já elevada. De
qualquer forma, o pavimento térreo e o primeiro pavimento só podem ser fixados
(“encunhados”) ao final do serviço de fixação.

Especial atenção deve ser dada para a manutenção da folga entre o respaldo da
alvenaria e a base de vigas ou de lajes, conforme previsto no projeto das alvenarias. As quatro
últimas fiadas podem ser ajustadas para garantir a espessura da junta de fixação
(“encunhamento”) entre 1,5 e 3cm. Caso ocorram variações dimensionais da estrutura ou da
própria alvenaria, correções podem ser feitas com blocos compensadores, fornecidos com
diferentes alturas (4 cm, 9 cm, etc.).

A última fiada deve sempre constituir um espaço para a introdução do material de


fixação (“encunhamento”), devendo-se para tanto empregar meio-blocos, compensadores
ou blocos tipo canaleta com o fundo na parte superior. O material de fixação
(“encunhamento”) deve ser bem compactado no interior da junta, de forma a evitar-se a
ocorrência de destacamentos; ao projetista da alvenaria compete definir se toda a espessura
da parede será preenchida ou se serão constituídos apenas dois cordões laterais de
argamassa de fixação. Em geral, principalmente em estruturas mais flexíveis e deformáveis,
não devem ser empregadas argamassas ricas em cimento e/ou formuladas com aditivos
expansores.

2. Colocação de Esquadrias

A fixação de marcos em madeira, de portas ou de janelas, pode ser feita com tacos de
madeira tratada ou naturalmente resistente à umidade, previamente embutidos na alvenaria.
No caso das portas, os marcos podem ser fornecidos com os tacos de madeira previa mente
aparafusados nos montantes, devendo-se deixar na alvenaria dentes para que esses tacos
sejam posteriormente chumbados com argamassa no traço 1:3 ou 1:4 (cimento e areia, em
volume). Os tacos devem ser isentos de defeitos como rachaduras ou nós, apresentando
dimensões aproximadas de 5 cm x 9 cm x 9cm, com reentrâncias centrais formando uma
espécie de cintura. A fixação de esquadrias de aço na alvenaria pode ser feita de diferentes
formas:

• Quando o quadro da esquadria for composto por chapas dobradas na forma de


“U”, com a abertura voltada para fora da esquadria, mediante preenchimento
da concavidade da chapa com argamassa; após endurecimento desta

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Aula 5 – Execução II
UNIDADE 1 – ALVENARIA DE VEDAÇÃO

argamassa, posicionamento no vão e chumbamento também com argamassa


de areia e cimento, conforme Figura;
• Por meio de grapas (forma de "rabo de andorinha"), previamente soldadas no
marco da esquadria e posteriormente chumbadas na alvenaria com argamassa
de cimento e areia, conforme Figura; em função do tamanho relativamente
pequeno das grapas não é necessário deixar-se dentes na alvenaria,
quebrando-se posteriormente os blocos nos locais onde serão chumbadas;
• Com parafusos e buchas de náilon;
• Com espuma de poliuretano, que se expande após aplicação mediante reação
com a umidade e o oxigênio do ar, no caso de janelas, além da fixação com
espuma deve ser feita a fixação mecânica para evitar arrombamentos e quedas
no caso de incêndio.

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Aula 5 – Execução II
ALVENARIA

As esquadrias de alumínio podem ser fixadas na alvenaria também por meio de grapas
aparafusadas ou rebitadas no marco. O marco pode ainda ser aparafusado à parede, com o
auxílio de buchas de náilon previamente embutidas na mesma; nesse caso, o requadramento
do vão com argamassa deve ser feito com o máximo de cuidado, com o auxílio de gaba rito.
Nesse caso, deve-se ainda aplicar entre o marco do caixilho e o contorno do vão um material
flexível que garanta a estanqueidade à água da parede (gaxeta de neoprene, borracha de
silicone, etc.).

Da mesma forma, mas agora mantendo-se folga em torno de 10 a 15 mm no contorno


do vão, as esquadrias de alumínio, aço, madeira ou PVC podem ser fixadas com espuma de
poliuretano. Nesse caso, o poliuretano não deve resultar aparente na face da parede,
devendo ser recoberto por mata-juntas que se integrem ao marco da esquadria ou por
qualquer outro recurso.

No caso de portas ou janelas muito pesadas, onde a fixação seja feita com grapas,
chumbadores de expansão e recursos semelhantes, os furos laterais aos vãos devem receber
grauteamento e eventualmente armaduras.

O emprego de contramarcos concomitantemente à elevação das alvenarias gabarita os


vãos e facilita os requadramentos, sendo os contramarcos chumbados com argamassa
durante o próprio assentamento dos blocos. No caso de contramarcos pré-moldados em
concreto, ou mesmo vergas e contravergas pré-moldadas, as peças devem sempre ser
assentadas e rejuntadas com argamassa, ou seja, não devem estar simplesmente apoiadas
ou justapostas aos blocos. Ainda para minimizar-se o risco de destacamento, é recomendável
a introdução de telas de reforço do revestimento da parede, nas transições entre alvenarias
e elementos pré-moldados.

3. Embutimento de Tubulações

Para a execução dos sistemas prediais existem diversos recursos, como o emprego de
shafts, forros falsos, pisos suspensos, engrossamentos sobressalentes às paredes, “bonecas”,
emprego de blocos mais estreitos nos locais das tubulações e outros.

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Aula 5 – Execução II
UNIDADE 1 – ALVENARIA DE VEDAÇÃO

As tubulações tanto para instalação hidráulica como para instalação elétrica, podem ser
embutidas nos furos dos blocos cerâmicos de vedação (no caso de blocos com furo vertical),
recomendando-se, sempre que possível, o caminhamento das tubulações horizontais através
das lajes; no caso de blocos quadrados (24x24cm, por exemplo), os furos podem ser dispostos
tanto horizontal como verticalmente, sem quebra da modulação da alvenaria e sem
necessidade de recortes nas paredes.

No caso de embutimento após a execução da alvenaria, em alguns locais onde são


introduzidas tubulações (particularmente no caso de tubos horizontais), pode-se empregar
tijolos maciços de barro cozido, facilitando a realização dos rasgos.

Para o embutimento de pequenos trechos de tubulações horizontais (limitados, por


exemplo, até 1 m de extensão) a parede pode ser cortada, utilizando-se sempre serra circular

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Aula 5 – Execução II
ALVENARIA

diamantada (tipo “Maquita”) e talhadeiras bem afiadas. Os cortes devem ser gabaritados
tanto no traçado como na profundidade, para que os tubos embutidos não sejam forçados a
fazer curvas ou desvios, comprometendo no futuro o desempenho da instalação.
Principalmente no caso de cortes horizontais ou inclinados, recomenda-se que o diâmetro de
qualquer tubulação não seja maior do que um terço da largura do bloco.

Para as instalações elétricas, o trabalho pode ser muito racionalizado procedendo-se


previamente ao corte e chumbamento das caixas de tomadas e interruptores nos blocos. No
caso de caixas de entrada ou de passagem muito espessas em relação à espessura da parede,
reforços devem ser executados localmente, incluindo moldura em concreto armado, reforço
do revestimento da parede com telas metálicas, etc.

Baseado e adaptado de
CÓDIGO DE PRÁTICAS Nº 01,
IPT, EPUSP. Edições sem
prejuízo de conteúdo.

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Aula 6 – Qualidade e Manutenção
UNIDADE 1 – ALVENARIA DE VEDAÇÃO

Aula 6: Qualidade e Manutenção

A execução das alvenarias deve seguir fielmente as indicações do projeto, referentes a


materiais, detalhes construtivos (juntas, cintas e outros) e processo construtivo (forma de
assentamento, ferramentas, escoramentos provisórios, etc.).

1. Controle de Qualidade e Recebimento

Na Tabela abaixo propõe-se uma lista de verificações e tolerâncias para controlar alguns
itens e serviços das diferentes etapas de execução das alvenarias: preparação e marcação,
elevação das paredes e fixação (“encunhamento”). A amostragem e a periodicidade dos
controles devem ser feitas de acordo com o projeto da alvenaria e pelo plano da qualidade
da obra.

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Aula 6 – Qualidade e Manutenção
ALVENARIA

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Aula 6 – Qualidade e Manutenção
UNIDADE 1 – ALVENARIA DE VEDAÇÃO

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Aula 6 – Qualidade e Manutenção
ALVENARIA

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Aula 6 – Qualidade e Manutenção
UNIDADE 1 – ALVENARIA DE VEDAÇÃO

2. Manutenção

A durabilidade da alvenaria de vedação de blocos cerâmicos se extingue quando deixar


de se cumprir as funções que lhe foram atribuídas, quer seja pela degradação que a conduz a
um estado insatisfatório de desempenho, quer seja pela obsolescência funcional.

Na etapa de projeto, recomenda-se que seja estabelecida a Vida Útil de Projeto (VUP).
Esta definição é importante uma vez que explicita o período estimado de tempo em que as
alvenarias projetadas atenderão satisfatoriamente aos requisitos de desempenho, desde que
cumprido, pelos usuários, o programa previsto no manual de operação, uso e manutenção
do edifício, manual este que deve ser elaborado conforme a NBR 14037.

Como referência, para edifícios habitacionais de até cinco pavimentos, tem-se uma
estimativa para a vida útil de projeto de paredes de vedação recomendada pela norma NBR
15575: para as paredes internas, mínimo de 20 anos e para as externas, mínimo de 40 anos.
Para outros tipos de edifícios, podem ser exigidos valores distintos de vida útil de projeto,
segundo estimativas do projetista e exigências do empreendedor, variando de acordo com
cada projeto.

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Aula 6 – Qualidade e Manutenção
ALVENARIA

A manutenção deve ser periódica e preventiva. Caso ocorram manifestações patológicas


como fissuras nas alvenarias, degradação ou sinais de umidade nos revestimentos e nas
pinturas, deve-se corrigir o mais breve possível para que não afete o desempenho da
vedação.

3. Garantias e Responsabilidades

O prazo de garantia, indicado pelo incorporador ou pelo construtor, conforme o caso,


indica a garantia que os elementos e componentes têm a partir da expedição do “Auto de
Conclusão” da unidade habitacional. Na Tabela abaixo estão apresentados os prazos de
garantia para as alvenarias e seus componentes, segundo a série de normas da NBR 15575.

Demais informações sobre responsabilidades e garantias devem constar do manual de


uso, operação e manutenção do edifício, como exigido na NBR 14037.

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Aula 7 – Introdução à Alvenaria Estrutural
UNIDADE 2 – ALVENARIA ESTRUTURAL

Unidade 2 – Alvenaria Estrutural

Aula 7: Introdução à Alvenaria Estrutural

A alvenaria é um material de construção tradicional que tem sido usado há milhares de anos.
Segundo autores, as edificações em alvenaria estão entre as construções que têm maior
aceitação pelo homem, não somente hoje, como também nas civilizações antigas.

1. Contextualização da Alvenaria Estrutural

A alvenaria estrutural passou a ser tratada como uma tecnologia de construção civil
por volta do século XVII quando os princípios de estatística foram aplicados para a
investigação da estabilidade de arcos e domos. Embora no período entre os séculos 19 e 20
tivessem sido realizados testes de resistência dos elementos da alvenaria estrutural em
vários países, ainda se elaborava o projeto de alvenaria estrutural de acordo com métodos
empíricos de cálculo, apresentando, assim, grandes limitações.

Nesta época (entre os séculos 19 e 20), edifícios em alvenaria estrutural foram


construídos com espessuras excessivas de paredes (HENDRY, 2002), como por exemplo o
edifício Monadnock em Chicago, que se tornou um símbolo da moderna alvenaria
estrutural, mesmo com suas paredes da base de 1,80 m. Este edifício foi considerado na
época como limite dimensional máximo para estruturas de alvenaria calculadas pelos
métodos empíricos (ABCI, 1990). Acredita-se que se este edifício fosse dimensionado pelos
procedimentos utilizados atualmente, com os mesmos materiais, esta espessura seria
inferior a 30 cm.

A perda de espaço e baixa velocidade de construção evidenciam a baixa aceitação de


edifícios altos em alvenaria portante na época frente à emergente alternativa de estruturas
de concreto armado. Assim, os edifícios em alvenaria estrutural tiveram pouca aplicação
durante um período de 50 anos.

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Aula 7 – Introdução à Alvenaria Estrutural
ALVENARIA

Somente na década de 50 houve novamente um aumento no interesse pela


construção de edifícios em alvenaria estrutural, pois a segunda guerra mundial (1939 –
1945) causou uma escassez dos materiais de construção na Europa, principalmente do aço.
Assim, nesta época foram construídos alguns edifícios em alvenarias estruturais,
principalmente na Suíça, pela inexistência de indústrias de aço na região. Segundo Ramalho
e Corrêa (2003), um edifício construído em 1950 na Basiléia, Suíça, com 13 pavimentos foi
um marco importante na história da alvenaria estrutural, pois suas paredes internas foram
reduzidas à espessura de 15cm e as paredes externas a 37,5cm de espessura.

Nas décadas seguintes (60 e 70) o interesse pela alvenaria estrutural avançou para
outros países da Europa, como, por exemplo, a Inglaterra, onde foram construídos diversos
edifícios em alvenaria estrutural promovidos principalmente por programas públicos.

No Brasil, a alvenaria estrutural é utilizada desde o início do século XVII. Entretanto, a


alvenaria estrutural com blocos estruturais, encarada como um processo construtivo
voltado para a obtenção de edifícios mais econômicos e racionais, demorou muito a
encontrar seu espaço.

A partir da década de 70 no Brasil, a alvenaria estrutural passou a ser tratada como


uma tecnologia de engenharia, através do projeto estrutural baseado em princípios
validados cientificamente e da execução com critérios mais bem definidos. Segundo
autores, apesar de sua chegada tardia, o processo construtivo de alvenaria estrutural
acabou se firmando como uma alternativa eficiente e econômica para a execução de
edifícios residenciais e também industriais.

