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Itajaí, SC
2008
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ
Itajaí, SC
2008
II
RODRIGO CLAUDINO DOS SANTOS
_______________________________________________________
Prof. Dr. Claudemir Marcos Radetski
Coordenador do Curso de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciência e Tecnologia Ambiental
_______________________________________________________
Prof. Dr. José Angel Alvarez Perez
Presidente/Orientador
_______________________________________________________
Prof. Dr. Jorge Pablo Castello
Universidade Federal do Rio Grande, FURG – Membro Externo
_______________________________________________________
Prof. Dr. Paulo Ricardo Pezzuto
Universidade do Vale do Itajaí, UNIVALI – Membro Interno
_______________________________________________________
Prof. Dr. Rafael Medeiros Sperb
Universidade do Vale do Itajaí, UNIVALI – Membro Interno
III
Dedicatória
IV
Agradecimentos
V
“Deixai que os fatos sejam fatos naturalmente, sem que sejam forjados para acontecer,
Deixai que os olhos vejam os pequenos detalhes lentamente,
Deixai as coisas que lhe circundam estejam sempre inertes, como móveis inofensivos para lhe
servir quando for preciso e nunca lhe causar danos, sejam eles morais, físicos ou psicológicos”
VI
SUMÁRIO
VII
LISTA DE FIGURAS
VIII
entre 2001 e 2002. Ri início do recolhimento, Rf final do recolhimento, Li início do
lançamento e, Lf final do lançamento. As linhas verticais, dentro dos retângulos,
representam a mediana; os limites superior e inferior dos retângulos representam
os quartis 75% e 25% da distribuição dos dados, as linhas verticais, na
extremidade das linhas tracejadas representam 1,5 vezes o intervalo interquantil;
e os círculos representam os outliers....................................................................52
Figura 15 – Distribuição de freqüência das velocidades médias desenvolvidas
durante a atividade de pesca de emalhe realizada pelas embarcações arrendadas
na ZEE brasileira entre 2001 e 2002.....................................................................53
Figura 16 – Mapa batimétrico com a representação da disposição dos lances de
pesca realizados pela frota arrendada de emalhe de fundo entre 2001 e 2002. ..54
Figura 17 – Distância linear da extensão das redes de pesca utilizadas pela frota
arrendada de emalhe de fundo entre 2001 e 2002. ..............................................55
Figura 18 – Comparação da distribuição de freqüência percentual das velocidades
médias estimadas para os dados de rastreamento via satélite enviados
diariamente entre 07:45h e 18:15h com as velocidades de lançamento e
recolhimento das redes registradas durante as operações de pesca da frota
arrendada de emalhe de fundo entre 2001 e 2002. ..............................................56
Figura 19 – Velocidade média entre transmissões de rastreamento durante os 12
primeiros dias de uma viagem de pesca de emalhe de fundo. Linhas verticais
indicam o horário de início e final da atividade de pesca diária registrada a bordo,
em cinza recolhimento da rede e preto lançamento da rede. ...............................57
Figura 20 – Duração da atividade de pesca da frota arrendada de emalhe de
fundo entre 2001 e 2002, em função do tempo de permanência nos fundos de
pesca. ...................................................................................................................58
Figura 21 – Duração da atividade de pesca da frota arrendada de emalhe de
fundo entre 2001 e 2002, em função do tempo de permanência nos fundos de
pesca. ...................................................................................................................59
Figura 22 – Distribuição de freqüência das estimativas de velocidade média
desenvolvidas pelas embarcações arrendadas de emalhe de fundo entre 2001 e
2002 durante a etapa trânsito do porto à área de pesca.......................................60
Figura 23 – Mapa batimétrico representando os registros de rastreamento via
satélite de todas as embarcações arrendadas de emalhe de fundo entre 2001 e
2002. A atividade de pesca foi inferida através da velocidade média de
deslocamento........................................................................................................61
Figura 24 – Ingresso das embarcações arrendadas na pescaria de emalhe de
fundo entre 2001 e 2002 na ZEE brasileira...........................................................64
Figura 25 – Distribuição espacial da ocupação da área de pesca das
embarcações arrendadas de pesca de emalhe de fundo no sudeste e sul do Brasil
entre janeiro e março e entre abril e junho de 2001 a partir dos registros de
rastreamento satelital............................................................................................66
Figura 26 – Distribuição espacial da ocupação da área de pesca das
embarcações arrendadas de pesca de emalhe de fundo no sudeste e sul do Brasil
entre julho e setembro e entre outubro e dezembro de 2001. ..............................67
Figura 27 – Distribuição espacial da ocupação da área de pesca das
embarcações arrendadas de pesca de emalhe de fundo no sudeste e sul do Brasil
entre janeiro e março de 2002 e entre abril e junho de 2002................................68
Figura 28 – Distribuição espacial da ocupação da área de pesca das
embarcações arrendadas de pesca de emalhe de fundo no sudeste e sul do Brasil
entre julho e setembro de 2002 e entre outubro e novembro de 2002..................69
IX
Figura 29 – Número de embarcações arrendadas de pesca de emalhe de fundo
no sudeste e sul do Brasil ocupando simultaneamente um intervalo de 0,5°
latitude para cada mês da pescaria. .....................................................................70
Figura 30 – Deslocamento latitudinal em função do tempo da embarcação Titan.
Pontos pretos representam atividade de pesca inferida com os dados de
rastreamento via satélite. Os pontos vermelhos representam os lances a posição
inicial e final. O polígono representa a área pré-definida para a realização de
pesca. ...................................................................................................................71
Figura 31 – Deslocamento latitudinal em função do tempo das embarcações
Antoxo e Belen. Pontos pretos representam atividade de pesca inferida com os
dados de rastreamento via satélite. Os pontos vermelhos representam os lances a
posição inicial e final. Os polígonos representam as áreas pré-definidas para que
as embarcações realizassem o rodízio de áreas. .................................................72
Figura 32 – Deslocamento latitudinal em função do tempo das embarcações Eder
Sands e Juno. Pontos pretos representam atividade de pesca inferida com os
dados de rastreamento via satélite. Os pontos vermelhos representam os lances a
posição inicial e final. Os polígonos representam as áreas pré-definidas para que
as embarcações realizassem o rodízio de áreas. .................................................73
Figura 33 – Deslocamento latitudinal em função do tempo das embarcações Sin
Comentarios e Slebech. Pontos pretos representam atividade de pesca inferida
com os dados de rastreamento via satélite. Os pontos vermelhos representam os
lances a posição inicial e final. Os polígonos representam as áreas pré-definidas
para que as embarcações realizassem o rodízio de áreas. ..................................74
Figura 34 – Deslocamento latitudinal em função do tempo das embarcações
South Coast e Suffolk Chieftain. Pontos pretos representam atividade de pesca
inferida com os dados de rastreamento via satélite. Os pontos vermelhos
representam os lances a posição inicial e final. Os polígonos representam as
áreas pré-definidas para que as embarcações realizassem o rodízio de áreas. ..75
Figura 35 – Gráfico de distribuição de densidade de lances de pesca ao longo da
costa sudeste e sul do Brasil evidenciando os intervalos de latitude onde as
embarcações concentraram a atividade de pesca. ...............................................76
Figura 36 – Distribuição de freqüência percentual do Índice de Morisita
Padronizado, calculado para os dados do rastreamento via satélite, referentes a
atividade de pesca e para os dados dos lances de pesca. ...................................76
Figura 37 – Distribuição de freqüência numérica e freqüência percentual
acumulada do Índice de Morisita Padronizado para cada viagem de pesca
realizada pelas embarcações arrendadas de fundo entre 2001 e 2002 na ZEE
brasileira. ..............................................................................................................77
Figura 38 – Distribuição de freqüência numérica e freqüência percentual
acumulada da amplitude latitudinal das viagens de pesca realizadas pelas
embarcações arrendadas de fundo entre 2001 e 2002 na ZEE brasileira. ...........80
Figura 39 Distribuição das amplitudes latitudinais das viagens de pesca de
emalhe adotadas por cada embarcação arrendada na ZEE brasileira entre 2001 e
2002. A linha horizontal delimita as viagens consideradas estacionárias (abaixo)
daquelas móveis (acima). .....................................................................................84
Figura 40.- Distribuição das estratégias espaciais adotadas pela frota arrendada
de emalhe na ZEE brasileira em função do ano (A, p = 0,088), trimestres (B, p=
0,456), estrato latitudinal (C, p = 0,240) e Período de entrada na pescaria (D, p=
0,283). As barras brancas representam estratégias estacionárias e as barras
pretas, estratégias móveis. ...................................................................................86
X
Figura 41 – Distribuição das estratégias espaciais adotadas pela frota arrendada
de emalhe na ZEE brasileira em função da existência (2) ou não (1) de restrições
legais espaciais para as embarcações (p = 0,120). As barras brancas
representam estratégias estacionárias e as barras pretas, estratégias móveis. ...87
Figura 42 – Variação das capturas totais obtidas pela frota arrendada de emalhe
na ZEE brasileira como função da estratégia espacial adotada. Estratégia
estacionária e Estratégia móvel. ...........................................................................88
Figura 43 – Distribuição de freqüência da taxa de retorno líquido (US$/dia)
referentes a todas as viagens de pesca da frota arrendada de emalhe de fundo.89
Figura 44 – Distribuição de freqüência da duração dos recolhimentos das redes
de emalhe de fundo. .............................................................................................91
Figura 45 – Taxa de retorno mediano para cada viagem de pesca da embarcação
Juno. As linhas horizontais, dentro dos retângulos, representam a mediana; os
limites superior e inferior dos retângulos representam os quartis 75% e 25% da
distribuição dos dados, as linhas horizontais, na extremidade das linhas
tracejadas representam 1,5 vezes o intervalo interquantil; e os círculos
representam os outliers.........................................................................................92
Figura 46 – Tempo de permanência nos diferentes pesqueiros explorados de
cada viagem de pesca da embarcação Juno. As linhas horizontais, dentro dos
retângulos, representam a mediana; os limites superior e inferior dos retângulos
representam os quartis 75% e 25% da distribuição dos dados, as linhas
horizontais, na extremidade das linhas tracejadas representam 1,5 vezes o
intervalo interquantil; e os círculos representam os outliers..................................93
Figura 47 – Exemplos de curvas de ganho observadas na exploração dos
pesqueiros da embarcação Juno com o modelo logístico ajustado. A reta inclinada
é referente ao valor marginal e a seta indica o tempo ótimo de desistência.........96
XI
LISTA DE TABELAS
XII
Tabela 17 – Taxa de encontro (pesqueiros por dia de procura), estimada para as
duas fontes de dados............................................................................................91
Tabela 18 – Relação dos parâmetros ajustados às curvas de ganho a partir do
modelo logístico. ...................................................................................................94
Tabela 19 – Estimativa do Tempo ótimo de desistência para cada pesqueiro
explorado pela embarcação Juno. ........................................................................95
XIII
RESUMO
XIV
limitadas, entretanto, pelo reduzido volume de dados diários de rastreamento
(seis) e o grande espaçamento entre essas transmissões (quatro horas).
Espacialmente foram diferenciadas estratégias “móveis” e “estacionárias” que,
embora adotadas de forma igualitária por todas as embarcações envolvidas na
pescaria, apresentaram alguns padrões temporais de predominância. A análise
aprofundada do comportamento de uma embarcação específica, tomando como
base as previsões de Modelos de Forrageamento Ótimo, ajustados a dados de
ganho “energético” líquido acumulado sobre pesqueiros específicos, possibilitou
interpretações a respeito do comportamento do recurso (peixe-sapo) frente à ação
do forrageador (embarcações de pesca de emalhe) e sobre as decisões
associadas ao tempo e ao número de pesqueiros a serem explorados em uma
viagem de pesca.
XV
ABSTRACT
XVI
These models informed about how the resource (monkfish) tends to behave in
front of the forager action (fishing vessel nets) and about the decisions regarding
how long and how many fish patches were explored in every fishing trip.
XVII
1. INTRODUÇÃO
1
dados biológicos e ambientais gerados por qualquer tipo de sensor (freqüência
cardíaca, temperatura, profundidade etc.). Com esta tecnologia, vários aspectos
do comportamento, ecofisiologia e ciclo de vida de muitas espécies puderam ser
melhor avaliados. Alguns exemplos incluem as rotas de migração de tartarugas
(PAPI et al., 1997; LUSCHI et al., 2000; MORTMER & CARR, 1987), a
compreensão sobre o comportamento de escolha de áreas de forrageamento de
pingüins-de-magalhães – Spheniscus magellanicus (PÜTZ et al., 2000) e leões-
marinhos – Artochephalus gazella (BONADONNA et al., 2000), influência das
medidas de manejo pesqueiro na proporção sexual de albatrozes (Diomedea
exulans) (PRINCE et al., 1992), hábitos alimentares de colônias de aves marinhas
costeiras na África do Sul (GRÉMILLET et al., 2004), migração de baleias jubarte
– Megaptera novaeangliae no Atlântico Sul (ZERBINI et al., 2006), desova de
tunídeos no Atlântico Norte (LUTCAVAGE et al., 1999), entre outros.
O uso de sistemas de posicionamento geográfico na pesca remonta da
década de 1990. Na costa leste do Canadá, em 1993, a pescaria de vieiras
(Placopecten magellanicus) foi fortemente limitada pela insuficiência de
informações pesqueiras provenientes dos mapas de bordo, o que acarretou em
estimativas errôneas sobre a biomassa do recurso. Essa limitação implicou em
prejuízos da ordem de 40 milhões de dólares o que evidenciou a importância da
geração de informações adequadas para a avaliação do estoque e definição da
captura total permissível (Total Allowable Catch – TAC). A solução encontrada
entre a indústria pesqueira, em parceria com o Canadian Department of Fisheries
and Oceans (DFO), foi o investimento na melhora da qualidade da informação e o
rastreamento via satélite passou a ser visto como uma ferramenta de garantia à
fidelidade da informação. O sistema escolhido inicialmente havia sido
desenvolvido para transporte terrestre, permitindo a troca de informações de
forma instantânea entre o veículo e sua empresa. A este sistema foram
adicionadas cartas náuticas digitais e protocolos de envio de informação lance a
lance gerando informações em tempo real (MATTHEWS, 1999). Hoje existem
diversos sistemas de rastreamento de embarcações, como Inmarsat™,
ARGOS™, OnixSat®, etc., com equipamentos desenvolvidos e adaptados para as
condições específicas do ambiente marítimo (e.g. mar agitado, sol, chuva).
Recentemente um número crescente de estudos científicos abordando
vários aspectos das pescarias comerciais têm sido desenvolvidos com o uso do
2
rastreamento satelital, convencionalmente chamado de Vessel Monitoring System
ou VMS. Em particular podem-se citar a avaliação da eficácia dessa ferramenta
tecnológica no controle e monitoramento de pescarias demersais, como a pesca
de arrasto de beam trawl direcionada a vieiras (Placopecten magellanicus) da
costa leste do Canadá (MATTHEWS, 1999), a pesca de arrasto duplo direcionado
a camarões do Golfo do México (MEJIAS, 1999) e a pesca de arrasto demersal
multi-específica direcionada a peixes em Pilbara, noroeste da Austrália (JOLL et
al., 1999). Além disso, registros de VMS também têm sido úteis na calibração de
imagens de satélite para identificar a movimentação de embarcações (KOURTI et
al., 2005) e na avaliação da micro-distribuição do esforço de pesca de arrasto no
Mar do Norte e seu impacto sobre os organismos bentônicos (RIJNSDORP et al.,
1998).
Estimativas da abundância do estoque também têm se beneficiado do uso
de dados provenientes de VMS, como constatado no caso da avaliação do
estoque de vieiras do Georges Banks em que modelos de depleção utilizaram
VMS para estimativas confiáveis de esforço (GEDANKE et al., 2004). Taxas de
remoção, intensidade de pesca e processos de depleção populacional também
foram avaliados com o auxílio de VMS nessa pescaria e na pesca de camarões
no leste da Austrália (GEDANKE et al., 2005; DENG, et al., 2005).
