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O TERCEIRO MANDAMENTO OU O TESTEMUNHO DA SANTIDADE DE

DEUS

“Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão, porque o


Senhor não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão” (Ex 20.7; Dt
5.11).

Literalmente, poderiamos traduzir este mandamento assim: “Não


usar o nome de Deus para o mal”. Isso acontece quando amaldiçoamos
alguém, quando empregamos o nome de Deus sem pensar, quando O
invocamos em cerimônias ocultas e quando juramos levianamente. A finalidade
do terceiro mandamento é afirmar a santidade de Deus. Não devemos profaná-
10 nem tratá-lo irreverentemente. Não se deve pensar em Deus ou em Seus
mistérios sem a devida sobriedade e reverência. Não se deve difamar o nome
de Deus ou desacreditar Suas obras, mas antes dizer a verdade e reverenciar
Seu nome, porque santificar nossa atitude para com Deus é santificar o nome
de Deus. Deus reivindica para Si este direito de santificar Seu nome.
Lutero define o teor e a aplicação deste mandamento da seguinte
maneira: “Quando pois se pergunta: ‘Como entendes o segundo mandamento?’
ou: ‘O que significa tomar o nome de Deus em vão, ou mal usá-lo?’, responde,
com toda concisão, assim: ‘Abusar o nome de Deus quer dizer pronunciar o
nome do Senhor Deus, seja qual for a maneira, para fins de mentira ou vício de
qualquer espécie”’.
Já o reformador de Genebra, Calvino, foi mais longe quando
escreveu em suas famosas Institutos: “Estes três (pontos), insisto, importa
observar não negligentemente: (primeiro,) que tudo quanto a mente concebe a
Seu respeito, tudo quanto a língua profere, saiba a Sua excelência e
corresponda à sagrada sublimidade de Seu nome, afinal, seja adequado a
exalçar lhe a magnificência. (Segundo,) não abusemos, temerária e
pervertidamente, de Sua santa Palavra e de (Seus) venerados mistérios, seja a
serviço da ambição, seja a serviço da avareza, seja a serviço dos divertimentos
nossos. Pelo contrário, uma vez que trazem impressa (em si) a dignidade do
Seu nome, tenham sempre entre nós sua honra e apreço. Finalmente, não lhe
difamemos ou desacreditemos as obras, como contra Ele costumam
contumeliosamente vociferar homens miseráveis; ao contrário, tudo quanto
rememoramos (como) feito por Ele, celebremo(-lo) com os louvores de
sabedoria, de justiça (e) de bondade”.
A exposição do significado completo do terceiro mandamento
implicaria em um estudo profundo do nome de Deus em toda a Bíblia. Para os
judeus, o nome está intimamente ligado à pessoa, indicando seu caráter ou o
caráter de seu pai (Êx 3.13; Mt 1.21), ou ainda denotando a posição e função
de quem traz o nome (Êx 23.21).
Só é possível usar o nome de Deus indevidamente porque Ele
declarou Seu nome aos homens. Em Êxodo 3.13-15 lemos ’ehyeh ’aser ’ehyeh.
’Ehyeh é a primeira pessoa do imperfeito do verbo hebraico hayah, que
literalmente significa “tornar-se”. O imperfeito indica indefinição e, portanto, a
frase pode significar: “eu era quem eu era”; “eu estou sendo quem estou
sendo”; “sou quem eu sou” (Êx 3.14) ou “eu serei o que serei” (Êx 3.12). Neste
nome o Senhor revela Seu caráter imutável, inescrutável, insondável e
incomparável. Deus não muda e nem deseja mudar Seus princípios, Seu
caráter ou Seu eterno plano de salvação (Ml 3.6; Hb 13.8). Embora 'ehyeh
nunca faça parte de algum nome próprio no Antigo Testamento, é usado como
uma forma do nome divino na segunda parte de Êxodo 3.14: “Eu Sou me
enviou a vós outros”. A frase contém todas as vogais necessárias e as
consoantes ficam bem próximas de YHWH (Êx 3.15), que é o nome para o
Senhor. O judeu quase nunca o pronunciava, mas lia as vogais da palavra
adonai, que significa “meu Senhor”, e combinava-as com as consoantes
YHWH, de onde resulta o híbrido Jeová, ou Javé, em português..

