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“Ver, Ser Vis

e Deixar Ser Vis


aspectos das relaç
dialéticas entre
pinturas rupest
de Caiapônia, Go
sta
sta”: “Ver, Ser Vista
e Deixar Ser Vista”:
ções aspectos das relações
e as dialéticas entre as
pinturas rupestres
tres de Caiapônia, Goiás

oiás
PASCALE BINANT
Universidade de Nanterre, França

SIBELI A. VIANA
PUC Goiás

ALFREDO PALAU PENÃ


PUC Goiás
Binant, Pascale | Viana, S. A. | Penã, A. P.

“VER, SER VISTA E DEIXAR SER VISTA”: ASPECTOS DAS RE-


LAÇÕES DIALÉTICAS ENTRE AS PINTURAS RUPESTRES DE
CAIAPÔNIA, GOIÁS
Resumo
Este artigo tem o objetivo de apresentar os resultados da reto-
mada dos estudos das pinturas rupestres na região arqueológica
de Caiapônia, localizada na região sudoeste do Estado de Goiás,
município de Palestina de Goiás. As pesquisas na região têm seu
primeiro momento entre fins da década de 1970 e início de 1980,
realizadas pela equipe de P. I. Schmitz. A partir de 2009, uma nova
fase de estudos se instaura, delineando o atual processo investi-
gativo, que repousa no estudo de aspectos de relações dialéticas
entre as manifestações rupestres de Caiapônia a partir da distri-
buição espacial dos abrigos pintados no território, do posiciona-
mento das pinturas nos abrigos e da relação que elas estabelecem
entre si.
Palavras-chave: Caiapônia. Arte Rupestre. Distribuição Espacial
dos Abrigos. Distribuição espacial das pinturas.

“TO SEE, TO BE SEEN AND TO STOP BEING SEEN”: ASPECTS


OF DIALECTIC RELATIONS AMONG ROCK ARTS FROM
CAIAPÔNIA, GOIÁS
Abstract
This paper aims to present the results of retaken studies of rock
arts in the archaeological region of Caiapônia, located in sou-
thwestern region of the State of Goiás, municipality of Palestina
de Goiás. The research in the region began between the late 1970s
and early 1980s, carried out by the team of P.I. Schimitz. Since
2009, a new stage of studies is established, defining the current
investigative process, which is linked to the study of the aspects
of dialectic relations between the rock paintings from Caiapônia,
the spatial distribution of the painted shelters in the territory, the
painting position in the shelters and the relationship they esta-
blish with each other.
Keywords: Caiapônia, rock art, spacial destribuition of shelters,
spacial destribuition of paintings.

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“Ver, ser vista e deixar ser vista”

“VER, SER VISTA Y DEJAR DE SER VISTA”: ASPECTOS DE LAS


RELACIONES DIALECTICAS ENTRE LA PINTURAS RUPESTRES
DE CAIAPONIA, GOIAS
Resumen
Este artículo tiene por objetivo presentar los resultados de la re-
anudación de los estudios sobre pinturas rupestres en la región
arqueológica de Caiapônia, localizada en la región suroeste del
Estado de Goiás, municipios de Palestina de Goiás. Las investiga-
ciones en la región tuvieron un primer momento entre finales de
la década de 1970 e inicios de 1980, realizadas por el equipo de P.I.
Schmitz. A partir de 2009, una nueva fase de estudios se instauró,
delineando el actual proceso investigativo que reposa en el estu-
dio de aspectos de las relaciones dialécticas entre las manifestacio-
nes rupestres de Caiapônia a partir de la distribución espacial de
los refugios pintados en el territorio, del posicionamiento de las
pinturas en los abrigos y de la relación que ellas estableces entre sí.
Palabras clave: Caiapônia. Arte Rupestre. Distribución especial de
los refugios. Distribución espacial de las pinturas.

Pascale Binant
binantpascale@gmail.com

Sibeli A. Viana
sibeli@pucgoias.edu.br

Alfredo Palau Penã


alfredo.palau@gmail.com

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INTRODUÇÃO cas; técnicas, estilísticas, entre outros


critérios, para justificar sua filiação às
O conjunto de manifestações rupestres
– ou seu afastamento das – tradições
da região arqueológica de Caiapônia,
rupestres; estilos ou facies definidas até
município de Palestina de Goiás, região
aquele momento, para os registros ru-
sudoeste do Estado de Goiás, está en-
pestres presentes na Arqueologia Bra-
tre os registros rupestres melhor docu-
sileira.
mentados no Brasil, apresentando uma
riqueza patrimonial imensurável para o Foi neste contexto que o “estilo Caia-
país. O início dos estudos destes grafis- pônia” foi apresentado pela primeira
mos é contemporâneo à grande parte vez à comunidade científica. Embora
das pesquisas em arte rupestre reali- os resultados ainda fossem emergen-
zada no Brasil. Esta coetaneidade fica tes, quando comparados a estudos ru-
evidente quando se traz recortes de um pestres de outras áreas do país, desde
evento científico nacional ocorrido em aquele momento, a arte rupestre de
19801, em que arqueólogos de várias Caiapônia teve importante repercus-
partes do país se reuniram em torno são entre os especialistas, uma vez que
dos principais temas de destaque da representava uma “zona de contato”
Arqueologia Brasileira da época, den- entre as diferentes tradições rupestres
tre eles a “Arte Rupestre”. Na ocasião, do Brasil:
em sessão específica, coordenada por “[…] na região de Caiapônia (estilo
Pedro Ignácio Schmitz, as representa- Caiapônia), há certas coisas, certos
ções rupestres das regiões do Nordes- antropomorfos, que poderiam ser
te, Minas Gerais, São Paulo, Paraíba e ligados à tradição Nordeste, ao pas-
Goiás foram apresentadas e debatidas, so que certas pinturas geométricas
respectivamente, por Niède Guidon, estão nitidamente ligadas à tradição
Andre Prous, Solange Caldarelli, Ruth Geométrica, que vem lá desde Sete
Almeida, Silvia Moehlecke e Pedro Ig- Cidades; as gravuras são também
nacio Schmitz (Schmitz et al. 2015). extremamente ligadas ao estilo
Várzea Grande. Acho que estamos
As discussões realizadas naquele mo- numa zona de contato entre várias
mento versaram sobre temas como coisas” (Schmitz et al. 2015:233).
as dificuldades em definir o conceito
As manifestações rupestres de Caia-
de estilo e sua aplicabilidade aos estu-
pônia, distintas das demais regiões do
dos de arte rupestre; as metodologias
Estado de Goiás, como as do comple-
mais adequadas de documentação dos
xo rupestre de Serranópolis (Schmitz et
grafismos, assim como foi debatido
a complexidade de inferir datações al. 2004) ou as de Formosa (Schmitz,
a partir das sobreposições de figuras. et al. 1984), foram primorosamente do-
Com maior expressividade, destacam- cumentadas pela equipe do Programa
-se as descrições pormenorizadas dos Arqueológico de Goiás2 e reunidas na
referidos pesquisadores em relação às obra Caiapônia (Schmitz et al. 1986).
figuras rupestres com o intuito de reu- Com este artigo, busca-se reforçar o
nir similaridades ou diferenças temáti- potencial da arte rupestre da região,

