NOTA BREVE

DESEMPENHO DE CORDEIROS CRUZADOS EM ALAGOAS,

BRASIL*
PERFORMANCE OF THE CROSSBREED LAMBS IN ALAGOAS, BRASIL

Rocha, L.P.1, A.B. Fraga2A, J.T. Araújo Filho2B, R.F. Figueira3, K.M.G. Pacheco4A, F.L. Silva4B
e D.S. Rodrigues5

1
Centro de Ciências Agrárias. Universidade Federal da Paraíba. UFPB/CCA. Areia-PB. Brasil.
lucianazte@hotmail.com
2
Universidade Federal de Alagoas. UFAL/CECA. Rod 104, km 85. Zona Rural de Rio Largo, CEP 57100-
000 Rio Largo. Alagoas. Brasil. Aangelina@ceca.ufal.br; Bhircus4@gmail.com
3
FEJAL-CESMAC. Centro de Estudos Superiores de Maceió. Brasil. ricardofelippe@globo.com
4
Centro de Ciências Agrárias. Universidade Federal de Alagoas. UFAL/CECA. Rio Largo-AL. Alagoas.
Brasil. Akmgpacheco@ig.com.br; Bfabianezte@yahoo.com.br
5
Área de Concentração Melhoramento Animal. Universidade Federal do Ceará. UFC/PCI. Fortaleza. Ceará.
Brasil. daliane27@hotmail.com

PALAVRAS CHAVE ADICIONAIS ADDITIONAL KEYWORDS

Peso ao nascer. Cabugi. Dorper. Santa Inês. Birth weight. Cabugi. Dorper. Santa Inês.

RESUMO
O objetivo deste trabalho foi avaliar cordeiros
provenientes de cruzamentos e estimar alguns
efeitos de ambiente que afetam o desempenho
desses animais em um plantel de ovinos deslanados
no Estado de Alagoas. As características
estudadas foram peso ao nascer, aos 15, 30 e 45
dias de idade. Foram incluídos os efeitos de tipo de
parto (simples ou múltiplos), sexo do produto,
genótipo (Santa Inês (SI), Dorper x Santa Inês
(DxSI), Cabugi x Santa Inês (CxSI) e Mestiço x
Santa Inês (MxSI)) e grupo de contemporâneos
(mês e ano de nascimento) em 128 informações
de parições. As médias de peso ao nascer para
os cordeiros SI, D x SI, C x SI e M x SI foram de 3,32;
3,59; 2,95 e 3,28 kg, respectivamente. As médias
de peso aos 45 dias de idade para os cordeiros SI,
D x SI, C x SI e M x SI foram 9,09; 9,17; 10,58 e 9,08
kg respectivamente. O efeito de tipo de parto foi
significativo para todas as variáveis em estudo
indicando que animais oriundos de partos simples
apresentaram pesos superiores na pré desmama.
Os efeitos de sexo e genótipo não foram signifi-
cativos para nenhumas das características. O
*Apoio financeiro da Fundação de Apoio à Pesqui-
sa do Estado de Alagoas-FAPEAL.
grupo de contemporâneos foi significativo apenas
para peso ao nascer.
SUMMARY
The aim of the study was to evaluate crossbred
lambs and to estimate some environment effects
which affect the performance of those animals in
Alagoas state, Brazil. The traits studied were birth
weight, weight at 15 days, weight at 30 days and
weight at 45 days. In 128 calving informations, the
effects of type of birth, sex of lambs, genotype
and contemporary group (year, month of birth)
were included. The effects of type of birth were
significant for all traits studied. Animals from single
birth were weighter than double birth ones. The
effects of sex and genotype weren't significative
for any trait. The contemporary group (year, month
of birth) was significant only for birth weight.
INTRODUÇÃO
O NE brasileiro apresenta um rebanho
com, aproximadamente, 9,04 milhões de
cabeças de ovinos ocupando a primeira
posição no contexto nacional, com 56% do

Recibido: 3-5-07. Aceptado: 17-5-07. Arch. Zootec. 58 (221): 145-148. 2009.

