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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

Rodrigo Claudino dos Santos

ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DINÂMICO


DA PESCA PROFUNDA DE EMALHE NO
BRASIL ATRAVÉS DA APLICAÇÃO DA
TECNOLOGIA DE MONITORAMENTO DE
EMBARCAÇÕES VIA SATÉLITE E DE
MODELOS DE FORRAGEIO ÓTIMO

Itajaí, SC
2008
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

Rodrigo Claudino dos Santos

ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DINÂMICO


DA PESCA PROFUNDA DE EMALHE NO
BRASIL ATRAVÉS DA APLICAÇÃO DA
TECNOLOGIA DE MONITORAMENTO DE
EMBARCAÇÕES VIA SATÉLITE E DE
MODELOS DE FORRAGEIO ÓTIMO

Dissertação apresentada como requisito final


à obtenção do título de Mestre em Ciências
e Tecnologia Ambiental, Curso de Pós-
Graduação Stricto Sensu em Ciência e
Tecnologia Ambiental, Centro de Ciências
Tecnológicas da Terra e do Mar,
Universidade do Vale do Itajaí

Orientador Dr. José Angel Alvarez Perez

Itajaí, SC
2008
II
RODRIGO CLAUDINO DOS SANTOS

“ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DINÂMICO DA PESCA


PROFUNDA DE EMALHE NO BRASIL ATRAVÉS DA
APLICAÇÃO DA TECNOLOGIA DE MONITORAMENTO DE
EMBARCAÇÕES VIA SATÉLITE E DE MODELOS DE
FORRAGEIO ÓTIMO”

Esta Dissertação foi julgada adequada para a obtenção do título de Mestre em


Ciência e Tecnologia Ambiental e aprovada pelo Programa de Mestrado
Acadêmico em Ciência e Tecnologia Ambiental do Curso de
Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciência e Tecnologia
Ambiental da Universidade do Vale do Itajaí
Centro de Ciências Tecnológicas
da Terra e do Mar.

ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: TECNOLOGIA E GESTÃO AMBIENTAL

Itajaí, SC, 15 de maio de 2008.

_______________________________________________________
Prof. Dr. Claudemir Marcos Radetski
Coordenador do Curso de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciência e Tecnologia Ambiental

_______________________________________________________
Prof. Dr. José Angel Alvarez Perez
Presidente/Orientador

_______________________________________________________
Prof. Dr. Jorge Pablo Castello
Universidade Federal do Rio Grande, FURG – Membro Externo

_______________________________________________________
Prof. Dr. Paulo Ricardo Pezzuto
Universidade do Vale do Itajaí, UNIVALI – Membro Interno

_______________________________________________________
Prof. Dr. Rafael Medeiros Sperb
Universidade do Vale do Itajaí, UNIVALI – Membro Interno

III
Dedicatória

Aos meus pais

IV
Agradecimentos

Inicialmente quero agradecer aos Seres de Luz por me auxiliarem a


reencontrar o caminho que a muito havia perdido, dando-me forças e
reascendendo a minha chama interna, muito obrigado, que Deus nos acompanhe.
Agradeço meus pais por toda a dedicação e privações que passaram para
deixarem o seu maior bem como herança, a educação, sou eternamente grato.
Agradeço ao Angel por ter me convidado para ser orientador da minha
dissertação depositando sua confiança no meu trabalho, sua lucidez e
profissionalismo são sem dúvida exemplo à seguir, muito obrigado.
Não posso me esquecer dos meus amigos Fernando, Dallagnolo e
Sant’Anna que sempre estiveram presentes, a vocês, amigos de fé, tenho a
certeza que terei sua amizade para sempre, muito obrigado.
Agradeço também o meu grande amigo Ribeiro que desde o início esteve
presente sendo muito mais que meu chefe e sim o amigo de todas as horas,
muito obrigado.
Por fim agradeço a todas as pessoas que fizeram parte da minha vida e
estiveram presentes nos diferentes momentos, muito obrigado.

V
“Deixai que os fatos sejam fatos naturalmente, sem que sejam forjados para acontecer,
Deixai que os olhos vejam os pequenos detalhes lentamente,
Deixai as coisas que lhe circundam estejam sempre inertes, como móveis inofensivos para lhe
servir quando for preciso e nunca lhe causar danos, sejam eles morais, físicos ou psicológicos”

Francisco de Assis França

VI
SUMÁRIO

SUMÁRIO ............................................................................................................ VII


LISTA DE FIGURAS ........................................................................................... VIII
LISTA DE TABELAS ............................................................................................ XII
RESUMO ............................................................................................................ XIV
ABSTRACT ......................................................................................................... XVI
1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................1
1.1. O rastreamento satelital e a gestão pesqueira .............................................1
1.2. O rastreamento via satélite e a dinâmica da atividade pesqueira.................6
2. OBJETIVOS ......................................................................................................13
2.1. Objetivo geral .............................................................................................13
2.2. Objetivos específicos:.................................................................................13
3. MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................................14
3.1. Área de estudo ...........................................................................................14
3.2. Operações de pesca de emalhe de fundo de profundidade .......................16
3.3. Dados analisados .......................................................................................17
3.3.1. Tratamento dos dados no sistema RASTRO .......................................20
3.3.1.1. Cálculo do tempo decorrido entre o envio dos dados de posição .20
3.3.1.2. Cálculo da distância percorrida entre o envio de dados ................21
3.3.1.3. Cálculo da velocidade média entre o envio de dados ...................21
3.4. Análise dos dados ......................................................................................24
3.4.1. A dinâmica da exploração do recurso peixe-sapo avaliada a partir de
dados de rastreamento satelital .....................................................................24
3.4.1.1. Tratamento dos dados de rastreamento........................................24
3.4.1.2. Tratamento dos dados de Observadores de Bordo.......................25
3.4.1.3. Validação dos dados de rastreamento ..........................................26
3.4.1.4. Orçamento de tempo.....................................................................27
3.4.1.5. Ocupação da área de pesca .........................................................27
3.4.1.6. Distribuição espacial das operações de pesca..............................28
3.4.2. Avaliação da eficiência de pesca com base na Teoria do
Forrageamento Ótimo ....................................................................................34
3.4.2.1. Dados utilizados ............................................................................35
3.4.2.2.1. Modelo básico.........................................................................36
4. RESULTADOS..................................................................................................46
4.4.1. A dinâmica da exploração do recurso peixe-sapo avaliada a partir de
dados de rastreamento satelital .....................................................................46
4.4.1.1. Tratamento dos dados de rastreamento........................................46
4.4.1.2. Tratamento dos dados de Observadores de Bordo.......................51
4.4.1.3. Validação dos dados de rastreamento ..........................................55
4.4.1.4. Orçamento de tempo.....................................................................59
4.4.1.5. Ocupação da área de pesca .........................................................63
4.4.1.6. Distribuição espacial dos lances de pesca ....................................76
4.4.2. Avaliação da eficiência de pesca com base na teoria do forrageamento
ótimo ..............................................................................................................89
5. DISCUSSÃO .....................................................................................................97
6. BIBLIOGRAFIA ...............................................................................................108

VII
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Mapa batimétrico da área de estudo da pesca arrendada de emalhe


direcionada ao peixe-sapo (Lophius gastrophysus) no Brasil. ..............................14
Figura 2 – Planta da rede de emalhe de fundo utilizada pelas embarcações
arrendadas direcionadas ao peixe-sapo Lophius gastrophysus na ZEE brasileira.
Adaptado de Wahrlich et al. 2004. ........................................................................16
Figura 3 – Representação esquemática da geração e transmissão de dados de
rastreamento via satélite de embarcações pesqueiras. 1) Embarcação pesqueira e
antena de transmissão; 2) Satélite de telecomunicações VMS; 3) Central de
Rastreamento em terra. Retirado de Collecte Localization Satellites – CLS
disponível em <http://www.cls.fr>..........................................................................18
Figura 4 – Representação esquemática da geração e transmissão dos dados de
rastreamento via satélite. ......................................................................................20
Figura 5 – Quadrats utilizados como “amostradores” para a contagem de pontos
de rastreamento das operações de pesca arrendada de emalhe profundo no
Brasil. ....................................................................................................................30
Figura 6 – Representação esquemática do Teorema do Valor Marginal, adaptado
de Charnov (1976). ...............................................................................................45
Figura 7 – Distribuição de freqüência do horário de envio dos dados do
rastreamento via satélite gerados pelas embarcações arrendadas de pesca de
emalhe na ZEE brasileira entre 2001 e 2002........................................................46
Figura 8 – Taxa de transmissão do envio de dados de rastreamento via satélite de
cada viagem de pesca da frota de emalhe de fundo na ZEE brasileira entre 2001
e 2002. ..................................................................................................................47
Figura 9 – Intervalo de tempo médio diário entre transmissões geradas pelas
embarcações arrendadas de pesca de emalhe na ZEE brasileira entre 2001 e
2002, em função da taxa de transmissão. ............................................................48
Figura 10 – Distribuição dos valores de velocidade de deslocamento das
embarcações, agrupados em seis classes de horário correspondendo aos seis
posicionamentos geográficos enviados diariamente do rastreamento via satélite
das embarcações arrendadas de pesca de emalhe na ZEE brasileira entre 2001 e
2002. As linhas horizontais, dentro dos retângulos, representam a mediana; os
limites superior e inferior dos retângulos representam os quartis 75% e 25% da
distribuição dos dados, as linhas horizontais, na extremidade das linhas
tracejadas representam 1,5 vezes o intervalo interquantil; e os círculos
representam os outliers.........................................................................................49
Figura 11 – Mapa batimétrico com a representação dos deslocamentos das
embarcações arrendadas de pesca de emalhe na ZEE brasileira entre 2001 e
2002 durante a execução das viagens de pesca. .................................................50
Figura 12 – Distribuição de freqüência das velocidades médias desenvolvidas em
cada etapa da viagem pelas embarcações arrendadas de pesca de emalhe na
ZEE brasileira entre 2001 e 2002. “a” etapa trânsito do porto à área de pesca e “b”
trânsito na área de pesca......................................................................................51
Figura 13 – Duração das operações de lançamento (“A”) e recolhimento (“B”) das
redes de pesca das embarcações arrendadas de pesca de emalhe na ZEE
brasileira entre 2001 e 2002..................................................................................52
Figura 14 – Horário das distintas atividades de pesca, lançamento e recolhimento
das redes, das embarcações arrendadas de pesca de emalhe na ZEE brasileira

VIII
entre 2001 e 2002. Ri início do recolhimento, Rf final do recolhimento, Li início do
lançamento e, Lf final do lançamento. As linhas verticais, dentro dos retângulos,
representam a mediana; os limites superior e inferior dos retângulos representam
os quartis 75% e 25% da distribuição dos dados, as linhas verticais, na
extremidade das linhas tracejadas representam 1,5 vezes o intervalo interquantil;
e os círculos representam os outliers....................................................................52
Figura 15 – Distribuição de freqüência das velocidades médias desenvolvidas
durante a atividade de pesca de emalhe realizada pelas embarcações arrendadas
na ZEE brasileira entre 2001 e 2002.....................................................................53
Figura 16 – Mapa batimétrico com a representação da disposição dos lances de
pesca realizados pela frota arrendada de emalhe de fundo entre 2001 e 2002. ..54
Figura 17 – Distância linear da extensão das redes de pesca utilizadas pela frota
arrendada de emalhe de fundo entre 2001 e 2002. ..............................................55
Figura 18 – Comparação da distribuição de freqüência percentual das velocidades
médias estimadas para os dados de rastreamento via satélite enviados
diariamente entre 07:45h e 18:15h com as velocidades de lançamento e
recolhimento das redes registradas durante as operações de pesca da frota
arrendada de emalhe de fundo entre 2001 e 2002. ..............................................56
Figura 19 – Velocidade média entre transmissões de rastreamento durante os 12
primeiros dias de uma viagem de pesca de emalhe de fundo. Linhas verticais
indicam o horário de início e final da atividade de pesca diária registrada a bordo,
em cinza recolhimento da rede e preto lançamento da rede. ...............................57
Figura 20 – Duração da atividade de pesca da frota arrendada de emalhe de
fundo entre 2001 e 2002, em função do tempo de permanência nos fundos de
pesca. ...................................................................................................................58
Figura 21 – Duração da atividade de pesca da frota arrendada de emalhe de
fundo entre 2001 e 2002, em função do tempo de permanência nos fundos de
pesca. ...................................................................................................................59
Figura 22 – Distribuição de freqüência das estimativas de velocidade média
desenvolvidas pelas embarcações arrendadas de emalhe de fundo entre 2001 e
2002 durante a etapa trânsito do porto à área de pesca.......................................60
Figura 23 – Mapa batimétrico representando os registros de rastreamento via
satélite de todas as embarcações arrendadas de emalhe de fundo entre 2001 e
2002. A atividade de pesca foi inferida através da velocidade média de
deslocamento........................................................................................................61
Figura 24 – Ingresso das embarcações arrendadas na pescaria de emalhe de
fundo entre 2001 e 2002 na ZEE brasileira...........................................................64
Figura 25 – Distribuição espacial da ocupação da área de pesca das
embarcações arrendadas de pesca de emalhe de fundo no sudeste e sul do Brasil
entre janeiro e março e entre abril e junho de 2001 a partir dos registros de
rastreamento satelital............................................................................................66
Figura 26 – Distribuição espacial da ocupação da área de pesca das
embarcações arrendadas de pesca de emalhe de fundo no sudeste e sul do Brasil
entre julho e setembro e entre outubro e dezembro de 2001. ..............................67
Figura 27 – Distribuição espacial da ocupação da área de pesca das
embarcações arrendadas de pesca de emalhe de fundo no sudeste e sul do Brasil
entre janeiro e março de 2002 e entre abril e junho de 2002................................68
Figura 28 – Distribuição espacial da ocupação da área de pesca das
embarcações arrendadas de pesca de emalhe de fundo no sudeste e sul do Brasil
entre julho e setembro de 2002 e entre outubro e novembro de 2002..................69

IX
Figura 29 – Número de embarcações arrendadas de pesca de emalhe de fundo
no sudeste e sul do Brasil ocupando simultaneamente um intervalo de 0,5°
latitude para cada mês da pescaria. .....................................................................70
Figura 30 – Deslocamento latitudinal em função do tempo da embarcação Titan.
Pontos pretos representam atividade de pesca inferida com os dados de
rastreamento via satélite. Os pontos vermelhos representam os lances a posição
inicial e final. O polígono representa a área pré-definida para a realização de
pesca. ...................................................................................................................71
Figura 31 – Deslocamento latitudinal em função do tempo das embarcações
Antoxo e Belen. Pontos pretos representam atividade de pesca inferida com os
dados de rastreamento via satélite. Os pontos vermelhos representam os lances a
posição inicial e final. Os polígonos representam as áreas pré-definidas para que
as embarcações realizassem o rodízio de áreas. .................................................72
Figura 32 – Deslocamento latitudinal em função do tempo das embarcações Eder
Sands e Juno. Pontos pretos representam atividade de pesca inferida com os
dados de rastreamento via satélite. Os pontos vermelhos representam os lances a
posição inicial e final. Os polígonos representam as áreas pré-definidas para que
as embarcações realizassem o rodízio de áreas. .................................................73
Figura 33 – Deslocamento latitudinal em função do tempo das embarcações Sin
Comentarios e Slebech. Pontos pretos representam atividade de pesca inferida
com os dados de rastreamento via satélite. Os pontos vermelhos representam os
lances a posição inicial e final. Os polígonos representam as áreas pré-definidas
para que as embarcações realizassem o rodízio de áreas. ..................................74
Figura 34 – Deslocamento latitudinal em função do tempo das embarcações
South Coast e Suffolk Chieftain. Pontos pretos representam atividade de pesca
inferida com os dados de rastreamento via satélite. Os pontos vermelhos
representam os lances a posição inicial e final. Os polígonos representam as
áreas pré-definidas para que as embarcações realizassem o rodízio de áreas. ..75
Figura 35 – Gráfico de distribuição de densidade de lances de pesca ao longo da
costa sudeste e sul do Brasil evidenciando os intervalos de latitude onde as
embarcações concentraram a atividade de pesca. ...............................................76
Figura 36 – Distribuição de freqüência percentual do Índice de Morisita
Padronizado, calculado para os dados do rastreamento via satélite, referentes a
atividade de pesca e para os dados dos lances de pesca. ...................................76
Figura 37 – Distribuição de freqüência numérica e freqüência percentual
acumulada do Índice de Morisita Padronizado para cada viagem de pesca
realizada pelas embarcações arrendadas de fundo entre 2001 e 2002 na ZEE
brasileira. ..............................................................................................................77
Figura 38 – Distribuição de freqüência numérica e freqüência percentual
acumulada da amplitude latitudinal das viagens de pesca realizadas pelas
embarcações arrendadas de fundo entre 2001 e 2002 na ZEE brasileira. ...........80
Figura 39 Distribuição das amplitudes latitudinais das viagens de pesca de
emalhe adotadas por cada embarcação arrendada na ZEE brasileira entre 2001 e
2002. A linha horizontal delimita as viagens consideradas estacionárias (abaixo)
daquelas móveis (acima). .....................................................................................84
Figura 40.- Distribuição das estratégias espaciais adotadas pela frota arrendada
de emalhe na ZEE brasileira em função do ano (A, p = 0,088), trimestres (B, p=
0,456), estrato latitudinal (C, p = 0,240) e Período de entrada na pescaria (D, p=
0,283). As barras brancas representam estratégias estacionárias e as barras
pretas, estratégias móveis. ...................................................................................86

X
Figura 41 – Distribuição das estratégias espaciais adotadas pela frota arrendada
de emalhe na ZEE brasileira em função da existência (2) ou não (1) de restrições
legais espaciais para as embarcações (p = 0,120). As barras brancas
representam estratégias estacionárias e as barras pretas, estratégias móveis. ...87
Figura 42 – Variação das capturas totais obtidas pela frota arrendada de emalhe
na ZEE brasileira como função da estratégia espacial adotada. Estratégia
estacionária e Estratégia móvel. ...........................................................................88
Figura 43 – Distribuição de freqüência da taxa de retorno líquido (US$/dia)
referentes a todas as viagens de pesca da frota arrendada de emalhe de fundo.89
Figura 44 – Distribuição de freqüência da duração dos recolhimentos das redes
de emalhe de fundo. .............................................................................................91
Figura 45 – Taxa de retorno mediano para cada viagem de pesca da embarcação
Juno. As linhas horizontais, dentro dos retângulos, representam a mediana; os
limites superior e inferior dos retângulos representam os quartis 75% e 25% da
distribuição dos dados, as linhas horizontais, na extremidade das linhas
tracejadas representam 1,5 vezes o intervalo interquantil; e os círculos
representam os outliers.........................................................................................92
Figura 46 – Tempo de permanência nos diferentes pesqueiros explorados de
cada viagem de pesca da embarcação Juno. As linhas horizontais, dentro dos
retângulos, representam a mediana; os limites superior e inferior dos retângulos
representam os quartis 75% e 25% da distribuição dos dados, as linhas
horizontais, na extremidade das linhas tracejadas representam 1,5 vezes o
intervalo interquantil; e os círculos representam os outliers..................................93
Figura 47 – Exemplos de curvas de ganho observadas na exploração dos
pesqueiros da embarcação Juno com o modelo logístico ajustado. A reta inclinada
é referente ao valor marginal e a seta indica o tempo ótimo de desistência.........96

XI
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Viagens de pesca da frota de emalhe de fundo arrendada que operou


no sudeste e sul do Brasil entre 2001 e 2002. ......................................................22
Tabela 2 – Escala de valores do Índice de Morisita Padronizado. ........................32
Tabela 3 – Modelos matemáticos ajustados às curvas de ganho. ........................45
Tabela 4 – Valores mínimos, máximos, média, porcentagem e soma de todo o
tempo e distância percorrida durante as 71 viagens de pesca realizadas pelas
embarcações arrendadas de emalhe de fundo entre 2001 e 2002. Estimativas
realizadas com todos os dados de rastreamento via satélite................................62
Tabela 5 – Orçamento de tempo etapa “trânsito do porto à área de pesca”.
Valores mínimos, máximos, média, porcentagem e soma todo tempo e distância
percorrida durante as 38 viagens de pesca (aprox. 54%) com dados completos de
rastreamento realizadas pelas embarcações arrendadas de emalhe de fundo
entre 2001 e 2002. ................................................................................................63
Tabela 6 – Orçamento de tempo etapa “trânsito na área de pesca”. Valores
mínimos, máximos, média, porcentagem e soma todo tempo e distância
percorrida durante as 38 viagens de pesca com dados completos de rastreamento
realizadas pelas embarcações arrendadas de emalhe de fundo entre 2001 e
2002. .....................................................................................................................63
Tabela 7 – Índice de Morisita Padronizado calculado para cada viagem de pesca.
..............................................................................................................................77
Tabela 8 – Índice de Morisita Padronizado para os oito trimestres da pescaria
arrendada de emalhe profundo na ZEE brasileira.................................................79
Tabela 9 – Distribuição espacial dos lances de pesca das embarcações
arrendadas de emalhe de fundo entre 2001 e 2002, Índice de Morisita
Padronizado para cada embarcação. ...................................................................79
Tabela 10 – Amplitudes Latitudinais médias para os sete trimestres da pescaria
arrendada de emalhe profundo na ZEE brasileira. Valores entre parênteses são
amplitudes máximas e mínimas. ...........................................................................81
Tabela 11 – Amplitudes Latitudinais médias para as embarcações arrendada de
emalhe profundo na ZEE brasileira. Valores entre parênteses são amplitudes
máximas e mínimas. .............................................................................................81
Tabela 12 – Índice de Amplitude latitudinal calculado para cada viagem de pesca
da frota arrendada de emalhe monitorada por rastreamento satelital...................82
Tabela 13 – Relação da proporção de viagens em cada estratégia para cada
embarcação. Os valores de probabilidade correspondem ao teste de Chi-
quadrado (H0: 1 viagem estacionária : 1 viagem móvel). ......................................85
Tabela 14. Análise de Variância aplicada às capturas totais de peixe-sapo obtidas
pela frota arrendada na ZEE brasileira (variável dependente) como função dos
fatores: Restrição espacial, Estrato latitudinal, Estratégia espacial e Ano)...........88
Tabela 15 – Relação do número de pesqueiros visitados pela embarcação Juno,
pesqueiros não explorados, pesqueiros explorados e total de pesqueiros. ..........89
Tabela 16 – Tempo de Procura por pesqueiros para cada viagem de pesca da
embarcação arrendada Juno, valores de tempo de procura total por viagem e
tempo médio de viagem entre pesqueiros estimados com os dados de
Observadores de Bordo e tempo de procura total por viagem estimados com
dados de rastreamento via satélite. ......................................................................90

XII
Tabela 17 – Taxa de encontro (pesqueiros por dia de procura), estimada para as
duas fontes de dados............................................................................................91
Tabela 18 – Relação dos parâmetros ajustados às curvas de ganho a partir do
modelo logístico. ...................................................................................................94
Tabela 19 – Estimativa do Tempo ótimo de desistência para cada pesqueiro
explorado pela embarcação Juno. ........................................................................95

XIII
RESUMO

Recentemente um número crescente de estudos científicos abordando vários


aspectos das pescarias comerciais tem sido desenvolvido com o uso do sistema
de rastreamento via satélite (Vessel Monitoring System – VMS). Entre eles pode-
se incluir o estudo do comportamento das frotas e das estratégias espaço-
temporais “escolhidas” para a exploração de recursos-alvo. Nesse sentido, a
informação obtida pelo rastreamento satelital tem auxiliado na construção de uma
base empírica para o uso de modelos de Forrageamento Ótimo, cuja aplicação
em estudos pesqueiros tem sido crescente. A tecnologia VMS foi empregada pela
primeira vez na pesca brasileira como instrumento de monitoramento da frota
pesqueira estrangeira arrendada para operar em áreas profundas da ZEE.
Embarcações arrendadas de pesca de emalhe, direcionadas ao recurso peixe-
sapo Lophius gastrophysus, compuseram uma das primeiras pescarias profundas
a serem intensamente monitoradas tanto por VMS quanto por Observadores de
Bordo, a operar em águas brasileiras. Este trabalho aplica dados de
posicionamento, gerados pelos sistemas VMS utilizados pela frota arrendada de
emalhe, ao estudo do comportamento dessa frota e de suas estratégias de pesca
em áreas previamente inexploradas do talude do Sudeste e Sul brasileiro.
Também se analisa a eficiência das estratégias adotadas na pescaria do peixe-
sapo considerando os conceitos da Teoria do Forrageamento Ótimo. Em termos
gerais, os dados de posicionamento geográfico transmitidos pelos sistemas de
rastreamento utilizados pela frota arrendada de emalhe no Brasil, quando
propriamente transformados em estimativas de velocidades, permitiram a
distinção de períodos de navegação rápida (trânsito) e períodos de navegação
lenta, estes incluindo a atividade pesqueira. Esta distinção, associada à
disposição espacial dos registros enviados, por sua vez, delimitaram no tempo e
no espaço as atividades gerais realizadas pelas embarcações incluindo: (a)
localização e permanência no porto; (b) atividade de deslocamento do porto até a
área de pesca e de retorno ao porto, (c) localização e permanência nos
pesqueiros, incluindo períodos destinados à pesca em si; (d) trânsito entre
pesqueiros. Distinções de maior resolução temporal, em particular de atividades
específicas realizadas durante a fase de trânsito nas áreas de pesca, foram

XIV
limitadas, entretanto, pelo reduzido volume de dados diários de rastreamento
(seis) e o grande espaçamento entre essas transmissões (quatro horas).
Espacialmente foram diferenciadas estratégias “móveis” e “estacionárias” que,
embora adotadas de forma igualitária por todas as embarcações envolvidas na
pescaria, apresentaram alguns padrões temporais de predominância. A análise
aprofundada do comportamento de uma embarcação específica, tomando como
base as previsões de Modelos de Forrageamento Ótimo, ajustados a dados de
ganho “energético” líquido acumulado sobre pesqueiros específicos, possibilitou
interpretações a respeito do comportamento do recurso (peixe-sapo) frente à ação
do forrageador (embarcações de pesca de emalhe) e sobre as decisões
associadas ao tempo e ao número de pesqueiros a serem explorados em uma
viagem de pesca.