Após anos de adaptação e desenvolvimento no país, esta tecnologia construtiva foi


consolidada na década de 80, através da normalização oficial consistente e razoavelmente
ampla. Um exemplo da aplicação intensa da alvenaria estrutural no Brasil são os
empreendimentos habitacionais de baixa renda, que vem sendo desenvolvidos no Brasil em
grande escala.

Observa-se que a tendência de utilização deste processo construtivo é crescente.


Atualmente inúmeros empreendimentos são lançados com esta tecnologia construtiva
racional como um meio de alcançar uma redução dos custos dos empreendimentos sem
perder em qualidade.

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Aula 7 – Introdução à Alvenaria Estrutural
UNIDADE 2 – ALVENARIA ESTRUTURAL

2. Princípios do Processo Construtivo

A alvenaria estrutural é um processo construtivo em que as paredes atuam como a


própria estrutura da edificação e têm a função de resistir às cargas verticais, bem como às
cargas laterais. As cargas verticais são devidas ao peso próprio da estrutura e às cargas de
ocupação. As cargas laterais, por sua vez, originam-se da ação do vento e/ou do desaprumo.
Estas são absorvidas pelas lajes e transmitidas às paredes estruturais paralelas à direção do
esforço lateral.

Uma parede de alvenaria pode suportar pesadas cargas verticais. No entanto, quando
esta for submetida a cargas laterais paralelas ou perpendiculares ao seu plano, pode romper
devido aos esforços de tração que eventualmente venham a aparecer. O grande desafio do
projetista estrutural consiste, portanto, em minimizar ou em evitar tensões de trações que
possam ocorrer.

Assim, diferente das estruturas lineares e reticuladas dos sistemas de concreto


armado, aço ou madeira, no sistema de alvenaria estrutural a estrutura é laminar. Neste
caso, a alvenaria estrutural necessita de procedimentos de cálculo diferentes dos tomados
em outros tipos de estruturas. Por serem diferentes, com filosofias distintas, o projetista e o
construtor não devem conceber soluções com base em conhecimentos e procedimentos
aplicáveis ao concreto armado. Devem pensar alvenaria estrutural.

Na alvenaria estrutural, pela dupla função de vedação e de resistência que seus


elementos básicos (paredes) desempenham nas edificações, o subsistema estrutural
confunde-se com o próprio processo construtivo.

A base de projetos em Alvenaria Estrutural se assenta no princípio de que a alvenaria


pode suportar grandes tensões de compressão, mas pequenas tensões de tração. Todo
momento fletor, que, sem pré-compressão causa tração, deve ser evitado. Logo,

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Aula 7 – Introdução à Alvenaria Estrutural
ALVENARIA

aumentando a compressão, diminui-se a possibilidade de aparecimento de esforços de


tração na alvenaria.

As formas de se otimizar o projeto estrutural são diversas. Para conferir estabilidade


estrutural à edificação, com menor custo de materiais e mão de obra, pode-se aumentar a
inércia das paredes, se necessário, ou com um projeto arquitetônico em que ocorre a
distribuição das paredes de forma que cada uma atue como elemento enrijecedor e
estabilizador de outra.

Deve-se desenvolver um projeto arquitetônico capaz de atender tanto às exigências


estruturais quanto às funcionais a que se destina o prédio. As escadas, poço de elevadores e
de condução de eletrodutos são importantes para a obtenção de rigidez lateral, como por
exemplo.

A forma e a distribuição das paredes estruturais de um edifício dependerão da função


a que ele se destina e das condições do local da edificação. Existe grande variedade de
arranjos possíveis, que, de maneira geral, diferem entre si na definição das paredes que
deverão suportar as cargas verticais e horizontais. Os principais tipos de arranjo de paredes
em alvenaria são apresentados na figura.

Outro princípio fundamental do processo construtivo de alvenaria estrutural é a


indispensável interligação entre os vários projetos complementares, para que um não
interfira nos outros, o que reverteria em prejuízo para o produto final. A ação da
racionalização na fase de execução dos empreendimentos torna-se efetiva quando for
aplicada coerentemente com um projeto desenvolvido segundo os mesmos princípios.

60
Aula 7 – Introdução à Alvenaria Estrutural
UNIDADE 2 – ALVENARIA ESTRUTURAL

3. Tipos de Alvenaria Estrutural

Condicionada à função das armaduras, a alvenaria estrutural pode se subdividir em:

• Alvenaria Estrutural Não Armada: quando os reforços de aço (barras, fios e


telas) ocorrem apenas por finalidades construtivas. As armaduras não são
consideradas na absorção dos esforços, mas são importantes para dar
ductilidade à estrutura e evitar ou diminuir a fissuração em pontos de
concentração de tensões. Além disso, as armaduras podem colaborar para a
segurança contra cargas não previsíveis, podendo impedir o colapso
progressivo;
• Alvenaria Estrutural Armada: quando a alvenaria é reforçada devido a
exigências estruturais. Neste caso, a alvenaria possui armaduras colocadas em
alguns vazados dos blocos, devidamente envolvidas por graute, para absorver
os esforços calculados, além das armaduras construtivas e de amarração;
• Alvenaria Estrutural Parcialmente Armada: quando parte da estrutura tem
paredes com armaduras para resistir aos esforços calculados, além das
armaduras com finalidade construtiva ou de amarração, sendo as paredes
restantes consideradas não armadas;
• Alvenaria Estrutural Protendida: Esta forma de alvenaria é reforçada por uma
armadura ativa (pré-tensionada), que submete a alvenaria a esforços de
compressão. Difundida na Inglaterra, ainda não é utilizada no Brasil.

3.1. Paredes como Elementos Estruturais

As paredes são os elementos estruturais da alvenaria. São definidos como elemento


laminar vertical apoiado de modo contínuo em toda a sua base, com comprimento maior
que cinco vezes a espessura. De acordo com a função estrutural que exercem, as paredes
são definidas como:

• Paredes de vedação: são aquelas que resistem apenas o próprio peso e tem
função de separação de ambientes internos ou de fechamento externo. Não
tem nenhuma responsabilidade estrutural;
• Paredes estruturais: têm a função de resistir todas as cargas verticais, de peso
próprio e acidental aplicadas sobre elas;
• Paredes de contraventamento: são as paredes estruturais projetadas para
suportarem as cargas horizontais, originadas especialmente pela ação dos
ventos, paralelas ao seu plano;

61
Aula 7 – Introdução à Alvenaria Estrutural
ALVENARIA

• Paredes enrijecedoras: têm a função de enrijecerem as paredes estruturais


contra a flambagem;
• Pilares de alvenaria: são todos os elementos estruturais em que as secções
retangulares, utilizadas no cálculo do esforço resistente, possuem relação de
lados inferior ou igual a cinco.

4. Unidades de Alvenaria

Os materiais usados para alvenaria estrutural são as unidades de alvenaria, vazadas ou


maciças, as argamassas e o graute. A resistência final da alvenaria, bem como outras
características fundamentais são dependentes da composição entre estes materiais.

O comportamento dos diferentes materiais ao formarem a parede pode variar muito,


dependendo de vários fatores, tais como o tipo e a geometria da unidade, os componentes
da argamassa, a resistência do graute, dentre outros. Entender o comportamento estrutural
das paredes de alvenaria em função dos materiais utilizados é de fundamental importância,
tanto na etapa de projeto quanto na de execução. A especificação incorreta dos mesmos
pode levar à ocorrência de patologias ou, mesmo, de colapso da estrutura. Da mesma
forma, também a falta de cuidado no processo de construção, seja pelo uso de unidades
inadequadas, seja pela mistura incorreta das argamassas e grautes, pode causar danos à
estrutura.

4.1. Tipos de Unidades de Alvenarias

Como visto, as unidades de alvenaria (tijolos e blocos) mais utilizadas no Brasil podem
ser divididas basicamente quanto a sua natureza, sua função e quanto a suas dimensões.

4.1.1. Quanto à Natureza do Material

São divididas em:

• Cerâmico: unidades fabricadas a partir de uma mistura de argila,


normalmente moldadas por extrusão;
• Concreto: unidades produzidas a partir de uma mistura de cimento, areia e
brita, moldadas por vibro-prensagem;
• Sílico-calcário: unidades compostas por uma mistura homogênea e
adequadamente proporcionada de cal e areia quartzosa, moldadas por
prensagem e curadas por vapor a alta pressão;

62
Aula 7 – Introdução à Alvenaria Estrutural
UNIDADE 2 – ALVENARIA ESTRUTURAL

• Solo-cimento: unidades constituídas por uma mistura homogênea,


compactada e endurecida de solo, cimento, água e, eventualmente, aditivos
em proporções que atendam às exigências da NBR 8491/1984 (tijolo maciço
de solo-cimento).

4.1.2. Quanto à Função

São divididas em:

• Vedação: são tijolos e blocos projetados para resistirem apenas às cargas


devidas ao peso próprio e a pequenas cargas de ocupação.
• Estruturais: são tijolos maciços e blocos projetados para serem assentados
com os furos na vertical e que têm a finalidade de resistir a cargas verticais,
bem como a seu peso próprio. Diferentes formatos de unidades foram
desenvolvidos com o objetivo de se ajustarem a uma função específica, como
por exemplo os blocos canaletas (utilizado para a confecção de vergas e
contravergas pré-moldadas e para vigas de cintamento); blocos
hidráulico/elétrico (acomodam as tubulações de água, de energia elétrica, de
gás, dentre outras instalações); e, bloco J (utilizado para cintamento de
paredes externas e concretagem de lajes moldadas in loco).

4.1.3. Quanto às Dimensões

Segundo a Norma Brasileira, as dimensões das unidades de alvenaria podem ser


classificadas em nominais e reais. As dimensões reais são as efetivadas pela fabricação. As
dimensões nominais são as reais, acrescidas de 1 (um) cm para a argamassa e as
especificadas pelo fabricante. A norma especifica várias dimensões de unidades e admite
que outras dimensões podem ser utilizadas, desde que previamente acordadas entre o
fabricante e o consumidor.

Do ponto de vista estrutural, as unidades de alvenaria são fundamentais para que a


parede desenvolva as características mecânicas adequadas à sua segurança, especialmente
em relação à resistência à compressão. Além de resistência à compressão adequada ao
carregamento a que a parede estará submetida nas condições de uso, a unidade de
alvenaria deverá apresentar também baixa absorção de água, durabilidade e estabilidade
dimensional.

A qualidade das unidades de alvenaria fabricadas no Brasil, para todos os tipos de


materiais, é bastante variada, existindo produtos de alta qualidade, frutos de processos de
fabricação modernos e produtos de qualidade bastante duvidosa. Estes últimos são

63
Aula 7 – Introdução à Alvenaria Estrutural
ALVENARIA

geralmente fabricados por cerâmicas e fábricas de blocos de concreto bastante


rudimentares, que, além de utilizarem matéria prima de má qualidade, não exercem
controle adequado de produção. É importante que projetista e o executor de edificações
em alvenaria estrutural sejam bastante cuidadosos no momento de definirem a unidade de
alvenaria a ser utilizada, estabelecendo formas de controle de qualidade da mesma, quanto
às características físicas e mecânicas dela.

4.2. Unidades Cerâmicas

O ingrediente básico das unidades cerâmicas é a argila. Como estudado em Materiais


de Construções, a argila é composta de sílica, silicato de alumínio e variadas quantidades de
óxidos ferrosos. A argila pode ser calcária ou não calcária. No primeiro caso, a argila,
quando cozida, produz um bloco ou tijolo de cor amarelada. A não calcária contém de 2 a
10% de óxido de ferro e feldspato e produz uma unidade de variados tons vermelhos
dependendo da quantia do óxido de ferro.

A argila apropriada para a fabricação de blocos e tijolos deve ter plasticidade quando
misturada com água, de tal maneira que possa ser moldada; deve ter suficiente resistência à
tração para manter o formato depois de moldada; enfim, deve ser capaz de fundir as
partículas quando queimada a altas temperaturas.

Todas as propriedades físicas dos materiais cerâmicos são influenciadas pela


composição da matéria prima usada e pelo processo de fabricação. Encontram-se unidades
com resistências baixas, em torno de 3 MPa, e outras de elevadas resistências, que podem
atingir mais de 100 MPa.

A norma brasileira NBR 7171, de novembro de 1994, divide as unidades cerâmicas em


dois tipos: tijolo e bloco. O tijolo possui todas as faces plenas de material, enquanto que o
bloco apresenta furos prismáticos e/ou cilíndricos perpendiculares às faces que os contêm.

A figura abaixo apresenta os principais blocos cerâmicos produzidos por uma indústria
cerâmica.

64
Aula 7 – Introdução à Alvenaria Estrutural
UNIDADE 2 – ALVENARIA ESTRUTURAL

4.3. Unidades de Concreto

Os blocos de concreto são unidades de alvenaria fabricadas a partir de uma mistura de


cimento, agregados (areia e brita) e água. A mistura é introduzida em máquina de moldar,
onde, através de uma combinação de pressão e vibração, se produz os blocos. A cura destes
é produzida comumente com algum tipo de aquecimento, no intuito de acelerá-la. Os
processos de fabricação e cura dos blocos devem assegurar a obtenção de um concreto
suficientemente compacto (slump = zero) e homogêneo.

São fabricados vários tipos e tamanhos de blocos, com diferentes funções, os quais
seguem as modulações de 15 cm ou de 20 cm, conforme a malha modular definida no
projeto. A figura 04 apresenta os tipos de blocos de concreto mais fabricados no Brasil.

Os blocos comumente utilizados apresentam resistência à compressão de 4,5 Mpa a


12 Mpa, podendo apresentar, em casos especiais, resistências de até 20 Mpa. A NBR
6136/1994 divide os blocos de concreto em classes de resistência mínima à compressão.
Para uso estrutural, os blocos de concreto devem apresentar resistência mínima de 4,5
MPa, conforme especificação da Norma.

