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APOCALIPSE

puro e simples

JÔNATAS OLIVEIRA
JOSÉ RODRIGUES

1ª Edição
MCM Publicações
“Bem aventurados aqueles que leem e aqueles que ouvem
as palavras da profecia e guardam as coisas nelas escritas,
pois o tempo está perto”.

Apocalipse 1.3
AGRADECIMENTOS
Agradeço, primeiramente, a Deus, por sua Graça infinita der-
ramada sobre nós. A minha família, que tem me apoiado todos
os dias na árdua tarefa missionária, que implica em viagens
constantes e longos períodos de oração e estudo das Escrituras.
Agradeço também aos meus pastores, José e Lily Rodrigues,
que têm me dado todo o suporte, ensino e uma verdadeira pater-
nidade espiritual. A ele serei eternamente grato por ter me ensi-
nado tanto sobre escatologia.
Acrescento, ainda, meus sinceros agradecimentos ao
Ministério Elim de Brasília, que hoje me apoia espiritual e
financieiramente.
Finalmente, agradeço a todos os alunos intensivistas que,
após participar das nossas aulas, me incentivaram a escrever
este material.
DEPOIMENTOS
“O Pastor Jônatas Oliveira é um dos pastores mais admiráveis
que conheço, além de ser o braço direito do Pastor José Rodri-
gues, nosso pastor, fundador e presidente do conselho diretor
da Missão Cristã Mundial, ao qual temos a honra de prestar
nosso tributo de homenagem e gratidão”.

JOÃO CHINELATO FILHO


Autor de vários sucessos editoriais,
incluindo a obra FAZENDO DISCÍPULOS, já na 18 edição.

“Um dos mais importantes questionamentos do ser humano


é sobre o final, o fim de todas as coisas, e isso costuma gerar
os mais diversos temores nas pessoas. Afinal, o desconhecido
tem o poder de nos convencer do medo, mas isso é um grande
erro. Tal como Jesus ensinou, sempre haverá erro quando não
conhecemos as Escrituras.
Em vista de tudo isso, a obra Apocalipse Puro e Simples é
uma oportunidade para conhecermos um dos livros mais empol-
gantes de toda a Bíblia, e descobrirmos que aquilo que para
muitos é o fim tenebroso de todas as coisas, para nós – os que
cremos – é o preludio da mais linda história que será vivida na
eternidade entre nós e o nosso Pai”.

CLODOALDO MASSAGLI
Escritor, empresário, conferencista
e Pastor Sênior da Igreja Betel em Nova Poá, São Paulo.
“O livro Apocalipse puro e simples é a junção do estudo sério
e a revelação das Escrituras, com a simplicidade de uma lingua-
gem compreensível por todos. Certamente, a mistura desses
elementos gerará em você vida e ânimo para desejar ardente-
mente a segunda vinda do Senhor Jesus, afinal, ‘aquele que tem
ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas’ (Ap 3.22)”.

DEUSDEDIT MONTES ALMANÇA JÚNIOR


Advogado, escritor e pastor
da Igreja Nova Aliança em Suzano, São Paulo.

“Assim como na parábola das dez virgens, a Igreja está ador-


mecida e não tem se preparado como deveria para o glorioso
encontro nos ares com o Senhor Jesus. Porém, acredito que
esse é o tempo profético do seu despertamento e, portanto, do
retorno dos cristãos ao estudo escatológico -especialmente das
revelações do livro do Apocalipse- que pouco tem sido pregado
nos nossos púlpitos.
Além de ser um excelente expositor deste trecho das escri-
turas, posso dizer que o Pastor Jônatas também é um homem
apaixonado por Jesus e por sua volta. Por isso, tenho certeza
que Apocalipse Puro e Simples será uma ótima ferramenta
para o despertamento e preparo da Igreja do Senhor para o dia
do Arrebatamento.

GLADISTON RIEKSTINS DE AMORIM (DINHO)


Pastor Presidente do ministério
Atos de Justiça, Minas Gerais.
SUMÁRIO
Introdução 11
O que é Escatologia?
1 Interpretando Corretamente a Bíblia 21
2 Conhecendo o Livro de Apocalipse 35
3 As Cartas e as Sete Igrejas 53
4 Retrato Profético 73
5 O Arrebatamento 89
6 Tribulação e o Arrebatamento Pré-Tribulacional 105
7 O Tribunal de Cristo 113
8 O Juízo de Deus 125
9 Princípio das Dores: Primeira Fase da Grande Tribulação 133
10 Segunda Fase da Grande Tribulação 147
O Caráter e as Estratégias do Anticristo e do Falso Profeta
A Revelação do Cordeiro
A Cólera de Deus é Derramada sobre a Terra
11 Última Fase da Grande Tribulação 179
12 Fim do Sistema Religioso 185
13 Fim do Sistema Político e Comercial 195
14 As Bodas do Cordeiro 201
15 Os Três Julgamentos 207
16 A Volta de Jesus e a Batalha do Armagedom 211
17 A Prisão de Satanás 215
18 O Reino Milenar 219
19 A Derrota Definitiva de Satanás 227
20 O Trono Branco: Juízo Final 231
21 Uma Janela para a Eternidade 237
Um Novo Céu e Uma Nova Terra
A Nova Jerusalém
Considerações Finais
Glossário de Símbolos 249
Fontes de Consulta 253
INTRODUÇÃO

“Qualquer cumprimento futuro deve ser ensinado como uma


possibilidade e não como um fato. É atitude irresponsável
ensinar algo que pode ou não acontecer como se fosse uma
doutrina: ortodoxia extremista”.

Harold R. Eberle e Martin Trench


em Escatologia Vitoriosa
INTRODUÇÃO

O que é Escatologia?

Se nosso encontro com o consumar da nossa salvação e


a esperança da nossa fé em Cristo se cumprirão apenas nos
últimos tempos (arrebatamento, bodas do Cordeiro, retorno
de Jesus, Nova Jerusalém, etc.), então por que muitos cristãos,
ainda hoje, nunca ouviram falar sobre Escatologia? Por que não
se prega muito sobre arrebatamento, tribulação ou a segunda
vinda de Jesus? Infelizmente, não dar atenção aos acontecimen-
tos finais da Igreja e da humanidade é um erro terrível.
Na primeira vinda do Senhor Jesus, quase ninguém o espe-
rava, a não ser os magos, alguns pastores, Simeão e Ana, a viúva
consagrada no templo e por isso muitos não aproveitaram o
tempo da sua visitação. Hoje não é diferente. A Igreja de Jesus
Cristo não está preparada para a Sua volta.
Na atualidade, muitos cristãos vivem em verdadeira miséria
espiritual porque seu cristianismo olha apenas para este mundo
transitório. Eles têm perdido de vista (ou desconhecem) a glória
que aguarda todos os servos de Deus nos céus, glória essa a ser
alcançada na consumação de todas as coisas. Mas, “se espera-
mos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os
homens” (1 Co 15.19). Por isso:

Analisemos profundamente e com temor de Deus as profecias bíblicas,


a fim de que não percamos o tempo da Sua visitação.

Querido leitor, se você se encaixa nesse grupo de pessoas


que nunca estudaram ou ouviram falar de Escatologia, não se
preocupe, pois veremos alguns conceitos básicos que lhe aju-
darão a compreender de forma simples e concreta esse tema e
os capítulos deste livro. A nossa intenção com este material é
que, ao final da leitura, no coração de cada leitor arda uma forte
esperança de se encontrar com Cristo nas alturas, no maravi-
lhoso dia do seu retorno.

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APOCALIPSE PURO E SIMPLES

Primeiramente, o que significa a palavra Escatologia? Pois


bem, na Teologia Sistemática, os grandes temas a serem estu-
dados possuem nomes específicos, que normalmente têm a sua
origem na língua grega. Por exemplo: Hamartiologia é o estudo
do pecado e Soteriologia é o grande tema no qual se estuda a
doutrina da salvação.

Na teologia cristã, a Escatologia é a área na qual se estudam os aconte-


cimentos ligados ao fim dos tempos.

Etimologicamente, esse termo vem das palavras gregas


Eschatos e Logos que juntas significam “estudo das últimas coi-
sas”. Isso inclui temas como, por exemplo, a volta — corpórea
— de Jesus Cristo à Terra e o juízo final do mundo. Somente
isso já faz dela uma doutrina fundamental para a vida de todo
cristão! Sabedores disso, os próprios apóstolos e pais da igreja1
deram bastante ênfase ao estudo e ensino do que aconteceria
nos últimos tempos, para poder dar razão da sua esperança e
fé em Cristo aos detratores e incrédulos. Tal como nos exorta o
apóstolo Pedro: “antes, santificai a Cristo, como Senhor, em vosso
coração, estando sempre preparados para responder a todo aquele
que vos pedir razão da esperança que há em vós” (1 Pedro 3.15).

A esperança dos cristãos primitivos não estava nesta terra, mas nas
coisas que Jesus Cristo lhes disse que viriam!

Porém, hoje, muitas pessoas não têm essa motivação para


estudar as profecias bíblicas, isso inclui cristãos e não cris-
tãos. Pelo contrário, enquanto alguns estudam para entender
e melhor interpretar as profecias (e assim poder ensinar corre-
tamente ao Povo de Deus a respeito do que virá), outros apenas

1 O termo “pais da igreja” surgiu na antiguidade para designar os grandes escritores e mestres
cristãos que formaram o início da teologia cristã. Alguns desses foram: Policarpo de Esmirna; Jus-
tino; Mártir; Irineu de Lião; Clemente de Alexandria; Orígenes; Eusébio de Cesaréia; Atanásio, etc.

14
INTRODUÇÃO

tentam encontrar argumentos para discutir ou polemizar, pro-


duzindo pensamentos aleatórios e infundados que confundem
os ouvintes. Consequentemente, o desconhecimento da Bíblia
como um todo e as especulações sobre os acontecimentos do
Apocalipse, têm gerado nas pessoas mais terror daquilo que
está por vir, do que esperança pelo retorno glorioso de Cristo,
e temor a Deus e à sua Palavra.
Porém, temos a plena certeza de que a finalidade de Jesus
com esse livro nunca foi infundir medo nos seus leitores. À
diferença do que muitos pensam, trata-se de um texto de Ver-
dades Absolutas (Sl 12.6), esclarecedor e bem detalhado, que
nos ensina sobre todas as coisas que acontecerão nos últimos
dias na Terra, com o objetivo de nos despertar e gerar em nós
a esperança de uma vida eterna com o nosso Amado, numa
Terra totalmente nova. Isso deveria ser motivo suficiente para
gritarmos alegres: Maranata! Ora vem Senhor Jesus!

APOCALIPSE: PALAVRAS “REVELADAS” E NÃO “SELADAS”

Como disse o profeta Isaías, Deus deseja revelar a seus filhos


as coisas que acontecerão (Is 46.10), por isso a importância do
livro do Apocalipse, chamado também de Revelation (Revelação)
nos textos de língua inglesa, uma vez que precisamente esse é
seu significado no grego. Diferente do livro de Daniel, que deve-
ria permanecer selado até o “tempo do fim” (Dn 12.4-9), a mensa-
gem do Apocalipse deve ficar “descoberta”, “revelada”: “Disse-me
ainda: Não seles as palavras da profecia deste livro, porque o tempo
está próximo” (Ap 22.10). Ainda que nenhum de nós possa afir-
mar que dia e hora o Senhor virá (Mt 24.36), o nosso intuito com
o presente livro é trazer entendimento sobre essa Revelação.

Desejamos despertar todos aqueles que dormem ou estão distraídos,


para um estado de alerta e vigilância, por causa da maravilhosa espe-
rança do que virá.

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APOCALIPSE PURO E SIMPLES

O apóstolo Paulo nos exorta: “E digo isto a vós outros que


conheceis o tempo: já é hora de vos despertardes do sono; porque a
nossa salvação está, agora, mais perto do que quando no princípio
cremos. Vai alta a noite, e vem chegando o dia. Deixemos, pois, as
obras das trevas e revistamo-nos das armas da luz” (Rm 13.11-12).
Devemos estar vigilantes e prontos para o retorno do nosso
Senhor, porém, por tratar-se de assuntos que ainda não acon-
teceram, é necessário aprendermos a tratar as profecias bíbli-
cas de maneira correta. Esse é o motivo pelo qual escrevemos
este material.
“APOCALIPSE, PURO E SIMPLES” não pretende ser mais um
livro escatológico extenso ou exaustivo, com palavras difíceis,
ou que foi escrito unicamente para leitores que já conhecem
sobre o assunto. Também não desejamos impor mais uma teoria
ou “visão” dos fatos. Nossa intenção com este material é con-
duzir você a um melhor entendimento do fascinante livro de
Apocalipse. Oramos para que se em algum aspecto você pensa
de modo diferente, Deus lhes esclareça conforme a sua Palavra
(Fp 3.15).
Por isso, longe de gerar mais confusões e contendas (2 Tm
2.23), pretendemos esclarecer nas seguintes páginas algumas
dúvidas e, até mesmo, medos que há no imaginário popular a
respeito do Apocalipse, bem como do final dos tempos, desmas-
carando — biblicamente — muitos dos mitos e sofismas que,
infelizmente, têm sido ensinados às pessoas (até pelos canais
da mídia).

Temos certeza de que o estudo escatológico do Apocalipse, feito à luz do


Espírito Santo, pode revelar e derrubar qualquer argumento que não
esteja alinhado às escrituras.

Por isso, independentemente de sua postura escatológica,


queremos lhe convidar à leitura desta obra para um melhor
entendimento sobre o final dos tempos. Garantimos a você que

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INTRODUÇÃO

percorreremos detalhadamente os outros livros da Bíblia, para


fundamentarmos assim a visão escatológica aqui apresentada,
e lhe esclarecer o máximo de dúvidas possíveis.
Contudo, caso não tenha muito conhecimento escatológico,
desejo que no final desta leitura você possa responder com pro-
priedade a perguntas frequentes e elementares como: O milênio
é literal ou figurado? Quando a Igreja será arrebatada? Esse
arrebatamento ocorrerá no início, na metade ou somente no
final da tribulação? Cientes que tais questionamentos costu-
mam gerar os principais conflitos escatológicos, passaremos a
maior parte deste livro respondendo esses pontos, dando ênfase
à explicação do milênio e do arrebatamento, respectivamente.
Com todo temor, desejamos que depois de ler e estudar este
material, arda no seu coração uma forte esperança de se encon-
trar com Cristo nas alturas no maravilhoso dia do seu retorno,
assim como um grande desejo de preparar a outros para a vinda
d’Ele.
Por isso, querido leitor, o convidamos a desafiar o seu enten-
dimento humano e mergulhar na obediência e submissão ao
Espírito Santo. Isso trará discernimento para suas principais
dúvidas, medos e prováveis controvérsias sobre o estudo de
escatologia e do livro de Apocalipse.

Mergulhe conosco nesse estudo, conferindo e comparando cada um dos


versículos citados, a fim de realmente compreender que já estamos
andando para o cumprimento de tudo o que Jesus prometeu, peregri-
nando rumo a nossa terra prometida: Seu Reino eterno.

Irmãos, não tenham medo de estudar Escatologia ou o livro


de Apocalipse, e sim, de não ter o discernimento do Espírito
enquanto estudam. Pelo contrário, encarem essa viagem com
esperança e determinação, na expectativa de alcançar aquilo
que Jesus tem reservado para nós no destino final, pois: “Como
está escrito: nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais

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APOCALIPSE PURO E SIMPLES

penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aque-


les que o amam” (1 Co 2.9). Todavia, tenham cuidado (em todo
tempo) para que um entendimento mais profundo da Palavra,
não seja um alicerce para a soberba, a vaidade ou o orgulho.

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INTRODUÇÃO

A Bíblia inteira gira em torno da segunda vinda de Jesus


Cristo e de ir aos povos que ainda não foram alcançados pelo
Evangelho, afinal, o maior intento do coração de Deus está em
alcançar todas as nações para Cristo. Embora a Igreja brasileira
fale em Avivamento, ela investe muito pouco em missões aos
Povos Não Alcançados, porém, isso é biblicamente contraditó-
rio. Será que Deus está contente com isso? Acredito que não.
Por isso o Espírito Santo está levando à Igreja a um processo
de despertamento, e deixe-nos entregar aqui uma profecia de
Deus ao Brasil:

“Ou a Igreja brasileira acorda e se prepara para receber o seu


Noivo, ou Jesus enviará uma perseguição no Brasil, porque a
Igreja está dormindo para a profecia bíblica e encontra-se em um
sono profundo em relação aos Povos Não Alcançados”.

José Rodrigues, 2002.

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— capítulo 1 —

INTERPRETANDO
CORRETAMENTE A BÍBLIA
INTERPRETANDO CORRETAMENTE A BÍBLIA

Se o seu desejo é estudar com zelo e temor as profecias bíblicas,


precisará dar especial ênfase à leitura da Bíblia, e buscar interpre-
tá-la com temor de Deus e discernimento do Espírito Santo. Para
isso, um dos primeiros ensinos fundamentais que deverá receber
é sobre a forma correta de interpretar as Escrituras Sagradas.
A Bíblia é um livro divino, transmitido por Deus aos homens
através do Espírito Santo (2 Pe 1.20-21). Já que seus escritores
foram seres humanos comuns, com histórias, culturas e expe-
riências particulares, a literatura bíblica nos oferece uma bela
pluralidade de estilos literários em cada um dos seus livros.
Tendo como base esse aspecto humano da escrita bíblica, têm
surgido ao longo dos séculos diferentes formas de interpretá-la,
as quais têm buscado, segundo a sua perspectiva, compreender
melhor os textos bíblicos.
Olhando para a história cristã, desde o primeiro século já
existiam formas diferentes de olhar e interpretar as Escrituras
nas chamadas escolas de Alexandria e Antioquia. Os intérpretes
da primeira tendiam a alegorizar o texto bíblico, buscando nele
verdades “ocultas” e “misteriosas”, enquanto os intérpretes da
segunda escola, em reação à de Alexandria, buscavam a com-
preensão das Escrituras desde uma perspectiva mais literal.

Apesar das múltiplas perspectivas existentes, a própria Bíblia nos


revela o posicionamento que devemos ter ao interpretá-la: saber que
é Deus quem vai trazer essa interpretação.

Infelizmente, o que muitas vezes tem tornado a Bíblia um


livro complicado, (e não poucas vezes incompreensível), são pre-
cisamente os métodos inadequados de interpretação. Ao longo dos
séculos eles causaram muitos danos à humanidade, e à igreja
especialmente. Devido às más interpretações e distorções da
Palavra de Deus, não somente têm havido confusões e divisões
no Corpo de Cristo, mas rios de sangue foram derramados e
milhares de pessoas inocentes morreram.

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APOCALIPSE PURO E SIMPLES

Neste ponto, vale a pena ressaltarmos um assunto impor-


tante — e infelizmente muito comum — em nossos dias: a irres-
ponsabilidade com aquilo que falamos e a velocidade com que
isso pode se espalhar em redes e mídias sociais.

Devemos sempre ter em conta que nossa interpretação de um texto


bíblico (escatológico ou não) pode levar ao sucesso ou ao total fracasso
de uma pessoa ou até de uma congregação inteira. Isso é muito sério!

Vamos pensar muito bem antes de falarmos algo “em


nome de Deus”, pois está escrito que a mão do Senhor será
CONTRA os profetas que veem vaidade e adivinham mentira
(Ez 13.9). Ezequiel também escreveu: “viram vaidade e adi-
vinhação mentirosa os que dizem: O Senhor disse; quando o
Senhor não os enviou; e fazem que se espere o cumprimento da
palavra (...). Portanto assim diz o Senhor DEUS: Como tendes
falado vaidade, e visto a mentira, portanto eis que eu sou con-
tra vós, diz o Senhor DEUS” (Ez 13.6;8). Portanto, em hipó-
tese nenhuma, vamos nos dar o luxo de falarmos aquilo que
“achamos” que a Bíblia disse, nem muito menos espalharmos
isso publicamente pelo meio que for.
Voltando ao tema principal do nosso livro, em vista da
grande diferença de pensamento entre cada uma das verten-
tes de interpretação que existem, quando alguém começa a
trilhar o caminho da escatologia, um dos primeiros questio-
namentos que recebe se relaciona com a forma como inter-
preta as Escrituras. Por essa razão, escolhemos iniciar este
livro da maneira que acreditamos ser a mais segura: dedi-
cando o primeiro capítulo à questão da interpretação bíblica.
Esse é o requisito fundamental para obter sucesso no
estudo das Escrituras e consequentemente, da escatologia.
Sempre que examinarmos a Bíblia utilizando o método cor-
reto de interpretação, perceberemos que ela se abrirá a nós e
se tornará cada vez mais clara, simples e acessível. Porém, o

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INTERPRETANDO CORRETAMENTE A BÍBLIA

contrário também é verdadeiro: sempre que lermos a Bíblia


por trás das lentes inadequadas de um método, seu conteúdo
se tornará cada vez mais obscuro e ininteligível, dando ori-
gem a confusões teológicas. Vejamos as duas vertentes de
interpretação mais comuns.

INTERPRETAÇÃO LITERAL

Partindo dessa perspectiva, a Bíblia é um livro literal que


usa símbolos e figuras de linguagem. Mesmo que alguns versí-
culos pareçam surreais, as Escrituras dizem exatamente o que
elas querem dizer! Afinal, como disse o salmista, a Palavra do
Senhor é comprovadamente verdadeira, e pura como a prata
purificada num forno, sete vezes refinada (Sl 18.30; 12.6). Cien-
tes dessa veracidade absoluta, toda vez que o Senhor Jesus e
seus Apóstolos interpretaram os textos do Antigo Testamento,
o fizeram literalmente. Então, por que usaríamos um tipo de
interpretação diferente?

Jamais “force” um texto bíblico a dizer alguma coisa, fique apenas com
o que está escrito, mesmo que aquilo possa lhe parecer absurdo ou lhe
trazer críticas.

Vejamos o seguinte exemplo:

O profeta Isaías, por exemplo, disse que uma virgem iria


gerar um filho (Is 7.14). Isso em termos naturais é impossível.
Por tal motivo, ao ler o texto setecentos anos antes de Cristo, tal-
vez muitas pessoas acreditem que a palavra “virgem” estava ali
de forma alegórica, jamais de forma literal, pois não tem como
uma mulher conceber sem antes ter sido fecundada por um
homem. Mas, o que foi que realmente aconteceu aproximada-
mente setecentos anos depois daquela profecia? Literalmente,
uma virgem deu a luz a um filho, ao Filho de Deus!

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APOCALIPSE PURO E SIMPLES

INTERPRETAÇÃO ALEGÓRICA

Na Grécia Antiga, três séculos antes de Cristo, houve um


homem chamado Sócrates (filósofo) que, como os judeus, ensi-
nava que existia um só deus, numa época em que a Grécia já
havia vivido muitos séculos sob um sistema de crenças poli-
teísta. Finalmente, o filósofo foi assassinado por pregar sua
mensagem monoteísta. Contudo, em outros aspectos, sua filo-
sofia divergia muito do judaísmo: o deus de Sócrates não era o
mesmo Deus judaico. Mesmo assim, surgiram alguns teólogos
judeus tentando harmonizar a Filosofia socrática e platônica
com o que o Antigo Testamento judaico relatava sobre Deus.
Foi assim que nasceu a Interpretação Alegórica da Bíblia.
Séculos depois, quando os nossos irmãos cristãos começa-
ram a serem perseguidos surgiram outros teólogos que também
seguiram a mesma linha de interpretação dos judeus antigos,
e começaram a explanar a Bíblia conforme sua ótica pessoal.
No século IV, alguns deles inclusive chegaram a ensinar que
Constantino era o Messias que implantaria o Milênio na Terra.
Eles interpretaram a Bíblia de acordo com a capacidade criativa
de suas mentes. Infelizmente, essa prática continuou seu curso
até os dias atuais. Se você ler, por exemplo, escritos de padres
católicos (antigos ou atuais) como Leonardo Boff e outros, per-
ceberá claramente a interpretação alegórica em suas obras.

Para os alegóricos, os textos da Bíblia não necessariamente querem


dizer o que está escrito, mas sim, aquilo que se quer que o texto diga.

Porém, a própria história nos demonstra que a interpretação


alegórica tem trazido danos irreparáveis à humanidade, assim
como graves desvios teológicos à Igreja. Esse foi o caso das cru-
zadas. No século XI, o território palestino estava sob o domínio
dos árabes, mas o papa Urbano II e seu clérigo interpretaram
(alegoricamente) na Bíblia, que a denominada Terra Santa,

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INTERPRETANDO CORRETAMENTE A BÍBLIA

especialmente Jerusalém, deveria ser habitada pelos cristãos e


não por árabes. Sob esse pretexto, esse papa assinou a encíclica
que ordenava aos guerreiros tomarem suas armas e fazerem
guerra santa contra os árabes. Milhares morreram massacrados.
Percebe quantas pessoas podem morrer ou serem machu-
cadas por causa de um “achismo”? Até antes das Cruzadas, o
islamismo aceitava e convivia bem com os cristãos, mas depois
das Cruzadas, gerou-se um ódio eterno entre cristãos e árabes,
porque os cristãos romanos os massacraram. Toda essa tragédia
aconteceu por causa de uma interpretação alegórica da Bíblia e
suas sequelas persistem até hoje. Experimente ser missionário
entre os muçulmanos! Por que tantos missionários são executa-
dos em países árabes? É uma espécie de vingança às Cruzados.
Os danos causados pelas interpretações alegóricas não
ecoam apenas do passado. Hoje, no Brasil, existem movimen-
tos espirituais importantes e verdadeiros que Interpretaram a
Bíblia alegoricamente e por isso se tornaram pós-milenistas.
A ideia da Igreja gloriosa é, em parte, pós-milenista. Existem
pastores no Brasil, alguns de expressão, que nem acreditam no
arrebatamento da Igreja, e assim como os teólogos católicos
— também pós-milenistas —, creem que o Evangelho é o bom
fermento (Mt 13.33) que levedará a nação toda, e como veremos,
isso não é verdade.
Infelizmente, entre os diversos métodos existentes, esse
último é o de maior destaque na atualidade. Por se tratar das
coisas do futuro, é normal — até certo ponto — que existam
certas divergências quanto a interpretação das profecias bíbli-
cas. Todavia, existem aqueles que têm ousado mudar a Verdade
em mentira, distorcendo a Palavra de Deus como melhor lhes
convém. Entretanto, a respeito disso a Bíblia adverte:

“Eu, a todo aquele que ouve as palavras da profecia deste livro,


testifico: Se alguém lhes fizer qualquer acréscimo, Deus lhe
acrescentará os flagelos escritos neste livro; e, se alguém tirar

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APOCALIPSE PURO E SIMPLES

qualquer coisa das palavras do livro desta profecia, Deus tirará


a sua parte da árvore da vida, da cidade santa e das coisas que
se acham escritas neste livro” (Ap 22.18-19).

Uns podem chamar tais modificações de interpretação pes-


soal e outros de vertente de pensamento, porém, estamos con-
vencidos do seguinte:

Nenhuma perspectiva pode mudar o que — de fato — está registrado na


Bíblia. Vamos frisar neste ponto: o Espírito de Cristo é um só e a sua
Palavra também.

Seria muito confuso para o povo de Deus se Ele ensinasse


múltiplas perspectivas ou “verdades” a cada um dos seus filhos,
afinal, qual delas iríamos seguir? Qual delas seria a Verdade?
Irmãos, Deus é Deus de ordem e não de confusão.
Precisamente por causa das muitas perspectivas na hora de
interpretar um texto bíblico, é que têm surgido muitos posi-
cionamentos — e até especulações — sobre como será o fim
dos tempos, gerando ainda mais divisões e confusões no corpo
de Cristo. Enquanto alguns interpretam as profecias de forma
literal, comparando cada palavra e versículo com conceitos e
símbolos da própria Bíblia, outros as leem de forma alegórica
ou subjetiva, sempre buscando significados “novos ou ocultos”
nas entrelinhas, mesmo em detrimento de outras passagens
bíblicas igualmente importantes.

No entanto, na Missão Cristã Mundial (MCM), acreditamos que a lingua-


gem usada no livro de Apocalipse não contempla o alegórico como um
meio para esclarecimento profundo sobre o fim dos tempos.

Por isso, o método empregado para a construção da presente


obra é o literal. Para isso, tivemos como base a concordância
temática entre os diversos livros das Escrituras, bem como o

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INTERPRETANDO CORRETAMENTE A BÍBLIA

discernimento das suas profecias à luz do Espírito Santo, pois


entendemos que não há como alegorizar a revelação de Jesus
Cristo e do Seu Reino. Cremos totalmente no poder da profecia
bíblica e em sua suprema autoridade. Se como nós, você tam-
bém deseja ter um entendimento acertado e bíblico daquilo
que lê nas escrituras, lhe recomendamos que leia com atenção
os seguintes princípios de interpretação bíblica e os guarde no
seu interior.

PRINCÍPIOS BÁSICOS DE INTERPRETAÇÃO

1. Oração: Todo conhecimento vem do Senhor. Por isso, toda


vez que formos estudar um texto bíblico, precisamos orar e pedir
a Ele esse discernimento. O escritor do Salmo 119 pedia cons-
tantemente a Deus: “dá-me entendimento da Tua Palavra... abre os
meus olhos...” Isso aponta para um coração humilde, realmente
disposto a receber do Espírito Santo o entendimento da Palavra
de Deus. Afinal, Jesus prometeu que Ele nos ensinaria todas as
coisas (Jo 14.26).

2. Interpretação literal: O que está escrito num texto bíblico


é o que esse significa, embora iremos nos deparar com figuras
de linguagem.

3. Linguagem figurada. Embora a nossa leitura deva ser lite-


ral, devemos saber que a Bíblia usa figuras de linguagem para
ilustrar fatos, coisas ou transmitir princípios espirituais. Apenas
devemos procurar o sentido dessas figuras na própria Bíblia. Por
exemplo, o Senhor Jesus disse de si mesmo: “Eu sou a porta...”.
É lógico que Jesus não é literalmente como uma porta, mas Ele
é aquilo que a porta representa: o único meio lícito de se entrar
numa casa, ou seja, Jesus é o único meio legal para adentrarmos
na casa do Pai. Portanto, a porta é apenas uma figura da lingua-
gem literal que comunica uma verdade espiritual.

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APOCALIPSE PURO E SIMPLES

4. Examinar o contexto: Cada vez que for estudar um texto,


examine primeiramente quando foi escrito (época), quem foi o
autor, a quem estava destinando a sua mensagem e qual era o
assunto ou o porquê dele. Esses fatos são imprescindíveis para
não errarmos na interpretação.

5. A Bíblia interpreta a Bíblia: A Bíblia é um livro auto con-


sistente, portanto, é coerente consigo mesmo. Embora alguns
textos possam parecer difíceis de conciliar ou até “contraditó-
rios”, isso não significa que sejam excludentes. Muitas das vezes,
tem a ver com a nossa capacidade humana de compreender
verdades eternas. Mas, “o fato de não entendermos alguma coisa
não significa que ela esteja errada”2.
Para começar a comparar Escritura com Escritura, basta
olhar na sua versão da Bíblia se alguma palavra do texto que está
lendo tem uma letra ou número minúsculo na parte de cima.
Veja que eles estão ligados com endereços bíblicos situados nas
margens de cada página. Essas são as chamadas referências
e servem para se aprofundar em outros textos bíblicos sobre
aquilo que está lendo. Lembre: “o melhor comentário sobre a
Bíblia é a própria bíblia”.

6. Concordância temática: Nesse ponto é muito útil o prin-


cípio anterior. Não podemos fundamentar doutrinas baseando-
-nos em textos bíblicos isolados, mas estudando a Bíblia toda
em relação àquele assunto. Por exemplo, qual é a doutrina das
escrituras a respeito dos anjos? Precisamos estudar todos os
livros da Bíblia onde se menciona esse assunto antes de che-
garmos a uma conclusão. A negligência nesse ponto tem cau-
sado algumas das maiores heresias, desvios e até tragédias no
meio cristão.

2 BATISTA, M. Princípios de interpretação bíblica. Disponível em: http://www.monergismo.com/


textos/ hermeneuticas/hermeneutica_misael.htm. Consultado em: 03/02/2020.

30
INTERPRETANDO CORRETAMENTE A BÍBLIA

7. Nenhum texto tem interpretação particular: A Bíblia diz


o que diz, então nenhum de nós pode dizer “esta é a minha
interpretação, é o que eu acho”, pois está escrito: “porque nunca
jamais nenhuma profecia foi dada por vontade humana, entre-
tanto os homens santos de Deus falaram movidos pelo Espírito
Santo, sabendo que nenhuma profecia provém de particular elu-
cidação” (2 Pe 1.20-21).

Se desejarmos ter de fato acesso à Verdade de Deus, devemos inter-


pretar a Bíblia conforme regras, normas estabelecidas pela própria
palavra, senão estaremos caminhando rumo ao relativismo, tão peri-
goso e comum nos nossos dias.

8. Uma interpretação e várias aplicações. Esse princípio está


relacionado ao anterior. A Verdade de cada texto bíblico é ape-
nas uma, sem importar se a nossa Bíblia está em mandarim,
árabe ou russo, porém, as suas aplicações para a vida de cada
cristão são diversas. Não há mais “revelações” a serem acres-
centadas ao texto bíblico, apenas recebemos de Deus ilumina-
ções sobre como aplicar aspectos importantes desse texto às
nossas vidas.

9. Descrição ou Prescrição: Não se fundamentam doutri-


nas (ordens ou prescrições) baseando-se em fatos da história
bíblica (descrições).“O fato de algo ser contado na Bíblia não
significa que o mesmo é regra para hoje. Os relatos históricos,
por exemplo, transmitem-nos preciosas lições espirituais. No
entanto, não devemos tirar deles doutrinas absolutas para nós”
(BATISTA, M).

Somente é válido extrair doutrina cristã de textos históricos se ela esti-


ver em concordância com outros textos que de fato são doutrinários, e
for confirmada pelos ensinamentos do Novo Testamento.

31
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

10. Ir do simples ao complexo: Deus criou a Bíblia para que


fosse entendida por qualquer um, desde um singelo pescador
(Pedro) até um fariseu erudito (Paulo). Por isso, prefira sempre
a verdade mais simples, do que criar posicionamentos enreda-
dos ou complexos que muitas vezes geram apenas confusão aos
ouvintes. Sabemos que nem todo o conteúdo bíblico é fácil de
entender, porém, sua maioria é muito clara e direta.
Se tiver dúvidas a respeito de algum trecho, apenas procure
ajuda adicional em materiais especializados como manuais e
comentários. Não se preocupe se ainda não entender alguma
parte da Bíblia, à medida que a estuda, o Espírito Santo lhe
ajudará a entendê-la melhor de modo que, gradativamente, o
que antes era complexo passará a ser mais simples.

11. Primeira menção ou referência: Quando uma palavra


ou fato aparece pela primeira vez nas escrituras, ali você tem
uma noção ou base de como a Bíblia tratará esse assunto dali
em diante. Por exemplo: a primeira vez que aparece a pala-
vra AMOR na Bíblia é em Gênesis 22, para dizer que Abraão
amava seu filho único, Isaque. Isso indica que o amor do
Deus Pai, pelo seu Filho unigênito, é a máxima expressão de
amor que existe.
A segunda referência bíblica onde aparece a palavra AMOR
é em Gênesis 24, quando diz que Isaque amou Rebeca (o
noivo amou a noiva), isso representa que a segunda maior
expressão de amor na Bíblia é o amor de Jesus pela Igreja.

12. Revelação progressiva: Há assuntos na Bíblia que foram


revelados apenas parcialmente no Antigo Testamento, e sua
plena definição veio somente nos escritos do Novo testamento,
como, por exemplo, o mistério de que Cristo em nós, é a nossa
esperança da glória (Cl 1.26-27). Por isso, quando alguém não
tem em conta a revelação progressiva na sua análise, pode con-
cluir e ensinar doutrinas errôneas.

32
INTERPRETANDO CORRETAMENTE A BÍBLIA

13. Não acrescente nem tire nada do que está no texto: Nesse
quesito, as Escrituras são absolutamente claras: “Porque eu testi-
fico a todo aquele que ouvir as palavras da profecia deste livro que,
se alguém lhes acrescentar alguma coisa, Deus fará vir sobre
ele as pragas que estão escritas neste livro; E, se alguém tirar
quaisquer palavras do livro desta profecia, Deus tirará a sua
parte do livro da vida, e da cidade santa, e das coisas que estão
escritas neste livro. (Ap 22.18,19).

14. Cada livro da Bíblia tem uma mensagem central: Se


conhecemos o pensamento de um autor X sobre determi-
nado assunto, vamos ler a mensagem de seus escritos com
um novo entendimento. Quando conhecemos a mensagem
central de um livro da Bíblia, o que o autor quis dizer com
ele, fica mais fácil interpretar cada texto. Por exemplo, sabia
que o livro de Isaías fala em sua maior parte sobre a tribula-
ção e o milênio? Ou que a carta de Tito fala principalmente
das obras? Bom, se não sabia, com certeza essa informação
melhorará seu entendimento desses livros da próxima vez que
for lê-los.

15. Evite os textos “misteriosos”: Não gaste seu tempo ten-


tando interpretar textos enigmáticos para os quais a própria
Bíblia não dá uma explicação clara. Embora sejam textos bíbli-
cos, muitas das vezes, gastar tempo demais tentando decifrar
seus mistérios sem ter evidências bíblicas para dar um parecer
fidedigno, confunde mais do que edifica. Para Batista, no artigo
Princípios da Interpretação Bíblica: “Não devemos buscar decifrar
mistérios, especializarmo-nos em uma espécie de esoterismo cristão.
Tal insistência produz obsessão por posicionamentos obtusos, que
não são saudáveis para a Igreja de Cristo”.

Devemos ser humildes para aceitarmos que existem coisas que sim-
plesmente estão fora da nossa capacidade humana de compreensão.

33
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

É possível que alguns desses princípios não lhe sejam des-


conhecidos, ou inclusive tenham lhe parecido óbvios, porém,
consideramos muito importante que os conheça. Recomenda-
mos-lhe que os guarde no seu interior e passe a usá-los na sua
leitura bíblica cotidiana. Temos certeza de que lhe ajudarão a
aprimorar a qualidade da sua interpretação, não somente do
livro de Apocalipse, mas das escrituras como um todo. Mesmo
assim, nunca se esqueça de estudar a Bíblia com temor, zelo e
humildade, para não cair em especulações ou heresias.
Antes de tudo, deseje conhecer a Deus mais do que acumular
conhecimento, seja paciente e humilde durante seus estudos
e não afirme enfaticamente o que a Bíblia não diz com clareza.

Seja fiel às Regras de interpretação da Palavra e acredite simplesmente


no que está escrito, ainda que não faça muito sentido aos seus olhos.
Sobretudo, nunca se esqueça de pedir discernimento ao Espírito Santo.

Temos certeza de que esses conselhos lhes ajudarão, assim


como a nós, a ir além do limitado entendimento humano
para compreender melhor os desígnios eternos de Deus. Com
isso em mente, prossigamos ao tema central do nosso livro:
O Apocalipse.

34
— capítulo 2 —

CONHECENDO
O LIVRO DE APOCALIPSE

“O Apocalipse fala da derrota de Satanás mais do que


qualquer outro livro da bíblia e, por isso, é alvo de ferozes
ataques do adversário, que tenta desacreditá-lo ou
rotulá-lo como incompreensível”.

André Coelho
CONHECENDO O LIVRO DE APOCALIPSE

Certamente, não há outro livro na Bíblia tão odiado pelo


diabo quanto o livro de Apocalipse. Mas, por quê? Porque esse
livro fala do destino final dele. Por isso é alvo das maiores dis-
torções e descréditos por parte da população em geral. Pode-
mos afirmar que o Apocalipse é talvez um dos livros menos
conhecidos de toda a Bíblia e provavelmente o menos lido,
menos estudado.
Realmente é muito raro vermos um pastor pregar algum ser-
mão baseado nele, é possível que você não tenha visto muitos
sermões sobre o assunto. Primeiro, porque os pastores não o
conhecem. Segundo, porque nós gastamos muito tempo com
os demais livros e deixamos o Apocalipse de lado. Mas, para
descobrir os mistérios e riquezas desse texto e das demais pro-
fecias bíblicas, é necessário dedicar a isso muito tempo, ora-
ção e estudo. Por esse motivo, para honra e glória de nosso
Senhor Jesus, nesta obra investiremos um tempo precioso com
esse tema.
Mesmo que haja no imaginário popular uma ideia de que o
Apocalipse é um livro complicado, na verdade, seu próprio nome
já afirma que isso não condiz com a realidade. Como dissemos,
a palavra “Apocalipse” significa justamente “revelação”, como
quando um pintor que, para expor aos espectadores a sua obra
de arte, tira o tecido que encobre a tela. Esse é o sentido da
palavra. A raiz Apo significa tirar e Calipse se traduz por véu, ou
seja, “tirar o véu” a fim de revelar o que estava encoberto por trás.
Vejamos outro exemplo. Imagine que você está em um tea-
tro e no palco está acontecendo um grande espetáculo, mas a
cortina do cenário continua fechada, de modo que não é possí-
vel ver o show por trás dela. Isso é exatamente o que acontece
quando uma pessoa (cristã ou não) desconhece as profecias dos
últimos tempos, embora esteja presenciando-as.

O que está sucedendo atualmente no palco mundial é o cumprimento das


profecias bíblicas, mas, assim como um véu, o desconhecimento delas

37
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

impede que as pessoas que estão observando compreendam o que de


fato está acontecendo na sua frente. Sem saber, elas estão se perdendo
de algo realmente grandioso!

Se esse é o seu caso, não se preocupe. À medida que ler este


livro e estudar a Bíblia, a cortina que tem em frente irá sendo
retirada, e você passará a ver de camarote todo o espetáculo de
cumprimento profético que está acontecendo nesses dias, e pela
graça de Deus, poderá compreender tudo. Então o Apocalipse se
tornará um livro simples para você, muita coisa que não enten-
dia será compreensível com extrema facilidade.
Deus disse que não faria coisa alguma sem antes ter reve-
lado o seu segredo aos seus servos: os profetas (Am 3.7). E o
escolhido para receber essa valiosa mensagem foi alguém que
se apresentou no primeiro verso como o “servo João”. Assim,
apesar de haver controvérsias sobre sua autoria, entendemos
que o próprio João, chamado também de “discípulo amado de
Jesus” (Jo 21.20), é o escritor do Apocalipse, o quarto evangelho
e as três epístolas que levam o seu mesmo nome.

CONTEXTO HISTÓRICO

Estima-se que o Apocalipse foi escrito no século I, por volta


do ano 95 d.C., na Ilha de Patmos (Ap 1.9). João pastoreava a
igreja estabelecida por Paulo na cidade de Éfeso, que posterior-
mente teria sido pastoreada também por Timóteo.
Já idoso, o apóstolo foi levado preso à ilha de Patmos (a
35 km da cidade), onde funcionava uma prisão administrada
pelo Império Romano. Ali era descartada a escória da sociedade
romana: ladrões, estupradores, assassinos e qualquer um que
causasse algum tipo de problema para o Império e suas políticas
de avanço, fortalecimento e hegemonia.
Ali todos os presos estavam sujeitos a trabalhos escravos,
incluindo a extração de sal. Então a condenação de João exigia

38
CONHECENDO O LIVRO DE APOCALIPSE

que morasse em uma caverna e trabalhasse nas minas. Foi preci-


samente em uma dessas cavernas que ele recebeu a revelação do
Apocalipse, uma das principais revelações na história da igreja.
O discípulo amado havia sido preso por causa do evange-
lho, sob acusação de ateísmo, já que pela ótica do politeísmo
romano, os cristãos não estavam somente adorando um Deus
que não podiam ver (e que, portanto, não existia), mas nega-
vam a existência dos “deuses” visíveis (incluindo os Césares ou
imperadores romanos), correndo o sério risco de enfurecê-los.
Naquela época, os romanos realmente temiam os seus deu-
ses, pelo que manter a paz com suas divindades — pax deo-
rum3 — era algo que levavam muito a sério, pois entendiam que
qualquer ameaça a essa paz representava um sério risco para
a estabilidade, poderio e avanço socioeconômico do império.

O mais incrível é que foi nessas circunstâncias tão adversas que João
recebeu o maior recado de Jesus Cristo para Sua Igreja, Sua Noiva,
abordando o passado, presente e futuro dela.

A fim de ter uma visão mais ampla e clara do que se seguirá


nos próximos capítulos da presente publicação, veja conosco
uma perspectiva geral e sucinta de todos os assuntos trabalha-
dos nos capítulos (ou bloco de capítulos) do Apocalipse.

