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EXU

Orixá, como os demais, apenas com valores morais menos


rígidos. Sua missão é ser mensageiro entre os homens e os
demais Orixás, e entre estes e Olodumare (Deus).

Aventureiro, sensual, inteligente, de raciocínio rápido,


volúvel, brincalhão, não é muito escrupuloso.

Me lembra o LUIZ CARLOS FERREIRA de Santos, por seu


espírito brincalhão e sua argúcia.

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POR QUE SE PRESENTEIA EXU EM PRIMEIRO LUGAR


Exu era um príncipe do Congo. Por temperamento era brigão e meio retardado, mas não era de todo má
pessoa.

Um dia Exu morreu. A partir de então, nada dava certo. Os sacrifícios, as oferendas, as festas religiosas,
sempre geravam algum problema. As preces não eram atendidas, epidemias dizimaram todos os rebanhos, as
colheitas secaram, os homens adoeceram e as mulheres ficaram estéreis.

Consultado Ifá, para saber que tabu tinha sido violado, este respondeu que Exu tinha ciúmes, e queria uma
parte das oferendas.

Mas quem era esse Exu? Aquele pretinho chato, que vivia brigando e desafiando a todos.

E foi assim que, daquela época em diante, não se pode fazer absolutamente nada, seja sacrifício, festa ou
obrigação, sem que Exu receba suas oferendas em primeiro lugar.

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O ARDIL DO REI ALUMAN PARA EXU SALVAR SUAS TERRAS

As terras de Aluman estavam sendo castigadas por uma grande seca. Os rios transformaram-se em campos
cobertos de folhas secas, as plantações secaram e viraram terrenos áridos.

Ele pediu a todos os Orixás, mas nada aconteceu. Lembrou-se então de recorrer a Exu.

Preparou uma oferenda de carne de bode, a preferida de Exu, temperada com muita pimenta. Exu comeu tudo
com apetite, avidamente, e ficou cheio de sede.

A sede era tanta que ele bebeu toda a água de sua casa, depois acabou com toda a água da vizinhança. Mas a
sede continuou, e Exu abriu a torneira da chuva, para ter água à vontade.

Choveu por vários dias, sem parar. As terras de Aluman ficaram verdes, os rios corriam cheios de peixes, e
todos os vizinhos, que também receberam o benefício, cantaram e festejaram.

A chuva havia sido suficiente. Reconhecido a Exu, e com medo de perder novamente as colheitas, agora por
excesso de água, Aluman fez nova oferenda a Exu, de carne de bode, agora com o tempero certo, e pediu-lhe
para fechar a torneira da chuva.
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COMO EXU SEMEOU A DISCÓRDIA ENTRE DOIS GRANDES AMIGOS

Havia dois amigos que foram criados juntos desde pequenos. Seus pais eram vizinhos, e eles brincavam
juntos. Eram confidentes e inseparáveis.

Exu, ao ver aquela velha amizade, praticamente indestrutível, resolveu divertir-se, semeando a discórdia entre
os dois.

As terras dos amigos eram vizinhas, separadas apenas por um pequeno caminho, e todos os dias eles
trabalhavam em seus campos, cada um do seu lado, e conversavam para passar o tempo.

Exu colocou um gorro vermelho de um lado e branco do outro, disfarçou-se de forasteiro, e passou pelo
caminho entre os campos, cumprimentando gentilmente os dois rapazes, que trabalhavam.

Passados alguns instantes, um comentou a gentileza do forasteiro de gorro vermelho, ao que o outro retrucou
que o gorro era branco. O primeiro voltou a insistir na sua afirmação; o segundo permaneceu firme na
retificação.

Como os dois eram de boa fé, sustentaram seus pontos de vista, cada um achando que o outro era mentiroso e
estava querendo desmoralizá-lo.

Defenderam suas verdades com ardor, depois com raiva. Acabaram se atracando e mataram-se a golpes de
enxada.
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COMO EXU CASTIGOU A QUEM NÃO LHE FEZ OFERENDAS

Uma mulher vendia seus produtos no mercado, sem se preocupar com as oferendas habituais devidas a Exu.

Para dar-lhe uma lição, Exu incendiou sua casa, enquanto ela trabalhava no mercado.

Os vizinhos foram chamar a mulher, que saiu correndo para casa, sem se preocupar com a mercadoria.