 ROCHA, FRAGA, ARAÚJO FILHO, FIGUEIRA, PACHECO, SILVA E RODRIGUES
rebanho ovino no Brasil (Anualpec, 2005).
O interesse do consumidor de carne por
alimentos de origem da ovinocaprinocultura
tem se tornado cada vez mais evidente.
Provavelmente, por conta da sua qualidade
organoléptica, seu valor nutritivo e
palatabilide. Apesar do elevado potencial
para produção, o setor ainda não apresenta
índices satisfatórios de produção em virtude
do manejo inadequado, acarretando baixa
eficiência dos sistemas de produção tendo
como principais prejuízos o abate de animais
em idades avançadas e ausência de
padronização de carcaça.
Os cruzamentos visam explorar os
benefícios da heterose nas características
econômicas, especialmente naquelas em que
a seleção individual ou massal é pouco
efetiva. A prática de cruzamento em ovinos,
entre uma raça especializada e uma raça
adaptada pode contribuir para o aumento da
eficiência dos sistemas de produção (Osório
et al., 2002). A utilização de cruzamentos
industriais é um dos caminhos que pode ser
adotado para obtenção de maior velocidade
de crescimento dos animais. De acordo com
Notter (2000), o cruzamento industrial favo-
rece a conjugação das características
desejáveis de cada raça e a exploração da
heterose, que é máxima na primeira geração.
Essa pesquisa teve como objetivo avaliar
o desempenho de cordeiros cruzados e es-
timar os efeitos de sexo, tipo de parto, grupo
genético, mês e ano de nascimento sobre o
peso ao nascer, 15, 30 e 45 dias de idade em
ovinos deslanados.
MATERIAIS E MÉTODOS
A pesquisa foi realizada no Setor de
Ovinocultura da Usina S/A Leão Irmão
Açúcar e Álcool no período de 2005 e 2006,
Zona Rural de Maceió, Alagoas, inserida na
mesorregião da Zona da Mata, 50 metros
acima do nível do mar, Latitude 9º33'21''S,
Longitude 35º52'15''W. O clima da região é
do tipo tropical chuvoso com verões secos,
caracterizando-se por duas estações, uma
Archivos de zootecnia vol. 58, núm. 221, p. 146.
chuvosa (maio a setembro), e outra seca
(outubro a abril). A pluviosidade média anual
é de 1700 mm.
Os animais foram mantidos em regime
semi-extensivo em piquetes de Brachiária
decumbens, sendo recolhidos ao entardecer
e pernoitando em aprisco de chão batido,
onde foram fornecidos sal mineral, água e
suplementação com levedura e volumosos.
Foram realizados cruzamentos por meio
de monta natural e o desmame foi praticado
em torno de três meses de idade. Nos
cruzamentos foram utilizados carneiros das
raças Santa Inês (SI), Dorper (D), Cabugi (C)
e um mestiço, M, (1/8 Lacaune 1/8 Dorper 1/
8 Somalis 5/8 Santa Inês) com fêmeas do
rebanho base Santa Inês. As pesagens foram
feitas ao nascer, aos 15, 30 e 45 dias de idade.
As características estudadas foram peso
ao nascer, PN, aos 15, P15, 30, P 30 e 45 dias
de idade, P45. Foram obtidas 164, 52, 47 e 24
informações de PN, P15, P30 e P45, respectiva-
mente. Os dados foram analisados por meio
de análise de variância utilizando-se o
procedimento (GLM) do SAS (1996),
empregando-se o modelo estatístico, des-
crito a seguir, o qual incluiu os efeitos fixos
de tipo de parto (simples e múltiplos), grupo
contemporâneo (mês e ano de nascimento),
sexo e grupo genético (SI, ½ D ½ SI, ½ C ½
SI e ½ M ½ SI).
Ylmnop= µ + Tl + GCm +Sn + G o + elmnop
em que:
Ylmnop= PN, P15 , P30 e P45,
µ= média geral,
Tl= efeito do l-ésimo tipo de parto (l= simples e
duplos),
GCm= efeito do m-ésimo grupo de contemporâneo
(200503, 200504, 200505, 200506, 200507,
200601, 200602, 200612),
Sn= efeito do n-ésimo sexo do produto (macho e
fêmea),
Go= efeito do o-ésimo grupo genético (SI, ½ D ½
SI, ½ C ½ SI e ½ M ½ SI),
elmnop= erro aleatório associado a cada observação,
pressuposto normalmente distribuído com
média zero e variância σ2.
 DESEMPENHO DE CORDEIROS CRUZADOS EM ALAGOAS, BRASIL
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os efeitos de tipo de parto e grupo de
contemporâneo foram significativos (p<0,01)
e (p<0,05) para PN. As médias de tipo de
parto para PN foram 3,43 e 2,93 kg, para
partos simples e duplos, respectivamente.
Fêmeas de partos simples apresentaram
superioridade de 17,06% no PN. Cordeiro et
al. (2004) mostraram superioridade de
24,66% do PN em partos simples comparado
ao PN em parto duplos. Geralmente, matrizes
com incidência de partos múltiplos, sem
manejo apropriado, apresentam média de
peso ao nascimento inferior.
O tipo de parto apresentou reflexos nos
primeiros meses de vida do animal, pois
também foi significativo para P15 (p<0,01),
P30 (p<0,05) e P45 (p<0,05). As pesagens do
animal aos 15, 30 e 45 dias foram significa-
tivamente superiores para partos simples.