CAPÍTULO ASSUNTO

1 Descrição de Jesus glorificado.

2-3 Cartas às sete igrejas da Ásia, um “retrato” histórico e profético


da história da igreja na Terra.

3 Paz deorum ou “paz dos deuses” é o conceito latino que transmite essa ideia de estabelecimento
de paz e aliança entre os deuses e os romanos.

39
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

4 Arrebatamento da Igreja e o Tribunal de Cristo. A partir da


retirada da Noiva, a Igreja, inicia-se a trajetória para os
acontecimentos finais.

5 Tomada de posse do Reino, o julgamento de Jesus homem,


momento que será comprovada a autoridade de Cristo para
abrir o livro.

6-7 Princípio das dores, narração da primeira fase da grande


tribulação.

8-16 Segunda metade da grande tribulação. As trombetas são


tocadas, cada uma trazendo um juízo de Deus.

17-18 Queda do sistema religioso –“a grande meretriz”-, juntamente


com o aparelho político e comercial global. Essa meretriz
ou prostituta representa o Cristianismo corrompido, pois,
embora se digam compromissados com Deus, mantém um
relacionamento paralelo com o paganismo, o pecado e o
mundanismo. A Igreja Católica é a cabeça desse sistema,
porém, nele também estão incluídas muitas igrejas evangélicas e
“seitas espiritualistas”. Na atualidade, o mundo é regido por um
sistema religioso-político-comercial, influenciado grandemente
pelas trevas. Os três estão interligados: o sistema político
precisa do religioso, o religioso do comercial e vice-versa.

19 (vs. 1-10) Exaltação à Cristo e a seus feitos; Bodas do Cordeiro.

19 (vs. 11-21) Segunda vinda visível de Jesus, o “Verbo de Deus”, e sua vitória
sobre a besta e o falso profeta na batalha no Armagedom.

20 No início do milênio, Satanás é preso e próximo do final desse


período ele é solto, arregimenta nações dos quatro cantos da
Terra, seduzindo-os. Porém, serão consumidos por fogo vindo
dos céus e serão lançados no “lago de fogo”. Depois disso é
instaurado o tribunal do Trono Branco, onde é dado o veredito,
o Juízo Final.

21-22 Nesses capítulos é aberta uma “janela” para a eternidade,


dando-nos um vislumbre dos novos céus e nova Terra.

Antes de mostrar-lhe tudo isso, o Senhor Jesus ordenou ao


apóstolo o seguinte: “Escreve, pois, as coisas que viste, e as que
são, e as que hão de acontecer depois destas” (Ap 1.19). Ou seja,
Jesus lhe deu a história completa, com início (“que viste”), meio
(“que são”) e fim (“que hão de acontecer”), passado, presente
e futuro, respectivamente. O mais interessante é que quando

40
CONHECENDO O LIVRO DE APOCALIPSE

vemos o livro de Apocalipse, quadro a quadro, encontramos em


seu primeiro capítulo as coisas que João já conhecia, ou seja,
a própria revelação de Jesus Cristo; nos capítulos seguintes, o
dois e o três, João vê as coisas que estavam acontecendo com
a Igreja (e que, posteriormente, seria o desfecho da história da
mesma); e a partir do capítulo quatro até o vinte dois, temos o
registro das coisas que aconteceriam, culminando com o triunfo
definitivo de Cristo. Foi uma revelação em três tempos.

DUAS VERTENTES TEOLÓGICAS: OS “HISTÓRICOS”


E OS “FUTURISTAS”

Diante do exposto anteriormente, perguntamos: o Apoca-


lipse é um livro histórico ou futurista? Bem, a resposta a essa
pergunta dependerá do prisma interpretativo de quem estuda o
livro. Contudo, se afirmarmos que é um livro histórico, teremos
de entender que o objeto de estudo da história é lidar com fatos
que aconteceram antes do registro dos mesmos. Deste modo,
visto dessa perspectiva, todos os fatos do Apocalipse já teriam
acontecido. Por outro lado, quando falamos em futurista ou
profético, estamos nos referindo à “predição” de algo que ainda
não aconteceu, ou seja, uma “visão” prévia do que está por vir.
Como é perceptível que muitos dos fatos descritos no Apoca-
lipse ainda não aconteceram (por exemplo, as estrelas, os mon-
tes e as ilhas ainda estão no seu lugar), entendemos que se trata
de um livro profético, que fala de coisas futuras. Porém, inde-
pendentemente da nossa ótica, exporemos, brevemente, as pers-
pectivas interpretativas mais conhecidas acerca do Apocalipse.

1) Históricos: Esses estão divididos por sua vez em dois gru-


pos, os “preteristas totais” e os “preteristas parciais”. O primeiro
grupo acredita que as profecias já se cumpriram totalmente,
enquanto o segundo acredita que as profecias se cumpriram
em sua maioria, mas não totalmente.

41
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

a) “Preteristas totais”: Esse grupo enxerga a história de


maneira cíclica, portanto, para eles os eventos do Apocalipse já
aconteceram várias vezes no decorrer da história e continuarão
acontecendo. Dessa forma, o Apocalipse passa a ser visto como
uma profecia simbólica. Nessa linha escatológica, já existiram
muitos anticristos literais, entre eles, Antíoco Epifânio em 150
a.C., o imperador romano Nero, Hitler, o líder nazista do século
XX, etc.
b) “Preteristas parciais”: Esse grupo de estudiosos acre-
dita que todos os eventos mencionados no livro já se cumpri-
ram e que atualmente estamos vivendo outro tempo futuro,
não descrito nas Escrituras Sagradas. Tal como apresenta o
seguinte gráfico:

Figura 1. Preterismo parcial. Fonte: Escatologia vitoriosa. Harold R. Eberle e Martin Trench.

2) Proféticos ou Futuristas. Entendem que a maior parte dos


episódios concernentes ao “fim dos tempos” ainda não aconte-
ceram, e que os acontecimentos narrados a partir do capítulo 4
de Apocalipse são inerentes ao futuro.
Mas esse não é um dilema exclusivo dos dias atuais, pelo con-
trário, sempre houve questionamentos e divergências quanto
ao retorno do Senhor para governar a Terra. Paulo, escrevendo à
igreja de Tessalônica, menciona que naqueles dias já havia uma
corrente de pensamento escatológica que afirmava que Jesus já

42
CONHECENDO O LIVRO DE APOCALIPSE

havia voltado. Diante disso, o apóstolo precisou escrever uma


carta para esclarecer àquela igreja quanto a vinda do Senhor, e
tentar acalmar o alvoroço que os hereges teriam produzido na
comunidade cristã:

Irmãos, no que diz respeito à vinda de nosso Senhor Jesus Cristo


e à nossa reunião com ele, nós vos exortamos a que não vos demo-
vais da vossa mente, com facilidade, nem vos perturbeis, quer por
espírito, quer por palavra, quer por epístola, como se procedesse de
nós, supondo tenha chegado o Dia do Senhor. Ninguém, de nenhum
modo, vos engane [...] (2 Ts 2.1-3a).

Mas, será que de fato Jesus já voltou e seu Reino já foi estabe-
lecido na Terra? De acordo com as escrituras, os acontecimentos
ligados ao “fim dos tempos” seriam notórios (Mt 24.21 e 29-31;
Ap 1.7 e 3.10). Logo, com base nesses textos, consideramos que
a resposta é negativa: o Senhor ainda não voltou.

Atualmente, estamos vivendo a História descrita nos capítulos dois e


três de Apocalipse, porém, ainda não aconteceu nada do capítulo quatro,
o período após o Arrebatamento da Igreja.

Por causa das sérias implicações de perguntas como essas


na nossa fé, consideramos imprescindível para todo cristão o
estudo das profecias bíblicas e do “final dos tempos”. Como
pastores e missionários há muitos anos, temos visto que exa-
minar o Apocalipse e estudá-lo com zelo e dedicação é de suma
importância para o amadurecimento de qualquer cristão.
Embora os primeiros destinatários do Apocalipse sejam as
sete congregações da Ásia, sete igrejas que existiam, de fato, na
época de João, em nossa linha de interpretação, entendemos
que se trata de uma mensagem que transcende tempos e épo-
cas, cujo conteúdo é essencial para todas as igrejas, de todas as
gerações, tal como explicaremos no capítulo seguinte.

43
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

Portanto, o livro é de vital importância para a compreensão


do nosso destino como Corpo de Cristo, assim como do futuro
dos judeus, dos ímpios, do diabo e da própria Terra. Eventos
que devem gerar profunda reflexão e temor de Deus no cora-
ção dos seus escolhidos, pois é a contemplação do poder e da
providência do Senhor, sua mão poderosa executando justiça
e juízo para com a criação.
Agora, alguns alegam que o livro de Apocalipse é “compli-
cado, confuso, controverso ou cheio de conotações”, mas, diante
disso, podemos afirmar que esse é um argumento mencionado
por alguns curiosos que, embora se denominem “estudiosos”
do tema, têm carecido de uma visão espiritual do texto sagrado.
Assim, esses acabaram criando fantasias e sofismas e gerando
polêmicas vãs sobre um livro tão maravilhoso, um verdadeiro
presente de Deus a sua igreja. Como mencionado antes, é um
texto que narra fartamente a derrota do diabo diante do nosso
Deus poderoso.
Mas até o final desta publicação, veremos como — através
da mensagem de Jesus Cristo às sete igrejas — os cristãos têm
acesso a uma série riquíssima de detalhes que descrevem tanto
as diversas fases que a Igreja passaria ao longo da sua história,
assim como o arrebatamento dela. O texto também nos oferece
informações precisas sobre, por exemplo: a grande tribulação
que a humanidade sofrerá no final dos tempos, a volta visível
de Cristo para reinar, o juízo final da humanidade e a revela-
ção dos “novos céus e a nova Terra”, entre outros importantes
acontecimentos futuros.

O Apocalipse é um livro literal que faz uso de símbolos bíblicos para


descrever acontecimentos, personagens e cenários.

Graças a isso, é comum que na sua leitura alguns persona-


gens sejam confundidos com o Senhor, ou que confunda símbo-
los bíblicos com símbolos culturais. Por isso, para termos uma

44
CONHECENDO O LIVRO DE APOCALIPSE

interpretação assertiva do livro, devemos começar aprendendo


algumas regras básicas.

REGRA #1: Devemos entender que o Apocalipse é um livro


sinótico (semelhante) ao de Daniel, ambos têm a mesma men-
sagem e um completa o outro. Por exemplo, enquanto um fala
do tempo dos gentios, o outro fala da plenitude dos gentios.

Não temos como compreender o livro de Apocalipse sem antes com-


preendermos o livro de Daniel e vice versa.

Mas, só ele é sinótico ao de Apocalipse? Não, por incrível


que pareça, o livro de Gênesis também é, especialmente seus
dez primeiros capítulos. Eles nos permitem entrar com mais
profundidade na realidade de Apocalipse, como por exemplo:

GÊNESIS APOCALIPSE

Deus cria o dia e a noite Deus acaba com a noite e dia.

O diabo tira o Homem do Éden O Homem volta para o Éden.

Satanás derrota o Homem no Éden. Satanás está completamente


derrotado, e vai para o lago de fogo.

REGRA #2: Para compreender em sua totalidade e profun-


didade desse livro (e os outros livros da Bíblia), é indispensá-
vel que conheça o significado bíblico dos números, de modo
que não erre nas suas interpretações e cálculos sobre o “final
dos tempos”. Por exemplo, lembra-se de quando o Senhor
Jesus entrou em Jerusalém montado em um jumentinho? E o
que Ele disse chorando após ter sido rejeitado? Parafraseando
suas palavras:
“Ah! se tu conhecesses também, ao menos neste teu dia, o que
à tua paz pertence!... Porque dias virão sobre ti... e te derrubarão

45
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

a ti e aos teus filhos... POIS, QUE NÃO CONHECESTE O TEMPO


DA TUA VISITAÇÃO” (Leia Lc 19:41-44).
Disse isso, porque exatamente naquele dia, 06 de abril de
32 d.C., estava se cumprindo a profecia de Daniel 9, acerca das
setenta semanas de Daniel. Ali estava o cumprimento de uma
profecia fantástica para Israel, mas nem todos eles reconhece-
ram o Messias. Se não compreendermos os números nas Escri-
turas, teremos uma imensa dificuldade de conhecer os tempos
e as profecias desse livro. Por isso, cuidado para não perder o
tempo profético em sua vida por falta de conhecimento. Mas,
quais são os números mais frequentes no livro de Apocalipse?
Bem, são os números quatro e o sete, embora o número seis
e o doze também apareçam muito. Para um melhor entendi-
mento a respeito desse tema, aconselhamos a leitura do livro
“Os números na Bíblia” de Christian Chen (2013).

REGRA #3: Preste atenção à palavra ESTRELA. Ela aparece


em Apocalipse com inúmeros significados, até com o significado
de astro mesmo! Dada a importância deste símbolo, primeiro
busque no Apocalipse, numa chave bíblica ou em um dicionário
bíblico, quantas vezes essa palavra aparece nesse livro. Leia uma
a uma e observe seu contexto, para assim ter condições de não
se confundir adiante com ela, achando que um anjo, um pastor
ou mesmo um astro seja o nosso Senhor.

REGRA #4: Para evitar confusões a respeito da pessoa de Jesus


e assim fazermos uma interpretação adequada dos textos, é real-
mente indispensável termos sempre como referência a apresen-
tação d’Ele no capítulo um. Por exemplo: Jesus aparece em Apo-
calipse dez, mas, o Espírito Santo se reporta ao capítulo um para
explicar o significado da pessoa de Jesus. Se não compreender em
sua totalidade esse primeiro capítulo de Apocalipse, você correrá o
sério risco de dar grandes tropeços no restante do livro, e confun-
dirá Jesus com um anjo, e outras coisas semelhantes.

46
CONHECENDO O LIVRO DE APOCALIPSE

O Apocalipse se trata especialmente da revelação de Jesus Cristo e do


seu Reino eterno, para isso ele faz uso de figuras representativas, e
como vimos no capítulo primeiro, isso é aceitável à interpretação literal.
Não confundamos isso com interpretação alegórica.

No livro de Apocalipse, João registrou aquilo que viu, porém,


muitas das coisas que ele viu ainda não existiam, pois se trata-
vam de acontecimentos futuros. Será que naquele tempo João
poderia, por exemplo, dizer que aquilo que estava vendo era
um carro? Claro que não, para representar o que estava vendo,
ele devia associar tal objeto a algo que já conhecia, nesse caso,
provavelmente uma carroça ou algo parecido. Por isso, conside-
ramos que a descrição de João é literal, que o que viu foi literal
e que ele usou a melhor linguagem que pôde para descrever o
que estava vendo, debaixo da orientação do Espírito Santo. Não
se esqueça disso, pois em todo o Apocalipse você se deparará
com figuras representativas, para se referir inclusive à pessoa
de Jesus.

Insistimos: toda vez que o Espírito Santo usar uma figura para falar
do Senhor, usará como base a referência do capítulo primeiro
de Apocalipse.

Se o leitor se deparar com um personagem que apresenta


características semelhantes às de Jesus, mas não tiver certeza
de que se trata d’Ele, antes de deduzir algo ou prosseguir no
seu estudo, deverá retornar ao capítulo um do Apocalipse para
comparar o personagem com essa primeira descrição de Cristo.

A VISÃO DO CRISTO GLORIFICADO

No verso treze de Apocalipse 1, temos: “e, no meio dos can-


deeiros, um semelhante a Filho de homem, com vestes talares e

47
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

cingido, à altura do peito, com uma cinta de ouro”. Aqui começa o


retrato que João faz do “Filho do homem”, pseudônimo usado
pelo Senhor antes de ser crucificado (Mc 9.31). Ao usar essa
expressão, o apóstolo estava fazendo referência à humanidade
de Jesus, indicando como Ele havia se esvaziado da sua glória,
para tornar-se como os homens, e se fazer servo (Fp 2.5-8).
Veja também que no mesmo trecho, João menciona que
Jesus estava com “vestes talares”, credencial necessária para
o ofício de Sumo sacerdote, enquanto um “cinto de ouro” lhe
cingia o peito, indicando Sua dignidade e capacidade para reinar
(Ex 28.15,28; Is 22.11).
Nos versos seguintes, o autor começa a retratar as caracte-
rísticas físicas de Jesus glorificado: “A sua cabeça e cabelos eram
brancos como alva lã, como neve; os olhos, como chama de fogo; os
pés, semelhantes ao bronze polido, como que refinado numa forna-
lha; a voz, como voz de muitas águas” (Ap 1.14-15). “Os cabelos
brancos”, representam sua sabedoria e experiência (Dn 7.9); os
olhos “como chamas de fogo”, apontam para a sua onisciência,
atributo que significa possuir todo o conhecimento, a capaci-
dade de saber tudo, desde passado até o presente e o futuro,
incluindo pensamentos e sentimentos (Hb 4.13). Isso deixa claro
que não há nada que seja oculto a Ele (Gn 3.5).
Da mesma maneira, descreve os pés de Cristo como de
bronze reluzente, refinado na fornalha. O bronze na Bíblia fala
de juízo e no versículo diz que ele está polido, ou seja, já passou
pelo fogo, já foi julgado. Assim mesmo, a força e resistência
deste metal representam a onipotência de Jesus: Ele possui todo
o poder para fazer qualquer coisa. Posteriormente, descreve a
voz d’Ele como “a voz como de muitas águas”, uma tipologia
bíblica da voz do próprio Onipotente (Ez 1.24; 43.2).

Em Apocalipse 1:16, temos: “Tinha na mão direita sete estre-


las, e da boca saía-lhe uma afiada espada de dois gumes. O seu rosto
brilhava como o sol na sua força”. João cita aqui que o Senhor

48
CONHECENDO O LIVRO DE APOCALIPSE

levava na mão direita “sete estrelas”, as quais representam os


anjos ou líderes espirituais das sete congregações (vs. 20)4, indi-
cando a sua soberania e governo sobre a Igreja.
O apóstolo relatou também que da boca d’Ele saía “uma
espada afiada de dois gumes”, que representa a Palavra de Deus:
a Verdade (Hb 4.12), e além disso, que seu rosto reluzia como o
sol em todo seu esplendor, simbolizando sua santidade e glória
manifestas (Ml 4.2; Mt 17.2; Sl 3.6).
Finalmente, nos dois versículos seguintes, é dito: “Quando
o vi, caí a seus pés como morto. Porém ele pôs sobre mim a mão
direita, dizendo: Não temas; eu sou o primeiro e o último e aquele
que vive; estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos sécu-
los e tenho as chaves da morte e do inferno” (Ap 1.17-18). Primei-
ramente, Jesus se apresenta ao apóstolo como “O primeiro e O
último”, identificando-se assim como o Deus Eterno e Imortal,
Jeová (Rm 11.33-36), o único ser com as mesmas características:
“Assim diz o SENHOR, o Rei dos reis, o SE-NHOR dos Exércitos: Eu
sou o primeiro, e eu sou o último, e fora de mim não há Deus”
(Is 44.6).
Ele disse a João que, embora como homem fora morto, res-
suscitou vencendo a própria morte! (1 Co 15.20-28 e 55). Agora
Ele tem as chaves da morte e do inferno. Isso fala do domínio
legítimo e total que Ele conquistou na cruz (Mt 28.18). Todas
essas credenciais validam o Senhor Jesus como vencedor e, por
isso, o único digno de abrir o livro e desatar os sete selos (Ap
5.2-5). Esse mesmo Cristo, em corpo Glorificado, fora visto por
Daniel sete séculos antes (Dn 10.5-9), porém, já que Jesus ainda
era um mistério para a humanidade (Cl 1.26-27), o profeta não
soube dizer quem era o varão vestido de linho que tinha diante
de si:
Levantei os olhos e olhei, e eis um homem vestido de linho, cujos
ombros estavam cingidos de ouro puro de Ufaz; o seu corpo era

4 Conferir: (Sl 73:23; 80:14-15; 1Pe 3:22.

49
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

como o berilo, o seu rosto, como um relâmpago, os seus olhos,


como tochas de fogo, os seus braços e os seus pés brilhavam como
bronze polido; e a voz das suas palavras era como o estrondo
de muita gente. Só eu, Daniel, tive aquela visão; os homens
que estavam comigo nada viram; não obstante, caiu sobre eles
grande temor, e fugiram e se esconderam. Fiquei, pois, eu só e
contemplei esta grande visão, e não restou força em mim; o meu
rosto mudou de cor e se desfigurou, e não retive força alguma.
Contudo, ouvi a voz das suas palavras; e, ouvindo-a, caí sem
sentidos, rosto em terra (Dn 10.5-9).

Veja que a descrição de Cristo feita pelo profeta Daniel


é extremamente similar à descrição do apóstolo João. E o
mesmo aconteceu a ambos: temeram a apavorante e formi-
dável manifestação de Deus e, desfalecendo, tanto Daniel
quanto João caíram ao chão. Mas, será que alguém consegui-
ria ficar em pé diante de um ser tão magnífico e extraordiná-
rio? Certamente não!
Essas características do Cristo glorificado não deveriam
apenas nos fazer temer ao Senhor todo-poderoso, mas nos
levar a amá-lo ainda mais, porque mesmo sendo tão gran-
dioso e sublime, se fez humano como nós, entregando por
amor a sua própria vida, para dar-nos a chance de viver eter-
namente ao seu lado. Esse é o Deus ao qual servimos! Como
podemos ler no Manual de Halley5:
“Neste mundo, no qual os impérios ascendem e caem e todas as
coisas morrem e desaparecem, Deus nos faz lembrar de que Ele é
imutável, atemporal e Eterno. Ele nos promete que sua natureza nos
pode ser transmitida e que nós, como Ele, mediante a sua Graça,
sem sermos lesados pela morte, poderemos viver para sempre”

5 HALLEY, H. H. Manual Bíblico de Halley. Edição Revista e Ampliada. São Paulo: Editora Vida,
2001, p. 724.

50
CONHECENDO O LIVRO DE APOCALIPSE

BRILHEMOS COMO LUZEIROS NO MUNDO

Para concluir este capítulo, gostaria de retomar e desenvol-


ver melhor o que João fala no verso treze, ao dizer que Jesus
tinha na mão direita “sete estrelas”. Possivelmente, em algum
momento da sua vida, durante a leitura de Apocalipse, você
pode ter se perguntado: “Quem são esses ‘anjos’ da igreja”?
Primeiramente, um aspecto importante a ser observado é
que a expressão “anjo” utilizada no capítulo um não se refere
aos seres angelicais (seres estritamente espirituais), mas
se trata do pastor da igreja. A palavra “anjo” utilizada aqui
pelo apóstolo traz o seu sentido mais etimológico, e significa
“enviado” ou “mensageiro” de Deus, isto é, o ministro de cada
igreja local.
Os pastores são comparados às estrelas, porque as estre-
las dissipam as trevas. A palavra diz que nós somos a luz do
mundo (Mt 5.14) e, assim como estrelas em meio à noite, pre-
cisamos brilhar em meio à escuridão para que os perdidos
possam ver em nós a luz do caráter de Cristo. Ele mesmo nos
deu essa ordem:

“resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas
boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus” (Mt 5.16).

O apóstolo Paulo ressalta essa verdade ao dizer: “que vos tor-


neis irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis no meio
de uma geração pervertida e corrupta, na qual resplandeceis como
luzeiros no mundo” (Fp 2.15).
Que essa luz que há no nosso interior nunca se apague, pois,
fomos criados para brilharmos em Cristo e resplandecer seu
caráter entre as nações. Aquele que segue a Cristo não pode
andar em trevas; da mesma forma, aqueles que nos têm como
exemplo a ser seguido e caminham conosco, também precisam
ser e viver nessa luz.

51
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

Repito, somos os pequenos luzeiros de Cristo e a luz res-


plandece nas trevas, dissipando-as. Brilhemos até o dia perfeito
do Senhor, até chegarmos ao seu santuário, ali, a própria Luz
eterna, que é Cristo, será o único e suficiente brilho (Ap 21.23).

52
— capítulo 3 —

AS CARTAS
E AS SETE IGREJAS

“O Apocalipse fala da derrota de Satanás mais do que


qualquer outro livro da bíblia e, por isso, é alvo de ferozes
ataques do adversário, que tenta desacreditá-lo ou
rotulá-lo como incompreensível”.

André Coelho
AS CARTAS E AS SETE IGREJAS

Tal como vimos antes, os capítulos dois e três do Apocalipse


registram sete cartas, dirigidas respectivamente às sete igrejas
que de fato existiam na época em que João recebeu a Revelação,
isso por volta do ano 95 da era cristã. Essas igrejas também são
conhecidas como: “as sete congregações da Revelação” ou “as
sete congregações da Ásia menor”.
Contudo, ainda que o papel inicial dessas mensagens fosse
o de se comunicar com as igrejas da Ásia e satisfazer as suas
necessidades naquele momento histórico, é possível, também,
ver que o texto descreve sete tipos diferentes de indivíduos e
de congregações que estariam presentes ao longo da história
da Igreja. A esses, Jesus também pretendia corrigir e instruir
na Verdade. Com isso, podemos afirmar que essa mensagem
continua tendo um importante significado espiritual para as
igrejas e os cristãos de hoje, pois, como diz o apóstolo Paulo:
“Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a
repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de
que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para
toda boa obra” (2 Tm 3.16-17).

TRÊS PERSPECTIVAS ACERCA DAS SETE IGREJAS


DO APOCALIPSE

As cartas podem ser vistas como mensagens direcionadas, ora para


uma comunidade específica, ora para um tempo vivenciado pela igreja
em geral.

Em Apocalipse 2 e 3, podemos notar um padrão estabelecido


para a igreja, constituído de orientações, exortações e elogios,
assim como as recompensas para aqueles que forem fiéis e per-
severarem até o fim. Portanto, as sete cartas têm uma amplitude
bem maior do que aquela que o leitor despercebido possa ver,
possuindo três perspectivas a serem verificadas:

55
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

1) PERSPECTIVA PRÁTICA: Essa mensagem tinha um sen-


tido literal e imediato para as igrejas da Ásia, uma vez que as
cartas foram escritas primeiramente para elas. Observadas nesse
prisma, as cartas devem ser analisadas tendo em conta o con-
texto histórico daquela época, com as peculiaridades históri-
co-culturais de cada uma dessas congregações e até mesmo a
geografia dos lugares onde se encontravam.

2) PERSPECTIVA PERPÉTUA: A mesma mensagem também


é um instrumento para todas as igrejas em todos os tempos,
levando em consideração que o número sete significa “tota-
lidade” e “completude”. Outro ponto a ser observado é que,
naquela época, essas sete igrejas experimentaram realidades
espirituais que, com o passar dos anos, terminaram compondo o
quadro de todas as igrejas num determinado momento histórico.

3) PERSPECTIVA PROFÉTICA: Importantes estudiosos de


escatologia afirmam que essas sete igrejas representam as fases
ou etapas que a Igreja viveria ao longo de sua história, desde os
apóstolos até os nossos dias. Vejamos uma breve apresentação
de cada uma delas, vistas por esse prisma.

SETE IGREJAS
Um retrato profético da igreja ao longo da história

Éfeso: Representa o Século I, tempo do surgimento da


igreja primitiva. O nome Éfeso significa “preferida” ou “desejo
ardente”. Embora esses irmãos começaram sendo muito fervo-
rosos e zelosos da fé, conforme as escrituras (At 2.42-47), com
o tempo foram se acostumando com as práticas cristãs, aban-
donando gradativamente o primeiro amor por Jesus: “Conheço
as tuas obras, tanto o teu labor como a tua perseverança, e que
não podes suportar homens maus, e que puseste à prova os que a si
mesmos se declaram apóstolos e não são, e os achaste mentirosos;

56
AS CARTAS E AS SETE IGREJAS

e tens perseverança, e suportaste provas por causa do meu nome, e


não te deixaste esmorecer. Tenho, porém, contra ti que abandonaste
o teu primeiro amor” (Ap. 2.2-4).

Esmirna: Abrange do século I ao IV. Esmirna é uma especiaria


que “quanto mais é esmagada, mais perfuma”. Isso simboliza que,
quanto mais estamos dispostos a sofrer pela causa de Cristo, mais
nos parecemos com Ele e exalamos o seu bom perfume.
Essa fase da Igreja teve início no ano 70 d.C., com a des-
truição de Jerusalém e foi caracterizada pelo sofrimento e as
constantes perseguições dos romanos contra judeus e cristãos.
Na época houve dois bispos muito conhecidos que, assim como
muitos irmãos, morreram terrivelmente martirizados, a saber,
Policarpo (discípulo de João) e Antipas. Na carta, Jesus exorta
os cristãos a perseverarem até o fim, mesmo em face das mais
terríveis perseguições: “Não temas as coisas que tens de sofrer.
Eis que o diabo está para lançar em prisão alguns dentre vós, para
serdes postos à prova, e tereis tribulação de dez dias. Sê fiel até à
morte, e dar-te-ei a coroa da vida” (Ap 2.10). A expressão “dez
dias” representou dez imperadores romanos que perseguiram
a noiva de Cristo até a morte naquele tempo.
Neste ponto, vale aclarar que a chance desses irmãos serem
vencedores diante das aflições estava diretamente ligada ao que
Jesus fez por eles na cruz. Embora os irmãos daquela época
fossem muito perseverantes, a sua capacidade de enfrentarem
todas essas adversidades estava em Deus, e não neles. Era o
Senhor, com o seu amor e graça através do Espírito Santo, quem
os capacitava a permanecerem fieis na aflição.

Apenas com o auxílio de Jesus Cristo perseveraremos na “carreira


cristã” até recebermos d’Ele a “coroa da vida”.

Paulo exemplifica isso de forma maravilhosa:


“Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a

57
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou


a espada? Como está escrito: Por amor de ti somos entregues à
morte todo o dia, somos reputados como ovelhas para o mata-
douro. Mas em todas estas coisas somos mais do que vencedores,
por aquele que nos amou” (Rm 8.35-37).

Pérgamo: Representa a Igreja do IV ao VIII século. A própria


palavra Pérgamo quer dizer “mau casamento”, e isso reflete exa-
tamente o momento que a Igreja vivia naquela época. Naqueles
séculos, houve períodos de aparente paz para os cristãos, já que
o imperador romano, Constantino, dizia ter se convertido ao
cristianismo, depois de, segundo ele, o Deus cristão lhe conce-
der a vitória numa batalha que lhe proporcionou, finalmente, o
domínio total sobre o império. Com isso, o imperador ordenou
o cessar das perseguições aos cristãos, o que se deu através de
seu “Édito de Milão”, documento que possibilitou a tolerância
ao cristianismo em todo o império.
Nesse ponto, inicia-se o processo de decadência da Igreja,
já que, para manter o favor do imperador, ela teve que fazer
grandes concessões de seus valores morais e espirituais. Por
isso, Jesus disse a essa igreja: “Tenho, todavia, contra ti algumas
coisas, pois que tens aí os que sustentam a doutrina de Balaão,
o qual ensinava a Balaque a armar ciladas diante dos filhos de
Israel para comerem coisas sacrificadas aos ídolos e praticarem a
prostituição. Outrossim, também tu tens os que da mesma forma
sustentam a doutrina dos nicolaítas” (Ap 2.14-15).
Finalmente, essa tolerância com o cristianismo deu o passo
para que, no governo do imperador Teodósio, a nova fé (que
outrora fora a dos mais humildes) fosse vestida de esplendor,
pois se tornara a religião oficial do império. Isso se aconteceu
em 380 d.C., com o “Édito de Tessalônica”.

Desse “casamento” com o estado, nasceu a poderosa Igreja Católica


Apostólica Romana6.

58
AS CARTAS E AS SETE IGREJAS

Tiatira: Representa o século IX até XV. A palavra Tiatira sig-


nifica “Incenso”. Jesus menciona no texto que a igreja estava
tolerando a Jezabel (Ap 2.20), a malvada rainha de Israel que
matava os profetas de Deus no antigo testamento (1 Rs 18:4).
Além disso, ela costumava seduzir os servos do Senhor para
praticar a prostituição e a idolatria. Nessa linha de raciocínio,
a igreja de Tiatira corresponde ao período da Idade Média.

Sardes: Esse nome significa “tirado para fora” e foi exata-


mente isso que a igreja dos séculos XV ao XVII experimentou.
Esse período é marcado pela Reforma Protestante. Antes disso, a
igreja estava praticamente morta por causa de heresias como as
“santas indulgências”. A igreja de Sardes conservava um nome
(reputação) de estar viva, mas estava morta. Alguns comentaris-
tas bíblicos dizem que na cidade havia uma acomodação judaica
e cristã ao ambiente pagão, um sincretismo com a cultura local.
E essa “mistura” levou a igreja às portas da morte espiritual.
No período da pré Reforma Protestante a situação da igreja era
similar à Sardes e, para reavivá-la, Deus despertou e levantou
homens que levassem a igreja de volta às suas origens na Palavra.
Alguns personagens como Pedro Valdo, John Wycliffe, John
Huss, Jerônimo Savonarola e Martinho Lutero foram importan-
tíssimos para que se mantivesse vivo o pouco que restava da
Igreja de Jesus Cristo naquela época. Orlando Boyer narra que
John Huss, antes de ser queimado vivo por denunciar erros da
igreja romana, exclamou:

“Podem matar o ganso (na sua língua, ‘huss’ é ganso), mas


daqui a cem anos, Deus suscitará um cisne que não poderão
queimar". Enquanto caía a neve, e o vento frio uivava como
fera em redor da casa, nasceu esse “cisne", em Eisleben,

6 Com a queda do império romano do ocidente no quinto século, o bispo de Roma (depois conhe-
cido como “papa”) foi ganhando proeminência, pois ocupou, gradativamente, o “vácuo de poder”
deixado pelos imperadores romanos.

59
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

Alemanha. No dia seguinte, o recém-nascido era batizado na


Igreja de São Pedro e São Paulo. Sendo o dia de São Marti-
nho, recebeu o nome de Martinho Lutero. Cento e dois anos
depois de João Huss expirar na fogueira, o "cisne" afixou, na
porta da Igreja em Wittenberg, as suas noventa e cinco teses
contra as indulgências, ato que gerou a Grande Reforma7.

Um ponto a se considerar na vida de Lutero foi a sua intensa


entrega a Cristo, a ponto de tornar esse monge agostiniano uma
ameaça para muitos daqueles que se diziam cristãos, mas que na
prática manchavam o nome de Jesus. É maravilhoso demais pen-
sar que todo um império religioso-institucional, como a igreja
Romana, não conseguiu calar um homem cheio do Espírito Santo.
Os perseguidores de Lutero tentaram matá-lo e apagar a sua memó-
ria da Terra, mas a voz desse “Cisne” não pôde ser abafada.
Esse fato é belamente expresso na letra do hino “Castelo Forte”,
uma verdade proclamada por Lutero que ainda cantamos em nos-
sos dias: “[...] De Deus o verbo ficará, sabemos com certeza, e nada
nos assustará com Cristo por defesa! Se temos de perder família, bens,
prazer! Se tudo se acabar e a morte enfim chegar, com ele reinaremos!” 8

Filadélfia: Séculos XVIII e XIX. A palavra Filadélfia significa


“amor fraternal”. Esse foi um dos períodos de ouro da igreja, mar-
cado por evangelização e missões em muitos países do mundo
e grandes avivamentos, cujos frutos perduram até hoje. Por esse
motivo o Senhor disse a respeito dessa igreja: “Conheço as tuas
obras, eis que tenho posto diante de ti uma porta aberta, a qual nin-
guém pode fechar, tendo pouca força, entretanto, guardaste a minha
palavra e não negaste o meu nome” (Ap 3.8). Desse período, desta-
cam-se homens como John Wesley, Adoniran Judson, David Brai-
nerd entre outros.

7 BOYER, Orlando. Heróis da Fé. Rio de Janeiro: CPAD, 1985.


8 Trecho de “Castelo Forte”, letra de Martinho Lutero. Hino nº 155 do Hinário Novo Cântico.

60
AS CARTAS E AS SETE IGREJAS

Laodicéia: Séculos XX e XXI A palavra “Laodicéia” significa


“governo do povo” e representa talvez o momento mais crítico
na história da Igreja, o Senhor ressalta então sua autossuficiên-
cia e orgulho: “dizes: Estou rico e abastado e não preciso de coisa
alguma” (Ap 3.17).

Esta é “a era inconclusa” e representa o preocupante estado atual da


igreja, pois muitos dos que se dizem cristãos estão sendo guiados pelos
seus próprios desejos terrenos e não pelo Espírito de Deus.

Esses falsos cristãos (que costumam arrastar consigo a mui-


tos imaturos na fé) caminham de acordo com a “teologia da
prosperidade”, segundo a qual, a bênção de Deus na vida de
uma pessoa é visível apenas pelos bens e riquezas terrenas que
ela conquista. Um completo engano, pois se choca justamente
com o ensino de Cristo que diz:
“Não acumuleis para vós outros tesouros sobre a terra, onde a
traça e a ferrugem corroem e onde ladrões escavam e roubam; mas
ajuntai para vós outros tesouros no céu, onde traça nem ferrugem
corrói, e onde ladrões não escavam, nem roubam; porque, onde
está o teu tesouro, aí estará também o teu coração” (Mt 6.19-21).
Embora haja mais para se falar a respeito das sete fases que
a Igreja tem atravessado ao longo da história, optamos por uma
abordagem sucinta neste material, visando propiciar aos leitores
um conhecimento geral para uma reflexão pessoal.

O NASCIMENTO DA IGREJA E O TEMPO DOS GENTIOS


Presente século

“E cantavam um novo cântico, dizendo: Digno és de tomar o livro,


e de abrir os seus selos porque foste morto, e com o teu sangue nos
compraste para Deus de toda a tribo, e língua, e povo, e nação; E
para o nosso Deus nos fizeste reis e sacerdotes; e reinaremos sobre
a terra” (Ap 5.9-10).

61
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

Como cristãos, sabemos que Deus provou o seu Amor para


conosco, enviando seu único filho para morrer em nosso lugar,
assumindo assim a condição de Cordeiro Pascal. Mas, depois de
ressuscitar e vencer a morte: “Aquele que foi manifestado na carne
foi justificado em espírito, contemplado por anjos, pregado entre
os gentios, crido no mundo, recebido na glória” (I Tm. 3.16). Dessa
forma, o grande mistério da piedade foi revelado ao mundo
inteiro.

Foi graças a esse único e tremendo sacrifício que desde então, pessoas
de TODA tribo, língua, povo e nação, têm tido a chance de serem recon-
ciliadas com Deus, se crerem em Cristo Jesus e se arrependerem dos
seus pecados (I Jo. 1:9).

A Bíblia denomina esse período como DISPENSAÇÃO DA


GRAÇA e nela TODOS os homens têm acesso a Deus e a seus
benefícios, por meio da fé em Jesus. Portanto, podemos dizer
que o presente século é o tempo que Deus separou para salvar
também aos gentios e fazê-los Seu povo (Ef 3.1-6).
Para isso, após a ressurreição, desencadeou-se um novo
processo: a formação dessa igreja e o magnífico derramar do
Espírito Santo à igreja em Pentecostes, é a confirmação mais
especial disso (Atos 2). O que até aquele momento havia sido
um mistério oculto no coração de Deus, agora era revelado à
humanidade (Cl 1.26).
Por um erro de interpretação das profecias, além de um cora-
ção duro e orgulhoso, a maioria dos judeus rejeitaram a salvação
divina oferecida por intermédio de Jesus Cristo, desprezando
assim o redentor, que outrora Deus lhes havia prometido atra-
vés dos profetas. Mas eles não imaginavam que A Pedra que os
edificadores reprovaram, essa era a principal pedra de esquina,
tornando-se assim pedra de tropeço e rocha de escândalo para
eles (1 Pe 2.7-8, Jo 1.11, At 7.51-53, 1 Ts 2.13-16).

62
AS CARTAS E AS SETE IGREJAS

Em outras palavras, já que aos seus olhos naturais Jesus


não parecia ter nenhuma das credenciais que eles achavam
necessárias a um Messias, os judeus o desprezaram, perdendo
assim a condição de reinar com Ele. Ainda assim, como disse
o apóstolo Paulo:
“(...) Acaso tropeçaram (os judeus) para que ficassem caídos?
De maneira nenhuma! Ao contrário, por causa da transgres-
são deles, veio salvação para os gentios, para provocar ciúme
em Israel. Mas se a transgressão deles significa riqueza para o
mundo, e o seu fracasso, riqueza para os gentios, quanto mais
significará a sua plenitude!” (Rm 11:11-12).

Por causa da transgressão dos judeus, dali em diante os gen-


tios (aqueles que não descendem dos judeus) alcançaram mise-
ricórdia por meio da fé e do arrependimento, obtendo assim
o direito de salvação. Com isso, os cristãos gentios herdaram
todos os direitos estabelecidos por Deus para os judeus e agora
são participantes do reino d’Ele: “Portanto, vos digo que o reino
de Deus vos será tirado e será entregue a um povo que lhe produza
os respectivos frutos” (Mt. 21.43).
De acordo com 1 Pedro 2.9-10, TODOS os que creem em Jesus
como Senhor mas que antes não eram parte do povo de Deus,
agora são seu povo. A Igreja de Cristo é uma geração santa, uma
raça separada e eleita PARA cumprir seu propósito: anunciar as
virtudes daquele que os chamou das trevas para a sua maravi-
lhosa luz.

É assim que o Senhor nos vê e quer hoje: pessoas de TODOS os povos,


tribos, línguas e nações que caminham juntas em obediência e amor,
como um exército que marcha rumo à Terra prometida: a nova Jeru-
salém, nosso destino celestial.

A decisão de tornar-se povo, viver em unidade e em confor-


midade com a Palavra, faz dos verdadeiros cristãos um rebanho

63
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

de ovelhas separadas e escolhidas por Ele, n’Ele e para Ele, sem


importar sua procedência geográfica. Na antiguidade, os servos
e escravos (assim como seus filhos) eram de propriedade parti-
cular do senhor que os comprava, de modo que eles não tinham
domínio ou autonomia sobre si mesmos e seus destinos.

Se realmente consideramos que fomos comprados pelo sangue do


Senhor, e que agora somos Seu Povo, geração eleita e propriedade
exclusiva d’Ele, devemos então seguir o parâmetro do que é ser servo:
a entrega total ao seu dono.

Esse foi o caminho que o nosso próprio Senhor trilhou, um


caminho estreito onde não há mais escolhas nem argumentos,
apenas cruz, renúncia e obediência à Palavra por amor a Deus.
Que possamos prosseguir rumo à eternidade, motivados pelo
maravilhoso exemplo do maior servo de todos: o Senhor Jesus,
certos de que haverá recompensa para nós no céu. “portanto, meus
amados irmãos, sede firmes e constantes, sempre abundantes na
obra do Senhor, sabendo que o vosso trabalho não é vão no Senhor”
(1 Co 15.58).

RECOMPENSAS DESCRITAS NAS CARTAS

• Alimentar-se da árvore da vida (2:7).


• Coroa da vida (2:10).
• Não sofrer a segunda morte (2.11). Refere-se à salvação da
morte eterna causada pelo pecado.
• Maná escondido (2.17) .
• Identidade Espiritual (2:17). Este é um símbolo para os que
passaram pela prova de lealdade e tiveram determinação
para governar sobre o pecado. Este nome reflete as batalhas
nas quais estivemos e o sofrimento pelos quais passamos,
mostra em quem nos tornamos por causa de nossa fidelidade
e graça de Deus. (1 Pe. 1.4).

64
AS CARTAS E AS SETE IGREJAS

• Autoridade sobre as nações (2.26). O mundo está cheio de


injustiça e os vencedores reinarão sobre a Terra com Jesus
por mil anos (Ap. 20.6). Serão os nossos atos de justiça, fruto
da nossa vida com Deus, que nos colocarão nesse lugar de
autoridade.
• Vestimentas brancas (3.4). Estas vestes testemunharão para
a eternidade o grau de pureza daqueles que venceram. Pela
nossa obediência e a fidelidade, teremos o direito de andar
com Jesus, ataviados de linho finíssimo (Ap. 19.8).
• Registrados no livro da vida (3.5). É a promessa de que nossos
nomes jamais serão apagados desse livro (Ap. 3.5), pois estar
registrados n’Ele é o que realmente importa (Lc. 10.20).
• Jesus nos confessará diante de todos (3.5). A Palavra de Deus é
clara ao afirmar que aqueles que não o negarem, mesmo à vista
da morte, Ele também os reconhecerá diante do Pai (Mt 10.32).
• Coluna no tempo (3.12). As colunas existem para suportar o
peso das construções. Deus quer que suportemos as pressões
e no final, permaneçamos em pé.
• Dar-lhe-ei que se assente comigo em meu trono (3.21).