Palavras-chave: Rastreamento via Satélite, pesca profunda, teoria do


forrageamento ótimo.

XV
ABSTRACT

Recently an increasing number of scientific studies approaching several aspects of


commercial fisheries have been developed with the use of data generated by
satellite tracking devices on board of fishing vessels (Vessel Monitoring System –
VMS). Amongst them, feature studies on the behavior of fleets and the temporal
and spatial strategies “elected” by them to explore the targeted resources. In that
sense VMS-generated information has contributed to build an empirical basis for
the use Optimal Foraging Models, increasingly used for fishery studies. VMS
technology was firstly employed in Brazilian fisheries as an instrument to control a
foreign fleet chartered to operate on deep waters of the Economic Exclusive Zone
(EEZ). Chartered gillnet vessels targeting the monkfish Lophius gastrophysus
constituted one of the earliest deep-water fisheries to be intensely monitored both
by VMS and Observers operating during the 2001-2002 period. This work applies
vessel positioning data, as generated by VMS utilized by the chartered gillnet fleet,
to study this fleet behavior and its fishing strategies when operating on previously
unexplored slope grounds of Southeastern and Southern Brazil. It also analyses
the efficiency of monkfish fishing strategies considering predictions of the Optimal
Foraging Theory. In general terms, positioning data as generated by VMS, when
properly transformed in velocity estimates, allowed the distinction of periods of fast
sailing (transit) and periods of slow sailing, these including fishing activity. This
distinction, in association with the spatial records transmitted, delimited in time and
space general activities conducted by the vessels including: (a) position and time
spent at the harbor; (b) displacement activity from harbor to fishing area and return
to harbor; (c) position and time spent on fishing areas; (d) transit among “fish
patches” within the fishing area. Distinctions of higher temporal resolution, in
particular activities conducted during transit in the fishing areas, were limited,
however, by a low (six) and highly spaced (four hours) position transmission rate
per day. In terms of space, “mobile” and “stationary” fishing strategies were
distinguished. Whereas all involved vessels evenly adopted these strategies, a
temporal pattern of predominance was revealed. An in-depth analysis of the
fishing behavior of one elected vessel was conducted taking into account
predictions of Optimal Foraging Models fitted to cumulative net “energy” gain data.

XVI
These models informed about how the resource (monkfish) tends to behave in
front of the forager action (fishing vessel nets) and about the decisions regarding
how long and how many fish patches were explored in every fishing trip.

Key-words: satellite tracking, VMS, deep-water fishing, Optimal Foraging Theory

XVII
1. INTRODUÇÃO

1.1. O rastreamento satelital e a gestão pesqueira

Com o início da era espacial em 1957, marcada pelo lançamento da sonda


espacial Russa SPUTNIK, ocorreu uma mudança radical em muitas ciências e,
em particular, nos métodos de posicionamento geográfico. Desde então muitos
satélites artificiais foram lançados à órbita da Terra visando atender necessidades
da humanidade, em particular, as telecomunicações e o monitoramento da
superfície do planeta. O primeiro sistema de posicionamento geográfico via
satélite entrou em operação em 1967. Era denominado Navy Navigation Satellite
System (NNSS), porém este foi abandonado por não atender às exigências da
navegação aérea. Em 1973, o Departamento de Defesa dos Estados Unidos
investiu na criação de um novo sistema denominado Navigation Satellite with
Time and Ranging (NAVSTAR) ou Global Positioning System (GPS).
Este sistema foi estruturado para funcionar com 24 satélites, em seis
órbitas diferentes com quatro satélites em cada órbita. Com este sistema
poderiam ser visualizados de seis a dez satélites simultaneamente, sendo
necessários apenas quatro satélites para se obter o posicionamento geográfico.
Foi projetado para fornecer a posição instantânea bem como a velocidade de um
ponto sobre a superfície da Terra ou próximo dela, num referencial tridimensional
(latitude, longitude e altitude). Inicialmente desenvolvido para uso militar, sua
utilização civil foi amplamente difundida na década de 1990, passando a ser
adaptado para as mais diversas necessidades (e.g. controle de tráfego aéreo,
rastreamento de cargas, embarcações, pesca, etc.) (BLITZKOW, 2003; NASA,
2006; USNO, 2006).
Recentemente têm-se destacado a utilização deste sistema para o
monitoramento e estudo da fauna terrestre e aquática, tornando-se uma
ferramenta extremamente eficiente devido às condições adversas do habitat
destes organismos, muitas vezes inacessíveis aos seres humanos (MANTOVANI
et al., 2003). Adicionalmente, com o desenvolvimento dos sistemas de
rastreamento via satélite, tem sido agregado ao posicionamento geográfico,

1
dados biológicos e ambientais gerados por qualquer tipo de sensor (freqüência
cardíaca, temperatura, profundidade etc.). Com esta tecnologia, vários aspectos
do comportamento, ecofisiologia e ciclo de vida de muitas espécies puderam ser
melhor avaliados. Alguns exemplos incluem as rotas de migração de tartarugas
(PAPI et al., 1997; LUSCHI et al., 2000; MORTMER & CARR, 1987), a
compreensão sobre o comportamento de escolha de áreas de forrageamento de
pingüins-de-magalhães – Spheniscus magellanicus (PÜTZ et al., 2000) e leões-
marinhos – Artochephalus gazella (BONADONNA et al., 2000), influência das
medidas de manejo pesqueiro na proporção sexual de albatrozes (Diomedea
exulans) (PRINCE et al., 1992), hábitos alimentares de colônias de aves marinhas
costeiras na África do Sul (GRÉMILLET et al., 2004), migração de baleias jubarte
– Megaptera novaeangliae no Atlântico Sul (ZERBINI et al., 2006), desova de
tunídeos no Atlântico Norte (LUTCAVAGE et al., 1999), entre outros.
O uso de sistemas de posicionamento geográfico na pesca remonta da
década de 1990. Na costa leste do Canadá, em 1993, a pescaria de vieiras
(Placopecten magellanicus) foi fortemente limitada pela insuficiência de
informações pesqueiras provenientes dos mapas de bordo, o que acarretou em
estimativas errôneas sobre a biomassa do recurso. Essa limitação implicou em
prejuízos da ordem de 40 milhões de dólares o que evidenciou a importância da
geração de informações adequadas para a avaliação do estoque e definição da
captura total permissível (Total Allowable Catch – TAC). A solução encontrada
entre a indústria pesqueira, em parceria com o Canadian Department of Fisheries
and Oceans (DFO), foi o investimento na melhora da qualidade da informação e o
rastreamento via satélite passou a ser visto como uma ferramenta de garantia à
fidelidade da informação. O sistema escolhido inicialmente havia sido
desenvolvido para transporte terrestre, permitindo a troca de informações de
forma instantânea entre o veículo e sua empresa. A este sistema foram
adicionadas cartas náuticas digitais e protocolos de envio de informação lance a
lance gerando informações em tempo real (MATTHEWS, 1999). Hoje existem
diversos sistemas de rastreamento de embarcações, como Inmarsat™,
ARGOS™, OnixSat®, etc., com equipamentos desenvolvidos e adaptados para as
condições específicas do ambiente marítimo (e.g. mar agitado, sol, chuva).
Recentemente um número crescente de estudos científicos abordando
vários aspectos das pescarias comerciais têm sido desenvolvidos com o uso do

2
rastreamento satelital, convencionalmente chamado de Vessel Monitoring System
ou VMS. Em particular podem-se citar a avaliação da eficácia dessa ferramenta
tecnológica no controle e monitoramento de pescarias demersais, como a pesca
de arrasto de beam trawl direcionada a vieiras (Placopecten magellanicus) da
costa leste do Canadá (MATTHEWS, 1999), a pesca de arrasto duplo direcionado
a camarões do Golfo do México (MEJIAS, 1999) e a pesca de arrasto demersal
multi-específica direcionada a peixes em Pilbara, noroeste da Austrália (JOLL et
al., 1999). Além disso, registros de VMS também têm sido úteis na calibração de
imagens de satélite para identificar a movimentação de embarcações (KOURTI et
al., 2005) e na avaliação da micro-distribuição do esforço de pesca de arrasto no
Mar do Norte e seu impacto sobre os organismos bentônicos (RIJNSDORP et al.,
1998).
Estimativas da abundância do estoque também têm se beneficiado do uso
de dados provenientes de VMS, como constatado no caso da avaliação do
estoque de vieiras do Georges Banks em que modelos de depleção utilizaram
VMS para estimativas confiáveis de esforço (GEDANKE et al., 2004). Taxas de
remoção, intensidade de pesca e processos de depleção populacional também
foram avaliados com o auxílio de VMS nessa pescaria e na pesca de camarões
no leste da Austrália (GEDANKE et al., 2005; DENG, et al., 2005).
A tecnologia VMS se tornou essencial no processo de controle de
pescarias. Várias organizações internacionais que visam o ordenamento e
controle pesqueiro (e.g. Northwest Atlantic Fisheries Organization – NAFO e
Commission for the Conservation of Antarctic Marine Living Resources –
CCAMLR) têm o rastreamento via satélite como uma das principais plataformas
para o cumprimento das medidas de manejo adotadas (NOLAN, 1999; WAND,
2005).
Muitas medidas de ordenamento pesqueiro são de ordem geoespacial,
podendo ser citadas como exemplo as áreas de exclusão de pesca, as áreas
jurisdicionais (e.g. Zona Econômica Exclusiva – ZEE), rotatividade de áreas, entre
outras. No Brasil, fazem parte da gestão pesqueira uma série de instrumentos de
natureza geoespacial, com destaque para os limites geográficos dos
permissionamentos de pesca (BRASIL, 1993; BRASIL, 1998, BRASIL, 2003) e as
zonas de exclusão de pesca industrial (SEAP/IBAMA, 2005) normalmente em
áreas próximas à costa, no entorno de reservas marinhas (BRASIL, 1990), de

3
plataformas de petróleo entre outras. O cumprimento destes instrumentos, no
entanto, via de regra, tem sido dificultado pelas limitações do processo de
fiscalização, dependentes da avistagem dos infratores (caracterização de
flagrante), apenas possíveis em áreas costeiras, ou com vigilância a partir de
embarcações o que normalmente é oneroso e pouco eficaz. Esse quadro, no
entanto, começou a mudar a partir do início das atividades de pesca demersal
profunda no Brasil, no final da década de 1990, que trouxe consigo inovações nos
sistemas de permissionamento e gestão, entre elas o uso inédito do rastreamento
satelital (BRASIL, 2000).
Durante a década de 1990, a pesca de arrasto no Brasil foi marcada por
uma descaracterização das atividades tradicionais e uma tendência à
diversificação de alvos de pesca, através de uma exploração ampla de recursos
disponíveis, sazonal e/ou geoespacialmente, na plataforma continental. Esse
processo, motivado pela escassez dos estoques da plataforma continental e do
elevado número de embarcações em atividade (PEREZ et al., 2002a), levaram as
embarcações arrasteiras a explorar áreas mais profundas na busca de novos
recursos. Um processo, no entanto, sujeito a algumas limitações tecnológicas
(PEREZ et al., 2002b). Nesse sentido, algumas iniciativas do Governo Federal
brasileiro foram tomadas para mapear o fundo oceânico e avaliar o potencial
pesqueiro dos recursos de águas profundas, e.g. Avaliação do Potencial
Sustentável de Recursos Vivos na Zona Econômica Exclusiva – REVIZEE
(REVIZEE, 2004). Essas iniciativas, em geral, apontaram para a existência de
alguns recursos valiosos nessas áreas, como o cherne-poveiro (Polyprion
americanus), o cação-bico-doce (Galeorhinus galeus), o calamar-argentino (Illex
argentinus) e o galo-de-profundidade (Zenopsis conchifer). Recursos de potencial
modesto e incertezas relacionadas aos possíveis mercados e tecnologias de
pesca mais apropriadas (HAIMOVICI, 2007).
Em 1998, o Ministério da Agricultura Pesca e Abastecimento (MAPA),
através do Departamento de Pesca e Aqüicultura (DPA), lançou um programa de
pesca profunda na ZEE brasileira baseado no arrendamento de embarcações
estrangeiras por empresas nacionais, com a intenção de obter conhecimento
sobre os potenciais recursos, avaliar a rentabilidade das operações de pesca,
além de absorver tecnologia adequada para a pesca em águas profundas,
manipulação e processamento do pescado. Nesse sentido o programa teve como

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exigência o monitoramento intensivo das embarcações arrendadas através de
sistemas de monitoramento de embarcações (VMS) e de Observadores de Bordo.
Ambos instrumentos pouco ou não desenvolvidos para esse fim no Brasil.
Através da cooperação com universidades e centros de pesquisa do país,
foram criados programas-piloto de estruturação de sistemas de monitoramento de
embarcações via satélite (RODRIGUES-RIBEIRO, 2002) e de capacitação e
operacionalização de Observadores de Bordo (WAHRLICH, 2002), os quais
permitiram o levantamento completo de informações referentes às operações de
pesca da frota arrendada na costa brasileira. Esses programas1 geraram a
principal base de dados a fundamentar o processo de avaliação de estoques e de
pescarias, os quais serviram de referência para a elaboração de medidas de
ordenamento para a pesca de peixe-sapo (Lophius gatrophisus) e caranguejos-
de-profundidade (Chaceon notialis e Chaceon ramosae) (PEREZ et al., 2002c;
PEZZUTO et al., 2006; SEAP/IBAMA, 2005; SEAP, 2005a; SEAP, 2005b).
Em 2005, tomando como base a experiência acumulada pelo DPA/MAPA e
SEAP, e os excelentes resultados alcançados por esses programas-piloto, o
Governo Federal estruturou ações administrativas consolidando um Programa
Nacional de Observadores de Bordo (SEAP/IBAMA, 2006b), e um Programa
Nacional de Rastreamento de Embarcações Pesqueiras por Satélite
(SEAP/IBAMA, 2006a) como políticas de Estado a serem adotadas para a gestão
pesqueira nacional, estendido para a maior parte da frota nacional, neste primeiro
momento limitada às embarcações com escala industrial de produção.
A elaboração do Programa Nacional de Rastreamento de Embarcações
Pesqueiras por Satélite – PREPS, foi realizada com a criação do Grupo de
Trabalho Técnico Interministerial (GTTI Ad Hoc de Rastreamento), coordenado
pela SEAP/PR e integrado pela Marinha do Brasil e IBAMA-MMA.
O PREPS foi submetido pela SEAP/PR a uma ampla Consulta Pública,
para todas as representações do setor produtivo pesqueiro nacional (Sindicatos
de Armadores, Indústrias da Pesca, Trabalhadores da Pesca Industrial e
Representações da pesca Artesanal), empresas fornecedoras de equipamentos e
prestadoras de serviço de rastreamento, além de todos os órgãos governamentais

1
Convênios entre o Ministério da Agricultura, Pecuária e do Abastecimento (MAPA) com a
Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI) – MA/SARC/Nº03/2000; MAPA/SARC/DPA/Nº003/2001;
MAPA/SARC/DENACOOP/176/2002.

5
integrantes dos Comitês Gestores de Recursos Pesqueiros, coordenados pela
SEAP/PR.
A primeira e mais intensamente monitorada pescaria profunda do Brasil foi
a pesca de emalhe de fundo direcionada ao recurso peixe-sapo. A partir de 1999,
embarcações estrangeiras especializadas na captura e processamento desse
recurso foram autorizadas a operar na ZEE brasileira, ao sul de 19°S, em
profundidades maiores que 200 metros. Essas embarcações tiveram entre suas
exigências contratuais a presença obrigatória de Observadores de Bordo em
todas as viagens e a utilização de rastreamento via satélite.
Duas embarcações iniciaram as operações rastreadas no início de 2001
sendo seguidas por outras sete que entraram na pescaria em meados desse
mesmo ano. Com a intenção de distribuir o esforço de pesca e gerar um amplo
conjunto de informações sobre o recurso, estas últimas embarcações estiveram
condicionadas, ainda, a realizarem rodízios quadrimestrais em três estratos
latitudinais (norte de 25°S, entre 25 e 29°S e sul de 29°S). Em outubro de 2002 a
pescaria foi encerrada, a partir de constatações científicas de uma diminuição de
30% do estoque em toda a área de distribuição do recurso no sudeste e sul, além
de vários conflitos com a frota nacional de arrasto demersal que também atuou
sobre o recurso neste período, em profundidades de até 250 metros (PEREZ et
al., 2002a; PEREZ et al., 2002b; PEREZ et al., 2002d; WAHRLICH et al., 2004).
A experiência com as embarcações arrendadas, no entanto, subsidiou o
Plano de Manejo do recurso, oficializado somente em 2005 (SEAP/IBAMA, 2005).
Essa foi a primeira pescaria em que o rastreamento teve relevância durante a
fase arrendada e também uma das primeiras a incluir VMS em seu Plano de
Manejo. Além disso, esse plano incluiu, também pela primeira vez, duas áreas de
restrição de pesca indicando a dependência da utilização desse sistema para sua
implementação (PEREZ et al., 2002c).

1.2. O rastreamento via satélite e a dinâmica da atividade


pesqueira

Gordon (1991), em uma abordagem da teoria econômica dos recursos de


propriedade comum, propondo que em uma pescaria realizada em múltiplas

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áreas, o esforço de pesca tenderia a se distribuir entre essas áreas de forma que
as taxas de lucro tenderiam a se tornar homogêneas para todas as embarcações
atuantes. Esta abordagem prevê que se existe um fluxo livre de informação entre
as embarcações, os mestres seguiriam uma premissa simples de escolha da área
de pesca: se os lucros forem mais elevados em uma área do que em outras,
algumas embarcações procurarão aumentar seus lucros se movendo para as
áreas mais rentáveis, e nesta continuarão até que as taxas do lucro estejam
iguais entre todas as áreas, ocorrendo então a homogeneização dos rendimentos
(HOLLAND & SUTINEN, 2000).
Sob essa ótica, a dinâmica espaço-temporal de atuação das frotas
pesqueiras deveria guardar forte relação com a variabilidade espaço-temporal da
disponibilidade e, sobretudo, densidade dos recursos-alvo. Nesse caso a
premissa geral seria que uma frota pesqueira direcionada à explotação de um
recurso, com disponibilidade e abundância variável no espaço e no tempo,
tenderia a “escolher” áreas e “épocas” de pesca que maximizassem os “lucros”
individuais, seja pela busca de cenários de elevada densidade e/ou baixos custos
de produção.
Quando uma viagem de pesca inicia, o mestre da embarcação pode ter
uma vaga ou clara idéia de onde, quando e que recurso irá pescar. Indecisos, a
priori, os mestres irão desenvolver estratégias (a partir do conhecimento do
sucesso de outros mestres ou por experimentação própria) que influenciarão nos
critérios de tomada de decisão nas viagens futuras. Os critérios de tomada de
decisão podem ser, no entanto, alterados de uma viagem para a outra e podem
variar entre diferentes pescadores (MATHIESEN, 2004).
Hilborn & Walters (1992) ressaltam, entretanto, que existem inúmeros
fatores que podem afetar as “escolhas” individuais e desviar o comportamento
das frotas dos padrões previstos acima. Compreender essas escolhas pode ser
de grande valia para quantificar o impacto do esforço pesqueiro sobre a biomassa
explotável de um recurso e de se avaliar estratégias espaço-temporais de manejo
que tenderiam a maiores chances de sucesso. Este fenômeno é especialmente
relevante em grandes áreas de manejo pesqueiro onde as embarcações podem
se mover livremente entre as mesmas (GILLS & FRANK, 2001).
Em muitos aspectos, o sistema-pesca pode ser analisado como uma
relação presa-presador, sendo as embarcações os predadores e as espécies-alvo

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suas presas (GATTO et al., 1976; HILBORN & WALTERS, 1992). Nesse sentido,
o uso de teorias ecológicas se apresenta como um bom ponto de partida para o
estudo do comportamento de frotas pesqueiras com destaque para a Teoria do
Forrageamento Ótimo (STEPHENS & KREBS, 1986; ALLEN, 1998) cuja
aplicação em estudos pesqueiros tem sido crescente (BEGOSSI, 1992a;
BEGOSSI, 1992b; BEGOSSI, 1995; GILLIS et al., 1995; DORN, 1997; ASWANI,
1998; DORN, 1998; GILLIS & PETERMAN, 1998; GILLIS, 1999; RIJNSDORP et
al., 2000; WILEN, 2000; GILLIS & FRANK, 2001; DORN, 2001; GILLIS, 2003;
BEGOSSI et al., 2005; MARCHAL et al., 2005; DORN, 2005; VOGES et al., 2005;
GILLIS, 2006).
Segundo essa teoria, quando um predador se move através de uma área
procurando concentrações satisfatórias de suas presas, ele tende a encontrar
concentrações de presas potenciais em seqüência, apresentando diferentes
composições específicas ou densidades. A cada encontro o predador
(forrageador) decide se vai perseguir e tentar comer a presa ou, continuar
procurando. A perseguição demanda tempo e energia e, se bem-sucedida, resulta
da aquisição de energia alimentar. O forrageador pode, contudo, dispensar uma
presa de baixa qualidade em favor de uma busca continuada por uma presa
melhor. Quando o intervalo entre encontrar uma presa e a seguinte é grande
(baixa densidade) em comparação com o tempo exigido para subjugá-las e
consumi-las, ele comerá a maior parte de presas potenciais que encontrar. Mas
quando um predador encontra as presas freqüentemente (alta densidade), ele
dispensará tipos menos desejáveis porque em breve, provavelmente, encontrará
tipos mais “apetitosos” (STEPHENS & KREBS, 1986).
A maioria das presas ocorre de forma agrupada no habitat, os predadores
têm que viajar entre as áreas em busca de alimento, devendo fazer escolhas
sobre que presas usar dentro delas e quando deixar aquela área para procurar
em outra. Em geral, a qualidade de uma área (abundância, densidade, etc.)
diminui à medida que o predador captura as presas e reduz os recursos que ela
contém. Eventualmente, o predador recebe uma recompensa maior pela mudança
para uma nova área do que pela insistência em procurar em uma área já
depletada. A quantidade de tempo que um predador gasta numa área antes que a
deixe é chamada de tempo ótimo de desistência (“Giving-Up Time” – GUT)
(CHARNOV, 1976).

