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DIREITO DOS ANIMAIS

2. Os Animais e a Jurisprudência dos Tribunais Cíveis (Propriedade Horizontal, Arrendamento e Responsabilidade Civil)

2. OS ANIMAIS E A JURISPRUDÊNCIA DOS TRIBUNAIS CÍVEIS (PROPRIEDADE HORIZONTAL,


ARRENDAMENTO E RESPONSABILIDADE CIVIL) ∗

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Carlos Marinho

1. O novo estatuto jurídico dos animais


2. Propriedade horizontal
3. Arrendamento
4. Responsabilidade civil
5. Epílogo
Vídeos da intervenção e do debate

1. O NOVO ESTATUTO JURÍDICO DOS ANIMAIS

A análise jurisprudencial proposta, incidente sobre as questões relativas aos animais reveladas
no âmbito de acções em matéria de propriedade horizontal, arrendamento e
responsabilidade civil, transporta-nos para um contexto marcado por uma verdadeira
fronteira ideológica e conceptual: a traçada pela Lei n.º 8/2017, de 03 de Março.
Há, incontestavelmente, neste domínio, um «antes» e um «depois» e o referente de aferição
temporal é, sem sombra de dúvida, o momento da entrada em vigor do referido diploma
legal.
Antes desse ponto no tempo, os animais eram concebidos como meras coisas móveis
abrangidas pelo art. 205.º do Código Civil e as suas crias constituíam singelos frutos naturais,
nos termos do estabelecido no art. 212.º do mesmo encadeado normativo. A sua relevância
era, assim, essencialmente económica, de propriedade e posse, típica de uma sociedade
agrícola.
No novo regime, os animais ganharam o estatuto de «seres vivos dotados de sensibilidade» e
o eixo relacional deslocou-se da referida expressão económica para a do reconhecimento da
sua qualidade de «objeto de proteção jurídica em virtude da sua natureza», nos termos do
estatuído no art. 201.º-B do Código Civil alterado.
Em termos mais gráficos e esquemáticos, verificamos que os animais foram projectados pelas
convicções dominantes na nossa sociedade, no presente momento civilizacional, para um
espaço límbico ou terceiro estado entre o Homem e a coisa.
Estamos perante uma deslocação temática parcial da área dos direitos para a dos deveres,
embora o art. 201.º-D tenha imposto a aplicação subsidiária, neste domínio, das normas
relativas às coisas e as relações jurídicas e económicas incidentes sobre os animais
mantenham o seu relevo central (embora o direito de propriedade sobre eles incidente tenha
surgido autonomizado no n.º 2 do art. 1302.º do Código sob referência).
Neste âmbito alguns poderão admitir, atento o estado das sociedades hodiernas e o
pensamento nelas dominante, existir uma vontade subconsciente de sinal dúplice de incluir os
animais de companhia no dito quadro especial e os demais essencialmente sob o estatuto de
coisas, tudo bem longe da atribuição de personalidade jurídica aos mesmos, sustentada, por


Apresentação decorrente da ação de formação contínua do CEJ “Direito dos Animais”, realizada a 9 de março de
2022.
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Juiz Desembargador.

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