A tecnologia VMS se tornou essencial no processo de controle de
pescarias. Várias organizações internacionais que visam o ordenamento e
controle pesqueiro (e.g. Northwest Atlantic Fisheries Organization – NAFO e
Commission for the Conservation of Antarctic Marine Living Resources –
CCAMLR) têm o rastreamento via satélite como uma das principais plataformas
para o cumprimento das medidas de manejo adotadas (NOLAN, 1999; WAND,
2005).
Muitas medidas de ordenamento pesqueiro são de ordem geoespacial,
podendo ser citadas como exemplo as áreas de exclusão de pesca, as áreas
jurisdicionais (e.g. Zona Econômica Exclusiva – ZEE), rotatividade de áreas, entre
outras. No Brasil, fazem parte da gestão pesqueira uma série de instrumentos de
natureza geoespacial, com destaque para os limites geográficos dos
permissionamentos de pesca (BRASIL, 1993; BRASIL, 1998, BRASIL, 2003) e as
zonas de exclusão de pesca industrial (SEAP/IBAMA, 2005) normalmente em
áreas próximas à costa, no entorno de reservas marinhas (BRASIL, 1990), de
3
plataformas de petróleo entre outras. O cumprimento destes instrumentos, no
entanto, via de regra, tem sido dificultado pelas limitações do processo de
fiscalização, dependentes da avistagem dos infratores (caracterização de
flagrante), apenas possíveis em áreas costeiras, ou com vigilância a partir de
embarcações o que normalmente é oneroso e pouco eficaz. Esse quadro, no
entanto, começou a mudar a partir do início das atividades de pesca demersal
profunda no Brasil, no final da década de 1990, que trouxe consigo inovações nos
sistemas de permissionamento e gestão, entre elas o uso inédito do rastreamento
satelital (BRASIL, 2000).
Durante a década de 1990, a pesca de arrasto no Brasil foi marcada por
uma descaracterização das atividades tradicionais e uma tendência à
diversificação de alvos de pesca, através de uma exploração ampla de recursos
disponíveis, sazonal e/ou geoespacialmente, na plataforma continental. Esse
processo, motivado pela escassez dos estoques da plataforma continental e do
elevado número de embarcações em atividade (PEREZ et al., 2002a), levaram as
embarcações arrasteiras a explorar áreas mais profundas na busca de novos
recursos. Um processo, no entanto, sujeito a algumas limitações tecnológicas
(PEREZ et al., 2002b). Nesse sentido, algumas iniciativas do Governo Federal
brasileiro foram tomadas para mapear o fundo oceânico e avaliar o potencial
pesqueiro dos recursos de águas profundas, e.g. Avaliação do Potencial
Sustentável de Recursos Vivos na Zona Econômica Exclusiva – REVIZEE
(REVIZEE, 2004). Essas iniciativas, em geral, apontaram para a existência de
alguns recursos valiosos nessas áreas, como o cherne-poveiro (Polyprion
americanus), o cação-bico-doce (Galeorhinus galeus), o calamar-argentino (Illex
argentinus) e o galo-de-profundidade (Zenopsis conchifer). Recursos de potencial
modesto e incertezas relacionadas aos possíveis mercados e tecnologias de
pesca mais apropriadas (HAIMOVICI, 2007).
Em 1998, o Ministério da Agricultura Pesca e Abastecimento (MAPA),
através do Departamento de Pesca e Aqüicultura (DPA), lançou um programa de
pesca profunda na ZEE brasileira baseado no arrendamento de embarcações
estrangeiras por empresas nacionais, com a intenção de obter conhecimento
sobre os potenciais recursos, avaliar a rentabilidade das operações de pesca,
além de absorver tecnologia adequada para a pesca em águas profundas,
manipulação e processamento do pescado. Nesse sentido o programa teve como
4
exigência o monitoramento intensivo das embarcações arrendadas através de
sistemas de monitoramento de embarcações (VMS) e de Observadores de Bordo.
Ambos instrumentos pouco ou não desenvolvidos para esse fim no Brasil.
Através da cooperação com universidades e centros de pesquisa do país,
foram criados programas-piloto de estruturação de sistemas de monitoramento de
embarcações via satélite (RODRIGUES-RIBEIRO, 2002) e de capacitação e
operacionalização de Observadores de Bordo (WAHRLICH, 2002), os quais
permitiram o levantamento completo de informações referentes às operações de
pesca da frota arrendada na costa brasileira. Esses programas1 geraram a
principal base de dados a fundamentar o processo de avaliação de estoques e de
pescarias, os quais serviram de referência para a elaboração de medidas de
ordenamento para a pesca de peixe-sapo (Lophius gatrophisus) e caranguejos-
de-profundidade (Chaceon notialis e Chaceon ramosae) (PEREZ et al., 2002c;
PEZZUTO et al., 2006; SEAP/IBAMA, 2005; SEAP, 2005a; SEAP, 2005b).
Em 2005, tomando como base a experiência acumulada pelo DPA/MAPA e
SEAP, e os excelentes resultados alcançados por esses programas-piloto, o
Governo Federal estruturou ações administrativas consolidando um Programa
Nacional de Observadores de Bordo (SEAP/IBAMA, 2006b), e um Programa
Nacional de Rastreamento de Embarcações Pesqueiras por Satélite
(SEAP/IBAMA, 2006a) como políticas de Estado a serem adotadas para a gestão
pesqueira nacional, estendido para a maior parte da frota nacional, neste primeiro
momento limitada às embarcações com escala industrial de produção.
A elaboração do Programa Nacional de Rastreamento de Embarcações
Pesqueiras por Satélite – PREPS, foi realizada com a criação do Grupo de
Trabalho Técnico Interministerial (GTTI Ad Hoc de Rastreamento), coordenado
pela SEAP/PR e integrado pela Marinha do Brasil e IBAMA-MMA.
O PREPS foi submetido pela SEAP/PR a uma ampla Consulta Pública,
para todas as representações do setor produtivo pesqueiro nacional (Sindicatos
de Armadores, Indústrias da Pesca, Trabalhadores da Pesca Industrial e
Representações da pesca Artesanal), empresas fornecedoras de equipamentos e
prestadoras de serviço de rastreamento, além de todos os órgãos governamentais
1
Convênios entre o Ministério da Agricultura, Pecuária e do Abastecimento (MAPA) com a
Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI) – MA/SARC/Nº03/2000; MAPA/SARC/DPA/Nº003/2001;
MAPA/SARC/DENACOOP/176/2002.
5
integrantes dos Comitês Gestores de Recursos Pesqueiros, coordenados pela
SEAP/PR.
A primeira e mais intensamente monitorada pescaria profunda do Brasil foi
a pesca de emalhe de fundo direcionada ao recurso peixe-sapo. A partir de 1999,
embarcações estrangeiras especializadas na captura e processamento desse
recurso foram autorizadas a operar na ZEE brasileira, ao sul de 19°S, em
profundidades maiores que 200 metros. Essas embarcações tiveram entre suas
exigências contratuais a presença obrigatória de Observadores de Bordo em
todas as viagens e a utilização de rastreamento via satélite.
Duas embarcações iniciaram as operações rastreadas no início de 2001
sendo seguidas por outras sete que entraram na pescaria em meados desse
mesmo ano. Com a intenção de distribuir o esforço de pesca e gerar um amplo
conjunto de informações sobre o recurso, estas últimas embarcações estiveram
condicionadas, ainda, a realizarem rodízios quadrimestrais em três estratos
latitudinais (norte de 25°S, entre 25 e 29°S e sul de 29°S). Em outubro de 2002 a
pescaria foi encerrada, a partir de constatações científicas de uma diminuição de
30% do estoque em toda a área de distribuição do recurso no sudeste e sul, além
de vários conflitos com a frota nacional de arrasto demersal que também atuou
sobre o recurso neste período, em profundidades de até 250 metros (PEREZ et
al., 2002a; PEREZ et al., 2002b; PEREZ et al., 2002d; WAHRLICH et al., 2004).
A experiência com as embarcações arrendadas, no entanto, subsidiou o
Plano de Manejo do recurso, oficializado somente em 2005 (SEAP/IBAMA, 2005).
Essa foi a primeira pescaria em que o rastreamento teve relevância durante a
fase arrendada e também uma das primeiras a incluir VMS em seu Plano de
Manejo. Além disso, esse plano incluiu, também pela primeira vez, duas áreas de
restrição de pesca indicando a dependência da utilização desse sistema para sua
implementação (PEREZ et al., 2002c).
6
áreas, o esforço de pesca tenderia a se distribuir entre essas áreas de forma que
as taxas de lucro tenderiam a se tornar homogêneas para todas as embarcações
atuantes. Esta abordagem prevê que se existe um fluxo livre de informação entre
as embarcações, os mestres seguiriam uma premissa simples de escolha da área
de pesca: se os lucros forem mais elevados em uma área do que em outras,
algumas embarcações procurarão aumentar seus lucros se movendo para as
áreas mais rentáveis, e nesta continuarão até que as taxas do lucro estejam
iguais entre todas as áreas, ocorrendo então a homogeneização dos rendimentos
(HOLLAND & SUTINEN, 2000).
Sob essa ótica, a dinâmica espaço-temporal de atuação das frotas
pesqueiras deveria guardar forte relação com a variabilidade espaço-temporal da
disponibilidade e, sobretudo, densidade dos recursos-alvo. Nesse caso a
premissa geral seria que uma frota pesqueira direcionada à explotação de um
recurso, com disponibilidade e abundância variável no espaço e no tempo,
tenderia a “escolher” áreas e “épocas” de pesca que maximizassem os “lucros”
individuais, seja pela busca de cenários de elevada densidade e/ou baixos custos
de produção.
Quando uma viagem de pesca inicia, o mestre da embarcação pode ter
uma vaga ou clara idéia de onde, quando e que recurso irá pescar. Indecisos, a
priori, os mestres irão desenvolver estratégias (a partir do conhecimento do
sucesso de outros mestres ou por experimentação própria) que influenciarão nos
critérios de tomada de decisão nas viagens futuras. Os critérios de tomada de
decisão podem ser, no entanto, alterados de uma viagem para a outra e podem
variar entre diferentes pescadores (MATHIESEN, 2004).
Hilborn & Walters (1992) ressaltam, entretanto, que existem inúmeros
fatores que podem afetar as “escolhas” individuais e desviar o comportamento
das frotas dos padrões previstos acima. Compreender essas escolhas pode ser
de grande valia para quantificar o impacto do esforço pesqueiro sobre a biomassa
explotável de um recurso e de se avaliar estratégias espaço-temporais de manejo
que tenderiam a maiores chances de sucesso. Este fenômeno é especialmente
relevante em grandes áreas de manejo pesqueiro onde as embarcações podem
se mover livremente entre as mesmas (GILLS & FRANK, 2001).
Em muitos aspectos, o sistema-pesca pode ser analisado como uma
relação presa-presador, sendo as embarcações os predadores e as espécies-alvo
7
suas presas (GATTO et al., 1976; HILBORN & WALTERS, 1992). Nesse sentido,
o uso de teorias ecológicas se apresenta como um bom ponto de partida para o
estudo do comportamento de frotas pesqueiras com destaque para a Teoria do
Forrageamento Ótimo (STEPHENS & KREBS, 1986; ALLEN, 1998) cuja
aplicação em estudos pesqueiros tem sido crescente (BEGOSSI, 1992a;
BEGOSSI, 1992b; BEGOSSI, 1995; GILLIS et al., 1995; DORN, 1997; ASWANI,
1998; DORN, 1998; GILLIS & PETERMAN, 1998; GILLIS, 1999; RIJNSDORP et
al., 2000; WILEN, 2000; GILLIS & FRANK, 2001; DORN, 2001; GILLIS, 2003;
BEGOSSI et al., 2005; MARCHAL et al., 2005; DORN, 2005; VOGES et al., 2005;
GILLIS, 2006).
Segundo essa teoria, quando um predador se move através de uma área
procurando concentrações satisfatórias de suas presas, ele tende a encontrar
concentrações de presas potenciais em seqüência, apresentando diferentes
composições específicas ou densidades. A cada encontro o predador
(forrageador) decide se vai perseguir e tentar comer a presa ou, continuar
procurando. A perseguição demanda tempo e energia e, se bem-sucedida, resulta
da aquisição de energia alimentar. O forrageador pode, contudo, dispensar uma
presa de baixa qualidade em favor de uma busca continuada por uma presa
melhor. Quando o intervalo entre encontrar uma presa e a seguinte é grande
(baixa densidade) em comparação com o tempo exigido para subjugá-las e
consumi-las, ele comerá a maior parte de presas potenciais que encontrar. Mas
quando um predador encontra as presas freqüentemente (alta densidade), ele
dispensará tipos menos desejáveis porque em breve, provavelmente, encontrará
tipos mais “apetitosos” (STEPHENS & KREBS, 1986).
A maioria das presas ocorre de forma agrupada no habitat, os predadores
têm que viajar entre as áreas em busca de alimento, devendo fazer escolhas
sobre que presas usar dentro delas e quando deixar aquela área para procurar
em outra. Em geral, a qualidade de uma área (abundância, densidade, etc.)
diminui à medida que o predador captura as presas e reduz os recursos que ela
contém. Eventualmente, o predador recebe uma recompensa maior pela mudança
para uma nova área do que pela insistência em procurar em uma área já
depletada. A quantidade de tempo que um predador gasta numa área antes que a
deixe é chamada de tempo ótimo de desistência (“Giving-Up Time” – GUT)
(CHARNOV, 1976).
8
As regras que governam o comportamento de forrageamento dos
organismos tendem a maximizar a sua taxa de assimilação de alimento ou
minimizar o tempo exigido para obter uma dada quantidade de alimento. Elas são
referidas como as regras (ou modelos) de forrageamento ótimo. O modelo permite
fazer previsões sobre escolha de alimento (dieta ótima), da agregação dos
recursos ou locais para forragear (concentrações rentáveis) e do tempo de
permanência em dada concentração (PYKE, 1984; STEPHENS & KREBS, 1986 ;
BEGOSSI, 1993).
Hipotetizando que o pescador se comporta como um predador, explorando
“áreas” e fazendo “escolhas” sobre onde irá explorar seus recursos alvo, podemos
aplicar modelos de forrageamento ótimo e avaliar a eficiência das escolhas dos
pescadores, permitindo compreender o uso do ambiente do ponto de vista do
forrageador.
Muitos trabalhos derivados dos conceitos da teoria do forrageamento
ótimo, maximizando o lucro individual no menor intervalo de tempo, ou analisando
a competição pelo recurso, foram desenvolvidos baseados no comportamento de
frotas pesqueiras, predizendo a distribuição geoespacial do esforço de pesca e
comparando a eficiência de diferentes táticas de pesca e entendendo melhor a
relação entre a captura por unidade de esforço e a abundância do recurso. Os
autores afirmam que tal abordagem quando incluída nos planos de manejo
aumentam a chance das medidas de manejo ter êxito (GILLIS et al., 2006).
Dorn (1998) desenvolveu um modelo para avaliar a duração ótima dos
arrastos de pesca e da procura em barcos-fábrica de arrasto de meia-água na
pescaria da merluza do Pacífico (Merlucius productus). Gills (2003) faz uma
abordagem sobre a perspectiva de movimentação de barcos de pesca, onde
afirma que modelos comportamentais baseados na teoria do forrageamento (e.g.
distribuição livre ideal – IFD) são preferenciais porque (i) eles podem ser
analisados usando dados tipicamente disponibilizados por pescarias comerciais,
(ii) eles requerem menos dados do que modelos probabilísticos, e (iii) eles são
facilmente incorporados dentro de modelos de manejo mais complexos. Quando
derivações da IFD ocorrem, elas podem gerar melhores interpretações da relação
entre medidas de manejo, mudanças ambientais e atividade pesqueira,
aperfeiçoando a interpretação dos dados gerados pela pesca comercial. Marchal
et al. (2005) conduziram um estudo sobre as influências do mercado e a
9
densidade dos estoques no comportamento de forrageamento dos pescadores.