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As regras que governam o comportamento de forrageamento dos
organismos tendem a maximizar a sua taxa de assimilação de alimento ou
minimizar o tempo exigido para obter uma dada quantidade de alimento. Elas são
referidas como as regras (ou modelos) de forrageamento ótimo. O modelo permite
fazer previsões sobre escolha de alimento (dieta ótima), da agregação dos
recursos ou locais para forragear (concentrações rentáveis) e do tempo de
permanência em dada concentração (PYKE, 1984; STEPHENS & KREBS, 1986 ;
BEGOSSI, 1993).
Hipotetizando que o pescador se comporta como um predador, explorando
“áreas” e fazendo “escolhas” sobre onde irá explorar seus recursos alvo, podemos
aplicar modelos de forrageamento ótimo e avaliar a eficiência das escolhas dos
pescadores, permitindo compreender o uso do ambiente do ponto de vista do
forrageador.
Muitos trabalhos derivados dos conceitos da teoria do forrageamento
ótimo, maximizando o lucro individual no menor intervalo de tempo, ou analisando
a competição pelo recurso, foram desenvolvidos baseados no comportamento de
frotas pesqueiras, predizendo a distribuição geoespacial do esforço de pesca e
comparando a eficiência de diferentes táticas de pesca e entendendo melhor a
relação entre a captura por unidade de esforço e a abundância do recurso. Os
autores afirmam que tal abordagem quando incluída nos planos de manejo
aumentam a chance das medidas de manejo ter êxito (GILLIS et al., 2006).
Dorn (1998) desenvolveu um modelo para avaliar a duração ótima dos
arrastos de pesca e da procura em barcos-fábrica de arrasto de meia-água na
pescaria da merluza do Pacífico (Merlucius productus). Gills (2003) faz uma
abordagem sobre a perspectiva de movimentação de barcos de pesca, onde
afirma que modelos comportamentais baseados na teoria do forrageamento (e.g.
distribuição livre ideal – IFD) são preferenciais porque (i) eles podem ser
analisados usando dados tipicamente disponibilizados por pescarias comerciais,
(ii) eles requerem menos dados do que modelos probabilísticos, e (iii) eles são
facilmente incorporados dentro de modelos de manejo mais complexos. Quando
derivações da IFD ocorrem, elas podem gerar melhores interpretações da relação
entre medidas de manejo, mudanças ambientais e atividade pesqueira,
aperfeiçoando a interpretação dos dados gerados pela pesca comercial. Marchal
et al. (2005) conduziram um estudo sobre as influências do mercado e a

9
densidade dos estoques no comportamento de forrageamento dos pescadores.
GILLS et al. (1995) utilizaram a teoria do forrageamento ótimo estudando a
escolha da dieta (diet choice) para avaliar as decisões da dinâmica de descarte
na pesca de camarões no Golfo do México realizada pela frota do Oregon. As
predições foram consistentes com os padrões de descarte observados na frota de
arrasto do Oregon.
Modelos comportamentais podem ser aplicáveis para gestão pesqueira
gerando um meio de explorar a potencial resposta do pescador para uma nova
medida de manejo antes de ela ser implementada. Holland & Sutinen (1999)
assumem que medidas de manejo e mudanças no mercado ou ambientais que
alteram a lucratividade de uma pescaria ou área irão resultar na redistribuição do
esforço entre pescarias alternativas ou áreas. A magnitude do deslocamento
deste esforço irá depender da relativa lucratividade das alternativas individuais
dos pescadores afetados. Os autores desenvolveram um modelo empírico para
unidades pesqueiras individuais e escolhas de localizações baseadas em dados
de viagens de um grupo de 400 navios pesqueiros de grande porte da Nova
Inglaterra. O modelo usa taxas médias de lucro anteriores para diferentes
alternativas, e o comportamento passado de cada navio para predizer a escolha
de grupos de espécies de localização de área de pesca em uma base viagem por
viagem. Este modelo é usado para predizer níveis de esforço agregado em
diferentes pescarias e áreas durante o tempo. Aswani (1998) utilizou a teoria do
forrageamento para avaliar a eficiência dos pescadores utilizando a taxa média de
retorno líquido como comparação.
O presente projeto enfoca a utilização da ferramenta VMS para duas
abordagens específicas da pesca profunda. Inicialmente pretende-se explorar a
efetividade da ferramenta como instrumento de gestão, analisando-se que tipo de
informação pode ser extraída de registros do posicionamento geográfico das
embarcações pesqueiras de maneira a facilitar as atividades de controle da
pesca. Em segundo lugar é avaliada a utilização dessa ferramenta como indicador
das relações ecológicas por trás da exploração pesqueira de áreas profundas e
pouco conhecidas. Em particular a possibilidade de usar VMS como uma fonte de
dados no sentido da aplicação de Modelos de Forrageamento Ótimo. Escolheu-se
a pescaria arrendada de peixe-sapo como modelo, pois, além estarem disponíveis

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informações completas e fidedignas de VMS e Observadores de Bordo, a mesma
contou com elementos geoespaciais de gestão.
A pesca profunda compreende as operações de pesca em profundidades
superiores a 100-200 metros, estendendo-se desde a quebra da Plataforma até o
talude inferior e planície abissal incluindo os montes submarinos. Com exceção
de algumas pescarias tradicionais (e.g. pesca de linha-de-mão nos Açores e
espinhel de fundo no sul do Pacífico), todas as pescarias em águas profundas
iniciaram depois da 2ª Guerra Mundial (KOSLOW et al., 2000), principalmente em
função do esgotamento dos recursos costeiros e de avanço nas tecnologias de
captura e processamento do pescado.
Ecossistemas de águas profundas, incluindo seus recursos pesqueiros,
são altamente vulneráveis a exploração e requerem elevados níveis de proteção
(LARGE et al., 2003). A experiência no Pacifico Sul mostrou que os estoques de
peixes de águas profundas podem ser rapidamente depletados e que a
recuperação pode ser muito lenta (KOSLOW et al., 2000; ANON., 2001 apud
LARGE et al., 2003). Em muitos casos, informações fidedignas sobre o estado do
estoque e o potencial de produção pesqueira são obtidas em um considerável
espaço de tempo depois da exploração. Por causa da sensibilidade dos estoques
de águas profundas e do geralmente inadequado conhecimento sobre a biologia
destes, se recomenda que as taxas de exploração iniciais sejam muito baixas
(LARGE et al., op. cit.).
Diferente da Plataforma Continental, os recursos de águas profundas e
talude, tendem a formar agrupamentos em locais determinados, possuem um
ciclo de vida geralmente longo, apresentam atividade reprodutiva tardia com
eventos por vezes episódicos, baixa fecundidade e recrutamentos esporádicos
(KOSLOW et al., 2000; CLARK, 2001; KOSLOW & TUCK, 2002; ALDER &
WOOD, 2005). Estima-se que o peixe-sapo (Lophyus gastrophysus), capturado
no Sudeste e Sul do Brasil entre 300 e 1000 metros, apresentou, para machos e
fêmeas respectivamente, longevidade de 13 e 18 anos, com a primeira maturação
ocorrendo entre os sete e oito anos de vida (LOPES, 2005). Isso significa que os
recursos de águas profundas demandam ações de manejo mais rigorosas e
rápidas do que aqueles habitantes da Plataforma Continental. Nesse sentido
ações de ordem geoespacial têm sido consideradas muito importantes e em

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alguns casos as mais eficientes (e.g. rotatividade de áreas, área de exclusão de
pesca).
O desenvolvimento da tecnologia de rastreamento, incluindo a definição
clara de critérios mínimos para seu funcionamento e adequadas à realidade
sócio-econômica da pesca nacional pode ser decisivo na implementação dessas
ações no ordenamento da pesca profunda no Brasil (CABRAL, et al., 2003). Por
outro lado, o sucesso das medidas de ordenamento não está apenas vinculado à
viabilidade do seu controle, mas também ao nível de interação dessas medidas
com o comportamento da indústria pesqueira (homem-predador). A possibilidade
de conhecer como o pescador se comporta nas áreas profundas e pouco
exploradas da costa através da tecnologia do rastreamento significa ter a chance
de adaptar medidas de gestão pesqueira a esse comportamento o que
aumentaria as chances de seu sucesso (GATTO et. al., 1976; MATHIESEN et al.,
2004).

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2. OBJETIVOS

2.1. Objetivo geral

Estudar a dinâmica da pescaria em áreas profundas da costa brasileira


através do emprego de dados gerados pelo sistema de monitoramento de
embarcações, utilizando a frota arrendada de emalhe de fundo com alvo no peixe-
sapo (Lophius gastrophysus) como modelo.

2.2. Objetivos específicos:

(a) Analisar o deslocamento das embarcações arrendadas para a pesca do


peixe-sapo através do rastreamento via satélite;

(b) Entender as estratégias de pesca em áreas inexploradas e o


comportamento de uma nova pescaria;

(c) Avaliar a eficiência das estratégias na pescaria do peixe-sapo


considerando os conceitos da teoria do forrageamento ótimo.

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3. MATERIAIS E MÉTODOS

3.1. Área de estudo

A área de estudo foi delimitada pelos paralelos 23°30’S e 34°30’S (Rio de


Janeiro a Rio Grande do Sul) e as isóbatas de 200 e 1000 metros de
profundidade (figura 1).

Figura 1 – Mapa batimétrico da área de estudo da pesca arrendada de emalhe direcionada ao


peixe-sapo (Lophius gastrophysus) no Brasil.

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A extensão linear do Sudeste e Sul tem aproximadamente 2.200km. As
províncias marinhas do Sudeste e Sul do Brasil têm aproximadamente as
seguintes áreas: a Plataforma Continental tem cerca de 296.010 km², o Talude
Continental tem cerca de 235.210 km², o sopé continental tem cerca de 1.393.000
km², o Cone do Rio Grande tem cerca de 67.620 km², totalizando uma área de
1.991.840 km². Em todo o Sudeste e Sul a margem da plataforma é caracterizada
por províncias normalmente amplas, de gradientes um tanto suaves. A quebra da
plataforma não é muito notória, e a borda tem configuração geral arredondada ou
com estreitos terraços de abrasão marinha, em especial no setor norte. O talude é
comumente suave, de perfil ligeiramente côncavo. O relevo do fundo desta
grande área é caracterizado pela presença de ravinas, cânions, intercalados por
áreas relativamente planas (ZEMBRUSKI, 1979).
A cobertura sedimentar a partir dos 100 metros de profundidade é
composta predominantemente por lamas na área ao sul de Cabo Frio, sendo
pontilhada em alguns locais por faixas de sedimentos de granulometria média e
areia grossa ao longo do talude (FIGUEIREDO & TESSLER, 2004).
A distribuição vertical da temperatura e da salinidade na região estudada
apresenta, nos primeiros 200 m, o domínio de águas quentes (>20°C) e salinas
>36,4) da Água Tropical (AT), fluindo em direção sul. Essas águas ocorrem na
camada superior da corrente do Brasil (CB), com alta contribuição para os
organismos da plataforma continental, caracterizada pela baixa concentração de
nutrientes e alta concentração de oxigênio. Entre os 200 e 750 m, a temperatura
(6°-20°C) e salinidade (34,6-36,0) são características da Água Central do Atlântico
Sul (ACAS), também fluindo em direção sul, só que em uma posição inferior à CB.
No verão ela pode penetrar na plataforma continental e contribuir com sua riqueza
de nutrientes. Abaixo dos 750 m, nota-se sucessivamente a predominância Água
Intermediária Antártica (AIA) (3°-6°C e 34,2-34,6), que se estende até os 950
metros de profundidade, e a Água Profunda do Atlântico Norte (APAN) (3°-4° e
34,6-35,0), entre 1.500 e 3.000 metros, dirigindo-se para o sul até cerca de 32°S
(AMARAL & ROSSI-WONGTSCHOWSKI, 2004).

15
3.2. Operações de pesca de emalhe de fundo de profundidade

O aparelho de pesca utilizado para a captura do peixe-sapo deriva das


operações conhecidas como “rascos”, características da pesca de outras
espécies do gênero Lophius na Península Ibérica (BRUNO et al., 1999). São
aparelhos compostos por 250 a 400 redes de 50 metros de comprimento e 13
malhas de altura que operam sobre o substrato com um baixo coeficiente de
entralhamento e são eficazes na captura de organismos bentônicos de alta
mobilidade como peixe-sapo, caranguejos gerionídeos e majídeos (PEREZ &
WAHRLICH, 2004).
Conforme descrito por Wahrlich et al. (2004), a operação de pesca de
emalhe de fundo, conduzida por uma embarcação arrendada, inicia com o
lançamento das bóias de sinalização, seguidas pelo cabo arinque com
comprimento de duas a três vezes a profundidade local, lastros e cabo de
ancoragem. As redes são lançadas unidas entre si, formando “caceias” de 200 a
400 unidades, com a embarcação navegando preferencialmente a favor da
correnteza e seguindo uma determinada isóbata, em velocidade de cinco a seis
nós. Após as redes, segue o segundo conjunto de cabo de ancoragem, lastros,
cabo arinque e bóias de sinalização (figura 2).

Figura 2 – Planta da rede de emalhe de fundo utilizada pelas embarcações arrendadas


direcionadas ao peixe-sapo Lophius gastrophysus na ZEE brasileira. Adaptado de Wahrlich et al.
2004.

16
O recolhimento do petrecho é iniciado ao amanhecer. As caceias são
recolhidas através do “carro de borda” e do guincho de tração, com a embarcação
navegando contra a correnteza. Após a operação de recolhimento, que dura em
torno de 12 horas para uma caceia de 400 redes, a tripulação se dedica à
substituição das panagens mais danificadas. A taxa de substituição estimada é de
1 a 5% do total de redes lançadas a cada lance.
A operação de pesca só é interrompida em condições de mar muito
adversas, com ventos acima de Força oito na Escala Beaufort. O regime de
lançamentos e recolhimentos variava de acordo com a quantidade e o tamanho
das caceias utilizadas. Em geral, as embarcações operaram simultaneamente
quatro a seis caceias, cada uma com cerca de 400 redes, realizando o
recolhimento de uma caceia por dia.
O tempo médio de imersão das caceias foi de 4,86 dias (116,8 horas),
variando de 4 horas a 35 dias (n= 3.118). Períodos de imersão superiores a sete
dias geralmente ocorreram quando as redes foram deixadas na área de pesca
enquanto as embarcações retornavam ao porto para descarga. Esta estratégia
evita a necessidade de aguardar vários dias para o recolhimento das redes no
início de cada viagem de pesca. Também visa a “reserva” de bons pesqueiros, a
redução da carga para os deslocamentos até o porto de descarga e, ainda, a
possibilidade de operar um número de redes superior à capacidade de transporte
da própria embarcação.

3.3. Dados analisados

O sistema de rastreamento de embarcações (Vessel Monitoring System –


VMS) é uma tecnologia que permite a localização geográfica temporal de uma
unidade pesqueira, sendo que as prerrogativas básicas são o acompanhamento
do deslocamento de um barco em tempo real e totalmente independente de
qualquer membro da tripulação. O sistema é composto de uma unidade geradora
de posicionamento geográfico “datada” (“Time Stamp”) (e.g. sistema de
posicionamento global – GPS), podendo dispor de GPS próprio ou utilizar o
equipamento da embarcação e, de uma unidade transmissora (“antena”). Órgãos
internacionais de fiscalização e ordenamento pesqueiro recomendam que todo o

17
sistema de rastreamento seja resistente às intempéries do ambiente marinho e
construído de forma que o equipamento seja inviolável.
O posicionamento geográfico é gerado a bordo de forma independente
pelo equipamento do GPS, que calcula a cada instante a localização da
embarcação. O sistema de rastreamento instalado a bordo, por sua vez, recebe
de forma automática e contínua estes dados de posicionamento e transmite via
satélite, para a empresa fornecedora do serviço. Esta armazena e disponibiliza os
posicionamentos da embarcação para o seu cliente (contratante do serviço e/ou
órgão gestor) (figura 3).

Figura 3 – Representação esquemática da geração e transmissão de dados de rastreamento via


satélite de embarcações pesqueiras. 1) Embarcação pesqueira e antena de transmissão; 2)
Satélite de telecomunicações VMS; 3) Central de Rastreamento em terra. Retirado de Collecte
Localization Satellites – CLS disponível em <http://www.cls.fr>.

A transmissão dos dados pode ocorrer por diferentes meios. A via mais
utilizada são os satélites de telecomunicação dedicados, dispostos tanto em
órbitas estacionárias (e.g. OmniSat®), como formando constelações em distintas
órbitas (e.g. ARGOS™). Os dados também podem ser transmitidos através de
telefonia satelital (e.g. GlobalStar®), telefonia celular (e.g. Jabursat®) ou por rádio
freqüência, estes dois últimos abrangendo apenas áreas próximas à costa. Além
da data, hora, latitude e longitude, podem ser transmitidos quaisquer outros dados

18
gerados por sensores instalados a bordo e acoplados ao sistema transmissor
(e.g. temperatura superficial do mar, profundidade local). O sistema pode ainda
dispor de troca de informações em duas vias (do barco para o continente e do
continente para o barco) (MATHEWS, 1999)
A utilização obrigatória do VMS pelas embarcações engajadas no
programa de arrendamento iniciou-se em um momento em que as autoridades
governamentais dispunham de poucos recursos tecnológicos para seu devido
acompanhamento e utilização. Nesse sentido, a princípio, a tecnologia utilizada
pelas embarcações para atender suas demandas legais careceu de definições e
restrições tecnológicas e práticas de controle e procedimentos punitivos. Ao longo
das operações de pesca monitorada, no entanto foi avaliada a eficácia do tipo de
dados enviados por cada sistema e desenvolvidos critérios e métodos para a
padronização e disciplina do uso do sistema em todo o país. Esse trabalho foi
inicialmente conduzido no âmbito de convênios de cooperação científica e
tecnológica celebrados entre o Governo Federal e instituições de pesquisa, como
a Universidade do Vale do Itajaí (Grupo de Estudos Pesqueiros – GEP), e teve
um papel fundamental, sobretudo, em credenciar os sistemas de rastreamento,
disponíveis no mercado, aptos a cumprir as exigências do controle da atividade
pesqueira profunda no Brasil (CABRAL et al., 2003).
Em uma segunda etapa foi desenvolvido um sistema de rastreamento de
embarcações totalmente automatizado; baseado na internet, denominado
RASTRO, que possibilitou a visualização simultânea das embarcações
monitoradas, independentemente do sistema comercial utilizado, representando o
deslocamento das mesmas em mapas dinâmicos, e permitindo o resgate dos
dados de rastreamento no formato de planilhas eletrônicas (figura 4). A solução
desenvolvida permitiu o monitoramento mais amplo e simultâneo da frota
arrendada, possibilitou que o Governo realizasse auditorias e possibilitou à
indústria pesqueira conduzir estrategicamente suas operações comerciais.
Toda a interface visual e procedimentos internos do sistema concebido
foram baseados em tecnologias OpenSouce (código aberto), apenas o
gerenciador do banco de dados foi desenvolvido a partir do sistema ORACLE®,
que na época era o único a dispor de uma extensão de gerenciamento de objetos
geoespaciais (CABRAL et al., 2003).

19
Figura 4 – Representação esquemática da geração e transmissão dos dados de rastreamento via
satélite.

3.3.1. Tratamento dos dados no sistema RASTRO

3.3.1.1. Cálculo do tempo decorrido entre o envio dos dados de posição

O sistema calcula automaticamente, entre transmissões consecutivas,


individualmente para cada embarcação, a diferença de tempo (dT, em décimos de
hora) de acordo com a equação:

 hora   hora 
dT =  data +  −  data +  ∴ dT = data.hora2 − data.hora1 (1)
 60  2  60 1

Onde: dT – Diferença de tempo entre transmissões consecutivas;


data.hora2 – Data da transmissão subseqüente;
data.hora1 – Data da transmissão anterior.

20
3.3.1.2. Cálculo da distância percorrida entre o envio de dados

A distância percorrida (dD, em milhas náuticas) é calculada através da


fórmula de Haversine, abaixo, que estima a distância entre dois pontos em uma
superfície esférica (SINNOTT, 1984).

  
2  lat - lat 1  2  long 2 - long1 
  sen  2  + cos(lat1 ) * cos(lat 2 ) * sen   
  2   2  
dD = R * 2 * arctan 2 *  (2)
 
1 − sen 2  2
 lat - lat1  2  long 2 - long1  
  + cos(lat1 ) * cos(lat 2 ) * sen   
 
  2   2   

Onde: dD – Distância entre transmissões consecutivas, em milhas náuticas;


R – Raio da Terra, adotando o raio médio da Terra igual a 3.438,14 Mn;
lat1 – Latitude em radianos da transmissão inicial;
lat2 – Latitude em radianos da transmissão final;
long1 – Longitude em radianos da transmissão inicial; e
long2 – Longitude em radianos da transmissão final.

3.3.1.3. Cálculo da velocidade média entre o envio de dados

Essa distância possibilita, então, o calculo da velocidade média (Vm)


desenvolvida a partir de:

dD
Vm = (3)
dT

Convencionou-se denominar a transmissão inicial (anterior) de “1” e a


transmissão final (subseqüente) de “2”, os parâmetros calculados e estimados
sempre foram atribuídos a transmissão 2. Estes cálculos quando acrescentados
aos dados de rastreamento das embarcações permitiram uma melhor
interpretação das viagens de pesca.
No presente trabalho foram utilizados os dados de rastreamento via satélite
referentes a nove embarcações arrendadas de emalhe de fundo, direcionadas à

21
captura do peixe-sapo (Lophius gastrophisus) na região do talude da costa
sudeste e sul do Brasil, que operaram entre 2001 e 2002, realizando 78 viagens
de pesca (tabela 1).

Tabela 1 – Viagens de pesca da frota de emalhe de fundo arrendada que operou no sudeste e sul
do Brasil entre 2001 e 2002.
Data Latitude (°S) Longitude (°W) Posicionamentos
Embarcação Viagem
Inicial Final Máxima Mínima Máxima Mínima Número
Antoxo 1 02/03/01 08/04/01 -25,100 -29,801 -44,776 -48,132 44
Antoxo 2 14/04/01 23/05/01 -29,048 -30,502 -47,843 -48,367 55
Antoxo 3 04/06/01 26/06/01 -29,000 -30,717 -47,817 -48,883 126
Antoxo 4 03/07/01 26/07/01 -28,967 -30,917 -47,750 -49,350 57
Antoxo 5 29/07/01 25/08/01 -29,004 -31,717 -47,796 -50,000 0
Antoxo 6 14/09/01 24/10/01 -28,629 -33,020 -47,280 -50,430 242
Antoxo 7 29/10/01 22/11/01 -32,033 -32,626 -50,054 -50,352 140
Antoxo 8 22/11/01 09/01/02 -31,886 -33,510 -49,973 -50,660 247
Antoxo 9 13/01/02 15/02/02 -31,869 -32,700 -49,959 -50,383 195
Antoxo 10 16/02/02 02/04/02 -30,800 -33,783 -48,967 -51,217 127
Antoxo 11 03/04/02 30/04/02 -30,177 -33,317 -50,011 -50,489 72
Antoxo 12 01/05/02 19/05/02 -31,780 -33,431 -49,912 -50,563 111
Antoxo 13 13/07/02 27/08/02 -31,239 -33,493 -49,978 -50,641 274
Antoxo 14 30/08/02 02/10/02 -31,927 -33,985 -49,986 -50,483 202
Belen 1 16/07/01 08/08/01 -26,067 -27,701 -46,000 -47,224 49
Belen 2 17/09/01 29/10/01 -26,067 -28,217 -45,918 -47,189 132
Belen 3 15/11/01 21/12/01 -26,269 -29,894 -46,307 -48,157 160
Belen 4 10/01/02 14/02/02 -26,193 -27,000 -46,175 -46,534 166
Belen 5 15/02/02 11/04/02 -26,112 -27,114 -46,081 -46,612 246
Belen 6 02/05/02 18/06/02 -24,461 -26,718 -44,302 -46,456 169
Belen 7 18/06/02 21/08/02 -24,311 -25,067 -43,853 -44,973 170
Belen 8 28/08/02 13/10/02 -24,186 -25,087 -43,387 -44,772 246
Eder Sands 1 20/06/01 27/06/01 -30,551 -31,967 -48,449 -50,000 39
Eder Sands 2 16/08/01 14/10/01 -30,600 -32,131 -48,595 -50,076 353
Eder Sands 3 17/10/01 18/12/01 -24,509 -33,110 -44,255 -50,427 343
Eder Sands 4 28/01/02 22/04/02 -24,383 -32,098 -41,899 -50,088 287
Eder Sands 5 26/04/02 12/06/02 -30,477 -32,057 -45,872 -50,061 282
Eder Sands 6 11/09/02 25/10/02 -29,960 -31,967 -47,802 -50,011 266
Juno 1 03/01/01 02/03/01 -23,668 -25,963 -41,737 -45,845 180
Juno 2 20/03/01 14/05/01 -28,917 -31,000 -47,750 -49,317 318
Juno 3 19/05/01 11/07/01 -30,512 -31,828 -48,150 -49,983 312
Juno 4 15/07/01 05/09/01 -30,698 -31,765 -48,819 -49,915 254
Juno 5 19/09/01 10/11/01 -28,813 -33,653 -47,672 -51,022 295
Juno 6 11/11/01 16/04/02 -28,933 -34,16 -47,761 -51,584 373
Juno 7 17/04/02 25/06/02 -30,922 -33,915 -21,126 -51,401 416
Juno 8 25/06/02 30/08/02 -33,457 -33,869 -50,756 -51,439 384
Juno 9 02/09/02 10/10/02 -30,941 -33,871 -49,237 -51,420 233
Sin Comentarios 1 09/09/01 25/10/01 -23,793 -24,670 -42,658 -44,519 259
Sin Comentarios 2 29/10/01 14/12/01 -24,808 -27,952 -44,500 -47,859 102
Sin Comentarios 3 20/01/02 29/03/02 -27,172 -32,980 -46,903 -50,449 0
Sin Comentarios 4 07/04/02 18/06/02 -27,217 -30,723 -46,936 -48,871 434
Sin Comentarios 5 22/06/02 15/08/02 -25,933 -27,767 -45,567 -47,500 329
Sin Comentarios 6 18/08/02 07/10/02 -27,426 -28,327 -46,046 -48,871 286

22
Data Latitude (°S) Longitude (°W) Posicionamentos
Embarcação Viagem
Inicial Final Máxima Mínima Máxima Mínima Número
Slebech 1 11/07/01 09/09/01 -24,267 -27,716 -43,651 -44,965 45
Slebech 2 12/09/01 29/10/01 -24,146 -25,998 -43,322 -45,750 258
Slebech 3 07/11/01 11/12/01 -25,931 -28,979 -45,768 -47,832 173
Slebech 4 26/12/01 20/02/02 -25,085 -27,435 -45,630 -47,152 0
Slebech 5 16/02/02 06/04/02 -25,929 -27,426 -45,643 -46,562 0
Slebech 6 09/04/02 02/07/02 -26,012 -27,446 -46,059 -47,155 72
Slebech 7 04/07/02 30/09/02 -26,203 -29,541 -46,194 -48,058 433
South Coast 1 24/02/01 30/04/01 -23,700 -28,100 -16,083 -44,467 379
South Coast 2 03/05/01 23/07/01 -23,679 -29,241 -41,386 -47,999 470
South Coast 3 26/07/01 13/10/01 -23,637 -23,825 -41,331 -42,607 427
South Coast 4 17/10/01 17/12/01 -23,657 -23,818 -41,395 -42,369 346
South Coast 5 08/01/02 08/03/02 -23,555 -23,805 -41,252 -41,989 316
South Coast 6 10/03/02 27/05/02 -23,608 -24,139 -41,083 -43,212 474
South Coast 7 31/05/02 29/08/02 -23,673 -30,597 -41,447 -48,818 527
South Coast 8 29/08/02 03/10/02 -23,682 -24,171 -41,476 -43,223 215
Suffolk Chieftain 1 25/02/01 04/04/01 -24,008 -25,866 -43,076 -45,351 54
Suffolk Chieftain 2 11/04/01 24/06/01 -24,833 -29,301 -44,583 -48,971 445
Suffolk Chieftain 3 27/06/01 03/09/01 -25,182 -26,933 -44,821 -46,449 348
Suffolk Chieftain 4 05/09/01 13/11/01 -25,092 -26,188 -44,766 -46,171 388
Suffolk Chieftain 5 16/11/01 30/12/01 -25,347 -29,172 -44,928 -47,930 270
Suffolk Chieftain 6 03/01/02 06/02/02 -25,376 -26,969 -44,956 -46,052 203
Suffolk Chieftain 7 07/02/02 23/04/02 -24,893 -26,291 -44,660 -679,050 463
Suffolk Chieftain 8 02/05/02 07/07/02 -25,658 -26,944 -45,081 -46,866 251
Suffolk Chieftain 9 09/07/02 14/09/02 -24,741 -26,308 -44,496 -46,212 0
Suffolk Chieftain 10 21/09/02 08/10/02 -24,529 -25,494 -44,172 -45,031 108
Titan 1 02/01/01 12/03/01 -23,673 -23,918 -41,757 -42,951 90
Titan 2 20/03/01 15/05/01 -28,639 -30,693 -47,246 -48,826 288
Titan 3 19/05/01 13/07/01 -28,639 -30,693 -47,246 -48,826 303
Titan 4 20/07/01 18/09/01 -28,735 -34,350 -47,498 -51,702 119
Titan 5 16/10/01 10/12/01 -28,825 -33,944 -47,691 -51,355 278
Titan 6 13/12/01 19/02/02 -28,607 -30,732 -47,164 -48,886 345
Titan 7 22/02/02 14/04/02 -28,604 -30,829 -47,186 -49,032 0
Titan 8 19/04/02 24/06/02 -28,557 -29,505 -47,130 -48,069 349
Titan 9 28/06/02 23/08/02 -28,469 -29,739 -47,018 -48,095 298

A base de dados de rastreamento via satélite utilizada foi composta por


17.710 registros de posicionamento geográfico em decimais de grau (projeção
geodésica Datum World Geodetic System 1984), contendo o nome da
embarcação, data e hora da geração do posicionamento (time stamp) referente ao
Tempo Universal Coordenado (Coordinated Universal Time – UTC), latitude,
longitude, diferença de tempo entre as transmissões (horas), distância entre
posicionamentos (milhas náuticas) e a velocidade média desenvolvida (nós).
Simultaneamente e de forma independente, em cada viagem de pesca,
Observadores de Bordo coletaram in loco, durante as operações de pesca, dados
de cada lance de pesca, gerando uma base composta por posições geográficas

23
em décimos de grau (projeção geodésica Datum World Geodetic System 1984),
data e hora do inicio e final dos lances de pesca, profundidade local, composição
e peso das espécies capturadas (ver detalhes em Perez et al., 2005 e Perez &
Wahrlich, 2004).

