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Como nasce o Direito, por

Carnelutti
Publicado em 21/02/2021 14:24

Francesco Carnelutti (1879/1965), um dos mais célebres juristas


italianos, deixou um leque de obras que ainda hoje são fundamentais
para o estudo do Direito. Em Como nasce o Direito, Carnelutti
expõe de maneira sintética os principais pontos do estudo do Direito.
Primeiramente, o autor conceitua Direito e juristas, pontos
fundamentais no estudo da temática proposta:

Estou convencido que, para meus ouvintes, a palavra direito


sugere a ideia de legislação, até mesmo a dos conjuntos de
normas jurídicas que se chamam de códigos. Embora seja uma
definição empírica, de começo podemos aceitá-la: um conjunto
de normas que regula a conduta dos homens; (…). (CARNELUTTI,
1954, pg. 09).

Não passou despercebido ao célebre jurista que nem todos os


membros de um parlamento tem a formação universitária jurídica,
um ponto crítico de toda sociedade moderna:

Por conseguinte, as leis são feitas, se não unicamente, ao menos


também, pelos homens que não aprenderam como fazê-las.
(Idem, pg. 10).

O jurista defende que o cidadão comum tenha um mínimo de


conhecimento jurídico, pois como o Estado pode cobrar respeito às
leis, e punir quem as fere, com um povo ignorante?

Sob esse aspecto, dizíamos, o ordenamento dos estudos


vigentes na Itália, principalmente no que diz respeito à instrução
:
média, apresenta sérios defeitos. Quer para fins educacionais,
quer para fins informativos, ou seja, tanto na formação do caráter
como no treinamento técnico para as várias obrigações sociais, é
necessário um mínimo de conhecimento jurídico. (Idem, pg. 13).

Continuando a sua reflexão sobre a necessidade e utilidade do


Direito, o autor defende que o Direito vem para trazer a paz social, a
ordem. A guerra, o caos, são o oposto do que o Direito prega.

Separando Direito de moral, Carnelutti estabelece: “Esse sub-


rogado da moral é o direito.” (Idem, pg. 23). Mas o homem nem
sempre obedecerá ao Direito ou à moral por livre e espontânea
vontade, daí a necessidade da sanção: o castigo a quem
desobedece ao Direito. Então o autor chega ao conceito de delito.

Delito ou ato ilícito, para o autor, são as condutas anti-sociais,


escolhidas pelo legislador, que trarão uma sanção (castigo) a quem a
comete. O autor reconhece o problema do número cada vez maior
de delitos criados pelo legislador, tornando o estudo do Direito Penal
cada vez mais complexo. O autor distingue entre dolo e culpa,
crimes omissivos e crimes comissivos, e os atos chamados de
contravenções, menos graves do que o crime comum.

Desse modo, pouco a pouco o conceito de crime vai deslocando-


se. Em sua origem, o crime seria um ato imoral, que, em virtude
da gravidade do dano que dele resulta para a ordem social,
castiga-se com a pena; em outras palavras, o centro de
gravidade do crime estaria na moral. Em razão da evolução a que
me referi, um fato qualifica-se de crime nem tanto por razões
morais quanto por razões jurídicas, ou seja, nem tanto por que
merece ser castigado quanto por que é castigado. O caráter
positivo do crime consiste, pois, na punibilidade de um fato do
homem. (Idem, pg. 30).
:
Carnelutti reflete na função da pena. O jurista considera que a pena
tem função preventiva e repressiva, mas critica o sistema penal por
ser um tormento para o réu, uma vingança.

O jurista reflete que o Direito desde a Idade Moderna gira em torno


de dois bens jurídicos principais: a vida humana e a propriedade.
Dessa forma, os delitos de homicídio e de furto são os mais
frequentes e punidos no sistema de Justiça. No capítulo sobre a
propriedade, o jurista reflete:

Assim, a propriedade, de instituto puramente econômico passa a


ser um instituto jurídico e até se converte em um direito. (Idem,
pg. 33).

A propriedade é, historicamente, o primeiro dos direitos


subjetivos. (Idem, pg. 36).

No capítulo sobre legislação, o autor diferencia ente leis jurídicas e


leis físicas ou naturais, leis expressas (escritas) e o que denomina de
leis tácitas (os costumes), leis não escritas, mas com grande poder
de influenciar o Direito. O autor também reflete sobre o número
crescente de leis nas sociedades modernas:

Atualmente, discute-se, cada vez com maior insistência, uma


denominada crise da lei, um dos aspectos mais visíveis da
moderna crise do direito.

(…) Para alcançar esse objetivo, é necessário que as leis possam,


antes de tudo, serem conhecidas. Mas o que pode fazer um
cidadão, hoje, para conhecer todas as leis de seu país? (…) O
ordenamento jurídico, cujo maior mérito deveria ser a
simplicidade, transformou-se, para nossa desgraça, em um
complicado labirinto, no qual, até os que deveriam ser os guias,
perdem-se. (Idem, pg. 46-47).
:
No capítulo sobre o juízo, Carnelutti reflete sobre o processo,
distingue o processo civil do processo penal, o processo de
cognição do processo de execução. Nas palavras do autor, o
processo penal serve para “comprovar e castigar o ato delituoso.”
(Idem, pg. 50).

O autor defende o Estado democrático de Direito. Estado é a


sociedade juridicamente ordenada. Não há Estado sem Direito nem
Direito sem Estado. Carnelutti diferencia Estado de nação: o conceito
de nação pertence à sociologia, não ao Direito.

Tendo em vista a complexidade dos Estados modernos, o jurista


defende o direito internacional como solução para que os diferentes
estados que compõe o mundo moderno vivam em paz. Uma
comunidade internacional é defendida pelo autor como uma via para
a paz entre os povos. Antecipando-se à União Europeia, defende
uma Europa unida, inclusive com uma constituição própria.

Carnelutti finaliza seu livro enfatizando a função do Direito de


garantir a paz entre os homens:

Sem a bondade, a ciência do direito poderá, sem dúvida, fazer


que cresça a árvores do direito, mas essa árvore não dará os
frutos de que os homens tem necessidade. (Idem, pg. 68).

REFERÊNCIAS

CARNELUTTI, Francesco. Como nasce o Direito. Campinas: Russell


Editores, 2010.

Leia mais:

STF: dosimetria da pena não pode ser objeto de análise em HC


:
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