Observe que as recompensas são gradativas e assentar-se no


trono é a maior de todas. Afinal, aqueles que buscam ao Senhor
sabem que não há melhor lugar para estar, do que na presença
de nosso Salvador e Senhor “Pois um dia nos teus átrios vale mais
que mil; prefiro estar à porta da casa do meu Deus, a permanecer
nas tendas da perversidade” (Sl. 84.10).

Embora a oportunidade de sermos reis e governar com Cristo é conce-


dida a todos quanto são salvos pela fé, alcançar esse lugar de reinado
e as outras recompensas (incluindo a nossa herança no céu) é algo que
depende exclusivamente de cada um.

Infelizmente, poucos sabem disso, ou pior, pensam que por


ter aceitado Jesus diante de toda a igreja, imediatamente têm

65
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

direito aos galardões que há no céu e não devem fazer mais nada
pela sua vida cristã. Como veremos a seguir, isso está longe da
verdade, é um verdadeiro sofisma!

DIFERENÇA ENTRE SALVAÇÃO, GALARDÃO E HERANÇA

Hoje, muito pouco se fala sobre os temas fundamentais que


sustentam a nossa fé. Muitos líderes cristãos estão mais inte-
ressados em impressionar suas “plateias” do que em converter
o coração dos pecadores e fazer com que seus liderados se tor-
nem maduros espiritualmente. Para evitarmos essas confusões,
definamos alguns conceitos básicos:
Salvação: Conceitualmente, a salvação é um “dom inteiro
de fé”. Observe que usamos o termo “dom”, ou seja, algo que é
dado. A Salvação por meio da fé é a maior chance de vida eterna
dada aos homens, é uma dádiva de Deus (Ef 2.8). E se é uma
dádiva, logo, não vem de nós, pois o apóstolo Tiago diz na sua
carta que “toda boa dádiva e todo dom perfeito vem do alto”
(Tg 1.17).

Da mesma forma que não há nada que possamos fazer para sermos mais
amados pelo Pai, não há nada que possamos fazer (obras) para sermos
salvos, a não ser crer em Cristo Jesus e no preço que pagou com seu
sangue por nós naquela cruz.

Como está escrito: “(...) Bem-aventurados aqueles que lavam


as suas vestiduras no sangue do Cordeiro, para que lhes assista
o direito à árvore da vida, e entrem na cidade pelas portas” (Ap
22.14).

Galardão: Por definição, trata-se de um “dom inteiro de


obras”. Observe que aqui usamos o mesmo termo “dom”,
porém, o restante da definição a distingue do tema anterior.
Trocamos “fé” por “obra”, pois, biblicamente, nisso reside a

66
AS CARTAS E AS SETE IGREJAS

diferença entre ambos os conceitos. O Senhor Jesus Cristo disse:


“eis que venho sem demora, e comigo está o galardão que tenho para
retribuir a cada um, segundo as suas obras” (Ap 22.12). Entre
esses galardões encontramos as coroas.
Na Bíblia, temos quatro tipos, a saber, a coroa de glória que
é específica para Pastores (1 Pe 5.4); a coroa da vida, reservada
para aqueles que foram provados e mesmo assim não negaram
a Jesus (Ap 2.10 e Tg 1.12); a coroa imarcescível, incorruptível,
destinada àqueles que enquanto lutaram, se abstiveram dos
negócios deste mundo (1 Co 9.25) e finalmente, temos a coroa
da justiça, prometida aos que amarem a vinda de Jesus (2 Tm.
4.6-8).

Embora sejamos salvos pela graça por meio da fé, e não pelas obras para
que nenhum de nós possa se gloriar de nada (Ef 2.8-10), fomos criados
em Cristo Jesus para as boas obras que Deus preparou com antecipação
para que andássemos nelas (Ef 2.10).

Como vemos, a iniciativa de fazer o bem parte de Deus. Logo,


podemos afirmar que a inspiração para as boas obras é um dom,
e uma vez consumadas, a glória resultante dessas obras deve
voltar para Deus, imputando a nós uma recompensa eterna.
Quando você pratica uma boa ação está sendo dirigido pelo
Espírito Santo, isso é computado no céu como justiça a seu
favor: “Se permanecer a obra de alguém que sobre o fundamento
edificou, esse receberá galardão” (I Co. 3.14).
A palavra fala que as vestes da noiva de Cristo, sua Igreja,
são os atos de justiça dela (Ap 19.8), os quais não são nada
mais do que atos de bondade, essa palavra significa ser como
Deus. A palavra Justiça representa a vontade perfeita de Deus
nos céus, cumprida através dos seus filhos na Terra, afinal, para
isso fomos criados. Infelizmente, a igreja de nossos dias está tão
preocupada consigo mesma, que parece não estar escutando o
que Deus realmente quer dela.

67
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

Como igreja, deveríamos nos preocupar mais com os pobres e aflitos,


e suas necessidades físicas e espirituais, do que em estar procurando
melhores formas de proporcionar entretenimento e conforto aos mais
afortunados.

Um grande equívoco que provoca perdas irreparáveis é pen-


sarmos que no céu haverá uma espécie de socialismo, onde tudo
é igual para todos. Mas, biblicamente, quando se fala sobre
justiça e igualdade, a Palavra não está se referindo à condição
dos cristãos no céu, e sim, ao teor e o padrão do julgamento ao
qual todos nós iremos comparecer.
Neste ponto, gostaria de ressaltar um aspecto importante
sobre a eternidade: Uma pessoa pode ser salva e morar no céu, e
ainda assim não receber nenhum tipo de galardão. Paulo explica
isso notoriamente ao dizer: “se a obra de alguém se queimar sofrerá
detrimento; mas o tal será salvo, todavia como pelo fogo” (1 Co 3.15).
Antes disso, o apóstolo estava explanando que, embora cada
um decidisse com que material edificar a sua obra, se com ouro,
prata, pedras preciosas, madeira, feno ou palha (vs. 12), no final,
a qualidade da obra de cada um será testada com fogo (vs. 13),
mas unicamente as que permanecerem darão o direito ao seu
construtor de receber galardão (vs. 14). Vejamos com atenção o
verso 12: “E, se alguém sobre este fundamento formar um edifício
de ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha” (1 Co 3.12).
Pense comigo, o feno faz muito volume, mas, tem pouco
valor, e ao ser provado pelo fogo se perde por inteiro. Entre-
tanto, o ouro, mesmo fazendo pouco volume, tem um grande
valor monetário, e ao ser exposto ao fogo, sua perda é quase
imperceptível. De acordo com isso, também seremos julgados
por nossas intenções.

O crivo em si não é apenas a quantidade de obras, mas o quanto realiza-


mos da vontade perfeita de Deus, a qual foi previamente estabelecida
para cada um de nós.

68
AS CARTAS E AS SETE IGREJAS

Portanto, meus amados irmãos, sede firmes e constantes,


sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que o vosso
trabalho não é vão no Senhor (1 Co 15.58).

Herança: Embora esse seja um dos conceitos mais profundos


do cristianismo, e um dos menos discutidos em nossos dias.
No livro “Os Quatro níveis de obediência” 9, fala-se que a nossa
herança nos céus tem três componentes, uma pessoa: Jesus; um
lugar: o Santo dos Santos; e uma descendência. Quem alcançar
a sua herança irá reinar com Jesus no céu, e mais do que uma
coroa, terá um trono (pp. 41-45).

Diferente da salvação que é pela graça, e do galardão que é pela ava-


liação das nossas obras, a herança está ligada diretamente ao relacio-
namento com Deus.

Nesse item, o que será julgado é o quanto alguém desejou


se relacionar com O Pai, mais do que com o dono da obra, ou
com a própria obra. Desde o início, Deus sempre priorizou o
relacionamento, pelo que no final não seria diferente. Irmãos,
“a salvação é de graça, mas a intimidade tem preço”.
O Senhor disse a Daniel: “Tu, porém, vai até ao fim; porque
descansarás, e te levantarás na tua herança, no fim dos dias”
(Dn 12.13). Embora esse tenha sido um discurso dirigido dire-
tamente ao profeta, ele contém um princípio de trabalho, des-
canso e recompensa, aplicável a nós ainda nos dias atuais. O
exemplo de vida de Daniel nos ensina que se seguirmos até o
fim o caminho proposto pelo Senhor (sem murmurações, rebel-
dias ou reclamações) ao morrermos, descansaremos do nosso
penoso trabalho, e no fim dos tempos, nos levantaremos para
receber a herança que Deus tem reservada para nós.

9 RODRIGUES, J. Os Quatro Níveis de Obediência. Trindade: MCM Publicações, 2012. (pp. 41-45).
Disponível em: www.mcmloja.com

69
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

Esse processo é confirmado por Apocalipse 21.7, quando


diz: “Quem vencer, herdará todas as coisas; e eu serei seu Deus, e
ele será meu filho”. Isso quer dizer que aqueles que persevera-
rem até o fim, firmes nas palavras de Jesus, irão ganhar todas
as coisas que Ele prometeu, entre elas: assentar-se ao Seu lado,
no Trono, herdar o Reino, beber da fonte da água vida e claro,
ser um filho de Deus.
Entendemos que os dias atuais são maus, que provações
e tribulações virão para provar o material com o qual temos
edificado a nossa vida cristã. Mas, permaneçamos firmes no
propósito de Deus para nossas vidas e caminhemos com cora-
gem de fé em fé, de modo que possamos receber, no final, nossa
maravilhosa herança: JESUS.
O grande julgamento de Deus certamente virá, mas, se o
caminho é tão estreito para aqueles que perseveram até o fim,
qual será o fim daqueles que têm andado pelo caminho largo,
desobedecendo à Palavra, às vezes, até mesmo conhecendo-a?

“Se com dificuldade que o justo é salvo, onde vai comparecer o ímpio,
o pecador?” (1 Pe 4.18).

De fato, de acordo com 2 Tessalonicenses 2.6, enquanto esti-


ver no mundo, a Igreja inibe a ira de Deus sobre ela e a mani-
festação completa do Anticristo. Adiante estudaremos melhor
esse aspecto. Mas, depois que a Igreja é arrebatada, inicia-se um
forte tratamento de choque para a humanidade, denominada
na Bíblia de a “Grande Tribulação”. No final dela, os demônios
serão destruídos e a terra será tomada para o estabelecimento
do Reino milenar.
Tal como veremos nos capítulos seguintes, enquanto haverá
grande alegria e gozo no céu para aqueles que venceram e foram
arrebatados, para os que ficarem na terra serão dias terríveis.
A respeito desse tempo, o próprio Jesus disse: “naqueles dias
haverá uma tribulação tal qual nunca houve, desde o princípio

70
AS CARTAS E AS SETE IGREJAS

da criação, que Deus criou, até agora, nem jamais haverá” (Mc
13.19). Acredito que serão tempos de muita dor e sofrimento,
mas também de muita reflexão, pois muitos desejarão ter bus-
cado mais ao Senhor.
Irmãos, precisamos acordar, não há mais tempo para descul-
pas, falta de perdão, negligências, erros e pecados não resolvi-
dos. Ou entendemos isso agora e nos acertamos com o Senhor,
ou infelizmente estaremos diante d’Ele para ouvirmos nossa
sentença à condenação eterna. Se você sente que está nessa
condição, volte para o Senhor, ainda há tempo! Hoje você pode
se arrepender e renovar a sua aliança com o SENHOR.

71
— capítulo 4 —

RETRATO PROFÉTICO

“Assim também Cristo, tendo-se oferecido uma vez para


sempre para tirar os pecados de muitos, aparecerá segunda
vez, sem pecado, aos que o aguardam para a salvação”.

Hebreus 9.28
RETRATO PROFÉTICO

A DISTINÇÃO ENTRE AS DUAS VINDAS

Ao lermos o livro do Apocalipse desatentamente, pode pare-


cer que quando se fala em arrebatamento, se está falando ao
mesmo tempo da segunda vinda de Cristo. Mas de acordo com
as Escrituras, isso não é verdade. É importante entendermos
que a segunda vinda de Cristo tem dois momentos.
No primeiro, temos a sua “vinda invisível” na qual acontecerá
subitamente o arrebatamento da igreja (período no qual acon-
tece também a grande tribulação, e é correlato com o capítulo
4 do Apocalipse). Já no segundo, acontece a sua “vinda visível”
e como dissemos, é muito diferente ao que se ouve comumente
nas igrejas. Nesse dia “todo olho o verá”. Esse evento está ligado
ao capítulo 19 do Apocalipse, por isso, o trataremos com mais
detalhes posteriormente.

Figura 2. Interpretando os sinais dos tempos. Fonte: ICE, Thomas. “Quando a


trombeta Soar”, Ed. Chamada, 2015.

75
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

Observe que a figura anterior nos mostra três eventos


importantes:
1) A vinda de Jesus que se refere a sua encarnação (“primeira
vinda”), como Paulo nos fala em Gálatas 4.4: “vindo, porém, a
plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nas-
cido sob a lei”. Depois de morto e ressuscitado, ascendeu aos
céus (At 1.6-11) e a partir daí temos a “Era da Igreja”.

2) Após ter se cumprido o tempo determinado por Deus, o


Senhor volta uma vez mais para se encontrar com os seus filhos
nos ares (“arrebatamento”), mas não pisa na Terra, tal como
indica 1 Tessalonicenses 4.16-17: “Porquanto o Senhor mesmo,
dada a sua palavra de ordem, ouvida a voz do arcanjo, e ressoada
a trombeta de Deus, descerá dos céus, e os mortos em Cristo res-
suscitarão primeiro; depois, nós, os vivos, os que ficarmos, seremos
arrebatados juntamente com eles, entre nuvens, para o encontro do
Senhor nos ares, e, assim, estaremos para sempre com o Senhor”.

3) A figura 2 nos mostra que depois de sete anos de terrí-


vel tribulação na Terra, Jesus Cristo retorna (“segunda vinda”),
dessa vez para reinar. Um evento que será visível por todos ao
redor do mundo: “Eis que vem com as nuvens, e todo olho o verá,
até quantos o traspassaram. E todas as tribos da terra se lamentarão
sobre ele. Certamente. Amém!” (Ap 1.7).

Uma vez que no arrebatamento Jesus não desce à Terra (pois, se encon-
trará conosco nos ares — 1 Ts 4.17), não podemos considerar esse evento
como uma segunda vinda propriamente dita, mas sim como um aspecto
“invisível” dela.

Apesar da sua “invisibilidade”, as consequências do arrebata-


mento serão amplamente observáveis por todos, já que milhares
de pessoas desaparecerão em um instante. Todavia, certamente
os inimigos da Verdade farão de tudo para que esse sinal divino

76
RETRATO PROFÉTICO

seja desacreditado, associando-o, talvez, a extraterrestres ou a


conspirações vãs.
Mas, ainda que consigam ludibriar aos que desconhecem
a promessa de retorno do Senhor, é fato que muitas pessoas
que se diziam cristãs, e que não foram arrebatadas, se lem-
brarão do que escutavam nas suas igrejas e saberão o que está
acontecendo no momento. Aí sim, um grande temor tomará
conta dos indecisos que optaram por ficar “em cima do muro”,
e então buscarão refúgio e socorro em Deus para passarem pela
terrível tribulação.

Já a segunda vinda como tal estará acompanhada de grandes manifes-


tações, totalmente visíveis por todos, desde qualquer lugar do planeta.

Como está escrito: “aparecerá no céu o sinal do Filho do


Homem; todos os povos da terra se lamentarão e verão o Filho do
Homem vindo sobre as nuvens do céu, com poder e muita glória. E
ele enviará os seus anjos, com grande clangor de trombeta, os quais
reunirão os seus escolhidos, dos quatro ventos, de uma a outra
extremidade dos céus” (Mt 24.30-31).
Nesse dia aparecerá o Rei dos reis, com toda sua magnificên-
cia e soberania e será tão assustador para os espectadores que, à
semelhança de Daniel e João, todos se ajoelharão diante de tão
sublime e assombrosa contemplação. O senhor Jesus retornará
como vencedor! Apenas isso deveria nos incentivar a perseverar
na fé com todas as nossas forças, dependendo inteiramente da
graça maravilhosa e abundante do Senhor, e esperando-o até
o fim.

PROFECIAS DE PICO

Quando você olha uma cadeia de montanhas de longe, pode


parecer que os picos estão tão próximos uns dos outros, que
estão quase juntos, porém, quanto mais você se aproxima,

77
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

mais evidente se tornam as diferenças e a distância entre eles.


A seguinte ilustração nos fala de algo similar ao que acontece
com as profecias bíblicas. Vejamos:

Figura 3: Ilustração baseada em: “Os picos das montanhas das profecias” de Clarence Larkin10

Os antigos profetas, usados pelo Espírito Santo, escreveram


suas profecias, mas não entendiam completamente o que lhes
era revelado por Deus. Assim, descreveram com suas próprias
palavras aquilo que viam, na absoluta dependência do Espírito
Santo (2 Pe 1.10-12).
Essa situação dos profetas é bem exemplificada na expe-
riência de Daniel. Ele era um homem consagrado a Deus, um
visionário, e, como tal, teve o privilégio de contemplar coisas
que somente aconteceriam num futuro distante (fatos regis-
trados também por João no Apocalipse, quinhentos anos mais

10 Disponível em: <http://clarencelarkincharts.com/Clarence_Larkin_6.html>. Acesso em 10


de fev. de 2020.

78
RETRATO PROFÉTICO

tarde). Ainda assim, por se tratar de coisas que não eram para
seu tempo, Daniel simplesmente não as compreendeu comple-
tamente. Por isso, diferentemente do livro de Apocalipse, o de
Daniel devia permanecer selado até o tempo do fim (Dn 12.9).
Porém, hoje nós temos mais compreensão sobre esse livro do
que nunca antes na história do Povo de Deus, pois, já estamos
no tempo do fim, onde ele é totalmente necessário. O livro de
Daniel não está mais fechado aos nossos olhos! O que o pró-
prio Daniel não conseguiu entender naquela época, agora está
disponível para o nosso estudo e compreensão.
Igualmente, na atualidade conseguimos entender muito
mais acerca das profecias bíblicas, pois essas verdades foram
reservadas para o nosso tempo. Da mesma sorte, há fatos na
Palavra que ainda não compreendemos e que poderão ser reve-
lados a nós mais adiante, quem sabe, na glória. No próprio Apo-
calipse, Deus deixou coisas em segredo e as revelará aos Seus
servos quando Ele achar que o deve fazer (Ap 10.4-7).
Por exemplo, na época de Daniel não havia sido revelado
quem era o Messias (Ef 3.5), de modo que quando o profeta viu
a Jesus Cristo glorificado, apenas se referiu a Ele como “um
varão” e caiu de joelhos diante de tão grandiosa visão (Dn 10.5-
9). Com isso, confirmamos que os mistérios de Deus e da Bíblia
vão sendo revelados à humanidade gradativamente, a seu tempo
exato (chamamos isso de revelação progressiva no capítulo pri-
meiro). A seguir, estudaremos com atenção uma das profecias
mais importantes de Daniel, para nós, como Igreja.

AS SETENTA SEMANAS DE DANIEL

Esta profecia anunciada por Daniel, no capítulo 9, é uma


das profecias mais importantes das Sagradas escrituras, já que
estabelece o método literal de interpretação da profecia, con-
firmando que as predições das Escrituras são legítimas e verda-
deiras. Somente um Deus onisciente poderia prever, com mais

79
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

de quinhentos anos de antecedência, o dia em que o Messias


entraria em Jerusalém.
Essa profecia apoia a visão de que a Igreja era um misté-
rio antes de Jesus, que não foi revelado no Antigo Testamento.
Assim mesmo, ela nos oferece a cronologia divina da sequência
dos acontecimentos do livro de Apocalipse, o qual é uma expan-
são, por assim dizer, da profecia de Daniel. Ela é dividida em
dois períodos iguais (cada um de 42 meses = 3,5 anos = 1.260
dias) e, segundo John Dwight Pentecost11, embora essa profecia
descreva fatos já ocorridos, eles nos norteiam sobre os aconte-
cimentos do fim dos tempos.
No entanto, essa profecia tem um destinatário específico, ela
é exclusiva para Israel. Deus tratará duramente com seu povo,
a fim de corrigi-lo e de conduzi-lo ao arrependimento: “porque
o Senhor corrige a quem ama e açoita a todo filho a quem recebe”
(Hb 12.6).
Mas então, por que ela é importante para nós? Tudo o que
Deus faz tem um propósito, mesmo a prova que Ele nos permite
passar. A profecia de Daniel mostra seis objetivos que deverão
ser atingidos quando as 70 semanas forem cumpridas:
1. Cessar a transgressão;
2. Dar fim aos pecados;
3. Expiar a iniquidade;
4. Trazer a justiça eterna;
5. Selar a visão e a profecia;
6. Ungir o Santo dos Santos (o Senhor Jesus Cristo).

Mas, tudo isso acontecerá somente quando o Reino de Cristo


for estabelecido na Terra (Dn 7.13-14).
Neste ponto, você pode estar se perguntando: como é pos-
sível que tudo isso aconteça apenas em “setenta semanas”?
Bem, quero deixar claro que não estamos falando de semanas

11 PENTECOST, John Dwight. Manual de Escatologia. São Paulo, SP: Editora Vida, 2012.

80
RETRATO PROFÉTICO

comuns de sete dias, mas de anos, muitos anos! Permita-me


expandir um pouco essa explicação. Vejamos primeiro o que nos
diz Daniel 9.24. O profeta começa dizendo: “Setenta semanas
estão determinadas sobre o teu povo e sobre a tua santa cidade,
para extinguir a transgressão, e dar fim aos pecados, e expiar a
iniquidade, e trazer a justiça eterna, e selar a visão e a profecia, e
ungir o Santo dos Santos”.
A palavra que aparece aqui como “semanas” é traduzida
da expressão hebraica “Shabua” que significa simplesmente
"SETES". Os judeus tinham tanto "setes de dias" como "setes de
anos”. Mas essa expressão não se encontra apenas no livro de
Daniel, um exemplo do uso da palavra "semana" para indicar
sete anos, está no livro de Levítico: “Contarás sete semanas de
anos, sete vezes sete anos, de maneira que os dias das sete semanas
de anos te serão quarenta e nove anos” (Lv 25.8).
Outra evidência de que o texto se refere a "semanas de ANOS"
é que, se fossem “semanas de DIAS”, não seria possível que
todos os fatos históricos apontados na profecia acontecessem
em apenas 490 dias.
Portanto, podemos ler a frase dita pelo anjo Gabriel a Daniel
da seguinte maneira: “Setenta SETES estão determinados sobre o
TEU povo (...)” (Dn 9.24). A maior segurança que temos para essa
afirmação é que a maior parte desta profecia já foi cumprida
literalmente, e dentro do tempo calculado em semanas de anos.
Assim, 70 semanas de anos somam ao todo 490 anos, logo, esse
é o tempo TOTAL do programa de Deus para Israel até o final.

A chave para se compreender melhor a profecia das setenta semanas


é entender que se trata de um hiato ou parêntese profético, mas o que
é isso? Bem, é quando na mesma profecia há uma parte que se cumpre
em um tempo e outra que se cumpre posteriormente.

Assim, numa mesma profecia podemos ter vários quadros


históricos, os quais se cumprem em tempos diferentes, mesmo

81
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

que separados por intervalos de tempo indeterminado. A pro-


fecia de Joel 2.28-32 é um exemplo, pois a mesma fala do nas-
cimento da igreja no Pentecostes e também de fatos ligados à
consumação de todas as coisas.
Em muitos casos, ao receber da parte de Deus uma profecia,
o profeta recebia tudo de uma vez só. Por não conhecerem essa
regra de interpretação, muitos judeus liam as profecias e supu-
nham que a partir do momento em que uma parte da profecia
se cumprisse, todo seu contexto necessariamente se cumpriria
em questão de dias.
Já que todas as profecias a respeito do Messias não se
cumpriram na vida de Jesus (durante sua vida como homem
na Terra), os judeus tiveram extrema dificuldade em aceitá-lo
como o Messias prometido, pois as profecias falavam também
de um líder que viria para libertar definitivamente os judeus de
seus opressores.
Segundo as profecias messiânicas, o Messias também
seria rei em Israel, mas como Jesus não dirigiu nenhum tipo
de levante contra os opressores dos judeus naquela época (o
império romano), nem assumiu o trono de Davi na sua primeira
vinda, então foi descartado como Messias. Contudo, até esse
fato foi revelado por Deus aos seus profetas séculos antes de
acontecer: “A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a
pedra angular” (Sl 118.22).
Tipologicamente falando, nas escrituras, essa Pedra é o
Senhor Jesus Cristo (Is 28.16; Zc 10.4; Ef 2.20; 1 Pe 2.6), por
isso, graças ao entendimento do hiato profético, hoje sabemos
que Ele ainda assumirá literalmente esse trono e será eleito rei
da nação de Israel aqui na Terra. Essa é a parte da profecia que
falta se cumprir.
Você já parou para pensar: Jesus foi rejeitado pelos judeus
por causa de uma interpretação inadequada das profecias! Per-
ceba a importância de se conhecer as regras de interpretação
das Escrituras! (Veja o Capítulo 1.)

82
RETRATO PROFÉTICO

Outro ponto importante a ser considerado para a contagem


desses tempos é que o calendário judaico, ou “ano bíblico”,
adota o calendário lunar, diferentemente do calendário adotado
em nossa cultura atual, que é o calendário solar. No que isso
implica? Pois bem, o “mês bíblico” é invariavelmente formado
por trinta dias, sendo assim, o “ano bíblico” tem 360 dias. Na
profecia de Daniel temos 490 anos lunares, cumpridos até o
presente momento com precisão de dias. Com isso em mente,
façamos alguns cálculos.

PRECISÃO DA PROFECIA

Com base na informação anterior, para que o resultado da


operação de semanas de anos seja correto, é necessário que
tomemos a soma dos anos lunares que são 490, e multiplique-
mos cada um deles pelo número de dias que um ano lunar tem,
a saber, 360. Assim chegaremos ao resultado de 176.400 dias, o
qual corresponde ao tempo total da profecia.
Gostaria que acompanhasse as seguintes contas com a sua
Bíblia em mãos. Veja o que diz em Daniel 9.24-27. Didatica-
mente, de acordo com a explicação de Gabriel, essas 70 semanas
(490 anos) estão divididas em três partes: 7 semanas (49 anos)
+ 62 semanas (434 anos) e 1 semana (7 anos).
Seguindo literalmente a orientação do anjo, começaremos
a contar 69 semanas (62 + 7) a partir do ano em que o Rei Arta-
xerxes deu ordem para restaurar Jerusalém. Conforme Neemias
2:1-8, isso aconteceu no mês de Nisã (março) de 445 a.C.. E
vamos até pouco ANTES do Messias ser cortado da Terra. Um
tempo total de 483 anos, ou seja, 173.880 dias.
Inicialmente, todas essas contas podem dar a impressão de
que o assunto é impossível de ser descortinado, mas não é o
caso! De fato, quando analisamos meticulosamente as profecias
do Senhor, nos damos conta de quão precisas e verdadeiras elas
são, e como Deus é realmente onisciente.

83
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

De forma extraordinária, se contarmos 173.880 dias a partir


de março, de 445 a.C., chegamos precisamente a abril do ano
32 d.C., época em que Jesus estava a caminho da sua morte,
tal como a profecia anunciava que aconteceria com o Messias
(Dn 9:26). Segundo Lucas 19.37-39, exatamente esse dia foi a
única vez que o Senhor Jesus se apresentou oficialmente como
sendo o legítimo Rei em Jerusalém: “E, quando se aproximava
da descida do monte das Oliveiras, toda a multidão dos discípulos
passou jubilosa, a louvar a Deus em alta voz, por todos os milagres
que tinham visto, dizendo: Bendito é o Rei que vem em nome do
Senhor! Paz no céu e glória nas maiores alturas!”
Embora as primeiras 69 semanas (483 anos) da profecia se
findassem nesse dia, ainda faltaria em nossa primeira conta
um “sete” ou última “semana de anos”. Daqui em diante, cha-
maremos essa “semana” de “a última semana de Daniel”. Ela é
denominada assim porque está relacionada aos últimos acon-
tecimentos os quais estão ligados à Grande Tribulação, já que
o profeta deixou claro que ela se cumpriria no fim: “Ele fará
firme aliança com muitos, por uma semana” (Dn 9.27a). Como
podemos observar, entre as primeiras 69 semanas e a última
semana há uma lacuna de tempo, ou seja, um hiato profético.
A “última semana de Daniel” está ligada ao tempo da tribu-
lação, a qual, pelo parâmetro que expusemos anteriormente,
tem uma duração de sete anos, ao término dos quais entende-
mos que será a “Segunda vinda” de Jesus. Ela está dividida em
duas partes:
Na primeira metade, ocorre um acordo entre o anticristo
e Israel intitulada de “FIRME ALIANÇA”, cujo resultado será
uma falsa PAZ. Período esse apresentado por Jesus como “prin-
cípios das dores” (Mt 24.3-14). A segunda metade é o período
apresentado pelo Senhor como a “GRANDE TRIBULAÇÃO” (Mt
24.15-31). Correspondendo a três anos e meio (42 meses, ou
1.260 dias). Finalmente: “na metade da semana, fará cessar o
sacrifício e a oferta de manjares; sobre a asa das abominações virá

84
RETRATO PROFÉTICO

o assolador, até à destruição, que está determinada sobre ele” (Dn


9.27). Essa passagem nos revela alguns eventos importantes a
respeito da Grande Tribulação:
a) Quando diz que “Fará cessar o sacrifício e a oferta de man-
jares”, quer dizer que o templo em Jerusalém será reconstruído;

b) A frase: “sobre a asa das abominações virá o assolador”,


significa que nesse período, da metade da “semana” para frente,
o anticristo revelará ao mundo sua completa maldade, seu ver-
dadeiro caráter (Dn 11.31; 12.11).

c) O anticristo exigirá ser adorado por todos. Naqueles dias


o falso profeta anunciará o poderio do anticristo, que até então
era somente um grande líder, e que agora, se coloca na posição
de Deus. O objetivo do falso profeta é levar a humanidade a
adorar o anticristo e a sua imagem. Esse é o momento que os
judeus serão perseguidos por entenderem que estavam engana-
dos. Uma coisa Israel sabe muito bem: só existe um Deus (Dn
9.27; Mt 24.15).

d) A queda definitiva de Lúcifer, quando ele e os seus anjos


são lançados do segundo céu para a Terra (Ap 12.9)

O apóstolo Paulo em sua primeira carta aos Tessalonicenses


5.1-4 nos deixa um comentário a respeito dos acontecimentos
dessa última semana, os quais estão descritos também no capí-
tulo 24 do evangelho de Mateus. De acordo com o apóstolo,
não havia necessidade de escrever mais aos tessalonicenses
em relação aos “tempos e às épocas”, pois eles já tinham sido
advertidos de que o “Dia do Senhor” viria de repente, assim
como um ladrão chega de noite, sem avisar.
Seguidamente, Paulo os adverte dizendo que quando acha-
rem que finalmente é tempo de paz e segurança, então virá
repentinamente a destruição, assim como as dores de parto

85
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

chegam sobre a que está para dar à luz, e ninguém poderá esca-
par de forma alguma (1 Ts 5.3b).

À semelhança, de uma mulher grávida que não pode evitar o nascimento


de seu filho quando é o momento de “dá-lo à luz”, assim também ninguém
poderá evitar o final dos tempos.

Por isso a exortação do apóstolo para que os tessalonicenses


permanecessem atentos e vigilantes no Senhor, de modo que
esse dia não os apanhasse de surpresa, pois serão dias terríveis
(1 Ts 5.4). O senhor Jesus também advertiu que “naqueles dias
haverá uma aflição tal, qual nunca houve desde o princípio da cria-
ção, que Deus criou, até agora, nem jamais haverá” (Mc 13.19).
Embora ninguém conheça o dia e a hora em que o Senhor virá
(Mt 24.36; Mc 13.32), será que podemos ter pelo menos uma
noção da época em que esses fatos acontecerão?
Quando os discípulos perguntaram ao Senhor sobre o fim
dos tempos, Ele os ensinou dizendo: “Aprendei, pois, esta pará-
bola da figueira: Quando já os seus ramos se tornam tenros e bro-
tam folhas, sabeis que está próximo o verão. Igualmente, quando
virdes todas estas coisas, sabei que ele está próximo, às portas”
(Mt 24.32-34).
Em outras palavras, Jesus garantiu que haveria ao nosso
redor sinais visíveis e contundentes que indicariam quando esse
evento estaria prestes a acontecer. Para ter um discernimento
maior a respeito, precisamos ver com atenção os símbolos que
Jesus menciona nessa parábola, bem como os acontecimen-
tos que se apresentam como o cumprimento dessa profecia
na história.

A FIGUEIRA

Existem três árvores na Bíblia que estão diretamente ligadas


à nação de Israel, a saber: a Videira (Is 5.7; Ag 2.19), a Oliveira

86
O ARREBATAMENTO

(Os 14.6) e a Figueira (Jl 2.22). Portanto, na parábola da figueira,


essa planta representa a nação de Israel, motivo pelo qual, todos
os acontecimentos históricos ligados a essa nação se tornam
tão relevantes para a escatologia. Alguns chegam a dizer que
“Israel é o relógio de Deus”.
Em 14 de maio 1948 d.C., um fato incrível aconteceu: a
figueira lançou folhas. De uma forma quase inacreditável (em
vista das circunstâncias políticas daquela região), a Organização
das Nações Unidas (ONU) declarou oficialmente a Israel como
nação. Com isso, cumpriu-se a profecia de Isaias 66.8 que diz:
“Quem jamais ouviu tal coisa? Quem viu coisa semelhante? Pode,
acaso, nascer uma terra num só dia? Ou Nasce uma nação de uma só
vez? Pois Sião, antes que lhe viesse as dores, deu à luz seus filhos”.
No dia seguinte, Egito, Síria, Líbano e Iraque atacaram o
novo país, fazendo com que quase 750 mil árabes fugissem da
região por causa do conflito. Enquanto isso, aproximadamente
800 mil judeus — que viviam em países vizinhos como Síria,
Iraque, Tunísia, Líbia e Iêmen — se tornaram cidadãos imedia-
tamente de Israel, retornaram para sua nação, tal como Deus
prometera aos seus antepassados.
“Tomar-vos-ei por meu povo e serei vosso Deus; e sabereis que
eu sou o SENHOR, vosso Deus, que vos tiro de debaixo das car-
gas do Egito. E vos levarei à terra a qual jurei dar a Abraão,
a Isaque e a Jacó; e vo-la darei como possessão. Eu sou o
SENHOR” (Ex 6.7-8).

Depois de muitos conflitos, em 1980 d.C., Jerusalém foi


finalmente declarada a capital de Israel. Como vimos na pará-
bola de Jesus, o broto da figueira é um dos maiores sinais que
apontam para o fim. Jesus assegurou que essa geração, não
passaria sem que viesse a contemplar a sua segunda vinda (Is
27.6).
“Igualmente, quando virdes todas estas coisas (o ponto em
que os ramos se tornam tenros e brotam suas folhas), sabei que

87
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

ele está próximo, às portas. Em verdade vos digo que não pas-
sará esta geração sem que todas estas coisas aconteçam” (Mt
24:33-34).

Mas, será que Ele estava falando aqui que as pessoas que
estavam ouvindo-o naquele dia iriam viver centenas de anos
até Ele voltar? Acreditamos que não. Atente para o seguinte
raciocínio. No Salmo 90.10, encontramos que um homem vive
em média setenta a oitenta anos, portanto, entendemos que
biblicamente essa é a duração aproximada de uma geração. Se
considerarmos que a figueira começou a brotar em 1948, e que
a geração que nasceu naquela época atualmente está com uma
idade aproximada de 70 anos, podemos inferir de acordo com
Mateus 24.34 que a volta de Jesus Cristo não está muito longe.
O Senhor não disse que seria no fim ou no início daquela
geração, apenas falou que não passaria aquela geração, assim,
com base nesses pontos e nos sinais proféticos que vemos todos
os dias, nós cremos que o arrebatamento pode acontecer a qual-
quer momento. Com isso, não estamos querendo marcar a volta
de Jesus, pois como vimos, o dia e a hora ninguém sabe. Esta-
mos apenas expondo um raciocínio.

Por causa dos sinais, temos certeza de que o Arrebatamento está muito
perto e por isso é prudente fazer o que Jesus nos disse: “vigiar e termos
azeite de reserva nas nossas lâmpadas”.

Embora existam muitas outras questões e dúvidas em relação


a grande tribulação, as quais não nos cabem responder aqui,
no capítulo seguinte veremos mais detalhadamente os fatos
ligados a esse período.

88
— capítulo 5 —

O ARREBATAMENTO

“A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando


irei e me verei perante a face de Deus?”.

Salmos 42.2
O ARREBATAMENTO

Logo no início do capítulo quatro de Apocalipse, João afirma:


“depois destas coisas... vi uma porta aberta no céu... de lá uma voz
me disse: — sobe aqui, e logo fui arrebatado...”. Se observarmos
com atenção, veremos que esse trecho é uma figura do arreba-
tamento da Igreja. Primeiramente, a expressão “depois destas
coisas” (vs. 1) veio imediatamente depois da descrição da pas-
sagem da Igreja pela Terra (Ap 2 e 3). Logo, entendemos que
essas coisas são a história da Igreja, e o que segue em diante é
o que acontece depois dela, a saber um arrebatamento. A partir
daí não vemos mais menção da Igreja.
Mas, o que aconteceu com ela? Ela deixa de ser citada e
somente volta a aparecer em Apocalipse 19, que fala das bodas
do cordeiro, antes do segundo retorno de Jesus à Terra. Então,
sabemos que ela será tirada do cenário terrestre, porque nos
capítulos do Apocalipse onde se fala da Grande Tribulação (caps.
6 a 18), a Igreja não é mencionada nem uma vez (são mencio-
nados somente Israel e os ímpios). Portanto, DEPOIS DESTAS
COISAS, ela só aparece após a tribulação, estando no céu.
Permita-nos ilustrar um pouco de como ficará a Terra após o
arrebatamento. Imagine um cenário com bilhões de seres huma-
nos procurando — por toda parte — aos seus parentes, amigos e
conhecidos que desapareceram de repente, sem nenhuma expli-
cação. Mulheres procurarão pelos seus bebês, filhos procurarão
pelos seus pais e assim sucessivamente. Certamente, esse evento
global sem precedentes será noticiado em toda mídia, então
bilhões contemplarão horrorizados o desaparecimento massivo
dos seus entes queridos.
Ateus e céticos tentarão explicar o acontecimento de diversas
maneiras, dizendo talvez que foi uma abdução massiva obra
de “extraterrestres”, algum tipo de golpe ou conspiração, ou
qualquer outra coisa que conseguirem imaginar. Enquanto isso,
muitos cientistas — incrédulos — tentarão procurar na criação
ou na física as causas de um evento totalmente inexplicável e
nunca antes visto.

91
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

Mas, aqueles que se diziam cristãos e não creram e não pra-


ticaram a verdade, se lembrarão de quando ignoraram a Palavra
de Deus, e então chorarão e lamentarão amargamente, pois será
tarde demais. Todavia, você não precisa passar por isso. Ainda
há tempo de buscar a face do Senhor e lavar as suas vestes no
sangue do Cordeiro. Ele virá! Ele está às portas!
Vamos colocar mais azeite nas nossas lâmpadas enquanto
esperamos o noivo (Mt 25.1-13), pois, como vemos nas Escri-
turas, o que virá depois do arrebatamento é somente deses-
pero, dor e angústia. Infelizmente, para muitos cristãos incau-
tos, isso acontecerá tão rápido e tão repentinamente que não
haverá tempo para uma última chance. A porta será fechada
(Mt 25.10-13).

ARREBATAMENTO
Definição e conceito

Paulo o descreve como algo que acontecerá em “um abrir


e fechar de olhos”, de fato, a palavra “arrebatamento” significa
exatamente isso: uma ação abrupta e intensa.

Esse termo deriva do latim rapto, que significa “sugado ou puxado com
força”, e do termo grego harpazo, que fala de “roubar, arrastar ou
carregar para longe.

Então, quando diz em I Tessalonicenses 4.17 que seremos


arrebatados (harpazo) nas nuvens, para nos encontrar com o
Senhor nos ares e estar com Ele para sempre, está querendo
dizer que seremos roubados, arrastados para longe, até chegar-
mos a Ele.
Esse acontecimento é tão importante que existem vários
outros termos no Novo Testamento para referir-se a ele. Observe
com atenção seus significados: Episynagoge: reunião, assem-
bleia (2 Ts 2.1); Allato: mudar, transformar, trocar (I Co 15.51-52);

92
O ARREBATAMENTO

Paralambano: levar, receber para si (Jo 14.3); Epifaneia: manifes-


tação, aparição (Tt 2.13); Rhuomai: atrai para si, resgatar, libertar
(I Ts. 1.10); Parousia: presença, vinda, chegada (Tg 5.7-8).
Além de Apocalipse 4, encontramos na Bíblia um outro texto
que descreve muito bem esse rapto repentino dos santos, em 1
Tessalonicenses 4. A seguir, expomos um breve paralelo entre
ambos os textos, para que possa compreender um pouco mais
sobre o assunto.

1 Tessalonicenses 4 Apocalipse 4

Final da era da igreja Final da era da igreja

Trombeta soa Voz como o som de trombeta

A igreja é arrebatada ao céu João é arrebatado ao céu

Se lermos com atenção ambos os capítulos, perceberemos


o quanto eles confirmam, mutuamente, o que acontecerá nos
últimos dias da igreja: Jesus está no céu, mas virá (vinda invi-
sível) até as nuvens para encontrar-se com Sua noiva e voltará
com ela para o céu às “bodas do Cordeiro”. Em síntese, isso é
o arrebatamento.
Quando soar a “última trombeta”, anunciando o “rapto”,
os espíritos dos salvos, que morreram no Senhor, ressuscita-
rão em corpos glorificados e, logo após, os cristãos que ainda
estiverem vivos terão seus corpos transformados (glorificados),
sendo arrebatados até as nuvens para encontrarem seu Amado.
Mas antes disso tudo acontecer, 2 Tessalonicenses 2.1-8 diz
que os acontecimentos prévios ao arrebatamento são a apostasia
e os sinais da aparição do anticristo. Sabemos que a presença
da Igreja no mundo impede a completa manifestação dele (vs.
6-7), porém, o verso oito diz que quando ela for retirada, “será,
de fato, revelado o iníquo” (2 Ts 2.8).

93
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

Será que como Igreja, estamos tão atentos aos sinais para sabermos
identificar esse tempo?

Nos evangelhos, Jesus ordenou muitas vezes que olhásse-


mos com atenção os sinais que indicavam o fim dos tempos.
Por isso, é triste ver como — ainda assim — muitos pastores
não ensinam as suas ovelhas a respeito disso. Alguns até estão
pregando que não haverá arrebatamento, ou omitem das suas
congregações esse ensino tão importante.
Em decorrência disso, muitos cristãos não estão se aten-
tando para a “quantidade de azeite que há nas suas lâmpadas”,
ou seja, não estão vigiando como deveriam, ignorando o fato de
que os que não tiverem “azeite” suficiente em suas “vasilhas”
não entrarão para as bodas do Cordeiro, ficando na tribulação
(Ap 2.22). Percebe a gravidade do assunto?

AS DUAS RESSURREIÇÕES

Embora haja várias questões no livro de Apocalipse que


levantam polêmicas e divisões entre seus estudiosos, há pontos
nos quais a maioria concorda, entre esses temas podemos citar
o relativo à “ressurreição”.
No capítulo 20 de Apocalipse, João fala de “duas ressurrei-
ções”. A primeira ressurreição é a dos salvos em Cristo Jesus,
e a segunda é a de todos os outros mortos, à semelhança das
descrições bíblicas acerca da colheita. O Senhor falou em João
5.28-29 o seguinte: “Não vos maravilheis disto, porque vem a hora
em que todos os que se acham nos túmulos ouvirão a sua voz e sai-
rão: os que tiverem feito o bem, para a ressurreição da vida; e os
que tiverem praticado o mal, para a ressurreição do juízo”.
Agora, essas duas ressureições possuem três fases diferen-
tes: a primeira aconteceu quando ressuscitaram alguns salvos
por ocasião da ressurreição do próprio Jesus Cristo, a segunda
ainda acontecerá no momento em que ressuscitarem todos

94
O ARREBATAMENTO

os que morreram em Cristo e que reinarão com Ele durante o


milênio. E a terceira, será quando os ímpios ressuscitarem para
serem julgados.