3.4. Análise dos dados

3.4.1. A dinâmica da exploração do recurso peixe-sapo avaliada a partir de dados


de rastreamento satelital

3.4.1.1. Tratamento dos dados de rastreamento

Nesta fase os dados de posicionamento geográfico originados pelo sistema


de rastreamento foram explorados no sentido de mapear áreas de operação de
pesca e classificar atividades prováveis de cada embarcação em cada etapa da
viagem. Esse processo envolveu o cruzamento de informações inferidas acima
com observações realizadas simultaneamente a bordo durante cada viagem o
que possibilitou em alguns casos uma validação dos dados de rastreamento.
As posições geográficas foram convertidas da projeção geodésica Datum
World Geodetic System 1984 para a projeção geodésica Datum South America
1969, estabelecido como o sistema geodésico regional para a América do Sul
(IBGE, 1983). Este procedimento foi realizado utilizando um Sistema de
Informação Geográfica (ArcGis 8.3, ESRI®).
Os registros de posicionamento geográfico gerados automaticamente pelo
sistema de rastreamento podem apresentar falhas na transmissão, ocasionando
lacunas de informação, originadas por diversos motivos como, por exemplo,
avaria do equipamento de transmissão ou corte de energia elétrica. As falhas de
transmissão podem ocorrer tanto por períodos ininterruptos (e.g. da metade até o
término da viagem) como oscilando ao longo da viagem (e.g. dados enviados dia
sim dia não). A constância do intervalo de tempo entre transmissões consecutivas
é um fator determinante para a interpretação fidedigna dos padrões de operação
de pesca da viagem. Nesse sentido o primeiro passo foi verificar em cada viagem

24
a taxa de transmissão média, de forma a selecionar viagens com uma quantidade
de dados adequados para o estudo.
Eram esperadas seis posições diárias, com intervalos regulares de quatro
horas. A taxa de transmissão foi estimada para cada viagem de pesca a partir do
número de dados esperados em relação ao número de dados recebidos pela
equação 4:

tx.trans =
∑ número.de. posicionamentos (4)
número.de.dias * 6

Onde: tx.trans – Taxa de transmissão, proporção;


número.de.posicionamentos – Quantidade de posicionamentos recebidos
na viagem de pesca;
número.de.dias – Duração da viagem, em dias.

Uma viagem de pesca apresenta duas etapas bem distintas no que se


refere ao deslocamento da embarcação, (i) trânsito do porto à área de pesca e (ii)
trânsito na área de pesca. Dessa forma, os registros de deslocamento de cada
viagem de pesca foram classificados de acordo com o tipo de deslocamento
desenvolvido. Todos os registros de deslocamento entre o porto a área de pesca
e da área de pesca ao porto foram chamados de etapa “trânsito do porto à área
de pesca”, já os demais posicionamentos foram chamados de etapa “trânsito na
área de pesca”.

3.4.1.2. Tratamento dos dados de Observadores de Bordo

A base de dados gerada pelos Observadores de Bordo durante cada


viagem foi analisada no sentido de extrair parâmetros comparáveis àqueles
inferidos a partir dos dados de rastreamento.
Inicialmente, o mesmo procedimento de conversão da projeção geodésica
dos posicionamentos geográficos realizados com dados obtidos pelo
rastreamento via satélite foi efetuado para os dados de localização registrados a
bordo das embarcações. Em seguida, considerando que diariamente a operação
de pesca desta frota inicia com o recolhimento de uma rede submersa e posterior

25
relançamento desta rede, buscou-se determinar os horários padronizados de
início e término do recolhimento e lançamento das redes, visando, assim
descrever a rotina diária de operação.
As velocidades médias de deslocamento, desempenhadas nas operações
de pesca realizadas, foram estimadas com a intenção de se encontrar um
parâmetro de comparação entre a atividade observada e o padrão de velocidade
estimado através dos dados de rastreamento. Foi calculada, para cada
lançamento e recolhimento, a diferença de tempo (horas), a distância percorrida
(milhas náuticas) e, estimada a velocidade média (nós). Estas estimativas foram
obtidas com a mesma metodologia aplicada aos dados de rastreamento,
anteriormente descrita.
A disposição dos lances de pesca ao longo da área de pesca foi
representada por linhas formadas entre a posição geográfica inicial e final do
lançamento das redes de pesca, utilizando um Sistema de Informação Geográfica
(ArcGis 8.3, ESRI®) para realizar este procedimento. Foi observado que durante
as viagens de pesca os lances eram realizados ao longo da área explorada
formando concentrações bem definidas. Estas concentrações de lances foram
interpretadas como “pesqueiros” e, em cada viagem, foram identificadas e
classificadas unitariamente.

3.4.1.3. Validação dos dados de rastreamento

Durante uma viagem de pesca, as embarcações desenvolviam diferentes


velocidades de acordo com as atividades realizadas (e.g. navegação, lançamento
e recolhimento). Assim, mudanças de velocidade detectadas no decorrer do dia a
partir das estimativas de velocidade geradas pelo VMS, foram consideradas
indicadores de mudanças nas atividades da embarcação.
Dessa forma, procurou-se comparar as atividades registradas a bordo com
aquelas inferidas pelos dados do rastreamento via satélite. A validação dos dados
de rastreamento foi realizada de duas formas. Inicialmente fez-se o pressuposto
de que as velocidades desenvolvidas pelas embarcações, durante o período do
dia em que ocorre a atividade de pesca, são similares para ambas as fontes de
dados. Para avaliar esse pressuposto, as distribuições de freqüência de

26
velocidades estimadas pelas duas fontes de informação foram comparadas a
partir de um teste de Kolmogorov-Smirnov (ZAR, 1996).
A seguir para cada (i) viagem e em (ii) cada pesqueiro o tempo total em
que a embarcação permaneceu com velocidade de pesca (variável dependente),
estimado com os dados do rastreamento, foi comparado ao tempo total de
duração das operações de lançamento e recolhimento registrado a bordo através
de uma regressão linear, sendo a hipótese nula (H0) que a declividade dessa
regressão seja aproximadamente 1, α = 0,005).

3.4.1.4. Orçamento de tempo

Os registros contínuos e completos do deslocamento de uma embarcação,


disponibilizados pelo rastreamento via satélite, durante uma viagem de pesca,
permitiram quantificar quanto tempo foi despendido nas diferentes atividades
desenvolvidas como: o tempo gasto no deslocamento entre o porto e a área de
pesca, o tempo gasto permanecendo pescando em determinada viagem de pesca
e o tempo gasto se deslocando entre os diferentes pesqueiros explorados na
viagem.
Estas estimativas de tempo despendido nas distintas atividades
desenvolvidas durante as viagens foram realizadas a partir dos dados de
rastreamento da etapa “trânsito na área de pesca” de cada viagem, onde a taxa
de transmissão de dados foi igual ou superior a 90%.

3.4.1.5. Ocupação da área de pesca

A ocupação da área de pesca pela frota arrendada foi abordada em termos


de fluxo de entrada de embarcações na pescaria, distribuição do esforço de pesca
ao longo dos trimestres, número de embarcações operando simultaneamente no
mesmo intervalo de latitude e do comportamento individual de deslocamento
latitudinal em função do tempo.
Foram utilizadas as duas fontes de informação em conjunto para descrever
a ocupação da área de pesca. O fluxo de entrada de embarcações foi descrito a
partir das datas de início e término da atividade de pesca em águas brasileiras.

27
A distribuição do esforço de pesca no decorrer dos trimestres foi
representada em mapas batimétricos, utilizando os posicionamentos geográficos
do rastreamento via satélite para caracterizar as áreas onde efetivamente ocorreu
atividade de pesca. Para isso, foram utilizados apenas os posicionamentos da
etapa “trânsito na área de pesca” em que a velocidade de deslocamento foi
inferida como atividade de pesca. A estes mapas, foram acrescidos os dados de
posicionamento geográfico dos lances de pesca registrados por Observadores de
Bordo visando enriquecer a análise e preencher as eventuais falhas de
transmissão.
Procurou-se avaliar se ocorreu sobreposição de embarcações realizando
atividade de pesca simultaneamente em uma mesma área. Para isso, o intervalo
latitudinal da área de pesca, entre 23°S e 34°S, foi dividido em intervalos de 0,5°
de latitude e somado o número de embarcações que realizaram atividade de
pesca no mesmo intervalo de latitude em cada mês da pescaria. Assim, foi gerado
um gráfico de interpolação pelo método de kriging para representar o número de
embarcações que realizaram atividade de pesca simultaneamente no mesmo
intervalo de tempo.
O deslocamento latitudinal ao longo do tempo foi representado pela latitude
em função da data. Foram utilizados os posicionamentos do rastreamento via
satélite da etapa “trânsito na área de pesca” referentes a atividade de pesca. A
data do posicionamento, composta por dia/mês/ano (variável discreta), foi
convertida para valores contínuos, assumindo que o dia 01/01/2001 é o dia 1 e
último dia da pescaria, 07/11/2002 é o dia 676. Para complementar as falhas de
transmissão de dados do rastreamento, foram adicionados os dados do lances de
pesca, latitude e data das posições iniciais e finais de cada rede pesca, incluído
os dados do lançamento e do recolhimento da rede. As restrições espaciais de
operação de pesca (rodízio nas sub-áreas) foram representados por polígonos
nos gráficos.

3.4.1.6. Distribuição espacial das operações de pesca

O objetivo de uma pescaria em escala industrial é o retorno financeiro,


buscando o maior lucro no menor intervalo de tempo (HILBORN & WALTERS,

28
1992). Para atingir esse objetivo os pescadores aplicam diferentes táticas de
pesca (MATIESEN, 2004). Para a pescaria analisada, as táticas podem ser
definidas como:

(i) Encontrar uma concentração do recurso julgada rentável e permanecer


no local até a abundância diminuir, gastando pouco combustível em
deslocamentos. Esta tática terá sucesso se a disponibilidade do recurso
se mantém estável ao longo da exploração, e
(ii) Procurar o recurso em diversos locais se deslocando por maiores
distâncias até encontrar uma concentração favorável do recurso. Esta
tática terá sucesso se as concentrações encontradas foram grandes o
suficiente para cobrir os gastos de navegação.

Se as embarcações que explotam um mesmo recurso pesqueiro exibem


diferentes táticas espaciais de exploração, suas viagens podem ser classificadas
de acordo com a distribuição dos lances na área de pesca. Por exemplo, uma
embarcação que concentra sua atividade de pesca em uma área restrita onde
permanece durante a maior parte da viagem, estaria priorizando uma determinada
concentração lucrativa do recurso, adotando uma “estratégia estacionária”. Por
outro lado uma embarcação que altera suas áreas de pesca durante a viagem
deslocando-se em busca de concentrações lucrativas, estaria adotando uma
“estratégia móvel”.
Para se proceder a classificação das viagens de pesca de emalhe de
profundidade de forma objetiva testou-se a aplicação de dois métodos envolvendo
os dados de posicionamento geográfico durante cada viagem de pesca.

Índice de Morisita Padronizado

Inicialmente aplicou-se em cada viagem o Índice de Morisita Padronizado


(KREBS, 1999). Este índice indica o tipo de distribuição espacial (uniforme,
aleatória ou agrupada) e têm a vantagem de ser independente tanto da densidade
da população quanto do tamanho amostral. É baseado na contagem de
“organismos” presentes dentro do amostrador (quadrat), a forma como se

29
distribuem os “organismos” nos quadrats (ocupando poucos ou vários quadrats e
ainda a proporção de “organismos” nestes) irá determinar o valor do índice.
Na presente aplicação, esse índice foi estimado utilizando como
amostrador uma grade quadricular (quadrat) formada por 289 polígonos com
intervalos de 0,125° de latitude por 0,125° de longitude (175km2), cobrindo toda a
extensão da área de pesca (figura 5).

Figura 5 – Quadrats utilizados como “amostradores” para a contagem de pontos de rastreamento


das operações de pesca arrendada de emalhe profundo no Brasil.

Os “organismos” foram representados por pontos referentes à posições


geográficas. A contagem do número de pontos presentes em cada unidade da
grade amostral foi realizada com o auxílio de um Sistema de Informação
Geográfica (ArcGis 8.3, ESRI®). O Índice de Morisita Padronizado (Ip) foi
calculado a partir de tabelas de contingência geradas com os posicionamentos.
Inicialmente procedeu-se o cálculo do Índice de Dispersão de Morisita (Id)
seguindo a seguinte equação básica (equação 5):

30
 ∑ x2 − ∑ x 
Id = n *  
 ( x )2 − x 
 ∑ ∑  (5)

Onde: Id – Índice de Dispersão de Morisita;


n – Número total de quadrats do amostrador;
Σx – Soma do número de pontos nos quadrats;
Σx² - Soma do número de pontos ao quadrado nos quadrats.

Na seqüência foram calculados os Índices de Uniformidade (Mu) e de


Agregação (Mc) de acordo com as equações descritas abaixo:

χ 02.975 − n + ∑ x
Mu =
(∑ x) − 1 (6)

χ 02.025 − n + ∑ x
Mc =
(∑ x ) − 1 (7)

Onde:
χ 02.975 – Valor de chi-quadrado para um α=0,975;

χ 02.025 – Valor de chi-quadrado para um α=0,025;

Com a avaliação dos valores calculados pelas três equações acima citadas
(equações 5, 6, 7), obtêm-se a fórmula específica para o cálculo do Índice de
Morisita Padronizado (IMP) que tem uma escala que varia de -1,0 a +1,0, com o
limite de confiança de 95% a +0,5 e -0,5.
O Índice de Morisita Padronizado (IMP) é calculado utilizando uma
equação que envolve o índice Morisita e os índices de dispersão anteriormente
descritos. Para este cálculo, é prevista a utilização de quatro diferentes equações,
que são empregadas de acordo com a distribuição espacial específica dos dados.

31
A equação que será utilizada para padronizar o índice é determinada através de
condições pré-estabelecidas.
Quando:
 I − Mc 
I p = 0,5 + 0,5 *  d 
Id ≥ Mc > 1.0:  n − Mc  (8)
 I −1 
I p = 0,5 *  d 
Mc > Id ≥ 1.0:  M c −1 (9)
 I −1 
I p = −0,5 *  d 
1.0 > Id > Mu:  Mu −1 (10)
 I − Mu 
I p = −0,5 + 0,5 *  d 
1.0 > Mu > Id:  Mu  (11)

A definição de distribuição espacial do Índice de Morisita Padronizado é


dada na tabela 2.

Tabela 2 – Escala de valores do Índice de Morisita Padronizado.

Tipo de distribuição Índice de Morisita Padronizado


Uniforme -1,0 à -0,5
Aleatória -0,5 à 0,5
Agrupada 0,5 à 1,0

O índice foi calculado para todas as viagens utilizando os lances de pesca.


Devido à extensão do conjunto total de redes fundeados em cada lance de pesca,
cada lance foi representado por três posições geográficas eqüidistantes com a
intenção de representar melhor a disposição da rede de pesca. Ao todo foram
gerados 11.199 pontos a partir de 3.733 lances de pesca.
O índice de Morisita Padronizado também foi calculado para cada viagem
de pesca com os dados do rastreamento via satélite, utilizando os
posicionamentos geográficos da etapa “trânsito na área de pesca” em que as
velocidades estimadas indicavam a atividade de pesca. Para isso foram
consideradas apenas as viagens com taxa de transmissão superior a 90%,
totalizando 8.399 posicionamentos geográficos.
A distribuição de freqüência dos índices calculados para as mesmas
viagens de pesca com os dados dos lances de pesca e dados de rastreamento
32
via satélite foram comparados através de um teste de Kolmogorov-Smirnov (ZAR,
1996). A partir dos resultados obtidos, foram analisadas as distribuições dos
índices calculados para as viagens de pesca e estabelecidos valores limites de
IMP para o enquadramento objetivo das estratégias de pesca: “móvel” ou
“estacionária”.

Índice de Amplitude Latitudinal

O segundo método para classificação da estratégia espacial de pesca


adotada pelas embarcações arrendadas de emalhe em operações direcionadas à
captura do peixe-sapo foi definido como a amplitude latitudinal (AL) coberta
durante essas operações:

AL = Lat f − Lat i (12)

Onde Latf e Lati correspondem às latitudes do último e primeiro


posicionamentos geográficos na etapa “trânsito na área de pesca”,
respectivamente. Esse índice foi definido tomando-se como base o fato da
distribuição das áreas de pesca de peixe-sapo no Sudeste e Sul do Brasil ter sido
fundamentalmente determinada pelo componente latitudinal (norte – sul) em
detrimento do componente longitudinal, fortemente limitado pela largura do talude
brasileiro.
A distribuição de ALs calculadas para todas as viagens de pesca
rastreadas da frota arrendada de emalhe foi então analisada de forma a se definir
limites objetivos para classificação das estratégias: “móvel” e “estacionária”.
A sensibilidade de ambos os índices propostos para a classificação
objetiva das estratégias espaciais de pesca foi avaliada e, uma vez definida a de
melhor desempenho, procedeu-se a classificação das viagens de pesca nas duas
categorias acima. Este procedimento permitiu a análise da distribuição temporal e
espacial das viagens com diferentes estratégias e da influência dos fatores
temporais (ano, trimestre), espaciais (estratos latitudinais), operacionais da frota
(período de entrada da embarcação na pescaria) e legais (restrições espaciais de
pesca) na possível escolha entre uma viagem estacionária ou móvel. Essa

33
avaliação foi realizada a partir da construção de tabelas de contingência e
análises de chi-quadrado (ZAR, 1996).
Finalmente foi analisado o efeito da estratégia espacial adotada em cada
viagem sobre a produção total (kg por viagem) da embarcação durante a referida
viagem. Essa comparação foi conduzida através de um teste t-Student após
verificação de critério de normalidade da distribuição da variável considerada e a
possível influência dos fatores relacionados acima sobre as capturas e suas
interações com a estratégia espacial avaliadas através de uma Análise de
Variância Multifatorial (ZAR, 1996).

3.4.2. Avaliação da eficiência de pesca com base na Teoria do Forrageamento


Ótimo

Os modelos de forrageamento têm quatro elementos identificáveis: os


atores participantes; as escolhas que serão feitas; o retorno esperado; as
restrições intrínsecas e extrínsecas do forrageamento (ASWANI, 1998). Os
elementos identificados na pescaria de emalhe de fundo foram:
Atores: A frota em estudo era originária do Atlântico Norte composta
basicamente por embarcações de bandeira espanhola (6), inglesa (2) e belizenha
(1). Estas embarcações e suas tripulações já operavam com este método de
pesca anteriormente. Foram atraídas a operar em águas brasileiras por incentivos
governamentais (arrendamento) para realizar pesca exploratória, apresentando
poucas medidas restritivas, e por se tratar de um estoque virgem, com a
possibilidade de obter grandes rendimentos.
Escolhas: a atividade de pesca se resumiu em lançar redes de pesca em
algum pesqueiro, avaliar seu rendimento após determinado período de tempo e,
baseado no retorno obtido, tomar a decisão de onde lançar novamente as redes,
podendo ser no mesmo pesqueiro ou em outro.
Recompensa: o retorno esperado era o ganho monetário da captura de
peixe-sapo.
Restrições: as restrições intrínsecas são pertinentes às características
operacionais e físicas do método de pesca e das embarcações, já as restrições
extrínsecas foram promovidas pelo órgão gestor que impôs limites espaciais e
temporais de operação de pesca a algumas embarcações. Entretanto, essas
34
limitações não serão consideradas na aplicação do modelo de forrageamento
uma vez que, como se verá a seguir, escolheu-se uma embarcação como modelo
a qual não esteve submetida a essas restrições. No que diz respeito às
características operacionais, a duração diária da operação de pesca
(recolhimento e lançando rede), de cerca de 10 horas, permitia trabalhar em
apenas uma rede por dia. Enquanto que as características físicas limitavam o
volume de captura diário possível de ser processado por dia, condicionado pela
capacidade de congelamento do sistema de conservação (túnel de resfriamento
por ar forçado). A duração das viagens era determinada pela capacidade de
armazenamento (tamanho do porão) e autonomia de mar.
Os atores envolvidos dispõem de uma série de decisões ou escolhas
enquanto forrageiam. Geralmente os modelos da Teoria do Forrageamento Ótimo
avaliam duas decisões: (i) que área explorar; e (ii) quando abandonar esta área
(ASWANI, 1998; STEPHENS & KREBS, 1986). Por convenção os modelos de
forrageamento ótimo possuem três pressupostos obrigatórios: (1) exclusividade
de procura e exploração, o predador não pode explorar (manipular) presas
enquanto realiza a procura; (2) encontro seqüencial Poisson, as presas são
encontradas uma a uma, e a probabilidade de encontrar cada presa em um curto
intervalo de tempo é constante; e (3) informação completa, o forrageador conhece
ou se comporta como se conhecesse as regras do modelo.

3.4.2.1. Dados utilizados

Foram analisados os dados de operação de pesca provenientes da


embarcação Juno, que atuou ao longo de todo o ciclo da pescaria, entre início de
2001 e meados de 2002, realizando nove viagens completas de pesca.
Os dados das operações de pesca, registrados por Observadores de
Bordo, foram compostos por posicionamentos geográficos do início e final do
lançamento da rede, pela data e hora inicial e final do lance, número de redes,
duração dos lançamentos, tempo de imersão, duração dos recolhimentos, e
captura processada de peixe-sapo, referentes a cada lance de pesca.
Os dados do rastreamento via satélite foram compostos por
posicionamentos geográficos, data e hora da transmissão, tempo transcorrido

35
entre transmissões consecutivas, distância percorrida e velocidade média das
viagens que apresentaram uma taxa de transmissão superior à 90%. Foi
considerado que a captura de peixe-sapo de cada lance é o somatório dos três
principais produtos processados a bordo (cola, carrilheiras e caras) (WAHRLICH
et al., 2004).

3.4.2.2.1. Modelo básico

A eficiência do forrageamento foi avaliada através da maximização da Taxa


de Retorno Líquido. A Taxa de Retorno Líquido (R) representa o ganho energético
líquido obtido por unidade de tempo resultante do processo de forrageamento.
Nos modelos de forrageamento ótimo considera-se R uma variável que deve ser
maximizada pelo forrageador. É expressa pela seguinte equação:

Ef
R= (13)
Tf

Onde: Ef – Ganho energético líquido total do forrageamento;


Tf – Tempo total despendido no forrageamento.

O ganho energético líquido do forrageamento é decomposto em dois


termos: o ganho bruto do forrageamento (Eb) e o gasto energético decorrente da
procura do alimento (S) de forma que:

E f = Eb − S (14)

Assumindo que os encontros são linearmente relacionados ao tempo de


procura, então podemos relacionar o ganho energético com o tempo de procura
da seguinte forma:

Eb = λ ⋅ e ⋅ Ts (15)

36
Onde: Eb – Ganho energético bruto;
λ – Taxa de encontro de presas por unidade de tempo;
e - É a energia média ganha por encontro;
Ts – É o tempo total de procura de presas.