I. A versão inibidora e crítica do terceiro mandamento no Antigo


Testamento
O castigo para o mau uso do nome de Deus era severo:
apedrejamento (Lv 24.16). Baseados em Levítico 19.12, percebemos que a
proibição principal era dirigida contra o juramento falso, isto é, usar o nome de
Deus para atestar uma declaração mentirosa. É bom salientar que o terceiro
mandamento não menciona nem proíbe seu uso ponderado, mas o abuso em
juramentos levianos, cerimônias ocultas ou maldições.
Tradicionalmente, os rituais do ocultismo ou as práticas
supersticiosas também são considerados ofensas contra este mandamento (Dt
18.10, 11), pois muitas vezes mencionam a Santíssima Trindade ou o nome do
Senhor. A Palavra de Deus adverte-nos fortemente contra os prognosticadores
(Lv 19.31).

II. A versão positiva e construtiva do terceiro mandamento no Antigo


Testamento
Como vemos em 2 Samuel 2.27, este mandamento não exclui a
recorrência ao nome do Senhor em juramentos verazes e solenes. Na verdade,
ao asseverar por Ele, e não por qualquer outro deus, a pessoa que fazia os
votos mostrava que era um adorador de Javé (Jr 4.2). Fora dos juramentos
verazes, o nome de Javé era pronunciado apenas uma vez por ano, quando o
sumo sacerdote abençoava o povo no grande dia da expiação (Lv 23.27).
Podemos invocar o nome de Deus nas angústias. Também podemos invocar
Seu nome clamando por socorro e salvação. A Palavra de Deus encoraja-nos a
invocá-lO (SI 50.15).

III. A versão inibidora e crítica do terceiro mandamento no Novo


Testamento
Os judeus queriam matar Jesus porque, na opinião deles, Cristo
violava o sábado e dizia que Deus era Seu Pai, fazendo-Se igual a Ele. Isso O
tornava merecedor de morte por apedrejamento (Lv 19.12).
João relata outro exemplo da versão negativa deste mandamento
(10.33). Os judeus estavam prontos para apedrejar Jesus por blasfêmia, pois
Ele tinha alegado que as obras que fazia eram obras de Seu Pai. Isso indicava
que era Seu Filho e, conseqüentemente, Deus. Mas Jesus usou o Salmo 82.6
como resposta: “Sois deuses, sois todos filhos do Altíssimo”.
No grande julgamento perante Caifás, os judeus novamente
acusavam Jesus de blasfêmia (Mt 26.65), não aceitando que fosse Filho de
Deus. Caifás acusou-O de sacrilégio, mas não O condenou, porque os judeus
não possuíam autonomia política; caso contrário, Jesus teria sido apedrejado
como mandava a lei (Lv 19.12), e não crucificado. IV.

IV. A versão positiva e construtiva do terceiro mandamento no Novo


Testamento
Encontramos na oração dominical uma versão clássica do uso
correto do nome de Deus. Ali não se fala em proibir o uso do nome de Deus,
mas em santificá-lo. O nome de Deus não precisa ser literalmente santificado
porque o Senhor já é santo por Sua própria natureza, mas nossa atitude em
relação a tal nome necessita de santificação. Santificar o nome do Senhor
significa também que os seguidores de Cristo devem viver em santificação (1
Ts 4.3, 7), “sem a qual ninguém verá o Senhor” (Hb 12.14).
Outro equivalente positivo do terceiro mandamento é confessar e invocar o
nome do Senhor (Rm 10.10, 13). O cristão tem o privilégio de apelar para o
Senhor e chamá-lO por Seu nome.