A PRIMEIRA RESSURREIÇÃO

A lei da colheita de Israel se dá em três fases: as primícias,


a colheita geral e a última colheita (na qual não se deixa nada
para trás). Ou seja, embora apresentemos três momentos, graças
ao princípio de hiato profético que explicamos anteriormente,
entendemos que se trata de uma única colheita. Observe a
sequência (Lv 23.9-12; Lv 19.9-10):
1. Primícias: No Antigo Testamento, para abençoar a
colheita toda, os israelitas deviam consagrar seus primeiros
frutos a Deus, ofertando a Ele o primeiro feixe. De acordo com
1 de coríntios 15.20;23, o Senhor Jesus Cristo é essa primícia!
Afinal, foi o primeiro em ressuscitar com um corpo glorioso.

2. Colheita geral: Nesta parte do processo, os frutos madu-


ros eram colhidos. Isso fala da ressurreição de todos os justos,
os que morreram em Cristo (Dn 12.2) e os cristãos genuínos que
ainda estão vivos, e esse grande dia nos encontraremos todos
com o SENHOR nos ares (1 Ts 4.16-17).

3. Respiga ou rabiscos da colheita: Depois de terem feito


a colheita geral, os israelitas juntavam o que tinha ficado para
trás, porém, eles não podiam colher aquilo que tivesse caído
no chão ou nos cantos dos seus campos (Lv 19.9-10). Isso nos
fala do momento em que os anjos vão recolher dos quatro
ventos, de uma a outra extremidade da Terra, os que ainda
estiverem espalhados (Mt 24.30-31). Essa mesma fase é des-
crita em Apocalipse 20:5, quando diz: “Os restantes dos mortos
não reviveram até que se completassem os mil anos. Esta é a pri-
meira ressurreição”.

95
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

Certamente, até aqui alguns poderão estar se perguntando:


se temos duas fases anteriores, por que, então, João chama essa
última de primeira ressurreição? A resposta é simples: porque
ela é a última etapa da primeira ressurreição. É importante nos
lembrarmos de que as três fases da primeira ressurreição que
acabamos de ver constituem uma colheita apenas.

Após essa ressurreição e transformação, bem no ápice do arreba-


tamento, receberemos um corpo celestial à semelhança do corpo de
Jesus, que não estará sujeito às leis da natureza (Jo 20.19; 1 Co 15.44).

Esta é a promessa que o apóstolo Paulo nos fala em Filipen-


ses 3.20-21: “Pois a nossa pátria está nos céus, de onde também
aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, o qual transformará
o nosso corpo de humilhação, para ser igual ao corpo da sua glória,
segundo a eficácia do poder que ele tem de até subordinar a si todas
as coisas”.

SEGUNDA RESSURREIÇÃO

Esta ressurreição acontecerá após o milênio. Aqui todos os


mortos — ímpios e injustos — desde Caim até o último des-
crente, ressuscitarão a fim de serem julgados (Ap 20.11). Fala-
remos desse juízo com mais detalhe quando abordarmos o
capítulo 20 de Apocalipse.

Por falta do entendimento em relação a esses temas, a Igreja erra gran-


demente em confundir salvação com arrebatamento.

Porém, após várias décadas de estudo, oração e pesquisa,


o Senhor nos mostrou que uma pessoa pode ser salva e não
ser arrebatada, pois, para alguém ser arrebatado, precisa ter
sido regenerado antes pelo sangue de Jesus e ter evidenciado
frutos disso. Paulo nos diz: “Mas o que, para mim, era lucro,

96
O ARREBATAMENTO

isto considerei perda por causa de Cristo [...] para, de algum


modo, alcançar a ressurreição entre os mortos” (Fp 3.7; 11).
Paulo está dizendo aqui que perdeu tudo para ganhar a
Cristo, ele fez de Cristo o seu maior projeto de vida e não se
arrependia disso. O apóstolo mostra em seus textos que tem
absoluta certeza de sua Salvação por meio da fé em Jesus,
ainda assim, também escreve aqui que está trabalhando
incessantemente para fazer parte da primeira ressurreição: a
da Igreja. A situação é tão séria que ele chega a usar o termo:
“Para que de algum modo possa alcançar a ressurreição”.
Irmãos, à semelhança de Paulo, nós precisamos fazer
do Arrebatamento — da primeira ressurreição — o nosso
maior projeto de vida, porque caso contrário, teremos que
passar pela Grande Tribulação. No mesmo entendimento,
o Senhor nos trouxe à luz, as condições necessárias para
sermos arrebatados.

REQUISITOS PARA SER ARREBATADO

Primeiro requisito: estar ligado orgânica e fisiologicamente


ao corpo de Cristo.

Em Lucas 14, Jesus faz um convite para participar da sua


ceia contando a seguinte parábola: “Um certo homem fez uma
grande ceia, e convidou a muitos. E à hora da ceia mandou o seu
servo dizer aos convidados: Vinde, que já tudo está preparado. E
todos à uma começaram a escusar-se. Disse-lhe o primeiro: Comprei
um campo, e importa ir vê-lo; rogo-te que me hajas por escusado.
E outro disse: Comprei cinco juntas de bois, e vou experimentá-los;
rogo-te que me hajas por escusado. E outro disse: Casei, e, portanto
não posso ir” (vs. 16-20).
Como vemos no texto, todos os que foram chamados come-
çaram a dar desculpas para não ter um encontro pessoal com
o anfitrião da festa. Com os crentes não é diferente.

97
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

Embora Jesus nos chame para nos encontrarmos com Ele e termos uma
comunhão íntima à mesa, muitas vezes insistimos em arranjar desculpas
para não comparecermos a esse chamado.

Esse texto nos aponta as três razões básicas que o crente usa
de desculpa para não participar ativamente do Corpo de Cristo:
“campo”, “boi” e “casamento”.
CAMPO: fala de patrimônio. Pessoas que gastam muito
tempo em busca de patrimônio, ou com o seu patrimônio, e
ficam indisponíveis para servir na Igreja. Porém, para o Senhor,
o patrimônio não é uma desculpa, e, portanto, Ele não tem com-
promisso com esses.
BOI: fala de trabalho. Pessoas que trabalham tanto que
não têm tempo (e nem disposição) para participar do corpo
de Cristo em sua cidade, estado ou nação. Têm cristãos assim,
que até dizimam e são religiosamente fiéis aos domingos,
mas isso de nada adianta para Deus, pois eles não participam
ativamente das funções do corpo ao qual dizem pertencer.
São membros inativos!
CASAMENTO: fala de razões familiares. Pessoas que colocam
os seus problemas familiares como desculpa para não assumir
suas responsabilidades como cristãos, nem se relacionar com
Deus. Entre essas desculpas, as mais comuns são: problemas
com um cônjuge não cristão, que não concorda com que seu
marido (ou esposa) preste auxílio à Igreja, ou se não, o fato de
ter filhos pequenos que podem “atrapalhar” o culto.
Mas, como vimos no texto de Lucas, tudo isso é inaceitá-
vel para o Senhor e pode custar a alma dessas pessoas, pois se
essas pessoas não tiveram forças para servirem a Jesus na graça,
elas terão forças debaixo de ferrenha perseguição na grande
tribulação?
Portanto, assim como aqueles convidados não foram à ceia
por estar cuidando das suas possessões, trabalhos ou vidas fami-
liares, aqueles que colocarem esses três níveis de desculpas

98
O ARREBATAMENTO

carnais para não participarem do corpo de Cristo, também


não participarão da ceia que ocorrerá após o arrebatamento
da Igreja: “Porque eu vos digo que nenhum daqueles homens que
foram convidados provará a minha ceia” (Lc 14.24).
O apóstolo Paulo nos diz em 1 Coríntios 12 que a Igreja,
assim como o corpo, tem diversos membros interligados, e
cada um deles possui uma função primordial para o bom fun-
cionamento do todo. Esses membros possuem características
particulares — específicas — de modo que um determinado
membro não pode fazer o trabalho do outro. Isso nos ensina
que ninguém poderá fazer o trabalho que o Senhor designou
especificamente para você fazer.
Imagine um corpo que vai para um lado, mas uma das per-
nas não quer ir? Com certeza esse corpo teria muita dificuldade
para andar, manter o equilíbrio e, inclusive, evitar de cair. Por
sua vez, uma perna sozinha não tem como sobreviver estando
ligada apenas à cabeça, ela precisa dos demais membros para
subsistir. A necessidade de uma ligação física e orgânica ao
corpo de Cristo chega a ser uma questão de lógica. Caso con-
trário, a pessoa ficará fora da ceia!

Segundo requisito: permanecer na “videira” e frutificar

O capítulo 15 de João nos fala sobre o segundo requisito para


que uma pessoa seja arrebatada. Leia esse texto conosco e, se
possível, decore-o. Vejamos as lições preciosas que o Senhor
Jesus nos ensina nos primeiros seis versículos:
“1Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o lavrador. 2Toda
a vara em mim, que não dá fruto, a tira; e limpa toda aquela
que dá fruto, para que dê mais fruto. 3Vós já estais limpos, pela
palavra que vos tenho falado. 4Estai em mim, e eu em vós; como
a vara de si mesma não pode dar fruto, se não estiver na videira,
assim também vós, se não estiverdes em mim. 5Eu sou a videira,
vós as varas; quem está em mim, e eu nele, esse dá muito fruto;

99
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

porque sem mim nada podeis fazer. 6Se alguém não estiver em
mim, será lançado fora, como a vara, e secará; e os colhem e
lançam no fogo, e ardem”.

Este texto nos ensina duas coisas primordiais: permanência


e fruto. Se fôssemos escrever aqui sobre a Teologia da Salvação,
muitos cristãos ficariam escandalizados com o que leriam.
A Salvação está intimamente ligada com a permanência. Bibli-
camente falando, ninguém pode ser salvo sem antes estar ligado
à “Videira verdadeira”. João 15 diz que fora da videira não há sal-
vação (vs. 6). A Salvação é única e exclusivamente através do san-
gue de Jesus, mas como qualquer ramo, você precisa estar ligado à
“Videira” para receber “alimento propício” e frutificar (vs. 4).
Como cristãos precisamos ser limpos para darmos CADA
VEZ MAIS FRUTO. No versículo seis do mesmo capítulo, Jesus
disse que aquele que estando n’Ele, não dá fruto, ele o cortará
e lançará no fogo. A palavra fogo aqui representa o inferno! O
cristão é ramo da Videira, logo, é videira também. Mas se não
estiver dando fruto, o texto diz que o agricultor (o Pai), o arran-
cará e o lançará no Inferno.

Muitas pessoas acham que o Evangelho se resume a João 3.16. Porém,


essa é apenas a “Porta de entrada”, com um longo caminho à frente. Um
caminho estreito e apertado, como disse o Senhor Jesus (Mt 7.13-14).

O cristão que dá fruto é limpo pelo Pai para gerar mais frutos
e assim permanecer fértil. Jesus tem que limpar para termos
água limpa, para oferecer aos sedentos. O primeiro passo disso
é consertar situações mal resolvidas em seu passado: “Lembra-te,
pois, de onde caíste, e arrepende-te, e pratica as primeiras obras;
quando não, brevemente a ti virei, e tirarei do seu lugar o teu cas-
tiçal, se não te arrependeres” (Ap 2:5).
Em Gênesis 17.1, o Senhor diz a Abrão: “Anda na minha pre-
sença e sê perfeito”. Se Deus ordenou isso a um homem comum, é

100
O ARREBATAMENTO

sinal de que nós também podemos chegar lá. Contudo, devemos


voltar onde erramos e consertarmos a situação, para ficarmos
livres do passado e podermos viver uma eternidade com Jesus.

Terceiro requisito: santificação

Hebreus 12:14 diz que sem santificação ninguém verá ao


Senhor, mas 1 tessalonicenses 4.17 também nos diz que no
arrebatamento a Igreja se encontrará com o Senhor Jesus. Então,
o que quer dizer isso?

Já que a santificação é uma ação exclusiva dos nascidos de novo, os


cristãos que não se santificarem, não verão ao Senhor, ou seja, não
serão arrebatados.

A noiva que se encontrará com Ele nos ares, certamente terá


que ser uma Igreja santificada. Embora existam exegetas que
interpretam esse texto de formas diversas para amenizá-lo, o
versículo em si mesmo é contundente e claro. Se você quiser
ser arrebatado, pense bem nisso e não confunda “salvação”
com “arrebatamento”.

Quarto requisito: estar cheio do Espírito Santo

A parábola das dez virgens, registrada em Mateus 25.1-13,


contém uma verdade muito profunda a esse respeito. Jesus conta
que havia “dez virgens”12 e todas elas foram se encontrar com
o Noivo, para irem com Ele ao casamento. Cinco delas foram
prudentes e levaram uma reserva de azeite para manter suas
lâmpadas acesas enquanto esperavam, porém, as outras cinco
foram descuidadas e não vigiaram nessa importante questão.

12 Ao falar de “virgens”, Jesus estava se referindo à Igreja. Já o termo “esposa” é uma designação
bíblica para Israel.

101
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

Ao final da parábola, umas se casaram e as outras ficaram


fora das bodas. Mas, o que fez a diferença? Simplesmente a
quantidade de azeite que cada uma tinha. Azeite é um símbolo
bíblico do Espírito Santo.

Quem não buscar estar cheio do Espírito Santo agora enquanto espera
pelo Senhor, corre o risco de ficar na Terra com o anticristo na
grande tribulação.

A Bíblia diz que esses cristãos clamarão inutilmente a Deus


e molharão o chão com lágrimas, mas será em vão, pois o arre-
batamento já terá acontecido e só lhes restará esconder-se para
ter uma mínima chance de receber Jesus no Monte das Oliveiras.
Portanto, irmãos, HOJE é o momento de adquirir sua “reserva
de azeite” com oração, leitura da Palavra e obediência a ela,
renúncia e uma vida consagrada diante do trono do Senhor.

Quinto requisito: estar no centro da vontade de Deus.

Em Mateus 7.21-23, Jesus nos diz algo extremamente


sério: nem todos aqueles que dizem que Ele é seu Senhor,
entrarão no reino dos céus, mas apenas os que de fato O têm
como SENHOR das suas vidas e fazem a Sua vontade. Embora
uma pessoa profetize, expulse demônios ou faça muitos mila-
gres em nome de Jesus, se ela não tiver um coração obediente
e submisso aos desígnios de Deus, Jesus simplesmente diz
que não a conhece.
Ou seja, os dons não são garantia de nada diante de Deus,
apenas a obediência. E qual é a vontade de Deus? Que seja-
mos cheios do Espírito Santo, produzamos muitos frutos e O
obedeçamos em qualquer circunstância. Quem quiser estar
na vontade de Deus, deverá abandonar primeiro a sua pró-
pria vontade, pois, “...quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á;
e quem perder a vida por minha causa achá-la-á” (Mt 16.25).

102
O ARREBATAMENTO

Se perguntarmos numa igreja: “Quem vai ser arrebatado”? Logicamente


todos levantarão as mãos, mas segundo o que acabamos de estudar,
será que todos vão ser mesmo arrebatados?

As nossas congregações estão cheias de pessoas com vontade


de subir, no entanto, a maioria não tem a menor disposição para
lavar suas vestes, renunciar a si mesmo e caminhar em direção
à cruz. Todavia, lembremos as palavras de Jesus: “se alguém quer
vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e
siga-me” (Lc 9.23).
Em vista do que foi estudado neste capítulo, gostaríamos de
lhe desafiar a parar agora e fazer um auto exame, identificando
e consertando os pecados ou embaraços que porventura há em
você, para que seu caráter e sua vida experimentem mudanças
reais. Guarde isso: envelhecimento é um processo natural; cres-
cimento é opcional. Se o grande Dia fosse hoje, será que você
poderia repetir o seguinte pensamento do apóstolo Paulo: “Com-
bati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé” (2 Tm 4.7)?

103
— capítulo 6 —

TRIBULAÇÃO
E O ARREBATAMENTO
PRÉ-TRIBULACIONAL

“Disseram aos montes e aos rochedos: Caí sobre nós e


escondei- nos da face daquele que se assenta no trono e da
ira do Cordeiro, porque chegou o grande Dia da ira deles; e
quem é que pode suster-se?”.

Apocalipse 6.16-17
TRIBULAÇÃO E O ARREBATAMENTO PRÉ-TRIBULACIONAL

Assim como muitos outros versículos da bíblia (Confira Ap


11.18; 14.19; 15.1-7; 16.1-19; 14.7; / Sf 1.14-18 / Is 34.1-3; 24.20-
21 / Jl 1.15; 2.2), esse verso de Apocalipse 6.16 demonstra de
forma contundente a natureza ímpar da grande tribulação. Tal
como profetizou Jesus, esse tempo estará caracterizado pela
ira, julgamento e indignação do Senhor, resultando no severo
castigo das iniquidades cometidas sobre a Terra, assim como
na vingança do sangue dos santos (Ap 15.4; 16.5-7; 19.2).
Embora os estudiosos concordem em que será um tempo
de muita angústia, destruição e trevas, como o mundo nunca
antes viu (Mc 13.19), dependendo da linha da interpretação de
cada um, a Igreja de Cristo será — ou não — poupada desse
grande sofrimento, sendo resgatada em tempos diferentes da
tribulação. Independente da perspectiva escatológica, pedimos
que não forme uma opinião definitiva antes de ter estudado
muito cuidadosamente todos esses prismas de interpretação e
seus respectivos fatores conflitantes.

PRINCIPAIS LINHAS DE INTERPRETAÇÃO ESCATOLÓGICA

Pré-tribulacionistas: Essa linha interpretativa é literal. A sua


base está no significado do verbo, pois “livrar” é muito dife-
rente de “ajudar”; significando então que a Igreja não passa pela
Grande tribulação (Ap 3.10; 1 Ts 1.10; 5.9; Pv 11.8). Para esses:
• O Arrebatamento da igreja, da noiva de Cristo, para as bodas
do cordeiro, ocorrerá no início da tribulação ou em algum
momento antes da primeira metade.
• As 69 “semanas de anos”, descritas em Daniel, já se cumpri-
ram literalmente e a última “semana de anos” que falta por
acontecer corresponde à grande tribulação.
• O arrebatamento acontecerá num “abrir e fechar de olhos”
(1 Co 15.51-52).
• O arrebatamento acontecerá nos ares (1 Ts 4.17).
• A mulher que sofre perseguição durante a Tribulação

107
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

simboliza Israel (Ap 12.1-2,5-6 e 17).


• Os julgamentos da Tribulação constituem a “ira do Cordeiro”
• O casamento de Cristo (o Cordeiro) com a sua Noiva (Igreja)
acontece antes da batalha do Armagedom. Quando Jesus vier
na segunda vinda, a Igreja já terá subido, porque aparece
descendo do céu com Ele (Ap 19.8-14).

A seguir, uma imagem que resume perfeitamente a doutrina


do arrebatamento pré-tribulacional.

A DOUTRINA DO ARREBATAMENTO
PRÉ-TRIBULACIONAL
Motivação prática para vida piedosa, evangelismo e missões
Arrebatamento Pré-Tribulacional

Contraste entre as duas vindas

A necessidade de um intervalo entre as duas vindas

A doutrina da iminência do Arrebatamento

A natureza da Igreja

A obra do Espírito Santo

Pré-milenismo Futurismo Distinção entre Israel e Igreja

Interpretação literal coerente da Bíblia

Figura 4: A doutrina do arrebatamento pré-tribulacional.


Fonte: ICE, Thomas, Quando a trombeta Soar. Editora Chamada, 2015.

Meso-tribulacionistas: Apesar de ter diferenças de pensa-


mento com a linha pré-tribulacionista, aqui a interpretação
também é literal. A palavra Meso significa Metade / meio. Os
meso-tribulacionistas acreditam que a igreja é arrebatada exa-
tamente no meio da Grande Tribulação, sendo salva apenas no
momento do derramar da “ira de Deus”. Para eles:
• Os selos representam a proteção de Deus sobre a Terra,

108
TRIBULAÇÃO E O ARREBATAMENTO PRÉ-TRIBULACIONAL

impedindo com isso, que fatos piores não aconteçam antes.


• Diante desse prisma, o arrebatamento só acontece no capítulo
11 do Apocalipse. Eles têm a última trombeta como o fator
determinante, e acreditam que a expressão “chegou, porém a
tua ira” do verso 18, é o momento exato do arrebatamento.

Porém, essa linha interpretativa apresenta alguns fatores


conflitantes, tais como: a) negar que a Igreja é um mistério de
Deus; b) afirmar que os selos não estão ligados à “ira de Deus”;
c) defender que, de alguma forma, “as duas testemunhas” de
Apocalipse 11 representam a Igreja, mas dividida em dois gru-
pos: os mortos e os vivos.
Pós-tribulacionistas: A linha interpretativa dessa perspectiva
é alegórica. Eles defendem que a igreja passará pela grande
tribulação, porém, que será poupada da ira de Deus mesmo
estando na Terra. Para eles:
• Não há distinção entre Israel e a Igreja.
• Não haverá milênio. Eles acreditam que as promessas feitas
por Deus a Abraão foram todas cumpridas por Josué, juízes
e reis.
• Não há distinção entre tribulação e grande tribulação.
• Nega-se o cumprimento das 70 semanas de Daniel, pois ale-
gam que se trata de um cumprimento histórico, sem impor-
tância para a escatologia.
• Um arrebatamento no final da tribulação não daria lugar
aos dois acontecimentos que ocorrem no céu com a Igreja
após o arrebatamento, a saber: o julgamento de nossas obras
(tribunal de Cristo) e as Bodas do cordeiro.
• Interpretam Mateus 28:19 como algo eminente, o que
significa que Jesus só voltará quando o evangelho for pre-
gado em todo o mundo (Mc 13:9-13). Infelizmente, esse é
um engano de muitos, porque o evangelho que será pre-
gado no mundo todo será o “Evangelho do Reino”, con-
tudo, o evangelho que a Igreja prega não é esse, e sim, o

109
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

“Evangelho da Graça” de Deus, porém, na segunda metade


da tribulação o tempo da graça terá passado (Zc 11.10).
• As pessoas dessa linha interpretativa costumam tender para
uma teologia triunfalista e da prosperidade.

Depois de muitos estudos e análises dessas propostas, foram


várias as razões para escolhermos a linha de um arrebatamento
pré-tribulacionista, entre elas, as muitas promessas que garan-
tem que a Igreja de Cristo não passará pela grande tribulação.

RAZÕES BÍBLICAS PARA UM ARREBATAMENTO


PRÉ-TRIBULACIONAL

Primeiramente, quando lemos o livro do Apocalipse do


capítulo 6 ao 16, onde se fala da grande tribulação, tanto no
português, como no grego, não encontramos nenhuma men-
ção da Igreja. Olhando o caráter dos escritos neotestamentá-
rios, se a Igreja tivesse que estar presente num evento dessa
grandeza e importância, certamente os escritores bíblicos
fariam menção.
Segundo o próprio apóstolo Paulo: “Deus não nos destinou
para a ira, mas para alcançar a salvação mediante nosso Senhor
Jesus Cristo, que morreu por nós para que, quer vigiemos, quer
durmamos, vivamos em união com ele” (1 Ts 5.9-10).

Se a tribulação fala diretamente sobre o executar da ira de Deus,


podemos afirmar que seremos salvos dela no dia do arrebatamento
(Jr 30.5-7).

A Bíblia fala que passarão pela tribulação aqueles que rejei-


taram ao Senhor e à Sua palavra: “O justo é libertado da angústia,
e o perverso a recebe em seu lugar” (Pv 11.8). Esses perecerão
“porque não acolheram o amor da verdade para serem salvos”
(2 Ts 2.10). Outros versículos fortalecem esse entendimento:

110
TRIBULAÇÃO E O ARREBATAMENTO PRÉ-TRIBULACIONAL

“Vai, pois, povo meu, entra nos teus quartos, e fecha as tuas
portas sobre ti; esconde-te só por um momento, até que passe
a ira. Porque eis que o Senhor sairá do seu lugar, para castigar
os moradores da terra, por causa da sua iniquidade, e a terra
descobrirá o seu sangue, e não encobrirá mais os seus mortos”
(Isaias 26.20-21).
“Porque o SENHOR sabe livrar da provação os piedosos e reser-
var, sob castigo, os iníquos para o Dia de Juízo” (2 Pe 2.9).
“Como guardaste a palavra da minha paciência, também Eu
te guardarei da hora da tentação que há de vir sobre todo
o mundo” (Ap 3.10).

Vejamos que nesse último versículo o Senhor diz: “te guar-


darei DA hora” e não, “te guardarei NA hora”. E que hora seria
essa? O período da Grande Tribulação. Se estudarmos o origi-
nal grego, encontraremos aqui a preposição Ek (εξ), que signi-
fica: tirado para fora (com força). Portanto, Jesus está dizendo
nesse texto: “Eu vou arrancar você com força, vou tirar você do
que virá sobre a Terra”. Em outras palavras, a grande tribulação
será um evento global, mas a Igreja santificada será guardada
desse período.
No Antigo Testamento, encontramos o mesmo princípio: “e
andou Enoque com Deus; e não apareceu mais, porquanto Deus
o tomou para si” (Gn 5.24). Tipologicamente falando, Enoque é
uma figura da Igreja e, o mais interessante nesse sentido é que
ele foi arrebatado antes do dilúvio.
Outro motivo para acreditarmos num arrebatamento
pré-tribulacional, é que ao pensarmos na “natureza e propó-
sito” da Grande Tribulação, é evidente que não há motivo para
que a Igreja do Senhor passe por ela. No livro de Isaías, o pro-
feta afirma que o castigo seria para o mundo por causa da sua
maldade e para os perversos, por causa da sua iniquidade (Is
13:11). Mas, que ligação tem a verdadeira Igreja de Jesus com o
mundo, a maldade, a perversidade e a iniquidade?

111
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

Biblicamente, nenhuma, porque por causa do sacrifício de


Cristo, a igreja é imaculada e inculpável (Ef 5.25-27), ou seja, já
foi julgada na cruz. Logo, a Grande Tribulação não teria fina-
lidade para ela. Esse período tem a ver com a purificação dos
judeus e dos gentios, precisamente por isso, Jesus orientou seus
discípulos que orassem e vigiassem, para poder escapar da tri-
bulação que viria sobre a Terra (Lc 21.36), afirmando também
que a Sua vinda sobre as nuvens indicaria que a libertação da
Igreja estaria próxima (Lc 21.27-28).
Jesus tem pressa em vir pelos seus e cumprir Suas promessas!
Ele nos afirma: “eis que cedo venho, e o meu galardão está comigo,
para dar a cada um segundo a sua obra” (Ap 22.12). Como vemos
nesse texto, as suas promessas não se limitam apenas à certeza
da sua vinda ou ao arrebatamento, o Senhor tem muito mais
para aqueles que perseverarem em fé até o fim.
Conforme explica Apocalipse 3:5-10, além de livrar da tri-
bulação aos vencedores, Jesus lhes dará vestes brancas e de
nenhuma maneira riscará seu nome do livro da vida. Com base
nisso, devemos esperar confiantes ao Senhor Jesus e permanecer
fiéis aos seus ensinos. O SENHOR ESTÁ ÀS PORTAS!

112
— capítulo 7 —

O TRIBUNAL DE CRISTO

“Porque importa que todos nós compareçamos


perante o Tribunal de Cristo”.

2 Coríntios 5.10
O TRIBUNAL DE CRISTO

Já mencionamos o arrebatamento de João ao céu, referindo esse


fato como uma figura do arrebatamento da Igreja. Mas voltemos a
esse texto de Apocalipse 4, pois ele ainda tem muitas outras infor-
mações úteis para nós. Depois de ser arrebatado aos céus, João
diz: “Imediatamente, eu me achei em espírito, e eis armado no céu
um trono, e, no trono, alguém sentado” (v.2). Isso, novamente, é
uma figura do que acontecerá com a Igreja logo depois de ser
tirada da Terra.

O “TRONO MONTADO”

Esse trono é o que se conhece como o “Tribunal de Cristo” e


trata-se de uma corte estabelecida exclusivamente para o julga-
mento da Igreja e a distribuição de “coroas” segundo os atos de
justiça de cada um dos santos. Trata-se de um juízo individual
(Rm 14.10;12). Temos que ter clareza de que essa “audiência”
não será sobre salvação, pois os que comparecerem nela, já esta-
rão salvos.
O Senhor irá comparar nossas ações aqui na terra em relação
aos planos eternos que Deus tinha preparado de antemão para nós.
Além disso, o Senhor não julgará apenas as obras exteriores, mas
as intenções do coração. Como disse Ele: “Guardai-vos de exercer
a vossa justiça diante dos homens, com o fim de serdes vistos por eles;
doutra sorte, não tereis galardão junto de vosso Pai celeste” (Mt 6.1).
De acordo com o apóstolo Pedro, o juízo divino começará
pela Igreja, “porque já é tempo que comece o julgamento pela casa
de Deus.” (1 Pe 4.17-19), e como vimos alguns capítulos atrás,
a qualidade da obra de cada um será provada pelo fogo (1 Co
3.8-15).

Nesse julgamento, serão observados níveis de obediência que servirão


como “balanças” para um veredicto, visto que o fruto das nossas obras
estará sendo equiparado ao nível de obediência que tivemos durante a
nossa vida na Terra.

115
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

Os quatro níveis de obediência

No livro “Os Quatro Níveis de Obediência” que mencio-


namos anteriormente 13, você encontrará o porquê desses
quatro graus. Nele há uma pergunta um tanto quanto difí-
cil de ser respondida por qualquer um de nós: “Até que nível
estamos dispostos a obedecer a Deus?”. Esse livro nos traz um
grande e real desafio de descobrir em qual nível de obediên-
cia estamos.
Como seu próprio nome diz, existem quatro graus de
obediência, os quais variam do nível zero ao três. Sabemos
que estamos no nível zero quando, mesmo entendendo que
precisamos caminhar em total obediência a Deus, ainda não
nos determinamos a fazer isso. No nível um, é quando esta-
mos dispostos a ir além dessa obediência básica e entramos
no “caminho da cruz”, da mortificação do nosso eu. Então,
damos o primeiro passo em busca da nossa herança em Deus.
Já as pessoas que se encontram no nível um, são as que
entenderam que precisavam “levantar um altar”14 para Deus.
Não um lugar físico como o dos que veneram imagens, mas
um lugar espiritual de intimidade e adoração. Ali, todos os
dias eles decidem entregar-se como sacrifícios vivos à sobe-
rana vontade de Deus e isso os conduz gradativamente ao
seguinte nível de obediência, até estarem totalmente dóceis
à “vontade de Deus”, por vontade própria.
O cristão que tem chegado a esse último degrau é aquele
que está disposto a subir ao monte mais alto da sua vida e
abrir mão do que realmente lhe custa a fim de conhecer mais
ao Senhor Jesus. É aquele cristão disposto a entregar ao seu
Deus o mais precioso que possui: seu Isaque, ou seja, algo

13 RODRIGUES, J. Os Quatro Níveis de Obediência. Trindade: MCM Publicações, 2012. Disponível


em: www.mcmloja.com
14 ALTAR, no caminho da intimidade. MARÇAL, Igor. Trindade: MCM Publicações, 2015. Dispo-
nível em: www.mcmloja.com.

116
O TRIBUNAL DE CRISTO

que excede o valor material. Somente ali podemos dizer que


verdadeiramente estamos vivendo n’Ele, por Ele e para Ele!
Contudo, não se trata de um lugar que se alcança de uma
vez e para sempre, pelo contrário, a cada dia e com a ajuda
do Espírito Santo, somos intimados a batalhar pela nossa fé
(Jd 1:3).

Como disse o apóstolo Paulo, veja cada um como edifica sobre o funda-
mento que é Cristo (1 Co 3:10).

Podemos dizer que cada um desses níveis estão relacionados


aos materiais que Paulo menciona em 1 Coríntios 3.12-14, para
falar sobre a qualidade da obra de cada um, e também fala se
vivemos na boa, na agradável ou na perfeita vontade de Deus
para nossas vidas. Assim, temos:
• Nível 0: equivalente ao “feno, palha e madeira”, quando bus-
camos apenas a vontade e a glória própria (portanto, ainda
nem estamos na vontade de Deus);
• Nível 1: correspondente à “prata”, quando vivemos a boa
vontade de Deus, algo aceitável aos olhos d'Ele;
• Nível 2: quando nossas obras são de “pedras preciosas”, isso
quer dizer que finalmente optamos por uma vontade que
agrada a Deus. Essa atitude nos conduz gradativamente ao
próximo nível;
• Nível 3: quando o que fazemos para Deus equivale ao “ouro”,
ou seja, é valioso para Ele, pois esse material representa,
biblicamente, o Seu caráter e a Sua glória.

Sabemos que ao julgar as nossas obras, Jesus não errará.


Muito pelo contrário, Ele será completamente justo, já que
julgará o interior de cada um e não a aparência da sua obra:
“não julgará segundo a vista dos seus olhos, nem repreenderá
segundo o ouvir dos seus ouvidos” (Is 11.3).

117
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

AQUELE QUE SE ASSENTA NO TRONO

O capítulo quatro do Apocalipse apresenta o próprio Deus


assentado sobre o Trono. Temos ali a triunidade de Deus15 (Ez
1.26-28). Na visão que João teve do Trono, nesse capítulo, pode-
mos ver que há alguns símbolos que identificam a aliança de
Deus com o homem. Tais como:
Arco celeste: também chamado de “arco-íris” nos nossos
dias. Desde a época de Noé, Deus colocou esse sinal no céu
como símbolo da sua aliança com o homem (Gn 9.12-13), logo,
nesse contexto de Apocalipse, fala também da aliança que Deus
tem com a igreja.
Tronos: O Senhor prometeu que ao vencedor lhe seria con-
cedido assentar-se no trono (Ap 3.21). Então, quantos tronos
existem? De acordo com o capítulo quatro, só na sala do trono
temos vinte e quatro, porém, o número de vencedores segura-
mente superará essa cifra. Não se sabe quantos tronos haverá,
porém, algo é certo: no milênio haverá “Tronos do Juízo” (Sl
122.5). João nos confirma isso:
“E vi tronos; e assentaram-se sobre eles, e foi-lhes dado o
poder de julgar; e vi as almas daqueles que foram degolados
pelo testemunho de Jesus, e pela palavra de Deus, e que não
adoraram a besta, nem a sua imagem, e não receberam o sinal
em suas testas nem em suas mãos; e viveram, e reinaram com
Cristo durante mil anos” (Ap 20.4).

Outros textos onde a palavra “trono” é mencionada são:


Daniel 7.9 e Apocalipse 4.4. Embora não saibamos quantos são,
os “vencedores” irão se assentar nesses tronos para reinar com

15 Utilizamos a expressão “Triunidade” e não “Trindade. “Trindade” é originalmente uma


expressão que nasceu na Índia e é usada até hoje para designar a trindade hindu: Brahma, Shiva
e Visnu. Embora o termo fosse abraçado mais tarde pela Igreja Católica, ele não é mencionado na
Bíblia nenhuma vez sequer. Na verdade, sempre que a Bíblia se refere ao Deus tri-uno, usa o termo
Divindade. Portanto, instamos aos irmãos a que, de agora em diante, não usem mais a palavra
trindade para se referir ao nosso Deus.

118
O TRIBUNAL DE CRISTO

Cristo, pois Ele mesmo prometeu: “ao que vencer lhe concederei
que se assente comigo no meu trono; assim como eu venci, e me
assentei com meu Pai no seu trono” (Ap 3.21).
Irmãos, o caminho para esses tronos é a cruz: “quem quiser
vir após mim, negue-se a si mesmo e tome a sua cruz” (Lc 9.23). Os
que negam a si mesmos até o fim, seguindo a vontade do Pai,
inclusive correndo perigo de morte por isso, são os considera-
dos vencedores.
24 anciãos: Em Israel, o ancião era um representante do povo
(Lv 4.15-21). Costumavam ser pessoas experientes, vividas e com
bom testemunho, motivo pelo qual eram selecionadas para
julgar as causas da nação. (Ex 3.16; Ex 4.28-31; Lv 9.1-24; Nm
11.16-17). Nesse caso, “os vinte e quatro anciãos” representam
a Igreja, aos que foram julgados por Cristo e achados dignos de
assentarem em tronos para julgar a Terra.
Afirmamos isso com base em todas as vezes que a expres-
são 24 anciãos foi citada no livro de Apocalipse, registradas
nessa sequência: 4.4; 4.10; 5.5-6; 5.8; 5.11; 5.14; 7.11; 7.13;
11.16; 14.3; 19.4.
Nesses textos, encontramos várias semelhanças entre esses
“anciãos” e a igreja, tais como: adorar lançando suas coroas ante
aquele que está assentado no trono; consolaram João quando
ele chorava; cantam a Deus com louvores (as harpas em suas
mãos são uma figura disso); intercedem, tem em suas mãos
as “taças cheias de incenso” que representam as orações dos
santos; são os mais próximos do trono do Cordeiro; sabiamente
explicam acerca dos remidos na Terra; celebram o triunfo mile-
nar e eterno de Deus; estão em concordância com a vontade
perfeita de Deus, ao dizer amém e aleluia no julgamento da
meretriz (sistemas político, comercial e religioso).
Coroas de ouro: Como dissemos antes, o galardão está ligado
ao caráter da obra de cada um, e por isso, só Deus pode dar
essas coroas, pois, somente ele poderá avaliar a intenção com
que edificamos tais obras. Vemos aqui que os 24 anciãos, que

119
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

acabaram de ser julgados e coroados, alcançam um ponto tal


de adoração que lançam suas coroas aos pés d’Aquele que está
assentado no trono. Embora eles recebessem suas recompen-
sas, estando diante de Jesus, não se acharam dignos de usá-las.

Mesmo recompensados pelo esforço pessoal, os galardoados atribuirão


toda Glória ao Cordeiro, pois, qualquer cristão genuíno sabe que sem
Jesus nada poderia fazer!

Irmãos, queremos lembrar uma vez mais que o reino de Deus


não é para aqueles que se sentem aptos, mas para aqueles que
sabem reconhecer que tudo vem de Deus, porque, afinal, “d’Ele,
por meio d’Ele e para Ele são todas as coisas”. Existem outras
referências que identificam essas coroas sendo entregues aos
vencedores: 1 Co 9.25; 1 Ts 2.19; Tg 1.12; 2 Tm 4.8 e 1 Pe 5.4.
Os quatro seres viventes: Esses seres são uma classe de anjos
denominada querubins. O significado dessa palavra está ligado
a “guardiões da glória de Deus”. É a mais alta patente de anjos
no céu, também são os seres celestiais mais próximos do trono.
Ao passar tanto tempo na presença de Jesus adorando-o, esses
seres foram assumindo as características do caráter d’Ele.
No verso sete do capítulo quatro de Apocalipse, vemos que
eles se parecem a quatro figuras: o Leão, o novilho, o homem e
a águia. O “Leão” fala de governo sobre os demônios; o “Novi-
lho” representa o caráter de um servo (Jesus foi servo de todos
os irmãos); o “Homem” fala de um caráter humano perfeito e
aprovado (1 Ts. 5:23); e a “Águia” representa a velocidade em
obedecer a vontade de Deus.
Sete tochas de fogo: O próprio texto nos diz que essas sete
tochas representam os sete espíritos de Deus (1° Senhor, 2°
Sabedoria, 3° Entendimento, 4° Conselho, 5° Fortaleza, 6°
Conhecimento, 7° Temor. Is 11:2).
Todos esses elementos nos apontam para os céus, que são
a nossa região espiritual, também, o nosso lugar de origem e

120
O TRIBUNAL DE CRISTO

o nosso destino final: a casa do Pai. Porém, ao longo da Bíblia


podemos encontrar diversas regiões espirituais, tanto “acima”
como “embaixo” de nós (2 Samuel 22.7-8; Salmos 18.9-11; 2
Pedro 2.4; Apocalipse 9). Salomão disse que “para o sábio, há o
caminho da vida que o leva para cima, a fim de evitar o inferno,
embaixo” (Pv. 15.24). Essas regiões se dividem em três:
1) Céu: a cidade de Deus, a casa do Pai; 2) Paraíso ou “seio
de Abraão” (Lc 16.19-26): esse local recebia todos os salvos do
Antigo Testamento. Todavia, eles foram transferidos para o céu
quando Jesus morreu e pregou aos espíritos em prisão, levando
assim cativo o cativeiro (Ef 4.8-10). Desse modo, ele cumpriu
João 14.6, onde diz que ninguém vai ao Pai a não ser por Ele
(Jo 3.13; 1 Co 12:4); 3) Inferno: também conhecido como Sheol
(no A.T.) ou Hades (no N.T.). Trata-se de um lugar de tormento
(Pv 15.24) destinado para os ímpios. Todo aquele que morrer
sem Cristo, na prática do pecado, vai para o inferno aguardar o
juízo final (Lc 16.23).

ESTADO INTERMEDIÁRIO DOS MORTOS

Uma grande questão que intriga a mente das pessoas desde


o princípio é: será que existe vida após a morte? A resposta
direta é “sim”, como diz a Escritura: “E, assim como aos homens
está ordenado morrerem uma só vez, vindo, depois disto, o juízo”
(Hb 9:27). Como nos diz Myer Pearlman: “[...] o homem é mortal,
e seu corpo está sujeito à morte, embora sua alma seja imortal e
sobreviva à morte do corpo” 16. No original, a palavra morte tem o
sentido de separação, e acontece quando a alma se desliga do
corpo. É o que conhecemos como “morte física”. Muitos acre-
ditam que o que se planta aqui, se colhe apenas aqui. Porém,
isso não é verdade.

16 PEARLMAN, Myer. Conhecendo as doutrinas da Bíblia. 3. ed. São Paulo: Editora Vida, 2009, p.
367.

121
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

A Bíblia nos garante que seja bom ou ruim o que plantemos, iremos colher
aqui, e muitas vezes mais após a morte.

Como diz o apóstolo Paulo: “Se a nossa esperança em Cristo


se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os
homens” (1 Co 15.19). Já a “morte espiritual” se dá quando o
espírito do homem se separa de Deus por causa do pecado — o
que aconteceu com toda humanidade após o pecado de Adão
— (Ef 2.1). Agora, quando a Escritura fala de uma “morte espi-
ritual” numa condição permanente, temos a chamada “morte
eterna”, ou “segunda morte” (Ap 21.8).

Onde estão os mortos agora?

Embora muitos pensem o contrário, a morte física não sig-


nifica um “desligamento” da consciência. Há ensinos errados
que dizem que após a morte, a pessoa fica “inconsciente” ou
“dormindo”. Essa visão é comumente denominada de “sono
da alma”. Porém, a bíblia nos diz que essas pessoas continuam
conscientes nesse estado intermediário. Quando o seu corpo
físico pede descanso e você dorme a sua mente continua ativa.
Assim mesmo acontecerá conosco após a morte.
Aqueles que morrerem estando em pecado, irão direto para
o inferno, onde aguardarão o momento do Juízo Final: “por-
que o Senhor sabe livrar da provação os piedosos e reservar sob
castigo, os injustos para o Dia de Juízo” (2 Pe 2.9). Mas, os que
morrerem em Cristo — hoje — vão direto para o céu: “E o pó
volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu”
(Ec 12.7). Lembremo-nos daquele malfeitor que foi crucificado
ao lado de Jesus:
Um dos malfeitores crucificados blasfemava contra ele,
dizendo: Não és tu o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós
também. Respondendo-lhe, porém, o outro, repreendeu-o,
dizendo: Nem ao menos temes a Deus, estando sob igual

122
O TRIBUNAL DE CRISTO

sentença? Nós, na verdade, com justiça, porque recebemos o


castigo que os nossos atos merecem; mas este nenhum mal
fez. E acrescentou: Jesus, lembra-te de mim quando vieres
no teu reino. Jesus lhe respondeu: Em verdade te digo que
hoje estarás comigo no paraíso (Lc 23.39-43).

Contudo, nem os justos receberão sua recompensa final nem


os ímpios seu castigo final enquanto não acontecer sua ressur-
reição. Embora o cristão, após sua morte, já esteja na presença
do Senhor, ainda não receberá o seu galardão final. Da mesma
maneira, o ímpio no estado intermediário já experimenta uma
situação de castigo, mas o seu castigo final se dará a partir do
juízo do trono branco (Ap 20:14).

Esse estado intermediário não tem nada a ver com o que a igreja romana
chama de purgatório, pois, biblicamente, não existe possibilidade
alguma de um indivíduo ter o seu destino alterado após a morte, não
existe uma segunda chance (Hb 9.27).

Como vemos, é muito fácil saber onde passaremos a vida


eterna. Se pela fé em Jesus Cristo tivermos vivido conforme à
vontade de Deus, iremos para a ressurreição da vida, porém,
se rejeitamos a Salvação d’Ele em vida e praticamos o mal, ire-
mos para a ressurreição do juízo (Jo 5.29). A Palavra de Deus
garante esperança para aqueles que têm fé em Cristo Jesus,
assim mesmo, ela garante que haverá apenas morte e tormento
eterno para os que não creram n’Ele (Mt 25.46).