GILLS et al. (1995) utilizaram a teoria do forrageamento ótimo estudando a
escolha da dieta (diet choice) para avaliar as decisões da dinâmica de descarte
na pesca de camarões no Golfo do México realizada pela frota do Oregon. As
predições foram consistentes com os padrões de descarte observados na frota de
arrasto do Oregon.
Modelos comportamentais podem ser aplicáveis para gestão pesqueira
gerando um meio de explorar a potencial resposta do pescador para uma nova
medida de manejo antes de ela ser implementada. Holland & Sutinen (1999)
assumem que medidas de manejo e mudanças no mercado ou ambientais que
alteram a lucratividade de uma pescaria ou área irão resultar na redistribuição do
esforço entre pescarias alternativas ou áreas. A magnitude do deslocamento
deste esforço irá depender da relativa lucratividade das alternativas individuais
dos pescadores afetados. Os autores desenvolveram um modelo empírico para
unidades pesqueiras individuais e escolhas de localizações baseadas em dados
de viagens de um grupo de 400 navios pesqueiros de grande porte da Nova
Inglaterra. O modelo usa taxas médias de lucro anteriores para diferentes
alternativas, e o comportamento passado de cada navio para predizer a escolha
de grupos de espécies de localização de área de pesca em uma base viagem por
viagem. Este modelo é usado para predizer níveis de esforço agregado em
diferentes pescarias e áreas durante o tempo. Aswani (1998) utilizou a teoria do
forrageamento para avaliar a eficiência dos pescadores utilizando a taxa média de
retorno líquido como comparação.
O presente projeto enfoca a utilização da ferramenta VMS para duas
abordagens específicas da pesca profunda. Inicialmente pretende-se explorar a
efetividade da ferramenta como instrumento de gestão, analisando-se que tipo de
informação pode ser extraída de registros do posicionamento geográfico das
embarcações pesqueiras de maneira a facilitar as atividades de controle da
pesca. Em segundo lugar é avaliada a utilização dessa ferramenta como indicador
das relações ecológicas por trás da exploração pesqueira de áreas profundas e
pouco conhecidas. Em particular a possibilidade de usar VMS como uma fonte de
dados no sentido da aplicação de Modelos de Forrageamento Ótimo. Escolheu-se
a pescaria arrendada de peixe-sapo como modelo, pois, além estarem disponíveis
10
informações completas e fidedignas de VMS e Observadores de Bordo, a mesma
contou com elementos geoespaciais de gestão.
A pesca profunda compreende as operações de pesca em profundidades
superiores a 100-200 metros, estendendo-se desde a quebra da Plataforma até o
talude inferior e planície abissal incluindo os montes submarinos. Com exceção
de algumas pescarias tradicionais (e.g. pesca de linha-de-mão nos Açores e
espinhel de fundo no sul do Pacífico), todas as pescarias em águas profundas
iniciaram depois da 2ª Guerra Mundial (KOSLOW et al., 2000), principalmente em
função do esgotamento dos recursos costeiros e de avanço nas tecnologias de
captura e processamento do pescado.
Ecossistemas de águas profundas, incluindo seus recursos pesqueiros,
são altamente vulneráveis a exploração e requerem elevados níveis de proteção
(LARGE et al., 2003). A experiência no Pacifico Sul mostrou que os estoques de
peixes de águas profundas podem ser rapidamente depletados e que a
recuperação pode ser muito lenta (KOSLOW et al., 2000; ANON., 2001 apud
LARGE et al., 2003). Em muitos casos, informações fidedignas sobre o estado do
estoque e o potencial de produção pesqueira são obtidas em um considerável
espaço de tempo depois da exploração. Por causa da sensibilidade dos estoques
de águas profundas e do geralmente inadequado conhecimento sobre a biologia
destes, se recomenda que as taxas de exploração iniciais sejam muito baixas
(LARGE et al., op. cit.).
Diferente da Plataforma Continental, os recursos de águas profundas e
talude, tendem a formar agrupamentos em locais determinados, possuem um
ciclo de vida geralmente longo, apresentam atividade reprodutiva tardia com
eventos por vezes episódicos, baixa fecundidade e recrutamentos esporádicos
(KOSLOW et al., 2000; CLARK, 2001; KOSLOW & TUCK, 2002; ALDER &
WOOD, 2005). Estima-se que o peixe-sapo (Lophyus gastrophysus), capturado
no Sudeste e Sul do Brasil entre 300 e 1000 metros, apresentou, para machos e
fêmeas respectivamente, longevidade de 13 e 18 anos, com a primeira maturação
ocorrendo entre os sete e oito anos de vida (LOPES, 2005). Isso significa que os
recursos de águas profundas demandam ações de manejo mais rigorosas e
rápidas do que aqueles habitantes da Plataforma Continental. Nesse sentido
ações de ordem geoespacial têm sido consideradas muito importantes e em
11
alguns casos as mais eficientes (e.g. rotatividade de áreas, área de exclusão de
pesca).
O desenvolvimento da tecnologia de rastreamento, incluindo a definição
clara de critérios mínimos para seu funcionamento e adequadas à realidade
sócio-econômica da pesca nacional pode ser decisivo na implementação dessas
ações no ordenamento da pesca profunda no Brasil (CABRAL, et al., 2003). Por
outro lado, o sucesso das medidas de ordenamento não está apenas vinculado à
viabilidade do seu controle, mas também ao nível de interação dessas medidas
com o comportamento da indústria pesqueira (homem-predador). A possibilidade
de conhecer como o pescador se comporta nas áreas profundas e pouco
exploradas da costa através da tecnologia do rastreamento significa ter a chance
de adaptar medidas de gestão pesqueira a esse comportamento o que
aumentaria as chances de seu sucesso (GATTO et. al., 1976; MATHIESEN et al.,
2004).
12
2. OBJETIVOS
13
3. MATERIAIS E MÉTODOS
14
A extensão linear do Sudeste e Sul tem aproximadamente 2.200km. As
províncias marinhas do Sudeste e Sul do Brasil têm aproximadamente as
seguintes áreas: a Plataforma Continental tem cerca de 296.010 km², o Talude
Continental tem cerca de 235.210 km², o sopé continental tem cerca de 1.393.000
km², o Cone do Rio Grande tem cerca de 67.620 km², totalizando uma área de
1.991.840 km². Em todo o Sudeste e Sul a margem da plataforma é caracterizada
por províncias normalmente amplas, de gradientes um tanto suaves. A quebra da
plataforma não é muito notória, e a borda tem configuração geral arredondada ou
com estreitos terraços de abrasão marinha, em especial no setor norte. O talude é
comumente suave, de perfil ligeiramente côncavo. O relevo do fundo desta
grande área é caracterizado pela presença de ravinas, cânions, intercalados por
áreas relativamente planas (ZEMBRUSKI, 1979).
A cobertura sedimentar a partir dos 100 metros de profundidade é
composta predominantemente por lamas na área ao sul de Cabo Frio, sendo
pontilhada em alguns locais por faixas de sedimentos de granulometria média e
areia grossa ao longo do talude (FIGUEIREDO & TESSLER, 2004).
A distribuição vertical da temperatura e da salinidade na região estudada
apresenta, nos primeiros 200 m, o domínio de águas quentes (>20°C) e salinas
>36,4) da Água Tropical (AT), fluindo em direção sul. Essas águas ocorrem na
camada superior da corrente do Brasil (CB), com alta contribuição para os
organismos da plataforma continental, caracterizada pela baixa concentração de
nutrientes e alta concentração de oxigênio. Entre os 200 e 750 m, a temperatura
(6°-20°C) e salinidade (34,6-36,0) são características da Água Central do Atlântico
Sul (ACAS), também fluindo em direção sul, só que em uma posição inferior à CB.
No verão ela pode penetrar na plataforma continental e contribuir com sua riqueza
de nutrientes. Abaixo dos 750 m, nota-se sucessivamente a predominância Água
Intermediária Antártica (AIA) (3°-6°C e 34,2-34,6), que se estende até os 950
metros de profundidade, e a Água Profunda do Atlântico Norte (APAN) (3°-4° e
34,6-35,0), entre 1.500 e 3.000 metros, dirigindo-se para o sul até cerca de 32°S
(AMARAL & ROSSI-WONGTSCHOWSKI, 2004).
15
3.2. Operações de pesca de emalhe de fundo de profundidade
16
O recolhimento do petrecho é iniciado ao amanhecer. As caceias são
recolhidas através do “carro de borda” e do guincho de tração, com a embarcação
navegando contra a correnteza. Após a operação de recolhimento, que dura em
torno de 12 horas para uma caceia de 400 redes, a tripulação se dedica à
substituição das panagens mais danificadas. A taxa de substituição estimada é de
1 a 5% do total de redes lançadas a cada lance.
A operação de pesca só é interrompida em condições de mar muito
adversas, com ventos acima de Força oito na Escala Beaufort. O regime de
lançamentos e recolhimentos variava de acordo com a quantidade e o tamanho
das caceias utilizadas. Em geral, as embarcações operaram simultaneamente
quatro a seis caceias, cada uma com cerca de 400 redes, realizando o
recolhimento de uma caceia por dia.
O tempo médio de imersão das caceias foi de 4,86 dias (116,8 horas),
variando de 4 horas a 35 dias (n= 3.118). Períodos de imersão superiores a sete
dias geralmente ocorreram quando as redes foram deixadas na área de pesca
enquanto as embarcações retornavam ao porto para descarga. Esta estratégia
evita a necessidade de aguardar vários dias para o recolhimento das redes no
início de cada viagem de pesca. Também visa a “reserva” de bons pesqueiros, a
redução da carga para os deslocamentos até o porto de descarga e, ainda, a
possibilidade de operar um número de redes superior à capacidade de transporte
da própria embarcação.
17
sistema de rastreamento seja resistente às intempéries do ambiente marinho e
construído de forma que o equipamento seja inviolável.
O posicionamento geográfico é gerado a bordo de forma independente
pelo equipamento do GPS, que calcula a cada instante a localização da
embarcação. O sistema de rastreamento instalado a bordo, por sua vez, recebe
de forma automática e contínua estes dados de posicionamento e transmite via
satélite, para a empresa fornecedora do serviço. Esta armazena e disponibiliza os
posicionamentos da embarcação para o seu cliente (contratante do serviço e/ou
órgão gestor) (figura 3).
A transmissão dos dados pode ocorrer por diferentes meios. A via mais
utilizada são os satélites de telecomunicação dedicados, dispostos tanto em
órbitas estacionárias (e.g. OmniSat®), como formando constelações em distintas
órbitas (e.g. ARGOS™). Os dados também podem ser transmitidos através de
telefonia satelital (e.g. GlobalStar®), telefonia celular (e.g. Jabursat®) ou por rádio
freqüência, estes dois últimos abrangendo apenas áreas próximas à costa. Além
da data, hora, latitude e longitude, podem ser transmitidos quaisquer outros dados
18
gerados por sensores instalados a bordo e acoplados ao sistema transmissor
(e.g. temperatura superficial do mar, profundidade local). O sistema pode ainda
dispor de troca de informações em duas vias (do barco para o continente e do
continente para o barco) (MATHEWS, 1999)
A utilização obrigatória do VMS pelas embarcações engajadas no
programa de arrendamento iniciou-se em um momento em que as autoridades
governamentais dispunham de poucos recursos tecnológicos para seu devido
acompanhamento e utilização. Nesse sentido, a princípio, a tecnologia utilizada
pelas embarcações para atender suas demandas legais careceu de definições e
restrições tecnológicas e práticas de controle e procedimentos punitivos. Ao longo
das operações de pesca monitorada, no entanto foi avaliada a eficácia do tipo de
dados enviados por cada sistema e desenvolvidos critérios e métodos para a
padronização e disciplina do uso do sistema em todo o país. Esse trabalho foi
inicialmente conduzido no âmbito de convênios de cooperação científica e
tecnológica celebrados entre o Governo Federal e instituições de pesquisa, como
a Universidade do Vale do Itajaí (Grupo de Estudos Pesqueiros – GEP), e teve
um papel fundamental, sobretudo, em credenciar os sistemas de rastreamento,
disponíveis no mercado, aptos a cumprir as exigências do controle da atividade
pesqueira profunda no Brasil (CABRAL et al., 2003).
Em uma segunda etapa foi desenvolvido um sistema de rastreamento de
embarcações totalmente automatizado; baseado na internet, denominado
RASTRO, que possibilitou a visualização simultânea das embarcações
monitoradas, independentemente do sistema comercial utilizado, representando o
deslocamento das mesmas em mapas dinâmicos, e permitindo o resgate dos
dados de rastreamento no formato de planilhas eletrônicas (figura 4). A solução
desenvolvida permitiu o monitoramento mais amplo e simultâneo da frota
arrendada, possibilitou que o Governo realizasse auditorias e possibilitou à
indústria pesqueira conduzir estrategicamente suas operações comerciais.
Toda a interface visual e procedimentos internos do sistema concebido
foram baseados em tecnologias OpenSouce (código aberto), apenas o
gerenciador do banco de dados foi desenvolvido a partir do sistema ORACLE®,
que na época era o único a dispor de uma extensão de gerenciamento de objetos
geoespaciais (CABRAL et al., 2003).
19
Figura 4 – Representação esquemática da geração e transmissão dos dados de rastreamento via
satélite.
hora hora
dT = data + − data + ∴ dT = data.hora2 − data.hora1 (1)
60 2 60 1
20
3.3.1.2. Cálculo da distância percorrida entre o envio de dados
2 lat - lat 1 2 long 2 - long1
sen 2 + cos(lat1 ) * cos(lat 2 ) * sen
2 2
dD = R * 2 * arctan 2 * (2)
1 − sen 2 2
lat - lat1 2 long 2 - long1
+ cos(lat1 ) * cos(lat 2 ) * sen
2 2
dD
Vm = (3)
dT
21
captura do peixe-sapo (Lophius gastrophisus) na região do talude da costa
sudeste e sul do Brasil, que operaram entre 2001 e 2002, realizando 78 viagens
de pesca (tabela 1).
Tabela 1 – Viagens de pesca da frota de emalhe de fundo arrendada que operou no sudeste e sul
do Brasil entre 2001 e 2002.