Quando lá chegou, tudo estava destruído, não restou nada. Desesperada, lembrou que tinha abandonado a
barraca, e voltou correndo ao mercado.

Chegou tarde novamente. Um ladrão tinha roubado tudo.

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COMO NASCEU EXU


As histórias dos mais velhos nos contam que no início dos tempos só existia o ar. OLORUN, o deus supremo,
era uma massa infinita de ar. Quando começou a se mover lentamente e respirar, uma parte do ar foi
transformada em água, originando OXALÁ, o grande Orixá do branco.

O ar e a água se moveram ao mesmo tempo, e uma parte transformou-se em lama, e dela brotou um
montículo, que foi a primeira matéria dotada de forma - um rochedo lamacento e avermelhado, de laterita.

Olorun soprou seu hálito sobre o montículo, dando-lhe vida. Foi a primeira forma com existência própria - o
proto-exu.

Exu é o primeiro ser criado, o símbolo do elemento procriado. Em seguida, por formas diferentes, é que
surgiram os outros Orixás.

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COMO EXU SE TORNOU O REPRESENTANTE DE ORUNMILÁ

Exu era filho de Orunmilá. Olodumare, o Deus supremo, Rei-de-tudo-que-existe, mandou Orunmilá descer
ao mundo para tomar conta de todas as pessoas e coisas.

Havia muitos Orixás, mas Exu destacava-se em tudo; era o mais forte, inteligente e atirado. Além disso era
muito mau, por qualquer coisa se vingava, e não gostava de ser contrariado.
Nas reuniões tomava a frente de tudo, e brigava com todos. Os outros, com medo dele e para não se
aborrecerem, deixavam-no fazer o que quisesse.

Por esse motivo Exu passou a ser o representante, o mensageiro dos Orixás, e o representante de Orunmilá.

Mais tarde houve uma disputa entre Exu e Oxalá para determinar qual era o mais respeitável. Oxalá provou
sua superioridade, apoderando-se da cabaça onde estava o poder de Exu, e transformando-o assim em seu
servidor. Da mesma forma numa disputa com Obaluaiê, Exu foi derrotado.

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COMO EXU PROMOVEU UM MASSACRE NA CIDADE

Conta a lenda que Exu foi procurar uma rainha que era desprezada pelo marido, e se propôs a preparar um
amuleto que faria o rei voltar a amá-la. Pediu-lhe apenas uns fios de barba do rei, cortados com uma faca.

Procurou em seguida o príncipe herdeiro, filho da rainha, que morava num palácio distante e o convenceu de
que o rei ia partir para uma guerra e tinha mandado chamá-lo, juntamente com seus guerreiros.

Finalmente foi ao rei e disse que a rainha, ferida pela frieza dele, planejava matá-lo naquela noite.

Quando anoiteceu, o rei deitou-se e fingiu dormir. Logo viu a rainha entrar com uma faca na mão e
aproximar-se de sua garganta. Claro que ela queria apenas uns fios de barba, mas ele acreditou que ela fosse
matá-lo.

O rei a desarmou, e começaram a discutir e brigar, fazendo muito barulho.

O príncipe, que chegava com seus guerreiros, ouviu os gritos da mãe e viu o pai com uma faca na mão,
julgando que ele ia matá-la.

O rei, ao ver o filho e seus guerreiros, armados, entrando em seu palácio, acreditou tratar-se de uma invasão
para matá-lo e tomar o poder. Gritou por socorro, e seus soldados imediatamente acudiram.

Essa grande confusão gerou um massacre que acabou com a família real e seus guerreiros.
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EXU, FILHO DE ORUNMILA

Olodumare mandou Exu para auxiliar Oxalá. Por sua vez Orunmilá, desejoso de ter um filho, foi
procurar Oxalá, que criava os seres. Este mandou-o voltar em um mês. Orunmilá impaciente, pediu
para levar aquele que estava no porta de casa, que era Exu. Oxalá explicou que Exu não podia ser
mimado, mas diante da grande insistência de Orunmilá, acabou concordando.

Orunmilá deveria colocar suas mãos sobre Exu e sua mulher Yebíìru, conceberia um filho. A
criança seria o próprio Exu, Alagbara, senhor do poder.

