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Alguns artistas, personalidades e suas psicoses

O poeta, pintor ou escritor, por vezes, precede à psicanálise, por fontes que ainda
não se tornaram acessíveis à ciência.
O mundo moderno, tornando-se mais e mais psicótico, permitiu aos homens
mais cultos, mais inteligentes e menos censurados e intransigentes poderem
compreender mais profundamente o expressionismo e, principalmente, o realismo.
A maioria dos artistas é vítima de graves problemas emocionais e os expressam
através de sua arte. Os erros de educação da infância acentuam a agressividade herdada
dos nossos antepassados, os homens das cavernas, e, essa agressividade associada aos
preconceitos impostos pelas restrições sociais, geram complexos de culpa, causadores,
por sua vez, de uma autodestruição, um dos maiores males da humanidade.
Com isso, o indivíduo se destrói por doenças das mais variadas, se destrói pelo
fracasso profissional, se destrói em suicídio lento ou agudo e, principalmente, se destrói
pela infelicidade conjugal, prejudicando demasiadamente os filhos. É na arte e de modo
especial na pintura, que vamos encontrar os reflexos de ambiente doméstico infeliz, com
pais descontentes, autoritários, “castradores”, ou pouco afetuosos.
Iniciaremos, falando sobre alguns pintores clássicos célebres, sendo que, dos 22
artistas estudados, apenas dois foram felizes em sua vida conjugal. Os famosos Giotto,
Boticelli, Michelângelo, Rafael e Leonardo da Vinci eram solteiros. Ticiano, Rubens,
Goya eram Don Juans e, assim, a maioria deles mostrava graves perturbações de
conduta.
O primeiro artista estudado será Vincent Van Gogh (1853-1890), expressionista,
que se identificou com seu pai, que era ministro protestante, por isso desejou seguir
carreira religiosa. Porém, seu complexo de culpa1 era tão grande, que decidiu dar tudo
que era seu para os pobres e foi expulso da congregação religiosa. Casou-se com uma
lavadeira, depois com uma prostituta, sendo sempre maltratado pelas mulheres.
Para não matar Gauguin, “suicidou-se” parcialmente, cortando a própria orelha.
Foi internado em diversos sanatórios, devido a uma psicose alucinatória 2 e acabou se
suicidando em 1890 com um tiro no peito.
Gauguin, em suas pinturas, utilizava bastante a cor amarela, provavelmente por
desespero, o que aparece nitidamente em seus quadros: “Os corvos no milharal”, “O
carro de cigano”, entre outros.
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Em seguida, vamos falar de Paul Gauguin (1848-1903), um dos primeiros
artistas a valorizar o papel interpretativo da arte: “A arte é uma abstração. Tire-a da
natureza e sonhe diante dela. Gauguin era um indivíduo calado, solitário, sem qualquer
expansão afetiva, cumpridor das tarefas. Possuía uma personalidade esquizoide3, sentia-
se perseguido e indiferente aos sentimentos alheios. Em 1988, escreveu: “Há dentro de
mim duas naturezas, o índio selvagem e a planta que sente; sou o protótipo do homem
decadente criado pela civilização”. Em suas pinturas, Gauguin utilizou as cores
arbitrariamente; a floresta em vermelho púrpuro, rochas em azul celeste, dentre outras.
Em 1998, tentou o suicídio. Mas acabou falecendo em 1901, de sífilis.
Outro pintor a ser destacado é Michelângelo Buonarotti (1475-1564) que, apesar
de todas as surras e repreensões dos pais (apanhou por pintar e rabiscar as paredes)
insistiu em querer ser um artista, mas a desconfiança e a forte agressividade o
acompanharam durante toda a sua existência. Era um frustrado em todos os sentidos,
inclusive no sexual. Em “Cristo e a mãe” fez a mãe mais moça porque achava que a
mulher pura conserva a mocidade, mas em uma interpretação psicanalítica, ele não
poderia admitir a mãe na intimidade com o pai. Freud fez um estudo especial de
“Moisés” de Miguel Ângelo, chegando à conclusão de que a disposição de se levantar
representa um momento decisivo da vida. Há um aparente contraste entre a sua
serenidade exterior de atitude e a expressão do olhar (olhar inflamado). Freud acha que
“Moisés” retrata o próprio Papa Júlio II, em virtude de ambos serem de ação, mas
suspeitando o fracasso a que estariam condenados.
A seguir, destaca-se Leonardo da Vinci, o mais perfeito tipo humano do mundo
moderno, o que não estamos de acordo, pois tratava-se de um indivíduo infeliz e
homossexual; jamais se casou. Este fato foi devido ter sido ele filho de uma aventura do
pai, advogado florentino com uma camponesa. Educado pela mãe até os 7 anos, não
tendo tido contato com o pai, motivo pelo qual (outros tinham pai e ele não)
desenvolveu nele, o dom da invenção. Era o pintor do sorriso estranho, enigmático, no
qual havia sabedoria e tristeza, cinismo e desprezo-seria o sorriso de sua mãe e da
madrasta-bem exemplificados em “Santana e a Virgem” e, principalmente, em “Mona
Lisa”.
Outro pintor, Rafael Sanzio (1483-1520) era efeminado, sem barba e muito
delicado, sendo um rico cidadão da Renascença. Deveria ter um conflito sexual no
momento em que pintou o quadro “São Jorge e o Dragão” (desejo de destruir os
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monstros do inconsciente). Sofreu de neurose do destino 4. Faleceu de mal súbito.
Morreu, no mesmo dia em que nasceu.
Ticiano Vecellio (1488-1576), outro artista em destaque, era um Don Juan,
hipocondríaco5, sem caráter e até mesmo, quando velho, se insinuava às moças
venezianas. Pintou “Baco e Ariadne”, cheio de voluptuosidade 6 e em “Amor sacro e
profano” registra o seu provável conflito sexual.
Peter Paul Rubens (1577-1640), pintor flamengo, parece ter tido forte complexo
edipiano7, pois ficou recluso longo tempo, devido à morte da mãe e, só depois desse
fato, casou-se com uma mulher frígida e pintou-a nua, ao lado de um cupido alado:
“Helena de Fourment”.
Francisco José Goya y Lucientes (1746-1828), pintor realista, era um Don Juan
turbulento, um verdadeiro Shakespeare do pincel; gostava de três coisas: namorar uma
rapariga, bater-se em duelo e pintar um quadro. O seu conflito homossexual parece ser
revelado em “A luta do Frei José com o soldado”, que representava a sua luta íntima, no
sentido da sua parte boa combater a parte ruim, fálica. “Que velhacas são as mulheres,
mas que desejáveis velhacas”..., dizia ele. Como pintor, impôs aos seus modelos, as
características da personalidade interior dos mesmos, descarregando sua agressividade
nas pessoas que o rodeavam. Em seu quadro “Saturno devorando o filho”, apresenta seu
complexo de inferioridade, talvez por um sentimento filicida.
Eugene Delacroix (1798-1863), pintor romancista, era temperamental,
hipocondríaco, revelando toda a tristeza nos seus quadros “A virgem no cemitério”. Os
seus conflitos sexuais parecem ser revelados na “Morte de Sardanpulus”, no “São Jorge
e o Dragão”, “Jacob e o anjo”, pois jamais se casou.
El Greco (Domenico Theotokopoli) (1541-1614), pintor, escultor e arquiteto
grego parece ser esquizofrênico8, devido ao seu tipo de pintura: quadros tristes,
abusando do cinza, agressividade muito recalcada, pois raramente usava a cor vermelha.
Pode-se constatar esse fato na Catedral de Toledo, pois só usou essa cor rubra em
Cristo, no quadro “Espólio”, parecendo significar uma hostilidade aos pais. Não se
casou, embora tivesse um filho natural.