V. A atualização do terceiro mandamento


Conforme Levítico 19.12, uma das aplicações do terceiro
mandamento é o juramento: "... nem jurareis falso pelo meu nome, pois
profanarieis o nome do vosso Deus: Eu sou o Senhor”. O versículo não proíbe
o juramento em si, mas a falsidade nesse ato, caracterizada pelo uso
irreverente do nome do Senhor para dar maior credibilidade a uma afirmação.
O juramento era uma exigência legítima do Antigo Testamento (Nm 30.3; Js
7.17). De fato, encontramos até exemplos condignos na Bíblia. O Senhor jurou
que abençoaria Abraão (Gn 22.15-17; Hb 6.13) e estabelecería o trono de Davi
(2 Sm 3.9). Veja outros exemplos em Lucas 1.73 e em Hebreus 3.11, 18; 7.21.
Em João 9.24, o homem cego de nascença é forçado a jurar, e ninguém o
reprova. Além desses exemplos, encontramos formas como “tão certo como
vive o Senhor” (1 Sm 14.39, 44), “assim me faça Deus” (2 Rs 6.31) ou “tomo a
Deus por testemunha” (2 Co 1.23).
Há também exemplos de juramentos falsos e levianos. A
leviandade de Herodes custou a cabeça de João Batista (Mc 6.23). Em Mateus
23.16, Jesus adverte os fariseus: “Ai de vós, guias cegos! que dizeis: Quem
jurar pelo santuário, isso é nada; mas se alguém jurar pelo ouro do santuário,
fica obrigado pelo que jurou”. Em Mateus 26.74, Pedro nega a Cristo, fazendo
um juramento indigno.
Jesus condena enfaticamente o voto leviano e supérfluo (Mt 5.33-
37). Ele não Se pronunciou contra o juramento em si, mas contra o ato
imprudente. Seu meio-irmão, Tiago, seguiu essa tradição ao escrever: “Acima
de tudo, porém, meus irmãos, não jureis nem pelo céu, nem pela terra, nem por
qualquer outro voto; antes seja o vosso sim, sim, e o vosso não, não, para não
cairdes em juízo” (Tg 5.12).
Baseados em Mateus 5.33-37 e em Tiago 5.12, alguns cristãos,
entre eles os menonitas, consideram que Jesus proibiu totalmente o juramento.
Eles acham suficiente que nossa palavra seja “sim, sim, não, não”. Esta
interpretação idealista nega as outras referências bíblicas que apoiam a validez
do juramento. Lutero e Calvino ensinaram que podemos jurar para o bem e
para a salvação de inocentes: “Na verdade, seria assaz perigoso condenar os
juramentos particulares, que, em cousas necessárias, se empregam sóbria,
santa (e) reverentemente, os quais se apoiam não só na própria razão, mas
também em exemplos. Ora, se aos indivíduos é lícito entre si invocar a Deus
(como) juiz (1 Sm 24.12) em cousa grave e séria, muito mais (o será como)
testemunha. Teu irmão acusar-te-á de improbidade. Por dever de caridade,
esforçar-te-ás por te provares inocente. Ele se não dará por satisfeito com
nenhuma justificativa (tua). Se a tua reputação vem a descrédito por causa de
sua obstinada maldade, sem ofensa apelarás para o julgamento de Deus a fim
de que em tempo manifeste (Ele) a tua inocência. Se pesados são os termos,
invocar por testemunha é menos (que invocar como juiz). Não vejo, portanto,
por que aqui chamaríamos de ilícita a invocação (de Deus) por testemunha”.4
Em muitos países civilizados, existe a possibilidade de se fazer
uma declaração mediante palavra de honra, em vez de juramento diante de
Deus. Nos Estados Unidos, o presidente faz um voto público no momento de
sua posse, colocando a mão em cima da Bíblia e jurando cumprir a constituição
democrática. Já Felipe Gonzalez, o primeiro ministro socialista da Espanha,
quando empossado, usou a expressão “eu prometo”. Gonzalez negou-se a
jurar, não por motivos “bíblicos”, mas por não crer em Deus. Na prática, não
existe muita diferença entre “eu juro” e “eu prometo”; ambas são fórmulas de
juramentos verazes.
VI. A contextualização do terceiro mandamento
Muitas pessoas abusam do nome do Senhor inconscientemente.
Na cultura brasileira, as expressões “meu Deus”, “Deus me livre”, “se Deus
quiser”, “Deus é testemunha”, “juro por Deus” tornaram-se tão freqüentes, e até
populares, que todos acabaram se acostumando. Mas isso não justifica sua
perpetuação. Não estamos postulando uma quebra da cultura, mas, antes, uma
transformação pela presença real de Cristo em nossas vidas. O problema não
está no uso dessas palavras, mas na atitude do coração. Quando bem
pensadas, tais expressões constituem uma oração, manifestam nossa
confiança no Senhor e testificam a sinceridade de nossa fé. Por outro lado, não
resta dúvida de que o uso impensado dessas frases não ajuda em nada; pelo
contrário, revela leviandade para com as coisas sagradas, e é isto o que está
em pauta no terceiro mandamento.

VII Cmo Ter a Certeza de Podermos Usa r o Seu No me?

Talvez você se pergunte: Como posso usar esse nome? Como


posso ter a certeza de ser membro da família de Deus tanto na Terra como no
Céu? Nesse caso, congratulações! De todas as perguntas que alguém possa
fazer na vida, essa é a mais importante.

