Trabalho Final Disciplina Introdução ao Ambientalismo na Era do Antropoceno
A inflexão será profunda ou superficial?
A humanidade adentra em uma desafiadora fase do antropoceno. Há décadas somos
alarmados sobre as consequências que a atividade antrópica de degradação ambiental. Ainda assim, mesmo com a indicação de um nebuloso futuro, observamos pouca ou quase nenhuma mudança prática em nosso dia a dia ou padrão de consumo. Porém, diversos pesquisadores indicam que esse ponto de inflexão em nossa historia pode estar finalmente por chegar.
O consumo muito além da necessidade humana, o apego a concentração de riquezas e
necessidade de mercados consumidores por parte do hemisfério norte nos afastou de qualquer tipo de mudança. Desde a superação da questão malthusiana de escassez, conquistada através do avanço da biotecnologia, a progressão geométrica da população parou de assustar os grandes gestores globais. Hoje, a humanidade tem condições de produzir alimento de boa qualidade para todos os humanos. Obviamente essa condição não é atingida por conta da brutal desigualdade que há no mundo. A doutrina econômica dominante preconiza que é necessário fazer o bolo crescer para depois distribuí-lo, mas agora que o bolo já cresceu o suficiente, por que não realizar então sua distribuição, ao invés de submetê-lo a um crescimento insustentável? Nenhum desses atores globais tem a intenção de abrir mão – ou pelo menos ser o primeiro a fazê-lo. Porém, últimos acontecimentos meteorológicos globais ocorridos no hemisfério norte – na parte sul do globo não há muito alarde quando os mesmos ocorrem – nos fazem acreditar que algo pode mudar. E mudanças já podem ser observadas. Um bom exemplo são as empresas de óleo e gás, que mudaram sua estratégia econômica futura. Agora essas empresas afirmam que o petróleo não acabará, pois seu valor de mercado irá acabar antes. E as previsões são para daqui a poucas décadas. A ordem é extrair o máximo possível agora e investir em novas futuras matrizes energéticas. Não é possível afirmar a real intenção dessas empresas nesse movimento, mas já é algum tipo de movimento. Líderes globais também intensificam tentativas de acordos multilaterais de clima e desenvolvimento verde. Os EUA parecem estar mais dispostos a tal no momento. A China se candidata a protagonista nesse processo. E o Brasil, apesar de estar temporariamente pária, tem condições, território, população e história diplomática suficientes para ser um dos principais líderes e porta-voz dos países em desenvolvimento, especialmente América Latina e África. O cenário global também parece favorável a essas mudanças. Porém, como a problemática é muito complexa e severa, a solucionática não será superficial. Credito de carbono está longe de ser uma solução. Tornar uma prática de diminuição de um dos gases do efeito estufa uma commoditie e jogá-la ao mercado parece ser uma solução que só funciona na cabeça de quem nunca visitou uma comunidade que mora às margens de um esgoto, como o Complexo da Maré, por exemplo. Outras soluções mercadológicas também não surtirão efeito. Enquanto a questão do consumo exagerado e a distribuição mais justa da riqueza produzida não for o centro do debate ambiental, estaremos discutindo distrações enquanto o relógio anda. Por tras de cada consumo insano de materiais, como por exemplo copos de plástico ou fraldas descartáveis, há não somente uma grande indústria por trás, mas também toda uma cadeia de suprimentos para mantê-la. E nessa cadeia há muito valor investido, fundos de pensão, empregos, estruturas e tudo mais. Para abolirmos as inúmeras embalagens de plástico da sociedade, será necessário finalizar toda essa cadeia e garantir que a mão de obra órfã seja dignamente alocada em outro ramo produtivo. Missão praticamente impossível numa economia e sociedade liberal não- planificada. Reproduzir esse desafio em escala global, levando em conta toda a complexidade do comércio internacional, só será possível com uma sintonia perfeita entre todos. Sintonia que está muito longe do ideal. E se não for possível, o mundo poderá acabar. Sabe-se que há grande influencia no padrão de consumo para que sempre haja lucro. E padrão de consumo, para muitas pessoas, é sinônimo de felicidade. Essa mudança cultural também deverá ser trabalhada e poderá impactar positivamente na saúde da população, porém sempre observando as demandas realmente necessárias. Nesse impasse, creio que as mudanças necessárias só ocorrerão com a intensificação dos fenômenos catastróficos globais. Grupos que trabalham com RRD (reduçao de risco de desastres) estão subfinanciados para o desafio que está posto. No Brasil pós-PEC95, pouquíssimas estações meteorológicas estão funcionando plenamente. Nem uma previsão do tempo decente é possível fazer. E obviamente não somos os únicos países nessa condição de prevenção e mitigação deficitária de desastres. Porém, esses fenômenos só causarão o “impacto necessário” em fenômenos acontecidos no hemisfério norte – onde há maior salvaguarda, mas que não será suficiente. Infelizmente teremos que sofrer mais para observar mudanças significativas, que envolverão diminuir abruptamente a pegada ecológica global e adentrarmos na era da pegada restauradora. Estamos no inicio de uma era decisiva para a humanidade. Apesar de observarmos avanços, precisamos de ações concretas estruturais e econômicas, praticamente fundando um novo modelo de desenvolvimento global – que deverá ser integrado. O desafio é enorme, e alguns grandes líderes globais estão fazendo algum esforço para iniciá-lo. Mas quem vai dar a definição a esse jogo será a próxima geração. Que as elites não vençam a batalha nessa vez – porque se vencer não haverá mais batalhas para disputar.