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Outro artista renomado do período do Renascimento italiano foi Maquiavel,
poeta, historiador e músico, cuja vida foi uma obra-prima. Sente-se por ele admiração,
simpatia, afeto e respeito, embora se descreva uma maldade refinada, sem escrúpulos,
tendo sido associada ao seu nome: “demônio da linguagem coloquial” e “Anti Cristo”, e
o seu sarcasmo provocatório. Voltaire equipara o teatro de Maquiavel ao de
Shakespeare-Aristofane, e Napoleão assegura que o livro de Maquiavel é o único que se
pode ler.
Hugo Van Der Goes (1438 – 1483), mais um pintor flamengo, foi recuperado,
antes de falecer de doença mental (somente descoberta pelo manuscrito do convento
onde passou seus últimos anos), similar ao que ocorreu com Saul e a Harpa de Davi,
curou-se ao escutar a harpa...A tristeza e a angústia profundas dominavam o seu ser, por
meio de uma inibição psicomotriz, sem estímulo ao movimentar-se, sem ânimo para
vestir-se, comer ou falar. Permanecia na cama e no escuro, com ideias delirantes de
ruína, indignidade, condenação inescapável e sem argumentação lógica. Hugo Van
Goes começou a gritar inesperadamente por estar condenado ao fogo eterno, isto é, de
“frenesis maligna”, hoje denominada de esquizofrenia. Wittkower, em 1963, julga que
os quadros célebres de Hugo Van Goes (Trânsito da Virgem, no museu de Bruges)
foram pintados depois de sua doença mental.
Dona Joana de Castela e Aragão, enclausurada por 47 anos em Tordesilhas,
procurou ser atendida por damas de estritas virtudes por ciúmes e devaneios do esposo
Dom Fernando.
No campo da dança, Vaslau Nijinsky, caso único e sem repetição, ao iniciar a
sua doença mental, dança soberbamente em técnica, mas com um diário encontrado em
um velho baú pela sua esposa, reafirma-se sua esquizofrenia, tratada por Breuler.
Durante a doença, Nijinsky nega-se a comer, viver e dançar, sobrevivendo a alucinações
e ao mutismo9, sempre mordendo suas unhas até sangrar, só melhorando quando Sackel
lhe aplicava insulinoterapia10. Todavia, como homossexual, teve enorme influência no
movimento gay, apresentando-se na sociedade com um colar de pérolas e brilhantes.
Nijinsky era um gênio no palco, e fora dele não mantinha conversa em nenhum idioma.
Segundo Burckle, Nijinsky era como um velho marinheiro que tenta explicar a um
menino cego como é o mar. Apud J. A. Valejo Nágera “ ” ... Dossat. Madrid, 1978

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