Você está na página 1de 1

Aluna: Liviane Fontenele Gomes - Direito (diurno) Nº de matrícula: 537594

TEXTO SOBRE A COMISSÃO ESPECIAL DE ANISTIA WANDA SIDOU (CEARÁ)


A Comissão Especial de Anistia Wanda Rita Othon Sidou, criada em 2002, tem como função
primordial o julgamento de denúncias de perseguições políticas ocorridas no território cearense
durante a ditadura militar, instaurada em 1964 e perpetuada até 1985. A comissão
responsabiliza-se por intermediar uma sessão de julgamento com ex-presos políticos, na qual são
apresentadas provas, e, provada a perseguição, este ou a família dele, no caso dos falecidos,
receberá uma indenização. Além disso, os anistiados recebem, juntamente com a quantia -que
varia de 5 a 30 mil reais-, o perdão do Estado como reconhecimento dos danos causados. Esta
ação, embora simbólica, é de extremo valor para as vítimas deste episódio cruel da história do
Brasil, para os familiares e para o povo brasileiro, pois ajuda a manter na memória o
reconhecimento das atrocidades cometidas contra os cidadãos nesse período.
Mormente, é indispensável reconhecer aquela que, por grande mérito, foi postumamente
homenageada no nome desta comissão. A Dra. Wanda Sidou, advogada e militante política, foi
reconhecida por estar além do seu tempo e se destacou por defender os presos políticos cearenses
no período ditatorial. Ela foi um exemplo de coragem e força, buscando e defendendo a garantia
de liberdade e democracia aos brasileiros em um cenário onde a opressão, a perseguição e as
torturas dominavam o país. A Dra. Wanda não se desanimou pelas tentativas de calar a sua voz,
abraçava a causa dos presos considerados indefensáveis e fazia isso voluntariamente movida,
apenas, por seu senso de justiça e determinação. Desse modo, infere-se a extrema relevância
atribuída a ela pela máxima do professor Dr. Cid Sabóia de Carvalho a seu respeito: “Os novos
advogados devem conhecer a trajetória de pessoas assim, a fim de que a difícil arte, que é a
nossa, nunca se deixe manipular pela fraqueza ou pela covardia”.
Outrossim, cabe mencionar que o Ceará é o único estado do país que ainda mantém ativa uma
comissão para julgar processos de anistiados políticos. Nesse sentido, se por um lado é positivo
possuir uma comissão ativa para cumprir esta finalidade. Por outro, é negativo um país como o
Brasil, que vivenciou um regime militar tão cruel, possuir apenas um estado com medidas para
reconhecer as atrocidades causadas, pelo sistema vigente na época, aos cidadãos. Como resultado
dessa insuficiência, fragmentos da ditadura ainda circulam pela sociedade e se fazem presentes
em falas como: “Bom era no tempo da ditadura, ninguém nem ouvia falar de notícia ruim”. Sob
essa ótica, esse tipo de notícia não circulava porque o sistema político era opressor e não permitia
a ninguém o direito de se expressar de forma contrária ao regime. No contexto hodierno,
paradoxalmente, pessoas utilizam de um recurso exclusivo do sistema democrático, o direito à
liberdade de expressão e a manifestação, para reivindicar um regime ditatorial e opressor.
Desprovido de sentido lógico, esse tipo de pensamento ainda consegue respaldo e é impulsionado
pelo governo atual que, constantemente, tem utilizado seu poder para atacar a democracia.
Destarte, é possível relacionar o episódio do regime militar com o juspositivismo de Hans
Kelsen, uma vez que os comportamentos opressores estavam protegidos pela lei do período, o
AI-5. Nesse sentido, é preciso analisar os limites do poder das leis quando estas são injustas e
desumanas, no caso das torturas. Por analogia, esse mesmo argumento juspositivista extremo, de
que estavam cumprindo as leis vigentes, foi utilizado no julgamento de Nuremberg para justificar
os comportamentos desumanos daqueles que colaboraram com o regime nazista e a exterminação
em massa do povo judeu em campus de concentração. Portanto, diante desse cenário, é urgente e
primordial que, para a manutenção e permanência da democracia, as instituições públicas
abandonem a inércia quanto à promoção de informações acerca do regime militar. É essencial
parar de colocar esse período histórico“debaixo do tapete” e prestar informações confiáveis e
verídicas aos cidadãos sobre o assunto. Destarte, no tocante a frase de Edmund Burke de que é
preciso conhecer o passado para não repetí-lo, é necessário divulgar e relembrar as torturas e
atitudes violentas e opressoras propagadas durante o período da ditadura. Com o fito de combater
os favoráveis a esse tipo de regime e evitar que ele vigore novamente.

Você também pode gostar