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Neuroliderança

As “neuro-áreas” ainda estão em proliferação. Neurobiologia, Neuroanatomia e


Neurofisiologia são as tradicionais, acompanhadas por suas irmãs mais novas, como a
Neuroimunologia. Neuroeconomia é de fato um campo novo, fruto da colaboração entre
economistas e neurocientistas, e eu até acho o nome necessário. Outros, como
neuropsicologia, ou, pior, neuropsiquiatria, são redundantes: o que são psicologia e
psiquiatria se não o estudo dos resultados comportamentais do funcionamento (normal e
anormal) do sistema nervoso? “Neuroneurologia” seria o pleonasmo supremo, mas
felizmente o Departamento de Dar Nomes Às Coisas se absteve de chegar a esse ponto.
Semana passada eu descobri que existe uma Neurocoisa nova no pedaço: é a
Neuroliderança, já com instituto, reuniões internacionais e até revista. Mas entendo que
dar nomes a coisas novas é uma maneira mais fácil de falar delas. Então, ao invés de
reclamar de mais esse neuroneologismo, explico a que ele se refere: o reconhecimento de
que alguns achados da neurociência são muito úteis para quem deseja entender, e
aperfeiçoar, suas capacidades de liderança.
Liderança sempre me lembra o discurso inspirado de Henrique V (nas palavras de
Shakespeare), que, na véspera do dia de São Crispim, incita seus soldados a lutar ao seu
lado em uma batalha que se anuncia desigual e sangrenta, mas da qual eles saem
vitoriosos. O episódio ilustra três das maiores habilidades de um líder: ele é altamente
motivado e inspira motivação nos demais; é auto-confiante e digno da confiança dos
outros; e não só tem ao seu alcance os meios para tomar o controle da situação, como
ajuda os outros a encontrá-los também.
A neurociência hoje fornece muitos insights úteis sobre motivação, relações
sociais positivas (inspiradoras de confiança e de identidade com um grupo) e a
importância do controle em situações de estresse. Sai-se bem o grupo cujo líder é capaz
de ajudar sua equipe a vislumbrar soluções e encontrar o otimismo necessário a agir
positivamente (já que a motivação é, para o cérebro, a antecipação do sucesso). Lida
melhor com problemas a equipe cujo líder delega poderes e responsabilidades (já que a
sensação de controle, mais que o controle propriamente dito, é passaporte para a
motivação). Funcionam melhor em equipe as pessoas que se identificam com um
conjunto, cujas respostas emocionais aos colegas, automáticas, são de apego e
colaboração. O resultado? Todos ganham!

Suzana Herculano-Houzel
Neurocientista, professora da UFRJ,
autora do livro Pílulas de Neurociência para uma Vida Melhor (ed. Sextante) e do
blog www.suzanaherculanohouzel.com.
E-mail: suzanahh@gmail.com

Folha de São Paulo, setembro de 2009

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