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Aula 7 – Introdução à Alvenaria Estrutural
ALVENARIA

4.4. Unidades de Sílico-calcário

Os tijolos e blocos sílico-calcário são unidades de alvenaria compostas por uma mistura
homogênea e adequadamente proporcionada de cal e areia quartzosa moldadas por
prensagem e curadas por vapor de pressão.

As principais características das unidades sílico-calcário são a sua boa resistência,


durabilidade e grande uniformidade dimensional. A resistência à compressão varia
internacionalmente entre 14 e 60Mpa. No Brasil, as unidades fabricadas apresentam
resistências de 6 a 20Mpa e não são comumente utilizadas. A figura abaixo apresenta três
exemplos de blocos de sílico-calcários.

Baseado e adaptado de
Cristiano Richter. Edições sem
prejuízo de conteúdo.

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Aula 8 – Argamassas de Assentamento
UNIDADE 2 – ALVENARIA ESTRUTURAL

Aula 8: Argamassas de Assentamento

Argamassa é material composto por um ou mais aglomerantes (cimento e cal), por um


agregado miúdo (areia) e água suficiente para produzir uma mistura plástica de boa
trabalhabilidade. Em alvenaria estrutural, usam-se, comumente, cimento e cal como
aglomerantes, e a areia como agregado. Nos últimos anos tem crescido a oferta de
argamassas industrializadas, feitas à base de cimento, areia e aditivos plastificantes.

1. Funções da Argamassa

Estruturalmente, a principal função da argamassa é a transferência uniforme das


tensões entre os tijolos e os blocos, compensando as irregularidades e as variações
dimensionais dos mesmos. Além disto, deve unir solidariamente as unidades de alvenaria e
ajudá-las a resistirem aos esforços laterais.

É importante ressaltar que, embora as argamassas de assentamento sejam compostas,


na essência, pelos mesmos elementos constituintes do concreto, eles têm funções e
empregos bastante distintos. Assim, não é correto utilizar procedimentos iguais aos de
produção de concreto para produzir argamassas de qualidade.

Enquanto para o concreto o objetivo final é obter a maior resistência à compressão


com o menor custo, para as argamassas o importante é que sejam aptas a transferir as
tensões de maneira uniforme entre os blocos. Além disso, ao contrário do concreto, a
argamassa não deve ser curada. Não somente pela dificuldade de executar tal operação,
mas também e principalmente porque o processo de cura umedeceria as unidades de
alvenaria. Isto causaria deformações de expansão e contração que prejudicariam a
integridade da alvenaria, especialmente de blocos de concreto.

A argamassa é assentada sobre materiais cujas superfícies são absorventes e, além


disso, fica exposta aos efeitos da evaporação. Esta capacidade de sucção das unidades de
alvenaria é necessária para que haja integração com a argamassa e o consequente
desenvolvimento de aderência na interface dos materiais. Entretanto, se essa absorção
passa de certos limites, a unidade pode absorver água indispensável à hidratação do
cimento.

67
Aula 8 – Argamassas de Assentamento
ALVENARIA

2. Propriedades da Argamassa

As principais propriedades das argamassas são as que se seguem.

2.1. Argamassas no Estado Fresco

A principal propriedade da argamassa no estado fresco é a trabalhabilidade. A


trabalhabilidade é uma propriedade de difícil definição, tanto que não existe um método
direto para medi-la. Em geral se mede a fluidez da argamassa. A fluidez, ou consistência
pode ser definida como a porcentagem do aumento de diâmetro da base de um tronco de
cone de argamassa depois de submetida a 30 impactos sucessivos em uma mesa vibratória
padrão. Uma argamassa de boa trabalhabilidade apresenta fluidez entre 115 e 150 %.
Entretanto, a medição de fluidez nem sempre é indicativa de boa trabalhabilidade. Misturas
ásperas e destituídas de coesão, mesmo com fluidez nesta faixa, produzem argamassas
inadequadas para uso em alvenaria.

A trabalhabilidade depende da combinação de vários fatores, destacando-se a


qualidade do agregado, a quantidade de água usada, a consistência, a capacidade de
retenção de água da argamassa, o tempo decorrido da preparação, a adesão e a fluidez.

No processo de assentamento, parte da água existente na argamassa flui em direção


ao bloco em virtude das forças capilares que se formam nas proximidades da superfície de
contato entre os dois materiais, e uma outra parte pode evaporar, especialmente em clima
quente. A mistura, na medida em que perde água, vai se tornando menos consistente,
podendo acontecer que esteja muito seca quando for assentada a próxima fiada de blocos.
Por isso, é necessário que a argamassa possa conservar, no estado fresco, a consistência
inicial quando submetida a solicitações que provoquem perda de água de amassamento.

Outra propriedade importante das argamassas no estado fresco é a retentividade de


água. Retentividade é a capacidade da argamassa de reter água contra a sucção do bloco. Se
o bloco for muito poroso e retirar muito rapidamente a água da argamassa, não haverá
líquido suficiente para a completa hidratação do cimento. Isso resulta em uma fraca ligação
entre o bloco e a argamassa. Além disso, o endurecimento muito rápido da argamassa, pela
perda de água, impede o assentamento correto da fiada seguinte.

A má retentividade de água pode ser resultante de uma má granulometria do


agregado, agregados muito grandes, mistura insuficiente ou escolha errada do tipo de
cimento. A argamassa ideal é aquela que apresentar alto índice de retenção de água que

68
Aula 8 – Argamassas de Assentamento
UNIDADE 2 – ALVENARIA ESTRUTURAL

está associada a tensão superficial da pasta/aglomerante, logo quanto maior a superfície


específica do constituinte maior a retenção de água.

A cal é um excelente retentor de água porque cede aos poucos para a hidratação do
cimento mantendo a plasticidade inicial por um período maior e confere resiliência no
estado endurecido a parede. Caso a argamassa for industrializada e sem cal, há a
necessidade de conter um aditivo que apresente a propriedade de reter água para a
hidratação do cimento.

O endurecimento é a função da hidratação, ou seja, da reação química entre o cimento


e a água. Se o endurecimento for muito rápido, causará problemas no assentamento dos
blocos e no acabamento das juntas, mas se for muito lento, causará atraso na construção
pela espera que se fará necessária para a continuação do trabalho.

Temperaturas muito altas tendem a acelerar o endurecimento. Inversamente, clima


muito frio retarda o endurecimento. Uma mistura mais homogênea espalha melhor o
cimento facilitando o contato com a água e, consequentemente, acelera o processo de
endurecimento. Cabe salientar que, em condições normais, o tempo entre a mistura e o uso
da argamassa não deve exceder duas horas e meia.

2.2. Argamassa no Estado Endurecido

Para as argamassas no estado endurecido, uma das propriedades mais importantes é a


aderência. Esta depende não só de uma argamassa adequada, mas também das
características da interface da unidade de alvenaria. É, portanto, uma combinação do grau
de contato entre a argamassa e a unidade e da adesão da pasta de cimento à superfície do
bloco ou do tijolo.

A resistência de aderência é a capacidade que a interface bloco-argamassa possui de


absorver tensões tangenciais (cisalhamento) e normais (tração) a ela, sem romper-se.

Os fatores que influenciam o grau de contato e a adesão são a trabalhabilidade da


argamassa, a retentividade, a taxa de absorção inicial do bloco, a mão de obra, a quantidade
de cimento na mistura, a textura da superfície do bloco, o conteúdo de umidade do bloco,
temperatura e umidade relativa do ar.

A aderência ótima é obtida com a máxima quantidade de água possível compatível


com a consistência desejada, mesmo que caia a resistência à compressão face ao aumento
do fator água/cimento.

69
Aula 8 – Argamassas de Assentamento
ALVENARIA

Resistência de aderência é a capacidade de a interface do bloco com a argamassa


absorver tensões tangenciais de cisalhamento e normais de tração, sem que haja ruptura.
As variações de temperatura e umidade, assim como as cargas horizontais devidas ao vento,
produzem tensões na interface que podem levar à redução da resistência de aderência. A
propriedade que define a manutenção da capacidade de aderência entre a argamassa e a
unidade ao longo do tempo é chamada durabilidade.

As principais propriedades da alvenaria que são prejudicadas pela falta de aderência


são a resistência ao cisalhamento, tração e flexão reduzindo a durabilidade e aumentando a
possibilidade à penetração de chuvas nas paredes de alvenaria estrutural.

As paredes de alvenaria estrutural estão sujeitas a variações térmicas, higroscópicas e


pequenos recalques durante sua vida útil. A resiliência é a capacidade que a argamassa, no
estado endurecido, de deformar-se sem romper macroscopicamente. Isto é, pelas ações
que a alvenaria está sujeita, pode ocorrer microfissuras que não são prejudiciais às
propriedades da alvenaria.

A resiliência está relacionada com o módulo de deformação longitudinal da argamassa.


Quanto menor o módulo de deformação menor será a resistência, ocorrendo mais fissuras
nas juntas de argamassa, porém com menores aberturas. Argamassas fortes podem originar
em menor número de fissuras, mas a abertura maior (perceptível), as quais poderão
permitir a penetração de água da chuva, comprometendo a durabilidade da alvenaria.

Outra importante propriedade da argamassa é a resistência à compressão. Esta


propriedade depende do tipo e da quantidade de cimento usada na mistura. Importa saber
que uma grande resistência à compressão da argamassa não é necessariamente sinônimo
de melhor solução estrutural. A argamassa deve ser resistente o suficiente para suportar os
esforços aos quais a parede será submetida. Contudo ela não deve exceder a resistência
dos tijolos ou dos blocos da parede, de maneira que as fissuras que venham a ocorrer,
devido a expansões térmicas ou a outros movimentos da parede, ocorram na junta. Para
cada resistência de bloco existe uma resistência ótima de argamassa. Um aumento desta
resistência não aumentará, proporcionalmente, a resistência da parede.

3. Tipos de Argamassa

O tipo de argamassa a ser usado depende principalmente da função que a parede vai
exercer, das condições de exposição da parede e do tipo de tijolo ou de bloco que será

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Aula 8 – Argamassas de Assentamento
UNIDADE 2 – ALVENARIA ESTRUTURAL

utilizado. Quando se pensa no uso das alvenarias como elementos estruturais, tende-se a
especificar o uso de argamassas com alto consumo de cimento e com grande resistência à
compressão. Na verdade, nem sempre uma argamassa mais resistente é a mais indicada.

A argamassa é um adesivo que integra as unidades de alvenaria. Deve, portanto, ser


resistente, durável, impedir a penetração de água, ser resiliente, econômica e com boa
trabalhabilidade. As especificações e os requisitos para o uso de argamassas altamente
resistentes podem prejudicar as propriedades desejáveis citadas acima. Não é interessante
que uma argamassa tenha grande resistência à compressão em prejuízo da aderência e/ou
da trabalhabilidade. Também não é aceitável que uma argamassa tenha elevado consumo
de cimento, alta resistência à compressão e características de retração que causem fissuras
de separação na interface entre a junta e a unidade, resultando num caminho próprio para
a penetração de umidade.

Assim, o traço da argamassa utilizada no assentamento dos blocos, tanto da primeira


fiada quanto das elevações da alvenaria, deve ser estabelecido em função das diferentes
exigências de aderência, impermeabilidade da junta, poder de retenção de água,
plasticidade requerida para o assentamento, módulo de deformação da argamassa, entre
outras. A resistência à compressão da argamassa de assentamento deve ser estabelecida a
partir das necessidades da estrutura em questão e de ensaios de prismas ocos e cheios. A
ASTM (1987) recomenda os traços indicados na tabela.

Os traços indicados da tabela são apenas referenciais, sendo necessário o ajuste do


traço em função das características dos materiais disponíveis. A norma ASTM (1987)
recomenda que a aplicação das argamassas tipo “M” ou “S” - de maior resistência - seja
reservada para situações especiais, como arrimos, embasamentos em contato com o solo,
dentre outros.

Atualmente, o mercado dispõe de argamassas de assentamento industrializadas ou


pré-dosadas, fornecidas a granel, para as quais são válidas todas as indicações anteriores.
Segundo autores, algumas argamassas são dosadas sem a introdução de cal hidratada,

71
Aula 8 – Argamassas de Assentamento
ALVENARIA

compensando-se essa ausência com a introdução de aditivos plastificantes, incorporadores


de ar e retentores de água, sendo que os resultados finais, em termos de aderência, módulo
de deformação e outros requisitos, devem ser os mesmos.

4. Juntas de Argamassa

As juntas de assentamento em amarração facilitam a redistribuição de tensões


provenientes de cargas verticais ou introduzidas por deformações estruturais e
movimentações higrotérmicas. As juntas a prumo não propiciam o espalhamento das
tensões, tendendo as paredes a trabalharem como uma sucessão de “pilaretes”. As paredes
devem ser projetadas com blocos contra-fiados, ou seja, com defasagem de meio bloco
entre fiadas sucessivas, embora sobreposições não inferiores a um terço do bloco sejam
aceitáveis.

A ausência de argamassa nas juntas verticais (“juntas secas”) repercute na resistência


ao cisalhamento da alvenaria, à resistência ao fogo, ao desempenho termoacústico, à
resistência a cargas laterais e à capacidade de redistribuição das tensões desenvolvidas nas
paredes. Santos (2001) corrobora com esta proposição argumentando que “o não
preenchimento de juntas verticais com argamassa indica, claramente, que esta pratica não
contribui para a melhoria do desempenho estrutural das edificações em alvenaria”.
Segundo Roman et al. (1999), “o não-preenchimento das juntas verticais tem pouco efeito
na resistência à compressão, mas afeta a resistência à flexão e ao cisalhamento da parede”.
Sendo assim, não se recomenda em nenhuma circunstância à adoção de “juntas secas” nas
alvenarias estruturais.

