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CONCEITOS.
Rio de Janeiro
Agosto 2011
RACIOCÍNIO DIAGRAMÁTICO COMO BASE PARA O DESENVOLVIMENTO DE
CONCEITOS.
Examinada por:
________________________________________________
Prof. Alexandre Gonçalves Evsukoff, Dr.
________________________________________________
Prof. Augusto Cesar Noronha Rodrigues Galeão, D.Sc.
________________________________________________
Prof. Fernando Pellon de Miranda, Ph.D.
________________________________________________
Prof. Jorge de Albuquerque Vieira, Dr.
________________________________________________
Prof. Nelson Francisco Favilla Ebecken, D.Sc.
________________________________________________
Prof. Ricardo Ribeiro Gudwin, Dr.
ii
Pires, Jorge Luiz Vargas Prudêncio de Barros
Raciocínio diagramático como base para o
desenvolvimento de conceitos/ Jorge Luiz Vargas
Prudêncio de Barros Pires. – Rio de Janeiro:
UFRJ/COPPE, 2011.
X, 163 p.: il.; 29,7 cm.
Orientador: Alexandre Gonçalves Evsukoff
Tese (doutorado) – UFRJ/ COPPE/ Programa de
Engenharia Civil, 2011.
Referencias Bibliográficas: p. 147-159.
1. Pragmatismo. 2. Grafos Existenciais. 3.
Proposições condicionais. 4. Construção de conceitos. I.
Evsukoff, Alexandre Gonçalves. II. Universidade Federal
do Rio de Janeiro, COPPE, Programa de Engenharia
Civil. III. Titulo.
iii
A minha filha Giorgia.
iv
AGRADECIMENTOS
v
Resumo da Tese apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos necessários
para a obtenção do grau de Doutor em Ciências (D.Sc.)
Agosto/2011
vi
Abstract of Thesis presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the
requirements for the degree of Doctor of Science (D.Sc.)
August/2011
vii
SUMÁRIO
Resumo ........................................................................................................................ vi
Abstract ....................................................................................................................... vii
ÍNDICE DE FIGURAS ................................................................................................... ix
ÍNDICE DE TABELAS ................................................................................................... x
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 1
1.1 Justificativa ........................................................................................................... 1
1.2 Objetivos............................................................................................................... 5
1.3 Contribuições da Pesquisa ................................................................................... 6
1.4 Organização do Trabalho ..................................................................................... 6
2 PRINCÍPIOS METODOLÓGICOS DO PRAGMATISMO............................................ 8
2.1 Bases Fenomenológicas do Pragmatismo ......................................................... 12
2.2 As Ciências Normativas como Base para o Pragmatismo ................................. 19
2.2.1 Sobre termos, proposições e argumentos................................................... 42
2.3 Vagueza e Indeterminação em fenômenos fronteiriços ..................................... 56
3 METODOLOGIA ....................................................................................................... 67
3.1 Introdução aos Grafos Existenciais (GEs).......................................................... 67
3.1.1 Alfa............................................................................................................... 72
3.1.2 Beta ............................................................................................................. 83
3.1.3 Gama ........................................................................................................... 96
4 ESTUDOS DE CASO.............................................................................................. 109
4.1 Caso I - Utilização de Mosaicos JERS-1 SAR e de Lógica Fuzzy Para
Elaboração de Mapas de Sensibilidade Ambiental Temporal a Derrames de Óleo na
Amazônia Central ................................................................................................... 112
4.1.1 Apresentação............................................................................................. 112
4.1.2 Tratamento pelos Grafos Existenciais ....................................................... 121
4.2 Caso II - Identificação de Regras de Associação Interessantes em uma Base de
Dados sobre Exsudações de Óleo no Golfo Do México ........................................ 127
4.2.1 Apresentação............................................................................................. 127
4.2.2 Tratamento pelos Grafos Existenciais ....................................................... 136
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 143
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................... 147
ANEXO I - DIAGRAMA DAS CIÊNCIAS: SEGUNDO CHARLES PEIRCE ............... 160
ANEXO II - CONVENÇÕES E REGRAS DOS GEs................................................... 161
ANEXO III - ESTUDO DE CASO: TABELAS ORIGINAIS.......................................... 163
viii
ÍNDICE DE FIGURAS
ix
ÍNDICE DE TABELAS
x
1 INTRODUÇÃO
1.1 Justificativa
1
Um bom exemplo disso pode ser encontrado na evolução dos modelos cosmológicos. (Cf. HOSKIN,
1999).
2
Affordances é utilizado aqui como definido por GIBSON (1965, 1979). Ou seja, é a possibilidade do meio
ambiente (situação externa real) estimular os organismos no processo de percepção, bem como a
capacidade do agente em perceber (de acordo com suas abilidades e objetivos) o que está disponível a
ele.
O triunfo da Ciência nos séculos passados proveu nossas vidas com
imensuráveis progressos, como a obtenção de elegantes soluções para os mais
variados problemas. Nós descobrimos e caracterizamos um grande conjunto de leis e
isso foi usado para elaborar as fundações para a interpretação do mundo ao nosso
redor e para a construção de equipamentos que trabalham por nós. Alcançamos um
alto grau de excelência na confecção de ferramentas para examinar esse Universo. A
humanidade adquiriu um certo entendimento da realidade por meio dessas
representações. (SHANK,1999).
Não obstante o enorme sucesso alcançado, nos dias de hoje, nós
encontramos um panorama de transformação: o estudo da simplicidade está dando
lugar ao estudo da complexidade. Essa mudança vem sendo sentida pelos cientistas
ao longo dos anos. Desde meados do século dezenove, quando a Termodinâmica
enfrentou o problema da irreversibilidade entrópica (PEREIRA JÚNIOR, 1997), o mito
da simplicidade do real tem mostrado suas limitações. A complexidade invadiu a
Física mais clássica, newtoniana, a partir dos trabalhos de HENRI POINCARÉ (2001),
com conceitos relacionados ao caos determinístico, eliminando a fantasia laplaciana
de um determinismo estrito.3 A Relatividade eliminou a ilusão de que o espaço e o
tempo fossem absolutos (EINSTEIN, et. al., 2005). A teoria quântica nos mostrou que
medições perfeitamente controláveis não passavam de um sonho (BES, 2007). A
partir dessas questões e daquelas colocadas pelas transformações psicossociais do
último século, notamos uma sensível mudança paradigmática, na direção do estudo
da complexidade (cf. VIEIRA, 2006a e b, 2007).4
A base fundamental dos modelos científicos (ou que são considerados como
tais) tem sido, historicamente, as equações diferenciais. No entanto, outras
ferramentas matemáticas tem sido utilizadas, auxiliando a criação de modelos que
representem diferentes aspectos da realidade. Entre eles podemos citar as redes
neurais artificiais, os métodos estatísticos e os sistemas fuzzy. Os avanços mais
recentes na área de computação e o surgimento das ciências da complexidade
criaram condições ainda mais favoráveis para que a modelagem dos fenômenos
presentes no mundo sejam realizados com sucesso. (SHALIZI, 2003).
Na verdade, nos últimos 30 anos assistimos à crescente importância dos
computadores na área científica. Nos dias de hoje, o computador não é apenas visto
como uma eficiente máquina que executa cálculos numéricos. Também é visto como
3
Poincaré demonstrou que o problema de N corpos não é integrável, ou seja: não é possível exprimir
uma solução válida para todo instante de tempo. A solução só pode ser conhecida por intervalos de
tempo curtos (cf. BARROW-GREEN, 1996).
4
Importantes pesquisas sobre a complexidade têm sido desenvolvidas, por exemplo: KAUFFMAN (1993,
1995 e 2000), CRUTCHFIELD (1996), PRIGOGINE e STENGERS (1984), NICOLIS e PRIGOGINE 1989),
MATURANA e VARELA (1992).
2
algo potencialmente capaz de armazenar o conhecimento humano, mostrando eficácia
no tratamento “inteligente”5 de dados e na decisão de tarefas. Essa tendência está
incorporada em disciplinas como Inteligência Artificial, Reconhecimento de Padrões e
Sistemas de Informação, entre outros, nas quais as questões a respeito de
modelagem e representação de dados ocupam uma grande parcela das
preocupações. (DUBOIS, PRADE, 1998).
A Extração de Conhecimento em Bases de Dados (Knowledge Discovery in
Databases - KDD) e, em particular, técnicas de Data Mining (tais como regras de
associação ou identificação de modelos) se mostraram instrumentos eficazes quando
se procura relações ocultas ou implícitas entre atributos em um banco de dados. No
entanto, é necessário, em muitas ocasiões, utilizar um sistema flexível, a fim de
representar com precisão um problema do mundo real. Afinal, as fontes de informação
podem ser afetadas por incerteza ou vagueza, resultando em uma perda de
informação se não forem geridas corretamente. (BERZAL et al., 2004). Devemos notar
que grande parte da modelagem nos últimos tempos deriva desta atividade.
No entanto, de acordo com IBRI (2000, p. 78), é importante dizer que as
Ciências Práticas ou Aplicadas, direcionadas para as necessidades humanas,
envolvem a pesquisa de modelos teóricos e retroanálises de dados experimentais e,
por isso mesmo, se constituem de uma atividade intelectual reflexiva, que não pode
ser confinada apenas ao universo dos objetos particulares. Em engenharia civil, por
exemplo, segue dizendo o autor, os modelos teóricos para um projeto podem ser
probabilísticos ou semi-probabilísticos, devido ao comportamento probabilístico dos
materiais, da estrutura e das ações que o afetam. Estruturas são projetadas adotando
critérios de segurança, cuja finalidade é minimizar os riscos de uma possível, embora
pouco provável, incidência de variáveis aleatórias em combinação simultânea com
eventos raros. Além dessa admissão evidente da possibilidade do acaso atuar na
esfera física, há, nesses modelos, a aceitação implícita de que a ação humana, seja
durante a concepção do projeto, ou na confecção dos objetos previstos, pode falhar,
devido à inadequação de nossas representações.
Assim, os modelos, sejam quais forem, literal e figurativamente contém e
conectam nossa conduta com o futuro (implicando condicionalidade). A propensão
para modelar e modificar a si mesmo e ao ambiente torna nossas ferramentas, mas
também nossas idéias, um ingrediente perpétuo no futuro de nossos “problemas” e
5
As aspas utilizadas no termo inteligente se justificam na medida em que o debate a respeito da
possibilidade de comportamento inteligente em sistemas computacionais ainda ser intenso e estar longe
de uma solução. Algumas leituras são recomendadas para um melhor esclarecimento desse assunto, tais
como: WILSON, KEIL (1999), FETZER (1990), CLARK (2001); para uma abordagem semiótica da
questão podemos recomendar: ENGEL-TIERCELIN (1984), SKAGESTAD (1993) e NÖTH (2001).
3
“soluções”. Ambas, a nossa modelagem e sua implementação concreta baseia-se em
uma imaginação abstrata efêmera, como tal, elas estão aptas a permanecer difíceis de
controlar. (ANDERSON, MERRELL, 1991, p. 598).
Sobre o ambiente experimental, é importante ressaltar que a ciência aplicada
tem alguma vantagem sobre as ciências teóricas. Isso se deve ao fato de que seu
campo experimental é inteiramente aberto à observação. Eles são objetos práticos
com fins igualmente práticos e, sendo assim, eles são testados continuamente por
seus usuários. Apesar de serem concebidos por homens com teorias e tecnologias
bem conhecidas, eles potencialmente mantém sua alteridade prática. Ou seja, as
previsões da teoria devem se harmonizar com o seu desempenho observável. Seu
desempenho afeta teorias e tecnologias “normais”, como extensões da ciência normal.
As ciências práticas lidam com fatos surpreendentes, exigindo um esforço para
entender o que está acontecendo com a possível discordância entre previsão e dados
experimentais. Sob o ponto de vista da Semiótica, o cientista mais próximo da prática
mantém um diálogo com os objetos por meio da análise da performance de seus
modelos. Chamar a interação entre a teoria e a experiência de diálogo é possível,
principalmente devido ao realismo de Peirce, refletido no pragmatismo (como suporte
para a investigação da construção de conceitos), ultrapassando o domínio da mera
subjetividade. (IBRI, 2000, p. 74-75)
Vejamos que, na criação de modelos, a razão forma algumas afirmações
generalizadas (ou hipóteses) a respeito do objeto de estudo. Em seguida, as possíveis
conseqüências para a nossa conduta são derivadas dessas proposições, com a ajuda
da dedução lógica. O que temos aqui é uma proposição condicional geral de
antecedente hipotético, com a forma “se p, então q”. Ou seja, a partir de uma condição
hipotética, busca-se saber quais são os resultados para a conduta decorrentes da
aceitação dessa hipótese. Por fim, se na verificação indutiva de uma determinada
conduta alguma conseqüência decorrente da hipótese se mostrar falsa, teremos,
prontamente, o conhecimento da situação em que a hipótese não se aplica. Isso
permite que conceitos a respeito do objeto sejam construídos e aperfeiçoados ao
longo da experiência.
Após essas considerações iniciais, convém ressaltar que a questão
fundamental a ser abordada no presente trabalho é: quais são as contribuições do
pragmatismo de Charles Peirce, com auxílio dos Grafos Existenciais (GEs), na criação
e elaboração de asserções condicionais (do tipo “se…então”), utilizadas na construção
de conceitos científicos?
4
Visando responder a essa questão, admitiremos que proposições
6
condicionais são construções sígnicas , que cientistas utilizam para expressar
hipoteticamente processos que acontecem na Realidade. Como signos, esses
condicionais permitem que o conhecimento a respeito do mundo Real seja expresso,
avaliado, corrigido, etc., e, nesse processo, nossos conceitos vão sendo elaborados.
Uma vez que, usualmente, tais proposições se baseiam na representação linguística
dos padrões, na forma “se...então”, a máxima pragmatista pode ser aplicada para um
melhor esclarecimento conceitual dessas regras. Isso se justifica na medida em que o
nosso conhecimento a respeito das leis da natureza consiste, em última instância, nos
hábitos de ação e da expectativa que nossas representações simbólicas dessas leis
sejam interpretáveis.
Nossa preocupação reside em centralizar o trabalho teórico de construção de
conceitos, sob uma explícita perspectiva epistemológica, no raciocínio diagramático,
como proposto por Charles Sanders Peirce (1839-1914). Uma vez colocado e tratado
de maneira mais ampla o problema da significação dos condicionais, inclusive ao
problema da indeterminação, acreditamos que a proposta dos GEs, como recurso
lógico para a análise e construção de proposições condicionais, será de grande ajuda
para o encaminhamento de uma resposta para nossa questão.
1.2 Objetivos
6
Podemos dizer que a construção sígnica é uma relação lógica entre a representação, seu objeto
representado e a conduta futura decorrente dela. Uma definição mais formal será dada ao longo do texto.
5
1.3 Contribuições da Pesquisa
6
alcançado um melhor entendimento do papel assumido por cada uma das ciências na
elaboração de conceitos.7
Ainda no interior da semiótica, uma vez definido o conceito de signo,
apresentaremos a classificação dos signos. Detalharemos o modo pelo qual as
classes de Signos são elaboradas, focando nossa atenção nas classes que mais
interessam a este trabalho, a saber: termos, proposições e argumentos. Esse é um
tema fundamental para entendermos o papel do pragmatismo na elaboração de
conceitos. Finalizaremos essa seção discutindo o problema de predicação de objetos
fronteiriços. Trata-se de um assunto importante, especialmente nos problemas de
classificação.
O capítulo seguinte apresentará os Grafos Existencias como recurso para a
análise e elaboração de conceitos. Os GEs são uma uma lógica matemática que
permite a apropriada descrição e análise do raciocínio dedutivo. Suas propriedades
topológicas produzem uma representação muito elegante e produtiva da lógica. Com
auxílio dos Grafos Existenciais (um tipo de lógica topológica), poderemos elaborar os
conceitos construídos e mapear possibilidades que surgem concretamente a partir de
contextos reais. Ou seja, poderemos criar conceitos hipotéticos, baseados na
interpretação das proposições analisadas.
Uma vez apresentados os fundamentos teóricos e a metodologia de
tratamento de proposições condicionais, realizaremos dois estudosde caso. O primeiro
diz respeito da utilização de mosaicos JERS-1 SAR8 e de lógica fuzzy para elaboração
de mapas de sensibilidade ambiental temporal a derrames de óleo na amazônia
central. Trata-se de um bom exemplo de como a construção conceitual de mapas de
sensibilidade são baseadas em proposições condicionais, elaboradas a partir de
conhecimento especialista. Tal caso contribuirá significativamente para nosso
entendimento do modo pelo qual os Grafos Existencias podem ser utilizados em
situações de interesse mais aplicado. O Segundo caso trata da identificação de regras
de associação em uma base de dados de exsudações de óleo, obtida a partir da interpretação
9
de imagens RADARSAT-1 do Golfo do México, Baía de Campeche. Além de nos
proporcionar uma boa visão da utilização dos GEs na geração de proposições
hipotéticas verdadeiras, nos permitirá mostrar como eles podem ser trabalhados a
partir de conhecimento gerado de modo automático ou semi-automático por máquinas.
Por fim, concluiremos de modo crítico, avaliando o quanto tal abordagem contribuiu
para a solução do problema aqui tratado.
7
Devemos lembrar que a terminologia aqui empregada será melhor definida na seção em questão.
8
Imagens orbitais de radar obtidas pelo satélite japonês JERS-1 (Japanese Earth Resource Satellite).
9
Sistema de cobertura global pioneiro na utilização de diferentes geometrias de aquisição de imagens.
7
2 PRINCÍPIOS METODOLÓGICOS DO PRAGMATISMO
10
As citações aos textos de Peirce contidos no The Essential Peirce seguirão a convenção já
estabelecida pela comunidade de leitores de suas obras: as iniciais EP seguidas pelo número do volume
e número da(s) página(s). Os Collected Papers serão citados pelas iniciais CP seguidas do número do
volume e do parágrafo. A mesma convenção vale para suas outras obras: NEM para The New Elements
of Mathematics e W para Writings of C.S.Peirce.
lista de condicionais especificando os fenômenos que resultariam da interação com x.
A máxima pode ser entendida como geradora de condicionais, tais como: “se aplicar
pressão em x, ele resistirá” (modo indicativo); ou “se você fosse aplicar pressão em x,
ele resistiria” (modo subjuntivo). Condicionais no modo indicativo, contudo, cobrem
apenas eventos atuais. Então, se o significado de “x é duro” é uma lista de
condicionais indicativos, a alegação de que o diamante é duro é analisado apenas em
termos de eventos concretos e só se refere às interações que se realizam de fato. Por
outro lado, condicionais subjuntivos abrangem não só esse tipo de caso, mas também
casos meramente possíveis. Se o significado pragmático de “duro” é dado por
condicionais subjuntivos, então o diamante será duro mesmo que nunca tenha sido
submetido à pressão. Nesse último entendimento da máxima pragmatista, o
significado pragmático de “duro” não está relacionado ao teste de fato, mas à
possibilidade de teste. Para que seja verdade “se você fosse aplicar pressão em ‘x’,
ele resistiria”, deve ser realmente possível ser aplicada pressão sobre “x”, sendo ela
realmente aplicada ou não. (LANE, 2007, cf. também CP 5.403).
Então, “se uma substância de um certo tipo deveria ser exposta a um agente
de certo tipo, um certo tipo de resultado seguiria” (CP 5.457). Convém perceber que
ao mudar a relação entre o antecedente e a expectativa experimental conseqüente de
um condicional indicativo para um condicional subjuntivo, Peirce está assumindo um
compromisso com leis reais (gerais) e modalidades reais (inclusive possibilidades
reais e necessidades reais). (ROBIN, 1997).
Peirce considerava um erro interpretar as experiências descritas nos
condicionais gerados pela máxima pragmatista como coisas isoladas, ações
individuais, acontecimentos singulares ou discretos (o que proíbe qualquer tipo de
entendimento verificacionista sobre a máxima). Pelo contrário, elas devem ser
entendidas como “tipos gerais de fenômenos experimentais” e, portanto, para que
qualquer um dos condicionais gerados pela máxima sejam verdadeiros, devemos
aceitar que há elementos genuinamente gerais na realidade. Mais que isso, a
característica aberta dos condicionais subjuntivos é fundamental para seu crescimento
e isso só é alcançado por haver espaço para as possibilidades, como aspectos dessa
realidade. (Cf. CP 5.425-26, EP 2:340, SILVEIRA, 2007 e ENGEL-TIERCELIN, 1992).
Cremos ser importante fazer algumas considerações a respeito de gerais e
potenciais reais. Vamos começar frisando que o conhecimento que é exigido na
clarificação de conceitos é do tipo geral. Veja que ao dizer que “x é duro”, ou
“vermelho”, ou “pesado”, ou que possui quaisquer outras propriedades, estamos
dizendo que “x” é regido por uma lei e que ela, a lei, é um estatuto que se refere ao
9
futuro. Então, ao expressarmos um condicional, gerado a partir da máxima
pragmatista, ele torna-se sinônimo da expressão de uma lei que rege a experiência e
que constitui o sentido último da proposição. (ENGEL-TIERCELIN, 1992, CP 5.491).
Aquilo que qualquer proposição verdadeira assevera é real, no sentido de
ser tal como é sem referência ao que você ou eu pense a respeito. Caso
seja essa proposição, uma proposição condicional quanto ao futuro, ela
será um geral real na medida em que se calcula que realmente influencie a
conduta humana; e este é o teor racional que o pragmaticista afirma ser o
de qualquer conceito. Desse modo, o pragmaticista não faz com que o
summum bonum consista na ação, mas que consista naquele processo de
evolução pelo qual o existente cada vez mais incorpore aqueles gerais aos
quais estava destinado, sendo o que nos esforçamos para expressar ao
chamá-los, a esses últimos, razoáveis [reasonable]. Em seus estágios mais
elevados, a evolução toma lugar cada vez mais amplamente através do
auto-controle, e isso fornece ao pragmaticista uma certa justificativa para
fazer com que o teor racional seja geral. (CP. 5.432-3).
Peirce nos deu um ótimo e bem conhecido argumento a respeito desse
assunto em suas Harvard Lectures sobre o pragmatismo em 1903: sabemos que ao
segurar na mão um objeto sólido, tal como uma rocha, podemos prever que ele cairá.
Nós sabemos que esse objeto vai cair porque sabemos por experiência própria que
esses tipos de objetos sempre caem. Nós sabemos que todos os corpos sólidos caem
na ausência de qualquer força ou pressão que os force para cima. Essa lei é um
“princípio geral ativo”, que é realmente operativo na natureza. (EP 2.181 e 183).
O jogo entre o geral e o particular é ali ressaltado. Afinal, se um
esclarecimento explícito dos condicionais deva ser uma ferramenta viável para gerar
conceitos, tais condicionais deverão revelar alguns padrões gerais ou leis que podem
ser aplicados a casos particulares. Ou seja, nós precisamos gerar condicionais que
sejam relevantes para a nossa situação em qualquer ocasião especial. (HOOKWAY,
2004). Segundo SILVEIRA (2007):
Nossa concepção diz respeito aos fenômenos gerais dos quais procuramos
conhecer as leis e os efeitos que produzem quando com eles interagimos. O
experimento é fundamental no processo do conhecimento, mas, por isso
mesmo, não se constitui em mero fato bruto. Vale para verificar a verdade
de nossas crenças pois delas independe, mas só o faz porque confere um
caráter concreto às nossas expectativas de confrontarmo-nos com
exemplares fatuais de fenômenos gerais. Os experimentos constituem-se
em instâncias de um processo geral crescente e evolucionário da
experiência, sendo esta da natureza do hábito e da ordem do espírito. O
que verificamos no experimento é a pertinência das representações que
fazemos de classes gerais de fenômenos. Mesmo em termos da efetivação
experimental, estamos tratando de amostras significativas, levanta Peirce a
questão, de um grande experimento coletivo constituído de nossa
intervenção no mundo exterior ou quase-exterior. Nada significa ou pode
exemplificar um fenômeno geral, se tomado isoladamente sem referência a
uma classe a que poderia pertencer.
Assim, o significado pragmático de um condicional implica generalidade e
quanto mais geral ela for, mais exigirá que o método adote um caráter conjectural,
cuja forma hipotética deverá ser desdobrada nas relações conceituais nela implicadas
10
(de acordo com as exigências lógicas). Se nós quisermos testar uma hipótese
experimentalmente, será preciso saber quais as consequências experienciais nós
deveríamos esperar que nossa atividade experimental tenha, caso a proposição seja
verdadeira. Ou seja, devemos saber quais efeitos sensíveis podem ocorrer se
realizarmos um experimento.
Se as concepções forem representadas na forma de proposições
condicionais, com seus antecedentes hipotéticos sendo da natureza última do
significado e seus consequentes descrevendo as consequências que poderão vir a ser
experimentalmente verificadas, essas serão verdadeiras, independentemente dessa
verdade ter sido pensada em qualquer juízo, ou em qualquer outro símbolo de
qualquer homem ou homens. Isso equivale a dizer que há possibilidade real de ser
verdadeiro. (CP 5.453, EP 2.354).
De fato, a verdade dos condicionais gerados pela máxima pragmatista exige a
realidade das possibilidades, pois elas não são apenas uma questão de ignorância,
mesmo a ignorância de um ser hipotético. Assim como os pontos de uma linha
contínua ou as gotas de água no oceano, os eventos futuros meramente possíveis,
aos quais um condicional subjuntivo se refere, não constitui uma coleção de indivíduos
distintos. Dizer que “x é duro” não é dizer algo sobre uma coleção de eventos ou
ações individuais, no passado, ou mesmo no futuro. O “seria” (would) dos condicionais
subjuntivos é inesgotável por qualquer multiplicidade de acontecimentos fatuais, assim
como a linha contínua é inesgotável por qualquer conjunto de pontos. (LANE, 2007,
CP 8.208).
Com isso, podemos perceber que Peirce trouxe para a contemporaneidade a
distinção escolástica entre realidade e existência, sendo a primeira a expressão
ontológica das categorias fenomenológicas e a segunda se resumindo ao existente
atual e particular. De acordo com Santaella (2004), é exatamente aí que Peirce
frequentemente criticava seus “descendentes” no pragmatismo. Ele afirmava que tais
pragmatistas não conseguiram entender que sem a compreensão das categorias
fenomenológicas não é possível obter um entendimento satisfatório a respeito da
natureza do pragmatismo. (Cf. CP 8.256).
Tendo isso em mente, para podermos avançar em nossa discussão,
propomos traçar algumas considerações a respeito da Fenomenologia peirceana.11 O
11
Note que Peirce, depois de assumir a Lógica dos relativos como o fundamento do pensamento,
promoveu uma reorganização da classificação das ciências, distinguindo as ciências gerais das ciências
especiais (Silveira, 1991), deixando claro as relações de interdependência existentes entre as ciências e
indicando muito adequadamente o nível de abstração de cada uma. Peirce dividiu a Filosofia em
Fenomenologia, a ciência que estuda os elementos universalmente presentes em todos os fenômenos;
Ciências Normativas, as que estudam as condutas de uma mente que aprende pela experiência; e
11
que estamos sugerindo é que a fenomenologia deva ser tomada como a base
fundamental sobre a qual nosso conhecimento a respeito do pensamento peirceano
deve ser erguido e que, portanto, deve reclamar a nossa atenção nesse momento.
Metafísica, aquela que estuda o que é real no universo da experiência (CP, 1.186). Cf. o diagrama da
classificação das ciências no Anexo II.
12
realidade), Peirce assume que as categorias fenomenológicas correspondem aos
modos mais elementares de combinação dos fenômenos contidos no universo da
experiência. Desse modo, as categorias fenomenológicas não dependem mais de uma
síntese realizada por um sujeito, elas estão compreendidas de acordo com o modo
pelo qual se apresentam e articulam para uma mente. A lista de categorias é um
quadro elaborado a partir da análise lógica do pensamento e considerada aplicável a
qualquer fenômeno. (SILVEIRA, 2007 e 2008).
Com a ajuda da lógica dos relativos, que permitia o tratamento lógico das
várias formas de possibilidade, Peirce descobriu que o modo de ser do possível é real,
e não como anteriormente se pensava, uma mera indeterminação (cf. CP 3.527). Com
isso pode afirmar que todas as experiências, em sua aparência, são apresentadas por
apenas três modos de ser. “Eles são o ser da possibilidade qualitativa positiva, o ser
do fato real, e o ser da lei que irá reger fatos no futuro” (CP 1.23).
De modo breve, as categorias fenomenológicas foram nomeadas:
Primeiridade, Secundidade e Terceiridade; e as relações correspondentes a elas como
monádicas, diádicas e triádicas. (LEMON, 2007). Sendo as categorias genuinamente
universais, portanto extremamente gerais e abstratas, nada mais natural que se
apresentem em número reduzido, respeitando a exigência de suficiência e de ser livre
de redundâncias. (CP 5.43) De acordo com PEIRCE (CP 8.328):
Esse tipo de noção me é tão pouco agradável como para qualquer outra
pessoa e, durante muitos anos, tentei reduzir-lhe a importância e afastar-me
dele. Contudo, de há muito, ele me conquistou por completo. Por
desagradável que seja atribuir tal significação a números e, acima de tudo,
a uma tríade, é tão desagradável quanto verdadeiro. As idéias de
Primeiridade, Secundidade e Terceiridade são simples. Emprestando ao
vocábulo “Ser” o mais amplo sentido possível, para nele incluir tanto idéias
quanto coisas - e não só idéias que vislumbram, mas idéias que
efetivamente ocorrem - eu definiria Primeiridade, Secundidade, Terceiridade
assim: Primeiridade é o modo de ser daquilo que é tal como é,
positivamente e sem referência a qualquer outra coisa. Secundidade é o
modo de ser daquilo que é tal como é, com respeito a um segundo, mas
independentemente de qualquer terceiro. Terceiridade, é o modo de ser
daquilo que é tal como é, colocando uma relação recíproca um segundo e
12
um terceiro.
De longe, a mais difícil das categorias para se discutir é a Primeiridade. Ela se
caracteriza pelas qualidades de sentimento. Uma consciência que está presente em
um ponto do tempo, sem partes ou referência a qualquer análise ou comparação,
onde pensamento algum pode se inserir e nada pode ser isolado (CP 1.306, 8.329).
São aqueles fenômenos que se apresentam sem a interferência de nenhum outro.
12
As categorias por Peirce denominadas “Cenopitagóricas”, mas que poderiam ser denominadas
fenomenológicas, se mostram irredutíveis umas às outras. As demonstrações desta irredutibilidade e de
sua suficiência podem ser encontradas em: CP 5.82-92 e 7.537.
13
Não há passado ou futuro, apenas o momento presente, novo e original. Uma
consciência que rompe com o tempo, tornando-se mera possibilidade.
A idéia de primeiro é predominante na idéia de novidade, vida, liberdade.
Livre é aquilo que não tem outro atrás de si determinando suas ações (CP
1.302). As idéias típicas de primeiridade estão nas qualidades de
sentimento ou meras aparências. [...] É simplesmente uma possibilidade
positiva peculiar, independente de tudo o mais. (CP 8.329). Por um
sentimento eu entendo um exemplo daquele tipo de consciência que não
envolve qualquer análise, comparação ou qualquer processo que seja, nem
consiste, no todo ou em parte, de qualquer ato pelo qual uma extensão de
consciência é distinta de outra e que tem sua própria qualidade positiva, que
consiste em nada além disso e que é de si mesma tudo o que ela é. (CP
1.306). Um sentimento é um estado, que assim é em sua totalidade, em
todo momento de tempo e na medida em que ele dure. (CP 1.307).
A dificuldade de se falar sobre “primeiros” é que quando reconhecemos que
algo é compreendido como um primeiro, sua primeiridade como primeiridade
efetivamente desaparece. A Primeiridade é preeminentemente a categoria do pré-
reflexivo. Eu não posso lhe dar um primeiro, posso apenas apontar para onde você
pode encontrar um e, posteriormente, reconhecer que você o havia encontrado.
Significativamente, os lugares onde os primeiros podem ser facilmente localizados e
reconhecidos tem forte ligações estéticas. (ZEMAN, 1977, 1967).
No caso das cores, por exemplo, podemos imaginar que elas possam ser
representadas por vetores. Os vetores, desse modo, estarão se referindo a dados
simples, codificados em n-dimensões. Alguns vetores de cores podem ser vistos na
FIGURA 1. Se assumirmos que cada vetor é da natureza de uma qualidade, o que
poderemos supor a respeito da cor vermelha, por exemplo, é que, em essência, ela
possui como característica predominante a Primeiridade. Isso é, ela é um “primeiro”
porque, como qualidade, é independente das outras cores e até mesmo de sua
materialização, sendo semelhante a uma possibilidade. A qualidade em si mesmo, não
pensada como pertencente a algum objeto ou pessoa, é simplesmente uma qualidade
peculiar independente de tudo o mais.
13
Figura 1 - Vetores de cores. Fonte: JOHNSON, et al., 2010.
13
Figura inspirada nos vetores de cores usados no experimento de ajuste de ruído cromático Johnson, et
al.
14
Primeiridade, então, é pura possibilidade qualitativa, o que “pode-ser”. Peirce
também se refere a esta categoria como uma qualidade generalizada e indiscriminada,
o que ele também chama de um matiz ou tom de qualquer coisa da qual estejamos
conscientes. O que está indiscriminado é um primeiro, que está pronto para ser
relacionado a algo. Vermelho, por exemplo, é uma qualidade que está pronta para ser
relacionada com um segundo, como uma faixa de uma bandeira ou uma peça de
roupa. Essa possibilidade de identificação nos leva à segunda categoria. O que é
crucial a ser entendido é que a consciência (conciousness) de uma experiência
qualitativa específica, de uma bola azul ou o piar de um pássaro, é a consciência
(awareness) de algo discriminado e focado dentro de uma indistinta qualidade geral.
(Cf. HAUSMAN, 2008). Enquanto a Primeiridade é possibilidade (poder ser), a
Secundidade é atualidade, o que acontece no momento. É uma questão de algo
concretizado na forma do que acontece aqui e agora para quem contempla o
fenômeno, é uma singularidade. (MERRELL, 2010a).
Poderíamos, por exemplo, concentrar-nos no vermelho. A vermelhidão
tomada por si mesma é uma qualidade, com a qual mantemos uma relação
contemplativa. No entanto, assim que notamos a vermelhidão como conteúdo de
nosso pensamento, invariavelmente encontraremos algum outro elemento ou objeto
de pensamento que se relacionará com esse primeiro, individualizando-o. Essa é uma
característica marcante da segunda categoria. Assim, o vermelho ao ser percebido ou
imaginado, normalmente, o será como relacionado a um outro elemento qualquer, tal
como: uma camisa ou uma capa de livro, ou ainda a cor de cabelo. O que nós temos
nesse caso é um tipo de individualização.
Seguindo a esteira do primeiro exemplo, vamos considerar que as cores
serão representadas como vetores n-dimensionais e, adicionalmente, que outros
elementos quaisquer, físicos ou não, serão representados como vetores m-
dimensionais. Podemos criar uma matriz na forma A( n ! M ) , onde v representa a
15
(a) (b)
Figura 2 - Representação vetorial da Secundidade, em forma matricial (a) e geométrica (b)
16
enquanto acreditarmos que a realidade é constituída exclusivamente de elementos
particulares. No entanto, esse aspecto da realidade não é e não pode ser responsável
pelo significado do fenômeno. (OTTE, 2006a). O que falta à secundidade é uma noção
de interdependência, interação entre a experiência bruta e a intelecção.
A sensação de dois elementos que inicialmente são confrontados, gerando
um evento ou fato sem conexão racional, pode perfeitamente ser posta numa relação
de maior complexidade, por meio de um terceiro elemento, que permita sua
compreensão. O terceiro relatum fornece uma maneira de interpretar os dois relata
que não haviam sido entendidos. Há, portanto, experiência de mediação e
generalização. Em contraste com a Primeiridade e a Secundidade, a Terceiridade é a
consciência de uma experiência que se move ao longo da linha do tempo, agindo com
força de lei, mediando e generalizando as relações entre dois elementos (MERRELL,
2002, CP 1.328), é um “estar entre” que encontra na representação sua plenitude (CP
5.104).
No exemplo anterior, propusemos que as relações de Secundidade poderiam
ser representadas como uma matriz bidimensional definida pelos vetores v e u. A
Terceiridade, tomada como possibilidade de generalização do fato bruto a fim de
determinar a conduta futura, será representada como um vetor disposto
ortogonalmente ao plano formado pela matriz A. Sendo assim, a Terceiridade será
representada por uma construção matricial triádica. Devemos considerar que essa
matriz B contém m linhas, n colunas e l fatias, sendo a matriz correspondente à linha u
representada por B( m,:,:) , a matriz correspondente à coluna v representada por
(a)
(b)
Figura 3 - Representação vetorial da Terceiridade: (a) forma matricial e (b) geométrica
17
Devemos observar que numa relação triádica, como a exigida pela
Terceiridade, os vetores u e v somente poderão se relacionar devido a presença de x.
