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FICHAMENTO DO TEXTO LINGUAGEM: INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA

FALA POR EDWARD SAPIR.

CAPÍTULO IV:

Ao observar em língua a unidade morfológica, a existência de uma independência de


forma e função é observada de perto. Ao comparar a palavra inglesa _unthinkingly_
(que pode ser traduzida como sem pensar e é um advérbio) com a palavra _reformers_
(que pode ser traduzida como reformador e é um substantivo), verifica-se que elas
diferem em termos de classe gramatical e campo semântico completamente diferentes É
a natureza. Mas, estruturalmente, eles têm os mesmos processos gramaticais. Ambos
têm o prefixo (-un, -re), ambos derivam de um verbo independente (pensar, formar).
Ambos terminam em dois elementos (-ing, -ly, -er, -s) que limitam a aplicação do
conceito radical em um sentido relacional. O contrário, ou seja: duas palavras
provenientes de processos gramaticais completamente diferentes, mas com a mesma
função, campo semântico e ideia também são percebidos na linguagem. Se você olhar o
exemplo de _unthinkingly_ e _ Thoughtless_ em inglês, que expressam a mesma ideia
(ausência de pensamento), mas através de processos gramaticais completamente
diferentes. Um se baseia em um verbo _pensar_ e outro em um substantivo _pensiero_,
que é essencialmente gerado pelo prefixo e recebe os dois elementos anteriores a
posteriori, outro é formado pelo sufixo e não possui elemento à frente.

No caso do inglês – goose – gesse - foul. sing – sang – sung. É possível provar que
esses são processos completamente diferentes na história. Como um tipo específico de
processo gramatical, o processo paralelo óbvio de goose e geese é que as vogais
alternadas de sing e song existem há séculos. Quando o goose e formas semelhantes
foram formados, o inglês existia (ou existiu uma vez), o que era uma tendência inerente
de usar mudanças vocálicas como um método de linguagem importante. Se não houver
tipos vogais alternantes existentes, como sing, sang e sung, é muito duvidoso que as
condições especiais que levaram à evolução dos goose, teeth, goose e tooth (plural de
dente) sejam capazes de induzir a experiência da língua das pessoas locais. Reconheça
que essas novas formas plurais são psicologicamente aceitáveis.

Cada linguagem possui um ou mais métodos formais para indicar a relação entre
os conceitos secundários e os conceitos radicais básicos. Alguns dos processos
gramaticais (como sufixos) são muito semelhantes. Outras, como as mutações vocálicas,
são menos comuns, mas longe de serem raras. Outros, como consoantes e acusações,
são anormais até certo ponto. Ao atribuir funções a processos gramaticais, nem todos os
idiomas são tão irregulares quanto o inglês. Normalmente, conceitos mais básicos, como
plurais e tempo, são expressos apenas de uma maneira; mas há muitas exceções a essa
regra, portanto, não podemos generalizá-la como um princípio. Não importa aonde
vamos, ele enfatiza o fato de que padrões formais são uma coisa, e outra coisa é seu uso.
Mais exemplos de múltiplas expressões da função idêntica em outros idiomas além do
inglês, concorrerão para auxiliar no conceito de liberdade relativa entre função e forma
mais vívido.
CAPÍTULO V:

Há nas línguas uma propriedade curiosa de independência entre o conteúdo que


forma uma sentença e sua estrutura. Isso se verifica ao ter em vista a sentença “the
farmer kills the duck” uma vez que substituindo o verbo “kill” pelo verbo “kill” a
estrutura sentencial é idêntica. No entanto há diversas alterações as quais uma vez feitas
acarretariam em outras mudanças cada uma delas com diferenças entre si. Vide os
exemplos:

a) ocultação mútua do “the” e do “-s”: caso isso seja feito a sentença torna-se
“farmer kill the duck”. Deixando de ser uma afirmação e passando a ser uma
pedido.
b) alteração de ordem dos itens sentencias: caso a sentença passe a posicionar-se
como “kills the farmer the ducking” ela passa a ser uma maneira insólita de fazer
uma pergunta.

Isso acontece, pois as palavras por sua vez carregam consigo diversos conceitos, os
quais possuem naturezas igualmente distintas entre si. Os quais se subdividem em: I-
conceitos fundamentais: objetos, ações e qualidades, os quais por sua vez não implicam
em relações. II- conceitos radicais: são as expressões dos processos gramaticais tais
como sufixação, prefixação e outros. III- conceitos fundamentais de relação: indicam
relações que transcendem ao vocábulo aos quais estão ligados, estabelece relação do
vocábulo ao qual se ligam com outro. IV- conceitos puros de relação: puramente
abstratos, dedicam-se a relacionar os elementos concretos de uma sentença.