Assim que a criança nasceu Orunmilá pronunciou seu nome, e Exu respondeu: “Mãe, mãe, eu quero
comer preás!” Orunmilá reuniu todas as preás que encontrou, e Exu comeu-as todas. No dia
seguinte Exu quis comer todos os peixes, e no terceiro dia todas as aves. Ele chorava e gritava, e
Orunmilá fazia-lhe as vontades. No quarto dia disse que queria comer carne, e o pai lhe trouxe
todos os quadrúpedes. Mas Exu não se satisfazia, e continuava a chorar.

No quinto dia, Exu disse: “Mãe, mãe, eu quero comê-la” e a mãe respondeu: “Filho, come, come”.
Exu engoliu a própria mãe. Orunmilá correu a consultar Ifá, que recomendou uma oferenda, que
ele deu. No sexto dia Exu disse: “Pai, Pai, eu quero comê-lo”. Ao se aproximar, Orunmilá pegou a
espada e o partiu em pedaços, que se espalharam e se transformaram em laterita.

Os pedaços se juntaram e o que restou dele levantou-se e fugiu pelos nove espaços do céu (orun),
que ficaram povoados de exus. No último espaço, Exu fez um acordo com Orunmilá: Este parava
de perseguí-lo, e todos os exus executariam as ordens de Orunmilá e o ajudariam, como se fossem
seus verdadeiros filhos. Orunmilá pediu e Exu devolveu Yébíìru. Eles foram morar em Iworo, e ela
deu à luz muitos filhos, de ambos os sexos.

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COMO ELEGGUÁ (EXU) CUROU OLORUN

Lenda latino-americana

Conta a lenda que, assim que começou a andar, Elegguá acorrentou as mãos do pai e fugiu de casa. Cresceu
sozinho e tornou-se amigo de Ogún, com quem compartilhou inúmeras aventuras.

Certa vez, Olorun-Olofi adoeceu, e não podia trabalhar. Todos os Orixás tentaram curá-lo, mas foi em vão.

Exu era ainda uma criança, mas pediu para que o levassem até ao Criador, porque ele sabia como curá-lo.
Imediatamente levaram-no a Olorun-Olofi.

Exu fermentou uma bebida de ervas, que o Criador bebeu. Em poucas horas Olorun-Olofi recuperou a saúde
e a força. Ficou eternamente grato a Exu e mandou comunicar a todos os Orixás que a partir daquele
momento Exu seria o primeiro a ser homenageado em qualquer cerimônia. Deu ainda a Exu uma chave de
todas as portas, e nomeou-o guardião de todas as ruas.

Para alguns Elegguá é filho de Iansã, para outros é filho do espírito solitário Alabbgwanna.

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COMO EXU SE TORNOU O MENSAGEIRO DE TODOS OS ORIXÁS

Esta história foi contada pelo Odu Oxetuá.

Exu tentava apoderar-se do comando dos Orixás, e foi consultar Ifá, através dos Babalaôs, para
saber como realizaria seu desejo. Todos disseram que Exu deveria fazer uma oferenda que incluía
penas de papagaio vermelho (ecodidé). Feita a oferenda os Babalaôs deram uma pena ecodidé a
Exu para que ele a usasse, e recomendaram que ele não deveria colocar nenhum carrego na cabeça
pelo menos por três meses.
Acontece que o efeito da oferenda fez com que Olodumare tivesse a idéia de saber qual Orixá
estava zelando melhor pelo mundo, e convocou todos os Orixás para uma reunião. Todos
começaram a se preparar, e reunir os presentes que levariam para Olodumare. Partiram em fila, e
Exu, que não podia carregar nada, colocou seu ecodidé na cabeça e foi junto com os demais.

Ao chegarem, Olodumare fitou-os e sem perguntar nada leu em seus corações como eles se
conduziam. Chamou aquele que estava com ecodidé, e disse que ele era o que conseguiu reunir
todos os habitantes da Terra, e que conduziu todos os Orixás com seus carregos. Exu não disse
nada, só “Axé”.

Olodumare disse a todos que ao chegarem a suas casas deveriam procurar Exu sempre que
precisassem enviar-lhe uma mensagem ou sugestão. Todos concordaram, e Exu, por ordem de
Olodumare, foi quem os conduziu de volta à Terra. Todos festejaram o acontecimento junto com
Exu.

Os outros Orixás começaram a imitá-lo, usando ecodidé na cabeça como símbolo de axé, durante
rituais e sacrifícios. Foi assim que Exu se tornou Asiwajú - aquele que vai à frente dos demais.

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