Desse modo teremos uma relação mediata que, diferentemente da primeira categoria,
não pode ser reduzido a um ponto no tempo; bem como não se reduz a uma
ocorrência bruta, característica da segunda categoria. Para Peirce (CP 1.345), “a idéia
de significado é irredutível às de qualidade e de reação”, isto é, é irredutível a
Primariedade e a Secundidade. Ela se manifestará como uma consciência de um
processo que é eminentemente característico da cognição ou inteligibilidade (CP
1.381).
A cognição irá se vincular ao futuro como sua formadora, através da
generalização do fato bruto, proporcionando a representação das circunstâncias que
poderão vir a ser e estabelecendo as leis gerais que determinarão a conduta auto-
controlada para sua efetivação. Isso sugere um sentido de antecipação ou predição
das consequências futuras. Tal noção é inseparável da máxima pragmatista, segundo
a qual conceitos gerais são significativos no que diz respeito às suas consequências
experimentais. Trata-se de uma experiência cognitiva que nos permitirá julgar (correta
ou erroneamente) proposições como verdadeiras ou falsas. (HAUSMAN, 2008).
É importante observar, porém, que não é apenas a Terceiridade que possui
algum tipo de vínculo com a máxima. Ao convidar-nos a considerar as consequências
(Terceiridade) dos efeitos experimentais (Secundidade) que o objeto pensado poderia
eventualmente possuir (Primeiridade), a máxima combina implicitamente as três
categorias. (MERRELL, 2010a). Na verdade, sendo as três categorias onipresentes e
interrelacionadas (CP 1.905, 5.436, 7.532)14, a Terceiridade não deverá ser
considerada isoladamente da Primeiridade e da Secundidade. (SANTAELLA, 2007).
De acordo com a lógica que orienta a Fenomenologia de Peirce, as categorias de
maior complexidade pressupõem aquelas de menor complexidade (cf. DE TIENNE,
1992).
Do ponto de vista lógico, as categorias constituem um sistema de
pressuposição necessária (HAUSMAN, 1993, P. 97), onde podemos abstrair certas
noções da experiência e classificá-las como pertencentes a uma ou outra categoria.
Podemos, por exemplo, abstrair a Primeiridade a partir da Secundidade e podemos
abstrair a Secundidade a partir da Terceiridade, mas não podemos realizar abstrações
no sentido oposto. (MISAK, 2006). Desse modo, as três categorias estão
interrelacionados do seguinte modo: a Primeiridade é independente de qualquer outra
14
As categorias universais estão presentes em todos os fenômenos, podendo apresentar em alguns
casos uma certa proeminência de uma ou outra categoria. (CP 5.43).
18
categoria; a Secundidade depende da Primeiridade; e a Terceiridade depende tanto
da Primeiridade quanto da Secundidade. Confira a FIGURA 4.
Primeiridade
Secundidade
Terceiridade
A rede formada pelas categorias cobre toda a experiência, seja ela real ou
não, permitindo que se represente desde meras qualidades não atualizadas até
processos evolutivos complexos. Tal capacidade é uma manifestação inerente do
próprio fenômeno, que não depende ou se reduz à síntese de um sujeito, embora a
ele se dirija. (cf. SILVEIRA, 2007, p. 42). A Fenomenologia, desse modo, assume um
papel fundamental na análise de qualquer fenômeno, embora ela não possua
ferramentas analíticas que permitam um exame detalhado do modo pelo qual as
representações são elaboradas a partir das categorias. (SANTAELLA, 1999). A
Fenomenologia está confinada às aparências do fenômeno; ela apenas classifica
aquilo que está diante da mente, nada dizendo a respeito da conduta que será
assumida diante dele. (IBRI, 1992). Para compreender como um fenômeno é
representado e o modo geral pelo qual deliberadamente devemos responder a ele,
nós devemos passar nossa discussão para a esfera das Ciências Normativas. É isso
que faremos na próxima seção.
19
conceito de auto-controle e se encontra no interior da Lógica da conduta ou Semiótica.
(SØRENSEN, THELLEFSEN, ANDERSEN, 2008).
O campo dentro do qual funciona a Semiótica peirceana é o pensamento
(terceira categoria fenomenológica), observando seu modo de operação e
manipulação de signos. A Lógica não é, contudo, meramente descritiva desse
processo, ela é normativa. Como tal, ela atuará juntamente com e dependentemente
de outras ciências normativas, a saber: a Estética e a Ética. (ZEMAN, 1986a).
Embora Peirce tenha reconhecido a natureza e o papel das ciências
normativas apenas no final da sua carreira, ele estava convencido de que seu relato
sobre a dependência hierárquica da Lógica em relação à Ética e da Ética em relação à
Estética era uma descoberta de importância fundamental para um correto
entendimento do seu pensamento, bem como para distinguir seu Pragmatismo de
outras interpretações de sua máxima. (POTTER, 1967).
De acordo com Santaella (2004), é importante notar que não foi por acaso
que a primeira conferência de Peirce em Harvard, no ano de 1903, recebeu o título
“Pragmatismo: as ciências normativas”. (CP 5.14-40). Sua intenção era evidenciar o
quanto o Pragmatismo está ligado à Semiótica, à Ética e à Estética. Antes mesmo
dessas conferências, em uma carta a William James (datada de 1902), Peirce já dizia:
Mas eu pareço ser o único depositário atualmente do sistema
completamente desenvolvido, que se mantém coeso e não pode receber
nenhuma apresentação apropriada em fragmentos. Minha própria visão de
1877 era crua. Mesmo quando dei as palestras de Cambridge não havia
ainda realmente chegado ao fundo dele ou visto a unidade das coisas. Isso
não foi se não depois de ter obtido a prova de que a lógica deve estar
fundada na ética, da qual ela é um desenvolvimento mais elevado. Mesmo
então, fui, por algum tempo, tão idiota a ponto de não ver que a ética, do
mesmo modo, repousa na fundação da estética. (CP 8.255).
A Estética, a Ética e a Lógica formam um conjunto hierárquico de ciências
que, em forte relação com as categorias fenomenológicas, consiste em descobrir
como Sentimento, Conduta e Pensamento podem ser objeto de autocontrole e
autocrítica a fim de se alcançar um fim último. A este fim ele reconhece como o
summum bonum e que tem importância central para o seu pragmatismo. Para colocar
isso de outra forma, a estética reconhece o que é admirável em si mesmo, a ética
determina quais objetivos estamos preparados para assumir, e a lógica fornece os
meios para se atingir esses objetivos. (CONWAY, 2008). Ou seja, enquanto a
Fenomenologia apresenta os elementos universais e indecomponíveis que todo e
qualquer fenômeno possui, fornecendo o fundamento observacional para as demais
ciências filosóficas, as Ciências Normativas estudam o fenômeno e o modo geral pelo
qual deliberadamente e numa certa medida sob autocontrole devemos responder a
ele. (SØRENSEN, THELLEFSEN, ANDERSEN, 2008).
20
Se por um lado relacionar as Ciências Normativas ao autocontrole e à
autocrítica pode facilmente sugerir uma dependência da Lógica na Ética, por outro,
poderíamos nos surpreender, ao menos num primeiro momento, que o fim da Ética (e
extensivamente da Lógica) deva ser a Estética. No entanto, esse estranhamento pode
começar a se desfazer ao consideramos que a Estética peirceana não está restrita a
uma ciência do belo. (SANTAELLA, 1992). Ela investiga o ideal supremo para uma
mente que aprende pela experiência, determinando o que se deve “deliberadamente
admirar per se” (CP 5.36) e não apenas aquilo que consideramos belo.15 Trata-se de
um ideal último, cujas qualidades de sentimento surgem à mente como potencialmente
sedutores. Peirce entendia que para um fenômeno suscitar uma norma de conduta
que permita sua representação em uma mente como um fim para sua realização, deve
antes de tudo se apresentar como algo admirável. (CP 5.129-130).
Se aceitarmos a alegação de Peirce que sentimento é o primeiro estado do
ser e que a estética é mediada pelo sentimento, não precisamos pensar em normas
Estéticas específicas para perceber que elas devem ter alguma importância para o
raciocínio. Nesse sentido, a Estética fornece as normas mais imediatas do modo pelo
qual devemos responder aos fenômenos observados. No entanto, as normas da
Estética não são as normas do que é bom ou mau, do certo ou errado, elas são
normas do impulso pelo admirável. (CHIASSON, 2008, CP 6.458‐461). Esse ideal, que
a Estética16 tem por função esclarecer, é o ideal último que a máxima pragmática
apresenta. O significado de um conceito é, assim, julgado em termos da contribuição
que as reações que ele evoca produzem para a realização da finalidade última do
pensamento. (POTTER, 1967).
No entanto, como o pragmatismo também interpreta o conceito em termos de
uma preparação para a ação, ele exigirá, igualmente, um exame sob a perspectiva da
Ética. (ATKINS, 2006). Isso se justifica, pois, no instante em que um ideal estético é
proposto como fim último da ação, ele passará, nesse exato momento, a sofrer as
restrições e diversificações que a existência lhe impõe. Ao se tornarem objeto de
volição, o que estará sob consideração é a formação de um “campo de atração que
moverá a vontade para seu fim”. (SILVEIRA, 2007, p. 220). Tratar-se-ia de condutas
voluntárias, deliberadas e auto-controladas, de cujas conseqüências futuras somos
responsáveis.
15
Assim, até mesmo sobre os fenômenos dos quais não se consegue uma contemplação tranqüila paira
um caráter esteticamente bom. Na verdade, pode-se inferir que não existe o mau estético. Antes disso, há
qualidades estéticas diferentes que, embora sejam admiráveis, de alguma forma não se apresentam
como fins possíveis. Esse, no entanto, é um assunto para a Ética, a segunda Ciência Normativa.
16
Podemos sugerir o livro “Estética de Platão a Peirce” de SANTAELLA (2000) para aqueles que desejem
conhecer um pouco mais a respeito da Estética peirceana.
21
Podemos perceber que Peirce também deu uma interpretação muito original
para a sua Ética. Como sabemos, ainda nos dias de hoje ela costuma ser identificada
com a doutrina do bem e do mal, da moralidade. Peirce não concordava que a Ética
pudesse ser reduzida a essa noção. Pois uma Ciência da Moralidade não é de modo
algum uma Ciência capaz de alcançar a generalidade que Peirce acreditava que a
Ética pura deveria possuir. O problema fundamental da Ética está relacionado àquilo
que estamos deliberadamente preparados para aceitar como afirmação do que
queremos fazer, do que buscamos. (SANTAELLA, 1992). A Ética, como Ciência
Normativa, é aquela que irá definir qual ideal deve ser buscado por uma mente, de
modo voluntário, deliberado e autocontrolado. (CP 5.134).
Ao definir as metas que são fruto de volição para uma inteligência científica, a
Ética abre caminho para que a Lógica estabeleça criticamente as regras e os meios
que essa inteligência deve utilizar para alcançar seus objetivos. (CP 2.198, cf. também
SANTAELLA, 2004, p. 239-240). No entanto, é importante que fique claro que não
estamos falando da Lógica Matemática, ocupada com funções estritamente formais,
mas sim de uma Lógica que se identifica com a conduta em busca de fins últimos.
Cremos ser conveniente, neste momento, explicarmos melhor o que isso
significa, pois a distinção entre a Lógica Matemática e a Lógica da Conduta, ou
Semiótica, é fundamental para entendermos o papel que cada uma assumirá para que
alcancemos nossos objetivos neste trabalho.
Peirce denominava a Lógica Matemática como Álgebra Lógica, ou Lógica
Formal, ou Lógica Dedutiva. Esse ramo das ciências matemáticas se dedica às
questões formais de natureza dedutiva, mostrando que uma determinada construção
está racionalmente bem fundada. (SILVEIRA, 2007, p. 19). BURKS (1943), sugere
que, de acordo com esse ponto de vista, muito da lógica simbólica contemporânea
passaria a ser entendida como matemática. Quando, por exemplo, um lógico testa
uma cadeia de raciocínio, ele está fazendo essencialmente o que um matemático faz
ao deduzir um teorema de alguns postulados. Desse modo, se nós tivermos três
postulados na forma:
Todo A é B
Todo B é C
Todo C é D
nós poderemos deduzir o teorema “todo A é D”. Esse tipo de dedução é apenas uma
parte da matemática, devido ao fato de o cálculo de classes ser um problema
algébrico simples.
Para SILVEIRA (2009), a dedução das conseqüências dos postulados
matemáticos exige uma lógica utens, que a própria matemática dispõe, não havendo
22
nenhuma necessidade de se recorrer a uma ciência da lógica, uma lógica docens.17
Ou seja, a Lógica exigida na Matemática é aquela que se coloca antecedente a
qualquer estudo sistemático do objeto sobre o qual uma declaração é feita,
contrastando com o resultado do estudo científico, que realiza suas asserções a
respeito de entidades reais. Ao contrário de uma Lógica sintética, que se ampara na
realidade e tem sua legitimidade vinculada às restrições impostas pela experiência
possível, a Matemática “exigirá que se distingua de modo radical sua produção pura
de qualquer forma de atualização existencial mesmo que simplesmente possível”.
A Matemática é a única Ciência hipotética pura. Ela é indiferente quanto a
suas premissas expressarem fatos observados ou imaginados. O raciocínio
matemático diz respeito à Realidade apenas na medida em que suas hipóteses sejam
coerentes com algum aspecto dela. Ela desenvolve conclusões exatas a respeito de
hipóteses, não necessitando de nenhum aparato experimental além da capacidade
criativa da imaginação. A Matemática, como o estudo daquilo que é verdadeiro para o
estado hipotético de coisas, se preocupa exclusivamente com o que segue
necessariamente da descrição geral de uma hipótese pura. Se a Matemática é o
estudo de hipóteses puras, sem levar em conta qualquer analogia que elas possam ter
em nosso universo (NEM, 4.149, CP 3.560), o que é particularmente claro na
Aritmética (NEM, 4.xv-xvi), a necessidade matemática é derivada meramente da
ligação de conseqüências lógicas entre premissas e conclusões e de hipóteses,
convenções e regras que o matemático tenha escolhido usar. (CP 4.232, NEM 2.251,
MARIETTI, 2006).
Podemos perceber que de modo muito semelhante a Russell e o moderno
tratamento axiomático que é empregado pela Matemática, Peirce enfatizava que cada
etapa de uma prova matemática obtém a sua justificação a partir de hipóteses. Só o
que vier a decorrer dessas hipóteses, por regras lógicas rigorosas, poderão ser
escritas numa prova. As etapas desse processo compartilham o mesmo status lógico:
a analiticidade. (SHIN, 1997, cf. também MENDELSON, 1964).
A matemática, por excluir a experiência como garantia de suas conclusões,
pode ser meramente analítica. Deduções são idéias interpretativas de estrita
necessidade lógica, necessidade essa decorrente do princípio da implicação. Assim, a
dedução é analítica, de modo que se uma conclusão se mostrar falsa, respeitando-se
as regras de inclusão, suas premissas serão necessariamente falsas. (SILVEIRA,
2007, p. 150-160, 169). Entretanto, a matemática pode utilizar alguns procedimentos
sintéticos quando suas demonstrações recorrerem a proposições tomadas como
17
Para saber mais a respeito da distinção entre utens e docens cf. DEA (2006), PIETARINEN (2005).
23
verdadeiras, integrando-as ao raciocínio a fim de que determinadas conclusões
possam ser alcançadas. Após a síntese ter sido incorporada ao sistema, as formas
analíticas de demonstração tomam seu lugar. Esse é o caso em vários teoremas
encontrados nos Elementos de Euclides, por exemplo. (SILVEIRA, 2009, cf. também
EUCLIDES, 2009 e LEVY, 1997).
Em resumo, para Peirce, a Matemática tem duas características
fundamentais. Primeiro, ela é uma ciência do raciocínio, ou seja, ela é uma ciência
que traça conclusões necessárias (CP 3.558, 4.229, OTTE, 2006b). Essa é uma
definição ampla de Matemática, na qual todo raciocínio necessário é raciocínio
matemático, não importando o quão simples ele possa ser (NEM, 4.47). Segundo, ela
não cobre um domínio específico de entidades, não sendo definida pela especificidade
de seus objetos (espaço, tempo, quantidade), ou pela natureza de suas proposições
(analítica, a priori), ou pelos tipos de verdade que ela pode exibir. Portanto, a
Matemática não é uma ciência dos fatos, ela é uma ciência de hipóteses e abstrações.
Entretanto, justamente devido ao fato da Matemática ser um sistema
puramente formal, o significado (meaning em inglês) dos termos que aparecem nos
postulados, hipóteses e teoremas é totalmente insignificante como tal (ENGEL-
TIERCELIN, 1993). Discussões a respeito do significado e consequentemente do
conteúdo dos conceitos estão localizadas em outra esfera. Embora esteja
interconectada com a Matemática, é a Lógica da conduta ou Semiótica que trata
desse assunto. Devemos notar que em contraste com a matemática, que constrói na
imaginação os objetos de suas experiências (CP 1.240, 4.233ff) a fim de extrair deles
as relações de necessidade (CP 4.229), a Semiótica não investiga as formas de sua
própria construção (CP 1,241). Ela encontra os objetos de sua investigação nos signos
de todo tipo e em especial, em nosso caso, na experiência humana. (QUEIROZ E
MERRELL, 2009). 18
Segundo SANTAELLA (2004), a Lógica da conduta foi concebida como uma
“ciência formal das leis necessárias do pensamento, este ocorrendo sempre por meio
de signos”. Portanto, ela investiga as condições gerais para a significação, que
permitirão atingir a verdade pragmática. Desse modo, todas as leis de evolução do
pensamento são por ela tratadas. Em outras palavras, para entendermos quais as
condições necessárias para que o significado seja transferido de uma mente a outra e
18
Cremos ser importante, nesse momento, fazer uma pequena nota a respeito do uso da matemática
como meio de representação de sistemas Reais. Devemos ter em mente que esse tipo de representação
é um tipo de Signo que apresenta um alto teor de generalidade, possibilitando determinar infinitas
semioses (ação do Signo), contribuindo para o crescimento indefinido de seu próprio repertório
representativo. (SILVEIRA, 2004). Entretanto, ao aceitarmos o convite da experiência para representar
matematicamente a Realidade, não mais estaremos atuando no universo da Matemática pura, cuja marca
é o pensamento analítico e necessário, pois o fazer matemático como semiose se constitui em
matemática aplicada, que é sintética e falível.
24
para que um estado mental passe para outro, nós precisamos do suporte da Lógica ou
Semiótica. É plausível, portanto, afirmar que a Semiótica constitui o quadro conceitual
mais importante para entendermos como significados são construídos, pois não há
qualquer tipo de cognição que possa ocorrer sem signos.
SANTAELLA (2000, p.155), afirma que Peirce vai ainda mais longe ao
postular que “não há raciocínio possível, não há pensamento possível, nenhuma
linguagem - nem mesmo e muito menos a linguagem da própria lógica e da
matemática - seria possível sem o uso de uma diversidade de signos. Quer dizer,
nenhum pensamento é conduzido apenas através de símbolos.” Sendo assim, o
conceito de Semiótica, como proposta por Peirce, envolve uma teoria do signo em seu
sentido mais geral. (cf. QUEIROZ E MERRELL, 2009). Em 1897, Peirce (CP 2.227)
escreveu um dos textos mais esclarecedores a respeito desse assunto:
Em seu sentido geral, a lógica é, como acredito ter mostrado, apenas um
outro nome para semiótica (!"µ"#$%#&'), a quase necessária ou formal
doutrina dos signos. Descrevendo a doutrina como “quase necessária” ou
formal, quero dizer que observamos os caracteres de tais signos e, a partir
dessa observação, por um processo que não objetarei em denominar
Abstração, somos levados a afirmações eminentemente falíveis e por isso,
em certo sentido, de modo algum necessários, a respeito de como devem
ser os caracteres de todos os signos utilizados por uma inteligência
“científica”, isto é, por uma inteligência capaz de aprender por meio da
experiência.
Ao definir a Semiótica nesses termos, Peirce está levando os processos
semióticos para esferas mais amplas do que aquela dominada pela linguagem.
Embora Peirce (CP 5.421) acentue a importância da linguagem, ele deixa claro que a
semiose (processo determinante da conduta, ou ação dos signos) não se faz
exclusivamente por meio dela. Ao nos restringirmos a ela, a linguagem, corremos o
risco de deixar escapar a experimentação, tornando a interação com o fenômeno um
domínio estranho à representação (o incognoscível estaria subjacente a ela). Do
mesmo modo, a proposta de idéias efetivamente ou hipóteses que respondessem ao
real, não seriam compreensíveis. Sua presença no discurso científico seria
considerada resultante de uma arbitrariedade, sendo sua necessidade vinculada à sua
homogeneização com o conjunto discursivo. (cf. SILVEIRA, 2011).
A Semiótica terá como seu objeto de estudo o signo, como conduta racional
nesse universo fenomênico, sendo regido por suas categorias. (DEELEY, 1990).
Embora Peirce acreditasse que a explicação de qualquer fenômeno resida no fato de
que o universo inteiro é permeado por signos, é importante sabermos que eles nunca
estarão completamente abertos à representação. É devido a isso que a Semiótica
deverá, a partir da observação e da abstração, construir afirmações, mesmo que
falíveis, a respeito de como devem ser as características de todos os signos não
25
somente dos símbolos. (SILVEIRA, 2007). Para que se possa ter uma noção mais
clara da abrangência alcançada por essa noção de Signo, SANTAELLA (2000, p. 157-
158) sugere que vejamos em uma citação de PEIRCE (MS 774:4)19 alguns exemplos
do que poderia ser incluído nesse universo:
“... qualquer pintura, diagrama, grito natural, dedo apontado, piscadela,
mancha em nosso lenço, memória, sonho, imaginação, ocorrência, sintoma,
letra, numeral, palavra, sentença, capítulo, livro, biblioteca e, em resumo,
qualquer coisa que seja, esteja ela no universo físico, esteja ela no mundo
do pensamento, que - quer corporifique uma idéia de qualquer espécie (e
nos permita usar amplamente esse termo para incluir propósitos e
sentimentos), quer esteja conectada com algum objeto existente, quer se
refira a eventos futuros por meio de uma regra geral - leva alguma outra
coisa, seu signo interpretante, a ser determinado por uma relação
correspondente com a mesma idéia, coisa existente ou lei.”
A autora segue dizendo que a noção empregada aos Signos, como se pode
notar no texto peirceano, é de tal modo abrangente que os efeitos produzidos por ele
(ou seus interpretantes, segundo a nomenclatura de Peirce) não são necessariamente
palavras, frases ou mesmo pensamentos (no sentido clássico do termo). Eles podem
ser ações, reações, devaneios, esperanças ou até mesmo um estado indefinido do
sentimento. Ou seja, conforme NÖTH (1995, p.64), Peirce possui uma visão
pansemiótica do universo.
SANTAELLA (2004, p. 39), em outro de seus textos, nos diz que devido à
variedade de possibilidades sígnicas ser potencialmente infinita, a Semiótica deverá
trabalhar com conceitos e definições em seu limite máximo de abstração. Tal
procedimento é que a caracteriza como uma ciência do estudo formal de todos os
tipos de signos. (Cf. também MS 634:14). Ou seja, estudar Semiótica implica uma
tentativa de se conhecer o que é que os Signos têm em comum, como eles são
usados, e porque eles são usados no modo como são utilizados. (MERRELL, 2010b).
A definição dada por Peirce de semiose (a ação do signo) é o ponto central
de sua teoria dos signos. Semiose é um paradigma de suas categoria
fenomenológicas. Do mesmo modo que as categorias, ela envolve uma relação
triádica irredutível e unida em um único processo. Ou seja, seu modelo de Signo
incorpora num único processo o veículo de significação, o objeto do significado e o
programa futuro de conduta que estabelecerá as condições para se alcançar este
objeto. Em outras palavras, na semiose encontramos um primeiro correlato (seu
Representamem, ou Signo) como mediador, levando um segundo correlato (seu
Objeto) a manter uma relação com um terceiro correlato (seu Interpretante). O
significado (meaning) que o signo possuirá surge como conseqüência das
19
MS corresponde aos manuscritos não publicados de Peirce, seguindo a paginação de acordo com o
Institute for Studies in Pragmatism. A paginação adotada por esse instituto é a mesma elaborada
originalmente por ROBIN (1967).
26
interrelações triádicas entre esses correlatos (EP 2.274, 2.429, 2.496, 2.499; CP
4:536). Por exemplo, como pode ser visto na FIGURA 5, podemos considerar que uma
imagem de satélite seja uma representação (um primeiro) da bacia aluvial amazônica
(um segundo), permitindo o desenvolvimento de índices de sensibilidade ambiental
(um Terceiro).
SIGNO
Objeto
(Bacia Aluvial do Rio Solimões)
Representamen Interpretante
(Imagem de Satélite) (Índices de Sensibilidade Ambiental)
Figura 5 - Diagrama do Signo
20
Um ponto muito importante pede por um esclarecimento: o Interpretante não deve ser confundido com
o intérprete. O Interpretante surge por determinação do Representamen, que por sua vez é determinado
pelo Objeto. Ou seja, o Interpretante é uma função lógica que um dos correlatos do Signo assume na
semiose, afetando a mente do intérprete.
27
Se pegarmos o exemplo da Figura 5 veremos que outros Interpretantes podem surgir
na progressão do pensamento, tal como estratégias para a gestão dos sistemas de
transporte de óleo na Amazônia (cf. FIGURA 6). Ou seja, a idéia de Interpretante está
vinculada à noção de relação para o futuro. Quanto mais generalizante o Interpretante
se apresentar maior será o grau de previsibilidade dos fenômenos futuros e desse
modo tornará a determinação da conduta mais perfeita. (SILVEIRA, 1983 e PAPE,
1991).
SIGNO
Objeto
(Bacia Aluvial do Rio
Solimões)
28
de loucura empregada por Shakespeare. Tudo isso é observação colateral e não faz
parte do interpretante. (CP 8.179; cf. CP 8,181, Pape, 1991 e 1990).
SHORT (2007 p. 193) nos diz que a experiência colateral consiste em uma
interpretação de diversos signos como signos de um mesmo objeto. Isso exige a
identificação do objeto de um signo com a de outro, e que, por sua vez, exige que
cada signo seja um índice21 ou contenha um componente indicativo, mas não é
apenas isso. Índices mais ícones ou simbolos é que nos permitem escolher objetos
particulares de descrição geral. O índice nos aponta em uma direção, o símbolo ou o
ícone nos diz o que procurar naquela direção. Esses objetos têm uma localização
espaço-temporal, sendo assim, podem ser escolhidos novamente, por outros índices
ligados a outros ícones ou símbolos. Assim, há observação colateral do objeto do
signo original. Se considerarmos que diferentes signos de um mesmo objeto
(dinâmico) podem representá-lo de formas diferentes, tanto a suplementação quanto a
correção de um signo torna-se possível.
Para facilitar nossa visualização do modo como a suplementação e correção
podem surgir, tomamos como exemplo as representações construídas a partir do
conjunto de dados “Wine” (vinho em inglês). Tratam-se de dados bem conhecidos pela
comunidade de pesquisadores em mineração de dados. No contexto da classificação
de dados, é um problema bem definido e com estrutura de classes relativamente “bem
comportada”, sendo utilizado tanto para pesquisa (normalmente para os primeiros
testes de um novo classificador) como para o ensino de problemas relacionados à
classificação. Eles são o resultado de uma análise química de vinhos que cresceram
na mesma região na Itália, embora provenientes de três diferentes tipos de cultivo. A
análise determinou as quantidades de 13 componentes encontrados em cada um dos
três tipos de vinhos: 1) Álcool, 2) ácido málico, 3) Cinzas, 4) Alcalinidade das cinzas,
5) Magnésio, 6) Fenóis totais, 7) Flavanóides, 8) Fenóis não flavanóides, 9)
Proantocianinas, 10) Intensidade de cor, 11) Matiz, 12) OD280/OD315 dos vinhos
diluídos, e 13) Prolina. (Cf. FRANK, ASUNCION, 2010).
Comecemos com a suplementação, que como o próprio nome sugere,
ampliará ou completará a representação inicial. Sendo assim, ao calcularmos a matriz
de correlação do conjunto “wine” criamos uma matriz 13!13 que indica a força e o
sentido do relacionamento linear entre os atributos presentes no “wine”. Na TABELA 1
é apresentada a matriz quantitativa que representa essas correlações. Os seus
elementos da diagonal indicam a correlação máxima (1,0), enquanto os outros
21
A tricotomia ícone/índice/símbolo, será introduzida algumas páginas à frente ainda nessa seção.
Grosso modo, um ícone significa por exemplificação ou semelhança, um índice por uma relação causal ou
existencial, e um símbolo por uma regra instituída, convencional, habitual, ou instintiva.
29
apresentam as correlações relativas entre os atributos. A correlação positiva mais forte
é a encontrada na relação entre os atributos 6 e 7 (0,86), enquanto a negativa mais
forte é encontrada entre os atributos 11 e 2 (-0,56).
Tabela 1 – Matriz de correlação quantitativa
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13
1 1,0 0,09 0,21 -0,31 0,27 0,28 0,23 -0,15 0,13 0,54 -0,07 0,07 0,64
2 0,09 1,0 0,16 0,28 -0,05 -0,33 -0,41 0,29 -0,22 0,24 -0,56 -0,36 -0,19
3 0,21 0,16 1,0 0,44 0,28 0,12 0,11 0,18 0,0 0,25 -0,07 0,0 0,22
4 -0,31 0,28 0,44 1,0 -0,08 -0,32 -0,35 0,36 -0,19 0,01 -0,27 -0,27 -0,44
5 0,27 -0,05 0,28 -0,08 1,0 0,21 0,19 -0,25 0,23 0,20 0,05 0,06 0,39
6 0,28 -0,33 0,12 -0,32 0,21 1,0 0,86 -0,44 0,61 -0,05 0,43 0,69 0,49
7 0,23 -0,41 0,11 -0,35 0,19 0,86 1,0 -0,53 0,65 -0,17 0,54 0,78 0,49
8 -0,15 0,29 0,18 0,36 -0,25 -0,44 -0,53 1,0 -0,36 0,13 -0,26 -0,50 -0,31
9 0,13 -0,22 0,0 -0,19 0,23 0,61 0,65 -0,36 1,0 -0,02 0,29 0,51 0,33
10 0,54 0,24 0,25 0,018 0,20 -0,05 -0,17 0,13 -0,02 1,0 -0,52 -0,42 0,31
11 -0,07 -0,56 -0,07 -0,27 0,05 0,43 0,54 -0,26 0,29 -0,52 1,0 0,56 0,23
12 0,07 -0,36 0,00 -0,27 0,06 0,69 0,78 -0,50 0,51 -0,42 0,56 1,0 0,31
13 0,64 -0,19 0,22 -0,44 0,39 0,49 0,49 -0,31 0,33 0,31 0,23 0,31 1,0
30
Por outro lado, no caso da correção, o que ocorre é um aprimoramento da
representação inicial. Em outras palavras, o fato de uma falsa ou incompleta descrição
conter verdade suficiente para permitir a alguém que a identifique como uma descrição
errônea, ela abrirá espaço para que outra descrição que melhor represente o objeto
seja produzida. Sendo assim, vamos utilizar o conjunto de dados “wine”, em um
problema de classificação supervisionada22, a fim de obtermos uma boa visualização
do conceito de correção.
Sendo assim, utilizamos um classificador por árvore de decisão23 sobre o
conjunto de dados “wine”. Inicialmente o algoritmo classificador foi aplicado sobre um
conjunto de dados de treinamento (um subconjunto selecionado aleatoriamente dos
dados “wine”), como pode ser visto na FIGURA 8a. Com base nesses registros, o
algoritmo realizou a classificação de amostras (que também são selecionadas
aleatoriamente a partir da base de dados e diferentes do conjunto de treinamento),
cujos resultados podem ser visualizados na FIGURA 8b.
A simples inspeção visual já nos mostra que alguns erros de classificação
parecem ter ocorrido. Na FIGURA 8c podemos visualizar o resultado da avaliação do
classificador por árvore de decisão, nos restringiremos a comentar o método gráfico
chamado de espaço ROC (do inglês Receiver Operating Characteristic)24. A análise
ROC é utilizada em Mineração de Dados como uma ferramenta para a avaliação de
modelos de classificação (BRADLEY, 1997). O desempenho do classificador é
representado por uma curva no espaço ROC – a curva ROC. Normalmente, a curva
que se aproxima do ponto (0,1) é aquela que se apresenta mais eficaz. (Para saber
mais cf. PRATI, BATISTA, MONARD, 2008).
Se observarmos o resultado da avaliação de nosso classificador, podemos
perceber que ele está relativamente mais próximo ao ponto (0,1) do que da linha
diagonal ascendente (0,0) - (1,1). No entanto, para sabermos com mais precisão o
quanto o algoritmo é bom, devemos calcular a área abaixo da curva ROC, um método
chamado AUC (do inglês Area Under Curve). Como a AUC é uma porção do espaço
ROC, seus valores vão de 0 à 1, sendo 1 o desempenho ótimo. (cf. BRADLEY,1997 e
LING, HUANG, ZHANG, 2003). Os resultados nos mostram que o classificador por
22
Um sistema de classificação supervisionada, qualquer que seja ele, deve ser capaz de aprender as
características e a distribuição dos padrões no espaço vetorial definido por um determinado conjunto de
dados. Ou seja, ele deve ser capaz de aprender como um determinado padrão será associado à classe a
que pertence. (para saber mais sobre classificadores cf. HAN, KAMBER, 2006, PARDO, SBERVEGLIERI,
2002, DUDA, HART, STORK, 2001, KULKARNI, LUGOSI, VENKATESH, 1998).
23
Métodos baseados em árvores de decisão são amplamente utilizados em aplicações de mineração de
dados e aplicações de apoio à decisão. Trata-se de um meio rápido e fácil de ser usado para a geração
de regras e para o tratamento de problemas de classificação. (para saber mais sobre o assunto cf. HAN,
KAMBER, 2006, PACH, ABONYI, 2006 e DUDA, HART, STORK, 2001).
24
Os gráficos ROC tem sido utilizado em psicologia, em economia, entre outros (EGAN, 1975, GREEN,
SWETS, 1989, ZHOU, McCLISHI, OBUCHOWSKI, 2002, GASTWIRTH, 1971).
31
árvore de decisão possui um AUC de valor 0,9072, o que sugere um bom
desempenho.
(a) (b)
(c)
Figura 8 - Classificação por árvore de decisão: a) conjunto de treinamento, b) resultado do classificador e
c) avaliação do classificador
25
Para saber maiores setalhes sobre particionamento fuzzy confira RUSPINI (1969), BEZDEK, HARRIS
(1978 e 1979), KASUMOV (1996), KLEMENT, MOSER (1997), BAETS, MESIAR, (1998), IANCU (1999).
32
(multiplicação tradicional) ou operações de mínimo e máximo (inferência fuzzy), entre
os atributos fuzzificados e os seus pesos correspondentes. Pela agregação, a terceira
etapa, obtemos por meio das conclusões parciais geradas pela inferência fuzzy, uma
conclusão a respeito dos registros. Isto é feito, geralmente, tomando-se o mínimo
entre os valores de pertinência de cada atributo em relação a uma mesma classe. A
última etapa consiste em escolher a classe associada ao maior valor de pertinência,
como a classe a qual o registro pertence. (VIDAL, 2007, cf. também MITRA, PAL,
2005, RUSSEL, NORVIG, 1995, DUBOIS, PRADE, TESTEMALE, 1988).
Sendo assim, na FIGURA 9 (a e b), podemos encontrar o conjunto de
treinamento e o resultado do classificador, respectivamente. Na FIGURA 9c podemos
verificar que a curva ROC do classificador fuzzy está bem mais próxima do ponto
(0,1), com valor AUC 0,9619. Sendo assim, o classificador fuzzy (AUC = 0,9619) é
superior à arvore de decisão (0, 9072), corrigindo nossa representação a respeito
dessa base de dados.
