A independência das colônias espanholas e portuguesa estabelece aos novos Estados
agendas parecidas à colonial, mas com novas problemáticas. Isso porque, os países recém- formados se veem diante de problemas antes não centrais, como: a legitimidade de seu governo, o modelo de organização e a definição das fronteiras nacionais. Nesse sentido, a política externa brasileira é definida a partir do desenrolar desses problemas e está diretamente ligada à como os demais países estabeleceram suas respectivas agendas. Para o império, três problemas se destacavam: a divergência entre o Brasil imperial e as repúblicas espanholas (ou seja, a possibilidade de uma aliança republicana contra o Brasil), a consolidação do território brasileiro a fim de impedir sua fragmentação e, por fim, a manutenção do sistema escravagista. A Bacia Platina tange, principalmente, as duas primeiras questões que estão no centro da política externa imperial em relação a Província da Cisplatina e a Guerra do Paraguai. Cronologicamente é necessário entender a formação e independência do Uruguai, além da relação imperial com essa e, depois entender o papel brasileiro na Guerra do Paraguai. A questão da Cisplatina se constrói muito antes da independência, uma vez que, Portugal já havia percebido a centralidade da região ao que tange a segurança territorial e, nessa lógica, funda a Colônia de Sacramento que, depois de disputas entre espanhóis e brasileiros, passa ao domínio Espanhol (DORATIOTO, p. 11, 2021). Na Bacia, o Brasil controla a nascente e o alto curso do Rio Paraná, do Rio Uruguai e do Rio Paraguai, mas não controla a foz: o Rio da Prata. A região assume tal centralidade devido a capacidade de acesso do governo central as áreas mais abastadas do seu território, principalmente Mato Grosso, ou seja, é do interesse do governo central garantir a livre navegação no Rio da Prata. É importante notar que, o subsistema da bacia é demarcado pela existência de duas potencias regionais: o Império brasileiro e a Argentina. E, além disso, com a independência, o Vice-reino do Rio da Prata se fragmenta e perde duas partes do seu território, os atuais Uruguai e o Paraguai. Consequentemente, era do interesse do império que as Provinciais Unidas não controlassem esses dois territórios, dado que, esse controle significava uma Argentina maior e com mais poder. Todavia, a maior preocupação do império se dá devido à inexistência de conexões entre o centro, Rio de Janeiro, e as regiões do Mato Grosso e Rio Grande do Sul, especialmente, no que tange a dificuldade de acesso via terrestre à essas regiões. Em suma, a preocupação imperial surge quando não se há um controle efetivo dessas áreas afastadas e, consequentemente, a integridade territorial acaba por ser afeta. Ademais, vale ressaltar outros dois fatores que influenciaram na Política Externa do Império. Primeiro, a Guerra Civil no Uruguai, conflito entre Blancos e Colorados com participação direta do Brasil e da Argentina. Segundo, a Revolução Farroupilha (1835 – 1845), resultando na separação temporária do Rio Grande do Sul do restante do império. É a conexão entre esses dois eventos que explicam tanto a intervenção argentina quanto a brasileira na Guerra Grande do Uruguai. Os Blancos e os líderes farroupilhas tinham como intuito a construção de um grande Estado Platino, formado pelo Rio Grande do Sul, Uruguai, as Provinciais de Entre Rios e Missões e, talvez, o Paraguai. Esse novo Estado seria independente tanto do Império quanto de Buenos Aires, mas ataca diretamente o interesse brasileiro no Prata e no charque que alimentava parte da população em estado de escravidão, ou seja, atacava diretamente o sistema de produção brasileiro. Por conseguinte, a Revolução Farroupilha é derrotada quando o império cede benefícios aos líderes farroupilhas que aceitam e, em contrapartida apoiam os Colorados. Consequentemente, os Blancos se enfraquecem assim como seu grande projeto unificador. A Guerra do Paraguai está diretamente relacionada com a Grande Guerra no Uruguai. Quando os Blancos propõem o “sonho do grande Estado Platino”, Solano Lopez percebe que o Paraguai, em aliança com os federalistas argentinos e com os Blancos, construiria esse Estado. Essa é a causa principal da guerra, uma vez que, colorados, argentinos e “brasileiros” não tinham interesse na consolidação desse grande projeto. Para o império, o que importava era garantir a livre navegação no Rio da Prata, posição divergente da adotada por Solano Lopez. Em resumo, o Império tem sua política exterior voltada a manutenção da unidade territorial. A extensão do Brasil e a dificuldade de locomoção e controle das regiões do Mato Grosso e Rio Grande do Sul eram fatores importante. Porém, a própria construção do império e dos países na Bacia Platina guiou a tomada de decisão imperial. Nesse sentido, o que se percebe é um jogo de poder a fim de garantir a ordem doméstica e, essa mesma ordem, devido a independência recente e a necessidade do estabelecimento das fronteiras, se encontra fragilizada.