O gasto energético decorrente da procura de alimento (S) também pode


ser expresso como função linear do Tempo de Procura seguindo a equação:

S = s ⋅ Ts (16)

Onde: s – É o gasto energético médio por unidade de tempo de procura;

Assim o ganho energético líquido do forrageamento (Ef) pode agora ser


expresso combinando as equações 14, 15 e 16 em:

E f = (λ ⋅ e ⋅ Tt ) − (s ⋅ Ts ) (17)

O tempo total despendido na atividade de forrageamento (Tf) pode ser


considerado a soma de dois processos temporais: o tempo de procura por presas
(Ts) e o tempo de manipulação (Th) que inclui perseguição, captura e ingestão. Tf
pode ser expresso por:

T f = Ts + Th (18)

O Tempo de Manipulação (Th) por sua vez também pode ser relacionado ao
tempo de procura (Ts) e taxa de encontro de presas por unidade de tempo (λ) de
forma que a equação pode ser reescrita como:

37
(
T f = Ts + λh Ts ) (19)

Onde: h - É o tempo médio de manipulação de presas.


Substituindo-se, agora, as expressões 17 e 19 em 13, têm-se:

R=
(λe Ts ) − (sTs )
Ts + (λh Ts ) (20)

Que pode ser simplificada em:

λe − s
R= (21)
1 + λh

O modelo básico acima descrito por Stephens & Krebs (1986) foi adaptado
à pescaria arrendada do peixe-sapo com redes de emalhe a partir de um conjunto
de pressupostos de considerações descritas abaixo.

(i) A unidade procurada era o “pesqueiro”, definido como sendo um local com
uma densidade rentável de peixe-sapo, identificado através da
concentração de lances de pesca realizados continuamente em uma área
restrita.
(ii) O método de captura é passivo, ou seja, o forrageador ao passar por um
pesqueiro não “percebe” a densidade de presas instantaneamente, ele
lança uma rede de pesca onde julga provável a ocorrência de sua presa
alvo, quando ele recolhe a rede, avalia se continuará explorando o
pesqueiro ou sairá a procura de outro local.
(iii) Para proceder a classificação dos diferentes tipos de pesqueiros (“ricos” ou
“pobres”) seria necessário estimar a densidade de peixe-sapo ao longo da
área de pesca no decorrer da pescaria. Porém estimativas de densidade
populacional foram realizadas somente a partir das taxas de captura
obtidas (uma vez que as redes de emalhe não permitem uma estimativa de
área de influência). Ainda assim essa avaliação tendeu ser realizada
sempre com uma determinada defasagem, em parte, pelo longo tempo de

38
recolhimento das redes, em parte pela existência de mais de uma rede em
operação simultânea (ver abaixo).
(iv) Como as embarcações operavam simultaneamente com mais de uma rede
de pesca e possuíam grande poder de mobilidade, mais de uma rede podia
estar simultaneamente realizando captura no mesmo pesqueiro, bem como
mais de um pesqueiro podia ser explorado no mesmo intervalo de tempo.
Ou seja, ao mesmo tempo em que permanecia pescando continuamente
em um dado pesqueiro, ele poderia sair à procura de outra área. A taxa de
captura deste tipo de petrecho se mantém constante ao longo do tempo de
imersão (SANCHO et. al., 2003), assim, os componentes “perseguição” e
“captura” das presas, pertencentes ao Tempo de Manipulação, ocorrem
continuamente e simultaneamente em mais de uma rede, porém o
consumo (ingestão) das presas ocorrerá apenas no recolhimento da rede.
(v) Os pressupostos obrigatórios da Teoria do Forrageamento Ótimo foram
considerados satisfeitos observando-se as seguintes colocações: o
pressuposto de exclusividade de procura e exploração foi satisfeito uma
vez que durante a procura por outro pesqueiro as embarcações se
deslocavam com velocidade constante de navegação e durante o
recolhimento das redes (manipulação) nenhuma outra atividade era
desenvolvida; o pressuposto de encontro seqüencial Poisson foi cumprido,
pois, durante a procura, apenas uma área era explorada por vez; e o
pressuposto de informação completa também foi observado, considerando
que determinados pesqueiros foram explorados continuamente, enquanto
que em outros pesqueiros a exploração se deu por um curto intervalo de
tempo, levando a entender que as embarcações tinham a capacidade de
reconhecer concentrações mais rentáveis de seu recurso em detrimento de
áreas mais “pobres”.
(vi) A energia que será otimizada foi convertida em valores monetários baseados
em índices de preços médios estimados para o período da pescaria.

As variáveis do modelo básico foram escolhidas e, em alguns casos,


transformadas de forma a melhor aproximar as operações de pesca das conceitos
de forrageamento já definidos.

39
Assim, considerando a definição do Tempo de Procura (Ts), como o tempo
gasto na procura de presas ou concentrações do recurso alvo, assumiu-se que Ts
na pesca de emalhe foi o tempo, em dias, gasto no deslocamento entre um
pesqueiro e outro. Com os dados dos lances de pesca (obtidos por observadores
de bordo), para cada primeiro lance em um determinado pesqueiro, foi calculado
o tempo transcorrido entre este lançamento e o recolhimento anterior (realizado
em outro pesqueiro), entendendo que este é o tempo gasto no deslocamento na
procura de uma nova área. Com os dados do rastreamento via satélite, Ts foi
interpretado como sendo o tempo total em que a embarcação permaneceu em
velocidade de navegação durante a etapa “trânsito na área de pesca”, uma vez
que ao se deslocar à procura de uma nova área a embarcação não realizará
atividade de pesca (velocidade de deslocamento baixa).
A taxa de encontro com pesqueiros (λ) em cada viagem de pesca foi
calculada como sendo a razão entre o número total de pesqueiros explorados em
uma viagem e o tempo de procura total (Ts). As equações 22 e 23 representam o
cálculo de λ considerando Ts estimado a partir dos dados provenientes dos lances
de pesca (registrados por Observadores de Bordo) e provenientes do
rastreamento via satélite, respectivamente:

λlances = ∑ n°. pesqueiros i


(22)
∑T slances

λrastro = ∑ n°. pesqueiros i


(23)
∑T srastro

Onde: λlances – Taxa de encontro calculada a partir dos dados dos lances de pesca
(pesqueiros por dia);
λrastro – Taxa de encontro calculada a partir dos dados do rastreamento via
satélite (pesqueiros por dia);
n°.pesqueirosi – Número total de pesqueiros explorados na viagem i;
Tslances – Tempo de Procura total calculado com os lances de pesca na
viagem i (dias).

40
Tsrastro – Tempo de Procura total calculado a partir dos dados do
rastreamento via satélite na viagem i (dias).

Os ganhos e custos energéticos expostos no modelo básico de


Forrageamento Ótimo foram expressos:

• Assumindo-se que todos os ganhos decorrem das capturas e todos


os gastos de correm de consumo de óleo diesel2.
• Transformando-se capturas e gastos em unidades monetárias
(dólares americanos).

O ganho “energético” para cada dia de exploração de um pesqueiro foi


representado pelo valor monetário da captura total do referido dia convertida em
valor monetário seguindo a equação 24:

$ sapo = captura. peixe.sapoi ⋅ US $ peixe.sapo (24)

Onde: $sapo – Ganho monetário da captura do dia i (US$/dia);


captura.peixe.sapoi – Captura para o dia i (Kg);
US$peixe.sapo – Valor monetário de 1kg de peixe-sapo processado
congelado (US$).

Devido à imersão simultânea de várias redes ao longo das operações de


pesca em cada pesqueiro, a captura diária de peixe-sapo não foi direta,
necessitando de algumas considerações e algumas transformações. Quando uma
embarcação explora um determinado pesqueiro ela pode operar neste com mais
de uma rede ao mesmo tempo, sendo que, a cada dia apenas uma rede era
recolhida, enquanto que as demais permaneciam na água. Assumindo que a taxa
de captura deste tipo de petrecho tende a se manter relativamente constante ao
longo do tempo (SANCHO et al., 2003), cada rede recolhida durante as
operações em um pesqueiro teve sua captura total dividida pelo número de dias

2
Demais gastos como custos de manutenção, provisões, aluguel de cais, entre outros, não foram
incorporados ao modelo devido à indisponibilidade de tais informações.

41
em que permaneceu submersa. Atribuíram-se assim frações eqüitativas da
captura total de cada rede para cada dia de submersão. Com isso a captura de
cada dia de operação da embarcação Juno (captura.peixe.sapoi) em um
determinado pesqueiro foi composta pela soma das frações de captura de cada
rede submersa nesse dia.
Entre 2001 e 2002 o valor estimado de primeira venda de “cola congelada”
de peixe-sapo era de U$7,50/kg. Como este item representou até 80% da
comercialização de peixe-sapo (SOARES, 2006), foi assumido que os demais
produtos (“carrilheira” e “caras”) foram comercializados pelo mesmo valor.
Para a representação numérica do gasto da atividade de forrageamento, foi
utilizado um valor de consumo médio de combustível (litros/dia) para cada
embarcação. Cada embarcação informou o seu consumo médio de combustível
em toneladas de óleo diesel por dia, discriminando o consumo em atividade de
pesca, e em atividade de navegação. O peso de óleo diesel foi convertido para
litros (1 litro de óleo diesel equivale a 0,85 kg) e estimado o consumo de
combustível para as duas atividades em litros por dia. Assumindo que as
embarcações passam 80% do dia em velocidade de pesca, foi calculado o valor
de consumo médio de óleo diesel para cada embarcação considerando a
proporção de tempo despendida nas duas atividades desenvolvidas. O preço do
óleo diesel marítimo internacional foi estimado em US$ 0,26 entre os anos de
2001 e 2002 (EMIS/PLATTS, 2006).
O gasto “energético” despendido para obter dado ganho foi assumido como
sendo o valor monetário do consumo médio de combustível por dia segundo a
equação 25, abaixo:

$ s = consumo.diesel * preço.diesel (25)

Onde: $s – Gasto de combustível por dia (US$/dia);


consumo.diesel – Consumo médio de óleo diesel por dia de pesca (l/dia);
preço.diesel – Valor monetário de um litro de óleo diesel marítimo (US$).

O tempo médio de manipulação ( h ) foi assumido como sendo a duração


média do recolhimento das redes. Os demais componentes do Tempo de

42
Manipulação (perseguição e captura) ocorrem de forma passiva e independem a
interferência da embarcação, e como mais de um petrecho realizava perseguição
e captura simultaneamente, a incorporação do tempo despendido nestas
atividades (tempo de imersão da rede) estaria sobreestimando o Tempo de
Manipulação gasto em determinado pesqueiro.
Substituindo as considerações acima descritas na equação do modelo básico
da taxa de retorno líquido (equação 26), teremos:

λ * $ sapoi − $ s
Ri = (26)
1+ λ * h

Onde:Ri – Taxa de Retorno Líquido do dia i (US$/dia);


λ – Taxa de encontro (pesqueiros/por dia);
$sapoi – Ganho monetário da captura de peixe-sapo do dia i (US$);
$s – Gasto médio de combustível por dia de pesca (US$/dia);
h - Tempo médio de manipulação (dias).

Na presente análise, a eficiência da atuação da embarcação Juno foi avaliada


hipotetizando-se que essa embarcação otimizaria sua atividade de explotação do
recurso peixe-sapo a partir de escolhas relacionadas ao tempo de permanência
sobre cada pesqueiro localizado. Essa hipótese implicou a utilização da versão do
modelo de forrageamento ótimo onde a Taxa de Retorno Líquido é maximizada a
partir da exploração de concentrações de recursos (Patch Model) e não presas
individuais (CHARNOV, 1976; MILLER, 1999).
Cabe ressaltar que o modelo é sensível aos índices de preços utilizados por
ser um modelo que admite estocasticidade nos parâmetros, porém se optou usar
valores fixos devido a baixa variação de preços ao longo do período.
A atividade de forrageamento do predador promove a diminuição da
disponibilidade do recurso, assim a taxa de retorno líquido acumulado (Racum) ao
longo do Tempo de Permanência (Tp) em dado pesqueiro pode ser descrita por
uma função de ganho acumulado g(Tp), onde esta função apresenta um
crescimento com aceleração negativa, promovida pela depreciação do recurso,

43
tendendo a uma assíntota. A taxa de retorno líquido acumulado é dada pela
equação 27:

Racum =
∑ λg (T ) − s
p

1 + ∑ λT p
(27)

Onde: Racum – Taxa de retorno líquido acumulado (US$/Tempo de Permanência);


λ – Taxa de encontro (pesqueiros por Tempo de Procura);
g(Tp) – Função de retorno líquido acumulado (US$);
Tp – Tempo Permanência no pesqueiro (dias);
s – Gasto energético por unidade de tempo;
O predador deverá abandonar a área que está explorando quando a taxa
marginal de captura ( ∂g / ∂T ) se igualar à média da taxa de captura de todo o

habitat, este ponto é chamado de “Tempo Ótimo de Desistência” ( tˆ ) (Give Up


Time) conhecido como Teorema do Valor Marginal (CHARNOV, 1976; MILLER,
1999), cuja solução gráfica adaptada à pescaria do peixe-sapo se deu em duas
etapas:
Etapa 1. Ajuste de um modelo matemático à variação da taxa de retorno
líquido acumulado em um pesqueiro como função do Tempo de Permanência (Tp)
nesse pesqueiro. São esperados três tipos de funções de ganho onde o Teorema
do Valor Marginal se aplica (tabela 3). (i) Função de ganho exponencial (modelo
exponencial) que cresce assintoticamente até um valor máximo. Esta é
provavelmente uma boa descrição do ganho bruto para a maioria dos tipos de
agregação. (ii) Função de ganho “corcunda” (modelo de Fox) é provavelmente a
descrição mais razoável do ganho líquido do forrageamento. E (iii) função de
ganho sigmóide (modelo logístico) que pode ocorrer em algumas agregações,
relacionado a presas que conseguem inicialmente evitar o forrageador, mas
quando as presas são encontradas a função de ganho passa a apresentar uma
aceleração negativa. Assim, três modelos foram eleitos para ajuste aos dados
obtidos a partir das operações de pesca da embarcação Juno nos diferentes
pesqueiros: o modelo exponencial, Modelo de Fox e Modelo Logístico. O ajuste

44
foi realizado de forma iterativa e os modelos selecionados para cada pesqueiro
seguiram o critério de informação de Akaike (AIC).

Tabela 3 – Modelos matemáticos ajustados às curvas de ganho.

Modelo Equação
 −b 
 
Exponencial  x 
y = a exp
Fox y = x exp(a−bx )
c
Logístico y=
1 + a (−bx )

Etapa 2. Projeção da reta tangente a esse modelo cuja origem na escala de


tempo encontra-se a esquerda do valor zero e é tão grande quanto o tempo
necessário para chegar ao pesqueiro. Esse tempo é definido como 1/λ (Tempo de
viagem entre pesqueiros - Ts). O ponto onde a tangente encontra a curva de
ganho corresponde ao tempo ótimo de permanência a partir do qual o forrageador
começará a ter perda energética (figura 6). Esse procedimento foi realizado para
cada modelo ajustado a cada pesqueiro explorado pela embarcação Juno durante
suas operações de pesca e o tempo ótimo de permanência, estimado
graficamente, foi comparado ao tempo real de permanência em cada pesqueiro.
40

30
Ganho de energia

20

Tempo ótimo de desistência


10

0
-20 -15 -10 -5 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
Tempo
Tempo de viagem

Figura 6 – Representação esquemática do Teorema do Valor Marginal, adaptado de Charnov


(1976).

45
4. RESULTADOS

4.4.1. A dinâmica da exploração do recurso peixe-sapo avaliada a partir de dados


de rastreamento satelital

4.4.1.1. Tratamento dos dados de rastreamento

O horário de envio dos dados para todas as embarcações seguiu um


padrão bem definido, concentrando os envios em 12 horários diferentes. Os
equipamentos de rastreamento instalados nas embarcações foram programados
para enviar seis posições diárias com intervalo regular de quatro horas. O horário
de envio apresentou um ligeira defasagem de cerca de uma hora entre as
embarcações (figura 7).

Figura 7 – Distribuição de freqüência do horário de envio dos dados do rastreamento via satélite
gerados pelas embarcações arrendadas de pesca de emalhe na ZEE brasileira entre 2001 e 2002.

As taxas de transmissão das 71 viagens rastreadas estiveram


compreendidas entre 15% e 100% (média 80% ± 26% DP). Em 38 viagens a taxa
de transmissão foi maior que 90%. Em 12 viagens a taxa de transmissão esteve
compreendida entre 80% e 90%. As demais 21 viagens apresentaram menos de
80% de taxa de transmissão (figura 8).

46
Figura 8 – Taxa de transmissão do envio de dados de rastreamento via satélite de cada viagem de
pesca da frota de emalhe de fundo na ZEE brasileira entre 2001 e 2002.

O intervalo de tempo médio diário entre transmissões de dados de


rastreamento para cada viagem de pesca esteve compreendido entre 3,9 e 42,7
horas (média 8,5 horas ± 8,5 horas DP). Viagens com baixas taxas de
transmissão apresentaram valores de diferença de tempo altos, enquanto que em
viagens com maiores taxas de transmissão a diferença de tempo entre as
transmissões tende a se aproximar do padrão pré-estabelecido (quatro horas)
(figura 9). A partir desta constatação, foram consideradas viagens com dados
completos de rastreamento, aquelas que apresentaram uma taxa de transmissão
superior a 90%.

47
Figura 9 – Intervalo de tempo médio diário entre transmissões geradas pelas embarcações
arrendadas de pesca de emalhe na ZEE brasileira entre 2001 e 2002, em função da taxa de
transmissão.

O horário de envio dos dados de rastreamento foi agrupado em seis


classes horárias representando os horários esperados de envio de dados diários,
a saber: I: 02:00h-06:00h, II: 06:00h:10:00h, III: 10:00h-14:00h, IV: 14:00h-18:00h,
V: 18:00h-22:00h e VI: 22:00h-02:00h. Foi constatado que as velocidades
desenvolvidas pelas embarcações, nos diferentes horários de envio de dados,
apresentaram valores medianos inferiores a dois nós, sendo que entre às 10:00h
e às 22:00h foram observadas as menores velocidades (figura 10).

48
Figura 10 – Distribuição dos valores de velocidade de deslocamento das embarcações, agrupados
em seis classes de horário correspondendo aos seis posicionamentos geográficos enviados
diariamente do rastreamento via satélite das embarcações arrendadas de pesca de emalhe na
ZEE brasileira entre 2001 e 2002. As linhas horizontais, dentro dos retângulos, representam a
mediana; os limites superior e inferior dos retângulos representam os quartis 75% e 25% da
distribuição dos dados, as linhas horizontais, na extremidade das linhas tracejadas representam
1,5 vezes o intervalo interquantil; e os círculos representam os outliers.

As duas etapas da viagem de pesca, trânsito do porto à área de pesca e


trânsito na área de pesca, permitem analisar de forma mais consistente os
padrões da atividade de pesca (figura 11).

49
Figura 11 – Mapa batimétrico com a representação dos deslocamentos das embarcações
arrendadas de pesca de emalhe na ZEE brasileira entre 2001 e 2002 durante a execução das
viagens de pesca.

As velocidades médias desenvolvidas em cada etapa da viagem


apresentaram distintos padrões. Na etapa “trânsito do porto à área de pesca”, são
observadas duas modas, uma concentrada em velocidades inferiores a um nó
referentes ao período de permanência no porto e, uma segunda moda em torno
de sete a nove nós representando a velocidade de cruzeiro. Na etapa “trânsito na
área de pesca”, as velocidades se concentram em valores inferiores a dois nós
(mediana 1,08 nós), indicando que as embarcações permaneceram a maior parte
do tempo se movendo lentamente (figura 12).

50
Figura 12 – Distribuição de freqüência das velocidades médias desenvolvidas em cada etapa da
viagem pelas embarcações arrendadas de pesca de emalhe na ZEE brasileira entre 2001 e 2002.
“a” etapa trânsito do porto à área de pesca e “b” trânsito na área de pesca.

De maneira geral, as baixas velocidades observadas não permitem


distinguir claramente a real operação realizada pela embarcação durante a etapa
trânsito na área de pesca. A estimativa da velocidade média foi provavelmente
subestimada, a distância entre as transmissões consecutivas durante o intervalo
de tempo entre as transmissões (quatro horas) a mudanças de velocidade
ocorridas em um tempo inferior ao intervalo das transmissões, que poderiam
caracterizar determinada atividade, não são nitidamente visualizadas.

4.4.1.2. Tratamento dos dados de Observadores de Bordo

O padrão diário do horário das atividades de pesca, incluindo lançamento e


recolhimento das redes, foi estabelecido com os dados coletados a bordo das
embarcações. A cada dia as embarcações trabalharam normalmente em apenas
uma rede de pesca, numa operação de pesca com duração de cerca de 12 horas.
A duração dos recolhimentos foi de 9,83 horas, iniciando por volta das 07:45h e
terminando às 16:30h, já o lançamento apresentou duração de cerca de 2,25
horas, iniciando as 17:30h e terminando às 18:15h (figuras 13 e 14).

51
Figura 13 – Duração das operações de lançamento (“A”) e recolhimento (“B”) das redes de pesca
das embarcações arrendadas de pesca de emalhe na ZEE brasileira entre 2001 e 2002.

Figura 14 – Horário das distintas atividades de pesca, lançamento e recolhimento das redes, das
embarcações arrendadas de pesca de emalhe na ZEE brasileira entre 2001 e 2002. Ri início do
recolhimento, Rf final do recolhimento, Li início do lançamento e, Lf final do lançamento. As linhas
verticais, dentro dos retângulos, representam a mediana; os limites superior e inferior dos
retângulos representam os quartis 75% e 25% da distribuição dos dados, as linhas verticais, na
extremidade das linhas tracejadas representam 1,5 vezes o intervalo interquantil; e os círculos
representam os outliers.

52
As velocidades médias estimadas para as atividades de lançamento e
recolhimento das redes foram bem distintas, formando uma distribuição de
freqüência com duas modas, uma em torno de 0,5 nós e uma segunda em torno
de 4,6 nós, caracterizando as distintas velocidades de deslocamento empregadas
em cada operação da atividade de pesca (figura 15).

Figura 15 – Distribuição de freqüência das velocidades médias desenvolvidas durante a atividade


de pesca de emalhe realizada pelas embarcações arrendadas na ZEE brasileira entre 2001 e
2002.

A representação gráfica da disposição das redes de pesca em mapas


batimétricos permite analisar e fazer interpretações das operações de pesca em
pequena escala (figura 16).

53
Figura 16 – Mapa batimétrico com a representação da disposição dos lances de pesca realizados
pela frota arrendada de emalhe de fundo entre 2001 e 2002.

A extensão dos lances, distância linear entre a posição geográfica inicial e


final dos lances de pesca, apresentou uma média de 9,8 Mn, variando entre 0 e
20 Mn. Os valores extremos, principalmente os valores próximos a zero
provavelmente foram gerados por dados de posicionamento equivocados (figura
17).

54
Figura 17 – Distância linear da extensão das redes de pesca utilizadas pela frota arrendada de
emalhe de fundo entre 2001 e 2002.

4.4.1.3. Validação dos dados de rastreamento

A atividade de pesca, recolhimento e lançamento da rede, aferida com os


dados coletados pelos Observadores de Bordo, se concentra principalmente entre
às 07:00 e 18:30 horas do dia. Durante este período, eram esperadas quatro
transmissões diárias de dados de rastreamento via satélite, correspondentes às
classes de horário de envio II, III, IV e V.
Comparando a distribuição de freqüência das velocidades médias estimadas,
para os dados do rastreamento via satélite enviados entre às 07:00h e 18:30h
(período do dia onde ocorria a atividade de pesca), com a distribuição de
freqüência das velocidades médias estimadas para as atividades de lançamento e
recolhimento das redes (geradas pelas observações a bordo), constatou-se que a
segunda fonte apresenta uma segunda moda, entre quatro e cinco nós
aparentemente imperceptível para os dados de rastreamento (figura 18).

55
Figura 18 – Comparação da distribuição de freqüência percentual das velocidades médias
estimadas para os dados de rastreamento via satélite enviados diariamente entre 07:45h e 18:15h
com as velocidades de lançamento e recolhimento das redes registradas durante as operações de
pesca da frota arrendada de emalhe de fundo entre 2001 e 2002.

Muito embora essa diferença não tenha sido significativa (teste de


Kolmogorov-Smirnov, p=0,925), analisando em maiores detalhes os dados
gerados pelos Observadores de Bordo, nota-se que esta segunda moda era
gerada por um ligeiro aumento de velocidade da embarcação entre o final do
recolhimento de uma rede o início do lançamento da próxima rede. Devido ao
horário das transmissões e o intervalo de tempo entre estas, esses pulsos de
velocidade não são detectados pelos dados de rastreamento satelital (figura 19).