(a) (b)
(c)
Figura 9 - Classificador fuzzy: a) conjunto de treinamento, b) resultado do classificador e c) avaliação do
classificador
A experiência colateral cresce com o tempo, o que pode ser visto como um
modo de formação de hábito. (FALK SEEGER, 2004). Esse parece ser, de acordo
com SILVEIRA (2010b) um ponto chave para entendermos a relação semiótica que o
signo mantém com seu objeto dinâmico, cujo acesso representativo se faz
imediatamente com o objeto imediato e a experiência colateral que permite acesso ao
33
objeto dinâmico. Quando Peirce diz que o objetivo último do signo é a mudança de
hábito26, é a essa mudança que se acresce maior autocontrole e autoconsciência e
que se “aprimora” numa experiência colateral ao signo. Será pelo hábito esclarecido
que o signo poderá alcançar com maior controle o objeto procurado. Cremos que uma
discussão mais longa a respeito do objeto do signo não é oportuna. Sendo assim,
passamos a discutir o interpretante do signo.
De modo semelhante ao Objeto, deve-se distinguir o Interpretante Imediato e
o Interpretante Dinâmico do Signo. O Interpretante Imediato é aquele que está
determinado potencialmente no próprio signo Signo, sendo comumente chamado de
significado. Ele não diz respeito a qualquer interpretação de fato, ele é o efeito que o
Signo está apto a produzir. O Interpretante Dinâmico é o efeito do Signo na mente, é
aquilo que é vivido no ato de interpretação. Quantas forem as interpretações do Signo
quantos serão os Interpretantes Dinâmicos. Contudo, como vimos a pouco, a idéia de
Interpretante é uma idéia para o futuro. Como tal, o Interpretante não pode ser
reduzido aos Imediatos e Dinâmicos, relacionados à primeiridade e secundidade.
Dada a natureza generalizadora (terceiridade) do Interpretante, deve-se distinguir,
também, um Interpretante Final. Por vezes chamado de Interpretante Normal, ele é o
resultado interpretativo para o qual as interpretações tendem. É um programa de
conduta cuja meta é a perfeita integração com o Objeto Dinâmico. (CP 8.343, 8.314-
15, 4.536, SILVEIRA, 2007).
Assim, de acordo com o mecanismo de implicação oriundo da
Fenomenologia, nós temos um modo de ser do primeiro correlato, o Representamen,
dois modos para o segundo correlato, o Objeto Dinâmico e o Objeto Imediato, e três
modos para o terceiro correlato, o Intepretante Dinâmico, o Interpretante Imediato e o
Interpretante Final. Veja na FIGURA 10 um diagrama desses modos de ser dos
correlatos do Signo.
SIGNO
26
A semiose (ação do signo), pela presença de um mediador, supõe que haja uma modificação da
conduta em relação à experiência vivida. Tal processo tende a ser contínuo, evolucionário e infinito. (Cf.
SILVEIRA 1992). Essa tendência teleológica de busca da perfeição da forma é uma regra geral de
conduta, é hábito. (Cf. SILVEIRA, 1985, p. 17).
34
compreensão do próprio efeito que o signo produz (embora a verdade seja fracamente
fundamentada). O Interpretante Emocional, como foi denominado, poderá em alguns
casos corresponder a muito mais que um sentimento de reconhecimento, pois pode
ser o único efeito carreado pelo signo. Desse modo, uma peça musical é um signo
que transmite uma série de sentimentos que são as idéias do autor. Qualquer outro
efeito do signo será por meio do interpretante emocional, o que de certo modo
envolverá algum tipo de esforço. O esforço, denominado interpretante energético,
pode ser de natureza física (muscular, no caso do comando descansar armas) ou
mental, “um exercício sobre o mundo interior”, como mais usualmente se apresenta.
Esse tipo de interpretante não pode ser um conceito por ser um ato singular. Um
conceito exige generalidade, que é alcançada pelo interpretante lógico. Podemos dizer
que esse efeito do signo é de natureza intelectual
Contudo, devemos notar que o estudo dos Interpretantes é ainda hoje fonte
de divergências entre os estudiosos da Filosofia peirceana, seu desdobramento em
duas séries distintas tem gerado dificuldades de entendimento sobre o modo pelo qual
elas se interrelacionam. Não cabe a esse trabalho discutir as diferentes propostas,
para isso confira COLAPIETRO (2006), SANTAELLA (1995), JOHANSEN, (1985), e
BUCZINSKA-GAREWICZ (1981). O que faremos é apresentar a proposta que
acreditamos ser a mais coerente com o conjunto da obra peirceana. Sendo assim,
optamos por apresentar as idéias elaboradas por SILVEIRA (2007, p. 55), na qual as
duas tríades possuem uma relação matricial.
A representação diagramática do cruzamento das duas séries de
interpretantes é apresentada na TABELA 2 abaixo. Podemos notar a presença, em
ambas as tríades, das categorias de Primeiridade, Secundidade e Terceiridade. As
relações determinadas pela Primeiridade serão representadas pela cor azul, as de
Secundidade pela cor verde e as de Terceiridade pela cor vermelha.
dade Interpretante
2
Energético
dade Interpretante
3
Lógico
35
[azul], a cor [verde] e, finalmente, em um único campo, sobrepõe-se às
27
outras duas cores, o [vermelho]. Considera-se que na série constituída
pelos interpretantes Imediato, Dinâmico e Final, respectivamente o primeiro
é caracterizado pela Primeiridade; o segundo, pela Secundidade; e o
terceiro, pela Terceiridade, enquanto que na série constituída pelos
interpretantes Emocional, Energético e Lógico, o Emocional é caracterizado
pela Primeiridade; o Energético, pela Secundidade; e o Lógico, pela
Terceiridade. Conclui-se, pois, que toda a coluna encabeçada pelo
Interpretante Imediato e toda linha encabeçada pelo Interpretante
emocional, restringir-se-ão a relações de Primeiridade, e não há por que se
falar em relações genuínas e degeneradas. O mesmo não se dará nos
casos restantes. Na coluna encabeçada, pelo Interpretante Dinâmico e na
linha encabeçada pelo Interpretante Energético, haverá uma relação
degenerada, a saber, a do campo constituído pela interseção do
Interpretante Dinâmico com o Interpretante Energético, e duas genuínas,
constituídas pela interseção da coluna encabeçada pelo Interpretante
Dinâmico com as linhas encabeçadas, respectivamente, pelo Interpretante
Energético e Interpretante Lógico. Caso análogo se dará, com a linha
encabeçada pelo Interpretante Energético: o campo decorrente da
interseção dessa linha com a coluna encabeçada pelo Interpretante
Imediato, corresponderá a uma forma degenerada de Secundidade,
enquanto que os outros dois campos corresponderão a formas genuínas
dessa mesma categoria. Finalmente, só será uma realização genuína da
Terceiridade, aquela correspondente ao campo formado pela interseção da
coluna encabeçada pelo Interpretante Final com a linha encabeçada pelo
Interpretante Lógico. Todos os outros casos, respectivamente, os dos
campos formados pela interseção da coluna encabeçada pelo Interpretante
Final e da linha encabeçada pelo Interpretante Lógico serão constituídos por
realizações degeneradas de Terceiridade. Serão uma vez degenerados os
campos respectivamente, formados pela interseção da coluna encabeçada
pelo Interpretante Final com a linha encabeçada pelo Interpretante
Energético e pela interseção da linha encabeçada pelo Interpretante Lógico
com a coluna encabeçada pelo Interpretante Final. Serão duas vezes
degenerados, os campos constituídos, respectivamente, pela interseção da
coluna encabeçada pelo Interpretante Final com a linha encabeçada pelo
Interpretante Emocional e pela interseção da linha encabeçada pelo
Interpretante Lógico com a coluna encabeçada pelo Interpretante Imediato –
ao qual corresponderia o significado (meaning) do Signo.
Essa proposta tem a vantagem de abarcar todos os campos
signicos, sejam emoções, percepções, condutas, e os mais elevados processos
cognitivos. Para se obter maiores informações a respeito das relações entre as duas
tríades de Interpretantes, confira também SILVEIRA (1991), Santaella, (1992),
BERGMAN (2003) e SHORT (2007, 1996). Contudo, no momento não é necessário
que se prolongue uma discussão a respeito desse tópico. É suficiente que saibamos
da existência dessas duas tricotomias e que elas se interrelacionam matricialmente,
apontando para os significados que o Signo produz.
Uma vez apresentados os correlatos do Signo (Representamen-Objeto-
Interpretante) e suas subdivisões, devemos dar continuidade à nossa explanação e
discutir como se dão as relações entre esses correlatos. Segundo PAPE (1990), se
nos voltarmos para os aspectos que os Signos possuem, podemos usar as categorias
27
O negrito foi por nós introduzido, bem como a troca das cores: verde por azul; cinza por verde; e roxo
por vermelho, a fim de mantermos a convenção que estabalecemos na Fig. 1.
36
fenomenológicas para identificar suas propriedades internas. Devido ao fato do Signo
possuir uma dimensão de Hausdorff,28 nós podemos usar as categorias para subdividir
as relações entre seus três correlatos continuamente, ou até a alguma medida que
seja útil para nossos objetivos.
De acordo com NÖTH (1995, p. 78), tais relações é que permitiram a Peirce
elaborar uma tipologia de signos divididas em três classes denominadas tricotomias.
Considerando as possibilidades lógicas de se combinar essas tricotomias, ele chegou
a um sistema de dez classes de Signos. Embora possa a primeira vista parecer
exagerado tantas classes de Signos, pois há um aumento considerável da
complexidade conceitual com a qual devemos lidar, esse sistema se revela uma
estratégia analiticamente poderosa.
Sendo assim, a discussão para a qual seguiremos visa o entendimento das
tricotomias e as classes de signos decorrentes delas. Tal intenção se justifica, pois é
na divisão dos signos que poderemos visualizar a posição que termos, proposições e
argumentos possuem em relação aos outros signos. Essa distinção é muito importante
para entendermos o que eles são e do que são formados, contribuindo em nossa
busca por uma estratégia que permita a aplicação do pragmatismo, auxiliado pelos
grafos existenciais, como recurso na construção e interpretação de proposições
condicionais baseadas tanto em conhecimento especialista, quanto inferidos a partir
de dados.
Para Peirce, a classificação das diversas relações sígnicas tem a função de
caracterizar de modo abrangente e preciso todas os possíveis modos pelos quais nós
reconhecemos e representamos os fenômenos presentes no mundo ao nosso redor.
(SANTAELLA, 1995). É importante notar que o modelo triádico do Signo (cf. Fig. 5 na
seção anterior) mantém a mesma estrutura de implicação das categorias
29
fenomenológicas. Essa estrutura de relações de implicação foram mantidas por
Peirce ao estabelecer 3 tricotomias, isto é, 3 divisões triádicas do signo de cuja
30
combinatória resultam as 10 principais classes dos Signos. (Cf. MÜLLER, 1994).
Essas classes de signos são as mais conhecidas, talvez por serem as mais
importantes e representarem casos extremos das relações que um signo pode conter.
28
A dimensão de Hausdorff é uma medida usada para o cálculo das dimensões fractais de objetos,
confira SAVI (2006, p. 136-9), KANTZ, SCHREIBER (2004, p. 212-217), SPROTT (2003, p. 303-7),
PRIGOGINE (1989, p. 113-115).
29
O Signo corresponde à primeiridade, o Objeto à secundidade e o Interpretante à terceiridade.
30
De acordo com SILVEIRA (2010b), caberia, também, notar que essas dez classes de signos foram
estabelecidas por Peirce em data anterior à distinção entre Objeto Imediato e o Objeto Dinâmico , assim
como à distinção entre Interpretante Imediato, Interpretante Dinãmico e Interpretante Final ou Normal do
Signo. Ao introduzirmos no texto estas distinções, nós a colhemos à luz das classes posteriormente
deduzidas por Peirce.
37
As relações das tricotomias foram estabelecidas do seguinte modo: a relação
do Representamen consigo mesmo, do Representamen com seu Objeto Dinâmico e
do Representamen com seu Interpretante Final. O Representamen em si mesmo pode
ser uma qualidade, chamado Qualisigno, um existente, denominado Sinsigno, ou
uma lei geral, designado Legisigno. (CP 2.243-246). A relação com seu Objeto pode
se dar por pura similaridade, um Representamen que através de sua semelhança se
tornará um Ícone de algo. Também poderá ser um indicador ou índice, se referindo
ao Objeto por ser afetado por ele, mantendo uma relação de fato, imediata. Ou ainda,
pode ser um Símbolo, devido a hábitos adquiridos com força de lei, relativo a idéias
gerais que agem de forma a levar o Interpretante a reconhecê-lo como sendo um
objeto convencional. (CP 2.247-249). Por fim, a relação mantida com o Interpretante
pode ser com base em uma possibilidade, um Rema. Pode ser uma existência
concreta, um fato, sendo um signo Dicente ou Dicisigno. A última relação entre o
Representamen e o Interpretante é o Argumento. Este se apresenta como uma lei,
representa o Objeto em seu caráter de Signo. (CP 2.250-253). Sendo assim, o
diagrama apresentado na FIGURA 11 representa esquematicamente as relações do
Representamen consigo mesmo, com o Objeto e com o Interpretante. (Cf. também
HOFFMANN, 2008).
SIGNO
Ícone
Objeto Índice
Simbolo
Quali-signo Rema
Representamen Sin-signo Interpretante Dicisigno
Legi-signo Argumento
Figura 11 – As três tricotomias do Signo
38
Signo. (SILVEIRA, 2007, propoz uma tabela que ilustra as relações do Signo, que é
muito útil no entendimento de como essas dez classes estão organizadas. Confira a
TABELA 3). Após essa apresentação discutiremos com maior cuidado as três últimas
classes, que são as que mais nos interessam no momento.
Sinsigno
Indicativo Existência Existência Possibilidade Uma flor não
3 (Sinsigno) (Indicativo) (Remático) catalogada.
Remático
Um diagrama,
Legissigno Lei Possibilidade Possibilidade abstraindo-se sua
5 Icônico (Legissigno) (Icônico) (Remático) individualidade
Legissigno
Indicativo Lei Existência Possibilidade O nome de um
6 (Legissigno) (Indicativo) (Remático) quadro (abaixo)
Remático
Legissigno
Indicativo Lei Existência Existência
7 (Legissigno) (Indicativo) (Dicente) Uma expressão
Dicente
39
Qualissigno. Exemplo: um diagrama individual (diagrama do circuito elétrico de um
computador em particular), um carro na iminência de um choque. (CP 2.255).
• A Terceira classe é um Sinsigno Indicial Remático. Ele é qualquer coisa de
experiência direta, que direciona atenção para um Objeto. Sua presença está
condicionada ao Objeto. Ele envolve um Sinsigno Icônico de um tipo especial,
diferindo dele por chamar a atenção do intérprete para o próprio Objeto. Exemplo:
um grito espontâneo (dor, alegria, susto, etc.), uma flor não catalogada. (CP 2.256).
• A quarta classe é um Sinsigno Dicente. Ele será qualquer coisa de experiência direta
e como Signo fornecerá informação a respeito de seu Objeto. Isso será possível
somente se ele for realmente afetado pelo seu Objeto. Assim, ele necessariamente
será um Índice. A informação que ele carreia diz respeito apenas a um fato atual.
Para incorporar a informação ele deve envolver um Sinsigno Icônico e para indicar o
Objeto ao qual a informação se refere ele deve envolver um Sinsigno Indicativo
Remático, sendo que a sintaxe de ambos deve também ser significante. Exemplo:
galo indicador da direção do vento, um choque de fato. (CP 2.257).
• A quinta classe é um Legissigno Icônico. Ela possui caráter de lei, na medida em
que cada uma de suas instâncias deva incorporar uma qualidade definida,
permitindo que no espírito seja suscitada uma idéia de um objeto semelhante. Por
ser um ícone ele deve ser um Rema. Sendo um Legissigno, ele governará Réplicas31
singulares (cada uma delas sendo uma espécie de Sinsigno Icônico). Exemplo: um
diagrama, não levada em conta sua individualidade fatual. (CP 2.258).
• A sexta classe é um Legissigno Indicativo Remático. É um tipo geral ou lei, não
importando que ela tenha sido estabelecida. Ele requer que cada uma de suas
instâncias seja afetada por seu Objeto, meramente chamando a atenção para esse
Objeto. Suas réplicas serão uma espécie de Sinsigno Indicativo. Seu Interpretante o
representa como um Legissigno Icônico, mas em pequeníssima medida. Exemplo:
um pronome demonstrativo, um nome abaixo de um quadro. (CP 2.259).
• A sétima classe é um Legissigno Indicativo Dicente. Do mesmo modo que a sexta
classe, ele é um tipo geral ou lei, não importando como tenha ela sido estabelecida e
requer que suas instâncias sejam afetadas pelo Objeto. No entanto, deve ser
afetada de modo a carrear informação definida a respeito daquele Objeto. Para
significar a informação ele envolve um Legissigno Icônico e um Legissigno Indicativo
31
“Todo legissigno ganha significado por meio de um caso de sua aplicação, que pode ser denominado
Réplica. Assim, a palavra “the” [em inglês] comumente aparecerá de 15 a 25 vezes numa página. Em
todas essas ocorrências é uma e a mesma palavra, o mesmo legissigno. Cada ocorrência singular é uma
Réplica. A Réplica é um sinsigno. Dessa forma todo legissigno requer sinsignos. Todavia, esses não são
sinsignos ordinários, uma vez que são ocorrências peculiares, encaradas como revestidas de
significação. Nem a Réplica seria revestida de significação, não fosse a lei que lhe confere significação.
(CP. 2.246).”
40
Remático para denotar o sujeito da informação. Suas réplicas serão uma espécie de
Sinsigno Dicente. Exemplo: um pregão de rua, uma expressão. (CP 2.260).
• A oitava classe é um Símbolo Remático ou Rema Simbólico. Ele está conectado a
seu Objeto por uma associação de idéias gerais, acarretando que sua Réplica
suscita uma imagem na mente. Essa imagem, devido a certos hábitos daquela
mente, tenderá a produzir um conceito geral. Ele é da natureza de um tipo geral,
sendo um Legissigno. Sua Réplica será interpretada como um Signo de um Objeto
que é uma instância desse conceito, sendo uma espécie de Sinsigno Indicativo
Remático. Isso se dá, pois ele sugere à mente uma imagem que atua naquela mente
a fim de fazer surgir um Conceito Geral. O Interpretante do Símbolo remático com
freqüência o representa como um Legissigno Indicativo Remático. Mas, algumas
vezes o representa como um Legissigno Icônico. Na verdade, ambos participam da
representação em alguma medida. Exemplo: um substantivo comum, um termo. (CP
2.261).
• A nona classe é um Símbolo Dicente. Ele atua de modo semelhante a um Símbolo
Remático, exceto que seu pretendido Interpretante o representará como sendo
afetado por seu Objeto. Disso decorre que a lei que ele evoca deve estar conectada
ao Objeto indicado. Assim, ele será visto por seu Interpretante como um Legissigno
Indicativo Dicente. Ele é um Legissigno, envolve um Símbolo Remático para
expressar sua informação e um Legissigno Indicativo Remático para indicar o sujeito
daquela informação. Mas, a Sintaxe deles deve ser significante. A Réplica do
Símbolo Dicente é um Sinsigno Dicente. Assim, não poderá veicular informação de
lei, apenas de suas realizações concretas. Exemplo: uma proposição. (CP 2.262).
• A décima classe é um Argumento. É um Signo cujo Interpretante lhe representa seu
Objeto por meio de uma lei. Uma lei em que a passagem das premissas para as
conclusões tende para a verdade. Seu Objeto deve ser geral, devendo ser um
símbolo e com isso, deve ser um Legissigno. A réplica de um Argumento é um
Sinsigno Dicente. Exemplo: um silogismo, um raciocínio. (CP 2.263).
Podemos perceber que a divisão peirceana dos Signos é um método de
análise que nos permite distinguir os diferentes níveis de representação que um Signo
pode assumir. As regras de implicação, nas quais um Signo menos complexo está
contido naqueles de complexidade superior, refletem o caráter evolucionário do
pensamento. Em outras palavras, um Signo, ao exigir uma explicação adicional para
seu entendimento, formará outro Signo ainda mais amplo. Esse processo é contínuo e
tende ao infinito. Essa noção está diretamente relacionada ao Pragmatismo. A relação
entre eles decorre do fato de que o Pragmatismo é uma teoria geral dos conceitos
intelectuais, isso é, ele estuda a natureza do significado dos termos gerais, e, como
41
tal, se insere no âmbito da Semiótica, que estuda de modo o mais exato e
amplamente possível as relações de todos os signos. O Pragmatismo é, em suma,
suportado por toda a rede das Ciências Normativas, em especial pela tipologia dos
Signos (Cf. ROBIN, 1997).
42
o termo é aplicado a objetos. O princípio lógico que todos os termos são gerais tem
uma importante implicação semântica. As únicas qualidades que termos podem
representar são aquelas que podem ser realizadas por mais de um objeto. Em outras
palavras, todo termo define um tipo geral ou uma classe geral de objetos possíveis.
(FORSTER, 2003 cf. também W 2.26). Termos gerais, tais como o “vermelho” ou
“homem”, não só são predicáveis de muitos casos reais, mas abrangem um continuum
de variações possíveis: a generalidade que representam é formada por essas
inúmeras possibilidades. (SHORT, 2007, p. 79).
No entanto, qualidades e condições gerais por si só não podem indicar
elementos particulares, nem podem apontar para uma representação de uma lei geral
e assim por diante. (SHORT, 2007, p. 167). É importante percebermos que no
pragmatismo peirceano qualquer "efeito concebível" de um objeto deve consistir de
propriedades gerais que o relacionem a outros objetos e determinem sua instanciação;
tal relação é expressa na forma ""S é P". Desse modo, todos os termos são explicados
na forma de proposições. (FORSTER, 2003). Por exemplo, uma sentença combina
termos para expressar alguma coisa (uma verdade ou uma falsidade) que não pode
ser representada por nenhum dos termos sozinho. (SHORT, 2007, p. 227). Ou seja,
toda proposição pode, em pelo menos um modo, ser colocada na forma "S é P"; o que
importa disso é que os objetos aos quais “S” se aplica, constituem-se no sujeito total
da proposição, têm as características atríbuídas a cada objeto para o qual “P” se
aplica, sendo “P” o predicado total da proposição. Todo termo tem dois poderes ou
significações (significations) de acordo com o modo como ele se apresenta na
proposição, a saber: como sujeito ou como predicado. (CP 2.472-3).
DE TIENNE (2006), em seu texto “Peirce's Logic of Information” apresenta
uma detalhada discussão a respeito das condições que permitem um termo assumir o
papel de sujeito ou predicado numa proposição. Para um termo proposicional ser um
predicado, ele deve ter “extensão informada”, isto é, ele deve ser predicável de coisas
reais, “com verdade lógica sobre o todo num suposto estado de informação” (cf. W
2.79 e W 3.100). Isso significa que toda informação disponível deve ser levada em
conta e que nenhuma parte da extensão informada pode ser alguma coisa da qual não
se tenha razão para acreditar que o termo seja realmente predicável. A atribuição de
predicado a um sujeito não é um caso arbitrário: a lógica demanda experiência ou
conhecimento adquirido, ou seja, o conjunto de todas as proposições sintéticas que já
foram formadas sobre o assunto, não só não contradizem a possibilidade de que o
novo termo oferecido na proposição represente uma característica que realmente
pertença ao sujeito, mas ainda forneça a sugestão dessa possibilidade através de
43
correlações conhecidas. A força da sugestão varia de acordo com o grau ou extensão
da experiência em que é baseada ou conhecimento prévio real dos tipos de objetos
representados, de modo que a extensão informada pode ser mais ou menos certa ou
duvidosa, mais atual ou potencial. (Cf. também CP 2.407).
Por sua vez, segundo o mesmo autor, para um termo proposicional ser um
sujeito, ele deve ter “profundidade informada”, ou seja, ele deve ter caracteres reais
(distintos dos meros nomes) que possam ser predicados dele (com verdade lógica
sobre o todo) em um suposto estado de informação, nenhum caráter sendo contado
duas vezes. A profundidade informada, tal como a extensão, pode ser certa ou
duvidosa, atual ou potencial. Ela é medida não de acordo com o número de “meros
nomes” que possam ser conectados ao sujeito, mas ao número de distintas
propriedades que a máxima pragmática poderia distinguir como realmente pertencente
ao sujeito da proposição. Isso implica a possibilidade de testar objetos comparáveis e
submetê-los a um teste indutivo. Peirce de fato mostra que a indução, ampliando a
extensão dos termos predicados, na verdade aumenta a profundidade dos termos do
sujeito - por generalizar a atribuição de um caráter a partir de objetos selecionados de
sua coleção - enquanto hipóteses, por ampliar a profundidade dos termos do sujeito,
na verdade aumenta a extensão do predicado - por ampliar sua atribuição para novos
individuais. Então, ambos os tipos de inferência ampliativa geram informação. (Cf. DE
TIENNE, 2006 e CP 2.408). Voltaremos aos tipos de argumento mais a frente.
DE TIENNE ainda aponta que o “suposto estado de informação” consiste de
um completo conjunto de premissas que suportam uma dada proposição no modo
indicativo (o modo genuinamente sintético). Uma vez que a nova proposição é
afirmada, ela é adicionada ao estoque de informação, mas ao fazer isso, ela pode ou
não afetar o “suposto estado” daquela informação de acordo com o modo que a
extensão e a profundidade são aumentadas ou não. Informação não é uma
quantidade que automaticamente cresce ou decresce seguindo cada nova afirmação
de uma proposição sintética distinta. A razão é que informação não é uma mera soma
de quantidades, mas um produto. Informação como a multiplicação de duas
quantidades lógicas, extensão e profundidade (ou conotação e denotação), é ela
mesma uma quantidade lógica de ordem-superior não redutível ao multiplicador ou
multiplicando. Ao contrário disso, a multiplicação muda a dimensionalidade - pelo
menos quando não é reduzida, como é frequentemente o caso dos livros escolares, a
uma mera repetição aditiva. Informação pertence a uma dimensão lógica diferente.
Isso implica que, experiencialmente, ela se manifesta num plano mais elevado. Atribuir
um predicado a um sujeito num juízo da experiência é reconhecer que os dois
ingredientes multiplicados, em sua conjunção copulativa, produz um novo tipo de
44
entidade lógica, que não é meramente fruto ou efeito de sua união, mas aquela cuja
antecipação realmente causou a união. Pragmaticamente, cada proposição ao
expressar-se cumpre parcialmente a finalidade que conduz sua formação.
Portanto, termos são ordenados em proposições de acordo com sua extensão
e profundidade (cf. W 3.88 e 3.98f). Na proposição "Cobras são répteis", por exemplo,
o termo "réptil" é mais amplo que o termo "cobra", uma vez que sua extensão inclui
todos os outros répteis. Entretanto, o termo "cobra" é mais profundo que "réptil", uma
vez que ele conota qualidades essenciais para répteis e aqueles que tipificam cobras.
Isso é um princípio geral de lógica, então, em qualquer proposição da forma "S é P",
“S” possui mais profundidade informada do que “P” e “P” possui mais extensão
informada do que “S”. Geralmente, a relação dos termos em uma proposição de forma
“S é P” implica que todos os objetos denotados por “S” são “casos sob” “P”. Assim, a
explicação de termos por proposições pressupõem como uma condição de sua
possibilidade que a classe de possíveis objetos que os termos simbolizam sejam
ordenados de acordo com uma hierarquia (W 3.98). Os únicos “efeitos concebíveis” de
um objeto são aqueles que determinam seu lugar em um sistema hierárquico de tipos
gerais. (FORSTER, 2003).
Contudo, deve-se notar que na concepção de Peirce, contrariamente à
opinião consagrada, o aumento da compreensão de um termo não implica
necessariamente a diminuição de sua extensão e vice versa. Essa idéia é
particularmente importante no contexto da interpretabilidade das regras fuzzy, pois o
problema da relação entre precisão e interpretabilidade tem sido tratado a partir do
princípio da incompatibilidade, tal como postulado por ZADEH (1973).
Incompatibilidade essa, que não se justifica do ponto de vista formal. Caso as idéias
de Peirce estejam corretas, é possível aumentar a precisão sem que se perca em
extensão e vice versa.
Não queremos dizer que isso é tarefa fácil, nem mesmo que os
pesquisadores da teoria fuzzy estejam no caminho errado. Pelo contrário, os avanços
recentes em direção do equilíbrio entre precisão e interpretabilidade são louváveis.32
Acreditamos, sim, que a introdução dos conceitos provenientes do pragmatismo
peirceano possam ajudar, ao colocar o problema em outra perspectiva.
Por exemplo, nos casos em que o estado de informação é intermediário entre
o pleno, mas estrito, conhecimento da essência de um termo e o conhecimento pleno
da substância do Objeto por ele definido, será possível acrescentar profundidade a um
32
(cf. ISHIBUCHI, NOJIMA, 2009, 2007 ALONSO, MAGDALENA, GUILLAUME, 2008, ALCALÁ, et al.,
2007, ZHOU, GAN, 2006, YEN, WANG, GILLESPIE, 1998, SETNES, BABUSKA, VERBRUGGEN, 1998,
ISHIBUCHI, MURATA, TURKSEN, 1995, ISHIBUCHI, et al., 1994 e 1995)
45
conceito sem que ocorra diminuição de sua extensão. O acréscimo de informação
proporcionado se dá por meio de atribuição de novos predicados em um juízo
sintético, tal qual a modelagem fuzzy precisa, com a interpretabilidade melhorada (cf.
ALONSO, MAGDALENA, GONZÁLEZ-RODRÍGUEZ, 2009). (Para saber mais sobre
estados de informação cf. SILVEIRA, 2008a).
Finalmente, retornando à nossa discussão a respeito dos termos e
proposições, poderia ser perguntado qual é a natureza do signo que une o termo “S”
ao termo “P” de tal modo que construa a proposição “S é P”. O par de termos “cobras”
e “répteis” da proposição “cobras são répteis”, por exemplo, formam um par de coisas
conectas por um verbo, o signo “são”, que funciona como um índice da conexão em
sua reação atual. Ou seja, as proposições requerem que haja uma sintaxe real, que é
um índice daqueles elementos do fato representado que correspondem ao sujeito e ao
predicado. Isso é aparente em todas as proposições, sob o nome de cópula. Cópula
(ou mais precisamente o verbo que é uma cópula em nosso exemplo) é a terceira
parte de uma proposição, que meramente dá a forma que a sintaxe pode tomar (ela é
meramente formal, não contendo nenhum conteúdo ou complexidade). (EP 2.298,
2.310 e CP 1.547, 2.343).
Um retrato de um homem, com o nome do homem escrito em baixo, é
estritamente uma proposição, embora sua sintaxe não seja a da fala e o
33
próprio retrato não somente represente, mas seja um Hipoícone . Mas o
nome próprio aproxima-se de tal modo do Índice, que pode ser suficiente
para dar a idéia de um Índice informacional. Um melhor exemplo é uma
fotografia. A mera impressão da chapa fotográfica, nele mesma, não veicula
qualquer informação. Mas o fato, o qual é virtualmente uma seção de raios
projetada a partir de um objeto por outro modo conhecido, torna-a um
Dissigno. ... Notar-se-á que esta conexão de uma impressão, que é o quasi-
predicado da fotografia, com a seção dos raios, que é o quasi-sujeito, é a
Sintaxe do Dicissigno; e semelhantemente à Sintaxe da proposição, é um
fato concernente ao Dicissigno considerado como um Primeiro, isto é, em si
mesmo, independentemente de ser um signo. (CP 2.239).
A essência fundamental da cópula é expressar uma relação de um termo ou
termos gerais ao universo de predicação (ou universo dos sujeitos de atribuição). Este
universo deve ser bem conhecido e mutuamente conhecido e concordado que existe,
em algum sentido, entre quem fala e quem houve, ou não haverá comunicação. O
universo é, assim, não um mero conceito, mas é a mais real das experiências. (CP
3.621). Em cada proposição, as circunstâncias de sua enunciação mostram que se
refere a uma coleção de indivíduos ou de possibilidades, que não pode ser
33
“Uma possibilidade tomada isoladamente é puramente um Ícone em virtude de sua qualidade; e seu
objeto somente pode ser uma Primeiridade. Mas um signo pode ser icônico, isto é, pode representar seu
objeto principalmente por sua similaridade, não importando qual seu modo de ser. Se for exigido um
substantivo, um representamen pode ser denominado um hipoícone. Qualquer imagem material, como
uma pintura, é amplamente convencional em seu modo de representar; mas em si mesma, sem legenda
ou rótulo, pode ser denominada hipoícone.” (CP 2. 276).
46
adequadamente descrito, mas só pode ser indicada como algo familiar a ambos o
orador e o ouvinte. Num dado momento ele pode ser o universo físico, em outro pode
ser o mundo imaginário; de algum jogo ou novela. (CP 2.536). PEIRCE, então, irá
dizer (CP 2.357):
Quando uma criança aponta para uma flor e diz “Linda”, que é uma
proposição simbólica; pois a palavra “linda” sendo usada, representa seu
objeto somente em virtude de uma relação com ele, que ele não teria
intencionado e entendido como um signo. O braço apontado, contudo, que é
o sujeito dessa proposição, usualmente indica seu objeto somente em
virtude de uma relação para com seu objeto, que ainda existiria, embora
não se pretendesse que indicasse de modo algum aquele objeto. Pois só
pode ser o sujeito daquela proposição simbólica se se pretender que seja e
assim for compreendido.
Ser somente um índice da flor não é suficiente. Somente torna-se o sujeito
da proposição porque sendo ele um índice da flor, é prova que se pretendeu
que assim fosse. Do mesmo modo, todas as proposições ordinárias
referem-se ao universo real e, usualmente, ao ambiente mais próximo.
Assim, se alguém invade a sala e diz “Há um incêndio!” sabemos que está
falando sobre a redondeza e não sobre o mundo das “Lendas das Mil e
Uma Noites”. São as circunstâncias sob as quais foi enunciada ou escrita a
proposição que indica aquele contexto que está sendo referido. Mas não
fazem isso simplesmente como índice do contexto, mas como prova de uma
relação intencional da fala para com seu objeto, relação que ele não
manteria se não se pretendesse que ele fosse um signo.
Peirce geralmente identifica proposições como pertencentes à classe dos
símbolos dicentes. Isso significa que as proposições são intrinsecamente
convencionais, estando relacionadas com seus objetos pela razão e que são
interpretados como signos de fato, sendo assim um dicente. Devemos lembrar que um
signo dicente é aquele cujo interpretante o representa como sendo endemicamente
relacionado ao seu objeto. Sendo assim, uma proposição é um símbolo interpretado
como índice. (HOUSER, 1992). Por consequência, a proposição, para chamar a
atenção, deve indicar o mundo real e singularizar o enunciado, situando-o. A
proposição deverá conectar o pensamento a uma experiência particular. (CP 8.368
n23, 4.544, 4.56, 3.363, 2.337).
Podemos encontrar alguns signos desse tipo na linguagem natural na forma
de nomes próprios, pronomes pessoais, pronomes demonstrativos (impropriamente
chamados assim, pois termos como “este” e “aquele” não demonstram, apenas
indicam), interjeições, mesmo letras presentes em diagramas. (CP 3.419, 3.361 e
2.287). Deve-se, ainda, acrescentar a essa lista alguns signos não-linguísticos, que
não possuem uma forma de discurso particular para mostrar que está se referindo ao
mundo real, tais como: olhares, gestos, cores, cheiros, entre outros, que atuam sobre
o intérprete de diferentes modos e o levam a prestar atenção na realidade. (Cf.
ENGEL-TIERCELIN, 1993, p. 291 e SILVEIRA, 2001). Como consequência, segundo
SILVEIRA (2007, p. 119):
47
... ao se fazer equivaler Símbolo Dicente e Proposição ordinária, não se
pretende reduzir os Símbolos Dicentes às proposições lingüísticas, embora
essas últimas possam ser, para os investigadores, exemplos característicos
daquela classe de signos e, mesmo privilegiados, dado o convívio que os
homens mantêm com os signos lingüísticos e em especial com as
proposições assertivas. Não se pode, também, menosprezar o fato de que
entre os homens somente os signos naturais parecem poder cumprir
genuinamente funções simbólicas. Dos sistemas bem codificados, ao
menos na cultura ocidental, o código lingüístico é o mais desenvolvido e,
provavelmente o mais completo, constituído por signos naturais. Sem,
portanto reduzir a classe dos Símbolos Dicentes à das Proposições
lingüísticas, recorrer a esta última para melhor entender à classe geral a
que pertencem. Recorrendo a este expediente, deve-se, todavia, manter a
ressalva de não se atribuir à classe geral, propriedades exclusivas da
subclasse tomada como exemplo e referência.