Ante a esses conceitos há entre os linguistas um grande questionamento a


respeito de quais são realmente essenciais à linguagem e quais não são. Os conceitos de
ordem I são essenciais a qualquer língua de igual forma da ordem IV. Os conceitos II e
III são comuns a todas as línguas naturais mas não fundamentais, especialmente os do
grupo III, os quais constituem uma confusão no psicológico comum dos falantes entre
os conceitos II e IV e também entre os conceitos I e IV. Esse por sua vez e totalmente
dispensável.

Geralmente, quanto mais abrangente a lingua estudada, mais difícil e arbitrário


é distinguir o primeiro e o segundo grupos. Quando você passa do primeiro grupo para
o quarto grupo, não apenas o conceito de concreto desaparece gradualmente, mas
também desaparece à medida que a realidade sensível dentro do próprio grupo de
conceitos de linguagem continua a diminuir. Portanto, em muitas línguas, é quase
inevitável realizar várias subcategorias para separá-las, por exemplo, da categoria mais
abstrata do segundo grupo. No entanto, devemos sempre ter o cuidado de não incluir
essa relação puramente formal neste grupo abstrato. A menos que haja evidências
indiscutíveis, é difícil para nós não incluir certos conceitos abstratos na terceira
categoria.

CAPÍTULO VI:
Há uma diferença entre as línguas, as quais são tão vastas que é possível rotular
as línguas naturais em categorias morfológicas. No entanto o procedimento de
classificação das línguas partindo de sua natureza morfológica é de extrema dificuldade.
Sendo elas: a) a imprecisão quanto à base de classificação das línguas; b) a ausência de
um número vasto de línguas nas análises que foram elaboradas; c) uma classificação
quase que canônica entre os linguistas firmada em dois polos, que podem ser
exemplificados pelas línguas chinesa e latina e partir de suas diferenças efetuar o
agrupamento das línguas em: isolantes, aglutinantes, flexionais e polissindéticas; d) um
grande preconceito entre os estudiosos que fora alimentado pelas teorias darwinistas, o
qual visa traçar uma escala evolutiva entre as línguas, considerando morfologias mais
próximas do latim e do grego clássico como superiores e as de línguas exóticas como
primarias.

Ante a essas dificuldades os linguistas tem proposto diversos fundamentos para a


classificação, dentre eles destaca-se o critério de presença ou ausência de forma externa
nas línguas, categorizando-as, portanto em: mórficas e amórficas. A forma externa
consiste no apresentar itens formais e puros, a forma interna consiste na propriedade de
expor o sentido das relações, de sujeito e objeto, de predicado e atributo, dentre outras.
O grande impasse dessas classificações é que há certa ilusão na ausência de forma
interna, não é por não se comportarem do mesmo modo do chinês e do latim que essas
línguas não tenham uma sensibilidade aguçada quanto às relações fundamentais.

O segundo critério consiste na classificação processos gramaticais. Com base nesse


princípio línguas cujos vocábulos sempre estiveram identificados a um radical,
configuram-se línguas isolantes. Por sua vez línguas que realizam afixação de seus
modificadores, ou que apresentam a propriedade de mudar o radical em processo
interno a ele, por exemplo: reduplicação, alternância vocálica ou consonantal,
alternância de quantidade, de intensidade, de altura, a essas línguas classifica-se como
línguas de afixionais. Essas podem ser divididas em línguas de prefixação, as quais
antepõem o seus infixos e de sufixação, que pospõem seus infixos. No entanto há dois
principais problemas nesse critério de classificação: muitas línguas costumam estar
inclusas em dois dos critérios e a classificação agrupa línguas naturais de
comportamentos evidentemente distintos apenas por conta dos processos gramaticais.
Há também o critério de diferenciação entre línguas analíticas e sintéticas, as
línguas analíticas são aquelas que marcam as suas funções sintáticas pela posição de
palavra na sentença e por sua relação com as outras palavras. Já as línguas declinadas
marcam as funções sintáticas na própria palavra. Sendo, portanto a sentença de
importância primacial para as línguas analíticas e de importância secundária para as
línguas declinadas. Essas distinções no entanto são úteis para classificar tendências
internas à própria língua e não para rotula-las em grandes classes.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

SAPIR, Edward. A Linguagem: Introdução ao estudo da Fala. 2. ed. Tradução: J.


Mattoso Câmara Jr. São Paulo: Perspectiva, 1980.

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