56
Figura 19 – Velocidade média entre transmissões de rastreamento durante os 12 primeiros dias de
uma viagem de pesca de emalhe de fundo. Linhas verticais indicam o horário de início e final da
atividade de pesca diária registrada a bordo, em cinza recolhimento da rede e preto lançamento da
rede.
O tempo empregado nas atividades de pesca por cada embarcação em
cada viagem foi estimado através das duas fontes básicas de informação –
Rastreamento Satelital e Observadores de Bordo. No primeiro caso esse tempo
foi equivalente à soma dos períodos com velocidades estimadas inferiores a
quatro nós na etapa “trânsito na área de pesca” (TPrastro). No segundo caso
somou-se o tempo total de lançamento e recolhimento das redes (TPobs). Ambas
as variáveis foram comparadas e relacionadas através de um modelo linear onde
o tempo de permanência estimado por dados de rastreamento foi a variável
dependente e o tempo estimado pelos Observadores de Bordo, a variável
independente. O modelo ajustado foi:

TPrastro = 186,69 + 1,361TPobs (28)

TPobs explicou 75% da variabilidade de TPrastro (R2=0,7451, GL=34) e a


declividade não foi significativamente igual a 1 (p<<0,001) indicando que as duas
medidas de velocidade não são equivalentes (figura 20).

57
Figura 20 – Duração da atividade de pesca da frota arrendada de emalhe de fundo entre 2001 e
2002, em função do tempo de permanência nos fundos de pesca.

Nessa relação observa-se também que a elevação da reta ajustada se


aproximaria de um valor de defasagem entre a duração “real” da atividade de
pesca e aquela estimada pelo tempo em que a embarcação permanece em
“baixas velocidades” na área de pesca. Essa defasagem implica a existência de
outras atividades sendo realizadas pela embarcação em baixa velocidade que
não o recolhimento e lançamento de redes, imperceptíveis aos registros de
rastreamento.
Agora, o tempo empregado nas atividades de pesca por cada embarcação
em cada pesqueiro igualmente foi estimado através das duas fontes básicas de
informação – Rastreamento Satelital e Observadores de Bordo. No primeiro caso
esse tempo foi equivalente à soma dos períodos com velocidades estimadas
inferiores a quatro nós na etapa “trânsito na área de pesca” (Tpesqrastro). No
segundo caso somou-se o tempo total de lançamento e recolhimento das redes
(Tpesqobs). Ambas as variáveis foram comparadas e relacionadas através de um
modelo linear onde o tempo de permanência estimado por dados de rastreamento
foi a variável dependente e o tempo estimado pelos Observadores de Bordo, a
variável independente. O modelo ajustado foi:

Tpesqrastro = −2,42 + 1,636Tpesqobs (29)

58
Tpobs explicou 91% da variabilidade de Tprastro (R2=0,9126, GL=256) e a
declividade não foi significativamente igual a 1 (p<<0,001) indicando que as duas
medidas de velocidade não são equivalentes (figura 21).

Figura 21 – Duração da atividade de pesca da frota arrendada de emalhe de fundo entre 2001 e
2002, em função do tempo de permanência nos fundos de pesca.

Nessa relação também se observa, como no ajuste para os dados


agregados por viagem, que a elevação da reta ajustada se aproximaria de um
valor de defasagem entre a duração “real” da atividade de pesca e aquela
estimada pelo tempo em que a embarcação permanece em “baixas velocidades”
na área de pesca. Essa defasagem implica na existência de outras atividades
sendo realizadas pela embarcação em baixa velocidade que não o recolhimento e
lançamento de redes, imperceptíveis aos registros de rastreamento.

4.4.1.4. Orçamento de tempo

Baseado na distribuição dos valores de velocidade média estimadas para a


etapa “trânsito do porto à área de pesca”, foi assumido que as velocidades
médias de deslocamento iguais ou inferiores a quatro nós foram referentes a
operação de pesca e velocidades superiores a quatro nós relacionadas a
navegação (figura 22 e 23).

59
Figura 22 – Distribuição de freqüência das estimativas de velocidade média desenvolvidas pelas
embarcações arrendadas de emalhe de fundo entre 2001 e 2002 durante a etapa trânsito do porto
à área de pesca.

60
Figura 23 – Mapa batimétrico representando os registros de rastreamento via satélite de todas as
embarcações arrendadas de emalhe de fundo entre 2001 e 2002. A atividade de pesca foi inferida
através da velocidade média de deslocamento.

A partir do reconhecimento da atividade de pesca através da velocidade


média, foram quantificados os tempos e distâncias percorridas para ambas as
atividades de pesca acima categorizadas para todas as viagens de pesca (tabela
4).

61
Tabela 4 – Valores mínimos, máximos, média, porcentagem e soma de todo o tempo e distância
percorrida durante as 71 viagens de pesca realizadas pelas embarcações arrendadas de emalhe
de fundo entre 2001 e 2002. Estimativas realizadas com todos os dados de rastreamento via
satélite.
Tempo total Distância
Tempo Distância
em percorrida
Tempo total em percorrida
Distância velocidade com
total velocidade com
percorrida de velocidade
(horas/ de pesca velocidade
(Mn/viagem) navegação de
viagem) (horas\ de pesca
(horas/ navegação
viagem) (Mn/viagem)
viagem) (Mn/viagem)

Mínimo 155,53 223,84 147,62 7,92 130,86 92,98

Maximo 3.763,97 7.787,08 3.203,65 591,07 2.309,33 5.919,83

Média 1.307,00 2.855,25 1.082,72 224,28 1.136,74 1.718,51

% 0,83 0,17 0,40 0,60

Soma 92.796,88 202.722,92 76.873,17 15.923,71 80.708,56 122.014,36

Analisando apenas as viagens com mais de 90% de taxa de transmissão,


durante a etapa “trânsito do porto à área de pesca”, as embarcações passaram
em média cerca de 23 horas em velocidade de pesca e 100 horas em navegação,
enquanto que a distância percorrida em velocidade de pesca foi de cerca de
47Mn e em velocidade de navegação cerca de 821Mn. Na etapa “trânsito na área
de pesca”, as embarcações permaneceram com velocidade de pesca cerca de
80% do tempo da viagem (927 horas) e percorreram 45% da distância total (1.102
Mn). Em velocidade de navegação as embarcações permaneceram cerca de 171
horas, já a distância percorrida em velocidade de navegação de cerca de
1.351Mn (tabela 5 e 6).

62
Tabela 5 – Orçamento de tempo etapa “trânsito do porto à área de pesca”. Valores mínimos,
máximos, média, porcentagem e soma todo tempo e distância percorrida durante as 38 viagens de
pesca (aprox. 54%) com dados completos de rastreamento realizadas pelas embarcações
arrendadas de emalhe de fundo entre 2001 e 2002.

Tempo total Distância


Tempo total Distância
em percorrida
Tempo em percorrida
Distância velocidade com
total velocidade com
percorrida de velocidade
(horas/ de pesca velocidade de
(Mn\viagem) navegação de
viagem) (horas/ pesca (Mn\
(horas\ navegação
viagem) viagem)
viagem) (Mn\viagem)

Mínimo 16,00 75,29 0,00 12,00 0,00 71,14

Maximo 360,07 2.437,87 158,87 280,03 239,48 2.237,97

Média 124,53 868,68 23,77 100,76 47,42 821,27

% 0,19 0,81 0,05 0,95

Soma 4.234,00 29.535,27 808,17 3.425,83 1.612,22 27.923,05

Tabela 6 – Orçamento de tempo etapa “trânsito na área de pesca”. Valores mínimos, máximos,
média, porcentagem e soma todo tempo e distância percorrida durante as 38 viagens de pesca
com dados completos de rastreamento realizadas pelas embarcações arrendadas de emalhe de
fundo entre 2001 e 2002.
Tempo total Distância
Tempo total Distância
em percorrida
Tempo em percorrida
Distância velocidade com
total velocidade com
percorrida de velocidade
(horas/ de pesca velocidade de
(Mn\viagem) navegação de
viagem) (horas/ pesca (Mn\
(horas\ navegação
viagem) viagem)
viagem) (Mn\viagem)

Mínimo 155,53 223,84 147,62 7,92 130,86 85,62

Maximo 1.827,98 5.886,62 1.565,83 458,82 2.047,34 4.687,85

Média 1.098,57 2.454,22 927,13 171,44 1.102,90 1.351,31

% 0,84 0,16 0,45 0,55

Soma 41.745,59 93.260,26 35.230,81 6.514,78 41.910,29 51.349,96

4.4.1.5. Ocupação da área de pesca

No que diz respeito ao fluxo de entrada de embarcações na pescaria, nos


dois primeiros meses da pescaria, apenas duas embarcações (Juno e Titan)

63
compunham a frota arrendada de emalhe de fundo. Ao final deste período mais
três embarcações ingressaram na pescaria (South Coast, Suffolk Chieftain, e
Antoxo). No início do segundo semestre de 2001 mais três embarcações
ingressaram na pescaria (Eder Sands, Slebech e Belen). Na metade do segundo
semestre ingressou a última embarcação nesta pescaria (Sin Comentários) (figura
24).

dez-02
nov-02
out-02
set-02
ago-02
jul-02
jun-02
mai-02
abr-02
mar-02
fev-02
jan-02
dez-01
nov-01
out-01
set-01
ago-01
jul-01
jul-01
jun-01
mai-01
abr-01
mar-01
fev-01
jan-01
Titan Juno South Coast Suffolk Antoxo Eder Sands Slebech Belen Sin
Chieftain Comentarios

Figura 24 – Ingresso das embarcações arrendadas na pescaria de emalhe de fundo entre 2001 e
2002 na ZEE brasileira.

A área de pesca destinada à operação das embarcações arrendadas da


frota de emalhe foi delimitada pelas latitudes 21°S e 33°S e profundidades
maiores de 200 metros. A ocupação desta área de pesca pelas embarcações
arrendadas iniciou no primeiro trimestre de 2001 com as atividades concentradas
no estrato latitudinal norte (entre de 21° e 25°S) e com menor intensidade nos
estratos central (entre 25° e 29°S) e sul (ao sul de 29°S) (figura 26).
No segundo trimestre, praticamente toda a extensão da área de pesca
havia sido explorada, porém as atividades estiveram concentradas em seis zonas
bem definidas e distribuídas ao longo da área de pesca. Destas, duas foram
observadas no estrato norte, uma pequena zona ao norte do estrato central, uma
grande zona entre o limite do estrato central e o estrato sul, outra grande zona na
porção centro-norte do estrato sul e uma zona no extremo sul do estrato sul
(figura 25).

64
No terceiro e quarto trimestres manteve-se a atividade pesqueira em todas
as zonas de pesca previamente exploradas bem como a exploração progressiva
de algumas novas zonas nos três estratos latitudinais culminando com a
ocupação completa do talude das regiões Sudeste e Sul do Brasil (figura 26).
No quinto, sexto e sétimo trimestres, algumas zonas dos três estratos
abandonadas pela frota pesqueira (figura 27) o que precedeu o encerramento
total da atividade no oitavo trimestre, quando apenas duas áreas foram
permaneceram ocupadas, uma entre o limite do estrato norte e central e outra na
porção centro norte do estrato sul (figura 28).
Com relação ao número de embarcações ocupando um mesmo intervalo
latitudinal (0,5° de latitude) ao mesmo tempo (mês), foi observado que até quatro
embarcações ocuparam num mesmo período de 30 dias um espaço de 0,5° de
latitude (figura 29). No início da pescaria o extremo norte da área de pesca foi
ocupado por três embarcações. No quarto mês, com cinco embarcações
compondo a frota, observamos que entre 28°S e 31°S foram ocupados por até
quatro embarcações. A partir de outubro, com todas as nove embarcações
presentes, foi observado que entre 30°S 33°S quatro embarcações
permaneceram neste local entre setembro e dezembro de 2001. Entre dezembro
de 2001 e janeiro de 2002 as embarcações se distribuíram nas áreas ao norte de
31°S. Entre fevereiro e maio de 2002 novamente até quatro as embarcações
concentraram suas atividade entre 30°S e 31°S, após este período a ocupação
novamente se espalhou pela área, sendo observado outra concentração entre
agosto e setembro de 2002 na área central (entre 24°S e 29°S). Esta disposição
da frota antecedeu seu término em outubro desse ano (figura 29).

65
Figura 25 – Distribuição espacial da ocupação da área de pesca das embarcações arrendadas de pesca de emalhe de fundo no sudeste e sul do Brasil entre
janeiro e março e entre abril e junho de 2001 a partir dos registros de rastreamento satelital.

66
Figura 26 – Distribuição espacial da ocupação da área de pesca das embarcações arrendadas de pesca de emalhe de fundo no sudeste e sul do Brasil entre
julho e setembro e entre outubro e dezembro de 2001.

67
Figura 27 – Distribuição espacial da ocupação da área de pesca das embarcações arrendadas de pesca de emalhe de fundo no sudeste e sul do Brasil entre
janeiro e março de 2002 e entre abril e junho de 2002.

68
Figura 28 – Distribuição espacial da ocupação da área de pesca das embarcações arrendadas de pesca de emalhe de fundo no sudeste e sul do Brasil entre
julho e setembro de 2002 e entre outubro e novembro de 2002.

69
Figura 29 – Número de embarcações arrendadas de pesca de emalhe de fundo no sudeste e sul
do Brasil ocupando simultaneamente um intervalo de 0,5° latitude para cada mês da pescaria.

Com relação ao deslocamento latitudinal ao longo do tempo foram


observados distintos comportamentos de alocação do esforço de pesca. Das
cinco embarcações que iniciaram a pescaria, quatro apresentaram um
comportamento exploratório, avançando sistematicamente em direção ao sul da
área de pesca, porém este padrão exploratório cessou antes do final do quarto
trimestre onde estas passaram a apresentar um comportamento estacionário,
permanecendo por longos períodos no mesmo intervalo de latitude. As últimas
quatro embarcações a integrar a frota apresentaram um padrão de deslocamento
que seguiu as determinações de ocupação espaço-temporal impostas pelo órgão
gestor (rotatividade de áreas).

70
No que diz respeito ao padrão individual de deslocamento latitudinal ao
longo do tempo, nos dois primeiros meses da pescaria, duas embarcações (Juno
e Titan) concentraram a atividade de pesca entre as latitudes 23,5 e 25°S, estas
realizavam a sua primeira viagem de pesca com duração de cerca de 60 dias. Ao
final deste período mais três embarcação ingressaram na atividade (South Coast
Suffolk Cheftain, e Antoxo) e a ocupação da área se deu em locais distintos e ao
sul da área inicial, abrangendo praticamente toda a área compreendida entre
23,5° a 31°S. No início do segundo semestre de 2001 mais três embarcações
ingressaram na pescaria (Eder Sands, Slebech e Belen) e a exploração da área
de pesca continuou nas áreas conhecidas e também em direção ao sul, na
metade do segundo semestre toda a área de pesca já havia sido explorada, de
23,5°S a 34°S, neste mesmo período ingressou a última embarcação nesta
pescaria (Sin Comentários) (figuras 30 a 35).

Figura 30 – Deslocamento latitudinal em função do tempo da embarcação Titan. Pontos pretos


representam atividade de pesca inferida com os dados de rastreamento via satélite. Os pontos
vermelhos representam os lances a posição inicial e final. O polígono representa a área pré-
definida para a realização de pesca.

71
Figura 31 – Deslocamento latitudinal em função do tempo das embarcações Antoxo e Belen.
Pontos pretos representam atividade de pesca inferida com os dados de rastreamento via satélite.
Os pontos vermelhos representam os lances a posição inicial e final. Os polígonos representam as
áreas pré-definidas para que as embarcações realizassem o rodízio de áreas.

72
Figura 32 – Deslocamento latitudinal em função do tempo das embarcações Eder Sands e Juno.
Pontos pretos representam atividade de pesca inferida com os dados de rastreamento via satélite.
Os pontos vermelhos representam os lances a posição inicial e final. Os polígonos representam as
áreas pré-definidas para que as embarcações realizassem o rodízio de áreas.

73
Figura 33 – Deslocamento latitudinal em função do tempo das embarcações Sin Comentarios e
Slebech. Pontos pretos representam atividade de pesca inferida com os dados de rastreamento
via satélite. Os pontos vermelhos representam os lances a posição inicial e final. Os polígonos
representam as áreas pré-definidas para que as embarcações realizassem o rodízio de áreas.

74
Figura 34 – Deslocamento latitudinal em função do tempo das embarcações South Coast e Suffolk
Chieftain. Pontos pretos representam atividade de pesca inferida com os dados de rastreamento
via satélite. Os pontos vermelhos representam os lances a posição inicial e final. Os polígonos
representam as áreas pré-definidas para que as embarcações realizassem o rodízio de áreas.

75
Figura 35 – Gráfico de distribuição de densidade de lances de pesca ao longo da costa sudeste e
sul do Brasil evidenciando os intervalos de latitude onde as embarcações concentraram a
atividade de pesca.

4.4.1.6. Distribuição espacial dos lances de pesca

Índice de Morisita Padronizado


Os Índices de Morisita Padronizados (IMP), calculados para as duas fontes
de dados não apresentaram diferenças significativas (teste de Kolmogorov-
Smirnov, p=0,7804) (figura 36).

Figura 36 – Distribuição de freqüência percentual do Índice de Morisita Padronizado, calculado


para os dados do rastreamento via satélite, referentes a atividade de pesca e para os dados dos
lances de pesca.

76
A partir dessa constatação procedeu-se o cálculo do IMP com os dados
dos Observadores de Bordo, sendo estimados índices de distribuição espacial,
para cada trimestre, para cada embarcação, e para todas as viagens de pesca.
O Índice de Morisita Padronizado calculado para todas as viagens de todas
embarcações, considerando o período entre 2001 e 2002 variou entre 0,5 e 0,58,
que são valores fronteiriços entre distribuições agrupadas e aleatórias (tabela 7).
Isso sugere que os lances foram realizados em toda a área de pesca porém com
alguns focos de concentração espacial (figura 37).

Figura 37 – Distribuição de freqüência numérica e freqüência percentual acumulada do Índice de


Morisita Padronizado para cada viagem de pesca realizada pelas embarcações arrendadas de
fundo entre 2001 e 2002 na ZEE brasileira.

Tabela 7 – Índice de Morisita Padronizado calculado para cada viagem de pesca.


Embarcação Viagem Índice de Morisita Padronizado Estratégia
Antoxo 1 0,5633 Estacionária
Antoxo 2 0,5283 Móvel
Antoxo 3 0,5410 Estacionária
Antoxo 4 0,5147 Móvel
Antoxo 5 0,5156 Móvel
Antoxo 6 0,5616 Estacionária
Antoxo 7 0,5407 Estacionária
Antoxo 8 0,5401 Estacionária
Antoxo 9 0,5344 Móvel
Antoxo 10 0,5481 Estacionária
Antoxo 11 0,5621 Estacionária
Antoxo 12 0,5285 Móvel
Antoxo 13 0,5489 Estacionária
Antoxo 14 0,5479 Estacionária
Belen 1 0,5682 Estacionária
Belen 2 0,5316 Móvel
Belen 3 0,5162 Móvel
Belen 4 0,5361 Móvel
Belen 5 0,5469 Estacionária

77
Embarcação Viagem Índice de Morisita Padronizado Estratégia
Belen 6 0,5184 Móvel
Belen 7 0,5459 Estacionária
Belen 8 0,5583 Estacionária
Belen 9 0,5736 Estacionária
Eder Sands 1 0,5302 Móvel
Eder Sands 2 0,5208 Móvel
Eder Sands 3 0,5201 Móvel
Eder Sands 4 0,5303 Móvel
Eder Sands 5 0,5550 Estacionária
Eder Sands 6 0,5581 Estacionária
Juno 1 0,5253 Móvel
Juno 2 0,5136 Móvel
Juno 3 0,5230 Móvel
Juno 4 0,5437 Estacionária
Juno 5 0,5390 Estacionária
Juno 6 0,5215 Móvel
Juno 7 0,5424 Estacionária
Juno 8 0,5317 Móvel
Juno 9 0,5218 Móvel
Sin Comentarios 1 0,5245 Móvel
Sin Comentarios 2 0,5666 Estacionária
Sin Comentarios 3 0,5823 Estacionária
Sin Comentarios 4 0,5815 Estacionária
Sin Comentarios 5 0,5372 Móvel
Sin Comentarios 6 0,5402 Estacionária
Slebech 1 0,5211 Móvel
Slebech 2 0,5173 Móvel
Slebech 3 0,5403 Estacionária
Slebech 4 0,5387 Estacionária
Slebech 5 0,5289 Móvel
Slebech 6 0,5559 Estacionária
Slebech 7 0,5311 Móvel
South Coast 1 0,5507 Estacionária
South Coast 2 0,5751 Estacionária
South Coast 3 0,5435 Estacionária
South Coast 4 0,5230 Móvel
South Coast 5 0,5321 Móvel
South Coast 6 0,5368 Móvel
South Coast 7 0,5178 Móvel
South Coast 8 0,5094 Móvel
Suffolk Chieftain 1 0,5207 Móvel
Suffolk Chieftain 2 0,5839 Estacionária
Suffolk Chieftain 3 0,5430 Estacionária
Suffolk Chieftain 4 0,5371 Móvel
Suffolk Chieftain 5 0,5411 Estacionária
Suffolk Chieftain 6 0,5328 Móvel
Suffolk Chieftain 7 0,5248 Móvel
Suffolk Chieftain 8 0,5639 Estacionária
Suffolk Chieftain 9 0,5466 Estacionária
Suffolk Chieftain 10 0,5421 Estacionária
Titan 1 0,5214 Móvel
Titan 2 0,5687 Estacionária
Titan 3 0,5461 Estacionária
Titan 4 0,5342 Móvel
Titan 5 0,5165 Móvel
Titan 6 0,5274 Móvel
Titan 7 0,5569 Estacionária
Titan 8 0,5345 Móvel
Titan 9 0,5591 Estacionária

Ao longo dos trimestres esse índice oscilou muito pouco (CV < 1,0%)
podendo-se destacar apenas uma leve tendência ao maior agrupamento no
primeiro trimestre, período no qual a atividade esteve concentrada no norte da
área de pesca, e no último trimestre quando a maioria das embarcações já havia

78
deixado a pescaria e a atividade também se concentrou em áreas restritas (figura
29) (tabela 8).

Tabela 8 – Índice de Morisita Padronizado para os oito trimestres da pescaria arrendada de


emalhe profundo na ZEE brasileira

Ano Trimestre Índice de Morisita Padronizado


2001 1 0,5119
2001 2 0,5072
2001 3 0,5053
2001 4 0,5043
2002 5 0,5051
2002 6 0,5038
2002 7 0,5039
2002 8 0,5166

De qualquer maneira foi evidente, ao se calcular o índice para cada


embarcação para todo o período 2001-2002 (tabela 9) que, considerando a
amplitude possível de variação desse índice (-1 a 1), a variabilidade dos valores é
mínima (CV = 1%) o que sugere que este índice não é suficientemente sensível
para distinguir estratégias espaciais de pesca e portanto ser utilizado como um
critério objetivo.

Tabela 9 – Distribuição espacial dos lances de pesca das embarcações arrendadas de emalhe de
fundo entre 2001 e 2002, Índice de Morisita Padronizado para cada embarcação.

Embarcação Índice de Morisita Padronizado


Antoxo 0,5192
Belen 0,5285
Eder Sands 0,5222
Juno 0,5091
Sin Comentarios 0,5090
Slebech 0,5182
South Coast 0,5163
Suffolk Chieftain 0,5169
Titan 0,5137

79
Índice da Amplitude Latitudinal

As amplitudes latitudinais calculadas para cada viagem realizada pela frota de


emalhe variaram entre 0,161 e 8,601 graus de latitude apresentando uma
distribuição assimétrica positiva com mediana no valor 1,858 graus. Esse
resultado indica que metade das operações de pesca teve uma amplitude
latitudinal inferior a dois graus, enquanto que a outra metade variou de dois a
nove graus (figura 38).

Figura 38 – Distribuição de freqüência numérica e freqüência percentual acumulada da amplitude


latitudinal das viagens de pesca realizadas pelas embarcações arrendadas de fundo entre 2001 e
2002 na ZEE brasileira.

Ao observarmos a variação trimestral das amplitudes latitudinais cobertas


pelas viagens de pesca ao longo do período estudado (tabela 10) notam-se que
as viagens tenderam a cobrir áreas mais amplas no início da pescaria e no último
trimestre de 2001. Entre esses períodos as viagens tenderam à maior
concentração, particularmente no sétimo trimestre de 2002 (não são apresentados
resultados para o oitavo trimestre em função de nenhuma viagem ter iniciado
nesse trimestre).

80
Tabela 10 – Amplitudes Latitudinais médias para os sete trimestres da pescaria arrendada de
emalhe profundo na ZEE brasileira. Valores entre parênteses são amplitudes máximas e mínimas.

Ano Trimestre Índice de Amplitude Latitudinal

2001 1 3,011 (0,245 – 5,227)

2001 2 2,458 (1,316 – 5,562)

2001 3 2,205 (0,188 – 5,560)

2001 4 2,990 (0,161 – 8,601)

2002 5 2,347 (0,250 – 7,715)

2002 6 2,003 (0,531 – 3,506)

2002 7 1,907 (0,412 – 6,924)

As embarcações arrendadas que operaram na pesca de emalhe profundo


em 2001-2002 cobriram durante suas viagens, em média, entre 1,6 e 3,8 graus de
amplitude latitudinal (tabela 11).

Tabela 11 – Amplitudes Latitudinais médias para as embarcações arrendada de emalhe profundo


na ZEE brasileira. Valores entre parênteses são amplitudes máximas e mínimas.