Peirce acreditava que a questão da natureza das proposições era uma das
questões mais básicas e importantes da lógica. Talvez por essa razão, seus escritos
em Lógica e Semiótica, principalmente no período compreendido entre 1890-1910,
tenham criticado os lógicos de seu tempo. Podemos perceber dois focos principais de
suas críticas relacionadas às proposições: a) a confusão entre questões lógicas e
psicológicas; e b) por falharem em distinguir proposições de asserções e juízos. Não
resta dúvida que havia e talvez ainda haja algumas dificuldades de entendimento a
respeito dessa terminologia. (HAAPARANTA, 2002, HILPINEN, 1992).
No manuscrito “On the System of Existential Graphs Considered as an
Instrument for the Investigation of Logic” (Ms. 499, NEM 4.248), Peirce define uma
proposição como o signo cujo juízo é uma réplica, e sua expressão lingüística outra.
No mesmo texto, ele afirma que a essência da proposição não está em ela ser
composta, mas, ao contrário, está em ela ser asseverada ou ao menos concebida
para ser asseverada. No entanto, um juízo é claramente mais do que uma mera
réplica mental de uma proposição. “Ele não apenas expressa a proposição, mas vai
mais longe e a aceita." (NEM 4.248). De acordo com SHORT (2007, p. 246), o texto
“Nomenclature and divisions of triadic relations, as far as they are determined” (EP
2.289-99) é um bom exemplo da rejeição de Peirce a respeito do “psicologismo” de
muitos lógicos do século dezenove, especialmente os germânicos, que supunham que
a lógica é uma ciência de julgamento, um ato mental. Nele podemos ler que um juízo é
o ato mental pelo qual o juiz busca imprimir a si mesmo a verdade de uma proposição.
O mesmo pode ser aplicado ao ato de asserção de uma proposição. No entanto, o
lógico, como tal, não se importa com a natureza psicológica do ato de julgar. A
questão para ele é: “Qual é a natureza do tipo de signo cuja variedade principal é
chamada de uma proposição, que é o assunto sobre o qual o ato de julgar é
exercido?” A resposta dada por ele é que uma proposição não precisa ser asseverada
ou julgada. A proposição pode ser contemplada como um signo capaz de ser
48
asseverado ou negado. Esse signo mantém o seu pleno significado seja realmente
afirmado ou não. (Cf. EP 2.292–3).34
Agora, se a asserção e o juízo são alguma coisa diferente dos símbolos
dicentes que expressam a proposição afirmada, então a que classe eles pertencem?
podemos responder que réplicas de símbolos dicentes (mais precisamente: legisignos
simbólicos dicentes) são sinsignos dicentes (sinsignos indicativos dicentes) de um tipo
peculiar (EP 2.296). Como vimos anteriormente, uma réplica é um sinsigno cujas
ocorrências estão subjacentes a uma lei (legisigno) que lhes confere significação. (CP
2.246). A palavra “fuzzy”, por exemplo, aparecerá várias vezes ao longo deste
trabalho, em todas as suas ocorrências será a mesma palavra (o mesmo legisigno).
Cada ocorrência singular, por sua vez, que aparece na escrita, ou no pensamento
silencioso do leitor dessas palavras, será uma réplica (um sinsigno) desse signo geral.
Vejamos outro exemplo no interior da física clássica. A segunda Lei de Newton,
!
segundo Monteiro (2002, p. 8), diz que “a taxa de variação temporal do momento p ,
!
dado pelo produto da massa m pela velocidade v do corpo, é igual à força externa
!
F .” A segunda lei pode, então, ser escrita matematicamente do seguinte modo:
! d(mv! )
F= ,
dt
!
onde mv é o momento. Podemos perceber que a equação acima se refere, em todas
as suas aparições na literatura relacionada à física clássica, ao mesmo legisigno e que
a ocorrência dele neste texto especificamente é um sinsigno, ou uma réplica cuja lei
geral a qual está vinculada lhe conferirá significado.
Devemos ressaltar que PEIRCE (CP 7.566) insiste fortemente que “uma
proposição que não tem nada a ver com a experiência é desprovida de qualquer
significado”. Mais ainda, que o significado racional de cada proposição encontra-se no
futuro e que esse significado é ele mesmo uma proposição. Certamente, ela não é
outra que a própria da qual é seu significado: ela é uma tradução dessa proposição.
Mas, poderíamos perguntar, da grande quantidade de formas possível que uma
proposição pode ser traduzida (réplicas), qual é aquela que será seu significado? De
acordo com o pragmatismo, será aquela forma em que a proposição começa a ser
aplicável à conduta humana, não nessa ou naquela circunstância especial, não
quando dá atenção a esse ou aquele plano especial, mas aquela forma que é mais
diretamente aplicável ao auto-controle sob cada situação e a todo propósito. Eis
porque o significado se encontra no futuro, pois a conduta futura é a única que se
encontra sujeita ao auto-controle. Mas para que essa forma de proposição seja
34
Segundo SHORT (2007, p 246), o antipsicologismo em lógica é um dos vários paralelos que podemos
encontrar entre os trabalhos de Peirce e seu contemporâneo Gottlob Frege (1992).
49
aplicável a cada situação e para todos os fins sobre as quais a proposição tem
qualquer influência, ela deve ser simplesmente a descrição geral de todos os
fenômenos experimentais que a afirmação ou negação da proposição prevê
virtualmente. Para um fenômeno experimental é o fato afirmado pela proposição que a
ação de uma certa descrição terá um certo tipo de resultado experimental; e
resultados experimentais são os únicos resultados que podem afetar a conduta
humana. Quando um homem age propositalmente, ele atua sob a crença em algum
fenômeno experimental. Consequentemente, a soma dos fenômenos experimentais
que uma proposição implica torna-se sua influência sobre toda a conduta humana.
(CP 5.427).
De acordo com VAILATI (apud PIETARINEN, 2008a), proposições podem
variar os seus significados dependendo do meio lógico em que estão inseridas. Ele diz
que todo o conjunto do contexto teórico contribui para a produção de conseqüências
verificáveis e que falar do significado de uma proposição só faz sentido em relação ao
conjunto constituído por proposições e outras situações concebíveis. No entanto, de
acordo com DE TIENNE (2006), toda proposição está sujeita a uma condição de
coerência e consistência, que é teleológica por completo, e preside todas as
representações. A idéia é que há um continuum ou uma história contínua de
antecipação que atravessa todo o processo sígnico, de sua origem dentro do objeto
dinâmico para o seu fim no interpretante final. Para se tornar e permanecer
informativa, as proposições devem ser avaliadas ou monitoradas quanto à
confiabilidade de sua fonte, a história inferencial que levou à sua formulação, o
propósito que levou ao modo e ao “timing” de sua expressão, sua capacidade de
manter a coerência com novas proposições, sua utilidade potencial para inferências
futuras, e sua aptidão para continuar interpretável e potencialmente agir de acordo
com seu objeto. A informação é, portanto, intrinsecamente processual - não no sentido
mecânico, mas num sentido semiótico - justamente porque ela deve ser antecipada
como uma boa razão ou boa base para o futuro e assim fornecer a direção e
coerência para inferências posteriores.
Consequentemente, dizer que uma operação da mente é controlada é dizer
que ela é, num sentido especial, uma operação consciente; e isso sem dúvida é a
consciência do raciocínio. Essa teoria requer que, no raciocínio, devemos ser
conscientes não apenas da conclusão e de sua aprovação deliberada, mas também
de que isso é o resultado das premissas a partir das quais ela é construída e, além
disso, que aquela inferência é uma das classes possíveis de inferências que
obedecem a um princípio orientador. Se aquele que está raciocinando é consciente,
50
mesmo que vagamente, de qual é o princípio orientador de seu raciocínio, esse
processo deveria ser chamado de uma argumentação lógica. (CP 5.441).
A lógica supõe que não somente se produzam inferências, mas que essas
estejam submissas à crítica; e portanto não somente requeremos a forma
P"C a fim de expressar um argumento, mas também uma forma,
P[i]#C[i], para expressar a verdade de seu princípio condutor. Aqui P[i] é
qualquer uma das classes de premissas, e C[i] a conclusão
correspondente. O símbolo # é a cópula, e significa primeiramente que
cada estado de coisas no qual uma proposição da classe P[i] é verdadeira,
é um estado de coisas no qual as correspondentes proposições da classe
C[i] são verdadeiras. (CP. 3.165).
De acordo com PEIRCE (CP 7.459), o raciocínio começa quando estamos
conscientes que um juízo é efeito em nossa mente de um certo juízo que já havíamos
formado anteriormente, sendo chamado de premissa o juízo que é a causa e de
conclusão aquele que é o efeito. Quando estamos conscientes que uma certa
conclusão por nós traçada é determinada por uma certa premissa, nós teremos três
coisas mais ou menos claras em nossa mente: a) a necessidade de acreditar na
conclusão como uma consequência da crença na premissa; b) conceberemos que há
toda uma classe de inferências possíveis análogas àquela atualmente efetuada; e c)
acreditaremos que todas essas inferências, ou ao menos grande parte delas, seriam
verdadeiras.
Nesse momento, como sugerido por PEIRCE (CP 2.442-44), devemos
examinar com cuidado a natureza da inferência. Devemos notar que o primeiro passo
da inferência consiste em colocar juntas certas proposições que acreditamos serem
verdadeiras, mas que anteriormente não foram consideradas unidas, ou não foram
unidas do mesmo modo. Esse passo é chamado de coligação. A asserção composta
resultante da coligação é uma proposição conjuntiva, ou seja, ela é uma proposição
com um ícone composto e usualmente com um índice composto. O passo seguinte é
contemplar esse ícone complexo, permitindo considerar um de seus aspectos ou
qualidades em detrimento de outros que possa ter, de modo a produzir um novo ícone.
O terceiro e último passo diz respeito à generalização da verdade da conclusão às
conclusões decorrentes de premissas semelhantes quando forem mantidas relações
idênticas no processo inferencial.
Segundo SILVEIRA (2007, p.135), a presença de uma qualidade ou
possibilidade positiva, que é objeto da asserção nas proposições, ou seja, a presença
de um ícone, é a condição básica da inferência. Somente essa dimensão de
primeiridade é que permite que um predicado possa ser transferido a outro sujeito,
fazendo surgir um novo conhecimento - um juízo sintético. Caso haja um controle
consciente da operação, torna-se possível desdobrar do ícone complexo suas
possíveis capacidades predicativas (não importando se o ícone decorre de
51
proposições coligadas ou de uma única premissa). Ao tornar possível a atribuição de
um predicado a outro sujeito ou descobrir no predicado uma qualidade ainda não
discriminada, estabelece-se o nexo causal que permite generalizar as consequências
obtidas para todas as proposições semelhantes.
Assim, vemos, que o mais importante é que cada inferência seja pensada, no
momento em que é traçada, como uma parte das possíveis classes de inferências.
Não há nenhum outro elemento de inferência essencialmente diferente daqueles que
foram mencionados. É verdade que mudanças ocorrem geralmente nos índices, bem
como no ícone da premissa. Alguns índices podem ser abandonados. Alguns podem
ser identificados. A ordem da seleção pode algumas vezes ser mudada. Mas todas as
ordens ocorrem substancialmente da mesma maneira, em que uma característica do
ícone atrai a atenção e deve ser justificada na inferência por meio de experiências
sobre os ícones. Assim, parece que todo o conhecimento vem a nós através da
observação. Os três elementos essenciais de inferência são, então, a coligação, a
observação, e o julgamento que aquilo que observamos nos dados coligados segue
uma regra. (CP 2.444).
Se nos voltarmos para a história das ciências físicas, como o mais perfeito
exemplo de uma boa aplicação do pensamento no mundo externo, descobriremos que
todas elas passaram pelas seguintes etapas: a) um fenômeno interessante nos chama
a atenção; b) alguém inventa um instrumento ou um método pelo qual os elementos
do fenômeno podem ser submetidos à experiência; e c) um processo de análise
experimental é realizada, resultando no reconhecimento de uma lei, ou a relação exata
entre os diferentes elementos do fenômeno. (Cf. CP 7.276).
Peirce, em 1897, enunciou que qualquer raciocínio positivo possui “a natureza
de julgar a proporção de alguma coisa em relação ao todo de uma coleção pela
proporção encontrada em uma amostra. Assim, há três coisas que nunca devemos
esperar através do raciocínio, a saber: certeza absoluta, exatidão absoluta e
universalidade absoluta.” Agora, se certeza, exatidão e universalidade não podem ser
atingidas por meio da razão, certamente não há outro meio pelo qual elas possam ser
alcançadas. (CP 1.141-2). Parece claro, aqui, que Peirce se refere ao raciocínio
indutivo, que, no interior da Semiótica, possui uma relação lógica com duas outras
formas de argumentação, os raciocínios abdutivo e dedutivo. (IBRI, 2000).
Peirce dividiu os Signos argumentativos em Abdução, Dedução e Indução,
considerando-os os três tipos elementares possíveis de raciocínio (como tipo
composto, teríamos, por exemplo, a analogia). Como vimos a pouco, eles são classes
específicas de Signos que dão forma ao pensamento, estando presentes na vida
cotidiana. Contudo, na Ciência eles poderão contar com dados obtidos a partir de
52
instrumentos e métodos mais eficazes, bem como tratados com uma lógica mais
rigorosa do que aqueles que são utilizados na vida comum. Mas, devemos ressaltar
que a grande novidade com relação aos tipos de Argumento está na introdução da
Abdução como um raciocínio genuíno. (SANTAELLA, 2001, p. 117 e TURRISI, 1990).
Frente à estranheza de uma experiência, uma inteligência deverá inferir
abdutivamente, predizendo e regulando a sua conduta futura. A experiência lhe dará
um forte estímulo, na esperança que tenha sucesso no futuro. (CP 2.270). A
capacidade da mente em gerar esse tipo de poesia é marcante. Ao relacionar os
elementos envolvidos na experiência, o processo Abdutivo poderá supor qual seria,
entre as muitas possibilidades, a conduta mais adequada para o futuro.
A Abdução forma, na mente, uma idéia que proporcionará uma hipótese a
respeito de que conduta poderá ser assumida, a fim de que seus objetivos sejam
alcançados de forma rápida e eficaz. A abdução é a única operação lógica que
apresenta uma idéia nova à mente. O raciocínio hipotético é a forma mais fraca de
argumentação; no entanto, é um caso de lei geral, uma possibilidade in futuro, à
espera de refutação. Por meio de uma construção diagramática, a mente vai
relacionar os elementos da experiência, possibilitando uma conduta futura
autocontrolada, sem que possa, com isso, garantir seu sucesso. (Cf. CP 7.218-22,
5.171, 2.96, 1.121 e THAGARD, 1977).
Perceba-se que “... por mais fraca que a inferência sintética possa ter sido
inicialmente, mesmo que ela tivesse a mais fraca tendência para produzir verdade, ela
vai continuamente se tornando mais forte, devido ao estabelecimento de premissas
cada vez mais fortes (CP 2.510)”. Esse é o papel da Indução: por ela as hipóteses em
suas conseqüências experimentais serão testadas, podendo a mente inferir até que
ponto suas expectativas foram alcançadas (cf. CP 2.269). A Indução é um tipo de
raciocínio que, a partir de uma teoria, busca predizer fenômenos e observar o quanto
estas predições se aproximam da teoria, sendo que quanto mais distante do
idealizado menor será sua representatividade. (CP 8.237 e 2.269, CHENG, 1966 e
1967 e SHAROE, 1970). “A Indução pode ser definida como um argumento que
assume que toda uma coleção, da qual um certo número de instâncias foram tomadas
ao acaso, tem toda ela os caracteres comuns àquela instância”. (CP 1.515). É bom
lembrar que:
Toda a crítica realizada por Peirce às teses de Francis Bacon, de John
Stuart Mill e dos positivistas clássicos comprova sobejamente que ele não
adota uma posição “indutivista” que exclua do pensamento seu caráter ativo
e generalizador. O peso, porém, que confere à experiência para garantir o
conhecimento da realidade é maior do que o exigido pelo pensamento
kantiano. Para Kant, todos sabemos, o único domínio legítimo do
pensamento sintético é o da experiência possível, mas os juízos
transcendentais são dotados de estrita necessidade e universalidade por
53
decorrerem das formas “a priori” da intuição e, formalmente, das categorias
“a priori” do entendimento. Para Peirce, o pensamento não exige formas “a
priori” para emitir juízos científicos. A ciência em suas conclusões gerais
não confere à inferência qualquer caráter de estrita necessidade e
universalidade. A ciência é sempre conjectural, se bem que geral e rigorosa.
As conclusões são sempre passíveis de refutação e aperfeiçoamento e é a
experiência que as verifica e que a qualquer momento pode de direito
refutá-las. (SILVEIRA, 2007).
A Dedução, por sua vez, apesar de também partir de um estado hipotético,
não questionará a conformidade desse estado com o mundo Real. Ele focará apenas
se as hipóteses expressas em suas premissas são adequadas às conclusões,
determinando se as conclusões podem ser aceitas. Note que não estou falando a
respeito da verdade das conclusões, isso não importa para esse tipo de raciocínio. Ele
é apenas um raciocínio matemático, que se inicia numa hipótese e verifica se suas
conclusões estão relacionadas a ela. (SANTAELLA, 2001, CP 8.209). “A Dedução é
um argumento cujo interpretante representa que ele pertence a uma classe de
argumentos possíveis precisamente análogos que é de tal natureza que, no decorrer
da experiência, se eles forem verdadeiros terão conclusões verdadeiras”. (CP 2.267)
Parece-me oportuno, nesse momento, estabelecer quais são as relações da
Dedução com o levantamento de hipóteses. PEIRCE, em um texto provavelmente
escrito em 1910 (CP 8.229), nos mostra um bom caminho para entendermos a relação
entre a Abdução e a Dedução. A mente, partindo de um estado de coisas que de
algum modo o surpreende, formulará uma hipótese não totalmente desprovida de
procedência, que permitirá a ela deduzir suas conseqüências. Nesse ponto, o papel da
Dedução será, por meio de um raciocínio matemático ou por um raciocínio silogístico,
desdobrar das hipóteses suas implicações lógicas. Ou seja, a mente ao ser submetida
à experiência será levada a construir hipóteses mais adequadas àquilo que está
experienciando. A hipótese criada proporá as modificações que poderiam mais
eficazmente adequar a conduta à experiência vivida. Uma vez estabelecidas as
mudanças possíveis, a mente desdobrará suas conseqüências sobre a conduta.
Desse modo, se na verificação indutiva de uma determinada conduta, os
desdobramentos produzidos a partir de uma hipótese se mostrarem falsos, serão
necessariamente falsas as premissas que lhe foram oferecidas. Em suma, a abdução
cria, a dedução explicita e a indução verifica (YU, 1994).
Assim, nos parece claro que a Dedução subsegue à Abdução, sendo anterior
à Indução. Essa localização intermediária que a Dedução possui na progressão do
raciocínio possibilita que, indutivamente, mais prontamente sejam identificados os
pontos falhos da hipótese original. Esse processo de fortalecimento das hipóteses
tenderá, num universo evolucionário, para um estado cada vez mais perfeito de
representação da conduta. Adotado, assim, o método Indutivo para a avaliação das
54
hipóteses, gradualmente vai se efetivando uma aproximação assintótica de um hábito
de conduta último, que satisfaça completamente as ambições de uma inteligência
científica. (Cf. CP 2.269, 2.755 e 7.110).
Segundo PAPE (1999), na produção de hipóteses e na verificação indutiva de
suas consequências dedutivas, o significado das relações de antecedente-
consequente determinam nossa concepção do objeto para o qual as nossas
percepções e ações se referem. Considerando que a formulação no início de 1878
destaca “efeitos sensíveis” e “conseqüências práticas”, uma formulação final da
máxima pragmática de 1905 salienta que a aceitação das consequências hipotéticas
desempenha um papel lógico importante para o esclarecimento de conceitos teóricos:
para verificar o significado de uma concepção intelectual, deve-se considerar que
conseqüências práticas poderiam concebivelmente resultar por necessidade da
verdade daquela concepção, e a soma dessas conseqüências constitui todo o
significado da concepção (CP 5.9). Se você analisar cuidadosamente a questão do
pragmatismo, você verá que ele nada mais é do que a questão da lógica da abdução
(CP 5.196).
Na visão de Peirce, então, a explicação dos símbolos só é possível na
medida em que as qualidades gerais (representadas por termos) são realizadas por
objetos em estados de coisas (representadas por proposições) legalmente
relacionados entre si (como representado pelos argumentos). Uma vez que o sentido
intelectual de um termo ou proposição é determinado pela sua função na
argumentação, os efeitos concebíveis de um objeto devem ser caracterizados como
resultados de leis que regem a sua propensão de instanciar-se em várias qualidades
em virtude da sua adesão à vários tipos gerais. (FORSTER, 2003).
De acordo com DE TIENNE (2006), precisamos lembrar que cada símbolo é
teleológico no sentido em que, visando o seu próprio desenvolvimento em novos
interpretantes, adota uma forma condicional (poder ser - would-be), que o orienta para
o futuro. Como legisignos, desse modo tendo a natureza de uma lei, os símbolos são
enunciações parcialmente gerais e parcialmente vagas do que poderia acontecer no
futuro, dadas certas condições antecedentes. Eventos semióticos são vetorizados,
eles não acontecem por acaso, mas dentro de um continuum inferencial que garante
que as proposições que concluem os argumentos, especialmente as ampliativas,
tornem-se premissas de novos argumentos. Signos tecem fios de pensamento, não
para seu próprio bem e nunca para o bem dos signos anteriores que deram origem a
eles, mas para o bem comum incorporado no próprio continuum.
Acreditamos que, sendo um conceito uma relação sígnica e a sua
compreensão um processo sígnico ou semiose (cf. CP: 5 251, EP II: 402), podemos,
55
com a ajuda da teoria peirceana, discriminar as etapas do processo de compreensão
conceitual (cf. MISAK, 1991). Como veremos mais à frente, os Grafos Existenciais
possuem os recursos formais necessários para a análise do pensamento em suas
mais elementares etapas. No entanto, ainda é necessário avançarmos mais um pouco
em direção ao entendimento do problema da indeterminação e vaguesa em
fenômenos fronteiriços. No que se segue, ilustraremos como funcionam esses
princípios, por meio de uma breve apresentação daquilo que Peirce chama de lógica
da vagueza.
56
troca de informações, ele também parece sugerir que a determinação não é apenas
um aumento na profundidade, mas uma restrição da extensão de determinados
assuntos vagos.
Segundo SANTAELLA (1992, p.50): o signo não pode ser absolutamente
preciso, pois “a relação do signo com seu objeto é uma fonte de indefinição na
extensão do signo” e sua relação com o interpretante é uma fonte de indefinição na
profundidade do signo. Assim, um termo ou signo não pode ser completamente
determinado. Caso contrário, ele deveria designar uma propriedade partilhada com
relação a cada uma de todas as características de seu objeto. Além disso, no caso da
indeterminação absoluta, nós teríamos que conhecer, quanto ao seu sujeito, todos os
seus predicados possíveis com relação aos quais é indeterminado. Isso é impossível,
pois a lista é infinita. (ENGEL-TIERCELIN, 1992). Caso queiramos saber a respeito do
que se está falando, e nos manternos dentro do universo do cognoscível, devemos
aceitar que todo termo é potencialmente determinado.” (ENGEL-TIERCELIN, 1993).
É, de fato, da própria natureza do signo, segundo a concepção peirceana,
essa radical distinção face ao objeto. A natureza icônica do signo, já
anteriormente apontada, fundamenta sua função significativa em alguma
qualidade que ele tenha em comum com o objeto, qualidade que, nele
reconhecida entre múltiplas outras que possam oferecer, permita que fique
no lugar do objeto precisamente sob aquele aspecto e venha, em sua
função mediadora, determinar signos interpretantes. Poder significar supõe
uma escolha e uma eleição dessa qualidade, deixando as outras
indeterminadas. O equilíbrio entre o determinado e o indeterminado e, no
interior desse último, entre o vago e o geral será, reconhecidamente, uma
das mais centrais preocupações de Peirce ao trabalhar a lógica como
semiótica (e a construção pragmaticista dos conceitos). (Silveira 2001).
A vagueza, desse modo, é o análogo antitético da generalidade. (LISZKA,
1990, cf. CP 5.505). Um signo é geral quando delega ao intérprete o direito de
completar a determinação do signo por si mesmo. A vagueza, por sua vez, se
relaciona com signos que não são suficientemente inequívocos a ponto de permitir
que se expresse de modo a permitir uma determinada e incontestável interpretação.
Ou seja, um signo será vago ao deixar que sua determinação seja completada por
algum outro signo ou por uma experiência possível. (SANTAELLA, 1992, p. 50,
MERRELL, 1996, p. 50 e CP 5.448n). Para ZALAMEA (2010), as investigações a
respeito da generalidade podem ser vistas como o estudo do quantificador universal
(“qualquer homem”), enquanto as investigações sobre a vagueza são estudos a
respeito do quantificador existencial (“um grande evento”). Nas palavras de Peirce (CP
5.447):
Um signo, (sob essa denominação, eu designo toda espécie de pensamento
e não somente os signos exteriores), que se encontra sob alguma relação
por ele mantida objetivamente indeterminada (isto é, cujo objeto não é
determinado pelo próprio signo) é objetivamente geral na medida em que
ele concede ao intérprete o privilégio de fazer avançar mais longe sua
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determinação: Exemplo: ‘O homem é mortal.’ À questão: qual homem? A
resposta é que a proposição lhes deixa explicitamente o cuidado de aplicar
sua asserção ao homem ou aos homens que vocês quiserem. Um signo
que é objetivamente indeterminado quanto a alguma relação, é
objetivamente vago na medida em que autoriza que seja feita uma
determinação ulterior em um outro signo conceptível, ou ao menos
enquanto ele não designa o intérprete como seu embaixador nesse assunto.
Exemplo: ‘Um homem que eu poderia mencionar, parece um pouco
preocupado’. O que aqui se sugere é que o homem em questão é a pessoa
a quem se dirige; mas a elocutora não autoriza tal interpretação ou qualquer
outra aplicação do que ela diz. Ela pode ainda dizer, se quiser, que ela não
tem em vista a pessoa a quem se dirige. Cada elocução confere ao elocutor
o direito de prosseguir em sua exposição; e, portanto, na medida em que o
signo é indeterminado, ele é vago, salvo se ele for constituído como geral
expressamente ou através de uma perfeitamente compreendida convenção.
Assim, para LANE (1997), a proposição geral “Homens são mortais” é
equivalente à proposição “Todo homem que você desejar é mortal”. Na proposição
“Homens são mortais”, aquele que a afirma deixa ao intérprete a escolha do individual
ao qual o predicado “é mortal” será aplicado. A Vagueza reserva àquele que afirma a
proposição a escolha de determinar o sujeito. Assim, a proposição vaga “Um homem
casa-se” é equivalente à proposição “Um homem que pode ser exemplificado casa-
se”. “Um homem casa-se” permite até que o falante escolha o indivíduo que o
predicado “casa” pode ser aplicado. (Cf. NEM 3:812).
Desse modo, segundo ANNONI (2006), se a característica que é própria à
atualidade (secundidade) é a determinação, ao nível lógico seus opostos são vagueza
(primeiridade) e generalidade (terceiridade), sendo ambas consideradas formas de
indeterminação. Mas o que distingue a vagueza da generalidade na visão lógica de
Peirce? Para responder a esta pergunta temos de olhar para um artigo, escrito em
1905 e intitulado “Issues of Pragmatism” (CP 5.438-63), bem como acompanhar a
análise que LANE (1999) dedicou a esse assunto. A esses textos podemos
acrescentar LANE (1997 e 2001).
Peirce escreveu que “qualquer coisa é geral na medida em que o princípio do
terceiro excluído não se aplica a ele”, por exemplo, a proposição “O homem é mortal”
e esse “qualquer coisa” é vago “na medida em que o princípio da não contradição não
se aplica a ele”, por exemplo, a proposição “Um homem a quem eu poderia mencionar
parece ser um pouco pretensioso” (cf. CP 5.447-8). Esses comentários podem parecer
insatisfatórios numa leitura mais canônica. (Cf. MARGOLIS, 1993). Se tomarmos o
que Peirce afirmou, parece que ele quis negar o princípio da bivalência (segundo a
qual todas as proposições são verdadeiras ou falsas), no que diz respeito a
proposições universalmente quantificadas e que proposições existencialmente
quantificadas são verdadeiras e falsas. Essas afirmações são difíceis de se aceitar em
um primeiro olhar. Afinal, por que pensar que “O homem é mortal”, que parece ser
58
verdadeiro, não é nem verdadeiro nem falso? E por que pensar que a proposição “Um
homem a quem eu poderia mencionar parece ser um pouco pretensioso” é verdadeiro
e falso? Felizmente, não temos que aceitar essas afirmações baseados em nossas
primeiras impressões. Depois que virmos o que Peirce entende por “princípio do
terceiro excluído e contradição”, veremos qual o sentido que ele dá a suas afirmações.
(LANE, 2001, 1999).
O entendimento de Peirce a respeito dos princípios do terceiro excluído e da
contradição se assemelhava mais ao de Aristóteles do que dos lógicos
contemporâneos. Embora os princípios sejam simples e diretos, muitas observações
de Peirce sobre esse assunto têm sido mal interpretadas por comentadores. Em
particular, a sua convicção de que o princípio do terceiro excluído não se aplica à
generalidade (ou a proposições que expressem necessidade) e que o princípio da
contradição não se aplica à vagueza (ou a possibilidade de expressar proposições)
tem sido erroneamente ligada à sua eventual rejeição do princípio da bivalência e ao
desenvolvimento de uma lógica de três valores (ternária). Uma compreensão da visão
de Peirce desses princípios lógicos mostra que essas crenças não motivaram nem sua
rejeição da bivalência nem mesmo o desenvolvimento de sua lógica triádica. (LANE,
2001).
De acordo com LANE (1997), do ponto de vista contemporâneo, a concepção
que Peirce possuía dos princípios acima citados pode parecer algo fora do padrão. O
princípio, ou lei, do terceiro excluído é frequentemente expresso como segue:
p $ ¬p;
o princípio, ou lei, da contradição, ou não-contradição, é frequentemente expresso
como segue:
a bivalência parece implicar a lei do terceiro excluído, ou seja, parece que, se toda
proposição é ou verdadeira ou falsa, então a disjunção de qualquer proposição e sua
negação deve ser verdadeira. Além disso, é amplamente, embora não universalmente,
considerado que o terceiro excluído implica bivalência. Ou seja, é considerado que, se
a disjunção de qualquer proposição e sua negação é verdadeira, então qualquer
59
proposição deve ser verdadeira ou falsa. No que diz respeito à não contradição, esse
princípio, como postulado, implica ambos e é inerente ao afirmar que nenhuma
proposição pode ser verdadeira e falsa.
LANE (2001) afirma que a noção de terceiro excluído, de acordo com a noção
peirceana, é um princípio sobre objetos individuais. Especificamente, ele dá uma
condição necessária da individualidade, no modo material: se “s” é um individual,
então, para qualquer propriedade “p”, ou “s é p” ou “s não é p”; ou, no modo formal: se
“s” é um termo individual, então, para qualquer predicado “p”, ou “s é p” é verdadeiro
ou “s não é p” é verdadeiro. Assim, o princípio do terceiro excluído (no modo formal) é
equivalente à afirmação de que para qualquer termo individual (não-geral) “s” e para
qualquer predicado “p”, a proposição “s é p ou s não é p” é verdadeira. Por exemplo,
“esse estudante da COPPE vive no Rio de Janeiro ou esse estudante da COPPE não
vive no Rio de janeiro”, é verdadeiro. No entanto, esse princípio não se aplica aos
casos gerais porque, com relação a cada predicado “p” e todos os termos gerais “s”,
proposições “s é p ou s é não-p”, por vezes, são falsas. Por exemplo, “estudantes da
COPPE vivem no Rio de Janeiro ou estudantes da COPPE não vivem no Rio de
Janeiro”. A proposição será considerada verdadeira ou falsa apenas na verificação
dos casos particulares. Então, a alegação de Peirce que o terceiro excluído não se
aplica aos gerais, não implica que as proposições gerais não são nem verdadeiras
nem falsas. Pelo princípio do terceiro excluído, para Peirce, significou o princípio de
que nenhum par de predicados mutuamente contraditórios de qualquer individual são
ambos falsos. (MS 611). Esse é o princípio do terceiro excluído, que não suporta a
generalidade geral, porque o geral é parcialmente indeterminado. (CP 1.434).
Da mesma forma, o princípio da não contradição de Peirce se aplica apenas
aos sujeitos definidos; se “s” é um termo definido, então “s é p” e “s é não-p” não são
ambos verdadeiros. Assim, a não contradição é equivalente à afirmação de que para
qualquer sujeito definido (não um termo vago) “s” e para qualquer predicado “p”, a
proposição “s é p” e “s é não-p” é falsa. A não contradição não se aplica aos termos
vagos porque não é o caso, com relação a cada predicado “p” e todos os sujeitos
indeterminados “s”, que “s é p e s é não-p” é falso, às vezes essas proposições são
verdadeiras, como é o caso de “alguns homens são carecas e alguns homens não são
carecas”. Então, a alegação de Peirce que a não contradição não se aplica ao termo
indefinido (vago) não significa que proposições indefinidas (vagas) são verdadeiras e
falsas. (LANE, 1999). De acordo com ANNONI (2006), devemos, portanto, diferenciar
cuidadosamente os casos em que um princípio não se aplica, e aqueles onde é
aplicado e é falsificado.
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De acordo com PEIRCE (MS 641), não podemos dizer que o princípio da
contradição de termos indefinidos é falso. Não poderia ser assim sem aplicar-lhes o
que exatamente estamos negando disso. Um argumento contra o que Peirce diz, isto
é, que o princípio do contraditório não se aplica a “um homem” porque “um homem é
alto” e “um homem não é alto”, só pode ser o equivalente a dizer que aquele homem
que é alto não é, enquanto alto, não alto. Isso é verdade, e é isso que Peirce quer
dizer recusando-se a dizer que o princípio da contradição de “um homem” é falso, mas
quando se fala que um homem que é alto, então ele não é não-alto, isto é dito de um
homem existente, o que não é indefinido, mas é, pelo contrário, um certo homem e
não outros. Vejamos outro exemplo num texto de Peirce (CP 2.420).
Caso S seja um termo particular, ele pode não ter extensão e então nada
acrescentar à extensão de P. Este último caso freqüentemente ocorre em
metafísica, e por conta de não-P assim como de P serem predicados de S,
dão lugar a uma aparência de contradição aonde não há realmente
nenhuma; pois, como uma contradição consiste em dar aos termos
contraditórios alguma extensão em comum, segue-se que, se o sujeito
comum do qual forem predicados não tem extensão, há tão somente uma
contradição verbal e não real. Não é, realmente contraditório, por exemplo,
dizer-se que uma borda está dentro e fora daquilo que ela limita.
Uma importante questão nos é colocada por ENGEL-TIERCELIN (1992):
“vagueza e generalidade podem ser eliminadas?” Com relação à generalidade, ela nos
responde que a resposta é clara: é impossível, porque seria preciso observar todas as
classes possíveis e os sistemas de objetos aos quais a determinação pode ser
aplicada. A generalidade é a série indefinida de interpretantes que surgem na ação do
signo (cf. CP 1.339), generalizando a experiência com o objeto. Para a generalização,
a operação mais importante da mente em matemática e em qualquer lugar (CP 1.82)
é, em primeiro lugar e acima de tudo, uma operação da especificação e, como tal, é a
manifestação da inteligência, pois trata-se menos de uma extensão da informação
prévia do que “um aumento da extensão e diminuição da profundidade, sem alteração
da informação” (CP 2.422). Acreditar que a generalidade pode ser eliminada é
acreditar que o significado (meaning) ou inteligência que pertence às coisas podem
ser reduzidos, e isso é uma ilusão. Com relação à vagueza, ela nos diz que a questão
da sua eliminação é mais complexa. Em um primeiro sentido, vago significa indefinido
(mas não quer dizer que seja ambíguo) um signo é indefinido se a sua interpretação
continua a ser duvidosa. (MS 283). Imprecisão não é, portanto, uma noção semântica
que corresponderia ao fato de que um signo não tem nenhuma referência, uma vez
que a vagueza não afeta o objeto do signo, mas o seu interpretante.
Uma vantagem desta definição é que nos salva do erro de pensar que um
signo é indeterminado simplesmente porque ele não faz referência a muitas coisas,
por exemplo, dizer “C. S. Peirce escreveu este artigo” é indeterminado porque não diz
61
que cor de tinta foi usada, quem fez a tinta, quantos anos o pai do fabricante da tinta
tinha quando seu filho nasceu, nem qual era o aspecto dos planetas quando seu pai
nasceu. Ao transferir a definição para a interpretação, tudo isso é cortado. (CP 5.448
n.1).