Quanto à espessura, as juntas de assentamento de argamassa devem ser,


preferencialmente, de 1 cm com preenchimento longitudinal total em forma de cordões de
argamassa, tanto horizontal quanto verticalmente. Segundo Sahlin (1971), a resistência à
compressão da alvenaria diminui em aproximadamente 15% para cada aumento de 3 mm
da espessura da junta, em relação a uma junta ideal de 10 mm. A NBR8798 (ABNT, 1985)
especifica a espessura dos cordões de argamassa em 10 mm com tolerância de 3mm para
mais ou para menos, proibindo-se calços de qualquer natureza.

5. Graute

Na NBR8798, define-se graute como o elemento para preenchimento dos vazios dos
blocos e canaletas para solidarização da armadura a estes componentes e aumento de
capacidade portante, composto de cimento, agregado miúdo, agregado graúdo, água e cal

72
Aula 8 – Argamassas de Assentamento
UNIDADE 2 – ALVENARIA ESTRUTURAL

ou outra adição destinada a conferir trabalhabilidade e retenção de água de hidratação à


mistura. Segundo esta norma brasileira, o graute é considerado fino quando o agregado
graúdo possui dimensão máxima inferior ou igual a 4,8 mm e grosso quando o agregado
graúdo possui dimensão superior a 4,8 mm.

O grauteamento de paredes de alvenaria estrutural não armada tem se mostrado uma


prática adotada por alguns calculistas com o objetivo de aumentar a capacidade de carga da
alvenaria. Autores concluem que mesmo em alvenarias de blocos cerâmicos é viável a
técnica de grauteamento dos vazados dos blocos com o objetivo de aumentar a resistência
à compressão de paredes de alvenaria estrutural.

Sabbatini (2003) comenta ainda que o graute de preenchimento dos vazados verticais
nas tipologias de alvenaria estrutural tem as funções de permitir que a armadura trabalhe
conjuntamente com a alvenaria, quando solicitada, aumentar a resistência à compressão
localizada da parede e impedir a corrosão da armadura. A dosagem, a especificação das
características do graute e sua localização devem ser de responsabilidade do projetista
estrutural.

Usualmente, o graute para alvenaria é composto de uma mistura de cimento e


agregado, devendo estes possuir módulo de finura em torno de 4 (areias grossas). O graute
é composto dos mesmos materiais usados para produzir concreto convencional. As
diferenças estão no tamanho do agregado graúdo (mais fino, 100% passando na peneira
12,5 mm) e na relação água/cimento.

Como se deseja uma elevada trabalhabilidade, o concreto deve ser bastante fluido. O
ensaio de slump deve mostrar um abatimento entre 10 e 14 cm. A relação água/cimento
deve estar entre 0,8 e 1,1 dependendo do módulo de finura da areia. A fixação do slump
nesta faixa dependerá fundamentalmente da taxa de absorção inicial das unidades e da
dimensão dos alvéolos. Quanto mais absorventes forem as unidades e menores forem seus
alvéolos, maior deverá ser o slump da mistura. Ao se colocar o graute na alvenaria, estas
retiram grande parte do excesso de água, deixando o mesmo com uma relação
água/cimento final entre 0,5 e 0,6.

A norma inglesa BS 5628 especifica que o graute deve ter a mesma resistência à
compressão na área líquida do bloco. Este valor de resistência otimiza o desempenho
estrutural da parede.

Baseado e adaptado de
Cristiano Richter. Edições sem
prejuízo de conteúdo.

73
Aula 9 – Projetos I
ALVENARIA

Aula 9: Projetos I

A Alvenaria Estrutural pode ser considerada como um sistema formado por materiais distintos
que interagem para responder às cargas às quais são solicitados durante a sua vida útil. O
comportamento do conjunto depende não somente da qualidade de cada material
empregado, mas também e principalmente das interações físico-químicas que se processam
entre os mesmos.

1. Comportamento Estrutural

O desempenho estrutural de paredes de alvenaria não pode ser estimado sem a


realização de testes com paredes ou prismas dos materiais que serão utilizados. Do ponto
de vista estrutural, as principais propriedades mecânicas que devem apresentar as paredes
de alvenaria são a resistência à compressão, à tração, à flexão, ou ao cisalhamento. De
todas essas propriedades, a mais importante é a resistência à compressão, porque,
geralmente, as paredes de alvenaria estão submetidas a carregamentos verticais, de
características compressivas, muito mais intensos que os carregamentos horizontais.

A alvenaria estrutural, como todo o material frágil, tem boa resistência à compressão e
baixa resistência à tração. Quando o projetista previr a existência de tração, deve buscar
soluções que minimizem ao máximo esse tipo de tensão. As normas nacionais e
internacionais, destinadas ao cálculo da alvenaria estrutural, não recomendam a admissão
de tensões de tração, permitindo apenas a consideração de valores muito pequenos. Cada
diferente combinação dos materiais para alvenaria responde com um fator de eficiência
próprio. Esse fator de eficiência da alvenaria é dado pela razão entre a resistência dos
prismas e a resistência da unidade. Trabalhos experimentais realizados por pesquisadores
de vários países mostraram que o fator de eficiência pode variar entre 10 e 70 % para
materiais cerâmicos e entre 50 e 90 % para blocos de concreto. Esta variabilidade comprova
a importância da realização de ensaios antes da utilização dos materiais em prédios de
alvenaria estrutural.

Alguns cuidados devem ser tomados em obra para que a alvenaria tenha o
desempenho e a resistência estimada. A resistência dos elementos de alvenaria (paredes,
por exemplo) depende de uma série de fatores. Esses, podem ser divididos em dois grupos.

74
Aula 9 – Projetos I
UNIDADE 2 – ALVENARIA ESTRUTURAL

O primeiro relacionado com a resistência básica da alvenaria, a qual inclui as características


físicas e mecânicas dos materiais empregados e a técnica construtiva utilizada na
construção. E o segundo grupo decorrem da concepção dos elementos da alvenaria, como,
por exemplo, a taxa de esbeltez, a excentricidade do carregamento, dentre outros. Alguns
destes fatores se destacam, tais como:

• Resistência do bloco: a resistência à compressão do bloco é função da


matéria-prima empregada, do processo de fabricação, da forma e do
tamanho, sendo o bloco o elemento de maior influência na resistência final da
alvenaria;
• Geometria da unidade: de maneira geral, quanto maior a altura do bloco em
relação à espessura da junta, maior a resistência da parede. O bloco deve
ainda ter as dimensões mais homogêneas possíveis e suas superfícies devem
ser planas e sem fissuras. Com isto evitam-se juntas de concentração de
tensões que podem ocasionar a ruptura da parede;
• Resistência da argamassa: a influência da resistência à compressão da
argamassa aumenta com o aumento da qualidade do bloco e,
conseqüentemente, aumento das tensões admissíveis. As propriedades
mecânicas do material de assentamento são muito importantes para a
resistência à compressão da alvenaria, visto que o mecanismo de ruptura da
parede está diretamente ligado à interação entre junta e unidade;
• Espessura da junta: diversas pesquisas indicam que a espessura ótima para as
juntas de alvenaria, tanto horizontais como verticais, é de 1cm. Valores
menores, que teoricamente levariam a alvenarias mais resistentes, não são
recomendáveis, pois a junta não conseguiria absorver as imperfeições que
ocorrem nas unidades;
• Técnica construtiva e qualidade da mão de obra: a resistência da alvenaria
depende não só da escolha adequada do material utilizado, mas também de
fatores decorrentes dos procedimentos construtivos adotados. Estes
procedimentos podem ser a técnica construtiva e a qualidade da mão-de-obra
empregada. A mão de obra tem grande influência na qualidade da alvenaria.
A falta de treinamento e motivação pode trazer prejuízos ao desenvolvimento
dos serviços. Os problemas mais comuns nas construções de alvenaria,
relacionados com a mão de obra são:
✓ Preenchimento das juntas inadequado: as juntas horizontais devem
ser completamente preenchidas. Juntas incompletas podem reduzir
a resistência da alvenaria em até 33%. O não preenchimento das
juntas verticais tem pouco efeito na resistência à compressão, mas

75
Aula 9 – Projetos I
ALVENARIA

afeta a resistência à flexão e ao cisalhamento. A espessura das juntas


deve ser controlada. Quando a mão de obra não é adequada, é
comum que as juntas sejam mais grossas do que o desejável, pois
estas facilitam o processo de assentamento das unidades e
aumentam a produtividade;
✓ Exposição a condições climáticas adversas logo após o assentamento:
perda excessiva de umidade por evaporação em clima quente pode
impedir a hidratação completa do cimento, ocasionando redução na
resistência da argamassa;
✓ Ferramentas inadequadas: as utilizações de ferramentas
inadequadas durante o assentamento da alvenaria podem refletir em
alvenarias desaprumadas, sem esquadro e fora de nível. Paredes fora
de prumo, com reentrâncias ou não alinhadas com as paredes
inferiores ou superiores, produzem cargas excêntricas com
consequente redução da resistência. Um defeito de 12 a 20mm
implica num enfraquecimento da parede entre 13 a 15%. Paredes
aprumadas, niveladas e em esquadro são necessárias para o bom
desempenho da alvenaria estrutural;
✓ Ritmo da construção acelerado: quando se constrói em um ritmo
exagerado, pode-se estar assentando um número excessivo de fiadas
sobre uma argamassa que ainda não tenha adquirido uma resistência
adequada à compressão gerando deformações.

2. Projetos

Alguns conceitos adotados em projeto são fundamentais para o desempenho


adequado da alvenaria estrutural. Ao se optar pelo processo construtivo de alvenaria
estrutural, deve-se preparar o projeto desde o início da concepção do mesmo, a fim de
otimizar as imensas vantagens do sistema. Procedimentos comuns na construção
tradicional, principalmente com relação à desvinculação dos projetos complementares,
devem ser evitados.

Assim, no anteprojeto devem ser definidas as paredes estruturais e de vedação e os


tipos de blocos a serem utilizados. Esta escolha é importante para a modulação do projeto.
Com a modulação não há necessidade de ajustes na obra, refletidas em quebras de blocos
para a adequação das dimensões. Nesta etapa deve também ser definido o tipo de laje a ser
utilizada.

76
Aula 9 – Projetos I
UNIDADE 2 – ALVENARIA ESTRUTURAL

Depois de concluído o anteprojeto, deve-se elaborar os projetos complementares


(hidráulico, elétrico, dente outros). É importante que os responsáveis pelos projetos tenham
em mãos o anteprojeto com todas as informações relevantes e sejam coordenados por um
profissional responsável pelo projeto global. Desta forma, serão ajustadas as interferências
de um projeto sobre o outro, como, por exemplo, passagens de eletrodutos por paredes
estruturais.

Dispondo-se de todos os projetos complementares, devem-se preparar os projetos


executivos, com o detalhamento das elevações das paredes internas e externas.

2.1. Coordenação de Projetos

A coordenação dos projetos eleva a qualidade do projeto global e, conseqüentemente,


melhora a qualidade da construção. Muitas medidas de racionalização e praticamente todas
as medidas de controle da qualidade dependem de uma clara especificação na sua fase de
concepção. Não é possível controlar uma atividade ou produto, se suas características não
se encontram definidas. Da mesma forma, a execução somente poderá ser planejada de
forma eficiente se o projeto apresentar todas as informações necessárias para o
planejamento.

O processo construtivo de alvenaria estrutural deve ser concebido, sempre que


possível, a partir da coordenação dos projetos. Os principais objetivos da coordenação são:

• Promover a integração entre os participantes do projeto, garantindo a


comunicação e a troca de informações entre os integrantes e as diversas
etapas do empreendimento;
• Controlar as etapas de desenvolvimento do projeto, de forma que este seja
executado conforme as especificações e requisitos previamente definidos
(custos, prazos, especificações técnicas);
• Coordenar o processo de forma a solucionar as interferências entre as partes
do projeto elaborado pelos distintos projetistas;
• Garantir a coerência entre o produto projetado e o modo de produção, com
especial atenção para a tecnologia do processo construtivo utilizado.

A implantação de um sistema de coordenação de projetos aumenta a confiabilidade do


processo e diminui as incertezas em todas as atividades, principalmente na execução. Por
esta razão, recomenda-se que o projetista busque a integração dos diversos projetos. Os
principais requisitos necessários para uma perfeita coordenação dos projetos são:

77
Aula 9 – Projetos I
ALVENARIA

• Definição clara dos objetivos e parâmetros a serem repassados aos diversos


profissionais como requisitos do projeto;
• Definição clara de todas as partes que constituem os projetos, bem como o
seu conteúdo;
• Definição e padronização da forma de apresentação das informações
(padronização da representação gráfica);
• Criação de uma sistemática de avaliação e retroalimentação dos problemas
enfrentados durante a execução dos projetos, de forma a aumentar o
aprendizado da tecnologia da empresa através da experiência;
• Integração intensa entre projeto e obra, inclusive durante a execução do
empreendimento, de forma a dar suporte a possíveis alterações a serem
realizadas;
• Definir antecipadamente a quem caberá o detalhamento executivo de cada
projeto complementar.

2.2. Projeto Arquitetônico

Com todos os condicionantes em mãos, expostos anteriormente, pode-se iniciar a fase


de elaboração do projeto arquitetônico. Para projetar uma edificação em alvenaria
estrutural, o projetista deve pensar nos princípios do processo, devido às suas
particularidades.

Além das condicionantes usuais, geralmente provenientes dos códigos de obra


municipais, um projeto em alvenaria estrutural impõe restrições específicas aos projetistas.
Entre essas, destacam-se as seguintes restrições estruturais:

• A limitação no número de pavimentos que é possível alcançar por efeito dos


limites dos materiais disponíveis no mercado;
• O arranjo espacial das paredes e a necessidade de amarração entre os
elementos;
• As limitações quanto à existência de transição para estruturas em pilotis no
térreo ou em subsolos;
• A impossibilidade de remoção posterior de paredes estruturais.