123
— capítulo 8 —

O JUÍZO DE DEUS

“Ao irmão, verdadeiramente, ninguém o pode remir, nem pagar


por ele a Deus o seu resgate (Pois a redenção da alma deles é
caríssima, e cessará a tentativa para sempre)”.

Salmos 49.7-9
O JUÍZO DE DEUS

Como dissemos no começo, o capítulo cinco de Apocalipse


talvez seja o mais importante de todo o livro. Ele é como o “eixo
da roda”, todo o livro gira em torno dele, portanto, se não o com-
preendermos em sua essência, poderemos perder o raciocínio todo
do Livro. A partir dele, João começa a descrever o juízo de Deus.
No verso um temos alguém sentado no trono — o personagem do
capítulo 4 que já identificamos como a Triunidade de Deus.
Nesse momento, o próprio Filho é julgado e encontrado
digno de abrir o livro selado, então, lhe é declarado o direito
de possuir o Reino (vs. 12). Para compreendermos melhor esse
cenário, e a respeito do Livro selado que Jesus teve direito de
abrir, primeiro precisamos saber algumas coisas sobre os cos-
tumes de Israel descritos no Antigo Testamento.

O ano do jubileu e o resgatador

No antigo Israel, os hebreus podiam semear as suas terras e


colher dos seus frutos durante seis anos, porém, no sétimo ano,
eles deviam deixar descansar a terra para que fosse “restaurada”
(Lv 25.2-4). Era um “sábado ao Senhor”, à semelhança do sétimo
dia da criação, no qual Deus descansou após ter criado todas as
coisas nos primeiros seis dias.
Na “genealogia bíblica”, alguns estudiosos creem que o
homem foi criado por volta de seis mil anos atrás. Segundo
as mesmas contas, a partir do ano 2001 entramos no sétimo
milênio, ou seja, no “dia” sete. Logo, se as genealogias estão
corretas, a partir daí, entramos no ano do descanso do Senhor17.
Além de reservar o sétimo ano para o descanso da Terra, Deus
ordenou aos israelitas contar “sete semanas de anos” (ou seja,
sete vezes, sete anos) que equivaliam a quarenta e nove anos. E

17 Existe uma carta atribuída ao apóstolo Barnabé (companheiro de Paulo) que descreve a visão
teológica dele acerca de alguns acontecimentos fundamentais. Embora seja apócrifa, contém um
dado no mínimo curioso. O autor escreve que de Adão a Abraão passaram-se dois mil anos, de Abraão
até Jesus outros dois mil anos e que da época de Jesus até sua volta, haveria dois mil anos mais.

127
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

aos dez dias do mês sétimo desse último ano, eles deviam tocar
a trombeta do jubileu apregoando o dia da expiação. Mas, o que
isso significava? Bem, o ano cinquenta que começava a partir
daí, era chamado de “Jubileu”, que significa Cordeiro.
Neste ano os israelitas que tinham perdido as suas terras por
causa das dívidas, tinham a chance de voltar para a sua herança,
pois toda dívida devia ser perdoada pelos credores (Lv 25.8-11).
Todavia, se antes do Jubileu, a pessoa que tinha perdido sua
terra, resolvesse readquiri-la, mas não tivesse meios para pagar
a dívida, a lei permitia que um parente seu resgatasse a terra
pagando a dívida no lugar dela. É o que se conhece em Israel
como “parente resgatador”. Vejamos um exemplo.
Quando Noemi, a sogra de Rute, saiu de Judá com seu esposo
por causa da fome, foi morar nos campos de Moabe, um povo
inimigo do povo de Deus (Rt 1.1-2). Então, por algum motivo,
eles perderam a herança que lhes correspondia em Israel e
outros posseiros tomaram para si aquelas terras. Porém, após
ficar viúva, Noemi decide retornar para Israel junto com sua
nora Rute. Então, aparece Boaz na história. Um parente resga-
tador com direito de redimir as terras de Noemi, que ao pagar
a dívida dela, devolveu-lhe a sua herança.
Por isso, a Bíblia fala que Jesus Cristo é o nosso Redentor,
já que com Seu próprio sangue pagou “o escrito de dívida” que
havia sobre nós: “E a vós outros, que estáveis mortos pelas vos-
sas transgressões e pela incircuncisão da vossa carne, vos deu vida
juntamente com ele, perdoando todos os nossos delitos; tendo can-
celado o escrito de dívida, que era contra nós e que constava de
ordenanças, o qual nos era prejudicial, removeu-o inteiramente,
encravando-o na cruz; e, despojando os principados e as potestades,
publicamente os expôs ao desprezo, triunfando deles na cruz” (Cl
2.13-15).

Ele sabia que — naturalmente falando — nunca teríamos condições de


pagar essa dívida por conta própria (Sl 49.8; Mt 16.26).

128
O JUÍZO DE DEUS

Agora que você já sabe o que é o ano de descanso da terra,


o ano do Jubileu e um parente resgatador, abra conosco Jere-
mias 32. Nessa passagem, o Senhor ordenou ao profeta que
comprasse a herdade do seu primo Hanameel, pois, tinha o
direito de resgatá-la. Então, como parente resgatador, Jeremias
comprou o campo por dezessete ciclos de prata (vs. 6-9). Poste-
riormente, ele assinou duas cópias das escrituras do terreno e,
segundo a lei, selou uma e deixou a outra aberta (vs. 11).
Quando se comprava ou resgatava um campo em Israel eram
assinadas duas escrituras. A que ficava com o comprador per-
manecia aberta, e a outra, devia ser fechada com sete selos,
levando por fora apenas o nome do proprietário. Essa última
cópia era guardada no “cartório” da época, mas somente o dono
recebia a combinação para acessar essa cópia fechada, para
evitar qualquer fraude. É possível que esteja se perguntando o
que tem a ver tudo isso com o cenário de Apocalipse 5. Como
veremos a seguir, tem tudo a ver, por isso, acompanhe-nos na
seguinte ilustração.
Vamos pensar em um jovem chamado Messias. Ele comprou
um terreno segundo a lei judaica e foi embora para um lugar
bem distante, mas ali perdeu sua “cópia aberta” da escritura.
Os anos se passam e chega o tempo do Jubileu, então Messias
se lembra da sua herança e volta para possuir a terra. Ao che-
gar ali, ele afirma ser o dono do terreno, porém, não tem em
suas mãos a “escritura aberta”, resta-lhe então, ir ao “cartório”
e verificar a “escritura selada”.
Essa escritura era como se fosse um cofre, e somente o verda-
deiro dono conseguiria abri-la. Assim, ao romper corretamente
os sete selos, Messias comprovou ser o dono da herança, tal
como afirmava. Contudo, ao chegar à sua terra para tomar posse
dela, encontrou ali um posseiro não muito disposto a sair do
seu lugar, mesmo sendo o ano do Jubileu.
Então Messias teve que reivindicar seus direitos jurídicos
de posse, e para isso foi com a escritura na mão até o juiz, e

129
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

lhe explicou o acontecido. Então o juiz designa uma tropa de


soldados para retirar o posseiro da terra de Messias. Embora
aconteça uma grande peleja entre ambos os bandos, no final
o posseiro é retirado e Messias pode voltar para morar na sua
herança. Com essa ilustração em mente, poderá compreender
mais facilmente o que veremos adiante.

O livro selado

No capítulo cinco de Apocalipse, João viu um livro selado


com sete selos (que no caso seria a “escritura selada” da Terra)
e ouviu um anjo bradar: — “Quem tem o direito de abrir o livro
e desatar seus selos?" (vs. 2). Mas, não se achava ninguém com
as credenciais necessárias para fazer isso. Ninguém era digno!
Então João começou a chorar, já que provavelmente por ser
judeu sabia o que aquilo significava. Sabia que se o verdadeiro
dono não aparecesse para tomar posse da terra, ela ficaria para
sempre com o posseiro: Satanás.
Todavia, um dos anciãos o consolou dizendo: — “Não cho-
res; eis aqui o Leão da tribo de Judá, a raiz de Davi, que venceu,
para abrir o livro e desatar os seus sete selos” (vs. 5). Nesse ponto
aparece o Cordeiro, o nosso “jubileu”, tendo em seu corpo as
marcas que provavam que havia pagado o alto preço de resgate
e que, agora, tinha o direito de abrir o livro.

Nessa passagem o Senhor estava reivindicando tudo aquilo que tinha


conquistado na cruz e assim, por direito, o reino do mundo voltou a ser
d’Ele.

Na eterna justiça e misericórdia de Deus, isso teria que acon-


tecer, caso contrário, a humanidade estaria eternamente per-
dida. A partir daqui, o Senhor Jesus toma o livro e começa a abrir
seus selos, cada um representando um acontecimento futuro.

130
O JUÍZO DE DEUS

Figura 5: Efeito cascata: selos, trombetas e taças.


Fonte: COELHO, André. Redescobrindo sua bíblia. Ed. Geográfica, 2015.

Tal como apresenta essa imagem, o fim é uma sequência


de fatos que ocorrerão divididos em grupos entre os selos, as
trombetas e as taças. Como num efeito cascata, no final de cada
evento será desencadeado o início de outro. “O sétimo selo”
ativa as trombetas, a “sétima trombeta”, por sua vez, ativa as
“sete taças” (fig. 5). Na medida em que Jesus vai abrindo os selos,
as coisas começarão a acontecer aqui na Terra.
Por três anos e meio, Deus entregará o mundo nas mãos da
trindade satânica, (o anticristo, o falso profeta e satanás), mas
no final da história, eles serão envergonhados, presos e conde-
nados eternamente.

131
— capítulo 9 —

PRINCÍPIO DAS DORES:


PRIMEIRA FASE
DA GRANDE TRIBULAÇÃO

“Vi quando o Cordeiro abriu um dos sete selos e ouvi um dos


quatro seres viventes dizendo, como se fosse voz de trovão: Vem!”

Apocalipse 6.1
PRINCÍPIO DAS DORES: PRIMEIRA FASE DA GRANDE TRIBULAÇÃO

Os cinco primeiros selos marcam a primeira fase da tri-


bulação, período no qual o anticristo toma em suas mãos o
poder, sendo ajudado por Satanás. Tal como o “posseiro” da
ilustração que vimos no capítulo anterior, não será do querer
do inimigo sair da terra e entregá-la a seu verdadeiro dono.
Por isso, Deus, o Justo Juiz, enviará muitos dos seus solda-
dos, seus anjos, para travar uma batalha com o inimigo e
expulsá-lo definitivamente.
Como dissemos, o livro do Apocalipse gira em torno do
que acontece em seu capítulo cinco: Deus tem em suas mãos
uma “escritura fechada” e apenas uma pessoa no universo
é digno de abrir os seus sete selos: o Cordeiro. Já no início
do capítulo seis, João descreve como Jesus começa a abrir os
selos e, à medida que cada selo é aberto, uma etapa da ira de
Deus é derramada sobre a Terra e sobre os homens que fica-
ram na tribulação.
Finalmente, ao abrir o último selo, Satanás (o posseiro) é
retirado da Terra e, então, Jesus (o dono legítimo) toma posse
da mesma e estabelece o milênio (um reinado de mil anos na
Terra). Em poucas palavras, esse é o livro de Apocalipse.
Embora não tenhamos como definir datas com exati-
dão, pois muitos fatos ocorrerão ao mesmo tempo ou num
pequeno espaço de tempo, na Terra teremos uma suces-
são de fatos: o aparecimento do anticristo; sua aliança com
Israel; o rompimento de sua aliança com Israel; a perseguição
aos judeus e cristãos; o anticristo é visto como um deus da
Terra; a grande tribulação; a batalha do Armagedom; o juízo
das nações; o milênio; a última sedução dos povos; o “trono
branco”; e, por fim, a Eternidade.
Jesus disse que serão horrores como a Terra nunca antes
viu, por isso, busquemos com intensidade ao Senhor, enquanto
ainda pode ser achado (Is 55.6), permaneçamos n’Ele para que
na sua vinda estejamos confiantes e não tenhamos que nos afas-
tar da sua presença envergonhados (1 Jo 2.28).

135
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

OS SETE SELOS

Os primeiros quatro selos tratam de um “cavaleiro branco” que virá


em “quatro cavalos” de cores diferentes. Embora muitos o confundam
com o Senhor, veremos adiante que não se trata da mesma pessoa.

Nesse período de tribulação, Deus tratará com os judeus


que não creram em Jesus como Messias e com os ímpios (ou
incrédulos). Assim, os cristãos imaturos, que não buscaram
“azeite para suas lâmpadas”, deverão amadurecer no calor da
tribulação ou morrer para sempre.

O primeiro selo: cavalo branco (Ap 6.2)

A cor branca revela a primeira ação do anticristo: a falsa


paz. Cronologicamente falando, ele será manifesto no contexto
mundial na septuagésima semana de Daniel. Na visão de João
no capítulo seis, esse cavaleiro do cavalo branco recebe uma
coroa (vs. 2), o que significa que as nações lhe darão poder e ele
será eleito para governar o mundo.
Conforme dissemos, quando a Igreja verdadeira for arreba-
tada, o anticristo poderá se manifestar por completo e ficará
livre para cumprir seu propósito, enquanto engana a muitos.
Daniel disse que ele prosperaria nos seus intentos, por isso, a
expressão usada em Apocalipse 6.2: “vencendo para vencer”. O
cavaleiro apresentado no capítulo 6 não é outro senão o anti-
cristo. Portanto, analisando as credenciais, podemos afirmar
que o Senhor Jesus é o cavaleiro que aparecerá no capítulo 19
de Apocalipse.

Lembre-se que, para não confundir o Senhor com qualquer outro perso-
nagem do Apocalipse, é necessário sempre voltar ao capítulo primeiro
do livro e comparar ambas as descrições.

136
PRINCÍPIO DAS DORES: PRIMEIRA FASE DA GRANDE TRIBULAÇÃO

O anticristo usará de engano para estabelecer suas alianças e


em um curto espaço de tempo, subirá ao poder e se tornará forte
(Dn 11.23). A respeito dele está escrito: “este rei fará segundo a
sua vontade, e se levantará, e se engrandecerá sobre todo deus;
será próspero, até que se cumpra a indignação” (Dn 11.36a).
Porém, quando as pessoas acharem que finalmente há “paz e
segurança” na Terra, repentinamente começará a destruição (I
Ts 5.3). De repente, sobrevém o cavalo vermelho.

O segundo selo: cavalo vermelho (Ap 6.4)

A cor vermelha está ligada ao sangue, pelo que esse cavalo


representa a guerra. Até aqui, a Igreja arrebatada estará no
céu, enquanto na Terra o anticristo já terá se manifestado
mundialmente e será eleito um líder global. No mesmo
período, no céu acontece o “Tribunal de Cristo”, e aqui na
Terra as pessoas desfrutam de uma falsa paz momentânea.
Porém, com o segundo selo, vem a destruição repentina e
uma terrível guerra mundial se inicia.
O “cavaleiro” desse selo receberá uma grande espada e
terá poder para tirar a paz da Terra. Em outras palavras, nesse
período, o anticristo, aquele que outrora fora um grande líder
hábil na diplomacia, mostrará sua face de ditador.
A Bíblia nos diz: “Mas, no fim do seu reinado, quando os
prevaricadores acabarem, levantar-se-á um rei de feroz catadura
e especialista em intrigas. Grande é o seu poder, mas não por sua
própria força; causará estupendas destruições, prosperará e fará
o que lhe aprouver; destruirá os poderosos e o povo santo. Por sua
astúcia nos seus empreendimentos, fará prosperar o engano, no
seu coração se engrandecerá e destruirá a muitos que vivem des-
preocupadamente; levantar-se-á contra o Príncipe dos príncipes,
mas será quebrado sem esforço de mãos humanas” (Dn 8.23-25).
Mesmo em meio aos horrores da Grande Tribulação, ainda
haverá oportunidade para alcançar a salvação, porém, será

137
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

incomparavelmente mais difícil e doloroso. A palavra diz que:


“Nesse tempo, muitos hão de se escandalizar, trair e odiar uns
aos outros; levantar-se-ão muitos falsos profetas e enganarão a
muitos. E, por se multiplicar a iniquidade, o amor se esfriará de
quase todos. Aquele, porém, que perseverar até o fim, esse será
salvo” (Mt. 24:10-13).

Os cristãos que morrerem a partir daqui, e até a grande perseguição


daqueles que rejeitam a marca da besta por causa de Jesus, subirão ao
céu e participarão das bodas do Cordeiro, porém, só como convidados.

O terceiro selo: cavalo preto (Ap 6.5)

A cor preta representa a fome. O personagem apresentado


tem em suas mãos uma “balança” e lhe foi concedido poder
para aumentar excessivamente o preço dos alimentos. Por
efeito da guerra ocorrida no segundo selo, acreditamos que
muitos dos trabalhadores aptos para o trabalho nas fábricas
ou nos campos foram mortos. Portanto, nesse período haverá
uma grande recessão de alimento no mundo todo e conse-
quentemente, escassez e fome geral.
Calculando a equivalência dos valores descritos no verso
6, vemos que aqueles que tiverem emprego conseguirão
dinheiro apenas para alimentar uma pessoa, pelo que muitos
morrerão de fome.
O profeta Jeremias teve que testemunhar um horror seme-
lhante, e o descreveu da seguinte forma: “Mas, agora, escure-
ceu-se-lhes o aspecto mais do que a fuligem; não são conhecidos
nas ruas; a sua pele se lhes pegou aos ossos, secou-se como uma
madeira. Mais felizes foram as vítimas da espada do que as víti-
mas da fome; porque estas se definham atingidas mortalmente
pela falta do produto dos campos" (Lm 4:8-9).

138
PRINCÍPIO DAS DORES: PRIMEIRA FASE DA GRANDE TRIBULAÇÃO

Figura 6: “Holodomor”/ Ucrânia, S. XX18

A humanidade já presenciou um cenário semelhante na


Ucrânia, no século XX. Com as suas políticas econômicas,
o ditador comunista Joseph Stalin, liderou um dos maiores
genocídios da história humana naquela nação ao matar de
fome mais de seis milhões de ucranianos entre 1931 e 1933.
Esse holocausto ucraniano passou a ser conhecido como
Holodomor que significa “deixar morrer de fome”.
Como pode se ver nas fotografias anteriores, as pessoas
e os animais caiam mortos por inanição nas ruas. Thomas
Woods19 relata que: “os cadáveres estavam por todos os lados, e
o forte odor da morte pairava pesadamente sobre o ar. Casos de
insanidade, e até mesmo de canibalismo, estão bem documenta-
dos”. O cenário deve ter sido certamente terrível, apocalíptico,
porém, o Senhor Jesus disse aos seus discípulos que nunca
houve, desde o princípio do mundo, horrores e aflições como
os que virão na tribulação (Mt 24.21). Ou seja, nem o cenário
do Holodomor se compara ao que a humanidade presenciará
nos dias do terceiro e quarto selo.

18 Imagens disponíveis em: http://www.oarquivo.com.br/temas-polemicos/historia/4694-


holodomor.html, Acesso em: 08/04/20.
19 WOODS, Thomas. A fome na Ucrânia: um dos maiores crimes do estado foi
esquecido. Fonte: Instituto Mises Brasil, disponível em: https://www.mises.org.br/
article/1046/a-fome-na-ucrania--um-dos-maiores-crimes-do-estado-foi-esquecido

139
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

O quarto selo: cavalo amarelo (Ap 6.8)

A cor amarela ou pálida, é a cor de um cadáver, por isso está


associada à morte. Por consequência da guerra e da fome dos
dois selos anteriores, muitos cadáveres estarão abandonados
a céu aberto por todos os lados (fig. 6). O ar será contaminado
porque não haverá como lidar com uma crise sanitária dessa
magnitude. Em virtude desse cenário, provavelmente haverá
uma grande epidemia no mundo.

O quinto selo: as almas dos mártires

Haverá uma grande perseguição contra os crentes que


ficarão aqui na terra durante a tribulação por não estarem
aptos no ato do arrebatamento, e certamente serão torturados
e mortos por causa de Jesus. Os que forem salvos, subirão
ao céu e receberão vestes brancas. Esses mártires clamarão
a Deus por justiça e juízo, mas deverão esperar por isso, até
que o número de pessoas que irão morrer por amor à palavra
esteja completo (Ap 6.11).

Depois do arrebatamento, imediatamente haverá um avivamento


judaico, onde o evangelho do reino será pregado ousadamente pelos
judeus em todas as nações, muitos deles serão mortos por estarem
evangelizando (Mt 24.14).

O número que precisa ser completado é de 144 mil. Sobre


isso, falaremos logo adiante, ao abordarmos o capítulo 7 de
Apocalipse.

O sexto selo (Ap 6.12)

Com a abertura desse selo, haverá eventos terríveis que já


foram preanunciados pelos profetas e por nosso Senhor desde a

140
PRINCÍPIO DAS DORES: PRIMEIRA FASE DA GRANDE TRIBULAÇÃO

antiguidade: terremotos, pestilências, assolação, queda de corpos


celestes e o escurecimento do sol. Céu e Terra serão abalados pela
fúria ardente de Deus (Jl 2.31; Jl 3.15; Is 29.6; Is 13.9-10;13; Lc 21.11;
Is 34.4).
O Senhor disse desde a antiguidade: “farei estremecer os céus;
e a terra se moverá do seu lugar, por causa do furor do Senhor dos
Exércitos, e por causa do dia da sua ardente ira” (Is 13.13). Fica claro
em Apocalipse 6.15-17 que toda a ira de Deus será derramada com
fúria sobre a Terra, e todos tentarão — em vão — se esconder dela.
Os 144 mil (Ap 7.1-8): “Então, ouvi o número dos que foram
selados, que era cento e quarenta e quatro mil, de todas as tribos
dos filhos de Israel” (Ap 7.4). Os selados de Deus serão judeus de
todas as tribos de Israel, que estarão vivos na primeira metade
da tribulação.
Eles serão escolhidos porque desejavam cumprir fielmente
a vontade de Deus. Então serão avivados e buscarão o mais alto
nível de santificação, visando o cumprimento do seu chamado.
“144.000” é o número limitado de judeus salvos, apenas as pri-
mícias deles, os melhores, os primeiros a serem marcados por
Deus. Esses judeus irão pregar o “Evangelho do Reino” ousada-
mente, mas na metade da Tribulação terminarão sua tarefa: “E
será pregado este Evangelho do Reino por todo o mundo, para teste-
munho a todas as nações. Então virá o fim” (Mt 24.14).
A grande multidão (Ap 7.9-17): Essa inumerável multidão des-
crita são os salvos do tempo da grande tribulação. Apocalipse 7:9;14
deixa bem claro de onde eles virão e os demais versículos relatados
confirmam isso: “Vi, e eis grande multidão que ninguém podia enume-
rar, de todas as nações, tribos, povos e línguas, em pé diante do trono
e diante do Cordeiro, vestidos de vestiduras brancas, com palmas nas
mãos (...) São estes os que vêm da grande tribulação” (Ap 7.9;14).

Esse grupo não tem nenhuma correlação com a Igreja, pois exis-
tem diferenças consideráveis entre a noiva de Cristo e os salvos
na grande tribulação.

141
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

A Igreja está assentada em tronos junto ao trono do Pai,


mas os salvos na grande tribulação estão ao redor, depois dos
anjos; a Igreja, além de ter vestes brancas de linho finíssimo,
está representada por anciãos (pessoas com experiência de vida,
provadas e aprovadas, que foram galardoadas com coroas. Eles
têm nas mãos harpas e taças de ouro, símbolos da adoração e
da intercessão que liberam a justiça de Deus sobre a Terra), já
os salvos na tribulação têm apenas palmas em suas mãos.
Observe que a posição da Igreja é significantemente maior
do que a dos salvos nesse período, por isso a hora de buscar
esse lugar é agora! Embora a possibilidade de ser salvo durante
a tribulação é uma demonstração da misericórdia do Senhor,
esse não é o plano original que Ele tem para seus filhos. Apesar
de serem salvos durante esse período, esses irmãos receberão
uma recompensa: não passarão por mais sofrimentos, terão suas
necessidades básicas supridas (Is 35.10) e servirão no templo
dia e noite.
Ele, então, me disse: São estes os que vêm da grande tribulação,
lavaram suas vestiduras e as alvejaram no sangue do Cordeiro,
razão por que se acham diante do trono de Deus e o servem de
dia e de noite no seu santuário; e aquele que se assenta no trono
estenderá sobre eles o seu tabernáculo. Jamais terão fome, nunca
mais terão sede, não cairá sobre eles o sol, nem ardor algum,
pois o Cordeiro que se encontra no meio do trono os apascentará
e os guiará para as fontes da água da vida. E Deus lhes enxugará
dos olhos toda lágrima (Ap 7.14-17)

O sétimo selo: é desatada a segunda parte da tribulação.

A abertura desse selo desencadeia as sete trombetas. Biblica-


mente, as trombetas eram tocadas em diversas ocasiões, entre elas
antes de um juízo ou antes que uma pessoa fosse executada (Js
6.13-16). Nas quatro primeiras, a Terra é afligida pela mão de Deus
e a raça humana sofre por causa de fenômenos naturais terríveis.

142
PRINCÍPIO DAS DORES: PRIMEIRA FASE DA GRANDE TRIBULAÇÃO

Quando se abriu esse selo no céu, houve meia hora de


silêncio, mostrando o temor de todos pelas coisas que virão.
Já que no céu não existe o “tempo” como o conhecemos, sabe-
mos que essa meia hora é uma medida terrestre.
Há aqui outro aspecto interessante: todos os castigos de
Deus nessa fase da Grande Tribulação estão ligados com o
“fogo”. Nessa cena, houve um terremoto seguido de meia
hora de silêncio absoluto... e depois o fogo é derramado na
Terra! As pessoas no céu se calaram porque sabiam que tinha
chegado a hora da ira do Cordeiro ser derramada sobre os
desobedientes, e nesse momento não haveria mais misericór-
dia, apenas juízo.
Imagine conosco a cena. O céu se retirará como um livro
que se enrola... Os montes e ilhas serão removidos dos seus
lugares (Ap 6:14), então a criação temerá e tremerá diante
do Criador.

Quanta dor vai sentir a humanidade! Prédios demolidos, pessoas soter-


radas, parentes desaparecidos, mortos jogados nas ruas, explosões,
incêndios, estradas e aeroportos destruídos impedindo a fuga das pes-
soas. Certamente nesse dia o dinheiro perderá seu valor.

A dor será tão imensa, que a Bíblia diz que os ricos, grandes
e poderosos da Terra pedirão aos montes que caiam sobre eles
e os matem (vs. 15-16). Mas tudo isso é apenas o início do derra-
mar da ira do Senhor dos Exércitos sobre a iniquidade da terra.
Essa imagem nos faz refletir sobre a consideração do profeta
Habacuque: — “O Senhor, porém, está no seu santo templo; cale-se
diante dele toda a terra” (Hc 2.20).
Os sete anjos, que estão diante de Deus, são acionados para
executar o juízo de Deus sobre a Terra. A um dos anjos, que
estava junto ao altar, foi dado muito incenso com a oração dos
santos. Diariamente, esse incenso é produzido pelas orações
dos irmãos ao redor do mundo, essas orações sobem para Deus

143
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

como um perfume agradável. Cada frase de nossos lábios diri-


gida a Ele, cada intercessão, cada oração é depositada nesse
incensário e recebida pelo Pai.

Deus nos escuta desde que não estejamos em pecado, pois o pecado
impede que as nossas orações subam até o Senhor (Is 59.1-2). Porém, se
estivermos andando em santidade, não haverá força em todo universo
que possa reter a nossa oração.

Entretanto, gostaríamos de salientar que a oração é exclusiva


para os lavados no sangue de Jesus. Como Jesus mesmo disse:
“Se permanecerdes em mim, e as minhas palavras permanecerem
em vós, pedireis o que quiserdes, e vos será feito” (Jo 15.7).
A cena do anjo com o incenso diante de Deus nos dá um
entendimento claro sobre o valor e a importância da oração para
Ele, além da certeza de que, como diz o versículo anterior, um
dia todas as súplicas que estiverem de acordo com a vontade
de Deus serão respondidas. É extremamente importante que
oremos, pois é a nossa oração que faz o céu se mover para que
as coisas aconteçam aqui na Terra, incluindo o cumprimento
das profecias bíblicas. Por causa disso, Deus está gerando um
momento na vida da Igreja em que ela somente orará assim:
“Ora vem, Senhor Jesus”.
Se a Igreja brasileira não passar a orar dessa maneira, repe-
timos, Deus permitirá que uma grande perseguição alcance o
Brasil, pois em todo lugar onde os cristãos são perseguidos pela
sua fé, eles clamam pela vinda do Senhor. Irmãos, Deus precisa
de nossas orações para cumprir seu santo e justo juízo sobre a
humanidade, por isso, a Igreja deve clamar pela volta de Jesus.
No texto de Apocalipse 8.5, as orações serão misturadas
com o fogo do altar e, posteriormente, lançadas sobre a Terra.
Elas afetarão toda estrutura do planeta, então, como veremos
a seguir, haverá trovões, relâmpagos e terremotos.

144
PRINCÍPIO DAS DORES: PRIMEIRA FASE DA GRANDE TRIBULAÇÃO

os 7 selos
Vi, então, e eis um cavalo branco e o seu cavaleiro com um
arco; e foi-lhe dada uma coroa; e ele saiu vencendo e para
vencer. (6:2)

E saiu outro cavalo, vermelho; e ao seu cavaleiro, foi-lhe dado


tirar a paz da terra para que os homens se matassem uns aos
outros; também lhe foi dada uma grande espada. (6:4)

Quando abriu o terceiro selo, ouvi o terceiro ser vivente dizendo:


Vem! Então, vi, e eis um cavalo preto e o seu cavaleiro com uma
balança na mão. (6:5)

E olhei, e eis um cavalo amarelo e o seu cavaleiro, sendo este


chamado Morte; e o Inferno o estava seguindo, e foi-lhes
dada autoridade sobre a quarta parte da terra para matar à
espada, pela fome, com a mortandade e por meio das feras
da terra. (6:8)

Quando ele abriu o quinto selo, vi, debaixo do altar, as almas


daqueles que tinham sido mortos por causa da palavra de Deus
e por causa do testemunho que sustentavam. Clamaram em
grande voz, dizendo: Até quando, ó Soberano Senhor, santo
e verdadeiro, não julgas, nem vingas o nosso sangue dos que
habitam sobre a terra? Então, a cada um deles foi dada uma
vestidura branca, e lhes disseram que repousassem ainda por
pouco tempo, até que também se completasse o número dos
seus conservos e seus irmãos que iam ser mortos como igual-
mente eles foram. (6:9-11)

Vi quando o Cordeiro abriu o sexto selo, e sobreveio grande


terremoto. O sol se tornou negro como saco de crina, a lua
toda, como sangue, as estrelas do céu caíram pela terra, como
a figueira, quando abalada por vento forte, deixa cair os seus
figos verdes, e o céu recolheu-se como um pergaminho quando
se enrola. Então, todos os montes e ilhas foram movidos do seu
lugar. Os reis da terra, os grandes, os comandantes, os ricos,
os poderosos e todo escravo e todo livre se esconderam nas
cavernas e nos penhascos dos montes e disseram aos montes
e aos rochedos: Caí sobre nós e escondei-nos da face daquele
que se assenta no trono e da ira do Cordeiro. (6:12-16)

Quando o Cordeiro abriu o sétimo selo, houve silêncio no céu


cerca de meia hora.

Figura 7: RESUMO DOS SETE SELOS. Autor: Tales Ramiro20.

20 Disponível em: < http://www.bibliart.com.br/2015/10 /as-7-trombetas-de-apocalipse.html>.


Acesso em: 06 de mar. 2020.

145
— capítulo 10 —

SEGUNDA FASE
DA GRANDE TRIBULAÇÃO
SEGUNDA FASE DA GRANDE TRIBULAÇÃO

AS SETE TROMBETAS

Como foi dito, os acontecimentos do juízo ocorrerão como


em um efeito cascata, o último selo acionará o toque das trom-
betas (fig. 4), e a última trombeta levará às sete taças ou pragas
finais. Lembra que dissemos no primeiro capítulo que, para
entender melhor um trecho bíblico, é necessário procurar todos
os seus símbolos na própria Bíblia?
Pois bem, a trombeta era um instrumento muito importante
para o povo de Israel. Conhecida por eles como Shofar, os israe-
litas usavam muito esse instrumento nas convocações do povo
para ocasiões religiosas, festivas e militares. Seu toque tinha um
significado muito importante para os hebreus, especialmente
na celebração do início do ano novo civil, por ocasião da “Festa
das Trombetas”. Porém, seu principal uso era no âmbito militar,
especialmente durante as guerras, pois servia como alarme ou
sinal para as tropas (Jz 7.8;16; Jó 39.24-25). Portanto:

Cada uma dessas sete trombetas serve como um alarme para anunciar
às pessoas aquilo virá.

Primeira trombeta: saraivada de fogo (Ap 8.7). Esse é o segundo


ato de Deus, após o terremoto de escala mundial. Embora a saraiva
seja constituída de pedras de gelo, aqui elas estarão misturadas
com fogo e sangue. Portanto, uma grande tempestade de gelo e
fogo cairá sobre a Terra, queimando a terça parte da sua erva verde
(Ap 8.7). Como veremos, na primeira trombeta, a terra (porção) é
atingida, mas na segunda, será o mar.

Segunda trombeta: “uma grande montanha atirada no mar”


(Ap 8.8-9). Essa expressão nos sugere que um grande meteoro
será lançado sobre o oceano.

149
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

Terceira trombeta: a grande estrela Absinto (Ap 8.10-11).


Esse objeto celeste chamado “Absinto”, nada mais é do que um
cometa caindo sobre os rios e fontes de água doce, contaminan-
do-os. O significado da palavra “Absinto” é “amargo”, portanto,
Deus tornará amarga a água potável. A Palavra diz que será afe-
tada a terça parte das reservas de água potável que houver no
mundo naquele período (Ap 8.10-11). Como será grande a sede
nesse tempo!
Na primeira fase da grande tribulação, o homem agirá se
autodestruindo, porém, na segunda, somente Deus agirá. Tudo
o que acontece nesse período é enviado por Ele, e até os astros
do céu, sol e lua, sofrerão pela Sua ira.

Quarta trombeta: o sol se escurecerá (Ap 8.12-13). A Terra


estará em densas trevas, cumprindo assim a profecia de Jesus a
respeito do fim dos tempos (Lc 21.25-26). O sol, a lua e as estre-
las serão abalados. Será ferida uma terça parte deles, pelo que
diminuirá sua intensidade na mesma proporção. Nesse ponto,
Satanás cairá do Mesoraneos (“segundo céu”), mas reunirá um
exército para atormentar os homens que ainda estiverem vivos
sobre a Terra. O capítulo 8 encerra enfatizando a dor e a inten-
sidade das últimas três trombetas que virão. A expressão “Ai, Ai,
Ai” está ligada diretamente às três trombetas finais (Ap 8.13).

Um detalhe importante a ser lembrado é que as quatro primeiras estão


ligadas diretamente à natureza com os homens sofrendo as consequên-
cias. Da quinta trombeta em diante a ira de Deus é direcionada unica-
mente aos homens. O Deus criador está indignado com os pecados e
iniquidades praticados em toda a terra.

Quinta trombeta: a estrela caída (Ap 9.1-12). Essa estrela


caída é o próprio Satanás sendo lançado por terra. Ele receberá
a chave do abismo e ao abri-lo, densas trevas e fumaça serão
liberadas sobre a Terra ao ponto de escurecer o céu e o ar. Então,

150
SEGUNDA FASE DA GRANDE TRIBULAÇÃO

milhares de espíritos malignos que estiveram presos por séculos


serão liberados para atormentar especificamente os homens.
Porém, mesmo com todo o seu poder devastador e predador,
esses demônios não têm o direito de atuar sobre os salvos, ou
seja, sobre aqueles que não aceitaram a marca da besta, mas
nas suas testas tem a marca de Deus (Ap 9.4).
Aqui temos um ponto importante: esse selo que os protege
é o mesmo selo descrito no livro de Efésios 1.13-14, a saber, o
Espírito Santo. Portanto, acreditamos que a teoria de que Ele
será afastado na grande tribulação é equivocada, já que sem o
Espírito Santo não há arrependimento, e consequentemente,
também não há salvação.
A esses demônios, que sairão do abismo, lhes será permitido
que atormentem por cinco meses aqueles que não tem a marca
de Deus, e esse tormento será semelhante ao ferimento causado
pela picada do escorpião. Esses homens buscarão a morte, mas
ela fugirá deles (Ap 9.5-6).
Há uma espécie de escorpião (encontrados, por exemplo, no
Brasil, no sul da Califórnia e em regiões da África) cuja picada
ocasiona a dor mais terrível e agonizante já registrada nos arqui-
vos médicos. As pessoas picadas se contorcem, têm convulsões
de dor e chegam a entrar em estado de choque, pois sua pres-
são cardíaca diminui quase a zero. Isso é o que a Bíblia diz que
aqueles homens que não estiverem marcados com o “sinal de
Deus” sofrerão, e, mesmo assim, não poderão morrer.
A ação dessa corja de demônios será comandada por um
líder do inferno que a Bíblia chama de rei; um anjo caído que
reside no abismo, cujo nome em Hebraico é “Abadom” e em
Grego, “Apoliom”, em ambas as línguas essas palavras signifi-
cam “destruidor” (vs. 11). ”. Há cinco ocorrências da palavra
“Abadom” no Antigo Testamento, quatro vezes traduzida como
“abismo” (Jó 26.6; 28.22; Sl 88.11; Pv 15.11) e uma vez traduzida
como “destruição” (Jó 31.12).

151
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

Sexta trombeta: os quatro anjos malignos são soltos (Ap 9.13-


21). Ao soar esta trombeta, o próprio anjo que a tocou, tem a
tarefa de soltar quatro anjos que se encontram amarrados desde
a antiguidade junto ao rio Eufrates (Ap 9.14), uma região que
na atualidade corresponde a Síria e Iraque. De acordo com as
escrituras, ali se localizava o Jardim do Éden, mas hoje o lugar
é custodiado por Satanás. Nesse ponto, a profecia se une à obra
de Missões.
A região do rio Eufrates (Oriente Médio, Sul da Rússia, Ará-
bia, Índia, sul da China e toda Ásia Menor) está dentro do que
as agências missionárias chamam de “Janela 10x40” (fig. 8),
nome derivado da posição (latitude e longitude) que essa região
ocupa no globo. Embora possua quase a metade da população
humana da atualidade, esse lugar apresenta o menor percentual
de cristãos no mundo. Cerca 85% de toda pobreza e miséria do
planeta estão presentes nessa região. Tendo em vista que essa
região já foi um dia o Jardim do Éden, cabe a igreja tomar posse
dessa terra através da obra missionária.
A Babilônia também se localizava junto ao rio Eufrates,
situado no meio da “Janela 10X40” (grande retângulo da figura
8), e segundo Apocalipse 18.2, após a sua queda, finalmente a
grande Babilônia será: “(...) morada de demônios, covil de toda
espécie de espírito imundo e esconderijo de todo gênero de ave
imunda e detestável”.

152
SEGUNDA FASE DA GRANDE TRIBULAÇÃO

Figura 8: Estado do cristianismo ao redor do mundo . Janela 10 X 4021

O livro de Judas fala sobre os quatro anjos, descrevendo-


-os como “aqueles que não guardaram o seu estado original, mas
abandonaram o seu próprio domicílio”. Eles são extremamente
maus e corruptos, ao ponto de terem sido aprisionados por Deus
separadamente “sob trevas, em algemas eternas, para o juízo do
grande Dia” (Jd 1.6).
De acordo com Apocalipse 9.15, eles foram guardados por
Deus para uma tarefa específica. A expressão: “hora, dia, mês
e ano” desse versículo nos mostra que Deus está no controle
de tudo. Diferente dos demônios anteriores que iriam apenas
torturar, esses quatro irão matar uma terça parte dos homens e
um exército surgirá como uma espécie de cavalaria de duzentos
milhões de cavaleiros (vs. 16-18). Pelo contexto, cremos que
essas tropas serão constituídas não de pessoas, mas de seres
espirituais demoníacos.

21 Disponível em: https://www.cafe1040.com/blog/state-of-christianity-around-the-world. Acesso


em: fev. de 2020;

153
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

O anjo forte (Ap 10.1). Apocalipse apresenta três anjos for-


tes, sendo o primeiro mencionado no capítulo 5.2, outro no
18.21, e o outro neste ponto, no capítulo 10. Porém, esse último
diverge dos dois primeiros. Nenhum outro anjo em Apocalipse
tem características tão peculiares como ele. Vá conosco a Apoca-
lipse 10:1: “Vi outro anjo forte descendo do céu, envolto em nuvem,
com o arco-íris por cima de sua cabeça; o rosto era como o sol, e as
pernas, como colunas de fogo”.
Na descrição de João, os pés desse anjo eram como chama de
fogo e estava envolto em uma nuvem. A expressão “nuvem”, nas
escrituras, está ligada à glória, poder ou manifestação de Deus.
O anjo também tem na sua cabeça um arco celeste, e conforme
vimos antes, biblicamente esse arco simboliza a aliança de Deus
com os homens. É um sinal da sua fidelidade e misericórdia.
O rosto desse anjo é como um sol, porém, não existe nenhum
outro anjo na Bíblia com um rosto semelhante.
Comparando esse personagem com a descrição do nosso
Senhor, no capítulo um de Apocalipse, chegamos à conclusão
que se trata da pessoa de Jesus Cristo, e que ao pisar na Terra
está revelando o seu domínio (Ap 10.6). Esse episódio está ligado
com a tomada de posse do reino iniciada no capítulo 5:1. A par-
tir de Apocalipse 10:2, Jesus passa a demarcar e assumir aquilo
que lhe pertence, por isso pisa a terra e o mar: “Todo lugar que
pisar a planta do vosso pé, desde o deserto, desde o Líbano, desde
o rio Eufrates, até ao mar ocidental, será vosso” (Dt 11.24). Tudo
mudará após a Grande Tribulação, a Terra será destruída e Jesus
construirá do zero, um novo Éden

O livrinho (Ap 10:2). Esse livro que está nas mãos de Jesus
não é a “escritura da terra”, como em Apocalipse 5.1. Aqui a
chave está no diminutivo da palavra livro, “livrinho”, por isso,
acreditamos que se trata de uma profecia para os povos. Esse
“livrinho” é a profecia de Daniel que deveria ficar fechada até
o fim (Dn 12.4;9). Porém, note que agora ele está aberto:

154
SEGUNDA FASE DA GRANDE TRIBULAÇÃO

“e tinha na mão um livrinho aberto. Pôs o pé direito sobre o mar


e o esquerdo, sobre a terra. A voz que ouvi, vinda do céu, estava de
novo falando comigo e dizendo: Vai e toma o livro que se acha aberto
na mão do Anjo em pé sobre o mar e sobre a Terra” (Ap 10.2;8).
Nesse momento, todos os mistérios não revelados pelos pro-
fetas serão abertos. O apóstolo João tem agora o privilégio de ter,
em suas mãos, o livro de Daniel aberto, e lhe é ordenado devo-
rá-lo (Ap 10.9). Ao comê-lo, lhe parece doce ao paladar (teoria),
mas quando o digere, torna-se amargo (prática), pois, se trata da
tribulação descrita por Daniel que virá sobre o seu povo e sobre
os ímpios que estarão na terra, sobre o governo do anticristo.

Aqui temos a confirmação de que a grande tribulação certamente virá


sobre a Terra e nada que o homem faça irá mudar aquilo que o Senhor
estabeleceu. Pela sua desobediência e teimosia, a humanidade terá que
beber o cálice da ira de Deus.

Reconstrução do templo (Ap 11.1-2). Atualmente existe algo


que impede a concretização real da última semana da profecia
de Daniel: a reconstrução do templo dos judeus em Jerusalém,
destruído no ano 70 d.C. pelo general romano Tito. Sabemos
que “na metade da semana” o Templo estará totalmente pronto
no monte Moriá, somente assim Apocalipse 11 terá cumpri-
mento. Biblicamente, nesse ponto da história o anticristo se
assentará no trono do Santo dos Santos e exigirá ser adorado
por todos, inclusive pelos judeus. Todavia, depois disso esses
últimos serão perseguidos.
Quando o templo for reerguido, os sacrifícios deverão vol-
tar. Por causa de coisas como essa é que discordamos com
os que dizem que já vivemos no tempo da tribulação, pois se
assim fosse, o templo já teria sido reconstruído. Também deve-
mos ressaltar que esse templo terá uma “vida” muito curta,
pois será destruído novamente, tal como aconteceu com os
outros. Porém, segundo Ezequiel 40 a 48, Jesus o reconstruirá.

155
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

O profeta Ezequiel inclusive descreveu a planta baixa desse


templo milenar.