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“Ver, ser vista e deixar ser vista”

atestado pelos primeiros pesquisa- a Universidade Vale do Rio dos Sinos


dores, e apresentar as atuais ações de e a Pontifícia Universidade Católica de
pesquisa voltadas para este tema, bem Goiás (antiga UCG). Posteriormente,
como, reflexões iniciais sobre a distri- o Projeto Alto Araguaia foi desmem-
buição espacial das figuras em alguns brado no Projeto Caiapônia, que foca-
dos sítios de Caiapônia. Não há, aqui, va no estudo da grande região arqueo-
a pretensão de se lançar um novo pro- lógica de Caiapônia (Martins 2009).
grama de estudo sobre a arte rupestre
Nesta fase inicial foram identificados
desta área, mas reunir esforços na for-
matação e atualização de um banco de 42 sítios, entre eles 28 estão em abrigos
dados, a partir de informações antigas e apresentam pinturas e/ou gravuras.
e outras obtidas em trabalhos de cam- Os sítios da região foram datados do
po atuais, o que tem nos possibilitado final do Holoceno médio até o Holo-
emitir uma avaliação do atual estado de ceno recente (900 a cerca de 4 mil anos
conservação, e dar prosseguimento ao antes do presente).
processo investigativo. A região é constituída por duas prin-
cipais bacias, do Rio Bonito e do Cór-
rego do Ouro, entre as quais se loca-
BREVE HISTÓRICO E CARACTERI- lizam os sítios rupestres (Figura 1).
ZAÇÃO DAS PESQUISAS REALIZA- Nela, estão presentes concentrações de
DAS NA REGIÃO blocos e abrigos areníticos provenien-
As primeiras pesquisas na região de tes de rochas sedimentares da porção
Caiapônia foram desenvolvidas en- basal da Bacia Sedimentar do Paraná,
tre os anos de 1979 e 1981, por meio situados nas porções mais altas des-
do Projeto Alto Araguaia, vinculado tas regiões, em torno de 650 metros
ao Programa Arqueológico de Goiás de altitude. Apresentam dimensões e
(PAG), coordenado por Pedro Ignácio formas variadas, compondo um relevo
Schmitz, numa parceria científica entre tipicamente ruiniforme.

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Figura 1 - Mapa de localização da área de estudo.

Na bacia do Córrego do Ouro, os abri- básicas e ultrabásicas, em diversas for-


gos areníticos, em especial aqueles que mas. Essas rochas afloram em faixas
ocupam as áreas mais altas das encos- definidas e são visualmente detectáveis,
tas, destacam-se notadamente na paisa- sendo que a análise de materiais líticos
gem. Entre eles, menciona-se os sítios indica que tais locais representaram
GO-CP-04 e o GO-CP-16, situados fonte notável de matéria-prima para a
em locais de alta visibilidade. Na região produção de instrumentos líticos das
da bacia do Rio Bonito, entre os sítios populações pretéritas da região. Tais
de excelente visibilidade, destaca-se o conglomerados ocorrem nas regiões
GO-CP-33. Em geral, os sítios dessa do Córrego do Ouro e Torres do Boni-
bacia são mais aprumados, imprimin- to, onde, via de regra, estão associados
do, na paisagem, uma fisionomia sun- a sítios arqueológicos cujas ocupações,
tuosa e de aspecto imponente em rela- certamente se entrelaçam aos produ-
ção aos demais elementos físicos que tores das manifestações rupestres dos
compõem aquele ambiente. abrigos (Viana et al. 2016).
Na área de Caiapônia, também se desta- Os depósitos silto-argilosos estão pre-
cam as rochas da Formação Vila Maria, sentes na sequência sedimentar da Ba-
representadas, principalmente, pelos cia do Paraná, onde foram registrados
diamictitos, agrupamentos de seixos diversos pontos de argilas (Lima 2013),
de quartzitos, granitos, sílex e rochas que poderiam ter sido utilizadas para

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a confecção de vasilhames cerâmicos. A RETOMADA DOS ESTUDOS DOS