O projeto arquitetônico é quem estabelece o partido geral do edifício, e, assim,


condiciona o desenvolvimento de todos os demais. Por este motivo, o sucesso do
empreendimento dependerá da cuidadosa elaboração deste projeto, pois influenciará todos
os demais. Caso o partido arquitetônico não seja adequado, será muito difícil compensá-lo
através de medidas tomadas nos projetos complementares ou intervenções na obra.

78
Aula 9 – Projetos I
UNIDADE 2 – ALVENARIA ESTRUTURAL

Os principais fundamentos do projeto arquitetônico, para edificações de alvenaria


estrutural, são: (a) verificar condicionantes do projeto; (b) objetivar o máximo de simetria;
(c) utilizar modulação; (d) compatibilizar os projetos arquitetônicos com o estrutural e com
os de instalações; (e) prever os pontos de passagem dos shafts para as tubulações. Em caso
de não ser possível o uso destes; (f) prever as paredes que podem funcionar como vedação,
utilizando-as para passagem de tubulações; (g) apresentar os detalhes construtivos de
forma clara e objetiva; e, (h) usar escalas diferentes para planta e detalhes. Apresentar
detalhes em escalas adequadas.

2.2.1. Condicionantes do Projeto

Os principais fatores condicionantes do projeto são o arranjo arquitetônico, a


coordenação dimensional, a otimização do funcionamento estrutural da alvenaria e a
racionalização do projeto e da produção.

São também importantes as necessidades dos clientes, os custos (incluindo aqueles de


utilização e de tempo de execução), os requisitos de desempenho e os aspectos de
segurança e de confiabilidade.

A dificuldade de remoção de paredes, que limita a flexibilidade do processo


construtivo em alvenaria estrutural, pode ser também satisfatoriamente resolvida. O
projetista estrutural, trabalhando em conjunto com o arquiteto, pode especificar paredes
passíveis de serem eliminadas.

2.2.2. Simplificação do projeto

A simplificação do projeto é uma das principais formas de melhorar a


construtibilidade. Para se obter um projeto simplificado, recomenda-se considerar os
seguintes aspectos:

• Utilizar o menor número de tipos diferentes de componentes possíveis;


• Utilizar materiais facilmente encontrados no mercado, com tamanho e
configuração padrões;
• Concentrar atenção nas juntas entre os componentes e entre os elementos
construtivos;
• Priorizar prumo, nível e esquadro (evitar projetos angulados, inclinações e
superfícies curvas);
• Usar grandes componentes, para que cubram grandes áreas, volumes,
metragens lineares, não esquecendo, entretanto, de limitar seu tamanho para
não dificultar o manuseio.

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Aula 9 – Projetos I
ALVENARIA

2.2.3. Simetria

O projetista deve procurar um equilíbrio na distribuição das paredes resistentes por


toda a área da planta. Caso contrário, os carregamentos podem concentrar-se em uma
determinada região do edifício. Esta concentração, pode levar a necessidade de utilização
de materiais com resistências diferenciadas ou do grauteamento de determinadas paredes,
o que não é recomendável em relação ao custo e a construtibilidade.

O projetista deve buscar distribuir igualmente as paredes estruturais em ambas as


direções, para garantir a estabilidade do edifício em relação às cargas horizontais. Também
devido às cargas horizontais, é importante a criação de plantas as mais simétricas possíveis
para diminuir o surgimento de tensões devido à torção.

2.2.4. Modulação

A coordenação modular cumpre um importante papel na obtenção da qualidade da


alvenaria estrutural. Entende-se por coordenação modular um sistema dimensional de
referência que, a partir de medidas com base num módulo de referência predeterminado,
compatibiliza e organiza tanto a aplicação racional de técnicas construtivas, como o uso de
elementos em projeto e obra, sem sofrer modificações (LUCINI, 2001).

No Brasil, segundo Zechmeister (2005), a coordenação modular é muitas vezes


simplificada pela coordenação dimensional, também chamada de modulação. Segundo a
mesma autora, a modulação da alvenaria tem como base as dimensões das unidades da
alvenaria. Segundo Roman et al. (1999), a modulação é um dos fundamentos do projeto
arquitetônico em alvenaria estrutural. O arquiteto deve trabalhar desde os primeiros traços
sobre uma malha modular.

O módulo de referência está relacionado com a unidade (bloco) a ser utilizada na


construção da edificação. Uma unidade será sempre definida por três dimensões padrões –
comprimento, largura e altura. O comprimento e a largura definem o módulo horizontal (ou
módulo em planta), enquanto a altura define o módulo vertical a ser adotado nas elevações
das paredes. Para se racionalizar o projeto é importante que o comprimento e a largura
sejam iguais ou múltiplos, de maneira que efetivamente se possa ter um único módulo em
planta, simplificando a amarração das paredes.

A coordenação modular deve ser estendida à maioria dos projetos da edificação. Estes,
devem ser integrados entre si (DUARTE, 1999).

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Aula 9 – Projetos I
UNIDADE 2 – ALVENARIA ESTRUTURAL

A coordenação modular pode representar acréscimos de produtividade de cerca de


10%. Consegue-se evitar cortes e outros trabalhos de ajuste no canteiro que representariam
perda de tempo, material e mão de obra. Além disso, os projetos arquitetônicos, estruturais
e de instalação devem ser compatibilizados, bem como deve-se ter um adequado controle
da execução das juntas (SANTOS, 1998).

Na prática, diversos parâmetros construtivos nos obrigam a acomodar algumas


dimensões. As lajes, por exemplo, têm sua espessura determinada pelo seu
dimensionamento econômico que raramente coincide com o módulo. Nessas condições a
preocupação de modulação vertical se restringirá à medida de piso a teto, tomando-se o
cuidado de utilizar uma espessura constante de laje em todo o pavimento a fim de se obter
um único nível de respaldo na última fiada e um único nível de saída para a primeira fiada
do andar superior.

2.2.5. Amarração das Paredes

A modulação da alvenaria exige o estudo paralelo da forma de amarração das


unidades de alvenaria, nas interseções de paredes. Assim, deve constar no projeto de
execução o tipo de amarração das paredes a serem utilizadas.

A união das paredes estruturais deve ser realizada preferencialmente por


interpenetração com os blocos contra-fiados. A figura abaixo apresenta dois tipos desta
amarração, “L” e “T”, com blocos de largura e comprimento de iguais unidades base de
modulação.

Caso este tipo de união não seja possível, admite-se a união por reforço metálico,
desde que seja eficiente para evitar fissuras e permita a distribuição de esforços entre as
paredes. Para estas uniões são possíveis duas soluções: telas de aço galvanizadas
eletrosoldadas ou estiradas, posicionada nas juntas de argamassa, ou grampos metálicos
em “U” imersos em pilaretes totalmente grauteados, obtidos pelo preenchimento completo
dos vazios contíguos.

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Aula 9 – Projetos I
ALVENARIA

2.2.6. Juntas de Controle ou de Movimentação

Nos edifícios com estrutura aporticada de concreto armado o uso de juntas de


dilatação é usual, mas o mesmo não ocorre com as juntas de controle, recomendadas em
edifícios de alvenaria estrutural. As juntas de controle ou de movimentação se diferem das
juntas de dilatação, pois são verticais e existentes somente nas paredes de alvenaria, não
necessitando interromper lajes ou vigas sobre as quais as paredes estão construídas.

As juntas de controle têm por função limitar as dimensões dos painéis de alvenaria
com o objetivo de eliminar elevadas concentrações de tensões devido às deformações
intrínsecas do mesmo. A figura apresenta de maneira esquemática as juntas de dilatação e
de controle, evidenciando suas principais diferenças.

As distâncias máximas (representadas na figura como L1, L2, L3 e L4) são variáveis nas
juntas de controle em função da altura das paredes e dos tipos de unidades utilizados.
Segundo o mesmo autor, as juntas de controle ou movimentação podem ser classificadas de
três tipos:

• Juntas de contração ou retração: são juntas utilizadas na alvenaria para


acomodar movimentos devido à retração das paredes. As juntas podem ser
construídas com argamassa fraca, de baixo módulo de elasticidade, pois a
maior parcela da movimentação ocorre logo após o assentamento dos blocos
devido à perda de umidade. Todavia, para dar estanqueidade às juntas, deve-
se considerar que uma parcela substancial da retração também se estende ao
longo do tempo, acrescida pelas movimentações causadas pelas variações de
temperatura;
• Juntas de expansão: são necessárias para alvenaria de blocos ou tijolos
cerâmicos não revestidas com argamassa na face externa. As juntas de
expansão são utilizadas para acomodar às expansões do material cerâmico

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Aula 9 – Projetos I
UNIDADE 2 – ALVENARIA ESTRUTURAL

pela incorporação da umidade da chuva na face externa da parede. São juntas


que se fecham e devem ser construídas com material flexível e elástico para
evitar seu esmagamento. Esta junta não é necessária se as paredes forem
revestidas externamente, pois a absorção de umidade pela alvenaria cerâmica
pode ser bastante reduzida pela utilização de revestimento externo de
argamassa;
• Juntas horizontais (ou deslizantes): são juntas empregadas nas uniões de lajes
com paredes para permitir que as deformações e movimentações das lajes
não transmitam esforços para as paredes nas quais estão apoiadas.
Recomenda-se o emprego destas em todos os pavimentos nas edificações de
alvenaria estrutural, especialmente nos apoios das lajes nos últimos
pavimentos, onde os efeitos da movimentação por variações de temperatura
e retração são maiores. A figura a seguir apresenta um exemplo da utilização
desta junta deslizante.

2.2.7. Lajes

O sistema em alvenaria estrutural é um sistema laminar, já que tanto as paredes


estruturais como as lajes atuam como lâminas. As lajes devem ser projetadas e executadas
considerando não apenas o desempenho estrutural, mas os efeitos de suas deformações.

As lajes podem ser moldadas no local, parcialmente pré-fabricadas ou totalmente pré-


fabricadas. No entanto, qualquer um destes casos impõe a adoção de execução prévia da
cinta de respaldo. Segundo Duarte (1999), as lajes maciças armadas nas duas direções são
as mais indicadas pela rigidez que conferem na distribuição das pressões devidas ao vento e
cargas verticais. O mesmo autor argumenta ainda que, como apoiam em mais de duas
paredes, possuem o benefício adicional de apresentar maior resistência no caso de uma
parede resistente de apoio seja retirada pelo usuário da edificação.

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Aula 9 – Projetos I
ALVENARIA

As lajes de cobertura podem se movimentar por efeito de deformações térmicas. Esta


movimentação pode ocasionar manifestações patológicas caso não se adote algumas
medidas preventivas, tais como a inserção de juntas de movimentação horizontal ou a
adoção de apoios deslizantes (neoprene, teflon, manta asfáltica, camada dupla de manta de
PVC, dentre outros) entre a interface da laje de cobertura com a alvenaria. Os mesmos
autores comentam que outros cuidados podem minimizar a ocorrência de problemas nesta
situação, tais como a ventilação dos áticos, a isolação térmica das lajes, juntas de dilatação
das lajes de cobertura e outros detalhes técnicos pertinentes a cada edificação.

2.2.8. Vergas e Contravergas

Devem ser introduzidas vergas e contravergas, detalhadas no projeto executivo.


Considera-se verga o elemento estrutural colocado sobre os vãos de aberturas não maiores
do que 1,20 m, com finalidade de transmitir cargas verticais para os trechos adjacentes ao
vão. O mesmo autor comenta que, para vãos maiores do que 1,20 m, deve-se considerar o
elemento estrutural como uma viga, dimensionado para suportar as cargas verticais e
transmiti-las para as paredes ou pilares. Este conceito é arbitrário, tendo em vista que
podem existir componentes para vãos menores que 1,20 m submetidos a cargas elevadas,
para os quais é necessário o seu dimensionamento.

As contravergas são os elementos estruturais colocados sob o vão das aberturas, com
finalidade de absorver tensões de tração. As contravergas devem ultrapassar a lateral do
vão em pelo menos “d/5” ou 30 cm (o mais rigoroso dos dois), sendo “d” o comprimento do
vão.

2.2.9. Cintas de Respaldo

Segundo a NBR8798, cinta é o elemento estrutural apoiado continuamente na parede,


ligado ou não às lajes ou às vergas dos vãos de aberturas, com a finalidade de transmitir
cargas uniformes à parede que lhe dá apoio ou ainda servir de travamento e amarração.

Este elemento estrutural é considerado fundamental3 para obras em alvenaria


estrutural. Segundo o mesmo autor, a cinta pode ser executada com blocos especiais tipo
canaleta e deve preceder a montagem das formas de laje ou do posicionamento das peças
pré-fabricadas (quando a laje incorporar elementos pré-fabricados).

Baseado e adaptado de
Cristiano Richter. Edições sem
prejuízo de conteúdo.

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Aula 10 – Projetos II
UNIDADE 2 – ALVENARIA ESTRUTURAL

Aula 10: Projetos II

Para obter o máximo de vantagens teóricas que o processo construtivo de alvenaria estrutural
proporciona, é imprescindível a elaboração de Projetos Executivos. Este é composto de
desenhos, dos detalhes e das informações necessárias à realização dos serviços de execução
das alvenarias.

1. Projeto Executivo

A utilização apenas dos projetos arquitetônicos e estruturais pode causar problemas


de entendimento da obra. Porque estes não apresentam uma série de informações
necessárias à execução das alvenarias, o que acarreta, no canteiro, a tomada de várias
decisões sem planejamento prévio. Em muitos casos, esta situação pode criar problemas
para a qualidade e produtividade dos serviços.