Data Latitude (°S) Longitude (°W) Posicionamentos
Embarcação Viagem
Inicial Final Máxima Mínima Máxima Mínima Número
Antoxo 1 02/03/01 08/04/01 -25,100 -29,801 -44,776 -48,132 44
Antoxo 2 14/04/01 23/05/01 -29,048 -30,502 -47,843 -48,367 55
Antoxo 3 04/06/01 26/06/01 -29,000 -30,717 -47,817 -48,883 126
Antoxo 4 03/07/01 26/07/01 -28,967 -30,917 -47,750 -49,350 57
Antoxo 5 29/07/01 25/08/01 -29,004 -31,717 -47,796 -50,000 0
Antoxo 6 14/09/01 24/10/01 -28,629 -33,020 -47,280 -50,430 242
Antoxo 7 29/10/01 22/11/01 -32,033 -32,626 -50,054 -50,352 140
Antoxo 8 22/11/01 09/01/02 -31,886 -33,510 -49,973 -50,660 247
Antoxo 9 13/01/02 15/02/02 -31,869 -32,700 -49,959 -50,383 195
Antoxo 10 16/02/02 02/04/02 -30,800 -33,783 -48,967 -51,217 127
Antoxo 11 03/04/02 30/04/02 -30,177 -33,317 -50,011 -50,489 72
Antoxo 12 01/05/02 19/05/02 -31,780 -33,431 -49,912 -50,563 111
Antoxo 13 13/07/02 27/08/02 -31,239 -33,493 -49,978 -50,641 274
Antoxo 14 30/08/02 02/10/02 -31,927 -33,985 -49,986 -50,483 202
Belen 1 16/07/01 08/08/01 -26,067 -27,701 -46,000 -47,224 49
Belen 2 17/09/01 29/10/01 -26,067 -28,217 -45,918 -47,189 132
Belen 3 15/11/01 21/12/01 -26,269 -29,894 -46,307 -48,157 160
Belen 4 10/01/02 14/02/02 -26,193 -27,000 -46,175 -46,534 166
Belen 5 15/02/02 11/04/02 -26,112 -27,114 -46,081 -46,612 246
Belen 6 02/05/02 18/06/02 -24,461 -26,718 -44,302 -46,456 169
Belen 7 18/06/02 21/08/02 -24,311 -25,067 -43,853 -44,973 170
Belen 8 28/08/02 13/10/02 -24,186 -25,087 -43,387 -44,772 246
Eder Sands 1 20/06/01 27/06/01 -30,551 -31,967 -48,449 -50,000 39
Eder Sands 2 16/08/01 14/10/01 -30,600 -32,131 -48,595 -50,076 353
Eder Sands 3 17/10/01 18/12/01 -24,509 -33,110 -44,255 -50,427 343
Eder Sands 4 28/01/02 22/04/02 -24,383 -32,098 -41,899 -50,088 287
Eder Sands 5 26/04/02 12/06/02 -30,477 -32,057 -45,872 -50,061 282
Eder Sands 6 11/09/02 25/10/02 -29,960 -31,967 -47,802 -50,011 266
Juno 1 03/01/01 02/03/01 -23,668 -25,963 -41,737 -45,845 180
Juno 2 20/03/01 14/05/01 -28,917 -31,000 -47,750 -49,317 318
Juno 3 19/05/01 11/07/01 -30,512 -31,828 -48,150 -49,983 312
Juno 4 15/07/01 05/09/01 -30,698 -31,765 -48,819 -49,915 254
Juno 5 19/09/01 10/11/01 -28,813 -33,653 -47,672 -51,022 295
Juno 6 11/11/01 16/04/02 -28,933 -34,16 -47,761 -51,584 373
Juno 7 17/04/02 25/06/02 -30,922 -33,915 -21,126 -51,401 416
Juno 8 25/06/02 30/08/02 -33,457 -33,869 -50,756 -51,439 384
Juno 9 02/09/02 10/10/02 -30,941 -33,871 -49,237 -51,420 233
Sin Comentarios 1 09/09/01 25/10/01 -23,793 -24,670 -42,658 -44,519 259
Sin Comentarios 2 29/10/01 14/12/01 -24,808 -27,952 -44,500 -47,859 102
Sin Comentarios 3 20/01/02 29/03/02 -27,172 -32,980 -46,903 -50,449 0
Sin Comentarios 4 07/04/02 18/06/02 -27,217 -30,723 -46,936 -48,871 434
Sin Comentarios 5 22/06/02 15/08/02 -25,933 -27,767 -45,567 -47,500 329
Sin Comentarios 6 18/08/02 07/10/02 -27,426 -28,327 -46,046 -48,871 286
22
Data Latitude (°S) Longitude (°W) Posicionamentos
Embarcação Viagem
Inicial Final Máxima Mínima Máxima Mínima Número
Slebech 1 11/07/01 09/09/01 -24,267 -27,716 -43,651 -44,965 45
Slebech 2 12/09/01 29/10/01 -24,146 -25,998 -43,322 -45,750 258
Slebech 3 07/11/01 11/12/01 -25,931 -28,979 -45,768 -47,832 173
Slebech 4 26/12/01 20/02/02 -25,085 -27,435 -45,630 -47,152 0
Slebech 5 16/02/02 06/04/02 -25,929 -27,426 -45,643 -46,562 0
Slebech 6 09/04/02 02/07/02 -26,012 -27,446 -46,059 -47,155 72
Slebech 7 04/07/02 30/09/02 -26,203 -29,541 -46,194 -48,058 433
South Coast 1 24/02/01 30/04/01 -23,700 -28,100 -16,083 -44,467 379
South Coast 2 03/05/01 23/07/01 -23,679 -29,241 -41,386 -47,999 470
South Coast 3 26/07/01 13/10/01 -23,637 -23,825 -41,331 -42,607 427
South Coast 4 17/10/01 17/12/01 -23,657 -23,818 -41,395 -42,369 346
South Coast 5 08/01/02 08/03/02 -23,555 -23,805 -41,252 -41,989 316
South Coast 6 10/03/02 27/05/02 -23,608 -24,139 -41,083 -43,212 474
South Coast 7 31/05/02 29/08/02 -23,673 -30,597 -41,447 -48,818 527
South Coast 8 29/08/02 03/10/02 -23,682 -24,171 -41,476 -43,223 215
Suffolk Chieftain 1 25/02/01 04/04/01 -24,008 -25,866 -43,076 -45,351 54
Suffolk Chieftain 2 11/04/01 24/06/01 -24,833 -29,301 -44,583 -48,971 445
Suffolk Chieftain 3 27/06/01 03/09/01 -25,182 -26,933 -44,821 -46,449 348
Suffolk Chieftain 4 05/09/01 13/11/01 -25,092 -26,188 -44,766 -46,171 388
Suffolk Chieftain 5 16/11/01 30/12/01 -25,347 -29,172 -44,928 -47,930 270
Suffolk Chieftain 6 03/01/02 06/02/02 -25,376 -26,969 -44,956 -46,052 203
Suffolk Chieftain 7 07/02/02 23/04/02 -24,893 -26,291 -44,660 -679,050 463
Suffolk Chieftain 8 02/05/02 07/07/02 -25,658 -26,944 -45,081 -46,866 251
Suffolk Chieftain 9 09/07/02 14/09/02 -24,741 -26,308 -44,496 -46,212 0
Suffolk Chieftain 10 21/09/02 08/10/02 -24,529 -25,494 -44,172 -45,031 108
Titan 1 02/01/01 12/03/01 -23,673 -23,918 -41,757 -42,951 90
Titan 2 20/03/01 15/05/01 -28,639 -30,693 -47,246 -48,826 288
Titan 3 19/05/01 13/07/01 -28,639 -30,693 -47,246 -48,826 303
Titan 4 20/07/01 18/09/01 -28,735 -34,350 -47,498 -51,702 119
Titan 5 16/10/01 10/12/01 -28,825 -33,944 -47,691 -51,355 278
Titan 6 13/12/01 19/02/02 -28,607 -30,732 -47,164 -48,886 345
Titan 7 22/02/02 14/04/02 -28,604 -30,829 -47,186 -49,032 0
Titan 8 19/04/02 24/06/02 -28,557 -29,505 -47,130 -48,069 349
Titan 9 28/06/02 23/08/02 -28,469 -29,739 -47,018 -48,095 298
23
em décimos de grau (projeção geodésica Datum World Geodetic System 1984),
data e hora do inicio e final dos lances de pesca, profundidade local, composição
e peso das espécies capturadas (ver detalhes em Perez et al., 2005 e Perez &
Wahrlich, 2004).
24
a taxa de transmissão média, de forma a selecionar viagens com uma quantidade
de dados adequados para o estudo.
Eram esperadas seis posições diárias, com intervalos regulares de quatro
horas. A taxa de transmissão foi estimada para cada viagem de pesca a partir do
número de dados esperados em relação ao número de dados recebidos pela
equação 4:
tx.trans =
∑ número.de. posicionamentos (4)
número.de.dias * 6
25
relançamento desta rede, buscou-se determinar os horários padronizados de
início e término do recolhimento e lançamento das redes, visando, assim
descrever a rotina diária de operação.
As velocidades médias de deslocamento, desempenhadas nas operações
de pesca realizadas, foram estimadas com a intenção de se encontrar um
parâmetro de comparação entre a atividade observada e o padrão de velocidade
estimado através dos dados de rastreamento. Foi calculada, para cada
lançamento e recolhimento, a diferença de tempo (horas), a distância percorrida
(milhas náuticas) e, estimada a velocidade média (nós). Estas estimativas foram
obtidas com a mesma metodologia aplicada aos dados de rastreamento,
anteriormente descrita.
A disposição dos lances de pesca ao longo da área de pesca foi
representada por linhas formadas entre a posição geográfica inicial e final do
lançamento das redes de pesca, utilizando um Sistema de Informação Geográfica
(ArcGis 8.3, ESRI®) para realizar este procedimento. Foi observado que durante
as viagens de pesca os lances eram realizados ao longo da área explorada
formando concentrações bem definidas. Estas concentrações de lances foram
interpretadas como “pesqueiros” e, em cada viagem, foram identificadas e
classificadas unitariamente.
26
velocidades estimadas pelas duas fontes de informação foram comparadas a
partir de um teste de Kolmogorov-Smirnov (ZAR, 1996).
A seguir para cada (i) viagem e em (ii) cada pesqueiro o tempo total em
que a embarcação permaneceu com velocidade de pesca (variável dependente),
estimado com os dados do rastreamento, foi comparado ao tempo total de
duração das operações de lançamento e recolhimento registrado a bordo através
de uma regressão linear, sendo a hipótese nula (H0) que a declividade dessa
regressão seja aproximadamente 1, α = 0,005).
27
A distribuição do esforço de pesca no decorrer dos trimestres foi
representada em mapas batimétricos, utilizando os posicionamentos geográficos
do rastreamento via satélite para caracterizar as áreas onde efetivamente ocorreu
atividade de pesca. Para isso, foram utilizados apenas os posicionamentos da
etapa “trânsito na área de pesca” em que a velocidade de deslocamento foi
inferida como atividade de pesca. A estes mapas, foram acrescidos os dados de
posicionamento geográfico dos lances de pesca registrados por Observadores de
Bordo visando enriquecer a análise e preencher as eventuais falhas de
transmissão.
Procurou-se avaliar se ocorreu sobreposição de embarcações realizando
atividade de pesca simultaneamente em uma mesma área. Para isso, o intervalo
latitudinal da área de pesca, entre 23°S e 34°S, foi dividido em intervalos de 0,5°
de latitude e somado o número de embarcações que realizaram atividade de
pesca no mesmo intervalo de latitude em cada mês da pescaria. Assim, foi gerado
um gráfico de interpolação pelo método de kriging para representar o número de
embarcações que realizaram atividade de pesca simultaneamente no mesmo
intervalo de tempo.
O deslocamento latitudinal ao longo do tempo foi representado pela latitude
em função da data. Foram utilizados os posicionamentos do rastreamento via
satélite da etapa “trânsito na área de pesca” referentes a atividade de pesca. A
data do posicionamento, composta por dia/mês/ano (variável discreta), foi
convertida para valores contínuos, assumindo que o dia 01/01/2001 é o dia 1 e
último dia da pescaria, 07/11/2002 é o dia 676. Para complementar as falhas de
transmissão de dados do rastreamento, foram adicionados os dados do lances de
pesca, latitude e data das posições iniciais e finais de cada rede pesca, incluído
os dados do lançamento e do recolhimento da rede. As restrições espaciais de
operação de pesca (rodízio nas sub-áreas) foram representados por polígonos
nos gráficos.
28
1992). Para atingir esse objetivo os pescadores aplicam diferentes táticas de
pesca (MATIESEN, 2004). Para a pescaria analisada, as táticas podem ser
definidas como:
29
distribuem os “organismos” nos quadrats (ocupando poucos ou vários quadrats e
ainda a proporção de “organismos” nestes) irá determinar o valor do índice.
Na presente aplicação, esse índice foi estimado utilizando como
amostrador uma grade quadricular (quadrat) formada por 289 polígonos com
intervalos de 0,125° de latitude por 0,125° de longitude (175km2), cobrindo toda a
extensão da área de pesca (figura 5).
30
∑ x2 − ∑ x
Id = n *
( x )2 − x
∑ ∑ (5)
χ 02.975 − n + ∑ x
Mu =
(∑ x) − 1 (6)
χ 02.025 − n + ∑ x
Mc =
(∑ x ) − 1 (7)
Onde:
χ 02.975 – Valor de chi-quadrado para um α=0,975;
Com a avaliação dos valores calculados pelas três equações acima citadas
(equações 5, 6, 7), obtêm-se a fórmula específica para o cálculo do Índice de
Morisita Padronizado (IMP) que tem uma escala que varia de -1,0 a +1,0, com o
limite de confiança de 95% a +0,5 e -0,5.
O Índice de Morisita Padronizado (IMP) é calculado utilizando uma
equação que envolve o índice Morisita e os índices de dispersão anteriormente
descritos. Para este cálculo, é prevista a utilização de quatro diferentes equações,
que são empregadas de acordo com a distribuição espacial específica dos dados.
31
A equação que será utilizada para padronizar o índice é determinada através de
condições pré-estabelecidas.
Quando:
I − Mc
I p = 0,5 + 0,5 * d
Id ≥ Mc > 1.0: n − Mc (8)
I −1
I p = 0,5 * d
Mc > Id ≥ 1.0: M c −1 (9)
I −1
I p = −0,5 * d
1.0 > Id > Mu: Mu −1 (10)
I − Mu
I p = −0,5 + 0,5 * d
1.0 > Mu > Id: Mu (11)
33
avaliação foi realizada a partir da construção de tabelas de contingência e
análises de chi-quadrado (ZAR, 1996).
Finalmente foi analisado o efeito da estratégia espacial adotada em cada
viagem sobre a produção total (kg por viagem) da embarcação durante a referida
viagem. Essa comparação foi conduzida através de um teste t-Student após
verificação de critério de normalidade da distribuição da variável considerada e a
possível influência dos fatores relacionados acima sobre as capturas e suas
interações com a estratégia espacial avaliadas através de uma Análise de
Variância Multifatorial (ZAR, 1996).
35
entre transmissões consecutivas, distância percorrida e velocidade média das
viagens que apresentaram uma taxa de transmissão superior à 90%. Foi
considerado que a captura de peixe-sapo de cada lance é o somatório dos três
principais produtos processados a bordo (cola, carrilheiras e caras) (WAHRLICH
et al., 2004).
Ef
R= (13)
Tf
E f = Eb − S (14)
Eb = λ ⋅ e ⋅ Ts (15)
36
Onde: Eb – Ganho energético bruto;
λ – Taxa de encontro de presas por unidade de tempo;
e - É a energia média ganha por encontro;
Ts – É o tempo total de procura de presas.
S = s ⋅ Ts (16)
E f = (λ ⋅ e ⋅ Tt ) − (s ⋅ Ts ) (17)
T f = Ts + Th (18)
O Tempo de Manipulação (Th) por sua vez também pode ser relacionado ao
tempo de procura (Ts) e taxa de encontro de presas por unidade de tempo (λ) de
forma que a equação pode ser reescrita como:
37
(
T f = Ts + λh Ts ) (19)
R=
(λe Ts ) − (sTs )
Ts + (λh Ts ) (20)
λe − s
R= (21)
1 + λh
O modelo básico acima descrito por Stephens & Krebs (1986) foi adaptado
à pescaria arrendada do peixe-sapo com redes de emalhe a partir de um conjunto
de pressupostos de considerações descritas abaixo.
(i) A unidade procurada era o “pesqueiro”, definido como sendo um local com
uma densidade rentável de peixe-sapo, identificado através da
concentração de lances de pesca realizados continuamente em uma área
restrita.
(ii) O método de captura é passivo, ou seja, o forrageador ao passar por um
pesqueiro não “percebe” a densidade de presas instantaneamente, ele
lança uma rede de pesca onde julga provável a ocorrência de sua presa
alvo, quando ele recolhe a rede, avalia se continuará explorando o
pesqueiro ou sairá a procura de outro local.