Registra-se, ainda, diversidade de ro- SÍTIOS RUPESTRES DE CAIAPÔNIA
chas ricas em ferro, nas diferentes to-
nalidades do vermelho e do amarelo, Ainda que a opulência arqueológica
que, segundo Schmitz et al. (1986), te- de Caiapônia tenha sido delineada na
riam sido utilizadas para pigmentar as década de 1980, a área só voltou a ser
pinturas rupestres. pesquisada depois de mais de duas dé-
cadas4. Assim, os estudos rupestres na
A rede hidrográfica da região é forma- região podem ser divididos em três eta-
da por rios de médio a pequeno porte, pas distintas:
com pouco volume de água, além de
córregos temporários. Essa trama hi- Na primeira, registra-se o trabalho de
drográfica, embora não seja favorável Schmitz e sua equipe, condensados
à navegação, pode ser considerada im- na referida obra de 1986. No que diz
portante para a captação de alimento, respeito à arte rupestre, destaca-se a
seja pela variedade de peixes disponí- detalhada documentação produzida
veis ou por se configurar como um lo- sobre os grafismos rupestres presentes
cal de atração para animais, tornando na região, a análise quantitativa dessas
a área propícia à caça (Schmitz et al. representações e os primeiros ensaios
1986). Os rios de grande porte, como interpretativos. Em laboratório, os
o Caiapó e o Bonito, distam cerca de plásticos decalcados foram fotografa-
20 quilômetros da área e são navegá- dos e, posteriormente, as imagens fo-
veis, o que, além da questão econômi- ram copiadas em papel vegetal. Esse
ca, poderia ter facilitado a locomoção material serviu de base para a produ-
dos grupos entre diferentes regiões. ção das pranchas de figuras, publicadas
Às margens desses rios, estão presen- em obras científicas, e de quadros de
tes rochas de diversos materiais, nas figuras temáticas, o que possibilitou a
formas de seixos, que poderiam ter classificação dos motivos rupestres.
sido utilizadas como matéria-prima em Ressalta-se que esses procedimentos
tempos pretéritos para produção de foram realizados para todos os sítios
instrumentos líticos. rupestres. Essas atividades geraram um
Entende-se, por fim, que os compo- acervo documental importante como
nentes paisagísticos brevemente deli- fonte primária de pesquisa. Dentre os
neados aqui, além de possuírem fina- documentos produzidos, destaca-se o
lidades estratégico-econômicas para relévé das figuras (decalques) dos 31 sí-
as populações pretéritas da região de tios rupestres e 564 imagens fotográ-
Palestina de Goiás, também são com- ficas (coloridas e em preto e branco)
preendidos como lugares (Tuan 1983), que representam, de forma total ou
culturalmente assimilados e sentidos parcial, as figuras rupestres, os painéis,
enquanto componentes de referências os sítios e os ambientes de entorno.
culturais3, e estão relacionados de for- Também estão acervados os croquis
ma explícita ou não às manifestações de representações em vegetal, além de
rupestres da região. publicações e mapas5.

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A segunda etapa da pesquisa na região tações rupestres do sítio GO-CP-04,


é marcada pelas atividades desenvolvi- bem como dos aspectos comunicacio-
das no período que vai de 2009 a 2012. nais, distribuição espacial e estado de
Esta fase inicia com a visita a alguns conservação das mesmas. Em 2013,
dos sítios rupestres, em especial àque-
Moura produziu trabalho de conclusão
les situados na bacia do Córrego do
Ouro. É registrada as tomadas de re- de curso tendo como objetivo a aná-
ferência dos sítios pelo GPS (Geo-Po- lise das imagens antropomorfas dos
sicionamento por Satélite) e realizada painéis de pinturas rupestre dos sítios
as primeiras observações quanto ao GO-CP-04, GO-CP-06 e GO-CP-16.
estado de conservação dos grafismos,
Esses trabalhos se desenvolveram a
empreendendo ainda medidas básicas
partir de pesquisas in loco, bem como de
de conservação.
investigação no material documental
Neste período, também foram desen-
acervado e discriminado anteriormen-
volvidos, de forma não sistemática,
trabalhos de conclusão do curso de te. Embora sejam pontuais, eles con-
graduação e dissertação de mestrado firmam – e, de forma inicial, exploram
que tiveram como tema a análise das – o potencial da área para a ampliação
representações rupestres de alguns dos da investigação da arte rupestre.
sítios. Pode ser citado, seguindo uma
A partir dos dados disponíveis na pri-
ordem cronológica, o trabalho de Fon-
meira e segunda fase, serão emitidas,
tes (2009), que estudou, por meio de
análises tipológicas e morfoestilística, a seguir, informações gerais sobre as
as cenas pintadas do sítio GO-CP-16; a pinturas e gravações da região:
pesquisa de Ribeiro (2010), que tratou As pinturas rupestres de Caiapônia re-
especificamente das representações ru- presentam figuras humanas (inteiras ou
pestres de peixes localizadas em sete
parte de seus membros, como mãos),
sítios da região do Córrego do Ouro; o
estudo de Peclat (2011), que utilizou a de animais, geométricas, além de plan-
abordagem cronoestilística para discu- tas e objetos. Enfatizamos ainda a
tir as sobreposições das figuras de um presença de figuras classificadas como
painel do sítio GO-CP-09; e o mes- “indefinidas”, assim denominadas por
trado de Guilhardi (2012/2013), que não apresentarem clareza quanto a
investigou a caracterização das fontes sua representação, decorrente espe-
de materiais rochosos em sílex rela- cialmente do alto comprometimento
cionados ao sítio arqueológico GO-
de preservação ou sobreposição entre
-CP-16. Em seu trabalho de conclusão
de curso, Peña (2012) utilizou progra- figuras. No Gráfico 1, é possível obser-
mas computacionais de tratamento de var que os temas se repetem nos sítios
imagens como base para o desenvol- da bacia do Córrego do Ouro e do Rio
vimento de uma análise das represen- Bonito, com pequenas variações.

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Gráfico 1 - Quantitativo das temáticas ru-


pestres de Caiapônia. Fonte: dados obtidos
a partir da obra de Schmitz, et al. (1986).
Os petroglifos estão presentes em ape-
nas três sítios, em proporção bem me-
nor que as pinturas. Em alguns casos,
eles estão sobre as pinturas. Apresen-
tam-se na forma “pura” ou, mais rara-
mente, estão preenchidos com pigmen-
tos vermelhos ou negros. Representam Figura 2 - Figuras rupestres com três
figuras com as seguintes temáticas: tons distintos da cor vermelha. Sítio GO-
cruciforme, escutiforme, símbolos se- -CP-16. Foto: S. Viana, 2012. Vetoriza-
xuais femininos, animais, hastes bifur- ção: Lucas Silva
cadas e depressões sem forma definida O realismo de grande parte das figuras
(Schmitz et al. 1986). é marcante, o que permite a observação
de detalhes e possibilitou que Schmitz
As figuras pintadas ocorrem, predomi- e sua equipe (1986) realizassem a pri-
nantemente, em diferentes tons da cor meira classificação das figuras quanto
vermelha6. A policromia é rara e a con- à sua classe (humana, animal, vegetal e
sistência e espessura dos pigmentos geométrico). Os grafismos de animais
também são variáveis. Os gradientes remetem a ambientes de cerrado, clas-
de cores estão presentes em todos os sificados em mamíferos, répteis, anfí-
tipos de figuras. Segundo Peña (2012), bios e aves. Nessa classificação, é im-
observa-se uma relação recorrente en- portante ressaltar a pouca ocorrência
tre as características dos pigmentos e o do veado, a presença de cobra e a quan-
tidade expressiva de peixes. Em relação
tipo de suporte. Constata-se ainda que
a este último, destaca-se os dados de
a pouca visibilidade de algumas figuras Ribeiro (2010), que, por meio da análi-
está relacionada à intensidade de luz e se comparativa dos aspectos morfoló-
ao aumento da umidade de alguns sí- gicos desses animais, como o formato
tios e não exatamente ao tom do pig- do corpo e as características das nada-
mento (Figura 2). deiras, identificou 12 diferentes tipos