O Senhor Jesus Cristo nos apresentou a resposta na instrução


que deu aos discípulos. Disse-lhes: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as
nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo” (Mateus
28:19). É através do batismo que adotamos esse santo nome. Que
pensamentos lhe vêm à mente quando ouve a palavra “batismo”?
No primeiro século, as pessoas comuns a usavam para se referir
ao ato de colocar algo na água. Quando João Batista (literalmente, “o
batizador”) começou a batizar as pessoas no Jordão (João 3:23), o rito não era
novo, porque os judeus tinham ritos de purificação nos quais mergulhavam em
tanques de água para lavar suas impurezas.
O apóstolo Paulo também relacionava o batismo cristão a esses
ritos judaicos, chamando-o de “lavar regenerador” (Tito 3:5). Mas, em sua carta
aos romanos, ele acrescentou ao simbolismo uma nova dimensão que o
enriquece grandemente: “Fomos, pois, sepultados com Ele na morte pelo
batismo” (Romanos 6:4). Em outro lugar, Paulo esclarece o que queria dizer,
afirmando: “Estou crucificado com Cristo” (Gálatas 2:19).
A mudança que ocorre quando entregamos a vida a Cristo é tão
grande que não é exagero falar dela como uma “morte” ou mesmo uma
“crucifixão”. É a execução da pessoa pecadora que costumávamos ser.
Quando somos transformados pela renovação do nosso entendimento
(Romanos 12:2), desaparecem os velhos padrões de pensamento
desordenados e destrutivos. Novos gostos e novos valores assumem o
comando. Nossos motivos e alvos são tão diferentes que se pode realmente
afirmar que a pessoa que éramos morreu e uma nova nasceu.
O batismo na água é o sepultamento dessa pessoa morta. Ao
mesmo tempo, é uma celebração do novo nascimento. É o anúncio de um
nascimento, um testemunho visível de algo que é invisível, embora seja muito
real. E é uma forma de anunciar publicamente a nova pessoa, muito diferente,
que agora vive na velha casa.

As Crianças se Parecem com Seus Pai s


Quando nasce um bebê, as pessoas gostam de identificar semelhanças:
– Ele tem o nariz da mamãe – diz um.
– Ele é parecido com minha tia Jane – declara a mãe.
– Não – diz o pai, orgulhoso. – Acho que ele se parece comigo.
Se realmente somos filhos de Deus mediante o novo nascimento, seremos
como nosso Pai celestial. Quando as pessoas puderem dizer a nosso respeito:
“Ele é bondoso e paciente” ou “Ela é humilde e prestativa”, então poderão
acrescentar também: “É realmente um filho ou uma filha de Deus.”
Jesus disse: “Amai os vossos inimigos... para que vos torneis
filhos do vosso Pai celeste” (Mateus 5:44 e 45). Por que o ato de tratar bem a
quem não merece mostra que somos filhos de Deus? Porque Deus é assim.
“Ele faz nascer o Seu sol sobre maus e bons e vir chuvas sobre justos e
injustos” (verso 45).
Isso nos ajuda a entender o significado do terceiro mandamento,
quando diz que não devemos tomar o nome de Deus em vão. Tomar o nome
de Deus em vão é dizer que somos filho ou filha de Deus e continuar com a
mesma vida de antes. Significa adotar esse santo nome sem experimentar uma
genuína mudança em quem somos. Como resultado, equivale a adotar o nome
de uma família sem realmente pertencer a ela.

Quanto Vale um Nome?


Teri Hatcher atribuiu um alto preço ao seu nome quando
processou o jornal londrino Daily Sport. O jornal havia publicado um artigo
declarando que a atriz deixava sua filha de sete anos de idade trancada em
casa enquanto saía com vários amantes. O tribunal concluiu que o periódico
havia difamado o nome dela, e o editor teve de pagar elevado preço pelo dano
que o artigo causara. Um nome s em igual

Quanto você acha que vale o nome de Deus? Quando não


vivemos à altura do nosso compromisso cristão, nós representamos mal a
Deus. Arrastamos na lama o nome da família. O apóstolo Paulo falou de
algumas pessoas que faziam isso nos seus dias, declarando que “o nome de
Deus é blasfemado entre os gentios por vossa causa” (Romanos 2:24).
Também representamos mal a Deus quando usamos o sagrado nome de
maneira leviana e frívola ou o empregamos em expressões vulgares e
obscenas. Quando fazemos isso, dizemos a todos que o nome de Deus não é
santo, que não tem valor nem importância para nós. Seria ainda mais grave
usar o nome de Deus para afirmar algo que é falso, ou deixar de cumprir uma
promessa que fizemos em Seu nome.

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