(iii) Para proceder a classificação dos diferentes tipos de pesqueiros (“ricos” ou
“pobres”) seria necessário estimar a densidade de peixe-sapo ao longo da
área de pesca no decorrer da pescaria. Porém estimativas de densidade
populacional foram realizadas somente a partir das taxas de captura
obtidas (uma vez que as redes de emalhe não permitem uma estimativa de
área de influência). Ainda assim essa avaliação tendeu ser realizada
sempre com uma determinada defasagem, em parte, pelo longo tempo de
38
recolhimento das redes, em parte pela existência de mais de uma rede em
operação simultânea (ver abaixo).
(iv) Como as embarcações operavam simultaneamente com mais de uma rede
de pesca e possuíam grande poder de mobilidade, mais de uma rede podia
estar simultaneamente realizando captura no mesmo pesqueiro, bem como
mais de um pesqueiro podia ser explorado no mesmo intervalo de tempo.
Ou seja, ao mesmo tempo em que permanecia pescando continuamente
em um dado pesqueiro, ele poderia sair à procura de outra área. A taxa de
captura deste tipo de petrecho se mantém constante ao longo do tempo de
imersão (SANCHO et. al., 2003), assim, os componentes “perseguição” e
“captura” das presas, pertencentes ao Tempo de Manipulação, ocorrem
continuamente e simultaneamente em mais de uma rede, porém o
consumo (ingestão) das presas ocorrerá apenas no recolhimento da rede.
(v) Os pressupostos obrigatórios da Teoria do Forrageamento Ótimo foram
considerados satisfeitos observando-se as seguintes colocações: o
pressuposto de exclusividade de procura e exploração foi satisfeito uma
vez que durante a procura por outro pesqueiro as embarcações se
deslocavam com velocidade constante de navegação e durante o
recolhimento das redes (manipulação) nenhuma outra atividade era
desenvolvida; o pressuposto de encontro seqüencial Poisson foi cumprido,
pois, durante a procura, apenas uma área era explorada por vez; e o
pressuposto de informação completa também foi observado, considerando
que determinados pesqueiros foram explorados continuamente, enquanto
que em outros pesqueiros a exploração se deu por um curto intervalo de
tempo, levando a entender que as embarcações tinham a capacidade de
reconhecer concentrações mais rentáveis de seu recurso em detrimento de
áreas mais “pobres”.
(vi) A energia que será otimizada foi convertida em valores monetários baseados
em índices de preços médios estimados para o período da pescaria.
39
Assim, considerando a definição do Tempo de Procura (Ts), como o tempo
gasto na procura de presas ou concentrações do recurso alvo, assumiu-se que Ts
na pesca de emalhe foi o tempo, em dias, gasto no deslocamento entre um
pesqueiro e outro. Com os dados dos lances de pesca (obtidos por observadores
de bordo), para cada primeiro lance em um determinado pesqueiro, foi calculado
o tempo transcorrido entre este lançamento e o recolhimento anterior (realizado
em outro pesqueiro), entendendo que este é o tempo gasto no deslocamento na
procura de uma nova área. Com os dados do rastreamento via satélite, Ts foi
interpretado como sendo o tempo total em que a embarcação permaneceu em
velocidade de navegação durante a etapa “trânsito na área de pesca”, uma vez
que ao se deslocar à procura de uma nova área a embarcação não realizará
atividade de pesca (velocidade de deslocamento baixa).
A taxa de encontro com pesqueiros (λ) em cada viagem de pesca foi
calculada como sendo a razão entre o número total de pesqueiros explorados em
uma viagem e o tempo de procura total (Ts). As equações 22 e 23 representam o
cálculo de λ considerando Ts estimado a partir dos dados provenientes dos lances
de pesca (registrados por Observadores de Bordo) e provenientes do
rastreamento via satélite, respectivamente:
Onde: λlances – Taxa de encontro calculada a partir dos dados dos lances de pesca
(pesqueiros por dia);
λrastro – Taxa de encontro calculada a partir dos dados do rastreamento via
satélite (pesqueiros por dia);
n°.pesqueirosi – Número total de pesqueiros explorados na viagem i;
Tslances – Tempo de Procura total calculado com os lances de pesca na
viagem i (dias).
40
Tsrastro – Tempo de Procura total calculado a partir dos dados do
rastreamento via satélite na viagem i (dias).
2
Demais gastos como custos de manutenção, provisões, aluguel de cais, entre outros, não foram
incorporados ao modelo devido à indisponibilidade de tais informações.
41
em que permaneceu submersa. Atribuíram-se assim frações eqüitativas da
captura total de cada rede para cada dia de submersão. Com isso a captura de
cada dia de operação da embarcação Juno (captura.peixe.sapoi) em um
determinado pesqueiro foi composta pela soma das frações de captura de cada
rede submersa nesse dia.
Entre 2001 e 2002 o valor estimado de primeira venda de “cola congelada”
de peixe-sapo era de U$7,50/kg. Como este item representou até 80% da
comercialização de peixe-sapo (SOARES, 2006), foi assumido que os demais
produtos (“carrilheira” e “caras”) foram comercializados pelo mesmo valor.
Para a representação numérica do gasto da atividade de forrageamento, foi
utilizado um valor de consumo médio de combustível (litros/dia) para cada
embarcação. Cada embarcação informou o seu consumo médio de combustível
em toneladas de óleo diesel por dia, discriminando o consumo em atividade de
pesca, e em atividade de navegação. O peso de óleo diesel foi convertido para
litros (1 litro de óleo diesel equivale a 0,85 kg) e estimado o consumo de
combustível para as duas atividades em litros por dia. Assumindo que as
embarcações passam 80% do dia em velocidade de pesca, foi calculado o valor
de consumo médio de óleo diesel para cada embarcação considerando a
proporção de tempo despendida nas duas atividades desenvolvidas. O preço do
óleo diesel marítimo internacional foi estimado em US$ 0,26 entre os anos de
2001 e 2002 (EMIS/PLATTS, 2006).
O gasto “energético” despendido para obter dado ganho foi assumido como
sendo o valor monetário do consumo médio de combustível por dia segundo a
equação 25, abaixo:
42
Manipulação (perseguição e captura) ocorrem de forma passiva e independem a
interferência da embarcação, e como mais de um petrecho realizava perseguição
e captura simultaneamente, a incorporação do tempo despendido nestas
atividades (tempo de imersão da rede) estaria sobreestimando o Tempo de
Manipulação gasto em determinado pesqueiro.
Substituindo as considerações acima descritas na equação do modelo básico
da taxa de retorno líquido (equação 26), teremos:
λ * $ sapoi − $ s
Ri = (26)
1+ λ * h
43
tendendo a uma assíntota. A taxa de retorno líquido acumulado é dada pela
equação 27:
Racum =
∑ λg (T ) − s
p
1 + ∑ λT p
(27)
44
foi realizado de forma iterativa e os modelos selecionados para cada pesqueiro
seguiram o critério de informação de Akaike (AIC).
Modelo Equação
−b
Exponencial x
y = a exp
Fox y = x exp(a−bx )
c
Logístico y=
1 + a (−bx )
30
Ganho de energia
20
0
-20 -15 -10 -5 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
Tempo
Tempo de viagem
45
4. RESULTADOS
Figura 7 – Distribuição de freqüência do horário de envio dos dados do rastreamento via satélite
gerados pelas embarcações arrendadas de pesca de emalhe na ZEE brasileira entre 2001 e 2002.
46
Figura 8 – Taxa de transmissão do envio de dados de rastreamento via satélite de cada viagem de
pesca da frota de emalhe de fundo na ZEE brasileira entre 2001 e 2002.
47
Figura 9 – Intervalo de tempo médio diário entre transmissões geradas pelas embarcações
arrendadas de pesca de emalhe na ZEE brasileira entre 2001 e 2002, em função da taxa de
transmissão.
48
Figura 10 – Distribuição dos valores de velocidade de deslocamento das embarcações, agrupados
em seis classes de horário correspondendo aos seis posicionamentos geográficos enviados
diariamente do rastreamento via satélite das embarcações arrendadas de pesca de emalhe na
ZEE brasileira entre 2001 e 2002. As linhas horizontais, dentro dos retângulos, representam a
mediana; os limites superior e inferior dos retângulos representam os quartis 75% e 25% da
distribuição dos dados, as linhas horizontais, na extremidade das linhas tracejadas representam
1,5 vezes o intervalo interquantil; e os círculos representam os outliers.
49
Figura 11 – Mapa batimétrico com a representação dos deslocamentos das embarcações
arrendadas de pesca de emalhe na ZEE brasileira entre 2001 e 2002 durante a execução das
viagens de pesca.
50
Figura 12 – Distribuição de freqüência das velocidades médias desenvolvidas em cada etapa da
viagem pelas embarcações arrendadas de pesca de emalhe na ZEE brasileira entre 2001 e 2002.
“a” etapa trânsito do porto à área de pesca e “b” trânsito na área de pesca.
51
Figura 13 – Duração das operações de lançamento (“A”) e recolhimento (“B”) das redes de pesca
das embarcações arrendadas de pesca de emalhe na ZEE brasileira entre 2001 e 2002.
Figura 14 – Horário das distintas atividades de pesca, lançamento e recolhimento das redes, das
embarcações arrendadas de pesca de emalhe na ZEE brasileira entre 2001 e 2002. Ri início do
recolhimento, Rf final do recolhimento, Li início do lançamento e, Lf final do lançamento. As linhas
verticais, dentro dos retângulos, representam a mediana; os limites superior e inferior dos
retângulos representam os quartis 75% e 25% da distribuição dos dados, as linhas verticais, na
extremidade das linhas tracejadas representam 1,5 vezes o intervalo interquantil; e os círculos
representam os outliers.
52
As velocidades médias estimadas para as atividades de lançamento e
recolhimento das redes foram bem distintas, formando uma distribuição de
freqüência com duas modas, uma em torno de 0,5 nós e uma segunda em torno
de 4,6 nós, caracterizando as distintas velocidades de deslocamento empregadas
em cada operação da atividade de pesca (figura 15).
53
Figura 16 – Mapa batimétrico com a representação da disposição dos lances de pesca realizados
pela frota arrendada de emalhe de fundo entre 2001 e 2002.
54
Figura 17 – Distância linear da extensão das redes de pesca utilizadas pela frota arrendada de
emalhe de fundo entre 2001 e 2002.
55
Figura 18 – Comparação da distribuição de freqüência percentual das velocidades médias
estimadas para os dados de rastreamento via satélite enviados diariamente entre 07:45h e 18:15h
com as velocidades de lançamento e recolhimento das redes registradas durante as operações de
pesca da frota arrendada de emalhe de fundo entre 2001 e 2002.
56
Figura 19 – Velocidade média entre transmissões de rastreamento durante os 12 primeiros dias de
uma viagem de pesca de emalhe de fundo. Linhas verticais indicam o horário de início e final da
atividade de pesca diária registrada a bordo, em cinza recolhimento da rede e preto lançamento da
rede.
O tempo empregado nas atividades de pesca por cada embarcação em
cada viagem foi estimado através das duas fontes básicas de informação –
Rastreamento Satelital e Observadores de Bordo. No primeiro caso esse tempo
foi equivalente à soma dos períodos com velocidades estimadas inferiores a
quatro nós na etapa “trânsito na área de pesca” (TPrastro). No segundo caso
somou-se o tempo total de lançamento e recolhimento das redes (TPobs). Ambas
as variáveis foram comparadas e relacionadas através de um modelo linear onde
o tempo de permanência estimado por dados de rastreamento foi a variável
dependente e o tempo estimado pelos Observadores de Bordo, a variável
independente. O modelo ajustado foi:
57
Figura 20 – Duração da atividade de pesca da frota arrendada de emalhe de fundo entre 2001 e
2002, em função do tempo de permanência nos fundos de pesca.
58
Tpobs explicou 91% da variabilidade de Tprastro (R2=0,9126, GL=256) e a
declividade não foi significativamente igual a 1 (p<<0,001) indicando que as duas
medidas de velocidade não são equivalentes (figura 21).
Figura 21 – Duração da atividade de pesca da frota arrendada de emalhe de fundo entre 2001 e
2002, em função do tempo de permanência nos fundos de pesca.
59
Figura 22 – Distribuição de freqüência das estimativas de velocidade média desenvolvidas pelas
embarcações arrendadas de emalhe de fundo entre 2001 e 2002 durante a etapa trânsito do porto
à área de pesca.
60
Figura 23 – Mapa batimétrico representando os registros de rastreamento via satélite de todas as
embarcações arrendadas de emalhe de fundo entre 2001 e 2002. A atividade de pesca foi inferida
através da velocidade média de deslocamento.
61
Tabela 4 – Valores mínimos, máximos, média, porcentagem e soma de todo o tempo e distância
percorrida durante as 71 viagens de pesca realizadas pelas embarcações arrendadas de emalhe
de fundo entre 2001 e 2002. Estimativas realizadas com todos os dados de rastreamento via
satélite.
Tempo total Distância
Tempo Distância
em percorrida
Tempo total em percorrida
Distância velocidade com
total velocidade com
percorrida de velocidade
(horas/ de pesca velocidade
(Mn/viagem) navegação de
viagem) (horas\ de pesca
(horas/ navegação
viagem) (Mn/viagem)
viagem) (Mn/viagem)
62
Tabela 5 – Orçamento de tempo etapa “trânsito do porto à área de pesca”. Valores mínimos,
máximos, média, porcentagem e soma todo tempo e distância percorrida durante as 38 viagens de
pesca (aprox. 54%) com dados completos de rastreamento realizadas pelas embarcações
arrendadas de emalhe de fundo entre 2001 e 2002.
Tabela 6 – Orçamento de tempo etapa “trânsito na área de pesca”. Valores mínimos, máximos,
média, porcentagem e soma todo tempo e distância percorrida durante as 38 viagens de pesca
com dados completos de rastreamento realizadas pelas embarcações arrendadas de emalhe de
fundo entre 2001 e 2002.
Tempo total Distância
Tempo total Distância
em percorrida
Tempo em percorrida
Distância velocidade com
total velocidade com
percorrida de velocidade
(horas/ de pesca velocidade de
(Mn\viagem) navegação de
viagem) (horas/ pesca (Mn\
(horas\ navegação
viagem) viagem)
viagem) (Mn\viagem)
63
compunham a frota arrendada de emalhe de fundo. Ao final deste período mais
três embarcações ingressaram na pescaria (South Coast, Suffolk Chieftain, e
Antoxo). No início do segundo semestre de 2001 mais três embarcações
ingressaram na pescaria (Eder Sands, Slebech e Belen). Na metade do segundo
semestre ingressou a última embarcação nesta pescaria (Sin Comentários) (figura
24).
dez-02
nov-02
out-02
set-02
ago-02
jul-02
jun-02
mai-02
abr-02
mar-02
fev-02
jan-02
dez-01
nov-01
out-01
set-01
ago-01
jul-01
jul-01
jun-01
mai-01
abr-01
mar-01
fev-01
jan-01
Titan Juno South Coast Suffolk Antoxo Eder Sands Slebech Belen Sin
Chieftain Comentarios
Figura 24 – Ingresso das embarcações arrendadas na pescaria de emalhe de fundo entre 2001 e
2002 na ZEE brasileira.
64
No terceiro e quarto trimestres manteve-se a atividade pesqueira em todas
as zonas de pesca previamente exploradas bem como a exploração progressiva
de algumas novas zonas nos três estratos latitudinais culminando com a
ocupação completa do talude das regiões Sudeste e Sul do Brasil (figura 26).