É através deste projeto que se faz a integração entre as soluções criadas para a obra
pelos projetistas e a aplicação destas. Deve ser verificado se as intenções dos projetistas
podem ser claramente interpretadas na obra. A falta de detalhes e a ambiguidade na
interpretação das informações do projeto podem criar vários problemas, tais como: o atraso
nos prazos, retrabalhos para correção de erros e diminuição da produtividade.

Na elaboração dos projetos executivos pode-se antecipar e prevenir uma série de


problemas, que podem ser resolvidos numa fase em que alterações são pouco significativas
no aumento dos custos. Além do mais, a utilização destes projetos leva a um aumento
significativo no nível de racionalização do produto.

Para a apresentação de um projeto executivo, deve-se elaborar: (a) planta baixa; (b)
cortes e elevações; (c) informações técnicas dos materiais a serem utilizados; (d) detalhes
padronizados de amarrações e de ligações parede/pilar; (e) detalhes de vergas e
contravergas; (f) detalhes de passagens de tubulações e localização de pontos elétricos e
hidráulicos; e, (g) detalhes especiais (pontos a serem grauteados, amarrações com ferros,
dentre outros).

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Aula 10 – Projetos II
ALVENARIA

1.1. Planta Baixa

A planta baixa no projeto executivo deve indicar as paredes sem revestimento. Devem
ser representadas plantas da primeira e segunda fiada (moduladas), tipos de blocos a serem
usados para cada parede, representação dos pontos de graute.

Deve ser preparada para facilitar a marcação da obra. Assim, as medidas das distâncias
devem ser acumuladas e feitas a partir de um ponto de referência até a face interna de cada
parede (figura). Pode ser utilizada a planta de modulação da primeira fiada. A quantidade
dos componentes necessários por pavimento também é uma informação importante que
deve ser informada.

1.2. Elevação das Paredes

As elevações das paredes ou paginações devem indicar a posição dos blocos especiais
(instalações elétricas ou hidráulicas), locais de descida das prumadas de luz e água,
amarração entre as paredes, detalhamentos sobre a ferragem necessária. Igualmente
devem ser mostradas as posições dos quadros de distribuição das instalações elétricas e sua
solução estrutural. Também devem ser representadas as aberturas (portas e janelas),
localizando as vergas, contravergas e/ou blocos canaletas.

Tanto a primeira fiada como as elevações das paredes devem ser desenhadas em
escalas não inferiores a 1:50. Para facilitar a leitura em obra é recomendável que estes

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Aula 10 – Projetos II
UNIDADE 2 – ALVENARIA ESTRUTURAL

desenhos sejam feitos em escala 1:25. A figura mostra um exemplo de uma planta de
elevação.

1.3. Detalhes Construtivos

Devem ser fornecidos os detalhes construtivos que não estejam definidos nas plantas
baixas e de paginações. Os detalhes que aparecem com maior frequência podem ser
fornecidos em um caderno de detalhes padronizados para evitar a repetição dos mesmos
nas várias plantas.

Além do que foi descrito acima, o projeto executivo pode conter também o projeto de
laje, peças pré-moldadas de concreto armado, a localização dos equipamentos
(escantilhões, por exemplo) e, ainda, o layout do canteiro.

1.4. Projeto Hidrosanitário

Para definir o projeto hidráulico, o projetista deverá interagir com o projetista


arquitetônico, a fim de evitar interferência sobre os demais projetos.

Deve-se utilizar, sempre que possível, a passagem das tubulações verticais pelos
shafts. A figura abaixo apresenta quatro exemplos da utilização de shafts.

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Aula 10 – Projetos II
ALVENARIA

No caso de o projeto arquitetônico apresentar solução em que uma parede seja


comum a todas as áreas com instalações hidráulicas, pode-se utilizar o recurso de fazer as
ligações das mesmas às prumadas dispostas externamente e rentes à parede. O fechamento
poderá ser com outra parede de painel removível (parcial ou totalmente), o que facilitará a
manutenção. Esta solução permite trabalhar com kits pré-fabricados e fazer inspeções na
instalação sem necessidade de se remover o acabamento. Todo o trecho horizontal da
instalação deverá ser projetado para passar entre a laje do teto e o forro.

Os trechos verticais de água fria e quente para torneiras e chuveiros deverão passar
horizontalmente entre o forro e o teto até ao ponto donde deverão descer na vertical pelos
furos dos blocos. A descida pelos furos dos blocos não deve ser encorajada. Deve-se sempre
recomendar o recurso a shafts ou a paredes hidráulicas. No caso de passagem por dentro de
paredes estruturais, ela deve efetuar-se em blocos especiais, com o aval do projetista
estrutural e em trechos muito pequenos. Além disso, deve-se tomar o cuidado de não
solidarizar os dutos com a estrutura em nenhum ponto. Em paredes estruturais, os cortes
horizontais devem ser evitados. Sempre que houver paredes não estruturais, estas devem
ser preferenciais para a passagem dos canos que tiverem de ser embutidos. Importa
salientar que eventuais necessidades de cortes para manutenção em caso de vazamento
poderão atingir a integridade das paredes e alterar a função estrutural delas.

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Aula 10 – Projetos II
UNIDADE 2 – ALVENARIA ESTRUTURAL

1.5. Projeto Elétrico

Para definir o projeto elétrico o projetista também deve interagir com o arquiteto. Os
eletrodutos embutidos deverão passar pelos blocos vazados. É importante observar que, no
processo construtivo em alvenaria estrutural, as caixas de tomadas e interruptores podem
ser previamente instaladas em blocos cortados que por sua vez serão assentados durante a
execução da alvenaria. Como alternativa, pode-se colocar o bloco cortado com espaço para
caixa que é posteriormente chumbada ao mesmo.

A posição e dimensão dos quadros de distribuição de energia, nos diversos


pavimentos, deverão ser previamente definidas e especificadas no projeto executivo. Da
mesma forma, este deve ser o procedimento com as caixas de interruptores e de tomadas.

As caixas para quadros de distribuição e caixa de passagem devem ser projetadas em


dimensões que evitem cortes nas alvenarias para sua perfeita acomodação. O projetista
estrutural deverá ser informado das dimensões e posições dos quadros de distribuição para
que detalhe o reforço necessário na abertura para não prejudicar a integridade estrutural
da parede.

1.6. Projetos Complementares

Os demais projetos complementares devem seguir os mesmos conceitos dos utilizados


para os projetos hidrosanitário e elétrico. Os projetos complementares são diversos,
dependendo do tipo e do uso da edificação. Dentre os mais comuns estão: (a) telefone; (b)
interfone; (c) antena de TV; (d) gás central; (e) PPCI; dentre outros. A figura mostra um
exemplo de uma planta da primeira fiada com detalhe das instalações da cozinha.

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Aula 10 – Projetos II
ALVENARIA

2. Execução de Obras em Alvenaria Estrutural

A construção de edifícios em alvenaria estrutural deve ser realizada de acordo com


técnicas específicas para garantir a qualidade das edificações quanto à confiabilidade e
durabilidade. Segundo autores, são muitos os fatores a serem consideradas, mas que alguns
se destacam pela importância em relação à qualidade da alvenaria estrutural.

2.1. Ferramentas e Equipamentos

Além das ferramentas e equipamentos utilizados usualmente na construção civil, há


alguns que são específicos para o modo de construir em alvenaria estrutural, como, por
exemplo, as ferramentas para assentamento de blocos: palheta, canaleta ou bisnaga
(tabela).

Recomenda-se a utilização da colher de pedreiro para espalhar a argamassa para o


assentamento dos blocos da primeira fiada, aplicar a argamassa de assentamento nas juntas
transversais e para a retirar o excesso de argamassa da parede após o assentamento dos
blocos. Já a palheta, canaleta ou bisnaga, utiliza-se para distribuir os cordões de argamassa
nas juntas longitudinais de assentamento dos blocos. Cabe salientar que, indiferente da
ferramenta utilizada, os cordões de argamassa (horizontais e verticais) devem ser
executados de acordo com o projeto.

Quanto ao caixote para argamassa – chamada usualmente de “masseira” – e seu


suporte, recomenda-se que as paredes do caixote sejam perpendiculares entre si para
possibilitar o emprego das ferramentas específicas de assentamento da alvenaria (palheta e

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Aula 10 – Projetos II
UNIDADE 2 – ALVENARIA ESTRUTURAL

canaleta). O caixote não deve ser de material poroso que permita a perda da água da
argamassa - madeira, por exemplo – perdendo assim, suas propriedades (ABCP, 2004).
Recomenda-se que o suporte do caixote tenha rodas para facilitar o deslocamento dos
profissionais sem a necessidade do auxílio do servente.

Para obter precisão geométrica na execução das paredes, recomenda-se que o nível
seja à laser, utilizado principalmente para nivelar com maior precisão as lajes; a régua de
prumo e nível deve ter comprimento maior ou igual a 1,20m, utilizada para nivelar e prumar
as fiadas de blocos durante o assentamento; e o esquadro deve ter medidas mínimas de
60cm x 80cm x 100cm, utilizado principalmente para medir os esquadros das peças durante
a marcação da primeira fiada de blocos (ABCP, 2004).

2.2. Marcação da Alvenaria

A marcação da alvenaria exerce um papel fundamental na resistência, nivelamento,


esquadro e planeza das alvenarias. A primeira fiada é referência para a elevação das fiadas
superiores num mesmo pavimento e também para a primeira fiada do andar
imediatamente superior. Para execução da primeira fiada é necessário ter em mãos o
projeto de execução da primeira fiada.

Anterior à etapa de marcação propriamente dita, deve-se verificar o esquadro e o


nivelamento da laje. O assentamento da primeira fiada somente pode ser realizado sobre
bases de concreto niveladas e após 16 horas do término da concretagem da laje. Não é
recomendável a execução de alvenaria diretamente sobre baldrames, sem que o piso térreo
(base de concreto) esteja executado.

2.3. Elevação das Paredes

A execução da elevação da alvenaria é uma das etapas mais importantes da


construção de uma edificação em alvenaria estrutural. Assim, garantir a qualidade da
execução do levante da alvenaria é um passo fundamental para garantir a qualidade
intrínseca da edificação, no que diz respeito a conformidade, confiabilidade, desempenho e
durabilidade.

Para atingir tais padrões de qualidade, a elevação da alvenaria deve ser realizada de
forma racionalizada. Para isto é necessário que se compreenda as etapas que constituem
esta atividade. O esquema representa em forma esquemática a sequência de execução da
alvenaria.

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Aula 10 – Projetos II
ALVENARIA

A sequência de execução da alvenaria é dividida em três etapas. Primeiramente é


realizada a marcação da alvenaria, constituída da preparação do local de trabalho (limpeza e
verificação das condições da laje receber a alvenaria) e execução da primeira fiada. Após a
marcação, inicia-se a elevação da alvenaria pelas amarrações de cantos e encontros de
paredes para posterior preenchimento dos vãos. A concretagem das contravergas e
preenchimento dos grautes devem ser realizadas juntamente com o levante da alvenaria.
Por último, repete-se a sequência de elevação da etapa anterior, mas da altura do peitoril
das janelas até a altura do fechamento e finaliza-se com a concretagem da cinta de
respaldo. Após a concretagem da cinta, inicia-se a montagem e concretagem das lajes.

Esta sequência de execução de elevação da alvenaria é importante, pois favorece


algumas situações. Uma delas é que, na elevação dos cantos se tem a amarração do tipo
“castelinho”, havendo a interpenetração dos blocos contra-fiados. Se os cantos e encontros
de paredes forem executados na posição correta e aprumados, o fechamento é realizado
com o auxílio de uma linha entre as extremidades. Assim, caso se utilize corretamente do
prumo, nível e esquadro, espera-se que a parede fique dentro dos limites toleráveis dos
padrões especificados. Em algumas situações específicas não se consegue executar a
elevação nesta sequência – levante de “castelinho” dos cantos, por exemplo – assim, deve-
se prever em projeto uma solução para esta situação – junta a prumo com amarração
através de grampos, por exemplo.

Deve-se dar especial atenção nesta etapa para o controle do prumo das paredes,
espessura e nivelamento das fiadas. Independentemente do processo, a argamassa de

92
Aula 10 – Projetos II
UNIDADE 2 – ALVENARIA ESTRUTURAL

assentamento sempre deve ser aplicada em todas as paredes dos blocos para formação da
junta horizontal e em dois cordões verticais nos bordos de uma das extremidades do bloco
para a formação da junta vertical. O bloco será conduzido à sua posição definitiva mediante
uma pressão aplicada para baixo e para o lado, atingindo-se a espessura desejada das juntas
(10 mm ± 3 mm), conforme NBR8798 (ABNT, 1985) e eliminando a argamassa em excesso.

Algumas recomendações fundamentais durante a execução são:

• O assentamento não pode ser realizado sob chuva. No caso de interrupção


dos serviços por causa da chuva, a alvenaria recém executada deve ser
protegida, para que os vazados não fiquem cheios de água;
• A alvenaria de blocos de concreto não pode ser molhada durante a etapa de
assentamento. Neste caso a argamassa de assentamento deve ter retenção
de água suficiente para evitar a molhagem. A alvenaria cerâmica pode ser
umedecida para facilitar o assentamento;
• As paredes de alvenaria devem ser executadas com blocos inteiros. Não deve
cortar ou quebrar blocos para obtenção de “peças de ajuste”. Pode-se utilizar
peças pré-fabricadas e pré-moldadas, desde que previstas no projeto de
produção e obtidas mediante condições controladas;
• Na construção de edifícios em alvenaria estrutural não se recomenda
“esconder na massa” as imprecisões e erros na execução das paredes, como é
comum na construção tradicional. Ou seja, a execução deve ser realizada com
as tolerâncias e a precisão especificada de modo que a qualidade final do
edifício seja obtida na execução da estrutura. Para isto é essencial que se
utilize mão de obra treinada e especializada e que se adote um completo
programa de controle de qualidade de execução (de aceitação, sob condições
específicas, de cada etapa construtiva);
• As instalações devem ser todas em dutos embutidos nas paredes de
alvenaria, nos vazados dos blocos. Pode-se fazer cortes de paredes para
embutimento de pequenos trechos de tubulação, desde que previsto em
projeto;
• As prumadas elétricas e hidráulicas não podem estar embutidas nas paredes
de alvenaria estrutural, devendo ser, preferencialmente, embutidas em shafts
verticais, especificadamente projetados para esta finalidade;
• Todos os cortes em paredes - para embutimento de trechos de ramais das
instalações, para alojar quadros e caixas de eletricidade ou outra finalidade -
somente podem ser realizados com ferramenta de corte elétrica precisa;

93
Aula 10 – Projetos II
ALVENARIA

• Recomenda-se ainda que o corte posterior a elevação da alvenaria de vãos


com área maior que a área de três blocos ou comprimento superior a 1,5 vez
o comprimento do bloco de paredes estruturais. O embutimento de
aparelhos de ar condicionado, por exemplo, em paredes estruturais deve ser
previsto em projeto.