Para ENGEL-TIERCELIN (1992), a vagueza, assim entendida, é uma noção
que pode ser chamada pragmática, dependente do contexto em relação às regras de
conversação ordinária. Nesse sentido, é ilusório tentar eliminá-la. Mas a vagueza
também pode ser devida à indeterminação essencial encontrada em diferentes níveis
de realidade. É, por exemplo, a indefinição em torno de nossos hábitos e nossas
crenças. Nesse sentido, a imprecisão é irredutível, pois é uma característica das
crenças que temos acerca do mundo. Essas são de senso comum, crenças instintivas,
que são, por esta razão, indubitáveis.
Há, no entanto, um outro sentido importante (talvez o mais importante), no
qual é preciso falar da relação entre a realidade e a irredutibilidade da vagueza. A
vagueza, nessa perspectiva, se deve ao fato de que a realidade se apresenta sob a
forma de um continuum, e que temos na maioria do tempo que lidar com casos de
fronteira. Neste caso, como em outros, temos de admitir que a vagueza é um princípio
universal real, e não uma deficiência de nosso conhecimento ou de nosso pensamento
(CP 4.344). Se pegarmos como exemplo o falecimento, veremos que ele divide o
continuum do tempo em duas partes distintas e determinadas, o estado anterior de
vida e o estado sucessivo de morte. No entanto, existem três elementos envolvidos e
não apenas dois que devem ser levados em consideração. O terceiro elemento é a
fronteira existente entre os dois estados determinados. (ANNONI, 2006).
De acordo com SILVEIRA (2008a, n.20), o problema dos elementos
fronteiriços estava presente ao longo dos estudos realizados por Peirce. Eles podem
ser encontrados no estatuto do continuum verdadeiro e em especial em sua
concepção de tempo como um continuum (cf. SILVEIRA, 2008b, PUTNAM, 1995).
Também teriam características fronteiriças suas investigações a respeito dos pontos
com relação a uma reta, ou o instante em relação ao continuum temporal (pois eles
seriam potenciais, vindo à existência por meio do seccionamento do continuum,
apresentando propriedades de infinitesimais), bem como a questão do menor número
necessário de cores diferentes para preencher superfícies adjacentes, na qual as
fronteiras entre as superfícies apresentam potencialidade limite nas questões de
identidade.
Comecemos com o texto “Elements of Logic” (CP 2.420), que trata da
correlação entre a profundidade e a extensão dos conceitos, cujo produto é, por
Peirce, denominado Informação. Nesse texto ele considera que em alguns casos esse
62
produto ou permanece inalterado ou tem um valor zero, a informação seria, portanto,
nula. Nesse último caso, o sujeito de atribuição “s” estaria localizado na fronteira entre
os domínios e, portanto, permaneceria indeterminado. Assim, ele comportaria,
disjuntivamente, os predicados “p” e “não-p”. (Cf. SILVEIRA, 2009). Para SILVEIRA
(2009):
O estatuto indeterminado, em termos de predicação, destes elementos, irá,
no argumento peirceano, comprovar que a forma enquanto tal é um possível
e a matéria responsável pela existência é vaga, não tendo , diz o texto
‘aversão a qualquer contradição’. Os elementos fronteiriços, pontuais,
encontrando-se precisamente no bordo e não em sua vizinhança, serão
puros existentes, não sujeitos à predicação de uma qualidade determinada
ou de sua negação. As superfícies adjacentes, por seu lado, caso se trate
de cores, serão de uma ou de outra cor, pois ‘não serão pura matéria, e se
encontrarão dentro dos limites de ‘uma certa regularidade geral, ou lei.’ O
35
ponto, como individual, é somente existência.
Uma característica fundamental do modelo proposto por Peirce é que esses
limites não restringem uma região intermediária com qualquer área especificável entre
os dois estados que ela divide, mas eles ocupam uma região infinitesimal que coincide
com o limite de sua relação. A noção de infinitesimal desempenha, aqui, um papel
central. Peirce, seguindo o caminho de seu pai, detém, em contraste com a grande
maioria dos matemáticos da época, que a noção de infinitesimal não implica qualquer
tipo de contradição (ANNONI, 2006, cf. CP 6.113).
Segundo SILVEIRA (2009), no texto “The Law of Mind”, de aproximadamente
1900-1901, PEIRCE (CP 6.124-6) dá um importante passo adiante na compreensão
dos elementos de fronteira à luz da teoria do continuum verdadeiro. Nesse texto, o
conceito de infinitesimal é minuciosamente apresentado. Primeiramente, ele apresenta
todo número real como limite a que uma série de números indefinidamente tende,
podendo-se tomar entre dois números reais quaisquer uma série inumerável de
números (ou pontos) que a eles tendem. Em seguida, os infinitesimais são
conceituados como o número ordinal que ocupa a infinitésima casa de uma série de
números imensurável. Segue-se a isso que o contínuo supõe quantidades
infinitesimais, podendo-se aplicar as funções de adição e multiplicação (desde que
não seja exigido que a série seja denumerável). Tal ação não modificará o tamanho da
série, mesmo que a série seja finita, pois se A é uma série finita e i um infinitesimal,
poderíamos escrever que A+i=A. Quer dizer, isso é assim para todos os fins de
medição. O infinitesimal, nesse sentido, é uma potencialidade genuína. Ao conferir aos
elementos fronteiriços as características infinitesimais de séries inumeráveis, Peirce
reitera que a exclusividade imposta pelo princípio de contradição não se aplica a eles
e que duas superfícies contíguas, sendo uma vermelha e a outra azul, nenhuma parte
35
Cf. também NEM 4.293-294.
63
será simultaneamente vermelha e azul. A cor deveria se expandir para além da linha
divisória para efetivamente existir, sendo a da vizinhança imediata da linha (sendo
assim, considerado o conjunto) metade vermelha e metade azul.
De acordo com ANNONI (2006), uma quantidade infinitesimal é simplesmente
uma quantidade positiva menor que qualquer quantidade especificável. Onde o
modelo cantoreano de continuidade se baseia na noção de “ponto”, o modelo
peirceano de continuidade utiliza a noção de infinitesimal. Em matemática, no ponto
limite entre uma curva e sua tangente, temos que o ponto na curva em contato com a
tangente e o ponto da tangente em contato com a curva não são mais distinguíveis um
do outro. Sua distância é infinitesimal, não mensurável, e assim segue-se que os dois
pontos iniciais devem ser considerados como juntos. Essa noção é central para
Peirce. Cada quebra de continuidade provoca uma relação de oposição entre um
primeiro (o continuum original) e um segundo (a descontinuidade relativa) através de
um limite infinitesimal colocado entre eles. Como dissemos antes, entre a curva e a
tangente, no limite, temos uma singularidade objetivamente indeterminada. Cada
indivíduo é singular e definido, embora indeterminado (aqui nos referindo ao indivíduo
fronteiriço entre a curva e a tangente).
A força da exceção trazida pelo estatuto dos elementos fronteiriços é tão
forte aos olhos de Peirce, que [...] promete o autor dedicar uma nova classe
de valores, além dos dois clássicos – verdade e falsidade - a um terceiro
valor, que poderia ser denominado “estado nascente” antes da restrição
trazida pelo princípio de contradição. [...] sua realidade é suficientemente
contundente para exigir que receba um equacionamento adequado. Os
casos fronteiriços, somente vão confirmar de modo extremamente agudo a
importância conferida por Peirce à teoria do verdadeiro continuum, e a
decisiva contribuição que a noção de potencialidade, como um modo
afirmativo de ser para que uma visão realista da lógica e dos fenômenos
não escamoteie os problemas, mas busque soluções que determinem de
modo razoável a conduta futura da ciência. (SILVEIRA, 2009).
Portanto, em contraste com uma teoria epistêmica ou semântica da vagueza,
há entidades reais e objetivamente indeterminadas que não podem ser tratadas
adequadamente por um sistema de lógica clássica. (ANNONI, 2006). Argumentos de
que a lógica clássica é insuficiente para lidar com a incerteza são muito familiares nos
dias de hoje: sua classificação exaustiva de verdadeiro/falso não deixa espaço para
predicações de casos fronteiriços (por exemplo, um homem que não é claramente
nem alto nem não-alto; ou qualidades discretas, como duas cores diferentes cobrindo
cada uma delas uma superfície adjacente uma da outra) e impõe limites para
extensões (por exemplo, um corte entre o alto e o não-alto), quando a falta de tais
limites é uma característica central de predicados vagos. (KEEFE, 1998).
NADIN (1983, p. 163) ao discutir a respeito da semiótica e dos conjuntos
fuzzy, nos diz que demoramos a chegar à conclusão de que muito da cognição e
64
interação humana com o mundo exterior envolve construções que não são conjuntos
no sentido clássico, mas sim “conjuntos fuzzy” (ou subconjuntos). Ou seja, classes
com limites não precisos em que a transição de pertencente ou não ao conjunto é
gradual e não abrupta. Na verdade, pode-se argumentar que grande parte da lógica
do raciocínio humano não é a lógica clássica de dois valores, mas está relacionada a
uma lógica de verdades cujas regras de inferência são fuzzy.
Devemos, nesse momento, lembrar que de acordo com o princípio
pragmático “não há maneira de determinar em que medida um objeto fronteiriço
pertencente a uma determinada classe de objetos ou a outra, exceto ao
considerarmos os possíveis efeitos experimentais decorrentes da adoção de uma
regra (tal qual uma função de pertinência, como apresentada na teoria de conjuntos
fuzzy) que possibilite sua predicação.” Ou seja, podemos definir melhor o que um
elemento de fronteira é a partir de ações guiadas por essas funções e dos resultados
que esperamos dessas ações. É exatamente isso que a teoria fuzzy faz. Como
método, ela permite nossa interação com o fenômeno e a tentativa de predição das
consequências experimentais de nossas representações a respeito dele, atuando
como geradora de proposições condicionais (regras fuzzy). Tais regras orientam
nossa experiência com o objeto. Nesse sentido ela é pragmática, pois fornece os
limites do que será considerado significativo e a precisão a ser atingida em uma dada
aplicação.
Como pudemos mostrar ao longo da seção 2.2, quando o significado de um
conceito ou termo necessita ser determinado isso ocorrerá em relação a um fim,
devendo estar relacionado ao propósito do raciocínio e regulando e direcionando a
conduta. Mais uma vez é desse modo que o cientista procede ao tentar, por exemplo,
encontrar a função de pertinência que melhor se ajuste aos dados, em relação aos fins
desejados (classificação, predição, por exemplo). Fundado na fenomenologia, o
progresso do raciocínio científico está intimamente ligado à estética (ciência dos fins
desejáveis), à ética (ciência da conduta deliberada e autocontrolada) e à lógica ou
semiótica (lógica da conduta autocontrolada em busca de seus fins desejáveis).
Nesse sentido, podemos considerar a teoria fuzzy como uma espécie de
lógica da conduta especial, uma vez que ela possui a característica de ser
experimental, visando orientar a conduta frente à presença de elementos fronteiriços e
portanto vagos em algum sentido ou maneira. Não se trata de uma teoria geral, pois
não possui os recursos para trabalhar com conceitos e definições em seu limite
máximo de abstração. Tal procedimento é que caracteriza a semiótica como uma
ciência do estudo formal de todos os tipos de signos.
65
Ou seja, enquanto a teoria fuzzy visa uma aplicação mais próxima da prática,
sendo uma importante ferramenta de engenharia de informação no tratamento de
predicados, cuja natureza seja flexível e gradual, a Semiótica busca conhecer o que é
que os Signos têm em comum, o modo pelo qual eles são usados e porque eles são
usados no modo como são utilizados.
66
3 METODOLOGIA
36
Desde o final dos anos sessenta, o formalismo de uma representação gráfica do conhecimento,
equivalente à lógica de primeira ordem, tem sido desenvolvido. A esse sistema foi dado o nome de grafos
conceituais. (Cf. por exemplo, SOWA, 1999, 1992 e 1984, para uma explicação detalhada dos sistemas
originais de Sowa).
sentido presente à mente” (CP 1.284). Tal sistema lógico é extremamente frutífero em
possibilidades de aplicação, mas que raramente são evidentes quando nos
encontramos com eles pela primeira vez.
Talvez essa seja mais uma das razões que colaboraram para que seu
trabalho tivesse sido geralmente ignorado. Segundo ZALAMEA (2003), podemos
acrescentar ao menos outros três fatores que contribuíram para esse cenário: a) sua
sólida reputação em lógica algébrica pode ter desviado a atenção de seus últimos
trabalhos; b) as limitações das edições póstumas (especialmente a respeito dos GEs);
e c) a inicial indeterminação (por parte dos semioticistas, lógicos e filósofos) do papel
dos GEs na arquitetônica de Peirce.
GEs são um sistema lógico altamente elegante dividido em três partes
chamadas Alfa, Beta e Gama. As três partes são construidas umas sobre as outras, a
Beta baseia-se na Alfa e a Gama baseia-se em ambas Alfa e Beta. Como sistema
matemático, os grafos (GEs) são extremamente poderosos: a parte Alfa dos grafos é
uma completa lógica do cálculo proposicional; a parte Beta é uma completa lógica de
predicados com identidade; e o mais notável trabalho de Peirce está na parte Gama,
sendo que é nela que estão contidas as lógicas modal e multimodal quantificada, a
lógica de ordem superior, grafos metalógicos e a lógica de asserções não-
declarativas. Em contraste com o Alfa e Beta, Gama nunca foi terminado por Peirce, e
até agora, apenas fragmentos dessa parte (principalmente no que se refere à lógica
modal) foram elaborados. (Cf. DAU, EKLUND 2008, PIETARINEN, 2008b).
Para HOOKWAY (1992), se eles tivessem sido finalizados, mostrariam que
todo o raciocínio matemático pode ser interpretado como experimentações sobre
diagramas, inclusive podendo ser uma fonte de teste para o próprio pragmatismo. De
fato, Peirce afirma que, por vezes, trabalhar com matemática abstrata fornece a
maneira mais clara de se verificar se uma tese está correta.
Segundo DAU (2006a), os GEs se tornaram, para Peirce, o instrumento mais
adequado para tornar o raciocínio necessário explícito, sendo muito melhor do que
qualquer abordagem baseada na linguagem (“há inúmeros objetos da consciência que
as palavras não podem expressar, como os sentimentos que uma sinfonia inspira ou o
que está na alma de um homem furioso na presença de seu inimigo”, MS 499). Na
verdade, esse era o propósito de sua lógica algébrica, mas ela não obteve sucesso,
sendo os GEs muito mais perfeitos nesse respeito (CP 4.429).” Nas palavras de
Peirce:
Eu criei vários diferentes tipos de signos para tratar de relações. Uma delas
é chamada álgebra de relações e outra chamada álgebra de relações
diádicas. Eu fui finalmente levado a preferir aquilo que eu chamo de sintaxe
diagramática. Esse é o modo de se registrar alguma asserção no papel, de
68
qualquer modo intrincada, e se ela registra algumas premissas e então
efetuamos remoções e inserções, ele lerá diante de seus olhos uma
conclusão necessária a partir das premissas. (MS 514).
A utilização dos grafos permite o estudo do caráter lógico de todas as
deliberações ou raciocínios. (HOOKWAY, 1992). Os Grafos Existenciais proporcionam
um método (1) o mais simples possível (isto é, com o menor número de convenções
arbitrárias quanto possível) para representar proposições (2), tão iconicamente37, ou
diagramaticamente (3), e analiticamente possível. É importante notarmos que esses
três objetivos essenciais do sistema são, cada um deles, perdidos pelos seletivos,
bem como pelas variáveis algébricas, utilizados na lógica simbólica.38 (cf. CP 4.561 Fn
P1 p 447. Para conhecer os detalhes dessa afirmação cf. também ZEMAN, 1997,
1986b).
De acordo com PIETARINEN (2008b), acreditar em uma lógica icônica do
pensamento é acreditar que os aspectos essenciais da representação e da inferência
podem ser articulados por certos diagramas. Ou seja, os diagramas serão ícones que
refletem as conexões contínuas entre “objetos relacionados racionalmente” (MS 293).
(Cf. também CP 4.582). Pietarinen segue nos lembrando que convenções e índices
podem afetar algumas propriedades dessas relações racionais, mas, no entanto, o
diagrama deve ser “tão icônico quanto possível a fim de representar as relações
visíveis” (MS 492.22). Nas palavras de Peirce, “um diagrama é um representamen
[signo], que é predominantemente um ícone de relações e é ajudado a sê-lo por
convenções (símbolos). Os índices também são mais ou menos utilizados” (CP 4.418).
Negação, conjunção e quantificação, por exemplo são signos icônicos.
Peirce, em sua formulação dos GEs, sugere que escrever grafos existenciais sobre a
folha de asserção - função essa exercida pelo recto (anverso) da folha de papel onde
os grafos serão inscritos - vem a ser sua conjunção (afirmando-os na folha), desenhar
um “oval” (uma curva fechada) ao redor deles vem a ser a sua negação, uma
operação de corte a partir do espaço em questão, e conectar os grafos com “ linhas de
identidade” vem a ser sua instanciação existencial (cf. por exemplo a TABELA 4).
Como veremos logo mais, adequadas regras diagramáticas - manobras topológicas
que são permitidas aos grafos - fornecem a eles diversas combinações entre
conjunção, negação e existência, oferecendo o caminho para a construção de um
37
Devemos nos lembrar, no entanto, que a melhor caracterização matemática de iconicidade é
encontrada na noção de mapeamento (ZEMAN, 1977b).
38
Por volta da época que Peirce considerava os GEs como a chave para a análise lógica, ele chegou a
sustentar que a lógica algébrica dos relativos era secundária para seu sistema diagramático. Porém, ele
de modo algum abandonou a lógica algébrica e continuou a desenvolver esse tema em muitos de seus
manuscritos mais tardios. (PIETARINEN, 2006, p. 45, n.11).
69
incrível sistema lógico, em que as permissões topológicas correspondem a deduções
lógicas. (ZALAMEA, 2003).
39
Tabela 4 – Exemplo de signos icônicos utilizados nos GEs
João é alto
40
Grafo chove gato
Pedro é baixo
39
Devemos notar, como sugerem MORAES, QUEIROZ (2004), que os GEs podem sofrer qualquer tipo
de deformação (expansão, contração, etc), pois é um caso de “paradigma topovisual”. Ou seja, as
distâncias, formas, localização e tamanho são desprovidos de significado.
40
A folha de asserção é representada por um quadro sombreado.
70
grafo. Essa observação permite-nos fazer experiências sobre o grafo, às vezes,
informações são duplicadas, ou removidas (ou seja, nós colocamos parte da asserção
para fora de nossas vistas, a fim de vermos o que o restante dela é). Observamos o
resultado desta experiência, e isso é a nossa conclusão dedutiva. Precisamente essas
são as três coisas que entram na experiência de qualquer dedução - coligação,
iteração, remoção. O resto do processo consiste em observar o resultado. Não é,
porém, em todas as deduções que todos os três elementos possíveis do experimento
se realizam. (CP 5.579). É essa compreensão do raciocínio dedutivo que subjaz às
regras de permissão dos GEs, a saber: a inserção, a iteração, a deiteração, a remoção
e o duplo corte.
De acordo com DAU (2005, p. 32-33), o objetivo dessas regras é explicar um
processo de raciocínio dedutivo a posteriori, explicar e permitir que se façam
experimentos mentais sobre os diagramas. Ironicamente, em comparação com as
regras de cálculos para lógica de primeira ordem (tal como a dedução natural)
empregadas atualmente, as regras dos GEs parecem ser bastante complexas. Porém,
muitas vezes é dito que uma das principais vantagens do sistema peirceano é que ele
permite tirar conclusões muito rapidamente (com poucos passos).
Por exemplo, em seu comentário sobre o manuscrito MS 514, Sowa fornece
uma prova para o Theorema Praeclarum (teorema esplêndido) de Leibniz, utilizando
os GEs. Para realizar essa tarefa ele precisou de apenas sete etapas, um numero
significativamente inferior ao conseguido em 1910 por WHITEHEAD E RUSSELL (cf. a
edição de 2010, p. 113). Segundo Sowa (PEIRCE, SOWA, 1908, 2000), no Principia
Mathematica, Whitehead e Russell precisaram de 43 etapas, a partir dos cinco
axiomas não-óbvios, para provar o Theorema Praeclarum. Ainda, um desses axiomas
é redundante, mas a prova da sua redundância não foi descoberta pelos autores, ou
por qualquer de seus leitores, por mais de 16 anos.41
Uma questão que poderia ser levantada é relacionada à validação dos GEs.
Uma possibilidade, de acordo com SILVA (2011), é a validação dos GEs contra
modelos, baseada no Teorema de Completude de Gödel, que é uma técnica formal
bastante usada na área de Computação. Com esse teorema temos que:
a) se temos uma prova lógica, é possível exibir um modelo onde ela é válida; (“a prova
do Teorema de Gödel mostra como construir este modelo genérico”).
b) se temos um modelo, é possível extrair uma prova (a prova do Teorema da
Completude de Gödel mostra como construir esta prova)
41
Isso não significa uma critica direta à teoria proposta por Whitehead e Russell, mas sim, que o trabalho
de demonstração do teorema é muito mais facilmente alcançado com os GEs.
71
No caso das fases alpha e beta, temos modelos bem claros: Alfa cobre toda a Lógica
Proposicional e Beta a Lógica de Predicados. Uma boa referência para justificar esses
modelos é o trabalho de DAU (2008, seções 8, 9, 10 para Alfa e seção 13 para Beta).
Na parte Gama as possibilidades são bem maiores, em função do tipo de modalidade
que está sendo trabalhada. No caso das modalidades de necessidade e possibilidade,
poderia ser utilizada a Lógica Modal como modelo, mas pode-se utilizar a Tense Logic
para algumas modalidades (cf. Øhrstrøm, 1996).
Uma vez esclarecido este ponto, cremos que, neste momento, devamos
passar para uma apresentação mais formal dos grafos. Para outras leituras a respeito
dos GEs, recomendamos ROBERTS (1973, cf. também 1992), que é o livro padrão no
GEs e que descreve o sistema GEs completo; a tese de Ph.D. de ZEMAN (1964, cf.
também 1976, 1974); o livro de SHIN (2002), onde ele fornece a sua interpretação de
Alfa e Beta, focada em suas características icônicas; e um tutorial de Peirce, com
comentários de Sowa (PEIRCE, SOWA, 1908, 2000).
3.1.1 Alfa
A parte Alfa dos GEs, de acordo com ROBERTS (1973, p. 31), é a base do
sistema como um todo. Como vimos há pouco, a parte Beta pressupõe e é construída
sobre Alfa e a parte Gama pressupõe e é construída sobre ambas, Alfa e Beta. Alfa se
preocupa com as relações entre proposições consideradas como um todo, o que é
uma formulação que corresponde ao cálculo proposicional. Nossa apresentação da
parte Alfa seguirá o modelo apresentado por Roberts. Na primeira parte,
apresentaremos as convenções (que são as regras de formação do sistema). Na
segunda, apresentaremos as regras de transformação para os grafos (que são
instruções para operações sobre os grafos).
De acordo com PEIRCE (CP 4.395), as convenções devem ser
entendimentos mútuos entre duas pessoas: um Grafista, que expressa as proposições
de acordo com o sistema de expressão dos GEs, e um intérprete, que interpreta as
proposições e as aceita sem contestação. Isso mostra bem a natureza dialógica dos
GEs de Peirce. Ou seja, o universo lógico dos GEs é aquele objeto com o qual o que
profere e o intérprete de qualquer proposição devem estar bem familiarizados e
mutuamente acordados um com o outro para que seja entendido, compreendendo que
todo o discurso refere-se a ele. Isso é uma exigência para que os GEs sejam um
instrumento capaz de tornar explícito o raciocínio. (MS 492).
As convenções nos mostram como os grafos devem ser lidos e escritos.
Veremos que há apenas três tipos básicos de signos: folha de asserção, cortes e
72
símbolos sentenciais (termos lógicos). O primeiro signo e, possivelmente, o mais
importante do sistema GEs - ele é comum e base para todas as três partes - é a “folha
de asserção” (ou folha fêmica42). A folha de asserção, como já foi apontado acima, é
uma superfície sobre a qual os grafos são escritos de acordo com as regras do
sistema. A própria folha, antes mesmo de algo ser escrito ou que qualquer uma das
regras de transformação seja aplicada, deve ser considerada um grafo. A folha de
asserção, em seu “estado inicial”, pode ser considerada uma representação de uma
espécie de “conjunto de postulados” a ser operado por meio de regras. O conteúdo
dos postulados dependerá do que desejamos raciocinar (com os grafos que podemos
imaginar numa folha de afirmação). De acordo com Peirce, a folha de asserção deve
ser tomada como algo que representa o universo de discurso e o que ali é afirmado é
tido como verdadeiro para esse universo. (CP 4.396, ZEMAN, 1964). Assim, de acordo
com ROBERTS, (1973, p. 32), temos as duas primeiras convenções:
significa que “há uma pêra em nosso universo e ela está madura”.44 Pode-se dizer que
todo signo escrito na folha de asserção está inserido em um campo icônico que o
contextualiza face ao universo de discurso que permite sua devida interpretação.
A terceira convenção explica o que significa escrever dois ou mais grafos
sobre a folha de asserção. (ROBERTS, 1973, p. 32-33):
42
Um Fema é uma sentença, embora concebida como incluindo signos interrogativos, imperativos e
indicativos (4.538). Assim, folha fêmica é a folha de asserção. (cf. Zeman, 2010).
43
No anexo III fornecemos a lista completa das convenções e regras.
44
A área sombreada do grafo é usada simplesmente para marcar o limite da folha de asserção.
73
• C3 - grafos escritos em diferentes partes da folha de asserção são todos
considerados verdadeiros.
45
Em nosso trabalho algumas vezes utilizaremos letras maiúsculas do alfabeto para representar
sentenças declarativas.
74
do grafo, ou seja, os diagramas acima são réplicas do mesmo grafo.46 (DAU,
EKLUND, 2008). Com isso, podemos organizar as mesmas proposições sobre a folha
de asserção de maneiras diferentes, sem perder seu significado.
A quarta convenção diz respeito ao modo como os GEs expressam uma
proposição condicional. O tipo de condicional que Peirce primeiramente se interessou
foi o condicional material (também conhecido como condicional funcional de verdade
ou implicação material), o condicional de inesse47. (ROBERTS, 1973, p.34).
46
Cf. nota 28 deste texto.
47
Uma proposição de inesse relaciona-se a um certo estado singular do universo, como o instante
presente. Uma tal proposição totalmente verdadeira ou totalmente falsa. (4.376).
75
CP 4.474 que o nó (o ponto de intersecção) não tem qualquer significado especial, e
um scroll pode ser igualmente desenhado como na FIGURA 12b (DAU, 2005, p. 9n):
(a) (b)
Figura 12 – Duas versões do scroll
Desse modo, se quisermos escrever um grafo que signifique “se P, então Q”,
teremos:
P Q
Do mesmo modo que uma expressão proposicional, a forma e o tamanho dos scrolls
não são significativos. Então “se P, então Q” pode ser diagramado, por exemplo, como
na FIGURA 13.
Q P
Q
76
• C5 - o corte vazio é um pseudografo; e o corte nega precisamente o seu
conteúdo.
significa que “não é verdadeiro que há um P”, que é o mesmo que “não-P”.
Devemos, então, considerar que cada uma das linhas que compõe o scroll
são cortes. Um scroll nada mais é do que dois cortes aninhados (nested, em inglês). O
espaço dentro de um corte é chamado de área ou clausura. Um corte em conjunto
com a sua área e o que é escrito nela é chamado de um enclausuramento (enclosure).
Um corte por si mesmo não é um grafo (ele é considerado um pseudo grafo)48, mas
qualquer enclausuramento é considerado um grafo. A área da folha de asserção em
que é feito um grafo ou um corte é chamado “local” do corte ou grafo. O corte que não
está enclausurado por outro corte repousa sobre a folha de asserção. Mas, nada que
esteja no interior de um corte repousará sobre ela, pois o corte separa sua área da
folha. Contudo, o enclausuramento como um todo está sobre a folha. O corte interno
de um scroll pode ser chamado de “loop” e sua área de “interna”. A área externa de
um scroll é a área fora do loop mas dentro do corte externo. Quando a palavra área é
usada sem qualificação, isso significa o conteúdo total do scroll. (ROBERTS, 1973, p.
35, cf. também CP 4.399, 4.414, 4.437, 4.556).
Em resumo, encontraremos três áreas distintas: a área da folha de asserção;
a área do corte externo (área externa), que contém proposições (“P”, em nosso
exemplo anterior) e o corte interno; e a área do corte interno (área interna), que
contém proposições (“Q” em nosso exemplo anterior). (DAU, 2005, p. 10). Veja a
representação das áreas na FIGURA 14.
48
Peirce chamou esse símbolo de pseudografo porque, estritamente falando, ele não é um grafo. Um
grafo vazio é um absurdo, pois ele é a expressão de um estado de coisas impossível do universo
(enquanto o grafo é a expressão de um estado de coisas possíveis), sendo que proposições absurdas
são todas equivalentes umas às outras. (ROBERTS, 1973, P. 36, MS 450, CP 4.395, 4.455).
77
Área da folha de asserção
P Q
significa “é falso que não é verdadeiro que há um P”, que é o mesmo que “é
verdadeiro que há um P”, ou simplesmente “P”. Por outro lado, a disjunção pode ser
representada diagramaticamente do seguinte modo:
78
P Q
tendo como significado “é falso que ambos P não é verdadeiro e Q não é verdadeiro”,
ou seja, “ou P não é verdadeiro ou Q não é verdadeiro”, ou ainda “ou P é verdadeiro
ou Q é verdadeiro”.
Como podemos perceber a parte Alfa tem, baseada na negação e conjunção,
toda a expressividade da lógica proposicional. Porém, a fim de que inferências com a
parte Alfa dos GEs sejam realizadas, Peirce não utiliza axiomas, mas sim cinco regras
de inferência. Vejamos que investigações dedutivas são para Peirce experimentos
mentais. Nesses experimentos, nós começamos com alguns fatos e reorganizando-os
explicitamos conhecimentos que ainda não estavam claros. Antes de tudo, diferentes
pedaços de informação são colocados juntos, isto é, eles estão coligados. Então, às
vezes, informações são duplicadas (ou vice-versa: informações redundantes são
removidas), ou alguma outra informação que não é mais necessária é apagada. Essas
três coisas são as figuras centrais no experimento de qualquer dedução: coligação,
iteração e apagamento. O restante do processo é observar o resultado. É essa
compreensão do raciocínio dedutivo que subjaz às regras de permissão dos GEs. Ou
seja, apagamento e inserção, iteração e deiteração e corte duplo. (DAU, 2006a).
De acordo com ROBERTS (1973, p. 40), antes de apresentar as regras
propriamente ditas é importante ter à disposição o método de análise da tabela
verdade. Consideremos que 1 e 2 representam verdade e falsidade, respectivamente.
Por “valor de uma área” queremos dizer o valor da conjunção (justaposição) de todos
os grafos escritos naquela área. Esse valor é calculado pela regra que uma conjunção
tem o valor 1 se cada membro da conjunção tem valor 1 (pela C3). Isso significa que
basta um valor 2 na área para que seu valor seja 2. Nós indicamos o valor de uma
área colocando o valor 1 ou 2, entre colchetes, dentro daquela área. O valor de um
enclausuramento, indicado por um 1 ou um 2 fora de seu corte, será 2 se o valor de
sua área for 1 e será 1 se o valor da área for 2 (pela C5). Para ilustrar o que foi dito, o
autor acima citado sugere que observemos o grafo que representa “se P, então Q”.
Nele podemos observar que o grafo possui valor 2 quando P = 1 e Q = 2. Confira a
FIGURA 15.
79
[1]
[2] Primeiro passo: calcular o valor da área interna
1
P Q
2
1 Segundo passo: calcular o valor do enclausuramento
2
P Q R
80
1. P Q R 3. P
2. Q R 4. Q
2. Q R
5. Q S R
De acordo com R3, P pode ser inserido novamente sobre a folha; ou em áreas
enclausuradas que não são parte de P, mas que são contidas por P. Assim, teremos
que o grafo 1, apresentado anteriormente, pode, por iteração, ser transformado nos
grafos de 6 a 13.
1. P Q R 8. P PQ R 11. P Q Q R
..
6. P P Q R 9. P Q P R 12. P Q Q R
7. P Q R P 10. P P Q P R 13. P Q R R
R
81
o mesmo ocorrendo com Q e R. Com relação à R4, essa regra é exatamente o
contrário da R3. No entanto, não é necessário que o grafo em questão seja de fato
resultado de R3, mas que ele poderia ter sido gerado por iteração, isto é, é necessário
que as condições para gerá-lo por iteração sejam satisfeitas.
De acordo com SILVEIRA (2011b), essa não necessidade decorre do fato dos
GEs serem eminentemente icônicos. Uma vez que os ícones (como signos de
possibilidade) representam tão somente por comparação, sendo as formas
comparáveis a outras formas, se as primeiras forem verdadeiras as últimas são
também verdadeiras (cf. CP 4.531). Por essa razão que Silveira acredita que os grafos
apresentam demonstrações que são ostensivas, ou seja, mostrações. Dessa
característica icônica decorre uma certa resistência de Peirce aos seletivos (que são
estritamente indiciais), como veremos mais à frente.
Finalmente, a R5 nos permite inserir um corte duplo em qualquer lugar da
folha, ou executar o caminho reverso (ROBERTS, 1973, p. 44):
1. P Q R 14. P Q R
14. P Q R 15. P Q R
82
17. P P Q
18. Q
1. P P Q Premissa
2. P Q a partir de 1 pela R4
3. Q a partir de 2 pela R1
3.1.2 Beta
Passamos agora ao estudo da parte Beta dos GEs. Como vimos, a parte Alfa
pode ser considerada um sistema de cálculo proposicional; com certeza, a abordagem
alfa sobre a lógica da verdade funcional difere das abordagens que se utilizam de
notações mais comuns, mas é relativamente fácil de compreendê-la intuitivamente.
Podemos até mesmo reagir de forma bastante favorável às características de Alfa, tais
como a simetria, ou irrelevância de posição e a associatividade da conjunção implícita
na “ocorrência simultânea e inesperada” dos grafos Alfa. Isso, apesar das
complexidades introduzidas por essas características na tradução dos grafos em
notação comum e vice-versa. A parte Beta, por outro lado, tem uma relação com Alfa
que é semelhante àquela do cálculo de predicados de primeira ordem com o cálculo
proposicional clássico. Contudo, a variável “individual” e do método de quantificação
encontrados em Beta são, na aparência, radicalmente diferentes dos elementos
83
correspondentes no cálculo de predicados ordinário. Por essa razão, enquanto a
intuição podia dar um parecer favorável a respeito dos elementos característicos de
Alfa, é possível que ela possa ficar um pouco mais hesitante com Beta. Mas um
exame cuidadoso de Beta deve nos conduzir a uma aceitação mais tranquila de seus
recursos (ZEMAN, 1964).
De acordo com MORAES, QUEIROZ (2004), devemos notar que a parte Alfa
dos GEs não exige, em muitos casos, a análise da estrutura interna de sentenças que
compõem um argumento. Por exemplo, um argumento tal como:
84
spot, chamado um spot de teridentidade, e três linhas de identidade podem ser ligadas
a tal spot. O conjunto de todas as linhas de identidade que se juntam umas às outras é
chamado de ligadura. A ligadura não é geralmente um grafo, uma vez que pode estar
parte em uma área e parte em outra. (CP 4.416).
Para tornar mais claro esse texto de Peirce, a seguir apresentamos as
convenções associadas à parte Beta. Para isso, daremos continuidade à numeração
de onde paramos na parte Alfa. A sexta convenção (a primeira da parte Beta) explica
o modo pelo qual podemos denotar um objeto individual na folha de asserção:
De acordo com C3, grafos escritos em diferentes partes de uma folha afirmam
que há coisas verdadeiras em nosso universo de discurso. Portanto, seu significado é
“alguma coisa existe e alguma coisa existe”. Sem que haja informação adicional,
devemos considerar os dois “algos” como diferentes. O que significa, na prática, que
85
as linhas de identidade se referem a tantos individuais quantas linhas desconectadas
houver. (ROBERTS, 1973, p. 48, Ms 481).
Desse modo, ao ligarmos a linha de identidade a um spot (uma espécie de
símbolo de predicado), tal como o grafo a seguir
É artista
teremos como significado “existe alguma coisa no universo de discurso que é artista”.