As duas testemunhas (Ap 11.3-14). Há muita especulação a


respeito da identidade dessas duas testemunhas, alguns afir-
mam que são Enoque e Elias, outros dizem que são Elias e Moi-
sés, mas achamos pouco provável que sejam qualquer um desses
personagens, já que a Bíblia não afirma isso com clareza. Esse é
um dos pontos no livro de Apocalipse em que a sabedoria está
em não dogmatizar, já que por mais que existam indícios para
tais afirmações, ninguém, até hoje, pode comprová-las.

Devemos ser humildes e entendermos que como humanos temos um


limite para a compreensão da Palavra.

Como disse o sábio Moisés: “As coisas encobertas pertencem


ao SENHOR nosso Deus, porém as reveladas nos pertencem a nós e
a nossos filhos para sempre, para que cumpramos todas as palavras
desta lei” (Dt 29.29).
Sempre devemos tomar cuidado de não irmos além
daquilo que a Palavra nos diz. A única coisa que podemos
dizer a respeito dessa controvérsia é que, certamente, as ações
das duas testemunhas possuem muitas semelhanças com os
feitos de Moisés e Elias. Eles darão ordem para que não chova
e assim será durante o tempo que determinarem; sairá fogo
de suas bocas; ferirão a Terra com toda sorte de praga; não
morrerão até cumprir seus ministérios determinados por
Deus, os quais durarão exatamente três anos e meio. E final-
mente, eles ressuscitarão.
Entretanto, mesmo que eles tenham características pareci-
das com as de outros heróis bíblicos, é fato que, pelo menos
no caso de Elias, já que foi arrebatado e já deve ter recebido
um corpo celestial (pois não poderia ter ido para o céu em
um corpo natural). Logo, se ele tivesse que voltar à Terra para

156
SEGUNDA FASE DA GRANDE TRIBULAÇÃO

a segunda fase da tribulação e ser morto posteriormente (tal


como está escrito a respeito das duas testemunhas em Apo-
calipse 11.7), Elias teria que “devolver” primeiramente seu
corpo glorificado, adotar um corpo mortal, e assim poder
morrer novamente. Ou seja, algo quase impossível!

O que podemos afirmar é que as duas testemunhas serão judeus que


viverão naquele período (“duas oliveiras” — Ap 11.4).

O fato de usarem “pano de saco” fala de humildade e humi-


lhação. Elas profetizarão na primeira metade da grande tribu-
lação, e farão sinais extraordinários para converter o mundo a
Cristo. Após cumprirem sua tarefa, serão mortos por Satanás,
que é a “besta que sai do abismo”.
Os cadáveres dessas testemunhas serão expostos na Praça
de Jerusalém (v. 8), que naquele momento será a cidade mais
importante do mundo. Por causa do pecado e da maldade que
está em seus corações, pessoas de todas as partes do planeta
verão essa cena e se alegrarão com a morte dos dois (v. 10).
Contudo, no final de três dias e meio, da parte de Deus virá
sobre eles um espírito de vida, e ficarão novamente de pé, então
muitos ouvirão uma voz vinda do céu dizendo para as duas teste-
munhas subirem. Elas subirão imediatamente ao céu, envoltas
em uma nuvem (vs. 11-12). Após a sua assunção, haverá um
grande terremoto que matará sete mil homens.

Sétima trombeta: fim do governo do anticristo (Ap 11.15-19).


Trata-se da determinação final no céu para pôr fim ao governo
do anticristo. O céu celebra o reino eterno de Cristo ao dizer:
“O reino do mundo se tornou de nosso Senhor e do seu Cristo,
e ele reinará pelos séculos dos séculos” (v. 15). Isso indica que o
tempo da trindade satânica terá um fim breve. Vejamos alguns
símbolos e fatos muito importantes desta fase.

157
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

A arca da aliança (Ap 11.19). A arca é a representação da gló-


ria de Deus e do Seu juízo. O apóstolo amado tem o privilégio
de ver no céu a arca da aliança, perdida há tantos séculos. A
aparição da arca nessa sequência de fatos nos indica que final-
mente haverá fim no sofrimento dos santos e remidos, mas uma
intensificação do juízo para os “incircuncisos de coração”. Em
outras palavras, para aqueles que estão em Deus, a arca repre-
senta salvação, mas para aqueles que estão em pecado, significa
apenas morte e juízo.
A mulher (Ap 12.1). Existe muita especulação entre os que
buscam interpretar o Apocalipse a respeito de quem é a mulher
do capítulo 12. Existem pelo menos três teorias:
1) A mulher é Maria. Discordamos desta visão, pois se ana-
lisarmos bem, ela realmente teve um filho varão, porém, Maria
não fugiu para o deserto por 1260 dias como a mulher de Apo-
calipse 12:12, portanto não podemos alegorizar.
2) A mulher é a Igreja. Nós acreditamos que não é possível
que essa mulher seja a igreja. É realmente uma questão confli-
tante, mas quando procuramos essa relação na bíblia, vemos
que a Igreja nunca é chamada de mulher e sim de noiva.
3) A mulher é Israel. Para chegar a essa conclusão, esta ter-
ceira linha de pensamento (a qual pertencemos) faz uso de uma
importante regra de interpretação: comparar coisas espirituais
com espirituais (1 Co 2.13).

Com base em muitos textos bíblicos, é possível afirmarmos


que a mulher é Israel, já que este povo foi chamado muitas
vezes na Bíblia de “mulher” (Ez 16.32-33; Is 54.5-8; Jr 2.2; Jr
2.32). Por exemplo, no livro de Oséias, o antítipo da mulher do
profeta é Israel, enquanto o antítipo do próprio Oséias é o Deus
Pai. O apóstolo João fala que ela estava vestida de sol, tinha a
lua debaixo dos seus pés e uma coroa com doze estrelas na
cabeça (Ap 12.1). Analisemos os símbolos dessa descrição à luz
de Gênesis 37.9.

158
SEGUNDA FASE DA GRANDE TRIBULAÇÃO

José relatou aos seus parentes um sonho, no qual, seu pai


Israel era representado pelo sol, sua mãe pela lua (progenitores)
e seus irmãos por estrelas (descendência: as tribos de Israel).
Embora no sonho o jovem judeu conte onze estrelas, sabemos
que ao todo seriam doze, pois, se cada uma representava um
filho de Jacó, José estava incluído no grupo.
Quando identificamos essa mulher como Israel, os outros
símbolos não ficam difíceis de serem interpretados, então o
capítulo 12 se abre por completo. No verso 2, João diz que “a
mulher achando-se grávida, sofre tormento para dar a luz”, mas o
que significa isso?

Desde que Eva pecou (Gn 3:16), um parto incluiu dor e agonia. Lembra
quantas dores passou o povo judeu até o nascimento de Jesus?

Inclusive, quando Ele estava prestes a vir ao mundo, o


rei Herodes desencadeou uma perseguição tal contra aquele
povo, que matou milhares de bebês inocentes. A isso se refere
o versículo com dores e sofrimento prévios a um parto.
O filho varão (Ap 12.5). Nessa linha de raciocínio, já que
o Messias vem da linhagem de Israel, logo, também é filho
da mulher, por isso, sabemos que esse filho é Jesus. Ele é a
semente da mulher que feriria a cabeça da serpente (Gn 3.15).
Por isso, foi guardado pelo Pai até o tempo certo, para que
destruísse o diabo e regesse as nações com cetro de ferro
(Ap 12.5).
O próprio Deus falou a respeito de Jesus: “Tu és meu Filho,
eu, hoje, te gerei. Pede-me, e eu te darei as nações por herança e
as extremidades da terra por tua possessão. Com vara de ferro
as regerás e as despedaçarás como um vaso de oleiro” (Sl 2.7-9).
O dragão vermelho e as estrelas (Ap 12.3-4). Esse personagem
possui sete cabeças e dez chifres, e sobre elas têm sete diade-
mas. Na Bíblia, a palavra cabeça fala de governo, de liderança,
o chifre indica autoridade e a diadema fala de coroa, de poder.

159
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

Assim mesmo, o dragão é identificado adiante como o diabo


(v. 9). Por conseguinte, o texto nos diz que o diabo tem sob o
seu domínio sete governos espirituais22 e dez governos carnais.
Ele é tão devastador que somente com a sua cauda arras-
tou consigo à Terra uma terça parte das “estrelas”, uma pala-
vra que biblicamente significa também “anjos”.
Como muitos sabem, no princípio, esse terrível persona-
gem maligno era um querubim da guarda celestial, um ser
perfeito e cheio de luz (“Lúcifer”) que estava diante de Deus
no céu (Ez 28.14). Contudo, quando seu coração se corrom-
peu, foi expulso do céu junto com seus anjos (Is 14.12; Lc
10.18). Então, eles passaram a ser identificados como Satã (o
adversário) e seus demônios.
O dragão é lançado à terra (Ap 12.9). Atualmente, o prín-
cipe das trevas reside junto com seus principados malignos
no “segundo céu”, onde coloca resistência espiritual (Ef 6.12).
Contudo, esse domicílio é apenas temporal, pois quando a
Igreja de Cristo for arrebatada e assumir seu lugar de governo
espiritual, o “sedutor” e seus exércitos demoníacos serão
expulsos de lá e lançados para a Terra por Miguel e os exérci-
tos do Senhor (Dn 12:1; Ap 12:7). Está escrito que o seu lugar
não foi mais achado nas regiões celestes, ou seja, nunca mais
poderá entrar na presença de Deus. Isso fala da queda defini-
tiva do diabo, que ao ver-se jogado na Terra, perseguirá ferre-
nhamente a Israel.

22 Quando examinamos as Escrituras encontramos os nomes desses sete príncipes e as áreas


em que eles atuam: 1) NINRODE: age na política mundial e no sistema bélico; 2) BALAÃO, está no
clericalismo, as heresias e as seitas; 3) BAAL OU MOLOQUE, está ligado à idolatria, ao satanismo
e ao sacrifício de crianças no fogo, ou nos abortos; 4) JEZABEL, age nas áreas de: imoralidade,
prostituição, paixões desenfreadas e desvios sexuais; 5) BELZEBU, é o príncipe das moscas. Ao
contrário de Mamom, ele promulga a miséria; 6) MAMOM, age no apego ao dinheiro e aos bens
materiais, assim como no sistema bancário mundial; 7) DIANA, conhecida também como rainha do
céu agiu muito fortemente no tempo de Jeremias. Ela promulga os ideais da Nova Era e o movimento
feminista em todo o mundo. Na Índia recebe o nome de Khali, enquanto os romanos a chamam de
“Nossa senhora” a virgem Maria.

160
SEGUNDA FASE DA GRANDE TRIBULAÇÃO

Enquanto Satanás sai da dimensão da eternidade (Kairós), e passa para


a dimensão do tempo e espaço (Cronos), a Igreja sai desta dimensão
física e vai para a espiritual por toda a eternidade. Aleluia!

Todavia, o percurso do diabo não termina aqui, ele conti-


nuará caindo, da Terra para o abismo e de lá para o lago de
fogo. É por isso que lutará com todas as suas forças na última
fase da Grande Tribulação.
Perseguição contra a mulher (Ap 12.13). Sabendo do poderio
que Israel terá no futuro e do seu importante papel no cum-
primento das profecias, na segunda parte da tribulação, esse
mesmo adversário enviará (através do anticristo) um exército
para caçar os judeus (vs. 4;6).
Ele sabe que se eliminar todos eles da face da Terra, não
haverá descendência de Abraão e, portanto, Jesus não poderia
reinar no milênio. Logo, seriam anuladas todas as profecias da
Bíblia. É por isso, que ao longo da história, o diabo tem atacado
tão violentamente essa etnia, deixando-a muitas vezes à beira
do extermínio.
Lembra-se do Holocausto Nazista na Segunda Guerra Mun-
dial? Apenas nessa tentativa, o diabo conseguiu eliminar uma
boa parte dos judeus que viviam na Europa naquela época. De
acordo com os cálculos do United States Holocaust Memorial
Museum23 , mais de seis milhões de judeus foram assassinados
nas mãos da ditadura, incluindo mulheres e crianças. Mas, Deus
sempre guardou um remanescente deste povo.
Lembremos sempre que, sem importar quais sejam as ten-
tativas do diabo, nenhum dos planos de Deus poderá JAMAIS
ser frustrado (Jó 42.2).
Nesse ponto do livro, os judeus precisarão novamente de um
livramento sobrenatural, por isso: “(...) foram dadas à mulher as

23 Documenting numbers of victims of the holocaust and Nazi persecution. Holocaust


Encyclopedia, 2019. Disponível em: https://encyclopedia.ushmm.org/ content/en/article/
documenting-numbers-of-victims-of-the-holocaust-and-nazi-persecution. Acesso em: fev de 2020.

161
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

duas asas da grande águia, para que voasse até ao deserto, ao seu
lugar, aí onde é sustentada durante um tempo, tempos e metade de
um tempo” (Ap 12.14).
A mulher e as asas de águia (Ap 12.14). A expressão “asas de
águia” remete a velocidade e força. Na Bíblia, o mesmo símbolo
esteve presente anteriormente em ocasiões de livramento de
Deus ao seu povo (Ex 19.4; Dt 32.11). Ou seja, são dadas a Israel
essas características para fugir e esconder-se no deserto por “um
tempo, e tempos e metade de um tempo” (vs. 14).
“Tempo” é uma expressão hebraica que designa o período
de uma páscoa a outra, ou seja, um ano. Logo, se cada tempo é
um ano, Israel ficará guardada no deserto por três anos e meio.
Vemos nesse ato das “asas” um grande livramento por meios
sobrenaturais, pois, sabendo que é sua última cartada e que lhe
resta pouco tempo, o adversário atacará os judeus, a semente
da mulher, com “grande ira” (vs. 17).
Todavia, essa tentativa, assim como as anteriores, está fadada
à derrota. O remanescente de Israel terá cerca de um terço dos
judeus (isso equivale hoje a mais ou menos seis milhões). Eles
ficarão escondidos fora da vista da serpente e no deserto serão
sustentados por Deus, assim como nos dias dos seus antepas-
sados, quando comiam a provisão que Ele lhes enviava do céu,
o maná.
Água como um rio (Ap 12.15). O texto diz que da sua boca,
a serpente lançou água, como um rio, contra a mulher, a fim
de que fosse arrastada. Há algo interessante que queremos que
observe aqui, no livro de Apocalipse, as expressões “semelhante”
e “como” são citadas repetidamente, a fim de apontar um sím-
bolo a ser interpretado pelo contexto bíblico.
Aqui temos dois simbolismos importantes: água abundante
saindo da boca de uma serpente e a expressão “como um rio”.
Conforme indicam as leis de conhecimento da Palavra ou princí-
pios de interpretação, que vimos no capítulo primeiro, devemos
buscar em toda a Bíblia um significado coerente para isso.

162
SEGUNDA FASE DA GRANDE TRIBULAÇÃO

Em Jeremias 46.7-8, vemos que o exército do Egito é repre-


sentado pelo profeta como um rio de águas agitadas, que vão
subindo como o Nilo para cobrir a terra e destruir a cidade e seus
habitantes. E no capítulo seguinte, quando os exércitos de Nabu-
codonosor estão pelejando contra Tiro e Sidom, o Senhor disse:
(...) “Eis que do Norte se levantam as águas, e se tornarão em
torrentes transbordantes, e inundarão a terra (...) todos os mora-
dores da terra se lamentarão, ao ruído estrepitoso das unhas dos
seus fortes cavalos, ao barulho de seus carros, ao estrondo das suas
rodas” (Jr 47.2-3).
Quando Isaías falava do rei da Assíria (8.7), dizia que ele
era como as águas do rio, fortes e impetuosas que inundariam
a terra e acabariam com tudo ao seu passo. Com base nisso,
concluímos que o rio que saiu da boca do dragão é um exército
literal, originário do próprio Satanás.

Em Apocalipse 12:15, o diabo irá usar toda sua força e recursos militares
para exterminar a mulher e a sua descendência, porém, Deus provê um
livramento milagroso para ela.

Então, assim como nos dias de Moisés que a água engoliu


os poderosos exércitos inimigos, dessa vez, a terra se abrirá,
engolindo os exércitos que perseguem Israel (vs. 16). No final
da Grande Tribulação, esse remanescente que sobreviverá fará
parte da “comissão de recepção” ao Rei dos reis, no Monte das
Oliveiras.

163
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

os 7 selos
O primeiro anjo tocou a trombeta, e houve saraiva e fogo de mistura com sangue, e foram
atirados à terra. Foi, então, queimada a terça parte da terra, e das árvores, e também
toda erva verde. (8:7)

O segundo anjo tocou a trombeta, e uma como que grande montanha ardendo em chamas
foi atirada ao mar, cuja terça parte se tornou em sangue, e morreu a terça parte da criação
que tinha vida, existente no mar, e foi destruída a terça parte das embarcações. (8:8,9)

O terceiro anjo tocou a trombeta, e caiu do céu sobre a terça parte dos rios, e sobre as
fontes das águas uma grande estrela, ardendo como tocha. O nome da estrela é Absinto;
e a terça parte das águas se tornou em absinto, e muitos dos homens morreram por
causa dessas águas, porque se tornaram amargosas. (8:10,11)

O quarto anjo tocou a trombeta, e foi ferida a terça parte do sol, da lua e das estrelas,
para que a terça parte deles escurecesse e, na sua terça parte, não brilhasse, tanto
o dia como também a noite. Então, vi e ouvi uma águia que, voando pelo meio do céu,
dizia em grande voz: Ai! Ai! Ai dos que moram na terra, por causa das restantes vozes da
trombeta dos três anjos que ainda têm de tocar! (8:12,13)

O quinto anjo tocou a trombeta, e vi uma estrela caída do céu na terra. E foi-lhe dada a
chave do poço do abismo. Ela abriu o poço do abismo, e subiu fumaça do poço como
fumaça de grande fornalha, e, com a fumaceira saída do poço, escureceu-se o sol e o ar.
Também da fumaça saíram gafanhotos para a terra; e foi-lhes dado poder como o que
têm os escorpiões da terra, e foi-lhes dito que não causassem dano à erva da terra, nem
a qualquer coisa verde, nem a árvore alguma e tão somente aos homens que não têm o
selo de Deus sobre a fronte. Foi-lhes também dado, não que os matassem, e sim que os
atormentassem durante cinco meses. E o seu tormento era como tormento de escorpião
quando fere alguém. Naqueles dias, os homens buscarão a morte e não a acharão; também
terão ardente desejo de morrer, mas a morte fugirá deles. (9:1-6)

Foram, então, soltos os quatro anjos que se achavam preparados para a hora, o dia, o
mês e o ano, para que matassem a terça parte dos homens. O número dos exércitos
da cavalaria era de vinte mil vezes dez milhares; eu ouvi o seu número. Assim, nesta
visão, contemplei que os cavalos e os seus cavaleiros tinham couraças cor de fogo, de
jacinto e de enxofre. A cabeça dos cavalos era como cabeça de leão, e de sua boca saía
fogo, fumaça e enxofre. Por meio destes três flagelos, a saber, pelo fogo, pela fumaça
e pelo enxofre que saíam da sua boca, foi morta a terça parte dos homens; pois a força
dos cavalos estava na sua boca e na sua cauda, porquanto a sua cauda se parecia com
serpentes, e tinha cabeça, e com ela causavam dano.
Os outros homens, aqueles que não foram mortos por esses flagelos, não se arrependeram
das obras das suas mãos, deixando de adorar os demônios e os ídolos de ouro, de prata,
de cobre, de pedra e de pau, que nem podem ver, nem ouvir, nem andar; nem ainda se
arrependeram dos seus assassínios, nem das suas feitiçarias, nem da sua prostituição,
nem dos seus furtos. (6:12-16)

Mas, nos dias da voz do sétimo anjo, quando ele estiver para tocar a trombeta, cumprir-
-se-á, então, o mistério de Deus, segundo ele anunciou aos seus servos, os profetas. (10:7)
O sétimo anjo tocou a trombeta, e houve no céu grandes vozes, dizendo: O reino do
mundo se tornou de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará pelos séculos dos
séculos. (11:15)

Figura 9: Sete trombetas. Autor: Tales Ramiro24.

24 Disponível em: < http://www.bibliart.com.br/2015/10 /as-7-trombetas-de-apocalipse.html>.


Acesso em: 06 de mar. 2020.

164
SEGUNDA FASE DA GRANDE TRIBULAÇÃO

O CARÁTER E AS ESTRATÉGIAS DO ANTICRISTO


E DO FALSO PROFETA

“Vi emergir do mar uma besta que tinha dez chifres e sete cabeças
e, sobre os chifres, dez diademas e, sobre as cabeças, nomes de
blasfêmia” (Apocalipse 13.1).

O ANTICRISTO

No capítulo 13 de Apocalipse, aborda-se a revelação do


anticristo e do falso profeta de modo que, a seguir, poderemos
entender um pouco mais sobre o caráter deles e suas ações
conjuntas durante o período da grande tribulação. A palavra
anticristo vem de um prefixo grego que significa duas coisas:
no lugar de ou contra a. Por isso, para Orlando Boyer 25:

O filho da iniquidade é por definição um rival e opositor do Cristo, e entre


seus objetivos está a usurpar o nome e as prerrogativas pertencentes
unicamente ao Senhor (1 Jo 2.18).

Como foi citado previamente no capítulo 6 do Apocalipse, o


anticristo vem montado em um cavalo branco, tal como aparece
o Senhor Jesus no capítulo 19. Com isso, ele demonstra que
é apenas um usurpador, desejoso que o mundo o veja como
“salvador”, “libertador” e “soberano” da humanidade (papel
exclusivo de Jesus). Contudo, depois de três anos e meio, ele
revela ao mundo sua face diabólica, que está contra o Cristo e
contra tudo o que Ele representa. Nesse ponto, ele não estará
mais “no lugar de Cristo”, e sim, “contra cristo”.
O capítulo treze do Apocalipse está relacionado ao capí-
tulo seis (onde o anticristo inicia abertamente o ministério da
iniquidade na Terra), e muitos dos seus símbolos podem ser

25 BOYER, Orlando. Pequena Enciclopédia Bíblica. São Paulo, SP. Editora Vida, 2006.

165
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

interpretados à luz do capítulo dezessete, já que ambos os capí-


tulos se complementam.
No versículo um, João viu uma besta saindo do mar. Em
um de seus significados bíblicos, a palavra mar está ligada a
nações (Ap 17.15) e a besta, é o próprio anticristo. Ele será um
grande líder que se levantará dentre as nações, com intento de
persuadi-las a se rebelarem contra Deus. Aqui, João está nos
relatando que as nações (e aqueles que não foram escritos no
Livro da Vida do Cordeiro) irão elegê-lo como um grande líder
e adorá-lo (Ap 13.8).

Todavia, como foi predito pelos profetas, ele só agirá com a permissão
de Deus e irá somente até onde for autorizado.

Prosseguindo, o texto de Apocalipse diz que essa besta é


semelhante a três animais: leopardo, urso e leão. Biblicamente,
o contexto desses animais está em Daniel 7.4-7.
Nessa passagem, Daniel descreve que viu três animais emer-
gindo do mar: o primeiro era como leão e tinha asas; o segundo
era semelhante a um urso e lhe foi ordenado devorar muita carne;
o terceiro parecia com um leopardo e lhe foi dado domínio.
Se revisarmos a história, veremos que o símbolo da Babilô-
nia era um Leão (o imperador babilônico Nabucodonosor foi
um grande e astuto conquistador de territórios); o do Reino da
Pérsia era o urso (esse império ficou conhecido como o mais
cruel e desumano da história), e os Macedônios ou Gregos eram
representados pelo leopardo, para indicar a velocidade com que
se expandiam, já que em poucos anos, Alexandre, o Grande,
dominou o mundo todo.
Unindo essas descrições de Daniel e do Apocalipse, chega-
mos à conclusão de que o anticristo será forte e territorial como
um leão, terá o desejo de matar como um urso (eles matam por
prazer e não por necessidade) e será veloz para a conquista,
assim como o leopardo.

166
SEGUNDA FASE DA GRANDE TRIBULAÇÃO

Em síntese, o anticristo será dominador, assassino e conquistador.

Queremos ressaltar algo importante aqui: embora as Escri-


turas se refiram ao diabo como alguém forte e poderoso, elas
também afirmam que essa força e poder nunca serão compa-
ráveis com as de Jesus. Em casos como esse, a Bíblia está indi-
cando apenas que ele não é um oponente qualquer. Não esta-
mos dizendo que devemos ter medo dele, e sim que devemos
respeitá-lo, pois certamente é um grande adversário.

Sem o poder e as orientações de Jesus, nunca seríamos capazes de


vencer o inimigo, todavia, há muitos cristãos brincando com a guerra
espiritual, sem ter o menor senso do que é, nem de como se preparar
para ser vitorioso nela.

Continuando com o nosso tema, na visão de Daniel havia um


quarto animal, diferente dos outros três, descrito como “forte,
espantoso e terrível”. Esse animal devorará tudo com seus dentes
de ferro (Dn 7.7), tal como a besta de Apocalipse 13:1. Se estu-
darmos o capítulo dois de Daniel, entenderemos que se trata
do império Romano. Segundo as profecias, esse ressurgirá nos
últimos tempos. Não estamos dizendo que terá o mesmo nome,
porém, apresenta o mesmo modelo de reinado.
Na visão do profeta, o quarto animal tinha dez chifres, den-
tre os quais, surgiu um chifre pequeno que arrancou os três
primeiros chifres. De acordo com Daniel 7.24, isso significa
que: “daquele mesmo reino se levantarão dez reis; e depois deles
se levantará outro, o qual será diferente dos primeiros, e abaterá
a três reis”.
Assim mesmo, diz que esse pequeno chifre tinha uma boca
com a qual proferia grandes blasfêmias contra Deus (Ap 13.5;
Dn 7.8;25). Isso nos aponta três coisas a respeito do Anticristo:
1) ele virá de uma confederação de nações que constituem um

167
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

poderoso império ressurgido; 2) embora pequeno e aparente-


mente despontado do nada, ele será potencializado pelo poder
do diabo e derrubará três dessas grandes nações; e 3) uma vez
revelado por inteiro ao mundo, ele irá se colocar publicamente
contra Deus e seus seguidores.
Apocalipse 13.2 diz que o dragão, ou seja, Satanás dará ao
anticristo seu poder, seu trono e sua autoridade. As mesmas três
coisas que Jesus recebeu do Pai e que nós temos em Cristo. Em
outras palavras, o diabo deu ao seu comparsa aquilo que Jesus
tem e que a Igreja tem, porém, em menor proporção. Tanto no
AT quanto no NT, são apresentadas outras características do
filho da perdição.
Vejamos algumas: eloquente orador (Dn 7.8; Ap 13.5); perse-
guidor dos santos e dos hebreus (Dn 7.21; Ap 13.7); mudará as
leis de Deus (Dn 7.25); completamente insolente (Dn 7.25; Ap
13.6); inimigo de Cristo (2 Ts 2.3-4); astuto e traidor (Dn 11.21-
24) e grande conquistador (Dn 11.40-44; Ap 13.4).
O próprio Jesus o descreve como alguém que não se sujeita
a ninguém e que busca sua própria glória. Assim mesmo, Ele
anunciou aos judeus que eles o seguiriam: “Eu vim em nome
de meu Pai, e não me aceitais; se outro vier em seu próprio nome,
certamente, o recebereis” (Jo 5.43).

O FALSO PROFETA

O surgimento desse personagem é fundamental para a


manifestação completa do ministério satânico do anticristo. É
necessário compreendermos que como João Batista preparou o
caminho de Jesus, esse profeta do mal irá preparar o caminho
do anticristo. Assim como o Espírito Santo tem por missão dar
a conhecer ao mundo o Filho de Deus, o ministério do falso
profeta é levar o mundo a adorar o anticristo e a sua imagem.
João diz: “vi ainda outra besta emergir da terra; possuía dois
chifres, parecendo cordeiro, mas falava como dragão” (Ap 13.11).

168
SEGUNDA FASE DA GRANDE TRIBULAÇÃO

A palavra “terra” usada aqui, quer dizer terra seca, ou Palestina.


Por isso, cremos que o falso profeta virá de lá e que provavel-
mente será um judeu.
Um fato importante que nos leva a crer nisso, é que seu
ministério consiste essencialmente em enganar os judeus na
tentativa de levá-los a se prostrar diante do anticristo. Ele exer-
cerá um domínio geral sobre o mundo e exigirá a adoração
das nações, mas, para isso, realizará grandes milagres e sinais,
movido pelo poder das trevas (Ap 13.13).

A IMAGEM DA BESTA (AP 13.14)

Aqui temos o surgimento da besta que emerge do mar. Ela


fará para si uma imagem que fala e mata. E o que temos em
Daniel acerca dessa imagem? Voltemos ao livro de Daniel no
qual há uma figura semelhante. Nos capítulos dois e três, o rei
Nabucodonosor edifica para si uma imagem, exigindo que todos
a adorem, quem se recusasse deveria morrer na fornalha.

A ressurreição da besta

Vejamos com atenção o texto de Apocalipse 17.8, no qual


um anjo disse a João: “A besta que viste foi e já não é, e há
de subir do abismo, e irá à perdição; e os que habitam na terra
(cujos nomes não estão escritos no livro da vida, desde a funda-
ção do mundo) se admirarão, vendo a besta que era e já não é,
ainda que é”.
Ao analisarmos com cuidado as palavras do anjo, podemos
ver que a sua primeira expressão “foi”, está dizendo que o
anticristo veio ao mundo e os homens o adoraram. Mas, num
segundo momento ele diz: “a besta era e já não é”, indicando
que morrerá. Todos os habitantes da Terra ficarão espanta-
dos com esse acontecimento (pensamos que se trata de uma
espécie de assassinato).

169
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

Contudo, a terceira expressão do anjo: “ainda que é”, sugere


que de alguma forma ele ressurgirá, numa imitação diabólica da
ressurreição de Cristo. Assim como Jesus morreu e ressuscitou
pelo poder de Deus, satanás permitirá que seu filho morra, e
depois o ressuscitará com todo o poder das trevas, para dar-lhe
mais autoridade nos instantes finais de seu ministério satânico.
Com esse sucesso sobrenatural, eles conseguirão reunir pes-
soas de todas as nações para lutarem contra Deus (não podemos
nos esquecer, que tudo isso só acontecerá com a permissão
completa d’Ele). Os demônios e os homens serão bem sucedidos
em seus intentos malignos, mas só até certo ponto, pois Deus
permitirá que caminhem para a condenação eterna.
Conforme afirmam as escrituras: “em seu coração incutiu Deus
que realizem o seu pensamento, o executem a uma e deem à besta
o reino que possuem, até que se cumpram as palavras de Deus”
(Ap 17.17).

A marca da besta (Ap 13.16-18)

Por meio de um sistema religioso, político e comercial glo-


bal, o anticristo exigirá que todos os seus seguidores sejam
marcados (na mão direita ou sobre a fronte) e aqueles que não
tiverem essa marca serão tenazmente perseguidos e atribulados.
Sem ela, ninguém poderá comprar ou vender nada (vs. 16-17),
por isso, essa marca de identificação representará um meca-
nismo de controle absoluto sobre as nações.
Assim, o anticristo assumirá o comércio mundial, com o
único objetivo de tornar as pessoas escravas, para que com isso
todos o adorem. De acordo com o verso 18, para chancelar seu
poder e registrar seus escravos, Satanás elegerá um número de
homem, a saber: 666.
Biblicamente, o número 6 representa o homem e o mal.
Quando o anticristo estiver governando durante a tribulação,
haverá uma intensificação do humanismo e das trevas. O homem

170
SEGUNDA FASE DA GRANDE TRIBULAÇÃO

se achará — ainda mais — o centro de todas as coisas e, por essa


razão, se entregará à devassidão moral, tornando-se escravo de
seus desejos, como nunca antes aconteceu em nenhuma outra
geração. Por incrível que pareça, esse tempo já está sendo prog-
nosticado pelos estudiosos da cultura e da sociedade, quando
falam em “hipermodernidade”.
Assim, o número 666 é o símbolo da trindade satânica, pois o
anticristo se levantará graças ao poder das trevas: “Ora, o apare-
cimento do iníquo é segundo a eficácia de Satanás, com todo poder,
e sinais, e prodígios da mentira, e com todo engano de injustiça aos
que perecem, porque não acolheram o amor da verdade para serem
salvos” (2 Ts 2.9-10). Por isso, sabemos que ele é o primeiro 6,
o segundo representa o falso profeta e o terceiro é satã. Por um
pequeno período, os três governarão o mundo.

A REVELAÇÃO DO CORDEIRO

“E olhei, e eis que estava o Cordeiro sobre o monte Sião, e com ele
cento e quarenta e quatro mil, que em suas testas tinham escrito
o nome de seu Pai” (Apocalipse 14.1).

O capítulo 14 de Apocalipse é um contraste do capítulo


anterior, pois ele nos revela que no mesmo período de maior
devassidão moral e espiritual que já houve sobre a Terra, Deus
irá guardar os seus fiéis. Aqui, o Senhor faz questão de revelar
o caráter dos seguidores do Cordeiro que estarão selados pelo
Espírito Santo, e não se corromperão, que permanecerão ínte-
gros e irrepreensíveis até o fim.
O capítulo também nos revela a proteção que os 144 mil
terão até o fim do cumprimento de sua tarefa de evangelização
mundial, momento no qual se encerrará o “evangelho do reino”
pregado pelos judeus, e se dará início ao “evangelho eterno”
pregado pelos anjos.

171
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

OS 144 MIL NO MONTE SIÃO

Como vemos no primeiro versículo desta seção, as coi-


sas acontecem no Monte Sião e não no Monte das Oliveiras.
Portanto, sabemos que esse episódio não se refere à segunda
vinda de Jesus (a qual trataremos com mais detalhes, quando
chegarmos ao capítulo 19 de Apocalipse). Na verdade, esse
verso faz uma alusão à proteção do Senhor para com os rema-
nescentes de Israel (aqueles 144 mil selados que vimos no
capítulo 7).
Como vimos anteriormente, eles são homens e mulheres
judeus, que não se contaminaram com a imoralidade sexual e
nenhuma mentira foi encontrada em seus lábios. Eles susten-
taram a Verdade e mantiveram sua integridade física, moral
e espiritual. As Escrituras nos revelam que mesmo em meio
à terrível perseguição, esses judeus serão fiéis à vontade per-
feita de Deus, pois seguirão o Cordeiro por onde quer que
Ele for (Ap 14.4-5). Por isso, o anticristo os odiará, já que eles
contrariarão todas as suas direções e vontades. Em virtude
disso, Deus os protegerá até o fim.
No céu aparece um grupo de pessoas cantando um novo
cântico, que só elas poderiam cantar (vs. 3). Tratam-se dos
mesmos mártires que clamavam embaixo do altar em Apoca-
lipse 6.9, na primeira metade da semana ali descrita. Adiante,
veremos que sua canção é o cântico de Moisés (Ap. 15.3-4) e
isso os identifica como hebreus. A presença desses 144 mil
no final dos tempos são a garantia de que ninguém ficará em
época alguma sem receber a Palavra de Deus pela qual todos
serão julgados.
Na verdade, o Senhor providenciou três meios para que
essa Palavra fosse plenamente divulgada:

Evangelho da graça: anunciado pela Igreja durante o tempo


dos gentios antes da tribulação, ou melhor, desde a primeira

172
SEGUNDA FASE DA GRANDE TRIBULAÇÃO

vinda de Jesus até o início do tempo da tribulação. A Igreja tem


como primazia anunciar essa graça salvadora.

Evangelho do Reino: Esse evangelho será veementemente


anunciado pelos judeus durante a grande tribulação.

Evangelho Eterno: trata-se de um evangelho de juízo anun-


ciado pelos anjos, por meio de sinais na criação. Esse evangelho
tem tido sua vigência desde a criação, e irá até a tribulação, pois
seu anúncio é para os não alcançados pelo evangelho da graça.

O Evangelho Eterno sempre esteve disponível para a humanidade (Rm


1.19), mas, durante a tribulação e por um curto período de tempo, esse
evangelho (de certa forma) será a única fonte da Palavra de Deus.

No mesmo capítulo 14, percebemos a presença de quatro


fortes vozes em momentos singulares. A primeira voz é o testi-
ficar de que o evangelho eterno será pregado a cada povo, tribo,
língua e nação da terra (vs. 6-7).
A segunda voz é ouvida quando o segundo anjo anuncia o
juízo de Deus sobre Babilônia (o centro administrativo e comer-
cial do anticristo). Ou seja, no lugar onde começou a corrupção
será exatamente onde Deus iniciará o seu juízo.
A terceira voz é do terceiro anjo, enfatizando sobre a impor-
tância de ninguém aceitar a marca da besta, pois aquele que
permitir ser marcado não terá mais o perdão de Deus (vs. 9-10).
Como veremos no capítulo seguinte, as sete taças que vem após
as sete trombetas serão o último nível do castigo de Deus para
os homens na Terra. Além de experimentar o fel dessas taças,
todos os que receberem a marca da besta ainda serão condena-
dos ao lago de fogo e enxofre, onde não terão descanso, pois ali
serão afligidos e atormentados dia e noite.
A quarta voz: nesse período haverá muitos que, mediante
a pregação dos anjos, se renderão genuinamente a Deus e se

173
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

converterão dos seus pecados e alcançarão a salvação no final


da grande tribulação. Quando o texto diz que “Bem-aventurados
os mortos que, desde agora, morrem no Senhor”, nos é revelado
que nesse tempo ainda haverá salvação (vs. 13).

UM PRELÚDIO DO JUÍZO

Apocalipse 14:14 nos dá uma linda e aterradora visão. Nesse


momento, sabemos que o juízo de Deus se aproxima inexoravel-
mente: “Olhei, e vi uma nuvem branca, e sentado sobre a nuvem,
o semelhante ao Filho de homem, tendo na cabeça uma coroa
de ouro e na mão uma foice afiada”. As cenas apresentadas a
seguir: a ceifa e a vindima, estão ligadas ao juízo de Deus que
chega sobre a Terra, nessa parte, João procura descrever a volta
do Senhor Jesus.
Já na cena da vindima, vemos o anjo executando o juízo,
aqui temos uma figura da violência que terá esse juízo contra os
ímpios. O que é relevante aqui, é que ambas as imagens apon-
tam para o fim. Elas nos permitem ter uma ideia clara de como
será o Armagedom e onde o SENHOR pelejará pelos judeus que
estarão sitiados.

Com duas palavras podemos definir esse momento histórico: rapidez e


violência. Jesus salvará os judeus no último instante e pisará, de uma
vez por todas, todos os seus inimigos.

A ceifa (vs. 15-16)

Aqui temos a figura de um personagem descrito como “seme-


lhante ao Filho do homem” (Dn 7.13), ou seja, é o Senhor Jesus
apontado em Sua segunda vinda. Em Sua cabeça Ele tem uma coroa
de ouro, e como vimos antes, coroa fala de autoridade e ouro fala
da glória de Deus. Diversas cenas em Apocalipse descrevem esse
poderio do Senhor, dentre elas, gostaríamos de destacar três.

174
SEGUNDA FASE DA GRANDE TRIBULAÇÃO

No capítulo 19, Ele aparece montado num cavalo branco, o


que indica que seu poder avança sobre a Terra; no capítulo 22
está assentado sobre o trono, indicando o repouso do seu poder;
no capítulo 14, no entanto, Ele aparece assentado numa nuvem,
o que indica seu poder em execução.
Na mesma cena, Ele está com uma foice aguda na mão e lhe
foi ordenado ceifar porque a colheita estava madura. A Bíblia
diz que o dono da seara é o próprio Deus (Mt 9.38) e, também,
deixa claro que os anjos ceifarão nesse tempo de colheita, onde
dirá aos seus ceifeiros: “Deixai crescer ambos juntos até à ceifa;
e, por ocasião da ceifa, direi aos ceifeiros: Colhei primeiro o joio, e
atai-o em molhos para o queimar; mas, o trigo, ajuntai-o no meu
celeiro” (Mt 13.30).

A vindima (vs. 17-19)

Essa fase também faz parte da colheita do Senhor, mas pos-


sui um forte apelo de violência e velocidade, como se tivesse
passado demasiado tempo para colher. O anjo deverá lançar sua
foice na vindima porque as uvas estarão maduras, mas depois,
lançará no lagar de Deus para serem pisoteadas. De acordo
com Isaias 63:3, isso quer dizer que Deus mesmo julgará todos
aqueles que não se arrependerem e Ele mesmo os pisará, os
esmagará como uvas:

“Eu sozinho pisei no lagar, e dos povos ninguém houve comigo; e os pisei
na minha ira, e os esmaguei no meu furor; e o seu sangue salpicou as
minhas vestes, e manchei toda a minha vestidura”.

Nesses versículos temos um símbolo do juízo de Deus,


anunciado agora, mas concretizado no capítulo 19:15. O pro-
feta Isaías profetizou a respeito dele dizendo: “Porque o dia da
vingança estava no meu coração; e o ano dos meus remidos é che-
gado” (Is 63.4).

175
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

A CÓLERA DE DEUS É DERRAMADA SOBRE A TERRA



Vi no céu outro sinal grande e admirável: sete anjos tendo os sete
últimos flagelos, pois com estes se consumou a cólera de Deus”
(Apocalipse 15.1).

Um período muito curto antecede ao final da Grande Tri-


bulação, na qual se desencadearão as últimas e mais terríveis
pragas sobre a terra. Os eventos descritos no capítulo 15 do
Apocalipse são a concretização, na Terra, do juízo liberado no
céu (Ap 11:18-19).

O MAR DE VIDRO MESCLADO DE FOGO

Um aspecto interessante desse mar de vidro é que se trata


do mesmo que João viu no início do Livro de Apocalipse (4.6),
porém, agora o vê misturado com fogo. Na Bíblia, o fogo pode
significar santidade, sofrimento e prova. Ali estavam os vence-
dores da besta (o anticristo), aqueles que em meio aos muitos
sofrimentos da tribulação alcançaram salvação, pois se santifi-
caram em meio às muitas provas.

Existe uma expressão comum no meio cristão que talvez se encaixe


muito bem aqui: “ou vem pelo amor ou vem pela dor”. No caso desses
irmãos, eles tiveram que passar pela dor da tribulação para chegar
ao céu.

A abertura do tabernáculo é algo muito importante a ser notada,


porque é a partir deste momento que se cumpre a vontade, os segre-
dos e o juízo de Deus. Anteriormente vimos apenas o anúncio dos
fatos que irão ocorrer agora, finalmente, os homens passarão a ver
os castigos de Deus (Ap 16.9-11). Então, o santuário se encheu de
fumaça, símbolo esse que em outras passagens bíblicas também
está associado à ira de Deus (2 Sm 22.8-9; Sl 37.20; Jl 2.30-31).

176
SEGUNDA FASE DA GRANDE TRIBULAÇÃO

Esse é o momento em que os sete anjos saem para execu-


tar o juízo, derramando as taças que contém a cólera de Deus.
Graças à fumaça no tabernáculo celestial, o texto afirma que
ninguém poderia entrar até que as sete pragas das taças fossem
consumadas (Ap 15.7-8).
Por causa desse versículo, alguns alegam que a partir deste
momento não haverá mais salvação na Terra, no entanto, ainda
que o texto realmente indique isso, pela falta de mais evidências
bíblicas, não é correto dogmatizar.

O que podemos afirmar é que a partir deste estágio, não é apresentado


no livro nenhum outro símbolo que aponte para a misericórdia ou a Graça
Deus.

177
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

EXORTAÇÃO

Pare o que você está fazendo agora! Veja os horrores daquilo


que virá àqueles que não andarem conforme à vontade de
Deus, que não buscaram conserto a tempo e não aproveitarem
a chance de serem arrebatados com Cristo antes de tudo isso
acontecer. Ouça a voz do Espírito Santo. HOJE é o tempo para
se santificar.
Como está sua vida espiritual? Convido-te a aborrecer a sua
carne e desejos e a clamar ao SENHOR por um avivamento pes-
soal. HOJE é o dia de falar ao seu espírito: “Desperta, oh tu que
dormes”…
Irmãos, perto está o SENHOR! E Ele nos diz: “Eis que venho
como ladrão. Bem-aventurado aquele que vigia e guarda as suas
roupas, para que não ande nu, e não se vejam as suas vergonhas”
(Ap 16.15).

Não é tempo de dormir, mas de VIGIAR E ORAR.

178
— capítulo 11 —

ÚLTIMA FASE
DA GRANDE TRIBULAÇÃO

“Ouvi, vinda do santuário, uma grande voz, dizendo aos sete


anjos: Ide e derramai pela terra as sete taças da cólera de Deus”.