Índice de Amplitude Latitudinal


Embarcação
(graus decimais)

Antoxo 2,290 (0,593 – 4,701)

Belen 1,641 (0.756 – 3,625)

Eder Sands 3,808 (1,416 – 8,601)

Juno 2,574 (0,412 – 5,227)

Sin Comentarios 2,678 (0,877 – 5,808)

Slebech 2,424 (1,434 – 3,449)

South Coast 2,313 (0,161 – 6,924)

Suffolk Chieftain 1,981 (0,965 – 4,468)

Titan 2,459 (0,245 – 5,560)

Total 2,399 (0,161 – 8,601)

Nota-se que a maior parte delas tiveram viagens altamente concentradas


latitudinalmente assim como de grande mobilidade latitudinal. Destaques foram as
embarcações Belen, por suas operações sempre limitadas latitudinalmente e Eder

81
Sands que percorreu em média cerca de 4 graus latitudinais em suas viagens
chegando ao máximo de 8,601 graus.
Adotou-se para efeito de classificação da estratégia espacial de pesca a
mediana dos valores de Amplitude Latitudinal calculados (1,858) sendo que
viagens com amplitudes inferiores a esse valor foram interpretadas como aquelas
onde a embarcação adotou uma estratégia estacionária e viagens com amplitudes
superiores resultado de uma estratégia móvel (tabela 12).

Tabela 12 – Índice de Amplitude latitudinal calculado para cada viagem de pesca da frota
arrendada de emalhe monitorada por rastreamento satelital
Embarcação Viagem Amplitude Latitudinal Estratégia espacial
Antoxo 1 4,701 Móvel
Antoxo 2 1,454 Estacionária
Antoxo 3 1,717 Estacionária
Antoxo 4 1,950 Móvel
Antoxo 5 2,713 Móvel
Antoxo 6 4,391 Móvel
Antoxo 7 0,593 Estacionária
Antoxo 8 1,624 Estacionária
Antoxo 9 0,831 Estacionária
Antoxo 10 2,983 Móvel
Antoxo 11 3,140 Móvel
Antoxo 12 1,651 Estacionária
Antoxo 13 2,254 Móvel
Antoxo 14 2,058 Móvel
Belen 1 1,634 Estacionária
Belen 2 2,150 Móvel
Belen 3 3,625 Móvel
Belen 4 0,807 Estacionária
Belen 5 1,002 Estacionária
Belen 6 2,257 Móvel
Belen 7 0,756 Estacionária
Belen 8 0,901 Estacionária
Eder Sands 1 1,416 Estacionária
Eder Sands 2 1,531 Estacionária
Eder Sands 3 8,601 Móvel
Eder Sands 4 7,715 Móvel
Eder Sands 5 1,580 Estacionária
Eder Sands 6 2,007 Móvel
Juno 1 2,295 Móvel
Juno 2 2,083 Móvel
Juno 3 1,316 Estacionária
Juno 4 1,067 Estacionária
Juno 5 4,840 Móvel
Juno 6 5,227 Móvel
Juno 7 2,993 Móvel
Juno 8 0,412 Estacionária
Juno 9 2,930 Móvel
Sin Comentários 1 0,877 Estacionária
Sin Comentários 2 3,144 Móvel
Sin Comentários 3 5,808 Móvel
Sin Comentários 4 3,506 Móvel

82
Embarcação Viagem Amplitude Latitudinal Estratégia espacial
Sin Comentários 5 1,834 Móvel
Sin Comentários 6 0,901 Estacionária
Slebech 1 3,449 Móvel
Slebech 2 1,852 Móvel
Slebech 3 3,048 Móvel
Slebech 4 2,350 Móvel
Slebech 5 1,497 Estacionária
Slebech 6 1,434 Estacionária
Slebech 7 3,338 Móvel
South Coast 1 4,400 Móvel
South Coast 2 5,562 Móvel
South Coast 3 0,188 Estacionária
South Coast 4 0,161 Estacionária
South Coast 5 0,250 Estacionária
South Coast 6 0,531 Estacionária
South Coast 7 6,924 Móvel
South Coast 8 0,489 Estacionária
Suffolk Chieftain 1 1,858 Móvel
Suffolk Chieftain 2 4,468 Móvel
Suffolk Chieftain 3 1,751 Estacionária
Suffolk Chieftain 4 1,096 Estacionária
Suffolk Chieftain 5 3,825 Móvel
Suffolk Chieftain 6 1,593 Estacionária
Suffolk Chieftain 7 1,398 Estacionária
Suffolk Chieftain 8 1,286 Estacionária
Suffolk Chieftain 9 1,567 Estacionária
Suffolk Chieftain 10 0,965 Estacionária
Titan 1 0,245 Estacionária
Titan 2 2,054 Móvel
Titan 3 2,054 Móvel

As estratégias espaciais de pesca foram adotadas pelas embarcações de


forma diversa ao longo do período de operação na ZEE brasileira. Quatro
embarcações (Eder Sands, Juno, Sin Comentarios e Titan) realizaram algumas
viagens exploratórias entre dois períodos inicial e final de viagens estacionárias. A
figura 39 ilustra essas estratégias nas embarcações Titan e Eder Sands,
respectivamente. As embarcações Antoxo e Belen realizaram procedimentos
cíclicos iniciando com viagens estacionárias seguidas de viagens
progressivamente mais amplas até se tornarem móveis e retornando ao modo
estacionário novamente. As embarcações Slebech, South Coast e Suffolk
Chieftain tiveram um comportamento mais irregular intercalando viagens
exploratórias entre séries de viagens estacionárias ao longo do período.

83
Figura 39 Distribuição das amplitudes latitudinais das viagens de pesca de emalhe adotadas por cada embarcação arrendada na ZEE brasileira entre 2001 e
2002. A linha horizontal delimita as viagens consideradas estacionárias (abaixo) daquelas móveis (acima).

84
As estratégias espaciais definidas como móvel ou estacionária distribuíram-
se equitativamente entre as viagens realizadas por toda a frota durante todo o
período (p= 0,909, tabela 13). As embarcações Belen, South Coast e Suffolk
Chieftain foram aquelas que tiveram menor mobilidade latitudinal durante o
período de exploração na ZEE brasileira (com cerca de 30% das viagens sendo
móveis). As mais móveis, por outro lado foram as embarcações Juno e Titan,
aquelas que iniciaram a pescaria em 2001 (tabela 10). Em nenhuma embarcação,
no entanto a divisão das estratégias desviou significativamente da equitatividade,
de acordo como teste de Chi-quadrado.

Tabela 13 – Relação da proporção de viagens em cada estratégia para cada embarcação. Os


valores de probabilidade correspondem ao teste de Chi-quadrado (H0: 1 viagem estacionária : 1
viagem móvel).
Número Proporção
Número de Total Proporção de
de de Probabilidade
Embarcação viagens de viagens
viagens viagens
estacionárias viagens estacionárias
móveis móveis
Antoxo 6 8 14 0,43 0,57 0,593
Belen 5 3 8 0,63 0,38 0,480
Eder Sands 3 3 6 0,50 0,50 1,000
Juno 3 6 9 0,33 0,67 0,317
Sin Comentarios 3 3 6 0,50 0,50 1,000
Slebech 3 4 7 0,43 0,57 0,705
South Coast 5 3 8 0,63 0,38 0,480
Suffolk Chieftain 7 3 10 0,70 0,30 0,206
Titan 3 6 9 0,33 0,67 0,317
Total 38 39 77 0,49 0,51 0,909

A freqüência de ocorrência das estratégias foi analisada de acordo com


vários fatores temporais e espaciais. (figuras 40 e 41). A estratégia estacionária
foi mais freqüente em 2002 do que em 2001 sendo progressivamente mais
freqüente ao longo dos trimestres. A estratégia móvel foi mais utilizada no
primeiro e quarto trimestres. Nesses períodos as embarcações da frota
aparentemente necessitaram identificar áreas rentáveis, dedicando-se, após eles
a viagens estacionárias. Essa estratégia foi também mais comum no estrato
latitudinal norte. Considerado três períodos de entrada de embarcações, a saber,
janeiro-fevereiro de 2001 (1), março-maio de 2001 (2) e junho-agosto de 2001(3),
nota-se que os pioneiros (1) foram mais móveis e os demais barcos que entraram

85
posteriormente buscaram pescar de uma forma mais estacionária. Por último,
buscou-se avaliar como as estratégias se distribuíram em relação às restrições
legais de espaço (rotação de estratos latitudinais) aos quais foram submetidas
sete das nove embarcações arrendadas (figura 40). Em geral as embarcações
sem restrições de espaço foram mais móveis, no entanto vale lembrar que os
estratos latitudinais tinham cerca de cinco graus de extensão o que significa que
mesmo dentro de suas áreas legais de operação as embarcações submetidas à
essa restrição podiam se comportar de forma móvel de acordo com o critério
estabelecido (>1,8 graus de amplitude latitudinal).

A B
30 10

8
Número de viagens

Número de viagens
20
6

4
10

0 0
2001 2002 1 2 3 4 5 6 7
Ano Trimestres

20 D 20
C

15 15
Número de viagens

Número de viagens

10 10

5 5

0 0
C N S 1 2 3
Estrato Latitudinal Período de entrada

Figura 40.- Distribuição das estratégias espaciais adotadas pela frota arrendada de emalhe na
ZEE brasileira em função do ano (A, p = 0,088), trimestres (B, p= 0,456), estrato latitudinal (C, p =
0,240) e Período de entrada na pescaria (D, p= 0,283). As barras brancas representam estratégias
estacionárias e as barras pretas, estratégias móveis.

86
A
20

15

Número de viagens
10

0
1 2
Resrição espacial

Figura 41 – Distribuição das estratégias espaciais adotadas pela frota arrendada de emalhe na
ZEE brasileira em função da existência (2) ou não (1) de restrições legais espaciais para as
embarcações (p = 0,120). As barras brancas representam estratégias estacionárias e as barras
pretas, estratégias móveis.

Vale lembrar, no entanto que testes de Chi-quadrado aplicados para


verificar a influência dos diversos fatores acima sobre a escolha da estratégia
espacial (tabelas de contingência) indicaram que nenhum desses fatores desviou
significativamente a relação estratégia móvel = estratégia estacionária.
A seguir avaliou-se o desempenho dessas estratégias através da análise
da distribuição das capturas totais de peixe-sapo obtidas. Essas capturas
oscilaram em torno da média de 27.364,2 kg (DP ± 1.673,1 kg). As capturas de
viagens com estratégias estacionárias tenderam a superar aquelas geradas por
estratégias móveis (figura 42). Porém, após verificação da normalidade da
distribuição das mesmas (teste de Shapiro-Wilk, p = 0,2003), constatou-se que
essa diferença não era significativa (teste t-student, p = 0,741). Quando a
variância da captura total foi modelada a partir de uma ANOVA multifatorial
(tabela 14), observou-se, no entanto que a estratégia espacial teve um efeito
marginalmente significativo (p = 0,048) assim como a restrição espacial (p =
0,030).

87
Figura 42 – Variação das capturas totais obtidas pela frota arrendada de emalhe na ZEE brasileira
como função da estratégia espacial adotada. Estratégia estacionária e Estratégia móvel.

Tabela 14. Análise de Variância aplicada às capturas totais de peixe-sapo obtidas pela frota
arrendada na ZEE brasileira (variável dependente) como função dos fatores: Restrição espacial,
Estrato latitudinal, Estratégia espacial e Ano).
GL Média dos quadrados F P
Restrição espacial 1 9, 815 4,927 0,030
Estrato latitudinal 2 8,184 0,411 0.665
Estratégia espacial 1 8,054 4,043 0,048
Ano 1 3,287 1,650 0,203
Erro 71 1,992

88
4.4.2. AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DE PESCA COM BASE NA TEORIA DO
FORRAGEAMENTO ÓTIMO

A taxa de retorno líquido foi calculada para todas as viagens de pesca e


esteve compreendida entre -400 e 9.750 US$/dia, com valor mediano de 484
US$/dia (figura 43).

Figura 43 – Distribuição de freqüência da taxa de retorno líquido (US$/dia) referentes a todas as


viagens de pesca da frota arrendada de emalhe de fundo.

A eficiência do forrageamento da embarcação Juno foi avaliada através do


modelo de uso do patch. Esta embarcação realizou lances de pesca em 75
pesqueiros diferentes, porém a exploração efetiva, onde decidiu permanecer
realizando atividade de pesca contínua ocorreu em 47 pesqueiros (tabela 15).

Tabela 15 – Relação do número de pesqueiros visitados pela embarcação Juno, pesqueiros não
explorados, pesqueiros explorados e total de pesqueiros.

Pesqueiros não Pesqueiros Total de


Viagem
explorados explorados pesqueiros
1 4 6 10
2 4 4 8
3 1 6 7
4 1 5 6
5 6 6 12
6 8 6 14
7 2 6 8
8 0 4 4
9 2 4 6

89
O Tempo de Procura (Ts), calculado a partir dos lances de pesca, permitiu
estimar o tempo de viagem entre cada pesqueiro e o tempo total de procura por
viagem, enquanto que com dados do rastreamento somente o tempo total de
procura da viagem pôde ser estimado. Os valores de tempo de procura estimados
para as duas fontes de dados foram diferentes, os dados dos lances de pesca
indicaram que a embarcação passou em média 5 dias realizando procura,
enquanto que o tempo total de procura por viagem, gerada a partir dos dados do
rastreamento indicou que a embarcação passou em média 7 dias realizando
procura. Já o tempo médio de viagem entre pesqueiros, estimado com os lances
de pesca, foi de 0,9 dias, este resultado indica que, de forma geral, a embarcação
não se deslocou por grandes distâncias à procura de pesqueiros (tabela 16).

Tabela 16 – Tempo de Procura por pesqueiros para cada viagem de pesca da embarcação
arrendada Juno, valores de tempo de procura total por viagem e tempo médio de viagem entre
pesqueiros estimados com os dados de Observadores de Bordo e tempo de procura total por
viagem estimados com dados de rastreamento via satélite.
Viagem Tp.obs viagem Tp.obs médio Tp.rastro viagem
1 7,42 0,82 3,93
2 1,51 0,22 6,72
3 10,94 1,82 12,04
4 4,10 0,82
5 5,27 0,48 11,50
6 3,30 0,25 13,67
7 1,69 0,24 6,83
8 9,21 3,07 0,67
9 2,04 0,41 3,67
Média 5,05 0,90 7,38
Desvio padrão 3,44 0,96 4,63

As taxas de encontro com pesqueiros, estimadas para as duas fontes de


dados, não apresentaram valores similares. Os dados de Observadores de Bordo
apresentaram uma média de 2,6 pesqueiros por dia de procura, enquanto que a
taxa de encontro média, estimada a partir dos dados do rastreamento via satélite,
foi de 1,9 pesqueiros por dia de procura. Para todos os efeitos, a taxa de encontro
foi assumida como 1 pesqueiro por dia de procura Ts. (tabela 17).

90
Tabela 17 – Taxa de encontro (pesqueiros por dia de procura), estimada para as duas fontes de
dados.
Pesqueiros Taxa de encontro
Pesqueiros Total de Taxa de encontro
Viagem não rastreamento via
explorados pesqueiros lances de pesca
explorados satélite
1 4 6 10 1,35 2,55
2 4 4 8 5,31 1,19
3 1 6 7 0,64 0,58
4 1 5 6 1,46
5 6 6 12 2,28 1,04
6 8 6 14 4,24 1,02
7 2 6 8 4,73 1,17
8 4 4 0,43 6,01
9 2 4 6 2,94 1,64
Média 3,50 5,22 8,33 2,60 1,90
Desvio
2,51 0,97 3,16 1,81 1,76
padrão

A duração média do recolhimento da rede foi interpretada como o tempo de


manipulação (Th). O tempo médio de manipulação foi de 10 horas ou 0,42 dias
(figura 44).

Figura 44 – Distribuição de freqüência da duração dos recolhimentos das redes de emalhe de


fundo.

A exploração da área de pesca por esta embarcação ocorreu em três


estratos de latitude principais, durante a primeira viagem permaneceu entre 23 e
24°S, na viagens 2 a 6 explorou a área compreendida entre 30 e 32°S e da
viagem 7 em diante permaneceu entre 34 e 35°S.
A taxa de retorno líquido durante a exploração destas áreas apresentou um
declínio constante ao longo do tempo de exploração. Na primeira viagem a taxa
média de retorno líquido foi de cerca de 2.000 US$/dia, nas viagens 2 a 6 as taxas

91
iniciaram com valores de cerca de 2.000 US$/dia e terminaram com 326US$/dia,
chegando a um mínimo de -83,31 US$/dia na quinta viagem. Durante a sétima
viagem, encontrou uma grande concentração do recurso na borda no cânion de
Rio Grande, região ainda não explorada até aquele momento, proporcionando
taxas de retorno energético de cerca de 950 US$/dia e novamente diminuindo a
cada viagem apresentando cerca de 136 US$/dia (figura 45).

Figura 45 – Taxa de retorno mediano para cada viagem de pesca da embarcação Juno. As linhas
horizontais, dentro dos retângulos, representam a mediana; os limites superior e inferior dos
retângulos representam os quartis 75% e 25% da distribuição dos dados, as linhas horizontais, na
extremidade das linhas tracejadas representam 1,5 vezes o intervalo interquantil; e os círculos
representam os outliers.

O Tempo de Permanência tendeu a aumentar com o passar do tempo de


exploração destas áreas (figura 46). As estratégias adotadas parecem ter sido
influenciadas pela disponibilidade do recurso. Na primeira viagem o mestre não
conhecia a distribuição do peixe-sapo e apresentou uma estratégia móvel, ao
explorar o intervalo entre 30 e 32°S tendeu a permanecer estacionária até a
redução considerável de suas taxas de retorno líquido, passando a apresentar
maior mobilidade nas últimas viagens neste intervalo. Seguiu móvel até encontrar
uma grande concentração no último intervalo explorado onde adotou uma
estratégia estacionária voltando a aumentar sua mobilidade com a redução das
taxas de retorno líquido.

92
Figura 46 – Tempo de permanência nos diferentes pesqueiros explorados de cada viagem de
pesca da embarcação Juno. As linhas horizontais, dentro dos retângulos, representam a mediana;
os limites superior e inferior dos retângulos representam os quartis 75% e 25% da distribuição dos
dados, as linhas horizontais, na extremidade das linhas tracejadas representam 1,5 vezes o
intervalo interquantil; e os círculos representam os outliers.

A eficiência do forrageamento da embarcação Juno foi avaliada através do


teorema do valor marginal, onde a maximização da taxa de retorno líquido é dada
através de uma reta tangente à curva de ganho, cujo inicio dessa reta é definido
como o tempo de viagem entre pesqueiros, posicionado no lado negativo do
gráfico.
As 47 curvas de ganho foram ajustadas aos três modelos previamente
descritos. Os ajustes convergiram apenas para o modelo logístico, ao todo 44
curvas foram ajustadas, destas, 38 permitiram estimar o tempo ótimo de
desistência. As 3 curvas que não se ajustaram apresentavam uma forma não
compatível aos modelos utilizados, quatro curvas de ganho características são
apresentadas na figura 47, os parâmetros estimados para os ajustes são
apresentados na tabela 18.

93
Tabela 18 – Relação dos parâmetros ajustados às curvas de ganho a partir do modelo logístico.

Viagem Número do Nome do AIC Parâmetros


pesqueiro pesqueiro c a b
1 1 233 804,1924 98947,53 15,620646 0,209212
1 2 234 731,8562 67288,64 6,747964 0,128427
1 3 236 295,4896 48687,11 10,568787 0,330333
1 4 237 140,1387 17206,99 10,672079 0,648572
1 5 240 88,34217 8561,069 13,003641 0,885881
1 6 241 106,2056 4703,833 13,104269 0,682088
2 7 243 138,6277 15825,42 17,042079 0,692131
2 8 248 899,7166 93338,56 36,25086 0,160556
2 9 249 920,5933 177211,9 16,366667 0,066206
2 10 250 255,977 29273,88 112,921756 0,505416
3 11 251 216,7265 5279,098 11,074794 0,232548
3 12 252 1250,154 130364,4 26,688525 0,082101
3 13 253 205,7345 11798,99 15,994777 0,466605
3 14 254 830,7495 93334,89 33,062327 0,108627
3 15 255 577,7598 105596,5 16,549451 0,126681
3 16 257 286,4742 38410,04 13,406476 0,286469
4 17 258 640,3598 22218,19 7,853406 0,125568
4 18 260 880,3697 42088,72 17,884716 0,13101
4 19 261 1193,492 198548,9 19,869464 0,085298
4 20 262 942,3407 36653,78 34,994829 0,092885
4 21 263 641,9552 32504,84 37,889477 0,227995
5 22 266 110,3237 56,0883 -5415,637 6,666867
5 23 268 210,232 -4225,8 17,724937 0,202614
5 24 269 427,3017 -6718,79 12,016359 0,129394
5 25 271 1101,994 17513,37 3581,940661 0,22149
5 26 272 1098,669 -2367,43 18,516561 0,47503
5 27 275 140,8988 8480,331 23,697763 0,835085
6 28 277 155,725 7741,615 16,160341 0,551674
6 29 282 14,88079 902,0734 387,551275 2,977431
6 31 284 672,048 55821,38 23,692703 0,182672
6 32 285 392,9594 4323,983 20,169579 0,774782
7 34 287 110,3237 56,0883 -5,42E+03 6,666867
7 35 291 393,3931 16241,35 16,59344 0,381642
7 36 294 1084,423 84629,89 13,302462 0,107751
7 37 295 1236,058 125920,7 7,847446 0,094589
7 38 296 359,801 7599,663 5,036965 0,143412
7 39 297 318,9863 30628,41 9,790004 0,29789
8 40 298 1226,693 35343,92 46,961621 0,106114
8 41 299 655,4932 4657,028 9,822394 0,228794
8 42 300 1233,675 60329,94 31,344372 0,081492
8 43 301 836,6723 25677,22 3,37E+01 0,128817
9 44 304 515,6373 14107,65 114,073593 0,213499
9 46 306 559,4469 5780,683 27613,54882 0,570482
9 47 307 182,4965 4550,795 7,498684 0,534384

94
De maneira geral, o abandono do pesqueiro ocorreu em torno de 30% após
o tempo ótimo estimado (tabela 19). Cabe ressaltar que nesta análise os valores

Tabela 19 – Estimativa do Tempo ótimo de desistência para cada pesqueiro explorado pela
embarcação Juno.
Proporção
Tempo Ganho Tempo de
Número Tempo de Ganho de
Nome do ótimo de acumulado / permanência
Viagem do permanência acumulado permanência
pesqueiro desistência Tempo de após tempo
pesqueiro (dias) (US$) após tempo
(dias) permanência ótimo (dias)
ótimo
1 1 233 18 42 102.047,81 2.429,71 24 0,57
1 2 234 18 38 66.260,98 1.743,71 20 0,53
1 3 236 19 17 47.241,37 2.778,90 -2 -0,12
1 4 237 5,5 9 17.145,86 1.905,10 3,5 0,39
1 5 240 4,5 6 8.041,49 1.340,25 1,5 0,25
1 6 241 6 8 4.490,32 561,29 2 0,25
2 7 243 6 9 15.660,38 1.740,04 3 0,33
2 8 248 32 50 94.865,23 1.897,30 18 0,36
2 9 249 17 46 94.914,30 2.063,35 29 0,63
2 10 250 13 16 28.148,77 1.759,30 3 0,19
3 11 251 14,5 17 4.494,89 264,41 2,5 0,15
3 12 252 58 63 125.033,13 1.984,65 5 0,08
3 13 253 9 14 12.010,24 857,87 5 0,36
3 14 254 46 48 78.549,32 1.636,44 2 0,04
3 15 255 31 31 82.684,71 2.667,25 0 0,00
3 16 257 13 17 35.588,64 2.093,45 4 0,24
4 17 258 23 39 19.948,40 511,50 16 0,41
4 18 260 32 48 43.632,70 909,01 16 0,33
4 19 261 49 58 177.956,34 3.068,21 9 0,16
4 20 262 51 55 31.187,12 567,04 4 0,07
4 21 263 22 39 32.751,17 839,77 17 0,44
5 22 266 - 8 -241,19 -30,15
5 23 268 - 19 -3.100,44 -163,18
5 24 269 - 33 -5.757,68 -174,48
5 25 271 48 63 19.402,02 307,97 15 0,24
5 26 272 - 63 1.344,20 21,34
5 27 275 6 10 8.377,54 837,75 4 0,40
6 28 277 7 11 7.658,95 696,27 4 0,36
6 29 282 3 4 900,31 225,08 1 0,25
6 30 283 - 24 46,67 1,94
6 31 284 24 39 53.128,61 1.362,27 15 0,38
6 32 285 6 25 3.582,04 143,28 19 0,76
6 33 287 - 4 981,30 245,32
7 34 287 - 28 1.705,11 60,90
7 35 291 11 26 16.754,86 644,42 15 0,58
7 36 294 32 57 83.258,51 1.460,68 25 0,44
7 37 295 27 60 127.553,20 2.125,89 33 0,55
7 38 296 - 22 5.439,55 247,25
7 39 297 11 19 29.905,86 1.573,99 8 0,42
8 40 298 50 68 36.430,79 535,75 18 0,26
8 41 299 14 43 5.372,56 124,94 29 0,67
8 42 300 58 67 57.185,51 853,52 9 0,13
8 43 301 39 51 24.164,28 473,81 12 0,24
9 44 304 31 37 13.226,36 357,47 6 0,16
9 45 305 - 14 -29,99 -2,14
9 46 306 23 35 6.576,82 187,91 12 0,34
9 47 307 5,5 13 4.762,77 366,37 7,5 0,58

95
30000 120000

Taxa de retorno líquido acumulado


Taxa de retorno líquido acumulado

25000 100000

20000 80000

15000 60000

10000 40000

5000 20000

0 0
-1 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 -1 4 9 14 19 24 29 34 39 44 49
Tempo de permanência (dias) Tempo de permanência (dias)

16000 35000
Taxa de retorno líquido acumulado

Taxa de retorno líquido acumulado


14000 30000
12000
25000
10000
20000
8000
15000
6000
10000
4000
2000 5000

0 0
-1 4 9 14 19 24 29 34 39 -1 4 9 14 19 24 29 34 39 44
Tempo de permanência (dias) Tempo de permanência (dias)

Figura 47 – Exemplos de curvas de ganho observadas na exploração dos pesqueiros da embarcação Juno com o modelo logístico ajustado. A reta inclinada
é referente ao valor marginal e a seta indica o tempo ótimo de desistência.