No quinto, sexto e sétimo trimestres, algumas zonas dos três estratos
abandonadas pela frota pesqueira (figura 27) o que precedeu o encerramento
total da atividade no oitavo trimestre, quando apenas duas áreas foram
permaneceram ocupadas, uma entre o limite do estrato norte e central e outra na
porção centro norte do estrato sul (figura 28).
Com relação ao número de embarcações ocupando um mesmo intervalo
latitudinal (0,5° de latitude) ao mesmo tempo (mês), foi observado que até quatro
embarcações ocuparam num mesmo período de 30 dias um espaço de 0,5° de
latitude (figura 29). No início da pescaria o extremo norte da área de pesca foi
ocupado por três embarcações. No quarto mês, com cinco embarcações
compondo a frota, observamos que entre 28°S e 31°S foram ocupados por até
quatro embarcações. A partir de outubro, com todas as nove embarcações
presentes, foi observado que entre 30°S 33°S quatro embarcações
permaneceram neste local entre setembro e dezembro de 2001. Entre dezembro
de 2001 e janeiro de 2002 as embarcações se distribuíram nas áreas ao norte de
31°S. Entre fevereiro e maio de 2002 novamente até quatro as embarcações
concentraram suas atividade entre 30°S e 31°S, após este período a ocupação
novamente se espalhou pela área, sendo observado outra concentração entre
agosto e setembro de 2002 na área central (entre 24°S e 29°S). Esta disposição
da frota antecedeu seu término em outubro desse ano (figura 29).
65
Figura 25 – Distribuição espacial da ocupação da área de pesca das embarcações arrendadas de pesca de emalhe de fundo no sudeste e sul do Brasil entre
janeiro e março e entre abril e junho de 2001 a partir dos registros de rastreamento satelital.
66
Figura 26 – Distribuição espacial da ocupação da área de pesca das embarcações arrendadas de pesca de emalhe de fundo no sudeste e sul do Brasil entre
julho e setembro e entre outubro e dezembro de 2001.
67
Figura 27 – Distribuição espacial da ocupação da área de pesca das embarcações arrendadas de pesca de emalhe de fundo no sudeste e sul do Brasil entre
janeiro e março de 2002 e entre abril e junho de 2002.
68
Figura 28 – Distribuição espacial da ocupação da área de pesca das embarcações arrendadas de pesca de emalhe de fundo no sudeste e sul do Brasil entre
julho e setembro de 2002 e entre outubro e novembro de 2002.
69
Figura 29 – Número de embarcações arrendadas de pesca de emalhe de fundo no sudeste e sul
do Brasil ocupando simultaneamente um intervalo de 0,5° latitude para cada mês da pescaria.
70
No que diz respeito ao padrão individual de deslocamento latitudinal ao
longo do tempo, nos dois primeiros meses da pescaria, duas embarcações (Juno
e Titan) concentraram a atividade de pesca entre as latitudes 23,5 e 25°S, estas
realizavam a sua primeira viagem de pesca com duração de cerca de 60 dias. Ao
final deste período mais três embarcação ingressaram na atividade (South Coast
Suffolk Cheftain, e Antoxo) e a ocupação da área se deu em locais distintos e ao
sul da área inicial, abrangendo praticamente toda a área compreendida entre
23,5° a 31°S. No início do segundo semestre de 2001 mais três embarcações
ingressaram na pescaria (Eder Sands, Slebech e Belen) e a exploração da área
de pesca continuou nas áreas conhecidas e também em direção ao sul, na
metade do segundo semestre toda a área de pesca já havia sido explorada, de
23,5°S a 34°S, neste mesmo período ingressou a última embarcação nesta
pescaria (Sin Comentários) (figuras 30 a 35).
71
Figura 31 – Deslocamento latitudinal em função do tempo das embarcações Antoxo e Belen.
Pontos pretos representam atividade de pesca inferida com os dados de rastreamento via satélite.
Os pontos vermelhos representam os lances a posição inicial e final. Os polígonos representam as
áreas pré-definidas para que as embarcações realizassem o rodízio de áreas.
72
Figura 32 – Deslocamento latitudinal em função do tempo das embarcações Eder Sands e Juno.
Pontos pretos representam atividade de pesca inferida com os dados de rastreamento via satélite.
Os pontos vermelhos representam os lances a posição inicial e final. Os polígonos representam as
áreas pré-definidas para que as embarcações realizassem o rodízio de áreas.
73
Figura 33 – Deslocamento latitudinal em função do tempo das embarcações Sin Comentarios e
Slebech. Pontos pretos representam atividade de pesca inferida com os dados de rastreamento
via satélite. Os pontos vermelhos representam os lances a posição inicial e final. Os polígonos
representam as áreas pré-definidas para que as embarcações realizassem o rodízio de áreas.
74
Figura 34 – Deslocamento latitudinal em função do tempo das embarcações South Coast e Suffolk
Chieftain. Pontos pretos representam atividade de pesca inferida com os dados de rastreamento
via satélite. Os pontos vermelhos representam os lances a posição inicial e final. Os polígonos
representam as áreas pré-definidas para que as embarcações realizassem o rodízio de áreas.
75
Figura 35 – Gráfico de distribuição de densidade de lances de pesca ao longo da costa sudeste e
sul do Brasil evidenciando os intervalos de latitude onde as embarcações concentraram a
atividade de pesca.
76
A partir dessa constatação procedeu-se o cálculo do IMP com os dados
dos Observadores de Bordo, sendo estimados índices de distribuição espacial,
para cada trimestre, para cada embarcação, e para todas as viagens de pesca.
O Índice de Morisita Padronizado calculado para todas as viagens de todas
embarcações, considerando o período entre 2001 e 2002 variou entre 0,5 e 0,58,
que são valores fronteiriços entre distribuições agrupadas e aleatórias (tabela 7).
Isso sugere que os lances foram realizados em toda a área de pesca porém com
alguns focos de concentração espacial (figura 37).
77
Embarcação Viagem Índice de Morisita Padronizado Estratégia
Belen 6 0,5184 Móvel
Belen 7 0,5459 Estacionária
Belen 8 0,5583 Estacionária
Belen 9 0,5736 Estacionária
Eder Sands 1 0,5302 Móvel
Eder Sands 2 0,5208 Móvel
Eder Sands 3 0,5201 Móvel
Eder Sands 4 0,5303 Móvel
Eder Sands 5 0,5550 Estacionária
Eder Sands 6 0,5581 Estacionária
Juno 1 0,5253 Móvel
Juno 2 0,5136 Móvel
Juno 3 0,5230 Móvel
Juno 4 0,5437 Estacionária
Juno 5 0,5390 Estacionária
Juno 6 0,5215 Móvel
Juno 7 0,5424 Estacionária
Juno 8 0,5317 Móvel
Juno 9 0,5218 Móvel
Sin Comentarios 1 0,5245 Móvel
Sin Comentarios 2 0,5666 Estacionária
Sin Comentarios 3 0,5823 Estacionária
Sin Comentarios 4 0,5815 Estacionária
Sin Comentarios 5 0,5372 Móvel
Sin Comentarios 6 0,5402 Estacionária
Slebech 1 0,5211 Móvel
Slebech 2 0,5173 Móvel
Slebech 3 0,5403 Estacionária
Slebech 4 0,5387 Estacionária
Slebech 5 0,5289 Móvel
Slebech 6 0,5559 Estacionária
Slebech 7 0,5311 Móvel
South Coast 1 0,5507 Estacionária
South Coast 2 0,5751 Estacionária
South Coast 3 0,5435 Estacionária
South Coast 4 0,5230 Móvel
South Coast 5 0,5321 Móvel
South Coast 6 0,5368 Móvel
South Coast 7 0,5178 Móvel
South Coast 8 0,5094 Móvel
Suffolk Chieftain 1 0,5207 Móvel
Suffolk Chieftain 2 0,5839 Estacionária
Suffolk Chieftain 3 0,5430 Estacionária
Suffolk Chieftain 4 0,5371 Móvel
Suffolk Chieftain 5 0,5411 Estacionária
Suffolk Chieftain 6 0,5328 Móvel
Suffolk Chieftain 7 0,5248 Móvel
Suffolk Chieftain 8 0,5639 Estacionária
Suffolk Chieftain 9 0,5466 Estacionária
Suffolk Chieftain 10 0,5421 Estacionária
Titan 1 0,5214 Móvel
Titan 2 0,5687 Estacionária
Titan 3 0,5461 Estacionária
Titan 4 0,5342 Móvel
Titan 5 0,5165 Móvel
Titan 6 0,5274 Móvel
Titan 7 0,5569 Estacionária
Titan 8 0,5345 Móvel
Titan 9 0,5591 Estacionária
Ao longo dos trimestres esse índice oscilou muito pouco (CV < 1,0%)
podendo-se destacar apenas uma leve tendência ao maior agrupamento no
primeiro trimestre, período no qual a atividade esteve concentrada no norte da
área de pesca, e no último trimestre quando a maioria das embarcações já havia
78
deixado a pescaria e a atividade também se concentrou em áreas restritas (figura
29) (tabela 8).
Tabela 9 – Distribuição espacial dos lances de pesca das embarcações arrendadas de emalhe de
fundo entre 2001 e 2002, Índice de Morisita Padronizado para cada embarcação.
79
Índice da Amplitude Latitudinal
80
Tabela 10 – Amplitudes Latitudinais médias para os sete trimestres da pescaria arrendada de
emalhe profundo na ZEE brasileira. Valores entre parênteses são amplitudes máximas e mínimas.
81
Sands que percorreu em média cerca de 4 graus latitudinais em suas viagens
chegando ao máximo de 8,601 graus.
Adotou-se para efeito de classificação da estratégia espacial de pesca a
mediana dos valores de Amplitude Latitudinal calculados (1,858) sendo que
viagens com amplitudes inferiores a esse valor foram interpretadas como aquelas
onde a embarcação adotou uma estratégia estacionária e viagens com amplitudes
superiores resultado de uma estratégia móvel (tabela 12).
Tabela 12 – Índice de Amplitude latitudinal calculado para cada viagem de pesca da frota
arrendada de emalhe monitorada por rastreamento satelital
Embarcação Viagem Amplitude Latitudinal Estratégia espacial
Antoxo 1 4,701 Móvel
Antoxo 2 1,454 Estacionária
Antoxo 3 1,717 Estacionária
Antoxo 4 1,950 Móvel
Antoxo 5 2,713 Móvel
Antoxo 6 4,391 Móvel
Antoxo 7 0,593 Estacionária
Antoxo 8 1,624 Estacionária
Antoxo 9 0,831 Estacionária
Antoxo 10 2,983 Móvel
Antoxo 11 3,140 Móvel
Antoxo 12 1,651 Estacionária
Antoxo 13 2,254 Móvel
Antoxo 14 2,058 Móvel
Belen 1 1,634 Estacionária
Belen 2 2,150 Móvel
Belen 3 3,625 Móvel
Belen 4 0,807 Estacionária
Belen 5 1,002 Estacionária
Belen 6 2,257 Móvel
Belen 7 0,756 Estacionária
Belen 8 0,901 Estacionária
Eder Sands 1 1,416 Estacionária
Eder Sands 2 1,531 Estacionária
Eder Sands 3 8,601 Móvel
Eder Sands 4 7,715 Móvel
Eder Sands 5 1,580 Estacionária
Eder Sands 6 2,007 Móvel
Juno 1 2,295 Móvel
Juno 2 2,083 Móvel
Juno 3 1,316 Estacionária
Juno 4 1,067 Estacionária
Juno 5 4,840 Móvel
Juno 6 5,227 Móvel
Juno 7 2,993 Móvel
Juno 8 0,412 Estacionária
Juno 9 2,930 Móvel
Sin Comentários 1 0,877 Estacionária
Sin Comentários 2 3,144 Móvel
Sin Comentários 3 5,808 Móvel
Sin Comentários 4 3,506 Móvel
82
Embarcação Viagem Amplitude Latitudinal Estratégia espacial
Sin Comentários 5 1,834 Móvel
Sin Comentários 6 0,901 Estacionária
Slebech 1 3,449 Móvel
Slebech 2 1,852 Móvel
Slebech 3 3,048 Móvel
Slebech 4 2,350 Móvel
Slebech 5 1,497 Estacionária
Slebech 6 1,434 Estacionária
Slebech 7 3,338 Móvel
South Coast 1 4,400 Móvel
South Coast 2 5,562 Móvel
South Coast 3 0,188 Estacionária
South Coast 4 0,161 Estacionária
South Coast 5 0,250 Estacionária
South Coast 6 0,531 Estacionária
South Coast 7 6,924 Móvel
South Coast 8 0,489 Estacionária
Suffolk Chieftain 1 1,858 Móvel
Suffolk Chieftain 2 4,468 Móvel
Suffolk Chieftain 3 1,751 Estacionária
Suffolk Chieftain 4 1,096 Estacionária
Suffolk Chieftain 5 3,825 Móvel
Suffolk Chieftain 6 1,593 Estacionária
Suffolk Chieftain 7 1,398 Estacionária
Suffolk Chieftain 8 1,286 Estacionária
Suffolk Chieftain 9 1,567 Estacionária
Suffolk Chieftain 10 0,965 Estacionária
Titan 1 0,245 Estacionária
Titan 2 2,054 Móvel
Titan 3 2,054 Móvel
83
Figura 39 Distribuição das amplitudes latitudinais das viagens de pesca de emalhe adotadas por cada embarcação arrendada na ZEE brasileira entre 2001 e
2002. A linha horizontal delimita as viagens consideradas estacionárias (abaixo) daquelas móveis (acima).
84
As estratégias espaciais definidas como móvel ou estacionária distribuíram-
se equitativamente entre as viagens realizadas por toda a frota durante todo o
período (p= 0,909, tabela 13). As embarcações Belen, South Coast e Suffolk
Chieftain foram aquelas que tiveram menor mobilidade latitudinal durante o
período de exploração na ZEE brasileira (com cerca de 30% das viagens sendo
móveis). As mais móveis, por outro lado foram as embarcações Juno e Titan,
aquelas que iniciaram a pescaria em 2001 (tabela 10). Em nenhuma embarcação,
no entanto a divisão das estratégias desviou significativamente da equitatividade,
de acordo como teste de Chi-quadrado.
85
posteriormente buscaram pescar de uma forma mais estacionária. Por último,
buscou-se avaliar como as estratégias se distribuíram em relação às restrições
legais de espaço (rotação de estratos latitudinais) aos quais foram submetidas
sete das nove embarcações arrendadas (figura 40). Em geral as embarcações
sem restrições de espaço foram mais móveis, no entanto vale lembrar que os
estratos latitudinais tinham cerca de cinco graus de extensão o que significa que
mesmo dentro de suas áreas legais de operação as embarcações submetidas à
essa restrição podiam se comportar de forma móvel de acordo com o critério
estabelecido (>1,8 graus de amplitude latitudinal).
A B
30 10
8
Número de viagens
Número de viagens
20
6
4
10
0 0
2001 2002 1 2 3 4 5 6 7
Ano Trimestres
20 D 20
C
15 15
Número de viagens
Número de viagens
10 10
5 5
0 0
C N S 1 2 3
Estrato Latitudinal Período de entrada
Figura 40.- Distribuição das estratégias espaciais adotadas pela frota arrendada de emalhe na
ZEE brasileira em função do ano (A, p = 0,088), trimestres (B, p= 0,456), estrato latitudinal (C, p =
0,240) e Período de entrada na pescaria (D, p= 0,283). As barras brancas representam estratégias
estacionárias e as barras pretas, estratégias móveis.
86
A
20
15
Número de viagens
10
0
1 2
Resrição espacial
Figura 41 – Distribuição das estratégias espaciais adotadas pela frota arrendada de emalhe na
ZEE brasileira em função da existência (2) ou não (1) de restrições legais espaciais para as
embarcações (p = 0,120). As barras brancas representam estratégias estacionárias e as barras
pretas, estratégias móveis.