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de peixes representados nos paredões borda – e linear – quando ocorre ape-


dos abrigos. O realismo destes animais nas o contorno das figuras. Neste últi-
também é expressivo, dentre os quais mo caso, o instrumento utilizado para
se menciona, novamente, as figuras este fim teria sido, possivelmente, do
de alguns peixes do sítio GO-CP-16, tipo crayon. Não há relação direta entre
representados com barbatanas ou de- técnica e motivo. Podem estar em per-
talhamento de calda, o que possibilita fil ou de frente, com tronco e cabeça
inferir sexo e idade do animal (Ribei- chapados ou, para o tronco, com tra-
ro 2010). Esses são alguns dos dados ços longitudinais (Schmitz et al. 1986).
que corroboram com a particularidade As figuras geométricas são maioria
da arte rupestre de Caiapônia, quando (vide Gráfico 1) e representam várias
comparada com a de outras áreas, in- formas, entre elas a circular ou oval,
clusive com a de Serranópolis, distante os bastonetes, os cruciformes, além
cerca de 300 quilômetros. daquelas não decifráveis. Os crucifor-
Em alguns casos, o detalhamento das mes aparecem representados em onze
figuras é maior, o que possibilita classi- sítios da região de Caiapônia e, segun-
ficar algumas figuras humanas quanto do observação de Peña (2012) estão
ao gênero, como ocorre nos sítios GO- dispostos em áreas mais altas e de boa
-CP-06 e GO-CP-16 (Figura 3). visibilidade. Figuras com esta temática
também são expressivas em sítios de
outras regiões do Centro Oeste bra-
sileiro, como nos sítios de Cidade de
Pedra e Ferraz Egreja, pesquisados por
Vialou (2006).
As figuras rupestres em geral estão
representadas de forma isolada ou
associadas a outras, formando agru-
pamentos, como conjunto de peixes,
representados com a mesma técnica,
estilo e realismo, ou, ainda, a associa-
ção recorrente com tipos específicos
de figuras, como é o caso dos peixes
associados à figuras geométricas.
Ocorrem, também, os agrupamentos
de figuras em movimento, o que foi
denominado por Schmitz e equipe
Figura 3 - Representação humana masculi- (1986) de “cenas”. Nesse caso, foram
na. Sítio GO-CP-28. Foto: A. Palau, 2014. assim definidas pela existência de figu-
As figuras humanas e de animais estão ras animadas e com coerência temática
representadas na forma cheia – com e técnica entre elas. Em geral, as figu-
o interior preenchido e sem limite de ras que compõe estas cenas possuem

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dimensões menores que as demais que representadas de frente ou de perfil


aparecem no mesmo paredão e estão (Figura 4).

Figura 4 A. Vista geral do sítio GO-CP-09. Foto: S. Viana, 2012.

Figura 4 B – Representação rupestre Sítio


GO-CP-33. Foto S Viana, 2012

Figura 4 C – Representação rupestre. Sítio Figura 4 D - Sítio GO-CP-04. Foto: M.


GO-CP-16. Foto. M. Bueno, 2015 Bueno, 2015.

Figura 4 - Representações de algumas das características das pinturas de Caiapônia: Fi-


gura 4 (A), visibilidade das figuras cruciformes; 4 (B e C), representações de “cenas” e 4
(D), associação recorrente entre figuras de peixes com as geométricas.

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No que diz respeito às sobreposições, e cinco painéis de sobreposições de


ainda que Schmitz et al. (1986:300) te- pinturas sobre pinturas no GO-CP-04,
nham concluído que as figuras foram confirmando que os petroglifos são
executadas “respeitando o espaço dis- mais recentes que as pinturas, confor-
ponível”, observações detalhadas fei- me apontado por Schmitz et al. (1986).
tas por Tainá Peclat (2011) e Alfredo Por fim, registra-se a terceira etapa da
Peña (2012) relativizam esse ponto de
pesquisa em Caiapônia, que teve início
vista. Todavia, observa-se que tais so-
em 2012 e se estende até o presente,
breposições são, em geral, discretas, ou
constituída por uma equipe mais am-
seja não distorcem a identificação das
pliada e focada, num primeiro momen-
figuras, cada qual projetada em tempos
to, em revisar e organizar, de forma
específicos.
sistemática, o conjunto documental de
De outro lado, tais sobreposições co- arte rupestre acervada. Essa atividade
laboraram com a pesquisa da referida tem proporcionado a base para o de-
autora para distinguir e caracterizar senvolvimento das ações em curso,
pelo menos dois momentos de produ- relativas à atualização dos dados e ao
ção. Para isso, se baseou num conjunto desenvolvimento de novas frentes de
de elementos, constituído pelas sobre- estudo.
posições, pátinas e colorações, obser-
vadas in loco. O momento mais antigo Os resultados das atividades de análi-
está caracterizado pela intensa presen- se e de organização dos dados prove-
ça de pátina, demarcada pela aparência nientes do acervo documental foram
bem ofuscada das figuras. A técnica apresentados no relatório de Lino et al
de produção predominante aqui é o (2015) e consistem no exame das 564
traço largo e há quantidade relevante imagens fotográficas obtidas no fim
de representações cruciformes, que da década de 1970 e pertencentes a 22
variam em relação ao posicionamento sítios rupestres7. Por meio deste tra-
no paredão e às cores. No momento balho, está sendo possível registrar, de
mais recente, as figuras são menores forma comparativa, dados referentes
em relação às demais. Há maior repre- ao processo de conservação dos sítios,
sentação de animais, com a presença das pinturas e do ambiente de entorno,
de quadrúpedes, peixes e cobras. Além assim como avaliar a conservação e as
destas, há figuras geométricas circulares mudanças ocorridas nos painéis rupes-
e pontilhados, bem como figuras antro- tres num período de cerca de 20 anos.
pomórficas e outras de forma não defi- Também foi dada continuidade à visi-
nida. Os traços utilizados são finos, na tação de sítios da bacia do Córrego do
cor vermelho moderado. Este é o único Ouro e do Rio Bonito. Todos os sítios
momento no paredão em que não há a localizados entre 1979 e 1981 foram
presença de grafismo cruciforme. revisitados, sendo submetidos a uma
Peña (2012), por sua vez, constatou a avaliação do estado de conservação
existência de quatro painéis com so- das pinturas e a documentações foto-
breposições de gravuras sobre pinturas gráficas.