Apocalipse 16.1
ÚLTIMA FASE DA GRANDE TRIBULAÇÃO

AS SETE TAÇAS

Esse é sem dúvidas o último e pior estágio no processo do


juízo de Deus sobre a Terra. O derramar das sete taças são os
últimos acontecimentos antes do fim, e embora essa etapa se
resuma em um curto espaço de tempo, ela será muito mais
violenta do que as anteriores. O sofrimento será horrendo e
tão intenso, que nada ou ninguém restará, se o tempo não for
abreviado. Não é possível afirmar de quem seja a voz que vemos
direcionando o derramar da ira de Deus, mas possivelmente
seja do próprio Senhor.
Primeira taça: úlceras malignas (Ap 16.2). Fica claro que
essas úlceras serão o castigo de Deus especificamente para
aqueles que aceitaram a marca da besta.
Segunda taça: mar em sangue (Ap 16.3). Note que esse flagelo
será semelhante à segunda trombeta, provavelmente em con-
sequência dos cadáveres resultantes, já que a expressão “como
morto” nos dá a ideia de sangue coagulado. Por isso, acredita-
mos que se trata da consequência da trombeta.
Terceira taça: escassez de água potável (Ap 16.4-7). De modo
semelhante à terceira trombeta, o sangue contaminará as águas.
O texto nos sugere que esse sangue pertence aos santos e pro-
fetas que foram mortos por amor a Deus. Nesse ponto fica evi-
dente que o fim está muito próximo. Alguns chegam a afirmar
que se trata de dias, pois quem seria capaz de passar muitos
dias sem água? O texto anuncia que as fontes foram convertidas
em sangue, um episódio muito parecido com a praga do Egito
(Ex. 7.17-21).
Quarta taça: a potencialização do sol (Ap 16.8-9). Essa cena
assemelhasse com Apocalipse 8.12, porém, naquele verso diz
que o sol se apagará, isso significa que no primeiro estágio a
Terra esfriará muito. Já nessa fase, será exatamente o inverso. É
possível que o sol saia de sua órbita, aproximando-se muito da
Terra, e por esta razão queimará os homens intensamente (Ap

181
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

16.8). Mas, os homens não se arrependerão das suas iniquidades.


Quinta taça: a taça sobre o trono da besta (Ap. 16.10-11).
Nesse período, Jerusalém será a futura capital do mundo, e ali
o anticristo se intitulará deus. Sabemos que naquele lugar essa
taça será derramada. A palavra diz que esse reino se fará tene-
broso e as pessoas morderão suas línguas de tanta dor. Mesmo
assim, os homens ainda não se arrependerão, mas blasfemarão
ainda mais o nome de Deus.
Sexta taça: secará o rio Eufrates (Ap 16.12-16). Essa praga,
em particular, parece ser um castigo específico para a Babilô-
nia. O rio será um caminho para que os exércitos dos reis do
oriente caminhem para a batalha do Armagedom. Ao oriente da
Palestina encontram-se Índia, China, Japão, Myanmar, Turquia,
Arábia Saudita, Irã, Iraque, Afeganistão (e outras nações). De
acordo com esse e outros textos, como Apocalipse 20.8 e Eze-
quiel 38 e 39, os reis desse lado do mundo escutarão o chamado
do anticristo e virão para Jerusalém através desse rio seco, a fim
de lutar contra Deus.

Comparado com o todo anterior, um rio secar não parece ser um grande
castigo, mas talvez esse seja um dos piores, pois significa que Deus está
abrindo um caminho para os maus marcharem com seus próprios pés
em direção à morte física e eterna.

Sétima taça: no ar (Ap 16.17-21). Quando Jesus — em seus


últimos suspiros — gritou na cruz: “está consumado”, Ele nos
trouxe a salvação. No momento da última taça, também será
dito: “está consumado”, mas, dessa vez, anunciando ao mundo a
sua extinção completa. A última taça é a destruição total de todo
o governo do anticristo. Esse será o momento da segunda vinda
de Cristo sobre a Terra, descrita com detalhes no capítulo 19.

182
ÚLTIMA FASE DA GRANDE TRIBULAÇÃO

os 7 selos
Saiu, pois, o primeiro anjo e derramou a sua taça pela terra, e, aos homens
portadores da marca da besta e adoradores da sua imagem, sobrevie-
ram úlceras malignas e perniciosas. (16:2)

Derramou o segundo a sua taça no mar, e este se tornou em sangue


como de morto, e morreu todo ser vivente que havia no mar. (16:3)

Derramou o terceiro a sua taça nos rios e nas fontes das águas, e se
tornaram em sangue. Então, ouvi o anjo das águas dizendo: Tu és justo,
tu que és e que eras, o Santo, pois julgaste estas coisas; porquanto derra-
maram sangue de santos e de profetas, também sangue lhes tens dado a
beber; são dignos disso. Ouvi do altar que se dizia: Certamente, ó Senhor
Deus, Todo-Poderoso, verdadeiros e justos são os teus juízos. (16:4-7)

O quarto anjo derramou a sua taça sobre o sol, e foi-lhe dado queimar os
homens com fogo. 9Com efeito, os homens se queimaram com o intenso
calor, e blasfemaram o nome de Deus, que tem autoridade sobre estes
flagelos, e nem se arrependeram para lhe darem glória. (16:8,9)

Derramou o quinto a sua taça sobre o trono da besta, cujo reino se tornou
em trevas, e os homens remordiam a língua por causa da dor que sentiam
11e blasfemaram o Deus do céu por causa das angústias e das úlceras
que sofriam; e não se arrependeram de suas obras. (16:10,11)

Derramou o sexto a sua taça sobre o grande rio Eufrates, cujas águas
secaram, para que se preparasse o caminho dos reis que vêm do lado do
nascimento do sol. Então, vi sair da boca do dragão, da boca da besta e da
boca do falso profeta três espíritos imundos semelhantes a rãs; porque
eles são espíritos de demônios, operadores de sinais, e se dirigem aos
reis do mundo inteiro com o fim de ajuntá-los para a peleja do grande
Dia do Deus Todo-Poderoso. (Eis que venho como vem o ladrão. Bem-a-
venturado aquele que vigia e guarda as suas vestes, para que não ande
nu, e não se veja a sua vergonha.) Então, os ajuntaram no lugar que em
hebraico se chama Armagedom.

Então, derramou o sétimo anjo a sua taça pelo ar, e saiu grande voz do
santuário, do lado do trono, dizendo: Feito está! E sobrevieram relâmpa-
gos, vozes e trovões, e ocorreu grande terremoto, como nunca houve
igual desde que há gente sobre a terra; tal foi o terremoto, forte e grande.
E a grande cidade se dividiu em três partes, e caíram as cidades das
nações. E lembrou-se Deus da grande Babilônia para dar-lhe o cálice do
vinho do furor da sua ira. Todas as ilhas fugiram, e os montes não foram
achados; também desabou do céu sobre os homens grande saraivada,
com pedras que pesavam cerca de um talento; e, por causa do flagelo
da chuva de pedras, os homens blasfemaram de Deus, porquanto o seu
flagelo era sobremodo grande.

Figura 10. AS SETE TAÇAS. Autor: Tales Ramiro26

26 Disponível em: <http://www.bibliart.com.br/2015/12/as-7-tacas-de-apocalipse.html> Acesso


em: 06 de mar. 2020.

183
— capítulo 12 —

FIM DO SISTEMA
RELIGIOSO

“Ouvi, vinda do santuário, uma grande voz, dizendo aos sete


anjos: Ide e derramai pela terra as sete taças da cólera de Deus”.

Apocalipse 16.1
FIM DO SISTEMA RELIGIOSO

A QUEDA DAS MERETRIZES

Até esse momento, as enormes transformações parecem


ocorrer no âmbito físico, mas a partir daqui a esfera dos acon-
tecimentos é outra. Apocalipse 17 fala da Babilônia: a grande
meretriz (ou prostituta), porém, ela não representa aqui uma
cidade literal e sim, um procedimento libertino, devasso,
adúltero. Se analisarmos cuidadosamente a Bíblia em busca
dessa figura, encontraremos que mais de uma cidade recebeu
esse título.

Jerusalém

A Bíblia diz que nos dias do anticristo, essa cidade será com-
parada a Sodoma e Gomorra. Isso fica claro quando estudamos
com cuidado o capítulo 11 de Apocalipse, verso 8 que diz: “E
jazerão os seus corpos mortos na praça da grande cidade que espiri-
tualmente se chama Sodoma e Egito, onde o nosso Senhor também
foi crucificado”.
Veja bem, Jesus não foi crucificado em Sodoma, nem ao
menos no Egito, mas neste texto os procedimentos pecaminosos
de Jerusalém naquele tempo são comparados aos de duas cida-
des que sempre tipificaram a imoralidade e o sistema mundano
de maneira geral. Portanto, com base nisso, podemos afirmar
que Jerusalém é uma das cidades comparadas à Babilônia.

A cidade de Babilônia (literal)

Aqui temos a cidade física de Babilônia na região da antiga


Mesopotâmia (nome esse que significa “entre rios”), onde atual-
mente fica o Iraque. A Bíblia relata que muitos eventos impor-
tantes aconteceram naquele lugar. Conhecida outrora como
Babel, essa cidade foi o lugar no qual o homem se rebelou contra
o Senhor declaradamente, pois, sob a direção de Ninrode, um

187
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

de seus habitantes, as pessoas ergueram uma torre para tentar


chegar ao céu sem o auxílio de Deus (Gn 11).
O nome Babel tem dois significados: Confusão (nome dado
pelos hebreus) e Casa dos deuses (nome dado pelos nativos). De
fato, foi o lugar onde aconteceu a primeira adoração a outros
deuses, e com isso, deu-se início ao paganismo.
Muitos séculos mais tarde, o rei Nabucodonosor estabeleceu
seu reino nessa terra, a qual serviu como prisão para os hebreus
durante os setenta anos de cativeiro. Foi precisamente nesse
período que surgiram as sinagogas, lugares onde era permi-
tido aos judeus praticarem a liturgia de seu culto, com exceção
do sacrifício.

O problema é que, até hoje, não existe adoração verdadeira sem sacri-
fício, sem renúncia. Isso se aplica a nós como cristãos. Não há sentido
em ter um altar, um lugar de adoração, se ali não há um sacrifício para
ser queimado e oferecido a Deus.

Roma

A cidade de Roma é usualmente comparada à Babilônia. Em


boa parte da história da igreja romana, ela tem se autonomeado
rei, comercializando e corrompendo a fé, profanando a adoração
ao Deus verdadeiro por meio de muitas heresias e idolatrias.
Desde seus primórdios, a igreja católica romana teve domínio
sobre as nações.
Quanta riqueza foi acumulada pela igreja romana? Quan-
tos cristãos foram martirizados, injustamente, no decorrer da
sua história? Por isso, vejamos como as descrições da grande
meretriz de Apocalipse 17 são semelhantes às da igreja romana:
1) Está assentada sobre as águas, essas águas representam
nações (Ap 17.5). A Grande Meretriz também se prostitui com
os reis da terra (17.2).
2) Está vestida de púrpura e escarlate (17.4), duas cores que

188
FIM DO SISTEMA RELIGIOSO

nos tempos antigos representavam poder e realeza. Dada a difi-


culdade que havia naquele tempo para produzir esses pigmen-
tos, eles eram usados apenas por reis, porém, depois os papas
passaram a usá-los e, finalmente, os sacerdotes e bispos.
3) Embriagou-se com o sangue dos santos (17.6), à seme-
lhança do que a igreja romana fez por séculos ao perseguir os
verdadeiros cristãos: aqueles que testemunharam verdadeira-
mente o evangelho de Jesus e resistiam a misturar-se com o
sistema pagão.
4) Está assentada sobre sete montes ou cabeças (17.9). His-
toricamente, o domínio de Roma sobre os reis e nações sempre
foi religioso. Seu poder era tamanho que, em muitos momentos,
possuía o poder de excomungar reis e nobres quando via a sua
hegemonia ameaçada.

Por todos esses argumentos, entendemos que a grande mulher encon-


trada no deserto montada numa besta, é a igreja católica apostólica
romana.

BABILÔNIA, A GRANDE MERETRIZ

Como dito antes, esta expressão já não mais se refere a um


lugar físico, e sim, a todo um sistema permissivo e sujo, no qual
a troca de favores e o tráfego de influências preponderavam.
É precisamente na Babilônia, cidade edificada às margens do
Éden, onde se localizava a cidade de Pérgamo nos tempos de
João, e o que é dito sobre ela nas cartas às igrejas: “Conheço
o lugar em que habitas, onde está o trono de Satanás (...) onde
Satanás habita” (Ap 2:13). Irmãos, não existem coincidências
na Bíblia.
As escrituras dizem que em Pérgamo era o lugar onde estava o
diabo, mas, por que precisamente nesse lugar? Bem, sabemos que
o pecado dá legalidade para o diabo agir. Desde a antiguidade, a ser-
pente do jardim vem se alimentando dos altares de abominações

189
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

daquele lugar, e continuará fazendo até o dia do fim, quando se


tornará um grande dragão. Vejamos abaixo uma lista de pecados
cometidos desde o princípio naquelas terras, que fizeram com que
o trono de Satanás pudesse ser estabelecido ali:
Lugar em que o homem pecou pela primeira vez. Após o
pecado, o Éden foi lacrado, e o homem passou a viver às mar-
gens desse antigo lugar, onde antes tinha comunhão com Deus
(Gn 3.23-24).
Lugar onde houve o primeiro assassinato na terra. Aqui, pela
primeira vez, um irmão matou outro irmão (Gn 4.8-10).
Lugar onde demônios prevaricaram contra Deus, possuindo
mulheres. Quando os homens da Terra se multiplicaram, a pala-
vra diz que “os filhos de Deus” tomaram para si das “filhas dos
homens”, porque lhes pareciam formosas (Gn 6.1-3). A expres-
são “filhos de Deus” está ligada diretamente a hostes celestiais,
isto é, anjos (Jó 1.6; ). Logo, relacionamento entre os “filhos de
Deus” e as “filhas dos homens” nada mais é do que a união de
anjos caídos ou demônios (Jd 6-7), com mulheres humanas.
Diante dessa aberrante mistura, Deus teve que colocar um limite
para o tempo de vida de um ser humano: 120 anos.
Lugar onde houve o primeiro pecado de rebelião. Como dis-
semos, os habitantes de Babel desejaram construir, unidos,
uma torre que chegasse até o céu, e fazer célebre o seu nome
na Terra (Gn 11.4).
Observe como o pecado toma proporções bem maiores. Ele
foi crescendo gradativamente sobre a terra e, com isso, o diabo
foi se fortalecendo. O que era um pecado de um único individuo,
tornou-se um pecado coletivo e contra Deus. A torre de Babel é
um grito de independência.

“Transferência espiritual” da Babilônia para Roma

No decorrer da história humana, muitos impérios se levan-


taram com o fim de estabelecer suas hegemonias, porém, talvez

190
FIM DO SISTEMA RELIGIOSO

nenhum deles logrou tanto êxito (por tanto tempo), quanto o


Império Romano. Cada um desses impérios definia suas dire-
trizes e objetivos com o propósito de alcançarem aquilo que
tanto desejavam.
Por exemplo, enquanto os gregos ocuparam-se em dominar
as mentes da época estabelecendo sua cultura de pensamento
pelo mundo antigo, os romanos usaram toda sua força para
dominar novas terras e eram abertos para adotar as novas cren-
ças locais, a fim de manterem a unidade do Império.
Os romanos adotaram essa política sincretista, isto é, toma-
vam para si as novas religiões e costumes de cada localidade, a
fim de evitar aborrecimentos e novos conflitos com seus habi-
tantes, pois isso geraria empecilhos para o cumprimento de
seus planos de dominação.
Numa época, Roma derrotou Pérgamo por intermédio do
imperador Júlio César, uma notória figura militar e política que
se destacou por sua sagacidade e ambição. Com o propósito de
evitar o descontentamento da nova colônia, os romanos intro-
duziram práticas do culto babilônico à cultura romana, sem
saber dos efeitos espirituais disso.
Inclusive deuses persas entraram no panteão de deuses
romanos para serem adorados, e, segundo o costume babilô-
nico, até o imperador (e seus sucessores) recebeu o título de
“sumo pontífice”, no ano de 62 a.C. Em outras palavras, ele se
tornou a autoridade máxima do Império nos assuntos religiosos
e espirituais.
Com essa ação impensada, Roma tornou-se, involuntaria-
mente, detentora da herança espiritual da religião babilônica.
Esses eventos nos levam a pensar que Pérgamo transferiu o seu
legado espiritual para Roma, e, por isso, essa passou a ser reco-
nhecida no mundo espiritual como Babilônia, a grande mere-
triz. Apocalipse 17.5 diz que ela é a mãe de todas as prostitutas
da Terra. E isso não é complicado de entender se observarmos
que, ao longo da história, praticamente todas as religiões são

191
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

oriundas do cristianismo romano, muitas vezes como fruto


de heresias.

A mãe das meretrizes e a besta (Ap 17.1-18)

Esse animal tem as mesmas características daquele apresen-


tado em Apocalipse 13.1, portanto, corresponde ao anticristo.
Isso significa que quando houver o arrebatamento e a verdadeira
igreja subir, a Igreja romana, enganada, fará uma aliança com
o anticristo.

Figura 11. A meretriz de Babilônia (gravura russa S. XIX)27.

DEZ CHIFRES = DEZ DEDOS = DEZ REIS (AP 17.3)

Esta “besta escarlata”, como é chamada por João, tem sete


cabeças que representam grandes impérios do passado e dez
chifres, os quais vimos alguns capítulos atrás, representam dez

27 Disponível em: https://es.wikipedia.org/wiki/Ramera_de_Babilonia#/media/Archivo: Whore_


of_Babylon.jpg, Acesso em: 05 de março de 2020.

192
FIM DO SISTEMA RELIGIOSO

reis humanos que formarão juntos uma grande confederação


de nações (Dn 7.24). Eles também equivalem aos dedos dos pés
de barro da estátua, que o rei Nabucodonosor viu no seu sonho
(Dn 2.33).

O CHIFRE COM OLHOS:

Conforme vimos em capítulos anteriores, o anticristo é um


chifre com olhos, que surge do meio dos dez chifres. Isso sig-
nifica que, embora num primeiro momento, parecerá pequeno
em comparação dos outros reis (porque surgirá repentinamente
no cenário político global), posteriormente, será apresentado
como a “solução” para o caos do mundo e, consequentemente,
a humanidade o coroará como líder mundial.
Mais tarde, ele derruba três desses reis, prevalecendo ape-
nas sete. De acordo com as Escrituras, tal como acontece com
os pés de barro e ferro descritos por Daniel na visão da estátua
(Dn 2.33), a aliança deles não terá “liga”. “Quanto ao que viste
do ferro misturado com barro de lodo, misturar-se-ão com semente
humana, mas não se ligarão um ao outro, assim como o ferro não
se mistura com o barro” (Dn 2.43).

Essa união será apenas de fachada, pois sua unidade estará fundada
nos interesses de cada um.

Esses líderes têm apenas um mesmo objetivo, e por isso,


entregarão o seu poder e autoridade à besta (Ap 17.13). A besta, o
anticristo e o grande líder são a mesma pessoa. Ele dará auto-
ridade aos 10 chifres para reinar (os reis que o apoiam), mas
no final, quando o anticristo sentir que está perdendo o con-
trole, terminará se revelando como realmente é. Ao descobrir
suas verdadeiras intenções, esses líderes da igreja romana não
concordarão com ele e o declararão “anátema” (maldito) mas
será tarde demais.

193
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

Nesse exato momento, os reis da Terra se levantarão contra


a igreja romana — a grande meretriz — e eles mesmos cuidarão
de destruí-la de uma vez por todas: “E os dez chifres que viste na
besta são os que odiarão a prostituta, e a colocarão, desolada e nua,
e comerão a sua carne, e a queimarão no fogo” (Ap 17.16).

A MORTE DA MERETRIZ

Quando o anticristo decidir destruir a igreja romana, os reis


da Terra, sobre os quais ela estava sentada, estarão na reali-
dade mais ligados ao anticristo do que a ela. Seduzidos pela
besta, essas nações aliar-se-ão à igreja romana apenas para
exterminá-la.

Ironicamente, essa igreja decidiu deixar de ser a noiva de Jesus para


se tornar a amante do anticristo, mas esse, ao invés de dar a vida por
ela (assim como Jesus fez pela sua noiva) irá matá-la.

O fim da Babilônia

Aqui vemos Deus usando o próprio sistema implantado pelos


homens para pôr um fim à religião, palavra que deriva do latim,
religare, e que significa “atar ou ligar fortemente” (com Deus).
Portanto: “Considerai a bondade e a severidade de Deus; para com
os que caíram, severidade; mas, para contigo, a bondade de Deus,
se nela permanecerdes; doutra sorte, também tu serás cortado”
(Rm 11.22).
Embora a religião tenha fim, as palavras do nosso SENHOR
não hão de passar (Mt 24.35).

194
— capítulo 13 —

FIM DO SISTEMA
POLÍTICO E COMERCIAL

“E um forte anjo levantou uma pedra como uma grande mó,


e lançou-a no mar, dizendo: Com igual ímpeto será lançada
Babilônia, aquela grande cidade, e não será jamais achada”.

Apocalipse 18.21
FIM DO SISTEMA POLÍTICO E COMERCIAL

TRÊS SISTEMAS, TRÊS CAPITAIS

Ao analisarmos a história, podemos notar que três coisas


lutam contra a vontade de Deus aqui na Terra, subvertendo
aos homens: a política, a religião e o comércio. Como vimos,
no período do reinado do anticristo, haverão três cidades (iden-
tificadas como “a grande meretriz”), que serão as principais
capitais do mundo, a saber: Jerusalém, Roma e Babilônia.
De acordo com o livro de Apocalipse, a primeira delas, Jeru-
salém, será o centro político e administrativo do anticristo,
dali ele irá governar o mundo. Nesse período ela não será des-
truída pelos homens, pois Deus a guardará, mas será afligida
pelo SENHOR com terremotos, ao ponto de ficar dividida em
três partes (Ap 16.18-19). Outra evidência de que essa cidade
não será destruída é que no milênio Jesus irá governar a Terra
a partir dali. O capítulo dois do livro de Isaías (entre outros)
nos confirma isso:
“E acontecerá nos últimos dias que se firmará o monte da casa
do Senhor no cume dos montes (...) e concorrerão a ele todas as
nações. E irão muitos povos, e dirão: Vinde, subamos ao monte
do Senhor (...) para que nos ensine os seus caminhos, e andemos
nas suas veredas; porque de Sião sairá a lei, e de Jerusalém a
Palavra do Senhor. E ele julgará entre as nações, e repreenderá
a muitos povos; e estes converterão as suas espadas em enxadões
e as suas lanças em foices; uma nação não levantará espada
contra outra nação, nem aprenderão mais a guerrear” (Is 2.2-4).

A segunda, Roma, será a capital da religião, até ser destruída


e queimada pelos próprios aliados do anticristo, conforme
vimos anteriormente. E a terceira, a Babilônia literal, será a
capital do comércio e do controle mundial. Vale a pena desta-
carmos aqui que a descrição que João faz dela no livro de Apo-
calipse ainda não se aplica aos moldes em que aquele território
se encontra atualmente.

197
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

Entendemos que Babilônia alcançará mais uma vez seu ápice durante a
Grande Tribulação, ainda que posteriormente, será totalmente devas-
tada (Jr 50:35-40).

Isaías profetizou a respeito disso:


“E Babilônia, (...), a glória e a soberba dos caldeus, será como
Sodoma e Gomorra (...). Nunca mais será habitada (...) Mas as
feras do deserto repousarão ali, e as suas casas se encherão de
horríveis animais; (...) como também os chacais nos seus palá-
cios de prazer; pois bem perto já vem chegando o seu tempo, e
os seus dias não se prolongarão” (Is 13.19-22).

Sabemos que, tanto a profecia de Isaías, como a de Jeremias,


correspondem ao final dos tempos, porque seus fatos não acon-
teceram com a antiga Babilônia.
Mas, se até hoje todas as profecias bíblicas têm se cumprido
à risca no seu devido tempo, por que essa em particular não iria
se cumprir? A Bíblia nos assegura que o Senhor cumprirá cada
uma das suas palavras, portanto, entendemos que a Babilônia
será reconstruída no fim dos tempos, mas depois de cumprir
seu propósito, será assolada e “se tornará em montões de ruínas,
morada de chacais, objeto de espanto e assobio, e não haverá quem
nela habite” (Jr 51.37).
Mas quando a cidade de Babilônia (literal) for reconstruída,
toda a profecia irá se cumprir e então ela será devastada para
sempre. Esse mesmo lugar será o centro comercial do anticristo,
conforme profetizou Zacarias:
E saiu o anjo, que falava comigo, e disse-me: Levanta agora os
teus olhos, e vê que é isto que sai. E eu disse: Que é isto? E ele
disse: Isto é um efa que sai. Disse ainda: Este é o aspecto deles
em toda a terra. E eis que foi levantado um talento de chumbo,
e uma mulher estava assentada no meio do efa. E ele disse:
Esta é a impiedade. E a lançou dentro do efa; e lançou sobre a
boca deste o peso de chumbo. E levantei os meus olhos, e vi, e

198
FIM DO SISTEMA POLÍTICO E COMERCIAL

eis que saíram duas mulheres; e traziam vento nas suas asas,
pois tinham asas como as da cegonha; e levantaram o efa entre
a terra e o céu. Então eu disse ao anjo que falava comigo: Para
onde levam elas o efa? E ele me disse: Para lhe edificarem uma
casa na TERRA DE SINAR; e, estando ela acabada, ele será
posto ali na sua base (Zc 5.5-11).

Apocalipse 18:11-16 nos diz que os mercadores da Terra se


lamentarão pela rápida devastação dela, porque ninguém mais
comprará as suas preciosas mercadorias (associadas na profecia
a artigos de luxo). As pessoas que um dia se enriqueceram com
aquele comércio, ficarão longe dali com temor do tormento
que a Babilônia sofrerá naquele dia, e dirão chorando e lamen-
tando-se: “Ai, ai daquela grande cidade! Que estava vestida de
linho fino, de púrpura; e adornada com ouro e pedras preciosas
e pérolas! Porque numa hora foram assoladas tantas riquezas”
(vs. 16-17 a). A proposta final do comércio é suprir os desejos
desenfreados da alma humana, por isso:

Precisamos entender a importância que o comércio terá para a ação do


anticristo, pois ele o usará para seduzir e controlar as pessoas, desde
produtos básicos para a sobrevivência como comida e água, até objetos
tecnológicos e artigos de luxo.

Essa possivelmente será a maior arma do anticristo para


enganar e “enfeitiçar” a muitos (Ap18.23b). De modo seme-
lhante, muitos santos, e outras habitantes da Terra, morrerão
por não terem dinheiro para comprar nem sequer produtos
básicos (Ap 18:24).
Por isso, não há dúvidas de que o comércio será julgado
por Deus: todo o sistema comercial que iniciou no céu com
Lúcifer terá fim aqui. As escrituras dizem a respeito da Babilô-
nia literal que na multiplicação do seu comércio encheu o seu
interior de violência e pecou (Ez 28.16), e por isso, a cidade será

199
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

completamente destruída e queimada, tal como foram Sodoma


e Gomorra. A sua desolação será tal, que o Senhor afirma que
das suas ruínas não se tirarão nem as pedras para outras cons-
truções, pois se tornará uma desolação perpétua (Jr 51.26).
Vendo a fumaça do incêndio dessa esplendorosa cidade,
muitos clamarão, se lamentarão e chorarão dizendo: “Ai, ai
daquela cidade! na qual todos os que tinham naus no mar se enri-
queceram em razão da sua opulência; porque numa hora foi asso-
lada. Alegra-te sobre ela, ó céu, e vós, santos apóstolos e profetas;
porque já Deus julgou a vossa causa quanto a ela” (Ap 18.18-20).

O ponto mais importante a ressaltar no capítulo dezoito de Apocalipse


é que onde o pecado teve início, ali mesmo ele será eliminado.

Esta é a justiça de Deus. Todas as rebeldias, assassinatos e


idolatrias que foram acumulados ali por milênios, serão um
dia queimados, remidos e lançados no mar — em apenas um
momento — para nunca mais serem achados.

200
— capítulo 14 —

AS BODAS DO CORDEIRO

“Regozijemo-nos e alegremo-nos e demos-lhe glória; porque


vindas são as bodas do Cordeiro, e já a sua esposa se aprontou”.

Apocalipse 19.7
AS BODAS DO CORDEIRO

O capítulo 19 do Apocalipse inicia com visões no céu e a


voz de uma grande multidão que já está lá. Eles estão alegres e
gritam de júbilo, com o juízo que Deus executou sobre as Babi-
lônias (vs. 1-6), ou seja, sobre os sistemas: religioso, comercial
e político na Terra que vimos anteriormente.
Eles cantam no céu com aleluias e celebram o fim da falsa
espiritualidade, da falsa cidadania, da soberba da vida e o fim
das preocupações. Esse é o momento em que Jesus assume o
governo completo do universo e passa a reinar sobre tudo e
todos, então a multidão grita: “Aleluia! Pois reina o Senhor, nosso
Deus, o Todo-Poderoso” (Ap 19.6b). Nesse momento começam
as bodas do Cordeiro.
A expressão: “Depois dessas coisas” que vimos no início em
Apocalipse 4:1, era uma referência à cronologia dos fatos, no
caso, estava indicando o fim da história da Igreja, sendo selado
com o seu arrebatamento da Terra para o céu. Quando Apoca-
lipse 19:1 diz: “Depois dessas coisas”, está dizendo que as bodas
acontecem após o julgamento da Babilônia, isto é, depois que
o juízo de Deus for executado (Ap 19.1-2).
Sempre que a Bíblia fala em casamento, está se referindo a
um relacionamento íntimo, com aquele que nos oferece uma
aliança. Em Apocalipse propriamente, as bodas tratam do casa-
mento da Igreja (a noiva) com o Senhor Jesus (o noivo), o qual
ofereceu uma aliança de compromisso a ela. Essa figura do
matrimônio foi usada várias vezes pelo Senhor enquanto estava
na Terra, para expressar que a Sua união com a Igreja seria para
sempre (Mt 22.1-14; Mt 25.1-13). Mateus 22.2 disse: “O reino dos
céus é semelhante a um Rei que celebrou as bodas de seu filho”.
Deus nos chamou para sermos uma noiva apaixonada e
pura, que não vê a hora de se encontrar com seu noivo amado
para finalmente se casar com Ele. Embora esse seja o momento
mais esperado por qualquer casal de noivos, nas igrejas exis-
tem muitos que estão brincando no seu relacionamento com
o Noivo Jesus.

203
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

Muitos “pseudocristãos” afirmam eufóricos durante os cultos e os


eventos, que irão se casar com “o Amado das suas almas”, porém, no
dia a dia não O tratam como tal.

Pelo contrário, se esquecem d’Ele e o traem constantemente


com outros amores, trocando o tempo de qualidade com Ele por
superficialidades, e nem pensam em momento algum que vão
precisar preparar seus vestidos para as núpcias. Embora este-
jam se comportando como uma noiva desleixada e indiferente,
acham que irão se casar com Jesus.
Será que o Senhor Jesus realmente considera àquela “noiva”
desleixada como sua noiva? A palavra de Deus disse que nem
sequer a conhece: “Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor,
não profetizamos nós em Teu nome? e em Teu nome não expulsa-
mos demônios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E
então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de
mim, vós que praticais a iniquidade” (Mt 7.22-23). Irmãos, não
nos enganemos, com Deus não se brinca!
A verdadeira noiva de Cristo, a que realmente O ama e por
isso se relaciona com Ele, a que sente saudade d'Ele, a que busca
agradá-lo nas pequenas coisas, a que O espera ansiosamente e
se prepara, dia após dia, para suas bodas. Essa é a Igreja que se
casará com Jesus (Ap 19.7).

Quando se fala das bodas do cordeiro, é comum o pensamento de que


todo mundo é noiva, no entanto, as Escrituras nos dizem que não é bem
assim. Há outras pessoas que estarão no casamento, mas não para se
casar.

OS PARTICIPANTES DAS BODAS

O noivo: O esposo, Jesus Cristo o filho de Deus. É o cordeiro


que se deu a si mesmo para ser imolado em lugar da sua noiva
(1 Tm 2.5-6; Is 61.10).

204
AS BODAS DO CORDEIRO

A noiva: A igreja em todas as passagens ela é tratada como


noiva, porém, só irão se casar com Jesus aqueles que se manti-
verem puros. A noiva é somente aquela que foi santificada pelo
sangue do Cordeiro, e que a si mesmo se ataviou com seus atos
de justiça (ações justas). Essas são suas vestes. A beleza está
ligada diretamente à pureza dos santos (2 Co 11.2; 1 Tm 2.9-10).
Os servos: Serão os 144 mil que irão pregar o evangelho
durante a tribulação.
Os convidados: Esses são todos os que foram salvos durante
a tribulação, depois do arrebatamento da Igreja.
Como está escrito: “Bem-aventurados aqueles que são chama-
dos à ceia das bodas do Cordeiro” (Ap 19.9). O convite está feito, e
você, que tipo de participante está buscando ser nessas bodas?
Servo, convidado ou noiva?

205
— capítulo 15 —

OS TRÊS JULGAMENTOS

“Vi o céu aberto, e eis um cavalo branco. O seu cavaleiro se


chama Fiel e Verdadeiro e julga e peleja com justiça”.

Apocalipse 19.11
OS TRÊS JULGAMENTOS

Apesar das misturas que muitos fazem a respeito deste tema,


há uma grande diferença entre os três julgamentos menciona-
dos na Bíblia, a saber, o Tribunal de Cristo, o Julgamento das
Nações e o Julgamento do Trono Branco. Embora todos eles
estejam interligados à justiça e juízo de Deus, não há como
associar um ao outro, são três eventos completamente distintos.

O TRIBUNAL DE CRISTO

Como já falamos, inicialmente, se trata do julgamento da


Igreja após o arrebatamento (2 Co 5.10). Segundo o apóstolo
Pedro, o Juízo teria que começar pela casa de Deus (1 Pe 4.17).
Ou seja, embora o sangue do Senhor nos limpe dos nossos peca-
dos, não nos exime de sermos avaliados na nossa conduta e
caráter depois que nos tornamos cristãos.
Porém, diferentemente do que muitos pensam, os cristãos
que subirem não serão avaliados por Jesus apenas pelas suas
obras, isso é totalmente enganoso e errôneo já que, biblica-
mente, apenas com obras não chegaríamos a lugar nenhum
em Deus.

Para o Senhor, mais importante do que aquilo que fazemos, são as inten-
ções, os pensamentos e as motivações com que fazemos tais coisas.

Como vimos anteriormente, o galardão e as coroas que rece-


beremos dependerão diretamente do juízo do tribunal de Cristo.

O JULGAMENTO DAS NAÇÕES

As nações da Terra serão julgadas para que possam entrar no


reino milenar, porém, esse será um julgamento diferenciado dos
outros dois, e, aparentemente, acontecerá na Terra. Podemos
entender um pouco sobre esse acontecimento ao lermos Mateus
25.31-46, quando o Senhor diz que, na sua segunda vinda, se

209
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

assentará no trono da sua glória, e com todas as nações reuni-


das perante si, prosseguirá a apartar uns dos outros, como o
pastor aparta as ovelhas dos bodes. Aos primeiros, as “ovelhas”,
aqueles que tiverem feito a sua vontade, Jesus dará as boas-vin-
das à vida eterna no seu reino; já aos segundos, os “bodes”, os
que praticaram iniquidades, enviará para o tormento eterno.
Segundo Daniel 12.10-12:
Muitos serão purificados, embranquecidos e provados; mas os
perversos procederão perversamente, e nenhum deles entenderá,
mas os sábios entenderão. Depois do tempo em que o sacrifício
diário for tirado e posto a abominação desoladora, haverá ainda
mil duzentos e noventa dias. Bem-aventurado o que espera e
chega até mil trezentos e trinta e cinco dias. (Daniel 12.10-12).

De acordo com isso, há um número de dias da segunda


metade da Grande Tribulação: 1335 dias, que ultrapassa em 75
dias o tempo descrito em Apocalipse 12.6, que é de 1260. Enten-
demos que esses dias de diferença sejam referentes ao tempo
gasto para o julgamento das nações que ocorrerá na Terra.

O JUÍZO DO TRONO BRANCO

Todos os que morreram sem Cristo, hão de ressuscitar para


serem julgados n’Ele, serem condenados e lançados à eternidade
de sofrimento (Ap 20.11-15). Dada a importância desse juízo, o
abordaremos de forma mais detalhada em um capítulo posterior.

Ansiamos que todos nós possamos nos encaixar no julgamento do Tribu-


nal de Cristo e que, diante d’Ele, apresentemos o melhor que existiu em
nós, de acordo com a vontade que Ele teve para as nossas vidas (Ef 2.10).

210
— capítulo 16 —

A VOLTA DE JESUS E
A BATALHA DO ARMAGEDOM

“Eis que vem com as nuvens, e todo o olho O verá, até os


mesmos que o traspassaram; e todas as tribos da terra se
lamentarão sobre ele. Sim. Amém”.

Apocalipse 1.7
A VOLTA DE JESUS E A BATALHA DO ARMAGEDOM

É nesse exato momento que Jesus voltará à Terra, acom-


panhado da sua esposa, a Igreja, e por uma grande corte de
exércitos celestiais. Conforme o versículo acima, todos os habi-
tantes do planeta serão testemunhas do poder de Deus e de sua
justiça. Tamanha será a força desse acontecimento que a Terra
experimentará o maior terremoto já registrado, e a geografia
do planeta mudará.
Muitas coisas já foram experimentadas pela Terra no que
tange a desastres naturais, mas nada se compara ao terremoto
descrito por João em Apocalipse 16.18-21. O apóstolo relata
que ele será tão forte, que a grande Babilônia ficará dividida
em três partes, e cidades de muitas outras nações cairão, pois
“lembrou-se Deus da grande Babilônia para dar-lhe o cálice do vinho
do furor da sua ira. Todas as ilhas fugiram, e os montes não foram
achados; também desabou do céu sobre os homens, grande sarai-
vada (...)” (Ap 16.20-21a).
Muitos inimigos de Deus serão mortos, pois, do céu desabou
uma grande saraivada de pedras pesadas sobre os habitantes
da Terra. Porém, mesmo diante desse terrível cenário, antes
de arrepender-se pelos seus pecados, os homens blasfemarão
contra Deus, já que “o seu flagelo era sobremodo grande”. Como
foi dito, esse terremoto ocorrerá em virtude de Jesus apenas
pisar na Terra com seu corpo glorificado!

Em sua primeira vinda, Ele se esvaziou e assumiu a forma de servo, no


entanto neste segundo momento, Ele virá como Senhor do universo com
toda sua glória e majestade (Mq 1.3-4; Ez 38.21-23).

Pisará com os pés sobre o monte das Oliveiras. Segundo o


profeta Zacarias:
“E naquele dia estarão os seus pés sobre o monte das Oliveiras,
que está defronte de Jerusalém para o oriente; e o monte das Oli-
veiras será fendido pelo meio, para o oriente e para o ocidente,
e haverá um vale muito grande; e metade do monte se apartará

213
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

para o norte, e a outra metade dele para o sul. E fugireis pelo


vale dos meus montes, pois o vale dos montes chegará até Azel;
e fugireis assim como fugistes de diante do terremoto nos dias
de Uzias, rei de Judá. Então virá o Senhor meu Deus, e todos os
santos contigo” (Zc 14.4-5).

Esse é o momento tão esperado por muitos cristãos sinceros, e que


chamamos de “segunda vinda”. Será um dia glorioso, mas ao mesmo
tempo terrível.

À espera de Jesus estarão reunidos a besta, os reis da Terra e


seus exércitos, para fazerem guerra contra Ele (Ap 19.19). Porém,
antes mesmo que Jesus pise sobre o Monte das Oliveiras com
Seu corpo glorificado, essas pessoas serão eliminadas com a
espada que sai da boca de Jesus (vs. 21), depois, tanto a besta,
como o falso profeta, serão arrasados pelo sopro da boca d’Ele
(2 Ts 2.8).
Esse evento é conhecido nas escrituras como “Armagedom”
(Ap 16.16) cuja palavra grega (Αρμαγεδων) é de origem hebraica,
e significa “colina ou cidade de Megido”, um local próximo ao
monte Carmelo, onde muitas batalhas narradas na bíblia foram
travadas. Na atualidade, ele pertence à região da Palestina, a
50 km de Jerusalém. Para esse grande dia, o anticristo e o falso
profeta terão reunido ali um grande exército de toda a Terra
para lutar contra Deus (Ap 16.14).
Porém, após a destruição dos exércitos humanos, ambos
serão lançados sozinhos no lago de fogo que arde em enxofre
(Ap 19.20). Então Satanás será preso por mil anos literais em
cadeias espirituais.

214
— capítulo 17 —

A PRISÃO DE SATANÁS

“Então, vi descer do céu um anjo; tinha na mão a chave do


abismo e uma grande corrente. Ele segurou o dragão, a antiga
serpente, que é o diabo, Satanás, e o prendeu por mil anos”.

Apocalipse 20.1,2
A PRISÃO DE SATANÁS

No final da Grande Tribulação, após o Armagedom, Deus irá


aprisionar satanás num profundo abismo e selará esse lugar por
mil anos, a fim de que nesse período ele não possa ludibriar
ninguém. De acordo com as escrituras, esse tempo é literal (Ap
20:3). Para George Ladd “Satanás não é preso neste momento para
ser punido, mas por precaução” 28.
No jardim do Éden, o homem culpou a Deus por ter lhe dado
a mulher que o enganou, e como, num “efeito dominó”, essa
mesma mulher transferiu a culpa para quem a havia enganado
primeiramente, a serpente. Dessa vez, Satanás, “a antiga ser-
pente”, será acorrentado para não fazer durante o milênio o que
fez no Éden com os primeiros humanos, de modo que ninguém
terá desculpa para fazer o que é mau aos olhos do Senhor.
Porém, após o milênio, tal como já mencionamos, o diabo
será solto brevemente da sua prisão antes do juízo final. Então
sairá para enganar as nações que estão sobre os quatro cantos
da Terra, Gogue e Magogue29, para ajuntá-los numa batalha
contra Deus (Ap 20.8). Mas, por que o Senhor permitiria isso?
Acreditamos que por três motivos:
1. Mostrar a todos o quanto Satanás é intratável. Deus pro-
vará a toda criação que o caráter do diabo não tem cura, e que
nele não há nenhuma chance de arrependimento.

2. Revelar a corrupção do caráter humano. Mesmo depois


de experimentarem a bondade de Deus por mil anos, muitos
ainda deixar-se-ão seduzir pelas propostas temporais do diabo
(Ap. 20:8). A partir disso, ninguém mais poderá julgar Adão e
Eva por terem pecado estando num lugar perfeito, cheio da
presença de Deus, e também não terão desculpas para seus atos
no dia do juízo final.

28 LADD, George. Apocalipse: introdução e comentário. São Paulo, SP: Vida Nova, 2006.
29 “Magogue. Um filho de Jafé e neto de Noé como veem em Gn 10:2. Um povo do qual Gogue era
príncipe” Orlando Boyer.

217
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

3. Estabelecer o juízo eterno. Quando as nações pecarem


deliberadamente após o milênio, voltando-se contra Deus, já
não haverá mais chance de redenção, pois para isso, Cristo teria
que morrer novamente.
A seguir, veremos que durante os mil anos em que Satanás
estará preso, a Terra voltará a ser como no Éden e os homens
serão purificados da maldade durante gerações.

Já que não haverá diabo perto para tentá-los, e terão Jesus ao lado
para governar e guiar seus passos, no final desse período, no juízo final,
os homens não poderão culpar ninguém pelas escolhas que cada um
tenha feito.

218
— capítulo 18 —

O REINO MILENAR

“Quando lemos a Bíblia com atenção, somente podemos ficar


admirados pela frequência com que se fala desse futuro reino.
Somente no Antigo Testamento encontramos aproximadamente
cinquenta profecias a respeito”.

Wim Malgo30

30 MALGO, Wim. Apocalipse de Jesus Cristo. Vol. IV. Porto Alegre, RS: Chamada da Meia Noite.
2018. Pág.72.
O REINO MILENAR

O termo “reino milenar” trata basicamente de um período


literal de mil anos, no qual Jesus reinará efetivamente na Terra.
O reino milenar é parte do plano profético de Deus e virá após
um período de grande tribulação. Será a transição entre este
mundo e a eternidade. Neste ponto, é necessário se saber que
há uma diferença entre o milênio e o estado intermediário que
o precede.