87
Figura 42 – Variação das capturas totais obtidas pela frota arrendada de emalhe na ZEE brasileira
como função da estratégia espacial adotada. Estratégia estacionária e Estratégia móvel.
Tabela 14. Análise de Variância aplicada às capturas totais de peixe-sapo obtidas pela frota
arrendada na ZEE brasileira (variável dependente) como função dos fatores: Restrição espacial,
Estrato latitudinal, Estratégia espacial e Ano).
GL Média dos quadrados F P
Restrição espacial 1 9, 815 4,927 0,030
Estrato latitudinal 2 8,184 0,411 0.665
Estratégia espacial 1 8,054 4,043 0,048
Ano 1 3,287 1,650 0,203
Erro 71 1,992
88
4.4.2. AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DE PESCA COM BASE NA TEORIA DO
FORRAGEAMENTO ÓTIMO
Tabela 15 – Relação do número de pesqueiros visitados pela embarcação Juno, pesqueiros não
explorados, pesqueiros explorados e total de pesqueiros.
89
O Tempo de Procura (Ts), calculado a partir dos lances de pesca, permitiu
estimar o tempo de viagem entre cada pesqueiro e o tempo total de procura por
viagem, enquanto que com dados do rastreamento somente o tempo total de
procura da viagem pôde ser estimado. Os valores de tempo de procura estimados
para as duas fontes de dados foram diferentes, os dados dos lances de pesca
indicaram que a embarcação passou em média 5 dias realizando procura,
enquanto que o tempo total de procura por viagem, gerada a partir dos dados do
rastreamento indicou que a embarcação passou em média 7 dias realizando
procura. Já o tempo médio de viagem entre pesqueiros, estimado com os lances
de pesca, foi de 0,9 dias, este resultado indica que, de forma geral, a embarcação
não se deslocou por grandes distâncias à procura de pesqueiros (tabela 16).
Tabela 16 – Tempo de Procura por pesqueiros para cada viagem de pesca da embarcação
arrendada Juno, valores de tempo de procura total por viagem e tempo médio de viagem entre
pesqueiros estimados com os dados de Observadores de Bordo e tempo de procura total por
viagem estimados com dados de rastreamento via satélite.
Viagem Tp.obs viagem Tp.obs médio Tp.rastro viagem
1 7,42 0,82 3,93
2 1,51 0,22 6,72
3 10,94 1,82 12,04
4 4,10 0,82
5 5,27 0,48 11,50
6 3,30 0,25 13,67
7 1,69 0,24 6,83
8 9,21 3,07 0,67
9 2,04 0,41 3,67
Média 5,05 0,90 7,38
Desvio padrão 3,44 0,96 4,63
90
Tabela 17 – Taxa de encontro (pesqueiros por dia de procura), estimada para as duas fontes de
dados.
Pesqueiros Taxa de encontro
Pesqueiros Total de Taxa de encontro
Viagem não rastreamento via
explorados pesqueiros lances de pesca
explorados satélite
1 4 6 10 1,35 2,55
2 4 4 8 5,31 1,19
3 1 6 7 0,64 0,58
4 1 5 6 1,46
5 6 6 12 2,28 1,04
6 8 6 14 4,24 1,02
7 2 6 8 4,73 1,17
8 4 4 0,43 6,01
9 2 4 6 2,94 1,64
Média 3,50 5,22 8,33 2,60 1,90
Desvio
2,51 0,97 3,16 1,81 1,76
padrão
91
iniciaram com valores de cerca de 2.000 US$/dia e terminaram com 326US$/dia,
chegando a um mínimo de -83,31 US$/dia na quinta viagem. Durante a sétima
viagem, encontrou uma grande concentração do recurso na borda no cânion de
Rio Grande, região ainda não explorada até aquele momento, proporcionando
taxas de retorno energético de cerca de 950 US$/dia e novamente diminuindo a
cada viagem apresentando cerca de 136 US$/dia (figura 45).
Figura 45 – Taxa de retorno mediano para cada viagem de pesca da embarcação Juno. As linhas
horizontais, dentro dos retângulos, representam a mediana; os limites superior e inferior dos
retângulos representam os quartis 75% e 25% da distribuição dos dados, as linhas horizontais, na
extremidade das linhas tracejadas representam 1,5 vezes o intervalo interquantil; e os círculos
representam os outliers.
92
Figura 46 – Tempo de permanência nos diferentes pesqueiros explorados de cada viagem de
pesca da embarcação Juno. As linhas horizontais, dentro dos retângulos, representam a mediana;
os limites superior e inferior dos retângulos representam os quartis 75% e 25% da distribuição dos
dados, as linhas horizontais, na extremidade das linhas tracejadas representam 1,5 vezes o
intervalo interquantil; e os círculos representam os outliers.
93
Tabela 18 – Relação dos parâmetros ajustados às curvas de ganho a partir do modelo logístico.
94
De maneira geral, o abandono do pesqueiro ocorreu em torno de 30% após
o tempo ótimo estimado (tabela 19). Cabe ressaltar que nesta análise os valores
Tabela 19 – Estimativa do Tempo ótimo de desistência para cada pesqueiro explorado pela
embarcação Juno.
Proporção
Tempo Ganho Tempo de
Número Tempo de Ganho de
Nome do ótimo de acumulado / permanência
Viagem do permanência acumulado permanência
pesqueiro desistência Tempo de após tempo
pesqueiro (dias) (US$) após tempo
(dias) permanência ótimo (dias)
ótimo
1 1 233 18 42 102.047,81 2.429,71 24 0,57
1 2 234 18 38 66.260,98 1.743,71 20 0,53
1 3 236 19 17 47.241,37 2.778,90 -2 -0,12
1 4 237 5,5 9 17.145,86 1.905,10 3,5 0,39
1 5 240 4,5 6 8.041,49 1.340,25 1,5 0,25
1 6 241 6 8 4.490,32 561,29 2 0,25
2 7 243 6 9 15.660,38 1.740,04 3 0,33
2 8 248 32 50 94.865,23 1.897,30 18 0,36
2 9 249 17 46 94.914,30 2.063,35 29 0,63
2 10 250 13 16 28.148,77 1.759,30 3 0,19
3 11 251 14,5 17 4.494,89 264,41 2,5 0,15
3 12 252 58 63 125.033,13 1.984,65 5 0,08
3 13 253 9 14 12.010,24 857,87 5 0,36
3 14 254 46 48 78.549,32 1.636,44 2 0,04
3 15 255 31 31 82.684,71 2.667,25 0 0,00
3 16 257 13 17 35.588,64 2.093,45 4 0,24
4 17 258 23 39 19.948,40 511,50 16 0,41
4 18 260 32 48 43.632,70 909,01 16 0,33
4 19 261 49 58 177.956,34 3.068,21 9 0,16
4 20 262 51 55 31.187,12 567,04 4 0,07
4 21 263 22 39 32.751,17 839,77 17 0,44
5 22 266 - 8 -241,19 -30,15
5 23 268 - 19 -3.100,44 -163,18
5 24 269 - 33 -5.757,68 -174,48
5 25 271 48 63 19.402,02 307,97 15 0,24
5 26 272 - 63 1.344,20 21,34
5 27 275 6 10 8.377,54 837,75 4 0,40
6 28 277 7 11 7.658,95 696,27 4 0,36
6 29 282 3 4 900,31 225,08 1 0,25
6 30 283 - 24 46,67 1,94
6 31 284 24 39 53.128,61 1.362,27 15 0,38
6 32 285 6 25 3.582,04 143,28 19 0,76
6 33 287 - 4 981,30 245,32
7 34 287 - 28 1.705,11 60,90
7 35 291 11 26 16.754,86 644,42 15 0,58
7 36 294 32 57 83.258,51 1.460,68 25 0,44
7 37 295 27 60 127.553,20 2.125,89 33 0,55
7 38 296 - 22 5.439,55 247,25
7 39 297 11 19 29.905,86 1.573,99 8 0,42
8 40 298 50 68 36.430,79 535,75 18 0,26
8 41 299 14 43 5.372,56 124,94 29 0,67
8 42 300 58 67 57.185,51 853,52 9 0,13
8 43 301 39 51 24.164,28 473,81 12 0,24
9 44 304 31 37 13.226,36 357,47 6 0,16
9 45 305 - 14 -29,99 -2,14
9 46 306 23 35 6.576,82 187,91 12 0,34
9 47 307 5,5 13 4.762,77 366,37 7,5 0,58
95
30000 120000
25000 100000
20000 80000
15000 60000
10000 40000
5000 20000
0 0
-1 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 -1 4 9 14 19 24 29 34 39 44 49
Tempo de permanência (dias) Tempo de permanência (dias)
16000 35000
Taxa de retorno líquido acumulado
0 0
-1 4 9 14 19 24 29 34 39 -1 4 9 14 19 24 29 34 39 44
Tempo de permanência (dias) Tempo de permanência (dias)
Figura 47 – Exemplos de curvas de ganho observadas na exploração dos pesqueiros da embarcação Juno com o modelo logístico ajustado. A reta inclinada
é referente ao valor marginal e a seta indica o tempo ótimo de desistência.
96
5. DISCUSSÃO
97
Através do tratamento dos dados de rastreamento buscou-se, entretanto,
distinções de maior resolução temporal, em particular de atividades específicas
realizadas durante a fase de trânsito nas áreas de pesca. Nesse sentido a
principal limitação adveio do reduzido volume de dados diários de rastreamento
(seis posições diárias) e o grande espaçamento (quatro horas) entre essas
transmissões o que teve como conseqüência: (a) a subestimação de velocidades
médias para todo o período nas áreas de pesca e (b) a não detecção de
mudanças de velocidades ocorridas em períodos inferiores a quatro horas. Com
isso, algumas atividades realizadas pela embarcação principalmente durante o dia
(quando de fato ocorrem as atividades de recolhimento e lançamento de redes)
não foram discriminadas. Um estudo detalhado de diversas pescarias, incluindo a
pesca de emalhe, utilizando dados de rastreamento na costa noroeste dos
Estados Unidos entre 2002 e 2006 analisou posições geográficas transmitidas
com intervalos de 30 minutos a uma hora (PALMER & WIGLEY, 2007). Com essa
freqüência de registros as velocidades de recolhimento e lançamento de redes
puderam ser estimadas para as embarcações de pesca de emalhe em 0,6 e 3,0
nós, respectivamente, valores estes não distantes daqueles registrados pelos
observadores de bordo na frota arrendada de emalhe do Brasil (0,53 e 4,6 nós
respectivamente). Isso sugere que, com o devido aumento das freqüências de
transmissão, o potencial de aprimoramento da informação gerada pelo
rastreamento satelital no Brasil possa aumentar significativamente não apenas no
sentido de permitir a descrição mais detalhada das atividades de pesca
desenvolvidas como também de fazer predições sobre esforço e capturas em
viagens de pesca como demonstrado por Palmer & Wigley (2007). De fato, o
quadro brasileiro deverá mudar rapidamente nesse sentido com a recente
implementação do Programa Nacional de Rastreamento de Embarcações
Pesqueiras por Satélite – PREPS onde a freqüência de transmissão de
posicionamento entre 30 minutos à uma hora passou a ser exigida como critério
de cadastramento dos sistemas comerciais de rastreamento disponíveis à frota
pesqueira nacional (SEAP/IBAMA, 2006a).
Concretamente, as estimativas de velocidade geradas pelos dados de
rastreamento satelital para embarcações arrendadas durante o período do dia,
indicaram que estas embarcações passaram cerca de 90% do tempo deslocando-
se com velocidades inferiores a quatro nós o que corroboraria a atividade de
98
pesca (incluindo-se lançamento e recolhimento de redes). Igualmente, também
sugeriram que, em geral, o tempo de deslocamento entre pesqueiros é muito
limitado (10%) o que, em parte, dá suporte às estratégias espaciais de pesca
freqüentemente agrupadas ou “estacionárias” (ver abaixo) e também aos
resultados apresentados em estudos pretéritos dessa pescaria que apontam para
depleções localizadas de biomassa de peixe-sapo como função dessa
estacionalidade (PEREZ et al., 2005). Por outro lado, foi possível demonstrar que
intervalos de tempo classificados pelos dados de rastreamento como “atividade de
pesca” puderam ser relacionados linearmente com a duração das atividades de
lançamento e recolhimento de redes tal qual registradas simultaneamente a bordo
por observadores. Esta duração explicou 72% da variabilidade das previsões
feitas pelos dados de rastreamento e, enquanto estas tenderam a ser maiores que
os períodos reais de pesca, foi evidente que com a devida relação estabelecida
entre as duas variáveis obtidas independentemente, pode-se transformar
previsões feitas pelos dados de rastreamento em estimativas de tempo de pesca
dentro de certos limites de confiabilidade.
Considerando-se as distinções possíveis de serem feitas diretamente com o
tipo de registro geográfico gerado pelo sistema de rastreamento satelital
empregado pela frota arrendada, bem como as também possíveis transformações
discutidas acima, poder-se-ia em princípio, delinear áreas concretas de aplicação
desse instrumento na avaliação e gestão da pesca no Brasil.
Inicialmente a ação de monitoramento da pesca ganha uma maior
amplitude não apenas no sentido de se conhecer “onde” se encontra uma
embarcação em qualquer momento, mas também uma estimativa independente
da sua provável atividade. Com isso medidas espaciais e temporais de
ordenamento podem ser efetivamente controladas incluindo-se aí restrições de
pesca em determinadas áreas e/ou épocas, rotação de áreas de pesca entre
outras. No caso específico da pesca arrendada de emalhe, o sistema de
rastreamento demonstrou-se eficiente para detectar, em tempo real, o
cumprimento da obrigatoriedade de mudança trimestral de área de pesca, que
tinha o objetivo central de evitar a concentração de esforço em pequenas áreas
(PEREZ et al, 2002c). Isto é, a informação gerada permitia a inferência precisa de
atividade de pesca (ou navegação lenta) dentro ou fora das áreas pré-
determinadas para cada embarcação. Essa experiência motivou a inclusão de
99
duas “áreas de exclusão de pesca” no plano de manejo implementado em 2005
para a pescaria do peixe-sapo (PEREZ et al., 2002c), delimitadas por polígonos
nas regiões Sudeste e Sul, não apenas como forma de reduzir as capturas dessa
espécie como, principalmente de componentes freqüentes da fauna
acompanhante das redes de emalhe como o cherne-poveiro (Polyprion
americanus) (PEREZ & WAHRLICH, 2004). Sua eficácia, no entanto, não foi
avaliada devido ao descumprimento da frota permissionada em manter a bordo
equipamentos de rastreamento satelital devidamente operantes. Áreas de
proteção marinha têm sido elementos recentemente destacados na gestão da
pesca brasileira tanto em áreas costeiras quanto oceânicas (FERREIRA &
MAIDA, 2007; PRATES, 2007; PEREZ, 2007). É evidente que a implementação
destas áreas não poderá, no futuro, dissociada do instrumento VMS.
O uso do rastreamento na pesca arrendada de emalhe também foi
determinante para identificar outras transgressões legais como a “fuga” das águas
brasileiras com capturas não reportadas de peixe-sapo realizada por uma
embarcação, não incluída neste estudo, que, durante sua primeira e única
operação de pesca na ZEE brasileira, buscou a comercialização de suas capturas
no porto internacional de Montevidéu. Registros de navegação rápida na rota do
limite sul da ZEE brasileira foram suficientes para alertar antecipadamente as
autoridades governamentais de ambos os países. Considerando que a pesca
profunda e a pesca oceânica tendem a ocorrer em vastas áreas próximas dos
limites das ZEEs e mesmo em águas internacionais, sistemas de VMS se
apresentam como elemento condicionante para o controle de atividades IUU
(Illegal, Unregulated and Unreported) particularmente no contexto de
organizações regionais de ordenamento pesqueiro como a ICCAT e a CCAMLR
as quais o Brasil participa como membro contratante.