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No que diz respeito a localização e de Schmitz, mas não identificados na


identificação dos novos sítios, no cur- ocasião. A nomenclatura destes lugares
so das novas pesquisas na região8, fo- seguiu aquela já estabelecida, seguida
ram descobertos novos sítios ou uni- pelo destaque em “linha”, por exem-
dades rupestres. Foi classificada na plo, GO-CP-15B’. Atualmente, a alta
categoria “sítio rupestre”, o conjunto degradação ambiental da região tem
de unidade(s) rupestre(s) interligada(s) modificado a paisagem, tornando-a
pela proximidade, associa ção e alcan- mais aberta e favorecendo a visibilida-
ce visual das figuras e paredões; a ca- de desses novos locais. Ao todo, foram
tegoria “unidade rupestre” representa registrados 07 novos sítios arqueoló-
lugares pintados, de baixa ou alta visi- gicos, dentre eles, 03 apresentam figu-
bilidade e independente do seu estado ras rupestres e 12 novos lugares com
de conservação, estão localizados pró- pinturas. Todos estão concentrados
ximos e associados a sítios rupestres em três áreas, conforme destaque da
definidos anteriormente pela equipe Figura 5.

Figura 5 - Localização dos sítios arqueológicos de Caiapônia.

É a partir desta terceira fase que se de- dos abrigos com pinturas e no arran-
lineia o atual processo investigativo das jo das figuras no interior dos abrigos.
manifestações rupestres de Caiapônia, Esses aspectos serão apresentados, a
que se respalda na organização espacial seguir, de forma concisa.

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AS INVESTIGAÇÕES ATUAIS DAS rar, com o mesmo nível de interesse,


PINTURAS RUPESTRES DE CAIAPÔ- o suporte, a configuração dos lugares
NIA: “VER, SER VISTA E DEIXAR SER em que elas foram realizadas, a relação
VISTA” espacial entre as figuras e, numa escala
mais ampla, os paredões, os abrigos e
Retomar as pesquisas dos sítios rupes-
o contexto topográfico em que se inse-
tres de Caiapônia não significa refazer
rem. Entende-se que todos os elemen-
o trabalho que já foi realizado; menos
tos desse conjunto, constituído por
ainda emitir um posicionamento cen-
categorias naturais e humanas (figuras,
surador sobre ele. Ao contrário, é tra-
suportes, paredões, configurações dos
balhar para completá-lo e consolidá-lo,
abrigos e paisagens), estão densamente
tendo em vista que a pesquisa original
é de significativa qualidade e, por isso relacionadas, como “tecidos sem cos-
mesmo, tem o mérito de ser continua- turas”, assim, teriam sido elementos
da. As recentes investigações têm de- ativos na construção da vida social
monstrado a necessidade da atualiza- pretérita dos habitantes de Caiapônia.
ção sistemática dos dados publicados A teia relacional acerca das categorias
a partir dos atuais registros. Somente humanas e não humanas é descrita por
com esta requalificação está sendo pos- Olsen (2003:12) como “(...) imbroglios
sível (re)conhecer o pleno potencial and mixtures, the seamless and rhizo-
dessa região. De fato, em arte rupestre, me-like fabrics of culture and nature
uma vez que as figuras são identifica- that link humans and non-humans in
das, a atualização é, em geral, negligen- intimate relationships”.
ciada, atendo-se aos dados produzi- A conectividade entre esses elementos
dos no momento da identificação. Os faz com que as figuras rupestres e seus
registros rupestres são fotografados, arranjos espaciais, sejam reconhecidos
enumerados, decalcados, digitalizados, por nós, arqueólogos, sob múltiplos
redesenhados, listados, identificados, aspectos: como manifestações produ-
analisados ou não segundo os parâme- zidas e atuantes com agência nas ativi-
tros julgados pertinentes e tecnicamen- dades das sociedades pretéritas, assim
te possíveis de acordo com os métodos como experimentadas e ressignificadas
em curso no momento da descoberta e pelos habitantes das comunidades ru-
realização da pesquisa. Na maioria das rais e atuais de Caiapônia (município
vezes, somente após essas atividades, de Palestina de Goiás, região do Cór-
as figuras documentadas são arquiva- rego do Ouro). Cruvinel (2016), ao
das e/ou colocadas à disposição para compreender Caiapônia como um ter-
outros estudos. ritório com diversos significados e re-
Ademais, os estudos das pinturas re- pleto de histórias de vida, construídas
presentadas em rocha – e, talvez, es- ao longo do tempo, desenvolveu sua
pecialmente por isso – não podem se dissertação de mestrado embasada na
limitar apenas aos traços das represen- perspectiva que valoriza a multivoca-
tações (temática, estilo, técnica e natu- lidade da pesquisa arqueológica (Tully
reza dos pigmentos). Deve-se conside- 2007; Silva et. al. 2011). Assim, identi-