É importante notar que o spot “é artista”, como a expressão não analisada de
um rema com um ou mais espaços em branco, é análogo aos símbolos do cálculo de
predicados dos dias atuais. (ZEMAN, 1964). Perceba que um rema é um signo de
possibilidade qualitativa, ou seja, “é entendido como representando tal ou tal espécie
de objeto possível”. Todo rema, talvez, forneça alguma informação, mas não é
interpretado como se o fizesse. (SILVEIRA, p. 80, CP. 2.250, cf. também CP 3.420,
4.403, 4.431, 4.438, 4.441).
Em outras palavras, segundo ZEMAN (1964), um rema é uma forma de
proposição com espaços brancos produzidos por apagamentos. Tais espaços podem
ser preenchidos, cada um com um nome próprio, para refazer uma proposição (cf. CP
4.431). Por exemplo, na linguagem natural, "_____ é bom" e "_____ dá _____ para
_____" são remas, o primeiro sendo monádico e o segundo triádico. Peirce estabelece
que, nos GEs, na periferia de cada spot, um determinado local deve ser apropriado
para cada espaço em branco do rema e tal lugar será chamado de hook do spot, cf. a
FIGURA 16:
P
Figura 16 – Representação de um spot
No entanto, na prática, não vamos ver esses hooks em qualquer grafo, pois todos os
ganchos já estarão preenchidos (ligados aos signos individuais). (cf. CP 4.403).
Considere, agora, o seguinte grafo
É artista
É cientista
86
significa que “existe alguma coisa no universo de discurso que é artista” e “existe
alguma coisa no universo de discurso que é cientista”. De acordo com ROBERTS
(1973, p. 48) devemos perceber que nada foi dito a respeito da relação entre os dois
“alguma coisa”. Para expressar que a mesma coisa é artista e é cientista, as linhas de
identidade devem ser unidas. Assim:
é artista
é cientista
é artista é cientista
Peirce (CP 4.406, 4.445) nos informa que a ramificação de uma linha de
identidade é um grafo que exprime a relação de teridentidade50. Esse signo nos
permite identificar qualquer número de pontos na folha de asserção. De acordo com
SILVEIRA (2008a):
A denotação de sujeitos de atribuição se fará do mesmo modo como se
fazia anteriormente por pontos e linhas de identidade, sendo permitido
predicar de um mesmo sujeito, e, logo, ampliar sua profundidade informada,
50
O ponto em que três linhas de identidade unem-se formando um ramo é um gráfico que exprime a
relação de teridentidade. (CP 4.406).A relação de teridentidade consiste em três linhas de identidade e
afirma a identidade entre três pontos da folha de asserção. Em contraste com a noção de identidade
como diádica, que expressa a identidade de dois objetos, a teridentidade expressa a identidade de três
objetos. (DAU, 2005, p. 97).
87
mais de um predicado, através do recurso oferecido pelo que Peirce
denomina linha de teridentidade. Sujeitos e relações são concebidos não
em termos gramaticais, mas segundo as possibilidades oferecidas pela
lógica dos relativos e é a partir daí que se avalia o acréscimo ou não de
informação.
Consideremos o seguinte grafo como um exemplo:
é artista
é homem
é cientista
ele representa uma relação triádica cujo significado “há alguma coisa que é um
homem e é artista e é cientista” é o mesmo que ”há um homem que é artista e
cientista”.
De acordo com ZEMAN (1964), Peirce chama de ligadura uma “rede” de
linhas de identidade, as quais formam ramificações e que podem atravessar cortes
(como veremos logo mais à frente) (CP 4.407). A ligadura representa o mesmo
individual em todos os pontos ao longo de seu comprimento. ROBERTS (1973, p. 49)
afirma que praticamente não há limites para o número de modos que uma linha de
identidade pode ser arranjada. Vejamos o exemplo usado por esse autor e retirado do
Ms 450 de Peirce: há um Stagirita que ensina ao macedônio que conquistou o mundo
e que é ao mesmo tempo um discípulo e um oponente de um filósofo admirado pelos
patriarcas da igreja. O grafo pode ser escrito da seguinte forma:
é um Stagirita
é um macedônio
ensina
conquistou o mundo
é um discípulo de
é um filósofo admirado pelos
patriarcas da igreja
é oponente de
88
Como vimos na parte Alfa dos GEs, um grafo pode ser negado ao ser
circundado por um corte. O emprego do corte na parte Beta é diferente daquele usado
em Alfa. Embora o corte envolva uma "letra sentencional” ou um grafo, que ocupa o
interior da curva, em Beta dois casos distintos devem ser considerados: a) quando o
corte envolve inteiramente a linha de identidade; e b) quando a linha de identidade não
está contida no interior do corte, ou está apenas parcialmente. (MORAES, QUEIROZ,
2004). Assim, no primeiro caso temos
é artista
cujo significado é “é falso que alguma coisa é artista”, que é o mesmo que dizer “nada
é artista”. Note que, de acordo com ROBERTS (1973 p. 50), a linha de identidade
sobre a folha de inserção representa (stands for) um objeto individual. Mas, a linha de
identidade envolvida uma vez pelo corte representa (stands for) todo ou qualquer
individual do tipo mencionado. Palavras do tipo “algum” e “qualquer”, ou “alguma
coisa” e “qualquer coisa”, nos dizem “como proceder a fim de experimentar o objeto
pretendido”. Tais palavras foram chamadas por Peirce de pronomes seletivos.51 (cf.
também Ms 484). No segundo caso, temos o seguinte grafo
é artista
que significa que “alguma coisa existe e é falso que essa alguma coisa é artista”, que
é o mesmo que “alguma coisa não é artista”. Ou seja, uma linha de identidade que não
51
As palavras “algum” e “qualquer” concebem um individual a ser selecionado. “Algum” significa que um
individual adequado deve ser escolhido pelo narrador, ou pessoa interessada em sustentar a verdade da
proposição. Enquanto “qualquer” significa que a escolha do individual pode ser deixada para o ouvinte, ou
para uma pessoa que pode ser hostil ou cética em relação à proposição. (Ms 503, apud ROBERTS, 1973,
p. 50).
89
está completamente contida pelo corte é interpretada como representando (stands for)
algum elemento do universo de discurso que tem a propriedade de não satisfazer o
predicado “é artista”. (MORAES, QUEIROZ, 2004). Agora, se colocarmos um corte ao
redor do grafo, tal como
é artista
teremos como significado “é falso que alguma coisa não é artista”, ou “tudo é artista”,
que é o mesmo que “Se algo é, ele é artista”.
ROBERTS (1973, p. 51) comenta que a interpretação para a linha de
identidade segue o seguinte princípio: ela será tão enclausurada quanto a sua parte
menos envolvida pelo corte e se essa parte mais externa é envolvida por cortes aos
pares, ela se refere a uma escolha apropriadamente individual. Por outro lado, se essa
parte mais externa é envolvida por cortes ímpares, a linha se refere a qualquer
indivíduo tomado à vontade. Em sistemas lógicos em geral, um símbolo que denota
uma escolha individual, um existente individual, é chamado de quantificador
existencial. Do mesmo modo, os símbolos que se referem a qualquer individual são
chamados de quantificadores universais. Assim, a linha de identidade envolvida por
cortes aos pares é um quantificador existencial, enquanto a linha envolvida por cortes
ímpares é um quantificador universal. Porém, devemos tomar cuidado. O princípio
aqui comentado supõe que a linha de identidade é lida antes do corte que a envolve,
embora saibamos que cortes podem ser lidos de vários modos. Vejamos alguns
exemplos dados pelo autor acima citado:
é artista
é cientista
90
significa “existe alguma coisa que é artista e é cientista”. Ao colocar um corte ao redor
desse grafo teremos
é artista
é cientista
cujo significado passa a ser “é falso que existe alguma coisa que é artista e é
cientista”. Já o grafo
é artista
é cientista
é lido como “existe alguma coisa que é artista e não é cientista”. Finalmente, temos o
grafo
é artista
é cientista
que significa “é falso que existe alguma coisa que é artista e não é cientista”, ou “tudo
que sendo artista, é cientista”. Roberts expressa, desse modo, as quatro proposições
categóricas da lógica tradicional.
91
Há ainda, nos lembra DAU (2005, p. 12), o caso em que uma linha de
identidade atravessa um corte. Quando isso ocorre, o corte denota a não-identidade
das extremidades dessa linha (cf. também CP 4.468). Por exemplo, o grafo
é artista
é artista
Ou seja, a conexão de um ponto sobre um corte com qualquer outro ponto dentro ou
fora do corte deve ser interpretada como o ponto sobre o corte estando fora do corte.
ROBERTS (1973, p. 54) propõe alguns exemplos para ajudar nosso entendimento a
respeito do assunto, que são apresentados em forma de tabela (TABELA 5).
GRAFOS
P P
1
Q Q
P P
2
Q Q
92
P P
3
Q Q
P P
4
Q Q
93
circundadas por número ímpar de cortes sobre a mesma área, podem ser
unidas;
• R3 – regra da iteração (I): qualquer grafo em qualquer região da folha de
asserção pode ser repetido (iterado) nessa região, ou em qualquer área não
parte de P, mas contida por {P}; Conseqüentemente: (a) um ramo com um fim
desatado pode ser adicionado a qualquer linha de identidade, desde que
nenhum cruzamento de cortes seja resultado dessa adição; (b) qualquer fim
desatado de uma ligadura pode ser estendido para dentro dos cortes; (c)
qualquer ligadura assim estendida pode ser unida à ligadura correspondente
de uma instância do grafo iterado; (d) um círculo pode ser formado pela
junção, por extensões interiores, dos dois fins desatados que estão na parte
interior da ligadura;
• R4 – regra da deiteração (DI): qualquer grafo, cuja ocorrência pode ser obtida
por iteração, pode ser apagado. Consequentemente: (a) um ramo com um fim
desatado pode ser retraído em qualquer linha de identidade, desde que
nenhum cruzamento de cortes ocorra na contração; (b) qualquer fim desatado
de uma ligadura pode ser retraída para fora dos cortes; (c) qualquer parte
cíclica de uma ligadura pode ser cortada na sua parte mais interna.
• R5 – regra do duplo corte (DC): o duplo corte em qualquer área pode ser
inserido ou removido de um grafo qualquer desde que a remoção seja de dois
cortes concêntricos consecutivos. Essas transformações não serão impedidas
pela presença de ligaduras que passam de fora do corte externo para dentro
do corte interno.
Usaremos para ilustrar essas regras um exemplo tomado de SOWA (apud
DAU, 2005, p. 13). Este exemplo é uma prova do seguinte silogismo do tipo darii52:
Cada caminhão reboque tem 18 rodas. Algum Peterbilt é um caminhão reboque.
Portanto, algum Peterbilt tem 18 rodas.
Vamos começar com um grafo existencial que codifique nossas premissas,
como pode ser visto a seguir. Ao usarmos a regra de iteração (R3) podemos estender
a linha de identidade exterior para dentro do corte. Como a área desse corte é
envolvida por um número ímpar de cortes, a regra inserção (R2) nos permite unir a
ponta desatada da linha de identidade que acabamos de iterar com a outra linha de
identidade. Podemos, como próximo passo, remover “caminhão reboque”. Para isso
nos baseamos na regra de deiteração (R4). Agora, nós podemos remover o duplo
corte, pela R5. Finalmente, nós podemos apagar a instância remanescente “caminhão
reboque”, baseados na regra de apagamento (R1), chegando à conclusão. Veja DAU
(2006b) para outros exemplos.
52
Termo lógico usado pelos escolásticos para designar o terceiro dos nove modos do silogismo de
primeira figura aristotélica. O silogismo é composto por uma premissa maior universal afirmativa, uma
premissa menor particular afirmativa e uma conclusão particular afirmativa, como no ex: todo M é P;
alguns S são M; logo, alguns S são P. (ABBAGNANO, 1998).
94
Peterbilt caminhão reboque
1- premissas
2- pela R3
3- pela R2
4- pela R4
tem 18 rodas
5- pela R5
tem 18 rodas
Peterbilt
6- pela R1
tem 18 rodas
95
3.1.3 Gama
53
Uma característica central da Lógica Modal, como interpretada na Semântica Relacional, é que o
sentido da modalidade - de possibilidade e necessidade - está intimamente e precisamente ligado às
propriedades da relação de acessibilidade. Assim, o reflexivo e transitivo acesso nos dá uma semântica
apropriada à bem conhecida lógica modal S4, enquanto a adição de simetria nos dá a lógica modal S5. A
lógica modal S5 é um sistema cuja relação da acessibilidade é “universal”, isto é, cada mundo possível é
acessível de qualquer outro. (ZEMAN, 1997a).
96
informação não é conhecida, e que não pode certamente ser inferida, ser
falsa. O estado de informação assumido pode ser o estado real daquele que
fala, ou pode ser um estado maior ou menor de informação. Assim, surgem
diversos tipos de possibilidade. (CP 2.347).
De acordo com ZEMAN (1997b), um tema básico do trabalho de Peirce é
exatamente a noção de quantificação sobre um domínio de possibilidades e ele
mesmo vê seu entendimento dos hipotéticos desse modo:
Num artigo que eu publiquei em 1880, dei conta de maneira imperfeita da
álgebra da cópula. Mencionei expressamente a necessidade de quantificar
o caso possível ao qual uma proposição condicional ou independencial se
refere. Não tendo naquele tempo qualquer familiaridade com os signos de
quantificação que posteriormente eu desenvolvi, o centro do artigo tratava
das simples conseqüências de inesse. Professor Schröder aceita este
primeiro ensaio como um tratamento satisfatório dos hipotéticos; e assume,
contrariando minha doutrina, que os casos possíveis considerados nos
hipotéticos não têm um universo de multidões. Isto retira dos hipotéticos seu
aspecto mais característico. (2.349).
Para Peirce (CP 3.374), a questão fundamental sobre esse assunto está
relacionada ao sentido que é, em lógica, mais utilmente ligado à proposição hipotética.
A peculiaridade da proposição hipotética é que ela sai para além do estado atual das
coisas e declara o que aconteceria se as coisas fossem outras do que são ou possam
ser. A utilidade disso é que ela nos coloca de posse de uma regra, tal como “se A é
verdadeiro, B é verdadeiro”, de tal forma que devemos aprender algo de que estamos
ignorantes no momento. Ou seja, que A é verdadeiro, então, por essa regra, veremos
que sabemos alguma coisa, que B é verdadeiro. Não pode haver dúvida de que o
Possível, em seu sentido primário, é aquele que pode ser verdade para qualquer coisa
que conhecemos, cuja falsidade não sabemos. O objetivo é subserviente, então, se
toda a gama de possibilidades, em cada estado de coisas em que A é verdadeiro, B
também é verdadeiro. A proposição hipotética pode ser falsificada por um único
estado de coisas, mas apenas por um em que A é verdadeiro quando B é falso.
Aqui ela toma a forma de um contraste entre a proposição “se-então” como
“hipotética” e “se-então” como verdade-funcional (proposição de inesse). A verdade-
funcional “se-então” é uma instanciação, apenas uma instância concreta do “se-então”
hipotético. A proposição hipotética é geral, um universal. Enquanto a lógica algébrica e
a parte Alfa dos GEs dão um tratamento adequado à verdade funcional de inesse, o
trabalho mais tardio de Peirce se concentrou, predominantemente, na busca de um
tratamento igualmente adequado para o “se-então” hipotético e assuntos relacionados.
O tema central nesse ponto é o intervalo de situações possíveis. (ZEMAN, 1997a).
De acordo com SILVEIRA (2008a), ao acompanharmos a trajetória do
pensamento de Peirce, notaremos que o mundo das idéias (Mundo Platônico das
Idéias, como às vezes era chamado por ele) começa a ocupar um importante lugar na
97
concepção de conhecimento (1896, aproximadamente). Esse mundo, no qual o
desenvolvimento dos signos gerais ocorre, é a instância em que o possível encontra a
sua representação mais adequada. Assim, a experiência sensível, sendo marcada
pela particularidade do aqui e agora, que somente será representada como a
experiência de uma classe geral de fenômenos por meio de exemplares empíricos,
deve dar espaço a uma representação ideal (por meio de construções diagramáticas)
que se mostre possível de penetrar no âmbito da razoabilidade. Sendo esse o caso,
ela passará pelo crivo do juízo, conferindo-lhe legitimidade diante de um certo
paradigma da Razão. Caso isso não ocorra, a representação será rejeitada como
impossível e, desse modo, “contraditória em suas pretensões de aceitabilidade
racional”.
Gama seria o sistema capaz de tratar, se totalmente concluído, a realidade
como um todo, ou seja, fazer para o geral o que Alfa e Beta fizeram para o “universo
do fato existente real”. Vimos que a folha de asserção Alfa e Beta, um espaço bi-
dimensional, uma superfície, representa esse “universo de fato existente real”, embora
estritamente falando, ao menos três dimensões são requiridas para a completa
representação de beta, pois há instâncias em que linhas de identidade cruzam outras
sem se juntar. A parte Gama, então, acrescenta, literalmente, outra dimensão aos
GEs. Gama era para ser o sistema que supriria o formalismo necessário para a
expressão simbólica das relações entre os diferentes universos de discurso. Alfa e
Beta oferecem uma análise do raciocínio dedutivo (matemático) do continuum do
universo realmente existente. Gama, seria capaz de apresentar uma análise do
processo dedutivo existente entre os universos possíveis do discurso, relacionando-os
(incluindo o universo real existente da folha de asserção de Alfa e Beta). Peirce sugere
que, para lidar com a dimensão extra exigida por Gama, tomemos como nossa “folha
de asserção gama”, não uma única folha, mas um livro de folhas. (ZEMAN, 1964).
Na parte gama do assunto (subject) todas as antigas espécies de signos
assumem novas formas. ... Assim no lugar de uma folha de asserção ,
temos um livro de folhas separadas presas umas às outras em certos
pontos, caso não estejam conectadas de outro modo. Quanto a nossa folha
Alfa, como um todo, ela representa simplesmente um universo de indivíduos
existentes atuais, e as diferentes partes da folha representam fatos ou
asserções verdadeiras concernentes àquele universo. Nos cortes passamos
para outras áreas, áreas de proposições concebidas que não estão
realizadas. Nestas áreas podem haver cortes onde passamos para mundos
que, nos mundos imaginários dos cortes exteriores, são eles mesmos
representados como sendo imaginários e falsos, mas que podem, para tudo
isso, serem verdadeiros, e portanto contínuos com a própria folha de
asserção, embora isto seja incerto. Vocês podem ver a folha ordinária em
branco como um filme sobre o qual há, como havia, uma fotografia não
revelada dos fatos no universo. Não quero significar uma figura literal, pois
seus elementos são proposições, e o significado de uma proposição é
abstrato e de uma natureza totalmente diferente da de uma figura. Mas
quero que imaginem todas as proposições verdadeiras tendo sido
98
formuladas; e uma vez que os fatos estejam fundidos uns nos outros, é
somente num continuum que podemos conceber ter isto sido feito. Este
continuum deve claramente ter mais dimensões do que uma superfície ou
mesmo um sólido; e suporemos ser ele plástico, de modo que possa ser
deformado de todas as maneiras sem que tenham sido rompidas a
continuidade e a conexão entre as partes. Deste continuum a SA pode ser
imaginada como sendo uma fotografia. Quando descobrimos que uma
proposição é verdadeira, podemos colocá-la onde quisermos sobre a folha,
pois podemos imaginar o continuum original, que é plástico, como sendo de
tal modo deformado a ponto de trazer consigo qualquer número de
proposições para qualquer lugar na folha que possamos escolher. (CP
4.512)
Assim, segundo ZEMAN (1997b), ao nos deslocarmos a partir do ícone
topológico da folha de asserção básica (considerada como uma superfície) como a
representação do universo de fato existente real, nós passamos a um espaço
adequado para representar o domínio global de possíveis (outras superfícies dentro
desse espaço, então, representam outros possíveis universos existenciais). O “livro de
folhas” é uma aproximação desse espaço de possibilidades; de certa forma os cortes
(que estão intimamente relacionadas com o condicional) são meios para passar de um
universo existencial possível para outro. Parece claro que o modelo proposto por
Zeman para a relação entre o universo de possibilidades e o universo de fatos reais
existentes é também o modelo para a relação entre o hipotético (que se preocupa com
o universo de possíveis em geral) e o condicional de inesse (que trata das condições
de um estado apenas “quase instantâneo”).
Como já vimos, embora o universo do fato existencial possa somente ser
concebido como mapeado sobre uma superfície por cada ponto da
superfície representando uma vasta extensão de fato, mesmo assim
podemos conceber os fatos [como] suficientemente separados sobre o
mapa para todos nossos propósitos; e no mesmo sentido o universo inteiro
das possibilidades lógicas pode ser concebido como mapeado sobre uma
superfície. Todavia, se formos representar para nossas mentes a relação
entre o universo de possibilidades e o universo dos fatos existentes atuais,
se formos pensar este último como uma superfície, devemos pensar o
primeiro como um espaço tridimensional no qual nenhuma superfície
representaria todos os fatos que possam existir em um universo existencial.
No esforço para iniciar a construção da parte da gama do sistema de
gráficos existenciais, o que eu tinha que fazer era escolher, a partir da
massa enorme de idéias assim sugeridas, um número pequeno e
conveniente para trabalhar. Não parece ser conveniente usar mais de uma
folha real de uma só vez, mas parece que vários tipos diferentes de cortes
seriam requeridos. (CP 4.514).
É necesário frisar que, embora a teoria diagramática das modalidades
(Gama) seja caracterizada por uma grande riqueza de novos sinais (se comparado às
outras partes), não há nenhum signo que seja essencialmente diferente daquelas
encontradas em Alfa e Beta (cf. ROBERTS, 1992, para ver um resumo desses
signos). Os mais importantes novos elementos gráficos encontrados na parte Gama
são os “cortes quebrados” e as “tinturas”, que correspondem aos vários tipos de
modalidade. (ØHRSTRØM, 1997, cf. CP 4.512). Contudo, é importante notarmos,
99
segundo SILVEIRA (2011b), que o recurso ao corte quebrado precede de três anos o
recurso às tinturas. Na verdade, nos parece que um recurso veio para substituir o
outro, pois as tinturas cobrem as modalidades que o corte quebrado tratava.
O germe da parte Gama esteva presente em 1903, quando ocorreu a Peirce
substituir a folha de asserção por um livro de folhas, a fim de lidar com possibilidades
lógicas. A idéia não pareceu conveniente naquele momento e ele acabou se
dedicando ao corte quebrado. Elaborações a respeito das tinturas não foram relatadas
até a primavera de 1906, quando Peirce anunciou sua “muito recente descoberta” (CP
4.576): a área dentro do corte deve ser vista como o verso da folha de asserção,
representando uma espécie de possibilidade. (Cf. ROBERTS, 1973, p. 88).
Para PEIRCE (CP 4.578), o corte pode ser imaginado estendendo-se com
alguma profundidade sobre o papel, de modo que pode expor um estrato ou outro,
sendo eles distinguidos por seus matizes, os matizes diferentes representando os
diferentes tipos de possibilidade. “Essa melhoria dá substancialmente, tanto quanto eu
posso discernir, quase a totalidade da parte Gama que tenho procurado discernir.”
De acordo com ROBERTS (1992), esse foi o desenvolvimento mais
ambicioso no âmbito dos GEs. Em 1906 (“Prolegomena to an Apology for
Pragmaticism”, CP 4.530-572), quando Peirce publicou um relato de GEs “tingidos”: o
sistema contava com uma grande oferta de folhas tingidas ou coloridas, que eram
destinadas a permitir a diagramação de perguntas, comandos e resoluções, além de
declarações de fatos e possibilidades. Peirce continuou a trabalhar essas idéias
depois de 1906 (do mesmo modo que ele continuou a trabalhar sobre os outros
recursos de gama), mas poucas adições sistemáticas foram feitas após isso, com
exceção de ROBERTS (1973) e ZEMAN (1997c).
Segundo ZEMAN (1997c), na tentativa de descrever a relação entre
“realidade existente” e “possibilidade”, Peirce observa que embora o universo do fato
existencial só possa ser concebido como mapeado sobre uma superfície por cada
ponto da superfície que representa uma vasta extensão do fato, ainda podemos
conceber os fatos como suficientemente separados no mapa para todos os nossos
propósitos; e no mesmo sentido todo o universo de possibilidades lógicas pode ser
concebido sendo mapeado em uma superfície. No entanto, se nós estivermos
representando para nossa mente a relação entre o universo de possibilidades com o
universo de fatos reais existentes, se formos pensar no último como uma superfície,
deveremos pensar o primeiro como um espaço tridimensional em que qualquer
superfície representaria todos os fatos que possam existir em um universo existencial.
(Cf. CP 4.514). Como exemplo apresentamos um grafo que foi retirado do
Prolegomena (CP 4.569):
100
esposa
Turco
esposa
esposa
Turco
esposa
Tabela 6 –6Tinturas
Tabela dada
– Tinturas parte
parteGama
Gamados
dosGEs.
GEs. Fonte: ROBERTS (1973, p. 93-94).
Metal
Metal
Argent
Argent Or
Or Fer
Fer Plomb
Plomb
Atual
Atual ou ou verdadeiro
verdadeiro emem Atual
Atualou
ouverdadeiro
verdadeiro em
em
umum sentido geral ou
sentido geral ou algum sentido especial
algum sentido especial
comum
comum
54
54 As tinturas heráldicas estão relacionadas ao estudo dos emblemas blasônicos. (HOUAISS, 2011). A
As tinturas
escolha heráldicas
desse padrão de estão relacionadas
tinturas se deu pelaao estudo dos
dificuldade emblemas de
de reprodução blasônicos.
cores que (HOUAISS, 2011).
havia na época de A
escolha
Peircedesse padrão
(Ms 300, de tinturas se deu pela dificuldade de reprodução de cores que havia na época de
p. 40).
Peirce (Ms 300, p. 40).
101
101
Cor
Cor
Azure
Azure Gules
Gules Vert
Vert Purpure
Purpure
Possibilidade
Possibilidadelógica
lógicaee Possibilidade
Possibilidade objetiva
objetiva O
O que
que está
está no
no modo
modo Liberdade
Liberdade ou
ou
possibilidade
possibilidade interrogativo
interrogativo habilidade
habilidade
55
51
subjetiva
subjetiva
Pele
Pele
Sable
Sable Ermine
Ermine Vair
Vair Potent
Potent
Metafísica,ou
Metafísica, ouracional,
racional, Propósito ou
Propósito ou intenção
intenção Comandado
Comandado Compelido
Compelido
ousecundariamente,
ou secundariamente,
necessitado
necessitado
Segundo ROBERTS
Segundo ROBERTS (1973,
(1973, p.
p. 91-92),
91-92) Devemos
devemos notar que o recto da folha de
asserção será
asserção será simbolizada
simbolizada pelas
pelas tinturas
tinturas de
de metal,
metal, oo verso
verso pelas
pelas cores
cores e o terceiro
universo será
universo será representado
representado por
por uma
uma espécie
espécie de
de remendo
remendo (patch)
(patch) de
de pele, que
aparecerá no
aparecerá no verso
verso ee recto
recto de
de acordo
acordo com
com oo que
que for
for requerido.
requerido. Por
Por outro
outro lado, para
que possamos
que possamos afirmar
afirmar aa possibilidade
possibilidade (não
(não apenas
apenas negá-la
nega-la ou
ou excluí-la,
excluí-la, como vimos
até aqui),
até aqui), aa folha
folha fênica
fênica (cujo
(cujo recto
recto representa
representa aa atualidade
atualidade ee cujo
cujo verso
verso representa a
possibilidade) éé substituída
possibilidade) substituída por
por uma
uma folha
folha cuja
cuja significação
significação depende
depende da
da tintura
tintura de sua
borda externa.
borda externa. Quando
Quando aa borda
borda externa
externa éé tingida
tingida de
de metal
metal (normalmente
(normalmente argent,
simbolizada por
simbolizada por estar
estar em
em branco),
branco), aa folha
folha será
será chamada
chamada de
de “folha
“folha de
de asserção”
asserção” e será
utilizada para
utilizada para expressar
expressar proposições.
proposições. Quando
Quando aa borda
borda éé em
em cor
cor (usualmente
(usualmente azure),
azure),
ela será
ela será chamada
chamada de
de “folha
“folha de
de interrogação”
interrogação” ee será
será usada
usada para
para expressar
expressar questões.
questões.
Quando aa borda
Quando borda éé em
em pele,
pele, (normalmente
(normalmente sable),
sable), ela
ela será
será chamada
chamada de
de “folha
“folha de
de
destino” ee será
destino” será utilizada
utilizada para
para expressar
expressar resoluções.
resoluções. Toda
Toda parte
parte da
da folha
folha fêmica
fêmica éé
tingida por
tingida por alguma
alguma cor
cor ee oo grafista
grafista pode
pode tingir
tingir suas
suas várias
várias partes
partes de
de acordo
acordo com
com suas
suas
necessidades. Por
necessidades. Por exemplo,
exemplo, suponha
suponha que
que temos
temos uma
uma folha
folha de
de asserção
asserção tingida
tingida de
de
argent (metal
argent (metal representado
representado pela
pela cor
cor branca
branca do
do papel)
papel) ee que
que tingimos
tingimos alguma
alguma parte
parte
dela com
dela com aa cor
cor azure
azure (representada
(representada pela
pela cor
cor azul)
azul) ee escrevemos
escrevemos sobre
sobre essa
essa parte
parte
“choverá”:
“choverá”:
51
55 Peirce utilizava
Peirce utilizava oo azul
azul escuro
escuro para
para aa possibilidade
possibilidade lógica
lógica ee azul
azul claro
claro para
para aa possibilidade
possibilidade subjetiva
subjetiva
(ROBERTS, 1973, p.
(ROBERTS, 1973, p. 94). 94).
112
102
choverá
Tal grafo significa “é possível que choverá”. (ROBERTS, 1973, p. 90-91, cf. Ms 295).
Um segundo exemplo nos é dado por PIETARINEN (2008c),
me ama me beije
cujo significado é “Se você me ama, beije-me”. Nesse exemplo temos um scroll,
representando uma proposição “se...então”, sendo que a borda do corte interno é
tingida com vair (pele representada pela cor marrom).
Embora Peirce tenha sugerido um sistema multimodal, não há - tanto quanto
pode ser visto a partir das fontes impressas - indicação nas suas obras de um estudo
sistemático sobre as formas pelas quais vários tipos de modalidade podem interagir
umas com as outras. Parece que esse é apenas um dos muitos temas que ele deixou
para que seus seguidores dessem continuidade. (ØHRSTRØM, 1997).
As convenções que são expostas neste momento são sugestões propostas
por ROBERTS (1973, p.104-109), como uma primeira tentativa para extender o uso
das tinturas para além do que foi apresentado nos Prolegomenas e no manuscrito Ms
670. Algumas mudanças nas convenções dos GEs são necessárias”: a) em C1, C2 e
C3, devemos trocar “folha de asserção” por “folha fênica”; b) em C7 e C8 mudamos
“individuais” por “entidades”; c) devemos alterar C6 por:
• C6+ - a escrita de um ponto grosso ou linha não conectada em alguma parte da
folha fêmica vai designar um membro de qualquer universo representado pela
tintura daquela parte da folha.
Assim, segue escrevendo Roberts, se a linha é escrita sobre metal, ela denotará um
objeto existente no universo da atualidade; se for escrita sobre cor ou pele, ela se
103
referirá a uma abstração correspondente ao tipo específico que a tintura representa.
Devemos tomar cuidado com o método para a interpretação das linhas de identidade
quando elas se extendem de uma província (superfície tingida contínua) para outra.
Se as diferentes províncias estão em areas diferentes, separadas por cortes, não há
problema. A linha, nesse caso, deverá ser interpretada endoporeuticamente, como o
usual. Mas, se a linha se estende por diferentes províncias na mesma área, alguma
ambiguidade pode surgir. Para evitar isso, uma nova convenção é adotada:
Vejamos um exemplo:
leva a
é uma
é água
pessoa
faz beber
é um cavalo
O grafo possui quatro ovais (clausuras), sendo que os dois externos são
associados com o scroll para representar uma proposição “se...então”, os dois internos
representam possibilidade objetiva (província tingida de vermelho; gules no original) e
impossibilidade (área vermelha dentro do corte). Como as três linhas de identidade
começam na área do scroll, elas podem ser entendidas como objetos universalmente
quantificados. Deste modo, o oval exterior pode ser lido como “se existe uma pessoa,
um cavalo e água”, o próximo oval pode ser lido como “então é possível para a pessoa
levar o cavalo até a água e não é possível para a pessoa fazer o cavalo beber água”.
(cf. SOWA, 1995, DAU, 2005, p. 16).
ROBERTS (1973, p. 107) nos apresenta um exemplo de uma afirmação
abstrata de persuasão moral:
104
andar uma milha
Literalmente, o grafo afirma que o comando para andar duas milhas pertence a
qualquer compulsão de andar uma. Potent (pele representada pela cor laranja) é
usada para expressar o que é compelido e vair (pele representada pela cor marrom) é
utilizada para expressar o que é ordenado. No grafo
temos uma proposição diferente, cujo significado é “toda compulsão para andar uma
milha é um comando para andar duas”, devido a linha de identidade não possuir
partes em metal.
Em sua tentativa de estabelecer regras de inferência para as tinturas, Roberts
mantém as regras R1-R5 com uma nova restrição ao duplo corte, ou seja, R5 só se
aplica a cortes duplos posicionados sobre e cuja primeira e segunda área sejam
tingidas em metal. Ele, também, adicionou três novas regras apenas para as tinturas
em metal e cor. A numeração das regras seguem aquelas da parte Beta:
• R6 – qualquer grafo no interior de um número par de cortes em metal pode ser
tingido com cor.
• R7 – qualquer grafo no interior de um número ímpar de cortes em cor, pode ser
tingido com metal.
105
• R8 – (a) qualquer província tingida em cor pode ser transformada em uma
província de metal com borda na cor original;56 e (b) uma província tingida em
metal, mas com a borda em alguma tintura de cor, pode ser transformada em
uma província daquela cor. A largura da fronteira pode ser ajustada às
necessidades do problema em mãos.
A regra R6 permite transformar o grafo 1 no grafo 2, como segue:
1. P 2. P
ou seja, de “P é verdadeiro” segue que “P é possível”. A R7, por sua vez, permite que
o grafo 3 seja transformado no grafo 4:
3. P 4. P
5. P Q 6. P Q
56
O modo da tintura da fronteira pode determinar se todo o gráfico deve ser entendido como interrogativo,
imperativo, ou indicativo (CP 4.554).
106
dormitiva” (grafo 8). O grafo 8 também pode ser lido como “o homem é suscetível aos
efeitos do opium”.
é opium é opium
é um homem é um homem
Por fim, a R8 permite provar que as proposições “não é possível que ambos P
e não-Q sejam verdadeiros“ e “é necessário o caso que P implica Q“, ou “P
estritamente implica Q“, são equivalentes no sentido que uma pode ser derivada da
outra. Primeiro mostramos que da primeira proposição nós podemos inferir a segunda:
1- P Q
2- P Q pela R8(a), ou R7
3- P Q pela R5
4- P Q pela R8(b)
107
para o 3 pela R8(a) ou pela R7; o passo 3 para o 2 pela R5; e pela R8(b) o passo 2 para a
proposição “não é possível que ambos P e não-Q sejam verdadeiros“.
De acordo com SILVEIRA (2008a), devemos notar que a lógica estando
submissa ao estado de informação em que se encontra quem conhece, poderá validar
ou invalidar várias seqüências de grafos. Sendo assim, grafos de mera possibilidade
(válidos para um determinado estado de informação), ao evoluírem de um estado de
relativa ignorância para um conhecimento a respeito de um fato baseado na
experiência, deverão ser substituídos por grafos de asserções necessárias. Desse
modo, o encaminhamento da modalidade lógica ao longo da experiência ficará
registrado. Contudo, devemos ter em mente que o percurso do conhecimento, quando
se leva em conta a sucessão de estados de informação ao longo do tempo, traz
consigo dificuldades para que o registremos de modo ágil e inequívoco. Tal sucessão
de estados de informação (não necessariamente lineares) dificilmente poderá guardar
toda a sua dinâmica, caso seja utilizada uma única folha de asserção para seu
registro. Esses aspectos temporais são, segundo ØHRSTRØM (1997), particularmente
relevantes para a parte Gama, que pode em muitos casos ser interpretada em termos
de uma lógica temporal. Afinal, no contexto peirceano, o tempo deve ser visto como
uma das espécies mais importantes da modalidade (cf. MS 291).
