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dis·rup·ção
substantivo feminino
Tanto na pedagogia quanto nas artes, não cabe mais ignorar o sujeito que
está em jogo. Convidar as experiências pessoais para o jogo é também instigar
um pensamento mais crítico sobre si e sobre o mundo. Todas as partes do
processo “tradicional” numa partida de RPG podem e devem ser questionadas.
Da função do “mestre/narrador/condutor/etc.” do jogo ao próprio formato
físico (ou digital) em que o jogo se apresenta.
Nós dos Cronistas das Trevas acreditamos que não cabe mais, em pleno
2021, apoiar jogos que insistem em estereótipos preconceituosos de pessoas,
grupos étnicos e culturas humanas reais com a pífia desculpa do “é só um
jogo”. Isso, inclusive, sempre vem junto com uma boa dose de falta de
pesquisa e generalizações, em especial quando se trata de um grupo
marginalizado.
Acreditamos também que não é possível dar espaço para jogos que insistem
na figura do “mestre” e da aleatoriedade como árbitros únicos para a
progressão da narrativa¹, sem contar na defasada binariedade entre sucesso e
falha, essa última sempre uma interrupção brusca na narrativa.
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Em um ano marcado por genocídio, pandemia, redução do poder de compra
e outras mazelas, entendemos que o lazer precisa ser acessível². Capa dura e
papel couché são bonitos mas são secundários ao objetivo principal que é a
sessão de jogo em que se constrói uma narrativa em grupo.
Por fim, sabemos que todo jogo é político, mas, infelizmente, poucos jogos
sabem e reconhecem isso. É nosso objetivo apoiar e dar espaço aos RPGs
questionadores do status quo, que apresentam a periferia como protagonista,
que vão ativamente contra as estruturas opressivas do capitalismo neoliberal,
que colocam em xeque os papéis tradicionais do jogo e de toda sua estrutura
de produção. Queremos RPGs que provoquem a disrupção “do discurso
normalizante de forma a fornecer espaço para uma linguagem de
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possibilidade" (MILLS, 1997). Uma linguagem de possibilidade é justamente
algo que não encontramos nos jogos mais “clássicos” ou feitos por boa parte
das “grandes editoras”.³
Bibliografia
CARDOZO, Guilherme Lima. O Pós-Estruturalismo e suas influências nas
práticas educacionais: a pesquisa, o currículo e a “Desconstrução”. In:
Pensares em Revista, 2014, n. 4, pp.118-134. <Disponível em:
https://www.e-
publicacoes.uerj.br/index.php/pensaresemrevista/article/view/14117>
CHAKRABORTY, Mridula Nath. Disruption. In: Cultural Studies Review.
2019, v. 25, n. 2, pp. 296-299. <Disponível em:
https://epress.lib.uts.edu.au/journals/index.php/csrj/article/view/6931>
FREIRE, Paulo. Alfabetização de adultos e conscientização. In: Educação e
Mudança. São Paulo: Ed. Paz e Terra, 1979.
MILLS, Martin. Towards a disruptive pedagogy: Creating spaces for student
and teacher resistance to social injustice. In: International Studies in
Sociology of Education. 1997, v.7, n.1, pp. 35-55 <Disponível em:
https://www.tandfonline.com/doi/pdf/10.1080/09620219700200004?
needAccess=true>