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“Ver, ser vista e deixar ser vista”

ficou teias de significação criadas entre nas cores originais, que deveriam ser
a referida comunidade e as represen- mais marcantes, observar os tons mais
tações rupestres que estão localizadas vivos e os mais tênues, além das pin-
nas proximidades de suas residências, turas atualmente incompletas, desapa-
da área de trabalho e de lazer. Estes recidas e/ou parcialmente apagadas.
habitantes as reconhecem, enquanto Para tanto, as imagens fotográficas da
categorias místicas consideradas prin- década de 1970 têm sido importantes
cipalmente de origem “sobrenatural” fontes documentais para avaliar este
ou “divina”, as quais dão sentido às processo de modificação.
suas explicações acerca da presença e A localização dos sítios no ambiente e
do tempo em que estão naqueles locais. das figuras em seu interior é um ele-
Para além dessas considerações, a pre- mento importante para pensar tam-
sente pesquisa retoma o interesse de bém na conservação delas. Ainda que
Schmitz e equipe (1986: 293) pela “dis- existam exceções, em geral, as figuras
tribuição das figuras rupestres no espa- rupestres de Caiapônia estão em lu-
ço”, agora sob uma outra perspectiva. gares protegidos de chuva, de vento e
Tal aspecto vai ao encontro da proble- do sol. Elas apresentam diferentes es-
mática atual, que repousa na conside- tados de conservação, podendo variar
rações acerca da distribuição espacial até mesmo no interior do mesmo sítio,
dos abrigos pintados no território, bem como é possível observar no abrigo
como no posicionamento das pinturas GO-CP-35. As pinturas situadas sob o
no interior dos abrigos e na relação de- prumo rochoso são nítidas, bem con-
las com a configuração destes últimos. servadas, enquanto aquelas situadas no
As análises acerca do posicionamento frontão, sobre a parede exterior, são
dos sítios arqueológicos na paisagem recobertas de calcita, provavelmente
são temas considerados basilares para devido ao escoamento de água pelo
a arqueologia, com a investigação dis- paredão, o que faz com essas pinturas
tribucional destes e seus entrelaçamen- sejam manchadas e mais difíceis de se-
tos com as manifestações culturais. rem identificadas. A variação do esta-
As investigações comparativas entre do de conservação no interior de um
o acervo documental produzido pelas mesmo sítio, pode ser analisada sob
primeiras pesquisas na área e a análi- diferentes ângulos, dentre eles indicar
se in loco dos sítios e das manifestações momentos distintos de execução; na-
rupestres, de forma análoga, têm sido tureza de pigmentos e/ou aplicação de
essenciais para entender o posicio- técnicas distintas. As pinturas variam
namento das figuras em cada sítio de no curso do tempo, transformando-se,
Caiapônia. Sobre esta questão, há ciên- desvanecendo-se, desbotando, fundin-
cia de que o registro e a percepção das do, podendo até, eventualmente, desa-
pinturas estão sujeitas a modificações parecer. A má conservação é um esta-
segundo a luminosidade, a umidade do do natural ou antrópico ao qual, via de
ambiente e a vegetação mais ou menos regra, toda cultura material está sujei-
invasiva. Assim, é importante pensar ta. Enfim, todas as coisas, produzidas

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Binant, Pascale | Viana, S. A. | Penã, A. P.

pelos homens ou não, modificam-se, As pinturas que são vistas hoje em


estão em constante movimento. As Caiapônia são dinâmicas, relacionadas
pinturas rupestres de Caiapônia, assim a um passado distante, no qual elas fo-
como os demais componentes da cul- ram criadas e materializadas, passando
tura material presente nos sítios, não por um percurso de longa história até
foge à esta regra. o contexto atual e permanecendo em
No interior do próprio abrigo, sobre movimento pelos tempos futuros. Em
as paredes, diferentes elementos po- todo esse processo, elementos naturais
dem danificar as pinturas, em especial e antrópicos agem sobre elas. Pinturas
certos insetos “construtores”, como as desapareceram e aquelas vistas atual-
térmitas, que constroem suas galerias mente representam apenas uma parte
sobre as paredes, recobrindo parte das das pinturas originais. Essa situação é
pinturas. Essas construções são facil- evidenciada pelas descamações e, às
mente identificáveis, mas, uma vez de- vezes, pelos blocos pintados que se
saparecidas, elas podem, num primeiro encontram sobre a superfície dos sítios
momento, promover confusão. As al- rupestres de Caiapônia. Em que pro-
terações provocadas são de diferentes porção ocorre esta perda é algo difí-
naturezas. As cores podem ser apaga- cil de estabelecer. Também é possível
das, podem sugerir figuras incompletas considerar que as pinturas desapareci-
ou criar traços não intencionados. A das não atuaram a ponto de distorcer
cor natural – frequentemente vermelha os sítios, tais como eles nos aparecem
– do sedimento com o qual os insetos atualmente. Para finalizar, novas des-
constroem suas galerias pode deixar cobertas foram feitas, o que ocorreu
vestígios que nos levam a acreditar, à durante a terceira etapa da investigação
princípio, que possam ser pinturas, nesta região.
quando não o são. Essa situação é de- Outro ponto a ser destacado acerca
nominada de “falsos amigos” e é tam- dos sítios de Caiapônia diz respeito à
bém marcante em alguns dos sítios de escolha dos suportes. Considerando-se
Caiapônia (Figura 6). que não são conhecidas pinturas so-
bre os blocos ao ar livre, a frequente
localização dos grafismos rupestres
em abrigos se constitui num critério
de escolha voluntária. Essa percepção
nos permite considerar os seguintes
pontos: o lugar das pinturas nos abri-
gos; a concentração de um expressivo
número de sítios pintados sobre duas
áreas específicas do território, bacia
Figura 6 - Caminho de térmitas de cor do Córrego do Ouro e do Rio Boni-
avermelhada sobre uma parede com tra- to. Também é necessário destacar a
ços de figuras também avermelhadas. Sítio relativa facilidade de acesso à maioria
GO-CP-15. Foto: P. Binant, 2014. dos abrigos. Em determinados casos,