Finalmente a possibilidade de identificação de determinados intervalos de
tempo com a duração de diferentes atividades da embarcação apontam para o
potencial de conversão desses intervalos em medidas de esforço de pesca com
elevada resolução espacial. Adicionalmente, estudos têm demonstrado que a
avaliação da distribuição do esforço e do tempo de permanência com velocidade
de pesca baseado em estimativas de velocidade de deslocamento também
permitem fazer, de forma relativamente simples e precisa, inferências sobre (a) a
intensidade de pesca em um curto intervalo de tempo (MURAWSKI et al., 2005;
100
MILLIS, 2007); (b) o potencial impacto ambiental da atividade pesqueira em uma
determinada extensão espacial (RIJNSDORP, et al,. 1998; DENG et al. 2005;
HIDDINK et al., 2006) e (c) os padrões de uso do espaço marinho por
embarcações pesqueiras e suas aplicações no manejo ecossistêmico de algumas
pescarias (WITT & GODLEY, 2007). Historicamente, dados de captura e esforço
de pesca têm sido coletados principalmente para se obter índices espaciais e
temporais de abundância, úteis para a avaliação de estoques. Embora a pescaria
seja inegavelmente uma rica fonte de informação sobre a exploração dos recursos
pesqueiros, índices de abundância derivados de dados de captura e esforço de
pesca podem ser deficientes em representar com precisão alguns padrões
populacionais e diversas críticas sobre a relação entre captura por unidade
esforço (CPUE) e abundância estão bem estabelecidas na literatura pesqueira
(DORN, 2001; GILLS & PETERMAN, 1998; GILLS, 2003). A incorporação dos
padrões de alocação do esforço de pesca em micro-escala e da dinâmica de
exploração dos recursos aos modelos populacionais têm sido apontados como as
formas mais indicadas de se avaliar a abundância dos estoques (RIJNSDORP et
al., 1998), principalmente em pescarias onde os recursos se distribuem por
diversas áreas (HOLLAND & SUTINEN, 2000). Nesse sentido, a identificação do
VMS como instrumento de coleta de informações pesqueiras gera a perspectiva
não apenas da resolução espacial de pequena escala, como também da geração
simultânea e independente dessas informações em frotas grandes e diversas. Em
geral essas são deficiências encontradas em outros instrumentos de coleta de
informação.
No Sudeste-Sul do Brasil três instrumentos gerais de coleta de informação
de captura e esforço têm sido utilizados cada qual com suas peculiaridades em
termos de abrangência e resolução. São eles: Mapas de Bordo, Entrevistas de
Cais e Observadores de Bordo (CTTMAR/UNIVALI, 2007). Observadores de
Bordo permitem o acompanhamento mais detalhado das operações de pesca e
geram registros de captura e esforço com a máxima resolução espacial. Sua
aplicação intensiva na pesca arrendada profunda no Brasil permitiu a avaliação
dos estoques de peixe-sapo, caranguejos-de-profundidade, peixes de talude e
camarões-de-profundidade em curto-prazo (PEREZ et al., 2005; PEZZUTO et al.,
2006; PEREZ, 2007; DALLAGNOLO, 2008). No entanto, as perspectivas de sua
utilização na pesca nacional brasileira deve se restringir, por razões econômicas,
101
a parcelas das operações de pesca, num sistema amostral. Ou seja, é um sistema
de alta resolução, mas com abrangência limitada. Mapas de Bordo têm sido
elaborados historicamente no país para gerarem informações lance-a-lance de
pesca e, portanto, em tese, de elevada resolução. A deficiência reside, no
entanto, no fato de sua elaboração não ser independente, dependendo da
vontade do mestre da embarcação em gerar dados fidedignos e com o esperado
detalhamento. Na prática, também, embora seja um instrumento de entrega
obrigatória a todas as embarcações de pesca, pequenos níveis de retorno têm
sido comuns, ou seja, também têm baixa abrangência. Entrevistas de Cais são
realizadas em um sistema amostral durante visitas aos portos de pesca (ver
PEREZ et al., 1998) onde tenta-se reconstruir o histórico geral da viagem de
pesca através de um questionário aplicado ao mestre de uma embarcação
durante o desembarque. Embora a cobertura das operações de pesca possa ser
elevada em alguns portos (CTTMAR/ UNIVALI, 2007), sua abrangência não é
100% e sua resolução espacial e temporal é baixa. Nesse sentido a
obrigatoriedade de utilização de sistemas VMS em toda a frota pesqueira
industrial brasileira, associado à possibilidade de inter-calibração dos dados
gerados por esses sistemas com aqueles registrados por Observadores de Bordo
e outros sistemas, podem multiplicar a geração de informação de captura e
esforço e suprir as deficiências acima tanto em termos de abrangência quanto em
resolução espaço-temporal.
102
restritos de distribuição de peixes e invertebrados, recursos-alvo da pesca
profunda. Por outro lado, em virtude da própria morfologia do talude e da
configuração da margem continental brasileira, maior variabilidade espacial pôde
ser caracterizada no sentido latitudinal diferenciando-se assim operações de
pesca que “optaram” por explorar, em cada viagem, estratos latitudinais mais ou
menos amplos. Definiram-se assim critérios para a classificação de dois tipos de
estratégias espaciais envolvendo estacionalidade ou mobilidade latitudinal.
Em geral, ambas as estratégias foram adotadas igualitariamente pelas
embarcações arrendadas. As razões associadas a “escolha” entre uma ou outra
estratégia, no entanto, foram pouco claras. Fatores temporais, espaciais e
relacionados às restrições legais foram pouco significativos sugerindo que
elementos inerentes às tripulações e empresas, não considerados aqui, possam
ter se sobressaído nessas escolhas. Entretanto alguns padrões descritivos
observados na adoção das diferentes estratégias podem ser explorados.
O primeiro trimestre foi marcado pela atuação quase que exclusiva de duas
embarcações as quais tenderam a iniciar suas atividades pela porção norte (costa
do Rio de Janeiro), onde tradicionalmente a espécie era capturada e
comercializada localmente pela pesca de arrasto, mas que ainda assim realizaram
deslocamentos latitudinais relativamente amplos para a localização de melhores
pesqueiros demonstrando uma predominância de viagens consideradas “móveis”
(PEREZ et al., 2002d). Observando-se a distribuição da frota já no segundo
trimestre, quando outras três embarcações já se encontravam em operação,
observa-se a existência de posições de pesca em quase toda a amplitude
latitudinal e com alguns pesqueiros já delimitados como preferidos pela frota em
atuação. Com isso evidencia-se nesse trimestre e também no terceiro um
aumento das viagens classificadas como “estacionárias”, viagens estas que
tenderam a se intensificar até o final da pescaria em outubro de 2002. Nota-se,
porém, um período de predominância de viagens “móveis” no quarto trimestre de
2001 possivelmente associado a uma “re-acomodação” das embarcações nos
fundos de pesca. A análise da variação temporal da biomassa do peixe-sapo
realizada durante 2001 indicou uma redução entre 60 – 40% da biomassa do
peixe-sapo no quarto trimestre, o que possivelmente tenha sido o motivador dessa
estratégia (PEREZ et al., 2005).
103
A análise aprofundada do comportamento de uma embarcação específica
tomando como base as previsões de um modelo de otimização de rendimentos
permitiu avaliar de forma mais detalhada os elementos associados às escolhas de
estratégia espacial. Essa análise levou em consideração que sistemas biológicos
são extremamente complexos, e o nosso conhecimento sobre as leis que regem
as suas componentes muitas vezes não são detalhadas o suficiente para permitir-
nos uma adequada interpretação. No entanto, normalmente é possível reduzir a
complexidade de muitos sistemas biológicos, fazendo uma série de pressupostos
que nos permite substituir o sistema real por um modelo imaginário. Se as nossas
hipóteses são razoáveis e realistas, o modelo será então aplicável ao verdadeiro
sistema biológico (RAMAKRISHNA RAO, 2000).
As curvas de ganho de rendimento acumulado durante a permanência da
embarcação em um determinado pesqueiro ajustaram-se preferencialmente ao
modelo logístico, que caracteristicamente apresenta três fases com declividades
distintas. Stephens & Krebs (1986) atribuem as diferentes declividades deste tipo
de modelo à forma com que o predador encontra as presas contidas em dada
agregação, sugerindo que, por algum motivo, no início da exploração de dada
agregação o forrageador tem pouco sucesso em capturar as presas nela contidas
(e.g. capacidade das presas em evitar o predador), em um segundo momento o
predador supera a dificuldade inicial aumentando consideravelmente o retorno
energético, porém ao depletar os recursos contidos nesta agregação a densidade
de presas diminui fazendo com que a taxa de retorno líquido sofra uma nova
desaceleração.
Na pescaria do peixe-sapo a interpretação inicial do ajuste a tais modelos
implicaria em uma baixa eficiência nas capturas durante os primeiros 5 - 10 dias
após o lançamento das redes, um período semelhante de rápido incremento das
capturas e um período final de “saturação”. Considerando que se trata de um
método passivo, pode-se especular que a rede exerça algum tipo de “atração” às
concentrações locais de peixe-sapo a qual se intensifica apenas após algum
período de imersão e que é efetiva dentro de uma área delimitada de atuação
provocando o esvaziamento da área e as depleções localizadas já reportadas por
análises específicas das capturas (PEREZ et al., 2005).
Uma hipótese plausível é que considerando a baixa mobilidade da espécie,
as redes só exerceriam tal atração depois de passar algum tempo imersas e
104
serem “iscadas”, ou seja, acumularem capturas não-intencionais que atrairiam
predadores como o peixe-sapo (PEREZ et al., 2002c). Como rotina diária de
trabalho desta pescaria se resumiu em passar grande parte do dia recolhendo
uma única rede de pesca, relançando-a no final do dia e o tempo de imersão de
cada rede era o mesmo, a quantidade de redes que as embarcações dispunham
era tantas quanto o tempo de imersão. Agora supondo que em uma viagem
hipotética a embarcação explora apenas um pesqueiro, poderíamos supor que o
primeiro dia de permanência seria destinado a lançar todas as redes e no
segundo dia em diante ocorreria à operação rotineira. Assumindo que a eficiência
do petrecho é dependente da “iscagem” e em todos os dias ocorre um
recolhimento, o tempo de imersão das primeiras redes recolhidas seria menor e
conseqüentemente a capturabilidade também. Dessa forma, o formato observado
das curvas de ganho poderia ser atribuído a estas características operacionais,
onde inicialmente a taxa de retorno líquido seria menor devido à baixa eficiência
de captura, seguido de um sensível aumento proporcionado pela igualdade do
tempo de imersão de cada rede, e finalmente voltando a diminuir com a redução
da densidade de peixe-sapo provocada pela de captura.
Contribuem a essa hipótese o fato de que a espécie é caracterizada por
movimentos lentos e que passa prolongados períodos camuflada ao substrato
“esperando” a passagem de alguma presa potencial e raramente migrando
(ALMEIDA et al., 1995; HARTLEY, 1995; AZEVEDO, 1996; DUARTE et al., 2001).
Um motivador da movimentação até as redes de emalhe pode ter sido o fato de
que estas produzem uma abundante e diversa captura não-intencional composta
principalmente dos caranguejos-de-profundidade (Chaceon spp.), caranguejos-
aranha (Fam. Majidae) e uma variedade de peixes e lulas demersais de hábitos
principalmente bentônicos ou bentopelágicos (PEREZ & WAHRLICH, 2005). Entre
estas espécies foram constatadas com freqüência a merluza (Merluccius hubbsi),
o calamar-argentino (Illex argentinus) além de Polimixia lowey componentes da
dieta do peixe-sapo particularmente nas áreas de talude do Sudeste e Sul (MUTO
et al., 2005). Durante períodos de imersão prolongados crescentes, numerosas
carcaças foram registradas nas redes recolhidas evidenciando a intensa atividade
“carniceira” nas redes de fundo. (PEREZ et al., 2002c).
No que se refere aos padrões de permanência da embarcação estudada
sobre um único pesqueiro, deve-se considerar que um pescador típico depende
105
de indicadores ambientais para tomar a decisão de parar de pescar na área que
está e mover-se para outra. Estes indicadores vêm da percepção que o pescador
tem sobre a densidade do estoque. Clark (1985) apud Begossi (1992) define que
os pescadores decidem a forma de como exploram um determinado pesqueiro
apresentam comportamentos de tomada de decisão ativos ou passivos. O
comportamento ativo considera simultaneamente a captura esperada e a troca de
informação enquanto que o comportamento passivo é baseado em informações
atualizadas do pesqueiro. O comportamento observado na embarcação Juno
indicou que esta tende a permanecer em um pesqueiro um tempo cerca de 30%
maior do que o tempo ótimo de desistência estimado pelo modelo aplicado. Isto
pode ser interpretado com uma estratégia passiva, ou seja, a decisão de
abandonar a área e se mover para outra pode ter sido baseada nas atuais taxas
de captura. Neste caso deve-se considerar que a referida “percepção” do
pesqueiro deve sofrer uma defasagem significativa pelo fato da primeira caceia
ser recolhida apenas três a quatro dias após o primeiro lançamento e,
principalmente, por haverem outras redes operando simultaneamente. Assim,
apenas quando todo um conjunto de redes foi recolhido e relançado, pode-se ter
uma idéia do “nível de densidade” do pesqueiro. Por último mesmo tendo-se
tomado uma decisão de mudança, são necessários cerca de quatro dias para o
recolhimento completo de um conjunto de quatro caceias, usualmente utilizado
pela embarcação Juno. Esses fatores devem dificultar a mobilidade das
operações de pesca mesmo mediante a troca de informação entre as
embarcações sobre a disponibilidade dos recursos que foram diversas vezes
relatadas pelos Observadores de Bordo.
Contudo, um predador pode se beneficiar por não abandonar o local que
está explorando imediatamente no tempo predito porque ele pode dispor de
informações de que o rendimento do atual pesqueiro explorado é melhor do que
os demais. Outra possível explicação para o longo tempo de permanência do
pescador é que os pesqueiros alternativos estão sendo ocupados por
embarcações competidoras (BEGOSSI, 1992). Estas duas explanações de fato
são condizentes com a realidade da pescaria, tanto a informação da
disponibilidade do recurso quanto a área de atuação das demais embarcações
era de conhecimento desta embarcação. Sendo assim, a permanência em um
pesqueiro por um tempo mais longo que o tempo predito, mesmo apresentando
106
uma redução dos rendimentos provavelmente era mais vantajosa do que gastar
combustível se deslocando para outra área com rendimentos similares e com a
possibilidade de ter que disputar o recurso com outra embarcação. O maior tempo
de permanência gasto nos pesqueiros pode ser visto como uma estratégia não
conservativa, onde a intenção da exploração de pesca não era a manutenção da
taxa de retorno líquido ao longo do tempo. De forma geral todas as embarcações
permaneceram por longos intervalos de tempo em um mesmo intervalo de latitude
até que a taxa de retorno líquido sofresse uma acentuada queda.
A teoria do forrageamento ótimo, em particular o teorema do valor
marginal, é uma ferramenta útil para analisar as estratégias de pesca empregadas
pelas embarcações. Através destes conceitos é possível (a) aprimorar o manejo
de áreas, dimensionando a quantidade de embarcações de uma área, o tempo de
permanências destas na área avaliando as decisões tomadas individualmente
pelas embarcações em operação; (b) estimar previsões de lucro, incorporando
variáveis econômicas e permitindo predizer a rentabilidade das áreas e da
temporada de pesca. A efetiva implementação e operacionalização do
monitoramento via satélite da frota pesqueira no Brasil permitirá a geração de
informações com nível de detalhamento adequado para a realização de análises
do comportamento dinâmico das frotas pesqueiras nacionais.
107
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