Além destas recomendações, a execução correta do graute quando especificado é


essencial para o desempenho estrutural da alvenaria estrutural. Na alvenaria cerâmica é
essencial molhar os blocos previamente para que a retração hidráulica excessiva não
prejudique o desempenho esperado. São recomendados, em conformidade com a NBR8798
(ABNT, 1985), alguns pontos essenciais na técnica de grauteamento vertical dos vazados dos
blocos:

• Os vazados dos blocos devem estar sem rebarba de argamassa; ou seja,


recomenda-se a retirada do excesso de argamassa no interior dos septos;
• Limpeza dos furos através de janelas de inspeção (chamadas de janelas de pé
de pilar);
• Lançamento do graute com altura limitada de meio pé-direito a cada vez;
• Vibração preferencialmente manual;
• Prazo mínimo de grauteamento de 24 horas após a execução da alvenaria;
• Continuidade da amarração dos blocos.

Baseado e adaptado de
Cristiano Richter. Edições sem
prejuízo de conteúdo.

94
Aula 11 – Controle
UNIDADE 2 – ALVENARIA ESTRUTURAL

Aula 11: Controle

A obtenção da qualidade especificada em projeto é garantida por algumas ações de controle


durante o processo de construção. O conjunto de todas estas ações é denominado de controle
tecnológico da construção. Isto é válido para qualquer tipologia estrutural e, portanto, é uma
exigência essencial na produção de edifícios em alvenaria estrutural.

1. Controle Tecnológico

Os controles fundamentais para garantia do desempenho estrutural, de acordo com a


NBR8798 (ABNT, 1985), são:

• Controle de recebimento (ou de aceitação) de materiais e componentes:


blocos estruturais; concreto estrutural; graute de enchimento e argamassa de
assentamento;
• Controle de aceitação da alvenaria: na terminologia da NBR8798 (ABNT, 1985)
este controle é denominado de controle de aceitação de componentes (item
6.1.2 da norma);
• Controle de produção (ou de processo) de paredes estruturais e da estrutura
do edifício: na terminologia da NBR8798 (ABNT, 1985) é denominado de
controle de produção de componentes (item 5.1.3 da norma).

1.1. Controle de Recebimento (ou de aceitação) de Materiais e Componentes

O controle de recebimento (ou de aceitação) dos blocos estruturais, concreto


estrutural, graute de enchimento e da argamassa de assentamento devem ser realizados ao
longo de toda a execução da alvenaria estrutural. Recomenda-se o controle dos seguintes
itens:

• Blocos estruturais: deve-se realizar o controle da resistência à compressão


característica dos blocos de concreto e cerâmico, coeficiente de variação da
resistência à compressão dos blocos e características dimensionais e
geométricas dos blocos, conforme normas vigentes;

95
Aula 11 - Controle
ALVENARIA

• Argamassa de assentamento: deve-se realizar o controle de uniformidade de


produção pela dispersão dos resultados de resistência à compressão axial.
Esta dispersão deve ser avaliada pelo coeficiente de variação (valor, em
porcentagem, da divisão do desvio padrão pela resistência média de um
conjunto de corpos-de-prova). O limite superior admitido – ensaio da
argamassa segundo a NBR7215 (ABNT, 1996a) – é de CV ≤ 20%, em uma
produção contínua por longos ou curtos períodos;
• Graute de enchimento: recomenda-se o controle de uniformidade de
produção do graute. Este é verificado indiretamente através dos ensaios de
prismas cheios (vide controle de aceitação da alvenaria). Segundo a NBR8798
(ABNT, 1985), o parâmetro de controle deve ser a resistência à compressão,
obtida pelo ensaio de corpos-de-prova cilíndricos;
• Concreto estrutural: o controle deve ser realizado da mesma forma de
edificações aporticadas em concreto armado. Tais procedimentos são
descritos na NBR6118 (ABNT, 2003b), inclusive a definição dos lotes.

1.2. Controle de Aceitação da Alvenaria

Segundo a NBR8798 (ABNT, 1985), o parâmetro de aceitação do componente parede


deve ser a resistência à compressão, medida no ensaio de prismas ocos (figura abaixo) e
cheios, conforme a NBR8215 (ABNT, 1983b).

Ao se mensurar a resistência de corpos-de-prova de alvenaria (prismas ocos e cheios)


moldados no canteiro de obras, avalia-se concomitantemente as características dos blocos,
das argamassas de assentamento e do graute de enchimento; como também a influência da
mão de obra e as condições ambientais locais. Este método de ensaio é aceito
internacionalmente como o mais completo e, quando bem conduzida, o mais conclusivo
sobre o desempenho estrutural de estruturas em alvenaria.

96
Aula 11 – Controle
UNIDADE 2 – ALVENARIA ESTRUTURAL

Os procedimentos para realização dos ensaios de prismas constam na NBR8215 (ABNT,


1983b). Os critérios para seleção da amostra e de aceitação (ou rejeição) são de acordo com
a NBR8798 (ABNT, 1985), conforme segue.

• Amostragem: a estrutura deve ser dividida em lotes de preferência


constituídos de argamassa, grautes e blocos de mesmos lotes. Cada lote deve
corresponder no máximo a uma semana de produção, ou um andar, ou 200
m2 de área construída, ou 500 m2 de parede, prevalecendo a menor
quantidade. A amostra representativa do lote de prismas deve constituir-se
de no mínimo seis exemplares. Cada exemplar deve constituir-se de um ou
mais prismas, preparados aleatoriamente durante a execução do
correspondente lote, utilizando-se os mesmos operadores, equipamentos,
argamassa e graute;
• Aceitação e rejeição: Para aceitação ou rejeição de um lote deve-se observar
na integra o procedimento descrito no item 6.1.2.2 da norma NBR8798
(1985). O lote será aceito se fpk,est ≥ fpk, onde fpk é a resistência característica
de projeto, constante no projeto estrutural, mas não menor do que 2,5 MPa,
para o prisma oco e não menor do que 4,0MPa, para o prisma cheio.

1.3. Controle de Produção de Paredes Estruturais e da Estrutura do Edifício

Segundo a NBR8798 (ABNT, 1985), o objetivo do controle de produção é avaliar uma


ou mais propriedades do elemento ou componente produzido a intervir no processo de
produção para manter essa(s) propriedade(s) dentro dos limites considerados satisfatórios.
Este controle está intimamente ligado à conformidade com as especificações.

As especificações mais importantes para esta avaliação são o prumo, a planicidade, a


posição e a perfeição geométrica dos vãos das paredes e o nivelamento dos referenciais de
horizontalidade (peitoris e fiadas de apoio das lajes), pois, em conjunto, dão uma medida da
qualidade de execução dos serviços.

Os controles da execução das alvenarias estruturais devem compreender a qualidade


dos componentes de alvenaria (integridade, regularidade dimensional e resistência
mecânica), controles geométricos (posicionamento de vãos, verticalidade das ombreiras,
prumo e planeza das paredes, nível, espessura e preenchimento das juntas), bitola e
disposição de armaduras verticais e horizontais, compacidade dos grauteamentos e
preenchimento de cintas, vergas e contravergas, posicionamento de eletrodutos e caixas de
luz, dentre outros. Os mesmos autores comentam que se deve dar especial atenção ao
controle do prumo das paredes, espessura e nivelamento das fiadas.

97
Aula 11 - Controle
ALVENARIA

Salienta-se que nem todos os itens de controle e verificação são passíveis de controles
dimensionais. Nestes casos, adotar critérios de conformidade são mais difíceis. A NBR8798
(ABNT, 1985) recomenda algumas tolerâncias dimensionais, apresentadas na tabela:

2. Patologias em Alvenaria Estrutural

As construções antigas em alvenaria caracterizavam-se por possuírem paredes


espessas com baixo módulo de deformação e asseguravam baixos níveis de tensões de
serviço e grande massa e inércia, fazendo com que deformações e deslocamentos nos
materiais devido à contrações e dilatações de origem térmica e hidráulica gerassem tensões
de compressão, tração e cisalhamento inferiores às que os materiais estavam aptos a
resistir. Nos dias atuais, as alvenarias evoluíram para lâminas consideravelmente delgadas,
mais leves e econômicas com alto módulo de deformação e suscetíveis de movimentações
causadas por variações de temperatura e umidade. A utilização cada vez maior de novos
materiais e técnicas construtivas em substituição ao sistema tradicional de construção tem
tornado mais frequente os defeitos nas edificações.

Neste contexto, na alvenaria estrutural, assim como outros processos construtivos,


têm sido identificadas manifestações patológicas. Algumas destas manifestações já são
amplamente conhecidas por pesquisadores, projetistas e construtores. A principal delas e a
mais observada pelos leigos são as fissuras. Segundo Sahlin (1971), estas fissuras são
causadas principalmente pelos movimentos diferenciais entre os componentes (ou
materiais) constituintes das edificações.

98
Aula 11 – Controle
UNIDADE 2 – ALVENARIA ESTRUTURAL

2.1. Mecanismos de Formação das Fissuras em Alvenaria

As fissuras em alvenaria são originadas quando as cargas atuantes excedem a


capacidade resistente da estrutura solicitada. São causadas por tensões de tração que
ocorrem na direção ortogonal à direção do esforço de tração atuante. Segundo este último
autor, as tensões de tração podem ser causadas por esforços de compressão agindo em
direção ortogonal, por esforços de cisalhamento ou por tração direta.

Dependendo das condições de contorno, as fissuras podem se tornar visíveis a


aproximadamente 50% da carga última da compressão atingida. As fissuras com aberturas
menores do que 0,1 mm são insignificantes do ponto de vista da durabilidade, pois são de
baixa permeabilidade à chuva dirigida pela pressão do vento. De acordo com o mesmo
autor, até o limite desta espessura está a grande maioria das fissuras chamadas de
capilares.

As formas de manifestações das fissuras de alvenaria são diversas. Manifestam-se em


paredes de alvenaria sob forma de fissuras de direção predominantemente vertical,
horizontal ou inclinada.

2.2. Classificação das Fissuras em Alvenaria

Segundo alguns autores, as fissuras em paredes de alvenaria podem ser classificadas


de acordo com diferentes critérios, tais como: a abertura, a atividade, a forma, as causas, a
direção, as tensões envolvidas, o tipo, dentre outras.

A classificação segundo a abertura das fissuras em alvenaria é divergente entre alguns


autores. Segundo Bidwell (1977), as fissuras podem ser classificadas em finas (< 1,5mm),
médias (1,5mm a 10mm) e largas (> 10mm). Rainer (1983) classifica como muito leves
fissuras com abertura inferior a 1 mm, leves de 1 mm a 5 mm, moderadas de 5 mm a 15 mm
e severas superiores a 15 mm. Kaminetzky (1985) propõe uma classificação como aberturas
negligíveis (< 0,1 mm), muito leves (0,1 a 0,4 mm), leve (0,8 a 3,2 mm), moderada (3,2 a
12,7 mm), extensiva (12,7 a 25,4 mm) ou muito extensiva (>25,4 mm).

Segundo Duarte (1998) as fissuras podem ser classificadas de acordo com sua
atividade, sendo ativas ou inativas. As fissuras ativas são aquelas que apresentam variações
de abertura durante um determinado tempo. Estas fissuras podem apresentar um
movimento cíclico (devido às variações de temperatura, por exemplo) ou crescente
(recalques de fundações, por exemplo). Já as fissuras inativas (ou estabilizadas) não
apresentam variações de aberturas ou no seu comprimento ao longo do tempo.

99
Aula 11 - Controle
ALVENARIA

A classificação segundo a causa das fissuras é, talvez, a melhor maneira de encontrar a


sua solução. Esta classificação é muito semelhante nos trabalhos desenvolvidos por Duarte
(1998) e Thomaz (1989). Ambos são adequados para o estudo das fissuras em alvenaria
porque demonstram a equivalência entre as causas e as formas de manifestação patológicas
(MAGALHÃES, 2004).

Baseado e adaptado de
Cristiano Richter. Edições sem
prejuízo de conteúdo.

100
Aula 12 – Patologias
UNIDADE 2 – ALVENARIA ESTRUTURAL

Aula 12: Patologias

É muito comum o aparecimento de fissuras junto à laje de cobertura em edifícios de alvenaria


estrutural. Mesmo que essas fissuras não comprometam a segurança da edificação, os
prejuízos advindos da sua existência são de difícil reparação, tanto em relação a infiltrações
como simplesmente na questão estética. Quanto à utilização da edificação, essas ocorrências
são consideradas inaceitáveis e podem chegar a inviabilizar esse sistema construtivo, que é
bastante atrativo no aspecto econômico.

1. Configurações Típicas das Fissuras de Alvenaria Estrutural

Basicamente, as fissurações são configuradas das seguintes maneiras.