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“Ver, ser vista e deixar ser vista”

conforme observou Schmitz, o acesso do a dialética do “ver” (Binant 2009 e


poderia ter sido facilitado por um tron- 2013). A partir da observação de um
co de árvore, como é o caso no abrigo fenômeno natural, não visto antes9, a
GO-CP-06. percepção visual se impôs sobre um
Estes elementos constituem-se em da- conjunto de figuras e sua correlação
dos importantes de investigações sobre com o referido evento natural, emer-
uso e agencialidade do uso do espaço, gindo uma vertente importante de
observação das pinturas, segundo um
onde mais uma vez se percebe a teia
binômio base: “ver/não ver”.
relacional e dinâmica entre elementos
intencionalmente produzidos (figu- Para que ocorra a percepção dos ele-
ras rupestres), com os elementos do mentos naturais que estão integrados à
espaço natural. Assim, entendemos dinâmica das pinturas, é preciso um en-
que o conjunto das figuras rupestres volvimento do arqueólogo com o sítio
e as demais categorias associadas cola- e seu ambiente, algo que é construído
boraram na definição, assim como na paulatinamente com o desenvolvimen-
potencialização do uso do território to da pesquisa. Em Caiapônia, é obser-
seriam, portanto, elementos dinâmicos vado que algumas pinturas de grandes
na estruturação do mundo social, rela- dimensões, realizadas sobre amplos pa-
cionado ao universo místico ou mesmo redões, são facilmente visíveis e “se fa-
às atividades cotidianas. zem ver”. Outras, de dimensões meno-
res, localizadas em abrigos pequenos
Schmitz et al. (1986), lançam as primei- ou em nichos e frestas das paredes, são
ras observações acerca da localização pouco visíveis. Os autores da presente
dos tipos de figuras nos abrigos: pesquisa consideram que haveria, nes-
“De um modo geral, em ambas tes locais, uma relação público/priva-
as áreas, o tamanho do abrigo, a do, que poderia estar em conexão com
conformação das paredes e dos a função do lugar em que estas pintu-
tetos parecem importantes para se ras foram realizadas. No lugar “públi-
entender as pinturas neles encon-
co”, as pinturas de maiores dimensões,
tradas. Assim, em abrigos peque-
claramente visíveis; nos lugares “priva-
nos, baixos, de paredes irregulares
multiplicam-se os geométricos, que dos”, ocorrem pequenas pinturas, me-
podem chegar a 100%; em abrigos nos perceptíveis. Nesse ponto, não se
de paredes pequenas as represen- entende as categorias público/privado
tações costumam ser mais simples, como antagônicas, mas, ainda que dife-
ao passo que nas grandes paredes rentes, estão associadas numa relação
disponíveis está a maior parte das dialética, a qual cada categoria, parafra-
figuras bem realizadas” (Schmitz et seando Lima (2011:19) acerca da rela-
al. 1986:299). ção entre sujeito e objeto, é entendida
Essa reflexão coaduna com a rede de como “parte uma da outra, são a mes-
leituras que tem sido elaborada para ma coisa, embora diferentes”.
os abrigos da Serra da Capivara, região Sobre este aspecto organizacional e re-
nordeste do Brasil, estruturada segun- lacional, a presente pesquisa também

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encontra certo paralelo na observação sítios, como no GO-CP14, GO-CP-07


de Schmitz, corroborada por meio da e GO-CP-37. No caso específico do
localização, nas investigações realiza- conjunto de unidades rupestres em
das em 2012, de novas pinturas, em questão, tem-se a seguinte configu-
especial aquelas pouco visíveis e não ração: o sítio GO-CP-15A apresenta
perceptíveis aos primeiros arqueólogos figuras com certa discrição, as quais
que trabalharam na área. Como exem- contrasta nitidamente com a grande
plo, menciona-se as figuras rupestres densidade de pinturas do GO-CP-15B,
presentes em um grande maciço ro- realizadas nas partes altas e frontais do
choso, separados por uma fissura (Fi- abrigo, lugares abertos, em que são fa-
gura 7). Na porção sul do maciço as cilmente visíveis. Ele é precedido por
pinturas estão localizadas em abrigos uma plataforma, na qual Schmitz et
de características específicas, em di- al (1986:94) assinalam que “o sítio dá
reção sul o sítio GO-CP-14A e GO- mais a impressão de um palco levan-
-CP-14B, a leste está o GO-CP-15A tado, com um “tablado” saliente, do
e a norte, na extremidade do maciço, que um espaço para morar. Do plano
se veem as pinturas e o pequeno abrigo
localiza-se o sítio GO-CP-15B. Na sua
fica como um pano de fundo para um
continuidade, em direção noroeste, foi
ritual”. A ideia da “cena”, proposta por
evidenciada uma unidade rupestre, de-
Schmitz e equipe, se junta à nossa pro-
nominada de GO-CP-15B’ (Figura 7).
posta de “lugar público”, o que reforça
Neste conjunto, a nova unidade en- o caráter de se “fazer ver” das pinturas.
contrada é composta por figuras de Por outro lado, as figuras do GO-CP-
tamanho pequeno, pouco numerosas -15B’ não são vistas facilmente e a con-
e localizada próxima a uma fenda. Re- figuração de seus posicionamentos não
gistra-se que esta situação também se leva a pensar sobre uma “cena”, mas
faz presente em outros conjuntos de em um “nicho”10 (Figura 7).

Figura 7 - Distribuição de pinturas do sítio GO-CP-15. Crédito: P. Binant 2014.

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“Ver, ser vista e deixar ser vista”