AS SETE DISPENSAÇÕES

Um dos maiores indícios do milênio é que a paz e a lei sai-


rão de Sião. Ele representa a restauração física e espiritual de
Israel e Jerusalém, os quais finalmente serão uma terra e uma
cidade santa. Para entendermos o milênio, é necessário enten-
der primeiro o amor de Deus para com o homem, e notar como
é grande o Seu desejo de se relacionar conosco. Para isso, é
necessário estudarmos brevemente sobre as dispensações. Mas,
o que é uma “dispensação”?
Do grego “oiko-nomia”, a palavra dispensação está relacio-
nada ao termo “economia”, no sentido de uma boa ordem na
administração de algo. Na antiguidade, se referia à mordomia
de uma morada (gr. “oikos” significa casa). Ela aparece quatro
vezes no Novo Testamento.

No concernente ao nosso estudo, a “dispensação” dos tempos é sim-


plesmente a administração que Deus planejou antecipadamente para
gerenciar sua grande casa.

Essa divisão por períodos: “(...) revela os vários métodos usa-


dos por Deus em Suas relações com as diferentes classes de povos

28 LADD, George. Apocalipse: introdução e comentário. São Paulo, SP: Vida Nova, 2006.
29 “Magogue. Um filho de Jafé e neto de Noé como veem em Gn 10.2. Um povo do qual Gogue era
príncipe” Orlando Boyer.

221
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

através dos vários períodos determinados por Ele, a fim de lograr


o Seu propósito”31.
Em vista da sua importância, para entendermos um pouco
mais sobre o plano geral do Senhor, precisamos saber quais são
esses períodos e o que cada um representou. A saber, são sete:
1. Inocência (Éden): da criação até a queda (Gn 2.7; 3.24).
2. Consciência: da queda do homem até o dilúvio (Gn 6.5;12; 13).
3. Senhorio do homem: do dilúvio até Abraão. Nesse período,
foi estabelecida a primeira nação (Gn 10.9-10; 11.9).
4. Patriarcal: de Abraão até Moisés (Gn 12.1; Dt 34.12). É o
período da fé e da circuncisão.
5. Lei: de Moisés até Cristo (Cl 2.14). Esse período durou 1500
anos.
6. Tempo dos gentios: é o período da Igreja. Também o cha-
mamos de era inconclusa, pois irá se findar somente com o
arrebatamento da igreja (Ef 1.10; Gl 4.4; 1 Co 11.25).
7. Milênio ou Reino Milenar: desde a antiguidade, Deus pro-
metera um reino a Davi (2 Sm 7.8-17; 1 Co 15.24-25). Esse é
o período de tempo em que Jesus reinará literalmente sobre
a Terra. A base do seu reino será em Jerusalém, cumprindo
assim a promessa feita outrora ao rei Davi. Essa última dis-
pensação é o tema central deste capítulo. Mas esse período
é literal ou simplesmente figurado? Vejamos:

Controvérsias sobre o milênio: é literal ou figurado?

Ao estudar e discutir esse tema, dependendo do método de


interpretação, pessoas entendem o milênio de maneira literal
ou alegórica. Em meio a outras divergências, surgiram três for-
mas de pensamento diferentes: amilenistas, pós-milenistas e
pré-milenistas, tal como apresentado na figura a seguir.

31 Fonte: O que são as Dispensações Bíblicas? Disponível em: http://www.cacp.org.br/o-que-sao-


as-dispensacoes-biblicas/, Acesso em: 05 de mar. 2020.

222
O REINO MILENAR

Figura 14. Linhas de interpretação do Milênio

Amilenistas: esses negam a existência do milênio literal, ale-


gando que é apenas uma expressão figurada, e que, portanto,
deve ser interpretado de maneira alegórica. Os amilenistas
negam as dispensações, e entendem que o milênio é um período
entre a primeira e a segunda vinda de Jesus. Há uma grande
semelhança entre o amilenismo e o pós-milenismo.
Pós-milenistas: para esses o milênio não é literal quanto à
duração. O reino milenar já teria iniciado na ressurreição de
Cristo. Para eles o reino de Deus é sobretudo uma realidade pre-
sente, o governo de Cristo está apenas no coração dos homens.
Nessa visão o reino de Deus está onde quer que os homens
creiam em Jesus, que o evangelho nunca parou de crescer, a
igreja triunfa sobre tudo e todos e o diabo já está preso.

223
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

Para os pós-milenistas, todos os justos e injustos serão jul-


gados juntos numa mesma ocasião, na vinda corpórea de Cristo
à Terra. Todavia, acaso é possível um milênio durar dois mil
anos? Segundo Apocalipse 20.2, o diabo tem de estar preso no
milênio, mas, será que ele já está preso? Examine com atenção
os textos complementares da descrição de rodapé e tire suas
próprias conclusões32.
Pré-milenistas. De acordo com essa perspectiva, Jesus
irá reinar na Terra com cetro de ferro por mil anos, os quais
serão literais, após a segunda vinda. Nesse período, haverá
perfeita paz e justiça, a Terra voltará a ser como era no Éden.
Com base nas escrituras, nós acreditamos que o milênio
é literal.
Precisamente, uma das nossas intenções com esta obra é
demonstrar biblicamente que haverá sim, um Reino de mil
anos sobre a Terra, no qual Jesus reinará absoluto com o cetro
de ferro e de justiça em suas mãos. Disse o SENHOR: “Bem-a-
venturado e santo aquele que tem parte na primeira ressurreição;
sobre estes não tem poder a segunda morte; mas serão sacerdotes
de Deus e de Cristo, e reinarão com ele mil anos” (Ap 20.6).
Em vista da clareza desse versículo, acreditamos que qual-
quer argumentação contra a interpretação literal desses mil
anos deve ser feita com base textual, e não apenas porque
ofende certas noções pré-concebidas de como deve ser a
história.

Cremos que, nesse período, a Terra fará literalmente um retorno ao


Éden, lugar de onde jamais deveríamos ter saído, pois sabemos que o
preço pago por esse desligamento também foi literal e perdura até os
dias atuais.

32 Textos complementares: Ef 2.2; Ef 4.26-27; Ef 6.11; 1 Tm 3.6-7; 2 Tm 2.26; Hb 2.14; Tg 4.7; 1 Pe


5.8; 1 Jo 3.8; 10; Ap 2.10; Ap 12.9; 12.

224
O REINO MILENAR

Na presente obra, o milênio:


1. É a resposta da oração que Jesus ensinou aos seus discípulos.
“Venha o Teu Reino…”.
2. Fala do período que Jesus irá reinar sobre a Terra (Zc 14.9).
3. É o período onde Satanás estará preso (Ap 20.2).
4. Consiste em mil anos literais (Ap 20.6).
5. É citado seis vezes no capítulo 20 de Apocalipse.
6. Nele o clima será restaurado (Zc 14.6).
7. Toda a terra será uma planície (Zc 14.10).
8. Não haverá mais maldição (Zc 14.11).
9. Não haverá mais comércio (Zc 14.20).
10. Não haverá chuvas para os habitantes da Terra, que não subi-
rem a Jerusalém para adorar a Deus (Zc 14.17).
11. Todos os textos ligados ao milênio falam de justiça e paz
(Jr 23.5).
12. A constituição será a Lei do SENHOR.
13. Deus irá reger as nações com cetro de ferro.
14. Os glorificados receberão autoridade sobre as nações, e irão
reinar com o Senhor na Terra.
15. Pessoas nascerão e morrerão, mas viverão por muitos anos.
16. Existirão outras nações.
17. A sede do governo de Jesus será em Jerusalém.
18. Nesse período, existirão pessoas não convertidas. Quem são
eles? Os povos de várias nações que não se uniram ao anti-
cristo e ao falso profeta na batalha do Armagedom (Zc 14.16).
19. O mundo terá a oportunidade de se converter a Jesus diante
da sua Justiça.
20. Os mil anos servirão como uma espécie de “desintoxicação”
por consequência do pecado de Adão e da humanidade.

Essa será uma imagem bonita de se ver. No milênio, a Terra


voltará a ser como era no paraíso, os seres vivos serão puros e
como não haverá pecado, os próprios animais voltarão a ser
dóceis. Convidamos a que leiam o texto a seguir e, depois,

225
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

imagine como será reinar com Cristo naquele lugar, alimente


seu coração com essa maravilhosa esperança:
“E deleitar-se-á no temor do Senhor; e não julgará segundo a
vista dos seus olhos, nem repreenderá segundo o ouvir dos seus
ouvidos. Mas julgará com justiça aos pobres, e repreenderá com
equidade aos mansos da terra; e ferirá a terra com a vara de sua
boca, e com o sopro dos seus lábios matará ao ímpio. E a justiça
será o cinto dos seus lombos, e a fidelidade o cinto dos seus rins.
E morará o lobo com o cordeiro, e o leopardo com o cabrito se
deitará, e o bezerro, e o filho de leão e o animal cevado andarão
juntos, e um menino pequeno os guiará. A vaca e a ursa pastarão
juntas, seus filhos se deitarão juntos, e o leão comerá palha como
o boi. E brincará a criança de peito sobre a toca da áspide, e a
desmamada colocará a sua mão na cova do basilisco. Não se fará
mal nem dano algum em todo o meu santo monte, porque a terra
se encherá do conhecimento do Senhor, como as águas cobrem
o mar” (Isaias 11:3-9).

Será um período maravilhoso, não é verdade?

226
— capítulo 19 —

A DERROTA
DEFINITIVA DE SATANÁS
A DERROTA DEFINITIVA DE SATANÁS

Como já foi dito, Satanás será solto no final do milênio por


um pequeno espaço de tempo e corromperá a muitos, arregi-
mentando, assim, um grande exército. É nessa última instância
que ele será absolutamente condenado aos olhos de todos, para
finalmente ser lançado no lago de fogo, onde ficará por toda
a eternidade.

A justiça pura, verdadeira e imparcial de Deus

A justiça divina é algo inexplicável, porém, infalível também.


Todos os humanos de todas as eras até o momento do juízo
final tiveram oportunidade de salvação, por isso, todos serão
indesculpáveis quanto à sua escolha naquele dia. Por incrí-
vel que pareça, haverá muitos que não aceitarão o governo de
Cristo durante o milênio, mesmo sem a influência de Satanás
em suas vidas.
A justiça do Senhor é tão pura, verdadeira e imparcial que
mesmo aquele que for condenado por ela não ousará reclamar
do veredito: o diabo não terá desculpas, e todos serão responsá-
veis pelos seus atos. Após o milênio, muitos dos que julgaram
Adão e Eva, terão a mesma atitude.

Controvérsias sobre Gogue e Magogue

Acerca da batalha de Gogue e Magogue (Ap 20.8-10), há mui-


tas divergências, e é costume se relacionar com essa guerra com
que é relatado nos capítulos 38 e 39 de Ezequiel. Durante seu
estudo, aprendemos uma coisa importante:

Quanto maior semelhança entre duas profecias, mais relevantes se


tornam as pequenas diferenças.

Muitos dizem que esses capítulos de Ezequiel retratam uma


futura invasão a Israel no fim dos tempos, que será liderada

229
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

pela Rússia, contudo, quando Apocalipse 20.8 fala de Gogue e


Magogue, também diz que é o diabo quem sairá da sua prisão
para seduzir as nações. Com base nisso, muitos outros acre-
ditam que Satanás reunirá novamente a Rússia e seus aliados
muçulmanos para destruir Israel.
Inclusive, há um grupo de rabinos que acredita que, já que
se trata de um período após o milênio, esse exército incontável
de Apocalipse 20.8, só pode ser composto por demônios, já que
para eles, a expressão: “inimigos de Deus” significa que essas
nações são espíritos demoníacos (o que na verdade achamos
pouco provável).
Por outro lado, existem alguns preteristas que alegam que
esse evento aconteceu em Ester 9. Enfim, como podemos ver
há muitas suposições a respeito dessa batalha, no entanto, nós
concordamos com Thomas Ice33 quando escreve:
Partindo-se do pressuposto óbvio de que uma profecia deve se
cumprir literalmente, essa profecia referente à invasão liderada
por Gogue deve aguardar um cumprimento que, mesmo da pers-
pectiva de nossos dias, ainda se dará no futuro.

Com base nas escrituras, acreditamos que de fato esse evento


ainda não ocorreu, mas está ligado ao futuro, e que Ezequiel
38 e 39 se refere a um momento que pode acontecer depois do
reino milenar. Portanto, entendemos que não há ligação entre
Apocalipse 20.8 com esses capítulos de Ezequiel.
O que podemos afirmar é que será a última investida do
diabo contra Deus. Nessa batalha, ele e um grande exército da
Terra serão consumidos por um fogo que virá do céu e não
deixará vestígio algum. Em seguida, o inimigo finalmente será
lançado no lago de fogo, e então os mortos serão julgados.

33 ICE, Thomas. Quando a trombeta soar. Porto Alegre, RS: Chamada da Meia Noite, 2015.

230
— capítulo 20 —

O TRONO BRANCO:
JUÍZO FINAL

“Vi um grande trono branco e aquele que nele se assenta, de cuja


presença fugiram a terra e o céu, e não se achou lugar para eles”.

Apocalipse 20.11
O TRONO BRANCO: JUÍZO FINAL

Em todo o contexto bíblico, o juízo final é certamente um


dos momentos mais terríveis de toda a história da humani-
dade. Aqueles que morreram sem ter aceitado a proposta
de salvação oferecida por Jesus a todos, de diversas for-
mas, hão de ressuscitar depois do Milênio para serem jul-
gados (Ap 20.5), então serão condenados a uma eternidade
de sofrimento.
Ao descrever esse episódio, João disse maravilhado que viu
um grande trono branco e alguém assentado nele. Conforme a
afirmação de George Ladd34, embora o apóstolo não diga o nome
do personagem em questão, no livro de Apocalipse é geralmente
Deus quem se assenta nesse trono (Ap 5.1; 5.7; 5.13), portanto
cremos que se trata d’Ele.
O apóstolo diz que o trono é branco, uma cor que além de
representar a santidade, também fala de justiça e juízo. Já que
o contraste com essa cor denuncia as manchas e a sujeira de
qualquer superfície, entendemos que ela representa a luz da
glória de Deus diante da qual nada conseguirá ficar oculto.
Finalmente, tudo virá à luz.
A Bíblia indica que nesse momento os mortos ouvirão a
voz d’Ele, apontando especialmente para aqueles que prati-
caram o mal e não se arrependeram disso. Observemos o que
Jesus disse:
“Não vos maravilheis disto, porque vem a hora em que todos
os que se acham nos túmulos ouvirão a sua voz e sairão: os que
tiverem feito o bem, para a ressurreição da vida; e os que tive-
rem praticado o mal, para a ressurreição do juízo” (Jo 5.28-29).

Essa ressurreição mencionada no versículo acima significa


que aqueles que estavam mortos e separados de Deus, por um
instante estarão diante d’Ele, unicamente para serem senten-
ciados. Será um dia realmente terrível.

34 LADD, George. Apocalipse: introdução e comentário. São Paulo, SP: Vida Nova, 2006.

233
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

Não encontramos nas escrituras nenhum elemento ou símbolo que


aponte para o amor, à misericórdia, ou à bondade de Deus nesse
período, porque prevalecerá a justiça.

Portanto, o julgamento será tão severo, que não haverá mais


chance para clamar por perdão. Diferentemente do capitulo 4
de Apocalipse, onde tínhamos a presença do arco-íris (aliança),
aqui até o céu e a Terra fugirão de diante d’Aquele que está
assentado no trono (Ap 20.11). Após o juízo do trono branco, a
morte e o inferno serão lançados no lago de fogo.
Este é o momento em que a visão do salmista se tornará rea-
lidade: “Reina o SENHOR; tremam os povos. Ele está entronizado
acima dos querubins; abale-se a Terra” (Sl 99.1). Na visão de João,
aparece também o livro da vida, no qual estão registrados os
nomes de todos aqueles que foram salvos (Ap 3.5). Também em
João 3.18-20, o Senhor Jesus nos afirma que todo aquele que
não tem o nome inscrito nesse livro já está condenado:
“Quem n’Ele crê não é julgado; o que não crê já está julgado,
porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus. O jul-
gamento é este: que a luz veio ao mundo, e os homens amaram
mais as trevas do que a luz; porque as suas obras eram más. Pois
todo aquele que pratica o mal aborrece a luz e não se chega para
a luz, a fim de não serem arguidas as suas obras”.

Contudo, esse não é o único livro que João viu naquela oca-
sião. O livro de Apocalipse nos afirma que o apóstolo vê outros
livros sendo abertos, os quais contêm os atos de cada um dos
que estão sendo julgados.

Cada ação, pensamento e detalhe da vida de todas as pessoas na história


da humanidade foram registrados nesses arquivos.

Certamente nada passou despercebido aos olhos do SENHOR


e, desde a criação dos homens, Ele tem pesado todas as veredas

234
O TRONO BRANCO: JUÍZO FINAL

de cada um (Pv 5.21). Com base nisso é que o Senhor irá julgar
a todos (Sl 139.16).
Já que não há nenhum símbolo da misericórdia nessa descri-
ção, entendemos que essas pessoas serão julgadas unicamente
por suas ações, pelas “obras”. Assim mesmo, o Seu juízo será
individual, caso por caso, cada um na sua peculiaridade. Este é
o símbolo máximo da justiça Divina. Ele não irá beneficiar ou
favorecer ninguém, pois “suas obras são perfeitas, porque todos os
seus caminhos são juízo; Deus é fidelidade, e não há nele injustiça;
é justo e reto” (Dt 32.4).
Na sua visão, João diz que a morte e o inferno serão lan-
çados para dentro do lago de fogo, mas, o que significa isso?
Vejamos alguns significados. O primeiro deles, é que mesmo
que o inferno seja um lugar terrível, não é o fim do sofrimento.
Existe um lugar ainda pior: o lago de fogo.

Aqueles que morrem hoje — sem Cristo — vão diretamente para o inferno,
mas este é um lugar de sofrimento temporário.

Todos os que não tem o seu nome escrito no livro da


vida do Cordeiro ficam presos nesse lugar de “choro e ran-
ger de dentes”, aguardando seu julgamento público, no qual
finalmente serão sentenciados à punição eterna no lago de
fogo. O fato de que o Senhor tenha guardado a todos para
esse momento específico de julgamento, é maravilhoso
demais, pois isso nos revela a profunda Justiça do Deus ao
qual servimos.
Você consegue imaginar quão triste será esse dia? Pense
agora naquelas pessoas, familiares ou amigos com os quais
decidimos não insistir mais em levar para Cristo. Considere
àquelas pessoas para as quais não pregamos o Evangelho, ou
esses vizinhos problemáticos que decidimos simplesmente
ignorar por causa do comportamento mundano que conside-
rávamos que tinham.

235
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

Todos os que não foram salvos estarão presentes no dia do juízo, e


nós teremos que assistir o seu julgamento como testemunhas da
Justiça Divina.

Certamente, naquele Dia haverá muito choro e lágrimas,


porém, será tarde demais para o arrependimento, ou para que
possamos fazer algo mais por eles. A dor será tanta após esse
episódio, que o SENHOR terá que enxugar toda lágrima dos
olhos dos salvos que assistiram ao julgamento, para que possam
viver a eternidade em paz (Ap 21.4).

236
— capítulo 21 —

UMA JANELA PARA


A ETERNIDADE

“Cinco minutos dentro da eternidade, cada um de nós


desejaríamos ter: sacrificado mais, orado mais, amado mais,
agonizado mais, chorado mais”.

Paul Washer
UMA JANELA PARA A ETERNIDADE

Resolvemos usar esta expressão “janela para a Eternidade” para


identificar os assuntos a serem abordados na sequência deste livro,
pois nos sentimos desconfortáveis em afirmar coisas que a Bíblia
não parece fazer questão de explicar claramente na atual dispen-
sação. Imagine alguém que olha para dentro de uma casa apenas
pela abertura que a janela lhe permite, e, portanto tem uma visão
parcial (limitada) do que há no interior da residência. Pois bem, é
desse modo que iremos tratar os capítulos 21 e 22.
Com muito temor, tentaremos descrever a você, amante das
escrituras, aquilo que temos paz para dizer, mas não iremos incor-
rer no erro de muitos, ao tentar dogmatizar tudo. Lembremo-nos
novamente: “As coisas encobertas pertencem ao SENHOR, nosso
Deus, porém as reveladas nos pertencem, a nós e a nossos filhos,
para sempre, para que cumpramos todas as palavras desta lei”
(Dt 29.29).

Já que em Gênesis, temos o princípio de todas as coisas, acreditamos


que coerentemente, nos últimos capítulos de Apocalipse temos a con-
clusão de todas elas.

“Disse-me ainda: Tudo está feito. Eu sou o Alfa e o Ômega, o


Princípio e o Fim. Eu, a quem tem sede, darei de graça da fonte da
água da vida” (Ap 21.6).

UM NOVO CÉU E UMA NOVA TERRA



“Desde a antiguidade fundaste a terra, e os céus são obra das
tuas mãos. Eles perecerão, mas tu permanecerás; todos eles se
envelhecerão como um vestido; como roupa os mudarás, e
ficarão mudados” (Salmos 102.25-26).

Como temos estudado até agora, as informações acerca


do fim não se encontram apenas no livro do Apocalipse, mas

239
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

também estão presentes em muitos outros livros da Bíblia,


como, por exemplo, nos livros proféticos e nas epístolas. O pró-
prio Pedro anuncia a destruição da criação que conhecemos,
enquanto profetiza pelo, Espírito, a criação de novos Céus e
nova Terra: “Ora, os céus que agora existem e a terra, pela mesma
palavra, têm sido entesourados para fogo, estando reservados para
o Dia do Juízo e destruição dos homens ímpios” (2 Pe 3.7).
No final, todas as coisas hão de ser desfeitas por Deus (Is
34.4) e os céus desaparecerão como fumaça (Is 5.6), na verdade,
de acordo com Pedro, serão derretidas pelo calor, incluindo os
céus e todos os demais elementos conhecidos. Em vista disso,
o apóstolo adverte aos cristãos:
“Visto que todas essas coisas hão de ser assim desfeitas, deveis
ser tais como os que vivem em santo procedimento e piedade,
esperando e apressando a vinda do Dia de Deus, por causa do
qual os céus, incendiados, serão desfeitos, e os elementos abra-
sados se derreterão. Nós, porém, segundo a sua promessa, espe-
ramos novos céus e nova terra, nos quais habita justiça” (2 Pe
3.11-13).

Certamente, os atuais Céu e Terra passarão, mas as palavras


do SENHOR não hão de passar (Mt 24.35). O apóstolo João tes-
tifica a profecia de Pedro, quando diz que na cena que contem-
plava, o primeiro céu e a primeira Terra tinham se passado, e o
mar também não existia mais (Ap 21.1). De fato, Aquele que se
assenta no trono lhe disse veementemente: “eis que faço novas
todas as coisas” (Ap 21.5).

Essa nova Terra possuirá características completamente distintas


as do planeta que conhecemos hoje, e não apenas em termos naturais.

Primeiramente, entendemos que ali não haverá a divisão


entre os continentes que temos hoje, pois o mar não existirá
mais. Já que nos versos seguintes constatamos que existirão

240
UMA JANELA PARA A ETERNIDADE

outras nações, nesse verso em particular a expressão “mar” é


literal, e não se refere a nações. Graças a isso, será possível que
todos os habitantes dirijam-se a Jerusalém para adorar (Ap 21.1).
Pelo que parece, haverá somente uma montanha que poderá
ser vista por toda Terra (Ap 21.10), lembrando que, na Terra
velha, os montes fugiram (Ap 16.20). As escrituras dão a ideia de
haver somente um monte, o monte Sião, onde a Nova Jerusalém,
que desce do céu, será estabelecida para servir de habitação
para o Senhor. Assim, todos os que olharem de todas as partes
da Terra verão a sua glória.

A NOVA JERUSALÉM

“Uma coisa peço ao SENHOR e a buscarei: que eu possa morar na
Casa do SENHOR todos os dias da minha vida, para contemplar
a beleza do SENHOR e meditar no seu templo”
(Salmos 27.4).

De acordo com Joel: “Judá, porém, será habitada para sem-


pre, e Jerusalém, de geração em geração. Eu expiarei o san-
gue dos que não foram expiados, porque o SENHOR habitará
em Sião” (3.20-21), ou seja, o próprio Deus habitará na Terra,
mais especificamente na Jerusalém celestial ou Nova Jerusa-
lém, e estará rodeado de seres humanos e de miríades de anjos
(Ap 21.3).
Nesse lugar se reunirá a assembleia universal, composta
pelos espíritos dos justos aperfeiçoados (Hb 12.22-23). Nessa
cidade celestial também não haverá mais sofrimento ou morte
(Ap 21.4), muito menos pecado, já que nessa era todos os trans-
gressores estarão no lago de fogo, onde permanecerão pela eter-
nidade (Ap 21.8).
A nova Jerusalém, também chamada nas Escrituras de “taber-
náculo de Deus”, “cidade de Deus”, “cidade santa”, “cidade

241
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

celestial, “Jerusalém celestial” e “cidade quadrangular”, é des-


crita, literalmente, como o paraíso na Terra. Embora seja citada
em vários livros da Bíblia, Apocalipse 21 é o relato que oferece
uma descrição mais completa dela. Vejamos algumas informa-
ções sobre a cidade:
Seu aspecto. Semelhante à noiva, toda adornada, será esposa
do Cordeiro. Possivelmente pelo fato de todos os vencedores
estarem dentro dela, Jesus prometeu que iria preparar lugar ali
para eles (Jo 14.1-3).
Deus a iluminará com sua presença. Essa cidade terá a glória
do Senhor pelo que seu fulgor será semelhante a uma pedra
preciosíssima, como pedra de jaspe cristalina. Já que não haverá
noite, a cidade não precisará de luz elétrica ou solar. O Senhor
simplesmente brilhará sobre ela e os seus servos o servirão,
enquanto contemplam a sua face.
Está pronta no céu. A santa cidade, a Nova Jerusalém, descerá
do céu, da parte de Deus.
Tem 12 fundamentos. A cidade possui uma muralha alta
com doze alicerces, adornados de toda espécie de pedras pre-
ciosas, sobre os quais estarão os nomes dos doze apóstolos do
Cordeiro. O primeiro fundamento será de jaspe; o segundo,
de safira; o terceiro, de calcedônia; o quarto, de esmeralda; o
quinto, de sardônio; o sexto, de sárdio; o sétimo, de crisólito; o
oitavo, de berilo; o nono, de topázio; o décimo, de crisópraso;
o undécimo, de jacinto; e o duodécimo, de ametista.
Possui Doze portas. Três portas ficarão em direção ao leste,
três ao norte, três ao sul, e três ao oeste. Sobre cada uma estará
inscrito o nome de uma das doze tribos de Israel e cada porta
será de uma só pérola. Junto a elas, ficarão doze anjos respec-
tivamente. As suas portas nunca se fecharão, já que na cidade
não haverá noite.
Tem um formato quadrangular. A cidade tem comprimento
e largura iguais. Já em relação ao seu tamanho, a Bíblia diz que
cada lado medirá doze mil estádios, e já que cada estádio tem

242
UMA JANELA PARA A ETERNIDADE

185 metros, sabemos que ela terá 2200 quilômetros. Isso equi-
vale a uma metrópole 40 vezes maior do que o país da Inglaterra
por cada andar. Se calcularmos quatro metros por andar, de
acordo com sua altura, ela teria aproximadamente 500 andares.
Matéria utilizada na construção. A estrutura da muralha é
de jaspe. A cidade é de ouro puro, semelhante a vidro límpido.
A praça. Essa será também de ouro puro, parecido ao
vidro transparente.
A Nova Jerusalém será a capital de toda a Terra. As nações
andarão mediante à sua luz, e os reis da Terra lhe trarão a sua
glória. Assim mesmo, será um lugar de adoração, Já que nela
estará o trono de Deus e do Cordeiro. Ali serão levadas a glória
e a honra das nações. Porém, sua entrada será restrita.
Nunca penetrará coisa alguma contaminada, nem o que pra-
tica abominação e mentira, mas somente os escritos no livro da
vida do Cordeiro. Há indícios de que todos irão para Jerusalém
para adorar a Deus, mas assim como no Antigo Testamento,
nem todos poderão entrar no Tabernáculo de Deus. De fora,
apenas contemplarão a glória da segunda casa. Nela só poderão
entrar e habitar os vencedores.
O Rio. A cidade possuirá um rio com seu leito formado pela
água da vida, brilhante como cristal.
A árvore da vida. Essa árvore produzirá doze frutos, dando o
seu fruto de mês em mês, e as folhas da árvore serão para a cura
dos povos. Sabemos que essa árvore representa a Jesus, pois Ele
é a vida eterna, quem comer d’Ele jamais morrerá. Desse modo,
os escolhidos do Senhor reinarão com Ele eternamente.

A VIDA NA NOVA JERUSALÉM

Tudo o que Deus faz é eterno, o homem voltará a viver eter-


namente, pois beberá da água da vida que provêm do Trono
(Ap 22:1). Este é o mesmo rio visto pelo profeta Ezequiel e é ele
que produz cura por onde quer que passe, e ele nos revela que

243
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

quando Jesus reina numa vida ou situação, tudo flui. Esse rio
representa o próprio Deus.
Os homens o servirão eternamente, e agora com os corpos
glorificados, poderão vê-lo face a face. Como foi citado antes,
no meio da cidade haverá uma praça, na qual estará plantada a
árvore da vida. Essa dará fruto o tempo todo, e suas folhas pro-
duzirão cura para os povos (Ap 22.2). Isso nos revela que uma das
coisas que a comunhão com Deus produz é cura.
Haverá cura para todos aqueles que buscarem, assim como
hoje já há cura para os que buscam ao Senhor (seja ela física ou
espiritual). Logo, nesse lugar não haverá mais doenças, pois seus
habitantes se alimentarão dos frutos da árvore da vida.
De acordo com Apocalipse 22.3, na Nova Jerusalém não haverá
mais maldição, portanto, também não haverá mais pecado, nem
morte. Isso significa que o homem não se afastará nunca mais
de Deus. Como vimos, a cidade também não precisará nem do
sol, nem da lua para lhe darem claridade, pois a glória de Deus a
iluminará. O próprio Cordeiro será a sua Lâmpada.
Isso significa que o relacionamento do homem com Deus
não estará mais baseado em experiências separadas, mas sim no
desfrutar constante da presença d’Ele. Será uma vida de intenso
relacionamento com Deus e com Sua Glória.

O melhor do céu é o fato de Jesus estar lá e a certeza de que teremos a


oportunidade de conhecê-Lo intimamente. O que um dia esteve oculto,
lá certamente nos será revelado. Veremos além da luz, adentraremos
além do véu, e poderemos ver a face do nosso Grande Criador.

Em palavras de Charles Spurgeon:


“Oh!, pensar num céu sem Cristo! Seria o mesmo que pensar no
inferno. Céu sem Cristo! É o dia sem sol, a existência sem vida,
o banquete sem comida, é ver sem luz. Isso é uma contradição
em si mesma. Céu sem Cristo! Absurdo. Seria o mar sem água,
a terra sem campos, o céu sem suas estrelas. Não pode haver

244
UMA JANELA PARA A ETERNIDADE

céu sem Cristo. Ele é a soma de todas as bem-aventuranças, a


fonte de onde jorra o céu, o elemento de que é formado o céu.
Cristo é o céu e o céu é Cristo” (Apud MALGO, R. O céu antes
da volta de Cristo)35.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

“Qualquer número finito dividido por infinito ou comparado ao
infinito é zero. A nossa vida terrena se comparada à eternidade é
nada” John Bevere.

Queridos irmãos, chegamos ao final. A maravilhosa carta


de Apocalipse se encerra não somente advertindo àqueles que
vivem deliberadamente no pecado, mas motivando aos que
estão buscando viver em santidade dia após dia. Afinal, o Justo
Juiz julgará sem parcialidade a todos.
Certamente, Jesus irá recompensar a cada cristão de maneira
diferenciada (galardão), não com base na “graça”, mas na obe-
diência de cada um à Palavra, e, segundo o relacionamento que
desenvolvemos em nosso tempo de peregrinação aqui na Terra.

Todas as nossas decisões e escolhas aqui, irão refletir lá por toda


a eternidade.

Em definitivo, só entrarão na Nova Jerusalém, aqueles que


tiverem as suas vestes lavadas no sangue do Cordeiro e seus
nomes escritos no livro da vida. Os que entrarem na Cidade
Santa poderão comer à vontade da Árvore da Vida que está no
centro dela. Isso nos revela que Cristo voltará a Seu lugar de
honra, porque Ele é o centro de tudo.

35 Disponível em: <https://www.chamada.com.br/mensagens/o_ceu_antes_da_volta_de_cristo.


html>, acesso em: 15/05/20.

245
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

O estudo das profecias bíblicas certamente é muito maior


do que aquilo que apresentamos aqui, a presente obra é ape-
nas um “abre bocas” daquilo que virá. Estamos convencidos de
que, se tratando da profundidade da Palavra de Deus, apenas
margeamos a grandeza da revelação do impressionante livro
de Apocalipse.
Esperamos que, a esta altura, algumas perguntas tenham
sido respondidas, embora o mais provável, é que muitas outras
tenham passado a existir.

Essa é a beleza de estudar as escrituras, quanto mais cavamos mais


descobrimos a respeito de Deus.

Mesmo assim, esperamos também que um paradigma tenha


sido quebrado e que vocês tenham percebido que o Apoca-
lipse não é um livro impossível de se entender, pelo contrário,
desejamos que de agora em diante o vejam como uma grande
revelação.
Nesse sentido, cremos que nosso objetivo foi alcançado, pois
tentamos apenas norteá-lo nas profecias bíblicas, crendo que
o Espírito Santo lhe acrescentará muito mais entendimento.
Nosso maior desafio é despertar em você, amante das escrituras,
um desejo profundo de ir mais fundo nelas e pôr em prática
o conhecimento que já foi entregue a você, lembrando-se da
exortação de Tiago:
Tornai-vos, pois, praticantes da palavra e não somente
ouvintes, enganando-vos a vós mesmos. Porque, se alguém é
ouvinte da palavra e não praticante, assemelha-se ao homem
que contempla, num espelho, o seu rosto natural; pois a si
mesmo se contempla, e se retira, e para logo se esquece de
como era a sua aparência. Mas aquele que considera, aten-
tamente, na lei perfeita, lei da liberdade, e nela persevera,
não sendo ouvinte negligente, mas operoso praticante, esse
será bem-aventurado no que realizar (1.22-25).

246
UMA JANELA PARA A ETERNIDADE

Para terminar, o nosso maior anseio é ter contribuído um


pouco mais para que o Espírito e a Noiva possam dizer juntos
ao Senhor: vem! E que “Aquele que ouve, diga: Vem! Aquele que
tem sede venha, e quem quiser receba de graça a água da vida” (Ap
22.17). Esse clamor da noiva deve ser a nossa oração constante.

A única maneira de escaparmos das astutas ciladas do maligno e per-


severarmos até o fim é por meio de uma vida intensa de oração. Essa
foi a direção de Jesus.

Por isso irmãos, mais uma vez ressaltamos as palavras d’Ele:


vigiem o tempo todo, para que possam escapar das coisas que
irão acontecer e, no final, conseguir “estar em pé na presença do
Filho do Homem” (Lc 21.36). Então, por que não começar hoje
mesmo a se preparar para o seu casamento? Convidamos você
a fazer a seguinte oração conosco:

— “SENHOR! Encerramos esse estudo, menores do que quando


começamos, com um temor profundo, e um desejo ainda maior
de que Tu voltes para nos buscar e estabeleças Tua justiça, para
reinar eternamente em nosso meio. Firmamos o compromisso de
Te servir de todo coração, e tentar até o último minuto ser sim-
plesmente como o SENHOR é”.

247
GLOSSÁRIO DE SÍMBOLOS
Interpretando os números
Na Bíblia, os números e símbolos possuem significados específicos.
Vamos citar os mais importantes para o estudo de Apocalipse, para auxílio
de sua interpretação:
1: Esse é o número que representa Deus, o primeiro, ao único que é
digno!
2: Confirmação, está ligado à concordância (cf. Eclesiastes 4.12).
3: Redenção, é também o número que expressa a Divindade; essa é a
expressão correta para a palavra Trindade.
4: Aquilo que é completo aqui na Terra. Ex.: 4 ventos, 4 anjos, 4
evangelhos.
5: Ministérios.
6: Representação daquilo que é mau, falho, número do homem.
7: Número que expressa a completude; é citado 32 vezes no livro de
Apocalipse (7 selos, 7 trombetas, 7 taças, 7 candeeiros). Ele indica
que o que aconteceu aqui na Terra se completou. O número sete é o
número que mais aparece no livro de Apocalipse. Esse número tam-
bém representa a perfeição na Terra. No livro de Apocalipse, diz-se 7
vezes que Jesus voltará (cf. 1.5; 3.11; 22.6; 22.7; 22.10; 22.12; 22.20).
8: Ressurreição. Um novo começo. Jesus ressuscitou no domingo, no
oitavo dia. Oito pessoas estavam na arca do feita por Noé, quando o
mundo começou novamente após o dilúvio.
9: Finalidade ou conclusão. É símbolo também do Espírito Santo
(dons e frutos do Espírito).
10: Perfeição humana, pode representar a redenção e o juízo.
12: Perfeição no céu, governo espiritual (número dos redimidos).
14: Páscoa ou morte. A páscoa era celebrada no dia 14º dia do mês.
666: Número do anticristo. 3 x 6, o número do mau. Também pode
representar a trindade satânica: Satanás, o anticristo e o falso profeta.

249
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

Conhecendo os símbolos
Água onde a meretriz se assenta: povos, nações e línguas (cf. Apocalipse
17.15).
Águas como de um rio: exército (cf. Apocalipse 12.15).
Arco-íris: Alianças, bençãos celestiais prometidas, misericórdia de
Deus (cf. Apocalipse 4.3).
Besta que emerge da terra: falso profeta (cf. Apocalipse 13.11).
Besta que emerge do mar: anticristo (cf. Apocalipse 13.1).
Candeeiros: igrejas (cf. Apocalipse 1.20).
Cavalo: expressão de honra real, montaria bélica (cf. Apocalipse 6.2;
9.7; 19:11).
Chifres: autoridade (cf. Apocalipse 17.12).
Cordeiro: Jesus (cf. Apocalipse 17.14).
Diademas: reinos e reis.
Dragão: Satanás (cf. Apocalipse 12.2).
Estrelas: anjos, que são os pastores das igrejas (cf. Apocalipse 1.20).
Filho varão: Jesus (cf. Apocalipse 12.5).
Mar: nações (cf. Apocalipse 13.1).
Mulher montada na besta: Religião; Babilônia; Catolicismo (cf. Apoca-
lipse 17.3).
Mulher: Israel (cf. Apocalipse 12.1).
Nuvens: glória de Deus (cf. Apocalipse 10.1).
Terra: terra seca, palestina (cf. Apocalipse 13.11).

Materiais
Barro: natureza humana.
Bronze: julgamento, força para suportar o fogo do juízo de Deus.
Feno: glória do homem.
Ferro: autoridade humana.
Linho: justiça.
Ouro: glória de Deus, caráter aprovado.
Prata: redenção.

250
Cores
Amarelo: doença, morte (cf. Apocalipse 6.8).
Azul/Safira: céu, coisas celestiais.
Branco: perfeição, santidade, justiça, paz (cf. Apocalipse 3.4; 6.2).
Carmesim/Escarlate: sofrimento, sacrifício, pecado (cor extraída de um
verme) (cf. Apocalipse 17.3).
Preto: trevas, pecado, fome (cf. Apocalipse 6.5).
Púrpura: realeza, majestade, autoridade, riqueza (cf. Apocalipse 17.4).
Verde: vida terrena, alimento, prosperidade.
Vermelho: sangue, expiação, guerra (cf. Apocalipse 6.4).

Elementos da redenção
Água: juízo (dilúvio).
Fogo: juízo (pragas). Afinal, todos os fatos de Apocalipse se resumem à
redenção e ao juízo.
Sangue: Cordeiro morto (salvação).

251
FONTES DE CONSULTA
BARCHUK, Ivan. Explicación del livro de Apocalipsis. Barcelona, España:
Editora: CLIE, 2008.
BEVERE, John. Movido pela Eternidade: faça sua vida valer a pena hoje e
sempre. Rio de Janeiro, RJ: Editora Lan, 2009.
BOYER, Orlando. Pequena Enciclopédia Bíblica. São Paulo, SP. Editora
Vida, 2002.
CARVALHO, J. B. Cartas às Igrejas do Século XXI. Brasília, DF: Chara, 2008.
CHAMPLIN, Russell Norman. Novo Testamento Interpretado: versículo por
versículo. SP: Hagnos, 2016.
COELHO, André. Redescobrindo sua Bíblia. Mauá, SP: Geográfica Editora,
2015.
EBERLE, Harold R.; TRENCH, Martin. Escatologia Vitoriosa: uma visão pre-
terista parcial. Brasília, DF: Chara, 2014.
ERICKSON, Millard J. Escatologia: a polêmica em torno do milênio. São
Paulo, SP: Vida Nova, 2010.
GILBERTO, Antônio. Daniel y Apocalipsis. João Pessoa, PB: Patmos, 1980.
GONZÁLEZ, Justo L. História ilustrada do cristianismo. São Paulo, SP: Vida
Nova, 2001. (Volume 1 e 2).
HITCHCOCK, Mark. 101 respostas às perguntas sobre o livro de apocalipse.
Porto Alegre, RS: Chamada, 2012.
LADD, George. Apocalipse: introdução e comentário. São Paulo, SP: Vida
Nova, 2006.
LOPES, Augustus Nicodemus. A Bíblia e seus intérpretes: uma breve história
da interpretação. São Paulo, SP: Cultura Cristã, 2004.
MALGO, René. O Céu Antes da Volta de Cristo. Chamada, s/d. Disponível
em: https://www.chamada.com.br/mensagens/o_ceu_antes_da_volta_de_
cristo.html>. Acesso: 06 de mar. 2020.
MALGO, Wim. Apocalipse de Jesus Cristo. Porto Alegre, RS: Chamada, 2018.
(Volume único)
PENTECOST, John Dwight. Manual de Escatologia. São Paulo, SP: Editora

253
APOCALIPSE PURO E SIMPLES

Vida, 2012.
PINTO, José Boechat. Apostilas sobre escatologia. Itaperuna, RJ. (Material
não publicado).
RODRIGUES, José. Aulas de Escatologia. Aulas ministradas no Curso Inten-
sivo, na base da Missão Cristã Mundial, em Trindade, Goiás (2014).
SILVA, Aluízio. Apocalipse sem mistério. Goiânia, GO: Vinha Editora, 2014.
ICE, Thomas. Quando a trombeta soar. Porto Alegre, RS: Chamada, 2015.

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APOCALIPSE
Puro e simples
Copyright ® Jônatas Oliveira; José Rodrigues

É proibida a reprodução total ou parcial da obra, de qualquer forma ou por qualquer


meio, sem autorização prévia ou por escrito do autor. A violação dos direitos autorais
(Lei nº 9.610/98) é crime estabelecido pelo Artigo 48 do Código Penal.

As citações bíblicas são da Almeida Corrigida e Fiel (ACF) e da Almeida, Revista e


Atualizada (ARA), a menos que seja especificada outra versão da Bíblia Sagrada.
Imagem de capa: Daniel and Revelation compared. By Clarence Larkin ©

1ª edição: abril de 2020

Edição: Maria Antonia Rivera Jurado, Eliel Gomes da Silva


Revisão: Divina Maria Gundim, Ana Marques, Sandra Lima
Revisão final: Divina Maria Gundim
Capa: Agência Chairô
Projeto gráfico: MCM Comunicação
Ilustrações: Erick Ribeiro Peres; Freepik
Coordenação Editorial: André Mendonça Duailibe

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

O48a Oliveira, Jônatas


Apocalipse: puro e simples / Jônatas Oliveira & José Rodrigues;
Projeto gráfico: MCM Comunicação; Capa: Agência Chairô;
coordenação editorial: André Mendonça Duailibe.
1a ed. – Trindade (GO) : MCM, 2020. 300p. : il.

Inclui bibliografia
ISBN: 978-65-87276-00-7

1. Bíblia. N.T. Apocalipse – Crítica, interpretação, etc.


2. Bíblia – Profecias. 3. Escatologia cristã. 4. Fim do mundo.
5. Arrebatamento. 6. Antropologia teológica – Cristianismo. 7. Juízo
Final. I. Rodrigues, José. II. Mendonça Duailibe, André. III. Título.

CDU-236.9

Catalogação na publicação por: Ornélia Silva Guimarães CRB-14/071

Publicado no Brasil por:


MCM Publicações
Rua Santo Antônio, 230 – Centro
Trindade, GO, Brasil
CEP: 75388-769
Telefone: (62) 3505-7872

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