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Gravidez na adolescência e os riscos psicológicos

A gravidez na adolescência ainda é a raiz de muitos problemas de ordem


social, econômica e psicológica. Segundo dados da ONU, “um em cada cinco
bebês que nascem no Brasil é filho de mãe adolescente. Entre estas, de cada
cinco, três não trabalham nem estudam; sete em cada dez são
afrodescendentes e aproximadamente a metade mora na região Nordeste. ”

Essa frase é fundamental para entendermos que as consequências da gravidez


na adolescência atingem diversos pontos importantes da vida da mulher, da
família e da sociedade como um todo. Para compreender o impacto psicológico
que essa gestação precoce cria, nutre e se enraíza, devemos traçar o
panorama socioeconômico que é o pano de fundo para os problemas e
doenças de saúde mental nesse tema.

O desafio de uma gravidez indesejada na adolescência

Enfrentar uma gravidez indesejada na adolescência é um grande desafio em


vários sentidos. Primeiro, a mulher é julgada pelos familiares, pela sociedade e
por ela mesma. A grande maioria ainda precisa lidar com o abandono parental,
uma realidade que, segundo estatísticas divulgadas em 2020 pelo IBGE
(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), já atinge cerca de 1 milhão de
famílias. Esse julgamento, autocrítica, frustração e solidão mexem com o
emocional dessa menina que precisou virar mulher do dia para a noite.

A adolescência corresponde à fase da vida em que a personalidade e o senso


crítico estão começando a se formar. É nesse período que as primeiras
experiências começam e despertam os mais variados sentimentos, moldando
planos e sonhos. Seja para a menina com poder socioeconômico ou para
aquela que pertence à classe menos privilegiada, os sentimentos citados
acima, como o julgamento e a solidão, são os mesmos. Porém, aquela menina
que não tem renda, família bem estruturada, oportunidades e acesso aos mais
variados tipos de serviços, tende a ter muito mais obstáculos.
Entre essas meninas que pertencem às classes mais baixas da sociedade, o
planejamento familiar é algo muito distante, já que pecamos com a educação e
o acesso à saúde nos lugares mais pobres. Isso, consequentemente, resulta na
falta de informação e planejamento. “A desigualdade enfrentada pelas
mulheres mais pobres no acesso a serviços de saúde, onde apenas algumas
privilegiadas conseguem planejar sua vida reprodutiva, reflete-se na
incapacidade de desenvolver habilidades para integrar a força de trabalho
remunerado e alcançar poder econômico”, aponta a ONU.

Aspectos psicológicos da gravidez na adolescência

Bruna de Lira Soares Faria engravidou aos 18 anos. Na época, ela cursava o
1º ano da faculdade de Letras e tinha muitos planos que tiveram que esperar.

“A descoberta da gravidez foi assustadora, principalmente pelo fato de que, após a


descoberta, o pai decidiu não estar presente. Foram meses difíceis e solitários. Eu estava
assustada e cheia de medos, mas os cuidados dos meus pais, o amor e ajuda financeira fez com
que o tempo passasse e eu pudesse perceber que não ter um pai para a minha bebê seria algo
a ser superado com muito amor”, explica.

Mesmo tendo o apoio dos pais, Bruna teve que enfrentar os olhares tortos, o
julgamento, o abandono e colocar os sonhos de lado por um tempo.
Diferentemente de Bruna, algumas meninas não têm o apoio da família e
precisam enfrentar sozinhas o medo e insegurança que a gravidez desperta.
Toda mulher grávida pensa na vida que terá quando o filho nascer, na dor do
parto, se será uma boa mãe e mais uma sorte de outras angústias. Imagine,
agora, sentir tudo isso sozinha? Quando as angústias se tornam grandes
demais, tanto com apoio ou sem elas podem ser gatilhos para transtornos
psicológicos crescerem.

Estresse, depressão e ansiedade são problemas sérios e que podem prejudicar


a formação do bebê e causar problemas para o resto da vida. Uma pesquisa
publicada pela JAMA Pediatrics afirma que sintomas depressivos e/ou
ansiosos das mães influenciam diretamente a densidade da substância branca
das crianças. Essa importante região é responsável pelas conexões nervosas
cerebrais. A depressão é duas vezes mais frequente nas mulheres. Uma das
explicações para esse fenômeno são as alterações hormonais que acontecem
durante os ciclos de menstruação e após menopausa.

Além dos transtornos psicológicos já mencionados, a mulher que engravida na


adolescência sem planejar tem maior dificuldade em conciliar ou continuar os
estudos, principalmente nas camadas mais pobres da sociedade, o que faz
com que elas não tenham um nível de escolaridade bom para serem inseridas
no mercado de trabalho, e, consequentemente, possuam menos renda,
oportunidade e motivação. A autoestima também é colocada em xeque, já que
sem as oportunidades e possibilidades de evolução pessoal e material, elas
fiquem totalmente conectadas aos filhos e sejam as provedoras da casa pois,
como mencionamos anteriormente, o abandono parental é muito comum.

A prevenção da gravidez na adolescência é fundamental para que todos esses


problemas sejam evitados, além dos riscos à saúde física, já que o aborto,
prematuridade, desnutrição, má formação, entre outros problemas.
As complicações da gravidez na adolescência não se resumem somente a uma
mulher precisar cuidar de um filho muito cedo, mas sim de todos esses
desdobramentos aqui abordados que geram mulheres com o psicológico e a
saúde física abalados.

http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-
98932003000100012

https://www.telavita.com.br/blog/gravidez-na-adolescencia-riscos-psicologicos/
amp/

https://www.scielo.br/j/pcp/a/QqfLfKhS9RZ9GWTZXCSmPNC/?lang=pt

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