Os Grafos Existenciais, de acordo com nosso entendimento, constituem
ferramenta lógica poderosa que nos permitem mapear e experienciar sobre
possibilidades,57 possibilidades que surgem concretamente em diferentes contextos
reais, gerando hipóteses verificáveis. Para os interesses deste trabalho em particular,
seu uso como método para a investigação de mundos possíveis, ou cenários
possíveis, relacionados a um determinado sistema, garantirá ao mesmo tempo rigor
lógico-matemático e capacidade criativa e interpretativa em nossas construções
cognitivas. Se considerarmos que os sistemas reais possuem uma dimensão
intrinsecamente semiótica, um método que é capaz de representar a produção e
sistematização de signos nos proporcionará as condições para atender
adequadamente o mapeamento dos universos de possibilidade que envolvem os
sistemas reais.
57
Devemos lembrar que possibilidade e necessidade são relativas ao estado de informação (CP 4.517).
108
4 ESTUDOS DE CASO
Nas seções seguintes apresentamos dois estudos de caso para que possamos
entender melhor como os GEs podem nos auxiliar no tratamento de proposições
condicionais. O primeiro é baseado um estudo desenvolvido por Carlos Henrique Beisl
(BEISL, 2009), no qual ele propõe uma estratégia de utilização de mosaicos JERS-1
SAR58 e lógica fuzzy para a elaboração de mapas de sensibilidade ambiental temporal
a derrames de óleo na Amazônia Central. Com esse caso, poderemos entender o
modo pelo qual os GEs podem ser utilizados em situações de interesse mais aplicado,
que sejam baseados em conhecimento especialista. O segundo caso diz respeito à
pesquisa desenvolvida por Aretha Felix Thomaz da Silva (SILVA, 2008), na qual ela
realiza a identificação de regras de associação em uma base de dados de
exsudações59 de óleo, obtida a partir da interpretação de imagens RADARSAT-160 do
Golfo do México, Baía de Campeche. Além de nos proporcionar uma boa visão da
utilização dos GEs na geração de proposições hipotéticas verdadeiras, este caso nos
permitirá entender como eles podem ser trabalhados a partir de conhecimento gerado
de modo automático ou semi-automático por máquinas.61
A escolha desse caso se deve a suas estratégias para a construção de
conceitos, seguindo o mais rigoroso padrão científico, serem notáveis e seguramente
importantes para a determinação de condutas frente a ambientes sabidamente
complexos. Essas regiões estão propensas a importantes alterações e adaptações
provocadas por seu meio, mostrando uma certa fragilidade que pode provocar
mudanças e reconfigurações fundamentais e de grande envergadura. Mas, é
exatamente essa plasticidade, em um estado de meta-equilíbrio, que permite que
esses ambientes aprendam com suas experiências e redefinam seu curso e suas
configurações. Pela constante interpretação dessas experiências, novos hábitos são
adquiridos. Muitos são os exemplos de tal processo criativo de aprendizagem, tais
como: os muitos processos de transformações geológicas e hidrológicas; os
processos comunicacionais intra e inter-espécies, inclusive com as populações
humanas; as migrações e processos de otimização populacional no meio que se
encontram ou se transferem. À luz da semiótica e, também, da teoria geral dos
58
Imagens orbitais de radar obtidas pelo satélite japonês JERS-1 (Japanese Earth Resource Satellite).
59
Uma exsudação é definida como “um local na superfície terrestre onde hidrocarbonetos líquidos ou
gasosos emanam naturalmente e podem ser observados” (SILVA, 2008, p. 1).
60
Sistema de cobertura global pioneiro na utilização de diferentes geometrias de aquisição de imagens
orbitais de radar.
61
Devemos notar que a utilização de imagens satelitais para a detecção e monitoramento de eventos em
ambientes extensos tem sido uma prática constante, especialmente no que diz respeito à indústria
petrolífera.
sistemas e da auto-organização, essas observações nos mostram o quanto tais
sistemas são admiráveis em seu processo de constante aprendizagem (SILVEIRA,
2005).
Ao observarmos esses sistemas, percebemos que eles participam de uma
longa tradição (guardada ao menos em sua organização), um certo modo de agir, um
certo modo de processar os dados que recebem do meio, de modo a determinar seu
destino diverso do passado de onde veio. A partir do que lhes ocorre, comparam e
procuram a aquisição de uma forma que melhor o realize e, sob a forma de hábito ou
de segunda natureza, preparam-se para interagir com o meio quando ocasiões
semelhantes às do passado vierem a ter lugar. Livram-se da sina de somente reagir
ao que, em particular, lhes ocorrer, para destinar-se, de modo geral, para um futuro
que lhes sejam melhor62 (MIRANDA, et al., s/d).
Alguns poderiam até dizer que isso é apenas uma manifestação do
determinismo biológico, geológico e hidrológico, por exemplo. Concordamos que os
processos ali presentes são altamente estruturados, mas não é necessário pensarmos
neles como algo essencialmente determinístico. Sob a luz do pensamento Peirceano,
essa rotina pode ser entendida como um hábito adquirido (apreendido) ao longo do
tempo, cujo aparente determinismo mecânico não é absoluto (SILVEIRA, 1999). Nas
palavras de Peirce:
Tente verificar qualquer lei da natureza e você descobrirá que quanto mais
precisas suas observações, mais certamente elas evidenciarão
afastamentos irregulares da lei (CP 6.46). [Ainda:] Naquelas ciências de
mensuração que são menos sujeitas a erro – a metrologia, a geodesia e a
astronomia métrica – nenhum homem que se respeita divulga seus
resultados sem lhes afixar os erros prováveis; e se essa prática não é
seguida em outras ciências é porque nelas os erros prováveis são
demasiadamente grandes para serem estimados (CP 1.9). Essa tendência
ao erro, quando você a coloca sob o microscópio da reflexão, parece
consistir nas variações fortuitas de nossa ação no tempo. Mas escapa à
nossa atenção que em tal variação fortuita nosso intelecto é alimentado e
cresce. Pois sem essa variação fortuita, a aquisição de hábitos seria
impossível e o intelecto consiste na plasticidade do hábito. (CP 6.86).
Não resta dúvida que esse é um dos pontos mais polêmicos do pensamento
Peirceano. Deixaremos para discutir esse assunto em outra ocasião, por hora o
importante é sabermos que a chave para que possamos compreender as relações
entre a formação de hábitos no universo, em especial naqueles aqui sob estudo, e a
construção de diagramas que nos permitam representar esse universo ou qualquer
subsistema que dele faça parte (sem perdermos de vista que essa tentativa visa
auxiliar nossa conduta frente a ele), reside em encontrarmos na imensidão incalculável
62
Devemos frisar que o que é melhor para o sistema não necessariamente é aquele que projetamos a
partir de nossas visões muitas vezes românticas da Natureza.
110
da potencialidade espontânea do real uma Forma que oriente nossa busca pela
Verdade. O tempo para que sejamos sensibilizados pelo objeto e possamos
reconhecer essa Forma, de modo adequado a sua representação, é variável. Porém,
a partir do reconhecimento da Forma, caso ela ocorra, poderemos levantar uma
primeira hipótese de que, caso o objeto que nos atrai seja responsável por aquela
Forma, poderemos atribuir a ele as propriedades decorrentes dela e determinar qual
seria a conduta mais adequada quando com esse objeto nos encontrarmos. Sendo
assim, toda a ciência que conhecemos é um programa de conduta que permite
antecipar rigorosamente, a partir da Forma, a experiência desejada com o objeto.
(SILVEIRA, 2000 e 2004).
Quando estudamos semioticamente um sistema qualquer, tais quais aqueles
realizados em qualquer ciência, o que estamos fazendo é nos colocar na posição de
intérpretes63 numa rede de signos. Por exemplo, tomemos os estudos que aqui
analisaremos. Perceba que as imagens digitais de satélite são o meio utilizado para se
estabelecer a observação do ambiente de interesse. Desse modo, elas, as imagens,
assumem o papel lógico de mediadoras entre o ambiente e as idéias que surgem na
mente interpretante dessas imagens, numa série que tende ao infinito.
Agora, ao analisarmos uma imagem de satélite podemos inicialmente
perceber que seu caráter de signo, em sua relação com o objeto que representa, é
indicial. Isso se deve à relação causal, originada pelas leis eletromagnéticas, que
existe entre o objeto e o signo. A relação entre eles é orgânica, sendo o signo
percebido como algo que existe. Ele é um sinsigno, pois é singular como imagem
material e é dicisigno como afirmação de uma realidade.
De acordo com SANTAELLA, NÖTH (2001), duas rotas podem levar uma
imagem a se afastar da secundidade que lhe é característica. Por um lado, pode
caminhar para a primeiridade do trabalho artístico, que não necessariamente
signifique (significs) alguma coisa, representando padrões abstratos, por exemplo.
Embora permaneça sinsigno e mantenha uma relação indicial com o objeto, ele não
atuará como um dicisigno. Ele é um signo remático, referindo-se à primeiridade em
sua relação com os interpretantes. Por outro lado, há o desvio rumo à terceridade.
Esse tipo de imagem é aquela que comumente encontramos na pesquisa científica.
Por meio dessas imagens buscamos generalizar os fatos individuais flagrados em
nossas observações, transformando-as em legisignos.
Ou seja, as imagens satelitais, como as apresentadas em nossos casos,
possibilitam criar interpretantes a respeito do comportamento do sistema (classe geral
63
Devemos nos lembrar que o intérprete é uma instância ontológica e os interpretantes são uma relação
lógica.
111
de fenômeno) que elas representam. Ao estabelecermos critérios de manipulação das
imagens para evidenciar uma dada característica de interesse do ambiente, ou ainda,
criarmos superposições de imagens que nos facilitem obter informações a respeito de
características temporais do objeto, esses interpretantes evoluirão e nos permitirão
compartilhar e desfrutar cada vez mais da rede semiótica à qual elas pertencem.
Especificamente, toda a estratégia de construção de proposições condicionais
do tipo “se...então”, elaboradas por Beisl ou extraídas de banco de dados por Silva, é
uma tentativa, bem sucedida ao meu ver, de refinar nossas representações, a fim de
encontrarmos a melhor Forma de conduzir nossa conduta em relação aos sistemas
em questão. No caso do trabalho de Beisl, o auxílio trazido pela lógica fuzzy, como
estratégia para o tratamento de elementos fronteiriços, potencializa ainda mais tais
representações, pois estão muito mais próximas daquilo que se encontra no mundo
Real. Como dissemos anteriormente, a teoria fuzzy é uma espécie de lógica da
conduta especial, que orienta pragmaticamente nossa conduta frente à presença de
elementos fronteiriços e portanto vagos em algum sentido ou maneira. Nesse sentido,
ela é pragmática, pois fornece os limites do que será considerado significativo e a
precisão a ser atingida em sua aplicação sobre as imagens satelitais do sistema
amazônico.
De qualquer modo, seja qual for a estratégia utilizada para gerar as regras
condicionais, ao utilizarmos os grafos existenciais, como propomos na seção anterior,
estamos orientando pragmaticamente nossas ações à busca de Formas potenciais
que podem auxiliar a nossa conduta, seja em relação ao nossos casos ou em relação
a qualquer outro caso que se nos apresente. Passemos, assim, para os estudos de
caso.
4.1.1 Apresentação
64
As Informações (textos, imagens e tabelas) utilizadas nesta seção foram retiradas do trabalho de BEISL
(2009), sob sua autorização. Sendo assim, por uma questão de parcimônia, apenas citaremos textos
complementares.
112
recomendamos fortemente aos leitores que desejem conhecer mais sobre esse
estudo, que leiam o texto original.
O objetivo de seu trabalho foi definir os níveis de sensibilidade ambiental
temporal a derrames de óleo em escala regional na Amazônia Central, diretamente
dos mosaicos de imagens GRFM JERS-1 SAR. Para isso, foi utilizado o classificador
textural por semivariograma (USTC) e a lógica fuzzy para a análise da ambiguidade do
mapeamento. A abordagem utilizada, baseada no conhecimento a respeito do
ambiente no âmbito das classificações temporais dos mosaicos, visou comparar
mudanças de classes de seca para cheia em meio ciclo hidrológico. A utilização de
técnicas fuzzy permitiu que funções de pertinência fossem obtidas para a
implementação do conhecimento do especialista. Para que se pudesse avaliar o risco
ambiental do transporte de óleo pelas rotas fluviais na Amazônia, o mapeamento da
sensibilidade sazonal a derrames de óleo obtidas no estudo foi introduzido em um
Sistema de Informações Geográficas (SIG).
A área desse estudo se localiza no Estado do Amazonas - Brasil,
estendendo-se pelos municípios de Coari, Codajás, Anori, Beruri, Anamã, Caapiranga,
Manacapuru, Iranduba e Manaus, compreendendo as latitudes 3o a 5o sul e longitudes
de 60o a 66o oeste. Os cursos d’água mais importantes nessa área são os rios Tefé,
Urucu, Coari, Manacapuru, Purus, e Solimões (no trecho compreendido entre Coari e
a confluência do Rio Negro, em Manaus). São encontrados vários lagos, sendo o
principal, dada a sua dimensão e posição, o lago Coari. (cf. FIGURA 17).
Figura 17 – Área de estudo. (Mosaico JERS-1 SAR da época cheia produzido pelo Global Rain Forest
Mapping Project – GRFM). Fonte: BEISL (2009, p.15).
De acordo com Beisl, por se tratar de uma região sujeita a forte sazonalidade
na variação do nível dos rios (chegando a 14 metros na região de Coari), e carente de
infra-estrutura, o acesso entre Manaus e os municípios adjacentes é principalmente
aéreo ou hidroviário. O fato dessa região fazer parte da rota de escoamento da
produção de hidrocarbonetos (óleo e gás) produzidos pela Petrobras no Pólo Arara, na
113
província de Urucu, a torna ainda mais complexa. A produção de óleo é cerca de 55
mil barris/dia, sendo seu transporte desde Coari até Manaus realizado por navio
tanque. Tal atividade é um empreendimento de grande impacto potencial, com
possíveis conseqüências socioeconômicas e ambientais expressivas.
Beisl segue dizendo que, para o desafio de se explorar hidrocarbonetos,
somado ao desejo de se ampliar o conhecimento a respeito da região e se preservar o
meio ambiente, a Petrobras criou, em 1993, o Plano Amazonas. Um amplo conjunto
de iniciativas foi tomado, incluindo programas sociais e ambientais, bem como projetos
de pesquisa e desenvolvimento em parceria com a comunidade científica, tais como:
os projetos PIATAM, PIATAM MAR, COGNITUS e a parceria com o Sistema de
Proteção da Amazônia (SIPAM). No PIATAM, em particular, vários produtos foram
elaborados, entre eles foram desenvolvidos métodos para o monitoramento de áreas
inundáveis, visando à confecção de mapas de sensibilidade ambiental a derrames de
óleo. Tais mapas forneceriam possíveis cenários de risco, proporcionando subsídios
para a estruturação de planos de contingência para as épocas de seca, enchente,
cheia e vazante. Esse cenário constitui a base para a definição das áreas de risco ao
derramamento de petróleo, no interior das quais a floresta inundada e a vegetação
inundada se apresentam como as áreas mais sensíveis.
Beisl também aponta em seu trabalho que a confecção de mapas de
sensibilidade ambiental a derrames óleo é baseada no sistema desenvolvido pela
National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA, 2002) para regiões
costeiras. Essa metodologia leva em consideração classes de sensibilidade de acordo
com uma escala de 1 a 10, sendo que quanto maior o valor na escala, maior será a
sensibilidade do habitat. A definição da sensibilidade de um ambiente está relacionada
aos seguintes fatores:
1) tipo de superfície; 2) granulometria e permeabilidade do substrato; 3) declividade do
local; 4) grau de exposição e remoção do óleo por processos naturais; 5)
produtividade e sensibilidade biológica; 6) recursos socioeconômicos; 7) grau de
facilidade ou dificuldade de remoção do óleo; 8) interação entre processos físicos; 9)
linha de costa ou extremidades de um rio; 10) transporte de sedimentos; 11) produto
derramado; e 12) destino e efeito do produto derramado.
Com o objetivo de uniformizar os procedimentos de confecção de mapas de
sensibilidade ambiental a derrames de óleo em ambientes costeiros e estuarinos em
áreas de atuação da Petrobras, ARAUJO, et al. (2002) elaboraram um completo
manual baseado na metodologia da NOAA (com as devidas adaptações exigidas
pelas características de nosso país). Na TABELA 7 podemos conferir os índices de
sensibilidade ambiental a derrames de oleo, que foram adaptados às feições fluviais
114
do sistema amazônico. Nesses indices, foram levadas em conta as carcterísticas
locais das feições e da sazonalidade, bem como apresenta o código de cores, no
sistema RGB (Red, Green, Blue) proposto pela NOAA (2002).
Tabela 7 – Índice de sensibilidade ambiental a derrames de óleo para regiões fluviais da Amazônia.
Fonte: Araújo et al., (2002)
Índice de Código de cores
Sensibilidade Feição estabelecido pela
Ambiental NOAA (R,G,B)*
1 Estruturas artificiais 119, 38, 105
2 Laje ou afloramento rochoso 174, 153, 191
3 Corredeira/cachoeira 0, 151, 212
4 Escarpa/barranco 146, 209, 241
5 Praia ou banco de areia /seixo exposta 152, 206, 201
6 Praia ou banco de areia /seixo abrigada 0, 149, 32
7 Praia ou banco de lama exposto 214, 186, 0
8 Praia ou banco de lama abrigado 255, 32, 0
9 Zona de confluência de rios e lagos 248, 163, 0
10a Banco de macrófitas aquáticas 214, 0, 24
10b Vegetação alagada (igapós, várzea, chavascal, campo) 245, 162, 188
*(Tabela de cores no sistema R = red, G = green, B = blue)
115
2) conseqüência ambiental a derrames de óleo de acordo com a mudança do regime
hidrológico - a) desprezível: nenhum dano ou dano não mensurável; b) marginal:
danos irrelevantes ao meio ambiente e à comunidade externa; c) crítico: possíveis
danos ao meio ambiente devido à liberação de substâncias químicas tóxicas ou
inflamáveis, alcançando áreas externas à instalação. Pode provocar lesões de
gravidade moderada na população externa ou impactos ambientais com reduzido
tempo de recuperação; d) catastrófico: impactos ambientais devido à liberação de
substâncias químicas, tóxicas ou inflamáveis, atingindo áreas externas às
instalações. Provoca mortes e lesões graves na população externa ou impactos
ambientais ao meio ambiente com tempo de recuperação elevado.
Por meio da combinação desses conjuntos de regras, foi possível estabelecer qual o
risco ambiental envolvido no transporte de óleo para cada combinação de mudança de
paisagem.
A TABELA 8 apresenta a matriz de risco para derrames de óleo em
ambientes fluviais sujeitos a mudanças sazonais na Amazônia. Nela encontramos o
“fator de confiança do risco ambiental a derrames de óleo” (FR). Trata-se de um
parâmetro que estima, em cada célula da matriz, a confiabilidade da mudança (FC) e
severidade (FS) de um derrame. O risco está agrupado qualitativamente em três níveis
de risco: nível alto (vermelho - FR = 1,00 a 0,80), intermediário, (amarelo - FR = 0,60 a
0,40) e baixo (verde - FR = 0,30 a 0,05).
Tabela 8 – Matriz de risco definida a partir da base de regras de severidade e confiabilidade de mudança
sazonal em um período do ciclo hidrológico. Fonte: BEISL (2009, p. 77)
MATRIZ DE RISCO PARA CONFIABILIDADE DA MUDANÇA EM UM PERÍODO DO CICLO
DERRAMES DE ÓLEO EM HIDROLÓGICO
AMBIENTES SUJEITOS A EXTREM. REMOTA OCASIONAL PROVÁVEL FREQUENTE
MUDANÇAS SAZONAIS NA REMOTA Fc4 = 0.40 Fc3 = 0.60 Fc2 = 0.80 Fc1 = 1.0
AMAZÔNIA Fc5 = 0.20
CATASTRÓFICO
DERRAMES DE ÓLEO
(SEVERIDADE)
AMBIENTAL À
CRÍTICO
0.15 0.30 0.45 0.60 0.75
FS2 = 0.75
MARGINAL
0.10 0.20 0.30 0.40 0.50
FS3 = 0.50
DESPREZÍVEL
0.05 0.10 0.15 0.20 0.25
FS4 = 0.25
116
conhecimento especialista tornou possível o remapeamento das classes de mudança,
avaliando a confiabilidade de certas mudanças ocorrerem, o tipo de mudança e as
respectivas severidades no caso do derrame de óleo. Os valores obtidos apresentam
um fator de risco FR que representa o Índice de Sensibilidade Ambiental Temporal
(ISAT) a derrames de óleo para a área de interesse.
A TABELA 9 apresenta o resultado da matriz de risco para derrames de óleo
em ambientes fluviais sujeitos a mudanças temporais na Amazônia, considerando o
ciclo hidrológico da seca para a cheia. As classes C6, C7 e C11 (igapós, ambientes
constantemente inundados de floresta ou vegetação de macrófitas, etc.),
correspondem ao risco alto. As classes C2, C3, C8, C12 e C10 (exceto a classe C10,
todas as outras incluem a floresta inundada ou a vegetação inundada apenas como
termo final ou inicial), correspondem ao risco intermediário. As classes de risco baixo,
por sua vez, foram divididas em duas: a primeira se refere àquelas menos prováveis
de acontecer são elas: C13, C9, C14, C15, C5 e C4; a segunda se refere àquelas onde
mudanças não são observadas e que apresentam riscos que podem ser facilmente
remediados (C1) ou são inexistentes (C16). Para o posicionamento de cada classe de
mudança na Tabela 9, foram utilizadas como base as regras de remapeamento das
classes estabelecidas nas Tabelas 6.10 e 6.12 no texto original (que podem ser vistas
no ANEXO III).
Tabela 9 – Mapeamento das classes de mudança com a matriz de risco definida a partir da base de
regras de severidade e confiabilidade de mudança sazonal em um período do ciclo hidrológico (da seca
para a cheia). O risco alto está representado em vermelho, o risco intermediário em amarelo e o risco
baixo em verde. Fonte: BEISL (2009, p. 122)
MATRIZ DE RISCO PARA CONFIABILIDADE DA MUDANÇA EM UM PERÍODO DO CICLO HIDROLÓGICO
DERRAMES DE ÓLEO EM
EXTREM. REMOTA OCASIONAL PROVÁVEL FREQUENTE
AMBIENTES SUJEITOS A
REMOTA FC4 = 0.40 FC3 = 0.60 FC2 = 0.80 FC1 = 1.0
MUDANÇAS SAZONAIS NA
FC5 = 0.20
AMAZÔNIA
CATASTRÓFICO
DERRAMES DE ÓLEO
(SEVERIDADE)
AMBIENTAL A
DESPREZÍVEL
FS4 = 0.25 C16, C1
117
Tabela 10 – Classes de mudança com as denominações de risco ambiental temporal e
ISAT1,0 considerando o período de seca para cheia. Fonte: BEISL (2009, p. 123).
CLASSE ÉPOCA SECA ÉPOCA CHEIA RISCO ISAT1,0
(SET 1995) (MAI 1996) AMBIENTAL
C1 Água Água Baixo 0.25
C2 Veg. Inundada Água Intermediário 0.40
C3 Fl. Inundada Água Intermediário 0.40
C4 Fl. Seca Água Baixo 0.30
C5 Água Veg. Inundada Baixo 0.30
C6 Veg. Inundada Veg. Inundada Alto 1.00
C7 Fl. Inundada Veg. Inundada Alto 0.80
C8 Fl. Seca Veg. Inundada Intermediário 0.60
C9 Água Fl. Inundada Baixo 0.30
C10 Veg. Inundada Fl. Inundada Intermediário 0.40
C11 Fl. Inundada Fl. Inundada Alto 1.00
C12 Fl. Seca Fl. Inundada Intermediário 0.60
C13 Água Fl. Seca Baixo 0.15
C14 Veg. Inundada Fl. Seca Baixo 0.30
C15 Fl. Inundada Fl. Seca Baixo 0.30
C16 Fl. Seca Fl. Seca Baixo 0.25
Figura 18 – Mapa do risco ambiental temporal a derrames de óleo na Amazônia Central, mostrando o
zoneamento do ISAT1,0 em três níveis. Fonte: BEISL (2009, p.124).
118
O ISAT1,0 final obtido pela remapeamento das classes de mudança de
paisagem pode ser visto no mapa da FIGURA 19, que mostra a distribuição espacial
do risco ambiental temporal na região de interesse. O mapa apresenta uma gradação
de cores para melhor representar o risco ambiental. As regiões de floresta seca, lagos
e rios (ISAT1,0 = 0,25) estão na cor ciano. A região de várzea possue um ISAT1,0
intermediário de 0,60 em amarelo, a 0,40 em verde claro. O ISAT1,0 = 1,0 (alto)
aparece em áreas menores associadas a pequenas quantidades da cor vermelha. Os
valores restantes de ISAT1,0: laranja = 0,80 (alto); verde escuro = 0,30 (baixo); e azul =
0,15 (baixo), ocorrem em caráter muito local (o que exige maior nível de detalhe para
sua observação e análise).
Figura 19 - Mapa do ISAS1,0 obtido pela matriz de risco ambiental sazonal a derrames de óleo na
Amazônia Central (período da seca para a cheia). Fonte: Beisl (2010, p.125).
119
Figura 20 - Mapas mostrando o Índice de Sensibilidade Ambiental Temporal com expoente de
fuzzificação m =1,2 (ISAT1,2). Fonte: Beisl (2009, p.135).
120
4.1.2 Tratamento pelos Grafos Existenciais
Tabela 11 – União dos Tabelas 8 e 9. O risco mais alto está representado em vermelho, o risco
intermediário em amarelo e o risco mais baixo em verde e entre parênteses encontran-se os valores do
ISAT1,0
MATRIZ DE RISCO PARA CONFIABILIDADE DA MUDANÇA EM UM PERÍODO DO CICLO
DERRAMES DE ÓLEO EM HIDROLÓGICO
AMBIENTES SUJEITOS A EXTREM. REMOTA OCASIONAL PROVÁVEL FREQUENTE
MUDANÇAS TEMPORAIS REMOTA FC4 = 0.40 FC3 = 0.60 FC2 = 0.80 FC1 = 1.0
NA AMAZÔNIA FC5 = 0.20
AMBIENTAL A DERRAMES
(0.20) (0.60)
FS1 = 1.0 (0.40) (0.80) (1.00)
CONSEQUÊNCIA
C13 C 5, C 9 C8 C12
CRÍTICO
FS2 = 0.75 C14 C15 (0.45) (0.75)
(0.15) (0.60)
(0.30)
MARGINAL C4 C2 C3
(0.10) (0.20) (0.50)
FS3 = 0.50 (0.30) (0.40)
DESPREZÍVEL C16 C1
(0.05) (0.10) (0.15) (0.20)
FS4 = 0.25 (0.25)
121
• PA1: se a confiabilidade da mudança em um período do ciclo hidrológico é Fc1 e a
consequência ambiental a derrames de óleo (severidade) é Fs1, então o risco
ambiental é Alto;
• PA2: se a confiabilidade da mudança em um período do ciclo hidrológico é Fc1 e a
consequência ambiental a derrames de óleo (severidade) é Fs4, então o risco
ambiental é Baixo;
• PA3: se a confiabilidade da mudança em um período do ciclo hidrológico é Fc2 e a
consequência ambiental a derrames de óleo (severidade) é Fs1, então o risco
ambiental é Alto;
• PA4: se a confiabilidade da mudança em um período do ciclo hidrológico é Fc2 e a
consequência ambiental a derrames de óleo (severidade) é Fs2, então o risco
ambiental é Intermediário;
• PA5: se a confiabilidade da mudança em um período do ciclo hidrológico é Fc2 e a
consequência ambiental a derrames de óleo (severidade) é Fs3, então o risco
ambiental é Intermediário;
• PA6: se a confiabilidade da mudança em um período do ciclo hidrológico é Fc3 e a
consequência ambiental a derrames de óleo (severidade) é Fs3, então o risco
ambiental é Baixo;
• PA7: se a confiabilidade da mudança em um período do ciclo hidrológico é Fc4 e a
consequência ambiental a derrames de óleo (severidade) é Fs1, então o risco
ambiental é Intermediário;
• PA8: se a confiabilidade da mudança em um período do ciclo hidrológico é Fc4 e a
consequência ambiental a derrames de óleo (severidade) é Fs2, então o risco
ambiental é Baixo;
• PA9: se a confiabilidade da mudança em um período do ciclo hidrológico é Fc5 e a
consequência ambiental a derrames de óleo (severidade) é Fs2, então o risco
ambiental é Baixo.
Por sua vez, as proposições baseadas no ISAT1,0 podem ser escritas do seguinte
modo:
122
• PI8: se a confiabilidade da mudança em um período do ciclo hidrológico é Fc4 e a
consequência ambiental a derrames de óleo (severidade) é Fs2, então o ISAT1,0 é I3;
• PI9: se a confiabilidade da mudança em um período do ciclo hidrológico é Fc5 e a
consequência ambiental a derrames de óleo (severidade) é Fs2, então o ISAT1,0 é I1;
123
Fc1 Fc2 Fc4
PA1 A PA4 I PA7 I
FS1 FS2 FS1
e b) ISAT1,0,
65
Legenda - ISAT1,0
65
A legenda foi por nós introduzida.
124
Escolhemos arbitrariamente as proposições PI1 e PI3 para o tratamento com
os GEs. Isso nos permitirá realizar experiências exatas sobre as regras e a partir da
observação dos resultados poderemos chegar às nossas conclusões. Cremos que
elas são suficientes para exemplificar o uso dos grafos nesse tipo de situação.
Devemos lembrar que, por convenção, a cor azul indica possibilidade lógica e a cor
vermelha indica possibilidade objetiva. Assim, neste momento, passaremos à
manipulação das proposições. Os passos em nossa apresentação são numeradas à
esquerda e a justificativa, baseada nas regras dos GEs, escritas à direita:
a partir de “Fc1 e FS1 implica I7”, chegamos à conclusão, por modus ponens, que: “há
possibilidade lógica de Fc1 e FS1 sendo verdadeiros, decorrer que I7 é uma
possibilidade objetiva”. Além disso, a partir de “Fc1 e FS1 implica I7”, concluímos que “é
objetivamente possível Fc2 ser verdadeiro e I6 ser não verdadeiro” (valendo para todos
os casos análogos). Ou seja, Fc2 pode ser condição necessária, porém não é condição
suficiente para I6.
Se continuarmos a partir do passo 6, teremos, considerando que D
(derramamento de óleo) é um comando para R (procedimento de remediação):
125
continua &
126
Assim, partindo de “há possibilidade lógica de Fc1 e FS1 sendo verdadeiros, decorrer
que I7 é uma possibilidade objetiva”, chegamos à conclusão que “se há possibilidade
lógica de termos a possibilidade objetiva de I7, então havendo um D (derramamento de
óleo) há um comando para R (procedimento de remediação).
Os grafos são muito bons em sua capacidade “mostrativa” (vemos o
pensamento se fazendo ao longo das transformações) das relações lógicas. O uso
das cores configuram, a partir dos condicionais como premissa de possibilidade, uma
conclusão assertiva por meio de um modus ponens. Isso se deve ao poder
representativo do ícone. Os grafos podem se complexificar sem perder o rigor e a
simplicidade "mostrativa", tendo grande poder inferencial nas mais diversas
correlações. No nosso caso, pudemos verificar que a conclusão encontrada é
coerente com os resultados objetivos encontrados por Beisl, bem como com as
nossas impressões subjetivas a respeito do assunto (que em nenhum momento foram
explicitadas no trabalho).
4.2.1 Apresentação
127
familiaridade com o tema por ela desenvolvido. Sendo assim, discussões
pormenorizadas a respeito de seu trabalho serão evitadas, focando nossos esforços
apenas aos aspectos que interessam ao nosso estudo. Mais uma vez, recomendamos
aos leitores que, se desejarem conhecer mais sobre o estudo por ela desenvolvida,
leiam
1.3 o texto original.
– Localização da área de estudo
! A pesquisa de Silva teve por objetivo principal a identificação de regras de
associação em uma
"#! $%$&#! base ,-#(-!
'()*)+%$&#! de dados de.&/%0!
-#('$&! exsudações de ,%!
%$1')/)$&#! óleo. Os $%!
/-2)3&! dados
4%5%!ali
$-!
armazenados
6%07-89-:! foram obtido
*&8%*)+%$%! a partir0-/)$)&,%*!
,%! 7&/;3&! da interpretação de$&!
$&! <&*.&! imagens
=>?)8&:!RADARSAT-1,
-0! 8'@&! *)(&/%*!na
#-!
região6)'$%$!
#)('%! da Baía del
de Campeche. Tal região
Carmen AB)2'/%! está
CDCED! F!localizada
G/-%! #-! na porção meridional
,&(%H)*)+%! do Golfo
7-*%! 7/-#-,;%! $%!
do México (em cujo litoral se situa Ciudad del Carmen). Essa área é conhecida pela
-?#'$%;3&!$-!I*-&!-?(/-0%0-,(-!%()J%!$&!8%07&!$-!6%,(%/-**!A&!0%)&/!$&!9-0)#.>/)&!
presença, extremamente
&8)$-,(%*ED! ativa, de
! "'(/%#! -?#'$%;K-#! exsudação
#3&! de óleo no campo
(%0H>0! -,8&,(/%$%#! de Cantarell
,%! 4%5%! (o maior
$-! 6%07-89-:! -0!
do hemisfério ocidental), cf. FIGURA 22. Deve-se saber que outras exsudações são
G/-%#!8&0!0%)&/!*L0),%!$MG2'%D!
encontradas na Baía de Campeche, em áreas com maior lâmina d’água.
!
!
Figura
! 22 - Área de estudo, com níveis batimétricos e localização da exsudação petrolífera de Cantarell.
!
Fonte: Miranda
B)2'/%! CDC! N! O/-%! $-! -#('$&:! 8&0!et. al, apud
,5J-)#! SILVA (2008, p.
H%()0>(/)8&#! -!6).
*&8%*)+%;3&! $%! -?#'$%;3&!
7-(/&*5.-/%!$-!6%,(%/-**!AB&,(-P!=)/%,$%!et.
Nessa área a exsudação ocorre al:!QRRSED!
em águas rasas, em torno de 40m de
!
profundidade. Na FIGURA 23, podemos ver uma imagem panorâmica, obtida a partir
de um T-2',$&!=)/%,$%!et al.!AQRRSE:!%!7/&$';3&!$-!I*-&!,&!8%07&!$-!6%,(%/-**!>!$%!
helicóptero, da intensa atividade de exsudação nessa região. A produção de
&/$-0! $-! C:U!
óleo nesse 0)*9K-#!
campo, em $-! H%//)#!
2008, 7&/!ordem
foi da $)%D! V0!
de (%*! /-2)3&:!de
2 milhões %#!barris
%()J)$%$-#! 7-#1'-)/%#!
por dia. #3&!
A detecção
),(-,#%#! -! H-0!
de exsudações $-#-,J&*J)$%#!
de óleo na superfície-!do&!mar,
-8&##)#(-0%! $-*)8%$&!
especialmente >! /-7/-#-,(%$&!
em Cantarell, indica a
7/),8)7%*0-,(-! 7&/! 0%,2'-+%)#D! F##)0:! &! -,(-,$)0-,(&! $%! $),L0)8%! -#7%8)%*! -!
128
(-07&/%*! $%#! -?#'$%;K-#! $-! I*-&! ,-##-! %0H)-,(-! >! .',$%0-,(%*! 7%/%! %! %$&;3&! $-!
7/G()8%#! %7/&7/)%$%#! $-! 0&,)(&/%0-,(&! %0H)-,(%*:! 8&0&! #'H#5$)&! W! 2-#(3&! $&#!
/-8'/#&#!,%('/%)#!%*)!7/-#-,(-#D!!
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6YA0;,,*#$" 4A&+0*$095"
existência Z$"petrolíferos
de sistemas .$#'.@" '," B'.)'," +" $,"
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mar. É importante =+" %*G0'>?$@" ='" 0$#)'"
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composto principalmente
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manguezais.
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'" &'0-*0" subsídio à gestão
=+" )+.*#1&-+0$@" dos recursos
($" FA'." naturais
:" &$,,E<+." ali presentes
#$(,-'-'0" '" *(-+(,'"
e para a adoção de práticas apropriadas de monitoramento ambiental, o entendimento
'-*<*='=+"='"+3,A='>?$"=$"P'%&$"=+"P'(-'0+..5"
da dinâmica espacial e temporal das exsudações de óleo é de extrema importância. 67
"
"
"
Figura 23 - Vista aérea da exsudação de óleo do Campo de Cantarell. Fonte: Mendoza, apud SILVA
[*GA0'"N5J"]"^*,-'"':0+'"='"+3,A='>?$"=+"1.+$"=$"P'%&$"=+"P'(-'0+..5"P$%$"B'-$0"=+"
(2008, p. 7).