96
5. DISCUSSÃO

O uso dos dados de rastreamento satelital como variáveis descritivas da pesca


profunda de emalhe

O registro de posicionamento geográfico, gerado em tempo real de forma


contínua e automatizada, disponibilizado pelo rastreamento via satélite, foi
explorado no sentido de se fazer inferências sobre a dinâmica da atividade de
pesca de forma simples e confiável. Os resultados obtidos neste estudo
permitiram descrever atividades fundamentais de pesca desenvolvidas pela frota
arrendada de emalhe com um nível de detalhamento da operação de pesca
comparável àqueles conseguidos por meio de outros instrumentos de coleta de
informação. Destaca-se, no entanto, a necessidade de se validar e inter-calibrar
os dados gerados pelo rastreamento satelital com esses outros meios, como
passo essencial para uma utilização ampla do rastreamento seja para o
aprimoramento da gestão pesqueira, seja no estudo das pescarias marinhas do
Brasil.
Em termos gerais, os dados de posicionamento geográfico transmitidos
pelos sistemas de rastreamento utilizados pela frota arrendada de emalhe no
Brasil, quando propriamente transformados em estimativas de velocidades,
permitiram a distinção de períodos de navegação rápida (trânsito) e períodos de
navegação lenta, estes incluindo a atividade pesqueira. Esta distinção, associada
à disposição espacial dos registros enviados, por sua vez, delimitaram no tempo e
no espaço algumas atividades gerais realizadas pelas embarcações incluindo:
(a) Localização e permanência no porto.
(b) Atividade de deslocamento do porto até a área de pesca e de retorno ao
porto, refletindo no investimento realizado para se atingir os pesqueiros
desejados.
(c) Localização e permanência nos pesqueiros, incluindo períodos
destinados à pesca em si.
(d) Trânsito entre pesqueiros, refletindo em parte a estratégia espacial
adotada pela embarcação.

97
Através do tratamento dos dados de rastreamento buscou-se, entretanto,
distinções de maior resolução temporal, em particular de atividades específicas
realizadas durante a fase de trânsito nas áreas de pesca. Nesse sentido a
principal limitação adveio do reduzido volume de dados diários de rastreamento
(seis posições diárias) e o grande espaçamento (quatro horas) entre essas
transmissões o que teve como conseqüência: (a) a subestimação de velocidades
médias para todo o período nas áreas de pesca e (b) a não detecção de
mudanças de velocidades ocorridas em períodos inferiores a quatro horas. Com
isso, algumas atividades realizadas pela embarcação principalmente durante o dia
(quando de fato ocorrem as atividades de recolhimento e lançamento de redes)
não foram discriminadas. Um estudo detalhado de diversas pescarias, incluindo a
pesca de emalhe, utilizando dados de rastreamento na costa noroeste dos
Estados Unidos entre 2002 e 2006 analisou posições geográficas transmitidas
com intervalos de 30 minutos a uma hora (PALMER & WIGLEY, 2007). Com essa
freqüência de registros as velocidades de recolhimento e lançamento de redes
puderam ser estimadas para as embarcações de pesca de emalhe em 0,6 e 3,0
nós, respectivamente, valores estes não distantes daqueles registrados pelos
observadores de bordo na frota arrendada de emalhe do Brasil (0,53 e 4,6 nós
respectivamente). Isso sugere que, com o devido aumento das freqüências de
transmissão, o potencial de aprimoramento da informação gerada pelo
rastreamento satelital no Brasil possa aumentar significativamente não apenas no
sentido de permitir a descrição mais detalhada das atividades de pesca
desenvolvidas como também de fazer predições sobre esforço e capturas em
viagens de pesca como demonstrado por Palmer & Wigley (2007). De fato, o
quadro brasileiro deverá mudar rapidamente nesse sentido com a recente
implementação do Programa Nacional de Rastreamento de Embarcações
Pesqueiras por Satélite – PREPS onde a freqüência de transmissão de
posicionamento entre 30 minutos à uma hora passou a ser exigida como critério
de cadastramento dos sistemas comerciais de rastreamento disponíveis à frota
pesqueira nacional (SEAP/IBAMA, 2006a).
Concretamente, as estimativas de velocidade geradas pelos dados de
rastreamento satelital para embarcações arrendadas durante o período do dia,
indicaram que estas embarcações passaram cerca de 90% do tempo deslocando-
se com velocidades inferiores a quatro nós o que corroboraria a atividade de

98
pesca (incluindo-se lançamento e recolhimento de redes). Igualmente, também
sugeriram que, em geral, o tempo de deslocamento entre pesqueiros é muito
limitado (10%) o que, em parte, dá suporte às estratégias espaciais de pesca
freqüentemente agrupadas ou “estacionárias” (ver abaixo) e também aos
resultados apresentados em estudos pretéritos dessa pescaria que apontam para
depleções localizadas de biomassa de peixe-sapo como função dessa
estacionalidade (PEREZ et al., 2005). Por outro lado, foi possível demonstrar que
intervalos de tempo classificados pelos dados de rastreamento como “atividade de
pesca” puderam ser relacionados linearmente com a duração das atividades de
lançamento e recolhimento de redes tal qual registradas simultaneamente a bordo
por observadores. Esta duração explicou 72% da variabilidade das previsões
feitas pelos dados de rastreamento e, enquanto estas tenderam a ser maiores que
os períodos reais de pesca, foi evidente que com a devida relação estabelecida
entre as duas variáveis obtidas independentemente, pode-se transformar
previsões feitas pelos dados de rastreamento em estimativas de tempo de pesca
dentro de certos limites de confiabilidade.
Considerando-se as distinções possíveis de serem feitas diretamente com o
tipo de registro geográfico gerado pelo sistema de rastreamento satelital
empregado pela frota arrendada, bem como as também possíveis transformações
discutidas acima, poder-se-ia em princípio, delinear áreas concretas de aplicação
desse instrumento na avaliação e gestão da pesca no Brasil.
Inicialmente a ação de monitoramento da pesca ganha uma maior
amplitude não apenas no sentido de se conhecer “onde” se encontra uma
embarcação em qualquer momento, mas também uma estimativa independente
da sua provável atividade. Com isso medidas espaciais e temporais de
ordenamento podem ser efetivamente controladas incluindo-se aí restrições de
pesca em determinadas áreas e/ou épocas, rotação de áreas de pesca entre
outras. No caso específico da pesca arrendada de emalhe, o sistema de
rastreamento demonstrou-se eficiente para detectar, em tempo real, o
cumprimento da obrigatoriedade de mudança trimestral de área de pesca, que
tinha o objetivo central de evitar a concentração de esforço em pequenas áreas
(PEREZ et al, 2002c). Isto é, a informação gerada permitia a inferência precisa de
atividade de pesca (ou navegação lenta) dentro ou fora das áreas pré-
determinadas para cada embarcação. Essa experiência motivou a inclusão de

99
duas “áreas de exclusão de pesca” no plano de manejo implementado em 2005
para a pescaria do peixe-sapo (PEREZ et al., 2002c), delimitadas por polígonos
nas regiões Sudeste e Sul, não apenas como forma de reduzir as capturas dessa
espécie como, principalmente de componentes freqüentes da fauna
acompanhante das redes de emalhe como o cherne-poveiro (Polyprion
americanus) (PEREZ & WAHRLICH, 2004). Sua eficácia, no entanto, não foi
avaliada devido ao descumprimento da frota permissionada em manter a bordo
equipamentos de rastreamento satelital devidamente operantes. Áreas de
proteção marinha têm sido elementos recentemente destacados na gestão da
pesca brasileira tanto em áreas costeiras quanto oceânicas (FERREIRA &
MAIDA, 2007; PRATES, 2007; PEREZ, 2007). É evidente que a implementação
destas áreas não poderá, no futuro, dissociada do instrumento VMS.
O uso do rastreamento na pesca arrendada de emalhe também foi
determinante para identificar outras transgressões legais como a “fuga” das águas
brasileiras com capturas não reportadas de peixe-sapo realizada por uma
embarcação, não incluída neste estudo, que, durante sua primeira e única
operação de pesca na ZEE brasileira, buscou a comercialização de suas capturas
no porto internacional de Montevidéu. Registros de navegação rápida na rota do
limite sul da ZEE brasileira foram suficientes para alertar antecipadamente as
autoridades governamentais de ambos os países. Considerando que a pesca
profunda e a pesca oceânica tendem a ocorrer em vastas áreas próximas dos
limites das ZEEs e mesmo em águas internacionais, sistemas de VMS se
apresentam como elemento condicionante para o controle de atividades IUU
(Illegal, Unregulated and Unreported) particularmente no contexto de
organizações regionais de ordenamento pesqueiro como a ICCAT e a CCAMLR
as quais o Brasil participa como membro contratante.
Finalmente a possibilidade de identificação de determinados intervalos de
tempo com a duração de diferentes atividades da embarcação apontam para o
potencial de conversão desses intervalos em medidas de esforço de pesca com
elevada resolução espacial. Adicionalmente, estudos têm demonstrado que a
avaliação da distribuição do esforço e do tempo de permanência com velocidade
de pesca baseado em estimativas de velocidade de deslocamento também
permitem fazer, de forma relativamente simples e precisa, inferências sobre (a) a
intensidade de pesca em um curto intervalo de tempo (MURAWSKI et al., 2005;

100
MILLIS, 2007); (b) o potencial impacto ambiental da atividade pesqueira em uma
determinada extensão espacial (RIJNSDORP, et al,. 1998; DENG et al. 2005;
HIDDINK et al., 2006) e (c) os padrões de uso do espaço marinho por
embarcações pesqueiras e suas aplicações no manejo ecossistêmico de algumas
pescarias (WITT & GODLEY, 2007). Historicamente, dados de captura e esforço
de pesca têm sido coletados principalmente para se obter índices espaciais e
temporais de abundância, úteis para a avaliação de estoques. Embora a pescaria
seja inegavelmente uma rica fonte de informação sobre a exploração dos recursos
pesqueiros, índices de abundância derivados de dados de captura e esforço de
pesca podem ser deficientes em representar com precisão alguns padrões
populacionais e diversas críticas sobre a relação entre captura por unidade
esforço (CPUE) e abundância estão bem estabelecidas na literatura pesqueira
(DORN, 2001; GILLS & PETERMAN, 1998; GILLS, 2003). A incorporação dos
padrões de alocação do esforço de pesca em micro-escala e da dinâmica de
exploração dos recursos aos modelos populacionais têm sido apontados como as
formas mais indicadas de se avaliar a abundância dos estoques (RIJNSDORP et
al., 1998), principalmente em pescarias onde os recursos se distribuem por
diversas áreas (HOLLAND & SUTINEN, 2000). Nesse sentido, a identificação do
VMS como instrumento de coleta de informações pesqueiras gera a perspectiva
não apenas da resolução espacial de pequena escala, como também da geração
simultânea e independente dessas informações em frotas grandes e diversas. Em
geral essas são deficiências encontradas em outros instrumentos de coleta de
informação.
No Sudeste-Sul do Brasil três instrumentos gerais de coleta de informação
de captura e esforço têm sido utilizados cada qual com suas peculiaridades em
termos de abrangência e resolução. São eles: Mapas de Bordo, Entrevistas de
Cais e Observadores de Bordo (CTTMAR/UNIVALI, 2007). Observadores de
Bordo permitem o acompanhamento mais detalhado das operações de pesca e
geram registros de captura e esforço com a máxima resolução espacial. Sua
aplicação intensiva na pesca arrendada profunda no Brasil permitiu a avaliação
dos estoques de peixe-sapo, caranguejos-de-profundidade, peixes de talude e
camarões-de-profundidade em curto-prazo (PEREZ et al., 2005; PEZZUTO et al.,
2006; PEREZ, 2007; DALLAGNOLO, 2008). No entanto, as perspectivas de sua
utilização na pesca nacional brasileira deve se restringir, por razões econômicas,

101
a parcelas das operações de pesca, num sistema amostral. Ou seja, é um sistema
de alta resolução, mas com abrangência limitada. Mapas de Bordo têm sido
elaborados historicamente no país para gerarem informações lance-a-lance de
pesca e, portanto, em tese, de elevada resolução. A deficiência reside, no
entanto, no fato de sua elaboração não ser independente, dependendo da
vontade do mestre da embarcação em gerar dados fidedignos e com o esperado
detalhamento. Na prática, também, embora seja um instrumento de entrega
obrigatória a todas as embarcações de pesca, pequenos níveis de retorno têm
sido comuns, ou seja, também têm baixa abrangência. Entrevistas de Cais são
realizadas em um sistema amostral durante visitas aos portos de pesca (ver
PEREZ et al., 1998) onde tenta-se reconstruir o histórico geral da viagem de
pesca através de um questionário aplicado ao mestre de uma embarcação
durante o desembarque. Embora a cobertura das operações de pesca possa ser
elevada em alguns portos (CTTMAR/ UNIVALI, 2007), sua abrangência não é
100% e sua resolução espacial e temporal é baixa. Nesse sentido a
obrigatoriedade de utilização de sistemas VMS em toda a frota pesqueira
industrial brasileira, associado à possibilidade de inter-calibração dos dados
gerados por esses sistemas com aqueles registrados por Observadores de Bordo
e outros sistemas, podem multiplicar a geração de informação de captura e
esforço e suprir as deficiências acima tanto em termos de abrangência quanto em
resolução espaço-temporal.

O comportamento espaço-temporal da frota arrendada de emalhe estudado a


partir de dados inferidos do sistema de rastreamento satelital

A representação, em alta resolução espaço-temporal, do deslocamento das


embarcações arrendadas de emalhe durante o período 2001-2002, gerada e
inferida pelos posicionamentos transmitidos pelo VMS, foi utilizada como uma
primeira aproximação para a análise de estratégias espaciais de pesca
empregadas por essas embarcações. De uma forma geral foi notória a
concentração espacial das embarcações com velocidades de pesca indicando um
grande agrupamento em áreas restritas do talude. Segundo Gordon et al. (1995) e
Merret & Haedrich (1997) essa é uma característica das pescarias de talude em
função de sua topografia freqüentemente irregular e dos padrões espacialmente

102
restritos de distribuição de peixes e invertebrados, recursos-alvo da pesca
profunda. Por outro lado, em virtude da própria morfologia do talude e da
configuração da margem continental brasileira, maior variabilidade espacial pôde
ser caracterizada no sentido latitudinal diferenciando-se assim operações de
pesca que “optaram” por explorar, em cada viagem, estratos latitudinais mais ou
menos amplos. Definiram-se assim critérios para a classificação de dois tipos de
estratégias espaciais envolvendo estacionalidade ou mobilidade latitudinal.
Em geral, ambas as estratégias foram adotadas igualitariamente pelas
embarcações arrendadas. As razões associadas a “escolha” entre uma ou outra
estratégia, no entanto, foram pouco claras. Fatores temporais, espaciais e
relacionados às restrições legais foram pouco significativos sugerindo que
elementos inerentes às tripulações e empresas, não considerados aqui, possam
ter se sobressaído nessas escolhas. Entretanto alguns padrões descritivos
observados na adoção das diferentes estratégias podem ser explorados.
O primeiro trimestre foi marcado pela atuação quase que exclusiva de duas
embarcações as quais tenderam a iniciar suas atividades pela porção norte (costa
do Rio de Janeiro), onde tradicionalmente a espécie era capturada e
comercializada localmente pela pesca de arrasto, mas que ainda assim realizaram
deslocamentos latitudinais relativamente amplos para a localização de melhores
pesqueiros demonstrando uma predominância de viagens consideradas “móveis”
(PEREZ et al., 2002d). Observando-se a distribuição da frota já no segundo
trimestre, quando outras três embarcações já se encontravam em operação,
observa-se a existência de posições de pesca em quase toda a amplitude
latitudinal e com alguns pesqueiros já delimitados como preferidos pela frota em
atuação. Com isso evidencia-se nesse trimestre e também no terceiro um
aumento das viagens classificadas como “estacionárias”, viagens estas que
tenderam a se intensificar até o final da pescaria em outubro de 2002. Nota-se,
porém, um período de predominância de viagens “móveis” no quarto trimestre de
2001 possivelmente associado a uma “re-acomodação” das embarcações nos
fundos de pesca. A análise da variação temporal da biomassa do peixe-sapo
realizada durante 2001 indicou uma redução entre 60 – 40% da biomassa do
peixe-sapo no quarto trimestre, o que possivelmente tenha sido o motivador dessa
estratégia (PEREZ et al., 2005).

103
A análise aprofundada do comportamento de uma embarcação específica
tomando como base as previsões de um modelo de otimização de rendimentos
permitiu avaliar de forma mais detalhada os elementos associados às escolhas de
estratégia espacial. Essa análise levou em consideração que sistemas biológicos
são extremamente complexos, e o nosso conhecimento sobre as leis que regem
as suas componentes muitas vezes não são detalhadas o suficiente para permitir-
nos uma adequada interpretação. No entanto, normalmente é possível reduzir a
complexidade de muitos sistemas biológicos, fazendo uma série de pressupostos
que nos permite substituir o sistema real por um modelo imaginário. Se as nossas
hipóteses são razoáveis e realistas, o modelo será então aplicável ao verdadeiro
sistema biológico (RAMAKRISHNA RAO, 2000).
As curvas de ganho de rendimento acumulado durante a permanência da
embarcação em um determinado pesqueiro ajustaram-se preferencialmente ao
modelo logístico, que caracteristicamente apresenta três fases com declividades
distintas. Stephens & Krebs (1986) atribuem as diferentes declividades deste tipo
de modelo à forma com que o predador encontra as presas contidas em dada
agregação, sugerindo que, por algum motivo, no início da exploração de dada
agregação o forrageador tem pouco sucesso em capturar as presas nela contidas
(e.g. capacidade das presas em evitar o predador), em um segundo momento o
predador supera a dificuldade inicial aumentando consideravelmente o retorno
energético, porém ao depletar os recursos contidos nesta agregação a densidade
de presas diminui fazendo com que a taxa de retorno líquido sofra uma nova
desaceleração.
Na pescaria do peixe-sapo a interpretação inicial do ajuste a tais modelos
implicaria em uma baixa eficiência nas capturas durante os primeiros 5 - 10 dias
após o lançamento das redes, um período semelhante de rápido incremento das
capturas e um período final de “saturação”. Considerando que se trata de um
método passivo, pode-se especular que a rede exerça algum tipo de “atração” às
concentrações locais de peixe-sapo a qual se intensifica apenas após algum
período de imersão e que é efetiva dentro de uma área delimitada de atuação
provocando o esvaziamento da área e as depleções localizadas já reportadas por
análises específicas das capturas (PEREZ et al., 2005).
Uma hipótese plausível é que considerando a baixa mobilidade da espécie,
as redes só exerceriam tal atração depois de passar algum tempo imersas e

104
serem “iscadas”, ou seja, acumularem capturas não-intencionais que atrairiam
predadores como o peixe-sapo (PEREZ et al., 2002c). Como rotina diária de
trabalho desta pescaria se resumiu em passar grande parte do dia recolhendo
uma única rede de pesca, relançando-a no final do dia e o tempo de imersão de
cada rede era o mesmo, a quantidade de redes que as embarcações dispunham
era tantas quanto o tempo de imersão. Agora supondo que em uma viagem
hipotética a embarcação explora apenas um pesqueiro, poderíamos supor que o
primeiro dia de permanência seria destinado a lançar todas as redes e no
segundo dia em diante ocorreria à operação rotineira. Assumindo que a eficiência
do petrecho é dependente da “iscagem” e em todos os dias ocorre um
recolhimento, o tempo de imersão das primeiras redes recolhidas seria menor e
conseqüentemente a capturabilidade também. Dessa forma, o formato observado
das curvas de ganho poderia ser atribuído a estas características operacionais,
onde inicialmente a taxa de retorno líquido seria menor devido à baixa eficiência
de captura, seguido de um sensível aumento proporcionado pela igualdade do
tempo de imersão de cada rede, e finalmente voltando a diminuir com a redução
da densidade de peixe-sapo provocada pela de captura.
Contribuem a essa hipótese o fato de que a espécie é caracterizada por
movimentos lentos e que passa prolongados períodos camuflada ao substrato
“esperando” a passagem de alguma presa potencial e raramente migrando
(ALMEIDA et al., 1995; HARTLEY, 1995; AZEVEDO, 1996; DUARTE et al., 2001).
Um motivador da movimentação até as redes de emalhe pode ter sido o fato de
que estas produzem uma abundante e diversa captura não-intencional composta
principalmente dos caranguejos-de-profundidade (Chaceon spp.), caranguejos-
aranha (Fam. Majidae) e uma variedade de peixes e lulas demersais de hábitos
principalmente bentônicos ou bentopelágicos (PEREZ & WAHRLICH, 2005). Entre
estas espécies foram constatadas com freqüência a merluza (Merluccius hubbsi),
o calamar-argentino (Illex argentinus) além de Polimixia lowey componentes da
dieta do peixe-sapo particularmente nas áreas de talude do Sudeste e Sul (MUTO
et al., 2005). Durante períodos de imersão prolongados crescentes, numerosas
carcaças foram registradas nas redes recolhidas evidenciando a intensa atividade
“carniceira” nas redes de fundo. (PEREZ et al., 2002c).
No que se refere aos padrões de permanência da embarcação estudada
sobre um único pesqueiro, deve-se considerar que um pescador típico depende

105
de indicadores ambientais para tomar a decisão de parar de pescar na área que
está e mover-se para outra. Estes indicadores vêm da percepção que o pescador
tem sobre a densidade do estoque. Clark (1985) apud Begossi (1992) define que
os pescadores decidem a forma de como exploram um determinado pesqueiro
apresentam comportamentos de tomada de decisão ativos ou passivos. O
comportamento ativo considera simultaneamente a captura esperada e a troca de
informação enquanto que o comportamento passivo é baseado em informações
atualizadas do pesqueiro. O comportamento observado na embarcação Juno
indicou que esta tende a permanecer em um pesqueiro um tempo cerca de 30%
maior do que o tempo ótimo de desistência estimado pelo modelo aplicado. Isto
pode ser interpretado com uma estratégia passiva, ou seja, a decisão de
abandonar a área e se mover para outra pode ter sido baseada nas atuais taxas
de captura. Neste caso deve-se considerar que a referida “percepção” do
pesqueiro deve sofrer uma defasagem significativa pelo fato da primeira caceia
ser recolhida apenas três a quatro dias após o primeiro lançamento e,
principalmente, por haverem outras redes operando simultaneamente. Assim,
apenas quando todo um conjunto de redes foi recolhido e relançado, pode-se ter
uma idéia do “nível de densidade” do pesqueiro. Por último mesmo tendo-se
tomado uma decisão de mudança, são necessários cerca de quatro dias para o
recolhimento completo de um conjunto de quatro caceias, usualmente utilizado
pela embarcação Juno. Esses fatores devem dificultar a mobilidade das
operações de pesca mesmo mediante a troca de informação entre as
embarcações sobre a disponibilidade dos recursos que foram diversas vezes
relatadas pelos Observadores de Bordo.
Contudo, um predador pode se beneficiar por não abandonar o local que
está explorando imediatamente no tempo predito porque ele pode dispor de
informações de que o rendimento do atual pesqueiro explorado é melhor do que
os demais. Outra possível explicação para o longo tempo de permanência do
pescador é que os pesqueiros alternativos estão sendo ocupados por
embarcações competidoras (BEGOSSI, 1992). Estas duas explanações de fato
são condizentes com a realidade da pescaria, tanto a informação da
disponibilidade do recurso quanto a área de atuação das demais embarcações
era de conhecimento desta embarcação. Sendo assim, a permanência em um
pesqueiro por um tempo mais longo que o tempo predito, mesmo apresentando

106
uma redução dos rendimentos provavelmente era mais vantajosa do que gastar
combustível se deslocando para outra área com rendimentos similares e com a
possibilidade de ter que disputar o recurso com outra embarcação. O maior tempo
de permanência gasto nos pesqueiros pode ser visto como uma estratégia não
conservativa, onde a intenção da exploração de pesca não era a manutenção da
taxa de retorno líquido ao longo do tempo. De forma geral todas as embarcações
permaneceram por longos intervalos de tempo em um mesmo intervalo de latitude
até que a taxa de retorno líquido sofresse uma acentuada queda.
A teoria do forrageamento ótimo, em particular o teorema do valor
marginal, é uma ferramenta útil para analisar as estratégias de pesca empregadas
pelas embarcações. Através destes conceitos é possível (a) aprimorar o manejo
de áreas, dimensionando a quantidade de embarcações de uma área, o tempo de
permanências destas na área avaliando as decisões tomadas individualmente
pelas embarcações em operação; (b) estimar previsões de lucro, incorporando
variáveis econômicas e permitindo predizer a rentabilidade das áreas e da
temporada de pesca. A efetiva implementação e operacionalização do
monitoramento via satélite da frota pesqueira no Brasil permitirá a geração de
informações com nível de detalhamento adequado para a realização de análises
do comportamento dinâmico das frotas pesqueiras nacionais.

107
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