Resultados semelhantes foram encontra-
dos por Quesada et al. (2002) num estudo
com ovinos deslanados no planalto central
Brasileiro.
O efeito de sexo, como em Cordeiro et al.
(2004) e Fraga et al. (2003), não foi causa de
variação importante para as características
em estudo. Por outro lado, vários trabalhos
têm demonstrado a superioridade dos ma-
chos na habilidade em ganhar peso com
relação às fêmeas, dentre eles podem ser
citados Quesada et al. (2002) e McManus e
Miranda (1997).
O genótipo do cordeiro não foi significa-
tivo para nenhuma característica em estudo.
É provável que a idade em que os animais
foram avaliados ainda não tenha sido
possível a manifestação de vigor híbrido
dos grupos genéticos envolvidos nesta
pesquisa.
As médias ajustadas e desvios padrão
para peso ao nascer foram 3,04 ± 0,10; 3,36
± 0,22; 2,99 ± 0,13 e 3,32 ± 0,12 kg, para os
cordeiros SI, D x SI, C x SI e M x SI, respec-
tivamente. Os valores médios de peso ao
nascer, obtidos na presente pesquisa, foram
próximos àqueles apresentados por McMa-
Archivos de zootecnia vol. 58, núm. 221, p. 147.
nus e Miranda (1997), os quais foram 3,70 e
3,55 kg, para as raças Bergamácia e Santa
Inês, respectivamente. Foram também
semelhantes aos valores médios relatados
por Quesada et al. (2002) para raças Morada
Nova, Santa Inês e mestiços Texel x Morada
Nova, cujos valores foram 2,36; 3,07 e 2,84
kg, respectivamente.
As médias de P30 foram 7,18 ± 0,62; 6,42
± 0,43; 6,93 ± 0,53; 6,36 ± 0,51 kg para os
cordeiros SI, D x SI, C x SI e M x SI, respec-
tivamente. Esses valores foram próximos
àqueles observados por Quesada et al.
(2002), os quais foram 5,54 kg, 8,01 kg e 7,53
kg para animais dos grupos Morada Nova,
Santa Inês e Texel x Morada Nova, aos 30
dias de idade, respectivamente. Esses auto-
res observaram que a superioridade dos
mestiços só foi revelada a partir de 120 dias
de idade e, aos 30 dias a raça Santa Inês
apresentou melhor desempenho. Os auto-
res ainda afirmam que esse fato pode ter
ocorrido por conta da elevada habilidade de
produção de leite dos animais Santa Inês.
Entretanto, cordeiros cruzados por ocasião
da permanência no pasto manifestam maior
potencial na velocidade de ganho de peso.
Por outro lado, Bianchi et al. (2003)
verificaram superioridade (p<0,05) do peso
ao nascer de 10 a 13% em cordeiros oriun-
dos de cruzamentos de carneiros Sufollk e
Milchaschaf com ovelhas Corriedale.
Com relação ao peso aos 45 dias de idade
as médias obtidas foram 9,09 ± 3,0; 9,17 ±
1,47; 10,58 ± 1,65 e 9,08 ± 1,66 kg, respecti-
vamente, para os grupos SI, D x SI, C x SI e
M x SI. Esses valores foram inferiores
quando comparados com o peso aos 45 dias
em animais da raça Churra Badana, em um
estudo conduzido por Carolino et al. (2004),
cuja média foi estimada em 12,95 ± 2,23 kg.
Embora neste trabalho, o efeito do
genótipo não tenha sido significativo,
animais do grupo Cabugi x SI apresentaram
baixo peso ao nascimento, mas o peso aos
45 dias de idade foi o grupo de maior
expressão. Resultados como esses demons-
tram o potencial das raças locais na
 ROCHA, FRAGA, ARAÚJO FILHO, FIGUEIRA, PACHECO, SILVA E RODRIGUES
habilidade em ganhar peso na pré-desmama.
Ao contrário do que se esperavam, cordeiros
com 50% de genes oriundos de raças locais
apresentaram desempenho igual ou supe-
rior aos grupos envolvendo genes de raças
especializadas. Além da importância do
estudo do potencial de produção dos recur-
sos genéticos locais, cabe ressaltar que
para exploração dos benefícios da heterose
é indispensável à existência de grupos ge-
néticos distintos, com características e pe-
culiaridades próprias, para possibilitar a
complementaridade entre raças e a máxima
expressão da heterose.
O efeito de grupo contemporâneo foi
significativo apenas para o peso ao nascer.
Os resultados mostraram valores superio-
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Araújo Filho, M.C. Queiroz e O. Souza. 2003.
Peso ao nascer e ao desmame em ovinos da
raça Santa Inês no Vale do Paraíba, Estado de
Archivos de zootecnia vol. 58, núm. 221, p. 148.
res para nascimentos em dezembro, janeiro
e fevereiro. Provavelmente, por que as ovelhas
que pariram nessa época tiveram a gestação
num período não muito desfavorável com
relação à disponibilidade de alimentos.
CONCLUSÕES
Cordeiros da raça Santa Inês e cruzados
apresentaram peso ao nascimento e desem-
penho na pré-desmama semelhantes.
Cordeiros oriundos de partos simples
apresentaram melhores desempenhos no
nascimento e na pré desmama.
O desempenho para peso ao nascer e
peso na pré desmama foi semelhante entre
cordeiros machos e fêmeas.
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