68
+,#'.'@"($-'0"'"&.'-'B$0%'"&+-0$.EB+0'"($"#'(-$",A&+0*$0"=*0+*-$"='"B$-$"6[$(-+_"2+(=$C'"
De acordo com Silva, o Laboratório de Sensoriamento Remoto por Radar
et al.@"JKK`95""
Aplicado à Indústria do Petróleo (LABSAR), situado na COPPE/UFRJ, tem realizado
sistematicamente, desde 2002, o monitoramento de exsudações e derramamentos de
petróleo na Baía de Campeche, por meio de imagens do satélite RADARSAT-1 e de 7
69
metodologia própria. Tal monitoramento resulta em uma grande quantidade de
dados, que, dado o seu volume e natureza, pode esconder conhecimento estratégico
para suporte à tomada de decisão.
67
A companhia responsável pelas atividades relacionadas à exploração, produção, refino e
comercialização dos hidrocarbonetos líquidos e gasosos encontrados no subsolo mexicano, bem como
pela distribuição de seus derivados, é a estatal Petróleos Mexicanos S.A. (PEMEX).
68
Observe a plataforma petrolífera no canto superior direito da foto; ela nos dá uma idéia da escala do
fenômeno de exsudação nessa área.
69
Primeiramente, as feições das imagens de satélite, classificadas como exsudações ou vazamentos
operacionais de óleo, são individualizadas em polígonos através do uso do algoritmo intitulado
Unsupervised Semivariogram Textural Classifer (USTC) e da avaliação de especialistas. Em seguida,
para cada um desses polígonos, é obtido um conjunto de dados referentes à suas características
geométricas (forma) e batimétricas, contexto temporal, modo de imageamento RADARSAT-1 e dados
meteo-oceonográficos obtidos no momento da aquisição da imagem de radar (temperatura da superfície
do mar, temperatura de topo de nuvem, velocidade do vento, altura da onda e concentração de clorofila-
a). Por fim, esses dados são armazenados em uma base sobre manchas relacionadas a exsudações de
óleo (seepage slicks), de forma que as linhas representam os polígonos (transações) e as colunas seus
atributos (itens).
129
O trabalho de Silva, a fim de obter informações desconhecidas e
potencialmente relevantes a partir desse banco de dados de exsudações, utiliza o
processo de descoberta de conhecimento em base de dados (KDD – Knowledge
Discovery in Databases). O KDD e, em particular, técnicas de Data Mining,70 se
mostraram instrumentos eficazes quando se procura relações ocultas ou implícitas
entre atributos em um banco de dados. Por tratar-se de um processo para extrair
informação válida, previamente desconhecida e de máxima abrangência, pode auxiliar
na identificação de padrões que suportem os procedimentos de tomada de decisão e
de planejamento a médio e longo prazo na região em questão.
O processo do KDD é composto de várias etapas, envolvendo: definição do
problema/objetivo, preparação do conjunto de dados, busca por padrões (por meio de
técnicas de mineração de dados), e consolidação na forma de conhecimento. O
sucesso na extração de conhecimento depende, principalmente, da interação entre os
usuários (os usuários podem ser agrupados em: especialista do domínio, analista e
usuário final).
Uma vez que já expomos o objetivo da aplicação do KDD anteriormente,
apresentaremos, de modo breve, as etapas subseqüentes empregadas no trabalho de
Silva. Na fase de preparação dos dados, não foi necessário o uso de nenhuma técnica
de limpeza e redução dos dados, apenas foram realizadas algumas correções de
digitação. A base de dados, com suas 1540 transações, está formatada na forma
atributo-valor, onde as linhas representam as transações e as colunas seus atributos
(itens). Foi realizada uma redução de volume nos atributos numéricos (inteiros e
reais), por meio da discretização de valores (os intervalos considerados - limites
inferior e superior – foram determinados por um especialista)71. Assim, a base passou
a ter um total de 98 valores possíveis para os 18 atributos discretos. Ao particionar as
variáveis, Silva utilizou-se de elementos lingüísticos ao invés de intervalos, facilitando
a compreenção dos resultados obtidos.
Após a discretização dos atributos, eles foram agrupados em níveis
taxonômicos, que refletem refletem uma visão arbitrária de como os atributos podem
ser hierarquicamente classificados. Essas taxonomias são denominadas Regras de
Associação Generalizadas e tentam identificar associações, tanto no mesmo nível de
taxonomia quanto em níveis diferentes (SKIKANT, AGRAWAL, 1996). O nível
taxonômico superior, chamado de Exsudações de Óleo no texto de Silva, possui sete
70
Podemos encontrar na literatura várias definições para KDD e Mineração de Dados, sendo que
algumas as consideram equivalentes. No entanto, no trabalho de Silva, o termo KDD é entendido como o
processo completo de descoberta de conhecimento, enquanto a mineração de dados é considerada como
uma de suas etapas. Para saber mais sobre o assunto cf. HAN, KAMBER (2006) e DUDA, HART, STORK
(2001).
71
Para saber mais a respeito da discretização cf. SRIKANT, AGRAWAL (1996).
130
grupos: localização, contexto temporal, forma, batimetria do centróide do polígono,
características do imageamento, agrupamento associado e condições meteo-
oceanográficas. Confira a FIGURA 24 para ver uma apresentação geral de todos os
níveis taxonômicos da base de dados estudada por Silva. Em seguida, a base foi
adaptada para a fase de mineração.
A etapa de mineração é formada por várias técnicas, tais como:
reconhecimento de padrões e regras de associação, sendo essa última a técnica
escolhida por Silva para seu trabalho. Essa abordagem foi apresentada por
AGRAWAL, et al. (1993), visando descobrir regras que descrevessem dependências
significativas entre os atributos que ocorrem de forma simultânea no banco de dados.
Trata-se de uma técnica de fácil compreensão até mesmo por usuários que não
possuem experiência em mineração de dados. Uma regra de associação representa
uma implicação de forma “se...então”, ou seja é da natureza de uma proposição
condicional.
Ao considerarmos “X então Y”, queremos dizer que uma transação que
contem o conjunto de itens X implica, provavelmente, o conjunto de itens Y. Assim, os
elementos (itens ou conjuntos de itens – itenset) de X e Y são elementos distintos que
representam o antecedente e o conseqüente, respectivamente, da regra. De modo
mais formal, tendo I como um conjunto de itens da base de dados, a regra de
131
Figura 24 – Representação geral dos níveis taxonômicos das exsudações de óleo na Baía de Campeche, Golfo do México. Fonte: SILVA (2008, p. 56).
56
!"#$%&'()*'+',-.%-/-01&234'#-%&5'64/'078-"/'1&940:;"<4/'6&/'-9/$6&2=-/'6-'>5-4'0&'?&7&'6-'@&;.-<A-B'C45D4'64'EF9"<4)'
56
132
Em seu estudo, Silva, faz uso conjunto de índices objetivos de suporte,
confiança e lift (cf. BRIN et al., 1997) para o pós-processamento das regras de
associação. O suporte da regra corresponde à sua relevância estatística,
representando a probabilidade percentual de ocorrer A e B simultaneamente, que
pode ser calculado como segue:
n(A " B)
sup(A ! B) = # 100 ,
N
n(A " B)
conf (A ! B) = # 100 ,
n(A)
Conf (A ! B)
lif (A ! B) = ,
Sup(B)
sendo que esta medida varia entre 0 e ! . Sua interpretação é bastante simples, uma
vez que quanto maior o valor do lift, mais interessante é a regra (cf. GONÇALVES,
2005). Seguem abaixo os intervalos de valores possíveis do lift em relação ao grau de
dependência entre os itens de uma regra:
O índice lift destaca facilmente a dependência positiva entre itensets que possuem
suporte baixo, sendo simétrico em relação aos lados da regra
(lift( A ! B) = lift(B ! A)).
A identificação quantitativa da força das regras de associação são
importantes, porém, mesmo regras de alto valor objetivo podem não ser
subjetivamente interessantes para um especialista. Assim, as medidas de interesse
subjetivas qualuficam as regras para um determinado usuário, num determinado
contexto. (cf. GONÇALVES, 2005). Essas medidas foram, no trabalho de Silva,
utilizadas para avaliar a qualidade das regras encontradas e possibilitar a seleção
133
daquelas potencialmente mais interessantes, conforme o conhecimento especialista
na detecção de exsudações de óleo por satélite.
Respeitando ao requisito de simplicidade imposto pelo especialista do
domínio, foram consideradas no trabalho de Silva apenas as regras de associação
geradas no CBA que envolvem um item no antecedente e um item no conseqüente.
As relações resultantes mais significativas estão apresentadas da seguinte maneira: a)
intraníveis: regras de associação obtidas exclusivamente entre os subníveis de um
mesmo nível taxonômico (TABELA 12); e b) interníveis: regras de associação obtidas
entre níveis taxonômicos distintos (TABELA 13).
!"#$%"&'()*&+&,-./"&0$&1$21".&0$&"..34-"563&-7/1"789$-.(&
& Tabela 12 – Lista de regras de associação intraníveis. Fonte: SILVA (2008, p. 78).
Nº da Interesse SUP CONF
regra
Antecedente Conseqüente Grupo LIFT
Subjetivo (%) (%)
)& &!:;<;87&=&-7/$1>$0-?1-"& &@%/A1"<370"<;87&=&#"-B"& C;D EC F*G*H FIGJ* )GKK
L& &!:;<;87&=&-7/$1>$0-?1-"& &@%/A1"<370"<;?B&=&#"-B"& C;D EC HLGII H*GI* )GKK
M& &!:;<;87&=&-7/$1>$0-?1-"& &C%313N-%"<"%/"&=&763& C;D EC HHGMH FKG*F )GKK
*& &!:;<;?B&=&-7/$1>$0-?1-"& &!:;<;87&=&-7/$1>$0-?1-"& C;D EC FMGI* FFGHI )GKL
'& &!:;<;?B&=&-7/$1>$0-?1-"& &@%/A1"<370"<;87&=&#"-B"& C;D EC FKG'H FIGI) )GKK
I& &!:;<;?B&=&-7/$1>$0-?1-"& &C%313N-%"<"%/"&=&763& C;D EC H*G'' FKG)J )GKK
J& &!:;<;?B&=&-7/$1>$0-?1-"& &@%/A1"<370"<;?B&=&#"-B"& C;D EC JHGFK H*G)* )GKK
H& &@%/A1"<370"<;87&=&#"-B"& &C%313N-%"<"%/"&=&763& C;D EC HJGM* FKGL) )GKK
F& &@%/A1"<370"<;?B&=&#"-B"& &@%/A1"<370"<;87&=&#"-B"& C;D DO H*GLF )KKGKK )GKM
)K& &@%/A1"<370"<;?B&=&#"-B"& &C%313N-%"<"%/"&=&763& C;D EC JIGK* FKGLL )GKK
& & &
))& &C3>P"4/"563&=&-7/$1>$0-?1-"& &Q1$"&=&-7/$1>$0-?1-"& R EC HHG'J HFGFJ )GK)
)L& &C3>P"4/"563&=&-7/$1>$0-?1-"& &E$18>$/13&=&-7/$1>$0-?1-3& R EC HMGFK H'GLL )GK)
)M& &E$18>$/13&=&-7/$1>$0-?1-3& &Q1$"&=&-7/$1>$0-?1-"& R EC HLGJM FHGMH )G)K
& CMO: Condições Meteo-Oceanográfica, PC: Potencialmente Causal, F: Forma, OB: Óbvia.
&
&
&
!"#$%"&'()'&*&+,-."&/$&0$10"-&/$&"--23,"452&,6.$0678$,-(&
C;DS&C370-5T$.&;$/$3UD4$"7321?N-4".& ECS&E3/$74-"%>$7/$&C"A."%&
&
&
& Tabela 13 – Lista de
RS&R31>"& regras de associação interníveis. Fonte: SILVA (2008, p. 79).
DOS&V#9-"&
& Nº da Interesse SUP CONF
regra
Antecedente Conseqüente Grupo LIFT
& Subjetivo (%) (%)
& )& &!9:;:76&<&,6.$0=$/,>0,"& &?2=@"3."452&<&,6.$0=$/,>0,"& ?:AB&C D? EFG)H EIGJH )GHH
& K& &!9:;:76&<&,6.$0=$/,>0,"& &D$07=$.02&<&,6.$0=$/,>0,2& ?:AB&C D? I)GIK ILGMI )GHH
& L& &!9:;:76&<&,6.$0=$/,>0,"& &N0$"&<&,6.$0=$/,>0,"& ?:AB&C D? IFGE' IEGHL )GHH
& J& &!9:;:>O&<&,6.$0=$/,>0,"& &?2=@"3."452&<&,6.$0=$/,>0,"& ?:AB&C D? EKGKM EIGJ) )GHH
& '& &!9:;:>O&<&,6.$0=$/,>0,"& &N0$"&<&,6.$0=$/,>0,"& ?:AB&C D? ILGIL IEGJH )GHH
& F& &!9:;:>O&<&,6.$0=$/,>0,"& &D$07=$.02&<&,6.$0=$/,>0,2& ?:AB&C D? MEGHL IJGKI )GHH
78
134
79
A comparação das regras de associação correspondentes aos subníveis
Cantarell e Outros (TABELA 14) nos mostram a robustez dos resultados descritos
acima, no nível taxonômico Localização. Com isso, a autora da pesquisa pode inferir
que os fatores ambientais e de forma que controlam as exsudações de óleo são os
mesmos, indistintamente à Cantarell ou fora dele. Em seu trabalho, também foram
!"#$%"&'()*&+&,-./"&012&"&0123"4"561&$7/4$&".&4$84".&9$&"..10-"561&0144$.3179$7/$.&"1.&.:#7;<$-.&="7/"4$%%&$&>:/4".&91&7;<$%&/"?17@2-01
encontradas
,10"%-A"561(& regras de associação raras, com suporte inferior a 10,0%, mas
apresentaram
Nº da valores altos de confiança e/ou lift (TABELA 15). SUP CONF LIFT
Antecedente Conseqüente Grupo
!"#$%"&'()*&+&,-./"&012&"&0123"4"561&$7/4$&".&4$84".&9$&"..10-"561&0144$.3179$7/$.&"1.&.:#7;<$-.&="7/"4$%%&$&>:/4".&91&7;<$%&/"?17@2-01
regra (%) (%)
Tabela )& &,10"%-A"561&B&="7/"4$%%&
14
,10"%-A"561(& – Lista com a comparação =123"0/"561&B&-7/$42$9-C4-"
entre as regras de associação ,D&E& )'F*'
correspondentes GHFGH )FII
aos subníveis
J&
Cantarell &,10"%-A"561&B&>:/4".& =123"0/"561&B&-7/$42$9-C4-"
e Outras do nível taxonômico Localização. Fonte: SILVA (2008, p. ,D&E&
80). KJFHG GKF'L )FII
Nº da
Antecedente Conseqüente Grupo SUP CONF LIFT
L&
regra &,10"%-A"561&B&="7/"4$%%& !MN N;7&B&-7/$42$9-C4-" ,D&=N>& )'FJ* (%) G'F'L
(%) IFGK
O&
)& &,10"%-A"561&B&>:/4".&
&,10"%-A"561&B&="7/"4$%%& !MN N;7&B&-7/$42$9-C4-"
=123"0/"561&B&-7/$42$9-C4-" ,D&=N>& KJFOI
,D&E& )'F*' GKFIH
GHFGH )FII
)FII
'&
J& &,10"%-A"561&B&="7/"4$%%&
&,10"%-A"561&B&>:/4".& !MN NC?&B&-7/$42$9-C4-"
=123"0/"561&B&-7/$42$9-C4-" ,D&=N>&
,D&E& )OFOK
KJFHG GIF*'
GKF'L IFGH
)FII
*& &,10"%-A"561&B&>:/4".& !MN NC?&B&-7/$42$9-C4-" ,D&=N>& HGFJG GOFL* )FI)
H&
L& &,10"%-A"561&B&="7/"4$%%& P%/:4" 179" N;7&B&#"-?"
!MN N;7&B&-7/$42$9-C4-" ,D&=N>& )'F*'
)'FJ* GHFGH
G'F'L )FI)
IFGK
O&
K& &,10"%-A"561&B&>:/4".& !MN N;7&B&-7/$42$9-C4-"
P%/:4" 179" N;7&B&#"-?" ,D&=N>& K)F)HKJFOI GKFIH
G*F*I )FII
)FII
'&
G& &,10"%-A"561&B&="7/"4$%%&
&,10"%-A"561&B&="7/"4$%%& !MN NC?&B&-7/$42$9-C4-"
=%141Q-%" "%/"&B&761 ,D&=N>& )LF*O
,D&=N>& )OFOK GIF*'
K'FLH IFGH
IFGO
*&
)I& &,10"%-A"561&B&>:/4".&
&,10"%-A"561&B&>:/4".& !MN NC?&B&-7/$42$9-C4-"
=%141Q-%" "%/"&B&761 ,D&=N>& H*FKK
,D&=N>& HGFJG GOFL*
G)F'I )FI)
)FI)
& H& &,10"%-A"561&B&="7/"4$%%& P%/:4" 179" N;7&B&#"-?" ,D&=N>& )'F*' GHFGH )FI)
&
K& &,10"%-A"561&B&>:/4".& P%/:4" 179" N;7&B&#"-?" ,D&=N>& K)F)H G*F*I )FII
& G& =N>R&=179-5S$.&N$/$1T>0$"7184CQ-0".&
&,10"%-A"561&B&="7/"4$%%& =%141Q-%" "%/"&B&761 ,R&,10"%-A"561&
,D&=N>& )LF*O K'FLH IFGO
& )I& &,10"%-A"561&B&>:/4".&ER&E142"& =%141Q-%" "%/"&B&761 & ,D&=N>& H*FKK G)F'I )FI)
&&&
CMO: Condições Meteo-Oceanográficas, F: Forma, L: Localização.
& =N>R&=179-5S$.&N$/$1T>0$"7184CQ-0".& ,R&,10"%-A"561&
& ER&E142"& &
!"#$%"&'()H&+&,-./"&9$&4$84".&9$&"..10-"561&4"4".(&
&Tabela 15 – Lista de regras de associação raras. Fonte: SILVA (2008, p. 80).
& &
Nº da SUP CONF
Antecedente
!"#$%"&'()H&+&,-./"&9$&4$84".&9$&"..10-"561&4"4".(& Conseqüente Grupo LIFT
regra (%) (%)
)& &=123"0/"561&B&"%/"& &U$4;2$/41&B&#"-?1& ED&E& )FJL )IIFII *FL*
NºJ&da &U$4;2$/41&B&#"-?1& &
Antecedente &V4$"&B&#"-?"&
Conseqüente Grupo ED&E& SUP GF)* CONF
'KFJ* LIFT
'F'H
regra (%) (%)
& & & &
)& &=123"0/"561&B&"%/"& &U$4;2$/41&B&#"-?1& ED&E& )FJL )IIFII *FL*
L&
J& &P%/:4"W179"WN;7&B&-7/$42$9-C4-"&
&U$4;2$/41&B&#"-?1& &X./"561&B&1:/171&
&V4$"&B&#"-?"& =N>D&=!&
ED&E& )FH'
GF)* *IFII
'KFJ* LFLK
'F'H
O&& &P%/:4"W179"WNC?&B&-7/$42$9-C4-"&
& &P71&B&JIIL&
& =N>D&=!& & OFKH '*FLG LF**
&
CMO: L& Condições Meteo-Oceanográficas, &X./"561&B&1:/171&
&P%/:4"W179"WN;7&B&-7/$42$9-C4-"& F: Forma, CT: Contexto temporal. =N>D&=!& )FH' *IFII LFLK
&
O& &P%/:4"W179"WNC?&B&-7/$42$9-C4-"& &P71&B&JIIL& =N>D&=!& OFKH '*FLG LF**
&& =N>R&=179-5S$.&N$/$1T>0$"7184CQ-0".& =!R&=17/$?/1&!$2314"%&
A metodologia proposta por Silva possui bom potencial para a viabilização da
ER&E142"& &
&
80
metodologia
& para=N>R&=179-5S$.&N$/$1T>0$"7184CQ-0".& =!R&=17/$?/1&!$2314"%&
uso operacional, bem como a definição de conjuntos de padrões
ER&E142"& &
80
135
3&1%$E%&" '+" +,(*3+@A&" &1'$" D" -$+(*O+'&" &" ,-&3$..&" '$" 455<" Q&-%+1%&B" $.%$" /./L-*&"
0&-1$3$"./,&-%$"+&"+1+(*.%+"'$"455"$#"%&'+."+."$%+,+."'&",-&3$..&B"&"R/$"%&-1+"./+"
,+-%*3*,+@A&"+%*K+"$"'$"./#+"*#,&-%S13*+<""
"
"
"
"
"
IDENTIFICAÇÃO
PRÉ–PROCESSAMENTO
"
DO PROBLEMA
"
" EXTRAÇÃO DE PADRÕES
(CBA)
"
"
"
"
PÓS-PROCESSAMENTO
" (Medidas de interesse
objetivas e subjetivas)
"
"
"
"
ANALISE DO POTENCIAL
"
DE USO DO NOVO
CONHECIMENTO
"
"
Figura 25 – Os" cinco componentes do processo de KDD incluídos na metodologia utilizada. Fonte: SILVA
T*)/-+" U<:" V" N." 3*13&" 3&#,&1$1%$."(2008,
'&" ,-&3$..&"
p. 8). '$" 455" *13(/?'&." 1+" #$%&'&(&)*+"
4.2.2 Tratamento pelos Grafos Existenciais
,-&,&.%+"7#&'*0*3+'&"'$"6$O$1'$"et al<B"899:;<"
8 se
O estudo empreendido por Silva, do mesmo modo que o de Beisl,
apresenta como uma boa fonte para os estudos semióticos da Natureza,
apresentando vários pontos de interesse. No entanto, concentraremos nossa atenção
apenas naquilo que possa nos ajudar no entendimento do modo pelo qual os GEs
podem ser aplicados, de acordo com os princípios do pragmatismo, em situação de
aplicação prática. Sendo assim, optamos em utilizar o conjunto de regras de
associação intraníveis, utilizando apenas os antecedentes e conseqüentes
apresentados na tabela, como exemplo de aplicação (cf. a TABELA 12):
136
• I11: se a Compactação é intermediária, então a Área é intermediária;
• I12: se a Compactação é intermediária, então o Perímetro é intermediário;
• I13: se o Perímetro é intermediário, então a Área é intermediária;
I3 TSM_Mn-Int Cl_a-n
I8 AoMn-b Cl_a-n I13 Per-int Ár-int
I5 TSM_Mx-Int
AoMn-b I10 AoMx-b Cl_a-n
137
1 TSM_Mn-Int AoMn-b Comp-int Ár-int
3 2, por R1
Comp-int Ár-int
4 3, por R3
Comp-int Ár-int
6 AoMn = b 5, por R5
TSM_Mn - Int
Ár-int Comp-int
continua #
138
TSM_Mn - Int
7 AoMn = b 6, por R4
Ár-int Comp-int
TSM_Mn - Int
8 Comp-int 7, por R5
AoMn = b
Ár-int
TSM_Mn - Int
9 8, por R5
AoMn = b Comp-int
Ár-int
139
Note, que não foi necessário a utilização das partes Beta e Gama para
conseguir resultados expressivos. Se utilizarmos a parte Gama a partir do passo 3 da
demonstração anterior, lembrando que vermelho representa possibilidade objetiva e
azul possibilidade lógica, teremos:
Comp-int Ár-int
4 3, por R6
Comp-int Ár-int
5 Ár-int 4, por R3
Comp-int
AoMn = b
6 Ár-int 5, por R5
Comp-int
AoMn = b
continua #
140 #
Continua
TSM_Mn - Int AoMn = b
7 6, por R5
Ár-int
Comp-int
AoMn = b
Ár-int
8 Comp-int 7, por R1
AoMn = b
72
Percebamos que o passo 3 significa se temos “TSM_Mín é intermediária, então a Altura_onda_Mín é
baixa”, então “Compactação é intermediária, então a Área #é intermediária”. Ou seja é uma implicação que
Continua
tanto em seu antecedente quanto o consequente são proposições. Aqui se aplicam os mesmos
comentários da demonstração anterior.
141
(grafista) e o intérprete de qualquer proposição devem estar bem familiarizados e
mutuamente acordados um com o outro com relação às regras e convenções, para
que o grafo possa ser entendido e elaborado. Do mesmo modo que as ferramentas e
estratégias de extração de conhecimento a partir de base de dados, a utilização dos
GEs vai exigir o conhecimento especialista para que efetivamente se chegue a
conclusões que respondam à aplicação específica com que se trabalha. Mas, o papel
de intérprete, ocupado pelo especialista, não é meramente avaliativo, ele é, antes de
mais nada, construtivo. Grafista e intérprete empreendem uma espécie de jogo, no
qual transformações sobre os grafos permitem que o pensamento se desenvolva e
que conclusões sejam elaboradas. Tais conclusões (interpretantes finais) podem ser
pensadas como pontos de equilíbrio, no sentido da teoria dos sistemas, ou como
locais ótimos em diferentes tarefas de otimização, ou equilíbrio de Nash na teoria dos
jogos, e assim por diante. Seja como for, essa estratégia permite que orientemos
pragmaticamente nossas ações à busca de Formas potenciais que auxiliem a nossa
conduta frente ao nosso objeto de estudo.
Assim, a lógica do ponto de vista filosófico, sendo esse o ponto de vista de
Peirce, está preocupada com a Forma do pensamento e nisto vai fundo
analiticamente. Devemos lembrar a distinção feita por Peirce ao comparar lógica e
matemática: a matemática visa obter conclusões necessárias sendo que a lógica visa
esclarecer a necessidade das conclusões. O propósito dos GEs é tratar a
compreensão de um fenômeno natural, tendo em vista antes de tudo orientar condutas
futuras e, portanto, de conferir ao fenômeno um tratamento formal eminentemente
semiótico. Tratá-lo desse modo implica fornecer a quem interatue com o meio recursos
rigorosos de determinação de sua conduta. A potência dos grafos decorre de sua
capacidade icônica de representação dos condicionais hipotéticos verdadeiros, aos
quais pertence a máxima do pragmatismo como ética da conduta racional. É, pois, um
recurso para a diagramatização de meios condicionais complexos, como são as
relações mantidas pelo meio ambiente natural e expressos em imagens de
sensoriamento remoto.
142
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
143
atualizadas até processos evolutivos complexos, sejam elaboradas. Devemos notar
que essa capacidade é algo que se manifesta no fenômeno, independente da síntese
de um sujeito (embora a ele esteja dirigida). Embora ela não possua ferramentas
analíticas, seu papel é fundamental na análise de qualquer fenômeno.
Vimos, contudo, que é nas ciências normativas que encontramos a
compreensão de como um fenômeno é representado e o modo como devemos
responder a ele. Ou seja, quando devemos determinar o significado de um conceito a
respeito de fenômeno, essa determinação deve estar relacionada ao propósito do
raciocínio, que é controlar de algum modo e com alguma intensidade a conduta.
Assim, a máxima se mostra normativa de modo especial e se encontra intimamente
ligada à lógica da conduta (semiótica) e seus fundamentos na estética e ética. Como
dito antes: “A Estética, a Ética e a Lógica formam um conjunto hierárquico de ciências
que, em forte relação com as categorias fenomenológicas, consiste em descobrir
como Sentimento, Conduta e Pensamento podem ser objeto de autocontrole e
autocrítica a fim de se alcançar um fim último.”
Uma importante distinção foi realizada e aqui é ressaltada: a matemática visa
obter conclusões necessárias sendo que a lógica visa esclarecer a necessidade das
conclusões. Ou seja, se o problema a ser tratado diz respeito ao significado e
consequentemente ao conteúdo dos conceitos, devemos tratá-lo no interior da
Semiótica. A definição de semiose (a ação do signo) proposta por Peirce é o ponto
central de sua teoria dos signos e a noção de semiose funciona como um paradigma
de suas categorias fenomenológicas. Do mesmo modo que as categorias, a idéia de
signo envolve uma relação triádica, que é irredutível e unida em um único processo.
Em outras palavras, esse modelo de signo incorpora num único processo o veículo de
significação (signo), o objeto do significado e o programa futuro de conduta
(interpretante), que estabelecerá as condições para a efetiva interação com esse
objeto.
Ao discutirmos a divisão dos signos, pudemos visualizar a posição que
termos, proposições e argumentos possuem em relação aos outros signos. A teoria do
significado que emerge dessa classificação é a base para o entendimento da máxima
pragmática. Essa distinção foi muito importante para entendermos o que eles são e do
que são formados, contribuindo em nossa busca por uma estratégia que permita a
aplicação do pragmatismo, auxiliado pelos grafos existenciais, como recurso na
construção e interpretação de proposições condicionais.
Pudemos, ainda, ver ao longo do texto que a máxima pragmatista traz
consigo uma interessante tese sobre a indeterminação do significado (meaning).
Peirce visava entender o trânsito que há entre o indefinido e o definido, entre o
144
indeterminado e o determinado, bem como algumas fronteiras intermediárias
encontradas nos processos de determinação relativa. Sua discussão girava em torno
das variedades de determinação e indeterminação que afetam a extensão (denotação)
e a profundidade (conotação) de um termo.
É importante notar que uma das principais consequências de seu
entendimento a respeito da indeterminação é que, em contraste à teoria epistêmica ou
semântica da vagueza, nós encontramos entidades reais que são objetivamente
indeterminadas (que a lógica clássica não pode tratar adequadamente). Com base
nisso, a idéia de que grande parte da lógica do raciocínio humano não é aquela
baseada na lógica clássica de dois valores, mas está relacionada a uma lógica de
multi-valores, cujas regras de inferência são fuzzy, passa a fazer ainda mais sentido.
Nesse sentido, consideramos que a teoria fuzzy é uma espécie de lógica da conduta
especial, pois possui característica experimental, orientando as condutas frente a
elementos fronteiriços e portanto vagos em algum sentido ou maneira.
Após discutirmos os fundamentos do pragmatismo, os GEs foram
apresentados como ferramenta analítica e geradora de proposições condicionais.
Pudemos obter uma visualização geral de sua estrutura formal, onde as partes Alfa,
Beta e Gama são capazes de responder a problemas do cálculo proposicional, lógica
de predicados e lógica modal, respectivamente. Como método para a investigação de
proposições condicionais, ele garante o rigor lógico-matemático, a capacidade criativa
e interpretativa de nossas construções cognitivas. Fizemos notar que os GEs podem
ser validados a partir da teoria de modelos. Contudo, qualquer validação desse tipo
será restritiva, pois os GEs são mais abrangentes que as teorias lógicas algébricas.
Sendo assim, as demonstrações que indicamos vão contemplar apenas parte de todos
os recursos que esse sistema possui. Isso não tira o valor da validação, uma vez que
mostra que os grafos podem realizar operações características da lógica clássica, nos
dando maior segurança em sua aplicação fora do âmbito acadêmico.
Os estudos de casos nos forneceram bons exemplos de construção
conceitual e uma boa base para exemplificar o modo pelo qual os GEs podem atuar
sobre proposições condicionais. Nossas aplicações dos GEs focaram seu
funcionamento em condições científicas concretas, fugindo de seu uso mais formal no
interior da filosofia ou da matemática. Parece-nos que seu uso em tais condições se
mostrou potencialmente interessante. Isso se deve ao fato de, a partir de seu uso,
podermos manipular as proposições que tivemos a disposição e chegar a conclusões
hipotéticas verdadeiras e que fazem sentido dentro do escopo da construção do
conhecimento científico.
145
A capacidade mostrativa das relações lógicas encontrada nos GEs, graças a
seu caráter icônico, é algo a se ressaltar. Essa capacidade é que permite que muito
facilmente, porém com intenso rigor, que ele manifeste grande poder inferencial.
Embora tenhamos usado exemplos relativamente simples, seu uso em casos mais
complexos poderiam, da mesma forma, ser muito reveladores. A complexificação dos
grafos não implicará na complexificação de sua manipulação. Assim, seus resultados
poderão significativamente auxiliar em nossas buscas pela Forma que permitirá nossa
conduta frente ao objeto que se nos apresenta.
A utilização dos GEs, estando eles preocupados com a Forma do
pensamento, irá se constituir numa importante ferramenta para a compreensão de
condicionais e, consequentemente, dos fenômenos naturais que eles representam. Ou
seja, como instrumento para o tratamento de condicionais, permite que quem interatue
com ele possa mais rapidamente encontrar as Formas ideais (eidéticas) que
representem os meios condicionais complexos. Ou seja, como dito anteriormente, do
mesmo modo que os químicos usam a experimentação para colocar perguntas para a
Natureza, experimentos sobre diagramas são perguntas sobre a natureza das
relações que nos interessam.
A principal dificuldade encontrada nesse trabalho está relacionada a um dos
aspectos mais importantes dos GEs; seu caráter dialógico. Como pudemos ver
anteriormente, a manipulação dos grafos se faz numa espécie de jogo, em que o
grafista e o intérprete buscam, conjuntamente, construir e manipular os grafos em
busca da Forma que os satisfaça. Essa característica foi parcialmente perdida nesse
trabalho, uma vez que ele possui um caráter monográfico. Embora tenhamos tentado
suprir essa impossibilidade, atuando como grafista e intérprete, isso não substitui o
papel que o intérprete (com seu conhecimento especialista) teria no processo.
Cremos, ainda, que embora os GEs tenham se mostrado uma ferramenta
interessante para o tratamento de proposições condicionais (sendo consistente com
os princípios do pragmatismo), é necessário que se trabalhe um pouco mais sobre a
parte Gama. Se as questões relativas às potencialidades estão bem resolvidas (ao
menos para nossos propósitos neste trabalho), a manipulação de grafos que
expressam intencionalidade está desprovida de regras e convenções que nos
orientem. Do mesmo modo, é importantíssimo que se desenvolva um software que
permita a manipulação dos GEs em todas as suas partes (Alfa, Beta e Gama),
permitindo que se ganhe agilidade e precisão no tratamento de um grande número de
proposições condicionais.
146
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
148
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159
ANEXO I - DIAGRAMA DAS CIÊNCIAS: SEGUNDO CHARLES PEIRCE73
Lógica Matemática
Coleções Finitas
Teoria Geral das Séries Finitas
Coleções Aritmética
Matemática Infinitas
Cálculo
Contínua
Fenomenologia
Estética
Ética
Filosofia Ciências
Normativas Gramática
Especulativa
Lógica ou Semiótica
Ciências da Crítica
Descoberta
Metodêutica
Ontologia
Metafísica Físico-Metafísica
Religiosa
Ciências Hidrologia,
Especiais Física Descritiva Geologia
Psíquica Sociologia,
Psíquicas Classificatória Lingüística
Ciências da
Revisão Filosofia da Ciência
CIÊNCIAS
PRÁTICAS Arte, Engenharia, Ética (ciência da moralidade),, Ciências médicas, Jurisprudência
73
Para maiores detalhes a respeito da classificação das Ciências cf. KENT (1997), SANTAELLA (1992).
ANEXO II - CONVENÇÕES E REGRAS DOS GEs
CONVENÇÕES
• C1 - a folha fênica em todas as suas partes é um grafo. Notemos que nem toda a
superfície da folha ou quadro é utilizada para a folha de asserções, pois o grafista
pode precisar de algum espaço para explicações ou outros comentários.
• C2 - tudo que seja escrito na folha fênica é declarado ser verdade do universo
representado por aquela folha.
• C3 - grafos escritos em diferentes partes da folha fênica são todos considerados
verdadeiros.
• C4 - o scroll é o signo de uma proposição de um condicional de inesse. (MS 450).
• C5 - o corte vazio é um pseudografo e o corte nega precisamente o seu conteúdo.
• C6 - a escrita de um ponto grosso ou uma linha não conectada na folha de asserção
denota a existência de um objeto individual no universo de discurso.
• C6+ - a escrita de um ponto grosso ou linha não conectada em alguma parte da folha
fêmica vai designar um membro de qualquer universo representado pela tintura
daquela parte da folha. Aplicada apenas na parte Gama.
• C7 - uma linha grossa, chamada de linha de identidade, deverá ser um grafo
asseverando a identidade numérica das entidades denotadas por suas duas
extremidades.
• C8 - uma ramificação de linha de identidade com “n” números de ramos será usada
para expressar a identidade dos “n” entidades denotados pelas “n” extremidades.
• C9 - pontos sobre um corte serão considerados fora da área daquele corte.
• C10 - para a interpretação de uma linha de identidade que se estende do metal para
a cor ou do metal para pele, o metal tem preferência: isso é, a linha não denota
abstração (representada pela cor, ou pele), mas denota um existente individual a
quem a abstração pertence.
REGRAS
162
ANEXO III - ESTUDO DE CASO I: TABELAS ORIGINAIS