A natureza conjugada do espaço, repre- to aos olhares) pode indicar a expres-


sentada por grande abrigo (GO-CP- são de dualidades no interior de uma
-15B), pequeno abrigo (GO-CP-15A) mesma manifestação, às vezes pública
ou nicho simples (GO-CP-15B’), a e privada, uma implicando, eventual-
acessibilidade, o número e o tamanho mente, na outra ou inscrevendo-se na
das pinturas induzem um acesso sob outra. Assim, as relações estabelecidas
diferentes olhares para cada um destes entre os diferentes abrigos pintados
três lugares pintados. Assim, o sítio 15 numa área de concentração de sítios
B e suas pinturas são facilmente acessí- rupestres revelam uma distribuição es-
veis aos olhares: elas se “deixam ver”. pacial não aleatória. Cada unidade pin-
O sítio 15 B’, ao contrário, “não se dei- tada não aparece mais como um ele-
xa ver”. Quanto ao sítio 15 A, as pintu- mento isolado, independente, mas, ao
ras podem ser vistas, mas são discretas contrário, como elemento constituinte
e pouco acessíveis. Esta dialética do de “agenciamento” territorial, respon-
ver: “deixar se ver”, “ver”, “não ver” e dendo a uma dinâmica relacional (Gell
“não deixar ser visto”, pode ecoar com 1998), ativada pelo ambiente e demais
as noções de lugares públicos e lugares elementos culturais. A dispersão, as-
privados e sugere funções distintas de sim, cede lugar a uma coerência.
acordo com os lugares pintados e, de Destaca-se também aqui, a complexi-
fato, uma organização de diferentes lu- dade do sítio GO-CP-33, situado ao
gares entre eles. topo de um testemunho, apresentando
Assim, a observação da localização um desnível de cerca de 20 metros em
das pinturas, não somente nas paredes, relação à base. A área abrigada apre-
mas no maciço rochoso tomado em senta teto alto, com cerca de 2,5 metros
seu conjunto, e a maneira como elas se e a base é rochosa com blocos soltos.
encaixam são uma fonte de informa- O abrigo foi dividido em duas áreas: a
ção acerca dos objetivos de seus pro- parte frontal (Aba A), mede cerca de
dutores. Em certas situações, as pintu- 21 metros de comprimento e, no má-
ras são claramente acessíveis ao olhar: ximo 8,0 metros de largura, ela é rica
elas desafiam. Em outras, elas não o em pinturas bem evidentes e vistas de
são e, talvez, não seja esse o objetivo, longe, com alcance acentuado devido à
mas apenas de marcar um local, o “ni- posição elevada do abrigo, assim como
cho”, lugar possível de deposição. Lu- a boa preservação das pinturas. A por-
gares diferentes, com pinturas diferen- ção lateral nordeste (Aba B), mede
tes, possuindo funções diferentes? É cerca de 45 metros de comprimento e
nossa hipótese, cuja articulação “ver/ largura máxima de 4,0 metros, nela há
não ver” se configura como principal uma expressiva quantidade de peque-
indicador. nos conjuntos de pinturas dispersas
A proximidade, em um mesmo maci- pelo paredão (Schmitz et al. 1986).
ço rochoso, entre um abrigo ricamente A porção frontal – Aba A – oferece
pintado (aberto aos olhares) e um ou um espaço vasto e de amplitude ex-
vários abrigos pouco pintados (ocul- celente, os paredões foram ocupados

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Binant, Pascale | Viana, S. A. | Penã, A. P.

por inúmeras figuras, executadas em do local. A porção lateral – Aba B –


monocromia, com destaque para os apresenta, por sua vez, características
diferentes tons vermelhos e bicromia, distintas. É formada por um corredor
com predomínio do vermelho e ama- estreito ao longo da parede, as pinturas
relo. Estas figuras, que ainda hoje es- são de dimensões menores e dispostas
tão bem preservadas, apresentam-se de em lugares de média a baixa visibilida-
expressiva visibilidade aos que estão de. Foram consideradas, portanto, dis-
fora do abrigo. De outro lado, aqueles cretas e se sucedem com pouca sobre-
que estão no seu interior, dispõe de posição (Figura 8). Estas últimas não
uma visão ampliada da área de entorno foram associadas a “nichos”, porque,
do sítio. Entendemos, portanto, esta de fato, não o são, mas estão pontuadas
área como um espaço de controle e, na parede, inseridas em relevos, saliên-
ao mesmo tempo, um lugar de função cias ou recuos de rochas, como se estes
identitária, que teria permitido identi- delimitassem os espaços que marcam
ficar ou de singularizar os ocupantes as pinturas.

Figura 8 - Vista geral do sítio GO-CP-33, apresentando detalhe da Aba A (teto e paredão
frontal) e Aba B (corredor lateral, na parte inferior, junto ao piso).

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“Ver, ser vista e deixar ser vista”

Por fim, essa forma de observar a or- obra tendo em vista o seu caráter históri-
ganização espacial das figuras parte de co, teve a sua 2ª edição em 2015, publicada
critérios considerados como coerentes pela PUC Goiás/IGPA.
para se entender parte da realidade das 2
Para caracterização deste Programa, con-
figuras de Caiapônia. Com isso, con- sultar Schmitz et al (1986).
corda-se com González-Ruibal (2007), 3
Para mais detalhes sobre a discussão do
que não está sendo projetado às socie- conceito de lugar, segundo as concepções
dades pretéritas que executaram as fi- de Tuan (1983), para os sítios de Palestina
guras rupestres, necessariamente, essa de Goiás, ver Viana et al. (2016).
forma de organização, mas, antes dis- 4
Viana a partir de 2006 retomou os estu-
so, uma forma coerente de entendê-las. dos na região, com apoio da PUC Goiás,
Por fim compreende-se ainda que a re- CNPq e FAPEG.
tomada dos estudos dos sítios rupes- 5
Todos estes materiais encontram-se acer-
tres de Caiapônia e os resultados até vados no IGPA/PUC Goiás e no IAP/
então obtidos consolidam os impor- Unisinos.
tantes dados documentados pelo tra- 6
Peclat (2011), com base no código de
balho de Schmitz e sua equipe (1986), Munsell, identificou os seguintes tons de
bem como atestam a importância de vermelho: Vermelho moderado (5R 4/6),
continuidade do desenvolvimento de Laranjado (5YR7/8), Vermelho escuro
estudos a partir das abordagens aqui acinzentado (5YR 4/2), Vinho escuro (5R
apresentadas e consideradas adequadas 2.5/2), Vermelho escuro (5R 3/4) e por
à área de pesquisa e, ao mesmo tempo fim, Vinho moderado (5R 3/2).
em sintonia com as atuais vertentes in- 7
Não foram encontrados os registros re-
terpretativas sobre arte rupestre. ferentes a 19 sítios rupestres. Dentre as
causas, está a ocorrência de arquivos cor-
A abordagem que ora apresentada,
rompidos e não possíveis de recuperação.
referenciadas numa relação dialética e
relacional entre as figuras, os posicio-
8
Aqui, incluem-se também atividades de
namentos delas nos paredões e a pró- aulas práticas, a partir de 2009, ministradas
pelo curso de arqueologia da PUC Goiás.
pria espacialidade do sítio na paisagem,
é considerada como uma possibilidade, 9
Trata-se do fluxo de água vermelha sobre
de alto potencial investigativo, para o pinturas situadas a montante do abrigo de-
entendimento da lógica representacio- nominado de Baixão do Paraguaio.
nal das pinturas rupestres de Caiapônia. 10
A relação que acabamos de apresentar
pode ser percebida entre sítios considera-
dos distintos e numerados sucessivamente,
NOTAS mas pode ser, igualmente, observada em
um único e mesmo sítio.
1
Trata-se do III Seminário Goiano de Arqueo-
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do referido evento foram publicadas pela REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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