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Resumo
O artigo objetiva analisar jogos de linguagem matemáticos gerados por alunos surdos do 4° e
5° Anos Iniciais de uma escola bilíngue, situada em Imperatriz, Maranhão, Brasil. As bases
teóricas se vinculam ao campo da etnomatemática em seus entrecruzamentos com os
pensamentos de Michel Foucault e Ludwig Wittgenstein. O material empírico se constituiu
de observações, filmagens, materiais produzidos pelos alunos e registros em diário de campo
da pesquisadora. A análise, na perspectiva foucaultiana, demonstrou que os discentes surdos
apresentavam distintas formas de calcular multiplicações com a emergência de jogos de
linguagem que apresentam semelhanças com os usualmente gerados na matemática escolar.
Abstract
The article aims to analyze mathematical language games generated by deaf students from
the 4th and 5th Initial Years of a bilingual school located in Imperatriz, Maranhão, Brazil.
The theoretical bases are linked to the field of Ethnomathematics in its intertwining with the
thoughts of Michel Foucault and Ludwig Wittgenstein. The empirical material consisted of
observations, footage, materials produced by the students and records in the researcher's field
diary. The analysis, in the Foucaultian perspective, showed that deaf students have different
ways of calculating multiplications, with the emergence of language games that have
similarities with those usually generated in school mathematics.
Resumen
El artículo tiene como objetivo analizar los juegos de lenguaje matemático generados por
estudiantes sordos de 4º y 5º Año Inicial de una escuela bilingüe ubicada en Imperatriz,
Maranhão, Brasil. Las bases teóricas están ligadas al campo de la Etnomatemática en su
Introdução
A época contemporânea tem se mostrado prolífera nas distintas discussões sobre o
processo educacional dos surdos. Entre os diferentes discursos espraiados acerca desta
temática, a escrita deste texto – que está agregada a uma pesquisa maior – intenta tecer
algumas construções sobre a educação bilíngue para surdos. Foucault (2016) nos ensina que
“É preciso estar pronto para acolher cada momento do discurso em sua irrupção de
acontecimentos” (p. 31). Nas tramas sociais, há uma formação discursiva que vem se
modificando e percorrendo a senda deste novo cenário educacional para os surdos. Outros
enunciados estão emergindo, sendo difundidos e dando novas formas aos discursos. Assim,
tem-se discutido uma educação que busca, por meio dos artefatos culturais de sujeitos surdos,
propiciar construções de conhecimentos consistentes.
Inspiradas nessa premissa, elencamos as especificidades linguística e cultural desse
grupo, que, propagadas na escola bilíngue para surdos, podem materializar aproximações
com a perspectiva etnomatemática investigada por Knijnik et al. (2013). Essas lentes
entendem a etnomatemática como uma caixa de ferramentas teóricas que permite investigar
os discursos sobre as matemáticas escolar e acadêmica, além de examinar os jogos de
linguagem e suas semelhanças de família. Em particular, para o desenvolvimento de nossa
análise, o foco reside na segunda parte dessa conceituação, isto é, as investigações do período
de maturidade de Ludwig Wittgenstein.
Outro ponto que nos instiga a percorrer por esta senda investigativa se refere às
questões culturais. O pensamento etnomatemático traz à luz uma importante colaboração,
qual seja, “deslocamento que introduziu, já na década de 1970, na área da Educação
Matemática, quanto à relevância de considerar a variável cultura no ensinar e no aprender
Matemática” (Knijnik et al., 2013, p. 26). Esse aspecto nos oportunizou enveredar por grupos
culturais, tais como os constituídos por surdos.
Figura 2: Multiplicação com uso de círculos com pontos e círculos sem pontos com registro
da soma ao lado
Figura 3: Multiplicação com uso de círculos sem pontos e círculos com pontos e
agrupamentos em pares
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