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2. Os Animais e a Jurisprudência dos Tribunais Cíveis (Propriedade Horizontal, Arrendamento e Responsabilidade Civil)
tribunal, «no mínimo, a demonstração de que (…) os donos do cão podiam e deviam ter
previsto» o seu comportamento «e adoptado as medidas para o evitar».
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DIREITO DOS ANIMAIS
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simbólico, como forma de mitigar o abalo moral suportado, encontrando um grau justo,
evitando desproporções e que satisfaça o escopo legal padronizado».
Verificamos porém, que o estatuto dos animais não se revelou suficiente para permitir
qualificar como «acidente de viação a morte de um animal provocada pela manobra de um
veículo automóvel», conforme se afirmou no Acórdão do Tribunal da Relação de Coimbra de
18.11.2008 (1775/04.3.TBPBL.C1).
No entanto, não se deixou, aí, de considerar que tal facto não isentava «a respectiva
seguradora de responder civilmente pelo dano» havendo culpa do segurado. Esta conclusão foi
extraída com alargamento de uma noção convencional de animal de companhia, já que estava
em causa o atropelamento de uma simples catatua.
5. EPÍLOGO
Das decisões referidas neste breve roteiro podemos extrair, creio, duas importantes noções.
A primeira é a de que a jurisprudência vem reflectindo, neste domínio, aliás, como se intuiria à
partida face à sua posição de espaço de expressão de conflitos – (e nem sequer com a grande
descolagem temporal natural entre a vida e acto de julgar) uma imagem relevante da realidade
social e das convicções em cada momento dominantes, suas contradições e mutações, que
revela o abandono de um paradigma e o acolhimento de um outro no domínio da relação do
Homem com os animais, particularmente dos que elege para integrarem o seu mundo,
também ao nível dos afectos.
Se houvesse que caracterizar esse câmbio, talvez se pudesse considerar o mesmo marcado por
alguma mitigação de uma noção antropocêntrica do universo e pelo reconhecimento de
arremedos de direitos ou proto-direitos aos próprios animais, sempre em nome da sua
sensibilidade, sobretudo da sua capacidade se sofrer e de tomar consciência desse sofrimento.
Introduz-se, assim, no espaço relacional, sobretudo urbano, uma centelha de compaixão e
generosidade que ultrapassa o clássico modelo económico, egoísta e exclusivamente centrado
no Homem.
A segunda noção é a de que, com grande mérito, os Tribunais portugueses souberam, bastas
vezes, neste sector, antecipar-se aos tempos das normas e sentir o pulsar da sociedade mesmo
antes das consagrações normativas.
Assim continuará a ser, certamente.
Depende de cada um de nós envolver na sobre-humana função de julgar a capacidade de
sentir a voz do tempo e o fluir deste, por forma a administrarmos uma Justiça sempre moldada
aos interesses e anseios dos cidadãos que no-la pedem.
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