1.1. Fissuras Causadas por Variação de Temperatura

Os movimentos de contração e dilatação que ocorrem nas edificações devido a


variações de temperatura, sazonais e diárias, geram tensões que poderão ocasionar
fissuras, caso tais movimentos sejam restringidos pelos vínculos entre os elementos e
componentes de uma construção. Especialistas comentam que as movimentações térmicas
estão relacionadas com as propriedades físicas dos materiais e com a intensidade das
variações da temperatura e que as mesmas podem surgir por movimentações diferenciadas
entre materiais distintos de um mesmo componente, entre componentes distintos e entre
regiões distintas de um mesmo material.

A amplitude e a taxa de variação da temperatura de um componente dependem, além


da intensidade da radiação (direta e difusa), das seguintes propriedades dos materiais ou de
sua superfície: absorbância, emitância, condutância térmica superficial, calor específico,
massa específica e coeficiente de condutibilidade térmica. A temperatura da superfície do
componente, exposto à radiação solar, pode ser estimada a partir da temperatura do ar e
da cor desta superfície, podendo-se analisar a intensidade das movimentações em função
dos limites extremos de temperatura a que estará submetido o componente e em função
do coeficiente de dilatação térmica linear dos seus materiais constituintes.

Estes coeficientes de dilatação térmica oscilam para diferentes materiais. A alvenaria


de tijolos cerâmicos, por exemplo, movimenta-se (contração ou dilatação) diferentemente

101
Aula 12 – Patologias
ALVENARIA

da laje em concreto. Estas movimentações devem ser previstas na construção de


edificações pela restrição de movimentos ou juntas que diminuam tais movimentações.

Áreas mais ensolaradas, como as coberturas e as paredes externas, são mais


suscetíveis ao surgimento de fissuras, pois a variação de temperatura é maior. Alguns tipos
de fissuras causadas por variação térmica ocorrem com relativa frequência em edifícios de
alvenaria, tanto estrutural como de vedação.

Thomaz (1988) comenta que as fissuras mais comuns em edifícios de alvenaria


portante são as fissuras horizontais (figura - b e c), devido a movimentações térmicas da laje
de cobertura (figura - a). Este caso, segundo o mesmo autor, ocorre mesmo em lajes
sombreadas por telhado, no caso da proteção térmica da laje ser insuficiente ou se não tiver
sido adotado nenhum detalhe construtivo especial na interface entre as lajes e as paredes
de alvenaria.

Em função das dimensões da laje e da natureza dos materiais constituintes das


paredes, nem sempre se observa configurações tão típicas como as fissuras apresentadas na
figura – b e c – embora estas sejam comumente encontradas.

Por outro lado, nas lajes de cobertura sobre paredes muito longas, enfraquecidas por
aberturas, as fissuras têm direção horizontal ao longo das paredes externas maiores,
inclinando-se aproximadamente à 45o nas paredes transversais em direção à laje de teto.
Este tipo de manifestação tende a ser mais visível nas extremidades do edifício, conforme
figura a seguir.

102
Aula 12 – Patologias
UNIDADE 2 – ALVENARIA ESTRUTURAL

Além das fissuras citadas e comentadas, a dilatação térmica da laje introduz tensões
horizontais de tração na alvenaria ocasionando fissuras verticais nas paredes. Neste caso,
como as tensões de tração são maiores no topo da parede, a fissura possui maior abertura
na ligação com a laje, reduzindo a abertura na medida em que desce pela parede.

1.2. Fissuras Causadas por Excessivo Carregamento de Compressão

As fissuras decorrentes de excessivo carregamento de compressão são geralmente


verticais. Estas fissuras são decorrentes de esforços transversais de tração induzidos nos
tijolos pelo atrito da superfície da junta de argamassa com a face maior dos tijolos. Ao ser
comprimida a argamassa geralmente se deforma mais do que os tijolos, tendendo a
expandir lateralmente e transmitindo tração lateral aos tijolos. Estes esforços laterais de
tração são os responsáveis pelas fissuras verticais. A figura a seguir ilustra este tipo de
fissuras.

Os seguintes fatores são intervenientes na resistência final da alvenaria a esforços de


compressão:

• A resistência da alvenaria é inversamente proporcional à quantidade de


juntas de assentamento;

103
Aula 12 – Patologias
ALVENARIA

• Elementos assentados com juntas em amarração produzem alvenarias com


resistência significativamente superior àquelas onde os componentes são
assentados com juntas verticais aprumadas;
• A resistência da parede não varia linearmente com a resistência do elemento
de alvenaria e nem com a resistência da argamassa de assentamento;
• De forma geral, as fissuras em alvenaria carregadas axialmente começam a
surgir muito antes de serem atingidas as cargas-limite de ruptura.

Um fator importante neste tipo de fissuração é a presença de aberturas de portas e


janelas nas paredes estruturais, em cujos vértices ocorrem acentuadas concentrações de
tensões. Procura-se combater estas fissuras com a utilização de vergas e contravergas. As
fissuras nos contornos destas aberturas podem assumir diversas configurações, sendo a
situação mais comum apresentada na figura:

1.3. Fissuras Causadas por Retração

A retração é um fenômeno físico que ocorre com os materiais de base cimentícia, no


qual, o volume inicialmente ocupado pelo material no estado plástico diminui de acordo
com as condições de umidade do sistema e a evolução da matriz de cimento. O mecanismo
de retração é causado, principalmente, pela perda de água que não está quimicamente
associada no interior do concreto. Paredes localizadas nos últimos pavimentos dos edifícios
são mais susceptíveis de serem atingidas pela retração das lajes, pois a contração se associa
com movimentações causadas por variações térmicas.

Nas argamassas de assentamento, a pequena retração que pode ocorrer nas juntas
horizontais é fortemente restringida pelo cisalhamento com os tijolos. A retração da
argamassa é influenciada pela relação água/cimento, pela finura da areia (quanto mais fina
for a areia maior a quantidade de água necessária para envolver os grãos) e pelo uso de
incorporadores de ar. Esta retração pode vir a provocar fissuras na própria argamassa,
prejudicando a aderência, principalmente em blocos de concreto.

104
Aula 12 – Patologias
UNIDADE 2 – ALVENARIA ESTRUTURAL

Em função da trabalhabilidade necessária, os concretos e argamassas normalmente


são preparados com água em excesso, o que vem a acentuar a retração. O mesmo autor cita
três formas de retração que ocorrem em produtos preparados com cimento no estado
endurecido ou em processo de endurecimento, ou seja:

• Retração química: a reação química entre o cimento e a água se dá com


redução de volume; devido às grandes forças interiores de coesão, a água
combinada quimicamente (22 a 32%) sofre uma contração de cerca de 25% de
seu volume original;
• Retração por secagem: a quantidade excedente de água, empregada na
preparação do concreto ou argamassa, permanece livre no interior da massa,
evaporando-se posteriormente; tal evaporação gera forças capilares
equivalentes a uma compressão isotrópica da massa, produzindo a redução
de seu volume;
• Retração por carbonatação: a cal hidratada liberada nas reações de
hidratação do cimento reage com o gás carbônico presente no ar, formando
carbonato de cálcio; esta reação é acompanhada de uma redução de volume,
gerando a chamada retração por carbonatação.

Os mecanismos de formação e configuração de fissuras provocadas por retração são


diversos. Dentre os mais comuns em alvenaria estrutural se destacam as fissuras
horizontais, oriundas da contração das lajes, aparecendo principalmente nos últimos
pavimentos como também em pavimentos intermediários. Este tipo de fissura se manifesta
principalmente logo abaixo da laje ou nos cantos superiores de caixilhos, conforme
representado na figura.

Outro tipo de configuração são fissuras causadas pela retração da argamassa de


revestimentos, chamadas de fissuras mapeadas, conforme representado a seguir.

105
Aula 12 – Patologias
ALVENARIA

A retração das argamassas aumenta com o consumo de aglomerante, com a


porcentagem de finos existentes na mistura e com o teor de água de amassamento. Além
destes fatores, diversos outros influenciam na formação de fissuras mapeadas: aderência
com a base, número de camadas aplicadas, espessura das camadas, tempo decorrido entre
a aplicação de uma e outra camada, rápida perda de água durante o endurecimento por
ação intensiva de ventilação e/ou insolação, dentre outros.

Este tipo de manifestação patológica, pode-se distribuir em toda a superfície de


revestimento em monocamadas e ocorrer o deslocamento do revestimento em placas (fácil
degradação). O reparo deve ser feito pela renovação da pintura ou pela própria renovação
do revestimento.

1.4. Fissuras Causadas por Recalque de Fundações

As construções têm comportamento distinto frente aos recalques do solo, sendo que,
de maneira geral, as fissuras provocadas por recalques diferenciados são inclinadas.
Edifícios em alvenaria são construções rígidas e de difícil acomodação de deformações
devido à posição e geometria das paredes de alvenaria (placas verticais). Esta grande rigidez
auxilia na distribuição das pressões no solo de forma mais homogênea, mas, por outro lado,
como a resistência à flexão e ao cisalhamento da alvenaria é baixa, as paredes são
susceptíveis de fissuras frente a pequenas deformações.

Para edifícios uniformemente carregados, o Centre Scientifique et Techique de la


Construction (1983) apud Thomaz (2000) aponta diversos fatores que podem conduzir aos
recalques diferenciados e, consequentemente, à fissuração do edifício. As figuras a seguir
ilustram alguns destes casos.

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Aula 12 – Patologias
UNIDADE 2 – ALVENARIA ESTRUTURAL

É difícil estimar teoricamente os recalques diferenciais possíveis em uma edificação,


enquanto os recalques totais, por outro lado, podem ser estimados através do
conhecimento das características do solo e através de provas-de-carga. Para efeitos de
projeto, uma vez estimado o recalque total, dependendo das características do edifício e do
tipo de solo, o recalque diferencial pode ser estimado como uma fração do recalque total, já
que as tensões transmitidas ao solo não são homogêneas e o solo pode apresentar
alterações.

As fissuras causadas por recalques de fundações tendem a se localizar próximas ao


primeiro pavimento da edificação. Entretanto, dependendo da gravidade do recalque e do
tipo de construção, o grau de fissuração nos pavimentos superiores pode ser quase tão
intenso quanto no primeiro pavimento (figuras – c e d).

107
Aula 12 – Patologias
ALVENARIA

Outros fatores causadores de fissuras oriundas de recalque das fundações são:


fundações assentadas sobre seções de corte e aterro (figura – a); recalque diferenciado por
rebaixamento do lençol freático em função de corte na lateral inclinada do terreno (figura –
b); recalque diferenciado no edifício menor pela interferência no seu bulbo de tensões, em
função da construção do edifício maior (figura – c); e, recalque diferenciado por falta de
homogeneidade do solo (figura – d).

Além das fissuras inclinadas oriundas de recalques de fundações apresentadas, existe


ainda o surgimento de fissuras verticais nas paredes de alvenaria. Estas normalmente são
devido às aberturas das mesmas transmitirem ao solo diferentes tensões de compressão. As
aberturas constituem locais onde a rigidez das paredes é alterada aumentando a
sensibilidade frente aos recalques diferenciais.

1.5. Fissuras Causadas por Reações Químicas

Os materiais de construção são susceptíveis de deteriorização pela ação de substâncias


químicas, sendo assim, devem ser estáveis quimicamente ao longo do tempo,
principalmente quando em contato com a água. As alterações de umidade dos materiais
porosos provocam variações dimensionais nos elementos e componentes da edificação,
estas podem ser de dois tipos: reversíveis ou irreversíveis. Além disso, os materiais contêm
com frequência excesso de sais solúveis ou reativos por falta de qualidade no processo de
fabricação. Estes sais, quando em presença de umidade, podem sofrer reações expansivas
durante o processo de cristalização com o aumento de volume provocando fissuras nas
paredes, e muitas vezes o descolamento do revestimento.

Este tipo de fissuras se agrava em meios altamente agressivos, como atmosferas


industriais com alta concentração de poluentes. Não abordaremos o tema devido à
complexidade da demonstração empírica, mas cabe salientar somente dois tipos de fissuras
causadas por alterações químicas dos materiais de construção: a hidratação retardada de
cales e ataque por sulfatos (figuras).

108
Aula 12 – Patologias
UNIDADE 2 – ALVENARIA ESTRUTURAL

A expansão das argamassas de assentamento mistas de cal após sua aplicação pode
causar fissuras horizontais (figura acima), principalmente nas fachadas externas com
incidência de umidade por infiltração de chuvas e preferencialmente nas proximidades dos
topos das paredes, onde são menores os esforços de compressão oriundos do peso próprio
da edificação. Este processo pode ocorrer durante a hidratação da cal virgem,
principalmente da cal dolomítica, quando a reação de hidratação não se processa
totalmente, vindo a ocorrer de forma muito lenta na parede após a aplicação da argamassa.
A hidratação do óxido de magnésio pode ocorrer de forma simultânea à carbonatação da
cal, causando um aumento de volume na direção vertical ao longo de uma junta horizontal
de argamassa de assentamento.

Dentre os sais solúveis, os sulfatos são os que mais reagem com o C3A (aluminato
tricálcico) do cimento Portland contido na argamassa, provocando o aumento
predominante na junta de assentamento horizontal. Este aumento provoca inicialmente
uma expansão geral da alvenaria, sendo que em casos mais extremos poderá ocorrer uma
progressiva desintegração das juntas de argamassa. A figura ilustra as fissuras típicas deste
ataque de sulfatos.

Nas argamassas revestidas, as fissuras por ataques de sulfatos são semelhantes


àquelas que ocorrem pela retração da argamassa de revestimento, porém, em três aspectos
fundamentais:

• Apresentam aberturas mais pronunciadas;


• Acompanham aproximadamente as juntas de assentamento horizontais e
verticais;
• Aparecem quase sempre acompanhadas de eflorescências.

Baseado e adaptado de
Cristiano Richter. Edições sem
prejuízo de conteúdo.

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